Jornal de Teatro Edição Nr.11
Jornal de Teatro Edição Nr.11
Jornal de Teatro Edição Nr.11
ENTREVISTA
Simpatia, competência
e talento: Esther Góes
conduz com maestria suas
carreiras artística e política
Págs. 8 e 9
Uma publicação da Aver Editora - 15 a 30 de Setembro de 2009 - Ano I Nº 11 R$ 5,00
Susto no
João Caldas
DANÇA comemora 18
anos e inaugura
Alonso Barros conquistou o reconhecimento novo espaço
internacional pelas suas coreografias e agora volta ao
Brasil para “Pernas pro Ar”, com Cláudia Raia programação
Pág 12 especial
Bastidores
TEATRO DE RONDÔNIA PROCURA HOMENAGEADO
A classe artística de Porto Velho se mobiliza para escolher “MISTÉRIO BUFO”
Diretores da montagem
adaptaram texto de
1918 para situações
atuais, com contraste
entre passado e futuro
FESTIVAL DE DANÇA
Divulgação
DE JARAGUÁ DO SUL
(SC) ABRE INSCRIÇÕES
A primeira fase de inscrições
para a mostra e o concurso do
Espetáculo “A Farsa do Panelada” abriu evento na praça do Teatro 4º Festival de Dança de Jaraguá
segue até o dia 25 de setembro.
FESTIVAL NORDESTINO DE O evento ocorre entre os dias
TEATRO COMEMORA AS MELHORIAS 23 e 25 de outubro na cidade
O evento, que aconteceu entre os dias 1 e 12 de setem- catarinense. Entre os convida-
bro, foi marcado pelas evidentes melhorias na estrutura dos dos estão a Academia Corpo
teatros da cidade, aprimorados para proporcionar ao público Livre, de Joinville (SC), com “A
mais conforto e aos artistas melhor apoio técnico. Este foi Noite na Polinésia”, de Liliana
um dos pontos abordados pelo secretário de Cultura de Gua- Köhn; e a Cia. de Dança Eliane
ramiranga, Potiguar Fontenele, na solenidade de abertura do Fetzer, de Curitiba (PR), que vai
XVI FNT (Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga), apresentar a coreografia “Caba-
na praça do Teatro Municipal Rachel de Queiroz. Mais infor- ret”, de Eliane Fetzer. A novi-
mações e o registro fotográfico do Festival estão disponíveis dade deste ano é a programação Oficina do BNB reuniu artistas, produtores e gestores culturais
no site www.agua.art.br/fnt2009. intensa de oficinas, seminários e
sessões de vídeo-dança. AÇÃO DE MICROPROJETOS MAIS CULTURA
INVESTE 13,5 MILHÕES NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
ATORES ANGOLANOS
DEFENDEM O O MinC (Ministério da Cultura), por meio do Programa
INTERCÂMBIO ENTRE Mais Cultura, investirá R$ 13,5 milhões no seminário brasilei-
PROFISSIONAIS ro. A ação de Microprojetos Mais Cultura beneficia especial-
Em entrevista ao portal mente jovens entre 17 e 29 anos, oriundos de áreas de vulne-
de notícias Angop, o repre- rabilidade social, que desenvolvem projetos culturais nas mais
sentante da Companhia de diversas linguagens.
Teatro Dadaísmo, Aurio Qui- O projeto será executado em parceria com a Funar-
cumba, defendeu a necessi- te (Fundação Nacional de Artes), o BNB (Banco do Nor-
dade de intercâmbio entre deste) e as secretarias de Cultura dos onze estados que in-
profissionais das artes cênicas tegram a região do semiárido – Paraíba, Alagoas, Ceará,
como forma de adaptação à Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão,
contemporaneidade mundial. Pernambuco, Minas Gerais e Espírito Santo. Serão selecio-
Para ele, artistas de países nadas, através de editais estaduais, cerca de 1,2 mil inicia-
como Moçambique, Cabo- tivas. Cada uma será premiada com até 30 salários mínimos.
Verde, Portugal e Brasil tra- O objetivo da ação é promover a diversidade cultural por meio
balham de forma diferente, do fomento e incentivo aos artistas, grupos artísticos inde-
com particularidades que os pendentes e pequenos produtores culturais. Os prêmios serão
angolanos ainda não têm. concedidos a pessoas físicas e jurídicas sem fins lucrativos que
“ (…) Encenadores, drama- desenvolvam projetos nas áreas de artes visuais, artes cênicas,
turgos, autores, atores e todos música, literatura, audiovisual e artes integradas. Os projetos
os outros integrantes dos gru- deverão ser realizados e concluídos em um ano, a partir da data
pos devem se preocupar em de assinatura do contrato de concessão de prêmio.
investigar, para trabalharmos o Os prazos de encerramento de inscrições podem ser verifi-
teatro de uma forma mais pro- cados em cada um dos editais vigentes nos estados, publicados
fissional, não como tem sido no Diário Oficial da União e dos 11 estados envolvidos, bem
até agora onde todos pensam como nos sites do MinC (www.cultura.gov.br), da Funarte (www.
que são profissionais e, sem funarte.gov.br), do BNB (www.bnb.gov.br), do INEC (www.inec.org.br)
bases, partem agora para o ci- e do Programa Mais Cultura (http://mais.cultura.gov.br).
nema”, disse ao portal.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
5
Bastidores
CIA DE DANÇA
Divulgação
COMEMORA DEZ ANOS
Os bailarinos da Criart Cia
de Dança, de Recife, celebraram,
no dia 8 de setembro, no Teatro
Barreto Júnior, seus dez anos de
atuação na cena teatral. A come-
moração foi marcada por dois
espetáculos: “Orum Aiê”, que
estabelece relação entre os dois
planos da existência (Orum,
mundo mítico dos antepassados,
morada dos deuses, e Aiê, o mun-
do dos homens, do tempo pre-
sente); e “Marim Brincante”. No
palco, também esteve em cena o
grupo convidado Faces Ocultas
Fernando Fecchio, Débora Duboc e Thiago Adorno: protagonistas Companhia de Dança. Fundada O musical é de autoria de Fátima Valença e dirigido por Fábio Pilar
pela bailarina e coreógrafa Paula
DÉBORA DUBOC REESTREIA COMÉDIA Azevedo, a Criart tem como ob- ÚLTIMOS DIAS!
DE DARIO FO E FRANCA RAME, COM jetivo a difusão da cultura popular O espetáculo “Eu Sou o Samba”, em cartaz em São Paulo, no
DIREÇÃO DE NEYDE VENEZIANO regional a partir das mais diversas Teatro Santa Cruz, ficará permanecerá até o dia 27 de setembro na
Estressada por conta de uma crise afetiva, a publicitária manifestações culturais utilizando capital paulista. O musical conta com coreografia de Carlinhos de
Júlia, produtora de comerciais, resolve gravar um DVD para uma linguagem moderna. Jesus e cenário e figurino da carnavalesca Rosa Magalhães.
deixar ao marido, antes de se matar. Empenhada nessa ta-
refa, vive aventuras hilariantes enquanto é interrompida por
divertidas situações corriqueiras na sala de sua casa. ABUJAMRA FAZ ITINERÂNCIA COM BECKETT CENTRO CULTURAL
Este é o mote da comédia “Um Dia (Quase) Igual aos Ou- POR CABO VERDE E CAPITAIS BRASILEIRAS SESI MACEIÓ
tros”, do italiano Dario Fo (Prêmio Nobel) e Franca Rame, “Começar a Terminar”, de Samuel Beckett, encenado por Anto- REABRE AS PORTAS
que volta ao cartaz agora no Teatro Bibi Ferreira, em São Pau- nio Abujamra ano passado foi convidado para representar o Brasil Após uma longa espe-
lo. O espetáculo segue em cartaz até o dia 4 de outubro. no Festival Internacional de Teatro de Cabo Verde, o Mindelact (re- ra, o Centro Cultural Sesi,
alizado há mais de 15 anos e considerado o maior festival de teatro em Maceió, finalmente
do continente africano), em setembro. Entre as atrações do evento, reabriu suas portas para
XVI FESTIVAL DE TEATRO DO RIO além do diretor brasileiro, estão nomes como Peter Brook e a parti- o público. Foram mais de
DIVULGA LISTA DE PEÇAS SELECIONADAS cipação de vários grupos de países europeus, africanos e americanos. três meses de reformas, o
Os organizadores do XVI Festival de Teatro do Rio divulgaram A montagem de Abujamra teve o patrocínio dos Correios e agora que causou indignação da
a lista das peças selecionadas para o evento que ocorrerá de 28 de conta com o apoio da BR Petrobras para ser apresentada em cinco população local. O teatro
setembro a 7 de outubro. Sete grupos teatrais foram escolhidos capitais ainda em 2009: Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Sal- reestreou, no dia 11 de
entre cem inscritos para apresentar seus espetáculos na capital ca- vador e Recife. Além da itinerância do espetáculo e sua participação setembro, com a segunda
rioca. no importante festival do continente africano, Antonio Abujamra edição do 24 Horas Cultu-
As peças concorrerão à premiação nas categorias de melhor também será homenageado em Cabo Verde, onde será exibido ra, festival que apresentou
ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz, melhor atriz coadju- Solo, o novo filme de Ugo Georgetti. Nessa turnê, a equipe da peça 18 atrações ininterruptas,
vante, melhor direção, melhor figurino, melhor cenografia, melhor vai aproveitar para captar imagens para o conteúdo do programa e, com uma cara nova,
iluminação, melhor texto, melhor espetáculo, melhor espetáculo Provocações, da TV Cultura. Saiba mais sobre o Mindelact em www. agradou a todos os alagoa-
pelo voto popular e Prêmio Especial, que poderá premiar qualquer portugal-linha.pt/mindelact. nos presentes.
outra categoria. Além das apresentações, o Festival, que é ideali-
zado pelo Centro Cultural da Universidade Veiga de Almeida, irá
Renato Hatsui / Divulgação
homenagear o ator e diretor Milton Gonçalves pelos seus feitos na
carreira. Mais informações no site: www.uva.br/festivaldeteatro
EVENTO A VIDA É FEITA DE
ATOS PREMIARÁ GRUPOS GAÚCHOS
Visando atrair novos talentos aos palcos gaúchos, o Tea-
tro de Arena, em Porto Alegre, realizará o evento A Vida é feita
de Atos, no dia 1º de outubro. O objetivo da festa é comemorar
os 42 anos da casa em grande estilo. E para isso não faltarão in-
centivos. Principalmente para os grupos teatrais. Não fugin-
do a regra dos últimos anos, o Teatro promoverá novamente
o Prêmio de Incentivo à Pesquisa Teatral, que premiará duas
companhias para a ocupação do Teatro de Arena, em 2010.
Os grupos vencedores receberão um auxílio financeiro de R$22 mil da
Secretaria de Estado da Cultura para desenvolver suas atividades. Além
disso, eles poderão utilizar as instalações da casa de espetáculos por seis
meses (cada uma em um semestre) para estudo e experimentação.
Para a diretora do Teatro de Arena, Viviane Juguero, essa é uma
chance única para as companhias mostrarem seus trabalhos e, é
claro, de poder disseminar a arte do Estado por todo o País. “To- GRANDE GALA 2009 APRESENTA OS MELHORES DA DANÇA
dos os grupos que conquistaram esse prêmio são artistas de ta- Nos dias 3 e 4 de outubro acontecerá a 16ª edição do Grande Gala Enda 2009 – que apresenta os
lento, que se dedicaram ao máximo. Talvez sem essa ajuda, nem destaques no campo da dança, no Estado de São Paulo. O evento acontece no Memorial da América
todos poderiam alçar voos altos na carreira, como aconteceu com Latina, quando o publico irá apreciar espetáculos dos balés clássico, moderno e contemporâneo,
o Caixa de Elefante, ganhador em 2006”, diz. dança folclórica e de salão e jazz.
6 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro
Fotos: Divulgação
Marketing Cultural
Oi
Por Daniel Pinton
Fundado em 2001, o Oi Fu-
turo, instituto de responsabilidade
para o Futuro
Empresa de telefonia amplia seus investimentos
em projetos sociais e culturais pelo Brasil
sensoriais em seus espaços de
visitação, que incluem galerias de
artes visuais – onde, por exem-
Klauss Vianna que atualmente
recebe a trilogia de espetáculos
“Por Elise”, “Amores Surdos” e
>> A fachada original do Oi Futuro RJ dialoga com suas linhas futuristas
Técnica
Iluminação: a técnica que faz a diferença
atro de Arena, em Porto Alegre,
Leonardo Serafim
Por Leonardo Serafim para um bom profissional da
ministrou o curso Pintando em área. Saber lidar com equipa-
A preocupação com a ilumi- Cena, que tem como objetivo mentos dos mais básicos aos
nação no teatro é antiga. No tea- estimular a criatividade e a sensi- mais sofisticados, ter noção de
tro grego, onde a luz era exclusi- bilidade do artista na concepção ângulo para os refletores, conhe-
vamente natural, os espetáculos do desenho de luz de uma peça, cer minuciosamente uma cabine
iniciavam com o nascer do sol abordando conceitos e sistemáti- de controle fazem a diferença
e, às vezes, avançavam à noite. cas importantes para sua criação em um espetáculo. “Se a peça é
Utilizando da criatividade, esses e execução. mais dramática, você utiliza uma
profissionais buscavam sempre Destinado a diretores, atores, velocidade x na cena. Se o ator
locais com luzes abundantes e técnicos de iluminação e demais está em evidência, pode-se bai-
auxílio do fogo para fazer suas interessados, a oficina foi uma xar ou aumentar a luz. Tudo isso
produções. oportunidade para novos talen- é faz parte do aprendizado técni-
História bem diferente nos tos surgirem nos palcos gaúchos, co”, garante o iluminador Sergio
tempos atuais. “Hoje a ilumina- como frisa a iluminadora. “A in- Oliveira.
ção faz toda a diferença. Pode tenção do curso é desenvolver a Para quem quer seguir no
ajudar a compor um bom cená- imaginação dos alunos. Ajudá- ramo da iluminação teatral,
rio. Pode dar ênfase a uma atua- los a ganhar uma percepção di- Claudia de Bem aconselha duas
ção e é tão importante para uma ferente, que possa incrementar coisas: dedicação e paixão. “Co-
apresentação quanto os atores. É um espetáculo. Hoje, se um di- mecei a trabalhar com luz por in-
uma ferramenta de auxilio que, retor sabe trabalhar com a luz e teresse próprio. Sempre gostei e
por instantes, pode virar prota- tem um bom iluminador o céu é fui atrás. Fiz assistência para um
gonista de um espetáculo.” o limite.” amigo e depois nunca mais parei.
Quem afirma é a iluminado- Mas não basta apenas ter Para aqueles que querem traba-
ra Claudia de Bem. Com uma criatividade para ser um ilumi- lhar na área, é preciso disposição
longa carreira na frente e atrás nador. É preciso mais. O conhe- e realmente sentir prazer no que
dos palcos, ela, a convite do Te- cimento técnico é indispensável está fazendo”, disse. >> O Pintando em Cena incentiva novos talentos a trabalharem com a luz
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
7
Formação
Entrevista
Fotos Divulgação
viajar para a Alemanha para
Com a carreira extensa e
impecável exposta a todos no Atriz Esther Góes leva sua experiência e mentalidade fazer a minha investigação in
loco. De lá trouxe biografias,
currículo de Esther Góes, con- documentos e muitas entrevis-
fesso que não sabia bem como ousada para os palcos, para a TV e para a Funarte tas com gente que também es-
seria a personalidade dessa atriz tudou a atriz e o Berliner.
que, em outubro, tem a tarefa JT – Como se preparou
de incorporar no palco nin- para interpretar o persona-
guém menos que Heléne Wei- gem?
gel, a lendária artista que revo- EG – A preparação foi algo
lucionou o teatro no início do muito interessante. No teatro
século passado. Já estava pre- épico o interesse é focado exa-
parado para lidar com alguém tamente no espectador da pla-
que poderia, até pelo acúmulo teia. Há uma exigência de não
de experiências passadas e de se fazer nenhuma concessão a
afazeres atuais, não estar muito efeitos especiais ou coisas do
interessada em abrir a sua vida tipo. O que mais me marcou,
e bater um papo com o Jornal porém, foi o trabalho do regis-
de Teatro. Engano meu. Esther tro vocal de Weigel, que é natu-
se mostrou rapidamente ser ralmente muito grave.
uma das fontes mais simpáti- JT – Como foi feito?
cas com quem já tive oportu- EG – Tive que realizar um
nidade de conversar. Em uma intenso trabalho para conse-
entrevista que durou aproxi- guir alcançar timbres mais gra-
madamente uma hora e meia, ves de voz para falar dentro do
a atriz falou sobre o monólogo registro dela. O modo como
“Determinadas Pessoas-Wei- ela se comunicava era inimi-
gel”, sua participação na série tável. Algo maravilhoso e que
“Bela, a Feia”, na TV Record, consegue exalar ternura em um
e sobre sua atuação como co- registro muito grave.
ordenadora de programação JT – Como analisa a sua
do Complexo Cultural Funarte participação em “Bela, a
de São Paulo. O resultado pode Feia”, como a personagem
ser visto abaixo: Bárbara?
EG – Eu gosto muito desse
Jornal de Teatro – No dia personagem. É desafiante. Tra-
24 de outubro estreia o seu ta-se de uma mulher comple-
monólogo “Determinadas tamente mutante. Uma mon-
Pessoas – Weigel”, em São tanha-russa (risos). Ela age
Paulo? Como é essa obra? e reage de acordo com cada
Esther Góes – Essa peça acontecimento. Existe essa
procura mostrar a criação do coisa da pessoa que foi muito
teatro épico através da perso- mimada na infância e na juven-
nagem Heléne Weigel, esposa tude, tendo mais do que preci-
do dramaturgo Bertold Brecht. Esther não esconde a emoção ao interpretar Weigel, uma atriz que, de certa forma, reinventou o teatro sava, e depois perdeu tudo.
Na verdade, esse tipo de teatro JT – Alguma semelhança
nasce com o trabalho de Bre- com a realidade da socieda-
cht aliado à interpretação dessa juventude eu abracei como der melhor profissão? gostei muito dela. Aquela coisa de brasileira?
artista. Foram os fundadores uma causa o teatro de Brecht. EG – Claro. Na década de de não colocar nada acima da EG – Muitas mulheres que
da companhia Berliner Ensem- Gostava dessa coisa absoluta 20, ela já possuía uma lingua- verdade. É sempre muito im- na década de 50 eram sociali-
ble, que teve uma importância em busca da investigação sobre gem avançadíssima para a épo- portante analisar as pessoas tes, que construíram verdadei-
imensa no século passado, que o teatro, de ver a entrega dos ca. A artista transcendia os li- generosas do sexo feminino. ros impérios e viviam em fes-
perdurou até a década de 70. artistas. mites e não seguia os caminhos Apesar de grandes articulado- tas maravilhosas e divinas pela
Buscavam sempre colocar fir- JT – Como é interpretar tradicionais. Essa mulher exige ras, costumam ser vistas sem- madrugada passaram por esse
memente a posição que arte e uma atriz que, de certa ma- realmente uma investigação pre como pessoas imprecisas. problema. É um fenômeno
política poderiam andar juntas. neira, reinventou o teatro? muito profunda. Estudando-a, Essa é a segunda personagem bem típico da década de 50. Só
Essa peça, primeiramente, é EG – O meu filho, Ariel eu percorro a minha própria que interpreto que possui essas que, após a decadência, essas
uma investigação sobre o te- Borghi, dirige a peça e ele me trajetória e o fundo da minha características. pessoas não conseguem escon-
atro e a sociedade. Weigel era ajudou muito na investigação alma. Isso é precioso. JT – Qual foi a primeira? der a realidade, mas também
uma mulher que vivia o teatro desse personagem. Todas as JT – Por que decidiu es- EG – Foi Tarsila do Ama- não esquecem a memória. Bár-
em todas as horas do seu dia. características de Weigel são trear essa peça? ral. Esta era realmente tímida. bara é uma personagem que
JT – Deve ser interessan- de vanguarda. Teve uma cora- EG – Há alguns anos pro- Já Weigel fechava a boca era passou por tudo isso e agora é
te pegar essa história a par- gem suprema por, mesmo ju- curava uma referência. Depois para não ser impedida de reali- da classe média, que não tem
tir da perspectiva deste novo dia e tendo passado por duas de um tempo de estrada teatral, zar o seu trabalho. Interpretan- mais de onde tirar e o que co-
século, não? guerras mundiais, ter fundado você acaba sentindo um gran- do Tarsila era possível ver toda mer muitas vezes. Então, aca-
EG – Sim, é interessante, um trabalho como o Berliner de vazio na profissão e faz arte a formação do modernismo. Já ba chateada e irritada, sempre
a partir da vivência do século logo no pós-nazismo. É uma por fazer. Ser atriz é poder se com Weigel reparamos na arti- louca para ter novamente aque-
XXI, dar um novo sentido a mulher de uma complexidade reconstruir várias vezes. A in- culação do teatro épico. É im- la antiga vida, o que acaba lhe
todos esses acontecimentos. ímpar e que exige um gran- vestigação do papel do artista pressionante a grandeza do tra- proporcionando um falta de
Temos hoje uma distância de esforço de compreensão e se tornou necessária. Eu pre- balho. No entanto, ela é quase sentimentos com os outros.
histórica, que nos permite dar também capacidade de síntese. cisava de alguém que fosse um invisível. O trabalho de Brecht, JT – Qual a diferença en-
uma perspectiva mais crítica Weigel é uma mulher da con- guia. A descoberta da possibi- porém, é todo feito baseado na tre atuar no teatro e na TV?
na avaliação da trajetória dessa temporaneidade. lidade de reencarnar alguém maneira de sua interpretação. EG – Atuar em si nunca é
mulher. Para mim é muito legal JT – Ter estudado a vida como Weigel me pareceu, en- Aqui no Brasil, por exemplo, diferente. Existe o prazer puro
esse trabalho, já que na minha de Weigel te ajudou a enten- tão, um grande desafio. Sempre eu e Ariel achamos pouco ma- e simples da interpretação. Só
Jornal de Teatro 1º a 15 de Setembro de 2009
9
Entrevista
da efervescência cultural
Inúmeras peças teatrais estão no currículo de Esther Góes, mas a atriz destaca “Hair”, “O Que Mantém um Homem Vivo” e “Tarsila” como seus mais importantes trabalhos no palco
que a TV e o teatro são lugares nema. Só que tudo funcionou tante. Orgulho-me muito do em são Paulo? cais da Funarte em São Paulo.
realmente diferentes. Talvez bem em “Stelinha”. Também trabalho que fiz no Teatro Ofi- EG – Queria que esse lo- Queremos que a direção desses
por já ter feito muitas pesqui- fiz um trabalho muito bonito cina antes disso tudo. Uma obra cais abrigassem não só o teatro espaços seja democrático. Não
sas profundas e ter atuado há que foi “Pagu”, de 88, em que que me marcou mesmo e que comercial, mas também essa queremos que haja qualquer
muito tempo nesse meio, creio interpretei pela primeira vez a jamais esquecerei é “Tarsila”, tensão inovadora que busca outro tipo de interferência na
que o teatro é o espaço que Tarsila do Amaral. que sintetiza muito bem minhas desesperadamente um espaço escolha dos gestores desses lo-
mais me convém. Na TV o ne- buscas dentro da profissão. e apoio. Queremos trabalhar cais que não seja o mérito.
gócio é mais representar, já que JT – E na TV? com um número grande artis-
não tenho muito direito à esco- EG – Na TV eu destacaria JT – Por que aceitou o tas de diferentes áreas, envolvi- JT – Sua experiência no
lha dos temas e nem participo meus dois últimos trabalhos desafio de coordenar a pro- dos com a região e lhe dando teatro pode ser usada a favor
deste processo. Apenas faço o na TV Record: o “Amor e In- gramação do Complexo Cul- acesso a vários pontos de cul- da Funarte?
que é pedido. Gosto muito de trigas” e agora “Bela, a Feia”. tural Funarte de São Paulo? tura. Focamos muito nas artes EG – Sem dúvida. Sei bem
experimentar a obra que é feita Na Rede Globo eu citaria “O EG – Entrei a convite do visuais. Enfim, queria propor- o que dói em quem trabalha
na televisão. É uma arte mais Direito de Amar”. Já fiz tam- Sérgio Mamberti, presidente da cionar ações disseminadas em com arte. Não temos aqui
voltada para o grande públi- bém várias coisas boas na TV Funarte a nível nacional, no dia todo o espaço e que consigam no Brasil a figura do produ-
co. Divirto-me muito na TV, Cultura, que inclusive voltam 8 de janeiro, para ajudá-lo em integrar a população do entor- tor do artista. Ele é o próprio
principalmente quando se trata a reprisar diversas vezes. Era o uma tarefa dificílima, que era no, realizando uma parceria de produtor na maioria das ve-
de comédia. São personagens início da minha carreira e me recuperar um trabalho de anos integração dos moradores com zes. O artista tem não só que
sempre muito gostosos e que orgulho bastante dessa fase. que estava sendo abandonado agentes culturais. O meu obje- criar, mas fazer acontecer. Na
me permitem degustar bastante em São Paulo. Era preciso uma tivo é fazer com que o artista verdade, ele precisa de um
novas linguagens. JT – No teatro, quais ação efetiva para agir em todos tenha liberdade de ter um es- Estado que lhe dê suporte e
os espetáculos que mais te os lugares do poder público si- paço de experimentação, com condições para dar sustenta-
JT – De todas as apari- marcaram? tuados no Estado. Eu observei as condições mínimas de su- bilidade econômica, visibili-
ções no cinema, quais as que EG – Já fiz tanta coisa no que eram lugares onde a cultu- porte. Com isso, ele acabará dade e reconhecimento. Há
te marcaram mais? teatro... Mas não posso deixar ra poderia ter um papel impor- influenciando outras pessoas, experiências que dão certo e
EG – No cinema foi “Ste- de citar o “Hair”. Tinha diver- tante, voltado inclusive para a que também poderão usufruir outras que não. Para a gente,
linha”, de 1990, um filme em sas críticas quanto a esse espe- própria população. Poderiam esse espaço. A arte tem esse o que interessa é que haja essa
que fui premiada como melhor táculo, mas, hoje, vejo como foi ser espaços ocupados por ar- negócio bonito de círculo de experiência. Esse é um direi-
atriz no Festival de Gramado. bonito ter entrado no meio pela tistas cheios de criatividade influências. to fundamental da arte: exis-
Naquela obra eu experimentei porta da frente, em um obra de que anseiam por ter algum lu- JT – E sobre os editais de tir. Privilegiamos o acesso a
a linguagem cinematográfica e tão grandes proporções. De- gar para realizar o seu trabalho. ocupação... quem não tem meios comer-
muita coisa era nova. Não che- pois de “Hair” eu cito “O que JT – Quais são suas EG – Agora, em outubro, ciais e procuramos sempre
guei a fazer muitos filmes. Não Mantém um Homem Vivo?”, ideias de como utilizar me- divulgaremos o resultando dos ser isentos. Quero apenas fa-
sou uma atriz específica de ci- que também me marcou bas- lhor os espaços da Funarte editais de ocupação para os lo- zer com que cultura floresça.
10 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro
Reportagem
Personagens
Ocultos Corredores escuros e assombrados, mentes atormentadas,
almas perturbadas. Você acredita em fantasmas?
veio. Quando
foram atrás dela,
ela desapareceu”,
detalha.
As muitas histórias a
respeito de figurinos que
se mexiam sozinhos e por-
tas que fechavam e abriam sem
ninguém por perto engrossam,
há muitos anos, a lista de hor-
ror do teatro local. Mas o céti-
co funcionário não acreditava
que tinha chegado a sua vez de
vivenciar uma história de ter-
ror. Certo de que se tratava de
algum colega de trabalho en- Histórias assombrosas já fazem parte da história do Teatro Amazonas Saulo conta casos, mas é cético
graçadinho que conseguira se sentações do cantor Edson de terror em que a vida pare- a orquestra notou. Quando
esconder para assustá-lo, Lu- Cordeiro, que teve casa lotada ce imitar a arte, o Jornal de perguntaram a ele o que esta-
ciano abriu as cortinas seguro todos os dias. “Com exceção da Teatro pegou o crucifixo e re- va acontecendo, ele disse
de que o pegaria desprevenido. poltrona de número 13, que, solveu investigar mais a fundo que tinha visto uma criança
Por Paloma Jacobina No entanto, se surpreendeu ao apesar de vendida, ficou deso- quem são essas estrelas obscu- cair no fosso que separa a or-
As notas tristes que se avistar o piano vazio, coberto cupada em todas as apresenta- ras dos teatros. Se prepare para questra da plateia”, relembra.
ouviam por detrás da cortina pela espessa manta que o pro- ções”. Segundo Luciano, aque- uma viagem de norte a sul do “O problema é que, quando
já descerrada do palco prin- tegia da poeira. la sequência de fatos derrubava Brasil que vai fazer sorrir, cho- a produção foi olhar o local
cipal do Teatro Amazonas “Aquela cena me apavo- por terra todas as suas certezas. rar e se apavorar. para regatar a criança, ela não
soavam mais intrigantes que rou”, admite. “As pessoas Será que realmente existiam Foi mais ou menos assim estava lá. Não havia ninguém,
pavorosas para o então assis- sempre falavam, mas eu não fantasmas perambulando pelos a experiência vivida pelo ator tampouco vestígios de que al-
tente de iluminação da casa. acreditava. Dizia que era arte corredores daquele antigo tea- e cantor brasiliense Saulo Vas- guém caiu no fosso”.
“Eu tinha certeza de que não de gente brincalhona que usa tro? Seria mesmo a alma da ga- concelos. Apesar de insistir que Cético, Saulo afirma que
havia mais ninguém no lo- dos medos dos outros para rota que morrera incendiada na- não acredita no sobrenatural, tudo não passa de uma cria-
cal e por isso mesmo fiquei alimentar esse tipo de lenda”, quele mesmo terreno, antes da ele também tem histórias de ção da mente humana, apesar
atento quando ouvi o piano relembra. “Mas, no momento construção do teatro, que circu- fantasmas para contar. Uma de- de alguns moradores da região
sendo tocado. Não fiquei em que vi que não havia nin- lava pelos corredores apavoran- las aconteceu durante apresen- afirmarem que sempre avistam
com medo. Fiquei curioso”, guém no local, bateu um pâni- do a todos? Ou seriam aquelas tação realizada no Teatro Abril, os fantasmas das vítimas do
relembra Luciano Nonato. co enorme. Algo que eu nunca imaginações construídas pela em São Paulo, quando um ter- terremoto que destruiu o an-
Já fazia mais de cinco anos havia sentido”, revela. cabeça cansada do aposentado? ceiro integrante (inexistente) foi tigo prédio do local, em 1985.
que Luciano trabalhava pe- A primeira vez que Nona- O certo é que as histórias registrado em cena pelos moni- “Cada um tem uma razão para
los corredores do imponen- to notou a presença de algo de terror muitas vezes conta- tores da equipe da coxia. acreditar e ver o que bem qui-
te teatro manauara quando o sobrenatural no local marcou das nos palcos do mundo afo- No entanto, o contato mais ser. Acho que histórias de eso-
episódio aconteceu. Até en- o início de uma série de estra- ra viraram realidade no Teatro sério que ele afirma ter vivido terismo, fantasmas e outras
tão, jura ele, nunca tinha pre- nhezas. Dias depois, ele estava Amazonas. Naquele palco onde com os fantasmas do teatro questões que fogem à ciência e
senciado nada do gênero. “O fazendo a ronda, quando per- sentimentos profundos são usa- aconteceu, curiosamente, du- à razão têm poucas chances de
mais próximo que cheguei dos cebeu alguém passando para a dos para mexer com a emoção rante a apresentação do musi- serem verdadeiras”, afirma.
famosos fantasmas que apavo- sala da administração, já com o de não apenas um, mas de toda cal “O Fantasma da Ópera”, O ator e diretor baiano Ân-
ram os freqüentadores daqui, teatro fechado. “Corri atrás da uma plateia – onde amor e ódio em que ele vivia o personagem gelo Flávio é outro que jura não
até aquele dia, foi através dos moça de branco pedindo que são vividos aos extremos – que principal, um suposto fantasma acreditar em fantasmas, mesmo
causos (sic) que ouvia de um ela parasse e dizendo que ela podem perambular os espíritos que assustava os freqüentadores depois da estranha experiência
e outro colega de trabalho”, não poderia ficar ali. Um se- perturbados ainda presos a este do teatro. que viveu ao encenar o espetá-
lembra. “Uma vez, um conhe- gundo depois, ela sumiu atrás mundo. E por que não em bus- “Estávamos fazendo uma culo “A Casa dos Espectros”,
cido meu se deparou com uma de uma pilastra”. ca de refúgio, ou simplesmente apresentação no Centro Cultu- no prédio da antiga Faculdade
moça toda de branco circulan- As histórias e aparições atraídos pelas energias que en- ral Tel Elmex, no México, em de Medicina da Bahia, no Cen-
do pelos bastidores sem que misteriosas continuaram, como volvem o lugar? 1999, quando o violoncelista tro Histórico de Salvador.
ninguém soubesse de onde ela as ocorridas durante as apre- Para contar essas histórias desafinou a tal ponto que toda “Aquele prédio é assusta-
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
11
Reportagem
Fotos de divulgação
dor e todos sabem disso. Eu ela realmente viu algo, mesmo
não ficava nele sozinho à noi- que tenha sido produzido pela
te sob hipótese alguma, mas própria mente”.
eu não acreditava mesmo que E como podem ser tão
poderiam existir fantasmas no céticos diante de tantas afir-
local, até que um membro da mações? Será que realmente
produção do espetáculo jurou existiam fantasmas perambu-
ter visto um homem velho e lando pelos corredores daquele
esfarrapado caminhando pelo antigo casarão? Seriam mesmo
jardim e desaparecendo diante as almas das vítimas do terre-
dos olhos dela”, detalhou. moto responsáveis pelas apari-
Segundo Flávio, o depoi- ções no México? Ou também
mento da garota foi tão verda- seriam aquelas imaginações
deiro que todos ficaram com construídas pelas nossas men-
medo. “E ela me pediu para tes atormentadas? A decisão é
se afastar do grupo por tempo sua. A história quem conta so-
indeterminado e continua se mos nós. Por via das dúvidas,
recusando a trabalhar naquele tome cuidado ao andar sozi-
lugar novamente. Acredito que nho por um velho teatro. Em Ribeirão Preto, no Teatro Carlos Natal, a iluminação balança mesmo com o teatro vazio e sem vento
Dança
COREÓGRAFO BRASILEIRO
retorna ao país após trajetória de sucesso na Europa
Jarbas Homem de Mello
Por Jarbas Homem de Mello um amigo meu foi chamado para fazer
um conserto beneficente na Inglaterra
Após um dia exaustivo de traba- para a Lady Di, fui ver um ensaio, a co-
lho, o experiente e conceituado core- reógrafa me conheceu, gostou de mim
ógrafo Alonso Barros recebeu o Jor- e me chamou para trabalhar. Voltei para
nal de Teatro na academia Pulsarte, os musicais como interprete em “Rock
em São Paulo, onde está ensaiando Horror Show”, e aí vieram uma suces-
o espetáculo “Pernas pro ar”, nova são de musicais como “Sweet Charity”,
produção de Cláudia Raia. Na entre- “La Cage aux folles” etc.
vista, ele falou de sua trajetória artís-
tica, da vida na Europa (onde reside JT – E como se deu essa passa-
atualmente) e dos bons “acidentes” gem do performer para Coreógrafo
que a vida lhe proporcionou. de Musicais?
AB – Depois que eu voltei a traba-
Jornal de Teatro – Você participou lhar nos musicais, comecei a lecionar no
da montagem de “A Chorus Line”, Performing Arts, em Viena, uma escola
de 1983, espetáculo que lançou artis- de musicais muito conceituada. Lá, eu
tas de grande destaque como Cláu- coreografava muito para os shows, e isso
dia Raia, Raul Gazola e o saudoso começou a mostrar muito o meu traba-
Tales Pan Chacon. lho, então veio a grande oportunidade
Alonso Barros – Foi logo depois de de coreografar “Kiss me Kate”, uma su-
eu me decidir pela arte, largando meu per produção. Foi quando eu realmente
curso de arquitetura. Foi uma produção entrei no mercado como coreógrafo, e,
do Walter Clark, e foi onde tudo come- desde então, não parei mais. Com isso,
çou realmente. Nessa época eu iniciei fui diminuindo meus trabalhos como
minhas experiências como coreógrafo, performer e me tornando realmente co-
montei uma versão do Pippin, que foi reógrafo. Mantive minha base em Viena
muito elogiada na época, e aí vieram ou- e comecei a trabalhar em vários países
tros musicais como interprete, até 1988, da Europa.
quando decidi sair do Brasil.
JT – E como surgiu o convite para
JT – Você saiu do Brasil poucos voltar a coreografar no Brasil?
anos depois de ter iniciado uma pro- AB – Esse foi mais um feliz acidente
missora carreira. Foi a busca de no- na minha carreira. Eu estava no Brasil,
vas oportunidades de trabalho que o visitando a família, e sabia que estavam
levaram a Europa? montando o “Sweet Charity”. Fiquei in-
AB – Na verdade, o que me levou teressado, mas eu já não tinha mais con-
à Europa foi uma inquietação geral. Eu tato com a Cláudia Raia desde a época
tinha vinte e poucos anos na época, achei do “Chorus Line”, mas uma amiga mi-
que era o momento de ousar, rodar um nha, que trabalhava na CIE na época,
pouco. Eu estava um pouco cansado de me indicou. A Cláudia lembrou de mim
musicais e, na verdade, tinha o sonho de e me recomendou na hora, me pediram
conhecer e trabalhar com a Pina Bausch um registro do meu trabalho e fecharam
– eu era e sou louco pelo trabalho dela. comigo, foi aí que conheci o Charles
Na época, havia um amigo morando em Moeller e o Cláudio Botelho, que ago- O coreógrafo Alonso Barros volta ao Brasil após adquirir vasta experiência no exterior
Viena que estava participando de um ra me chamaram para a montagem de
show brasileiro. Estavam precisando de
gente, achei que era a minha chance, mas,
chegando lá, não tinha trabalho algum,
“O Despertar da Primavera”. Agora já
emendei outro trabalho aqui, que é o
“Pernas pro Ar”, um projeto da Cláudia
“Aliás a vida já é uma grande piada,
pois o show havia sido transferido para
o final do ano. Como eu só descobri isso
quando cheguei, não havia nada para fa-
Raia que começou pequeno, há mais de
um ano, e que agora tomou proporções
de mega produção. Estou muito feliz
você nasce vive e morre... É ridículo!”
zer. Na época, estava acontecendo um por dividir a criação desses espetáculos JT – E qual sua relação com os Viena para uma montagem de “Vitor
festival e fui fazer uma aula, um coreó- com profissionais renomados como a “franchising” da Broadway? ou Vitória”.
grafo que estava começando um trabalho própria Cláudia, o Luiz Fernando Verís- AB – Essa é uma estrutura que eu
de dança contemporânea em Viena me simo, Cacá Carvalho e Marconi Araújo. já conheço e não me interessa. Preciso JT – E o sonho de conhecer a
viu e me convidou para trabalhar. de espaço para a relação coreógrafo/ Pina Bausch, se realizou?
JT – Outra grande característica diretor/ator. Preciso exercitar a cria- AB – Essa é uma história boa, quan-
JT – Quer dizer que, apesar do do seu trabalho, além da sensualida- ção, mesmo dentro de uma estrutura do eu estava ensaiando “Rock Horror
susto, você chegou na Europa e co- de, é o humor. Você sempre prioriza pré-estabelecida. Se não houver esse Show” em Viena, ela abriu audições
meçou sua carreira de performer isso nas suas coreografias? espaço eu não me encaixo. Se eu não para um trabalho sobre a Áustria. Eu
imediatamente? AB – Sempre trabalho com o humor. estiver aberto ao novo, eu vou acabar faltei ao ensaio do espetáculo para fazer
AB – Bom, depois desse trabalho em Mesmo em cenas dramáticas, penso que me repetindo e não quero isso. Cada o workshop, ao final da audição ela veio
Viena, recebi o convite para trabalhar de o humor às vezes pode potencializar o espetáculo é único, cada elenco é úni- falar comigo e disse que tinha gostado
modelo. Aí eu pensei: melhor que lavar drama, e isso é do ser humano, busco co, mesmo em uma remontagem. muito de mim, mas meu perfil era muito
pratos né? (risos). Eu fiquei modelando isso na composição dos personagens, latino para um espetáculo sobre a Áus-
por um ano e meio mais ou menos e, esse patético da existência. Aliás, a vida JT – E quais os planos futuros? tria (risos) e não poderia me usar para
um tempo depois, resolvi participar de já é uma grande piada, você nasce vive e AB – Um dia depois da estreia do esse trabalho, mas que as portas de sua
uma competição internacional de novos morre... É ridículo! E nós estamos aqui “Pernas pro ar”, eu embarco para a cia estavam abertas para eu fazer aulas e
coreógrafos, naquele mesmo festival de para aproveitar o banquete enquanto é Alemanha, para ensaios de uma re- tentar futuros trabalhos com ela. Eu não
Viena. Ganhei o primeiro lugar, o que tempo, e eu não uso isso no trabalho montagem minha de “Hair”. Só de- pude ir porque estava sob contrato, mas,
me deu uma visibilidade, e foi nessa como um escapismo, mas sim como um pois é que volto para minha casa, em de certa forma, o sonho se realizou. Foi
época também que eu voltei para os mu- tom crítico mesmo, e isso me ajuda dra- Viena, devo voltar ao Brasil para a um momento muito especial para mim,
sicais, e de uma maneira bem inusitada, maticamente para contar uma história. montagem de “Gipsy”, e novamente que eu guardo com muito carinho.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
13
Artigo
Divulgação
A crítica teatral
jornalística:
qual seu papel?
PRIMEIROS PASSOS comprova a seriedade, a responsabili-
PARA UMA BOA CRÍTICA dade e o constante dever de estudar,
Ninguém duvida que a primei- conhecer, enfim, para não ser nem
ra característica exigida a autores de leviano nem permissivo quando tra-
quaisquer editorias dos jornais e revis- tamos de assunto tão sério como o é
tas, impressos (as) e eletrônicos (as), para mim o teatro.
é que se escreva com clareza. Essa Em um segundo momento da mi-
exigência tão importante ao repórter, nha pesquisa, realizo entrevistas com
cuja função é desembaraçar os fatos Mariângela Alves de Lima, há mais
do cotidiano para seu público lei- de 30 anos crítica teatral de “O Es-
tor, é apontada por Sábato Magaldi tado de São Paulo”, e, nesses diálo-
em artigo como condição primordial gos, conversamos a respeito das ideias
para que um texto crítico obtenha seu dela sobre as teorias que levantei pela
objetivo primeiro que é estabelecer pesquisa bibliográfica. A partir disso,
a comunicação entre quem escreve e chego mais perto da forma como ela
quem lê. Ele acrescenta que o crítico se aproxima de um espetáculo teatral,
“julgue com extrema honestidade e de que maneira ela lida com o fazer da
sem preconceitos de gênero”. Magaldi crítica teatral e suas ideias a respeito
diz também que “a primeira função da da finalidade de suas críticas.
crítica é detectar a proposta do espe- Assim como Sábato Magaldi, de
táculo, esclarecendo-a, se preciso, pelo quem foi aluna na graduação em críti-
veículo da comunicação. Em seguida, ca teatral na Escola de Comunicações
Sabato Magaldi: (o crítico) “julgue com honestidade e sem preconceito de gêneros” cabe-lhe julgar a qualidade da oferta e e Artes da USP, acha que a condição
da transmissão ao público”. sine qua non de um texto crítico deve
Para realizar o que chama de “jul- ser sua clareza para o estabelecimento
gamento” ele evidencia a necessidade da comunicação entre autor e leitor.
Por Michel Fernandes, sários para propagar a reflexão acerca de o crítico assegurar seu conhecimen- E defende a posição de que, para o
Especial para o Jornal de Teatro dos novos fenômenos teatrais, pon- to sobre o objeto que vai propor a re- artista, a crítica interfere muito pou-
to que vai de acordo com as ideias da flexão crítica – o espetáculo teatral. E, co, “a crítica teatral não faz com que
Há algumas edições desse Jornal de dramaturga Marici Salomão, de que a para a aquisição de tal saber, cabe ao nenhum gênio do teatro desperte, ou
Teatro, o editor Rodrigoh Bueno regis- crítica é uma das bases da percepção, crítico, além de sólida formação em seja, a reflexão crítica não dá ao artista
trou, em seu editorial, um justificado es- discussão e difusão de novos caminhos cultura geral, a frequente leitura sobre as respostas estéticas para a excelência
panto com a conversa de alguns críticos das artes cênicas. a estética teatral, seus diversos estágios ou não de seu trabalho”. Em um en-
Não quero com esse texto glorificar diante da história teatral, estudos sobre contro realizado com alunos do cur-
de teatro, que estavam na mesma van
a atividade de crítico teatral, que exerço os mestres – como Artaud, Meierhold, so de Crítica Teatral, ministrado por
que ele, em um determinado festival de no Aplauso Brasil – www.aplasobrasil.
teatro. Segundo Rodrigoh, tais críticos Craig, Bob Wilson, Stanislavski, Bre- Silvia Fernandes e Luiz Fernando Ra-
com.br –, seria no mínimo pedante e cht e Piscator, entre tantos outros –, mos, ela acrescentou o medo que tem
não gostaram do espetáculo que tinham pretensioso, mas, antes, reconhecer a
visto, mas teriam de “pegar leve” em conhecimentos sobre a dramaturgia de que suas críticas “policiem” o tra-
responsabilidade que carregamos ao as- de Sófocles a Shakespeare, de Brecht a balho dos artistas.
seus textos, pois o espetáculo levava a sinar nossos artigos e, por isso mesmo,
assinatura de um “figurão”. Dea Loher, de Padre Anchieta a Nelson Mariângela traz em sua vivência o
nos entregarmos à dúvida, ao questio- Rodrigues, de Maria Adelaide Amaral a terror do cerceamento da livre expres-
Deprimente saber que a autocensura namento constante. Em lugar do auto-
dos que não têm coragem para assumir Juca de Oliveira, do texto coletivo ao são, devido à ditadura militar, e, sendo
ritário “isso pode” e “isso não pode”, processo colaborativo. Enfim, ser crí- assim, compreende-se seu pavor ao
suas posições frente a uma peça – por reconhecer que o teatro é território li-
medo de desagradar a alguém cuja car- tico é não ter medo de estudar e reco- “policiamento” dos artistas a partir
vre, em que quaisquer experimentações nhecer que o saber jamais se esgota. de críticas que apontem os aspectos
reira é coroada por sucessos ou aos ar- são possíveis e que, concordando ou
tistas que, em sua trajetória, compilaram favoráveis e desfavoráveis de tal e tal
discordando do fenômeno teatral que espetáculo, mas acredito – talvez ain-
um exército de amigos influentes – exis- A CRÍTICA EM PESQUISA
se critica, é necessário o embasamen-
ta e seja mais praticada do que sonha Desenvolvo uma pesquisa, Antu- da esteja vivendo numa utopia! – que
to teórico e de experiências, vividas ou
nossa vã filosofia. apreendidas em leituras, para se tecer nes Filho e José Celso Martinez Cor- é possível o diálogo entre o crítico e
E, além dessa ideia equivocada e que o texto que, aliás, nada deseja ser defi- rêa: Apolo e Dionísio do teatro sob a o objeto de sua crítica não como bula
atravanca a reflexão – absolutamente nitivo, mas, tão-somente, uma alavanca perspectiva das críticas e outros textos que direcione o trabalho posterior do
necessária – para os avanços estéticos de para a discussão sobre tal fenômeno, já de Mariângela Alves de Lima, para o artista, mas como material que lhe sir-
nosso teatro, há um grupo de pessoas que segundo diz o diretor inglês Peter Arquivo Multimeios do Centro Cul- va para saber como se dá uma leitu-
que lidam, direta ou indiretamente com Brook “o verdadeiro bom teatro só tem tural São Paulo (CCSP). Em primeiro ra do trabalho dele por um indivíduo
a crítica teatral, que abre concessões a inicio ao cair do pano”. lugar, tal estudo me colocou dentro de fora do mesmo, nem que para discor-
espetáculos de iniciantes com a justifica- É preciso refletir, sobretudo, “o que uma fortuna de escritos teóricos que dar e deletar essa outra perspectiva.
tiva de que é preciso incentivá-los. é?” e “para quem é dirigida?” a crítica propõe reflexões a respeito do fazer
Em artigo de Sábato Magaldi le- teatral. É preciso diferenciar a crítica do texto crítico, de suas possíveis atri- Michel Fernandes é jornalista
mos que a crítica comete muitos erros teatral dos materiais de divulgação de buições e contribuições para o campo cultural, crítico, pesquisador de tea-
de avaliação, mas são equívocos neces- um espetáculo. do saber teatral. Tal perspectiva me tro e editor do portal Aplauso Brasil.
14 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro
Sindicais
Evento
Compagnie Un loup pour l’homme apresenta «Appris par corps» em turnê pelo Brasil
Divulgação
rigir seus próprios trabalhos e to Alegre, Florianópolis, Rio
Por Dominique Belbenoit desenvolver pesquisas sobre de Janeiro e São Paulo serão
Um corpo a corpo fasci- a linguagem corporal. Oriun- as próximas cidades a serem
nante entre o francês Ale- dos da Escola Superior das agraciadas com o espetáculo.
xandre Fray e o canadense Artes de Circo de seus res- Segundo Alexandre, foi
Frédéric Arsenault fez do es- pectivos países, Alexandre e necessário muito trabalho de
petáculo “Appris par corps” Frédéric uniram seus talentos pesquisa para fundar a com-
um dos destaques da décima e criaram seu primeiro e único panhia. “O enriquecimento
edição do Cena Contemporâ- trabalho “Appris par corps”, por meio do esporte, da lei-
nea – Festival Internacional cuja tradução seria “Aprender tura corporal, da literatura e
do Teatro de Brasília. Con- de corpo”. A apresentação do da originalidade, entre outros
cebida a partir de uma visão espetáculo lhes valeu o pri- assuntos, foram primordiais
extensa de técnicas corporais, meiro e conceituado prêmio para conceber o espetácu-
a peça, da Compagnie Un Jeunes Talents Cirque (Jovens lo repleto de beleza e poesia
loup pour l’homme, mistura a Talentos do Circo), em 2006, impregnada de humanidade”,
dança, o teatro e a acrobacia, na França. revela o acrobata, que fazia
dispensando as palavras, mas “Nosso trabalho teve malabarismos nas ruas de Pa-
capaz de provocar diversas grande receptividade em toda ris antes de montar sua pró-
emoções a cada cena. a França. Nosso país possui pria companhia.
O confronto entre os dois uma política de incentivo à Para seu companheiro,
homens no palco oscila de for- cultura muito extensa. Por Frédéric, “Appris par corps”
ma ambígua entre gestos deli- isso, tivemos a oportunidade constitui um marco inova-
cados e violentos, entre força de fazer uma turnê tanto no dor no segmento teatral ao
e fragilidade, entre a vontade Alexandre Fray surpreende plateia com golpe em Frédéric Arsenault território francês quanto no possuir elementos do Novo
de escapar do karma da união europeu. Apresentamos “Ap- Crico, movimento nascido na
e a tentação de se fundir como rica de humanidade. do de um encontro entre os pris par Corps” na Holanda, França nos anos 1970. “Esse
irmãos inseparáveis. Em pou- acrobatas Alexandre Fray e na Dinamarca, na Inglaterra, estilo ainda é novo e fascina o
cas palavras, numa cenografia COMPANHIA Frédéric Arsenault, que já na Itália, na Espanha e, agora, público no mundo inteiro. O
pura os dois acrobatas nos A Compagnie Un loup haviam trabalhado juntos em no Brasil, por meio de pro- Cirque Du Soleil, por exem-
desvendam simplesmente a pour l’homme nasceu no sul outras ocasiões. Ambos divi- gramas governamentais”, ex- plo, tem como pilar esse mes-
complexidade de uma relação da França, em 2005, resulta- diam a mesma vontade de di- plica Frédéric. Curitiba, Por- mo movimento”, afirma.
16 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro
Festivais
Denis Farley Divulgação
PORTO ALEGRE
As atrações canadenses Sul. O teatro gaúcho estará re-
não param por aí. Junto com presentado por dez espetácu-
a França, o vizinho educado los que concorrem ao Prêmio
dos Estados Unidos possui as Braskem em Cena. Mais uma
peças mais cobiçadas pelo pú- vez, o Projeto de Descentra-
blico gaúcho. Regado pela boa lização levará encenações a
EM CENA 2009:
trilha sonora, que se impõe todas as regiões periféricas da
pelas “Sonatas Para Piano”, cidade, como uma iniciativa
de Beethoven, o espetáculo consolidada na grade do Em
“Crépuscule des Océans” traz Cena, levando arte e cultura
bailarinos que executam com para essas comunidades.
maestria movimentos ora su- Além das peças, o Porto
tis, ora enérgicos. Alegre em Cena também con-
tará com diversas oficinas gra-
O MUNDO DO TEATRO
Já os franceses não deixam
seu charme de lado e prota- tuitas espalhadas pela capital.
gonizam três das principais O público poderá interagir e
peças do festival. “Quartett”,
texto de Heiner Müller diri- EM APENAS UMA CIDADE aprender um pouco mais so-
bre o teatro com renomados
gido por Bob Wilson, com atores, diretores, professores,
Isabelle Huppert será respon- diretor francês Patrice Ché- no cinema, (Irmãos, de 2003, assistir as obras, terá de se figurinistas e cenógrafos, que
sável pelo encerramento no reau, também mostrará sua e Gabriele, de 2005) Chéreau conter para não cortar os pul- estarão presentes até o dia 25
Em Cena 2009. O renomado genialidade no evento. Mais apresentará nada menos que sos, devido aos fortes temas. de setembro, data de encerra-
conhecido por seus trabalhos dois espetáculos. E quem for Em “La Douleur”, ele retra- mento do festival.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
17
Festivais
Política Cultural
Fotos: Divulgação
Juntos, a sala Baden Powel e os teatros Maria Clara Machado, Carlos Gomes e Ziembinski tiveram 38 propostas inscritas
Por Felipe Sil e democratização cultural, Humberto maneira de democratizar o acesso. Não nossas unidades. O edital é muito es-
Araújo; a gerente de artes cênicas, Ana que já não tivéssemos pessoas qualifi- pecífico. Algumas das questões pre-
A expectativa era grande para a di- Luísa Soares; e a gerente da rede de tea- cadas na gestão desses espaços, mas, sentes falam, por exemplo, do espaço
vulgação dos vencedores do edital de tros, Alessandra Reis. agora, é uma maneira mais justa de se físico das unidades e da potencializa-
ocupação da Rede Municipal de Tea- A secretária Jandira Feghali, em trabalhar”, explica. ção dos locais. Queremos um teatro
tros, divulgado no dia 14 de setembro, comunicado, já se pronunciou sobre o A Sala Baden Powell, cujo proje- que funcione de terça a domingo, pelo
pela Secretaria Municipal de Cultura do edital. “Até o fim do ano a programa- to vencedor receberá R$ 200 mil por menos nos períodos da tarde e da noi-
Rio de Janeiro, no Teatro Café Pequeno. ção (dos espaços) estará acontecendo, ano, teve nove propostas inscritas; o te. Desejamos, também, que a unidade
Nada menos que 50 projetos estavam na com os teatros recebendo um aporte Teatro Carlos Gomes, com R$ 250 mil consiga ser bem utilizada nos seus es-
disputa para ocupar os espaços por dois financeiro anual para realizá-la”, limi- anuais, teve cinco; o Espaço Cultural paços com, além de espetáculos, ofici-
anos – com possibilidade de renovação. tou-se a dizer. Sérgio Porto, com R$ 150 mil, sete; o nas, ciclos de palestras e atrações do
A seleção dos projetos foi feita por Essa é a primeira vez que a Secre- Ziembinski, o Café Pequeno e o Maria tipo”, comenta Ana.
uma comissão formada por quatro re- taria Municipal de Cultura abre editais Clara Machado, cada um com R$ 100 As inscrições para a Lei do ISS tam-
presentantes da sociedade que já pos- de ocupação para espaços do órgão da mil por ano, tiveram, respectivamente, bém estão abertas (até 30 de outubro
suem experiência no assunto: o ator e prefeitura. Anteriormente as unidades 12, cinco e 12 propostas. Além desses para os projetos culturais que quiserem
diretor Sergio Brito, a bailarina e core- eram distribuídas entre diretores artís- valores, cada espaço poderá obter pa- concorrer ao incentivo). Já se inscre-
ógrafa Angel Viana, o diretor do Teatro ticos convidados. Para Ana Luísa, ge- trocínios externos. veram, até agora, mais de 200 projetos
de Anônimo, João Artigos, e o crítico rente de Artes Cênicas da pasta, a ideia “Ter recebido 50 projetos é uma (que podem receber até R$ 500 mil cada
teatral Lionel Fisher. Três representan- é poder dar a oportunidade para qual- marca invejável. Não esperávamos um) e mais de 80 empresas. Confira a
tes do governo também fazem parte da quer pessoa interessada e bem prepa- tantas propostas, pois restringimos lista dos vencedores no site www.rio.
comissão: o subsecretário de difusão rada poder assumir um local. “É uma bem os requisitos para ocupação de rj.gov.br/cultura.
Opinião
TEATRO
DO
CONCRETO
em diálogo com Brasília
O grupo, profundamente identificado com o Distrito Federal, inspira-se na arquitetura do plano piloto para se firmar como um centro de cultura e pesquisa no Planalto Central
As obras de Caio F. continuam a ser encenadas em palcos de todo o Brasil. Na foto, uma cena de “Epifanias” Rodolfo Lima emociona público em “Réquiem para um Rapaz Triste”
História
Roupa
Pya Lima
nova
40 anos da versão brasileira de
“Na Selva das Cidades” é brindada com novo espetáculo
Por Adoniram Peres
Depois de 40 anos apre-
sentado no Brasil pela Cia.
cartas de um jogo. É o retra-
to de uma sociedade agressiva,
egoísta e intolerante que mas-
sacra a delicadeza e compra
de 1968 é um período que ar-
rasta o Brasil a um confronto
com intensas contradições: a
ditadura mostra-se cada vez
Teatro Oficina, o espetáculo opiniões em um mundo no mais repressiva, lançando o
“Na Selva das Cidades”, ter- qual as pessoas estão cotidia- Ato Institucional nº 5; a luta
ceira obra do autor alemão namente se destruindo, e tudo armada há dois anos traz a
Bertolt Brecht, volta em for- em sua volta”, explica Fonseca. violência para as principais
ma de musical. Uma reeleitu- A trilha sonora tem o mes- capitais; e São Paulo, semi-
ra encenada pela Cia. Teatro mo tom da encenação, calca- destruída ao longo de quilô-
do Incêndio. Em cartaz (com da no rock pesado. Urbílio metros para as obras da via
preços populares) desde o também criou temas épicos, elevada que hoje a atravessa,
dia 11 de setembro, na sala inspirados em “A Floresta do era convulsionada pelas pas-
Renée Gumiel do Comple- Amazonas”, de Villa-Lobos, seatas estudantis.
xo Cultural Funarte, em São e musicou o poema “A Lenda A primeira montagem
Paulo, a peça – dirigida por do Soldado Morto”, de Bre- brasileira de “Na Selva das
Marcelo Marcus Fonseca – cht, que o colocou na lista ne- Cidades” pela Cia. Teatro
foi adaptada para a atual re- gra de Hitler, interpretada em Oficina, em 1969, foi dirigi-
alidade brasileira. Segundo cena por Wanderley Martins. da por José Celso Martinez
o diretor, a previsão é que A atriz e intérprete Cida Mo- Correa e cenários de Lina Bo
o espetáculo fique um mês reira empresta sua voz a uma Bardi, trazendo no elenco
em cartaz. “A intenção é nos das canções da peça. Segundo Renato Borghi no papel de
apresentarmos em outro tea- Marcelo Fonseca, mesmo du- George Garga, Othon Bas-
tro de São Paulo em janeiro rante os diálogos, a música in- tos vivendo o malaio Shlink
de 2010 e, em seguida, via- vade a ação dramática com o e Ítala Nandi como Marie
jarmos pelo Brasil”, destaca. que ele chama de “comentá- Garga. Nesta encenação exi-
Nesta adaptação, 14 ato- rios musicais”, interferências ge uma total remodelagem
res em 11 cenas dão vida à feitas pelos músicos. do espaço físico da Oficina:
implacável luta pela sobrevi- O espetáculo é a terceira as cadeiras são retiradas e o
vência diante da destruição incursão da companhia Tea- palco giratório, desmontado,
causada por dois homens tro do Incêndio na obra do dá lugar a um espaço amplo,
que se enfrentam e se des- autor alemão Bertolt Brecht. cujo centro é ocupado por
troem sem motivo algum. O Com as bem sucedidas mon- um ringue de boxe.
humor cínico, a poesia e a tagens de Baal – “O Mito da Com tais técnicas, e ro-
música (originalmente com- Carne” e “A Boa Alma de bustecida pelas incessantes
posta por João Urbílio e exe- Setsuan” –, o grupo criou improvisações do elenco, a
cutada ao vivo), dão o tom a uma identificação própria peça chega a ter cinco ho-
esta montagem. “O espetá- com o dramaturgo, lendo de ras de duração no período
culo tem um forte poder de maneira particular esse autor de ensaios e motiva o dese-
comunicação com a juventu- que não se pode rotular. jo de encená-la em capítulos
de. Queremos que as pessoas diários. Mas, é compactada Rene Ramos, Liz Reis e Marcelo Fonseca em cena que já foi vivida por
saiam do teatro e façam uma HISTÓRICO para cerca de três horas de Othon Bastos, Ítala Nandi e Renato Borghi
reflexão sobre o que acaba- Segundo o diretor Marce- espetáculo. A violência, tema
ram de ver”, revela o dire- lo Fonseca, apesar do tempo do texto, atravessa toda a en- lhados metaforicamente. O abre a guerra entre os dois,
tor Marcelo Fonseca, acres- entre as adaptações e por cenação. Razão pela qual, ao crítico Herbert Jhering disse que atravessa toda a trama.
centando que o espetáculo ser um texto literário, a obra final de cada cena – denomi- naquela ocasião: “nessa peça Das implicações metafísicas
aborda a relação das pessoas apresenta uma contextualiza- nada round – os adereços e seres humanos sugam uns presentes nesse confronto
dentro de uma sociedade que ção atual independentemen- elementos cenográficos em aos outros como vampiros; até a mais sangrenta sobre-
busca objetivos sem pensar te do período. “Tanto nas cima do ringue são estraça- nela, as boas ações destroem. vivência nos mangues que
nas consequências de suas adaptações de 1923 quanto lhados pelos atores, ao grito E os charcos exsudam luz”. cercam a cidade, onde am-
ações – em que a relação ho- na de 1969 foram aborda- de: quebra!! A peça é ambientada em bos serão caçados pela polí-
mem e dinheiro são aborda- dos assuntos relacionados às Na verdade, “Na Sel- uma fictícia Chicago norte- cia. A peça explora todas as
dos nas questões tipicamente questões políticas e sociais va das Cidades” estreou em americana, onde uma família etapas da desarticulação da
brasileiras. de cada época. Em 2009, não 1923 e provocou opiniões di- de emigrados tenta sobrevi- família Garga. A irmã Maria,
“É o texto sobre a metró- será diferente, a obra discuti- vergentes dos críticos. Nela, ver. O jovem Garga torna-se estuprada pelos capangas do
pole com o cidadão dentro. rá assuntos atuais”, destaca. dois homens entram em luta empregado de uma livraria malaio, se entrega à prosti-
A peça traz questionamen- É no clima do período da por uma espécie de “posse e vai experimentar um insó- tuição, caminho que também
tos dessas grandes cidades ditadura militar que o Ofici- da alma”, onde os seres hu- lito desafio: vender sua opi- a namorada de Garga trilha-
já impregnadas nas pessoas, na chega a 1969 e elege o tex- manos ao redor deles são nião para o poderoso ma- rá. Os pais, reduzidos quase
como parte do corpo. Como to de “Na Selva das Cidades” meras peças utilizadas num laio Schlink, controlador da a objetos, chafurdam no lixo
se tudo em sua volta fossem sua nova montagem. O ano jogo onde corpos são empi- prostituição e do tráfico. Isso à cata de comida.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
23
Internacional
Sabe como é a rotina de quem tenta um papel em um espetáculo musical? Adriano Fanti sabe
muito bem e dá dicas de como se preparar para os testes. Luciana Chama também resolveu
aconselhar nossos leitores, com experiências (muito) bem-sucedidas de como se agradar um
fã. Acompanhe!