TV Educativa e Producao Audiovisual

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÕES E ARTES

A VISIBILIDADE DOS INVISÍVEIS


TV Educativa e Produção Audiovisual

Jaciara de Sá Carvalho

Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

São Paulo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÕES E ARTES

A VISIBILIDADE DOS INVISÍVEIS


TV Educativa e Produção Audiovisual

Jaciara de Sá Carvalho

Trabalho apresentado junto ao


Departamento de Comunicações e Artes
da Escola de Comunicações e Artes da
USP como requisito parcial para a
obtenção do título de especialista em
nível de pós-graduação em Gestão de
Processos Comunicacionais.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

São Paulo
2004

II
Banca examinadora

_____________________________
Maria Cristina costa

_____________________________
Ismar de oliveira soares

_____________________________
Patrícia horta

III
Dedicatória

Dedico este trabalho àqueles que nunca deixaram de


acreditar em mim: meus pais Joaquim e Antonia.

Uma dedicação especial a Henrique, sempre o meu namorado.

Dedico também a todos que trabalham com comunicação


visando a melhoria do ser e a democratização dos meios.

IV
Agradecimentos

À minha orientadora, por me introduzir e guiar com amor.


Por ter, pacientemente, obtido o melhor de mim.

Ao meu marido Henrique, pela incansável dedicação.

À minha irmã Janaina, sempre disposta a ajudar.

Aos Professores do curso Baccega, Ismar, Roseli, Immacolata,


Citelli e Solange que, com prazer, apresentaram-me um mundo
repleto de possibilidades.

Aos Professores Lalo, Marília e Scavone que, generosamente, me


proporcionaram momentos de sabedoria.

Ao caro Jamir, companheiro de jornada, amigo de todas as horas.

À amiga Carla, revelação dos momentos de aflição e de alegria.

Aos colegas do curso, pelos finais de semana inesquecíveis.

A todos os diretores de TVs Educativas que participaram deste


trabalho e às pessoas que contribuíram de alguma forma.

V
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1

CAPÍTULO I - COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO...................................... 4


1 - O campo da Comunicação................................................................... 5
2 - Comunicação e avanço tecnológico.....................................................8
3 – Educomunicação................................................................................. 10

CAPÍTULO II - A INSTITUIÇÃO NCE-CCA/ USP.....................................16


1 - A instituição USP..................................................................................17
2 - A instituição NCE..................................................................................19
3 - Breve perfil........................................................................................... 24
4 - Educom.TV...........................................................................................26
4.1 - Projetos do Educom.TV........................................................... 29
5 – Problemática........................................................................................30

CAPÍTULO III - TELEVISÃO e EDUCAÇÃO............................................ 31


1 - Considerações a respeito do panorama...............................................32
2 - Desenrolar histórico..............................................................................33
3 - O caráter político.................................................................................. 36
4 - Breve panorama atual.......................................................................... 39
5 - Questão de conteúdo........................................................................... 41
6 - TV Pública............................................................................................ 44
6.1 - TV Cultura................................................................................ 47
7 - TV por Assinatura.................................................................................49
7.1 - Rede STV.................................................................................52
8 - TV Comunitária.....................................................................................53
8.1 - Canal Comunitário de São Paulo............................................. 56
9 - TV Universitária.................................................................................... 57
9.1 - TV PUC/SP.............................................................................. 59

CAPÍTULO IV – UM ESTUDO EM PROFUNDIDADE.............................. 62


1 - TV NGT................................................................................................ 63
2 - Manuel e NGT...................................................................................... 65
3 - A caminho do futuro............................................................................. 67
4 – Organograma...................................................................................... 68
5 – Programas........................................................................................... 69
6 - A questão comercial............................................................................. 74
7 - Em busca de um satélite...................................................................... 76
8 - Constituindo a rede.............................................................................. 78
9 - Questões de comunicação................................................................... 79
10 - Considerações finais sobre a NGT.................................................... 80

VI
CAPÍTULO V - METODOLOGIA DE PESQUISA 83
1 - Método e amostragem......................................................................... 84

CAPÍTULO VI - A PESQUISA...................................................................88
1 - Informações gerais............................................................................... 89
2 - TV Cultura............................................................................................ 91
3 - Rede STV (SescSenac de Televisão).................................................. 93
4 - Canal Comunitário de São Paulo......................................................... 94
5 - TV PUC/ SP..........................................................................................96
6 – Internet.................................................................................................97

CAPÍTULO VII - O GESTOR DE PROCESSOS COMUNICACIONAIS 99


1 - O gestor da Comunicação.................................................................. 100
2 - O gestor, o educomunicador e as TVs Educativas............................. 101

CAPÍTULO VIII - PROPOSTA DE INTERVENÇÃO................................ 105


1 - Alguns caminhos................................................................................. 106
2 - Veículos próprios................................................................................ 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 112


1 - Acadêmicas........................................................................................ 113
2 - Não acadêmicas................................................................................. 114
3 - Eletrônicas.......................................................................................... 115

ANEXOS.................................................................................................. 117
Anexo 1 - Lista dos produtos audiovisuais/videográficos do Educom.TV 118
Anexo 2 - Íntegra das entrevistas realizadas para a pesquisa................ 124
Anexo 3 - Íntegra das entrevistas com os professores especialistas...... 142

VII
Resumo

Palavras-Chave: Comunicação – Educação – NCE – USP –


Televisão – TV Educativa

O Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Universidade de


São Paulo surgiu como resultado dos esforços de professores da
Escola de Comunicações e Artes em estudar e desenvolver
pesquisas que inter-relacionam os campos da Comunicação e da
Educação. Entre seus projetos está o Educom.TV que teve por
objetivo capacitar professores da rede pública do estado de São
Paulo para o uso do audiovisual, tornando-os aptos a desenvolver
projetos de produção junto aos alunos.

O presente projeto traça um panorama das TVs de caráter


educativo/cultural como espaços para a divulgação de produtos
audiovisuais realizados nas escolas.

VIII
ABSTRACT

Key-word: Comunication – Education – NCE – USP -


Television – Educative TV

Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) of University of São


Paulo (USP) has been created as result of Escola de
Comunicações e Artes teachers efforts of study and development of
researches into comunication and education as related subjects.
One of NCE´s projects is Educom.TV which qualifies teachers of
State of São Paulo Public Schools as users of audio-visual aids,
taking them able to develop, with their students, projects of audio-
visual productions.

This research shows an Educative/Cultural TVs outlook as


publishing places of audio-visual productions made by public
schools.

IX
INTRODUÇÃO
Introdução

Meu interesse pela televisão educativa não é recente. Desde os tempos de graduação
em jornalismo, vislumbro a possibilidade de trabalhar em emissoras de vocação educativa. A
oportunidade, todavia, não surgiu.

Depois de graduada, ingressei no Curso Gestão de Processos Comunicacionais da


ECA/USP para o qual apresento o presente trabalho com vistas a me tornar especialista em
gestão da Comunicação. E foi na elaboração dessa monografia que encontrei a possibilidade
de, finalmente, pesquisar e me aproximar da televisão de caráter educativo/cultural.

O intuito é saber qual a relação possível entre esse “tipo” de televisão e a escola. O
objeto será abordado nesta monografia a partir dos projetos do Núcleo de Comunicação e
Educação fundado na Escola de Comunicações e Artes da USP pelo Prof. Dr. Ismar de
Oliveira Soares que vem, sistematicamente, desenvolvendo trabalhos a cerca da inter-relação
Comunicação/Educação. Entre eles, projetos de estímulo à produção de alunos. Gostaria de
ressaltar que, embora não trabalhe no Núcleo, espero contribuir para as suas ações com esta
pesquisa.

Ao procurar desenvolver este projeto para o NCE, pude entrar no universo amplo e
complexo das TVs Educativas. Um universo que, segundo os especialistas consultados, ainda
precisa ser alvo de maiores estudos. Por ser um meio que trabalha, ou deveria trabalhar, com
Educação, começaremos esta monografia apresentando um breve resumo dos estudos que
inter-relacionam Comunicação e Educação e que foram o referencial teórico para o
desenvolvimento da pesquisa.

No segundo capítulo, será apresentada a instituição NCE e o universo no qual ela está
inserida, a Universidade de São Paulo. Em seguida, trataremos do projeto Educom.TV,
desenvolvido pelo núcleo e a partir do qual realizamos nossa pesquisa junto às TVs de caráter
educativo/cultural. Buscamos, pois, espaço de divulgação para os produtos
audiovisuais/videográficos gerados nas escolas participantes desse projeto.

No quarto capítulo, trataremos das TVs Educativas a começar pela gênese desse tipo
de TV e a base legal sobre a qual é constituída, responsável por suas características até hoje.
Abordaremos, também, uma questão delicada que é o conteúdo dessas televisões, que não têm

2
Introdução

a função do ensino formal, mas possuem a responsabilidade de contribuir com a permanente


formação dos telespectadores. Para que possamos construir uma idéia, a mais verossímil
possível deste universo, recolhemos informações sobre cinco TVs que atuam distintamente,
mostrando que as TVs Educativas não podem ser vistas como uma massa única. Uma das
escolhidas, a TV NGT, foi alvo de uma investigação mais profunda para que pudéssemos
compreender como algumas TVs Educativas surgem, se mantém, são “comandadas”, entre
outros aspectos.

Por fim, depois de realizada a nossa pesquisa com os dirigentes de quatro dessas TVs,
apontamos caminhos ao Núcleo de Comunicação e Educação da USP no sentido de tornar
mais conhecida as produções audiovisuais do projeto Educom.TV. Acreditamos ter não só
alcançado nosso objetivo como também reunido informações a respeito do universo das TVs
Educativas que certamente serão úteis ao NCE e a outros pesquisadores, carentes de uma
bibliografia mais ampla.

3
CAPÍTULO i
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

1 – O campo da Comunicação

A palavra “comunicação” é empregada tanto para indicar o campo acadêmico, a


disciplina, quanto seu objeto de estudo, a Comunicação Social. No que se refere ao primeiro
aspecto, a Comunicação está situada em um campo maior que é o das Ciências Sociais e,
como a maioria dos campos, constituiu-se historicamente como autônomo dentro dessa
grande área do conhecimento humano. Sua autonomia é concomitante ao processo de
legitimação que ainda atravessa. Institucionalmente, o campo da Comunicação é recente: seus
estudos tiveram início em meados de 1930 quando o campo, propriamente dito, passou a ter
autonomia com o trabalho de pesquisadores que se dedicaram a ele.

O campo da Comunicação nasceu no bojo de uma sociedade de massa, elemento


constitutivo da sociedade capitalista, urbana e baseada no modelo fordista de divisão do
trabalho. É essa sociedade que dá origem à cultura de massa que marca a Comunicação como
objeto de estudo até os dias de hoje, acompanhando o fenômeno histórico que ainda perdura.

A legitimação e o fortalecimento da Comunicação como campo dependem de sua


competência científica dentro da área das Ciências Sociais e de suas contribuições das
atividades de ensino, pesquisa e prática.

(...) O campo científico, enquanto sistema de relações objetivas entre posições


adquiridas (em lutas anteriores), é o lugar, o espaço de jogo de uma luta
concorrencial. O que está em jogo especificamente nessa luta é o monopólio
de autoridade científica definida, de maneira inseparável, como capacidade
técnica e poder social; ou se quisermos, o monopólio da competência
científica, compreendida enquanto capacidade de falar e de agir legitimamente
(isto é, de maneira autorizada e com autoridade), que é socialmente outorgada
a um agente determinado (...)1

O processo de institucionalização acadêmica do campo da Comunicação mostra-se


acelerado, pelo menos na última década, no contexto da sociedade da informação e do

1
BOURDIE, Pierre. O Campo Científico. BOURDIEU, Pierre. In: ORTIZ, Renato (org.). São Paulo: Ática,
1983. p. 122. Com grifo nosso.

5
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

conhecimento. Ao mesmo tempo, para a comunicação vale a sua metáfora de que ela é
“indisciplinada”, termo de Morcellini e Fatelli adotado por Lopes2 que explica esse
paradoxo3:

(...) meu esforço foi demonstrar que esse paradoxo é aparente, sustentando
que, no caso dos estudos de comunicação no Brasil, a sua institucionalização
como campo acadêmico é concomitante a uma progressiva afirmação de seu
estatuto transdisciplinar. Em outros termos, é um caso de luta para afirmar
institucionalmente um campo acadêmico transdisciplinar da comunicação.
Este estatuto, como tratamos de mostrar aqui, não constitui um caso isolado,
mas antes deve ser entendido como fazendo parte de movimento
contemporâneo de reconstrução histórica das ciências sociais (...)

Como campo das Ciências Sociais, além de transdisciplinar, a Comunicação é


marcada por sucessivas rupturas e mutações que acompanham os fenômenos históricos. É de
acordo com as manifestações culturais, sociais e o contexto político que os estudos são
desenvolvidos. Por isso, quando tratamos da Comunicação, devemos considerá-la como um
objeto dinâmico.

Nessa perspectiva, os estudos do campo começaram com análises quantitativas e


focadas no emissor para, com o passar dos anos, se dirigirem ao receptor e aos estudos
qualitativos. Para melhor compreensão, informaremos rapidamente as mudanças de foco e do
método das pesquisas desenvolvidas ao longo das décadas.

No Brasil, as investigações surgiram na década de 50 e eram baseadas em métodos


quantitativos: de conteúdo (dos meios, principalmente imprensa); de audiência (IBOPE E
MARPLAN) e de efeitos (sondagens de atitudes e motivações)4. Nessa época, o conteúdo era
medido, por exemplo, por sua disposição no jornal, na capa, no tamanho da manchete. Esse
enfoque quantitativo da mensagem é originário dos estudos não-críticos da Comunicação
realizados pelos funcionalistas norte-americanos nas décadas de 30 e 40. Eles também

2
LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. O Campo da Comunicação: Reflexões sobre Seu Estatuto Disciplinar.
Revista USP no 48 , 2001. p. 55.
3 LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. O Campo da Comunicação: Reflexões sobre Seu Estatuto Disciplinar.
p. 56.
4
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 52.

6
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

desenvolviam pesquisas sobre os efeitos da mídia, o que indicaria uma vontade de


formalização matemática dos fatos sociais5, e assim, concentravam-se no emissor/
enunciador.

À reboque das pesquisas norte-americanas e européias, as análises brasileiras


continuam numa linha funcionalista descritiva e comparativa na década de 60. Mas surgem as
primeiras investigações críticas -dependência externa/dominação interna- que, nos anos 70, se
ampliam ao seguir a linha apocalíptica da Escola de Frankfurt. Ela marca os estudos da
Comunicação ao desenvolver, nas décadas de 30 e 40, uma teoria acerca da comunicação e da
cultura, a Indústria Cultural6.

Só na década de 80, as pesquisas no Brasil voltam-se para o desenvolvimento de uma


teoria da comunicação latino-americana, politizada e mais focada no receptor/ destinatário.
Embora ainda fossem realizadas investigações funcionalistas, nesse período há quase um
rompimento com os padrões quantitativos e a metodologia predominante acaba sendo a
qualitativa.

O campo da Comunicação torna-se alvo de suas próprias pesquisas a partir da década


de 90 quando há uma preocupação com as tecnologias da comunicação, a linguagem dos
novos meios e a mediação frente a eles. Voltando à característica transdisciplinar de que
tratávamos no início deste capítulo, os modelos de pesquisas passam a ser interdisciplinares e
ainda mais qualitativos, sendo empregados principalmente nos estudos de recepção,
etnografia de mídia e ficção televisiva.

Enfim, resume Citelli7:

(...) Os estudos sobre a produção dos sentidos foram se deslocando, no campo


da comunicação, do eixo quase exclusivo do emissor/ enunciador para o do
receptor/ destinatário, sobretudo tendo em vista o reconhecimento segundo o
qual as mensagens geradas pelos media e por uma série de recursos

5
MATTELART, Armand e MATTELART, Michèle. História das Teorias da Comunicação. São Paulo:
Loyola, 2003. p. 44.
6
Sobre Indústria Cultural ver: ADORNO, Theodor W. A indústria Cultural. In COHN, Gabriel (org.).
Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: T.A.Queiroz, 1989.
7
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação – a linguagem em movimento. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2000. p.122.

7
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

disponibilizados pelas novas tecnologias entram em circulação a partir de


jogos dialógicos não feitos apenas ao pólo onde os signos são produzidos, mas
também aos pontos de chegada, isto é, aos sujeitos que lêem, ouvem, ou vêem
trazendo consigo as marcas do mundo (...)

2 – Comunicação e avanço tecnológico

Citteli nos fala que, além dos media, as novas tecnologias levaram os estudos da
Comunicação a se voltar, também, aos pontos de chegada. Embora não pretendamos nos
aprofundar no impacto e nas transformações por elas geradas ao longo das décadas,
precisamos ressaltar que o avanço tecnológico transformou a Comunicação e instaurou uma
sociedade midiática, como nos explica Costa8:

(...) Um dos fatores responsáveis pela ruptura entre o século XIX e XX ou entre
Modernidade e Contemporaneidade foi o advento da sociedade midiática e da
indústria cultural, pois a eles estão atrelados acontecimentos que modificaram
radicalmente a sociedade européia e, por reação, o resto do mundo (...)
(...) As instituições que instauraram a sociedade contemporânea estiveram
sempre apoiadas em redes de comunicação para o intercâmbio de pessoa,
bens, capital, informações e idéias (...)
(...) É alucinante o ritmo como essas redes se estabelecem - para se ter uma
idéia, em 1850, os primeiros cabos submarinos de transmissão por telégrafos
são instalados com êxito, ligando a Inglaterra à Irlanda; quinze anos depois, a
Inglaterra comunica-se por telégrafo com a Índia, e em 1870, em apenas cinco
horas, um telegrama chega à China e à Autrália (...)

Segundo Costa, as tecnologias de gravação, reprodução e transmissão do som à


distância vieram logo depois, seguidas pela fotografia e a crença de que o homem havia
encontrado a técnica que torna o registro mais confiável e objetivo. Assim, o texto escrito foi
sendo preterido ao som e à imagem que, com o rádio, o cinema e, posteriormente, a televisão -
marco da comunicação de massa no século XX- fazem o homem incorporar de vez o
audiovisual no seu dia-a-dia.

Não temos aqui o propósito de explicar o impacto do surgimento de cada uma dessas
mídias na sociedade. Interessa-nos saber que todos esses avanços tecnológicos, e os que vêm

8
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. São Paulo: Senac, 2001. p. 53.

8
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

depois, ampliam constantemente o mundo da Comunicação, tornando-o cada vez mais


presente na vida cotidiana. Transformam o modo como o homem se relaciona com a
realidade: a evolução tecnológica nas Comunicações provoca a substituição do contato direto
por formas coletivas, massificadas e mediadas de relações com a realidade objetiva, nela
incluindo acontecimento e pessoas9. Costa explica ainda que a sociedade midiática e a cultura
de massa também provocam10:

(...) começam a moldar comportamentos e a permear a vida das pessoas, numa


sociedade que se torna cada vez mais heterogênea e diferenciada, em que cada
cidadão depara com os limites estreitos daquilo a que tem acesso, por sua
origem, classe social, idade e sexo. Esse crescente processo de diferenciação
cria isolamento, incomunicabilidade e anonimato, diante dos quais a cultura
midiática oferece um espaço de compartilhamento e troca. Em pouco tempo,
ela se transforma no único patrimônio compartilhado. É através da mídia que
o homem comum expande as fronteiras cada vez exíguas de seu espaço e
tempo (...)

As noções de tempo, espaço e fronteiras foram ainda mais alteradas com o advento da
comunicação digital. Máximo no mínimo, rapidez, integração e ludicidade são algumas das
“palavras de ordem” que caracterizam essa revolução, fruto do casamento entre as
telecomunicações e a informática. A união instaurou uma nova concepção de comunicação11,
na medida em que todo e qualquer som e imagem são transformados em código binário. A
Internet, rede virtual que permite acesso a dados em tempo real, por exemplo, apresenta-se
como um sistema alternativo de comunicação e de negócios12.

Entre as muitas coisas em comum, as comunicações analógica e digital tornaram-se


parte da vida humana e provocaram profundas transformações entre o ser e a realidade, além
da relação com outros seres. Nada parece acontecer sem que haja o envolvimento dos meios
de comunicação. Os avanços tecnológicos mudaram o modo de se “fazer política”, de se
“mexer com dinheiro”, de visitar lugares, de conhecer pessoas... alterando hábitos e
paradigmas.

9
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p.79.
10
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p. 68.
11
COSTA, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias. p. 76.
12
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação – a linguagem em movimento. p. 68.

9
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

Essas transformações impactaram os estudos do campo da Comunicação que cada vez


mais dialogam com outras áreas - políticas, empresarias, econômicas, entre outras- e afirma-se
cada vez mais transdisciplinar. De todas essas áreas, interessa-nos neste trabalho a inter-
relação com a Educação, alvo das ações do Núcleo de Comunicação e Educação da USP para
o qual desenvolvemos nossa pesquisa.

3 – Educomunicação

Vimos que a partir da década de 90, os estudos da Comunicação estavam voltados,


principalmente, para as tecnologias da comunicação e linguagem dos novos meios. Seguindo
o modelo de pesquisa qualitativo e interdisciplinar, a inter-relação Comunicação/Educação
ganhou espaço nos estudos latino-americanos, chamando atenção de muitos pesquisadores.
Martín-Barbero é considerado o mais importante nos estudos sobre as sociedades
mediatizadas tecnologicamente. Ao tratar do ensino formal13, ele nos aponta um dos
principais vieses das discussões que aparecem nos estudos da inter-relação e que,
particularmente, nos interessa neste trabalho:

(...) Os meios de comunicação e as tecnologias da informação significam para


a escola em primeiro lugar isto: um desafio cultural, que torna visível a
distância cada dia maior entre a cultura ensinada pelos professores e aquela
outra aprendida pelos alunos. Pois os meios não só descentram as formas de
transmissão e circulação do saber como também constituem um decisivo
âmbito de socialização através de mecanismos de identificação/projeção de
estilos de vida, comportamentos, padrões de gosto. É apenas a partir da
compreensão da tecnicidade mediática como dimensão estratégica da cultura
que a escola pode inserir-se nos processos de mudanças que atravessam a
nossa sociedade (...)

A partir das análises do impacto dos meios de comunicação e das tecnologias de


informação na Educação, os estudos acerca da inter-relação Comunicação/Educação indicam
ser necessário repensar o processo educativo, como defendem Citelli e Orozco Gómez14:

13
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Heredando el futuro. Pensar la educación desde la comunicación. Revista
Nômadas. Bogotá, Fundación Universidad Central, 1996. p. 19. Grifos do autor.
14
CITELLI, Adílson. Educação e Mudanças: novos modos de conhecer. In CITELLI, Adilson (org).
Outras linguagens na escola. SP, Cortez. 2000. p. 23.

10
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

(...) ‘Não adianta a tecnologia reforçar o processo educativo tradicional. É


preciso, antes de mais nada, repensar a educação e repensá-la a partir dos
próprios educandos e, a partir daí, pensar um novo desenho do processo
educativo, ver o replanejamento desse processo e verificar para que pode
servir a tecnologia’ O movimento geral de ressignificação da escola, que
deverá incluir, necessariamente, o diálogo com os ‘concorrentes’ mediáticos e
as novas tecnologias (...)

Citelli é pesquisador colaborador do NCE que desenvolve pesquisas e ações acerca da


inter-relação Comunicação/Educação, acompanhando os paradigmas expostos nas citações
anteriores. Essas pesquisas têm contribuído para os estudos do campo da Comunicação na
América Latina.

(...) Seu primeiro grande trabalho foi uma pesquisa junto a especialistas de 12
países da América Latina e países da Península Ibérica para saber o que
pensavam os coordenadores de projetos na área e qual o perfil dos
profissionais que trabalham nesta inter-relação.
O resultado foi surpreendente: descobriu-se que a interface entre
Comunicação e Educação, desenvolvida tradicionalmente na forma de uma
complementação mútua (como, por exemplo, a educação usando as
tecnologias da comunicação ou a comunicação produzindo para a educação),
havia se transformado em integração, com o surgimento de um campo novo e
distinto: a educomunicação
Com os dados da pesquisa, o NCE conseguiu definir o campo da
educomunicação como sendo o espaço que membros da sociedade se
encontram para implementar ecossistemas comunicativos democráticos,
abertos e participativos, impregnados da intencionalidade educativa e voltado
para a implementação dos direitos humanos, especialmente o direito à
comunicação. Para que isso ocorra, os profissionais da educomunicação
trabalham com o conceito de planejamento, implementação e avaliação de
projetos, desenvolvendo suas atividades assistidos por teorias da comunicação
que garantam a dialogicidade dos processos comunicativos (...)15

15
Informações retiradas do site do NCE. Disponível em: http://www.usp.br/nce/onucleo/. Acesso em 11 nov.
2004, às 21h53. Grifo nosso.

11
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

Assim, foi “descoberto” um novo campo de intervenção social e de atuação


profissional, considerando que a informação é um fator fundamental para a Educação16.
Mais especificamente, a “Educomunicação” é compreendida por Soares17 como:

(...) o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e


avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer
ecossistemas comunicativos em espaços educacionais presenciais ou visuais,
tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos,
centros produtores de materiais educativos analógicos e digitais, centros
coordenadores de educação a distância ou ‘e-learning’, e outros (...)

Soares é diretor do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA/USP que tem


sido pioneiro nos estudos e ações desse novo campo. A principal pesquisa realizada pelo
núcleo, já citada, definiu as seguintes áreas de atuação dos profissionais da
“Educomunicação”: “educação para a comunicação”, “mediação tecnológica em espaços
educativos” e “gestão da comunicação em espaços educativos”.

A área de “educação para a comunicação” é baseada em estudos da recepção e volta-


se para as reflexões em torno da relação entre pólos vivos do processo de comunicação (...),
assim como, no campo pedagógico, para os programas de formação de receptores autônomos
e críticos frente aos meios.18 Significa, entre outras coisas, preparar os educandos para a
compreensão de um mundo em que os meios de comunicação são peças-chave. Para isso, o
educador precisa compreender-se e exercer seu papel de mediador, problematizando os temas
junto aos alunos para que eles possam desenvolver a capacidade de fazerem sua própria
leitura da realidade.

As ações de “educação para a comunicação” não estão restritas apenas ao ambiente


escolar. Nos diversos contextos, Soares19 identificou três abordagens:

16
Documento Mídia e Educação. Brasília: MEC, 2000. p. 31.
17
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. In: Comunicação & Educação, ano
7, p.12-24, set./dez. 2000.
18
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. In: BACCEGA, Maria Aparecida (org.). Gestão de Processos Comunicacionais. São Paulo:
Atlas, 2002. p.117.
19
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p. 118.

12
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

 Funcional-moralista: ações que visam controlar, ou reprimir, a produção pelos


meios e a recepção. São, por exemplo, as de combate à baixaria na televisão;
 Funcional-culturalista: os conteúdos são passados de forma a provocar nos
estudantes uma “ressemantização” das mensagens, mostrando também como elas
são geradas, para uma recepção crítica;
 Dialética: com uma metodologia indutiva tem como objetivo possibilitar e
incentivar uma leitura crítica e a expressão livre, de forma democrática, visando
uma formação e consolidação de parâmetros próprios de leitura e produção. Seus
esforços resultaram, por exemplo, na introdução da “educação para a recepção
crítica dos meios” nos parâmetros curriculares nacional.

Outra área de atuação “educomunicativa” é a “mediação tecnológica”. Seu foco está


direcionado para a relação entre as tecnologias e o cotidiano, assim como nos processos
educativos. Contempla estudos das mudanças provocadas pelos avanços tecnológicos e as
possibilidades de expressão e de produção cultural, além de estimular a introdução das
tecnologias no processo educativo, valorizando a mediação que se faz diante delas. Martín-
Barbero20 alerta para a importância do mediador:

(...) reconhecer que os meios de comunicação constituem hoje espaços-chave


de condensação e intersecção de múltiplas redes de poder e de produção
cultural, mas também alertar, ao mesmo tempo, contra o pensamento único
que legitima a idéia de que a tecnologia é hoje o ‘grande mediador’ entre as
pessoas e o mundo, quando o que a tecnologia medeia hoje, de modo mais
intenso e acelerado, é a transformação da sociedade em mercado (...) A luta
contra o pensamento único acha assim um lugar estratégico (...) também nas
transformações que atravessam os mediadores socioculturais, tanto em suas
figuras institucionais e tradicionais – a escola, a família, a igreja, o bairro -,
como no surgimento de novos atores e movimentos sociais que (...) introduzem
novos sentidos do social e novos usos sociais do meio (...)

Já a área da “gestão da comunicação em espaços educativos” caracteriza-se pelo


planejamento, execução e realização de programas e projetos que se articulam no âmbito da
Comunicação/Informação/Educação, criando e implementando ecossistemas

20
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003. p. 20.

13
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

comunicacionais que, como explica Soares21, difere-se da definição de “ecossistema


comunicacional” de Martín-Barbero22. Ele entende que, nessa área de gestão, o “ecossistema
comunicacional” é algo que vem sendo construído (ou pode ser construído) intencionalmente,
a partir da vontade política dos agentes sociais.

A “gestão da comunicação em espaços educativos” exige uma gestão democrática,


com a participação direta dos diversos atores sociais, buscando convergência de ações,
sincronizadas em torno de um grande objetivo: a ampliação do coeficiente comunicativo das
ações humanas. A gestão da “Educomunicação”, não importando em qual local será
desenvolvida, deve propiciar, assim, o surgimento de produtores culturais, valorizando a auto-
estima dos participantes e o exercício da análise frente aos meios.

O “educomuniador” atua baseando-se em teorias que privilegiam o conceito de


comunicação dialógica e da ampliação dos espaços de expressão. Superando as barreiras
epistemológicas impostas pela visão funcionalista da fragmentação do saber, o novo campo
elabora seus paradigmas a partir de teorias dos campos da Comunicação, Educação e de
outras tradicionais áreas das Ciências Sociais.

Alguns exemplos de atuação e de funções do “educomunicador”23:

 assessorando os sistemas de meios de comunicação no desenvolvimento de


programas e projetos na área de comunicação educativa;
 assessorando o sistema educativo a planejar e implementar sistemas
tecnológicos facilitadores dos processos didáticos;
 implementando programas voltados para a educação em face ao fenômeno da
comunicação, conforme recomendam os parâmetros curriculares e as normas
para o ensino médio, decorrentes dos dispositivos da nova LDB;

21
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p.124.
22
(...) Afirma Barbero que, para enfrentar o desafio tecnológico, devemos estar conscientes de dois tipos de
dinâmicas que movem as mudanças na sociedade: a incidência dos meios tradicionais e o impacto das novas
tecnologias na vida em sociedade, garantindo, contudo, que, ‘num primeiro momento, o que parece como
estratégico, mais que a intervenção dos meios é a aparição de um ecossistema comunicativo que se está
convertendo em algo tão vital como o ecossistema verde, ambiental’. Para Barbero, a primeira manifestação e
materialização do ecossistema comunicativo é a relação com as novas tecnologias –‘ desde o cartão magnético
que substitui ou dá acesso ao dinheiro até as grandes rodovias da Internet- gerando sensibilidades novas, muito
mais claramente visíveis entre os jovens’ (...). A explicação consta em: SOARES, Ismar de Oliveira.
Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na América Latina. p.121.
23
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. p.128.

14
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO

 planejando e executando a gestão da comunicação, de seus recursos e


processos nos diferentes espaços educativos;
 pesquisando os fenômenos próprios da inter-relação Comunicação/Educação.

Constatando a exigência desse campo emergente, em 1999, o documento conclusivo


do Fórum Mídia e Educação, realizado pelo Ministério da Educação brasileiro em parceria
com a sociedade civil, recomendou a criação de programas de formação de novos
profissionais para atender o sistema educativo e os meios de comunicação.

Em 2002, o Núcleo de Comunicação e Educação da USP desenvolveu e implementou


o primeiro projeto de “educomunicadores” em serviço da rede pública de ensino do Estado de
São Paulo. O projeto “Educom.TV” foi realizado como um curso de aperfeiçoamento sobre
“A Linguagem Audiovisual na Escola – uma Ação Educomunicativa”.

A pesquisa que apresentamos neste trabalho foi realizada com base nos produtos
audiovisuais e/ou videográficos elaborados pelos professores, e seus alunos, que participaram
desse projeto. Assim, acreditamos que o trabalho feito por nós para o Núcleo de Comunicação
e Educação da ECA/USP contribui, de alguma forma, para o campo da “Educomunicação”.

15
Capítulo II
A instituição nce-cca/usp
A instituição nce-cca/usp

1 - A Instituição USP

Antes de tratarmos do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP, precisamos

situá-la dentro da instituição maior da qual ela faz parte: a Universidade de São Paulo.

Conhecendo a USP e sua dimensão poderemos compreender a importância e a seriedade do

trabalho desenvolvido pelo NCE-CCA/USP.

A Universidade de São Paulo é a maior instituição de ensino superior e de pesquisa do


Brasil, a terceira da América Latina e está entre as primeiras cem organizações similares
dentre as cerca de seis mil existentes no mundo. Ela forma grande parte dos mestres e
doutores do corpo docente do ensino público e particular brasileiro, contribuindo de diversas
formas para as áreas da educação, ciência, tecnologia e artes24.

A criação da USP visava a promoção da pesquisa e o progresso da ciência, além do


ensino e da formação de especialistas em vários ramos da cultura e de profissões de base
científica ou artística.

(...) A Universidade de São Paulo foi criada em 1934 num contexto marcado
por importantes transformações sociais, políticas e culturais, pelo decreto
estadual nº 6.283, de 25 de janeiro de 1934, por decisão do governador de São
Paulo, Armando de Salles Oliveira. Teve como mentor intelectual Júlio
Mesquita Filho, então diretor do Jornal O Estado de S. Paulo, que publicava
ostensivamente artigos e estudos favoráveis à criação de uma universidade em
São Paulo e sobre os problemas do ensino superior e universitário no Brasil
(...)

(...) No contexto das inquietações mundiais de 1968 (...) o Brasil também


participou do clima convulso com sua própria especificidade. A Faculdade de
Filosofia da Maria Antônia estava na intensa movimentação política e cultural
desse período. O local era o ponto de encontro dos estudantes, onde todos se
colocavam na vanguarda do pensamento crítico, numa posição frente às
condições sociais, políticas e culturais da época. Era tempo de passeatas,
assembléias, manifestos, reivindicações e tudo culminou com o trágico

24
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.

17
A instituição nce-cca/usp

acontecimento de 2 e 3 de outubro de 1968, quando o edifício da Maria


Antonia foi incendiado(...) 25

Após o incêndio da antiga sede da USP, localizado na rua Maria Antonia, os primeiros
cursos foram transferidos para um bairro distante do centro da cidade de São Paulo, o Butantã.

As unidades de ensino da USP estão distribuídas em seis campi: dois em São Paulo,
capital, e cinco no interior do estado, nas cidades de Bauru, Piracicaba, Pirassununga,
Ribeirão Preto e São Carlos. A Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, na capital,
concentra a infra-estrutura administrativa da universidade, além de 23 das 35 unidades de
ensino. A cidade de São Paulo tem ainda quatro grandes unidades que ficam fora do campus
universitário e terá um novo campus, em fase de construção, no extremo leste da cidade, em
Ermelindo Matarazzo. Há também algumas bases científicas e museus em outras cidades,
como Anhembi, Anhumas, Araraquara, Cananéia, Itatinga, Itirapina, Piraju, Salesópolis, São
Sebastião, Ubatuba e Valinhos, e ainda em Marabá, estado do Pará.

Cursos de bacharelado e de licenciatura em todas as áreas do conhecimento são


oferecidos pela USP. Na pós-graduação, dez dos vinte e três programas nacionais receberam
nota máxima atribuída pela Coordenação de Cooperação de Pessoal de Nível Superior
(Capes), do Ministério de Educação.

Para se ter uma idéia da importância desta Universidade na área de pesquisa, dados de
1999 mostram que ela ofereceu 487 cursos de pós-graduação, dos quais 257 de mestrado e
230 de doutorado. Em recursos humanos, a comunidade uspiana é constituída por 4.705
professores e 14.659 funcionários26.

A USP possui ainda museus e a Estação Ciência que recebem juntos quase um milhão
de visitantes. Os hospitais universitários da capital e do interior servem a uma comunidade de
mais de um milhão de pessoas. A comunicação externa se dá por meio da Rádio USP, a TV

25
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.
26
SOBRE A USP. Disponível em: http://www2.usp.br/portugues/ausp/sobreausp/index.htm. Acesso em: 9 out.
2004 às 18h55.

18
A instituição nce-cca/usp

USP, a Agência USP, a Revista USP, o Jornal da USP, o Portal Web da USP e a Revista
Espaço Aberto.

A vida acadêmica na USP está subordinada a quatro Pró-Reitorias. Cada uma delas é
aconselhada e apoiada por um Conselho composto por representantes das Unidades da USP e
do corpo discente27:

 Pró-Reitoria de Graduação: encarregada de desenvolver projetos setoriais,


aprovados ou propostos pelo Conselho de Graduação, presidido pelo Pró-
Reitor;
 Pró-Reitoria de Pós-Graduação: promover e gerenciar o ensino de
Pós-Graduação da USP;
 Pró-Reitoria de Pesquisa: promover o desenvolvimento da pesquisa, tendo
como instrumentos extras de trabalho o Pós-Doutoramento e os Núcleos de
Apoio à Pesquisa;
 Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária: instância que planeja,
coordena e executa os eventos setoriais dentro da USP, através dos vários
órgãos e projetos especiais.

2 - A Instituição NCE

Nosso trabalho foi realizado para um órgão da Universidade de São Paulo que
desenvolve atividades de Cultura e Extensão por meio de projetos e de pesquisa, muitos em
parceria com entidades e governo.

Trata-se do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) localizado no campus da USP,


na cidade de São Paulo, em frente à Escola de Comunicações e Artes (ECA): av. Prof. Lúcio
Martins Rodrigues, 443, bloco 22, sala 26, Cidade Universitária, Butantã, Cep: 05508-900.

27
Site oficial da USP. Informações obtidas no site da USP: www.usp.br. Acesso em 21 out. 2004 às 10h23.

19
A instituição nce-cca/usp

Em linhas gerais, núcleo é um dos três tipos de organização que a Universidade cria
para desenvolver pesquisas e divulgar o conhecimento. As outras duas são: centro, instalado
junto à Reitoria Universitária, e laboratório, em nível departamental, como o núcleo.

A dinâmica dentro de um núcleo é muito diferente da vivida em empresas e


instituições governamentais, como explica Silva28:

(...) Este espaço, que representa uma forma de vida, possui um contrato local
com regras intersubjetivas que servem de mediação entre autonomia
semântica do pesquisador individual e o poder simbólico da instituição. Neste
espaço social, são realizadas práticas significativas e duradoras, estão
organizadas as vivências e as interpretações subjetivas, e estão definidas as
testemunhas que serão aceitas em seus processos de comunicação (...)

A existência do NCE e demais núcleos de pesquisa é de fundamental


importância para a produção e transmissão do conhecimento, segundo Alves29.

(...) Cabem aos núcleos um papel muito importante tanto na formação


de novos pesquisadores, como na constituição de banco de dados e
acervos documentais, abrindo espaços para a discussão acadêmica e
a sistematização de temas caros, tanto aos próprios pesquisadores e
especialistas da Área, e aos profissionais da Comunicação e da
Educação, facilitando o acesso aos referenciais teórico-metodológicos
e experiências que permitam a interface Comunicação e Educação (...)

O NCE tem um caráter interdepartamental e interdisciplinar por estar instalado junto


ao Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da Escola de Comunicações e Artes, que,
no total, possui sete departamentos. Segundo Regina Garcia, funcionária da secretaria do
Departamento, o NCE tem independência para fazer o que desejar desde que não contrarie as
normas da USP e as atividades sejam aprovadas pelo Conselho Departamental do CCA.
Qualquer projeto que recebe a chancela da USP deve ser aprovado pelo Departamento, pela
Unidade e pela Pró-Reitoria ao qual está ligado.
28
SILVA, Edna L. da. A Construção dos fatos científicos: das práticas concretas às redes científicas.
Dissertação (Doutorado em Ciências da Comunicação) Universidade do Rio de Janeiro, RJ, 1998. p. 91.
29
ALVES, Patrícia Horta. Educomunicação: A experiência do Núcleo de Comunicação e Educação –
ECA/USP. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) USP, São Paulo, 2002. p. 91.

20
A instituição nce-cca/usp

Na ECA, o NCE divide o espaço de um bloco com outros três Núcleos de Pesquisas
criados junto ao mesmo Departamento: NPTN – Núcleo de Pesquisas de Telenovela, o CCP –
Centro de Cibernética Pedagógica e o LAPIC – Laboratório de Pesquisas sobre Infância,
Imaginário e Comunicação.

O NCE foi registrado em 04 de novembro de 1996 reunindo docentes, pesquisadores e


estudantes de pós-graduação de várias instituições nacionais e internacionais. Sua fundação
foi uma alternativa à resposta negativa da Associação Nacional de Programas de Pós-
Graduação em Comunicação – COMPÓS, que não aceitou a criação de um Grupo de
Trabalho em Comunicação e Educação proposto por 35 pesquisadores da área durante o 5o.
Encontro Anual, em maio de 96, no campus da ECA.

Como o próprio nome já indica, o Núcleo de Comunicação e Educação trabalha para o


desenvolvimento e legitimação de um novo campo do conhecimento, “Educomunicação”,
explicado por nós na parte teórica deste trabalho.

A proposta de trabalho do NCE é encontrar alternativas para uma maior e mais eficaz
integração da comunicação no espaço educativo, proposta esta que veio a ter sua premência
ratificada pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, especialmente através
das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio30. Os objetivos do Núcleo de Comunicação
e Educação são os seguintes31:

(...) I - Favorecer a reunião de especialistas envolvidos com programas e


projetos de intervenção cultural e/ou pesquisas acadêmicas nas diversas áreas
de inter-relação Comunicação Social/ Cultura/Educação, entre as quais:

a) a do estudo desta inter-relação enquanto fenômeno cultural emergente;


b) do uso dos recursos da comunicação (tecnologias educacionais) no
ensino;
c) a da leitura ‘crítica’ ou ‘ativa’ dos meios de comunicação na educação
formal ou não-formal;

30
SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. In: Comunicação & Educação, ano
7, p.12-24, set./dez. 2000. MONTEIRO e FELDMAN. Idem, p.18-19.
31
CÓRDOBA, Venâncio Elias Caballero. Comunicação/Educação: uma inter-relação que caminha em
direção ao futuro. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação), USP, São Paulo, 2002. p. 60.

21
A instituição nce-cca/usp

d) a da gestão da comunicação nos diversos espaços onde se processa a


educação formal e não-formal;

II - Animar e articular grupos de estudos avançados com programas e projetos


na área;

III - Realizar pesquisas que visem identificar as vertentes teóricas que


sustentam as pesquisas e o trabalho de intervenção cultural dos especialistas
na área;

IV - Colaborar na formação de novos pesquisadores na área;

V - Criar um acervo documental, levando em consideração vários tipos de


materiais impressos, audiovisuais e multimediáticos;

VI - Difundir o banco de dados formado a partir dos resultados de pesquisas


desenvolvidas na área de inter-relação Comunicação
Social/Cultura/Educação, facilitando aos próprios especialistas e
pesquisadores, bem como aos profissionais da comunicação e da educação, o
acesso às informações sobre os referenciais teóricos e metodológicos que
sustentam os programas e projetos de educação para e com a Comunicação
Social;

VII - Promover a publicação de trabalhos de interesse do Núcleo.

Para a realização de suas finalidades, o NCE pretende:

I - Manter intercâmbio sistemático com os especialistas e pesquisadores da


área, além de reuniões periódicas com Grupos de Trabalho de outras
instituições voltados a temas similares desenvolvidos pelo NCE;

II - Colaborar com instituições públicas ou privadas em oficinas, eventos,


cursos de difusão e extensão a fim de socializar o conhecimento produzido no
NCE, observado o que define o artigo 28 do Regimento da ECA e de seus dois
parágrafos (...)

Os trabalhos desenvolvidos pelo NCE são realizados por profissionais altamente


qualificados, que incluem a participação e a direção de professores/doutores. O organograma
é o seguinte:

22
A instituição nce-cca/usp

 Coordenador Geral do NCE-ECA/USP


Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares.

 Vice-coordenadora Geral:
Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Castro.

 Pesquisadores Colaboradores
Adilson Citelli, Claudia Lago, Claudia Vicenza Funari, Eliany Salvatierra, Elza
Dias Pacheco, Izabel Leão, Liana Gottlieb, Maria Cristina Castilho Costa, Márcia
Coutinho, Marciel A. Consani, Marília Franco, Mauro Wilton, Patrícia Horta,
Renato Tavares Junior, Vivian Urquidi.

 Equipe Gestora
Patrícia Horta (coordenação) Ana Marotto, Claudia Lago, Claudemir Viana,
Eduardo Vicente, Izabel Leão, Márcia Coutinho, Márcia Perígolo.

 Colaboradores técnicos
Diego Palmas, Eliana Brito Barbosa, Francine Segawa, Francisco José Silva, José
Manoel Rodrigues, José Tadeu da Costa, Renato Tavares, Richard Romancini,
Roger Pascoal, Tiago José Alves Pessoa, Valdenete de Souza.

Os coordenadores gerais desempenham as atividades em meio a outras obrigações


acadêmicas. O regime de trabalho deles prevê dedicação integral à Universidade, tendo que
atuar também junto à graduação, à pós-graduação, à pesquisa e, muitas vezes, à parte
administrativa da ECA. Os funcionários da parte administrativa e operacional trabalham de
terça a sábado, das 8h às 19h, não necessariamente período integral, mesmo porque a maioria
das atividades é realizada fora do núcleo, principalmente em escolas públicas.

A equipe administrativa e operacional tem uma grande demanda de tarefas a cumprir


diariamente: pagamento de pessoal, elaboração de contratos, organização de material que será
utilizado na execução de projetos, elaboração de textos e notícias, atendimento ao público
interno e externo, entre outros. Sem contar que muita coisa teve de ser refeita, outras são
irrecuperáveis, após o incêndio que atingiu a ECA em 2001.

A dinâmica é irregular e muitos trabalhos surgem de acordo com a necessidade e


novas parcerias com outras instituições e órgãos governamentais. Como um núcleo, muitas
pesquisas são realizadas e, por isso, o NCE acaba sendo procurado por fundações e governo
para o desenvolvimento e a aplicação de projetos. Os mais importantes são o Educom.rádio,
parceria com a Prefeitura para desenvolvimento nas escolas da cidade de São Paulo; o

23
A instituição nce-cca/usp

Educom.rádio Centro-Oeste, parceria com o Ministério da Educação para a capacitação de


professores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás; e o Educom.TV, parceria com o
Governo do Estado de SP para atuar junto à professores da rede de ensino, já finalizado e sob
o qual realizamos nossa pesquisa. Os recursos financeiros são obtidos fora da Universidade,
por meio desses contratos de execução de projetos, e nas instituições de apoio à pesquisa.
Esses recursos são geridos pelo coordenador do NCE que envia relatório anual ao CCA. Além
de projetos e de pesquisa, o NCE realiza eventos e apóia outros ligados à inter-relação
Comunicação/Educação.
3 – Breve Perfil

A criação do NCE foi resultado de um longo trabalho realizado pelo seu coordenador
o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares no âmbito dessa inter-relação. Na Universidade, o
trabalho é muito individualizado, depende da iniciativa do professor, do que ele acredita, da
sua disposição, não é algo institucionalizado. O NCE é um exemplo disso, do trabalho
desenvolvido há mais de 30 anos por Soares que dedica sua vida à “Educomunicação”. Para
entender a ideologia e as características próprias do NCE, precisamos conhecer um pouco da
história deste intelectual.

Soares é jornalista, fez licenciatura em história e geografia; mestrado, doutorado e


livre-docência na ECA na década de 80. Atualmente, é Professor Livre-Docente do CCA-
ECA-USP; professor visitante da Marquette University, Milwaukee, USA e presidente da
UCIP – Union Catholique Internacionale dela Presse. Foi um dos fundadores da UCBC,
União Cristã Brasileira de Comunicação, que começou a trabalhar a aproximação entre os
dois campos a partir da sua fundação em 69, auge da ditadura militar no Brasil. Nessa época
haviam muitas discussões sobre a necessidade de se ter uma comunicação que promovesse
consciência. Soares fez parte do centro desta discussão enquanto terminava seus estudos e
dava aulas na USP. Um dos mais importantes projetos da UCBC é a chamada Leitura Crítica
da Comunicação (LCC), que proporciona cursos no Brasil inteiro, promovendo a leitura
crítica a partir de três simples perguntas: o que você gostou, o que você não gostou e o que
você mudaria? Com essas três perguntas colocava-se em cheque a mensagem recebida,
passando à condição de produtor e promovedor de debate. A LCC resultou na edição de
vários livrinhos. Soares é autor de “Leitura Crítica dos Jornais”, entre outros.

24
A instituição nce-cca/usp

Depois, o professor entra em uma outra linha de trabalho que é a de promover a gestão
desta política de comunicação crítica, usando os campos da Comunicação e da Educação. A
discussão da necessidade de um profissional que vai se valer da leitura crítica e de aspectos da
inter-relação dos dois campos dá origem ao termo gestor, antecessor do termo
“educomunicador”. No final da década de 80, se falava em um novo profissional e uma nova
graduação, que deram origem à luta de Soares, e de outros professores do CCA, por um curso
de Pós-Graduação na ECA em Comunicação e Educação que acabou resultando na criação do
NCE, como vimos anteriormente.

Um dos principais trabalhos realizados pelo NCE foi a pesquisa “A Inter-relação


Comunicação e Educação no âmbito da Cultura Latino – Americana”. Ela traçou o perfil dos
pesquisadores e especialistas que atuavam nessa área e constatou quatro áreas de
concentração nos estudos da “Educomunicação”, como vimos na parte teórica deste trabalho:
“educação para a comunicação”, “mediação tecnológica” e “gestão de processos
comunicacionais em espaços educativos”. Contribuindo, assim, para a tentativa de
consolidação do campo no Brasil e na América Latina32.

(...) No final dos anos 99 (sic) (precisamente em novembro de 1999, durante o


Fórum sobre Media e Educação), algumas organizações como a Federação
Nacional de Jornalistas, a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Ayrton
Senna e o Projeto Cidade Aprendiz, entre outras, e o próprio Ministério da
Educação passam a reconhecer o conceito de Educomunicação, entendendo-o
como um campo emergente de intervenção social e de prática profissional.
Para tanto, os participantes do Fórum tomaram como base as pesquisas do
NCE-ECA/USP (...)

O conhecimento nacional e internacional do trabalho do NCE deve-se, portanto,

principalmente à figura de Soares que leva as atividades do NCE para onde vai. É ele quem

vai atrás dos contratos, que leva propostas aos órgãos governamentais. Foi, inclusive, por

meio desses contatos que Soares conseguiu executar o projeto Educom.rádio em 455 escolas

32
QUEM SOMOS. Disponível em: www.educomradio.com.br/quem-somos/quemsomos.asp?area=edu. Acesso
em: 19 set. 2003, às 18h30.

25
A instituição nce-cca/usp

da rede municipal de ensino de São Paulo, tratando diretamente com a Prefeitura de São

Paulo. O projeto levou aos professores, alunos e membros da comunidade envolvidos os

conceitos da “Educomunicação” e sua prática por meio do uso do rádio instalado pela

Prefeitura nas escolas. No total, mais de 11 mil pessoas fizeram parte do programa.

Embora Soares tenha sido criador e gestor do NCE, vários professores dedicaram, e

ainda dedicam, suas pesquisas e sua docência ao núcleo e à “Educomunicação”, como a Profa.

Dra. Maria Cristina Costa, o Prof. Dr. Adilson Odair Citelli, a Profa. Dra. Marília Franco, a

Profa. Dra. Maria Aparecida Baccega, entre outros.

Por fim, a criação do NCE faz parte de uma estratégia de consolidação do


campo da “Educomunicação”, como explica Alves33:

(...) O surgimento do NCE veio reforçar, desta forma, os esforços despendidos


pelo Departamento de Comunicações e Artes da ECA/USP, no sentido de
romper o cerco que responsáveis por áreas de conhecimento vinham opondo
sistematicamente ao desenvolvimento dos estudos no campo
Comunicação/Educação. Assim a oficialidade do NCE poderia parecer, a
olhos desavisados, mais como uma manifestação política que uma proposta
científica, não fora a história precedente do envolvimento de seus componentes
(...) A criação do NCE representou, segundo seu coordenador, Ismar de
Oliveira Soares, um passo a mais na estratégia que ele próprio havia
desenhado como parte da contribuição da academia para legitimação do
campo Educomunicação (...)

4 - Educom.TV

Entre os vários projetos desenvolvidos pelo NCE, destacamos aqui o


Educom.TV, objeto de estudo deste trabalho. O projeto na verdade é um curso de

33
ALVES, Patrícia Horta. Educomunicação: A experiência do Núcleo de Comunicação e Educação –
ECA/USP. p. 87.

26
A instituição nce-cca/usp

aperfeiçoamento sobre “A Linguagem Audiovisual na Escola – uma Ação


Educomunicativa”, mais conhecido como Educom.TV, levado a mais de dois mil
professores de escolas da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo, entre
junho e dezembro de 2002. O primeiro projeto de formação de “educomunicadores”
para profissionais daquele estado foi possível graças a uma parceria entre a
Secretaria de Estado da Educação de SP com a GIP – Gerência de Informática
Pedagógica/FDE e o NCE – Núcleo de Comunicação e Educação da USP. A base
teórica para o curso foram os estudos a respeito do novo campo do conhecimento, a
“Educomunicação”.

Para a GIP, o curso atendia ao desejo de colaborar com o programa de formação de


professores do Ministério da Educação que tinha como pilar o uso da programação do TV
Escola. TV Escola é o canal de televisão via satélite da Secretaria de Educação a Distância do
Ministério da Educação que destina-se à capacitação, atualização e aperfeiçoamento de
professores de ensino fundamental e médio da rede pública. Cerca de 90% das escolas
públicas do país receberam televisor, vídeo cassete, antena parabólica, receptor de satélite e
fitas para que pudessem gravar os programas e os usassem em sala de aula34. No entanto, a
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo diagnosticou que a programação não era
utilizada pela maioria dos professores por vários motivos, entre eles, porque os educadores
não sabiam como incorporar o material ao processo educativo. Para capacitar o professor a
realizar essa integração, a GIP fechou contrato com a Unicamp, a Unesp e a USP. A última
universidade paulista realizou o trabalho por meio do NCE, que atua para a construção de
ecossistemas mais comunicativos no espaço da escola pública, a partir de pesquisas e
conceitos aprofundados no próprio núcleo.

Nessa perspectiva, o curso não se caracterizou por ser meramente didático, no sentido
de ensinar os professores a apenas incorporar a tecnologia às aulas. Mas essencialmente
sócio-político-educativo ao levar o professor da rede pública a descobrir que poderia
compreender o fenômeno da comunicação e aproveitar sua potencialidade no planejamento de
seus trabalhos como cidadão e docente.

34
Informações disponíveis no portal do Ministério da Educação: http://www.mec.gov.br/seed/tvescola.shtm.
Acesso em 23 out. 2004 às 20h28.

27
A instituição nce-cca/usp

O projeto formou 2.226 cursistas vinculados a 1.024 escolas de todo o estado. Foi
ministrado a distância por meio de 35 salas virtuais, além de um encontro presencial de uma
semana. Durante todo o tempo, teve o apoio da Secretaria Estadual de Educação por meio das
Delegacias de Ensino (DEs). Coube a cada uma das 89 DEs indicar dois Supervisores de
Ensino para acompanhar o projeto e dar assistência aos cursistas em suas regiões. Os 178
supervisores indicados executaram a função de articuladores e, por isso, assim eram
chamados. A eles coube a tarefa de selecionar os professores-cursistas e dar-lhes atendimento
ao longo do desenvolvimento do projeto, ajudando os tutores no que fosse necessário. O
grupo de cursistas foi formado a partir da escolha de dois docentes de cada escola que havia
se saído bem no Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio promovido pelo MEC.

Os tutores, 35 profissionais das áreas da Comunicação e/ou da Educação, eram os


mediadores entre os cursistas e os professores da USP. Cada tutor foi responsável por uma
sala virtual com cerca de 70 professores. Sua função era a de orientar os educadores no
decorrer do programa, auxiliá-los na compreensão dos textos, motiva-los nos fóruns e ajuda-
los em suas tarefas, na tentativa de garantir o aprendizado e a realização das atividades
virtuais. Os tutores, por sua vez, eram supervisionados por 4 coordenadores-pedagógicos do
curso, além do supervisor. Os coordenadores do curso são professores da ECA/USP, a
saber: Maria Cristina Castilho Costa, Adilson Odair Citelli, Marília Franco. O supervisor foi
Ismar de Oliveira Soares, coordenador-geral do NCE.

O programa do curso obedeceu a 10 tópicos acessíveis aos cursistas no site elaborado


especialmente para o projeto. Cada tópico tratava de um tema importante a respeito da
“Educomunicação” e da linguagem audiovisual por meio de textos, discussões e exercícios.
Os tópicos foram os seguintes:

1. O campo da educomunicação e suas áreas de intervenção


Autor: Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares

2. O consumo midiático de professores e alunos


Autora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

3. Comunicação, tecnologia da informação e educação


Autoras: Profas. Dras. Maria Cristina Castilho Costa e Marília Franco

4. Aprendendo com textos não escolares


Autor: Prof. Dr. Adilson Odaiar Citelli

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A instituição nce-cca/usp

5. Características da linguagem audiovisual


Autora: Profa. Dra. Marília Franco

6. Teorias e práticas da recepção


Autor: Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares

7. Planejando a relação com a TV aberta


Autora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

8. Planejando o uso do audiovisual na prática educativa


Autora: Profa. Marília Franco

9. Planejando a educomunicação no plano pedagógico


Autor: Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares

10. Avaliando o processo de ensino/aprendizagem


Autor: Prof. Dr. Adilson Odair Citelli

Embora o curso fosse voltado para a discussão de temas de caráter teórico-


metodológico, aplicando-se o conceito da “Educomunicação” à prática audiovisual, o
Educom.TV possibilitou a aproximação (e, em alguns casos, a introdução) do uso da
informática para fins educativos, já que foi ministrado via Internet. Semelhante a uma
Intranet, o site foi publicado no endereço www.wwbusiness.educomtv.tv.com.br,
desenvolvido em parceria com uma empresa chamada WWBussiness. Cerca de 5.400
visitantes/mês acessaram as páginas do site nos primeiros meses de atividade. A partir deste
número, e de outros que foram apurados posteriormente, a equipe do Educom.TV constatou
que, apesar da pouca familiaridade do uso da informática, a freqüência de acesso foi muito
significativa, mesmo no período de férias e finais de semana.

A carga horária total do curso chegou a 180 horas que incluiu, além do trabalho via
Internet, um encontro presencial de uma semana, na qual os cursistas, articuladores, tutores
e orientadores puderam se conhecer e se relacionar pessoalmente. Durante a semana na
cidade de Águas de Lindóia, interior de São Paulo, foram realizados cinco seminários, sendo
um direcionado exclusivamente aos articuladores e outros quatro aos cursistas, divididos em
grupos de 500 professores cada um.

4.1 - Projetos do Educom.Tv

29
A instituição nce-cca/usp

No início do curso, os tutores perceberam que os professores não distinguiam a


diferença entre “Educomunicação” e tecnologias da educação. Muitos acreditavam que a
simples introdução de algum meio de comunicação nas aulas significava, por si só, a prática
“educomunicativa”. Por isso, foi dada atenção especial, a partir da segunda metade da
capacitação, à elaboração de projetos “educomunicativos” como forma de reflexão e de
problematização da comunicação no espaço escolar.

Antes de receberem o certificado de conclusão de curso, os dois professores de cada


escola tiveram de apresentar um projeto para ser desenvolvido onde trabalhavam e com a
recomendação de envolver outros docentes para a futura execução com os alunos. Cerca de
900 projetos foram elaborados a partir de um problema-foco, particular a cada instituição.

Tivemos acesso a 10% desse material e fizemos uma análise dos projetos. Dos 90
analisados em nossa amostragem, 43 previam o uso da câmera de vídeo. A grande quantidade
de projetos que utilizariam esse recurso revela a disposição dos professores em realizar
produções videográficas ou audiovisuais com seus alunos. A lista dos projetos analisados
encontra-se em anexo 1.
5 - Problemática

De um lado, temos em mãos uma riquíssima produção escolar. Novecentos projetos de


Comunicação foram elaborados após um curso de 180 horas centrado no conceito da
“Educomunicação”. Uma parte deles apresentou-se em forma de vídeos e curtas-metragens
realizados pelos professores e alunos a partir do planejamento e da implementação
correspondentes às práticas “educomunicativas”. De outro lado, temos uma variedade de
canais de TV de caráter educativo/cultural ligados a comunidades, universidades, governo e
fundações, além da iniciativa privada.

Como já informamos, um dos objetivos de nossa pesquisa é tentar contribuir para que
a televisão possa dar espaço a esse público invisível, que aqui se apresenta como produtor,
fortalecendo as culturas locais e os atores sociais. Também é de conhecimento público que um
dos problemas enfrentados por alguns canais de caráter educativo/cutural é a falta de
conteúdo, uma vez que a produção televisiva necessita de altos investimentos financeiros.

30
A instituição nce-cca/usp

Partindo dos referenciais teóricos que escolhemos e da premissa de que a


democratização da Comunicação depende, além do acesso aos meios, da participação da
sociedade na produção, uma questão aqui se coloca:

Há espaço para a produção escolar nas TVs de caráter educativo/cultural?


Como veicular a produção videográfica ou audiovisual das escolas colocando-a no
circuito de produção ao qual muitos têm acesso?

Esse é o problema-foco deste trabalho de pesquisa. Partindo da existência dos projetos


desenvolvidos durante o Educom.TV, saímos a campo para descobrir se havia interesse por
essa produção nas TVs de caráter educativo/cultural e as questões que poderiam estar
envolvidas para a aceitação desse rico material.

Mas, para que pudéssemos compreender o conjunto das TVs Educativas, tivemos que
estudá-lo antes de sair a campo. Sabemos que a complexidade desse universo é superior ao
tempo que dispúnhamos, mas acreditamos que as informações colhidas contribuem para a
compreensão geral das questões envolvidas à problemática.

31
Capítulo iii
Televisão e educação
Televisão e educação

1 – Considerações a respeito do panorama

Antes de ir a campo, passamos alguns meses estudando e pesquisando o universo das


TVs de caráter educativo/cultural que, veremos, é muito amplo e complexo. Achamos
importante ressaltar, entretanto, que tivemos muita dificuldade por conta da pouca bibliografia
a respeito. Encontramos alguns livros e teses que falam das TVs Públicas e das mais
conhecidas, como a TV Cultura. Mas uma grande parte delas, as TVs Educativas menores,
ainda tem pouca atenção por parte dos autores e formam um outro grupo, aqui analisado em
profundidade por meio de uma delas, a TV NGT.

Uma outra dificuldade encontrada na presente pesquisa foram os dados oficiais.


Procurados diversas vezes, funcionários do Ministério das Comunicações brasileiro não
passaram muitas das informações solicitadas por esta pesquisadora, o que não nos
impressiona tendo em vista o caráter político das concessões educativas e a falta de
fiscalização do trabalho das mesmas.

Apesar da pouca bibliografia, encontramos pessoas dispostas a nos ajudar.


Entrevistamos os Professores da ECA - Prof. Dra. Marília Franco35 e Prof. Dr. Laurindo Lalo
Leal Filho36- e os diretores Robson Moreira, da Rede STV, e Gabriel Priolli, da TV PUC,
antes de realizarmos nossa pesquisa para que pudéssemos compreender melhor o universo do
que tratamos neste trabalho.

Acreditamos que essa rápida consideração seja aqui necessária para que se
compreenda que o panorama que será apresentado não é o que gostaríamos, mas o que foi
possível diante de tais dificuldades e do tempo que dispúnhamos.

No entanto, também acreditamos que os exemplos de televisão aqui expostos, como a


TV NGT, TV PUC, TV Senac e a TV Cultura contribuem para que tenhamos uma idéia geral
desse universo e possamos formar uma opinião a respeito do assunto.

35
Pesquisadora e especialista em audiovisual e educação. A íntegra da entrevista pode ser conferida no anexo 3
deste trabalho.
36
Especialista em Televisão e um dos responsáveis pela ONG Tver. A íntegra da entrevista pode ser conferida
no anexo 3 deste trabalho.

33
Televisão e educação

Veremos que as TVs Educativas também são chamadas de TVs Culturais,


Institucionais, além de Públicas. Isso porque, dentro da categoria “TV Educativa”,
estabelecida pela legislação, existem muitas TVs com perfis diferentes. Quando tratamos de
“TV Educativa” estamos nos referindo ao “tipo” de TV de acordo com o que determina a
legislação brasileira, além de televisões privadas que optaram por uma programação de
caráter educativo/cultural complementar e permanente ao ensino formal. Tudo isso será
aprofundado a seguir.

2 – Desenrolar histórico

A primeira televisão no Brasil foi inaugurada em 18 de setembro de 1950, nos estúdios


da TV Tupi-Difusora. Ela surgiu privada e comercial, concebida em cima do modelo norte-
americano, apoiando-se, assim, no entretenimento e na publicidade. Na televisão comercial,
os programas educativos só foram transmitidos por exigência do governo e depois da criação
do Código Brasileiro de Telecomunicações.

O Código é a Lei Nº. 4.117, de 27 de agosto de 1962, base legal das telecomunicações
no país, em parte. Isso porque ao longo dos anos, o Código sofreu modificações e foi
parcialmente revogado em 1996 com exceção dos artigos que tratam de matéria penal e,
infelizmente, dos relacionados ao serviço de radiodifusão, mais do que ultrapassados.

O Código não trata especificamente das televisões educativas, cuja primeira menção se
dá no Decreto Nº. 52.795, de 196337:

(...) Art. 13 - O edital será elaborado pelo Ministério das Comunicações,


observados, dentre outros, os seguintes elementos e requisitos necessários à
formulação das propostas para a execução do serviço: (...).

(...) § 1º - É dispensável a licitação para outorga para execução de serviço de


radiodifusão com fins exclusivamente educativos (...).

37
O Decreto foi consultado no site oficial da Agência Nacional de Telecomunicação. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 19h30. Com grifo nosso.

34
Televisão e educação

A definição legal de TV Educativa só surge em 1967 por meio do Decreto Nº. 236. Os
artigos desse decreto que tratam das TVs Educativas vão do 13º. ao 17º. Cabe aqui destacar
alguns38:

(...) Art. 13º A televisão educativa se destinará à divulgação de programas


educacionais, mediante a transmissão de aulas, conferências, palestras e
debates.

Parágrafo único. A televisão educativa não tem caráter comercial, sendo


vedada a transmissão de qualquer propaganda, direta ou indiretamente, bem
como o patrocínio dos programas transmitidos, mesmo que nenhuma
propaganda seja feita através dos mesmos.

Art. 14º Somente poderão executar serviço de televisão educativa:

a) União;
b) os Estados, Territórios e Municípios;
c) as Universidades Brasileiras;
d) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o
Código Brasileiro de Telecomunicações.

§ 1º As Universidades e Fundações deverão, comprovadamente, possuir recursos


próprios para o empreendimento.

§ 2º A outorga de canais para a televisão educativa não dependerá da publicação


do edital previsto no artigo 34 do Código Brasileiro de Telecomunicações.

Art. 15º Dentro das disponibilidades existentes ou que venham a existir, o


CONTEL reservará canais de televisão, em todas as Capitais de Estados e
Territórios e cidades de população igual ou superior a 100.000 (cem mil)
habitantes, destinando-os à televisão educativa.

Art. 16º O CONTEL baixará normas determinando a obrigatoriedade de


transmissão de programas educacionais nas emissoras comerciais de
radiodifusão, estipulando horário, duração e qualidade desses programas.

§ 1; A duração máxima obrigatória dos programas educacionais será de 5 (cinco)


horas semanais.

§ 2º Os programas educacionais obrigatórios deverão ser transmitidos em


horários compreendidos entre as 7 (sete) e as 17 (dezessete) horas(...)

38
Site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set.
2004 às 20h05. Com grifo nosso.

35
Televisão e educação

Mais adiante veremos que, com o surgimento da TV por Assinatura, alguns canais
também passam a ser destinados à programação educativa no cabo, de forma gratuita e além
dos definidos no artigo 14.

Na prática, o criação da TV Educativa é anterior a essas leis. Em 1961, a Fundação


João Baptista do Amaral (TV Rio) produziu um curso destinado à alfabetização de adultos
que permaneceu no ar até 1965. Esta seria a primeira iniciativa em favor de uma TV voltada
para a educação e a cultura39. Assim, a televisão educativa, propriamente dita, foi surgindo
pelo país sem regulamentação adequada ou planejamento, como explica Fradkin40:

(...) Algumas emissoras tiveram como raiz de sua criação razões de ordem
política; outras, deveram a sua existência à tenacidade individual de
idealistas, e poucas foram as que surgiram com objetivos explicitamente
definidos (...)

Segundo Fradkin, a primeira emissora educativa a entrar no ar foi a TV Universitária


de Pernambuco, em 1967. Até 1974, outras nove surgiram: quatro delas ligadas à Secretaria
de Educação de Estados, três ao Ministério da Educação, uma ligada à Secretaria de Cultura
de São Paulo e uma à Secretaria de Comunicação do Amazonas. Em 1972, o MEC criou o
Programa Nacional de Teleducação/ PRONTEL para coordenar as atividades de teleeducação
do país.

Os programas didáticos com conteúdos de 5a. à 8a. séries, hoje ensino fundamental,
eram produzidos e veiculados na década de 1980, pela TVE Ceará e a TVE do Maranhão, e
estavam entre as experiências mais significativas. Mas a primeira a produzir e veicular
programas didáticos foi a TV Cultura, de São Paulo, com conteúdo voltado para o supletivo,
em 1969. O Telecurso 2º Grau apareceu apenas em 1978, obtendo, depois, a parceria da
Fundação Roberto Marinho. Mas o Telecurso 2º Grau, que antecedeu o 2000, não agradou
muito. Além do telespectador não ter o calor da presença do professor, os conteúdos eram
transmitidos em forma de aula, com lousa e giz, sem utilizar outros recursos oferecidos pelo
meio televisão.

39
Informação obtida no site da TVE. Disponível em http://www.redebrasil.tv.br/acervo/001.asp. Acesso em 21
set. 2004 às 19h12.
40
FRADKIN, Alexandre. Histórico da TV Pública / Educativa no Brasil. In: CARMONA, Beth (org.). O
Desafio da TV Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 56.

36
Televisão e educação

Este breve histórico nos revela que a TV Educativa surgiu para levar o ensino formal
aos telespectadores, como define o artigo 13o. do Decreto 236. O objetivo também recaiu às
TVs Comerciais pelo mesmo Decreto (art. 16o.). Otondo41 explica esse desenrolar histórico:

(...) O primeiro público que se pretendia atingir com isso era o dos 15 milhões
de jovens e adultos sem escolarização. Em 1971, os tele-cursos foram
legalizados e concediam diplomas. A partir de 1980, os canais comerciais já
podiam escolher os horários de transmissão desses programas obrigatórios. E
desde 1988, com a nova Constituição, que determina que a programação dos
canais comerciais deve ter fins educativos, culturais e informativos, cada um
já pode ter a liberdade para cumprir esse mandato à sua maneira (...)

3 - O caráter político

O panorama das TVs Educativas sempre foi marcado pela negociação política e uso,
também, para esse fim. Até hoje, as concessões são dispensadas de processo de licitação. O
Prof. Dr. Laurindo Leal Filho42, da ECA/USP, um dos mais respeitados especialistas em
assuntos relativos à TV Pública, lembra, por exemplo, que as concessões de emissoras
educativas praticamente se esgotaram no Governo José Sarney. Elas foram utilizadas como
moeda política para que ele pudesse ficar 5 anos na Presidência da República:

(...) Então, o que restou para barganha política, foram as retransmissoras. No


final do Governo Fernando Henrique, o Pimenta da Veiga era Ministro das
Comunicações e deu um monte de retransmissoras principalmente para Minas
Gerais, com essa expectativa de que futuramente se transformassem em
geradoras (...)

A expectativa a que se refere o Prof. Lalo, como é conhecido, foi gerada graças à
promulgação do Decreto Nº. 2.593 de 1998- Regulamento dos Serviços de Retransmissão e
Repetição de Televisão- que abriu caminho para que as retransmissoras virassem geradoras e

41
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do
consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano de Medios de Comunicaión, 2002. p. 272.
42
Esta pesquisadora entrevistou o Professor da Eca/USP em 17 de set.de 2004

37
Televisão e educação

pudessem ser usadas, na prática, para fins políticos/comerciais. O artigo do decreto que
permite a transformação é o de número 3943:

(...) Art 39. As entidades que atualmente executam o Serviço de RTV com
inserções publicitárias ou de programação (caso das Educativas),
interessadas em sua continuidade, deverão solicitar ao Ministério das
Comunicações a referência dos canais que utilizam do Plano Básico de
Distribuição de Canais de Retransmissão de Televisão para o correspondente
Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão.

§ 2º Efetivada a transferência de canais de retransmissão de sinais


provenientes de estação geradora de televisão educativa, o Ministério das
Comunicações analisará as solicitações recebidas para outorga de concessão
para execução do Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens Educativa (...)

Esse decreto da época em que o Ministro das Comunicações era Luiz Carlos
Mendonça de Barros foi apenas o primeiro de uma série que perpetuam a transferência até
hoje. Em maio de 2000, por exemplo, o de número 3.451 revogou a legislação anterior e
ganhou destaque na imprensa44:

(...) O Ministério das Comunicações deve transformar em concessionárias de


televisão 180 retransmissoras educativas que hoje atuam com licenças
precárias. As concessões serão gratuitas, válidas por 15 anos e renováveis.

Os processos deverão estar concluídos até maio do ano que vem. Entre os
potenciais beneficiários estão fundações ligadas a políticos, igrejas e grupos
privados de rádio. Doze pedidos de concessão já foram autorizados pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso e estão sendo analisados pelo
Congresso Nacional.

As novas concessões estão sendo dadas com base no decreto 3.541, assinado
pelo presidente e pelo ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, em 6 de
maio. Um decreto de igual teor, assinado em maio de 1998 por FHC e pelo ex-
ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, já previa essa
possibilidade (...).

43
Decreto publicado no site da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em: www.anatel.gov.br.
Acesso em 24 out. 2004 às 20h15. Com grifo nosso.
44
CABRAL, Octavio e LOBATO, Elvira. Governo deve criar 180 emissoras de TV. Matéria capturada do site
da ONG TVer: www.tver.org.br. Acesso em 25 out. 2004, às 19h34.

38
Televisão e educação

(...) O governo dispensou licitações para TVs educativas. Os interessados


precisam apenas registrar uma fundação e enviar a documentação ao
ministério. Depois de aprovados pelo ministério e pela Presidência, precisam
de aprovação por maioria simples no Congresso Nacional. Como há políticos
governistas envolvidos e este é um ano de eleições municipais, o ministério
não prevê dificuldades na aprovação (...)

Na mesma reportagem, o então Secretário Nacional de Radiodifusão do Ministério das


Comunicações, Paulo Minicucci, admitiu que todo o sistema de radiodifusão tem ligação com
a política, não há como não ser assim. Mais adiante, a matéria traz outra declaração do
secretário: Só com denúncias da população é possível punir emissoras que veiculem
publicidade e tenham programação com caráter político. Expôs, assim, a falta de
fiscalização, que continua até hoje.

Para o Prof. Lalo, a regulamentação atual favorece a desregulamentação: a televisão


no Brasil corre solta. Ele relata a existência de retransmissoras educativas que produzem
conteúdo além do permitido por lei no interior de São Paulo, assim como casos de TV
Educativa que veiculam programação de TVs comerciais.

Como não há fiscalização do Ministério das Comunicações quanto ao conteúdo,


somente à publicidade e, mesmo assim, muito insipiente, esta pesquisadora procurou o
Ministério da Educação para saber se haviam funcionários que realizavam esse tipo de
trabalho. Mesmo tendo assinado uma Portaria Interministerial, definindo o que são programas
educativos, o MEC não acompanha a programação dessa categoria de TVs45. Assim, nenhum
órgão do Governo Federal fiscaliza se o que é veiculado como educativo realmente o é.

Segundo o Prof. Lalo, a transformação de repetidoras em geradoras é mais


preocupante do que a concessão política:

(...) Isso não teria muito problema se fossem efetivamente retransmissoras


porque estariam retransmitindo a programação das educativas públicas. Mas,
ao se transformarem em geradoras, elas passam a ter a concepção de
educação e cultura do proprietário, que é uma concepção muito particular.

45
A informação foi dada a esta pesquisadora pela Assessora de Comunicação do MEC em Brasília, Ana Sueli,
em 16 set. 2004.

39
Televisão e educação

Você pode entender que está educando ou estabelecendo uma relação de


transmissão de cultura passando programas fantasiosos, como a chegada de
discos voadores, programas de moda. Você quando fala em TV Educativa, em
TV Cultural, deve ter atrás da programação uma linha condizente com as
necessidades culturais e educativas da situação daquela localidade, do Brasil
como um todo, a partir de estudos ou trabalhos pedagógicos. Essa decisão de
conteúdo não pode ficar nas mãos de um empresário (...)

Ao estudarmos as leis reproduzidas neste trabalho, constatamos ainda que não se exige
de uma Fundação, para o recebimento da outorga de TV Educativa, a existência em seu
Conselho Consultivo e/ou na Diretoria Executiva de profissionais que tenham formação,
envolvimento ou experiência em trabalhos educativos/culturais.

4- Breve panorama atual

Atualmente, existem no país 716 retransmissoras e 166 geradoras de TVs Educativas46.


A diferença entre ambas, em linhas gerais, é a de que a geradora produz sua própria
programação e a retransmissora só pode produzir uma pequena parte dela. A primeira precisa
de um grande aporte de recursos para existir e nos interessa, particularmente, porque um dos
grandes problemas é justamente esse, ou seja, a escassez de conteúdo. Afinal, dispomos aqui
de dezenas de produções audiovisuais do projeto Educom.TV.

Mas esses números passados pelo Ministério das Comunicações são diferentes dos
divulgados por outros especialistas nesta área. Em palestra no 4º Fórum Mundial de Mídia
para Crianças e Adolescentes, neste ano, a presidente da TVE Rede Brasil, Beth Carmona,
citou a existência de mais de mil TVs Educativas. Ela nos fornece outras informações desse
panorama47:

(...) hoje, a gente tem uma geradora, um canal gerador da televisão educativa
e que, muitas vezes, é retransmitido para uma série de pontos retransmissores.
O que faz um total de mil emissoras educativas espalhadas pelo Brasil de

46
As informações foram dadas pelo assessor Luiz Henrique da Assessoria de Imprensa da Anatel, Agência
Nacional de Telecomunicações, a esta pesquisadora no dia 03 set. 2004.
47
Informação do site da ONG Midiativa. Disponível em
http://www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/841. Acesso em 02 out. 2004, às 18h25.

40
Televisão e educação

maior ou menor alcance entre as geradoras e retransmissoras. É um volume


bastante grande de canais.
Esses dados são um pouco difíceis de se conseguir porque, na verdade, o ibope
ainda não está muito organizado para essa medição, mas eles nos deram
algumas fontes que, hoje, podem nos mostrar que, pelo menos, 1.500
municípios brasileiros estão perto das TVs educativas e representam 27% dos
municípios e dos domicílios com TV. Atingimos 15 milhões, sendo isso um
numero que pode ser maior, mas basicamente quase 38% da população e dos
domicílios com TV são atingidas pela programação das TVs educativas no
momento de transmissão simultânea (...)

Temos aí importantes informações, entre elas, a de que 15 milhões de brasileiros


receberiam a programação das TVs Educativas. Assim, na hipótese de que todas as TVs
Educativas dessem espaço para a produção escolar, 38% da população poderia receber esse
conteúdo “educomunicativo”.

A veiculação de produtos feitos por alunos permitiria que os telespectadores mirins se


vissem mais na TV e sob uma perspectiva educativa/cultural. Isso não pode ser desprezado
tendo em vista pesquisas que revelam que as crianças e os adolescentes brasileiros estão entre
os que mais assistem televisão no mundo todo. No final de 2003, o instituto Ipsos entrevistou
5.500 pais e responsáveis por crianças em 10 países com a seguinte pergunta: o que seus
filhos fazem todos os dias? 57% dos 550 brasileiros interrogados responderam que eles
passam pelo menos três horas diante da TV e 31% de uma a duas horas diárias.

PAÍSES VÊEM TV OU FILMES ALUGADOS


No mínimo três horas
Brasil 57%

De uma a duas horas


Espanha 64%
França 57%
Canadá 56%
Reino Unido 56%
Estados Unidos 54%
Alemanha 53%
Itália 52%
China 49%
México 47%

41
Televisão e educação

A reportagem48 que divulgou esses dados informou ainda que, segundo outra pesquisa,
realizada pelo Ibope, os telespectadores de 4 a 17 anos passaram em média, quatro horas e 25
minutos por dia com a TV ligada em setembro deste ano.

Ainda sobre a pesquisa do instituto Ipsos, de todos os entrevistados brasileiros:

 43% responderam que os filhos não ocupam nada de seu tempo lendo livros ou
brincando com os amigos;
 79% disseram que as crianças/ adolescentes não praticam esportes coletivos;
 69% afirmaram que os filhos não usam computador.

Na opinião da presidente da TVE Rede Brasil, Beth Carmona49, as crianças e


adolescentes passariam tantas horas diante da TV porque seria pouco o tempo que
permanecem na escola: média de 4 horas, enquanto países na Europa e os Estados Unidos os
mantém no colégio por até 7 horas.

Mas não são somente as crianças que passam muito tempo diante da TV. Uma
pesquisa feita pelo Ibope há quatro anos, com 10.300 entrevistados brasileiros de 12 a 64
anos, revelou que 55% são altos consumidores de televisão50.

5 - Questão de conteúdo

Vimos que a TV Educativa surgiu numa tentativa de massificar a educação escolar, o


que não deu certo. O que se percebe, e muitos autores já vêm tratando deste assunto, é que o
conceito de educativo se modificou ao longo dos anos, expandindo as fronteiras dos
conteúdos escolares. Atualmente, não é possível pensar em televisão educativa relacionando-a
apenas com a educação escolar ou formal.

48
CASTRO, Daniel. Superligados na TV. Folha de São Paulo. São Paulo, 17 de out. de 2004. p. E1. Caderno
Ilustrada. A pesquisa foi realizadaem centros urbanos.
49
A opinião de Beth Carmona foi retirada da mesma reportagem.
50
CASTRO, Daniel. 55% dos brasileiros são “viciados” em TV. Folha de São Paulo. São Paulo, 26 de fev. de
2004. p. E8. Caderno Ilustrada.

42
Televisão e educação

Para Franco51, educativo é aquilo que acrescenta conhecimento às pessoas, sendo


mais do que informativo, tendo que ser formativo. Ela defende que o educativo deva ser
pensado não sob o aspecto do que é o certo, do que é o melhor, do que é o bom (...) mas do
confronto das possibilidades. (...) Ela vai ser educativa, formadora, transformadora se tiver
este debate embutido na sua programação.

Em 1999, o então Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, editou uma Portaria
Interministerial (Nº 651) em que Os Ministérios da Educação e Comunicação se reúnem e
definem o que seriam programas educativo-culturais. Apesar de manter no artigo 1º a visão
de educativo de 1967, como extensão do ensino formal, o artigo 2º expõe um novo conceito52.

(...) Art. 1º Por programas educativo-culturais entendem-se aqueles que, além


de atuarem conjuntamente com os sistemas de ensino de qualquer nível ou
modalidade, visem à educação básica e superior, à educação permanente e
formação para o trabalho, além de abranger as atividades de divulgação
educacional, cultural, pedagógica e de orientação profissional, sempre de
acordo com os objetivos nacionais.

Art. 2º Os programas de caráter recreativo, informativo ou de divulgação


desportiva poderão ser considerados educativo-culturais se nele estiverem
presentes elementos instrutivos ou enfoques educativo-culturais identificados
em sua apresentação (...)

Não existe um modelo de TV Educativa e muitos se confundem quando ouvem falar


em TV Pública. O presidente do Conselho da TV Cultura, em entrevista53 a esta pesquisadora,
reconhece que é muito difícil explicar a diferença entre TV Educativa e TV Pública e diz que
não há bibliografia a respeito. Jorge Cunha Lima lembra que só existem dois tipos de
concessão no país, educativa e comercial, para explicar que dentro da “categoria” TV
Educativa existem TVs distintas. Uma delas são as TVs que produzem conteúdo para os
professores, que é o caso da TV Escola do Ministério da Educação e, em parte, o Canal Futura
(privado), que também têm programas com essa finalidade. Outro “tipo” são as TVs
institucionais, ligadas ao Poder Legislativo, por exemplo, mas que também são chamadas de
educativas porque assim são definidas legalmente. Tem ainda a TV Pública, explica Lima:
51
Informações obtidas por meio de entrevista com a Profa. Dra. Marília Franco, da ECA/USP, realizada por esta
pesquisadora em 10 ago. 2004.
52
Informação do site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em www.anatel.gov.br.
Acesso em 23 set. 2004 às 22h10. Com grifo nosso.
53
A entrevista a esta pesquisadora foi concedida no dia 28 out. 2004, na sede da TV Cultura.

43
Televisão e educação

(...) O que é a TV Cultura? A meu ver, é TV Pública. Tem como missão a


formação critica do homem para cidadania através de uma programação
educativa, cultural e informativa, quer dizer, educação, cultura e jornalismo.
Então, não é uma formação curricular, é uma formação crítica, complementar
do homem, para que se realize como cidadão. Ela não vai substituir nem a
escola primária e nem técnica e nem a escola universitária, mas ela tem que
dar uma formação complementar. Quando a TV Cultura, à meia-noite, começa
dar a universidade da madrugada, que é só grandes cursos de cultura, café
filosófico... nós percebemos que toda a formação universitária hoje é muito
artificializada e o homem se perdeu de uma formação humanística, que faz a
sua formação crítica. Mas isso não substitui a escola, isso complementa e a
experiência que nós tivemos é fantástica. Realizamos uma pesquisa de
audiência porque achava que (o programa) era feita para classe A e B.
(Resultado:) classe A uma parcela de 20% a 30% e a classe C a maior parte
porque a classe C está precisando dessa formação complementar. (...) Então,
eu acho que é evidente, no fundo eu podia dizer pra você o seguinte: a
televisão pública se distingue das outras pelo conteúdo, pela natureza do
conteúdo, a natureza desse conteúdo. Tem que ser de interesse público, tem
que ser de compreensão, tem que ser analítico, você tem que compreender o
que está sendo proposto e tem que ter uma estética universal também.
Evidentemente, não precisa fugir da emoção (...)

Como Lima, Franco nos alerta que a questão não é se a TV é juridicamente Educativa,
mas como o educativo/cultural aparece na programação. A concessão de uma TV Educativa
pode ter sido dada a uma Fundação, por exemplo, que na prática, no entanto, não tem esse
tipo de conteúdo.

Por outro lado, um canal comercial também pode revelar-se educativo em sua
programação. Uma novela que aborda a questão da doação de órgãos, ou do consumo de
drogas, mais do que informar acaba formando o telespectador porque modela o
comportamento das pessoas, modificando-o. Tudo depende do modo como estas questões são
abordadas. Elas precisam estar em confronto com duas ou três opiniões, pelo menos. É
necessário, também, oferecer ao espectador oportunidades de ver coisas diferentes do seu
cotidiano. Para Franco, o conceito de Educação que existe hoje na sociedade é o da chamada
educação continuada:

44
Televisão e educação

(...) As pessoas têm que estar permanentemente aprendendo senão elas não
sobrevivem na sociedade contemporânea, particularmente as crianças e os
jovens (...). Na teledramaturgia é muito interessante você fazer, e aí é o
profundo papel educativo que pode ter, porque nem sempre é bem abordado.
Na teledramaturgia, como você tem muitos personagens, cada personagem
pode representar um tipo de visão de mundo em torno daquele assunto, de
modo que cada seguimento da sociedade se reconheça numa daquelas
atitudes, estando em confronto com as outras. Então, a novela não precisa ser
aquela coisa de colocar o dedo no nariz e dizer faça tal coisa que aquilo é que
é certo. Você permite que a pessoa, no confronto com as atitudes, reveja o seu
papel. E isso tem uma função transformadora muito mais consistente do que
apontar o dedo dizendo o que é certo, ou uma voz mansa dizendo o mesmo,
sem pôr em confronto (...)

Assim, Franco acredita que ir em busca de um modelo de TV Educativa não funciona.


Trata-se de um conceito superado. O que realmente educa é a linguagem e a forma como as
questões são abordadas, sendo indiferente o fato do educativo aparecer em uma TV
Educativa, Comercial, Comunitária, etc.

Porém, dado o nosso problema-foco, torna-se necessário distinguir entre os diferentes


veículos aqueles que se disporiam a uma parceria para divulgação de uma produção não-
profissional, amadora, crítica e não consoante com objetivos financeiros.

6 – TV Pública

No capítulo anterior, tratamos um pouco da questão das televisões públicas,


como um dos “tipos” de TVs Educativas. Agora, vamos nos aprofundar um pouco
nos vários “tipos” dentro do universo das TVs Educativas, a começar pelas TVs
Públicas.

Concorrendo diretamente com os seis principais canais de televisão abertos,


gratuitos, comerciais e privados, duas TVs se destacam e se apresentam como
“públicas”: TVE Rede Brasil e TV Cultura. Elas se diferem das demais TVs de
caráter educativo/cultural porque realmente estariam voltadas para o interesse do
cidadão, ou seja, legitimadas pela sociedade, além de conhecidas quase tanto
quanto as comerciais, entre outras coisas.

45
Televisão e educação

O significado de TV Pública que adotaremos é, além do interesse público, o


tipo de televisão cuja concessão está ligada aos itens “a” e “b” do artigo do Decreto
236, que trata das TVs Educativas54:

(...) Art. 14º Somente poderão executar serviço de televisão educativa:

a) União;
b) os Estados, Territórios e Municípios;
c) as Universidades Brasileiras;
d) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o
Código Brasileiro de Telecomunicações (... )

Por estar ligada a um desses “executores” (dos itens a e b), as discussões referentes à
TV Pública giram em torno de três principais questões para o fortalecimento desse tipo de
TV, não só no Brasil, mas no mundo todo: a independência, o conteúdo e o investimento
(sobrevivência), como explica o presidente da TV Cultura e da ABEPEC (Associação
Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), Jorge Cunha Lima55:

(...) A independência da TV pública depende da independência da estrutura


jurídica que a constitui. (...) que não seja regida pelas forças do mercado e
nem por um eventual governo, que quando está financiando, pensa que manda
nela (...)

O segundo grande problema estrutural, o de conteúdos, é quase a mesma


coisa. Nós temos que produzir conteúdos de toda a natureza para a sociedade,
mas de uma forma diferente dos conteúdos pedidos pela chamada audiência
universal. (...) O conteúdo, na televisão educativa, não é mais um conteúdo
exclusivamente educativo e pedagógico. A TV pública adquiriu amplos
aspectos, até para realizar a sua missão de dar educação, cultura, informação
e entretenimento. Porém não é a mesma educação que se dá na escola, é uma
educação complementar, que ajude os homens a entenderem o todo da
sociedade, da arte, da política que não é uma educação curricular (...)

54
O Decreto 236 de 1967 está disponível no site da Agência Nacional de Telecomunicações: www.anatel.gov.br.
Acesso em 20 set. 2004 às 19h30. Com grifo nosso.
55
LIMA, Jorge Cunha. O modelo da TV Cultura de São Paulo. In: CARMONA, Beth (org.). O Desafio da TV
Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 65-69.

46
Televisão e educação

(...) A maioria das TVs públicas do Brasil vive oito, dez anos de investimentos
medíocres ou nulos. A tragédia é que estamos vivendo, além de um vazio de
investimentos, um vazio de compreensão para as necessidades. A única
proposta que temos (...) é a de que tem que haver um modelo novo de repasse
da sociedade para as televisões públicas (...)

A legislação brasileira proíbe a veiculação de publicidade comercial. Mas nos últimos


anos, essas inserções tornaram-se prática com as novas leis de incentivo à cultura. As
propagandas acabam aparecendo sob a rubrica de incentivo/patrocínio. Por isso, estão em
discussão no Congresso Nacional mudanças na legislação para acabar com essa restrição.

Mesquita56 explica-nos como o modelo de TV Pública de maior sucesso no mundo, a


BBC britânica, mantém-se:

(...) A estrutura da BBC na Grã-Bretanha é financiada por uma taxa anual que
toda residência com televisor tem que pagar. Essa taxa, hoje, é de 116 libras
para a maioria das casas, com descontos para idosos, donos de aparelhos
preto & branco e cegos. A taxa gera receita anual de cerca de 2,5 bilhões de
libras, algo em torno de 12 bilhões de reais (...).

(...) A BBC tem ainda outras empresas ou transformou alguns departamentos


em empresas independentes. O objetivo é servir a BBC ao mesmo tempo em
que esses setores podem gerar recursos para a corporação. A BBC Technology
explora a expertise da BBC em áreas tecnológicas, enquanto a BBC
Resources, por exemplo, aproveita a mão-de-obra e instalações da BBC que
possam ser disponibilizadas. Outras fontes de renda também envolvem um
website comercial – diferente do www.bbc.co.uk, que não tem publicidade
comercial alguma – e lojas na Grã-Bretanha que vendem produtos da BBC
(...)

A NHK, do Japão, é um outro modelo de televisão pública, custeado pelo consumidor


que a assiste. Segundo Franco, o telespectador vai até o banco e paga um valor de seu
interesse para a NHK. O canal japonês é um fenômeno, tendo, inclusive, um departamento de
pesquisa que é do mesmo tamanho do departamento de produção, para, permanentemente,
saber o que o público quer e precisa.

56
MESQUITA, Lúcio. O Modelo da TV Pública da BBC. In: CARMONA, Beth (org.). O Desafio da TV
Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 29-30.

47
Televisão e educação

6.1 – TV Cultura

Vamos destacar aqui a TV Cultura como exemplo de televisão pública. Ela é


considerada modelo no país tendo, inclusive, reconhecimento internacional. Grande parte de
seu sucesso deve-se à estrutura jurídica sob a qual foi constituída. Trata-se de uma fundação
de direito privado, criado pelo Governo do Estado de São Paulo, obrigado por lei a manter os
custos da TV (com orçamento votado na Assembléia Legislativa), embora seja dirigida por
um Conselho representativo da sociedade, sem interferência estatal. É um modelo com 20
membros que representam a sociedade, três membros vitalícios, 21 natos e um representante
dos empregados. Essa natureza jurídica é única no panorama das TVs na América Latina e
contribuiu para que a TV Cultura se destacasse nesse cenário.

Criado em 1969, a TV Cultura começou como uma televisão “para ensinar”, vista
como elitista, mas hoje sua programação tem compromisso com a valorização da diversidade
cultural, com a educação “complementar” e inova no jornalismo com um conteúdo batizado
por eles de “jornalismo público”. Em linhas gerais, trata-se de um tratamento diferenciado à
notícia, com profundidade, análise, a partir de fontes alternativas e, principalmente, sem
sensacionalismo.

A emissora não tem a pretensão de abranger todos os telespectadores de maneira


indiferenciada e investe em programas para públicos específicos, como o infantil, carro-chefe
da emissora. Prêmios mundiais foram obtidos pela qualidade dos programas voltados para as
crianças, atendendo as exigências técnicas do mercado e inovando ao desenvolver uma
linguagem televisiva própria.

O “Castelo Rá-Tim-Bum” está no ar desde 1994 porque, além de ser um sucesso, as


produções na TV Cultura são feitas para serem exibidas pelo menos 5 anos. O que não pode
ser considerado ruim tendo como premissa que a repetição contribui para a consolidação do
conhecimento. Todo o conteúdo infantil e juvenil é produzido em conjunto com especialistas
que o analisam do ponto de vista psicológico e educacional. O trabalho de profissionais de

48
Televisão e educação

áreas distintas nem sempre é fácil, mas garante o caráter educacional/cultural e a qualidade do
entretenimento exigida pelo mercado.

O público potencial da TV Cultura hoje é de 80 milhões de pessoas, cerca de metade


da população. Isso é possível porque em 1993 a emissora começou sua transmissão via
satélite, permitindo a difusão em rede nacional. Atualmente, 23 estados e 1.300 municípios
recebem o sinal gratuitamente tornando-a a TV Educativa de maior alcance nacional por meio
da Rede Cultura57. Ela supera, inclusive, a TVE Rede Brasil, que recebe verbas do Governo
Federal e só chega à toda a nação nos horários em que é formada a Rede Pública de Televisão,
do qual a TV Cultura também faz parte. Sua importância diante das demais fez com que ela
tomasse a iniciativa de criar a ABEPEC - Associação Brasileira de Emissoras Públicas,
Educativas e Culturais.

A TV Cultura também inovou na maneira de se obter publicidade, ou seja, incentivo


cultural, como explica Otondo58:

(...) A TV cultura decidiu encomendar a especialistas de mercado a tarefa de


“vender” publicidade. Foram criadas normas muito específicas do que
poderia ou não ser incluído na grade de programação a título de anúncios.
Procura-se valorizar espaços determinados da programação com mensagens
institucionais – sem sobrecarregar a grade, cortar programas ou mudar o
ritmo próprio do conjunto de programas, para que não se perca o diferencial
que sempre caracterizou a programação da TV Cultura: o respeito ao público.

Em resumo, tudo o que disser “tome, “compre”, “coma”, “use”, etc., está
proibido. Permite-se a descrição de benefícios e atributos, logomarcas,
campanhas de interesse público, produtos culturais e tudo o que não incluir
comando de uso e ação (...)

Segundo Otondo, esse trabalho de longo prazo exige uma educação dos publicitários e
a conscientização do mercado de que esse é um espaço novo, que pode agregar valor à marca.

57
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. In: RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do
consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano de Medios de Comunicación, 2002. p. 289.
58
OTONDO, Teresa. TV Cultura: a diferença que importa. p. 291.

49
Televisão e educação

Cerca de 60% da programação da emissora é própria, 5% é co-produzida, 30% é


adquirida no mercado internacional e nacional e os 5% restantes vem de parcerias dos canais
associados à Rede Cultura (dados de 2002) e que respeitam a linha da TV.

7 - TV por Assinatura

A TV por assinatura surgiu nos Estados Unidos na década de 40 como forma


de pequenas comunidades receberem os sinais de TV aberta que não chegavam a
suas casas com boa qualidade. As pessoas associavam-se e adquiriam uma antena
de alta sensibilidade. Depois, com o uso de cabos, levavam o sinal até as
residências. Esse sistema ficou conhecido como CATV, termo que é até hoje
sinônimo de TV a cabo. Aos poucos, começaram a inserir nesta rede de cabos
programação diferenciada e o resultado é a TV por assinatura que conhecemos.

No Brasil, a história dessa indústria começou com algumas iniciativas


pioneiras, mas pouco relevantes economicamente. Em 1991, o grupo Abril criou a
TVA (via “microondas”) e as Organizações Globo criaram a Globosat (via satélite),
sendo seguidas por outros grupos importantes.

Três tecnologias de distribuição de sinais de televisão por assinatura são


empregadas no Brasil: o cabo, o MMDS (Multipoint Multichannel Distribution System)
e o DTH (Direct to Home - bandas C e Ku). O primeiro é o sistema de distribuição
mais utilizado no país, embora tenha um custo alto de instalação por domicílio. A
compensação vem depois, quando a rede de cabo pode ser utilizada para a
prestação de diversos outros serviços, como comunicação de dados, acesso à
Internet, telefonia, etc. No MMDS, os sinais são distribuídos de forma semelhante
aos canais da TV aberta, por meio de microondas terrestres. As tecnologias cabo e
MMDS estão presentes em 495 municípios brasileiros, sendo que a primeira
representa 60% do mercado e a segunda, apenas 6%..

O DTH, que representa 34% do mercado, é um sistema que exige a


instalação de uma antena parabólica e um receptor/decodificador na casa do
assinante para receber os canais diretamente de um satélite geoestacionário. A

50
Televisão e educação

vantagem é a cobertura nacional (quase 100%) ou mesmo continental, com mais de


180 canais digitais. A desvantagem é que, contrariamente aos outros sistemas, o
DTH não viabiliza a inserção de programas de conteúdo local, pois a programação é
a mesma para todos os assinantes na área de cobertura.

O mercado de TV por assinatura possui 3 milhões e 590 mil assinantes. A


programação chega às casas por meio dos sinais distribuídos pelas operadoras.
Elas são empresas que, normalmente, não produzem conteúdo, apenas captam os
sinais dos canais contratados ou dos canais abertos, processa-os e os envia aos
assinantes pelo cabo, microondas ou satélite. Também é a operadora a responsável
pelo atendimento e cobrança.

O conteúdo (canais) da TV paga é de responsabilidade das programadoras, que podem


produzir programação própria, representar canais estrangeiros no país ou comprar programas
e reformatá-los para o público local. As programadoras cobram das operadoras pela exibição
de seus canais sempre em uma base mensal por número de assinantes. Os custos da operadora
com programação giram em torno de 20% a 30% dos custos totais de uma operação59, embora
haja casos em que canais pagam para serem distribuídos.

Entre todas as tecnologias, a que mais nos interessa aqui é a TV a Cabo que,
diferentemente das demais, possui uma legislação própria, a Lei Nº 8.977de 1995. Interessa-
nos mais do que as outras porque a tecnologia MMDS é pequena no país e o satélite não
carrega em si conteúdo local. Já a Lei do Cabo60 não apenas permite a inserção de conteúdo
local, como a obriga e gratuitamente:

(...) Art. 23. A operadora de TV a Cabo, na sua área de prestação do serviço,


deverá tornar disponíveis canais para as seguintes destinações:

I - CANAIS BÁSICOS DE UTILIZAÇÃO GRATUITA:

a) canais destinados à distribuição obrigatória, integral e simultânea, sem


inserção de qualquer informação, da programação das emissoras geradoras
locais de radiodifusão de sons e imagens, em VHF ou UHF, abertos e não

59
Todas as informações a respeito da TV por assinatura até esse trecho do capítulo foram retiradas do site da
Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA): www.abta.com.br, no dia 20 out. 2004, às 20h38.
60
Trechos da lei foram retiradas no site da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 out. 2004 às 21h15. Com grifo nosso.

51
Televisão e educação

codificados, cujo sinal alcance a área do serviço de TV a Cabo e apresente


nível técnico adequado, conforme padrões estabelecidos pelo Poder Executivo;

b) um canal legislativo municipal/estadual, reservado para o uso


compartilhado entre as Câmaras de Vereadores localizadas nos municípios da
área de prestação do serviço e a Assembléia Legislativa do respectivo Estado,
sendo o canal voltado para a documentação dos trabalhos parlamentares,
especialmente a transmissão ao vivo das sessões;

c) um canal reservado para a Câmara dos Deputados, para a documentação


dos seus trabalhos, especialmente a transmissão ao vivo das sessões;

d) um canal reservado para o Senado Federal, para a documentação dos seus


trabalhos, especialmente a transmissão ao vivo das sessões;

e) um canal universitário, reservado para o uso compartilhado entre as


universidades localizadas no município ou municípios da área de prestação do
serviço;

f) um canal educativo-cultural, reservado para utilização pelos órgãos que


tratam de educação e cultura no governo federal e nos governos estadual e
municipal com jurisdição sobre a área de prestação do serviço;

g) um canal comunitário aberto para utilização livre por entidades não


governamentais e sem fins lucrativos;

h) um canal reservado ao Supremo Tribunal Federal, para a divulgação dos


atos do Poder Judiciário e dos serviços essenciais à Justiça; (...)

Diferentemente da TV por Assinatura, a TV aberta se constituiu e se firmou com um


tipo de grade chamada de horizontal, servindo a todos os segmentos da sociedade em termos
de faixa etária e de classe social (do ponto de vista econômico e social). Ainda hoje é
organizada em função dos horários do estereótipo de trabalhador de classe média: o
marido/homem que trabalha das 8h às 18h, mulher que fica em casa, crianças e jovens que
vão à escola em apenas um período do dia. Essa é a lógica que define a distribuição dos
programas na maioria dos canais, constituindo a chamada grade horizontal e genérica.

Com a chegada da TV por assinatura, os telespectadores no Brasil passaram a


conhecer um novo tipo de grade de programação: vertical e segmentada. A TV por assinatura
é segmentada porque seus conteúdos refletem o interesse de alguns segmentos: canal só de
filmes, de documentários, desenhos, etc. É vertical porque cada canal se aprofunda naquele
segmento.

52
Televisão e educação

7.1 - Rede STV

Um exemplo de canal por assinatura, segmentado, que particularmente nos interessa


por seu caráter educativo/cultural, opcional, é a Rede SescSenac de Televisão. O canal a cabo,
que se apresenta como “O canal da Educação e da Cidadania”, começou suas transmissões em
maio de 1997 como TV Senac São Paulo e se transformou em Rede STV em janeiro de 2000.
Hoje, sua programação de 24 horas diárias está disponível em canais das operadoras Net,
Canbras, Directv, Sky e TecSat, além de operadoras independentes em várias regiões do país.

A programação da Rede STV é voltada à qualidade de vida, ao aperfeiçoamento


profissional, à elevação da auto-estima, à importância da ética no dia-a-dia, ao apoio a
iniciativas sociais e à valorização de manifestações artístico-culturais em todo o Brasil61. Em
muitas cidades, alguns programas podem ser assistidos em canal aberto por meio de parcerias
com algumas TVs Educativas. Essas parcerias, também com canais internacionais, prevêem
troca de conteúdo. Assim, por exemplo, um programa da TV Educativa do Rio Grande do Sul
pode ser assistido aqui em São Paulo na Rede STV e vice-versa.

A Rede STV é um canal privado, mantido com recursos da Federação do Comércio


por meio das instituições Sesc e Senac. A distribuição da programação é feita via satélite,
serviço pago pelo canal. Segundo o diretor de programação, Robson Moreira, algumas
operadoras distribuem a programação gratuitamente por causa da qualidade do conteúdo. Para
outras, é necessário pagar e, mesmo nesta caso, ela pode ser retirada do ar. A programação
tem um caráter educativo/cultural, mas legalmente a TV não é do tipo Educativa. A mudança
tem sido pleiteada junto ao Ministério das Comunicações. Moreira explica qual é o conceito
de educativo do canal62:

(...) É o educar para a cidadania, não é o Be-a-bá. É o que a pessoa precisa


saber (...) respeitar o meio ambiente, saber que pode contribuir com isso ou
aquilo, é o ato da cidadania é o exercício da cidadania. Quando você educa de
forma universal, você estimula o exercício da cidadania, então esse é o nosso
conceito (...).

61
Informação do site: www.redestv.com.br, acesso em 20 out. 2004 às 22h28.
62
A entrevista foi concedida pelo diretor Robson Moreira a esta pesquisadora em maio deste ano.

53
Televisão e educação

Para levar adiante esse conceito, quase toda a equipe de profissionais se dedica a
encontrar pautas interessantes e realizar a produção dos programas que são gravados por
produtoras independentes ou co-produzidos a partir de projetos apresentados ao canal.
Segundo o diretor de programação, a Rede STV é uma das que mais recebem pedidos de
cópias de programas e o que menos cobra por isso. Uma fita de 30 minutos sai por cerca de 10
reais63 enquanto outros canais do mercado cobram por volta de 150 reais. Devido à demanda,
o canal precisou montar um departamento de cópias para atender, em média, 400 pedidos
mensais, solicitados principalmente por escolas, faculdades e institutos culturais, embora a
programação não tenha público-alvo definido.

8 - TV Comunitária

O embrião do que conhecemos hoje por TV Comunitária surgiu a partir de uma


mudança legislativa que visava à expansão do sinal educativo no país. Como as geradoras não
tinham condições de arcar com o custo elevado das estações retransmissoras de sua
programação, a alternativa foi estimular a criação de retransmissoras pela comunidade da
região em que se pretendiam veicular o sinal. Assim, entidades privadas, universidades e
prefeituras tomaram para si este papel.

Essa comunidade foi atraída pelo Decreto Nº. 96.291, de 1988, e a Portaria MEC Nº
93, de 1989, que permitiram às TVs inserir conteúdo de interesse local desde que não
ultrapassasse 15% do total da programação da emissora a qual estivesse vinculada. Assim,
elas se tornaram retransmissoras de caráter misto, se auto-denominando TVs Comunitárias.
Mas isso não deu muito certo, como explica Fradkin64:

(...) Não obstante a idéia original tivesse aspectos muito positivos, a


implantação dessas retransmissoras não apresentou os resultados esperados.
A ausência de uma legislação balizadora fez com que as primeiras
autorizações fossem dadas principalmente a políticos e grandes empresários,

63
Valor informado em maio de 2004 quando a entrevista com o diretor da Rede STV foi realizada.
64
FRADKIN, Alexandre. Histórico da TV Pública / Educativa no Brasil. In: Carmona, Beth (org.). O Desafio
da TV Pública. Rio de Janeiro: TVE Rede Brasil, 2003. p. 60.

54
Televisão e educação

cujas intenções nada tinham a ver com os reais objetivos da legislação


referente à programação de caráter comunitário (...)
Por conta dessa má utilização e politização, as retransmissões mistas foram extintas
pelo Regulamento dos Serviços de Retransmissão e Repetição de Televisão, o decreto Nº.
2.593 de 1998 que permite a transformação em geradoras (como vimos na página 37). As que
não se transformaram, segundo o presidente da Associação Brasileira de Canais
Comunitários, Fernando Mauro65, deveriam ser fechadas pela Anatel. Mas isso não
aconteceria porque essas RTVs já existem há muito tempo, principalmente no interior, e a
Anatel não preocuparia em fechá-las.

De acordo com as informações levantadas por esta pesquisadora, teríamos, então, TVs
Comunitárias em canal aberto que seriam essas RTVs -que não viraram geradoras- e as que se
transformaram. No entanto, a maioria é oriunda da Lei da TV a Cabo porque não existe, em
canal aberto, qualquer legislação sobre TV Comunitária.

Legalmente, a única transmissão de TV Comunitária possível é a veiculada em TVs a


Cabo. A Lei Nº 8.97766, que regula o serviço, prevê a destinação de canal gratuito na área de
prestação do serviço:

(...) Art. 23. A operadora de TV a Cabo, na sua área de prestação do serviço,


deverá tornar disponíveis canais para as seguintes destinações:

I - CANAIS BÁSICOS DE UTILIZAÇÃO GRATUITA:

g) um canal comunitário aberto para utilização livre por entidades não


governamentais e sem fins lucrativos (...)

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM),


Fernando Mauro, existem atualmente 210 canais disponíveis na TV a Cabo, mas apenas 70
foram ocupados por canais comunitários.

65
Entrevista concedida a esta pesquisadora em 26 out. 2004. A íntegra pode ser conferida em anexo.
66
Capturado do site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em www.anatel.gov.br.
Acesso em 20 set. 2004 às 20h05. Com grifo nosso.

55
Televisão e educação

O regulamento dos serviços de TV a Cabo, Decreto Nº 2.206 de 199767, determina em


seu artigo 63, que a programação do canal comunitário será composta por horários de livre
acesso da comunidade. No entanto, o mesmo regulamento não estabelece de forma clara
regras de preferência para a ocupação da programação pela comunidade e pelas entidades não
governamentais sem fins lucrativos.

Apesar do mesmo regulamento, em seu artigo 65, determinar que o Ministério das
Comunicações se responsabilizará pela resolução de dúvidas e conflitos relativos a utilização
dos canais, a ausência de uma disciplina mais clara a respeito da utilização do espaço
disponível na programação deixa dúvidas quanto à transparência dos processos de
preenchimento da grade horária do canal comunitário.

Em canal aberto, não há legislação que crie e discipline as novas TVs Comunitárias.
Tramita, atualmente, no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.701/9768, de autoria do
deputado federal Fernando Ferro, do PT de Pernambuco. Esse Projeto disciplina os Serviços
de Televisão Comunitária, assim compreendido como aquele que se destina a radiodifusão de
sons e imagens, em freqüência UHF ou VHF, operados em baixa potência. Estariam aptos a
explorar tal serviço as Fundações ou Associações civis, sem fins lucrativos, com sede na
localidade da prestação do serviço.

O presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários69 diz que a ABCCOM


é contrária a este projeto porque ele determina que todos os municípios do país tenham um
canal comunitário na TV aberta, o que enfraquece a representatividade e a própria
ABCCOM. A Associação defende um outro projeto de lei, a do deputado Edson Duarte do
PV da Bahia, que ajudou a elaborar. O projeto, segundo Fernando Mauro, determina que
apenas as TVs Comunitárias que existem no cabo, atualmente, têm direito a um canal em TV
aberta. Assim, os atuais Canais Comunitários teriam espaço tanto na TV fechada quanto na
aberta e, os que surgirem após uma eventual aprovação do Projeto de Lei do deputado Edson
Duarte, ficariam restritos apenas às TVs a Cabo.

67
O Decreto foi consultado no site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em
www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 20h30.
68
Informação disponível no site da Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br. Acesso em 16 out. 2004, às
20h30.
69
Entrevista concedida a esta pesquisadora em 26 out. 2004. A íntegra pode ser conferida em anexo 2.

56
Televisão e educação

8.1 - Canal Comunitário de São Paulo

O presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários conta que quando uma


TV a Cabo chega numa cidade, ela traz consigo um canal que pode ser ocupado por um grupo
de entidades. Fernando Mauro explica que a maioria dos Canais Comunitários do país foi
criada por meio de um “pool” de entidades, como a de São Paulo. Das 60 instituições
interessadas em participar do canal da cidade, três foram escolhidas para a coordenação e
firmaram um Acordo Institucional Provisório que deu origem ao estatuto do canal. São elas:
“Vida e Trabalho” -mantida pela Federação do Comércio de São Paulo- “TV Interação”-
várias entidades como a Associação Comercial de São Paulo e a Associação dos Lojistas de
Shopping- e a OAB/SP. Se outras instituições tivessem requerido o direito de usar o canal a
cabo antes desse grupo, seriam elas as responsáveis pela programação.

Para ter um programa veiculado no Canal Comunitário de São Paulo, o interessado, na


maioria das vezes, precisa ser uma instituição com CNPJ e deve apresentar um projeto que
será analisado pela comissão da grade de programação. Todos os programas são produzidos,
gravados e editados pela instituição, fora do canal. Para ter seu conteúdo veiculado, depois de
aprovado, ela deverá pagar R$ 3,50 por minuto, destinados a cobrir os custos com a
manutenção da estrutura do canal. Embora existam normas de conteúdo que proíbem, por
exemplo, cenas de sexo e drogas, a responsabilidade é somente da instituição. O diretor do
Canal, Fernando Mauro, dá a definição de Canal Comunitário: videocassete público. A
entidade produz seu conteúdo, traz pra cá e a gente aperta play.

Apenas 5% do que é veiculado no Canal Comunitário de São Paulo é produzido pelo


próprio canal. Sua grade de programação seria a maior da América Latina, segundo o diretor,
em termos de quantidade de programas: mais de cem. Isso porque, geralmente, cada programa
tem apenas 30 minutos e passa apenas uma vez por semana.

57
Televisão e educação

9 - TV Universitária

Vimos que a primeira TV Educativa foi a TV Universitária de Pernambuco, em 1967.


Hoje, no Brasil, mais de cem Instituições de Ensino são produtoras de conteúdos audiovisuais,
transmitidos em mais de 90 canais em sinal aberto, cabo, MMDS e sites70. A maioria desses
programas, no entanto, é transmitida via TV a Cabo, cuja legislação obriga a destinação de
um canal, gratuito, para as universidades da região.

Para compreender o universo das TVs Universitárias, vamos citar aqui o exemplo do
Canal Universitário de São Paulo (CNU). Sintonizado pelo canal 7 da NET e 71 da TVA,
ambas operadoras de TV a Cabo, o CNU foi inaugurado em novembro de 1997.

Sua programação é ocupada pela produção realizada por nove universidades


paulistanas públicas e privadas a saber: USP, Mackenzie, PUC, Universidade Federal de São
Paulo (Escola Paulista de Medicina), Universidade Paulista, Universidade Bandeirante,
Universidade São Judas Tadeu, Universidade de Santo Amaro e Universidade Cruzeiro do
Sul.

Cada uma das instituições integrantes possui o mesmo tempo na grade de programação
(duas horas diárias ou catorze semanais) e tem autonomia para distribuir em seus horários os
programas – próprios ou de terceiros – que julgar mais adequados e interessantes ao público
telespectador.

Apenas a exibição dos programas é centralizada. A produção, a programação e a


captação de recursos publicitários ficam a cargo de cada uma das universidades,
separadamente, que decidem sobre os conteúdos a serem oferecidos ao público, a forma
televisiva que terão e o provimento de meios técnicos e financeiros para viabilizá-los. O
conceito básico do CNU, portanto, é o de "antena coletiva", isto é, um meio técnico de
difusão de sons e imagens que distribui, na verdade, nove televisões diferentes, com filosofia,
idéias, produtos e projetos próprios. Daí ter sido nomeado "Canal Universitário" e não "TV

70
Informações disponíveis no site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível em
http://www.abtu.org.br/mapaTVU.asp. Acesso em 16 out. 2004 às 21h53.

58
Televisão e educação

Universitária", por não pertencer a uma única universidade. Ainda assim, as universidades
integrantes trabalham numa perspectiva de integração, buscando co-produções e atividades
comuns.71

No site da Associação Brasileira de Televisão Universitária72 (ABTU) podemos


encontrar diferenças de conteúdo entre as TVs Universitária e Educativa, embora sejam
estabelecidas pela mesma legislação, como vimos anteriormente:

(...) Embora ambas tenham as mesmas finalidades – transmitir informação e


cultura, formar e fortalecer a cidadania - Televisão Universitária é um
conceito mais específico que Televisão Educativa.

A Televisão Educativa preocupa-se em oferecer uma programação de alta


qualidade cultural ao público, independente de seus conteúdos serem oriundos
da universidade. Pode ser feito por qualquer segmento da sociedade, que
tenha uma produção audiovisual de caráter educativo-cultural. É a TV que vê
o mundo com os olhos da Cultura Geral.

Já a Televisão Universitária, na visão da ABTU, é aquela que difunde


informações, conceitos e obras a partir da Universidade, do mundo acadêmico
e estudantil. É a TV que vê o mundo com os olhos da Universidade. A
expressão da Universidade (...)

As TVs Universitárias também são transmitidas por radiodifusão aberta (nas


freqüências VHF e UHF) e, neste caso, têm de disputar a concessão, que pode ou não ser
outorgada pelo Ministério das Comunicações. Segundo a ABTU, na maior parte dos casos,
são canais educativos, mas alguns são comerciais. Se esses canais produzem ou não
Televisão Universitária, depende da programação que oferecem ao público e da forma como
é produzida.

As TVs Universitárias enfrentam, atualmente, uma crise de identidade. O próprio


presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária, Gabriel Priolli, escreveu
artigo73 a respeito para explicar a problemática:

71
Informações retiradas do site do Canal Universitário de São Paulo. Disponível em:
http://www.cnu.org.br/cnu/canal.htm. Acesso em 16 out. 2004, às 22h20.
72
Texto capturado do site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível em:
www.abtu.org.br/duvidas.asp#2. Acesso em 15 ago. 2004, às 15h30. Com grifo nosso.
73
Trecho copiado de artigo publicado no site da Associação Brasileira de Televisão Universitária. Disponível
em: http://www.abtu.org.br/arquivos_TV_educativa_3grau.asp. Acesso em 15 ago. 2004, às 16h05.

59
Televisão e educação

(...) O primeiro desses problemas é o conceitual. O que é, afinal, Televisão


Universitária? Na percepção da maioria, tanto no mundo universitário quanto
na mídia brasileira, é uma televisão laboratorial, produzida por estudantes sob
a orientação de professores, visando tão somente a sua capacitação
profissional, para o ingresso no mercado de trabalho.

(...) Uma outra visão da Televisão Universitária é aquela que ainda a


identifica exclusivamente com o público estudantil, mas que o vê não como
produtor de conteúdos e sim como receptor.

(...) Uma terceira visão já admite que a Televisão Universitária pode ser mais
do que um meio de expressão dos estudantes, ou de acesso a seu universo de
interesses e preocupações. Admite que a Universidade é uma instituição
composta por, pelo menos, três segmentos perfeitamente distintos – estudantes,
professores e funcionários – e que uma televisão que dela surja, ou a ela se
destine, não pode perder de vista que a sua unidade provém exatamente dessa
trindade. No entanto, por originar-se da mesma Universidade, o templo do
conhecimento, o repositório do saber, a Televisão Universitária tem missão
estritamente educativa, devendo se ater aos conteúdos formadores e
informativos, sem desperdiçar tempo e recursos com o entretenimento (...).

9.1 - TV PUC/SP

Vimos que uma TV Universitária pode pertencer a uma universidade ou ser um espaço
de veiculação da produção televisiva de várias instituições de ensino superior. Para
compreender o universo das TVs universitárias, apresentamos aqui um exemplo mais
aprofundado. Ele mostra como os núcleos de produção universitária podem surgir e que
dificuldades enfrentam em realizar conteúdo de caráter educativo/cultural em meio
acadêmico.

O núcleo de produção televisiva, TV PUC, nasceu dentro do curso de telejornalismo


da Faculdade de Comunicação Social da PUC-SP, particular, ministrado na época pelo atual
diretor do núcleo, o professor Gabriel Priolli, atualmente presidente da Associação Brasileira
de Televisão Universitária (ABTU). Estamos falando de 1981, quando, para imitar os
repórteres da TV Globo, ao final das matérias realizadas, os alunos assinavam TV PUC
(fulano de tal para a TV PUC), que na época sequer existia.

60
Televisão e educação

Dez anos depois, surge a primeira experiência de implantar a TV PUC num circuito
interno com oito receptores espalhados pela Universidade. Durante várias vezes ao dia, o
canal interno veiculava duas horas de um programa semanal, repetido várias vezes. O projeto
de um núcleo de produção, propriamente dito, foi montado por Gabriel Priolli junto à
Coordenadoria Geral de Cultura e Extensão da PUC-SP. Em 1993, a TV PUC estava criada:

(...) como a primeira produtora universitária do país a transmitir regularmente


programas na TV a cabo, graças a um convênio com a operadora NET-São
Paulo, que distribui os seus produtos desde 1995. Foi também a primeira a
transmitir via satélite, com a série mensal de debates de filosofia e cultura
"Diálogos Impertinentes", promovida em conjunto com a Folha de S.Paulo e o
SESC-SP (...)74

Durante o tempo em que se testavam planos de montagem de um núcleo de produção


televisiva até alguns anos atrás, as dificuldades de comunicação com a Universidade
conferiam um obstáculo a mais para a realização do trabalho. Afinal, temos que lembrar que a
TV PUC está situada dentro de um campo estruturado, com uma dinâmica própria, o
acadêmico. No seu cotidiano, os funcionários do núcleo têm de lidar com professores,
pesquisadores, alunos e demais profissionais.

Na época em que entrevistamos Gabriel Priolli, em julho de 2004, a TV PUC era


assim composta:

- 1 Diretor;
- 2 coordenadores, que também respondem pela direção;
- 1 secretária de direção;
- 1 profissional formado e 1 estagiário da Faculdade de Administração que
respondem pela área administrativa da TV PUC;
- 1 profissional formado em Rádio e TV e um estagiário da Faculdade de História,
responsáveis pelo arquivo;
- 2 câmeras profissionais;
- 2 assistentes profissionais;
- 1 técnico profissional responsável pela parte elétrica;
- 3 repórteres profissionais;

74
A apresentação dos objetivos da TV PUC foram retiradas do site da instituição. Disponível em:
http://www.tvpuc.com.br/frameSet.asp?frame=quem. Acesso em 18 ago. 2004, às 19h30.

61
Televisão e educação

- 4 estagiários de redação, sendo 2 da Faculdade de Comunicação em Multimeios e


2 da Faculdade de Jornalismo.
Naquele momento, a TV PUC passava por uma situação nova que era a chegada destes
estagiários, que possuem bolsa de 50% na mensalidade. Além de começarem a trabalhar no
início de junho, o núcleo de produção há muitos anos só contava com a presença de
profissionais formados. Os estagiários passam por todas as funções dentro de um núcleo de
produção televisiva (com exceção das atividades administrativas) como edição, reportagem,
produção e uso da câmera, entre outros.

As informações obtidas por meio de entrevistas com o diretor e os coordenadores da


TV PUC tratam da problemática que é a de saber lidar e comunicar-se com o campo
acadêmico. Outra questão pertinente é a de que, embora o núcleo de produção seja em
território universitário, a reflexão do fazer TV não seria uma prática cotidiana, como deseja o
diretor. Ele acredita, também, que muitos funcionários veriam a divulgação da atividade
acadêmica com menos importância para a sociedade em comparação com as informações
divulgadas por outros “tipos” de televisão.

Cabe aqui informar que as matérias produzidas pela TV PUC surgem a partir da defesa
de teses dos pesquisadores, seminários, discussões, sugestões de professores, alunos e
funcionários da PUC-SP, além de temas da sociedade que, de alguma forma, casam com a
universidade e seus agentes. Essas pautas podem virar matéria para alguns dos programas que
a TV PUC produz, e co-produz em parcerias, documentários ou ainda programas especiais.

Além do Canal Universitário de São Paulo, outros canais também transmitem alguns
programas, documentários e projetos especiais do núcleo como a TV Cultura, a TVE, a Rede
STV (Sesc/Senac), entre outros. Vale ressaltar, ainda, que a TV PUC possui uma rede de
colaboradores que trabalham de acordo com projetos.

62
Capítulo iv
Um Estudo em profundidade
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

1 – TV NGT

Depois de apresentarmos o universo de diferentes tipos de TVs de caráter


educativo/cultural, relataremos aqui um estudo mais aprofundado sobre uma outra categoria
de TV Educativa, às ligadas às Fundações. Passamos alguns dias visitando as instalações da
TV NGT e entrevistamos as pessoas responsáveis pelas decisões importantes da emissora e
que dão rumo aos trabalhos. Nosso objetivo foi saber como uma TV Educativa pode surgir,
sua evolução, manutenção, como as decisões são tomadas, entre outros aspectos. Essas
informações contribuem para que tenhamos uma idéia de como funcionam as TVs Educativas
espalhadas no país, embora cada uma delas tenha características específicas. Acreditamos que
o resultado foi além do esperado, ao revelar detalhes não apenas desse segmento de TVs, mas
também do próprio universo televisivo.

Escolhemos um canal da região metropolitana de São Paulo que pudesse servir de


exemplo das muitas TVs Educativas espalhadas pelo país, que nem sempre são conhecidas e,
ao que tudo indica, é fruto de concessão política.

A TV NGT (Nova Geração de Televisão) pertence a uma fundação e pode ser


sintonizada em canal aberto UHF: 48 na cidade de São Paulo e na região metropolitana, com
um potencial estimado em 20 milhões de telespectadores.

O objetivo atual da NGT é transformar-se em rede nacional, aglomerando diversas


TVs em todo o país, principalmente as educativas. Mas para que a programação possa ser
sintonizada no resto do Brasil é necessário que o sinal seja distribuído via satélite, o que
estava sendo providenciado durante esta pesquisa. A partir da subida do sinal, as TVs
Educativas do Brasil inteiro poderão receber a programação via antena parabólica para
retransmitir.

A sede da NGT, em São Paulo, chama a atenção pelo seu tamanho se pensarmos de
que se trata de uma televisão recém-inaugurada. Ela possui 6.800 m² de área construída com
oito estúdios de 100 a 500 m² localizados na Marginal do Rio Pinheiros, no Butantã. Para se
ter uma idéia do investimento, a maioria destes estúdios supera em tamanho os de grandes
redes de televisão comerciais como a Bandeirantes, a Record e TV Gazeta. O prédio foi
construído pelo presidente da NGT e apresenta requintes de decoração, mesmo na parte não

64
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

utilizada, como filetes de ouro e outras pedras caras nas paredes de um camarim. Apenas 1/3
dessa área, aproximadamente, é usada, sendo raro o aluguel do resto do espaço para outras
empresas. Já a futura filial do Rio de Janeiro é mais modesta, 2mil m², localizada no bairro de
São Cristóvão.

A Nova Geração de Televisão entrou no ar no dia 8 de outubro de 2003. Apresenta-se


como uma TV cuja missão é levar ao público uma programação de qualidade, comprometida
com a cultura nacional e a educação. Para tentar defini-la, o presidente da emissora Manuel
Costa explica que a NGT é uma TV Cultura preocupada com a audiência75. Mas,
diferentemente da TV Cultura e de outros canais, diz o presidente, a geradora não pretende
produzir a maioria dos seus programas, mais adquiri-los de outros porque ele entende que a
função de uma TV é transmitir e não produzir programas.

Entre as centenas de canais brasileiros, localizamos a NGT no universo dos


sintonizados pela freqüência UHF que são menos assistidos do que os canais VHF,
principalmente nas capitais. Segundo o diretor comercial da NGT, Mário Pestana76, isso
acontece porque os primeiros canais de TV do país eram sintonizados somente nas capitais e
em freqüência VHF. Quando as redes se expandiram pelo interior, o fizeram pela freqüência
UHF, obrigando o telespectador a acoplar um aparelho no televisor para que canais como
Globo e Record pudessem ser assistidos.

Uma pesquisa realizada em meados de 2003 revelou quais as emissoras de TVs mais
lembradas no país77. Acrescentamos na reprodução a freqüência dessas emissoras:
- Globo: 73% (VHF);
- SBT: 11% (VHF);
- Canais pagos: 3%;
- Rede Record: 3% (VHF);
- Band: 2% (VHF);
- TV Cultura: 1% (VHF);
- Outros: 4% ( VHF e UHF onde a NGT se localizaria)
- Não souberam / não responderam: 3%

75
O presidente da emissora concedeu entrevista a esta pesquisadora em 27 jul. 2004.
76
O diretor comercial Mário Pestana concedeu entrevista a esta pesquisadora em 20 ago. 2004.
77
NA CABEÇA dos paulistas. Jornal Meio & Mensagem. São Paulo, Especial, 26 julho 2004. p. 15. A
freqüência dos canais foi incluída por esta pesquisadora.

65
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

2 - Manuel e NGT

Para compreender o que é a NGT, é preciso conhecer sua história. Esta, por sua vez, se
mistura à trajetória de seu fundador e atual presidente, Manuel Antonio Bernardi Costa. Ex-
funcionário da TV Cultura, Manuel Costa, como é conhecido no meio, comandou a
implantação da rede de TVs retransmissoras daquela TV Educativa no interior do estado de
São Paulo durante a gestão do governador Paulo Maluf (1978-1982). Engenheiro
eletrotécnico por formação, Manuel Costa trabalhou por 25 anos naquele canal.

Quando deixou a TV Cultural, no início dos anos 80, com dois sócios montou uma
empresa de engenharia, chamada OMNI, que apesar de atuar na área de telefonia também
oferecia ao mercado consultoria e projetos para a montagem de emissoras de TV, por conta da
experiência de Manuel. O primeiro serviço nesta área foi para a TV Educativa de Sergipe, a
pedido do governo do estado, por meio da Fundação Aperipê. Essa televisão foi criada como
veículo de resposta para que o governador João Alves pudesse rebater as críticas da família
Francos, adversária político e proprietária das outras duas emissoras no estado.

Naquela época, idos do governo José Sarney, as concessões eram meramente políticas,
uma decisão do presidente da República que beneficiava quem ele escolhesse, geralmente aos
políticos, de acordo com o Decreto nº 52.795 de 31 de outubro de 196378:

(...) Art. 6º - À União compete, privativamente, autorizar, em todo território


nacional, inclusive águas territoriais e espaço aéreo, a execução de serviços
de radiodifusão.

§ 1º - É atribuição do Presidente da República a outorga de concessões para


execução de serviços de televisão e de serviços de radiodifusão sonora
regional ou nacional (...)

Voltando à trajetória de Manuel Costa, ele e os sócios resolveram adquirir uma


indústria em Santo André chamada Mectrônica, uma pequena fabricante de antenas para rádio

78
A íntegra do decreto está disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 14 set. 2004 às 21h30.

66
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

e TV. Com o fim da sociedade, o presidente da NGT tornou-se proprietário desta indústria,
meio a contragosto, com o desafio de fazê-la crescer. Essa herança o tornou ainda mais
próximo do universo televisivo até que, em 1992, resolveu obter uma permissão de
retransmissora de TV mista.

As retransmissoras mistas eram categorias de TV que só podiam retransmitir o


conteúdo gerado pela emissora, sem alterá-lo, podendo apenas inserir programa jornalístico
local. Obtendo antes da permissão do governo uma autorização da TVE do Rio de Janeiro
para a repetição do conteúdo, Manuel Costa constituiu uma empresa em Osasco para colocar
no ar a UNITV na freqüência 48 UHF, por onde é transmitida, atualmente, a NGT. Era o
caminho para a criação da Nova Geração de Televisão.

Com ambições maiores do que possuir uma retransmissora, Manuel Costa aproveitou
as mudanças na área de telecomunicações durante a gestão de Sérgio Mota no Ministério das
Comunicações para pleitear a concessão de uma geradora. Acreditamos que ele tenha sido
beneficiado pela lei Para isto, criou em 2001 a Fundação de Fátima, uma vez que as
concessões de geradoras de TVs Educativas não podem ser entregues às pessoas físicas ou
empresas.

De acordo com a Escritura de Instituição e Constituição, a Fundação de Fátima foi


criada em 18 de outubro de 1999, com sede na cidade de São Paulo. Sua administração está a
cargo de um Conselho de Curadores e de uma Diretoria Executiva, subordinada à primeira. A
Diretoria Executiva age no dia-a-dia, diretamente na Fundação, assinando contratos, se
responsabilizando por movimentação bancária, etc. Já o Conselho de Curadores supervisiona
o trabalho da Diretoria, além de planejar e fiscalizar o cumprimento de metas e diretrizes
estabelecidas79.

A Diretoria Executiva é composta por Manuel Costa, no cargo de Diretor


Superintendente; Alessandra Costa, Diretora Tesoureira e Juliana Costa, Diretora Secretária.
O Conselho de Curadores é constituído pelos três e outros dois. Além da Diretoria e do
Conselho, “velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas”, como
determina o artigo 66 do Código Civil.

79
A explicação foi dada pelo advogado Henrique de Paula Batista, consultado por esta pesquisadora no dia 03
out. 2004.

67
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

A Fundação de Fátima é a estrutura jurídica sob a qual está organizada a NGT. E,


como tal, ela não busca o lucro, embora este seja um dos objetivos dos diretores. O presidente
da Fundação não pode ter salário e toda a receita que a emissora gerar deve ser investida nela
mesma.

Como geradora, a NGT pode produzir toda a programação e constituir uma rede. Seu
alcance atualmente é a cidade de São Paulo e a região metropolitana, mas Manuel Costa já
trabalha para que a abrangência seja nacional. Ele negocia o aluguel de um canal em um
satélite para que a programação possa ser retransmitida por outros canais. A antena está
instalada na avenida Paulista, na torre da TV Gazeta, e a freqüência é a da retransmissora
fechada, 48 UHF.

3 - A caminho do futuro

A NGT tem hoje dois objetivos principais: obter anunciantes e transformar-se em rede
nacional nos próximos meses. Para tornar-se rede, a emissora precisa contratar um serviço de
satélite para que ele faça a distribuição do sinal pelo país. A partir daí, unir o maior número de
TVs Educativas privadas (não ligadas a municípios, estados ou à União) e comerciais que
conseguir para montar uma rede liderada pela NGT. De acordo com o jargão jornalístico, ela
seria chamada de “cabeça de rede”. A grade de programação seria diversificada com o
conteúdo realizado por estas TVs, além de outras parcerias.

A NGT já possui uma emissora na cidade do Rio de Janeiro que irá retransmitir sua
programação. O canal educativo 26 é de Manuel Costa que pretende, ainda, obter a concessão
de uma terceira TV, em Brasília. Para o Distrito Federal, o presidente planeja, num longo
prazo, criar uma agência de notícias. As três cidades foram escolhidas porque, na visão do
empresário, São Paulo é onde está o poder econômico do país, Brasília, o poder político e Rio
de Janeiro, o social. Manuel Costa explica como seria a rede Nova Geração de Televisão:

(...) Eu estou querendo sair um pouco do formato educativo, não deixando de


ser educativo, para ser uma emissora com um pouco mais de atrativo. Atrativo
no sentido de ter um pouco mais de fidelidade do telespectador, coisa que as
TVs Educativas não têm. Elas pecam um pouco nisso aí. Fazem um conteúdo

68
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

de boa qualidade, mas não têm o gancho de segurar o telespectador, o que as


TVs Comerciais têm. Mas elas pecam pelo apelo que fazem por causa do Ibope
(...)80

4 – Organograma

O quadro de funcionários da NGT, até dezembro, era formado por profissionais que
vinham da UNITV e por outros contratados em agosto de 2003. Quando esta pesquisa foi
realizada, o canal possui 26 funcionários, com exceção do presidente e da vice-presidente,
sendo que, da equipe montada em agosto de 2003, apenas dois permaneceram.

Tanto antes das demissões como agora, os salários dos funcionários seriam pagos com
o dinheiro particular do presidente da NGT. Quando houve a contratação de agosto, a
expectativa da direção da emissora era a de que algumas pessoas desta estrutura, como o
diretor de programação, trouxessem anunciantes para a emissora. Mas isso não aconteceu, os
anunciantes não vieram com os funcionários, nem foram atraídos pela programação que foi ao
ar em outubro. Sem condições financeiras para manter essa estrutura por mais de 5 meses, o
presidente da NGT optou pelo corte de pessoal em dezembro daquele ano. Ficaram os
funcionários contratados antes de agosto, que tinham uma ligação mais antiga com Manuel
Costa, além de Zé Maria, diretor de programação, e Mário Pestana, diretor comercial,
contratados junto com a equipe mantida só até o último mês daquele ano. Gostaria de destacar
algumas pessoas-chave, de um total de 27 funcionários quando a pesquisa foi realizada:

 Miriam Bernardi Costa: vice-presidente da emissora, esposa de Manuel Costa,


executa a função de diretora administrativa.

 Juliana Barbosa Costa: diretora de artística da emissora, é filha de Costa e artista


plástica. Como não existe uma equipe de cenografia, ela mesma executa a função
com ajuda dos câmeras. Também define o enquadramento, a fotografia, o que
enfatizar no cenário dos programas em teste. Além disso, é a responsável pela
comunicação, desde as definições visuais até a produção de material, passando
pelas ações ligadas ao institucional. Sua sala é a mais próxima de Costa, de quem
recebe as mais diversas ordens.

80
Esta e as próximas declarações deste capítulo foram retiradas de uma longa entrevista concedida pelo
Presidente da NGT à esta pesquisadora no dia 27 jul. 2004.

69
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

 Alessandra Barbosa Costa: filha mais velha de Costa, é dona de uma agência de
turismo e por isso, aparece pouco no canal. É diretora do programa “Mais
Saudável”, mas não possui função definida na empresa, resolvendo problemas
ligados à telefonia, informática entre outros. Responde os e-mails que chegam à
TV.

 Marcelo Jaensch: noivo de Alessandra Costa, supervisiona a equipe técnica e


executa também a função de câmera;

 José Maria Alimari: conhecido como Zé Maria é o responsável pela programação.


Também elabora e define da maioria dos programas, faz escala de trabalho da
equipe técnica, etc. Ingressou na NGT em outubro e só assumiu a programação
após as demissões de dezembro;

 Mário Pestana: é o diretor comercial da emissora, e trabalha sozinho nesse


departamento;

 Lutero Rocha: engenheiro, responsável por levar o sinal da TV até o satélite e


ajudar na constituição da rede de TVs, entre outros projetos que Costa pretende
levar adiante.

5 – Programas

A programação da NGT é composta, em sua maioria, por programas cedidos


gratuitamente por parceiros. A transmissão começa às 7 da manhã e vai até a uma da
madrugada de segunda a sexta; aos sábados, das 9 às 20 horas, e aos domingos a TV fica fora
do ar, com exceção do período do horário eleitoral gratuito obrigatório sobre as eleições em
Osasco.

A grade é formada por conteúdos cedidos, principalmente, pelos canais TVE e Rede
SescSenac. Dois outros internacionais, TV Fashion e Infinito também são parceiros, cedendo
parte de sua programação.

A parceria com a Rede SescSenac prevê troca de conteúdos. A Rede a cabo permite a
transmissão de alguns programas sem o seu logotipo e, em troca, adquire dois programas
produzidos pela NGT, o Super Sônico e o Pop Music. O contrato assinado, tanto com a Rede
SecSenac quanto com os internacionais, prevê que a verba publicitária adquirida pela NGT, a
partir de programas desses canais, deverá ser dividida igualmente.

70
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

Abaixo os programas que formam a grade da NGT, divididos em dois grupos. No


primeiro aparece o conteúdo obtido por meio de parcerias e que devem ser transmitidos sem
edição. No segundo, são produtos gravados nos estúdios da emissora, utilizando os
equipamentos e funcionários que ela mantém. Assistimos a programação da NGT nos dias 17
(terça), 18 (quarta), 28 (sábado), 29 (domingo) do mês de agosto de 2004, desde o início até o
encerramento das transmissões, e encontramos os programas abaixo. Os que possuem
asterisco, não foram veiculados nos dias assistidos. A eles, acrescente-se a propaganda
eleitoral gratuita de Osasco.

1º. ) PARCEIROS E PROGRAMAS

TVE / Rede Pública de Televisão


Mantida pelo Governo Federal, a TVE está vinculada diretamente à Secretaria de
Comunicação da Presidência da República. Por isso, cede sua programação às retransmissoras
e geradoras Educativas do país que não têm condição de produzir sua própria programação,
além de possuir 138 afiliadas. Os programas transmitidos pela NGT são quase sempre os
mesmos porque ela escolhe determinados horários para fazer a retransmissão em tempo real,
pegando, inclusive, programas que compõem a Rede Pública de Televisão. Abaixo, os
programas assistidos:

 Sem Censura: programa de debates;


 Reencontro: programa da igreja Batista do Rio de Janeiro;
 Via Legal: programa com matérias cujo objetivo é esclarecer e informar a população a
respeito de termos e decisões judiciais;
 National Geografic: sobre a diversidade das nações;
 Telecurso 2000.

Rede SescSenac
Mantida com verba de instituições ligadas ao comércio:

 Balaio Brasil: sobre a diversidade cultural e social, a multiplicidade de manifestações


regionais de vários cantos do país;
 O Mundo da Fotografia: sobre as várias faces deste universo, desde técnicas até a arte
passando por mercado de trabalho e lazer;
 Programa de Palavra: de forma humorada, esclarece dúvidas sobre a língua
portuguesa, comenta a origem, revela o significado de palavras e orienta sobre como
evitar os erros gramaticais mais freqüentes no dia-a-dia;
 Documentário: de variados temas, pretende resgatar histórias e personagens;
 Check up: uma parceria coma TV Unifesp, da Universidade Federal de São Paulo, é
um programa dedicado à saúde, informando sobre novos tratamentos, prevenção e
pesquisa à respeito das mais variadas doenças;
71
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

 Museus e Castelos: uma visita monitorada por museus e castelos em todo o mundo,
unindo às imagens informação contextualizada;
 Trampolim: voltado para jovens, informa sobre as profissões e o mercado de trabalho.
 Oficina de Vídeo: no mesmo estilo de “O Mundo da Fotografia”, mas dedicado ao
vídeo. No dia 29 de agosto, tratou das dificuldades de se obter patrocínio para filmes.

Fashion TV
Trata-se de um canal voltado para o mundo da moda e a NGT exige alguns dos documentários
produzidos a partir de desfiles.

 São Paulo Fashion Week: o programa nos dias assistidos tratava da semana de moda
em São Paulo, enfocando as roupas e estilos.

Infinito
O canal apresenta documentários e programas de “curiosidades”. Obs: Títulos são mantidos
em inglês e dublados, assim como o programa:

 Além do Possível: “acontecimentos e histórias que desafiam a lógica”

No dia 28/8 (sábado), o programa veiculou 5 histórias:


a) “Nadando pela vida: um casal sobrevive à queda de um avião no mar sendo que a
esposa não sabia nadar”.
b) “Rota de colisão: um acidente horrível se transforma em luta para sobreviver”.
c) “Corda de salvação: Kay recebeu um transplante de rim há 30 anos e agora precisava
de outro”.
d) “Ela não queria: quando Stuart salvou a vida deste cão, não imaginava que ele salvaria
a dela”;
e) “O longo caminho de volta: a vida de Grey sempre foi difícil. Teve até que dar seu
filho para adoção. Mas resolveu mudar tudo”.

 Devotos: no dia 28/8 (sábado), o documentário exibiu a “Lenda do Bom Bandido:


Valloretto”, incluindo a tradução de palavrões;
 Mistérios Resolvidos: programa sobre mistérios. Ex: família que se separa e se
reencontra décadas depois;
 Psiconautas: documentário sobre usuários de cogumelos alucinógeos e a influência no
corpo humano;
 Em Plena Forma: sobre exercícios para uma vida saudável.

TV Rodeio

O programa Geração Country é veiculado por um canal de São José do Rio Preto e cedido
pela produtora para transmissão na NGT. No dia 29 de agosto, foi dedicado à etapa de um
rodeio em Paranaíba, Mato Grosso do Sul. Com exceção das informações sobre essa cidade, o
programa fala das particularidades do mundo do rodeio e sua moda, ao estilo dos cowboys
norte-americanos com música internacional de fundo e as “Darlenes” do Rodeio. Um outro
programa foi dedicado ao cantor Daniel.

72
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

2º. ) PROGRAMAS REALIZADOS PELA NGT:

 Super Sônico
Veicula clipes de músicas nacionais cedidos pelas gravadoras.

 Pop Music
Transmite músicas internacionais evitando, como no caso do Super Sônico, clipes com
imagens de sexo e que incentivem o álcool, o fumo, de acordo com os critérios do responsável
pela programação.

 Cuidando de você
É apresentado pelo médico, e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, José Aristodemo Pinotti
que, a cada programa, recebe um especialista para tratar de doenças ligadas a um órgão
específico do corpo humano. A produção fica por conta de funcionários pagos pelo médico,
que não recebe salário da NGT. O valor que possa ser obtido a partir de publicidade deverá
ser dividido com Pinotti.

 Em Foco
O apresentador Fernando Zuppo, coordenador de campanha de um candidato à prefeito de
Osasco, recebe convidados para entrevista. A produção é realizada por um funcionário pago
por Zuppo, que não recebe salário da emissora. O valor que possa ser obtido a partir de
publicidade deverá ser dividido com apresentador. No dia 29 de agosto, por exemplo, Zuppo
entrevistou o Sr. Sidney Federmam que que falou sobre seu livro de como evitar o câncer por
meio da alimentação.

 Mais Saudável
O projeto do programa foi criado por Alessandra Costa, filha de Manuel Costa, e duas amigas,
uma nutricionista e outra roteirista, sobre nutrição. É apresentado pela nutricionista e
produzido pelas outras duas, que não recebem nada pelo trabalho, nem têm ligação com a
emissora. Se surgirem anunciantes, o valor será distribuído entre a NGT, a nutricionista e a
roteirista.

 Forno Fogão & CIA


Programa que ensina receitas de culinária e tenta vender uma panela especial chamada auto
cooker. O único gasto mensal da NGT é com a compra dos alimentos. Os cozinheiros que se
revezam a cada programa não recebem salário da emissora e o dinheiro obtido com a venda
da panela deve ser dividido, assim como o que advir com a publicidade. É o único programa
reprisado sistematicamente.

 Jornal da NGT
Único programa considerado jornalístico pela direção da NGT, é apresentado por dois
jornalistas, também responsáveis pela sua elaboração, e gravado antes de ser veiculado às 21
horas. Algumas notícias são retiradas da internet e lidas durante o telejornal sem imagens de
fundo (notas peladas). As reportagens usadas no jornal são enviadas ao meio-dia pela TVE e
às 13h30 pela Radiobrás (TV NBR). Existe um funcionário terceirizado (trabalha por conta
própria), que sai pela cidade de São Paulo captando imagens que podem dar origem a alguma
matéria própria da NGT. Os dois jornalistas se pautam e escolhem as matérias enviadas pela
Radiobrás, trabalhando com total liberdade dentro desses limites.

73
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

Ao assistir a programação nos dias informados, pudemos perceber alguns detalhes que
gostaríamos de registrar:
a) Alguns programas que passam pela manhã são reprisados à tarde, no mesmo dia;
b) São poucas as vezes em que a vinheta-tema da NGT aparece;
c) Principalmente pela manhã, os programas são bruscamente cortados para que outro
possa entrar.

Essa aparente falta de zêlo e essa programação não foram as idealizadas pela primeira
equipe formada, que trabalhou entre agosto e dezembro, na formatação de conteúdo próprio,
voltado para a cultura e as artes. Eles elaboravam uma grade no formato e qualidade das TVs
a Cabo. Em linhas gerais, a proposta inicial era produzir programas alternativos para
transmissão no horário em que as grandes redes veiculassem conteúdos semelhantes. Assim,
enquanto a maioria veiculasse telejornal, a NGT pretendia passar programa para jovens. Pela
manhã, quando os formatos televisivos são voltados para a dona de casa e crianças, a emissora
apresentaria algo diferente. Esta concepção de programação, no entanto, não foi levada
adiante porque o mercado publicitário não “comprou” a idéia e a NGT não foi inserida nas
redes a cabo, como se pretendia.

Mas alguns critérios dessa concepção de programação permaneceram. A parceria com


a TVE e a Rede SescSenac revela a preocupação com o enfoque dos programas educativo,
cultural e de qualidade.

O responsável pela programação da NGT é quem escolhe dentro dos programas dos
canais Fashion TV, Infinito, TVE e SescSenac quais devem ir ao ar. Zé Maria81 afirma que
sua decisão parte de seu feeling e da imagem que a emissora tenta passar, uma imagem de TV
voltada para a família e que acrescente conteúdo ao telespectador. Ao se referir a
programação familiar, Zé Maria diz que os clipes escolhidos para os programas Super Sônico
e Pop Music não mostram cigarros, cenas de sexo ou nudez, por exemplo.

É necessário ressaltar, no entanto, que o responsável pela programação não modifica


ou interfere no conteúdo dos programas tanto originários de parcerias quanto dos produzidos

81
A entrevista com Zé Maria foi realizada por esta pesquisadora em 12 ago. 2004.

74
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

pela NGT. Neste último caso, a responsabilidade é de cada apresentador, que tem liberdade
para produzir dentro desses critérios não muito claros.

O ajustamento da grade de acordo com o retorno que as emissoras recebem do


telespectador é o procedimento adotado pela maioria das TVs UHFs82:

(...) Numa época em que o parâmetro para investimentos se ajusta aos


números de audiência, canais que oscilam entre 0,1 e 2 pontos na Grande São
Paulo conseguem boa performance na freqüência UHF. Emissoras como a
MTV, Rede 21, Rede Vida e Rede Mulher, assim como a TVCom, no sul do
País, acabam dando peso maior à ferramenta como e-mails, cartas ou
telefonemas de telespectadores para medir o impacto das programações.
Ajustam suas grades num equilíbrio de índices e sensibilidade (...)

6 - A questão comercial

Por ser uma TV Educativa, a NGT não poderia, de acordo com o Decreto 236, de
1967, transmitir comercial durante os intervalos. Mas na prática, o canal não os transmite
porque não consegue anunciantes. O que vemos hoje nas TVs Educativas, entre elas a TV
Cultura, é a desobediência à lei que estaria ultrapassada na opinião da maioria dos que
trabalham com esse tipo de televisão atualmente. A publicidade acaba sendo veiculada aos
moldes das TVs Comerciais ou sob forma de patrocínio e apoio, o que é mais comum.

Na NGT, o departamento comercial é composto por apenas um funcionário, o diretor


Mário Pestana. Ele trabalhava sozinho e enfrenta o desconhecimento da emissora por parte
dos anunciantes e a pequena audiência. Como a NGT não paga o Ibope para obter a medição
de sua audiência, não é possível levar aos anunciantes uma estimativa de telespectadores. Essa
é uma informação indispensável no momento da negociação, sendo um dos principais
obstáculos para obter parte da cota de propaganda planejada pelas empresas. A NGT só sabe
que é um canal assistido pelas mensagens e-mail, além das ligações que recebe.

Não há hoje uma verba destinada ao departamento comercial para investimentos,


somente para o pagamento do salário do diretor. A emissora também não dispõe de um

82
NA CABEÇA dos paulistas. Jornal Meio & Mensagem. São Paulo, Especial, 26 julho 2004. p. 12.

75
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

departamento de marketing para divulgar a existência desta nova TV, ainda desconhecida no
mercado. Esse desconhecimento por parte do mídia, pessoa responsável pela distribuição da
verba de patrocínio nos meios de comunicação, é um outro obstáculo. Até pouco tempo atrás,
nem mesmo as entidades sem fins lucrativos buscavam a NGT para solicitar a transmissão
gratuita de seus comerciais.

Outro fator que dificulta a obtenção de anúncios é a freqüência de sintonia da NGT, a


UHF. É tradição no mercado publicitário anunciar apenas em VHF, principalmente nas
capitais, porque os telespectadores estão mais acostumados a percorrer os canais dessa
freqüência. O fato da NGT só poder ser assistida na Grande São Paulo e no Rio também não
atrai os anunciantes que, geralmente, buscam redes de TV e não emissoras de alcance local.

Dessa forma, Mário Pestana trabalhou com uma equipe montada antes do corte de
dezembro de 2003 baseado na expectativa de inserção da NGT na rede a cabo. Nas agências
de publicidade, eles apresentavam uma TV que, podendo ser assistida via cabo, tinha uma
programação mais segmentada, voltada para a cultura e as artes, com a vantagem de estar em
canal aberto. Entrar no cabo também era importante para atingir as classes A e B, principais
assinantes e segmentos explorados pelos anunciantes. Mas a NGT e as TVs a cabo não
chegaram a um acordo para a veiculação gratuita de sua programação, que segundo a NGT
estaria assegurada pela Lei da TV a Cabo, e a expectativa não se concretizou.

Até os meses em que a pesquisa deste trabalho foi realizada, a NGT não havia
conseguido verba considerável de publicidade. Transmitiu alguns poucos comerciais, que de
tão insignificantes não foram revelados pelo diretor, e que ficaram no ar menos de 10 dias. É
importante ressaltar que os programas veiculados não geram receita para a emissora, que não
cobra pelo espaço usado por programas produzidos/apresentados por terceiros.

Diante da falta de anunciantes, a NGT adotou outra estratégia para a captação de


clientes a partir do segundo semestre de 2004. Ela busca associações e empresas que queiram
pagar para se tornarem conteúdo de programas ou documentários, e não mais para que
comprem inserção publicitária. A estratégia visa resolver, ao menos, o problema da falta de
ter o que transmitir.

76
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

O canal tem buscado parceiros dos mais variados segmentos, desde escolas até lojas.
Como exemplo, o presidente da NGT Manuel Costa cita a FMU (Faculdades Metropolitanas
Unidas) e suas faculdades de moda e culinária, que poderiam ser tema de programas, pagando
pelo espaço de veiculação. Os futuros programas que surgirem na NGT devem seguir a nova
estratégia comercial, a não ser que possam ser criados e mantidos com os recursos que a
emissora já dispõe.

7 - Em busca de um satélite

Para que o canal se transforme em uma rede de TV é necessário, primeiramente,


alterar o modo como o sinal de áudio e vídeo é transmitido hoje, passando-o para um satélite.

Atualmente, o sinal da emissora é levado por meio de um rádio transmissor do estúdio


até a torre que fica na avenida Paulista. Da torre, segue para um outro transmissor maior que o
amplifica e o joga na antena da NGT, no prédio da TV Gazeta. Só a partir daí é que o sinal se
irradia pela cidade até atingir a região metropolitana.

Em meses, a distribuição será por meio de um satélite. O processo é diferente: o sinal


gerado na emissora passa por um transmissor, já instalado no teto da sede do canal, e segue
para uma antena parabólica. Essa antena já se encontra localizada ao lado do transmissor e
será apontada para um satélite assim que o serviço for contratado. A função do satélite é
receber o sinal emitido pela parabólica e distribuí-lo para todo o país e não apenas a cidade de
São Paulo e região metropolitana como acontece hoje.

Existem vários satélites em torno da Terra, numa distância aproximada de 36 mil


quilômetros, alguns deles em posições orbitais que atendem o Brasil. A NGT escolherá um
deles e alugará um canal para a distribuição de seu sinal, uma vez que pode haver um rodízio
entre a transmissão do sinal a partir de São Paulo, do Rio de Janeiro, ou de qualquer lugar do
país, pelo mesmo valor.

As empresas com algum capital brasileiro, que têm satélites em órbita atualmente, são
a Embratel e a Hispamar, uma associação entre o grupo espanhol Espasat e a Telemar,
brasileira com 20% das ações da Hispamar. A NGT até poderia contratar o serviço de uma

77
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

empresa estrangeira, mas, segundo o diretor de rede da emissora83, os quatro satélites da


Embratel, e o único lançado pela Hispamar, estão tecnicamente melhor posicionados para
atender o Brasil, embora o valor cobrado pela estrangeiras seja menor.

Em meados da década de 80, quando as emissoras brasileiras começaram a utilizar


satélites para fazerem a distribuição, a Embratel, que só possuía dois em órbita, dedicou um
deles para fazer a distribuição de sinal de televisão, preferencialmente. Todas as principais
redes de TV do país têm seu sinal distribuído a partir daquela posição orbital, ocupada, na
época, por um satélite chamado de A1. Assim, o telespectador localizado fora da área de
abrangência do sinal das grandes redes e que deseja sintoniza-los, deve possuir uma antena
parabólica voltada para aquele satélite. Cada um tem vida útil de cerca de doze ou quinze
anos, cedendo seu lugar a outro após esse período.

O satélite A1 foi substituído pelo Brasil SAT B1 que não comporta mais o
recebimento de sinal de outros canais. A NGT terá obrigatoriamente que alugar um satélite
numa posição orbital diferente. Não ser distribuído pelo B1 prejudica a audiência do canal, já
que a antena parabólica da maioria dos telespectadores está voltada para o das grandes redes
de TV e não receberá o sinal da NGT.

Embora não exista um número exato de antenas parabólicas no país, a TVE divulga a
existência de 7 milhões84 apontadas para o satélite B1. Então, são 7 milhões de residências a
menos para a NGT, já que é improvável que o telespectador chame um técnico para direcionar
sua antena para o satélite de onde o sinal da nova emissora será distribuído. O único modo da
programação ser sintonizada nessas residências é por meio de canais locais retransmissores.

A NGT está negociando a contratação de um espaço de 4 megahertz em um satélite. O


espaço mais caro atualmente é cobrado pelo satélite Brasil Sat B1, o das grandes redes de TV,
que cobra cerca de 12 mil reais por megahertz ao mês. O investimento da NGT sairá do bolso
do presidente da emissora, Manuel Costa. Num longo prazo, ele pretende usar a estrutura
montada para o serviço de satélite e adquirir mais espaço para a distribuição de um curso a
distância.

83
As informações deste capítulo e do seguinte (7 e 8) foram dadas pelo diretor de rede, Lutero Rocha, em
entrevista a esta pesquisadora em agosto de 2003.
84
Informação retirada do site da TVE Rede Brasil. Disponível em:
http://www.tvebrasil.com.br/empresa/empresa_emssorasafiliadas.htm. Acesso em 29 ago. 2004 às 18h05.

78
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

8 - Constituindo a rede

Para fazer o sinal da NGT chegar aos telespectadores que não têm antena parabólica, e
também aos que têm mas estão direcionadas para o satélite B1, a emissora precisa de TVs
espalhadas pelo país que recebam seu sinal e o retransmita. Ribeirão Preto, Bauru, Barretos e
outras cidades de Fortaleza, Recife e Mato Grosso já teriam procurado a NGT interessadas em
fazer parte da rede, mesmo sem haver ainda uma investida da emissora para captá-las.
Tecnicamente, elas só precisam possuir uma antena parabólica para poderem receber o sinal e
distribuí-lo para a área de abrangência correspondente.

Para convencer geradoras e retransmissoras a optarem pela programação da NGT, a


emissora paulistana tem a favor de si a disposição de repassar, para as demais, parte da verba
obtida com publicidade. Outra vantagem seria a disposição da NGT de oferecer um
tratamento semelhante às que as emissoras federais dão às suas afiliadas. Segundo o
presidente da NGT, a TVE não se preocupa com as TVs que retransmitem sua programação,
sequer avisando-as de mudanças na grade.

Além desses fatores, o interesse de TVs pela programação da NGT poderia surgir a
partir das seguintes hipóteses:
a) no caso de uma TV Educativa: outra TV da região já retransmitiria a programação
da TVE e a NGT seria nova opção;
b) no caso da uma TV comercial: outras TVs daquele local transmitiriam a
programação de grandes redes de TV, como Globo, Record e Bandeirantes e a NGT seria uma
outra opção;
c) a maioria das TVs espalhadas pelo país prefere retransmitir a gastar com produção
de conteúdo.

Se a NGT se transformar em rede nacional, ela será a única rede educativa do país 24
horas no ar. O canal TVE não é rede nacional, apenas cede sua programação para quem possa
interessar. E a Rede Pública de Televisão, formada por programas de várias educativas,
principalmente a TV Cultura e a TVE, tem horário restrito para ser formada, ou seja,
transmitida, cerca de apenas 6 horas. Assim, a NGT teria sua programação retransmitida,
quase na íntegra, pelas repetidoras locais, que só incluiriam seu jornal regional e um ou outro
programa, conforme ficar estipulado em contrato.

79
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

9 - Questões de Comunicação

Nas entrevistas realizadas por esta pesquisadora, ficou claro que não existe um projeto
de comunicação para a TV, nem interna, nem externa. A comunicação não seria uma
preocupação dos diretores da emissora porque todos os esforços estariam concentrados em
criar uma grade de programação sólida e de qualidade, além da expansão da rede. O
presidente chegou a dizer que a ele não interessa tornar a emissora conhecida enquanto não
tiver programas estáveis em rede nacional.

A comunicação com os telespectadores se dá apenas via e-mail e telefone. Todas as


mensagens eletrônicas são respondidas por Alessandra Costa, que quase nunca está na
empresa; aqueles, cujo conteúdo é uma solicitação para reprises de programas, são
encaminhados para o diretor de programação e atendidos.

Como não existe um departamento de comunicação, ou de marketing, coube à diretora


artística a responsabilidade pela confecção de materiais de divulgação. Até setembro, quase
um ano após a programação ir ao ar, o único material produzido para a comunicação externa
foi um folder com as principais informações sobre a NGT e os programas. Este material é
entregue durante a negociação com parceiros e para as pessoas que visitam a emissora. Outro
material produzido, mas que não é distribuído, foi um pequeno filme sobre a NGT que
costumava ir ao ar no início das transmissões da TV, com uma música tema criada por amigos
da família.

Uma outra questão comunicacional se faz presente e diz respeito à expansão da


emissora em rede nacional. Quando isso acontecer, a grade de programação será alterada pela
necessidade de se transmitir 24 horas por dia e não apenas das 7 às 1h. Embora a expectativa
de obter um satélite seja para o final deste ano, não existe um projeto de programação
nacional. O responsável por esta área na emissora diz que quando o sinal foi retransmitido por
satélite, ele terá que se desdobrar para obter conteúdo “de última hora”, às pressas, que
provavelmente será obtido junto aos atuais parceiros.

Temos, então, duas perspectivas de novos conteúdos: devem vir de parceiros e/ou de
projetos ligados à nova estratégia comercial. Mas não se cogitaria a alternativa de obter

80
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

programas junto às futuras retransmissoras porque elas seriam vistas apenas como tal e não
como produtoras de conteúdo local.

A falta de uma identidade própria também seria um problema a provocar estragos


ainda maiores quando a emissora se tornar rede nacional. Como criar uma rede sem que se
pense com mais profundidade qual a sua cara, sua identidade e propostas? Será que sua
programação estaria de acordo com a imagem, pouca, mas divulgada?

Uma outra questão é a falta de critérios bem definidos para o conteúdo de programas
produzidos ou obtidos. Esta pesquisadora observou que, atualmente, por conta da falta de
conteúdo, quase tudo é aceito, como os programas que teriam uma inclinação mais política e
comercial. Qual seria a definição de educativo que a NGT trabalha? Esses critérios não seriam
importantes para se constituir uma identidade nacional?

10 - Considerações Finais sobre a NGT

Faz-se necessário ressaltar que a experiência do presidente da emissora é um acúmulo


de funções ligadas às áreas técnica e administrativa de TVs. Apenas uma funcionária, Juliana
Costa, diretora artística do canal, trabalhou com cenografia na TV Cultura. Até porque, o
presidente da NGT já afirmou que “TV Educativa” é um termo um pouco pejorativo, ligado à
educação formal e, no seu entender, seu papel é o de oferecer programação atrativa, de
qualidade. Nesse caso, compreendemos que sua preocupação seria apenas a de não exibir
programas de baixo nível, respeitando os telespectadores. Mas não existiria real preocupação
com a formação do público, de acordo com o significado de “educativo” que adotamos nesta
pesquisa. Repetimos aqui o conceito a partir da compreensão de Marília Franco85:

(...) Educativo é aquilo que acrescenta conhecimento às pessoas, sendo mais


do que informativo, tendo que ser formativo. (...) O educativo deve ser pensado
não sob o aspecto do que é o certo, do que é o melhor, do que é o bom (...) mas
do confronto das possibilidades. (...) Ela vai ser educativa, formadora,
transformadora se tiver este debate embutido na sua programação (...)

85
Conforme entrevista concedida a esta pesquisadora. Íntegra no anexo 3.

81
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

A breve consideração que aqui se apresenta não significa, no entanto, que o educativo
não apareça no canal. Atualmente, a NGT exibe programas desse tipo porque seus dois
principais parceiros, STV e TVE, se enquadram nesse perfil.

“Balaio Brasil”, “Oficina de Vídeo”, “Programa de Palavra”, “Museus e Castelos”


“Documentário”, “Trampolim” e “Check Up” produzidos e também transmitidos na Rede
SescSenac de TV (STV) são considerados educativos por estarem de acordo com o conceito
explicitado anteriormente. Outros com esse perfil, “Sem Censura” e “Via Legal”, pertencem à
TVE.

Já a maioria dos programas e documentários do canal argentino Infinito, como “Além


do Possível” e “Devoções” seguem um formato mais de “curiosidades” e puramente
entretenimento. O mesmo vale para o espanhol TV Fashion.

Os poucos programas produzidos pela NGT, de clipes e culinária, não poderiam ser
classificados como “educativos”. Nem mesmo o de entrevista, que mais parece estar no ar
para divulgação de personalidades e produtos. A exceção é o jornal da NGT, precário,
produzido com matérias da Radiobrás e notas peladas.

Vemos, então, uma programação híbrida, e que não revela a que veio. Um quebra-
cabeça montado sem critérios definidos, a partir de conteúdos cedidos e produzidos, nesse
último caso, sem obedecer critérios mais definidos, e que não existem. Assim, entendemos
que falar em programação da NGT não corresponderia à verdade porque 90% dela vem de
outros canais.

Após o levantamento das informações sobre a NGT, chegamos a constatação de que o


presidente da emissora preferiu investir na compra de um grande imóvel a despender recursos
com programação própria e educativa, além de contratar pessoal qualificado. A maioria dos
funcionários poderia ser dividida em dois grupos: parentes e pessoas treinadas dentro da
emissora. Poucos profissionais teriam o preparado e a experiência exigidas pelo mercado para
o cargo que ocupam. No entanto, lembremos de um camarim com filetes de ouro 18 ou 24
quilates grudados nas paredes. Recordemos, também, que é utilizada apenas 1/3 da área do

82
UM Estudo EM PROFUNDIDADE

imóvel comprada para sediar a TV, em região nobre da cidade. Num outro extremo, os
apresentadores dos poucos programas produzidos não recebem salário.

Enfim, o presidente da NGT acha que pode tornar a emissora uma rede nacional de
televisão nascendo grande, híbrido e com poucos investimentos em programação.

83
Capítulo v
Metodologia de pesquisa
Metodologia de pesquisa

1 – Método e amostragem

Toda opção metodológica é fruto de uma escolha pessoal, e ideológica, com a qual o
pesquisador se identifica. Essas decisões são teoricamente amparadas por Runkel e
McGrath86:

(...) O significado dos resultados da investigação depende sempre das séries


particulares de decisões e opções feitas ao longo do processo de investigação
(...)

Tendo como base os paradigmas que norteiam este trabalho, decidimos que
partiríamos dos projetos elaborados no Educom.TV para realizarmos a nossa pesquisa. De
uma amostragem de 90 projetos (10% do total), identificamos 43 que previam o uso de
câmeras de vídeo. Escolhemos esses projetos que pretendiam realizar produções audiovisuais
ou videográficas com os alunos porque acreditamos que eles seriam a materialização de
práticas “educomunicativas”. Os vídeos produzidos a partir do curso são de uma riqueza
incalculável por terem sido feitos por pessoas que até aquele momento não se viam como
produtoras. Há de se considerar também de que se trata de projetos que levaram tempo para
serem elaborados, foram cuidadosamente planejados e estão respaldados por uma carga
teórica também utilizada neste trabalho.

Diante da importância desses projetos, decidimos investigar como esses produtos


educativos poderiam expandir-se para além do ambiente escolar e encontrar eco na sociedade.
No intuito de saber se havia espaço para a veiculação da produção videográfica ou
audiovisual das escolas que participaram do Educom.TV, fomos atrás dos principais canais
de divulgação audiovisual de caráter educativo localizados na cidade de São Paulo.

Para a seleção desses canais, partimos de alguns critérios. O primeiro deles, e talvez o
mais importante, é o caráter educativo/cultural desses meios de comunicação de massa que
trabalham com produção videográfica ou audiovisual. Essa decisão parte da premissa de que
não haveria interesse pela produção escolar em TVs comerciais.

86
RUNKEL, Philip J. e MCGRATH, Joseph F. Research on human behavior, Nova Iorque: Rinehart &
Winston, 1972. p. 2.

85
Metodologia de pesquisa

O segundo critério foi a opção por pelo menos um canal que representasse os tipos de
TVs Educativas definidos pela legislação brasileira, ligados a87:

e) União;
f) os Estados, Territórios e Municípios;
g) as Universidades Brasileiras;
h) as Fundações constituídas no Brasil, cujos Estatutos não contrariem o Código
Brasileiro de Telecomunicações.

Além desses “tipos” de TV em canal aberto, encontramos na TV a Cabo canais com


um perfil educativo/cultural, determinado pela Lei de TV a Cabo: TV Universitária, TV
Comunitária e TVs privadas que possuem esse tipo de programação por opção.

Entre os tipos de TV Educativa citados anteriormente, o critério usado para a seleção


foi o de reconhecimento pela sociedade. Até porque acreditamos que os canais mais
conhecidos e respeitados pela população fariam as produções escolares chegarem a número
maior de pessoas.

Sempre com a preocupação de ter um olhar menos ingênuo, sabendo que cada técnica
que empregaremos nos dará um tipo de informação, um dado distinto, decidimos pela
entrevista qualitativa como a metodologia de pesquisa. Essa escolha, amplamente empregada
no campo das Ciências Sociais, é essencialmente uma técnica, ou método, para estabelecer
ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos, além daqueles da
pessoa que inicia a entrevista88.

Os entrevistados, como vimos, não são muitos, mas seriam suficientes para o que nos
propomos. Essa decisão encontra respaldo em Bauer e Gaskell89:

(...) A finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas,


mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes
representações sobre o assunto em questão. (...) A fim de se ter segurança de

87
Artigo 14 do Decreto 236, de 1967. Capturado do site oficial da Agência Nacional de Telecomunicações.
Disponível em www.anatel.gov.br. Acesso em 20 set. 2004 às 20h05.
88
FARR, R. M. Interviewing: the Social Psychology of the Interview. In FRANSELLA, F (ed.). Psychology for
Occupation Therapists. London: Macmilliam, 1982.
89
BAUER, Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis – RJ:
Vozes, 2002. p. 68.

86
Metodologia de pesquisa

que toda a gama de pontos de vista foi explorada, o pesquisador não


necessitará entrevistar diferentes membros do meio social (...)

A possibilidade de veiculação da produção escolar é justamente o nosso objetivo


principal. Para tentar alcançá-lo, realizamos entrevistas do tipo semi-estruturado com um
único respondente. A opção pela entrevista em profundidade com um só entrevistado seria a
melhor alternativa para o desenvolvimento de nossa pesquisa porque, segundo Bauer e
Gaskell90, o objetivo foi explorar em profundidade o mundo da vida do indivíduo – aqui
lemos como a empresa que ele representa; ter entrevistados da elite ou de alto status; fazer
estudos de caso com entrevistas repetidas no tempo.

Antes de realizar as entrevistas, no entanto, preparamos-nos. Primeiro, com o


referencial teórico já apresentado neste trabalho e, segundo, realizando pesquisas a respeito do
universo das TVs Educativas. Encontramos pouca bibliografia especializada nesse assunto,
mas fomos beneficiados pela Internet, onde pudemos encontrar as leis que procurávamos e
outras informações a respeito. Além disso, muitas informações foram-nos dadas por meio de
entrevista com especialistas. Essas entrevistas, por exemplo, com os Professores da ECA
Marília Franco e Laurindo Lalo Leal Filho (anexo 3), nos ajudaram a compreender o universo
das TVs, principalmente as de caráter educativo/cultural.

Com todas assim informações reunidas, fomos a campo com um roteiro de entrevista
em mãos, um tópico guia, planejado para dar conta da finalidade da pesquisa. Como o próprio
nome já explica, trata-se apenas de um guia para que não nos perdêssemos. Tentamos deixar
os entrevistados o mais à vontade possível, mas tivemos o cuidado de não desperdiçarmos o
tempo saindo da entrevista sem as informações que tanto buscávamos. Durante o uso do
tópico guia, seguimos da recomendação de Bauer e Gaskell91 de usarmos a nossa imaginação
social:

(...) O entrevistador deve usar sua imaginação social científica para perceber
quando temas considerados importantes e que não poderiam estar presentes
em um planejamento ou expectativa anterior, aprecem na discussão. Isto deve
levar à modificação do guia para subseqüentes entrevistas. Do mesmo modo, à
90
BAUER e GASKELL. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. p. 78.
91
BAUER e GASKELL. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. p. 67.

87
Metodologia de pesquisa

medida que uma série de entrevistas for acontecendo, alguns tópicos que
estavam anteriormente na fase de planejamento, considerados centrais, podem
se tornar desinteressantes, até mesmo devido a razões teóricas, ou porque os
entrevistados têm pouca coisa ou nada a dizer sobre eles (...)

As perguntas foram feitas quase que como um convite para que os entrevistados
pudessem falar de acordo com seu próprio ritmo e com tempo para refletirem a respeito. O
valor dado às entrevistas, no entanto, não exclui a postura do entrevistador em não aceitar
nada como se fosse pacífico. Além dessa preocupação, tivemos a de ir além do discurso do
entrevistado, realizando conexões de dados e cenários para tentarmos ultrapassar o real tal
como se apresentava. Lopes92 nos lembra que a construção do objeto é sempre uma atividade
intelectual complexa:

(...) A realidade não é suscetível de apreensão imediata, e sua reprodução


exige atividades intelectuais complexas; o importante não é o que se vê, mas o
que se vê com método, pois o investigador pode ver muito e identificar pouco e
pode ver apenas o que confirma suas concepções (...)

Para que possamos olhar o objeto além de sua falsa transparência, afastar as opiniões
formadas pelo senso comum e, assim, evitar conclusões a partir de idéias previamente
concebidas, escolhemos cinco TVs para tentarmos analisar, com um pouco mais de
profundidade, suas estruturas, importância e características. Nossa intenção era a recolher o
maior número de informações possível a respeito de cada uma, contextualizando-as no
panorama das TVs de caráter educativo, para que pudessem ser apresentadas como um
exemplo de cada “tipo” de TV. Acreditamos que a densidade que pretendíamos tenha sido
obtida em pelo menos uma delas, a TV NGT, onde passamos vários dias e entrevistamos as
pessoas que têm participação importante no dia-a-dia.

92
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 143.

88
Capítulo vi
A pesquisa
A pesquisa

1 – Informações gerais

A pesquisa foi realizada com quatro dirigentes de TVs de caráter educativo/cultural.


Os canais e a produtora TV PUC foram brevemente apresentados, no capítulo III deste
trabalho, para que contribuíssem com o panorama dessas TVs no país. A apresentação
também colabora para a contextualização das respostas dos entrevistados neste capítulo. Além
de serem representantes dos canais, três dos quatro entrevistados são presidentes da
associação à qual seu canal/produtora é filiado, contribuindo, assim, com informações
adicionais que podem ser conferidas no anexo 2, onde as entrevistas aparecem na íntegra.

Além das TVs, achamos importante conversar com um especialista em um outro meio
de divulgação audiovisual, a Internet, apontado por um dos entrevistados como alternativa
para eventual dificuldade de divulgação em meio televisivo. A entrevista com o especialista,
entretanto, não seguiu o tópico guia (usado com os demais) e apresenta-se aqui como uma
complementação deste trabalho.

No total, os entrevistados foram os seguintes:

 Jorge Cunha Lima: presidente do Conselho da TV Cultura e da Associação Brasileira


de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC), representando o segmento
das TVs Públicas;
 Robson Moreira: diretor da Rede SescSenac de Televisão, representando os canais
das TVs por Assinatura que optaram pela programação educativa/cultural;
 Fernando Mauro: diretor do Canal Comunitário de São Paulo e presidente da
Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM);
 Gabriel Priolli: diretor da TV PUC/SP e presidente da Associação Brasileira de
Televisão Universitária (ABTU);
 Prof. Dr. Fernando Scavone, professor da ECA/USP e especialista em tecnologias de
audiovisual.

Tentamos ainda, por diversas vezes, entrevistar representantes das TVs NGT, TVE
Rede Brasil e Canal Futura, mas não obtivemos um retorno dentro do prazo que dispúnhamos.

90
A pesquisa

Cada entrevista representa um “tipo” de TV de caráter educativo/cultural. Elas foram


realizadas pessoalmente, e individualmente, nas duas últimas semanas de outubro de 2004 e
obedeceram um tópico guia comum. Mas, como o próprio nome já explica, trata-se de um
questionário que foi incrementado durante a sua aplicação.

Optamos por resumir as entrevistas individualmente porque cada canal possui


características próprias. Chegamos, portanto, à análise descritiva dos dados levantados que
visa à reconstrução da realidade do fenômeno por meio de operações técnico-analíticas que
convertem os dados de fatos em dados científicos93.

QUESTIONÁRIO

1) Você Conhece o TV Escola?


2) Você conhece o Núcleo de Comunicação e Educação da USP?
3) O canal tem algum tipo de relacionamento com escolas? Qual?
4) Alguma escola já procurou o canal para solicitar a veiculação de vídeos produzidos pelos
alunos ou outro tipo de parceria?
5) Vocês já veicularam esse tipo de produto? Qual foi a repercussão/resultados?
6) O canal tem/teria espaço para a produção audiovisual escolar?
7) Há interesse em começar a veicular esse material escolar?
a) Se a resposta for “Sim”: que requisitos são exigidos para permitir a veiculação. Do que
depende essa veiculação? Seria cobrado algum valor?
b) Se a resposta for “Não”, o por quê.
8) Que orientação daria para o professor/escola que deseja veicular os vídeos produzidos pelos
alunos neste canal?
9) O canal faria uma parceria com o NCE para projetos que permitissem a veiculação da
produção escolar neste canal?
10) Se a resposta da pergunta acima for positiva, vocês fariam workshop para professores da rede
pública?
11) Seu canal sofre com a dificuldade/ falta de conteúdo?
12) Vocês têm horário ocioso na programação? Qual?
13) Na sua opinião, a veiculação da produção escolar teria algum impacto na televisão de caráter
educativo/cultural como um todo?
14) Você conhece alguma iniciativa de entidade/empresa envolvendo a produção/veiculação de
vídeo de alunos?

93
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. p.
152.

91
A pesquisa

2 – TV Cultura
Jorge Cunha Lima
Presidente do Conselho da TV Cultura e da Associação Brasileira de Emissoras
Públicas, Educativas e Culturais
Data: 28/10/2004

A TV Cultura é uma TV Educativa que concorre diretamente com as TVs comerciais.


O telespectador brasileiro, de qualquer faixa social, segundo Lima, está acostumado a um
padrão de televisão de altíssima qualidade, embora o conteúdo chegue muitas vezes à
baixaria. Por isso, tudo o que é transmitido pelo canal deve ter a mesma qualidade técnica
encontrada nos canais comerciais, mas com conteúdo educativo, informativo e de
entretenimento que respeita o cidadão.

O presidente do Conselho da TV Cultura foi diretor-presidente da emissora por muitos


anos e acredita que o único programa atual que poderia receber vídeos produzidos por alunos
é o “Zoom”, que veicula produções independentes. Mas, mesmo neste caso, o canal faz sérias
exigências de qualidade técnica.

O ideal seria que os vídeos produzidos nas escolas recebessem o apoio de produtoras
locais ou de profissionais gabaritados. Dessa forma e com conteúdo criativo, a exibição em
diversos canais ficaria mais fácil. Mas, no geral, eu digo: as televisões estão fechadas para
esse tipo de coisa. Com exceção dos canais comunitários, mais flexíveis. Se alguma escola
tiver um bom produto audiovisual, deve procurar a produção da TV Cultura para saber se a
exibição é possível.

Lima considera importante uma aproximação entre o canal e as escolas que poderia,
por exemplo, resultar em estágios para os alunos que se destacarem na produção de vídeos.

Quanto ao NCE, a TV Cultura estaria aberta a uma parceria. Primeiro porque as


parcerias fariam parte da política do canal. Segundo porque Lima acha que a universidade e a
televisão devem se aproximar mais. Ele diz que, embora três reitores, inclusive da USP,
façam parte do Conselho, a distância entre a TV e o que é feito no meio acadêmico ou surgido
a partir dele, como no caso do Educom.TV, é muito grande. Nós temos que quebrar isso,
talvez, através de convênios com projetos específicos. No caso do núcleo de vocês, um projeto

92
A pesquisa

específico, faz um convênio, e daí a gente vai quebrando as barreiras.

Lima defende oportunidades para a população mais carente que, segundo ele, possui
uma criatividade acima da elite. Embora fale da produção popular, ela incluiria a escolar,
como forma de valorizar essa criatividade e a identidade, contra a massificação comercial.
Trata-se de um olhar profundo em cima das realidades, do próprio povo e de seu modo de
criar. E, diferentemente do que acontece no interior do país, onde essa criatividade é mais
canalizada para a produção artística manual, da cerâmica, da culinária... nas metrópoles o
utensílio de criação e revelação da identidade vai ser o utensílio eletrônico, o audiovisual.
(...) Se esse audiovisual a ser feito pelo homem do povo não tiver a chance de divulgação na
televisão, eu acho que o caminho mais fácil vai ser a divulgação pela internet.

93
A pesquisa

3 – Rede STV (SescSenac de Televisão)


Robson Moreira
Diretor de programação
Data: 22/10/2004

O diretor de programação da Rede SescSenac de Televisão já foi procurado algumas


vezes por escolas de ensino fundamental, médio e superior que pediram a veiculação de
audiovisuais produzidos pelos alunos. Nos dois primeiros casos, os vídeos nunca foram
levados até Robson Moreira que recebeu apenas telefonemas sobre o desenvolvimento de
projetos com os alunos.

Mas o canal já divulga vídeos produzidos por estudantes de ensino superior de


instituições com as quais possui parceria. Geralmente esse material é exibido no programa
“Oficina de Vídeo”, dedicado a ensinar técnicas e a veicular conteúdo realizado por amadores
e profissionais. É nesse programa que a produção do Educom.TV poderia encontrar espaço.
Além de veicular os vídeos, o programa chama os produtores, que no caso seriam os
professores ou os alunos, para contar como e com que objetivo realizaram o trabalho. Em
seguida, um profissional da área faz uma crítica e orienta como melhorar a produção.

O canal é muito exigente, mesmo no caso desse programa, quanto à qualidade da


gravação e o tipo de linguagem, que deve ser o da televisão: se quer fazer para oferecer para
uma televisão é preciso ter a visão da televisão, não apenas a visão didática da sala de aula,
diz Moreira. Outro critério exigido pela Rede STV é a duração do vídeo, geralmente três
minutos e, em casos especiais, 10 minutos.

O diretor do canal orienta o professor, ou aluno, que tiver um projeto de vídeo a


procurá-lo para apresentar a proposta. Depois de análise, ele ou alguém de sua equipe poderá
dar sugestões para a realização do vídeo que, depois de pronto, deve passar por nova
avaliação para saberem se há condições de ir ao ar.

Segundo Moreira, já foram realizadas parcerias com o NCE e que o canal, inclusive,
pôs-se à disposição do projeto Educom.TV. Mas suas parcerias se restringiram a
empréstimos de vídeos. Outra atitude comum é a participação em palestras e seminários. No
entanto, uma eventual veiculação de conteúdo não está descartada pelo canal que, em geral,
não participa do desenvolvimento de projetos, preocupando-se apenas com a transmissão.

94
A pesquisa

4 - Canal Comunitário de São Paulo


Fernando Mauro
Diretor do canal e presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários
Data: 26/10/2004

O único programa veiculado pelo Canal Comunitário de SP cujo conteúdo é feito por
alunos chama-se “TV Morumbi”, produzido por estudantes da UNI FMU, uma universidade
particular de São Paulo. O canal nunca foi procurado por escolas de ensinos fundamental e
médio para a divulgação de produção audiovisual ou videográfica nelas produzidas. Mas os
profissionais daquela TV já realizaram capacitações para o uso do audiovisual de jovens e
adultos, por meio de convênios firmados com a Secretaria da Cultura do Estado.

Segundo o diretor, o Canal Comunitário de SP está aberto a parcerias com o NCE e


tem interesse em veicular vídeos produzidos por alunos do ensino fundamental e médio: se
não tiver espaço no Canal Comunitário, eu devolvo a pergunta pra você: onde é que teria?

Para que os vídeos do projeto Educom.TV sejam veiculados no canal, é preciso que
uma instituição (NCE por exemplo) faça a interlocução apresentando um projeto de programa
para ser aprovado pelo comissão da grade de programação. Caso a proposta seja aprovada, o
canal cobraria R$ 3,50 por minuto para a veiculação. Este valor seria utilizado para manter a
estrutura do canal, mas poderia ser abdicado caso houvesse uma parceria com o NCE que, até
a presente entrevista, era desconhecido por aquela TV.

(...) Vamos colocar esse conteúdo, não vamos cobrar nada dessa escola,
dessas crianças, dessa entidade, até para ver sua repercussão como isso é
emitido, qual é o impacto disso no mercado, qual é o impacto disso para quem
assiste. Eu acho que a televisão comunitária é importante para quem faz, mas
também importante para que assiste (...)

Todos os programas transmitidos pelo canal são produzidos, filmados e editados pelas
instituições que tiveram seus projetos aprovados. Definição de Canal Comunitário:
videocassete público. A entidade produz seu conteúdo, traz pra cá e a gente aperta play,
afirma Mauro. Por isso, a grade de programação seria a maior da América Latina, com mais
de cem programas. As exigências em termos de qualidade da produção audiovisual/
videográfica são menores do que em outros canais entrevistados para esta pesquisa. O Canal
Comunitário aceita gravações em Super VHS e em equipamento mais sofisticados.

95
A pesquisa

O critério para a escolha das instituições que tem programas na TV Comunitária não é
muito claro. O diretor diz que geralmente todos os pedidos são atendidos, mas quando não há
horário disponível e projetos para aprovar, escolhe-se pelo assunto que tiver menos programas
a respeito. O canal só não transmite conteúdo das três da madrugada às 6 horas da manhã.

96
A pesquisa

5 - TV PUC/ SP
Gabriel Priolli
Diretor da TV e presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária
Data: 25/10/2004

A TV PUC é um núcleo de produção universitário que tem horários no Canal


Universitário de SP (a cabo). Nunca foi procurado por escolas ou professores dos ensinos
médios e fundamental que desejassem a veiculação de vídeos produzidos por alunos. Mas
está acostumada a realizar parcerias, principalmente com universidades de dentro e fora da
cidade de São Paulo. O que os alunos secundaristas produzem encontra espaço no programa
“Fatos e Focas” que, no início, veiculava apenas vídeos produzidos no laboratório de
jornalismo da PUC/SP. Mas, como a produção estudantil é irregular, foi aberto espaço para
outras universidades e cursos. Além da produção de alunos, os programas de responsabilidade
da TV PUC/SP veiculam produções acadêmicas ou assuntos ligados diretamente à população
de modo geral. Ao contrário da maioria das TVs universitárias, de modo geral, ela tem mais
conteúdo para veicular do que horário disponível.

O diretor da TV PUC estaria interessado em realizar parcerias com o NCE e,


dependendo do projeto, veicular vídeos produzidos por alunos dos ensinos fundamental e
médio. Ele defende enfaticamente a necessidade das TVs, principalmente educativas, se
aproximarem do universo escolar. Mas diz que essa relação, distante, que já existe com a
universidade, revela muitos problemas quanto à qualidade (técnica e de conteúdo), além do
respeito à prazos.

Priolli acredita que a escola pode fazer produtos audiovisuais e esse produto pode
merecer veiculação. Nisso ela está igual a qualquer outro provedor de conteúdo. Mas não de
forma regular, para abastecer sistematicamente a programação televisiva, porque ela não foi
criada para isso. E sim como fonte de produções esporádicas de projetos laboratoriais.

Caso algum professor deseje veicular um vídeo produzido na escola, deve procurar a
TV PUC com um projeto para avaliação, obedecendo alguns critérios básicos editoriais e de
qualidade. Ela não aceita gravação em VHS. Se o produto estiver de acordo com os padrões, a
divulgação poderia acontecer. Quando a entrevista foi realizada, por exemplo, eles
preparavam a transmissão de produtos resultantes de um projeto educacional em vídeo. Além
disso, embora nunca tenham realizado workshops, estariam dispostos a pensar no assunto.

97
A pesquisa

6 - Internet
Prof. Dr. Fernando Scavone
Professor da ECA/USP, especialista em tecnologias de audiovisual
Data: 11/11/2004

Procuramos o Prof. Dr. Fernando Scavone para saber se a Internet seria um bom canal
de veiculação das produções audiovisuais do projeto Educom.TV. Ele acredita que este é o
caminho cada vez mais natural de divulgação do audiovisual. Para disponibilizar as
produções, ele lembra que uma opção é procurar o Centro de Comunicação Social ou o
Centro de Comunicação Eletrônica da USP para criar uma página ou um espaço de
hospedagem dentro desses servidores. Depois, chamar um web designer para desenhar o site.

Se as produções não são digitais, é preciso digitalizá-las para que possam dar origem a
arquivos. O Prof. Sacavone sugere que o site coloque à disposição dos usuários modos
diferentes de abrir esses arquivos, partindo do pressuposto que a maioria não tem banda larga.
Para futuras produções, a recomendação é a gravação em mini DV, equipamento cada vez
mais barato.

Como os professores do projeto Educom.TV foram capacitados para o uso do


audiovisual, o Prof. Sacavone não os considera amadores. Ele explica que é cada dia mais
comum esse tipo de capacitação para pesquisadores que não podem contar com a presença de
um profissional durante o trabalho que realizam.

O Prof. Sacavone acredita que a Internet será, se já não é, o meio de comunicação


mais democrático para a veiculação do audiovisual. Essa veiculação só dependerá do
investimento financeiro que o interessado poderá despender e do conhecimento técnico, cada
dia mais acessível. Geralmente essa divulgação, por exemplo, num blog, é feita em grupo,
com a divisão de despesas e de tarefas, executadas de acordo com o conhecimento técnico de
cada um dos envolvidos. A grande mudança nesse processo nos últimos tempos é que antes
você dependia de equipamento caro. Hoje você tem que saber usar esse equipamento que já
não é tão caro, então, depende de qualificação desse usuário, só isso.

Dois aspectos apontados pelo Prof. Scavone consideramos como principais para a
escolha desse canal de divulgação da produção do Educom.TV. Um deles é que o material
poderá ser permanentemente recuperado por qualquer internauta -já a veiculação na televisão

98
A pesquisa

tem dia e horário marcados. O outro é o alcance: desde que as produções possam ser
acessadas a partir de um site de busca, qualquer internauta do planeta poderá ter acesso. As
produções poderiam ser conhecidas nos países que compreendem português, o que as TVs
Educativas não propiciam.

99
Capítulo vii
O gestor de processos
comunicacionais
O gestor de processos comunicacionais

1 - O gestor da Comunicação

Vivemos numa sociedade marcada pela fragmentação da cultura e pela especialização


do trabalho. Ao mesmo tempo, a globalização impõe, para as Ciências Sociais, o desafio
epistemológico de pensar o mundo como uma sociedade global94. A tarefa de costurar essas
múltiplas fragmentações e especializações dentro de uma única esfera coube à comunicação e
a todo o aparato tecnológico que a ela serve numa velocidade cada vez maior. Esta é uma
época em que os meios de comunicação se tornam cada vez mais fundamentais na vida de
indivíduos e coletividades, povos e nações, quando a informação e o entretenimento tornam-
se esferas relevantes do mundo da cultura e dos imaginários uns dos outros.95

Para dar conta da costura de uma realidade cada vez mais complexa, a comunicação
exige um trabalho interdisciplinar e plural, mas nem sempre encontra profissionais capazes de
se inter-relacionar com as diversas áreas. A maioria quase nunca tem ciência de seu papel de
mediador dessa realidade. Ignora o processo que é capaz de realizar ao adotar uma visão
totalizadora dos processos de comunicação. Ora estão focados na emissão, ora na recepção,
ou na tecnologia em si.

Diferentemente deste profissional, faz-se necessária a constituição de um outro, mais


consciente de sua ação na costura de uma realidade tão complexa. Trata-se do gestor de
processos comunicacionais, aquele que tem domínio de todo o processo, ou seja, de sua
elaboração, implantação e avaliação. O termo ‘gestor’ traduz a natureza operacional do
ofício de quem gerencia, coordena, administra. No caso, gerencia, coordena e administra
processos comunicacionais.96 Ele foge da visão reducionista e tecnicista do uso dos meios de
comunicação. Pelo contrário, está ciente dos desafios de torná-los instrumentos da
emancipação humana e adota uma postura crítica em relação ao potencial dos MCMs e dos
processos próprios da comunicação.

O gestor investe na sua sensibilidade e criatividade para encontrar novos usos e


enfoques da comunicação. Para isso, ele desenvolve um novo olhar, que tenta fugir dos

94
IANNI, Octavio. Globalização: Novo Paradigma das Ciências Sociais. Estudos Avançados, São Paulo
USP/IEA, Vol. 8, 21, 1994.
95
IANNI, Octavio. Apresentação. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São
Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 12.
96
SOARES, Ismar de Oliveira. Analista e Gestor de Processos Comunicacionais. In: BACCEGA, M. Aparecida
(org.). Comunicação e Cultura: um novo profissional. São Paulo: CCA/ECA/USP, 2000, p.28.

101
O gestor de processos comunicacionais

padrões pré-estabelecidos e encontrar soluções cujos resultados propiciem o benefício do


indivíduo e do novo mundo que a cada dia se constrói.

Como profissional de uma área do saber, ainda que em consolidação diante de campos
mais antigos e legitimados, o gestor preocupa-se em não apenas pensar o mercado, mas
também a sociedade e vestir-se dos paradigmas de diversas áreas. Ele se apropria do
conhecimento produzido em meio acadêmico para compreender a realidade em que atua e as
dificuldades do dia-a-dia, tendo a teoria como auxílio para encontrar soluções e formar
conclusões. Acima de tudo, é alguém que reflete sobre suas ações:

(...) Pensar as práticas e reformulá-las, profissionalizar uma área onde


prevalecem interesses políticos, é politizar a comunicação para fazê-la intervir
na realidade, transformando-a. Profissionalizar refere-se, aqui, à competência
não para executar, mas para mediar com eficiência, favorecendo o diálogo e a
interação, o que pressupõe uma sólida formação humanística e um agudo
senso crítico como requisitos primeiros desse generalista da comunicação,
cuja formação há que se dar no terreno da interdisciplinaridade (...)97.

Para trabalhar de maneira interdisciplinar, o gestor rompe cotidianamente as barreiras


das áreas com as quais convive sem descaracterizar suas especificidades. Abandonando a
fragmentação, ele transita em várias esferas para descobrir novas contribuições que a
comunicação pode oferecer. Enfim, trata-se de um especialista que medeia a totalidade e que
pode trabalhar em qualquer local: escolas, empresas públicas e privadas, televisões, editoras,
indústrias, etc.

2 - O gestor, o educomunicador e as TVs Educativas

No capítulo 1 deste trabalho, vimos a inter-relação Comunicação/Educação na


sociedade do conhecimento. Estudos dessa inter-relação apontaram o campo emergente da
“Educomunicação” e um novo profissional que com ele surge. O “educomunicador” é um

97
MOTTER, Maria Lourdes. Universidade e sociedade: encontro necessário. In: BACCEGA, M. Aparecida
(org.). Comunicação e Cultura: um novo profissional. São Paulo: CCA/ECA/USP, 2000. p.13.

102
O gestor de processos comunicacionais

gestor de processos comunicacionais que cada vez mais tem encontrado espaço para trabalhar
a inter-relação.

Do universo das TVs apresentadas no capítulo anterior, gostaríamos de destacar o


trabalho desenvolvido pela TV Cultura como um projeto de gestão de processos
comunicacionais, ou de “Educomunicação”, na perspectiva em que aproxima Cultura,
Educação e Comunicação por meio de uma programação elaborada pela intervenção
conjunta de psico-pedagogos, arte-educadores, profissionais da comunicação, arquitetos e
agentes culturais (...)98.

Esse trabalho conjunto propicia o surgimento de um “ecossistema comunicativo”


dentro da TV. Trata-se de um ambiente em que todos os elementos estão envolvidos de forma
democrática: materiais e humanos, dentro e fora da sede da TV, na produção e na recepção,
organizados de forma a, por meio da comunicação, criarem um ambiente educativo que
envolva a participação coletiva. O ideal de TV Educativa é aquele que dá voz a todos,
valorizando a cultura local e fortalecendo a comunidade. Quanto maior o envolvimento da
sociedade, melhor. Mas, para que haja uma gestão competente e democrática, seria necessário
um gestor de processos comunicacionais, ou alguém com um perfil semelhante, que consiga
enxergar o todo, sem perder as particularidades.

Um outro exemplo de TV Educativa em que apareceriam algumas práticas


educomunicativas é a TV Setorial, único canal de televisão educacional e regional do Vale do
Paraíba. O canal de televisão informa que abre espaço a todas as escolas e universidades da
região para a exibição de programas com conteúdo adequado aos seus princípios de TV
Educativa. Isso se faz por meio de parcerias com as Universidades de Taubaté (UNITAU), do
Vale do Paraíba (UNIVAP) e com a Faculdades Integradas Tereza D’Ávila (FATEA). Além
disso, todas as segundas-feiras, às 14 horas, a reunião de pauta é aberta à toda comunidade. É
nessa abertura à sociedade, ao incentivo de produções por parte da universidade, além do
desenvolvimento de um modo próprio e regional de fazer televisão, que a TV Setorial
realizaria uma gestão de processos comunicacionais que objetiva a valorização da
participação. Reunindo grupos interessados em fazer programas, a TV Setorial constitue-se
como um espaço que propiciaria a criação de um “ecossistema comunicativo”. Colocando os

98
SOARES, Ismar de Oliveira. Metodologias da Educação para a Comunicação e a Gestão Comunicativa na
América Latina. In: BACCEGA, Maria Aparecida (org.). Gestão de Processos Comunicacionais. São Paulo:
Atlas, 2002. p.126.

103
O gestor de processos comunicacionais

recursos materiais e humanos à serviço da comunidade, a televisão rompe com o discurso do


“faz quem pode”.

Ainda envolvendo a TV Setorial, gostaríamos de citar aqui um projeto desenvolvido


por uma “educomunicadora”/gestora de processos comunicacionais, não-funcionária da TV,
mas que nela encontrou parceria em 2001. A tese de doutorado de Maria Verônica Rezende
de Azevedo, para obtenção de título pela Universidade de São Paulo, tratava de mediação
entre a escola pública e uma emissora de televisão, tendo como foco a formação do
professor. (...) A parceria com a emissora de tv local viabiliza experiências de produção de
mensagens de autoria dos jovens, pelo acesso aos meios de produção de telejornais.99

Em linhas gerais, Azevedo trabalhou com professores da rede pública de ensino


questões voltadas à construção da cidadania, que culminaram na elaboração de 6 projetos para
a criação de vídeos pelos professores. Depois, foram realizadas oficinas de vídeo, com auxílio
dos funcionários da TV Setorial, para que os professores dominassem algumas técnicas.

(...) Da TV, a escola pode emprestar a agilidade e o acompanhamento da


realidade e, da escola, a TV pode emprestar a abordagem crítica em busca de
uma reflexão responsável. Foi esta troca que vimos acontecer durante o
projeto que realizamos em Pindamonhangaba. A ação do educomunicador
viabilizou esta cooperação. A escola abriu espaço para discutir e pensar na
importância da TV para os alunos e a TV abriu espaço para analisar com mais
profundidade a sua função na educação das crianças e jovens. Ao colocar a
câmera na mão de professores e alunos, a TV Setorial sentiu de perto o
alcance de sua função social. Ao experimentar a possibilidade de pensar sobre
a TV, os professores perceberam como o seu papel social se ampliou em
relação à educação de seus alunos para a cidadania (...)100

Na mesma direção, o Educom.TV foi um projeto de gestão da inter-relação


Comunicação/Educação que envolveu escolas públicas, meios de comunicação e
universidades. Além de trabalhar com duas áreas do conhecimento, os profissionais do núcleo
tiveram que conviver com uma cultura que não era a que eles estavam familiarizados, a da

99
Trecho retirado da página da autora no endereço eletrônico: http://www.veronicaweb.com.br/1.pdf. Acesso em
8 nov. 2004.
100
Trecho retirado da página da autora no endereço eletrônico: http://www.veronicaweb.com.br/1.pdf. Acesso
em 8 nov. 2004.

104
O gestor de processos comunicacionais

universidade, mas a do serviço público, já que o financiador do projeto foi o Governo do


Estado, e o público-alvo, os professores da rede. Rompendo as barreiras cotidianas de
universos distintos, a equipe do NCE iluminou as dificuldades com novos olhares para que
soluções fossem encontradas.

Embora tenha vencido barreiras e transitado por universos e áreas distintas, o projeto
Educom.TV não pôde aproveitar amplamente o rico material que seria produzido pelas
escolas. Em tempo, nossa pesquisa foi realizada para apontar caminhos para parte desta
produção, mais especificamente, os audiovisuais. É o que veremos no próximo capítulo.

105
Capítulo viii
Proposta de intervenção
Proposta de intervenção

1 – Alguns caminhos

Durante alguns meses, recolhemos informações a respeito do universo das TVs de


caráter educativo/cultural no país. Certificamo-nos de alguns poucos dados que já
dispúnhamos e recolhemos outros, a maioria, por meio de livros, jornais, conteúdo eletrônico
e entrevista com especialistas no assunto. Realizamos a pesquisa e, agora, chegamos à parte
do nosso trabalho em que tudo o que foi recolhido, e agregado aos paradigmas teóricos que
nos guiaram, deve ser revertido em uma proposta concreta à instituição para a qual realizamos
este trabalho, o Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP.

Apresentamos, pois, algumas sugestões a partir das informações coletadas durante o


período que dispúnhamos. Conscientes de que algumas lacunas não são preenchidas,
acreditamos, no entanto, numa contribuição para que o NCE encontre um, ou mais caminhos,
para levar adiante sua proposta de levar as práticas “educomunicativas” ao maior número
possível de pessoas.

As entrevistas com os diretores das TVs Cultura, PUC, SescSenac e Canal


Comunitário de São Paulo nos revelam que a exigência pela qualidade técnica talvez seja o
grande desafio para inserir nas TVs a produção audiovisual/videográfica realizada em
ambiente escolar. No entanto, como não temos condições de avaliar a qualidade dos materiais
produzidos no projeto Educom.TV, fica aqui apenas o registro para que esse critério seja
levado em conta numa eventual seleção e produções futuras.

Assim, para que possamos apontar caminhos no sentido de que esse conteúdo deixe de
ser restrito à comunidade escolar e possa atingir um público muito maior, valorizando o
trabalho realizado por alunos e professores, e estimulando os mesmos à produzir, partiremos
do pressuposto de que grande parte dessa produção tenha qualidade técnica aceitável por parte
dessas TVs.

Partindo dessa hipótese, propomos ao NCE que elabore um catálogo da produção


audiovisual/videográfica selecionada do projeto Educom.TV, e também de outros projetos, e
procure as TVs SescSenac, Cultura e PUC com o intuito de que o material possa ser veiculado
nos programas apontados pelos entrevistados, abertos ao experimentalismo: “Oficina de
Vídeo”, “Zoom” e “Fatos Focas”, respectivamente. Além de procurá-los com o objetivo

107
Proposta de intervenção

específico da divulgação nos programas relacionados, propomos que os coordenadores do


NCE estabeleçam uma relação mais próxima, se possível pessoal, com a direção desses
canais. A começar, apresentando as atividades e projetos desenvolvidos pelo núcleo, que são
desconhecidos dos entrevistados. A riqueza do trabalho realizado pelo NCE, e seus
desdobramentos, certamente poderia resultar na realização de parcerias. Vale ressaltar que os
canais procurados ficam em São Paulo, mesma cidade em que o núcleo se localiza.

O presidente do Conselho da TV Cultura e o diretor da TV PUC, inclusive,


mostraram-se muito dispostos a uma aproximação com o NCE por considerarem a
importância de se estabelecer efetivamente um diálogo entre a televisão e a universidade. O
presidente Jorge Cunha Lima chegou a afirmar durante a entrevista que há algumas
dificuldades no relacionamento com a universidade. Nós temos que quebrar isso talvez,
através de convênios com projetos específicos. No caso do núcleo de vocês, um projeto
específico, faz um convênio, e daí a gente vai quebrando as barreiras. Acreditamos que essa
sinalização vale, não apenas no que se refere ao projeto Educom.TV mas, principalmente, em
projetos futuros, realizados com a contribuição da TV Cultura, e da TV PUC, pelo menos na
concepção do projeto para que a veiculação seja garantida.

Embora revele a disposição desses canais em divulgar conteúdos produzidos em


ambiente escolar, a pesquisa sinaliza que essa veiculação seria esporádica, por períodos
determinados, porque, como explicou o diretor da TV PUC, o abastecimento de conteúdos
exigido pela TV é muito maior do que alunos e professores podem realizar. Mesmo porque,
não é essa a função da escola.

Uma outra proposta é a criação, por parte do NCE, de uma videoteca que reúna esse
tipo de produção. Assim, quando as possibilidades de veiculação surgirem, esse material
poderia ser prontamente disseminado. Uma videoteca também pode ser fonte para alunos,
professores e pesquisadores interessados neste tipo de produção. Para a criação de uma
videoteca, o núcleo teria que elaborar um projeto mais específico por conta da necessidade de
financiamento.

108
Proposta de intervenção

2 – Veículos próprios

A entrevista realizada com o diretor do Canal Comunitário de São Paulo aponta uma
proposta de longo prazo. O NCE poderia adquirir facilmente um horário semanal na grade da
TV para veicular, não apenas os vídeos produzidos no projeto Educom.TV, mas os trabalhos
que realiza e que são registrados em audiovisual. A qualidade técnica é menor do que a
exigida por outros canais e o Núcleo também seria beneficiado com um programa próprio.
Além disso, o diretor da TV mostrou-se disposto a estudar uma parceria para que o NCE seja
dispensado do pagamento da taxa da R$ 3,50 por minuto cobrada das instituições.

Mas, para que possa ter um programa neste canal, o núcleo teria que montar uma
equipe só para desenvolver esse trabalho e encontrar um local, talvez dentro da própria USP,
para montar os programas.

Outro espaço próprio para divulgação da produção audiovisual do projeto


Educom.TV, e outros, é a Internet. A entrevista com o Prof. Dr. Fernando Scavone revela que
a tendência é a de que esse meio se configure como o principal para esse tipo de produção,
concordando com o presidente do Conselho da TV Cultura, Jorge Cunha Lima.

Futuramente, se já não o é, será inimaginável uma instituição que trabalha com


audiovisual não disponibilizar seus produtos na rede mundial de computadores. Além desse
conteúdo poder ser acessado a qualquer momento, o potencial de alcance é maior do que a
divulgação via TV Educativa, cuja transmissão tem horário e data determinados.

Para colocar esses produtos na Internet, o NCE poderia contar com a ajuda do Centro
de Comunicação Social ou o Centro de Comunicação Eletrônica da própria USP. No entanto,
precisaria de uma equipe para fazer a manutenção do site. Vale ressaltar que já existe um
grupo responsável pelo site atual que, no entanto, não disponibiliza esse tipo de produção.

Enfim, acreditamos que uma maior divulgação não só daria visibilidade às escolas,
valorizando alunos e professores como produtores, como também o trabalho do próprio NCE,
que, como vimos, é pouco conhecido pela pessoas que atuam na inter-relação
Comunicação/Educação, como os diretores das TVs Educativas entrevistados.

109
Considerações
finais
Considerações finais

Permito-me, aqui, fazer algumas considerações que vão além desta pesquisa e das
propostas apresentadas ao NCE – ECA/USP. Esse trabalho certamente contribuiu para que
acomodassem em mim algumas posições que aqui exponho. Elas compõem uma cadeia longa
de constatações e opiniões que resumirei em três aspectos: a formação, a prática e a
visibilidade.

A formação é a do educador. Depois desta trajetória, está ainda mais sólida a crença
de que os futuros professores precisam ser formados para lidar com os meios de comunicação
com olhos menos ingênuos, antes de chegarem à sala de aula. Conscientes de que atuarão no
contexto da sociedade da informação e do conhecimento, esses educadores devem exercitar
uma postura crítica, em ambiente além do escolar, o que não significa rejeitar ou condenar o
que os meios têm a oferecer. Mas saber o que significa viver, e descobrir como melhor viver,
nessa realidade cada dia mais complexa.

A prática é a da mediação pelo professor e, por conseqüência pelo aluno, no cotidiano.


Consciente de seu papel, o educador orienta os estudantes a distinguir e julgar os saberes
difusos e fragmentados que caracterizam a atualidade. Mais do que isso, trabalha com eles as
potencialidades que os meios de comunicação oferecem para valorizá-los como produtores e
aproximar-se deles, realizando, inclusive, trocas midiáticas. O exercício da reflexão e da
produção apura a mediação que os hoje alunos, amanhã atores sociais, farão frente aos meios,
contribuindo, assim, para uma maior atuação deles na sociedade.

Essa formação e prática desempenham um outro papel não menos importante que é a
da valorização das ações e das culturas locais. Apesar da crença de que a globalização está
destruindo as culturas regionais, elas persistem e devem ser fortalecidas para se articularem
junto às globais numa vivência pacífica e enriquecedora para ambas, como explicou Canclini
numa palestra no Brasil em 21 de abril deste ano:101

(...) globalización no es sinónimo de homogeneización mediática ni de


intensificación igualitaria de las relaciones entre culturas (...) Las culturas
nacionales persisten, y desde cada una se accede a la globalización (…)

101
CANCLINI, Néstor Garcia. América Latina: Mercados, audiências Y Valores em um mundo
Globalizado. Disponível em http://www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/822. Acesso em
23 out. 2004, às 20h55.

111
Considerações finais

Canclini acredita também que se as perguntas culturais- neste trabalho podemos


pensar em perguntas locais, de uma comunidade- ficam sem repostas é porque as questões
estão sendo formuladas por outros. Acredito que alunos e professores devem participar da
formulação dessas perguntas e encontrar eco na sociedade.

Mas, para isso, precisam tornar-se visíveis aos olhos dos meios de comunicação como
atores sociais, como produtores de cultura, como cidadãos que tem o direito de participar da
interlocução que os meios fazem da realidade. É aí que as TVs de caráter educativo/cultural se
apresentam como locais estratégicos. São estratégicos desde que responda às necessidades e
expectativas dos públicos, que propicie o desenvolvimento e a visibilidade dos invisíveis no
que é exclusivamente comercial; que realize novas maneiras de expressão e cidadania na
telinha; e que promova a mobilização social102.

A visibilidade dos invisíveis passa pela imagem que o povo tem de si e de sua
realidade. Trabalhar a Comunicação/Educação pode significar a chave para que os rostos
destorcidos e fragmentados que vemos na TVs apareçam reais e iluminados num processo de
inclusão em todos os níveis.

102
RINCÓN, Omar (org.). Televisão Pública: do consumidor ao cidadão. Equador: Proyecto Latinoamericano
de Medios de Comunicación, 2002. Contra-capa sem identificação do autor.

112
Referências
bibliográficas
referências bibliográficas

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Site oficial da USP. Disponível em <www.usp.br>. Acesso em 21 out. 2004 às 10h23.

117
anexos
Anexo 1

ANEXO 1 - LISTA DOS PRODUTOS AUDIOVISUAIS/VIDEOGRÁFICOS DO


PROJETO EDUCOM.TV

TÍTULO: Se Liga no Audiovisual


Localidade: Marília
Escola: EE Antônio Augusto Neto
Participantes: Não Informado

TÍTULO: Trabalhando a Desmistificação do uso de Tecnologias em sala de aula


Localidade: Capital
Escola: Oficina Pedagógica da DE Norte 1
Participantes: Josepha Aparecida Sândalo e José Marcos Paulino, Cristina S. Moreira e
Denise Flor.

TÍTULO: A Relação entre eu, o outro e o espaço no qual vivemos


Localidade: Americana
Escola: EE Dirceu Dias Carneiro
Participantes: Vânia Martins Padoveze e Ernildo Cesar Moreira

TÍTULO: A Escola Como Espaço Da Cultura E Do Conhecimento


Diretoria de Ensino Caieiras
Participantes: Andréia de Oliveira e Lélia Hartmann Torres

TÍTULO: SBE – Sistema Baruto de Educomunicação


Localidade: Pirassununga
Escola: EE Dr. Maximiliano Baruto
Participantes: Marcus Strada Lara Franco e Gelvane Ap. Chiaronotti da Silva

TÍTULO: Formação de Videoteca no Azevedo Júnior


Localidade: Santos
Escola: EE Azevedo Júnior
Participantes: Marinilza de Oliveira Henriques do Carmos e Alex Fabiano
Pimentel Teixeira

TÍTULO: Interlegere
Localidade: Americana
Participantes: Maria Carmem Caron e Ivani Ruela de Oliveira Silva

119
Anexo 1

TÍTULO: Prevenção também se ensina: drogas, dsts/aids e gravidez


precoce
Localidade: Votuporanga
Escola: EE Prof Alvaro Duarte de Almeida
Participantes: Amauri Sergio Gonzáles e Sandra Regina Pereira

TÍTULO: Sexualidade na adolescência


Localidade: Americana
Escola: EE Profa Maria Guilhermina Lopes Fagundes
Participantes: Ana Lúcia de Fátima Quirino Domingues e Maria Cristina
Penachione Covolan

TÍTULO: Conhecer o meu corpo é preciso... meus sentimentos


também.
Localidade: Americana
Escola: EE Profa Antonieta Ghizini Lenhare
Participantes: Fátima Cristina Daniela Félix e Elaine Matesco Cristóvão

TÍTULO: É melhor prevenir do que remediar


Localidade: Mogi Mirim
Escola: EE Cleusa M. V. Mello
Participantes: Ruth Cristina Fernandes de Souza e Cleusa Xavier

TÍTULO: Bebê a bordo? Pare e pense...


Localidade: Piraju
Escola: EE Monaliza
Participantes: Fresia Graciela Elvira Venegas Herrera e Sandra Regina Vieira

TÍTULO: O amor é bom, não quer o mal


Localidade: DE: Santo André
Escola: EE Oito de Abril
Participantes: Walkiria Ivanov Cubarenco e Silvia Antoniaci

TÍTULO: Sexualidade
Localidade: DE: Sul – 1
Escola: EE Prof Joaquim Adolfo Araújo
Participantes: Maria Lúcia Missa Onoe e Dario Leite Resende

TÍTULO: O protagonismo juvenil: teatro


Localidade: Itararé
Escola: EE Elisa de Campos Lima Novelli Dona
Participantes: Sandra Antonia Convento de Moura Ferraz e Maria Aparecida
Bueno

120
Anexo 1

TÍTULO: O meio ambiente e a tecnologia: parceiros do futuro na melhoria da


qualidade de vida no nosso planeta
Localidade: Bragança Paulista
Escola: EE Ismael Aguiar Leme
Participantes: Isabel Cristina Bueno Pereira e Maurício Tadeu Malengo.

TÍTULO: Pensando no futuro


Localidade: Itapeva
Escola: EE Otavio Ferrari
Participantes: Maria das Graças Martins de Oliveira Pessini, Sílvio Alberto de
Araújo e Carmen Lúcia Scavassin Vaz.

TÍTULO: Água é vida


Localidade: São José dos Campos
Escola: EE Prof Nelson do Nascimento Monteiro
Participantes: Cleyde Alves Lins Ambrósio e Maria Regina Ribeiro.

TÍTULO: Lixo: problema ou solução?


Localidade: Região de Votuporanga
Escola: EE Porfírio Pimentel
Participantes: Luiza Cristina Gutierrez e Rosemary de Angeli.

TÍTULO: Vire o bicho, recicle o lixo


Localidade: Piracicaba
Escola: EE Dr Samuel de Castro Neves
Participantes: Madalena Pompermayer e Dalci Correr Geraldini.

TÍTULO: Mudança de hábito


Localidade: Bauru
Escola: EE Profa Mercedes Paz Bueno
Participantes: Cristiane Melendes de Oliveira e Elaine Lellis de Souza Abrahão.

TÍTULO: Meio ambiente educomunicativo


Localidade: Votorantim
Escola: EE Profa Leonor Oliveira Martins
Participantes: Vera Lucia de Oliveira Silva e Shirley de Fátima Ayres Baldo
Tardelli.

121
Anexo 1

TÍTULO: Horta comunitária


Localidade: Santo André
Escola: EE Senador João Galeão Carvalho
Participantes: Marina Kiyuki Akutagawa Tacochi e Patricia Maria Gianetti.

TÍTULO: Queimando por dentro e por fora


Localidade: São Roque
Escola: Oficina Pedagógica
Participantes: Antonio Luís de Quadros Altieri e Catarina da Penha
Albuquerque Q. Altieri.

TÍTULO: TV...pra quê?!?


Localidade: Itu
Escola: EE Professor Pery Guarany Blackman”
Participantes: Clélia Regina Barbieri, Wagner Iori e Sérgio Chierighini Bueno

TÍTULO: Um mergulho nas ondas do Rádio e da TV


Localidade: Centro – Oeste
Escola: EE Flávia Vizibelli Pirró
Participantes: Maria Margarete dos Santos, Valéria de Souza

TÍTULO: TV marcando o tempo do desenvolvimento sócio-econômica


e a política pós Juscelino
Localidade: Votuporanga
Escola: EE Gentileza Guizzi Pinatti
Participantes: Geisa Aparecida Freitas, Neide Aparecida Prado Sanchez

TÍTULO: Musica na Televisão


Localidade: Diadema
Escola: EE Senador Filinto Muller
Participantes: Ana Paula Tardelli Maio, Susana Silvestre Martinez

TÍTULO: Programa “Altos Papos”


Localidade: Piracicaba
Escola: EE Jõao Guidotti
Participantes: Cecília de Aquino e Saglietti Mahn, Rosa Maria dos Santos

TÍTULO: Sem comunicação não há solução


Localidade: Fernandópolis
Escola: EE Donato Marcelo Balbo
Participantes: Ademir Couto Ângelo, Sônia Aparecida Baldin Morandin

122
Anexo 1

TÍTULO: Video 15’


Localidade: Jacareí
Escola: EE Cel Carlos Porto
Participantes: Dariel Barbosa de Melo Jr, Elisabeth Faria Guedes, Nilza
Kitzberger Rodrigues

TÍTULO: De história em história


Localidade: Campinas Leste
Escola: EE Prof. Antonio Vilela Júnior
Participantes: Suzana Barthmann Wehmuth, Soely Tavares Cacanho.

TÍTULO: Criando ecossistemas comunicativos dentro e fora da escola


Localidade: Jacareí
Escola: EE Dr. Francisco Gomes da Silva Prado
Participantes: Elizabeth Xavier de Oliveira, Sueli Bassi Alves

TÍTULO: Conectado com a cidadania


Localidade: Capivari
Escola: EE Elias Massud
Participantes: Milta Alves Ribeiro, Dariane Tavares Filliettaz

TÍTULO: A Educomunicação dentro da escola


Localidade: Guarulhos Norte
Escola: EE Lydia Kitz Moreira
Participantes: Luzia de Fátima Miranda Marques Rocha, Divany Ferreira Lima

TÍTULO: A transversalidade “midiada” pela moderna tecnologia


Localidade: Jales
Escola: CEFAM
Participantes: Fábia Cristiane Nestor, Cleusa Rondelli Clemente Sanchez,
Neide de Souza Reis Siqueira

TÍTULO: Jornal Semanal


Localidade: Itararé
Escola: EE Bairro Engenheiro Maia
Participantes: Guilherme Marques Gorski, Rosa Maria Pires Bueno

123
Anexo 1

TÍTULO: Publicidade na escola: Um caminho para a integração


Localidade: Jaú
Escola: EE Profa Dinah Lúcia Balestrero
Participantes: Wanderlei Sebastião Gabini.

TÍTULO: Uga-Uga, digite sua senha...


Localidade: Ourinhos
Escola: EE Nicola Martins Romeira
Participantes: Aparecida Dias da Silva Viana, Rosemi Maria Paulino da Silva

TÍTULO: Educando o olhar


Localidade: Jundiaí
Escola: EE 15 de outubro
Participantes: Irene Rio Stéfani , Cacilda Aparecida Bertini

TÍTULO: Linguagens Midiáticas No Contexto Escolar


Localidade: Taboão da Serra
Escola: EE Francisco Vicente Lopes Gonçalves
Participantes: Ana Lucia de Souza Cristofono e Ana Maria Bittencourt Hummel de
Aquino

TÍTULO: Planejando A Educação Através da Linguagem Audiovisual


Localidade: Taboão da Serra
Escola: EE Maria Catharina Comino
Participantes: Glória Fernanda Morais Parrillo e Adriana Figueredo Caproni.

TÍTULO: Leitura e Escrita: Uma Viagem Sem Limites Através do Universo


Midiático
Localidade: Taboão da Serra
Escola: EE Jornalista Wandyck Freitas
Participantes: Sandra Regina Alves

TÍTULO: Lata Comigo: Um Olhar que Investiga a Realidade – Cruzando


fronteiras midiáticas: da leitura à mediação
Localidade: Taboão da Serra
Escola: EE Domingos Mignoni
Participantes: Jefferson Ribeiro dos Santos e Antônio Saletti Melcher

124
Anexo 2

ANEXO 2 – ÍNTEGRA DAS ENTREVISTAS REALIZADAS PARA A PESQUISA

JORGE CUNHA LIMA


PRESIDENTE DO CONSELHO DA TV CULTURA E DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE EMISSORAS PÚBLICAS, EDUCATIVAS E CULTURAIS
DATA: 28/10/2004

O senhor conhece o Núcleo de Comunicação e Educação da USP, o NCE?


Eu não conheço profundamente, sei da existência do núcleo. O núcleo é subordinado à ECA, não é?
Mas eu não tenho uma relação mais profunda.

Pergunto isso porque essa pesquisa está sendo feita com base num trabalho realizado pelo NCE
que, junto com o Governo do Estado, capacitou professores para o uso do audiovisual na sala de
aula.

A TV Cultura tem efetivamente algum tipo de relacionamento com as escolas?


Olha, eu acho que nós precisamos fazer uma distinção muito grande no sentido. Existem, pela
Constituição, as TVs estatais que se confundem no Brasil com as TVs escolas. TV escola que é a
TV, por exemplo, do Ministério da Cultura. Depois, você tem as TVs estatais institucionais que são
as TVs do Poder Legislativo e TVs Judiciário que, por lei, são do Supremo Tribunal Federal e agora
essa televisão do Tribunal Eleitoral que são televisões que dão as informações oficiais do Estado,
seja Legislativo, Executivo ou Judiciário. E as TVs escolas propriamente produzem material
didático para educação a distância ou para formação de professores. Depois, você tem as televisões
públicas que são as televisões chamadas de TVs educativas que tem concessão de televisões
educativas, mas são televisões generalistas, são televisões que cuidam de cultura, educação, de
informação e de entretenimento. E, hoje, tem aí, que é uma bagunça, as televisões comunitárias, que
na verdade deviam ser televisões que tem o contato mais direto com as populações. Vamos dizer
também as televisões universitárias. Agora, a televisão educativa de fato tem um contato pequeno
com a produção de tipo educativa, feita no plano amador, por estudantes, por tudo isso, por que?
Porque elas são televisões que hoje concorrem profundamente com as televisões comerciais e, como
são alternativa à programação das televisões comerciais, elas tem que ter alto nível técnico, um alto
nível de desenvolvimento de programação e efetivamente não podem ser televisões com uma
programação de qualidade técnica, de qualidade de conteúdo. Tudo isso, experimenta, não no
sentido do experimento artístico e tal, mas o experimenta no sentido de problemas que atenderiam
baixíssimos espectros de audiência. De repente, o programa que tem o interesse de mil pessoas em
um bairro, quinhentas pessoas num sistema escolar no qual foi feito esse programa, tá certo. Então,
ela efetivamente não tem um contacto com essas produções esporádicas do sistema escolar. É feito
por estudantes. O que ela (a TV Cultura) tem é mais ou menos uma abertura em sua programação
para através do ZOOM ( nome do programa) para programações da produção independente que são
feitas e enviadas, quando selecionadas e colocadas nesses nichos de programação experimental de
jovens. Mas não há, e eu diria até que, não há espaço para isso porque elas não são televisões. Esse
tipo de coisa que você está falando, de proposta, seria tipicamente de propostas para televisões
comunitárias que são televisões cujas concessões são locais e que seriam televisões exatamente para
divulgarem a produção local e que não teriam uma necessidade de um desenvolvimento tecnológico
tão elevado porque, realmente, eles seriam televisões com a linguagem das necessidades de
compreensão e comunicação dos espectros dessas televisões. Mas como essas televisões, na verdade
foram concebidas politicamente, em relação aos instrumentos políticos de seus concessionários, a
grande parte delas não corresponde a isso. Então, o que vemos tragicamente é que toda essa
produção alternativa feito por jovens, por estudantes e até por professores, em produções
experimentais, não tem onde veicular. Elas não veiculam nas TVs comerciais, evidentemente, elas

125
Anexo 2

não veiculam nas TVs estatais que tem preocupações com seus (incompreensível) e tal, elas não
veiculam nas televisões públicas, como eu chamo as televisões educativas e culturais, e dificilmente
tem entrada nas televisões comunitárias.

No caso do programa ZOOM, se uma escola fizesse uma parceria com uma produtora local para
editar o seu material lá, fosse um produto de mais qualidade, ela encontraria espaço no ZOOM?
Encontraria, no ZOOM e até mesmo espaço na TV Cultura, não só a TV Cultura como na Rede
Pública de Televisão que é do Brasil inteiro, que já tem seis horas de programação nacional. Daí eu
acho que nós estamos abertos a todas as propostas. A única coisa que eu digo é o seguinte: você não
pode fugir de um certo padrão... Um dado hoje que é muito importante para vocês estudantes: eu
acho que a televisão brasileira pode ter, muitas vezes em conteúdos e em baixaria, ter tomado conta
de um parcela da produção televisiva brasileira. Mas a televisão brasileira tem uma alta qualidade
técnica, é o que a turma costuma chamar padrão globo de televisão. Hoje é um padrão da televisão
aberta brasileira.

Em geral?
Em geral, todas têm. O som é excelente e mesmo a tecnologia de filmagem é tudo bom. Às vezes o
conteúdo é uma droga, mas o nível é bom, como as revistas brasileiras hoje têm um alto nível de
produção gráfica. Às vezes, é uma droga o conteúdo, mas a produção... Então, o povo brasileiro, até
o mais modesto, se acostumou a ter exigências de coisas que a gente faz. Uma produção, por
exemplo, de repente, com som ruim tudo isso, o (incompreensível) reclama muito. Não é das elites,
há uma reclamação inclusive da periferia porque a periferia, todo mundo se acostumou com um
padrão de televisão (incompreensível). Então, se houver coisas com padrão razoável, eu acho que a
TV pública deveria publicar pelo seguinte: porque às vezes uma inspiração criativa é mais
importante até do que uma perfeição técnica. Então, eu acho que tem haver um equilíbrio tal, mas
eu digo, o ZOOM está aberto e mesmo produções de maior qualidade, com autenticidade e da fonte
criadora. Mas, no geral, eu digo: as televisões estão fechadas para esse tipo de coisa. Eu nem estou
dando um juízo de valor meu, estou te dando uma constatação absolutamente sincera.

Tendo essa qualidade, que orientação o senhor daria para essas escolas ou os professores?
Você acha que há muita produção nisso?

Não, estou partindo de hipóteses, não sei se há. Mas, por exemplo, no caso dessa capacitação que
foi feita pela USP, pela UNICAMP e pela UNESP...
A primeira coisa é o seguinte: é procurar os setores de produção da gente e mostrar o seu produto. A
televisão está sempre aberta a isso. Outra coisa que eu acho que isso poder gerar um contato muito
rico para estágios. Quer dizer, um grupo faz um programa lá, esse programa de repente tem um bom
conteúdo e tem uma precária qualificação técnica, mas esse grupo já é de cara um grupo
interessante como estagiário. Então, o interessante já ter um contato mais formal, já propondo que
os valores que revelassem nessa comunidade, pudessem ser estágios. E eu acho que esses valores
vão surgindo muito fortemente. A Zita da (incompreensível), que faz o festival "A Mostra
Internacional de Curta-Metragem", ela faz um trabalho na periferia, faz um misto de alfabetização e
de cinema. Sabe o que tem acontecido? O tempo dos meninos da alfabetização letrada, às vezes é
enorme, um ano, dois anos e a alfabetização de audiovisual sabe quanto é? Três meses, ela falou em
três meses. Às vezes, tem menino que faz montagem e mixagem, um negócio fantástico, a
velocidade com que eles aprendem o alfabeto eletrônico é muito mais rápido do que o tempo do
aprendizado. Então, eu acho que existe um potencial de recursos humanos em todas as camadas
sociais, jovens muito elevados, esses meninos já nasceram digitais. Nós somos uma geração mais
ligada à escrita e ...

No caso da Zita ou no caso do NCE poderia ser feita uma parceria?

126
Anexo 2

Nós somos, o que eu queria dizer, nós somos analógicos, e as gerações novas são digitais. A minha
geração é analógica. Essa então é uma facilidade e agora você está fazendo a segunda pergunta.

A TV Cultura costuma ou poderia fazer parceria com instituições ou com pessoas como a Zita e
NCE para...
Com instituições, isso nós temos feito, como por exemplo, com grupo das mostras, grande cobertura
das mostras internacionais. Nós temos dado, inclusive, premiações na Mostra de Curta-Metragem, o
Festival do Minuto que a gente passa...

Mais isto incluiria Workshop também para os professores ou não?


Em que sentido? Da gente?

Ajudar a capacitar...
Aqui é o seguinte: do mesmo jeito que nós estamos fazendo uma, nós enviamos nossos técnicos
para televisões educativas do resto do Brasil. Por exemplo, há um lugar lá que fez e que fizeram lá
um “Solteirópolis” que é o “Metrópoles” de Salvador. O Soterópoles, eles me disseram que foi
possível fazer porque a equipe daqui foi lá e ajudou a montar de tudo, cenário de tudo. Então, houve
uma ajuda técnica muito grande da TV Cultura para a TV da Bahia. Do mesmo jeito, uns convênios
com esses projetos e tal. Eu sinto que a relação nossa com as universidades públicas é muito
modesta, por culpa recíproca, as universidades às vezes são fechadas ao entendimento mais aberto
com a televisão e vice-versa, apesar de que uns três reitores das universidades públicas são membro
do Conselho da TV Cultura. Mas, eu acho que nós, por exemplo, já fizemos filmagens de tudo
quanto é de curso que tem aí em São Paulo e transformamos em programas de televisão que são os
grandes cursos futura, na Maria Antonia. A dificuldade é muito grande da gente fazer isso porque o
patrocínio da gente, eles não aceitam. Então, tem algumas dificuldades no relacionamento com a
universidade. Nós temos que quebrar isso talvez, através de convênios com projetos específicos. No
caso do núcleo de vocês, um projeto específico, faz um convênio, e daí a gente vai quebrando as
barreiras.

A TV Cultura sofre com falta de conteúdo?


Não, agente sofre com falta de dinheiro para pôr os conteúdos na forma adequada, para sua
divulgação e sua exibição. Televisão é um problema. Até hoje, nos parâmetros e paradigmas
tecnológicos até então existentes, televisão é uma coisa muito cara, exige equipamento complicado
e equipamento de produção, e equipamento de transmissão muito complicado muito sofisticado,
exige recursos humanos, técnica e intelectualmente adaptado a isso. Então, no mundo inteiro, a
televisão é uma atividade muito cara. Você vê a dificuldade que estão atravessando as televisões
comerciais. Todos em estado endividado (?) todo dinheiro do BNDES, pedindo dinheiro prá aqui,
prá ali. Porque, apesar da publicidade movimentar milhões, o custo de produtos na guerra que eles
fazem de audiência é muito elevado. Televisão é uma coisa muito cara... Agora, nós temos uma
perspectiva que é a seguinte: a mudança do paradigma tecnológico vai pôr a disposição as mini-TVs
que vão ser equipamentos de captação muito baratos e alta qualificação. Isso vai exigir, em
compensação, uma mão de obra muito mais especializada porque o menino faz a captação que é
muito boa, depois ele faz a montagem disso, num laptop... só que isso é um processo de produção
de edição de mixagem tudo muito sofisticado o homem precisa conhecer profundamente o manejo
do computador. Mas, você somando, por exemplo, o custo do equipamento de captação mais um
computador, você tem equipamentos que somando dá uns 18, 20 mil reais. Com esse valor você faz
produção de primeira qualidade e que hoje são feitos por equipamentos que custam 150 mil dólares.
Entende, então, um salto monumental que vai se dar desde que a escola, a universidade, seja capaz
de produzir mão-de-obra, recursos humanos capazes de utilizar esse equipamento mais barato. É
paradoxo porque você vai ter um equipamento altamente sofisticado e barato, que exige recursos
humanos de qualidade.

127
Anexo 2

Voltando ao que o senhor falou da proximidade com as universidades... Mais, incluindo também
ensino médio e fundamental, o senhor acha que não só a TV Cultura, mas as TVs de um modo
geral, principalmente as de caráter educativo/cultural, se elas se aproximassem mais desse
universo, isso poderia ter um impacto na programação, na qualidade da programação e novos
olhares também?
Eu acho que sim. Eu tenho impressão de que o olho, a criatividade está no meio da população. O
povo brasileiro pode ser estatisticamente ignorante e analfabeto, mas ele é culto. Não sei se você me
entende, quer dizer, nós temos uma população extremamente culta, que é ter hábitos, costumes,
criatividade, capacidade, velocidade de produzir, de entender, compreender e criar muito rápida. O
povo brasileiro é culto, ao mesmo tempo que as elites brasileiras são muito preparadas e muito
incultas, preparadas tecnicamente, incultas do ponto de vista criativo. Tudo isso, se você tem esse
povo com essa criatividade, evidente que, você dando oportunidade pra isso daí funcionar, segundo
você vai de uma certa forma superar a massificação do espetáculo que é hoje produzida pela
televisão convencional. A grande busca do espetáculo é tão alucinante, a busca de um padrão que é
sempre o mesmo, que tira a criatividade... e é evidente que você tem que buscar um pouco mais, se
aproximar dos valores da identidade, dos valores consagrados do mercado comercial da arte e,
assim, todas as televisões sabem reproduzir e divulgar. Agora, os valores da identidade nacional
nem sempre são percebidos por esses valores, valorizados pelo comércio. Evidente que a porta de
entrada disso aí é isso que você está dizendo, é um olhar profundo em cima das realidades, em cima
do próprio povo, em cima do modo de ser, do modo de criar das populações numa cidade. Às vezes,
numa cidade do interior ou regiões mais primitivas você, paradoxalmente tem uma percepção mais
visível dessa criação. Você vai num lugar mais pobre do Brasil que é o Vale do Jequitinhonha e a
cultura do Vale transparece com uma clareza merediana dos potes, numas coisas que eles criam, nas
madeiras e tal. Em São Paulo, nas grandes metrópoles, é mais difícil porque as populações se
perderam dessa criação de origem. A luta pela sobrevivência, o tempo para o deslocamento de
transporte, tudo isso tirou muito a possibilidade da gente visualizar esses valores criativos que, em
lugares mais simples do interior, tão muito revelados na culinária, nos tecidos, nos tratamentos, nos
bordados, na cerâmica, na palha, enfim, em uma série, até numa pequena metalurgia caseira, que
você faz objetos interessantes. Agora, na metrópole, o homem está se perdendo demais dessa
criatividade de origem.

Uma riqueza tão grande, né?


Onde que, vamos pegar uma metrópole que é área mais de risco, na metrópole visível, o utensílio de
criação e revelação da identidade vai ser o utensílio eletrônico, o audiovisual. Acho que,
evidentemente, não vamos fazer bote na periferia, nem cestinha, nem xales, esculturas. Mas nós
vamos fazer audiovisual na periferia. Se esse audiovisual a ser feito pelo homem do povo não tiver
a chance de divulgação na televisão, eu acho que o caminho mais fácil vai ser a divulgação pela
internet. Eu tenho a impressão que o caminho natural da produção audiovisual da periferia vai ser a
internet, o que está acontecendo no mundo inteiro e, evidente, que aí vão se revelar valores que
você vai até se surpreender. Mas vai ser a internet e à medida que a banda larga vai se instalar. Tudo
isso, eu tenho a impressão que você já tem um instrumento ilimitado porque a internet você não
precisa pedir licença para entrar e se você tiver uma capacidade de custear um produto bom ou mal,
você põe. A avaliação vai ser depois seguindo o interesse demonstrado em função da qualidade da
curiosidade que foi proposto...

Eu sinto ser meio pessimista com relação a você, no sentido da utilização desse material na
televisão aberta, tal..

Pelo contrário, todas as outras pessoas com quem eu conversei só estou esperando a entrevista
da Beth Carmona, falaram que tem interesse, mas desde que haja qualidade para isso, por

128
Anexo 2

exemplo, o diretor da TV do SescSenac.


Mas é o que eu te digo. O que eu digo é o seguinte: pressupondo que venha um produto de
qualidade ninguém está fechado e nem nós, mas eu tô te dizendo que os compromissos nossos ainda
com a qualidade, com a concorrência com tudo isso são muito profundos.

Deixe-me te perguntar uma outra coisa: eu não tenho muito clara a diferença entre a TV pública
e TV educativa. Eu até pesquisei, mas não achei uma definição. A idéia que eu faço e que a TV
pública não é a TV estatal, mas tem uma origem semelhantes.
A coisa é muito complicada. Esse debate é o mais complicado que tem no mundo. Quando eu
ponho isso na Europa, eles enlouquecem. Que toda TV do governo é pública porque
(incompreensível) mas há uma diferença muito sensível. Todas as TVs do Brasil são concedidas, a
concessão de televisão é assim: ou é televisão educativa ou televisão comercial. Então, todo aquele
bolo é TV educativa, tá certo? Agora, você tem televisão educativa stricto senso, que são as TVs
escolas, são televisões que produzem produtos experimentais.

Quais são os outros TVs?


Nenhuma mais, um pouco, a FUTURA
(...) A FUTURA produz um pouco isso, agora, as outras televisões se transformaram de TVs
Educativas em TVs Culturais e depois teve as informativas e depois a do entretenimento. Nós, hoje,
o que é a TV Cultura? A meu ver, é TV Pública. Tem como missão a formação critica do homem
para cidadania através de uma programação educativa, cultural e informativa, quer dizer, educação,
cultura e jornalismo. Então, não é uma formação curricular, é uma formação crítica, complementar
do homem, para que se realize como cidadão. Ela não vai substituir nem a escola primária e nem
técnica e nem a escola universitária, mas ela tem que dar uma formação complementar. Quando a
TV Cultura, à meia-noite, começa dar a universidade da madrugada, que é só grandes cursos de
cultura, café filosófico... nós percebemos que toda a formação universitária hoje é muito
artificializada e o homem se perdeu de uma formação humanística, que faz a sua formação crítica.
Mas isso não substitui a escola, isso complementa e a experiência que nós tivemos é fantástica.
Relizamos uma pesquisa de audiência porque achava que era feita para classe A e B. (Resultado:)
classe A uma parcela de 20% a 30% e a classe C a maior parte porque a classe C está precisando
dessa formação complementar. Então, quando você pergunta o que é a TV Cultura, ela tem um
compromisso com a sociedade e não com o mercado, o compromisso nosso é saber o que interessa
para sociedade. Já a TV comercial, o que interessa pro mercado. Quando você fala em cultura em
televisão pública, você não está falando na divulgação dos produtos consagrados do mercado
comercial da arte, mas você está falando nos produtos que organiza os valores da identidade. Esses
valores de identidade podem ser nacionais ou internacionais, quer dizer, um Pixinguinha pra mim e
uma Billy Holiday tem um mesmo valor que são valores de identidade, não são os enlatados
americanos impostos pela indústria cultural. Agora, o jornalismo não pode, você está falando de
uma diferença, o que a televisão comercial privilegia? O espetáculo da notícia. A televisão pública
privilegia compreensão do acontecimento. Veja o caso desse Serginho. Esse caso do Serginho que
morreu durante o jogo de futebol pode ser tratado quase como um melodrama. O cara morre, a
esposa pobre vem lá chorar, todo aquele enterro, tudo aquilo pode haver uma exploração emocional
muito grande de um fenômeno muito trágico. Nós temos uma obrigação na TV pública de mostrar o
fenômeno, dos riscos do futebol, de tudo isso. Por exemplo: hoje o time de futebol joga o
campeonato, taça americana no domingo, joga o campeonato estadual na quarta-feira, joga o
campeonato brasileiro no sábado, quer dizer, quase um massacre em cima do atleta. Então, o que
nós temos é que fazer uma tentativa de dar não às conseqüências das coisas, mas as causas das
coisas. O jornalismo comercial trabalha com as conseqüências, o ônibus caiu, virou no abismo, o
jornalismo público ele vai trabalhar porque aquele ônibus caiu, qual é a forma de conservação da
estrada. Então, eu acho que é evidente, no fundo eu podia dizer pra você o seguinte: a televisão

129
Anexo 2

pública se distingue das outras pelo conteúdo, pela natureza do conteúdo, a natureza desse
conteúdo. Tem que ser de interesse público, tem que ser de compreensão, tem que ser analítico,
você tem que compreender o que está sendo proposto e tem que ter uma estética universal também.
Evidentemente, não precisa fugir da emoção... é bem isso aí.

Você acha que o certo seria, em vez de chamarmos de TV educativa, chamarmos de TV cultural,
ou TV pública?
TV pública.

Mesmo as que são ligadas às fundações?


Eu acho, a TV é uma TV pública. Eu acho que, até a TV Cultura é uma TV pública. Ela não é
financiada pelo Estado. A TV Cultura é financiada pelo Estado e pela sociedade. A TV pública é
uma TV financiada pelo estado e financiada pela sociedade econômica também. A TV FUTURA
ela é financiada mais pela sociedade econômica, agora a TV Globo é financiada também pelo
Estado.

Agora ela (Futura) nós podemos chamá-la de TV educativa?


Eu acho, que a Futura é uma TV educativa, a STV é uma TV pública, porque ela tem uma
programação educativa, cultural, informativa. Agora, esse debate é muito recente, um único
instrumento, não tem bibliografia nenhuma. O único instrumento que define, que define não, que
situa essas três, é a Constituição quando diz que vai se manifestar através da TV estatal, pública e
comercial. É a única Constituição do mundo que faz essa referência.

ROBSON MOREIRA
DIRETOR DE PROGRAMAÇÃO DA REDE STV
DATA: 22/10/2004

Alguma vez você já foi procurado por escola ou algum professor pedindo para
veicular material deles aqui?
Nós já fomos procurados várias vezes, tanto por escolas, como por ONGs que desenvolvem
trabalhos de comunidade, também. E a gente sempre conversa com essas pessoas que nos procuram,
porque o que define se vai abrir espaço para veiculação, é exatamente a proposta do vídeo. Como
ele foi criado? Como ele foi formatado? Se ele está realmente numa linguagem de televisão, se ele
não é uma mera aula ou uma coisa muito didática que não combina com o perfil da programação da
TV. Então, tudo isso é analisado. Cada caso, a gente analisa à parte e, sendo realmente um negócio
interessante, nós abrimos espaço para veiculação.

Mais especificamente escolas, já foi? Sim. Já veiculou?


Olha, eu acho que nunca vingou nenhum, porque as pessoas acabam desenvolvendo um projeto de
um vídeo assim. Já recebemos, por exemplo, ligações de escolas de Campinas dizendo: ah, estamos
aqui, trabalhando na sala de aula, com alunos com vídeo e tal. Se ficar concluído, a gente conversa,
dá uma indicação. Mas, nunca recebemos um vídeo pronto, já fomos procurados por quem estava
desenvolvendo projetos. Agora, por exemplo, com universidades, nós exibimos vídeos já feitos por
alunos de universidade. Inclusive nós criamos um programa aqui da STV que chama “Oficina de
Vídeo” exatamente para atender esse tipo de demanda. Então, se vem um vídeo feito por
professores do Ensino Fundamental para as crianças, a tendência primeira é a gente encaminhar este
vídeo para ser veiculado no Programa “Oficina de Vídeo”. Ele existe exatamente para ensinar, lidar
com a câmera, todas as técnicas, tanto o profissional, como o leigo, a dona de casa, o comerciante,

130
Anexo 2

qualquer um tem possibilidade de lidar com a câmera de uma maneira mais interessante, de criar
uma idéia, desenvolver uma idéia, sair atrás. Até o aniversário de filho você pode filmar de uma
maneira diferente, né? Então o programa “Oficina de Vídeo”, ele tem esse objetivo e tem o objetivo
também de abrir espaço para todos os vídeos escolares, digamos assim, tanto de universidades,
como de estudo secundários que aparecerem a gente exibe nesse espaço.

Quais são os critérios para escolhas desses vídeos, caso alguém apresente para vocês?
Bom, o primeiro critério é a duração do vídeo. Não pode ser um vídeo longo, até porque o programa
tem vinte e dois minutos. Então, geralmente, são vídeos curtos e a gente acaba até mostrando dois
ou três a cada edição. São vídeos de três minutos, quatro minutos, no máximo até dez minutos. Isso
porque a gente traz o autor do vídeo no programa para ele falar da idéia, como ele teve essa idéia,
porque, qual o objetivo e aí a gente também leva ao programa um profissional para comentar as
técnicas usadas, se a luz está adequada, se o roteiro está legal. Na verdade, a pessoa não tem apenas
o vídeo exibido, tem a oportunidade de ver e ouvir de um profissional da área, não crítica, mas
orientação sobre seu trabalho. Porque, às vezes, você faz uma coisa e poderia ter sido feita de outra,
que teria um resultado melhor. Então, esse é um conjunto, nós temos o cuidado de não apenas exibir
por exibir, mas também de estar fazendo uma prestação de serviço até para quem esta assistindo em
casa poder acompanhar como é que se desenvolve esse processo.

Você conhece outros canais, empresas que desenvolvem um trabalho assim, de dar
espaço para produção escolar?
Olha, eu não sei. Assim... quer dizer, a nossa TV faz isso, mas ela não é uma TV educativa no
conceito da palavra de ser voltada para o Ensino Fundamental ou Ensino Formal. Ela é uma TV
educativa para a cidadania, então ela é ampla. Agora tem canais de televisão que são mais voltados
para o Ensino Fundamental, ou Ensino Formal.

Eu quero dizer, a produção de vídeo no sentido de... por exemplo: a classe da


oitava série produziu um vídeo sobre a sexualidade. É um tema transversal e que
talvez encontrasse espaço aqui. Ou não?
Com certeza.

Que outros canais você conhece que fariam isso?


Eu não conheço. Sinceramente, não sei.

Que orientação você daria a um professor ou escola que quisesse veicular um


vídeo aqui?
Se a idéia já esta pronta, se o projeto já existe, está em fase de elaboração, primeiro é fazer contato
aqui e é comigo mesmo, eu cuido da programação da TV. Aí a gente vê a idéia. Se estiver no papel,
a gente analisa, fala assim: essa idéia é legal, mas porque não fazer por aqui ou por ali? E a gente
procura dar uma orientação já antes de começar. Aí a gente espera esse projeto vingar. Ficando
pronto, a gente vai ver de novo. O problema é que quando você faz um vídeo escolar, se você tem a
intenção de veicular numa televisão, você precisa ter os olhos voltados para isso, porque é diferente
de você fazer um vídeo que vai ser exibido só em sala de aula. A televisão requer, mesmo sendo
uma coisa voltada para um fim especifico, é preciso que tenha algo a mais, algum recurso a mais de
imagem, de edição. Então, de repente, esse professor pode buscar ajuda junto a algum profissional
de sua cidade para dar dicas de edição, como que faz para ficar mais dinâmico, algumas coisas...
Porque é preciso pensar que esse programa está sendo visto por muita gente que está ali para ver,
não é só o aluno que vai ver. Então, são cuidados que se precisa tomar e, evidentemente, se você
tem um vídeo que está muito centrado numa linguagem muito especifica é difícil a gente colocar
numa televisão como a nossa. Certo? Mas tem jeitos e jeitos de se fazer vídeo. Você pode fazer um
vídeo sobre uma matéria qualquer, sei lá, sobre Ciência dentro de uma escola, tem os laboratórios,

131
Anexo 2

tem as experiências, tem pesquisas de campo que envolvem a natureza, você tem vários elementos
para fazer um vídeo muito legal que pode ser veiculado na televisão. Então é isso, a orientação que
eu dou é sempre ficar com essa visão. Se quer fazer para oferecer para uma televisão é preciso ter a
visão da televisão, não apenas a visão didática da sala de aula.

Vocês têm algum tipo de relacionamento com instituições de ensino?


Nós temos aí, não diria que há assim uma coisa institucional, formal. Nós temos relacionamento
com vários institutos de ensino, por exemplo, a FAU é uma parceira nossa. Todos os vídeos que
eles produzem na sala de Arquitetura a gente exibe aqui na TV. Nós temos parceria com a TV PUC
em São Paulo na TV PUC de Minas Gerais, na TV PUC de Santa Catarina, com a TV UNIFESP da
Universidade Federal, nós temos relação com várias organizações nessa área educacional aí.

Você acha que os canais educativos, de um modo geral, se eles tivessem mais
proximidade com as escolas e instituições de ensino, isso poderia refletir na
programação?
Olha, essa é uma grande questão que inclusive está sendo colocada, sendo discutida
permanentemente. A rede pública, por exemplo, originalmente ela surgiu vinculada às Secretarias
de Educação dos seus respectivos estados porque se entendia que elas deveriam ter como
programação tudo aquilo que fosse voltado para o ensino formal. Então, tudo o que a Secretaria de
Educação produzisse ou as escolas produzissem seria a base de programação dessas TVs. Isso deu
muito problema na época porque é uma televisão aberta, então a gente sabe que o lidar com essa
coisa educativa, formal, se não tomar cuidado, fica uma coisa chata que as pessoas não conseguem
assistir. E, aos poucos, essas TVs foram migrando das Secretarias de Educação e passando a ser
vinculadas às Secretarias de Cultura. Hoje, algumas delas ainda estão ligadas à Secretaria de
Educação: Mato Grosso, Ceará e, portanto, elas sofrem, tem pouca coisa para botar no ar porque
não produzem muita coisa. Então, elas se valem de outras programações, como nós, por exemplo,
somos parceiros dessas TVs e cedemos nossa programação para complementar a grade. Outras,
como a TV Cultura de São Paulo, se transformaram em fundações, têm um pé na Secretaria da
Cultura, mas já é uma TV Pública mais autônoma, ela é gerida por um conselho da sociedade e
continua tendo coisas voltadas para esse público de criança, alguma coisa até voltada para o ensino
fundamental, mas muito tênue, já é uma TV mais cultural mesmo. Então, tem essa relação aí que se
você colocar uma TV educativa que só fale do ensino formal, ela não pega muito.

Não é isso que eu quis dizer, acho que não fui clara. No sentido de manter um
diálogo com a escola, mas não reproduzir o ensino formal da escola, mas, de
repente, fazer parcerias com as escolas, ou com as Secretarias, para incentivar que
elas sejam produtores. Um relacionamento, mas não a transferência do ensino da
mesma forma para a TV. Um laço maior entre as escolas e as TVs Educativas
poderia refletir de alguma forma na programação e refletiria de uma boa forma?
Eu não sei. Eu acho que quem faz mais isso aqui hoje no Brasil é a TV Futura, que tem essa relação
mais direta com as escolas. O sinal da TV Futura está colocado em várias escolas do Brasil e eles
trabalham muito porque eles têm, diferentemente da gente, um viés que é mais voltado para o
ensino formal, para a formação do professor para lidar com os alunos das escolas. Nós não temos
isso, o que nos fazemos aqui é usar muito do que acontece nas escolas como pauta pra nossa
programação. Então se tem uma técnica diferenciada, se um professor descobriu uma técnica
diferenciada para ensinar ou facilitar o entendimento de determinada matéria que é complexa a
gente usa isso como pauta de um programa nosso e usamos bastante porque nos temos o programa
Filhos que só fala disso. Ele não é pra criança, ele fala de criança: criança na escola, criança na rua,
criança em casa, criança no lazer, no meio dos amigos. É um programa que só fala de criança e
adolescente e esse programa mostra muita coisa de convivência com as crianças na escolas, que é

132
Anexo 2

grupo de massa, mostra a funçao e a dificuldade dos professores de lidar com vários extratos
sociais, crianças e jovens diferentes. Então, isso a gente faz demais, mas não é uma parceria formal.

Vocês sofrem com falta de conteúdo?


Não.

E tem algum horário mais ocioso na programação?


Não, não. Nós temos nosso sistema próprio de condução, temos programas de linha e temos varias
parcerias com várias outras TVs, públicas, principalmente, com as quais nos fazemos trocas de
programação então, nós cedemos nossos programas e eles nos cedem os deles e a gente faz um
misto, faz uma grade de programação variada.

Vocês fariam uma parceria com a NCE? O Núcleo de Comunicação e Educação pra desenvolver
projetos?
Nós não desenvolvemos projetos, nós não temos isso aqui na televisão. Nós temos parceria com o
Núcleo sim, inclusive, já cedemos coisas para compor o acervo lá. Nós fomos convidados a
participar desse projeto que comentou antes, em 2002, naquilo que estivesse dentro das nossas
possibilidades. Nos colocamos à disposição, mas não chegamos a atuar no projeto, mas ficamos à
disposição para o que eles precisassem. Então, nós temos essa parceria institucional, mas a gente
aqui não tem um núcleo de desenvolvimento de projeto porque nossa produção, desde quando
começamos, era toda terceirizada Então, quando temos um projeto aqui, nós temos um orçamento
fechado a gente vê o que nós vamos produzir com isso e já direcionamos isso a cada produtora que
é contratada para fazer um formato x de programa. Nós ficamos com o conteúdo aqui dentro, nós
temos um núcleo de pauta.Então é muito difícil você entrar num negócio que vai desenvolver um
projeto.

Então fora essas atividades, por exemplo, workshops, vocês não dão?
Não, não. A gente está aberto aqui para apreciar projetos que estejam se desenvolvendo, que foram
desenvolvidos, para efeito de veiculação na televisão, isso sim. Nós somos chamados aqui muitos
para debates seminários que discutem essa questão, quer dizer a televisão, a mídia, a informação, a
cultura, a cidadania isso a gente é convidado pra muitos debates, muitos seminários... a gente
participa com muito gosto, pra dar nosso testemunho, nossa vivência, como que a gente viabiliza a
televisão, que seja diferente.

FERNANDO MAURO
DIRETOR DO CANAL COMUNITÁRIO DE SÃO PAULO
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CANAIS COMUNITÁRIOS
DATA: 26/10/2004

Você conhece o TV Escola?


Conheço o projeto.

Você conhece o Núcleo de Comunicação e Educação da USP?


Não.

Alguma escola já procurou o Canal Comunitário para veicular os seus vídeos aqui?

133
Anexo 2

Sim, já. Quem tem programa conosco feito por alunos é a FMU. A FIAM e a FMU, eles são do
mesmo grupo. Eles apresentam um programa no Canal Comunitário.

Como chama?
TV Morumbi. Retratam aspectos históricos da cidade de São Paulo e o programa, o roteiro é feito
por alunos. Eles é que filmam, editam e que mandam pra gente.

E alunos e professores da rede pública fundamental e ensino médio?


Não.

Nunca procuraram?
Nunca procuraram. Nós já fizemos curso de capacitação para alunos de segundo grau da escola
pública através de convênio com a Secretaria de Cultura.

Estadual?
Estadual, oferecendo oficinas culturais de áudio e vídeo para que alunos fossem capacitados tanto
teoricamente quanto praticamente para ter noções de vídeo. Lógico que você, num curto meio de
tempo, não consegue dar a formação profissional par o aluno, você dá noções de áudio e vídeo.

Você lembra quando foi isso?


Teve algumas vezes, várias vezes. A partir do ano de 2001 quando a gente fez o convênio com a
Secretaria da Cultura, a gente teve uma série de turmas que passaram por nós.

E só aqui na capital?
Na capital, escolas da capital.

Eram alunos da escola pública obrigatoriamente?


A inscrição se dava pela Secretaria da Cultura Então, se tinha muita gente que era da escola pública,
tinha gente que não era, tinham pessoas que não eram nem de escola, que tinham já uma certa idade
e que estavam querendo fazer capacitação. Não tinha limite de idade? Não, mas a maior parte era
de jovens.

O canal teria espaço para essa produção escolar? Escola pública de ensino médio e
fundamental?
Teria. O Canal Comunitário, ele é basicamente para as organizações não-governamentais, mas é um
tipo de mídia que contempla ações que são provenientes da sociedade, mas não necessariamente
num arcabouço formal, ou seja, uma entidade que tenha um CNPJ que apresenta um projeto. Se
você tem um projeto que nasce dentro de uma escola, dentro de um grêmio escolar, muito
provavelmente esse grêmio não tenha um CNPJ e a formalidade normal que a gente exige de
entidades. Mas se aparecer um projeto no canal Comunitário de escolas, de uma escola que tenha
um conteúdo que queira passar, a gente tem espaço sim. E se não tiver espaço no Canal
Comunitário, eu devolvo a pergunta pra você onde é que teria?

O que a escola ou o professor teria que fazer para tentar isso?


Então, a produção de televisão inclui custos. A tecnologia vai barateando os custos à medida que
avançam, mas, mesmo assim, você obriga qualquer pessoa, escola, entidade que queira fazer um
programa, tem que ter uma câmera de vídeo, tem que ter iluminação, tem que ter microfone, tem
que ter uma ilha de edição, depois que edita o produto e isso custa caro. Então, normalmente, a
escola pública não tem esse tipo de material. Quando tem computador você fica feliz, puxa vida tem
computador! Agora, o que precisaria para existir esse tipo de projeto, é uma escola que tivesse esse
equipamento, ou próprio, ou emprestado, fizesse esse tipo de conteúdo. Vou dar um exemplo pra

134
Anexo 2

você: a gente já teve conteúdos que foram filmados por produtoras que contemplam, por exemplo, o
campeonato de futebol dentro de escola, ou escola pública, ou escola privada. Mas é um tipo de
conteúdo que é possível passar no Canal Comunitário.

Então eles têm que trazer o produto final?


Definição de Canal Comunitário: videocassete público. A entidade produz seu conteúdo, traz pra cá
e a gente aperta play.

E aí é só vir aqui e ver qual o programa ele se encaixa para veicular, é isso?
Não, tem que ser na própria grade de programação da emissora. Como funciona a grade de
programação? Hoje nós temos mais de 100 programas na grade de programação que são programas
feitos por organizações não-governamentais. É a maior grade de programação da América Latina.

A do canal comunitário?
Do canal comunitário da cidade de São Paulo. Nós temos programação quase interrupta por 24
horas, não temos programação só na grade normal das 3h da manhã até às 6h da manhã. Fora isso,
todos os espaços estão ocupados com raríssimas exceções em que você preenche a grade com
documentário, preenche a grade com reprises ou coisas do gênero, mas em princípio, a maior grade
de programação da América Latina é essa.

Você diz maior grade em que sentido?


Número de programas. A globo não tem mais programas que nós, nem a rede Senac do município,
nem a TV Cultura, nem a TVE, nem SBT, Record, ninguém. O maior número de programas é o
Canal Comunitário do Estado de São Paulo.

Por causa desse caráter das ONGs terem espaço?


Não, na verdade é o próprio formato que privilegia programas semanais de meia hora ou de hora.
Enquanto grandes redes fazem programas de uma hora só por dia, como, por exemplo, eu vou citar
aqui um telejornal qualquer, ele é um programa só, só que ele passa todo dia em determinado
horário. No nosso caso ao invés de ter um telejornal, você teria 5 programas de uma hora, um
programa na segunda, outro na terça, outro na quinta, na sexta. O formato nosso faz com que isso
seja possível.

Então, o canal só veicula?


Tem programação que é produzida aqui, como o programa que nós vamos fazer agora. Mas é 5%
só. A menor parte da programação é feita pelo próprio canal.

E tem algum critério? Como é que faz para uma instituição ter um programa aqui? Qual é o
tramite, envolve algum custo, elas tem que pagar alguma coisa?
Envolve, envolve. A entidade paga R$ 3,50 por minuto para veiculação de programa. O que é isso?
É um custo operacional, é um custo para você pagar aluguel, água, luz, telefone, estrutura de
funcionário, onde são todos registrados. Então para essa estrutura você cobra R$ 3,50 de cada uma
dessas entidades.

E aí essas entidades veiculam o que elas quiserem?


O conteúdo é de inteira responsabilidade da entidade. A gente só, até pela própria formatação do
canal, a gente exige algumas posturas como, por exemplo, você não pode ter cenas de sexo
explícito, apologia ao uso de drogas, apologia ao uso de bebidas, descriminação racial, talvez a
gente preconize. Se tiver a gente tira do ar.

Mas isso está no papel? Tem esses critérios para eles obedecerem?

135
Anexo 2

É, são chamadas Normas Operacionais do Canal Comunitário. São feitas internamente, cada um
quando é signatário, quando adere ao Canal Comunitário, adere também às normas que regem o
canal.

Então se eu quero veicular...


Você vem aqui e traz o projeto televisivo no papel escrito, exemplo: nós pretendemos fazer um
programa de 30 minutos, divididos em blocos de 15 que vai tratar de tal tema e vai ser feito de tal
maneira. Você mostra o projeto no papel, traz o vídeo-piloto, que é como seria o programa e esse
programa é encaminhado a uma comissão da grade de programação. O presidente da comissão e o
diretor de programação da emissora analisam, fazem as combinações e falam que tudo bem. Em
princípio, o Canal Comunitário não nega o acesso a nenhuma entidade que queira veicular
conteúdo.

O Canal Comunitário faria parceria com o NCE, assim como outras entidades. Oa partir do
momento que vocês abrem esse espaço, não há necessidade de fazer parcerias é só o núcleo de
Comunicação de Educação elaborar o projeto e trazer aqui? Como é que se dá isso? Ou isso teria
que ser feito por parceria? Também tem parceria?
Também tem, depende da parceria que é proposta.

Que tipo de parceira tem aqui?


Bom a gente já teve parceria com um programa chamado “Em Cartaz” que é um programa de
cultura que mostrava tudo o que acontece na cidade, cinema, teatros, eventos culturais. A gente
tinha um acordo operacional com a VASP. Divulgava a VASP e ganhava a passagem aérea.
Trazíamos vários núcleos do Brasil inteiro para falar o que estava acontecendo sobre cultura em
outros estados e outras capitais. A gente pode, em termos de utilização da grade de programação, a
gente pode dizer para você que, em princípio todas as entidades pagam o custo operacional para
estarem veiculando seus conteúdos. A parceria não é só do ponto de vista da veiculação, você pode
ter algumas parcerias sim, essa é a que me vem na memória agora. Mas, em principio mesmo, para
veicular o que se contempla é que a entidade pague esse custo operacional para veicular seu
conteúdo.

A veiculação da produção escolar na televisão de caráter educativo não só aqui, ela teria algum
impacto nessa programação também? Não no sentido de ensino formal, mas, por exemplo, temas
transversais, programas sobre sexualidade feitos por alunos?
Posso estar enganado, na minha versão você tem dois projetos que contemplam escola e aluno. Um
é feito enfocando a escola e o aluno. Então, como você falou, mesas redondas de debates sobre
sexualidades, sobre uma série de temas. E o outro, que eu acho que é muito legal, que acho que
ainda não existe e gostaria que existisse, é o programa feito pelo próprio aluno.

É desse tipo que eu estou falando...


Esse é que eu gostaria de ver na televisão. Eu até vou dizer para você que certa vez eu estive numa
escola, chamada de escola do futuro, “School of Tomorrow”, uma escola que fica no Butantã e as
crianças fazem já internamente, dentro da escola, um programa de rádio. Eu disse que, se um dia as
crianças resolvessem fazer programas de televisão, tivessem os equipamentos necessários para isso,
seria uma experiência interessante pra gente poder veicular. Seria, ainda, necessária uma
experiência nova, não contemplada na grade de programação e caberia assim como você falou, uma
parceria. Vamos colocar esse conteúdo, não vamos cobrar nada dessa escola, dessas crianças, dessa
entidade, até para ver sua repercussão como isso é emitido, qual é o impacto disso no mercado, qual
é o impacto disso para quem assiste. Eu acho que a televisão comunitária é importante para quem
faz, mas também importante para que assiste.

136
Anexo 2

Tem algum critério de qualidade, alguma coisa nesse sentido? Ou é mais maleável do que em
outras TVs?
É mais maleável, porque aqui a gente contempla vários sistemas de produção, desde super VHS
passando para MDV. O que está sumindo do mercado? É o super VHS, o formato super V está
acabando no mercado porque o MDV é superior e tem o mesmo custo. Se eu for ao supermercado,
super VHS não vende no supermercado, mas MIDV vende. Aí, se fosse comprar um MDV, você
compra por um valor muitas vezes inferior ao que custa uma super VHS. Portanto, a tendência do
canal comunitário é migrar pra gente aceitar formatos digitais MDV e DV CAM e BETA que é o
formato profissional de televisão. No caso, a TV Comunitária de São Paulo. No interior é diferente,
não tem BETA, 99% não tem BETA, o que prevalece o super VHS e agora com popularização dos
equipamentos digitais é a programação em MDV.

Como surgiu a TV Comunitária de SP?


A TV Comunitária de SP surgiu da Lei de TV a cabo, Lei 8977 de 95 que cria os canais básicos de
utilização gratuita. E o que diz a lei? Que as operadores como NET, TVA, e outras mais, são
obrigadas a disponibilizar os chamados canais básicos de utilização gratuita, são eles: TV Câmara,
TV Senado, Senado Federal, TV Legislativa -que é dividido entre a Câmara Municipal e a
Assembléia Legislativa- TV Universidade, das universidades, TV Comunitária e uma para o poder
judiciário; que a lei criou. Daí, depois de criado o Canal Comunitário, a legislação não previa
nenhuma maneira, recursos para esses canais se manterem. Apenas criou. A sociedade se organizou
para ocupar os canais. Os primeiros foram Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

E no caso de São Paulo, quem é essa sociedade que se organizou?


No caso de São Paulo, vou contar a historia um pouco do canal. Você tinha varias entidades
querendo coordenar a programação e a lei diz que você pode criar ou não uma entidade que
coordene a programação do Canal Comunitário. No caso de São Paulo e na maioria dos canais,
porque eu não conheço comunitário dos 70 que existem no ar sem uma entidade que coordene a
programação... O Canal Comunitário quando foi formado tinha algo que foi chamado de Acordo
Institucional Provisório. O Canal Comunitário, então, tinha 60 e tantas entidades. Precisava se
chegar à conclusão de que entidade coordenaria a programação. Chegou-se a um dominador comum
de 3 entidades que, inclusive, colaboram com os equipamentos iniciais, trazendo recursos, foram: a
Federação dos Empregados do Comércio, através de uma entidade chamada “Vida e Trabalho”, a
“TV Interação” que é um pool de entidades entre elas, a Associação Comercial de SP, ALSHOP,
que é a Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping, o Clube Hebraica, a APETESP que é a
Associação de Produtores Teatrais dos Estado de SP (essas duas últimas colaboraram).

Quais são as três então?


“Vida e Trabalho”, ligada à Fecesp, Federação dos Empregados do Comércio e a “TV Interação”.
Essas colaboraram e uma terceira foi chamada para compor (incompreensível) pela sua notoriedade
na sociedade que é a OAB de SP. Então essas 3 entidades formaram um Acordo Institucional
Provisório. Aqui dentro tem um número, entidade 1, 2, 3, foram mais de 500 que passaram pelo
canal, a entidade 1 chama-se “TV Interação”. Aí, depois tem a entidade 2 que é a OAB. Essas três
se uniram, formaram esse Acordo Institucional Provisório que deu depois origem a um estatuto já
formal que contempla essas três entidades que coordenam a grade de programação.

Então, se outras 3 instituições tivessem feito a mesma coisa e tivessem requerido antes o canal no
cabo, elas teriam conseguido?
Exatamente.

Eu tenho uma dúvida: estudei essa legislação desde o surgimento dela com decreto de 88, não
existia TV a cabo...

137
Anexo 2

E nem a TV Comunitária, nessa época.

O que eu estou falando é da TV aberta. Esse decreto de 88 dizia que como as TVs Educativas não
tinham dinheiro para bancar as retransmissoras a lei foi criada para que as comunidades
criassem essas retransmissoras, veiculando a programação da geradora mais 15% do local.
Isso mesmo, no caso 3 horas da programação local.

Eles podiam passar 3 horas de programação e por isso se auto denominaram canais
comunitários abertos, né?
Isso confere.

Só que como os políticos começaram a se apoderar houve uma outra legislação que é a
Regulamentação dos Serviços de Retransmissão e Repetição que permitiu a essas
retransmissoras virar geradoras. Minha dúvida é a seguinte: esses canais comunitários, daquela
época, que só passavam 3 horas de programação local, você saberia me dizer se eles viraram
todos TVs geradoras?
Não viraram.

E eles fazem o quê?


Na realidade, esses canais eram RTV, retransmissoras de televisão. Você recebe e tem uma
concessão, essa concessão é dada a uma associação local. Concessão normalmente é ligada a um
político e ela é entregue via canetada do Ministro das Comunicações. O fato delas poderem gerar 3
horas de programação por dia ou 15% da sua programação já confere a qualidade de geradora, já
consegue gerar programação qualquer que seja ela. A nova legislação que trata de retransmissoras
dada pelo Fernando Henrique...

É essa né?
Não. Não permite que a retransmissora gere nada. Mas, na prática, elas continuam retransmitindo
programação, fazendo programação local, produzindo programação que acha que é certa, que tem
que produzir. Pela legislação, a ANATEL poderia chegar lá, fechar e falar: você não pode
retransmitir. Só que foi feito um grande acordo, sigiloso, um acordo político... o Fernando Henrique
assinou a portaria que diz que essas TVs, essas retransmissoras não podem ter programação local,
mas elas já tem há tantos anos e como é que vamos tirar? Já tem contratos feitos, patrocinador como
é que vai tirar? Ai não tira e numa cidade de interior, essas televisões que são RTVs, não são TVs,
que são retransmissoras de televisão se auto denominaram comunitárias.

Mas essa aí é uma outra legislação que não é essa que eu estou falando, que é a 2.701 de 97... eu
não estou com ela aqui.
Essa daí do Fernando Henrique é de 2000.

Essa daqui é do Pimenta. Bom, mas independente disso, hoje só existe o Canal Comunitário na
TV a cabo?
Só.

Vocês estão esperando aprovar o projeto de lei do Fernando Ferro?


Não, de jeito nenhum. O projeto de lei do Fernando Ferro não foi feito sob os auspícios da
Associação Brasileira do Canal Comunitário. Eu gosto muito dele, é meu amigo pessoal, só que o
projeto de lei dele e do senador do Espírito Santo... esqueci o nome dele agora... O que o projeto de
Lei deles diz? Que há 5000 municípios no Brasil que podem ter TV Comunitária, você leu o projeto
de lei? Não. Como é que você acha que a ABERT, Associação Brasileira das Emissoras de Radio e

138
Anexo 2

TV... do canal aberto? Do canal aberto. Como você acha que a ABERT encararia isso? Ou é
mandado (incompreensível) ou fechar, ou simplesmente de fazer o que fez de mandar não aprovar.

E o que a ABCOM acha desse projeto? Qual é a posição, favoráveis, desfavoráveis?


Contra porque fazer um projeto pra num passar... não posso ser a favor. Levantar a bandeira da
paz... Ah que bom! Um projeto maravilhoso, pra quê? Pra fazer política com um projeto que não vai
nunca passar? E o que nós fizemos? Tratamos de criar um projeto de lei junto com o deputado
Edson Duarte do PV da Bahia para que esse projeto, sim, esteja de acordo com os auspícios dos
Canais Comunitários. O que diz esse projeto? Os Canais Comunitários que já existem, ou seja, os
que são do cabo, estes sim podem ir para TV Aberta. Se limita a cinco municípios dos 210 que tem
TV a Cabo e podem ter TV Comunitária. Quantos desses 210 já foram ocupados? Setenta. Então, é
uma legislação que contempla os canais comunitários que já existem. Esta sim tem o nosso apoio da
ABCOM.

E aí sairia do cabo e ia para o espaço aberto?


Sairia do cabo não, continuaria no cabo e ia para o aberto.

Mas ai não permite que outras TVs sejam criadas?


Não a mesma TV do cabo, você coloca uma antena e vai para aberta.

Eu entendi, mas outras TVs não podem ser criadas em canais abrtos, só as que já existem no
cabo?
Pode sim, dentro do cabo. Só nessas praças, nas praças em que tem cabo onde pode ter TV
Comunitária de acordo com a Lei 8.977. Então a cidade de Pirajuçara, nem sei se isso existe, tem
cabo e daqui a 3 anos vai lá e abre uma TV Comunitária. Essa pode estar aberta. O que não pode é
as outras que nunca tiveram TV Comunitária na vida começar a criar TV Comunitária. Aí você vai
para aquela questão das rádios comunitárias. Aí você começa ter um monte de rádios, enfraquece a
representatividade: tem a Associação Nacional de Rádios Comunitárias, tem a Liga Nacional de
Rádios Comunitárias e começa ter um movimento que se perde por falta de representatividade.

GABRIEL PRIOLLI
DIRETOR DA TV PUC/SP E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA
DATA: 25/10/2004

Você deve conhecer o TV Escola?


Sim

Você conhece o Núcleo de Comunicação e Educação da USP?


Conheço de ouvir falar. Não conheço os detalhes do trabalho.

Alguma escola já procurou o Núcleo da PUC pedindo pra que, junto com os programas que
vocês elaboram, fosse divulgado algum vídeo produzido por alunos, não ensino superior, mas do
ensino médio e fundamental?
Não

E outras instituições de ensino superior, fora a PUC?

139
Anexo 2

Ah, isso sim! Inclusive a gente tem algumas com contato mais regular que a gente veicula
programação, por exemplo, a Faculdade Cásper Líbero. A gente periodicamente coloca no ar
material produzido por eles. Isso foi através de contatos que a gente teve, consultas de alunos e
professores e a gente acabou fazendo isso. E, eventualmente, outras instituições do Brasil nos
pedem veiculação em São Paulo. Querem falar com o público paulista, pedem veiculação dos seus
produtos aqui e a gente atende. Isso aconteceu com diversas instituições, a PUC do Rio, enfim,
diversas instituições já pediram e a gente atendeu.

E produção dos alunos mesmo da PUC daqui de SP vocês veiculam?


Daqui nós temos um programa chamado “Fatos e Focas” que foi um programa exatamente
concebido para veicula a produção estudantil. Ele veicula essa produção com a regularidade
possível porque a produção estudantil é irregular, ela não tem uma periodicidade regular. Então,
quando se junta material suficiente, a gente veicula. Como não tínhamos volume suficiente para ter
uma periodicidade mais regular no programa, a gente abriu o programa “Fatos e Focas”, que
originalmente era voltado apenas para os trabalhos laboratoriais do curso de jornalismo, a gente
abriu inicialmente pra toda área de comunicação da PUC, depois para toda a PUC e todo e qualquer
trabalho laboratorial em vídeo de estudantes da PUC e finalmente abrimos para outras instituições.
Então, o “Fatos e Focas” segue sendo um programa de produção estudantil mais aberto em geral, e
não com o foco prioritário na PUC. Não mais exclusivo da PUC, não mais exclusivo do jornalismo
da PUC como ele era no seu projeto original.

Em alguns desses programas haveria espaço pra veiculação de vídeos elaborados por alunos e
professores do ensino médio e fundamental?
Eventualmente sim, depende do projeto, das circunstâncias, do acordo que se faça, mas há
possibilidade sim. Nós estamos veiculando agora uma série de vídeos produzidos pelas “Oficinas
Quino Fórum” (?) que foi, na verdade um projeto educacional em vídeo, e fizeram um trabalho
exatamente de educação com vídeo e esse projeto resultou num volume grande de vídeos. Nós
estamos fazendo uma versão TV e vamos começar a veicular agora.

Se algum professor quisesse veicular aqui um projeto de sua escola, o que ele deveria fazer?
Entrar em contato conosco e apresentar a idéia e a gente vai examinar à luz da orientação geral do
nosso trabalho, da pertinência do projeto apresentado, da capacidade que a gente identifique de que
essa produção seja efetivamente feita cumprindo prazos, cumprindo alguns requisitos básicos de
qualidade técnica e editorial, a gente conversa.

Tem alguns critérios que precisam ser respeitados?


Sem dúvida. A gente sabe que a produção laboratorial não tem um acabamento técnico de um
trabalho profissional maduro, sabe perfeitamente. No entanto, há um nível mínimo de exigência que
a gente impõe, por exemplo: nós não veiculamos material em VHS, salvo quando esse material tem
um grande valor histórico ou documental. Fora disso, não veiculamos material em VHS que é uma
bitola que não permite uma qualidade minimamente aceitável numa transmissão de TV. Já os
formatos Super V (?) e outros formatos a gente veicula sem problemas. Aí a questão é apenas o
projeto, ou seja, do que é o projeto, da qualidade do projeto, o resultado dele depende muito. Nós
não veiculamos indistintamente e indiscriminadamente. Nós veiculamos, temos interesse em
veicular, estamos abertos a parcerias, mas evidentemente, vamos analisar o produto.

140
Anexo 2

Então, existiria alguma possibilidade de uma parceria com o Núcleo de Comunicação e


Educação da USP? Você disse que não conhece bem o núcleo, mas nesse momento o que
importa é que eles desenvolveram um projeto com o governo do Estado em 2002 pra capacitar os
professores da rede pública a usarem o meio TV na escola, a transformar os professores e alunos
em produtores de vídeo e toda carga teórica que isso envolve? Esse tipo de parceria vocês
realizariam com o Núcleo ou outras instituições?
Nós realizamos parcerias com diversas instituições, públicas, privadas, terceiro setor, diversas
instituições, nós temos uma política de parcerias. A TV PUC trabalha com a política de parcerias e
temos interesse de discutir qualquer parceria na área educacional, desde que o projeto tenha
qualidade, tenha valores.

E vocês dão workshops também? Pra professores?


Não temos capacitação especifica para isso e não nos aventuramos a fazer até agora. Mas podemos
estudar, depende do orçamento que o projeto tenha e nossa possibilidade de organizar isso, a gente
pode estudar. No caso de uma parceria com a USP, com esse projeto da USP, temos interesse em
conversar e podemos fazer se bem que até por questões éticas, do nosso relacionamento com a TV
USP, nós vamos informar a TV USP de um eventual interesse do Núcleo porque, afinal de contas,
entendemos que a TV USP tem primazia para veiculação de conteúdos relativos à própria
universidade. É assim que a gente opera não como canal universitário. Mas isso não significa que a
gente não possa fazer um trabalho, como a gente trabalha com a própria TV USP que é nossa
parceira em muitos projetos no programa Quatro por Quatro e em outros tantos.

Veiculação de produção acadêmica é comum no Núcleo de vocês?


Nós veiculamos produção acadêmica com uma razoável freqüência. Mas acadêmica universitária,
produção de segundo grau, caracterizado com tal, não veiculamos até agora, apenas por falta de
oportunidade. Nós já veiculamos programas focalizados por jovens secundaristas mas, não
formalmente como produto encaminhado por jovens secundaristas.

A gente pergunta isso porque existem canais universitários que às vezes é mais voltado para
comunidade e não veiculam o que acontece no meio acadêmico. Qual seria mais ou menos o
grau de comprometimento com o meio acadêmico da TV PUC?
A TV PUC tem os dois tipos de programas, tem programas que difundem os acontecimentos das
universidades, os projetos da universidade, enfim, que comunicam o que a universidade faz para a
comunidade. Então, tem esse foco preciso. Todo nosso trabalho é da PUC para fora, nosso trabalho
em televisão é da PUC para fora. Nosso trabalho de comunicação interna... nós temos um trabalho
de comunicação interna em vídeo pra universidade que não é operado propriamente pela TVPUC,
mas por uma outra unidade da PUC chamada Rede PUC que é ligada ao departamento de
jornalismo. Ela opera o circuito interno de televisão e aí a comunicação de natureza interna é feita
através da rede PUC. A TV PUC fala da PUC para fora e fala tanto de conteúdos da própria PUC
como conteúdos de interesse geral que podem ser de programa que a TVPUC faz em parceria ou
prestando serviços a terceiros.

Vocês sofrem com dificuldade de conteúdo à pauta?


Não mais. A TV PUC felizmente já atingiu um estado de produção que ela pode abastecer a sua
grade horária no canal universitário tranqüilamente. Nós estamos com o problema inverso, faltando
horário pra gente atender todos os parceiros, o nível de volume de reprises que a gente normalmente
oferece. Nós estamos tendo que reduzir o número de reprises que agente oferece nos programas

141
Anexo 2

porque não está havendo tempo hábil para encaixar toda a produção que nós temos com os
parceiros. Mas essa é uma situação absolutamente específica nossa, nós sabemos disso. Os demais
colegas de televisão universitária têm dificuldade de provimento de programação e a TV
universitária, como um todo, tem um nível de reprises muito alto por conta disso.

Como uma pessoa muito experiente, não estou perguntando para um diretor de um canal
universitário, mas em relação às TVs educativas que tenham esse perfil, você acha que uma
proximidade com as escolas -seja elas universitárias ou do ensino médio e fundamental- um
trabalho e projetos que incentivassem a produção escolar isso teria algum impacto no conteúdo
dessas TVs? No sentido de um perfil mais ainda educativo, mas o educativo que eu me refiro não
o ensino formal, temas transversais também com uma visão educativa. Seria bom uma
proximidade?
Sem dúvida alguma! Como dirigente de uma TV universitária tenho convicção disso que a televisão
deve se aproximar do meio educacional, da universidade do ensino médio, do ensino fundamental, a
universidade tem que se aproximar da educação, do mundo da educação, eu acredito nisso muito.
Agora, isso não significa que nas relações atuais entre as televisões educativas e o segmento
educacional, que isso seja fácil de operacionalizar. Na verdade, as TVs educativas ou não elas tem
um problema sério de provimento de programação, precisam ter uma programação de qualidade
com regularidade feitas com bons padrões. E isso não é necessariamente garantido pela produção
acadêmica, sequer a universitária quanto mais a secundária. Então esse é um problema de fundo, a
televisão universitária ainda tem problemas de relacionamento com a televisão educativa aberta, a
televisão educativa mais tradicional, ainda são incipientes as relações, são de um nível muito
primário de relacionamento. Ainda há uma desconfiança muito grande da TV educativa em relação
a nossa capacidade real de produção. E uma desconfiança que procede porque, de modo geral, as
televisões universitárias, muitas televisões universitárias enfrentam problemas de qualidade e de
regularidade da programação. A principal coisa pra você manter uma grade é você, uma vez
assumindo compromisso de provimento de uma programação, você de fato prover aquela
programação. E não aparecer no dia atrasado com o programa que estava comprometido para
veiculação com a qualidade que se havia combinado, e ainda há problemas nesse sentindo, não se
produz, se atrasa o programas, são fracos, então se há esse problema ainda na relação entre TV
universitária e a TV educativa. Então você pode extrapolar esse problema para todo o conjunto de
TV educativa e cultural no qual a TV universitária está inserida e essa relação com o segmento
educacional, sobretudo, o segundo grau.

Bom, por fim, você conhece TVs que tenham uma proximidade maior com as escolas?
Olha a televisão que tem a veiculação direta com as escolas é a TV Escola do Ministério da
Educação, que é uma rede de televisão montada exatamente para abastecer as escolas de conteúdos
audiovisuais para formação de professores, capacitação de professores e para a qualificação das
aulas que eles fazem. Agora, não é bidirecional essa relação, a relação vai da TV Escola do MEC,
que fica em Brasília, para cerca de 57.000 escolas no Brasil afora. Então elas são apenas receptoras
de programação e ainda não há um conceito, ainda não há a concepção, a expectativa de que a
escola possa se transformar numa unidade produtora. Uma coisa é você veicular eventualmente o
conteúdo laboratorial de alguma escola que tem se transformado num bom produto de audiovisual,
isso é uma coisa. A outra coisa é você estabelecer um compromisso ou uma relação com as escolas
de modo que elas sejam abastecedoras de programação, que elas sejam provedoras de programação
regular para televisão. Isto é muito complicado. Isto eu não acredito que as escolas possam fazer nas
condições atuais. Certamente não poderão fazer e, mesmo que tenham condições ideais de
orçamento, de organização, mesmo assim, eu não creio que elas conseguirão cumprir esse

142
Anexo 2

compromisso porque elas saíram da sua finalidade. Afinal, escola é pra fazer ensino-aprendizagem
e não é para fazer produção regular de televisão num volume de horas que a televisão consome. Eu
sou um pouco cético em relação a possibilidade de um acordo entre televisão e escola de longo
prazo ou de regularidade ou periodicidade fixa, o que é diferente de ter um acordo em que a
televisão se compromete a veicular eventualmente os produtos que tenham eventualmente boa
qualidade.

E nesse segundo caso você acha que seria possível?


Acho. Nesse caso eu vejo as escolas de segundo grau da mesma forma que eu vejo as universidades,
ou da mesma forma que eu vejo qualquer fornecedor de conteúdo que esteja aí no mercado e outras
televisões, instituições culturais. Enfim, a escola pode fazer produtos audiovisuais e esse produto
pode merecer veiculação. Isso ela está igual a qualquer outro provedor de conteúdo.

143
Anexo 3

ANEXO 3 – INTEGRA DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES ESPECIALISTAS

PROF. DR. FERNANDO SCAVONE


PROFESSOR DA ECA/USP E ESPECIALISTA EM TECNOLOGIAS AUDIOVISUAIS
DATA: 11/11/2004

Partindo da existência desses vídeos, o senhor acha que é a Internet é um “local”


apropriado para divulgar isso?
Você tem um suporte institucional para isso. Foi produzido ao abrigo de um projeto, esse
projeto se tem algo haver com a USP você pode pegar o material produzido e pode colocar
dentro de um site. O procedimento administrativo para que seja feito é se dirigir...parece
não sei se é CCS ou CCE diretamente hoje, um dos dois. Não é difícil. CCS é a
Coordenadoria de Comunicação Social. Enfim, até recentemente, não sei como está a coisa
hoje, até um ano e um pouco atrás pelo menos, quem gerenciava a criação dos sites que
tinham www.usp.br/nomedoprojeto não sei se isso está CCS ou se está no CCE que é
Centro de Comunicação Eletrônica. O projeto, atendendo a certas características, você pode
pedir um cadastramento e criar uma página e até ter um espaço de hospedagem, dentro dos
servidores, você precisa ver, você qualifica ou não qualifica, você abre, pega um web
designer faz sua página inicial e põe ali. Dali pra frente, você começa a divulgar
simplesmente meus materiais. Os materiais gerados por esse projeto estão em tal endereço e
acabou. Pode estar abrigado, inclusive, o teu site do CCE ou da CCS ou pode apenas um
link se você tiver um computador do núcleo que pode hospedar esse material localmente.
Você pode criar apenas uma página inicial que a ponta seu servidor, não tem problema
nenhum, esse material produzido ele tem um formato. Normalmente são de formato
eletrônico, já existe em formato em mini DV, ou VHF se lá o que for. Se for VHF
analógico tem que digitalizar, passa por uma placa de captura, processa, vai gerar
arquivinhos no formato compatível ao windows ou não-compatível, você pode fazer no
Word (linguagem de informática), processa... Sugestão: considera que nem todo mundo
tem banda larga e nem tudo mundo tem rede de alta velocidade. Então, por exemplo, o ano
passado, fizemos um material para a FEA, o material tinha assim: quando o fulano chegava
no site onde tinha a parte de conteúdo de vídeo e tudo mais, tinha as opções banda larga,
modem e rede de alta velocidade. Então, o cara clicava ali e ele tinha três versões diferentes
do mesmo conteúdo com uma imagem maior, com resolução melhor e tudo mais quem
tinha acesso, o cara está dentro da USP ou está dentro da rede de pesquisa, ou na inscrição
de pesquisa, uma rede rápida ele pega esse conteúdo com mais qualidade. Mas o cara que
está num lugar que só tem acesso por modem demoraria horas para pegar um arquivo
grande. Então ele pega uma versão que a janelinha do computador é menorzinha, mas passa
mais depressa, ou mesmo que ele tenha uma banda larga, tudo mais, mas de repente a
máquina dele não tenha capacidade. Se ele põe um arquivo DVD, mais pesado, a máquina
começa a engasgar. Então ele opta pelo tamanho menor. Hoje tem até formatos que são
multi-resolução, tem até suporte para isso que é automático. Se o cara acessa pela banda
larga, já cai numa resolução maior. Basicamente o servidor nessa hora procura verificar
qual é a taxa de transferência e estabelece qual o melhor arquivo para mandar em função da
taxa de transferência. É uma decisão que nem tem de ser tomada pelo usuário, o sistema
mesmo decide qual é melhor mandar para ele. Você pode fazer isso, agora o procedimento,

144
Anexo 3

eu diria o seguinte: hoje a primeira coisa é evitar na medida do possível produzir por
suporte analógico, a qualidade é inferior e dá mais trabalho depois para processar. O
formato mais barato para produzir é em mini DV, produz em mini DV, reduz o material
para os diversos formatos, se você tiver mini DV é muito fácil gerar DVD, inclusive. É
muito simples é só você ter um canal de distribuição também para o DVD, que dá para
colocar bastante material.

O presidente do Conselho da TV Cultura acredita que com o barateamento da tecnologia


o caminho mais certo para esse tipo de produção, não só a escolar mais para amador...
Não é amador. Isso é profissional, ele é profissional da área que está sendo produzido, não
profissional de produção audiovisual. Note bem: o que você está fazendo, quando você
pega esses dez treinamentos para o cargo pro professor, pesquisador, essas coisas que no
fundo chamada a tal inter-vídeo (ele se refere algum programa de capacitação). A inter-
vídeo sempre se preocupou com isso, que era fazer a qualificação do profissional de outro
área para a produção do audiovisual. Você tem dois caminhos, eu posso pegar a substância
e a circunstância, você pega o especialista em física nuclear, pega o especialista em
audiovisual, junto os dois e sai um produto profissional sobre a física nuclear. Estou indo
fotografar uma caverna que fica não sei aonde, tal vez eu não consiga levar um fotografo
profissional lá para tirar as fotos. Você precisa treinar, qualifica, profissionalmente (esse
especialista) para ele fazer fotos de alta qualidade. Isso fora do Brasil se faz a rodo.
Produção científica tem um nível visual às vezes de deixar o queixo caído. O cara vai lá,
estuda o processo todo e faz aquele material, quer dizer, aproxima os dois, mas não no
momento da produção, você não transfere a produção para profissional do audiovisual,
você qualifica, e não precisa ir muito longe, o pessoal da antropologia, também do outro
lado da praça do relógio, está fazendo coisas, documentários maravilhosos.

E professores de escolas de ensino fundamental e médio que foram capacitados não


podem ser chamá-los de amadores?
Eu acredito que não deveria chamá-los de amadores, são amadores no sentido que não
ganham dinheiro com isso. O que caracteriza o profissional, eu caracterizo de certa
utilidade... A profissão deles não é produzir filmes, mas na medida em que estão fazendo
isso dentro da sua atividade profissional, eu acho meio desagradável chamar esses caras
simplesmente de amadores, porque eles foram lá treinaram e qualificaram, eles não foram
na loja e compraram os equipamentos ou se eles continuam agindo de uma forma
amadorística é porque a qualificação você vê não foi suficiente. Aí você precisa rever o
processo de qualificação, devem ter adquirido competência suficiente para produzir um
material que sirva as suas aplicações e aí ele não é amador.

No caso de cidadãos comuns, que não receberam qualificação, você acredita que a
internet vai ser um lugar mais democrático para que esse tipo de distribuição,
veiculação...
Cidadão comum sem dúvida, mas não é disso que estamos falando, nós estamos falando de
um cara que foi lá e se qualificou.

Sim, mas é que estou saindo do universo Educom.TV para tentar vislumbrar um veiculo
em que as pessoas comuns possam participar da distribuição...
Esse ponto a internet é sem sombra de dúvida.

145
Anexo 3

Isso está muito longe?


Não esta longe não, depende muito de coisas relativamente simples. Depende, por exemplo,
de você ter dinheiro para ter acesso aos equipamentos, mas ele está cada vez mais barato.
Hoje em dia você consegue comprar uma câmera digital simples a talvez uns 700 ou 800
reais. Não é nenhum absurdo, e até dá para fazer pequenos filmes mesmo com uma câmera
digital (fotográfica), fazendo diversos planos transferindo com o computador razoável. A
câmera fotográfica ela capta também imagem e movimento. Até por ai dá para começar a
pensar, quer dizer, eu te diria o seguinte: a grande mudança nesse processo nos últimos
tempos é que antes você dependia de equipamento caro. Hoje você tem que saber usar esse
equipamento que já não é tão caro, então, depende de qualificação desse usuário, só isso. A
partir daí você põe no servidor.

Agora, uma vez que eu usei uma câmera fotográfica que foi feita lá e eu cidadão da
periferia quero abrir um blog e colocar isso lá, qual é o caminho? Mas você não precisa
ter uma estrutura diferente para suportar esse vídeo?
Você pode, depende o caminho. Tem um monte de lugar que oferece hospedagem gratuita,
você cria um site nesses kits.Net, cjb.net... Você não, quem tá oferecendo, tem hospedagem
gratuita até certo tamanho. A partir daí se chegar em uma coisa, sei lá não estou em
condições de gastar 50 reais por mês, tudo bem, talvez eu também não esteja, mas de
repente junto 5 pessoas. Aí vira 10 reais por mês para cada um. Você precisa juntar forças.
Se você quiser fazer uma coisa extremamente individualista você vai estar limitada a seus
recursos. Agora, à medida que você junta forças, eu tenho dinheiro para uma camerazinha,
mas não tenho dinheiro para um computador. Mas se eu juntar com um cara que tem
computador, mas não tem a camerazinha, vocês dois já estão produzindo. Não sei se a gente
quiser levar assim, às ultimas conseqüências a produção individual, você vai estar limitada
pelo seu orçamento pessoal, quer dizer, pode ser maior ou menor. Na medida em que você
junta forças... a produção audiovisual no geral é uma produção de equipe, que vai ter
alguém que vai mexer melhor com câmera, vão ter outro que vai mexer melhor com a parte
de edição, outro vai saber melhor a pagina na internet, trabalhar em grupo.

Também tem os programas para você já fazer a edição...


Nesse ponto é que te digo: também você pode juntar forças nesse sentido, você pega o cara
que entende de física nuclear e trabalha, junta com outro que entende de edição, trabalha
com outro que entende de pagina de internet, trabalha com outro que entende de som...

O que vai significar em termos de comunicação essa popularização?


Significa que você tem um número muito maior de emissores para um universo que
permanece relativamente igual a dos receptores. A certo momento, você pode começar a
produzir, também pode começar a veicular, aí tem uma diferença importante. Quando você
coloca o programa no canal universitário, no canal 2, mas ele vai ao ar num certo dia, numa
certa hora e acabou. A tua divulgação é diferente à medida que você pega e começa a jogar
isso ai e mandar para as pessoas e um fala para outro e tudo mais (na internet). Isso não
depende tanto se saiu no jornal: ‘olha, o filme de fulano de tal vai passar dia tal e tal hora’.
O importante não é isso, o importante é que você vai ter uma difusão lenta e os acessos vão
sendo feitos ao longo tempo na medida que interessa às pessoas. É importante porque os
acessos podem retornar também. De repente, você teve uma certa difusão daquele tema,

146
Anexo 3

muita gente viu, comentou, criticou e apagou, passou e mais tarde acontece o teu tema volta
à tona, por qualquer razão, explodiu não sei aonde tem haver com isso, tudo bem, o
material continua lá. As pessoas vão voltar lá e vão falar para outras pessoas, não depende
de você agendar outra instituição. O que entra no sistema fica lá disponibilizado, a internet
nesse ponto é uma massa de informação que cresce a cada segundo, até onde vai é difícil
dizer. Chega a um ponto que o problema maior não é tanta informação que está lá, é como
localizar a informação que está lá que é muita. Então, você precisa se preocupar em ser
achada, que você faz parte desse palheiro, você é uma agulha dentro desse.

Então, talvez a internet seja o meio mais adequado para essa produção do Educom.TV
do que as TVs Educativas que, ainda por cima, têm menos audiência do que as
comerciais, já que não vai passar num dia em um horário pode ser que tenha mais
telespectador do que...
Em potencial sim, e tem mais uma coisa que você não está pensando ainda. Você tem uma
certa limitação, que às vezes é extremamente vantajosa. Por exemplo, você põe no ar um
programa, sei lá, vamos supor, você chega no google e coloca a palavra fotograph eu vou
ter alguns milhões de resposta. Se eu puser fotografia eu vou ter alguns milhares de
resposta restritas a sites que estão em português, espanhol, italiano, francês já que não
aparece porque a grafia é diferente. Então, o fato de você estar colocando uma coisa
qualquer que tem haver, quando você limita, no caso da linguagem, no português você
ficou muito limitado. O cara que estiver procurando isso daqui não vai te achar, mas por
outro lado você tem que ver que ao mesmo tempo que você botou isso daqui no servidor,
você está atingindo toda áfrica da língua portuguesa, e todo local do mundo que se fala
português, você saiu da transmissão da TV Senac, da TV universitária e tudo mais. Está
falando com o mundo que fala o português, que quem pode te entender, ainda que seja um
global, agora o interesse pelo tema pode existir até marcar quem fale português. Na hora
que você botou no servidor, algum tempo depois você foi parar nas máquinas de busca. Por
isso que eu te digo que o mais importante é a difusão do link. Não é estar num
servidorzinho na sala lá no canto da USP, é provocar esse espalhamento do link.

Como se provoca isso?


Para quem se interessa pelo assunto, você não conhece a tal da teoria dos seis níveis, dos
seis nos, uma experiência que andou fazendo na internet? Um grupo de pesquisadores fez a
seguinte experiência: eles pegaram um determinado grupo de pessoa, não me lembro agora
exatamente, acho que foi nos EUA, na Finlândia, algum lugar por ai, mas, enfim, houve o
seguinte: tem gente que é mais amigo, menos amigo... eles pegaram um aspecto assim que
é muito crucial, que era a questão do relacionamento homossexual. Dado um determinado
grupo, qual é o afastamento que existe entre dois elementos quaisquer desse grupo.
Precisava encontrar um cara, só tem dois status, sim ou não, transou com o cara ou não
transou com cara. Chegaram a conclusão que qualquer pessoa se encontrava no máximo
seis degraus de distância do outro. Se eu pegasse qualquer pessoa, eu ia encontrar e chegar
em qualquer outra tendo no máximo seis saltos. É claro que isso daqui só é verdade porque
você encontra alguns indivíduos de alta promiscuidade, que tem muitos contatos. Então é
muito fácil, quando bate num desses caras, irradia para 250. Aí alguém pegou e resolveu
fazer a mesma experiência na internet. Ele montou um projeto que a idéia era o seguinte:
pegar endereços de uma pessoa que queira se cadastrar... sei lá, você se interessou a
participar do projeto, você dizia assim: primeiro eu quero participar. Então, você recebia

147
Anexo 3

um endereço de alguém que você não fazia a mínima idéia: “eu quero que você mande uma
mensagem para fulano de tal”, que você nunca ouviu falar. Então, você ia pegar essa
mensagem e mandar para alguém do seu conhecimento, explicando do que se tratava, essa
pessoa sei lá, (Era pra mandar pra um) cara na Rússia. Talvez se eu mandar para aquele
amigo da Finlândia, mandava para Finlândia, o cara da Finlândia ele olhava aquele negócio
dizia não conheço ninguém da Rússia, mas tenho um cara na Argentina que parece que sua
avô era russa, mandava para o cara da Argentina, o cara da Argentina pô minha avô morreu
mas tenho um cara na Itália.... Assim, eles constataram que as mensagens chegaram mais
ou menos depois de 6 (envios). A coisa vai longe na medida que você procura o que o
mesmo modelo que lá do homossexual, procura-lo os elementos de alta promiscuidade,
irradiadores, ai você consegue chegar muito longe em seis degraus.

PROF. DR. LAURINDO LALO LEAL FILHO


PROF. DA ECA/USP E ESPECIALISTA EM TELEVISÃO
DATA: 17/11/2004

Como será que a NGT, uma ex-retransmissora, conseguiu uma concessão de geradora?
Essa história é uma da mais complicada na legislação da rádio difusão porque na legislação você
tem as geradoras e as repetidoras. Essas repetidoras foram dadas a fundações sem fins lucrativos,
para retransmitir programas de conteúdo cultural e educativo. Só que não sei porque eles
começaram a se tornar... primeiro, começaram a produzir o que era ilegal. Produzia a própria
programação. Aqui no interior de São Paulo tem uma porção que está fazendo isso há muito tempo
e, posteriormente, conseguiram esse direito de gerar. Eu não sei a regularização disso. Tem muito...
esse que você tem é um caso. Mas existem inúmeras que eram simples repetidoras e passaram a ser
geradoras. No final do governo do Fernando Henrique, por exemplo, o Pimenta da Veiga deu um
monte (?). Pela constituição ficou mais difícil você ter concessões. Até 1988, o Ministério das
Comunicações dava o parecer e o presidente da República autorizava. A partir daí, as concessões
pra transmissoras passaram a ser examinadas pelo congresso nacional. Então, isso dificultou um
pouco, mas essa não é a minha dificuldade, minha dificuldade é que nos grandes centros já não há
mais espaço para novas concessões. Está tudo ocupado, todo espectro ocupado. Isso aconteceu
porque na época do Sarney... ele usou, ele deu essas concessões, aquela famosa barganha, em troca
da votação de 5 anos de mandato. Então, ele esgotou praticamente as concessões de TV adepta a
geradora. O que restou para barganha política foram as retransmissoras. No final do governo do
Fernando Henrique, o Pimenta da Veiga era Ministro das Comunicações, ele deu um monte de
retransmissoras principalmente para Minas Gerais porque é a área de atuação política dele...à
fundações e tal, com essa expectativa delas se transformarem em geradoras. Então, nesse caso, faz
parte desse contexto, o que eu sugeria...

Como elas viram geradoras?


Eu te sugeria primeiro você pegar, bem, você teria essa legislação? Especificamente essa legislação
das concessões, isso deve estar no site disponível.

Eu tenho várias legislações, mas, nenhuma dela explica, como uma retransmissora consegue ser
geradora, entendeu?
Eu também não sei.

Eu procurei, vasculhei tudo e é pouco explicando como era (incompreensível) porque o código

148
Anexo 3

brasileiro de telecomunicação é de 67 e lá não fazia menção direta a TV educativa e só foi


regulamentada depois por um decreto chamada 236...
R: Apesar do código brasileiro de telecomunicação é de 62 e depois tem uma lei, decreto 67.

Aí o decreto- lei é o 236 que determina quais são as TVs educativas, o que é TV educativa, e só
em 99 que uma portaria intermisterial entre o Paulo Renato e o Ministro das Comunicações
definindo o que era educativo em linhas gerais c que se caracteriza como educativo, mas também
é muito abrangente, entendeu?
Então, acho, mas eu não sei, a minha hipótese é que esta geração é ilegal porque você vê que não há
na legislação que eu conheço...

Mas eles me explicaram que era uma retransmissora, mas, com as mudanças da época do
ministro Sergio Mota conseguiram a concessão de geradora.
Onde está escrito isso, quer dizer uma retransmissora pode ser transformar em geradora, eu não sei
onde está escrito isso.

Mas de qualquer forma foi de força política?


Foi, mas não é só ela. Quer dizer, têm inúmeras, sei que aqui no Leme tem um monte de... Há um
caso estranho em uma cidade do interior não sei é Leme que tem a Rede Globo, e tem a
transmissora educativa que representa a Rede Globo, têm duas Globo no ar, é uma coisa absurda.

Por que? Porque não tem a fiscalização.


Não tem nada, as comunicações está atrás das comunitárias, rádio pirata...
(...) Agora, o que me choca mais em tudo isso que a gente está conversando é que existe uma luta, e
eu faço parte dessa luta de tentar criar uma rede nacional de emissoras públicas, fortes, com
competência, capaz de concorrer com a TV comercial. Fala-se tanto da baixaria da televisão
comercial etc que quando você vai exigir mais qualidade eles dizem que ninguém deve se meter lá,
que não admitem censura etc. Então, eu acho que uma forma de combater essa baixa qualidade da
televisão comercial é você ter uma televisão pública competente, de qualidade, a ABEPEC (?)
tentou e tem muita dificuldade... os problemas estaduais... eles interferem muito nas emissoras. Mas
de qualquer forma acho que o governo federal poderia estimular a criação de uma rede pública
nacional e tal. Agora você diz, mas ela tem quer ser pública, com verbas públicas, como controle
público, sem comercial e agora você me diz que ele tem essa intenção.

A NGT vai alugar um canal no satélite e vai sair esse ano.


Quer dizer ele vai ocupar um espaço em uma brecha que as televisões públicas, com rede nacional,
como a TV Cultura e a TVE, não estão dando conta.

Ele parte do raciocínio de que as televisões não trata bem as afiliadas, digamos assim, ele vai
tratar, não é só isso ele conhece muita gente no Brasil inteiro, já tem várias pessoas, canais
interessados...
Que não são afiliadas, que ele vai tratar com dinheiro, vai tratar com anúncio... Quer dizer, vai
tratar, em querer fazer com ele, claro. É uma desregulamentação, é uma regulamentação que
favorece a desregulamentação. Você tem tantas leis, tantas variadas, a televisão no Brasil corre
solta. Vou te mandar alguns textos também meus sobre isso, sobre TV pública, acho que interessa.

Tem um que eu já peguei lá no site do TV.


Qual é, fala sobre a TV pública?

Eu vim atrás das suas opiniões a respeito do que o senhor sabe, sobre esse mundo de TV

149
Anexo 3

educativa, entendeu?
Então deixa dar as minhas opiniões. Vou colocar de forma clara. O primeiro conceito é que a
Constituição brasileira define três modelos de televisão num determino artigo, acho no 220, 221 que
é público, privado e estatal. Aqui não tem o conceito de educativa. Portanto, institucionalmente
você não tem esse conceito. Embora na lei maior que é Constituição você não tem, o meu
entendimento e a minha opinião é que o educativo é o conteúdo. Então, uma televisão educativa ela
pode ser pública, privada e estatal. Agora esse conteúdo, agora essa expressão a TV educativa, ela
tem uma carga muito forte que vem do ano 60 quando a televisão começou a tomar corpo no Brasil
e se tinha a idéia que num país como o Brasil, com dimensões como o Brasil, a televisão supriria a
dificuldade do ensino presencial. Aí fica combinado dois interesses, têm uma coisinha no meu livro
“Atrás das Câmeras” dá uma olhadinha, você conhece esse livro meu? Da TV Cultura, “Atrás das
Câmeras”, tem um pouco sobre isso. Porque combinaram dois interesses: com essa ideologia da
educação via televisão, no momento novas tecnologias, como se hoje fala em internet e TV digitais,
naquele momento era TV aberta a grande tecnologia para a educação. Ficou uma ideologia que
estava sustentada em dois princípios um era a grande venda de material eletro eletrônico pro
mundo, principalmente para os EUA. Despejaram equipamentos aqui no Brasil, tem vários textos
sobre isso e quem escreve muito sobre isso é Armando Matelartt, o Francês, que estuda isso na
América Latina. Ele mostra bem isso, como é que a indústria entrou nisso, e o outro principio foi a
etiologia da segurança nacional. Estávamos em plena ditadura militar. Esses dois fatores
impulsionaram a idéia de que através da televisão, quer dizer, esses dois fatores estavam por baixo,
esses eram os reais, o ideológico era que através da televisão você educaria. Aí o que se fez?
Começou a fazer a bobagem que era, como a TV Cultura chegou ao fim dos anos 70 fazendo isso,
pondo uma câmera com uma sala de aula. Às vezes se sofisticava um pouco, mas se provou que isso
não dá certo. No mundo não deu certo, televisão é televisão, aula é aula. O que se pode fazer é usar
programas de televisão para apoiar uma aula de um professor. Se você pede um documentário sobre
a China, mostre e depois discute. É diferente, não é sala de aula. Isto vem até hoje, se bem que hoje
nos setores mais abertos que pensam nisso não se fala mais em televisão educativa, tem televisão
que podemos chamar de televisão de conteúdo mais cultural, menos populares. Você podia dividir
assim os conteúdos...De qualquer forma, você tem essa herança lá dos anos 60 que ainda acham que
a televisão é feita para ensinar. Então, quando surgiu esse tipo de coisa aqui (...), ele vem com essa
carga da televisão educativa. Agora, pois é, essa idéia de TV educativa é que é ruim esse conceito.

No caso da NGT ela não quer ser educativa nesse sentido formal, mas é educativa porque se
enquadra na lei...
Não é bem uma lei... é um canal aberto privado. Ele é um canal aberto dentro da Constituição. Ele
está aqui, canal aberto privado, como a TV Futura que é uma emissora educativa privada. Olha, não
há nenhum tipo de controle público. São empreendimentos privados, quer dizer, trata a televisão
como se a televisão fosse um jornal, que você pega na banca, imprime, coloca na banca e a pessoa
compra. Televisão não, televisão ocupa um espaço público que são as ondas sejam VHF ou UHF,
são ondas eletromagnéticas públicas, e tem uma concessão...

É assim na TVE, na TV Cultura, mas fora essas e outras que eu não devo conhecer e que
realmente trabalham com essa visão de cultura, de formação do indivíduo, a impressão que eu
tenho é a de que a maioria das TVs educativas no país, que foram obtidas através da concessão
política, sãorealmente instrumentos de poder, que estão pelo Brasil fazendo o que querem,
ninguém vê nada.
Exatamente, esse é outro nicho, você está nesse nicho ou outro nicho?

Eu não estou no nicho da TVE, da TV Cultura, acho que estou nesse aqui, que eu não conheço.
Eu acho seu trabalho ótimo, pois são os nichos mais característicos dentro desse modelo da
Constituição. Você tem as televisões privadas que são todas essas que nós sabemos: Globo e

150
Anexo 3

congêneres. Estatais você tem a Rádiobras, a TVE, que tenta não ser estatal mais na verdade é
estatal porque ela esta vinculada à Secretaria da Comunicação da Presidência, e você têm a TV
pública, o melhor exemplo é a TV Cultura porque, juridicamente, ela independente do Estado, ela é
uma fundação de direito privado. Portanto, por ser de direito privado, o estado não tem poder de
interferência. O órgão, o conselho curador da TV Cultura é o órgão máximo, muito semelhante a
BBC, mas claro que na prática não é assim. (...) Mas, teoricamente, ela é modelo público, no Rio
Grande do Sul está se tentando fazer isso, mas não se conseguiu. Quer dizer, de qualquer forma esse
teu trabalho é um outro nicho, que são TVs educativas, que teoricamente estariam aqui porque (são
fruto de concessões?) privadas, as concessões privados. Ela não tem infelizmente nenhuma grande
restrição de conteúdo, o cara põe o que ele quer, embora a lei diga lá, de acordo com a Constituição,
com o Código Brasileiro de Radiodifusão... porque a lei maior é a Constituição, abaixo dela vem o
Código, é de 62. Você imagina o que pode ser, mas de qualquer forma, ainda alguns decretos
estabelecem finalidades educativas, culturais... A Constituição diz isso também, que a televisão
deve...

Agora, o problema você vê o que acontece pelo Brasil nessas TVs educativas...
Eu acho que o primeiro problema é você pegar a legislação que criou essas TVs, essas TVs, porque
não é TV educativa, quer dizer, é TV educativa, mas não é TV educativa. São essas retransmissoras
que são fenômeno novo, essas retransmissoras, eu acho que são fenômeno, não sei, da década de 90
depois do Sergio Mota...Acho que esse é que é teu objeto.

A compreensão que está se formando em mim, é que a gente pode afirmar que é comum
encontrar proprietários de TVs educativas que não tem nenhuma ligação com educativa de
alguma forma, nesse universo...
Nesse universo porque na verdade essas concessões, a grande parte dessas concessões, talvez quase
totalidade, foram concessões políticas, não foram concessões voltadas para prestação de serviço
público. Agora, isso não teria tanto problema se elas não fosse efetivamente retransmissoras. Então,
não haveria problema nenhum, porque elas estariam retransmitindo programas nas chamadas TVs
educativas públicas. Mas ao se transformarem em televisores geradoras, elas passam a ter a
concepção de educação e cultura do proprietário que é uma concepção de cultura muito particular e
educativa muito particular. Quer dizer, você pode entender que você está educando ou
estabelecendo uma relação ou transmissão de cultura passando programas fantasiosos, como a
chegada do disco voadores. Enfim, você pode colocar programas infantis, a própria (?) você quando
fala em TV educativa e TV cultural deve haver por trás da programação uma linha condizente com
as necessidades culturais, educativas, da situação real da sociedade naquele local, do Brasil como
um todo, a partir de estudo, a partir de trabalhos pedagógicos, enfim, essa decisão de conteúdo não
pode ficar na mão de uma pessoa, de um empresário. No final, o cara vai sendo um empresário
porque essas fundações, que eu tenho até medo de afirmar que muitas delas são de fachada, na
verdade são empresas.

Lá o dono é o presidente, os participam do conselho são a filha, a mulher e outra filha...E não
tem ninguém lá que já tenha trabalho com conteúdo cultural ou educativo. Quem decide o que
vai para ar é um cara, um técnico que escolhe os programas, entre os parceiros para colocar no
ar... Não tem ninguém que pense na programação... Ainda mais quando vai se tornar rede
nacional, vai se tornar viu...
Isso é no mínimo antiético, para não dizer coisa mais dura, é imoral... Me dá uma tristeza porque
estou envolvido muito emocionalmente nessa briga com a melhor qualidade de televisão, na ONG,
e eu não sabia disso, você está me contando coisas. A televisão é muita coisa importante para ficar
na mão desse tipo de gente e o pior, quer dizer, quando estamos todos empenhados, ou algumas
pessoas empenhadas em se criar uma rede pública nacional séria, com base nas emissoras que já
existem estatais, públicas, de repente essa base que podia ser a base da rede séria pode ser puxada

151
Anexo 3

para esse lado, não é pelo o que você está me contando, ele vai atrás dessa base, não vai?

Eu também ia perguntar se a desregulamentação provoca a proliferação...


Não é uma desregulamentação. Na verdade é uma prática política, que se agravou no Governo
Sarney, é responsável pela proliferação dessas emissoras.

Uma outra dúvida é se é possível mais de uma TV Educativa numa região.


Olha o que eu sei de cabeça, que me falaram é que Bertioga tem, nessas cidade médias Leme,
Americana, Araras...Porque é o seguinte: as pessoas sabem que televisão é uma mina de ouro, se há
telespectador.

PROFA. DRA. MARÍLIA FRANCO


PROFA. DA ECA/USP E ESPECIALISTA EM TV E CINEMA
DATA: AGOSTO DE 2004

(problemas de gravação no início da conversa)


...eu acho que a novela....não sei se é educativa... Globo repórter... a Xuxa... acho que não pode
ser educativa... ela se vende como tal...
Horrível, mas ela pretende ser. Não é só que ela se vende, agora inclusive ela está produzindo. Ela
tem um esforço de ser educativa... estou fazendo essas perguntas para você é o que é educação. É a
primeira pergunta que você precisa começar tentar responder, não pelo padrão que você vai
encontrar nos livros, porque o que você vai encontrar nos livros de um modo geral reflete a
educação no século XX. A educação do século XXI precisa ser outra coisa. Então, para você falar
em televisão educativa você tem que focar em muitas coisas. Você vai ter que focar a televisão num
modo geral, o papel dela numa sociedade, como a sociedade brasileira, o que é o conceito de
educação numa sociedade em transformação, como a nossa e como a global; o que é no caso dessa
televisão que você pretende enfocar; o que é uma TV de qualidade, mas que tem interesse em
ganhar dinheiro. Quando eu digo em ganhar dinheiro, não estou nem dizendo em ficar milionário,
virar Roberto Marinho, que visa em ter lucro, lucro inclusive eventualmente para melhorar a
qualidade da programação. Então, não estou falando essas palavras como sentido pejorativa que
elas costumam ter. Televisão é uma coisa muito cara de ser feita, muito cara, seja feita produzida
diretamente pelo canal, seja comprando programação pronta. São as duas possibilidades que
existem de você por programação no ar. Fazer custa muito caro. Se você faz e vende para outros
lugares, você amortiza uma parte. Então, por exemplo, a Globo tem uma verba grande de
publicidade que de fato custeia a programação. Mas ela vende a programação dela também para o
mundo inteiro. Então, é onde ela também tira um grande lucro, para sustentar no ar programas que
não tem tanta, eu nem vou falar de audiência, não vamos discutir Globo em termos de audiência,
vamos discutir Globo em termos de ter patrocínio ou não patrocínio. Audiência ela sempre tem,
mais você tem maior cotas de patrocínio em determinados tipos de programas, em determinados
horários e menor cotas de patrocínio em determinados em outros programas em determinados
horários. O Antena Paulista, por exemplo, deve ser deficitária porque ele tem um enfoco muito
regional e é num horário totalmente bizantino. Mas, mas ele tem, por outro lado, uma liberdade de
desenvolvimento de linguagem, de temáticas, enfoques, que acaba sendo uma espécie de campo de
experimentação. Então, isso pode até não ser um programa que dê lucro para a Globo, mas não é
um prejuízo, é um investimento na medida em que ele é um programa de experimentação. Depois, o
que der certo no Antena Paulista, o que ficar bom, eles vão jogar o modelo de abordagem e
produção etc para outras programações. Então, você tem que cruzar muitas variáveis para discutir

152
Anexo 3

televisão, particularmente você quer discutir a questão TV educativa. Não é por nada que não tem
nenhum livro sobre a TV educativa. Porque não existe um modelo de TV educativa que possa dizer
este é o modelo e ele tem que ser seguido. A TV Cultura não chega a ser um modelo de TV
educativa. Ela funciona hoje dentro das restrições que o fato de ser um TV pública impõe. Ela é
mais uma TV pública do que uma TV educativa.

Eu tentei entender qual é a diferença entre TV pública e TV educativa e não consegui...


O canal Futura é um canal educativo e não é uma TV pública. Ela é uma TV das organizações
Roberto Marinho com financiamento da FIESP e de outras instituições privadas. A TV Cultura é
uma TV do Estado, por isso ela é pública. Então, na realidade, a TV Cultura é minha, é sua, é de
todo mundo que paga imposto no Estado de São Paulo. O que não existe na TV Cultura e que
deveria existir, que são modelos de TV pública, você tem uma TV pública mais tradicional que
existe que é a BBC, que tem modelos diferentes de funcionamento como TV pública e está em
transformação, inclusive. Você tem a NHK do Japão, diferente ainda da BBC. Então a NHK é
custeada diretamente pelo consumidor dela, o camarada vai ao banco e paga um X que é do
interesse dele, da condição dele para a NHK. Então, é uma contribuição do espectador pra ela
funcionar como TV pública nesse sentido. Quer dizer, o espectador custeia a NHK. Então, a NHK
tem que fazer aquilo que o espectador quer e precisa. Você tem uma televisão que é um fenômeno,
ela tem um departamento de pesquisa que é o mesmo do tamanho de um departamento de produção.
Eles estão permanentemente desenvolvendo pesquisas de todo tipo de natureza pra saber o que o
público quer e o que o público precisa e eles vão pôr no ar aquilo que eles descobrirem

A NHK e BBC podem ser consideradas educativas...


Vamos deixar de lado esse educativo por enquanto. A TV educativa é uma coisa, esse termo
televisão educativa foi um termo cunhado nos anos 60, nos anos 50, nos anos 70, quer dizer, no
meio do século passado quando você tinha, primeiro, só um modelo de televisão aberta, só as
televisões abertas. Quer dizer, a televisão era para qualquer pessoa que tivesse um aparelho e uma
antena. Você precisa começar a pensar em um conceito de grade, de programação. Hoje, nós temos
uma outra configuração na televisão. Você tem a TV aberta, ela se constituiu e se afirmou com um
tipo de grade que a gente chama de grade horizontal. Ela serve a todo os seguimentos sociais, em
termo de faixa etária e termo de classe social, classe social do ponto de vista econômico e do ponto
de vista cultural, e por isso que ela é aberta a todo mundo, ela tem responder. Então, a televisão se
constituiu enquanto meio de comunicação, entrou na sociedade e foi absolvida pelas pessoas com
uma coisa que está dentro da casa das pessoas e tem que conviver com o cotidiano das pessoas, tem
que encontrar um espaço, dentro do cotidiano das pessoas. Então, a grade da televisão aberta foi
constituída a partir dessa relação. Você tem uma grade que ainda hoje é organizada em função da
hora em que o sujeito levanta e toma café pra ir trabalhar. É quase para um trabalhador de classe
média burocrático, que entra às nove e sai seis, tem a mulher que fica em casa, tem a criança que
vai para a escola ou de manhã ou de tarde, o horário da lição, horário do almoço, do jantar, essa
coisa toda...Então, você tem o jornal da manhã que visa principalmente o público masculino. A hora
que marido sai de casa pra ir trabalhar entram os programas femininos. Nesse meio tempo, as
crianças estão levantando, deu o tempinho delas fazerem lição até terminar os programas femininos,
tem programas para crianças. Entra de novo um tipo de programação que é aquela hora que a
criança tomar banho e almoçar para ir a escola. Volta os programas femininos à tarde ou algum tipo
de programa jovem, para aqueles jovens que estudam de manhã e à tarde. Então, em casa, sessão da
tarde para quem não tem o que fazer, para terceira idade etc e tal. A partir das seis horas começa
uma programação juvenil, que vai pegar, por exemplo, malhação, a novela da seis e depois tem a
novela da sete, que pega ali no meio do caminho entra a dona de casa que está preparando o jantar e
o marido que também já chegou e a criança que está ali na espera do jantar. Entra o jornal na hora
em que o marido já chegou em casa e entra a novela das oito, que é a novela da família
teoricamente. É aquela que a mulher gosta de assistir, mas ela tem uma abordagem que pode

153
Anexo 3

interessar o marido também. Depois da novela das oito, você tem a programação noturna que ai já é
adulta. Então, isso se repete de segunda a sábado, manhã, tarde e noite, por isso que a gente chama
de grade horizontal e genérica. Então, o que ela é genérica, ela é genérica em todos os formatos de
programa, você encontra todos os formatos de programa nessa grade, todo o tipo de
teledramaturgia, desde sit com, programas tipo Grande Família, coisas assim; você encontra os
documentários tipo Globo Repórter que, para mim não é documentário, pra mim é programa
jornalístico de reportagem; você encontra telejornal, você encontra os programas femininos que tem
todo o tipo de abordagem de receitas até psicologia, maquiagem, artesanato, essa coisa toda; todo o
tipo de programação infantil, programação de humor, programa de auditório. Todos esses formatos
que foram se desenvolvendo na televisão seguiram esse modelinho aqui horizontal e teoricamente
ela é uma televisão feita para agradar todo mundo. No momento que é pra agradar todo mundo, o
nível de abordagem dela tem que ser muito genérica também porque se começa a ser uma
abordagem (mais específica) pressupõe uma base cultural do espectador para entender, pressupõe
um nível de conhecimento, pressupõe um nível de envolvimento na questão política, na questão
cultural, na questão, enfim, no interesse de formação e tal, você já começa a restringir o público, o
público já vai começar achar chato.

... voltada à dona de casa a televisão é considerada genérica....


Sim, porque ela vai abordar as coisas num patamar que tanto serve pra empregada que está
assistindo, quanto serve para madame que já foi para Europa várias vezes, que visitou museus etc.
Então, você tem uma coisa assim bem pausterizada, com variações, mas com variações, assim, se
você tem uma onda muito pequena. Não tem pico e você pode ter dentro disso abordagens que
sejam educativas. O que é o educativo? Como você vai entender o educativo? O educativo é aquilo
que acrescenta conhecimento às pessoas, e aí pra ser educativo, você precisa ser mais que
informativo tem que ser formativo. Então uma novela, por exemplo, que aborda a questão da
adoção de crianças ou da questão da doação de órgãos ou a questão da maneira como a família deve
lidar com um filho homossexual, ou a questão do consumo de droga e de álcool... você está mais do
que informando, você está formando porque você modela o comportamento das pessoas, você
modifica o comportamento das pessoas...

À medida que você incentiva, a emoção...


Não é nem a questão de incentivar, ou não incentivar, você aborda a questão. Você aborda essa
questão de vários pontos de vista. Na teledramaturgia é muito interessante você fazer e aí é
realmente o profundo papel educativo que pode ter, não estou dizendo que tem, não estou
afirmando que tem, nem sempre é bem abordado porque na teledramaturgia como você tem vários
personagens cada personagem pode representar um tipo de visão de mundo em torno daquele
assunto. Então, no caso, por exemplo, do consumo de droga, você tanto tem, pode ter um pai ou
uma mãe que procuram se aproximar do filho, ter uma atitude compreensiva, busca ajuda de uma
maneira não autoritária, não agressiva. Você tem, por outro lado, pode ter outro pai que é aquele
pai que não admite, que bota o filho fora de casa, só agride o filho quando o filho aparece. Você
pode ter um outro tipo de pessoa que não pode ser o pai, pode ser um tio, pode ser um amigo, que
acaba acompanhando o drogado na tentativa de conhecer o meio, estar juntos, de proteger. Então,
você tem as pessoas que vão se comportar de modo que cada seguimento da sociedade se reconheça
numa daquelas atitudes. Só que aquela atitude dentro da novela vai estar em confronto com as
outras. Então, a novela não precisa ser aquele educativo, assim, de botar o dedo no nariz e dizer faça
tal coisa que é certa. Você permite que a pessoa, no confronto das atitudes, reveja o seu papel, e isto
tem uma função transformadora muito mais consistente do que (apontar o dedo) dizendo o que é
certo, ou pode nem ser o (?) pode ser aquela fala muito calma do padre que diz o que é pecado, o
que é virtude e não coloca nada em confronto, que existe uma verdade, e é aquela que tem ser
seguida independente do fato daquilo ser contra a tua natureza, entendeu? Então, você precisa
pensar educativo, nesse sentido, não no sentido do que é o certo, do que é o melhor, do que é bom.

154
Anexo 3

Muitas vezes a gente aprende muito mais com o que errado do que é certo, seja vendo, seja tomando
na cabeça porque fez o errado e aprendeu... sabe criança que só aprende que o fogo queima, quando
queima o dedo pela primeira vez. Não adianta dizer para uma criança não põe o dedo porque
queima, não põe o dedo porque queima. Queimar, o que é isso? O que será queimar? Ele não
conhece, ele não sabe, não é porque a mãe disse que aquilo virou uma verdade para ele. Ele queima
o dedo e aprende. Ele não aprendeu porque a mãe disse que queimava, ele aprendeu porque sentiu a
dor, aí ele não é besta de botar a mão lá de novo...

Então TV Educativa é aquela que propicia o debate?


Exatamente! É o confronto das possibilidades, e ai não é a televisão se pondo no papel do educativo
ou se pondo no papel de comercial, ou se pondo no papel não sei do quê, que ela vai estar educando
a população, que ela vai estar tendo uma utilidade formadora. Ela vai ser educativa, formadora,
transformadora, se ela tiver esse debate embutido na sua programação, que pode ser dentro da
novela no confronto entre personagens, que pode ser dentro da programação trazendo maneiras
diferentes de abordar essas questões, mostrando uma reportagem, situações um pouco diferente
daquelas que acontecem no cotidiano daquela sociedade, entendeu? Então, por exemplo, você pega
um programa da TV Cultura que traz uma reportagem na Índia de como as mães cuidam dos bebês
fazendo aquelas massagens, aquele tipo de coisa, aquilo é tão diferente de como nós aprendemos a
cuidar de bebês. Puxa vida! Você tem um filho pequeno e vê aquilo, você fica pensando “porque eu
não experimento?” Talvez você veja uma vez, e não aprenda. Aí você tem uma repetição, você vai
procurar lá no jornal quando o programa vai ser repetido, porque quer ver de novo, pra gravar, para
você retornar, ver direitinho como faz a massagem. Então, você tem jogar as coisas, você tem que
oferecer ao espectador a oportunidade de ver coisas que são diferentes do cotidiano dele e quando
for uma coisa do cotidiano essa coisa estar em confronto em duas ou três opiniões pelo menos.

Mas antigamente o educativo estava ligado à educação formal...


Estava. O primeiro projeto da TV Cultura era aula pela televisão, e era um saco! Porque você não
tinha o calor da presença do professor, e era a cara do professor o tempo todo falando na tela. Você
pega o telecurso 2000, é uma evolução anos luz, do que era o telecurso na TV Cultura na década de
70. Não tinha quase nada. A ilustração era quase do mesmo jeito da ilustração do quadro negro e do
livro didático, só que era na tela da televisão e era muito chato, muito pouco eficiente, era falso,
totalmente falso. Então, hoje também a própria educação formal, como ela é, está sendo
profundamente questionada. Então, não dá para você pensar numa televisão educativa pensando
num educativo escolar. Educação é uma coisa. Hoje, o conceito de Educação que existe na
sociedade é o que a gente chama de educação continuada. As pessoas têm que estar
permanentemente aprendendo, senão elas não sobrevivem na sociedade contemporânea e,
particularmente, as crianças e os jovens tem que estar adaptando, se reciclando profundamente a
cada momento para encarar a tecnologia, para encarar as rearticulações do conhecimento que
existem, as novas exigências de comportamento profissional...

Então posso afirmar que o educativo surgiu para levar através da televisão a educação formal e,
ao longo dos anos foi se transformando. Se o educativo pode estar em qualquer programa,
qualquer tipo de TV aí fica mais difícil ainda de você dizer, que é uma TV educativa.....
Uma tentativa de massificar mais a educação formal que não deu certo. Você pega a TV Cultura,
por exemplo, ela tem um trabalho com criança, muito focada no público infanto-juvenil. Ela aborda
a questão do público infanto-juvenil a partir de um conhecimento de psicologia, de pedagogia mais
contemporânea, de dramaturgia. Então, você pega um Castelo Rá-tim-bum, por exemplo, ele é uma
teledramaturgia, com personagem, com história, historinhas com começo, meio e fim. Esses
personagens, como eles são inclusive totalmente fantasias, eles podem abordar o que for da maneira
em que for. Então, eles vão procurar fazer as abordagens que envolvam tanto cotidiano da criança,
do tipo escova os dentes, coma pepino, porque o pepino é verde, para que serve comer verde...Ao

155
Anexo 3

mesmo tempo em que eles estão discutindo pepino e espinafre e jiló, eles estão discutindo
fotossíntese, essas coisas. Eles fazem uma mescla entre o cotidiano que precisa de um nível de
formação de hábitos, de hábitos que são adquiridos por consciência. Eles não têm saco para escovar
os dentes, escovar os dentes é uma das coisas que você se habitua, a ter os dentes limpos porque
isso depende da sua saúde. Não é que você gosta de escovar os dentes, é que incômoda estar com os
dentes sujos. Você se submete ao saco de escovar os dentes para sentir a sensação do dente limpo.
Você não está convencida de que escovar o dente é bom. Escovar o dente é um saco! Tomar banho
no frio é um saco! Alguém deixa de tomar banho no frio? Não, porque se você deixar de tomar
banho você começa a se sentir incomodada porque você tem um hábito de ter uma sensação de pele
que o banho te oferece. Então, a gente precisa começa a desconstruir um pouquinho essa questão da
educação, o que é a consciência, o que é formação de hábito, o que é disciplina, o que é coisas que
são hábitos, são consciência, são disciplinas e se adaptam a minha personalidade. Tem coisas que eu
sei conscientemente que são melhores. No entanto, é tanto sacrifício pra eu fazer, por exemplo,
dormir cedo, o melhor é dormir dez, onze horas e acordar seis, sete horas. Mas tem gente que tem
hábitos noturnos, sei lá porque motivo. Essa pessoa gosta de dormi à meia-noite, uma hora e tem
condição de dormir oito horas, nove horas. Por que eu tenho que infernizar um adolescente que tem
esse bio-ritmo a dormir todo dia às dez horas? Coitado vai pra cama e fica rolando na cama pra lá e
pra cá, acaba criando uma situação de insônia ou de pegar num sono de uma forma artificial, que
pode gerar problemas seríssimos de saúde.

Um programa sobre futebol amador, por exemplo, colocar pessoas comuns jogando futebol num
domingo de manhã, pode ser caracterizado como programa cultural, educativo... Amigos que se
juntam para ir jogar bola...
Depende da abordagem. O que significa aquele grupo? Você pode enfocar o grupo, você pode
enfocar a comunidade, como ele se formou, quem são as pessoas, o que aquele futebol significa
para aquelas pessoas, quem são... O futebol sempre são dois times. Você enfoca uma comunidade
que está recebendo ou a que foi visitar, ou é um bairro que tem três times, ou quatro times e tem
uma sistemática de uso daquele campinho. O que significa o grupo que joga, o grupo que assiste,
tem camiseta, não tem camiseta, como aquela camiseta foi financiada, cada um comprou a sua, mas
a camiseta é igual, aonde foi mandada fazer. Então, na realidade o que você está investigando é uma
comunidade, é uma comunidade que trabalha em torno de uma questão que é o futebol. Para onde
aquilo vai? Tem olheiro que vai lá buscar talentos? Por exemplo, agora quando a prefeitura
começou a construir os CEUS, em vários bairros, o CEU foi construído em cima dos campos de
futebol, em geral era o único equipamento de lazer que tinha no bairro, na periferia. Não que a
prefeitura chegou lá e desapropriou o campo de futebol, que alias, não é propriedade de ninguém,
era um terreno mesmo baldio da prefeitura. Não é que ela foi lá disse agora todo mundo vai embora
e nós vamos fazer uma escola aqui e vocês vão ficar um ano e meio sem poder jogar bola no fim de
semana. Não, foi com os líderes comunitários, sentou quinhentas vezes, explicou qual que era o
objetivo, entendeu o que era aquele futebol, qual era a comunidade que administrava aquele espaço,
buscou alternativas e obteve o aval da comunidade para construir uma escola em cima do campo de
futebol daquela comunidade que há vinte anos era daquela comunidade. Criou o compromisso pra
quando o CEU tivesse pronto, e que teria campo de futebol, aquele campo seria da comunidade,
voltaria para a comunidade, apenas cercado. Então, já que você perguntou do futebol, nós vamos
falar da TV cabo.
A TV a cabo é a chamada TV segmentar. O que é o segmento? O segmento é um segmento de
interesse. Então, você tem o canal de filme, você tem canal de esporte, você tem canal de
documentários, documentários de diferentes naturezas, você tem um tipo de documentário na GNT,
que não é o mesmo tipo de documentário da Discovery (entre outras), como você tem vários canais
de cinema. Então, o Telecine, por exemplo, tem “emocion”, comédia, clássicos, ação. São
segmentos de interesse. Você tem no clássico, no telecine clássico, uma grade que é clássico o dia
inteiro. Tem uma grade que é de humor o dia inteiro. Uma grade que é de ação o dia inteiro. Você

156
Anexo 3

tem o canal Brasil que é só de cinema brasileiro. Você tem os canais religiosos, tem a Rede Vida,
por exemplo, que é uma abordagem católica o dia inteiro, tem telejornal, tem programas de receita,
mas você sempre vai ter uma abordagem pela via do cristianismo. Na grade vertical pode interessar
a um único segmento. Então, vamos pensar: você tem os quites todos, o dia inteiro programação pra
criança, desenho, todo tipo de coisa. Você vê uma diferença muito grande de abordagem, de
constituição de um ambiente televisivo dentro da casa das pessoas. Sempre vi muita televisão, a
vida inteira, desde criança, eu só a própria história da televisão brasileira. Porque eu vi desde o
começo, eu não sabia que eu sabia tanto, eu fui descobrindo depois quando eu tinha que enfrentar,
então eu não tenho essa disciplina de ficar quietinha. Então, o que acontece aqui, estou revendo a
minha personalidade de espectadora no confronto entre eu ter a TV aberta e eu ter TV cabo. Hoje
escolho a programação da televisão muito em função também do meu estado de espírito. Tem dia
que eu fico o dia inteiro na Globo News, eu quero ouvir aqueles debates, eu quero ver as
reportagens, eu quero assistir os telejornais de hora em hora, eu perco o das oito da manhã o
telejornal, das sete e quinze até as oito, ai assisto as nove na Globo News que repete o Bom Dia
Brasil. Mas tem temporada que não estou com saco pra notícia, vou para multishow. Então, eu pego
cada bruta programa de música no multishow maravilhoso. Tanto música como espetáculos Às
vezes eu fico uma semana no canal Brasil, ai chega uma hora que enche o saco de ver tudo que é
cara conhecida, as histórias que já conheço, aqueles filmes que já vi, não quero mais ver o canal
Brasil. Então, são essas coisas que você começa a perceber que a tua relação com televisão é
educativa só para você (grifo nosso). O que estava vendo outro dia, eu estava assistindo um negócio
e a minha filha perguntou: por que você está vendo isso? Eu estou aprendendo, era uma bobagem
homérica, mas eu tenho um tipo de interesse, um tipo de necessidade de leitura, do que está na
televisão, do que está na mídia, de modo geral porque eu preciso ver para aprender. Como que é
essa abordagem, como é que consegue capturar determinado tipo de público, como é que trabalha a
cabeça desse público, a que tipo de necessidade esse tipo de programa está respondendo. É uma
necessidade de transformação? É uma necessidade de consolidação? Você pega todos os canais
religiosos... Eles são extremamente conservadores, querem marcar o fiel naquela igreja, e aí a igreja
é uma instituição lucrativa. É super importante ficar ouvindo e você ficar ouvindo o dia inteiro
porque aí você vê o nível de repetição e você vê o nível de hipnose que é feita com as pessoas. É
uma coisa que não tem nenhuma contradição, é um discurso monolítico e determinador, você tem
que se comportar de tal maneira, você tem que enxergar o mundo dessa maneira isto que te acontece
é interpretado assim, assim, assim, e você se comporta diante disso assim, assim, assim...
Exatamente autoritário por mais que seja aquela coisa libertadora. Não é libertadora porra nenhuma,
na realidade é amarrar, amarrar, amarrar. Então, isso tudo questiona profundamente a visão
educacional que a gente tem de educativa, que a gente tem da educação formal. O que está
educando de fato é a forma da linguagem é a maneira de abordar as questões e principalmente a
repetição ou não de um determinado modelo (grifo nosso). Por isso que hoje você em busca de
viver ou constituir um modelo de TV educativa não funciona mais. É um conceito superado. Hoje
você tem mais a televisão assim: TV aberta, quer dizer grade horizontal e genérica. TV segmentada,
seja ela de que natureza for, porque na grade segmentada você tem várias TVs públicas. Então, a
universitária, a comunitária, a TV justiça, a TV Senado, a TV câmara tudo isso são TVs públicas,
Elas têm, por exemplo, no caso da TV universitária...Ela não é uma televisão só, você tem várias
universidades no caso para o canal universitário de São Paulo. Você só tem duas universidades
públicas, dentro dela que é a USP e a UNIFESP, as outras sete são TVs universidades privadas.
Mas, como são, você tem que ver qual é o objetivo da TV universitária, é um objetivo de formação
mesmo pro público que assisti, quer dizer, é uma ampliação do papel formador da universidade para
um outro tipo de público que não está dentro da universidade? Você visa realmente o público? Elas
não têm fins lucrativos, nem a universitária e nem a comunitária. A comunitária mais ainda porque
a comunitária é feita pelos segmentos da comunidade. Então, são ONGs, são associações, são
comunidades, por exemplo. Podem ser comunidades religiosas, podem ser comunidades de bairro,
que vão fazer seus programas e apresentar lá.

157
Anexo 3

Tanto na TV universitária como na TV comunitária elas pagam pra veicular...


Não, você não paga nada, ela é uma concessão. Todas as operadoras de cabo em cada município são
obrigadas a liberar sinal gratuitamente para instalação de uma TV universitária, de uma TV
comunitária e de uma TV legislativa. (...)
A TV universitária tem o seu conselho e a TV comunitária tem o seu. Cada uma tem o seu. Você
tem um custo de operação, você não paga para botar o sinal, você não paga nada para anatel, para
ninguém (nem pro Conselho que gerncia a programação). É gratuito. Como a Globo paga ou como
qualquer outro canal paga, os intercines pagam para ter o direito a usar aquela banda do sinal. Essas
públicas do cabo não pagam nada, mas elas têm que custear. Então a TV universitária, por exemplo,
tem uma casa alugada, onde está o equipamento, tem funcionário, tem um conselho formado por
representantes das nove universidades e esse conselho decide tudo que vai ao ar, como vai, como
vai ser a grade, tem um código de ética, horário, exatamente, tem uma norma técnica...

Mas o custo operacional não é administrado por cada universidade....


Não, uma coisa é custo de produção, para produzir o meu programa, para a TV USP, produzir o
programa dela, a USP custeia, do jeito que a USP achar como deve custear, mas para você tem que
ter o equipamento de emissão, você tem que ter o funcionário. Se o canal vai ao ar 24 horas, você
tem que ter três turnos de funcionário. O equipamento tem um custo, tem que estar instalado num
determinado local, os funcionários tem que ser contratados, não podem ser free-lance, tem que
contratar direitinho, tudo direitinho. Você tem que cumprir aquela grade, você tem que ter o
cuidado de que entre no horário, saía no horário, que a qualidade da transmissão esteja correta em
termos de imagens e sons, tem que fazer contatos permanentemente. Às vezes a imagem está ruim e
tem que ligar para NET ver se eles que estão com problema de sinal. No caso da TV USP, o canal
universitário do estado de SP, por exemplo, a casa alugada é ao lado, na frente a NET. Então, o
sinal sai daqui passa por um cabo e entra na NET (?) e da NET vai ser distribuído pro município de
SP. Do mesmo jeito que a NET distribui os telecines, ela distribui também o sinal do canal
universitário. Mas, para ir do local onde você enfia a fita até chegar na NET, você tem custo de
cabo, essa coisa toda. Inicialmente o canal universitário fica na TV PUC porque ela já estava
cabiada, porque a TV PUC começou um ano antes do canal universitário, aliás, dois anos antes do
canal universitário. Então já tinha vindo um cabeamento, que é um cabo especial, não é o mesmo
cabo que chega na nossa casa porque o cabo que chega na nossa casa é um cabo que tem sinal só de
ida, este tem que ser um sinal de ida e de volta, (?) é outro tipo de conexão; é outro tipo de cabo
mais caro, óbvio porque é mais elaborado tecnologicamente e ele tem um sinal de entrada e de
saída. Ele tem um sinal que vai e outro que vem. Então inicialmente, o canal universitário se
instalou na TV PUC, teve uma ampliação de equipamento, essa coisa toda que foi dividida em as
nove universidades. Ficou lá na TV PUC um tempão, chegou uma hora estava meio insustentável
ficar na TV PUC. Se alugou essa casa, a casa de frente à NET. Então, o custo de capeamento era
nada, era só estender um cabo por cima pela rua assim. (...) Tudo é custeado pelo rateio entre as
nove. Então, se paga dois mil, três mil reais por mês. Então esse é um custo do canal, independente
do custo de produzir cada programa. Então, cada TV tem seu estúdio, tem seus equipamentos, tem
seus funcionários e faz a sua programação. Mas essa programação também tem um formato
decidido pelo conjunto, de universidades.

Agora em termos de concessão, quer dizer nesse caso ai...definição no site no ministério das
comunicações .... só aparecia TV comunitária, TV comercial e educativa...fiquei pensando
quantos tipo de televisão existem...
Essa lei inclusive vai mudar agora quando realmente a lei de Telecomunicação for. Então, no
100mil.org.br (?) você vai encontrar, além do cabo, do que diz o que é a TV cabo, para que serve e
tal, você vai encontrar também no próprio 100mil vai encontrar um link pra ABTU, Associação

158
Anexo 3

Brasileira de TV Universitária. Você põe multirio na busca... a multirio é um canal público também
no Rio de Janeiro, municipal educativo, a TVE é a TV Educativa Nacional. Então, você tem a
fundação Padre Anchieta que é a TV Cultura, que é a fundação que gerencia a TV Cultura, o Estado
de SP é o único que tem uma televisão educativa própria. Você tem fundação Roquete Pinto, que
gerencia a TVE, a sede é no Rio, mas ela tem representante, digamos assim, ela tem link em todos
os estados. Então todos os estados têm uma TV educativa e fazem parte da rede TVE e
retransmitem a TVE do Rio e que tem produção local. A maior parte das vezes a produção local é
feita em conjunto com Universidade locais, quase sempre as universidades federais, a dos estados
que são totalmente Tabajara. Então, isso é o educativo que está regulamentado por essa lei que,
acho, é uma lei dos anos 60. Ela está totalmente superada pelos novos modelos tanto de televisão
quanto de educação. A diretora da TVE, Beth Carmona, que foi a pessoa que fez a TV Cultura a ter
a estatura que tem do ponto de vista cultural. Então, hoje se faz mais sentido a discursão do que é
uma TV cultural e TV comercial. Na cultural cabe tudo, na cultural cabe um programa sobre o
futebol de várzea, como cabe sobre qualquer esporte amador, por exemplo, esporte amador
universitário, o esporte universitário, você vai a FUPE, Federação Universitária Paulista de Esporte
e a FUPE coordena todas as atividades esportivas das universidades paulistas. Ela normaliza
campeonatos, define regras de cada modalidade esportiva. Tem que ver o lado do público, tem que
ter um link entre o público, evento e patrocínio, você tem que construir...

Mas isso em que tipo de canal? Em canal educativo é proibida a veiculação de comerciais...
Em qualquer canal, não é mais. Em primeiro lugar, quando o Roberto Mülaerte foi diretor da TV
Cultura, presidente da TV Cultura, ele instituiu o chamado apoio cultural, que é uma forma de
patrocínio não publicitário. Então, (surge) “esse programa foi possível graças ao apoio cultural da
NESTLÉ”, mas em nenhum momento ali dizia “tome danoninho”, “tome leite ninho”, “suquinho
NESTLÉ”. Então, não tem propaganda de produto, ela não está excitando a compra, ela não está
fazendo publicidade e estimulando o consumo, Mas há um patrocínio cultural da NESTLÉ. A
NESTLÉ apóia um tipo de programa que vai trazer à sociedade um benefício. Na realidade, o apoio
cultural é um tipo de patrocínio de agregar um valor a uma marca. O que está por trás do
pensamento do apoio cultural é agregar valor. Você pode pegar uma marca nova que vai fazer um
grande patrocínio cultural de um evento em uma determinada cidade, onde eles querem começar a
colocar os produtos daquela marca. A marca entra primeiro como uma beneficiária daquela
comunidade e, depois que ela já está na cabeça daquela comunidade, os produtos começam a entrar.
É outra forma de raciocínio da manipulação da questão dos patrocínios das verbas. Hoje, o que você
consegue de apoio, por exemplo, peça de teatro, cinema, essa coisa é de grandes empresas. É tudo
em função deste reconhecimento de que apoio cultural. Agrega valor a uma marca. Então, a TV
Cultural foi a primeira a partir da Mülaerte, que sabe muito bem como fazer isso. Tem até uma
agência desse tipo de coisa. Ele foi criando com as empresas esse tipo de cultura e, em cima desse
tipo de cultura construída, é que você tem hoje as vias de incentivos à cultura. Além de incentiva a
cultura, além de favorecer a empresa, o abatimento de impostos, essa coisa toda, ela também
funciona o tempo todo em cima dessa noção, de que patrocínio cultural agregar valor. Não vende. É
outro conceito, predispõe o público para a sua marca, o que vai facilitar a colocação no
supermercado dos produtos da marca. É outro âmbito de raciocínio que você precisa pensar
inclusive como um raciocínio educativo, de outra natureza. É uma instituição que investe na
qualidade de vida daquela comunidade porque bem cultural é qualidade de vida. Você entende que
mudou o raciocínio das coisas? Acho que foi ontem ou antes de ontem que eu vi uma informação, o
que aconteceu o Mülaerte realmente infringiu a legislação quando ele inventou essa história de
apoio cultural. A TV Cultura era notificada pelo Ministério o tempo todo e o que ele fazia? Ele
tinha uma gaveta na mesa dele só para botar as notificações. Nunca respondeu a nenhuma. Então,
ele nunca permitiu que fosse criado um fato jurídico, que permitisse impedi-lo de fazer isso. O que
aconteceu? Ele criou uma cultura. Porque no momento em que ele começou a obter apoio cultural, e
a programação da TV Cultura foi lá em cima e começou a ganhar prêmio internacional, se viu que a

159
Anexo 3

legislação era totalmente falsa, furada. Ele fez educação nas duas pontas, nos três seguimentos: ele
fez uma educação do legislador, ele fez a educação do patrocinador e a educação do público. Com
ousadia, ele mudou um sistema burro, insuportável porque o estado não pode pagar uma televisão.
O estado pode viabilizar uma parte de uma televisão, paga o quadro de funcionários, mantém o
custeio do espaço que é um espaço do governo, aquele ambiente lá onde tem a TV Cultura, viabiliza
a importação de equipamentos, essas coisas todas. Mas o custeio da produção direta não tem porque
vir do estado. Se você pode ter o apoio do incentivo privada para isso... foi graças à isso que se
conseguiu desenvolver um tipo de programação como é a programação desenvolvida. Mas o que a
TV Cultura fez também? Que valor ela agregou mantendo a expectativa da TV pública de prestação
de serviços e não de focar num interesse de patrocinador, ou de uma estrela da programação, tipo o
Ratinho, coisa assim? Foi buscar num conjunto de educadores com pensamento mais dinâmico em
relação à mídia, essa coisa toda, o suporte teórico e conceitual para desenvolver a programação.
Você tem no Castelo Rá-tim-Bum uma orientação de educadores, psicólogos, etc que é o pessoal da
Escola da Vila, principalmente, que é uma escola de ponta em termos pedagógicos e renovadora.
Você tem a criação artística orientada por estas leituras pedagógicas e o resultado que deu. Você
tem um cruzamento porque você mantém o conceito de TV pública, de uma prestação de serviço de
qualidade cultural. Não é educativo no sentido escolar do tema.
A mesma coisa é o canal universitário, a gente inventou, uma constituição inicial. O canal
universitário de SP foi o primeiro. Como que a gente vai juntar todo o conhecimento das noves
universidades? O que a gente vai levar ao público? Aula, resultados de pesquisas? Com que
linguagem? Com qual abordagem? Cada TV foi procurando os seus caminhos. Na TV USP, por
exemplo, tem um programa chamado Olhar da USP, que é um programa de entrevista que tem dois
focos. Por dentro da universidade o foco é a voz do professor. Mas essa voz do professor presta que
serviço pra comunidade aberta? Dentro das próprias características da TV que você produz nesta
semana para reproduzir na semana que vem. Você não tem o imediatismo da TV aberta, e não tem
menor condição de competir. O objetivo não é esse. A gente está gravando essa semana: qual é o
grande assunto dessa semana, qual é a grande preocupação, o que está rolando? Então, nós vamos
gravar um programa que discuta com os especialistas da universidade. A gente vai pegar os
especialistas que estão há 30 anos pesquisando aquele negócio que tem um tipo de conhecimento
aprofundado e abrangente. Jamais um jornal nacional vai abordar, nenhum Globo repórter, e vai
botar em discursão, o olhar da USP, com toda a sua excelência de pesquisa, de abordagem, de
conhecimento amplo do assunto, de uma determinada questão.

Qual foi sua maior dificuldade que você encontrou pra formar a TV....
Nenhuma, eu fiz o que quis. Durante dois anos e meio eu fiz o que quis. Depois que mudou a
coordenação da CCS, foram todas as dificuldades porque ai comecei a ter uma determinação
autoritária que contradizia tudo que a gente pretendia e tinha construído. A gente tinha um lado de
experimentação, de linguagem também, porque a gente tem um curso de rádio e televisão.

...Falando que a TV universidade não é um laboratório para os alunos...


Foi, enquanto eu estava lá foi um laboratório. Hoje já não é muito mais. Hoje ele tem um perfil
quase extremamente jornalístico, sem praticamente nenhum experimento televisivo, como a gente
fez na época. A gente produziu um sit com de 10 capítulos. A primeira sit com criada no Brasil
sobre jovens, escrita por jovens e produzida por jovens. Está indo ao ar agora na TV universitária
do Rio. Foi importantíssimo para os alunos, a experiência...

Como se define a TV USP... o que era a TV USP...


Ela procurava dar voz a todos os segmentos da universidade: funcionários, alunos e professores,
mostrando como esse segmento funcionava, quais era os papéis dentro da universidade e como eles
se relacionavam.

160
Anexo 3

A senhora estava falando da Beth Carmona... Está sendo mais cultural no sentido geral da
palavra, não no sentido de arte...de cultura mesmo
De cultura mesmo, de formação, é mais formação do que informação. Não é um resultado imediato,
essa é a questão mais importante.

Professora eu estava conversando com um cara da TV Record...as TVs educativas estão


crescendo muito com um caráter mais regionalizado
Sim, você tem, por exemplo, nas TVs legislativas das pequenas cidades, você sempre acaba tendo
um horário ocioso na grade. Elas tem o nomes oficiais de legislativo, mas quando elas não está
transmitindo sessão da câmara, elas fazem programações educativas, e fazem programações
educativas regionalizadas. Por exemplo, faz um documentário sobre a história da cidade, do
município, dos municípios vizinhos. Você pega Jundiaí, por exemplo, que é um município
plantador de figo, figo de Jundiaí, uva de Jundiaí. Você vai fazer lá um programa dois ou três, uma
série sobre a história desse perfil agrícola, desse município. Isso tem um caráter educativo. A região
de Itu, por exemplo, você tem o museu da Independência, tem uma série de coisas, tem o museu da
Independência tem vários vendedores de antiguidade... Você pode fazer uma programação que
tenha um caráter cultural educativo e transmitir no canal legislativo.

A conclusão que chego é de que você tem nome TV educativa só por natureza jurídica...
Por isso que estou lhe dizendo. Você tem que desconstruir esses conceitos. Tem que ver o que é na
legislação, o que é a execução, e o que é no projeto porque muitas vezes há um projeto pra
conseguir a concessão e esse projeto depois não é executado. É completamente desvirtuado. Tanto
pode ser desvirtuado pelo fato dele não conseguir produzir o projeto, porque tem um custo, e não
conseguir o patrocínio, ou porque o negócio foi tomado de assalto e começa a ser manipulado, pelos
grupos políticos.

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