Aprender e Ensinar Com Textos de Alunos

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CITELLI, Beatriz; GERALDI, J. Wanderley. Aprender e ensinar com textos: Aprender e ensinar com textos de alunos. V. 1. 2. ed.

So Paulo: Cortez, 1998. GERALDI, J. Wanderley. Da redao produo de textos. - ...h fatores menos conjunturais que relevam as perspectivas tericas utilizadas nos estudos da linguagem (ou das linguagens), com novos temas e novos postos de observao dos fenmenos: a relao pensamento e linguagem posta sob escrutnio e a importncia desta na constituio daquele (re)afirmada; s hipteses estabelecidas nesta relao so aliados os estudos relativos s variedades lingusticas; discurso e texto passam a ser as unidades de estudos mediada que se esgotavam as possibilidades de explicao dos fenmenos com base no enunciado... - sem linguagem, a relao pedaggica inexiste; sem linguagem, a construo e a transmisso de saberes so impossveis.

A QUESTO DO SUJEITO - ... o sujeito como produto da herana cultural, mas tambm de suas aes sobre elas, Por isso mesmo que o sujeito, ao mesmo tempo em que repete atos e gestos, constri novos atos e gestos, num movimento histrico no qual repetio e criao andam sempre juntas.

- A produo de texto devolve a palavra ao sujeito, apostando no dilogo e na possibilidade de recuperar na histria contida e no contada elementos indicativos do novo que se imiscui nas diferentes formas de retomar o vivido, de inventar o cotidiano.

A SALA DE AULA COMO LUGAR DE INTERAO VERBAL - sala de aula como lugar de interao verbal e por isso mesmo de dilogo entre sujeitos, ambos portadores de diferentes saberes. So os saberes do vivido que trazidos pelos alunos e pelos professores se confrontam com outros saberes, historicamente sistematizados e denominados conhecimentos que dialogam em sala de aula.

- Ensinar criar espaos para fazer valerem estes saberes silenciados para confrontlos como os conhecimentos sistemticos, mas nem sempre capazes de explicarem o fato.

O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO/APRENDIZAGEM - O texto (oral ou escrito) precisamente o lugar das correlaes [das informaes] - Conceber o texto como unidade de ensino/aprendizagem entend-lo como um lugar de entrada para este dilogo com outros textos, que remetem a textos passados e que faro surgir textos futuros. Conceber o aluno como produtor de textos conceb-lo como participante ativo deste dilogo contnuo: com textos e com leitores. - Substituir redao por produo de textos implica admitir este conjunto de correlaes, que constitui as condies de produo de cada texto, cuja materializao no se d sem instrumentos de produo, no caso os recursos mobilizados em sua construo.

APRENDER E ENSINAR COM TEXTOS

- No sentido atribudo a sujeito, como herdeiro e produtor de herana cultural, alunos e professores aprendem e ensinam um ao outro com textos, para os quais vo construindo novos contextos e situaes, reproduzindo e multiplicando os sentidos em circulao na sociedade. - So os sentidos socialmente construdos os verdadeiros objetos do processo de ensino e aprendizagem. TEIXEIRA, Elisa Duarte. Sobre o que se escreve na escola - ... percebe-se que [as produes textuais] repetem certos procedimentos relativos proposio do trabalho e, sobretudo, repetem os assuntos estritamente relacionados ideologia veiculada pelas escolas.

- No que concerne s ideologias encobertas nestas proposies de produo de texto, praticamente em nada se diferem da ideologia presente nos livros didticos - Nas produes de aluno, a ideologia se impe quer na metodologia das propostas de produo de textos, quer pelo apagamento da heterogeneidade entre a experincia pessoal do aluno e o tratamento dado s temticas propostas por meio de uma homogeneizao de vozes dentro da instituio escolar.

OS EPISDIOS DE PRODUO E OS COMPONENTES CURRICULARES - No entanto, nesta disciplina [Portugus], em que se poderia esperar um percentual de produo de textos mais ou menos uniforme nas diferentes sries (5 a 8), nota-se uma queda abrupta de episdios nas ltimas sries: medida que evolui a escolaridade, diminuem os episdios de produo em benefcio dos estudos metalingusticos - os contedos gramaticais sobrepem-se s prticas de produo mediante a crena, generalizado no ensino de lngua materna, de que um bom desempenho lingustico resulta na capacidade de anlise da lngua.

AS PROPOSTAS DE PRODUO E OS GNEROS POR ELAS VISADOS - ... observou-se que o gnero de texto a ser produzido, embora na maioria das vezes no seja explicitado pela professora no ato da produo, uma preocupao constante no processo de ensino. - No estudo dos gneros do discurso, na obra Esttica da criao verbal, Bakhtin aponta par o fato de que, na vida concreta, estamos sempre trabalhando com enunciados completos, cada esfera de utilizao da lngua elaborando seus tipos relativamente estveis. Quanto mais complexa uma sociedade, mais complexos so os gneros do discurso. - precisamente a variedade de gneros de uma sociedade complexa que a escola pretende incorporar em suas prticas de leitura e produo.

- Poucos so os gneros que fogem ao padro da escola tradicional

EMERGNCIA DOS TEMAS NA SALA DE AULA - ... percebe-se que, do ponto de vista da emergncia dos temas, os episdios mostram predomnio quase absoluto de um mesmo procedimento: a leitura de um texto faz emergir um tema que, debatido em grandes ou pequenos grupos, se torna objeto de produo de um texto de aluno.

SOBRE O QUE ESCREVEM OS ALUNOS - Os temas, assim como surgem, desaparecem. Eles servem para uma aula, uma escrita, cuja leitura centra-se na verificao do uso de contedos estudados ou na assimilao prtica de regras gramaticais SERCUNDES, Maria Madalena Iwamoto. Ensinando a escrever

AS PRTICAS DE SALA DE AULA

Produo sem atividade prvia. A escrita vista como um dom - desvinculados do trabalho pedaggico desenvolvido pelo professor, sem nenhuma ligao com o trabalho anterior ou posterior, no representando etapa de um processo mais amplo de construo de conhecimento - A escola, na verdade, supe um conhecimento prvio do aluno - ... leva o aluno a pensar que o ato de escrever simplesmente articular informaes, conseguindo faz-lo - escrever , no entanto, um trabalho lutar com palavras como diz Carlos Drummond de Andrade que decorre do exerccio continuado, da definio de um projeto de dizer e da concentrao nesse episdio.

- No h compromisso com o ato de escrever, uma vez que o professor ir apenas recolher as redaes e talvez vist-las.

Escrita: produo com atividade prvia

a) Escrita como consequncia - So produes resultantes de uma leitura, uma pesquisa de campo, uma palestra, um filme, um passeio, enfim cada um desses itens ser um pretexto para se realizar um trabalho escrito. - esquema tradicional de muitos livros didticos: leitura do texto; comentrios gerais sobre o texto; interpretao do texto; estudo do vocabulrio; produo de texto. - O tempo que decorre entre interiorizar informaes e modos de composio de um texto e o ato de escrever o tempo de virar uma pgina. E este tempo escolar acaba por produzir, para o aluno, uma imagem de produo de textos: ela resulta mecanicamente da leitura e da aquisio de informaes. - Nos episdios em que aparecem o livro didtico e a apostila, nota-se que a prpria organizao desses recursos didticos definem as aes do professor e dos estudantes; elas passam a ser previstas, controlveis, porque o material no foirmulado para o professor us-lo,,e sim para segui-lo.

b) Escrita como trabalho - A produo, nesse caso, surge de um processo contnuo de ensino/aprendizagem. Essa metodologia permite integrar a construo do conhecimento com as reais necessidades dos alunos. - Enfim, todas as atividades prvias so, na verdade, o suporte de todo o processo de produo.

ATIVIDADES PRVIAS S PRODUES

Leitura do texto - Produzir parece ser uma consequncia natural dessa atividade prvia [leitura] e o que se chama de uma sequncia imposta didaticamente. No responde a uma necessidade. Na maioria dos episdios, ler passa a implicar produo de texto.

Conversa com a sala - Terminada a leitura (...), surge um espao para as falas dos alunos. (...) dessa heterogeneidade de vozes pode emergir o novo, o desconhecido a fim de enriquecer todo o processo de aprendizagem. - Porm, em alguns casos, (...) h uma homogeneizao e higienizao das falas, j que, com frequncia, o professor acaba sendo o nico detentor do saber e da oralidade. (...) as marcas das experincias de vida do aluno so deixadas margem, perdem-se nas falas.

Estudo do vocabulrio - No dada ao leitor a possibilidade de se contemplar as palavras, percebendo que cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.

Produo de texto - escrita como sequncia: (...) A produo se realiza com o objetivo de finalizar um trabalho ou a partir de uma necessidade de se registrar um trabalho. - escrita como trabalho: todas as atividades realizadas fazem parte de um processo contnuo de aprendizagem.

Na bibliografia, as prticas propostas

- (...) a metodologia adotada a mesma, gerando um modelo de trabalho uma linha padro (ler, discutir, escrever). A produo, nesses casos, tida como o fim de todo o processo. - leitura de textos polmicos com o objetivo de proporcionar ao aluno a oportunidade de apropriar-se de algumas tcnicas de comunicao; capacit-lo na expresso oral, pelo debate desses assuntos em aula; faz-lo adquirir uma viso crtica dos fatos. - indispensvel que os alunos escrevam, sobre os fatos vivenciados, porque h possibilidades de aparecerem no texto as contradies entre os interesses de classe, ou as contradies entre o que vivem e o que almejam. - eles [os alunos] devem ter contato com diversas fontes de informaes... para ampliar relaes entre casos particulares e a conjuntura social a que tais fatos estejam associados. - partiu-se do vivido at chegar ao texto. - Redigir parece ser uma atividade que se tem necessidade de aprender somente mas sries iniciais. - o ensino da lngua portuguesa visto pelo aluno como o ensino de uma lngua estranha a que eles falam. - uma nova escola que d condies aos alunos de expressarem as prprias experincias de vida, e partindo dessas se desenvolva um processo de aprendizagem que apresente novos conhecimentos - A linguagem passa a ser no apenas um processo da fala, mas tambm constitutivo do prprio sujeito e da prpria linguagem. - as propostas tm como ponto de partida a variedade lingustica dos alunos, o contato com a leitura para se chegar a leitura, o estudo da gramtica com base na produo do aluno, para que ele a re-escreva e chegue a um texto publicvel.

- Dessa maneira, o estudante fica ciente de que um usurio da lngua escrita, porque a todo momento ter de rever a prpria produo, fazer novas verses do que escreveu, e acabar incorporando outras possibilidades que a lngua oferece de se transmitir a mesma mensagem, aproximando-se, pois, da variedade padro. - Se o aluno for capaz de perceber como a lngua se organiza, notar a diversidade de recursos. (...) . Sendo autor e leitor de textos, ele se tornar um leitor crtico e verificar oque o domnio da variedade padro possui implicaes sociais. JESUS, Conceio Aparecida de. Re-escrevendo o texto: a higienizao da escrita

O trabalho com re-escrita na sala de aula - A re-escrita deveria ser vista... como atividade de explorao das possibilidades de realizao lingustica, de tal forma que o institudo pelos cnones gramaticais fosse colocado a servio desse objetivo maior e , por isso mesmo, passvel de releituras e novas formulaes. - durante a re-escrita, [o texto do aluno] fosse abordado com uma projeo positiva, isto , que se considerasse a relevncia dos problemas lingusticos apresentados em funo da plenitude dos objetivos do texto, obtida na sua dialogicidade com o conjunto dos interlocutores.

A leitura da proposta: higienizao do texto do aluno - A re-escrita transformava-se numa espcie de operao de limpeza, em que o objetivo principal consistia em eliminar as impurezas previstas pela profilaxia lingustica, ou seja, os textos so analisados apenas no nvel da transgresso ao estabelecido pelas regras de ortografia, concordncia e pontuao, sem se dar importncia s relaes de sentido emergentes na interlocuo. Como resultado, temos um texto, quando muito linguisticamente correto, mas prejudicado na sua potencialidade de realizao.

O movimento da higienizao

- A re-escrita... varia tanto em relao ao nmero de participantes envolvidos como em relao aos objetivos das preocupaes lingusticas. - h uma priorizao dos temas referentes visualizao da superfcie textual: ortografia, pontuao e concordncia. - Este confinamento do texto aos limites determinados pela obedincia rgida ao modelo-padro constituiu uma re-escrita que teve como parmetros a repetitividade e a homogeneizao, descaracterizando inclusive a concepo de projeto como espao de crtica e de efetiva produo, a qual, no caso em questo, no passou de simulacro.

Consideraes finais - no seu mbito [da re-escrita] mobilizam-se o fazer do professor e o do aluno no cotidiano da escola, mediados pela linguagem. Tais fazeres, por seu truno, evidenciam o tipo de olhar que cada um desses sujeitos pem sobre o texto e, na tora desses olhares, como professor e aluno se veem. - abominamos s recursos da submisso e do modelo-padro, na medida em que redundam no esvaziamento do professor e do aluno, por terem como meta a reproduo. -Defendemos que os conflitos sejam tratados segundo um projeto de escrita que privilegie as enunciaes

A produo e a leitura de textos devem estar ligadas a uma sequncia planejada de atividades com objetivos definidos e que demandam escritas, leituras e re-escritas, alm de uma avaliao do que foi produzido.

A questo reside em fazer com que os alunos desenvolvam uma competncia discursiva marcada por um bom domnio da modalidade escrita e por uma viso de que a produo de um texto um trabalho que exige a superao de jogos de palavras ou frases soltas.

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