Deus, Cristologia e Trindade - McGRATH
Deus, Cristologia e Trindade - McGRATH
Deus, Cristologia e Trindade - McGRATH
INTRODUÇÃO
• A doutrina da Trindade é, possivelmente, a doutrina
mais característica da fé cristã, tendo em vista não ter
ela nenhum paralelo nas demais religiões. Nenhuma
outra religião fala de um Deus Triúno;
• Alguns podem vê-la como uma espécie de meio-termo
entre o monoteísmo e o politeísmo, pois o Deus cristão
é Um e três ao mesmo tempo;
• Por essa razão, eis aí a doutrina sistemática de maior
complexidade do ponto de vista da construção lógica.
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O PROBLEMA
• O estudo das Escrituras em associação com o testemunho
cristão posterior sugere a ideia de que a forma correta de se
pensar a natureza Deus é triunitária. Ao menos é assim que
a maior parte dos teólogos cristãos, ao longo dos séculos,
pensaram;
• “Com isto não se afirma que as Escrituras contenham uma
doutrina explícita da Trindade, mas sim que dão
testemunho de um Deus que exige a própria compreensão
em um nível trinitário.” (MCGRATH, 2009, p. 142).
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AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA
DOUTRINA DA TRINDADE
• Desde o momento em que os cristãos começaram a
falar de Jesus Cristo como sendo Deus e, depois, do
Espírito Santo também como sendo Deus, surgiu a
necessidade de explicar o relacionamento que Jesus e
o Espírito Santo mantinham com o Pai. Daí nasceu a
doutrina da Trindade cujo desenvolvimento pleno
não se deu até o fim do século IV.
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A VISÃO DE TERTULIANO
• Tertuliano em seus ensinamentos lançou as bases que
ainda hoje sustentam os argumentos em torno da
doutrina;
• Ele falou sobre substância e pessoa: a primeira unifica e
a segunda as distingue:
▫ Pai, Filho e Espírito Santo são um porque são da mesma
substância;
▫ Pai, Filho e Espírito Santo são distintos porque são pessoas e,
enquanto tais, são diferentes.
Baseado em MCGRATH,
A doutrina Alister. Teologia: os
fundamentos. Tradução
de Deus de Joshuah Soares. São
Paulo: Loyola, 2009, p.
50-70.
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
• A realidade de Deus é algo pressuposto tanto no
Antigo como no Novo Testamento. A questão
inicial que toma parte da missão cristã é definir
de que Deus está a se aludir;
• Os israelitas referiam-se a Deus como “Senhor
Deus de Israel”. Era a forma de distinguir seu
Deus dos deuses locais e vizinhos;
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A DEFINIÇÃO DE DEUS NO AT E NT
• Os israelitas adoravam e conheciam a Deus como aquele que
os tirou da escravidão no Egito e lhe deu uma terra para ser
sua nação;
• Essa mesma ideia é replicada no NT, pois os cristãos criam no
mesmo Deus que as grandes figuras do AT: Abraão, Isaque,
Jacó e Moisés;
• Porém, para os cristãos, Deus já não mais se identifica como
“o Deus de Abraão, Isaque e Jacó” ou mesmo como “o Senhor
Deus de Israel”. Agora ele é apresentado como "Deus, Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo“ (2 Cor 1,3).
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A DEFINIÇÃO DE DEUS NO AT E NT
• “Notamos que o exórdio da epístola aos Hebreus declara
que o mesmo Deus que falou a Israel “muitas vezes e de
diversos modos” através dos profetas “nesses últimos
tempos manifestou-se a nós em seu Filho”, que deve ser
reconhecido como a "representação exata" de Deus (Hb
1,1-3). Este argumento é de suma importância, porque
demonstra como a concepção que os cristãos têm de Deus
está vinculada à pessoa de Cristo. Conhecer Cristo é
conhecer Deus” (MCGRATH, 2009, p. 52).
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A TAREFA DA CRISTOLOGIA
• “Uma das tarefas fundamentais da teologia cristã
consiste em esclarecer a identidade e o significado
de Jesus Cristo” (McGRATH, 2009, p. 95);
• Após o evento pascal os cristãos passaram a se
perguntar acerca da identidade de Jesus e bem
muito cedo passaram a vê-lo como um ser
incomum, acima dos demais seres humanos. À
medida em que as respostas iam sendo oferecidas, a
cristologia passava a tomar ainda mais forma;
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A TAREFA DA CRISTOLOGIA
•Nesse breve relato sobre a Pessoa de Jesus
Cristo, interessa-nos:
▫ Os títulos usados no NT para se referir a Jesus;
▫ O impacto do ministério terreno de Jesus sobre
a vida das pessoas;
▫ A ressureição como sinal da exaltação de Jesus à
condição de Filho de Deus.
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JESUS, O MESSIAS
• O título “Cristo” é a versão grega e “Messias” é a versão
hebraica e ambas significam “ungido”;
• A unção era praticada com óleo e a pessoa ungida vista
como destinada por Deus a desempenhar
determinadas funções com algum tipo de poder ou
favor divino;
• Num primeiro momento esse ungido era especialmente
o rei de Israel (1 Samuel 24,6), depois passou a
designar alguém que viria da linhagem de Davi para
libertar Israel de seus opressores.
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A EXPECTATIVA MESSIÂNICA
• Durante o Ministério terreno de Jesus, Roma ocupava a
Palestina e o sentimento e as expectativas messiânicas
estavam afloradas no povo;
• Em geral a expectativa era de que o Messias expulsasse os
invares e restabelecesse a linhagem real de Davi. Jesus não se
identificou com esse pensamento;
• De certa forma o que Jesus fez foi voltar contra seu próprio
povo. Depois de entrar em Jerusalém em termos messiânicos
(Mt 21,8-11), ele vai ao Templo e expulsa os cambistas de lá
(Mt 21,12-13);
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O ESCÂNDALO DE UM MESSIAS
CRUCIFICADO
• Os judeus esperavam um Messias forte e glorioso, não
um messias fraco que morreria como um criminoso.
Logo após Pedro o reconhecer como Messias, Jesus
alertou que ele deveria ser morto, mas os discípulos
nada entenderam (Mc 8,29-31). Um Messias débil era
um escândalo para os judeus (I Cor 1,23).
▫ “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo
para os judeus, e loucura para os gregos.”
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O ESCÂNDALO DE UM MESSIAS
CRUCIFICADO
• Apesar da expectativa messiânica geral ser de um rei-guerreiro forte e
vencedor, após o evento pascal os cristãos começaram a associar a
messianidade de Jesus com a imagem do Servo Sofredor.
▫ “3 Ele foi rejeitado e desprezado por todos; ele suportou dores e sofrimentos sem fim.
Era como alguém que não queremos ver; nós nem mesmo olhávamos para ele e o
desprezávamos. 4 No entanto, era o nosso sofrimento que ele estava carregando, era a
nossa dor que ele estava suportando. E nós pensávamos que era por causa das suas
próprias culpas que Deus o estava castigando, que Deus o estava maltratando e ferindo.
5 Porém ele estava sofrendo por causa dos nossos pecados, estava sendo castigado por
causa das nossas maldades. Nós somos curados pelo castigo que ele sofreu, somos
sarados pelos ferimentos que ele recebeu. 6 Todos nós éramos como ovelhas que se
haviam perdido; cada um de nós seguia o seu próprio caminho. Mas o SENHOR
castigou o seu servo; fez com que ele sofresse o castigo que nós merecíamos.” (Is 53,3-6
- NTLH).
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JESUS, O SENHOR
• O título “Senhor” (em grego kyrios) é usado no NT tanto como
demonstração de respeito de uma pessoa para outra (Jo 11,21),
como designação de divindade (Rm 10,9, ICor 12,3). De certa
forma os cristãos são assim descritos por invocarem a Jesus como
“Senhor” (Rm 10,13, ICor 1,2);
• Na época de Jesus era costumeiro usar o título “Senhor” para
referir-se a uma entidade divina ou algo superior ao ser humano;
• Mas, a evidência cabal do termo “Senhor” como designação de
divindade é o uso que dele se fazia para traduzir o
tetragrammaton YHWH, utilizado no AT para referir-se a Deus
(McGRATH, 2009, p. 99);
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OS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS:
CONCLUSÃO
• Além dos títulos aqui estudados, o Novo Testamento
ainda apresenta vários outros que eram usados para
expressar a maneira pela qual as pessoas
interpretavam Jesus;
• Para citar alguns temos:
▫ Profeta, Sumo Sacerdote, Salvador, Logos, Filho de
Davi, Último Adão, dentre outros.
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OS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS:
CONCLUSÃO
• Do mesmo modo como as peças de um quebra-cabeça são
montadas para formar um todo compatível em que nenhuma
peça pode se distinguir por si mesma, assim os "títulos
cristológicos" do Novo Testamento juntam-se para formar
um quadro geral que nenhum título pode manifestar
adequadamente estando separado;
• Tomados coletivamente, esses títulos formam um retrato
persuasivo, rico, profundo e poderoso de Cristo, o Salvador
divino e o Senhor, que continua a exercer influência e atração
enormes sobre os seres humanos, pecadores e mortais.
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1. JESUS É 0 SALVADOR DA
HUMANIDADE
• O Antigo Testamento afirma que existe um único salvador
da humanidade: Deus. Apesar do pleno conhecimento de
que só Deus é o salvador e de que só Deus pode salvar, os
cristãos primitivos afirmavam que Jesus era o Salvador;
• O peixe veio a tornar-se símbolo da fé dos primeiros
cristãos, porque as cinco letras que formam a palavra
"peixe" na língua grega (I-CH-TH-U-S) são as cinco letras
que formam a expressão "Jesus Cristo, Filho de Deus,
Salvador".
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2. JESUS É ADORADO
• No contexto judaico em que os primeiros cristãos agiam, era
Deus e somente Deus que podia ser adorado (Rm 1,23). No
entanto, a Igreja cristã primitiva adorava Cristo como Deus;
• Assim, o texto de 1 Cor 1,2 fala dos cristãos como aqueles que
"invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo", usando
uma linguagem que reflete as fórmulas do Antigo Testamento
referentes ao culto ou à adoração de Deus, como em Gn 4,26
e 13,4, no Sl 105,1, em Jer 10,25 e em Jl 2,32. Entende-se
dessa maneira, com toda a clareza, que Jesus agia como
Deus, sendo objeto de adoração;
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A CRISTOLOGIA DOS
TÍTULOS – OBRAS DE
REFERÊNCIA
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O CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA
• O Concilio de Calcedônia (451) foi um marco da teologia cristã,
que levou a termo um longo período de estudo e reflexão que
durou alguns séculos;
• Calcedônia, de modo geral, definiu a concepção da igreja acerca
da doutrina das duas naturezas de Cristo, expressa da seguinte
maneira:
▫ Nós todos confessamos unanimemente que Nosso Senhor Jesus Cristo é o
único e o mesmo Filho, perfeito na divindade e na humanidade,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente humano, com alma racional e
corpo, com a mesma substância do Pai em relação à divindade, e sendo da
mesma substância humana na humanidade e igual a nós mesmos em
todas as coisas, exceto no pecado (Hebreus 4,5).
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CRISTO, O MEDIADOR
• O Novo Testamento em várias passagens refere-se a Cristo
como mediador entre Deus e a humanidade (Hebreus 9,15 e 1
Timóteo 2,5). Entende-se aqui que Cristo é mediador entre o
Deus transcendente e a humanidade decaída. Qual é o objeto
da mediação? De que forma ela acontece?
• São dadas duas respostas complementares básicas no Novo
Testamento e na longa tradição do entrosamento teológico
cristão com a Escritura: a revelação e a salvação. Cristo é
mediador tanto do conhecimento de Deus com o da amizade
com Deus.
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CRISTO, E OS OFÍCOS DO AT
• A obra de Cristo pode ser resumida em três funções ou
ministérios: profeta, sacerdote e rei. O argumento fundamental é
que Jesus Cristo reúne em sua pessoa as três grandes funções de
mediação do Antigo Testamento;
• Em seu ministério profético, Cristo é o arauto e testemunha da
graça de Deus. Ele é o mestre dotado de sabedoria e autoridade
divina. Em seu ministério real, Cristo inaugurou um reino que
é celestial, não terreno, espiritual, e não físico. Esse reino é
exercido entre aqueles que creem através da ação do Espírito
Santo. Finalmente, por seu ministério sacerdotal. Cristo pode
nos reintegrar no favor divino, mediante o oferecimento de sua
morte como satisfação por nosso pecado.
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