TV Educativa e Producao Audiovisual
TV Educativa e Producao Audiovisual
TV Educativa e Producao Audiovisual
Jaciara de Sá Carvalho
São Paulo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÕES E ARTES
Jaciara de Sá Carvalho
São Paulo
2004
II
Banca examinadora
_____________________________
Maria Cristina costa
_____________________________
Ismar de oliveira soares
_____________________________
Patrícia horta
III
Dedicatória
IV
Agradecimentos
V
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1
VI
CAPÍTULO V - METODOLOGIA DE PESQUISA 83
1 - Método e amostragem......................................................................... 84
CAPÍTULO VI - A PESQUISA...................................................................88
1 - Informações gerais............................................................................... 89
2 - TV Cultura............................................................................................ 91
3 - Rede STV (SescSenac de Televisão).................................................. 93
4 - Canal Comunitário de São Paulo......................................................... 94
5 - TV PUC/ SP..........................................................................................96
6 – Internet.................................................................................................97
ANEXOS.................................................................................................. 117
Anexo 1 - Lista dos produtos audiovisuais/videográficos do Educom.TV 118
Anexo 2 - Íntegra das entrevistas realizadas para a pesquisa................ 124
Anexo 3 - Íntegra das entrevistas com os professores especialistas...... 142
VII
Resumo
VIII
ABSTRACT
IX
INTRODUÇÃO
Introdução
Meu interesse pela televisão educativa não é recente. Desde os tempos de graduação
em jornalismo, vislumbro a possibilidade de trabalhar em emissoras de vocação educativa. A
oportunidade, todavia, não surgiu.
O intuito é saber qual a relação possível entre esse “tipo” de televisão e a escola. O
objeto será abordado nesta monografia a partir dos projetos do Núcleo de Comunicação e
Educação fundado na Escola de Comunicações e Artes da USP pelo Prof. Dr. Ismar de
Oliveira Soares que vem, sistematicamente, desenvolvendo trabalhos a cerca da inter-relação
Comunicação/Educação. Entre eles, projetos de estímulo à produção de alunos. Gostaria de
ressaltar que, embora não trabalhe no Núcleo, espero contribuir para as suas ações com esta
pesquisa.
Ao procurar desenvolver este projeto para o NCE, pude entrar no universo amplo e
complexo das TVs Educativas. Um universo que, segundo os especialistas consultados, ainda
precisa ser alvo de maiores estudos. Por ser um meio que trabalha, ou deveria trabalhar, com
Educação, começaremos esta monografia apresentando um breve resumo dos estudos que
inter-relacionam Comunicação e Educação e que foram o referencial teórico para o
desenvolvimento da pesquisa.
No segundo capítulo, será apresentada a instituição NCE e o universo no qual ela está
inserida, a Universidade de São Paulo. Em seguida, trataremos do projeto Educom.TV,
desenvolvido pelo núcleo e a partir do qual realizamos nossa pesquisa junto às TVs de caráter
educativo/cultural. Buscamos, pois, espaço de divulgação para os produtos
audiovisuais/videográficos gerados nas escolas participantes desse projeto.
No quarto capítulo, trataremos das TVs Educativas a começar pela gênese desse tipo
de TV e a base legal sobre a qual é constituída, responsável por suas características até hoje.
Abordaremos, também, uma questão delicada que é o conteúdo dessas televisões, que não têm
2
Introdução
Por fim, depois de realizada a nossa pesquisa com os dirigentes de quatro dessas TVs,
apontamos caminhos ao Núcleo de Comunicação e Educação da USP no sentido de tornar
mais conhecida as produções audiovisuais do projeto Educom.TV. Acreditamos ter não só
alcançado nosso objetivo como também reunido informações a respeito do universo das TVs
Educativas que certamente serão úteis ao NCE e a outros pesquisadores, carentes de uma
bibliografia mais ampla.
3
CAPÍTULO i
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
1 – O campo da Comunicação
1
BOURDIE, Pierre. O Campo Científico. BOURDIEU, Pierre. In: ORTIZ, Renato (org.). São Paulo: Ática,
1983. p. 122. Com grifo nosso.
5
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
conhecimento. Ao mesmo tempo, para a comunicação vale a sua metáfora de que ela é
“indisciplinada”, termo de Morcellini e Fatelli adotado por Lopes2 que explica esse
paradoxo3:
(...) meu esforço foi demonstrar que esse paradoxo é aparente, sustentando
que, no caso dos estudos de comunicação no Brasil, a sua institucionalização
como campo acadêmico é concomitante a uma progressiva afirmação de seu
estatuto transdisciplinar. Em outros termos, é um caso de luta para afirmar
institucionalmente um campo acadêmico transdisciplinar da comunicação.
Este estatuto, como tratamos de mostrar aqui, não constitui um caso isolado,
mas antes deve ser entendido como fazendo parte de movimento
contemporâneo de reconstrução histórica das ciências sociais (...)
2
LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. O Campo da Comunicação: Reflexões sobre Seu Estatuto Disciplinar.
Revista USP no 48 , 2001. p. 55.
3 LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. O Campo da Comunicação: Reflexões sobre Seu Estatuto Disciplinar.
p. 56.
4
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 52.
6
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
5
MATTELART, Armand e MATTELART, Michèle. História das Teorias da Comunicação. São Paulo:
Loyola, 2003. p. 44.
6
Sobre Indústria Cultural ver: ADORNO, Theodor W. A indústria Cultural. In COHN, Gabriel (org.).
Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: T.A.Queiroz, 1989.
7
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação – a linguagem em movimento. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2000. p.122.
7
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
Citteli nos fala que, além dos media, as novas tecnologias levaram os estudos da
Comunicação a se voltar, também, aos pontos de chegada. Embora não pretendamos nos
aprofundar no impacto e nas transformações por elas geradas ao longo das décadas,
precisamos ressaltar que o avanço tecnológico transformou a Comunicação e instaurou uma
sociedade midiática, como nos explica Costa8:
(...) Um dos fatores responsáveis pela ruptura entre o século XIX e XX ou entre
Modernidade e Contemporaneidade foi o advento da sociedade midiática e da
indústria cultural, pois a eles estão atrelados acontecimentos que modificaram
radicalmente a sociedade européia e, por reação, o resto do mundo (...)
(...) As instituições que instauraram a sociedade contemporânea estiveram
sempre apoiadas em redes de comunicação para o intercâmbio de pessoa,
bens, capital, informações e idéias (...)
(...) É alucinante o ritmo como essas redes se estabelecem - para se ter uma
idéia, em 1850, os primeiros cabos submarinos de transmissão por telégrafos
são instalados com êxito, ligando a Inglaterra à Irlanda; quinze anos depois, a
Inglaterra comunica-se por telégrafo com a Índia, e em 1870, em apenas cinco
horas, um telegrama chega à China e à Autrália (...)
Não temos aqui o propósito de explicar o impacto do surgimento de cada uma dessas
mídias na sociedade. Interessa-nos saber que todos esses avanços tecnológicos, e os que vêm
8
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. São Paulo: Senac, 2001. p. 53.
8
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
As noções de tempo, espaço e fronteiras foram ainda mais alteradas com o advento da
comunicação digital. Máximo no mínimo, rapidez, integração e ludicidade são algumas das
“palavras de ordem” que caracterizam essa revolução, fruto do casamento entre as
telecomunicações e a informática. A união instaurou uma nova concepção de comunicação11,
na medida em que todo e qualquer som e imagem são transformados em código binário. A
Internet, rede virtual que permite acesso a dados em tempo real, por exemplo, apresenta-se
como um sistema alternativo de comunicação e de negócios12.
9
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p.79.
10
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p. 68.
11
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p. 76.
12
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação – a linguagem em movimento. p. 68.
9
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
3 – Educomunicação
13
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Heredando el futuro. Pensar la educación desde la comunicación. Revista
Nômadas. Bogotá, Fundación Universidad Central, 1996. p. 19. Grifos do autor.
14
CITELLI, Adílson. Educação e Mudanças: novos modos de conhecer. In CITELLI, Adilson (org).
Outras linguagens na escola. SP, Cortez. 2000. p. 23.
10
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
(...) Seu primeiro grande trabalho foi uma pesquisa junto a especialistas de 12
países da América Latina e países da Península Ibérica para saber o que
pensavam os coordenadores de projetos na área e qual o perfil dos
profissionais que trabalham nesta inter-relação.
O resultado foi surpreendente: descobriu-se que a interface entre
Comunicação e Educação, desenvolvida tradicionalmente na forma de uma
complementação mútua (como, por exemplo, a educação usando as
tecnologias da comunicação ou a comunicação produzindo para a educação),
havia se transformado em integração, com o surgimento de um campo novo e
distinto: a educomunicação
Com os dados da pesquisa, o NCE conseguiu definir o campo da
educomunicação como sendo o espaço que membros da sociedade se
encontram para implementar ecossistemas comunicativos democráticos,
abertos e participativos, impregnados da intencionalidade educativa e voltado
para a implementação dos direitos humanos, especialmente o direito à
comunicação. Para que isso ocorra, os profissionais da educomunicação
trabalham com o conceito de planejamento, implementação e avaliação de
projetos, desenvolvendo suas atividades assistidos por teorias da comunicação
que garantam a dialogicidade dos processos comunicativos (...)15
15
Informações retiradas do site do NCE. Disponível em: http://www.usp.br/nce/onucleo/. Acesso em 11 nov.
2004, às 21h53. Grifo nosso.
11
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
16
Documento Mídia e Educação. Brasília: MEC, 2000. p. 31.
17
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. In: Comunicação & Educação, ano
7, p.12-24, set./dez. 2000.
18
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. In: BACCEGA, Maria Aparecida (org.). Gestão de Processos Comunicacionais. São Paulo:
Atlas, 2002. p.117.
19
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p. 118.
12
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
20
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003. p. 20.
13
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
21
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p.124.
22
(...) Afirma Barbero que, para enfrentar o desafio tecnológico, devemos estar conscientes de dois tipos de
dinâmicas que movem as mudanças na sociedade: a incidência dos meios tradicionais e o impacto das novas
tecnologias na vida em sociedade, garantindo, contudo, que, ‘num primeiro momento, o que parece como
estratégico, mais que a intervenção dos meios é a aparição de um ecossistema comunicativo que se está
convertendo em algo tão vital como o ecossistema verde, ambiental’. Para Barbero, a primeira manifestação e
materialização do ecossistema comunicativo é a relação com as novas tecnologias –‘ desde o cartão magnético
que substitui ou dá acesso ao dinheiro até as grandes rodovias da Internet- gerando sensibilidades novas, muito
mais claramente visíveis entre os jovens’ (...). A explicação consta em: SOARES, Ismar de Oliveira.
Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na América Latina. p.121.
23
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p.128.
14
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
A pesquisa que apresentamos neste trabalho foi realizada com base nos produtos
audiovisuais e/ou videográficos elaborados pelos professores, e seus alunos, que participaram
desse projeto. Assim, acreditamos que o trabalho feito por nós para o Núcleo de Comunicação
e Educação da ECA/USP contribui, de alguma forma, para o campo da “Educomunicação”.
15
Capítulo II
A instituição nce-cca/usp
A instituição nce-cca/usp
1 - A Instituição USP
situá-la dentro da instituição maior da qual ela faz parte: a Universidade de São Paulo.
(...) A Universidade de São Paulo foi criada em 1934 num contexto marcado
por importantes transformações sociais, políticas e culturais, pelo decreto
estadual nº 6.283, de 25 de janeiro de 1934, por decisão do governador de São
Paulo, Armando de Salles Oliveira. Teve como mentor intelectual Júlio
Mesquita Filho, então diretor do Jornal O Estado de S. Paulo, que publicava
ostensivamente artigos e estudos favoráveis à criação de uma universidade em
São Paulo e sobre os problemas do ensino superior e universitário no Brasil
(...)
24
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.
17
A instituição nce-cca/usp
Após o incêndio da antiga sede da USP, localizado na rua Maria Antonia, os primeiros
cursos foram transferidos para um bairro distante do centro da cidade de São Paulo, o Butantã.
As unidades de ensino da USP estão distribuídas em seis campi: dois em São Paulo,
capital, e cinco no interior do estado, nas cidades de Bauru, Piracicaba, Pirassununga,
Ribeirão Preto e São Carlos. A Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, na capital,
concentra a infra-estrutura administrativa da universidade, além de 23 das 35 unidades de
ensino. A cidade de São Paulo tem ainda quatro grandes unidades que ficam fora do campus
universitário e terá um novo campus, em fase de construção, no extremo leste da cidade, em
Ermelindo Matarazzo. Há também algumas bases científicas e museus em outras cidades,
como Anhembi, Anhumas, Araraquara, Cananéia, Itatinga, Itirapina, Piraju, Salesópolis, São
Sebastião, Ubatuba e Valinhos, e ainda em Marabá, estado do Pará.
Para se ter uma idéia da importância desta Universidade na área de pesquisa, dados de
1999 mostram que ela ofereceu 487 cursos de pós-graduação, dos quais 257 de mestrado e
230 de doutorado. Em recursos humanos, a comunidade uspiana é constituída por 4.705
professores e 14.659 funcionários26.
A USP possui ainda museus e a Estação Ciência que recebem juntos quase um milhão
de visitantes. Os hospitais universitários da capital e do interior servem a uma comunidade de
mais de um milhão de pessoas. A comunicação externa se dá por meio da Rádio USP, a TV
25
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.
26
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.
18
A instituição nce-cca/usp
USP, a Agência USP, a Revista USP, o Jornal da USP, o Portal Web da USP e a Revista
Espaço Aberto.
A vida acadêmica na USP está subordinada a quatro Pró-Reitorias. Cada uma delas é
aconselhada e apoiada por um Conselho composto por representantes das Unidades da USP e
do corpo discente27:
2 - A Instituição NCE
Nosso trabalho foi realizado para um órgão da Universidade de São Paulo que
desenvolve atividades de Cultura e Extensão por meio de projetos e de pesquisa, muitos em
parceria com entidades e governo.
27
Site oficial da USP. Informações obtidas no site da USP: www.usp.br. Acesso em 21 out. 2004 às 10h23.
19
A instituição nce-cca/usp
Em linhas gerais, núcleo é um dos três tipos de organização que a Universidade cria
para desenvolver pesquisas e divulgar o conhecimento. As outras duas são: centro, instalado
junto à Reitoria Universitária, e laboratório, em nível departamental, como o núcleo.
(...) Este espaço, que representa uma forma de vida, possui um contrato local
com regras intersubjetivas que servem de mediação entre autonomia
semântica do pesquisador individual e o poder simbólico da instituição. Neste
espaço social, são realizadas práticas significativas e duradoras, estão
organizadas as vivências e as interpretações subjetivas, e estão definidas as
testemunhas que serão aceitas em seus processos de comunicação (...)
20
A instituição nce-cca/usp
Na ECA, o NCE divide o espaço de um bloco com outros três Núcleos de Pesquisas
criados junto ao mesmo Departamento: NPTN – Núcleo de Pesquisas de Telenovela, o CCP –
Centro de Cibernética Pedagógica e o LAPIC – Laboratório de Pesquisas sobre Infância,
Imaginário e Comunicação.
A proposta de trabalho do NCE é encontrar alternativas para uma maior e mais eficaz
integração da comunicação no espaço educativo, proposta esta que veio a ter sua premência
ratificada pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, especialmente através
das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio30. Os objetivos do Núcleo de Comunicação
e Educação são os seguintes31:
30
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. In: Comunicação & Educação, ano
7, p.12-24, set./dez. 2000. MONTEIRO e FELDMAN. Idem, p.18-19.
31
CÓRDOBA, Venâncio Elias Caballero. Comunicação/Educação: uma inter-relação que caminha em
direção ao futuro. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação), USP, São Paulo, 2002. p. 60.
21
A instituição nce-cca/usp
22
A instituição nce-cca/usp
Vice-coordenadora Geral:
Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Castro.
Pesquisadores Colaboradores
Adilson Citelli, Claudia Lago, Claudia Vicenza Funari, Eliany Salvatierra, Elza
Dias Pacheco, Izabel Leão, Liana Gottlieb, Maria Cristina Castilho Costa, Márcia
Coutinho, Marciel A. Consani, Marília Franco, Mauro Wilton, Patrícia Horta,
Renato Tavares Junior, Vivian Urquidi.
Equipe Gestora
Patrícia Horta (coordenação) Ana Marotto, Claudia Lago, Claudemir Viana,
Eduardo Vicente, Izabel Leão, Márcia Coutinho, Márcia Perígolo.
Colaboradores técnicos
Diego Palmas, Eliana Brito Barbosa, Francine Segawa, Francisco José Silva, José
Manoel Rodrigues, José Tadeu da Costa, Renato Tavares, Richard Romancini,
Roger Pascoal, Tiago José Alves Pessoa, Valdenete de Souza.
23
A instituição nce-cca/usp
A criação do NCE foi resultado de um longo trabalho realizado pelo seu coordenador
o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares no âmbito dessa inter-relação. Na Universidade, o
trabalho é muito individualizado, depende da iniciativa do professor, do que ele acredita, da
sua disposição, não é algo institucionalizado. O NCE é um exemplo disso, do trabalho
desenvolvido há mais de 30 anos por Soares que dedica sua vida à “Educomunicação”. Para
entender a ideologia e as características próprias do NCE, precisamos conhecer um pouco da
história deste intelectual.
24
A instituição nce-cca/usp
Depois, o professor entra em uma outra linha de trabalho que é a de promover a gestão
desta política de comunicação crítica, usando os campos da Comunicação e da Educação. A
discussão da necessidade de um profissional que vai se valer da leitura crítica e de aspectos da
inter-relação dos dois campos dá origem ao termo gestor, antecessor do termo
“educomunicador”. No final da década de 80, se falava em um novo profissional e uma nova
graduação, que deram origem à luta de Soares, e de outros professores do CCA, por um curso
de Pós-Graduação na ECA em Comunicação e Educação que acabou resultando na criação do
NCE, como vimos anteriormente.
principalmente à figura de Soares que leva as atividades do NCE para onde vai. É ele quem
vai atrás dos contratos, que leva propostas aos órgãos governamentais. Foi, inclusive, por
meio desses contatos que Soares conseguiu executar o projeto Educom.rádio em 455 escolas
32
QUEM SOMOS. Disponível em: www.educomradio.com.br/quem-somos/quemsomos.asp?area=edu. Acesso
em: 19 set. 2003, às 18h30.
25
A instituição nce-cca/usp
da rede municipal de ensino de São Paulo, tratando diretamente com a Prefeitura de São
conceitos da “Educomunicação” e sua prática por meio do uso do rádio instalado pela
Prefeitura nas escolas. No total, mais de 11 mil pessoas fizeram parte do programa.
Embora Soares tenha sido criador e gestor do NCE, vários professores dedicaram, e
ainda dedicam, suas pesquisas e sua docência ao núcleo e à “Educomunicação”, como a Profa.
Dra. Maria Cristina Costa, o Prof. Dr. Adilson Odair Citelli, a Profa. Dra. Marília Franco, a
4 - Educom.TV
33
ALVES, Patrícia Horta. Educomunicação: A experiência do Núcleo de Comunicação e Educação –
ECA/USP. p. 87.
26
A instituição nce-cca/usp
Nessa perspectiva, o curso não se caracterizou por ser meramente didático, no sentido
de ensinar os professores a apenas incorporar a tecnologia às aulas. Mas essencialmente
sócio-político-educativo ao levar o professor da rede pública a descobrir que poderia
compreender o fenômeno da comunicação e aproveitar sua potencialidade no planejamento de
seus trabalhos como cidadão e docente.
34
Informações disponíveis no portal do Ministério da Educação: http://www.mec.gov.br/seed/tvescola.shtm.
Acesso em 23 out. 2004 às 20h28.
27
A instituição nce-cca/usp
O projeto formou 2.226 cursistas vinculados a 1.024 escolas de todo o estado. Foi
ministrado a distância por meio de 35 salas virtuais, além de um encontro presencial de uma
semana. Durante todo o tempo, teve o apoio da Secretaria Estadual de Educação por meio das
Delegacias de Ensino (DEs). Coube a cada uma das 89 DEs indicar dois Supervisores de
Ensino para acompanhar o projeto e dar assistência aos cursistas em suas regiões. Os 178
supervisores indicados executaram a função de articuladores e, por isso, assim eram
chamados. A eles coube a tarefa de selecionar os professores-cursistas e dar-lhes atendimento
ao longo do desenvolvimento do projeto, ajudando os tutores no que fosse necessário. O
grupo de cursistas foi formado a partir da escolha de dois docentes de cada escola que havia
se saído bem no Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio promovido pelo MEC.
28
A instituição nce-cca/usp
A carga horária total do curso chegou a 180 horas que incluiu, além do trabalho via
Internet, um encontro presencial de uma semana, na qual os cursistas, articuladores, tutores
e orientadores puderam se conhecer e se relacionar pessoalmente. Durante a semana na
cidade de Águas de Lindóia, interior de São Paulo, foram realizados cinco seminários, sendo
um direcionado exclusivamente aos articuladores e outros quatro aos cursistas, divididos em
grupos de 500 professores cada um.
29
A instituição nce-cca/usp
Tivemos acesso a 10% desse material e fizemos uma análise dos projetos. Dos 90
analisados em nossa amostragem, 43 previam o uso da câmera de vídeo. A grande quantidade
de projetos que utilizariam esse recurso revela a disposição dos professores em realizar
produções videográficas ou audiovisuais com seus alunos. A lista dos projetos analisados
encontra-se em anexo 1.
5 - Problemática
Como já informamos, um dos objetivos de nossa pesquisa é tentar contribuir para que
a televisão possa dar espaço a esse público invisível, que aqui se apresenta como produtor,
fortalecendo as culturas locais e os atores sociais. Também é de conhecimento público que um
dos problemas enfrentados por alguns canais de caráter educativo/cutural é a falta de
conteúdo, uma vez que a produção televisiva necessita de altos investimentos financeiros.
30
A instituição nce-cca/usp
Mas, para que pudéssemos compreender o conjunto das TVs Educativas, tivemos que
estudá-lo antes de sair a campo. Sabemos que a complexidade desse universo é superior ao
tempo que dispúnhamos, mas acreditamos que as informações colhidas contribuem para a
compreensão geral das questões envolvidas à problemática.
31
Capítulo iii
Televisão e educação
Televisão e educação
Acreditamos que essa rápida consideração seja aqui necessária para que se
compreenda que o panorama que será apresentado não é o que gostaríamos, mas o que foi
possível diante de tais dificuldades e do tempo que dispúnhamos.
35
Pesquisadora e especialista em audiovisual e educação. A íntegra da entrevista pode ser conferida no anexo 3
deste trabalho.
36
Especialista em Televisão e um dos responsáveis pela ONG Tver. A íntegra da entrevista pode ser conferida
no anexo 3 deste trabalho.
33
Televisão e educação
2 – Desenrolar histórico
O Código é a Lei Nº. 4.117, de 27 de agosto de 1962, base legal das telecomunicações
no país, em parte. Isso porque ao longo dos anos, o Código sofreu modificações e foi
parcialmente revogado em 1996 com exceção dos artigos que tratam de matéria penal e,
infelizmente, dos relacionados ao serviço de radiodifusão, mais do que ultrapassados.
O Código não trata especificamente das televisões educativas, cuja primeira menção se
dá no Decreto Nº. 52.795, de 196337:
37
O Decreto foi consultado no site oficial da Agência Nacional de Telecomunicação. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 19h30. Com grifo nosso.
34
Televisão e educação
A definição legal de TV Educativa só surge em 1967 por meio do Decreto Nº. 236. Os
artigos desse decreto que tratam das TVs Educativas vão do 13º. ao 17º. Cabe aqui destacar
alguns38:
a) União;
b) os Estados, Territórios e Municípios;
c) as Universidades Brasileiras;
d) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o
Código Brasileiro de Telecomunicações.
38
Site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set.
2004 às 20h05. Com grifo nosso.
35
Televisão e educação
Mais adiante veremos que, com o surgimento da TV por Assinatura, alguns canais
também passam a ser destinados à programação educativa no cabo, de forma gratuita e além
dos definidos no artigo 14.
(...) Algumas emissoras tiveram como raiz de sua criação razões de ordem
política; outras, deveram a sua existência à tenacidade individual de
idealistas, e poucas foram as que surgiram com objetivos explicitamente
definidos (...)
Os programas didáticos com conteúdos de 5a. à 8a. séries, hoje ensino fundamental,
eram produzidos e veiculados na década de 1980, pela TVE Ceará e a TVE do Maranhão, e
estavam entre as experiências mais significativas. Mas a primeira a produzir e veicular
programas didáticos foi a TV Cultura, de São Paulo, com conteúdo voltado para o supletivo,
em 1969. O Telecurso 2º Grau apareceu apenas em 1978, obtendo, depois, a parceria da
Fundação Roberto Marinho. Mas o Telecurso 2º Grau, que antecedeu o 2000, não agradou
muito. Além do telespectador não ter o calor da presença do professor, os conteúdos eram
transmitidos em forma de aula, com lousa e giz, sem utilizar outros recursos oferecidos pelo
meio televisão.
39
Informação obtida no site da TVE. Disponível em http://www.redebrasil.tv.br/acervo/001.asp. Acesso em 21
set. 2004 às 19h12.
40
FRADKIN, Alexandre. Histórico da TV Pública / Educativa no Brasil. In: CARMONA, Beth (org.). O
Desafio da TV Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 56.
36
Televisão e educação
Este breve histórico nos revela que a TV Educativa surgiu para levar o ensino formal
aos telespectadores, como define o artigo 13o. do Decreto 236. O objetivo também recaiu às
TVs Comerciais pelo mesmo Decreto (art. 16o.). Otondo41 explica esse desenrolar histórico:
(...) O primeiro público que se pretendia atingir com isso era o dos 15 milhões
de jovens e adultos sem escolarização. Em 1971, os tele-cursos foram
legalizados e concediam diplomas. A partir de 1980, os canais comerciais já
podiam escolher os horários de transmissão desses programas obrigatórios. E
desde 1988, com a nova Constituição, que determina que a programação dos
canais comerciais deve ter fins educativos, culturais e informativos, cada um
já pode ter a liberdade para cumprir esse mandato à sua maneira (...)
3 - O caráter político
O panorama das TVs Educativas sempre foi marcado pela negociação política e uso,
também, para esse fim. Até hoje, as concessões são dispensadas de processo de licitação. O
Prof. Dr. Laurindo Leal Filho42, da ECA/USP, um dos mais respeitados especialistas em
assuntos relativos à TV Pública, lembra, por exemplo, que as concessões de emissoras
educativas praticamente se esgotaram no Governo José Sarney. Elas foram utilizadas como
moeda política para que ele pudesse ficar 5 anos na Presidência da República:
A expectativa a que se refere o Prof. Lalo, como é conhecido, foi gerada graças à
promulgação do Decreto Nº. 2.593 de 1998- Regulamento dos Serviços de Retransmissão e
Repetição de Televisão- que abriu caminho para que as retransmissoras virassem geradoras e
41
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do
consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano de Medios de Comunicaión, 2002. p. 272.
42
Esta pesquisadora entrevistou o Professor da Eca/USP em 17 de set.de 2004
37
Televisão e educação
pudessem ser usadas, na prática, para fins políticos/comerciais. O artigo do decreto que
permite a transformação é o de número 3943:
(...) Art 39. As entidades que atualmente executam o Serviço de RTV com
inserções publicitárias ou de programação (caso das Educativas),
interessadas em sua continuidade, deverão solicitar ao Ministério das
Comunicações a referência dos canais que utilizam do Plano Básico de
Distribuição de Canais de Retransmissão de Televisão para o correspondente
Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão.
Esse decreto da época em que o Ministro das Comunicações era Luiz Carlos
Mendonça de Barros foi apenas o primeiro de uma série que perpetuam a transferência até
hoje. Em maio de 2000, por exemplo, o de número 3.451 revogou a legislação anterior e
ganhou destaque na imprensa44:
Os processos deverão estar concluídos até maio do ano que vem. Entre os
potenciais beneficiários estão fundações ligadas a políticos, igrejas e grupos
privados de rádio. Doze pedidos de concessão já foram autorizados pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso e estão sendo analisados pelo
Congresso Nacional.
As novas concessões estão sendo dadas com base no decreto 3.541, assinado
pelo presidente e pelo ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, em 6 de
maio. Um decreto de igual teor, assinado em maio de 1998 por FHC e pelo ex-
ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, já previa essa
possibilidade (...).
43
Decreto publicado no site da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em: www.anatel.gov.br.
Acesso em 24 out. 2004 às 20h15. Com grifo nosso.
44
CABRAL, Octavio e LOBATO, Elvira. Governo deve criar 180 emissoras de TV. Matéria capturada do site
da ONG TVer: www.tver.org.br. Acesso em 25 out. 2004, às 19h34.
38
Televisão e educação
45
A informação foi dada a esta pesquisadora pela Assessora de Comunicação do MEC em Brasília, Ana Sueli,
em 16 set. 2004.
39
Televisão e educação
Ao estudarmos as leis reproduzidas neste trabalho, constatamos ainda que não se exige
de uma Fundação, para o recebimento da outorga de TV Educativa, a existência em seu
Conselho Consultivo e/ou na Diretoria Executiva de profissionais que tenham formação,
envolvimento ou experiência em trabalhos educativos/culturais.
Mas esses números passados pelo Ministério das Comunicações são diferentes dos
divulgados por outros especialistas nesta área. Em palestra no 4º Fórum Mundial de Mídia
para Crianças e Adolescentes, neste ano, a presidente da TVE Rede Brasil, Beth Carmona,
citou a existência de mais de mil TVs Educativas. Ela nos fornece outras informações desse
panorama47:
(...) hoje, a gente tem uma geradora, um canal gerador da televisão educativa
e que, muitas vezes, é retransmitido para uma série de pontos retransmissores.
O que faz um total de mil emissoras educativas espalhadas pelo Brasil de
46
As informações foram dadas pelo assessor Luiz Henrique da Assessoria de Imprensa da Anatel, Agência
Nacional de Telecomunicações, a esta pesquisadora no dia 03 set. 2004.
47
Informação do site da ONG Midiativa. Disponível em
http://www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/841. Acesso em 02 out. 2004, às 18h25.
40
Televisão e educação
41
Televisão e educação
A reportagem48 que divulgou esses dados informou ainda que, segundo outra pesquisa,
realizada pelo Ibope, os telespectadores de 4 a 17 anos passaram em média, quatro horas e 25
minutos por dia com a TV ligada em setembro deste ano.
43% responderam que os filhos não ocupam nada de seu tempo lendo livros ou
brincando com os amigos;
79% disseram que as crianças/ adolescentes não praticam esportes coletivos;
69% afirmaram que os filhos não usam computador.
Mas não são somente as crianças que passam muito tempo diante da TV. Uma
pesquisa feita pelo Ibope há quatro anos, com 10.300 entrevistados brasileiros de 12 a 64
anos, revelou que 55% são altos consumidores de televisão50.
5 - Questão de conteúdo
48
CASTRO, Daniel. Superligados na TV. Folha de São Paulo. São Paulo, 17 de out. de 2004. p. E1. Caderno
Ilustrada. A pesquisa foi realizadaem centros urbanos.
49
A opinião de Beth Carmona foi retirada da mesma reportagem.
50
CASTRO, Daniel. 55% dos brasileiros são “viciados” em TV. Folha de São Paulo. São Paulo, 26 de fev. de
2004. p. E8. Caderno Ilustrada.
42
Televisão e educação
Em 1999, o então Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, editou uma Portaria
Interministerial (Nº 651) em que Os Ministérios da Educação e Comunicação se reúnem e
definem o que seriam programas educativo-culturais. Apesar de manter no artigo 1º a visão
de educativo de 1967, como extensão do ensino formal, o artigo 2º expõe um novo conceito52.
43
Televisão e educação
Como Lima, Franco nos alerta que a questão não é se a TV é juridicamente Educativa,
mas como o educativo/cultural aparece na programação. A concessão de uma TV Educativa
pode ter sido dada a uma Fundação, por exemplo, que na prática, no entanto, não tem esse
tipo de conteúdo.
Por outro lado, um canal comercial também pode revelar-se educativo em sua
programação. Uma novela que aborda a questão da doação de órgãos, ou do consumo de
drogas, mais do que informar acaba formando o telespectador porque modela o
comportamento das pessoas, modificando-o. Tudo depende do modo como estas questões são
abordadas. Elas precisam estar em confronto com duas ou três opiniões, pelo menos. É
necessário, também, oferecer ao espectador oportunidades de ver coisas diferentes do seu
cotidiano. Para Franco, o conceito de Educação que existe hoje na sociedade é o da chamada
educação continuada:
44
Televisão e educação
(...) As pessoas têm que estar permanentemente aprendendo senão elas não
sobrevivem na sociedade contemporânea, particularmente as crianças e os
jovens (...). Na teledramaturgia é muito interessante você fazer, e aí é o
profundo papel educativo que pode ter, porque nem sempre é bem abordado.
Na teledramaturgia, como você tem muitos personagens, cada personagem
pode representar um tipo de visão de mundo em torno daquele assunto, de
modo que cada seguimento da sociedade se reconheça numa daquelas
atitudes, estando em confronto com as outras. Então, a novela não precisa ser
aquela coisa de colocar o dedo no nariz e dizer faça tal coisa que aquilo é que
é certo. Você permite que a pessoa, no confronto com as atitudes, reveja o seu
papel. E isso tem uma função transformadora muito mais consistente do que
apontar o dedo dizendo o que é certo, ou uma voz mansa dizendo o mesmo,
sem pôr em confronto (...)
6 – TV Pública
45
Televisão e educação
a) União;
b) os Estados, Territórios e Municípios;
c) as Universidades Brasileiras;
d) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o
Código Brasileiro de Telecomunicações (... )
Por estar ligada a um desses “executores” (dos itens a e b), as discussões referentes à
TV Pública giram em torno de três principais questões para o fortalecimento desse tipo de
TV, não só no Brasil, mas no mundo todo: a independência, o conteúdo e o investimento
(sobrevivência), como explica o presidente da TV Cultura e da ABEPEC (Associação
Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), Jorge Cunha Lima55:
54
O Decreto 236 de 1967 está disponível no site da Agência Nacional de Telecomunicações: www.anatel.gov.br.
Acesso em 20 set. 2004 às 19h30. Com grifo nosso.
55
LIMA, Jorge Cunha. O modelo da TV Cultura de São Paulo. In: CARMONA, Beth (org.). O Desafio da TV
Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 65-69.
46
Televisão e educação
(...) A maioria das TVs públicas do Brasil vive oito, dez anos de investimentos
medíocres ou nulos. A tragédia é que estamos vivendo, além de um vazio de
investimentos, um vazio de compreensão para as necessidades. A única
proposta que temos (...) é a de que tem que haver um modelo novo de repasse
da sociedade para as televisões públicas (...)
(...) A estrutura da BBC na Grã-Bretanha é financiada por uma taxa anual que
toda residência com televisor tem que pagar. Essa taxa, hoje, é de 116 libras
para a maioria das casas, com descontos para idosos, donos de aparelhos
preto & branco e cegos. A taxa gera receita anual de cerca de 2,5 bilhões de
libras, algo em torno de 12 bilhões de reais (...).
56
MESQUITA, Lúcio. O Modelo da TV Pública da BBC. In: CARMONA, Beth (org.). O Desafio da TV
Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 29-30.
47
Televisão e educação
6.1 – TV Cultura
Criado em 1969, a TV Cultura começou como uma televisão “para ensinar”, vista
como elitista, mas hoje sua programação tem compromisso com a valorização da diversidade
cultural, com a educação “complementar” e inova no jornalismo com um conteúdo batizado
por eles de “jornalismo público”. Em linhas gerais, trata-se de um tratamento diferenciado à
notícia, com profundidade, análise, a partir de fontes alternativas e, principalmente, sem
sensacionalismo.
48
Televisão e educação
áreas distintas nem sempre é fácil, mas garante o caráter educacional/cultural e a qualidade do
entretenimento exigida pelo mercado.
Em resumo, tudo o que disser “tome, “compre”, “coma”, “use”, etc., está
proibido. Permite-se a descrição de benefícios e atributos, logomarcas,
campanhas de interesse público, produtos culturais e tudo o que não incluir
comando de uso e ação (...)
Segundo Otondo, esse trabalho de longo prazo exige uma educação dos publicitários e
a conscientização do mercado de que esse é um espaço novo, que pode agregar valor à marca.
57
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do
consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano de Medios de Comunicación, 2002. p. 289.
58
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. p. 291.
49
Televisão e educação
7 - TV por Assinatura
50
Televisão e educação
Entre todas as tecnologias, a que mais nos interessa aqui é a TV a Cabo que,
diferentemente das demais, possui uma legislação própria, a Lei Nº 8.977de 1995. Interessa-
nos mais do que as outras porque a tecnologia MMDS é pequena no país e o satélite não
carrega em si conteúdo local. Já a Lei do Cabo60 não apenas permite a inserção de conteúdo
local, como a obriga e gratuitamente:
59
Todas as informações a respeito da TV por assinatura até esse trecho do capítulo foram retiradas do site da
Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA): www.abta.com.br, no dia 20 out. 2004, às 20h38.
60
Trechos da lei foram retiradas no site da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 out. 2004 às 21h15. Com grifo nosso.
51
Televisão e educação
52
Televisão e educação
61
Informação do site: www.redestv.com.br, acesso em 20 out. 2004 às 22h28.
62
A entrevista foi concedida pelo diretor Robson Moreira a esta pesquisadora em maio deste ano.
53
Televisão e educação
Para levar adiante esse conceito, quase toda a equipe de profissionais se dedica a
encontrar pautas interessantes e realizar a produção dos programas que são gravados por
produtoras independentes ou co-produzidos a partir de projetos apresentados ao canal.
Segundo o diretor de programação, a Rede STV é uma das que mais recebem pedidos de
cópias de programas e o que menos cobra por isso. Uma fita de 30 minutos sai por cerca de 10
reais63 enquanto outros canais do mercado cobram por volta de 150 reais. Devido à demanda,
o canal precisou montar um departamento de cópias para atender, em média, 400 pedidos
mensais, solicitados principalmente por escolas, faculdades e institutos culturais, embora a
programação não tenha público-alvo definido.
8 - TV Comunitária
Essa comunidade foi atraída pelo Decreto Nº. 96.291, de 1988, e a Portaria MEC Nº
93, de 1989, que permitiram às TVs inserir conteúdo de interesse local desde que não
ultrapassasse 15% do total da programação da emissora a qual estivesse vinculada. Assim,
elas se tornaram retransmissoras de caráter misto, se auto-denominando TVs Comunitárias.
Mas isso não deu muito certo, como explica Fradkin64:
63
Valor informado em maio de 2004 quando a entrevista com o diretor da Rede STV foi realizada.
64
FRADKIN, Alexandre. Histórico da TV Pública / Educativa no Brasil. In: Carmona, Beth (org.). O Desafio
da TV Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 60.
54
Televisão e educação
De acordo com as informações levantadas por esta pesquisadora, teríamos, então, TVs
Comunitárias em canal aberto que seriam essas RTVs -que não viraram geradoras- e as que se
transformaram. No entanto, a maioria é oriunda da Lei da TV a Cabo porque não existe, em
canal aberto, qualquer legislação sobre TV Comunitária.
65
Entrevista concedida a esta pesquisadora em 26 out. 2004. A íntegra pode ser conferida em anexo.
66
Capturado do site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em www.anatel.gov.br.
Acesso em 20 set. 2004 às 20h05. Com grifo nosso.
55
Televisão e educação
Apesar do mesmo regulamento, em seu artigo 65, determinar que o Ministério das
Comunicações se responsabilizará pela resolução de dúvidas e conflitos relativos a utilização
dos canais, a ausência de uma disciplina mais clara a respeito da utilização do espaço
disponível na programação deixa dúvidas quanto à transparência dos processos de
preenchimento da grade horária do canal comunitário.
Em canal aberto, não há legislação que crie e discipline as novas TVs Comunitárias.
Tramita, atualmente, no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.701/9768, de autoria do
deputado federal Fernando Ferro, do PT de Pernambuco. Esse Projeto disciplina os Serviços
de Televisão Comunitária, assim compreendido como aquele que se destina a radiodifusão de
sons e imagens, em freqüência UHF ou VHF, operados em baixa potência. Estariam aptos a
explorar tal serviço as Fundações ou Associações civis, sem fins lucrativos, com sede na
localidade da prestação do serviço.
67
O Decreto foi consultado no site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 20h30.
68
Informação disponível no site da Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br. Acesso em 16 out. 2004, às
20h30.
69
Entrevista concedida a esta pesquisadora em 26 out. 2004. A íntegra pode ser conferida em anexo 2.
56
Televisão e educação
57
Televisão e educação
9 - TV Universitária
Para compreender o universo das TVs Universitárias, vamos citar aqui o exemplo do
Canal Universitário de São Paulo (CNU). Sintonizado pelo canal 7 da NET e 71 da TVA,
ambas operadoras de TV a Cabo, o CNU foi inaugurado em novembro de 1997.
Cada uma das instituições integrantes possui o mesmo tempo na grade de programação
(duas horas diárias ou catorze semanais) e tem autonomia para distribuir em seus horários os
programas – próprios ou de terceiros – que julgar mais adequados e interessantes ao público
telespectador.
70
Informações disponíveis no site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível em
http://www.abtu.org.br/mapaTVU.asp. Acesso em 16 out. 2004 às 21h53.
58
Televisão e educação
Universitária", por não pertencer a uma única universidade. Ainda assim, as universidades
integrantes trabalham numa perspectiva de integração, buscando co-produções e atividades
comuns.71
71
Informações retiradas do site do Canal Universitário de São Paulo. Disponível em:
http://www.cnu.org.br/cnu/canal.htm. Acesso em 16 out. 2004, às 22h20.
72
Texto capturado do site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível em:
www.abtu.org.br/duvidas.asp#2. Acesso em 15 ago. 2004, às 15h30. Com grifo nosso.
73
Trecho copiado de artigo publicado no site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível
em: http://www.abtu.org.br/arquivos_TV_educativa_3grau.asp. Acesso em 15 ago. 2004, às 16h05.
59
Televisão e educação
(...) Uma terceira visão já admite que a Televisão Universitária pode ser mais
do que um meio de expressão dos estudantes, ou de acesso a seu universo de
interesses e preocupações. Admite que a Universidade é uma instituição
composta por, pelo menos, três segmentos perfeitamente distintos – estudantes,
professores e funcionários – e que uma televisão que dela surja, ou a ela se
destine, não pode perder de vista que a sua unidade provém exatamente dessa
trindade. No entanto, por originar-se da mesma Universidade, o templo do
conhecimento, o repositório do saber, a Televisão Universitária tem missão
estritamente educativa, devendo se ater aos conteúdos formadores e
informativos, sem desperdiçar tempo e recursos com o entretenimento (...).
9.1 - TV PUC/SP
Vimos que uma TV Universitária pode pertencer a uma universidade ou ser um espaço
de veiculação da produção televisiva de várias instituições de ensino superior. Para
compreender o universo das TVs universitárias, apresentamos aqui um exemplo mais
aprofundado. Ele mostra como os núcleos de produção universitária podem surgir e que
dificuldades enfrentam em realizar conteúdo de caráter educativo/cultural em meio
acadêmico.
60
Televisão e educação
Dez anos depois, surge a primeira experiência de implantar a TV PUC num circuito
interno com oito receptores espalhados pela Universidade. Durante várias vezes ao dia, o
canal interno veiculava duas horas de um programa semanal, repetido várias vezes. O projeto
de um núcleo de produção, propriamente dito, foi montado por Gabriel Priolli junto à
Coordenadoria Geral de Cultura e Extensão da PUC-SP. Em 1993, a TV PUC estava criada:
- 1 Diretor;
- 2 coordenadores, que também respondem pela direção;
- 1 secretária de direção;
- 1 profissional formado e 1 estagiário da Faculdade de Administração que
respondem pela área administrativa da TV PUC;
- 1 profissional formado em Rádio e TV e um estagiário da Faculdade de História,
responsáveis pelo arquivo;
- 2 câmeras profissionais;
- 2 assistentes profissionais;
- 1 técnico profissional responsável pela parte elétrica;
- 3 repórteres profissionais;
74
A apresentação dos objetivos da TV PUC foram retiradas do site da instituição. Disponível em:
http://www.tvpuc.com.br/frameSet.asp?frame=quem. Acesso em 18 ago. 2004, às 19h30.
61
Televisão e educação
Cabe aqui informar que as matérias produzidas pela TV PUC surgem a partir da defesa
de teses dos pesquisadores, seminários, discussões, sugestões de professores, alunos e
funcionários da PUC-SP, além de temas da sociedade que, de alguma forma, casam com a
universidade e seus agentes. Essas pautas podem virar matéria para alguns dos programas que
a TV PUC produz, e co-produz em parcerias, documentários ou ainda programas especiais.
Além do Canal Universitário de São Paulo, outros canais também transmitem alguns
programas, documentários e projetos especiais do núcleo como a TV Cultura, a TVE, a Rede
STV (Sesc/Senac), entre outros. Vale ressaltar, ainda, que a TV PUC possui uma rede de
colaboradores que trabalham de acordo com projetos.
62
Capítulo iv
Um Estudo em profundidade
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
1 – TV NGT
A sede da NGT, em São Paulo, chama a atenção pelo seu tamanho se pensarmos de
que se trata de uma televisão recém-inaugurada. Ela possui 6.800 m² de área construída com
oito estúdios de 100 a 500 m² localizados na Marginal do Rio Pinheiros, no Butantã. Para se
ter uma idéia do investimento, a maioria destes estúdios supera em tamanho os de grandes
redes de televisão comerciais como a Bandeirantes, a Record e TV Gazeta. O prédio foi
construído pelo presidente da NGT e apresenta requintes de decoração, mesmo na parte não
64
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
utilizada, como filetes de ouro e outras pedras caras nas paredes de um camarim. Apenas 1/3
dessa área, aproximadamente, é usada, sendo raro o aluguel do resto do espaço para outras
empresas. Já a futura filial do Rio de Janeiro é mais modesta, 2mil m², localizada no bairro de
São Cristóvão.
Uma pesquisa realizada em meados de 2003 revelou quais as emissoras de TVs mais
lembradas no país77. Acrescentamos na reprodução a freqüência dessas emissoras:
- Globo: 73% (VHF);
- SBT: 11% (VHF);
- Canais pagos: 3%;
- Rede Record: 3% (VHF);
- Band: 2% (VHF);
- TV Cultura: 1% (VHF);
- Outros: 4% ( VHF e UHF onde a NGT se localizaria)
- Não souberam / não responderam: 3%
75
O presidente da emissora concedeu entrevista a esta pesquisadora em 27 jul. 2004.
76
O diretor comercial Mário Pestana concedeu entrevista a esta pesquisadora em 20 ago. 2004.
77
NA CABEÇA dos paulistas. Jornal Meio & Mensagem. São Paulo, Especial, 26 julho 2004. p. 15. A
freqüência dos canais foi incluída por esta pesquisadora.
65
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
2 - Manuel e NGT
Para compreender o que é a NGT, é preciso conhecer sua história. Esta, por sua vez, se
mistura à trajetória de seu fundador e atual presidente, Manuel Antonio Bernardi Costa. Ex-
funcionário da TV Cultura, Manuel Costa, como é conhecido no meio, comandou a
implantação da rede de TVs retransmissoras daquela TV Educativa no interior do estado de
São Paulo durante a gestão do governador Paulo Maluf (1978-1982). Engenheiro
eletrotécnico por formação, Manuel Costa trabalhou por 25 anos naquele canal.
Quando deixou a TV Cultural, no início dos anos 80, com dois sócios montou uma
empresa de engenharia, chamada OMNI, que apesar de atuar na área de telefonia também
oferecia ao mercado consultoria e projetos para a montagem de emissoras de TV, por conta da
experiência de Manuel. O primeiro serviço nesta área foi para a TV Educativa de Sergipe, a
pedido do governo do estado, por meio da Fundação Aperipê. Essa televisão foi criada como
veículo de resposta para que o governador João Alves pudesse rebater as críticas da família
Francos, adversária político e proprietária das outras duas emissoras no estado.
Naquela época, idos do governo José Sarney, as concessões eram meramente políticas,
uma decisão do presidente da República que beneficiava quem ele escolhesse, geralmente aos
políticos, de acordo com o Decreto nº 52.795 de 31 de outubro de 196378:
78
A íntegra do decreto está disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 14 set. 2004 às 21h30.
66
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
e TV. Com o fim da sociedade, o presidente da NGT tornou-se proprietário desta indústria,
meio a contragosto, com o desafio de fazê-la crescer. Essa herança o tornou ainda mais
próximo do universo televisivo até que, em 1992, resolveu obter uma permissão de
retransmissora de TV mista.
Com ambições maiores do que possuir uma retransmissora, Manuel Costa aproveitou
as mudanças na área de telecomunicações durante a gestão de Sérgio Mota no Ministério das
Comunicações para pleitear a concessão de uma geradora. Acreditamos que ele tenha sido
beneficiado pela lei Para isto, criou em 2001 a Fundação de Fátima, uma vez que as
concessões de geradoras de TVs Educativas não podem ser entregues às pessoas físicas ou
empresas.
79
A explicação foi dada pelo advogado Henrique de Paula Batista, consultado por esta pesquisadora no dia 03
out. 2004.
67
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
Como geradora, a NGT pode produzir toda a programação e constituir uma rede. Seu
alcance atualmente é a cidade de São Paulo e a região metropolitana, mas Manuel Costa já
trabalha para que a abrangência seja nacional. Ele negocia o aluguel de um canal em um
satélite para que a programação possa ser retransmitida por outros canais. A antena está
instalada na avenida Paulista, na torre da TV Gazeta, e a freqüência é a da retransmissora
fechada, 48 UHF.
3 - A caminho do futuro
A NGT tem hoje dois objetivos principais: obter anunciantes e transformar-se em rede
nacional nos próximos meses. Para tornar-se rede, a emissora precisa contratar um serviço de
satélite para que ele faça a distribuição do sinal pelo país. A partir daí, unir o maior número de
TVs Educativas privadas (não ligadas a municípios, estados ou à União) e comerciais que
conseguir para montar uma rede liderada pela NGT. De acordo com o jargão jornalístico, ela
seria chamada de “cabeça de rede”. A grade de programação seria diversificada com o
conteúdo realizado por estas TVs, além de outras parcerias.
A NGT já possui uma emissora na cidade do Rio de Janeiro que irá retransmitir sua
programação. O canal educativo 26 é de Manuel Costa que pretende, ainda, obter a concessão
de uma terceira TV, em Brasília. Para o Distrito Federal, o presidente planeja, num longo
prazo, criar uma agência de notícias. As três cidades foram escolhidas porque, na visão do
empresário, São Paulo é onde está o poder econômico do país, Brasília, o poder político e Rio
de Janeiro, o social. Manuel Costa explica como seria a rede Nova Geração de Televisão:
68
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
4 – Organograma
O quadro de funcionários da NGT, até dezembro, era formado por profissionais que
vinham da UNITV e por outros contratados em agosto de 2003. Quando esta pesquisa foi
realizada, o canal possui 26 funcionários, com exceção do presidente e da vice-presidente,
sendo que, da equipe montada em agosto de 2003, apenas dois permaneceram.
Tanto antes das demissões como agora, os salários dos funcionários seriam pagos com
o dinheiro particular do presidente da NGT. Quando houve a contratação de agosto, a
expectativa da direção da emissora era a de que algumas pessoas desta estrutura, como o
diretor de programação, trouxessem anunciantes para a emissora. Mas isso não aconteceu, os
anunciantes não vieram com os funcionários, nem foram atraídos pela programação que foi ao
ar em outubro. Sem condições financeiras para manter essa estrutura por mais de 5 meses, o
presidente da NGT optou pelo corte de pessoal em dezembro daquele ano. Ficaram os
funcionários contratados antes de agosto, que tinham uma ligação mais antiga com Manuel
Costa, além de Zé Maria, diretor de programação, e Mário Pestana, diretor comercial,
contratados junto com a equipe mantida só até o último mês daquele ano. Gostaria de destacar
algumas pessoas-chave, de um total de 27 funcionários quando a pesquisa foi realizada:
80
Esta e as próximas declarações deste capítulo foram retiradas de uma longa entrevista concedida pelo
Presidente da NGT à esta pesquisadora no dia 27 jul. 2004.
69
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
Alessandra Barbosa Costa: filha mais velha de Costa, é dona de uma agência de
turismo e por isso, aparece pouco no canal. É diretora do programa “Mais
Saudável”, mas não possui função definida na empresa, resolvendo problemas
ligados à telefonia, informática entre outros. Responde os e-mails que chegam à
TV.
5 – Programas
A grade é formada por conteúdos cedidos, principalmente, pelos canais TVE e Rede
SescSenac. Dois outros internacionais, TV Fashion e Infinito também são parceiros, cedendo
parte de sua programação.
A parceria com a Rede SescSenac prevê troca de conteúdos. A Rede a cabo permite a
transmissão de alguns programas sem o seu logotipo e, em troca, adquire dois programas
produzidos pela NGT, o Super Sônico e o Pop Music. O contrato assinado, tanto com a Rede
SecSenac quanto com os internacionais, prevê que a verba publicitária adquirida pela NGT, a
partir de programas desses canais, deverá ser dividida igualmente.
70
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
Rede SescSenac
Mantida com verba de instituições ligadas ao comércio:
Museus e Castelos: uma visita monitorada por museus e castelos em todo o mundo,
unindo às imagens informação contextualizada;
Trampolim: voltado para jovens, informa sobre as profissões e o mercado de trabalho.
Oficina de Vídeo: no mesmo estilo de “O Mundo da Fotografia”, mas dedicado ao
vídeo. No dia 29 de agosto, tratou das dificuldades de se obter patrocínio para filmes.
Fashion TV
Trata-se de um canal voltado para o mundo da moda e a NGT exige alguns dos documentários
produzidos a partir de desfiles.
São Paulo Fashion Week: o programa nos dias assistidos tratava da semana de moda
em São Paulo, enfocando as roupas e estilos.
Infinito
O canal apresenta documentários e programas de “curiosidades”. Obs: Títulos são mantidos
em inglês e dublados, assim como o programa:
TV Rodeio
O programa Geração Country é veiculado por um canal de São José do Rio Preto e cedido
pela produtora para transmissão na NGT. No dia 29 de agosto, foi dedicado à etapa de um
rodeio em Paranaíba, Mato Grosso do Sul. Com exceção das informações sobre essa cidade, o
programa fala das particularidades do mundo do rodeio e sua moda, ao estilo dos cowboys
norte-americanos com música internacional de fundo e as “Darlenes” do Rodeio. Um outro
programa foi dedicado ao cantor Daniel.
72
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
Super Sônico
Veicula clipes de músicas nacionais cedidos pelas gravadoras.
Pop Music
Transmite músicas internacionais evitando, como no caso do Super Sônico, clipes com
imagens de sexo e que incentivem o álcool, o fumo, de acordo com os critérios do responsável
pela programação.
Cuidando de você
É apresentado pelo médico, e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, José Aristodemo Pinotti
que, a cada programa, recebe um especialista para tratar de doenças ligadas a um órgão
específico do corpo humano. A produção fica por conta de funcionários pagos pelo médico,
que não recebe salário da NGT. O valor que possa ser obtido a partir de publicidade deverá
ser dividido com Pinotti.
Em Foco
O apresentador Fernando Zuppo, coordenador de campanha de um candidato à prefeito de
Osasco, recebe convidados para entrevista. A produção é realizada por um funcionário pago
por Zuppo, que não recebe salário da emissora. O valor que possa ser obtido a partir de
publicidade deverá ser dividido com apresentador. No dia 29 de agosto, por exemplo, Zuppo
entrevistou o Sr. Sidney Federmam que que falou sobre seu livro de como evitar o câncer por
meio da alimentação.
Mais Saudável
O projeto do programa foi criado por Alessandra Costa, filha de Manuel Costa, e duas amigas,
uma nutricionista e outra roteirista, sobre nutrição. É apresentado pela nutricionista e
produzido pelas outras duas, que não recebem nada pelo trabalho, nem têm ligação com a
emissora. Se surgirem anunciantes, o valor será distribuído entre a NGT, a nutricionista e a
roteirista.
Jornal da NGT
Único programa considerado jornalístico pela direção da NGT, é apresentado por dois
jornalistas, também responsáveis pela sua elaboração, e gravado antes de ser veiculado às 21
horas. Algumas notícias são retiradas da internet e lidas durante o telejornal sem imagens de
fundo (notas peladas). As reportagens usadas no jornal são enviadas ao meio-dia pela TVE e
às 13h30 pela Radiobrás (TV NBR). Existe um funcionário terceirizado (trabalha por conta
própria), que sai pela cidade de São Paulo captando imagens que podem dar origem a alguma
matéria própria da NGT. Os dois jornalistas se pautam e escolhem as matérias enviadas pela
Radiobrás, trabalhando com total liberdade dentro desses limites.
73
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
Ao assistir a programação nos dias informados, pudemos perceber alguns detalhes que
gostaríamos de registrar:
a) Alguns programas que passam pela manhã são reprisados à tarde, no mesmo dia;
b) São poucas as vezes em que a vinheta-tema da NGT aparece;
c) Principalmente pela manhã, os programas são bruscamente cortados para que outro
possa entrar.
Essa aparente falta de zêlo e essa programação não foram as idealizadas pela primeira
equipe formada, que trabalhou entre agosto e dezembro, na formatação de conteúdo próprio,
voltado para a cultura e as artes. Eles elaboravam uma grade no formato e qualidade das TVs
a Cabo. Em linhas gerais, a proposta inicial era produzir programas alternativos para
transmissão no horário em que as grandes redes veiculassem conteúdos semelhantes. Assim,
enquanto a maioria veiculasse telejornal, a NGT pretendia passar programa para jovens. Pela
manhã, quando os formatos televisivos são voltados para a dona de casa e crianças, a emissora
apresentaria algo diferente. Esta concepção de programação, no entanto, não foi levada
adiante porque o mercado publicitário não “comprou” a idéia e a NGT não foi inserida nas
redes a cabo, como se pretendia.
O responsável pela programação da NGT é quem escolhe dentro dos programas dos
canais Fashion TV, Infinito, TVE e SescSenac quais devem ir ao ar. Zé Maria81 afirma que
sua decisão parte de seu feeling e da imagem que a emissora tenta passar, uma imagem de TV
voltada para a família e que acrescente conteúdo ao telespectador. Ao se referir a
programação familiar, Zé Maria diz que os clipes escolhidos para os programas Super Sônico
e Pop Music não mostram cigarros, cenas de sexo ou nudez, por exemplo.
81
A entrevista com Zé Maria foi realizada por esta pesquisadora em 12 ago. 2004.
74
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
pela NGT. Neste último caso, a responsabilidade é de cada apresentador, que tem liberdade
para produzir dentro desses critérios não muito claros.
6 - A questão comercial
Por ser uma TV Educativa, a NGT não poderia, de acordo com o Decreto 236, de
1967, transmitir comercial durante os intervalos. Mas na prática, o canal não os transmite
porque não consegue anunciantes. O que vemos hoje nas TVs Educativas, entre elas a TV
Cultura, é a desobediência à lei que estaria ultrapassada na opinião da maioria dos que
trabalham com esse tipo de televisão atualmente. A publicidade acaba sendo veiculada aos
moldes das TVs Comerciais ou sob forma de patrocínio e apoio, o que é mais comum.
82
NA CABEÇA dos paulistas. Jornal Meio & Mensagem. São Paulo, Especial, 26 julho 2004. p. 12.
75
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
departamento de marketing para divulgar a existência desta nova TV, ainda desconhecida no
mercado. Esse desconhecimento por parte do mídia, pessoa responsável pela distribuição da
verba de patrocínio nos meios de comunicação, é um outro obstáculo. Até pouco tempo atrás,
nem mesmo as entidades sem fins lucrativos buscavam a NGT para solicitar a transmissão
gratuita de seus comerciais.
Dessa forma, Mário Pestana trabalhou com uma equipe montada antes do corte de
dezembro de 2003 baseado na expectativa de inserção da NGT na rede a cabo. Nas agências
de publicidade, eles apresentavam uma TV que, podendo ser assistida via cabo, tinha uma
programação mais segmentada, voltada para a cultura e as artes, com a vantagem de estar em
canal aberto. Entrar no cabo também era importante para atingir as classes A e B, principais
assinantes e segmentos explorados pelos anunciantes. Mas a NGT e as TVs a cabo não
chegaram a um acordo para a veiculação gratuita de sua programação, que segundo a NGT
estaria assegurada pela Lei da TV a Cabo, e a expectativa não se concretizou.
Até os meses em que a pesquisa deste trabalho foi realizada, a NGT não havia
conseguido verba considerável de publicidade. Transmitiu alguns poucos comerciais, que de
tão insignificantes não foram revelados pelo diretor, e que ficaram no ar menos de 10 dias. É
importante ressaltar que os programas veiculados não geram receita para a emissora, que não
cobra pelo espaço usado por programas produzidos/apresentados por terceiros.
76
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
O canal tem buscado parceiros dos mais variados segmentos, desde escolas até lojas.
Como exemplo, o presidente da NGT Manuel Costa cita a FMU (Faculdades Metropolitanas
Unidas) e suas faculdades de moda e culinária, que poderiam ser tema de programas, pagando
pelo espaço de veiculação. Os futuros programas que surgirem na NGT devem seguir a nova
estratégia comercial, a não ser que possam ser criados e mantidos com os recursos que a
emissora já dispõe.
7 - Em busca de um satélite
As empresas com algum capital brasileiro, que têm satélites em órbita atualmente, são
a Embratel e a Hispamar, uma associação entre o grupo espanhol Espasat e a Telemar,
brasileira com 20% das ações da Hispamar. A NGT até poderia contratar o serviço de uma
77
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
O satélite A1 foi substituído pelo Brasil SAT B1 que não comporta mais o
recebimento de sinal de outros canais. A NGT terá obrigatoriamente que alugar um satélite
numa posição orbital diferente. Não ser distribuído pelo B1 prejudica a audiência do canal, já
que a antena parabólica da maioria dos telespectadores está voltada para o das grandes redes
de TV e não receberá o sinal da NGT.
Embora não exista um número exato de antenas parabólicas no país, a TVE divulga a
existência de 7 milhões84 apontadas para o satélite B1. Então, são 7 milhões de residências a
menos para a NGT, já que é improvável que o telespectador chame um técnico para direcionar
sua antena para o satélite de onde o sinal da nova emissora será distribuído. O único modo da
programação ser sintonizada nessas residências é por meio de canais locais retransmissores.
83
As informações deste capítulo e do seguinte (7 e 8) foram dadas pelo diretor de rede, Lutero Rocha, em
entrevista a esta pesquisadora em agosto de 2003.
84
Informação retirada do site da TVE Rede Brasil. Disponível em:
http://www.tvebrasil.com.br/empresa/empresa_emssorasafiliadas.htm. Acesso em 29 ago. 2004 às 18h05.
78
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
8 - Constituindo a rede
Para fazer o sinal da NGT chegar aos telespectadores que não têm antena parabólica, e
também aos que têm mas estão direcionadas para o satélite B1, a emissora precisa de TVs
espalhadas pelo país que recebam seu sinal e o retransmita. Ribeirão Preto, Bauru, Barretos e
outras cidades de Fortaleza, Recife e Mato Grosso já teriam procurado a NGT interessadas em
fazer parte da rede, mesmo sem haver ainda uma investida da emissora para captá-las.
Tecnicamente, elas só precisam possuir uma antena parabólica para poderem receber o sinal e
distribuí-lo para a área de abrangência correspondente.
Além desses fatores, o interesse de TVs pela programação da NGT poderia surgir a
partir das seguintes hipóteses:
a) no caso de uma TV Educativa: outra TV da região já retransmitiria a programação
da TVE e a NGT seria nova opção;
b) no caso da uma TV comercial: outras TVs daquele local transmitiriam a
programação de grandes redes de TV, como Globo, Record e Bandeirantes e a NGT seria uma
outra opção;
c) a maioria das TVs espalhadas pelo país prefere retransmitir a gastar com produção
de conteúdo.
Se a NGT se transformar em rede nacional, ela será a única rede educativa do país 24
horas no ar. O canal TVE não é rede nacional, apenas cede sua programação para quem possa
interessar. E a Rede Pública de Televisão, formada por programas de várias educativas,
principalmente a TV Cultura e a TVE, tem horário restrito para ser formada, ou seja,
transmitida, cerca de apenas 6 horas. Assim, a NGT teria sua programação retransmitida,
quase na íntegra, pelas repetidoras locais, que só incluiriam seu jornal regional e um ou outro
programa, conforme ficar estipulado em contrato.
79
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
9 - Questões de Comunicação
Nas entrevistas realizadas por esta pesquisadora, ficou claro que não existe um projeto
de comunicação para a TV, nem interna, nem externa. A comunicação não seria uma
preocupação dos diretores da emissora porque todos os esforços estariam concentrados em
criar uma grade de programação sólida e de qualidade, além da expansão da rede. O
presidente chegou a dizer que a ele não interessa tornar a emissora conhecida enquanto não
tiver programas estáveis em rede nacional.
Temos, então, duas perspectivas de novos conteúdos: devem vir de parceiros e/ou de
projetos ligados à nova estratégia comercial. Mas não se cogitaria a alternativa de obter
80
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
programas junto às futuras retransmissoras porque elas seriam vistas apenas como tal e não
como produtoras de conteúdo local.
Uma outra questão é a falta de critérios bem definidos para o conteúdo de programas
produzidos ou obtidos. Esta pesquisadora observou que, atualmente, por conta da falta de
conteúdo, quase tudo é aceito, como os programas que teriam uma inclinação mais política e
comercial. Qual seria a definição de educativo que a NGT trabalha? Esses critérios não seriam
importantes para se constituir uma identidade nacional?
85
Conforme entrevista concedida a esta pesquisadora. Íntegra no anexo 3.
81
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
A breve consideração que aqui se apresenta não significa, no entanto, que o educativo
não apareça no canal. Atualmente, a NGT exibe programas desse tipo porque seus dois
principais parceiros, STV e TVE, se enquadram nesse perfil.
Os poucos programas produzidos pela NGT, de clipes e culinária, não poderiam ser
classificados como “educativos”. Nem mesmo o de entrevista, que mais parece estar no ar
para divulgação de personalidades e produtos. A exceção é o jornal da NGT, precário,
produzido com matérias da Radiobrás e notas peladas.
Vemos, então, uma programação híbrida, e que não revela a que veio. Um quebra-
cabeça montado sem critérios definidos, a partir de conteúdos cedidos e produzidos, nesse
último caso, sem obedecer critérios mais definidos, e que não existem. Assim, entendemos
que falar em programação da NGT não corresponderia à verdade porque 90% dela vem de
outros canais.
82
UM Estudo EM PROFUNDIDADE
imóvel comprada para sediar a TV, em região nobre da cidade. Num outro extremo, os
apresentadores dos poucos programas produzidos não recebem salário.
Enfim, o presidente da NGT acha que pode tornar a emissora uma rede nacional de
televisão nascendo grande, híbrido e com poucos investimentos em programação.
83
Capítulo v
Metodologia de pesquisa
Metodologia de pesquisa
1 – Método e amostragem
Toda opção metodológica é fruto de uma escolha pessoal, e ideológica, com a qual o
pesquisador se identifica. Essas decisões são teoricamente amparadas por Runkel e
McGrath86:
Tendo como base os paradigmas que norteiam este trabalho, decidimos que
partiríamos dos projetos elaborados no Educom.TV para realizarmos a nossa pesquisa. De
uma amostragem de 90 projetos (10% do total), identificamos 43 que previam o uso de
câmeras de vídeo. Escolhemos esses projetos que pretendiam realizar produções audiovisuais
ou videográficas com os alunos porque acreditamos que eles seriam a materialização de
práticas “educomunicativas”. Os vídeos produzidos a partir do curso são de uma riqueza
incalculável por terem sido feitos por pessoas que até aquele momento não se viam como
produtoras. Há de se considerar também de que se trata de projetos que levaram tempo para
serem elaborados, foram cuidadosamente planejados e estão respaldados por uma carga
teórica também utilizada neste trabalho.
Para a seleção desses canais, partimos de alguns critérios. O primeiro deles, e talvez o
mais importante, é o caráter educativo/cultural desses meios de comunicação de massa que
trabalham com produção videográfica ou audiovisual. Essa decisão parte da premissa de que
não haveria interesse pela produção escolar em TVs comerciais.
86
RUNKEL, Philip J. e MCGRATH, Joseph F. Research on human behavior, Nova Iorque: Rinehart &
Winston, 1972. p. 2.
85
Metodologia de pesquisa
O segundo critério foi a opção por pelo menos um canal que representasse os tipos de
TVs Educativas definidos pela legislação brasileira, ligados a87:
e) União;
f) os Estados, Territórios e Municípios;
g) as Universidades Brasileiras;
h) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o Código
Brasileiro de Telecomunicações.
Sempre com a preocupação de ter um olhar menos ingênuo, sabendo que cada técnica
que empregaremos nos dará um tipo de informação, um dado distinto, decidimos pela
entrevista qualitativa como a metodologia de pesquisa. Essa escolha, amplamente empregada
no campo das Ciências Sociais, é essencialmente uma técnica, ou método, para estabelecer
ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos, além daqueles da
pessoa que inicia a entrevista88.
Os entrevistados, como vimos, não são muitos, mas seriam suficientes para o que nos
propomos. Essa decisão encontra respaldo em Bauer e Gaskell89:
87
Artigo 14 do Decreto 236, de 1967. Capturado do site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações.
Disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 20h05.
88
FARR, R. M. Interviewing: the Social Psychology of the Interview. In FRANSELLA, F (ed.). Psychology for
Occupation Therapists. London: Macmilliam, 1982.
89
BAUER, Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis – RJ:
Vozes, 2002. p. 68.
86
Metodologia de pesquisa
Com todas assim informações reunidas, fomos a campo com um roteiro de entrevista
em mãos, um tópico guia, planejado para dar conta da finalidade da pesquisa. Como o próprio
nome já explica, trata-se apenas de um guia para que não nos perdêssemos. Tentamos deixar
os entrevistados o mais à vontade possível, mas tivemos o cuidado de não desperdiçarmos o
tempo saindo da entrevista sem as informações que tanto buscávamos. Durante o uso do
tópico guia, seguimos da recomendação de Bauer e Gaskell91 de usarmos a nossa imaginação
social:
(...) O entrevistador deve usar sua imaginação social científica para perceber
quando temas considerados importantes e que não poderiam estar presentes
em um planejamento ou expectativa anterior, aprecem na discussão. Isto deve
levar à modificação do guia para subseqüentes entrevistas. Do mesmo modo, à
90
BAUER e GASKELL. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. p. 78.
91
BAUER e GASKELL. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. p. 67.
87
Metodologia de pesquisa
medida que uma série de entrevistas for acontecendo, alguns tópicos que
estavam anteriormente na fase de planejamento, considerados centrais, podem
se tornar desinteressantes, até mesmo devido a razões teóricas, ou porque os
entrevistados têm pouca coisa ou nada a dizer sobre eles (...)
As perguntas foram feitas quase que como um convite para que os entrevistados
pudessem falar de acordo com seu próprio ritmo e com tempo para refletirem a respeito. O
valor dado às entrevistas, no entanto, não exclui a postura do entrevistador em não aceitar
nada como se fosse pacífico. Além dessa preocupação, tivemos a de ir além do discurso do
entrevistado, realizando conexões de dados e cenários para tentarmos ultrapassar o real tal
como se apresentava. Lopes92 nos lembra que a construção do objeto é sempre uma atividade
intelectual complexa:
Para que possamos olhar o objeto além de sua falsa transparência, afastar as opiniões
formadas pelo senso comum e, assim, evitar conclusões a partir de idéias previamente
concebidas, escolhemos cinco TVs para tentarmos analisar, com um pouco mais de
profundidade, suas estruturas, importância e características. Nossa intenção era a recolher o
maior número de informações possível a respeito de cada uma, contextualizando-as no
panorama das TVs de caráter educativo, para que pudessem ser apresentadas como um
exemplo de cada “tipo” de TV. Acreditamos que a densidade que pretendíamos tenha sido
obtida em pelo menos uma delas, a TV NGT, onde passamos vários dias e entrevistamos as
pessoas que têm participação importante no dia-a-dia.
92
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 143.
88
Capítulo vi
A pesquisa
A pesquisa
1 – Informações gerais
Além das TVs, achamos importante conversar com um especialista em um outro meio
de divulgação audiovisual, a Internet, apontado por um dos entrevistados como alternativa
para eventual dificuldade de divulgação em meio televisivo. A entrevista com o especialista,
entretanto, não seguiu o tópico guia (usado com os demais) e apresenta-se aqui como uma
complementação deste trabalho.
Tentamos ainda, por diversas vezes, entrevistar representantes das TVs NGT, TVE
Rede Brasil e Canal Futura, mas não obtivemos um retorno dentro do prazo que dispúnhamos.
90
A pesquisa
QUESTIONÁRIO
93
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p.
152.
91
A pesquisa
2 – TV Cultura
Jorge Cunha Lima
Presidente do Conselho da TV Cultura e da Associação Brasileira de Emissoras
Públicas, Educativas e Culturais
Data: 28/10/2004
O ideal seria que os vídeos produzidos nas escolas recebessem o apoio de produtoras
locais ou de profissionais gabaritados. Dessa forma e com conteúdo criativo, a exibição em
diversos canais ficaria mais fácil. Mas, no geral, eu digo: as televisões estão fechadas para
esse tipo de coisa. Com exceção dos canais comunitários, mais flexíveis. Se alguma escola
tiver um bom produto audiovisual, deve procurar a produção da TV Cultura para saber se a
exibição é possível.
Lima considera importante uma aproximação entre o canal e as escolas que poderia,
por exemplo, resultar em estágios para os alunos que se destacarem na produção de vídeos.
92
A pesquisa
Lima defende oportunidades para a população mais carente que, segundo ele, possui
uma criatividade acima da elite. Embora fale da produção popular, ela incluiria a escolar,
como forma de valorizar essa criatividade e a identidade, contra a massificação comercial.
Trata-se de um olhar profundo em cima das realidades, do próprio povo e de seu modo de
criar. E, diferentemente do que acontece no interior do país, onde essa criatividade é mais
canalizada para a produção artística manual, da cerâmica, da culinária... nas metrópoles o
utensílio de criação e revelação da identidade vai ser o utensílio eletrônico, o audiovisual.
(...) Se esse audiovisual a ser feito pelo homem do povo não tiver a chance de divulgação na
televisão, eu acho que o caminho mais fácil vai ser a divulgação pela internet.
93
A pesquisa
Segundo Moreira, já foram realizadas parcerias com o NCE e que o canal, inclusive,
pôs-se à disposição do projeto Educom.TV. Mas suas parcerias se restringiram a
empréstimos de vídeos. Outra atitude comum é a participação em palestras e seminários. No
entanto, uma eventual veiculação de conteúdo não está descartada pelo canal que, em geral,
não participa do desenvolvimento de projetos, preocupando-se apenas com a transmissão.
94
A pesquisa
O único programa veiculado pelo Canal Comunitário de SP cujo conteúdo é feito por
alunos chama-se “TV Morumbi”, produzido por estudantes da UNI FMU, uma universidade
particular de São Paulo. O canal nunca foi procurado por escolas de ensinos fundamental e
médio para a divulgação de produção audiovisual ou videográfica nelas produzidas. Mas os
profissionais daquela TV já realizaram capacitações para o uso do audiovisual de jovens e
adultos, por meio de convênios firmados com a Secretaria da Cultura do Estado.
Para que os vídeos do projeto Educom.TV sejam veiculados no canal, é preciso que
uma instituição (NCE por exemplo) faça a interlocução apresentando um projeto de programa
para ser aprovado pelo comissão da grade de programação. Caso a proposta seja aprovada, o
canal cobraria R$ 3,50 por minuto para a veiculação. Este valor seria utilizado para manter a
estrutura do canal, mas poderia ser abdicado caso houvesse uma parceria com o NCE que, até
a presente entrevista, era desconhecido por aquela TV.
(...) Vamos colocar esse conteúdo, não vamos cobrar nada dessa escola,
dessas crianças, dessa entidade, até para ver sua repercussão como isso é
emitido, qual é o impacto disso no mercado, qual é o impacto disso para quem
assiste. Eu acho que a televisão comunitária é importante para quem faz, mas
também importante para que assiste (...)
Todos os programas transmitidos pelo canal são produzidos, filmados e editados pelas
instituições que tiveram seus projetos aprovados. Definição de Canal Comunitário:
videocassete público. A entidade produz seu conteúdo, traz pra cá e a gente aperta play,
afirma Mauro. Por isso, a grade de programação seria a maior da América Latina, com mais
de cem programas. As exigências em termos de qualidade da produção audiovisual/
videográfica são menores do que em outros canais entrevistados para esta pesquisa. O Canal
Comunitário aceita gravações em Super VHS e em equipamento mais sofisticados.
95
A pesquisa
O critério para a escolha das instituições que tem programas na TV Comunitária não é
muito claro. O diretor diz que geralmente todos os pedidos são atendidos, mas quando não há
horário disponível e projetos para aprovar, escolhe-se pelo assunto que tiver menos programas
a respeito. O canal só não transmite conteúdo das três da madrugada às 6 horas da manhã.
96
A pesquisa
5 - TV PUC/ SP
Gabriel Priolli
Diretor da TV e presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária
Data: 25/10/2004
Priolli acredita que a escola pode fazer produtos audiovisuais e esse produto pode
merecer veiculação. Nisso ela está igual a qualquer outro provedor de conteúdo. Mas não de
forma regular, para abastecer sistematicamente a programação televisiva, porque ela não foi
criada para isso. E sim como fonte de produções esporádicas de projetos laboratoriais.
Caso algum professor deseje veicular um vídeo produzido na escola, deve procurar a
TV PUC com um projeto para avaliação, obedecendo alguns critérios básicos editoriais e de
qualidade. Ela não aceita gravação em VHS. Se o produto estiver de acordo com os padrões, a
divulgação poderia acontecer. Quando a entrevista foi realizada, por exemplo, eles
preparavam a transmissão de produtos resultantes de um projeto educacional em vídeo. Além
disso, embora nunca tenham realizado workshops, estariam dispostos a pensar no assunto.
97
A pesquisa
6 - Internet
Prof. Dr. Fernando Scavone
Professor da ECA/USP, especialista em tecnologias de audiovisual
Data: 11/11/2004
Procuramos o Prof. Dr. Fernando Scavone para saber se a Internet seria um bom canal
de veiculação das produções audiovisuais do projeto Educom.TV. Ele acredita que este é o
caminho cada vez mais natural de divulgação do audiovisual. Para disponibilizar as
produções, ele lembra que uma opção é procurar o Centro de Comunicação Social ou o
Centro de Comunicação Eletrônica da USP para criar uma página ou um espaço de
hospedagem dentro desses servidores. Depois, chamar um web designer para desenhar o site.
Se as produções não são digitais, é preciso digitalizá-las para que possam dar origem a
arquivos. O Prof. Sacavone sugere que o site coloque à disposição dos usuários modos
diferentes de abrir esses arquivos, partindo do pressuposto que a maioria não tem banda larga.
Para futuras produções, a recomendação é a gravação em mini DV, equipamento cada vez
mais barato.
Dois aspectos apontados pelo Prof. Scavone consideramos como principais para a
escolha desse canal de divulgação da produção do Educom.TV. Um deles é que o material
poderá ser permanentemente recuperado por qualquer internauta -já a veiculação na televisão
98
A pesquisa
tem dia e horário marcados. O outro é o alcance: desde que as produções possam ser
acessadas a partir de um site de busca, qualquer internauta do planeta poderá ter acesso. As
produções poderiam ser conhecidas nos países que compreendem português, o que as TVs
Educativas não propiciam.
99
Capítulo vii
O gestor de processos
comunicacionais
O gestor de processos comunicacionais
1 - O gestor da Comunicação
Para dar conta da costura de uma realidade cada vez mais complexa, a comunicação
exige um trabalho interdisciplinar e plural, mas nem sempre encontra profissionais capazes de
se inter-relacionar com as diversas áreas. A maioria quase nunca tem ciência de seu papel de
mediador dessa realidade. Ignora o processo que é capaz de realizar ao adotar uma visão
totalizadora dos processos de comunicação. Ora estão focados na emissão, ora na recepção,
ou na tecnologia em si.
94
IANNI, Octavio. Globalização: Novo Paradigma das Ciências Sociais. Estudos Avançados, São Paulo
USP/IEA, Vol. 8, 21, 1994.
95
IANNI, Octavio. Apresentação. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São
Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 12.
96
SOARES, Ismar de Oliveira. Analista e Gestor de Processos Comunicacionais. In: BACCEGA, M. Aparecida
(org.). Comunicação e Cultura: um novo profissional. São Paulo: CCA/ECA/USP, 2000, p.28.
101
O gestor de processos comunicacionais
Como profissional de uma área do saber, ainda que em consolidação diante de campos
mais antigos e legitimados, o gestor preocupa-se em não apenas pensar o mercado, mas
também a sociedade e vestir-se dos paradigmas de diversas áreas. Ele se apropria do
conhecimento produzido em meio acadêmico para compreender a realidade em que atua e as
dificuldades do dia-a-dia, tendo a teoria como auxílio para encontrar soluções e formar
conclusões. Acima de tudo, é alguém que reflete sobre suas ações:
97
MOTTER, Maria Lourdes. Universidade e sociedade: encontro necessário. In: BACCEGA, M. Aparecida
(org.). Comunicação e Cultura: um novo profissional. São Paulo: CCA/ECA/USP, 2000. p.13.
102
O gestor de processos comunicacionais
gestor de processos comunicacionais que cada vez mais tem encontrado espaço para trabalhar
a inter-relação.
98
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. In: BACCEGA, Maria Aparecida (org.). Gestão de Processos Comunicacionais. São Paulo:
Atlas, 2002. p.126.
103
O gestor de processos comunicacionais
99
Trecho retirado da página da autora no endereço eletrônico: http://www.veronicaweb.com.br/1.pdf. Acesso em
8 nov. 2004.
100
Trecho retirado da página da autora no endereço eletrônico: http://www.veronicaweb.com.br/1.pdf. Acesso
em 8 nov. 2004.
104
O gestor de processos comunicacionais
Embora tenha vencido barreiras e transitado por universos e áreas distintas, o projeto
Educom.TV não pôde aproveitar amplamente o rico material que seria produzido pelas
escolas. Em tempo, nossa pesquisa foi realizada para apontar caminhos para parte desta
produção, mais especificamente, os audiovisuais. É o que veremos no próximo capítulo.
105
Capítulo viii
Proposta de intervenção
Proposta de intervenção
1 – Alguns caminhos
Assim, para que possamos apontar caminhos no sentido de que esse conteúdo deixe de
ser restrito à comunidade escolar e possa atingir um público muito maior, valorizando o
trabalho realizado por alunos e professores, e estimulando os mesmos à produzir, partiremos
do pressuposto de que grande parte dessa produção tenha qualidade técnica aceitável por parte
dessas TVs.
107
Proposta de intervenção
Uma outra proposta é a criação, por parte do NCE, de uma videoteca que reúna esse
tipo de produção. Assim, quando as possibilidades de veiculação surgirem, esse material
poderia ser prontamente disseminado. Uma videoteca também pode ser fonte para alunos,
professores e pesquisadores interessados neste tipo de produção. Para a criação de uma
videoteca, o núcleo teria que elaborar um projeto mais específico por conta da necessidade de
financiamento.
108
Proposta de intervenção
2 – Veículos próprios
A entrevista realizada com o diretor do Canal Comunitário de São Paulo aponta uma
proposta de longo prazo. O NCE poderia adquirir facilmente um horário semanal na grade da
TV para veicular, não apenas os vídeos produzidos no projeto Educom.TV, mas os trabalhos
que realiza e que são registrados em audiovisual. A qualidade técnica é menor do que a
exigida por outros canais e o Núcleo também seria beneficiado com um programa próprio.
Além disso, o diretor da TV mostrou-se disposto a estudar uma parceria para que o NCE seja
dispensado do pagamento da taxa da R$ 3,50 por minuto cobrada das instituições.
Mas, para que possa ter um programa neste canal, o núcleo teria que montar uma
equipe só para desenvolver esse trabalho e encontrar um local, talvez dentro da própria USP,
para montar os programas.
Para colocar esses produtos na Internet, o NCE poderia contar com a ajuda do Centro
de Comunicação Social ou o Centro de Comunicação Eletrônica da própria USP. No entanto,
precisaria de uma equipe para fazer a manutenção do site. Vale ressaltar que já existe um
grupo responsável pelo site atual que, no entanto, não disponibiliza esse tipo de produção.
Enfim, acreditamos que uma maior divulgação não só daria visibilidade às escolas,
valorizando alunos e professores como produtores, como também o trabalho do próprio NCE,
que, como vimos, é pouco conhecido pela pessoas que atuam na inter-relação
Comunicação/Educação, como os diretores das TVs Educativas entrevistados.
109
Considerações
finais
Considerações finais
Permito-me, aqui, fazer algumas considerações que vão além desta pesquisa e das
propostas apresentadas ao NCE – ECA/USP. Esse trabalho certamente contribuiu para que
acomodassem em mim algumas posições que aqui exponho. Elas compõem uma cadeia longa
de constatações e opiniões que resumirei em três aspectos: a formação, a prática e a
visibilidade.
A formação é a do educador. Depois desta trajetória, está ainda mais sólida a crença
de que os futuros professores precisam ser formados para lidar com os meios de comunicação
com olhos menos ingênuos, antes de chegarem à sala de aula. Conscientes de que atuarão no
contexto da sociedade da informação e do conhecimento, esses educadores devem exercitar
uma postura crítica, em ambiente além do escolar, o que não significa rejeitar ou condenar o
que os meios têm a oferecer. Mas saber o que significa viver, e descobrir como melhor viver,
nessa realidade cada dia mais complexa.
Essa formação e prática desempenham um outro papel não menos importante que é a
da valorização das ações e das culturas locais. Apesar da crença de que a globalização está
destruindo as culturas regionais, elas persistem e devem ser fortalecidas para se articularem
junto às globais numa vivência pacífica e enriquecedora para ambas, como explicou Canclini
numa palestra no Brasil em 21 de abril deste ano:101
101
CANCLINI, Néstor Garcia. América Latina: Mercados, audiências Y Valores em um mundo
Globalizado. Disponível em http://www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/822. Acesso em
23 out. 2004, às 20h55.
111
Considerações finais
Mas, para isso, precisam tornar-se visíveis aos olhos dos meios de comunicação como
atores sociais, como produtores de cultura, como cidadãos que tem o direito de participar da
interlocução que os meios fazem da realidade. É aí que as TVs de caráter educativo/cultural se
apresentam como locais estratégicos. São estratégicos desde que responda às necessidades e
expectativas dos públicos, que propicie o desenvolvimento e a visibilidade dos invisíveis no
que é exclusivamente comercial; que realize novas maneiras de expressão e cidadania na
telinha; e que promova a mobilização social102.
A visibilidade dos invisíveis passa pela imagem que o povo tem de si e de sua
realidade. Trabalhar a Comunicação/Educação pode significar a chave para que os rostos
destorcidos e fragmentados que vemos na TVs apareçam reais e iluminados num processo de
inclusão em todos os níveis.
102
RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano
de Medios de Comunicación, 2002. Contra-capa sem identificação do autor.
112
Referências
bibliográficas
referências bibliográficas
1 - Acadêmicas
BAUER, Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som.
Petrópolis – RJ, Vozes, 2002.
BOURDIE, Pierre. O Campo Científico. BOURDIEU, Pierre. In: ORTIZ, Renato (org.). São
Paulo: Ática, 1983.
IANNI, Octavio. Apresentação. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em
comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
IANNI, Octavio. Globalização: Novo Paradigma das Ciências Sociais. Estudos Avançados,
São Paulo USP/IEA, Vol. 8, 21, 1994.
LIMA, Jorge Cunha. O modelo da TV Cultura de São Paulo. In: CARMONA, Beth (org.). O
Desafio da TV Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003.
LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. O Campo da Comunicação: Reflexões sobre Seu
Estatuto Disciplinar. Revista USP no 48 , 2001.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições
Loyola, 2001.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
114
Referências bibliográficas
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (org.).
Televisão Pública: do consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano de
Medios de Comunicación, 2002.
SILVA, Edna L. da. A Construção dos fatos científicos: das práticas concretas às redes
científicas. Dissertação (Doutorado em Ciências da Comunicação) Universidade do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
2 – Não acadêmicas
CASTRO, Daniel. Superligados na TV. Folha de São Paulo. São Paulo, 17 de out. de 2004.
p. E1. Caderno Ilustrada.
CASTRO, Daniel. 55% dos brasileiros são “viciados” em TV. Folha de São Paulo. São
Paulo, 26 de fev. de 2004. p. E8. Caderno Ilustrada.
NA CABEÇA dos paulistas. Jornal Meio & Mensagem. São Paulo, Especial, 26 julho 2004.
115
Referências bibliográficas
3 - Eletrônicas
CABRAL, Octavio e LOBATO, Elvira. Governo deve criar 180 emissoras de TV. Matéria
da capturada do site da ONG TVer: <www.tver.org.br>. Acesso em 25 out. 2004, às 19h34.
CRIANÇAS e adolescentes fazem sua própria mídia sem autoria disponível no site da ONG
Midiativa:
<http://www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/836>. Acesso em 22 out.
2004 às 14h31.
116
Referências bibliográficas
117
anexos
Anexo 1
TÍTULO: Interlegere
Localidade: Americana
Participantes: Maria Carmem Caron e Ivani Ruela de Oliveira Silva
119
Anexo 1
TÍTULO: Sexualidade
Localidade: DE: Sul – 1
Escola: EE Prof Joaquim Adolfo Araújo
Participantes: Maria Lúcia Missa Onoe e Dario Leite Resende
120
Anexo 1
121
Anexo 1
122
Anexo 1
123
Anexo 1
124
Anexo 2
Pergunto isso porque essa pesquisa está sendo feita com base num trabalho realizado pelo NCE
que, junto com o Governo do Estado, capacitou professores para o uso do audiovisual na sala de
aula.
125
Anexo 2
não veiculam nas TVs estatais que tem preocupações com seus (incompreensível) e tal, elas não
veiculam nas televisões públicas, como eu chamo as televisões educativas e culturais, e dificilmente
tem entrada nas televisões comunitárias.
No caso do programa ZOOM, se uma escola fizesse uma parceria com uma produtora local para
editar o seu material lá, fosse um produto de mais qualidade, ela encontraria espaço no ZOOM?
Encontraria, no ZOOM e até mesmo espaço na TV Cultura, não só a TV Cultura como na Rede
Pública de Televisão que é do Brasil inteiro, que já tem seis horas de programação nacional. Daí eu
acho que nós estamos abertos a todas as propostas. A única coisa que eu digo é o seguinte: você não
pode fugir de um certo padrão... Um dado hoje que é muito importante para vocês estudantes: eu
acho que a televisão brasileira pode ter, muitas vezes em conteúdos e em baixaria, ter tomado conta
de um parcela da produção televisiva brasileira. Mas a televisão brasileira tem uma alta qualidade
técnica, é o que a turma costuma chamar padrão globo de televisão. Hoje é um padrão da televisão
aberta brasileira.
Em geral?
Em geral, todas têm. O som é excelente e mesmo a tecnologia de filmagem é tudo bom. Às vezes o
conteúdo é uma droga, mas o nível é bom, como as revistas brasileiras hoje têm um alto nível de
produção gráfica. Às vezes, é uma droga o conteúdo, mas a produção... Então, o povo brasileiro, até
o mais modesto, se acostumou a ter exigências de coisas que a gente faz. Uma produção, por
exemplo, de repente, com som ruim tudo isso, o (incompreensível) reclama muito. Não é das elites,
há uma reclamação inclusive da periferia porque a periferia, todo mundo se acostumou com um
padrão de televisão (incompreensível). Então, se houver coisas com padrão razoável, eu acho que a
TV pública deveria publicar pelo seguinte: porque às vezes uma inspiração criativa é mais
importante até do que uma perfeição técnica. Então, eu acho que tem haver um equilíbrio tal, mas
eu digo, o ZOOM está aberto e mesmo produções de maior qualidade, com autenticidade e da fonte
criadora. Mas, no geral, eu digo: as televisões estão fechadas para esse tipo de coisa. Eu nem estou
dando um juízo de valor meu, estou te dando uma constatação absolutamente sincera.
Tendo essa qualidade, que orientação o senhor daria para essas escolas ou os professores?
Você acha que há muita produção nisso?
Não, estou partindo de hipóteses, não sei se há. Mas, por exemplo, no caso dessa capacitação que
foi feita pela USP, pela UNICAMP e pela UNESP...
A primeira coisa é o seguinte: é procurar os setores de produção da gente e mostrar o seu produto. A
televisão está sempre aberta a isso. Outra coisa que eu acho que isso poder gerar um contato muito
rico para estágios. Quer dizer, um grupo faz um programa lá, esse programa de repente tem um bom
conteúdo e tem uma precária qualificação técnica, mas esse grupo já é de cara um grupo
interessante como estagiário. Então, o interessante já ter um contato mais formal, já propondo que
os valores que revelassem nessa comunidade, pudessem ser estágios. E eu acho que esses valores
vão surgindo muito fortemente. A Zita da (incompreensível), que faz o festival "A Mostra
Internacional de Curta-Metragem", ela faz um trabalho na periferia, faz um misto de alfabetização e
de cinema. Sabe o que tem acontecido? O tempo dos meninos da alfabetização letrada, às vezes é
enorme, um ano, dois anos e a alfabetização de audiovisual sabe quanto é? Três meses, ela falou em
três meses. Às vezes, tem menino que faz montagem e mixagem, um negócio fantástico, a
velocidade com que eles aprendem o alfabeto eletrônico é muito mais rápido do que o tempo do
aprendizado. Então, eu acho que existe um potencial de recursos humanos em todas as camadas
sociais, jovens muito elevados, esses meninos já nasceram digitais. Nós somos uma geração mais
ligada à escrita e ...
126
Anexo 2
Nós somos, o que eu queria dizer, nós somos analógicos, e as gerações novas são digitais. A minha
geração é analógica. Essa então é uma facilidade e agora você está fazendo a segunda pergunta.
A TV Cultura costuma ou poderia fazer parceria com instituições ou com pessoas como a Zita e
NCE para...
Com instituições, isso nós temos feito, como por exemplo, com grupo das mostras, grande cobertura
das mostras internacionais. Nós temos dado, inclusive, premiações na Mostra de Curta-Metragem, o
Festival do Minuto que a gente passa...
Ajudar a capacitar...
Aqui é o seguinte: do mesmo jeito que nós estamos fazendo uma, nós enviamos nossos técnicos
para televisões educativas do resto do Brasil. Por exemplo, há um lugar lá que fez e que fizeram lá
um “Solteirópolis” que é o “Metrópoles” de Salvador. O Soterópoles, eles me disseram que foi
possível fazer porque a equipe daqui foi lá e ajudou a montar de tudo, cenário de tudo. Então, houve
uma ajuda técnica muito grande da TV Cultura para a TV da Bahia. Do mesmo jeito, uns convênios
com esses projetos e tal. Eu sinto que a relação nossa com as universidades públicas é muito
modesta, por culpa recíproca, as universidades às vezes são fechadas ao entendimento mais aberto
com a televisão e vice-versa, apesar de que uns três reitores das universidades públicas são membro
do Conselho da TV Cultura. Mas, eu acho que nós, por exemplo, já fizemos filmagens de tudo
quanto é de curso que tem aí em São Paulo e transformamos em programas de televisão que são os
grandes cursos futura, na Maria Antonia. A dificuldade é muito grande da gente fazer isso porque o
patrocínio da gente, eles não aceitam. Então, tem algumas dificuldades no relacionamento com a
universidade. Nós temos que quebrar isso talvez, através de convênios com projetos específicos. No
caso do núcleo de vocês, um projeto específico, faz um convênio, e daí a gente vai quebrando as
barreiras.
127
Anexo 2
Voltando ao que o senhor falou da proximidade com as universidades... Mais, incluindo também
ensino médio e fundamental, o senhor acha que não só a TV Cultura, mas as TVs de um modo
geral, principalmente as de caráter educativo/cultural, se elas se aproximassem mais desse
universo, isso poderia ter um impacto na programação, na qualidade da programação e novos
olhares também?
Eu acho que sim. Eu tenho impressão de que o olho, a criatividade está no meio da população. O
povo brasileiro pode ser estatisticamente ignorante e analfabeto, mas ele é culto. Não sei se você me
entende, quer dizer, nós temos uma população extremamente culta, que é ter hábitos, costumes,
criatividade, capacidade, velocidade de produzir, de entender, compreender e criar muito rápida. O
povo brasileiro é culto, ao mesmo tempo que as elites brasileiras são muito preparadas e muito
incultas, preparadas tecnicamente, incultas do ponto de vista criativo. Tudo isso, se você tem esse
povo com essa criatividade, evidente que, você dando oportunidade pra isso daí funcionar, segundo
você vai de uma certa forma superar a massificação do espetáculo que é hoje produzida pela
televisão convencional. A grande busca do espetáculo é tão alucinante, a busca de um padrão que é
sempre o mesmo, que tira a criatividade... e é evidente que você tem que buscar um pouco mais, se
aproximar dos valores da identidade, dos valores consagrados do mercado comercial da arte e,
assim, todas as televisões sabem reproduzir e divulgar. Agora, os valores da identidade nacional
nem sempre são percebidos por esses valores, valorizados pelo comércio. Evidente que a porta de
entrada disso aí é isso que você está dizendo, é um olhar profundo em cima das realidades, em cima
do próprio povo, em cima do modo de ser, do modo de criar das populações numa cidade. Às vezes,
numa cidade do interior ou regiões mais primitivas você, paradoxalmente tem uma percepção mais
visível dessa criação. Você vai num lugar mais pobre do Brasil que é o Vale do Jequitinhonha e a
cultura do Vale transparece com uma clareza merediana dos potes, numas coisas que eles criam, nas
madeiras e tal. Em São Paulo, nas grandes metrópoles, é mais difícil porque as populações se
perderam dessa criação de origem. A luta pela sobrevivência, o tempo para o deslocamento de
transporte, tudo isso tirou muito a possibilidade da gente visualizar esses valores criativos que, em
lugares mais simples do interior, tão muito revelados na culinária, nos tecidos, nos tratamentos, nos
bordados, na cerâmica, na palha, enfim, em uma série, até numa pequena metalurgia caseira, que
você faz objetos interessantes. Agora, na metrópole, o homem está se perdendo demais dessa
criatividade de origem.
Eu sinto ser meio pessimista com relação a você, no sentido da utilização desse material na
televisão aberta, tal..
Pelo contrário, todas as outras pessoas com quem eu conversei só estou esperando a entrevista
da Beth Carmona, falaram que tem interesse, mas desde que haja qualidade para isso, por
128
Anexo 2
Deixe-me te perguntar uma outra coisa: eu não tenho muito clara a diferença entre a TV pública
e TV educativa. Eu até pesquisei, mas não achei uma definição. A idéia que eu faço e que a TV
pública não é a TV estatal, mas tem uma origem semelhantes.
A coisa é muito complicada. Esse debate é o mais complicado que tem no mundo. Quando eu
ponho isso na Europa, eles enlouquecem. Que toda TV do governo é pública porque
(incompreensível) mas há uma diferença muito sensível. Todas as TVs do Brasil são concedidas, a
concessão de televisão é assim: ou é televisão educativa ou televisão comercial. Então, todo aquele
bolo é TV educativa, tá certo? Agora, você tem televisão educativa stricto senso, que são as TVs
escolas, são televisões que produzem produtos experimentais.
129
Anexo 2
pública se distingue das outras pelo conteúdo, pela natureza do conteúdo, a natureza desse
conteúdo. Tem que ser de interesse público, tem que ser de compreensão, tem que ser analítico,
você tem que compreender o que está sendo proposto e tem que ter uma estética universal também.
Evidentemente, não precisa fugir da emoção... é bem isso aí.
Você acha que o certo seria, em vez de chamarmos de TV educativa, chamarmos de TV cultural,
ou TV pública?
TV pública.
ROBSON MOREIRA
DIRETOR DE PROGRAMAÇÃO DA REDE STV
DATA: 22/10/2004
Alguma vez você já foi procurado por escola ou algum professor pedindo para
veicular material deles aqui?
Nós já fomos procurados várias vezes, tanto por escolas, como por ONGs que desenvolvem
trabalhos de comunidade, também. E a gente sempre conversa com essas pessoas que nos procuram,
porque o que define se vai abrir espaço para veiculação, é exatamente a proposta do vídeo. Como
ele foi criado? Como ele foi formatado? Se ele está realmente numa linguagem de televisão, se ele
não é uma mera aula ou uma coisa muito didática que não combina com o perfil da programação da
TV. Então, tudo isso é analisado. Cada caso, a gente analisa à parte e, sendo realmente um negócio
interessante, nós abrimos espaço para veiculação.
130
Anexo 2
qualquer um tem possibilidade de lidar com a câmera de uma maneira mais interessante, de criar
uma idéia, desenvolver uma idéia, sair atrás. Até o aniversário de filho você pode filmar de uma
maneira diferente, né? Então o programa “Oficina de Vídeo”, ele tem esse objetivo e tem o objetivo
também de abrir espaço para todos os vídeos escolares, digamos assim, tanto de universidades,
como de estudo secundários que aparecerem a gente exibe nesse espaço.
Quais são os critérios para escolhas desses vídeos, caso alguém apresente para vocês?
Bom, o primeiro critério é a duração do vídeo. Não pode ser um vídeo longo, até porque o programa
tem vinte e dois minutos. Então, geralmente, são vídeos curtos e a gente acaba até mostrando dois
ou três a cada edição. São vídeos de três minutos, quatro minutos, no máximo até dez minutos. Isso
porque a gente traz o autor do vídeo no programa para ele falar da idéia, como ele teve essa idéia,
porque, qual o objetivo e aí a gente também leva ao programa um profissional para comentar as
técnicas usadas, se a luz está adequada, se o roteiro está legal. Na verdade, a pessoa não tem apenas
o vídeo exibido, tem a oportunidade de ver e ouvir de um profissional da área, não crítica, mas
orientação sobre seu trabalho. Porque, às vezes, você faz uma coisa e poderia ter sido feita de outra,
que teria um resultado melhor. Então, esse é um conjunto, nós temos o cuidado de não apenas exibir
por exibir, mas também de estar fazendo uma prestação de serviço até para quem esta assistindo em
casa poder acompanhar como é que se desenvolve esse processo.
Você conhece outros canais, empresas que desenvolvem um trabalho assim, de dar
espaço para produção escolar?
Olha, eu não sei. Assim... quer dizer, a nossa TV faz isso, mas ela não é uma TV educativa no
conceito da palavra de ser voltada para o Ensino Fundamental ou Ensino Formal. Ela é uma TV
educativa para a cidadania, então ela é ampla. Agora tem canais de televisão que são mais voltados
para o Ensino Fundamental, ou Ensino Formal.
131
Anexo 2
tem as experiências, tem pesquisas de campo que envolvem a natureza, você tem vários elementos
para fazer um vídeo muito legal que pode ser veiculado na televisão. Então é isso, a orientação que
eu dou é sempre ficar com essa visão. Se quer fazer para oferecer para uma televisão é preciso ter a
visão da televisão, não apenas a visão didática da sala de aula.
Você acha que os canais educativos, de um modo geral, se eles tivessem mais
proximidade com as escolas e instituições de ensino, isso poderia refletir na
programação?
Olha, essa é uma grande questão que inclusive está sendo colocada, sendo discutida
permanentemente. A rede pública, por exemplo, originalmente ela surgiu vinculada às Secretarias
de Educação dos seus respectivos estados porque se entendia que elas deveriam ter como
programação tudo aquilo que fosse voltado para o ensino formal. Então, tudo o que a Secretaria de
Educação produzisse ou as escolas produzissem seria a base de programação dessas TVs. Isso deu
muito problema na época porque é uma televisão aberta, então a gente sabe que o lidar com essa
coisa educativa, formal, se não tomar cuidado, fica uma coisa chata que as pessoas não conseguem
assistir. E, aos poucos, essas TVs foram migrando das Secretarias de Educação e passando a ser
vinculadas às Secretarias de Cultura. Hoje, algumas delas ainda estão ligadas à Secretaria de
Educação: Mato Grosso, Ceará e, portanto, elas sofrem, tem pouca coisa para botar no ar porque
não produzem muita coisa. Então, elas se valem de outras programações, como nós, por exemplo,
somos parceiros dessas TVs e cedemos nossa programação para complementar a grade. Outras,
como a TV Cultura de São Paulo, se transformaram em fundações, têm um pé na Secretaria da
Cultura, mas já é uma TV Pública mais autônoma, ela é gerida por um conselho da sociedade e
continua tendo coisas voltadas para esse público de criança, alguma coisa até voltada para o ensino
fundamental, mas muito tênue, já é uma TV mais cultural mesmo. Então, tem essa relação aí que se
você colocar uma TV educativa que só fale do ensino formal, ela não pega muito.
Não é isso que eu quis dizer, acho que não fui clara. No sentido de manter um
diálogo com a escola, mas não reproduzir o ensino formal da escola, mas, de
repente, fazer parcerias com as escolas, ou com as Secretarias, para incentivar que
elas sejam produtores. Um relacionamento, mas não a transferência do ensino da
mesma forma para a TV. Um laço maior entre as escolas e as TVs Educativas
poderia refletir de alguma forma na programação e refletiria de uma boa forma?
Eu não sei. Eu acho que quem faz mais isso aqui hoje no Brasil é a TV Futura, que tem essa relação
mais direta com as escolas. O sinal da TV Futura está colocado em várias escolas do Brasil e eles
trabalham muito porque eles têm, diferentemente da gente, um viés que é mais voltado para o
ensino formal, para a formação do professor para lidar com os alunos das escolas. Nós não temos
isso, o que nos fazemos aqui é usar muito do que acontece nas escolas como pauta pra nossa
programação. Então se tem uma técnica diferenciada, se um professor descobriu uma técnica
diferenciada para ensinar ou facilitar o entendimento de determinada matéria que é complexa a
gente usa isso como pauta de um programa nosso e usamos bastante porque nos temos o programa
Filhos que só fala disso. Ele não é pra criança, ele fala de criança: criança na escola, criança na rua,
criança em casa, criança no lazer, no meio dos amigos. É um programa que só fala de criança e
adolescente e esse programa mostra muita coisa de convivência com as crianças na escolas, que é
132
Anexo 2
grupo de massa, mostra a funçao e a dificuldade dos professores de lidar com vários extratos
sociais, crianças e jovens diferentes. Então, isso a gente faz demais, mas não é uma parceria formal.
Vocês fariam uma parceria com a NCE? O Núcleo de Comunicação e Educação pra desenvolver
projetos?
Nós não desenvolvemos projetos, nós não temos isso aqui na televisão. Nós temos parceria com o
Núcleo sim, inclusive, já cedemos coisas para compor o acervo lá. Nós fomos convidados a
participar desse projeto que comentou antes, em 2002, naquilo que estivesse dentro das nossas
possibilidades. Nos colocamos à disposição, mas não chegamos a atuar no projeto, mas ficamos à
disposição para o que eles precisassem. Então, nós temos essa parceria institucional, mas a gente
aqui não tem um núcleo de desenvolvimento de projeto porque nossa produção, desde quando
começamos, era toda terceirizada Então, quando temos um projeto aqui, nós temos um orçamento
fechado a gente vê o que nós vamos produzir com isso e já direcionamos isso a cada produtora que
é contratada para fazer um formato x de programa. Nós ficamos com o conteúdo aqui dentro, nós
temos um núcleo de pauta.Então é muito difícil você entrar num negócio que vai desenvolver um
projeto.
Então fora essas atividades, por exemplo, workshops, vocês não dão?
Não, não. A gente está aberto aqui para apreciar projetos que estejam se desenvolvendo, que foram
desenvolvidos, para efeito de veiculação na televisão, isso sim. Nós somos chamados aqui muitos
para debates seminários que discutem essa questão, quer dizer a televisão, a mídia, a informação, a
cultura, a cidadania isso a gente é convidado pra muitos debates, muitos seminários... a gente
participa com muito gosto, pra dar nosso testemunho, nossa vivência, como que a gente viabiliza a
televisão, que seja diferente.
FERNANDO MAURO
DIRETOR DO CANAL COMUNITÁRIO DE SÃO PAULO
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CANAIS COMUNITÁRIOS
DATA: 26/10/2004
Alguma escola já procurou o Canal Comunitário para veicular os seus vídeos aqui?
133
Anexo 2
Sim, já. Quem tem programa conosco feito por alunos é a FMU. A FIAM e a FMU, eles são do
mesmo grupo. Eles apresentam um programa no Canal Comunitário.
Como chama?
TV Morumbi. Retratam aspectos históricos da cidade de São Paulo e o programa, o roteiro é feito
por alunos. Eles é que filmam, editam e que mandam pra gente.
Nunca procuraram?
Nunca procuraram. Nós já fizemos curso de capacitação para alunos de segundo grau da escola
pública através de convênio com a Secretaria de Cultura.
Estadual?
Estadual, oferecendo oficinas culturais de áudio e vídeo para que alunos fossem capacitados tanto
teoricamente quanto praticamente para ter noções de vídeo. Lógico que você, num curto meio de
tempo, não consegue dar a formação profissional par o aluno, você dá noções de áudio e vídeo.
E só aqui na capital?
Na capital, escolas da capital.
O canal teria espaço para essa produção escolar? Escola pública de ensino médio e
fundamental?
Teria. O Canal Comunitário, ele é basicamente para as organizações não-governamentais, mas é um
tipo de mídia que contempla ações que são provenientes da sociedade, mas não necessariamente
num arcabouço formal, ou seja, uma entidade que tenha um CNPJ que apresenta um projeto. Se
você tem um projeto que nasce dentro de uma escola, dentro de um grêmio escolar, muito
provavelmente esse grêmio não tenha um CNPJ e a formalidade normal que a gente exige de
entidades. Mas se aparecer um projeto no canal Comunitário de escolas, de uma escola que tenha
um conteúdo que queira passar, a gente tem espaço sim. E se não tiver espaço no Canal
Comunitário, eu devolvo a pergunta pra você onde é que teria?
134
Anexo 2
você: a gente já teve conteúdos que foram filmados por produtoras que contemplam, por exemplo, o
campeonato de futebol dentro de escola, ou escola pública, ou escola privada. Mas é um tipo de
conteúdo que é possível passar no Canal Comunitário.
E aí é só vir aqui e ver qual o programa ele se encaixa para veicular, é isso?
Não, tem que ser na própria grade de programação da emissora. Como funciona a grade de
programação? Hoje nós temos mais de 100 programas na grade de programação que são programas
feitos por organizações não-governamentais. É a maior grade de programação da América Latina.
A do canal comunitário?
Do canal comunitário da cidade de São Paulo. Nós temos programação quase interrupta por 24
horas, não temos programação só na grade normal das 3h da manhã até às 6h da manhã. Fora isso,
todos os espaços estão ocupados com raríssimas exceções em que você preenche a grade com
documentário, preenche a grade com reprises ou coisas do gênero, mas em princípio, a maior grade
de programação da América Latina é essa.
E tem algum critério? Como é que faz para uma instituição ter um programa aqui? Qual é o
tramite, envolve algum custo, elas tem que pagar alguma coisa?
Envolve, envolve. A entidade paga R$ 3,50 por minuto para veiculação de programa. O que é isso?
É um custo operacional, é um custo para você pagar aluguel, água, luz, telefone, estrutura de
funcionário, onde são todos registrados. Então para essa estrutura você cobra R$ 3,50 de cada uma
dessas entidades.
Mas isso está no papel? Tem esses critérios para eles obedecerem?
135
Anexo 2
É, são chamadas Normas Operacionais do Canal Comunitário. São feitas internamente, cada um
quando é signatário, quando adere ao Canal Comunitário, adere também às normas que regem o
canal.
O Canal Comunitário faria parceria com o NCE, assim como outras entidades. Oa partir do
momento que vocês abrem esse espaço, não há necessidade de fazer parcerias é só o núcleo de
Comunicação de Educação elaborar o projeto e trazer aqui? Como é que se dá isso? Ou isso teria
que ser feito por parceria? Também tem parceria?
Também tem, depende da parceria que é proposta.
A veiculação da produção escolar na televisão de caráter educativo não só aqui, ela teria algum
impacto nessa programação também? Não no sentido de ensino formal, mas, por exemplo, temas
transversais, programas sobre sexualidade feitos por alunos?
Posso estar enganado, na minha versão você tem dois projetos que contemplam escola e aluno. Um
é feito enfocando a escola e o aluno. Então, como você falou, mesas redondas de debates sobre
sexualidades, sobre uma série de temas. E o outro, que eu acho que é muito legal, que acho que
ainda não existe e gostaria que existisse, é o programa feito pelo próprio aluno.
136
Anexo 2
Tem algum critério de qualidade, alguma coisa nesse sentido? Ou é mais maleável do que em
outras TVs?
É mais maleável, porque aqui a gente contempla vários sistemas de produção, desde super VHS
passando para MDV. O que está sumindo do mercado? É o super VHS, o formato super V está
acabando no mercado porque o MDV é superior e tem o mesmo custo. Se eu for ao supermercado,
super VHS não vende no supermercado, mas MIDV vende. Aí, se fosse comprar um MDV, você
compra por um valor muitas vezes inferior ao que custa uma super VHS. Portanto, a tendência do
canal comunitário é migrar pra gente aceitar formatos digitais MDV e DV CAM e BETA que é o
formato profissional de televisão. No caso, a TV Comunitária de São Paulo. No interior é diferente,
não tem BETA, 99% não tem BETA, o que prevalece o super VHS e agora com popularização dos
equipamentos digitais é a programação em MDV.
Então, se outras 3 instituições tivessem feito a mesma coisa e tivessem requerido antes o canal no
cabo, elas teriam conseguido?
Exatamente.
Eu tenho uma dúvida: estudei essa legislação desde o surgimento dela com decreto de 88, não
existia TV a cabo...
137
Anexo 2
O que eu estou falando é da TV aberta. Esse decreto de 88 dizia que como as TVs Educativas não
tinham dinheiro para bancar as retransmissoras a lei foi criada para que as comunidades
criassem essas retransmissoras, veiculando a programação da geradora mais 15% do local.
Isso mesmo, no caso 3 horas da programação local.
Eles podiam passar 3 horas de programação e por isso se auto denominaram canais
comunitários abertos, né?
Isso confere.
Só que como os políticos começaram a se apoderar houve uma outra legislação que é a
Regulamentação dos Serviços de Retransmissão e Repetição que permitiu a essas
retransmissoras virar geradoras. Minha dúvida é a seguinte: esses canais comunitários, daquela
época, que só passavam 3 horas de programação local, você saberia me dizer se eles viraram
todos TVs geradoras?
Não viraram.
É essa né?
Não. Não permite que a retransmissora gere nada. Mas, na prática, elas continuam retransmitindo
programação, fazendo programação local, produzindo programação que acha que é certa, que tem
que produzir. Pela legislação, a ANATEL poderia chegar lá, fechar e falar: você não pode
retransmitir. Só que foi feito um grande acordo, sigiloso, um acordo político... o Fernando Henrique
assinou a portaria que diz que essas TVs, essas retransmissoras não podem ter programação local,
mas elas já tem há tantos anos e como é que vamos tirar? Já tem contratos feitos, patrocinador como
é que vai tirar? Ai não tira e numa cidade de interior, essas televisões que são RTVs, não são TVs,
que são retransmissoras de televisão se auto denominaram comunitárias.
Mas essa aí é uma outra legislação que não é essa que eu estou falando, que é a 2.701 de 97... eu
não estou com ela aqui.
Essa daí do Fernando Henrique é de 2000.
Essa daqui é do Pimenta. Bom, mas independente disso, hoje só existe o Canal Comunitário na
TV a cabo?
Só.
138
Anexo 2
TV... do canal aberto? Do canal aberto. Como você acha que a ABERT encararia isso? Ou é
mandado (incompreensível) ou fechar, ou simplesmente de fazer o que fez de mandar não aprovar.
Eu entendi, mas outras TVs não podem ser criadas em canais abrtos, só as que já existem no
cabo?
Pode sim, dentro do cabo. Só nessas praças, nas praças em que tem cabo onde pode ter TV
Comunitária de acordo com a Lei 8.977. Então a cidade de Pirajuçara, nem sei se isso existe, tem
cabo e daqui a 3 anos vai lá e abre uma TV Comunitária. Essa pode estar aberta. O que não pode é
as outras que nunca tiveram TV Comunitária na vida começar a criar TV Comunitária. Aí você vai
para aquela questão das rádios comunitárias. Aí você começa ter um monte de rádios, enfraquece a
representatividade: tem a Associação Nacional de Rádios Comunitárias, tem a Liga Nacional de
Rádios Comunitárias e começa ter um movimento que se perde por falta de representatividade.
GABRIEL PRIOLLI
DIRETOR DA TV PUC/SP E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA
DATA: 25/10/2004
Alguma escola já procurou o Núcleo da PUC pedindo pra que, junto com os programas que
vocês elaboram, fosse divulgado algum vídeo produzido por alunos, não ensino superior, mas do
ensino médio e fundamental?
Não
139
Anexo 2
Ah, isso sim! Inclusive a gente tem algumas com contato mais regular que a gente veicula
programação, por exemplo, a Faculdade Cásper Líbero. A gente periodicamente coloca no ar
material produzido por eles. Isso foi através de contatos que a gente teve, consultas de alunos e
professores e a gente acabou fazendo isso. E, eventualmente, outras instituições do Brasil nos
pedem veiculação em São Paulo. Querem falar com o público paulista, pedem veiculação dos seus
produtos aqui e a gente atende. Isso aconteceu com diversas instituições, a PUC do Rio, enfim,
diversas instituições já pediram e a gente atendeu.
Em alguns desses programas haveria espaço pra veiculação de vídeos elaborados por alunos e
professores do ensino médio e fundamental?
Eventualmente sim, depende do projeto, das circunstâncias, do acordo que se faça, mas há
possibilidade sim. Nós estamos veiculando agora uma série de vídeos produzidos pelas “Oficinas
Quino Fórum” (?) que foi, na verdade um projeto educacional em vídeo, e fizeram um trabalho
exatamente de educação com vídeo e esse projeto resultou num volume grande de vídeos. Nós
estamos fazendo uma versão TV e vamos começar a veicular agora.
Se algum professor quisesse veicular aqui um projeto de sua escola, o que ele deveria fazer?
Entrar em contato conosco e apresentar a idéia e a gente vai examinar à luz da orientação geral do
nosso trabalho, da pertinência do projeto apresentado, da capacidade que a gente identifique de que
essa produção seja efetivamente feita cumprindo prazos, cumprindo alguns requisitos básicos de
qualidade técnica e editorial, a gente conversa.
140
Anexo 2
A gente pergunta isso porque existem canais universitários que às vezes é mais voltado para
comunidade e não veiculam o que acontece no meio acadêmico. Qual seria mais ou menos o
grau de comprometimento com o meio acadêmico da TV PUC?
A TV PUC tem os dois tipos de programas, tem programas que difundem os acontecimentos das
universidades, os projetos da universidade, enfim, que comunicam o que a universidade faz para a
comunidade. Então, tem esse foco preciso. Todo nosso trabalho é da PUC para fora, nosso trabalho
em televisão é da PUC para fora. Nosso trabalho de comunicação interna... nós temos um trabalho
de comunicação interna em vídeo pra universidade que não é operado propriamente pela TVPUC,
mas por uma outra unidade da PUC chamada Rede PUC que é ligada ao departamento de
jornalismo. Ela opera o circuito interno de televisão e aí a comunicação de natureza interna é feita
através da rede PUC. A TV PUC fala da PUC para fora e fala tanto de conteúdos da própria PUC
como conteúdos de interesse geral que podem ser de programa que a TVPUC faz em parceria ou
prestando serviços a terceiros.
141
Anexo 2
porque não está havendo tempo hábil para encaixar toda a produção que nós temos com os
parceiros. Mas essa é uma situação absolutamente específica nossa, nós sabemos disso. Os demais
colegas de televisão universitária têm dificuldade de provimento de programação e a TV
universitária, como um todo, tem um nível de reprises muito alto por conta disso.
Como uma pessoa muito experiente, não estou perguntando para um diretor de um canal
universitário, mas em relação às TVs educativas que tenham esse perfil, você acha que uma
proximidade com as escolas -seja elas universitárias ou do ensino médio e fundamental- um
trabalho e projetos que incentivassem a produção escolar isso teria algum impacto no conteúdo
dessas TVs? No sentido de um perfil mais ainda educativo, mas o educativo que eu me refiro não
o ensino formal, temas transversais também com uma visão educativa. Seria bom uma
proximidade?
Sem dúvida alguma! Como dirigente de uma TV universitária tenho convicção disso que a televisão
deve se aproximar do meio educacional, da universidade do ensino médio, do ensino fundamental, a
universidade tem que se aproximar da educação, do mundo da educação, eu acredito nisso muito.
Agora, isso não significa que nas relações atuais entre as televisões educativas e o segmento
educacional, que isso seja fácil de operacionalizar. Na verdade, as TVs educativas ou não elas tem
um problema sério de provimento de programação, precisam ter uma programação de qualidade
com regularidade feitas com bons padrões. E isso não é necessariamente garantido pela produção
acadêmica, sequer a universitária quanto mais a secundária. Então esse é um problema de fundo, a
televisão universitária ainda tem problemas de relacionamento com a televisão educativa aberta, a
televisão educativa mais tradicional, ainda são incipientes as relações, são de um nível muito
primário de relacionamento. Ainda há uma desconfiança muito grande da TV educativa em relação
a nossa capacidade real de produção. E uma desconfiança que procede porque, de modo geral, as
televisões universitárias, muitas televisões universitárias enfrentam problemas de qualidade e de
regularidade da programação. A principal coisa pra você manter uma grade é você, uma vez
assumindo compromisso de provimento de uma programação, você de fato prover aquela
programação. E não aparecer no dia atrasado com o programa que estava comprometido para
veiculação com a qualidade que se havia combinado, e ainda há problemas nesse sentindo, não se
produz, se atrasa o programas, são fracos, então se há esse problema ainda na relação entre TV
universitária e a TV educativa. Então você pode extrapolar esse problema para todo o conjunto de
TV educativa e cultural no qual a TV universitária está inserida e essa relação com o segmento
educacional, sobretudo, o segundo grau.
Bom, por fim, você conhece TVs que tenham uma proximidade maior com as escolas?
Olha a televisão que tem a veiculação direta com as escolas é a TV Escola do Ministério da
Educação, que é uma rede de televisão montada exatamente para abastecer as escolas de conteúdos
audiovisuais para formação de professores, capacitação de professores e para a qualificação das
aulas que eles fazem. Agora, não é bidirecional essa relação, a relação vai da TV Escola do MEC,
que fica em Brasília, para cerca de 57.000 escolas no Brasil afora. Então elas são apenas receptoras
de programação e ainda não há um conceito, ainda não há a concepção, a expectativa de que a
escola possa se transformar numa unidade produtora. Uma coisa é você veicular eventualmente o
conteúdo laboratorial de alguma escola que tem se transformado num bom produto de audiovisual,
isso é uma coisa. A outra coisa é você estabelecer um compromisso ou uma relação com as escolas
de modo que elas sejam abastecedoras de programação, que elas sejam provedoras de programação
regular para televisão. Isto é muito complicado. Isto eu não acredito que as escolas possam fazer nas
condições atuais. Certamente não poderão fazer e, mesmo que tenham condições ideais de
orçamento, de organização, mesmo assim, eu não creio que elas conseguirão cumprir esse
142
Anexo 2
compromisso porque elas saíram da sua finalidade. Afinal, escola é pra fazer ensino-aprendizagem
e não é para fazer produção regular de televisão num volume de horas que a televisão consome. Eu
sou um pouco cético em relação a possibilidade de um acordo entre televisão e escola de longo
prazo ou de regularidade ou periodicidade fixa, o que é diferente de ter um acordo em que a
televisão se compromete a veicular eventualmente os produtos que tenham eventualmente boa
qualidade.
143
Anexo 3
144
Anexo 3
eu diria o seguinte: hoje a primeira coisa é evitar na medida do possível produzir por
suporte analógico, a qualidade é inferior e dá mais trabalho depois para processar. O
formato mais barato para produzir é em mini DV, produz em mini DV, reduz o material
para os diversos formatos, se você tiver mini DV é muito fácil gerar DVD, inclusive. É
muito simples é só você ter um canal de distribuição também para o DVD, que dá para
colocar bastante material.
No caso de cidadãos comuns, que não receberam qualificação, você acredita que a
internet vai ser um lugar mais democrático para que esse tipo de distribuição,
veiculação...
Cidadão comum sem dúvida, mas não é disso que estamos falando, nós estamos falando de
um cara que foi lá e se qualificou.
Sim, mas é que estou saindo do universo Educom.TV para tentar vislumbrar um veiculo
em que as pessoas comuns possam participar da distribuição...
Esse ponto a internet é sem sombra de dúvida.
145
Anexo 3
Agora, uma vez que eu usei uma câmera fotográfica que foi feita lá e eu cidadão da
periferia quero abrir um blog e colocar isso lá, qual é o caminho? Mas você não precisa
ter uma estrutura diferente para suportar esse vídeo?
Você pode, depende o caminho. Tem um monte de lugar que oferece hospedagem gratuita,
você cria um site nesses kits.Net, cjb.net... Você não, quem tá oferecendo, tem hospedagem
gratuita até certo tamanho. A partir daí se chegar em uma coisa, sei lá não estou em
condições de gastar 50 reais por mês, tudo bem, talvez eu também não esteja, mas de
repente junto 5 pessoas. Aí vira 10 reais por mês para cada um. Você precisa juntar forças.
Se você quiser fazer uma coisa extremamente individualista você vai estar limitada a seus
recursos. Agora, à medida que você junta forças, eu tenho dinheiro para uma camerazinha,
mas não tenho dinheiro para um computador. Mas se eu juntar com um cara que tem
computador, mas não tem a camerazinha, vocês dois já estão produzindo. Não sei se a gente
quiser levar assim, às ultimas conseqüências a produção individual, você vai estar limitada
pelo seu orçamento pessoal, quer dizer, pode ser maior ou menor. Na medida em que você
junta forças... a produção audiovisual no geral é uma produção de equipe, que vai ter
alguém que vai mexer melhor com câmera, vão ter outro que vai mexer melhor com a parte
de edição, outro vai saber melhor a pagina na internet, trabalhar em grupo.
146
Anexo 3
muita gente viu, comentou, criticou e apagou, passou e mais tarde acontece o teu tema volta
à tona, por qualquer razão, explodiu não sei aonde tem haver com isso, tudo bem, o
material continua lá. As pessoas vão voltar lá e vão falar para outras pessoas, não depende
de você agendar outra instituição. O que entra no sistema fica lá disponibilizado, a internet
nesse ponto é uma massa de informação que cresce a cada segundo, até onde vai é difícil
dizer. Chega a um ponto que o problema maior não é tanta informação que está lá, é como
localizar a informação que está lá que é muita. Então, você precisa se preocupar em ser
achada, que você faz parte desse palheiro, você é uma agulha dentro desse.
Então, talvez a internet seja o meio mais adequado para essa produção do Educom.TV
do que as TVs Educativas que, ainda por cima, têm menos audiência do que as
comerciais, já que não vai passar num dia em um horário pode ser que tenha mais
telespectador do que...
Em potencial sim, e tem mais uma coisa que você não está pensando ainda. Você tem uma
certa limitação, que às vezes é extremamente vantajosa. Por exemplo, você põe no ar um
programa, sei lá, vamos supor, você chega no google e coloca a palavra fotograph eu vou
ter alguns milhões de resposta. Se eu puser fotografia eu vou ter alguns milhares de
resposta restritas a sites que estão em português, espanhol, italiano, francês já que não
aparece porque a grafia é diferente. Então, o fato de você estar colocando uma coisa
qualquer que tem haver, quando você limita, no caso da linguagem, no português você
ficou muito limitado. O cara que estiver procurando isso daqui não vai te achar, mas por
outro lado você tem que ver que ao mesmo tempo que você botou isso daqui no servidor,
você está atingindo toda áfrica da língua portuguesa, e todo local do mundo que se fala
português, você saiu da transmissão da TV Senac, da TV universitária e tudo mais. Está
falando com o mundo que fala o português, que quem pode te entender, ainda que seja um
global, agora o interesse pelo tema pode existir até marcar quem fale português. Na hora
que você botou no servidor, algum tempo depois você foi parar nas máquinas de busca. Por
isso que eu te digo que o mais importante é a difusão do link. Não é estar num
servidorzinho na sala lá no canto da USP, é provocar esse espalhamento do link.
147
Anexo 3
um endereço de alguém que você não fazia a mínima idéia: “eu quero que você mande uma
mensagem para fulano de tal”, que você nunca ouviu falar. Então, você ia pegar essa
mensagem e mandar para alguém do seu conhecimento, explicando do que se tratava, essa
pessoa sei lá, (Era pra mandar pra um) cara na Rússia. Talvez se eu mandar para aquele
amigo da Finlândia, mandava para Finlândia, o cara da Finlândia ele olhava aquele negócio
dizia não conheço ninguém da Rússia, mas tenho um cara na Argentina que parece que sua
avô era russa, mandava para o cara da Argentina, o cara da Argentina pô minha avô morreu
mas tenho um cara na Itália.... Assim, eles constataram que as mensagens chegaram mais
ou menos depois de 6 (envios). A coisa vai longe na medida que você procura o que o
mesmo modelo que lá do homossexual, procura-lo os elementos de alta promiscuidade,
irradiadores, ai você consegue chegar muito longe em seis degraus.
Como será que a NGT, uma ex-retransmissora, conseguiu uma concessão de geradora?
Essa história é uma da mais complicada na legislação da rádio difusão porque na legislação você
tem as geradoras e as repetidoras. Essas repetidoras foram dadas a fundações sem fins lucrativos,
para retransmitir programas de conteúdo cultural e educativo. Só que não sei porque eles
começaram a se tornar... primeiro, começaram a produzir o que era ilegal. Produzia a própria
programação. Aqui no interior de São Paulo tem uma porção que está fazendo isso há muito tempo
e, posteriormente, conseguiram esse direito de gerar. Eu não sei a regularização disso. Tem muito...
esse que você tem é um caso. Mas existem inúmeras que eram simples repetidoras e passaram a ser
geradoras. No final do governo do Fernando Henrique, por exemplo, o Pimenta da Veiga deu um
monte (?). Pela constituição ficou mais difícil você ter concessões. Até 1988, o Ministério das
Comunicações dava o parecer e o presidente da República autorizava. A partir daí, as concessões
pra transmissoras passaram a ser examinadas pelo congresso nacional. Então, isso dificultou um
pouco, mas essa não é a minha dificuldade, minha dificuldade é que nos grandes centros já não há
mais espaço para novas concessões. Está tudo ocupado, todo espectro ocupado. Isso aconteceu
porque na época do Sarney... ele usou, ele deu essas concessões, aquela famosa barganha, em troca
da votação de 5 anos de mandato. Então, ele esgotou praticamente as concessões de TV adepta a
geradora. O que restou para barganha política foram as retransmissoras. No final do governo do
Fernando Henrique, o Pimenta da Veiga era Ministro das Comunicações, ele deu um monte de
retransmissoras principalmente para Minas Gerais porque é a área de atuação política dele...à
fundações e tal, com essa expectativa delas se transformarem em geradoras. Então, nesse caso, faz
parte desse contexto, o que eu sugeria...
Eu tenho várias legislações, mas, nenhuma dela explica, como uma retransmissora consegue ser
geradora, entendeu?
Eu também não sei.
Eu procurei, vasculhei tudo e é pouco explicando como era (incompreensível) porque o código
148
Anexo 3
Aí o decreto- lei é o 236 que determina quais são as TVs educativas, o que é TV educativa, e só
em 99 que uma portaria intermisterial entre o Paulo Renato e o Ministro das Comunicações
definindo o que era educativo em linhas gerais c que se caracteriza como educativo, mas também
é muito abrangente, entendeu?
Então, acho, mas eu não sei, a minha hipótese é que esta geração é ilegal porque você vê que não há
na legislação que eu conheço...
Mas eles me explicaram que era uma retransmissora, mas, com as mudanças da época do
ministro Sergio Mota conseguiram a concessão de geradora.
Onde está escrito isso, quer dizer uma retransmissora pode ser transformar em geradora, eu não sei
onde está escrito isso.
Ele parte do raciocínio de que as televisões não trata bem as afiliadas, digamos assim, ele vai
tratar, não é só isso ele conhece muita gente no Brasil inteiro, já tem várias pessoas, canais
interessados...
Que não são afiliadas, que ele vai tratar com dinheiro, vai tratar com anúncio... Quer dizer, vai
tratar, em querer fazer com ele, claro. É uma desregulamentação, é uma regulamentação que
favorece a desregulamentação. Você tem tantas leis, tantas variadas, a televisão no Brasil corre
solta. Vou te mandar alguns textos também meus sobre isso, sobre TV pública, acho que interessa.
Eu vim atrás das suas opiniões a respeito do que o senhor sabe, sobre esse mundo de TV
149
Anexo 3
educativa, entendeu?
Então deixa dar as minhas opiniões. Vou colocar de forma clara. O primeiro conceito é que a
Constituição brasileira define três modelos de televisão num determino artigo, acho no 220, 221 que
é público, privado e estatal. Aqui não tem o conceito de educativa. Portanto, institucionalmente
você não tem esse conceito. Embora na lei maior que é Constituição você não tem, o meu
entendimento e a minha opinião é que o educativo é o conteúdo. Então, uma televisão educativa ela
pode ser pública, privada e estatal. Agora esse conteúdo, agora essa expressão a TV educativa, ela
tem uma carga muito forte que vem do ano 60 quando a televisão começou a tomar corpo no Brasil
e se tinha a idéia que num país como o Brasil, com dimensões como o Brasil, a televisão supriria a
dificuldade do ensino presencial. Aí fica combinado dois interesses, têm uma coisinha no meu livro
“Atrás das Câmeras” dá uma olhadinha, você conhece esse livro meu? Da TV Cultura, “Atrás das
Câmeras”, tem um pouco sobre isso. Porque combinaram dois interesses: com essa ideologia da
educação via televisão, no momento novas tecnologias, como se hoje fala em internet e TV digitais,
naquele momento era TV aberta a grande tecnologia para a educação. Ficou uma ideologia que
estava sustentada em dois princípios um era a grande venda de material eletro eletrônico pro
mundo, principalmente para os EUA. Despejaram equipamentos aqui no Brasil, tem vários textos
sobre isso e quem escreve muito sobre isso é Armando Matelartt, o Francês, que estuda isso na
América Latina. Ele mostra bem isso, como é que a indústria entrou nisso, e o outro principio foi a
etiologia da segurança nacional. Estávamos em plena ditadura militar. Esses dois fatores
impulsionaram a idéia de que através da televisão, quer dizer, esses dois fatores estavam por baixo,
esses eram os reais, o ideológico era que através da televisão você educaria. Aí o que se fez?
Começou a fazer a bobagem que era, como a TV Cultura chegou ao fim dos anos 70 fazendo isso,
pondo uma câmera com uma sala de aula. Às vezes se sofisticava um pouco, mas se provou que isso
não dá certo. No mundo não deu certo, televisão é televisão, aula é aula. O que se pode fazer é usar
programas de televisão para apoiar uma aula de um professor. Se você pede um documentário sobre
a China, mostre e depois discute. É diferente, não é sala de aula. Isto vem até hoje, se bem que hoje
nos setores mais abertos que pensam nisso não se fala mais em televisão educativa, tem televisão
que podemos chamar de televisão de conteúdo mais cultural, menos populares. Você podia dividir
assim os conteúdos...De qualquer forma, você tem essa herança lá dos anos 60 que ainda acham que
a televisão é feita para ensinar. Então, quando surgiu esse tipo de coisa aqui (...), ele vem com essa
carga da televisão educativa. Agora, pois é, essa idéia de TV educativa é que é ruim esse conceito.
No caso da NGT ela não quer ser educativa nesse sentido formal, mas é educativa porque se
enquadra na lei...
Não é bem uma lei... é um canal aberto privado. Ele é um canal aberto dentro da Constituição. Ele
está aqui, canal aberto privado, como a TV Futura que é uma emissora educativa privada. Olha, não
há nenhum tipo de controle público. São empreendimentos privados, quer dizer, trata a televisão
como se a televisão fosse um jornal, que você pega na banca, imprime, coloca na banca e a pessoa
compra. Televisão não, televisão ocupa um espaço público que são as ondas sejam VHF ou UHF,
são ondas eletromagnéticas públicas, e tem uma concessão...
É assim na TVE, na TV Cultura, mas fora essas e outras que eu não devo conhecer e que
realmente trabalham com essa visão de cultura, de formação do indivíduo, a impressão que eu
tenho é a de que a maioria das TVs educativas no país, que foram obtidas através da concessão
política, sãorealmente instrumentos de poder, que estão pelo Brasil fazendo o que querem,
ninguém vê nada.
Exatamente, esse é outro nicho, você está nesse nicho ou outro nicho?
Eu não estou no nicho da TVE, da TV Cultura, acho que estou nesse aqui, que eu não conheço.
Eu acho seu trabalho ótimo, pois são os nichos mais característicos dentro desse modelo da
Constituição. Você tem as televisões privadas que são todas essas que nós sabemos: Globo e
150
Anexo 3
congêneres. Estatais você tem a Rádiobras, a TVE, que tenta não ser estatal mais na verdade é
estatal porque ela esta vinculada à Secretaria da Comunicação da Presidência, e você têm a TV
pública, o melhor exemplo é a TV Cultura porque, juridicamente, ela independente do Estado, ela é
uma fundação de direito privado. Portanto, por ser de direito privado, o estado não tem poder de
interferência. O órgão, o conselho curador da TV Cultura é o órgão máximo, muito semelhante a
BBC, mas claro que na prática não é assim. (...) Mas, teoricamente, ela é modelo público, no Rio
Grande do Sul está se tentando fazer isso, mas não se conseguiu. Quer dizer, de qualquer forma esse
teu trabalho é um outro nicho, que são TVs educativas, que teoricamente estariam aqui porque (são
fruto de concessões?) privadas, as concessões privados. Ela não tem infelizmente nenhuma grande
restrição de conteúdo, o cara põe o que ele quer, embora a lei diga lá, de acordo com a Constituição,
com o Código Brasileiro de Radiodifusão... porque a lei maior é a Constituição, abaixo dela vem o
Código, é de 62. Você imagina o que pode ser, mas de qualquer forma, ainda alguns decretos
estabelecem finalidades educativas, culturais... A Constituição diz isso também, que a televisão
deve...
Agora, o problema você vê o que acontece pelo Brasil nessas TVs educativas...
Eu acho que o primeiro problema é você pegar a legislação que criou essas TVs, essas TVs, porque
não é TV educativa, quer dizer, é TV educativa, mas não é TV educativa. São essas retransmissoras
que são fenômeno novo, essas retransmissoras, eu acho que são fenômeno, não sei, da década de 90
depois do Sergio Mota...Acho que esse é que é teu objeto.
A compreensão que está se formando em mim, é que a gente pode afirmar que é comum
encontrar proprietários de TVs educativas que não tem nenhuma ligação com educativa de
alguma forma, nesse universo...
Nesse universo porque na verdade essas concessões, a grande parte dessas concessões, talvez quase
totalidade, foram concessões políticas, não foram concessões voltadas para prestação de serviço
público. Agora, isso não teria tanto problema se elas não fosse efetivamente retransmissoras. Então,
não haveria problema nenhum, porque elas estariam retransmitindo programas nas chamadas TVs
educativas públicas. Mas ao se transformarem em televisores geradoras, elas passam a ter a
concepção de educação e cultura do proprietário que é uma concepção de cultura muito particular e
educativa muito particular. Quer dizer, você pode entender que você está educando ou
estabelecendo uma relação ou transmissão de cultura passando programas fantasiosos, como a
chegada do disco voadores. Enfim, você pode colocar programas infantis, a própria (?) você quando
fala em TV educativa e TV cultural deve haver por trás da programação uma linha condizente com
as necessidades culturais, educativas, da situação real da sociedade naquele local, do Brasil como
um todo, a partir de estudo, a partir de trabalhos pedagógicos, enfim, essa decisão de conteúdo não
pode ficar na mão de uma pessoa, de um empresário. No final, o cara vai sendo um empresário
porque essas fundações, que eu tenho até medo de afirmar que muitas delas são de fachada, na
verdade são empresas.
Lá o dono é o presidente, os participam do conselho são a filha, a mulher e outra filha...E não
tem ninguém lá que já tenha trabalho com conteúdo cultural ou educativo. Quem decide o que
vai para ar é um cara, um técnico que escolhe os programas, entre os parceiros para colocar no
ar... Não tem ninguém que pense na programação... Ainda mais quando vai se tornar rede
nacional, vai se tornar viu...
Isso é no mínimo antiético, para não dizer coisa mais dura, é imoral... Me dá uma tristeza porque
estou envolvido muito emocionalmente nessa briga com a melhor qualidade de televisão, na ONG,
e eu não sabia disso, você está me contando coisas. A televisão é muita coisa importante para ficar
na mão desse tipo de gente e o pior, quer dizer, quando estamos todos empenhados, ou algumas
pessoas empenhadas em se criar uma rede pública nacional séria, com base nas emissoras que já
existem estatais, públicas, de repente essa base que podia ser a base da rede séria pode ser puxada
151
Anexo 3
para esse lado, não é pelo o que você está me contando, ele vai atrás dessa base, não vai?
152
Anexo 3
televisão, particularmente você quer discutir a questão TV educativa. Não é por nada que não tem
nenhum livro sobre a TV educativa. Porque não existe um modelo de TV educativa que possa dizer
este é o modelo e ele tem que ser seguido. A TV Cultura não chega a ser um modelo de TV
educativa. Ela funciona hoje dentro das restrições que o fato de ser um TV pública impõe. Ela é
mais uma TV pública do que uma TV educativa.
153
Anexo 3
interessar o marido também. Depois da novela das oito, você tem a programação noturna que ai já é
adulta. Então, isso se repete de segunda a sábado, manhã, tarde e noite, por isso que a gente chama
de grade horizontal e genérica. Então, o que ela é genérica, ela é genérica em todos os formatos de
programa, você encontra todos os formatos de programa nessa grade, todo o tipo de
teledramaturgia, desde sit com, programas tipo Grande Família, coisas assim; você encontra os
documentários tipo Globo Repórter que, para mim não é documentário, pra mim é programa
jornalístico de reportagem; você encontra telejornal, você encontra os programas femininos que tem
todo o tipo de abordagem de receitas até psicologia, maquiagem, artesanato, essa coisa toda; todo o
tipo de programação infantil, programação de humor, programa de auditório. Todos esses formatos
que foram se desenvolvendo na televisão seguiram esse modelinho aqui horizontal e teoricamente
ela é uma televisão feita para agradar todo mundo. No momento que é pra agradar todo mundo, o
nível de abordagem dela tem que ser muito genérica também porque se começa a ser uma
abordagem (mais específica) pressupõe uma base cultural do espectador para entender, pressupõe
um nível de conhecimento, pressupõe um nível de envolvimento na questão política, na questão
cultural, na questão, enfim, no interesse de formação e tal, você já começa a restringir o público, o
público já vai começar achar chato.
154
Anexo 3
Muitas vezes a gente aprende muito mais com o que errado do que é certo, seja vendo, seja tomando
na cabeça porque fez o errado e aprendeu... sabe criança que só aprende que o fogo queima, quando
queima o dedo pela primeira vez. Não adianta dizer para uma criança não põe o dedo porque
queima, não põe o dedo porque queima. Queimar, o que é isso? O que será queimar? Ele não
conhece, ele não sabe, não é porque a mãe disse que aquilo virou uma verdade para ele. Ele queima
o dedo e aprende. Ele não aprendeu porque a mãe disse que queimava, ele aprendeu porque sentiu a
dor, aí ele não é besta de botar a mão lá de novo...
Então posso afirmar que o educativo surgiu para levar através da televisão a educação formal e,
ao longo dos anos foi se transformando. Se o educativo pode estar em qualquer programa,
qualquer tipo de TV aí fica mais difícil ainda de você dizer, que é uma TV educativa.....
Uma tentativa de massificar mais a educação formal que não deu certo. Você pega a TV Cultura,
por exemplo, ela tem um trabalho com criança, muito focada no público infanto-juvenil. Ela aborda
a questão do público infanto-juvenil a partir de um conhecimento de psicologia, de pedagogia mais
contemporânea, de dramaturgia. Então, você pega um Castelo Rá-tim-bum, por exemplo, ele é uma
teledramaturgia, com personagem, com história, historinhas com começo, meio e fim. Esses
personagens, como eles são inclusive totalmente fantasias, eles podem abordar o que for da maneira
em que for. Então, eles vão procurar fazer as abordagens que envolvam tanto cotidiano da criança,
do tipo escova os dentes, coma pepino, porque o pepino é verde, para que serve comer verde...Ao
155
Anexo 3
mesmo tempo em que eles estão discutindo pepino e espinafre e jiló, eles estão discutindo
fotossíntese, essas coisas. Eles fazem uma mescla entre o cotidiano que precisa de um nível de
formação de hábitos, de hábitos que são adquiridos por consciência. Eles não têm saco para escovar
os dentes, escovar os dentes é uma das coisas que você se habitua, a ter os dentes limpos porque
isso depende da sua saúde. Não é que você gosta de escovar os dentes, é que incômoda estar com os
dentes sujos. Você se submete ao saco de escovar os dentes para sentir a sensação do dente limpo.
Você não está convencida de que escovar o dente é bom. Escovar o dente é um saco! Tomar banho
no frio é um saco! Alguém deixa de tomar banho no frio? Não, porque se você deixar de tomar
banho você começa a se sentir incomodada porque você tem um hábito de ter uma sensação de pele
que o banho te oferece. Então, a gente precisa começa a desconstruir um pouquinho essa questão da
educação, o que é a consciência, o que é formação de hábito, o que é disciplina, o que é coisas que
são hábitos, são consciência, são disciplinas e se adaptam a minha personalidade. Tem coisas que eu
sei conscientemente que são melhores. No entanto, é tanto sacrifício pra eu fazer, por exemplo,
dormir cedo, o melhor é dormir dez, onze horas e acordar seis, sete horas. Mas tem gente que tem
hábitos noturnos, sei lá porque motivo. Essa pessoa gosta de dormi à meia-noite, uma hora e tem
condição de dormir oito horas, nove horas. Por que eu tenho que infernizar um adolescente que tem
esse bio-ritmo a dormir todo dia às dez horas? Coitado vai pra cama e fica rolando na cama pra lá e
pra cá, acaba criando uma situação de insônia ou de pegar num sono de uma forma artificial, que
pode gerar problemas seríssimos de saúde.
Um programa sobre futebol amador, por exemplo, colocar pessoas comuns jogando futebol num
domingo de manhã, pode ser caracterizado como programa cultural, educativo... Amigos que se
juntam para ir jogar bola...
Depende da abordagem. O que significa aquele grupo? Você pode enfocar o grupo, você pode
enfocar a comunidade, como ele se formou, quem são as pessoas, o que aquele futebol significa
para aquelas pessoas, quem são... O futebol sempre são dois times. Você enfoca uma comunidade
que está recebendo ou a que foi visitar, ou é um bairro que tem três times, ou quatro times e tem
uma sistemática de uso daquele campinho. O que significa o grupo que joga, o grupo que assiste,
tem camiseta, não tem camiseta, como aquela camiseta foi financiada, cada um comprou a sua, mas
a camiseta é igual, aonde foi mandada fazer. Então, na realidade o que você está investigando é uma
comunidade, é uma comunidade que trabalha em torno de uma questão que é o futebol. Para onde
aquilo vai? Tem olheiro que vai lá buscar talentos? Por exemplo, agora quando a prefeitura
começou a construir os CEUS, em vários bairros, o CEU foi construído em cima dos campos de
futebol, em geral era o único equipamento de lazer que tinha no bairro, na periferia. Não que a
prefeitura chegou lá e desapropriou o campo de futebol, que alias, não é propriedade de ninguém,
era um terreno mesmo baldio da prefeitura. Não é que ela foi lá disse agora todo mundo vai embora
e nós vamos fazer uma escola aqui e vocês vão ficar um ano e meio sem poder jogar bola no fim de
semana. Não, foi com os líderes comunitários, sentou quinhentas vezes, explicou qual que era o
objetivo, entendeu o que era aquele futebol, qual era a comunidade que administrava aquele espaço,
buscou alternativas e obteve o aval da comunidade para construir uma escola em cima do campo de
futebol daquela comunidade que há vinte anos era daquela comunidade. Criou o compromisso pra
quando o CEU tivesse pronto, e que teria campo de futebol, aquele campo seria da comunidade,
voltaria para a comunidade, apenas cercado. Então, já que você perguntou do futebol, nós vamos
falar da TV cabo.
A TV a cabo é a chamada TV segmentar. O que é o segmento? O segmento é um segmento de
interesse. Então, você tem o canal de filme, você tem canal de esporte, você tem canal de
documentários, documentários de diferentes naturezas, você tem um tipo de documentário na GNT,
que não é o mesmo tipo de documentário da Discovery (entre outras), como você tem vários canais
de cinema. Então, o Telecine, por exemplo, tem “emocion”, comédia, clássicos, ação. São
segmentos de interesse. Você tem no clássico, no telecine clássico, uma grade que é clássico o dia
inteiro. Tem uma grade que é de humor o dia inteiro. Uma grade que é de ação o dia inteiro. Você
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Anexo 3
tem o canal Brasil que é só de cinema brasileiro. Você tem os canais religiosos, tem a Rede Vida,
por exemplo, que é uma abordagem católica o dia inteiro, tem telejornal, tem programas de receita,
mas você sempre vai ter uma abordagem pela via do cristianismo. Na grade vertical pode interessar
a um único segmento. Então, vamos pensar: você tem os quites todos, o dia inteiro programação pra
criança, desenho, todo tipo de coisa. Você vê uma diferença muito grande de abordagem, de
constituição de um ambiente televisivo dentro da casa das pessoas. Sempre vi muita televisão, a
vida inteira, desde criança, eu só a própria história da televisão brasileira. Porque eu vi desde o
começo, eu não sabia que eu sabia tanto, eu fui descobrindo depois quando eu tinha que enfrentar,
então eu não tenho essa disciplina de ficar quietinha. Então, o que acontece aqui, estou revendo a
minha personalidade de espectadora no confronto entre eu ter a TV aberta e eu ter TV cabo. Hoje
escolho a programação da televisão muito em função também do meu estado de espírito. Tem dia
que eu fico o dia inteiro na Globo News, eu quero ouvir aqueles debates, eu quero ver as
reportagens, eu quero assistir os telejornais de hora em hora, eu perco o das oito da manhã o
telejornal, das sete e quinze até as oito, ai assisto as nove na Globo News que repete o Bom Dia
Brasil. Mas tem temporada que não estou com saco pra notícia, vou para multishow. Então, eu pego
cada bruta programa de música no multishow maravilhoso. Tanto música como espetáculos Às
vezes eu fico uma semana no canal Brasil, ai chega uma hora que enche o saco de ver tudo que é
cara conhecida, as histórias que já conheço, aqueles filmes que já vi, não quero mais ver o canal
Brasil. Então, são essas coisas que você começa a perceber que a tua relação com televisão é
educativa só para você (grifo nosso). O que estava vendo outro dia, eu estava assistindo um negócio
e a minha filha perguntou: por que você está vendo isso? Eu estou aprendendo, era uma bobagem
homérica, mas eu tenho um tipo de interesse, um tipo de necessidade de leitura, do que está na
televisão, do que está na mídia, de modo geral porque eu preciso ver para aprender. Como que é
essa abordagem, como é que consegue capturar determinado tipo de público, como é que trabalha a
cabeça desse público, a que tipo de necessidade esse tipo de programa está respondendo. É uma
necessidade de transformação? É uma necessidade de consolidação? Você pega todos os canais
religiosos... Eles são extremamente conservadores, querem marcar o fiel naquela igreja, e aí a igreja
é uma instituição lucrativa. É super importante ficar ouvindo e você ficar ouvindo o dia inteiro
porque aí você vê o nível de repetição e você vê o nível de hipnose que é feita com as pessoas. É
uma coisa que não tem nenhuma contradição, é um discurso monolítico e determinador, você tem
que se comportar de tal maneira, você tem que enxergar o mundo dessa maneira isto que te acontece
é interpretado assim, assim, assim, e você se comporta diante disso assim, assim, assim...
Exatamente autoritário por mais que seja aquela coisa libertadora. Não é libertadora porra nenhuma,
na realidade é amarrar, amarrar, amarrar. Então, isso tudo questiona profundamente a visão
educacional que a gente tem de educativa, que a gente tem da educação formal. O que está
educando de fato é a forma da linguagem é a maneira de abordar as questões e principalmente a
repetição ou não de um determinado modelo (grifo nosso). Por isso que hoje você em busca de
viver ou constituir um modelo de TV educativa não funciona mais. É um conceito superado. Hoje
você tem mais a televisão assim: TV aberta, quer dizer grade horizontal e genérica. TV segmentada,
seja ela de que natureza for, porque na grade segmentada você tem várias TVs públicas. Então, a
universitária, a comunitária, a TV justiça, a TV Senado, a TV câmara tudo isso são TVs públicas,
Elas têm, por exemplo, no caso da TV universitária...Ela não é uma televisão só, você tem várias
universidades no caso para o canal universitário de São Paulo. Você só tem duas universidades
públicas, dentro dela que é a USP e a UNIFESP, as outras sete são TVs universidades privadas.
Mas, como são, você tem que ver qual é o objetivo da TV universitária, é um objetivo de formação
mesmo pro público que assisti, quer dizer, é uma ampliação do papel formador da universidade para
um outro tipo de público que não está dentro da universidade? Você visa realmente o público? Elas
não têm fins lucrativos, nem a universitária e nem a comunitária. A comunitária mais ainda porque
a comunitária é feita pelos segmentos da comunidade. Então, são ONGs, são associações, são
comunidades, por exemplo. Podem ser comunidades religiosas, podem ser comunidades de bairro,
que vão fazer seus programas e apresentar lá.
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Anexo 3
Agora em termos de concessão, quer dizer nesse caso ai...definição no site no ministério das
comunicações .... só aparecia TV comunitária, TV comercial e educativa...fiquei pensando
quantos tipo de televisão existem...
Essa lei inclusive vai mudar agora quando realmente a lei de Telecomunicação for. Então, no
100mil.org.br (?) você vai encontrar, além do cabo, do que diz o que é a TV cabo, para que serve e
tal, você vai encontrar também no próprio 100mil vai encontrar um link pra ABTU, Associação
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Anexo 3
Brasileira de TV Universitária. Você põe multirio na busca... a multirio é um canal público também
no Rio de Janeiro, municipal educativo, a TVE é a TV Educativa Nacional. Então, você tem a
fundação Padre Anchieta que é a TV Cultura, que é a fundação que gerencia a TV Cultura, o Estado
de SP é o único que tem uma televisão educativa própria. Você tem fundação Roquete Pinto, que
gerencia a TVE, a sede é no Rio, mas ela tem representante, digamos assim, ela tem link em todos
os estados. Então todos os estados têm uma TV educativa e fazem parte da rede TVE e
retransmitem a TVE do Rio e que tem produção local. A maior parte das vezes a produção local é
feita em conjunto com Universidade locais, quase sempre as universidades federais, a dos estados
que são totalmente Tabajara. Então, isso é o educativo que está regulamentado por essa lei que,
acho, é uma lei dos anos 60. Ela está totalmente superada pelos novos modelos tanto de televisão
quanto de educação. A diretora da TVE, Beth Carmona, que foi a pessoa que fez a TV Cultura a ter
a estatura que tem do ponto de vista cultural. Então, hoje se faz mais sentido a discursão do que é
uma TV cultural e TV comercial. Na cultural cabe tudo, na cultural cabe um programa sobre o
futebol de várzea, como cabe sobre qualquer esporte amador, por exemplo, esporte amador
universitário, o esporte universitário, você vai a FUPE, Federação Universitária Paulista de Esporte
e a FUPE coordena todas as atividades esportivas das universidades paulistas. Ela normaliza
campeonatos, define regras de cada modalidade esportiva. Tem que ver o lado do público, tem que
ter um link entre o público, evento e patrocínio, você tem que construir...
Mas isso em que tipo de canal? Em canal educativo é proibida a veiculação de comerciais...
Em qualquer canal, não é mais. Em primeiro lugar, quando o Roberto Mülaerte foi diretor da TV
Cultura, presidente da TV Cultura, ele instituiu o chamado apoio cultural, que é uma forma de
patrocínio não publicitário. Então, (surge) “esse programa foi possível graças ao apoio cultural da
NESTLÉ”, mas em nenhum momento ali dizia “tome danoninho”, “tome leite ninho”, “suquinho
NESTLÉ”. Então, não tem propaganda de produto, ela não está excitando a compra, ela não está
fazendo publicidade e estimulando o consumo, Mas há um patrocínio cultural da NESTLÉ. A
NESTLÉ apóia um tipo de programa que vai trazer à sociedade um benefício. Na realidade, o apoio
cultural é um tipo de patrocínio de agregar um valor a uma marca. O que está por trás do
pensamento do apoio cultural é agregar valor. Você pode pegar uma marca nova que vai fazer um
grande patrocínio cultural de um evento em uma determinada cidade, onde eles querem começar a
colocar os produtos daquela marca. A marca entra primeiro como uma beneficiária daquela
comunidade e, depois que ela já está na cabeça daquela comunidade, os produtos começam a entrar.
É outra forma de raciocínio da manipulação da questão dos patrocínios das verbas. Hoje, o que você
consegue de apoio, por exemplo, peça de teatro, cinema, essa coisa é de grandes empresas. É tudo
em função deste reconhecimento de que apoio cultural. Agrega valor a uma marca. Então, a TV
Cultural foi a primeira a partir da Mülaerte, que sabe muito bem como fazer isso. Tem até uma
agência desse tipo de coisa. Ele foi criando com as empresas esse tipo de cultura e, em cima desse
tipo de cultura construída, é que você tem hoje as vias de incentivos à cultura. Além de incentiva a
cultura, além de favorecer a empresa, o abatimento de impostos, essa coisa toda, ela também
funciona o tempo todo em cima dessa noção, de que patrocínio cultural agregar valor. Não vende. É
outro conceito, predispõe o público para a sua marca, o que vai facilitar a colocação no
supermercado dos produtos da marca. É outro âmbito de raciocínio que você precisa pensar
inclusive como um raciocínio educativo, de outra natureza. É uma instituição que investe na
qualidade de vida daquela comunidade porque bem cultural é qualidade de vida. Você entende que
mudou o raciocínio das coisas? Acho que foi ontem ou antes de ontem que eu vi uma informação, o
que aconteceu o Mülaerte realmente infringiu a legislação quando ele inventou essa história de
apoio cultural. A TV Cultura era notificada pelo Ministério o tempo todo e o que ele fazia? Ele
tinha uma gaveta na mesa dele só para botar as notificações. Nunca respondeu a nenhuma. Então,
ele nunca permitiu que fosse criado um fato jurídico, que permitisse impedi-lo de fazer isso. O que
aconteceu? Ele criou uma cultura. Porque no momento em que ele começou a obter apoio cultural, e
a programação da TV Cultura foi lá em cima e começou a ganhar prêmio internacional, se viu que a
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Anexo 3
legislação era totalmente falsa, furada. Ele fez educação nas duas pontas, nos três seguimentos: ele
fez uma educação do legislador, ele fez a educação do patrocinador e a educação do público. Com
ousadia, ele mudou um sistema burro, insuportável porque o estado não pode pagar uma televisão.
O estado pode viabilizar uma parte de uma televisão, paga o quadro de funcionários, mantém o
custeio do espaço que é um espaço do governo, aquele ambiente lá onde tem a TV Cultura, viabiliza
a importação de equipamentos, essas coisas todas. Mas o custeio da produção direta não tem porque
vir do estado. Se você pode ter o apoio do incentivo privada para isso... foi graças à isso que se
conseguiu desenvolver um tipo de programação como é a programação desenvolvida. Mas o que a
TV Cultura fez também? Que valor ela agregou mantendo a expectativa da TV pública de prestação
de serviços e não de focar num interesse de patrocinador, ou de uma estrela da programação, tipo o
Ratinho, coisa assim? Foi buscar num conjunto de educadores com pensamento mais dinâmico em
relação à mídia, essa coisa toda, o suporte teórico e conceitual para desenvolver a programação.
Você tem no Castelo Rá-tim-Bum uma orientação de educadores, psicólogos, etc que é o pessoal da
Escola da Vila, principalmente, que é uma escola de ponta em termos pedagógicos e renovadora.
Você tem a criação artística orientada por estas leituras pedagógicas e o resultado que deu. Você
tem um cruzamento porque você mantém o conceito de TV pública, de uma prestação de serviço de
qualidade cultural. Não é educativo no sentido escolar do tema.
A mesma coisa é o canal universitário, a gente inventou, uma constituição inicial. O canal
universitário de SP foi o primeiro. Como que a gente vai juntar todo o conhecimento das noves
universidades? O que a gente vai levar ao público? Aula, resultados de pesquisas? Com que
linguagem? Com qual abordagem? Cada TV foi procurando os seus caminhos. Na TV USP, por
exemplo, tem um programa chamado Olhar da USP, que é um programa de entrevista que tem dois
focos. Por dentro da universidade o foco é a voz do professor. Mas essa voz do professor presta que
serviço pra comunidade aberta? Dentro das próprias características da TV que você produz nesta
semana para reproduzir na semana que vem. Você não tem o imediatismo da TV aberta, e não tem
menor condição de competir. O objetivo não é esse. A gente está gravando essa semana: qual é o
grande assunto dessa semana, qual é a grande preocupação, o que está rolando? Então, nós vamos
gravar um programa que discuta com os especialistas da universidade. A gente vai pegar os
especialistas que estão há 30 anos pesquisando aquele negócio que tem um tipo de conhecimento
aprofundado e abrangente. Jamais um jornal nacional vai abordar, nenhum Globo repórter, e vai
botar em discursão, o olhar da USP, com toda a sua excelência de pesquisa, de abordagem, de
conhecimento amplo do assunto, de uma determinada questão.
Qual foi sua maior dificuldade que você encontrou pra formar a TV....
Nenhuma, eu fiz o que quis. Durante dois anos e meio eu fiz o que quis. Depois que mudou a
coordenação da CCS, foram todas as dificuldades porque ai comecei a ter uma determinação
autoritária que contradizia tudo que a gente pretendia e tinha construído. A gente tinha um lado de
experimentação, de linguagem também, porque a gente tem um curso de rádio e televisão.
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Anexo 3
A senhora estava falando da Beth Carmona... Está sendo mais cultural no sentido geral da
palavra, não no sentido de arte...de cultura mesmo
De cultura mesmo, de formação, é mais formação do que informação. Não é um resultado imediato,
essa é a questão mais importante.
A conclusão que chego é de que você tem nome TV educativa só por natureza jurídica...
Por isso que estou lhe dizendo. Você tem que desconstruir esses conceitos. Tem que ver o que é na
legislação, o que é a execução, e o que é no projeto porque muitas vezes há um projeto pra
conseguir a concessão e esse projeto depois não é executado. É completamente desvirtuado. Tanto
pode ser desvirtuado pelo fato dele não conseguir produzir o projeto, porque tem um custo, e não
conseguir o patrocínio, ou porque o negócio foi tomado de assalto e começa a ser manipulado, pelos
grupos políticos.
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