Jornal EX. Um Jornal Combativo e Libertário

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César Lattes 1975 Estamos C o m

Setembro
Muhamad Ali
40 páginas
Dr. K. Netta
Joel Rufino
Carlos Morari
Arlindo Silva
Paulinho da Viola
La Mano & A eternidade
Dom Pedro I começou!

JORNAL DE TEXTO

DOCUMENTO:
C O M A PALAVRA
D O M PAULO,
O CARDEAL
WSSrnmgk

DE SÂO PAULO.
(Por motivo
De Força Maior
AGUARDE)

RELAÇÃO: HOMEM
PARA HOMEM.
ENSAIO DE UMA
MULHER. TEXTO
E FOTOS DE
CLÁUDIA ANDUfAR.
PÁGINA 76

O ÚLTIMO BANHO UM LÍDIMO


DE SANGUE. CAMPEÃO!
CHILE, ESQUECEU?
PÁGINAS
20 e 40

OLHE
O RETRATO DO
PÁGINA 37 COMICUS (P.14) PÁGINA 24 VELHO OUTRA VEZ!

DESCOBRIMOS U M N O V O PAÍS:0 BRASIGUAY! (P. 26)


leitores GRADECER POR SUA

Excelente o t r a b a l h o , a i n d a q u e re-
sumido. do repórter Fernando Morais.
C o m o colega e c o n t e r r â n e o , p e r m i t o - m e
um simples r e p a r o : a invasão d a Baía dos
Porcos - o u , c o m o d i z e m os c u b a n o s , Playa
( i i r ó n - n ã o foi em s e t e m b r o d e 1962,
c o m o a p a r e c e na entrevista a Ex-13, n e m
cm s e t e m b r o de 1961, c o m o está n o t e x t o
r e p r o d u z i d o : deu-se, p r e c i s a m e n t e , nos
dias 17.18 e 1 9 d e abril d e 1961. N ã o c h e g a

Qualquer Folha
a comprometer 0 trabalho do repórter, a) Moaey Cirne Os artistas devem cobrar a realização
m a s . c o m o e s p e r o vê-lo p u b l i c a d o e m desse espetáculo. Porque, afinal, todos
livro, c o n v é m corrigir. Poema/processo-75
G o s t a r i a d e enviar m a t é r i a d e o u t r o s nós p a g a m o s os ingressos.
e poemas experimentais
gêneros, c o m o c o n t o s ou críticas literárias ul.lose Guilherme Mendes, Rio. Rio. Rj. a) S i n d i c a t o d o s A r t i s t a s e Técnicos em
etc; p o d e r i a s e r e m folha c o m u m ou vocês E s p e t á c u l o s de Diversões. Rio.
usam laudas próprias?
Aguarde o Ex-15 Música, Maestro!
a) Fernando Pereira da Cunha, Campinas.
Há muitos anos os artistas brasileiros
Os Fins De Juarez
Estou m a n d a n d o m a t e r i a l s o b r e o vem batendo insistentemente n u m a tecla, Q u e Fazia J u a r e z T á v o r a No Fim da
Submundo De Souza Marek Halter, pintor polaco que mora na
F r a n ç a . Dê u m a o l h a d a nos " x e r o x " q u e
sem que o som dessa nota consiga entrar
na partitura da dificil c o m p o s i ç ã o entre
V i d a ? Lutei sob s u a c h e f i a p a r a as ten-
tativas s o c i a l - d e m o c r á t i c a s d e 1922. 1924
R e s p o s t a a Evaristo B l a n c o Pereira, s e g u e m j u n t o . Eles d a r ã o o " c l i m a " d o trabalhadores, governo e empresários: a e p a r a a vitória d e 1930. Depois, combati-o
(seção d o s leitores; Ex 13). Se a c o l u n a d e p e r s o n a g e m . U m a entrevista seria interes- Regulamentação Profissional. nu i m p r e n s a e tia t r i b u n a . M a s sempre
Percival d e Souza é d e s t o a n t e e n ã o se as- s a n t e n a m e d i d a e m q u e os a r t i s t a s Após a diluição de muitós grupos de respeitei s u a g r a n d e z a , já a g o r a incor-
s e m e l h a c o m os objetivos d o Ex, peço-lhe brasileiros, e m especial os plásticos, se trabalho, foi formada u m a Comissão In- p o r a d a à História d o Brasil. Divergi dele
q u e leia a I a p a g . , em s u a a p r e s e n t a ç ã o . n e g a m a q u a l q u e r p o s i ç ã o política, social tcrministerial, c o m p o s t a por representan- q u a n t o aos c a m i n h o s e m é t o d o s , mas
Caso o l i n g u a j a r d o s u b m u n d o (?) dificul- etc. E o M a r e k d e f e n d e e x a t a m e n t e o con- tes dosMinistérios do Trabalho, da c o i n c i d i m o s cm r e l a ç ã o aos fins - um
t a - o e m t o m a r interesse pela c o l u n a , posso t r á r i o . o a r t i s t a c o m o p o r t a - voz, etc... Educação e das Comunicações. Brasil c a d a vez m a i s fiel a si mesmo,
dizer-lhe q u e " a s c o n q u i s t a s e os f r a c a s s o s Fm 1 '72 houve um encontro, c m m a i s livre, m a i s u n i d o , m a i s desenvolvido
a) Edla Van Stein, S P .
de u m a s o c i e d a d e i n v a l i d a n v s u á c u l t u r a Iti asilia, desta Comissão c o m representan- pela j u s t i ç a social e pela s o l i d a r i e d a d e
s u p e r i o r " , e m a i s . a gíria é u s a d a por
Alguém Ainda Tem?
tes da M t F R F e os dirigentes sindicais de h u m a n a ( D e p o i m e n t o d o p r o f e s s o r Rober-
t o d o s a q u e l e s q u e se m a n t ê m à m a r g e m d e Artistas i Radialistas. O Objetivo do en- to Lvra).
u m sistema social, s e r v i n d o a i n d a p a r a o (<in(ro era o de examinar o produto final
e n r i q u e c i m e n t o d a v i t a l i d a d e lingüística. Fiquei conhecendo o seu jornal Ex-13 e de um farlo estudo, antes de ser enviado à a) Sociedade dos Ex-Alunos de Roberto
E para que fique bastante clara a men- me interessei muito por ele. Presidência da República para ser trans- Lvra, Rio.
Gostaria de saber o que fazer para con-
Shazam! (Goooool!)
s a g e m . b a s t a d i z e r - l h e q u e . na r e f e r i d a formado em decreto-lei.
c o l u n a , são t r a t a d o s os c o n s e q ü e n t e s d e seguir as edições atrasadas.
Os empresários discordaram do- resul-
nosso s i s t e m a político-cultural e sócio- Desde j á esperando u m a resposta.
tado elaborado c pediram, antes de qual- Hu tava n u m s u p e r m e r c a d o , e de re-
econômico. Subscrevo-me quer medida por parte da Comissão, um p e n t e . 110 meio d a q u e l a s v e r d u r a s todas,
a) Alberico Neves F ° , SP. a) José Carlos C o u t i n h o , R u a José d e encontro no Rio entre Empresas e Sin- eu vi u m a p o r ç ã o de livros. U m livro,
A l e n c a r . 5 7 8 - Nova Suíça, C E P 30.000, dicatos para rever alguns pontos que eles c h a m a d o a s s i m : S u p e r K. O H o m e m Mais
Maravilha De Souza Belo H o r i z o n t e . julgavam insatisfatórios. Não concor-
davam c o m as normas de trabalho, c o m a
Poderoso do P l a n e t a - A História de
Henry Kissinger. A P o m b a d a Paz.
M e u s p a r a b é n s p a r t i c u l a r m e n t e ao definição das tarefas profissionais, c o m a ü q u e o Pelé t e m a ver com isso? É
Percival de Souza com s u a s m a t é r i a s obrigatoriedade de programação ao vivo, simples: eu tive u m susto, m a s tive l a m -
maravilhosas, n u m a linguagem que ainda com a limitação da exploração do trabalho bem u m a revelação; ou m e l h o r , u.m estalo.
será c i t a d a n a s enciclopédias, pois m u i t a artístico através das Redes de Emissoras
E n t ã o é isso. o h o m e m dos 9 milhões de
g e n t e n ã o s a b e q u e ela existe. N ã o s o m e n t e que provocou o desemprego setorial e m
d ó l a r e s , dos mil gols, e d a s m i l h õ e s de
eu m a s os colegas d a R e d a ç ã o o n d e todo o pais, etc. Foram dez dias de de-
c r i a n c i n h a s p o b r e s d o Brasil vai ser Super-
t r a b a l h o (Folha de S. P a u l o , s u c u r s a l ) es- bates, ao fim dos quais, os empresários
herói . d e revistinhas m e s m o , igual Bat-
tão c o m p r a n d o o Ex. O r e p ó r t e r - f o t o - retiraram-se da mesa dispostos a procurar
m a n . Q u e m s a b e o S u p e r - P e l é , em defesa
grático Ubirajara Dettmar m a n d a ainda outros c a m i n h o s . Os seus próprios ca-
d a p a z e d a j u s t i ç a ? Já p e n s a r a m ? Nós
u m a b r a ç o . D e s e j a m o s q u e o j o r n a l con- minhos.
a q u i v a m o s ligar a tv e ver d e s e n h o ani-
tinue f i r m e a p e s a r d a s c h u v a s e t r o v o a d a s " M a s essa ausência tem gerado abusos m a d o c o m o Pelé?
q u e a Metereologia a n u n c i a d e v e z - e m e violências que o des caso e a indiferença Agora a b r o n c a é c o m vocês: cadê o
quando. pretendem eleger c o m o a praxe, o normal jornal d o índio pô?
e o aceitável" - discurso de posse da Di-
a) Luiz Carlos de Souza, Rio. retoria. v) Júlio Castanheira , Belo Horizonte.
leitores
OCE E U

Mais Demo Na Salada


Vão ai uma fotos e um desenho.
É sobre Central, pingentes etc...
Eu tinha escrito uma carta há
algum tempo dizendo que ia man-
dar um artigo sobre o assunto.
m e t o x n o x f o m e Viajei e durante esse tempo o as-
sunto talvez tenha se esgotado um
pouco. As fotos talvez sejam úteis.
I uma'mordida; ma\ i
P O N T * DO D E D Í . 0 . OUTRA í a) Demo.
E M A I S OUTRA. P E R N A

I Santo Elias!
> INTESTINO P U L M X O . /
0 CEREBRO. C R U N H C !
MACIO E D O C E .
VAI A T E D II Atenção para os roubos de i m a g e n s e'
- crunchcrunch: i objetos sacros q u e vêm ocorrendo e m
DEITA £ DORME ! Marechal D e o d o r o , Alagoas. O saldo da
. última visita foi: e s p a d a de prata da
I i m a g e m de São Miguel Arcanjo, de ta-
;il Itun Maurício, l'E. i bricaçãn portuguesa, século 18. Lam-
i parina trabalhada e m prata c o m q u a s e 2

Leilão De Atrasados
i metros de altura. Castiçais. Pedras pre-
ciosas. Sem falar d a s grandes i m a g e n s de
Nossa Senhora do Carmo, São João Ne-
P a g o 4 0 c r u z e i r o s pelos números
p o m u e e n o . Santo Elias e outros, c o m res-
1.2.3.4 c 5 d e Ex.
pectivas coroas e resplendores.
E n v i a r os 5 n " . ou os q u e o c ê s a i n d a
A professora Eleu/.a Galvão, do único
têm. pelo r e e m b o l s o p o s t a l p a r a : R u a
ginásio da antiga capital de Alagoas, vem
Araçá. 80. < a n u a s . R . S .
d e n u n c i a n d o os s a q u e s , cada vez m a i s
a) Paulo Cezar D a Rosa.
freqüentes nas igrejas da c i d a d e , " u m dos
mais ricos c d e s c u i d a d o s acervos da ar-
Atenção! Literatura. quitetura civil e religiosa do nordeste". D .
Eleuza já endereçou mais de dez a b a i x o
Escritores d a q u i e n c h e r a m o saco de assinados, alguns c o m q u a s e 7(H) assi-
correr a t r á s d e e d i t o r e s e r e s o l v e r a m l a n - naturas, ás mais diversas autoridades:
çar eles m e s m o s seu livro: T E I A . 16 c o n - "Foi pro governador, pro Ministro da Jus-
tos d e 8 a u t o r e s . 80 p á g i n a s , 10 c r u z e i r o s . liça, prá Policia Federal." O resultado até
Pode ser e n c o n t r a d o n a C o l e t â n i a , A n - .agora foi n e n h u m . D o n a Eleuza diz: " E m
d r a d a s . 1117. P. A l e g r e (vale m a i s q u e 10 I protesto, as igrejas permanecerão fe-
cruzeiros!). i cliadas até q u e se elucide o mistério."
a) Paulo Cczar D a Rosa, RS
jj a) E v a n d r o Pagy. Rio

AJUDE
ÔATtK £ pfMTORA À Mt£>} s o e « E
TECIDO, CADA P e s e N H O £ l R f f £ A LIMPAR O NOSSO
P e r i V f L NA B L U S A , NA SAIA, N
A B A T A , MO L O N F I - O ÇFUE V O C Ê O
BANHEIRO *
S A , C O L O R I D O , C O R FL«l*16 poR Ex atrasados a partir do n? 7
Q.ue o processo base t>e ($5) cada exemplar
P A R A f f A f A ) É s e c u t L A X , € TA MI Ex atrasados a partir do
3EM porooe, v o c ê s w e a , a n? 7 ($5) em vale postal
Zül se você « x u s e R j c o w r o ou cheque nominal para
R/ME. v o c ê e N C O M E N O A R , VEMM
Ex-Editora Ltda. Endereço:
À VEMPA s ã AOS A b a d o s , SP, A/A
rim das Vio».€tAs, AT, V. M a r m w a
Rua Santo Antônio, 1043,
SP/SP. CEP 01314.
(5) Nome secular: o avô do siík-screen.
*) Onde estão os encalhes.
Carta Aberta Aos Nossos Leitores
C a r o leitor: E s s a s o p i n i õ e s n ã o s ã o c a s o s i s o l a d o s d e i m p r e n s a . O c o l u n i s t a J a c k A n d e r s o n disse
U m amigo nosso sábio e culto, que t a m b é m é contador, ao olhar a linha inferior do recentemente:
livro-caixa d e R a m p a r t s , d i s s e q u e a r e v i s t a é " t o t a l m e n t e i n v i á v e l " . L i m p a n d o o p ó s d o s " A v e l h a h i s t ó r i a s o b r e r e s p o n s a b i l i d a d e d e g u a r d a r s e g r e d o s e m vez d e d e n u n c i a r
b a l a n ç o s passados, d e s c o b r i m o s q u e a revista tem sido "inviável" há vários anos. E m - a b u s o s t e m v o l t a d o a o c u p a r d e s t a q u e n a i m p r e n s a . O s velhos i d e ais p r é - W a t e r g a t e ,
b o r a isso n ã o seja s i n a l d e n o s s o Fim, é m a i s u m p r o b l e m a . N e n h u m ? r e v i s t a , p o r m a i s p r é - V i e t n a m . e m p a r c e r i a c o m o g o v e r n o , d e e s t r e i t a l i g a ç ã o c o m os r i c o s e poderosos,
d e s p r e o c u p a d a c o m o l u c r o , p o d e viver d e b r i s a . P e l o m e n o s n i s s o o d i i . h e i r o a i n d a de um c o n j u n t o de segredos ocultos do público, voltam a ocupar a i m p r e n s a " .
c o n t a . P o r t a n t o , este é u m p e r í o d o d e b a l a n ç o . A lição t i r a d a d a D e p r e s s ã o d o s a n o s 3 0 foi q u e ela n u n c a m a i s se r e p e t i r i a . M u n i d a
N o a n o p a s s a d o , a v e n d a n a s b a n c a s e as a s s i n a t u r a s c a í r a m m a s a c a b a r a m se e s t a - d e K e y n e s e S a m u e l s o n , a e c o n o m i a a m e r i c a n a ia a b u r g u e s a r - s e i n f i n i t a m e n t e . Mas
b i l i z a n d o . È n o s ú l t i m o s 6 m e s e s n o u v e u m a m o d e s t a a s c e n s ã o . Isto j á é m u i t o , pois es- a g o r a v o l t a m o s a o u v i r e s p e c u l a ç õ e s s o b r e u m a n o v a d e p r e s s ã o . O p r i n c i p a l assessor
tá f o r a d e n o s s a s p o s s i b i l i d a d e s f a z e r p r o g a p a n d a p o r m a l a - d i r e t a , i n d i s p e n s á v e l p a r a e c o n ô m i c o d o e x - p r e s i d e n t e J o h n s o n A r t h u r O k u n , c h e g o u a c o m p a r a r o prognóstico
uma circulação estável. e c o n ô m i c o c o m a v e l h a b r i n c a d e i r a d e m é d i c o s a r e s p e i t o d a g r i p e c o m u m : "Você
A v a l i a ç ã o m a i s p r o f u n d a , q u e n ã o p o d e ser m e d i d a , é a p o s i ç ã o q u e R a m p a r t s as- d e v e r i a t e r t i d o p n e u m o n i a — isto nós s a b e m o s c o m o c u r a r " . R e c e s s ã o c o m inflação
s u m e . Nosso princípio n ã o é o c r e d o liberal, m a s sim o c o m p r o m i s s o com a v e r d a d e . En- c o n f u n d i u os e c o n o m i s t a s , m a s eles s a b e m c o m o c u r a r a d e p r e s s ã o . ( D e f a t o a última
t ã o . o b a l a n ç o l e v o u - n o s a e x a m i n a r as f o r m a s c o m q u e se m e d e a i m p o r t â n c i a d a revis- d e p r e s s ã o , c o m o a l g u n s e c o n o m i s t a s v ê m m o s t r a n d o , foi c u r a d a p e l a S e g u n d a G u e r r a e
ta. E g o s t a r í a m o s d e t r o c a r i d é i a s c o m vocês. não" p e l o New D e a l . )
No fim da g u e r r a d o V i e t n a m e d o caso W a t e r g a t e surgiu u m a m p l o consenso na Vivemos u m t e m p o e m q u e o noticiário provoca i n d i g n a ç ã o e s u r p r e s a . Recebemos
i m p r e n s a a m e r i c a n a , c o m o freio à irresponsabilidade no poder. M a s a i m p r e n s a está u m a c o n f u s ã o d e d a d o s , q u a n d o q u e r e m o s m a i s q u e i n f o r m a ç ã o ; q u e r e m o s q u e nos ex
p e r d e n d o o b r i l h o q u e a c e r c a v a d e s d e as r e v e l a ç õ e s d e W a t e r g a t e e o c a s o d o s p a p é i s d o pliquem a l g u m a coisa. As premissas, definições, justificações, slogans que protegem a
Pentágono. Em março, q u a n d o o presidente Ford lançou o p l a n o trienal p a r a salvar o e x p e r i ê n c i a l i b e r a l s ã o i s o l a d o s d o c o n t a t o c o m a v e r d a d e . S u a s t e n t a t i v a s d e objeti
r e g i m e d e S a i g o n d o a v a n ç o v i e t c o n g , f i c a m o s s u r p r e s o s d e ver o N e w Y o r k T i m e s e o v i d a d e s ã o m o d e r a d a s , q u a n d o as s o l u ç õ e s p a r a os p r o b l e m a s a t u a i s s ã o e x t r e m a s . A
W a s h i n g t o n Post e n d o s s a n d o a tese d e " ú l t i m a t r i n c h e i r a " d o Executivo a m e r i c a n o . i m p r e n s a liberal n ã o c o m p r e e n d e a crise q u e e n f r e n t a m o s p o r q u e , m e s m o quando
D i a s d e p o i s d o n o s s o n ú m e r o d e m a r ç o , f i c a m o s a s s o m b r a d o s d e 7er a c a p a d o H a r - procura explicações com m á x i m a honestidade, não encontra n e n h u m a pista.
per's mostrando a Causa da Intervenção, ilustrada com tropas de choque dos EUA U m a c o m p r e e n s ã o s é r i a d e n o s s o d e s t i n o e c o n ô m i c o d e v e b a s e a r - s e n a p r e m i s s a his-
c a i n d o n o s c a m p o s d e p e t r ó l e o d a A r á b i a S a u d i t a . Só f a l t a v a J o h n W a y n e l i d e r a n d o as t ó r i c a d e q u e e s t a m o s a c a m i n h o d e u m a n o v a D e p r e s s ã o d o s a n o s 30. P r i m e i r o devemos
t r o p a s d a l i b e r d a d e . O a r t i g o ( p u b l i c a d o n o Ex-13) e r a a s s i n a d o p e l o p s e u d ô n i m o M i l e s c o m p r e e n d e r q u e n ã o v i v e m o s s i m p l e s m e n t e u m a c r i s e e c o n ô m i c a , m a s u m a c r i s e d o sis-
Ignotus ( " S o l d a d o Desconhecido", em latim). O a u t o r identificado c o m o "consultor de t e m a e c o n ô m i c o . E s s e c o n h e c i m e n t o p o d e ser r e t i r a d o d a s v e l h a s t e o r i a s s o b r e as con-
defesa ligado ao Pentágono", defende a intervenção no maior produtor de petróleo do t r a d i ç õ e s i n e r e n t e s d o c a p i t a l i s m o . M a s . p a r a u m a c o m p r e e n s ã o m a i s c o n c r e t a , devemos
m u n d o — a Arábia — p a r a desarticular a O p e p — O r g a n i z a ç ã o dos Países Produtores e x a m i n a r c o m o o s i s t e m a d e l u c r o n o s e n t r e g o u a p a d r õ e s d e d e s e n v o l v i m e n t o t ã o dis-
de Petróleo. t o r c i d o s q u e j á n ã o p o d e m ser ' m a n t i d o s .
H a r p e r ' s é u m j o r n a l l i b e r a l . E s t i v e m o s d o m e s m o l a d o v á r i a s vezes. M a s o r e s s u r - C o n s i d e r e o r e t r a t o d a A m é r i c a , d a d o p o r u m a s ó e s t a t í s t i c a : a c a p a c i d a d e d e todas
g i m e n t o d e u m a r a d i c a l i z a ç ã o p a r e c e inevitável e os s i n a i s c o m e ç a m a a p a r e c e r . as f e r r o v i a s , f á b r i c a s , f a z e n d a s , aviões e t o d a s as i n s t a l a ç õ e s p a r a f i n s ú t e i s s o m a 6% do
Em m a i o falamos no perigo de subversão americana contra Portugal e outros países total n a c i o n a l . O s 9 4 % r e s t a n t e s e s t ã o n a c a t e g o r i a " a u t o m o t i v a " , e o c a r r o particular
e u r o p e u s , o n d e se p r e v ê e m m u d a n ç a s à e s q u e r d a . E o N . Y . T i m e s saiu c o m u m fica c o m a p a r t e d o leão. Se f o s s e a p e n a s u m a c r i s e e c o n ô m i c a c o m u m , o r e m é d i o seria
editorial estarrecedor, " O verdadeiro golpe de Lisboa", sobre o avanço comunista em e s t a n c a r a p r o d u ç ã o e v o l t a r a o s 10 m i l h õ e s d e c a r r o s p o r a n o .
Portugal. Para o N. Y. T i m e s a situação " l e m b r a a l g u m a s t o m a d a s de p o d e r pelos M a s i n s i s t i r n o r e m é d i o s ó t r a r i a m a i s l o u c u r a , j á q u e e s t a m o s s o f r e n d o o i m p a c t o do
c o m u n i s t a s n a E u r o p a O r i e n t a l , a p ó s a S e g u n d a G u e r r a " . M a s n ã o se e s p e r a q u e os d e s p e r d í c i o c o r r o s i v o , a terrível d e s f i g u r a ç ã o c a u s a d a e m n o s s a s o c i e d a d e p e l o sistema
soviéticos v e n h a m a i n v a d i r P o r t u g a l . É u m a r e t o m a d a d o j a r g ã o d a G u e r r a F r i a : d e l u c r o . O m a u u s o d o s r e c u r s o s c o n c e n t r a d o s n o s 9 4 % é t ã o e v i d e n t e n o a r q u e res-
" A e m b a i x a d a soviética e m L i s b o a é g r a n d e e a t i v a . A i n f l u ê n c i a d e M o s c o u é c o n - p i r a m o s e n a i m o b i l i d a d e d o s t r a n s p o r t e s , q u e n ó s s a b e m o s q u e o r e m é d i o n ã o p o d e es-
siderável n o P a r t i d o C o m u n i s t a Português, o único a d e f e n d e r a invasão d a Checo- t a r c e r t o . A s o l u ç ã o a g o r a é o u t r a . Q u e b r a r a e s t r u t u r a d o p o d e r e c o n ô m i c o , c u j a ri-
slováquia pelos russos. J u n t o com u m a ação dos c o m u n i s t a s no C a m b o j a e V i e t n a m o q u e z a s ó p r o s p e r a g r a ç a s a p a d r õ e s d e v i d a e p r o d u ç ã o q u e n o s e s g o t a m a t é a morte.
c r e s c e n t e e n v i o d e a r m a s s o v i é t i c a s e o u t r a s p r e s s õ e s s o b r e o O r i e n t e M é d i o , u m a to- R a m p a r t s n ã o c h e g o u a d e s v e n d a r a c o n f u s ã o . M a s t e n t a m o s ver a s o c i e d a d e em
m a d a c o m u n i s t a em Portugal f a t a l m e n t e q u e s t i o n a r i a o q u e resta de u m a frágil déten- d i v e r s o s â n g u l o s , p a r a a t i n g i r d e m a n e i r a d i v e r s a a v i d a d a s p e s s o a s . P r e c i s a m o s mais
te". diz N. Y. T i m e s . d e u m a a n á l i s e d e s i n t e r e s s a d a , i n c a p a z d e a v a l i a r a d o r e s o f r i m e n t o d a vida p o r depres-
sões. M a s d i z e r q u e s ó a r e v o l u ç ã o social p o d e c u r a r o s p a í s e s d o e n t e s n ã o é suficiente.
"Soviéticos" e " c o m u n i s t a s " viraram sinônimos. O editor é incapaz de distinguir o
T a m b é m n ã o b a s t a se i s o l a r n a s o b r e v i v ê n c i a p e s s o a l e m a n d a r t u d o a o i n f e r n o . Ou
e x é r c i t o p o r t u g u ê s d o K h m e r vermelho.. S ó f a l t a d i z e r q u e os c o m u n i s t a s c h i n e s e s s ã o n a
levantar utopias desligadas dos meios de realizá-las.
verdade russos disfarçados.
James Restor redator-chefe d o N. Y. Times pediu a intervenção da CIA no dia E s t a m o s t r a b a l h a n d o c o m e s s e s d e s a f i o s . N e n h u m a i n s t i t u i ç ã o , n e n h u m a publi-
s e g u i n t e : " e s p i o n a g e m é u m a a t i v i d a d e ilegal p o r é m e s s e n c i a l , u m a f o r m a e n c o b e r t a d e c a ç ã o . p o d e d a r c o n t a d a e s p a n t o s a m u l t i p l i c i d a d e d e t a r e f a s . M a s e s p e r a m o s ser uni
g u e r r a , e os c o m u n i s t a s a m o v e m a g o r a , c o m o vingança, em P o r t u g a l , e n q u a n t o a C I A é polo c a p a z d e atrair m o v i m e n t o s isolados, análises e apreciações d o espírito humano.
incapaz de prevenir a subversão neste país estratégicamente i m p o r t a n t e " . Q u e r e m o s a j u d a r a r e u n i r e t a p a s , p a r a u m a s a b e d o r i a q u e n o s g u i e a u m a luta p o r uni
l u t u r o o n d e s e r e s h u m a n o s d e c e n t e s p o s s a m se o r g u l h a r d e viver.
Q u a n d o os Papéis d o P e n t á g o n o f o r a m publicados, o governo a r g u m e n t o u q u e seus
segredos n ã o p o d i a m ser liberados p a r a divulação. O N. Y. T i m e s escandalizou-se. Falou A h i s t ó r i a vai t o m a r u m c a m i n h o d e s e s p e r a d o o u c r i a t i v o . £ t e m p o d e n e c e s s i d a d e s e
em " r e s p o n s a b i l i d a d e " na s a l v a g u a r d a dos interesses americanos. E relembrou q u e n ã o d e l u x o s . N e s s a c r i s e , a c r e d i t a m o s q u e u m a i m p r e n s a f o r t e e r a d i c a l é u m a neces-
sabia m a s não divulgou os planos d a f r a c a s s a d a invasão da Baía dos Porcos. No caso d o sidade essencial. Acreditamos q u e a f u n ç ã o de R a m p a r t s é levantar e m a n t e r desafios.
t r a b a l h o recente d a C I A . p a r a remover o s u b m a r i n o a t ô m i c o russo d o f u n d o d o Pacífico, R a m p a r t s se a p r o f u n d o u e a m a d u r e c e u . M a s p r e c i s a d e s e u a p o i o p a r a c o n t i n u a r . É
e x p l i c o u q u e s ó p u b l i c a v a a h i s t ó r i a p o r q u e a b r i n c a d e i r a já t i n h a t e r m i n a d o . Se o N . Y . difícil p a r a n ó s f a z e r u m a p e l o d e s s e t i p o . M a s , e n q u a n t o a d i g n i d a d e d a pobteza
T i m e s p u d e s s e a j u d a r a C I A a d e s v e n d a r o código d e mísseis russos, os E U A e s t a r i a m p u d e r ser m a n t i d a , n ã o nos i n c o m o d a m o s d e pedir o a p o i o d o s leitores.
m a i s p e r t o d e n e u t r a l i z a r o p o d e r soviético. P e d i m o s a q u a t r o p e s s o a s q u e a p o i a s s e m n o s s o p r o j e t o d e a s s i n a t u r a s . D a n i e l Elis-
O c o l u n i s t a J o s e p h K r a f t , c o n s i d e r a d o o l í d e r d o s c o m e n t a r i s t a s l i b e r a i s , viu n o c a s o b c r g (v. E x - 5 . e n t r e v i s t a s o b r e o s D o c u m e n t o s d o P e n t á g o n o ) . J o s e p h H e l l e r , Denise
d o s u b m a r i n o o lado bom d a supressão d a s notícias: Levertov e K u r t V o n n e g u t c o n c o r d a r a m e m d a r c o p i a s d o s s e u s livros c o m o o f e r t a es-
pecial. A a s s i n a t u r a a n u a l , j u n t o c o m u m d o s 4 livros, c u s t a 2 5 d ó l a r e s . E se a as-
" O episódio mostra d r a m a t i c a m e n t e q u e operações d o gênero p o d e m ter objetivos s i n a t u r a d e 150 d ó l a r e s c o m o s 4 livros é t e n t a d o r a , n ã o p e r c a a o p o r t u n i d a d e .
q u e j u s t i f i c a m p l e n a m e n t e o s e g r e d o . T a m b é m m o s t r a q u e o u t r o s e l e m e n t o s d a so- O q u e a r e s p o s t a d e vocês s i g n i f i c a p a r a R a m p a r t s : s u s t e n t o financeiro, v o t o d e con-
c i e d a d e . inclusive a i m p r e n s a , e s t ã o p r o n t o s a t r a t a r assuntos d e inteligência d e fiança. f o n t e d e o r g u l h o . A o e x p l i c a r a a u s ê n c i a d o n ú m e r o d e f e v e r e i r o , d i s s e m o s cm-
m a n e i r a responsável. O caso d o s u b m a r i n o equilibra a b a l a n ç a . Envolveu a possibili- m a r ç o q u e " o p i o r t i n h a a c a b a d o " . P a r a n ó s . a s o b r e v i v ê n c i a n ã o é m a i s u m a dúvida,
d a d e d e r e c u p e r a r o livro d e c ó d i g o s e a r m a s s o v i é t i c o s " . e m b o r a s e j a u m a l u t a . Se você p o d e m a n t e r e s s a l u t a . n ó s t a m b é m p o d e m o s .

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c a r t a aos seus c o m p a n h e i r o s d e Ex', de- d e s a f i o d e trabalhar com publicações


i tiniu: " O ta.blóide q u e vocês e s t ã o f a z e n d o c o m o a nossa» O s p u b l i c i t á r i o s s ã o m a i s
OAMCU&O?
c o m a i s m o d e r n o e, d i s p a r a d o , o m a i s d e s p o l i t i z a d o s até m e s m o q u e os j o r n a l i s -
a r r o j a d o dos filhos d a i m p r e n s a n a n i c a tas.
( n o m e afetivo q u e resolvi d a r ao "un- 3 — A s s i n a t u r a s : a t u a l m e n t e o Ex c o n -
derground" l u s o - a f r o - t u p i n i q u i m , q u e ta com 5 0 0 a s s i n a n t e s , t o d o s eles j o r n a l i s -
.SS, Terra, SPSP/? 014 )( : 8 - Versüo brazlleira - não é m a i s " u n d e r g r o u n d " , pois esta- tas ou c o m u n i c a d o r e s . E s t ã o e m c a m -
Esta emisão í Komemorativa: a 3 períodos, Times (v. belece as s u a s c o n d i ç õ e s p r ó p r i a s e h o j e é, p a n h a d e a m p l i a ç ã o desse n ú m e r o e t a m -
Kapa) publikava a notisia da deskoberta de um
autèntiko "Ex-34 )( 48", lodo eskrito i brazileiro. isto sim, i m p r e n s a viva, q u e q u e s t i o n a , b é m e s t ã o p a s s a n d o " u m a lista d e 100 as-
Komo se sabe, ate etâo so erã konesidas reprodusòes d u v i d a , e n f r e n t a , v a s c u l h a , a l e r t a , r e m e x e , s i n a n t e s m a i s q u e r i d o s " , u m a espécie d e
cia lirajè dese " E x " na cpoka de apenas 34 )( 18 jor- d e p õ e , d e r r u b a , c h e i r a a l g u m a coisa e " v a q u i n h a p a r a c o m p r a r as c a m i s a s e a
nais. a) P.Pat 8 bola p a r a o t i m e n ã b m o r r e r " . E s s a s as-
lede".
E esta o p i n i ã o d e S a m u e l W a i n e r , d e s i n a t u r a s especiais c u s t a m $ 500. As
q u e m os editores d o Ex se o r g u l h a m : o u t r a s , n o r m a i s , c u s t a m $ 35 (6 edições) e
" V o c ê s são a c o n t i n u a ç ã o d a U l t i m a H o r a . $ 70 (1 ano).
Íntegra Da Matéria Q u e foi. q u e i r a m ou não q u e i r a m , a Volta
R e d o n d a da i m p r e n s a b r a s i l e i r a . "
4 — S i n d i c a t o : os e d i t o r e s a c h a m q u e
"o sindicato dos jornalistas de SP tem u m
Feita Pelo Ex Para íaa. dUA&t:
O s e d i t o r e s se c o n s i d e r a m " b r a s i l e i r o s , desafio: sindicalizar a grande massa de

o I 9 Jornal do
lornalistas filhos de Diretrizes, A M a n h a , j o r n a l i s t a s d o E s t a d o , pois a m a i o r i a d o s
tu**. p&òbo d-£ Tlan. U l t i m a H o r a e P i f - P a f , i r m ã o s d e novos n ã o p e r t e n c e a o ó r g ã o d e classe, e m -

Nosso Sindicato:
q u e m esteja l u t a n d o pela volta d o jornalis- b o r a s e j a m p r o f i s s i o n a i s d e i m p r e n s a " .
m o à i m p r e n s a . Foi com essa p r o f i s s ã o d e De posse destes d a d o s e d e o u t r o s
fé" q u e seus editores m a i s velhos j á p a r - e l e m e n t o s , p o d e r á e n t ã o o j o r n a l i s t a voltar
Para realizar u m a r e p o r t a g e m sobre Ex t i c i p a r a m d o l a n ç a m e n t o d e várias p u - à r e d a ç ã o e f a z e r a m a t é r i a s o b r e o E X .
— " l h e São Paulo politic m o n t h l y news- blicações d e s t e país: E d i ç ã o d e E s p o r t e s
p a p e r " . c o n f o r m e disse o New York T i m e s de O E s t a d o de São P a u l o , J o r n a l d a T a r -
em sua edição de 9 d e julho — deve o jor- de. R e a l i d a d e . Veja, P l a c a r , Revista d e
nalista dirigir-se à r u a S a n t o A n t o n i o . Fotografia, O B o n d i n h o , O Grilo, Jor-
1043. nos altos da Tapeçaria D o m i c i l i a r : nalivro. P a n o r a m a .
trata-se de u m a a n t i g a casa a s s o b r a d a d a Na r e d a ç ã o d e Ex. os e d i t o r e s p a r -
no b a i r r o d o Bexiga, com s a c a d i n h a na ticipam de t u d o , inclusive d a v a s s o u r a n o
Irente. S 1.000 d e aluguel p o r mês (a ta- c h ã o e d o lixo n o p o r t ã o . Coisa com q u e
peçaria subloça os baixos da casa, pela a l g u n s n ã o se c o n f o r m a m . T e l e f o n e , a
m e t a d e d o aluguel tptal, m a s nem s e m p r e r e d a ç ã o tem orelhões d a v i z i n h a n ç a . O
consegue d a r a sua parte). vizinho m a i s p r ó x i m o d a r e d a ç ã o : E m -
t o m a r notas. /\s p a r e d e s f o r a m p i n t a d a s
Notará o j o r n a l i s t a q u e . p a s s a n d o u r i presa Brasileira d e P o r t a d e Aço. d e
pelos p r ó p r i o s editores cm o u t u b r o de 74.
portai' d e ferro, sobe-se u m a e s c a d i n h a d e p r o p r i e d a d e d o ex-jornalista Nelson G a t o .
c a d a u m a d e cor: m a r r o n . rosa, b r a n c o .
10 d e g r a u s e. e n t r a n d o na p o r t a a e s q u e r - No ú l t i m o d i a 10 de j u l h o , pela I a vez
Na p a r e d e d o f u n d o , um d e s p e r t a d o r
da. g e r a l m e n t e e n c o n t r a - s e Armindo na sua história d e 20 meses. Ex p a g o u
p a r a d o no meio-dia . q u e d i r á na meia-
M a c h a d o , espécie de e d i t o r - a d m i n i s t r a d o r u m a a j u d a d e c u s t o de 9 d e seus e d i t o r e s ;
noite. As a r t e s Unais, c a p a s , fotos, e t u d o o
( cr Ex n . ° 12. p á g i n a 30). O s o u t r o s 10 mil c r u z e i r o s divididos em 6 p a r t e s d e
mais de n ú m e r o s a n t e p a s s a d o s e n f e i t a m
editores e n c o n t r a m - s e n a s o u t r a s d u a s 700 cruzeiros p a r a os m a i s jovens, t o d o s
todos os c a n t o s . No b a n h e i r o e m p i l h a m - s e
salas. Na sala d o f u n d o , p o d e o j o r n a l i s t a t r a b a l h a n d o j u n t o s há n ã o m a i s q u e 2
os e n c a l h e s ("só t e m o s n ú m e r o s a t r a s a d o s
conversar com H a m i l t o n A l m e i d a , P a u l o a n o s . a l g u n s universitários, t o d o s interes-
\ i p a r t i r d o 7", d i z e m os a n ú n c i o s d o
P a t a r r a ou Mylton Severiano d a Silva — s a d o s em ser j o r n a l i s t a s p r o f i s s i o n a i s ;
p r ó p r i o Ex). Na c o z i n h a , está u m a espécie
os editores principais, j u n t a m e n t e com d u a s p a r t e s d e 1.900 c r u z e i r o s p a r a H a m i l -
d e arquivo.
Narciso Kalili. ton e M y l t o n ; e 2 mil c r u z e i r o s p a r a Ar-
Dos editores já citados. H a m i l t o n é o
Queira a g o r a ' o jornalista interessado m i n d o M a c h a d o ; os o u t r o s e d i t o r e s con- Ex-editores: H a m i l t o n A l m e i d a F i l h o / -
mais novo. 29 a n o s ; A r m i n d o t e m 30;

UNiDfiDe
t i n u a r a m socorridos por " f r e e - l a n c e s " , ou N a r c i s o K a l i l i / M y l t o n Severiano d a Sil-
Mylton. 3^; Narciso. 39; e P a u l o , 41. A
por seus e m p r e g o s n p u t r o s l u g a r e s , c o m o v a / P a u l o P a t a r r a / A m â n c i o C h i o d i / D á c i o
média d e i d a d e dos o u t r o s 8 ali p r e s e n t e s
é o c a s o d e P a u l o P a t a r r a (já está só n o N i t r i n i / P a l m é r i o D ó r i a d e V a s c o n c e l o -
na r e d a ç ã o n ã o p a s s a d o s 24 a n o s — u m
Ex). Narciso Kalili, J a y m e Leão, P a l m é r i õ s / A r m i n d o M a c h a d o / P e r c i v a l d e Sou-
deles tem 16.
Dória. H e r m e s Ursini e G a b r i e l R o m e i r o . z a / L u í s Carlos G u e r r e r o / A l e x S o l n i k / -
M a s a f i n a l , p o r q u e estaria o j o r n a l i s t a M a s há t a m b é m c o l a b o r a d o r e s efetivos Domingos Cop Jr./Hermes Ursini/Vanira
para que serve os [ i n t e r e s s a d o em s a b e r o q u e se p a s s a n o c o m o J o ã o A n t o n i o . Percival d e Souza C o d a t o / J o ã o A n t o n i o / C l á u d i o Favie-
oPremíolsso? da grande Ex? Simples. O p r ó p r i o Ex se d e f i n e c o m o Demócrito Moura, Marcos Faerman e ri/Jayme Leão/Jota /Hilton Libos/Cláudio
" U m jornal de T e x t o , Foto, Q u a d r i n h o e Oioniel S a n t o s Pereira, q u e n u n c a s e q u e r Edinger/Márcia Guedes/Ivo Patarra/-
>.í'7S •'.'•'!. , Escolas! I m p r e n s a " , d e s d e seu 1.° n ú m e r o , em p e n s a r a m na c o n t a b i l i d a d e d o Ex. Marli A r a ú j o / M ô n i c a T e i x e i r a / G u s t a v o
n o v e m b r o d e 1973, o Ex é u m j o r n a l feito Falcón/Agliberto C u n h a Lima/Demócrito
resomaa Alguns dados complementares que
naECA só por j o r n a l i s t a s e p a r a j o r n a l i s t a s e es- Moura/Elvira Alegre/Gabriel Romei-
p o d e m ser a n o t a d o s pelo j o r n a l i s t a :
t u d a n t e s d e C o m u n i c a ç ã o , s e g u n d o seus ro/Delfim Fujiwara/Sérgio Fujiwara/Lina \
1 — Custo industrial do n ú m e r o que
editores, " n u m a h o r a em q u e a i m p r e n s a Gorenstein/Valdir Oliveira/José Traja- j
está n a s b a n c a s (Ex-13, 30 mil e x e m p l a r e s )
p a s t e u r i z a d a , h e r m a f r o d i t a , oficial assép- no/Beth Costa/Luís Costa. Publicidade:
com d i s t r i b u i ç ã o n a c i o n a l d a Abril: $ 35
tica. etc. e a i n d a d i s t a n c i a d a d o seu povo, Wanderley Pereira.
mil; p o r t a n t o , p a r a a l c a n ç a r o " p o n t o d e
tala u m a l i n g u a g e m n ã o - b r a s i l e i r a , im- Ex-Editora Ltda. R u a S a n t o A n t o n i o
e q u i l í b r i o " , Ex precisa v e n d e r a p e n a s 4 0 %
portada. enlatada tecnocrata, bonitinha, 1043, C E P 01314, S P / S P . N e n h u m d i r e i t o
de sua t i r a g e m (preço d e c a d a , $ 6);
. i r r u m a d i n h a . c h e i r o s i n h a ; n u m a h o r a em reservado/Direitos de reprodução da
2 — P u b l i c i d a d e : e m seu ú l t i m o n ú -
q u e nossa i m p r e n s a p e r d e u a b r a s i l i d a d e . revista Crisis, c e d i d o s g r a t u i t a m e n t e / - .
m e r o (13) o Ex leve 1 p á g i n a p a g a (preço
>> I x a r e t o m a ao lado d e o u t r o s p o u c o s " . Tiragem: 30 mil e x e m p l a r e s . D i s t r i b u i ç ã o
de 6 mil cruzeiros) e o u t r a d e p e r m u t a .
Nacional: Abril S.A. C u l t u r a l e I n d u s t r i a l ,
() escritor e j o r n a l i s t a João A n t o n i o A p e s a r de sobreviver d a v e n d a em b a n c a ,
SP. C o m p o s t o e i m p r e s s o n a s o f i c i n a s d e
i l a m b e m um Ex-editor) b a t i z o u de Im- os editores a c r e d i t a m na existência d e u m a
| O D i á r i o d o Norte d o P a r a n á , av. XV d e
7 TtfÇ^Ur'* prensa N.anica o q u e a n t e s se c h a m o u " m e d i a " p a r a sua faixa. O q u e n ã o existe,
j N o v e m b r o . 391. M a r i n g á , P R .
ite " i i n d e r g r o u n d " . e s c r e v e n d o reeeri- dizem, "são publicitários, sejam criadores
NOSSO POBRE MERCADO OE TRABALHO i c m c n i c iTO P a s q u i m , n ú m e r o 318. E m d a s a g ê n c i a s ou c o n t a t o s , i n t e r e s s a d o s n o
C A P A ' El vira A l ç g r c
Ex-14

CONFESSE Hermes, Ursini, ex-pedreiro, ex-vocalista do "Red


Jets", ex-locutor em Sorocaba, ex-redator da Nor-
ton, Thompson e Standard. Atualmente ilustrador
free-lancer, sem telefone para recados e colabora-
JORNAL DE TEXTO, dor do Ex. Um dos poucos redatores que desenha e
vice-versa.
FOTO,QUADRINHOE O DIABO. — Hermes, é melhor você confessar logo: de onde
j v o c ê chupou os anúncios e ilustrações que você
(•fez?
! — Daquelas revistas bonitas e coloridas lá da Look.
Compre o Ex! M e l h o r ainda: assine o Ex, mandando I— Diz aí o nome das revisitas e não se fala mais
nisso.
este cupon (ou cópia dele, pra não estragar o jornal)
— Não dá.
para a Rua Santo Antônio, 1043, São Paulo - C E P 01314 Por quê?
— Em inglês eu só sei falar "maybe"
Look é o lugar onde você encontra revistas, livros e jornais escritos em
quase todas as línguas, alguns até em português. Tem revistas de
arquitetura, HQ, arte & decoração, cinema, moda, aviação, automobilis-
mo, fotografia, ciências e, naturalmente, os The One Show, Graphis
Annual e Modem Publicity da vida.
Nome: — Mais alguam coisa a dizer, Hermes?
— Queria aproveitar para deixar aqui meu endereço (rua Rodrigo Cláu-
Endereço: dio 478 Aclimação), oferecer ilustrações, textos e campanhas à preços
módicos e agradecer às autoridades civis, militares e eclesiásticas por
terem me deixado vencer na vida.
Cidade: Fçfarlrv

CEP: Data-

E U 12 EDIÇÕES (Cr$ 70) • 6 EDIÇÕES (Cr$ 35!


v©»AGENGA LOOK
galeria Zarvos — av. São Luis com
Forma de pagamento: cheque nominal para a Ex-Editora Ltda.
r. da Consolação — São Paulo.

MOVIMENTO A cidade é sua!


Londrina tem escolas, universidade, faculdade, boutique,
restaurantes, oficinas mecânicas, alfaiatarias,
relojoarias, cinemas, livrarias, emissoras de televisão,
Um jornal feito com o trabalho e o dinheiro de mais de 300 pessoas, estações de rádio, casas de móveis, indústrias , estádio,
ginásio de esportes, escolinhas maternais, clinicas veterinárias,
entre as quais mais de 100 jornalistas; costureiras, imobiliárias, médicos, dentistas, massagistas, sáunas,
— os principais fatos da semana supermercados, bares, revendedores de automóveis, a Prefeitura,
cartórios de paz, o Fórum, a Câmara dos Vereadores,
— a descrição da vida do povo brasi leiro o Centro Comercial, o Com-Tur, jornais, etc.
— em defesa das liberdades democráticas e da melhoria das condições de Voce não gostaria de saber
vida, do povo brasileiro tudo sobre tudo isto?
Agora pode.
— em defesa de nossos recursos naturais e por sua exploração planejada
em benefício da coletividade.

Movimento é dirigido por um conselho de Redação, que tem 51% das


ações da empresa editora do jornal, e orientado por um Conselho Edito- Aproveite!
rial composto por personalidades democráticas. Todos os domingos, de graça, e m sua casa, voce vai receber
o l.o jornal de serviços do Paraná. Um jornal preocupado com voce.

CONSELHO EDITORIAL
E d g a r de G o d ó i d a M a t a M a c h a d o
Francisco Buarque de Holanda
LEIA
H e r m i l o B o r b a C a r v a l h o Filho A HISTORIA E A GLORIA
José de Alencar Furtado
Fernando Henrique Cardoso
O r l a n d o Villas-Boas
Audálio Dantas
m BUS

CONSELHO DEREDAÇÃO EMERSON, LAKE & PALMER


A g u i n a l d o Silva
Antonio Carlos Ferreira JOÃO BOSCO
B e r n a r d o Kucinski
Elifas A n d r e a t o
JORGE BEN YES
Fernando Peixoto MUTANTES
F r a n c i s c o d e Oliveira
F r a n c i s c o Pinto LOU REED
Jean Claude Bernardet
Marcos Gomes
Maurício A / e d o Todas as segundas
R a i m u n d o Rodrigues Pereira
Teodomiro Brasa feiras nas bancas
JA' NAS BANCAS
O r l a n d o volta p a r a lá d e n t r o d e 8 a p a r ê n c i a , c a r r e g a v a a l g u n s li vros de-
luas a p a r t i r d a p r i m e i r a d e s e t e m b r o , baixo do-braço. Não sabia ainda q u a n d o Ramirez Amaya, 30 anos,
q u e r dizer a n t e s d o fim d o a n o . E aceita seria sua p r ó x i m a refeição (talvez tivesse guatemalteco, já expôs em toda a
"Idi Amin"
c o n t r i b u i ç õ e s p a r a levar aos a u r á s d e de e m p e n h a r os livros p a r a comer). América Latina. Veio ao Brasil
l a m a he. Q u e m quiser, c o m u n i q u e - s e — Eu pensei q u e o Pelé fosse u m a es-
para expor no Museu de Arte de
Na Imprensa
com O r l a n d o d e Oliveira, a t r a v é s d e Ex, p é c i e , d e líder h u m a n o . N ã o q u e r e m o s
r u a S a n t o A n t ô n i o , 1043, SP, c a p i t a l . n a d a p a r a nós, negros, m a s p a r a o ho- São Paulo. Agora vai voltar para
Brasileira m e m . E d e s c o b r i q u e Pelé j á é b r a n c o . seu país. Mas está com medo de La
Mano, organização extrema-direita
(Continuação) Mas Qual a Atitude Luís Carlos Assis especialista em "inimigos do re-

Visão (18 d e agosto) p u b l i c a 8 p á g i n a s


Mais Sensata Que gime" na Guatemala. Toda se-
mana, uma mão pintada de preto
sobre C u b a . E c r e d i t a a r e p o r t a g e m a " e n - Um Preto Pode Tomar FALA O P O V O
aparece nas ruas. Embaixo, uma
viados e s p e c i a i s " . Só o r e p ó r t e r F e r n a n d o
Morais esteve lá. P a s s o u 2 m e s e s - feve- Nos Estados Unidos? Seu Freguês lista de pessoas "marcadas para
Faça o Favor
reiro e m a r ç o - f a z e n d o u m a r e p o r t a g e m morrer". Ramirez e alguns colegas
para a revista , depois de ficar m a i s d e 1 E n c o s t a r a m dois c a r r o s d a polícia, entraram na lista porque encheram
ano t e n t a n d o c o n s e g u i r visto d e e n t r a d a . u m de c a d a lado. Foi q u a n d o d e s c o b r i q u e
sou um s u l - a m e r i c a n o . C o m o n ã o estou
De M e Servir a Cidade Universitária de gozações
Depressa
Mas Visão n ã o quis p u b l i c a r as 180 contra a propaganda oficiall. Eram
l a u d a s q u e F e r n a n d o escreveu a o voltar. a c o s t u m a d o , p a r e c i a u m a coisa d o o u t r o
No Ex-13, o r e p ó r t e r c o n t a q u e teve " u m a m u n d o , a q u e l a p a s s e a t a d e 35 negros,
pinturas de até 15 metros de altura.
longa e t e n e b r o s a " conversa c o m o en- jovens c o m p o s i t o r e s d e Nova Y o r k , e m "Não se falava de outra coisa em
genheiro H e n r y M a k s o u d , d o n o d a revista, frente da Warnes Communications — Exllssma Sra. ou SR. toda a Guatemala ; fui obrigado a
que lhe disse: p r o p r i e t á r i a d o t i m e de Pelé (o C o s m o s ) e sair e agora não se quanto .tempo
de mais 22 e m p r e s a s . Venho por meio desta carta fazer-lhe
- Gosto da matéria. Li as primeiras
u m a p e l o d e c a r á t e r filantrópico, e s t a n d o
dá pra ficar". Veja ilustrações de
linhas e não consegui parar. E sei q y e você Os policiais a s s i s t i r a m ao p r o t e s t o dos
não (em n e n h u m a implicação política. negros, eles q u e b r a n d o discos, e n ã o fi- eu sem e m p r e g o e sem a r r i m o , e n c o n t r a n - Ramirez nas páginas 10, 11 e 12
Mandei levantar sua» f i c h a nos órgãos "de zeram n a d a . M a s a polícia estava ali só d o d i f f i c u l d a d e s p a r a a r r a n j a r colocação Acima, seu auto-retrato.
segurança e vi que nada existe a seu res- p a r a g a r a n t i r a pessoa de o u t r o negro, devido às exigências d a i d a d e , pois t e n h o
peito. q u e não precisa q u e b r a r discos (ou r a s g a r c i n c o e n t a e oito a n o s a t u a l m e n t e , 58, ten-
do trabalhado como garçon por muitos
Algum t e m p o d e p o i s F e r n a n d o foi c h u t e i r a s ) p a r a m o s f a r q u e está m a l , sem BAIXA SOCIEDADE
e m p r e g o e s e m d i n h e i r o . Pois, e n q u a n t o anos v e n h o eu e n c o n t r a n d o d i f i c u l d a d e s
Furo: Torcedores
d e m i t i d o . E só a g o r a , n o m e s m o n ú m e r o
Pelé discutia seu s a l á r i o (7 m i l h õ e s de p a r a , requerer minha aposentadoria
que t r a z u m artigo a respeito d e Idi
devido à f a l t a dc registros a n t e r i o r e s . Vejo-
Em Fúria Massacram
A m i m , cinco m e s e s d e p o i s . Visão p u b l i c a d ó l a r e s por 3 anos) em escritórios f o r r a d o s
de peles com 10 c e n t í m e t r o s d e a l t u r a , 35 m e f o r ç a d o a p e d i r - l h e auxilio, pois m i n h a
a reportagem . Segundo Fernando.
s i t u a ç ã o é p r e m e n t e c o m d e s p e s a s for-
Português
" T o t a l m e n t e a d u l t e r a d a " . No m o m e n t o , negros lá e m b a i x o p r o t e s t a v a m — nin-
guém lhes d a v a " t r a b a l h o d e f é r i a s " . E r a ç a d a s aluguel e o u t r o s p r o b l e m a s , es-
F e r n a n d o escreve u m livro s o b r e C u b a e

Nas Arquibancadas
verão, Nova York estava q u e n t e e Pelé p e r a n d o eu d a p a r t e d a s e n h o r a ou s e n h o r
monta u m a editora para lançar jornal de
q u e é b o m saiu pela p o r t a dos f u n d o s , compreensão da evidência d o s f a t o s
polícia.
d e v i d a m e n t e avisado por seu m o t o r i s t a r e l a t a d o s a c i m a , n ã o f a l t a n d o c o m este'
particular, negro t a m b é m . p e d i d o c o m o disse m a i s a c i m a , t e n d o eu Noite d e 7 d e agosto, e s t á d i o d o Pa-
Indinho Tupi No H a r l e m . u m n e g r o mal vestido
t r a b a l h a d o com p a t r õ e s q u e n ã o c u m - c a e m b u , SP. A P o r t u g u e s a g a n h o u d o
p r i n d o c o m s u a s o b r i g a ç õ e s c o n t r a t u a e s C o r i n t h i a n s p o r 4 a 1. U m t o r c e d o r d a
Pede Uma
c o m o sc lí/esse q u e s t ã o d e ser c h o c a n t e na m e l e v a r a m a esta e m e r g e n c i a e a este es- P o r t u g u e s a , b a n d e i r a d o time, n a s m ã o s ,
t a d o d e coisas, n ã o s e n d o c u l p a d o pelo q u e resolve f e s t e j a r n o m e i o d a t o r c i d a corin-
Ajudazinha Pelo me acontece atualmente. t i a n a . Seu c o r p o foi e n c o n t r a d o , m a i s t a r -

Amor De Tupã
Atenciosamente agradecido. de, pelos f a x i n e i r o s d o e s t á d i o , desfi-
Do Criado e Obrigado gu r a d o p o r mil golpes, a o l a d o d a b a n -
Luís F r a n ç a M e s q u i t a . d e i r a de seu t i m e . E r a p o r t u g u ê s .
T a m a h e é u m a m i g o d a gente, u m A história, c o n t a d a p o r u m d e l e g a d o ,
h o m e m b o m q u e m o r a às m a r g e n s d o Xin- foi c i t a d a p o r Percival d e S o u z a (do J o r n a l
gu. T a m a h e é u m a u r á , e o ^ j o r n a l i s t a (O autor, morador n u m a casa de cômodos da rua d a T a r d e e Ex) n o I Ciclo d e D e b a t e s d o
Guaicurus, 311, escreveu a carta a mão; no dia 13 de S i n d i c a t o dos J o r n a l i s t a s d e SP, d i a 18 d e
O r l a n d o Oliveira c o n h e c e u s u a t r i b o n o agosto, ele estava percorrendo o bairro paulistano de
mês d e agosto p a s a d o . Ao fim d e 5 dias, Vila Romana, mostrando a carta de casa em casa.
agosto. O t e m a d o d i a e r a Jornalismo
Orlando partiu e recebeu de T a m a h e Ele diz que muitas donas de casa nem lêem; pensam Policial. E Percival f a l o u d e E s q u a d r ã o ,
u m a lista de p e d i d o s , e m n o m e d a crian- que ele pertence a alguma instituição beneficente.) a u m e n t o d e c r i m i n a l i d a d e e o u t r a s violên-
ç a d a , p r i n c i p a l m e n t e os m e n i n o s Iseb e cias.
Iluah. Estava escrito a s s i m , n u m p e d a ç o D á c i o Nitrini
de papel r a s g a d o de u m p a c o t e d e c i g a r r o : (Interino)
bola. e n x a d a , relógio d e s p e r t a d o r ,
m i ç a n g a , pilhas, m é d i a e g r a n d e , f a c ã o , ANÚNCIOS FÚNEBRES
lima, facas, espelho, p a n o , t i n t a s ver-
melha, azul e a m a r e l a , leite e m pó, m a - A. S O L Z H E N I T S Y N
m a d e i r a , botas, chinelos, anzol, t e s o u r a ,
bala 22. c a r t u c h o 20. fósforos, c a m i s e t a s ,
VoUTH Os editores e funcionários do Ex cum-
p r e m o dever d e c o m u n i c a r o f a l e c i m e n t o .
shorts, gilete, b r i n q u e d o s l a n t e r n a , disco
de R o b e r t o Carlos, l i n h a , a g u l h a , cigarro,
caramelo, pasta de dente, machado, _ 7 d e m a n d s P. F R A N C I S
guisos, óculos escuros. Os e d i t o r e s e f u n c i o n á r i o s d o Ex c u m -
p r e m o dever d e c o m u n i c a r o f a l e c i m e n t o .

Èf
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D li K. NETTA
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Anali.r • I>rlr i,.M> Si.lirrnatur.l (.o CientiliiD)
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-visual <,.• psko-iilfittal.
I Mum^o ..ntiuiriital

l)r. K., um analista.


d e s a p o n t a d o ao e n c o n t r a r a m a i o r i a d a
liderança sindical d o m i n a d a pelos co-
munistas.
Depois, foi p a r a a Itália, o n d e e n c o n - negocios. m a s p a r a isso e necessário en-
trou as coisas a i n d a mais i n q u i e t a n t e s . " 2 5 c o n t r a r d u a s secretárias. E n t ã o p o d e r á in-
anos a t r á s o O c i d e n t e n ã o p e r m i t i a u m stalar-se n u m dos prédios da p r a ç a , de
a v a n ç o c o m u n i s t a na Itália, m a s a g o r a l u m i n o s o 11a f a c h a d a , p i s c a n d o : IN-
parece q u e p e r d e m o s nossa f o r ç a p o l í t i c a " . I E L E C T U S L T D A (é o n o m e d a firma
Na Itália. Brown estava com H o w a r d que pretende fundar).
Milissani. c h e f e d o Cofiselho de T r a b a l h o 0 d r . K. nasceu em S a n t o A n t ô n i o d a
I t a l o - A m e r i c a n o . e deu m u i t o d i n h e i r o aos P l a t i n a . Norte d o P a r a n á , faz 36 a n o s .
sindicatos italianos de direita. T e m e - s e Atendia pelo n o m e de João Avelino dos
u m a intervenção a m e r i c a n a em q u a l q u e r S a n t o s e d e s d e m e n i n o p e r c e b e u q u e era
l mu parada: Santiago, 1 *)75. lugar o n d e a política esteja em m u d a n ç a . diferente:

O Chile Da Europa: ções a m e r i c a n a s em o u t r o s lugares. Kis-


singer r e s p o n d e u ;
Por c a u s a d o Chile, era inevitável q u e os
p o r t u g u e s e s c u l p a s s e m a CIA a p ó s o
— Com 10 anos, senti u m a eletrici-
d a d e pelo c o r p o . M a s n ã o t i n h a i d a d e
a) Itália () — É uma pergunta filosófica interes- f r a c a s s a d o golpe d e 11 de m a r ç o d o ge-
neral Spínola. Vasco Gonçalves p e d i u en-
p a r a e n t e n d e r o q u e se passava. Hoje eu
sei q u e sou um ser d o t a d o , com eletri-
b) Espanha ()
sante. Vamos prosseguir. Qual é a outra
pergunta? tão q u e o e m b a i x a d o r n o r t e - a m e r i c a n o c i d a d e c a p a z até d e m a t a r , d e p a r a l i s a r
saisse d o pais pois não g a r a n t i a s u a se-
c) Portugal ()
Dois dias depois. Kissinger e Ford a n i m a i s . Só com a força d a m i n h a m e n t e .
receberam críticas de congressistas g u r a n ç a . M a s C a r l u c c i ficou. Fala-se que Veio cm 71 p a r a São P a u l o e em 4
a m e r i c a n o s . Uni deles disse q u e , a p e s a r os E U A vão a n e x a r as ilhas dos Açores anos fez-se f a m o s o n o c o r a ç ã o d e São
d a s críticas sobre a ação d a CIA 110 Chile, o n d e têm bases militares, se u m governo P a u l o : " V o u p o d e r m e d e s f o r r a r d a in-
A 19 de julho de 1945, Stálin t i n h a
os E s t a d o s Unidos seriam a t a c a d o s por comunista controlar Portugal. g r a t i d ã o d a s m u l h e r e s . Só p o r q u e tive
unia idéia. Na C o n f e r ê n c i a de P o t s d a m .
disse q u e " o regime f r a n q u i s t a era u m não salvar a Itália, se o P a r t i d o C o m u n i s t a No m o d e l o chileno, os 58 milhões d e paralisia na p e r n a e s q u e r d a , n i n g u é m m e
grave perigo c o n t r a os povos a m a n t e s d a Italiano um dia g a n h a r o controle d o país, dói ares q u e Kissinger a u t o r i z o u a CIA a q u e r i a . Hoje t e m m u l h e r assim m e
l i b e r d a d e da E u r o p a e A m é r i c a " . E su- eleitoralmente. g a s t a r p a r a " d e s e s t a b i l i z a r " o país e r a m q u e r e n d o " . A t a b e l a de preços d o d r . K.
geriu q u e os Aliados c o r t a s s e m t o d a s as A 1 3 d e j a n e i r o d e 1971. C. L. Sulzber- r e l a t i v a m e n t e pouco, m e s m o t e n d o sido Netta:
relações com o governo de F r a n c o , " c o m o ger publicou um artigo n o New York t r o c a d o s 110 m e r c a d o n e g r o d e S a n t i a g o . C a r t a . $ 15; análise geral, $ 15; sal-
apoio às forças d e m o c r á t i c a s na Espa- Times o n d e dizia q u e a " I t á l i a estava " N o dia d o nosso t r i u n f o eleitoral d e 4 d e vação de c a s a m e n t o , $ 4 mil ( a b a t i m e n t o
nha". politicamente doente e que o Partido s e t e m b r o d e 1970". disse Allende nas p a r a operário); c o n s u l t a e m casa $ 100.
Proposta razoável, m a s n ã o exata- C o m u n i s t a I t a l i a n o p o d e r i a c h e g a r ao Nações U n i d a s erii 1972, " s e n t i m o s u m a Esta análise geral d a s i t u a ç ã o brasileira
m e n t e o q u e W i n s t o n Cluirchill t i n h a eni poder através de eleições, c o m o Allende pressão e x t e r n a em g r a n d e escala c o n t r a foi feita e x c l u s i v a m e n t e p a r a o Ex (de
m e n t e . Ele detestava o r e g i m e d e F r a n c o e le/". nós. t e n t a n d o i m p e d i r a posse d e u m graça):
dissei m a s era c o n t r a i n t e r f e r ê n c i a nos Q u a t r o a n o s mais t a r d e a Itália °stá n o governo eleito pelo povo, e s t r a n g u l a r nossa " B a s t a a p e n a s q u e lhe d e m o s u m fiel
p r o b l e m a s internos de o u t r a n a ç ã o . E n t ã o m í n i m o t ã o d o e n t e q u a n t o em 1971 — o e c o n o m i a , p a r a l i s a r as v e n d a s d o nosso e x e m p l o d a nossa a u t o r i d a d e intelectual:
Harrv T r u m a n falou: e m b o r a desejável, governo italiano já se ,declarou p r á t i c a - principal p r o d u t o d e e x p o r t a ç ã o , o c o b f e " . bastaria que convocássemos nossos
achava que u m a m u d a n ç a devia ser m e n t e falido — m a s os c o m u n i s t a s até (Agora q u e a e c o n o m i a socializada foi químicos. l i m i t a n d o - n o s à f u s ã o de
deixada a cargo dos espanhóis. a g o r a n ã o g a n h a r a m o p o d e r . Até de- p r o c l a m a d a em P o r t u g a l , p o d e se e s p e r a r e l e m e n t o s m i n e r a i s sensíveis a o fogo ou
c l a r a r a m q u e . se t o m a s s e m p a r t e d o o pior). eletricidade. T e r í a m o s e n t ã o u m o u r o de
" N ã o é um problema doméstico, mas
um perigo i n t e r n a c i o n a l " , protestou governo, ficariam na O r g a n i z a ç ã o d o Tra- As pressões financeiras e e c o n ô m i c a s fina q u a l i d a d e com o q u a l p o d e r í a m o s n ã o
Stálin. ' I s t o Vale p a r a q u a l q u e r p a í s " . , t a d o d o Atlântico Norte — O T A N . E a conseguiram arrebentar a economia só c o m p e t i r , m a s t a m b é m d e s t r u i r a força
r e t r u c o u Churchil! e p e r g u n t o u se n ã o O T A N só pensa na Itália, q u a n d o se fala chilena e f o r a m um t r e i n o p a r a a E u r o p a . d o d ó l a r q u e nos e s m a g a ou até c o m p r a r
existia em Portugal u m a d i t a d u r a se- em Chile. A técnica d e e m p r é s t i m o s e dívidas em os E s t a d o s U n i d o s e p a g á - l o à vista pelo
m e l h a n t e à e s p a n h o l a . Stálin r e s p o n d e u E m o u t u b r o d o a n o p a s s a d o . Kissinger P o r t u g a l . Itália e E s p a n h a , deve ser a g o r a sistema d e c â m b i o v i g e n t e . "
q u e " o governo s a l a z a r i s t a surgiu de u m e Ford e n c o n t r a r a m - s e em W a s h i n g t o n bem vigiada. S a b o t a g e m financeira e s u b -
desenvolvimento interno, e n q u a n t o o d e com M á r i o Soares, líder d o P a r t i d o versão c a l a d a p o d e m p a r e c e r a r m a s sofis- E m troca, p u b l i c a m o s seu a n u n c i o :
F r a n c o surgiu d a intervenção d e Hitler e Socialista P o r t u g u ê s , e com o general Cos- ticadas. M a s o Chile é u m a l e m b r a n ç a d a
Mussolini". ta G o m e s , q u e mais t a r d e s u c e d e u Spínola eficácia d o seu uso.
O r e s u l t a d o de P o t s d a m e Y a l t a foi a 11a presidência. Um d i p l o m a t a p o r t u g u ê s INTELECTUS LTDA.
(Condensado de Ramparts, ver pág. 4).
realpolitik — divisão em e s f e r a s de in- ouviu Kissinger dizer e n t ã o q u e os E U A
llucneia q u e deu à E u r o p a 30 a n o s que n ã o a d m i t i r i a m um governo c o m u n i s t a e m
Em fase de infusão social, es-
m u i t o s c h a m a r i a m de paz, m a s que Portugal.

Dr. K. Exclusivo:
m u i t o s e u r o p e u s p r e f e r e m c h a m a r de or- tá admitindo duas secretárias
0 golpe d e 25 d e abril pegou o D e p a r -
d e m . Este sistema pode e s t a r finalmente que consigam preencher os
o Brasil Pode
t a m e n t o d e E s t a d o dos E U A d e s u r p r e s a .
e n f r a q u e c i d o . E o d e s g a s t e é m a i s visível Um dos auxiliares de Kissinger chegou a seguintes requisitos: Loiras,
Comprar Os EUA
o n d e parecia ser m a i s improvável. Na f r a s e declarar: "Portugal causou pânico aqui. olhos verdes ou azuis, prática
de Stálin " o governo salazarista surgiu de P r i n c i p a l m e n t e p o r q u e n ã o t e m o s nin- em relações públicas e com am-
e Pagará Vista!
um desenvolvimento i n t e r n o " . Hoje a guém q u e saiba a l g u m a coisa desse povo.
situação em Portugal e na Itália t o r n o u - s e bições artísticas. Ambiente ao ar
Não havia n i n g u é m de q u a l i d a d e na e m -
o s í m b o l o desse desgaste. b a i x a d a p a r a dizer o q u e e r a m os c a p i t ã e s ;
livre e ótimo refeitório. Socie-
Os e u r o p e u s n ã o a c r e d i t a m que os adidos militares s e m p r e a c h a r a m q u e P e r u c a , colar d e b r i l h a n t e s na testa, dade indireta. Preferência sol-
W a s h i n g t o n aceite isso p a s s i v a m e n t e . A era u m a h u m i l h a ç ã o f a l a r com alguém anel de caveira na m ã o d i r e i t a — o d r . K. teira e livre. Tratar com o Dr. K.
d e s e s p e r a d a recusa em d e i x a r o controle a b a i x o de c o r o n e l " . parece u m a m a d a m e s e n t a d a n u m a ca- Netta na praça da Sé, em frente
110 C a m b o j a e 110 V i e t n a m não g a r a n t e 1 )e r e p e n t e o S h e r a t o n Hotel de Lisboa deira velha, d e b r u ç a n d o - s e s o b r e u m
I u m a política de s e r e n i d a d e . E os E U A
da Catedral, das 9 às 18 horas.
licou cheio de gente p a r a corrigir esse caixote. As 9 d a m a n h ã , d e b a i x o d o sol, já
i podem aplicar na E u r o p a as técnicas sub- deleito. E o pessoal da e m b a i x a d a a cres- está a t e n d e n d o na p r a ç a d a Sé. n o meio d a
| versivas a p l i c a d a s no Chile, p a r a d e r r u b a r cer. Em s e t e m b r o . Kissinger m u d o u o e m - p r a ç a , o m a r c o zero de São Paulo. Escreve
i \ l l e n d e . (Ver pág. 3"). S e g u n d o o seu e x - José Trajano
b a i x a d o r : colocou um d e sua c o n f i a n ç a ; c a r t a s de a m o r . de c o n s e l h o , c a r t a s c o m e r -
S diretor William C olbv. <> q u e a CIA léz no F r a n k Carlucci. ciais. cria slogans, poesias, roteiros d e
I ( hile era um "laboratório p a r a testar téc- Em agosto de 74. o g eneral V e r n o n c i n e m a e peças de t e a t r o . S o b r e o caixote,
nicas de g r a n d e s investimentos financeiros Walters. q u e fala f l u e n t e m e n t e p o r t u g u ê s , o q u e é a sua e s c r i v a n i n h a , a p l a c a : D R .
. . . i r a ' d e s a c r e d i t a r e d e r r u b a r um gover- apareceu em Lisboa: e a CIA d e c l a r o u q u e K. NI I I A .
, no" ele estava de férias. Mais poderoso que M a n d r a k e , o dr.
j A IX de s e t e m b r o d e 1974. Kissinger Em m a i o . s e m a n a s a p ó s a q u e d a de K. Netta s a b e q u e é o h o m e m m a i s i m p o r -
justificou a a ç ã o c o n t r a o governo chileno C a e t a n o , irving Brown. o u t r o velho a m i g o t a n t e d o m u n d o , e isso c o n s i d e r a n d o - s e os
em t e r m o s de " s e g u r a n ç a n a c i o n a l " (dos da CIA. chegou a Lisboa com Michael últimos 7r< anos d e história. G a n h a Cr$
Estados Unidos). Ai 11111 r e p ó r t e r e u r o p e u Boggs. d i r e t o r d a seção i n t e r n a c i o n a l d a 300 por d i a . e s c r e v e n d o c a r t a s por en-
p e r g u n t o u se o m e s m o a r g u m e n t o não Al I - C I O . p a r a ver o q u e podia fazer pelos c o m e n d a (a r-0 m e t r o s dali. desenvolvem--
poderia ser u s a d o p a r a j u s t i f i c a r interven- sindicatos p o r t u g u e s e s . Brown ficou sc as o b r a s d o metrô). Precisa a m p l i a r os
Ex-14

A QUEM
salada lENDER A PENA DÊ

(> cientista brasileiro.

C o n d e n a d o s à m o r t e , Sacco e V a n z e t t i
f o r a m e x e c u t a d o s n a c a d e i r a elétrica
depois d e p a s s a r 7 a n o s n a c a d e i a e 6
meses n u m M a n i c ô m i o J u d i c i á r i o , sob
protestos d e n t r o e f o r a d o s E s t a d o s
Unidos. Mais pormenores (muitos mais)
s o b r e este u s o político d a p e n a d e m o r t e ,
Sacco e Yan/.elli, pouco antes de serem mortos n o livro A Tragédia de Sacco e Vanzetti,
d e F r a n c i s RusselI (Civilização Brasileira).
Opinião De Um
Jurista Popular: César Lattes Não Seqüência de Messias Augusto da SiKa. Local: rua Major (Juedinh», Si'.

a Morte Só Está Caduco: a m é t o d o s q u e eu sei q u e f o r a m u s a d o s , pelo a n a l f a b e t i s m o , p e l a subnutrição,

Pertence a Deus. Energia Solar Terá


colocar em recipientes d e c l a r a d a m e n t e
seguros, e n f i a r n ã o sei q u a n t o s m e t r o s
mortalidade infantil.
— E o Centro Brasileiro de Física?

De Ser a Solução.
debaixo da terra, não d e r a m certo. Era tão — P e r a aí, eu t o u f a l a n d o u m a coisa,
— Você é a favor ou c o n t r a p e n a d e
s e g u r o q u e dali a p o u c o c o m e ç o u a n ã o estou c a d u c o a i n d a ! E n t ã o h á m u i t a
morte?
a p a r e c e r r a d i o a t i v i d a d e em c i m a da verba p a r a p e s q u i s a desse tipo... A g o r a é
F i l t r e 96 pessoas e n t r e v i s t a d a s n o cen- 51 anos, físico desde os 19 pela Facul- t e r r a . M e f a z l e m b r a r os r e c i p i e n t e s se- u m a coisa q u e só o f u t u r o r e s p o n d e r á , se
tro d e São P a u l o pela R á d i o Jovem P a n , 87 dade de Filosofia Ciências e Letras da guros dos finlandeses que eram tão essa é a r e s p o s t a a o nosso a t r a s o .
loram a favor (92%). U m d i a a n t e s , 11 d e Universidade de São Paulo. D e p o i s de se seguros q u e eles v i n h a m j o g a r o a r s s ê n i c o — C o m o estão as pesquisas de energia
agosto, o d e p u t a d o e s t a d u a l E r a s m o M a r - formar, trabalhou na Ingltatcrra e nos Es- a q u i n o A t l â n t i c o Sul; m a s , se e r a s e g u r o , solar?
tins P e d r o ( M D B - R i o d e J a n e i r o ) t i n h a tados U n i d o s , o n d e , aos 24 anos, des- j o g a s s e m lá n u m d o s mil lagos q u e eles — B o m , eu a c h o q u e essa t e r á d e ser a
pedido p e n a de m o r t e p a r a os seqües- cobriu u m a das partículas elementares da t ê m . E q u a n t o m a i s e n e r g i a você g e r a r solução. E u . . . você s a b e q u e , n a r e a l i d a d e ,
tradores d o m e n i n o C a r l o s E d u a r d o , matéria: o meson pi. Com esta descober- m a i s lixo vai t e r . T e m , d e vez e m q u a n d o , a e n e r g i a h i d r o e l é t r i c a , é d e f o n t e solar,
.desaparecido há 2 anos e e n c o n t r a d o mor- ta, ficou internacionalmente conhecido, u m a s p r o p o s t a s m a l u c a s — b o t a r e m ór- não é? C o m o é q u e a água subiu pra
to. Eis a l g u m a s r e s p o s t a s , i r r a d i a d a s n o conseguiu a l g u m apoio governamental b i t a , b o t a n u m satélite e m ó r b i t a . E n t ã o a d e p o i s descer... h e m ? O sol f a z e v a p o r a r a
p r o g r a m a São Paulo Agora, produzido para continuar seus trabalhos e passou a p r o p o s t a r a c i o n a l é ir c o m c u i d a d o , ir á g u a , f o r m a n u v e n s , chove e t a l , f o r m a
por M a r c o A n t o n i o G o m e s , d a Jovem pesquisar e lecionar na Universidade de devagar e certamente não esconder, não rios. c a c h o e i r a s e tal?... A h i d r e l é t r i c a é
Pan: São Paulo. R e c e n t e m e n t e , transferiu-se a d i a n t a e n t e r r a r . M e l h o r q u e ele e s t e j a solar. A e n e r g i a solar é l i m p a . , n ã o é ? Ela
" A pessoa p o d e , n a vida, se a r r e p e n - para a Universidade Estadual de Cam- n u m l u g a r e m q u e se p o s s a verificar se está
pinas, onde desenvolve u m projeto so- p o d e t r a z e r q u e i m a d u r a s ou m o r e n a s . ,
der d o q u e fez. U m a a t i t u d e n u n c a é I v v e n d o v a z a m e n t o ou n ã o .
bre u m novo e s t a d o da matéria. M o n t o u m o r e n a s m u i t a b o n i t a s , n ã o é? M a s é ex-
definitiva, o ser h u m a n o m u d a d i a a d i a .
t a m b é m u m grupo de estudos de raios cós- — Dentro da física, n o Brasil, existe ou t r e m a m e n t e l i m p a . A e n e r g i a elétrica, ela
Mesmo que mate, roube, sempre há u m a
micos e m Chacaltaia, nos A n d e s boli- existiu evasão de cérebros? s o z i n h a , é a m a i s l i m p a q u e se c o n h e c e . Se
razão. D e v e r í a m o s e s t u d a r as r a z õ e s q u e
vianos. P r e o c u p a d o c o m a f u n ç ã o social da — F a l a r e m evasão d á idéia d e f u g a ou o s u j e i t o tiver d ú v i d a s , põe o d e d o q u e vai
levam p e s s o a s a a g i r / t e s t a f o r m a . E t e n t a r
ciência, afirma que ela " n ã o é neutra e por negócio desse t i p o ; e f a l a r e m c é r e b r o d á a ver q u e ela n ã o só é l i m p a , m a s a o r i g e m
corrigir, e n t e n d e ? "
isso todo cientista precisa entender seu i m p r e s s ã o q u e é a m e s m a coisa q u e u m é solar, q u e r dizer, a o r i g e m d e s s a e n e r g i a
m o m e n t o histórico. O inventor da b o m b a c o m p u t a d o r , h o j e e m d i a esses b i c h o s aí são as r e a ç õ e s t e r m o - n u c l e a r e s d o sol.
Geni de Souza, 31 a n o s . A g o r a , a q u a n t i d a d e d e e n e r g i a q u e o sol
atômica pode ter sido u m grande cientista, são c h a m a d o s d e c é r e b r o s e l e t r ô n i c o s .
m a s foi u m m i c r o - h o m e m incapaz de en- Você está p e r g u n t a n d o se c i e n t i s t a s d e m a n d a prá terra é uma imensidade, quer
" A m o r t e só p e r t e n c e a D e u s . Sou con- dizer, coisa d a o r d e m d e 1 q u i l o w a t t p o r
tender seu m o m e n t o histórico e a u tili- g a b a r i t o i n t e r n a c o n a l t ê m d e i x a d o o Brasil
tra p o r q u e o q u e n ó s p r e c i s a m o s é levar o m e t r o q u a d r a d o . N ã o se s a b e a i n d a u m a
y.ação q u e seria d a d a ao seu invento. Se p o r s a l á r i o s m e l h o r e s . N o c a m p o d a física,
povo a o c o n h e c i m e n t o d e Jesus Cristo, maneira eficiente de aproveitar e a r m a -
u m a pesquisador percebe que não t e m q u e eu s a i b a , n ã o , q u e r d i z e r , h o u v e a
p o r q u e só Jesus C r i s t o pode transfor- z e n a r , p o r q u e d e noite n ã o t e m sol e eu sei
controle sobre sua descoberta, deve ar- saída há b a s t a n t e t e m p o , m a s n ã o e r a só a
mar o coração de um homem. A pena de que tem havido pesquisas. M a s por
quiva-la". falta de salários era a falta de condições.
m o r t e n ã o resolve." motivos — v a m o s c h a m a r d e e c o n ô m i c o s
A g o r a , se a pessoa q u e t r a b a l h a e m pes-
q u i s a científica s o f r e u m a a p o s e n t a d o r i a — eu a c h o q u e n ã o se investiu o n e c e s s á r i o
Ataliba Silva, 65 anos, aposentado. c o m p u l s ó r i a , ele n ã o t e m o u t r o r e m é d i o , no estudo do aproveitamento prático da
— Sob o ponto de vista científico, quais a n ã o ser m i g r a r ; é o c a s o d o p r o f e s s o r e n e r g i a solar, p o r q u e havia o u t r a s f o n t e s ,
" N a m i n h a o p i n i ã o , esses e l e m e n t o s aí, as vantagens o u desvantagens do acordo Leite Lopes q u e está e m S t r a s b u r g o ( F r a n - não digo mais econômicas, mas mais ren-
se f a z e m isso p o r q u e s t õ e s f i n a n c e i r a s , nuclear? ça). Ele sair p o r u m o r d e n a d o m e l h o r , n ã o d o s a s d e e n e r g i a , q u e p o d e r i a m ser u s a d a s
deve haver u m e s t u d o m a i s p r o f u n d o d a — M a r g i n a l m e n t e isto p o d e ser útil a sei, p r e f i r o n ã o c o m e n t a r , eu a c h o q u e a p a r a o u t r a s coisas m a i s n o b r e s q u e f a -
vida deles, p a r a s a b e r d e o n d e vem essa cientistas. O n d e há c e r t o acesso, n ã o gente t e m c e r t a o b r i g a ç ã o c o m a t e r r a d a b r i c a r e n e r g i a elétrica, e t a m b é m s e m
a t i t u d e q u e eles t o m a , n ã o ? A c h o q u e d i g o livre, m a s u m a p o s s i b i l i d a d e d e aces- ger<;e. s u j a r , n ã o é? Q u a n d o você q u e i m a c e r t a s
devem ser levados a j u l g a m e n t o . E u n ã o so, isso vai b e n e f i c i a r o p e s q u i s a d o r . , n ã o coisas, c a r v ã o , petróleo, o q u e seja, você
a d m i t o a p e n a d e m o r t e pelo s e g u i n t e : se só tísico, biólogo, e n g e n h e i r o s , etc, n é ? — Dr. César, existe mais verba, hoje do n ã o só está q u e i m a n d o u i n a reserva q u e se
houver p e n a d e m o r t e , vai m o r r e r p o r q u e essa q u e s t ã o d e e n e r g i a a t ô m i c a , que no passado para a pesquisa? f o r m o u na n a t u r e z a , /em é p o c a s ime-
muita gente inocente." n ã o é só g e r a r e n e r g i a ; é t o d o o p r o b l e m a — Eu a c r e d i t o q u e sim. N ã o sei se isso m o r i a i s ; você está t a m b é m r o u b a n d o o
de d a n o das radiações, a maior parte é r e s p o n d e d e u m a m a n e i r a c o r r e t a a per- vizinho, q u e r d i z e r , você está s u j a n d o o a r '
Waldomiro Tibúrcio, 35 anos, fotógrafo. d a n o ; m a s às vezes p o d e - s e u s a r t a m b é m g u n t a . Se se p e n s a r e m c e r t a s a t i v i d a d e s d e t o d o o m u n d o , n ã o é só o t e u . Você
p a r a coisas b o a s , às vezes n é ? de pesquisa científica, p o r exemplo pode dizer que o teu f u s q u i n h a não faz
— O senhor falou n o problema do lixo ecologia — n a m i n h a o p i n i ã o a m a i s im- n a d a , m a s s ã o m u i t o s f u s q u i n h a s e as in-
Sacco e V a n z e t t i e r a m dois t r a b a l h a d o r e s , que a pesquisa pode ocasionar. p o r t a n t e n o m o m e n t o , d o p o n t o d e vista d ú s t r i a s . e assim p o r d i a n t e . A e n e r g i a
um s a p a t e i r o e o u t r o peixeiro, i m i g r a n t e s — A p e s q u i s a n ã o g e r a m u i t o lixo, a h u m a n o , ou d a sobrevivência do hidroelétrica é a m a i s l i m p a . A g o r a , a
italianos q u e viviam em B r a i n t r e e , M a s - n ã o ser n o cesto d e p a p é i s . E u falei n o lixo p l a n e t a — n ã o sei se h á m a i s v e r b a p a r a energia solar, t r a n s f o r m a d a d i r e t a m e n t e
s a c h u s s e t t s , USA. O s dois p r o f e s s a v a m a d o s r e a t o r e s , q u e r d i z e r , o r e a t o r neces- a ecologia, ou n ã o . P r á física... eu creio e m elétrica é l i m p í s s i m a . . . O u r â n i o é d a
filosofia a n a r q u i s t a . 1919; n o d i a 15 d e sáriamente produz material radioativo, q u e sim, né, pelo m e n o s , o m e u labo- nucleo-síntese q u e t o r m o u a g a l á x i a es-
a b r i l , os p a g a d o r e s d e u m a e m p r e s a d e n u m a p a r t e é lixo explosivo — c a u s a r a t ó r i o a u m e n t o u a v e r b a , creio q u e sim. trela. sujo.... sujo... s u j o , p r á c h u c h u e
Braintree são assaltados e mortos. Confor- pelo m e n o s declarada de grandes Agora, a u m e n t o substancial tem sido p a r a perigoso...
m e se t e n t o u p r o v a r m a i s t a r d e , os assas- preocupações do governo americano; é o o q u e se c h a m a p e s q u i s a t e c n o l ó g i c a ,
sinos p e r t e n c i a m a u m a q u a d r i l h a : os plutônio, c o m o q u a l se p o d e f a z e r b o m - p a r a c o n s e g u i r f e c h a r a f e n d a e n t r e nós, ( repórter João Russo, da TV Bandeirantes, SP)
Morelli. M a s . rium país q u e vivia o c l i m a b i n h a s p a r a j o g a r e m o u t r o s p a í s e s . Esse q u e s o m o s c h a m a d o s país e m desenvol-
da c a ç a aos c o m u n i s t a s e socialistas e es- n ã o é c h a m a d o lixo, esse é c h a m a d o v i m e n t o — eu a c h o q u e s o m o s u m país
q u e r d i s t a s e m geral, os dois t r a b a l h a d o r e s m a t e r i a l " n o b r e " . A m a i o r p a r t e , pelo q u e atrasado, não é verdade? Não é a feira de
f o r a m presos ( p a r a a g r a v a r s u a s i t u a ç ã o , eu sei, s i m p l e s m e n t e c o n s t i t u i u m a q u a n - a u t o m o v e i s q u e vai m e c o n v e n c e r q u e
eram imigrantes n u m a Massachussetts tidade de material radioativo muito gran- s o m o s u m país a d i a n t a d o . Eu a c h o q u e a
orgulhosa de sua "americanidade"). de., q u e n ã o se s a b e c o m o d i s p o r . O s gente t e m d e ver o a d i a n t a m e n t o d o p a í s
10 salada ADES
Ex-14

V família imperial parte para o exílio.

Últimos Queijos
e Ameixas Que
Dom Pedro Comeu
Em Petrópolis
Uma Recomendação
9 horas, Petrópolis. Mal desperto, o
i m p e r a d o r recebeu um telegrama (o te-

à Imprensa: légrafo. foi inventado em 1832, por Morse;


e chegou ao Brasil em 1852). M a n d a abrir
Vamos Falar as janelas, q u e r ouvir o esporro das ci-
garras. No telegrama, o Presidente do
Português Claro. Conselho de Ministros avisa-lhé: " O
Ministério foi d e p o s t o " . (O Presidente do
I n d e p e n d e n t e há 2 meses, liderado por Conselho chamava-se Afonso Celso, Vis-
Namora Maehel. M o ç a m b i q u e está pas- conde de O u r o Preto). No Império d o
s a n d o um período de t r a n s f o r m a ç õ e s cul- Brasil, só o I m p e r a d o r podia demitir um
turais. O governo pretende t o r n a r a lín- maioria tenha sido hippie — não sei. O Se houvesse r e b a n h o , p o d e r í a m o s ter Gabinete (aliás, também só ele podia dis-
gua portuguesa compreensível para todo o sido ovelhas negras q u a n d o voltamos à solver a C â m a r a ) . Regeu o telegrama:
Brasil mostrava, por u m a e s t r a n h a coin-
povo. e s t i m u l a n d o o jornalista a escrever civilizaç^o. M a s onde havia r e b a n h o ? quem d e p u s e r a , inconsfitucionalmente o
cidência. q u e não estava fora d o m u n d o
palavras simples; a escola a usar textos de Jogamos muito lixo foVa. A p e s a r disso G a b i n e t e ? As cigarras não r e s p o n d e r i a m .
(Hamilton Almeida. Ex n . ° 7). pois em 68
autores africanos; e as livrarias a esquecer m u i t a s f a d a s m á s c o n t i n u a v a m inferni- Ao café — queijos e ameixas de Corre: ias
as gerações de esquerda na E u r o p a e aqui
um pouco o valor comercial dos produtos perdiam sua vigência. z a n d o o c a m i n h o . Dentro de nós mesmos. — disse à m u l h e r :
que vendem. As pessoas d e i x a r a m na escuridão o Fomos o gerente, o chefe, o subchefe, — Cristina. Desceremos imediata-
l ' m a verdadeira c a m p a n h a de lin- corpo, a cara e a coragem. Voltaram-se dono da g r a n d e e da p e q u e n a e m p r e s a . mente para o Rio.
guagem começa na imprensa de Moçam- para d e n t r o de si q u e b r a n d o com t u d o — Vi p a p a s , bispos, padres e freiras. Ca- — O u e m a ç a d a ! , respondeu D. Te-
bique. A palavra de ordem é a convivência cias e valores. M u i t a s vinham de 68. pitães, policiais, agentes secretos e sol- resa.
mais próxima do jornalista com o povo. outras pegaram o processo no auge. C a d a dados. Foi M a o Tse-Tung, Kossinguin e Meio-Dia, no centro do Rio. O ga-
"pois é da sua realidade que se o c u p a m qual teceu no peito sua própria teia, n u m Nixon, Rockefeeller e o c i d a d ã o Kane. binete O u r o Preto está r e u n i d o no quartel-
os jornais e os r á d i o s " — disse o Secretário m o m e n t o em que todos reconheciam que Fomos Romeu e Pierrot. V i a j a m o s ao general. p r o n t o p a r a resistir à sublevação
de l rabalho. José Luís Cobaço. Recomen- participavam de algo novo. Teve gente q u e reino das mulheres p a r a conhecer seu militar. Em frente, na p r a ç a milhares de
da inclusive a eliminação t e m p o r á r i a de diz que viveu mas não e n t e n d e u . C a d a segredo, como O r f e u e as mulheres via- soldados e um cavalo morto, o ventre
palavras difíceis, " a t é que todos vão acos- qual viveu a seu modo. j a r a m ao reino dos homens. Os h o m e n s aberto, beiços a r r e g a n h a d o s . O ministro
t u m a n d o . pouco a pouco, a ler e ouvir a No fim de 73. começo de 74, há u m a viraram mulheres, as mulheres viraram chama o Ajudante-General:
língua p o r t u g u e s a " . necessidade quase u n â n i m e , de volta à homens; e olharam-se como c o m p a - — General, o senhor, que t a n t a
As escolas vã'.» ter um novo sistema saúde e à pureza. — "niens sana in cor- nheiros enigmáticos. bravura mostrou nos c a m p o s d o Para-
de ensino a partir de 1976. mas desde já os pore s a n o " (Antônio Bivar,, d r a m a t u r g o ) . guai, p o r q u e não m a n d a a t a c a r os rebel-
Em c a d a u m de nós, havia t a m b é m
alunos estão conhecendo novos escritores Vi muitos p u l a n d o do caos p a r a u m a des?'
um D u r a n g o Kid, um F a n t a s m a , um
nacionais e textos de líderes africanos g r a n d e claridade. C a d a u m de nós parecia — No Paraguai, lutávamos c o n t r a ini-
Zorro, T a r z a n , e B o m b a , o agente secreto
como Saniora Maehel. Agostinho Neto (de ter e n c o n t r a d o um caminho, u m a solução, migos, respondeu. Naquela t r o p a q u e ali
000 e o Mexicano (aquele q u e vem p a r a
Angola) e Amílcar Cabral (assassinado irradiando u m a alegria e s t r a n h a e serena. está eu vejo a m o c i d a d e militar guiada
matar). Havia u m John Lennon d e n t r o de
pelo salazarismo na Guiné). Essa euforia era o resultado de u m a des- pelo Mestre — q u e foi, t a m b é m o meu
nós. e foi preciso assumi-lo p a r a garantir
E difícil, no entanto, e n c o n t r a r nas coberta: o encontro de Cristo no próprio Mestre.
que o sonho não acabou. Q u a n t o s John
livrarias essas obras, editadas em Lisboa. homem. Tínhamos um sentimento pen- Lennon vi, t ã o belos q u a n t o o verdadeiro. Este A j u d a n t e - G e n e r a l se c h a m a v a
Os estoques ainda não foram reno- teeostiano porque ressuscitamos a figura Floriano Peixoto. O mestre. B e n j a m i m
Jesus Cristo estava m o r t o em c a d a
vados depois de 25 de abril. Ou então bela e terrível. Parecia que t í n h a m o s des- Constant. O u r o Preto estava surpreso. E
h o m e m , d e n t r o de nós t a m b é m . Fomos
paga-se um preço m u i t o alto: de Portugal coberto a Via Lactea.A violência de dois insistiu: q u e m a n d a s s e p r e n d e r os rebel-
J u d a s e Piiatos p a r a nos experimentarmos*
o livro já vem caro e cm M o ç a m b i q u e é mil anos de história passou a ser inter- des. O General cortou, então, a conversa:
r e p u d i a n d o a m b o s , a m a n t e s d a Beleza
acrescido de 25" o. pretada c o m o a característica n a t u r a l de — T e n h o a lhe dizer q u e estes bor-
simbolizada em Jesus. O povo q u e r i a fazê-
unia era que passou, d e dor e sofrimento, d a d o s q u e trago nos p u n h o s ganhei-os
lo Rei m a s Jesus fugiu p a r a a m o n t a n h a
(Extraído de Crisis) simbolizada pela crucificação de Jesus: ao serviço d a Pátria, e n ã o ao serviço de
dizendo: "Sois deuses.'
começaria u m a nova era. Aquário, de paz ministros!
c amor para a h u m a n i d a d e . Antonio Carlos Morari O u r o Preto c o m p r e e n d e u q u e u m a

Encontro Com " O destino de q u e m parte é partir (Jornalista, morreu cm maio deste ano, com 28 anos,
no Hospital São 1'rancisco, em Ribeirão Preto, de
m o n a r q u i a de 66 anos chegara ao fim da
linha. -
Jesus Cristo
sempre. É não voltar j a m a i s em Idade al-
meningite bactcriana, seguida d e uma infecção na
g u m a " . Q u e m disse foi Antônio Ventura, bexiga e pneumonia. Trabalhou cm O Bondinho e (l)o livro Quem l ez a República, de Joel Rufino dos

Através
poeta desta geração. Ultima Hora). Santos, historiador e professor).
Surgimos como seres c o m p l e t a m e n t e

Do Sábio Satã novos, originais na história. Viramos


magos — alquimistas, sem definir u m a
lira unia geração da qual eu esperava forma de luta. Descobrimos q u e
preciso só ser. como cantou Gilberto Gil.
era
Declarações
Amorosas
alguma coisa. Não digo grandioso como da
"Rosa dos Ventos" de Chico B u a r q u e u m a M a n i p u l a m o s a vida no plano da energia.

De Lopez Rega
explosão atlântica e a m u l t i d ã o que vê M e r g u l h a m o s f u n d o na alma h u m a n a e no
atônita seu despertar. Esperava algo homem condicionado pela sociedade,

a Evita Perón
menos poderoso, mas forte. Em plena traduzindo t u d o em m o d a l i d a d e s de ener-
\ivcncia d o processo, cie 71 a 73 (apro- gia.
ximadamente). é possível que tivéssemos Tínhamos o u t r a peculiaridade: su-
d a d o muitos frutos. Eu esperava mais de peramos a visão co stumeira d o Diabo. Si un h o m b r e contiene todos los planos
nossa volta à sociedade, em 74 (aproxi- Para nós passou a ser um a n j o iluminado, de todos los h o m b r e s y u n a mu jer contiene
madamente). um deus terrível parceiro d o Bem. sem o todos los planos de todas Ias m u j e r e s y
Não sei q u a n t o s éramos quando qual não há evolução da h u m a n i d a d e . Nos cada h o m b r e contiene todos.los planos <íê
saímos d o caos: mil. 3 mil. 5 mil espa- o reconhecemos no próprio h o m e m , todas Ias mujeres y todas Ias mujeres con-
lhados pelas principais cidades d o país — a d o t a m o s a magia de Lúcifer que conduz tienen todos los planos de cada hombre,
São Paulo. Rio. Bahia, e t a m b é m no in- os h o m e n s à Beleza através da sabedoria entonces 110 soy solamente yo ni tu es
terior. porque não? K possível q u e a (cm -lírcgo Sat - Satã); • solamente tu. v i v a m o s . m que. cpoca..vi-'
salada

mim é d e s m l l a g r c " ) c realista ( " p a r a m i m


vamos, p u é s t o d a s Ias é p o c a s son u n a
não significa n a d a , talvez p o r q u e não
época, p a s s a d a , p r e s e n t e o f u t u r o d e n t r o y
t r a b a l h o . Se e u t r a b a l h a s s s e s e n t i r i a al-
litera d e n o s o t r o s d o n d e b u s c a m o s s a b e r a
g u m a diferença, m a s assim não").
veces c o m o s o m o s t a n d i f e r e n t e s e o u t r a s
vcces. c o m o s o m o s t a n i d ê n t i c o s , c o n f u n - S o b r e r e p r e s s ã o , 18 a l u n o s d i s s e r a m
dindo n u e s t r o r a c i o c í n i o logico c o n ei d e s - q u e n ã o h á , 4 se a u t o - r e p r i m e m e 12
conocer d e e s t a c o s a t a n p r i m á r i a p e r o ol- acham que a repressão é geral:
vidada h a c e m u c h o h a s t a Ia h o r a en q u e — V o u e s c r e v e r , e s t o u r e p r i m i d a , vou
un h o m b r e d e n u e v o se a c u e r d a d e su in- d e s e n h a r , e s t o u r e p r i m i d a , e m s e x o sou
dividualidád coletiva, u n a p e q u e n a c o n s - r e p r i m i d a . A m i n h a vida i n t e i r a , s a b e ? E u
tatación d e q u e la s o l i t u d n o e x i s t e en ver- sou r e p r i m i d a e a c h o q u e t o d a s a s p e s s o a s
dad. la s o l i t u d es u n a c r i a c i ó n p a r a n ó i d a , são.
vício d c v i d a s j u g a d a s ai v i e n t o c r u , ya Ias A f e b r e d e livros e filmes p o r n o g r á -
lencmos t a m b i é n a d e n t r o e s s a s v i d a s , n o s ficos foi c o n f u n d i d a c o m s e x o . e s e x o c o m

Preto é Gente:
q u e d a m o s al v i e n t o y p o r la n o c h e m u - moda — épocas de maior e m e n o r repres-
pelo escravocrata b r a n c o " . E m 1967, se
rimos llenos d e visiones p e r i ó d i c a s , p a - são sexual:
recusou a lutar no V i e t n a m , a l e g a n d o prin-
ralelas y tal q u a l o l v i d a m o s la m u e r t e e n la c í p i o s religiosos, e p e r d e u o t í t u l o . A — E s t e s u r t o é u m a t e n t a t i v a d e se
vida. o l v i d a m o s Ias visiones n o c t u r n a s e n Campeão mundial dos pesos-pesados. libertar daquele tabu sexual e u m a ten-
S u p r e m a Corte o absolveu d a c o n d e n a ç ã o
d d i a . p u é s en v e r d a d una imensa I d a d e : 34 a n o s . A l t u r a : 1,91 m . E n v e r - tativa de q u e b r a r esse preconceito. M a s ,
— 5 a n o s d e p r i s ã o e 10 mil d ó l a r e s d e
maioria d e o b j e t o s son c i r c u l a r e s y u n a g a d u r a : 2 . 0 8 m . Peso: 97 K g . C o x a : 6 2 c m . n a v e r d a d e , ele p u r a e s i m p l e s m e n t e
m u l t a . Foi i m p e d i d o d e l u t a r p o r 3 a n o s e
imensa m a i o r i a d e m o v i m i e n t o s es cir- P u n h o : 3 3 c m . T ó r a x : 1.61 m . G a n h o u a u m e n t a certos tabus, sexuais d e rela-
m e i o . Viveu d e c o n f e r ê n c i a s e m u n i v e r -
cular. la t o n t u r a es u n a c a r a c t e r í s t i c a t í t u l o p e l a p r i m e i r a vez e m 1964, l u t a n d o cionamento entre homem e mulher. Acho
s i d a d e s a m e r i c a n a s , d e n u n c i a n d o a se-
mundial, g i r a m o s así d e n t r o d e a l g o q u e c o n t r a S o n n y L i s t o n . N e s s a é p o c a cos- inclusive q u e a u m e n t a o m a c h i s m o .
gregação racial e exibições em vários
llamamos infinito por fuerza de nostra tumava festejar suas vitórias com f r a s e d o A crítica mais geral a o colégio S a n t a
países.
palavra, s o m o s los g i r a t ó r i o s c o n t e ú d o s d e tipo: C r u z foi d e q u e t e m m u i t o s g r u p o s f e -
Voltou a e n f r e n t a r u m adversário d e
iodas Ias m a n i f e s t a c i o n e s visibles y in- chados: alguns alunos t a m b é m criticaram
r e s p e i t o e m 1972. N o " c o m b a t e d o sé-
visibles y p o r eso n o sé q u e o t r a c o s a — Sou o m e l h o r e m a i s f a m o s o , s o u u m o fato de haver a p e n a s u m a classe social:
culo", c o n t r a Joe Frazier, n ã o conseguiu
poHria d a r s e e n t r e n o s o t r o s s i n o el a m o r . lindo e cintilante c a m p e ã o . — A q u i , t u d o filhinho d e p a p a i , s ó d a
r e c o n q u i s t a r o título, o q u e só aconteceu
Logo a p ó s á vitória c o n t r a Liston, en- c l a s s e A, você c h e g a e eles s ó f a l a m d e
no ano passado, em outro combate do
Autor argentino desconhecido trou na seita dos M u l ç u m a n o s Negros e m u l h e r , c a r r o , m o t o . O s d e t o r a têm-
século, c o n t r a G e o r g e F o r e m a n . C o m o
psicojjratailo por Alex Solnik outros problemas na cabeça.
trocou d e n o m e : " N ã o q u e r o ser c h a m a d o s e m p r e , dedicou sua vitória aos negros
Cassius Clay, n o m e d a d o à m i n h a f a m í l i a americanos.
(D.iKiiminlii do Museu Paulista — Ipiranga)
CANTE C O M EX
Estudante Argumento
•5
Não Responde De
PROCLAMACAO. Por Milagre Paulinho
De Ninguém Da Viola
" O que representa o milagre brasileiro Tá legal,
H ONRADOS Paulistanos : O a m o r , qnc Eu consagro ao Brasil
ci» g e r a l e á vossa Província em particular, por st r uquella, que p a r a você, c o m o b r a s i l e i r o ? "
perante M i m , e o Mundo inteiro fez cor.?..-cc • j.rime\-'» cac todos o sja-
— Eu f i q u e i c o n t e n t e p o r q u e p r o g r e s s o
| Eu aceito o argumento
tema machiavclico, dcs<.;-gar sr.dor , c faccioso da.-- CorUs tu Li J>oa,
Me obrigou a vir entre vós liizer consolidar a fraterna miú.» c uan- para m i m é f u n d a m e n t a l , certo? Precisa Mas não me altere o samba
quillidade, que varillava , c era-ameaçada por 'dcsorganisaMucs , que
em breve coniieccreis, fechada que seja a üevassa , a que Mandei pro- ter p r o g r e s s o a q u i n o Brasil. E à m e d i d a i Tanto assim.
ceder. Quando Eu mais que -contente estava junto dc vós, cl.c^ão no-
ticias, -que de Lisboa os traidores da N a ç ã o ; os infames Dtpuíadq? q u e vai t e n d o , vou ficando m a i s feliz p o r - Olha que a rapaziada
pertendem fazer atacar ao~ Braiil , e tirar-lhe do seu seio seu l)c.-.:>or: q u e é sinal de q u e a gente tá s a i n d o da-
Cumpre-Me como tal tomar todas as medidas , que Minha^Imapi.nç^i Já está
M e suggerir ; c para que eslas sejfio tomadas com aquellá- ntadurexa. quela condição de 3.° M u n d o , está atin-
S
ie em toes crises se requer , Sou obrigado para servir ao Meu ídolo , o
rasil , a separar-Me de vós, ( o que piuito Sinto ) , indo para o Ri» g i n d o o 1.° c e r t o ? Sentindo a falta
ouvir Meus Conselheiros , e Providenciar sobre negocios de tão alta
monta. Eu vos Asseguro que cousa nenhuma Mé poderia ser mais — N ã o ligo m u i t o . N ã o m e a f e t a . De um cavaco.
sensível, do que o golpe, que Minha Alma soffre, scparando-Mc dc
Meus Amigos Pauiistaims , aquém o Brasil ,<~e Eu Devemos os bens, — 1'udo legal, d á p a r a s e n t i r u m a De um pandeiro
que gozamos, e Esperamos gozar de huma Constituição liberal e ju-
diciosa. Agora , Paulistanos , %(> vos resta conservardes união ei.lre vós,
evolução, m a s para u m a minoria reduzida. E de um tamborim
não s i por ser eísc o dtarer de todos os bons Brasileiros, mas tam-
bém porque a Nossa. P á t r i a está ameaçada de sotfrer huma jíu.rra,
Eles n ã o t ê m c u l p a . Se eu estivesse n o Sem preconceito.
lugar deles faria a m e s m a besteira.
que não só nos ba* de »er feita pelas Tropas, qoe de Portugal forem
mandada* , mas iigualmente pelos seus servia partidistas , è vis emissa- São a l g u m a s respostas dos alunos d o
Sem mania de passado.
rios,, qoe entre: Nós existem', atraiçoando-Nos." Quando
des vos nSó administrarei
bninisti aquelh
. Justiça
.
" as Auth»>rida-
. . . .
imparcial,. que delia* deve colégio S a n t a C r u z ( S ã o P a u l o ) , n u m a pes- Sem querer ficar do lado
ser inseparavel, representai-Me , qoe Eu Providenciarei. A Divisa do
Brasil deve ser = t I N D E P E N D E N C I A O U M O R T E = Sabe» que . quisa o r g a n i z a d a pelo jornal dos alunos, o De quem não quer navegar.
quando Tracio da Causa Publica , não* tenho amigos, e validos cm oc-
Casião alguma.
T a b l ó i d e A p e s q u i s a foi f e i t a c o m 4 6 Faça como o velho marinheiro
Existi trapqoillos: acafctelai-vos dos facciosos Sectários das alunos dos 3 anos colegiais (idades e n t r e Que durante o nevoeiro, (bis),
Cortes de Lisboa; e contai em toda d occasião com o vosso Defensor
!:> e 18 a n o s ) ; c t a m b é m p e r g u t a v a se o
Perpetuo. Paçp em oito de Setembro de tnil oitoceotoj e vinte doas.
a l u n o se a c h a v a r e p r i m i d o , o q u e a c h a d a
Leva o barco devagar.
p o r n o g r a f i a e d o colégio.
PMJVCIPE X.EGEJFTJE.
26 e n t r e v i s t a d o s ( m a i s d a m e t a d e ) (Breque) Tá legal/
nunca tinha ouvido a expressão "milagre
brasileiro". Houve 4 tipos de resposta,
.ipren*a Nacional: s e g u n d o o T a b l ó i d e : ir o n i c a ( " q u e m i -
lagre brasileiro?"), indiferente ( " n ã o a c h o
n a d a . não gosto dc políticos"), entusias-
m a d a ("estou contcnte.com o progresso"),
p e s s i m i s t a ( " n ã o sei o q u e . p o d e r i a ser
leito, s o l u ç õ e s " ) , crítica ( " e n q u a n t o
h o u v e r g e n t e m o r r e n d o d e f o m e , d e po-
r r a d a . e u n ã o a c r e d i t o .em m i l a g r e ; p a r a
salada

Tchau,
Doutor
Breno,
e Adeus!
(Paira um grande silêncio no p e q u e n o
quarto).
O repórter sobe para pegar a eartei- Repórter - E dai? Você gosta? C o m o é Dr. B r e n o - P o r q u e ? Ela n ã o d i s s e p o r
C e n á r i o : Uni q u a r t i n h o d e s u b s o l o , rinlia. O s m e n i n o s e m e n i n a s c o r r e m pelo a história da novela? que?
p a r e d e s c o m d e s e n h o s i n f a n t i s d e cores q u a r t o e Luiz. d e s c o b r i u o g r a v a d o r . E d u a r d o (pensativo) É u m m a e s t r o . . . M a r c o s - N ã o . Só d i s s e p a r a eu m e d e s -
berrantes, banquinhos espalhados no chão Luiz - Ah, u m g r a v a d o r ! M a r a v i l h a ! Ele t e m u m a n a m o r a d a , a C r i s t i n a . . . A c h o p e d i r d o s a m i g o s e q u e n ã o volto m a i s
a i n d a c o b e r t o d e t i n t a f r e s c a . . É a sala d a (como locutor) E m e r s o n F i t t i p a l d i vai q u e cies vão se c a s a r n o d i a I o d e s e t e m - aqui.
Clínica K u k a . P s i c o t e r a p i a e P s i q u i a t r i a c o r r e n d o n a pista a o l a d o d e Niki L a u d a . bro. não me lembro direito. O m a e s t r o tem R e g i n a - Eu t a m b é m . M i n h a m ã e n ã o
S C I.tda.. n a Vila Nova C o n c e i ç ã o . SP, E m e r s o n vai p a s s a n d o , vai p a s s a n d o e u m a m o ç a lá n o sítio e... quer que venha mais aqui na psicoterapia.
o n d e se faz p s i c o t e r a p i a i n f a n t i l c o m deixa Niki p r a t r á s ! Vai E m e r s o n ! Vai! Luiz. - ... eu o d e i o ! Eu t e n h o r a i v a ! As c r i a n ç a s a b r a ç a m M a r c o s e R e g i n ã ,
c r i a n ç a s a t é 12 a n o s . R e p ó r t e r (aproxima-se de Luiz) - O Repórter - Você odeia o q u e ? e vão s a i n d o p o u c o a pouco".
P e r s o n a g e n s : M a r c o s . 10 a n o s ; C á s s i a . q u e é q u e você t e m . Luiz ? P o r q u e e s t á Luiz - Eu o d e i o o n a m o r o d a C r i s t i n a D r . B r e n o - P a r a u n i ' p o u c o aí, d e i x a eu
10 a n o s : C a r l o s , 10 a n o s ; W e r n e r . 10 a n o s ; fazendo tratamento? c o m o m a e s t r o ! M a s sei q u e eles v ã o c a s a r c o n v e r s a r c o m eles. (Para o repórter). E s t á
R o b e r t o . 12 a n o s ; Luiz. 10 a n o s ; E d u a r - Luiz - M i n h a m ã e a c h a q u e eu sou n e r - 110 f i m . M e u ó d i o n ã o a d i a n t a n a d a ! Eles v e n d o ? A g o r a as c r i a n ç a s s o b e m e s t a es-
do. 9 a n o s ; R e g i n a . 9 a n o s ; Dr. B r e n o . 29 voso. l e n h o u m a i r m ã d e 7 a n o s q u e m e vão c a s a r n o f i m , t e n h o c e r t e z a d i s t o , p o r - c a d a . e n c o n t r a m os p a i s e, f i n a l m e n t e ,
a n o s : R e p ó r t e r . Hilton Libos. 20 a n o s ; e n c h e o saco! Eu q u e t e n h o 12 e ela q u e r q u e s ã o os dois a t o r e s p r i n c i p a i s . vão p a r a s u a s c a s a s ; s u a f i s i o n o m i a e seu
F o t o g r a f o D o m i n g o s C o p Jr.. 28 a n o s ; bater em mim: como é que pode u m a W e r n e r pega u m a latinha d e cerveja c o m p o r t a m e n t o se m o d i f i c a m . A s s u m e m
D o u t o r J a i r . 2(i a n o s . menina de 7 anos querer bater n u m vazia, a m a s s a c o m as m ã o s a t é q u e b r a r n o n o v a m e n t e o p a p e l d e filho.
ü Dr. B r e n o e n t r a c o m o r e p ó r t e r e o m e n i n o d e 12? E n t ã o eu fico m u i t o ner- m e i o . E s f r e g a as d u a s m e t a d e s p r o d u z i n d o (Marcos volta para falar c o m o dr.
f o t ó g r a f o . O Dr. J a i r j á está lá. O r e p ó r t e r voso. um som que mistura a gritaria até o final Breno)
liga o g r a v a d o r e n q u a n t o Luiz a g r i d e o d r . E d u a r d o pega o microfone. de sessão. M a r c o s - Posso d i z e r só m a i s u m a
Breno. E d u a r d o (como repórter de rádio) - D r . B r e n o (para o Repórter, se referin- eoisinha no microfone? T c h a u , doutor
Luiz - Se você n ã o t i r a r esta b a r b a f e i a . Agora nós v a m o s f a z e r u m a e n t r e v i s t a c o m d o a o c o m p o r t a m e n t o b a r u l h e n t o de Wer- Breno, e adeus.
nós v a m o s a c e r t a r u m tiro b e m n o m e i o d a o s e n h o r N a p o l e ã o Boa P i n t a . (Dirige-se ner) - Q u a n d o ele c o m e ç o u o t r a t a m e n t o ,
cara do senhor. a Luiz) Quais s ã o s u a s p r i m e i r a s i n t e n - não esboçava qualquer reação perante
Dr. B r e n o - Por q u ê ? P r i m e i r o v a m o s ções. seu N a p o l e ã o ?
d a r b o a noite. Eu a i n d a n e m c h e g u e i Luiz - vai t o m a r b a n h o , x a r o p e !
E d u a r d o - Nós e s t a m o s f a l a n d o di-
q u a l q u e r a t a q u e d o s o u t r o s , q u e b a t i a m e.
g o z a v a m na c a r a dele. O s i m p l e s f a t o d o jornal da cidade
direito. W e r n e r a g o r a e s t a r p r o d u z i n d o estes s o n s
I.urz (' om o d e d o e m riste para o psi- r e t a m e n t e d o i n f e r n o . O q u e o s e n h o r t e m já é u m p r o g r e s s o . Além d e q u e ele e s t á
quiatra) Se n ã o t i r a r . nós d a m o s u m j e i t o a d i z e r . N a p o l e ã o Boa P i n t a ? P o r q u e e s t á se c l e l e n d e n d o d o s c o m p a n h e i r o s . Q u e r
nisto. assim t ã o n e r v o s i n h o ? H e i n . c o n t a a q u i ver uni o u t r o c a s o ? A m ã e d e M a r c o s
1. II mentira da propaganda
0 d r . B r e n o e o d r . Jair se o l h a m en- p r a nós? p e g o u ele f a z e n d o t r o c a - t r o c a c o m o u t r o s
q u a n t o as o u t r a s sete c r i a n ç a s apoiam R e p ó r t e r - O q u e é q u e você t e m ? C o n - e. c o m o e r a d e se e s p e r a r n u m a m ã e classe
2 . 0 escândalo do sistema d água
3. DNOS defende barragem
Luiz. I o d a s g r i t a m j u n t a s e c e r c a m o d r . ta p r a nós. E d u a r d o . m e d i a , ela r e p r i m i u - o v i o l e n t a m e n t e , i' •
4. E se tivesse arrombado ?
Breno. p u x a n d o a barra da camisa, E d u a r d o - N ã o sei. n i n g u é m s a b e . É Depois trouxe o m e n i n o aqui p e d i n d o p a r a
d a n d o socos e m s u a b a r r i g a . Todas - um m i s t é r i o total. N e m C h e r l o q u e R o l m e s f a z e r c o m ele u m t r a t a m e n t o p a r a " c u r a r
C o r t a ! C o r t a ! P a u nele ! Se n ã o c o r t a r a c o n s e q u e resolver. o liomossexualismo". O - m e n i n o começou
b a r b a vai Se a z a r a r ! C o r t a ! Repórter - Nem o dr. Breno? a f r e q ü e n t a r as sessões n ã o p a r a isto, m a s
1 )r. B r e n o (se livrando das crianças) E d u a r d o - Não. ninguém. É um troço p a r a aliviar toda a c a r g a r e p r e s s i v a q u e se
O l h a . hoje vocês vão c u r t i r u m a d i f e r e n - muito complicado. a c u m u l o u d e n t r o dele.
te.... T o d o s v o l t a m as a t e n ç õ e s p a r a a R e p ó r t e r - Q u e m d e v e r i a f a z e r psi-
As c r i a n ç a s f i c a m c u r i o s a s . m á q u i n a d o f o t ó g r a f o . Cássia p e d e p a r a c o t e r a p i a s ã o os p a i s d e s t a s c r i a n ç a s .
I o d a s - Q u e - é . h e i n . d o u t o r , q u e é? ele b a t e r u m a s fotos d e p e r f i l e d e f r e n t e . Q u a n d o é q u e você c o m e ç o u c o m psi-
Dr. B r e n o - Estes dois r a p a z e s s ã o T e m c a b e l o s c r e s p o s e longos, a m a r r a d o s coterapia infantil?
r e p ó r t e r d e u m j o r n a l z i n h o e v i e r a m f a z e r c o m u m a lita v e r m e l h a . C a m i n h a c o m Dr. B r e n o - Foi n o H o s p i t a l C e n t e -
u m a e n t r e v i s t a c o m vocês. Este a q u i é o passos m e d i d o s , r e q u i n t a d o s : o l h a os n á r i o . e m S ã o P a u l o , m a i s ou m e n o s dois
Hilton e este é o D o m i n g o s . companheiros com ar de superioridade. a n o s e m e i o . Lá c u r e i u m a p o r ç ã o d e
R o b e r t o - Vocês são r e p ó r t e r e s , m e s - O s dois p s i q u i a t r a s p e r m a n e c e m s e n t a d o s , criúnças asmáticas. Cheguei a conclusão
mo? observando-os. de que a asma não é nada mais que uma
R e p ó r t e r - sim. Você n ã o a c r e d i t a ? R e p ó r t e r - O u v i d i z e r q u e você q u e r i a reação da criança, uma reação somática
R o b e r t o - E n t ã o d e i x a eu ver a c a r - f u g i r d e c a s a p a r a vir a q u i . . . do processo de repressão psicológica.
teirinha. R e g i n a - É . m a s d e p o i s eu p e d i p r a I o d a s as c r i a n ç a s a g o r a e s t ã o alvo-
R e p ó r t e r - E s t á na m i n h a b o l s a , lá e m m i n h a m ã e . d i r e i t i n h o . e ela d i s s e q u e e s t á roçadas. batendo fotografias. O Jornal da C i d a d e , do Recife, n a s c e u
c i m a . Se q u i s e r eu vou b u s c a r . b o m . p o d e ir m a s volta d e p r e s s a . E eu vim D r . B r e n o (volta-se para as crianças) - e m n o v e m b r o do a n o p a s s a d o , e m cinta da
De r e p e n t e , t o d o s se v o l t a m p a r a o c o r r e n d o . B o m . já s ã o nove h o r a s , v a m o s ver se a ses- c a m p a n h a eleitoral. E fez u m a cobertura
r e p ó r t e r , f u ç a m o bolso d a c a l ç a e g r i t a m Rep órter - Sozinha? são dc hoje a c a b a . tão b o a , q u e não teve outra saída se n ã o
ao m e s m o t e m p o . R e g i n a - S o z i n h a . M a s logo q u e eu saí Marcos— D o u t o r B r e n o , m i n h a m ã e melhorar c a d a vez m a i s . " A c a b o u ga-
I o d a s - M e n t i r a ! P a l h a ! Eles n ã o s ã o ela pediu p r a m i n h a tia vir a q u i . Ela e s t á m a n d o u eu m e d e s p e d i r d e t o d o s os n h a n d o u m a ijnportância maior d o q u e
r e p ó r t e r coisa n e n h u m a ! M o s t r a a c a r - lá c m c i m a m e e s p e r a n d o . a m i g o s e a v i s a r o s e n h o r q u e eu n ã o v e n h o sua estrutura: deu u m a trabalheira in-
l e r i n h a ! M o s t r a q u e eu q u e r o ver! R e p ó r t e r - P o r q u e você g o s t a d e vir m a i s na p s i c o t e r a p i a . crível m a n t e r o ritmo e q u a l i d a d e " , diz
a q u i ? O q u e você t e m . a l g u m p r o b l e m a ? seu editor Ivan Maurício, 24 a n o s , tam-
Regina- N ã o t e n h o n a d a . N ã o sei. bém correspondente tio M o v i m e n t o e m
Eduardo (entra no m e i o da conversa Pernambuco.
entre o repórter e Regina) - Você s a b e o Média de idade da redação: 22 a n o s .
q u e eu g o s t o d e l a z e r d e n o i t e ? A s s i s t o S e g u n d o Ivan, os m e n i n o s t r a b a l h a m
n o v e l a . ' o " ' B r a v o " ! M a s c o m o eu t e n h o m u i t o , g a n h a m p o u c o , m a s estão sedi-
q u e a c o r d a r c e d o p a r a ir p r a escola, m i n h a m e n t a n d o um j o r n a l i s m o h o n e s t o no
m ã e q u a s e n ã o d e i x a eu llcar a s s i s t i n d o a Nordeste. O tablóide tira 3 mil e x e m p l a r e s
novela. dc 20 p á g i n a s por s e m a n a . A distribuição
e própria.
Ex-14 salada •SKALIDADE:
13

pessoas em cada um. Ficamos 12 dias den-


tro do vagão que estava nos levando para
Auschwitz: comer não c o m í a m o s e as
necessidades fisiológicas eram feitas ali
mesmo, no vagão. Não tinha nem jeito da
«ente cair, porque todo m u n d o estava
apertado, um encostado no outro. Muita
gente estava morta q u a n d o c h e g a m o s a
Miloàn, liiiuso <>rj>an cia Rede Globo
Auschvvitz, mas lá morto era coisa normal,
Respo'stci: Armando Nogueira, como uma pedra 110 meio da estrada. Era
diretor-responsável da Central uma coisa que ninguém ligava, você estava
vao pensar que eram bon/.inhos e coita-
conversando com uma pessoa, e ela dizia
Globo de Jornalismo (Jornal dinhos. Só se defendendo...
murmurando: " Q u e inferno! Que inferno!
Nacional, Amanhã, Globo Repór- V a m o s p a r a u m a sala d o I n s t i t u t o
Será que não acaba?". E duas horas
G o e t h e . lazer a entrevista. A l e x a n d e r dele e vi que tinham rebentado uma parle
ter, Fantástico, Hoje, Globo In- tremeu d u r a n t e t o d a a conversa d e 25
depois estava morta. Ao chegarmos em
•da cerca eletrificada, saiam diretamente
terior, Esporte Espetácular, Globo m i n u t o s e f u m o u 9 cigarros. Ele é um dos
Ausclnvitz, o famoso Mcngele - até hoje para um matagal. Fugi, fugi e fugi e de
Pesquisa, Mundo em Guerra, dizem que ele está 110 Brasil, Paraguai , repente me vi num bosque, sozinho. An-
poucos j u d e u s d o c o m é r c i o d e r o u p a s e ar-
I itiguai , quem sabe? - selecionava os dei, andei, andei, até chegar numa es-
Globinho, etc.) m a r i n h o s d e S P - r u a T r ê s Rios. José
"fracos" que iam para a câmara de gás:
Paulino. da G r a ç a - q u e f u g i u de Aus- trada. Cheguei numa estrada, não con-
velhos, mulheres c crianças. Matavam e seguia mais andar e pensei: " B o m , vou
chwitz. Sua fala:
cremavam.
Esses Filmes -- A perseguição c o m e ç o u , quando lodo sentar aqui aconteça o que acontecer". Me
Nestes tempos, foram mortas 2 ou 3 sentei e escutei o som de motores dos tan-
m u n d o sabe que c o m e ç o u , em 1933, com
Nazistas Não
milhões de pessoas. Eu era jovem "forte" ques, rummmrn, r u m m m m , rummm.
propaganda e doutrinações, sob a mão de
e junto com outros, fui levado- para um Pensei: "Sc forem os aliados, estou salvo.
Goebbels. Eu era muito pequeno nessa
Mostram o Que
galpão grande, tiraram nossa roupa, cor- Sc forem os nazistas, o primeiro me dá um
época e morava na Romênia, nasci lá,
taram nosso cabelo, perguntaram qual era tiro e acabou". E por minha sorte, eram
cidade de Mediach - onde a maioria da
Vi Em Auschwitz população era de nazistas. A perseguição
já existia (guando Hitler subiu ao poder,
a nossa profissão. Eu me apresentei c o m o
engenheiro. Dai nos levaram para outro
tanques americanos. De cada tanque,
jogavam uma latinha de "breakfast". Por
lugar onde fomos numerados. Recebi este fim, eslava com (anta comida na minha
em 33. Mas eu nunca tinha medo de nada
ü I n s t i t u t o G o e t h e , SP, a p r e s e n t o u na número aqui: A-6124. Dai em diante , não frente que fui abrindo as latinhas na
c quem viesse me humilhar eu descia
primeira q u i n z e n a de agosto, u m semi- nos chamavam pelo nome, só pelo nú- minha frente e c o m e n d o , abrindo e co-
porrada, era brigar ou apanhar. Lógico,
nário sobre filmes d e p r o p a g a n d a nazista mero. mendo. Depois vieram as ambulâncias.
<|uciii queria apanhar? Eu não. Fui em- Me levaram para o hospital da SS -
- sob a c o o r d e n a ç ã o de Jean C l a u d e Ber- Eu trabalhava onde ficavam os cre-
bora para a Hungria em 1940. ocupado por, americanos - e me fizeram
nadet. Ex levou A l e x a n d e r F e r n e r , 58 matórios, a 7 quilômetros do campo; a
Lá o povo não era lão anti-semita. A Hun- uma lavagem no estômago. Mais gente
anos. j u d e u , p a r a assistir a l g u n s dos fil- fumaça subia alto com o cheiro da carne
gria era aliada da A l e m a n h a , mas lá não morreu porque comeu a comida pesada e o
mes. q u e i m a d a . Nos primeiros dias , eu vo-
linha perseguição de matar, matar, matar, estômago estava ressecado.
O velho n ã o p a r o u d e b a l a n ç a r os mitava toda aquela água que eles cha-
compreende? E passei a viver clandes-
joelhos d u r a n t e a p r o j e ç ã o d o filme mavam de sopa.
tinamente, e m Budapeste, trabalhava Após tudo que tinha passado na
"Batismo de F o g o " , s o b r e os a t a q u e s O banho era coletivo. Todos tiravam a
como tecelão e " s t t r o m a n n " , quer dizer, Furopa, queria emigrar, não queria mais
aéreos n a z i s t a s à Polonia. c m i 940. Nas roupa 110 barracão onde dormíamos, ver os lugares onde tanto sofrimento linha
" h o m e m d e p a l h a " , o camarada que for-
cenas d a q u e d a cie Varsovia e dos 130 mil saiamos todos nus para o outro barracão se passado. F vim para o Brasil.
mava os trabalhadores, que fazia os
prisioneiros feitos pelos a l e m ã e s . Alexan-' onde tomávamos um !.»ai lio quente e vol-
negócios da empresa. Ninguém sabia que
d e r F e r n e r se levanta da c a d e i r a : t a m o s nus pelo vento frio, para dormir.
eu era judeu- Ganhei tanto dinheiro que
-- Acho que já chega, não? Q u e m agüentava, agüentava. Q u e m não
acabei ficando sócio da fabrica.
Peço p a r a ele ficar m a i s a l g u n s mi- agüentava, morria. E111 janeiro de 1945, os
Um dia, a policia húngara deu uma GAVETA LITERÁRIA
nutos. até c o m e ç a r e m a d e b a t e r o filme. russos começaram a se aproximar de Aus-
balida no meu apartamento, fui preso c
O Maior
Ale a n d e r c o n c o r d a , os joelhos b a t e n d o . chvvitz e começaram a evacuar o c a m p o
Na tela. c i d a d e s alem ãs. os p r é d i o s es- deportado para um c a m p o dc concen-
mais para dentro do território alemão. As

Menor Conto
b u r a c a d o s d e b a l a s e - logo d e p o i s - os tração de estrangeiros onde fiquei duas
evacuações eram feitas todo m u n d o ca-
stukas e messerehmidt partindo para a semanas e lugi. Eu e mais 2 amigos. O
minhando em fileiras 11a estrada e foi
Que o Ex
Polônia, cm r e p r e s á l i a . plano era a gente passar a guarda de
quando eu aproveitei para tentar uma
segurança c depois sumir num bosque. E
-- Não c isto! c o n t a A l e x a n d r e . - Foi a fuga. Eram fileiras e fileiras de gente
Já Recebeu
deu: corremos até acabar o fôlego. Quan-
aviação d e Hitler q u e b o m b a r d e o u c i d a d e s agonizando, morrendo pelo caminho, que
do o Io lego acabou, subimos numa árvore.
a l e m ã s p a r a dizer q u e e r a m os poloneses e .nenhum ffline j a m a i s vai apresentar.
A maior árvore. Ficamos lá eni cima eu e
atacar! Acho que não vai passar um filme destes,
Fala c o m raiva e se l e v a n t a :
meus 2 amigos e 1.5 ou 20 minutos depois,
vai? Até que fomos para um c a m p o que se Frágil como um amendoim
de baixo dc nós, ficou coalhado de sol- quando se vê sem casca e urria lín-
-- Agora, vamos. Não quero mais ver chamava Buchenvvald e fui para os tra-
.lados (pie uao nos viram. Ficaram pro- gua molhada começa a conduzí-lo
estas porcarias. balhos forçados. As vezes, de m a n h ã , eu
curando o dia inteiro, a noite inteira. Só na
Ao s a i r m o s d a sala de projeções.
noite seguinte arriscamos descer de lá.
abria a porta do barracão onde dor-' por caminhos desconhecidos. As-
M a r i a n n e - a m o ç a q u e auxiliou a r e a l i z a r miamos c linha pilhas e pilhas de gente sim ela andava naquela tarde.
Descemos e fomos c a m i n h a n d o para a
o s e m i n á r i o - nos c h a m o u : morta - assim c o m o q u a n d o você abre a
cidade mais próxima. K dai fui parar eni
poria de uni depósito de batatas e vê
Os passos eram pequenos e
- - Q u e r o q u e fique b e m c l a r o q u e n ã o
e s t a m o s q u e r e n d o lazer p r o p a g a n d a
Budapeste. Eu ainda linha alguni dinheiro
toneladas de batatas empilhadas. Mi-» rápidos.
que havia recebido na fábrica e fui tra- Alguma coisa molhada lhe
nazista. E n t e n d a isto. lliares de cadáveres que naquele dia iriam
balhai'com o negócio de lios. Ganhei mais
Alexander. duro: dinheiro. I m dia, em março de 1944,
para o crematório. roçou a nuca e ela foi engolida.
— Eu sei, eu sei. Era quase o flni da guerra, em 1945.
deram uma batida num bar, me pren- José Eduardo M e n d o n ç a
--Só q u e r e m o s m o s t r a r as pessoas c o m o l oram 11 meses de prisão. Q u a n d o es-
deram c levaram de volta para o m e s m o
os n a z i s t a s f a z i a m p u b l i c i d a d e . O Ber- capei de lá, pesava apenas 36 quilos.
campo.
nádet deixou isso na c a b e ç a d e t o d o s os Quando entrei, estava com 65. Então, eu
que estão p a r t i c i p a n d o d o s e m i n á r i o . Contratei um advogado para tirar dc lá, era pele e osso, mal podia caminhar. Foi
- Veja aqui, moça - fala Alexander legalmente. Eu estava com dinheiro c pen- quando percebemos que alguma coisa es-
arregaçando a manga do paletó e mos- sei: "com dinheiro, c o m o em lodo o lugar tiva mudando. Eu prestava muita atenção
trando a ela um número gravado no braço do mundo, resolvo esle caso". Mas os sol- nas pessoas que trabalhavam na cozinha,
eu conheço muito bem este tipo de coisa. dados da guarda haviam sido trocados por . rain mais gordos, certamente porque
Sei i|iie vores nau (|ucrcm lazer publi- outros de uniforme prelo , mais duros que íiabalhavam com a contida. U m a tarde,
cidade do nazismo. Então, por (|ue não os outros. Foi q u a n d o os alemães resol- parei para observar aqueles felizardos,
mostram filmes dc c a m p o de concen- veram ocupar a Hungria e não eram mais pela porta da cozinha. Dc repente, saíram
'lac.in.' I W <|uc ficam apenas mostrando o húngaros que m a n d a v a m . Dia 11 dc oiTcndo. Fu pensei: "Se eles estão co-
'ilmcs dc publicidade na/.ista? Acho que maio dc 19 44 nos colocaram naqueles 1 rendo para aquele lado c porque deve ser
sc passar estes filmes na televisão , iodos vagões dc transportar gado - 150 ou 200 i oisa boa", i resolvi sair correndo a l i á s
14
Voee
Grande mas
naõ &
e

Povo.
comicus
EXPOSIÇÃO ABERTA A VISITAÇAO DE BRASILEIROS:
Ex-14

.lota. Angeli. M e n d e s . J a y m e Leão. Airton, to m o d o os grandões viciam a gente. A


M a r e o u . Luiz G ê . M a s s a o . Vicente e lunção do piadista é tirar o pano de cima
Chico. A i n t e n ç ã o destes 10 p i a d i s t a s é da verdade, com humor.
m o s t r a r t r a b a l h o , em p r i m e i r o lugar. São "O desenho tem que acompanhar...estar
todos jovens: J o t a . q u e editou às p i a d a s , no nível da idéia. Que idéia? U m a idéia
tem 16 anos; Angeli. 19; M a s s a o , 25. E são voltada para o Brasil. Ninguém mais faz
deles 3 estas p a l a v r a s : piada pra salão de barbeiro. O Carlos Es-
tevão fazia piadas muito antes de ser in-
"Não temos chance na grande imprensa. ventado o termo cartum (do inglês car-
Esta é a primeira que temos, em conjunto. loon). Mataram ou estão matando A
Surgem muitas revistas novas, onde os Manha do Barão de Itararé, O Malho,
piadistas podiam mostrar seus trabalhos; Carlos Estevão, o próprio Millor do Pif--
mas para mostrar, eles precisam virar car- Paf, o Péricles — em oficina mecânica a
tunistas, desenhar mulher pelada na gente seinpr via um Amigo da Onça
cama. Eles te dão chance se você desenhar pregado na parede, um personagem
um humor água com açúcar, pra pendurar brasileiro.
em banheiro dc executivo. Os cartunistas "Eles acabam com todo cara novo que
estão fazendo desenho pelo desenho, aparece; daqui a 20 anos c o m o é que vai
desenho bonito que não diz coisa ne- ficar? Vai estar todo inundo fazendo traço
n h u m a . Estão olhando prá Europa, de com í-égua e caneta osford zero-um. É im-
costas para o Brasil. portante que apareçam mais publicações
"Nós queremos nos dirigir ao brasileiro como o Balão, o Bicho. Só pra terminar:
cm primeiro lugar. É difícil porque de cer- «amos parar com essas réguas aí?"

Afe que enfim,


s e CQfe tirasse
UMA ATMOfFEP/l o sono. o Bfásii nao j
SEMELHANTE A NOSSA!
S e r t i um Gieahtej
ESTAMOS tALVOS!
acjormeciqfo/i s
comícus
10 PIADAS PARA COLAR EM PAREDE DE OFICINA
a
MECÂNICA.
Relação: Homem Pra Homem
C l a u d i a A n d u j a r t i n h a 7 a n o s c m 1944. na H u n g r i a ,
q u a n d o seu pai foi d e p o r t a d o e a s s a s s i n a d o n u m c a m p o
de concentração nazista. Fsse a c o n t e c i m e n t o marcou-lhe
a vida. M o r o u 6 a n o s nos E s t a d o s U n i d o s , em 1958
c h e g o u a o Brasil. A t u a l m e n t e . C l a u d i a faz e n t r e v i s t a s
c o m totó g r a t o s na I V C u l t u r a . S P ; e o r g a n i z a o acervo
f o t o g r á f i c o n o M u s e u d e A r t e d e São P a u l o , além d e
orientar dois cursos: para princip iantes e para adian-
t a d o s . O texto e as fotos são d e seu t r a b a l h o m a i s recen-
te. e m R o r a i m a , c o m os í n d i o s Y a n o m a m i .
E \ — Q u a n d o você c o m e ç o u a fotografar tinha a l g u m
objetivo?
C l a u d i a — Sim. Q u a s e p o s s o d i z e r q u e a p r e n d i fo-
t o g r a f i a p a r a f o t o g r a f a r índio. P o u c o t e m p o d e p o i s d e ter
c h e g a d o n o Brasil c o m e c e i a v i a j a r , s o z i n h a . M e liguei ao
homem e à terra. Era uma busca tanto de mim mesma
c o m o d e e n t e n d e r , v a m o s d i z e r , a vida. E n t ã o de c e r t a
m a n e i r a m i n h a f o t o g r a f i a c r e s c e u j u n t o c o m esse in-
teresse. e n v o l v i m e n t o e a f i n i d a d e q u e senti pelo índio.
N u n c a foi u m a c u r i o s i d a d e c o m o a c h o q u e m u i t a s pes- Era d e m a n h ã e s a b i a q u e d e t a r d e viriam m e b u s c a r M e senti i n t e g r a d a c o m m i g o . c o m o m a t o . n ã o im-
soas têm p o r l u g a r e s exóticos. N u n c a foi isso. Desde o p a r a m e levar de j i p e na e i d a d e z i n h a d e C a r a c a r a i . p o r t a v a o n d e ía. q u a n t a s h o r a s c a m i n h a v a . S a b i a q u e m e
c o m e ç o p a r a m i m foi u m a r e l a ç ã o d e h o m e m p a r a P r i m e i r a v iagem p o r t e r r a d e volta ao o u t r o m u n d o , o t i n h a e n c o n t r a d o . M c e n c o n t r e i n o s e n s o d e ter e n c o n -
h o m e m . M a s eu na s o c i e d a d e m u i t o d i f e r e n t e , c o m m u n d o tecnológico e compromissos diferentes. O m u n d o t r a d o o essencial. São m o m e n t o s r a r o s q u e a g e n t e s e n t e
valores m u i t o d i f e r e n t e s : u m a pessoa q u e veio (ia Eu- no q u a l nasci e cresci; o n d e a p r e n d i q u e p a r a ser res- às vezes, q u e r e s u m e m t u d o . E a g e n t e se s e n t e integral.
r o p a . foi nos l i s t a d o s U n i d o s , veio a q u i . E n t e n d e r , v a m o s p e i t a d a t i n h a q u e m e i m p o r c o m o pessoa s o r r i d e n t e , D u r a p o u c o , são m o m e n t o s só. E m e l e m b r o q u e suava
d i z e r , os índios, talvez até h o j e n ã o e n t e n d o . Até a m i m com a c a b e ç a l i m p a , o t i m i s t a . t a n t o nesta c a m i n h a d a , q u e e r a t o d a m o l h a d a . A s e d e
m e s m a não e n t e n d o muito bem! C o m o é q u e posso N ã o m e d e s p e d i f o r m a l m e n t e p o r q u e n ã o existe " a t é me apertou. Quis parar e beber, mas não podia porque
p r e t e n d e r q u e e n t e n d o eles? É d e c e r t a m a n e i r a u m l o g o " e n t r e os Índios; e se existisse, t a m b é m n ã o iria m e era a p e n a s u m a e n t r e o u t r o s a c o s t u m a d o s a a n d a r c o m o
a m o r . . . n ã o sei b e m e x p l i c a r o q u e m e liga a eles. G a s t o d e s p e d i r d e q u a l q u e r jeito. Se d e s p e d i r i m p l i c a u m f i m ; se a n d a n u m a g r a n d e a v e n i d a . F. se p a r a s s e e ficasse p a r a
b a s t a n t e t e m p o p a r a e n t e n d e r a n t e s d e f o t o g r a f a r , por- m a s a vida é u m a c o n t i n u a ç ã o e t e r n a d a s coisas q u e se trás. ti m a t o iria m e e n g o l i r . E n t ã o a n d a v a e m e p e r d i a
q u e p a r a m i m a f o t o g r a f i a h o j e é u m a síntese. Q u a n d o l i g a m , d e s l i g a m e ligam d e novo. As vezes d e jeitos di- nos p e n s a m e n t o s . Essa m i n h a p r i m e i r a viagem n o m a t o
hoje f o t o g r a f o , c o m o nesse ú l t i m o t r a b a l h o q u e levou 3 f e r e n t e s . T e m mil m a n e i r a s d e se s e p a r a r e se j u n t a r : é d u r o u u n s c i n c o dias. O s í n d i o s f o r a m c a ç a r e pes car.
a n o s n u m l u g a r só lá em R o r a i m a , c o m os Y a n o m a m i . u m p r o c e s s o m o l e c u l a r . As l o r m a s s ã o i n f i n i t a s , as c o m - O d e s t i n o g e o g r á f i c o d a viagem m e e r a d e s c o n h e c i d o , só
talvez fiquei o b s e r v a n d o e p e n s a n d o t a n t o q u a n t o fo- binações inúmeras, mas essencialmente sempre tudo s a b i a q u e era u m a p r o c u r a i d e c o m i d a e q u e r i a e n t e n d e r
t o g r a f a n d o . Q u a n d o f o t o g r a f e i já s a b i a o q u e q u i s d i z e r . c o n t i n u a ; é o p r o c e s s o d a vida. O m i s t é r i o d a e x i s t ê n c i a . o q u e significava isso. l i n h a d i a s e m q u e a n d á v a m o s
Isso p o r u m c e r t o c o n h e c i m e n t o q u e levou b a s t a n t e t e m - V i d a . o n d e a m o r t e é só u m p r o c e s s o c o m p l e m e n t a r , h o r a s , o u t r o p o u c o . O q u e m e levou e r a o d e s e j o d e en-
po e p e s q u i s a . Estive 4 vezes c o m os í n d i o s Y a n o m a m i . uma outra forma de continuar. Um processo de trans- t e n d e r essa b u s c a pelo a l i m e n t o t ã o essencial nessa
A p r i m e i r a vez foi m u i t o c u r t a , só p a r a ver se era o figurações de m o m e n t o s em fluxo. s o c i e d a d e . C a d a t a r d e , nós l i m p á v a m o s o m a t o p a r a
l u g a r o n d e eu p o d i a f a z e r o t r a b a l h o q u e q u i s . Estava a c o m o d a r p a r a a noite. P e n d u r á v a m o s as r e d e s e n t r e as
p r o c u r a n d o u m g r u p o d e p e s s o a s c o m m u i t o p o u c a acul- Embrulhei minha rede, saco para dormir, m á q u i n a
f o t o g r á f i c a , c a n e q u i n h a , r e m é d i o p a r a i n a l a r i a , calça as árvores, e o b r i n d o - a s c o m u m teto d e f o l h a s d e so-
t u r a ç ã o . q u a s e p u r o s . Esse e r a u m d o s t r a b a l h o s q u e fiz r o r o e a ( b a n a n a selvagem). A noite c h e g a v a c e d o . No
com a bolsa q u e g a n h e i d a F u n d a ç ã o G u g g e n h e i m b l u e - j e a n . c a m i s e t a s . E s t a v a t u d o p r o n t o p a r a d e i x a r os
meses d e t r a b a l h o e n t r e a f a m í l i a e x t e n s a d o m u n d o m a t o o n d e o sol p e n e t r a p o u c o , a o b s c u r i d ã o d a noite é
( E U A ) , faz 3 a n o s . ^ total. Pelas sete h o r a s t o d o s e s t a v a m na r e d e e só se en-
Y a n o m a m i . O s Y a n o m a m i s q u e até p o u c o p e n s a v a m ser
o ú n i c o povo d o m u n d o . Eles a " g e n t e " e o resto, os x e r g a v a m as luzes d a s f o g u e i r a s e d o s v a g a l u m e s .
E x — A n t e s de g a n h a r a bolsa você era financiada
" n a p ê " . os q u e n ã o são Y a n o m a m i . A ú l t i m a coisa q u e D e i t a d a e s c u t a v a as r i s a d a s , as c o n v e r s a s d o s í n d i o s e os
pelas revistas para fotografar índios?
liz. c o m o t i n h a feito t a n t a s vezes, foi d e d a r r e m é d i o a b a r u l h o s d o m a t o . P o r q u e o m a t o r a r a m e n t e é silen-
C l a u d i a — N ã o . N u n c a p a r a f o t o g r a f a r índios. In-
u m d o e n t e . Mil n o v e c e n t o s e s e t e n t a e q u a t r o , o a n o e m cioso. D o r m i a e a c o r d a v a . O í n d i o d e vez. e m q u a n d o
clusive a p r i m e i r a vez f u i p r o c u r a r O C r u z e i r o , em 1959,
q u e t i v e r a m o n z e g r i p e s e o s a r a m p o , t r a z i d o pelos peões l e v a n t a v a p a r a a l i m e n t a r o fogo. As n o i t e s e r a m c o m -
depois d e ter ido d u a s vezes na ilha d o B a n a n a l , nos ín-
da c o n s t r u ç ã o d a e s t r a d a ( M a n a u s - C a r a c a r a i - Ve- p r i d a s . os b a r u l h o s m i s t e r i o s o s . As vezes m e d a v a m e d o
dios C a r a j á . Eu estava séria c o m i g o m e s m a m a s a i n d a
nezuela). e m a l á r i a q u e n ã o a c a b a m a i s . . e ficava e s c u t a n d o o b a r u l h o d o s p a s s o s d e b i c h o s ou u m
não t i n h a l i g a ç ã o p r o f i s s i o n a l c o m ninguém. Queria
p á s s a r o n o t u r n o a c a n t a r . As vezes ouvia u m j a t o b e m
ouvir a o p i n i ã o deles. M e m a n d a r a m e m b o r a . Inclusive E o jipe c h e g o u . Havia três ou q u a t r o í n d i o s o l h a n d o longe em c i m a d o m a t o p a s s a r e p e n s a v a n o p a s s a g e i r o ,
a c h o ó t i m o p u b l i c a r isso: p o r q u e m e m a n d a r a m por q u e com curiosidade m i n h a p a r a f e r n á l i a . Ia e m b o r a . rota Nova Y o r k - R i o - S ã o P a u l o , t o m a n d o seu ú l t i m o
eu e r a m u l h e r . O r e d a t o r , m e l e m b r o m u i t o b e m . f a l o u Falei p o u c o , e r a e m o c i o n a d a . Lá, e s t a v a e m c a s a . M e whisky q u e a a e r o m o ç a servia. M e s e n t i a e n t r e dois m u n -
p a r a m i m : " V o c ê a c h a q u e foi você q u e d e s c o b r i u os ín- sentia b e m . e r a c o m o se s e m p r e tivesse e s t a d o lá, in- dos. u m b e m longe e m t e m p o s e m e n t a l i d a d e e u m o u t r o
dios? " E r a Jorge F e r r e i r a . N u n c a vou e s q u e c e r . t e g r a d a . Esse p e q u e n o m u n d o na i m e n s i d ã o d o m a t o p e r t o q u e q u e r i a p e g a r e n t r e as m ã o s e e n t e n d e r .
" M u l h e r a q u i n ã o t e m l u g a r , m u l h e r n ã o p o d e ser fo- A m a z ô n i c o e r a m e u l u g a r e s e m p r e s e r á . E s t o u l i g a d a ao
t ó g r a f a " . I a b o m . T c h a u . Foi m e u p r i m e i r o c o n t a t o c o m í n d i o , à t e r r a , à luta p r i m á r i a . T u d o isso m e c o m o v e Na é p o c a não m e i m p o r t a v a n ã o e n t e n d e r a língua
esse m u n d o v a m o s d i z e r p r o f i s s i o n a l . E n t ã o desisti d e p r o f u n d a m e n t e . T u d o p a r e c e e s s e n c i a l . E talvez n e m en- dos Y a n o m a m i . Nós nos e n t e n d í a m o s c o m gestos e
lazer q u a l q u e r c o n t a t o n o Brasil. D e p o i s o r e d a t o r - c h e f e t e n d o t u d o . e n ã o p r e t e n d o e n t e n d e r . N e m preciso, b a s t a m í m i c a . As r e s p o s t a s e n c o n t r a v a n o o l h a r . N ã o s e n t i a a
do Life e m e s p a n h o l viu m i n h a s f o t o s e d e u 12 p á g i n a s . a m a r . T a l v e z s e m p r e p r o c u r e i a r e s p o s t a à r a z ã o d a vida falta d e troca d e p a l a v r a s . Queria observar absorver
H foi m e u s e g u n d o c o n t a t o p r o f i s s i o n a l . Isso m e deu u m nessa e s s e n c i a l i d a d e . E fui levada p a r a lá, na mata p a r a r e c r i a r e m f o r m a d e i m a g e n s o q u e s e n t i a . Talvez o
p o u c o d e volta v a m o s dizer m i n h a d i g n i d a d e . Fui aos Es- A m a z ô n i c a , por isso Foi instintivo. A p r o c u r a d e m e d i á l o g o iria até i n t e r f e r i r . Só m a i s t a r d e , q u a n d o a c a b e i
t a d o s U n i d o s , t a m b é m s e m c o n h e c e r n i n g u é m . Deixei o encontrar. de fotografar. eu p r o c u r e i a c o m u n i c a ç ã o ver-
t r a b a l h o n o M u s e u d e A r t e M o d e r n a d e Nova Y o r k . Na
M e a c h o n a s l o n g a s c a m i n h a d a s pelo m a t o . Fiz bal. F o t o g r a f a r é processo de descobrir o outro e
é p o c a o d i r e t o r d o d e p a r t a m e n t o d e f o t o g r a f i a era E d -
várias. M c l e m b r o d o s u o r p i n g a n d o d o n a r i z , q u e i m a n - a t r a v é s d o o u t r o si m e s m o . No f u n d o p o r isso o f o t ó g r a f o
watvl S t e i c h e n . E n t r e o u t r a s c o i s a s g r a n d e s , ele fez u m a
d o os olhos. C a m i n h a m o s h o r a s . H o m e m , m u l h e r , c r i a n - b u s c a e d e s c o b r e novos m u n d o s , m a s a c a b a s e m p r e m o s -
e x p o s i ç ã o m a r a v i l h o s a : A F a m í l i a d o H o m e m . Ele q u e
ça. c r i a n ç a r e c é m - n a s c i d a , n a s c o s t a s d a m ã e . o m a c a c o t r a n d o o q u e tem d e n t r o d e si. M i n h a b u s c a d a inte-
viu m i n h a s fotos e a d q u i r i u d u a s p a r a o m u s e u . Não o
da noite a g a r r a d o n o c a b e l o d a í n d i a , as r e d e s , as p a - r l i g a ç ã o h o m e m - t e r r a estava d e n t r o d e m i m a n t e s de
c o n h e c i p e s s o a l m e n t e . Só r e c e b i u m c o m e n t á r i o p o r es-
nelas . o essencial, t u d o c a m i n h a v a . O h o m e m na f r e n t e ter ido na A m a z ô n i a e as c a m i n h a d a s n o m a t o só s e r v i a m
crito d e q u e eu t i n h a u m o l h o m u i t o p e r c e p t i v o .
com a r c o e flecha p a r a d e f e n d e r a m u l h e r e a c r i a n ç a , ou c o m o c a t a l i s a d o r e s p a r a r e f o r ç a r o q u e estava f u n d a -
Ex — Q u a n d o você c o m e ç o u na imprensa brasileira? p r o n t o p a r a q u a l q u e r c a ç a . S e g u i n d o a t r i l h a , u m ca- m e n t a l m e n t e lá.
C l a u d i a — E m 1968. c o m a R e a l i d a d e . O R o b e r t o m i n h o estreito, c o b e r t o d e u m t a p e t e d e f o l h a s . I g a r a p é s ,
O m e d o da morte me perseguiu muitos anos. É um
Civita ( u m dos d i r e t o r e s d a E d i t o r a Abril) s o u b e d a s p a u s c a í d o s , mil d i f i c u l d a d e s , u m m a t o v i r g e m . O m a t o
p e n s a m e n t o q u e t r o u x e d a i n f â n c i a ; sem d ú v i d a sen-
p u b l i c a ç õ e s q u e eu t i n h a feito f o r a — v á r i a s r e p o r t a g e n s que para o índio é como u m a c i d a d e p a r a nós. Ele
t i m e n t o d e . c u l p a . D u r a n t e a g u e r r a , m e u m u n d o foi
p a r a Life. m e u p r i m e i r o t r a b a l h o c o l o r i d o p a r a Look (8 c o n h e c e c a d a c r u z a m e n t o , s u p e r a - o s c o m o nós atraves-
a r r a s a d o d e u m d i a p a r a o o u t r o . F i q u e i viva e n q u a n t o
p á g i n a s e a c a p a ) . Fiz t r a b a l h o s m e n s a l m e n t e p a r a eles. s a m o s as r u a s .
os o u t r o s m o r r e r a m . M o r r e r a m m e u pai. m o r r e u m i n h a
N u n c a f u i e m p r e g a d a d a A b r i l . A ú l t i m a p u b l i c a ç ã o foi Eu m e senti c a n s a d a , d e h o r a s d e c a m i n h o . E o m a t o avó. m i n h a s a m i g u i n h a s e uni a m i g u i n h o q u e m e
a A m a z ô n i a . M e s m o d e s s a vez a revista n ã o m e m a n d o u todo. m o n ó t o n o , n ã o e n x e r g a v a m a i s . E nós a i n d a es- emocionou e me acordou dos sonhos da infância.
f o t o g r a f a r índios — e o a s s u n t o e r a A m a z ô n i a . Aí t e - t a v a m o s a n d a n d o . De r e p e n t e m e desliguei. Sei q u e es-
tava c a m i n h a n d o , s e g u i n d o o o u t r o , c o l o c a n d o u m pé Os anos passaram. Era m a d r u g a d a ; exausta de
legrafei d e M a n a u s p a r a o R a i m u n d o P e r e i r a - q u e m e d o r e s , apoiei a n u c a 110 t r a v e s s e i r o c o m gelo na t e s t a . M e
c h a m o u p a r a esse t r a b a l h o q u a n d o eu j á e s t a v a no Bon- cm f r e n t e d o o u t r o , e m e u s p e n s a m e n t o s f o r a m fonge.
M e vi c r i a n ç a na E u r o p a . U m a E u r o p a na g u e r r a , u m a senti d e s l i z a r n o l i m b o . E s t a v a p a s s a n d o m u i t o m a l , c o m
d i n h o . " R a i m u n d o , t e n h o c h a n c e d e s u b i r o rio Negro, a m a l á r i a . D e s c o b r i q u e a d o r e r a m a i s terrível q u e a
f o t o g r a f a r í n d i o s " . . . e l e r e s p o n d e u q u e p o d i a . E eu f u i . c r i a n ç a q u e t e n t a d e s e s p e r a d a m e n t e se ligar a a l g u é m .
A m a r c ser a m a d a , c o m p r e e n d i d a , e r a o d e s e j o d a m i n h a m o r t e . M e u ú n i c o d e s e j o e r a q u e a d o r p a r a s s e . E u m dia
D e r a m 3 p á g i n a s d u p l a s e c a p a . T o d o esse t e m p o na p a r o u ; p e r d i o m e d o d a m o r t e . As f o l h a s p o d r e s n o solo
R e a l i d a d e e n o B o n d i n h o voltei p e r i o d i c a m e n t e nos ín- i n f â n c i a . E n ã o c o n s e g u i . Fui p a r a Nova Y o r k e p r o c u r e i
a m e s m a coisa, a i n d a c r i a n ç a . G o s t a v a d e p a s s a r h o r a s d a f l o r e s t a , as c a m i n h a d a s n o m a t o f e c h a d o , o e n c o n t r o
dios. Fui v á r i a s vezes n o M a t o G r o s s o e n t r e os Bororos. com m i g o nos m o m e n t o s r a r o s q u e a vida m e p r o p ô s
n o c a m p o , nos p a r q u e s , n o c e m i t é r i o c o m árvores,
Lá fiz u m e n s a i o s o b r e m u l h e r e s . T a m b é m u m t r a b a l h o
p o r q u e e r a m l u g a r e s q u i e t o s e soli t á r i o s . P a s s a v a h o r a s 1111111 m o m e n t o d e e n t r e g a , é o q u e está c o m m i g o , está n o
m u i t o p e s s o a l . N o Brasil n i n g u é m p u b l i c o u . Dois m u s e u s meu t r a b a l h o . T r a b a l h o q u e p o d e se r e s u m i r n a foto-
em i g r e j a s vazias c o n v e r s a n d o s o z i n h a . M e senti só na
n o r t e a m e r i c a n o s c o m p r a r a m várias, fotos d e s s a s . M a s
grande metrópole. g r a f i a . 110 t r a t a r d e u m d o e n t e , na c o m u n i c a ç ã o , e m mil
q u a n d o m o s t r e i na R e a l i d a d e , n ã o i n t e r e s s a v a . P o r q u e coisas, t o d a s i n t e r l i g a d a s , p o r q u e sou s e m p r e a m e s m a
í n d i o é u m a coisa q u e n ã o q u i s e r a m t o c a r . Eles e s t a v a m M a s a i n d a estava a n d a n d o n o m a t o A m a z ô n i c o c o m pessoa com a m e s m a p r o c u r a .
de a c o r d o d e p u b l i c a r na é p o c a as r e p o r t a g e n s q u e o os í n d i o s , u m a m a r c h a q u e virou a u t o m á t i c a . E senti
l.uigi M a m p r i m fazia c o m os V i l l a s - B o a s . c o m o cies q u e a vida estava t o m a n d o c o n t a de m i m . E r a u m a O jipe c h e g o u , m e levou. D u r a n t e a viagem p a r a
p e n e t r a v a m no m a t o . as d i f i c u l d a d e s q u e p a s s a m p a r a c a m i n h a d a q u e l i m p a v a . L i m p a v a t u d o q u e era d e n t r o ( a r a c a r a i m e a c a l m e i , s a b i a q u e o q u e t i n h a feito e r a
p a c i f i c a r . Eu n ã o e s t a v a i n t e r e s s a d a nisso. Éu q u i s mos- de m i m . O calor, o s u o r . a f a d i g a , o r u í d o s u r d o d o s pas- certo. C e r t o p a r a os d e m a i s q u e deixei p a r a t r á s e c e r t o
t r a r s e m p1 r e essa r e l a ç ã o h o m e m a h o m e m . para mim.

Por Claudia Andujar


\lex Solmk
TRABALHADOR Memórias, Histórias: o Dr. Getúlio Vargas No Beco Da Onça (Hoje Agua Branca,í
—Trabalhadores do Brasil! roupas limpas e em grupo ver Getúlio Vargas. Meu pai, Navio Negreiro, da Barra
Pé no chão, verminose, nariz moncoso, barriga de fora, atolado de trabalho na vendinha da Rua Caióvas número Presidente Altino e de Os
cabeça despenteada, fome na cara, a meninada negra pas- 59. Não ia. Aquilo nos valeu como um esparramado des Getúlio. Isso não era um
sava o dia na rua de terra, mexendo com carrinho de ro- prendimento. Como poderia alguém perder a oportu Confusa, era a nossa refe
lemã, papagaio, bola de vidro, balão, segundo a tempo- nidade de ver Getúlio? ("alemão batata come quei
rada. Uma vez chegou um carro das Industrias Reunidas —Eu vejo ele na moedinha. expressão o Eixo era di
Francisco Matarazzo para a entrega do açúcar vendido em Getúlio nas moedas menores. A negativa de meu pai safardanas que pretendiai
pacotes de meia arroba, pacotes azuis de faixa vermelha, 7 marcou para todos um alto sinal de renuncia. Como podia pequeno, nossas ruas de te
quilos e meio. Os homens taludos do caminhão metiam uns alguém dispensar tal oportunidade? Meu pai é que era era pespegada a admiraçãi
4 daqueles nas costas e iam rápidos, bíceps enormes, cin- homem. Boquejou-se essa qualidade digna por todo o Beco dos norteamericanos.Exer
turas finas, canelas finas, do caminhão à pilha de pacotes da Onça. Por uma semana. amizade. Nossos aliados.
no chão da vendola de meu pai. Quando um pacote no om- A força do velhinho, nunca vista; e depois, jamais re- Hitler era um verme; Mi
bro do homem sofreu um furo, o açúcar correu do cami- petida. Muitos anos me encabujou o fascínio do homem um sabido e Foosevelt, este
nhão à pilha, fino, fininho, pintando um rastro branco na que apareceu entre duas bandeiras brasileiras, de pé em O Beco da Onça, o Nã
terra da rua. A molecada faminta meteu a língua naquilo, carro aberto, sorrindo e estirando os braços para o alto no subúrbios perdoavam,cabe
barriga de fora, nariz ranhento. Esta cena, este aqui nunca portão de entrada da Feira das Nações Unidas. Água do a Canção d„o Expedicion;
pode esquecer e meu pai passou a dá-la como porrada Branca, São Paulo, Capital. No atopetado de gentes, de eu morra/Sem que volte f
viva quandc eu torcia o nariz e não queria comer. cavalinho nos ombros de um tio meu, vi Getúlio. com letra de Guilherme de
—Trabalhadores do Brasil! Seria papo para uma semana. Houvesse o que houvesse Itália. E quando voltaram
O Beco da Onça era getulista, negro, ne^róide, mestiço, com Getúlio era um referencial para a gente, corria com. a saimos de casáde madrugai
cafuso, mameluco, migrante, pobre, operário, corintiano agilidade dos rastilhos de pólvora, virava boato apetitoso e, Voltando daltália os pracin
roxo e paulista da gema, gente que só comia carne de de comum, estrondoso. Engraçado. Mesmo a meninada esculhambação desordem
galinha aos domingos, que andava de tamancos quando sentia que o poder de decisão estava nas mãos dele. Ninguém perguntou se
estava em casa para não gastar sapatos, que mandava —A lei. Ora, a lei. Itália. A guerra,o namorocorr
botar meia-sola nos sapatos, para quem ir ao cinema era Até esta posição ditatorial acabava soando simpática no aturdidos, malucos,desand
um acontecimento, que pagava os aluguéis com dificul- meio do povo do Beco da Onça, da Vila Pompéia, das intermináveis,nada disso n
dades e temia perder os empregos, que ia uma vez cada 6 beiradas da estrada de ferro, para os lados da Barra Funda velhinho estavaacima d o b
meses tomar banho de mar na Praia do Gonzaga, em San- e também em Presidente Altino e Osasco. O mundo era es- pulados, explorados, aguj$
tos, nos trens da Santos-Jundiaí, mas que acompanhava o se. E nele, com toda a força, a sensação que Getúlio trans- prego, gasogêneo eracionaí;
Coríntians em qualquer viagem que o clube fizesse. Tudo mitia era de proteção. Um pai dos pobres. o chão com alingua para lar
getulista. —A lei. Ora, a lei. de meia arrobaMuitos, osi
—Trabalhadores do Brasil! A gente sabia que não fora ele quem nos dera o black- estava acimado bem e do
42, 43 e 44. O que me sobra vivo desse tempo fica nas out. Mas seria provavelmente o homem que nos ia livrar —Trabalhadoresdo Bn
viagens ao Mercado Municipal a apanhar mercadorias nas dele. Assim, quando os pracinhas foram convocados para a Dutra, bom batuta, jxr
beiradas do Tamanduateí, a correria atrás do balcão guerra, imaginavamos o fim do black-out e nunca o inferno Barros, apesar dacaixinhai
enlitrando óleo decozinha.ensacando carvão ajudando meu da soldadesca na Itália. pulou de interventor a ga
pai. Havia o jogo de trilha à noite com os homens da sa- Protetor, moralizador, pai dos humildes. Então, Vargas. Prometeiiiaixar o<
caria, o Coríntians, o Palmeiras, o goleiro Oberdan, o boatavam exemplos. Um governo que governa sem nunca saltou em 250% em dois aa>
goleiro Rato, o Rio Aimberé, os caminhões pesados de ter saído do País, nunca ter saído do País. Nunca fez uma democracia. Falta de meró
areia, água pingando da carroceria, atrás do campo do Pal- só viagem ao exterior; um homem que pensa primeiro nos nas, os rádio cantavam e ap
meiras. Havia o murro da vida e o crioléu do Beco da Onça trabalhadores; um pai exemplar que corrige excessos. No Presidente
ou Navio Negreiro, conforme meu pai batisou, a Rua massacre do cine Alhambra — o incêndio era só na tela — Ademaií
Caióvas, número 59, o black-out fascinante, o Teatro San- morreram 30 meninos pisados na correria do povo apa- e Lucas i
tana, os seriados do cinema Avenida, na São João, o vorado com a sensação de incêndio do cinema. Getúlio Pra Gowi
Edifício Martinelli, o cachorro quente, o cine Alhambra e a legislou: veio a proibição para menores de 18 anos. Firme. É PTB <
voz de Getúlio Vargas: Ainda não era tempo do transistor, mas todos ouvíamos Com Luca
—Trabalhadores do Brasil! rádio. A noite, A Voz do Brasil era uma obrigação para se Nós vaupí
ficar sabendo das coisas; a possibilidade de se sofrer fome,
O U saía muito sulista, demorado, a língua do velhinho presente em todas as noites de black-out; o dinheiro curto, Pouca e fraca memória, C
demorando no céu da boca. Velhinho,nada. Moço e de tes- contado e recontado; havia bondes; os discursos de Hitler e Onça caiu de pau sobre o j
ta larga. O homem pertencia ao quadro de honra das Mussolini (gritados, de meter medo) eram apanhados clan- Culpado e respnsável portic
famílias, das paredes dos botequins, dos barbeiros, das destinamente, não se sabe como. Sentíamos temores assus- fila da carne Nessas filas, n
folhinhas. Em tudo: na fala do meu pai, um transmontano tados, escorregadios, pontudos. Mais do que tudo, um pé mistura da farinha com fubás
chegado ao Brasil - uma mão na frente, outra atrás - com atrás com os italianos, os alemães e os japoneses, a quem levantou grana altaA culpi
30 e poucos dias de idade e, logo, mais brasileiro que eu. chamavamos sonsos. Fora do rádio, as caricaturas de Bel- —Trabalhadores doBns
Getúlio estava até no dinheiro, gravado nas moedinhas monte na "A Gazeta", a presença de " O Cruzeiro" (mais Mamãe tirou título de e(i
amareladas. Saltava nas conversas dos operários, carre- na ultima página). No tempo da guerra, o povo do Beco da de quase um dia para voíi
gadores profissionais,homens do frigorífico, da estrada de Onça vivia informado ou tentando. Esses movimentos e es- Geraldo, lá nas Perdizes, j
ferro, do cortume do Largo da Pompéia, da Vidraria Santa ses rumores alertavam meu avô Virgínio que meneava a meu pai continuava estrana
Marina, das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. O cabeça, com exemplaridade: tou uma raiva:
argumento era bem assim: Getúlio fizera as leis das férias, —Se estão elegendo o h^
da indenização e alguns diziam que já não trabalhavam —No meu tempo de menino, garoto nenhum nem mes- derrubar?
como escravos. Ferviam ainda o fanatismo, o fascínio, o mo sabia quem era o Presidente da República. Getúlio na democracia, !
talento político do homem, o sorriso do velhinho fazia a Getúliu deposto, eleições a vista, só se falava. Dutra abertos, ferozes apoquenüi
gente trabalhar. Nem era um velhinho, aí está. Moço, testa seria bom, Getúlio dizia que ele era. O velhinho, uma len- sabia que a caixinha,o logrí
larga, baixote, barrigudinho, fotografias não o traziam de da acima de quaisquer suspeitas. Eduardo Gomes e protecionismo,os tubarões il
óculos e era vistosamente simpático. Remexia as emoções: Ademar, dois gostosões, faziam sucesso na ala feminina. azeite, do pão dos aluguéis
—Trabalhadores do Brasil! Getúlio era geral. Só ele tinha a chave: frouxa e apostava alto.Neíi
Um dia, veio a São Paulo. A crioulada do Beco da On- —Trabalhadores do Brasil! velhinho fazií ministros e c
ça, os negros eram maioria - se arrumou e foi ver. Havia, Os boatos repetiam uma vida limpa, sofrida, de vítima e teiras maquiávelicas— d'z
onde é hoje a Sears, defronte às Indústrias Reunidas Fran- sem bandalheiras. Os outros eram pândegos, mentirosos, Chateaubriand.O povo lis
cisco Matarazzo, um pavilhão, a Feira das Nações Unidas. prometiam não cumpriam, oprimiam e enganavam,usavam Boatava-se àgrande. Aro
A gente se aprontou, era ali pertinho, fomos aprumados em impunemente. Getúlio, não. Os olhos do Beco da Onça ou dei de cara com um sujeitos
£S DO BRASIL!
IP Pela Ótica De Um Dos Seus Mais Famosos Ex-Habitantes, o Escritor João Antonio.
Funda, da Agua Branca, de da Moeda acumulando funções na fiscalização da Renda gauchamente, era um carioca, no fundo: mordia e depois
asco viam—homem bom era que me deu, em boa voltagem alcoólica numa uisqueira da soprava., Que molhava a ponta do indicador na boca, es-
sentimento confuso, Rua da Assembléia, esta história, dos tempos de Getúlio. tendia o dedo e sabia para onde ia o vento. Que mani-
ição aos japoneses, alemães, Era o barbeiro do Getúlio e sua vida ia bem. Aquele, pulou os trabalhadores e namorou o fascismo nos seus
o com barata") italianos. E a nas manhãs, exatamente às 7 horas, barbeava o presidente quinze anos de ditador. Que, na volta à presidência, sentiu
o definindo uma cambada de que se acariocara integralmente, vestia terno branco, trazia que o mar de lama era ele mesmo e suas intrigas palacianas
n o mundo. O nosso mundo charuto nos dedos, usava óculos, barrigudinho, asséptico e, e tratou de jogar a culpa e responsabilidade nos outros, até
rra vestíamos pobremente e nos de forma, elegante, além do fascínio, do sorriso, da boa nos filhos, filhas e, triunfalmente, constituiu-se num herói
ipelas qualidades magníficas figura. Uma manhã, Getúlio aparece de bom humor do- de dimensões trágicas. Gregamente marcou o momento de
íplo de capacidade e padrão de brado. Sem pressa, estende um oferecimento ao barbeiro, sua morte. Perdido, proclamou-se um nacionalista e um
depois de varias perguntas: mártir da nossa independência econômica — nossos ex-
issolini,uma besta; Churchil, —Mas você não precisa de nada? Nem de um emprejo ploradores vinham de fora e aqui eram auxiliados pelos
sim, um grande homem. público? crápulas de dentro. No fim, como não podia deixar de ser,
3 Negreiro e outros bairros e A vida do barbeiro vai bem, ganha o suficiente e tem estava só. E bem.
:a alta e baixa, o rádio cantan- até certas imunidades. Mas o presidente insiste, há uma Toda essa argumentação não comovia nem convencia o
irio ("não permita Deus que tensão, é preciso pedir alguma coisa. Pensa, repensa e no povo desconfiado do Beco da Onça e do Navio- Negreiro.
ra lá") um verdeamarelismo clima de sorrisos, joga: Suicídio? Uma conversa pra fazer boi dormir. E, como
\lmeida, a ida dos pracinhas à —Fiscal da Fazenda. naqueles tempos:
sm 45, fomos ao Pacaembu, O ditador pede papel e o nomeia decretando federal-
Ia para ver os que sobravam, mente da cadeira de barbeiro. Seria, a partir daquele "Não faça hora comigo
tias fizeram uma variedade de momento, fiscal da Fazenda com uma obrigação, a de fazer Que eu não sou relógio
.excessos na cidade, a barba presidencial todas as manhãs às 7 em ponto. Da Praça da Sé"
lão teriam enloquecido na Corre, o tempo corre e, de novo, uma manhã de ad-
0 Eixo, a volta dos pracinhas mirável bom humor na vida de Getúlio. Já fiscal da Fazen- Até as beiradas de 70, seu nome era legenda e presença
indo em besteiras e bebedeiras da e ainda barbeiro, o profissional da navalha ouve nova e em lugares inesperados. Vi retratos de Getúlio em ga-
lexeu com a gente.O sorriso do polpuda oferta: pedisse o que quisesse em matéria de em- fieiras, em restaurantes da Praça Tiradentes, em barbeiros,
:m e do mal. Éramos mani- prego. Já tinha e dois, excelentes. Getúlio, paternal, insiste. em farmácias antigas. A parede principal da Estudantina
aramos black-out e desem- O barbeiro justifica a sua negativa. Getúlio fecha o cerco, o Musical tinha uma imagem de São Jorge ao lado de um
,ato, nossos meninos fuçavam velho sorriso. Nova tensão e o presidente ajuda: retrato de Getúlio.
ter o açúcar que caía do saco —Mas você não tem nenhum amigo que esteja mal de
ilpados pelá carestia. Getúlio vida? "Bota o retrato do velho outra vez
mal. O barbeiro, depois de Fiscal da Fazenda, já não tem Bota no mesmo lugar"
il!
amigos mal de vida. Büsca e rebusca alguém que esteja
|ue Getúlio dizia. Ademar de , necessitado. Lá do fundo do poço, traz a figura de um im- Onde a alquimia do fascínio, o talento político, a
loral, safadezas e desmandos, becil, um estúpido, um tal Manoel Floriano, de incom- matreirice de Getúlio, dos Getúlios? Afinal, em 21 anos
nador, levado pela mão de petência e mau humor famosos no subúrbio carioca em que depois de sua morte, quantos gaúchos da região da fron-
sto de vida e o custo de vida mora, a ponto de correr na boca dos gaiatos: teira ocuparam a presidência — Jango, Costa e Silva,
1 (46 a 48) de restauração da —Manoel Floriano é uma besta. Sofre de complexos de Médici, Geisel....Qual a alquimia?
íana volta de Getúlio às ur- coice.
O povo do Beco da Onça nunca teve dinheiro para ir ao
nte entoava, acompanhando: Floriano vive aos coices com o mundo, tem uma gros- Rio Grande do Sul. Mas se tivesse e fosse lá, talvez aten-
Getúlio, sura azeda, uma burrice estrondosa e uma redonda ausên- tasse para um ponto — no Sul se desenvolve cedo, o co-
enador cia de qualquer habilidade. Então, por que não atirar o nhecimento da marcação do tempo, o momento maduro
íarcez coitado do Manoel Floriano naquele jogo? de entrar ou sair, a hora certa de falar ou não. O ir e o vol-
nador Da cadeira de barbeiro, o Presidente Getúlio Vargas tar, dentro da oportunidade, direitinhamente.
PSD! nomeia, através de um bilhete um novo fiscal de Renda, Há o chimarrão tomado no
Garcez cargo próprio para bacharéis em Direito, quando não
vencer" galpão. Ele corre a roda, d
economistas, mas sempre gente que tenha conhecido boca em boca. E a gurizada
iu Getúlio em 45 e o Beco da universidade. aprende cedo que há pouco
:neral Eurico Gaspar Dutra, O mar de lama, a morte de Getúlio, as dúvidas que tempo para falar, há muito
o: fila do pão, fila do açúcar, levantou, Gregório Fortunato, Samuel Wainer, Lacerda, tempo para ouvir e há tempo
mito padeiro fez fortuna na Zenóbio da Costa, Jango, Oswaldo Aranha, Alzira Vargas, certo para cada coisa nesta
muito produtor de rapadura Amaral Peixoto — tudo isso na velocidade de agosto de roda de chimarrão também
? De Dutra. 1954, os acontecimentos se atropelando, vão encontrar o chamada vida. A musica
I! povo do Beco da Onça e do Navio Negreiro sumido ou dis-
popular flagrou, bem rente:
itor e pegou, coitada, uma fila perso na poeira dos anos.
r nas urnas da Igreja de São Para aquele povinho no entanto, mais do que um pesar, "Bota o retrato do velho outra vez
bespinhado, fumando muito, uma dor, uma mágoa, a morte de Getúlio teve o gosto as- Bota no mesmo lugar"
;iro não naturalizado. Susten- sim como de algo errado no sentido da queda do sacros-
santo. A morte do velhinho valeu, como uma cena desnor-
nem de novo, por que o foram teante e desrespeitosa. Quase imoral. Imaginem isto: de JOÃO ANTONIO
repente, no silencioso e gregoriano de uma igreja respei-
utro homem. Tinha desafetos tável desfila uma mulher nua.
os. acordados e sequiosos? se Uma porrada indesculpável e ninguém acredita em
, a prevalência, a ladroeira, o suicídio. Nem a carta que o velho deixou. Para aquele
) açúcar, do leite, da carne, do povo, a carta é conversa dissimulada, manipulada, mais
i ratatuia andava solta, corria um engodo. Leu-se a carta, ouviu-se a despedida pelo rádio
tudo era Volta Redonda. O e se chorou. Tudo bem. Mas no fundo, se teve para ela, o
epois os derrubava com ras- mesmo desdém do velhinho diante da lei escrita e promul-
ia o senhor jornalista Assis gada. A carta intencionava ter força de lei. Mas:
—A lei? Ora, a lei.
> depois, já nos anos sessenta, Que fazia ministros, ate para se ver livre deles. Que dava
Rio, alto funcionário da Casa com uma mão e tirava com as duas. Que, sorrindo muito e
4, Setembro, 1954.
'Quando cruzei os portões do
Palácio do Catete, naquela
manhã fria de 24 de agosto,
não poderia supor que ali iria
assistir ao desenrolar do mais
dramático episódio da nossa
história política e dele
participar até certo ponto.
Era a primeira vez que entrava
no Catete, e, ao fazê-lo, tive
a sensação que estava
descobrindo um mundo novo e
penetrando em território
proibido. Eram 5 e meia da
manhã. Terminara há pouco a
reunião dos ministros com o
Presidente, na qual ficava
assentado que o sr. Getúlio
Vargas deixaria o cargo por 3
meses, sendo substituído pelo
Vice-Presidente Café Filho.
Todos os titulares haviam
partido, e, a não ser os
srs. Lourival Fontes e general
Caiado de Castro, não
restava no Palácio nenhum
outro auxiliar de categoria da
presidência. Reinava o mais
absoluto silêncio nos jardins
e no interior do palácio.
Silêncio e tristeza. Os
soldados do Exército, que haviam
feito p policiamento
interno do Palácio durante
a madrugada, iam aos poucos
ganhando a rua, de volta
aos quartéis. Um continuo
dizia, junto a este repórter, que,
até aquela madrugada, e desde
que a crise começara,,todos os
funcionários do Catete
estavam munidos de armas
automáticas. Aliás, ainda
se podia ver, junto aos
grossos troncos de
figueiras dos jardins, ninhos
de metralhadoras e trincheiras
de sacos de areia. Pelas 6 h
da manhã, d. Darcy Vargas
apareceu numa das janelas dos
fundos da residência,
de óculos escuros, chorando.
Vi o sr. Arisio Viana,
diretor do DASP, entrar e
subir para os aposentos
presidenciais.
Vi o sr. Lourival Fontes sair,
depois de encher o porta-malas de
seu carro de livros e papéis.
Permaneci assim durante
PO.A ÚLTIMA VEZ LM PÚBLICO ,mais de 2 horas, presenciando
o movimento rotineiro dos
funcionários da casa.
Num dado momento, porém,
o sr. Arisio Viana
chegou à portaria correndo,
atônito.
Tomou o telefone e, -
extremamente nervoso,
incontrolado, pediu linha à
telefonista.
Não conseguindo , o sr.
éé
Colt", Calibre 32.
Arisio Viana, excitado, A história de Arlindo Silva não mostrado no número seguinte da deixadas pelo percusor naquele es-
deu violento murro no entrou na edição de O Cruzeiro <jue revista. touro com as de um outro estojo
balcão, exclamando: saiu logo após a morte de Getúlio Por causa das declarações de padrão, obtidas por nós em dis-
"Como é que deixaram este (28/8/54). A revista já estava' pron- Lima Júnior, o perito Antonio paros efetuado$ em laboratório.
homem sozinho, meu Deus?" ta quando o presidente se matou: Carlos Villanova, getulista convicto Verificou-se facilmente que no es-
Compreendi que se passara 550 mil exemplares falando no que fez o levantamento técnico do tojo fatal as marcas estavam bas-
algo extraordinário. O sr. envolvimento de Gregório Fortu- suicídio, consèguiu autorização do tante acentuadas, indicando dis-
Arisio Viana nato, O Anjo Negro de Getúlio, no Instituto de Criminalística para se paro processado com o cão ar-
continuou insistindo na atentado contra o então jornalista defender. E o Cruzeiro 550 mil mado. Qualquer dúvida de que
ligação, sem Carlos Lacerda, em que morreu o exemplares apresentou sua en- aquele tivesse sido o revólver que
consegui-la. Desesperado, major Rubens Florentino Vaz. trevista a Arlindo Silva e o ma- | vitimou o presidente (colt, calibre
deixou o fone no Para dar o suicídio, no número terial de perícia como "exclusi- ! 32, número 148.756) foi dissipada
gancho e saiu seguinte, o I o de setembro, a revis- vidade úiundial". Trecho da en- j com o confronto acima referido , e
pedindo a um continuo que, ta não mudou de estilo. Na capa, o trevista: : <com aquele outro realizado sobre o
pelo telefone oficial, rosto de uma mulher bonita. Mas a "A hipótese de que o presidente projétil extraído do corpo do
chamasse o pronto-socorro, tiragem passou a 700 mil exem- tenha sido assassinado é absoluta. p r e s i d e n t e q u a n d o do exame
para um "caso de ferimento plares, até hoje não superada no Isso porque: 1 - não registramos o cadavérico e que verificamos ter
grave" país, embora o número de habitan- mínimo vestígio de luta, ou ação de sido incontestavelmente expelido
O contínuo, apalermado, tes tenha dobrado. Durante setem- qualquer pessoa, quer nos aposen- pelo mencionado revólver".
ficou paralisado. bro, a tiragem se manteve: cenas do tos presidências, quer no corpo do
Tomei então a iniciativa de velório, reação popular, agitação próprio presidente; 2 - o disparo O Cruzeiro não circula mais,
tentar uma linha atribuídas ao Partido Comunista, que roubou a vida de Vargas foi morreu aos 47 anos. Seu último
pelo telefone comum denuncias de corrupção - o cha- efetuado com a arma colada ao al- número , deste ano, com Pele' na
e fui feliz. mado Mar de Lama vo. Foi efetuado na região precor- capa, nem foi retirado das bancas.
Liguei para o Depois que Getúlio foi enter-, dial, na altura do mamelão, e atin- Seu título agora é propriedade de
pronto-socorro da rado, O Cruzeiro passou a contar giu primeiramente o bolso do Hélio Lo Bianco, antigo diretor de
Praça da República e sua vida em capítulos, com muitas paletó do pijama, tendo a massa de publicidade da revista, que lhe
pedi uma ambulância para ilustrações. Era um presidente gases provocado a ruptura do panó devia 2 milhões em salários e
atender um caso de bom, mas cercado de aproveita- daquele bolso, conforme se pode comissões. No momento,Bianco
"ferimento grave". dores, dava a entender a revista, verificar examinando-se a foto- não sabe o que fazer com o título,
Somente minutos mais tarde que o combatia violentamente. grafia da peça. O disparo, portan- avaliado em 5 milhões . Acha que a
vim a saber que o pedido de O Cruzeiro continuou vendendo to, está bem distante da axila; 3 - a revista está muito desacreditada,
socorro era para o a morte de Getúlio durante muitos mão esquerda do presidente mos- depois da longa crise financeira
próprio presidente Vargas. anos. Em 1958, quase 4 anos trava resíduo anegrados, carac- que a fechou. Arlindo Silva é agora
O destino dera essa tragica depois, ainda se levantava a pos- terístico de polvora combusta, assessor de imprensa do Grupo Sil-
tarefa a um repórter que sibilidade de assassinato. Isso por- como posterioremente foi, aliás, vio Santos.
nunca antes havia entrado no que os documentos oficiais sobre o verificado em exame de Labo-
Palácio do Catete. suicídio ainda não tinham sido ratório. Tal fato nos indicou que a
Mas quando, pouco depois, divulgados. A revista só conseguiu arma fora por ele sustida contra o
os médicos e enfermeiros publicá-los no dia 4 de agosto de peito com as duas mãos, o que tor- (Luiz Guerreiro, nosso enviado
chegaram, era tarde demais. 1958. nava necessário para a auto-eli- especial a
O chefe da equipe médica minação com disparo feito na
coleção de O Cruzeiro)
desceu e disse: Mesmo assim, o historiador região precordial. Outrossim, o
"Não há mais remédio. mineiro Augusto de Lima Júnior exame do picote do estojo do qual
O presidente está morto". insistia em que o laudo não provava saiu o projétil que o matou veio
o suicício, também nas páginas de mostrar que tal disparo fora
ARLINDO SILVA. O Cruzeiro. F a l t a v a m m u i t o s efetuado com a arma engatilhada,
detalhes, como testes de labora- isto é com o cão armado, o que se
tório e as fotos feitas pela polícia no verificou no exame microscópico do
quarto do presidente. Tudo foi confronto, comparando as marcas
Esta reportagem
de Arlindo Silva saiu
na edição
de O Cruzeiro do dia
4 de setembro de 1954.

O P R O J É T I L que fulminou o ex-Presidente Vorgai AS DEFORMAÇÕES constatadas m u l t a m do fato TESTES periciais demonstraram que o projétil foi
de ter a balo atingido partes ósseas do suicida. realmente expelido pelo " C o l t " do Presidente.
foi fotografado d . todos o» ângulos pelos perito..
6, Fevereiro, 1955.
O association c o n t i n u a a i m p o r o seu
r e i n a d o , dai o t u m u l t u a n t e c e n á r i o que
c s t a v a m o s v e n d o n o p r ó p r i o d a munici-
p a l i d a d e . A t r a n s c e d e n t a l i m p o r t â n c i a do
cotejo a u g u r a s o m b r i a s previsões no te-
r r e n o esportivo e disciplinar. Daí. esperar-
mos t u d o desse Derby. E v a m o s a ele den-
tro d o escassíssimo t e m p o hábil q u e dis-
p o m o s p a r a redigir esta depretenciosa
crônica.

II »f" "•1TTTTTT
WÊÊ S u r g e o P a l m e i r a s , com camisetas
mi
**
a / u i s - a n i l . U m a r e c e p ç ã o m o r n a . Mas em
s e g u i d a , senhores, e n t r a n d o pelo outro
MIHM^MHiiNi túnel, eis q u e surge o alvi-negro de Unifor-
m e novinho. E s t o u r a u m m o r t e i r o que
f r a n c a m e n t e p o d e e s b o d e g a r os ouvidos do
público. E. por q u e n ã o dizer os nossos
também.
O P a l m e i r a s c o m e c a p r e j u d i c a d o . Vai
j o g a r c o n t r a o vento q u e b a t e forte con-
tra a m e t a dos portões m o n u m e n t a i s , que
será d e f e n d i d a pelo a r q u e i r o Laércio.
M a s . eis q u e o cotejo tem o seu início, com
D e m a p a s s a n d o p a r a o J a j á Rosa Pinto.
Ele m a n o b r a pelo meio e t e n t a de longe
um tiraço p a r a a m e t a de G i l m a r . Mas o
tiro sai f o r a . torto.
Rafael recebe u m a bola no bico direito
da g r a n d e área. E e x p l o d e um centro. Sal-
t a m vários j o g a o r e s . m a s um deles, no
meio de todos, coloca a bola. com o co-
c o r u t o . p a r a o f u n d o d a s redes de Laércio.
É L u i s i n h o . o P e q u e n o Polegar. o autor do
gol. aos 11 m i n u t o s d o p r i m e i r o tempo. A
m a s s a t o r c e d o r a está f a z e n d o u m a grande
festa.
O prélio e s q u e n t a com o gol d o Corin-
lians. M a s G i l m a r está e m b o l s a n d o tudo.
H u m b e r t o nos p a r e c e nervoso, perdendo
c h a n c e s m u i t o b o a s p a r a s u a s cores. Q u e m
esperava u m a p o r f i a violenta, está se en-
g a n a n d o . E p a ! Assim foi q u e i m a r a lín-
g u a : n ã o é q u e o L i m i n h a a c a b a de d a r
um p o n t a p é sem bola no H o m e r o ?
Aos 25 m i n u t o s t e m o s u m a invasão do
g r a m a d o . São guardas-civis. repórteres,
fotógrafos. U m episódio d e s a g r a d á v e l , que
aos poucos é c o n t o r n a d o . M u i t o nervosis-
m o . m a s n ã o há n a d a grave a t o l d a r a at-
m o s f e r a -animada d o Derby.
Nota-se u m a p r e o c u p a ç ã o m u i t o gran-
de d a defensiva alvi-negra: evitar faltas
p e r t o d a á r e a . T e m e m a violência do
p e t a r d o d e J a j á Rosa Pinto. M a s . surge
•tinia boa c h a n c e p a r a o P a l m e i r a s . Idário
toca a c i d e n t a l m e n t e com a m ã o na bola e
o juiz E s t e b a n M a r i n o assinala h a n d s . Jair

r
. e x p l o d e o tiraço, m a s G i l m a r voa e cede

„ o e n o n z o / escanteio.

IV CENTENÁRIO.
A e t a p a inicial t e r m i n a c o m a van-
t a g e m no p l a c a r de 1 a 0 p a r a o C o r í n t i a n s
P a u l i s t a . A i m p r e s s ã o q u e ficou é q u e o
vento a j u d o u m u i t o o t i m e comandado
pelo jovem e p r o m i s s o r O s v a l d o B r a n d ã o .

A e t a p a final c o m e ç a com o sol a i n d a


m u i t o q u e n t e . O Derby revive u m a d a -

HQMEtJAGEM DE A GAZETA ESPOQT/VA q u e l a s t a r d e s p a r a e n q u a d r á - l a em mol-


d u r a p o r t e n t o s a . Ao se reiniciar o cotejo,
R o d r i g u e s d e s p e r d i ç a excelente opor-
t u n i d a d e , f r e n t e a f r e n t e com G i l m a r .
M a s . aos 5 m i n u t o s , eis q u e surge o t e n t o
de e m p a t e . H o m e r o c o m e t e i n f r a ç ã o em
L i m i n h a , na linha de f u n d o , à e s q u e r d a :
b a t e Jair. com r a r o efeito, j u n t o ao poste
direito. I d á r i o s u s p e n d e d e c a b e ç a e a
bola viaja d e n t r o d a s redes. E, a g o r a , aos
5 m i n u t o s d a f a s e final, estão Sport C l u b e
C o r i n t h i a n s e S o c i e d a d e Esportiva Pal-
m e i r a s e m p a t a d o s : 1 a 1! O e m p a t e dá o
titulo ao alvi-negro. a vitória d o P a l m e i r a s
coloca os 2 em 1°. l u g a r . Se o C o r i n t h i a n s
p e r d e r è não p a s s a r pelo São Paulo, do-
m i n g o q u e vem. o P a l m e i r a s é c a m p e ã o .
Ex-14
Se p e r d e r h o j e e g a n h a r d o m i n g o , h a v e r á
mais u m D e r b y c o m o esse, c a l o r e n t o e
emocionante.
C) e m p a t e p a r e c e a b a l a r o C o r i n t h i a n s .
que já n ã o d e t é m a v e l o c i d a d e ofensiva d o
alvi- verde, ao p a s s o q u e s e u s ' a t a c a n t e s
ficam c o m o q u e p a r a l i s a d o s n o m e i o d o
c a m p o . G i l m a r , em d u a s e x t r a o r d i n á r i a s
ocasiões n e u t r a l i z a , e m c o n d i ç õ e s deli-
cadíssimas, especialmente u m a cabeçada
de L i m i n h a d e s v i a d a c o m a p o n t a dos
dedos, está t r a n c a n d o a s u a m e t a .
Já está n a lpora d o j u i z E s t e b a n M a r i n o
trilar o a p i t o . M a s eis q u e t e m o s , n o úl-
t i m o m i n u t o , a m a i s incrível o p o r t u n i -

Um Lídimo Campeão
dade. Cação falha, é desarmado, e Rafael
lica s o z i n h o com Laércio. Q u e r se
aproximar demasiado para a conclusão e
dá t e m p o p a r a q u e o a r q u e i r o se atire aos
seus pés d e s t r u i n d o a -grande c h a n c e d e S a n g u e , suor e l á g r i m a s , eis o p r e ç o d o PAU—DE—SEBO I.ocal - E s t á d i o M u n i c i p a l d o P a c a e m b u .
vitória. Laércio se m a c h u c a e o prélio vive Derby. F i c a r a m as l á g r i m a s p a r a uns e o Juiz - F.stebari M a r i n o
s a n g u e se c o n v e r t e r i a em j o r r o s d e j ú b i l o 1) - C o r i n t h i a n s - c a m p e ã o - 10 P.p.
seus ú l t i m o s m o m e n t o s de m o n u m e n t a l Gols - Luisinho. aos 11 d o I o . e Nei. aos 5
p a r a o u t r o s . Foi a m u i t o c u s t o q u e este 2) - Palmeiras. - 13
expectativa, até o a p i t o final d e E s t e b a n do 2 o .
r e p ó r t e r c o n s e g u i u a l c a n ç a r os c a m a r i n s , 3) - São P a u l o - 15
Marino. R e n d a - 1.233.055 cruzeiros.
invadidos por u m a verdadeira onda. 4) - S a n t o s - 18
C o r i n t h i a n s , C a m p e ã o d o 4 ° . Cen- l imes - C o r i n t h i a n s : G i l m a r . H o m e r o e
humana. - P o r t u g u e s a de D e s p o r t o s - 22
tenário da c a p i t a l b a n d e i r a n t e ! A l a n ; Idário. G o i a n o e R o b e r t o ; C l á u d i o .
No l a d o alvi-negro, o m á x i m o m e n t o r 6) - XV d e Jaú - 25
O q u e a c o n t e c e neste final é a l u c i n a n t e Luisinho. B a l t a z a r . Rafael e S i m ã o . Téc-
d o clube. A l f r e d o Inácio T r i n d a d e , exul- 7) - G u a r a n i - 26
c apoteótico. Os jogadores corinthianos nico: O s v a l d o B r a n d ã o . P a l m e i r a s : Laér-
tava. Rafael d e s m a i o u , G i l m a r e r a o m a i s 8) - P o n t e P r e t a - 27
saltam d e j ú b i l o , a l g u n s arrancando cio. M a n u e l i t o e C a ç ã o ; Nilo. F i u m e e
c u m p r i m e n t a d o . O solerte L u i s i n h o . a u t o r 9) - Linense - 31
c a m i s e t a s , ao p a s s o q u e a m a s s a t o r c e d o r a D e n t a : L i m i n h a . H u m b e r t o . Nei, Jair da
d o gol. n ã o cabia em si d e alegria. O 10)- Sao Bento, Noroeste e 15 d e Piraci-
i m p e t u o s a , viola o a l a m b r a d o s e festeja os Rosa Pinto e Rodrigues. T é c n i c o : A i m o r é
p r ê m i o pela c o n q u i s t a d o título foi logo c a b a - 32
campeões. Moreira.
a n u n c i a d o : 100 mil c r u z e i r o s p a r a c a d a 1 1 ) - J u v e n t u s - 33
plaver. 12) - I p i r a n g a - 36 T e x t o de José T r a j a n o . nosso e n v i a d o
especial à edição de A G a z e t a Esportiva de
No l a d o alvi-verde. o t é c n i c o A i m o r é GOLEADORES 8 de fevereiro de q u e vendeu 203.040
M o r e i r a dizia q u e o prélio foi d i s p u t a d o exemplares!!
ardorosamente. Humberto se queixa 1) - H u m b e r t o ( P a l m e i r a s ) 36
d a f a l t a de sorte, q u a n d o a bola b a t e u n o 2) - G i n o (São Paulo) - 18
seu joelho e ele n ã o p o d e finalizar, f r e n t e a 3) - O s v a l d i n h o ( P o r t u g u e s a ) , R o d r i g u e s
f r e n t e com G i l m a r . L i m i n h a elogiava a ( P a l m e i r a s ) e A m o r i n (Juventus) - 15
atuação do arqueiro corintiano, dizendo
q u e "ele d e f e n d e u n ã o sei c o m o a c a b e - TRAJETÓRIA DO CAMPEÃO
ç a d a q u e dei com e n d e r e ç o c e r t o " .
C o r i n t h i a n s - 25 jogos, 17 vitórias, 6 e m -
Pelas r u a s da noite e n l u a r a d a de 6 de pates e 2 derrotas.
fevereiro de a legião d e a d e p t o s d o
c h a m a d o c l u b e d o povo invadiu e alegrou N Ú M E R O S DA PORFIA
a m e t r ó p o l e , d a n d o j u s t a e x p a n s ã o ao seu
j ú b i l o pela histórica c o n q u i s t a d o título d e Sport C l u b e C o r i n t h i a n s 1 x S o c i e d a d e Es-
" C a m p e ã o dos Centenários". portiva P a l m e i r a s 1.

Os censores deste
jornal recomendam:
use calças e
camisas do
Jeans Store.

São Paulo: Alameda Lorena, 718; Rua Iguatemi, 455; Alameda Jaú, 1423; Rua Maria Antônia, 116; Rua Princesa Isabel, 235 - Brooklin; Shopping Center Continental - Osasco.
Rio: Rua Santa Clara, 50 - Copacabana; Rua Visconde de Pirajá, 82 - Ipanema.
BRASIGUAY
Ex-14

Se eu tivesse d e b a t i z a r , seria Brasi-


guav. Nessa região s u r g e m ou crescem
c i d a d e s e povoados. C o m o S a n t a Rosa,
H e r n a n d á r i a s . C o r p u s Christi e P a l o m a .
Há a n o s era u n i a á r e a d e s a b i t a d a n o in-
terior d o P a r a g u a i . Hoje é o l u g a r de
a g r i c u l t u r a m a i s desenvolvida.
Não se laia m u i t o o p o r t u n h o l . a mis-
lura d e línguas. A p e n a s o p o r t u g u ê s dos
colonos mineiros, paulistas, c a p i x a b a s ,
nordestinos, g a ú c h o s e p a r a n a e n s e s , o
Uilar d o h o m e m d a t e r r a . Nas escolas, o
g u a r a n i é e n s i n a d o às c r i a n ç a s brasileiras,
louras, p r e t i n h a s . I o d o s os d i a s . três,
q u a t r o famílias a t r a v e s s a m essa f r o n t e i r a ,
s e j a - p e l o s .100 m e t r o s d e P o n t e d a Ami-
zade, ou pelos mil m e t r o s d e á g u a b a r r e n -
ta d o P a r a n à z ã o .
Atravessei o P a r a n a z ã o em G u a í r a .
Mas tive a e s t r a n h a s e n s a ç ã o d e estar
v i a j a n d o no t e m p o . O K s t a d o d o P a r a n á
a c a b a ali. c o m o eu s a b i a , o f e r e c e n d o d u a s
saídas. M a t o G r o s s o e P a r a g u a i . M a s não
a c a b a , a p r ó p r i a g e o g r a f i a d e u opções:
c o n t i n u a prá c i m a . p r o c u r a n d o Acre e
R o n d ô n i a : em Irente n a s t e r r a s para-
pulavím: SOO inil hab g u a i a s . i g u a l z i n h o às p a r a n a e n s e s .
( apitai llaipu Depois d e viajar d i a s n o roteiro
I amoniia: soja, gado, trigo.
< .L-otiiiiiia: são 2 mil Km de (romeiras, M a r i n g á - G u a í r a . n o r a s t r o d a s cidades
enlre o Brasil c os 4 países que com ele n a s c i d a s por c a u s a d a t e r r a , c o l o n i z a d a s e
lormam a Bacia do Prata. Uma das maiores fron- crescidas em m e n o s t e m p o d o q u e t e n h o

SSIIl
teiras agrícolas do mundo; em suas de vida. e n c o n t r e i a o vivo o c e n á r i o e as
terras estão ainda pontos turísticos
histórias c o n t a d a s pelos p i o n e i r o s , sejam
grandiosos, como as cataratas do Iguaçu
e Sele Quedas; e ambiciosos projetos em d e U m u a r a m a . P a l o t i n a ou G u a í r a .
Ü Ü execução: represas, extração de ferro de E s t r a n h a t a m b é m a s e n s a ç ã o de ver
Yltitúm lliolivia), exploração de gás em c o m o o povo a n d a . S u a a v e n t u r a é do
SSVÍIÍÍ
>
II Santa C ru/ Boliviai, ja/.idas de minérios
(La Paz L . •.. l• \ina/oma), 'estradas e pontes de leste a t a m a n h o d e sua t r a g é d i a . O h o m e m não
©•"tf oeste. " p a i s " foi descoberto pelos e n c o n t r a m a i s lugar, a t e r r a está toda
repórteres Hamilton Almeida Filho, o c u p a d a , v a l o r i z a d a , d e leste p a r a oeste.
Mário de Andrade e Leonardo Santos, numa Já c o n s t r u i u as c i d a d e s , já p l a n t o u , colheu.
BOLÍVIA reportagem para o lançamento do jornal
I'.moram.i. de Londrina. PR, em março.
O t e m p o p a s s o u , a t e r r a c a n s o u e a fome
d o m u n d o a u m e n t o u . O e s p a ç o , q u e era
• e n o r m e . Ilcou p e q u e n o p a r a as g r a n d e s
p l a n t a ç õ e s , p a r a as m á q u i n a s q u e vieram
substituir o homem p i o n e i r o (a c o r r i d a
pela m e c a n i z a ç ã o c o m e ç o u e m 1 % 8 e
a l i m e n t o u com o II P l a n o N a c i o n a l de
Desenvolvimento, q u e q u e r r e e d i t a r no
Brasil a " e c o n o m i a d e m e r c a d o " , ao estilo
dos L s t a d o s U n i d o s , t a m b é m n o c a m p o ) .
Pode-se n ã o s a b e r p a r a q u e serve a
Asunción soja. m a s é preciso p l a n t á - l a j u n t o com o
trigo, p o r q u e o c a f é n ã o a l i m e n t a m a i s
n i n g u é m . Não c o n t e n t e d e t o m a r o c a m p o
( s c a l e / a i s estão i l h a d o s por seu verde
claro), a soja invade n a s c i d a d e s os q u i n -
tais. p r a ç a s e até c e m i t é r i o s .
A p e q u e n a p r o p r i e d a d e n ã o serve p a r a
o boi. o g a d o . M a s o g a d o serve p r a se-
g u r a r a terra c a n s a d a , d á m a i s lucro.
( DiiKi eu ouvi isso: " O n d e e n t r a o boi sai o
ARGENTINA h o m e m " . Viajei o c a m i n h o d o colono, via
.1 história m u d a n d o . O m i n i f ú n d i o d o c a f é
na. d a n d o m a i s p a r a a u m e n t a r as t e r r a s
Santiago com o lucro de u m a s a f r a . Assisti à m o -
r > w i m n i a ç a dos novos d o n o s d a s t e r r a s , os
Montevidéu t a / e n d e i r o s de g a d o . os p l a n t a d o r e s d e
Buenos Aires MATO GROSSO
MINAS GERAIS -oja c trigo, voltados p a r a a c o t a ç ã o d o
m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l . Só eles c o m di-
José <lo Rio Prcti nheiro p a r a a a v e n t u r a d e a g o r a nessas
terras já c o l o n i z a d a s : P a r a n á , celeiro d o
I Porto Murtinhi^^ 'Araçaluha• Caianduva n'
mundo.
I Bola Vis« Dou„dos SÃO PA LU. O

fI Amambasí jProsicIcnlc Pruitonte • Bauru E n c o n t r e i t a m b é m o h o m e m q u e con-


PARAGUAI
Nova Londrina""'— Vy
* * . . jCambará tinua chegando? v i n d o d e b a i x o e d e c i m a .
•Qucrônci. Marina Londri
# •Cornóiio Procópio
na '( g a ú c h o s e mineiros., a t r á s d a t e r r a . Só que'
do Noric ^Cianórtr
y/*C'lnlP<» Mourão •agora eles se j u n t a m ,com os q u e s a e m .
Areiasjj \ J PARANÁ
\ ão em f r e n t e t a m b é m , na d i r e ç ã o o n d e a
y„ Cascavel *
história m u d a n o v a m e n t e , o e s p a ç o volta a
• s c a b r i r , há l u g a r p a r a os p e q u e n o s e os
•Hul \ T
q u e vão c o m e ç a r . A m a t a a i n d a está c a i n -
M A J do. m a s já s e n t e o c a l o r c h a p a d o d a
m - T—yt I/
SANTA CATARINA derrubada.
U / ' 1/ ^
lX /'p.,«„FU„,lo\ * I n d o cm f r e n t e , c o m p r a n d o t e r r a s
£
L' \ São Il.uis Gonzaga* X
Vat aria n iiores p a r a p l a n t a r soja ou trigo ou nies-
ARGENTINA
' São Borja n o p a r a ler g a d o . a a v e n t u r a q u e c o m e ç a
RIO GRANDE DO SUL
p a r a esses h o m e n s tem. a neeessidíidc cht
Ex-14
a t u a l i z a ç ã o - e o c l i m a d o s t e m p o s pio- Eles ficam ali à e s p e r a d a volta d e seus Fachini chegou d e r r u b a n d o a m a t a , m c r c i a n t e ali d a e s q u i n a é p a r a g u a i o . O s
neiros. A h i s t ó r i a e s t á se m i s t u r a n d o e se d o n o s . O t r â n s i t o é e n o r m e , m u i t o s vêm só t i r a n d o m a d e i r a , se m e t e n d o em rolos d e s o l d a d o s aí d o d e s t a c a m e n t o t a m b é m são
r e p e t i n d o em B r a s i g u a y . p a r a ver. a t e n d e r u m c h a m a d o d e p a r e n t e c o l o n i z a ç ã o . A t e r r a valia 200. 3 0 0 c r u - paraguaios.
O b r a s i g u a y o é ativo e q u e r s e m p r e ou a m i g o q u e já se i n s t a l o u e m a n d o u zeiros o a l q u e i r e , e r a d e g r a ç a . P l a n t o u O resto, brasileiros. No a l t o d a s c á s a s ,
c o n q u i s t a r novas t e r r a s . É u m h o m e m d e notícias, c o n t a n d o as n o v i d a d e s . O p r e ç o m e n t a . q u a n d o a h o r t e l ã e s t a v a c o m os a n t e n a s d e T V q u e s i n t o n i z a m os c a n a i s
poucos r e c u r s o s , p o u c a i n s t r u ç ã o , g r a n d e d a t e r r a , u m negócio a f a z e r . Q u e m vem preços altos, a u m e n t o u suas, t e r r a s , h o j e 12. d e C u r i t i b a , e o 11. d e A p u c a r a n a ,
capacidade de trabalho, mas incapaz de prá ficar já t r a z a m u d a n ç a , m a s é n o r m a l elas valem até 10 mil c r u z e i r o s o a l q u e i r e . c i d a d e n o r t e - p a r a n a e n s e . No b a r p r i n -
c o n c o r r e r com a a u d á c i a d o s i n t e r m e - vir p r i m e i r o s o z i n h o , s e m a f a m í l i a . Fachini me deu a impressão de que todo c i p a l . u m a f a m í l i a p a r a g u a i a fazia seu
diários e d o s i s t e m a c a p i t a l i s t a . Q u a n d o a As lojas e s t ã o vazias, as b a l c o n i s t a s colonizador é inimigo da terra, na medida lanche n u m a mesa a f a s t a d a . Nas outras,
terra d e s b r a v a d a c a n s a , ele n ã o t e m s e n t a d a s em c a d e i r a s n a p o r t a . O m o - de sua corrida atrás do dinheiro. Vai b r a s i l e i r o s b e b e n d o ou j o g a n d o b a r a l h o .
m u i t o s r e c u r s o s com g e r e n t e s d e b a n c o s , v i m e n t o só existe m e s n i no D e p a r t a m e n t o m u d a n d o d e d i r e ç ã o c o n f o r m e os ventos Por t r á s d o b a l c ã o , as 3 j o v e n s q u e a t e n -
não sabe organizar e e s q u e m a t t z a r ra- de Inmigración. Apresento-me como jor- dos negócios. Sem se i m p o r t a r com o d e m são loiras, b o n i t a s : p a r a n a e n s e s d e
c i o n a l m e n t e sua vida. N ã o cria raízes, nalista. p a r a t a l a r com o c h e f e . O s e n o r f u t u r o , além d a p r ó x i m a s a f r a , t i r a n d o I oledo. vivendo há 8 a n o s n o P a r a g u a i .
pretere d e s f a z e r - s e d o p o u c o q u e t e m e Pereira d e m o r a u m p o u c o p a r a s a i r d e t u d o o q u e a t e r r a p o d e d a r . F a c h i n i já —Si. senhor?
seguir a d i a n t e . d e n t r o d a c a s a , vem b e m p e n t e a d o e passou pela m a d e i r a , pela m e n t a e está n o —Você é brasileira?
Há t a m b é m o brasiguaio que não é cheiroso. g a d o e na soja. V o l t a d o p a r a o lucro: —Si. como no?
proprietário — é o meeiro. o porcenteiro, — F i q u e m à v o n t a d e , t o m e m u m uís- — E l B o s q u e são 100 a l q u e i r e s , c o m 31 —Seu sotaque é paraguaio.
d i a r i s t a ou h o r i s t a . I g u a l m e n t e p i o n e i r o , que. Aqui tem m u i t o uísque b o m . p l a n t a d o s d e soja e o resto é p a s t o . M a s — V e r d a d ? É q u e soy c a s a d a c o m
este h o m e m n u n c a s e q u e r s o n h o u c o m as C o n v e r s a m o s m a i s d e 20 m i n u t o s , d o nem sei q u a n t a t e r r a t e n h o . Só a q u i , a 140 xtraguaio.
malíeias b a n c á r i a s . F a z e n d o p a r t e d o l a d o de f o r a d a sala, n a c a l ç a d a . O s e n o r q u i l ô m e t r o s , p e r t o d e P a l o m a , t e n h o 2.500
" s u b s i s t e m a d e t r a b a l h o " d o p i o n e i r o , este Pereira n ã o m e disse q u a s e n a d a . A p e n a s a l q u e i r e s e sem dever. Vou c o n s e g u i r u m O velhote d e o l h o s a z u i s , t o m a n d o
h o m e m o a c o m p a n h a . E, n o P a r a g u a i falou a r r a s t a d o , m a i s e m p o r t u g u ê s um, empréstimo do Fundo Ganadero (do c a c h a ç a (brasileira) 110 b a l c ã o , e r a s i t i a n t e
(país d e 3 m i l h õ e s d e h a b i t a n t e s , m e n o s d a p o u c o em c a s t e l h a n o . G u a y r a é l u g a r P a r a g u a i ) p a r a c o l o c a r 2 mil c a b e ç a s d e cm A r a p o n g a s .
m e t a d e d a p o p u l a ç ã o p a r a n a e n s e ) , ele vai m u i t o novo. em m e n o s d e 12 a n o s d e i x o u g a d o a i n d a este a n o . — A q u i é m u i t o m e l h o r . N ã o t e m im-
f o r m a r j u n t o com o p a r a g u a i o , será o p e ã o d e ser d i s t r i t o d o Alto P a r a n á , p a r a se tor- Conta depois que tem u m a colonização p o s t o d o I n c r a . F u n d o R u r a l , n a d a disso.
de d e r r u b a d a , o t r a b a l h a d o r d e p o u c o nar capital d o D e p a r t a m e n t o de Canend- p a r a v e n d e r . 5 mil h e c t a r e s , e m lotes d e 5 Você p a g a so' i m p o s t i n h o d e n a d a p a r a o
p r e p a r o c u l t u r a l , o e l e m e n t o d e a p o i o ao viú. A e s t r a d a l i g a n d o c o m A s u n c i ó n até 200 a l q u e i r e s a p r e ç o d e 3 mil o al- g o v e r n o p a r a g u a i o e t u d o a q u i l o q u e você
pioneiro. chegou h á 4 a n o s . a p e n a s . Se j u n t a c o m a q u e i r e . T u d o o q u e g a n h a a p l i c a lá m e s - colheu é s e u . o g o v e r n o n ã o m e t e a m ã o .
Qual é a população brasiguaya? Não q u e vem d e P e d r o J u a n C a b a l l e r o , f r o n - m o . só s e n t e s a u d a d e d a costela g o r d a d o Ao e n t r a r p o r Foz. d o I g u a ç u . L e o n a r d o
há c o m o s a b e r o f i c i a l m e n t e . E m b o r a o teira de P o n t a P o r ã , M a t o G r o s s o , a 2 0 0 Rio G r a n d e , d o c a f é d a m a n h ã . N ã o veio e n c o n t r o u g e n t e v i n d a d o N o r t e d o Es-
governo m a n t e n h a d o i s p r o j e t o s d o I n c r a q u i l ô m e t r o s d e G u a y r á . S o b r e os bra- p a r a r n o P a r a g u a i - d e p o i s d e ter s i d o u m tado. de Porecatu. Alvorada. Primeiro de
11a e n t r a d a d o P a r a g u a i — n a r e g i ã o de' sileiros. e s q u i v o u - s e s e m p r e . p e q u e n o a g r i c u l t o r em M a r i n g á , o n d e Maio. p r o c u r a n d o terras p a r a c o m p r a r
Foz e em M u n d o Novo. sul d o M a t o G r o s - — Chega muito brasileiro sim. Aqui é t i n h a 32 a l q u e i r e s d e t e r r a - p r a m u d a r d e com o d i n h e i r o d a s i n d e n i z a ç õ e s d a C e s p
so: e e m b o r a esteja p r e o c u p a d o com a l u g a r novo. a m e s m a coisa q u e n o N o r t e d o c l i m a . O f a l a t ó r i o do'S" c o l o n o s já o tez ir por c a u s a d a U s i n a C a p i v a r a . F. eu e n c o n -
m a r c h a dos colonos, n ã o há m e i o s d e c o n - P a r a n á . Eles s ã o g e n t e b o a , trabalha- ver o q u e está a c o n t e c e n d o e m R o n d ô n i a , trei o u t r o s , s a í d o s d o O e s t e , d e Assis
trolar. deira. p l a n t a m de tudo, café, soja, hortelã, Acre. C h a t e a u b r i a n d . T o l e d o P a l o t i n a , o n d e há
M a s se você p e r g u n t a r p a r a os trigo. g a d o . F i q u e m à v o n t a d e , visitem — P o r isso eu d i g o : o Brasil so t e m t e r r a 1 crescimento econômico, o " b o o m " da
p r i m e i r o s q u e a t r a v e s s a r a m , vai c h e g a r a t u d o aí. T e m o s b o m u í s q u e , iá t o m o u ? á na c a s a d o c h a p é u , o n d e a t é m a c a c o soja. m a s o n d e a t e r r a valorizou d e m a i s
140 mil b r a s i g u a y o s . só na r e g i ã o f r o n - Desde 1961. o P a r a g u a i t e m i n t e r e s s e m o r r e d e m a l e i t a . Você c o m p r a u m c a r r o p a r a os p e q u e n o s p r o p r i e t á r i o s .
teiriça c o m o E s t a d o d o P a r a n á . nessa c o l o n i z a ç ã o b r a s i l e i r a . C h e g o u a im- z e r o q u i l ô m e t r o , vai. volta, t e m q u e c o m -
Estou a t r a v e s s a n d o na p r i m e i r a b a l s a portar colonizadores, loteadores brasi- p r a r o u t r o . N ã o é d e s p r e z a r o Brasil, m a s — E u l i n h a 22 a l q u e i r e s e e m T o l e d o .
de G u a í r a p a r a o P o r t o José Fragelli, leiros p a r a i n c e n t i v a r a e n t r a d a d e co- d e lá só q u e r o m e s m o é d e s f r u t a r o m e u Faz I a n o e m e i o . v e n d i p o r 330 mil
M u n d o Novo, c a m i n h o p a r a D o u r a d o s . lonos. O P a r a g u a i t a m b é m serviu d e Rio G r a n d e . c r u z e i r o s . L-> mil o a l q u e i r e . Vim a q u i .
Campo G r a n d e no M a t o Grosso, à direita, a b r i g o na é p o c a d a e r r a d i c a ç ã o d o c a f é n o (Na f r o n t e i r a c o m a Bolívia, n o s s a c o m p r e i p o r 1.500 o a l q u e i r e . P a g u e i 180
e Salto Del G u a y r á à e s q u e r d a . São 6 P a r a n á , p a r a os f a z e n d e i r o s d e s c o n t e n t e s e c o n o m i a se b a s e i a n a b o r r a c h a e x t r a í d a mil p o r 120 a l q u e i r e s , s o b r o u b a s t a n t e
horas d a m a n h ã d e u m s á b a d o e na b a l s a c o m a política b r a s i l e i r a . Foi o t e m p o d o muitos quilômetros dentro do território dinheiro.
já vai u m c a m i n h ã o d e T e r r a R o x a . c o n t r a b a n d o d e c a f é . d e lá p a r a cá, j á q u e boliviano por milhares de brasileiros. A
m u n i c í p i o ao l a d o d e G u a y r á , l e v a n d o a o e s c o a m e n t o d a p r o d u ç ã o so p o d i a ser produção-sãi por duas estradas brasileiras W a l d o m i r o Kringes. gaúcho, depois de
mudança de u m a família de colonos. São feito p o r a q u i . Esses m e s m o s g r a n d e s e o g o v e r n o boliviano, c o b r a n d o u m im- 15 a n o s c m T o l e d o é a i m a g e m d o q u e
40 m i n u t o s d e travessia d o P a r a n a z ã o , p r o p r i e t á r i o s p a r a n a e n s e s e p a u l i s t a s , im- posto mínimo, não t o m a c o n h e c i m e n t o p o d e lazer h o j e 110 P a r a g u a i , r a p i d a m e n t e
com d u a s b a l s a s q u e f a z e m a viagem a t é 7 plantaram o gado a p r o v e i t a n d o a se- das irregularidades. Em compensação, o 1111.1 p e q u e n o l a v r a d o r b r a s i l e i r o . Tem 115
h o r a s d a noite. U m a g r a n d e , p a r a servir d e melhança do Paraguai com Mato Grosso. Brasil d e i x a os bolivianos c o m p r a r li- a l q u e i r e s d e soja. 2 q u i l ô m e t r o s adiante
p o n t e aos c a m i n h õ e s — eles t r a z e m g a d o M a s . ao a b r i r p a r a o p e q u e n o l a v r a d o r as vremente gêneros de primeira necessidade de H e r r u i n d á r i a s .
de Nova A n d r a d i n a ( M T ) p a r a L o n d r i n a stias t e r r a s , o P a r a g u a i p a s s o u a t e r u m a d o n o s s o lado. D o m G i o c o n d o M a r i a No c o m e ç o desse ciclo d e c o l o n i z a ç ã o ,
(PR). 11a s u a m a i o r i a ; e o u t r a p a r a os ' a v o u r a . n ã o m a i s só a m a n d i o c a t r a d i - G r o t t i . o f a l e c i d o b i s p o d e Rio B r a n c o , não foi t ã o fácil a s s i m . A c o m e r c i a l i z a ç ã o
carros. Até M u n d o Novo. d i s t r i t o d o cional d e seu povo índio. Só q u e a ve- Acre. m e dizia em 1971: " O s p r ó p r i o s difícil d a p r o d u ç ã o fez. m u i t a gente
m u n i c í p i o d e I g u a t e m i , são 9 q u i l ô m e t r o s , locidade dessa o c u p a ç ã o preocupa na bolivianos s ã o os p r i m e i r o s a d i z e r : a t é on- q u e b r a r , voltar p a r a o Brasil. Havia di-
e dali. m a i s 30 até S a l t o dei G u a y r á . Pas- m e d i d a d a e x p l o r a ç ã o política, se p u x a d a de t e m u m a s e r i n g u e i r a , é B r a s i l " . ficuldades p a r a v e n d e r a p r o d u ç ã o n o l a d o
s a n d o pela f i s c a l i z a ç ã o r e c e n t e d o I n c r a e p a r a o l a d o d o s brios n a c i o n a l i s t a s , d e brasileiro e o Paraguai não tinha como ab-
pela d o Exército, n a f r o n t e i r a . U m se perigo d a p e r d a d e s o b e r a n i a . "Você é sorver - n e m s e q u e r c o m o t r a n s p o r t a r a
preocupa com gente, outro com contra- Por isso. a ú n i c a p r e s e n ç a paraguaia brasileira? p r o d u ç ã o . Q u a n d o se o u v e f a l a r m a l d o
b a n d o . c o m o p e q u e n o t u r i s m o , o vaivém q u e se s e n t e m e s m o n a r e g i ã o d e S a l t o dei "Si. como n o ? " Paraguai, de brasileiros que voltaram, são
da f r o n t e i r a . a
G u a y r a é d o Exército, d a 5 . Division d e O Brasiguay é muito perto e tem terras histórias de atravessadores. c o m p r a d o r e s
"Fique à vontade. I n f a n t a r i a , c o m a b a n d e i r a t r e m u l a n d o al- p a r a todos. M e i o a l q u e i r e ou 4 0 mil, t u d o q u e p a g a v a m a m e t a d e d o p r e ç o às vezes
Quer uísque? to, n o p o r t ã o d o q u a r t e l d e e n t r a d a d o a o m e s m o t e m p o . T e m a t é posseiros, g e n t e nem isso.
A q u i tem m u i t o . " Paraguai adentro. que chegou 1 ano e meio para cá. Mas A g o r a , além d o c o m p r a d o r b r a s i l e i r o
M a s o B r a s i g u a y só t e n d e a crescer. q u e já teve t e m p o d e c o n s t r u i r p o v o a d o s cruzar a fronteira atrás da produção,
Damos carona para o guarda Domin- Além d a t e r r a , d a l a v o u r a , a g o r a a hi-
gos. d o I n c r a . t o d o vestido d e b r i m azul, como Maracaju. entre Guayra e Paloma, A s u n c i ó n se interessa t a m b é m p o r a t r a i r o
d r e l é t r i c a d e I t a i p u vai a c a b a r d e mis- o n d e vivem 4 mil f a m í l i a s . N e m a posse c o m é r c i o . As e s t r a d a s t o r n a r a m a c a p i t a l
em m e i o à p o e i r a t i n a , d e a r e i a v e r m e l h a , t u r a r a s coisas. M a i s p e r t o d e Foz d o
do c a m i n h o até M u n d o Novo: problema em toda a área brasileira encos- paraguaia mais presente na região. Os ban
I g u a ç u , d e n t r o d a á r e a j á o c u p a d a pelos t a d a a o Rio P a r a n á , d e i x a d e ter l u g a r . O cos e o g o v e r n o d ã o l i n a n e i m e n t o sem
— T o d o diapassam u m a s q u a t r o fa- b r a s i g u a y o s . será c o n s t r u í d a u m a c i d a d e
mílias p a r a o P a r a g u a i . N e m u m q u a r t o d o g o v e r n o p a r a g u a i o está i n t e r e s s a d o e m p r o b l e m a s . Até d o B a n c o d o Brasil, e m '
de operários brasileiros e paraguaios. Do r e g u l a r i z a r t u d o : vai m e d i r a t e r r a e ven- Asunción. dá pra conseguir empréstimo.
que vai. volta. t a m a n h o d e u m a o b r a d e 10 a n o s , c a p a z
Mais a b a i x o , n a d i r e ç ã o d a s Sete de-la a 3 mil c r u z e i r o s o a l q u e i r e , c o m O c l i m a d e convivência e n t r e b r a s i -
d e d a r e m p r e g o p a r a 10 mil h o m e n s e o p r a z o d e 3 a n o s , p a r a os p r ó p r i o s pos-
Q u e d a s , q u a s e e m f r e n t e d e G u a í r a , está o leiros e p a r a g u a i o s j á foi m a i s p e s a d o , n o
q u e c o m e r p a r a s u a s f a m í l i a s . O q u e vai seiros.
outro porto. Coronel Renato. Em barcos r e l a c i o n a m e n t o dia a d i a . O q u e d á p r a
acontecer? — P o r q u e é q u e voce tá a n o t a n d o , p e r -
de 10 p a s s a g e i r o s , se c h e g a a o P a r a g u a i p e r c e b e r na r e c o m e n d a ç ã o d e u m r a p a z
em 20 m i n u t o s . g u n t a n d o o m e u n o m e ? N ã o tá d i r e i t o ! a m i g o , s e r v i n d o d e eicerone.
- I s s o vai ser u m e s t o u r o . Q u e m tem- Sou 11111 b r a s i l e i r o q u e m o r a - n u m país es- — N ã o fique f a z e n d o m u i t a p e r g u n t a
Os mesmos barcos q u e no a n o passado,
terra de 10 mil c o n t o s , vai p r a 20 mil e m 1 trangeiro, não tenho de dar satisfação a p o r q u e é perigoso. Isso aí deve e s t a r c h e i o
cm 2 a c i d e n t e s , m a t a r a m 32 p e s s o a s ,
ano. I m a g i n e se agüentar terminar n i n g u é m ! P o d e r i s c a r t u d o isso aí!
levadas pelos 5 m i l h õ e s d e m e t r o s c ú b i c o s de b a n d i d o s . Eles m a t a m lá n o Brasil e
Itaipu. É D j a l m a Peres, 4 0 a n o s , f l u m i n e n s e d e
do P a r a n a z ã o , q u e ali se a p e r t a d e 6 mil fogem p a r a cá.
p a r a 300 m e t r o s d e l a r g u r a , p a r a se l a n ç a r C a s i m i r o d e A b r e u . E s t a d o d o Rio, e x - N ã o e r a o caso. No b a r . os r a p a z e s
"Até onde tem p o s s e i r o na r e g i ã o d e C a s c a v e l - G u a i r a ,
num desnível d e m a i s d e 100 m e t r o s . apontados eram de U m u a r a m a , traba-
uma seringueira, posseiro em Paloma desconfiado de m i m .
Kombis como lotações, fazem o resto do l h a v a m p a r a s i t i a n t e s b r a s i l e i r o s , na soja
é Brasil!"
trajeto até o c o n j u n t o d e 4 a v e n i d a s , u m a Estava v o l t a n d o d e G u a i r a , o n d e foi t r a t a r ou 110 a l a m b i q u e d e m e n t a .
principal, q u e f o r m a m Salto dei G u a y r á . O f a z e n d e i r o g a ú c h o Delvino F a c h i n i , de dinheiro em banco, c o m p r a de peça T a m b é m tem p a r a g u a i o q u e t r a b a l h a
Na p r i n c i p a l , a v e n i d a P r e s i d e n t e 39 anos, 8 d e P a r a g u a i o n d e c h e g o u v i n d o p a r a o c a m i n h ã o . . M e c o n f u n d i u c o m al- p a r a brasileiros. M a s s ã o p o u c o s .
Stroessner n a t u r a l m e n t e , está o c o m é r c i o , d o Norte d o P a r a n á , sem u m t o s t ã o , n ã o g u m a autoridade brasileira, daquelas com Os bandidos refugiados no Paraguai,
25 lojas c o m c a l ç a s Lee. Levis, os u í s q u e s , q u e r nem p e n s a r e m s a i r d e lá. A e n e r g i a q u e m já t r a t o u p o r t e r r a s p o r o n d e p a s - os t r a f i c a n t e s ou c o n t r a b a n d i s t a s , esse t i p o
os c i g a r r o s a m e r i c a n o s , a q u i q u i l h a r i a d e d e I t a i p u vai e l e t r i f i c a r t o d o esse i n t e r i o r , sou n o P a r a n á . Depois, j á m a i s à v o n t a d e , ;le g e n t e n ã o se m i s t u r a c o m o c o l o n o
porto livre, d e c o m é r c i o . E n t r e u m a loja e a f i n a l são 12 m i l h õ e s d e q u i l o w a t t s p a r a c o n t o u d o s 10 a l q u e i r e s q u e está c o m p r a n - brasileiro. N e m os p a r a g u a i o s ' t r a t a m
o u t r a , o D e p a r t a m e n t o d e I n m i g r a c i ó n , dividir e n t r e os 2 países. F a c h i n i d e t ã o do do governo paraguaio e dos 4 alqueires i g u a l m e n t e os dois tipo s. O s a t r i t o s c o m
u m a sala a p e r t a d a , com 2 m o ç a s e 2 •branco c h e g a a ser v e r m e l h o . M a s é o d e h o r t e l ã p l a n t a d o s . D j a l m a vai d e i x a r d e os c o l o n o s so a c o n t e c e m q u a n d o os solda
m á q u i n a s d e escrever. S e m p r e 4 ou 5 h o m e m e m p l e n o exercício d a a v e n t u r a ser posseiro, está c o n f i a n t e . dos. q u a s e t o d o s m e n i n o s , f a z e m valer a
b r a s i l e i r o s . d e pé à f r e n t e d a s m o ç a s e d a s com seu jeito d e g a ú c h o , d e c i d i d o . É U n s 20 q u i l ô m e t r o s a d i a n t e d e H e r - soberania paraguaia. Em Guayrá, correm
mesas., f a z e n d o ficha d e e n t r a d a . A fa- c o n h e c i d o c o m o d o n o d a E s t â n c i a El Bos- n a n d á r i a s . lá e m b a i x o , n o c o r r e d o r d e en- as histórias d e colonos q u e a p a n h a r a m d e
mília d o l a d o d e f o r a , as m a l a s e os s a c o s q u e . c o m o t r a b a l h a d o r , q u e c h e g o u ali trada por Foz-Puerto Stroessner, Leonar- fio d e aço p o r n ã o t e r e m t i r a d o o c h a p é u
amarrados. p a r a crescer. d o S a n t o s , d o j o r n a l Panorama, e n c o n t r o u ao p a s s a r pela b a n d e i r a d o P a r a g u a i .
Atrás das moças, de suas perguntas de —Aqui é bom para ganhar dinheiro. O o povoado de Piqueri; u m a s 300 casas, —A turma aqui começou a usar cabelo
praxe. nome. carteira de i d e n t i d a d e , p a r a g u a i o t e m os o l h o s m e i o f e c h a d o s , q u e quase todas ao longo de u m a a m p l a c o m p r i d o , igual n o Brasil. Eles p e g a r a m
q u a n t o t e m p o vai ficar? vários c a i x o t e s nem j a p o n ê s . O b r a s i l e i r o j á c h e g a c o m os avenida. O próprio povoado brasileiro. dois, tres. b o t a r a m d e j o e l h o n o m e i o d a
com p i l h a s de. documentos^, d e ..brasileiros., olhos a b e r t o s . — l e m o s p a r a g u a i o s i m . Aquele, CQ- ru.a.e c o r t a r a m .0 c a b e l o a m a c h e t e . No d i a
s e g u i n t e , t i n h a 111a n a p o r t a d o b a r b e i r o .
P o r essas e o u t r a s , hoje o c l i m a e n t r e
os colonos brasileiros é d e r e s p e i t o . d e ' n ã o
q u e r e r p r o b l e m a s c o m os s o l d a d o s . P a r a
justificar, e n c o n t r a m u m a f o r m a d e n ã o
achar ruim nada do que acontece. Como
Doracil M a r i a n o . c o m e r c i a n t e e l a v r a d o r
110 q u i l ô m e t r o 1 1 d a e s t r a d a ' G u a y r á -
Asunción define:
— S u jeito m a l a n d r o t e m e m t o d a p a r t e .
1 l e s d ã o d u r o em q u e m n ã o a n d a direito.
Q u e m c t r a b a l h a d o r honesto, não tem
problema.
M as d o l a d o brasileiro, em G u a í r a , ao
longo d a m a r g e m d o rio P a r a n á , a invasão
d a s t e r r a s d o P a r q u e N a c i o n a l d e Sete
Q u e d a s tem m a i s p r o b l e m a s , b r i g a s , d o
q u e n o P a r a q u a i . Prá lá v i e r a m , nos úl-
timos 10 a n o s , m i n e i r o s e c a p i x a b a s d a
região d o C o n t e s t a d o , divisa d o s dois Es-
t a d o s . O c u p a r a m 6 0 q u i l ô m e t r o s de te-
r r a s . n u m a l a r g u r a d e 5. 7 a t é 20 qui-
lômetros a p a r t i r d o rio. E é dali q u e
sai t a m b é m m u i t a g e n t e p a r a o B r a s i g u a y .
A m a r g e m direita d o rio P a r a n á é a ul-
t i m a b a r r e i r a d e q u e m vem p r o c u r a n d o
terra p a r a ficar. O s q u e c h e g a m c o m p r a m
.as posses dos q u e s a e m . p a r a d a q u i al-
g u m t e m p o sair t a m b é m .
N ã o sei se a d i a n t a f a l a r d o m e u e s p a n -
to. M a s c a d ê a m a t a ? N ã o vi, a o longo da
viagem d e X) q u i l ô m e t r o s , n e m d a q u i
o n d e o P a r a n a z ã o d á i m p r e s s ã o d e ser a
ú l t i m a forca i n t o c a d a d a n a t u r e z a .
A q u i . os p a r q u e s n a c i o n a i s , a reserva
d o g o v e r n o , são j a r d i n s ilusórios n a s
C a t a r a t a s d e Foz e n a s Sete Q u e d a s d e
G u a í r a . M a t a s p a r a t u r i s t a ver.
O P a r q u e Nacional d e G u a í r a são 44
mil h e c t a r e s : e m a t a a p e n a s em 233 hec-
tares. em volta do' c o n j u n t o d e 18 saltos
d a s Sete Q u e d a s . O r i t m o d e s u a criação-
loi v e n c i d o pela falta d e e s p a ç o p a r a a
c o l o n i z a ç ã o d o P a r a n á . O e s b o ç o é de
o d e c r e t o saiu em 61. e q u a n d o foi
t o m a r posse em 67 o g o v e r n o e n c o n t r o u
um m u n i c í p i o , o d e l c a r a í m a . d e n t r o d á
área.
Depois de um t e m p o nas terras do
g o v e r n o , os p o s s e i r o s e n t r a m n o P a r a g u a i
a t r á s n e m q u e seja d e m e i o a l q u e i r e es-
criturado. Fazem de G u a í r a umtranDolim.
a p e n a s p a s s a g e m . No a r d a c i d a d e fica es-
sa a p a r ê n c i a d e ilha q u e m s a b e fim d e
l i n h a . O m u n i c í p i o está i s o l a d o d o q u e
a c o n t e c e n o n o r t e e n o oeste d o P a r a n á .
N u n c a teve e s t r a d a b o a . o a s f a l t o c h e g o u
até Cascavel (a 1 K m ) e l p o r ã (a 64 K m )
m a s n ã o p r o s s e g u i u . O rio P a r a n á é o
ú n i c o c a m i n h o , em d i r e ç ã o a Porto
E p i t á c i o . E s t a d o de São P a u l o . N ã o vive o
d e s e n v o l v i m e n t o d a soja e d o trigo p o r q u e
s u a s m e l h o r e s t e r r a s f o r a m p i c a d a s pelos
posseiros n o P a r q u e N a c i o n a l .
Guaira é um duplo porto de escoamen-
to: soja e trigo d e P a l o t i n a . T o l e d o , Assisi
c R o n d o u (sai em c h a t a rio a c i m a p a r a
p e g a r ferrovia em São Paulo);-e d e gente,
vinda de toda parte r u m o a M a t o Grosso e
Paraguai.

Seja n o d e s a b a f o d e u m p e ã o na ro-
doviária d e G o i o e r ê ( " u m dia l a r g o t u d o
isso e vou e m b o r a p a r a o P a r a g u a i " ) , ou
na h i s t ó r i a o u v i d a n a s t e r r a s d e s a p r o -
priadas do Parque Nacional do Iguaçu:
— A G u a r d a Florestal p e n s o u q u e o
M á r i o V e r m u t h é q u e m t i n h a feito u m a
q u e i m a d a . . E n t ã o p r e n d e r a m e levaram
p a r a o m a t o e fizeram q u e i a m f u z i l a r , só
p r a a s s u s t a r . Ele ficou c o m raiva, largou
t u d o e foi e m b o r a p a r a o P a r a g u a i .
De t o d a s as f o r m a s , c o m t o d a s as
n u a n e e s . se ouve f a l a r n o ê x o d o .
As h i s t ó r i a s d e pioneiros, a e n t r a d a na
m a t a , t u d o isso n ã o q u e r d i z e r m a i s n a d a
110 oeste d o P a r a n á . Se a i n d a h á a v e n t u r a
n a s t e r r a s d o l a d o d e cá d o P a r a n a z ã o . é
u m a a v e n t u r a q u e e m p u r r a m u i t a gente.,
Palotina. "capital mundial da soja",
aos 11 a n o s d e i d a d e , vai p r o d u z i r em 75 2
m i l h õ e s e 100 mil s a c a s . P a d r e José, e x -
vigário d e P a l o t i n a , c o m p l e t a a infor-
mação:
— N o a n o p a s s a d o . 2.500 f a m í l i a s se.
m u d a r a m d e P a l o t i n a p a r a o P a r a g u a i . Já
tivemos 6 0 mil h a b i t a n t e s , a g o r a t e m o s só
55.

É o B r a s i g u a y , u m país d e f u t u r o . N ã o
sei. m a s se n ã o houvesse os A n d e s , eu d i r i a
q u e esse povo a c a b a c a i n d o n o Pacífico.
Hamilton Almeida Filho
Ex-14
A a g r i c u l t u r a b r a s i l e i r a deve c r e s c e r " f a r e l o " , s u b p r o d u t o d o óleo (2,4 m i l h õ e s a g r o p e c u á r i o s d o R i o G r a n d e d o Sul, e m As á r e a s d e s o j a ficam n a s z o n a s ti-
'/o ao a n o nos p r ó x i m o s 5 a n o s ; é e s t a a de toneladas), t a m b é m exportado na p l e n a z o n a misionera, os p r e ç o s m é d i o s j á p i c a m e n t e d e m i l h a r a i s ; m a s n o Brasil o
cta d o 11 P l a n o N a c i o n a l d e Desenvol- maior parte. e s t ã o e m t o r n o d e $ 8 . 0 0 0 o h e c t a r e (O milho é u m a cultura de muita m ã o de obra
imento ( P N D ) (dia 15 d e a g o s t o o m i n i s - C o m p r e e n d e - s e q u e o cultivo d e soja G l o b o , Rio, 3 d e m a r ç o d e 1975). e difícil m e c a n i z a ç ã o . E n t ã o o m i l h o foi
o Paulinelli a d m i t i u q u e e s t a m o s cres- para exportação tenha provocado no No U r u g u a i , e n t r e t a n t o , os j a p o n e s e s s u b s t i t u í d o . Isso r e p e r c u t e g r a v e m e n t e n a
:ndo m e n o s d e 7%-NR). P a r a isso, os Brasil u m a u n i ã o d e e s f o r ç o s - c r é d i t o s c o m p r a r a m 22 mil h e c t a r e s e n t r e L a g u n a produção de suínos d a zona; a suinocul-
tores de p r o d u ç ã o t a m b é m d e v e m cres- governamentais, investimentos privados, Negra e o Atlântico a 400 dólares t u r a r e a l m e n t e p r o d u t i v a e s t á n o sul, e
;r: 14°/d e m f e r t i l i z a n t e s e 15% e m m a - e n o r m e p r o v i s ã o d e i n s u m o s - q u e pos- ($3.200) o h e c t a r e (El Pais, M o n t e v i d e u , 15 t o d o s os e x c e d e n t e s d a p r o d u ç ã o d e m i l h o
m a r i a agrícola e n t r e o u t r o s i m p l e m e n - s i b i l i t a r a m a m p l i a r as á r e a s c u l t i v a d a s e de j a n e i r o ) e n o n o r t e e n o r o e s t e o p r e ç o do P a r a n á , Santa Catarina e Rio G r a n d e
ocupar novas terras em pouco tempo. •chega a 200 d ó l a r e s o h e c t a r e . N ã o é d o Sul p a r a lá se d e s t i n a m . D e a l g u n s a n o s
Há d u a s b o a s r a z õ e s p a r a se p e n s a r P a r a se ter u m a p e q u e n a idéia d o q u e é demais pensar desde já no incentivo q u e p a r a c á , o Rio G r a n d e d o Sul teve d e c o m -
jue o d e s a f i o d e a u m e n t a r a p r o d u t i v i d a d e a m o v i m e n t a ç ã o d o g r ã o . b a s t a ver esta p o d e m s i g n i f i c a r p a r a as e m p r e s a s b r a - prar milho do Paraná para manter o
ode ser c u m p r i d o . A p r o c u r a m u n d i a l d e notícia d o Correio do P o v o - P o r t o Alegre. sileiras essas t e r r a s férteis, p l a n a s e s e m m e l h o r r e b a n h o d e p o r c o s d o Brasil. Já se
creais e o l e a g i n o s o s vai c o n t i n u a r firme, 22 d e j a n e i r o : " O s u p e r i n t e n d e n t e d a b o s q u e s , a tais preços. começa a notar a q u e d a na produção de
pesar d a s f l u t u a ç õ e s de p r e ç o d e a l g u n s Rede Ferroviária Nacional afirmou que p o r c o s , p r o b l e m a sério p a r a a d i e t a po-
rodutos. E a b a l a n ç a d e p a g a m e n t o s não h a v e r á p r o b l e m a s p a r a o t r a n s p o r t e pular do brasileiro (arroz-feijão-toucinho).
E m síntese: a m o d e r n i z a ç ã o agricola
rasileira r e q u e r d o s e t o r a g r í c o l a e x p o r - d o p r o d u t o . S e r ã o u t i l i z a d o s 3 mil e 2 0 0
brasileira centraliza-se na z o n a do alto A zona de gado era, principalmente, o
íções n o valor d e 5 b i l h õ e s d e d ó l a r e s p o r vagões p a r a t r a n s p o r t a r os 4 m i l h õ e s d e
Uruguai, Iguaçu e oeste do Paraná e se Rio G r a n d e d o Sul; a g o r a está d e c a i n d o e
no. e n t r e p r o d u t o s p r i m á r i o s e i n d u s - t o n e l a d a s q u e se p r o d u z i r ã o n o Rio G r a n -
baseia na m o n o c u l t u r a m e c a n i z a d a da se d e s l o c a a t é o l u g a r q u e lhe d e r a m : n o
•ializados. d e d o Sul e os 3 m i l h õ e s d o P a r a n a . No Rio
soja. Atinge, pois, necessariamente, tam- Norte, em t e r r a s m e n o s férteis, c u j a s p a s -
G r a n d e d o Sul c h e g a r ã o ao p o r t o d e Rio
bém as zonas fronteiriças c o m Paraguai e t a g e n s são e n r i q u e c i d a s c o m f e r t i l i z a n t e s .
Assim, a e x p a n s ã o agrícola brasileira G r a n d e , e n o P a r a n á , a o d e P a r a n a g u á . Se
Argentina. Porque não pode haver gado em terras
ào é para atender o c o n s u m o interno e n ã o e n t e n d e r a m : . t u d o o q u e tiver r o d a
q u e valem m a i s d e $ 8 . 0 0 0 o h e c t a r e
m para a u m e n t a r as exportações. será p o s t o em c i r c u l a ç ã o "
quando, usadas para cultura de alimentos
O cultivo d a soja é m u i t o p r á t i c o , d e O cultivo p o d e ser a l t e r n a d o c o m o básicos.
P a r a c o n s e g u i r isso sem reforma fácil a d a p t a ç ã o e m c l i m a s t e m p e r a d o s . trigo, pois seus ciclos vegetativos são c o m -
N ã o é d e m a i s p e n s a r , p o r t a n t o , n o uso
agrária, o Brasil p r o c u r o u u m a s a í d a O cultivo c o m e ç o u a se e x p a n d i r n o p l e m e n t a r e s e as m e s m a s m á q u i n a s ser-
q u e a i n d a ' s e faz d a s t e r r a s a r g e n t i n a s e
lipicamente c a p i t a l i s t a : a m o d e r n i z a ç ã o Brasil a p a r t i r d o p l a n a l t o m é d i o d o Rio vem p a r a s e m e a r e c o l h e r u m e o u t r o .
u r u g u a i a s , o n d e z o n a s d e solos p r o f u n d o s
ia a g r i c u l t u r a e m t o d o s os níveis e e m G r a n d e d o Sul, p r o v a v e l m e n t e a ú n i c a C o m o se s a b e , o f a t o r m a i s s i g n i f i c a t i v o
e a l t a m e n t e , férteis c o n t i n u a m d e d i c a d a s à
todas as regiões. B e m . n o c e n t r o - n o r t e n ã o m a n c h a d e t e r r a s p r o f u n d a s e férteis, s e m nos c u s t o s d e u m a a g r i c u l t u r a m o d e r n a é
pecuária extensiva e a invernadas em cam-
há á r e a s p a r a i n v e s t i m e n t o s r e a l m e n t e florestas, d e t o d o seu e n o r m e t e r r i t ó r i o . a m e c a n i z a ç ã o ; a o u t i l i z a r os m e s m o s
po natural.
lucrativos c o m i n s u m o s m o d e r n o s , p r ó - Nesses l u g a r e s (Cruz A l t a , C a r a z i n h o , etc) t r a t o r e s , a r a d o s , s e m e a d e i r a s e colhe-
prios p a r a t e r r a s férteis; salvo alguns o trigo c h e g o u p r i m e i r o , nos a n o s 40. d e i r a s , o c u s t o cai s e n s i v e l m e n t e .
grandes p r o j e t o s específicos - f l o r e s t a l na As c o n s e q ü ê n c i a s sociais d a expansão
Q u a n d o essa " m a n c h a d e t e r r a " foi A modernização resulta de iverdadeiro da soja estão ligadas à e x p u l s ã o dos cam-
Amazônia, g a d o e m G o i á s e M a t o G r o s s o t o t a l m e n t e o c u p a d a , os r e c e n t e s em- " p a c t o s o c i a l " e n t r e os g r a n d e s p r o - poneses minifundistas e à substituição de
não há m a i s n a d a . p r e s á r i o s d e s i s t e m a soja trigo, fortale- p r i e t á r i o s d a t e r r a e os d o n o s d a m a - alimentos básicos.
Por isso, a m o d e r n i z a ç ã o esta c o n c e n cidos, p e n e t r a r a m n a " n o v a c o l o n i a " d o q u i n a r i a . Por t r á s desse " p a c t o " e s t ã o ,
trada na região sul: n e s s a á r e a q u e é, p a r a Rio G r a n d e d o Sul - M i s i o n e s e A l t o e v i d e n t e m e n t e , os g r a n d e s c o n s ó r c i o s in-
o s p l a t i n o s , o " p r ó x i m o s u l " b r a s i l e i r o . Aí O ê x o d o r u r a l d o sul d o Brasil o c o r r e
U r u g u a i - o n d e os d e s c e n d e n t e s d o s ternacionais fornecedores de insumos e s o z i n h o ou a l i a d o a o cultivo d a soja.
j modernização não é um projeto, é u m a primitivos colonos a l e m ã e s (1824) e ita- compradores de colheitas; assim, por
realidade a r r a s a d o r a . u m p r o c e s s o irrever- S o z i n h o , c o m o r e s u l t a d o d o irreversível
lianos (1875) à f o r ç a d o f o g o e d o m a - e x e m p l o , n a i n d u s t r i a l i z a ç ã o d o óleo está a f e n ô m e n o d e c r e s c i m e n t o u r b a n o - ex-
sível d e c o n s e q ü ê n c i a s previsíveis. E n o chado, tinham conseguido eliminar a A n d e r s o n Clayton, a B u n g e e B o r n , etc.
« a ç ã o desse p r o c e s s o esta' a s o j a : 6 0 0 mil plosivo n o C e n t r o - S u l - o n d e n o f i m d e
exuberante floresta nativa que cobria u m a d é c a d a a p o p u l a ç ã o u r b a n a cresceu
toneladas em 1966, 1 m i l h ã o e m 1969, 3 a q u e l a s t e r r a s férteis d e o r i g e m b a s á l t i c a , Esses consórcios e s t ã o , a g o r a m e s m o
milhões e m e i o em 1972. (julho), e s p e c u l a n d o c o m o p r e ç o d a soja. de 40 a 60% d a população total.
d e d i c a n d o - s e ás l a v o u r a s t r a d i c i o n a i s d e
A soja é u m a l e g u m i n o s a e t a m b é m As m u l t i n a c i o n a i s d o s g r ã o s d e C h i c a g o e E s s a g e n t e q u e foi p a r a as c i d a d e s e m
m i l h o , feijão e m a n d i o c a .
oleaginosa, d á óleo. M a s s u a s possibili- o D e p a r t a m e n t o d e A g r i c u l t u r a d o s Es- b u s c a d é t r a b a l h o d e i x o u d e p r o d u z i r seu
Os agricultores economicamente mais
dades e s t ã o h o j e m u i t o a b a i x o d e s u a s ex- t a d o s U n i d o s a n u n c i a m , n o inicio d a a l i m e n t o . H á , pois, u m a p r i m e i r a crise
fracos - e eram quase tedos nessa área de
traordinárias utilidades a l i m e n t a r e s : semeadura, uma colheita americana a l i m e n t a r q u e a t i n g e t o d a s as p o p u l a ç õ e s
minifúndios - foram rapidamente expulsos recorde de 40 milhões de toneladas.
pode-se e x t r a i r d e l a d e z e n a s d e p r o d u t o s , m a r g i n a i s d a s c i d a d e s , p o r q u e o Brasil
de s u a s t e r r a s ou p r o l e t a r i z a d o s p e l o A u t o m a t i c a m e n t e os p r e ç o s d o m e r c a d o
entre os q u a i s o leite d e s o j a , t ã o b o m p a r a d i m i n u i s u a p r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s po-
p u j a n t e e m p r e s á r i o m e c a n i z a d o d o sis- d e C h i c a g o c a í r a m 180 d ó l a r e s a t o n e l a d a ;
alimentação i n f a n t i l c o m o o leite m a t e r n o . pulares devido à migração de campo-
t e m a soja-trigo. j u s t o n o m o m e n t o e m q u e o Brasil co-
A b a i x o d e s u a u t i l i d a d e p o r q u e o Brasil neses, q u e a n t e s se d e d i c a v a m a esses cul-
Mas a fome de terras p a r a soja não m e ç a v a s u a c o l h e i t a . A C a r t e i r a d e Co-
planta soja p a r a e x p o r t á - l a e m g r ã o . T a m - tivos d e s u b s i s t ê n c i a .
p a r o u aí. A t a c o u t a m b é m a f l o r e s t a vir- m é r c i o E x t e r i o r d o Brasil t e n t a a m e n i z a r a
bém é a política c o m e r c i a l d ó s E s t a d o s gem ou p o u c o d e v a s t a d a d o oeste d o U m novo p r o l e t a r i a d o a p a r e c e h o j e n a
Unidos q u e d á à soja u m d e s t i n o c o n c r e t o : exportação através de cooperativas, por- periferia das cidades (principalmente de
P a r a n á . S e n d o t ã o l u c r a t i v a , a soja a d m i t e q u e se a colheita fosse m u i t o g r a n d e
alimentar r e b a n h o s . p r o j e t o s c a r o s q u e i m p l i c a m inclusive n o São P a u l o e P a r a n á ) ; os " v o l a n t e s " , de-
p o d e r i a h a v e r u m grave e s t r a n g u l a m e n t o p e n d e n t e s d o s " e m p r e i t e i r o s " ou inter-
d e s m a t a m e n t o de grandes áreas por meios de t r a n s p o r t e e a r m a z e n a g e m : isso
Isso implica n u m e n o r m e desperdício m e d i á r i o s q u e c o n t r a t a m t r a b a l h o c o m os
mecânicos. a d i a r i a a c o m e r c i a l i z a ç ã o e as e x p o r t a ç õ e s
de energia: u m a d u p l a transformação p r o p r i e t á r i o s ou as e m p r e s a s . Estes volan-
O processo m a n t é m h o j e e m d i a u m até s e t e m b r o ou o u t u b r o , c o i n c i d i n d o c o m
para que o h o m e m , por hipótese, c o n s u m a tes são t a m b é m c h a m a d o s " b o i a s - f r i a s " ,
r i t m o vertiginoso, se b e m q u e a i m p l a n - a colheita d o s E s t a d o s U n i d o s .
proteínas animais, q u a n d o pode c o n s u m i r p o r q u e levam s e m p r e f r i a s u a p e q u e n a
t a ç ã o d a soja r e m o n t e a 1950, a m o d e r -
diretamente a proteína da soja. marmita, de um lugar para outro.
nização acelerada ainda não completou 5
a n o s . As c i f r a s t e s t e m u n h a m isso: e m 1970 A soja origina diversas formas de O ê x o d o r u r a l a s s o c i a d o a o cultivo d a
O Brasil aceita - p o r e n q u a n t o - as se colhia a p e n a s u m m i l h ã o d e t o n e l a d a s , deslocamento e / o u substituição: substitui
regras d o jogo. Só i n d u s t r i a l i z a o g r ã o soja c a u s a d i r e t a m e n t e o u t r o d e s l o c a m e n -
a g o r a j á se fala em 10 milhões. outras culturas ou sistemas de produção to: d e z e n a s d e m i l h a r e s d e p r o p r i e t á r i o s
necessário p a r a seu c o n s u m o d e óleo, e diferentes e desloca gente há muito fixada
vende o resto, p r i n c i p a l m e n t e p a r a o M e r - m i n i f u n d i á r i o s t e m se r a d i c a d o , nos úl-
Já são q u a s e 8 milhõ.es d e h e c t a r e s cul- nessas terras, o n d e faziam policultivos de t i m o s 5 a n o s , e m o u t r a s t e r r a s , inclusive
cado C o m u m E u r o p e u . tivados n o P a r a n á , S a n t a C a t a r i n a e Rio subsistência alterando radicalmente suas além-fronteiras.
O p r e ç o d a soja triplicou em 1974, pois G r a n d e d o Sul (área e q u i v a l e n t e à m e t a d e dietas alimentares. N ã o se deve e s q u e c e r q u e s o m e n t e n o
caiu a p r o d u ç ã o de f a r i n h a d e p e s c a d o n o d o U r u g u a i ) .
Rio G r a n d e d o Sul, n u m a á r e a a p e n a s
Peru e a colheita de soja nos E s t a d o s O capitalismo dependente, apoiado na As p r i n c i p a i s c o n s e q ü ê n c i a s econô- u m a vez e m e i a m a i o r q u e a d o U r u g u a i ,
Unidos foi p e q u e n a . A e s p e c u l a ç ã o d a s m o d e r n i z a ç ã o , n ã o exclui m é t o d o s sel- micas: substituição do café, do milho e o havia 5 2 0 mil e s t a b e l e c i m e n t o s r u r a i s e m
multinacionais com p r o d u t o s p r i m á r i o s , v a g e n s " d e e x p a n s ã o e c o n ô m i c o - f i n a n - deslocamento do gado. 1970 ( c o n t r a 77 mil n o U r u g u a i nesse mes-
especialmente cereais, t a m b é m a j u d o u . ceira, e n ã o h á d ú v i d a d e q u e a d i n a m i ç a A s u b s t i t u i ç ã o d o c a f é se d á s o b r e t u d o m o ano). E t a m b é m q u e o l a t i f u n d i á r i o
Assim se explica q u e a á r e a s e m e a d a n o da soja d á b o m e x e m p l o disso. Ê c e r t o 110 n o r o e s t e d o P a r a n á e São P a u l o , d a s á r e a s virgens t i n h a u m a q u a n t i d a d e d e
Brasil em 74 t e n h a sido m u i t o m a i o r q u e i m a g i n a r q u e tal processo d e e x p a n s ã o a p o i a d a em tres coisas ao m e s m o t e m p o : t r a b a l h a d o r e s aos q u a i s c o n c e d i a t e r r a s
em 19-73. E m 74 a p r o d u ç ã o p a s s o u d o s 7 gere resistências, m a s q u e f o r ç a é c a p a z d e I) o a t a q u e d a f e r r u g e m , p r a g a q u e a t i n g i u p a r a q u e c o m o p r o d u z i d o se a l i m e n t a s s e ,
milhões de t o n e l a d a s : 17 vezes m a i o r q u e e n f r e n t á - l o q u a n d o são as m u l t i - g r a v e m e n t e as p l a n t a s ; 2) a política d e abastecessem o próprio estabelecimento e
cm 1964. A s a f r a a t u a l será d e 9 ou 10 n a c i o n a i s q u e se e m p e n h a m nele? e r r a d i c a ç ã o d e c a f e z a i s nessas á r e a s m a r - comercializassem o excedente. Com o
milhões d e t o n e l a d a s , q u a s e 20% da Em Ijuí, p o r e x e m p l o , velha z o n a d e ginais o n d e são f r e q ü e n t e s as g e a d a s (nos d e s a p a r e c i m e n t o d e tais d e p e n d e n t e s , o
produção m u n d i a l . colonização a l e m ã n o Rio G r a n d e d o Sul, últimos 3 anos recomeçou o estímulo para p a t r ã o n ã o m a n t é m o cultivo a n t e r i o r
D e s c o n t a d o s 3 m i l h õ e s d e t o n e l a d a s - chegou-se a v e n d e r o h e c t a r e d e t e r r a a $ p l a n t a r c a f é , m a s e m t e r r a s a l t a s livres d e porque seus rendimentos são muitos
para a i n d ú s t r i a (600 mil t o n e l a d a s de 20 mil. g e a d a s , sul d e M i n a s G e r a i s , p o r e x e m - baixos.
óleo p a r a c o n s u m o ) , s o b r a m pelo m e n o s 6 No oeste d o P a r a n á - f l o r e s t a virgem plo); 3) q u e d a dos preços i n t e r n a c i o n a i s ; o Assim, m u d a a d i e t a a l i m e n t a r d o
milhões de t o n e l a d a s d e g r ã o s : a 250 até há m u i t o p o u c o - c o n s i d e r a - s e n o r m a l c a f é é u m p r o d u t o d i s p e n s á v e l e os g r a n - b r a s i l e i r o d e classe b a i x a . O grande

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dólares p o r t o n e l a d a , u m total d e 1,5 o p r e ç o d e $ 12.0000 p o r h e c t a r e . E m San- des países i m p o r t a d o r e s , c o m o Itália, res- p r e j u d i c a d o é o feijão. O s r e n d i m e n t o s n ã o
bilhões d e d ó l a r e s n u m a só s a f r a . E m a i s o to Ângelo, u m dos tres p r i n c i p a i s polos t r i n g i r a m as c o m p r a s . d e i x a m d ú v i d a s : se p r o d u z 500 a 600
pontes de P u e r t o U n z u é a Fray Bentos (is- p r a r terras nessas á r e a s de fronteira. Se a
so vai acelerar a finalização da e s t r a d a 14 a t u a l " i n t e g r a ç ã o " c o n t i n u a r no ritmo que
no U r u g u a i , q u e corta o país de oeste a vai. será difícil classificar de estrangeiros
leste), de Colón a P a y s a n d u (onde j á espera os b o n s sócios capitalistas.
fiel e dócil a e s t r a d a 26 p a r a servir de t r â n - Por ora. no norte u r u g u a i o — ao estilo
sito ao leste, noroeste e norte), de Fede- d o q u e já dissemos ocorrer no extremo sul
ración a Constitución e Belén, de Paso de d o Rio G r a n d e d o Sul — a barreira é es-

Os caminhos da
los Libres a U r u g u a i a n a ; e t a m b é m haverá t r u t u r a l : é o p o d e r e c o n ô m i c o e político do
u m a p o n t e em São Pedro, á g u a a c i m a d a l a t i f ú n d i o pastoril. E não é verdade que o

produção brasiguaya: ponte anterior.


São já notórias, até d e m a i s , as co-
p r e d o m í n i o dessa m e n t a l i d a d e pastoril a
nível nacional n o U r u g u a i e Argentina é
de Asunción a nexões da M e s o p o t â m i a a r g e n t i n a com o responsável direta pelo a t r a s o geopolítico
dos dois países? A e s t r u t u r a latifundiária é
Paranaguá sãol.260 km;
ocidente da Bacia d o P r a t a : via t ú n e l s u b -
lluvial S a n t a - Fé - P a r a n á e g r a n d e p o n t e c a p a z de resistir — a p e s a r da baixa

Paso de los Libres a


rodoviária Resistência - C o r r i e n t e s . p r o d u t i v i d a d e — à concorrência da
O q u e vai acontecer, depois d e 1980, a g r i c u l t u r a m o d e r n a q u e depende de in-

Rio Grande, 900 km; ao p o r t o de M o n t e v i d é u ? Se p e n s a r m o s s u m o s caros: m a q u i n a r i a , fertilizantes, et-


nas m a g r a s e x p o r t a ç õ e s t r a n s o c e â n i c a s de e. M a s a i n d a servirá de b a r r e i r a quando as

e de Colón c a r n e e lã, o p a n o r a m a é s o m b r i o .
Talvez p a r a a A r g e n t i n a seja i m p o r -
m u l t i n a c i o n a i s q u e c o n t r o l a m o comércio
m u n d i a l de grãos e i n s u m o s modernos
a Rio Grande, 700 km. t a n t e m a n t e r u m p o r t o de b o m nível e
b a i x o custo d e m a n u t e n ç ã o . A c o n s t r u ç ã o
decidirem o u t r a s políticas?
Em instâncias histórico-políticas di-
quilos de leijào contra 1200. 1300 quilos vares, q u e é ao m e s m o t e m p o general d o d o c o m p l e x o de B r a z o Largo c o n f i r m a r i a ferentes — às q u a i s se chegará inexo-
de soja por h e c t a r e n u m a m e s m a á r e a ; até exército d o P a r a g u a i — c o m p r o u q u a s e essa hipótese. r a v e l m e n t e , m a s com a t r a s o — o Uruguai
os c a m p o n e s e s médios o p t a m pela soja, 200 mil h e c t a r e s ao Instituto P a r a g u a i o de Já se sente em G u a l e g u a y c h ú (Uru- talvez pudesse t e n t a r a reconquista de seu
m e s m o q u e não utilizem i n s u m o s m o d e r - Bienestar R u r a l . guai) a euforia d e u m i m i n e n t e salto d e s o l a d o norte; isto é, projetar, como
nos. Os c o r r e d o r e s ,de e x p o r t a ç ã o ( i m p l a n - a d i a n t e : antes talvez d o t é r m i n o d a p o n t e t a r e f a patriótica u m tipo d e colonização
Em 1974. a p r o d u ç ã o de feijão foi d e tados pelo J a p ã o , q u e controla o t r a n s p o r - P u e r t o U n z u é - Fray Bentos p o d e r ã o e s t a r fronteiriça q u e permitisse u m a afirmação
2.50 milhões de t o n e l a d a s , u m pouco te m a r í t i m o com g r a n d e s b a r c o s g r a n e - i n s t a l a d a s 68 novas i n d ú s t r i a s . estável d o h o m e m u r u g u a i o com sua
m e n o s q u e os 2,55 milhões d e 7 a n o s an- leiros e repete assim no Brasil o velho es- terra. Há modelos b e m sucedidos no país,
tes: e os r e n d i m e n t o s b a i x a m tanto q u e m a b r i t â n i c o a p l i c a d o na A r g e n t i n a e Pensar nas obras hidrelétricas da c o m o a U n i d a d e C o o p e r á r i a de Cololó, no
q u a n t o os preços q u e o p r o d u t o r recebe, Uruguai) constituem uma forma integrada Bacia significa falar de 20 milhões de d e p a r t a m e n t o de Soriano, que justifi-
e n q u a n t o o c o n s u m i d o r p a g a c a d a vez de d i f e r e n t e s sistemas d e t r a n s p o r t e s — quilowattas — isto é, energia barata e c a r i a m p r o j e t a r u m a colonizaçã autô-
mais caro. devido à insuficiência d a oferta rodoviário, ferroviário, fluvial — q u e per- abundante em curto e médio prazos. noma.
global, m a n i p u l a d a pelos i n t e r m e d i á r i o s . * mitem a e v a c u a ç ã o em m a s s a d a p r o d u ç ã o E até a o r g a n i z a ç ã o d o tipo empre-
Outro alimento popular como a man- d o interior até os portos e x p o r t a d o r e s . T o r n a - s e pois imprescindível d e s e n h a r sarial seria válida, com u m Estado forte,
dioca — c o n s u m i d a d i á r i a m e n t e c o m o São os p o n t o s de ligação d a fase t a m b é m d e s d e já a i n t e g r a ç ã o estável d a n a c i o n a l i z a d o r e a u d a z a t r á s de si. Muitas
f a r i n h a — j á t i n h a s o f r i d o u m processo de p r o d u t i v a com a f a s e a g r o - e x p o r t a d o r a , e a g r i c u l t u r a dos países d a zona e em p a r - vezes se p e n s o u por essas latitudes que as
substituição, i m p u l s i o n a d o pelo trigo. E suas projeções são t a n t o i n t e r n a s q u a n t o ticular de sua a g r o - i n d ú s t r i a alimentícia. explorações a g r o p e c u á r i a s necessitam do
c o m o a sociedade h u m a n a n ã o d á passos internacionais. Pode-se e n u m e r a r 4 co- P o r q u e , por e x e m p l o . se A r g e n t i n a , p r o p r i e t á r i o presente no local, para au-
p a r a trás em seus níveis a l i m e n t a r e s . a rredores, de norte a sul: 2 d o interior in- U r u g u a i e o sul d o Rio G r a n d e têm van- m e n t a r o r e n d i m e n t o . O fenômeno da
.meta brasileira a t u a l é se a u t o - a b a s t e c e r terno e 2 com influência transacional: tagens c o m p a r a t i v a s evidentes p a r a a m o d e r n i z a ç ã o brasileira m o s t r a a pos-
de trigo, o q u e é um d e s a f i o : p a r e c e q u e o Minas G e r a i s — Vitória p a r a m i n e r a i s ; p r o d u ç ã o de c a r n e bovina e leite, n ã o se sibilidade de q u e h a j a proprietários fora e
Brasil já chegou aos 3 milhões d e tone- São P a u l o — S a n t o s p a r a t o d a a p r o d u ç ã o j u s t i f i c a r i a m os g r a n d e s investimentos q u e q u e a p r o d u ç ã o seja a s s e g u r a d a por ad-
ladas. m a s precisa a g o r a d e 4,5 milhões paulista; P u e r t o Stroessner — Foz d e o Brasil p r e t e n d e fazer — P l a n o Polocen- m i n i s t r a d o r e s eficazes, com altos ren-
p a r a se a b a s t e c e r e as necessidades vão Iguaçu — P a r a n a g u á ; Passo de los Libres tro — na m u i t o difícil á r e a de c e r r a d o d o d i m e n t o s devido- à tecnologia utilizada.
continuar aumentando. — Porto Alegre — Rio G r a n d e . p l a n a l t o c e n t r a l c u j o c e n t r o é Brasília. (O Daí b a s t a r i a u m p e q u e n o salto de
Dos p r o d u t o s imprescindíveis p a r a 4 O c o r r e d o r q u e chega a Paranaguá c h a m a d o P l a n o Polocentro está n o c o m e ç o a u d á c i a g o v e r n a m e n t a l p a r a conceber o
de c a d a 5 brasileiros, resta f i n a l m e n t e o •pode ser visto f a c i l m e n t e sobre o t e r r e n o : d e execução, n u m a á r e a - p i l o t o d e 3 mi- p r ó p r i o E s t a d o c o m o proprietário da
arroz. E há indicações recentes d e q u e é só seguir a pista dos silos, p o r q u e já está lhões de h e c t a r e s em M i n a s G e r a i s , G o i á s terra, a p o i a d o em a s s a l a r i a d o s seguros de
t a m b é m com ele as coisas n ã o vão m u i t o montada uma infra-estrutura completa e M a t o Grosso, q u e vai p r e c i s a r d e m u i t o sua fonte d e t r a b a l h o e conscientes do
b e m . Na ú l t i m a s e m a n a de j a n e i r o deste p a r a m o v i m e n t a ç ã o de cereais, m e d i a n t e a fertilizante p a r a m e l h o r a r as p a s t a g e n s . papel histórico a c u m p r i r .
a n o houve u m E n c o n t r o E s t a d u a l d e qual as g r a n d e s e m p r e s a s c o m e r c i a m com M a s o " f e r t i l i z a n t e " principal j á existe: 1 Não se t r a t a , é claro, de jogar um
Rizicultores em I t a q u i . Rio G r a n d e d o toda f a c i l i d a d e d e n t r o d o P a r a g u a i (com- b i l h ã o d e d ó l a r e s j a p o n e s e s p a r a a im- utópico papel histórico de " e n f r e n t a r " o
Sul: p a r t i c i p a r a m 556 p r o d u t o r e s e ao p r a m a m e l h o r preço a p r o d u ç ã o e as- plantação de um complexo agro-industrial Brasil e sim a s s u m i r a responsabilidade
a b r i r sessões o Presidente d a M e s a disse: s e g u r a m u m a saída r á p i d a e o r g a n i z a d a ) . b i n a c i o n a l . " E sem reinvindicar n e n h u m a intransferível d e c o n t r i b u i r p a r a uma or-
- N ã o - aceitamos a marginalização O c o r r e d o r de Paso d e los Libres a Rio facilidade fiscal p a r a e x p o r t a ç ã o d o s g a n i z a ç ã o p r o d u t i v a m a i s racional, com o
e c o n ô m i c a e social d o setor p r i m á r i o . G r a n d e tem c o m o eixo o sistema fluvial d a l u c r o s " , s e g u n d o O E s t a d o d e S. P a u l o d e fim de acompanhar d i g n a m e n t e os
A a g r o p e c u á r i a brasileira está c a r e n t e Lagoa dos Patos e m a i s a e s t r a d a P o r t o m a r ç o de 1975. U m d a d o p a r a c o m p a r a r : projetos d e i n t e g r a ç ã o macroregional- e
de u m a política agressiva p a r a sua revi- Alegre - U r u g u a i a n a , c o n e c t a d a com P a s o 0 p r o d u t o b r u t o i n t e r n o total d o U r u g a i é continental
talização econômica e social; precisa de de los Libres já na A r g e n t i n a . Aí há u m in- 1 bilhão e 500 mil dólares. A era secular d a exploração tradi-
estímulos iguais aos c o n c e d i d o s à orga- tenso t r á f i c o de m e r c a d o r i a s , s u p e r c a - cional agrícola está q u a s e no fim. E
nização industrial e comercial, se é q u e se minhões transportam maçãs e peras do Sintetizando: trata-se de uma corrida p a r e c e q u e vai ter a m o r t e merecida: por
deseja evitar um colapso no a b a s t e c i m e n t o Alto Valle d o Rio Negro e N e u q u é n até as contra o relógio, e muito desequilibrada i n a n i ç ã o ou d e s m a n t e l a m e n t o como acon-
de a l i m e n t o s e d e m a t é r i a s - p r i m a s " . metrópoles brasileiras.~ Seu t e r m i n a l se se atenta aos recursos humanos e m tece com os trastes já imprestáveis.
(Folha d a T a r d e . Porto Alegre. 28 d e definitivo será o já iniciado g r a n d e p o r t o jogo- M o r r e n u m m o m e n t o crucial da his-
janeiro). de Rio G r a n d e . tória l a t i n o - a m e r i c a n a : o d a substituição
Eis a s i t u a ç ã o d e m o g r á f i c a d o sul d o d o s m e r c a d o s t r a n s c o n t i n e n t a i s pelos
N-as m e s m a s sessões se d e n u n c i a v a a BrasH em 1970, s e g u n d o o M i n i s t é r i o d o
existência de mais de u m m i l h ã o d e hec- Parece lógico pensar que toda a m e r c a d o s regionais e continentais.
produção das Misiones e de outros lugares P l a n e j a m e n t o (cm m i l h a r e s d e h a b i t a n -
tares improdutivos, só n o Rio G r a n d e d o tes): P a r a n á 6.930. S a n t a C a t a r i n a 2.902,
Sul. do nordeste argentino vão chegar ao É um lindo desafio esse: empreender o
Atlântico através do território brasileiro, e Rio G r a n d e d o Sul 6.665. T o t a l : 16.497. desenvolvimento total da Bacia do Prata
Sintetizando: sem reforma agrária — que devido a esse deslocamento a eco- Desses q u a s e 17 milhões q u e o c u p a m em beneficio de seus 70 milhões de ha-
elemento básico para redistribuir a renda nomia do norte e do leste do Uruguai será 580 mil q u i l ô m e t r o s q u a d r a d o s , 5 milhões bitantes. Mas para chegar a isso há que
— é pouco alentador o panorama alimen- prejudicada. têm mais d e 10 a n o s . firmando a p o p u - revelar muitas incógnitas e resolver
tar para o brasileiro médio e principal- lação ativa. Ao c o m p a s s o dessa força d e inúmeras contradições.
mente para o p obre, isto é, para os 50 Fatos políticos c o n f i r m a m essas sus- t r a b a l h o e d a s altas t a x a s d e n a t a l i d a d e se
milhões de habitantes que hoje possuem peitas: n o dia 9 de m a r ç o deste a n o deu-se a p e r f e i ç o a m as p o n t a s de lança d a civi- O q u e é r e a l m e n t e a integração? Com
apenas 15% da renda nacional. em C a m p o G r a n d e o e n c o n t r o Geisel — lização u r b a n i z a d a d o novo sul: P o r t o q u e m deve ser feita? Em q u e bases deve se
Stroessner. E n t r e os projetos p a r a início Alegre . 1 m i l h ã o d e h a b i t a n t e s ; C u r i t i b a , e s t r u t u r a r ? Q u a l é a perspectiva inte-
O p r o b l e m a é grave. U m país tão ex- i m e d i a t o q u e a c e r t a r a m estava a e s t r a d a 600 mil; Florianópolis, 250 mil; Pelotas, g r a d o r a q u e m e l h o r se a d a p t a aos países
tenso c o m o o Brasil n ã o tem t e r r a s férteis P u e r t o Stroessner - - E n c a r n a c i ó n , finan- 200 mil; S a n t a M a r i a , Rio G r a n d e e Bagé, p l a t i n o s ? Essas perspectivas têm ligação
suficientes p a r a n ã o precisar i m p o r t a r ciada pelo Brasil A p o t ê n c i a d o norte 100 mil c a d a ; U r u g a i a n a e L i v r a m e n t o , 6 0 e n t r e si? C o m o se c o m p l e m e n t a essa "nos-
a l i m e n t o s d e áreas com v a n t a g e n s com- g a r a n t e assim a s a í d a , até P a r a n a g u á , d a mil c a d a . s a " i n t e g r a ç ã o com os projetos geopo-
parativas notórias: A r g e n t i n a e U r u g u a i . produção da área paraguaia mais dinâ- Só no Rio G r a n d e d o Sul n a s c e m p o r líticos d a á r e a d o C a r i b e ?
Daí q u e é i m p o r t a n t e r e s u m i r agora as mica; e as Misiones a r g e n t i n a s ficam a n o t a n t a s c r i a n ç a s q u a n t o o total d a T r a t a - s e de u m a lista de perguntas
projeções q u e a m o d e r n i z a ç ã o e x p a n - desligadas d o resto d o país, p o r q u e de E n - p o p u l a ç ã o t r a b a l h a d o r a r u r a l q u e está q u e t o d o leitor a t e n t o p o d e a m p l i a r e que
sionista da e m p r e s a agrícola brasileira tem c a r n a c i ó n a P o s a d a s são a p e n a s 150 hoje nos c a m p o s de t o d o o U r u g u a i . E esse devem f o r m u l a r - s e os E s t a d o s e todos nós,
sobre as á r e a s f r o n t e i r i ç a s desses dois quilômetros'. p a n o r a m a d e m o g r á f i c o p o d e se e s t e n d e r com ótica nacional e sem esquecer nunca o
países. Também não é demais lembrar uma aos o u t r o s países limítrofes: na z o n a leste papel q u e joga o imperialismo, aberta-
Dezenas de m i l h a r e s de c a m p o n e s e s situação c o m o essa na Bolívia: a c o n e x ã o d o P a r a g u a i ( D e p a r t a m e n t o s d e Caa- m e n t e ou m a s c a r a d o pelas empresas mul-
brasileiros f o r a m e m p u r r a d o s até a m a r - S a n t a C r u z - C o r u m b á - São P a u l o - San- g u a z u . A m a m b a y e Alto P a r a n á ) há m e n o s tinacionais.
gem direita d o rio P a r a n á , nesta d é c a d a . tos fixa u m a o r i e n t a ç ã o d e f i n i d a p a r a o de 10 h a b i t a n t e s por q u i l ô m e t r o q u a - U m a coisa sim deve ser clara para nós,
Se diz q u e há 150 mil na l a r a n j a d e mil comércio d o leste boliviano. d r a d o ; na zona noroeste d a A r g e n t i n a s e m p r e : a i n t e g r a ç ã o deverá conduzir
q u i l ô m e t r o s q u e vai d e Bella Vista a Os formidáveis projetos hidrelétricos (Chaco. F o r m o s a Misiones, C o r r i e n t e s e n e c e s s a r i a m e n t e a um desenvolvimento
Carlos A. Lopes, e c h e g a m à r a z ã o de 200 binacionais em execução, ou projetados Três D e p a r t a m e n t o s ao norte de S a n t a a u t ê n t i c o e n ã o - d e p e n d e n t e — e no
por dia nessas terras a b s o l u t a m e n t e si- sobre os rios P a r a n á e U r u g u a i , t r a r ã o Fé) a d e n s i d a d e é 6 h a b i t a n t e s por k m e c o n ô m i c o c social, político e cultural, téc-
milares às q u e vinham t r a b a l h a n d o em o u t r a s t a n t a s vias de c o m u n i c a ç ã o . Por- q u a d r a d o ; e aí estão a p e n a s 3% d a pro- nico e científico — essa nova etnia de
sua p á t r i a . q u e com c a d a nova represa q u e se constrói d u ç ã o industrial d o país. "criolios e gringos a c r i o l l a d o s " que somos
E mais: por e x e m p l o . 1 dç c a d a 5 fica estaleeida u m a p o n t e rodoviária e O U r u g u a i não tem possibilidade al- aqui n o sul. P o r q u e já é t e m p o , depois de 4
brasileiros seria r e p r e s e n t a n t e d i r e t o dos u m a eventual via férrea, e assim a u m e n - g u m a de fazer f r e n t e à m a r é d e m o g r á f i c a e- séculos de injustiças e prorrogações, que
mandes empresários. A União de Em- tam as conexões leste - oeste. agrícola sul-brasileira. Serão p o u c o úteis, d e i x e m o s de ser um m e r o objeto da his-
presas Brasileiras s e d i a d a cm A s s u n ç ã o -— Basta p e n s a r no q u e vai a c o n t e c e r com inclusive os freios jurídicos r e f e r e n t e s a tória e nos c o n v e r t a m o s participantes
presidida pelo general brasileiro Sá T a - o rio Uruguai,: antes de 1980 p o d e r á ler limites p a r a q p e , e s t r a n g e i r o s , p o s s a m c o m - ativos d o c o m u m p r o j e t o lationameriçat)Q v
Ex-14

NAIRLÂNDIA
8 horas da manhã. Tempo de geada no 18 anos, vesgo, filho de inspetor de
Entre o Largo do Pelourinho e o Ter
Norte d o Paraná. U m vento frio varre Policia e m Maringá, c a m i s a rosa encar-
reiro de Jesus, pertinho d a Baixa do
papel e bitucas de cigarros das. d u a s ruas dida e cheirosa de suor, mal dormido:

O U JARDIM
Sapateiro, o brçga d o Maciel. Ali se
da Nairlândia - de terra, esburacadas, a — T o m e i sereno, meu!
reúnem mais d e 2 mil pessoas • biscateiros,
rua das Rosas e a das Margaridas. Com o Ele estende na p a l m a da m ã o 3 fo-
pivetes, ladrões, viciados, costureiras, al-
tempo, ficaram sendo rua de Cima (Rosas) tografias 3 x 4 e explica:

DA LIBERDADE
coólatras. E m o r a m as prostitutas da
e rua de Baixo (Margaridas). — A loira é a matriz e as d u a s m o r e n a s
cidade. São 8 ruas, becos, ruelas, tom. -
Afora os cachorros, esparramados por filiais. Por pura falta de sorte as 3 en-
badas pelo Patrimônio Histórico Nacional
tudo quanto é canto sob o solzinho da gataram cobertor de orelha pra noite in-
(é o conjunto arquitetônico colonial mais
Por Tadeu Felismíno m a n h ã , não se vê mais ninguém. As casas teira.
representativo da América Latina). Até a
estão fechadas. Mais d a metade de ma- E o neguinho t o m o u sereno porque, en-
metade do século passado era zona de
deira, pintadas c o m tinta que descorou e tre dormir sozinho n u m quarto de zona e
gente fina, residência das melhores fa
descascou. Montes de lixo reclamam dormir dentro de u m carro, é m u i t o mais
milias de Salvador. Hoje, u m dos maiores
visitas semanais dos caminhões da Lim- digno dormir no carro. A preocupação
Índices de tuberculose do m u n d o , está
Dizem: peza Pública de Arapongas," para quem com a Policia tem explicação. N a noite an-
passando por u m plano de restauração ar-
— A Nairlândia é a maior zona do Nairlândia paga - muito a contragosto - terior teve batida.
quitetônica e social.
Brasil. uma série b e m comprida de taxas e im- — E l e s vieram atrás d o Carlão, sei lá
postos. por que - ele é gente boa, saca? t a m b é m
Dilton Mascarenhas fez as fotos Fica a 35 quilômetros de Londrina,
Baiano, 24 anos, estudante de Comuni- Norte d o Paraná, entre Arapongas e D e dentro de um táxi, estacionado ao não sei onde ele se enfiou na hora, porque
cação da Universidade da Bahia, fotógrafo Apucarana, pouco mais que um quar- lado d o M a x i n g - a casa d o Geraldo - u m eu tive que cair no mato. U m a vez m e
há 2 anos. Antes, Dilton tentou ser repór- teirão de episas, ilhado por um cinturão de rapazola negro m e flagra de m á q u i n a pegaram b o d a n d o n u m q u a r t o e me
ter, mas não deu. Virou jardineiro, acabou mato: nas 4 0 casas d o lugar, vivem mais de fotográfica nas mãos. Não sossegou en- levaram. Naquele dia foi uma limpa geral.
comprando uma m á q u i n a fotográfica. Só 200 pessoas - entre prostitutas, gigolôs, quanto não expliquei direitinho que era T o d o m u n d o tava bodando. Por aqui.
sabia apertar o botão, resolveu se meter homossexuais e donos de boates. A área jornalista e não da polícia. Então, me h o m e m não pode bodá, saca?
pelas ruas de Salvador, "fotografando foi loteada há seis anos, junto à Prefeitura convidou a entrar no carro e me esconder Bodar significa dormir, descansar.
gente, a melhor maneira de aprender". E de Arapongas, por um japonês c h a m a d o do frio, até o seo Vicente abrir o bar. — E q u a n d o a Policia pega, o que acon-
fez este trabalho, O Fim do Brega do Miyake, que lhe deu premeditadamente o — M e u nome é Adelino, mas todo o tece?
1
Maeielv nome de Jardim dá Liberdade. m u n d o ríie c h a m a de Tico, ou Negritiho.' • • ^ S e m p r e eles pedem grana'. N o f u n d o
eies t ã o é a fim de g r a n a . Cê sabe. né, Lá pelas dez h o r a s os gigolos c o m e ç a m t a d o de Goiás. — O u v i dizer q u e ele tá intoxicado,
s a m a n e a não g a n h a l i a d a . Se você n ã o t e m a sair d a s casas. Eles a p a r e c e m n o meio d a Fitético ficou, depois d e receber n a Jus- saca?
eles te levam p r a cadeia e te d e i x a m lá u m r u a , se e s p r e g u i ç a n d o d e b a i x o d o sol, e vão tiça os 1.700 cruzeiros q u e N a i r lhe devia. E os gigolôs:
ou dois dias. b o d a n d o . P o r r a d a na gente direto ao b a r d o Vicente, t o m a r o café. N a i r l â n d i a cresceu e p r o s p e r o u . Já teve — O , F i t é t i c o ! Ouvi dizer q u e você
eles não d ã o . q u e eles c o n h e c e m a gente, D u m c a n t o d o b a r , u m q u a r e n t ã o es- t e m p o q u e 300 m u l h e r e s - as m e l h o r e s d o m o r r e u na s e m a n a p a s s a d a . O q u e houve?
saca? T e m m u i t o s a m a n e a q u e vem p a s s a r quelético olha d e m o r a d a m e n t e as pessoas país. dizem — p a r a r a m de u m a vez só n a Esqueceu d e cair?
as férias a q u i no brega. C h e g a a q u i com as e as coisas. F u m a v a g a r o s a m e n t e u m zona de A r a p o n g a s . Foi o t e m p o dos Dizem q u e já é i m p o t e n t e , m a s q u e
férias na m ã o . d i n h e i r o vivo, e só sai p r a cigarro em cima d o o u t r o , e n c o l h i d o n o coronéis, q u e n ã o vai m u i t o longe. V i n h a c o n t i n u a p r o c u r a n d o as m u l h e r e s .
voltar p r o t r a m p o , d u r o ou com d i n h e i r o seu canto. Não fala n e m ri, a p e n a s olha e delegado d a q u i , p r o m o t o r dali, juiz de n ã o D e n t r o d o b a r t o d o m u n d o f u ç a as
das m u l h é . escuta. Se c o n s u l t a d o , r e s m u n g a respostas sei o n d e , médicos, f a z e n d e i r o s d e t u d o prateleiras, t o m a d o c a f é p a s s a d o ago-
N e g u i n h o conheceu o b r e g a q u a n d o c u r t a s , q u e o pessoal d o b r e g a e n t e n d e . q u a n t o é c a n t o d o Norte d o P a r a n á . E o r i n h a n o c o a d o r , c o m e doces, b e b e p i n g a e
morava com a família, em A p u c a r a n a . O — É o Fitético - cochica N e g u i n h o . t r a n s p o r t e de t o d a essa gente g r a ú d a , q u e c o n h a q u e . O d o n o a i n d a n ã o levantou,
pai largava o c a r r o na m ã o dele t o d o fim Depois de m u i t o s a n o s m o t o r i s t a de fechava as p o r t a s d a s b o a t e s p a r a festejar m a s todos d e i x a m na gaveta o preço d a
de s e m a n a e ele baixava na z o n a com os táxi d e s q u i t o u - s e d a m u l h e r em M i n a s sozinha com as m u l h e r e s , era o Fitético c o m p r a : c a f é em c o p o d e aperitivo, p o r
amigos. Depois foi ficando, foi f i c a n d o , Gerais e veio t r a b a l h a r no Norte do q u e m fazia. Viajava noite e dia sem p a r a r , u m . c r u z e i r o a dose, s o d i n h a p o r dois
a família foi p a r a M a r i n g á , ele disse q u e ia P a r a n á . H á sèis a n o s q u a n d o u m a pros- a c o r d a d o à b a s e de e s t i m u l a n t e s . cruzeiros.
t r a b a l h a r e m o r a r em A r a p o n g a s e ficou •tituta veterana c h a m a d a Nair a b r i u as De uns meses p a r a cá c o m e ç o u a Só depois d o , m e i o - d i a as m u l h e r e s
na N a i r l â n d i a d u m a vez. Reconhece q u e a p r i m e i r a s casas, ele veio ser o seu motoris- emagrecer sem p a r a r e a b a n d o n o u a c o m e ç a m a a p a r e c e r . P r o c u r a m lugares ao
prostituta gosta d o c a r a e n q u a n t o ele é ta p a r t i c u l a r . M a s em m e n o s d e dois a n o s profissão. Vive p l a n t a d o ao l a d o d a s r o d a s sol e ficam ali, em pé ou d e cócoras, so-
novo e dá no c o u r o e q u e " d e p o i s , confor- a " g o r d a s a f a d a " — c o m o é l e m b r a d a hoje de gigolôs. o l h a n d o e e s c u t a n d o . M a n t é m n a d a s . Nas v a r a n d a s , p r o s t i t u t a s aposen-
me a gente vai b r o c h a n d o , elas j o g a m a a f u n d a d o r a — q u e b r o u d e dividas e teve os cabelos, já b r a n c o s , s e m p r e a p a r a d o s , e t a d a s ou gigolôs servis m a n e j a m vassoura,
gente p r a s t r a ç a s " . C h e g a m e s m o a ar- q u e c o r r e r dos credores. Com o q u e lhe um t o p e t e igual ao dos pleibóis d a d é c a d a r o d i n h o e escovão.
g u m e n t a r q u e "isso a q u i n ã o tem f u t u r o " , sobrou, a i n d a conseguiu f u n d a r , p e r t o de de 50, q u a n d o ele estava na casa dos 20.
p a r a t r a ç a r seus planos: Voltar logo-logo A p u c a r a n a , u m a b o a t e de p r i m e i r a , o n d e Veste-se i m p e c a v e l m e n t e : calça de tergal A principal r o d a f o r m a - s e ao l a d o d o
a e s t u d a r , r e t o m a n d o o fio d a m e a d a a só os c a r p e t e s c u s t a r a m m a i s de 20 mil com vinco, c a m i s a b r a n c a com riscas dis- b a r d o Vicente, na v a r a n d a d e u m a casa
p a r t i r da s e g u n d a série, o n d e p a r o u no a n o cruzeiros. M a s o d i n h e i r o n ã o d a v a p a r a cretas, paletó de tergal e s a p a t o "cavalo- a b a n d o n a d a há p o u c o t e m p o . O a s s u n t o
passado, e. se Deus quiser, virar enge- t a n t o e hoje. s e g u n d o se c o m e n t a , ela está d e - a ç o " (desses com sola g r o s s a e salti- d o dia é a b a t i d a d a policia, na noite an-
nheiro eletrônico u m dia. i n a u g u r a n d o novo e m p r e e n d i m e n t o no es- nho). verniz lustrado. terior.
De r e p e n t e , a p a r e c e n o m e i o d a r o d a criou a s u a l i n g u a g e m oficial, p r ó p r i a , t o a l h a n o pescoço, escova d e d e n t e s n u m a m a s n ã o d e i x a d e ser e l e g a n t e . C o m e ç o u a
uma c r i a n ç a , d i z e m q u e a ú n i c a d o l u g a r . p a r a o q u e i n c o r p o r o u d e f i n i t i v a m e n t e a d a s m ã o s . No salão, um músico do c a r r e i r a e m B a u r u , n o Noroeste, aos 17
É o Jefinho, filho d o G e r a l d o e d a I n á , ginga, a m a n h a , o h u m o r , o t r e j e i t o e o M a x i n g d o r m e , m e t i d o até a c a b e ç a a n o s . Becão vigoroso e r a ç u d o , foi logo
casados n o civil e n o religioso e c o m re- palavrão. debaixo de u m cobertor xadrez. Benedito, p a r a r n o São P a u l o , o n d e só p e r d e u a
sidência e s t a b e l e c i d a n o M a x i n g , p o r f o r ç a D o l a d o d e b a i x o d a r u a d e C i m a en- u m g a g o d e 50 a n o s , d e s d e n t a d o , b a r b i c h a posição p a r a o M o n t e Rey, o n d e viveu
de c i r c u n s t â n c i a s f i n a n c e i r a s adversas. O c o n t r o u m a m u l h e r , q u e se d e s p e d e d a cerrada e chapéu de palha desfiado (um m o m e n t o s d e glória, m o s t r a n d o o seu
menino p u l a de colo e m colo e c o m a n d a a N a i r l â n d i a . É a B e t h , 2 2 anos, d e n t a d u r a e p r o t ó t i p o d o Jeca T a t u ) , a j u d a P a r a g u a i a f u t e b o l p a r a os m e x i c a n o s . N o final d a
festa. N ã o e s t r a n h a n i n g u é m . F a l a t u d o , m a l a s p r o n t a s . na a r r u m a ç ã o d a c a s a . M i n e i r o , s e m c a r r e i r a - q u e d u r o u m a i s d e 15 a n o s - vol-
aos 2 a n o s e meio. — T e m m u i t a m u l h e r i n d o lá p r o oeste f a m í l i a e s e m c a s a , veio p a r a r n a N a i r l â n - tou a j o g a r n o A m é r i c a e saiu" d o f u t e b o l
— C u i d a d o c o m o q u e cê p i a n a o r e l h a d o P a r a n á . Diz q u e c o m a soja, o t r i g o e a dia p o r a c a s o , d i a s a t r á s , e p e n s a e m f i c a r . por o n d e e n t r o u , n o N o r o e s t e d e B a u r u .
do Jefinho. O s a f a d i n h o d e d a t u d o , co- u s i n a (Itaipu), d i n h e i r o t á c r e s c e n d o e m Na c o z i n h a , u m a m e n i n a d e u n s 16 a n o s Depois c a s o u c o m a I n á , e n t ã o e m p r e g a d a
chicha N e g u i n h o . h o r t a . M a s n ã o sei se vou p r á lá ou p r á São m e x e u m a c a n j a n o f o g ã o a gás. doméstica em Bauru, e entrou de cabeça
Paulo. Na r o d o v i á r i a eu d e c i d o . Sobre o papel de parede do Maxing, no comércio com o dinheiro que tinha
2 horas da tarde. Pelas r u a s d a Nai-
com t l o r z i n h a s d e u m v e r d e d e s c o r a d o e a j u n t a n d o na antiga profissão. Chegou a
rlândia as m u l h e r e s c i r c u l a m , s e m m a -
—Neguinho, quem é o prefeito daqui? encardido, manchas de terra roxa. Num ter u m e m p ó r i o c o m 3 p o r t a s d e aço. M a s
quilagem," m a i s d i s p o s t a s . M u l h e r e s
— S e i n ã o , s a c a ? A c h o q u e p o d e ser o c a n t o , p a r t e dos i n s t r u m e n t o s d ' O s Invic- faliu e m p o u c o t e m p o .
bonitas e feias, novas e velhas, n e g r a s e
brancas, g o r d a s e m a g r a s . V e s t e m p o u c a s G e r a l d o . tos (o pessoal d o C o n j u n t o , q u e t e m — T e n h o o coração grande demais -
roupas, a l g u m a s t ê m as p e r n a s m a n - Paraguaia é u m a prostituta aposen- amigas na Nairlândia, toca diariamente no discute o Geraldo, c a p r i c h a n d o no por-
chadas. M a s m a i s p a r e c e m a d o l e s c e n t e s t a d a , a m a i s a n t i g a d a N a i r l â n d i a . D e p o i s Maxing a 180 c r u z e i r o s . Nos fins d e t u g u ê s , - O fiado m e a r r u i n o u .
de q u e r m e s s e s d o m i n i c a i s , e m p a r ó q u i a s d e c o r r e r o m u n d o , veio e n c e r r a r a c a r r e i r a s e m a n a vão a n i m a r bailes de clubes Sem e s t u d o - n ã o c o n s e g u i u c o n c l u i r o
de vilas e c i d a d e s p e q u e n a s . A n d a m j u n - a q u i , há 6 a n o s , a i n d a n o t e m p o d a Nair. f a m i l i a r e s , em c i d a d e s d a região). No g i n á s i o - teve q u e c o n t i n u a r se v i r a n d o n o
tas, a l g u m a s de m ã o s d a d a s , e t i r a m Lenço n a c a b e ç a , o inevitável b a t o m ver- o u t r o c a n t o , u m a v e l h a vitrola. c o m é r c i o . Foi ser, e n t ã o , a d m i n i s t r a d o r d e
soslaios p a r a os l a d o s d a s r o d a s , o n d e melho, b a s e s o b r e as r u g a s d o rosto, ela G e r a l d o e n t r a n o s a l ã o . l , 8 0 m , en- um cassino em Bauru, introduzindo-se
outras m u l h e r e s j á t o m a m c o n t a d o s seus v a r r e a v a r a n d a d o M a x i n g , f a c e i r a e v a r e t a d o , c a l m o e sério, p e r n a s g r o s s a s d o s rapidamente nos a m b i e n t e s noturnos.
amigos. O u t r a s c a r r e g a m r a d i n h o à p i l h a , a p r e s s a d a c o m o q u a l q u e r d o n a d e c a s a tempos de jogador profissional, negro. Depois disso a i n d a t e n t o u e n t r a r p a r a a
sintonizando p r o g r a m a s de m ú s i c a . zelosa. A p e s a r d o s 39 a n o s , a l g u n s fiapos b r a n c o s policia, m a s n ã o c o n s e g u i u . N a é p o c a
O vernáculo, m e s m o em rodas mistas, Vou e n c o n t r a r o G e r a l d o , p a i d o se i n s i n u a m na c a b e l e i r a , vasta e e n c a - t i n h a p a s s a d o 3 meses d a i d a d e m á x i m a
não é r e s p e i t a d o . P a r e c e q u e a N a i r l â n d i a m e n i n o J e f i n h o , n a p o r t a d o b a n h e i r o , r a p i n h a d a . Veste-se c o m s i m p l i c i d a d e , (35 anos).
E n t ã o veio p a r a a N a i r l â n d i a , há mais — O El D e d o n é u m j o r n a l z i n h o q u e so filha, sua m ã e c o r r e r i a m ao sair na r u a ? O pinados, o c o r p o inteiriço. O m e u fascínio
de 3 anos. onde a r r e n d o u d u a s casas, mes- diz verdades. Não o f e n d e n i n g u é m , m a s h o m e m , por n a t u r e z a , é mais impetuoso, é c o r t a d o por um alerta d o N e g u i n h o , ao
mo c o n t r a a vontade de Iná. deda e tira s a r r o em todas as p e q u e n a s precisa mais de sexo q u e a m u l h e r . O pé d a m i n h a orelha:
— Q u a n d o eu cheguei a q u i a i n d a havia verdades a q u i d o J a r d i m da L i b e r d a d e . h o m e m , a p r ó p r i a sociedade, precisam
m u i t o dinheiro. T i n h a m u i t o b a n d i d o Ele é feito de notas c u r t a s , fáceis de ler, disso a q u i . No e n t a n t o , o . q u e a gente vê é — I s s o aí é h o m e m , m e u , s a c a ?
t a m b é m , m a s dava pra viver. Com o t e m p o coisas q u e a gente fica s a b e n d o n a s r o d a s um preconceito c o n t r a a z o n a q u e n ã o t e m E n q u a n t o m e refaço, ele d e s c a r t a :
o m o v i m e n t o foi caindo, o d i n h e i r o de- de b a t e - p a p o . Q u a n d o sai, t o d o m u n d o vai cabimento. A própria prefeitura mar- — T e m d u a s dessas a q u i . A o u t r a m o r a
sapareceu de r e p e n t e e eu tive q u e ficar so' no Urias ler. ginaliza. Veja você q u e o J a r d i m d a Liber- na C a r m e m .
com o M a x i n g . d a d e é um l o t e a m e n t o c o m u m d a pre-
U l t i m a m e n t e , com a f a l t a de m e r c a d o feitura de A r a p o n g a s . A q u i t o d o s nós Desço p a r a a r u a d e Baixo, a d a s M a r -
M a s m e s m o o M a x i n g está a t o l a d o p a g a m o s impostos e, aliás, m u i t o m a i s d o g a r i d a s , r u m o à r o d a de b a r a l h o d o Nél-
para a p r o d u ç ã o , p r i n c i p a l m e n t e de café,
em dividas.. Sem pessimismo ele f a z u m a que t o d o m u n d o p a g a p o r aí. P a g a m o s s o n - G o r d o , o d o n o d o é m p ó r i o . No ca-
d o Norte d o P a r a n á , o m o v i m e n t o d e
previsão d a sua falência: Sicam, F u n r e s p o l , I C M , I m p o s t o sobre m i n h o sou s a u d a d o :
c a m i n h õ e s nas e s t r a d a s t e m c a í d o m u i t o .
— É b e m possível que, antes m e s m o d a E u m a g r a v e crise de d i n h e i r o t o m o u c o n t a Serviços de Q u a l q u e r N a t u r e z a , Alvará d a — O repórti gostoso!
sua r e p o r t a g e m sair no jornal, eu j á n ã o do Jardim da Liberdade. — como Geraldo S a ú d e Pública, Alvará de Licença d a D o u as explicações p e d i d a s sobre o
esteja m a i s aqui. insiste em c h a m a r . C o m isso, os p r o b l e m a s P r e f e i t u r a , e I m p o s t o Predial, também meu t r a b a l h o , i n v a r i a v e l m e n t e acabo
foram se a c u m u l a n d o e m u i t a gente p r a p r e f e i t u r a . E o b r e g a n ã o t e m asfalto, d e i x a n d o alguns cigarros e v o u - m e e m -
Ele se tornou m u i t o p o p u l a r logo q u e mudou para outros bregas. E d a í o não t e m serviço d e á g u a , n e m d e lixo, n e m b o r a , c o m convite p a r a voltar depois d a s 2
chegou. F o r m o u o M a d r u g a d a Futebol M a d r u g a d a FC faliu, depois d e c a m p a - de i l u m i n a ç ã o p ú b l i c a , n e m d e esgoto, da m a d r u g a d a , . q u a n d o a c a b a r o mo-
Clube, o t i m e da N a i r l â n d i a , q u e chegou a n h a s m e m o r á v e i s ; o El D e d o n deixou d e nem n a d a . . . . vimento.
jogar mais de 30 p a r t i d a s sem p e r d e r sair, a z o n a ficou m a i s triste. M a s Geral-
n e n h u m a . Depois foi o r e d a t o r - c h e f e d o El do. com m a g n e t i s m o e a s u a l i d e r a n ç a ,
Dedon. em principio um m u r a l s e m a n a l c o n q u i s t a d a n a t u r a l m e n t e , c o n t i n u o u sen- 6 da tarde. Localizo, n o meio d a r u a , 8 da noite. C a r l ã o é o s u j e i t o que,
feito à m ã o . sobre c a r t o l i n a , q u e ficava ex- d o o prefeito. u m a m u l h e r m o r e n a , a l t a e m a g r a , talvez s e g u n d o o N e g u i n h o (de m a n h ã ) estava
posto no 2001. o b a r d o Urias. M a i s t a r d e — I s s o a q u i é u m a válvula d e escape a m a i s b o n i t a q u e vi até a g o r a e m Nairlân- Sendo p r o c u r a d o pela Polícia n a noite an-
teve até n ú m e r o s m i m e o g r a f a d o s em biologico e psicológico p a r a a s o c i e d a d e dia. No fim d a t a r d e , c a m i n h a descalça terior. T e m 24 a n o s . e s t a t u r a m e d i a n a ,
A r a p o n g a s e d i s t r i b u í d o s em t o d o o b r e g a , Se n ã o existissem as z o n a s você j á pensou pela r u a d e t e r r a , c o m leveza. U s a r o u p a s b a r b a e s f i a p a d a , n a r i z v e r m e l h o de res-
g r a t u i t a m e n t e . G e r a l d o fala d o j o r n a l . no risco q u e a s u a i r m ã , s u a m u l h e r , s u a c u r t a s e t r a n s p a r e n t e s , t e m os seios e m - f r i a d o , cabelos c a s t a n h o s em d e s a l i n h o . É
leio. M a s t e m u m jeito alegre e sincero d e c o m o u m a g a r r a f a d e s s a s . Ela só vira pes- p o u c a s s ã o as luzes acesas. No Bar d o sões f a m i l i a r e s e f u g i u p r a N a i r l â n d i a c o m
falar, d e sorrir e d e o l h a r p a r a as pessoas. soa. gente, m u l h e r d e c o r p o e a l m a , q u a n - Urias os gigolôs assistem " M e u Rico Por- o m ú s i c o d e u m c o n j u n t o q u e a n i m a v a as
— M e u velho é rico p a c a . do, vai com você, s a c a ? É isso q u e é. Cê j á t u g u ê s " pela televisão. n o i t a d a s d o C o p ã o . Está corr) ele a t é hoje e
viu coisa m a i s linda q u e a p a l a v r a p u t a ? . m e pede para não espalhar em Londrina o
No b a r d a r u a d e Baixo, ele m e c o n t a M a s ele d o r m e t o d o dia d a s 9 d a n o i t e ' Na m i n h a c a b e ç a u m a d ú v i d a e l e m e n - seu p a r a d e i r o , q u e a f a m í l i a deve e s t a r
sobre a b a t i d a policial d a s e g u n d a - f e i r a : às 2 da m a d r u g a d a , p a r a n ã o ver M a r i z a ir, tar c o m e ç a a g a n h a r c o r p o : o n d e é q u e eu p r o c u r a n d o , " m a s eu t ô legal a q u i " .
coisa d e a l g u m "dedo-duro". p a r a o q u a r t o com o u t r o h o m e m . D a s u a vou p a s s a r a noite. E m p r i n c i p i o , a pers- Nas r u a s . d e f r o n t e as casas, u m n ú -
— T a í u m t i p o d e g e n t e q u e eu n ã o parte, ela t a m b é m t e m u m a s a í d a . pectiva d e c o m p r a r u m a m u l h e r e usá-la m e r o razoável d e c a r r o s , vindos p r i n c i p a l -
agüento. Tem um moleque por aqui, o — F i c o o l h a n d o p r o teto, s a c a ? N ã o como um objeto me parece abominável. mente de Arapongas e Apucarana. Os
Jcsuíno. q u e a n d a v a t i r a n d o u m a d e acontece nada... 9 horas. U m clarão vermelho, sensual e m a i s e l e g a n t e s vão d i r e t o p a r a o S a m a m -
c a g u e t a . O u t r o d i a j u n t e i ele n a p o r r a d a As p r o s t i t u t a s n a N a i r l â n d i a g a n h a m p e c a m i n o s o se e r g u e d a N a i r l â n d i a . e m - baia. a única boate com estacionamento
aqui em b a i x o e f u i m a r r e t a n d o ele até lá em m é d i a . 2 mil c r u z e i r o s p o r m e s . Essa b a l a d o p o r Alternar D u t r a e o u t r o s ro- p r ó p r i o , t a p e t e no c h ã o , g a r ç o m , lustres,
em c i m a . q u a n t i a t e n d e a s u b i r p a r a a t é 3 mil nos m â n t i c o s . As p r o s t i t u t a s e s t ã o t r a n s f o r - sala d e espelhos e, e n f i m , t o d o s os r e q u i n -
M a r i z a n ã o larga dele, é a s u a a m i g a . meses d e calor e a cair p a r a mil cruzeiros, m a d a s : a m a i o r i a a p a r e c e nos salões d e tes e a d i s c r i ç ã o d e u m a b o a t e d e p r i m e i r a .
Fico c o n h e c e n d o , a t r a v é s deles, d u a s no i n v e r n o , q u a n d o d i m i n u i o m o v i m e n t o . p e r u c a , o rosto i n t e n s a m e n t e m a q u i l a d o .
n o r m a i s b á s i c a s d e f i d e l i d a d e : l) H o m e m Parte do dinheiro Mariza dá para o Carlão Nas j a n e l a s , n a s p o r t a s e v a r a n d a s elas se Deu sono. Do o u t r o l a d o d a r u a , n u m a
não p o d e t r a n s a r o u t r a s m u l h e r e s . 2) A - " p r o c i g a r r o e pros p i n g ã o " , o u t r a ela o f e r e c e m . A N a i r l â n d i a virou u m a g r a n d e janela, uma mulatinha c h a m a d a Paula
m u l h e r n ã o p o d e d o r m i r de g r a ç a n e m gasta c o m os m a s c a t e s q u e a p a r e c e m feira. a g i t a d a e f o g u e t e i r a , r e f o r ç a e m altos
p e r m i t i r q u e q u a l q u e r o u t r o h o m e m passe diariamente no b r e g a e a u l t i m a fica Na p r i m e i r a c a s a , a C a r m e l â n d i a , en- b r a d o s , o convite q u e m e fez à t a r d e , p a r a
a noite c m sua c a m a . A vigilância é re- g u a r d a d a . Eles p e n s a m em sair d a Nai- c o n t r o sem m u i t o s u s t o u m a velha co- procurá-la depois das 2 da m a n h ã .
cíproca e i n v a r i a v e l m e n t e envolve u m rlandia um dia - q u a n d o o C a r l ã o tiver lá n h e c i d a . i r m ã de u m a ex-namorada A iminência de u m a c a m a chega a me
ciúme doentio. pelos 28 a n o s - com um filho e d i n h e i r o m i n h a . C h e g o u a c a i r na g a n d a i a em Lon- comover, m a s a i n d a n ã o m e h a b i t u e i c o m
— C ê tá v e n d o essa g a r r a f a - explica deles p a r a c o m e ç a r a vida. M a r i z a está d r i n a m e s m o , d e p o i s d e u m a vida re- a idéia d e u m a t o sexual a t r o c o d e di-
C a r l ã o . d i d a t i c a m e n t e , com u m v a s i l h a m e com 22 a n o s . c a t a d a até os 22 a n o s . M o ç a d e classe n h e i r o . E n q u a n t o c a m i n h o pela N a i r l â n -
d e coca-cola na m ã o - Cê a c h a q u e t e m al- m é d i a , sem m u i t o e s t u d o e sem perspec- d i a . vou b u s c a n d o o u t r a s s a í d a s . A c a b o
g u m a coisa d e m a i s v e n d e r o g a r g a l o .lá c noite na Nairlandia. S u b i t a m e n t e tivas mais a n i m a d o r a s d e c a s a r , d e u d a d e i x a n d o essa m e d i t a ç ã o p a r a m a i s t a r d e .
dela por 50. l(X) c o n t o s ? Não. ne? Pois é as r u a s estão d e novo d e s e r t a s , t o m a d a s p a s s e a r à noite no C o p ã o . b a r n o t u r n o d e Por e n q u a n t o , estou m a i s p r e o c u p a d o
isso. m e u : c o m o u t r o s c a r a s t u a m u l h e r é pelos c a c h o r r o s . As c a s a s e s t ã o f e c h a d a s e L o n d r i n a . Depois, deve ter r e c e b i d o pres- em m e virar p o r a q u i m e s m o . Talvez " e n -
— Eu t r a b a l h a v a n u m a g r a v a d o r a e m v o u r a s d e a l g o d ã o , c a f é e rarni. d e M i n a s — Cê n u n c a p e n s o u e m se a r r a n c a r d a q u i ,
L o n d r i n a e tava g a m a d a n u m d o s d o n o s . G e r a i s e São P a u l o , a n t e s d e c h e g a r a o procurar um emprego, voltar pra casa do
M a s daí o sócio foi c h e g a n d o p r o m e u Jardim Leonor. subúrbio de Londrina. teu p a i . q u a l q u e r coisa a s s i m ?
l a d o . c o m o q u e m tá a f i m d e a l g u m a coisa. —Vamos dançar - proponho. —Pra c a s a d o m e u p a i eu n ã o volto.
C o n h e c e o Celso d a T V ? Pois é. a p r i m e i r a — N u m sei d a n ç á . s a c a ? Q u a l q u e r coisa é m e l h o r q u e a q u i l o lá.
ve/. q u e eu fui. foi c o m ele. e c o n t i n u e i u m Lm c o m p e n s a ç ã o , desenvolve com des- —F. d a í . o q u e voce p e n s a e m f a z e r ?
tempão. Depois a gente começou a treza a a r t e d e s e g u r a r o f r e g u ê s , d e m e x e r — S e i lá. viu? Eu q u e r i a ter u m a c a s a
q u e b r a r o p a u . ele s e m p r e d i z i a p r a m i m por baixo, com o quadril. Q u a n t o a m i m , jóia na c i d a d e , s e m m a r i d o e sem crian-
q u e q u e r i a m e ver na z o n a p r a d e p o i s ir p a s s o b r u s c a m e n t e d e c o n f i d e n t e , d e en- ça p r a e n c h e r o s a c o . Só e u . T e m u m a s
p e d i r a r r e g o p r a ele. L a r g u e i d e l e . m a s in- trevistador, à posição de freguês, sentindo amigas minhas que tão em Londrina,
d a c o n t i n u e i t r a n s a n d o lá e m L o n d r i n a na pele os efeitos d a a r m a s e c r e t a d a s l o d o dia elas b o t a m c a d e r n i n h o d e b a i x o
c o m o u t r o s c a r a s q u e eu c o n h e c i . C o n h e c e p r o s t i t u t a s , n a s u a l u t a d i á r i a c o n t r a os in- d o b r a ç o e vão p r a p e r t o d e e s c o l a , n o f i m
o Darci, l a m b e m d a T V ? Pois é. vasores. É e x c i t a n t e , e x t a s i a n t e , u m a es- d a s a u l a s d a noite. Aí a p a r e c e m os c a r a s a
Ela se l e v a n t a , vai a t e ' o q u a r t o e volta pécie d e a r a p u c a . D e n t r o d e l a , m e e s f o r ç o fim d a s m e n i n i n h a s d a escola e e m b a r -
g a l a r u m a m u l h e r p e l o c o r a ç ã o " - e o m o se c o m u m disco, trilha s o n o r a d a Novela para m a n t e r a calma, d o m i n a r a situação, c a m . Vou ver se e n t r o n e s s a , lá p e l o a n o
iii/ p o r a q u i . e g a n h a r a c a m a d e l a . E s t a Selva d e P e d r a . C o l o c a - o n u m a p e q u e n a sair d e l a m a s n ã o t e m jeito. T e n h o a im- q u e v e m , e c o n s i g o a m i n h a c a s a . Se n ã o
seria u m a s a í d a , p a r a q u e m n ã o g o s t a d a r a d i o l a a t r á s d o b a l c ã o e volta c o m u m p r e s s ã o d e q u e . se ela f i c a r ' u m d i a e u m a d e r legal eu t e n h o q u e ir m e g u e n t a n d o
idéia cie " c o m p r a r " u m a m u l h e r . M a s n ã o copo de uisque na mão. noite s e g u i d o s a q u i . e u tico j u n t o . A p a r e n - por aqui mesmo.
sei se seria h o n e s t o p r a t i c a r o s e x o pelo temente trato de manter a compostura. Ela se d e s p e c o m d e s t r e z a , m a q u i n a l -
— T á o u v i n d o essa m ú s i c a ? S e m p r e
sexo. s e m a b a s e d e c o n h e c i m e n t o , a f e t o , q u e eu e s c u t o l e m b r o d u m a a m i g a m i n h a , Depois ela p a s s a a m ã o n a m i n h a mente. T u d o m u i t o frio. G u a r d a as roupas
s e n t i m e n t o s . E. o q u e é p i o r . n ã o sei se q u e a g o r a tá e m C i a n o r t e . Foi n e s s e s a l ã o cabeça. Depois m e beija n a boca. Existe e m c a b i d e s e se c o b r e d e r o u p a s leves,
c o n s e g u i r i a " e n g a t a r u m a m u l h e r pelo a q u i . U m a m i g o d e l a veio a q u i . b o t o u essa a l g u m a coisa d e m a t e r n a l , d e d e s p r e t e n - transparentes. Levanto-me da cama para
coração". Acabo me decidindo a baixar m u s i c a ai n a vitrola e m a n d o u ela f a z e r sioso. nesse g e s t o . I n t i m a m e n t e a c h o isso d e i x á - l a d e í t a r - s e , t a n i b é m t i r o as r o u p a s e
tia c a s a d a P a u l a c o m 2 h o r a s d e a n t e - u m e s t r i p i t i s e p r o s a m i g o s d e l e ver. Ela estranho e engraçado. d e i t o - m e a o seu l a d o .
cedência. lez. D e p o i s ele d e u a m a i o r s u r r a n e l a , R e s t a n o q u a r t o a luz v e r m e l h a d e u m
c h a m o u ela d e t u d o q u a n t o é nome e A m ú s i c a t e r m i n a e ela volta p a r a o a b a j u r . P o r u m m o m e n t o ela a i n d a fica
M c i a - N o i t e . No c a m i n h o , p a r o e m puxou o carro do b r e g a . E r a u m safado. s o f á . c o m o se n a d a tivesse a c o n t e c i d o . Sin- o l h a n d o p a r a a q u e l a luz, p e s a d a m e n t e .
frente da boate Zélia-Nena. E n t r o e en- Ela t e m u m p e r f i l b e m delineado, t o - m e c o m o se tivesse s i d o d e s p e r t a d o n a P a r e c e a d i v i n h a r q u e a n o s s a c o n v e r s a vai
contro uma mulher negra, sentada n u m b o n i t o . D e L o n d r i n a ela veio p a r a Nai- m e t a d e de u m desses sonhos q u e a gente a c a b a r a p a r e c e n d o no jornal. M a s não
c a n t o d o salão, quieta, o olhar p e r d i d o no rlândia. o n d e ficou p o u c o mais q u e u m q u e r t e r a t é o f i m . D i s s i m u l o e vou p a r a o teme:
papel d a parede. Com um paternalismo ano. Depois foi t e n t a r a vida e m Fa- sofá t a m b é m . — M e u s p a r e n t e s n u n c a v ã o ler o seu
q u e fica m e i o r i d í c u l o e m c i m a d o s m e u s xinai. m a s e m m e n o s d e u m m e s e s t a v a d e jornal, saca? E n t ã o não tem susto.
20 a n o s . t r a t o d e p u x a r a c o n v e r s a . volta: O m o v i m e n t o vai a r r e f e c e n d o na Gira b r u s c a m e n t e p a r a o lado da
— E dai. nega. qualé o problema? N a i r l â n d i a . p o r volta d a s 2 h o r a s d a parede e resmunga, antes de dormir:
Ela se volta p a r a m i m u m i n s t a n t e , d á — S ó dava m a t u t o por aqueles lados. m a d r u g a d a . O u ç o d a v a r a n d a d o Zélia- — R a p a z , às vezes d á u m a b r u t a von-
u m riso d i s s i m u l a d o r : Desses c a r a s q u e c h e g a t r e p a d o n u m N e n a . a voz d o G e r a l d o t r ê m u l a , s i b i l a n t e , tade de sumir.
— N a d a . ué. cavalo, p i c a n d o f u m o d e corda e q u e enfia m e l a n c ó l i c a , a o m i c r o f o n e d ' o s Invictos, No q u a r t o d o outro lado d o corredor, a
a m ã o z o n a f e d i d a n a t u a c a r a . D e t e s t o es- encerrando a noitada do Maxing: N e n a , u m a d a s d o n a s d a c a s a , t o s s e deses-
Já t i n h a visto essa m u l h e r à t a r d e , se t i p o d e s u j e i t o , q u e p e n s a q u e é d o n o d a — O show...já t e r m i n o u / v a m o s voltar à peradamente, rouca e asmática. Ouço
muito mais disposta e descontraída. Lem- gente, saca? T a m b é m tinha m u i t o desses realidade... p a s s o s e c o c h i c h o s n o q u a r t o a o lado.
bro que tinha a testa grande, u m rosto c o r o n e l i z i b i d o . q u e te d á u m c o p o d e uís- índia passa o trinco nas portas do Começa a me dar uma agonia mórbida,
bonito de menina, dentes brancos, o corpo q u e e f a z voce b e b e r ali, n a f r e n t e dele, n a Z é l i a - N e n a . Sem f a z e r m u i t a f o r ç a e s e m incômoda.
rigido. inteiro. A g o r a , e n f i a d a a t é a m a r r a , sem gelo n e m á g u a d e n t r o . m a i o r e s e x p l i c a ç õ e s eu a c a b e i f i c a n d o d o
m e t a d e d a testa n u m a p e r u c a alisada, o lado de dentro. F u i - m e e m b o r a n o d i a s e g u i n t e , pouco
r o s t o l a m b u s a d o d e m a q u i l a g e m . f i c a vul- O s a l ã o t e m luz n e g r a , p a p e l - p a r e d e a n t e s d o m e i o - d i a . As m u l h e r e s a i n d a não
g a r . C h a m a - s e Roseli, m a s é c o n h e c i d a com tlorzinhas vermelhas, balcão de O quarto é pequeno, bem arrumado: t i n h a m a c o r d a d o , m a s os h o m e n s estavam^
p o r t o d o m u n d o , d e s d e m e n i n a , c o m o Ín- madeira, geladeira, u m a pia, a radiola u m a c a m a de casal, u m g u a r d a - r o u p a , t o d o s lá. p e r t o d o b a r d o V i c e n t e , se es-
dia (por p a r t e d e m ã e ) . T e m 24 a n o s . atrás d o balcão, sofá r o d e a n d o o salão, u m a televisão s o b r e u m a p e q u e n a cô- p r e g u i ç a n d o d e b a i x o d o sol: o N e g u i n h o , o
l i n h a 21 q u a n d o se iniciou n a prosti- dois c a r t a z e s d a Skol p r e g a d o s n a p a r e d e . moda. Sobre a penteadeira um infinidade Fitético, t o d o s , c o m o o n t e m . P a s s o u um
tuição. Aos p o u c o s vai f a l a n d o , s e m p r e s - Sinto a m ã o dela sobre a m i n h a : é m a g r a , de frascos e u m a cabeça de plástico, sobre b o m t e m p o , a t é eu c o n s e g u i r m e s a f a r
sa. a m ã o s o b r e a m i n h a m ã o . f o r t e , c a l e j a d a p o r u m a i n f â n c i a e m la- a qual Índia deposita a peruca. daquela agonia desgraçada.

A SEMPRE NOVA
LITERATURA
BRASILEIRA
SEfiGIO SANTANNA

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CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA Rua da Lapa, 120 • 1 2 ° andar - R J
Banhos de sangue atuais justificados por banhos de sangue pass* <JS
deixam implícita a possibilidade de banhos de sangue ruturos. A • e é
de Noam Chomskv, norte-americano, 47 anos, considerado o m >r
lingüista vivo. Para ele, o jogo de palavíà^ dos porta-vozes dd
política externa norte-americana não consegue esconder as <nter >es
bélicas de intervenção. E as intervenções são sempre violenta
Estamos reproduzindo a última parte do livro que Cnomskv escre eu
em 1974: Banhos de Sangue Benignos e Construtivos. P r o i b i d o j os
Estados Unidos, foi editado na França. Esta parte chama-se
Documentos - O caso Colby: de Fênix até o Chile.
M Ex-14

Não podemos ficar parados vendo um país se tornar comunista por irresponsabilidade do seu povo! (Kissinger)

PRIMEIRO DOSSIÊ W. Colby explicou em seguida q u e a DOSSIÊ N O A M C H O M S K Y americanos. Os créditos necessários para
(Jean Pierre Fave) extensão d a s " o p e r a ç õ e s c a m u f l a d a s " da (Transmitido em 13 de outubro de 1974) as c o m p r a s de trigo - necessidades vitais -
O caso da CIA no Chile CIA varia com os acontecimentos leste- t a m b é m foram reduzidos.
oeste. i n d e p e n d e n t e da " d e t e n t e " . De O presidente Allende queixou-se várias
A intriga, q u e envolveu Richard Nixon lato, " p o d e acontecer a l g u m a coisa perto 0 chefe da CIA declara à C a m a r a q u e 8 .vezes d o q u e c h a m o u na Õ N U em dezem-
d u r a n t e 17 meses se c h a m o u W a t e r g a t e . de nós tão i m p o r t a n t e q u a n t o longe por milhões de dólares f o r a m utilizaddos con- bro de 72 " u m a pressão estrangeira para
Q u e m se esforça a t u a l m e n t e p a r a proteger razões de política ou s e g u r a n ç a . Pode-se tra Allende entre 1970 - 73. nos desligar d o m u n d o exterior . estran-
G e r a l d Ford é a CIA. S a b e r á o novo chefe imaginar ainda situações o n d e os in-
O diretor da CIA declarou ao Congres- gular nossa economia e paralisar nosso
d o Executivo dos E s t a d o s se d e s e m b a - teresses políticos f u n d a m e n t a i s - sejam so q u e a a d m i n i s t r a ç ã o Nixon autorizou a comércio, nos privar d o acesso às fontes
raçar rapidamente? afetados de m a n e i r a negativa. Em certos
despesa de mais de 8 milhões de dólares internacionais de financiamento".
casos, é mais a p r o p r i a d o usar u m a ação de
O caso. sabemos, estourou há alguns para atividades secretas d a Agencia d o
p e q u e n a - n v e r g a d u r a , c o m o por e x e m p l o
dias. q u a n d o o diretor dos serviços se- Chile entre 70 e 73 p a r a i m p e d i r o pre- COLBY RECUSA QUALQUER
iniciar relações com q u a l q u e r um q u e
cretos. William Colby, a d m i t i u q u e s o m a s sidente Allende de governar. COMENTÁRIO
necessite nosso apoio. M a s insisto: não é
i m p o r t a n t e s t i n h a m sido gastas por seus O objetivo das atividades clandestinas
nossa política no m o m e n t o fazer isso nos
agentes p a r a e n d u r e c e r a vida d o presi- da CIA - William Colby, seu diretor con- Colby reconheceu durante uma breve
cinco c o n t i n e n t e s " .
d e n t e chileno Salvador Allende, de 70 a lessou n u m a sessão ultrasecreta d o Con- conversa telefônica esta semana que havia
73. A pergunta " q u e operação camuflada gresso em abril último - era desesta- testemunhado perante o sub-comite Nedzi
Com f r a n q u e z a b e m a m e r i c a n a - ou da CIA você considera um s u c e s s o " ? Col- bilizar o governo marxista de Allende sobre questões de segurança , relacionadas
seja. um misto de c a n d u r a e cinismo - o by responde: " O laos. Para os Estados que havia sido eleito em 70. com o envolvimento da CIA no Chile, mas
presidente Ford tinha d e i x a d o claro q u e Unidos era i m p o r t a n t e q u e o país con- 0 governo Allende foi i n t e r r o m p i d o em se recusa comentar a carta de Harrington.
tais intervenções f a z i a m p a r t e d a r e a l i d a d e tinuasse a m i g o e não caísse em m ã o s de 11 de s e t e m b r o de 73 por u m violento gol- Nedzi, contactado em Munique onde
da política internacional, " a U R S S faz isso elementos q u e nos fossem hostis. Em vez pe de e s t a d o no qual o presidente m o r r e u . eslava cm viagem de inspeção com outros
d o o u t r o l a d o " e q u e serviam aos interes- de recorrer ao nosso poder militar e em- 1 iii sua exposição na C â m a r a . Colby membros do Comitê de Serviços Armados
ses d o pais. pregar e n o r m e s esforços políticos, é revelou q u e a CIA interveio pela primeira da Camara, também se negou a qualquer
Henry Kissinger t a m b é m deixou claro preferível influenciar personalidades e vez cm 1964. q u a n d o Allende era can- comentário.
q u e as atividades d a CIA no Chile t i n h a m grupos políticos capazes de c o n t r o l a r a d i d a t o de oposição a E d u a r d o Frei d o Par- Harrington disse na carta que pôde ler
por objetivo i m p e d i r o e s t a b e l e c i m e n t o de evolução d a s coisas. O caso d o Laos nos tido. D e m o c r a t a Cristão q u e aceitava a duas vezes as 48 páginas da transcrição do
um governo de p a r t i d o único q u e ia eli- custou s o m a s consideráveis,mas foi b a r a t o proteção n o r t e - a m e r i c á n a . depoimento de Colby praticamente sem
m i n a r os movimentos e os j o r n a i s de cm c o m p a r a ç ã o com o u t r a s m a n e i r a s de As operações da Agência, disse Colby. tomar notas: "minha memória foi a única
oposição. lazer o m e s m o negócio". eram c o n s i d e r a d a s c o m o teste p a r a a téc- fonte para o que constitui a substância
nica de uso de g r a n d e s investimentos de desse depoimento", escreveu.
Le M o n d e . 2 4 / 9 / 7 4 d i n h e i r o p a r a a c a b a r com um governo an- O diretor da CIA disse lambem que
O dedo na engrenagem
tagônico d o p o n t o de vista dos Estados depois da eleição de Allende 5 milhões de
Era de esperar. Longe de se i n t i m i d a r A CIA: é hora de voltar do frio Unidos. C o n t u d o . há noticia de interven- dólares foram cedidos pelo Comitê dos 40
com as " d e c l a r a ç õ e s " hostis de seus ad- ções semelhates da CIA em outros países para nosos esforços de "desestabilização"i
P e r g u n t a : " Q u e lei internacional nos antes da eleição de Allende. de Allende em 71,72 e 73. Mais 1
versários. Ford e Kissinger m e t e r a m o permite t e n t a r t r a n s f o r m a r o governo con-
d e d o n u m a temível e n g r e n a g e m . Depois Colby diz t a m b é m q u e todas as inter- milhão e .->00 mil dólares foi fornecido
stitucionalmente eleito de o u t r o p a í s ? " . venções da CIA contra o governo Allende para apoiar os candidatos anti-Allende
de um cessar fogo de um mes, a influente Resposta: " E u não vou j u l g a r a ques-
i m p r e n s a liberal se lançou de assalto à foram a p r o v a d a s 110 inicio pelo Comitê dos nas eleições municipais do mesmo ano
tão de saber se é p e r m i t i d o ou a u t o r i z a d o 40 em W a s h i n g t o n , u m a instancia su- (sabe-se que os candidatos da Unidade
Casa Branca. C a d a dia trazia novas o n d a s pelo direito internacional. É u m f a t o
de "revelações". O n t e m , o New York prema e secreta dos p r o b l e m a s de infor- Popular obtiveram 44% de votos).
reconhecido h i s t o r i c a m e n t e q u e tais ações mação. c h e f i a d a pelo secretário de Estado
l i m e s escreveu: " A CIA financiou várias Alguns desses fundos, testemunha Col-
são de interesse d o país q u e as e m p r e g a " . Kissinger. O Comitê dos 40 foi instituído by, foram para um jornal influente anti-
greves, c o m o a dos d o n o s de c a m i n h õ e s e Essa resposta b r u t a l d o presidente
de p e q u e n o s c o m e r c i a n t e s q u e contri- pelo presidente Kennedy n u m . , e s f o r ç o Allende ("não identificado") de Santiago.
Gerald Ford, d u r a n t e sua entrevista à im- para por sob controle d o governo as Mas, sem dúvida Irata-se do Mercúrio.
buíram amplamente para por fim ao prensa s e m a n a p a s s a d a foi excessivamente
regime de U n i d a d e P o p u l a r em s e t e m b r o atividades da CIA, depois d o prejuízo com Na sua carta de 18 de julho de 1974 ao
violenta ou excessivamente c â n d i d a . Ela os exilados c u b a n o s treinados e e q u i p a d o s representante Morgan, Harrington cita
de 73. Era necessário a p o i a r j o r n a i s e deixou a impressão c o n f u s a - e o governo
televisões ligadas aos meios anti-Allende pela Agencia q u a n d o invadiram C u b a cm Colby afirmando que o Comitê dos 40
nada fez em seguida p a r a dissipá-la - de 19t> 1.
p o r q u e . s e g u n d o um f u n c i o n á r i o d a - C I A , autorizou uma despesa de 1 milhão de
q u e os Estados Unidos se sentem livres
" n ã o a d i a n t a n a d a haver greves se nin- dólares para atividades com vistas a uma
p a r a subverter o u t r o governo c a d a vez q u e Uma audição especial
guém fica s a b e n d o " . "posterior politica de desestabilização"
a política a m e r i c a n a resolva.
em agosto de 73, um mes antes da junta
A p e r g u n t a fora feita depois d a confir- Os detalhes desse envolvimento d a CIA militar tomar o poder em Santiago.
F r a n c e Soir, 2 2 / 7 4 mação de Ford d o seguinte f a t o : a ad- 110 Chile foram*a principio fornecidos por " 0 plano integral autorizado cm agos-
m i n i s t r a ç ã o Nixon autorizou a CIA a em- Colby ao sub-eoraite de Serviços A r m a d o s to foi cancelado quando o golpe de estado
A proposta do diretor da CIA. "Agir pregar 8 milhões de dólares na c a m p a n h a da C a m a r a , presidido pelo r e p r e s e n t a n t e militar aconteceu menos de um mes mais
sobre uma situação por meios politicos ou de 1970-73 com o objetivo de a j u d a r os ad- I.ucicn N. Nedzi. d e m o c r a t a de Michign, tarde", escreve Harrington. Ele acrescenta
para-militares". versários d o governo marxista de Allende d u r a n t e a u d i ç ã o especial de um dia. em 22 contudo que Colby declarou que 34 mil
ijo Chile. Até a s e m a n a p a s s a d a , m e m b r o s ile abril de 1974. O d e p o i m e n t o foi co- dólares dos fundos foram gastos - inclusive
Além d a s p r o p o s t a s sobre o Chile q u e d o governo Nixon e d o governo Ford insis- locado à disposição d o r e p r e s e n t a n t e 2r> mil dólares depositados para certa
transcrevemos d o Le M o n d e de 24 de tiam em negar q u a l q u e r implicação dos Michel .1. Harrigton, d e m o c r a t a liberal de pessoa comprar uma estação de rádio.
s e t e m b r o . M. Colby disse n u m a entrevista Estados Unidos na m u d a n ç a d o regime Massachussets, q u e há m u i t o t e m p o (...) "No periodo que precedeu o golpe
ao T i m e : Allende. Eles c o n t i n u a m a f i r m a n d o com criticava a CIA. H a r r i n g t o n escreveu a de Estado", disse uma personalidade
- A CIA tem três f u n ç õ e s principais: insistência q u e a CIA n ã o é responsável outros m e m b r o s d o Congresso há 6 se- oficial, "havia um ponto de vista muito
t r a b a l h o científico e técnico (de detecção), pelo golpe de 73 q u e levou Allende à m o r t e m a n a s p a r a protestar contra as atividades firme do Comitê dos 40 - que é Kissinger
avaliação dos d a d o s de u m p r o b l e m a e in- e pos em seu lugar u m a j u n t a represssiva clandestinas da Agencia e contra a recusa mais ninguém - segundo o qual o governo
f o r m a ç ã o clandestina. E n i a i s u m a ^ q u a r t a de direita. de reconhece-las por p a r t e da adminis- A l l e n d e e s t a v a c o m p l e t a m e n t e desa-
r e s p o n s a b i l i d a d e : agir sobre u m a situação Os m e m b r o s d o Congresso se sentiram tração Nixon. a p e s a r de seguidos ques- creditado".
por meios políticos ou p a r a m i l j i a r e s . É u l t r a j a d o s pela notícia, c o n f i r m a d o q u e tionamentos d o Congresso. A cópia de
u m a atividade q u e segue as f l u t u a ç õ e s da M u i t a s p e r s o n a l i d a d e s o f i c i a i s do
mais u m a vez haviam sido b u r l a d o s pelo uma carta confidencial de 7 p á g i n a s en- Departamento de Estado disseram sob
política g o v e r n a m e n t a l . No caso, a ten- poder executivo. M a s i m p o r t a n t e a i n d a , o viada por Harrigton ao r e p r e s e n t a n t e juramento, durante as audiências (peran-
dência a t u a l é p a r a baixo - em t e r m o s de desenvolvimento da o p e r a ç ã o Chile a j u d o u 1 liomas E. M o r g a n , presidente d o Comitê te o sub-comite das Relações Exteriores
prestigio dessa atividade. a clarear o d e b a t e sobre a f u n ç ã o d a CIA e para assuntos estrangeiros da C a m a r a , foi do Senado) que os Estados Unidos não
ampliá-lo no Congresso e n o país. colocada a disposição d o New York Times. fizeram nenhuma tentativa de intervenção
O d e p o i m e n t o de Colby indica q u e na politica interna do Chile
Poucos h o m e n s c o m p r e e n d e m esses personalidades oficiais de alto escalão no Echvard M. Korry, antigo embaixador
choques de exércitos a n ô n i m o s nos pontos d e p a r t a m e n t o de E s t a d o e na Casa Branca no Chile declarou: "os Estados Unidos
obscuros ou conhecem a prática da arte de m a n e i r a d e l i b e r a d a e repetida enga- não procuraram influenciar ou subverter
da c a m u f l a g e m melhor q u e W. Colby. (...) naram público a m e r i c a n o e Congresso um só membro do Congresso chileno, nem
Depois de ter servido em Estocolmo e sobre a extensão d o envolvimento dos Es- sequer pressioná-lo, em nenhum momen-
R o m a . foi n o m e a d o chefe no Leste Lon- tados Unidos nos assuntos internos d o to, durante os 4 anos de minhas funções.
gínquo, divisão de W a s h i n g t o n . Voltou a Chile d u r a n t e os 3 anos de governo Allen- Nenhuma linha dura em relação do Chile
Saigon em 68 p a r a pôr em prática o esfor- de. loi aplicada, em nenhum momento".
ço de pacificação q u e incluía o célebre A vitória de Allende for ratificada pelo
P r o g r a m a Fenix. Em 1971, Fenix causou a Congresso chileno em o u t u b r o de 70 e o New York Times, 8 de setembro de 1974
-morte de 20.587 m e m b r o s e s i m p a t i z a n t e s d e p a r t a m e n t o de E s t a d o declarou mais
vietcongs. s e g u n d o as p r ó p r i a s c o n t a s de tarde q u e a A d m i n i s t r a ç ã o tinha "re- KISSINGER C E N S U R O U O
Colby... jeitado firmemente" q u a l q u e r tentativa de EMBAIXADOR AMERICANO
A p a r e n t e m e n t e , Colby é c o n t r á r i o aos b l o q u e a r sua posse. NO CHILE
t r a b a l h o s sujos. " E u o c h a m a r i a um frio M a s Colby t e s t e m u n h o u q u e o Comitê
guerreiro esclarecido", disse u m f u n - dos 40 cedeu 350 mil dólares p a r a t e n t a r , Segundo declarações de fonte gover-
cionário da CIA. " M a s n ã o e s q u e ç a m q u e sem sucesso, c o m p r a r os m e m b r o s d o namental, hoje, o secretário de Estado
esse t r a b a l h o é f r i o " . Congresso chileno. Kissinger censurou o embaixador ame-
(...) E n q u a n t o a CIA c o n d u z i a suas ricano no Chile, David H. Popper, depois
l inie. 30 de s e t e m b r o de 1974 operações clandestinas, foram reduzidos que Popper discutiu tortura e outras ques-
os e m p r é s t i m o s b a n c á r i o s p a r a o desen- tões pondo em jogo os direitos humanos,
volvimento da política de a j u d a ex- durante uma reunião com personalidades
terna dos Estados Unidos corno t a m b é m 'oficiais chilenas que falava sobre ajuda
os créditos dos b a n c o s comerciais militar.
Ex-14 39
As operações políticas camufladas contra Allende foram feitas para o b e m e no interesse do povo chileno. (Ford)

A cólera de Kissinger No m o m e n t o da q u e d a de Allende os dos Estados Unidos.


p r o g r a m a s secretos e r a m c o o r d e n a d o s nrt A a m e a ç a no Chile foi s e n t i d a sim por
Ao s a b e r d o incidente, Kissinger, Chile por Ravniond A. -Warren, da C I A . certo n ú m e r o d e grandes companhias
segundo as fontes, reagiu colérico ao r e l a c i o n a d o na lisla de pessoal cia em- multinacionais, a I T T e as c o m p a n h i a s
saber, por u m t e l e g r a m a d o d e p a r t a m e n t o b a i x a d a c o m o m e m b r o d a secção política. ' d o cobre que estavam p a r a ser .na-
de E s t a d o q u e P o p p e r havia t o m a d o a \ c a m u f l a g e m d e VVarren não foi sulífeien- cionalizadas através de negociação, po-
iniciativa de u m a discussão sobre direitos ic p a r a i m p e d i r q u e sua casa fosse lítica escolhida pelo Congresso chileno em
h u m a n o s d u r a n t e u m a r e u n i ã o sobre a p e d r e j a d a por p a r t i d á r i o s de Allende nos ITl.
a j u d a militar, em S a n t i a g o . dia 22 de últimos meses de 1973.
julho, com O s c a r Bonilld. m i n i s t r o da Ele-tem ^ 1 nos e chegou ao Chile em A lusiifleativa posterior d o p r e s i d e n t e
(telesa a o Chil. O secretario d o Exercito, • I ' H ) . s e g u n d o o Registro Biográfico do' I ord para os p r o g r a m a s c a m u f l a d o s con-
lloward H. Callaway. t a m b é m estava na D e p a r t a m e n t o de E s t a d o Voltou a ira Allende era cie que o governo socialista
reunião. W a s h i n g t o n um mes depois p a r a U m a pretendia d e s t r u i r a i m p r e n s a e os p a r -
reunião d o Comitê dos 40 ojjxle. s e g u n d o o a d o s cie oposição. Q r a . d u r a n t e os 3 a n o s
" D i g a m a P o p p e r q u e p a r e as con- •depoimento de Colby. sc resolveu a b r i r iftn do governo Allende a i m p r e n s a de opo-
ferências sobre Ciência p o l í t i c a " , grifou i rédito de 3M) mil dólares p a r a i n f l u e n c i a r s.ica e n c a b e ç a d a pelo p o s s a n t e M e r c ú r i o
Kissinger no t e l e g r a m a , s e g u n d o as fontes. os m e m b r o s d o Congresso chileno na não deixou de se m a n i f e s t a r . Os p a r t i d o s
oposição a. Allende d u r a n t e as eleições. políticos c o n t i n u a r a r í i , f u n c i o n a n d o . ínes-
Este primeiro gesto loi seguido por u m a
carta de c e n s u r a redigida s e g u n d o as for- ino os q u e c l a m a v a m a b e r t a m e n t e pela
malidades d o D e p a r t a m e n t o de E s t a d o e (...) O p r o g r a m a d e desestabilizaçào insurreição c o n t r a .Allende.
enviada a P o p p e r . d i p l o m a t a de carreira. dirigido c o n t r a o governo Allende é c o m o
Só depois da m o r t e de Allende e a sub-
(...) S e g u n d o fontes de i n f o r m a ç ã o . u m a reminiscencia forte d a s operações an-
teriores no Chile e no IJrasil . As greves e stituiçà' de seu governo pela j u n t a militar,
Popper disse aos seus assessores em San-
em II de s e t e m b r o de 1973. a c o n t e c e r a m
tiago ter sido " r i d i c u l a r i z a d o " por Kissin- as m a n i f e s t a ç õ e s Ioram f i n a n c i a d a s e
is coisas contra as quais a intervenção da.
ger. e , expressou s u r p r e s a ante o f a t o de e x e c u t a d a s com os recursos d a " e s t a ç ã o "
da CI A local.. < IV sc colocava: a -junta militar leehou o
.que a c e n s u r a ocorreu q u a n d o tentava
fazer respeitar os direitos humanos. (...) Há provas de qu.e grftpós t e r r o r i - u s Congresso. interdiloii os jornais de
Acrescentou a i n d a , s e m p r e s e g u n d o as como Pátria e L i b e r d a d e , o r g a n i z a ç ã o oposição e baniu Iodos os partidos polí-
lontes. q u e esperava mais ser criticado nco lascisia. foram r e c r u t a d o s na b a t a l h a ticos.
pelo apoio q u e havia d a d o à junta, pu- c o n t r a Allende.
blica m e n t e . A i m p r e n s a italiana a c u s a a CIA de
Pesado segredo financiar g r u p o s terroristas de direita
T h e New York Times, 27 de s e t e m b r o de c o o r d e n a d o s pela polícia secreta ita-
1974 I >ois meses antes d o golpe de e s t a d o liana. Servieio Intelligenza Difesa (SID).
militar q u e m a t o u Allende. um funcio- Eles a f i r m a m q u e a S I D c o n d u z u m a "es-'
ULTIMO DOSSIÊ nário de alto escalão d a policia secreta iratégia de t e n s ã o " q u e provoca as
CIA o parceiro silencioso da polilica ex- chilena contou à c o r r e s p o n d e n t e d o atividades de e x t r e m a direita (e de ex-
terior dos Estados Unidos W a s h i n g t o n Post. Marlise Simons. que os t r e m a e s q u e r d a ) a fim de j u s t i f i c a r as
(Por Laurencc Sicrn, Washington Post). 1 lindos da CIA f o r a m d e s t i n a d o s p a r a rigorosas m e d i d a s g o v e r n a m e n t a i s de
P a i r i a e Liberdade. segurança".
Desde o c o m e ç o d a g u e r r a fria até a ex- (...) Em 1962 e 63 a CIA interveio con-
plosão W a t e r g a t e . o e s t a d o de g u e r r a d a o governo João G o u l a r t no Brasil, por Planos
clandestina tem sido o p a r c e i r o silencioso meio cie f u n d o s secretos e m a n i p u l a ç ã o
da política e x t e r n a n o r t e - a m e r i c a n a . política, p r i n c i p a l m e n t e i n s t r u m e n t o s da O c o m i t ê de fiscalização da C a m a r a
A CIA surgiu c o m o a e q u i p e secreta guerra política c a m u f l a d a d e n t r o da im- dos R e p r e s e n t a n t e s se d e s d o b r a na
capaz de c o m p r a r sindicatos e chefes de prensa e d o m o v i m e n t o o p e r á r i o t...). tarefa de seguir a pista d a CIA no Chile,
listado, t r e i n a r exércitos p a r t i c u l a r e s e - se No Vietnã isso começou sob a f o r m a d e l e n t a m e n t e : mais r á p i d o , p o r é m , agiu no
necessário - d e r r u b a r governos. u m a intervenção discreta à s o m b r a da sentido de t o m a r o q u e p o d e m ser m e d i d a s
Seu c o m a n d o c o m p õ e - s e de h o m e n s •decrescente influência f r a n c e s a : a CIA disciplinares contra Miehael H a r r i n g t o n
que l u t a r a m b r a v a m e n t e na S e g u n d a logou um papel-chave na escolha a d e d o (democrata de Massachusetts). o m e m b r o
(iiierra M u n d i a l , filhos d o e s t a b l i s h m e n t d o c a n d i d a t o às funções de p r i m e i r o - da c a m a r a q u e soou a s-ineta d e a l a r m e a
americano, p r o d u t o s de casas confortáveis ministro. Ngo Dinh Diem, e na sua co- proposito d o d e p o i m e n t o d e Colbv n a s
bons colégios e bons s e n t i m e n t o s , de- locação cm cena. A CIA a d m i n i s t r o u os c a r t a s aos presidentes d a s comissões de
\vram Noam Chomskv nasceu em
votados à q u i l o q u e p a r a eles são as tra- p r o g r a m a s de pacificação e c o n t r a - t e r r o r relações exteriores d a C â m a r a e d o Se-
I >28. I iladelfia. Estados' Unidos. Na
dicionais virtudes a m e r i c a n a s , inimigos oue os críticos n ã o - c o n u m i s t a s cio regime nado.
universidade de Pensilvania estudou lin-
resolutos d o inimigo c o m u m : o c o m u n i s - de Saigon d e f i n i r a m c o m o p r o g r a m a s de Por iniciativa de H a r r i n g t o n . Colbv foi güística, matemática e filosofia. Loi aluno
mo. repressão. .. o n v i d a d o a d e p o r p e r a n t e a s u b - e o m i s s ã o de Romait .lacohson. pai da ciência da lin-
I n i ' d e l e s é William Egan Colbv. um <) c a t á l o g o pode prosseguir. Em 1953. V d / i sobre as atividades d a CIA no Chile.
guagem. Em l'').*o. titular da cadeira de
(homem m e t i c u l o s a m e n t e c i n / e n i o q u e rf . ueda d o govero M o s s a d e g h no Irã. com H a r r i n g t o n foi o único m e m b r o da Ca-
I inguisliea e de l ínguas Modernas do In-
linha s a l t a d o por trás d a s linhas inimigas .. a j u d a d o "operativo" da CIA Kermit iu.ira q u e leu o d e p o i m e n t o de Colbv fora
situto de Tecnologia de Massachusetts,
na L u r o p a o c u p a d a , q u e planejou c ad- Kooscvclt. a c|ueda d o governo A r b e n z na da s u b - e o m i s s ã o de fiscalização, até ai
'iderou seus alunos na campanha contra a
ministrou o p r o g r a m a de " p a c i f i c a ç ã o " c ii a i c m a l a cm I 9 M . coin a r m a s norte m a n t i d o cm segredo e e n v i a d o só aos
tentativa do Pentágono e da NASA de
lão discutível da CIA-e de seu diretório de a m e r i c a n a s e u m a torça aérea da CIA. o i c p r e s e n t a n t e s q u e o solicitassem.
iitili/ni- essa universidade. Além de ser
operações até o posto mais alto: d i r e t o r da apoio c a m u f l a d o à rebelião c o n t r a S a k a n o Assim a q u e s t ã o de s a b e r se as ope- considerado o maior lingüista vivo do
Agencia Central. na Indonésia (1958): a j u d a às t r o p a s rações c a m u f l a d a s da CIA serão a b o l i d a s
unindo, criticou severamente as investidas
bolivianas na c a p t u r a de C h e G u e v a r a . cm corre o perigo d e ser a c a d ê m i c a . Os diri
l ie está hoje no c e n t r o d a tempes- iioiie-americanas no sudeste asiático, par-
i«xr. gentes d o C ongresso, o Presidente e o
i.idc púhiica q u e d e s a b a sobre a C IA ticipou de grupos contrários a criação do
ioda \ e / q u e ela a p a r e c e , fora tia g u e r r a (...) Kissinger é hoje a prncipal V c r c i á r i o de E s t a d o já se d e c l a r a r a m , estado de Israel (. pesar de ser judeul e
iria. Nob os relletores da o p i n i ã o p ú b l i c a . ligura na d e c l a r a ç ã o e a r t i c u l a ç ã o cie um p u b l i c a m e n t e ou p a r t i c u l a r m e n t e " c o n t r a dedicou um livro - "A América e Seus
e s t a d o de g u e r r a secreto dos Estados oiialquer m u d a n ç a " Novos Mandarins" - "aos corajosos jovens
O caso do Chile l nidos: seus poderes em t e r m o s d e se- que recusam servir numa guerra crimi-
g u r a n ç a nacional são iguais aos d o pre- Boston Siíndav G l o b e . 13 de o u t u b r o d e nosa". Seu livro de lingüística mais impor-
Quando s u r g i r a m novos d e t a l h e s sobre sidente . Kissinger preside o C o m i t ê dos 19 "4 tante foi escrito em l % 7 : Estruturas Sin-
a g u e r r a secreta n o r t e - a m e r i c a n a c o n t r a o 40. m s t a n c i a s u p r e m a q u e c o n d u z as táticas.
governo Allende. um a n o depois q u e ficou operações c a m u f l a d a s , cujos m e m b r o s Na Grécia... A CIA foi p u b l i c a m e n t e
esclarecido pela p r i m e i r a vez o papel d a l a m b e m são o p r ó p r i o Colbv. o sub-se- c l a c i o n a d a com a j u n t a militar q u e subiu
C IA no Chile, a m a d u r e c e r a m as condições cretário de E s t a d o p a r a a s s u n t o s políticos ao p o d e r em 1967.
para a volta d o c l a m o r de i n d i g n a ç ã o d o .loseph .1. Sisco. o s e c r c t á r i o a d j u n t o d a
povo e d o Congresso. Dclesa William P. C l e m a n t s e o general
( i c o r g e S. Brown. p r e s i d e n t e d a j u n t a d e
O p r e s i d e n t e Ford lê/ bem p o u c o p a r a
chefes d o E s t a d o M a i o r .
.acalmar seus críticos ao dizer q u e as
.operações políticas c a m u f l a d a s c o n t r a Kissinger é o único h o m e m q u e ficou
Allende f o r a m feitas " p a r a o bem e no in- c o n t i n u a m e n t e no p o d e r depois d o fim d o
icresse d o povo c h i l e n o " . governo Nixon. C o m o secretário de E s t a d o
c ao m e s m o t e m p o c a b e ç a d o a p a r e l h o q u e
" N ã o vejo p o r q u e f i c a r í a m o s imóveis
controla a s e g u r a n ç a nacional, consolidou
observando um país em vias d e se t o r n a r
cm imenso p o d e r sobre o m u n d o da infor-
comunista por i r r e s p o n s a b i l i d a d e de seu
maçá - provavelmente mais q u e todos os
próprio povo", disse Kissinger . o ar-
o u t r o s m e m b r o s d o p o d e r executivo da
quiteto da política a m e r i c a n a da d é t e n t e .
história d o país. mais q u e m u i t o s pre-
sidentes.
Coordenador no Chile

No exterior, as operações c l a n d e s t i n a s (...) licou bem d e m o n s t r a d a no Chile


são c e n t r a l i z a d a s nas " e s t a ç õ e s " d a C I A . a lirnieza de Kissinger em a p e r t a r o b o t ã o
domiciliadas h a b i t u a l m e n t e n u m a ala da guerra c a m u f l a d a , m e s m o se pudés-
tranqüila d a s e m b a i x a d a s a m e r i c a n a s (...). semos discutir s e r i a m e n t e a idéia d e q u e o
presidente Allende e sua experiência de
socialismo d e n t r o da d e m o c r a c i a cons-
tituíam grave a m e a ç a p a r a ' a s e g u r a n ç a
Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, junho de 2010.
FOTO E LIBERDADE DE IMPRENSA

4
ERDADE
LIBERDADE
ABRE AS ASAS
SOBRE NOS LEIA EDITORIAL NA PÁGINA 5

N A O PERCA:
A M O R T E
Piroli, o escritor
fedido de Minas
D O (página 30)
O bispo de São Félix
J O R N A L I S T A (página 12)
Jornalista joga
V L A D I M I R sangue no ventilador
(página 29)

H E R Z O G Mulher boa, para


um nazista, é a mãe
páginas 3 3 a 4 0 (página 10)

LACERDA ATACA TV-GLOBO E PEDE ASILO A CUBA


leitores EX-16

ESTUDANTES, FILÓSOFOS, ÍNDIOS, ELEITORES, DEPUTADOS,

EstamosCom o M e d o
b a l h o , f e i j ã o e a r r o z lá t e m t e m p o d e
fazer ioga?
H o j e tá t o d o m u n d o n o m e s m o b a r -
A verdade é q u e quase todo m u n d o c o , n e m dá m a i s p r a t e r m u i t a d i v i s ã o
se c o n t e n t a c o m heróis: heróis d e 1917, ninguém sabe d i r e i t o o q u e o o u t r o p e n - "por uma corrida de taxi não paga..."
heróis d e W o o d s t o c k , heróis d e m a i o d e sa, n i n g u é m f a l a , m a l dá p r a e n t e n d e r ,

Impossível Estudar
68, heróis q u e f o r a m e v o l t a r a m , heróis pedir. E c a b e aqui meus elogios a e » t " "nam-
cada u m reage à suaforma e a gente t e m
q u i s m o " q u e se agiganta e q u e t e m f o r c a para
n a c i o n a i s e i m p o r t a d o s , herói-vizinho- q u e d e s c o b r i r . Se fala d o a m o r ; não j o g o
p e l o m e n o s p o r e m p a u t a c o m mais c o n s t â n -
m e u q u e a p a n h o u , e olha, cara, sou ami- e l e f o r a n ã o ; tá t o d o m u n d o s a b e n d o d a D e s c u l p e m o jeito q u e vai esta carta, cia, esta s i t u a ç ã o , a f i m d e q u e isto l e v e os " i n -
g ã o d e l e , e l e d a n ç o u e s a i u d e lá f u d i d o ; f a l t a d e a f e t o , d o m e d o d e se d a r , d e s e mas e u p r e c i s o escrever rápido senão d i c a d o s " a se v e r e m e n c u r r a l a d o s pela o p i n i ã o
herói q u e a gente julga a d o r m e c i d o e a b r i r , se m o s t r a r , q u e r o c o n h e c e r e a m a r a c a b o m e a r r e p e n d e n d o e i s t o ficará, mais i m p o r t a n t e : a d o p o v o .
d e p o i s o u v e e l e d i z e r q u e vai l e v a n d o , q u e m tá d o m e u l a d o e m e s a c a , t e n h o c o m o muitas outras coisas, g u a r d a d o a) F e r n a n d o " V A S Q S " , B u r u S P
herói q u e fala d i r e t o , q u e cita n o m e s e raiva d e q u e m m e a p e r t a a g a r g a n t a , q u e atrás d o s o l h o s e o u v i d o s e d i s t a n t e d a s PS.: Estamos, c á e m B a u r u , c o n f e c c i o n a n d o
d a t a s , q u e s e e x p õ e , q u e d i z as c o i s a s m e s u f o c a , q u e n ã o e n x e r g a as c o i s a s mãos.
u m a revista. T e r á o n o m e d e O G r i f o e será uma
c o m o são, e a g r a n d e m a i o r i a d e n ó s c o m mudando. O eterno movimento dos revista d e h u m o r , n ã o e x c l u s i v a m e n t e . Nela
C o m o v o c ê s q u e r e m q u e e u seja p o l i - a b o r d a r e m o s arte e assuntos sociais e m geral,
aquele puta m e d o d e se e x p o r (porra, e u barcos m o v i m e n t o m o v i m e n t o dos bar- t i z a d o n u m p a i s o n d e e x i s t e A I - 5 e 477? e n f i m será c u l t u r a l . C o n t e r á t a m b é m o p i n i õ e s
m e i n c l u o ) fica , e s p e r a n d o q u e u m d o s cos m o v i m e n t o m o v i m e n t o . N o d i a 20 d e o u t u b r o d i s s e r a m q u e i a m pessoais d e u m v e l h o c o l u n i s t a p o l i t i c o . N ã o
grandes t o m e alguma iniciativa, q u e diga E p a r a o n d e vai essa e n e r g i a t o d a dissolver u m a classe d o c u r s i n h o d o p o d e r e m o s c o n t a r c o m o m e s m o t e o r politico
alguma coisa q u e a gente quer ouvir, q u e a g e n t e t e m d e n t r o d a g e n t e ? Se Colégio O b j e t i v o . O pessoal a c e i t o u e se d e u m EX (motivos d e f o r ç a maior) mas é uma
q u e a gente q u e r dizer mas não t e m p e r d e , se dissipa, é r e p r i m i d a , m i l tipos e n c a m i n h o u às c l a s s e s d e s i g n a d a s o n d e revista c u l t u r a l , e c u l t u r a é h u m a n i s m o , h u m a -
c o r a g e m ; f i c a m o s aí, e s p e r a n d o a r e p o r - d e energia r e p r i m i d a , m i l tipos d e e n e r - era impossível e s t u d a r p o r c a u s a d o n i s m o è r e i v i n d i c a ç ã o s o c i a l , o l h e m n ó s na
t a g e m , e s p e r a n d o a letra d a música q u e g i a p r a se l i b e r a r , a v o z d a g e n t e é falar excesso d e gente. V o l t a m o s a nossa anti-
politica. .
a g e n t e p r e c i s a sacar nas e n t r e l i n h a s , a l g o , e m t o d o s os l u g a r e s , n a o se e s c o n - g a sala e n o s r e c u s a m o s a sair. O d i r e t o r
e s p e r a n d o d e c l a r a ç õ e s ; f i c a m o s aí,
v i b r a n d o c o m o s C a m õ e s d o E s t a d o {72¬
d e r só n o Riviera, M a i s U m , e t c .
O l h a , é começar pela gente mesmo,
não v e i o falar c o n o s c o p o i s estava e m
" r e u n i ã o " . M a r c a d a reunião para o d i a Pau no Pasquim
73), d e l i c i a d o s c o m o s l i v r o s r e t i r a d o s d e a g e n t e já s a b e a r o t i n a d o o p e r á r i o , m a s s e g u i n t e , o sr. J o r g i n h o (o d i r e t o r ) a p a r e -
circulação (mais u m t e m a p r o s p a p o s ) , c o m e ç a r p o r e l a m u i t a g e n t e já t e n t o u e ceu e a primeira coisa q u e falou foi q u e o Companheiros do EX:
e s c a n d a l i z a d o s c o m a q u e l a música q u e não d e u certo. N ã o adianta se q u e r e r pessoal d o colégio não p o d e reclamar Espero que dê tempo de enfiar isso no n 16, 9

c e n s u r a r a m a letra e n o d i s c o só saiu i n s - s e r o q u e n ã o é , é a s s u m i r a classe-mé- ( e l e n ã o d i s s e p o d e , d i s s e d e v e evitar), que, no momento, é o único capaz de abrigar


t r u m e n t a l ; e se d e p o i s d e t u d o isso, o d i a , o s grilos-classe-média, c o m e ç a r e n t r a r e m c o n f l i t o , p o i s o 4 7 7 tá a i . esse repúdio ao seminário O P a s q u i m , cujo
g r a n d e tá d e s a c o c h e i o d e f a l a r s o z i n h o aqui m e s m o , e m casa. É p e r d e r o cagaço O q u e poderíamos responder? O q u e comportamento nas últimas semanas aproxima
(ou a g e n t e n e m s a b e o q u e é q u e p i n t o u d e e s c r e v e r u m a r t i g o s o b r e prisão - até p o d e m os estudantes dizer? D e i x e m o s
aquele outrora combativo semanário de publi-
d e a m e a ç a p a r t i c u l a r prá e l e ) e n t ã o . . . é , q u a n d o , c a c e t e , ate q u a n d o esse p u t a cações que ele anedoticamente combate,
d e p e r g u n t a s . N ã o haverá respostas m e s - como Manchete e O Globo.
D caetano não é mais o q u e e r a . m e d o , e s s a p e r a n ó i a ? P e l o m e n o s já é m o . P o r q u e nesse m u n d o brasileiro a
alguma coisa dizer alto: A GENTE N Ã O cultura é medida p o r capacidade de Todos sabemos que de achacadores como
C ê o l h a e m v o l t a e tá t o d o m u n d o F A L A P O R Q U E TÂ C O M M E D O - pra Sérgio laguaribe, um contador de anedotas;
ganhar dinheiro. 8 0 % dos estudantes
sentindo a merda feder, a merda d o lado n ã o p e n s a r e m q u e tá t o d o m u n d o q u i e - Ziraldo Alves Pinto, reprodutor da Disneylãn-
F a z e m f a c u l d a d e v i s a n d o a si próprios e à
d e f o r a , a m e r d a q u e tá d e n t r o d a c u c a to p o r q u e c o n c o r d o u . M e d o das coisas dia, especializado em vender personagens ao
m a n e i r a m a i s fácil d e g a n h a r d i n h e i r o .
d a g e n t e . G e n t e q u e c h e g a lá d o e x t e - que a gente conhece, q u e viveu, q u e governo e promover o "Brasil Grande"; Ivan
M e c h a m o M a r i o Roberto Fortunato, Lessa.. Sérgio Augusto..., dos quais Millor Fer-
r i o r (e e u t i v e lá) n ã o e n t e n d e , n ã o ouviu contar, q u e imaginou, q u e n e m m o r o e m São P a u l o e e s t u d o n o melhor nandes se afastou por razões políticas, para não
e n t e n d e p o r q u e t u d o p a r a d o , não i m a g i n a ! M e d o d e ser p a r a d o n a r u a e colégio d o m u n d o inteiro, o O b j e t i v o ser convivente com a conivência - destes
e n t e n d e as a b e r r a ç õ e s . ter e s q u e c i d o o d o c u m e n t o e m casa. (de g a n h a r d i n h e i r o ) . realmente só se podia esperar a omissão em
Isso é B r a s i l , " A m é r i c a d o S u l , 1 9 7 5 M e d o d a mão da arbitrariedade p o r q u e circunstâncias como esta.
(quase 76). N ã o é Estados U n i d o s d a
Taíidomida 477
q u e m manda é ela mesma,
s e g u n d a m e t a d e d a década d e 60, não é a) G e o r g e , SP Mas v e m o s a g o r a q u e a omissão s e transfor-
Paris d e 6 8 ; é p a r t e d i s s o , é d i f e r e n t e , é ma em colaboração. A veleidade pequeno-
u m p o u c o mas é m u i t o mais; puta m e r - O Pasquim v e m , constantemente, exigindo burguesa dos redatores, portanto, nãoé essen-
d a , o s c h a v õ e s t ã o g a s t o s , as d r o g a s t ã o
gastas ( q u e é q u e a d i a n t a só e x p l o r a r o
Uma Aula de Fucô dos leitores q u e l h e e s c r e v e m , q u e se p o l i t i -
z e m , a t r i b u i n d o - l h e s , inclusive, u m c h a m a d o
cial. Da mentira às capas com mulheres semi-
nuas para aumentar a vendagem (qual a dife-
" i n d i c e de politização". rença de M a n c h e t e ? ) estamos diante de um
m u n d o d e d e n t r o , se o m u n d o d e f o r a Muitos dezenas de estudantes e pro- N o e n t a n t o , politizar o estudante paulistano jornal estelionatário. Para usar uma expressão
taí, q u e r e n d o o u n ã o ? ) . O s o m tá g a s t o , fessores da USP foram recentemente o u c a r i o c a é, d e certa f o r m a , a t é f á c i l , o q u e de interesse de seus redatores, um jornal, s e m
d e f i n h a n d o , às v e z e s c o m u n s a r r a n q u e s presos. Talvez sejam torturados - se é n ã o a c o n t e c e e m cidades c o m o B a u r u q u e m e r c a d o , p o i s s e u papel é melhor cumprido
q u e f a z e m l e m b r a r últimos s u s p i r o s ; o que já não o estão sendo nesse momen- m a n t é m u m n ú m e r o incrivel d e estudantes pelas publicações da Editora Bloch - incluindo
q u e s e lê tá g a s t o , o q u e se v ê tá g a s t o , o to. Suas vidas estão ameaçadas. Uma uni- u n i v e r s i t á r i o s : mais o u m e n o s 10.000 r e s i d e n - as fotonovelas.
tes a q u i o u n ã o , q u e e s t ã o c o m p l e t a m e n t e
q u e s e o u v e tá g a s t o , o q u e s e v ê ta g a s t o ; versidade q u e não é plenamente livre Neste momento deve-se confrontar O Pas-
i n c i p i e n t e s n o t o c a n t e à p o l i t i c a . Para a l g u n s ,
r e p i t o : a g e n t e tá e m 1 9 7 5 ! E isso q u e não passa d e uma empresa de servilida- ( c o m o é o m e u caso) é justa a i g n o r â n c i a aos q u i m com o próprio G l o b o , J o r n a l d o Brasil,
atormenta a gente: a impossibilidade de de. Não dá para lecionar sob o f a c ã o de p r o b l e m a s brasileiros, já q u e s o u u m e x e m p l o F o l h a d e S. P a u l o , jornais que não fugiram:
trazer soluções d e f o r a , d e outras é p o - botas, não dá para falar diante do muro dos 50 o u 6 0 % destes u n i v e r s i t á r i o s ; os quais compreenderam inclusive a essência jornalísti-
c a s . O m o m e n t o é o u t r o , e é isso q u e das prisões; não dá para estudar quando t r a b a l h a m d u r a n t e 8 h. p o r d i a e o c o m p l e t a m ca cios fatos e, em editoriais (}B e folha SP),
d e s e s p e r a , não ter n a d a pré-fabricado, as armas ameaçam. A liberdade de (o dia) c o m 4 h. na escola (inclusive aos s á b a - emitiram opinião contrária aos acontecimen-
dos), isto e x i m e d o estudante q u a l q u e r t e m p o tos. Evidentemente, estes jornais não mudam
nada p r o n t o para servir, e n t e n d e ? Porra, expressão e de pesquisa são sinais de
para inteirar-se das atividades d a q u e l e s p o l í t i - sua estratégia; O Pasquim aparentemente
a g e n t e precisa criar a solução d a g e n t e , garantia de liberdade dos povos. Na cos a q u e m , levados p o r u m a c a m p a n h a u m manteve a sua: a colaboração.
e isso é m u i t o m a i s difícil, c r i a r as c o i s a s defesa dos direitos, na luta contra as tor- b o c a d o r o m â n t i c a diante d a r e a l i d a d e , e l e g e -
da gente, c o m palavras, gestos d a gente turas e a infâmia da policia, a luta dos tra- ram e a c r e d i t a r a m . E são justamente estes 50 o u O selo indicando que O P a s q u i m está "sem
m e s m o , s e m fantasias, p r i n c i p a l m e n t e balhadores e intelectuais se unem à dos 6 0 % os maiores interessados nas m a n o b r a s d a censura prévia", o slogan "Um jornal a f a v o r da
sem fantasias. Ê p r e c i s o sintetizar, juntar politica n a c i o n a l pois são n o r m a l m e n t e os p r i - imprensa livre e dos jornalistas idem" mere-
trabalhadores manuais. A USP sabia que
meiros atingidos. cem explicações. A conclusão inevitável é que
reconhecer a individualidade da situa- sua luta de hoje relaciona-se á luta pela sem censura prévia o jornal é isso mesmo.
ção, senão a g e n t e c o r r e o risco d e ficar liberdade em todos os países do mundo. C o m o sanar u m p r o b l e m a desta n a t u r e z a se Dona Linda Nurmi jamais nasceu no Rio; bro-
r e p e t i n d o frases escritas e m 1848, o u Presto minha homenagem à sua cora- a p r ó p r i a escola n a o o f e r e c e m e i o s para p o r o tou de alguma gaveta de alguma agência de
palavras d e profetas q u e v i v e r a m 3 m i l gem e me associo de bom grado às deci- u n i v e r s i t á r i o a par d o s m e n e i o s politicos? S e r á fotos; a Espanha (por que tanto interessei) está
o m o n s t r u o s o 477 u m a e s p é c i e d e t a l i d o m i d a
a n o s atrás. C o m o e r a m e s m o ? K r i s h n a sões que vocês possam tomar para con- a milhares de quilômetros; Glauber Rocha que
d e f o r m a d o r a d a c o n s c i ê n c i a d e nossa ? pare com as frescuras e faça logo seus filmes
d i v i d i u o m u n d o e m 4 classes"... N o Bra- seguir que a justiça não seja aqui uma
N ã o seriam v o c ê s os i n d i c a d o s para imaginar pra AERP. Quanto aos jornalistas livres, que o
sil n u n c a n i n g u é m v i u a l g u é m m o r r e r d e palavra ultrajada. s o l u ç õ e s para p r o b l e m a t ã o d e l i c a d o , t o d o s jornal desejai Aceitar os princípios de certas
f o m e . . . " Q u e m falou foi aquele cara dos A) M . Foucault (filósofo f r a n c ê s q u e , a s a b e m o s , mas c a b e aos ó r g ã o s d e i m p r e n s a religiões, de que o homem só é livre quando
Hare-Krishna d e São Paulo, f o i o q u e 23 d e o u t u b r o ú l t i m o , s u s p e n d e u o s c u r - a p o n t a r os desuses, as falhas d a nossa p o l i t i c a . mortoi
t a v a e s c r i t o n o Ex. O r a vá . t o m a r n o c u , sos q u e estava d a n d o n a U n i v e r s i d a d e d e N ã o é assim t ã o f á c i l d i r i a m o u t r o s , mas a v o c ê s
Desolada mente,
n ã o dá pra ver m e s m o : c o r p o astral n ã o São Pauto, a t é q u e sejam Hbertos s e u s que -nasceram com eíse r<?>jetivo, com uro
m o r r e d e f o m e , e o cara q u e vive d e t r a - colegas presos) idealismo fundado neste propósito, podemos Sérgio Buarque de Gusmão
EX-16 leitores
CINEASTAS, JORNALISTAS, UM ASSUNTO SÓ; REPRESSÃO,

ensaio fotográfico...

Estilo Inquisição
Detenho-me nessas considerações,
antes d e marcar m e u protesto e d o m e u
partido, o M D B , dentro d e u m a linha d e
coerência à sua programática, a o r e t r o -
cesso d a ampliação d a censura-prévia à
i m p r e n s a , n o s últimos dias.
Q u a n d o d o centenário d o g r a n d e ó r -
g ã o l i b e r a l O E s t a d o d e S. P a u l o , p r o m e - de Walter C h e l m a n , Rio.
t i d o o término d a censura-prévia, v e r i f i -
cou-se q u e jornais c o m o Opinião, M o v i -
m e n t o , Ex, n a l i n h a d o s s e m a n á r i o s , e A índio Reclama Do Mau-Humor
e m f i m , se o t r a b a l h o é a própria v i d a d o
esparsas. O o b j e t i v o inicial é u m m a p e a m e n t o
c o m p l e t o d o e s t a d o . O t r a b a l h o seria d i v i d i d o
Tribuna d a Imprensa, d o Rio, e o Jornal Os colonizadores quando chegaram à e m 3 etapas: G r a n d e Recife, Z o n a d a M a t a ,
América, e n c o n t r a r a m t e r r a s férteis, h o m e m ; q u e r e s p o s t a d ã o a esta d e c l a r a - A g r e s t e e Sertão. V a m o s atacar o G r a n d e R e c i -
d e Brasília n a l i n h a d o s d i á r i o s , c o n t i -
montes ricos e m madeira e animais d e ção q u e r e s u m e u m a situação d e t r e - fe. F o t o g r a f a n d o , a p l i c a n d o u m questinário-
n u a m s o f r e n d o censura-prévia. V e j a , a
peles valiosas, minas imensas e m r i q u e - m e n d a exploração e m q u e e s t a m o s o s padrão e d e p o i s u m d e p o i m e n t o . Para isso,
m a i s assídua r e v i s t a d e i n f o r m a ç õ e s d o estamos c o n t a n d o c o m total a p o i o d e H e r m i l o
zas d e o u r o , p r a t a e o u t r o s m i n e r a i s p r e - í n d i o s d e s d e há 5 s é c u l o s . P o r e l e é v o n -
País, j a m a i s s e l i b e r t o u d e u m a c e n s u r a B o r b a F i l h o . P o r e n q u a n t o é isso. G o s t a r i a d e
ciosos. N ó s cultivávamos e trabalhava- tade d o Parlamento d o C o n e Sul: d i z e r mais coisa. M a s vejo q u e o mais i m p o r -
q u e a f a z c a d a v e z m a i s difícil d e s e r
m o s nossas c o m u n i d a d e s , defendíamos 1. S e p o n h a f i m à d i s c r i m i n a ç ã o d o í n - t a n t e é o t r a b a l h o .
mantida.
nossos povos, não t e m e n d o a nada. d i o c o m r e l a ç ã o às t a r e f a s q u e n o s d e t e r - a) Ivan M a u r í c i o , Beth Salgueiro, R e c i f e
N u m p a n o r a m a a s s i m tão t u r v o , q u a n -
Nós o s indígenas e m p r e g a d o s , se m i n a m n a divisão d o t r a b a l h o . Q u e s e
d o o Presidente Geisel, n u m rasgo- m u i -
Salão de Humores
a l g u m d i a o c h e f e o u o patrão a m a n h e c e p a g u e e f e t i v a m e n t e e q u e não se p a g u e
to a o seu f eitio - d e c o r a g e m e altivez d e
de m a u h u m o r , s o m o s rechaçados. Ele n u n c a mais e m vales.
atitude, abriu o verbo d o governo à
não t e m interesse e m q u e o índio a p r e n - 2. N ã o s e r e s e r v e c o m e x c l u s i v i d a d e a o
Nação, c h a m a d a à realidade d o seu F a ç o cartuns h á alguns t e m p o , sem n o e n t a n -
da e siga p r o g r e d i n d o . Estamos c a n s a d o s i n d í g e n a as t a r e f a s m a i s d e s a g r a d á v e i s e
sacrifício a n t e recessão d o c a p i t a l i s m o to ter p u b l i c a d o r e g u l a r m e n t e e m n e n h u m
d e s o f r e r t a n t a injustiça, h o j e nós t r a t a m q u e e x i g e m u m m a i o r d e s g a s t e físico.
m u n d i a l , c o n t i n u a m n o País as p e r s e g u i - jornal o u revista. R e c e n t e m e n t e c o m o c a r t u m
mal p o r q u e nós t e m o s m e d o , p o r q u e 3. Q u e o p r o d u t o d o t r a b a l h o r e a l i z a - INPS, q u e ai lhes e n v i o , tirei 1 lugar n o I S a l ã o
ções a j o r n a i s e jornalistas, n o m e l h o r 9

parecerá q u e o índio não t e m n e n h u m d o p e l o s indígenas nas reservas estatais e d e H u m o r d e S o r o c a b a e mais r e c e n t e m e n t e


estilo d o s t e m p o s d a Inquisição.
d i r e i t o d e ser h u m a n o . missões r e l i g i o s a s d e v e p e r t e n c e r e m s u a e x p u s n o II S a l ã o d e H u m o r d e Piracicaba.
N u n c a se p o d e exigir m u i t o d o s o r g a -
E nós não s o m o s a n i m a i s , n e m f i l h o s t o t a l i d a d e a n o s s o s irmãos e n ã o s e r A g o r a estamos t r a n s a n d o a q u i e m Bauru u m a
n i s m o s p o l i c i a i s , m a s jamais se p o d e
débeis, para viver t r a b a l h a n d o soba e m p r e g a d o e m gastos burocráticos d o s revista h u m o r í s t i c a , q u e está para sair. A s s i m
d o n f u n d i r - l o s c o m o s órgãos d e s e g u - q u e isso a c o n t e c e r n ó s lhes e n v i a r e m o s u m
t u t e l a d o s p a t r õ e s , d o s missionários, o u agentes protecionistas. A s reservas e
rança d o g o v e r n o , e m b o r a s e m p r e n o s exemplar.
d o s f u n c i o n á r i o s q u e n o s e m p r e s t a m as missões o r g a n i z a d a s c o m o empresas
d e f r o n t e m o s c o m revelações e excessos a) G i l b e r t o M a r i n g o n i O l i v e i r a , B a u r u SP
f e r r a m e n t a s , p a r a n o s tirá-las q u a n d o produtivas d e v e m ser administradas p o r
p o l i c i a l e s c o s e m n o m e d o s últimos.
E ninguém nunca conseguiu eliminar
a imprensa d o c a m i n h o d e defesa d a
eles d e c i d e m . E x i g i m o s a segurança e
liberdade de trabalho de que deve gozar
nós o s í n d i o s , o u p e l o m e n o s c o m n o s s a
d i r e t a participação. A Força é Menor
t o d o ser h u m a n o n o século X X . 4. Q u e é d e s e j o d o s p o v o s i n d í g e n a s
l i b e r d a d e p o p u l a r , razão básica, a t é , d e Muito boa essa do Ex-15. Uma carta,
M i l h õ e s d e n o s s o s irmãos r e g a r a m a q u e se a d o t e m m e d i d a s e c o n ô m i c a s t e n -
s u a existência. Censurá-la é , p o i s , t e n t a r forte (de Déc/o Bar,), c o m cheiro de com-
terra a m e r i c a n a d e suor e sangue, traba- dentes a evitar q u e os aborígenes n o s
tapar o sol c o m a p e n e i r a . A s vezes q u e i - petência e domínio dos problemas enfo-
l h a n d o c o m o animais, e m nossos b o s - v e j a m o s a a b a n d o n a r as p o s s a s c o m u n i -
ma mais q u e a d e s c o b e r t o . cados. Uma carta valente e visceral que
ques, e m nossos c a m p o s , para q u e d a d e s ; c o m este f i m que'se c r i e m fontes
me colocou na máquina, para respondê-
a) D e p u t a d o M i l t o n S t e i n b r u c h , Brasília o u t r o s l e v e m nossas r i q u e z a s a o u t r o s d e t r a b a l h o p a r a as c o m u n i d a d e s .
la.
N . R . - O Ex n ã o é s e m a n á r i o , n e m está continentes. 5. Q u e nas t e r r a s o n d e h a b i t a m o s o s
Mas aqui também pintou um lance
sob " C e n s u r a Prévia". E é esse s a n g u e d e r r a m a d o d e nossos indígenas e x i g i m o s q u e o s g o v e r n o s
diferente que quero te contar: foi o
antepassados q u e hoje nos e m p u r r a e p r o v e j a m o s m e i o s necessários p a r a q u e
organizado um Festival 5 8 e 76 por Cen-
nos o b r i g a a nos c o m p r o m e t e r m o s e e x i - s e j a m as p r ó p r i a s c o m u n i d a d e s as q u e
tros Acadêmicos, Assembléia Legislativa
g i r a n t e o m u n d o justiça p a r a e s t a s i t u a - e x p l o r e m as r i q u e z a s n a t u r a i s q u e e x i s t i -
e fornecedores. Tudo bem, todo mundo
ção. r e m e m nosso próprio benefício. E m
com cabeça começou.seu filmezinho
Igrejas d e d i v e r s o s c r e d o s ; g o v e r n o s caso d e ser isto t o t a l m e n t e impossível,
(eu fiz 2 animados curtos, só pra dar for-
d e d i s t i n t o s países; o r g a n i s m o s i n t e r n a - p o r tratar-se d e j a z i d a s s u j e i t a s a l e g i s l a -
ça). No dia da estréia (eram 2 noitadas de
cionais d e defesa dos direitos h u m a n o s e ç õ e s e s p e c i a i s , q u e as c o m u n i d a d e s
gala), um aviso na porta deixava todo
trabalhistas. Se o t r a b a l h o é a c o n t i n u a - r e c e b a m u m a participação dessas e x t r a -
mundo no ar: por motivos de força
ç ã o d a o b r a c r i a d o r a d e D e u s , se o t r a b a - ções.
maior, etc, etc. a Censura tava com eles,
l h o é o e n g r a n d e c i m e n t o d a s n a ç õ e s , se (Parlamento índio A m e r i c a n o d o
Mais de 40, pelo que fui descobrindo.
o t r a b a l h o é u m a das mais e l e m e n t a r e s C o n e Sul, Conclusões Sobre o Trabalho)
Isso fazem uns 20 dias e até agora nin-
l i b e r d a d e s d e q u e d e v e usar o h o m e m , a) Revista M a c a x e i r a , Porto A l e g r e .
guém sabe de nada. Eles levaram, no mí-
d o . Foi b o n i t o v e r os m e n i n o s , recém-saidos nimo 2/3 da possível produção de cine-
o u n e m saídos d a f a c u l d a d e , f i c a r e m a f a v o r d a ma amador de Porto Alegre, de um ano.
A Gente Insiste r e p o r t a g e m . D e t u d o , esse é o m e l h o r s i n a l .
Ficamos na m e r d a e estamos p e n s a n d o e m
a)Rogério Raupp Ruschel,Porto Alegre.

D e i x a m o s coletivamente o Jornal d a C i d a - s a i r d e l a . S e já é d i f í c i l f a z e r j o r n a l i s m o aí n o
de. D o e u m u i t o p o r q u e o j o r n a l e r a e x a t a m e n - e i x o Rio-São P a u l o , i m a g i n e q u i n o N o r d e s t e .
te o q u e a g e n t e t i n h a p e n s a d o e m f a z e r , a ú n i - A experiência d o Jornal d a C i d a d e e n s i n o u q u e
a g e n t e t i n h a q u e ir p a r a gráfica, m o n t a g e m ,
ca coisa q u e estava i m p o r t a n d o p r o f i s s i o n a l -
m e t e r o b e d e l h o na distribuição, t u d o . T u d o é
mente p r o nosso grupo aqui n o Recife. A gente
precário, t u d o é N o r d e s t e . Não tínhamos c o n -
tinha c o n s e g u i d o abrir o jornal para a cidade,
vbdb A? dições tecnológicas e n e m h u m a n a s . M a s
os recifenses p a r t i c i p a v a m d e l e , t e l e f o n a v a m
f o m o s lá. L u t a m o s f e i t o u n s d o i d o s . A g o r a , s e n -
d a n d o sugestões, e s c r e v i a m , v i n h a m à r e d a -
te-se n o g r u p o esse s e n t i m e n t o d e q u e p o d e -
ção. Só q u e o j o r n a l t i n h a u m d o n o q u e não
mos fazer alguma coisa aqui. S e m regionalismo
ralava a m e s m a língua d a g e n t e . Ele r e a l m e n t e
babaca, sem folclorismo barato. M a s c o n s c i e n -
n u n c a c o n s e g u i u e n t e n d e r a diferença e n t r e o te d e q u e o c e n t r o d o m u n d o é o l u g a r o n d e
jornal dele os outros: sabia apenas q u e o dele estamos.
não d a v a d i n h e i r o . Daí r e s o l v e u fazer o i n e v i -
tável: m u d a r t u d o , v e n d e r p r a q u e m t i n h a Começamos a matutar e d e s c o b r i m o s q u e
">x u ".n/y d i n h e i r o p r a c o m p r a r . E aí n ã o i n t e r e s s a v a m a i s o único c a p i t a l q u e nós tínhamos e r a a h o n e s t i -
a g e n t e . M a s t u d o b e m , até q u e e l e d u r o u m u i - d a d e d e propósitos d o n o s s o t r a b a l h o e q u e
õ t o , n ã o é ? 49 n ú m e r o s ! M a i s d o q u e a g e n t e não adiantava ficar r e c l a m a n d o d o d o n o d o
n u n c a i m a g i n o u s e q u e r pensar... j o r n a l , p o i s o s d o n o s d e j o r n a l são e s e r ã o s e m -
Q u e r e r s e r r e p ó r t e r h o j e e m d i a está pre donos de jornal. Resolvemos nos organizar
v i r a n d o r o m a n t i s m o . A r e p o r t a g e m está s e n d o para fazer u m trabalho d e levantamento d a
b a n i d a d o j o r n a l i s m o . M a s a gente insiste, m e s - Arte p o p u l a r e m P e r n a m b u c o , q u e serviria
m o q u e o espaço esteja c a d a v e z mais a p e r t a - p a r a o início d e u m a série d e publicações
4 76

A
A MDB
LUTA E X P L O S Ã O DENUNCIA
DOS OS
JOVENS P E L O RADICAIS

C O L A P S O

CRITICA

QUANDO MENOS AJUDE


O

SE A
RESPOSTA
DE
BRASIL ESPANHA]
A LUTA
CONTRA
MULHER
OGRANDE
COMPRADOR

ESPERA,
ULISSES O TEMPO DEILUiOES

Fora Das
Bancas.
Até Quando?

CHEGA
O semanário Crítica, do Rio, não
aparece nas bancas do país desde o dia
20 de outubro, quando deveria ter saído
seu r)P 63. O fato tem 3 versões: segundo
Alberto Dines (Folha de SP, 2/11 na

O
coluna "jornais dos jornais"), o jornal
parou por motivos financeiros; segundo
a redação de Crítica, foram "problemas
internos" e segundo um funcionário da
Editora Abril, trata-se da censura prévia,
instalada no jornal depois do 62.
A versão de censura é negada por

NATAL
Santos um dos jornalistas da equipe de
Crítica:
- Paramos para reformular o jornal,
porque estava fraco. Nada que ver com
censura. O diretor principal, Geraldo
Melo Mourão, deve voltar de viagem
daqui uns 75 dias e daqui mais umas 3
semanas voltamos às bancas. Com cara
nova.
A Distribuidora Abril não sabe
quando vai receber para distribuir o Crí-
tica que deveria ter distribuído no dia 20
O Ex-17 v a i s e r u m p r e s e n t e d e de outubro. A partir dessa segunda-
feira, de segunda em segunda recebe
g r e g o : 60 páginas, 10 c o n t o s . A o apenas avisos de n o v o s adiamentos. Um
n ú m e r o n o r m a l d e 40 páginas, funcionário da Distribuidora, acha que o
n 6 3 n ã o sai "talvez por que eles não
v a m o s a c r e s c e n t a r 20 c o m " o
p

conseguiram o número de páginas sufi-


m e l h o r d o E x " - u m a seleção d o cientes liberadas pela censura prévia
que entrou talvez por causa da matéria
que conguimos publicar e m 2 que eles deram no n? 6 2 , sobre contratos
de risco. Talvez esse foi o estopim. No
a n o s d e v i d a (Ex-1, n o v e m b r o d e 1973). N ó s s a b e m o s q u e o b o l s o d a c a m b a d a dia em que essa nota é redigida, 2* feira,
a m i g a d ó i c o m u m a f a c a d a d e s s a s , m a s l e m b r e - s e d e nós n e s s e N a t a l . 3 de outubro, a Distribuidora Abril rece-
beu de Critica um novo comunicado de
adiamento da circulação do n? 6 3 .
E s t a m o s v e n d e n d o u m a m é d i a d e 18 m i l e x e m p l a r e s . A $ 3,30 o e x e m p l a r
( d o s $ 6 d o p r e ç o d e c a p a , $ 2,70 vão p a r a a d i s t r i b u i d o r a e p a r a as b a n c a s ) , são $
ANÚNCIOS FÚNEBRES
59.400. N o s s o c u s t o i n d u s t r i a l , só gráfica, é d e $ 40.000. S o b r a m $ 19.400. C o m
d u a s páginas d e a n ú n c i o s p a g o s , t e m o s $ 30.000. D e s c o n t e o u t r o s gastos ( f i l m e s ,

t
I. L E S S A
c o n d u ç ã o , m a t e r i a l d e r e d a ç ã o , a l u g u e l , l u z , água). A g o r a , d ê u m a o l h a n o E x p e -
C. MARQUES
d i e n t e , veja q u a n t o s s o m o s . E i m a g i n e o estapeio na h o r a d e distribuir a grana
O s e d i t o r e s e f u n c i o n á r i o s d a Ex- E d i -
q u e s o b r a . P a r e c e a q u e l a casa o n d e não t e m p ã o : t o d o s c h i a m e n i n g u é m t e m tora c u m p r e m o dever d e c o m u n i c a r
razão. os f a l e c i m e n t o s .

L e m b r e - s e d e nós. Se p u d e r , c o m p r e 2, c o m p r e 3 Ex n e s s e d e z e m b r o . D ê u m EXPEDIENTE

p r e s e n t e a o s a m i g o s , o u t r o a nós. A j u d e a e s g o t a r n o s s a 17? e d i ç ã o . V e n h a d e lá Ex E d i t o r e s : H a m i l t o n A l m e i d a F i l h o / N a r c i s o
K a l i l i / M y l t o n S e v e r i a n o d e Silva/Paulo Patar-
u m p e d a c i n h o d o s e u 1 3 , prá g e n t e b o t a r n a r u a n o s s o 18? m a i s a l i v i a d o s .
9 ra/Amâncio Chiodi/Dácio Nitrini/Palmério
Dória de Vasconcelos/Armindo Machado/-
E, se f o r possível, u m F e l i z N a t a l prá t o d o s nós. Percival d e S o u z a / L u i s Cuerrero/Alexander
Solnik/Hermes Ursini/Vanira Codato/João
Antônio/Cláudio Favieri/Jayme Leão/Cida

JORNAL DE TEXTO. Spinola/Jota/Hilton Libos/Marcia


Mônica Teixeira/lvo
Guedes/-
Patarra/Gustavo Fal-
c o n / A e l i b e r t o C . Lima/Luis P o n t u a l / J o s é Tra-
jano/Elvira A l e g r e / G a b r i e l Romeiro/Demó-

FOTO,QUADRINHO crito Moura/Valdir de Oliveira/Luis C â m a r a


Vitral//Beth Costa/Joel Ruf i n o d o s Santos/Ma-
rília/Chico Carusó-Edison Brenner/Elifas
Andreato/Norma Freire/Otávio Ribeiro/Car-
E O DIABO. los L a c e r d a / S é r g i o B u a r q u e / A d é l i a
ges/Randau M a r q u e s e Vladimir H e r z o g .
Bor-

Ex E d i t o r a L t d a . R u a S a n t o A n t ô n i o , 1.043. SEP
01314, SP. N e n h u m d i r e i t o reservado. Direitos
d e r e p r o d u ç ã o d a revista argentina C r i s i s , c e d i -
d o s g r a t u i t a m e n t e . T i r a g e m : 30 mil e x e m p l a -
res. D i s t r i b u i ç ã o N a c i o n a l : A b r i l S.A. C u l t u r a l e
Industrial, SP. C o m p o s t o e i m p r e s s o nas o f i c i -
nas d a P A T - P u b l i c a ç õ e s e Assistência T é c n i c a
Ltda., rua D r . V i r g í l i o d e C a r v a l h o P i n t o , 412,
SP.
H i n o à R e p ú b l i c a
Letra: Medeiros e Albuquerque (1867-1934)
Música: Leopoldo M i g u e z (1850-1902)

Seja um palio de luz desdobrado


Sob a larga amplidão destes céus
Este canto rebel que o passado
Vem remir dos mais torpes labéus!
Seja um hino de glória que fale
De esperança de um novo porvir!
C o m visões de triunfos embale
Q u e m por ele lutando surgir.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.

Nós nem cremos que escravo outrora


Tenha havido em tão nobre país...
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acna irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! A o futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, avante, da Pátria no altar.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.

Se é mister que de peitos valentes


Haja sangue no nosso pendão,
Sangue vivo do herói Tiradentes:
Batizou este audaz pavilhão!
Mensageiros de paz, paz queremos.
É de amor nossa força e poder;
Mas, da guerra nos transes supremos,
Heis de ver-nos lutar e vencer.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.

Do Ipiranga é preciso que o brado


Seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado
Sobre as púrpuras regias de pé!
Eia, pois, brasileiros, avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso País, triunfante,
Livre terra de livres irmãos!

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.
salada EX-16

O MAIS N O V O REITOR D O PAIS PERSEGUE ATE A S O M B R A

Milagre Brasileiro:
humorista vive
ILUSTRAÇÃO LAURO
u s a d o para desempregar e s t u d a n t e s ) , o s
alunos da Faculdade d e Geografia e
disso desde os 16 G e o l o g i a p a r a l i s a r a m as a t i v i d a d e s d i d á -
ticas d a e s c o l a . P r a u s a r u m a i m a g e m
anos, no Nordeste! nada tropical, a coisa cresceu c o m o u m a
b o l a d e n e v e . A t é o d i a 17, 32 d o s 43 c u r -
sos d a U F B a , e n g l o b a n d o a t é a d i s t a n t e
O R A L ( R o m i l d o A r a ú j o Lima) é u m treal/Canadá); Exposition International Apesar d o s e s f o r ç o s d e O s c a r e seus Faculdade d e A g r o n o m i a d e C r u z das
cara q u e sobreviveu f a z e n d o c a r t u m n o de Caricature Berlin (1975); Exposition auxiliares, t ê m s a í d o d e n ú n c i a s n o s jor- A l m a s ( a 2 horas e meia d e S a l v a d o r ) ,
N o r d e s t e e ainda está vivo. Vai fazer u m a International de Caricature Athenes nais londrinenses, a t r i b u í d a s a " f o n t e s e s t a v a m " p a r a l i s a d o s " . O u seja: a maioria
e x p o s i ç ã o n o f i m d o m ê s para ajudar o (1975): e dos salões nacionais de Soroca- desconhecidas", noticiando dezenas d e a b s o l u t a d o s 8 m i l universitários d o E s t a -
filho d e nascer. Pedi para ele fazer uns ba/Piracicaba )1975). Hoje, aos 24 anos , c o n t r a t a ç õ e s d e professores s e m c o n - d o r e s o l v e u r e v e r a lamentável situação
cartuns sobre i m p r e n s a , q u e s e g u e m ex-priineiranista de Direito (1972) e jor- curso, todas baseadas e m i n d i c a ç õ e s d o e n s i n o e n f r a q u e c i d o p e l a falta d e
junto c o m s e u d e p o i m e n t o : nalismo (1975) descobri o verdadeiro sig- políticas o u familiares. S ó e m agosto a v e r b a s , p e l a evasão e d e t e n ç ã o profissio-
Até o s 75 a n o s morei em Arcoverde, nificado daquele sinal defronte as esco- Reitoria a n u n c i o u 38 c o n t r a t a ç õ e s desse nal d o s p r o f e s s o r e s pessimamente
sertão de Pernambuco. Copiava gibi e las: ATENÇÃO, ESCOLA. jeito. remunerados.
desenhava em carvão nas calçadas. Eu Ivan Maurício - Recife. N o m e s m o m ê s , sem causa justa, O s c a r
vendia também gibi na feira. Tinha fixa- O m o v i m e n t o g r e v i s t a , através d a
d e m i t i u o professor T s u t o m u H i d e s h i . d o
Assembléia G e r a l d o s Estudantes, reinvi-
Em Londrina,
ção em desenho de Zorro pulando de D e p a r t a m e n t o d e Patologia A p l i c a d a d o
um precipício. Gostava de Mandrake e d i c a a suspensão d o j u b i l a m e n t o , o a t e n -
Centro de Ciências e S a ú d e , alegando
d i m e n t o às e x i g ê n c i a s d e c a d a e s c o l a
alunos e mestres
Fantasma.Lá,as revistas da Ebaleramuma q u e " e l e n ã o era c o n v e n i e n t e para a
raridade. Eu usava para vender de segun- q u a n t o a o nível d o s c u r s o s , o a b o n o das
U n i v e r s i d a d e " . H i g h e s h i p e d i u abertura
da mão. As revistas vinham de trem. A faltas, a reposição das aulas e p r o v a s p e r -
em pânico nas mãos
d e i n q u é r i t o para q u e possa se d e f e n d e r ,
gente ficava esperando. Com 73 a n o s , vi d i d a s d u r a n t e a paralisação.Estas as r e i -
se existe a l g u m a coisa contra ele, mas a t é
um anúncio da Escola Panamericana de vindicações principais.

do genro de Ney
agora n ã o foi a t e n d i d o .
Arte. O anúncio era bonito, tinha pro- E m b o r a se c o l o q u e m c o m o u m m o v i -
O s professores d o C e n t r e d e S a ú d e
messas pro cara ficar empregado numa m e n t o e x c l u s i v a m e n t e reivindicatório,
t a m b é m protestaram contra a d e m i s s ã o .
editora. Meu pai pagou o curso e fiz em e m a l g u n s d o c u m e n t o s , crítricas " à f i l o -
A i n d a mais p o r q u e havia i n f o r m a ç õ e s
dois anos porciue o correio atrasava mui- O ginecologista O s c a r Alves, 38 anos, sofia t e c n i c i s t a d a R e f o r m a Universitária
seguras d e q u e viriam outras. C h e g a r a m
to. Na verdade, o diploma recebi, mas o mais j o v e m reitor d o Brasil, gosta d e e aos i n s t r u m e n t o s d e exceção: o D e c r e -
a m a n d a r u m p e d i d o d e esclarecimento
cadê onde publicar os quadrinhos? Vim s e g u r a n ç a . Assim q u e p e g o u a U n i v e r s i - to 477 e a L e i 5 5 4 0 " .
ao reitor, q u e n ã o t o m o u c o n h e c i m e n -
morar no Recife. Mandei novos traba- dade de Londrina, n o Paraná, o genro de O s diálogos c o m o reitor i n t e r i n o ,
to.
lhos para as editoras. Desta feita, um N e y Braga, ministro d a E d u c a ç ã o , t o m o u Augusto Mascarenhas, mostraram-se
pouco esclarecido, os quadrinhos abor- a l i b e r d a d e d e criar a AESI - Assessoria D e p o i s , n o dia 11 d e o u t u b r o , o d i r e - infrutíferos. A s b a n c a d a s d o M D B e d a
davam a eterna temática nossa: o canga- Especial d e S e g u r a n ç a e I n f o r m a ç õ e s . tor d o C e n t r o , N e l s o n R o d r i g u e s d o s A r e n a n a Assembléia Legislativa d e r a m
ço. Antes, influenciado pela temática F u n ç ã o : " l o c a l i z a r os e l e m e n t o s c o n t r á - Santos, f o i preso pelas autoridades m i l i - apoio ao m o v i m e n t o estudantil. O car-
importada, só fazia cowboys. Os dese¬ rios às d i s p o s i ç õ e s regimentares'. tares, q u e ainda n ã o d e r a m o m o t i v o . O deal D o m Avelar Brandão Vilela apare-
nhos (oram devolvidos com o conselho A AESI o r g a n i z o u u m f i c h á r i o , insti- Diretório d a Universidade d e Londrina, ceu c o m u m a espécie d e m e d i a d o r
de "praticar mais, usando modelos vivos, tuiu a " s i n d i c â n c i a i n t e r n a " , para tomar q u e representa os 6.471 estudantes, público entre a direção d a U n i v e r s i d a d e
como fazem os profissionais". O sonho d e p o i m e n t o s d e professores e alunos, e m a n d o u u m d o c u m e n t o d e protesto ao e os estudantes. N o m e i o d o m o v i m e n t o ,
estava virando pesadelo - e p o r mais que presidente d a R e p ú b l i c a : o representante d o M E C , Edson M a c h a -
u m a guarda secreta, cujos integrantes
me beliscasse, não acordaria: o pesadelo d o , esteve 2 v e z e s c o m o s universitários,
quase todos c o n h e c e m na Universidade. "Esta prisão a c o n t e c e e m m e i o a u m
era a infinita realidade batendo nos seus a q u a s e 1 mês d o início d o m o v i m e n t o n a
E mais: u m a C o m i s s ã o Especial e x a m i n a clima d e p â n i c o na c o m u n i d a d e , o n d e
76 a n o s . Parei de fazer quadrinhos. G e o c i ê n c i a s e d e s u a p r o p a g a ç ã o , as e x i -
agora a i m p l a n t a ç ã o d o p r o j e t o d e r e s o - o c o r r e r a m diversas p r i s õ e s " . ,
l u ç ã o 169, u m a e s p é c i e d e c o m p l e m e n t o g ê n c i a s d o s e s t u d a n t e s estão p r a t i c a -
Em 7967, um irmão meu, o Ruy - que M a s , a t é agora, os professores n ã o m e n t e s e m resposta. Pairam ameaças:
por sinal era quem bolava minhas cartas d o d e c r e t o 477. A originalidade d o p r o -
t o m a r a m q u a l q u e r d e c i s ã o . Talvez p o r - ano p e r d i d o para todos, reprovação e m
para as editoras - me aconselhou a fazer jeto d o ginecologista está n o artigo 2,
q u e , e m t o d o lugar q u e se r e ú n e m para massa, e t c , e outras mais sussurradas,
piadas. Meio sem jeito, fui tentando, até q u e p r e v ê a t é s u s p e n s ã o dos alunos q u e discutir o assunto, lá estão os guardas d e v e l a d a s , d e caráter p o u c o e s t u d a n t i l . O s
tjue surgiu o primeiro cartum. Criei o se apresentarem nos trabalhos escolares segurança d e Oscar. universitários c o n t i n u a m a f r e q ü e n t a r
primeiro e saí correndo por dentro de " e m desacordo c o m a moral o u a d e c ê n -
suas e s c o l a s , e s t u d a n d o as q u e s t õ e s e
mim mesmo: havia descoberto o humor. cia". O mesmo acontecerá c o m quem

Estudantes baianos
p r o c u r a n d o s o l u ç õ e s j u n t o às a u t o r i d a -
Consegui, depois de cartas e cartas para "desobedecer a d e t e r m i n a ç ã o superior
des.
as revistas de piadas do sul, publicar os n ã o manifestante i l e g a l " . A s s i m , o a l u n o
primeiros
nas revistas
desenhos
da Editora
profissionalmente
Edrel ("Mil Pia-
p o d e ser p u n i d o p o r fumar " e m lugar
n ã o p e r m i t i d o " , o u p o r ter c a b e l o c o m - gozam de total P r i m e i r a página q u a s e q u e diária n o s
jornais baianos, o m o v i m e n t o estudantil
das", "Garotas e Piadas",
quatro anos que colaborei
etc). Durante
com essa edi-
p r i d o , o u aparecer, na aula sem gravata,
etc. liberdade (quando é o d e maior amplitude d e s d e 6 8 - q u a n -
d o estavam e m m o d a , c o m a vantagem
tora, houve fases de euforia:
os desenhos publicados; e
quando via
desespero
O u t r a a m b i ç ã o d e O s c a r é ter o c o n -
trole absoluto das i n f o r m a ç õ e s q u e saem estão no banheiro) d e estar livre d e " u n s c a s c u d o s " . Ve-se
depois disso, q u e o porta-voz o u os
quando a compensação financeira que da U n i v e r s i d a d e - 554 professores, 6.471 escrevinhadores d e banheiros na UFBs,
era pouca atrasava paca. Eles começaram alunos. N i n g u é m p o d e falar sem a u t o r i - " T r i s t e s i n a / s e r p o e t a d e l a t r i n a " . " O s já n ã o são a q u i l o q u e o u t r o r a c h a m á v a -
a pagar 5 7 5 p o r página, em 7969. N o últi- z a ç ã o d e l e . M a s as vezes n ã o d á . Em c o n t e s t a d o r e s d e latrina são autênticos m o s " l e g í t i m o s r e p r e s e n t a n t e s " d o s
mo ,-no que mandei, final de 1972, eles s e t e m b r o , 40 f u n c i o n á r i o s d o Hospital revolucionários d e m e r d a " . e s t u d a n t e s . D u a s confissões, d o i s d e s a -
pagavam $35 por página. Cada página U n i v e r s i t á r i o , entre auxiliares d e e n f e r - D u a s confissões, d o i s d e s a b a f o s e n t r e b a f o s e m p u r r a d o s para b a i x o , s e m m u i t a
tinha uma média de nove quadros. Eu m a g e m e atendentes_, paralisaram o tra- os m u i t o s - p o l í t i c o s , l i t e r á r i o s , s e x u a i s - força d e e x p r e s s ã o d e p o i s q u e a " p a r a l i -
sentava na prancheta e dizia: Tem de balho p o r 1 hora, reividicando o paga- dos b a n h e i r o s d a F a c u l d a d e d e Filosofia sação" m i n i m i z o u a importância d o
sair. Cot egui anotar a produção até 200 m e n t o d e a u m e n t o já c o n c e d i d o (ga- e Ciências H u m a n a s d a U F B a , U n i v e r s i - ideário político d o s b a n h e i r o s d o c a m -
páginas, i as de 1.500 piadas. Haviam as n h a m 488 cruzeiros). D o i s r e p ó r t e r e s d o d a d e F e d e r a l d a B a h i a . O ideário políti- po, m u r a l d e r r a d e i r o , m u r o das l a m e n t a -
pressões uentro da família (até o Ruy) e ções.
jornal l o n d r i n e n s e P a n o r a m a - Valdir co—poético—contestador d o s f u t u r o s
fora de casa: pois a maioria, apesar de
C o e l h o e Jaelson Lucas - acabaram s e n - cientistas h u m a n o s e m exposição e 20 d e o u t u b r o - T o d a s as e s c o l a s a m a -
admirar os trabalhos, me desestimulava:
d o detidos p e l o administrador d o h o s p i - invenção p e r m a n e n t e não t r a d u z mais, n h e c e r a m " g u a r n e c i d a s " p o r policiais
"não tem futuro", "num dá dinheiro",
tal, Ivo Cristofoli, q u e c h a m o u duas rá- c o m t a n t a e x a t i d ã o , a p s i c o l o g i a d o s u n i - m i l i t a r e s e as r á d i o - p a t r u l h a s p e r m a n e -
"melhor arranjar emprego em escritó-
dio-patrulhas. versitários b a i a n o s . c e r a m e m constante circulação pelos
rio, banco".
D e p o i s c h e g o u o assessor d e i m p r e n s a Não q u e t e n h a m d e s a p a r e c i d o d e campus. N a Faculdade d e Filosofia e
d o reitor, R o b e r t o C o u t i n h o M e n d e s , veaz os poetas e c o n t e s t a d o r e s . C e r t a - Ciências H u m a n a s , os estudantes insisti-
Aí veio o Pasquim.Comecei a mudar a c u s a n d o os r e p ó r t e r e s d e " i n v a s ã o d e m e n t e c o n t i n u a m existir. Prova disso é a ram e m p e r m a n e c e r e m reunião, m e s m o
muita coisa dentro da minha concepção d o m i c í l i o " , mas disposto a e s q u e c e r intensa l i b e r a t u r a d e b a n h e i r o . D e s d e d e após a advertência d o Secretário d a
de humor, antes engraçadinho, aliena- t u d o se eles n ã o publicassem n a d a . O s 23 d e s e t e m b r o , c o n t u d o , o s u n i v e r s i t á - S e g u r a n ç a P ú b l i c a , e f o r a m d i s p e r s a d o s .
do. Daí pra cá publiquei também na r e p ó r t e r e s n ã o aceitaram a p r o p o s t a . rios r e s o l v e r a m criar n o v o s canais d e Boa parte deles t e n t o u n o v a reunião n o
Revista Vozes; Enciclopédia dei Humor Ficaram e s p e r a n d o o fim d e u m a r e u n i ã o expressão e m o d i f i c a r p q u a t r o p o l í t i c o C a m p o G r a n d e e f o i d i s p e r s a d a n o v a -
(Colômbia); Visão; e jornal da Cidade. E d o assessor d e i m p r e n s a c o m dois a g e n - da Universidade. m e n t e . A curva d a coisa começa a d e c l i -
participei do IX e X (197.2/1973) Salon tes d a P o l í c i a Federal. D e p o i s f o r a m l i b e - P r o t e s t a n d o c o n t r a " o b a i x o n í v e l d e n a r e a o p ç ã o f o i v o l t a r às a u ' a s .
International de Ia Caricature (Mon- rados. ensino e o jubilamento" (instrumento G u s t a v o Fa'cón
EX-16 salada
SANTA EDWIGES, PERDOAI 21,5 BILHÕES DE DÓLARES!

José Júlio de A z e v e d o , poeta,cartunista, l o u -


c o , estudante s e m e s c o l a , t e n t a n d o n ã o - v e n -
cer na vida. Ex-estudante d e E c o n o m i a , ex-
repórter d o Panorama-Londrina, colaborador
d o V i v e r / L o n d r i n a . T e m u m livro d e poesiaas
e d i t a d o , " H a v i a u m C a m i n h o n o M e i o das
Pedras". É d e C a m b e . PR.

Decreto-Lei
n<? 477,
De 26 De Fevereiro Graças à Santa,
t e v e a idéia d e a p e l a r p a r a S a n t a E d w i g e s .
" E p a r e c e q u e as c o i s a s estão m e l h o r a n -

De 1969 o Nome Da do".


Em São P a u l o , a santa t e m u m c a n t i n h o

0 Presidente da República, usando


Doutora Não Ficou à e s q u e r d a d e q u e m entra na igreja d e
N.S. d o R o s á r i o , n o l a r g o d o P a i s s a n d u
das atribuições que lhe confere
grafo 7" c/o artigo 2 " do Ato
o pará-
Institucional
Sujo Na Praça c e n t r o d a c i d a d e . M a s , d o j e i t o q u e está
s e n d o p r o c u r a d a , vão ter q u e c o n s t r u i r
n. 5 de 13 de dezembro de 1868, decreta: Santa Edwiges a i n d a acaba v i r a n d o u m a igreja i n t e i r i n h a para ela, c o m o
Art. 7") Comete infração disciplinar o p r e f e r ê n c i a n a c i o n a l . Ela é a p r o t e t o r a aconteceu no Rio.
professor aluno, funcionário ou empre- d o s e n d i v i d a d o s . Há a l g u n s a n o s , t i n h a - N e m N.S. d o R o s á r i o , p r o t e t o r a d o s
gado de estabelecimento de ensino apenas u m c a n t i n h o na capela d o H o s p i - negros, r e c e b e mais velas q u e ela - d i z FALA O P O V O
público, ou particular que: tal S ã o F r a n c i s c o d e P a u l a , n o b a i r r o Maria Benedita, q u e toma conta da ban-
1 - alicie ou incite â deflagração de c a r i o c a d e São Cristóvão. H o j e t e m u m ca d e velas e s a n t i n h o s .
movimento
praralisação
que tenha por finalidade
de atividade escolar ou par-
a edifício d e 6 a n d a r e s - a igreja fica n o ú l -
t i m o - concluído e m 1972, n o m e s m o
O santinho d e Edwiges custa C r $ 1 e
também é o mais v e n d i d o . N o verso, traz Por Uma Nova
ticipe nesse movimento:
II - atente contra pessoas ou bens tan-
b a i r r o . È a santa q u e mais c r e s c e n o B r a -
sil.
a oração, mas é preciso fazer também a
n o v e n a . Foi assim q u e Cecília S i e c z l e a , Superpotência, Os
to em prédio ou instalações, de
natureza, dentro do
qualquer
estabelecimentos
A c o n s t r u ç ã o d o e d i f í c i o , só c o m o
d i n h e i r o d o s fiéis, m o s t r a q u e " a s a n t a
u m a p o l o n e z a d e 45 a n o s , há 33 n o B r a s i l
c o n s e g u i u p a g a r as p r e s t a ç õ e s q u e d e v i a Estados Unidos
de ensino,
III - pratique
como fora dele;
atos destinados à organi-
f u n c i o n a " , c o m o d i z o relaçoes-públicas
d a I g r e j a , W a l t e r N i c e l l i , d e 54 a n o s , s o l -
ao M a p p i n , u m a das mais p o d e r o s a s
lojas d o B r a s i l , a 2 0 0 m e t r o s d a i g r e j a d e Da América do Sul
zação de movimentos subversivos, pas- t e i r o . Ele t a m b é m é relações-públicasdo N.S. d o R o s á r i o . Ela f o i e n t r a n d o n o Cré-
seatas, desfiles ou comícios não autori- M o b r a l e d o Exército, n o b a i r r o , a l é m d e dito Automático d a loja, c o m p r a n d o
Eu A c u s o !
zados, ou dele participe: l o c u t o r d o Estádio d e S ã o J u n á r i o , d o t u d o e m n o m e d a f i l h a - " u m a televisão
Estudando o A p o c a l i p s e - o livro p r o -
IV - conduza ou realize, confeccione, Vasco da Gama. Nicelli tem u m grande aqui, outra geladeira a l i " - e q u a n d o viu
f é t i c o , vê-se q u e o C a v a l o P r e t o M e r c a -
imprima, tenha em depósito,-distribua herói: ele m e s m o não dava mais pra pagar. A i n d a b e m q u e ,
d o r , u m dos 4 d o A p o c a l i p s e , q u e ali está
mateiral subversivo de qualquer nature- - Neste bairro sou o o q u e o Pele é depois da novena, o filho arrumou u m
caracterizado p o r ter d a n i f i c a d o o ó l e o
za: para o f u t e b o l b r a s i l e i r o ! ! E m b o r a a san- e m p r e g o m e l h o r c o m o mecânico e a e p e r d e u o d o m í n i o d o trigo, vai entrar
V - seqüestre ou mantenha em cárcere ta s e j a f o r t e , N i c e l l i n ã o d e i x a d e s u g e r i r pensão d o m a r i d o a u m e n t o u . em confronto c o m o C a v a l o V e r m e l h o
privado diretor, membro de corpo q u e m u i t o d o s u c e s s o d e l a se d e v e a o - Se n ã o , o n o m e d a m i n h a f i l h a ia R e v o l u c i o n á r i o , q u e " t i r o u a paz d a
docenie, funcionário ou empregado de t r a b a l h o q u e e l e f a z há 10 a n o s . F o i d e lá ficar sujo. T e r r a " e construiu " a g r a n d e e s p a d a "
estabelecimento de ensino, agente de p a r a cá q u e o n ú m e r o d e d e v o t o s c o m e - M a s , a f i n a l , q u e s a n t a é essa? É a ( p o d e r militar a t ô m i c o ) . Disso resultará
autoridade ou aluno: ç o u a a u m e n t a r . O pároco d a Igreja d e p a d r o e i r a d a Polônia, u m a r a i n h a d o sé- que o C a v a l o A m a r e l o P o p u l a r , que
IV- use dependência ou recinto esco- Santa Edwiges é G i n o Rigetti, italiano d e c u l o 13, c a n o n i z a d a p e l o p a p a C l e m e n t e t e m d o m í n i o sobre a 4? parte d a p o p u -
lar para fins de subversão ou par a prati- 60 a n o s , u m d e s s e s p a d r e s q u e a i n d a IV. C a s o u - s e a o s 12 a n o s c o m H e n r i q u e , lação da T e r r a " , acabará sendo o h e r d e i -
car ato contrário à moral ou à ordem falam d o inferno. d u q u e d a P o l ô n i a e Silésia. T e v e 7 f i l h o s , ro das d e s t r i b u i ç õ e s , se elas n ã o f o r e m
pública. - Padre G i n o , q u a n d o ela começou a e q u a n d o c o m p l e t o u 20 a n o s , e l e e o i m p e d i d a s a t e m p o . S ó d e p o i s disso é
Parágrafo 7") As infrações definidas ser a d o r a d a n o Brasil? d u q u e r e s o l v e r a m não ter mais n e n h u m . q u e o C a v a l o B r a n c o I n o f e n s i v o , q u e vai
nesse artigo serão punidas: - A d o r a d a não, m e u filho. A d o r a d o é C o m o não havia métodos a n t i c o n c e p - surgir " c o r o a d o pela palavra e p o r sua
I - se se tratar de membro do corpo o b e z e r r o d e o u r o . Santa Edwiges é cionais, f i z e r a m u m v o t o d e continência i n c l i n a ç ã o pacifista", é q u e m "sair á para
docente, funcionário ou empregado de v e n e r a d a - d i z c o m d o u ç u r a eclesiástica. e p a s s a r a m a v i v e r só p a r a D e u s . v e n c e r " , tornando-se a 2* s u p e r - p o t ê n -
estabelecimento de ensino com pena de S e g u n d o o p a d r e , q u e v e i o d a Itália Fred Jorge (aquele q u e fazia rocks e cia d o planeta, já q u e a 1- será o cavalo
demissão ou dispensa, e a proibição de e m 1958, " n ã o t e m r e g i s t r o d e início a versões para C e l l y C a m p e l l o , T o n y C a m - a m a r e l o , c o m sua p o t e n c i a l i d a d e d e m o -
ser nomeado, admitido ou contratado veneração da padroeira dos e n d i v i d a - p e l l o , Sérgio M u r i l o , C a r l o s G o n z a g a e gráfica.
por qualquer outro da mesma natureza dos, pelo menos n o Brasil". Sabe apenas outros), n u m livreto v e n d i d o a $2, c o n t a
pelo prazo de cinco (5) anos. é q u e já n ã o t e m m a i s t e m p o d e l e r as p o r q u e ela é a p r o t e t o r a d o s aflitos e
N o jogo d e xadrez m u n d i a l entre o
II - se se tratar de aluno, com a pena d e cartas q u e c h e g a m a os m o n t e s d e t o d o s endividados:
O c i d e n t e e o O r i e n t e , a rainha preta já
desligamento, e a proibição de se matri- os l u g a r e s d o país, p e d i n d o a i n t e r v e n - "Tornou-se logo u m a figura c o n h e c i -
foi c o m i d a . A rainha b r a n c a , q u e é o vale
cular em qualquer outro estabelecimen- ção da santa. d a n a r e g i ã o . Saía c a m i n h a n d o p e l a
Paraná-Amazonas, e que pertence a
to de ensino pelo prazo de três (3) anos. N a c o m e m o r a ç ã o d o s e u d i a (16 d e a l d e i a p r o c u r a n d o viúvas e órfãos p a r a
todos os países d a A m e r c a d o Sul, c o m
o u t u b r o ) , c e r c a d e 20 m i l p e s s o a s f o r a m praticar a caridade. Não desamparava
e x c e ç ã o d o C h i l e , é a p e d r a q u e vai ser
ninguém. Bastava saber q u e e m a l g u m a
CANTE C O M EX r e z a r n a i g r e j a . Era n a m a i o r i a g e n t e d a
Z o n a Sul q u e subia a rua F o n s e c a Teles parte havia alguém p r e c i s a n d o d e p r o t e -
disputada n o p r ó x i m o g r a n d e lance. T r a -
ta-se d e u m a q u e s t ã o de vida o u m o r t e ,
Uma e m a u t o m ó v e i s d e vários t i p o s , táxis e
até c a r r o o f i c i a l . E x p l i c a N i c e l l i .
ção, p a r a i m e d i a t a m e n t e ir l e v a r d o n a t i -
v o s e p a l a v r a s d e c o n s o l o . Era g r a n d e o
p o r q u e n i n g u é m v e n c e r á u m a guerra
mundial, convencional e depois a t ô m i -
de 1938 - A maioria dos nossos freqüentado-
res são d a c l a s s e m é d i a . Há m u i t a g e n t e
número d e seus p r o t e g i d o s .
" N ã o raro, trazia-os para c o m e r e m
c a , sem as riquezas dos vales d o A m a z o -
nas e d o Prata-Paraná. O V i e t n ã Sul
r i c a t a m b é m . O s p o b r e s são p o u q u í s s i - c o n s i g o e c o m seus familiares e m sua A m e r i c a n o só p o d e r á ser evitado, se sur-
Yes, n ó s t e m o s bananas!
mos, p o r q u e d e v e m ter outros meios própria m e s a n o c a s t e l o . gir a nova g r a n d e p o t ê n c i a , os Estados
Bananas pra dar e v e n d e r .
Banana, m e n i n a , t e m v i t a m i n a , para resolver seus p r o b l e m a s . T a m b é m " T e n d o t u d o para viver f a u s t o s a m e n t e , U n i d o s d a A m é r i c a d o Sul. Torna-se
Banana e n g o r d a e faz crescer. não falta g e n t e f a m o s a : o t e n e n t e B a n - E d w i g e s l e v a v a u m a v i d a d e sacrifícios e n e c e s s á r i o c o m e ç a r a c o n t o r n a r os mal-
bis d e i r a , o e x - d e p u t a d o Eurípedes C a r d o s o abstinência. e n t e n d i d o s e dar i m p u l s o à u n i ã o . A
de M e n e s e s , o Ivon Curi... " S e u santo n o m e é i n v o c a d o por c o n d i ç ã o d e c o m a n d a m e n t o geo-políti-
Vai para a F r a n ç a o c a f é , pois é ! E n t r e o s fiéis, J u l i a d e M e l o , a d v o g a d a todos aqueles q u e p r o c u r a m trabalhar c o d o Brasil q u e lhe permite fazer o q u e
Para o J a p ã o o a l g o d ã o , pois n ã o ! p a r a p a g a r suas d í v i d a s . É a p r o t e t o r a d o s b e m e n t e n d e r n o Rio P a r a n á , o c o l o c a
d e 40 a n o s , d i s s e q u e a b r i u p r e s t a ç õ e s
Pro m u n d o inteiro, bons negócios." e m p o s i ç ã o d e g r a n d e responsabilidade
H o m e m ou mulher,
e m várias l o j a s , " m a s s e a t o l o u m e s m o "
n o P o n t o Frio Bonzão, u m a das maiores A oração a Santa Edwiges é a s e g u i n t e : na c o n s t r u ç ã o dessa s u p e r - p o t ê n c i a .
Banana pra q u e m q u i s e r m .
estribilho lojas d o R i o ( s l o g a n : 7 " e m t u d o o que o " V ó s , Santa Edwiges, q u e fostes na
amor pode dar). Se não fosse a santa, terra a m p a r o d o s p o b r e s e d e s v a l i d a d o s , O fato é q u e os 3 imperialismos, o
M a t e para o Paraguai, n ã o vai! J u l i a e n t r a v a n a lista d o S e r v i ç o d e P r o t e - socorro dos endividados, no Céu, onde capitalista, o social e o sionista, e s t ã o
O u r o d o b o l s o d a gente, n ã o sai! ção a o Crédito. gozais o eterno preêmio da caridade q u e a m e a ç a n d o o nosso planeta. S ó a realiza-
S o m o s d a crise, se ela vier, - A r r a n j e i u m a porção d e casos para p r a t i c a s t e s , c o n f i a n t e vô-lo p e ç o , s e d e a ç ã o d o eixo a n t i - a t ô m i c o Estados U n i d o s
Banana para q u e m quiser.
d e f e n d e r e p u d e pagar t u d o . minha advogada, para q u e e u o b t e n h a da Asia, c o m o polo humanista, e
estribilho
M a r i a C e r q u e i r a , 32 a n o s , é u m a das d e D e u s a graça d e v e r p a g a a d í v i d a b r a - Estados U n i d o s d a A m é r i c a d o Sul, c o m o
q u a s e 2 0 0 m i l p e s s o a s q u e estão c o m as s i l e i r a d e 21,5 b i l h õ e s d e d ó l a r e s , e p o r p o l o auto-def esa, mostram a saída para o
João d e Barro prestações d o B N H a t r a s a d a s . N a v e r d a - f i m a graça d a s a l v a ç ã o . A m é m . " impasse g e r a d o na c o r r i d a a t ô m i c a .
Alberto Ribeiro de é o marido q u e deve. M a s foi ela q u e Palmério Dória Coronel Rolim de M o u r a
salada EX-16

F O T O G R A F O A P A V O R A D O : Q U E M ME PROTEGE D A P O L i C I A?
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Marinaldo Guimarães
apresenta

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De 5 a 9 de novembro
4?, 5? e 6?: 21 h o r a s
S á b a d o : 21:30 e à meia-noite
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8 a p É ^ i ^
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•utlivo, o* ML*»*. 00 ELCB E LUCU.NO. O J0*NAl Dl VOSt • SM 01 VOOt 1

IFAN-PAIIl
JCHN rHui SOfHl n
RmTR
c F:
N Ã 0 T E N H 0
NADA |MAIS Se o Do M e i o Brasília e F u s c ã o . E c u b r a m - s e os d o n o s
d e Passat: o s p a r a g u a i o s g o s t a r a m m u i t o
nesse c a s o , c o m o é d e b a i x a , n ã o se d e u
maior i m p o r t â n c i a . É s e m p r e assim...
Aperta
fl 0 | Z E R fl B U R G U E S f l

d o c a r r o e... lá v i u , n é ? A g o r a , H é l i o v a i F u m a c ê s sifu - A t u r m i n h a q u e g o s t a
mofar uins bons tempos ad galleran, d e debruçar-se s o b r e o implacável artigo

o Gatilho, t o m a n d o café d e c a n e q u i n h a .
Data-vênia piou - N a c o l u n a a n t e -
281 d o vastíssimo c a r d á p i o p e n a l , p r e c i s a
saber dessa: os h o m e n s d e capa preta d o
rior, c o n t e i alguns casos d o Caveirinha Palácio d e Têmis, além d e c a n e t a r e m o
Adeus Fotógrafo!
t

b a n d i d ã o p i r a d o d e Santos, e i n f o r m e i ser q u e p o r t a o u usa a e r v a , estão a p l i -


q u e u m d a t a - v ê n i a integrava a q u a d r i - c a n d o u m a m u l t a . Isso m e s m o : m u l t a . E
f u i n a 7 5 a . delegacia (rua Groelândia, lha, c o m anel n o anular e t u d o . E disse não é fácil: n o c a s o d e u m a n o d e j a u l a ,
jardim Paulista), entrei numa sala e vi uns q u e o b i c h o ia d a n ç a r . U m a s e m a n a por e x e m p l o , o cara t e m q u e pagar cerca
caras tomando uma prensa. E os tiras dis- d e p o i s q u e o Ex ia p a r a as bancas, o d o u - d e 26 q u i l o s d e a l c a t r a , s e m o s s o . A ú n i c a
cutindo se os caras eram bandidos ou tor R a d i o n já p u x a v a c o r d a , apesar d a concessão q u e o s meretíssimos f a z e m é
não. O tira preto dizia que não eram; o b a r b a q u e d e i x o u crescer para desbarati- p a r c e l a r e s s e t u t u , d i v i d i n d o as 26 m i l h a s
branco dizia que eram, conhecia eles. nar. A l i á s , o n ú m e r o d e a d e v o p u x a n d o e m prestações n ã o m u i t o s u a v e s d e 500 e
Os tiras me botaram pra fora, como é c o r d a u l t i m a m e n t e n ã o é s o p a - os q u i - p o u c a s gramas mensais. E se não pagar,

JORNAL
que vai entrando sem avisar? M e desba- p r o c ó s c o n t i n u a m a estourar. já v i u : f i m d e sursis e c h u m b o . A ú n i c a
ratinaram, dando um tempo pro delega- saída é o c a r a p r o v a r q u e é u m i n f e l i z e

daPRAIA
do chegar. O delegado chegou, viu que Edmundo pirou - D e p o i s q u e o Gali- conseguir atestado d e p o b r e z a . M a s
eu era da Folha de SP e maneirou. Auto- nha passou a biritar d e m a i s n o h o t e l d e n e m s e m p r e o c a r a é d u r ã o ; daí c o r r e o
mmrísm s e u G u e d e s , c h u t a r a m - n o para a Penita. risco d e ver a multa c o n v e r t i d a e m p e n a .
rizou a fotografar os bandidos (?).
ANOI-N'1 NATAl 21-9-75 CftS3J0 U l t i m a m e n t e , o s e c r e t á r i o d o diretor C o m o já e s c r e v i a q u i , o b a r a t o s a i c a r o
Aí começa a segunda cena: os caras
mostrando os bandidos. "Olhe pra má- estava s e n d o o E d m u n d o c o m p o r t a d o pacas. C u b r a m - s e !
quina aí! segura firme o revórverí", dizia jovem q u e galgou o posto de confiança.
o tira. Botou os caras tudo iuntinho pre- O b i c h o tanto p e d i u q u e o m e r e t í s s i m o C a ç a às bruxas - O s s h e r l o q u e s
parando o cenário à base de porrada. Fiz corregedor concordou em mandá-lo estão d a n d o e m c i m a d o s d e s m u n h e c a n -
a foto e saí rapidinho. Voltei pro jornal. para a C o l ô n i a Penal d e B a u r u , o n d e f a l - tes s e r e s q u e p u l u l a m e m t o r n o d o H i l t o n
Entrego o filme e n o dia seguinte vejo a tavam d o i s anos para s e r e m c u r t i d o s . E H o t e l e a d j a c ê n c i a s . Isso p o r q u e e s t a b e -
ioto publicada: só então noto duas balas não é que o Edmundo queimou o chão? leceu-se entre eles e o m u l h e r i l m o t o r i -
RECIFE, UMA CIDADE no tambor do 38 que o tira tinha dado Esta p e g o u m a l , p o r q u e e l e vai ter q u e z a d o u m a feroz concorrência: h o u v e
pro bandido posar! Moral da história: viver p i r a d o . . . se vacilar, d a n ç a . L a m e n - u m dia e m q u e o time dos desmunheca-
quando a polícia chegar, chame o t á v e l , E d m u n d o : v o c ê assim p r e j u d i c o u dos e a mulherada trocaram unhadas e
ladrão! toda a turma. p u x õ e s d e c a b e l o atrás d o G i n á s i o C a e -
tano d e C a m p o s , na disputa d o m o n o p ó -
B A I X A S O C Amando
IEDADE Chiodi
Diplomas - Foi c o m o máximo p r a - lio d o trottoir.
Anunciamos zer q u e estive na Casa d e Detenção para
participar da solenidade de entrega de Fumeta inocente - O m e u c o n s i d e r a -

Hoje d i p l o m a s d e m a d u r e z a para u m a patota.


Infelizmente, o maior hotel d a América
d o m e r e t í s s i m o d a Vara n» 23 m e c h a -
m o u para c o n t a r u m a i n c r í v e l : ura tira d o

o Cadáver Latina c o n t i n u a a u m e n t a n d o o número


d e h ó s p e d e s - q u a s e 5.900 a o f i n a l d e
Carrao engrossou c o m u m b e b u m , d e n -
tro d e u m D o t e c o , q u e n ã o se i m p o r t o u

De Amanhã o u t u b r o e, a o q u e t u d o i n d i c a , 6 m i l a t é
dezembro.
m u i t o c o m o clássico " s a b e s c o m q u e m
falas?" R e s u l t a d o : o c o i t a d o foi g r a m -
H é l i o d a n ç o u - N a véspera n a t a l i n a p e a d o , a o m e s m o t e m p o q u e l h e intruja-
de 73, Hélio Rubens d e Carvalho, notó- Presunto na Zona Norte - A o q u e vam u m n a c o d e canabis. N a p r e s e n ç a d o
r i o caranguejeiro, escafedeu-se do xilin- t u d o i n d i c a , aqueles chafras q u e fritaram capa-preta, o tira justificava o flagra:
Estudantes Os caminhos
para a d r ó d e S u z a n o (SP). H é l i o , a s e g u i r , m a n - três m o ç o i l o s n u m a r u a d e bairro e l e - " t a v a n o b o l s o d a camisa d o f u m e t a ,
brincam Hare, Hare.
de trânsito Eles <hegaidm Põs-Craduacão d o u u m a c a r t i n h a para o meretíssimo gante, e m abril, f i z e r a m u m a caca n o E x c e l ê n c i a " . M a s f o i aí q u e o m e r e t í s s i -
c a p a - p r e t a d a II V a r a A u x i l i a r d o J ú r i , m e n o s a p r a z í v e l Jardim C e e i , b u r a q u e i r a mo, c o m notória perplexidade, consta-
da Z o n a N o r t e p a u l i s t a . A l i , numa
Afogados é uma zona inocentando o doutor Paranhos da acu-
t e n e b r o s a n o i t e , as metrancas p i p o c a -
t o u q u e o infeliz trajava uma.camisa sem
b o l s o . O m e r e t í s s i m o n ã o teve d ú v i d a s :
sação de t e r p r e s u n t a d o u m c e r t o D e d é ,
nas águas p r e n c o c r i s t a l i n a s d o r i o S a p u - ram e i m e d i a t a m e n t e , das alturas, S ã o absolveu o b e b u m , a essa altura s ó b r i o , e
caí. C o n s i d e r a n d o - s e q u e H é l i o e r a a P e d r o s a c o u dois c a r t õ e s v e r m e l h o s - e n t u b o u o rato.
testemunha principal e o capa-preta c o m o diria o Beija-Flor. N a v e r d a d e , foi
acusador parecia chamar-se S i d o n , d e t u d o b r o n c a p o r q u e , dias antes, dois C a r t a d a cadeia - F i n i n h o m e e s c r e v e
tão v a s e l i n a , o d o u t o r P a r a n h o s , a q u e l e vagaus h a v i a m faturado o s u p e r m e r c a d o d a P e n i t a : " d e s c u l p e se m e d i r i j o a v o c ê ,
q u e se d i z i n j u s t a m e n t e a c u s a d o d e i n t e - d e u m japa, p e r t o d a l i , e m a n d a d o arre- mas não t e n h o a mais n i n g u é m q u e p o s -
grar esquadrólogas fileiras d e a n t a n h o , bites para c i m a d e d o i s chafras q u e t e n - sa f a z e r a l g o p o r m i m " . F i n i n h o , n a c a r -
livrou-se d a gaiola. E Hélio? T e v e q u e taram i m p e d i r o p i n o t e . t a , p e r g u n t a : " a Justiça é p a r a t o d o s o u
p u x a r p a r a o i n t e r i o r e, e s t e a n o , f o i N o b a n g u e - b a n g u e d o Jardim C e e i , os só p a r a o s m e n o s a f o r t u n a d o s ? Eu n ã o
r e c o m p e n s a d o : passou a integrar u m chafras d i z e m q u e r e c e b e r a m azeitonas t e n h o condições d e pagar u m a d v o g a d o
cartaz a cores c o m o u m d o s d e z mais p r i m e i r o . T e r i a m se limitado a dar o t r o - b o m , e t a m b é m não t e n h o orientação
perigosos b a n d i d o s d a metrópole. A c o . M a s , s e g u r a m e n t e , u m d o s falecidos s u f i c i e n t e p a r a d e s m a s c a r a r essa farsa;
" C l a r i m " é o mais n o v o jornal d e C a m - b e m da verdade, Hélio continuava a era barra l i m p a , o q u e c o m p l i c a a coisa espero q u e você perca uns minutos d e
pinas. O n » 0 t e m d e s e m p r e g o , h o s p í c i o , m a n d a r suas c a r a n g a s p a r a a q u e l e v i z i - c o n s i d e r a v e l m e n t e . Ressaltamos n a o c a - t e u p r e c i o s o t e m p o e v e n h a até a q u i . "
valsa, a s s o m b r a ç ã o , d e s e n v o l v i m e n t o , n h o país q u e , s e a c a b a r a m u a m b a e o s i ã o : n a rua A r g e n t i n a , t o d o m u n d o Fininho m e c o n t a , a i n d a , q u e g u a r d a
etc. Este m ê s sai o n? 1. fumacê, f e c h a para balanço. Aliás, mais b u f o u , p o r q u e a patota e r a d e alta. M a s c o n s i g o u m a Bíblia q u e l h e e n t r e g u e i ,
fX-76 salada
E Q U E M T O M A C O N T A D O NOSSOQUARTEIRÃO?NINGUÈM.
CLASSIFICADOS DE IMPRENSA

VírcTNAM
BALANÇO BALA POR BALA.

Segunda
mm remessa:

E m p a d i n h a , V i c e n t e e D. M a r i a : " n ã o p r e c i s a m o s d e i n s p e ç ã o ' foto d e C l á u d i o Favieri 'O MUNDO


ENCANTADO
q u a n d o c o n s e g u i localizá-lo n o P a r a - s e t e m b r o último p e l o g o v e r n a d o r Paulo DO
g u a i , a n o s atrás. B o a , Fino. V o u visitá-lo Egídio. QUATRO BICOS.

C o m o é o Seu
B r e v e m e n t e , para v e r c o m o a n d a m os Na rua Santo Antônio, Bela Vista,
" U m jornal q u e respeita a g r a n d e
b o x i x o s . Inté. q u a r t e i r ã o e n t r e as r u a s 13 d e M a i o e D r .
i m p r e n s a c o m o se fosse sua m ã e " é o

Pedaço? Fotografe,
C a v e i r i n h a f o i - s e - Israel Assis Luís B a r r e t o ( o n d e f i c a a r e d a ç ã o d o Ex), lema d o n? 1 d e " S c a p s " , l a n ç a d o e m
M a c h a d o , o C a v e i r i n h a , foi d e v i d a m e n - o b a r m a i s m o v i m e n t a d o é o Pássaro P r e - Curitiba p o r L.C. R e t t a m o z o e. V a z . A

Leve A o Museu
te fritado na G u a n a b a r a , p o r s h e r l o q u e s to, q u e t e m u m a vitrola eletrônica e u m g r a n d e r e p o r t a g e m é a respeito' d e u m
paulistas. O m o ç o , d e s d e q u e d e r a o pássaro p r e t o a n d a n d o p e l o b a l c ã o . Lá se b o r d e l d e luxo, o 4 Bicos. T a m b é m v e n -

Prá Gente Ver.


p i r a n d e l o d o p r e s í d i o santista, havia se r e ú n e m os v e l h o s m o r a d o r e s d o t r a d i - d i d o e m St* Catarina e SP.
m o c o z a d o n o M o r r o da Providência, cional bairro d o Bexiga, todos d o t e m p o
sob os a u s p í c i o s , d e u m a vasta curriola e m q u e h a v i a i n s p e t o r d e q u a r t e i r ã o . Eis
Fotos de gente, p o l u i ç ã o , v i o l ê n c i a ,
b a n d i d a l . O f a l e c i d o Caveira fora r e c e b i - o q u e eles a c h a m :
trânsito, lixo, fotos d e profissionais o u
d o c o m todas as honras, g a n h a n d o duas - Lembro de u m inspetor chamado
amadores, equipados c o m N i k o n o u
45 d e presente e mais 5 quilos d e alcatra G a r d i n o . A n d a v a c o m 3 capangas e não
O l y m p u s - P e n . Vale t u d o , d e s d e q u e
de vagau V a n i l , para a g ü e n t a r a m ã o até g o s t a v a d e p r e t o . A s 10 d a n o i t e , t o c a v a
retrate a realidade d a G r a n d e S ã o Paulo.
o p r ó x i m o e s c r u n c h o . O data-vênia t o d o m u n d o pra casa. (Antônio A g i l e r a ,
O M u s e u d e A r t e d e SP. q u e r essas fotos
R a d i o n havia lhe d a d o u m b a n h o , d e p o i s 50 a n o s d e B e x i g a )
para e x p o r n o fim d o a n o . Está c o n v i d a n -
de t e r e m faturado juntos o restaurante - Inspetor d e quarteirão andava d e
d o f o t ó g r a f o s d e bairros finos e d a p e r i -
Lago A z u l , na via A n h a n g u e r a , e - a l é m pau na mão, q u a l q u e r r o d i n h a separava
feria, estudantes e o p e r á r i o s , pais-de-
disso - o a d e v o d e d o d u r o u a fera n u m na p a u l a d a . T a m b é m , t o d o m u n d o b r i -
família e ovelhas-negras, p a t r õ e s e
a p o n t o feito n o H o t e l Salvador. O s sher- g a v a ; o V i c e n t e G a e t a , v a l e n t e , só b a t i a
e m p r e g a d o s , para q u e todos d ê e m sua
l o q u e s paulistas estavam n o p é d o C a v e i - e m velho. Hoje não. Até o sargento, q u e
opinião fotográfica d o que é a Grande
rinha há m u i t o t e m p o . Ele c o c h i l o u e o vivia b r i g a n d o , a g o r a f i c o u m a n s o . ( E m -
Sao Paulo. As fotos d e v e m ser enviadas
c a c h i m o c a i u , c o m o diria o O s m a r . Foi- p a d i n h a , 50 a n o s d e B e x i g a )
para o M u s e u , av. Paulista, 1578, t a m a -
se. N a Penita, seus í n t i m o s amigos fica- - Tinha o preto C h a r u t o , q u e gostava
n h o m í n i m o 18x24, c o m n o m e e e n d e r e -
ram tristonhos. P u n h a m f é n o Israel, de bater e m policial, 2 metros d e altura e
ç o d o a u t o r n o v e r s o , a t é 20 d e
esperando u m pinote. Agora d e v e r ã o sapato 50. T i n h a t a m b é m b r i g a d e r u a
n o v e m b r o . H á u m a v e r b a para eventuais
mofar n o xadrez p r o resto d a vida, p o r contra rua, c o m estilingue, briga de todo
aquisições. A c o o r d e n a ç ã o da exposição
q u e todos eles estão c o m muita c o r d a j e i t o . ( J a n u á r i o F e d e r i , 55 a n o s d e B e x i -
é de Claudia Andujar.
para puxar. ga)
O C h i c o Barbudo trocou titoteio c o m
• Bola preta - N o f e r i a d o d e 7 d e a polícia p o r q u e n ã o q u e r i a p a g a r o PRETO E GENTE
s e t e m b r o , c o m o d e v e i s s a b e r , u m Passat i m p o s t o d a c a s a . Ele a t i r a v a e a m u l h e r
v e r m e l h o e s e m placas p e g o u a m e n i n a carregava a e s p i n g a r d a . (Prefiro não dar
Bartira, d e 4 anos, na Praia G r a n d e . O o n o m e , 50 a n o s d e B e x i g a )
acompanhante d o piloto desceu, tentou - O i n s p e t o r d e q u a r t e i r ã o e r a útil,
desenganchar a menina d o parachoque hoje não, hoje o pessoal é mais civiliza-
e, c o m o n ã o d e u , m a n d o u o m o t o r i s t a d o , t e m recursos... antigamente era t u d o O T? jornal feminista d o Brasil é d e
q u e i m a r o chão. A s s i m , a m e n i n a foi p o b r e , s e m c u l t u r a , b a i x o nível. Só não Londrina. "Brasil M u l h e r " p r e t e n d e
arrastada p o r 3 quilômetros e m o r r e u . havia r o u b o s p o r q u e ninguém r o u b a d e " s e r mais u m a voz na busca d a igualida-
A g o r a , m e i o m u n d o t e m é dó d o s caras p o b r e . ( B a n o , 51 a n o s ) . de p e r d i d a " , q u e r leitores masculinos e
d o c a r r o - i s t o é, são d o i s m a t u t o s b o n z i - - Q u e briga vai ter hoje? N e m b e b e r se c o n s i d e r a i n c o r p o r a d o à " i m p r e n s a
n h o s , f i l h o n ã o sei d e q u e m , b o a g e n t e , se b e b e , até isso tá c a r o . ( P r e f i r o n ã o d a r d e m o c r á t i c a " . Editado p o r Joana Lopes,
p l a n t a m café. F i c a r a m assustados, c o i t a - o nome) está n o n 0; o n? 1 sai e m n o v e m b r o .
9

dos e fugiram. P o d e m observar q u e é - N ã o p r e c i s a mais dessas coisas d e i n s -


s e m p r e assim: o cara usa a caranga para p e t o r , n ã o ! ( V i c e n t e T u f a n o , 56 a n o s d e
m a t a r e m u t i l a r e, d e p o i s , t a d i n h o d e l e , B e x i g a , d o n o d o Pássaro P r e t o ) COMPLEMENTO
é tão b o n z i n h o . P o r m i m b o l a p r e t a p a r a Ivo Patarra E s c r e v e m o s a v o c ê , p a r a s o l i c i t a r q u e faça
o s m a t u t o s i n t e r i o r a n o s . Eu t e n h o d ó é
C A N T E C O M EX u m a a s s i n a t u r a d e " C o m p l e m e n t o " (35 c r u z e i -
d a m ã e d a m e n i n a q u e se f o i . r o s p o r a n o ) . N o m í n i m o , v o c ê estará a j u d a n d o
A propósito, u m b i z u interessante:
atualmente, e m São Paulo, os vagaus
Uma De 1945 o jornal a manter sua independência. Pois,
nosso pessoal não d e p e n d e d o " C o m p l e m e n -
t o " : Está se s u s t e n t a n d o às c u s t a s d o j o r n a l t r a -
que escruncham, d e dia e de noite, C h e g o u o samba m i n h a g e n t e / dicional, mas b u s c a n d o na p e q u e n a imprensa
o f e r e c e m m e n o s perigo q u e os motoris- lá d a terra d e T i o S a m / a compensação intelectual, a fuga aos rigidos
tas. S i m p l e s m e n t e p o r q u e m a t a m e c o m a n o v i d a d e E ele trouxe u m a padrões c o m e r c i a i s , a luta p e l a p l e n a l i b e r d a -
ferem infinitamente menos. C o m u m a de d e imprensa, a defesa da cultura nacional e
cadência/ até u m j o r n a l i s m o m a i s p r ó x i m o d o h o m e m ,
diferença: para o assaltante, não t e m
q u e é m a l u c a pra m e x e r / livre das imposições e m p r e s a r i a i s e d a p a d r o n i -
colher: 5 anos e 4 meses d e galera e f i m
toda a cidade zação d o noticiário d e t e r m i n a d o p e l a s a g ê n -
d e p a p o . Para o assassino d o v o l a n t e , cias n a c i o n a i s e e s t r a n g e i r a s .
não: homicídio c u l p o s o , sursis e t c . e t a l . O Boogie-woogie, boogie-woogie,
boogie-woogie P o r i s s o , s o f r e m o s as m e s m a s r e s t r i ç õ e s

Clementina de Jesus
É o fim da picada. publicitárias d e a n u n c i a n t e s e agências q u e
A nova d a n ç a /
p r e f e r e m investir n o s órgãos t r a d i c i o n a i s . M a s
Percival d e S o u z a q u e b a l a n ç a mas n ã o cansa c o n t a m o s c o m a sua colaboração. Para r e c e b e r
A n o v a d a n ç a q u e faz p a r t e /
Inspetor De
Uma vez disse Villa-Lobos: "Eu sou o " C o m p l e m e n t o " d u r a n t e u m a n o , basta enviar
da " P o l í t i c a d a Boa V i z i n h a n ç a " folclore". Clementina poderia dizer o u m c h e q u e visado e m n o m e d e " C o m p l e m e n -
E lá na favela t o d a b a t u c a d a / mesmo. Passou a infância debruçada nas to E d i t o r i a l " - R u a Frei G a s p a r , 104, sala 35 C E P

Quarteirão Era já t e m b o o g i e - w o o g i e
A t é as c a b r o c h a s só d a n ç a m , /
cantigas de sua mãe, nas modas
por seu pai violeiro,
tiradas
nos cantos de senza-
1 1 . 1 0 0 - S a n t o s / SP.
A g r a d e c e m o s m u i t o , p o r isso. José R o d r i -

No Tempo De só falam n o tal b o o g i e - w o o g i e


E o nosso s a m b a /
la que povoaram
mentina
seus antepassados.
é uma reserva dinâmica de um
Cle- gues.
ATT. J u n t o a o c h e q u e , favor d e v o l v e r este

Pau No Bexiga
cupon preenchido:
foi p o r isso q u e aderiu tipo de música que praticamente se
D o A m a z o n a s a o Rio G r a n d e , / extingiu no Brasil, e p o r um fatalismo NOME
especial (oi a ela reservada a honra de PROFISSÃO
S ã o Paulo e Rio
O c o r o n e l Erasmo Dias, Secretário d a preservar e legar à posteridade esse tra- RUA
O boogie-woogie, boogie-woogie, N"
S e g u r a n ç a P ú b l i c a d e SP, é o m a i o r balho.
boogie-woogie BAIRRO
defensor d o decreto q u e instituiu a volta
A nova d a n ç a q u e surgiu
d o inspetor d e quarteirão, e x t i n t o d e s d e H e r m i n i o Bello d e C a r v a l h o CEP
1959. O d e c r e t o f o i a s s i n a d o e m (Boogie-Woogie na Favela - Denis Brean) CIDADE uOtWESTADO
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f i l h o s ) , c r u z d e p r a t a (6 a 8 f i l h o s ) e c r u z

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é a Mãe
h o m e m da rua. Nessa época, a p r e o c u -
pação c o m a " f e c u n d i d a d e " e r a tão f o r t e
q u e n e n h u m a m u l h e r , d e n t r e as 18
A luta c o n t r a a falta d e f i l h o s , i n i c i a d a
milhões d e alemãs d e d i c a d a s à e d u c a ç ã o
pelos nazistas d e s d e q u e c h e g a r a m ao
d o s f i l h o s , f o i e n v i a d a a t r a b a l h a r nas
poder, concentrou-se primeiro e m tor-
fábricas, a n t e s d e 1 9 4 3 . C o m e ç o u e n t ã o
n o d a m u l h e r e m a n c i p a d a . Era p r e c i s o , a
u m a luta v i o l e n t a c o n t r a o h o m o s s e x u a -
t o d o c u s t o , forçá-la a r e i n t e g r a r - s e n o
l i s m o , a prostituição e o a b o r t o , q u e d a v a
lar, s e g u n d o a v e l h a t e o r i a d o s três " K " :
c a m p o cie c o n c e n t r a ç ã o e a t é p e n a d e
Kuche, Kinder, Kirche (cozinha, crian-
morte.
ças, c a p e l a ) . N u m a é p o c a e m q u e as
Por não p a r t i c i p a r d o esforço d e m o -
mulheres conquistavam o direito de
g r á f i c o , o s l a r e s s e m f i l h o s , as m u l h e r e s
v o t o e l u t a v a m p o r sua libertação, o Par-
estéreis e a t é as m u l h e r e s " d e m a s i a d o
tido Nacional-Socialista publicava, e m
velhas para e n g r a v i d a r " também foram
j a n e i r o d e 1 9 2 1 , e d i t a l e m q u e se c o m -
a l v o d o s e u g e n i s t a s n a z i s t a s . D a s 16
p r o m e t i a a " e x c l u i r p a r a s e m p r e as
milhões d e m u l h e r e s casadas até o f i n a l
m u l h e r e s d e t o d a e q u a l q u e r posição
d e 1938, 2 2 , 5 % não t i n h a m filhos. Por
i m p o r t a n t e n o domínio d a política".
isso f o i c r i a d a n o v a l e i s o b r e o d i v ó r c i o ,
A partir d e 1933, h o u v e o c u i d a d o d e e m 1938. A s s i m , d e 42 m i l e m 1932, o n ú -
m o d i f i c a r os p r o g r a m a s das j o v e n s e s c o - m e r o d e divórcios p a s s o u a 62 m i l e m
lares: lugar d e m u l h e r e r a e m casa e não 1938. O s t r i b u n a i s , m e d i a n t e s i m p l e s
na u n i v e r s i d a d e . E m j u n h o d e 1936, u m a declaração d o m a r i d o acusando a
lei p r o i b i u às m u l h e r e s o e x e r c í c i o d a s mulher de esterilidade, p o d i a m decretar
f u n ç õ e s d e j u i z , p r o m o t o r e vários o divórcio.
outros cargos elevados na magistratura.
O c a s a m e n t o , tal c o m o a Igreja d e f e n -
A m u l h e r , s e g u n d o o s n a z i s t a s , só e r a
d e , t o r n a - s e r a p i d a m e n t e , n o espírito d a
c a p a z d e julgar d e a c o r d o c o m os seus
SS, o i n i m i g o d a f e c u n d i d a d e . U m d i a ,
s e n t i m e n t o s , e r a i n c a p a z d e f a z e r justiça
H i m m l e r f e z esta c o n f i d e n c i a a o s e u
d e a c o r d o c o m o p a r t i d o . A s médicas
massagista finlandês, D r . Felix K e r s t e n :
casadas também p e r d e r a m o e m p r e g o ,
f x p e r i m e n t e viajar c o m " D e p o i s da guerra o código m a t r i m o -
" d i a n t e d a n e c e s s i d a d e d e se d e d i c a r e m
a gente. Á terra d o n i a l será m o d i f i c a d o a f i m d e l e g a l i z a r a
à produção d e filhos".
b i g a m i a . O c a s a m e n t o é o b r a diabólica
M a l b o r o , é m a i s 60 P o r mais s u r p r e e n d e n t e q u e isso p o s s a
d a I g r e j a . A s s u a s l e i s são i m o r a i s . N a
outros países. parecer, a m a i o r i a das m u l h e r e s a c a b o u
b i g a m i a , c a d a m u l h e r será p a r a a o u t r a
V o c ê mora c o m uma por considerar q u e o culto da materni-
u m estimulante a f i m d e representar,
família d o país hospedeiro, d a d e , a p e s a r d e t o d a s as d e s v a n t a g e n s d a
para o m a r i d o , a m u l h e r i d e a l , s o n h a d a ,
discriminação c o n t r a o sexo f e m i n i n o ,
faz c u r s o d e l í n g u a s , à i m a g e m e semelhança das atrizes d e
e r a u m b e m n e c e s s á r i o à pátria. A f i m d e
ou freqüenta o campus de cinema".
mostrar seus s e n t i m e n t o s a n t i b u r g u e s e s
Em o u t u b r o d e 1939, H i m m l e r p u b l i -
uma Universidade. de verdadeiras nacional-socialistas, p r o -
c o u o seguinte édito:
Basta falar i n g l ê s o u curaram assemelhar-se ao ideal f e m i n i -
" P a r a além d o s limites das leis, d o s
o u t r a l í n g u a , ter e n t r e n o d e l o u r a r e l u z e n t e , d e ancas largas,
E X P E R I M E N T O DE costumes e das opiniões burguesas, tal-
CONVIVÊNCIA INTERNACIONAL 15 e 30 a n o s , e n a t u r a l m e n t e , cabelos atados n a n u c a o u entrançados
v e z n e c e s s á r i o s , c u m p r e h o j e às m u l h e -
òr«a. conaulter d. U N E S C O e m c o r o a na cabeça. N o s ônibus d e
u m pai legal q u e financia res e m o ç a s d e p u r o s a n g u e a l e m ã o a
B e r l i m , as m o ç a s m a q u i l a d a s e r a m t r a t a -
BRASIL o Programa. n o b r e tarefa d e p e d i r aos s o l d a d o s q u e
das c o m o " p u t a s " . A e s b e l t e z t a m b é m
p a r t e m p a r a a f r e n t e - e isto q u e r elas
e r a c o m b a t i d a . T o d o m u n d o s a b e q u e as
s e j a m c a s a d a s o u n ã o - q u e as f a ç a m
m u l h e r e s e x c e s s i v a m e n t e magras não
m ã e s . U m a t a l c o n c e p ç ã o n ã o será
ESCRITÓRIO NACIONAL p o d e m ter muitos filhos.
e m p r e e n d i d a c o m espírito frívolo, m a s
S. P a u l o - R u a B a r ã o d e C a p a n e m a 340 t e l : 81.5497 O aniversário d e n a s c i m e n t o d a m ã e
c o m a g r a n d e consciência d o d e v e r q u e
d e A d o l f H i t l e r - 12 d e a g o s t o - f o i e s c o -
E s c r i t ó r i o R e g i o n a i s - B e l o H o r i z o n t e , t e l : 24.1865; C u r i t i b a , t e l : 22.3344; d e v e a n i m a r u m s o l d a d o q u e n ã o s a b e se
l h i d o p a r a a " f e s t a d a s mães a l e m ã s " .
L o n d r i n a , t e l : t e l : 22.0519: .Rio d e j a n e i r o , t e l : 224.0828 224.1233: P o r t o A l e g r e , t e l : voltará a v e r , u m d i a , o c é u d e s e u p a í s . "
N e s s e d i a , as m ã e s d e m u i t o s f i l h o s e r a m
( C o n d e n s a d o d o livro Em N o m e d a R a ç a ,
condecoradas, c o m grande pompa, c o m
d e M a r c Itillel)
EX-16 salada
55: LACERDA QUASE DÁ O GOLPE E PEDE ASILO A CUBA
Insurge-se o general Lott contra o presidente da República

REVOLUÇÃO NO RIO Chefes do exercito não se conformaram com a substituição do ministro da Guerra —
segundo um comunicado hoje dado à publicidade — Esperam a solidariedade da
Marinha e da Aeronáutica — Solidário com Lott o marechal Mascarenhas de Morais
R I O . 11 ( M o i - i i l i n n s i l ) - I r i í c n l e - \ s credcneiar-nns poma Intérprete d o * a n -
6 h n r a v i l n m a n h ã d e h o j e . rio M i n i s t é r i o seios ilo Exército, o b j e t i v a n d o n r e t o r -
riu ( i n r r r a . r e c e b e m o s a «.etíninte n o t a : no d n situação i * " q u a d r o s n o r m a i s d a
n

" T e n d o e m e o n t n li s o l u ç ã o tfiiria p e l o reuime constitucional vigente.


p r e s i d e n t e C a r i o * I.HX. n o M W t c o r o n e l •• A c r e d i t a m o s n a s o l i d a r i e d a d e d o *
M n i n r r i f . c h e f e * d o E x é r c i t o . jul|£antl» companheiros dn Marinha e da Acro*
que tal atu. positiva provocações nos nãnlira e apelamos ao* governadores
b r i o s d o K v é r r i t o . que \ i u postfrlíudos dos Estados s o l i c i t a n d o a p o i o a essa ati-
os p r i n c í p i o s d i s e i p H n n r e s . d e c i d i r a m
tude. - (a) C A I . L O T T . "
SOLIDÁRIOS COM Guerra ncibemot. cerca
O MINISTRO DA meii o> (fauintci «?«»« loi S hora,. Flori» da Cunha. nal) — Ainda da
no Palácio tom a m n m t ob- |ebínete da miníi-
GUERRA mtarmti: do Gu hipott- (ativo, eiteve no tio do Guerra noa
RIO. 11 (Meridio- "O íenedor Ne- condo Miniitaiio da Gua- informaram que •
nal) — Tombem r«B Romoi, prcii- d* e< rá. A rniima oti- gal. Moggtui i a
do Síoodo, tude lava a mar» no-e cheia da Pa-
chel Meicarenhet
d* Morai*.. EiFa at-
ro patente do E u i - fnfarmaram <
cito, dapoii da »i-
titar a gal. Lott, da Guernicáa do
Rio da Janeira a a
do Guerra Q O Policie do Exerci.
Careta.
NOVO CHEFE DE
POLICIA
RIO II (Maridia-
U R G E N T E
MELHOR VEP.t. DO QUE CANTORA LÍRICA
I L U S T R A Ç Ã O D E BENJA
PRESOS CAFÉ
(omeç» th» raia E CARLOS LUZ Lage. Aproveitando-se do nevoeiro, Pediam para fazer poemas, c o m o q u e m
ziguezagueando, encostaram os dois pede pão."
no *'AMunivipal" '
barcos à fortaleza de Santa Cruz, aquém E m 1960, Rosa expôs a p r i m e i r a coletâ-
71 ..: dos seus tiros. E passaram a barra. O nea dos textos, e m Lisboa. Depois, p u b l i -
nome do navio americano a História não c o u u m livro, u m a homenagem-teste-
guardou. O cruzador fujão era o "Ta- m u n h o , d e o n d e f o r a m t i r a d o s estes
NOVA HISTÓRIA dente da Câmara, Carlos Luz, e, indigna-
mandaré". Passageiros: Carlos Lacerda, poemas:
do, baixou ao hospital do IPASE. Que fez

Lott Não Quer


o ex-presidente Carlos Luz, almirantes
Carlos? Bem, Carlos Luz era homem da O AMOR
Pena Boto e Sílvio Heck, ex-ministros
UDN e queria, também, entregar a

Café; Carlos
Prado Kelly, Munhoz da Rocha e o Cél. O a m o r é c o m o duas b o r b o l e t a s
Petrobrás e brecar os eleitos de outubro.
jurandir Bizarria Mamede (o do discurso q u e estivessem s o b r e u m a rosa,
Demitiu Lott, nomeou o Gal. Fiúza de

Quer Chupar
pluvioso), e outros. (Napoleão escreveu a mais l i n d a d e todas d o j a r d i m .
Castro para a pasta vaga e começou a O a m o r t e m q u e haver.
aos seus veteranos: "Bastará dizerdes:
conspirar, de dentro do Catete, com Se n ã o h o u v e s s e o a m o r

Cana e Assobiar.
eu estive na batalha de Austerlitz; para
Carlos Lacerda, o Brigadeiro Eduardo n ã o havia n a d a b o n i t o . O a m o r são duas
que vos respondam: eis um bravo!" Os
Gomes (Ministro da Aeronáutica) e os estrelas a brilhar, a brilhar.
políticos que andaram no Tamandaré,
Almirante Pena Boto e Amorim do Vale A rosa e o sol s ã o a m o r .
Chuva - A terra fofa abria-se em valas. dia 10 de novembro de 55, f caram ;
por O a m o r é a p o e s i a . O a m o r são dois
(Ministro da Marinha). Não esqueceu,
Estava tudo empapado. O tropical muito tempo marcados. Apenas, no seu passarinhos a construir a sua casinha.
naturalmente, de instruir o chefe de
Aurora dos políticos, o chalé preto da caso, talvez não coubesse o adjetivo final O a m o r é n ã o haver p o l í c i a s .
polícia, Menezes Cortes: como na últi-
viúva Canrobert Pereira da Costa. Pinga- da exaltação napoleônica.)
ma cena de "Casablanca", recolhesse I n á c i o Silva C r u z , 10 a n o s
vam os negros ciprestes e o verde das far- Os passageiros do Tamandaré iam de
"os suspeitos de sempre". O golpe
das. Só o s coveiros da chuva - os formi- crista baixa. Talvez, à mesa do coman-
começara a se mover, como uma aranha
gões não lhes subiam pelas pernas. Nis- dante, provando frutas e café, falassem
no escuro. NATAL
so, o Coronel Bizarria Mamede, amigo do serviço que não completaram. Seu
O GOLPE BEM DADO - Em São Cristó-
do morto, abriu um discurso - três pági- golpe saiu pela culatra, como as vezes Estou farto d e ser p o b r e e d e viver
vão, Lott, o Ministro da Guerra demitdo
nas datilografas em espaço dois. Não acontecia com os principiantes na boa e n u m a barraca d e lata agora sinto q u e
(por ser nacionalista e defensor da posse m o r r o sinto a m o r t e a c h e g a r vejo_
sondou a caverna escura do Nada, a face velha Chicago de Fitzgerald. Por que
aos eleitos), fitava a parede do seu quar- tudo perdido é p e r m a n e n t e este rio
da Morte. Desceu foi o pau no sistema haviam falhado? Como diligente mãe
to. De repente parou de fitar, ergueu-se pobre
eleitoral vigente. Ele e a UDN achavam que descobre maconha na bolsa da filha,
de um pulo, vestiu a farda, fez meia dú- só
que ]uscelino Kubitscheck e Jango não se perguntavam, no convés do Taman-
zia d e t e l e f o n e m a s , p a r t i u p a r a o p a l á c i o sinto q u e m o r r o
deviam tomar posse: não haviam alcan- daré: mas o quê, Santo Deus, mas o quê
da Guerra. Operários noturnos cami- a m o r t e é fria
çado "maioria absoluta" no pleito de fizemos de errado? A resposta, iam te-la mas viver nisto, n ã o .
nhavam para a gare da Central do Brasil.
outubro. De onde Mamede tirou essa dentro de poucos anos. Estou s ó .
Despachou ordens, lacradas, para
idéia? Não foi certamente de Xenofonte. (Em tempo: ao regressar do cruzeiro, Fica este p o e m a para q u a n d o m e
comandantes e oficiais da sua confiança
Era o dia primeiro do mês de novembro Carlos Lacerda, aconselhado por ami- e n c o n t r a r e m t e r e m v e r g o n h a desta
(nacionalistas e/ou legalistas): impedis- miséria.
de 7955. gos, teria pedido asilo à embaixada
sem, a qualquer custo, a ação da Mari-
NOSTALGIA - Novembro de 1955... cubana). Vitor Pinho M o r e i r a , 8 anos
nha e da Aeronáutica. Ocupou, logica-
Doroty Dandrige flertou com Ibraim foel Rufino dos Santos
mente, o Departamento de Polícia Fede-
Suede no "Snack-Bar" do Country. O
ral. Só uma grande unidade fora do Rio
Cineac ("Você me encontra às 3, no café,
não lhe prestou imediata solidariedade. N Ó S S O M O S TRISTES
que nós vamos lá, eu falo com ele e está
tudo arranjado.
vamos ao Cineac,
Se você quiser,
assistir aos
depois
desenhos"
(Lott dirigira-se
ciplina,
a todas em nome da dis-
ferida por Mamede, e da legali- Poetas De 8 Anos N a n o i t e d e carnaval e u m u i t o triste,

Cantam Dores
e via todas as pessoas m a g o a d a s .
dade, amaeaçada por Carlos Luz.) O Pre-
- p{ograma de funcionário público, E a c o r d o c é u t a m b é m estava
sidente da República ligou para Lott: aborrecida.
segundo o humorista Sérgio Porto)... O
Cineac
sacional
mostrou vários dias a nossa
vitória sobre o Paraguai, 3 a 1,
sen-
que estava fazendo?
mandou
Lott nem
dizer que estava muito
atendeu,
ocupa- De Quem Já E os h o m e n s das laranjas s e m a p r e g o a r .
E e u n ã o sabia o q u e tinha s i d o .

Sabará, Didi, Vavá, Pinga


(quando Zizinho entrou,
e
porém, é que
Escruinho
do (sic). Ao saber
Eduardo Gomes
que o
fora para Cumbicas,
Brigadeiro
SP, Viveu Toda a Vida Mas quando a minha m ã e voltou,
disse-me:
os policiais v o l t a r a m a bater
ordenou que tropas de Minas fossem
nossos inimigos começaram a arrastar a nos v e n d e d o r e s .
para lá, cercá-lo. Na frente política, con-
cachorrinha). Lembram de Martine E e u disse pá m i n h a m ã e : q u e c h a t i c e !
vocou os líderes do Congresso e avisou- T r i s t e z a , a m o r , m o r t e , polícia, miséria:
Carol em "Amores de Carolina"? E de e a minha m ã e , deu-me u m beijo.
lhes: Carlos Luz está deposto, a situação são t e m a s d a s p o e s i a s d e 4 5 p o r t u g u e s i -
Silvana Pampanini em "O.K. Nero"? No Jorge, 8 a n o s
está sob nosso controle, procedam à n h o s e n t r e 8 a 14 a n o s , f a v e l a d o s , f i l h o s
Recife, abrindo os jogos Olímpicos da
escolha de outro Presidente, de prefe- de pescadores, de vendedoras de peixe,
Primavera, desfilaram as misses de todo
rência o Nereu Ramos, vice-presidente d e ladrões d e coisas essenciais a o dia-a-
o país: estavam realmente lindas nos
do Senado. dia. O s primeiros alunos da professora Vou viajando n u m b a r c o d e m o r t e
seus maios de catar pimentas. Seus auto- vou a n d a n d o s e m andar
De fato, às 3 da manhã"... Bastava ple- Rosa Colaço, e m Lisboa, nos t e m p o s d o
res prediletos: Jorge Amado e Exupéry. não t e n h o passaporte
namente vitorioso o Movimento de Salazarismo. N u m a escola e m q u e o
"O aumento do custo de vida no Brasil é não t e n h o luar.
Retorno aos Quadros Constitucionais d i r e t o r avisava l o g o q u e a d e l e g a c i a d e
uma conseqüência lógica do desenvolvi-
Vigentes. A legalidade tinha sido res- polícia e s t a v a n o f i m d a r u a , c a s o s u r g i s s e A n t ô n i o J o a q u i m , 8 anos
mento do país..." (Isso é 1955, hein!)
guardada, com o sacrifício de algumas a l g u m p r o b l e m a q u e não p u d e s s e ser
O C O L P f MAL DADO - Choveu des-
noras dramáticas, de profunda expecta- r e s o l v i d o p e l a régua.
de o discurso de Mamede. Dez dias
tiva. Felizmente, pudemos tudo concluir A régua, a p r o f e s s o r a R o s a m a n d o u
depois ainda chovia, grosso e cinzento.
sem que houvesse derramento de san- jogar fora n o p r i m e i r o dia. E depois,
O Presidente Café Filho, sentindo os
gue." (Gal. Lott a Manchete, 19/XI/55). c o m o e r a m t o d o s - ela e os m e n i n o s -
ossos empapados, decidiu fazer três coi-
O contra-golpe movera-se, também no "pobres e sozinhos", ficaram amigos. A
sas: entregar logo a Petrobrás, brecar a
escuro, como a serpente de Loch-Ness. p r o f e s s o r a c o n t a : " C o n h e c i a m as m i l
eleição de jK e Jango, e, depois descan-
A NAU DOS INSENSATOS - O cruza- maneiras d e escapar dos policiais, de
sar. O Ministro da Cerra, Gal. Lott, tinha-
dor queria fugir. Um cargueiro america- sobreviver. O s dias eram-lnes d u r o s e
lhe pedido que punisse Bizarria Mame-
no ia saindo da baía da Guanabara preci- c o m p r a d o s c o m muita c o r a g e m e deste-
de, pelo discurso político e inconstitu-
samente naquele instante. O comandan- m o r . P o r isso c u s t e i a e n t e n d e r - e n t e n -
cional no túmulo de Canrobert. Café
te do cruzador obrigou-o a lhe dar di? - c o m o a p o e s i a f o i para eles v i o l e n t a
não puniu, passou o governo ao presi-
cobertura contra o fogo da fortaleza da e fácil.
DEUS Ê
GRANDE

tâÊÊ

A mata cobre 150 mii km2 ao norte de Mato Grosso, área quando a maioria das fazendas se estabeleceu; e grandes pro-
equivalente a dois terços do Estado de São Paulo. São os 150 mil prietários, que haviam comprado as fazendas " n o mapa", pas-
km2 da Prelazia de São Félix, dirigida por Pedro Casaldáliga Pia, saram a expulsar quem encontrassem em suas terras: índios ou
(foto) pastor de 70 mil almas, o primeiro bispo ameaçado de ser velhos posseiors de até 25 anos atrás. A mata era grande: mui-
expulso do país. tos se esconderam nela, alguns para sempre.
Deus é grande, mas a mata é maior: foi o que os sertanejos O conflito principal envolvia posseiros e a fazenda Codeara.
começaram a falar, depois que a região do Araguaia foi desti- Só entre 67 e 70, " a Codeara gastou 300 mil cruzeiros em
nada à criação extensiva de gado, c o m incentivos da Sudam, repressão contra os posseiros de Santa Terezinha", diz o bispo
em 1966. Hoje, os 150 mil km2 da Prelazia estão divididos em de São Félix.
apenas 73 propriedades, as menores c o m 100 km2, outras c o m
500, 1.000, 2.000 km2 - e uma delas, a Suiá-Missu, do grupo Pedro, o bispo de São Félix, 47 anos, nasceu em Barcelona,
Liquigás, considerada a maior fazenda de gado do mundo, Espanha. Poeta, autor de 3 livros: Üriel, 1965; Clamor Elemen-
com 5.000 km2 e aeroporto capaz de receber um Jumbo (300 taí, 1971; e Tierra Nuestra, Libertad, 1974. Jornalista, diretor
toneladas de carne numa só viagem). A área média das fazen- durante 4 anos da revista Iris, editada em Madri pelos claretia-
das é 2.000 km2, tamanho aproximado da Agropecuária Tama- nos. A guerra civil o atingiu em plena infância. Seu tio, padre,
kavy, de Silvio Santos. foi assassinado por anarquistas. " M i n h a família era tipicamen-
te católica, de direita. Ajudei, naquela hora, mesmo sendo
A mata passou a ser maior que Deus principalmente em 73,
criança, a esconder padres e freiras". Entrou para o seminário
quando órgãos de segurança vasculharam a área da Prelazia
logo após o fim da guerra/com 11 anos. Ordenou-se aos 21,
(São Félix, Cascalheira, Serra Nova, Porto Alegre, Pontinópolis,
como claretiano, e logo começou a trabalhar numa cidade
Santa Terezinha, meio Parque Nacional do Xingu, 7 aldeias
operária, Sabadel. "Isso já me abriu uma grande consciência
carajás e uma tapirapé). Padres, freiras, professores presos,
social." Chegou ao Brasil em 68, atendendo a apelos do Vatica-
posseiros perseguidos, o bispo confinado em casa, todos acu-
no e à força de sua vocação missionária. Já tinha estado na Áfri-
sados de incitação à violência. U m simples slide com a palavra
ca, onde introduziu os cursilhos de cristandade, na época
mata, usado num curso de alfabetizacão, foi considerado peça tachados de "modernistas, comunistas, protestantes, anticleri-
de acusação. Os conflitos, porém, já haviam começado em 66, cais e iluministas".
EX-76
73

"Cheguei mode a vê, DECLARAÇÕES


O p r o b l e m a d e e s c o l h a , diríamos,
e n t r e África e América* m e s m o q u e a
g e n t e v i v e u s e m p r e c o m África c o m o
s e i lá, o p r i m e i r o a m o r , f o i d u r o . A c o n t e - Eu, Francisco Alves Feitoza,
c e q u e essa r e g i ã o , d o M a t o Grosso declaro que fui baleado, no dia

e fiquei. S. Felix
o, incluída a ilha d o B a n a n a l , estava p r a -
ticamente desatendida e m termos de 9 de agosto de 1970, 17,00
Pastoral. Incidentalmente, u m a v e z p o r horas, pelo policial, André, de
a n o , passava u m p a d r e e m a l g u m a s p a r - São Félix, que se encontrava
tes, rápido, e a Santa Sé, p o r m e i o d a
N u n c i a t u r a , v i n h a insistindo fazia uns 4 bêbado. A t i r o u - m e sem

era coisa fina"


o u 5 anos c o m o nosso Instituto para nenhum motivo, pois eu não
c o n s e g u i r missionários. N ã o f o i fácil estava desacatando a lei e não
encontrá-los a q u i n o Brasil; u m p a d r e
d e l e g a d o d o Brasil f e z questão d e
portava sequer uma arma. Fui
encontrá-los na E s p a n h a . baleado no pé e fiquei 9 dias
A r e s p e i t o d o Brasil havia para a g e n t e
CONTINUA com a bala no corpo. Durante
u m a c e r t a distância p e l o f a t o d e n ã o s e r
América espanhola. O idioma... a gente
esse tempo, o Sr. Antônio San-
c o n h e c i a o Brasil m u i t o s u p e r f i c i a l . . . e r a tana f e z alguns c u r a t i v o s .
u m p o u c o s a m b a , u m p o u c o P e l e , café... Depois, viajei para São M i g u e l ,
os g r a n d e s c o n g l o m e r a d o s , S ã o P a u l o . . .
Brasília, a r q u i t e t u r a n o v a , m o d e r n i s t a
outro mundo. Chamou-nos também região e s o b r e t u d o p a r a c o n h e c e r o p e s - onde, finalmente, se extraiu a
bastante atenção n o início q u e o p o v o soal. Aí c o m e ç a m o s a d e s c o b r i r q u e n i n -
c o m o se d i z i a . . . e u m p o u c o o N o r d e s t e . falasse e m " v i a j a r p a r a o B r a s i l " , e s t a n d o guém era d a q u i . U m detalhe c u r i o s o : na
bala. A operação foi feita pelo
Certa literatura, enfim.. Amazônia c o m o aqui no M a t o Grosso. cidade vizinha d e Luciara alguém era Dr. Márcio e toda a despesa
o i n f e r n o v e r d e e p o u c a coisa mais. Explicável t a m b é m esse c l i m a d e c h a m a d o d e " M a t o G r o s s o " p o r ser c o n - importou em $ 2 mil, que até
V i m a o Brasil n o c o m e ç o d e 68, j u n t o faroeste pelas condições e m q u e os s i d e r a d o o único a d u l t o q u e tinha nasci-
c o m o u t r o c o l e g a , irmão n a q u e l a época, grandes c o n j u n t o s d e h o m e n s , peões, d o n a região. O resto d o p e s s o a l e r a v i n -
hoje t e n h o q u e arcar c o m
d e p o i s se o r d e n o u d e p a d r e , p a d r e vivem. A peonada, c o m o diz o povo do d o exterior d o estado: norte, nordes- sacrifícios.
M a n o e l López. n u m a expressão b a s t a n t e d e s p e c t i v a , e r a te, s o b r e t u d o , Goiás, norte d o Goiás.
C h e g a m o s . . . aliás c o m u m c o n t r a s t e d e 2 m i l , 3 m i l p e õ e s nas g r a n d e s f a z e n - M e s m o o s v i n d o s d o G o i á s , já a n t e r i o r -
i m p r e s s i o n a n t e d e t e m p e r a t u r a . . . saímos' d a s . E se d e s p e j a v a m e m S ã o Félix 6 0 0 , às m e n t e os pais, eles m e s m o s muitas vezes Sou um pai de família, tenho
vezes 700, m i l , m i l e tantos peões.
d e M a d r i a 11 b a i x o z e r o e c h e g a m o s a
R i o d e J a n e i r o a 38... N o s p r i m e i r o s d i a s a E n c h i a m essas p e q u e n a s p e n s õ e s , esses
na infância, v i e r a m d o M a r a n h ã o , d o
Piauí. C e a r á , Pará, d e o u t r o s e s t a d o s d o
dois filhos para criar e me acho
gente achava q u e seria incapaz d e b o t e c o s , essa r u a t o d a d o P i n g o o u d a N o r d e s t e . A g e n t e e n t ã o se e n c o n t r a v a sem condições de trabalhar,
s u p o r t a r o c l i m a . D e p o i s , a g e n t e se p r o s t i t u i ç ã o . D e p o i s d e 3, 4 m e s e s d e c o m o q u e de improviso perante u m por causa do balaço que rece-
mata, d e p a n t a n a l , na d e r r u b a d a , m a l t r a -
h a b i t u o u . V i e m o s a esses c a l o r e s d a
Amazônia, e a g e n t e vai v i v e n d o , né... tados, c o m perigo d e morte, c o m d o e n -
povo nordestino. U m povo nordestino
na Amazônia. Sertanejo, c o m o eles. c h a -
bi. M i n h a mulher, àquela épo-
c o m a l g u m a malária, a l g u m a v e r m i n o s e , ças, s e m n e n h u m c o n t a t o c o m família, m a m . A ' palavra sertanejo, d e p o i s , veio ca, estava de resguardo, pois
passando calor... a gente vai vivendo... c o m a v i d a , diríamos, g a n h a n d o m u i t o significar para a gente praticamente tinha dado à luz há apenas 10
o u p o u c o (geralmente era p o u c o , muitas
c o m o o u t r o s m u i t o s v i v e m f a z séculos
por aqui. vezes era nada) q u a n d o g a n h a v a m s e n -
p o v o - p o v o m a i o r i a , p o v o - p o v o , desta
região nossa d a P r e l a z i a . O p o v o d e D e u s
(dez) dias, teve que quebrá-lo
V i e m o s a M a t o Grosso d e caminhão, t i a m a n e c e s s i d a d e q u a s e biológica d e n o sertão. para trabalhar e cuidar da casa.
d e R i o C l a r o até a q u i , 7 d i a s n a e s t r a d a . estourar, d e torrar aquele d i n h e i r o e m 4 D e s c o b r i m o s as c a u s a s d a v i n d a d e s s e Por isso, vive até hoje doente.
horas. E era a m u l h e r a d a , a bebida, o tiro, p o v o e esta região. T o d o s e l e s v i n h a
C a r r e g a n d o os nossos trens, c o m o se d i z
n a r e g i ã o , já c o m 2 í n d i o s x a v a n t e q u e a facada. t o c a d o s ( o u t r a expressão c h e i a d e ç o n -
Q u e r o Justiça:
nos a c o m p a n h a r a m d e Barra d o Garças Declaro tudo que disse como
até a q u i . A e s t r a d a B a r r a - S ã o F e l i x e s t a - verdade e dou fé.
va se a b r i n d o n a q u e l a h o r a . A s m á q u i -
nas, t e r r a v e r m e l h a , o c e r r a d o , a f l o r e s t a
já q u e i m a d a e m c e r t o s s e t o r e s q u e f o i Eu, Antônio Araújo Bezerra,
c o m o q u e u m colapso pra minha capaci-
d a d e d e imaginar e c o l o g i a , d e aceitar
declaro que no dia 25, M a n u e l ,
u m a árvore caída o u q u e i m a d a . A s q u e i - vaqueiro de Rondon Araújo,
madas pareciam-me sensivelmente u m a residente na ilha do Bananal,
violação a u m a população
inconcebível. E percebi p o s t e r i o r m e n t e
humana,
veio a São Félix fazer compras.
q u e t o d o s os estrangeiros q u e c h e g a m Ás 11 hs. da manhã foi preso
nesta região, p a s s a m mais o u m e n o s p o r pela polícia por levar consigo
essa i m p r e s s ã o t a m b é m . A e s t r a d a e r a
tão n o v a q u e as p o n t e s e r a m p i n g u e l a s e
uma simples faquinha comer-
t i v e m o s até a s o r t e turística d e q u e u m a cial. Permaneceu na cadeia
o n ç a a t r a v e s s a s s e d i a n t e d e nós, p e r t i - desde às 11 hs. da manhã d o dia
n h o d o caminhão.
25 até as 9 horas da noite do dia
27. Durante este tempo, ficou
Desgraça sem comer, sem beber e sem as
mínimas condições de higiene.
tocada pelo D e s p i d o , foi barbaramente
latifúndio espancado e retiraram os $20
que tinha no bolso.
S ã o Félix n a s c e u p r a t i c a m e n t e perto
d o a n o 40. F u n d a d o p o r u m g r u p o de
Após sair da Cadeia, M a n u e l
piauienses d e s g r e g a d o d o g r u p o que foi bater em casa e eu tive que
c o m a n d a v a o f a m o s o c o r o n e l L ú c i o dá Nos encontramos perante u m m u n d o teúdo) p e l o latifúndio, p e l o s d o n o s , dar dinheiro da passagem para
Luz, f u n d a d o r d e Luciara (Lúcia* A r a -
guaia). Interessante saber q u e se e s c o -
n ã o só d e s c o n h e c i d o c o m o i m p o s s í v e l .
A área d a P r e l a z i a é d e 1 5 0 m i l k m 2 ,
pelos senhores, pelos poderes. Tocados que ele pudesse ir para sua
pelos d o n o s d o s e n g e n h o s , das f a z e n -
l h e u o n o m e d e S ã o Félix c o m o p a d r o e i - n a q u e l a h o r a a i n d a não constituída d a s , d o s latifúndios q u e i a m se a b r i n d o casa.
r o c o n t r a o s índios. P a r e c e q u e n o Piauí, c o m o t a l , m a s já s a b í a m o s q u e ia s e r n o p r ó p r i o n o r d e s t e , t o c a d o s às v e z e s
e m vários l u g a r e s , S ã o Félix p r o t e g i a c o n s t i t u í d a . 150 m i l k m 2 p a r a q u e m v e m pela seca t a m b é m . T o c a d o s p e l o latifún- Declaro tudo q u e disse
m e s m o c o n t r a o s índios. P a r a n ó s , d e s -
c o b r i r as i n t e n ç õ e s d e s s e n o m e f o i u m
d a E u r o p a são m u i t o s q u i l ô m e t r o s . F i c a -
mos c o m o q u e c o n t e m p l a n d o o mar.
d i o q u e ia se a b r i n d o n o n o r t e d o G o i á s . como verdade.
Q u a n d o eles f o r a m s a i n d o das terras d o
colapso religioso, e depois d e 2 anos S e n t i n d o o mistério nas suas p r o f u n d i - N o r t e , d o N o r d e s t e , saíram p r o c u r a n d o
c o n s e g u i m o s s e m m a i o r e s iras d e S ã o dades, sem imaginar por o n d e , c o m o e as T e r r a s G e r a i s , o s G e r a i s , o s C a m p o s
Félix d e V a l o i s , m u d a r o p a t r o c í n i o , de q u e jeito começar o trabalho pasto- G e r a i s d o G o i á s , d o M a t o G r o s s o , as Eu, Delmiro Rodrigues da
transferindo para Nossa Senhora da r a l . É r a m o s 2. F o m o s a l o j a d o s n u m a c a s i - t e r r a s d e n i n g u é m , as t e r r a s d e v o l u t a s , Silva, declaro que no dia 27 de
A s s u n ç ã o . A l i á s , S ã o Félix d e Valois é u m n h a à b e i r a - r i o , histórica, c o n s t r u í d a
d e s c e s f a m o s o s s a n t o s cassados. pelo L e o n a r d o Villas-Boas.
na c o n s c i ê n c i a d e l e s . T e r r a s d e f a t o d e
ninguém. S e m cerca, sem cultivo, evi-
setembro de 1971, a polícia
A c i d a d e z i n h a poderia ter aquela hora Tivemos que enfrentar de algum dente, sem u m a picada ou pinicada, prendeu um rapaz por não ter
700 pessoas, 3 jipes velhos, sem luz, sem m o d o a região, a pastoral d a região. E n o c o m o se d i z p o r a q u i , i a m se a p o s s a n d o pago uma dívida. U m a m i g o d o
escola, sem m é d i c o , sem t e l e f o n e claro,
sem outra estrada q u e essa q u e estava se
primeiro ano e m e i o decidimos pela
desobriga tradicional praticante. A q u e -
das terras. E n t r a v a m , c o m o r e c o n h e c e
c o m m u i t a força a l e i b r a s i l e i r a , n o d i r e i -
detido intercedeu, pedindo à
a b r i n d o , c o m uma fama mais o u m e n o s las visitas d o p a d r e n u m p o n t o d e t e r m i - to d e posse, e começavam a plantar. polícia que não batesse e não o
m e r e c i d a d e c i d a d e faroeste. A gente n a d o d o sertão, o n d e p r e v i a m e n t e a v i s a - N o norte d o Goiás, c o m o aqui n o levasse preso, pois seria padri-
ouvia toda hora contar mortes, crimes
acontecidos d e b a i x o d a q u e l e pau a
dos os m o r a d o r e s d a r e d o n d e z a , a 3,4,5,
10, 2 0 léguas, se r e u n i a m 3 0 0 , 4 0 0 p e s -
M a t o G r o s s o , as p l a n t a ç õ e s c a r a c t e r í s t i - nho de casamento.
cas d e m a n d i o c a , m i l h o , a r r o z , u m p o u -
pique... n a q u e l e canto d o rio... atrás soas, 200 a n i m a i s , m u l h e r e s c o m c r i a n - c o d e b a t a t i n h a d o c e , as f r u t a s c a r a c t e -
daquela casa... u m a situação, aliás, q u e ças, m u l h e r e s grávidas, o p a d r e p a s s a v a 1 rísticas ( m a m ã o , l i m a , l a r a n j a , l i m ã o ) e as Os policiais não atenderam e
hoje v e m se m a n t e n d o e m grande parte. E
q u e é característica desta r e g i ã o e d e m u i -
dia o u 2 confessando, b a t i z a n d o , casan- p e q u e n a s criações d e g a l i n h a , p o r c o , levaram os dois abraçados para
do, c e l e b r a n d o missa, d i s t r i b u i n d o
tas outras regiões d o país. E x p l i c á v e l : pes- r e m é d i o s , às v e z e s p r e s e n c i a n d o u m a
p a t o , c o m as f a c i l i d a d e s d e v i v e r m u i t o a cadeia. Na cadeia foram
d e caça e d a p e s c a . Era u m a t e r r a v i r g e m ,
soal flutuante, às vezes pessoal iá refugia- briga, u m a facada, u m rapto de u m a u m a terra livre. Para q u e m v i n h a d o n o r - espancados.
d o nessas regiões por causa d e a l g u m c r i - moça, p e d i n d o casamento " n o q u e deste, era u m a Terra r o m e t i d a . A gente
p

me, a l g u m p r o b l e m a familiar, i m o " , c o m o se d i z n a r e g i ã o , c a s a r e m t e m d i t o várias o c a s t o c r , q u e a t r a v e s s a r o


g r a v e , e t c . B r a s i l , u m país d e s s a s d i m e n - cima da hora, a moça r o u b a d a , coisa q u e Araguaia era cor atravessar o M a r Declaro também que a polícia
sões, p o d e se p e r m i t i r o l u x o d e t e r
c o m o q u e fronteiras d e n t r o d o próprio
nós, e v i d e n t e , d e i n í c i o r e j e i t a m o s . M e s -
m o s e n d o u m sistema pastoral e v i d e n t e -
V e r m e l h o . V i n d o s j e u m a região d e tem feito muitos roubos e anda
seca, c h e g a v a m n u m a região d e m a t a , d e
país. A t r a v e s s a r o A r a g u a i a v e m s i g n i f i - mente ultrapassado, e c o m o qual a g e n - c ó r r e g o , d e r i o s . Era o u t r o m u n d o .
a ameaçar com revólver. O sol-
c a n d o , até a g o r a , e m m u i t o s a s p e c t o s , te n ã o p o d i a c o n c o r d a r d e j e i t o Q u e m n u n c a t e v e t e r r a p r ó p r i a , q u e já dado A n d r é espancou um
atravessar u m a f r o n t e i r a e partir para u m n e n h u m , serviu-nos para c o n h e c e r a foi t o c a d o d a terra d o s pais, chegava rapaz e tomou o dinheiro dele.
'Trem prá comprar
mesmo encontrando dificuldades enor-
mes, epopéicas, p o r causa d a b i c h a r a d a ,
da total ausência d e c o m u n i c a ç õ e s , n a
DECLARAÇÕES
f a l t a a b s o l u t a d e assistência, e n c o n t r a - O soldado Geraldo tomou o
v a m , d i g o , t e r r a , q u e e r a a obsessão.
relógio de um rapaz de Santo

tinha era demais.


Terra e agua, né. C o m o q u e os e l e m e n -
t o s básicos p a r a a v i d a . T e r r a e á g u a . Antônio e deu-o depois de
F o m o s t o m a n d o os n o m e s , naquelas presente à sogra.
listas i m e n s a s d e 100, 200 b a t i z a d o s , e e r a
s e m p r e os pais e os p a d r i n h o s d o M a r a -
Escutei a seguinte conversa
n h ã o , d o Piauí, d o n o r t e d o G o i á s , d o do soldado Armando que fala-

Dinheiro que não."


Pará. va ao Benigno:
Relatórios, cartas, - Benigno, cadê o dineiro
que tem por aí? Respondeu o
reclamações. CONTINUA Benigno: " O Dinheiro está por
aí, em mãos dos peões!" Tor-
Começa a luta. nou o soldado: - Então, hoje
vou enquadrar uns quatro
L e m b r o o g o l p e , d i r í a m o s , d e f i n i t i v o , n e s t a área. Esta e r a e s t r i t a m e n t e área d a to a par d o assunto. T o m e i n o t a , passa- peões para tomar o dinheiro.
d e c o n s c i ê n c i a q u e r e c e b i a r e s p e i t o d o S u d a m . P a r a o l a t i f ú n d i o . Para o l a t i f ú n - dos alguns meses, não r e c e b i resposta.
p r o b l e m a d o s posseiros; foi na vinda d e dio d o gado. Escrevi d i r e t a m e n t e a o Núncio V i l l o t , A c o n t e c e u um crime no
6 posseiros, u m deles, jamais e s q u e c e r e i , Secretário d e Estado d o V a t i c a n o , C a r - " P i n g o " (cabaré). O criminoso
v e l h o já, d e c a b e ç a b r a n c a , m a r a n h e n s e
( o l h o d e g a t o , c o m o se d i z n a região) Vaticano deal Villot. D e p o i s d e mais 3 meses, m e
r e s p o n d e u através d a N u n c i a t u r a , t a m -
ofereceu $1 mil para o sargento
q u e v i n h a m d a Serra d o R o n c a d o r . A bém c o m palavras bastante diplomáti- livrá-lo. O sargento achou
Serra d o R o n c a d o r atravessa a Prelazia põe fé cas. E n t e n d i q u e o V a t i c a n o n ã o t e r i a pouco e exigiu $2 mil. E toda a
c o m o u m e s p i n h o , né. E v i n h a m p r o c u - a ç õ e s n a Liquigás. T a l v e z n ã o t e r i a já
cobertura foi dada ao crimino-
r a n d o d e m i m u m a r e s p o s t a , u m a saída,
u m a solução. Estavam s e n d o t o c a d o s das na Suiá-Missú mais ações. E c u r i o s o p o r q u e o próprio
d i r e t o r - s u p e r i t e n d e n t e d a Suiá-Missu, so.
suas r e s p e c t i v a s p o s s e s , p o r u m a g r i m e n - M á r i o G o r l a . teria d i t o para o secretário
A grande fazenda, q u e naquela hora
s o r , c o r r e t o r d e t e r r a s , s e i lá, e e n t r a r a m
d o m i n a v a , d e n o m e e d e fato a região,
d a C N B B , d o m Ivo L o r s c h e i t e r q u e o Um rapaz veio a São Félix se
n u m a f a z e n d a d a q u e l a área. E u m e s e n -
era a Suiá-Missu. F a z e n d a realmente
Vaticano tinha d e fato 8 , 5 % . Foi o V a t i c a - casar. Uma testemunha do noi-
tia a n t e u m a p e r g u n t a p e l o m e n o s s e m i m e n s a , c o m m a i s d e 3 0 0 m i l a l q u e i r e s , 5 n o acionista, d e i x o u d e ser, a i n d a é, i n d i -
resposta n o m o m e n t o . M a s m e senti vezes o antigo Estado d a G u a n a b a r a , r e t a m e n t e , s e i lá... vo se encontrava num boteco,
c o n f u s o p e r a n t e u m d e s a f i o . E v i d e n t e u m a f a z e n d a c u j a s histórias i n i c i a i s são q u a n d o chegou o cabo e
q u e se n ó s q u e r í a m o s n o s e n c a r n a r f r a n c a m e n t e tristes. Para os índios
Nesses dias a Suiá-Missu a c a b a d e d e s -
p e d i r t o d o s os peões e p r a t i c a m t e t o d o s
pediu-lhe para pagar 2 cerve-
c o m o Igreja e queríamos trabalhar, u m a x a v a n t e , q u e f o r a m t i r a d o s d a área, d a
pastoral realista e queríamos r e s p o n d e r s e d e d a f a z e n d a . E q u e nessa v i a g e m , o s p e q u e n o s f u n c i o n á r i o s . Está se d i z e n - jas. O rapaz não quis pagar e o
a o q u e a g e n t e já s e n t i a o u p e l o m e n o s t r a n s f e r i d o s p o r a v i ã o d a F A B , m o r r e r a m d o q u e vai f a z e r u n s 2 m e s e s d e revisão, cabo prendeu-o. O noivo sou-
vivia t e o r i c a m e n t e , u m a evangelização 60, p o r c a u s a d e s a r a m p o , c o n t a t o c o m sei lá. É t r i s t e a d v e r t i r q u e v á r i o s d e l e s
tem sido despedidos sem nenhuma
be que a testemunha estava
libertadora, devíamos enfrentar esse os b r a n c o s .
problema. a t e n ç ã o d o s d i r e i t o s já a d q u i r i d o s . A i n d a preso e pediu para que o sol-
Esse p r o b l e m a se c o n c r e t i z a v a n u m a
Era n o t ó r i o e é , v i a t e s t e m u n h o s d e a n t e o n t e m , u m d e l e s d a q u i d e S ã o Félix, tasse. Prenderam também o
palavra: terra. A teologia d a terra, a pas- noivo e tomaram o dinheiro
toral da terra, o sacramento da terra,
diria.
dos dois.
Tentei fazer alguma coisa, e começa- Declaro tudo o que disse,
mos a tomar dados, a arquivar, a escre-
v e r . O s p r o b l e m a s , as s i t u a ç õ e s s e m e -
como verdade.
l h a n t e s , i a m se m u l t i p l i c a n d o .
C o m e ç a m o s a m a n d a r cartas, d o c u -
m e n t o s , relatórios, p e d i d o s , r e c l a m a -
Eu, Edimundo José dos San-
ç õ e s , às d i f e r e n t e s a u t o r i d a d e s e s t a d u a i s tos, declaro que vi 2 soldados
e federais. N o s s o c o n f l i t o não f o i d i r e t a - pegando u m rapaz, e dando
m e n t e n u n c a c o m o Exército o u P o l í c i a ,
o u t r a s instituições d o g o v e r n o . N o s s o
pancadas nele, até sair sangue.
c o n f l i t o i n i c i a l m e n t e se c o n f i g u r o u c o m
o latifúndio capitalista, q u e e s m a g a v a o
nosso p o v o e impossibilitava o futuro d o
Declaro também que vi um
nosso p o v o . É u m a questão d e vida e outro rapaz espancado dura-
m o r t e q u e nós t e n t a m o s r e s o l v e r . A u t o - mente. Escutei os gritos da
m a t i c a m e n t e , c o m o esse latifúndio c a p i -
talista v i n h a a c o b e r t a d o p o r u m s i s t e m a ,
cadeia.
p o r u m g o v e r n o , p o r u n s órgãos d e Bateram numa mulher, só
segurança, d a Polícia, nosso
c o n f l i t o f o i se g l o b a l i z a n d o , n ã o d e n o s -
porque ela foi bater num filho.
sa p a r t e , m a s d a p a r t e d e l e s . Bateram n u m rapaz, que foi
N o norte d o M a t o G r o s s o , norte d a preso sem nenhum motivo.
P r e l a z i a , já q u a s e l i m i t a n d o c o m o Pará, Batiam nele todos os dias, e o
o padre Francisco Jentel vinha traba-
l h a n d o f a z i a q u a s e 15 a n o s . E e l e p e r t e n - mandaram capinar. Esteve uns
c i a , até a q u e l e m o m e n t o , à P r e l a z i a d e . 8 dias.
Conceição d o A r a g u a i a . Foi d a Prelazia m u i t a s t e s t e ml uu ni h a s v i v a s , p r e s e n c i a i s , o
d e C o n c e i ç ã o , d a P r e l a z i a d a Cristalân- q u e a c o n t e c e2u u n a sS u i á a -Missu n a q u e l e s
f a l a v a c o m a i r m ã : 12 a n o s q u e v e m t r a - Q u a n d o morreu um peão no
b a l h a n d o na Suiá-Missu; saiu, c o m o
dia, e d a atual Prelazia d e G u i r a t i n g a q u e p r i m e i r o s t e m p o s , n ã o só c o m o s p o s s e i - entrou. cabaré, ele estava com $725. Foi
se d e s m e m b r o u e s t a n o v a P r e l a z i a d e
S ã o Félix. F u n d a d a , q u e r d i z e r , e r i g i d a ,
ros q u e f o r a m t o c a d o s d a área, c o m o C o m e ç a r a m a a b r i r já, t a m b é m , a l g u - feito o enterro e os gastos
c r i a d a n o a n o 7 1 , 23 d e o u t u b r o . O p a d r e
os peões. Peão era m e s m o m o r t o . Peão
sumia. Peão era m a t e r i a l m e n t e ameaça-
m a s - f a z e n d a s nas. áreas d o X i n g u . E n a s foram $ 125. E o restante do
p r o x i m i d a d e s d a estrada nova iam sur-
F r a n c i s c o n o s t i n h a p r e c e d i d o nessa d o d e ser e n t e r r a d o vivo. G e r e n t e e g i n d o as n o v a s f a z e n d a s . U l t i m a m e n t e
dinheiro ficou c o m o Sargento
obsessão d o c o n t a r , m a i s f u n d a m e n t a l -
mente d e a p e l a r p a r a as a u t o r i d a d e s
j a g u n ç o e r a m a m e s m a c o i s a . A Suiá- essa e s t r a d a está m a t e r i a l m e n t e c o b e r t a Abdias.
M i s s u p o d e r á se a p r e s e n t a r a g o r a c o m o d e f a z e n d a s . D a B a r r a até S ã o Félix (700
superiores à base d e d o c u m e n t o s e d e f a z e n d a - m o d e l o nos aspectos d e p r o d u - k m d e distância - N . R . ) . C a d a v i a g e m
visitas. P a d r e J e n t e l f o i incansável v i a j a n -
te à p r o c u r a d a justiça, d a l e i . Eu o a c u s e i
tividade, né, d e organização, e assim q u e a g e n t e faz d e ônibus s u r g e m lado a Joaquim Martins da Cunha,
m e s m o está e m p e c a d o o r i g i n a l .
diante d o tribunal da Auditoria Militar
l a d o as n o v a s p l a c a s . P o d e - s e d i z e r q u e reesidente no Bairro da Lagoa,
N a q u e l a é p o c a , Suiá-Missu e r a d o s na r e a l i d a d e não existe mais terra d e v o -
d o C a m p o G r a n d e c o m o d e super-lega-
Ometto, atualmente é d o grupo Liqui- l u t a n e s t a r e g i ã o . Isso t e m s i g n i f i c a d o
distrito de S. Félix, M T , declara
lista. E u t e n h o d e s a f i a d o e d e s a f i o q u a l -
q u e r u m ' d o Brasil q u e m e a p r e s e n t e n e s -
gás. A l i á s , essa t r a n s f e r ê n c i a d e u n s p a r a n ó s u m b e c o s e m saída. U m d e s a f i o que sua filha menor, c o m 14
ses ú l t i m o s 1 0 o u 15 a n o s u m h o m e m d e
d o n o s para outros, nostem custado cer- desesperafnte. L e m b r o q u e n o E n c o n t r o anos de idade, fora aliciada,. O
t o s d e s g o s t o s . A Liquigás, g r u p o i t a l i a n o , d a Pastoral d a Amazônia, c e l e b r a d o e m
ação pública mais legalista d o q u e o
é considerada c o m o u m grupo c o m fins d e j u n h o e m Goiânia, p e r g u n t e i
Cabo Aristides, da polícia local,
p a d r e Jentel. E m t o d o s os órgãos e m i n i s -
térios m a i s o u m e n o s r e l a c i o n a d o s c o m
ações d o V a t i c a n o . Eu a c r e d i t o q u e fosse concretamente a u m dos diretores ao saber que ele, Joaquim, pre-
o p r o b l e m a terra e c o m esta região, os
v e r d a d e m e s m o , e m E u r o p a essa e r a o p i - nacionais d o Incra, presente umas horas tendia esclarecer o caso e
n i ã o g e r a l , c o m notícias n o s j o r n a i s , na reunião: q u e perpectivas teria para os
funcionários c h e g a v a m a se e n c h e r das
revistas e c o n ô m i c a s , e t c . posseiros desse Polos-Amazônica o f i -
tomar as devidas providências
visitas, d a presença, das reclamações,
dos detalhes d o padre Jentel e m busca Q u a n d o a Liquigás c o m p r o u a Suiá- c i a l m e n t e d e s t i n a d o s só à p e c u á r i a o u à legias, foi à casa da menor, apa-
d a v i a d a Justiça p a r a o p o v o d e S a n t a M i s s u - l e m b r o , e u estava nessa h o r a n o m i n e r a ç ã o . Ele m e d i s s e q u e n ã o h a v i a nhou a menina, sem autoriza-
perspectiva n e n h u m a .
T e r e z i n h a na luta c o m a famosa, a f a m i - g a b i n e t e d o ministério d a A g r i c u l t u r a , e ção d o pai, e a mandou para S.
m e disse u m alto funcionário d o g a b i n e - D e v o dizer q u e nosso relacionamento
g e r a d a ( c o m o d i z i a m as e m i s s o r a s )
Fazenda C o d e a r a . te q u e o p r e s i d e n t e M e d i e i e s t a v a a s s i - c o m as f a z e n d a s n ã o f o i a p r i o r i u m r e l a - M i g u e l d o Araguaia. O cabo
nando u m decreto especial pelo qual u m cionamento de conflito. E evidente que recebera dinheiro do crimino-
A g e n t e c o m e ç o u a t e r u m a visão d e
c o n j u n t o . Estávamos d e n t r o d e u m a área
g r u p o estritamante estrangeiro podia d e s d e o início a c h a m o s u m a situação so para evitar contratempos
c o m p - a r n a íntegra u m a f a z e n d a . i n j u s t a . P o r é m , e r a essa a situação e
visada pelos programas especiais c o m o T
e n . a m o s saber o q u e havia d e v e r d a - devíamos trabalhar c o m o q u e nós com o pai da menina.
s e n d o terra d o g a d o . L e m b r o q u e , ao ser
sagrado b i s p o , pensei mais d e u m a v e z q u e
d e n e s s a história d o V a t i c a n o s e r d o n o e n c o n t r a m o s . E f o m o s c e l e b r a r missa nas (de " U m a Igreja da Amazô-
d a S u i á - M i s s u . Eu p r o c u r e i p e s s o a l m e n - f a z e n d a s . . . e u m e s m o u t i l i z e i várias
a c a b a r i a s e n d o b i s p o d e b o i s . E d e vacas,
te o N ú n c i o . A p o s t ó l i c o . . A c a b a v a d e v e z e s o s c a r r o s d a S u i á - M i s s u , até a l g u - nia Em Conflito C o m o Latifún-
(risos).
c h e g a r n o Brasil e m e disse c o m u m mas v e z o t e c o - t e c o . M a s f o m o s v e n d o dio e a Marginalização", de
A S u d a m mandava, fazia e desfazia sorriso diplomático q u e não estava m u i - q u e não d a v a para c o n j u g a r a celebração Pedro Casaldáliga, 1971).
EX-16

"Agora vai ter até


da Eucaristia c o m a q u e l e r e g i m e d e
escravidão q u e nas f a z e n d a s se d a v a .
Q u a n d o falo e m escravidão e s t o u m e
r e f e r i n d o aos peões.
E a p a l a v r a n a o è metafórica. A própria

Bradesco, esse prédio


Polícia F e d e r a l n o i n q u é r i t o q u e e m p a r -
t e se f e z p ú b l i c o , c o n t r a a C o d e a r a ,
p u b l i c a d o n o s j o r n a i s d o país ( f e v e r e i r o
d e 1971 - N . R . ) , d e n u n c i a v a o c a s o d o s
peões d a C o d e a r a c o m o o m a i o r caso d e

mais alto aí
e s c r a v i d ã o b r a n c a e m t o d a a História d o
país.
U m h i s t o r i a d o r t e m d i t o q u e os h i s t o -
riadores atuais d o Brasil têm a v a n t a g e m
d e p o d e r v i v e r , n u m a é p o c a só, t o d a s as
é p o c a s d a História h u m a n a . É p o c a d a
e s c r i v i d ã o , é p o c a d o f e u d a l i s m o e as ú l -
t i m a s é p o c a s d a História M o d e r n a , d a
CONTINUA
História a t u a l .
Escravidão e F e u d a l i s m o f o r a m o título
"Escravidão e F e u d a l i s m o n o N o r t e d e
M a t o G r o s s o " d o p r i m e i r o relatório mais do, c o m o consta e m documentos m a n - tentar n o v a m e n t e p e l o m e n o s apavorar
c o m p l e t o q u e m a n d e i à Presidência d a d a d o s p o r nós p a r a d i f e r e n t e s a u t o r i d a - aos p e d r e i r o s , p e d i a o p a d r e Jentel q u e
R e p u b l i c a , a o Ministério d o interior, ao d e s d o país, d e p o i s d e t e r e m s o f r i d o o s comunicasse ao p o v o o q u e significava a
Ministério d a A g r i c u l t u r a , a c h o q u e ao posseiros os máximos v e x a m e s d e parte construção d o ambulatório. Q u e t o m a s -
M i n i s t é r i o d a Justiça, a o G o v e r n a d o r d o d a C o d e a r a . . . roças q u e i m a d a s . . . c e r c a s , s e m consciência. N ã o e r a e v i d e n t e m e n -
M a t o G r o s s o , à Presidência d a C N B B e casas d e r r u b a d a s , q u e i m a d a s , a n i m a i s te d o interesse d o s e l e m e n t o s d a e q u i p e
a o N ú n c i o d o P a p a . A l i á s , o Sr. N ú n c i o dos posseiros castrados, posseiros perse- pastoral; era u m a obra e m favor d o
me r e s p o n d e u e l o g i a n d o a preocupação g u i d o s , ameaçados. A jagunçada a p a v o - povo.
pastoral... m a s m e p e d i n d o q u e evitasse rando o povo. O p o v o p o r iniciativa própria e n t e n -
q u e o relatório a p a r e c e s s e n a i m p r e n s a Chegou um momento em que a Mis- d e u essa colocação. E c o m b a s t a n t e i n g e -
d o exterior, p o r q u e p o d e r i a ser u t i l i z a d o são, e u já s e n d o b i s p o , d e c i d i u c o n s t r u i r n u i d a d e se propôs d e f e n d e r a c o n s t r u -
p a r a d e n i g r a r a i m a g e m d o B r a s i l . (Eu u m ambulatório d e n t r o das ruas d e Santa ç ã o . S e g u r a m e n t e , n e m e l e s n e m nós
t e n h o e n t e r r a d o vários peões nesse T e r e z i n h a . D e s d e o início a Missão i m a g i n a m o s q u e a C o d e a r a fosse reagir
c e m i t é r i o d e .São Félix, a l g u m a s v e z e s t o m o u c o n t a d o setor Saúde p o r causa c o m o reagiu.
s e m caixão, m u i t a s v e z e s s e m n o m e , u m d e q u e não havia n e n h u m p o s t o d e saú- Estava u n i g r u p o d e s e r t a n e j o s , p o s s e i - .
simples apelido d e " B a i a n o " o u Zé o u d e , n e n h u m t i p o d e assistência o f i c i a l r o s , 15 n a q u e l a h o r a , c o m s u a miseráveis
Pretinho, e t c . ) e m S a ú d e e n e n h u m h o s p i t a l n a região armas, sustentando, garantindo, a c o b e r -
N ã o podíamos agir nas f a z e n d a s . N ã o t o d a (fora o H o s p i t a l d o índio e m Santa tando o trabalho dos pedreiros na nova
tínhamos condições de resolver Izabel d a Ilha d o B a n a n a l ) , e m c o n d i - c o n s t r u ç ã o d o a m b u l a t ó r i o , atrás, n u m
n e n h u m p r o b l e m a trabalhista dos ções m u i t o tristes s e m p r e , p e l o m e n o s b a n a n a l , d e n t r o d e u m a sanja q u e f o i
peões, q u e a i n d a h o j e c o n t i n u a m prati- n o q u e se r e f e r e a o a t e n d i m e n t o . considerada depois dramaticamente
c a m e n t e à m a r g e m d a s leis trabalhistas N ó s t í n h a m o s u m t e r r e n o q u e já e r a d e p e l a polícia, c o m o sendo
d o país. M a s p o d í a m o s g r i t a r , d e v í a m o s propriedade da antiga Prelazia d e C o n - u m a t r i n c h e i r a , n é , d e a l g u é m q u e já
denunciar. c e i ç ã o d o A r a g u a i a . Estávamos p l e n a -
t i v e s s e f e i t o e s t u d o s d e estratégia m i l i t a r ,

Um livro
que já
foi público
P u b l i q u e i o l i v r o , U m a Igreja d a A m a -
zônia E m C o n f l i t o C o m o L a t i f ú n d i o e a
M a r g i n a l i z a ç ã o S o c i a l e m 23 d e o u t u b r o ,
de 71. Pelo menos fizemos questões
d e q u e não fosse u m livro teórico, aprio-
rístico. A g e n t e d o c u m e n t o u s e r i a m e n t e
o l i v r o , e até a g o r a n i n g u é m , n e m d e
organismos oficiais n e m d e d o n o s o u
particulares nos contestou aqueles
dados. O livro é suficiente para ter u m a
idéia c l a r a e p r o f u n d a e . d r a m á t i c a d o
q u e até a q u e l a h o r a v i n h a s e n d o e s t a
Amazônia Legal, mais concretamente
e s t a r e g i ã o d a P r e l a z i a d e São Félix. P o r -
que nos limitamos praticamente ao q u e
se r e f e r i a à n o s s a r e g i ã o .
Esse l i v r o já f o i p ú b l i c o . E e s s e l i v r o já
d e s e n c a n d e o u u m a perseguição, u m
r e p r e s s ã o q u e n u n c a m a i s se f e c h o u .
Q u e f o i c r e s c e n d o até o s m o m e n t o s q u e
e s t a m o s v i v e n d o d o i n t e n t o d e expulsão
d o país. O p r ó p r i o g e n e r a l C a n e p a , m e n t e legitimados para construir u m d e g u e r r i l h a , s e i lá. F i z e r a m q u e s t ã o d e
n a q u e l a h o r a c h e f e d a Polícia F e d e r a l ambulatório na r u a . O p o v o estava s e n - d e m o n s t r a r q u e o P a d r e F r a n c i s c o teria-
m e d i s s e q u e se v i u o b r i g a d o a p r o i b i r p d o a t e n d i d o a 1 quilômetro e m e i o d a e s t a d o n a A r g é l i a , e n f i m , n ã o s e i (risos)...
l i v r o . O E s t a d o d e São P a u l o p u b l i c o u c i d a d e , n a a n t i g a c a s a d a M i s s ã o , lá n o q u a n d o posso demonstrar q u e padre
u m editorial v i o l e n t o , outros jornais d o m o r r o , perto d o Araguaia e significava Francisco n u n c a jamais atirou n e m para
país r e a g i r a m d e m o d o d i f e r e n t e n Inrnal u m a d i f i c u l d a d e tanto para os d o e n t e s m a t a r u m pássaro.
d o Brasil r e a g i u c o m u m e d i t o r i a l b a s t a n t e q u a n t o para a enfermeira. C h e g a r a m ! n o v a m e n t e os carros d a
d i g n o . O p r ó p r i o p r e s i d e n t e d o Incra,
Começamos a construir o ambulató- C o d e a r a , d e s t a v e z não só jagunços, e s t r i t a -
n a q u e l a h o r a M o u r a C a v a l c a n t i , a c e i t o u as rio. m e n t e jagunços, m a s t a m b é m c o m a polí-
colocações e c o n s i d e r o u q u e o l i v r o e r a
A C o d e a r a sentiu q u e a construção d e c i a . Polícia M i l i t a r .
u m a contribuição às p r e o c u p a ç õ e s d o
u m prédio d a Prelazia significava c o m o Vários, inúmeros e 2 capitães. O capitão
Incra. F a l a n d o e m M o u r a C a v a l c a n t i , f a l a n -
q u e a t e n t a d o c o n t r a sua cobiça d e se M o a c i r c o m a n d a n d o a operação. E
d o e m Incra, f a l a n d o n o Ministério d a
a p o d e r a r d a c i d a d e t o d a d e Santa T e r e z i - carregando consigo u m telegrama d o
Agricultura, devo dizer q u e naqueles t e m -
n h a e transformá-la p r a t i c a m e n t e e m c h e f e d a segurança q u e s i g n i f i c o u para
p o , s o b r e t u d o q u a n d o ja e s t o u r o u e m t e r -
s e d e d a f a z e n d a . S e a P r e l a z i a se e s t a b e - nós u m a r e v e l a ç ã o . D e v e r e m o s p r e n d e r
m o s mais definitivos o c o n f l i t o C o d e a r a -
lecia d e n t r o d a rua, c o m prédio próprio, os p e d r e i r o s . É q u a n d o os p r i m e i r o s
S a n t a T e r e z i n h a o ministério d a A g r i c u l t u -
os o u t r o s m o r a d o r e s se s e n t i a m f o r t a l e - j a g u n ç o s e n t r a r a m n a área d a c o n s t r u -
ra estava e m e v i d e n t e tensão c o m o M i n i s -
cidos, c o m o q u e garantidos. ção os posseiros surpreendidos beatifi-
tério d a F a z e n d a . D e l f i m N e t o c o n t r a C i r n e
E, o s p e d r e i r o s e m s a n t a p a z , c h e g a - c a m e n t e descascando lima naquela hora
L i m a . E a c h o q u e essa tensão f a v o r e c e u o s
r a m os jagunços d a C o d e a r a e c o m tra- c o m e ç a r a m a atirar. E f e r i r a m a l g u n s d o s
n o s s o s g r i t o s , as nossas pretensões e m
trator d e esteira d e r r u b a r a m a constru - assaltantes.
f a v o r d e s t e p o v o . E e m p a r t e , se o s p o s s e i -
ros d e Santa T e r e z i n h a c o n s e g u i r a m a l g u - ção iniciada,os m o n t e s d e alvenaria a c u
m a coisa mínima e ainda não definitiva-
m e n t e o u t o r g a d a , t a l v e z se d e v e u a essa
m u l a d a lá p e r t o , t i j o l o s , t e l h a e
piram u m poço d o quintal q u e dava
entu
Um Visita
tensão.
O c o n f r o n t o C o d e a r a posseiros de
á g u a a vários m o r a d o r e s d a r u a .
Padre Francisco veio m e procurar. O
Ameaçadora Na
S a n t a T e r e z i n h a v i n h a se c r i a n d o f a z i a
u n s a n o s já. M a i s c o n c r e t a m e n t e a p a r t i r
caso C o d e a r a era u m caso significativo
e n t r e os m u i t o s n a região e e m muitas
Aldeia Tapirapé
d e 66, q u a n d o a C o d e a r a c o m o tal partes d e t o d a a Amazônia. N o d i a 29 d e s e t e m b r o d e 1975 c h e g a -
tomou conta da fazenda. Eu d e i o r d e m a o p a d r e J e n t e l d e q u e r a m à aldeia Tapiraé a D r a . G i s e l a , geólo-
O p a d r e Jentel t e n t o u d e m u i t o s se r e i n i c i a s s e a c o n s t r u ç ã o . N ã o t i n h a g a , o D r . A l c e u , d o D G P C e o Sr: Q u i r i n o ,
m o d o s e maneiras dialogar, apelar para sentido aceitar u m t i p o d e desafio brutal, agrimensor, todos da Funai. a c o m p a -
autoridades d e diferentes organismos. E a b s u r d o , c o n t r a t o d a a Justiça, c o n t r a nhados d o Dr. Eduardo, u m dos Direto-
n u n c a c o n s e g u i u u m a solução. C h e g o u t o d o o Direito, contra toda a Lei. Agora, res d a C o m p a n h i a T a p i r a g u a i a e d o c h e -
u m m o m e n t o q u e d e p o i s d e t e r e m sofri- pressentindo q u e a C o d e a r a pudesse fe d o P o s t o Indígena, Sr. Jüraci A n d r a d e .
"Faço tijolo. E vou
EX-16
Essa V A s s e m b l é i a N a c i o n a l d e f i n i u as
linhas d e nossa Pastoral, e m termos estri-
t a m e n t e antropológicos, sociológicos,
políticos, evangélicos. A t é o p o n t o d e
q u e u m a n t r o p ó l o g o c o n s i d e r a v a essas

vivendo. Como muitos


l i n h a s definitórias c o m o sumamente
conseguidas e m termos mesmo de
a n t r o p o l o g i a . E d e f i n i m o s t a m b é m as
prioridades para o nosso trabalho c o m a
P a s t o r a l I n d í g e n a . I m e d i a t a m e n t e , as iras

aqui, faz muito tempo."


da Funai descarregaram sobre a gente
também, d e m o d o mais o u menos
i m c o m p r e e n s í v e l . E f o i d u r a n t e o mês d e
julho q u e o general Ismarth, presidente
da F u n a i , d e u a o r d e m d e proibição d e
m i n h a e n t r a d a e m q u a l q u e r área i n d í g e -
SEBASTIÃO D O PIAUÍ n a , e d e prisão, c a s o e n t r a s s e ,
P e n s o q u e essa o r d e m só f o i possível
p o r causa d o p r o c e s s o d e expulsão q u e a
vinha acobertando. Parece-me d e outra
parte u m a o r d e m s i m p l e s m e n t e absur-
Essa v i s i t a f o i n o t o r i a m e n t e d e s r e s p e i - m e s m o , p a t r o c i o n a d o aliás p e l a B r a d e s - da. Há outras figuras b e m mais i m p o r -
t o s a e a g r e s s i v a . P a r a o s i n d i o s , p a r a as c o . É significativo, destacar esse d a d o . tantes n o t r a b a l h o pastoral indigenista e
I r m ã z i n h a s (missionárias há 2 0 a n o s T o d o s s a b e m o s , t o d o s o s q u e estão m a i s há o u t r a s f i g u r a s i m p o r t a n t e s q u e t e m
m o r a n d o c o m o s T a p i r a p é - N.R.) e p a r a o u menos sabendo dos submundos, do? tido u m tipo d e atrito mais conflitivo
o casal d e p r o f e s s o r e s d a a l d e i a . U m a interesses n o Brasil, t o d o s s a b e m o s das c o m a Funai.
visita d e t i p o p o l i c i a l , p a r a i m p o r a a r b i - ligações d a R e d e G l o b o n o país e f o r a d o S e r i a e n t ã o p r o b l e m a t e r r a s , seja n o
trariedade e criar confusão e m e d o . país. E B r a d e s c o t e m u m a g r a n d e f a z e n - q u e s e r e f e r e a p o s s e i r o s e p e õ e s , seja n o
O s representantes da Funai afirmaram d n o s u l d o Pará. C o m o t e m a V o l k s w a - q u e se r e f e r e a índios, seria então o i n t e -
c a t e g o r i c a m e n t e q u e a M i s s ã o só d e v i a g e n . E esses g r u p o s , B o r d o n , S u i á - M i s s u , resse d o latifúndio, d a s c o m p a n h i a s
se p r e o c u p a r c o m o t r a b a l h o e s p i r i t u a l , Reunidas, Codeara significam e m ter- nacionais e internacionais, o interesse
s e m se e n v o l v e r c o m o s p r o b l e m a s d e mos de programa oficial, no Polo A m a - das c h a m a d a s estradas d e penetração,
terra: e o representante da Fazenda zônia, a u m s e t o r só: é o 1 P o l o A m a z ô -
9
estradas d e integração n a c i o n a l , q u e e m
T a p i r a g u a i a se p e r m i t i u d e f i n i r a área d e n i a . Já m a i s s i g n i f i c a t i v o t a m b é m p o r q u e tantos aspectos desintegram a natureza,
terra q u e os Tapirapé precisariam n o n a área q u e a b r a n g e o M a t o G r o s s o a fauna, a flora d a Amazônia, desinte-
futuro, dizendo q u e o Parque d o A r a - segue os limites estritos d a Prelazia d e g r a m as n o s s a s p o p u l a ç õ e s i n d í g e n a s ,
guaia foi feito também para eles. S ã o Félix. d e s i n t e g r a m a a l m a , a roça, a s o b r e v i -
A p a r t i r d e s s a r e p r e s s ã o - prisões, Muitos sentiram q u e a campanha de vência, o f u t u r o d o p o v o sertanejo. E
inquéritos q u e t o d o s t i v e m o s q u e res- d i f a m a ç ã o através d a T V G l o b o , f a z i a d e s i n t e g r a m t a m b é m a própria e c o n o -
p o n d e r , e u m e s m o pessoalmente res- parte d a c a m p a n h a d a expulsão. P r e p a - m i a d o país, p a r t i n d o p a r a u m a p e c u á r i a
p o n d i d u r a n t e 16 h o r a s o i n q u é r i t o p r e - r a n d o o p r o c e s s o d e e x p u l s ã o . E, s u c e s s i - e x t e n s i v a , q u a n d o seria b e m mais inters-
sidido p e l o bacharel Francisco d e Barros v a m e n t e , os d a d o s f o r a m m u l t i p l i c a n d o sante q u e nos preocupássemos c o m u m a
L i m a , a t u a l C h e f e d a Polícia F e d e r a l d e e se c o n f i g u r o u r e a l m e n t e e s s e p r o c e s - agricultura estritamente nacional, p o p u -
G o i á s . . . a p a r t i r , d i g o , d e s s a invasão v a n - so. . lar. O p a d r e J e n t e l f e z u m c á l c u l o - s a b i a
dálica, d e s s e i n q u é r i t o , n u n c a j a m a i s a A polícia f o i c r i a n d o u m c l i m a d e b o a - f a z e r cálculos c e r t e i r o s - s e g u i n t e : se o
g o v e r n o destinase 1 % d o s i n c e n t i v o s fis-
c a i s q u e i n v e s t i a p e l a S u d a m p a r a as
grandes empresas nacionais e multina-
c i o n a i s (essa é e a m a i o r t r i s t e z a ) o g o v e r -
nb conseguiria dar uma cobertura de
assistência básica a t o d o s o s s e r t a n e j o s ,
posseiros d a Amazônia legal, e m termos
de terra, saúde, escola, comunicação.

Naturalizado
pelo ipê amarelo,
pela mata verde.
P a r a m i m , o m u n d o t o d o é pátria. E m
termos d e h o m e m , cidadão d o m u n d o , e
e m t e r m o s d e cristão, m i s s i o n á r i o . E m
s e g u n d o l u g a r , m e c o n s i d e r o a estas
alturas m u i t o mais brasileiro q u e m u i t o s
b r a s i l e i r o s q u e v i v e m e m a n d a m p o r aí.
D e p o i s d e 8 anos d e Amazônia tenho
d i r e i t o a u m a espécie d e carta expontâ-
nea de cidadania.
S e m p r e f o i m i n h a intenção m e n a t u r a -
lizar. Q u a n d o passaram os 5 anos r e q u e -
r i d o s n a q u e l a é p o c a já e s t á v a m o s e m
p l e n a b r i g a , diríamos, e não tive p o s s i b i -
lidade d e intentar. A g o r a , e v i d e n t e m e n -
t e , p a r e c e r i a até u m s a c a s m o . P o r o u t r a
repressão c e s s o u . F o r a m s e c o r t a n d o to, de procura d e fotografias, d e a m e a - p a r t e , p e n s o q u e o p o v o já m e n a t u r a l i -
t o d a s as n o s s a s p o s s i b i l i d a d e s d e t r a b a - ças c o n t r a nós. A l g u n s o f i c i a i s d e p o l í c i a z o u . È i n t e r e s s a n t e d e s t a c a r p o r ocasião
lhar n o e n s i n o oficial, n o setor Saúde o f i - c h e g a r a m a m e d i z e r q u e o b i s p o e os d e s s a notícia d o p r o c e s s o d e e x p u l s ã o ,
cial também. p a d r e s só p o d i a m s e r r e s o l v i d o s à b a s e q u a n d o tentávamos e x p l i c a r , c o n s c i e n t i -
C e l e b r o u - s e e m fins d e j u n h o , e m d o t i r o . Se t e n t o u e n t r e o s p o s s e i r o s q u e zar o p o v o dessa região a r e s p e i t o d o q u e
Goiânia, o E n c o n t r o d e Pastoral d a A m a - fizessem u m abaixo-assinado d i z e n d o isso s i g n i f i c a r i a , d a s c a u s a s , d a s c o n s e -
zônia, s o b r e o p r o b l e m a t e r r a e m i g r a - q u e e u os tinha i n c i t a d o , d e m a n e i r a q ü ê n c i a s , n o m o m e n t o e m q u e a Irmã
ç ã o . Esse e n c o n t r o , d e f a t o , p r a t i c a m e n - s e m e l h a n t e a Santa T e r e z i n h a , a u m c o n - estava e x p l i c a n d o n u m a celebração n u m
te f o i i n i c i a t i v a d a g e n t e . M a s a s s u m i d o flito a r m a d o . b a i r r o a q u i d e S ã o Félix, a L a g o a , q u e se
o f i c i a l m e n t e p e l a C N B B , e p e l a sessão A Nunciatura, mandando uma adver- m e q u e i r a expulsar não c o m o bispo,
brasileira d a Comissão Pontifícia d e Jus- tência c o n t r a o s m e u s p o e m a s , m e i n d i - para não entrar e m c o n f l i t o c o m a g r a n -
tiça e P a z . F o i u m e n c o n t r o p ú b l i c o , n i n - c a v a a p o s s i b i l i d a d e d e e u t e r q u e sair d e Igreja, senão c o m o e s t r a n g e i r o , u m
g u é m q u i s f a z e r s e g r e d o , íamos d i s c u t i r u m d i a d e s t a r e g i ã o , d o país. v e l h o s e r t a n e j o c o r t o u a Irmã e o l h o u
c o m todo realismo u m problema q u e Gosto, dramaticamente, e concordo para m i m e para o padre e s p a n h o l , P e d r o
i n t e r e s s a v a a o país, a m i g r a ç ã o e a t e r r a p l e n a m e n t e , d a afirmação d e d o m P a u l o M a r i S o l a , v i g á r i o d e S ã o Félix, o l h o u e
n a área t o d a d a A m a z ô n i a l e g a l e d e Evaristo, q u e o máximo p r o b l e m a p a s t o - n o s d i s s e e m v o z a l t a : " E u a q u i não
r e t r u q u e e m o u t r o s s e t o r e s d o país não- ral d o B r a s i l n e s t a h o r a é a m i g r a ç ã o . A conheço estrangeiro n e n h u m . C o n t i -
amazonico. migração d e n o r t e a s u l . N o N o r d e s t e , n o nue, irmã".
Surpreendeu-nos a todos ver c o m o a C e n t r o , n a A m a z ô n i a t o d a , e m São
M e sinto, d i g o , c o m carta d e c i d a d a -
repressão c a i u s o b r e o E n c o n t r o e m t e r - P a u l o , n o R i o e n o s u l d o país. O u c o m o
nia. A c h o q u e m e naturalizei n o q u e t e m
mos de alarme. D o m Fernando, outros p o n t o de partida, o u c o m o passagem, o u
d e b o m e n o q u e t e m d e difícil n e s t e país
bispos, outro pessoal participante, foram c o m o ponto d e chegada e d e conflito úl-
e nesta região. M e n a t u r a l i z e i n a luta d o
s e g u i d o s nas ruas d e Goiânia p e l a polí- timo nos grandes conglomerados d e
p o v o , n o c o n f l i t o d a t e r r a , n a s angústias,
cia, a i m p r e n s a f o i drasticamente p r o i b i - m a r g i n a l i z a d o s e m a r g i n a i s q u e se c o n -
n o s p r o c e s s o s , n a prisão, n a s a m e a ç a s d e
da d e publicar, u m a jornalista d o N e w c e n t r a m já d e m o d o i m p o s s í v e l , a b s u r d o
morte, m e naturalizei d a n d o mais q u e
York Times dizia q u e n u n c a jamais na e fatal, nas g r a n d e s c i d a d e s .
u m a v e z a v i d a , s a b e n d o q u e p o d i a ser
vida profissional e m n e n h u m canto d o Imediatamente depois d o Encontro
matado de u m m o d o ou de outro.
m u n d o se e n c o n t r a v a c o m u m e s q u e m a Pastoral d a Amazônia c e l e b r a m o s a V
d e segurança tal c o m o o d a c h e g a d a d e l a Assembléia N a c i o n a l I n d i g e n i s t a , u m a t o M e naturalizei n o carinho q u e sinto
no a e r o p o r t o d e Goiânia a q u e l e d i a . importantíssimo q u e c o r o a v a u m d o s p o r este p o v o , p o r esta n a t u r e z a , esta
U m a identificação r i g o r o s a . t r a b a l h o s p a s t o r a i s m a i s sérios e m a i s e f i - f l o r e s t a , esses pássaros d o A r a g u a i a ,
c i e n t e s d a Igreja d o Brasil estes últimos esses p e i x e s . S i n t o o i p ê a m a r e l o e o v e r -
N o 2 ' d i a d o E n c o n t r o , a Tv G l o b o l a n -
anos. O trabalho d o C i m i ( C o n s e l h o de da floresta c o m o u m a bandeira à qual
ç o u o 1? p r o g r a m a e m caráter n a c i o n a l ,
Missionário) e t o d a sua repercussão nas t e n h o p l e n o d i r e i t o , e não p r e c i s o d e
d e d i f a m a ç ã o d a g e n t e . V e i o u m 2? e u m
b a s e s missionárias d e d i c a d a s d i r e t a m e n - outro tipo de documentação, p o r hora.
3 , e s t e n o p r o g r a m a Fantástico, d e
9

d o m i n g o , d e característica n a c i o n a l te às p o p u l a ç õ e s i n d í g e n a s . V i m aqui para viver aqui, P a r a

t r a b a l h a r a q u i , paFa m o r r e r a q u i ,
A MATA Ê
r
MAIOR • — • -i

M a s para viver, Epílogo Abierto


Cemitério d e Sertão
Terra exijo: ter
Yo m e atendo a Io dicho:
Para descansar Dinheiro e arame
La Justicia,
eu q u e r o só não nos vão deter.
a pesar de Ia Ley Y Ia C o s t u m b r e ,
esta c r u z d e pau Mil facões zangados
a pesar dei Dinero y Ia Limosna.
c o m chuva e sol, cortam pra valer.
La H u m i l d a d ,
estes sete palmos Dois mil braços juntos
para ser yo, verdadero.
e a Ressurreição! cercam terra e c é u .
La Libertad,
M a s para viver, Para descansar...
para ser h o m b r e .
eu já q u e r o ter M a s para viver,
Y Ia Pobreza,
a parte q u e m e cabe terra e liberdade
Para ser libre.
n o latifúndio seu: eu preciso ter.
La Fe, cristiana,
q u e a terra n ã o é sua, E n ã o p e ç o esmola
para andar d e n o c h e ,
seu doutor N i n g u é m ! n e m c o m p r o o q u e é i
e m e u . y, s o b r e todo, para andar de dia.
A terra é de todos A S u d a m e o diabo
Y, en todo caso, hermanos,
p o r q u e é de Deus! p o d e m se vender:
yo m e atengo a Io d i c h o :
Para descansar... gente n ã o se vende,
Ia Esperanza!
M a s para viver, n e m se c o m p r a Deus!
terra eu q u e r o ter.
C o m Incra o u s e m Incra, d e "Tierra Nuestra, Libertad",
c o m lei o u s e m lei. de Pedro Casaldáiiga, Buenos
America Nfuestra! A i r e s , 1974
Q u e outra Lei mais alta
Já a Terra nos d e u A m é r i c a índia Todavia
a todos os pobres m a d r e en Ia Libertad Y en Ia Sabiduría!
sem voz e sem vez; A m é r i c a Ayer Espanola
q u e bs filhos d a gente romântica novia!
são gente t a m b é m ! A m é r i c a Libre N u e v a M a n ã n a
TEXTO E F O T O S DE ALEX SOLNIK,
Para descansar... hermana! E N V I A D O ESPECIAL
Hamilton Almeida surpreende plenário da
XXXI Assembléia Anual da Sociedade
Interamericana de Imprensa
e denúncia pressões econômicas!

ESTADÃO
0 ESTADO DE S.PAULO

ASS.DI. 2 48/75 04 de Julho de 1975.

QUASE
Ilno. Sr.
Paulo Patarra
EX-EDITORA LTDA.
R. Santo Antônio, 1043
Bela Vista - S.Paulo

ESMAGA
Prezado Senhor,
Anexo a esta, estamos lhe enviando o orçamento
para orodução g r á f i c a do jornal "EX", conforme
s o l i c i t a ç ã o por nós recebida.
Sendo s ó por ora, colocamo-nos a seu dispor, no
aguardo de sua breve resposta.

EX. c.c: Dr. Lui z V.C.Ilesquita

Jornalista mata a cobra e mostra


S a u d a ç õ e s jornalísticas, d o g ê n e r o d e r e p o r t a g e n s , n a última d é -
c a d a ( e m t o r n o d e 500 m i l e x e m p l a r e s ) .

Sabe c o m q u e m estamos falando?


5 - e m 1968, a revista s e m a n a l d e i n f o r -
mação Veja, d a m e s m a editora A b r i l ,
o pau: eis a carta em que O Estado
enviava orçamento para imprimir o Ex.
S o m o s u m g r u p o d e 20 j o r n a l i s t a s q u e ,
a t u a l m e n t e a d e m a i o r circulação n o
e m forma cooperativa, formamos u m a
país, e m s u a c a t e g o r i a .
e d i t o r a - Ex - E d i t o r a L t d a . - n e s t a c i d a -
d e . Esta e m p r e s a e d i t a o j o r n a l m e n s a l 6 - e m 1 9 7 0 , Placar, a i n d a d a E d i t o r a Estado d o R i o d e Janeiro. A partir d e m e n t e os nossos p r o d u t o s , passamos a
Ex-, 4 8 p á g i n a s , a $6 ( q u a s e u m d ó l a r ) o A b r i l , única revista s e m a n a l d e e s p o r t e s 1968, c o m e ç a o p o n t o a l t o d e s t e p r o c e s - s e n t i r u m a f o r m a m a i s s u t i l - p o r é m tão
e x e m p l a r , t i r a g e m 30 m i l e x e m p l a r e s , e m c i r c u l a ç ã o n o país, c o m t i r a g e m so. C o i s a d e q u e a Comissão d e L i b e r d a - esmagadora - de censura. A d o poder
c o l o c a d o s e m 500 c i d a d e s brasileiras s u p e r i o r a 100 m i l e x e m p l a r e s . de de Imprensa d o A l i c o m certeza conti- econômico, simplesmente.
pela Distribuidora Abril Cultural e n u a r e c e b e n d o notícias d e s o b r a . E a i n d a N o s s a histórja. H i s t ó r i a s .
I n d u s t r i a l S.A. V e n d a média d o s últimos 7 - e m 1 9 7 0 / 7 2 , 0 Bondinho, primeira nesta XXXI Assembléia A n u a l , e m relató- O s p r i m e i r o s 7 m i l e x e m p l a r e s d o Ex-
3 números: 18 m i l e x e m p l a r e s , o q u e - r e v i s t a - g u i a d a c i d a d e (SP), g a n h a d o r e m r i o d o Sr. E d g a r d d e S i l v i o F a r i a , r e p r e - f o r a m c o l o c a d o s e m 2 5 0 b a n c a s , só n a
s e g u n d o nossa D i s t r i b u i d o r a - significa 1971 d o p r ê m i o Esso d e C o n t r i b u i ç ã o à sentante brasileiro à Comissão, é solici- c i d a d e d e S ã o P a u l o (5 m i l b a n c a s ) , e m
u m público d e 72 m i l l e i t o r e s . O j o r n a l i m p r e n s a ; Jornalivro, l i v r o v e n d i d o e m tada a e x a m i n a r mais u m desses casos. carros d o s próprios e d i t o r e s , e p o r suas
Ex m e n s a l , n o s e u 2? a n i v e r s á r i o e m f o r m a t o tablóide, e m bancas - livros a Quase consequentemente, ao longo p r ó p r i a s m ã o s . Era a ú n i c a saída. N ã o
n o v e m b r o p r ó x i m o , c h e g a a o n» 1 6 . preço d e b a n a n a e c o m tiragens q u e d o s últimos 7 a n o s , assistimos à d e s n a - h a v i a c r é d i t o p a r a as d e s p e s a s i n d u s -
c h e g a r a m a 1 0 0 m i l e x e m p l a r e s ; Pala- cionalização d a i m p r e n s a n a c i o n a l , a o triais, p o r falta d e tradição c o m e r c i a l d a
Em nossa empresa, cooperativamente, vrão, revista s e m a n a l d e e n t r e t e n i m e n - aviltamento d o mercado de trabalho e à f i r m a . O s m e s m o s m o t i v o s excluíram
o trabalho profissional do.grupo d e jor- t o ; Revista d e Fotografia, m e n s a l , q u e restrição d a i n f o r m a ç ã o c o m o b e n e p l á - q u a l q u e r p o s s i b i l i d a d e d e anúncios,
nalistas é o c a p i t a l p r i m o r d i a l . N o c o n - a t i n g i u v e n d a r e m d e 20 m i l e x e m p l a r e s ; c i t o o u omissão d o s próprios d o n o s d e p e l o m e n o s a c u r t o prazo. O capital p o s -
t r a t o s o c i a l d a Ex- E d i t o r a L t d a . d o i s Foto-Choque, j o r n a l d e r e p o r t a g e n s e e m p r e s a s jornalísticas, a q u i r e p r e s e n t a - sível e r a o r e s u l t a d o d a s v e n d a s n a s b a n -
nomes representam o g r u p o : Paulo d e pesquisas fotográficas; e Grilo, revista d e dos pela Comissão O r g a n i z a d o r a desta cas. E a s s i m , n ã o h a v i a saída se n ã o c o n -
C a r v a l h o Patarra e H a m i l t o n A l m e i d a historia e m q u a d r i n h o s . Todas p u b l i c a - A s s e m b l é i a , a 2*. q u e s e r e a l i z a n o B r a s i l . trolar o f u n d a m e n t a l setor d e q u a l q u e r
F i l h o ; e o capital d e c l a r a d o é d e $10 m i l . Jornais f o r a m f e c h a d o s , jornais f o r a m publicação a distribuição.
ç õ e s d e A r t e & C o m u n i c a ç ã o Editora, a
O s m a i s a n t i g o s d o g r u p o são j o r n a l i s t a s a g r u p a d o s n a s m ã o s d e u m só p r o p r i e t á - Este e x p e d i e n t e - f a z e r e d i s t r i b u i r o
primeira empresa independente q u e o
n o m í n i m o há 15 a n o s , t e m p o e m q u e r i o ; g r a n d e s e d i t o r a s se f i r m a r a m a c u s t a j o r n a l - f o i u s a d o a t é o n ú m e r o 4. V e n -
g r u p o f u n d o u . A A & C Editora foi à
vêm lutando pela liberdade de impren- de publicações feitas c o m material d í a m o s a m é d i a d e 4.500 e x e m p l a r e s . O
falência e m m a i o d e 1972, p o r ação mais
sa, c o m o p r o f i s i o n a i s e m p r e g a d o s n o s estrangeiro, " e n l a t a d o " . Em conseqüên- q u e , d i a n t e d o p a n o r a m a d a circulação
t a r d e c o n s i d e r a d a e x t r a l e g a l e m juízo d e
m a i s v a r i a d o s ó r g ã o s e d i t o r i a i s d o país. cia, m e n o s g e n t e p o r redação para e x e - real na c i d a d e (alguns jornais d o g r u p o
poderoso grupo editoriaL
M u i t o s d e nós p a r t i c i p a r a m d o s m a i o r e s cutar o m e s m o trabalho; o q u e , acresci- F o l h a s v e n d e m a q u é m d e 10 m i l e x e m -
l a n ç a m e n t o s jornalísticos d o B r a s i l n o s
8 - e m 1972,"no R i o d e J a n e i r o , a revista d o d o s milhares d e f o r m a n d o s anuais lares nas bancas), r e p r e s e n t a v a um
lúltimos 12 a n o s :
semanal de economia e mercado, lançados n o m e r c a d o pelas Escolas d e
Comunicações, também c o n t r i b u i u para
C o m índice d e penetração e n u m a faixa
de público d e qualidade. N o s d e f i n i m o s
Cifrão; e a revista q u i n z e n a l d e televisão
1 - e m 1 9 6 4 , Noticias Populares, j o r n a l
C a r t a z ; as d u a s d a R i o G r á f i c a E d i t o r a . o a c h a t a m e n t o salarial d a classe. c o m o " U m jornal d e texto, foto, quadri-
popular, hoje o matutino d e maior circu-
A o l o n g o dessas experiências e n f r e n - O q u e p r o v o c o u t u d o isso? A m u d a n - n h o e i m p r e n s a " , e f o m o s c a p a z e s d<e
lação e m b a n c a s n o e s t a d o d e S ã o P a u l o .
t a m o s , i n f e l i z m e n t e , u m a das fases mais ça d e q u a l i d a d e d a i n f o r m a ç ã o n a reunir e publicar materiais c o m o a morte
2 - e m 1965, o semanário Edição de n e g r a s d a história d a i m p r e n s a b r a s i l e i r a , imprensa brasileira. de Allende por Garcia M a r q u e z ; a pri-
Esportes, d a e m p r e s a O Estado d e S. principalmente n o tocante à liberdade " O n d e o poder domina a comunica- meira r e p o r t a g e m s o b r e C u b a escrita
Paulo, c u j o d i r e t o r , J ú l i o M e s q u i t a N e t o , d e expressão. A C e n s u r a m a r c a t o d a a ção, m o r r e o j o r n a l i s m o , v i v e o c o m u n i - p o r j o r n a l i s t a b r a s i l e i r o n o s ú l t i m o s 10
é o atual p r e s i d e n t e d a A M . década d e 60 e talvez t e n h a a sua atuação cado", d e f i n e Paulo Patarra. anos; u m a reportagem- d e n t r o da
inicial mais a c e n t u a d a n o s episódios Seja o p o d e r político, seja o p o d e r c a d e i a ; além d e textos e entrevistas d e
3 - e m 1 9 6 6 , o Jornal d a T a r d e , v e s p e r - políticos q u e s u c e d e r a m à r e n u n c i a d o econômico, acreditamos todos. W i l h e l m R e i c h , Cortázar, Jane F o n d a ,
tino da mesma empresa, dirigido pelo P r e s i d e n t e Jânio Q u a d r o s , e m 1961. N e s - Até a q u i , f o m o s os anônimos trabalha- Eduardo Galeano, Miguel Urbano
irmão d o p r e s i d e n t e d a A H , R u y M e s q u i - sa é p o c a o e n t ã o G o v e r n a d o r d o E s t a d o dores da imprensa brasileira. A o nos Rodrigues, Caetano Veloso, João Antô-
ta. d a G u a n a b a r a , Sr. C a r l o s L a c e r d a , ( h o j e d e c i d i r m o s f u n d a r a Ex - E d i t o r a , n o n i o , Erich F r o m m , José C e l s o M a r t i n e z
c o m os d i r e i t o s políticos cassados p o r pressuposto d e q u e para exercer u m a Corrêa, Getúlio Vargas, Samuel W a i n e r ,
4 - e m 1966/a revista Realidade, m e n - A t o I nstitucional) e x e r c e u a censura pré- i m p r e n s a m a i s l i v r e t e r í a m o s d e ir n o s Ruy M e s q u i t a ; D õ m Paulo Evaristo, car-
sal, d a E d i t o r a A b r i l , q u e a t i n g i u a m a i o r v i a e m várias r e d a ç õ e s e c h e g o u a a p r o p r i a n d o d e t o d o s os setores d a n o s - deal A r n s , d e São P a u l o e R a i m u n d o
v e n d a avulsa e m publicações brasileiras a p r e e n d e r edições d e jornais n o atual sa p r o d u ç ã o , i n c l u s i v e g e r i r e c o n o m i c a - Pereira, d e M o v i m e n t o .
EX-Í6 19
Q u a n d o estávamos n o s f i r m a n d o , o d i a n t e d e nós " o m e l h o r orçamento q u e nossos p r o b l e m a s , assim c o m o nos senti-
número 3 -cuja capa antecipava o f i m d e o Ex-jamais c o n s e g u i u , 2 4 % mais barato m o s traídos q u a n d o , a 16 d e a g o s t o ,
N i x o n - f o i a p r e e n d i d o p e l a Polícia q u e q u a l q u e r o u t r o preço c o n s e g u i d o " l e m o s n o J o r n a l d a T a r d e a s e g u i n t e notí-
F e d e r a l (SP), c u m p r i n d o " o r d e n s d e B r a - - e s c r e v e u P a u l o Patarra i n f o r m a n d o cia:
sília" (fato r e l a t a d o à A l i , e m j a n e i r o d e e s t e relatório, q u e h o r a a p r e s e n t a m o s . A G a z e t a M e r c a n t i l , i m p r e s s a nas o f i c i -
1974). A p a r t i r d a í , o b o i c o t e já n o r m a l U m a semana depois, p o r telefone e nas d e O E s t a d o .
das a g ê n c i a s d e p u b l i c i d a d e g a n h o u e m s e g u i d a p e s s o a l m e n t e , a Ex-Editora O j o r n a l G a z e t a M e r c a n t i l passará a
mais força, e m razão d a insegurança: v a i c o m u n i c o u a o sr. Sérgio Lex q u e t i n h a ser i m p r e s s o , a p a r t i r d o p r ó x i m o d i a 7 d e
sair o p r ó x i m o E x - ? E n t r e o n ú m e r o 4 e o i n t e r e s s e e m c o m p r a r o s serviços gráfi- o u t u b r o n a s o f i c i n a s d e O E s t a d o d e S.
5, h o u v e u m e s p a ç o d e q u a s e 4 m e s e s . c o s d a S . A . " O E s t a d o d e S. P a u l o . P a u l o . O a c o r d o e n t r e as d u a s e m p r e s a s ,
U m atraso d e 3 0 0 % para u m a revista A p e d i d o , a Ex- Editora Ltda. e n t r e g o u assinado n o último d i a 11, é o p r i m e i r o
mensal. M e s m o assim, c h e g a m o s a o n ú - u m a c o l e ç ã o d o Ex-, d o n ' 7 a o n " 1 2 , e g r a n d e c o n t r a t o d a S . A . O E s t a d o d e S.
m e r o 11 t i r a n d o 1 0 m i l e x e m p l a r e s , vários p a p é i s - c o n t r a t o s o c i a l , lista d e P a u l o p a r a utilização d e suas máquinas
agora c o l o c a d o s e m banca p o r u m a dis- informações bancárias e c o m e r c i a i s , e t c . na impressão d e u m j o r n a l diário d e
t r i b u i d o r a . N o s s a v e n d a m á x i m a já t i n h a - a o sr. Sérgio L e x , q u e e m m e n o s d e g r a n d e expressão.
a t i n g i d o o s 8.500 e x e m p l a r e s . Estávamos u m a s e m a n a d i z i a q u e estava t u d o O K . A t u a l m e n t e , O E s t a d o d e S. P a u l o
n o 1 8 m ê s d e existência, m a s n o n ú m e r o Havia apenas u m detalhe: a confecção i m p r i m e , p e l o sistema off-set, o C o r r e i o
Júlio de Mesquita
ç

12. d e u m c o n t r a t o d e prestação d e serviços Agropecuário, d e São Paulo; a Gazeta


R e s o l v e m o s c o n c e n t r a r forças, d i a n t e p o r u m a n o , c o m o e r a d e s e j o d a Ex- E d i - dos Bairros d a Z o n a O e s t e ; O tablóide
d o q u e a experiência n o s t i n h a m o s t r a - t o r a , levaria alguns dias, mas não havia Neto, de O Estado: O r d e m d o U n i v e r s o , d e Brasília; e a
d o : continuávamos s o b r e v i v e n d o . Par- p r o b l e m a s : o próximo número, o Ex-13, revista T u r f e e F o m e n t o , d o J o c k e y C l u b
t i c i p a n t e d o g r u p o e m várias e x p e r i ê n - p o d e r i a s e r i m p r e s s o através d e u m a "Eu não d e São P a u l o . A G a z e t a M e r c a n t i l , q u e
cias p a s s a d a s ( R e a l i d a d e , P l a c a r , C a r t a z o p e r a ç ã o c o m e r c i a l i s o l a d a , já a p r o v a d a e x i s t e há 55 a n o s , p a s s o u há a l g u n s a n o s
e t c ) , P a u l o Patarra r e c e b e u u m c o n v i t e v e r b a l m e n t e (fatura para p a g a m e n t o e m sabia de nada/' p o r u m a total reformulação - t a n t o gráfi-
p a r a d e i x a r s e u c a r g o d e g e r ê n c i a d o até 7 d i a s a c o n t a r d a d a t a d e i m p r e s s ã o , ca q u a n t o editorial - t r a n s f o r m a n d o - s e
C e n t r o d e C r i a ç ã o d a E d i t o r a A b r i l e v. a n e x o ) . T e r m i n a d a a leitura d o d o c u m e n t o e m u m j o r n a l diário, e s p e c i a l i z a d o e m
assumir a revista Visão, d o g r u p o H i d r o - U m a r e u n i ã o m a r c a d a p a r a o d i a 1 4 , a p r e s e n t a d o pela Ex- Editora, o diretor negócios e e c o n o m i a .
s e r v i c e , d e H e n r y M a k s o u d . E r e c u s o u . u m a s e g u n d a - f e i r a , f o i a d i a d a p a r a o d i a d e O Estado d e c l a r o u ao p l e n á r i o q u e , Estiveram presentes à assinatura d o
M a s a c e i t o u p a s s a r a p a r t i c i p a r d o E x - , 17 d e j u l h o . S e r i a u m e n c o n t r a e n t r e e d i - d e s c o n h e c i a a recusa d e sua e m p r e s a e m c o n t r a t o o s d i r e t o r e s d e O E s t a d o d e S.
a o n d e c h e g o u t r a z e n d o u m a " i n j e ç ã o " t o r e s d o E x - e a A s s e s s o r i a I n d u s t r i a l d e i m p r i m i r o Ex. "Esse tipo d e n e g ó c i o n ã o P a u l o , srs. Luís V i e i r a d e C a r v a l h o M e s -
d e 50 m i l c r u z e i r o s , r e s u l t a d o d e s e u s O E s t a d o , p a r a t r o c a d e i n s t r u ç õ e s q u a n - c h e g a a t é a m i m " , a f i r m o u J ú l i o M e s q u i - q u i t a e José V i e i r a d e C a r v a l h o M e s q u i -
vários a n o s d e t r a b a l h o d i r i g i n d o i n ú m e - t o à m a r c a ç ã o d e o r i g i n a i s , d i a g r a m a s , ta N e t o , a c r e s c e n t a n d o q u e ia apurar t a , e o s srs. H e r b e r t V i c t o r L e v y e L u i z
para saber d e q u e m teria partido o veto
ros p r o j e t o s e d i t o r i a i s , p a r a q u e p u d é s - f o t o s , e t c . D o i s p r a z o s j á t i n h a m f i c a d o F e r n a n d o Ferreira Levy, r e s p e c t i v a m e n -
contra o Ex.
semos dar n o v o passo - c o n f o r m e histo- marcados, porém, n o d i a 14: V d e agos- te d i r e t o r - p r e s i d e n t e e d i r e t o r v i c e - p r e -
r i a m o s n o e d i t o r i a l d e n o s s o n ú m e r o 12 t o , p a r a a r o d a g e m d o E x - 1 3 ; e 2 d e s i d e n t e d a E d i t o r a Jornalística G a z e t a
( q u e a n e x a m o s ) . Lá d i z í a m o s : s e t e m b r o , p a r a o Ex-14. d a d e d e i m p r e n s a e informação, a s e r e m Mercantil.
N o d i a 17 d e j u l h o , às 16 h o r a s , P a u l o c o m b a t i d a s c o m o m e s m o r i g o r p o r e s t a Q u a n d o a c a b a m o s d e l e r esta notícia,
1. O p r i m e i r o n ú m e r o d o Ex ( e x - G r i l o ) Patarra e o u t r o s 3 e d i t o r e s f o r a m a O Associação? A o p r o p o r o t e m a para s e n t i m o s t o d o o ridículo d a v i d a . E n o s
saiu e m n o v e m b r o d e 1 9 7 3 : j o r n a l m e n - Estado, r e c e b e r instruções. " P a r a o Ex- e d e b a t e , o j o r n a l Ex- e o g r u p o d e j o r n a - sentimos à vontade agora, a o encerrar-
sal, 3 2 p á g i n a s , 7 m i l e x e m p l a r e s , d i s t r i - a r a o e n g e n h e i r o S é r g i o L e x " , i n f o r m a listas i n d e p e n d e n t e s q u e d e t ê m s u a p r o - m o s n o s s o relatório-proposta d e d e b a -
buição própria, $ 5 . H o j e , 19 meses
depois, c h e g a m o s a 1 2 . edição: 40 pági-
?
P
a u l o Patarra, " e r a líquido e certo q u e o p r i e d a d e q u e r e m d e s v e n d a r o c a m i n h o
Ex- p a s s a r i a a s e r i m p r e s s o n o E s t a d ã o " . e m q u e s e c o m b a t a a c e n s u r a e c o n ô m i c a
tes à C o m i s s ã o d e L i b e r d a d e d e I m p r e n -
sa e I n f o r m a ç ã o , p a r a d a r u m t í t u l o a o
nas, 2 0 m i l e x e m p l a r e s , d i s t r i b u i ç ã o E n t ã o , v e i o o d e s f e c h o . C o n t a P a u l o c o m a l g u m v i g o r . E m q u a l q u e r forma nosso p e q u e n o affaire c o m a p o d e r o s a
nacional (Superbancas), insistindo e m Patarra: c o m o se a p r e s e n t e : manipulação d e v e r - e m p r e s a S.A. " O Estado d e S. P a u l o " , à
ser j o r n a l m e n s a l e ( p i o r p r a t o d o s ) p r e - - N o d i a 1 7 d e j u l h o , às 1 6 h , S é r g i o bas d e p u b l i c i d a d e p o r p a r t e d e g o v e r - maneira dos jornais brasileiros p o p u l a -
c i s a m o s s u b i r o preço d e c a p a p a r a $6. L e x , s e m graça e t o d o a t r a p a l h a d o , i n f o r - n o s ( c a s o e m q u e se e n v o l v e u , c o m o v í t i - res, h o j e q u a s e t o d o s e x t i n t o s , c o m o
V o c ê vai desistir o u c o n t i n u a r responsá- m a a o s e d i t o r e s d o E x - q u e " a d i r e ç ã o d e m a , o p r ó p r i o O Estado n o g o v e r n o e s t a - numa homenagem:
v e l p e l a n o s s a existência? redação d a e m p r e s a v e t o u a impressão d u a l d e L a u d o N a t e l ; o u c o m o n o e x e m - "ESTADÃO
2 . 0 v o l u m e d e p u b l i c i d a d e , e m 1 2 n ú - d o Ex-, p o r n ã o c o n c o r d a r c o m a l i n h a p l o d e La Prensa, d e B u e n o s A i r e s , q u e QUASE
m e r o s , n u n c a u l t r a p a s s o u 3 páginas p o r e d i t o r i a l d o m e s m o " . I n d a g a d o q u e m r e c e n t e m e n t e p e r d e u t o d a a p u b l i c i d a - ESMAGA EX!"
edição, s e n d o q u e 5 0 % d o s anúncios p o r era essa " d i r e ç ã o d e r e d a ç ã o " , r e s p o n - d e o f i c i a l , p o r s e r u m j o r n a l d e o p o s i - Sobrevivemos!
nós i m p r e s s o s são p e r m u t a s . O m e l h o r d e u : " O J ú l i o N e t o e o R u y " . N ã o h a v i a ç ã o ) ; d i s c r i m i n a ç ã o d e v e í c u l o s n a d i s t r i - S ã o P a u l o , 20 d e o u t u b r o d e 1 9 7 5 .
p r e ç o d e u m a 4*. c a p a d o Ex a l c a n ç o u a p e l a ç ã o . E r a v e t o d a " S I P '. buição d e verbas d e g r a n d e e m p r e s a s ,
$4,5 m i l ( H o m e m , p r ó x i m o l a n ç a m e n t o O d e s a b a f o d e P a u l o Patarra t r a d u z o nacionais o u m u l t i n a i c o n a i s ; o u até a Hamilton Almeida Filho
m e n s a l d a A b r i l , c o b r a $42.410). E m p o n t o c u l m i n a n t e d e nossa estupefação s i m p l e s n e g a t i v a d e r o d a r u m j o r n a l , M y l t o n S e v e r i a n o d a Silva -
o u t u b r o d e 1 9 7 4 , d a t a d a n o s s a última e i n d i g n a ç ã o , q u e p o r c o e r ê n c i a j a m a i s c o m o o c a s o q u e a p r e s e n t a m o s . P a r a Sócios A t i v o s à XXXI Assembléia A n u a l
tabela d e preços para p u b l i c i d a d e , dizía- poderíamos d e i x a r d e t r a z e r e m n o s s o q u é e s t e princípio d e P a u l o Patarra - " O da A M
m o s : " C o n t i n u a m o s a b e r t o s é o n o s s o relatório à Comissão d e L i b e r d a d e d e d o n o d a l i b e r d a d e é o d o n o das m á q u i - Representantes d e EX-Editora Ltda.
r a m o é este. Só q u e n u n c a f i z e m o s n e g ó - I m p r e n s a e I n f o r m a ç ã o , n a X X X I n a s " - d e i x e u m d i a d e ser inquestioná- São P a u l o . B r a s i l .
c i o - s e m p r e j o r n a l i s m o . M a s q u e m sabe Assembléia A n u a l d a Associação Intera- v e l . D o c u m e n t o s a n e x a d o s a este relató-
f a z e r n e g ó c i o n ã o são v o c ê s , p u b l i c i t á - m e r i c a n a d e I m p r e n s a , q u a n d o d e i x a a N o s s o relatório e p r o p o s t a d e d e b a t e rio:
rios? S e v o c ê s são l e i t o r e s d o Ex, p o r q u e r e s i d ê n c i a d o o r g a n i s m o o j o r n a l i s t a estão a p r e s e n t a d o s . V i r até a q u i c u s t o u a 1. P r o p o s t a Extraordinária.
não a j u d a m a g e n t e v e n d e r ? " S o b r e v i v e -
mos na banca.
C
r a s i l e i r o Júlio d e M e s q u i t a N e t o , d i r e - nós - e m p r e s a p e q u e n a q u e s e m ajuda 2. X e r o x d a t r o c a d e c o r r e s p o n d ê n c i a
t o r - p r o p r i e t á r i o d a S . A . " O E s t a d o d e S. d e n i n g u é m s o b r e v i v e a p e n a s à c u s t a d e e n t r e EX-Editora Ltda e S.A. " O Estado d e
T e m p o d e p o i s , víamos nossa tese P a u l o " . seus leitores - a v u l t u o s a s o m a d e 120 S. P a u l o " .
c o i n c i d i r c o m a d o jornalista Júlio d e Nós e n t e n d e m o s q u e a luta p e l a l i b e r - dólares. A s s u m i m o s o ridículo d e , e m 3. I d ê n t i c a c o l e ç ã o d e j o r n a i s EX- f o r -
M e s q u i t a N e t o , o p r e s i d e n t e e m f i n s d e d a d e d e i m p r e n s a e , h o j e , e m t o d o o tão d e s p r o p o r c i o n a i s c o n d i ç õ e s , v i r p r o - n e c i d a a S . A . " O E s t a d o d e S. P a u l o " ,
m a n d a t o d a A M . E l e a f i r m a , e m Visão d e n o s s o c o n t i n e n t e , u m a t r i n c h e i r a ú n i c a . p o r u m d e b a t e c o m o o q u e e x p u s e m o s mais os números 1 3 , 1 4 , 1 5 , e o n ú m e r o 1
13 d e o u t u b r o p a s s a d o : È a p r i m e i r a v e z q u e p a r t i c i p a m o s d e nessa XXXI Assembléia A n u a l d a A l i . de outra publicação d e Ex-Editora:
"Para m i m , a independência editorial u m a Assembléia A n u a l d a A l i , c o m o só- A s s u m i m o s a colocação e m o c i o n a l d e EXTRA!
d e u m j o r n a l está s u j e i t a à s u a i n d e p e n - c i o s a t i v o s . A s s i m f i z e m o s p o r e n t e n d e r
dência e c o n ô m i c a , m a s essa i n d e p e n - t a m b é m q u e , só a q u i , n a A s s o c i a ç ã o q u e Ex - R e l a t ó r i o / A n e x o 1: Proposta
d ê n c i a e c o n ô m i c a só p o d e p r o v i r ú n i c a c o n g r e g a q u a s e m i l p r o p r i e t á r i o s d e EX EDFTORA üm/Rua Santo An!onia1043/SP extraordinária
e e x c l u s i v a m e n t e d e d u a s f o n t e s d e r e n - e m p r e s a s jornalísticas d o c o n t i n e n t e ,
d a : a v e n d a d e anúncios e a v e n d a d o s poderíamos suscitar o d e b a t e q u e o r a 1 - C o n s i d e r a n d o relatório a p r e s e n t a -
exemplares d o jornal." p r o p o m o s : q u e ética c o n d u z i u a d e c i s ã o Ao oreoldoato 4 . C<MlMl. «a I.»or4At4e de l ^ w n w • U t U H i t d o à Comissão d e L i b e r d a d e d e I m p r e n -
Q u a n t o a o s p r o b l e m a s p o l í t i c o s , n o s - d a S . A . " O E s t a d o d e S. P a u l o " , a o r e c u - XIXI i H M t l i U U M I da A l i
B i . Paula . A r a i i i
sa e I n f o r m a ç ã o p e l o r e p r e s e n t a n t e d o
so e d i t o r i a l d o m e s m o n ú m e r o 1 2 d i z i a : sar-se a i m p r i m i r o j o r n a l Ex-, a l e g a n d o " - ! • * » " " * • — - • .<-»--
Brasil nesta m e s m a Comissão, e n d e r e ç a -
" A o contrário d e t a n t o s , n a d a t e m o s a discordâncias subjetivas q u a n t o à s u a 1~ C o a . i d . r a D d . r a l a A d r l o aproouiknáe a C A I M A . 4a U M r d o d o A* l a v r a * d o a s e u p r e s i d e n t e , sr. G e r m a n O r n e s ;
acrescentar sobre censura o u abertura. linha editorial? BC a I n f a r a a o t e p a l a I T ; I * H I U B I A da A m t l aaaA. w a a a tal.lo. .AA« r j

Nós c o n t i n u a m o s os m e s m o s . A c e n s u r a ( A " o m i s s ã o d e s o c o r r o " d a v a - s e n u m g a t i . . a . p i . U A . A t a , a r . A a m a . ara..) 2- C o n s i d e r a n d o q u e e m s e u r e l a t ó r i o


também." m o m e n t o d e l i c a d o para o j o r n a l Ex-, I r aaAAldanrrle aiia a . eau n l u A r l D . r r , n r » U D W A m l U l r t , a r .
o r e p r e s e n t a n t e b r a s i l e i r o , sr. Edgar d e
CW 4a 311.1a l u l i . dnatl-a da A U A I A « . r a l * . ai tuaotla adi . o r l a i 4 . p a i a .
T í n h a m o s a u m e n t a d o a t i r a g e m e m q u e a 2 d e j u l h o e r a a v i s a d o d e q u e e s t a - AaarMM a M i a crava 4 a . « M M . a 4a I T T t t i n i V A A I A I A . i i a a m l da BAIAA Silvio Faria, d e n t r o d o q u a d r o geral d a
1 0 0 % , n e s t e n ú m e r o 1 2 : 2 0 m i l e x e m p l a - ria s o b c e n s u r a prévia a p a r t i r d e s e u pró¬ r a X d l o l A i a>
situação e d i t o r i a l d o s país, d e s t a c a o
res. V e n d e m o s 10 m i l . A s p o s s i b i l i d a d e s x i m o n ú m e r o , o 1 3 . A notícia c h e g o u a V r n a a l 1 1 i . u d I a l a d a p a a d d n n . aua a a * . A A A . a l . o l a pada a a r araulBar mais grave d o s casos, o d e Movimento,
d e c r e s c i m e n t o c o n t i n u a v a m a b e r t a s . ser d a d a p e l o N e w Y o r k T i m e s d e 9 d e 4a l a r aa l a a * . 4a a o . H l a t t r l a i tablóide semanal d a Editora Edição;
C o i n c i d e n t e m e n t e , a d i s t r i b u i d o r a j u l h o ; assim c o m o p e l o s jornais O Estado 4 . O a u l d a r r . u a , . a f i o , a t í W ; ) > A* 1 . , a a a . a q a . abafou aquela J e r o . l i

A b r i l , a m a i o r d o país, a c e i t a v a p a s s a r a d e S. P a u l o e J o r n a l d a T a r d e . F e l i z m e n - Paâiaoo oue aaja a w u l a n d i aaau propeata e s t a . ordinária i c o t o s raao- 3 - C o n s i d e r a n d o a independência


d i s t r i b u i r o Ex- e, p o r a c r e d i t a r n a p u b l i - te, n o s s o j o r n a l t i n h a s i d o r e e x a n v n a d o obowueaata a a p o i o fc l a t a q u . rta Iraroudo pala l l k u o t M M 4a íapraooa a a q u e esta Associação p o d e ser o r g u l h a r
p a l a ca J e m a l i a t a a K a l M U M . ãadrluu.a P . r e l r e a AaVknle C a r l a , P a r r e i r a ,
c a ç ã o , s o l i c i t a v a n o v o a u m e n t o d e t i r a - p e l a C e n s u r a e , n o d i a 7, n o s c o m u n i c a - r i U M A l a o l u e l t . do laMuürlte p a l l t i » . u i w o u janto I M oraleo 4a d e t e r a o l o n g o d e sua História;
g e m : m a i s 5 0 % , o u 30 m i l e x e m p l a r e s . v a m q u e n ã o e s t a r í a m o s m a i s s o b c e n s u - oaourocç., A A J . - 1 M O oowaadl4o — ordinária ou n t n t M U A i U M a . - a PrtU 4 - C o n s i d e r a n d o , e n f i m , a situação d e
A c e i t o s n o m e r c a d o , c a d a v e z m a i s i n s e - ra p r é v i a . D e s d e aí, n ã o t i v e m o s m a i s a l o SXP-«eraenthole. 1 9 7 % aa U » | K 1 I - D o i a o . o . UAerAeAe 4o l a p r e a u M ' . impasse a q u e c h e g o u aquele jornal;
r i d o s n a s r e g r a s c o m e r c i a i s e e d i t o r i a i s , n e n h u m p r o b l e m a e x t r a - o r d i n á r i o c o m Pe41aoe a adooto daa 4ol04aloo Aoata C o n l e a l e a Aa U Z 1 i M M l U U t n . P l
P e d i m o s q u e seja c o n s i d e r a d a n o s s a
c o m u m c o m e ç o d e c a p a c i d a d e d e c r é - c e n s u r a . O s j o r n a i s O E s t a d o d e S. P a u l o AA U I o a a t a prapaata.
WAÇI.1 J p r o p o s t a extraordinária: q u e e m r e c o -
d i t o , f o m o s p r o c u r a r o m á x i m o d e q u a l i - e o J o r n a l d a T a r d e n ã o n o t i c i a r a m a r e t i - sr- t d l t o r e
n h e c i m e n t o e a p o i o à luta q u e v ê m tra-
d a d e gráfica-industrial e , s e p o s s í v e l , a r a d a d a c e n s u r a ; a p e n a s d o i s j o r n a i s R I . P a u l o , 30 dt Putaoro Ao 1175
vando pela liberdade d e imprensa n o
u m preço m e n o r . cariocas, J o r n a l d o Brasil e O G l o b o ,
aís o s j o r n a l i s t a s R a i m u n d o R o d r i g u e s
N o s s a s p e s q u i s a s n a p r a ç a d e S ã o d e r a m a notícia c o m i g u a l d e s t a q u e
P a u l o n o s l e v a r a m à S . A . O E s t a d o d e S. d a d o à p r i m e i r a . C h e g a n d o nesse Ex propôs prêmio P ereira e A n t ô n i o C a r l o s Ferreira, víti-
mas i n c l u s i v e d e inquérito político e m
P a u l o " , p o r indicação d o e d i t o r d e " O r - m o m e n t o , a recusa d e O Estado d e r o d a r
d e m d o U n i v e r s o " , tablóide i n d e p e n - o Ex-13, c o i s a dita c o m o c e r t a , t e v e q u a -
d e n t e d e Brasília, D F , i m p r e s s o p o r se a e q u i v a l ê n c i a d a a p r e e n s ã o d e u m a
especial para a n d a m e n t o j u n t o aos órgãos d e s e g u r a n -
ça, s e j a - l h e s c o n c e d i d o - o r d i n á r i a o u

Raimundo Pereira,
e x t r a o r d i n a r i a m e n t e - o P r ê m i o SIP-
a q u e l a e m p r e s a . A p ó s a l g u n s e n t e n d i - e d i ç ã o : a t r a s o d e saída e m b a n c a , e l e v a -
M e r g e n t h a l e r 1975, n a c a t e g o r i a " D e f e -
m e n t o s v e r b a i s i n i c i a d o s e m f i n s d e ç ã o n o s c u s t o s gráficos-industriais c o n -
de Movimento.
sa d a L i b e r d a d e d e I m p r e n s a " .
j u n h o p a s s a d o , a 14 d e j u l h o o a s s e s s o r d a s e g u i d o s às p r e s s a s , a l é m d o d e s g a s t e d o
D i r e t o r i a I n d u s t r i a l d e O E s t a d o , sr. S é r - ú n i c o c a p i t a l l í q u i d o e c e r t o c o m q u e a
g i o L e x , e n d e r e ç a v a a P a u l o P a t a r r a d e t a - Ex- E d i t o r a c o n t a : o t r a b a l h o ) . P e d i m o s a adesão d o s d e l e g a d o s desta
lhado orçamento (anexo), o n d e estavam Em c i m a desse raciocínio, v o l t a m o s a Comissão e d a XXXI Assembléia A n u a l d a
p r e v i s t a s i n c l u s i v e as c o n d i ç õ e s m í n i m a s p e r g u n t a r : p o r q u e n ã o s e i n c l u i a c e n - A o P r e s i d e n t e d a C o m i s s ã o d e L i b e r d a - A l i a esta p r o p o s t a .
para a assinatura d e u m c o n t r a t o a n u a l . sura econômica, q u e a q u i caracteriza- d e d e Imprensa e Informação XXXI S a u d a ç õ e s jornalísticas,
E, e x u l í a n t e s , c o n s t a t á v a m o s q u e , a l é m m o s c o m o " o m i s s ã o d e s o c o r r o " , c o m o A s s e m b l é i a A n u a l d a A M Ex-Editora
d a q u a l i d a d e d e impressão, tínhamos u m a d a s causas d o c e r c e a m e n t o d a liber- São P a u l o - Brasil São P a u l o , 20 d e O u t u b r o de 1975
Nanicos na SIP:
Defendam a gente!
D u r a n t e 5 dias, d e 20 a 24 d e o u t u b r o , O p i n i ã o e Ex-), q u e m o s t r a r a m n a
d o n o s d e jornais d e 31 países d o c o n t i - A s s e m b l é i a as p r e c á r i a s c o n d i ç õ e s d e
n e n t e , filiados à S o c i e d a d e Interameri- que dispunham p a r a se m a n i f e s t a r .
c a n a d e Prensa (SIP), reuniram-se n o Hil- Hamilton A l m e i d a Filho, representante
t o n H o t e l (SP) para d e f e n d e r e f o r t a l e c e r d o Ex a l é m d e relatar na A s s e m b é i a u m a
a liberdade de imprensa, mantendo a outra f o r m a d e c e n s u r a , a e c o n ô m i c a -
d i g n i d a d e , os direitos e as resposabilida- q u e o Ex- s o f r e u p o r parte d a S / A O E s t a -
des d a p r o f i s s ã o d e jornalista. d o d e S. P a u l o - c o m p a r e c e u ao p l e n á r i o
Entre os d e l e g a d o s brasileiros, d e s t a - para p r o p o r a c o n c e s s ã o d e u m p r ê m i o
cou-se a a t u a ç ã o d o s r e p r e s e n t a n t e s d o s e s p e c i a l , o SIP-Mergenthaler d a D e f e s a
p e q u e n o s jornais ( M o v i m e n t o , P a s q u i m , da L i b e r d a d e d e I m p r e n s a , aos jornalis-
tas R a i m u n d o Pereira e A n t ô n i o C a r l o s
Ferreira, d o jornal M o v i m e n t o , s i m b o l i -

É fogo: pequenos z a n d o assim u m a p o i o d a e n t i d a d e a


t o d o s os jornalistas e jornais q u e s o f r e m

fazem força mas


L a c e r d a : " O t e l o Saraiva (foto) é u m d o s m a c o n h e i r o s . "
pressões.
influentes líderes do exército português

unidade não saiu agem, falam e decidem sob a influência

"Quadrilha do
Hamilton A l m e i d a Filho p e d i u t a m - da c a n n a b i s s a t i v a , mais conhecida por
b é m a o ó r g ã o m á x i m o d a SIP, a marijuana, ou maconha - a erva liamba -
A Polícia F e d e r a l i m p e d i u a circulação

fumacê manda
A s s e m b l é i a G e r a l , " q u e fosse i n c l u í d o um hábito de consumo adquirido
d o seminário Movimento, na s e m a n a
n o r e l a t ó r i o final u m a p o i o o f i c i a l d a SIP, durante o serviço militar na África, que
q u e a n t e c e d e u o c o n g r e s s o d a SIP. O

em Portugal'
para garantir u m m í n i m o d e i n t e g r i d a d e , foi menos de guerra do que de inércia.
j o r n a l f o i i m p e d i d o d e ser i m p r e s s o ,
inclusive para n ó s , q u e v i e m o s a q u i m o s -
m e s m o o b e d e c e n d o aos cortes h a b i t u a l - "A maconha - prossegue - "está na
trar os atentados c o m e t i d o s c o n t r a a
mente exigidos. O s agentes da censura, origem de muitas entrevistas e desafios.
l i b e r d a d e d e e x p r e s s ã o e as l i b e r d a d e s
além disso, p r o i b i r a m a o c i t a d o jornal O Sr. Carlos Lacerda, em palestra pro- Por não saber disto os meios de informa-
d e m o c r á t i c a s no Brasil".
fazer q u a l q u e r referência aos f a m o s o s ferida n o penúltimo dia da Assembléia - ção transmitem parcialmente o que
contratos d e risco, usar a palavra petró- "Portugal, uma ameaça ao Ocidente?"-, colhem, pois ninguém entende nem o
l e o e d i v u l g a r e s s a p r o i b i ç õ e s . Essa m e s - O presidente da Comissão de Liberda- afirmou que a revolução portuguesa está aparecimento de tantos heróis sem
ma determinação atingiu durante a de d e Imprensa e I n f o r m a ç ã o , G e r m a n sendo feita com a ajuda da maconha. O nenhum heroísmo, nem as constantes
semana a t o d o s os c o m p o n e n t e s d a c h a - O r n e s , a f i r m o u ser d e s n e c e s s á r i a esta ex-governador, ex-comunista e ex-jor- contradições e irresponsáveis pronun-
mada i m p r e n s a nanica. A s informações p r o v i d ê n c i a , pois ela já constava d o r e l a - nalista afirmou que "alguns dos mais ciamentos desses irresponsáveis".
f o r a m prestadas pelos editores d o jornal t ó r i o final d a SIP.
M o v i m e n t o , P a s q u i m e O p i n i ã o aos

CONDENADA FALTA DE LIBERDADE


congressistas.
Segundo apurou a reportagem, houve
u m a tentativa d e união desses jornais
para protestar c o n t r a o a g r a v a m e n t o d a
a ç ã o d a c e n s u r a , m a s as d u a s p r o p o s t a s te o estado d e sítio, p o d e ser i n v o c a d o a q u a l - r e c e b e m o s u m i n f o r m e d o Sindicato d e J o r n a -
a p r e c i a d a s - t o d o s os tablóides c i r c u l a - q u e r t e m p o p e l o Presidente d a R e p ú b l i c a , e m listas Profissionais d o Estado d e S ã o Paulo,
virtude d o s p o d e r e s d e e x c e ç ã o q u e l h e f o r a m c o m u n i c a n d o q u e nesse m e s m o Estado e n c o n -
rem c o m a mesma capa o u publicarem
c o n f e r i d o s p e l o A t o Institucional n? 5, d e 13 d e travam-se presos, p o r motivos n ã o esclarecidos
u m a c a r t a c o m u m n o " O E s t a d o d e S.
d e z e m b r o d e 1968. pelas a u t o r i d a d e s , os jornalistas S é r g i o G o m e s
P a u l o " , e m espaço c e d i d o p e l a direção da Silva, P a u l o S é r g i o M a r k u n , D i l é i a M a r k u n ,
" T a i s p o d e r e s e x c e p c i o n a i s , n o q u e d i z res-
d o j o r n a l - não se c o n c r e t i z a r a m . O s e d i - A n t h o n y d e C r i s t o , L u í s Paulo C o s t a , R i c a r d o
peito à imprensa, t ê m sido exercidos através d o
tores c h e g a r a m à conclusão d e q u e , a p e - M i n i s t r o d a J u s t i ç a , d e s d e 29 d e m a r ç o d e 1971. de Moraes M o n t e i r o e Marinilda Marchi.
sar d e t o d o s t e r e m p r o b l e m a s c o m a E c o n t r a s e u e x e r c í c i o n ã o h á r e c u r s o judicial " A p ó s a reunião recebemosmais u m comu-
censura, cada u m deles tem problemas possível n e m m e s m o ao S u p r e m o Tribunal n i c a d o , d o Presidente d o S i n d i c a t o A u d á l i o
c o m características d i f e r e n t e s . F e d e r a l , já q u e este se p r o c l a m o u r e c e n t e m e n - Dantas, i n f o r m a n d o haver s i d o r e c e b i d o p e l o
Esse f a t o o s l e v o u a se r e u n i r e m c o m o te i n c o m p e t e n t e p a r a julgar atos d o Presidente C o m a n d a n t e d o II E x é r c i t o , G a l . D ' A v i l a M e l o .
da R e p ú b l i c a q u e t i v e r e m s i d o postos c o m S e g u n d o o c o m u n i c a d o , d u r a n t e a entrevista
dr. Edgar d e Silvio Faria (diretor d a
base n o A t o Institucional n'> 5. foi d i s c u t i d o o p r o b l e m a d e d e t e n ç ã o d e jor-
A b r i l ) , r e p r e s e n t a n t e d a SIP n o Brasil
" A l e m disso, o u t r o d i s p o s i t i v o j u r í d i c o - a lei nalistas, o c o r r i d a n o s ú l t i m o s dias.
para casos d e l i b e r d a d e d e expressão, e O r n e s : " E s t a m o s n u m a ilha,
1.070 - p e r m i t e a c e n s u r a p r é v i a , s o b a figura d e
c o m o p r e s i d e n t e d a Associação B r a s i l e i - " O G e n e r a l D ' A v i l a M e l l o i n f o r m o u ao Pre-
Foi d i v u l g a d o p e l a C o m i s s ã o d e L i b e r d a d e " v e r i f i c a ç ã o p r é v i a " , isto é , o e x a m e , pelas
ra d e I m p r e n s a , P r u d e n t e d e M o r a e s sidente d o S i n d i c a t o q u e os p r i s i o n e i r o s c o n t i -
d e Imprensa e I n f o r m a ç ã o d a XXXI A s s e m b l é i a a u t o r i d a d e s s u b o r d i n a d a s a o M i n i s t é r i o d a Jus- n u a m a ter assistência j u r í d i c a e q u e sua d e t e n -
N e t o , p a r a r e l a t a r e m o q u e estava se p a s - da SIP, n a m a n h ã d o d i a 24, ú l t i m o d i a d e r e u - tiça, d e livros e p u b l i c a ç õ e s , para q u e conste ç ã o n ã o está ligada a o e x e r c í c i o profissional,
sando. n i õ e s , o seguinte r e l a t ó r i o s o b r e a s i t u a ç ã o d a n a d a haver neles d e c o n t r á r i o à m o r a l p ú b l i c a e mas q u e é d e v i d a a atividades c o n s i d e r a d a s
Em conseqüência desses c o n t a t o s a l i b e r d a d e d e e x p r e s s ã o n o Brasil: bons costumes.
subversivas.
ABI e n v i o u u m a carta a o M i n i s t r o d a Jus- " O obstáculo maior à liberdade d e imprensa " J á q u e n ã o existe u m a l i m i t a ç ã o legal ao
Se avaliarmos este fato s e g u n d o os c r i t é r i o s
tiça, Sr. A r m a n d o F a l c ã o , p e d i n d o a r e v i - n o Brasil é e c o n t i n u a s e n d o a v i g ê n c i a d e u m a e x e r c í c i o d a c e n s u r a à i m p r e n s a , a e x i s t ê n c i a
n o r m a l m e n t e e m p r e g a d o s para aquilatar a
são d a a t u a l p o l í t i c a d a c e n s u r a a l e g a n d o l e g i s l a ç ã o d e e x c e ç ã o , q u e p e r m i t e a c e n s u r a da l i b e r d a d e de fato d e q u e g o z a m m u i t o s ó r -
l i b e r d a d e d e I m p r e n s a , torna-se e v i d e n t e q u e
p r é v i a a livros, p u b l i c a ç õ e s , p e r i ó d i c o s o u jor- g ã o s n ã o a t e n d e a o r e c o n h e c i m e n t o d o d i r e i t o
q u e " o p o d e r público t e m mais a t e m e r n ã o há L i b e r d a d e d e Imprensa n o B r a s i l . "
nais d e q u a l q u e r í n d o l e . C o m e f e i t o , o d i s p o s i - universal a ser i n f o r m a d o . Pela m e s m a r a z ã o , a
d o silêncio forçado d o q u e d o d e b a t e
tivo c o n s t i t u c i o n a l (artigo 155 § 2->, letras " d " e c e n s u r a é e x e r c i d a d e m o d o d e s i g u a l s o b r e os
livre e c r i a d o r " . " e " ) , q u e permite a censura à imprensa duran- vários órgãos, ora c o m maior, ora c o m m e n o r

EGYDIO USA Sensacional:


r i g o r ; n e m p o d e m ter os r e s p o n s á v e i s p o r tais
órgãos u m conhecimento razoável dos crité-
rios d e s e u e x e r c í c i o .
Ex recebe dinheiro
MACHADO E ST ALI N
7. Ó r g ã o s sob c e n s u r a p r é v i a
" A c h a m - s e n o m o m e n t o sob censura prévia
os seguintes ó r g ã o s d a i m p r e n s a brasileira: os
na Sip!
CONTRA CENSURA
s e m a n á r i o s M o v i m e n t o , O p i n i ã o , O S ã o Paulo
e V e j a ; e o jornal d i á r i o T r i b u n a d a Imprensa.
M o v i m e n t o , lançado e m julho d o corrente A potranca brasileira Xineta, d e 3 anos,
a n o , f o i c o l o c a d o s o b c e n s u r a p r é v i a antes m o n t a d a p e l o jóquei A . Barroso, era vis-
O g o v e r n a d o r paulista, Paulo E g y d i o M a r - - Infelizmente, é d a natureza h u m a n a , des- m e s m o d a a a p a r i c ã o d e seu primeiro n ú m e r o ta n o j o r n a l d e t u r f e " O F a v o r i t o " c o m o
tins, instalou s o l e n e m e n t e a A s s e m b l é i a d a SIP c a m b a r , c o m f r e q ü ê n c i a , para o a b u s o , n o a t r a v é s d e n o t i f i c i a ç ã o r e c e b i d a p o r seus d i r e - u m a p o s s í v e l s u p r e s a n o p r i m e i r o SIP,
na m a n h ã d e quarta-feira (22), e m b o r a os tra- e x e r c í c i o d a s l i b e r d a d e s o u t o r g a d a s a o tores d o D e p a r t a m e n t o d e P o l í c i a Federal ( ó r - c o r r i d o n o 3? p á r e o d a n o t u r n a d e 5?
balhos tivessem c o m e ç a d o n a s e g u n d a . Ele d i s - h o m e m , m e s m o aquelas c h a m a d a s direitos g ã o d o M i n i s t é r i o d a J u s t i ç a ) . Seu 15' n ú m e r o
f e i r a (dia 23), e m C i d a d e J a r d i m . O s tur-
cursou ao lado d o Dr. Júlio d e Mesquita Neto, f u n d a m e n t a i s , p o r q u e i n e r e n t e s à p r ó p r i a foi a t é p r o i b i d o d e circular, m e s m o d e p o i s d e
fistas h a b i t u e s d a v a m a v i t ó r i a p a r a I n s t i -
c i t a n d o , e n t r e o u t r o s , Balzac, D e G a u l l e , e s s ê n c i a d o ser r a c i o n a l , c o m o é o caso d o ter s i d o c e n s u r a d o , pois o visto final d a c e n s u r a
J a u r é s , S t á l i n e M a c h a d o d e Assis. A n o i t e , d i r e i t o d e livre m a n i f e s t a ç ã o d o p e n s a m e n t o , d e p e n d e d a a p r e s e n t a ç ã o à P o l í c i a F e d e r a l d e tuição, a n i m a l q u e t i n h a feito b o a c a r r e i -
t o d o s os congressistas f o r a m r e e n c o n t r á - l o e m n o q u a l se radica a l i b e r d a d e d e i m p r e n s a . u m e x e m p l a r já impresso. ra, n o s t r e i n o s , e p a r a F i o u Joy, f i l h a d e
sua r e s i d ê n c i a , n o P a l á c i o d o s Bandeirantes, C o m o todas as outras, t a m b é m a l i b e r d a d e d e 2. Órgãos levados a processos judiciais pela Pass d e W o r d e D o r o t h y , c o n s i d e r a d a
sede d o g o v e r n o d o Estado, e m r e c e p ç ã o i m p r e n s a está exposta a abusos d e t o d a o r d e m . censura c o m o a de melhor porte e correndo
o f e r e c i d a pela m o r d o m i a oficial. E h a v e r e m o s d e c o n v i r e m q u e eles n ã o s ã o " a ) O p i n i ã o se e n c o n t r a s u b m e t i d o a p r o - m u i t o e m pista d e areia.
raros, e s t a n d o d e certa f o r m a , n a r a z ã o inversa cesso na J u s t i ç a M i l i t a r , a c u s a d o d e d i f u n d i r O r e p ó r t e r d o Ex b a r r a d o p e l o s p o r t e i -
Esses são os m o m e n t o s mais i m p o r t a n t e s d o d o grau d e e d u c a ç ã o e c i v i l i z a ç ã o d o s p o v o s . p r o p a g a n d a subversiva. A p u b l i c a ç ã o , s o b sua
r o s d o salão d e f e s t a s p o r n a o e s t a r c o n -
seu p r o n u n c i a m e n t o n a SIP: Q u a n d o mais altas, m e n o r e s o n ú m e r o e a g r a - r e s p o n s a b i l i d a d e , d e C a d e r n o s d e O p i n i ã o , é
v e n i e n t e m e n t e trajado para participar
- A l i b e r d a d e d e i m p r e n s a se p o d e r i a , c o m vidade destes. q u e f o i o m o t i v o i m e d i a t o d e tal a ç ã o d a P o l í c i a
justeza, aplicar a frase d e u m c l á s s i c o d a litera- - Por o u t r o l a d o n ã o p o d e m o s p e r d e r d e vis- F e d e r a l . da r e c e p ç ã o o f e r e c i d a p e l a família M e s -
tura brasileira: " é u m a q u e s t ã o p r e n h e d e ta q u e os países d e m o c r á t i c o s , e x a t a m e n t e " b ) Pasquim ficou isento da censura prévia quita antes d o páreo, dirigiu-se para a
q u e s t õ e s " . S e m e l a a d e m o c r a c i a jamais c o n s e - p o r q u e g a r a n t e m as l i b e r d a d e s f u n d a m e n t a i s , n o p r i m e i r o semestre d o c o r r e n t e a n o . M a s tribunas especiais e investiu o capital de
g u e respirar a p l e n o s p u l m õ e s . A o m e s m o t e m - inclusive a d a i m p r e n s a , v i v e m , n o m u n d o d e está n o m o m e n t o r e s p o n d e n d o a u m p r o c e s s o C r $ 10,00 e m c i m a d e X i n e t a , c o n f i a n d o
p o , o m a u uso d e l a q u a n t o s transtornos e riscos a g o r a , e m v e r d a d e i r o e s t a d o d e b e l i g e r â n c i a . na J u s t i ç a C i v i l , m o v i d o c o m base n a lei 1.077, na indicação d o j o r n a l e s p e c i a l i z a d o " O
acarreta para a d e m o c r a c i a , a m e a ç a n d o i n c l u - B e l i g e r ã n c i a n ã o mais c o m u m i n i m i g o à vista, d e p o i s d e ter s o f r i d o , e m m a r ç o , a a p r e e n s ã o Favorito".
sive sua p r ó p r i a s o b r e v i v ê n c i a . n ã o mais c o m u m i n i m i g o e x t e r n o , q u e o v o c á - dos e x e m p l a r e s d e sua e d i ç ã o s e m a n a l q u e
O páreo foi d u r o . E m b o r a Dotty D r o p
- Q u a n d o se fala e m l i b e r d a d e d e i m p r e n s a , b u l o e m nossos dias g a n h o u n o v o s e n t i d o . d e t e r m i n a r a m a i n s t a u r a ç ã o d e i n q u é r i t o .
t e n h a saído n a f r e n t e , p e r d i d o t e r r e n o e
todos pensam logo e exclusivamente e m V i v e m e m estado d e b e l i g e r â n c i a interna. A 3. A censura a notícias sobre censura
i m p r e n s a isenta d e c e n s u r a i m p o s t a p e l o Esta- g u e r r a é c o m o i n i m i g o q u e está a nosso l a d o , reaparecido e m turma camarada c o m
" A s i n s t r u ç õ e s verbais d o S u p e r i n t e n d e n t e
d o . Para s e r e m livres c o m o d e v e m e p r e c i s a m o m b r o a o m b r o c o n o s c o , n ã o a l é m d e nossas e m S ã o P a u l o d o D e p a r t a m e n t o d a P o l í c i a Intituição, sofria c o m X i n e t a colada
ser, n ã o basta, e n t r e t a n t o , q u e os jornais, os r á - fronteiras, mas a q u é m delas, s o l a p a n d o as n o s - F e d e r a l transmitidas a M o v i m e n t o d e t e r m i n a - e m suas patas. Faltava a última terça p a r -
d i o s , os canais d e t e l e v i s ã o estejam a o a b r i g o sas i n s t i t u i ç õ e s para i m p o r sua i d e o l o g i a foras- ram-lhe n ã o ser p e r m i t i d a a p u b l i c a ç ã o , e m t e d o s 1 3 0 0 m e t r o s d e a r e i ã o e já t í n h a -
da c e n s u r a estatal. Ê p r e c i s o q u e estejam livres, teira. E, e n t ã o , dar o g o l p e d e m o r t e nas insti- q u a l q u e r o u t r o ó r g ã o d o país o u d o exterior, m o s c e r t e z a q u e essa seria a v i t o r i a m a i s
t a m b é m , d e quaisquer influências q u e detur- t u i ç õ e s d e m o c r á t i c a s , e n x o t a n d o todas as d e n o t í c i a , n o t a o u c o m e n t á r i o s o b r e a mais c o n c r e t a q u e o Ex t e r i a n a S I P : X i n e t a
pem, desvirtuem o u distorçam a veracidade de l i b e r d a d e s , à frente delas, c o m o p r i m e i r a viti- r e c e n t e atitude d a c e n s u r a para c o m a q u e l e tomava dois corpos d e dianteira e cruza-
i n f o r m a ç ã o o u a honestidade d o editorial, da ma , a d e i m p r e n s a , d a q u a l se a p r e s e n t a r a m , s e m a n á r i o . F i c o u este p o r t a n t o p r o i b i d o d e
va e m p r i m e i r o o d i s c o f i n a l , a u m e n t a n -
c r ô n i c a , d o artigo o u d a r e p o r t a g e m . C o m isto d e i n í c i o , c o m o d e f e n s o r e s intransigentes. recorrer a o u t r e m , na imprensa, contra a arbi-
q u e r o apenas ressaltar c o m o é d e l i c a d a e d i f í c i l d o o capital d e g i r o da nossa editora e m
A o terminar s e u d i s c u r s o , o G o v e r n a d o r f o i t r a r i e d a d e d a c e n s u r a .
a m i s s ã o d o jornalista. entusiasticamente a p l a u d i d o . " E n q u a n t o nossa C o m i s s ã o estava r e u n i d a , C r $ 42,20.
Derrota Velha bota as mãos nas
fragorosa cadeiras e é censurada
de Ocian 1
Setenta milhões
fora, bem distantes
ções: 30 milhões poderiam
de pessoas
destas nossas
estão lá
cogita-
nos enten-
te. O s jovens
medo,
que bem entendesse.
conseguiram
à vontade,
deixá-la sem
para que dissesse
A mulher pergun-
o

N o d i a 21, t e r ç a - f e i r a , q u a n d o a SIP discutia der. tou então se eles eram do governo, E


os casos d a i m p r e n s a brasileira, O c i a n O l i v e i r a Alguns jovens do setor de cinema - sem esperar resposta decidiu-se: botou
Brito, d o jornal " O L i b e r a l " , d o P a r á , d e f e n d e u jovens estudantes da Universidade de as mãos na cintura e com uma extraordi-
c o m v e e m ê n c i a a tese d e q u e existe l i b e r d a d e
São Paulo - sairam pelo interior do Esta- nária verdade, com uma extraordinária
d e i m p r e n s a n o Brasil. Suas d e c l a r a ç õ e s f o r a m
feitas l o g o d e p o i s q u e o Sr. C e r m a n O r n e s p r e -
do com suas máquinas colhendo depoi- força, que emanava dela como se ema-
sidente d a C o m i s s ã o d e L i b e r d a d e d e I m p r e n - mentos para pequenos documentários. nasse aa própria terra, disse no seu tom
sa e I n f o r m a ç õ e s d a SIP ter feito s e u r e l a t ó r i o , Por mero acaso encontram uma campo- rude, que precisava, sim, dizer alguma
c o n t a n d o c o m detalhes a a p r e e n s ã o d o Jornal nesa: perguntaram-lhe se queria dizer coisas para o governo, ou melhor tinha
M o v i m e n t o , os processos c o n t r a os jornais alguma coisa, "que coisa"? perguntou um recado importante para o governo.
O p i n i ã o e Pasquim, d e Júlio Mesquita Neto ela meio desconfiada, nunca tinha visto Ao invés de prestar hoje o depoimen-
ter l i d o carta e m q u e a ABI p e d i u a o M i n i s t r o aqueles aparelhos de filmar, aquela gen- to de uma escritora que faz parte da
A r m a n d o F a l c ã o a sua v i z a ç ã o d a c e n s u r a e d e
H a m i l t o n d e A l m e i d a ter l i d o o r e l a t ó r i o d a Ex- minoria (30 milhões) eu gostaria de

Estudantes anunciam
Editora. transmitir o recado simples e reto
daquela mulher do campo que faz parte
O Sr. O c i a n disse q u e o c o n c e i t o d e l i b e r d a -
d e d e i m p r e n s a total n ã o existe e q u e n o Brasil, dos 70 milhões de habitantes, gostaria

censura na escola
hoje, " h á l i b e r d a d e c o m co-responsabilida- muito de ser portadora de seus anseios,
d e " . S e g u i u a f i r m a n d o q u e n o Brasil existe aflições. Esperanças. Mas essas esperan-
" u m modelo de desenvolvimento próprio e ças, aflições e anseios que comoveram
q u e a l i b e r d a d e q u e alguns ó r g ã o s r e c l a m a m tanto os jovens cineastas não poderão
n ã o p o d e ser d a d a para n ã o ser p e r t u r b a d o Uma comissão de alunos da Escola de jornalistas ou estudantes de comunica- ser transmitidos porque foram censura-
esse d e s e n v o l v i m e n t o " . Disse t a m b é m q u e o ções.
Comunicações da USP, representando 2 dos.
r e l a t ó r i o pessimista q u e havia s i d o feito s o b r e
mil colegas, levou ao conhecimento da Nesse mesmo dia, tinham sido comu- (Depoimento de Lygia Fagundes
a s i t u a ç ã o d a i m p r e n s a brasileira " e r a fruto d e
e l e m e n t o s q u e q u e r e m q u e isso a q u i se trans- Comissão de Liberdade de Imprensa a nicadas em plenário as prisões dos jorna- Telles, na mesa redonda para discutir a
f o r m e n u m o u t r o Portugal, mas isso n ã o vai anotícia de que o jornal-laboratório do listas Jorge Duque Estrada, Rodolfo Kon- situação da mulher como profissional,
acontecer n ã o senhores". curso de jornalismo da Escola é mantido der e José Po/a Galé, efetuadas, ilegal- organizada pela SIP).
N a sexta-feira (24), O c i a n O l i v e i r a Brito v o l - sob censura pelo diretor, Manuel Nunes mente, pela manha.

Pasquim ficou
t o u a se manifestar d i z e n d o q u e os r e p r e s e n - Dias. No dia anterior, quinta-feira, o Sindi-
tantes d a " g r a n d e i m p r e n s a b r a s i l e i r a " n ã o A mesa aceitou a denúncia, mas não cato dos jornalistas de SP havia comuni-

com inveja do
estavam n o p l e n á r i o r e i v i n d i c a n d o l i b e r d a d e e cado à Comissão de Liberdade de
permitiu a leitura integral do protesto,
sim " j o r n a i s p e q u e n o s , d e p o u c a t i r a g e m e
alegando que os demais temas aborada- Imprensa as prisões, por motivos na hora
e x p r e s s ã o " . Foi preciso Hamilton A l m e i d a , da

crachá de Opinião
Ex-Editora protestar l e m b r a n d o q u e u m jornal dos eram de teor político. não esclarecidos, dos jornalistas Sérgio
n ã o se m e d e p e l o t a m a n h o e s i m p o r sua Os estudantes, a seguir, externaram Gomes da Silva, Paulo Sérgio Markun,
coerência e honestidade. sua preocupação com a integridade físi- Dileia markun, Anthony de Cristo, Luís
Falando além d o tempo regulamentar, ca d e muitas pessoas presas, ressaltando Paulo Costa, Ricardo de Moraes Montei- Dia 79 d e outubro, domingo de tarde,
O c i a n O l i v e i r a Brito p r o p ô s q u e o r e l a t ó r i o d a que um grande número delas ou eram ro e Marinilda Marchi. que estava reservado pára as inscrições,
SIP s o b r e o Brasil fosse m o d i f i c a d o retirando-
os jornalistas Fernando Gasparian, do
se as críticas e i n c l u i n d o - s e a e x p r e s s ã o : " E m -
b o r a este país atravesse u m a fase auspiciosa
Opinião; e jaguar, do Pasquim, depois
d e l i b e r d a d e d e i m p r e n s a , a SPI l a m e n t a ainda de conversarem meia hora com German
a o c o r r ê n c i a d e r e s t r i ç õ e s a esta l i b e r d a d e " : Ornes, presidente da Comissão de Liber-
A p r o p o s t a d e O c i a n O l i v e i r a Brito f o i r e c u - dade de Imprensa, se aproximaram dos
sada p o r u n a n i m i d a d e . representantes do Ex para trocar idéias.
Depois do aperto de mão, e alguns elo-
gios à pessoa de German Ornes, jaguar
Mulher de preto olha para o crachá de Gasparian e diz: -
"Mas o seu é diferente do meu!" Aconte-
faz escândalo no ce que Gasparian, participando pela
segunda vez da SIP, era considerado nà
Hilton: morféticos organização como um dos anfitriões, e
seu crachá, além de uma fita verde-
amarela, dizia: Hostess, enquantoqueo
- Eu também quero falar: vocês jorna- de jaguar, de fita amarela-pálida, dizia
listas são todos uma quadrilha de ratos, só: O b s e r v a d o r . D u r a n t e o s d o i s d i a s
ladrões morféticos, roubaram... que jaguar esteve por lá, não usou os
As declarações são de uma mulher microfones mas seu jornal foi citado em
que invadiu o plenário da Assembléia todos os relatórios apresentados. No
Geral, na abertura dos trabalhos da Pasquim, que circulou na mesma sema-
Comissão de Liberdade de Imprensa, dia na, ele explicou: "vou g u a r d a r a minha
24. A desconhecida - muito bem vestida boca para comer farinha."
e de óculos escuros - foi imediatamente
agarrada e posta na rua por dois jornalis-

SIP desolada comunica:


tas: o Sr. R u i Plácido Barbosa, de "O Esta- E x - D e p u t a d o
do de 5. Paulo", coordenador da SIP no
Hilton Hotel, e Mr. john Platero, da a d e m a r i s t a

Mar não está pra peixe.


Associated Press no Brasil.
Não satisfeita, a mulher, já cercada por f i c o u fora da m e s a
grande números de populares, começou
a desacartar um grupo de executivos Franco M o n t o r o , senador d o M D B ,
japoneses que chegava ao hotel num representando o Congresso Nacional, foi
Galáxie preto. O do banco de trás abriu o O r e l a t ó r i o d a C o m i s s ã o d e L i b e r d a d e cessados para revelar suas fontes d e i n - c o n v i d a d o a sentar-se n a m e s a d a d i r e -
vidro gentilmente para ouvi-la gritar: e I n f o r m a ç ã o d a XXXI A s s e m b l é i a d a SIP f o r m a ç ã o ; ção d a A s s e m b l é i a , p e l o e n t ã o p r e s i d e n -
japonês, roubar não! Roubar, não! mostra q u e , " n o q u e c o n c e r n e à l i b e r d a - te d a SIP, J ú l i o M e s q u i t a N e t o . O s e n a -
Chega. G u a t e m a l a : n ã o existe; H a i t i : n ã o existe; d o r não f o i o único político b r a s i l e i r o d a
de - e m u i t o particularmente à l i b e r d a d e
Depois subiu a avenida Ipiranga, uma H o n d u r a s : existe; M é x i c o : existe liber- o p o s i ç ã o a p r e s t i g i a r a SIP. T a m b é m lá
de imprensa - o Continente americano
das mais movimentadas de SP, agitando d a d e ; N i c a r á g u a : n ã o existe e a repres- e s t i v e r a m o s d e p u t a d o s Israel Dias
é, atualmente, u m p u n h a d o d e ilhas d e
um exemplar do Brasil Herald, gritando: são está v i o l e n t í s s i m a ; P a n a m á : n ã o exis- N o v a e s e D i a s M e n e z e s . Eles p a l e s t r a r a m
l i b e r d a d e r o d e a d a p o r u m mar bravio d e
- Ladrões, ladrões! opressões e ditaduras". te; P a r a g u a i : n ã o existe l i b e r d a d e ; P e r u : e t o m a r a m c a f e z i n h o c o m os congressis-
n ã o existe imprensa i n d e p e n d e n t e ; P o r - tas n o s a g u ã o . J á o d e p u t a d o a r e n i s t a ,
Segundo o relatório a situação e m t o R i c o : tem l i b e r d a d e ; R e p ú b l i c a h o m e m d e televisão, Blota Júnior, após

Simonsen invoca cada país é esta: D o m i n i c a n a : existe l i b e r d a d e ; U r u g u a i :


A r g e n t i n a : enfrenta a s i t u a ç ã o de n ã o existe l i b e r d a d e , f e c h a r a m o jornal
u m a rápida c a m i n h a d a c o m l a r g a d i s t r i -
buição d e sorrisos, retirou-se s e m c o n s e -

o espírito e p e n ú r i a e c o n ô m i c a , c o n t i n u a m os " 9 d e F e b r e r o " ; V e n e z u e l a : n ã o existe


liberdade.
guir s e u i n t e n t o : sentar-se o m b r o a
o m b r o c o m o s d i r i g e n t e s d a SIP.

mostra milagre
f e c h a m e n t o s d e jornais p o r d i s p o s i ç ã o
administrativa; B a h a a m a s : tentavia d o

Posava de baby-doll e
g o v e r n o d e intimidar e perseguir os jor-
I n v o c a n d o o espirito revolucionário nais; G u i a n a s : N ã o existe l i b e r d a d e ;
d e março d e 64 até h o j e , o M i n i s t r o J a m a i c a : n ã o tem havido violação d a

recebeu 30 propostas
M á r i o ( H e n r i q u e S i m o n s e n , e m sessão l i b e r d a d e ; T r i n i d a d - T o b a g o : clima d e
r e a l i z a d a n o salão B a n d e i r a n t e s , m o s - m e d o e a u t o c e n s u r a , e x p u r g o nas
trou aos congressistas o M i l a g r e Brasilei-
e m p r e s a s ; B o l í v i a n ã o existe l i b e r d a d e ;
ro. N o m e s m o d i a , f a z e n d o c o r r e n t e d e
a p o i o , o Sr. O r t i z M e n a , p r e s i d e n t e d o B r a s i l : n ã o existe l i b e r d a d e (ver integra A secretária e n c a r r e g a d a d a s c ó p i a s ria m a i s d e m o c r a t a d o h o t e l e e x e m p l i f i -
BID, mostrava sua transcendental p r e o - d o r e l a t ó r i o na p á g . 20); C a n a d á : existe x e r o x d a SIP, N i c e , c o n f e s s o u q u e t i n h a cou:
cupação pelos destinos d a e c o n o m i a l i b e r d a d e ; C o l ô m b i a : existe l i b e r d a d e ; p o s a d o p r a a n ú n c i o s d e c a m i s o l a s b a b y - - Só d e cartão d o s q u e u s a r a m m i n h a
americana. C o s t a R i c a : existe l i b e r d a d e ; C u b a : n ã o - d o l l , v e i c u l a d o n a r e v i s t a G r a n d e - H o - máquina c o p i a d o r a , g a n h e i 26, e m m é -
O Ministro Simonsen, crente tradicio- existe l i b e r d a d e ; Ei S a l v a d o r : existe t e l p o r q u e " p o r d i n h e i r o a g e n t e f a z | dia p o r d i a .
nal d a l i n h a d o p r a g m a t i s m o e c o n ô m i c o , Sobre o número d e propostas q u e
l i b e r d a d e ; E q u a d o r : existe l e g i s l a ç ã o , q u a l q u e r c o i s a " . F a l a n d o à r e p o r t a g e m
u s a n d o s e u s p o d e r e s prevê q u e s u p e r a - r e c e b e u d o s congresistas, N i c e não q u i z
q u e posta e m prática a c o l o c a e m p e r i - d o Ex, d i s s e q u e se c o n s i d e r a v a a s e c r e t a -
r e m o s as d i f i c u l d a d e s transitórias, " i m - se m a n i f e s t a r .
postas pela n o v a c o n j u n t u r a i n t e r n a c i o - g o ; E s t a d o s U n i d o s : existe liberdade,
nal". mas os r e p ó r t e r e s ainda estão s e n d o p r o - REPORTAGENS D E D A C I O NITRINI
FOLHETIM
22 fX-76

LIVROS QUE T O D O SUJEITO C O M A C U C A N O LUGAR DEVE LER

S O C I E D A D E S E M E S C O L A S . Ivan lllich. O u : demolição e dissecação d e


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EX-76

áPara menores
de O jornalista Carlos Lacerda ser-
v e a o s l e i t o r e s , nestas páginas, o Sr.
suas n o t a s . Ê e x a t a m e n t e o r e p ó r t e r
Carlos q u e m destrincha " a novela

21 anos Roberto Marinho. Diretor de " O


G l o b o " , à m o d a d a casa. C o z i n h o u
d o P a r q u e L a g e " , os "palácios d e
c a l i f a " d e R o b e r t o M a r i n h o , os
Roberto e m pouco caldo. Sem pro- negócios d e " O G l o b o " c o m a C a i x a
tocolos. Em panela d e barro. Sem o Econômica Federal c o m o " o escân-
luxo d a l i n g u a g e m sangue azul. Foi d a l o das sonegações d e i m p o s t o
b u s c a r o v e l h o t i n t e i r o d e repórter. praticadas, i m p u n e m e n t e , pelo
E n c o s t o u a frase e f e i t o sônico, a sua condestável d a i m p r e n s a m a r r o n n o
A flede Globo, 10 anos disparada o n o m a t o p a i c a . E passou a Brasil".
de sucessos, foi ao usar o b r i t a d o r d a s suas i n f o r m a ç õ e s N o r o l d e suas notícias, c a v a d a s
ar pela V vez em 26 alarmantes: u m paiol de d o c u m e n - n o s Cartórios e Relatórios O f i c i a i s ,
de abril de 65. Um tos v i v o s d e acusação. É a s s i m q u e C a r l o s L a c e r d a não d e i x a d e e n q u a -
mês e meio depois, o Lacerda responde aquela pergunta drar d o i s M i n i s t r o s d o G o v e r n o Cas-
então governador da q u e a n d a nas ruas d o B r a s i l : - P o r t e l l o B r a n c o : o d a Justiça e o d o T r a -
Guanabara, Carlos q u e o jornalista Roberto M a r i n h o b a l h o , " e s c a l a s d o prestígio f e d e r a l
Lacerda iniciava a g r i d e c o m t a n t a fúria o político e o e transcontinental de Roberto M a r i -
campanha denunciando h o m e m C a r l o s Lacerda? P o r q u e os n h o " . E d e p o i s deste balanço na
a Globo como "fesfa editoriais de " O G l o b o " b o m b a r - " V e l h a Guarda da Corrupção", q u e
d e ferro do grupo d e i a m c o m tanta i m p i e d a d e o ermi- sempre age d e "parceria c o m p o d e -
americano Time-Life tão d a G u a n a b a r a ? P o r q u e , e n f i m , o roso g r u p o econômico estrangeiro
no Brasil". O ponto m a s s a c r e gráfico, o " p a r e d ó n " q u e a que domina a economia nacional",
alto das denúncias " O G l o b o " prepara contra o corpo o repórter C a r l o s titula assim a sua
foi uma série de desarmado d o rosicultor Carlos reportagem: " O Al C a p o n e da
reportagens de Carlos L a c e r d a ? Estas indagações c i v i s e Imprensa". E, o q u e r e l a t a e
Lacerda na extinta m i l i t a r e s são r e s p o n d i d a s , c o m f a r - c o m e n t a , n ã o d e i x a a n t e v e r o u t r o tí-
revista O Cruzeiro. tura d e detalhes, p e l o p u n h o d e tulo. " A l C a p o n e da Imprensa" é
Ai vai uma delas, Lacerda. Pela sua datilografia a p r e s e n t a d o nestas páginas p a r a
publicada em 24.12.66. r a d i a n t e e t e r r í v e l . P e l a explosão d e você.
EX-76
N o d i a 9 d e j u n h o d e 1965 escrevi a o Roberto Marinho, sentado, e a Rede Clobo: ao fundo, R o b e r t o M a r i n h o e W a l t e r M o r e i r a Sales
Presidente Castelo Branco u m a carta na a N a s c i m e n t o Silva, atual M i n i s t r o d o
qual lembrava q u e ele havia assumido o
). U. Arce e José Bonifácio de Oliveira T r a b a l h o , q u e , p o r sua v e z , ao ser
c o m p r o m i s s o cie m a n d a r i n v e s t i g a r as Sobrinho; em primeiro plano, Walter Clark Bueno; nomeado Ministro,subestabeleceuaseu
p a r e n t e H e i t o r d o N a s c i m e n t o S i l v a , a 12
ligações e n t r e R o b e r t o M a r i n h o e o g r u - e, assinalado, "o Time-Life da Rede Clobo", o de n o v e m b r o d e 1965.
p o " T i m e - L i f e " . Nessa carta e u l h e m a n -
dava fotocópia d o texto n o qual o presir
americano naturalizado brasileiro loseph Wallach. Estes d a d o s , q u e são, a p e n a s , e x e m -
d e n t e d a C o m p a n h i a d e Emissoras d o p l o s d e u m a l o n g a e e s c a b r o s a história
"Time-Life", e m Nova York, dizia q u e o d e tráfego d e influência, d e sonegações
g r u p o está o p e r a n d o n o B r a s i l , e t e m e a s s a l t o s , m o s t r a c o m o está c o n s t i t u í d o
u m a f o r m a c o m e r c i a l c o m as s e g u i n t e s e q u a i s as v e r d a d e i r a s o r i g e n s d o G o v e r -
características: " p r o g r a m a ç ã o c o n j u n t a no Castello Branco. Nada menos revolu-
c i o n á r i o d o q u e o Sr. M e d e i r o s S i l v a e o
norte-americana e brasileira, mediante
Sr. N a s c i m e n t o S i l v a . O m a r e c h a l C a s -
S Ó C I O S L O C A I S D I G N O S DE C O N -
tello B r a n c o os c o n h e c i a v a g a m e n t e
FIANÇA".
antes d e os fazer M i n i s t r o . M a s eles ser-
Já a 18 d e j u n h o e u f i z a o M i n i s t r o d a
viam ao sistema a q u e também serve o
Justiça d o G o v e r n o C a s t e l o B r a n c o a
M a r e c h a l . Se e m v e z d e P a r q u e Lage
e n t r e g a d e d e p o i m e n t o p r e s t a d o à Polí-
escrevêssemos a palavra Brasil, teríamos
c i a p o r A l b e r t o H e r n a n d e z C a t á . Esse
u m a idéia d o p a t r i m ô n i o q u e e s s e g r u p o
funcionário d o " T i m e - L i f e " r e c o n h e c i a d i s p u t a . P o i s se R o b e r t o M a r i n h o é t e s t a -
a existência d e u m c o n t r a t o e n t r e a T V d e - f e r r o d e W a l t e r M o r e i r a Sales, W a l t e r
G l o b o de Roberto e o "Time-Life C o r p o - por sua v e z também o é d e u m g r u p o
r a t i o n " , q u e , na realidade, controla o a m e r i c a n o q u e se a p o s s o u d o B r a s i l d e
g r u p o d e emissoras d e O G l o b o . A f i r - m o d o a i n d a mais e v i d e n t e d e p o i s d e
m e i , e m conseqüência destas e d e outras m a r ç o d e 64.
provas, o s e g u i n t e : " S u b o r d i n a ç ã o total
da empresa TV G l o b o à empresa "Time- N ã o se t r a t a , p o i s , d e u m a n a ç ã o - o s
L i f e " , pois a b r a n g e a orientação d o s p r o - Estados U n i d o s - t o m a r c o n t a d e o u t r a -
o Brasil. M a s s i m d e u m g r u p o a m e r i c a -
g r a m a s e assistência f i n a n c e i r a e c o m e r -
n o , através d e o u t r o g r u p o b r a s i l e i r o ,
cial. Funcionarários p a g o s p e l o " T i m e -
c o n t r o l a r a e c o n o m i a n a c i o n a J . P a r a isso
L i f e " são o s t é c n i c o s q u e d i r i g e m as
precisam de dois instrumentos: a
e m i s s o r a s d e O G l o b o . T u d o i s s o se f e z
influência n o G o v e r n o e o c o n t r o l e d a
s e m o r i e n t a ç ã o prévia e e x p r e s s a d o
opinião pública.
Conselho Nacional de Telecomunica-
A influência n o G o v e r n o é o b t i d a p e l a
ç õ e s . E, p o r t a n t o , o C ó d i g o d e T e l e c o -
presença d e n t r o d e l e d e seus a g e n t e s e
municações foi v i o l a d o . A p e n a d o C ó d i -
pela docilidade d e Castello Branco e
g o , a q u e m a s s i m o v i o l a , é a cassação d a s
seus interessados. O c o n t r o l e d a opinião
concessões p o r violação d a Constituição
pública é e x e r c i d o , d e u m l a d o , p e l o
e d o Código de Comunicações. O
S N I , através d a c o a ç ã o e i n f i l t r a ç ã o ; d e
inquérito, m a n d a d o abrir p e l o M i n i s t r o
outro, pela posse d e u m a cadeia de jor-
d a Justiça, Sr. M i l t o n C a m p o s , r e s u l t o u n a i s , televisões e r á d i o s , q u e r e c e b e
n o relatório d o P r o c u r a d o r d a R e p ú b l i - d i r e t a m e n t e d i n h e i r o a m e r i c a n o para se
c a , Sr. G i l d o F e r r a z , o q u a l C O N C L U I U s u s t e n t a r , p o i s é a l t a m e n t e deficitária.
CONSIDERANDO PROVADAS TODAS Seu proprietário ostensivo, Roberto
AS A C U S A Ç Õ E S E S A L I E N T A N D O A
G R A V I D A D E DAS INFRAÇÕES PRATI- a t i n g i u n o a n o - b a s e d e 6 4 urrt l í q u i d o d e
CADAS, BEM C O M O A NECESSIDADE 4 milhões, 362 m i l c r u z e i r o s . D e d u z i d o o
D E SER A P L I C A D A A LEI. que pagou à fonte, ficou sujeito ao paga-
O o u t r o inquérito feito pela Câmara m e n t o d e 441 m i l c r u z e i r o s . E c h e g o u a
d o s D e p u t a d o s , através d a C o m i s s ã o o r e q u e r e r a o T e s o u r o a restituição d e 100
parlamentar presidida pelo Deputado mil cruzeiros.
R o b e r t o Saturnino, t e n d o c o m o relator N o a n o a n t e r i o r - 1963 - R o b e r t o
o Deputado Djalma M a r i n h o , concluiu declarou rendimentos inferiores a 4
praticamente nos mesmos termos d o m i l h õ e s , 137 m i l c r u z e i r o s , e p o r isso
relatório d o P r o c u r a d o r d a República F I C O U ISENTO D O P A G A M E N T O D O
G i l d o F e r r a z . Estava a s s i m p r o v a d o q u e I M P O S T O D E R E N D A . V e j a m o s u m a das
Roberto M a r i n h o vendeu-se ao d i n h e i - propriedades de Roberto- M a r i n h o .
ro a m e r i c a n o para auferir l u c r o , v i o l a n - Entre outras, e l e p o s s u i u m a chácara n o
d o as l e i s b r a s i l e i r a s . C o s m e V e l h o (Rio), o n d e r e s i d e / q u e foi
N o seu d e p o i m e n t o da CPI, Roberto d i v u l g a d a , r e c e n t e m e n t e , na revista Marinho, embora sonegador de imposto
obtenção d e canais d e T V e Rádio, M a r i -
M a r i n h o c o n f e s s o u o q u e já e s t a v a p r o - " M a n c h e t e " e e m o u t r o s órgãos d e de renda, mesmo q u e declare a renda
n h o m o n t o u u m a máquina q u e c o n t r o l a ,
v a d o , i s t o ' e , q u e r e c e b e u até e n t ã o 7 i m p r e n s a . E u m a das residências m a i s q u e t e m , não teria d i n h e i r o suficiente
d o m o d o a seguir e x e m p l i f i c a d o . E x e m -
milhões d e dólares c o n t r a a l e i , para se suntuosas na América. Possui p r o p r i e d a - p a r a g a s t a r o q u e já g a s t o u n a T V G l o b o .
p l o 1: - S e u p a i f o i o f u n d a d o r d e " O
a p r o p r i a r d e c a n a i s d e televisão e r á d i o , des n o Estado d o R i o , n o valor superior a G l o b o " . A o transtornar " O G l o b o " e m O c a p i t a l d a E m p r e s a Jornalística B r a s i -
q u e são d e p r o p r i e d a d e p ú b l i c a c o n c e - 500 m i l h õ e s d e c r u z e i r o s . E n a G u a n a b a - ó r g ã o d e u m a e m p r e s a jornalística, l e i r a ( " O G l o b o " ) , e m 12 d e a b r i l d e 6 5 ,
didos a particulares, mediante c o n d i - ra t e m o u t r a r e s i d ê n c i a , a M a n s ã o P e d r a R o o e r t o f i c o u c o m 6 2 % das ações, d e i - foi a u m e n t a d o para 3 bilhões e 600
ções q u e a l e i e s t a b e l e c e e R o b e r t o Bonita, na Gávea Pequena. x a n d o e m m i n o r i a a sua mãe, a veneran- milhões de cruzeiros, conforme
v i o l o u . D i a n t e d e t u d o isso, o C o n s e l h o T o m e m o s este último e x e m p l o para d a viúva I r i n e u M a r i n h o , e seus irmãos a s s e m b l é i a d e 1 2 d e a b r i l d e 6 5 . O r a , só a
de Telecomunicações ( C O N T E L ) m a n - ver c o m o R o b e r t o M a r i n h o a d q u i r e e Rogério e R i c a r d o . E x e m p l o 2: - A São T V G l o b o já c o n s u m i u d e dólares e m i t i -
d o u Roberto M a r i n h o regularizar a m a n t é m s u a s p r o p r i e d a d e s . S ã o 238 m i l M a r c o s C o m é r c i o e Indústria d e C o n s - d o s o f i c i a l m e n t e , c o m a autorização d a
situação. M A S R O B E R T O R E C O R R E U m e t r o s q u a d r a d o s , o u seja, mais d a trução S.A.. c o m s e d e à R u a M é x i c o , 168, S U M O C , através d o B a n c o d o B r a s i l , c e r -
A O PRESIDENTE C A S T E L L O B R A N C O , E m e t a d e d o P a r q u e L a g e . S ó a residência sala 1 0 0 2 , d e p o i s t r a n s f e r i d a p a r a a m e s - ca d e 8 milhões d e dólares, o u s e j a m 17
O R E C U R S O TEVE EFEITO S U S P E N S I V O . t e m 580 m e t r o s q u a d r a d o s d e área c o n s - m a R u a , 9 8 , 5 ' a n d a r , t e m vários sócios e bilhões e 600 milhões d e c r u z e i r o s .
R o b e r t o t i n h a 90 dias para r e g u l a r i z a r truída, c o n s t a n d o d e 5 q u a r t o s , pavilhão u m capital d e 675 milhões d e c r u z e i r o s . R e s u m i n d o : a) M a r i n h o s o n e g a i m p o s -
a situação. O próprio p a r e c e r q u e d e u d e b a n h o , b a r , salas d e j o g o , p i s c i n a , c a s a R o b e r t o M a r i n h o t e m 327 milhões e 500 t o s ; b) M a r i n h o é s ó c i o d e W a l t e r M o r e i -
estes 90 dias é u m a c o n d e n a ç ã o a o c r i m e de hóspedes, casa d e e m p r e g a d o s , mil c r u z e i r o s d e ações e mais a l g u m a s d e ra S a l e s ; c) A m b o s são t e s t a s - d e - f e r r o d e
d e M a r i n h o . Pois b e m : ISTO F O I A 1 7 DE cocheiras para 4 boxes, pocilga d e a z u l e - pessoas a e l e ligadas. u m g r u p o e s t r a n g e i r o ; d ) Este G r u p o
M A I O D E 66. ATÈ H O J E O M A R E C H A L j o s , c u r r a l e v a i p o r aí. T u d o isso f o i c o m - e s t r a n g e i r o c o n t r o l a órgãos d e p u b l i c i -
Essa C o m p a n h i a é a s u c e s s o r a d a
CASTELLO B R A N C O NÃO TOMOU p r a d o a o B a n c o d o Brasil P O R 30 d a d e n o Brasil, o q u e é p r o i b i d o pela
C o m é r c i o e Indústria M a u á S . A . , q u e
NENHUMA PROVIDENCIA. Assim M I L H Õ E S DE C R U Z E I R O S , s e n d o 1 0 % à Constituição. M a s n o G o v e r n o C a s t e l l o
c o m p r o u o P a r q u e Lage. O sócio d e
embaraçou o c u m p r i m e n t o da lei. Q u e v i s t a , e o r e s t a n t e e m 10 a n o s , a j u r o s d e B r a n c o é m a i s fácil s u b s t i t u i r a C o n s t i t u i -
R o b e r t o M a r i n h o , nessa C o m p a n h i a São
fez R o b e r t o M a r i n h o pra g o z a r d e tanta 1 2 % . Q u e r d i z e r q u e mais o u m e n o s ção d o q u e fazer c o m q u e esse g r u p o lhe
Marcos, é a Companhia de Administra-
impunidade? c o m 344 m i l c r u z e i r o s a o mês, R o b e r t o obedeça.
ç ã o e S e r v i ç o s C a s e r ( R u a d o C a r m o , 8,
R o b e r t o , e m v e z d e ser p u n i d o , c o m - c o m p r o u 238 m i l m e t r o s q u a d r a d o s d e A técnica d e M a r i n h o c o n s i s t e e m usar
12 9
andar) edifício-sede d o B a n c o
prou outra emissora - a Radio M u n d i a l , terra, 580 m e t r o s q u a d r a d o s d e casa, os leitores d e " O G l o b o " , à r e v e l i a d e l e s ,
M o r e i r a Sales, n o t a d a m e n t e o notório
d e A l z i r o Z a r u r , graças a pressão d o pocilga d e azulejo, curral etc. c o m o i n s t r u m e n t o d e intimidação e
H o m e r o d e Sousa e Silva, q u e é u m d o s
G o v e r n o interessado e m ampliar o Essa p r o p r i e d a d e f o i e n t r e g u e a o B a n - n u m e r o s o s n o m e s d e q u e se s e r v e m os corrupção. O s políticos p r e c i s a m d o
p o d e r a m e r i c a n o n o B r a s i l , através d e c o d o Brasil e m p a g a m e n t o d e dívida d e patrões d e W a l t e r M o r e i r a Sales p a r a apoio de " O G l o b o " , q u e é jornal
Roberto Marinho. A impunidade c o m ]ael P i n h e i r o d e O l i v e i r a L i m a , e m 1 9 5 9 . controlar a economia nacional. i n f l u e n t e d e m u i t o s l e i t o r e s . N ã o só o s
q u e M a r i n h o v i o l a as l e i s b r a s i l e i r a s R o b e r t o M a r i n h o c o m p r o u a, t a l c o m o políticos, c o m o os b a n q u e i r o s , a d m i n i s -
a u m e n t a o seu patrimônio e n g a n a d o o c o m p r o u o P a r q u e L a g e . M a s se e l e n ã o O P R O C U R A D O R DESTA C O M P A - tradores etc.
público, à s o m b r a d a proteção d o M a r e - tinha r e n d a n e m para pagar i m p o s t o d e NHIA CHAMA-SE CARLOS MEDEIROS Se o G l o b o a b r i r u m a c a m p a n h a c o n -
chal C a s t e l l o B r a n c o , á apenas u m capí- r e n d a , c o m o p o d i a c o m p r a r essa p r o - SILVA, A T U A L M E N T E M I N I S T R O D A tra u m d o s d i r e t o r e s d o B a n c o d o B r a s i l ,
t u l o d e u m a história t e n e b r o s a : a história p r i e d a d e , m e s m o p o r esse preço irrisó- JUSTIÇA, q u e subestabeleceu a procura- é m u i t o provável q u e esse d i r e t o r t e n h a
d o s d o n o s - d o B r a s i l , q u e se a p r o p r i a r a m rio? ção d a C o m p a n h i a q u e d i s p u t a o P a r q u e de deixar o Banco. E então R o b e r t o
d o m o v i m e n t o m i l i t a r d e 64 e p u s e r a m o A t é e s t a d a t a R o b e r t o M a r i n h o já Lage ao a d v o g a d o L U I Z G O N Z A G A D O M a r i n h o mantém s o b r e c a d a u m desses
M a r e c h a l C a s t e l l o B r a n c o na Presidência r e c e b e u c e r c a d e 8 milhões d e dólares N A S C I M E N T O E SILVA, A T U A L M E N T E h o m e n s arma d e dois gumes e u m a alter-
da República.
§ a r a a T V G l o b o . E está c o m p r a n d o p o r 1 MINISTRO D O TRABALHO. nativa c o r r u p t o r a : o u c e d e para ganhar
O jornalista João C a l m o n , diretor dos ilhão d e c r u z e i r o s a R á d i o M u n d i a l . A Para q u e não haja dúvidas, s a i b a m e l o g i o , o u resiste e é c o m b a t i d o .
"Diários A s s o c i a d o s " , q u e t e m brava- relação c o m p l e t a das emissoras q u e e l e t o d o s q u e isto s e ' e n c o n t r a n o Cartório M u i t o s são o s e x e m p l o s , i n c l u s i v e
m e n t e s u s t e n t a d o essa c a m p a n h a d e c o n t r o l a c o m e-sse d i n h e i r o a i n d a n ã o f o i d a 5 . V a r a d a F a z e n d a , Escrivão P a u l o
?
p o d e r i a citar alguns pessoais, pois passei
esclarecimento e denúncia, acaba d e feita p e l o C O N T E L , q u e não t e m f ichárió R o q u e t e Pinto. Assim, o advogado c o n - p o r essa p r o v a q u a n d o f u i G o v e r n a d o r
demonstrar que Roberto Marinho é u m e m d i a . A i n d a mais q u e d i n h e i r o , o c o n - tra o Estado d a G u a n a b a r a , e m n o m e d a cia G B . M a s v o u c i t a r u m c o m o P r e s i d e n -
dos maiores sonegadores de imposto de t r o l e a m e r i c a n o s o b r e esses i n s t r u m e n - C o m é r c i o e Indústria M a u á , t r a n s f o r m a - te J o ã o G o u l a r t . E n q u a n t o d u r o u a t e n t a -
r e n d a d o Brasil. C a l m o n b a s e o u a sua t o s d e o p i n i ã o p ú b l i c a , n o B r a s i l , se f a z d a e m S ã o M a r c o s C o m é r c i o e Indústria, t i v a m i l i t a r d e resistência à p o s s e d o P r e -
denúncia e m d o c u m e n t o s oficiais c o n s - através d o m a t e r i a l p a r a p r o g r a m a s , f i l - n a q u a l são sócios R o b e r t o M a r i n h o e s i d e n t e G o u l a r t , M a r i n h o passava n o
tantes d o relatório d o P r o c u r a d o r G i l d o m e s , n o v e l a s e t c , q u e são p o s t o s à d i s - W a l t e r M o r e i r a Sales, era C a r l o s M e d e i - Palácio G u a n a b a r a p a r a s a b e r das n o v i -
Ferraz. p o s i ç ã o d e M a r i n h o p a r a d e s t r u i r as r o s S i l v a , c o n f o r m e p r o c u r a ç ã o d e 23 d e d a d e s , nas horas mais inacreditáveis.
Realmente, depois d e confessar ter emissoras concorrentes. n o v e m b r o d e 1964, n o r e f e r i d o Cartório. L o g o q u e os M i n i s t r o s M i l i t a r e s e
i n v e s t i d o 12 bilhões d e c r u z e i r o s , R o b e r - A s s i m , m e d i a n t e sonegação d e i m p o s - P a s s a n d o e s t e a M i n i s t r o d a Justiça, Goulart tiveram q u e recuar, e Goulart
to M a r i n h o declara u m a renda d e juros, t o s , d e r e c e b i m e n t o ilícito d e c a p i t a l s u b e s t a b e l e c e u as f o l h a s 2 5 6 d o l i v r o t o m o u p o s s e , M a r i n h o s u m i u d o Palácio
dividendos e aluguel d e u m imóvel, q u e e s t r a n g e i r o , privilégio, f a v o r i t i s m o na deste m e s m o Cartório a procuração d e Guanabara. M a s c o n t i n u o u a criticar
EX-16
G o u l a r t , e m b o r a m a i s p r u d e n t e , até o A esquerda, Al Capone, com quem Lacerda comparou ca, e m p r e e n d i d a contra m i m p o r R o b e r -
t o M a r i n h o . M a s se R o b e r t o e n t r o u n e s -
m o m e n t o e m q u e o Presidente c o m e - Roberto Marinho. A campanha esfriou em março de 67: se c a m i n h o p o r i n t e r e s s e s c o m e r c i a i s
çou a recebê-lo.
U m d i a , R o b e r t o M a r i n h o , c o m ar parecer do consultor-geral da República, aprovado por c o n t r a r i a d o s , e justo salientar q u e os
queixoso, muito magoado porque eu Castelo, concluía pela "não existência de infringência seus empresários o e s t i m u l a r a m p o r
não l h e d a v a licença para d e r r u b a r o Par- interesses q u e a m i n h a pessoa t e m p o u -
legal" no contrato entre a Clobo e o Time-Life. c o a v e r . E q u e e n t ã o já s u f i c i e n t e m e n t e
q u e Lage, e d e m o r a v a e m recebê-lo e m
audiência, disse-me: " O Presidente i n f o r m a d o d a ação desse g r u p o n o c o n -
G o u l a r t m e r e c e b e até n a s u a c a m a . E o trole d a e c o n o m i a n a c i o n a l , passei a
G o v e r n a d o r d a G u a n a b a r a , n ã o " . Disse- denunciá-lo. P r i m e i r o , j u n t o a o Presi-
dente Castello Branco, mas e m vão;
lhe q u e não ficaria b e m recebê-lo na
d e p o i s , j u n t o à opinião pública.
c a m a , e q u e já e s t a v a i n f o r m a d o d o s
motivos q u e o levavam a quererser rece- A conjuração d e interesses para a e l e i -
b i d o : o P a r q u e Lage. ção d e Negrão d e L i m a e m p r e e n d e u a
c a m p a n h a p a r a a m i n h a d e s t r u i ç ã o . Esses
G o u l a r t estava p r o f u n d a m e n t e e m p e - f a t o s são a b s o l u t a m e n t e i n c o n t e s t á v e i s .
n h a d o n o êxito d o p l e b i s c i t o p a r a d e r r u - (E c o n s e r v o p r o v a s fotostáticas d o p r o -
bar o P a r l a m e n t a r i s m o , q u e fora a c o n d i - cesso d o P a r q u e Lage.)
ção d e sua posse. R o b e r t o M a r i n h o pas-
N o m o m e n t o , Negrão a i n d a não t e m
s o u a a p o i a r o P l e b i s c i t o - esse P l e b i s c i t o
forças p a r a d e v o l v e r o P a r q u e L a g e a
q u e d e v o l v e u a Goulart todos os pode-
M a r i n h o . P o i s o g r u p o p e r d e u n a Justiça,
res d o P r e s i d e n t e e m r e g i m e p r e s i d e n -
até a q u i , t o d a s as a ç õ e s q u e t e n t o u c o n -
cialista, e q u e se r e a l i z o u a 6 d e j a n e i r o
tra as d e s a p r o p r i a ç õ e s , f e i t a s r i g o r o s a -
d e 63. P o u c o s dias antes, R o b e r t o p u b l i -
m e n t e d e a c o r d o aos h e r d e i r o s d e
cara u m editorial e m " O G l o b o " , n o qual
H e n r i q u e Lage, c o m a condição destes
chamava a Goulart de "estadista".
c o n f i r m a r e m a v e n d a feita ao g r u p o
E 24 h o r a s d e p o i s d o P l e b i s c i t o , n o d i a M a r i n h o - M o r e i r a Sales. N ã o q u e r o d e i -
7 d e janeiro d e 63, Roberto M a r i n h o xar e m silêncio u m e x e m ç o d i g n o d e s e r
recebia, na C a i x a Econômica, e m n o m e i m i t a d o . A c e r t a a l t u r a , o sócio d e M a u á ,
d a E m p r e s a Jornalística B r a s i l e i r a ( " O A r n o n d e M e l l o , então Senador, foi
G l o b o " ) , o e m p r é s t i m o d e 201 m i l h õ e s , substituído p e l o a d v o g a d o D e m ó s t e n e s
252 m i l c r u z e i r o s , c o n f o r m e c e r t i d ã o d o Madureira de Pinho, q u e c o m p r o u a sua
Cartório d o 1 5 Ofício, livro 735, folhas
9
parte. D e volta d a Europa, o DoutOT
29, v e r s o . Este f o i o p a g a m e n t o p e l o s e d i - Madureira de Pinho me procurou, no
toriais d e a p o i o a João G o u l a r t . U m a v e z Palácio G u a n a b a r a , e m e p e d i u u m a
r e c e b i d o o d i n h e i r o - f i q u e o aviso aos solução q u a l q u e r , d i z e n d o : " N ã o q u e r o
interessados - R o b e r t o v o l t o u a atacar e n t r a r p a r a a história d a G u a n a b a r a
G o u l a r t , a p o n t o d e se t r a n s f o r m a r e m c o m o u m dos homens d o Parque Lage".
arauto de Castello Branco. n e g o c i a r f i n a n c i a m e n t o s para o Estado, b o usar o f a v o r público u n i c a m e n t e para
apareceu-me Roberto M a r i n h o no gabi- Espontaneamente, prometeu-me
P e r g u n t o : os e l o g i o s d e " O G l o b o " a a u m e n t a r o p a t r i m ô n i o h i s t ó r i c o e artís-
c o n v e n c e r o sócio R o b e r t o M a r i n h o a
Castello Branco justificam o controle de nete, e pediu q u e deixasse o processo tico nacional.
c o n c o r d a r c o m a solução. P e l o visto não
opinião pública b r a s i l e i r a p o r u m g r u p o voltar ao D e p a r t a m e n t o d e U r b a n i s m o R o b e r t o sustentava q u e o P a r q u e Lage
c o n s e g u i u , mas saiu d a s o c i e d a d e , q u e
estrangeiro, e a sonegação d e i m p o s t o para outra providência burocrática. era u m a m o n t o a d o d e plantas s e m
passou diretamente ao g r u p o M o r e i r a
de renda por Roberto Marinho? Alertei o D o u t o r Rafael de A l m e i d a n e n h u m valor. E q u e não t i n h a n e n h u m a
Sales.
Q u a n d o fui eleito G o v e r n a d o r da Magalhães e e m b a r q u e i . i m p o r t â n c i a loteá-lo. E q u a n d o d i s s e i s t o
Guanabara (1960), e n t r e o s m u i t o s Na volta, o G o v e r n a d o r q u e ficara n o a D o n a Lota, ela o b s e r v o u : " Q u e r dizer A s s i m W a l t e r M o r e i r a Sales se a p o i a
p r o b l e m a s q u e t i n h a d e e n f r e n t a r estava m e u lugar, D e p u t a d o L o p o C o e l h o , q u e s e M a r i n h o c o l o c a s s e as m ã o s n o n o " O G l o b o " , q u e se a p o i a e m W a l t e r
o d o P a r q u e L a g e . Eu p r o m e t e r a à p o p u - havia c o n c o r d a d o e m q u e o processo Bois d e B o l o g n e , d e Paris, n o H y d e Park, M o r e i r a Sales. W a l t e r c h a m a C a s t e l l o
lação , d u r a n t e a c a m p a n h a e l e i t o r a l , voltasse ao D e p a r t a m e n t o d e U r b a n i s - de L o n d r e s , o u n o C e n t r a l Park, d e N o v a Branco de " P r i m o H u m b e r t o " . Roberto
q u e preservaria o Parque Lage, q u e foi m o , e ali, sob a prece de O G l o b o , reali- Y o r k , não teria dúvida e m loteá-los?" M a r i n h o t e m u m a fortuna, d e valor his-
antiga fazenda, depois convertida e m zou-se " a p e q u e n a providência buro- Finalmente propus a Roberto M a r i n h o tórico não a t u a l i z a d o , d e 12 bilhões d e
P a r q u e , e a c a b o u e m g r a n d e parte nas c r á t i c a " : f o i r e n o v a d o o alvará d o l o t e a - u m a solução l e g a l , e a l t a m e n t e favorá- c r u z e i r o s , s e g u n d o a Comissão d e A l t o
mãos d o B a n c o d o Brasil, e u m a p e q u e n a mento. De volta, novamente mandei v e l a seus i n t e r e s s e s . O E s t a d o é p r o p r i e - Nível, n o m e a d a p e l o próprio G o v e r n o
p a r t e nas mãos d a h e r d e i r a d e H e n r i q u e buscar o processo e o retive n o gabinete. tário d e t e r r e n o s n a A v . P r e s i d e n t e V a r - Castello Branco. Entretanto, paga i m p o s -
Lage, a f a m o s a c a n t o r a G a b r i e l a Bensan- E então r e c e b i n o v a m e n t e a visista d e gas. M e d i a n t e m e n s a g e m à A s s e m b l é i a , to d e r e n d a m e n o s d e 400 mil c r u z e i r o s
z o n i Lage. P o u c o antes d a m o r t e desta, R o b e r t o M a r i n h o , q u e já n ã o p u b l i c a v a e u p e d i r i a q u e ela votasse a lei m e a u t o - p o r a n o . D e propósito, d e i x o d e q u a l i f i -
constitui-se n o R i o u m a firma, a Mauá, notícias das a t i v i d a d e s d o G o v e r n o r i z a n d o a permutar o Parque Lage p o r car os seus atos d e sonegação, violação
q u e se t o r n o u proprietária d o P a r q u e c o m o represália à n o s s a a t i t u d e . R o b e r t o t e r r e n o s n a q u e l a A v e n i d a , s o b avaliação d a Constituição e das leis, m a n o b r a s ilíci-
Lage. trazia u m a solução n o v a para a q u a l feita e m juízo p o r a v a l i a d o r n o m e a d o tas, t r á f e g o d e i n f l u ê n c i a , i n s t r u m e n t o
Esse P a r q u e f o r a t o m b a d o p e l o S e r v i - pedia o m e u interesse. Dizia c o m p r e e n - p e l a Justiça. M a r i n h o c o n c o r d o u , e m b o - ativo e passivo d e corrupção.
ç o d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e Artístico der o e m p e n h o q u e o G o v e r n o tinha de ra v i s u a l m e n t e c o n t r a f e i t o . O M a r e c h a l C a s t e l l o B r a n c o , até a q u i ,
N a c i o n a l . São 500 m i l m e t r o s q u a d r a d o s p r e s e r v a r o P a r q u e . M a s , ELE NÃO Preparei a mensagem e o projeto-de- t r o c o u t u d o isso - a h o n r a d e s u a f a r d a , a
d e floresta e p a r q u e , afora a mansão q u e P O D I A PERDER 1 4 B I L H O E S DE C R U Z E I - lei. C o n v i d e i - o para almoçar na m i n h a reputação d e h o m e m íntegro, a d i g n i d a -
ali se e n c o n t r a . R o b e r t o o b t e v e o d e s - ROS, Q U E ERA O V A L O R ESTIMATIVO casa, e ali l h e m o s t r e i a m i n u t a e a m e n - d e d e s u a função, a tradição d e s u a
t o m b a m e n t o d o então Presidente da NO LOTEAMENTO U M A VEZ T O D O s a g e m d o p r o j e t o . Ele se d e c l a r o u d e h o n r a d e z - p e l o s e l o g i o s e serviços e s c u -
República. O d i r e t o r d o Serviço d o Patri- VENDIDO. a c o r d o , mas q u e r i a examiná-lo mais a sos d e R o b e r t o M a r i n h o às s u a s
mônio, Dr. Rodrigo d e A n d r a d e , recla- P r o p u n h a , então, q u e e u autorizasse a f u n d o . E m e p e d i u para levar a m i n u t a m a n o b r a s políticas. T e m n a s m ã o s t o d a s
m o u e m v ã o . Três p r e s i d e n t e s m a n t i v e - transformação d o P a r q u e Lage e m c e m i - p a r a c a s a . P a s s a r a m - s e c e r c a d e três as p r o v a s - estas e m u i t a s o u t r a s - m a s
ram o destombamento. Roberto M a r i - tério, d e i x a n d o à M a u á a exploração d o meses, e ele u m a dia c o m u n i c o u q u e não a g e , não d e l i b e r a , não r e s o l v e . A
n h o r e c o m e n d o u ao arquiteto Henrique l o t e a m e n t o para cadáveres. C o m p r o m e - tinha consultado o A d v o g a d o Dario de inércia, n o c a s o , é c r i m e p r e v i s t o e d e f i -
M i n d l i n u m projeto de loteamento d o tia-se a f a z e r u m c e m i t é r i o - p a r q u e , n o A l m e i d a Magalhães, e q u e este l h e disse- n i d o n a C o n s t i t u i ç ã o . Esse c r i m e c h a m a -
P a r q u e . O p r o j e t o incluía u m e d i f í c i o d e gênero d a q u e l e q u e tentei fazer e m ra q u e o s s e u s d i r e i t o s i a m m u i t o a l é m se p r e v a r i c a ç ã o .
três a n d a r e s n a f r e n t e d a R u a J a r d i m terrenos d o Ministério da A g r i c u l t u r a , q u e estava c o n s i g n a d o na m i n u t a . Já o P r o c u r a d o r d a R e p ú b l i c a , G i l d o
Botânico para u m s u p e r m e r c a d o , c o m t a m b é m n a G á v e a . F i z - l h e s e n t i r o ridí- N u m a palavra: q u e ele p o d e r i a lucrar Ferraz, salientou a gravidade d o c o n t r o l e
p a r q u e a m e n t o d e automóveis nos f u n - c u l o q u e seria, para o d o n o d e O G l o b o , m u i t o mais c o m o l o t e a m e n t o a q u e teria da opinião pública p o r interesses e s t r a n -
d o s . M a s 6 e d i f í c i o s d e 20 a n d a r e s c a d a transformar u m parque daquela i m p o r - direito. Em conseqüência, desistiu d o geiros. O preço d a entrega d e c o n c e s -
u m . E a i n d a u m a série d e lotes para m a n - tância, e n ã o u m s i m p l e s t e r r e n o b a l d i o , acordo. s õ e s d o serviço público - rádio e t e l e v i -
sões. e m loteamento fúnebre. Dissuadiu-o o são - a particulares é o rigoroso respeito
C o m o não m e devolvesse a m i n u t a
P e r c e b e n d o q u e e u estava p r a t i c a - falecido Embaixador Augusto Frederico q u e levara, c h a m e i a m i n h a casa seu d o s c o n c e s s i o n á r i o s às c o n d i ç õ e s l e g a i s
mente eleito, Roberto M a r i n h o m a n d o u Schmidt, q u e lhe disse então: " R o b e r t o , irmão Rogério, a o q u a l p e d i q u e o b t i v e s - d e u s o e exploração dessas concessões.
procurar o D o u t o r Rafael d e A l m e i d a i m a g i n e v o c ê e s p e c u l a n d o s o b r e lotes se d e R o b e r t o a d e v o l u ç ã o d a m i n u t a d a Q u a n d o Roberto M a r i n h o , confessada-
Magalhães, e assumiu p o r intermédio d o para a n j i n h o s , e m v e z d e cadáver a d u l t o , m e n s a g e m q u e , e m confiança, lhe havia mente, e comprovadamente, monta e
seu então sócio n o l o t e a m e n t o d o Par- q u e o c u p a o m e s m o espaço e custa o s i d o e n t r e g u e , pois caso contrário e u custeia emissoras deficitárias c o m
q u e Lage, o c o m p r o m i s s o d e não t o m a r mesmo preço?" teria d e t o m a r outras providências. Só dinheiro que recebe de u m grupo
q u a l q u e r providência s o b r e o p r o j e t o , R o b e r t o desistiu d o cemitério e v o l t o u então m e foi d e v o l v i d a a m i n u t a . estrangeiro, q u e detém, efetivamente, o
antes d a m i n h a posse. a m e p e d i r audiência. Q u e r i a q u e e u P e d i a o S e c r e t á r i o d e Finanças q u e c o n t r o l e d a s c o n c e s s õ e s , q u e a l e i só
M a s 18 h o r a s a n t e s d a e l e i ç ã o , m a n d a designasse u m a pessoa d e minha c o n - mandasse avaliar q u a l o valor atribuído p e r m i t e a n a c i o n a i s - não e u m a m e r a
avisar a o D o u t o r R a f a e l q u e i r i a t o m a r fiança p a r a e x a m i n a r o p r o j e t o M i n d l i n , por R o b e r t o M a r i n h o ao P a r q u e Lage omissão. E u m c r i m e d e i x a r d e t o m a r as
u m a providência burocrática s o b r e o " q u e era m o d e r n o e l i n d o . " Atendi-o. para efeito d o p a g a m e n t o d o s i m p o s t o s p r o v i d ê n c i a s q u e a lei e x i g e : a cassação
p r o c e s s o n a S e c r e t a r i a d e O b r a s , só p a r a Pedi a D o n a Lota dè M a c e d o Soares, p r e d i a l e t e r r i t o r i a l . Esse v a l o r e r a a i n d a das concessões.
não d e i x a r c a d u c a r o seu d i r e i t o . chefe d o G r u p o d o Aterro d o Flamengo, d o t e m p o d o v e l h o H e n r i q u e Lage, e O Sr. C a s t e l o B r a n c o , q u e c a s s a p e s -
A o t o m a r p o s s e , s o b as b ê n ç ã o s d e " O que examinasse o loteamento d o Parque R o b e r t o mais u m a v e z s o n e g a v a i m p o s - s o a s , n ã o cassa c o n c e s s õ e s . P o r i s s o é
G l o b o " , mandei buscar o processo d o Lage. O r e s u l t a d o f o i n e g a t i v o . Então t o s , p o i s p a g a v a p o r 500.000 m e t r o s q u a - q u e d i g o q u e a corrupção n o seu G o v e r -
P a r q u e Lage. V e r i f i q u e i , então, q u e a R o b e r t o M a r i n h o v o l t o u a m e ver e disse d r a d o s , n a área u r b a n a - e u m p r é d i o d e no aumentou e m vez de diminuir.
providência burocrática consistia e m q u e estava m o n t a n d o a T V G l o b o e u m a m a i s d e 1.000 m e t r o s q u a d r a d o s - a Apenas, o m e s m o g r u p o q u e serviu a
o b t e r , d o e n t ã o S e c r e t á r i o , Sr. I v o M a g a - cadeia de emissoras. R e c o r d o u o papel importância d e 700 m i l c r u z e i r o s , p o r t o d o s os g o v e r n o s , c o m e l o g i o s e lison-
lhães, o alvará p a r a i n i c i a r a c o n s t r u ç ã o d e Rádio G l o b o nos a c o n t e c i m e n t o s d e ano. Pela Constituição, p o d i a pois o Par- jas, e m t r o c a d e c o r r o m p ê - l o s , e t r a i r o s
do loteamento. 64. E m e d i s s e : " V o c ê v a i p r e c i s a r d o que Lage ser d e s a p r o p r i a d o m e d i a n t e interesses nacionais, hoje não serve
T o d o s os pareceres n o p r o c e s s o e r a m a p o i o dessas emissoras e d a T V G l o b o depósito e m Juízo d e importância igual a somente ao G o v e r n o Castello Branco,
contrários à d e r r u b a d a d o P a r q u e m e n o s para a sua c a n d i d a t u r a à Presidência d a 20 v e z e s e s s e v a l o r l o c á t i v o d e c l a r a d o . c o m o a integra, faz parte dele..E c o m o o
u m : o d o S e c r e t á r i o Ivo M a g a l h ã e s , m a i s R e p ú b l i c a . N ã o j o g u e f o r a esse a p o i o . " Em conseqüência, assinei o d e c r e t o d e Marechal tem fama de honrado, cobre
tarde e x o n e r a d o a b e m d o serviço públi- Disse-lhe e u então, c o m o é natural, desapropriação, d e a c o r d o c o m a C o n s - c o m a b a n d e i r a n a c i o n a l essa c o r r u p ç ã o
c o d a G B , d e p o i s d e d o i s inquéritos q u e não p o d i a trocar o P a r q u e Lage, q u e tituição, o q u e v i n h a i n c l u s i v e p r o v a r aperfeiçoada. Q u e m a d e n u n c i a é a m e a -
administrativos n o qual teve pleno direi- não m e p e r t e n c i a , p e l o a p o i o d e O G l o - q u e não e r a p r e c i s o r e f o r m u l a r a C o n s t i - ç a d o d e cassação. E q u e m d e l a s e b e n e f i -
to d e d e f e s a , e não p ô d e justificar a o r i - b o . Fiz u m a p e l o à rua r e s p o n s a b i l i d a d e tuição para fazer desapropriação d e cia é p r e m i a d o . Pois R o b e r t o M a r i n h o ,
g e m d e seus b e n s , o q u e não i m p e d i u a de d o n o de u m jornal q u e deve tudo à terras. através d e tantos P r e s i d e n t e s d a
sua nomeação, c o m o bater d e palmas d e população carioca. Enquanto homens D e s d e então O G l o b o , Rádio G l o b o e República, c o n t i n u a a ser o C h a n c e l e r d a
O G l o b o , p a r a p r e f e i t o d e Brasília. c o m o Chateaubriand davam grande par- T V G l o b o , e as d e m a i s e m i s s o r a s d a O r d e m N a c i o n a l d o M é r i t o . E esse s o n e -
Retive o processo n o m e u gabinete. te d o q u e g a n h a v a m , a p o n t o d e c o m - cadeia controlada pelo grupo "Time- g a d o r , é esse chantagista, é esse A l C a p o -
M e u objetivo era o d e deixar caducar o prometer a estabilidade de algumas de L i f e " passaram a atacar o m e u G o v e r n o . ne da Imprensa q u e d i z à Nação - j u n t a -
p r a z o d o alvará c o n c e d i d o p o r Ivo suas e m p r e s a s , p a r a d o t a r o B r a s i l d e E e m p r e s a r a m a candidatura Negrão d e mente c o m o Marechal Castello Branco
Magalhães. Certa noite, e m q u e tinha de A e r o c l u b e s , Postos d e Puericultura, L i m a . Essa é a o r i g e m d a t e n t a t i v a d e d e s - - q u e m deve receber a O r d e m Nacional
embarcar para o estrangeiro, a f i m d e M u s e u s d e A r t e , e t c - não p o d i a O G l o - t r u i ç ã o m o r a l , a i n d a m a i s d o q u e políti- d o Mérito.
UM NOVO CONCEITO VESTIBULAR
NOVEMBR01975
DE COMUNC
I AÇÃO ( I N S C R I Ç Õ E S

DIREITO
ABERTAS)

ARQUITETURA E URBANISMO
ENGENHARIA OPERACIONAL
COMUNICAÇÃO SOCIAL
ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO
LETRAS - CIÊNCIAS - PEDAGOGIA
ESTUDOS SOCIAIS - EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA
PSICOLOGIA CLÍNICA, EDUCACIONAL E INDUSTRIAL

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M O G I DAS CRUZES: Rua Francisco
Franco, 133 - tels. 4200 a 4204 - Rua
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B A N H O DE
SANGUE
FUTEBOL CLUBE D e p o i m e n t o à e q u i p e de Ex

1 Sangrenta entrevista com Otávio


Ribeiro, um dos maiores repórteres
policiais da nossa imprensa, um homem
que enfrenta qualquer tipo de cadáver.

2 Sua V façanha, na Última Hora do


Rio, 1961: achar o esconderijo de
Mineirinho, acusado de 158 crimes e
procurado vivo ou morto pela polícia.

3 As barbaridades do Esquadrão; os
assaltos do terror; o roteiro dos
tóxicos; alguns dos grandes casos que
ele investigou em 17 anos de imprensa.

4 Uma palavra aos novos: repórter de


polícia deve criticar, apontar; se
não, é o cemitério enchendo cada vez
mais, e todo o mundo de boca calada.
O t á v i o c o m M i n e i r i n h o . A história d o f u r o está abaixo. A foto é d e Z é C o m e s .

f
D o tempo dos bandidos de morro, o todo m u n d o c o m aqueles chapéus aquele panorama, quando o Caveirinha n h o s o m o s i n i m i g o s " . M a s não t i n h a
M i n e i r i n h o foi o bandido de maior OI e n t e r r a d o s . Ele e n t r o u , d e p o i s e n t r o u o desgrudou de m i m . Cheguei perto d o mais alternativa. V a m o s s u b i r . O A l e c r i m
q u e e u já v i . N u m a é p o c a e m q u e a T e c - Caveirinha, u m mulato esguio, era M i n e i r i n h o e m e abri, entrei naqueles b r a n c o , s u b i n d o , e s c o l h e n d o os lugares
n o l o g i a não t i n h a p i n t a d o , e l e vivia n o maníaco m e s m o , tinha f u g i d o d e m a n i - p a p o s , " t o u a q u i s o z i n h o , não t e n h o mais escuros. Q u a n d o a g e n t e c h e g o u ,
m o r r o , lutava d e u m a m a n e i r a arcaica. cômio, era m a l u c o m e s m o . O outro era arma, coisa etal, é m i n h a primeira repor- m e agarrei na entrevista pra não deixar
D e r e p e n t e p e g o u u m g a r o t o d e 16 a n o s o Fidel Castro, u m q u e usava b a r b a g r a n - t a g e m , e u era bancário , bati t u d o p r a ele ver a cara d o A l e c r i m , o C a v e i r i n h a
para ser m o t o r i s t a , para d a r o p i n o t e p r a de, depois tinha Waldir Orelhinha, q u e e l e e e l e só m e o l h a n d o . . . a q u e l a c a r a d e e m c i m a d e l e pra não deixar fazer f o t o
ele. Q u e r dizer, o O r e l h i n h a era o l o u c o t i n h a 16 a n o s e t a v a c o m e ç a n d o . Q u a n d o g r a n i t o só m e o l h a n d o . de frente. Q u a n d o d e u 3 flashes, o
d o v o l a n t e , e n g a n a v a c a r r o s d e polícia, e n t r o u a q u e l a pà lá, o C a v e i r i n h a l o g o : Ele m e d i s s e : " s ó q u e e u n ã o s o u M i n e i r i n h o disse c h e g a e e u falei: leva
s u b i a p e l a calçada, i n v a d i a . " q u e m é f " , e o M i n e i r i n h o c a l a d o , as c o n h e c i d o e não q u e r o u m a f o t o , senão l o g o p r a r e v e l a r . Ele d e s c e u , e u f i q u e i lá.
Esse e r a o t e m p o d o s g r a n d e s p o l i c i a i s . duas mãos na c i n t u r a , c a b o s d o u r a d o s a polícia v a i m e c o n h e c e r " . F o i a q u e l e Aí e u a r r a n q u e i t u d o , c h e g u e i n a
Perpétuo foi o único policial q u e eu das d u a s pistolas 45, e u e s f r i e i . Aí a n e g a p a p o : " f o t o d e l a d o , d e t r á s " . Eu e r a u m redação e não sabia n e m e s c r e v e r . Aí e u
c o n h e c i q u e subia n o m o r r o . Em cada Z i l d a disse " n ã o , não, é u m c a b r a q u e e u c h a t o , tava e n c a r n a n d o , eles p o d i a m m e vi a i m p o r t â n c i a d o f a t o , t a p i n h a s n a s
morro ele tinha u m circulo d e informan- c o n h e ç o , tá c o m e n d o a q u i , c o i s a e t a l " , matar, s u m i r c o m i g o . Aí e l e r e s o l v e u e costas, n e g o s a i n d o d o g a b i n e t e e coisa e
tes, e r a u m t i p o índio, d e M a t o G r o s s o . aí e l e s e n t o u lá p r a c o m e r e e u c o m e c e i a f a l o u q u e tava b o m . t a l . A Polícia já m e o l h a n d o e n v i e s a d o . V i
Tinha o u t r o time liderado pelo Le C o q , ficar n e r v o s o , p o r q u e era assim: u m Tinha u m negócio: o Caveirinha era que tinha c o n s e g u i d o alguma coisa e
mas o Perpétuo gostava era d e andar c o m e e o u t r o fica vigiando na porta, t r o c a d o r d e ônibus e m São João d o tomei gosto.
sozinho. t o d a h o r a . A q u e l e i n s t i n t o d a caça M e r i t i . Foi preso injustamente, levou V o u contar rapidamente a morte d o
Aí e u f u i n o M o r r o d o J u r a m e n t o , f u i t e m e n d o o caçador, s e m sossego. A q u e - u m a p i a b a , se r e v o l t o u c o n t r a a polícia e bando todo. O Orelhinha, quando atin-
j o g a n d o r o n d a . É u m a m b i e n t e q u e se la c o m i d a n ã o e n t r a v a n e l e , u m d a v a começou. Q u a n d o inauguraram o posto giu a maioridade, foi m o r t o n u m tiro-
você for c h e g a n d o consegue mil e u m a u m a g a r f a d a e ia p r a p o r t a , u m a m b i e n t e p o l i c i a l n o m a n g u e d e as, c o m c o m e t a e teio. D e p o i s o Fidel Castro, q u a n d o a
informação. D u r a n t e o i o g o t e m c o m e n - q u e e u tive q u e m e acostumar, mas e u aquele negócio, ele p e g o u o b a n d o , foi q u a d r i l h a c o m e ç o u a ser d e s b a r a t a d a ,
tário d e t o d a a b a n d i d a g e m q u e e x i s t e não via n a d a disso, e u via a p r i m e i r a lá e m a t o u t o d o m u n d o . M i n e i r i n h o m o r r e u n u m tiroteio e m N o v a Iguaçu. O
n o m o r r o . E v i m a saber q u e o M i n e i r i - r e p o r t a g e m . Q u a n d o e u falava a l g u m a começou assim: eliminando u m posto c a b o Luís, u m b a n d i d o q u e c a g o e t o u o
n h o tava e m M a n g u e i r a . E p e g u e i e coisa c o m o M i n e i r i n h o , o Caveirinha policial inteiro. O fotografo da Ultima M i n e i r i n h o , m a t o u o C a v e i r i n h a pelas
entrei n o morro da Mangueira. U m a sempre n o aparte, e vinha pau e m cima H o r a , c h a m a d o A l e c r i n , f o i lá e f e z f o t o s costas. Foi u m c r i m e q u e não d e u n a d a ,
cachaça p r a u m , u m a cachaça p r a o u t r o , d e m i m . Fui c a t i v a n d o o M i n e i r i n h o n o e o Mineirinho ficou odiando o Alecrim. p o r q u e q u e m mata bandido... ficou
c a s c u d i n h o nas crianças, c o i s a e tal, cara papo. Eu n ã o t o u s a b e n d o d e n a d a . D e s ç o o
n a q u e l a . F i c o u só o M i n e i r i n h o . Era u m
de b o b o , sempre mal vestido e papo, Ele r i a m u i t o e q u a n d o r i a m o s t r a v a m o r r o rolando de 5 e m 5 degraus, telefo-
h o m e m sozinho perseguido por todos.
p o r q u e se n ã o t i v e r m o r r e s e m d i r e i t o a a q u e l e d e n t i n h o p r a f o r a . Ele c o m e ç o u a no pra redação: " m a l a n d r o , t e m u m
Ele t i n h a u m a m u l h e r n o m a n g u e , ia v i s i -
ser n e m i n d i g e n t e . F i q u e i u m a s e m a n a entrar, m e c o n v i d o u pra subir n o barra- f o t ó g r a f o a í ? " ' E l e d i s s e : " p r a q u e ? " . Eu
tar s e m p r e , m a s a polícia m o n t o u , u m
freqüentando e v i m a saber q u e t o d o dia co, joguei ronda, perdi u m bocadinho, d i s s e : M i n e i r i n h o ? V e m u m táxi e c h e g a
d i a , u m e s q u e m a p r a p e g a r . Ele p e r c e -
ele c o m i a n u m barraco c h a m a d o " b a r r a - n o dia seguinte desci. D e noite eles iam o A l e c r i m , n ã o m e c o n h e c e , a g e n t e se
b e u , s a i u c o r r e n d o , p u l o u u m m u r o e se
c o d a n e g a Z i l d a " . Então c o m e c e i d e assaltar e e u , n o d i a s e g u i n t e , já d e Z i l d a . a p r e s e n t a , c o i s a e t a l . Era d e n o i t e , p o r -
e s c o n d e u e m b a i x o d e u m ônibus e a c h a -
p a p o c o m a n e g a Z i l d a , b a l i n h a pras q u e o M i n e i r i n h o tinha e s c o l h i d o pra
Mas c o m o é q u e eu podia dizer a ele que ram ele. M a t a r a m o M i n e i r i n h o d a n d o
ninguém ver d i r e t o . Q u a n d o a g e n t e ia,
crianças, e a n e g a f o i c o m a m i n h a , falei e u e r a r e p ó r t e r ? U m d i a e l e tá n u m t o c o rajadas d e m e t r a l h a d o r a e m b a i x o d o
e l e rrie s e g u r o u e c o n t o u a h i s t o r i a t o d a
q u e a c o m i d a dela era gostosa, amarrei a d e a r v o r e lá n o a l t o d o m o r r o , q u e i m a n - ô n i b u s e e l e s ó g r i t a n d o : " M a t a q u e tá
d e São João d o M e r i t i : " E u e o M i n e i r i -
nega na vaidade. d o u m b a s e a d o e o l h a n d o lá p r a b a i x o , m a t a n d o h o m e m " M a t a q u e tá m a t a n d o
U m dia tou c o m e n d o , abre a porta e h o m e m ! " Ele m o r r e u a s s i m e n ã o t e v e
e n t r a u m s u j e i t o a l t o , dá u m a o l h a d a rá- n a d a , e r a c o m o se d i z p o r aí: " a escória

Pag. 28 e 29: mais sangue


p i d a p r a m i m , c a b r e r o , e u esfriei. Entra da s o c i e d a d e " .
O economista
a m e a ç a v a se
atirar d o p r é d i o .
O t á v i o subiu lá
e convenceu o
h o m e m a descer.
O t á v i o trabalhava
n o Jornal d o
Brasil, q u e n ã o
p u b l i c o u nada, a
p e d i d o d a família
d o quase suicida.
(Fotos d e
Octales Gonzales.)

E O PROGRESSO: BANDIDO HOJE


r
A n t i g a m e n t e o repórter era u m t i p o q u e t e r o c o n t r o l e , t e m q u e d o m a r as peço algodão c o m f o r m o l , e agüentei f i q u e i e m b a i x o d o c o b e r t o r grosso, p r o -
f u r ã o , u m c h a t o q u e saia d a r e d a ç ã o . A f e r a s p a r a s e r e m rápidas, o b e d e c e r e m . u m p l a n t ã o , d e n a r i z v e r m e l h o . F u r e i c u r a n d o n a lista t e l e f ô n i c a t o d o s o s
f o t o era a coisa mais p r i m o r d i a l para e l e : Pra n a o h a v e r p o l ê m i c a , n ã o h a v e r c o n - t u d o m u n d o , p o r q u e n e n h u m repórter A s q u i n a z z i . T e l e f o n a v a e dava a q u e l e
era a p r i m e i r a coisa q u e ele tinha q u e testação. s u b i u p r a lá; Eu n u n c a q u i s v o l t a r d e m ã o g r u p o : " a l ô , o l h a , q u e m f a l a é u m p o r t a -
ter, e r a , u m b o n e c o . A s e g u n d a , furar O Dalvo Liece, q u e o r g a n i z o u a maior a b a n a n d o p r a u m a redação n u n c a l e v e i d o r p a r a L e o p o l d o H e i t o r " . . . A m a i o r i a
t o d o m u n d o ! Era m a i s fácil c r i a r f a m a q u a d r i l h a d e b a n c o , q u e t e v e mais d e 30 u m furo! d e s l i g a v a , até q u e u m a v o z r e s p o n d e u -
c o m o r e p ó r t e r d é polícia q u e c o m o p e r s o n a g e n s só n a c u c a . . . e l e m o s t r o u Estou d a n d o u m a declaração d e q u e " S i , mas m i p a d r e esta e m M a r D e l Pla-
repórter geral, p o r q u e na geral t i n h a u m q u e a filosofia principal era o b a n d i d o n u n c a l e v e i u m f u r o ! . Ê q u e e u a c h o q u e t a " . D a í e ú p e g u e i o e n d e r e ç o . F u i p r a lá
público mais f r a c o e os jornais viviam d e ter h i e r a r q u i a , ser o b e d i e n t e . A s u b v e r - q u e m tá n a profissão t e m q u e t e r c u i d a - e l o c a l i z e i o L e o p o l d o . Q u a n d o c h e g u e i
público.
são t i n h a l i n h a d e f o g o , t i n h a i s s o , t i n h a d o , p o r q u e só e l e t r a z a q u e l a i n f o r m a - e l e se a s s u s t o u m u i t o , p e n s o u até q u e e u
Nesse t e m p o e u trabalhava na U l t i m a aquilo. O s outros vieram assaltando, ção q u e vai ser distribuída, f o r a d o j o r n a l tava c o m m u i t o d i n h e i r o , U H , c o i s a e
H o r a (Rio), e havia a q u e l a briga d o o b e d e c e n d o . V o c ê não p o d e d o m i n a r v o c ê p o d e s e r o q u e f o r , p o d e f a z e r o t a L . . m a s f a l e i q u e t a v a d u r o . . . Daí e l e f o i
Samuel Wainer (dono da UH) contra o u m b a n c o se n ã o e s t i v e r p r e p a r a d o . T e m q u e q u i s e r , m a s n a q u e l e m o m e n t o v o c ê e x p e r i m e n t a r u n s b a r c o s p o r lã, f o i
L a c e r d a (então g o v e r n a d o r d a G u a n a b a - q u e s e r r á p i d o , " v a i p r a a l i , já p r a l á " . t e m q u e p r o d u z i r a l g o s e u , n o s e u estilo. q u a n d o a c a b o u p r e s o . Eu v i m e m b o r a
ra, na p r i m e i r a m e t a d e d a década passa- M a s o assalto n a rua d i m i n u i u l não, Na U H , u m jornal vibrante, agressivo, c o m fotos e t u d o . C h e g u e i e fui direto
d a ) . Era o t e m p o d o G u s t a v o B o r g e s a c a b o u . G e r a l m e n t e ninguém mais anda o d i r e t o r - g e r a l era o M o a c y r W e r n e c k . p r o M o a c y r W e r n e c k , e l e f a l o u : "tá
c o m o Secretário d é Polícia, e o C e c i l c o m muita grana n o m e i o da rua, anda Era u m t i m e a g u e r r i d o , f o i o ú n i c o j o r n a l l e g a l " . M a s e u f a l e i - " a g o r a t e m a m i n h a
B o r e r c o m o D e l e g a d o d e Vigilância - o c o m cartão d e crédito, c o m c h e q u e . E o n d e e u c o n h e c i " a f a m í l i a " . T o d o m u n - lista d e d e s p e s a " . . .
t e m p o q u e a Vigilância t i n h a a t u r m a d a q u e m v a i assaltar n a r u a n ã o s a b e o q u e d o queria trabalhar na U H . O Samuel
p e s a d a : P e r p é t u o , Le C o q , a q u e l e t i m e v e m , a vítima p o d e r e a g i r . E e l e s a b e q u e W a i n e r era oposição, então e m t o d o
q u e v e i o d a Polícia E s p e c i a l . A D e l e g a c i a
d e Vigilância e r a a v i t r i n e d a Polícia, e r a a
o 157 ( A r t i g o d o C ó d i g o P e n a l ) , o l a t r o c í -
n i o , dá 30 a n o s n o m í n i m o . Eu n u n c a v i
l u g a r q u e a g e n t e c h e g a v a e r a não> n ã o .
não. N u n c a d e r a m n a d a d e mão b e i j a d a .
Sei vage ria
pesada: terror contra o terror! O repór- n i n g u é m ser a b s o l v i d o p o r latrocínio, F o i u m t i m e q u e se c r i o u n a d i f i c u l d a d e . A violência gera violência. A c h o q u e é
ter vivia nesse a m b i e n t e , não havia p a n e - p o r q u e além d e r o u b a r , ele t e m a t e n - O d i n h e i r o p r a g e n t e sair e r a p o u c o , u m a e s t r u t u r a , é a justiça, a P o l í c i a , o
linhas. Para dar u m a informação para d ê n c i a d e m a t a r . A m í n i m a é d e 30 a n o s . e n t ã o v o c ê g o s t a v a e r a d e sair s e m n a d a nosso sistema penitenciário a i n d a é
outro precisava d e muito papo, muita Q u e m assalta n o m e i o d a r u a é i g u a l a e trazer o material, revelando talento, arcaico. O sujeito entra na p o r r a d a , pas-
a m i z a d e . Ele v e s t i a a c a m i s a d e o n d e t r a - m o t o r i s t a : está a r r i s c a d o a atropelar coisas e s c o n d i d a s d e n t r o d e você. È u m sa p o r t u d o , e n t r a n a q u e l a p r i s ã o , q u a n -
balhava e fim. alguém. ritmo de vida q u e qualquer coisa q u e d o v a i a o j u i z é o ú n i c o m o m e n t o d e se
D e p o i s d o " M i n e i r i n h o , a caçada q u e O b r a s i l e i r o , p o r si só, n ã o g o s t a d e v e m n a s u a m ã o , v o c e a p r o v e i t a . Tá c o m d e f e n d e r . N u n c a entrevistei u m j u i z mas
t e v e m a i o r repercussão f o i d o Cara-de- o b e d e c e r . A única coisas d o b a n d i t i s m o f o m e , v o c ê dá u m a m o r d i d a , n ã o q u e r a c h o até q u e e l e já está a c o s t u m a d o c o m
C a v a l o . Isso p o r q u e e l e m a t o u o L e C o q o r g a n i z a d o era o r o u b o d e carro, p o r - saber se t e m A d ã o e Eva, n e m n a d a . t o d o m u n d o negar, não, não, não. A c h o
q u e era o c h e f e d o s detetives d e Vigilân- q u e d e p e n d e d e várias p e s s o a s , u m a N o grande crime da época, o jornal q u e t e m q u e t e r o s e g u i n t e : o j u i z não
cia, quer dizer, a delegacia da pesada tipografia, u m a oficina, o puxador, a f a z i a a q u e l a n o v e l a , d a v a suíte t o d o s o s vai julgar o d e l i t o , vai v e r a o r i g e m d a
q u e ia b u s c a r o s b a n d i d o s n o m o r r o . A v e n d a g e m . Então t i n h a u m a escala m u s i - d i a s , se v a r e j a v a a v i d a t o d a d a v í t i m a , pessoa, a configuração social, o q u e o
A r m a O f i c i a l d a polícia é o 3 8 , m a s e l e s cal, dava u m lucro imediato, você puxa o varría-se a s u j e i r a t o d a e c a d a u m p u b l i - l e v o u . É índole? t e m p e r i c u l o s i a a d e ?
t r o c a v a m p o r 4 5 , p o r q u e d o 38 v o c ê carro e r e c e b e o d i n h e i r o logo, capital cava c o m seu estilo. O caso d o L e o p o l d o P o d e ser r e a b i l i t a d o ? n ã o p o d e ? o q u e o
e s c a p a e d o 4 5 n ã o . O projétil d o 4 5 vãi n a m ã o . S ó há o r g a n i z a ç ã o q u a n d o há Heitor, q u e e n c h e u o saco d e t o d o m u n - e n v o l v e u ? p a i m o r r e u ? m ã e s e p a r a d a ? as
l e v a n d o t u d o . D e p o i s d a m o r t e d o Le p a g a m e n t o r á p i d o . Isso e m q u a l q u e r do, virou u m a novela maior que o Direi- entranhas d o " s u j e i t o . . . Isso d e i x a r i a
C o q , eles f o r a m l e v a n d o o Estado d o R i o empresa. R o u b o de carro sempre d e u to d e Nascer. Foi u m a n o e p o u c o d e m e n o s revolta. T e m vezes q u e o sujeito
c o m o u m furacão, q u e i m a n d o barracos, l u c r o , há ó r g ã o s d e r e p a r t i ç õ e s f e d e r a i s , c o b e r t u r a diária... O L e o p o l d o H e i t o r assalta p e l a p r i m e i r a v e z , o j u i z dá u m a
atrás d e u m a i n f o r m a ç ã o . V a l i a t u d o . estaduais, q u e têm funcionários e n v o l v i - e r a u m a d v o g a d o r e s p e i t a d o até p e l o s p e n a mais o u m e n o s b r a n d a p o r q u e ele
A q u e l e f o g o , a i m p r e n s a c o b r i n d o , tá dos pra m u d a r rápido, número d e . i n i m i g o s , f i c o u m u i t o f a m o s o . Daí d e s a - é primário, mas o q u e e l e s o f r e nesse
v e n d e n d o , e a q u e l a caçada b o n i t a . A d o motor, cor, etc. p a r e c e a D a n a d e Teffé ( u m a milionária) t e m m p i n h o eqüivale a 80 q u i l o s d e
C a r a - d e - C a v a l o , e m 64, f o i a caçada q u e e o L e o p o l d o t i n h a f i c a d o c o m t o d a s as revolta.
valeu t u d o , s e m regras, s e m nada. O
Cara-de-Cavalo, q u a n d o foi achado, •Sumiu a milionária procurações d e l a , a p a r t a m e n t o s e t u d o
o m a i s . A i m p r e n s a d e i t o u e r o l o u . Li o
O a s s a l t a n t e é o ú n i c o t i p o - isso é u n i -
versal - g u e não t e m b o a vida na cadeia,
saiu c e r c a d o p o r m u l h e r , p o r criança, e p r o c e s s o i n t e i r i n h o e não e n t e n d i n a d a , na m ã o d o s h o m e n s . Lá n o x a d r e x o p a u
A arma d o profissional é ter a l g u m
d e r a m tanta rajada n e l e q u e o u m b i g o sabe? N o final é u m labirinto c o m e s p e - c o m e e a polícia c o s t u m a d i z e r , e m
t a l e n t o p r a d a r , n u n c a ser t o t a l m e n t e
d e l e g r u d o u n a p a r e d e . Eu t e n h o f o t o d o l h o . O L e o p o l d o H e i t o r f o i u m teste p o r - vários i d i o m a s , e m vários s o t a q u e s , q u e
s u b j u g a d o , t e r as m ã o s só a l u g a d a s . U m
u m b i g o dele g r u d a d o na p a r e d e ! Ficou q u e eu tinha q u e dar t o d o dia u m a maté- o ladrão t e m q u e a p a n h a r para c o n v e r -
repórter não p o d e ser t e l e g u i a d o , e l e
u m regador, cheio de furinho. E ficou ria. sar. Então e l e s p e n s a m m i l e u m a p o r q u e
t e m q u e lutar p e l o q u e r e c e b e u , p e l o
assim, a m o r t e d o Le C o q , v i n g a d a , ninguém d i z q u e r o u b o u . 9 9 , 9 % dos
q u e o b t e v e d e informação na r u a , lutar N a q u e l a fase, e u g r u d e i c o m V e r i n h a
sabiam q u e era a caravana policiaíque p r o c e s s o s d e ladrões e n t r a m e m i n c o e -
para a q u i l o sair. Se t e m c o i s a s q u e não (mulher de Leopoldo), o Leopoldo tinha
u s o u d a legítima d e f e s a , m a s u m n o c i v o , r ê n c i a , a m a i o r i a . Ele d i z s i m à polícia e
p o d e m ser p u b l i c a d a s , e l e t e m q u e lutar ido pra Argentina. U m dia fui conversar
t a l , até l o g o . E o C a r a - d e - C a v a l o e r a o ao juiz d i z não. S e m p r e a n u l a o d e p o i -
p r a p u b l i c a r . A missão d o r e p ó r t e r é c o m ela e ela m e recebe c o m u m telegra-
quê? U m b a n d i d i n h o q u e andava cafeti- mento perante o juiz. A criminalidade
informar. ma da A r g e n t i n a , e u p e g o tento ler, a
n a n d o n o M a n g u e , u m b a n d i d i n h o ras- c r e s c e u e o p o l i c i a l não p r a t i c a a técnica
A n t e s o t o m d a i m p r e n s a era o sensa- V e r i n h a e s c o n d e n d o , mas e u vejo escri-
teiro. d a i n v e s t i g a ç ã o . Eles s a b e m q u e n a
c i o n a l i s m o , d a cascata, o fotógrafo fazia to e m b a i x o u m n o m e e s q u i s i t o : A s q u i -
p o r r a d a o ladrão vai falar coisas q u e n u n -
O b a n d i d o só a t i r a n o p o l i c i a l e m ú l t i - as f o t o s d e c a d á v e r e s d e várias m a n e i r a s , n a z z i , e u não sabia se era n o m e o u
c a p e n s o u q u e ia f a l a r . Ele Date n o
m o caso, q u a n d o v ê q u e não t e m p i n o t e , e r a o c h a m a d o " D o m P r e s u n t o d e Ia s o b r e n o m e . O L e o p o l d o era figura o b r i -
l a d r ã o , m a s b a t e s e m s a b e r d e n a d a . Está
não q u e r passar a q u e l a barra t o d a . T e m M a n c h a " . E n q u a n t o não t i n h a o cadáver gatória nas páginas d o s j o r n a i s . Eu v o u
no nevoeiro p r o c u r a n d o alguma coisa,
v e z e s até q u e e l e d e i x o u d e s e r m a c h o d a p r i m e i r a página o p e s s o a l f i c a v a a g o - pra U H , entro n o gabinete d o M o a c y r
na p o r r a d a e na p o r r a d a i n v e n t a m i l e
verdadeiro, teve u m c a m i n h o m e i o dife- n i a d o . Eram cadáveres d e t o d o s os tipos W e r n e c k e falo - " o l h a , t e n h o u m a pista
u m a coisas, m i l e u m a maneiras para o
r e n t e , f o r ç a d o , já p a s s o u v e r g o n h a . . . S ã o i q u e v o c ê p o d e i m a g i n a r , o fotógrafo não pra localizar o L e o p o l d o na A r g e n t i n a " ,
sujeito falar. S e m p r e f o i assim, b o r d u n a
várias c o i s a s q u e a c o n t e c e m n o m u n d o •$abia m a i s d e q u e â n g u l o f a z e r . C a d á v e r e contei o caso.
neles.
d o c r i m e , q u e t r a n s f o r m a m o indivíduo. \u já v i d e t o d a m a n e i r a , t a n t o e m f o t o Aí e l e r i u , d i s s e - " v o c ê tá p e n s a n d o A b u r o c r a c i a e m p e r r a a Justiça. S e o
M a s a t e c n o l o g i a , a subversão, e n s i - q u a n d o pessoalmente. A primeira coisa q u e n a A r g e n t i n a é fácil e n c o n t r a r u m cara e n t r e g o u 10 assaltos n o p a u , p e l o
nou muita coisa. Antes nunca tinham q u e voce t e m q u e fazer é controlar seu c a r a só c o m u m n o m e ? " A í e u d i s c u t i m e n o s 3 n a o f o i e l e q u e f e z . E s t a v a m lá,
mostrado o banheiro n o banco. A fuga. est&mago. amistosamente c o m o M o a c y r Werneck, p e r d i d o s , s e m solução n a d e l e g a c i a e
O M i n e i r i n h o tinha defesas criadas p o r Eu era n o v o na U H , l o g o d e p o i s d o m a s a x e r i f a d a n ã o m e d e i x o u .r m e s m o . d ã o p r o c a r a a s s i n a r , c o m o p r ê m i o . Isso
ele m e s m o . Ninguém tinha ensinado Mineirinho peguei a enchente, u m ôni- N a r a i v a p e d i férias e d i s s e q u e ia c o m é u n i v e r s a l , a c o n t e c e nas m e l h o r e s famí-
n a d a . A g o r a não, o m a l a n d r o não p o d e bus caiu n o rio Timbó. N u m cadáver d e m e u d i n h e i r o m e s m o . Peguei u m a má- lias. O s u j e i t o e n t ã o já v a i r e v o l t a d o p o r -
ficar d e b o b e i r a . A n t i g a m e n t e o b a n d i d o a f o g a d o , a língua t e m 2 p a l m o s , f i c a quina O l y m p u s , na d e a m a d o r , consegui q u e r e c e b e u u m p r ê m i o d e 3. Ê m a i s
não c o n h e c i a o Código Penal. A g o r a e l e inchado, u m monstro. Na U H mandaram p a s s a g e m d a F A B até P o r t o A l e g r e , p a s - p a p e l a d a p r a se d e f e n d e r , m a i s u m a
j sabe t o d o s os artigos b o n i t i n h o . e u fazer plantão n o necrotério. Q u a n d o sagem d e ida e volta a Buenos Aires, q u e r m i c h a r i a p r o a d v o g a d o . Lá d e n t r o e l e tá
O fator principal é a rapidez. O c h e f e c h e g u e i p e n s e i q u e n ã o ia a g ü e n t a r , m a s d i z e r , não precisei p e d i r n a d a n a U l t i m a n u m g r u p o q u e é d i s t i n g u i d o p e l a pesá-
l p r e c i s a d i s c u t i r c o m o b a n d o . Ele t e m daí e u v o u e m c i m a d e u m f u n c i o n á r i o e H o r a . Lá e m B u e n o s A i r e s , u m f r i o l o u c o , da, t e m o coração mais v e r m e l h o q u e y
O t á v i o Ribeiro,
45 anos, casado,
vulgo Pena Branca:
tem uma m e c h a
d e c a b e l o branco.
Ex-bancário, aos
28 anos c o m e ç o u
na Ú l t i m a H o r a
carioca. Passou
por todos os
grandes órgãos
da nossa imprensa.
(Fotos d e
Elvira Alegre.)

SABE O CÓDIGO PENAL DE COR


sangue, é u m p a p o o n d e u m t e m q u e ser v e z e s . Aí e s t o u r a a q u e l a b o m b a , u m ra h u m a n a . A c h o q u e é u m a a l a v a n c a g u a i a , q u e r d i z e r , o c o n t r a b a n d o vai peliT\
mais m a c h o q u e o o u t r o , t e m q u e ter general veio dar u m a entrevista d i z e n d o n o c i v a , p o r q u e destrói, destrói m e s m o , estrada paraguaia e o c a b o c l o não p o d e
u m a p i t a d a d e c r u e l d a d e . A l i e l e está q u e os b a n c o s e r a m assaltados p o r s u b - destrói. F u i c o m o A m i l t o n ( A m i l t o n p r e n d e r , ali d o l a d o . É u m a questão
a p r e n d e n d o u m vestibular d e selvageria. versivos. N a época foi u m i m p a c t o ! a V i e i r a , fotógrafo). C o m b i n e i c o m e l e diplomática, u m a diferença d e 3 m e t r o s
Q u a n d o sai, e l e , q u e t o m a v a u m café subversão e r a q u e m estava a s s a l t a n d o ! para i r m o s s e p a r a d o s , f a l e i : " L á v o c ê não e n t r e as d u a s e s t r a d a s . É u m barato, o
c o m 50 c e n t a v o s , a g o r a , vai t o m a r c o m 1 Eu s e m p r e a c o s t u m a d o c o m o r i t u a l d o é m e u a m i g o , você é u m repórter d e m a l a n d r o vai ali d o l a d o , alô! alô! alô!
e 20. O s b a n d i d o s não p o d e m saber q u e ! bandido, achei q u e o bandido tinha t u r i s m o . Eu v o u c o m o b a n d i d o e v o c ê C o m o repórter p o l i c i a l é u m a c o i s a q u e
e l e está t r a b a l h a n d o p r a g a n h a r salário,' encontrado o mapa. A c h e i q u e era u m a f o t o g r a f a t u d o e m P o n t a Porã e e m v o c ê não e n t e n d e , esta v e n d o a latrina e
aquele q u e foi condecorado, aquele q u e quadrilha diferente, d e fora. Todos p e n - Pedro Juan. Desligado d e m i m , ninguém o p a p e l higiênico d o i l a d o . Aí e l e m e dá a
f o i o c h e f e e se t o r n a u m s u j e i t o p e r i g o - savam assim. Foi a época a u e eu aoareci vai ver os dois juntos. " P e g a m o s u m relação e o e f e i t o d e \ c a d a remédio, n o
s o , já l e v o u u m b u m b a - m e u - b o i . E l e n ã o m a i s , m a s sofri. Eu n a p a r e d e , t o m a n d o avião, d e i m e u s d o c u m e n t o s d e repórter b l o c o d e l e . Eu t i n h a q u e t e r a p r o v a , n ã o
vai n o p r i m e i r o assalto cair d e b o b e i r a . p o r r a d a d a repressão e d o o u t r o N a d o . O a e l e . Isso p o r q u e p o d i a s e r p r e s o p o r é? E e u n a q u e l a d e a t o r c o m e l e . Ê p r e c i -
Isso s e m c o n t a r a g o z a ç ã o lá d e d e n t r o j o r n a l d o Brasil f i c o u s e n d o , modéstia à e l e s e m o r r i a l o g o n o p a p o . Lá é u m a so ter sangue frio. L e v a m o s t u d o q u a n t o
das g r a d e s , " c o m o e , t u d e m o r o u p o u c o , parte, a m e l h o r cobertura, t o d o m u n d o área q u e m o r r e , q u e n ã o dá c h a n c e . . . S e era b o l i n h a . E u e o A m i l t o n trouxemos
g o s t o u d a b ó i a ? " , e l e t e m t u d o isso n a c o m p r a v a o Jornal d o Brasil para ficar v o c ê está i n v e s t i g a n d o , f a z e n d o q u a l - pra redação u m a mala cheia d e m a c o -
cabeça n a h o r a d o assalto. N a h o r a q u e o s a b e n d o o q u e a c o n t e c i a . Daí u n s t e m - q u e r c o i s a , o o u t r o t e m a t a f á c i l , fácil. E l e n h a , cocaína, t u d o ! .
p o l i c i a l v e m , e l e nãol vai d a r r e f r e s c o .
C o s e u caí e m V e j a . U m a r a p a z i a d a m u i t o n ã o vai p e r d e r b i l h õ e s d e l u c r o p o r c a u -

• Tomavam curare!
oaf», o n d e e u a p r e n d i muita coisa, e sa d e u m a f i g u r a !
ensinei também: e u r e c e b e n d o filosofia
•Terror ataca banco e dando o malho. Fiquei na cidade e não tinha n e n h u m
p o n t o p o r o n d e c o m e ç a r a m a t é r i a . Lá é " D e lá e u f u i p a r a O J o r n a l , q u e f o i o
Virei u m c i g a n o , não parei e m
n e n h u m lugar. Fui parar na Folha d a Tar- • A rota dos tóxicos t a n t o tóxico d e p o s i t a d o e m farmácia, q u e e u gostei mais. O A l b e r i c o e r a d a
q u e é u m lugar p e q u e n i n i n h o c o m mais Veja, foi pra O Jornal e m e c h a m o u pra
d e (SP), q u e t a v a r e a b r i n d o e p r e c i s a v a Fiz a p r i m e i r a matéria d e L S D , q u a n d o d e 10 farmácias. S ó t e m u m c i n e m a e ser e d i t o r d e polícia. E x p l i q u e i p r a e l e
de u m grande caso. Peguei o d a M a r i a prenderam o Peticov, aquele pintor.O u m a rádio. É f e i t o t u d o n a A r g e n t i n a e vai q u e q u e r i a f a z e r u m a e d i t o r i a d e polícia
T e r e z a Lara C a m p o s , q u e t i n h a s i d o u m R u s s i n h o , a q u e l e tira q u e d e p o i s f o i p r e - p r a lá, p o r q u e lá p o d e v e n d e r . D a só d e j o v e n s , q u e n u n c a t i v e s s e m t r a b a -
caso m u i t o b a d a l a d o e estava a r q u i v a d o so p o r ser t r a f i c a n t e , f o i o p r i m e i r o a A r g e n t i n a p r a A s s u n ç ã o , d e lá v a i p r a l h a d o c o m p o l í c i a . R e c e b i c a r t a b r a n c a .
c o m o suicídio. D e p o i s d e ficar u m t e m - c o l o c a r L S D . Eu n e m sabia o q u e era, P e d r o J u a n e d e lá v e m p r a l a t r i n a , q u è é Saí p e l o s j o r n a i s , v e n d o o s estagiários.
pão l e n d o os arquivos, d e s c o b r i r u m a p e n s a v a q u e e r a u m bastão! O R u s s i n h o o Brasil), o n d e t o d o m u n d o c o n s o m e . T o d o m u n d o f a z e n d o r o n d a , s e n t a d i -
testemunha, u m a cabeleireira, q u e virou era u m traficante, depois ficou c o m p r o - P í l u l a s p i n t a d i n h a s , d e t o d a s as m a n e i r a s n h o , s e m s a b e r n e m o n d e é C a s c a d u r a !
o c a s o d e suicídio para homicídio. A v a d o p e l a p o l í c i a . A c h o o s e g u i n t e , se e l e e d e t o d o s os efeitos. Heroína v e n d e aos Peguei os garotos e c o m e c e i : curare
imprensa toda m e seguiu. D e p o i s disso o dava c o m b a t e , não p o d i a se misturar. m o n t e s , cocaína aos q u i l o s , v e m d e neles, c u r a r e neles, e t u d o o q u e a p r e n d i
J o r n a l d a T a r d e m e p e d i u p r a ir p r a lá. F u i C o m o é q u e é i s s o ? V o c ê dá u m p a u e C o c h a b a n b a , Santa C r u z d e La Sierra, via e m 17 a n o s , d e i e m m i n u t o s .
trabalhar j u n t o c o m o Percival (também d e p o i s v a i transar? Se e l e t e m u m a m i s - Assunção, Corumbá. Cocaína p u r a , s e m V o c ê só p o d e a m a d u r e c e r e n f r e n t a n -
c o l a b o r a d o r d o Ex). A c h e i o p o l i c i a l são d e c o m b a t e r ? a d i t i v o s , p o r q u e a q u e c h e g a a q u i está d o o m i s t é r i o . S a b e n d o q u a l é o f i n a l ,
paulista diferente d o policial carioca. O V e i o a subversão e p r a m i m , n a d a d e c o m t a l c o , sal, coisa e tal... A q u e l a é p u r a v o c ê não a m a d u r e c e . P a r t i n d o p r a c i m a
carioca é mais m a l a n d r o , o b a n d i d o c o q u e t e l , só p a r a d a d u r a m e s m o . N i n - m e s m o , o s u j e i t o c h e i r a e p a r e c e até d o imprevisível v o c ê vai p a s s a r m i l e u m a
paulista é mais frio, não t e m tanta g u é m q u e r i a c o b r i r subversão n a Veja... c a n g u r u , sai p u l a n d o . situações d i f e r e n t e s . N a polícia, v o c ê
m a n h a , não t e m o sabor d e contar v a n - Foi q u a n d o c o m e c e i a fazer a m i z a d e B o m , m a s o A m i l t o n f i c a d e f o r a e e u p r e c i s a ficar 10 h o r a s e s p e r a n d o a perí-
t a g e m d e n t r o d a q u a d r i l h a , se f e c h a c o m o m a j o r . . . Esse m a j o r , q u e e r a o r e l a - e n t r o c o m as p i n t a s d e lá, c o r r e n d o f a r - c i a , q u e r d i z e r , v o c ê c a l e j a . Ê f u n d i ç ã o .
mais. O c a r i o c a é mais maquiavélico. O ç õ e s - p ú b í i c a s d e lá, a c h a v a b o m q u e se mácias, t o d o s p e n s a n d o q u e e u s o u v e n - O repórter é u m j o g a d o r d e p ô q u e r , não
E s q u a d r ã o d a M o r t e d a q u i só a p a r e c e u d e s s e m informações s o b r e subverção, dedor, t u d o m u n d o falando n o m e d e p o d e deixar transparecer q u e ficou
d e p o i s q u e o d o R i o estava v e l h o . O R i o a o m e s m o t e m p o e m q u e se d e s s e u m a remédio e e u calando, t o u junto c o m aborrecido, t e m q u e manter aquele ros-
é a m ã e d o Esquadrão. doutrina para mostrar o q u a n t o era n o c i - eles, q u e r d i z e r , e r a o m e u habeas-cor- t o enigmático, não p o d e n u n c a d i z e r o
N o Jornal d a T a r d e a p r e n d i o q u e não vo. E foi nesse p a p o q u e ele c o m e ç o u a pus... Aí eles vão a u m médico, trocar o b j e t i v o a o l a d o contrário. E criar, criar
t i n h a a p r e n d i d o n a U H . A n t e s d e ir p r a m e f o r n e c e r algumas informações, r e c o - u m a idéia n a c a s a d e l e , n a q u e l a r e d e , n a p a r a p o d e r c h e g a r n u m a r e u n i ã o d e
r u a e u c o n v e r s a v a c o m vários e d i t o r e s , lhidas d e s u b v e r s i v o s . U m d i a , n o m e i o v a r a n d a . Daí c h e g o u d e t a r d e e o m é d i c o p a u t a e t e r o l i v r e a r b í t r i o , d a r a m a t é r i a
saía s u p e r a r m a d o . A p r e n d i a p e g a r as de alguns d o c u m e n t o s , v e i o u m a carta d i s s e p r a m i m : e v o c ê , o q u e f a z ? " Eu q u e q u e r f a z e r . O r e p ó r t e r s e g u i n d o u m
m i n ú c i a s , a sala c o m o e r a , o q u a r t o e t a l , d o Lamarca, q u e era u m m i t o . A letra d o r o t e i r o f i c a u m t e l e g u i a d o . Ele n ã o é
d i s s e q u e e r a a d v o g a d o e q u e e s t a v a lá
fui m e c o m p l e t a n d o c o m o repórter. Lamarca era u m a coisa q u e ninguém f a z e n d o u m a t r a n s a d e t ó x i c o , e n ã o m a i s o f u ç a d o r , n ã o é m a i s , p o r q u e só v a i
A p r e n d i a m a n e i r a d e associar a s e n s i b i - t i n h a v i s t o . E n t ã o e u p i á , p i á , piá, e c o m e - atrás d a q u i l o e a c a b o u .
entrei mais e m detalhes.
lidade c o m a porrada da U H . Fiquei u m cei c o m o material d o Lamarca, o m a t e - U m a q u e s t ã o d e l ó g i c a : q u a n t o s as
Q u a n d o c h e g o u d e noite, estou n o
lutador peso-pesado j o g a n d o leve. rial d e d i s f a r c e d e s u b v e r s i v o s , esse cassino j o g a n d o , c o m e c e i a p e r d e r na faculdades d e Comunicação despejam
Q u a n d o e u estava a q u i e m São P a u l o , n e g ó c i o t o d o . Aí então d e u u m a c a p a d e r o l e t a i g u a l a u m d o i d o . N e s s e d i a f i z t o d o s o s a n o s ? E q u a n t o s são a p r o v e i t a -
c o m e ç o u a a p a r e c e r o tal E s q u a d r ã o d a Veja... L a m a r c a ! Q u a n d o d e u capa c o m p a r c e r i a c o m e s s e m é d i c o n o bacará. d o s ? Eles s e g u e m o u t r a s profissões e
M o r t e , m o r t e , morte, foi na época q u e a essa m a t é r i a , d e u o m a i o r r e b u ! A V e j a F i z e m o s u m a a m i z a d e , q u a n d o t e r m i - a d e u s . Lá e l e s só t ê m as t e o r i a s , m a s e a
m i n h a m u l h e r f i c o u grávida, e f u i e m b o - foi a p r e e n d i d a e a q u i e m São Paulo o prática? N o s 6 m e s e s q u e a l e i m a n d a p r o
n o u , m e p e r g u n t o u o q u e estava f a z e n -
ra p r o R i o . F i q u e i u m m ê s p a r a d o , M i n o f o i c h a m a d o n o II E x é r c i t o . Q u e m d o lá. E u b a t i q u e e r a a d v o g a d o , i n t e r - estagiário, e l e v ê t u d o d i f e r e n t e d o q u e .
n a q u e l a d e férias, e d e p o i s c o m e c e i a e r a o c h e f e d o II Exército e r a o D a l e C o u - mediário d e q u a d r i l h a d e t r a f i c a n t e , q u e via na f a c u l d a d e . E n u m j o r n a l diário não
trabalhar n o Jornal d o Brasil. Fui a p r e - tinho, q u e depois morreu. M a s eu tinha ] e s t a v a lá p a r a l e v a r t ó x i c o s . Então e l e m e dá p r a p e g a r u m estagiário e f i c a r e n s i -
s e n t a d o na gozação, " o l h a , v o u m a n d a r u m b i l h e t e d o I Exército a u t o r i z a n d o a ' n a n d o ! E n t ã o t e m q u e se f a z e r a e s c o l i -
s u r p r e e n d e e d i z : " E n t ã o você caiu na
u m m e n i n o aí p r a v o c ê " , e o c a r a l e v o u a p u b l i c a ç ã o . Q u a n d o o II Exército v e t o u nha, o time...
mão c e r t a , p o r q u e e u s o u sócio d e u m a
sério, q u e r dizer', e u u m v e t e r a n o , f i q u e i eu apresentei o c o n s e n t i m e n t o d o O u t r a c o i s a , u m t i m e n o v o d e polícia é
farmácia e m e u c u n h a d o t e m u m a g r a n -
ali p a r e c e n d o u m s o l d a d o , c o m e ç a n d o . I.Quer dizer, acabou ficando u m confli- i m p o r t a n t e p r a criticar, para vigiar - não
d e plantação d e m a c o n h a . " Aí e l e c o m e -
Era a c o r e o g r a f i a d e n t r o d a r e d a ç ã o , t o lá e n t r e o I e o II Exército. ç o u a m e d a r as d i c a s : o g o v e r n a d o r , o d e s m e r e c e n d o q u e m está aí - o n o s s o
então e u f i q u e i ali a j u d a n d o . E m d o i s Eu t a v a c a n s a d o d e l e v a r p o r r a d a d o s m e c a n i s m o policial e a nossa c r i m i n a l i -
c h e f e d e p o l í c i a , pá,pá e pá . M e d e u a
dias q u a s i p e d i demissão, m a s não dá, né d o i s l a d o s , f u i f a z e r u m a matéria c o m u m seita t o d a , a cúpula d e P e d r o J u a n d a d e . É a e t e r n a b r i g a .
m a l a n d r o ? D o i s dias, e u m repórter p e d e s u j e i t o q u e e s t a v a p r e s o p o r tóxicos. Ele U m i o r n a l d e polícia c r i t i c a , a p o n t a ,
C a b a l l e r o , o n d e os policiais a n d a m
demissão? F i q u e i m e agüentando. m e disse q u e tinha a p a n h a d o e m e m t o d o s d e s a c a l ç o s , c o m m a c o n h a e m senão seria t u d o n o s e g r e d o . Aí v o c ê
Daí c o m e ç o u a q u i l o n o b a n c o , b a n - Pedro Juan Caballero, n u m a rua q u e cima. È u m negócio f e d o r e n t o . U m a v e r i a o q u e ia s e r b o m , o c e m i t é r i o
c o , , b a n c o . Eu n u n c a t i n h a t r a b a l h a d o d i v i d i a P o n t a Porã, e m M a t o G r o s s o cidade d e b a n d i d o m e s m o , o oeste e n c h e n d o cada vez miis e todo m u n d o
e m c a r r o c o m r á d i o , ia f a z e r u m a s s a l t o (fronteira c o m o Paraguai). D e c i d i fazer a m e r i c a n o ficava c o m inveja. D e noite calado..
d e b a n c o , n o m e i o v i n h a o rádio e falava P e d r o Juan C a b a l l e r o ! ai a p r e s e n t e i p r o eu telefonava p r o A m i l t o n e combinava, A c h o o s e g u i n t e p a r a essa r a p a z i a d a
" o u t r o b a n c o , o u t r o b a n c o " . Eu d i z i a M i n o Carta (diretor d e Veja) u m roteiro, " o l h a , v o u levar t o d o m u n d o p r a casa, q u e tá c u r s a n d o f a c u l d a d e d e j o r n a l i s -
" q u e loucura, o q u e é isso". E eram b a n - u m r o t e i r o d e l o u c o . " O t ó x i c o tá uísque, tal, e você fotografa t u d o " . mo, c o m u m monte de teoria, de Guten-
c o s q u e já t i n h a m s i d o a s s a l t a d o s 2, 3 t o m a n d o c o n t a . " Eu não t o u a q u i p a r a E u a m a r r e i o m é d i c o e d i s s e q u e ia b e r g n a c a b e ç a , d e s p e j a d a t o d o o m ê s : o
vezes. Era u m a o r g i a , tinha u m b a n c o dedurar ninguém, cada u m c o m a sua. l e v a r u m a l e v a p a r a D o u r a d o s e v o l t a v a . lírio é b r a n c o , m a s a r a i z d e v e ser p r e t a
q u e t i n h a s i d o assaltado mais d e 10 C o m o repórter, estou analisando a f i g u - Era u m a e s t r a d a b r a s i l e i r a e o u t r a p a r a - p o r q u e f i c a n a l a m a . .
Mais um escritor fedido

CHEGA DE
MASTURBAÇÃO
Entrevista e foto de Cláudio Faviere

C o u v e , lingüiça, feijão, o v o e a r r o z . d u a s e d i ç õ e s e s t e a n o , s o m a n d o 5000 b e l e l é u . N ó s e s t a m o s n o s q u e i x a n d o d e r a p a z e s s a u d á v e i s se m a s t u r b a n d o


Cachaça d a p u r a . " E , ê, m u l a t a ! " , grita o e x e m p l a r e s e m 2 m e s e s . O p r ó x i m o será d e m a i s . Isso é u m a a t i t u d e m u i t o n e g a t i - d i a n t e d o e s p e l h o , p o r r a ! Lá f o r a c h e i o
escritor W a n d e r Piroli. Mais u m a Caracu A M á q u i n a d e Fazer A m o r , hitórias d o v a . O n o s s o p o v o está v i v e n d o c o m d i f i - d e m u l h e r e s , a v i d a lá f o r a c o m t a n t o s
g e l a d a ! O b o t e c o fica a o l a d o d o jornal b a i r r o o p e r á r i o d a L a g o i n h a , o n d e f i c a v a c u l d a d e ; p o r q u e nós e s t a m o s q u e r e n d o p r o b l e m a s , e eles presos, p a r e c e q u e
O Estado d e M i n a s , e m B e l o H o r i z o n t e . a z o n a e o n d e P i r o l i v i v e u até c a s a r ( t e m u m a c o n d i ç ã o m e l h o r p a r a nós, e s c r i t o - estavam presos d e n t r o de u m quarto,
Nas outras mesas, mais jornalistas, p u b l i - 4 f i l h o s ) . A g o r a e l e v i v e n u m a p a r t a m e n - res? N ó s t e m o s q u e v i v e r d e n t r o d a d i f i - p r e o c u p a d o s c o m seus p r o b f e m i n h a s
citários, o e s c r i t o r R o b e r t o D r u m m o n d to c o m p r a d o p e l o B N H e g a n h a 7 m i l c u l d a d e , nos a t o l a r m o s d e n t r o d e l a m e s - p e s s o a i s , t a l . Esse t i p o d e l i t e r a t u r a esta
a o f u n d o , filósofos d e b o t e q u i m , b o ê - cruzeiros e m dois e m p r e g o s , d e manhã m o e a s s u m i r essa situação. e n t r a n d o aí, s o f i s t i c a d a .
m i o s . Fala-se d e l i t e r a t u r a : c o m o redator na Câmara M u n i c i p a l , à
t a r d e c o m o e d i t o r d e polícia e m O Esta- A m i n h a intenção d e d i v u l g a r autor Dá a i m p r e s s ã o q u e e u e s t o u d e f e n -
- O sujeito não t e m o n d e p u b l i c a r ,
do de Minas. novo, q u a n d o trabalhei n o Suplemento d e n d o u m a literatura nacionalista. Não
então o c o n c u r s o é u m c a n a l . O João
Literário ( i n i c i o d e 7 5 ) , e s t a v a e s b a r r a n - e s t o u . Estou d e f e n d e n d o posições d e
Antônio praticamente ressucistou c o m o Eis o d e p o i m e n t o d e W a n d e r P i r o l i :
d o n o t i p o d e l i t e r a t u r a q u e c h e g a v a lá autor n a c i o n a l . Nós estamos c o m u m
p r ê m i o d o Paraná. - N o fundo eu me considero u m privi-
p r o b l e m a d i a n t e d e nós, q u e é a nossa
l e g i a d o e t e n h o até u m a c e r t a v e r g o n h a , M e i m p l i c a v a m u i t o u m s u j e i t o vive>-
própria r e a l i d a d e . N a m e d i d a e m q u e
Piroli também g a n h o u prêmio d o d a g e n t e s e r u m d o u c o f e l i z s o z i n h o , n n Piauí, n o C e a r á , d e n t r o d ;
nós o m i t i r m o s d i a n t e d e s s a r e a l i d a d e ,
C o n c u r s o d o Paraná, c o r n o s c o n t o s Crí- s a b e ? q u e lá f o r a o t r e m tá f e i o . Tá f e i o d a d e b r u t a l d e l e s - são e s t a d a e n s o l a r a -
tica d a R a z ã o Pura e O s Camaradas, d o d e m a i s . dos, cheios d e p r o b l e m a s - e o cidadão nós c a m u f l a r m o s e s s a r e a l i d a d e , nós
estaríamos f a z e n d o u m a l i t e r a t u r a d e
l i v r o A M ã e e o Filho d a M ã e ( d u a s e d i - E u a c h o q u e o g r a n d e d e s a f i o q u e nós m e v i n h a c o m t e x t o c o m a q u e l a a t m o s -
ç õ e s até a g o r a : u m a d e 1 0 0 0 e x e m p l a r e s t e m o s q u e e n f r e n t a r é e s s e : o u v a m o s f e r a d e K a f k a , o u t r o s a p l i c a n d o o s t r u - traição. E n t ã o u m a l i t e r a t u r a r e a c i o n á r i a .
e m 6 6 ; o u t r a d e 3 0 0 0 r e c e n t e m e n t e ) . S e u a s s u m i r a n o s s a r e a l i d a d e , o u o t r e m está q u e s d o s e o J o y c e , t r a n q ü i l a m e n t e . Q u e venha o escritor d e fora, precisa-
l i v r o é O M e n i n o e o Pinto d o M e n i n a , i n d o p r a o n d e está, e está i n d o p a r a o E n t ã o a i m p r e s s ã o q u e e l e s m e d a v a m é m o s d e l e s , p r e c i s a m o s m a n t e r u m inter-
EX-16
c â m b i o c o m eles. E u c o n s i d e r o o Kafka, Nós estamos diante d e uma realidade ria, t e m m i l h a r e s d e r e g u l a m e n t o s p r o i - N a é p o c a e m q u e e u v i v i a lá a e d u c a -
talvez o autor mais i m p o r t a n t e do nosso q u e n o s leva a o p e s s i m i s m o , a g o r a eu bindo. ção começava p e l o f u t e b o l , a t u r m a
século. Agora, não p o d e m o s ficar presos não f e c h o o c a m i n h o d a esperança, não. entrava na pelada, e grandes talentos d e
B o m , o g a r o t o s u r g i u c o m o p i n t o lá, e
a ele, ele v i v e u lá n a T c h e c o s l o v á q u i a , Eu t e n h o u m a esperança desgraçada. f u t e b o l f o r a m d e s p e r d i ç a d o s a o s 14,15
e u estava c o m esse p r o b l e m a d e n t r o d e
d e n t r o d a q u e l e s p r o b l e m a s dele. Então Então e u a c r e d i t o d e m a i s n a f u n ç ã o d o anos, q u a n d o começavam a entrar n o
c a s a e e u s a b i a q u e e l e ia s o f r e r c o m i s s o .
ele d e u o recado; mesma coisa o senhor escritor, c o m o h o m e m público. E o c o p o . A q u i l o a l i é c o m o se f o s s e u m a
Eu já e s t a v a s i n t o n i z a d o , sabia q u e o
Joyce, q u e abriu porteiras imensas pra escritor t e m d e assumir a função d e herança passada d e pessoa p r a p e s s o a , o
m e u m e n i n o ia t e r a p r i m e i r a e x p e r i ê n -
ficção, p r o artesanato... M a s eles a s s u m i - h o m e m público, e t e m q u e fazer a litera- b a i r r o t i n h a u m a associação i m e n s a d e
c i a g r a t u i t a m e n t e d i a n t e d a m o r t e . Ele
ram a realidade deles, q u e é u m a realida- tura d o dia d e noje, dos problemas d e botequins.
d e e u r o p é i a , d e países e m d e c a d ê n c i a . h o j e e d a m a n h ã s e g u i n t e . E n t ã o n ã o há
O B r a s i l é u m país d e 400 e p o u c o s a n o s ,
é u m país j o v e m , e n t ã o n o s t e m o s q u e
pessimismo porque eu acredito no dia
d e amanhã. N o f u n d o , u m a literatura
Nós somos mesmo A parte marcante d o bairro é q u e u m
bairro de trabalhadores: u m p o u c o da
fazer u m a literatura j o v e m . Nossa litera- pessimistja d e h o j e está v o l t a d a p r a desorganizados. Mas classe média e a m a i o r i a d e operários.
V i v i lá até o s 26 a n o s , q u a n d o c a s e i .
tura não t r a d u z e m g r a n d e parte a ale-
g r i a , o u a t r i s t e z a , o u a angústia, q u a l -
m a n h ã s e g u i n t e . Ela n ã o está f e c h a n d o
p o r t a s , n ã o . P e l o c o n t r á r i o : e l a está aí é
é um defeito até
quer coisa d o nosso p o v o . E agora esta- pra abrir portas. T a l v e z esteja b a t e n d o , alegre, um pouco de N a L a g o i n h a n ã o t i n h a e s c r i t o r e s , lá
m o s d i a n t e d e u m a g r a n d e tragédia d o e s m u r r a n d o portas fechadas, mas exis-
d i a - a - d i a , e e l a n ã o está n o s l i v r o s . N ó s é t e m o u t r a s p o r t a s a b e r t a s . Tá b o m , tá f é r -
desorganização é bom. ninguém pensava nisso não. D o s m e u s
c o m p a n h e i r o s ninguém mexia c o m lite-
q u e e s t a m o s n o s l i v r o s , o s a u t o r e s . Está t i l , o m o m e n t o está m u i t o fértil.
ratura, ninguém tinha inquietação d e
se f a z e n d o l i t e r a t u r a d e e s c r i t o r e s p a r a
ler. H a v i a u m c o n c u r s o p r o m o v i d o p e l a
escritores. A maioria dos autores é q u e
Eu g o s t a r i a q u e o p e s s o a l m a i s n o v o Prefeitura, u m concurso d e contos, e m
está n o s l i v r o s , e n t ã o o p o v o n ã o está n o s e s t a v a se a f e i ç o a n d o a o p i n t o c o m o se
p e g a s s e o t r e m p r a v a l e r , m a s n ã o se que eu entrei c o m u m conto muito
livros. A g o r a , a c u l p a não é d o p o v o , a a f e i ç o a a u m a v i ã o z i n h o d e plástico, a
o m i t i s s e , não p r o c u r a s s e c a m u f l a r a engraçado, sem-vergonha, u m c o n t o d e
c u l p a é n o s s a , e daí essa g r a n d e distância u m c a r r i n h o . P a r e c e q u e essa história
realidade, fosse d e e n c o n t r o a ela. E ter a h u m o r . Foi o p r i m e i r o q u e eu fiz. Nessa
q u e existe e n t r e o autor e o público. b o b a , t o l a , i n f a n t i l , c o m e ç o u a t o c a r as
lucidez d e entender q u e o escritor é u m época e u estava e s t u d a n d o c o n t a b i l i d a -
p e s s o a s , e está e n t r a n d o n a t u r a l m e n t e d e , e c o i n c i d i u desse c o n t o ser p r e m i a d o
h o m e m c o m u m , não é u m h o m e m p r i v i -
nas e s c o l a s s e m e s q u e m a n e n h u m , a l g u - p e l a p r e f e i t u r a e p u b l i c a d o n o Estado d e
O Borges é um l e g i a d o . P r a s i m p l i f i c a r : o a u t o r n o s s o sai
m a s p r o f e s s o r a s estão d i v u l g a n d o . Minas. Então o p e s s o a l a c h o u m u i t o
m u i t o d a classe média l i b e r a l , e e l e se j u l -
reacionário. O ga c o m alguns direitos q u e não f o r a m engraçado ter u m c a m a r a d a q u e e s c r e -
A c h e i q u e era infantil p o r q u e eu fiz v i a . Isso p e r t e n c e a u m f o l c l o r e , difícil d e
Cortázar é ainda c o l o c a d o s e m dúvida, d i r e i t o d e
teste c o m u m a criança d e 9 a n o s . P e d i e x p l i c a r p a r a o s o u t r o s . Isso e r a m u i t o
progressista mas sua § o z a r d e privilégios, q u e r d i z e r , d i r e i t o
e g o z a r d e mais t e m p o p r a escrever, d e
q u e l e s s e , l e u e se e m o c i o n o u . P u x a , se
e u c o n s e g u i e m o c i o n a r u m a criança d e 9
próprio d o bairro, não t i n h a ninguém
q u e escrevia, tinha poucas pessoas q u e
obra é reacionária. m a i s t e m p o p r a se d e d i c a r às suas c o i s a s .
A i n d a estão p r e s o s a v e l h o s m o d e l o s , o
anos, v o u experimentar c o m u m adulto!
O A n d r é C a r v a l h o , o e d i t o r , já g o s t a v a
a u t o r n u m a posição m u i t o i n d i v i d u a l i s -
d a história e q u e r i a e d i t a r . Ela já estava
ta, l i v r a n d o s u a p e l e . Tirar seus m o m e n -
A g o r a , e u t e n h o u m a certa antipatia,
tos p r a p r o d u z i r sua literatura, c o m o se a
p r o n t a há 3 a n o s , m a s e u m a n t i n h a u m a O escritor é um
q u e r o d e i x a r r e g i s t r a d o aí, p e l a l i t e r a t u r a certa reserva, não acreditava m u i t o não.
r e q u i n t a d a , e m b o r a e u l e i a e g o s t e até
literatura fosse u m a coisa à parte, e não
Pedi ao G e r a l d o Magalhães, q u e era o militante. O partido
é. Ela é u m s e r v i ç o i g u a l o u t r o , o s u j e i t o
de alguns autores r e q u i n t a d o s . Entre
t e m q u e estar c o m p r o m e t i d o c o m a
m e u c h e f e lá n a I m p r e n s a O f i c i a l , p a r a dele é o Partido
eles e u citaria o s e n h o r Borges. È u m a f a z e r a revisão d o s o r i g i n a i s p a r a m a n d a r
influência nefasta, n o Brasil, p e l o f o r m a -
r e a l i d a d e c o m o n o serviço d o m e c â n i c o ,
p r a e d i t o r a . Q u a n d o e u v o l t e i à sala d e l e do Homem. Fora disso
d o c a r p i n t e i r o , mas nós a i n d a e s t a m o s
lismo. A literatura dele é d e forte t e n -
dência formalista e artificial. V o c ê p e g a
c o m a colocação m e i o elitista d o autor.
para p e g a r os o r i g i n a i s e l e estava ele está no onanismo.
c h o r a n d o , sabe? Então e u f i q u e i m u i t o
u m l i v r o d o B o r g e s , q u e o título é m u i t o r e a l i z a d o c o m isso, p e l a p o s s i b i l i d a d e d a
b e m a p l i c a d o : Ficciones. N ã o t e m n a d a O i i d e a l seria a r e p o r t a g e m d e polícia, história p r o v o c a r e m o ç ã o n o s o u t r o s . O l i a m - o m é d i c o , o f a r m a c ê u t i c o , essas
d o cidadão a r g e n t i n o c o m e n d o u m bife a reportagem d e rua d o j o v e m escritor, a u t o r , e m média, f o g e d a e m o ç ã o c o m o o coisas. O fato é q u e m e u s c o m p a n h e i r o s
ou d e i x a n d o de c o m e r u m bife. È o ele partir pra rua, sentir toda a carga e m d i a b o d a c r u z , e l e a c h a q u e isso c o m p r o - estranharam, a c h a r a m m u i t o engraçado
menos latinoamericano que qualquer c i m a d e l e , mas a o m e s m o t e m p o e l e ler m e t e a q u a l i d a d e d a o b r a dele. O sujeito o cidadão d e r e p e n t e a p a r e c e r n o j o r n a l
autor argentino. E u m cidadão a r g e n t i - os b o n s a u t o r e s , t a l , p r a e l e se p r e p a r a r está m a i s n o s t r u q u e s f o r m a i s , está m a i s c o m u m a matéria p u b l i c a d a .
no, m u i t o simpático, u m b o m s u j e i t o , p a r a f a z e r o t e x t o d e l e . E l e se i n f o r m a r . a p e l a n d o , ne? Eu t e n t e i f a z e r a história s i m -
mas q u e t e m f e i t o l i t e r a r i a m e n t e mais ples, d e u r e s u l t a d o .
m a l d o q u e b e m . E, se c o m p a r a r m o s h i s - È c h a t o falar nisso, mas o n o s s o escritor
Q u a n d o entrei pra faculdade d e Direi-
toricamente, ele perde muito de longe e m g e r a l não está i n f o r m a d o . O s m e l h o -
Esse é o m e u 2? l i v r o . O 1 é A M ã e e o
9
to a i n d a m o r a v a n a L a g o i n h a . Seria mais
p r o nosso v e l h o M a c h a d o d e Assis, d e n - res e s c r i t o r e s n o s s o s não são m u i t o d e
Filho d a M ã e . S ã o c o n t o s e s c r i t o s d e 5 2 a u m a p r e s t a ç ã o d e c o n t a s c o m a família
tro d o p e q u e n o m u n d o d e l e , o C o s m e r u a não. O m i l a g r e d o s e n h o r G u i m a r ã e s
72. O c o n t o b a s e - A M ã e e o Filho da o p e r a r i a q u e q u e r i a ter u m f i l h o f o r m a -
Velho. R o s a t a l v e z e s t e j a n i s s o . Ele p a r t i a d e
M ã e - é a b s o l u t a m e n t e autobiográfico. d o . Eu n ã o q u e r i a e s t u d a r , n ã o e s t a v a
cavalo e n o meio d o c a d e r n i n h o de
O personagem central - o condutor de n e s s a n ã o . Saí d a L a g o i n h a e m 5 8 , m a s
notas d e l e tinha pilhas e pilhas d e a n o t a -
b o n d e - era c o n h e c i d o m e u d o bairro da estou ligado ao bairro e m o c i o n a l m e n t e
E o cidadão Cortázar, q u e é o c a m a r a - ções. A c h a v a m a q u e l e sujeito m e i o d o i -
L a g o i n h a , o n d e e u n a s c i e vivi.. até h o j e , é u m l u g a r até o n d e e v i t o v o l t a r
d a q u e t e m as p o s i ç õ e s m a i s extratraor-^ d o , e d e fato era m e i o d o i d o m e s m o .
dinárias, d e u m a h a b i l i d a d e f o r a d o p o r q u e através d o s v e l h o s c o m p a n h e i -
M a s ele fez o trem, ele trabalhou a lin- O bairro é marcante p o r q u e tem ros e u r e c e b o u m a c a r g a d e e m o ç ã o
E
c o m u m para escrever, e n o entanto t e m u a g e m d o pessoal. M a s não bastava tra- características m u i t o p r ó p r i a s d e B e l o m u i t o g r a n d e . A s vezes p r a visitar o b a i r -
f e i t o u m a l i t e r a t u r a até c e r t o p o n t o r e a - alhar a l i n g u a g e m , tinha q u e captar H o r i z o n t e . Era o n d e f i c a v a a p u t a r i a , a r o , as p e s s o a s se e n c o n t r a m n o b o t e -
cionária, m u i t o e l a b o r a d a , m u i t o elitista. aquele cheiro, aquela coisa q u e ele t r o u - p a r t e boêmia d a c i d a d e . T i n h a a praça d a q u i m , e é p r e c i s o t e r u m p r e p a r o físico
Isso m e p r e o c u p a , p o r q u e é u m a p e s s o a xe para os livros d e l e . L a g o i n h a q u e era u m d o s p o n t o s mais extraordinário pra a c o m p a n h a r , e m b o r a
d e m a i o r trânsito, p r i n c i p a l m e n t e n a
famosos da cidade. A partir dela tinha a eu tenha u m b o m preparo, tenho u m a
área j o v e m , p e l a s p o s i ç õ e s d e l e , q u e é
p a r t e r e s i d e n c i a l , u m p o u c o d e classe c a i x a b o a p r a isso. M a s a c a r g a e m o c i o -
u m cidadão c o r a j o s o . M a s e l e gasta, p o r
e x e m p l o , 5, 6 l a u d a s p a r a d e s c r e v e r u m
Eu tenho em casa média e o resto t r a b a l h a d o r e s . T e r m i n a - nal é a s e g u i n t e : a g e n t e vê os v e l h o s
va e n t ã o essa p a r t e r e s i d e n c i a l , nós
cidadão t i r a n d o o p u l o v e r , o u p r a d e s - 4 filhos esperando, subíamos p a r a P e d r e i r a P r a d o L o p e s , d e
c o m p a n h e i r o s q u e estão n a p i o r , o u
m o r r e r a m , o u estão e n c o s t a d o s n o I n s t i -
crever a m e l h o r maneira d e subir u m a
e s c a d a . E l e está c o m u m c o m p r o m i s s o e e s s e s meninos u m lado, e o Buraco Q u e n t e d e outro, t u t o . Isso é u m a a m e a ç a q u e p e s a s o b r e
o n d e a maioria d a população era d e operá-
m u i t o m a i o r pela f r e n t e , e usa m u i t o t r u - têm mania de rios, m a s havia t a m b é m m a r g i n a i s .
nós t o d o s . Q u e r d i z e r , p e s a u m p o u c o .
que formal. Muitas vezes e u sinto q u e
e l e está a p l i c a n d o e m c i m a d a p o b r e z a almoçar, jantar... N ã o t i n h a n a é p o c a as c o n o t a ç õ e s d e
hoje. Q u e r d i z e r , a violência era mais Eu c o n s i d e r o o s e g u i n t e : t o d o e s c r i t o r
lati n o - a m e r i c a n a . E e s t a m o s aí p r a a p l a u -
individual, refletia n u m a briga n o b r a - está e n g a j a d o , q u e i r a o u n ã o q u e i r a . D e
dí-lo, e e l e t i r a n d o essa f a i x a d o b o l o ,
Se o a u t o r não f i z e r u m l i v r o necessá- ço,na n a v a l h a , e v e n t u a l m e n t e a l g u é m u m l a d o o u d o o u t r o , e l e está c o m p r o -
que pertenceria à pobreza d o autor
rio é preferível não p u b l i c a r . Q u e r d i z e r , m o r r i a a f a c a d a s , o u a t i r o s ; m a s as o r i g a s m e t i d o c o m a realidade. Não adianta ele
nacional, e de outros autores, c o m o o
c o m o e s s a história p e q u e n a q u e é O eram normais, faziam parte d o calor d o q u e r e r b a n c a r o e s p e c t a d o r . N^ão s o u
próprio Juan R u l f o , q u e e u c o n s i d e r o
M e n i n o e o Pinto d o M e n i n o . N o s e n t i - bairro. O bairro também era m o d e l o , e l e m e n t o partidário, a n ã o ser n a q u e l e
u m a u t o r extraordinário q u e hão a t i n g i u
d o d e denúncia q u e e u d o u a ele e u c o n - q u e r d i z e r , as p e s s o a s v i v i a m b e m , n ã o sentido maior qüe o escritor é u m mili-
a faixa d e best-seller, p e l o m e n o s e m ter-
s i d e r o u m l i v r o necessário. E t i v e o u t r a s e r a p e r i g o s o n a o . Era p e r i g o s o p r a s p e s - tante, q u e o partido d e l e é o da vida, é o
mos brasileiros. M a s o t e m p o é q u e m
p r e o c u p a ç õ e s : s e r i a possível e n t r a r n o soas q u e m o r a v a m n a p a r t e s u l d a c i d a - partido d o h o m e m . Nesse ponto eu acho
dirá q u e m v a i e q u e m n ã o v a i . Eu a c r e d i -
m u n d o infantil s e m fadas, s e m varinhas d e , g o z a v a d e m a u c o n c e i t o ; p r a nós q u e q u e o e s c r i t o r é u m m i l i t a n t e . Se e l e e s t i -
to q u e Juan R u l f o c h e g u e na frente, t a n -
to d o Cortázar c o m o d o B o r g e s . mágicas, s e m n e v e s , c o m p r o b l e m a s v e r f o r a d e s s a , e l e está n o o n a n i s m o . É
u r b a n o s ? E u a c h e i b o a essa j o g a d a . E o um outro problema.
m e u d e s a f i o e r a f a z e r u m a história s i m - Há muita gente
Nós estamos é i m p o r t a n d o o m u n d o ples e v e r d a d e i r a . Seria m o t i v a r o leitor
dos outros, d o m u n d o ficcional d o de hoje, o m e n i n o d e hoje, pra ler a m a - esperando, mas nós Eu n ã o e s t o u d e f e n d e n d o u m a l i t e r a -
senhor Borges, d o m u n d o ficcional d o nhã. temos culpa também: t u r a política, m a s , u m a l i t e r a t u r a p a r t i c i -
s e n h o r Cortázar, a d o t a n d o os m e s m o s p a n t e d a r e a l i d a d e . O p e s s o a l está m u i t o
t r u q u e s d e l e s , q u a n d o nós d e v í a m o s é o Brasil é c o m o e s p e c t a d o r , está t o d o m u n d o d e
A idéia d o l i v r o s u r g i u c o m u m
aproveitar a esperteza deles, o a p r e n d i -
p r o b l e m a pessoal q u e enfrentei. N o dia um país ocupado! p a l a n q u e . O Brasil é u m paíscultural-
z a d o deles, e partir p r a nossa jogada. m e n t e o c u p a d o , t e m os sintomas mais
d a criança - não sei p o r q u e b u r r i c e o u
a l a r m a n t e s aí, n ã o só n a l i t e r a t u r a , m a s
falta d e s e h s i b i l i d a d e o u e r r o d e cálculo
t a m b é m n o rádio, na televisão, afinal e m
Não a c h o q u e a literatura sofisticada é - n o s j a r d i n s d e infância d e r a m p a r a o s
quase t o d o s os m e i o s d e comunicação.
o q u e tem de m e l h o r e m termos de reali- m e n i n o s u m p i n t o d e p r e s e n t e . Então v i v í a m o s lá e r a u m b a i r r o e x c e l e n t e p r a O B r a s i l está o c u p a d o .
dade brasileira: acho q u e por outro lado cada p e q u e r r u c h o saiu c o m a q u e l e v i v e r . Eu e s t a v a m a i s o u m e n o s c o l o c a d o
é u m a f o r m a d e fuga. Nós estamos c o m b i c h i n h o na mão g r i t a n d o , p i a n d o d e s - c o m o o s d e m a i s : m i n h a família e r a
u m d e s a f i o lá f o r a e n ã o p o d e m o s v o l t a r graçadamente e m ônibus, na rua. M e u operária, m e u pai era p i n t o r d e m á q u i - O autor nacional tem esperneado,
a cara pra e l e . Se o j o v e m não tiver u m m e n i n o r e c e b e u t a m b é m esse p r e s e n t e nas, o p e r á r i o m a i s e s p e c i a l i z a d o . A g e n - e s c r i t o r é u m a raça m u i t o difícil, e b a s -
p o u c o d e r e b e l d i a , u m p o u c o d e raiva, d e g r e g o . E c h e g o u e m c a s a c o m e l e . Eu te e r a d e s c e n d e n t e d e i t a l i a n o , a cútis t a n t e d e s u n i d a . Há m u i t a g e n t e e s p e r -
u m p o u c o d e q u a l q u e r c o i s a , nós e s t a - fiquei u m p o u c o indignado, p o r q u e eu m a i s b r a n c a . Isso, n a é p o c a d e 1 9 5 0 , a b r i a n e a n d o , m a s a v e r d a d e é a s e g u i n t e : nós
mos f u d i d o s , pô! P o r q u e a nossa g e r a - c o n h e ç o u m p o u c o d e criação d e g a l i - mais portas. H o j e não! H o j e o negócio temos u m a grande parte d e culpa. O
ç ã o já está i n d o p r o b e f e l é u , q u e r d i z e r , n h a s - já m e x i c o m g a l o d e b r i g a . Eu s e i está m a i s fácil, o p r e c o n c e i t o é m a i s d e t i p o d e l i t e r a t u r a q u e nós e s t a m o s f a z e n -
ela não c o n s e g u i u f a z e r q u a s e n a d a . E que a possibilidade de u m pinto de u m o r d e m econômica; na época tinha do, eu tenho absoluta certeza, porque
v e r d a d e q u e m u i t o s d e nós e s p e r n e a - dia m o r r e r é m u i t o m a i o r q u e d e viver. outros preconceitos vigentes, c o m o d e eu s o u h o m e m d e r u a , não é a literatura
m o s aí, t a l , t e n t a m o s a l g u m a c o i s a , m a s a Pra v i v e r t e r i a q u e s e t o m a r c u i d a d o s o r d e m s e x u a l , d e c o r . A c o n f u s ã o está q u e e l e s estão e s p e r a n d o d e nós. N ó s
l u t a n ã o f o i fácil. O p e s s o a l n ã o d e v e excepcionais. E pinto e m apartamento m e l h o r agora, na época estavam mais e s t a m o s m u i t o a q u é m d a tragédia b r a s i -
amolecer, não! não t e m p o s s i b i l i d a d e não. T e m p o r t a - d e l i n e a d a s as f a i x a s . leira.
os
f X - 76
m a coisa n u » bolsos d e d e n t r o d o p a l e t ó . Senta-se n o v a m e n t e , e n t r e a b r e ligeira-
U m l e n ç o . Enxuga o rosto v e r m e l h o , ins- m e n t e o e m b r u l h o , torna a fecha-lo,
pira f u n d o , p o u s a o olhar s o n o l e n t o n o ajeitando as dobras d o p a p e l c o m as mãos
rapaz. t r ê m u l a s . O l h a para a porta f e c h a d a , esta-
- D e i x e - m e ver. V o c ê e o dr. M á r i o la os d e d o s , passa a m a o na c a b e ç a raspa-
e r a m colegas e agora v o c ê veio a q u i , c o m d a , o l h a a m ã o suor. É u m rapaz branco,
esse e m b r u l h o , e q u e falar c o m ele, c e r - d e o l h o s assustados, q u e agora v ê a porta
to? se abrir e o cara q u a d r a d a atravessa-la e
- M a m ã e p r e p a r o u pra ele - i n f o r m a o passar p o r e l e , s e m u m a palavra, sem
rapaz sequer olhar e m sua d i r e ç ã o , e entrar na

CAMARADAS
- A h , q u e r d i z e r q u e sua m ã e e n t ã o é saleta. Levanta-se, c o m o se fosse a c o m p a -
d o esquema. nhá-lo, torna a sentar-se, inclina o corpo
- N a o , n ã o , p o r favor. para o lado da saleta. N ã o o u v e nada.
- Ela n ã o fez o prato? O cara q u a d r a d a reaparece na porta da
- Fez s i m , mas ela n u n c a viu o M á r i o . Eu saleta:
é q u e falei c o m ela q u e tinha u m c o l e g a - V e m cá.
d e b a n c o q u e estava Encontra o g o r d o na m e s m a posição
- C e r t o , certo. V o c ê ia d i z e n d o estava? e m q u e o vira antes, mas p e c e b e q u e ele
- Está aqui - corrige o rapaz está a c o r d a d o .
- Certo. Continue. - M u i t o b e m - diz o g o r d o , e r g u e n d o as
- N ó s e s t á v a m o s c o m e n d o hoje na p á l p e b r a s . - A c o n t e c e q u e estamos com
mesa e e n t ã o m a m ã e l e m b r o u . Foi so isso. um problema.
M a m ã e fez o prato e e u v i m trazer. - Sim s e n h o r — A d m i t e o rapaz.
W a n d e r Piroli - B e m - O g o r d o se m e x e na p o l t r o n a , - Q u e d e o embrulho?
faz m e n ç ã o d e cruzar as pernas, desiste. - - A h , e u deixei lá n o b a n c o .
Mas tem u m problema. O dr. M á r i o - N ã o precisa buscá-lo.
R i b e i r o N ã o p o d e r e c e b e r visitas. O g o r d o revolve os bolsos, a m ã o o b e -
- Se o s e n h o r n ã o se i n c o m o d a - apres- sa surge c o m u m a nota d e d e z cruzeiros.
sa-se o rapaz - e u posso deixar o e m b r u - - G a r c i a , a p a n h e u m a carteira.
lho. O cara q u a d r a d a sai c o m o d i n h e i r o .
O g o r d o enfia o cigarro e n t r e os l á b i o s - A q u e s t ã o é simples - torna o g o r d o . -
c a r n u d o s , mas n ã o a c e n d e - o isqueiro A p e n a s u m detalhes q u e m e passou des-
m i n ú s c u l o na m ã o i n c h a d a , c a b e l u d a . O s p e r c e b i d o . C o m o foi m e s m o q u e ficou
o l h o s o b e s o s fixam ora o e m b r u l h o , ora o s a b e n d o q u e o dr. M á r i o Ribeiro estava
rosto aflito d o rapaz. aqui?
- Eu vim mais pra trazer. Se o s e n h o r . Uai - o rapaz sorri, aliviado. - T o d o
- C e r t o . A f i n a l hoje é u m dia i m p o r t a n - m u n d o sabe.
te. Natal, certo? - Todo mundo?
- Sim s e n h o r . - Q u e r o d i z e r , lá n o b a n c o .
C o m o e m b r u l h o na m ã o , o rapaz d e O rapaz e x i b e o e m b r u l h o .
- V a m o s ver. Aproxima-se. - O pessoal t o d o sabe q u e ele está aqui,
c a b e ç a raspada s o b e os dois lances de - Eu trouxe.
O rapaz d á u m passo à frente. certo?
escada e se dirige ao tipo d e j a p o n a q u e - Parece - i n t e r r o m p e o g o r d o - q u e
- V o c ê agora abre o e m b r u l h o . - Sim s e n h o r .
está d e b r u ç a d o n o a l p e n d r e : v o c ê n ã o é d o e s q u e m a , certo?
A f o b a d o , o rapaz c o m e ç a a desatar o - Q u e m , p o r e x e m p l o ? Cite u m n o m e .
- B o m dia.
- Sim s e n h o r . barbante. O rapaz atrapalha-se. O l h a p e l o bascu-
O o u t r o volta-se p e s a d ã o , a cara q u a -
- Sim senhor? - P o d e c o l o c á - l o aqui na p o l t r o n a . lante e v ê o cara q u a d r a d a encostado no
drada.
- O h , não. N ã o senhor O rapaz agacha-se tira o barbante e b a l c ã o d o b o t e q u i m , d o o u t r o lado da
- Por favor - d i z o rapaz - e u q u e r i a
- C e r t o . M a s m e d i g a u m a coisa. - O abre o p a p e l g o r d u r o s o . O g o r d o p r o c u r a rua.
falar c o m M á r i o Ribeiro.
g o r d o fecha as p á l p e b r a s e n o r m e s - A h , saborear o c h e i r o d e frango assado, sorri. - Vamos, meu jovem.
- Repete o nome
estou a c h a n d o , q u e m sabe? Ê u m a gente - V o c ê p a r e c e ser u m b o m rapaz, certo? - Eu vi t a m b é m nos jornais - responde o
- M a r i o Ribeiro
esperta, m u i t o esperta - Levanta as p á l - - Tira o cigarro ainda a p a g a d o , da b o c a : - rapaz.
- A h - o tipo d e cara q u a d r a d a i n s p e -
pebras d e r e p e n t e : - A f i n a l , é o u n ã o é ? Garcia - C e r t o . M a s vamos aos n o m e s lá do
ciona o rapaz, o e m b r u l h o .
O rapaz ergue-se, assustado, e o cara banco.
- Eu trouxe pra ele - explica o rapaz. O rapaz inquieta-se. O l h a para o cara q u a d r a d o aparece. - D e s c u l p e , p o r favor. Foi u m engano
- A h , trouxe? Espera aí. q u a d r a d a , até e n t ã o o m i s s o , e q u e agora - G a r c i a , vai buscar o dr. M á r i o R i b e i r o . m e u . Eu vi m e s m o foi nos jornais e os
O cara q u a d r a d a entra n o c a s a r ã o . sorri - u m sorriso r á p i d o , m e c â n i c o - O cara q u a d r a d a n ã o se m o v e . meus colegas t a m b é m viram. Foi isso.
Parado na soleira d a porta e c o m o e n q u a n t o o rapaz transfere n o v a m e n t e o - Vai buscá-lo. - Q u a l jornal?
e m b r u l h o e m ambas as m ã o s , c o m o se e m b r u l h o d e m ã o . N o p a p e l , as manchas Mas, doutor. - Nos jornais.
estivesse s e g u r a n d o u m a bandeja, o rapaz d e g o r d u r a v ã o se alastrando. - O r d e m . Certo? - Qual?
ouve:
A g o r a o g o r d o , afastando as dobras d o - A c h o q u e foi n o Jornal d o Brasil.
- T e m gente q u e r e n d o o M á r i o R i b e i - - O r a - torna o g o r d o - eu tenho o b r i -
g a ç ã o d e fazer perguntas, saber coisas. p a p e l , e x a m i n a c o m m o d o s d e b o m gour- - C e r t o . V a m o s supor q u e tenha sido
ro.
Por e x e m p l o : q u a l e o seu n o m e ? met, o frango e c o m p a n h i a : m a c a r r ã o , n o Jornal d o Brasil. Prove.
- Hein? p e d a ç o d é p u d i m envolto e m papel de - Por favor, c o m o é q u e e u v o u provar?
- Carlos - o rapaz r e s p o n d e a f o i t a m e n - seda, garfo e c o l h e r . - M o s t r a n d o - m e o jornal, o recorte.
- Lá fora, u m rapaz c o m cara d e f o m e .
- V o c ê está b ê b a d o - r e s p o n d e u m a te. - Foi sua m ã e q u e fez? - Eu li, só. N ã o g u a r d e i o jornal, eu não
voz g o r d a , s o n o l e n t a . - N o m e todo, meu jovem. - Sim s e n h o r . sabia.
- B e m , o rapaz está Ia e s p e r a n d o . - Pereira. Carlos Pereira. - B o m , m u i t o b o m o c h e i r o . V o c ê sabe - N ã o sabia o q u ê ?
- C e r t o . E para o n d e v o c ê o m a n d o u ? - C e r t o . E n t ã o estamos na seguinte o q u e t e m d e n t r o d o frango? - U a i , e u n ã o sábia q u e tinha q u e guar-
- Ele trouxe u m e m b r u l h o - i n f o r m a a s i t u a ç ã o , p o r e n q u a n t o . Carlos Pereira - Farofa. dar.
voz arrastada d o cara q u a d r a d a . veio ralar c o m o dr. M á r i o Ribeiro. Certo? - C e r t o . S ó farofa? - Sua m ã e t a m b é m viu?
- E n t ã o m a n d a entrar, m a n d a . Vai lá. - Eu v i m foi para - Farofa c o m o v o e m i ú d o d e frango. - N ã o s e n h o r . Eu é q u e falei c o m ela.
- Entre - d i z o cara q u a d r a d a , d e volta. - Sim o u n ã o ? - O q u e é q u e v o c ê acha d e abrirmos o - E o q u e ela disse q u a n d o v o c ê falou
Passam p o r u m a sala e n o r m e : dois b a n - - Sim, mas frango para ver se a farofa está m e s m o c o m ela?
cos encostados às paredes; t e l e f o n e , m á - - Sim, sem mas. boa? - Nada.
q u i n a d e escrever e c a r i m b o s e m c i m a de - Por favor. - O s e n h o r q u e r q u e e u a b r o ele? - Nada? Ela d e v e ter falado alguma c o i -
u m a velha mesa. N o o u t r o c ô m o d o - u m a - Está b e m , fale. O h , n ã o . N ã o p o d e m o s fazer u m a coisa sa.
saleta - t e m u m h o m e m v e r m e l h o , desta, certo? - N ã o m e l e m b r o . A c h o q u e ela falou:
- Eu vim mais foi para trazer isto. - O - O s e n h o r é q u e sabe. coitado. Foi isso.
r e d o n d o , a f u n d a d o na p o l t r o n a c o m jor-
rapaz mostra o e m b r u l h o e o l h a , para u m O g o r d o f e c h a as p á l p e b r a s pelancosas - E n t ã o ela disse c o i t a d o , certo?
nal aberto n o assento ao lado.
lado e o u t r o , p r o c u r a n d o u m lugar para p o r u m m o m e n t o , bate c o m a p a l m a na - Não, não.
- Sim s e n h o r - c u m p r i m e n t o u o rapaz.
deixá-lo. M a s a saleta t e m apenas a p o l - perna curta e grossa: - Sim o u n ã o . Antes v o c ê disse sim.
O h o m e m da p o l t r o n a levanta as pál-
trona e meia d ú z i a d e p a p é i s p r e g a d o s na - Escuta a q u i , m e u j o v e m . P o d e levar o - M a s ela n ã o disse n ã o .
pebras e m p a p u ç a d a s e p õ e lentamente
p a r e d e e n c a r d i d a , ao l a d o d o basculante, e m b r u l h o para a outra sala. Vai para lá, - Disse n ã o o u disse coitado?
os o l h o s sonolentos n o rapaz. U m olhar
através d o qual se v ê d o o u t r o lado d a rua senta n o b a n c o e espera o seu a m i g o . C e r - - N ã o s e n h o r . Ela n ã o disse nada.
profissional, m e t i c u l o s o . O rapaz m u d a o
u m b o t e q u i m d e duas portas. to? - Por q u e e n t ã o v o c ê disse q u e ela disse
embrulho de mão.
- É u m n o m e c o m u m - observa o g o r d o - Sim s e n h o r . coitado?
- Será q u e e u p o d i a falar c o m M á r i o
- Carlos Pereira. A c h o q u e já vi antes. - Foi e n g a n o . Ela n ã o disse nada.
Ribeiro? O rapaz pega apressadamente o
O n d e v o c ê trabalha, m e u jovem? - Muito bem.
embrulho.
O g o r d o deixa o cigarro cair n o assoa- - Sou bancário. - Muito obrigado. O cara q u a d r a d a entrega o m a ç o de
lho, pisa-o, sem esfregar para q u e ele - A h , seu e s p e r t i n h o . Sentado n u m dos b a n c o s d a sala, c o m o cigarros Minister para o g o r d o , q u e tira a
apenas se a p a g u e . - S o u b a n c á r i o , sim s e n h o r . e m b r u l h o semi-fechado n o c o l o , 0 rapaz fitinha, corta o selo c o m a u n h a d o d e d o
- Muito bem. - C e r t o , certo. M a s c o n t a para m i m estende as duas m ã o s . T r ê m u l a s . E s c o n - m i n d i n h o , retira u m cigarro e deixa-o na
Respira f u n d o . A barriga se m o v e , g e l a - qual é m e s m o o b a n c o q u e v o c ê f a l o u . de-as p o r baixo d o e m b r u l h o , o l h a para as b o c a sem a c e n d e r .
tinosa, d e b r u ç a d a até quase os joelhos, - Banco Hipotecário. tábuas largas e gastas d o s o a l h o , as p a r e - - O l h a - torna o ç o r d o . - N ó s estávamos
o c u l t a n d o parte das pernas grossas e - Isto, rapaz. H i p o t e c á r i o . E n t ã o v o c ê é des sujas, o teto alto, t a m b é m d e t á b u a i n d o b e m . V o c ê e u m b o m rapaz, mas
r e p e n t i n a m e n t e curtas. c o l e g a d o dr. M á r i o , certo? algumas e m p e n a d a s , teias d e aranha nos agora m e c r i o u u m p r o b l e m a .
- V o c ê e n t ã o q u e r falar c o m o dr. M á r i o - B o m , d e certa f o r m a . cantos. Pela p o r t a d e entrada ele v ê u m a - Por favor.
R i b e i r o , certo? - Sim ó u n ã o ? parte d o a l p e n d r e , as grades e n f e r r u j a - - Infelizmente - explica o g o r d o - u m
- Sim s e n h o r . - Sim. das, o c o r r i m ã o c a r c o m i d o , os ladrilhos p r o b l e m a q u e e u n a o posso resolver.
O g o r d o aprova c o m a c a b e ç a : - Por q u e v o c ê disse de certa forma? irregulares. A t r a v é s d a janela, telhas e V o c ê vai ter q u e esperar o dr. Soares.
- Então é verdade. M u i t o b e m . - N ã o sei. velhas mangueiras. A outra porta, q u e d á - M a s p o r q u e ? - exalta-se o rapaz.
Sua v o z é v o l u m o s a , c o m o a d e q u e m - N ã o sabe? V a m o s ver. V o c ê s trabalha- para o interior d a casa, está f e c h a d a . A rua - Calma, meu jovem.
fala c o m a b o c a t o d a e n ã o apenas c o m os vam juntos, u m a mesa a q u i e outra ali? manda-lhe os r u í d o s d o trânsito. - M e e x p l i q u e , p e l o a m o r d e Deus.
lábios: - Ê isso q u e q u e r i a d i z e r . M á r i o era d e O rapaz c o m e ç a a inquietar-se, p õ e o O g o r d o a c e n d e o cigarro, lenta e meti-
- V o c ê sabe se ele p o d e r e c e b e r visita, outra s e ç ã o . e m b r u l h o n o b a n c o , levanta-se. culosamente.
m e u jovem? - N o m e s m o andar, certo? C a m i n h a até a mesa, escura, observa a - É c o m o dr. Soares, c e r t o .
- B e m , e u - o rapaz tenta justificar-se. - Sim m á q u i n a d e escrever, bate d e leve n o - D r . Soares d e m o r a ?
- Pois n ã o p o d e . O t e l e f o n e c h a m a na outra saia, o cara t e c l a d o , r e c u a . O l h a na d i r e ç ã o d a saleta - As vezes.
- O s e n h o r m e d e s c u l p e , e u n ã o sabia. q u a d r a d a sai e l o g o e m seguida eles d o g o r d o , v ê apenas u m dos b r a ç o s d a - M a s hoje é natal, será <jue ele vem?
- Certo. o u v e m a v o z arrastada. " P u t a q u e p a r i u , p o l t r o n a . M a i s dois passos e lá está e l e : - Provavelmente.
O g o r d o fixa o o l h o e m p a p u ç a d o n o c u d a m ã e " , e d e p o i s a batida d o f o n e n o v e r m e l h o , os o l h o s f e c h a d o s , os b r a ç o s - Por favor. E se o dr. Soares n ã o vier?
e m b r u l h o : duas m a n c h a s gordurosas g a n c h o . O rapaz volta-se para a porta, c a í d o s ao l a d o d o c o r p o , a barriga e n o r - - Se o dr. Soares n ã o vier hoje, a m a n h ã
c o m e ç a m a aparecer n o p a p e l d e padaria. n ã o ve n i n g u é m . O g o r d o p r o c u r a a l g u - m e m o v e n d o - s e ao ritmo d a r e s p i r a ç ã o . ele v e m . A m a n h ã é c e r t o .
33
EX-16

A M O R T E DE
VLADO
acho que o enterro é hoje mesmo. Em e m sua r e s i d ê n c i a n a noite d e sexta- d e V l a d o , sentia-se c o m o q u e atingida
N ó s n ã o s a b í a m o s d e nada. E agora?
todo caso, faz o seguinte: eu vou te dei- feira. por u m a b o m b a de m e d o , perplexidade!
- Olha... você já soube do negócio do Sem s e g r e d o , d e maneira geral t o d o s
xar o telefone da Clarice, e mais tarde Em Santos, o vice-presidente d o S i n -
Vlado? os jornalistas d a c i d a d e d e S ã o Paulo se
você liga pra lá e se informa, tá legal? - dicato d o s M e t a l ú r g i c o s , M o a c i r d e O l i -
- Não, não tô sabendo de nada. c o n h e c e m , mas, se n o r m a l m e n t e p o u c o
dizia Ingo, um amigo mais chegado de veira, f o i p r e s o n a sexta-feira p o r e l e -
- Pois é, você sabe que ele tinha se se c o m u n i c a m entre si, a partir d a noticia
Vladimir. m e n t o s q u e se identificaram c o m o s e n -
apresentado, nè? se u n i r a m e m t o r n o das i n f o r m a ç õ e s .
Nessa altura, muitos já sabiam, outros d o d o II E x é r c i t o " .
- Não! Não tô sabendo de nada!... O u d a falta delas. A t é o meio-dia eles se
c o m e ç a v a m a saber. E m casos c o m o este, Myltainho, Narciso e Palmério
- Pois é, infelizmente ele morreu. telefonavam d e r e d a ç ã o para r e d a ç ã o ,
os jornalistas já se habituaram a recorrer r e l e m b r a m agora para o EX:
Q u e m d a v a a n o t i c i a , às 2:30 d a d e casa para casa, à p r o c u r a d e amigos e
ao ú n i c o jornal q u e eles s a b e m q u e vai " O V l a d o chegava s e m p r e n o m e i o d a
m a d r u g a d a d e d o m i n g o (26/10), p e l o pessoas q u e s o u b e s s e m d o s fatos. A i n d a
dar a l g u m a coisa: O Estado d e S. Paulo. E tarde, aí pelas 4 e meia. N a q u e l a é p o c a
telefone, era Sandro, l o c u t o r e f u n c i o n á - se pensava q u e o e n t e r r o seria n a q u e l e
é hábito t a m b é m folheá-lo. atentamen- ele era u m a e s p é c i e d e s e c r e t á r i o d o
rio da T V - C u l t u r a , SP. Q u e m a t e n d e u e m e s m o dia e aguardava-se u m a nota o f i -
te, à cata d o q u e os jornalistas m e s m o telejornal. Era d e c h e g a r t r a b a l h a n d o :
ouviu a noticia foi u m d e n ó s : M y l t o n cial p r o m e t i d a p e l o II E x é r c i t o . T u d o era
c h a m a m d e " p i r u l i t o , a nota d e u m a pegava a pauta, lia i m e d i a t a m e n t e c o m
Severiano d a Silva. N a casa, t e r m i n a n d o u m c h o q u e s ó : a prisão, a m o r t e e a n o t i -
c o l u n a . A o p é d a p á g i n a 44, n o Estadão ü m a atitude m u i t o sua, a d e cocar alguns
de assistir ã final a m a d o r a d e f u t e b o l , cia d e q u e , ao c o m u n i c a r o fato ao Presi-
d e d o m i n g o , 26/10, podia-se ler: cabelos d o alto d a c a b e ç a , d e p é , e o
Brasil x M é x i c o , direto pela T V , outros d o d e n t e d a F u n d a ç ã o Padre A n c h i e t a (TV-
papel n a outra m ã o . Sua f u n ç ã o era e d i -
Ex: J o s é Trajano e M á r c i a G u e d e s . Cultura), Rui N o g u e i r a , as autoridades
" O Sindicato d o s Jornalistas Profissio- tar e botar n o ar o telejornal q u e n ó s
A voz de Sandro, normalmente u m haviam adiantado a causa-mortis - suicí-
nais n o Estado d e S ã o P a u l o d i v u l g o u f a z í a m o s , c o m u m a e q u i p e d e mais d e 20
v o z e i r ã o , soava grave e s e m n e n h u m a dio.
nota oficial c o m u n i c a n d o a p r i s ã o d o pessoas. O u seja, às 21 horas e m p o n t o ,
entonação:
jornalista V l a d i m i r H e r z o g , d o D e p a r t a - c o m script na m ã o , ele a c o m p a n h a v a d a Era i n a c r e d i t á v e l ! U m a t r a g é d i a . Pas-
- ... o // Exército vai distribuir uma
m e n t o d e Jornalismo d a T V - C u l t u r a , t é c n i c a os 30 minutos d e " H o r a d a N o t i - samos t o d o s a vivê-la, intensamente.
nota... eu tô avisando... e você avisa a/os
o c o r r i d a o n t e m . V l a d i m i r encontra-se cia", c o m o um responsável e represen- A l g u n s jornalistas c o m e ç a r a m a marcar
outros caras que são amigos dele tam-
n o D e p a r t a m e n t o d e O p e r a ç õ e s Inter- tante d a r e d a ç ã o , ali na h o r a , n o e s t ú d i o . e n c o n t r o n o Sindicato, n o c e n t r o d a
bém.
nas d o II E x é r c i t o , o n d e se a p r e s e n t o u L e m b r a m o s dessas imagens d e V l a d o c i d a d e , p r ó x i m o às r e d a ç õ e s . O u t r o s
De manhã, no d o m i n g o , o primeiro
o n t e m d e m a n h ã para prestar d e p o i - d e p o i s d e termos visto a noticia acima, amigos, jornalistas, intelectuais, p o l í t i c o s
t e l e f o n e m a a c o r d o u a casa às 8 e meia.
mento. no Estadão. Na véspera de morrer, ape- d e outros Estados, avisados, c o m e ç a v a m
Era Ingo R e i n a l d o ; tinha trabalhado
A n o t a apresenta, a i n d a , o n o m e d o s sar d e ser agora, nessa sua s e g u n d a a rumar para S ã o Paulo.
com" VTado na T V - C u l t u r a p o r uns dois
jornalistas q u e se e n c o n t r a m presos entrada na T V - C u l t u r a , diretor d o tele- N ó s , nesse m e i o t e m p o , p r o c u r á v a -
anos, assim c o m o , p o r u m p e r í o d o u m
naquele Departamento: Sérgio Gomes, jornal, V l a d o d e s e m p e n h o u pratica- mos saber c o m o V l a d o tinha sido p r e s o .
p o u c o m e n o r , t i n h a m trabalhado c o m
Marinilda M a r c h i , Paulo S é r g i o M a r k u n , m e n t e as mesmas f u n ç õ e s . Foi o ú l t i m o N ã o tinha sido. N a sexta-feira, entre 2 0 e
ele n o m e s m o telejornal, M y l t o n Seve-
R i c a r d o d e M o r a e s M o n t e i r o , L u i z Paulo " H o r a da N o t í c i a " , q u e ele c o l o c o u n o 21 horas, t o c o u a c a m p a i n h a na casa d e
riano, Narciso Kaltli, P a l m é r i o D ó r i a d e
da Costa. A n t h o n y d e Christo, Frederico ar, na sexta-feira". Vladimir Herzog. U m sobrado de f u n -
Vasconcelos, Ex-editores. T o d o s c h e g a -
Pessoa d a Silva, R o d o l f o K o n d e r , Luiz O d o m i n g o já tinha a m a n h e c i d o dos, n o f i m d a rua O s c a r Freire, u m a tra-
ram a trabalhar juntos, entre 73/74,
Vidal Pola G a l é e G e o r g e D u q u e Estrada. c o m cara d e dia p e s a d o : c i n z a n o t e m p o vessa d a rua A u g u s t a . Clarice H e r z o g , 34
durante a p r i m e i r a v e z e m q u e V l a d i m i r
O n t e m , parente d e M a r i a T h e r e s a Egger e n o interior d e todas as pessoas atingi- anos, casada c o m V l a d o há mais d e 10
H e r z o g e n t r o u para a T V C u l t u r a .
M o e l l w a l d - m u l h e r d o jornalista D u q u e das pelas n o t í c i a s , ainda boca-a-boca. anos, m ã e d e A n d r é (7 anos) e Ivo (9
- O/na, Myltainho. eu tô indopra casa
Estrada - a n u n c i o u s u a p r i s ã o , o c o r r i d a C a d a pessoa, a o o u v i r a n o t í c i a d a morte anos), a t e n d e u . Dois senhores, r e c é m -
da Clarice (mulher do Vlado)... Olha, eu
A MÃE "NÓS FUGIMOS DO NAZISMO"
saídos d e u m C o r c e l , p e r g u n t a r a m p e l o horas) acompanhar a transmissão do R - Capitão Borges (foi o que entendi). - C h e g u e i , m e identifiquei c o m o p r e -
m a r i d o . O m o t i v o d a visita: e n c o m e n d a "Hora da Notícia". Quase no fim do pro- Vlado - Estarei pontualmente lá. Agra- sidente d o Sindicato, ela m e a b r a ç o u
d e u m free-lancer ( u m t r a b a l h o e x t r a ) a grama, desceu para ir à lanchonete. No deço a compreensão dos senhores. c h o r a n d o : " N ó s fugimos d o n a z i s m o e
Vlado. fim da escada, os dois agentes já esta- Boa noite. e s c o l h e m o s o Brasil p o r q u e a c h á v a m o s
D e z e n a s d e pessoas haviam sido p r e - vam à espera dele. Pra mim, foi um grande alivio. q u e era u m país d e l i b e r d a d e " . Fiz f o r ç a
sas e m S ã o P a u l o n o s ú l t i m o s d i a s . E n a Logo depois fui avisado e desci Fiquei ainda uns 10 minutos na reda- para n ã o c h o r a r , pela primeira vez.
própria s e x t a , m a i s três j o r n a l i s t a s correndo para encontrar o Vlado com os ção. Vlado parecia agora totalmente Q u a n d o a l g u n s d e nós chegávamos a o
tinham sido detidos (Rodolfo K o n d e r , da dois homens no corredor que dá para o tranqüilo e satisfeito em saber que, ao Sindicato, d o m i n g o à tarde, outros
revista Visão; G e o r g e D u q u e Estrada, d e portão da TV. Um colega repórter, Chico menos, poderia passar a noite em casa. c o l e g a s s a í a m : i a m a o Jornal d a T a r d e , a
0 Estado d e S. P a u l o : e J o s é V i d a l P o l a Falcão, já estava lá e eu fiquei junto. Não Ele sabia dos seus colegas que estavam redação mais próxima, buscar a n o t a o f i -
G a l é , d a A g ê n c i a Folhas), c o n f o r m e o deve ter demorado um minuto pra che- presos e me disse que estava absoluta- c i a l d o II E x é r c i t o . E r a m 16 h o r a s .
jornalista Júlio d e M e s q u i t a N e t o havia gar a Clarice e os dois filhos. Vlado se mente tranqüilo quanto a si. E depois:
d i v u l g a d o d u r a n t e o d i a , n a última s e s - afastou um pouco e disse pra ela ir para "Espero, apenas, que possamos conver- " O C o m a n d o d o II E x é r c i t o lamenta
são d a X X X I A s s e m b l é i a A n u a l d a S o c i e - o sítio com as crianças que ele iria sar cavalheirescamente". informar o s e g u i n t e :
d a d e I n t e r a m e r i c a n a d e I m p r e n s a , a SIP, depois. Ela percebeu e encostou tam- Disse-lhe que não esqueceria suas 1) Em p r o s s e g u i m e n t o d e d i l i g ê n c i a s
realizada n o Hotel Hilton. Clarice.fez ver bém. Vlado explicou que aqueles dois recomendações para o jornal de sábado q u e se d e s e n v o l v e m na á r e a d o II E x é r c i -
aos d o i s e s t r a n h o s q u e V l a d i m i r não homens eram agentes e e s t a v a m ali para e nos despedimos com um forte abraço. to, q u e r e v e l a m a estrutura e as ativida-
estava interessado e m trabalhos extras. levá-lo. Clarice afastou as crianças. Vlado Sábado à tarde, na redação, sabíamos des d o C o m i t ê Estadual d o Partido
O s h o m e n s se r e t i r a m , C l a r i c e p e g o u fez menção de andar com os dois agen- apenas que ele havia se apresentado no C o m u n i s t a , a p a r e c e u , c i t a d o p o r seus
o s d o i s f i l h o s e n a FJelina d o c a s a l f o i b u s - tes até a porta da saída, quando o meu horário. c o m p a n h e i r o s , o n o m e d o sr. W l a d i m i r
c a r o m a r i d o n a t e l e v i s ã o . D e c a s a até lá, colega ponderou que ele não poderia ir À noite, a única versão era a de que ele H e r z o g , d i r e t o r - r e s p o n s á v e l d o telejor-
não d e v e ter l e v a d o mais d e 25 m i n u t o s , semn antes dar as instruções para um talvez não sairia antes da segunda-feira. nalismo d a T V - C u l t u r a " C a n a l 2", c o m o
para c o r t a r a região d o s c h a m a d o s Jar- programa que ainda seria transmitido A edição de sábado do "Hora da Noti- militante e integrante d e u m a c é l u l a d e
d i n s e alcançar u m a das m a i o r e s a v e n i - naquela- noite e para uma reportagem cia" foi ao ar novamente e sobre o filme base d o c i t a d o partido.
das periféricas d a c i d a d e , a M a r g i n a l d o que deveria ser feita no dia seguinte. Um de abertura saiu a legenda: Diretor- 2) C o n v i d a d o a prestar e s c l a r e c i m e n -
R i o Tietê. A televisão f i c a a l i , a o l a d o d a dos agentes retrucou que não poderiam Responsável - Vladimir Herzog. Vlado tos, apresentou-se, acompanhado por
p o n t e para o Bairro d o Limão - Freguesia esperar. "Ainda temos que passar em tinha assinado o jornal depois de mor- u m c o l e g a d e p r o f i s s ã o , às 9 horas d o d i a
d o O . A t r á s d e u m a indústria, n u m a r u a - outros lugares". Vlado pediu que espe- to". (Demétrio C o s t a f e z este relato 25, d o m ê s c o r r e n t e , s e n d o tomadas p o r
zinha e m curva q u e praticamente c o m - rassem um pouco. Ele era o diretor-res- antes d o p r e s i d e n t e R u i N o g u e i r a ter t e r m o suas d e c l a r a ç õ e s .
p o r t a a p e n a s o trânsito d e f u n c i o n á r i o s ponsável e e/es podiam acompanhá-lo. r e c e b i d o d e t e r m i n a ç ã o d o secretário d e 3) R e l u t a n d o , inicialmente, s o b r e suas
e visitas d a T V . P o r isso, a r u a d e a p e n a s Só por isso chegou a voltar à redação, Segurança Pública, c o r o n e l E r a s m o Dias, l i g a ç õ e s e atividades criminosas, foi
duas quadras t e m o n o m e d e u m jorna- onde os companheiros já se mobiliza- p r o i b i n d o seus funcionários mais g r a - a c a r e a d o c o m os seus delatores, R o d o l f o
lista f a l e c i d o n a d é c a d a p a s s a d a , C a r l o s vam para conseguir a interferência da d u a d o s d e dar q u a l q u e r declaração O s w a l d o K o n d e r e Jorge B e n i g n o Jatay
S p e r a , ex-repórter d e t e l e v i s ã o . Q u e m Presidência da Fundação. Que me s o b r e o f a t o . D e m é t r i o , 27 a n o s , é e d i t o r D u q u e Estrada, q u e o a c o n s e l h a r a m a
c h e g a , d a r u a só v ê o m u r o e as e d i f i c a - lembre, nunca vivi antes momentos de de " H o r a d a N o t i c i a " e c h e f e d e redação dizer t o d a a v e r d a d e , pois assim já
ções mais altas. O portão p r i n c i p a l v i v e tanta tensão. Eu não ignorava, é claro, d a s rádios T u p i e D i f u s o r a . J o r n a l i s t a há haviam p r o c e d i d o .
f e c h a d o , só a b r e p a r a c a r r o s d a F u n d a - esse tipo de coisa. Mas nunca tinha assis- 11 a n o s : c o m e ç o u c o m 16 i n c o m p l e t o s , 4) Nessas c i r c u n s t â n c i a s , a d m i t i u o sr.
ão P a d r e A n c h i e t a o u d e seus d i r e t o r e s , tido a qualquer prisão e muito menos à redigindo para o p r o g r a m a " P r i m e i r a W l a d i m i r H e r z o g sua atividade d e n t r o
à esquerda desseportão q u e fica a p o r - prisão de um amigo sem saber por quê, H o r a " , d a Rádio B a n d e i r a n t e s d e São d o P C B , sendo-lhe p e r m i t i d o redigir
taria, c o m funcionários p a r a identificar porque não há papel. Além disso, era Paulo.) suas d e c l a r a ç õ e s d e p r ó p r i o p u n h o .
u e m chega. Q u e m nao trabalha na noite e, no máximo, só se poderia presu- A s e d e própria d o S i n d i c a t o d o s J o r n a - 5) D e i x a d o a p ó s o a l m o ç o e p o r volta
C asa é o b r i g a d o a d e i x a r u m d o c u m e n t o mir para onde ele seria levado. listas P r o f i s s i o n a i s n o E s t a d o d e S ã o das 15 horas, e m sala, d e s a c o m p a n h a d o ,
c o m o porteiro e preencher u m a ficha Fiquei na redação sem condições de Paulo é u m andar inteiro, na sobreloja escreveu a seguinte d e c l a r a ç ã o : " E u ,
d e identificação p a r a p o d e r entrar. A fazer nada, se é que alguém tinha condi- de u m edificio-galeria d a rua Rego Frei- W l a d i m i r H e r z o g , a d m i t o ser militante
televisão é u m c o n j u n t o d e galpões, ções de trabalhar naquelas circunstân- tas, atrás d o H o t e l H i l t o n e d o v e l h o T e a - d o P C B , d e s d e 1971 o u 1972, t e n d o sido
s e p a r a d o s p o r espaços g r a m a d o s . È neste cias. Só as crianças me pareciam tranqüi- tro d e A r e n a . A o lado d o " S o m d e Cris- aliciado p o r R o d o l f o K o n d e r ; c o m e c e i
c e n á r i o , r u a C a r l o s S p e r a , 1 7 9 , q u e se las. E quanto a mim, muito mais controla- t a l " , a mais t r a d i c i o n a l casa d e danças d a c o n t r i b u i n d o c o m Cr$ 50 mensais, q u a n -
d e s e n r o l a r ã o as c e n a s d e t e n t a t i v a d e do me parecia o Vlado a dar de ombros cidade. È ponto de grande movimenta- tia q u e c h e g o u a Cr$ 100,00 e m 1974 o u
prisão d e V l a d i m i r H e r z o g , n e s t a n o i t e quando sua mulher lhe perguntou se ção n o t u r n a , p r i n c i p a l m e n t e e m fins-de- c o m e ç o d e 1975; m e u s contatos c o m o
d e sexta-feira, após 21:30 horas. estava tranqüilo e a confirmar depois semana. M a s , durante o dia, nos d o m i n - P C B e r a m feitos através d e meus colegas
"Conheci o Vlado há pouco mais de que estava com a receita médica. gos, a R e g o Freitas fica d e s e r t a . Rodolfo Konder, MarcoAntonio Rocha,
1 ano quando fui trabalhar na TV-CuItu- Ainda por interferência do colega A tarde, nesse d o m i n g o , d i a seguinte Luiz Weiss, A n t ô n i o d e Brito, M i g u e l
ra. Trabalhamos juntos naquela vez por repóner (Chico), o superior dos 2 agen- â m o r t e d e V l a d o , o s j o r n a l i s t a s q u e se U r b a n o Rodrigues, A n t ô n i o Prado e
uns 3 meses. tes concordou, por telefone, em permitir aproximavam de seu Sindicato podiam Paulo M a r k u n , e n q u a n t o trabalhava na
No fim de 74, Vlado deixou a Cultura que o Vlado continuasse em seu local de reconhecer, entre os transeuntes, c o l e - revista V i s ã o . A d m i t o ter c e d i d o m i n h a
para ficar só na Visão até que nos reen- trabalho até as 11 da noite, enquanto era gas d e p r o f i s s ã o ; u m b a l a n ç a r d e c a b e ç a r e s i d ê n c i a para r e u n i õ e s d e s d e 1972;
contramos novamente na Cultura agora providenciada a localização d e alguém e u m a c e n o d e mão e r a m os c u m p r i m e n - r e c e b i o jornal V o z O p e r á r i a u m a vez
no começo de setembro. Foi a convite para substitui-lo. tos s i l e n c i o s o s . Nós estávamos s e d e n t o s p e l o c o r r e i o e duas o u três vezes das
dele que passei a ser um dos editores do Nesse período, um dos agentes per- d e informações e a i n d a queríamos saber mãos de Rodolfo Konder. Relutei e m
"Hora da Notícia". manecia sentado num canto da redação o q u e fazer. admitir neste ó r g ã o m i n h a m i l i t â n c i a ,
No começo da madrugada de domin- e o outro se mantinha perto do portão. O presidente d o nosso Sindicato, mas a p ó s a c a r e a ç õ e s e diante das e v i -
go, quando recebi o aviso que o amigo Asile 5,ohomem q u e e s t a v a lá fora vol- Audálio Dantas, q u e tinha i d o a u m a r e u - d ê n c i a s , confessei t o d o o m e u e n v o l v i -
Vlado estava morto, o que senti foi terrí- tou a entrar, quando s e aproximou do nião d a classe e m P r e s i d e n t e P r u d e n t e m e n t o e afirmo n ã o estar interessado
vel. Eu havia acompanhado tudo na sex- Vlado, falou: "Bem, o senhor cumpre (500 k m d a c a p i t a l ) , a v i s a d o p o r t e l e f o n e mais e m participar d e q u a l q u e r m i l i t â n -
ta-feira. Naquele dia à tarde, Vlado veio ordens e eu também estou cumprindo na m a d r u g a d a d e d o m i n g o , era u m d o s cia p o l i t i c o - p a r t i d á r i a . Assinatura: " i l e -
sorrindo ao meu encontro na redação. ordens. Mas chegamos a um acordo e jornalistas q u e c h e g a v a m . Havia c o n s e - gível".
Embora diretor, ele mesmo se escalava então o senhor pode continuar seu tra- g u i d o o 16"? l u g a r n u m a v i ã o B a n d e i r a n t e 6) C e r c a das 16 horas, a o ser p r o c u r a -
para trabalhar aos sábados. Ele me balho. O senhor deve se .apresentar (15 l u g a r e s ) e já a s s u m i a a l i d e r a n ç a d a s d o na sala o n d e fora d e i x a d o , d e s a c o m -
pedia que fizesse pra ele aquele sábado; amanhã cedo (sábado, 25/10/75), na rua a ç õ e s . P r o c u r o u c o n t a t o c o m a família p a n h a d o , foi e n c o n t r a d o m o r t o e n f o r -
estava muito cansado e queria passar um Tomás Carvalhal, 1030." Pergunta do de Vladimir. E nos contou o encontro c a d o , t e n d o para tanto utilizado u m a
fim de semana diferente com a família. Vlado: A que horas? q u e mais o e m o c i o n o u , c o m D o n a Z o r a tira d e p a n o . O p a p e l , c o n t e n d o suas
Naquela tarde, ele mesmo dirigiu a R - Ás oito. H e r z o g , a m ã e d e V l a d o (o p a i , Z i e g - d e c l a r a ç õ e s , foi a c h a d o rasgado, em
edição do telejornal; e foi comigo (as 21 P - Devo procurar por quem? m u n d , m o r r e u há c e r c a d e 3 a n o s ) . p e d a ç o s , os quais, entretanto, p u d e r a m
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"EU PENSEI: A QUE PONTO CHECAMOS?"


ser r e c o m p o s t o s para os d e v i d o s fins a u t o r i d a d e é s e m p r e r e s p o n s á v e l pela família, s o b r o u o c o m e n t á r i o d o e n c a r - a m i g o s , até q u e R u i N o g u e i r a , p r e s i d e n -
legais. integridade fisica das pessoas q u e c o l o - r e g a d o F l e u r y , f e i t o n a sala d e V l a d i m i r , te d a F u n d a ç ã o , o c o n v o c o u p a r a i r a o
7) Foi solicitada à Secretaria d a S e g u - ca s o b sua g u a r d a . e n q u a n t o a viúva r e c e b i a a notícia: Instituto M é d i c o Legal. A l i , Faro e n c o n -
r a n ç a a necessária pericia t é c n i c a , p o s i t i - O Sindicato d o s Jornalistas, q u e a i n d a - Também, com esses posters, como é trou*alguns jornalistas, entre eles M i n o
v a n d o os senhores peritos a o c o r r ê n c i a aguarda esclarecimentos n e c e s s á r i o s e que vai dizer que não era comunista?. C a r t a . R u i N o g u e i r a , q u e estava a c o m p a -
de suicídio. c o m p l e t o s , d e n u n c i a e r e c l a m a das A morte de Vladimir começava a n h a d o d o repórter C h i c o Falcão e d o
8) A s atitudes d o sr. W i a d i m i r H e r z o g , autoridades u m f i m a esta s i t u a ç ã o e m comover o País. Algumas horas antes de encarregado Fleury, tentou ver o c o r p o
d e s d e a sua c h e g a d a a o ó r g ã o d o II E x é r - q u e jornalistas profissionais, n o p l e n o , Clarice saber do destino de seu marido, de Vladimir. Foram impedidos.
cito, n ã o faziam s u p o r o gesto e x t r e m o claro e p ú b l i c o e x e r c í c i o d e sua p r o f i s - o Cardeal de São Paulo, Dom Paulo D o IML, Rui N o g u e i r a e Fleury f o r a m
p d r ele t o m a d o . são, c i d a d ã o s c o m trabalho regular e Evaristo, comunicava ao seu assessor para a casa d e C l a r i c e H e r z o g - q u e n a
9) A s p r i s õ e s a t é hoje efetuadas se r e s i d ê n c i a c o n h e c i d a , permanecem mais direto, o Padre Viegas, que mais um n o i t e d e sábado e m a d r u g a d a d e d o m i n -
e n q u a d r a m , r i g o r o s a m e n t e , d e n t r o d o s sujeitos a o a r b í t r i o d e ó r g ã o s d e S e g u - jornalista tinha sido preso. Eram 14 horas g o r e c e b e u a visita d e d e z e n a s d e p e s -
preceitos legais, n ã o visando a atingir r a n ç a , q u e os levam d e suas casas o u d e do sábado. Dias depois. Padre Viegas soas.
classes, mas t ã o s o m e n t e salvaguardar a seus locais d e trabalho, s e m p r e a pretex- contaria aquela tarde a Hilton Libos, do N o d o m i n g o , d e p o i s d a autópsia, u m a
o r d e m c o n s t i t u í d a e a S e g u r a n ç a N a c i o - to d e q u e i r ã o apenas prestar d e p o i m e n - Ex: segunda tentativa para ver o c o r p o : d o
n a l " . ( C o m u n i c a d o o f i c i a l d o C o m a n d o to, e os m a n t é m presos, i n c o m u n i c á v e i s , - Todos os dias recebemos aueixas de irmão d a viúva. N ã o c o n s e g u i u . Ele t e n -
d o II E x é r c i t o d i s t r i b u í d o à i m p r e n s a , sem,assistência d a f a m í l i a e j u r í d i c a , p o r prisões na Cúria. Se naquele exato t o u o b t e r n o v a autópsia, r e a l i z a d a p o r
d o m i n g o ; e m F o l h a d e S . P a u l o , p á g i n a 3, v á r i o s dias e a t é p o r várias semanas momento q u e o Cardeal estava me o u t r o médio d o IML. Não conseguiu e a
27/10/75, segunda-feira). e m flagrante desrespeito à lei. comunicando a prisão de Vlado, ele não alegação e r a d e q u e a p a r t e burocrática
Três h o r a s d e p o i s d a c h e g a d a d a n o t a Trata-se d e u m a s i t u a ç ã o , pelas suas estivesse, possivelmente, acabando de d o Instituto estava f e c n a d a .
a c i m a , s a i a a n o t a o f i c i a l d o S i n d i c a t o peculiaridades, c a p a z de conduzir a morrer, seria apenas mais uma prisão. Clarice chegou ao IML a tempo d e
d o s J o r n a l i s t a s , e m s e g u i d a d i s t r i b u í d a desfechos t r á g i c o s , c o m o d a m o r t e d o Dom Evaristo estava proferindo uma acompanhar o corpo de seu marido ao
p o r n ó s e o u t r o s j o r n a l i s t a s n a s r e d a - jornalista V l a d i m i r H e r z o g , q u e se a p r e - palestra num Congresso de Não-Vioiên- Hospital A l b e r t Einstein.
ções: sentara e s p o n t a n e a m e n t e para u m cia, quando foi procurado pelo jornalista P o u c o antes d a s 16 h o r a s , n o b a i r r o d o
" O Sindicato d o s Jornalistas Profissio- d e p o i m e n t o . Mino Carta (diretor da revista Veja), M o r u m b i , agentes d o s órgãos d e S e g u -
nais d o Estado d e S ã o Paulo c u m p r e o O Sindicato d o s Jornalistas Profissio- p e d i n d o garantias para os jornalistas rança v i s t o r i a v a m o V e l ó r i o d o H o s p i t a l
d o l o r o s o d e v e r d e c o m u n i c a r a p r i s ã o e nais n o Estado d e S ã o Paulo c o m u n i c a p r e s o s e intercessão d o C a r d e a l j u n t o a o Albert Einstein, para o n d e o c o r p o d e
a m o r t e d o jornalista V l a d i m i r H e r z o g a i n d a q u e o s e p u l t a m e n t o d o jornalista governador Paulo Egydio. O governador V l a d i m i r f o i l e v a d o às 1 6 . 3 0 h o r a s . O c o r -
(Vlado) o c o r r i d a o n t e m nas d e p e n d ê n - V l a d i m i r H e r z o g sera realizado s e g u n d a - e s t a v a e m J a l e s (600 k m d a capital). p o foi r e c e b i d o n o Velório p o r jornalis-
cias d o D e p a r t a m e n t o d e O p e r a ç õ e s feira, às 10 horas e 30 m i n u t o s , s a i n d o d o A C o m i s s ã o d e Justiça e P a z d a A r q u i - tas e a m i g o s d e V l a d o .
Internas ( D Ô I ) , d o II E x é r c i t o , e m S ã o v e l ó r i o d o Hospital A l b e r t Einstein, n o d i o c e s e d e S ã o P a u l o já t i n h a a n o t a d a s , " A l i perceberam a presença de poli-
Paulo. M o r u m b i , para o C e m i t é r i o Israelita, n o n a q u e l a a l t u r a , m a i s d e 8 0 prisões (61 d e ciais à paisana, q u e m a n t i n h a m u m a v i g i -
A s e q ü ê n c i a d o s a c o n t e c i m e n t o s q u e k m 15 d a R o d o v i a R a p o s o Tavares. E 3 0 / 9 a 2 1 / 1 0 ) , m a s d i a n t e d a insistência l â n c i a discreta . ( O Estado d e S. P a u l o ,
c o n d u z i r a m a esse t r á g i c o d e s f e c h o foi c o n c l a m a os jornalistas d e todas as r e d a - d o jornalista M i n o Carta, a Cúria resol- 2 8 / 1 0 , terça-feira.)
esta: ç õ e s d e jornais, revistas, r á d i o e televi- veu tentar contato c o m o G o v e r n a d o r . A ação desses agentes foi q u e frustou a
1) Sexta-feira, dia 24, às 21h30, agentes são, s e m e x c e ç ã o , a q u e c o m p a r e ç a m - Paulo Egydio sugeriu um contato segunda tentativa d e Clarice d e fazer
d e S e g u r a n ç a f o r a m à T V - C u l t u r a , local para prestar a ú l t i m a h o m e n a g e m a o com o Secretario da Segurança Pública - novo exame no corpo de Vlado.
d e trabalho d o jornalista, c o m o r d e n s d e c o m p a n h e i r o d e s a p a r e c i d o . A D I R E T O - diz Padre Viegas. Telefonamos para a " C l a r i c e c h e g o u a pensar e m levar
levá-lo para o D O I . H o u v e i n t e r f e r ê n c i a RIA. ( A p e n a s 2 j o r n a i s d e S ã o P a u l o n ã o Segurança Pública, disseram que ele c o r p o para sua casa, para possibilitar o
da d i r e ç ã o d a emissora e d e colegas d e p u b l i c a r a m e s t a n o t a : o D i á r i o Popular e deveria estar em Santos. e x a m e , mais isso a c a b o u n ã o se c o n c r e t i -
trabalho d o jornalista. O s agentes d e a F o l h a d a T a r d e . O C a r d e a l A r n s , às 2 0 h o r a s e 2 0 m i n u - z a n d o : dizia-se q u e u m m é d i c o tinha
s e g u r a n ç a , a p ó s c o n s u l t a a seus s u p e - N a redação desse último j o r n a l , d o tos d e sábado, s o u b e d a m o r t e d e V l a d i - c o n c o r d a d o e m fazer a a u t ó p s i a , mas já
riores, c o m u n i c a r a m a o jornalista V l a d i - G r u p o F r i a s , u m h o m e m chamado mir. E q u a n d o c o m u n i c o u a Padre V i e - havia a oficial, q u e a c a b o u s e n d o c o n s i -
mir H e r z o g q u e ele d e v e r i a c o m p a r e c e r T o r r e s f o i v i s t o p o r j o r n a l i s t a s , q u e e l e gas, e l e f i c o u p a r a l i s a d o : derada definitiva." (Jornal d a T a r d e ,
n o dia seguinte, s á b a d o , às 8 horas, c h e f i a , f o i v i s t o s e e r g u e r s o b r e u m a -Eu pensei: a que ponto chegamos? A 27/10, segunda-feira.)
à q u e l e D e p a r t a m e n t o , a f i m d e prestar m e s a para, . g r i t a r q u e a m o r t e d e H e r z o g que ponto chegamos, meu Deus? E con- Clarice manteve-se firme e corajosa,
u m d e p o i m e n t o . O jornalista c o m p r o - t i n h a s i d o j u s t a e q u e e s s e s e r i a o f i m d e tinuei assim ate que encontrei uma pes- a p e s a r d a s pressões d u r a n t e o v e l ó r i o .
meteu-se a ir, s e m necessidade d e e s c o l - t o d o s o s q u e p e n s a v a m c o m o e l e . soa amiga e passei o fato. "Morreu o jor- P a s s o u , p o r é m , p o r várias c r i s e s d e
ta p o l i c i a l . N o ar desse final d e d o m i n g o s u r g i r a m nalista que estava preso", falei. Ela bai- c h o r o , i n c l u s i v e q u a n d o s e i n i c i a r a m as
2) N o s á b a d o , à h o r a m a r c a d a , o j o r n a - o u t r o s s i n a i s : o s t e l e f o n e s d o j o r n a l O xou a cabeça e chorou convulsivamente, cerimônias d o ritual j u d a i c o :
lista c h e g o u a o D O I n u m táxi, a c o m p a - Estado d e S. Paulo e d o S i n d i c a t o d o s segurando o rosto com a palma das " A s cerimônias d o enterro de Vladimir
n h a d o d e u m c o l e g a d e trabalho d a TV- J o r n a l i s t a s c o m e ç a r a m a a p r e s e n t a r u m mãos. H e r z o g realizaram-se p o r c o m p l e t o e d e
C u l t u r a , q u e foi d i s p e n s a d o e m seguida. e s t r a n h o c h i a d o . Q u a s e a o m e s m o t e m - M e i a h o r a d e p o i s , nessa n o i t e d e sába- a c o r d o c o m os ritos seguidos pelas
3) Á s primeiras horas d a noite d e s á b a - p o o s j o r n a l i s t a s c o m e ç a r a m a i d e n t i f i c a r d o , o assessor d a Presidência d a T V - C u l - correntes liberais d a r e l i g i ã o j u d a i c a , à
d o , as autoridades d e S e g u r a n ç a i n f o r m - c a r r o s p a r t i c u l a r e s , c h a p a - f r i a , q u e r o n - tura, F e r n a n d o F a r o , responsável p e l o qual os familiares d e H e r z o g são filiados.
naram q u e o jornalista se suicidara na d a v a m as i m e d i a ç õ e s d o S i n d i c a t o e convite para q u e Vladimir H e r z o g assu- Foram c e r i m ô n i a s normais, pois o C h e -
prisão e q u e u m a n o t a oficial d o II E x é r - a l g u m a s r e d a ç õ e s . misse a direção d o D e p a r t a m e n t o d e vrah Kadish - S o c i e d a d e Sagrada - n ã o
cito seria d i s t r i b u í d a . O fato foi c o m u n i - O presidente da Fundação Padre Teleiornalismo, e m setembro deste a n o , encontrou indícios q u e comprovassem
c a d o à f a m í l i a a t r a v é s d o p r e s i d e n t e d a A n c h i e t a , R u i N o g u e i r a , 2 4 h o r a s atrás, r e c e b i a u m t e l e f o n e m a e m s u a c a s a . Era o s u i c í d i o d o jornalista, o q u e implicaria
T V - C u l t u r a e o Instituto M é d i c o Legal v i v i a u m f i m d e s á b a d o t r a n q ü i l o . A t é Juca d e Oliveira, presidente d o Sindicato a a l t e r a ç ã o d o s p r o c e d i m e n t o s , inclusive
f o r n e c e u u m atestado d e ó b i t o , i n f o r - q u e r e c e b e u u m t e l e f o n e m a d o S e c r e t á - d o s A t o r e s d o Estado d e São P a u l o : o s e p u l t a m e n t o e m local diferente.
m a n d o c o m o causa d a m o r t e "asfixia r i o d e S e g u r a n ç a P ú b l i c a d o E s t a d o d e - O , Baixo! já soube do Vlado?
mecânica por e n f o r c a m e n t o " , c o m o São P a u l o , C o r o n e l E r a s m o D i a s . R u i Não. F e r n a n d o Faro não sabia n e m (...) H e n r y I. Sobel (rabino d a C o n g r e -
local, a rua T o m á s Carvalhal, 1.030 (sede N o g u e i r a h a v i a s i d o e s c o l h i d o p e l a s que Vlado tinha sido procurado pelos g a ç ã o Israelita Paulista) assegura q u e
do DOI) e " h o r a ignorada". autoridades para comunicar a Clarice órgãos d e Segurança n a n o i t e d e sexta- todas as etapas d o c e r i m o n i a l j u d a i c o
Segundo i n f o r m a ç õ e s chegadas à Herzog o falecimento d o marido. C o m f e i r a , n a T V , n e m q u e V l a d o t i n h a se f o r a m c u m p r i d a s , inclusive a Tahara, q u e
família, o c o r p o d o jornalista V l a d i m i r r o u p a s c a s e i r a s , c o m o descreveriam a p r e s e n t a d o n o sábado p e l a manhã, é a p u r i f i c a ç ã o d o c o r p o , c o m sua l a v a -
H e r z o g tinha sido e n t r e g u e a o Instituto m a i s t a r d e f u n c i o n á r i o s d a T V - C u l t u r a , a c o m p a n h a d o p o r u m funcionário d a gem. O c o r p o c h e g o u ao velório d o H o s -
M é d i c o Legal p o r volta das 17 horas. ele c h e g o u à sede d a Fundação e c o n v o - TV, nas dependências d o D O l , para p r e s - pital A l b e r t Einstems às 16 e 30 d e d o m i n -
N ã o obstante as i n f o r m a ç õ e s oficiais c o u o e n c a r r e g a d o d a s e g u r a n ç a d a tar d e p o i m e n t o . E m u i t o m e n o s q u e VÍa- g o , e a Tahara c o m e ç o u às 17 horas, reali-
fornecidas p e l o II E x é r c i t o , e m nota d i s - e m i s s o r a , s r . F l e u r y , e o r e p ó r t e r C h i c o d o estava m o r t o . z a d a p o r três c o m p o n e n t e s d a C h e v r a h
t r i b u í d a à i m p r e n s a , o Sindicato d o s Jor- F a l c ã o , p a r a j u n t o s i r e m à c a s a d e V l a d i - D e p o i s d o t e l e f o n e m a d e Juca d e O l i - Kadisha e u m a m i g o d a família presente.
nalistas deseja notar q u e , perante a lei, a m i r . M a i s t a r d e , d a c o m u n i c a ç ã o o f i c i a l à veira, Faro t e n t o u c o n t a t o c o m alguns ( O E s t a d o d e S. P a u l o , 3 1 / 1 0 , s e x t a - f e i r a . )
"VAMOS DISCUTIR SE EU MORRO AMANHÃ!"
C l a r i c e e os f a m i l i a r e s se r e t i r a r a m d o d o II E x é r c i t o , e m cujas d e p e n d ê n c i a s todos os presentes respeitaram a d o r dos p a v a m o S i n d i c a t o , p o i s v o l t a r i a m a se
velório, i m p o t e n t e s , na noite d e d o m i n - ele m o r r e u s á b a d o passado. 4 jornalistas e n v o l v i d o s n a tragédia. apresentar n o D O I na manhã seguinte.
g o . E n q u a n t o isso, ali p e r t o , n o Palácio, O cardeal estranhou a ausência de Havia também o m e d o d e q u e alguém U m a h o r a antes d a reunião d o Sindica-
dos Bandeirantes, a morte d e Vlado p r o - rabinos n o v e l ó r i o : foi r e c e b i d o por p u d e s s e se exaltar à b e i r a d o túmulo. to, o presidente Audálio Dantas e toda a
vocava o encontro d o Governador Paulo c o l a b o r a d o r e s d a C h e v r a h Kadisha o u M a s não h o u v e provocações. O presi- d i r e t o r i a são c o n v o d a d o s a o Q u a r t e l
Egydio, d o C a r d e a l A r n s e jornalistas. " S a n t a S o c i e d a d e " , o r g a n i z a ç ã o q u e se d e n t e Audálio Dantas f o i o último a falar, G e n e r a l d o 11 E x é r c i t o , p e l o C h e f e d e s e u
C o m o e m t o d a s as r e d a ç õ e s e e m t o d o s encarrega d e c u m p r i r o ritual f ú n e b r e citando Castro Alves: "Senhor Deus dos Estado-Maior, G e n e r a l Antônio Ferreira
o s m e i o s políticos d o País, eles, t a m b é m previsto pela religião judaica. Entrou n o desgraçados / D i z e i - m e vós, S e n h o r M a r q u e s . O C o m a n d a n t e d o II E x é r c i t o ,
estavam perplexos. N a q u e l a altura da v e l ó r i o e m c o m p a n h i a d o senador Fran- D e u s / S e é d e l í r i o o u se é v e r d a d e / t a n - General Ednardo D'Avila M e l l o , tinha
noite, o Ministro G o l b e r y d o C o u t o e Sil- c o M o n t o r o e c u m p r i m e n t o u os familia- to h o r r o r p e r a n t e os c é u s " . A multidão v i a j a d o p a r a Brasília, o n d e p a r t i c i p a r i a ,
va, C h e f e d a Casa C i v i l d o Presidente res d o jornalista, q u e d e l i c a d a m e n t e - ainda ficou parada alguns minutos, e m n o d i a seguinte, d a reunião d o A l t o
G e i s e l , já t i n h a s i d o l o c a l i z a d o e t i n h a " p a r a evitar e m o ç õ e s d o l o r o s a s " - lhe silêncio. D e p o i s , desfez-se d e v a g a r , até Comando. Mas, preocupado com a
o u v i d o u m relato d o caso, p o r telefone. p e d i r a m pra n ã o fazer q u a l q u e r p r o n u n - q u e u m c o m u n i c a d o passou d e boca e m situação e m S ã o P a u l o , m a n t i n h a u m a
E l e , q u e p a s s a r a o d i a n u m sítio f o r a d e ciamento p ú b l i c o . O cardeal o r o u e m b o c a : às 6 d a t a r d e , t o d o s n o S i n d i c a t o . linha direta d e comunicação aberta c o m
Brasífia, t a m b é m s e s u r p r e e n d e u . s i l ê n c i o d u r a n t e alguns m i n u t o s , c o n f o r - " O Caso Herzog o seu C h e f e d o Estado-Maior.
O domingo terminou c o m uma preo- t o u os amigos d e V l a d i m i r e saiu, s e m p r e H á muitos anos - para sermos p r e c i - A reunião entre os jornalistas e os m i l i -
cupação n o ar: a d e q u e os órgãos d e e m companhia d o senador e vários sos: h á 21 anos - u m s u i c í d i o , guardadas tares f o i l o n g a e p o r isso a t r a s o u a o u t r a ,
S e g u r a n ç a f i z e s s e m pressão s o b r e a d e p u t a d o s federais e estaduais q u e o as p r o p o r ç õ e s , n ã o p r o v o c a v a r e a ç ã o d e d a classe. Q u a n d o a d i r e t o r i a v o l t o u , os
família d e V l a d i m i r p a r a q u e o e n t e r r o a c o m p a n h a v a . O c l i m a , e n q u a n t o isso, tanta u n i f o r m i d a d e traumatizada no 300 j o r n a l i s t a s p r e s e n t e s à s e d e v i r a m n o s
fosse feito a o a m a n h e c e r . O s jornalistas, era d e extrema expectativa, mais p o r Congresso Nacional, quanto o d o jorna- seus rostos o c l i m a d o e n c o n t r o . O s
preocupados, organizaram u m reveza- causa dos agentes a r m a d o s q u e passa- lista V l a d i m i r H e r z o g . G e n e r a i s Ferreira M a r q u e s e A r i e l Pacca
m e n t o n o velório, noite a d e n t r o , para ram a m a d r u g a d a n o hospital, q u e l o g o Esperavam-se sessões tumultuadas, n o ( C o m a n d a n t e d a 2* R e g i ã o M i l i t a r ) e o
g u a r d a r o c o r p o d e V l a d o . N o noticiário c e d o f o r a m substituídos p o r f o t ó g r a f o s e S e n a d o e na C â m a r a d o s D e p u t a d o s . C o r o n e l Pães, c h e f e d o S e r v i ç o S e c r e t o
da manhã d e segunda-feira, quase todas cinegrafistas q u e n ã o p e r t e n c i a m a o s i n - M a s o q u e se v i u , nas duas Casas d o d o Exército (2* S e ç ã o ) c r i t i c a r a m o d i s -
as e m i s s o r a s d e r á d i o d e S ã o P a u l o d i v u l - dicato o u a qualquer ó r g ã o d e imprensa: Legislativo, foi u m p l e n á r i o p e r p l e x o , curso d e Audálio Dantas durante o

f a v a m as n o t a s o f i c i a i s d o 11 Exército e d o h o u v e casos d e desmaios e as crises d e atento e respeitoso, c o m o e m v e l ó r i o s . sepultamento de Vladimir, e a primeira


i n d i c a t o d o s Jornalistas; e f a z i a m u m c h o r o s e r a m f r e q ü e n t e s . A s 10,30 horas, D e s d e c e d o , os l í d e r e s arenistas n ã o n o t a d o S i n d i c a t o , c u j o t o m , s e g u n d o as
c o n v i t e a t o d o s p a r a o e n t e r r o q u e se q u a n d o mais d e 600 pessoas se a v o l u m a - i g n o r a v a m q u e o M D B levantaria o a u t o r i d a d e s , levantava suspeição s o b r e a
r e a l i z a r i a às 1 0 . 3 0 h o r a s , n o C e m i t é r i o vam n o hospital, o c a i x ã o n e g r o c o n t e n - Casor H e r z o g . Por isso, trataram, d e versão d e suicídio. O s m i l i t a r e s m o s t r a -
I s r a e l i t a d o B u t a n t ã , n o k m 15 d a V i a d o a u r n a lacrada e m q u e o c o r p o d e V l a - colher informações complementares, ram também muita preocupação sobre a
R a p o s o Tavares. dimir foi e n c e r r a d o pelas autoridades, para fazer face à s i t u a ç ã o agitada q u e se reunião q u e se realizarria n o S i n d i c a t o
M a l o dia tinha amanhecido e Clarice foi transportado a o c a r r o f u n e r á r i o . " prenunciava. O debate veio e o grande logo a seguir.
já h a v i a v o l t a d o a o v e l ó r i o . C o m a c h e g a - ( J o r n a l d a T a r d e , 2 8 / 1 0 , terça-feira). público, q u e , por coincidência inexpli- A diretoria d o Sindicato também esta-
da d o sol, mostrando u m dia claro e fir- O s fotógrafos e cinegrafistas d e s c o - c á v e l , lotava as galerias, p r i m e i r o d a C â - va m u i t o p r e o c u p a d a . P r e o c u p a d a c o m
m e , a partir das 9 horas começaram a n h e c i d o s não p e r d e m n e n h u m detalhe mara, d e p o i s d o S e n a d o , mal o p e r c e - o que ouvira no Q G , c o m o clima de ten-
a p a r e c e r as 6 0 0 p e s s o a s q u e a c o m p a n h a - n o Cemitério Israelita d e V i l a B o r g e s , u m b e u , pois os l í d e r e s d o s dois partidos são e n t r e o s j o r n a l i s t a s e c o m a p r e s e n ç a
riam o c o r p o d e Vlado. subúrbio d o Butantã, q u e a c o r d o u l o g o abordaram a delicada questão quase de dezenas d e estudantes q u e vinham
9.15 h o r a s . D o e l e v a d o r q u e c h e g a a o cedo na segunda-feira c o m o b a r u l h o d e s e m alterar a v o z , uns e o u t r o s i g u a l m e n - hipotecar solidariedade pela morte de
pátio s e m i l o t a d o d o H o s p i t a l A l b e r t s i r e n e s , d e C-14 i n s p e c i o n a n d o a área, te e m o c i o n a d o s . V l a d o . E então, fez o q u e p o d e .
Einstein, saltam o senador Franco M o n - d e i x a n d o a g e n t e s e m p o n t o s estratégi- D e seu g a b i n e t e o l í d e r J o s é B o n i f á c i o , O u v i u durante horas dezenas d e p r o -
toro, M D B - S P , e os jornalistas Hélio cos. O c l i m a d o e n t e r r o foi p o r demais d a m a i o r i a , p r e f e r i u a c o m p a n h a r pelos postas e sugestçes d e s e n c o n t r a d a s q u e
D a m a n t e , d e O Estado d e S. P a u l o , N a r c i - d e n s o . D e s d e o v e l ó r i o , p o r é m , o clímax alto-falantes o registro d a m o r t e d e H e r - r e f l e t i a m , p o r é m , a g r a n d e disposição d e
s o K a l i l i , E x - e d i t o r . Eles já e n c o n t r a r a m d o n e r v o s i s m o q u e p e r c o r r e u t o d o s os z o g , feito p e l o s v i c e - l í d e r e s e m e d e b i s t a s luta d o s jornalistas. A n t e s d e se retirar
ali o d e p u t a d o f e d e r a l A i r t o n Soares, presentes foi a c h e g a d a sucessiva d e 4 F e r n a n d o Lira e Freitas N o b r e , b e m para redigir seu s e g u n d o c o m u n i c a d o
M D B - S P , e o líder d o p a r t i d o d a o p o s i - dos jornalistas q u e e s t a v a m p r e s o s d e s d e c o m o os esclarecimentos prestados a após a m o r t e d e V l a d o , o u v i u p e l o
ção n a Assembléia Estadual, A l b e r t o antes d e V l a d i m i r - dois deles citados na seguir, e m n o m e d o g o v e r n o , pelo menos dois depoimentos marcantes:
G o l d m a n : Chegaram depois o senador n o t a o f i c i a l d o II E x é r c i t o c o m o a c a r e a - d e p u t a d o J o ã o Linhares. Por isso, q u a n - - O que decidirmos aqui, será a maté-
Orestes Ouércia e os deputados esta- dos c o m V l a d o , horas aptes d e sua m o r - d o o telefone da liderança s o o u , e o p r ó - ria-prima política que o país vai discutir.
duais R o b s o n M a r i n h o , D e l Bosco t e . A notícia d a c h e g a d a d o p r i m e i r o prio B o n i f á c i o o r e t i r o u d o g a n c h o , o - Estamos discutindo aqui qual a
A m a r a l e Horácio O r t i z , todos d o M D B . deles, P a u l o Sérgio M a r k u n , a i n d a n o M i n i s t r o d a Casa Civil d a P r e s i d ê n c i a d a garantia que eu tenho de continuar tra-
" O jornalista V l a d i m i r H e r z o g foi hsopital, despertou e m todos os p r e s e n - R e p ú b l i c a , general Golbery d o C o u t o e balhando. S e e u morro amanhã qu não.
sepultado o n t e m d e m a n h ã n o C e m i t é - tes a c u r i o s i d a d e s o b r e o q u e t e r i a a c o n - Silva o u v i u , e m p r i m e i r a m ã o , a n o t í c i a A n o t a d o S i n d i c a t o d e u a tônica d o
rio Israelita d o B u t a n t ã , d u r a n t e u m a t e c i d o nas 8 horas q u e V l a d i m i r H e r z o g d e q u e apesar dos pesares - e nunca c o m p o r t a m e n t o p o l í t i c o d o país d u r a n t e
c e r i m ô n i a simples e r á p i d a , assistida p o r passou d e n t r o das dependências d o u m a e x p r e s s ã o se ajustou m e l h o r à reali- toda a semana. Ninguém mais, n e n h u m a
uns 600 r e p ó r t e r e s , redatores, editores, DOI. d a d e - a sessão estava c o r r e n d o t r a n q ü i - das forças e n v o l v i d a s n o s a c o n t e c i m e n -
cinegrafistas, radialistas, artistas, e s t u - Durante o enterro, George Duque l a " . ( F o l h a d e S. P a u l o , 2 8 / 1 0 , terça* tos c o r r e r i a o risco d e avançar u m passo
dantes, d e p u t a d o s e senadores. N ã o Estrada e A n t h o n y C h r i s t o f i c a r a m n u m a feira). sequer:
houve n e n h u m incidente durante o elevação, a o s o l , encostados n u m t ú m u - O C e n t r o Nervoso d o caso H e r z o g , , ;
A diretoria d o Sindicato d o s Jornalis-
enterro, c o m e x c e ç ã o d a i n d i g n a ç ã o d e lo. R o d o l f o K o n d e r e P a u l o Sérgio M a r - na tarde de segunda-feira, porém, tas n o Estado d e S ã o Paulo i n f o r m a q u e
familiares pela pressa c o m q u e foi f e i t o : kun estavam separados. A preocupação era a s e d e d o Sindicato d o s Jornalistas esteve o n t e m e m c o n t a t o c o m os G e n e -
a m ã e d e V l a d o , c o m o ele era c h a m a d o , e m vê-los, e x a m i n á - l o s , o u o u v i r a l g u m P r o f i s s i o n a i s d e São P a u l o . A l i , d i r e t o r i a rais Ferreira M a r q u e s , C o m a n d a n t e d o
c h e g o u à q u a d r a n ú m e r o 28 d o c e m i t é - pedaço d e conversa, era geral. M a s os 4 e associados i a m deliberar sobre os pró- Estado-Maior d o II E x é r c i t o , e A r i e l Pac-
rio q u a n d o seu filho já havia sido e n t e r - apenas c h o r a v a m e a única informação x i m o s passos q u a n t o à m o r t e d e V l a d i m i r ca d a Fonseca, C o m a n d a n t e d a 2* R e g i ã o
rado n ò t ú m u l o 64. A c e r i m ô n i a d e q u e d e r a m f o i : t o r n a r i a m a se apresentar e c u i d a r d a segurança d o s jornalistas Militar, e c o m o C o r o n e l Paes, C h e f e d a
s e p u l t a m e n t o d u r o u apenas 15 m i n u t o s , n o D O I às 8 h o r a s d a m a n h ã s e g u i n t e . A citados n o b i l h e t e atribuído a V l a d o e 2* S e ç ã o d o II E x é r c i t o , para solicitar
e n ã o as duas horas q u e c o s t u m a d u r a r , liberação d e l e s t i n h a s i d o e x c e p c i o n a l , r e p r o d u z i d o p e l o c o m u n i c a d o d o II maiores i n f o r m a ç õ e s s o b r e as c o n d i ç õ e s
q u a n d o observados t o d o s os rituais e apenas para a c o m p a n h a r o enterro d o Exército: M a r c o A n t ô n i o d a R o c h a , e d i - e m q u e m o r r e u o jornalista Vladimir
preceitos judaicos. O c a r d e a l D o m Paulo a m i g o , assim c o m o dias antes o próprio t o r i a l i s t a d o Jornal d a T a r d e , e Luiz H e r z o g e a s i t u a ç ã o dos jornalistas q u e
Evaristo A r n s c o m p a r e c e b e u a o Hospital P a u l o Sérgio havia s i d o l i b e r a d o para Weiss, r e d a t o r d e V e j a e d i r i g e n t e d o c o n t i n u a m presos n o D e p a r t a m e n t o de
A l b e r t Einstein, o n d e o c o r p o d e V l a d i - assistir a o b a t i z a d o d a f i l h a . Sindicato. O s outros citados e envolvi- O p e r a ç õ e s Internas ( D O l ) .
mir estava s e n d o v e l a d o d e s d e a tarde d e O mais a b a t i d o e r a C h r i s t o . A m i g o s dos n o caso, G e o r g e D u q u e Estrada, Q u a n t o à morte de Vladimir H e r z o g ,
d o m i n g o , q u a n d o foi l i b e r a d o pejo c o m e n t a v a m q u e e l e estava uns dois Rodolfo Konder, Anthony Christo, as autoridades f o r n e c e r a m c ó p i a s d o
D e p a r t a m e n t o d e O p e r a ç õ e s Internas quilos mais m a g r o . D e u m a f o r m a geral, P a u l o Sérgio M a r k u n , t a m b é m p r e o c u - l a u d o pericial d e " c a u x a m o r t i s " , assina-

DO LOCAL

PERÍCIA: C o r r e s p o n d e a u m prédio d e dois pavimentos.


c o n s t r u í d o n o s f u n d o s d o i m ó v e l n» 1 0 3 0 d a r u a T h o -

ENCONTRO DE m a z C a r v a l h a l , d o t a d o d e várias s e ç õ e s e o c u p a d o p e l a
organização D O I / C O D I .

CADÁVER
O f e r e c e u particular interesse, n o presente caso, a
c e l a e s p e c i a l n? 1 l o c a l i z a d a n o 2» p a v i m e n t o d e s s e p r é -
d i o q u e é v e d a d a p o r u m a p o r t a metálica d e f o l h a ú n i -
Secretária da Segurança Pública ca e g u a r n e c i d a p o r d i s p o s i t i v o d e segurança própria
Instituto d e P o l í c i a T é c n i c a paraessa finalidade.
1975- O seu interior, assoalhado, possue u m a janela de
n»13.%7 caixilho d e metal envidraçado ("vitraux") e é dotada d e
A c o m p a n h a peças de exame grade, também, de metal.
Natureza da Perícia: E n c o n t r o d e cadáver (Suicídio) Próximo dessa janela, dispostos n o assoalho, a c h a -
D i a : 25-10-75, l o c a l : C e l a d a D O I / C O D I va-se d o i s c o l c h õ e s s o b r e p o s t o s e j u n t o à p o r t a h a v i a
Vitima: V l a d i m i r H e r z o g u m a cadeira escolar, sobre a qual encontrava-se u m a
Req. Capitão U b i r a j a r a d o D O I / C O D I p r a n c h e t a c o m papéis e u m a c a n e t a esferográfica.
Relator: P e r i t o C r i m i n a l M o t o h o C h i o t a . Esparsos n o p i s o e e m correspondência c o m a m e n c i o -
D e p e n d ê n c i a : Divisão d e Criminalística. n a d a c a d e i r a n o t a v a m - s e vários f r a g m e n t o s d e p a p e l
r a s g a d o e m a n u s c r i t o s à esferográfica.
A s 18,10 h o r a s d o d i a v i n t e e c i n c o d e o u t u b r o d o
DO CADÁVER
a n o e m c u r s o , o Capitão Ubirajara, c o m u n i c a n d o a
ocorrência d e e n c o n t r o d e cadáver n o D O I / C O D I , à J u n t o à j a n e l a d e s s a c e l a , e m suspensão i n c o m p l e t a e
r u a T h o m a z C a r v a l h a l , n» 1 0 3 0 , s o l i c i t o u o c o n c u r s o d e s u s t i d o p e l o p e s c o ç o , através d e u m a c i n t a d e t e c i d o
perito a fim de proceder ao levantamento de praxe. v e r d e , f o i e n c o n t r a d o o cadáver d e u m h o m e m , d e
Para a realização d o a l u d i d o e x a m e , f o i d e s i g n a d o cutis branca, a p o n t a d o c o m o s e n d o o d e V l a d i m i r H e r -
p e l o D i r e t o r desta Divisão, B e l . loão M i l a n e z d a C u n h a z o g , d e 3 8 a n o s d e i d a d e , q u e se a c h a v a c o m a s u a l í n -
L i m a , o Perito C r i m i n a l M o t o x h o C h i o t a q u e , após u l t i - gua ligeiramente procidente.
mar o seu trabalho e conterenciar c o m o seu colega, Seu traje, n o r m a l m e n t e d i s p o s t o , c o m p u n h a - s e d e
s e g u n d o , signatário, a p r e s e n t a este R E L A T Ó R I O . macacão v e r d e d e t e c i d o igual a o d a referida cinta e d e
EX-lb 37

"VLADO ERA O BODE EXPIATÓRIO!"


d o p e l o s m é d i c o s A r i l d o V i a n a e Harry política armada antes, d u r a n t e e a p ó s a (dirigida por Walter Sampaio - NR). Ai panhasse o Vlado até o DOI, no dia
Shibata; e x a m e g r a f o l ó g i c o , assinado morte d o jornalista V l a d i m i r H e r z o g : começou um desgaste, tava difícil, falta seguinte. Ele respondeu que não preci-
pelo perito A n t ô n i o A r m i n d o Camilo e sexta-feira, 16 horas, Catedral d a S é . de equipe, o Vlado trabalhava das 8 da sava, que não tinha problemas, que era
p e r í c i a d e e n c o n t r o d e c a d á v e r , assinada A G U A R D E M : a a p r e s e n t a ç ã o ao D O I manhã as 10 da noite. Botava inclusive o só o Vlado ir lá e se apresentar. O presi-
p e l o perito M o t o h o C h i o t a . d e mais 2 jornalistas; a l i b e r a ç ã o d e programa no ar, realmente a barra tava dente insistiu, alegando que ele era seto-
Q u a n t o à s i t u a ç ã o d o s demais jornalis- outros 2 jornalistas; a greve na U n i v e r s i - pesada. Mas havia sempre uma possibili- rista da TV-Cultura, subordinado de Vla-
tas presos n o D O I , o G e n e r a l Ferreira d a d e d è S ã o Paulo; a visita d o Presidente dade, possibilidade de contratação, de do, e deveria leva-lo até o DOI. Paulo
Marques i n f o r m o u o seguinte: Geisel a S ã o Paulo; a s o l i d a r i e d a d e d o fazer coisas. Nunes concordou e c o m o a mulher não
1 - R o d o l f o K o n d e r , Jorge D u q u e País aos jornalistas paulistas, e o a v a n ç o Na sexta-feira em que o Markun foi estava em São Paulo, resolveu ir dormir
Estrada, Paulo S é r g i o M a r k u n e A n t h o n y da l i b e r d a d e d e e x p r e s s ã o para os jornais preso (18/10, NR), e/e era chefe de lá em casa. Arrumei uma cama pra ele e
d e C h r i s t o , q u e hoje f o r a m a u t o r i z a d o s a diários. reportagem de lá, nós ficamos sabendo fomos deitar por volta de uma, uma e
c o m p a r e c e r ao s e p u l t a m e n t o d e seu Antes, p o r é m , o d e p o i m e n t o d e u m a no sábado pela manhã. Ficamos muito meia da manhã.,
c o l e g a , jornalista V l a d i m i r H e r z o g , d o r - m u l h e r corajosa, a v i ú v a d o jornalista chateados, não sabíamos exatamente o No dia seguinte, o Vlado levantou tão
miriam e m suas casas, c o m o compromis- m o r t o , C l a r i c e H e r z o g : D e p o i m e n t o ao quê, as informações que a gente teve foi tranqüilo, tão tranqüilo, que tomou
so d e se a p r e s e n t a r e m n o v a m e n t e h o j e Ex-editor Narciso KaliTi, n o dia 3/11: através dos jornais. Mas, na segunda- banho, fez a barba. Eu o beijei como se
ao D O I , às 8 horas. O s q u a t r o jornalistas " A c h o que a barra começou a ficar feira, o pai do Markun veio aqui de ele fosse sair para trabalhar.
voltarão à q u e l e D e p a r t a m e n t o para pesada desde a hora que ele entrou para manhã em casa. Contou que o Markun Sobre o que estava acontecendo, nós
c o n c l u i r seus d e p o i m e n t o s e, s e g u n d o o Canal 2 e c o m as denúncias do Cláudio saiu pro batizado da filha e que... uma não discutimos só naquela noite. Estáva-
i n f o r m a o G e n e r a l Ferreira M a r q u e s , h á Marques. Foi um negócio que estava conversa estranha, mas tinha falado o mos falando a semana inteira. Estávamos
possibilidade d e s e r e m liberados a m a - amolando bastante, irritando, aquela nome do Vlado, o Vlado seria preso. Mas prevendo que era uma briga de áreas
n h ã m e s m o . C u m p r i d a essa e t a p a , eles pressão toda. E a gente d e início não preso por quê? E o pai dele, "não sei". O políticas e que o Vlado estava sendo usa-
aguardarão e m liberdade intimação d o estava dando muita importância à coisa. Vlado então pegou o pai do Markun e do como bode expiatório. Era só ver as
D O P S p a r a a f o r m a l i z a ç ã o d e seus Sabíamos perfeitamente que ele devia levou à Secretaria de Cultura para que noticias do Cláudio Marques.
depoimentos em cartório. estar envolvido com grupos, mas a gente ele repetisse o que falou a ele, com o Bom, no sábado o Paulo Nunes me
2 - O jornalista Luís P a u l o C o s t a , estava tranqüilo. A chegada de Vlado ao Mindfin. (José Mindlin, secretário de ligou aqui umas três horas, mais ou
c o r r e s p o n d e n t e d o " O Estado d e S. Canal 2 foi um negócio muito legal, o Cultura de São Paulo - NR) Não chegou a menos, dizendo que não queria ser mui-
Paulo' e m S. J o s é d o s C a m p o s , q u e sofre Vlado o que quer fazer é televisão... eu ser recebido. Quer dizer, uma semana to otimista, mas que "não há nada lá",
d e o s t e o m i e l i t e e se e n c o n t r a v a d o e n t e , estou falando tudo no presente ainda, antes, o Vlado já sabia que ia ser preso. que "acho que o Vlado vai sair hoje mes-
foi l i b e r t a d o p o r volta das 18 e 30 d e sabe? Eu ainda não assumi a morte do Continuamos a viver normalmente. mo", não sei o quê, "o negócio é sim-
hoje. Vlado. Eu realmente não assumi a morte Aliás, como diz o coronel Erasmo (Secre- ples, não fique preocupada, há uma pos-
3 - A jornalista M a r i n i l d a M a r c h i , presa de Vlado, como se a qualquer momento tário de Segurança Pública de São Paulo sibilidade remota de que ele saia hoje
e m Brasília e trazida p a r a S ã o P a u l o , está ele entrasse aqui dentro. Eu não enfren- - NR), q u e m não deve não teme e fiquei mesmo". E claro que eu não estava acre-
ainda e m fase d e d e p o i m e n t o . tei a morte ainda. E o que realmente o tranqüila. Me arrependo muito desta ditando nisso: nenhum deles que entrou
4 - Q u a n t o a S é r g i o G o m e s d a Silva, J o s é Vlado queria fazer era televisão. Televi- postura, mas ainda continuo com ela. Ê tinha saido. E o Paulo Nunes terminou:
Vida) Pola G a l e , R i c a r d o d e M o r a e s são, cinema, ele começou com cinema. um negócio incrível! Sabe aquela sensa- "vou te deixar sossegada neste fim-de-
M o n t e i r o e F r e d e r i c o Pessoa d a Silva, o Mas não havia condições em televisão... ção de segurança, de que nada pode semana, só volto a te ligar na segunda-
G e n e r a l Ferreira M a r q u e s disse q u e acho que a consciência de televisão nas- acontecer com você, de que nada pode feira".
nomomento não dispunha de informa- ceu em Londres, quando nós fomos lá. mexer com você, você é inviolável? Eu Por mais tranqüila que eu estava - meu
ç õ e s , mas p r o m e t e u solicitá-las e trans- Ele se entusiasmou com o alto nível da não sei. Em nenhum momento eu real- marido estava preso, na certa sendo tor-
miti-las a o Sindicato. televisão inglesa, com a possibilidade de mente senti medo, como não sinto turado, então eu estava com uma certa
O C o r o n e l Paes, C h e f e d a 2* S e ç ã o d o um trabalho sério com televisão. Possibi- medo ainda. Sinto muita raiva, mas ansiedade. Inclusive tive de avisar a mãe
II E x é r c i t o , i n f o r m o u t a m b é m à diretoria lidade de você realmente comunicar, na medo eu não sinto. Bom, continuamos do Vlado que ele tinha sido preso pra ela
d o Sindicato q u e , a partir d o p r ó x i m o s á - medida em que cinema ainda é para vivendo normalmente. não ficar sabendo pelos jornais no outro
b a d o , as visitas a jornalistas e d e m a i s p e s - minoria. Fazer um trabalho decente; o Na sexta-feira (o Vlado se apresentou dia, isso às seis e meia da tarde, quando
soas presas n o D O I . p o d e r ã o ser feitas às que é uma TV educativa? Uma televisão no sábado), eles estiveram aqui às oito e Vlado já estava morto: Eu avisei, ela ficou
t e r ç a s , quintas e s á b a d o s , e m g r u p o s d e boa, uma boa televisão, uma televisão meia. Eu falei que o Vladoestava na TV, desesperada: "agora, com essa campa-
seis p o r d i a . que informa. eles entraram aqui, quer dizer, entrou só nha anti-sionista, vão matar meu filho".
A t é a g o r a as visitas e r a m limitadas a Ele sempre foi muito critico com a pro- um. Nós íamos passar o fim de semana Aquela conversa toda. Ai eu disse pra ela
uma p o r dia da semana. gramação que tinha, os programas fora, num sítio que temos em Bragança. não se preocupar, que os tempos eram
A diretoria d o Sindicato d o s Jornalistas todos. E quando apareceu o negócio do Eu ia apanhar o Vlado na TV e íamos outros, só iam tomar o depoimento dele
c o m u n i c o u t a m b é m aos Generais Canal 2 - ele começou antes no Canal 2, embora, Quando chegaram aqui, eu e e/e ia voltar pra casa. Acabei tranquili-
Ferreira M a r q u e s e A r i e l Pacca d a F o n s e - na época do Fernando (Fernando Pache- percebi pela c a r a , pelo jeito, pela con- zando-a e voltei pra casa.'
ca a g r a n d e i n t r a n q ü i l i d a d e e i n s e g u r a n - co Jordão, ex-diretor de telejornalismo versa... Eles queriam que o Vlado fizesse Comecei a ficar nervosa, havia um
ça q u e p r o v o c a r a m , e m todas as r e d a - da TV-Cultura, Canal 2 - NR), depois uma reportagem. Eu argumentei que o cansaço físico, eu me troquei, tomei
ç õ e s d e S ã o Paulo, as c o n d i ç õ e s e m q u e saiu, e agora nessa possibilidade, quer Vlado não trabalhava como free-lancer, banho, nove e meia estava na cama. Ai
são efetuadas as p r i s õ e s e, p r i n c i p a l m e n - dizer, foi um dos momentos de maior não tinha condições. Ele insistiu e e u dis- começaram uns telefonemas estranhos
te, a m o r t e , n a p r i s ã o , d o jornalista V l a d i - felicidade dele, E ele estava preparando se que s e e/e quisesse falar com ele pra casa, procurando o Paulo Nunes,
mir H e r z o g . um filme sobre Canudos. poderia entrar pra telefonar pra televi- que o Paulo Nunes estaria aqui em casa.
O Sindicato c o m u n i c a t a m b é m a seus Nesse mês que demorou a contratação, são. Ele não quis e saiu. Ai eu liguei pro Tentava identificar as pessoas, mas nada.
associados e e m especial às famílias d o s ele foi investigado, a informação que eu Vlado avisando o q u e estava acontecen- Dizia que o Paulo Nunes não estava, não
jornalistas d e t i d o s q u e está c o n t r a t a n d o tenho, a informação que ele tinha, era do. Apanhei as crianças e fui pra TV. O tinha ficado de vir, de voltar, pelo
n o v o s a d v o g a d o s para lhes prestar t o d a a de que ele tava sendo investigado, Vlado, o Chico Falcão, estavam conver- menos não me falou nada. Três, quatro
assistência j u r í d i c a necessária. tinham tirado ficha do Vlado em tudo sando com dois agentes. Depois de mui- telefonemas, inclusive o Chico Falcão
T o d a s essas i n f o r m a ç õ e s f o r a m trans- quando é lugar, Deons, SNI, tudo. Essa to argumentar, conseguimos que Vlado me ligou procurando ó Paulo Nunes
mitidas aos jornalistas q u e se e n c o n t r a - investigação foi pedida por uma ala do se apresentasse no dia seguinte. Fique/ aqui. Comecei a achar estranho e mais
v a m à n o i t e , na s e d e d o Sindicato, aguar- Governo Paulo Egydio, etc. tranqüila. Eu sabia que e/e ia apanhar, estranho ainda quando o Rui Nogueira
d a n d o o resultado das g e s t õ e s d a d i r e t o - Quando ele começou a trabalhar, levar choque, mas voltaria pra casa. ligou pra cá e me disse: "vou tomar a
ria d o Q G d o II E x é r c i t o . " ( O G l o b o , começaram os problemas, no dia que ele Os homens se retiraram e chegaram o ousadia de lhe visitar em casa". Eu disse é
28/10, terça-feira) começou a trabalhar, quarta-feira, saiu presidente (Rui Nogueira - NR) o Fleury claro, pode vir a hora que quiser.
A o marcar a r e a l i z a ç ã o d o culto e c u - aquele programa, aquele negócio sobre (encarregado da Segurança da TV-2 - Passei uma hora na espera do Rui
m ê n i c o na sexta-feira, o Sindicato dos o Ho Chi-mihn, e o Cláudio Marques NR) e o Paulo Nunes (jornalista creden- Nogueira. Estava ficando desesperada.
Jornalistas d e S ã o Paulo t a m b é m m a r c o u em cima, inclusive o programa foi feito ciado junto ao II Exército - NR). O presi- Saía fora, entrava, não sei. De repente
a h o r a e o p a l c o d a c e n a m á x i m a d a crise pelo remanescente da equipe anterior dente pediu ao Paulo Nunes que acom- me deu um negócio que eu comecei a

cuecas brancas. Seus p é s c a l ç a v a m meias e sapatos d e A d m i t o ter c e d i d o m i n h a r e s i d ê n c i a para r e u n i õ e s


c o u r o , a m b o s pretos. d e s d e 1972; recebi o jornal " V o z O p e r á r i a " uma
A referida c i n t a , c o n f o r m e mostra a foto n» 2, a n e - vez p e l o c o r r e i o na revista " V i s ã o " e d u a s o u três
xa, estava na grade m e t á l i c a , c o m u m n ó simples, a u m a
vezes das m ã o s d e R o d o l f o K o n d e r
altura d e 1.63 metros. A outra e x t r e m i d a d e dessa p e ç a
Relutei e m admitir neste ó r g ã o m i n h a m i l i t â n c i a , mas
formava a laçada d e n ó c o r r e d i ç o q u e constringia f o r -
após acareações e diante das evidências confessei todo
t e m e n t e o p e s c o ç o , n ó esse situado na parte posterior
o m e u e n v o l v i m e n t o e afirmo n ã o estar interessado e m
d o lado e s q u e r d o d o m e s m o (vide p o r m e n o r e s na f o t o
n» 3, anexa). participar d e q u a l q u e r m i l i t â n c i a político-partidária. a)
ilegível.
Removida a laçada, denotou-se, no p e s c o ç o , u m
sulco e n e g r e c i d o , d e s c o n t í n u o , o b l í q u o e relativamen- O original deste documento acompanha o presen-
te p r o f u n d o , cuja largura possuía c o r r e s p o n d ê n c i a c o m te trabalho.
a m e n c i o n a d a laçada (vide p o r m e n o r e s na foto n« 4, N a d a mais foi d a d o a observar n o local e n o c a d á -
anexa). ver q u e pudesse despertar interesse d e natureza t é c n i -
D o q u e f i c o u e x p o s t o , d e p r e e n d e - s e q u e o fato ca- Era o q u e tinha a relatar.
possuía u m q u a d r o t í p i c o d e s u i c í d i o p o r e n f o r c a m e n - Este r e l a t ó r i o , datilografado n o anverso d e q u a t r o
to. (4) folhas deste p a p e l , vai d e v i d a m e n t e r u b r i c a d o e
DO MANUSCRITO assinado. Ilustram-no seis (6) fotografias, legendadas e
R e c o l h i d o s os m e n c i o n a d o s fragmentos d e papel igualmente rubricadas. S Paulo, 25 d e o u t u b r o d e 1975
e r e c o m p o n d o - o s através d e c o l a g e m n u m suporte, a) M o t o h o C h i o t a

EXAME DE
t a m b é m , d e p a p e l , c o n f o r m e e v i d ê n c i a a foto n « 6 , a n e -
xa, verificou-se os seguintes dizeres.

CORPO DE
" E u , V l a d i m i r H e r z o g , a d m i t o ser militante d o P C B
desde 1971 o u 1972, t e n d o sido a l i c i a d o ' p o r R o d o l f o
Konder; comecei contribuindo c o m Cr$ 50.00 mensais,

DELITO
quantia q u e c h e g o u a C r $ 100,00 e m fins d e 1974 o u
c o m e ç o d e 1975; meus contatos c o m o P C B e r a m feitos
através d e meus colegas R o d o l f o K o n d e r , M a r c o A n t ô -
nio R o c h a , Luiz Weiss, A n t h o n y d e C h r i s t o , M i g u e l Secretaria d a S e g u r a n ç a P ú b l i c a
U r b a n o R o d r i g u e s , A n t o nio Prado e Paulo M o r b u n Instituto M é d i c o - L e g a l d o Estado d e S ã o P a u l o
(ou M a r k u n ) e n q u a n t o trabalhava na r e v i s ã o " V i s ã o " . D e l . d e O r d e m P o l í t i c a e Social - D O P S .
Registrado e m 27 d e 10 d e 197'; s o b n* 54.620. a) M a r i a
"SOMOS O GOVERNO DO ESTADO!"
achar aquilo... Liguei pruma amiga, disse " P a u l o Nunes é há longo tempo cre- p r e o c u p a ç ã o " , resulveu q u e já é h o r a d e S h o p p i n g News. E t a m b é m o " A r a u t o d a
que viesse pra cá, que eu achava que d e n c i a d o junto aos ó r g ã o s d e S e g u r a n - esclarecer o assunto. Província", s e g u n d o a T V Bandeirantes,
tinha acontecido alguma coisa pro Vla- ça. N a T V - C u l t u r a , trabalhava c o m o J o s é M i n d l i n disse q u e a e q u i p e d e q u e o e m p r e g a c o m o c o m e n t a r i s t a polí-
do. Nesse exato momento, entra aqui setorista d e II E x é r c i t o , j u n t o ao Q G . O jornalismo d a T V C u l t u r a lhe p a r e c e tico diário, s o b o patrocínio d a C o n s t r u -
em casa o Rui Nogueira, o Paulo Fleury, p r ó p r i o Vladimir H e r z o g v i n h a , c o m o séria e objetiva, n ã o m e r e c e n d o as sus- tora A d o l p h o L i n d e n b e r g , d e p r o p r i e d a -
o Armando Figueiredo (assessor de diretor d o telejornalismo, p r o v i d e n c i a n - peitas e criticas q u e t ê m sido levantadas. de d o d i r e t o r - t e s o u r e i r o d a Tradição,
imprensa da Secretaria de Cultura de São d o sua e f e t i v a ç ã o nos quadros d a e m i s - Sobre o c h e f e d o d e p a r t a m e n t o d e jor- Família e P r o p r i e d a d e , a f a m o s a T F P . N o
Paulo - NR) e uma pessoa que eu não sei sora, já q u e Paulo N u n e s recebia e m f o r - nalismo, ele garante: B o l e t i m S e m a n a l n 77 d a T V B a n d e i r a n -
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quem é. Na hora que esses quatro caras m a d e c a c h ê . Sua p a r t i c i p a ç ã o , nos - O jornalista Vladimir H e r z o g é u m tes, d e j u l h o ú l t i m o , p o d e - s e t e r u m a
entraram aqui em casa eu pressenti o a c o n t e c i m e n t o s q u e e m m e n o s d e 20 sujeito s é r i o , q u e m e r e c e a c o n f i a n ç a da idéia d e c o m o o p r ó p r i o C l á u d i o M a r -
que havia acontecido. Elles me comuni- horas tiraram a vida d e V l a d o , foi d a F u n d a ç ã o Padre A n c h i e t a . q u e s se v ê :
caram que Vlado estava morto e inclusi- maior i m p o r t â n c i a , c o n f o r m e nossa O secretário não concorda c o m a - "Bem, quando o meu amigo Paulo
ve me aeram a versão de que ele tinha se p r ó p r i a m a t é r i a d e m o n s t r a . C o m esse ní- o b s e r v a ç ã o feita p e l o d e p u t a d o W a d i h Egydio quer revelar alguma coisa impor-
suicidado. vel d e p a r t i c i p a ç ã o , é i n e x p l i c á v e l q u e H e l u , q u e foi q u e m levantou o assunto tante, mas delicada, ele não procura um
Eu, em nenhum momento acreditei n ã o seja o p r i m e i r o a sentir a necessida- na A s s e m b l é i a ( o n t e m ele falou d e informante meu. Ele me diz pessoalmen-
nisso. Eu tinha certeza que ele tinha, de d o total e s c l a r e c i m e n t o da m o r t e d e n o v o ) , d e q u e a T V C u l t u r a faz p r o p a - te. Ê a confiança que eu infundo neles,
mnorrido torturado. E ai começou. Eu seu colega d e profissão. A justificativa ganda d o c o m u n i s m o , ao i n v é s d e p r o - são esses anos todos de trabalho regular
queria, queria ver o corpo, mas eu mes- por ele apresentada e aceita pela m a i o - m o v e r o g o v e r n o d o Estado e criterioso. No começo comi grama,
ma não tinha muitas condições. Esiava ria d a classe q u e n ã o n o t i c i o u o seu (...) O s programas "comunizantes", pastei mesmo. Mas agora já posso des-
preocupada com a mnãe de Vladqi. Não n o m e , p e r d e sentido para m i m , diante s e g u n d o o d e p u t a d o W a d i h H e l u , são as frutar de uma situação tranqüila".
fui ao IML, mas pouco antes do cçrfpo ser da d o r da família d e V l a d o , da nossa falta aulas d e geografia n? 48 e 49, d o curso - Mora numa bela casa no Morumbi, é
liberado, fui buscá-lo e levei-o ab hospi- d e s e g u r a n ç a para trabalhar e a possibili- supletivo (madureza), transmitidas nos diretor-superintendente do Consórcio
tal. Ali começou a discussão do que eu d a d e , para n ó s da Imprensa, d e ver a dias 2 e 7. T e m a : "Paises Socialistas". E Brasileiro de Imprensa, um grupo que
poderia*" íazer. Eu queria uma nova totalidade dos fatos para s e m p r e e n c o - ainda u m a aula d e história sobre a R e v o - reúne cerca de 90 jornais do Estado de
autópsia. Qugria que ele fosse examina- berta". ( H a m i l t o n A l m e i d a Filho). l u ç ã o Russa. Todas aprovadas pela c e n - São Paulo; possui um escritório de advo-
do novamente. Os advogados, porém, A ú n i c a notícia q u e a T V - C u l t u r a l e v o u sura f e d e r a l " . ( J o r n a l d a ~ T a r d e , 9 / 1 0 , 1 6 cacia com o irmão. Viaja frenquente-
me deram dois caminhos: pedir ao IML a o ar s o b r e a m o r t e d e V l a d o f o i a l e i t u r a dias d a m o r t e d e V l a d o ) mente para o exterior, possui um dos
novo exame - isso ia demorar três dias e d a n o t a o f i c i a l d o II Exército, n o j o r n a l Deixando d e lado o deputado ex-pre- maiores acervos de arte de São Paulo e
acabar concluindo que as evidências d o meio-dia da segunda-feira, n o mes- sidente d o Corintians, temos o prazer de comprou há pouco uma Porsche, "real-
muito fortes de suicídio desaconselha- m o m o m e n t o e m q u e se r e a l i z a v a o apresentar o colunista de jornal de mente fantástica".
vam uma nova autópsia - ou então dei- j e n t e r r o . A decisão f o i t o m a d a d i r e t a - anúncios, c i t a d o nota a c i m a . - "Tenho a consciência de que sou
xar que enterrassem o Vlado e depois \ mente pelo G o v e r n a d o r Paulo Egydio e "A infiltração (a essa altura n ã o é i n f i l - uma. exceção no jornalismo brasileiro.
pedir uma investigação sobre sua morte. f
c o m u n i c a d a ao Presidente da Fundação, t r a ç ã o , é d o m í n i o total, o u quase...) d a Acho um crime o que acontece entre
Resolvi deixar enterrar. R u i N o g u e i r a , e s e u assessor F e r n a n d o e s q u e r d a c o n t e s t a t ó r i a n o sistema e na nós. O profissional é mal pago e nã.o tem
Eu vi o corpo. Só o rosto, quando abri- Faro, e m reunião na noite d e d o m i n g o . d e m o c r a c i a , e m v á r i o s e s c a l õ e s , só n ã o condições de se aprimorar e, afinal de
ram o caixão pra fazer aquelas cerimô- Paulo Egydio cuidava pessoalmente d o v ê q u e m é c o n i v e n t e o u b u r r o . O caso contas, o jornalista é o formador da opi-
nias judaicas. Foi muito rápido mas deu caso, u m a v e z q u e o Secretário d a C u l t u - da TV-Viet C u l t u r a e x t r a p o l o u . E m u i t o . nião pública. Eu me considero um for-
pra ver que a fisionomia de Vlado estava ra, José M i n d l i n , p a r t i c i p a v a d e u m c o n - C h e g o u a atingir a figura d o p r ó p r i o mador da opinião pública. Sei que em
tranqüila, o que aumentou minha convi- gresso nos E U A . O a m b i e n t e d a reunião, s e c r e t á r i o J o s é M i n d l i n , o q u e , d e certa várias cidades do interior sou líder de
cação. Ele não tinha se matado". (Traba- q u e c o n t o u c o m a presença d e o u t r o s f o r m a , é contra-senso- M a s n ã o se p o d e audiência no horário. Araras é uma
lhei c o m o V l a d o d u r a n t e p o u c o t e m p o . assessores d o g o v e r n a d o r , mostrava negar q u e " a p e s a d a " d a e s q u e r d a m i l i - delas. Mas sou uma exceção. Nasci rico.
N ã o posso dizer q u e é r a m o s amigos. E claramente q u e a chamada "Crise da TV tante t e n t o u montar lá e s q u e m a a p ó s a Casei com uma mulher rica. Pude culti-
C l a r i c e vi duas o u três vezes, l i g e i r a m e n - Cultura", c o m a morte de Vlado tinha saída d e vários e l e m e n t o s q u e m a n t i - var as minhas amizades".
te. Fui procurá-la m u i t o e m o c i o n a d o e atingido o próprio Paulo Egydio. Tal n h a m r a z o á v e l (eu n ã o diria ó t i m o ) n í v e l
o u v i as palavras d e u m a m u l h e r e n r a i v e - c o m o C l a r i c e H e r z o g , várias p e s s o a s n o d e r e n d i m e n t o administrativo e j o r n a l í s - - " T e n h o u m a cara b o n i t i n h a , f o t o g r a -
cida e i m p o t e n t e . M a s c o m u m a c o r a - P a l á c i o B a n d e i r a n t e s se p e r g u n t a v a m : tico. H o u v e a t é u m a frase d e u m " c a m a - fo b e m na t e l e v i s ã o . Sei q u e isso leva
g e m e u m a f o r ç a q u e fariam V l a d o o r g u - " C o m o f o i possível i s s o / s e o n o m e d e l e r a d a " esta s e m a n a : " D e i x a a C o l u n a U m u m a b o a parte d o p ú b l i c o f e m i n i n o a
lhar-se. N a d a p o d e justificar o q u e a c o n - passou p e l o SNI?" serenar q u e a gente contrata o pessoal assistir a o m e u p r o g r a m a . N ã o t e n h o
t e c e u aos dois. Narciso Kalili) N o dia seguinte, a o t r a n s m i t i r as t o d o ! " Ê p a r e c e q u e na lista já estão m e d o d e d i z e r : sinto-me o r g u l h o s o p o r
- Pelo amor de Deus! Me poupe! ordens d o governador à abatida e q u i p e alguns n o m e s b e m c o n h e c i d o s . . . O q u e isso."
P a u l o N u n e s n e r v o s o , mãos trêmulas, do telejornal da TV Cultura, Fernando m e p a r e c e cretino é c o m u n i s t a s e n d o - " S o u c o n t r a as atividades políticas
Faro d e i x a v a transparecer u m a pista d o s u b v e n c i o n a d o p e l o d i n h e i r o d o Estado. nas universidades, hoje n o Brasil. E t a m -
camisa de seda azul c o m bolas brancas,
perigo maior, caso aquele d e p a r t a m e n t o E m p r e g o existe n o paraiso s o v i é t i c o . O u b é m n ã o acredito na p a r t i c i p a ç ã o d o s
p e d e ao Ex-editor H a m i l t o n A l m e i d a
desse c o b e r t u r a s o b r e os a c o n t e c i m e n - e n t ã o e m Portugal, lá n o " R e p ú b l i c a " , estudantes na via p a r t i d á r i a . "
F i l h o (dentro d a redação d o telejornal
d a T V - C u l t u r a ) , q u e faça c o m o t o d o s o s tos. na " R á d i o e T V P o r t u g u e s a " , o n d e N Ã O Cláudio M a r q u e s começou a atraba-
j o r n a l i s t a s e o m i t a o s e u n o m e d a história - Nós "somos" o Governo do Estado. são admitidos profissionais q u e n ã o Ihar n a T V B a n d e i r a n t e s há 3 a n o s . Q u a n -
da morte de Vladimir Herzog. "O s e c r e t á r i o d e f e n d e os jornalistas e sejam incritos e militantes d o P C . Eu n ã o d o passou a fazer c a m p a n h a contra a TV
- Eu só participei no caso a pedido da a TV Cultura. exijo atestado i d e o l ó g i c o d e jornalista, C u l t u r a , c h e g o u u m a v e z a usar seu p r o -
O secretário da Cultura, Ciência e Tec- n e m q u e r o fazer o j o g o d e fascistas. M a s g r a m a d e televisão p a r a a m p l i a r s e u r a i o
direção da televisão. Não tinha nada a
ver com a história, além de ser colega do nologia, J o s é M i n d l i n , gostaria d e ficar é cretino se admitir o d o m í n i o total d o d e difamação. A n t e s q u e a reação d o s
e m s i l ê n c i o , mas d e c i d i u o n t e m d e f e n - PC nos jornais, revistas e TVs. D e t a l h e : jornalistas d a casa se manifestasse, a d i r e -
Vlado. Podia ser chamado até de bravo
por ter ido sozinho acompanhá-lo ao der a e q u i p e d e jornalismo da F u n d a ç ã o o u t r o d i a , u m e n v i a d o especial d e Brasí- t o r i a já o t i n h a o b r i g a d o a l i m i t a r s u a
Padre A n c h i e t a - T V C u l t u r a - acusada lia, entre acreditar e m i n f o r m a ç õ e s q u e c a m p a n h a às c o l u n a s q u e m a n t é m n o s 3
DOI, não sendo presidente de sindicato
nem nada. Agora, você fala com o Chi- de fazer p r o p a g a n d a c o m u n i s t a e m seus me diziam um " e x a g e r a d o " , preferiu jornais d o g r u p o "Diário Comércio e
noticiosos. ligar o C a n a l 2. Estavam e x i b i n d o a vida Indústria". N o d o m i n g o e m q u e o c o r p o
co Falcão,.ele acompanhou tudo, pode
lhe contar. Minha mulher está grávida, O secretário ficou em silêncio de Suvanna P h u m a e os feitos d o " K h - d e V l a d i m i r H e r z o g era d e v o l v i d o a seus
e n q u a n t o as d e n ú n c i a s estavam restritas mer V e r m e l h o " . O h o m e m desligou familiares, Cláudio M a r q u e s chegava à
não quero que ela leia aos jornais. Tô
velho, 54 anos, me poupe, tá? às colunas d e u m comentarista d e u m c o m u m sorriso significativo..." (Shop-desfaçatez d e c l a s s i f i c a r o l o c a l o n d e
jornal d e a n ú n c i o s , " t r a t a n d o apenas d e p i n g N e w s , seção C o l u n a U m , d e C l á u - uma d e z e n a d e jornalistas encontrav
Jornalista s e m p r e l i g a d o a assessorias
vagas criticas". A g o r a as d e n ú n c i a s c h e - d i o M a r q u e s , 28/9, alguns dias d e p o i s d e am-se p r e s o s , d e Tutóia H i l t o n " ( u m a
d e i m p r e n s a s d e órgãos o f i c i a i s , eis a
garam ao p l e n á r i o d a A s s e m b l é i a e, V l a d o ter a s s u m i d o a direção d o t e l e j o r - referência à r u a o n d e localiza-se o D O I ) .
lembrança q u e o Ex-editor H a m i l t o n
embora José M i n d l i n considere que nal d a T V C u l t u r a ) . Na m e s m a nota, ele atingia c o m a d e l a -
A l m e i d a Filho t e m d e Paulo Nunes des-
d e o s m a i s r e m o t o s t e m p o s d e profissão, " e n q u a n t o n ã o f o r e m apontados os C l á u d i o M a r q u e s , 36 a n o s , n ã o é só ç ã o a i m p r e n s a universitária; p r a t i c a -
1961: fatos concretos, n ã o há motivos para u m c o l u n i s t a d o s e m a n á r i o d o m i n i c a l m e n t e c h a m a v a a polícia p a r a a c a b a r

H o r n . L a u d o d e Exame d e C o r p o d e D e l i t o p e l o s clássicos s i n a i s t a n a t o l ó g i c o s d e c e r t e z a . E X A M E
E X T E R N O : - Cadáver d e indivíduo a d u l t o , d o sexo
Exame N e c r o s c ó p i c o .
masculino, c o r branca, aparentando trinta e oito anos,
A o s vinte e c i n c o d e o u t u b r o d e mil novecentos e
estatura p e q u e n a , b i o t i p o , normolíneo, o l h o s verdes
setenta e c i n c o , nesta c i d a d e d e São P a u l o , a f i m d e
escuros, dentes naturais; rosto triangular, fronte
a t e n d e r à r e q u i s i ç ã o d o d o u t o r o s inf r a - a s s i n a d o s d o u -
a m p l a , calvície corohária, c a b e l o s c a n t a n h o s , o n d e a -
t o r e s : A r i l d o d e T. V i e n a e H a r r y S h i b e t a , m é d i c o s
d o s , supercílios u n i d o s n o c e n t r o , n a r i z r e t o , b a r b a p o r
legistas, f o r a m d e s i g n a d o s p e l o d o u t o r A r n a l d o S i q u e i -
f a z e r e c o s t e l e t a s c r e s c i d a s . P e s c o ç o e tórax s i m é t r i c o s .
ra, d i r e t o r d o Instituto M e d i c o - L e g a l d o Estado, para
A b d o m e , m e m b r o s e g e n i t a i s s e m a l t e r a ç õ e s . A s pál-
p r o c e d e r a e x a m e d e c o r p o d e d e l i t o e m o cadáver d e
p e b r a s e n c o n t r a - s e s e m i - a b e r t a s , a língua p r o t u s a , c o m
W l a d i m i r H e r z o g e responder aos quesitos seguintes:
m u c o s a ressecada. C i a n o s e d a face e d o s pavilhões
Primeiro - H o u v e morte?
auriculares. Pescoço: sulco semi-circular, i n t e r r o m p i -
S e g u n d o - Q u a l a sua causa?
d o a o nível d a mastóide d i r e i t a , l o c a l i z a d o n a porção
Terceiro - Qual o instrumento o u meio q u e a p r o d u -
alta d o pescoço e i n c l i n a d o para a d i r e i t a , a o l o n g o d o
ziu?

S
m e s m o a p e l e está a p e r g a m i o n h a d a ; a c i m a d o s u l c o :
uarto - foi p r o d u z i d a por meio d e neveno, fogo,
c i a n o s e ; a b a i x o : p a l i d e z . Hipótases n o d o r s o e n á d e -
osivo, asfixia o u t o r t u r a , o u p o r o u t r o m e i o o u
gas. Hipóstases n o e s c r ó t o e p e n i s e m s e m i - e r e ç ã o .
cruel? (Responda especificada)
C i a n o s e das unhas pés e m ã o s . E X A M E I N T E R N O : -
R e a l i z a d a a p erícia, p a s s a g e m a o f e r e c e r o s e g u i n t e
P r a t i c a d a incisão b i m e s t ó i d e v e r t i c a l e r e b a t i d o o
l a u d o : E x a m i n a m o s h o j e , n o Necrotério d o Instituto
c o u r o c a b e l u d o , e n c o n t r a m o s o epicrâneo liso, s e m
Médico-Legal. u m cadáver q u e n o s f o i a p o r t a d o c o m o
sinais d e t r a u m a t i s m o . A b e r t a a caixa c r a n e a n a , o encé-
s e n d o o d e W l a d i m i r H e r z o g , m a s c u l i n o , branca, trinta
falo apresenta-se c o m discreto a d e m a , s e m demais
e oito anos, casado, brasileiro naturalizado, jornalista,
a l t e r a ç õ e s . P r a t i c a d a incisão s u b - m a n t o - p ú b l i c a e
filho d e Z i g m u n d o H e r z o g e Z o r a H e r z o g , residia na
aberta a c a v i d a d e tóraco-addominal e n c o n t r a m o s os
Rua Oscar Freire, número dois mil d u z e n t o s e setenta e
p u l m õ e s a r m a d o s e o c o r a ç ã o e m sístole. A S u p e r f í c i e
u m - R E F E R E N C I A : - E c a c a m i n h a d o d o D O P S (II Exér-
p e l u r a l v i s c e r a l a p r e s e n t a v a as típicas m a n c h a s d e T a r -
c i t o ) c o m a história d e q u e t e r i a p r a t i c a d o s u i c í d i o ,
d i a u . F í g a d o e d e m a i s ó r g ã o s c e v i tá r i o s c o n g e s t o s , s e m
b u r l a n d o a vigilância d o s p o l i c i a i s . V E S T E S : - C a l ç a
o u t r a s a l t e r a ç õ e s d e i n t e r e s s e a e s t a perícia. A d i s s e n c -
m a r r o m d e malh a c o m etiqueta " O l d E n g r a n d " camisa
ç ã o d o p e s c o ç o r e v e l o u sufusões d e t e c i d o c e l u l a r ,
fantasia e t i q u e t a " J e a n P a t o n " , c u e c a b r a n c a , blusão
sub-cutâneo a o l o n g o d o s u l c o d e s c r i t o . O e s t u d o das
a z u l e t i q u e t a " C o r r ê a " , P u l l - v e r a z u l d e lã. S a p a t o s e
artérias c a r ó t i d a s , b i l a t e r a l m e n t e , n ã o d e m o n s t r o u
m^^s^pi^^^^^^iL^D^^DJE^^^^^^^rT^j^L^/^^^^^a^i^
EX-76 39

"MEU JORNAL TEM 5 OU 6 COMUNISTAS"


c o m o j o r n a l D o i s Pontos, d a E s c o l a d e " m e d á o c r e m e " . Passa o c r e m e d e l i m - grafa bem isso: eu nunca fiz campanha n u o trabalho q u e v e m s e n d o d e s e n v o l -
Comunicações e Artes da USP, q u e esta- peza n o rosto. pessoal contra ninguém, mesmo quando v i d o nas universidades e nos meios c u l -
va e m seu 2 número. 9
- V a m o s lá. sei que o cara é comunista. O maior turais, d e s d e há m u i t o , t e m p o r intuito o
N o c l i m a d e i n d i g n a ç ã o e d o r q u e se - Cláudio, você não me conhece mas exemplo disto é a redação dos meus jor- convencimento da opinião pública de
seguiu à morte de Vladimir Herzog, a eu conheço você. Eu sou do jornal Ex e nais, onde eu emprego e dirijo quase 5 0 q u e o Brasil n e g a , d e s d e 1964, a p l e n a
d i r e t o r i a d o S i n d i c a t o o u v i u , e m t o d a s as estou aqui a propósito do que aconteceu profissionais, entre os quais ha mais ou l i b e r d a d e d e e x p r e s s ã o e acesso às ontes
reuniões, d e z e n a s d e propostas para q u e com o Vlado. Você está sendo acusado menos 5 ou 6 que são de extrrma- de conhecimento científico, político e
Cláudio M a r q u e s fosse e x p u l s o d a e n t i - de dedo-duro, de ter movido uma cam- esquerda. S e o cara é comunista, bicha, artístico. E. i g u a l m e n t e ó b v i o q u e esse
d a d e . O adjetivo mais b r a n d o para q u a l i - panha contra o Vlado, que está sendo sacana, veado ou o que for, não me inte- trabalho d e proselitismo é o r i e n t a d o
ficá-lo e r a " d e d o - d u r o " . encarada... ressa. (...) Então, é por isto que eu quero segundo um vezo g a ú c h e , que preferi-
Sexta-feira, 31/10; faz duas horas q u e 8 O r e p ó r t e r v a i r e g i s t r a n d o e, m a i s t a r - que você fotografia bem este quadro: mos n ã o discutir e m m i n ú c i a s . M e s m o
m i l pessoas d e i x a r a m a c a t e d r a l d a Sé, d e , p r o c u r o u r e p r o d u z i r o m a i s f i e l m e n - essa campanha e indecente porque eu p o r q u e n ã o é o caso. A n i n g u é m - a o
após o c u l t o e c u m ê n i c o e m h o m e n a g e m t e possível as p a l a v r a s t e x t u a i s d e C l á u - nem conhecia o rapaz. Sabe, eu nem q u e m e conste - foi limitada a ç ã o pessoal
à memória d e V l a d i m r i H e r z o g . Cláudio dio: vejo a TV Cultura. Eu escrevi uma nova e profissional neste país, p e l o tato d e
M a r q u e s , s e m saber, t e m e n c o n t r o mar- - E, eu sei, mas é uma campanha saca- ha 2 meses, e foi só. E veja o que foi acon- estar í n t i m a e c o n v i c t a m e n t e ligado a
c a d o c o m o Ex, n o s estúdios d a T V B a n - na que um profissional como eu, com 20 tecer. Veja bem, podia ter sido um cara lá ideologias d e e s q u e r d a . " (...) C i t y N e w s ,
d e i r a n t e s . S ã o 20.45 h o r a s . anos de profissão, não merece. Olha do Recife, de outro lugar qualquer, 2/11, d o m i n g o , C o l u n a U m d e Cláudio
Q u a n d o o r e p ó r t e r E d i s o n B r e n n e r se aqui... como é teu nome? Eu te conheço, enfim de qualquer lugar, mas não. Foi Marques.)
aproximou da porta, tentando aparentar sim, mas sabe como é... ser logo um cara da Cultura que eu, por A sexta-feira a m a n h e c e u tranqüila,
tranqüilidade e d e m o n s t r a n d o clara- -Meu nome é Edison. Vou fazer uma acaso, tinha escrito uma nota. E então céu c i n z a . Havia p o u c a s interrogações
m e n t e q u e ia e n t r a r , q u e já e s t a v a matéria isenta, entende? Tudo o que deflagram a campanha contra mim. n o ar, p o i s t u d o , o u q u a s e t u d o , r e l a c i o -
e m p u r r a n d o a porta d e madeira e vidros você disser, eu vou registrar. Olha, eu até recebi vários telefonemas nado c o m o culto ecumênico e m h o m e -
d u p l o s , q u e já t i n h a e n t r a d o e a p o r t a já - Olha aqui, da morte do rapaz eu não de colegas se solidarizando comigo. O n a g e m a V l a d i m i r H e r z o g n a praça d a S é ,
estava s e n d o d e c i d i d a m e n t e e m p u r r a d a vou falar. Seria.um absurdo dizer qual- Samuel Wainer mesmo foi um. Outro foi havia sido d e c i d i d o .
para fechar n o v a m e n t e , o guarda-costas quer coisa. Nada que eu dissesse ou o José Carlos Bithencourt. (Que também A Operação Gutenberg, (Gutenberg,
e n t r o u t a m b é m . C l á u d i o M a r q u e s está fizesse mudaria o fato de que ele levantava suspeitas contra a TV Cultura, i n v e n t o r d o s t i p o s m ó v e i s , p a t r o n o da
sentado à frente e d e u m a mesinha preta morreu. Agora, sobre a<minha posição, na Ultima Hora PAULISTA: - NR) E n t ã o , i m p r e n s a ) , m o b i l i z a n d o 500 a g e n t e s à
e d e costas p a r a u m cenário d e n t r o d o eu não mudo nada. Não tem sentido. Só e u não agüentei e escrevi uma carta ao p a i s a n a e t o d o s o s e f e t i v o s d a Polícia
c e n á r i o p r i n c i p a l : p a r e c e q u e e l e está d e faltava eu dizer agora, que ele está mor- Sindicato, contra essacampanha de difa- M i l i t a r d e São P a u l o , estava e m a n d a -
costas para u m e l e g a n t e estante d e livros to, "olha aí pessoa, não é nada disso, não mação. Nesta carta, que deve estar com mento.
e m u m escritório l u x u o s o . aconteceu nada na TV Cultura". Não, eu o Audálio, eu digo o mesmo que estou A Polícia d e Trânsito h a v i a m o n t a d o
C o m o gesto largo d e sempre, Cláudio mantenho tudo o que disse na minha dizendo a você. 385 p o n t o s d e e s t r a n g u l a m e n t o n a s p r i n -
M a r q u e s está n o a r , m o s t r a n d o a o t e l e s - coluna porque é aquilo que eu penso e c i p a i s vias d a c i d a d e , p a r a i m p e d i r q u e as
p e c t a d o r e s q u e s e u relógio d e mostra- eu assino embaixo. Eu sou assim mesmo U m p e r s o n a g e m secundário e n t r e g a o
20 m i l p e s s o a s p r e v i s t a s ( " u m a m u l t i d ã o
d o r n e g r o , c a r í s s i m o , i n f o r m a q u e está e a c h o que o comunismo não é a solução p e l e t ó a z u l p a r a C l á u d i o , o r e p ó r t e r incontrolável") chegassem à C a t e d r a l .
na h o r a d e " F e c h a r A s p a s " . O repórter para o Brasil, eu defendo isto e vou a p r o v e i t a e p e d e u m c i g a r r o . U m a e l e - O presidente G e i s e l , na cidade d e s -
pensou q u e havia c h e g a d o a hora d e defender isto sempre. gante cigarreira d e c o u r o preto coloca
d e a v é s p e r a , c o n f e r e n c i a r a rápida m a i s
c u m p r i r s u a missão - e n t r e v i s t a r C l á u d i o C r e m e n o r o s t o , lonço d e p a p e l Y e s : u m Pall M a l l è à disposição, fato q u e leva d e c i d i d a m e n t e c o m políticos cia A r e n a e
M a r q u e s . U m fato i n e s p e r a d o : de - A g o r a veja bem, isto é uma coisa. Eu o u t r o s p e r s o n a g e n s s e c u n d á r i o s a a p r o - MDB.
repente, o personagem principal c o m e - nunca fiz campanhas pessoais na minha v e i t a r o l a n c e , e n q u a n t o C l á u d i o t e r m i - O S i n d i c a t o d o s Jornalistas, os 30 m i l
ça a t i r a r s u a g r a v a t a , r a p i d a m e n t e , vida. Em minha coluna sempre defendi n a : estudantes da USP e m greve desde o dia
e n q u a n t o se d i r i g e p a r a a p o r t a , a o m e s - idéias. Aliás não fui eu quem levantou o - Veja que situação difícil. Eu hoje não a n t e r i o r , já t i n h a m d e c i d i d o o s e u c o m -
p o r t a m e n t o na solenidade.
m o t e m p o e m q u e i n f o r m a aos o p e r a d o - assunto da TV Cultura nem o comunis- fui à missa para não ser mal interpretado.
A palavra d e o r d e m e m t o d o s os e s c a -
res: mo. O da TV Cultura f o i o Estadão, e o Olha, eu vou te pedir uma coisa, perde
lões c o m a l g u m a i n f l u ê n c i a e r a : m a t u r i -
- Enquanto vocês preparam aí, eu vou do comunismo foi o Presidente G e / s e / mais um tempo e lê esse artigo, e a minha dade, serenidade.
trocar eu vou trocar de gravata e de len- n o dia T> de agosto. Então, é isto. Eu nem coluna que vai sair no domingo. E isto Somente a " m a s s a " esperava - ainda
ço. conhecia o rapaz, nunca fiz campanha que eu penso sobre o caso: tensa e p e r p l e x a - a c o n t e c i m e n t o s a n o r -
Acontece que sexta-feira Cláudio pessoa contra ele. Minha atuação foi (...) " O fato d e estarmos s o f r e n d o u m a mais. M a s t u d o saiu c o n f o r m e o previsto.
Marques grava em vídeo-tape seu pro- sempre em torno de idéias, nunca pes- c a m p a n h a insidiosa e constante e d e F o l h a d e S. P a u l o : " N e n h u m i n c i d e n -
grama de sábado. Por isso a necessidade soal. s o l a p a m e n t o , o u p o r e l e m e n t o s interes- te n o ato religioso o u d e p o i s d e l e . O sus-
de trocar de gravata e lenço - para os sados, p o r estarem d i r e t a m e n t e envolfi- piro d e a l í v i o d e milhares d e peitos f o r -
C o m e ç a a operação colírio. dos nesse p r o c e s s o . O fato d e q u e o Esta- m o u u m a brisa leve, c o m o aquelas ara-
telespectadores tem-se que dar a
- Agora, veja bem, eu também fiquei d o t e m p o r o b r i g a ç ã o agir c o n t r a esse gens q u e p r e n u n c i a m b o m t e m p o " .
impressão de que ele mudou de roupa, J o r n a l d a T a r d e : " A s 18 horas d e
no dia seguinte. sabendo que disseram que eu fiz a cam- tipo d e agressão e, p o r si só, j u s t i f i c á v e l .
o n t e m , os meios p o l í t i c o s d e Brasília já
Relógio v a i , " A b r e A s p a s " , relógio panha, porque queria o lugar para mim,. O q u e n a o p a r e c e a b s u r d o é q u e , t e n d o tinham t r o c a d o o estado d e t e n s ã o p o r
v e m , " F e c h a A s p a s " e Cláudio M a r q u e s Ora, pense bem, eu ganho muito bem, à d i s p o s i ç ã o t o d o u m instrumental d e u m clima d e euforia mal c o n t i d a . A s
é a b o r d a d o , n a saída d o e s t ú d i o : sou diretor de 3 jornais, sendo que o Diá- o r d e m legal, t e n h a o Estado q u e ultra- principais l i d e r a n ç a s partidárias d a v a m
rio Comércio e Indústria é meu. Ora veja ,assar, d e m a n e i r a d e s p r o p o s i t a d a , os por findas suas l i g a ç õ e s t e l e f ô n i c a s c o m
Í
- Boa noite, Cláudio, será que você
pode bater um papo comigo? só. Eu nunca quis na minha vida ser fun- itmites desse instrumental. E ultrapassá- S ã o Paulo - q u e se p r o l o n g a r a m pela
cionário público. Podem dizer o que lo a p o n t o d e ser visualizado c o m o autor m a n h ã e à tarde - s e n d o s e g u r a m e n t e
Foi então q u e e l e se d e u c o n t a , p e l a
quiserem, que eu sou filha-da-puta, dos m é t o d o s , sistema e práticas, q u e ele informadas : o a m b i e n t e na c i d a d e p e r -
p r i m e i r a v e z , d a presença d o p e r s o n a - m a n e c e u t r a n q ü i l o , antes, d u r a n t e e
g e m i n e s p e r a d o . U m leve susto, rápido, tudo, enfim, tudo que quiserem, mas eu p r ó p r i o (o Estado) c o n d e n a . E e m c u j o
d e p o i s d o c u l t o e c u m ê n i c o pela m o r t e
p e q u e n a hesitação. não tenho emprego público, nunca c o m b a t e justifica u m a s é r i e d e medidas d o jornalista Vladimir H e r z o g , c e l e b r a d o
ganhei dinheiro nessa base, entende? d e o r d e m p o l í t i c a e administrativa. na C a d e t r a l d a S é ; e o p r e s i d e n t e G ei sei
- Ah, sim, sim, claro. Mas vamos ali Veja bem, se eu um dia quisesse ser fun- O direito d e defesa, o d i r e i t o d o r e c e b e u calorosa a c o l h i d a e m t o d o s os
que eu preciso tirar essa maquilagem do cionário público, eu ia Ia no Paulo que é a m p a r o à lei, o direito à assistência locais q u e v i s i t o u " .
rosto. meu amigo há 10 anos e atémeio paren- m o r a l , n e g a d o p e r e m p t o r i a m e n t e nos
Sala a o l a d o d o estúdio, p e q u e n a , te, até, e pegava uma diretoria do Banco países o n d e o fascismo v e r m e l h o d e t é m Na Catedral da Sé, os p r i m e i r o s parti-
equipada c o m cadeira de barbeiro, do Estado, entende? o p o d e r , n ã o p o d e a b s o l u t a m e n t e ser c i p a n t e s c o m e ç a r a m a c h e g a r as 15
e s p e l h o s , m u i t o i l u m i n a d a , u m armário N ã o há m a i s vestígio d e m a q u i a v e m n e g a d o entre n ó s ! N ã o fora só p e l a tradi- h o r a s , e até as 1 8 , q u a n d o t e r m i n o u o a t o
religioso, 8 m i l pessoas t i n h a m c o n s e g u i -
e cosméticos. U m o u d o i s n o v o s p e r s o - n o r o s t o d e C l á u d i o ; o ú l t i m o l e n ç o Y e s ç ã o cristã e brasileira, mas pelos p r i n c í -
d o furar o b l o q u e i o m o n t a d o p e l a polí-
n a g e n s q u e só e n t r a m n a história p a r a já f o i p a r a o l i x o : pios m e s m o s q u e motivaram, justifica- c i a d e trâsito.
c u m p r i r o r d e n s d e Cláudio, " v ê u m colí- - Eu quero que você fotografe bem ram e d e r a m a vida a m a r ç o d e 64. Na sacristia d a C a t e d r a l , os c e l e b r a n t e s
r i o p r a e u a c a l m a r a irritação d o s o l h o s " , esse quadro que eu vou dar agora. Foto- (...) Por o u t r o l a d o , o intenso e c o n t í - d o c u l t o - D. P a u l o Evaristo A r n s . c a r d e a l

a l t e r a ç õ e s m a c r o s c ó p i c a s visíveis. D I S C U S S Ã O È C O N - 1975 - n» 14.001


C L U S Ã O : -1) Ausência d e sinais d e violência e m t o d a a Natureza d a P e r í c i a : Exame d e D o c u m e n t o
e x t e n s ã o d o t e g u m e n t o c u t â n e o . 2) Hipóstases a i n d a D a t a : 27-10-75
não fixadas c o m p l e t a m e n t e , a c i m a d o s u l c o c e r v i c a l , R e q u i s i ç ã o d o C a p i t ã o Ubirajara d o D O I / C O D I
n o d o r s o , n a s n á d e g a s e n o s g e n i t a i s e x t e r n o s . 3) P r o - Relator: A n t ô n i o A r m i n d o C á m i l l o - Perito C r i m i n a l
t u s d ã o d e l í n g u a . 4) S u l c o p r o d u z i d o p o r laço e m p o s i - R.E. N* 4194/75.
ção alta, i n c l i n a d o p a r a a d i r e i t a e i n t e r r o m p i d o a o ní-
v e l d a m a s t ó i d a ( l o c a l o n d e d e v e r i a e s t a r o n ó ) . 5) L i g e i -
L A U D O DE E X A M E DE DOCUMENTO
ras sufusões h e m o r r á g i c a s n o t e c i d o c e l u l a r sub-cutâ-
n e o , n o s músculos p r e - t i r a o i d e a n o s , a o l o n g o d o s u l c o
d e s c r i t o . 6) M a n c h a s d e T a r d i e u n a s u p e r f í c i e p u l m o - A o s v i n t e e sete dias d o mês d e o u t u b r o d e 1975,
nar, i n d i c a n d o s o f r i m e n t o respiratório. G l o b a l m e n t e o nesta C a p i t a l - São P a u l o e na D I V I S Ã O DE C R I M I N A -
e s t u d o d e c o n j u n t o d e s t a s lesões i n d i c a o q u a d r o m é - L Í S T I C A d o D e p a r t a m e n t o Estadual d e P o l í c i a C i e n t í f i c a
d i c o - l e g a l clássico d e a s f i x i a m e c â n i c a p o r e n f o r c a - d a Secretaria d a Segurança Pública, d e c o n f o r m i d a d e
m e n t o . R E S P O S T A S A O S Q U E S I T O S : - ao p r i m e i r o - c o m o d i s p o s t o n o a r t i g o 1 7 8 d o D e c r e t o - L e i n 3.689,
9

sim; ao s e g u n d o - Asfixia Mecânica; ao terceiro - de 3 de o u t u b r o d e 1941, p e l o Diretor Dr. J O Ã O MILA-


e n f o r c a m e n t o ; a o q u a r t o - não. O b s : C o l h i d o material NEZ D A C U N H A L I M A , f o r a m designados os peritos
(sangue + estômago e conteúdo) p a r a e x a m e Toxicoló- criminais A N T Ô N I O A R M I N D O C A M I L L O e C A R L O S
gico. N a d a mais h a v e n d o , e n c e r r a m o s o presente lau- PETIT, p a r a p r o c e d e r a o e x a m e g r a f o t é c n i c o a d i a n t e
d o . S ã o P a u l o , 27 d e o u t u b r o d e 1 9 7 5 e s p e c i f i c a d o , a f i m d e ser a t e n d i d a a requisição d o
a) D r . A r i l d o d e T. V i a n a e D r . H a r r y S h i b a t a . CAPITÃO UBIRAJARA, do DOI/CODI.

PERÍCIA: P E Ç A DE E X A M E

EXAME DE C o n s t i t u i peça m o t i v o d a p r e s e n t e perícia a " d e l -


c a r a ç ã o " m a n u s c r i t a , q u e se v ê r e p r o d u z i d a n a f o t o

DOCUMENTO
a n e x a d e n ú m e r o 1, e c u j o o r i g i n a l , e m q u e s e a p o i o u a
p r e s e n t e perícia, se e n c o n t r a a n e x a d o a o l a u d o d e e x a -
m e e m l o c a l d e e n c o n t r o d e cadáver, e m i t i d o p e l a sec-
Secretária d a Segurança Pública ção c o m p e t e n t e d e s t a Divisão d e Criminalística s o b n ú -
Divisão d e Criminalística m e r o 13967 e s u b s c r i t o p e l o p e r i t o M o t o h o C h i o t a .
"NÃO SENTI MEDO, NÃO SINTO AGORA!"
5 - O jornalista A n t h o n y d e Cristo esta
C o n g r e g a ç ã o Israelita Paulista - e s p e r a - e m liberdade desde o dia 30".
vam a chegada d o reverendo Jaime (Página 1 8 , 2 c o l u n a s , O Estado d e S.
W r i g h t , d a s Igrejas Evangélicas. A l i , 5 Paulo, 4 / 1 1 , terça-feira)
m i n u t o s p a s s a d o s d a h o r a m a r c a d a , o Ex-
editor Hilton Libos t e m u m a surpresa, N a sala d e e s p e r a d a C ú r i a M e t r o p o l i -
U m p a r t i c i p a n t e i n e s p e r a d o está s e n ã o tana d e São P a u l o , n a e l e g a n t e a v e n i d a
a p r e s e n t a d o a o r a b i n o H e n r y S o b e l : D. Higienópolis, R e g i n a M a r i a Fonseca
H e l d e r Câmara. O b i s p o d e O l i n d a e Gadelha, caminha nervosamente, e m
Recife acaba d e voltar d e u m a viagem de silêncio. M a i s 4 m u l h e r e s s e n t a d a s n u m
10 d i a s p o r 4 países e u r o p e u s , q u e c u l m i - estofado esperavam a vez d e serem
n o u e m Londres, o n d e recebeu o Prê- ouvidas : 2 delas e r a m d e C a m p i n a s ,
m i o M u n d i a l da Paz " V i c t o r G o l l a n c z onde u m parente foi preso na noite
Humanity Award". anterior, q u a n d o estacionava o carro na
- Meu filho, conte ai que eu ganhei o g a r a g e m d o prédio. A s outras 2 p e s s o a s
Prêmio da Paz. No Brasil, ainda ninguém q u e r i a m falar d o irmão q u e ja estava
deu. d e s a p a r e c i d o há 9 d i a s , e n ã o t i n h a m
- Qual o programa do s e n h o r em São notícias. A l g u n s p o l i c i a i s a r m a d o s se
Paulo? identificaram c o m o d o DEOPS, invadi-
- Meu filho, eu só vim assistir à missa e r a m a c a s a d a família d o r a p a z d e s a p a r e -
volto pra Recife. cido, na Vila M a r i a , r e m e x e r a m t u d o C a -
- Alguma declaração? te n a l a n c h e i r a d a s c r i a n ç a s " , d i s s e r a m as
- Para que falar em voz alta, meu filho, moças) e o l e v a r a m p a r a " t e r u m a c o n -
s e t o d o s nós estamos conversando em versa rápida". R e g i n a M a r i a , e n q u a n t o
silêncio? as m o ç a s c o n t a v a m s e u c a s o , p r e e n c h e u
E f i m d e t a r d e , o f r i o a u m e n t a n a Praça u m r e q u e r i m e n t o p e d i n d o a intercessão
da Sé. O s órgãos d e Segurança, c o m d o Cardeal Arns n o caso d e seu marido
d e z e n a s d e fotógrafos e cinegrafistas Antônio, p r e s o d e s d e 8/10, nas d e p e n -
e s t r a t e g i c a m e n t e c o l o c a d o s n o s prédios Hí»nrias Hn D O I - C O D I . i n c o m u n i c á v e l .
e m v o l t a d a c a t e d r a l - já f i l m a r a m e f o t o - - Estou c o m m e d o , m e d o m e s m o . P o r -
grafaram e x a u s t i v a m e n t e a multidão q u e o s jornalistas, estudantes e advoga-
tensa, silenciosa e insegura q u e o frio e dos tem, de certa maneira, proteção dos
uma garoa fina, agora, quase 1 hora seus órgãos de representaiividade. E os
depois d e t e r m i n a d o o ato,começa a dis- outros?
persar. N a s a i a o n d e R e g i n a f a l a v a a o EX,
Nas escadarias da catedral, c o m a pra- d e z e n a s d e pessoas passaram t o d a a
ça d e f u n d o , u m r e p ó r t e r d a T V A l e m ã s e m a n a . A relação d a Comissão d e Justi-
se p r e p r a p a r a f a z e r o b o l e t i m d e a b e r - ça e P a z d a A r q u i d i o c e s e d e S ã o P a u l o ,
tura d e sua r e p o r t a g e m filmada, q u a n d o q u e f u n c i o n a a l i , t i n h a 95 n o m e s d e e s t u -
p e r c e b e q u e entre os presentes a sua dantes, profissionais liberais, operários e
v o l t a , u m a m o ç a e n t e n d e o q u e e l e está professores recolhidos, principalmente
d i z e n d o para a ca mera. Para, i n t e r r o m p e ao D e p a r t a m e n t o d e O r d e m Interna - o
o t r a b a l h o e antes d e u m p o n t o isolado D O I - C O D I -, e a o D E O P S . M a s o q u e
d a p r a ç a se j u s t i f i c a , e m a l e m ã o : t o d o o seu d e p o i m e n t o (encerrado n o q u e r e m d i z e r nada. S ã o p e ç a s d o j o g o . O mais i m p r e s s i o n o u o repórter H i l t o n
d i a 3/11) e m l i b e r d a d e , e m d e p e n d ê n - g o v e r n o está s e n d o t r a b a l h a n d o i n t e r - Libos f o i a reação d a p e s s o a e n c a r r e g a d a
- Numa situação como essa,não dá pra c i a s d a 2* S e ç ã o , n o Q G d o II E x e r c i t o . Ia n a m e n t e para n ã o esperar passivamente d o s t r a b a l h o s d a C o m i s s ã o d e Justiça e
confiar em ninguém. Não tenho segu- pela manhã, e s p o n t a n e a m e n t e , e era p o r u m a n o v a crise. Precisa aproveitar a Paz d a Cúria ( e m b o r a o s j o r n a i s diários
rança para trabalhar. l i b e r a d o p o r v o l t a d a s 16 h o r a s , d i a r i a - o p o r t u n i d a d e p a r a agir. Pois ela p o d e tivessem falado livremente), porque
O s jornalistas libertados, d u r a n t e a m e n t e . Almoçava em^casa. ser a ú l t i m a (Villas Boas C o r r ê a , O E s t a d o sentia-se ameaçada.
semana, i n f o r m a r a m agora q u e o trata- R e a l m e n t e , a situação d e t e n s ã o s e a l i - d e S. P a u l o , v i l , terça-feira) - E s t o u com medo das reações deles.
m e n t o havia m e l h o r a d o m u i t o , desde v i o u e n t r e o s j o r n a l i s t a s . E, d e p o i s d a Se os jornais e o cenário político
s e g u n d a - f e i r a u l t i m a , lá d e n t r o d o D O I - E, r e a l m e n t e o c e n á r i o d a s a ç õ e s h a v i a n a c i o n a l não refletiam mais e s s e c l i m a d e
" m a t u r i d a d e " d o ato ecumênico por
CODI. m u d a d o . C o m a contra-ofensiva d a dis- insegurança, na e n t r a d a d o mês d e
V l a d o , os jornais passaram a refletir, e m
E o u t r o s fatos d a s e m a n a m o s t r a r i a m t e n s ã o , as n o t a s p r e p a r a d a s d i a r i a m e n t e n o v e m b r o , n e m t o d o s os jornalistas esta-
suas p á g i n a s , a a l e g r i a d a c l a s s e política. p e l o S i n d i c a t o d e Jornalistas d e São
q u e as c o i s a s m e l h o r a v a m p a r a o s j o r n a - A palavra d e o r d e m v o l t o u a ser d i s t e n - vam seguros q u a n t o ao futuro. U m dire-
listas a c u s a d o s : P a u l o s o b r e o s p r e s o s p o l í t i c o s , q u e até o
são. N e m a p r o i b i ç ã o d a c e n s u r a às t e l e - tor d e redação d e São P a u l o , n o d i a d e
1 - Luis W e i s , d i r e t o r d o S i n d i c a t o e final d a s e m a n a h a v i a m g a n h o espaço e
visões s o b r e o n o t i c i á r i o d a m i s s a , n e m a F i n a d o s , traçava u m q u a d r o d e tintas
r e d a t o r d e Veja, s e a p r e s e n t o u às a u t o r i - importância e n t r e o noticiário político
rigidez d a " c e n s u r a prévia" c o m os d o País, , p a s s a r a m p a r a o s e u a n t j g o carregadas.
dades, a c o m p a n h a d o d e M i n o Carta e semanários - não d e i x a n d o n e m m e s m o
José R o i b e r t o G u z z o , d i r e t o r a redator- l u g a r - j u n t o c o m as o u t r a s i n f o r m a ç õ e s
o nome de Vladimir H e r z o g - , chegou de presos, s e m q u a l q u e r destaque: - A história dos últimos 11 anos mostra
c h e f e da revista, além d e Audálio D a n - a p e r t u r b a r o n o v o cenário das ações. que esse sistema só entra em crise por
tas, n a m a n h ã d e terça-feira. Em pauta e n t r a r a m diversos assuntos causa de dois fatores: o econômico e o
" C h e g a a o fim greve d e f o m e e m Ita-
"A a p r e s e n t a ç ã o foi previamente "políticos'. sucessório. Como não há informação
maracá.
a n u n c i a d a ao G e n e r a l Ferreira M a r q u e s , " O d e b a t e q u e vinha s e n d o e v i t a d o , palpável do que está acontecendo,
(...)
C h e f e d o Estado-Maior d o II E x é r c i t o . n ã o apenas p e l o r e c e i o c o m p r e e n s í v e l como saber que tudo mudou?.
Jornalistas
Luis Weiss apresentou-se a o C o r o n e l d e deflagrar o i n c o n t r o l á v e l . mas p e l o 4 d e n o v e m b r o d e 1 9 7 5 , terça-feira, 1 6
0 Sindicato d e Jornalistas d e S ã o Paulo
Paes, c h e f e d a 2* S e ç ã o d o II E x é r c i t o , a d e s c o n h e c i m e n t o mais a m p l o d a reali- noras.
d i v u l g o u nota i n f o r m a n d o q u e a situa-
q u e m o p r e s i d e n t e d o Sindicato, na o c a -
S
d a d e sobre a a ç o dos ó r g ã o s d e S e g u r a n - ã o dos jornalistas era a seguinte n o fim C l a r i c e H e r z o g , j u n t o corri os e d i t o r e s
sião, v o l t o u a c o m u n i c a r o c l i m a d e ça, seus e x r p s s o s e m é t o d o s d e a t u a ç ã o , d o Ex„ e x a m i n a o s e u d e p o i m e n t o a essa
a tarde:
i n t r a n q ü i l i d a d e e i n s e g u r a n ç a entre e m desenvoltura que n ã o se ajusta às r e p o r t a g e m . Passados 10 dias, C l a r i c e
1 - C o n t i n u a m detidos n o D O I os j o r -
t o d o s os jornalistas e m c o n s e q ü ê n c i a d e t e r m i n a ç õ e s d a lei, m e s m o a a aoun- m o s t r a a m e s m a c l a r e z a d e raciocínio e
nalistas Luiz Weiss, J o s é V i d a l Pola G a l é e
das p r i s õ e s e d a m o r t e d e W l a d i m i r H e r - dante legislação e x c e p c i o n a l vigente, c o r a g e m c o m q u e lutou desde o velório:
F r e d e r i c o Pessoa d a Silva.
zog .(Nota oficial d o Sindicato d e Jorna- agora esta e m p a u t a . Q u e b r o u - s e o " t a - 2 - C o n t i n u a m detidos n o D E O P S . os - Eu vou ser convocada para depor no
listas, d e 2 8 / 1 0 , terça-feira). b u " d a inviolabilidade, ante a brutalida- jornalistas S é r g i o G o m e s d a Silva e M a r i - inquérito qüe investiga como meu mari-
Luis Weiss ainda ficou detido. d e dos a c o n t e c i m e n t o s o c o r r i d o s e m nilda M a r c h i , s e n d o q u e esta ú l t i m a do morreu. Pode ser que não adiante
2 - Marco Antônio da Rocha, editoria- S ã o Paulo e as trágicas c o n s e o u e n c i a s d a d e v e r á ser transferida pra o R i o d e Janei- nada. Mas eu, meus filhos e o Vlado
lista do Jornal d a T a r d e , t e v e m e l h o r s o r - misteriosa escalada de vBência, ( „ ) . ro; merecem que eu tente. Com a Ordem
te. A p r e s e n t o u - s e na manhã d e quarta- O o u t r o (problema) é a r e f o r m u l a ç ã o 3 - F o r a m libertados os jornalistas
d o governo, c o m m u d a n ç a s profundas dos Advogados, com a Comissão de jus-
feira, a c o m p a n h a d o p e l o presidente Paulo S é r g i o M a r k u m . R o d o l f o K o n d e r e
Audálio Dantas e p e l o jornalista Ruy n o m i n i s t é r i o , e m escala mais a m p l a d o G e o r g e D u q u e Estrada; tiça e P a z da Cúria, com o Sinjjicato dos
M e s q u i t a , diretor-proprietário d e O q u e as anunciadas nas frustadas e s p e c u - 4 - O jornalista M a r c o A n t ô n i o R o c h a , jornalistas, ou sozinha. Eu, realmente,
Estado d e S. Paulo. F o i r e c e b i d o p e l o l a ç õ e s anteriores. N o g ê n e r o , c o m o n i n - q u e se apresentara dia 29, foi l i b e r a d o , não assumi a morte do Vlado. Não senti
G e n e r a l Ferreira M a r q u e s e p o d e prestar g u é m d e s c o n h e c e , os d e s m e n t i d o s n ã o depois de concluir d p o i m e n t o . medo, não sinto agora.

ft;ci: í-rr .;rt!.\ ru .-ÍXUHAÍIÇA Pt C L I C A OBJETIVO D A PERÍCIA d e s e n v o l v i m e n t o d o g r a f i s m o (vide a s s i n a l a m e n t o s nas


DIVISÃO DE CRIMINALÍSTICA f o t o s a n e x a s d e n ú m e r o s 5 a 8), q u e f u n d a m e n t a l p l e -
N o s t e r m o s d a requisição d o e x a m e , é a a p r e s e n t e n a m e n t e a p r e s e n t e c o n c l u s ã o , e d e n t r e as q u a i s ,
perícia p a r a v e r i f i c a r s e é a u t ê n t i c a o u n ã o a a s s i n a t u r a sobressaem o ataque, desenvolvimento e remate d o
" V . H e r z o g " , q u e se vê a o pé d o d o c u m e n t o q u e s t i o - c o n j u n t o i n i c i a l " V . H . " , a ligação " H - e " , a construção
n a d o , e m f a c e d a s h o m ó g r a s v e r d a d e i r a s e x i s t e n t e s às d o 'z"
l
e d o " g " final.
fls. d o p r o n t u á r i o s o b R . G . n» 1 9 9 2 6 1 4 , d o A r q u i v o d o A n t e o e x p o s t o j u l g u e m os peritos p l e n a m e n t e arra-
D I C C , três d a s q u a i s s e v ê e m r e p r o d u z i d a s n a s f o t o s z o a d a a conclusão e x p e d i d a , d a n d o a assinatura " V .
a n e x a s d e n ú m e r o s 2 a 7. H e r z o g " d o final d o d o c u m e n t o q u e s t i o n a d o , c o m o
A p ó s r e a l i z a r e m as p e s q u i s a s q u e se f i z e r a m n e c e s - p r o c e d e n t e d o m e s m o p u n h o q u e e x a r o u as h o m ó g r a -
sárias l a n ç a n d o m ã o d e p a r e l h a m e n t o ó p t i c o a d e q u a - fas d o p r o n t u á r i o R . G . n ' 1 9 9 2 6 1 4 , d o a r q u i v o d o D I C C .
d o , os peritos d e s i g n a d o s e infra-assinados passam a se Estelaudo, datilografado n o anverso d e quatro folhas
d e s i n c u m b i r dos misteres, o f e r e c e n d o os resultados a d e s t e p a p e l , f o i r e d i g i d o p o r s e u p r i m e i r o signatário, a
q u e c h e g a r a m , através d a p r e s e n t e . q u e m c o u b e , t a m b é m a realização d o s e x a m e s , após os
quais c o n f e r e n c i o u c o m o s e g u n d o , q u e nada teve a
CONCLUSÃO
objetar. A c o m p a n h a m - n o oito fotografias, legendadas
Ê a u t ê n t i c a a a ssinatura " V . H e r z o g " q u e se v ê ao e autenticadas p e l o s peritos.
final d a " d e c l a r a ç ã o " q u e s t i o n a d a . São P a u l o , 27 d e o u t u b r o d e 1975.
Essa c o n c l u s ã o o s p e r i t o s a e s t a b e l e c e r a m e m f a c e a) A n t ô n i o A r m i n d o C a m i l l o , C a r l o s P e t i t . ( m a i s a a s s i -
d a s c o n v e r g ê n c i a s gráficas o b s e r v a d a s e n t r e a a s s i n a t u - n a t u r a d o D i r e t o r d a Divisão Criminalística).
ra q u e s t i o n a d a e as h o m ó g r a f a s d e c o n f r o n t a ç ã o c o n s -
t a n t e s d e f l s . d o p r o n t u á r i o s o b R . G . n» 1 9 9 2 6 1 4 , e m
nome de "Vlado Herozog".
A s s i m é q u e , c o n f o r m e i l u s t r a m as f o t o s a n e x a s d e
n ú m e r o s 5 a 8, e a a s s i n t u r a q u e s t i o n a d a a p r e s e n t a t r a -
çado v e l o z , isento d e indecisões o u a r t i f i c i a l i s m o ,
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'" reproduzido, portanto, a mesma qualidade graficadas

DOCUMENTO
l»&> o UM <!••!• tot.
referidas c o m o t e r m o s d e comparação, d o prontuário
n» 1 9 9 2 6 7 4 . A l é m d e s s a c o n c o r d â n c i a há, e n t r e a a s s i n a -
t u r a o b j e t o d e e x a m e e suas homógrafas d e c o n f r o n t a -
• 0,uirfcn> d* Andraí». I Í Í — Fone: 33.
ção, convergências n o q u e respeita à construção e

Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
A N O I N S 1 - N O V E M B R O II

JORNAL DE TEXTO, HISTORIA EM


QUADRINHO, FOTOS E COMETAS.

H
COMICUI MINAMATA KARL MARX
BC,Crumb,Feifferetc. Foto choque da poluição Novela humorística dele
AHHH... M O U O J U M B O
T E M HONCA* DE T O D O *
0 9 TAMANHO* HUMMM
O CREDITO M A I * BARATO
D O BRASIL MAI*. M4I*,
A t f / M . . . . UMM/VI. 0tfQJUMBOl
MOIOJUMBO FICA NO JUMÇO
AEBOPOKÍO E f i a ANDRÉ.
É B O M . ÉBQM.AHHHHH...
Psicotransasentimental
As cartas dos leitores do EX- a
partir do próximo número serão res-
pondidas na Seção Psicotransasenti-
mental, por Roberto Freire, psiquia-
tra com consultório em São Paulo.
O ex-escritor; ex-teatrólogo, ex-no-
velista de rádio e tevê, e ex-jornalista
Roberto Freire quer, como colunista
do EX-, que seu trabalho atual de
consultório médico (a Psicotransote-
rapia), esteja à disposição de todo
leitor num Consultório Sentimental
aberto, grátis.
Qualquer problema pessoal (qual
não é?) vai receber uma resposta pro-
Editores: Sérgio de Souza, Hamilton fissional, na base séria da transa
de Almeida Filho, Narciso Kalili, mesmo.
Amàncio Chiodi, Marcos Faerman, Transar — v. transititivo: amar,
Mylton Severiano da Silva, Eduardo brincar, curtir, dar, escrever, filoso-
Barreto de Souza Filho, Ary Norma- far, ganhar, historiar, inventar, jogar,
nha, Dacio Nitrini, Palmerio Doria de limpar, melhorar, pedir, questionar,
Vasconcelos, Suzana Regazzini, René roubar, sofrer, trocar, unir, viajar,
Rafik, Carlos Alberto Caetano, Armin- Uma rua chamada Pelé xavecar, zanzar.
do Machado. Ex- é publicação da Ex- Walter de tal, apelidado Soraya, posa sob a placa da rua Edson Arantes do .(No envelope ponha "EX-", rua
Editora, rua Major Quedinho, 346, Nascimento (transformada em zona de baixo meretrício), em Tres Corações, Major Quedinho, 346, 3.°, S. Paulo.
São Paulo. Nenhum direito reservado. Minas Gerais. Seção Psicotransasentimental").
4 POEMAS, PABLO NERUDA
Extraído da revista argentina Crisis, de agosto passado.
(De nuestra enviada especial a Isla
Negra, Margarita Aguirre).

Cada dia detesto más Ias entrevis- uno, que lo llaman con urgência a o de su transparência. En los últimos ciendo en nuestra América y en el
tas. No sé como pude dar la primera, actuar en un determinado lugar po- meses, muchos argentinos han rece- mundo entero. El desconocimiento de
pero después ya resultan un vicio y niendo todos los médios a su disposi- bido, con gran moléstia y non poca Borges havia estas realidades argenti-
un abuso. Um vicio por parte de uno, ción. ironia, sus palabras despectivas sobre nas es el mismo desconocimiento que
un abuso por parte de los otros. Creo Otra cosa debe tomar en cuenta el la resurrección vital y plena dei mo- él ha tenido hacia la realidad actual
que Ias entrevistas literarias no con- poeta que está en contra de la pre- vimiento peronista, es decir, sobre el dei mundo.
ducen a nada. Las entrevistas son ceptiva tradicional, o de la supersti- actual momento de transición liberta- — El "Canto General" es una obra
válidas preguntando a los cosmonau- ción tradicional de la herencia lírica dora que pasa el pueblo argentino. de enorme influencia. En ella no
tas las experiencias que tienen cuando y romantica, es que el poeta debe Hay que pensar, cuando se habla de nombra Ud, a Perón. Digame, com-
regresan a la Unión Soviética o a también sobresalir a los compromi- Borges, que es natural que a uno no padre ; eual es su juicio hoy sobre Pe-
EE.UU. o cuando Cristóbal Colón, un sos que se le pidan, es decir, la poesia puede satisfacerle jamás una actitud rón y el peronismo?
poco antes, regresa de la América dei que se accede a hacer petición de un tan probadamente, tan empenosa y — La figura de Perón es una figura
Sur. Pero no veo el objeto ni la fina- determinado grupo humano debe te- cultivadamente reaccionaria como la que toma las proporciones históricas
lidad en molestarse y molestar los ner la calidad necesaria para sobre- de él. Hay algo en esto de su viejo que le da el pueblo argentino. En una
poetas que están constantemente ha- vivir. Esto es importante porque el narcicismo de escuela inglesa, y por época, el gobierno de Perón, fué go-
orgullo pequeno burguês de los poe- ese motivo no debia preocupamos. bierno profundamente anticomunista;
ciendo una solo cosa: poesia. Después
tas, cultivado siempre por los de las Claro, desconciertan si vienen de un es posible que haya habido una in-
resulta que estas entrevistas »se van hombre que, además de ser un gran
haciendo cada vez más rutinarias, se clases que mandan en la sociedad ca- comprensión de parte y parte, yo es-
pitalista, quiere hacer creer al poeta escritor, es también un erudito y un toy en general en contra de todos los
acumulan repeticiones de lo ya dicho ilustre archivero, puesto que fué el
por uno y por otros. Llega un mo- que su liberdad resulta menoscabada anticomunismos. Estoy en favor de
si atiende una petición. Existe la gran bibliotecário dei país. Extrana todos los antifascistas y en contra de
mento en que esta verbosidad provo- que él no comprenda que esta época
cada e artificial ya no sabe uno a poesia escrita a petición por la ne- todos los anticomunistas. Todo anti-
cessidad evidente de un poema y que excepcional de la Argentina está llena comunismo, donde esté, es sospecho-
quién le pertencen las ideas. Por lo de hechos, formulaciones, deseos in-
demás no tiene tanta importância a éste resulte verdadero, imperecedero, so; todo anticomunismo encubre un
o por lo menos que tenga la fuerza, satisfechos, corrientes profundas. No desacato ante el porvenir humano.
quién pertenezcan o no. se trata de "demagogia e tonteria",
el contenido y la poesia necesaria pa- Esos son mis conceptos. Naturalmen-
ra servir en un momento de alimento como Borges califica al movimiento te pueden discutirse, pueden dialo-
Lo principal en estos casos parece atual, a la revolución argentina; tie-
centrarse siempre sobre algo que con- y ayuda a un grupo o a un sector que garse, pueden hablarse. Ahora, bajo
naturalmente esta intimamente de nen que ser muchos los fatores, los proprio puente, ha pasado mucha
sidero completamente inasible, que es matices y los alíneos, es mucha la
el processo literário, el processo de acuerdo con el poeta. Este es un el puente de Perón como bajo ni
íactor, es una orden que el poeta de- profundidad documental, es mucha agua; son las aguas de la historia las
trabajo poético, lo que se llama el ea- la riqueza fenomenal de la actualidad
mino de la creación. Todas estas pa- be esforzarse en cumplir, y cumplir que están pasando. Ni Perón es el
con decoro. En mi caso particular argentina. Y creo que la Argentina mismo, ni Pablo Neruda, modesto
labras para definir la urgência que no ha vivido una época tan intere-
tiene un escritor para esjçribir su pro- tengo conciencia que, muchas vezes, poeta de Chile, es el mismo tampoco.
poemas mios hechos y dirigidos, so- sante desde el tiempo de Sarmiento Es decir, nuestra tierra va cambian-
sa o su poesia. Nunca entendi palpte y Alberdi. Tal vez Borges debió pen-
de este asunto. Pero desde que tuve licitados y pedidos, han sido de los do, la sociedad humana va cambian-
que más me han satisfecho hasta sar en estas cosas. Pero en esto mis- do, y yo creo que el peronismo de en-
a mi alcance los implementos nece- mo momento, a pesar de sentirme y
sarios nunca he dejado de hacer lo ahora. tonces no es el de ahora. Ahora viene
ser antípoda de sus ideas, yo procla- Perón o las ideas peronistas amarra-
mismo y nunca me preguntaba por mo y pido que se conduzcan todos con
qué lo hacia ni podria explicarlo tam- das, como dije antes, al gran movi-
— Quere Ud. hablar de Borges? el inayor respecto hacia un intelectual
poco. Dentro de este trabajo, espe- miento de liberación de los pueblos.
— Si, siempre quiere uno hablar de que es verdaderamente um honor pa-
cial o espacial, mejor dicho, tendría Estamos atravesando una revolución
Borges, aunque sea un poco excesiva ra nuestro idioma.
que decirle que hay dos o tres factores histórica en profundidad. Natural-
ia atención que a veces se le dispen-
que alteran de cuando en cuando esta mente que éste es un momento de
sa, sièndo él un hombre más bien Naturalmente, su desacomodo con
cosa sistemática de mi trabajo (hablo liberación para la Argentina? ;Que
quitado de bulla, no digamos un ana- las ideas mayoritarias argentinas no
de mí solamente, de mí en singular). va a pasar? no lo sabemos bien ÍXH
coreta, pero si un hombre de probada sólo significa un desacuerdo con Ar-
Una es la necesidad explosiva de es- davia; la experiencia histórica nos
austeridad. Es natural que la exce- gentina. también significa un desa-
eribir sobre ciertos temas de actuali- dice que los momentos de transición
lencia intelectual de Borges haga que cuerdo con lo más valioso dei mundo,
dad, sobre ciertop acontecimientos son los más duros, los más difíceles.
su figura y su palabra sean siempre con lo que está creciendo en el mun-
que,, a la vez, son acontecimientos Deseo, para el movimiento justicialis-
examinadas y vistas como si fueran do, con la insurreción anticolonialista,
públicos, y que tienen tal circunstan- ta y el momento actual de la Argen-
tan translúcidas que pudiéramos pene- antiimperialista, con un ascenso de
cia, decisión y profundidad dentro de tina, el desarollo más esplendoroso y
trar hasta el otro lado de su sentido las capas populares que está aconte-
mejor, es decir, el que acomode más — ,-Se definiria a si mismo como do en la parte más sensible de los
al pueblo argentino de acuerdo con El gran orinador
una persona tímida? grandes senores dei imperialismo que
su razón histórica y con el porvenir se creían duenos de Chile y que se El gran orinador era amarillo
de la humanidad que, naturalmente, — Yo creo que sí, comadre, también
tengo ese sentimiento de pobre de na- creen duenos dei mundo. Es verdad y el chorro que cayó
es un porvenir progresista e antim- que podemos decir, con orgullo, que era una lluvia color de bronce
perialista. cimiento en los grandes restoranes, en
las grandes recepciones, en palácios el presidente Allende es un hombre sobre las cúpulas de las iglesias,
— Me gustararía conocer su rela- o embajadas, en los grandes hoteles. que ha cumprido su programa, es un sobre los techos de los automóviles,
ción con Ias nuevas generaciones, no Me parece que, de repente, van a no- hombre que no hay traicionado en lo sobre las fábricas y los cemeterios,
solo de escritores, sino de Ia gente que tar que estoy de más alli y que me más minimo las promesas hechas ante sobre la mul'titud y sus jardines.
ahora es joven. van a decir "Ud. que está haciendo el pueblo, que ha tomado en serio su iQuiém era, dónde estaba?
— Bueno, hay dos o tres maneras aqui, por qüé no se va". Siempre he papel de gobernante popular. Pero Era una densidad, líquido espeso
de plantear esta cuestión. Por una tenido ese sentimiento — que no era también es verdad que estamos ame- lo que caía
parte, hay un mundo de rebelión ju- desagradable — de no pertencer a tal nazados. Yo quero que esto lo sepan como desde un caballo
venil que tiene todos los colores dei cosa, a tal grupo. Y na realidad es y lo recuerden mis amigos, mis' com- y asustados transeúntes
arco iris, dei fondo do mar, y tam- así, no pertenezco. Y con respecto a paneros, mis colegas de toda America sin paraguas
bién a veces los colores dei esterco- Ia timidez general hacia los hombres Latina. buscaban hacia el cielo,
lero humano. Lo indiscutible es que en amistad, o hacia las mujeres en ei Mi posición es conocida y mucho me mientras las avenidas se anegaban
hay una actitud juvenil unânime, ge- amistad, o hacia las mujeres en el hubiera gustado hablar longamente y por debajo de las puertas
neral y persistente en todas partes. amor, siempre la tuve. Es un senti- de tantos- temas que son esenciales entraban los orines incansables
Existen muchas más barbas y muchas miento hermoso por dos cosas: pa- para nuestra vida cultural. Pero el que iban llenando acequias,
más cabelleras — coir\o las hubo en ra sentirlo y para cenverlo. En la momento de Chile es desgarrador y [corrompiendo
otro tiempo sin que nadie las inter- amistad, muchos de mis me j ores pasa a las puertas de mi casa, invade pisos de mármol, alfombras,
pretara como cosa extrana. Pero amigos me resultaron, en principio, el recinto de mi trabajo y no me que- escaleras.
también existen violentos câmbios impenetrables, los sentia orgullosos; da más remedio que participar en Nada se divisaba. ^ Dónde
orientados hacia una decisión de asu- resultaba que ellos eran gente tímida esta gran lucha. Mucha gente pen- estaba el peligro?
mir mayor responsabilidad en las jó- como lo era yo, y no habia aproxima- sará ihasta cuando!, por que sigo iQué iba a pasar en el mundo?
venes generaciones: por ejemplo, el ción. En el amor también: hubo mu- hablando de politica, ahora que de- El gran orinador desde su altura
periodo de oro dela juventud comu- chas mujeres que me parecían abso- beria estarme tranqüilo. Posiblemente callaba y orinaba.
nista de Chile, juventud organizada, lutamente frias e inalcanzables, que tengan razón. No conservo ningún iQué quiere decir esto?
reflexiva, entusiasta, alegre, pero al me despreciaban de arriba abájo. Re- sentimiento de orgullo como para de- Yo soy un simple y pálido poeta
mismo tiempo consciente y estudiosa, sultó hermoso hacer esa lucha con- cir: ya basta. He adquirido el derecho y no he venido a descifrar enigmas.
ha aumentado en forma considerable tra mi mesmo e contra ellas, y poder de retirarme a mis cuarteles de in- ni a proponer paraguas especiales.
y juega un papel extraordinário en vencerlas o ser vencido. vierno. Pero yo no tengo cuarteles de Hasta luego! Saludo y me retiro
la vida de nuestro país. invierno, sólo tengo cuarteles de pri- a un país donde no me hagan
Fuera de eso, tenemos en Chile, y Compadre, he leido estos dias, en mavera. [preguntas.
también en otros sítios, muchachos los diários de Chile, un llamado suyo
a los intelectuales. Triste canción para El heróe
que viven una rebeldia desorientada, aburrir a cualquiera
que proviene de un impulso muy — Es algo complicado explicar la En nua calle de Santiago
grande, de la impaciência hacia los situación chilena, sobre todo al ex- Toda la noche me pasé la vida ha vivido un hombre desnudo
câmbios, de la necesidad absoluta de trangero, debido a la información sacando cuentas, por tantos largos anos, sí,
reformar la sociedad. Gran parte de tendenciosa de la prensa o de la in- pero no de vacas, sin calzarse, no, sin vestirse
esta generación se empena en com- formación que muchos pueden tener. pero no de libros, y con sombrero, sin embargo.
batir a su modo todos los fantasmas, Naturalmente, mi llamado tiene por pero no de francos, Sin más ropaje que sus pelos
todas las deformaciones que le atri- objeto despertar la conciencia de los este varón filosofante
intelectuales — de los pueblos, pri- pero no dedólares,
buye a una sociedad que, efectiva- no, nada de eso. se mostro en el balcón a veces
mente está èn decadencia. Pero no mordialmente, pero también los inte- y lo vio la ciudadanía
lectuales — hacia lo que está pasando Toda la vida me pasé la noche
se puede combatir a una sociedad que sacando cuentas, como a un nudista solitário
está en sua caída descendente con en mi país. enemigo de las camisas,
otra clase de decadencia, y así hemos pero no de coches,
El final de mi llamado se dirige a pero no de gatos, dei pantalón y la casaca.
Uegado a ver cómo se han infiltrado, los escritores y a los artistas de la Así pasaban las modas,
dentro de esta general desorientación pero no de amores,
América nuestra y dei mundo entero. nó. se marchitaban los chalecos
de cierta parte de la juventud, los Estamos en una situación bastante y volvían ciertas solapas,
impulsos criminales, el desenfreno se- Toda la vida me pasé la luz
grave. Yo he llamado, a lo que pasa sacando cuentas, ciertos bastones caídos:
xual, etc., que son las semillas mal- en Chile, un Vietnam silencioso en todo era resurrección
sanas de un movimiento que tiene su que no hay bombardeos, en que no pero no de libros,
pero no de perros, y enterramiento en la ropa,
raiz o su razón profunda de ser. hay ratillería. Fuera de eso, fuera dei todo, menos aquel mortal
napalm, se están usando todas las pero no de cifras, en cueros como vino al mundo
— Se habla mucho que Ud. es in- nó.
mensamente rico. armas, dei exterior y dei interior, en desdenoso como los dioses
contra de Chile. En este momento, Toda la luna me pasé la noche dedicados a la gimnasia.
— Lo que gano — el editor lo sabe, sacando cuentas,
que es el que hace mucho tiempo tie- pues, estamos ante una guerra no de- (Los testigos y las testigas
clarada. La derecha — acompanada pero no de besos, dei habitante sigular
ne los derechos de toda mi obra — pero no de novias,
es una suma bastante modesta pero por sus grupos de asalto fascistas y dan detalles que me estremeceu
por un parlamento insidioso, veneno- pero no de camas, al mostras la transformación
que me alcanza para vivir. De lo de- nó.
más, todo se ha ido por mis manos so, una mayoría parlamentaria com- dei hombre y su fisiología.)
pletamente opositora, adversa, estéril Toda la noche me pasé las olas Después de aquella desnudez
comprando mis libros y comprando, sacando cuentas,
de cuando en cuando, un mascarón enemiga dei pueblo, con la cumplici- con cuarenta aííos de desnudo
dad de los altos tribunales de justi- pero no de hoteles, desde la cabeza a los pies
de proa; no recibo rentas de ningun pero no de dientes,
arriendo, no poseo acciones de nin- cia, de la contraloria y lós caballos se cubrió con escamas negras
de Troya que tiene dentro de la pero no de copas, y los cabellos le cubrièron
guma parte, no tengo fortuna, no nó.
guardo depósitos en grandes bancos. administración y que se han tolerado de tal manera los ojos
En resumen, tengo lo que recibo de hasta ahora, de la gran prensa chi- Toda la guerra me pasé la paz que nunca pudo leer más,
mi trabajo, eso es todo. Si esto sus- lena — esta tratando de provocar sacando cuentas, ni los periódicos dei dia.
cita las simpatias de alguién, será de una insurrecioón criminal de la cual pero no de muertos, Así quedó su pensamiento
una persona que no trabaje. Si esto deben tomar inmediato conocimiento pero no de flores, fijo en un punto dei pasad
suscita la envidia de otros, es, en los pueblos de América Latina. Se nó. como el antiguo editorial
general, de los que no trabajan. En- trata de instaurar un régimen fas- Toda la lluvia me pasé la tierra de un diário desaparecido.
tonces vamos a cerrar las compuertas cista en Chile. Han tratado de in- haciendo cuentas, (Curioso caso aquel varón
de la maledicencia, dei chisme sobre citar una insureción dei ejército, han pero no de caminos, que murió cuando perseguia
éste, sobre aquél, sobre mi y sobre los tratado de recurrir al pueblo para pero no de canciones, a su canario en la terraza.)
demás. obtener en las elecciones un triunfo nó. Queda probado en esta historia
que les permitiera derrocar al gobier- Toda la tierra me pasé la sombra que la buena fe no resiste
— Pero a Ud lo hiere la maledi- no. No han conseguido ni conmover sacando cuentas, las embestidas dei invierno.
cencia. el ejército para sus fines mercenários pero no de cabellos,
— De cuando en cuando — a pesar ni alcanzar la mayoria necesaria co- no de arrugas,
de que debiera estar curtido, de que mo para derrocar al gobierno. no de cosas perdidas,
debiera tener una piei de elefante — nó.
de cuando encuando me turba, me Es verdad que hemos tenido un Toda la muerte me pasé la
molesta, pero son cosas casi orgânicas. triunfo popular extra ordinário, es sacando cuentas:
Yo soy un hombre dei sur de Chile, verdad que el presidente Allende y el pero de qué se trata
, debiera estar más acostumbrado al gobierno de la Unidad Popular han no me acuerdo,
frio, naci e creci en el clima frio dei encabezado de una manera valiente nó.
sur de nuestra América, sin embargo, un proceso victorioso, vital, de trans- Toda la vida me pasé la muerte
de repente me dan unos tiritones que formación de nuestra patria. Es ver- sacando cuentas
no debiera tener y que me reprocho. dad que hemos herido de morte a los y si salí perdiendo •
Así me pasa también con la vanidad, monopolios extranjeros, que por pri- o si salí ganando
que todavia sufre de algún pinchazo, mera vez, fuera de la nacionalización yo no lo sé, la tierra
de algún alfileterazo o de algun gar- de petróleo de México y de las na- no lo sabe...
rotazo. cionalizaciones cubanas, se ha golpea- Etcétera.
m NO DEMONK)
Depoimento gravado com o diácono Irmão José,
exorcista.

cramentai é leve. Aqui, a portas fe- Às vezes, é exigida uma preparação


chadas, temos um sacramentai mais especial. Muito jejum, muita oração,
profundo, orações mais profundas, e abstinência. Porque o Evangelho diz
utilizamos o sal, a água benta, e os que para determinados espíritos se-
santos óleos — tudo de acordo com rem banidos são necessárias muitas
a liturgia da Igreja, com os recursos orações, abstinências, jejum.
indicados pela Bíblia. Histórias quase incríveis: meninas,
Não fazemos nada que esteja apoia- velhos, velhas, possuidos sexualmente.
do na palavra de Deus. Criancinhas que gritam palavrões
Para começar, a Bíblia nos afirma horrorosos, senhoras de sociedade que
que o demônio pode possuir não so- fazem propostas sexuais ao próprio
mente a alma mas o corpo de uma Exorcista. Endemoniados que que-
criatura, que passa a agir sob a sua bram e exclamam blasfêminas! Quan-
inteira vontade. Nos Evangelistas, do acredito que estou diante de uma
temos a passagem do Endemoniado de mistificação consciente, uso as cha-
Cafarnaum. À chegada da tarde, di- mas de um isqueiro. O Endemoniado
rigiu-se Jesus à Sinagoga, na cidade enfrenta tudo, sem dor. Mas dobra-
de Cafarnaum, na Galiléia, e lá, er.tre se diante da oração:
os doutores, os anciãos, os escribas, — Ecce Crucem Domini
pregava Jesus a sua palavra, e todos Fugitu Espiritus Malignii, Espiritus
admirados com Jesus, boquiabertos [Imundi
diante de sua sabedoria. M a s . . . Não In Nome de Pater, Fiiii, Espirita
tardou a aparecer no templo um ho- ISanti.
mem possesso de um espírito malig- O Endemoniado sente o impacto. E
no, que ao avistar Jesus imediata- começam as manifestações, os gritos,
mente se manifestou, dizendo: "que as injúrias. Mas eu nunca fui agre-
viestes fazer, Jesus de Nazaré? Vies- dido fisicamente. Nem poderia ser,
tes nos perder? Sabemos que sois o porque esta seria a derrota de Deus,
Santo de Deus." Ao que Jesus com e Deus jamais é derrotado. Çu tenho
voz vigorosa disse-lhe: certeza que o dia que isto acontecer,
— Cala-te e sai deste corpo ! significará que Deus me tirou desta
E o espírito maligno, agitando-se Missão.
violentamente, saiu daquele corpo. Tem gente que fala que demônio é
É claro. Aí não tem interpretação. coisa de país subdesenvolvido, que
Ai está o Demônio. misticismo é coisa de subdesenvolvi-
Aliás, não é apenag este padrequi- do. E a Europa? E os Estados Uni-
nho aqui de uma igrejinha do fim do dos? Os Estados Unidos, onde seitas
Ipiranga quem fala hoje na existên- cultuam o Mal. Isto é natural? Você
cia do Demônio. É o Santo Padre, o chega a Nova Iorque e encontra gru-
Vigário de Cristo. E quando saiu o pos de jovens vestidos com roupas
livro O Exorcista foi o frei Modroni, negras e vermelhas das alegorias de-
que disse — ele que é um eminente moníacas. O turista é cercado, por
Dominicano — que não se duvida da. grupos, cada um fala um idioma, e
existência do demônio, e falou, então, lá vêm os convites para uma missa
das condições do exorcista, que ele negra, um culto a Satã... Em último
deve ser um homem são, com boa caso, para se ver livre, o turista com-
saúde, com equilíbrio moral... Um pra um livro, por cinco, dez dólares.
porta-voz do Vaticano disse até que Vai olhar o livro e vê a Bíblia ao con-
quem duvida da existência do demô- trário. Cheia de blasfêmias e cultuan-
nio está, realmente, possuído por do Satã. O Mal vencendo ó Bem. Uma
ele... coisa assustadora.
"O Exorcista", de Battly, trata de Eu recebi a proposta de uma Irman-
um verdadeiro caso de endemonia- dade dos Estados Unidos: contrato de
mento. Mas a grande maioria das dois anos para ir para os Estados
pessoas que procuram exorcistas, pelo Unidos — contrato de trabalho para
menos é esta a minha experiência ganhar 3500 dólares por mês. Mis-
pessoal, são apenas homens e mulhe- são: exorcismos públicos, numa cate-
res condicionados por aspectos místi- dral, duas vezes por semana. Casa,
co-religiosos difundidos pelas seitas comida, carro, à disposição. Nas horas
africanas. Usando um termo popular vagas, poderia ministrar exorcismos
estas pessoas se queixam de "encosto" particulares. O dinheiro reverteria
de um espírito. Mas eu não entro nes- para minha obra em São Paulo, em
tas coisas quando prego na Igreja. Na abrigo 108 crianças e dou escola para
verdade, em cada duas mil pessoas, 400. Mas a necessidade do povo de
encontra-se um verdadeiro possesso. Deus... A necessidade de nosso po-
Mas também acredito que quando vo... Além do mais eu poderia ser
um sujeito se condicionou mistica- até agredido fisicamente, numa terra
mente de que ele está sofrendo por em que exorcistas combatem os de-
um "encosto", um psiquiatra não vai mônios, e seitas adoram o demônio.
resolver o problema. Somente através De certa forma eu estaria receben-
de uma cerimônia religiosa, mística, do bens materiais. Eu estava diante
ele vai se curar. de uma tentação de demônio. 'Mas
Nosso primeiro contato se dá na o pecado não é ser tentado. £ cair
Igreja. As pessoas que acham que o em tentação.
exorcismo público não resolveu seus
"Mas isso não é ficção, isso é a rea- me ajuda e um médico psiquiatra que problemas, nos procuram particular-
lidade! Foram estas as primeiras coi- assiste os exorcismos —, quando acon- mente. A pessoa vem. Pergunto o que
sas que me ocorreram, quando li O teceu tudo aquilo. No momento da está acontecendo. A pessoa bota tudo
Exorcista, de Blatty. Casos como o libertação, o padre sofreu uma he- para fora. Aí nós mentalizamos, algo
deste livro nós temos às centenas. Eu morragia nasal; o psiquiatra-observa- nos fala: o seu problema começou há
mesmo já tive nas mãos casos ainda dor ficou vários dias perturbado; eu exatamente cinco anos atrás, oito...
mais profundos. Por exemplo: as pes- quase tive uma costela quebrada. Não me perguntem como isto acon-
soas ficam impressionadas quando Me tornei Exorcista de uma forma tece. Eu não saberia responder. É a
lêem no livro que o Endemoniado diz um pouco inesperada. Foi no final de força de Deus. Só com a força de
coisas, grita exclama palavrões. E o 1968, e eu tinha diante de mim uma Deus, com o sopro do Espírito Santo,
final do livro? No momento da liber- criatura que apresentava sinais de alguém pede combater o Demônio. E
tação, ele salta pela janela — tudo epilepsia, mas senti que não era epi- o Espírito Santo pode soprar em quem
indica que uma força estranha se lepsia. Por força de Deus, acredito, quiser. Num sacerdote ou num var-
apossou do corpo desta criatura —, fiz a imposição das mãos e a pessoa redor de rua. A pessoa, então, revira
e ele se atira pela janela, e morre. se restabeleceu daquele ataque, voltou seu passado, e descobre que, realmen-
Inverossímil? ao estado normal. Depois, tudo se- te, alguma coisa aconteceu naquele
Mas há três semanas atrás, nós ti- guiu uma evolução natural. E hoje tempo. Esta pessoa, que tenho diante
vemos um caso idêntico. Só que não nós estamos aqui, atendendo a uma de mim, já passou pelo psiquiatra que
resultou em suicídio, mas em costela média de 400 pessoas individualmen- aqui trabalha, e que já me disse que
quebrada. Eu acabei de fazer uma te, fazendo 150 exorcismos naturais — "não era um caso de psiquiatria".
libertação — estavam aqui na minha além de todo o trabalho de exorcismo As vezes são necessários três, quatro
sala de trabalho —, eu, o padre que público na igreja. Na Igreja, o sa- exorcismos.
MINAMATA
A fábrica Chisso, em Minamata, Japão, atira suas águas usadas, na baía
onde os pescadores sempre pescaram. Contendo mercúrio, as águas da
Chisso fizeram surgir, a partir de 1953, uma nova doença: a Minamata,
que cega, paralisa, mata. Alguns médicos dizem que 10 mil pessoas
ainda estão por morrer, de Minamata.
A fábrica Chisso, jogando mercúrio nas águas, criou a doença "Mina-
mata", a partir de 1953. A doença: "Um entorpecimento dos membros
e lábios; falta de visão; a fala fica difícil; e o cérebro, esponjoso". O
mercúrio, segundo os médicos, se acumula na placenta das mães sa-
dias. Mas a "Minamata" levou seis anos para ser reconhecida pela me-
dicina e até hoje não há qualquer documento oficial que indique a
existência de mercúrio nas águas da baía. Em 20 de março de 1973,
127 vítimas venceram um processo e a Chisso foi condenada a pagar
5,8 milhões de dólares. Os doentes e os mortos foram as peças desse
processo. Kemichi Shimada (ao alto) é um bom presidente da Chisso:
visitou os doentes, ajoelhou-se muitas vezes, rezou sobre túmulos.
Mas nas assembléias com os parentes das vítimas, foi incansável: "A
Chisso não pode pagar tudo".
Foram necessários 20 anos para se saber a verdade sobre Minamata.
Tempo em que não foi possível fazer nada, além de autopsiar os cé-
rebros atrofiados. Como o do sr. Hayashide (página ao lado),.da ci-
dade de Akasaki, próxima de Minamata, que agoniza nos braços de
sua mulher. Ele pegou a doença em 1953 e, morto, se tornou prova
do processo contra a Chisso. Hoje, os pescadores da baía, mais de
5 mil, fazem um bloqueio de seus barcos e da pesca. Exigem novas
investigações sobre o conteúdo das águas assassinas da Chisso. Os
peritos negam que as águas contenham mercúrio. O que elas contêm,
então?
A adolescente T o m o k o Uemura (mão, página 7 ), è ná d e f i n i ç ã o d e
u m m é d i c o " u m l e g u m e h u m a n o " : f i c o u d o e n t e n o v e n t r e d a m ã e , ja-
m a i s e n x e r g o u , n u n c a f a l o u , a p e n a s se m e x e . T o m o k o (à e s q u e r d a )
n ã o t e m c o n s c i ê n c i a n e m m e s m o d e q u e e x i s t e , n e m c h e g a a ser u m a
a d o l e s c e n t e . V i t i m a d a C h i s s o (ao a l t o , a f á b r i c a ) , '.'vive" n o s b r a ç o s
de sua mãe.
O d i á l o g o e n t r e a C h i s s o <e os p a r e n t e s d e s u a s v i t i m a s até h o j e se
mantém sem qualquer solução Além das reuniões-maratonas, dos prc*
t e s t o s , as p a s s e a t a s c o m o s m o r t o s - r e t r a t o s ( a b a i x o ) s ã o u m a f o r m a
de cobrar o que realmente jamais a Chisso p o d e r á pagar.
M i n a m a t a . a l é m de n o m e d o a n t i g o p o v o a d o d e p e s c a d o r e s e de u m a
n o v a d o e n ç a , c a p a z a i n d a d e m a t a r m i l h a r e s d e p e s s o a s , v i r o u filrne-
d o c u m e n t á r i o . E x i b i d o e m Paris no ú l t i m o 27 de s e t e m b r o , O d o c u m e n -
t á r i o de M o r i a k i T s u c h i m o t o l e v o u i n q u i e t a ç ã o a o s f r a n c e s e s . A l g u é m
c o n s t a t o u q u e as á g u a s d o R e n o c a r r e g a m m e r c ú r i o . " N ã o h á n a d a
e m c o m u m e n t r e o J a p ã o e a A l s á c i á " . d i s s e r a m a l g u n s " H á pelo.
m e n o s três c o i s a s : a p r e s e n ç a d o m e í c u r i o , d o s t r u s t e s e d o d e s l e i x o
d o g o v e r n o " , r e s p o n d e r a m o u t r o s . E o q u e há de c o m u m e n t r e o Ja-
pão, a Alsácia e o m u n d o , é q u e a M i n a m a t a mata, ainda hoje.
BAIXA SOCIEDADE Percival de Souza

Emprego. Procura-se. praça, depois de uma temporada fora está ganhando dinheiro com a falta gado inventou um papo: "ela quis
do país. Tanta solicitude com os ho- da matéria-prima, como acontece no concorrer para um crime menos gra-
mens da Justiça, entretanto, não re- mercado do aço e na Bolsa de Valores. ve". No terceiro, não houve apelação:
presentava apenas uma colaboração E por falar no assunto, muita aten- 14 anos. Se a pena do segundo fosse
para que o poderoso traficante fosse ção: os espertos moços da DE des- confirmada, ela sairia já, em livra-
preso. Na verdade, a anta, muito vi- cobriram esses dias que um rato (não mento condicional. Agora, terá de m-o
va, queria ficar sozinha na parada. deles e nem daquele prédio) quis "far far mais (já puxou 4,5 anos) mas de-
E la foi a Polícia para um encontro bricar" um flagrante de cocaína pra liciando suas colegas de prisão com as
noturno, numa certa rua de São Pau- cima de um dentista tido como probo. lingüiças fritas que somente ela sabe
lo. Detalhe: a Polícia, avisada pelos Investigação vai, investigação vem, preparar. Nhac!
capas-preta, ignorava as transas de- apurou-se que o rato teria levado al-
do-durais de Eleutério Anta. E, en- gum para aprontar essa pra cima do
quanto o alvo da operação, muito dentista, só porque o dentista era a Nabos voam
vivo, conseguiu escapar, a 120 quilô- principal testemunha de acusação
metros por hora, Eleutério, muito lo- contra um industrial.
que, ficou dando sopa no ponto de O rato, que já anda meio cabreiro,
encontro, entrando em cana. deverá entrar pelos obscuros cami-
Dilema de anta: poderia livrar a nhos da tubulação. Para a Comissão
barra identificando-se como dedo- Estadual de Investigações, basta isso
Nelsinho da 45, que apesar do ape- duro. (Ih, mas nesse caso o traficante para mandá-lo pro olho da rua; mes-
lido não passa de um panaca, só con- ou alguém da curriola faria a sua mo porque, segundo consta, o passa-
segue fazer furor entre as panteras e pele). A outra alternativa seria fazer do do rato já é bem nebuloso.
panterinhas da Vila Buarque e Santa bico de siri e guentar a mão. Muito
Ifigênia. Agora, cúmulo da desmora- apegado à vida, Eleutério preferiu es- 0 nostálgico
lização para a curriola de seu nível, ta segunda hipótese. E, cheio de am-
procura emprego. É que Nelsinho teve polas nos bolsos, (que entregaria ao
de assinar um "59". Aviso aos leigos: traficante que ia dedar), apanhou
trata-se do número do artigo da Lei um processo. Foi condenado a um
de Contravenções Penais pelo qual o ano e está na prisão. Mas a história
autor do autógrafo se compromete a de sua dedo-duragem já correu o bas-
arranjar emprego em 30 dias. fond, e é bom que ele se cubra. Quem
Esclareça-se que Nelsinho é consi- avisa, amigo é: vacilou, Anta, São o sumiço do marido da cantora ex-
derado um dos maiores executivos da Pedro puxa o seu prontuário! abudante, descobriram que o homem
night paulistana. Há uns tempos era uma fera: estranhas transas (à
atrás ele era diretor (sic) da boate Quinzinho: mais férias base de exploração) com moçoilos
Lapinha, aquela do Roberto Luna, até desmunhecantes e com aquele pozi-
que a casa precisou encerrar as ati- nho branco que não é talco. O filhi-
vidades por motivo de força maior. nho queridinho da dupla também não
Aliás, foi o Nelsinho da 45 quem di- fica por menos, e mamãe (exmamãe-
versificou as atividades da Lapinha, zona) quis até impetrar um habeas-
passando a vender, além de uisque, corpus pro moço, quando se. tocou que
os famosos produtos do Laboratório a Polícia estava ali, no pé... Ainda
Merk à baixa sociedade paulista. Xodó, que já foi um dos mais di- vai sobrar muita lama no ventilador
nâmicos executivos do low-society alta-rotação dessas escabrosíssima
paulista, também aderiu à moda da história.
Eleutério, a anta vestida nostalgia. Uma noite dessas, enquan- Para encerrar, dois recados: o pri-
to dava uma baforada no cachimbo meiro, pro Hélio Rubens, que durante
e alisava a cabeça do pequinês (seus um tempão roubou carros pela aí e
dois hobies), Xodó lembrava dos ve- depois entrutou um sherloque, atual-
lhos tempos que era motorista da ex- mente enjaulado. Seguinte, Hélio:
tinta Força Pública. além de ladrão, você é muito mau ca-
Com saudades, Xodó — industrial ráter. E pare de me mandar cartas
da prostituição — lembrava dos tem- lacrimejantes, que os peritos já me
Estamos saudosos do nosso amigo pos em que era motorista <le um cer- informaram que as ágrimas são de
Quinzinho (Quinza para os íntimos), to chafra com uma estrela solitária O segundo recado, e último, para o
atualmente em férias. Da última vez nos ombros (hoje ele subiu no cami- crocodilo...
que nos encontramos com o velho nho das estrelas). E sorria ao relem- promotor de Santa Isabel: por favor,
Quinza, ele comentava que já atingiu brar como ele e o chafra invadiam a doutor, não cite mais o finado Rober-
meio século de existência — um cari- zona de prostituição na rua Itaboca. tão nos júris do Esquadrão. Eu disse
jó, como se diz em baixa sociedade. Alta madrugada,, as figuras mais re- finado: Roberto Teixeira já descansa
Quinza nos dizia estar com saudades. presentativas do bas-fond da época (em paz, creio) há mais de dois anos,
Saudades da Laura, o grande amor eram despidas e depois jogadas nas e parece que o senhor não sabe...
de sua vida, que foi forçada a viajar águas geladas do Tie.tê... De outra Falei?
sem deixar o endereço, devido à per- vez eu conto mais sobre as memórias
seguição da alta sociedade. Espera- do Xodó.
ladrão — Eleutério já passou por mos ansiosamente o regresso do Quin-
muitas páginas do Código Penal. Um za jpara aquele jantar de reencontro.
dia, teve a brilhante idéia de ficar só- Nesse dia, recepção para cem talheres Falta de sorte
cio de um homem da lei. E as coisas no Tabú, ali na "boca do lixo". Car-
correram bem por algum tempo, até dápio? Feijoada completa, regada a
que o homem deixou de ser da lei, Três Fazendas. Reservas no local.
ganhou 8 processos, sendo que só num
deles foi premiado com 19 anos e 11
meses de galera. Solidário, Eleutério Crise na bolsa
assistiu ao júri, na galeria superior
do I Tribunal do Juri, e fez de conta
que seu nome fosse Miguel ao ouvir
o promotor Marino Júnior chamá-lo,
aos berros, de "anta vestida".
A anta, digo, Eleutério, saiu do
Fórum e arrumou um emprego de
guarda-costa de um certo advogado.
Curioso: esse advogado sentia-se
ameaçado pelo sócio de Eleutério An-
ta, antes de ser condenado e sair de
circulação-... Eleutério, porém, pen-
sou bem e achou que poderia ser coi- Nair Lucas precisou desarrumar de
sa melhor na vida. Além disso, inti- novo as malas, que já estavam pron-
mamente, sentia muito mais vontade tas. Ela tinha quase certeza de que
de dar uma surra no advogado do que iria sair depressinha do Presídio Fe-
protegê-lo... minino, ali na entrada da Peniten-
'Assim, Eleutério decidiu dar a ciária, entre frondosas árvores. Nair
grande cartada de sua vida: chegou A ação da moçada da DE (para foi quem matou a dona Antonia Mo-
nos homens da capa preta e tentou quem não conhece, a Delegacia de lina, nos idos de outubro de 1963, só
convencê-los de que ele, Anta, já ti- Entorpecentes) está fazendo com que porque a dona Antônia era a legíti-
nha condições de aproximar-se de um diminua o fornecimento de drogas na ma esposa de seu amante.. No pri-
poderoso traficante de drogas, que, cidade. Na última semana, o merca- meiro julgamento, Nair tomou 14 anos
segundo consta, está circulando pela do fechou em... alta. Muita gente de reclusão. No segundo, seu advo-
JORNAL DO COMETA
TEMPO: PODE SER
ENQUANTO VENDIDO
D U R A R O COMETA SEPARADAMENTE

Ano 1 São Paulo — 2? Quinzena de novembro 1973 N<? 1

Nasadá
idéias básicas
"A característica mais per-
O KOHOUTEK É VIRGEM A importância do Kohoutek, sob o ponto de vis-
manente de um cometa, o nú- ta da Astronomia, está principalmente em sua condi-
cleo, acredita-se que consiste ção de cometa virgem. Isto significa que ele nunca
de gases congelados ("gelos")
e pertículas de poeira" — diz passou diante do sol, segundo informa o astrônomo
a NASA em comunicação cien- Eugênio Scalise Júnior, do Centro de Rádio-Astrono-
tífica. Na página 2, um resu- mia do Instituto Mackenzie, de São Paulo-
mo do documento.
Para os astrônomos, o fundamental no estudo dos
cometas é colher sempre mais informações sobre as
origens do mundo. Daí a importância do Kohoutek,
Astronomo uma vez que — sendo um cometa virgem — chega até
nós puro, "na condição original em que se formou há
nem contra milhões de anos". E além disso, segundo Scalise, cer-
tamente tem muito mais materiais. O astrônomo pau-
nem a favor lista observa que os cometas que já passaram várias
vezes diante do sol "não são tão interessantes como os
Falando esta semana ao Jor-
virgens": a cada passagem, o cometa perde massa,
nal do Cometa, o professor Os- além de poder também mudar sua órbita, sob a in-
car Matsura, do Instituto As- fluência dos ventos solares ou sob a influência do
tronômico e Geofísico da USP, planeta Júpiter.
afirmou não refutar, a priori,
nenhum princípio místico so- Os primenros cálculos feitos pelos astrônomos
bre a natureza e os homens. davam ao Kohoutek N um período de órbita da ordem
Mais comentários extra-cien- de 10 mil anos. Mas, conforme diz Scalise, se ele per-
tíficos do prof. Matsura na pá-
gina 2. tence ao nosso sistema solar ou não "é terreno de con-
jectura".
— O caminho dele é na direção das profundezas

O mesmo de nosso sistema planetário. Não podemos responder


se ele volta ou não. Inclusive, se ele voltar daqui a 10

fenômeno mil anos, pode até ser tomado como um cometa novo.
O núcleo do Kohoutek passa dos 20 km de diâme-
anos atras tro (nos cometas o núcleo pode variar de 0,4 a 50 km
de diâmetro). Sua cauda, porém, já que ele nunca
passou diante do sol, pode chegar ao limite máximo
José Feliciano, estudioso de
Cometas, afirmou em 1910, para um cometa: 200 milhões de quilômetros, 50 mi-
através de sua coluna especia- lhões a . mais que a distância sol-terra.
lizada no jornal O Estado de
São Paulo, que o mundo não Seu periélio, — ponto mais próximo do sol — se
acabaria em 18/19 de maio da- dará a 28 de dezembro, e será de 21 milhões de quilô-
quele ano, conforme certas metros. Nesse mesmo dia ele estará também viajando
profecias em relação à passa- em sua velocidade máxima, que será de 60 quilôme-
gem do cometa de Halley. As
declarações de Feilciano estão tros por segundo. A Terra viaja em volta do sol a
na página 3. 11.000 quilômetros por segundo.

Para se localizar o Kohou- é de 25 graus. Portanto, quem

A teoria da bolinha
tek, no céu, deve-se tomar o estiver entre menos 20 e me-
Sol como ponto de referência. nos 30 graus de distância do
Olhando para o nascente,.an- Equador — mais ou menos do
tes do dia 28 de dezembro — sul da Bahia até o Rio Gran-
de do Sul — verá o cometa

de pingue-pongue
data do seu periélio (ponto
mais próximo do Sol) — a di- passando praticamente em ci-
reção da cauda será perpen- ma da cabeça.
dicular ao horizonte. O Ko- Depois que o cometa der a
houtek é um cometa do hemis- volta no céu, sua cauda come-
fério Sul, isto é,. ele passará çará a viajar na frente do nú-
abaixo da linha do Equador. cleo. E então o ponto de re-
O cometa está para a terra, seu caminho, vindos de não- 100 bilhões de cometas ob- E tomando-se o Equador como ferência passará a ser o poen-
assim como uma bola de ping- sei-onde? Por que as teorias serváveis (e cuja massa total ponto de referência, a distân- te, porque ele será visto ao en-
pong que pesasse 1 grama es- para explicar o aparecimento nem chegaria a décima parte cia — em graus — do cometa tardecer.
taria para uma mesa de 10 mil dos cometas são diversas: eles da massa de nossa terra).
poderiam ser os restos de uma A teoria mais aceita, porém,
toneladas. De onde vem essa explosão de um planeta que é a de que os cometas se for-
bolinha? Ou melhor, é bom

"Ésó desgosto"
que existu entre Marte e Jú- maram ao mesmo tempo que
estabelecer logo que também piter, milhões de anos atrás; se formava o sistema solar, o
se poderia fazer a pergunta ao como poderiam ser uma nu- nosso.
contrário: não seríamos nós vem que o sistema solar está Então, durante o período de
que estaríamos cruzando em atravessando uma nuvem de evolução do sol, os planetas José Amaral
foram formados; e na região Praça da S é - S P
mais distante, nos confins do
nosso sistema planetário, de- "Viver 85 anos é um inferno. que ela ia cair, mas não caiu
vido à pequena atração gravi- Fica todo mundo dizendo que nada. Foi uma questão de se-
gundos. Mas agora, eu tô mais

Luz artificial atrapalha


tacional das massas, não foi o velho tá caducando. ,A gente
suficiente para a formação de devia viver só até os 50 por- preocupado com os marcianos.
um único planeta. E as par- que depois não tem mais mo- Diz que os americanos vão
tículas se juntaram em regiões tivo para viver. É só desgosto. construir uma cidade pra re-
Como a iluminação das Segundo os astrônomos, a diminutas, da ordem de 1 a 50 Mas eu vou contar o que lem- ceber os marcianos e eu vou
grandes cidades produz uma a melhor época para olhar o quilômetros; e por motivo de bro. comprar o jornal depressa.
quantidade de luz difusa muito cometa será depois que ele fi- atração gravitacional, então Tem até uma fotografia do
zer a volta por trás do Sol — estes meteoros dos confins do "Eu estava no interior, em presidente dos Estados Unidos
grande, o cometa não será Poços de Caldas, quando apa- e do senador Kennedy junto
muito visível na proximidade depois do dia 28 de dezembro. espaço tendem em direção do
A partir daí até mais ou me- Sol, e se aproximando mostram receu uma estrela amarela com com um marciano: um ho-
delas. O cometa é para se ver nos o fim de janeiro o Kohou- seu brilho luminoso, dando cauda comprida. Ela foi fa- vestido com roupa de mar-
no escuro, longe das cidades. tec atingirá sua plenitude. origem aos cometas, zendo um círculo, eu pensei ciano."
Schemberg Os gases observados
não espera são sempre produtosf unos
cometa A característica mais permanente de um cometa,
o núcleo, acredita-se que consiste de gases
("gelos") e partículas de
congelados
poeira. Sob a radiação solar,
os gelos sublimam (ou seja: passam diretamente do
PlSlCÔ FALA
AO JC estado sólido ao gasoso), e seu^ vapores formam uma
atmosfera em torno do núcleo a coma, com um
diâmetro que pode chegar aos 100.000 km.
(Não se esqueça que coma camente uniforme, suavemen-
"Diz que vai começar a Era significa cabeleira; e que te curvada, e amarela; en-
de Aquário, é o fim de Peixes, quanto a outra é reta, mas ca-
há uma série de coisas, apo- 100.000 km são mais de que
oito vezes o diâmetro da terra, racterizada por filamentos;
calipse, uma coisa mais ou freqüentemente tem uma apa-
menos do ano 2.000. Diz que que mede 12 mil km). Tam-
bém se pode mencionar uma rência de turbulência, e é azul.
há um planeta se aproximan- Estas cores são atribuídas ao
do da Terra e ele vai causar coma interna, de estruturas
granulosas congeladas. reflexo do sol (amarelo) e à
perturbações. Quase todas as emissão de carbono positivo,
informações anunciam mais A dissociação (decomposição
de molécula) e a ionização CO+ (azul).
ou menos uma coisa parecida, Os c o m e t a s apresentam
um período ruim: grandes mu- (formação de partículas car-
regadas eletricamente) devi- grande variedade de fenôme-
danças. Coisas que até já acon- nos impressionantes. Alguns
teceram. Tem gente que diz das à ação do vento solar, es-
tão entre os processos que desapareceram durante o bre-
que cometa é sempre uma no- ve intervalo entre uma obser-
tícia, uma coisa anunciando..." agem sobre os gases da coma,
produzindo os chamados pro- vação e outra. O Biela "ra-
O físico Mário Shemberg não dutos-fühos — átomos, radi- chou" ao meio e virou dois
é "médium", nem espírita. cais, moléculas e ions, detecta- cometas. No cometa Bennet,
Nem especialista em cometas. dos espectroscopicamente nos uma cauda secundária de
Se mantém na posição de um cometas. plasma se formou, em resposta
cientista cuidadoso e bem in- Muitos astrônomos acredi- à passagem de uma onda-de-
formado. tam que a detecção direta dos choque interplanetária. Em
"Diz que ia chegar um pla- gelos e seus vapores — tam- outro cometa recente, a cauda
neta, que ia haver o desloca- bém chamados moléculas-pais de poeira dividiu-se em duas,
mento dos polos. Mas que an- — ainda não estabeleceu um separadas por uma zona de
tes disso haveria a guerra, pai sequer de qualquer come- sombra, escura. Na cabeça do
dois terços da humanidade ta. Os gases observados até mesmo Bennet, surgiu uma
desapareceria. E não era o aqui são todos, ou a maioria, espécie de hélice — atribuída
fim da raça humana, mas o produtos-filhos — que possi- à rotação do núcleo não- dis-
começo. Este planeta tem um velmente não se encontram solvido. No começo do ano, um
campo astral muito forte, os em estado sólido, nas condi- cometa fraco de repente mos-
planetas além da matéria co- ções existentes no núcleo. trou um clarão, aumentando
mum, têm um campo astral. seu brilho dez mil vezes, du-

O mais famoso é
A própria aproximação desse Se os cometas se formaram rante seis dias.
planeta já estaria causando a partir da nebulosa solar, na
grandes perturbações. Os es- região onde Júpiter se formou Pequenos efeitos na trajetó-
píritos atrasados da Terra se- — como acreditam muitos as- ria dos cometas parecem sur-
riam levados embora por ele, trônomos —, então podemos gir internamente em resposta

ainda o de Halley
onde recomeçariam a viver em esperar que as moléculas-pais ao que se chama de "forças
estado mais primitivo. E a incluem água, metano e amô- não-gravitacionais". Presumi-
Terra, livre desse peso, passa- nia. Isto coincidiria com a velmente, isto resulta de pro-
ria viver outro estágio. Diz teoria da bola de gelo suja, de cessos dinâmicos assimétricos
que já houve deslocamento dos Fred Whiple. Mas, se os gelos na região nuclear — coisa de
Consta que, mais de três mil vezes, pelo menos déz estão cometários representam maté- que a ciência astronômica
anos antes de nós, os chineses registradas. polos e a ciência hoje não pode
negar: foi comprovada a exis- ria interestelar agregada — pouco pode falar ainda. (Uma
registraram pela primeira vez No entanto, só em 1682 é como quer outro cientista, A. lembrança: o núcleo de um
a passagem de um cometa. tência de diferentes camadas
que Halley, astrônomo inglês, na formação do solo polar. Cameron —, então poderíamos cometa pode ter, de diâmetro,
fez suas contas e concluiu: es- Hitler pensava que a Terra era pensar em substâncias muito entre 0,4 e 50 quilômetros; ou
Nenhum cometa, porém, fre- te cometa é o mesmo que a oca e até mandou uma expe- mais complexas, inclusive o seja, nesse último caso, o nú-
qüenta com tanta assiduidade história vem registrando des- dição ao polo para investigar aldeido fórmico e outras molé- cleo praticamente cobriria
os registros históricos, como o de 467 a. C.; o mesmo registra- sua formação. Isto está em culas orgâricas, que os ra- uma cidade como São Paulo.)
cometa de Halley. Fala-se de- do em 456 de nossa era, de- livro. Coisas recentes nós nem dioastrônomos encontraram De acordo com o astrônomo
le pela primeira vez em 467 pois em 1301, 1530, etc.; sua sabemos, quanto mais coisas em nuvens galácticas e regiões Jan Oort (que calculou a mas-
antes de Cristo. E já pas- periodicidade é de 76 anos e que aconteceram há não-sei- de possíveis formações de es- sa do Halley — 1910 em 20 tri-
sou por nós umas trinta vezes, ele vai voltar em 1759. E ele quanto-tempo. Quem s a b e trelas inofca: aldeido é "subs- lhões de toneladas), cerca de
voltou, então já batizado com quantas coisas existem debai- tância orgânica obtida geral- 100 milhões de cometas de-
nos 2.377 anos que vão de 467 o nome de Halley. Como con- xo do mar? É bom vocês le- mente por oxidação incomple- vem existir numa grande nu-
a. C. até a última passagem, tinuou voltando impreterivel- rem o "Despertar dos Mágicos". ta dos álcoois"; e aldeido vem, além da órbita de Plu-
em 1910 d. C. Dessas trinta, mente em 1935, 1910, (1975). fórmico, ou formaldeído, é tão. De vez em quando, algu-
"formado por um átomo de ma perturbação injeta um
carbônio, dois de hidrogênio e deles dentro do sistema solar,
um de oxigênio", segundo o Pe- e então a gente o toma por

A influência 4os astros


queno). um cometa de "longo período".
E outros cometas da tal nu-
O hidrogênio foi descoberto vem têm sido capturados por
nosso sistema solar, em pe-

e a astronomia
pela primeira vez ros cometas
há poucos anos, através de ob- quenas órbitas; estes cometas
servações ultravioletas, a par- de "curto período" incluem o
tir de satélites. Os dados mos- Haley (período de 76 anos e
traram que os átomos de hi- alguns meses).
O professor Oscar Matsura do Sherlock Holmes, ter feito vol. Gostaria de estudar mais o drogênio ocupavam uma nu- Algumas vezes, o núcleo do
do Instituto Astronômico e a primeira criação de ficção assunto. Mas como astrônomo, vem enorme, nitidamente cometa aparece como um pon-
Geofísico da Universidade de científica, quando imaginou, não é exatamente isso que o maior que o sol, circundando to discreto. O núcleo nunca se
São Paulo, diz que o astrôno- em seu livro O Veneno Cósmi- IAG espera de mim. a visível coma. Embora o hé- dissorve; e não pode ser con-
mo corre dois perigos: ser an- co, as catástrofes causadas à lio venha logo atrás do hidro- venientemente examinado, en-
timistico ou exacerbadamente Terra pelos gases da cauda de Entretanto, ele lembra que gênio, em matéria de abun- quanto não se puder acompa-
místico, caindo no terreno da um grande cometa. Daí em as pessoas sentem uma gran- dância no universo, não sabe- nhar um cometa com uma na-
astrologia. diante, muita coisa se escre- de sonolência antes das gran- mos se ele está presente nos ve espacial dotada de instru-
veu e se disse sobre a influên- des tempestades de Verão e cometas. mentos adequados.
— Minha posição é a da cia dos astros e dos fenômenos .pergunta se isso não se deve Partículas de poeira libera-
ciência de hoje em dia. Não De acordo com o astrônomo
astronômicos sobre a Terra e às cargas eletrostáticas que das do núcleo são impeli- E. J. ODik, o núcleo do cometa
refuto a priori, nenhum prin- os homens.- provocam os relâmpagos. das na direção contrária à
cípio místico sobre a natureza de Halley perde cerca de 3
— A radiação solar, diz o — Se essa interpretação é do sol, pela pressão da radia- metros de materiais de sua su-
e os homens. Minha preocupa- professor Oscar Matsura, pode correta, o excesso de radiação ção solar, ions produzidos na
ção, como a da ciência, é a de perfície. cada vez aue passa
servir de exemplo. Sabe-se que solar, produzindo um excesso coma são da mesma forma pelo sol. O Kohoutek, prova-
procurar uma explicação lógica ela não é constante e varia em de ionização na atmosfera — atingidos pelas partículas car-
ou científica para esses prin- velmente, tem a mesma massa
ciclos de 11 anos. Teremos um moléculas carregadas de ele- regadas do vento solar. Assim do Halley. Mas, passando mui-
cípios. Ou então, procuro mínimo de atividade solar até tricidade — também alteraria são formadas as caudas de
adaptar os métodos de análise to perto do sol <a cerca de 90
1975 e chegaremos ao máximo o estado de espírito das pes- poira e plasma, que podem es- milhões de quilômetros, ou
científica para o estudo dos em 1980. Os místicos dizem que soas. Uma boa maneira de se tender-se por 100 milhões de
fenômenos místicos, como três quintos da distância ter-
a esta época correspondem descobrir a verdade é fazer quilômetros (ou seja: dois ter- ra-sol, no periélio. a 28 de de-
acontece com a parapsicologia. grandes convulsões mundiais. uma estatística do índice de ços da distância terra-sol, 150 zembro). o Kohoutek teve per-
O professor Oscar Matsura Não tenho informações para criminalidade em função da milhões de quilômetros). A der muito mais matéria que o
atribui a Conan Doyle, criador .tomar posição contra ou a fa- atividade solar. cauda de poeira aparece tipi- Halley.
Já em 1910 o fim
Poderá ocupar do mundo era desmentido
Em 3 de abril de 1910, o jor- anunciados para 18/19, mais e

um sexto do céu nal o Estado de S. Paulo pu- mais se dissipam...


blicou artigo de seu especia- Um observador da Avenida
lista em cometas, José Felicia- Angélica viu antes de mim, às
no, a respeito do cometa de 5 15 da manhã de 29 e escre-
Halley. Terminava assim: ve-nos com certa graça: "ví o
" . . .O mundo não se acabará cometa! garanto que não é di-
18/19 de maio. A previsão as- fícil ver-se ao mirone de boa
O Kohoutek já é visível a olho nu desde o dia 10- Até a data do seu periélio, o vontade... Através de um ras-
Kohoutek será visível no má- tronômica nada apresenta
E à medida que ele se aproxima do Sol — no dia 28 scientificamente especialmente gão de brancas nuvens, em
ximo durante três horas antes especialmente capaz de nos céu azul, à esquerda e abaixo
de abril, um mês depois de ser descoberto, ele estava a do nascer do Sol. E esse es- fornecer um dado seguro, um de Vênus, junto da qual faz
630 milhões de quilômetros do Sol e no dia 28 de de- paço de tempo irá diminuindo bem triste figura... Peque-
só no sentido de saber quando
zembro, dia de seu periélio, ele estará a apenas 21 mi- até que no dia 28 de dezembro e como o mundo vai acabar. ninno, uma cauda tenuíssima,
lhões de quilômetros— seu brilho irá aumentando. ele sumirá atrás do Sol. Al- Já o assegurei em 1899 neste recta, opposta ao sol e egual
guns dias depois, ele surgirá mesmo jornal, a propósito em comprimento, cerca de um
Até agora, não existe con- ele avança para o seu periélio do outro lado, fazendo o cami- theorias astronômicas muito quarto da distância opporente
firmação sobre a intensidade — na época da sua localização nho inverso. Irá se afastando mais preconizadas e fornecidas que o separa de Vênus. Peço
da luz do Kohoutek. Os astrô- ela era de 60 quilômetros por cada vez mais do Sol, perden- pro cálculos redobrados. desculpa por tel-o visto pri-
nomos fazem previsões. Os segundo. Por isso e por causa do o brilho, a cauda diminuin- "E como então o mundo não meiro que o senhor...
mais otimistas dizem que ele da proximidade c a d a vez do, até que mais ou menos na se acabou, posso agora social- ... Não há que desculpar.
terá magnitude - 1 0 , isto é, maior dos ventos solares, sua segunda quinzena de feverei- mente reivindicar um crédito, Outros já o viram muito antes,
seu brilho será menor apenas cauda irá aumentando poden- ro não será mais visto a olho que pretendo applicar em pro- Como tenho inteira confiança
ao do Sol e ao da Lua. Os mais do atingir 200 milhões de qui- nu. Na viagem de volta, o veito de um sem número de no meu caso Halley, e sei que
pessimistas prevêem que seu lômetros de comprimento, 50 amedrontados. Aos que me não ajoelha nem faz das suas,
milhões de quilômetros mais tempo de observação irá au- não o espreito a ver se realisa
brilho não será maior que o acreditaram em 1899, após ha-
de Venus. do que a distância da Terra mentando até atingir o máxi- mesmo quanto as leis astronô-
ver solicitado o meu parecer, de
ao Sol. Com esse tamanho, ele mo de três horas, só que ago- novo afirmo que o mundo não micas nelle me permittem an-
A velocidade do Kohoutek
irá aumentando à medida que ocupará 1/6 do céu. ra, depois do por do Sol. está destinado a acabar-se a tever. Além disso, a diuturna
18/19 de maio, nem mesmo em vida civil exige de mim outros
nenhum tempo astronomica- cuidados e só o dever de ani-
mente, scientificamente pre- mar ou esclarecer um pouco
visto. S6 os charlatães ou os me chamou a escrever aqui.
ingênuos, os visionários bai- Nestes dias deve roçar por Vê-
xam a sciencia a taes cogita- nus, de que ficar a distante,
ções, doentiamente errôneas." angularmente uns dez à onze
No dia 1.9 de maio de 1910, graus... A experiência desse
no mesmo jornal, a respeito do planeta mostrará nessa sema-
mesmo cometa, o mesmo José na quanto são falsos, vãos os
Feliciano escreveu: temores do pretenso contacto
terrestre. Os aspectos que de-
"Estas duas noites, abertas
terminem servirão de verificar
em nosso brumoso céu, permit-
a 6 que entre 2 e 5 nenhum
tiram observar o cometa. Na
transtorno soffreu o brilhante
madrugada de 30, às 4 e 15, às
planeta, que, mesmo de dia,
5 e 15 e 5 e 45, por alguns mo-
nos tem sido visível. Sobretu-
mentos observei o cometa, pri-
do a 6 de maio é que em meu
meiro à simples vista, depois
artigo anterior referi. É espe-
com o equatorial a 135 milli-
táculo raro que não mais ve-
metros e o ocular a 15° de aug-
remos: ninguém adulto pre-
mento. Nenhum estudo há que
tende viv«r uns 76 annos...
nessa observação possamos fa-
zer. Mas foi possível divisar "E sobretudo nenhum medo
um brilhante núcleo e a "va- da famosa cauda, a roçar pela
porosa" esbatida, frava esteiri-» terra. Nem gaz, nem calor,
nha de luz se traceja em op- nem pressão, nem poeira algu-
posição ao sol. Na luneta se ma nos trará uma tão gentil
diluia o appendice e mal se e pontual visita. Apenas luz,
sustentava na extensão de um alguma baça luz nos esparzirá
grau... Vê-se que os maus o cometa. E luz só espanta...
agouros, charlatonescamente as trevas."

Seria anúncio de avatar


José Henrique de Souza, fun-
dador da Sociedade Teosófica
cada dois mil anos, uma per-
sonalidade superior aparece na
Batistas tem
certo escrupulo
Brasileira, definiu os cometas Terra com a finalidade de
para os teosofistas: acertar as coisas, acabar com
"Os cometas são espermas as guerras, e por a Estrela da
que percorrem o Universo fe- Paz em nosso planeta. O último
cundo os planetas por onde Avatar, segundo a Eubiose, te-
passam. Sua cauda é formada ria sido Jesus Cristo. E de
pelos resíduos, ou melhor, pelo acordo com as Escrituras Sa-
chamado "lixo do Universo." gradas, tendo em vista "os Dona Zenate Faicao, secre- Espírita: infelizmente... UmDandista: o inferno...
Para a Sociedade Eubiose, incalculáveis erros de nosso tária do pastor da Igreja Ba- Por trás da mesinha, a se- O sr. José Machado, 52 anos,
seguida dos ensinamentos de tista da rua Japurá, na Bela
calendário", dois mil anos po- nhora de cabelos azulados fi- loiro, olhos azuis, responsável
José Henrique de Souza, a che- Vista, não pensa muito para
deriam ter se passado e já po- cou olhando o repórter, pe- pela Casa Umbandista da rua
gada de um novo Avatar seria deríamos estar em cima do responder: dindo confirmação: cometa Santo Antônio, diz que já está
anunciada por um cometa. A acontecimento. — Na Bíblia não tem nada Kohoutek? sabendo do cometa. Mas do
disso não. A não ser a estrela — Infelizmente não posso cometa ele passa logo a outros
que anunciou o nascimento de ajudar. Pelo menos até agora assuntos:
Jesus. O aparecimento de um nenhum espírito se manifestou — Já sonhei que estava em
Binóculo, um bom aparelho cometa é um fenômeno cien-
tífico.
a respeito. Mas se o senhor es-
tiver preocupado mesmo, pro-
cure o chefe de plantão. É ali,
lugares maravilhosos. Mas
também já estive no inferno.
Entretanto, dona Zenate não É, quando eu sonho, é meu
Algumas recomendações conjunto e pode até per- foi definitiva: à direita... espírito que vai pra esses lu-
para quem quer ver o co- der o brilho da cauda. En-' — Apesar de Jesus ter dito O chefe de plantão não quis gares. O inferno era como a
meta com aparelhos. A tão, o telescópio não é o que no final dos tempos ^pa- dizer nada. Mandou o repór- terra, só que desabitada. As
receriam alguns sinais, como ter ao secretário da Federação árvores eram enormes e os
cauda do cometa é muito melhor equipamento a não terremotos, guerras etc, nós Espírita de São Paulo. Ele foi diabos me espetavam.
longa e difusa — a massa ser que se queira estudar temos certo escrúpulo em afir- mais decidido:
toda da cauda cabe dentro detalhes do núcleo do Ko- mar com certeza absoluta que — Não há nada de doutri- E o cometa?
— Olha, pra falar do come-
de um dedal. Por isso, houtek. O melhor mesmo o cometa seria um sinal. Mas nário no espiritismo que se
ta — aconselha ele — é me-
c o m o estamos mesmo no refira a cometas. A cometas.
quem utilizar um equipa- é um binóculo, destes de f i m . . . mas... me diga uma A explicação é sempre física. lhor procurar o sr. José Cola-
mento que aproxime mui- se assistir corrida de cava- coisa: como foi que você achou É como a lua que rege as ma- cico, nosso pai de santo lá do
to não terá uma visão do lo, que aumenta 4, 6 vezes. nossa igreja? rés. .. Brás. Ele sabe explicar melhor.
Cidade tem opiniões
divergentes
As opiniões a respeito do venida. Mas acno que vou mistério. Acho que tinha al-
cometa Kohoutek variam sentir um pouco de medo. Não guma coisa a ver com Deus.
que eu pense que seja o fim do Todo cometa tem. Por isso é
desde os que consideram o mundo — o mundo não tem que a gente não consegue en-
seu aparecimento um sim- fim. Mas é porque fica meio tender. Mas não acredito que
ples fato científico, astro- sobrenatural. Que nem assom- seja o fim do mundo. A mo-
bração." dificação que vai acontecer no
nômico, até os que o iden- ano 2000 não vai ser em todos
tificam com um sinal de Vendedor de doces, 35 anos, lugares. Só em alguns. Esses
Deus ou do Diabo. branco: "Nunca vi falar em lugares sim, vão acabar."
cometa. Deve ser obra de
Porteiro de prédio, 35 quem não presta. Não quero Vagabundo, 50 anos, pardo.
anos, mulato: "Acho que nem me. preocupar. Quem se "É coisa do solar da terra. É
é um aparelho. Nós esta- preocupa com essas coisas de- de gelo. Nunca „vou acreditar
mos mais para a morte ve ter parte com o Diabo." que é o fim do mundo. O mun-
do só acaba se a gente morre."
que pra vida. É o fim do Empregado de discoteca, 25
mundo. Quem sabe até é anos, nordestino: "Acho igno- Estudante, 27 anos, 1.° ano
Deus?" rância associar o cometa com de Medicina, mulher: "Eu não
o Apocalipse. Só vou acreditar sei muito sobre cometa não.
Dono de bar, descendente de que é o Apocalipse se aconte- Parece que eles podem acar-
portugueses, 40 anos: "Assisti cer mesmo." retar uma série de problemas.
na televisão um programa da Hippy argentino, 19 anos de Isto me desperta muita curió--
Cidinha Campos dizendo que idade, branco: "Atualmente na sidade, mas não justifica o
o cometa era um fato cientí- Argentina, as pessoas estão medo. Acho que as pessoas
fico; que vai aparecer duas mais preocupadas com Peron devem continuar a sua vidi-
horas antes do Sol nascer e que com o cometa." nha de sempre. Eu vou fazer
duas horas depois dele se por. isso."
Não tem nada que ver com o Aprendiz de carpinteiro, 15
Apocalipse, fim do mundo ou anos, preto: "Sei que é uma Vendedora da Mesbla, 20
coisa de outro planeta. É uma estrela que tem rabo. Não é o anos, branca: "No dia em que
estrela. Não vai acontecer na- o fim do mundo, porque o fim o cometa passar eu não venho
da. Não há motivo para se as- do mundo vai vir como o la- nem trabalhar. Parece coisa
sustar. drão da noite, sem ninguém de disco voador, de vir gente
saber." de outro planeta, de gente má.
Rapaz, estudante de teatro, Tenho medo."
23 anos: "É um fenômeno Engraxate, 54 anos: "Nunca
científico. Faz 10.000 anos que vi falar em cometa nenhum e
que este cometa está viajando, Mulher, 60 anos, branca, do-
nem acredito nessas besteiras méstica: "Sei que este cometa
acumulando toda experiência de gente supersticiosa."
que o universo viveu nesses tem uma luz que nunca teve
dez mil anos. Os cientistas po Vendedor de amendoins, 50 antes. Ouvi dizer que podem
derão descobrir muita coisa anos, branco: "Antigamente as acontecer coisas terríveis."
sobre a origem da terra e so- pessoas pesavam que o mundo
bre os seres de outros pla- ia acabar. Estas pessoas eram Vendedor, 26 anos, branco:
netas. É o sinal dos tempos; bobas. Hoje, o pessoal é mais "Vi alguma coisa no programa
do fim dos tempos Cometa é sabido." da Cidinha Campos." Ela disse
sinal de grandes tragédias. que vai ser de 14 a 26 de de-
Quando Cristo nasceu e apa- Intelectual, 25 anos, lê Pla- zembro e que é só mais um
receu o cometa para anunciar, tão: -"Não tem nenhum signi- planeta. E um fato bastante
milhares de crianças foram ficado exotérico místico. ,É só científico. Acho que é mentira
assassinadas em seguida. E científico." o que estão falando de fim de
nós estamos bem perto de uma mundo. Não tem nada que
tragédia que entre outras coi- Imigrante da Lituânia, 60 ver."
sas pode ser a terceira guerra." anos, mulher: "Uma vez eu vi
um vulto grande brilhante no Moça, 25 anos, transa teatro,
Dona de butique, 25 anos, céu. Faz muito tempo. Só as branca: "Incrível o cometa.

Disco que mulher viu,


branca: "Nunca vi nenhum crianças viam. Se a gente mos- Pode ser que acabe tudo. Mui-
cometa. Minha mãe me disse trava pro pai, pra mãe, pra tos lugares vão acabar por in-
que quando passou um, alguns avó, eles não conseguiam ver. vasão de águas. Pode ser que
anos atrás, ele quase morreu Mas nós que éramos crianças não aconteça na hora, en-
de medo. De repente o céu fi-
cava com um clarão maior do
que o Sol, e com um rabo
enorme brilhando atrás. Acho
vimos com perfeição. Era um
vulto grande e tinha rabo bri-
lhoso. De vez em quando apa-
gava e acendia de novo. As
quanto o cometa estiver pas-
sando. Mas depois vai pintar
muita coisa. Nostradamus, por
exemplo, prevê que a Europa
continha piloto
que agora não vai haver pro- outras pessoas que não viam vai acabar por invasão das — Eu não sei se o que vi "o último que os jornais
blema porque a gente está pre- achavam . que tinha algum águas do mar ainda neste vi era cometa ou disco voa- falaram eu vi". E comen-
século. Se a Lua influi nas dor. Foi há nove anos tou:
marés, o cometa poderá in- atrás, mais ou menos, no — Foi em 1957, Era mais
fluir ainda mais e fazer o mar
invadir toda a Europa. Alto da Vila Maria. Já pas- ou menos dez e meia da
sava da meia-noite. Minha noite. Primeiro teve uma
" O que eu vi foi na Turquia" Rapaz, 20 anos, branco, tra-
balha com teatro: "Estou
filha viu primeiro e me
chamou a atenção porque
ventania forte. Depois, a
luz andava no céu. Coisas
depoimento de André
curiosíssimo por esse cometa. eu estava distraída. Então, assim de Deus, né? Tem
Liguori, 73 anos, grego Vai mudar tudo. Uma piração bem em cima de mim, ti- que acontecer.
residente em São Paulo. completa. As pessoas que não
sacam nada vão ficar perdidas. nha um negócio com lan- Sobre o Kohoutek, a ven-
Eu tinha 10 anos de idade, as casas e ir para os campos ternas amarelas no bojo.
mas me lembro perfeitamente
Porra, não sei se tem que ver dedora de doces dissè o se-
com medo de terremotos. Era com o Apocalipse, mas sei que
como se fosse hoje. O cometa aquele medo, aquele pavor de Imitava um balão, espécie guinte :
vai pintar uma melhor. Uma
que eu vi era uma estrela mui- acontecer alguma catástrofe. boa. Um outro cometa deixou de grelha parecida com — Esse que vai passar
to luminosa com uma cauda O susto passou quando as as pessoas malucas, a g o r a . . . " eu acho que deve vir. Mas
que a olho nu parecia ter uns pessoas mais cultas explica- cadeira. Tinha um cidadão
20 metros. Eu estava na Tur- sentado nessa espécie de não é o fim do mundo, não.
ram que o que estava aconte-
quia. Ele tinha uma cor pra- cendo era uma coisa natural. Argentino, 60 anos, há dois cadeira. A cabeça dele pa- Os sinais de Deus ainda
teada, igualzinho aos que saem Mas teve gente que continuou meses no Brasil: "Não sei, nem não se completaram para
nos desenhos: começava fini- quero saber. Tenho medo até recia ventilador. Foi só is-
com 'medo dizendo que o co-
so. o mundo acabar. Estamos
nho, que nem nos presépios de meta era o sinal de guerra. de abrir a boca."
Natal, só que bem maior. Era no meio, na metade dos si-
Depois de alguns meses veio a
igualzinho as estrelas da noite, guerra da Itália contra a Tur- Comerciário, 50 anos, bran- As .-declarações são de nais. Tenho absoluta certe-
só que com rabo. quia. E depois veio a primeira co: "Não quero nem saber. uma preta de 44 anos de za.
Quando elé apareceu, o povo guerra mundial de 1914. De Não tenho tempo pra me preo- idade, que vende doces no E concluiu categórica:
ficou assustado: todo mundo outros desástres eu não me cupar com estas besteiras. Te- viaduto Major Quedinho,
rezando nas igrejas, pensando lembro: menino se apavora na nho que cuidar de minha vida.
— Quando o homem
que o mundo ia acabar. Todos hora, mas quando os grandes Cometa não enche barriga de no centro de São Paulo. A voar com suas próprias
pensavam que era um sinal do se aquietam as crianças tam- ninguém. Disso eu tenho cer- respeito do aparecimento asas, aí sim, será o Apoca-
céu e começaram a abandonar bém se aquietam. teza." de cometas ela afirmou que lipse.
KARL MARX

ESCORPIÃO E FELIX
NOTA: Aos dezoito anos, Marx escreveu
(Novela humorística) reconhecidas, se distanciam tímidas co-
poemas românticos e amorosos, no prin- mo a graça.
cípio e no fim do primeiro semestre de
Meditações fílológicas
sua estada em Berlim (1836-37). Enquan-
to isso, estudava direito e sentia grande 0%M Félix desembaraçou de forma na-
interesse pela filosofia, pela literatura e da sutil, dos abraços de seu amigo,
pela arte. Este foi um período vacilante porque não intuía sua natureza pro-
com compromissos contraditórios, disper- funda e cheia de sentimento e naquele
são intelectual, confrontação entre os momento, estava preocupado na conti-
seus próprios desejos e os de seus pais. n u a ç ã o . . . da digestão, qu© nós agora
dominamos de uma vez por todas, obri-
Antes dessas dúvidas encontrarem seu
gando-o a por fim a seu grandioso atuar,
leito nas múltiplas possibilidades cultu-
pois nos atrapalha em nossas ações.
rais da Berlim de então, o jovem Marx
passou por fases críticas: uma relação Merten também pensava a mesma coi-
amorosa inquieta, um colapso nervoso e sa, pois com sua imensa mão histórica
o conhecidíssimo informe (carta) de 10 deu uma»sonora bofetada, que Félix sen-
de novembro de 1837, dirigido a seu pai tiu chegar até ele.
pouco antes da morte d&ste. Nele, Marx O nome de Merten faz lembrar Carlos
fala de suas recentes e últimas tentati- Martel, e Félix achou que realmente ti-
vas literárias: "No fim do semestre, saí nha sido acareciado por um martelo, já
outra vez em busca de danças de Musas que a uma agradável sensação como
e música satírica e, no último caderno aquela se unia a sacudida elétrica que
que enviei, o idealismo abre caminho atra- sentiu.
vés de um humorismo forçado (Escorpião Abriu os olhos até escancará-los, cam-
e Félix) e de um drama fantástico (Oula- baleou e pensou em seus pecados e no
nem) até que atinai muda e se torna ao juízo final.
máximo em pura arte da forma, sem obje- Eu, de minha parte, refletia sobre a
tivos entusiasmantes, sem uma linha ideal matéria elétrica, sobre o galvanismo, so-
excitante". Agradecemos a inestimável bre as sábias cartas de Frankiin à sua
colaboração de Gianni Toti da revista ita- amiga "geométrica" e sobre Merten, já
liana "Carte Segrete", por meio do qual que a minha curiosidade está inteiramen-
pudemos conhecer' esta novela humorís- te dirigida a descobrir quem pode se
tica que ele mesmo desenterrou e publi- esconder atrás desse nome.
cou pela primeira bez em sua revista. Que o homem descende por linha dire-
E nós, do EX-, agradecemos ao nosso ta de Martel, não se pode duvidar em
colaborador Fernando Moraes, que des- absoluto: assegurou-me o sacristão, ainda
cobriu esse livro printed na Argentina. que aquele tempo careça completamente
de harmonia.
O | se transforma em n e, já que Mar-
tel é inglês, como todo conhecedor de
história sabe, e em inglês muitas vezes
Livro primeiro o a soa como no alemão eh, que, em
Merten coincide com e, provavelmente
Como prometemos no capítulo an- Merten será outra forma de Martel.
l U íer'or' neste
capítulo segue a de- Disso pode-se deduzir, dado que entre
monstração de que a dita soma de os antigos t&utas o nome, como se deduz
25 tálers pertence pessoalmente a Deus. de muitos sobrenomes — como, por exem-
Esses tálers não têm dono! De subli- plo Krug, o Cavaleiro; Raupach, o Conse-
me pensamento, nenhum ser humano os lheiro da Corte; Hegel, o Anão — expres-
possui, mas sim o poder divino, que voa sa o caráter de seu proprietário, poderia
por cima das nuvens e abarca todo o se dizer qu& Merten é um nome rico e
universo, e portanto também os citados honesto, ainda que seu ofício seja o de
alfaiate e nessa história seja o pai de
25 tálers; com suas asas entrelaçadas
Escorpião.
com o dia e a noite, com sóis & estre-
las, com montanhas gigantescas e imen- O pouco que já dissemos dá funda-
sas extensões de areia — que ressoam mento a uma nova hipótese, uma vez
como órgãos, como o borbulhar de ume que, em parte p'or ser alfaiate, em parte
cascata — toca ali onde a mão de ser porque seu filho se chama Escorpião, é
terrestre não alcança e, portanto, tam- muito provável que descenda de Mars, o
bém os ditos 25 tálers e. . . mas não deus da guerra, genitivo Martis, acusati-
apocalipse de João e a ira de Deus — Mas tinha grandes olhos azuis e vo na forma grega Martin, Mertin, Mer-
posso continuar, o meu mais profundo
interior está agitado, vejo o universo den-
tro de mim e também os citados 25 tálers,
cuja matéria de reflexão está nestas três
que havia feito brotar um campo de res-
tolhos pungentes sobre a pele sulcada
por ternas e onduladas linhas, para que
W os olhos azuis são banais como a
água da Esprea.
Uma estúpida nostalgia emana deles.
ten, pois o ofício do deus da guerra é o
de cortar, pois que corta braços e pernas
e destroça a felicidade do mundo.
sua beleza não induzisse ao pecado e Uma inocência que ela mesma comparti- Além disso,, o escorpião é um animal
palavras: sua posição é o infinito, soam sua juventude ficasse protegida como
como acordes angélicos, recordam o juí- lha, uma inocência aquosa; quando deles venenoso, cujas feridas são mortais, uma
uma rosa pelos espinhos, a fim de que se aproxima, o fogo se transforma em formosa alegoria para a guerra, seu olhar
zo universal e o fisco, já q u e . . . era o mundo compreendesse e dela não se
Greta, a cozinheira, a quem Escorpião, vapor cinza e não há" nada mais. atrás mata, e as conseqüências deixam nos
enamorasse. desses olhos: todo seu mundo é azul, feridos cicatrizes que sangrarri interna-
excitado pelos relatos de seu amigo Fé-
lix, arrastado por sua brilhante melodia, sua alma tem tudo de azul, mas os olhos mente e que não se fecharão jamais.
<fO "Um cavalo, um cavalo, meu reino negros são um reino ideal,-um mundo no-
vencido pelo seu .saudável sentimento ju- por um cavalo", disse Ricardo III. Mas, posto que Merten não possuía
turno, infinito e pleno de espiritualidade uma natureza pagã, era inclusive cristão
venil, estreitou contra o peito, imaginan- "Um homem, um homem, eu mes- os repousa, deles brotam relâmpagos da praticante, parece mais provável que des-
do-a uma fada. Disso, deduzo que as ma por um homem", disse Greta. alma e seus olhares soam, como as can-
fadas têm barba, já que Magdalena Greta, cenda de São Martin. Um pequeno tru-
ções de Mignon, como um país ardente, que de vogais daria Mirtan; muitas vezes
não a Madalena arrependida, ostentava, 0 com longínquo e doce, onde habita um deus
como um famoso guerreiro, barba e bigo- 1t£ ® Ç ° e r a 0 Verbo e o Ver- o i na língua vulgar soa como e, de for-
10 bo estava junto a Deus e Deus era rico, que vive na sua própria profundidade ma que com o passar do tempo o dito a
des, e a suave barba se acercava, encres- e, submerso no universo de sua existên-
pada, à bem formada barbinha que, em < o Verbo e o Verbo se fez carne e se transforma em e, especialmente numa
viveu junto a nós e nós vemos a sua cia, emana eternidade e sofre eternidade. cultura em desenvolvimento, de modo que
forma de roca emergida num mar solitá- Sentimo-nos como possuídos por um
glória". o nome de Merten aparece naturalmente
rio que os homens avistam só de longe, encantamento, quiséramos apertar contra
Formoso e inocente pensamento! Mas espontâneo e significa "um alfaiate cris-
sobressaía da lisa sopeira do rosto, gigan- nosso peito o ser melodioso, profundo e
a associação de idéias levou Greta muito tão".
tesca e orgulhosamente consciente de sua pleno de alma e sugar o espírito de seus
imponência, cortando o ar, comovendo longe; acreditava que o verbo habitava Ainda que essa derivação, muito pro-
nos músculos; assim como Tersite, em olhos, e transformar seus olhares em can-
aos deuses e impressionando aos homens. ções. vavelmente seja a correta, pois está abun-
Shakespeare, declara que Ajax tem as dantemente provada, não podemos deixar
A deusa da fantasia parecia ter sonha- vísceras na cabeça e a razão no ventra,
do uma beleza barbuda e ter-se p,erdido Amamos o mundo agitado e rico que de pensar também na outra, que debilita
também ela, Greta, e não Ajax, está con- se nos abre, no seu fundo vemos gigan- muito nossa fé em São Martin que, no
nos meandros de seu rosto amplo e, . vencida- & o assimila.: corri o Verbo feito
quando despertou, era a própria. Greta tescos pensamentos solares, intuímos um máximo, podemos eleger como protetor,
carne, ela via nos músculos sua expres- sofrimento demoníaco e figuras qtfe se pois, já que pelo' que sabemos nunca foi
que havia sonhado um sonho terrível: são simbólica, via sua glória e decidiu. . . movem delicadamente marcam a dança casado ,não podia tampouco ter um des-
que era a grã-cortesã de Babilônia, o lavá-los. diante de . nós. nos acenam e, ápenas cendente varão:
Essa dúvida fica eliminada pelo fato alegria de estar satisfeito comigo, alegria o gladiador, precisamente a vida, nos ma- A porta se fechou atrás dele. Uma apa-
seguinte: toda a família Merten tinha em que por um só momento — como afirmou ta; devemos ter um novo salvador, pois rição celeste brotou de minha alma, a
comum como o "Vigário de Wakefield" a Winkelmann — vale mais que todos os — tdrmentoso pensamento, roubas-me o conversação d© tom 'excelso se acabara.
propriedade de casar-se o mais cedo pos- elogios da 'posteridade, ainda que estes sono, roubas-me a saúde, matas-me — Mas como a voz de um espírito, pelo bu-
sível, ou seja, de geração a geração, nu- últimos me convençam tanto como a Plí- não podemos distinguir a parte esquerda raco da fechadura, ouviu-se murmurar:
ma idade muito tenra, adornava-se com nio, o Jovem. e a parte direita, não sabemos onde se "Klingholz! Klingholz!"
uma coroa de mirta, e só por esse fato encontram.
se explica, a não ser que se atribua a rtQ "Onde quer que olhes, só vês a
O Q Eu estava sentado a meditar, dei-
um milagre, que Merten nascesse e que / / Escorpião e a Merten, O Q " E v i d entemente n a , u a estão as £m%t x«i a um lado Locke, Fichte e
nessa história apareça como pai de Um coberto, de lágrimas, outro £ Q pedras lunares, no peito das mu- Kant, dei-me às investigações pro-
Escorpião. ofuscado pela ira. lheres a falsidade, no mar a areia fundas para descobrir que relação pode*
"Myrthen" deveria perder o h, já que Entre os dois ressoa um eterno e ruidoso e na terra as montanhas!" respondeu o ria haver entre uma lavadora e o primo-
ao celebrar as bodas, ressalta-se a eh, rio de palavras. homem que bateu à minha porta sem gênito, quando um relâmpago me atra-
quer dizer, desaparece o he, e daí que Ignora qual senhor segue o mar ondulado. esperar que se lhe dissesse "adiante". vessou e, d© idéia em idéia, com seus
"Myrthen" transformou-se em "Myrten". Eu, reitor, faJo e o que deixo, o que es- Rapidamente pus à parte meus papéis, trovões transfigurou meu olhar e uma
O y é um v grego e não uma letra ale- crevo, disse-lhe que estava muito contente de imagem Jé luz apareceu diante de meus
mã. Posto que, como dizíamos antes, a Não volto a encontrar; frente ao escân- não tê-lo conhecido antes, pois assim ti- olhos.
família de Merten era uma estirpe inte- dalo, a arte se refugia nos ângulos". nha o prazer de poder conhecê-lo, que O primogênito é a lavadora da aristo-
gralmente alemã e ao mesmo tempo Assim conta Ovídio nas suas Tristia, a mostrava grande sabedoria, que todas as cracia já que uma lavado/a só serve para
uma família de alfaiates muito cristã, o y triste história, que como a que segue, su- minhas dúvidas desapareciam com ele, lavar. Mas a coadura se torna mais bran-
estrangeiro, pagão, tinha que se transfor- cede à anterior. mas mesmo que eu falasse velozmente, ca, por isso adquire uma pálida lumino-
mar num i alemão, e já que o matrimônio Vê-se que já não sabia qual peixe apa- ele o fazia ainda mais rápido que eu, sons sidade do que está lavado. Da mesma
é o elemento predominante da mesma nhar, mas eu conto como segue. sibilantes saíam dentre seus dentes, todo forma, o herdeiro prateia o filho primogê-
família, pese-se que o i é uma vogai estri- aquele homem, como notei com calafrios nito da casa, confere-lhe uma pálida côr
dente e dura e que os matrimônios dos M M Ovídio vivia em Tomi, onde tinha depois que pude observá-lo mais de per- de prata, enquanto que aos outros impôs
Merten foram doces e suaves, transfor- V j sido atirado pela ira do deus.Au- to, parecia uma salamandra enfraquecida, a pálida e romântica côr da miséria.
mou-se um eh, e mais tarde, para que a gusto, porque possuía mais gênio nada mais que uma salamandra saída de Quem se lava nos rios se lança contra
audaz modificação não saltasse demais à que senso comum. repente da fenda de* um muro; o elemento sonoro, bate-se contra sua ira
vista dos outros, num e, em cuja brevi- Ali, entre os bórbaros selvagens, o poe- É de compleição nervuda e sua esta- e luta com fortes braços; mas quem está
dade vai representada ao mesmo tempo ta languecia de amor e do mesmo amor tura lembrava a de minha estufa. Seus sentado na lavadora fica encerrado den-
a decisão de contrair matrimônio, de for- que o havia atirado ali. Sua cabeça me- olhos podia-se dizer que eram mais ver- tro dela e olha os ângulos do aposento.
ma que Myrthen na palavra alemã Merten, ditativa se apoiava do lado direito, e olha- des que vermelhos e mais alfinetes que O homem comum, isto é, o que não
de múltiplos significados, alcança a for- res nostálgicos vagavam até o longínquo relâmpagos, ele mesmo mais um gnomo desfruta da bem-aventurança do herdeiro,
ma mais alta da perfeição. í*) Lacis. O coração do poeta estava destro- que um homem. luta com a vida vertiginosa, atira-se ao
Depois dessa dedução relacionamos o çado e sem dúvida tinha que esperar, e Um gênio! Isso eu reconheci imediata- mar que se incha e com o mesmo direito
alfaiate cristão ao valor a toda prova de sua lira não devia emudecer e sua nos- mente e com toda segurança, pois seu que Prometeu, rouba pérolas de suas
Martel e a rápida decisão do deus da talgia e sua dor ardiam em cantos melo- nariz saía da cabeça como Palas Atenas profundidades, • maravilhosamente se lhe
guerra Marte com a abundância de matri- diosos docemente expressivos. da cabeça do pai de todos, Zeus: graças apresenta diante dos olhos a configura-
mônios, o que ademais fica demonstrado Em torno dos membros do frágil velho, ao qual me explicava seu tênue ardor ção interna da idéia e cria mais com maior
pelos dois e de Merten, de tal modo que soprava o vento do norte, estremecendo- escarlate, que indicava uma descendên- audácia, enquanto que o senhor primo-
nesta hipótese se reúnem e ao mesmo Ihe com desconhecidos calafrios, pois sua cia etérea, enquanto que a cabeça mes- gênito somente deixa cair gôtas sobre si,
tempo se destroem todas as precedentes. juventude havia florescido no cálido país ma, podia-se dizer que era calva, a me- teme que se desloque os membros e por
De opinião diversa é o estudioso que do sul, sua fantasia adornara, ali abaixo, nos que se prefira chamar de chapéu isso senta-se dentro de uma lavadora.
refutou com grande diligência e incansá- seus jogos cálidos e exuberantes, com tra- uma espessa crosta de pomada que, junto Encontrei-a, encontei a pedra filosofal!
vel cuidado o antigo historiador, cujos jes preciosos e ali onde esses filhos do com outros produtos — aéreos e primor-
dados nossa história recolheu. gênio eram demasiado livres, a graça os diais — crescia sobre aquela montanha O I ) Como resulta dos estudos feitos
Ainda que não possamos estar de acor- vestiu como um nimbo de véus divinos primitiva. i)(J recentemente, em nossos dias não
do com sua opinião, ela merece um juízo que os ocultava levemente, de forma que Tudo nele fazia pensar em altura e se pode poetisar para criar uma
crítico — pois nasceu do espírito de um as pregas ondeavam amplamente e faziam profundidade, mas a conformação de seu epopéia.
homem que, à enorme sabedoria, unia chover gotas de orvalho. rosto parecia revelar um burocrata, pois Efetivamente, em primeiro lugar, faze-
uma grande habilidade para fumar, e cujos "Logo serás cinzas, pobre poeta", e suas faces eram como sopeiras profun- mos profundas considerações sobre a par-
pergaminhos estavam envoltos no sagrado uma lágrima resvalava pela face do an- das e polidas e de tal maneira protegidas te direita e esquerda, pelo que despoja-
fogo do tabaco e, portanto, plenos de cião, quando... ouviu-se a potente voz da chuva por ossos extremamente salien- mos estas expressões poéticas de seu
oráculos numa exaltação de incenso. de baixo de Merten, que, profundamente tes, que dentro delas poder-se-ia colocar manto poético (como Apoio tirou a pele
Acredita que Merten deriva do alemão comovido, levantava-se contra Escorpião. papéis e decretos governativos. de Marsia) e as transformamos na figura
Mehren que, por sua vez, derivaria de Em resumo, de tudo isso se pode ver da dúvida, no deforme paviano, que tem
Meer, porque os matrimônios dos Merten m "Ignorância, profunda ignorância". que seria um deus do amor em pessoa olhos para não ver e é um Argos às aves-
"aumentaram" como a areia do mar e "Porque (refere-se a um -capítulo se não fosse semelhante a si mesmo e sas; este tinha cem olhos para descobrir
porque, definitivamente, no conceito de anterior) seu joelho dobrava-se pa- seu nome soaria formoso como o amor coisas perdidas, aquele, o obscuro Titan,
alfaiate, vai oculto o conceito de "aumen- ra um lado!" mas faltava a certeza e se não lembrasse demais um arbusto de a dúvida, possue cem olhos para con-
tador", já que de uma roupa, faz nas- quem pode assegurar, quem pode des- zimbro. verter as coisas vistas em coisas não
cer um homem. Baseou suas hipóteses cobrir que parte é a direita e qual a Roguei-lhe que se tranqüilizasse, pois vistas.
nestas investigações cuidadas e profun- esquerda? afirmava ser um herói, ao que cu modes- Mas a parte, o lugar, é um critério
das. (*) Dize-me tu, mortal ,de onde vem o ven- tamente objetei que os heróis eram um essencial da poesia épica e quando já
Quando li os resultados destas investi- to ou se Deus tem nariz, e te direi o pouco mais robustos, enquanto que os não há mais partes, como está provado,
gações, senti tal estupor, que cheguei a que é direita ou o que é esquerda? arautos (*) tinham uma voz mais singela, que acontece entre nós, esta somente po-
tervertigens, o oráculo do tabaco me fas- Nada além de conceitos relativos. É co- menos complexa e mais harmoniosa e, derá despertar do seu sono "de morte>
cinou, mas logo despertou em mim a fria mo mesclar loucura e demência com cor- para terminar, que Eros era a beleza quando o som das trompetas despertar
e discernidora razão, e tomou os seguin- dura. transfigurada, uma natureza realmente be- Jericó.
tes argumentos em contrário. Oh! Todas as nossas aspirações serão la dentro da qual a forma e a alma lutam Além do mais, encontramos a pedra
No conceito de "aumentador", onde vãs e nossa nostalgia uma ilusão até que por atribuir-se a perfeição; portanto, não filosofal. Desgraçadamente, todos apon-
inclusive poderia acertar o citado estu- tenhamos conseguido saber o que é di- cairia bem ao seu amor. tam a pedra com o dedo e e l e s . . .
dioso no que se refere ao conceito de reita e o que é esquerda, já que à esquer- Mas ele objetou que tinha uma ossa-
alfaiate, não se deve de maneira nenhu-, da colocará os cabrões e à direita os tura robusta, que tinha boa sombra (*) e, Eles, Escorpião e Merten, jaziam
ma incluir o conceito de "diminuidor'V cordeiros. inclusive melhor que muitos homens, vis- qj I sobre o solo, porque a aparição
porque isso implicaria uma "contradictio Se se volta, se toma outra direção por- to que projetava mais sombra que luz, sobrenatural (refere-se a um capi-
in terminis", quer dizer, para as senhoras, que a noite teve um sonho, então os ré- que, portanto, sssua esssposa podia re- tulo anterior) havia agitado de tal manei-
Deus no Diabo, o espírito num salão, elas probos estarão à direita e os santos à frescar-se na sssua sssombra, florescer e ra seus nervos que a força de coesão de
mesmas como filósofas. Mas se Mehren esquerda, de acordo com nossas miserá- converter-se por ssssua vez numa sssom- seus membros, no caos da expansão —
tivesse se convertido em "Merten", evi- veis visões. bra, que eu era um homem rude e um que, como o embrião ainda não se sepa-
dentemente a palavra haveria perdido um Porisso, defina-me precisamente o que esssstúpido e ao mesmo tempo um gênio rou de sua condição universal para ad-
h, portanto não teria aumentado, o que é direita e o que é esquerda e se desfa- de dois centavos, que ele se chamava quirir uma forma precisa — ficou desin-
rá completamente o nó da criação. Ache- Engelbert e que esse nome ssssoava me- tegrada, de forma que seu nariz se afun-
já demonstramos que era algo que con-
ronte movebo, disso eu deduzirei com pre- lhor que Essscorpião, que eu me havia dou até o umbigo e sua cabeça chegou
trastava substancialmente com sua nature-
cisão para onde irá tua alma e depois equivocado no capítulo 19, pois seus ao so|o.
za formal.
Assim, pois, "Merten" de maneira ne- deduzirei também em que escalão te olhos azuis são mais belos que os olhos Merten perdia um sangue espesso, no
nhuma pode derivar de "Mehren"; e que encontras já que aquela relação originá- negros, que os olhos dé pomba sssão qual ia contido muito carbono, quanto
possa vir do mar fica contradito pelo fato ria seria mensurável; enquanto que tua mais ricos em esssspiritualidade e, ele não se poderia dizer com precisão, por-
de que a família Merten nunca caiu na colocação fôra determinada pelo Senhor, mesmo, ainda que não fôsse um^pombo, que no todo, a química ainda não está
água e nunca sequer pensou nisso; era, tua posição aqui embaixo pode ser deter- era pelo menos um surdo à razão, ade- muito desenvolvida. Especialmente a quí-
antes, uma piedosa família de alfaiates, minada pelo volume de tua cabeça; sinto mais, disse que lhe agradava o primogê- mica orgânica cada dia se torna mais
vertigens, se surge um Mafistcfeles ser nito e que possuía uma lavadora. complexa graças às simplificações, visto
o que contrasta com o conceito de mar
Fausto pois está claro que todos nós so- "Você deve se unir à mim em matrimô- que diariamente se descobrem novas
tempestuoso; dessas razões se deduz que
mos um Fausto, já que não podemos sa- nio e colocado à minha direita e aban- substâncias elementais, que têm em co-
o citado autor, apesar de sua infalibilida- mum com os bispos o fato de que am-
ber que parte é a direita e qual a esquer- donar imediatamente suas investigações
de, equivocou-se © nossa dedução é a bos levam nomes de países que perten-
da, por isso nossa vida é um circo; corre- sobre a direita e a esquerda, você não
única correta. mos em círculo, buscamos por todas as cem aos não crentes e que se encontram
Depois dessa vitória, estou cansado de- vive nem à direita nem à esquerda, e sim
partes até que caímos sobre a arena e à frente". in partibus infidelium, nomes que ademais
mais -para continuar e quisera desfrutar a
são tão largos com o título dos membros parece ser a mesma descrita por Boileau pois as senhoras nos olham através de va sobre nossas cabeças, seu coração se
de muitas sociedades científicas e dos no seu patrie como templo de repouso dois olhos, enquanto que o céu nos olha quebrou, soltou uma grande lágrima que
príncipes ao império alemão, nomes que do prevoste. somente através de um só olho. caiu entre nós a vimos e calamos...
representam aos nomes livres pensadores Bonifácio não estava em seu assento,
pois não se encaixam em nenhum lugar. que formava um vazio e as faces de Mer- M0% "Eu lhe demonstro o contrário!" mmm "Ou é Bonifácio ou um par de cal»
Além do mais, a química orgânica é ten perderam a cor. "Onde está Bonifá- C L / disse uma voz invisível, e quando i L § ças!" gritou Merten. "Luz, digo!
uma herética porque pretende explicar a cio?" gritou com o coração profundamen- me virei em direção à voz, vi — Luz!" e a luz se fez. "Santo Céu!
vida através de um processo inanimado! te angustiado e toda a mesa começou a não me acreditarão, mas eu vos assegu- não é um par de calças e sim Bonifá-
Pecado este tão grande contra a vida co- se agitar. "Onde está Bonifácio?" tornou ro, juro que é assim — vi — mas não cio deitado num ângulo escuro e seus
mo pretender fazer com que o amor de- a perguntar Merten; como se sobressal- vos inquieteis, não vos espanteis, pois olhos brilham com um fogo profundo,
rive da álgebra. tou espantado, como tremia cada mem- não se refere nem a vossa mulher, nem mas que vejo eu?" "Está sangrando!"
Tudo isso evidentemente se apóia na bro de seu corpo, como se çriçaram os à vossa digestão — então vim a mim e desmaiou sem dizer mais nada. Os
doutrina do processo que ainda não está cabelos, quando viu que Bonifácio estava mesmo, porque eu mesmo me havia ofe- oficiais olharam primeiro para o cachorro
suficientemente elaborada e nunca poderá ausente. recido para a reputação. e depois para o seu amo. Finalmente,
estar, pois está baseada no jôgo do bara- Todos se levantaram de golpe para ro- este se levantou violentamente do chão.
"Ah! eu sou outro eu!" passou-me pela "O que estão a olhar, asnos? Não vêem
lho, um jôgo confiado à pura sorte no deá-lo, ele mesmo parecia privado de sua
habitual tranqüilidade de ânimo, chamou, mente de súbito, e os elixires do diabo que São Bonifácio está ferido? Farei
qual o ás é o personagem principal. de Hoffmann...
Mas o ás tem sido a base de toda a apareceu Greta, seu coração pressentia uma severa investigação e ai, três ve-
moderna jurisprudência pois uma noite algum mal, acreditava... zes ai do culpado; mas agora, rápido,
Irnerio perdeu no jôço, vinha precisamen- "Olhe Greta, onde está Bonifácio?" e m e * • • • encontravam-se diante de mim levem-no ao seu assento, chamem o mé-
te de uma reunião de senhoras e ia ele- ela se retirou visivalmente tranqüila, os f l j f sobre a mesa precisamente quan- dico da família, tragam-lhe vinagre e água
gantemente vestido, trajava um fraque braços de Merten chocaram-se contra a do refletia sobre porque o judeu tíbia e não esqueçam de chamar mestre
azul, sapatos novos com fivelas grandes lâmpada e daí a escuridão recobriu a errante é um berljnes de nascimento *e Vitus! Sua palavra tem muito poder so-
e um colete de seda côr de carmim, todos e sobreveio uma noite cheia de não um espanhol; mas vejo que isso bre Bonifácio!" Assim, velozmente, suce-
desgraças e precursora de temporais. coincide com a computação que deveria diam-se as ordens. Da porta corriam em
quando se sentou e se pôs a escrever todas as direções: Merten observou Boni-
uma dissertação sobre o ás, o que ime- levar, pelò que nós, por amor à preci-
são . . . não queremos fazer nada de fácio com mais atenção: os olhos do
diatamente o conduziu a ensinar direito m David Hume afirmava que este ca- tudo isso, a não ser contentarmo-nos cachorro continuavam incendiados; seu
romano. pítulo é o locus comunis do ante- com a observação de que o céu se en- amo sacudiu a cabeça longamente.
O direito romano, sem dúvida, abarca riór e o afirmava ainda antes que contra nos olhos das senhoras, de que
tudo, inclusive a doutrina do p/ocesso e eu o tivesse escrito. Sua demonstração os olhos das senhoras não se encon- "Uma grande desgraça está-se arman-
também a química... pois como demons- era a seguinte: se este capítulo existe, tram no céu; do que se deduz que não do sobre nós! uma grande desgraça! Cha-
tra Pacius, é o microcosmos que se se- o anterior não existe, mas este expul- nos atraem tanto os olhos e sim o céu, mem um sacerdote!"
parou do macrocosmos. sou o anterior, do qual nasceu, ainda pois não vemos os olhos e sim, somente
Os quatro livros das instituições são os que não como causa e efeito, coisa de o céu que há neles. Se os olhos e não i l O M e r t e n continuou se estremecendo,
quatro elementos; os sete livros dos Pan- que duvidava. Todo gigante, e portan- o céu nos atraíssem, sentiríamos atração £ L X quase preso do desespero, quan-
dectas, os sete planetas e os doze livros . to todo capitulo de vinte linhas, deixa pelo céu e não pelas senhoras, pois o • do ainda nenhum dos ajudantes
do código, os doze signos do Zodíaco. atrás de si um anão, todo gênio um estú- céu não tem um olho, como afirmamos parecia querer acudir.
Mas nenhum espírito havia penetrado pido filisteu, toda agitação do mar deixa mais acima, não tem sequer um olho, e "Pobre Bonifácio! Mas o que aconte-
no todo; foi aliás Greta, a cozinheira a um sujo lodo, e apenas desaparecem os antes, ele mesmo não é outra coisa senão ceria se eu mesijio, neste intervalo me
que chamou para a ceia. primeiros comparecem os segundos, ocu- olhar de amor da divindade, o olho doce atrevesse a curá-lo? Estás fatigado, o
Escorpião e Merten, presos de grande pam um lugar na mesa e com decisão e melodioso do espírito da luz, e um sangue escorre de tua boca, não queres
excitação, tinham permanecido com os estendem suas longas pernas. olho não pode ter um olho. comer, vejo esforços violentos no teu bai-
olhos cerrados e por isso confundiram xo ventre, realiza violentos esforços...
Portanto, o resultado final de nossa compreendo-te, Bonifácio, compreendo-
Greta com uma fada. Quando se repuse- 0*g% O último parágrafo sobre as bases investigação é que nos sentimos atraídos
ram de seu espanto espanhol — que re- J Q era um conceito abstrato, portanto te!" e Greta entrou com a água morna e
pelas senhoras e não pelo céu, porque vinagre.
monta à última derrota e à vitória de D. não uma mulher, já que de um neste não vemos os olhos das senhoras,
Carlos — Merten se arremessou contra conceito abstrato para uma mulher — que enquanto que é naqueles que vemos o "Greta! Quantos dias faz que Bonifácio
Escorpião e se levantou como um azinhei- distância existe!'" exclamou Adelung. Mas céu; e por conseguinte, sentimo-nos, por não evacua? Não te ordenei que fizesse
ro porque — Aqui dirá Moisés — o ho- eu afirmo o contrário e o demonstrarei assim dizer, atraídos pelos olhos porque uma lavagem pelo menos uma vez por
mem deve olhar as estrelas e não a terra, exaustivamenté, mas não neste capítulo, não são olhos, e porque Aasvero, o eter- semana? mas vejo que de agora em dian-
ao passo que Escorpião agarrou a mão e sim num livro que não constará de no, é um berlinense nato, pois é velho te terei de me ocupar eu mesmo de assun-
de seu pai e deu a seu corpo uma posi- capítulos e que tenho a intenção de escre- e doente e já viu muitos países e muitos tos dessa importância! Traze azeite, sal,
ção perigosa, pondo-o direito sobre os ver tão logo eu me tenha convencido da olhos e no entanto não se sente atraído farelo, mel e uma tina!
pés. existência da Santíssima Trindade. pelo céu, e sim pelas senhoras, e só "Pobre Bonifácio! Teus pensamentos e
existem duas calamidades, um céu sem meditações te obstroem do momento em
O f J "Santo Céu!" O alfaiate Meríen é n Q A quem queira adquirir uma idéia olhos e um olho sem céu. que não pode exteriorizá-los em forma de
uma boa proteção, mas se faz pa- intuitiva e não abstrata da mesma palavras e escritos!
gar tão caro! Uma delas se encontra por cima de nós "Oh, admirável vítima da profundidade
— não me refiro à Helena grega e* nos atrai para o alto, a outra está abai-
"Vere! beatus Martinus bônus est in nem tampouco à Lucrecia romana, e sim de idéias, oh, santa obstrução!".
auxilio, sed carus in negotio!" excamou xo de nós e nos atrai para as profundi-
à Santíssima Trindade — não posso acon- dades. Mas Aasvero se vê fortemente <1) Este parágrafo, c o m o o anterior, está
Clovis depois da batalha de Poitiers, quan- selhar nada melhor do que não sonhar baseado num jogo de palavras, porque E H
atraído para baixo, do contrário não erra-
do, em Tours, os religiosos lhe explica- com nada» até que não tenha dormido, ria eternamente pela terra, se não fôsse en. alemão significa "matrimônio".
ram que Merten havia cortado suas calças ou então velar ao Senhor e examinar este
de equitação, com as quais havia caval- um berlines nato e não estivesse acostu- <2> "Mehren" en: alemão significa "aumen-
parágrafo, pois os conceitos claros são mado às extensões de areia.
gado o valente matungo, que lhe valeu a tader"; "Meer" significa "mar".
inerentes a ele. Alcemo-nos à sua altura
vitória e quando lhe pediram 200 florins distante alguns degraus do ponto em que
de ouro por este serviço de Merten. Segundo fragmento encontrado na pasta (3) Jogo de palavras entre "lierói" e "lie-
nos encontramos), altura cfue voa no alto raldo" (arauto), em alemão, respectivamente.
Mas tudo aquilo aconteceu assim... como uma nuvem e se nos apresentará o de Halte
"Aeros" e "Herold", ademais — Bros, o herói
gigantesco nfto; acerquemo-nos à sua me- m m Chegamos a uma casa de campo, mitológico — em alemão é "Hero".
« J C Estavam sentados à mesa, Merten tade e nos espantaremos com o gigantes- t u l era uma noite bela e serena. Tu
% K f à cabeça, à sua direita Escorpião, co nada e se descermos a sua profundi- • caminhavas segurando meu braço (4) Jogo de palavras entre os dois sentidos
* á sua esquerda Felix, mais adiante e querias te soltar, mas eu não te deixei, ("sorte" e "falta de lu!t") da palavra "som-
dade, ambos se conciliarão harmoniosa- bra".
o primeiro oficial, de tal forma que ficava mente de novo no não que se detém ante minha mão te reteve como havias retido
uma distância entre o príncipe e a plebe, nós como uma escritura resplandescente, meu coração, e tu o permitfste.
os membros do corpo estatal de Merten ereta e audaz. Murmurei palavras repletas de nostal-
de ordem inferior, comumente chamados gia e disse as coisas mais sublimes e
oficiais. NAO — NADA — NAO mais belas que um mortal pode dizer,
O vazio, que não devia ser ocupado este é o conceito intuitivo da Trindade, pois não disse nada; estava submerso
por nenhum ser humano, não estava re- mas o abstrato quem poderia descrever em mim mesmo; vi elevar-se um reino,
servado para o espírito de Banco, e sim pois: — "Quem sobe ao céu e torna a cuja atmosfera era muito ligeira e ao mes-
para o cachorro de Merten, que todos os baixar?" "Quem sujeita o vento nas mo tempo muito pesada, e nela havia
dias tinha de fazer a oração antes das mãos?" "Quem recolhe a água em sua uma imagem divina, a beleza mesma, co-
refeições, pote Merten, que realizara estu- roupa?" "Quem fez surgir todas as ter- mo certa vez havia entrevisto em profun-
dos de humanidades, afirmava que seu ras do mundo?" "Como se chama e qual dos sonos fantásticos, sem reconhecé-la;
Bonifácio, assim se chamava o cachorro, é o nome do seu filho?" "Tu sabes isto?" brilhava com os relâmpagos do espírito
era o próprio São Bonifácio, o apóstolo disse Salomão, o Sábio. e sorria, e tu eras a imagem.
dos alemães, referindo-se a um fragmen- Eu me maravilhava de mim mesmo por-
to no quai afirma ser um cachorro iadran- j | f | Não sei onde está, mas o que é que, graças ao meu amor, havia chegado
do. Por isso sentia uma adoração supers- fiMJ certo é que um crânio é um crâ- a ser grande, gigantesco; via um mar
ticiosa por esse cachorro, cujo assento nio'. — exclamou Merten. Abaixa- ilimitado, mas nele não se agitavam as
era muito mais elegante que os demais; va-se temeroso para descobrir na escuri- ondas, havia adquirido profundidade e
um suave cobertor de cor vermelho car- dão de quem era a cabeça que tocava eternidade, sua superfície era cristalina e
mim do mais fino cachemir, acoichoado sua mão, quando se retirou envergonha- em seu escuro abismo tremiam estrelas
como um rico sofá, elevado por molas douradas, que cantavam canções de amor
artisticamente enganchadas, assim era o do, pois os olhos...
assento de seu Bonifácio, com boias de e desprendiam um intenso calor e o pró-
MéÊ Sim! Os olhos! prio mar estava quente!
seda suspensas e mai se acabava a ses-
são era conduzido a um ângulo solitário f £ | São uma calamidade e atraem o Se aquele caminho fôsse a vida!
de uma alcova um pouco isolada que ferre, razão peia qual nos sentimos Beijei sua doce e suave mão, falei de
atraídos pelas senhoras e não pelo céu, amor e de ti. Uma ligeira névoa flutua-
CARTAS DE MARCEL
Mareei Faerman tem 21 anos. Passou um mês num
hospital psiquiátrico (este ano), em Porto Alegre. Lá,
escreveu cartas para seus irmãos.
Pedimos autorização para publicá-las. Ele deu.
Te falando por tê-lo recebido (merecido) não conheçam seu significado. O edifício é espelho
feliz! Elas adquirem beleza vistas no (treze andares)
depois de te ouvir feliz! contexto em que foram criadas. onde contemplo MEU edifício
Abrão, foi com espanto que muito feliz! Fora do contexto perdem a Escuro
recebi tua carta. Com espanto e O hospital onde estou pouco tem beleza e o significado. Escureça
alegria. Jamais poderia imaginar a ver com acomunidade na qual Estou ouvindo Santana Janela é porta
que ainda estava guardado dentro gostaria de estar; o espírito da américa A noite é espelho
de^ti. Tu ainda te lembras de o aspecto mais positivo é o de sintetizado no seu som. (de São Paulo)
mim porque me amas muito, e isto poder ficar só Comprei Drummond mundo onde contemplo a noite em
me faz muito feliz. Pelo que pintando consistente. Porto Alegre
escreves na carta posso pérceber escrevendo Novos Baianos-Gil-Caetano Frio
que apesar de nosso pequeno pensando. têm sido ótimas companhias. Frie
contato, nossos poucos diálogos, Estou ouvindo Tchaikowsky Estou começando a pensar na os olhos
tu me conheces profundamente a água-veneno está na música. sociedade de consumo. os olhos ouvindo os
Tu falas que estou passando um Amanheci te lendo Lemos, ouvimos, e vemos .a arte ouvidos adormecidos
momento difícil. Eu vejo a Amanheci te vendo criada por outros. A ARTE é a os pés
situação doutro modo. Sinto que estou procurando pessoas que vida. Vivemos a vida criada por estáticos no espaço
minha vida toda é um momento nasceram longe de mim outros. Todos deveríamos ser desesmagando formigas
difícil. Creio que não passamos para juntar-me a elas. capazes de criar a vida. Todos (intuição da vida
por momentos difíceis. Creio que Acontecimento desagradável: eu e deveríamos criá-la. compreensão
a própria vida é um momento Nirce falávamos sobre significado Rolling Stones na eletrola amor mor
difícil. Como sabes estou do ato de pintar e Mauro poeira evaporando na mente amorte não)
internado numa clínica. Nesta interrompeu diálogo as guitarras as vozes abrindo Silêncio
clínica muito tenho aprendido. fiquei deprimido. espaços estradas na mente. Silencie-me
Sobre mim e, sobre as pessoas. Tenho excelente amigo no Amanhã volto ao hospital. os animais
Sobre o mundo. Aprendi, hospital NENO Infelizmente meu grande (no jardim zoológico)
principalmente, que não há mal desenha pinta toca flauta problema: a solidão, não choram para nós rirmos
maior que a solidão. E que não doce INTELIGENTE encontra a companhia da solução. Noite
basta estarmos acompanhados para sábado namorada trouxe carta O hospital não é um local de Anoiteça-me
não estarmos sós. Aprendi também para dar para ele convivência é um local as alianças são
(venho aprendendo desde que bonita Sofisticada inteligente de tratamento. A partir de caixas de sapato
nasci) que no nosso mundo tudo RosaNa nome. amanhã terei paralelamente ao MARILSA casada
é conduzido para conduzir-nos O bom escritor tem três tratamento do hospital o MARCEL castrado
para a solidão. A existência de características fundamentais: tratamento com o Curt.
Agora estou ouvindo Pink (o complexo de édipo é
Países (Nascionalismos), Raças conteúdo cultural, justificativa para a caixa de
(Racismos), Religiões conteúdo existencial. Floyd música sofisticada como
a musa do Neno sapato)
(Separacionismos), Divisões e, por fim, a capacidade de A CLÍNICA
Sociais (Exploracionismos). LINDAS
mover as palavras. pavilhão para homens
Parece que o mundo é um imenso No terceiro item — que engloba a CERCA DE ARAME FARPADO
mar onde cada um rema sua canoa. criatividade — nós nos Carta para pavilhão para mulheres
Não acredito que as pessoas que igualamos, mas nos dois lição do dia:
constituem a família usem os o Vitor
remos com o desejo de levar o primeiros tu me superas como viver em descomunidade
nitidamente. tudo grudado na parede sorrir dizendo BOM DIA!
barco para um mesmo rumo. Todos O equilíbrio das três bolinha de gude na rede
competem. Não acredito que a BOA TARDE!
características te possibilita a gudia e o gatólico bebendo a BOA NOITE!
raiz esteja na luta pela mesma sede
sobrevivência. Acredito que a escrever, ser jornalista. Minha sorrir acenando (encenando)
insuficiência cultural e o gato martelando os ouvidos OLA!
raiz é o medo do amor. Renego o dos telhados
dinheiro. Penso muito no vivencial me dificultam o TUDO BEM?
aproveitamento da criatividade, o mato mateando o matado TUDO LEGAL?
coração. (Pena que o dinheiro e o ponto final é apenas o ponto
seja o coração das pessoas!) da capacidade de manejar as Ver televisão e dizer piadinhas
Fiquei maravilhado por ter sido palavras. Estas deficiências inicial jogar cartas e dizer piadinhas
lembrado por ti. Só uma pessoa além de empobrecerem meu ato de (ou seja: que tal eu escrever jogar snuquer e dizer piadinhas
maravilhosa guardaria uma escrever, prejudicam meu para ti?) (os próprios diálogos são
convivência tão remota na relacionamento com as pessoas. e o ponto de interrogação é um piadinhas)
memória do coração. Não te Impedem minha convivência com ponto de exclamação "vou num forró dançá"
preocupes, vou vencer esta luta pessoas pelas quais sinto e quanto mais vazia tua mente Gilberto Gil
com o mundo. É para conviver atração. for mais cheio tu serás está me ensinando a dançar
com péssoas como tu que estou Desejo ter mais cuidado com a e a falta de assunto assusta (sempre desconforme a música)
lutando para vencer esta minha cultura, estudando com e o grito de tenor YOKO ONO
batalha. São pessoas como tu que Carlos Appel ou com outra e o tremor "sou baixa porque fui reprimida"
dão sentido à minha vida. É para pessoa que tu me apontes. O e a dor MAURO
vocês que eu vivo. Para amá-los. valor que dou a esta pessoa e tudo isto para te dizer que eu "não gostei da primeira carta
Obrigado pela carta. iguala ao valor que dou ao Curt. existo para o Abrão. porque me conformo
Obrigado pelo amor que tens Quanto a pouca vivência, e tudo isto para que tu existas em ser reprimido"
por mim. contrabalanço esta deficiência e nada é papo furado (e tudo é (a frase é minha)
com um conhecimento profundo um parto forçado) azul céu
Continues r$e escrevendo que eu instintivo do mundo. Te orientes pela rotação dos o azular e o azulamento
te responderei. O que tu achas disto tudo? teus olhos em torno de gilberto os gatos
Estou te falando com o coração Ontem fui ver o Poderoso Chefão. gil vivem
da mente, e com a mente Não suportei a brutalidade do Te orientes pelas reportagens nos telhados
do coração. filme, na metade fui embora. que. escreves porque sabem que a sociedade
Adeus. Tornou-se hábito acordar (que tu gostarias de não o sistema social
de madrugada. Hoje, segunda, escrever) dos homens NAO PRESTA
Carta para acordei às seis. Te orientes pela desorientação os cachorros foram consumidos
Pai e Mãe também não em que vivemos. pelo SISTEMA SOCIAL HUMANO
o irmão Marcos suportaram a brutalidade do filme, Relembro nossos sábados de (e são humanos)
É domingo cinco horas da noite saíram junto comigo. rouxinóis (ou seja: desumanos)
estou saudoso do Marcos Hoje, dez horas da manhã, (rouxinóis no cinema os livros devem ser quebrados
também saudoso do hospital recomeço amizade com Curt. cinemando os discos
no qual estava vivendo Que tu achas dos Novos Baianos? rouxinóis no bar
Eu os acho geniais. Neno e que tal abri-los com facas?
um negócio parecido com aquele barbebendo Qando não tiver água em casa
final do ^ilme namorada também os acham geniais rouxinóis nas ruas
(e eu idem a eles dois). CAGUE
Este Mundo é dos Loucos, ruandando) ABRA A PORTA E FECHE A
o desejo de continuar lá dentro. Ainda não li tuas diversas Meu assunto é o desassunto.
histórias do Sargento Yokoi. JANELA DO BANHEIRO
Gostaria de trocar o hospital Eu desassunto o mundo. depois respire profundamente
Depois de lê-las farei uma O mundo é o assunto falado
por comunidade tipo Novos pequena crônica sobre o (é a comida que comestes)
Baianos. e desconhecido. "O mundo que criamos que vivemos
assunto. Assuntar o desconhecimento é o
Não aceito os pretos habitando é um imenso banheiro onde a
os brancos habitando Acordei olhando o prêmio de meu assunto. descarga nunca é puxada e onde
a habitação dividida. Melhor Amigo, a maior alegria Tua foto tua grafia nunca sentimos o cheiro da merda'
Coloquei na parede o quadro que a vida me deu. Está muito o feto da gráfica Gilberto Gil
Melhor Colega de Aula bonito na partede do meu quarto. o afeto da guria Chico Buarque
a parede está Linda Espero que estas cartas dêem Carta a alguém Caetano Veloso
no dia da entrega onze ano a ti um pouco de mim. Depois de enxergam a merda
não fui recebê-lo havia ir ao Curt retorno ao Hospital. não identificado (tenho feito de seus olhos
chovido Vou mandar pinturas para ti e Chuva Chova meus olhos
me sinto muito feliz para a Marilena. Pena que vocês Janela aberta de seus narizes meu nariz)
ESTÁ FRIO se tornará belo como a natureza. O filme termina com o soldado grande crise existencial.
ESTOU ME RESFRIANDO Que tal substituir o dinheiro agarrado no portão pedindo para Estou te escrevendo com grande
vou encatarrar as ruas para que pelo amor? abrirem para ele poder entrar. facilidade porque sempre foi fácil
o mundo saiba que ESTÁ resfriado Adeus. O soldado preferiu os loucos falar contigo.
sabes porque fui internado? aos normais. Na realidade estas Estou escrevendo tão rápido e tão
havia descoberto BUDA Frio, muito frio escolhas não existem. Ninguém despreocupado que nem estou
o AMOR! pode optai; entre ralidade e pontuando.
em Porto Alegre fantasia. Podemos dizer que a
fui enjaulado Digas para o Marcos que os melhoresr
no momento Querido Abrão: vida é rápida demais para momentos da minha vida eu
de maior Foi com alegria que recebi tua podermos questionar-nos a este passei com ele em São Paulo. Eu
COMPREENSÃO carta. Creio que a terceira .respeito. Na minha opinião vim para Porto Alegre por causa
de minha vida carta é o cimento que junta os nós não escolhemos. Nós somos da minha crise existencial. Eu não
no momento tijolos, é a consolidação do escolhidos. Há poucos dias troquei o Marcos pela família.
que compreendi o MUNDO diá-logo pré-configurado. atrás eu estava internado num Creio que estava farejando
(parece que meu aprisionamento Se eu não existisse Santório. Rodeado de pessoas pressentindo o tratamento
e a conseqüente repressão dos Se tu não tivesses necessidade doentes. Dizem que eu havia psiquiátrico.
meus sentimentos é SINTOMA de escrever-m.e rompido as fronteiras da Há pessoas que tem segredos
de alguma coisa) O PLANO SOCIAL NÃO EXISTIRIA. realidade. Se eu o havia fçito, encerrados no cofre da alma.
creio que aquelê momento de Se tu não tivesses me escrito eu não o havia percebido. Sofrimentos que só mostram para sí
ENTENDIMENTO jamais voltará a Se eu não te respondesse No santório eu tinha um grande próprias. Eu sou uma dessas pessoas.
repetir-se •O PLANO SOCIAL NÃO EXISTIRIA. amigo (Neno o nome dele) e Quando estou com o psiquiatra eu
DESCOBRIRA Minha canoa vai ao encontro da isto me fazia feliz. uso minha chave da sinceridade
(entre outras coisas) tua, tua canoa vem ao encontro Aqui fora (em casa, na rua) não para abrir o cofre sofrido
que era ORIENTAL da minha, tenho um amigo como ele. da alma e mostrar-lhe tudo o que
meu conhecimento foi sufocado um mais um igual a dois Eu digo a todo instante que era sou.
pelo SISTEMA social igual a mais feliz no sanatório. Um dos meus maiores sofrimentos
Me oriento , individual mais individual. A resposta é sempre a mesma: é ter esse cofre dentro de mim
pela constatação Esta quarta carta é mais cimento "ainda não te adaptastes a este fechado.
de que vivo para nossa pequena sociedade, novo modo de vida". Lá tu te
sentias protegido. O ideal seria a nãò existência
do que não posso fazer nosso pequeno edifício. desse cofre.
Me oriento O plano social tem mais Talvez a questão possa ser vista
influências sobre o plano doutro ângulo: SE TU ÉS CAPAZ Mas já que ele existe dovo te dizer
pela constatação uma coisa ele esteve quase
de que vivo individual, do qye este sobre o DE TER UM GRANDE AMIGO ,E SER
social. UM GRANDE AMIGO, TU ÉS CAPAZ sempre aberto para ti. Te falei
do que me permitem fazer DE VIVER E SOBREVIVER". muitas coisas que escondi de outras
O dinheiro domina o indivíduo. pessoas.
(Nota: a página de caderno, em Tens companheira? Entendes o que eu quero dizer?
que Mareei escreveu daqui até o O globo continua em cima da mesa. Porque gosto de ti e sei que gostas
Estás amando? de mim.
fim da carta, está toda borrada Todos deveríamos tê-las (e Continua sendo fácil girá-lo, mas
por manchas vermelhas) como é difícil entendê-lo! Como é Estou escrevendo esta carta após
tê-los). ter lido a tua. Bato nestas teclas
O amor é a única coisa digna de difícil caminhar nas suas ruas !
Me oriento Um abraço. com toda a força que há em mim.
nossa atenção. Vivemos para amar. Bato nestas teclas com toda a vida
pela constatação o ódio é um personagem que Continue escrevendo.
de que estou algemado entrou na história humana por Marilsa querida a primeira coisa que há em mim.
acorrentado enga"no ou desatenção. que fiz ao saber que havias escrito Estou me dando a ti.
e amordaçado Estou ouvindo Rolling Stones. para mim foi rir sorrir com toda Estou me dando a ti.
e de que devo ser Acho geniais. A música deles é alegria do meu ser. Marilsa querida Tenho escrito cartas.
o que querem que eu seja uma vassoura que varre a poeira, a primeira coisa que fiz ao terminar Vocês existem para mim.
(este merthiolate vai substituir o sofrimento, da minha mente. A de ler tua carta foi beijá-la com Tens escrito cartas.
o sangue de um covarde que ama música deles: mistura de todo amor que há em mim. Eu existo para vocês.
tanto a vida que não tem coragem alegria e angústia. Assim como tu me reencontraste na Esta é a minha maneira de existir.
de viver sua própria vida. O Vistes o filme Este Mundo é dos carta que escrevi para o Marcos eu Talvez eu sempre exista desta
amor pelos pulsos não representa Loucos? França. Guerra Mundial. te reamei na carta que escreveste maneira.
o ódio que sinto pela repressão Uma cidadezinha. para mim. Apesar de raramente nos Sinto a falta de vocês.
que senti e sinto.) (Mas o Um hospício. vermos tu és minha melhor amiga. Sinto solidão.
suicídio não é solução para nada) Tua carta é igual a ti desejo Por favor escrevam mais cartas.
A cidadezinha abandonada pelos receber muitas outras, para te ter Meus escritores favoritos são vocês.
Carta a um moradores (o medo da guerra).
"amigo argentino" perto de mim. Vocês fazem eu sentir que tenho valor.
O grande portão do hospício.
Te falando antes de te ouvir Os loucos em frente ao portão. Só consigo expressar-me com vocês
Estou no Brasil. És argentino. Vacilantes. Indecisos. Com medo. Lembras do filme em comum como Eu amo vocês.
Estou na Argentina. Sou (Não da guerra, mas do mundo eram bons aqueles dias. Preciso de vocês.
brasileiro. exterior ao portão) Tu dormias em um quarto eu noutro Gostaria de viver com vocês.
O tom da caneta não é o tom da A questão no ar: vale a pena era difícil romper a fronteira Li muitas vezes a tua carta
minha voz. sair? A curiosidade vence o medo. dos quartos era fácil romper as Tu me amas.
A cor da tinta e do céu são a Passo a passo abandonam o fronteiras dos nossos corações. Sempre serei triste.
mesma. Mas estas palavras podem hospício e dirigem-se para a Quando juntos nós trocávamos ouro Vivo, intensamente a vida.
ser o inferno. cidade. Então na cidade vazia amor. Eu te dava o melhor de mim Aquele negócio atrás de nuvens calmas
Nossas cartas podem ser um cada um realiza seu sonho, tu me davas o melhor de ti. a vida ávida se agita.
aperto de mão. A mão que eu (eles tinham sonhos) Tu te sentias só e eu compreendia Solitário vivo intensamente a vida.
apertei ontem, talvez eu a tenha Um entra na igreja vazia e tua solidão. Eu procurava alegrar A*angústia da falta de carinho me
desapertado. torna-se o padre da mesma. tua solidão. faz viver intensamente a vida.
Outro entra na barbearia e Agora eu estou sofrendo e tu Vocês me amam. Vocês me amam
Na família desconheço todos. torna-se o barbeiro. procuras alegrar meu sofrimento. porque me conhecem.
Desconhecidos, habitantes das Outra torna-se protituta num Tenho saudades de ti muitas Eu também me amo. Porque me
ruas, são minha família. cabaré. Um soldado francês — um saudades. Te amo muito muito mesmo conheço.
Comprei um globo terrestre. Como homem normal — é enviado por Tu pensas que estou passando por Não compreendo porque vocês me
é fácil girá-lo! Como é difícil seus superiores à cidade para um momento difícil de ser amam tanto.
girar nele! ver o que está ocorrendo lá. vivido. O Abrão já havia me dito Esta carta é para o Marcos, para
Meus professores nunca me Freqüenta a barbearia e outros que estou passando por momentos o Vítor, para a Marilsa e para a
ensinaram. lugares e só depois de algum difíceis. Vou dizer pra ti o que Marilena.
(Tentaram me desensinar) tempo descobre o que havia havia dito para o Abrão com outras Principalmente para a Marilsa.
Gilberto Gil me ensina sobre o ocorrido. Apaixona-se ppr uma palavras. Para ele eu disse que (Duas horas da madrugada, dia 25)
desensino. bailarina e' quase casa-se com momentos difíceis não existem a
ela. Na convivência com os própria vida é um momento difícil.
Roupas sacudidas pelo vento loucos descobre que eles possuem Para ti eu digo que não existe um
podem ser bandeiras de paz. mais amor que as pessoas processo de dois meses ou dois
(a paz é ridícula porque a normais. anos existe um processo que
guerra é ridícula) A guerra acaba. principiou no dia em que nasci e
Achamos belo o canto dos Os moradores da cidade que se alongará até o dia da
lentamente retornam para seu minha morte.
pássaros porque nossas palavras
são ditas erradamente lares. Os loucos voltam — O que eu quero dizer é que a
assustados — para o hospício. confusão a incompreensão o
(ainda não aprendemos O soldado coloca-se num dilema
que falar é cantar) sofrimento fazem parte do meu ser.
que nós jamais esperaríamos A _ luta pela paz interior sempre
Achamos bonita a natureza porque fosse colocar-se: "em qual dos existiu. O construir-se e
a natureza é mais evoluída que mundos eu vivo, no normal ou no reconstruir-se sempre existiu.
o Homem. Quando o homem se louco?" Existem momentos de crise mas
irracionalizar naturalmente ele são pequenas crises dentro de uma
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Robert V. Toye, POB 4000, David Brown. B-30916. POB 107, gum anos. infelizmente. Eu poderia estar ai
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Q E3QUIPE É O CURSINHO
EM SAO RflULO QUE MAIS APROVA
M A S N M É S Ò P O R ÍSSO
QUE VOCÊ DEVE M E R O EQUPE.
Fora fazer centenas e centenas de economistas, comunicadores, sociólogos,
geógrqfos, historiadores, literatos,filósofos,etc., o Equipe utiliza afórmula mais
manjada do mundo: instalações adequadas, número reduzido de alunos por
classe, relacionamento professor-áluno, orientação psico-pedagágica,
planejamento de cursos que funciona, exames simulados, testes, exercidos,
estudos dirigidos, etc.
Mas o Equipefaz muito mais do que simplesmente colocar os alunos
numa faculdade.
Ele dá condições para que o aluno se saia bem dentro dessafaculdade.
Durante um ano inteiro -junto com a preparação para o vestibular-o Equipe
promove palestras, peças deteatro,murais,filmes, etc Onde os alunos
universitária.
É também por isso que você deve fazer o Equjpe.
É o que os nossos ex-alunos que hoje estudam na USP, na PUC no Mackenzie,
na Getúlio Vargas, na FMU, etc, dizem.
Com duas lágrimas nos olhos e o coração cheio de saudade.

GRUPO> a p m Colégio EQUIPE


EDUCACIONAL*C JEQUSPÊ Vestibulares
EDUIPE Supletivo
EQUIPEü H P EQUIPE SuDletivo
RUA CAIO PRADO. 232 Teh.: 257-2754* 25&4M2S.
cw SOH-O-GOD PCBADO
í DAVeõ£R<* ( Q A (SENTE TE/VI Q U E L E V A -
B
2/CAMINHO, O ANTtCMSTO Eití
P»KA Pl?£»HAa SEJ DIA SANTO. AXII Fiam
• PROCURA O LAEO L O A C A S A P E BENN1E
AS HÓSTIAS
; /V\At& L
EVE CM 'KKAVms" OAVID5, CO/HO S C M P f t e
CAMTACrt!...
tJOMÁRUM
COMO ELE NOS PtSSE C W
Wpe ca&vtePRIMEIRA VEZ «SUE O VIMOS'
*f/SS/U
Accrvcte
[eles e v t o B R J N C & t
Toe ovo?

ESSA Efl ULTIMA OAS


SGQUOUfS &&AMTES!
MAS P E V l A M O S TER P e c A S
S U F I C I E N T E S CM CRUZ
V£RO<lpeiRA PKA n
MOS R E N D E R MAIS
2.000 AHOG!

ESWVAMOS PROCURANDO A fAAUHÃ IKTTEIRA p Alé AI


achado FSSTJE
MOWTE DE SA RRAFAS ^MDEPcfelTOi^-^Slíwo'
©Lf DISSE PRA IRMOS WSO
P£ TABUAS/ E MC>S F O M O S /
.SU/H G O Z 4 2 0 R .
NA CERTA.'
«luto e e * . você esgolhbu
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AUTOS DANÍANCO CABEW NA
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lww S H M ! COSA «RECIW ? —• o o mcomo s l i a / M E , PHIL?
ESTA SUA M A -

OCM,
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São Paulo, continua a edição do
Jornal do Cometa, página 13. .
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"Bebal" - disse ele. Mas eu estava parali-


Será enforcado hoje • fico indiferente quando me tratam de crá-
sado. 0 sonho acabou. Tinha consciência 44 pula ou de louco; tão indiferente, que
&& meu enfraquecimento, e todo o meu
Vampiro ie Londres" mulheres estúpidas se comprimem para
ser se inclinava em direção ao pote. Des- LONDRES. 9 tAFP) - O "Vau- me ver. Parece — disse-me um guarda -
pertei quase em estado de coma. Via sem piro de Londres", Joim Oeorgt que numerosas cartas desse sexo frívolo
parar a mão que me estendia o pote; e chegam para mim, na prisão. Eu me per-
esta terrível sede que nenhum homem, Halgh. 6 e r á enforcado amanha. gunto se existe sobre a terra alguém que
hoje, pode entender instalou-se em mim O sinistro cerimonial da praxe possa me compreender.
para sempre. Durante três ou quatro noi- foi boje concluído O corpo de A primeira pessoa que matei chama-
tes, tive o mesmo sonho; e a cada desper- va-se William Donald Mc Swan. Mais tar-
tar eu estava mais cheio desse terrível de-
Haigh penderá na forca durante
de, iria matar-lhe pai e mãe. A maneira
sejo. uma hora. Será. depois enterrado como conheci Swan não oferece nenhum
Agora vocês compreendem a que se no próprio cemitério da prlsfto mistério. Ele tinha uma casa de jogo em
expôs o jovem Swan, quando ficou sozi- Lembra-se que. se u corda se Tooting.
nho em minha casa, naquela noite de ou- romper, o rei terá de agtaclar o Era o ano de 1936. Eu estava saindo
tono de 1944. Derrubei-o com um pé de da prisão, por fraude. Foi a primeira de
mesa, já não me lembro bem. Então, ras- condenado. E* a ultima e tênue minhas condenações. l i um anúncio em
guei-lhe a garganta com um canivete. Ten- esperança para o "Vampiro". Isto. que Swan procurava um gerente para seu
tei beber seu sangue, mas não estava con- porem, nfto acontece há 200 anos negócio. Mandei-lhe um telegrama, e foi
fortável. Não sabia em que posição me assim que ele me empregou durante um
colocar. Arrastei-o até um ralo e, com um
na historia da Inglaterra.
ano, depois que voltei à liberdade.
copo, tentei recolher o líquido vermelho. Em sut célula, Halgh. que «abe Sozinho de novo, pude ganhar dinhei-
Finalmente, acho, foi mesmo o corte que vai morrer amanhft, Joga com ro mais fácil, graças a várias fraudes enge-
aberto que suguei lentamente, com profun- os guardas suas ultimas partidas nhosas. Infelizmente fui descoberto, e no-
da satisfação. Quando me ergui, fiquei vas condenações me obrigaram aficarna
assustado com a presença daquele corpo. de xadrez.
cadeia até setembro de 1943. Ao sair, re-
Não sentia remorso. Eu me perguntava Esta noite, o major Benke. dire- conciliei-me com o jovem Swan. Durante
como poderia livrar-me do corpo. Depois tor da prisão foi incumbido de aquele tempo, não andara mal. Transfor-
fui dormir. mara seu dinheiro em propriedades e esta-
conversar com o réu. no sentido
Naquela noite sonhei com a floresta. va explorando indústria leve. Por acaso,
de obter ave«* ultimas confissões, comecei a me dedicar ao mesmo tipo de
Mas desta vez consegui agarrar o pote, e
ao beber o sangue tive a mesma satisfação as quais, aliás, em hipótese algu- trabalho, e logo me estabeleci por conta
sentida na realidade. Acordei; e aí come- ma, poderiam Influir na torto do própria. Uma noite, em 1944, reencontrei
cei a refletir sobre o que tinha feito. So- condenado. Swan num café de Kensington. Estava
bre como podia ter chegado a esse ponto. preocupado. Tinha medo de ser convoca-
Voltei ao porão. Vi que precisava tomar do para a guerra e me confiou sua inten-
uma decisão quanto ao corpo. De repen- "O Estado de S.Paulo", de 10/8/1949 ção de se esconder, para não ter que se
te, imaginei um bom método. alistar. Voltei a vê-lo com freqüência: ele
Eu guardava no escritório uma boa chegou até a levar-mme à casa dos pais.
quantidade de ácido sulfúrio e clorídrico, Em outro sonho, eu construía uma necessidade frenética, a grande necessida- Uma noite, propus a ele que fosse visitar
para aplicar em metais. Conhecia o sufi- imensa escada telescópia, em que eu che- de de sangue, que eu precisava satisfazer meu apartamento de subsolo, no número
ciente de química, para saber que o corpo gava à Lua. De lá, olhava a Terra a meus com urgência. 79 da Gloucester Road. Não posso expli-
humano é composto de água, na maior pés, não maior do que um confeito. O Na páscoa de 1944, fiz uma viagem de car o que fiz então, sem evocar fatos ante-
parte. E o ácido sulfúrico é ávido de água. que significava este sonho? Achava que automóvel. Passando por Three Bridges, riores que levam à minha infância. É ne-
Só precisava descobrir um recipiente para ele queria dizer que eu faria coisas gran- vi um caminhão na minha frente. Muito cessário mencionar os sonhos que eu ti-
colocar o corpo. Encontrei, num cemité- diosas na vida. A maior parte das vezes, tarde. Foi um choque terrível O carro nha.
rio, uma espécie de tonei de metal. Pus meus sonhos falavam de sangue. Tinham capotou, sofri um corte profundo na ca- Minha mãe gostava muito de estudar
Mc Swan dentro do barril. Usei um balde um papel terrível e fascinante em minha beça. O sangue corria pelo rosto, até a os sonhos. Achava que eles previam o fu-
para derramar o ácido. Não tinha previsto vida. E no entanto eu ainda não conhecia boca. Aquele gosto despertou tudo em turo. Comprava todos os livros sobre o
os vapores, e fiquei incomodado a ponto o gosto do sangue. Um acaso iria fazer-me mim, de maneira decisiva. Naquela noite assunto, e eu os lia. Minha mãe pressentia,
de sair para respirar um pouco de ar fres- experimentar, e eu não iria esquecer mais. tive um sonho terrificante. Vi uma flores- às vezes, a doença ou a morte de nossos
co. Depois saí para o trabalho, deixando Estava com dez anos. Tinha machucado a ta de crucifixos, que se transformavam parentes. Esses pressentimentos eram
fechada a porta do porão. Quando voltei, mão numa escova de cabelo de cerdas me- em árvores. Primeiro, pensei que fosse sempre exatos. Mais tarde, eu viria a ter a
vi que a operação tinha ido bem. O corpo tálicas. Chupei o sangue, e aconteceu uma chuva, pingando dos galhos. Mas, chegan- mesma faculdade. O primeiro sonho que
derretera. Fiz uma ligação entre o barril e revolução em todo o meu ser. Aquela coi- do perto, compreendi que era sangue. De por um ser superior, que estava a meu
o esgoto e deixei escorrer aquela mistura. sa viscosa, quente e salgada, que eu sugava repente, aflorestainteira começou a con- lado e me controlava.
Se ainda sobrava alguma coisa de Mc à flor da pele, era a vida — a própria vida. torcer-se, e o sangue espirrou das árvores. Dois meses depois fiz uma segunda
Swan, seria encontrada no mar, lá onde Foi uma revelação, que me perseguiu du- Escorria pelos troncos. Caía dos galhos, vítima, uma mulher. Tinha uns 35 anos.
desaguam os esgotos de Londres. rante anos. Logo, comecei a ferir os dedos vermelho. Tinha a impressão de que ia Era morena, de altura média. Tínhamos
Agora precisava explicar o desapare- ou a mão, de propósito, para colocar desmaiar. Vi um homem que ia de árvore nos encontrado na rua e soube imediata-
cimento de Swan. Voltei à casa dele para meus lábios sobre a ferida aberta, & sentir em árvore, recolhendo sangue. Assim que mente que ela devia morrer. Eu estava
ver seus pais. Contei a eles que o filho de novo aquele gosto encantador. O aca- o pote ficou cheio, aproximou-se de mim. num ciclo de sonhos e queria beber no
estava escondido para fugir à convocação. so, assim, me havia feito voltar àqueles Vou ser enforcado amanhã. Atraves- pote. Ela aceitou ir até a minha casa. Gol-
Escrevi algumas cartas com sua letra e as tempos fabulosos em que o ser extraía sarei, pela primeira e ultima vez, uma das peei-lhe a cabeça e bebi-lhe o sangue. Co-
remeti da Escócia. Os velhos acreditaram sua força do sangue do homem. Descobri duas portas de minha cela, a que nunca vi loquei a moça dentro do barril, e então
nas cartas e nãofizeramnenhuma pergun- que pertencia à raça dos vampiros. Por aberta. Uma serve para os guardas quando achei que seria prático ter uma bomba pa-
ta. que? Por que que eu? Não saberia expli-
vêm me ver. Mas sei que aquela, sempre ra derramar o ácido. Saí e comprei uma.
car. Apenas descrevo o que me aconteceu.
Jamais tive medo de ser descoberto. fechada, é por onde passa o homem que Só depois do segundo Mc Swan, o pai do
Nem sentia remorso. Eu era conduzido Adolescente, durante um encontro vão executar. É a soleira do além. jovem Swan, é que pensei em usar másca-
recordo com precisão é da época em que amoroso, mordi os lábios que a garota me Atravessarei aquela porta sem medo ra, para não ser incomodado pelos vapo-
cantava no coro da catedral de Wakefield. oferecia. Foi um gesto inconsciente, ao nem remorsos. Os homens me condena- res. Mais tarde arranjei avental, luvas e
À noite, de olhos fechados, eu via Cristo sentir sua boca quente em contato com a ram porque os apavorei Eu ameaçava sua botas de borracha. Assim equipado, me-
torturado na cruz. Na igreja, eu contem- minha, Mas tive um lampejo de lucidez e sociedade miserável, sua ordem. Mas es- xia a mistura, armado de um pedaço de
plava o crucifixo; e na cama, via a cabeça fugi antes de ter provado ò gosto daque- tou acima deles; participo de uma vida madeira.
coroada de espinhos, ou o corpo inteiro le sangue. Do contrário, não sei o que te- mais alta, e tudo o que fiz, tudo aquilo Matei os dois velhos Mc Swan no mes-
do Cristo, o sangue escorrendo das feri- ria acontecido. Mas alguns incidentes que chamam de crimes, cometi impulsio- mo dia. Nenhum de meus mortos morreu
das. como este haviam despertado em mim a nado por uma força divina. É por isso que porque eu tivesse intenção de lucro. -*
com um engenheiro alemão, Rudplf decidido emigrar para a África do Sul; e sando no estado em que a irmã se encon-
Erren. Na I Guerra Mundial, Erren tinha que eu tinha sido encarregado de cuidar trava. Devo reconhecer que, às vezes,
participado do famoso grupo de pilotos de suas coisas. Os Henderson morreram cometo erros de ortografia. Napoleão
chamado "O Circo de Richthofen", do ao dia 13 de fevereiro de 1948. No dia também cometia. Um desses erros me le-
qual Goering era chefe. Coisa extraordi- 17, recebi telefonema do irmão de Rose, vara à prisão após uma fraude, porque
nária: Erren e Rose moraram uns tempos Arnold Burlin. esqueci um D no nome Guildford.
em Onslow Court, o hotel de Kensington — 0 que está acontecendo? — ele per- Finalmente decidi jogar a grande carta-
onde eu viria a instalar-me. Rose estava guntou. da. Escrevi nova carta a Burlin, assinando
mesmo fadada a me encontrar, e foi assim — Não se preocupe — respondi. Entrei Rose. Conhecia tão bem a vida particular
que conheci a dedo da força superior que num acordo com Archibald. Empres- dos Henderson, e imitava tão bem o estilo
me comanda. tei-lhes 2.500 libras, antes de sua partida. e a letra de Rose, que todos os policiais e
Após o divórcio, Rose casou em 1938 Se ele não me pagasse em dois meses, te- peritos da Scotland Yard, mais tarde, con-
com Archibald Henderson, médico bri- ria de me passar o automóvel e a casa. sideraram esta carta uma obra-prima da
lhante, de clientela de luxo. Viviam Posso até mostrar a carta que Archibald falsificação. Fiquei tão orgulhoso quanto
suntuosamente e Rose aparecia nas re- me mandou, pedindo para pagar a conta Rembrandt ficou de sua melhor tela. As
cepções magnificamente vestida e coberta do hotel em Brighton e pegar o cachorro. falsificações são, para mim, uma arte. Mi-
de jóias. Era uma mulher muito bonita, Também tenho aqui um contrato... nha vocação de falsário vem da infância.
morena e viva. Em 1926, tinha .concor- Eu forjara os dois documentos. Burlin, Na escola, já imitava a assinatura dos pro-
rido num concurso de beleza, e sua foto desconfiado, foi até Brighton. O hoteleiro fessores. Com esta carta de 15 páginas,
saíra nos jornais. Para terminar, devo di- confirmou que eu tinha ido buscar o ca- convenci Burlin de que os Henderson ti-
zer que era filha de um médico de Man- chorro e pagar a conta. Dias depois, ele nham trocado a Inglaterra pela África do
chester, e que tinha um irmão, Arnold veio me ver, com a mulher. Estava prepa- Sul. Ele veio a Londres para liquidar os
a Burlin, homem prudente nos negócios, rado para essa visita. Expliquei e eles que negócios da irmã. Recepcionei-o amável-
O casal Henderson, 6 e 7» vítimas; co-
mo as demais, desapareceram no ácido. que vai ter importante papel no desenro- o motivo da partida eram problemas do mente.
lar destas minhas memórias. Já se notou casal; que os dois queriam a família afas- — Não foi gentil da parte de Rose, par-
que sua desconfiança tinha sido desperta- tada da embrulhada. Levei os Burlin à es- tir, sem dizer adeus à sua velha mãe, já
Quando havia algum lucro, aceitava como da, quando propus aos Herderson com- tação em meu cano, para que tomassem o
cega — disse-lhe eu.
prova de solicitude que me dava a força prar a casa por uma quantia tão grande. trem de volta a Manchester. De repente, a
A velha mulher, mais tarde, também
suprema. Quanto aos Mc Swan, fui até a Enquanto duravam minhas relações mulher de Burlin abaixou-se a apanhou
provacaria complicações. Em fevereiro de
casa de um advogado de Glasgow e falsifi- com os Henderson, tive um sonho doloro- uma pequena caderneta dentro do auto-
1949, ela ficou bem doente. Burlin man-
quei um contrato passado em tabelião, so. Ah, desta vez não eram árvores ensan - móvel. Espantou-se:
dou um recado a Rose; ficou sem respos-
onde eu aparecia com o nome de William guentadas. Agora, eu mordia o pescoço da — Mas é a caderneta de endereços da ta. Entaõ me telefonou e disse:
Donald Mc Swan. Imitei sua assinatura filha de um amigo e sugava-lhe o sangue Rose! — Estou preocupado. Da próxima vez
com facilidade. Já tinha feito, como se gulosamente. Fiquei horrorizado com a Tive suficiente presença de espírito pa- que for a Londres, vou procurar a Sco-
sabe, minhas provas de aptidão como fal- idéia de, mesmo em sonho, ferir quem eu ra responder: tland Yard.
sário. Graças a esta fraude, consegui ven- amava. Os Henderson não eram meus ami- — É verdade! Deve ter caído quando — Perfeito — concordei eu. Mas passe
der as propriedades da família Mc Swan, gos. Relações agradáveis, só. Quando sei peguei as coisas no hotel. antes para me ver.
o que me trouxe cerca de 4 mil libras. A que uma pessoa pode tornar-se minha O incidente, porém, provocou, um es- — Claro — respondeu ele.
polícia nunca percebeu o desaparecimen- vítima, ela sempre me impede de pro- friamento. Antes de passar para a plata- — E , diga-me, você vai trazer a sra.
to dos Swan. var-lhe amizade. Rose me contou que, forma da estação, Arnold Burlin me disse: Burlin e sua filha? Ficarei contente em
Minha quinta vítima foi um moço des- sob a aparência do luxo, ela e o marido — Se minha irmã e meu cunhado não vê-las — convidei.
conhecido, Max. Mas vou falar dos núme- passavam dificuldades. Assim, também aparecerem até segunda-feira, vou avisar a — Eu lhe prometo que sim. Você é
ros 6 e 7: o jovem casal Henderson. não foi por interesse que os matei Archie polícia. muito gentil — respondeu o imbecil.
Archibald Henderson era um médico lon- tinha dívidas, e muitas brigas por causa de Mentalmente, inscrevi Burlin, sua mu- Não pude deixar de rir, do outro lado
drino. Tinha uma jovem e bela mulher, dinheiro surgiram entre ele e a mulher. lher e sua filha na lista de minhas próxi- do fio. Três ou quatro dias depois, a velha
chamada Rose. Desapareceram em feve- Em 1948, os Henderson partiram para mas vítimas. Eles iam avisar a polícia na sra. Burlin morreu. No dia seguinte,
reiro de 1948. A polícia jamais teria resol- Brighton, e ficaram no hotel Metrópole. segunda, mas no sábado receberam a se- Arnold leu a notícia do desaparecimento
vido o mistério, se eu não ajudasse reve- O ciclo de sonhos chegava ao ponto cul- guinte carta: de uma rica senhora, rhadame Durand-
lando que os matara. minante. Sentia-me doente. Archie tenta- "Meu caro Arnold, Deacon. Lia distraidamente, quando a úl-
Conheci o casal da maneira mais sim- tava me distrair: não lhe dava atenção. Já "Faz tempo que vocês não recebem tima linha da notícia o fez saltar:
ples do mundo. Eles tinham posto um estava tomado pela terrível necessidade. notícias nossas, e devem ter ficado preo- " . . . no dia de seu desaparecimento, a
anúncio para vender uma casa. Respondi, Acordava com aquele desejo atroz, impe- cupados. Infelizmente, naqueles dias, sra. Durand-Deacon tinha encontro mar-
porque era um bom método para entrar rioso. Era preciso que Archie fosse minha Archie percebeu que eu queria deixá-lo cado com certo John Haigh, que se apre-
em contato com as pessoas. Fiz isso uma próxima vítima. Sob um pretexto qual- assim que voltássemos a Londres. Discuti- sentou à polícia, a quem prestou informa-
porção de vezes. Os Henderson queriam quer, levei-o a Leopold Road e, em meu mos sobre isso em Kingsgate. Ele me ções e propôs participar das buscas" . . .
8.750 libras pela casa. Respondi, para escritório, matei-o com uma bala na cabe- acusava de lhe causar aborrecimentos e Arnold caiu em si. Num golpe, perce-
grande surpresa deles: "Não é muito caro. ça, usando seu próprio revólver, roubado esbanjar dinheiro. Ameaçou suicidar-se se beu tudo: o desaperecimento dos paren-
Se aceitarem 10.500 libras, estou de acor- durante uma noite em sua casa. Voltei a eu o abandonasse. Não havia outra coisa a tes; o da sra. Durand-Deacon; e aquilo
do"! Tempos depois, soube que Rose Brighton e disse a Rose: fazer, senão agir rapidamente. Ele tomara que ia acontecer a si próprio, à mulher e à
Henderson -tinha dito ao irmão: — Archie ficou doentf lá em casa. Na- dinheiro emprestado do John Haigh (vo- filha, se fosse me ver. Teve apenas que
— Acabo de. encontrar o maior dos da grave, mas quer que você vá vê-lo. cês se lembram, devem tê-lo conhecido fazer o esforço de apanhar o telefone e
imbecis. Ela foi comigo, sem desconfiar de na- em Berkeley), e assim comecei a executar discar três vezes o número 9, pata pedir
Ao que o irmão respondeu: "Quando da. No escritório, derrubei-a, já não me um plano que fizera para esta eventuali- socorro policial. Eu estava perdido.
um homem fala desse jeito, é melhor to- lembro como. Sentia-me protegido poi dade. Correu tudo bem, embora tivesse- A sra. Durand-Deacon foi a nona pes-
mar cuidado." Não lhe faltava intuição, uma mão invisível. Estava tão seguro que mos que mentir vergonhosamente durante soa que matei. Não gosto de chamar a isto
como se vê. deixei os corpos no escritório, enquanto uns tempos. "assassinar", porque o termo dá impres-
Logo em seguida, comuniquei aos procurava comprar uma máscara contra "Pensei que pudéssemos ir visita-los são de crueldade e sofrimento. Matar, ao
Henderson que não tinha conseguido reu- gás e novo recipiente, para a mulher. E , no fim desta semana, mas é preciso tomar contrário, é o resultado inevitável da von-
nir o capital necessário, mas eles não fa- num sábado à tarde, o belo corpo que algumas precauções durante mais ou me- tade de um Espírito todo-poderoso, que
ziam mais questão do negócio. Eu já ti- fora o responsável por todo o charme de nos três semanas. Evitamos as ligações me guiou e me ordenou tomar o sangue
nha ficado íntimo deles. Passamos muitas Rose Henderson estava derretido em áci- habituais de Archie. Ele está muito gentil dos homens e das mulheres. O homem é
noites juntos, em Fulham. do, como uma boneca de cera exposta ao e bebe muito raramente. Iremos a um joguete nas mãos do Ser Supremo.
EutocavaBrahms ao piano. E eles escuta- calor. Sua forma e sua cor desapareceram Newcastle na terça próxima. É tudo o que A mesma força exterior decidiu, agora,
vam, horas inteiras. Tinham um cachorro, lentamente, gigantesco torrão de açúcar queria dizer nesta carta. Vocês compreen- que chegou a minha hora de morrer, e eu
um magnífico perdigueiro irlandês de pe- que eu mexia com um grande bastão, pa- derão, logo que me virem. Só espero que aceito seu julgamento divino. Estou can-
lo ruivo, que se chamava Pat e que ficou cientemente, tranqüilamente. John Haigh esteja bem. A temperatura sado, além do mais. Meus olhos não
meu amigo. Lembrava um cachorrinho Voltei a Brighton, triste lugar popular, caiu bastante e eu preciso vestir algumas agüentam mais. Li muito e muito escrevi,
que meu pai me dera quando eu era me- e paguei a conta do hotel dos Henderson. roupas a mais. Vou comprar algumas na e tenho pressa de chegar ao fim destas
nino. Sempre gostei dos cães; e me lem- Peguei suas bagagens e Pat, o bom cachor- Dawes Road, logo que voltarmos. memórias. Sou obrigado, para continuar a
bro de ter escandalizado não sei que idio- ro, e voltei para casa. Era preciso então Espero que estejam todos bem. Não se escrever, a colocar os óculos dourados
ta, dizendo-lhe que, se tivesse de escolher evitar desconfianças. Escrevi ao homem preocupem. Lembranças à Mumsy." que pertenceram ao doutor Henderson,
entre matar um homem ou um cachorro, de quem os Henderson eram inquilinos, A assinatura de Rose enganou total- minha sexta vítima. Mas vamos à sra.
mataria o homem. Quando os Henderson em Fulham; e ao irmão de Rose, em Man- mente Arnold Burlin. Durante o processo, Ohve Durand-Deacon, a última pessoa
morreram, recolhi Pat por alguns dias; e chester, imitando perfeitamente a caligra- Burlin lembraria que Rose tinha usado nesta terra, de quem bebi um copo de
terminei alojando-o num dos melhores ca- fia e a assinatura da moça. Requintada- "Mumsy", quando ela normalmente dizia sangue.
nis do país, porque ficou cego. mente, usei um papel timbrado do hotel "Mummie". Havia também erros de dati- — Ela era, quando a encontrei, "uma mu-
Archibald Henderson era viúvo. E Metrópole. Expliquei que, em razão de lografia e de ortografia, mas naquele mo- lher no crepúsculo da vida", para usar os
Rose era divorciada. Tinha sido casada certas dificuldades, os Henderson tinham mento ele não se dera conta disso, pen- termos do procurador-geral em meu pro-
Henderson. Foi um grande companheiro aquele jovem apóstolo apaixonado pela Saí da prisão em novembro de 1933 e
para mim, e estou feliz de ter podido fa- pureza, quem se encontrava, apenas al- voltei para a casa de meus pais, que me
zer algo por ele. guns anos mais tarde, na prisão de Leeds, perdoaram. Meu empreendimento seguin-
Ê uma pequena vaidade, mas pode-se condenado por fraude. O que se passou? te valeu 4 anos de prisão. Escolhi o nome
admitir isto num homem que este prestes Primeiro, eram minhas mãos, minhas alvas de um advogado ao acaso, e abri em- seu
a morrer: gostaria que as roupas que eu mãos de artista. Toda minha vida eu as nome um escritório em outra cidade.
vestia no dia do julgamento fossem envia- adorei, com uma espécie de fetichismo Vendi aos clientes ações que não exis-
das ao museu de cera de madame que não posso explicar a mim mesmo. Na tiam. A Grã-Bretanha estava em guerra,
Tussaud, para que vistam minha efígie. prisão, sofro por não ter sabão e água quando me vi em liberdade outra vez.
Desejo que o conservador do Museu quante, para limpa-las várias vezes por Procurei emprego na Defesa Passiva. E fo-
Tussaud cuide para que minhas calças te- dia. ram os horrores dos grandes bombardei-
nham sempre um vinco impecável. Engor- Trabalhei um ano numa fábrica de mo- ros sobre a Inglaterra que me fizeram
dei na prisão: é desagradável. Espero que, tores, depois um ano num escritório, aí abandonar a idéia de um Deus justo.
para minha efígie, conservem-me uma li- um ano na companhia Shell. Cheguei, as- Estava um dia com uma enfermeira da
nha mais esbelta. sim, à maioridade e decidi trabalhar por Cruz Vermelha num posto de guarda,
Existe ainda uma revelação engraçada. minha conta. Montei uma empresa de se- quando ouvi as sirenas. Saímos para nos-
Fiz minhas experiências com ácidos na guros e publicidade; em 1933, montei ou- sos postos. De repente, escutei um silvo
prisão, quando estive condenado por falsi- tra empresa, de anúncios luminosos. Tudo terrível e me atirei sob um portão. A
ficação. Eu trabalhava na oficina. Com- isso deu muito trabalho e pouco lucro. bomba explodiu com um estrondo do
binava com os prisioneiros que trabalha- Compreendi, então, que a honestidade Apocalipse. Quando levantei, machucado,
vam no campo, e eles me traziam ratos. não dá lucro. Foi em 1934 que dei o pas- uma cabeça rolou a meus pés. Era a de
Ficava horas observando a lenta decom- so decisivo. minha companheira de todos os momen-
Haigh foi preso em fevereiro de 1949; posição dos ratos no ácido. Ratos e ho- Percebi que o sistema de venda e alu- tos, que era tão alegre, tão bonita. Como
a defesa ainda tentou algo: insanidade. mens . . . como diz a Escritura. guel de automóveis era mal organizado e Deus permitiu esse honor?
Da porta de minha cela, sei que 15 pas- podia permitir falcatruas fáceis. Entrei
Agora, não creio mais em Deus, mas
sos me separam do cadafalso. É pouco pa- numa sociedade dessas. No mesmo ano,
numa Força Superior que nos empurra a
ra transpor a eternidade. Chove hoje. Ve- em julho, casei com uma jovem de 21
cesso. Devo dizer que, com ela, fui negli- agir e rege misteriosamente nosso destino,
jo a chuva bater no alto dos telhados que anos. Beatrice Hamer. Desposei-a para
gente. Não que seja o meu natural. Agra- sem se preocupar com Bem ou Mal. Con-
vislumbro por cima do muro da prisão. deixar meus pais. Não podia mais ficar
da-me repetir que gosto mais de uma in- tei como.ela me empurrou a degolar os
Ela me transmite o mesmo desejo que com eles e seus princípios religiosos, ago-
justiça do que de uma desordem. Mas eu seres humanos. E foi a mim, que amo e
senti várias vezes, sob o arvoredo de uma ra que tinha escolhido a vida desonesta.
me sentia tão protegido pela força supe- adoro a menor, a mais frágil das criaturas,
magnífica floresta, quando solitário pro- Mas minha felicidade conjugai foi curta.
rior, que me esqueci das precauções mais que Ele ordenou cometer essas mortes e
curava um objetivo que, quem sabe, não Em novembro, foi posto na cadeia. Tinha
elementares. A sra. Durand-Deacon mora- beber o sangue humano. Isso não é pos-
existe mais. Penso nestas linhas escritas vendido automóveis que não existiam. Mi-
va na mesma pensão familiar que eu, em sível: meus nove mortos precisam ter sua
por um grande homem da antigüidade, nha mulher decidiu nunca mais me ver.
Kensington. Agradei-a falando-lhe de mú- explicação em algum lugar deste mundo.
não sei mais quem foi: "Não antes que as Durante meus dias na prisão, deu à luz
sica, arte, literatura. Tivemos também Não é possível que sejam absurdamente
profissões sejam paralisadas e que as lan- uma menina, que foi adotada por desco-
conversas filosóficas e religiosas. Ela via apenas o sonho de um louco cheio de bru-
cadeiras cessem de correr, Deus não de- nhecidos. Existe hoje uma jovem de 14
em mim, apesar de meus 40 anos, "um talidade e furor, como disse o grande
senrolará o quadro nem revelará o por- anos, que ignora que seu verdadeiro pai
jovem homem que tem tudo o que se po- Shakespeare.
quê". sou eu, John Haigh, aquele que chamam
de desejar". Existe uma vida eterna? Logo mais sa-
de Vampiro de Londres.
No processo, o público ficou excitado Nasci a 24 de julho de 1909, em berei. Esperando, adeus . . . a
com o motivo engraçado que a levou a Stanford, Lincolnshire. Meus pais estavam
meu apartamento. A velha senhora sofria na miséria. Meu pai tinha 38 anos; minha
por não ter mais unhas, e eu lhe disse que mãe, 40. Meu pai era contramestre eletri-
poderia fazer-lhe outras de plásticos, em cista, mas não tinha trabalho. Minha mãe
minha oficina. Foi assim que ela partiu está certa de que os meses de sofrimentos
para sua última viagem, a 18 de fevereiro que precederam meu nascimento são a
de 1949. Matei-a com uma bala na nuca. causa daquilo que ela chama de minha Enforcado ontem o
Fiz um corte em seu pescoço e bebi um doença mental. "A culpa é minha", disse 99

copo de sangue. Ela trazia uma cruz amar- ela, "por que não compareço diante dos
"Vampiro de Londres
rada ao pescoço. Senti uma alegria infini- juizes ao lado de meu filho? sou tão res- LONDRES, 10 (ATP) —Sem o
ta em entregar a cruz. ponsável quanto ele!" menor Incidente, John Georgt
Já disse que fui negligente com a sra. Meu pai era o chefe de uma comuni- Halgh assassino da viuva Durand
Durand-Deacon. Queimei sua bolsa pela dade religiosa. Eles me educaram num cli-
Deaoon e, provavelmente, de oito
metade; não dissolvi completamente o ma inumano, pior que num mosteiro. So-
corpo. Certo, agi mal. Mas imaginem que bre a fronte de meu pai há uma cicatriz, outras pessoas, foi enforcado hoje»
eu precisava introduzir um corpo de 90 uma espécie de cruz deformada. Ele me ás nove horas, no patibulo da pri-
quilos num barril. Não é suficiente para explicava que era a marca de Satã. Ele são de Wandsworth.
explicar a negligência. Talvez eu estivesse tinha pecado, e o Diabo tinha punido.
simplesmente cansado de matar, e desta - Se você comete uma falta, Satã o
Após uma instrução sensacional»
missão confiada pela divindade superior, e marcará do mesmo jeito. um inquérito no qual interveio to*
quem sabe ansioso para acabar com ela e Durante anos, olhei a fronte das pes- da a policia da Inglaterra e usa
encontrar o repouso, mesmo que fosse na soas, para ver se tinham a marca. E achava processo sem imprevistos, seguido
asquerosa cela de terra reservada aos con- que meu pai era o único a ter pecado, e de uma inevitável condenação â
denados à morte. Cansado de carregar o que o resto era inocente À noite, fazia
corpo da velha senhora, saí para tomar meu exame de consciência. Ia instintiva-
morte, veio encerrar este estranhi»
um chá. Quando voltei, vi que tinha dei- mente para perto de um espelho, para ver episódio da historia criminal da
xado a porta aberta. Qualquer pessoa po-se a marca tinha aparecido em minha Grã-Bretanha. Estranho por mais
deria ter entrado, ter visto o cadáver. Ma- fronte. de um titulo, porque Haigh, coa*
tei-a numa sexta. No domingo, estava na Fui à escola só até os 17 anos. Fazia
casa de amigos. Uma jovem me disse de parte do coral na igreja. Domingo, levan-
siderado o autor de inúmeras "£&»
repente: tava às 5 horas para assistir à missa. Fica-
çanhas", e que teria mesmo feita
- Não me olhe desse jeito! va na igreja o dia todo, até a missa da confissóes á policia, Jamais abriu
Desviei o olhar, mas continuei a vê-la noite. Voltando, encontrava meus pais re- a boca em publico, mesmo dturan*
em pensamento. Ela estão disse: zando, e me ajoelhava junto deles. As te seu processo.
- Sinto que você continua me olhan- jovens da minha idade não gostavam de Oficialmente, Jamais se saberá d
do. mim. No entanto, eu estava sempre pron-
E gritou: to para ajudar o próximo. Adorava os ani- estranho destino do dr. Arthur Hen»
- Assassino! mais. Dava minha própria comida aos cães derson e sua esposa, de Donald
Este poder de adivinhação me pareceu vadios. Amava também os coelhos e as Mcs-wann, sua esposa e seu filho,
incompreensível. Logo, os policiais que aves selvagens. da "mulher esbelta de cerca de 85
investigaram o desaparecimento da sra. Em 1927, com 18 anos, acreditava que anos", assassinados por Haigh.
Durand-Deacon descobriram em minha tinha uma grande missão a cumprir entre
casa do restos de seu corpo e de suas coi- os homens. Comecei a pregar; e descobri
sas. esta coisa maravilhosa: eu tinha o dom da
Agora que tudo terminou, queria dizer palavra. A multidão de fiéis me ouvia pal-
algumas coisas. Uma de minhas últimas pitante e lágrimas corriam sobre os rostos.
recordações vai para Pat, o cão dos Meus pais ficaram orgulhosos. E era eu, "O Estado de S.Paulo, de 11/8/1949.
de novo Desde que eu cheguei de Londres que
TEXTO DEC A E T A N O VELOSO

FOTOS DE M A R C O S MACIEL

que eu sempre mais gostei: cantar. Talvez,


ouço uma voz geral a se queixar do meu pra um público ainda traumatizado com o
desprezo pelo público. Recomendo aos que eu aprontei com a história e com o
interessados a procura de um escrito meu que a história aprontou comigo, isso seja
publicado no ultimo número do VERBO difícil de compreender.
(ex) ENCANTADO. Antes eu queria fazer Mas eu já não quero e já não sei enten-
história, agora quero fazer música. Se é der os problemas do público, já não quero
que a gente pode dizer assim. Mas é muito explicá-los. Se estou aqui escrevendo é
mais gostoso e mais difícil. No país de porque, como um EX-algumacoisa, me
Jorge Ben, de Naná, de Gilberto Gil, de sinto à vontade nesta revista, de um jeito
Milton Nascimento, no país de João Gil- que há muito não me sinto em papel im-
berto, de Tom, de Pixinguinha, de Jacó, o presso.
meu Araçá Azul pode apenas ser perdoa-
do como o esforço de alguém que tem
vontade de começar a cantar. Agradeço à Um iock de Péricles Cavalcanti: "Eu já não
história o fato de ter tido de passar uns agüento mais esse verão baiano. Ele me faz pen-
anos fora do Brasil ("como se ter ido fos- sar que o homem é desumano."
Não quero que seja assim.
se necessário para voltar"): os espetáculo?
que fiz na Europa — e, em conseqüência,
A concha acústica do Teatro Castro Alves é
os que fiz no Brasil depois que voltei - um lugar muito bonito pra se cantar. Tem uma
foram muito mais voltados para o canto e' vegetação linda em volta. Tem um bambual. O
para o toque entre os músicos do que pa- vento bate nos cabelos. Eu queria que, num da-
ra o público. do momento, se desligasse toda a iluminação
elétrica e a gente cantasse a oração de Mãe Me-
Quando me convidaram para fazer um nininha, todo mundo junto, à luz das estrelas.
circuito universitário, não pude evitar que
o caráter especial desse público interferis- Estou conseguindo fazer umas transas de voz
se no trabalho. Ensaiei com a turma aqui que já começam a valer a pena escutar.
na Bahia, em uma semana, um espetáculo
mais carregado de "idéias" do que todos O público que estava na concha acústica era
os outros que fiz de 71 pra cá. Essas todo baiano. Os Mutantes e os Novos Baianos,
"idéias" eram todas no sentido de testar o no verão passado, tiveram uma platéia ótima,
gosto musical dos universitários agora, sua constituída principalmente de turistas. A idéia
de que aquilo ali e lugar de baixo astral é uma
posição diante da música popular. Os cha- idéia aqui da província. Tudo não passou de
mados circuitos universitários, no entan- uma briga de província, eu acho.
to, não passam de uma promoção bolada
por uma empresa de viagens de São Paulo, Quando eu estava deitado no chão, cantando
em colaboração com os centros acadêmi- o trecho da Volta da Asa Branca que fala em
cos (é assim mesmo que se chamam? ) das terra molhada e mato verde eriqueza,alguém
universidades do interior, como parte de gritou da platéia: mete o dedo no o . . . dele
que ele levanta.
transações comerciais entre aquela e estes.
Você é levado de cidade em cidade num
ônibus (o que, diga-se de passagem, é um Quando eu cantava "ai ai o povo alegre mais
grande barato) para se apresentar em giná- alegre a natureza", alguém gritou: o que é a
natureza!... - grande parte do auditório riu.
sios de esporte de péssima acústica, diante Eu mandei todo mundo à p . . . que p . . . , dis-
de uma platéia variada, impossível de ser se que não ia haver mais p . . . nenhuma e saí
caracterizada como "universitária". do palco.
D e s n e c e s s á r i o dizer que minhas
"idéias" foram por água abaixo. Graças a O senhor Caria, diretor não-sei-que-lá do
Deus. Depois de um mês on the road, o Teatro Castro Alves, telefonou para a polícia.
show tinha virado uma brincadeira de
canto e dança e transação entre os músi- Dizem que a chegada dos policiais foi aplau-
cos. O que me fez abrir mão da idéia de dida por boa parte do público. O delegado foi
não apresentá-lo fora do circuito. Em São firme na abordagem - "Recebi a queixa de que
o senhor agrediu o público com palavras gros-
Paulo ele foi recebido pelo público e pela seiras, é verdade? " - "É". - "O senhor preten-
critica com um respeito que nos surpreen- de continuar o espetáculo? " - "Não".
deu. NoRio houve um incidente difícil de
ser explicado ou mesmo narrado: diante O delegado foi muito gentil comigo, com mi-
da tentativa de concentrar-me e à platéia nha mulher e com meus pais que me
pra cantarmos juntos e de um modo doce acompanhavam.
a oração de Caymmi para Mãe Mmininha
do Gantois, o pessimismo negro e dolori-
do de algumas personagens dessa farsa tão Foi pedido um exame de embriaguez e into-
insuportavelmente real chamada barrape- xicação. Fui levado para o pronto-socorro, onde
o médico que me examinou me disse - "Vejo
sada-portodabarralimparembepe—rio de que você está em seu estado normal". Não havia
janeiro—cidade de são salvador-setenta se hálito de álcool, congestionamento dos olhos e
manifestou de uma forma tão nítida, que a salivação era normal. Contudo, colheram uri-
eu, com saudade de moreno e num dia de na, sangue e saliva para exame de laboratório.
muitas emoções de amor, chorei e quase
paro o show sem, contudo, xingar nin- Os resultados desses exames demoraram dias pa-
guém. Em Belém (minha cidade querida), ra aparecer. Os jornais de Salvador - que de-
em Recife, em Fortaleza, em Brasília, em monstraram uma incrível má vontade para co-
toda a parte houve sucesso e problemas. migo — fizeram um suspense sensacionalista em
Piadas, protestos solitários da escuridão torno dessa espera. Por fim foi publicado um
resultado oficial acusando duas gramas, por mil
da platéia, desconfiança, medo. Em Goiâ- de álcool no sangue. Alguns amigos médicos me
nia teve um dia que a platéia inteira co- dizem que isso significaria no mínimo coma al-
meçou a latir. Estou absolutamente segu- coólica, de qualquer modo parece mesmo repre-
ro de que essa conversa que sai nos jornais sentar uma percentagem muito alta. E eu não
bebo há cinco anos.
e nas salas, de que eu faço uma música
avançada demais para o público brasileiro,
é falsa. Tenho repetido muito que não me
considero na vanguarda da música popu- Triste Bahia. Tudo legal.
lar brasileira nem pretendo estar nem es-
tou mais interessado em saber o que isso E não me venham com é proibido proibir.
vem a ser. Estou apenas tentando encon-
trar a paz necessária pra fazer aquilo de
O Fim
T E X T O D E FRANCISCO PETIT
Meia
Laranja
A Warner Brothers trouxe para São Paulo o
filme de Stanley Kubrick, "Laranja Mecânica".
Diante da posição da censura, que admite a exi-
bição com cortes de aproximadamente 30 mi-
nutos, a distribuidora convidou 20 críticos para
uma sessão reservada, dia 22 de outubro. Os 20
iam ver e dizer se os cortes estragariam demais a
obra. "Claro", responderam os críticos, depois
da sessão.
Mas a convocação ficou meio sem explicação
porque a Warner Brothers anunciou em seguida
que ia lançar o filme de qualquetjeito, mesmo
com 30 minutos a menos. Mais uma coisa: pe-
diu aos críticos que não noticiassem a chegada
do filme, nem a sessão especial nem nada.
A Laranja Mecânica conta a história de um
1979 - Cruzamento das ruas São Luis e Ipiran- A era do "consumismo" tinha se tornado a epi- marginal que sofre uma lavagem cerebral do
ga, já faz dez dias que o congestionamento con- demia mais negra que a criatura humana já ha- chamado sistema. Inteiro- o filme provocou a
tinua. A cidade foi interditada totalmente, a po- via conhecido; os meios de divulgação, o comér- indignação de um venerando crítico paulista,
pulação se locomove a pé, os executivos estão cio, (Marketing) a tecnologia barata, tinham que saiu da sessão com esta: "é mais um sinal da
usando helicóptero etc, ainda bem que o metrô conseguido destruir todos os valores do homem, conjuração comuno-capitalista". E como
está ajudando um pouco, as passagens são racio- tinham trocado tudo e nos levado a um suicídio Kubrick lança mão de praticamente todas as
nadas, só para pessoas cujo transporte é real- coletivo, o consumo de produtos era uma doen- técnicas de filmagem - câmara lenta, câmara
mente indispensável, operários, funcionários pú- ça incurável o automóvel sem dúvida nenhuma rápida closes de aproximação até distorcer as
blicos, médicos. e o maior responsável por esta calamidade e figuras, travellings - o mesmo crítico qualificou
também o mais medíocre dos inventos, primá- ofilmede "uma vitrine da avenida Paulista: tem
Ninguém pode usar o transporte para passeio, rio, vulgar, traiçoeiro, promete muito e não dá um pouco de tudo".
compras, ou mesmo alguns negócios menos im- nada, muito pelo contrário, vocês já viram al- Foi isso também que provocou o assombro
portantes. gum anúncio de carros dizer algo como "neste de outro crítico: "Laranja Mecânica" está desti-
modelo novo da Volkswagen você pode morrer nada a influenciar diretores - jovens ou não -
O congestionamento é tão grande que os pedes- unto com a sua querida família a menos de 100 pelo menos durante esta década. O virtuosismo
tres andam por cima dos automóveis, nem mes- Í cm horários, ele é perfeito, incomparável para de Kubrick é tão grande que ele chega a tomar
mo bicicletas é possível usar, a prefeitura im- você acabar com tudo, não tem freios, é mal uma cena (a datentativade suicídio de Alex, na
provisou uma rua por cima dos automóveis, dimensionado, não tem estabilidade, é extrema- casa do escritor), lançando a câmara do alto do
com "tábuas" o que com o acumulo contribui mente frágil, e vem em 5 novas cores, com ban- edifício, dando com isso a impressão de uma
para o perigo que com o menor descuido essa cos reclinaveis, maçanetas, "top shock" e pára- queda terrificante".
gasolina pode ocasionar uma catástrofe geral em choques "une schock". Outro acha que o mais importante no filme é
toda São Paulo. O cheiro é insuportável pois a crítica que Kubrick faz da cultura contempo-
nessa época de calor o combustível é muito vo- O automóvel custou para nós mais do que uma rânea que forma todo o décor do filme, da mes-
látil Em New York, a situação é muito pior, foi guerra. A infra-estrutura queteveque ser criada ma maneira como a tecnologia formou o décor
declarada calamidade pública em todo o país. para ele andar, se abastecer, ser guardado. Co- de "2001: Uma Odisséria no Espaço". Dá como
Buldozers limpando as estradas. meçou com as estradas. Não eram suficientes, exemplo a cena em que Alex, o personagem
boas, aí as calçaram com paralelepípedos. Estes central mata lady-Cat com um falo-escultura
Mate seu carro antes que ele o faça. se tornaram muito barulhentos e os carros pula- monstruoso.
vam muito. Veio o asfalto, rodovias, com duas - Alex demonstra que a arte não tem moral
Nos EEUU a situação era a pior possível, nin- mãos asfaltadas, onde os carros rodavam suave- nem compromisso. Ela serve para tudo, para sal-
guém sabia mais como resolver aquela situação mente, mas a indústria foi crescendo e as estra- var ou para matar. Da mesma maneira, as cadei-
irreversível, pois era uma cadeia, os computa- das ficando pequenas, aí aumentaram a rodovia, ras da leiteria onde ele e sua turma vão tomar
dores já estavam programados pelos próximos duas pistas, quatro pistas, seis pistas, doze pis- leite drogado reflete o mesmo mito de uma épo-
anos, quer dizer, se simplesmente parassem as tas, de cada lado, viadutos fantásticos, trevos ca de arte sem moral. Este é o ambiente do
fábricas que produzem automóveis, o colapso sofisticadíssimos, pedágios, postos de reabas- mundo "marginal". Terminado esse mundo,
seria da indústria de autopeças, mesmo esta pa- tecimento, motéis, as cidades tinham mudado com a prisão de Alex, desaparecem esses símbo-
rando a indústria de aço também teria um co- de cara por causa do carro, as avenidas não de- los, embora permaneçam outros vestígios da ci-
lapso pois não teria onde estocar seu produto, ram conta, aí começaram os túneis, os elevados, vilização industrial: o acrílico, os móveis de vi-
assim como usinas de aço, os fornos, sem dizer as vias expressas imensas, garagens, parques ver- dro ou de plástico, os cenários arrojados, de
a bagunça que estava acontecendo nas fábricas des transformados em estacionamentos. uma arquitetura do futuro.
de pneus, na Pirelli conseguiram fazer uma ver- "Porralouca" é a tradução aproximada de
Kissinger tinha uma visão muito clara da situa- Clockwork Orange, título do livro de Anthony
dadeira montanha de borracha, sem ser menos ção pois foi um dos primeiros homens a mudar O automóvel é o responsável pela maior tragé-
dramática a situação na produção do petróleo, dia humana, nenhuma guerra, epidemia, peste Burgess, e que em gíria Cokney quer dizer desa-
algo nesse mundo, e tinha o senso do real da
puxa isto era realmente um drama, depois do função do homem, numa sociedade que tinha ou catástrofe matou tanta gente, mutilou, en- justado, agressivo e desequilibrado, que odeia as
mundo inteiro ter lutado pelo ouro negro du- como habitat a terra, e tinha que- preservar o venenou, destruiu famílias. Nos anos 70, provo- instituições e os seres e os agride, inclusive fisi-
rante tantos anos, ter causado tantos milhões de cou uma guerra no meio do oriente por causa camente, mas por razões purante psicológicas,
que havia de bom nela, pouco, a essa altura, sem nenhuma politizaçâo nem ideologia , se-
vítimas, até parecia que sem petróleo o mundo quase nada. Ele ficou irritadíssimo com a devas- do combustível Ópio da sociedade de con-
pararia, e no fim não foi nada disso, o petróleo sumo, dos produtos de consumo, dele nascem o gundo o tradutor do livro.
tação da Amazônia.
realmente parou, o mundo e ele junto. plástico, materiais sintéticos, tecidos, produtos
Ele dizia que não era justo - "só porque fize- de beleza, combustível para carros, motos, lan-
Coitados daqueles reizinhos árabes, há meses mos isso nos Estados Unidos eles tinham o di- chas, helicópteros, aviões, locomotivas, move
que não vendem um pingo de ouro negro, aliás
agora mais conhecido por "Petróleo Maldito",
nada foi mais prejudicial e mal aplicado do que
o petróleo.
reito de fazer a mesma coisa? "

Não, isto não é possível se nós fomos irrespon-


sáveis, levianos, devastando o nosso país, sugan-
fábricas, usinas, navios, enfim, o petróleeo
move o mundo.

Kadafi, coronel do exército líbio que foi um


2050
do tudo o que ele tinha de bom, não significa dos primeiros inimigos do consumismo, disse Quem vai morrer até o ano 2050
Na Europa no mesmo dia se reunia em Paris um que deve-se fazer a mesma coisa, agora que te- que os "dólares" da Líbia não seriam gastos em
conselho especial formado pelos principais man- mos informações do valor da ecologia, do equi- produtos fúteis, inúteis, que só serviram para Eu. Meus filhos todinhos. Meu pai. Idem mi-
datários do mundo. líbrio da natureza, hoje nós pagamos por isto, corromper a sociedade. nha mãe. Meus avós que restam. O presidente
somos um país condenado, envenenado, o nos- da República. Charles Chaplin. 270 milhões de
40 Km fora de Paris, pois a situação nessa cida- so sangue está cheio de germes, os pulmões são Ele usou a riqueza da Líbia para dar de volta a brasileiros, todos os maiores artistas vivos que.
de era das piores, puxa já fazia 5 anos que o pretos, cheiramos mal, e isto não tem remédio, dignidade do povo árabe, através da cultura, re- você conhece, sem contar você.
turismo vinha decaindo vertiginosamente, agora já é crônico, nossos filhos já nasceram assim ligião, mas infelizmente não sobreviveu à pres- Vai morrer o Papa algumas vezes, vão morrer
você não via mais um estrangeiro em Paris, os contaminados. são mundial, até ser envolvido numa guerra no milhões de fiéis, a Sophia Loren vai morrer,
museus vazios clubes, boates, tamanhas as difi-
1
Oriente Médio, sob qualquer pretexto amarelo, também o Drcmmond, o Nixon, a Golda, o
culdades de transito. Mas, nós merecemos sem dúvida, o povo-ameri- verde, ou vermelho. Gato Barbieri, o Grande Otelo, o Nelson Rodri-
cano fez a maior contribuição da história da gues, a Elke Maravilha, o Gil. Todos os minis-
Um amigo meu levou 6 horas de New York a humanidade do supérfluo, nunca foram criadas, Fatos como este eram lembrados tristemente tros de Estado vão morrer, na França. E vários
Paris; pois bem, de Orly ao centro de Paris, foi inventadas, promovidas e vendidas tantas imbe- por Alex como um dos maiores erros cometidos imperadores ainda porventura existentes.
obrigado a ir andando. E suas malas só chega- cilidades, não posso imaginar como 200 milhões em defesa do conforto do mundo ocidental. I bilhão e meio de chineses
ram no dia seguinte. Ainda bem que tinham de pessoas juntas, podem ser tão irresponsáveis 280 milhões de franceses
sido proibidas algumas ruas e boulevars para uso ao mesmo tempo. 430 milhões de americanos
Nós não levamos a sério o maléfico efeito que
exclusivo de bicicletas, veículo mais procurado, criariam em nós todos esses meios de financia- II milhões de uruguaios
(você só encontra no mercado negro). Nós confundimos tecnologia, ciência, indústria, mento, crédito, prestações, isto fez com que tu- 48 milhões de argentinos, (inclusive Perón)
conforto, pela simples ganância imediata e ma- do se tornasse monótono, estereotipado. 1 bilhão e 200 mil indus
IncríveL até andar a cavalo tinha voltado a ser terialista das milhões de besteiras que nós ven- Enfim, trata-se de genocídios.
uma pratica no interior da França, muito usado díamos, e que acabávamos achando que estava- Vão morrer: (faça a sua listinha particular;
pois as estradas já estavam saturadas. Alex convidou Kissinger a almoçar no campo,
mos contribuindo para o conforto do mundo, a num velho moinho onde faziam um cabrito as- bom divertimento).
paz mundial sado .Fomos andando pelo campo, fazia tantqs
Kissinger, atual presidente dos EEUU, discutia anos que não pisávamos naterra,sentíamos o
com Ãlex, da Alemanha, a situação a que a Éramos o "Homem do Ano" enf vendas "Ho- cheiro dos pinheiros, do capim, sentir os pés
tecnologia descontrolada tinha chegado; isto era mem do Ano Americano" o "Homem do Ano pisando na terra. O vento geladinho, que batia
resultado de anos de descontrole, desonestida- do Vídeo". De fato éramos os maiores inimigos no rosto dos dois homens, dava-lhes uma sen-
de, enganando o público com falsos produtos, do homem. sação de estar revivendo, respiravam profunda-
falsos símbolos de status que aparentemente mente, como se aquele fosse o último ar puro,
iam trazer mais conforto, mais bem estar, e de Alex começou a falar sqbre o trabalho iniciado ou semi-puro do mundo.
repente se tornaram uns monstros, destruidores há alguns anos pelos países europeus para recu-
da humanidade, da sensibilidade, do amor pelo peração da ecologia ambiental e comentava: "se
real, pelo autêntico, ninguém mais sabia distin- Puxa, me lembro de um fato que ocorrera em
vocês tivessem aplicado todo o dinheiro que 1973: visitando um hangar de uma companhia
guir o real valor das coisas, era tudo material. gastaram falando de ecologia, natureza, ar puro, aérea ao norte da Inglaterra, tinha um avião de
em um trabalho real, e não em conversas, não combate, era fantástico; quando olhei para den-
Estamos intoxicadas, envenenados para sempre, estariam na situação que estão; nós já agimos tro, onde o piloto sentava, senti uma terrível
conseguimos confundir as coisas todas, como diferente, ficamos quietos e fizemos algo. Hoje, angústia. A
temos capacidade de estragar tudo o que toca- a Europa Central talvez seja o único lugar da
mos. terra possível de ser sahro." (F.Petit é publicitário, um dos sócios da DPZ).
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O que há de verdade fora das quatro linhas juiz espanhol - conversando à beira da piscina. 95109 LET ME COOK AND SERVE YOUR
de um campo de futebol, além dos alambra- E evidente que pouco adiantava apenas eu saber N E X T M E A L ! Try It once for fun!
dos? Muitas vezes chego a pensar que além do disso. Free Info & deliclous suggestlons.
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suor dos 22 jogadores, durante 90 minutos, na- Esperei passar mais algum tempo para deci-
da existe. O futebol passa a ser um trágica men- dir o que faria. Tinha tempo de sobra, meu jor- MASSAGE BIRTHCERTIFICATE
tira, uma farsa, que feliz ou infelizmente, o po- nal é vespertino. Queria que o tempo dos outros
vo ignora. se esgotasse. My nanie is Wendyve. I nave Needed. 90 Lark Center Drive
Pergunto-me a cada momento, até que ponto Voltei ao apartamento de Zizinho. Ele achou long blontf hair & a pratty face Sana Boas, zSajjL „
é justo dizer para aquele torcedor que o seu grave a situação, e por isso chamou Mário l would like yoo to come in &
time ganhou roubando, com o juiz na gaveta. Vianna. Depois de ouvir a história. Mário grita- see me. 493-3016. G A Y CHURCH
Afinal ele não faz outra coisa senão trabalhar, va: Churcrofthe
criar os filhos do jeito que Deus permite, e tor- - Vou lá com o meu revólver!... B E L O V E D DISCIPLE
cer para seu time. Descontrolado, gritava: New Building
Pergunto-me também se é justo usar a inteli- - Vou seqüestrar o juizl! 348 W. 14th St. nrrfhAve.
gência que Deus me deu, para adquirir um nível • • M i n i s t r y of Concern, ipeclai SUNDAYSERVIC2PM
Zizinho avisou Antônio do Passo. Havia um Greek Orthodox ministry to ali COFFEE HOUR 3PM
médio de cultura, e ludibriar o povo, o homem sujeito meio chato dizendo ser da Voz do Gay men & women, pri«onera, Come í. see your new
de marmita que paga mais de vinte por cento do Brasil A princípio estranhei a rádio oficial co- hospitalizei persons ít military Church ond Communlry Center 242-461*
seu salário para sentir-se um deus, rei dos reis, brindo a Copa, mas era verdade. Ele queria que PO Box 386 S.F. 864-8205
ao se encarnar na figura de seu craque predileto. ^..uu - a tiyCHA. t\k IWun vuvi w
eu fizesse a denúncia em canal para o nosso
URGENT! A T T R A C . F 18-26 t õ

L
Se hoje, quase quatro anos depois, o povo país. Suas mãos tremiam.
5*7" for marriage soon. P m 22,
soubesse que o Brasil ganhou a Copa do México
no apito, subornando árbitos, qual seria a sua
Não sei por que me recordava de João Etzell.
Uma vez ele me disse que havia empatado o IMPEACH engineer, F A I T H F U L , dark.gdlkg
foreign st. to stay here. 297-1728
reação? jogo entre Rússia e Colômbia na Copa de 62; e
Quase não pude acreditar, quando ainda me- depois, tinha sumido com Esteban Marino para RICHARD NIXONl . ^ U i A U a * » »M
nino disseram-me que João Etzell havia ganho o
campeonato para o Coríntians. Estávamos em
1954, e eu que sempre imaginava que os verda-
beneficiar nossa seleção nas finais, por causa da
expulsão de Garrincha. RALLY • • G a y Aliance (GAA), 24 hour
legal assistance and r e f é r r a l s e r -
vlce for Gays O N L Y . Drop In
Antônio do Passo foi ver o que podia fazer, EXPOSITION PARK
deiros donos do título do IV Centenário eram mas mesmo assim o juiz espanhol roubou o nos- Center, 225 Turk, S F l l a m - U pm
Gilmar, Cláudio, Luizinho e Baltazar. so time. Acontece que do meio do campo para DEC l s t S a t . 771-3366.
Foi preciso crescer um pouco para entender a frente, o Brasil era perfeito. Não era qualquer 1 p.m. 473-2350
que João Etzell era árbitro de futebol ladrão que iria derrota-lo. D O M I N A N T Y O U N G man loves to
HUMPHREV BOGART LOOKING spank young ladies. write me now,
Em 1967, já como jornalista, escrevi uma sé- Depois desse jogo contra o Uruguai, apare- FOR L A U R E N B A C A L L
rie de reportagens em parceria com Hedyl Vale ceu o belga Vital Loreaux no vestiário brasilei- Box 534. Corte Madera. Calif.
This i s not a sex ad (sorry) but
Júnior: Juiz, ladrão e herói". Vesti-me de juiz ro. Pedia que nossos dirigentes intercedessem a genuine straight ad from a rather
para conseguir o flagrante de suborno; e o para que ele pudesse apitar a final da Copa. special kind of 45-year-old man i,Chorle$ Ciprlch^un not
Hedyl descobriu como agia um juiz ladrão cha- Brito logo foi a favor: looking fora rather spedalIdndof responslble for any debts Incurred
mado Domingos Maneiro. young woman i n her twenüea. Pm by my wlfe.Alba. who is no longer
- Ele é um cara legal Seria ótimo se fosse of my bedtVtoord.
Muitos dirigentes me chamaram para um escolhido. a mulüfaceted editor, author, c o l -
"acordo"; respondi a uma dezena de processos, Por causa disso tudo, no ano da Copa fico umnist and consultam, nationally
e fui acusado por muitos cartolas de destruir o mais nervoso. O que. será que vai acontecer este known i n my field. Divorced no
futebol canarinho do Brasil. ano? Ainda mais com João Havelange candida- dependents, nave a Mustang íive
in luxury apartment i n Berkeley S L A V E WANTED — Live-in pos-
Outro dia, encontrei-me com Airton Vieira to a presidente da FIFA. sible wittr benevolent autocrat i n
O assunto já tinha virado rotina na redação, north càmpus area, with flreplace,
de Morais - aquele juiz conhecido por Sansão. study, beam ceillngs, deck, dish- downtown S . F . — (56 ô^**, 220)
Conversamos longamente e ele mostrou-me uma mas nenhum de nós conseguia definir exata- washer, automatlc self-cleaning Telephone (415) 775-4806 anyBme
carta com o timbre da CBD que era de cortar o mente aquela unidade, solidariedade no Palmei- oven, etc. Pm poliücally liberal
coração de qualquer brasileiro. A carta era de ras. Muitas vezes falei no nível cultural da but not radical, and Pm rather a n ü -
Peter Pullen - representante do nosso futebol maioria dos seus jogadores: cinco na faculdade Establishment. I dig young people
na Inglaterra - versando sobre corrupção de de Educação Física, o Dudu contador, etc. who nave got i t together but can't Mature woman needed lo share a new
árbitos. O grau de corrupção é tão primário que Confesso hoje que eu estava errado. O que stand those whose heads are life in the Canadian wilds. Lets slart
aquilo foi enviado por carta, sendo intermediá- une o Palmeiras é a fé. A maioria está ligada screwed up—but this applies to from scratch away from pollution high
rio um jornalista, pai cair em mãos tão estra- numa corrente de espiritismo, liderados por those of any age. Pm not handsome prices and sick polilies. No ohjection
nhas. Brandão e Dudu, e chegaram a uma realidade: but above average—some nave sai d to I or 2 children. If yotTre healthv
Sansão dizia mais: "Você diz que eu sou la- - Nada somos nesta vida. Vamos fazer o I look like S i r Alec Guinness. and interested crealive with a pioneer
drão; vou provar quem são os verdadeiros la- bem para viver melhor na próxima. My major interests are elassie spirit then write Ron, .140 Joncs St..
drões". Até o Leivinha, que poderia estar abusando fitas (U.S., 1930s mainly), folk Box 3455 S.F. 94102
Longe de ser honesto, Sansão teve coragem da fama e da glória, outro dia falava sobre um music (I sing myselO, nave a gultar
para acusar Antônio do Passo, Abílio de Almei- and autoharp, excellent baritone),
repórter que o chamou de mascarado: tbe outdoors, good books dining
da e Sílvio Pacheco de tentativa de suborno na PM WAITING FOR Y O U TO
- O importante é saber perdoar. out, Mostalgia, posters. Dislike I SHOW M E T H A T G R E A T C O C K
Copa do México. Só então começo a ligar as most roçk music but like some, f l F V n i I R S NOW. 982-3106.
frases, unir as peças, e perceber por que Arman- Recebi, outro dia, um cartão. Só que não era sueh as Dristofferson. Can't stand
do Marques tentou destruir Sansão. um cartão de boas festas. Assim que abri o en- violence, public nucüty, etc., i n
Os dirigentes da CBD queriam que Sansão - velope, li a primeira frase: "Mano Batta- fitas or anywhere else. I guess New "Sex Guide" covers North St
como Juiz brasileiro indicado para a Copa - glia,fT.. you could say Pm half hip, half Southern Calif. San Francisco Bay
conversasse seus companheiros, prometendo, Entre surpreso e curioso, fiquei alegre com o square. I want to share my life Area St L . A . Best Pickup spots,
em troca de uma boa arbitragem; um bom em- tratamento. Ele sempre foi muito necessário ao on a long-term basis (preferably massage parlors, cat houses,
prego em nosso país. folclore do futebol brasileiro. A princípio, marriage) with a somewhat o l d - swingers etc. Only $5.00 P P D .
Tendo Sansão recusado a oferta, todos passa- quando o conheci éramos bons amigos, depois fashioned kind of young lady whois Curious Book Co., 736-4th A v e . ,
ram atemersua denúncia, e é lógico, tentaram houve um acidente em nossas relações. turned off by the large number of SanDiezo. CaUf 92101 ,
liquidá-lo. O papel de proxeneta coube a Ar- screwed-up people she meets today
Foi exatamente no mês de novembro, quan- qnd would rather be deeply loved
mando Marques. Acusou Airton de aceitar su- do ele dirigia o Coríntians. Após alguns maus
borno antes de uma partida; e ele, Armando, resultados e uns goles de conhaque que serviu by a more solid, successful type pregnanttT
of man, and just possíbly prefers Models for nonporno nat. photos
até hoje é juiz contratado do futebol paulista, ao time durante um treino chuvoso, o presiden- an o l d e r o n e . I definitely no NOT
emprego pedido por Havelange á José Ermírio. te resolveu demití-lo, mas esperou passar uma assignment. No expertenceneeded
want to meet any of the following: Good 555 Write PO Box 3335
E difícil compreender a arte de Pele, o sacri- semana para avisá-lo. n e u r o ü c s , weirdos, confusedtypes 340 Jones St., S . F . CA 94102
fício sobre-humano de Tostão em meio a fatos Ê evidente que o atraso da sua demissão de- smokers overweights, astrology
não tão dignos. É por isso que Pele não quer veu-se às eleições do presidente para deputado. fans o r far-out religious nuts. I
saber mais de seleção. Tanto sacrifício, tanta No dia das eleições, após considerar-se eleito, would also very much prefer a ••Tenant Aetion P r o j .
luta, tanto desprendimento, para depois saber Wadih Helu chamou-me, e disse-me em tom de girl who likes to dress like a g i r l , tenants w/landlord problema 10a to
que tentaram ganhar a Copa fora de campo. which seems to be pretty rare 5p M - T o r by appt 843-6601.
confidencia: lately. I am not parti cularly con-
Assim, ele desiste, mas já me contou: "Daqui a - Amanhã vou mandá-lo embora, mas por • • C o n n e c t í o n s , org. forprisoners
dois anos eu explico as razões". Havelange já cerned about looks; personality, It familles, transporta fanülies tt
favor, dê a noticia somente depois de amanhã. intelligence and emoüonal stabillty
deve estar morrendo de medo. No dia seguinte, para surpresa do presidente, friends of prisoners to variou*
are what counts. This ad i s no joints. Call 863-1604
Percebo, porém, que a mesma tática não foi e ainda maior do técnico, meu jornal publicava put-on but i s very much for r e a l .
usada só pelos nossos cartolas. ••Depressed? Lonely? Freaked-
em manchete: "Você está despedido". If a l i this sounds like what you out? The Creaave'Community a
O técnico dos uruguaios também me rece- De óculos escuros, temo azul e sapato de really want out of life Pd like to mental health entr., òffers indi-
beu como inimigo no Hotel Carnino Real salto carrapeta, ele chegou ao clube para o trei- hear from you. T e l í me i n a vidual counseling, rap groups, etc
Quando lhe perguntei se Pedro Rocha ia jogar, no da tarde, e certamente já havia comprado o letter why it i s what you want— to members of Bkly Community.
respondeu: jornal. Olhou-me com pouco caso e dirigiu-se rhat's kind of important. PO Box 1920 Cedar T i T h 9:3<M:30pm.
- Só fico nu diante de uma mulher. para o seu vestiário, mas não conseguiu alcançar 1977 Berkeley 94701
A delegação uruguaia estava chegando a a porta. À frente, estavam o presidente e os
Guadalajara. Fiquei por ali, tomando uma dirigentes de futebol à sua espera. Assim que
tequila. Como ja tinha alguns amigos entre os percebeu aquela reunião improvisada, virou-se
jornalistas mexicanos, fui avisando: em minha direção e falou: HELP IMPEACH NIXON
- O Juiz que vai apitar o jogo Brasil e Uru- - Então é verdade? Petitions, Buttons, Bumper Stickers
guaia também está hospedado aqui. Quase ia me esquecendo do seu cartão. SfeND $2.00 FOR KIT
Não teria nada de mais. Acontece que - Mano Battaglia. Saudades, aquele abraço.
CITIZENS COMMITTEE TO I M P E A C H NIXON
Ramon Barreto - juiz uruguaio que apitou al- Quero voltar, saudade mata gente, faz força, 18523 GAULT STREET. RESEDA. CALIF. 91335
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universitário, muito tem-se dito atrás, aqui e m M o g i d a s C r u z e s .
(e feito) neste P a i s . 0 p r o g r a m a e d u c a c i o n a l E e s s a p e q u e n a v e l a . g r a ç a s a u m trabalho
do G o v e r n o ai está, sendo e x e c u t a d o sério e c o n s c i e n c i o s o , ao invés d e
c o m a e n e r g i a q u e o p r o b l e m a exige. c o n s u m i r - s e e a p a g a r , continuou a c e s a ,
Multiplicou-se o número de vagas c r e s c e n d o e multiplicando-se e m
nos c u r s o s s u p e r i o r e s , houve u m a sensível muitas outras. H o j e , elas t ê m a força d e
um farol, i l u m i n a n d o e m muitas
melhoria nos niveis d o s c o r p o s
docentes, c r i a r a m - s e novos c u r s o s e n o v a s direções e a j u d a n d o a d i m i n u i r c a d a vez mfiGflzme
oportunidades de trabalho. m a i s o q u e restou d a escuridão.
M a s a escuridão, n e s s e c a m p o , e r a Nós, d a Federação d a s F a c u l d a d e s
muito g r a n d e para q u e s e p u d e s s e a c a b a r B r a z C u b a s de M o g i d a s C r u z e s , e s t a m o s
Rua Bráulio Gomes n9 107
c o m ela de u m a só vez. felizes por t e r m o s a c e n d i d o a q u e l a v e l a . loja 2
Mcdestamente, temos a declarar
(atrás da Biblioteca)

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A PRIMEIRA LAVANDERIA
SELF-SFRVICE DO BRASIL

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ARQUITETURA E URBANISMO - ENGENHARIA OPERACIONAL
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RIVELINO IMPLORA UM MILAGRE:
CORIKT1ANS CAMPEÃO OUTRA VEZ

PODE SER
COMETA
São Paulo, dezembro de 1 9 7 3 A N O 1 -

VENDIDO SEPARADAMENTE
TODO MUNDO
N? 2

LOUCO: FESTA
F A Z I A

S T R I P - T E A S E

C I N E M A

HOMOSSEXUAL
TEM VERGONHA
DA FAMÍLIA!
EMBALO!
VIGARISTA PRESO QUANDO
PASSAVA "CONTO 0 0 PACO"

Leia na páqina 3

AMERICANO VENDE CIENTISTA


ACHA JC Débora Rter achou graça quando pergunta
se ela sabia que o Kohoutek ia dar uma vol
O MELHOR! por trás do sol e ficar mostrando a cauda, inva

PASSAGENS PARA
tida. "Grande coisa - disse ela - só não fiz iss
até agora porque não pediram". Débora esta n
Bel Ami, fazendo strip-tease todos os dias.

KMMTEX

0 DISCO VOADOR VOMITOU Faxineira apavorada:


Leia na página 3
NO MAR!
Leia na página 2 é a vontade de Deus! Leia na página 3

POLICIA NÃO ACABA TROTOIR NO CEMITÉRIO Leia na


página 2
PÁGINA 2 J O R N A L DO COMETA

Falou: a boca era dos espíritos VAI


- Os espíritos de outros ní-
veis, que vivem ao lado do Mes-
tre nós no Terceiro Milênio. Ele
vai funcionar na Terra como um
- A guerra vai começar em
1975, quando o cometa estará
- Os justos herdarão a Terra.
Não haverá mais egoísmo, vaida-
JOGAR NA
tre, falam peia minha boca. E
são eles que anunciam: o cometa
caminhão de lixo, tirando daqui
todos os detritos.
mais próximo da Terra. Vai du-
rar muitos anos, envolver todos
de, preconceito. A Humanidade
viverá como uma só família e to- ALEMANHA
que vem vindo aí é o caminhão os países do mundo e só vai ter- dos se entenderão.
de lixo do Universo. Ele tem a minar quando todo o lixo tiver Haverá a separação do joio do O astrôlogo paulista professor
missão de higienizar a Terra. Guerra Mundial desaparecido. Enfrentaremos si- trigo e depois o Mestre voltará Rudi afirma que o ano de 1974
A declaração é de Salomão tuações terríveis e a humanidade com todos os outros seres que - ano do cometa Kohoutek
Salomão, que já viveu em Bar- será tão bom para o Brasil que
Dahar, árabe, 51 anos, há mais retos, de onde foi obrigado a sair passará por uma dura prova.
de 45 anos vivendo no Brasil, ca- está preparando em outros ní- até existe a possibilidade de sair-
há três anos por causa de proble- veis, para tpmar conta da Terra. mos campeões da Copa do Mun-
sado, pai de trêsfilhos,vendedor mas criados com as visões que
e espiritualista. Salomão fica Disco Voador O Mestre virá acompanhado de do outra vez. Ele, que é diretor
tinha, afirma que a passagem do toda sua corte, em naves espa- do Instituto Brasileiro de Astro-
com os olhos fixos e sua boca cometa desencadeará a Terceira Salomão cita o Evangelho pa-
parece independente de sua von- ciais. Os discos voadores estão aí logia, no largo 7 de Setembro,
Guerra Mundial: ra dizer como tudo acontecerá: anunciando o que vai acontecer.
tade, quando ele começa a falar 52, 39 andar, ao lado de sua es-
sobre as coisas do outro mundo - O Kohoutek vai fazer a suc- posa, professora Nalva, diz que
que acontecerão na Terra. ção dos maus espíritos. Por isso, Pele voltará a jogar na seleção e

Irotoir no cemitério!
— Cada 6.666 anos, somos vi- a conseqüência será a Terceira disputará o tetracampeonato pela
sitados por um astro que vem hi- Guerra Mundial. Uma guerra de equipe brasileira na Alemanha.
gienizar a Terra como aconteceu grandes proporções que vai atin- - Pele, depois de muito soli-
no tempo do Dilúvio, no tempo gir o mundo todo. Uma guerra citado e regateado, chegará a ire
da Arca de Noé. E agora já faz que já está prevista no Apoca- A Polícia paulista vem desenvol- jogar, mas não será o mesmo.
para as delegacias ou plantões poli-
6.666 anos que isso aconteceu. lipse. E será nesta guerra que as vendo verdadeira 'T>litz", para acabar ciais, sendo despojadas de todo o di- Pensem nisso.
Por isso, o cometa Kohoutek es- pessoas serão levadas. com o trotoir na avenida Consolação, nheiro que portam. Inquiridas pela
principalmente o que se desenvolve O professor Rudi disse que
tá completando o seu ciclo e O começo da Terceira Guerra reportagem sobre a próxima passa-
nas vizinhanças do cemitério da Con- gem do cometa Kohoutek, manifesta- ainda não completou os estudos
vem para a Terra para levar Mundial, segundo os espíritos solação. Apesar das inúmeras deten- ram-se inicialmente surpresas. Poste- numerológicos de 1974, o ano
daqui os espíritos que não estão que falam pela boca de Salomão, ções muitas mulheres já foram presas riormente travaram o seguinte diálo- do Kohoutek, mas que é possível
preparados para permanecer en- mas que ele consegue identificar, e soltas mais de cinqüenta vezes - a go:
prática continua ofendendo o decoro i adiantar previsões a respeito de
já tem data marcada: - Isso é cascata, Maria. Ele está alguns artistas:
das famílias que residem nas vizi- com grupo pra não pagar . . .
nhanças ou que por ali transitam. - Deixa o rapaz falar, Helena. - Elis Regina, de Peixes, será
Maria - 25 anos de idade, 40 de- - É sobre o cometa que está aí. muito favorecida no correr de
VIGARISTA PASSAVA CONTO DO PACO tenções; e Helena - 15 anos 47 de- - A viação Cometa?
tenções, estavam irritadas quando a 1974, com o ressurgimento de
- Não. Cometa é um negócio que sua reintegração ao público bra-
reportagem do JC as abordou na por- brilha assim lá em cima (Maria abre e
QUANDO SAÍ DE CASA JÁ ta do cemitério da Consolação, vizi-
nhanças da rua coronel Euzébio: é
que elas tinham acabado de escapar
fecha a mão).
- Vem da Lua?
sileiro e uma grande consagração
no exterior; Luiz Américo, de
- Acho que é de mais longe. Leão, vai ser um dos cantores de
SABIA QUE IA SER PRESO de mais uma prisão. Em palestra com
o repórter, elas se lamentavam por-
que o muro do cemitério é muito al-
As garotas conversavam, e o repór-
ter estava ao lado observando e ano-
mais sucesso e criatividade, con-
sagrajido-se no panorama nacio-
O cometa Kohoutek não teve nada em flagrante pelos policiais do 4? to, razão pela qual não havia possibi- tando, enquanto os motoristas dos
nal; Chico Anísio, de Carneiro,
a ver com a minha prisão. Estou pre- Distrito Policial Paulista quando se lidade de ser escalado quando das ba- carros que passavam faziam piadas do
so por conseqüências da vida, coisas- preparava para aplicar o conto do pa- tidas policiais. será muito favorecido por Sa-
tipo "compra um carro que elas saem tume fará o coração e a ca-
que acontecem alheias a nós - decla- cc em um incauto. Leo afirmou que As mulheres "de vida fácil" afir- contigo". Finalmente, depois de algu-
rou Leo Koch, 42 anos, casado, preso Deus manda um cometa sempre para maram que as batidas - ou "arras- ns minutos, Maria, a mais afável, im- beça dei ossegar com a possibi-
fazer o bem, nunca o mal. tão" - na localidade são quase diá- pacientou-se: lidade de amor, muito amor;
rias. E as mulheres surpreendidas na - Vamos embora, Helena, que es¬ principalmente depois do seu
Eva Wilma
- Quando eu saí de casa no dia da
minha prisão, já sabia que ia ser pre- prática de trotoir são encaminhadas se cara quer é encher o saco. aniversário.
so. Eu sentia isso. E o cometa não
poderia fazer nada. Eu já trabalhei Falando sobre o cometa

eofim . em grandes firmas durante muitos


anos. Mas aí minha vida começou a
complicar, a faltar dinheiro, e então
me juntei com mais dois amigos para
Kohoutek vomitou
O descobridor de cometas, cientis- cientifica Isaac Asimov (autor de
Kohoutek, o professor Rudi, ao
lado de sua esposa, professora
Nalva, anunciou que ele marcará
ver se conseguíamos algum dinheiro a ta Lubos Kohoutek, cansado de sua "Eu, Robô"); professores universitá- a passagem de uma nova era,

do macho
— Estou com medo que
mais. Não fui feliz.

Leo Koch, o vigarista preso no 4?


Distrito, sabe muito a respeito de co-
viagem a bordo do navio "Queen Eli-
zabeth", afirmou que não viajará
mais em navios. Kohoutek, que em-
barcou a bordo do navio a convite
rios; turistas; e dezenas de astrôno-
mos amadores. O preço da passagem
para os 1.693 passageiros variou de
130 a 295 dólares.
pois sua passagem se dará na
abertura da era de Aquário.
- Na era de Aquário o ho-
metas e mostra certo grau de instru- das autoridades norte-americanas, Mas a viagem foi uma decepção do mem vai colocar a cabeça no lu-
o Kohoutek liquide de uma ção. Disse ele: passou dois dias no mar tentando ver começo ao fim. O cometa não apare- gar e começar a pensar em si e
vez com a potencialidade a olho nu o cometa que havia foto- ceu nenhuma vez - choveu durante
- Já vai fazer uns cinco meses que grafado enquanto trabalhava no no próximo. Será uma era de
masculina — um processo Observatório de Hamburgo, na Ale-
todo o tempo que durou a viagem; e
paz, amor e compreensão, e pou-
ou\d falar no cometa Kohoutek. Mas Kohoutek enjoou o tempo todo, pas-
que já começou há algum eu já sabia de outros cometas. Como manha Ocidental. Juntamente com o
sando a maior parte do tempo em sua co a pouco, entre os povos, se
tempo — e que se instaure o de Halley, por exemplo. Cie apare- astrônomo, embarcaram no navio:
George Halley, descendente do astrô- cabine, vomitando. Por isso, ao em- disseminará a idéia de Cristo de
no mundo a viadagem total ceu no céu e, no dia seguinte de noi- barcar para o Chile, onde ia tentar
te, surgiu uma grande cruz de sangue. nomo Edmund Halley, que deu nome que "somos todos irmãos".
—' declarou a atriz Eva ao célebre cometa de Halley em observar novamente o cometa que
Logo depois estourou a primeira descobriu, Kohoutek preferiu o O diretor do Instituto Brasi-
wilma, a Raquel da novela Grande Guerra Mundial Li que o 1910; o cientista e escritor de ficção
avião. leiro de Astrologia afirma que o
"Mulheres de Areia", que a Kohoutek vai passar a 110 mil quilô- Kohoutek, para os astrólogos, "é
metros da terra. Se ele passasse mais
TV-Tupi apresenta perto, ia tudo pro beleléu, porque tu- mais uma fase cadente e mutável
diariamente.
Eva que se recupera de
do é um problema de ventos.
Leo Koch, /entretanto, considera
AMERICANO VENDEU A na carta celeste, sem grande
significado no sideral para in-
fluenciar nas casas do Zodíaco ".
um acidente automobilísti-
co na via Anchieta, estava
que, mesmo das coisas ruins, é possí-
vel retirar bons resultados:
- Os cientistas estão estudando,
VIAGEM NO DISCO FALSO - Apesar disso, as pessoas
que nasceram sob sua influência,
gravando um dos últimos observando o cometa. E podem des- Em Wisconsin, nos Estados Uni- isto é, as crianças que irão nascer
meta". Serão seis dias a bordo ae um
capítulos de sua novela, e cobrir uma física ou química qual- dos, o chefe da Igreja do Mistério In- Boeing-747, fretado especialmente sob o signo de Capricórnio em
prestou declarações à quer, para acabar com esta doença finito, Edward Ben Elson, anunciou para a ocasião. A viagem inclui para-
que está destruindo a humanidade, o 1973, todos os nativos de Aquário
reportagem no intervalo de que está vendendo passagens para sua das nos observatórios da Calilifórnia e
câncer. nave intergaláctica, a 10 dólares por Arizona, e lá os participantes dos em 74 e parte dos nativos de Pei-
seu trabalho. Realmente Instado pela reportagem a pro- pessoa. A nave, que ninguém viu ain- vôos cearão à luz de candelabros, ou- xes, terão Kohoutek em suas vi-
preocupada, ela argumentou nunciar-se sobre por que aplicava o da mas que ele diz ser muito parecida vindo conferências. No céu, o Ko- das. O cometa marcará suas vi-
com um disco voador, partiria no dia houtek. Preço da passagem: 1.750 das, pois eles serão os homens e
com alguns fatos, para conto do paco, o vigarista afirmou:
24 de dezembro último. Entretanto, dólares por cabeça.
comprovar seus temores: - Eu escolhi o conto do paco, como para escapar da lei, Ben Elson mulheres do futuro.
porque sei.que o cara só cai se for já dizia que não dava "nenhuma ga-
Vejam a moda unisex e o pior do que a gente que está dando o rantia de que a nave iria partir". Não
movimento de libertação golpe. Sabe como é? A gente pede aconteceu nada com ele, e o disco
feminina, que já está pro cara levar um pacote num endere- voador não subiu. CIENTISTA A C H A QUE JC É O MELHOR
ço, porque a gente tem de viajar logo Ben Elson conseguiu vender várias
descaracterizando os e não tem tempo. Aí, mostra-se o pa- passagens, principalmente aos inte-
homens e que podem levar cote pro trouxa: uma nota de 10, 50 grantes da seita do Mistério Infinito, Depois de examinar o número 1 do Jornal do Cometa, su-
os homens do mundo todo ou 100 em cima, e o resto papel cor- porque seu chefe afirmava que era plemento do Jornal E X , o professor Ronaldo Mourão, diretor
tado retinho, parecendo um maço de preciso partir da terra antes que os
a ignorar totalmente as notas. Aí o cara topa levar o pacote, gases do cometa Kohoutek inflamas-
do Conservatório Nacional do Rio de Janeiro, elogiou efusiva-
mulheres. já pensando em ficar com ele. Então sem as reservas de petróleo da terra e mente a sua seriedade científica. Disse o professor que as infor-
a gente pede umâ garantia, um di- trouxessem a morte para a maior par- mações e alternativas de interpretação apresentadas pelo JC
E concluiu: nheiro qualquer, que o cara tenha no te da humanidade.
— Só desejo que, se isso bolso e que a gente devolve quando o Neste mês de janeiro, quando ò
eram extremamente ricas de dados. Finalmente, comparando-o
acontecer realmente, se cara voltar com o recibo da entrega. cometa Kohoutek for visível a olho com publicações similares, afirmou que era das melhores que
O paco é assim. O cara que toma o nu depois do por do sol, o planetário tinha visto nos últimos tempos.
salve o meu marido John golpe é mais safado do que a" gente Hayden, de Nova York, pianejou um
Herbert. que aplica. happening sofisticado: o "vôo do co-
J O R N A L DO C O M E T A PAGINA 3

FESTA DO EMBALO DEIXATODO MUNDO MUITO LOUCO


RIO • (Especial) - Uma guarnição bastante quente e as pessoas estavam do e aplaudindo.
completa de soldados da Polícia Mi- muito doidas. Primeiramente apare- Já no final da festa, um enorme

PM FICA litar da Guanabara, foi chamada ao


bando de hippies, artistas e astrôno-
mos amadores promovia verdadeira
festa de embalo em homenagem ao
ceram vários artistas plásticos, carre-
gando bandeiras coloridas cujo único
símbolo era um cometa pintado de
vermelho. Deitados no chão, moças e
papagaio de papel, de quase um me-
tro de comprimento - que não con- AVISARAM:
seguira subir até aquela hora por falta
de vento, finalmente foi empinado

COM MEDOl cometa Kohoutek. Apesar da intensa


algazarra que os participantes da festa
promoviam, os policiais não puderam
rapazes barbudos ficavam olhando
para o céu através de binóculos de
papelão, enquanto os mais velhos agi-
por alguns participantes da festa.
Marta Alencar, poetiza, uma das orga- SERÁ O FIM
nizadoras da festa, teve que explicar

E TRÂNSITO
deter ninguém, uma vez que não se
; constatou nenhuma irregularidade.
Os soldados da PM ficaram no local
tavam as bandeiras, gritando para o
cometa Kohoutek:
- Apareça! apareça!
aos policiais porque toda aquela con-
DE NIXON
fusão, gritarias. Mas, depois de alguns
minutos, os ânimos serenaram e a fes-
até o amanhecer, apreciando as verda- O cometa não apareceu nenhuma ta prosseguiu com Marta atirando pa-
deiras loucuras que os artistas promo- Vários jovens brasileiros, cuja
- Acho muito difícil o cometa vez. Isso não impediu, porém, que to- péis picados na cabeça dos soldados e
viam. da vez que passava um avião pelo lo- dos repórteres presentes aos aconteci- idade variam de 20 a 25 anos,
aparecer; mas se ele vier, só tenho
medo do que vai acontecer no trân- A festa desenrolou-se numa noite cal, todo mundo se levantasse gritan- mentos, até 7 horas da manhã. procuraram o professor Ronaldo
sito. Todo mundo vai querer ficar pa- Rogério Mourão, diretor do
rado olhando pra cima, e aí o conges- Observatório Nacional do Rio de
tionamento vai ser ainda maior. Janeiro, para anunciar o fim do

Travesti tem vergonha


A declaração é do cabo Paula, do
Serviço de Trânsito de São Paulo. De- presidente Richard Nixon, dos
pois de informar à reportagem do JC Estados Unidos. Os iovens per-
que o surgimento do Kohoutek tem tencem à seita mística "Filhos,
sido discutido pelos integrantes de de Deus", fundada nos Estados
sua companhia de motocicletas, ele A rua Aurora continua sendo o Depois das explicações de que de- se ver?sãbe, eu sou de São Vicente,
faz um apelo aos motoristas e tran- centro dos invertidos sexuais, embora sejávamos, ficou afobado: mas não escreve no jornal não, por Unidos pelo norte-americano
seuntes: eles também freqüentem a avenida - Como? Sobre esse cometa que favor! Faz só duas semanas que estou Moisés David, pseudônimo de
- Quando o cometa vier, procu- São João e imediações. A reportagem vai passar? Não sei de nada. Sabe? aqui em São Paulo, procurando em- David Berg, de 54 anos de idade.
rem um lugar adequado, fora das ruas do JC, na porta do cine-strip-show na Não sou uma pessoa muito estudada. prego. Vou trabalhar de bailarina na Em contato com o professor Ro-
principais; encostem os veículos, e só rua Aurora, entrevistou Roberto, no Ai, meu Deus! Essas fotografias! O televisão. E com licença, estou atra-
depois fiquem observando. momento em que acabava de se apre- que é que a minha família vai pensar sada. naldo, os jovens mostraram uma
O cabo Paula - um dos 200 novos sentar e saía em direção de sua resi- série de cartas que receberam do
motociclistas, colocados nas ruas para dência. líder Moisés David, afirmando:
tentar melhorar o trânsito - acha que - Esse cometa é como tantos ou- - Deus vai destruir a Nínive
o aparecimento de cometas é o
anúncio de coisas maléficas. E argu-
menta com a grande chuva que caiu
sobre São Paulo no último dia 20,
tros que já passaram: o de Halley, etc.
E sempre que eles passam surgem co-
mentários sui-generis, esse sensaciona-
lismo que a imprensa registra diutur-
HIPPIE: P E R I G O moderna, a moderna Babilônia, e
o seu rei King Richard, o último.
Para os "Filhos de Deus",
que causou grandes prejuízos, matan- namente. Para mim é apenas uma es- 0s hippies estão numa nova onda: ir olhar o céu na praia.
trela cadente, nada mais. Nínive, Babilônia, são os Esta-
do várias pessoas: Centenas de cabeludos e barbudos, com suas roupas esfarrapa-
- Chuva como essa fazia anos que - A respeito de os cometas serem dos King Richard, o presidente
s

o anúncio de acontecimentos funes- das e levando suas barracas de lona e sacos de dormir' nas Nixon.
não caía em São Paulo. Esses trovões,
relâmpagos e aquela água. Isto só po- tos, Roberto afirmou: costas, estão se dirigindo para o litoral de São Paulo e de O professor Ronaldo Rogério
de ser coisa do cometa! - Isso é bobagem. Pura bobagem. outros Estados, a fim de aguardar a chegada do cometa Mourão, em contato com a re-
Se por acaso o cometa de Halley
anunciou em 1910 a primeira guerra Kohoutek. portagem, explicou que como vi-
Denúncia em Salvador mundial, anunciou também a desco- Eles utilizam os mais diversos meios de transporte, mas o vemos numa época mística, e nu-
berta da penicilina, não é? mais comum é pedir carona nas estradas. Por isso, as autorida- ma época de expectativa, as pes-
BARBADO AGORA Outra boneca, que não quis decla-
rar o nome, também prestou declara- des policiais estão advertindo-os, principalmente se houver mo- soas que estão infelizes na Terra
ficam esperando sinais dos céus.
ções à reportagem na esquina da ave- ças nos grupos, para que tenham cuidado e observem bem,
ESTA FALANDO nida São João com Ipiranga. Instado
pelo repórter, a boneca foi logo se antes de entrar num veículo ao pedir carona. A polícia teme
E aduziu:
- Uma coisa são os astros,
desculpando: que se repitam novamente os ataques de motoristas, principal-
QUE NEM MULHER - Não vai poder ser, meu bem. Já mente às moças que acompanham os hippies.
outra são os homens. O
Kohoutek é apenas um dos tre-
estou acompanhada.
Salvador (JC-ESPECIAL) - Estão zentos cometas que passaram pe-
circulando em Salvador vários traba- la terra desde a passagem do
lhos de trovadores baianos a respeito
do cometa Kohoutek. Um dos que
mais sucesso vem fazendo, entre os
que apreciam o gênero, é o trabalho
FAXINEIRA APAVORADA: grande Halley, que vai voltar em
1986. Os problemas dos homens
nascem fundamentalmente com
do autor Rodolfo Coelho Cavalcante,
sob o título "E a Terra Brilhará Ou-
tra Vez". O livreto de cordel foi pos-
E A VONTADE DE DEUS o egoísmo e só morrerão quando
o homem deixar de ser egoísta.
to à venda ao preço de CR$ 1,00 e o Maria Francisca de Sou- de e vimos uma estrela com

CRIANÇA
Os jovens da seita "Filhos de
posto principal é a Banca de Postal za, 37 anos de idade, faxi- uma cauda bastante compri-
do sr. Durval, na parte alta do Eleva- Deus", a quem o professor Mou-
dor Lacerda, na capital baiana. neira na estação rodoviária da. Ela passou três dias no rão repetiu as mesmas coisas, no
de São Paulo, confessou à céu e depois, desapareceu. A entanto, acham que ele não quer
reportagem do JC que está gente ficou um pouco apa- dizer a verdade sobre o "Mons-
vorada porque tinha visto (cabelos Os cometas - do grego komete tro do Natal", porque está com-
Recomendação apavorada: longos) - têm sido objeto de
— Eu não posso dizer aquela coisa — quando a terror, reverencia e medo através da prometido com o sistema, argu-
Os livros de cordel do sr. Rodolfo nem que sim nem que não. gente é criança fica com me- história. E os antigos tinham uma mentado:
Coelho Cavalcante são recomendados desculpa mais do que legítima para - O "Monstro" vai causar
pelos eminente historiador e especia- Tudo isso é coisa de Deus e do—e minha mãe dizia que suas fantasias: ninguém sabia de onde
mudanças incríveis na Terra,
lista em folclore baiano, Odorico Ta- ninguém pode garantir o o mundo ia acabar. Mas na- vinham os cometas e para onde iam apesar dos cientistas do sistema
vares. No trabalho sobre a vida do da disso aconteceu. depois que desapareciam de vista.
cometa Kohoutek, o trovador baiano
que vai acontecer. A única De acordo com algumas interpre- não explicarem sua significação
ressalta, no início, que "há muita coisa que se sabe é que o Maria Francisca de Sou- tações bíblicas, um cometa brilhante aos povos. Mudanças incríveis;
gente assombrada / com a nova previ- cometa vai aparecer no ceú. sa, entretanto, não se tran- apareceu sobre a Judéia por volta do não sei bem quais, mas incríveis!
são / do cometa Kohoutek / que sur- ano 7 antes de Cristo. Os oráculos
girá na amplidão". E mais adiante: instada pela reportagem, qüiliza e espera a chegada disseram ao rei Herodes que a "estre- O professor Mourão, porém,
"Cada vez que um cometa / No a faxineira disse que a che- do cometa para ver o que la de cabelos longos" anunciava o já tem opinião firmada sobre o
infinito aparece / O povo fica abis- gada do cometa Kohoutek a vai acontecer: nascimento de um menino que estava assunto:
mado / Dizendo: o mundo pere- destinado a ofuscar o próprio monar- - É muito fácil esperar que
ce. . . / Porém isto é pecado / Que fazia lembrar-se de quando — O /ornai e a televisão ca. Foi para evitar essa ameaça à sua
traz o povo assustado / Ao castigo era criança e morava no in- já deram. Ele vai aparecer. supremacia que Herodes desencan- um cometa mude e vire a Terra
que merece. deou uma onda de infanticídios em num planeta habitável. O difícil
terior de São Paulo: O que vai acontecer depois, toda a Judéia, e da qual fugiram José é a própria humanidade dar essa
"No século Vinte não há / Lugar
para superstição / Acredito que o Co- — Eu tinha 8 anos de ida- não sei... e Maria, emigrando para o Egito. virada.
meta / Seja a anunciação / Para um
novo nascimento / De um ser no Ar-
mamento / Com especial missão".
Referindo-se aos temores que o
surgimento do cometa provoca, escre-
ve o trovador Rodolfo Coelho Caval-
Milagre: Corintians campeão mais uma vez!
- Acredito" muito em Deus, por seus passarinhos, Rivelino de que o cometa Halley passou cadente, não é? Acho, entretan-
cante:
"O medo é quem faz o bicho / Do pois o importante é ter fé. Res- afirmou que sabia pouco de co- em 1910 pela Terra, Rivelino to, que a melhor higiene mental
tamanho que se quer. / Eu já vejo o peito macumba, pois cada um metas: "nas horas vagas faço só o surpreendeu-se: é o esporte, e não ficar perdendo
homem barbado / Falando como tmi- tem sua crença. Mas Deus está que gosto: cuidar dos meus pas- - Em 1910 o Corintians foi tempo com cometas, notícias de
lher / Cabra que se diz corajoso / Já
anda todo medroso / Quando o co- acima de tudo. Se for para o sarinhos". fundado. Quem sabe este novo guerra e política. É melhor ficar
meta vier". Corintians ser campeão outra — Mas já ouvi falar alguma faça da gente campeão outra vez. longe de coisas ruins.
vez, imploro que o cometa venha coisa do Kohoutek. Se ele vier, O pai de Rivelino, que estava A mulher de Rivelino, Maísa,
E finaliza fazendo um apelo a to-
do o povo: e seja bacana. Mas que não acabe espero que faça o Corintians na casa do filho preparando-se também quis dar sua opinião:
com o mundo. campeão mais uma vez — já faz para comemorar as festas de fim — Acredito muito em come-
"Vamos olhar para o alto / Porque As declarações são do "reizi- 20 anos que não tiramos um de ano, afirmou ser a pessoa tas, embora eu ache que não vai
Deus está presente! / O Cometa glo- nho" do Parque, Roberto Rive- campeonato. Quero que o menos indicada para falar sobre dar para ver a olho nu. O surgi-
rioso / Nada tem de deprimente /
Que uma era não distante / Ilumine o lino, falando à reportagem do cometa seja enorme, que é pro cometas, pois nunca estudou as- mento dele já estava previsto nu-
Cavalcante / E o Brasil com sua gen- JC, com exclusividade. Em seu mundo ter paz. tronomia. ma profecia de Nostradamus pra
te". apartamento moderno, e cercado Informado pela reportagem — Mas acho que é uma estrela este século.
EVA WILftU ESTÁ COM MEDO:
OMEM MACHO PODE ACABAR!

São Paulo, dezembro de 1 9 7 3 A N O 1 - N ? 2

PODE.SER VENDIDO SEPARADAMENTE

VOZ DE ESPÍRITOS
NA BOCA DO ÁRABE!
PELE VOLTA À SELEÇÃO E
JOGA NA ALEMANHA EM 74
CABO DA PM
TEM MEDO
DO TRANSITO

Leia na página 2

Rei cometeu
infanticidio
Leia na página 2 Leia na página 3 Leia na página 3

Policia avisa
hippies: cuidado BARBADO FALANDO
com motoristas
Leia na página 3
QUE NEM MULHER!
Jamais teria entendido, se alguém hou- demônio: era impossível sentir alguma equivalente a uma exibição de dois impacientar-se: se a corrida é ruim, não há
vesse tentado explicar-me antes do tem- coisa por ele; tinha cara de alcagueta infe- rounds rápidos. Meu amor pelas corridas e catarse. Gastara dinheiro, a bebida termi-
po; na realidade, virei torcedor das corri- liz e uma tonta e completa vaidade. Esta- minha experiência delas como espectador nava, e ainda faltava aquele golpe de luz,
das muito antes de entender por quê, e va humilhado por algo pior que a humi- foram fundadas, portanto, na contempla- aquele momento ideal para incendiar os
foi melhor assim. Nestes dias, quando a lhação, como se sua vida estivesse para ção de novilleros, semana a semana, em condutos de gás espiritual por onde esca-
geração mais jovem é chamada silenciosa, entrar em um momento de pânico. Estava dois verões que passei na Cidade do Méxi- pam os horrores da semana. A violência
um intelectual norte-americano de van- em apuros: a morte que ia dar matéria co. crescia e, com ela, o desdém por todos os
guarda tem ao seu alcance poucas expe- também certas esperanças de sua psique; Pois bem: quando já sabia bastante so- toureiros. Os espectadores mexicanos de-
riências capazes de destruir seu sentimen- essa morte seria mais definitiva que de bre corridas — ou, pelo menos, quando sencantados parecem com essas esquinas
to das categorias intelectuais próprias. costume. Eu- contemplava a desolação de sabia tudo o que se pode saber depois de do Harlem depois que a Polícia levou pre-
Não gostei das primeiras corridas que vi, a um homem profundamente medíocre. ver apenas novilleros, semana após sema- sos os cinco maiorais da zona.
formalidade do ritual me cansava, as lides Por fim, desistiu de dominar o touro e na —, me fiz devoto de um toureiro a Por fim, saiu El Loco, toureiro número
pareciam (e eram) pobres e me parecia o trabalhou com tiradas de muleta, à es- quem, me apresso dizer, nunca fui apre- sete e especial. Foi uma verdadeira apari-
atroz o conteúdo do espetáculo. Os mata- querda e à direita, uma técnica mais com- sentado. Conhecê-lo pessoalmente teria ção: corpo enxuto, rosto feio, olhos pe-
dores narcisistas, vaidosos em seus movi- petente que bonita; mesmo para meus deteriorado a pureza de minha admiração. quenos, nariz grande, boca diminuta, ne-
mentos, irritados como uma garota que olhos inexperientes, era um mecânico. Chamava-se — nem um entre mil de vocês, gríssimo cabelo de índio com um topete
não saiu sábado à noite, cada vez que a Novos assovios e desesperos da multidão queridos leitores, pode ter ouvido falar na parte de trás da cabeça, que parecia a
multidão os exige, são torpes para abater pelo vaidoso e ineficaz alcagueta. Desem- dele — El Loco. Não é um apelido afe- ponta de uma antena. As pernas fracas
as feras, e o público comporta-se com
bainhou a espada, afundou-a até a meta- tuoso no México, onde metade da popula- estavam dobradas nos joelhos como se ele
brutalidade com o toureiro. Na Plaza Mé-
de, o animal deu uns passos para um lado ção é insana. El Loco era do interior, um caminhasse com uma mala na mão. As ná-
xico, os índios que ocupam os assentos camponês de Deus; seu verdadeiro nome: degas eram cômicas e sobressaíam como
e outro, e logo desabou.
mais baratos compram cerveja em copos Amado Ramírez. Muitas vezes pensei que as penas da cauda de um pato. O traje não
de papel e, uma vez bebida, como os ba- A arte de matar é a última especiali-
Amado Ramírez se transformaria no lhe caía bem, e ele parecia um enxerto de
nheiros estão a vários quilômetros, mijam dade que se aprende a julgar na tauroma- maior toureiro do mundo; certos críticos Ray Bolger e Charles Chaplin. No entan-
no copo e o derramam em uma cascata de quia, e a morte daquela tarde chuvosa me da Cidade do México, velhos torcedores, to, demonstrava auto-suficiência e até se
ouro humano. O estadunidense que acom- deixou menos impressionado que à multi- compartilhavam da mesma opinião (em- permitiu uma volta à arena antes de soltar
panhe uma dama de cabelos loiros e que dão. Seus assovios foram substituídos por bora não em letras de forma). Apareceu o animal, como prêmio a seu trabalho da
tenha assentos ao sol deve comprar-lhe na aplausos — depois soube que o público num verão, doze anos atrás, como um fo- semana anterior. El Loco estava solene;
entrada um sombrero barato, pois do con- sempre ovaciona as mortes por feridas no guete, e girou em círculos sobre o univer- tinha a cerimoniosidade extravagante e
trário será um flagrante ponto de atenção. pulmão —, e os gestos de aprovação conti- so da tourada mexicana, durante o verão sombria de um prefeito de cidade do in-
Mais vale não se sentar perto de um ame- nuaram o tempo suficiente para que o e o outono. terior recebendo aos altos funcionários do
ricano que acompanha uma loira desco- toureiro desse a volta na arena. Não obte- Governo. Colocou os joelhos para diante
Chegou à Cidade do México no verão
berta, porque a pontaria de um índio bê- ve nenhuma orelha — não merecia — mas e as nádegas para trás; o público se agitou
teve seu passeio e estava feliz; havia algo de 1954, durante o final da primeira parte
bado não é melhor que a da gente em uma e outra vez, houve aplausos entre bri-
da novilhada. Se bem me lembro, foi nos
iguais condições. Não deve surpreender atraente em sua felicidade. Percebi então sas de sorrisos, além de uma tempestade
que eu experimentava uma série de emo- domingos em que há seis touros para seis
então que os primeiros desgostos diante de peidorretas semelhantes ao coaxar das
estreantes. (Mais tarde, quando os melho-
de uma corrida se vejam fortalecidos pela ções interessantes; depois de haver senti- rãs.
do desprezo por esse estranho, e até um res novilleros são escolhidos, há seis tou-
cerveja dos rins astecas.
secreto e nada socialista desejo de ver ain- ros para três matadores, ou seja, duas Amado foi em busca do touro. Deu o
Os membros de uma minoria estão da mais humilhado o indivíduo que detes- chances para cada um.) Eu não estava no primeiro passe a um metro do animal e o
sempre dispostos a absorver castigos e tava, fui lentamente conquistado por seu México quando Ramírez teve seu primei- segundo a dois; no terceiro passe, a capa
para mim era condenador excluir-me de sucesso dos minutos posteriores, e termi- ro domingo, mas desde que pus o pé na se enganchou nos chifres do touro, e El
mais um culto. Persisti vendo corridas, nei tomado de carinho por esse homem cidade, meus amigos taurófilos não me fa- Loco disparou para a barreira com saltos
portanto, até que na terceira ou quarta que não considerava humano. A torpe laram de outra coisa. Tinha saído para de canguru. Uma tormenta de vaias se
me juntei a essa religião. Foi uma tarde de corrida embaixo de chuva lançou uma tourear no sexto lugar de um dia terrível, aproximava, mas El Loco estendeu o bra-
vento com pancadas de chuva; o toureiro, gota de humanidade em meu coração em que todos os novilleros atuaram la- ço como se admoestasse o público — os
cujo nome não consigo recordar, era um seco; agora sabia um pouco mais e tinha mentavelmente. Ao se apresentar, Ramí- dedos separados, a palma para baixo - ,
infeliz, de contextura magra, pernas de algo em que pensar que não se enquadra- rez não só foi o último como também o um tímido gesto camponês de desapro-
arame, peito demasiadamente grande, va em uma só categoria. pior; desempenhou-se com tamanha me- .vação, como quem diz: "Esperem que
nádegas amplas e estúpidas, bunda de diocridade que os espectadores ovaciona- ainda não viram nada." Novos ruídos nas
Visitei o México sempre no verão, e o ram para zombar dele. Não há maior de-
camponês, o rosto vulgar e um dente de verão é a temporada de novillos, quando tribunas e regresso de Amado ao centro
ouro na boca. Trabalhava um touro feio monstração de descontentamento, entre da arena. Errou um passe, saiu-se mal de
se celebram as novilladas; em síntese, a os taurófilos mexicanos, que aplaudir
que não parava de golpear a muleta com uma simples verônica: vaias, gargalhadas;
época dos toureiros bisonhos. quando não é o caso. No entanto, Ramí-
os chifres; de vez em quando, o touro lhe até os policiais riam. Qué payaso!
O autor deste prólogo é hoje, sem dú- rez se inclinou várias vezes, solenemente,
tirava a muleta, fazia-a flutuar no ar, piso- O passe seguinte, conhecido por muito
vida, um fervoroso amante da tourada; para agradecer; fez tantas reverências que
teava-a, como se perguntando se era um poucos dentro das touradas, é de sumo
por uma grande corrida deixaria qualquer quase não teve tempo detoureare demo-
objeto morto ou vivo; cheirava o próprio perigo e de muito conteúdo formal (numa
outro espetáculo atlético ou religioso: as rou demais para desfazer-se do touro. No-
sangue — ou o de algum parente seu — no visão fugaz, parecia que se inclinava para
séries nacionais de basebol, um campeo- va ovação e volta em torno da arena. Um
sangue da muleta e a multidão ululava, beijar a mão de uma dama, a capa sobre
nato de futebol americano, uma missa em engenhoso o batizou: "Olé, El Loco". É
enquanto o toureiro corria até a barreira e as costas, enquanto o touro marchava bu-
São Pedro e talvez um combate pelo títu- que quando a multidão se enfurece com a
voltava com uma nova muleta. O animal fando em direção à desprotegida bunda).
lo mundial dos pesados, o que é dizer incompetência é capaz de incendiar o es-
renovava as chifradas, o vento fendia a Se bem me lembro, chama-se gallicina, e
muito. Mas não há amor comparável ao tádio.
muleta, o matador disparava pela segunda ninguém o tinha visto nos últimos cinco
das quatro da tarde na Plaza México; no
vez até a barreira, entre os assovios da El Loco foi a sensação da semana: um anos. Consiste em que o toureiro gire co-
entanto, os grandes matadores vi sempre
multidão e as torrentes de urina que mo uma serpentina ao contrário, de modo
em festivais e trabalhando touros peque- palhaço toureara na Pláza México, e sairá
caíam como arco-íris através da chuva, lá que a capa lhe envolve o corpo; o ritmo
nos em favor de obras de caridade. A no- vivo. Os promotores o inscreveram para o
das tribunas populares, enquanto as pros- do movimento faz com que o animal se
villhada é, depois de tudo, o tempo dos domingo seguinte, como uma atração ex-
titutas faziam ruídos grosseiros com suas aproxime quando o toureiro lhe dá as cos-
novilleros, e um novillero é um toureirotra: não o consideravam digno de aparecer
bocas arruinadas, os aficionados revol- tas e não pode ver seus chifres. Os giros
equivalente ao pugilista que participa de na lista normal. Pela primeira vez nessa
teavam os olhos e o soar do riso mexica- continuaram e também o vôo da capa.
um torneio Luvas de Ouro. Um novillero temporada, se esgotaram os lugares da
no, essa trabalhosa definição do eco de Amado capengou no começo e, uma vez
muito bom é como um bom finalista do Plaza México; era também a primeira cor-
um- absoluto descontentamento, sacu- terminado o passe, retirou a capa. Apesar
Luvas de Ouro. Os Sugar Ray Robinson e rida de meu segundo verão ali.
dia-se no meio dos espectadores como de tudo, houve um instante de luz, um
os Rocky Mariano do mundo da tourada Seis jovens novilleros trabalharam seis
uma geléia. instante paradisíaco — o mais belo que
só i r a foram permitidos ver, quando touros medíocres e ofereceram seis me-
Olhei para o toureiro, centro do pan- abandonavam seus retiros para oferecer o díocres combates. A multidão começou a me coube ver numa corrida —: de imedia-
to, num suspiro de alívio e tortura, uma feição e receber duas orelhas. Mas o se- cada segundo, fez derechazos e o passe de co da muleta que se apresenta ao touro é
sedenta garganta mexicana que estava per- gundo touro terminou vivo: um fracasso. muleta semelhante à gaonera e um ou a metade do normal, e o corpo do tourei-
to de mim lançou com certa incredulida- Então, os críticos disseram que prome- dois adornos deliberados. Segundo aviso: ro é portanto maior e mais cheio de curio-
de um "Olé". El Loco repetiu várias vezes tia com a muleta e era ainda um fracasso Amado lançou-se para matar mas fracas- sidade para a fera. Ao mesmo tempo, o
o passe; na segunda vez, mil pessoas grita- com a capa: não podia fazer uma verônica sou, apesar do quê seguiu imperturbável e touro, a esta altura da peleja, se pôs mais
ram "Olé", e na terceira explodiu a praça de primeira. Pois nos domingos seguintes reconquistou a multidão com uma série sensato, e pode suspeitar que é o homem
e cinqüenta mil homens e mulheres fize- realizou cinco lentas, luminosas e altís- de naturates, e vinte segundos antes do que o atormenta e não o sinistro e girató-
ram coro com a saudação. Amado desem- simas verônicas, jamais vistas. último aviso, com a praça feita um pande- rio caos de panos onde ele se esconde.
baraçou-se da .capa, alegre e cansado Então, durante três semanas seguidas mônio, assestou uma perfeita estocada e o Além do mais - e aqui reside a mística do
como o violino de um cigano. alternou um touro morto com um vivo. O touro se moveu brandamente e com digni- natural — o toureiro está em comunhão
Depois voltou a comédia. Tentou uma toureiro não deve deixar que o animal so- dade, para morrer uns dez segundos de- psíquica com o touro, é claro. Quem não
dezena de passes extravagantes sem ne- breviva ao terceiro aviso; em realidade, se pois do terceiro aviso. Mas ninguém pôde é psíquico não concebe a tourada. O tou-
nhum sucesso: eram disparatados, solenes, não foi antes do primeiro aviso, o tourei- escutar a cometa, porque a multidão deli- reiro começa a tourear a partir da mente;
corteses, e dava pena vê-lo ali, com o vul- ro cai em desgraça; dois avisos são como o rava e era um mar de lenços brancos. com a muleta, que leva na direita, toureia
to de sua bunda e suas pemas nodosas. A bater fúnebre do sino de um asilo, e o Amado sorria, uma atitude que desperta- numa posição de autoridade. Tomar o
multidão ria com lágrimas nos olhos. toureiro que precisa deixar vivo seu touro va ternura, por que seu rosto de campo- pano com a esquerda não só expõe seu
Amado parecia absurdo com a muleta, após o terceiro aviso é um candidato ao nês irradiava então essa decente felicidade corpo como também sua psique; sente
como um passageiro que está para perder haraquiri. Não há cena mais horrível. En- das crianças. Um minuto depois os es- menos autoridade, ainda que em compen-
o trem e corre com sua mala. Demorou tre o primeiro e o segundo aviso correm pectadores quase se amotinaram contra o sação seu instinto funcione mais perto do
longo tempo para descabellar (matar de de três a cinco minutos, e nesse lapso a jurado, que não concedera nem a cauda animal. Um natural leva o público a
um golpe) o touro, e manteve-se de pé morte se transforma numa caça de javali. nem uma ou duas orelhas — como pode- prender a respiração, porque o perigo e a
junto dele como uma velha falando com O toureiro tenta duas, três, quatro, cinco ria, se o touro morreu após o terceiro avi- beleza se unem então.
um cachorro que late. Mas aos espectado- e ainda mais vezes introduzir sua espada so? —; não obstante, a tensão de terminar E Amado escolheu os natureles para
res nada mais importava: riram, aplaudi- por cima dos chifres^ a espada choca com a corrida no tempo previsto, atribuiu à lidar com aquele touro. Não havia recor-
ram, concederam-lhe uma volta à arena. É um osso ou fica afundada até a metade tourada uma qualidade histórica, pois rido muito a estes passes durante a tem-
que algo havia acontecido naqueles três em lugares lamentáveis como as costas ou abundou em novas emoções. E o público porada, e o último refúgio de seus inimi-
passes, algo que ninguém compreendia; o flanco; ou a estocada foi excelente mas dos touros adora as novas emoções numa gos foi garantir que não lhe saíam bem.
como se eu tivesse batido Cassius Clay em o animal não.morre e os minutos passam medida só igualada pelas mulheres dese- Aquele domingo decidiu provar o contrá-
vinte segundos de boxe. Só cabia uma à espera de sua morte e os peões chegam josas de novos prazeres. rio.
explicação: a ingerência divina. Portanto, com suas capas e tratam de retirar a espa- O recorde de triunfos de Amado se Começou sua faina sem passes explora-
El Loco voltou para duas apresentações da envolvendo em trapos o pomo e dando tornou tão previsível como qualquer re- tórios, sem pases de muerte nem derecha-
no domingo seguinte. um cru repelão latino (nada tão cru como corde de vitórias desde os Césares; fale- zos; foi até o touro e realizou cinco natu-
um peão em apuros). Às vezes chutam o mos agora de seus fiascos. Amado era sim- rales - admiráveis, ligados entre si - ,
Não teve sorte e matou o segundo an-
touro na cabeça, na esperança de que caia plesmente diferente de qualquer outro após o quê a praça explodiu, porque:
tes do terceiro aviso. Em uma temporada
e o público grita. Às vezes o touro se ajoe- toureiro; suas grandes corridas, seus gran-
aonde podia chegar Amado depois disso?
boa, sua carreira já teria terminado, mas
lha e o puntillero se apressa em cortar-lhe des passes, diferiam dos que realizam Mas ele voltou até o doce tourinho e fez
aquela foi uma triste temporada. Após
o pescoço com um golpe de adaga, mas a outros bons novilieros; os passes de El outros cinco naturales, tão excelentes
um par de semanas de corridas miseráveis,
punhalada não é certeira e não fere a me- Loco foram os melhores que se pôde ver: como os anteriores, e outros cinco mais
convidaram El Loco novamente. Esteve
dula espinhal; pelo contrário, o golpe a dava a impressão de se estar olhando o sem mover-se do lugar — foram soberbos
fatal com o primeiro touro; o rosto verde,
estimula e o touro agonizante se levanta e céu e que, de repente, ali, se materializas-
— e logo enrolou sua muleta até deixá-la
comportou-se com timidez, foi desajeita-
percorre a arena em busca de sua querên- se um pássaro, que desaparecia em segui- do tamanho desta página e assim realizou
do com a capa, moroso, e abominável-
cia, enquanto o sangue lhe sai em jorros da. Suas atuações suscitaram o espanto: outros cinco passes, enquanto os chifres
mente prudente com a muleta. Descabelló
pelas feridas e o toureiro, quase a ponto simples, líricas, luminosas, brotavam sa- roçavam sua munheca esquerda. Homem
tão mal que ainda não havia terminado
de chorar, trota junto dele como um gran- be-se lá de onde, e se diluíam no momen- e touro pareciam amar-se. Logo após estes
quando soou o terceiro aviso, e o touro
jeiro com sua mula. Então, soa o tercei- to. Mas quando E l Loco desempenhava vinte naturales, El Loco fez cinco mais já
continuava vivo. Um frio silêncio do pú-
ro aviso. Estes quadros são um pesadelo mal, não era medíocre nem.bobo, e sim o quase sem muleta; cinco séries de cinco
blico, assovios. A multidão tinha despen-
para ò matador; terá sonhos onde fere e pior, o mais inepto e mais cômico tourei- naturales, vinte-e-cinco naturales — não é
cado a rir com Amado, mas começava a
volta a ferir o touro, o qual não se derru- ro do mundo. Parecia carente de uma mais fácü que fazer o amor vinte-e-cinco
cansar-se da brincadeira.
ba enquanto continua recebendo mais técnica em que apoiar-se: usava a capa vezes seguidas - , depois do quê se ajoe-
Foi diferente com o segundo touro. golpes na cabeça. Confio em que vocês o como se fosse uma mortalha, as pernas
lhou e beijou o touro na frente, com toda
Amado retomou as impecáveis gallicinas e entendam. Um animal que salva a vida dobravam-se nos joelhos, a bunda não
felicidade, e logo levantou-se delicada-
os chifres se detiveram a quinze centí- porque o toureiro não foi capaz de matá- pensava se não em fugir, a expressão era
mente para ir até a barreira em busca de
metros de suas costas. Olé. Colocou ele lo no tempo previsto é uma visão quase morosa como a de Fernandel, e os pés
sua espada e voltou pronto para a hora de
mesmo as banderillas, embora tenha errado tão sangrenta e atraente como uma vítima não faziam se não dar pulos. Digamos, um
matar. A gente estava como se sentado
tanto que precisou escapar do touro após que escapa do automóvel destroçado e pregador ajoelhado para rezar. E quando
em cima dum foguete: se conseguisse
o segundo par, como uma galinha. Voltou rola pela estrada; e o matador é quase tão o medo o dominava, tinha uma incapaci-
matar na primeira estocada, seria a maior
a zombaria; o público parecia um leão popular como quem causou o acidente. O dade enervante para matar, tão desespe-
tourada jamais realizada por um novillero.
que hesita entre devorar algumas vísceras toureiro comum só pode permitir-se uma rante que ao enfrentar o animal todos
Quem sabe, tudo parecia incrível. O touro
ou lamber o rosto! Logo, com a muleta, vez por ano ultrapassar os três avisos; El sabiam que não ia aproximar-se dele. No
atacou prematuramente, e Amado, dis-
fez uma atraente série de derechazos, os Loco fazia-o uma vez por semana, o que entanto, em suas atuações altaneiras o
posto a não ceder, manteve-se em seu
melhores de toda a temporada, e ante o dá uma idéia de sua qualidade, pois é corpo se enrijava, tomava essa curvatura
lugar, aceitou o ataque, fez girar a cabeça
assombra geral matou o animal com a pri- como se perdoassem a um pugilista profis- dos aristocratas espenhóis de lei, as náde-
do touro com a muleta e o animal se
meira estocada. Deram-lhe uma orelha: sional que, no meio da luta, abandonasse gas regressavam à posição normal em uma
cravou a ponta da lâmina, que entrou no
ere o triunfador do dia. oringuesem lutar. obra-prima do equilíbrio e capa e muletaexato espaço entre os ombros; o touro
Aquela tarde confirmou o início de se moviam lentamente como velas, ou se caminhou para a morte, deu uns passos,
uma carreira. Logo, a maioria das corridas Durante determinado período, as críti- agitavam em remoinho como as asas da- lançou a cabeça para o céu e caiu por
se perdem na memória porque foram mui- cas a El Loco se solidificaram. Tinha ras- quele misterioso pássaro. Dava a impres- terra. Amado tinha matado recibiendo:
tas, porque houve incidentes em todas e gos brilhantes, matava de vez em quando são de que El Loco sintetizava todos os um passe que ninguém realizara em
porque aconteceram anos atrás. Ao longo com inspiração, seu talento era enorme, cômicos mexicanos em cujos poros alen- muitos anos. Nesse dia lhe deram tudo, as
do verão de 1954, Amado toureou quase mas lhe faltava o ingrediente indispensá- ta-se a mais fina graça da Espanha. orelhas, a cauda, vueltas sem limite; até o
todas as semanas, e todas as semanas vel em todo matador: não sabia como ti- touro lhe teriam entregado.
ocorreu algo que fez cambalear a com- rar proveito de um touro ruim, faltava-lhe Quero contar-lhes agora a melhor cor-
preensão dos mais veteranos entendidos. tenacidade. Por tanto, Ramírez criou a rida de Amado. Foi após a metade daque- Terminou o verão numa explosão de
Depois do primeiro triunfo, eles decla- mais estranha faena de que se tem memó- le maravilhoso verão em que todas as se- títulos. Amado teve outras grandes cor-
raram que se tratava de um novillero me- ria, um estilo que conseguiu comover as manas vivíamos uma aventura na Plaza ridas; numa tarde toureou seis touros, e
díocre, sem nenhuma qualidade especial, regras da tauromaquia. Um domingo em México. até ganhou a alternativa para passar a
salvo um misterioso instinto para as que lhe coube um animal da pior espécie, Foi na vez em que lhe coube um ani- matador profissional. Mas era mexicano
gallicinas e certa competência para os de- trabalhou com os métodos mais obtusos, mal pequeno e doce, com formosos até os tutanos: os títulos transformaram-
rechazos. Além do mais, era fraco com a técnicos e antiestéticos, incitando-o a tor- chifres, de agradáveis formas, que trotava se em desastres. Não estive presente no
muleta e carente de inspiração com a ca- to e a direito, indo sem parar à querência com alegria, até com abandono. Devo in- dia dos seis touros — já voltara a meu país
pa. Daí que na semana seguinte a estes do touro, durante longo tempo, apesar da terromper meu relato, para uma explica- e nunca mais tornei a vê-lo; só soube dele
comentários, Amado deu um show de desaprovação do público. El Loco, sem ção imperativa, porque é essencial discutir por cartas e pelos jornais de tourada —,
muleta: realizou quatro poses de pecho prestar atenção às tribunas, continuou seu as atitudes da torcida para com o natural. mas me contaram que nenhum deles se
tão perto do touro e tão luminosos — um trabalho até conseguir que o animal viesse Para o aficionado, o passe natural é aquilo deparou com uma boa corrida sua; e no
passe é luminoso quando o corpo parece a campo e lhe permitisse fazer alguns pas- que nem todos os atletas podem realizar dia da alternativa, seus dois touros fica-
elevar-se com o respirar - , que os chifres ses eficientes. Soou nesse momento o pri- apesar de sua excelência; em tourada, cha- ram vivos, uma desgraça total, mesmo
do animal roçaram seu coração. Em outra meiro aviso e todo o mundo se pôs a gru- ma-se natural a um passe de extremo ris- para Amado. Toureou um sétimo; a magia
parte, colocou melhores derechazos que nhir; mas Amado tinha a fera em boa for- co, talvez o mais arriscado. O pano da cigana podia tê-lo salvo novamente, mas o
na semana anterior e terminou com uma ma e não ia deixá-la ir sem mais nem me- muleta, sem a espada, é seguro com a es- animal era enorme e bruto; El Loco não
série de matioletinas, para matar com per-nos; então, com o sabor da derrota em querda; e o estoque com a direita; o bran- teve sorte nem magia e sua corrida termi-
nou em chanchada - sem dúvida temia os seu compromisso é para com o gênio do
touros grandes —, depois do quê renun- sangue, por ele julga o homem pelo que é
ciou à sua chance e regressou ao interior
para recuperar a fama e os nervos. Nin-
guém soube nada dele, ou pelo menos eu
em seu melhor momento.
É de acordo com esta lógica que sem-
pre admirarei El Loco, pois ele me ensi-
Baixa Sociedade
não soube dele pois não voltei ao México. nou a amar as corridas e como penetrar
PERCIVAL DE SOUZA
Hoje, acho que sou um dos poucos que alguns de seus segredos. Também me ensi-
recordam a felicidade de vê-lo tourear. nou algo sobre o mistério da forma, deu-
Era tão mau quando atuava mal que a me a chave para. saber que a forma e o SE H O U V E S S E O T I T U L O M U L H E R D E V I S Ã O , 1973 JÁ T I N H A D O N A
gente tinha a impressão de poder tourear registro de uma guerra. Nunca teve a habi-
sem fazê-lo pior que ele; e quando tourea- Ascensão? Hê, hê, fumacê
lidade — que possuem muitos artistas,
va bem, a gente se sentia tão bom como muitos toureiros - de falsificar sua arte, A "pantera" Laura agora está atacando tam- Ali no prédio do império do seu Frias, na
ele: nenhum outro toureiro conseguiu de bom gosto, ainda que fraudulenta. bém na indústria. Laura - quem não conhece a Barão de Limeira, houve uma lança de estar-
dona do La Li na noite paulistana? - é a quen- recer: um escriba do pasquim sanguinolento foi
comunicar-me essa sensação, pois quando Também me ensinou algo sobre a vida te da Kitchen, aquela fabrica de móveis de aço acusado de ser adepto da canabis-sativa. Ao cre-
são bons parecem impenetráveis, são com cada um de seus passes, inclusive o para cozinha. Dizem que a Laura tá faturando púsculo de um dia, abotoaram o cara na entra-
mais na Kitchen que suas "panterinhas" no La
como deuses; em troca, quando Amado paradoxo de que podemos encontrar va- LL Quem me contou eu não digo, porque como da, subiram com ele até a redação do banco de
sangue, onde abriram a gaveta de uma mesa, ali
trabalhava bem, toda a humanidade traba- lentia em homens cujo conflito oscila diz o Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. encontrando um bocado da erva tida como mal-
lhava bem. El Loco representava a distân- entre a ambição e a covardia. Até me ensi- E em baixa sociedade mais de um é multidão. dita. Uma mesa de uso comum, diga-se de passa-
cia vasta que pode percorrer um homem gem. Detalhe: foram os próprios caras do impé-
nou como descobrir formas em outros rio que abotoaram o moço e levaram para o
desde a sua pior qualidade até a melhor, e lugares. Vêem a curva de um seio formo- xilindró mais próximo, ou seja, o 3? DP. Lá,
isso talvez seja a medula da tourada. Nas so? Não é necessariamente um presente Advertência aos leões exigiram flagra e que o moço fosse para o hotel
obscuras terras tropicais onde imperam a do seu Guedes, na avenida Cruzeiro do Sul. i
divino; pode ser o registro que a vida Só esperamos que madame, que fez aquela Os próprios homens da lei ficaram perplexos
pobreza, o deserto, a lama, a imundície, a marcou numa mulher, do equilíbrio de recauchutagem facial, adote métodos mais deli- com tanta dedo-duragem, sacanagem, pilantra-
traição, o desalinho e os obesos lagartos forças entre seu desejo, sua modéstia, sua cados na Indústria diurna que na noturna. Um gem e outras agens. Claro que os capas-pretas
da cobiça — a excretória cobiça de der- coleguinha que escreveu sobre o La Li tomou o logo viram que era cobra-mandada e relaxaram
ambição, sua timidez, sua maternidade e maior estarro na Boca. Ele baixou no Michel o flagra do moço. A treta pode até dar reverte-
ramar nosso veneno sobre os demais —, só seu sentimento de um impulso que não para tomar umfajuto e na saída encontrou duas riam . . . É, as coisas naquela fábrica de lingüi-
pode manter vivo o doce nervo da exis- pode ser negado. Se fossemos sábios, cobras-ertadas. ça da Barão estão cada vez piores...
tência, o conhecimento de que o indiví- Os leões de chácara levaram o moço prá uma
audazes e estudiosos da cabeça aos pés, quebrada do Bexiga e meteram-lhe a sola (prá
duo não pode ser julgado por aquilo que é poderíamos extrair a verdadeira história quem não sabe, sola é navalha) no escrache. O Pobre velho
a cada dia mas por seu grande momento, da Europa, da forma elucidada entre o moço ficou com o mapa do inferno na cara só
porque é aí que demonstra o que é. É um porque alguém não gostou do que ele escreveu O velho Joaquim deu a vida por uma firma
homem e o animal que nos recordam as do La Li. que vende panos, dirigida por aodallas têxteis,
enfoque romântico, autocompassivo para corridas de touros. Na realidade, onde é A esses leõezinhos, eu advirto: corta essa de e, 27 anos de trabalho depois, mandaram-no es-
com as disputas do século vinte pela ética que existe um escritor ou um amante que video-tape prá cima do degas. Pensem 3 vezes, cafeder-se sem direito algum. O velho ficou lelé
eio menos, porque se vierem dar uma de sorri- e, na madrugada, silenciou a esposa para sem-
previsível, a grande produção, a confiabi-
lidade das funções e a categorizaçâo do
ignore o que acontece por trás do pano C
ra, não vão gostar do meu estilo: vacilou, boto pre, com um teco. E, como os chefões da firma
tocha prá voar, encho as empadas de azeitona o haviam aconselhado, sarcasticamente, a pro-
onde nascem as formas? Olé, Amado!
impulso. Mas assim é o enfoque latino: da boa. De leve. curar um causídico para cuidar de seus interes-
ses, ele foi ao escritório apresentar seu advoga-
do o doutor Smith. Só que o doutor era um
Filosofia Smith Wesson, calibre 32. Fritou dois diretores
e foi enjaulado.
Uma frase . . . de leve: malandro é o gato, A acusação, no júri, disse que um dos direto-
que rouba carne e não vai prá cadeia. res era gente fina, casado com uma senhora
francesa, jamais faria esta sacanagem. E o advo-
gado de defesa sacou esta: "pode ser casado
com uma senhora francesa, mas furtou!" O
Desordem na Ordem velho pegou 6 anos de galera, o que representa
uma verdadeira absolvição. Os abdallas da praça
Um considerado da Ordem dos Advogados, que se cubram: se a moda pega... já viu, rié?
seção SP, está preparando um listão de fiascos
de bacharéis metidos a doutores. Outro dia, fa- Best-Seller
zendo exame, um desses alunos de fim-de-sema-
na ouviu a pergunta: o que é casamento putati- Mariel Moryscotte, o moço que está puxan-
vo? O solerte cocou a cabeça, pensou um do uma cana, no Rio, por causa das broncas do
pouco e lascou esta, de arrepiar: "e aquele em Esquadrão, escrevendo-me (leiam a carta, nesta
que o sujeito se casa com uma prostituta!" mesma edição) para sentar a pua no juiz e no
Mas pior foi a jovem tida como de sólida promotor dos seus processos, e ao mesmo tem-
formação, fazendo o mesmo exame. Um doutor po avisar "aos leitores deste Estado" o lança-
da banca examinadora quis saber o que era cri- mento do seu livro "Mariel, Ringo a Sangue
me. A jovem cerrou os dentes, com ares de Frio". Diz o Mariel que o livro "é um memorial
repugnância, e disse: "é uma coisa horrível." ( . . . ) que informará a esta sociedade que irá
VANGUARDA Stop me julgar como cheguei a esta situação que me
IS P L E A S E D T O A N N O U N C E encontro". Falou, Mariel Vamos ler a sua obra
T H E FIRST S O L O R E C O R D I N G e, quando formos ao Rio, iremos bater um papo
BY T H E G R E A T Duelo contigo. Lembranças ao pessoal da Invernada.

No melhor estilo de Django, um majura e um Bom 74


tira de saias se defrontaram, na sala do distrito
em que ele era o bom. A curriola sabia que Pé de Chumbo filósofo conceituado da boca,
havia uma transa cupidófila entre os dois. Mas o a do lixo, está adoentado, sem poder sair de seu
motivo do que houve dentro daquela sala, a sobrado no bairro de Santa Teresinha. Pede pa-
portas fechadas, ninguém sabe, exatamente. O ra que transmitamos aos seus considerados, pela
que se sabe é que houve uma discussão, e mas- coluna, os votos de um feliz 74 para todos. Prá
culino e feminino da lei decidiram verificar rapi- você também, Pé de Chumbo. Qualquer dia eu
damente quem sacava do berro primeiro. Sacou baixo na tua casa para te bater umas letras, meu
ele, e-a moça levou um arrebite à altura do considerado.
ombro, precisando ser removida com certa
urgência para o hospital da classe. Agora, o Bye bye
"I love Sivuca . . as a musician . . . as a man . . majura está na Nasa, isto é, voando - em dispo-
he is joy." nibilidade. E terá de puxar uma corda, a menos
Oscar Brtíwn, Jr. E agora demã, que eu vou em frente. Tenho
que provem que não foi nada disso, ou seja: o um compromisso para ouvir harpa paraguaia no
tiro saiu por acidente, uma dessas desgraças que Malibu, ali na boca-do-lixo. Depois vou pro meu
" . . . a multi-talented musician from Bahia called podem acontecer a qualquer um. Gola? Não mocó. Onde, eu não digo. E aprendam mais es-
Sivuca who looks like a chubby Rip Van Winkle and cola? Os capas-pretas e que vão decidir.. sa: malandro não mora, se esconde.
plays just about anything - guitar, piano, accordion
and tambourine - with alternately poetical and

No
fiery virtuousity."
Irving Lowcns. The tvenlng Star
Washington, June 1V 7.1 Novo LP
Criticai acclaim for Sivuca on the recent Harry
Belafonte toar. . . "The incredible guitarist-
accordlonist Sivuca, who almosl stole lhe show from
Produção: Nordeste,
Macalé-ONU OMO virou
from his h o s t . . . " , _ .
Las regasReview, August 1973

"The pinacle of t h | evening, however, was provided by


a multi-talented gnome from Bra/il named Sivuca.
Discovered several years ago by Oscar Brown Jr.,
Sivuca is equally masterfu! on guitar, piano, and of ali
comida
O compositor Jards Macalé quer lançar, ago-
ra no início do ano, o LP-resultado do show por
ele organizado no Rio, em comemoração ao
26? aniversário da Declaração dos Direitos Hu- Orno resolveu vender mais no Nordeste. An-
things, accordion, which he can make sound exactiy tes de convencer a nordestina a trocar de vez o
manos, no último 10 de dezembro. O show, sabão em pedra pelo sabão em pó, mandou pra
like a flute. Late in the show, he got a chance to gravado ao vivo no Museu de Arte Moderna, foi
Sivuca will be appearing at Art D'Lugoff's
lá os homens de Marketing, para estudos do
display his vocal talents, and the sight of this little, feito em colaboração com o escritório da ONU mercado. Ao mesmo tempo em que se desenvol-
white-bearded man turning beet-red while belting Village Gate, November 13th through 25th na Guanabara. veram as pesquisas, foram distribuídos pacotes
out an incredible series of skat-sung songs was Mais de duas mil pessoas assistiram ao show. de Orno em pó como brindes. Os brindes que
absolutely irresistible." . .. . , Available at ali King Karol stores, Cantaram, entre outros, Paulinho da Viola, Gil- iriam provar as patrícias alagoanas, sergipanas,
hliot Wald. Chicago Daily rvews ali Sam Goody stores, and berto Gil, Jorge Mautner, Ion, Milton Nasci- maranhenses, paraibanas, que com sabão em po
June 1973 ,ill E. ). Korvcttc's stores. mento, Macalé e Chico Buarque - que teve sua se lava realmente mais fácil. O resultado da pro-
atuação prejudicada por uma falha no sistema moção foi real: mulheres iam aos empórios e
VANGUARD RECORDS, 71 WEST 23rd STREET, NEW YORK, N.Y. 10010 de som. Tanto o organiza dor quanto os artistas trocavam os pacotes de sabão em pó distribuí-
que se apresentaram trabalharam gratuitamente. dos, por comida.
Propaganda

O primeiro Mano a Mano seria um "pega" entre Gilberto Gil e Roberto Pereira, do ção de tudo. Chamei de Filhos de houve e há essa preocupação pelo utili-
Jornal da Tarde. Um gravador no meio, e os dois discutindo a partir de um tema Goebbels os que fazem a propaganda, nes- dade social.
sugerido pela redação do E X - . No caso do compositor e do jornalista, o "racha" se sentido: os que fazem propaganda para Zé — Não me refiro propriamente ao tipo
deveria ser em torno do Futuro: Roberto Pereira é especialista em ciência e tecnologia, servir a esta situação de hoje. É mais ou de produto que a propaganda veicula, mas
autor de diversos livros sobre o assunto, e Gilberto Gil, autor de inúmeras músicas,
menos isso. àquilo que o senhor falou sobre a inter-
voltadas exatamente para o outro lado — o espiritual, sensitivo. O encontro entre os
venção na psique do individuo a ponto de
dois não deu certo porque no dia marcado, a queda de um avião da Vasp no aeroporto
Otto — É. A í o negócio não vai ser induzí-lo a fazer coisas que normalmente
Santos Dumont, no Rio, fêz com que Roberto Pereira fosse deslocado por seu jornal
muito fácil, (dá risada). Você chama os não faria, uma espécie de magia negra.
para a cobertura dò desastre; e Gilberto Gil teve também um compromisso imprevisto,
em Petrópolis. publicitários de Filhos de Goebbles! Acho Otto — O que eu quero caracterizar é o
Aqui, finalmente, o Mano a Mano aconteceu. A partir de uma afirmação do diretor que com o mesmo direito poderíamos instrumental da propaganda a ser viço de
de teatro José Celso Martiinez Correia no jornal Monte Alegre — "os publicitários são chamar os publicitários de Filhos do Papa um sistema sócio-economico. Depois você
os Filhos de Goebbels" —, pensamos encontrar um homem de propaganda que topasse Gregório, ou do Papa Urbano, que foram começou a entrar em alguns aspectos
a discussão. Otto Scherb, o primeiro procurado, aceitou o convite. E o encontro se deu os dois Papas mais. responsáveis pela cha- ideológicos. Eu quero ser bastante especí-
na Escola Superior de Propaganda, da qual Otto é diretor, na pequena sala da diretoria, mada Comissão de Propaganda Fides; que fico: no Brasil, atualmente, se investe
num clima cordial, apesar de divergente. A primeira pergunta é do EX—: a própria palavra propaganda nasceu no 1,2% da renda nacional bruta em propa-
Vaticano. Não podemos atribuir ao mes- ganda; aproximadamente nos EUA, 3%;
- Zé, você disse que todos os publicitá- rie de táticas destinadas a transformar o tre Goebbels qualquer responsabilidade ha Suécia, Alemanha Ocidental, Inglater-
rios são "Filhos de Goebbels". O que é povo alemão, que se encontrava numa por isso. Na realidade, foi Gregório quem ra, 2%. Eu gostaria de fazer a seguinte
isso? Por que que é isso? O que envolve miséria muito grande. E ele conseguiu instituiu uma comissão de cardeais para a pergunta: você considera os EUA, a Sué-
tudo isso? desviar toda a aspiração daquelç povo, propagação da fé cristã em diversos paí- cia, a Alemanha Ocidental, paises demo-
Zé — É o seguinte: neste momento es- para que se encantasse com a guerra, com ses. Foi assim que o nome nasceu. Portan- cráticos? Certamente concordaria comigo
pecial, minha forma de informação, o tea- a conquista do mundo, com o mito da to, desculpe, não estou sendo jocoso, ape- que sim. Pelo menos mais democráticos,
tro, se encontra por baixo, oprimida, tal- raça ariana, se encantasse enfim com nas acho que essa identificação da propa- embora eu considere essa colocação um
vez a palavra exata seja desvalorizada. Ao uma série de coisas construídas pela pro- ganda com determinado regime político, pouco injusta, que a União Soviética, a
passo que a propaganda que recebo é a paganda. Como hoje, num país como o especialmente esse que foi sem dúvida ex- Hungria, A checoslovaquia, onde não
grande forma aparente. Em qualquer par- Brasil acontece de repente que num corte, tremamente odioso, me parece um pouco existe propaganda. Entende? Então estou
te que você esteja, é a forma de informa- da escala mais baixa à mais alta, todos injusta. À parte as origens da propaganda, muito preocupado com os aspectos lógi-
ção mais forte. No entanto, por eu fazer queiram ascender nessa sociedade de con- outro aspecto que me parece extrema- cos da colocação de uma coisa com rela-
certo tipo de teatro, ela praticamente é o sumo. A propaganda é muito eficaz, por- mente importante, e aí vou abordar o ção a outra . . .
oposto de tudo em que acredito. Se o tea- que conhece o homem. Quem trabalha problema não como publicitário, mas co- Zé - Eu não acho que no campo da pro-
tro, encarado em profundidade, tem a em propaganda, assim como quem traba- mo economista, é a instrumentalidade da paganda os EUA sejam um país democrá-
função de restabelecer o contato direto, lha em teatro, conhece o sexo, o estôma- atividade publicitária. Sei lá, eu não quer tico. Acho que é totalitário.
de eliminar toda a nossa máscara, para sal- go, as aspirações mais reais do ser huma- ser chato e dar inúmeras definições e con- Otto — Concordo com você um pouco.
tarmos assim humanos, de corpo inteiro no. Por isso, neste estágio a propaganda é ceituações da palavra propaganda, mas va- Bem, o que você considera um país demo-
livres, a função da propaganda neste mo- um instrumento de exploração violenta mos tentar uma pequena conceituação, crático? Um país em que há livre expres-
mento é a de mascarar o máximo. No re- do ser humano. Aquele conhecimento, ao pelo menos: é simplesmente o conjunto são? Quer dizer, o presidente da Repú-
gime a que serve, sua função é vender; o invés de ser usado para libertar o homem, de técnicas e artes que visa, agindo sobre blica sendo pichado, tá nas iminências de
bom publicitário tem que cumprir esta é utilizado para fazer com que ele com- a psique do consumidor, dispor esse con- ser impedido, você pode chegar em Ma-
função. E no momento em que faz isso, pre. E vende ilusões, vende a destruição sumidor favoravelmente a determinados nhatan e berrar que o presidente é um
vende o produto e uma forma de encarar de sua própria vida. Do jeito que invade a serviços, idéias ou mesmo pessoas. Então, imbecil, coisas que em outros paises você
o ser humano, uma forma de cultura, de vida do homem, a propaganda é uma cul- veja: você entrou na análise ética da ativi- não pode fazer.
opressão, que é a forma da sociedade de tura de repressão, de mentira, e não pode dade. Quer dizer, a propaganda é boa ou Zé - Mas eu tô dizendo, claro que os
consumo. É uma forma que me choca trazer nada de positivo. Agora, não é que má. Eu senti isáb como substrato das suas Direitos Humanos são democráticos, mas
muito, acredito que a mim e a qualquer eu seja contra a informação em si! Assim observações. A í eu fico um pouco preocu- a propaganda não é. Sou obrigado a andar
ser humano. Acho a propaganda uma coi- como existiu Goebbels, existiu Maia- pado. Porque veja, inicialmente neste ca- por São Paulo hoje em dia, ou por Nova
sa de uma agressividade muito grande e na kóvski. Ele fazia cartazes de propaganda, pítulo das minhas observações eu faria a Iorque, engolindo aquela propaganda
configuração exata deste momento no era ótimo lay-out-man, mas era um traba r
seguinte pergunta: a propaganda é a favor toda.
Brasil, um país que depois de algum tem- lho diferente, feito para desencadear no do leite? O consumo do leite, certamen- Otto — Você me obriga a usar um argu-
po está recebendo um grande fluxo de ca- homem todas as energias que existiam ne- te, é socialmente bom. A propaganda a mento que gostaria de evitar, um pouco
pitalismo, está se tornando uma potência le e que ele desconhecia. Ao passo que a favor, por exemplo, do consumo da carne surrado mas nem por isso dispensável:
média capitalista, dentro de um regime propaganda hoje consegue desviar a ener- de segunda qualidade no Brasil, no mo- acredito que já que os meios de divulga-
muito autoritário, a propaganda pratica- gia do indivíduo para uma evasão, canali- mento, seria extremamente util do ponto ção, a televisão, o rádio, se sustentam de
mente é a grande cultura do momento. E zar essa energia para comprar e, evidente- de vista social. Porque o que está aconte- uma ou de duas fontes, ou seja, as fontes
é mais ou menos parecido com o que mente, com isso, enriquecer todo o cam- cendo no Brasil é que todo mundo quer oficiais ou as particulares, a propaganda
aconteceu na Alemanha no tempo de po de consumo existente e fazer florir carne de primeira, mas existe carne de se- colocada dessa forma é um dos grandes
Goebbles, praticamente o homem que de- toda essa economia que do ponto de vista gunda em abundância. Estou dando esses sustentáculos de uma democracia do esti-
senvolveu um tipo de propaganda em que cultural é a geradora de uma sociedade exemplos especificos onde a propaganda lo ocidental.
a própria indústria privada e o próprio Es- das mais vazias, como aqui. No Brasil pode desempenhar um papel social de cer- Zé — Mas quê democracia? A dos grandes
tado compuseram um tipo de cultura. tudo tem a cara da propaganda. Novela ta relevância e utilidade. Obviamente, a veículos de propaganda?
Mais primária do que a nossa, que é mais tem a cara da propaganda, as próprias ca- propaganda feita em torno do cigarro, das Otto - Os EUA não são uma democracia,
sofisticada, as coisas não são diretas, têm ras dos artistas de teatro que vão para bebidas alcoólicas, quer dizer, pode ser na sua opinião?
certa leveza, mas eu sinto o mesmo peso TV-Globo, eles saem prontos para vender socialmente condenável. Tanto assim que Zé — No que se refere a propaganda, não;
que sinto vendo as coisas de Goebbels. uma imagem careteada, uma máscara. É grandes agencias norte-americanas, até no que se refere aos Direitos Humanos,
Inclusive Goebbels, acredito, foi o grande neste sentido que a propaganda me agri- poucos anos atrás, se recusavam a aceitar sim.
revolucionário da propaganda, o ajeito contas — inclusive a J.Wlater Thompíon
de. Ela é uma redução do homem, uma Otto — Bem, eu defino a democracia pelo
que idealizou a propaganda, que inventou - de bebidas de álcool, com espírito puri-
coisa criminosa e só existente neste perío- grau, um regime que oferece um elevado
o Dia das Mães, o Volkswagen, aquela sé- tano, protestante, calvinista, Quer dizer,
do que é o do fim desse sistema, a liquida- grau, um razoável grau de liberdade ao
EX - D E Z E M B R O 1973

Otto Hugo Scherb nasceu na Á u s t r i a , onde


c o m e ç o u c o m o jornalista. N o Brasil desde 1949,
foi para a propaganda. Johnson & J o h n s o n ,
3 M , J . W . T h o m p s o n , Proeme, Pfizer, C o t y ,
Pond's. Hoje é diretor-superintendente da
Escola Superior de Propaganda e Marketing
de São Paulo; leciona Veiculação na Escola de
C o m u n i c a ç ã o e Artes da U S P ; e consultor de
Propaganda da E n c i c l o p é d i a A b r i l . F o r m a d o em
E c o n o m i a na " A l v a r e s P e n t e a d o " ; escreveu
" I n t r o d u ç ã o à Teoria dos N ú m e r o s " .

Z é Celso Martinez Correia nasceu em


Araraquara, São Paulo. Sempre fez teatro.
F u n d o u o Teatro O f i c i n a , onde m o n t o u peças
de G o r k i , Brecht, Oswald de Andrade,
C h i c o Buarque de Holanda e T c h e c o v . Hoje
prepara outra peça, de criação coletiva.
F o r m a d o em Direito pela " S ã o F r a n c i s c o " ;
escreveu "Gracias, S e n o r "

indivíduo, certo? Aí vamos entrar um pança, sobre o uso do excedente, são fei- jeito estoura, vai ao psiquiatra que é outra o máximo possível desse queijo . . .
pouco no problema ideológico. O concei- tas centralmente. Nas sociedades chama- coisa muito ligada a esse mundo da propa- Zé — E como é que vocês fazem as pes-
to de democracia eu não confundo com o das capitalistas . . . ganda.- A psicanálise faz parte de tudo soas . . .
sistema pluripartidário. O fato de você ter Zé — Também . . . isso, a própria sociedade funde a cuca do Otto — E m primeiro lugar, você faz a pes-
25 partidos não é necessariamente prova Otto — . . . as decisões do uso são des- indivíduo, depois enriquece um batalhão quisa, o perfil desse consumidor. Você
da existência da democracia. Mas o que centralizadas, cada vez menos, talvez. de psiquiatras pra consertar, ou então o tem três coisas: o produto; os meios atra-
eu quero dizer é que a propaganda a servi- Zé - — São feitas pelas grandes corpora- sujeito se desespera e vai para a religião. vés dos quais comunica o produto aos
ço da venda de idéias, de serviços, de pro- ções . . . Existe uma crise absoluta, e a propaganda consumidores; e o consumidor. Cada um
dutos da iniciativa privada, faz com que Otto — Cada vez menos, embora eu não torce exatamente a possibilidade de- in- tem o seu perfil. Então o que você faz é a
esses órgãos de divulgação, jornais, etc, tenha uma opinião tão escatológica sobre formar a verdade e transforma o conheci- adequação mais perfeita possível entre os
possam se manter independentes do po- os sistemas capitalistas como você, por- mento que tem do ser humano num ins- tres perfis, em termos razoavelmente
der oficial. que acho que todo sistema cria seus pró- técnicos. Esse é o processo de plane-
trumento de opressão.
Zé — Mas eles caem no verdadeiro poder, prios antídotos. Você vê, a legislação nor- jamento.
Otto — Aí eu volto ao aspecto da instru-
na coisa mais anti-democrática que existe, te-americana sobre os trastes é violen- Zé — O mais grave é justamente quando
mentalidade. Você não condenaria uma
que é o poder das grandes empresas. Só tíssima. Essa manipulação não é tão natu- você analisa uma determinada camada da
faca, que pode cortar queijo e pode
não existe democracia por isso. ral e tão fácil. Eu diria que particularmen- população, sente uma aspiração que ela
matar. Se a coisa está a serviço de um
te, já que estamos falando desses aspectos tenha e que muitas vezes, se desenvolvida,
Otto - Acho que o único problema entre sistema, qualquer opinião minha a respei-
éticos, quer dizer, da agressão contra o ser poderia fazer com que ela atingisse um
nós dois . . . Concordo, com muita coisa to é improcedente. É óbvio que o publici-
humano, você tem dispositivos de defesa objetivo que realmente precisa atingir, e
qué você está dizendo. O que estamos tário que recebe, dentro desse contexto,
impressionantes. Você tem o instituto da você pega aquela aspiração e pá! manda
analisando, o que você está colocando em uma certa tarefa, vai procurar desempe-
defesa do consumidor, do qual se fala já queijo em cima. Negócio de publicidade
jogo, é a validade do consumerismo, da nhá-la da melhor forma possível. Você
há algum tempo no Brasil, você tem obri- que mais me grila é isso. Principalmente
consumo-society. Porque uma vez acei- não o pode culpar.
gação de se retratar publicamente se o seu no tocante ao sexo. É uma coisa absurda.
tando uma sociedade de consumo, você Zé — O cara que bombardeia, vai bombar- Otto — Você acha que a indústria auto-
anúncio disse alguma inverdade. Então, o
tem que aceitar a propaganda. dear da melhor maneira possível . . . mobilística fez bem ao Brasil?
que quero dizer, é que o próprio sistema
Zé - Claro! Otto — Exatamente . . . Zé — Acho péssimo.
criou algumas defesas que . . .
Otto — Então a rejeição não é da ativida- Zé — Como o cara que vai ligar a câmara
Otto — Você acha que o Brasil deveria
de publicitária e sim do contexto a cujo Zé — Não seria uma forma de aperfeiçoar de gás vai ligar da melhor maneira pos- continuar importando automóvel? Ou
serviço ela se encontra. Você não pode o sistema dentro do sistema? Nenhuma sível . . . devíamos andar a pé? Ou de bicicleta?
dizer que a propaganda é boa ou má sem das formas que você citou mexe no fundo Otto — Quer dizer, a validade ética; acho Zé — É que o pensamento todo está vicia-
fazer uma análise do próprio sistema. do problema. Ninguém julga se é moral uma coisa extremamente perigosa. Como do, a gente só consegue pensar em termos
Agora, como publicitário e economista, ou imoral a propaganda? Humana ou é que você pode dizer isso, você conhece de sociedade de consumo, carro . . .
me coloco do lado puramente formal. desumana? gente de propaganda . . . Otto — Pelo contrário. Acho que o seu
Quer dizer, dado um determinado con- Otto — Vamos voltar 170 anos atrás, para Zé — A h , conheço muitos, depois, sou pensamento está um pouco apaixonado.
texto . . .
a época da Revolução Industrial. Há uma homem de teatro, observador . . . Uma Zé — A h ainda bem! Maravilha! Muito
vez andei com um publicitário num bairro obrigado.
Zé — Mas esse é que é o problema: o ser relação circular inegável entre a produção operário e ele andava apavorado, entra-
humano não é uma coisa formal; no en- e a propaganda. Você acredita — é uma mos num boteco pra tomar um cafezinho Otto — O meu é inteiramente frio! (rin-
tanto, está submetido só a coisas formais. pergunta honesta que faço — que o bur- — e ele sabia karatê — e ficava se cotucan- do) É horrível isso . . .
O esforço incrível da humanidade, o es- guês, em termos absolutos e não relativos, do. Ele sabia o mal que fazia, ele conhece Zé — Mas o pensamento tem que ser apai-
forço científico, para resolver os proble- esteja gozando de um nível de vida me- perfeitamente o que faz. xonado! E a vida está ficando gelada, hor-
mas todos que o homem tem, da cabeça lhor ou pior que há 170 anos? rível! Viemos pra cá, ficamos uma hora —
aos pés, tudo é usado pela propaganda. —Zé — Melhor, dentro dos padrões da Otto - Comigo você pode andar tran- uma hora — no trânsito! Meu Deus, pra
Não sei como é possível o sujeito se infor- sociedade de consumo, mas no nível de qüilamente . . . sou um publicitário que quê, isso?
mar a respeito do homem, saber de suas liberdade; não o de manipulação, decisão. está na ativa há 15 anos, estou na ativa na Otto — Eu acho bacana isso. Quer dizer,
inclinações e usar aquilo para fazê-lo con- O nível de auto-determinação era maior. pesquisa de mercado, temos uma agência daqui a pouco vamos tomar cachaça . . .
sumir . . . O que a sociedade de consumo faz . . . in- experimental, um centro de pesquisa aqui Mas veja: não pense que a frieza que está
Otto — Mas sem isso a publicidade seria clusive a estética da propaganda, é uma na Escola, aqui se procura apurar técni- sendo abordada seja resultado de uma
totalmente ineficiente. Eu tenho que co- das coisas mais feias que a humanidade já cas, para fazer cada vez melhor a propa- completa insensibilidade em relação aos
nhecer as'bases típicas do consumidor. produziu. O próprio luxo, a embalagem ganda. Fazer com que cada cruzeiro inves- problemas que você está levantando. Uma
Zé — Mas isso é manipulação, não é de- da classe média, é- muito feia, porque é tido atinja o resultado maior. Se você coisa eu posso dizer. Nós procuramos,
mocrático, é destrutivo, é uma coisa . . . desvinculada da vida, tudo depende de aceita como unidade — usando o jargão voltando ao caso do queijo, ensinar aos
Otto — Talvez seja uma questão de no- uma coisa muito mecânica, onde existe publicitário — o seu público-alvo . . . nossos alunos, pelo menos nesta Escola —
menclatura. Quer dizer, você tem um de- uma hiper-distribuição de trabalho e as Zé — O que quer dizer isso? que se considera muito honesta dentro do
terminado sistema, numa sociedade que coisas todas são encomendadas a partir de Otto — Público-alvo é o conjunto daque- contexto em que estamos inseridos — que
chama de capitahsta. E u chamo de socie- um fator só, que é o fator de compra, e les caras que eu quero atingir. Quero atin- o publicitário não deve se incumbir de
dade de mercado livre, porque capita- todo esse é um mundo que se encontra gir, sei lá, mulheres entre 25 e 35 anos de tarefas que considere eticamente rejeitá-
lismo hoje em dia tem uma conotação as- muito próximo do apodrecimento e mui- idade, que moram em Santa Catarina, per- veis. E m outras palavras, se você está con-
sim um pouco perigosa pela simples razão to distante da vida. O mundo está virando tencem sócio-economicamente à classe A victo de que o queijo faz mal, não pegue a
de que todas as sociedades modernas, de uma imensa lata de lixo, como a própria e B I , e têm determinado estilo de vida "conta", como já fizemos; a campanha
uma certa maneira, não deixam de ser ca- Europa Ocidental. Esse mundo que nós que eu posso inclusive quantificar. Então, não deve ser feita. Porque a coisa mais
pitalistas. Aí eu abriria um parênteses. sabemos que é inviável. Tanto que existe identifico claramente o meu público-alvo burra que você pode fazer é divulgar men-
Veja: toda sociedade moderna precisa um desespero, uma procura enorme — eu e, digamos, tenho uma verba determina- tira. Pois a propaganda é um fator de ace-
captar o excedente, quer dizer, aquilo que não acho que resolva — dessas religiões, da, xis cruzeiros; vou querer que esses xis leração em termos econômicos, e com
ela gerou dentro de um determinado como saída. Mas a coisa continua esquizo- cruzeiros produzam o maior resultado maior número de pessoas tento contato,
período, além das suas necessidades; é frênica, porque as pessoas vão para essas possível. Aquilo que se chama "produti- em menos tempo, com o seu "abacaxi", o
aquilo que ela decidiu poupar. Nas socie- religiões e continuam vivendo dentro da zação" do resultado. O produto seria, di- produto será enterrado em dois meses em
dades socialistas as decisões sobre a pou- sociedade de consumo. Mas quando o su- gamos, o queijo. Quero que elas comprem vez de em um ano. ->
Propaganda
Zé - Bom, mas têm divulgado mentira Otto — Que seja assim, eu vou aceitar. E consumo é o mais burro que já houve na por problema moral, por nada: é porque
pra chuchu, principalmente sobre amor, vou voltar a outra pergunta, que tinha fei-história. Aquém das máquinas que tem do estamos querendo fazer um teatro que
casamento, propriedade, férias — sobre to antes . . . lado, escravizado a ela, e nem sabendo mostre a vida; que não persuada ninguém
tudo! Só vejo mentira na rua; tudo o que Zé — Queria dizer também o seguinte: es- por quê. O cara é escravo e não sabe que e sim que tente despertar em cada um o
eu vejo na rua, eu leio ao contrário . . . sa coisa de não informar que a kombi é 'é. que resiste ainda de restos de ser humano.
Otto — Estou falando de coisas materiais. perigosa, é que a sociedade de consumo é Otto - Você está dando a idéia de que a Catar todos esses restos, voltar a compor
Se você diz que o automóvel anda a 140 e uma sociedade dopada, anfetamínica. Ela aceitação do "consumerismo" nos Esta- a figura humana inteira, o personagem
ele vai a 80, quer dizer, você não conse- não pode parar, ela não pára, não pára, dos Unidos é uma coisa pacata, mas não humano inteiro. Que está acabando. O
gue . . . fiz campanha de Volkswagen ninguém sabe por quê, nem como, nem é. É uma contestação violenta! Tem um mundo está ficando insuportável. E não
durante cinco anos, fui um dos responsá- quando. O horror que as pessoas têm de cara, chamado Nader, que está sacudindo faço isso por dever, é uma necessidade
veis pela criação do slogan "O bom senso diminuir, modificar, o ritmo de produção, esse negócio, e todo um dispositivo de biológica minha e que eu acho que todo
em automóvel"; um slogan que defende- é o terror! Então tem-se que ir sempre, e defesas violentíssimo, inclusive consa- mundo tem. O publicitário, que está mais
ria hoje com o mesmo ardor e convicção. vai-se até a destruição, é o que vai aconte-
grado em lei. O negócio não é tão tran- assim atolado nas caretices que ele inven-
Porque se existe um carro que é bom sen- cer. qüilo, como quem tem uma tropa de car- ta, no momento em que se sente mal,
so é aquele, quer dizer, pelo menos Otto — Viva então o rei Faiçal, que está neiros assim, que aceita esse bombardeio pensa que está com o fígado ruim, pensa
era . . . talvez seja ainda hoje. botando um freio nesse negócio? enorme dos meios de comunicação de que é coisa de psiquiatra, mas não é. É o
Zé - A coisa de Goebells . . . Volks- Zé — Viva o rei Faiçal! massa, e masoquisticamente se dirige . . . ser humano dele que não está agüentando
wagen, o carro do povo. Claro, foi ele que Otto - Bem, Você ainda não respondeu à Zé - Não, isso não vai acontecer, você aquilo, que está vomitando. Porque so-
lançou. Na época em que o operariado pergunta mais importante. A indústria au- tem razão; isso já está acabando, porque é mos todos iguais, não podemos nos sub-
alemão estava sendo submetido a muita tomobilística no Brasil realmente criou antinatural, antibiológico, anti-vida, é o meter e submeter os outros a tanta violên-
politização, e havia a coisa de dar o car- novos horizontes econômicos. Ela está domínio da morte, isso vai acabar. Como cia. Isso marca a gente, marca nossos fi-
ro . . . dando trabalho a um milhão e 400 mil acabou o nazismo, que foi só a forma lhos. E já tem toda uma geração que os
pessoas, que poderiam ser usadas em ou- mais brutal disso. Agora estamos vivendo filhos estão despertando como gente, e
Otto — Eu entendo muito bem. Minha
tra atividade, não sei. a forma mais sofisticada, a pior; o nazis- despertar como gente nesse mundo é de
mãe tava nas filas pegandoficha.Mas, va-
Z é - N a China . . . mo pelo menos tinha uma vedete, o uma crueldade absurda. A sociedade de
mos voltar à Revolução Industrial. Você
Hitler. Agora não tem nem vedete, só tem consumo não suporta o ser humano, por-
disse que o operário de hoje tem menos Otto - Eles usaram três milhões de pes-
máquina, não tem mais gente, acabou. que ela organizou tudo na base da frieza.
opções quanto à própria personalidade, soas pra construir uma ponte. Podem-se Otto — Você lembra que eu disse que o
mas a gente hoje tem muito mais horas de encontrar formas de uso de mão-de-obra Ela tem horror, nojo, do ser humano. Aí,
próprio sistema cria seus antídotos?
lazer. Ao invés da semana de 60 horas, menos ricas de capital. A questão é se o quando surge o ser humano, pá! Psiquia-
Zé — Cria, claro. A destruição total está
temos a de 40. Brasil tinha, em 1958, a mesma opção nele. Total, absoluta. Não vai sobrar nada. tra nele, prisão nele, bomba nele, mata!
Zé — Mas o que é o lazer? O quê que a que a China; o Brasil já era muito mais Otto — Eu não tenho a bola de cristal, Otto — Me parece que esse tipo de com-
publicidade faz com o lazer? O que é que industrializado. Isso não podemos esque- portamento não foi uma invenção da so-
não sei, acredito que o homem-carneiro,
se faz na hora do lazer? É o maior traba- cer. Então, como o Delfim disse quando ciedade de consumo. O pessoal se mata
completamente massacrado, é uma con-
lho que existe, é uma batalha você sair deu a aula inaugural na Escola, em 71, um assim há mais ou menos quatro milhões
cepção falsa. O que eu não entendi foi o
pelas estradas . . . país que tem uma riqueza natural como o problema, assim, em termos de antagonis- de anos, né?
Otto - Você rejeita isso? Eu respeito Brasil, que tem o potencial desenvolvi- mo propaganda-teatro . . . Zé — Na sociedade primitiva o cara mata,
democraticamente. A única coisa que eu mentista que o Brasil tem, não seria o Zé — Não é só teatro. Cinema também. mas o trabalho dele, não. Quer dizer, tem
gostaria que você .fizesse; já que rejeita a caso da propaganda ser util no sentido de Hoje você não tem mais estúdios em São o carrasco, tem isso, tem aquilo. Mas uma
consumo-society, e tudo o que ela repre- ampliar o elenco de opções do consumi- Paulo para produzir coisas que digam res- sociedade de consumo é toda organizada
senta, porque você não rejeita apenas a dor pra buscar mais ferro na terra, mais peito às coisas humanas. Tudo virou cine- num cinismo tal, que se a atividade for
consumo-society, na realidade você rejeita óleo, pra acelerar o processo econômi- ma de propaganda. É só o que se faz. Pe- inumana, anti-social, não tem importân-
a ideologia que a formou. co? . . . gou toda uma geração. Inclusive o publici- cia; a matança faz parte do pão nosso de
Zé - Você também rejeita. Qualquer pes- Zé - Pra destruir mais a terra? tário é um cara que está muito próximo cada dia. A ordem cotidiana é máfia, é a
soa que olhar dentro de si própria, rejeita. Otto - Você tem uma visão idealista, do sujeito que pode informar, do infor- matança. E é normal. E tem aquela coisa,
Otto — Já que você rejeita, eu gostaria muito bonita da coisa, mas acho que o mador. Foi tudo "roubado" pra desinfor- que boa parte dos publicitários é obrigada
que criasse uma opção. Me dê uma visão seu caminho, a longo prazo, provavel- mar. No meu tempo de faculdade, eu era
a inventar, é obrigada a criar, a ideologia
dessa opção. Como ser humano, preciso mente iria nos levar a uma situação quase tão impressionado com isso, que escrevi
do publicitário, que é uma ideologia feita
ter alguma coisa para pôr no lugar. que medieval. Pode ser muito bonita, uma peça, a história de üm publicitário de cima, que eu não estou vendo no se-
Zé — Eu poderia ser um ótimo publicitá- muito romântica, mas acredito que a pró- que durante o dia todo ficava no escritó-
nhor. Com toda a sinceridade. Publicitá-
rio. pria existência dessa opção é falsa. rio das 8 às 7. Depois, à noite, metia-se a rio geralmente é aquele cara fino, cheio
Otto - Mas não estou falando em termos Zé - Não.acho; é outra coisa - será que fazer política e tinha um jornalzinho polí- de humor, cheio de sofisticação, cheio de
profissionais . . . não há condições de botar essa tecnologia tico. Aí ele ia vendo, no mesmo bairro cinismo, aquele saco de merda — os que
Zé — Só não sou porque achei que era a serviço de nós mesmos? que ia fazer a agitação política dele, ela eu conheço. Aquela coisa não-cagada,
antiético . . . Otto — Não sou ecólogo. era ridícula diante da eficácia enorme que aquela coisa que não foi pra fora — irôni-
Otto — Não estou colocando o problema Zé - Não se trata de ecologia. Não se ele tinha enquanto publicitário. Então era ca, aquele cinismo . . .
em termos de opção profissional, mas trata de voltar à Idade Média. ele destruindo a ele mesmo . . . Otto - Me considero um cara razoavel-
sim: já que você rejeita a consumo- Otto - Mas você sempre precisa de algum Otto - Você acha que a atividade artísti- mente sério. De maneira que esse
society, o quê você gostaria de colocar no dispositivo político que acione esse negó- ca pura e o exercício da profissão publici- argumento de que o que importa é se
lugar, porque eu preciso de uma opção! cio. Que tipo de .sociedade você queria tária sejam incoadunáveis? fazer bem . . . você não aceitou minha
Ex — Só como tentativa de discutir uma ter? Você não pode fugir à opção, e co- Zé — Acho o seguinte: tem muita arte na colocação inicial de que talvez seja bom
opção: voltando ao problema da kombi. mo não pode, simula talvez um tipo de publicidade, tem muita coisa bonita . . . aumentar o elenco de opções em determi-
Nunca se viu uma campanha dizendo "a sociedade ideal, em que gostaria de viver, O t t o - A h , bom! . . . nadas fases de uma sociedade. Sou absolu-
kombi é ótima pra isso e isso; a kombi e dentro dela não há lugar para a propa- Zé — Agora, no geral, é uma porcaria. Cla- tamente convicto de que para um proces-
não presta pra isso e isso." ganda, admito tudo isso. Agora, dentro ro, acontece muita coisa interessante aqui
so de desenvolvimento brasileiro, rápido
Otto - A publicidade moderna não parte do elenco de opções atualmente existen- e ali, que a beleza sai pelos poros . . .
- que tinha ser rápido - , a indústria au-
mais da premissa de que o consumidor tes . . . Você pode fazer uma câmara de gás linda,
tomobilística foi um fator decisivo.
tem a idade mental de 13 anos. Então, se Zé — Claro: a sociedade tem que fazer pode fazer um avião de bombardeio com
Zé — Da criação de uma sociedade de
você diz que a kombi é um veículo para guerra, tem que fazer propaganda, tem um design maravilhoso. Isso pode ser, mas
consumo, não do desenvolvimento.
transporte de famílias grandes, que pesa que fazer esses prédios pras pessoas mora- é uma beleza pela metade. Depois, a
Otto — Novamente insisto no ponto das
tantos quilos etc. - só através da caracte- rem, fazer essa cidade, tudo isso. É que é publicidade brasileira ainda é mais incrí-
opções. Podemos voltar — desculpe, estou
rização de seus usos principais você dá uma sociedade baseada na exploração. vel, porque é uma cópia também degrada-
exagerando um pouco deselegantemente
idéia de que não é um carro de corrida! Otto - O que eu acho injusto . . . da da publicidade americana. Quase todo
- podemos voltar à Idade Média . . .
Você não pode, inclusive dentro da técni- Zé — Todo contato é na base da explora- publicitário é um cultuador das coisas,
ca e da lógica, explicar vantagens e des- ção. É sempre um emcima e outro em americanas, compra aquelas revistas Zé — Não estou dizendo isso. Inclusive as
vantagens; quer dizer, como a publicidade baixo. Tudo exatamente na base do que o todas, é uma coisa colonizada . . . opções, tanto existiam, que foi necessário
é uma técnica de persuasão, obviamente senhor chama de frieza e . . .objetivida- estabelecer um regime autoritário pra per-
ela tem que saüentar as vantagens e deixar de. Coloca entre parênteses a coisa real e mitir que fosse esse caminho, que se fosse
que o consumidor chegue às próprias con: chama isso de objetividade. Isso é que não Otto - Já foi . . . não é bem assim. maravilhoso não haveria necessidade de
clusões. Zé — Não tem mais esse negócio de arte, um Estado autoritário, que inclusive nem
entendo: a realidade, a vida humana é co- inclusive. Acabou a arte. Acabou o teatro. os publicitários gostam, que ninguém gos-
Zé — Tem um termo da publicidade que locada entre parênteses e, em nome da O que existe é a arte de viver, é a vida. O ta.
eu acho terrível: persuasão. Não acho que objetividade, o cara arruma uma série de que nós tentamos fazer no teatro e não Otto - O que eu proponho não é bem um
a massa tenha Q.I. baixo - a cabeça des- formas, de dados, que o computador se conseguimos, porque está tudo fechado modelo, no sentido sócio-econômico. Mas
sas pessoas é um território ocupado pela encarrega de resolver. Isso não é desenvol- pra nós, não é agitação. Não estamos proi-
você aceitaria que, eliminando-se os abu-
persuasão. vimento. O ser humano da sociedade de bidos por censura por agitação política,
sos óbvios do processo, a consumo-
C a r t a s de Mariel
O XADREZ NÃO ESTA AGRADANDO E É SÓ O PRIMEIRO DOS 16 ANOS

MARIEL Antigo Percival de Souza


MARIEL
MORYSCOTTE MORYSCOTTE
do crime da Guanabara. Porem mesmo assim, esta mais do que provado, por
Muito me alegra, poder escrever a voce, informando minha situação proces-
fatos e testemunhas que não fui o autor dos homicídios, e como j á de muito
sual. 0 motivo desta alegria, e ter a oportunidade de transmitir aos
venho dizemdo, um homem. Hélio duarte Nunes, diz, confirmando as minhas a-
leitores deste Estado, a real verdade dos processos a mim a t r i b u í d o s , que
cusaçoes: O ASSASSINO í AR..1AND0 AREIAS FILHO; EU AJUDEI NA PRISÃO DA VÍ-
de uma hora,para outra, fizeram-me descer de um falso pedestal por eles /
TIMA NO HOlEL ÓNICO.
mesmo criado e ser atirado ao cárcere de maneirp covarde e truel; também
Também, confirmando essas ueclaraçoes, Liíci'» Francisco de Paula, e Antônio
porque meu Advogado Jair Leite resolveu solicitar o desaforamento dos meus
Ramos Ferreira, este ultimo apresentando ate cartas recebidas por ê l e , e
processos ainda este ano, deve enviar por esses dias ao Tribunal de Apela,
enviadas pelo próprio Armandinho, confessando os crimes.
çao esta s o l i c i t a ç ã o ; e assim sendo muito me alegraria ser julgado neste
esclarecendo, digo que todos os crimes, teem as mesmas c a r a c t e r í s t i c a s ' e os
Estado, por esse povo que não e s t á ainda poluído pela falsidade, mentira
apiiradores julgam que o provável autor de um crime, tenha cometido todos os
e covardia, com que tentam os meus inimigos, influenciar todas as cama-
outros. Não posso esquecer, e deve ser sempre lembrado, que quando es-
das da sociedade, jogando-a contra mim,,procurando distorcer minha imagem
távamos incomunicáveis no Xadrez do DOPS, foi assassinado um homem, que foi
e desmoralizar-me a personalidade. Fui condenado em um processo.e
o mesmo ainda não tranzitou em julgado, e nele a praucupação dos acusado- confundido com um marginal de apelido "Comprido", isso trouxe um grande mal

res, era aparecer as minhas custas, e também tirar-me de c i r c u l a ç ã o , pois estar ao organismo p o l i c i a l , pois a precipitação nas investigações mal fei-

eu os combatia e era um perigo para os seus planos; isso levou a erro o tas pela própria p o l í c i a , e aOessoradas pelo Promotor Silveira Lobo, quase

Promotor e Juiz, que confiaram plenamente nas "provas** sem conferi-las, levaram a prisão um Delegado e seus auxiliares. Mas esse crime, trazia
„ Condenado por uma estorçao que não existiu e por dois estelionatos pela todas as c a r a c t e r í s t i c a s dos crimes a mim atribuidos; mais tarde, Dr, Jair
."tranzição" do "produto da estorjjão", Nos autos do Processo, encon- Leite pediu que comparassem cartazes aluzivos ao esquadrão da Morte, cápsu-
tra-se apreendido o "produto" do crime, Traveller*s Checke's. Acontece las e p r o j e t í s de ambos de ambos os crimes; o que a mim esta atribuído e o
que o "produto" da "estorrão", que o Promotor diz que foi cometida no dia que foi cometido quando estava eu preso incomunicável no DOPS. Resultado:
7 de Junho de 1970, Foi tranzacionado nos ££,UU. em 4 de Novembro de Os dois crimes, foram cometidos pela mesma arma, foi o que informou os peri-
196'í, ou seja bem antes da inventada "íiXTOKÇÃO", quando ainda não existia tos da Delegacia de C r i m i n a l í s t i c a . Agora peço, condenem-me ou. soltem-
os famosos e temíveis "Homens de Ouro" que tive o prazer.de ter «ido cons- me não podem prejudicar-me mais do que ja prejudicaram. Ainda na semana
ciderado, entre os melhores e que tanta inveja trouxeram contra seus compo. passada, foi relaxada uma das prisões preventivas que estava decretada con-
nentes. Disto, pode-se tirar conclusões de com» foi o andamento de to- tra mim. Confio na J u s t i ç a de meu País e dela espero a LIBERDADE,
do o Processo; pois nestes crimes, condenaram-me a 14 anos de p r i s ã o . Informo também que em final de Dezembro, j á estará lançado o Livro- Mariel,
Nos crimes do famigerado tisqundrao da Morte, sou acusado de cinco, porem Ringo -A Sangue Frio, que é um memorial, que é a transcrição de meus últimos
j á respondi a outros dois e que j á estavam arquivados; esses, foram cometi, anos, desde meu tempo de P o l i c i a l , o Livro informara a esta sociedade que /
dos quando combatendo assaltantes, fiquei frente a frente com os mesmos, e ira me julgar, como cheguei a esta s i t u a ç ã o que me encontro, como fugi,o que
defendendo-me bem como ao assaltado, fui agredido a tiros, tive de fazer / fui buscar, o que trouxe e quem e porque me acusam.
uso de minha arma, acertando-os. Esclareço que os que tombaram pelas / A J u s t i ç a Brasileira é uma realidade, senão vejamos a recente Lei assinada,
minhas armas, foram conduzidos por mim ao Pronto Socorro nas duas o c a s i õ e s , pelo senhor Presidente Wedice,
onde apos os socorros médicos, faleceram. Repito e não cando de dizer. Confio na Justiça do meu País e dela espero
a LIBERDADE.
Imaginem que'até esses, o Promotor disse em sumario que i r i a reabri-los,tefl.
do inclusive j á mandado fazer a r e c o n s t i t u i ç ã o do fato. Reparem ago-
ra que esse Promotor, e o mesrm que sem observar as datas no Processo dos Guanabara, 14 de Dezembro de 19'
rraveller's Checke's, fez cora que o Dr. Deocleciano D*Oliveira, deixasse • /
também de observa-las, tanta era a firmeza das suas acusações; digo acusa-
ção porque o Promotor não cumpriu a função de Promotor Fiscal da Lei; dei-
xou-se influenciar pelo desejo de acusar-me e perdeu-se no torvelinho das
paixões. Sobre os cinco crimes do esquadrão da Morte, so estou progaQ.
ciado em um, nos outros quatro; apesar de terem sido iniciados no mesmo dia,
naojouve ainda pronuncia. Provas nao existem contra mim, testemunhas
muito menos, apesar de terem sido arrolados para os processos, a fina flor

Resposta do recebedot da carta Aí entraria em cena Mariel Moryscotte, que em que se encontrava, na Guanabara. Bem mais mais um ano de internamente em Colônia Penal
depois de se identificar começaria a contar, via tarde, Mariel foi preso quando viajava de carro Agrícola, por medida de segurança.
O ex-animador da Tupi, Flavio Cavalcanti, Embratel, para todo o Brasil, porque fugira da de Salvador para o Rio. Além disso, Mariel é acusado de participação
interromperia o seu programa de um domingo prisão e qual era ou deixaria de ser o seu Acusado de chefiar um grupo que fizera um em cinco homicídios atribuidos ao Esquadrão
qualquer e, de repente, após retirar delicada- negócio com o Esquadrão da Morte. O esquema derrame de 600 mil cruzeiros em cheques de da Morte carioca - e por estas acusações espera
mente os óculos e fazer beicinho hitchcokiano, não deu certo: Mariel foi preso antes. viagens falsos, Mariel foi condenado pelo MM uma definição da Justiça. •
perguntaria com um oh \ de espanto: Conheci o sr. Mariel em Assunção, no Para- a
Juiz da 10 Vara Criminal da Guanabara a 16
- Quem é este senhor? guai, meses depois que ele abandonara a prisão anos de prisão, a uma multa de dez cruzeiros e a

society — embora eu não goste muito des- açúcar, sei lá . . . o cara não toma leite diz que o que existe é aquele mulher lou- dignidade do ser humano, então pelo
sa expressão —, ela possa se autopoliciar e porque não tem grana pra comprar o ra, aquele cara com aquele terno e grava- amor de Deus, levante agora e saia da
encontrar caminhos que levem o homem leite, ou também não tinha leite. Depois, ta; ou você se submete àquela coisa, usa sala". E u concordo com você, mas como
àquela realização apontada por Erich pior ainda: "Tome leite que você se desin- aqueles produtos, usa aqueles fedores, ou pessoa sensível que inegavelmente é, deve
Fromm? Vooê acredita que esta socieda- toxica da poluição da cidade" — Não você não é nada. admitir que é válido não ter essa preocu-
de, se autopoliciando, enfim, tem uma tem moral, a sociedade de consumo quer Otto - Tenho centenas de amigos publici- pação. Porque nem todo mundo precisa
chance? ter moral, quer vender a moral, mas não tários e diria que a maioria esmagadora participar dessa preocupação. Você enten-
Zé — Não, porque a essência dela é uma adianta. deles, ao exercer suas funções, não tem de o meu ponto de vista?
abstração, é o lucro, o dinheiro . . . Otto — Gostaria que você me apontasse nenhuma consciente preocupação ideoló-
gica da manutenção do sistema de consu- Zé — O que se vê é aquele cara, aquela
Otto — Mas nenhuma sociedade moderna uma sociedade com moral. Você aceitaria
pode Viver sem o lucro. Não faz diferença mo; eles estão aí largando brasa para ven- inteligência sepultada ali, um cara escravo
o velho Robson, que disse "O homem é o
nenhuma se você chama esse lucro de ex- der da melhor maneira. a serviço de uma mensagem que nem ele
lobo do bomem"? . . .
cedente ou de plus-valia. O que eu disse domina mais. É muito difícil comunicar
Zé — Pode ser que numa fase muito atra- Zé — Isso se chama — é um lugar comum
inicialmente me parece verdadeiro: que essas coisas que estamos começando a
sada isso aconteça. Mas, de repente, quan- — alienação. Você está alienado, mas
toda sociedade técnica, que usa bens de sentir agora, este é um momento negro da
do o homem é inimigo do homem, o divulgando uma ideologia, um estilo de
produção, que produz máquinas e essas humanidade, uma época escura, simples-
homem é inimigo de si mesmo? Qual é? vida. Não tem a coisa separada, trabalhar
máquinas produzem bens de consu- mente . . .
Otto — Bem, estou citando isso a exem- numa coisa e pensar outra. Você é aquilo
mo . . . Você diria que a divulgação do plo de uma coisa . . . que você faz! Otto — Essa é uma atitude um pouco es-
consumo de leite através de uma campa- Zé — Eu sou homem, mas não sou meu Otto — Tenho aqui na gaveta a aula inau- catológica. Mas não acho que haja um
nha publicitária mereceria o termo de im- inimigo, eu tenho um amor incrível por gural de uma faculdade norte-americana fim, você tem uma visão tremendamente
pingimento ou educação? A propaganda mim, sou apaixonado por mim . . . de propaganda. O professor que proferiu apocalíptica . . .
não pode educar? Você não dá sequer Otto — Acho essa posição bastante inte- essa aula abriu a coisa mais ou menos as-
esse direito a ela? O consumo de leite é lectual . . . .,' sim: "Se um de vocês tiver qualquer preo- Zé — Eu acho que estamos no apocalipse,
desejável ou não? Zé — Não é não, porque as pessoas estão cupação ideológica de que esteja ou vá tenho certeza absoluta . . . a "Casa do
Zé — Depende. Se você quiser tomar leite, começando a se apaixonar por si próprias, exercer uma profissão socialmente conde- Senhor" vai acabar, podes crer! Abraca-
sim; se não quiser, não. Problema de leite, felizmente. Inclusive toda essa sociedade nável, conspurcadora, que aniquila a dabra! a
Psicotransasentimental
COMO FOI DITO NO N ? 1, AQUI S E R Ã O RESPONDIDAS C A R T A S D E L E I T O R E S C O M P R O B L E M A S PESSOAIS. E S T A A B E R T A A S E Ç Ã O .

Dr. Roberto Freire: Em que se baseia esse comportamento? Vo- mo pode ligar sua vida à desse rapaz "até que a rose que se torna grave e acaba em tratamento
cê pretende compreender a modificação de vida morte os separe"? Como, se estarão proibidos psiquiátrico como indigente, bu psicanalítico se
de sua irmã. Vamos tentar ajudá-lo, iniciando de reconhecer um erro de pessoa nessa união seus pais puderem pagar. O outro caminho é o
Gostaria que dentro de sua seção analisasse pelo que é óbvio, mas necessário. Devemos, de pelas leis que regem o casamento religioso e ci- da volta completa a família, à vida burguesa, à
os fatos que exporei e me auxiliasse indicando a imediato, discutir a autenticidade das opções vil da estrutura em que estão inseridos, mas sociedade de consumo.
forma de relacionamento que deverei adotar: dos jovens que se rebelam contra a organização cujos valores negam? Gostaria de apostar em sua irmã: que ela seja
minha irmã, até 3 anos atrás, era uma garota e as características das sociedades em que' vi- Entretanto, baseando-me apenas em sua car- uma hippie autêntica. Voutorcerpor ela. Con-
apegada aos valores de família uma representan- vem. Essa rebeldia, eles têm todo o direito de ta, a situação pode ser bem diferente. Sua irmã fio muito nesse projeto para um novo estilo de
te típica da classe média. Pouco saía de casa, apresentar, e ela se justifica pelo fato de não pode. também fazer parte da legião de jovens vida. Cada denota humana nesse projeto, nos
"namoros recatados", muita dedicação nos es- terem escolhido, nem participado na formação neuróticos, desajustados psicologicamente por afasta mais profunda que longamente desse
tudos etc. Devido a estes mesmos estudos, ela dessa sociedade; nem sobre ela, em alguns paí- traumas pessoais, familiares e sociais, que se ideal utópico, mas lindo e sadio, que espero vi-
necessitou mudar-se para o Rio, onde atual- ses, têm direito de opinar. Podem, pois, discor- marginalizam na sociedade capitalista por serem vamos um dia.
mente cursa uma escola superior. dar profunda e frontalmente dela, bem como incapazes de amar e de criar; possuem todo o Se ela abandonou o estudo universitário, é
condená-la e resolver viver à. sua margem, bus- potencial para isso, mas estão bloqueados. São porque não vê nele possibilidade alguma de usar
Após um período de aclimatação, suas idéias cando um projeto de vida mais de acordo com
começaram a mudar, assim como tudo em sua os "rebeldes sem causa". Eles se afastam das seus conhecimentos e diploma num trabalho
suas aspirações culturais, afetivas e políticas. Es- famílias, da escola, da vida social, contestam que realmente promova a vida humana fora da
vida. Assumiu atitudes "hippies", porém sem se ses rebeldes têm, pois, uma causa a defender;
engajar realmente nessa forma de vida. Mil preo- são autênticos e respeitáveis; talvez estejam pro- tudo isso, mas - se o motivo é profundo e des- Sociedade de Consumo. Mas também é possível
cupações sociais e ambientais, das quais se jetando, como pioneiros, a nova sociedade que conhecido por eles — as manifestações são su- que continue estudando muito, bem mais do
munia para agredir a família em seus valores estaria para surgir em contraposição à Socieda- perficiais e inautênticas. Adotam apenas, do que faria na universidade. Acabará por não pos-
tradicionais. Parecia que sua finalidade era ex- de de Consumo. grupo hippie, os aspectos externos: marginaliza- suir diploma algum, mas disporá de todo o
clusivamente "grilar" as cabeças à sua volta, A rão social, roupas extravagantes e coloridas, en- conhecimento cientifico, artístico e humanís-
família toda já estava revoltada e confusa quan- Mas o quê contestam esses jovens na Socie- feites, os longos cabelos, barbas, gírias. Nas co- tico que desejar. No entanto, imaginemos que
do ela nos deu a notícia: iria abandonar a escola dade de Consumo? Depois que foi morar no munidades onde vão buscar abrigo, cedo reve- ela continue estudando. Medicina, digamos.
e "casar-se" com um garoto, e iriam se sustentar Rio, talvez sua irmã tenha feito, por exemplo, lam seu comportamento egoísta, anárquico, in- Qualquer estudante de Medicina pode susten-
através do artesanato. "ima opção marxista, segundo a qual tanto a competente e parasitário. Acabam sendo recha- tar-se em trabalhos ligados à profissão: enferma-
íssência quanto a prática do capitalismo são ne- çados pelo grupo e procuram outros, depois ou- gem, laboratórios de pesquisa, aulas em cursos
gadas e apontadas como nocivas ao futuro do tros, numa peregrinação que lhes garante a co- preparatórios etc. Com esse dinheiro, pode ter-
Rodolfo de Oliveira - Resende (RJ) homem. Vivendo num país cuja estrutura polí- mida e o teto, jamais produzidos e garantidos minar o curso, procurando aperfeiçoar-se o má-
tica e social favorece a sociedade de consumo e, por eles. Quando não podem mais enganar nin- ximo, para o desempenho de sua especialidade.
não querendo ser uma militante política mar- guém, partem para a delinqüência e vivem disso, Conheço cientistas de grande valor e celebrida-
xista, por não aprovar o estilo de vida oferecido Fazendo com que. se confunda esse tipo de de mundiais e sei que o fruto de seus trabalhos
pelos países socialistas do ocidente, quem sabe hippie com o outro de que já falamos. não vai alimentar a estrutura da Sociedade de
ela não' encontrou no projeto hippie a forma na Não quero imaginar sua irmã vivendo assim. Consumo. Lembro o caso de um médico que se
qual possa realizar melhor suas aspirações hu- Mas como distinguir? Será que ela faz parte dos especializou em genética e que é hoje um dos
Rodolfo: manas? hippies que vivem à custa de mesada dos pais mais famosos do mundo. Trabalha numa univer-
Tornando-se uma hippie militante, ela con- burgueses - cuja dependência da Sociedade de sidade, ganhando pequeno salário; e vive feliz
dena a estrutura da família burguesa. Sua irmã Consumo ela condena? Essa contradição seria numa comunidade hippie, em companhia de
O que está acontecendo com a juventude no deve estar preferindo viver em comunidades de insuportável, se ela ainda goza de boa consciên- outros cientistas, médicos, higienistas, pintores,
mundo ocidental é coisa muito mais séria e im- jovens como ela, em lugar de construir para si cia. Ou, para se juntar ao rapaz sem depender escritores etc. Todos eles sabem que seu traba-
portante. Refiro-me à juventude hippie, a que um lar conservador e adaptado ao sistema egoís- dos pais, tanto ela quanto ele podem empre- lho serve à humanidade, enfim, ao homem que
sua irmã afirma pertencer. Segundo alguns so- ta da família - que está unida apenas por laços gar-se em bancos, escritórios, empresas que ven- apenas provisoriamente vive em sociedades de
ciólogos, foi durante o verão de 67 que os sangüíneos e dominada pelo poder discricioná- dem livros a domicílio; e para isso despem a consumo.
hippies se constituíram em novo e bem preciso rio do paternalismo e por uma moralidade qua- farda hippie e vestem o terno-e-gravata, escon- Quando sua irmã estivesse assim realizada,
grupo, ou formação, na sociedade norte-ameri- se sempre caracterizada pela chantagem afetiva. dendo o cabelo dentro do colarinho - ou o produzindo muito, feliz com o homem que ama
cana e, dali, difundiram-se por todo o mundo. Você diz que agora ela quer viver com um ra- vestido social charmoso em lugar da bata hindu. e com os filhos crescendo sadios, embora margi-
Esses sociólogos sustentam que é preciso ver o paz. Ela fala em viver, e não em casar, o que Não é possível racionalizar por muitotempoo nalizada da sociedade de seus pais, acredito que
"estilo" hippie como um "projeto" para certo chocou profundamente sua família. È com- cinismo dessa atitude, se eles optarem por uma eles acabariam por compreendê-la e valorizá-la.
setor da juventude, e não apenas um sintoma de preensível, porque seu plano afetivo faz parte transformação radical de suas vidas, o que não Desse modo,teriamsido inúteis e descabidas as
sueus problemas. Projeto para um novo estilo de um novo estilo de vida que choca frontal- permite concessões, contradições, ambigüida- discussões de sua irmã com eles, os "grilos" que
de vida: acredito que também seja o que move mente com o antigo e estruturado estilo de vida des; inautentícidade. Se sua irmã se mantiver na você diz surgirem em sua casa, por causa da
certos jovens-a comportar-se de maneira hippie. de seus pais. Mas, se ela quer ser autêntica, co- inautenticidade, só terá dois caminhos: a neu- transformação dela.- •

Q EQUIPE É O CURSINHO
EM SÃO RNULO QUE MAIS APROVA
NA AREADO CESCEA.
MAS NÃO ESÓ POR ISSO
QUE VOCÊ DEVE FAZER O EQUIPE.
Fora fazer centenas e centenas de economistas, comunicadores, sociólogos,
geógrafos, historiadores, literatos, filósofos, etc, o Equipe utiliza afórmula mais
manjada do mundo: instalações adequadas, número reduzido de alunos por
classe, relacionamento professor-aluno, orientação psico-pedagógica,
planejamento de cursos quefunciona, exames simulados, testes, exercícios,
estudos dirigidos, etc.
Mas o Equipefaz muito mais do que simplesmente colocar os alunos
numa faculdade.
Ele dá condições para que o aluno se saia bem dentro dessafaculdade.
Durante um ano inteiro -junto com a preparação para o vestibular - o Equipe
promove palestras, peças deteatro,murais,fllmes, etc. Onde os alunos
participam, discutem, desenvolvem o senso-entico e se preparam para a vida
universitária.
É também por isso que você devefazer o Equipe.
É o que os nossos ex-alunos que hoje estudam na USP, na PUC, no Mackenzie,
na Getúlio Vargas, na FMU, etc, dizem.
Com duas lágrimas nos olhos e o coração cheio de saudade.

GRUPO « • • C o l é g i o EQUIPE
EDUCACIONALÍ >EQUIPE Vestibulares
EQUIPE • » • EQUIPE Supletivo
RUA CAIO PRADO, 232 Teb.:257-2754é 2564)425.
COM1CUS

FA&UL050S
S^RENTOô _ loth:

or

L
CÃ42A PGA Í4V
I ü e r x , s e u cabc-

FIM
AHHH... M01OJUMBQ
TEMHCWCA* DE TODO*
O* TAMAiNHO* HUMAW
O CREDITO MAI* EARATD
DO BRA>IL AVU*. MAtf,
A^/M.... U/WVWI.
MOTOJUMBO FICA NO JUMBO
AER0P0KIO JE fTO. ANDRÉ.
E BOM. E BOM. AHHHHH...
Edição f a c - s i m i l a r r e a l i z a d a nas o f i c i n a s g r á f i c a s d a I m p r e n s a O f i c i a l d o E s t a d o d e São P a u l o , j u n h o d e 2 0 1 0 .
JORNAL DE
TEXTO
HISTÓRIA EM
AN0IN03JANEIR074
QUADRINHO,
FOTOS E
KUNG FU

Cr.$4,00

Kung Fu
"UH,É UM B A R A T O ,
M A N , N U M SEI L U T A R
NADA, SACA? É TUDO
F A J U T O , SACA?
ESTÁ F A L A N D O O N O V O
ÍDOLO DA T V ,
DAVID CARRADINE

O PECADO
(GRAVAÇÃO DE CONFISSÕES)
A REPORTAGEM QUE DEU
EXCOMUNHÃO P A R A
SEUS DOIS A U T O R E S
N A ITÁLIA

H. HUGHES
P E L A PRIMEIRA V E Z ,
T R E C H O S DO
LIVRO FALSO QUE,
E N T R E OUTROS E S T R A G O S ,
F E C H O U A R E V I S T A LIFE

ÁFRICA,
ADEUS
P O R T U G A L COMEÇA A
V I V E R SEU ÚLTIMO
D R A M A COLONIALISTA
"Nixon é o símbolo de todos os ho-
mens. Acho que Watergate é uma coisa
muito saudável para este país. É um bom
sinal. Demonstra que algumas pessoas ain-
da se preocupam."
Isso é o que diz a Yoko Ono, numa
enquete sobre Watergate. As opiniões
dos outros artistas estão aí ao lado
e na página 4

"Eles me perguntaram se eu sabia


alguma coisa de karatê, judô, kung fu;
eu disse pra eles: "picas", e até
hoje não sei picas". Palavras do
novo Deus da TV, David Carradine,
que não tem TV em casa. Página 5

Foi o Watergate das igrejas italianas,


deu até excomunhão para os
repórteres — gravações de "confissões" MAURICE STANS EUGÊNIO MARTINEZ G . GORDON LIDDY CHARLES COLSON HERBERT KALMBACH
feitas em várias cidades sobre
problemas sexuais. Página 9

"O maior negócio literário do


século", dizia um diretor da
McGraw Hill esfregando as mãos: as
memórias do bilionário (em dólares)
Howard Hughes.
Foi o maior escândalo, era tudo
falso. Mas ninguém até hoje publicou
nada dessas memórias. Há trechos
delas, junto com a história do grande
golpe, na página 14

Em 10 minutos a mulher se livra


da menstruação. O método vem sendo
aplicado há bom tempo por
feministas americanas. Página 19

A declaração de independência de uma


das colônias portuguesas na África,
a sofrida Guiné-Bissau. E um quadro V I R G Í L I O GONZALEZ DONALD SEGRETTI FRANK A. STURGIS E . HOWARD HTJNT J R . HUGH SLOAN J R . a
super-nítido das outras, na entrevista
de Miguel Urbano Rodrigues. Página 22

Vital Battaglia e Percival de Souza,


futebol e policia de bastidores
em Dona Bola e Baixa Sociedade,
Páginas 12 e 13

Um jovem passa por todas as religiões


ARTISTS ON
da moda, em busca de luz.
Umberto Eco lê os originais de
James Joyce, Kafka, Homero
e outros novos escritores.
Uma carta de amor de
WATERGATE
Rosa de Luxemburgo, O PAIS INTEIRO ESTÁ SENDO OUVIDO SOBRE O ESCÂNDALO. CHEGOU A VEZ DOS ARTISTAS.
um cordel de Jorge Amado,
Comicus , e um alfabeto
de surdos-mudos para quem
não é mas que também não está
falando nada. E X - , número 3. Leia na pg. 4
que, quando balearam Kennedy, o primei- M Y R N A LAMB
ro boato foi de que alguns negros tinham
sido vistos fugindo do local do crime. A
Teatróloga
CARTAS
Artists mesma coisa, quando balearam Wallace.
Porque "os negros são todos bandidos",
O que realmente me inquieta é que ne-
nhuma mulher nunca foi solicitada a pro-
on sabe? nunciar-se. Acho que esse é o tal proble-
ma feminista: por que Betty Friedan não Senhor redator:

Watergate WILL EISNER


Criador do Spirit Comics
se levantou para dizer: "Este é um proble-
ma feminista." Ou: "Estão vendo o que
acontece quando vocês fazem estes jogos
Há cerca de dez anos a Firestone Rubber
Company dos Estados Unidos desenvolveu um
dispositivo em borracha especial para Transpor-
te de grandes volumes de água a grandes distân-
Se um impeachment fosse legal e pu- supermasculinos? Quando se torna fute- cias.
desse ser sustentado constitucionalmente bol e faroeste? " Mas ninguém disse. Consiste de uma enorme sacola/reservatório
seria muito bom. Porque a principal prova que uma vez vazia seu peso é insignificante po-
do valor de Watergate é mostrar que o dendo ser facilmente transportada por qualquer
E L T O N JOHN veículo. Entretanto, carregada com água depen-
SUSAN SONTAG chamado sistema democrático está fun- Músico dendo do volume "5.000; 10.000; 15.000 li-
Escritora cionando, e que o presidente dos EUA é tros) seu peso total varia de 5, 10; 15 toneladas
questionável pelo povo — o que é o maior Acho incrível que Nixon esteja preten- podendo ser então transportada por um ou dois
A escalada de crimes cometidos pelo fulcro do sistema democrático americano. dendo total ignorância da operação helicópteros.
governo americano contra o povo da Isso é muito importante. Nixon é o chefe Watergate. Deve achar que o país está tãó Aqui surge nossa sugestão: O Corpo de Bom-
do governo, e não deve ser imune a nada, louco quanto ele. beiros e ou a Força Aérea Brasileira manteriam
Indochina é o tema principal da adminis- entendimentos com o fabricante das Sacolas/
tração Nixon. E o material mais impor- desde multas por estacionar em locais Reservatórios no sentido de ser construído nos
proibidos até todo o resto. ALYOUNG
tante da investigação Watergate que veio a vários tamanhos e volumes com orifícios espe-
Poeta ciais imitando gotas de chuva e que ficassem
público refere-se à conduta da América na Watergate é visto pela maioria dos disponíveis nas Corporações dos Bombeiros ou
Ásia — por exemplo, as repetidas afirma- ALLENGINSBERG americanos com a mesma distante fascina- nos campos de pouso dos helicópteros da FAB.
ções de Nixon em 1970, de que os EUA Poeta ção com que uma vez vimos Hiroxima ser Caso novos incêndios viessem ocorrer em
não estavam bombardeando o Camboja, bombardeada; ou com que assistimos à edifícios de grande número de andares, os últi-
quando estavam, desde 68. Nixon pode Mais importante que o impeachment mos andares do^irédios seriam resfriados e permi
guerra fria. Acho que as pessoas estão tindo os ocupantes suportar por maior número
ainda estar mentindo sobre sua participa- de Nixon — que em si seria fascinante, se realmente indiferentes, por causa do des- de horas a chegada dos socorros aéreos, evitan-
ção em Watergate, mas não mente mais houvesse uma substituição adequada,— do a morte por asfixia e excessivo calor, como
mascaramento máximo. O que este caso
sobre o Camboja. Ele não só nega ter seria a compreensão pública de que a gang ocorreu no último incêndio em São Paulo.
faz é realmente mascarar o que está acon-
mentido, como defende a mentira: no Watergate foi composta de Agentes de Além de resfriar os últimos andares, servi-
tecendo na América — o desmorona- riam tais Sacolás-Reservatórios como Chuvas
"interesse da segurança nacional". O es- Narcóticos. Um deles, Liddy, tinha sido
mento da economia, embora as cifras Artificiais que poderia ser projetadas sobre todo
cândalo talvez limite o poder de Nixon contratado para o Grupo de Investigação
Especial de Narcóticos da Casa Branca. apontem um dos maiores desenvolvimen- o prédio inclinadamente ajudando assim o tra-
em certos aspectos, e isso é bom. Mas não balho de combate às chamas feito do chão.
Outros membros do Grupo, inclusive tos que já houve. Mesmo com os ovos
devemos interpretar erradamente a razão:
Barker, anteriormente da Tesouraria do subindo a 1,30 dólares a dúzia, a maioria AJ.MALUF
é porque Nixon pessoalmente e seus ca-
Departamento de Narcóticos da Polícia está hipnotizada por Watergate e não se
pangas ofenderam pessoas muito podero-
sas neste país. A maioria dos americanos Nacional Cubana, trabalhavam para Batis- dá conta de que, aogra que estamos en-
continua ainda com uma idéia imperial da ta durante a época do forte comércio de trando na era pós-imperialista (ou era
americana pós-imperialista), os america- CAMPANHA
Presidência: nada é ilegal quando a "segu- narcóticos de Cuba para a América.
rança nacional" está em jogo. Isso quer nos vão ter de baixar seus padrões de vida
Hunt foi especialista da CIA no tráfico
dizer que, no futuro, um presidente que a., de muitos outros povos.
internacional de narcóticos, na Síria e na
seja menos irracional, menos truculento, Córsega. Dean, Caulfield è outras figuras Acho que Watergate é um símbolo da
menos vulgar e menos paranóico que de Watergate organizaram a malfadada direção para a qual está voltado este país
Nixon pode escapar com os mesmos operação da fronteira do México, planeja- — um tipo de administrador municipal
"truques". ram suprimir o tráfico de drogas mas, na meio governante; e o povo, não importa
Não estou preocupada com Watergate.
Estou preocupada com o que a América
tem feito esse tempo todo na Ásia (e na
verdade, somente causaram o congestio-
namento do tráfico e uma insignificante
diminuição na importação da marijuana.
quanto grite sobre a Carta dos Direitos ou
a Constituição, tem muito pouco poder
de deciuir sobre o que acontece.
BANDEIRA
América Latina), e com o que tem sido Precisamente ao mesmo tempo da Opera-
D A V I D BOWIE
feito de 69 em diante contra os movimen- ção Intercepção, os jornais anuciaram
Músico
tos antiguerra e antiimperialistas, e contra súbita quantidade de heroína notavelmen-
as diversas espécies de protesto negro no te pura, inundando as ruas de Nova York,
A América é o lugar mais solitário em
país. Quero dizer, por exemplo, o inter- provocando recorde de mortes por doses
que já estive. Todo o mundo que vive
ceptar telefones, as provas falsas, as perse- letais. O "New York Times" registrou
aqui parece estar sozinho. Mas acho que
guições judiciais, a utilização de provoca- nesse ano, pela primeira vez, mais de mil
Nixon é o mais triste de todos. Imaginem
dores, todos os truques sujos que a gang casos. William Colby aparece agora como
quão sozinho ele está.
de Nixon se absteve de fazer com as o cabeça da CIA. Ele esteve envolvido,
"pessoas respeitáveis". Pelo menos assim por volta de 1962, com os sujos truques
da CIA em continuar a política de "caro- JUDITH M A L I N A
pensavam nossos líderes — naqueles tem- Co-fundadora do Um cara que todo mundo
pos. neiròs" da elite militar aérea indochinesa
Living Theater xinga a mãe.
e dos principais traficantes de ópio do
Que trabalha 12 horas por
I S H M A E L REED exército secreto, numa política de sub- Acho que a Presidência devia ser aboli- dia.
Autor de Mumbo Jumbo vencioná-los como aliados contra da. Existe um movimento anarquista com Que é assaltado e assassinado
insurreições comunistas nativas. longa história, e este é o momento para o a 3 por 2.
Acho que Watergate é o resultado do Esta é a minha opinião, baseada em movimento dar um passo à frente. Essen- Que envenena o pulmão e a
fato de outras religiões e culturas nesse dez anos de observação e erudição em as- cialmente, Watergate é a desmistificação
cuca diariamente, esse cara
país não terem o mesmo templo — as reli- suntos de narcóticos: investigações de uma mentira, mas por outro lado pro-
tege esta mentira. Mesmo as pessoas que merece uma estátua.
giões africanas, as religiões indianas e maiores sobre acusados de Watergate, no
todas as outras religiões rivais. O protes- tempo em que formava o Grupo Especial falam ostensivamente contra o presidente
tantismo se tornou realmente decadente, de Investigação sobre Narcóticos da Casa dizem: "Eu tremi diante da presença de-
depois de Martinho Lutero. Agora Billy Branca, revelariam escândalos muito mais le." O temor com que nós nos colocamos
Graham está tentando começar uma igreja chocantes. Ou seja: funcionários da Casa diante desse homem — é aí que começa a
oficializada neste país — ele disse isso e Branca relacionando-se com altos capita- corrupção: o grande temor do gabinete do
preveniu contra o ocultismo, a astrologia, listas do tráfico internacional de heroína. presidente, o que quer que seja o gabinete VAMOS CONTRUIR UMA
a ioga e o voodoo. Tem celebrado cerimô- Até que essa lata de vermes seja aberta, do presidente. Deveria ser apenas uma sa- ESTATUA PARA O
nias religiosas na Casa Branca e tem esta- o impeachment de Nixon pode apenas la onde um homem assina papéis. MOTORISTA DE TAXI
do à disposição da família presidencial. E resultar na substituição de Nixon por Se o governo tiver menos poder, isso DE SÃO PAULO.
os brancos ainda não aprenderam a dife- Nixon. Como alguém já comentou: "Li- salvará muitas vidas na revolução. Sou oti-
rença entre o certo e o errado. Elegem vre-se de Nixon, e só terá outro Nixon." mista e sinto que boas transformações
Nixon e pessoas como Rizzo, o prefeito surgirão daí. A revolução não depende de
de Filadélfia, para "pegar os negros". E ROD S T E W A R T como é o governo, mas se o governo é
então, como o voo-doo, tudo isso se volta Músico mais fascista, mais bombas serão jogadas.
contra eles. Em vez de eleger pessoas que Quantas pessoas têm de morrer? A trans-
melhorem a mentalidade do país, elegem Watergate não me surpreende muito. formação vai surgir não através de Water- Adesões:
fantasmas que "peguem" fantasmas. As pessoas que estão investigando o es- gate, mas porque o povo é intrinsecameu-
Rua Santo Antônio, 1043
Sempre trazem à baila esses bichos-papões cândalo confirmam minha crença básica te revolucionário — ele quer viver num
mundo melhor. • Bela Vista (Ex-Bexiga)
como um bode expiatório. Lembro-me de na natureza humana.
KUNG FUMACÊ
O NOVO DEUS DA TV VIVE NO ALTO DE UMA MONTANHA. SE ACHA UM NOVO GUEVARA E SÔ ODEIA UMA COiSA: A TV.
Texto de Tom Burke
"Daí êle diz ao Times que planta seu arroto). Misteriosamente, talvez magica-
fumo no próprio quintalV Depois dessa mente, Jerry Thorpe, jovem produtor
lamentação em voz baixa, o conserva- contratado pela Warners-TV para desen-
dissimo produtor de TV, os cabelos lon- volver novos projetos, disse, ou bajulou
gos bem cuidados, barba ruíva, grande, ou hipnotizou o estúdio de forma a que
lançou um olhar arregalado para a piscina aquele roteiro resultasse num excelente
do Beverly Hills Hotel e colocou uma das filme-piloto. Cautelosamente, exibiram o
mãos sobre o copo de Margarita, como filme, e a receptividade foi também exce-
se o estivesse silenciando. "O Times", diz lente. Quando a série chegou a um ano de
êle, "saca essa!" Tínhamos queimado dois vida, a Warners estava estocando e distri-
cigarrinhos colombianos no caminho buindo filmes Kung Fu baratos, na mes-
para cá, em seu Mercedes, e agora, após ma base de confiança total com que o
três drinques e mais um sub-reptício ci- oriente estava fabricando rádios transis-
garrinho passado por baixo da mesa, sufo- torizados.
cando pelo ar abafado da piscina aqueci- " . . . Então minha cabeça foi raspa-
da, seu machismo estimulado pelos cigar- da", está contando David, "alguns dias
ros arrefeceu. "Babe", começa êle agora antes de eu ter ouvido qualquer coisa so-
- em vez de usar "Man", — gesticulando bre esse roteiro. Um barato. Mas não era
a esmo, "Ouça, babe, o que eu estou nada místico. Mora, eu tinha feito um
querendo dizer é que Denis Hopper e índio num filme, e tinham riscado toda a
Peter Fonda já fizeram rebelião, isso é minha cabeça, meu cabelo ficou todo
muito 1968; além do mais é muita estu- f,... então pensei que a única saída pra
pidez, quando você vive num estado poli- voltar a ter o cabelo normal era raspar a
cial f . . . e o seu passador provavelmente cabeça. Barbara mesma fez isso com
é um tira disfarçado, você declarar ao essa . . . navalha. Depois peguei o roteiro
Times que você planta o sçu fumo\ Quer de Kung Fu, um barato! Só que eu nunca
dizer, a ABC não está nem aí, eles conse- pensei que esse Western chinês realmente
guiram botar uma porcaria em 1? lugar de chegasse à TV. Fui falar com eles, de
audiência. Eles jamais sonharam que qualquer forma, e esse produtor, Jerry
Kung Fu ia vingar, e agora estão amarra- Thorpe, êle vai até a Warners no seu
dos nesse superstar hippie, e não param Lincon Continental marrom chocolate, e
de dizer a êle *uh, David, você não pode- está vestido de marrom chocolate e carre-
ria, uh, maneirar um pouquinho mais em ga uma maleta marrom chocolate, um ver-
seu, uh, comportamento público?" E eles dadeiro tipo de estúdio, um homem da
jogam êle no show de entrevistas de companhia, e eu pensei: "Este homem é
Cavett que ele foi fazer muito chapado. Satã! O Demônio!" Saca? "
Cavett começa a suar, então aparece a
garota de David, Barbara Hershey? Ela só Suas mãos de presunto traçam peque-
trocou o nome para Barbara Seagull (Gai- Dean aos 20 anos se Dean tivesse tido so perto da cara do visitante e faz um nos golpes de caratê no ar, para reforçar.
vota) — você ouviu essa já? — porque um cabelos iguais a Julie Christie, e que traba- aceno com a cabeça; nenhuma grosseria "Daí eles olham para mim, esses homens
pássaro morto dormiu com ela ou coisa lha para David no time de escritores-ato- tipo aperto de mão é necessária neste da companhia, minha careca e tudo, e me
parecida, e ela traz o bebê que eles batiza- res-carpinteiros errantes que a gente dormitório. Barbara e o bebê dobram-se querem para o papel, mas depois do en-
ram de Free, Cavett fica mais pálido. Free observará durante toda a primavera, mar- ao lado dele, Free babando animadamen- contro ouço dizer que um deles disse:
começa a berrar e Barbara, diante das telando taciturmamente sobre as vigas te sobre o pijama cor-de-rosa, enquanto ' Mas olhem, êle é um toxicômano. Um
câmaras, abre o suéter e põe um pra fora enegrecidas da velha e fantástica casa ouve enlevadamente os arranhões e zum- barato! Na vez seguinte que apareci para
e dá de mamar pra êle, diante das came- meio-queimada, que David comprou no bidos saídos do instrumento de David, falar com eles, eu não estava realmente
ras\ Corte imediato para Cavett, que está pico da montanha mais alta de Laurel. "O agarrado à guitarra e começando a cantar alto, mas a intenção tinha sido de ficar
verde, e diz "Uh, creio que acabamos de número dele está aí na lista", diz Michael, a canção-título de um filme independente chapado. Entrei nesse escritório de execu-
testemunhar algo inédito na TV . . . " bucolicamente gentil. "Mas claro, é só dis- que acaba de produzir e dirigir, estrelando tivos e me larguei no sofá de couro mar-
car, êle gosta de estar em contato com as ele próprio e Barbara: "You and me . . . rom, roncando. E eles ainda me contrata-
Esse é o tipo de cochicho acovardado pessoas". Oh! O que dirá disso o conser- thafs how it's gonna be . . . from now ram . . . . "
que você ouve hoje dentro das vísceras da vadíssimo produtor de TV, quando lhe on .-.. "Cause thafs the name of this
indústria da televisão (um espírito mais contarem: A guitarra de novo, mais fumo. "You
song." Ele canta para Barbara, embora and me . . . " canta êle, docemente, des-
baixo que o do cinema, se é que isto é "Lindo! Perfeito, babe! O número na lis- não olhe para ela.
possível), sobre o sucesso de Kung Fu e a ta!" pojadamente, para Barbara. De repente,
Eventualmente, a gente tenta, numa sai o sol, para nos lembrar de onde real-
repentina canonização de David Carradine pausa, introduzir a idéia de uma conversa mente estamos, em Hollywood, um lugar
pela mass-média, a menos que você fale A conversa telefônica com David tende
à incoerência: "Yeh, man, uh, sába- rudimentar; ele não rejeita nem resiste a criado por um fenômeno não sonhado
com a ABC, onde todo mundo está exul- isso, ignora-o, se arreganhando, balan- através de todos os séculos até este em
tante com o que é um dos dois ou três d o . . . não, venha domingo . . . bem, uh, -

pah! A voz dele é um ronronar de gato, é çando a cabeça, arranhando, zumbindo, que estamos. Por incrível que pareça,
maiores esdrúxulos sucessos da história da eventualmente indo até o living para con- David está falando de novo, e espontanea-
TV, como Laugh-In e Sesame Street. defumada. O domingo chega escuro; no
sul da Califórnia, um dia sem sol atinge a sultas com os atores-carpinteiros que pa- mente: "Uh, eles me perguntaram no es-
Bem, apreensivamente exultantes. Prin- recem estar sempre entrando e saindo va- túdio se eu sabia alguma coisa de, você
cipalmente quando alguém pede uma gente como a cegueira; é com receio que a
entrevista com David Carradine. Do outro gente sobe, por entre galhos agressivos, os garosamente. Seu bizarro cachimbo do- sabe, caratê, judô, as artes marciais, a luta
78 degraus de madeira, quebrados, até a méstico, um fantástico carburador de la- Kung-fu. Eu disse pra eles: "Picas", e até
lado da linha telefônica há uma série de ta, que ele próprio construiu, é passado hoje não sei picas. Depois que assinei e
pigarros do pessoal de relações-públicas; desintegrada casa de fazenda, também de
madeira, que David está ocupando até entre os homens, depois êle o traz para começou o espetáculo, «eles tentaram
depois o empurra-empurra: você tem que (

nós, no dormitório, sacudindo suavemen- achar alguns especialistas locais em


chamar Morty para resolver a coisa, e que a casa queimada esteja pronta. A por-
taantiga tem uma inscrição manuscrita, te a grande cabeça e piscando os curiosos Kung-fu, — e tem montes deles em todo
Morty apresenta-o a Gordon, que explica olhos inchados. Após mais guitarra, emba- lugar hoje em dia - pra vir ajudar a gente,
que esse tipo de coisa geralmente é resol- NAO DEIXE BLUEBIRD ESCAPAR,
lado pelo excepcional cachimbo, êle co- mas eles recusavam, pensavam que a gente
vida por Dave, ou então você devia procu- ELA ESTÁ NO CIO, e quem atende além meça a falar sobre a evolução desse fosse apenas uns picaretas comerciais. As
rar Sheldou, até a hora que não sobra nin- de Bluebird, a cocker-spaniel, é Barbara
Seagull, campestremente bonita, impas- enigma, essa súbita lenda, Kung Fu, um pessoas que praticam Kung-fu são muito
guém e você ouve: "Hmmm, natural- velho roteiro retirado de uma estante delicadas, muito sérias. Daí, mora, é tudo
mente, isso precisa ser discutido . . . . a sivelmente sorridente num velho suéter
desabotoado, para alimentar Free, que pa- poeirenta da Warners (que produz a série fajuto, man as cenas de luta são, mora,
orientação dos homens lá de cima é tão... para a ABC) sobre esse jovem órfão, coreografadas. Isto é, sou um dançari-
naturalmente, David vive muito simples- rece mamar perpetuamente. Barbara mur-
mente lá em cima em Laurel Canyon mura coisas de boas vindas — na casa de meio-chinês, meio-americano, chamado no . . . "
David, as coisas parecem ser murmuradas, Kwai Chang Caine, que foi levado por Barbara vai atender o telefone, em se-
ligado à terra, um cara muito simples, monges budistas a um templo shaolin na guida acena para David; estranhamente, é
Não ache q«e você vá conseguir muita em vez de ditas ou exclamadas — e sara-
China, para ali aprender a antiga arte um guri de 12 anos, de Massachussetts,
coisa. Voce, hmmm, você não vai publi coteia sob as vigas de toras cortadas a ma- oriental ("ciência", diz o serviço de que conseguiu o número com a telefo-
car nada sôbr? o que êle planta . . . ?. " chado (por David) do empoeirado living,
passa pelos móveis (um piano de meia imprensa da Warners) do combate pessoal nista. David se arreganha no fone com
cauda, um colchão de molas), até chegar- chamado Kung Fu (você quase pode ouvir esse adorador desconhecido: "Hey,
o o o mos à outra única dependência da casa, os bocejos na mesa de discussão de pro- man... " N o meio da conversa, o garoto
"Por que você simplesmente não tele- um quartinho contendo um arremendo de gramação da Warners). O jovem Caine lhe pergunta se as lutas Kung-fu são reais
fona pra êle? " Impaciente, enquanto a esteira oriental e David, de cócoras, à mo- mata por engano um príncipe da Casa ou falsas. "Yuh, bem, um monte de gente
rede de TV discute o caso, a gente procu- da chinesa, vestindo calças esfarrapadas e Imperial e, com a cabeça a prêmio, foge pergunta isso . . . " . Suave, com tato, ele
ra um morador de Canyon quase tão len- uma camisa careca de lã marrom, com um para a América, onde perambula no meio responde honestamente. Estamos todos
dário em Laurel quanto o próprio Carra- botão de latão de identificação de moto- da corrida do ouro do Velho Oeste, desin- no living agora, menos Barbara, que pre-
dine, um jovem candidato a escritor-ator, rista: 1950, CHAUFFEUR 29796. Emba- teressado pelo ouro, defendendo os opri- para um café na minúscula cozinha ao
chamado Michael Peito, que parece James lando sua guitarra, ele arreganha um sorri- midos e quase nunca sorrindo. (Bocejo, lado, murmurando algumas vezes lá de
Kung Fu
sua atravancada ilha feminina para a ra Madre'.'..
península maior masculina — onde os "Oh, eu acho, mora, que não teria me
montanheses toscamente talhados, os tornado ator se meu velho não tivesse si-
atores-carpinteiros, esperam as próximas do; êle me influenciou paca. Nós sempre
palavras de David. Eles são, a gente per- estávamos Ok um com o outro, às vezes
cebe, exatamente o tipo de entourage que êle me parecia um Deus, às vezes... me-
costumava seguir Dennis Hopper quando, nos, mas, man, mora, êle foi o primeiro
: hippie, o cabelo dele descia até as costas
no final da década de 60, Hopper foi re na década de quarenta. Ele agora vive nes-
verenciado como o novo Salvador da se barco, no mar. Êle consegue ser real-
mídia. mente conservador, não acredito que
OOO aprove Barbara e eu vivendo juntos e ten-
do bebê e tudo, mas êle esta melhorando,
Carradine fala! Da próxima vez que acho que agora êle gostaria de viver como
fala, não é na montanha, é lá embaixo, nós. Minha mãe vive em San Francisco,
no mundo real, no restaurante dos execu ela casou outra vez e parece que saca a
tivos da Warners. A maioria dos atores dc nossa; acho que peguei minha, uh, idéia
seriados, mesmo os astros, não come aqui, de liberdade, dela. Veja, meu pai. . . eu
mas David entra ingenuamente, descalço, idolatrava êle quando eu era moço, depois
como estava há quatro minutos lá atrás vi que estava macaqueando êle, fazendo
no cenário de Kung Fu, a cidade do seu estilo, caí fora." O cair fora aparente-
Oeste dos filmes, com seu grande arma- mente aconteceu depois do desbunde:
zém e sua oficina de ferreiro de plástico, David deixou Oakland para começar re-
carinhosamente pintadas pelos derradei- presentando em pequenos teatros ao
ros artesãos das belas-artes, os decorado- norte da Califórnia, na maioria fazendo os
res de cenário, para parecer madeira rústi- clássicos e Shakespeare, como seu pai
ca talhada. A gente assistiu às últimas tinha feito. Também recitou poesia em
tomadas da manhã, uma seqüência que cafés honestos, da década de 50, vendeu
será exibida semanas mais tarde, o fami- máquinas de costura e enciclopédias de
liar Confronto Kung Fu de Rua: Piscando porta em porta, e tornou-se um dos pri-
inescrutávelmente, Caine encara ladrões meiros beatnikes de San Francisco.
de gado, ou assaltantes, ou magnatas de Foi preso com fumo. Em seguida con-
estrada-de-ferro montados em cavalos de vocado pelo exército; a acusação do fumo
estúdio. Um deles diz a David que eles foi retirada, mas o exército foi mais persis-
sabem que foi um chino que roubou o tente. Passou depois dois anos em Fort
carregamento de ouro e simultaneamente Eustis, na Virgínia, a maior parte do tem-
estuprou a srta. Ainsley. Ao que David, po na cadeia, depois de várias cortes mar-
na pele de Caine, retruca quê eles deviam ciais, três em dois anos."Porque, hmm, em
dar aos operários da estrada-de-ferro me- nenhum lugar, man, como no exército,
nos horas de trabalho. O mais ignóbil dos eles te encanam se o cordão do seu sapato
magnatas desmonta num abrir e fechar de está desamarrado. Não, até que me diverti
olhos e o ameaça com seu gordo punho, o lá: eu tinha esses uniformes muito bons,
do qual Caine se afasta, com dignidade. « muito bem cortados, realmente enfeitan-
Quando novamente ameaçado, êle sacode & dos! só que eu tinha sempre que enfrentar
o antagonista no ar, depois de ter obser- (3 a corte marcial, daí que nunca recebi,
-
vado, como sempre, os ensinamentos do nem botei aquelas insígnias ou coisa pare-
templo shaolin: Evitar, antes de lutar; cida em cima deles, assim o resultado foi
mutilar antes de matar; humildade, pa- muito a sério o papel. Alguém disse, Esse ar, inocente, essa caipirice, embo-
que meu uniforme era muito vazio, como
ciência, paz. quando contei que as lutas eram falsas: ra aparentemente genuínos, deixam a gen- o de um oficial; tinha cara que até me
"Oh, então é tudo apenas encenação". te perplexo. Você fica admirado: como batia continência pensando que eu era
Corta! Okay, pessoal, almoço rápido, pró-Apenas encenação? Man, pra mim, ence- David pode ter trabalhado longo tempo isso mesmo. Saca? " A única coisa da vida
xima cena à uma hora; necessários à umanar é vida, não faço diferença entre ence- no ambiente sofisticado dos palcos de No- militar que parece tê-lo interessado, além
em ponto são o senhor Carradine, o se-nar e viver. Quero viver o Caine, quero va York? Em que fração de minuto a vas- do uniforme, eram as competições de
nhor . . . Rindo, os atores se livram ime- que ele cresça comigo. Saca, só no nível ta audiência de Kung Fu poderia conce- talento. "Fui finalista em um show", diz
diatamente das roupas características, co- físico — o guarda-roupa tem os sapatos ber que, antes de se transformar em Kwai êle, obviamente orgulhoso disso. "Fiz o,
mo marionetes desligadas dos fios; menos que eu devia usar, mas logo no começo eu Chang Caine, êle, entre outras coisas, re- uh, monólogo de Ricardo II. Huh! Daí
David, que parece livrar-se de Caine suave- tirei os sapatos e fiquei descalço. Cheguei presentou Laerte no Hamlet de seu pai, perdi o primeiro lugar para um cara que
mente, para ir passando lentamente da à conclusão de que Caine não precisaria brilhando na Broadway, essa Bizáncio fazia malabarismo.... "
austeridade de caráter do personagem de sapatos e não os usaria. E estou sim- cansada onde opulentas filosofias homos-
para o seu próprio, indefinido. Ficou cla- plesmente deixando o cabelo crescer, não sexuais são apresentadas em seis sessões Depois da baixa, que naturalmente foi
ro, olhando-o no cenário, de algum jeito o cortei mais desde que começamos e não noturnas e duas matinês, para burgueses honrosa, êle fêz mais um bocado de tea-
que nunca é claro na televisão: a maneira vou cortar, tive que lutar com eles por ricos e desconfiados que cochilam em tro menor e muita televisão, inclusive um
contemplativa, altamente formal com que causa disso, e venci. Veja, quero meio àquela água-com-açúcar? Ainda em ano da série "Wagon Train", uns papéis
ele se move e fala quando representa Caine atingido por essa nova cultura na 65 faziam fila para vê-lo como o chefe em cinema, nada de espetacular, e a coisa
Caine, é intencionalmente satírica, um qual fui empurrado, a coisa america- inca em The Royal Hunt of the de Sun. da Broadway.
atravessado comentário cara-de-pau em na.. . talvez este país maluco comece a "Yeh, eu perturbei paca. Eu gostava de
cima do despropósito da história e de seu divertí-lo, talvez Caine venha a ficar me- "Uh, foi um barato!" diz ele. "Não, man,
eu gostava da Broadway, era uma grande representar, no duro, eu respeitava a pro-
papel. nos rígido, esse novo mundo, gradualmen- fissão e tudo, mas eu fazia . . . as escolhas
"Oh, yeah," diz êle quando menciono te, muito sutilmente, vá aliviando-o . . . " coisa representar esse grande papel nesta erradas: mora, The Royal Hunt of de Sun
grande peça toda noite". E o que o levou
isso, rindo, balançando a cabeça, pulando Num relance êle acaba os ovos e esta- ao teatro não foi exatamente uma viagem foi aquele grande sucesso na Broadway e
sobre a porta encrencada do seu velho e mos de volta no Lancia. Dificilmente é o eu saí dela só depois de seis meses para
cicatrizado Lancia conversível, para nos- momento de fazê-lo examinar-se pessoal- num caminhão honesto numa estrada do fazer o papel principal na série Shane, da
interior. Seu pai, John Carradine, era um
sa corrida através das ruas dos estúdios, mente como uma presença que magica- astro do teatro e do cinema que gastou TV. baseado no velho filme, sabe como
até o restaurante onde apressadamente mente entra, toda semana numa deter- é? Só que eu tentei fazer de Shane um
ordena ovos mexidos e café, de que pare- minada hora (como Deus entrava uma um monte de tempo em turnês, casamen- tipo de herói meio diferente, meio cô-
ce tomar umas duas dúzias de xícaras por época nas cabeças e corações aos domin- tos é divórcios; na adolescência, David já mico, e acho que a TV não estava prepa-
dia. Após a comida, tento de novo falar gos de manhã), em milhões de salas à tinha estado em seis escolas particulares rada para isto na década de 60, e a série
sobre o humor de seu desempenho; desta meia-luz, para planar através da mente da das duas costas e num internato, por ter foi pro brejo!"
vez êle pensa, mastigando, depois balança República suburbana. Ao contrário, neste gazeteado em todas as outras. (Isso foi no A indústria então o puniu, dando-lhe
a cabeça, com grande animação. momento a gente meramente pergunta- início da década de 50; agora êle está com quase só papéis de vilão, em filmes chatos
"Você viu aquilo? Aquilo é um bara- lhe se está preocupado com o prêmio 37 anos, uma estranha idade para o herói como Heaven with a Gun, estrelado por
to, man. Bom. Tentei mantê-lo muito, Emmy (para o qual foi indicado), ou se se de um público jovem que anteriormente Glenn Ford (Glenn Ford?) e Barbara
sabe como é? sutil. Talvez esteja suavi- submete a algo tão mundano como enfiar idolatrou David Cassidy). Ele também es- llershey/que ainda não tinha encontrado
zado demais, porque acho que os especta¬ um smocking e comparecer à cerimônia. teve na Universidade Estadual da Califór- o tal pássaro condenado que a levaria a
dores n ã o sacam aquilo. Num A pergunta parece perturbá-lo; de novo nia para estudar música. "Mas, mora, na mudar de nome.
s e i . . . Acho que vão se acostumar mais a êle assume o comportamento de monta- lanchonete os estudantes de música ti- Alegremente, ela explica issso, o negó-
isso na próxima série, em parte porque nhas. "Uh, mora . . . bem, eu saco as ceri- nham as suas mesas, e os estudantes de cio do pássaro. Nós estávamos sentados
estou entrando -mais claro nessa. " Incri- mônias, as, uh, pompas... eu saco essas teatro as suas. Eu, naturalmente, me li- novamente na esteira do quarto de dor-
velmente, êle está falando com grande coisas. Mas o que pensei que faria, era guei na rapaziada de teatro, eu sacava mir, a criança agarrada a Barbara, como
velocidade, quase com vivacidade, como mandar em meu lugar, mora, o mais eles. Mas êlesnão diziam a David — seria sempre, como se fosse um faminto irmã' 1

se tivesse deixado seu espírito de monta- humilde empregado de Kung Fu, como o uma caretice — que certas noites ficavam siamês. Novamente é domingo; no come-
nha lá na cabana do Canyon. "Quero que cara do carrinho de café. Saca essa? Um acordados até tarde para ver o pai dele na ço da tarde, David tocou um pouco de
eles percebam o humor, mas ainda levo baraaato." TV, em filmes como "Q Tesouro de Sier- guitarra e fumou um pouco. Chegam aí-
KUNG FU
guns carpinteiros e êle precisa falar com A gente é tentado, nessa altura, a
eles. No quarto não havia nenhum fumo. comentar que a honestidade é mais viável
"Não, eu nunca me liguei em drogas", com um contrato de televisão de cem mil
diz Barbara. "Oh, eu tentei todas elas, em dólares por ano; mas a gente não comen-
várias épocas, mas elas não são realmente ta. "Portanto, uh, mas minha última via-
minha viagem. Nunca gostei de fumar, gem pesada de ácido — bem, viajando eu
por isso realmente não aprecio o fumo, e sempre entro nessa coisa de um profundo
agora, com 9 bebê, de qualquer forma exame de consciência, como um raio-x
não fumaria". Ela fala animadamente, que vem e me mostra por dentro. Em al-
sorrindo muitas vezes, embora tenha co- guns lugares, eu pareço estar envolto em
meçado dizendo tranqüilamente que resis- bandagens e vejo ali tudo cinzento e deca-
te à idéia de dar entrevistas. E mais, que dente, e pergunto ao raio-x: que p... é
David, de certa forma, forço-a a dá-las;êle essa? Preciso examinar isso! È êle deixa.
sente que isso é importante para os dois, Mas nessa última viagem, nós estávamos
agora que estão fazendo seus próprios fil- caminhando através desse corredor dentro
mes. de mim e havia uma porta e êle me disse
"Eu acho, hmm, que David e eu real- "você não pode entrar, man", e eu disse
mente não vivemos muito como as outras "eu preciso ver", e peguei na maçaneta e
pessoas. Saca, nós nunca vamos a festas ela desapareceu'. Saca? E aí então des-
aqui, nunca somos convidados; eles sabem cobri que essa experiência psicodélica
que não iríamos. Às vezes nós saímos sim, nunca será suficiente para quebrar todas
como quando fomos ao balé, para ver as barreiras. Entendeu? E descobri tam-
Nureyev. Foi estranho, eu não imaginava bém que não se pode quebrar elas com
que não se pode levar um bebê ao balé. sistemas — psicanálise, religião, cientolo-
Free chorou um bocado durante o espetá- gia — porque eles estão, todos, uh, abaixo
culo, tive de ir lá pra trás com êle... " do problema espiritual que estou pesqui-
Ela olha para ó bebê babante com sando. Porque eles existem. Isto é, quan-
amor infinito. "Foi tão genial quando do uma idéia passa para o papel, ela se
Free começou a nascer; David estava aqui torna estacionaria para sempre, bloquea-
comigo, vestido com uma pele de animal da. Se ela não é estacionaria, pode, uh,
e todas as suas jóias indianas. Tocava sempre continuar a se expandir como o
piano e guitarra e se dependurava nas universo. Entendeu? "
vigas do teto para relaxar. Hmm? Oh,
sim, eu tive Free aqui em casa. Tinha de- Definitivamente, David, você não pre-
cidido não chamar médico, mas depois cisa ficar elaborando. "Assim . . . não sei,
que estava no meio da parto, me acovar- do. David volta, sorri para Barbara e sua- está fazendo uma busca espiritual, alguém acho que não quero continuar fazendo es-
dei e chamei um. Foi uma noite brava. A vemente canta outra música que está que fêz 400 ou 500 viagens de ácido, que sa série por muito tempo", declara repen-
maior parte do tempo fiquei sentada na- compondo para outro filme que eles vão usou o LSD como ferramenta para adqui- tinamente. "Isto é, existe essa enorme dis-
quela cadeira de balanço. A força de gra- fazer. Os dois estão planejando um monte rir conhecimento, para, hmm, descobrir a tância entre mim e, uh, a estrutura. O es-
vidade ajuda o bebê a descer e sair . . . é de filmes, quer arrumem distribuidores ou verdade. Hmm? Não, eu me sentiria fan- túdio me deu o emprego porque sabia que
muito mais fácil do que ficar deitada, eu era bom para o papel: Caine não é to-
não. Até o momento, um desses distribui- tástico, como um herói cultural, dizendo cado pela estrutura e eu também não. Eu
quer dizer, imagine se é possível evacuar dores já viu partes de um copião muito a todos os garotos que me vêem para lar-
deitado. Nós, uh, tínhamos planejado busco o que Caine busca, saca? Ouça,
precário de You and Me, que parece tra- gar o ácido, porque algumas pessoas viram man, esses caras do estúdio, todos tomam
comer a placenta. Os animais fazem isso, um lixo com êle; mas eu poderia dizer-
é incrivelmente nutritivo. Mas depois que tar exaustivamente (e em grande parte drogas, só que da pesada, e cheiram coca,
a vimos, decidimos enterrá-la e plantar silenciosamente) de uma longa viagem de lhes que eu próprio não vejo razão para eles não tomam psicodélicos porque sa-
uma figueira em cima, e quando a figueira um motociclista e um garotinho numa temer o que possa acontecer com minha bem que o LSD poderia quebrar a estru-
crescer, Free vai poder comer os figos moto de alta potência. Os fantasmas de cabeça. Eu quero saber, essa é minha via- tura deles, o sistema deles, seria uma tre-
crescidos de sua própria placenta. E, sabe Dennis Hopper e Peter Fonda parecem gem, eu sou como Che Guevara, só que menda sacudida na estabilidade deles. Por
de uma coisa? a árvore estáficandoboni- espreitar nas beiradas deste delicado faço isso numa série de TV. É extraordi- isso eles procuram só a fuga, não o conhe-
ta kodachrome de David; é algo alegórico da nário, você não encontra gente assim, cimento. Eles sabem que a estrutura deles
está condenada, como o Terceiro Reich.
Claro, a gente diz. Silêncio. Uh, e o intimidade dele o sentido do filme não é
;
fazendo uma série de TV. Certo? Bem, Esse Jerry Thorpe, o produtor — ele é
nome? "Bem, sempre tive um pouco facilmente percebido. um meio de se conseguir isso é se esforçar como Kit Carson, que o presidente em-
de vontade de mudar meu nome, então "Dirigir é essa nova, incrível viagem constantemente para nunca mentir, em prega para se comunicar comigo, o Jerôni-
enquanto fazia Last Summer — você assis- pra mim . . . mora, pra mim, um filme é nenhuma circunstância, por nenhum mo- mo; êle é a ligação entre mim e Eles, só
tiu? — eu fazia uma garota muito per- uma Proclamação de Independência, uma tivo, nunca. A verdade é como, hmmm, que êle também é Eles, saca? Thorpe
tubarda que ajuda uma gaivota e quando declaração de liberdade. E liberdade, um deserto, todo areia branca; e uma transa com o universo de um modo total-
a gaivota a ataca, ela a mata. Bem, o pás- man, eu acho que você já notou, é uma mentira é como uma mancha negra nessa mente individualista, o universo é como
areia, visível a quilômetros..." êle o vê na cabeça dele. Êle é como um
saro com o qual trabalhei era muito espe- grande coisa. Se você faz um filme que é feiticeiro que não têm poder nenhum.
cial, eu podia sentir seu espírito, me senti verdadeiramente pessoal, sem compromis- Êle curte esta metáfora por, talvez, "Mora, desde o começo, toda a preocu-
muito ligada a êle. E a equipe costumava sos, êle será comercial também, eu sei dis- vários minutos, ou mais, é difícil dizer. pação que êle tinha com Kung Fu era que
me chamar "Barbara Gaivota" . Mas, so. Agora, Fellini.. . eles lhe disseram " . . . E Barbara, na primeira noite que a série tivesse sucesso, que desse índice de
numa cena, eu tinha que atirá-la para o ar, que sua viagem não seria comercial, mas dormimos juntos, ela disse olha, nunca audiência, fizesse dinheiro^ êle não dava a
para fazê-la voar, e tivemos que ficar re- êle não escutou..." vamos mentir um para o outro. Uau, a mínima para os valores espirituais. Agora,
petindo a cena e eu via que ela estava A gente pergunta a efe sobre os filmes idéia me chocou. Quer dizer, uma coisa é quando os roteiros estão errados, ou são
muito cansada; e quando a tomada ficou não mentir, mas não mentir para uma mu- ruins, ou são falsos em relação aos valores
que êle gostou ou não gostou; o assunto espirituais, eu tenho de brigar com êle.
pronta, Frank Perry, o diretor, veio me não o sensibiliza. Êle achou What's Up lher? Impossível!" Ele sorri tão raramen-
dizer que na última atirada, o pássaro ti- Eles. Os homens da compamhia. E todos
Doe? hilariante e parece espantado quan- te, que quando o faz é como uma benção êies são feiticeiros. Há talvez uma ou ou-
nha quebrado o pescoço. Exatamente nes- do lhe digo que, como toda obra de Peter. inesperada. Não se deve interrompé-lo. a tra pessoa envolvida na série, além de
se momento senti que seu espírito entrou Bogdanovich, é um filme sem amor, tran- menos que seja para encorajá-lo, porque mim, que eu sinto que estão numa boa.
no meu corpo. sigente e sem humor. "Bem, eu ri pa- se sente que esses monólogos são, para Bem, merda, o que você pode esperar?
Não disse isso a ninguém durante mui- ca.. . Não acho que qualquer desses ca- êle, raros, algo difícil, e não suportam Thorpe, man, todos eles, afinal de contas,
to tempo. Finalmente, compreendi que ti- ras como Bogdanovich, ou Robert repetições. "Mas o ácido . . . eu num sei, trabalham na televisão . . . "
nha que mudar meu nome e fiz isso, no Altman, ou Frank Perry, estejam real- não tem cm mim o efeito que direni ter.
Ele sorri com sarcasmo. Silêncio.
cartório. Ah, sim, eu li Jonathan Livings- mente tentando dizer alguma coisa. Eles Por exemplo, nunca tive uma alucinação. Durante a tarde, andando pela casa, é que
ton Seagull, mas isso realmente não tem não têm qualquer declaração a fazer, sabe oh, eu não sei por quanto tempo não vou me ocorreu o que estava faltando ali: um
nada a ver com minha viagem. A não sei disso? " ter. Estou ficando impaciente: mora, se é aparelho de TV. Pergunto, mas êle está
que é lindo livro, sabe? Agora, tenho es- Êle examina o cigarrinho aceso que verdade mesmo que existe reencarnação e afinando a guitarra e a questão pode dis-
ses grandes sonhos alados, eu realmente está segurando e dá uma tragada tranqüi- que nós todos estamos sempre numa reci- traí-lo.
plano. Fui à Holanda pára fazer esse ou- la. "O que há comigo é que . . . não tem clagem até ficarmos no ponto certo, bem, "Hmmmm? Oh . . . Yeah.Bem, mora,
tro filme, e quando cheguei lá expliquei sentido escrever a meu respeito, a menos quero ser um reflexo de minha época e ir eu já tive um, uma vez, mas joguei ele
sobre o nome aos caras e eles ficaram apa- que você me leve a sério, porque sou real- caminhando para a próxima: sinto a res- fora. Ver televisão é envenenador. Po-
vorados, queriam usar Herhey, que era mente, hmm, uma coisa séria. Eu estou, ponsabilidade de fazer isso. Eu vou fazer lui a consciência. Você viu aquele filme
conhecido, mas fui firme . . . " uh, naturalmente, tendo uma influência isso através da verdade, com a qual estou de cinema, Play it as it Lay ? Aquele
trabalhando há anos e agora estou, uh, ator no filme que come a garota e que
O planeta gira; Free ouve com olhos positiva sobre pelo menos a juventude dos pouco antes daquilo eles tiveram que sen
espantados o murmúrio do living, que EUA e, potencialmente do mundo. Um quase cem por cento verdadeiro. Mora, tar para vê-lo no seu show de TV? Se
agora está a meia-luz e salpicado de cigar- barato! O que todo mundo está olhando, antigamente eu costumava até roubar por- você começa a se levar muito a sério, é is-
rinhos acesos, como vagalumes circulan- saca, em Kung Fu, sou eu — alguém que carias em lojas. Agora não". so que você vira". •
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OS DOIS AUTORES DA REPORTAGEM, LOGO APOS SUA PUBLICAÇÃO, NO ANO PASSADO, FORAM EXCOMUNGADOS PELO PAPA.

Reportagem de Norbeito Valentini e Clara Di Meglio

Igreja de Santo Aleixo, Roma. tido menos rígido. Eu o condenaria sem las . . . aliás, achamos necessário isto para cipado. Você acha certo?
hesitação se tivesse com sua noiva uma termos a medida exata de nossa harmonia F — Não é bem assim. O matrimônio for-
relação física como um fim em si mesma, sexual. ma uma família. O noivado não. O matri-
Sacerdote—Deus seja louvado. mas não posso condena-lo porque a rela- S — Mas, meu filho, não estão pensando mônio dá o prazer da vida em comum,
Fiel — Para sempre seja louvado. ção física que se dá entre vocês se dá co- nas conseqüências? E se puserem um fi- com o casamento podem vir os filhos.
S — Há quanto tempo não se confessa? mo um ato culminante de afeto, de amor, lho no mundo nestas condições, digamos, Não há uma diferença bastante grande, na
F — Faz muito tempo . . . quatro ou cin- de integração física. Sob este aspecto não anormais? sua opinião?
co meses. existe diferença para Deus entre vocês e F — Nós tomamos cuidado, temos rela- S — Escute, meu filho, eu poderia inclu-
S — Quais os pecados que cometeu duran- duas pessoas legalmente casadas. Vocês se ções somente nos períodos em que minha sive absolvê-lo, está bem, mas você vai ter
te todo este tempo? doam com igual afeto e têm intenção de namorada é estéril. que acertar as coisas com Deus.
F — Padre, mais do que para me confes- consolidar este afeto sucessivamente com S — Mas então quer dizer que vocês têm F — Mas, padre, eu estou estudando medi-
sar, eu vim para lhe pedir um conselho. o sacramento do matrimônio. uma relação completa? cina e até trinta anos ou mais não vou
Estou noivo e tenho relações com minha F — Entendi. F — Em geral, mas às vezes não. poder casar. O senhor acha que um ho-
noiva. A última vez que confessei o padre S — Penso que nestes casos somente nossa mem pode chegar até essa idade virgem?
me disse que eu não podia receber a consciência pode nos guiar. Se uma pes- S — Quer dizer que você deixa ele lá den- O senhor acha mesmo?
absolvição e então . . . soa está agindo em paz com sua própria tro? S — Não, claro. Mas, não é, algum erro a
S — Não é tão simples assim. consciência, pode ter certeza de que Deus F — Deixo, por quê? Igreja admite, é perdoável, não é, como
F — Mas . . . está com ela. Quando, ao contrário, força S — Mas, meu filho, Deus não pode apro- eu disse . . .
S — Quero dizer que um problema como sua própria consciência, significa que algo var, não é, estas coisas antes que vocês F — Mas é uma hipocrisia chamar de erro
este não pode ser liquidado tão facilmen- está errado, que está se afastando de sejam consagrados pelo matrimônio. uma necessidade, uma exigência que já foi
te, dando ou não a absolvição. O confes- Deus. F — Eu queria saber: se fazendo isto devo bastante pesada. Os erros não podem
sor não é um juiz, é um confidente, e F — Então posso ter a absolvição? me considerar fora da Igreja ou não. constituir uma regra. E a regra, no nosso
como tal precisa saber penetrar na alma S — Sim, pode. Sei que outros confessores S — (longa pausa) — Bom, eu, não seria caso, seria a continência, ou seja, uma
do pefiitente para ir além do pecado. não dariam a absolvição, no entanto, con- assim, enfim, não colocaria o problema condição que o senhor mesmo admite ser
F — É o que estou procurando . . . com- sidere o meu como um ato de confiança em termos assim, digamos, drásticos. impossível de manter.
preensão . . . para com seu senso de responsabilidade. Você, meu filho, precisa pensar nisto, S — De acordo (longa pausa). Porém, veja,
S — Vamos ver. Porque o senhor tem rela- Seria perigoso que a Igreja dissesse oficial- procurar se conter, porque a graça de se uma pessoa realmente não consegue,
ções com sua noiva? mente . . . permitisse livremente as rela- Deus é um dom que não podemos recu- não é, sempre existem outros remé-
F — Por várias razões. Primeiro, no's ções antes do matrimônio. Existem ainda sar, assim com leviandade. Se você tiver dios . . . ela pode . . .
achamos que é necessário um conheci- muitas pessoas sem consciência, incapazes boa vontade . . . F — Que outros remédios? A mastur-
mento recíproco completo, antes de dar de um autocontrole sadio. F — Padre, eu não consegui me explicar. bação?
um passo definitivo como o casamento. F — Obrigado, padre, por sua confiança. Talvez, com boa vontade, como o senhor S — Não sei, não é, se uma pessoa real-
Depois, nós nos amamos, somos jovens, disse, talvez eu conseguisse não ter rela- mente não consegue, não é, existem aque-
não vemos uma razão válida para nos con- ções com ela. Mas não é isso que eu que- las mulheres . . . Entende não é?
dicionarmos, para nos frustarmos com Igreja de São José, Milão. ro, entendeu? Eu acho que isto não tem F — Mas o senhor, padre, me aconselha
renúncias que poderiam ser prejudiciais. sentido. Dentro do noivado, eu e minha isto?
S — Avaliaram as conseqüências no caso S — Há quanto tempo não se confessa? noiva temos que experimentar se existe S — Meu filho, eu não aconselho nada,
de se separarem? F — Alguns meses, não lembro bem. entre nós dois uma possibilidade de en- estou falando assim . . . Em todo caso,,
F — Sim, discutimos isto antes de nos S — O senhor se confessava regularmente tendimento como caráter, sensibilidade, e não é, se você acha justo e honesto fazer
amarmos pela primeira vez. Mas chegamos antes? também como sensualidade. Entende? isto, continue. Eu, no fundo, compreendo
à conclusão de que, de qualquer maneira, F — Mais ou menos. S — Mas para isto é suficiente um exame você, compreendo muito bem. No fundo,
seria melhor nos separarmos se descobrís- S — Por que esperou tanto tempo? Tem pré-nupcial, não é, o problema se resolve para o homem é menos perigoso do que
semos que não poderíamos ficar juntos algum problema de natureza espiritual, al- assim com sabedoria e .. . para a mulher. Mas, se sua namorada tam-
antes do casamento, não depois. guma coisa que não está indo bem? F — Nada disso padre, mas então o senhor bém está de acordo e também acha que
S — Vejo que tem idéias muito claras a F — É isso. Estou noivo e tenho relações desconhece mesmo totalmente estes pro- não é nada de mais, está bem, êu absolvo
respeito e um certo senso de responsabi- com minha noiva, e como . . . bom, a blemas. Eu e minha garota somos duas você, do mesmo jeito. Está contente?
lidade. Eu, como sacerdote, não posso Igreja não permite isto, deixei de confes- pessoas normalíssimas. Não é este o pro- F - Obrigado, padre.
aprovar sua atitude, mas posso justificá-la, sar. blema, como o senhor diz. Vou tentar ser S — Por penitência reze cinco Ave Marias
posso compreendê-la e inclusive aceitá-la. S — E por que veio agora se confessar, por mais claro. Eu e minha garota somos duas para Nossa Senhora. E agora o Ato de
F — Como é que o senhor me diz estas que? pessoas sexualmente normais, como tan- Contrição.
coisas enquanto os outros sacerdotes con- F — Bom, mais do que para confessar, tas outras. E combinamos, como caráter.
denam logo no início e sem apelação estas vim pedir uma opinião . . . assim, para sa- Com outras garotas, também normais, Igreja de Santo Aleixo, Roma
situações? ber, se meu medo tem fundamento ou com ás quais já estive antes, não combina-
S — Não, eu também, como disse, con- não. va do ponto de vista do caráter. A mesma F — Padre, faz tanto tempo que eu não
deno estas situações, porque são situações S — Veja, meu filho o problema não é coisa, padre, acontece do ponto de vista me confesso. Hoje eu vim, assim, porque
perigosas que muitas vezes causam mais tão complicado como você pensa. E mais sexual. Duas pessoas normalíssimas po- me sinto um pouco culpada. Estou noiva,
mal do que bem. Porém, veja bem, há simples. Você não pode ter relações com dem conseguir . . . podem conseguir uma e naturalmente tenho relações com meu
exceções, exceções que com o tempo se sua namorada não é> antes de casar, harmonização sexual perfeita. Outras noivo. Não sei, talvez seja pecado, talvez
tornam cada vez mais numerosas. O se- porque a lei de Deus, nao é, aquela que duas pessoas, também normais, podem ser sejam coisas naturais. Não sei . . . O que
nhor me falou com muita responsabili- deu aos homens, não permite. Mas o ho- um desastre, sexualmente falando. E o o senhor acha?
dade de sua situação e me fez entender mem, não é, o homem é uma criatura fra- exame pré-nupcial não resolve nada. A S — As relações iniciais com o noivo são
que nunca se serviria com más intensões ca e pode errar. Basta que você admita única coisa que importa é a experiência evidentemente uma passagem entre a ami-
da liberdade que tomou. seu erro, não é, e faça o propósito de não direta. zade e o amor. Estas relações, com o tem-
F — Não, claro. voltar a cometê-lo entendeu? O Senhor
y S — De acordo, meu filho, de acordo. Mas po, podem se tornar mais intensas, exte-
S — Bom, veja. Eu estou convencido de admite o erro e em sua imensa bondade agora que já fizeram esta experiência, che- riormente, porém, devem permanecer sem-
que as leis, as estruturas estabelecidas pela sabe perdoá-lo. ga, não é? pre dentro de determinados limites. Por
Igreja foram muito úteis em tempos nos F — De fato, falando assim parece tudo F — Quanto mais durar a experiência no diversos motivos: seja por que temos que
quais a ignorância do homem poderia fácil. Mas o problema é diferente: eu, na tempo, mais válida ela se torna. Por outro nos reservar a alegria do, dom total no
abusar de toda liberdade concedida para realidade, não acho de jeito nenhum estar lado, repito, não vejo nada de mal nisso. matrimônio, seja por vários outros moti-
se servir dela da pior maneira possível. cometendo um erro. Eu e minha namora- S — Mas então, não é, vocês tornam o vos.
Hoje, devem ser compreendidas num sen- da temos estas relações, acsejamos tê- noivado uma espécie de matrimônio ante- F — Mas o senhor tem que compreender
O PECADO

que duas pessoas que se amam . . . nós que você está perguntando:."olha, ama- essencialmente como um ato voltado para qualquer sacramento. O que é que a se-
tentamos no começo, naturalmente, nhã você quer ter a liberdade de acaber a procriação. nhora quer falar mais?
enquanto a gente não tinha certeza de tudo com uma moça no caso de não com- S — E daí? Basta abster-se nos dias em F — Bom, há muitas coisas para dizer . . .
que fosse uma coisa séria. No fundo a g binarem? " Ele diria: "queria, sim." E eu que a mulher é . . . enfim, está fora de Por exemplo, que era meu marido que
ente não faz mal a ninguém. Por que é acrescentaria: "Você não gostaria de dei- perigo. não queria filhos e que uma das razões da
que a Igreja diz que isto é pecado? E isto xá-la como a encontrou? Você não pode F — Bom, mas . . . nossa crise conjugai foi sempre minha
que gostaria de saber. usá-la como se fossem carne um do outro, S — A mulher é fértil somente quatro ou oposição a . . . isso, dele não querer fi-
S — Bom, você sabe que o dom total só se porque ainda não o são totalmente". En- cinco dias em cada mês, portanto basta lhos. Depois, que foi ele quem quis se se-
dá quando existe certeza. O noivado é fim, existe um limite de respeito, que na um certo senso de responsabilidade e . . . parar porque, diz ele, encontrou uma
somente uma promessa, que do ponto de minha opinião se impõe a toda consciên- F — Não é bem assim. Se os quatro ou mulher mais fêmea do que eu. Enfim, que
vista legal não tem validez nenhuma. cia. cinco dias de fertilidade mensal fossem se eu quero refazer uma família com ura
F - Mas o senhor precisa compreender F — Está certo, mas alguns sacerdotes localizáveis com absoluta certeza, acho homem mais honesto, mais madurando
que se a gente casa e depois não combina com os quais eu confessei, algum tempo que não haveria problemas para ninguém. que meu marido, é justamente porque
sexualmente, o que é muito importante atrás me disseram que era pecado também No entanto como a experiência ensina, desejo poder viver eu também uma vida
no casamento, é o fim do mundo, en- beijar. Agora, explique pata mim . . . não esse negócio é uma loteria e . . . então é normal, com afetos válidos e normais, en-
quanto que se a gente descobre isto antes, consigo entender, me parece tão absurdo. melhor não correr nenhum risco, inter- tendeu?
sempre pode evitar um erro. S — Bem, este conceito é o seguinte: todo rompendo o ato na hora certa, não? S — Claro, entendi tudo. Mas, escute aqui,
S — Isto é realmente um problema. No rJrazer, digamos, sensual, . . . não que os S — Se você tomar a iniciativa de inter- este monstro de marido, quem foi que
entanto, é preciso ver se para uma expe- prazeres sensuais sejam maus, porque eles romper o ato, comete pecado gravíssimo. casou com ele? Eu ou você? Quem foi
riência recíproca, para se dar conta da ca- também procedem de Deus . . . deve ser É inútil você insistir. Se, ao contrário, sua que o escolheu? Eu ou você? Vocês não
pacidade de intimidade entre vocês dois, colocado no matrimônio. Mas um beijo mulher pedir para fazer isto, então . . . namoraram antes? O que foi que fizeram
vocês precisam ir até esse ponto ou se bas- na boca, prolongado, buscando uma res- você pode atender, mas deixando a ela antes de casar?
ta que . . . posta nos nossos sentidos, era conside- toda a responsabilidade. Nesses casos, F — Padre, não vamos falar nisso. Durante
rado mau. nós, sacerdotes, aconselhamos os cônjuges o namoro vi meu futuro marido talvez
F — Isso mesmo. Até que ponto, se pode a não se colocarem contra a vontade um umas dez vezes. E como queria conhe-
chegar? F — Mas isso no passado. do outro para não provocar problemas fa- cê-lo melhor, ficar um pouco mais com
S - É difícil dizer. Na minha opinião, S — No passado, mas muitos ainda acham miliares. Existe, enfim, uma certa tolerân- ele, meu pai me levou para falar com meu
veja, eu acho que vocês devem tentar, an- isso. Eu acho que dois noivos, como no cia para com quem sofre a decisão, enten- confessor naquela época e ele me disse
tes de tudo, se amar realmente, com todo seu caso, dois jovens que se amam, que se deu?
preocupam um pelo outro, que estão pró- que era pecado ficar demais junto de um -
o coração, com a alma. Esta é, com certe- homem antes de casar. Me disse que eu
za, a coisa que mais agrada a Deus. De- ximos do casamento . . . no início o-res-
peito é muito importante, depois mais pa- devia somente falar um pouco com ele,
pois, naturalmente, podem também ex- não ter. qualquer intimidade e tudo o que
pressar o seu amor um para o outro. Diria, ra frente fica cada vez mais difícil, acho Igreja de São Miguel Arcanjo, Palermo
eu podia me permitir era um beijo na tes-
até que, como vocês já são noivos há um que até certo ponto é quase normal que ta sem cair em pecado mortal. Agora, o •
certo tempo, se adquirirem uma familia- certos atos sejam permitidos. Tente agir S — Tem algum pecado grave para con-
senhor quer reprovar o contrário!
ridade cada vez maior, física, nada mais da melhor maneira possível, seu noivo fessar?
S — Mas quem foi o imbecil que falou
natural. Existem depois . . . atos, na inti- também. Veja se consegue se conter. E se F — Não. Isto é, tenho uma situação par-
estas coisas?
midade, que você conhece, e que somente realmente não conseguir, significa que vo- ticular e gostaria de pedir um conselho
cê também se deixou levar . . . assim . . . para o senhor, padre. F — Meu confessor.
você sabe se pode ou não realizar, porque
eu sou um sacerdote e portanto ignoro mas não é bom, porque ultrapassaram os S - Diga. S - Bom, deixe prá lá! Vejamos sua situa-
essas coisas, por isso, só posso dar conse- limites do noivado. Entendeu o que eu F - Sou casada e separada de meu marido ção atual. Já foi para a cama com es-
lhos, assim, dentro dos limites daquilo disse? há mais de quatro anos. A separação foi te . . . este outro? Ou se trata somente
que a gente lê, daquilo que as pessoas fa- culpa dele, e ele admite isso. Nestes últi- de uma simpatia, assim . . .
lam para a gente. Bem, eu diria que quan- Templo Monumental, Modena mos tempos, conheci um homem a quem F — NãOjjá fui.
do você vê que determinados atos são de me apeguei muito e com quem tenho uma- S-Ah!
tal intimidade que necessariamente irão F — Padre, sou casado há cinco anos e relação válida, porque pretendo refazer F — Pois é.
levar a . . . enfim, porque existe todo um temos dois filhos. Gostaria de saber se é uma família com ele. S — Desta vez nao perdeu tempo, hem?
complexo fisiológico . . . podem levar a pecado realizar o ato sexual de maneira a S — Quantos anos você tem? F — Padre, eram quatro anos que eu não
uma união total, estes atos mais íntimos evitar que venham filhos. F - 31. tinha relações.
vocês deveriam tentar evitá-los, contro- S — É pecado, sim. Mas como é que você S - Tem filhos? S — Estava com vontade, hem?
lá-los. quer realizar este ato para evitar filhos? F — Não. F — Bom, sentia falta, sim.
F — Bom, padre, está claro, não? Não S - Por que? S — E assim tirou a barriga da miséria.
F — Mas, e todas as outras coisas, que não deixando que o sêmen entre na mulher, F — Está me deixando sem jeito. ,
sejam o ato completo, a gente pode fa- ou então, deixando que ela tome a pílula. F - Não sei . . . meu marido não queria.
S — E como é que ele fazia para não que- S - Deixe prá lá. Deve lembrar isto: a
zer? S — E onde é que você vai pôr o sêmen? Igreja não permitirá nunca, nunca, ouviu?
rer filhos?
S - Sim, podem fazer. Porque a Igreja Onde? O que é que você acha? Você que a senhora continue desta forma. En-
não disse nada de preciso. Você vai en- vem aqui e acha que pode . . . F - Tomava cuidado.
S — Falemos claramente . . . ele tirava an- tendeu? Se quiser refazer uma família,
contrar outros sacerdotes mais rígidos do F — Não estou falando isso. É suficiente deve estar disposta a renunciar à graça de
que eu, neste campo. Agora, eu acredito não deixar que o ato se complete. tes de . . .
F — Bom, é isso. Deus, a se tornar filha do demônio. So-
nisto. Que a norma deve ser esta, antes de S — Mas estes são todos pecados graves, mente com esta condição, com a condi-
tudo porque durante o noivado vocês não você não sabia? A pílula, então . . . Não S — E então vocês se separaram?
F — Já disse. ção de se danar para sempre poderá con-
estão se afastando de Deus. Você no fun- sabe que você pode desgraçar sua mu- tinuar pelo triste caminho que tomou.
do é sempre uma boa moça com seu noi- lher? S — Bem feito! Começaram um matri-
mônio no pecado e agora . . . porque F — Mas então o que é que eu deveria
vo, honesta. Eu, porém, acho o seguinte: fazer? Tenho somente 31 anos, padre.
que você mesma precisa ter um pouco f — Se ela tomar sob controle médico, você sabe não é que evitar filhos assim é
mais de consciência, enfim, saber onde' acho que não. E, depois, não sou eu quem pecado gravíssimo? E agora tudo acabou. S — Ninguém tem culpa se você não teve
está o limite porque se vocês fazem estas quer obrigá-la a tomar a pílula, é ela que Depois vocês vêm choramingar com o sorte. A culpa não é sua. Mas também não
coisas regularmente, não somente chega- não quer ter mais filhos por enquanto. padre "e agora o que é que eu faço? e é minha, e muito menos de Deus. Se qui-
rão ao ato total, como também . . . S — Ah, é? Vocês têm somente dois fi- agora o que é que eu faço? Agora quero ser, v^á brigar com aquele imbecil que te
F — Poderíamos inclusive ter filhos . . . lhos e já não querem mais . . . Muito outra família porque nao consigo viver aconselhou a não . . . a não olhar sequer
S — Isto mesmo, Poderiam até por filhos bem. Mas se a culpa é de sua mulher, dei- sem aquele negócio entre as pernas". Não seu namorado antes de casar. Eu só posso
no mundo. São -duas coisas diferentes, xe que faça, o problema é dela. Não que é isto? dizer que a Igreja, nestes casos, não ofe-
não é? No fundo há esta alegria total, você possa ficar com a consciência tran- F — Nada disso. Sua maneira de ver as
t rece nenhuma escapatória. Ou você se
esta comunhão de vida, que não pode ser qüila, mas em todo caso você não está coisas é muito superficial e nada caridosa, comporta como uma mulher sábia e ama-
repetida . . . porque não é que uma moça cometendo nenhum pecado grave. Tente, acho. durecida, que reprime os instintos, por-
tente com um homem, depois tente com em todo caso, tirar essa idéia da cabeça S - Ah, é? Então pôde ir embora se não que seus instintos são bem fortes, pelo
outro . . . porque existe uma . . . uma dela; agora, se ela insistir, para não acabar gosta de ouvir falar abertamente. O que é que parece, ou você cai no pecado. E eu
intimidade que cresce como que na car- 'om a família faça de conta que você não que você esperava que eu dissesse: "Muito não posso fazer nada mesmo. Quando
ne . . . está sabendo. bem, minha filha, fez muito bem em fazer muito, posso ter compaixão de você. Mas
isto. Faça outra vez com outro. Faça mes-
F — Sim, porque se agora eu percebesse F — Na realidade, não é bem isso. Minha mo, eu estou aqui para consertar as coi-
o que é que você pode fazer com minha
que nós não combinamos, eu preferiria mulher não quer mais filhos e eu estou de sas." Você esperava que eu dissesse isto?
compaixão?
acabar com tudo, naturalmente, para não acordo com ela. Já temos dois . . . o F — E se eu pedir o divórcio?
cometer . . . número certo, não? Para dar a eles uma F — Claro que não. Só que eu esperava S — Ah, bem que eu estava esperando is-
boa educação. E depois, na nossa opinião, que o senhor antes de fazer juizos tão to! Pior ainda. Para a Igreja, o divórcio é
S — Isso mesmo, você fala em acabar com a vida não deve ser gasta somente criando
tudo. Você porém entende neste caso o filhos. Somos jovens, é justo que a gente desagradáveis, aprofundasse um pouco o como se não existisse. Entendeu? Nem
valor da lei. Porque uma moça que, queira viver com mais tranqüilidade, para problema. Ao contrario, o senhor está tão pense nisto. A única solução já indiquei
enfim, esteve em plena intimidade com o nos dedicarmos a nós mesmos. Não acha, seguro de si mesmo que já me julgou sem para você.
seu noivo . . . fica um pouco diminuída padre? saber nada de mim, da minha situação, de F — Está bem, padre.
com isto. tudo, enfim. Muito bem, muito obrigada, S — Não pense mal de mim ou da Igreja.
F — Se ela percebe que está casando com S — Está certo, mas existem leis estabele- vou embora. Eu sei, é uma situação bastante difícil.
o homem errado, é muito melhor que aca- cidas por Deus^ que o homem, ou pelo S — Mas, escute aqui, já não contou sua Reze para Deus e peça a Ele que a acon-
be tudo antes, não é? menos, o cristão, deve respeitar. história? Está separada do marido com o selhe a se comportar, entendeu?
S — Estou de acordo. Mas, você entende, F — Mas a Igreja recentemente admitiu qual pecou desde o primeiro momento do F — Está bem, padre. Muito obrigada.
eu diria a um jovem que me perguntasse o que o ato sexual nao deve ser entendido matrimônio Quer ir com outro, fora de S — De nada, de nada. a
AHHH... MOfò/UMBO
TEM HONCA* DE TODO*
O* TAMANHO* HUMM/M
O CREDITO MAI* BARATO
DO BRAtfL MAtf, MAJ*.
A#/M.... UM/VW1.
MOTOJUrV\BO FICA NOJUMBO
AEROPOKIO E *TO. ANDRÉ.
E BOM, EBQM.AHHHHH
ROTEIRO Fevereiro, 1970: Entrada recusada no Darjeelin,

MÍSTICO
(Diário de um crente altamente especializado)
portanto arrancamos para o Nepal. Tomamos
um milk-shake com o Baba Ram Dass, que nos
diz para vivermos uma Vida Boa. Ele é realmen-
te espiritual. Inscrevo-me no grande curso Tan-
tra Yoga e dou o resto do dinheiro para Mitzi
porque ela quer se concentrar com seu guru
num lugar sagrado especial chamado Hotel
Dona Bola
Everest. Não vejo mais Mitzi. Repatriado pelo
cônsul britânico .
e Krishna Hare Krishna Hare Krisr Março, 1970: Timothy Leary metido em en-
crencas com a policia. Releio seu livro "A Polí-
tica do Êxtase", mando alguns ácidos luminosos
Vital Battaglia
e finalmente vejo Deus. Ela transforma a Si Pró-
« pria num juiz que me multa em 50 libras e me
diz quão absurdo é imaginar que algo que se
digira tenha qualidades divinas. Enquanto deti- CORINTHIANS CAMPEÃO? SÕ SE O MOBRAL PEGAR MATEUS.
do, leio "O Cogumelo e a Cruz", de John Alle-
gro. Evidentemente, Jesus foi um cogumelo.
Muito confuso. Como cogumelo em lata com
spaghetti Heinz no almoço mas. não me sinto Muito se fala em liderança na vida moderna, cha aos ouvidos de repórteres, querendo fugir a
nem um pouco diferente . e me pergunto qual seria a real personalidade de autoria da frase:
Setembro, 1970: Leio "Os Ensinamentos de um líder, além de substantivo masculino que - O Roberto está no ocaso da carreira. Se
Don.Juan", de Carlos Castaneda. De fato, ex- significa chefe, condutor, tipo representativo de acovarda na jogada, por medo de uma contu-
plode minha cuca. Ele explica como o Deus uma sociedade. são".
Mescalito pode aparecer para voei na forma de De início, por ser palavra masculina, enorme Insisto a procura do líder e o procuro entre
um cachorro, se você comer alguns cogumelos falha. Tolhe a liderança dc uma mulher, e não os craques, aquele a quem Deus legou o dom de
mágicos especiais do México. Voo imediata- seria a velha matrona romana exemplo perfeito jogar futebol com rara habilidade, independente
mente para o México e como alguns cogumelos de liderança na célula familiar? de cultura ou bondade. E para minha decepção
nas montanhas atrás de Acapulco. Deus aparece Por outro lado, quem seria o líder: Nixon ou vejo que existe profundo abismo entre as pala-
na forma de um fox-terrier. Muito doentio, de- Kissinger? vras líder e ídolo. Rivelino prova isso. Vendo
mais. Repatriado pelo cônsul britânico que me É evidente que não pretendo cometer o sa- um amigo multado, humilhado pelo clube -
diz para não interferir nos costumes aborígenes. crilégio de contestar qualquer dessas possíveis como foi Baldocchi, promete apenas interceder
lideranças, mas procuro analisar o problema junto ao técnico, quando o certo seria tomar o
Fevereiro, 1971: Conheço seguidores de organi- onde a palavra líder é usada com total falta de lado da razão: "Eu não admito essa injustiça" —
zação chamada Processo na Rua Wigmore. Eles critério. mas é muito mais importante os 40 mil mensais.
me dizem que o mundo é composto de negros, Analiso um presidente: Vicente Mateus. Finalmente sou obrigado a admitir. O líder
brancos c pardos e que os pardos são uns cha- Analfabeto, é verdade, mas burro não. Tanto nasce, como qualquer ser humano, e independe
tos. Eles vestem roupas realmente lindas. Jun- assim, que quando fazia oposição na política dc posição social ou qualquer dom. O único e
to-me a eles. t corintiana chegou a oferecer dinheiro para um verdadeiro líder é o homem, aquele que se com-
Setembro, 1971: A bata se enrosca no aro da juiz prejudicar o próprio clube, para subir na porta como homem, independente da situação.
bicicleta, caio e re-fraturo o tornozelo. Devolvo política. Um conselheiro acusou o e ele não des- Por tudo isso, Baldocchi foi o único homem,
a bata e vou ao Festival da Luz reunião cm mentiu. Foi numa partida entre Corintians e verdadeiro líder que conheci no Corintians.
Trafalgar Square e marcha até o Hyde Park. Ou- São Bento. As informações dizem que o árbitro, Mando estas considerações ao presidente
ço a fala de Malcolm Muggeridge. Não imagina- a bem da verdade, recusou o suborno. Vicente Mateus, que no dia 24 de janeiro per-
va que ele ainda estivesse vivo. A srta. Whitc- Recorro a escala inferior, a procura de unir guntou-me porque havia me afastado do Corin-
house explica como todo o mal do mundo terá líder no futebol, e chego ao técnico. Vejo um tians. Na oportunidade eu lhe respondi: "Não
fim se pararem de mostrar mamüos pela BBC. homenzarrão, no sentido amplo da palavra isto suporto covardia!" E infelizmente, eu estava
Cliff Richard canta e pego seu autógrafo. Escre- é, uma montanha de carne, chamada Yustrich. diante de um covarde. Deus queira que entre os
vo para casa, pedindo que mamãe me mande a De repente, .por uma briguinha de lavadeira meus defeitos, jamais me seja imputada a pala-
Bíblia. (sem querer ofender a ilustres lavadeiras) cochi- vra covarde.
Setembro, 1968: Voo de vi a de meditar com
Dezembro, 1971: Descubro cristãos mais ativos,
o guru Maharishi, em Ben; ;s, para descobrir
chamados Os Filhos de Deus. Um deles, Moses
que ele foi desacreditado p r John Lennon -
David, me diz que mude de nome, portanto pas-
"você fez todo mundo de f ihaço". Muito em-
so a ser Lazarus Lot. Objeto de muitas brinca-
baraçoso. Mando cartão postal para Mia
deiras idiotas por parte de amigos. Divido casa
Farrow. A hepatite quase melhor, a disenteria
com montes dc Filhos de Deus - engraçado,
ainda criando certos proble ias.
sempre pensei que Ele tivera filho único.
Dezembro, 1968: Decidr que Lennon estava Janeiro, 1972: Leio "A Carruagem dos Deuses",
certo. Vou à reunião de Meher Baba, no Hotel de Erik von Daniken e aprendo que Deus foi, dc
Hilton. É obviamente uma religião muito fecha-
fato, um astronauta. Fico pensando se Mary
da pois seu organizador é alto-executivo da
Whitehousc não c astronauta, também.
Shell. E quem vejo ali se não Pete Townshend,

w
do Who. Ele explica como o Meher Baba aju- Junho 1972: Ouço falar do guru-menino
dou-o a parar de judiar de suas guitarras. Procu- Maharij-ji e de como ele foi abençoado pela Luz
ro conhecer Mr. Baba em pessoa. Divina. Voo para Calcutá para ouvi-lo falar. Que
viagem. Alcanço realmente a beatitude e recebo
Fevereiro, 1969: Leio "O Caminho dos Sufis", ensinamentos. Assino todos os meus travcllcr's
de Idies Shah's e decido me alistar. Vou à sua checks. Não sobra um centavo, portanto tenho
reunião em Covent Garden e viajo com a música que arranjar um repatriamento O cônsul britâ-
e a dança Sufi. nico me pergunta por que isso continua acon- Conheci muitos torcedores que chegaram ao Entre os mais ridículos, porém, estava o Min-
Março, 1969: Fraturo o tornozelo com a dança tecendo. Eu explico - "Deus me respeita quan cargo mais cobiçado num clube de futebol pro- guinho. Chegar a diretor do Palmeiras - para
Sufi. Vou para o realmente maravilhoso mos- do trabalho, mas quando canto me ama", uma fissional do Brasil: diretor de futebol. De cada ele — foi obra divina - e não deveria ser num
teiro Tibetano em Dumfrieshire, chamado 'velha citação de Tagore que catei no meu "Fon- iim aprendi uma lição - a de como não agir na clube em que o presidente se orgulha dc ter o
Samye Lynge, para me recuperar. Charlotte tes da Sabedoria Hindu". O cônsul parece nao vida. E a essa regra nao encontrei exceção. apelido de Bola Sete.
Rampling está lá. Uau. se impressionar. A maioria deles - apesar de nao serem dou- Sua primeira providência: patrocinar seis ou
tores em ciências humanas - dedicava extrema sete colunas em jornais, para poder ver sua polí-
Junho, 1969: Apanho prisão de ventre com a Janeiro, 1973: Vou e assisto "Jesus Cristo proteção ao jogador de futebol, enquanto eles tica valorizada. Lembro-me ainda, que um dos
dieta permanente de arroz, e sinusite com o in- Superstar". Descubro que Hcrodes foi um cas- estavam cm campo. Exemplo de Manoel Poço e repórteres ofertados pela dádiva de Minguinho,
censo. Arrancando de volta para Londres, pego ca-de-ferida e Tim Rice um jovem conservador. limo Franchini - por ironia do destino, ambos exclamou:
carona com cientologista que me explica que o Peço meu dinheiro de volta. donos de oficinas de carros usados. - Até que enfim, choveu na minha horta.
fundador deles, L. Ron Hubbard, esteve no céu Para eles, como os carros, cada jogador tinha Por essa declaração, pode-se deduzir o nível
duas vezes e pode eliminar todos os meus pro- Julho, 1973: Hank Marvin, o grande guitarrista
do Shadow está entrando para as Testemunhas o seu preço, ou melhor, quando falavam em do articulista e também do seu veículo de
blemas com uma máquina chamada E-meter. transferência de jogadores, utilizavam o termo: comunicação.
Embarco. de Jeová. Deve haver alguma coisa ali. Resolvo
me alistar mas eles me dizem que terei de me "vendi esse jogador por x". Com as colunas, Minguinho defendeu e ata-
Agosto, 1969: Ando duro. Recebo auxílio de livrar de meu aparelho de som. Não topo. Se o carro tisado digo, se o jogador não in- cou o presidente. Tornou-se forte, tão forte que
membro do Templo Hara Krishna, em Oxford teressava mais ao clube, a decisão era a mais um dia declarou:
Street. Saco realmente o singular "Hare Julho, 1973: Visito o Solar Bhatkivenda, a casa simples, exatamente como se estivessem falando - Eu ou o César!
Krishna" deles. Descubro seu modo de vida e de campo que George Harrison comprou para a de um automóvel com 30 anos de uso cujo Quer dizer. O clube fica comigo ou com o
como tudo será muito mais simples: nenhuma Sociedade Internacional da Consciência Krishna motor fundiu. centroavante César. E a torcida começou a per-
preocupação sexual, porque não há sexo; ne- Limitada, com os lucros do seu álbum "Viven- Mas na hora da vistoria, quando o carro cru- guntar:
nhuma preocupação financeira etc. etc. Rapo a do no Mundo Material". Tem um lindo e solene zava a linha de chegada, eles eram os primeiros - Se o César sai, quem faz os gols? O Min-
cabeça e começo vendendo "Godhead" no jardim e um lago de um acre e meio. Pego inso- a procurar microfones (eles sempre preferiram o guinho?
Strand. Descubro que Paul McCartney está mor- lação, portanto arranco de volta para Londres. rádio ao jornal) para explicar: De tão ridicularizado por aqueles jornalistas
to. Rezo por sua alma. . Agosto, 1973: Billy Graham chega a Eari's - Comprei esse jogador por uma ninharia, que preferiram ficar com a liberdade de chamá-
Court e profetiza o fim do mundo. Ambos, fui criticado, mas eis aí o grande negócio. Ele lo de burro a receber uma coluna, Minguinho
Janeiro, 1970: Vou preso por estar provocando vale ou não vale muito mais? retirou-se para a sua loja de eletro-domésticos e
obstrução. Multado em 5 libras pelo juiz que Cliff Richard e Johnny Cash, estão lá. Não pego
seus autógrafos. Compro uma camiseta "Jesus, E, quando falamos de diretor de futebol, passou a fazer simplesmente aquilo que sabe
diz quão intolerável seria se todo mundo ten- sem dúvida nenhuma estamos falando da polí- com perfeição: comprar máquinas de lavar, gela-
tasse forçar religiões alienígenas na população Única Esperança".
tica presidencial. Elmo Franchini não foi outro deiras e televisores por 10 e vendê-los por 20.
local. Eu não tinha pensado nisso nesses termos. Setembro, 1973: Finalmente - encontro o que na vida senão a máscara de Wadih Helu - e o É por isso que devemos aplaudir a extinção
Deixo crescer de novo o cabelo. Conheço garota realmente tenho procurado! Me oferece tudo o que é pior, continua sendo. Basta dizer, que do cargo de diretor de futebol no Palmeiras.
chamada Mitzi no concerto beneficente de Li- que sempre quis: um uniforme, camaradagem, Wadih conseguiu provar que jogador era patri- Assim, só fica faltando mandar embora também
beração na Round House. Ela sugere que vamos uma disciplina, normas e te pagam, o que é uma mônio, e significava um investimento como a o Bola Sete.
ao realmente joia Mosteiro Budista de grande transformação. Se chama Exército Britâ- construção do ginásio. Em suma, era um bloco Seria tão melhor o futebol só com técnico e
Darjeeling. nico. A de concreto armado. jogadores. A
CARTAS Baixa Sociedade
DE
ROSA
"SEI EU POR ACASO O QUE QUERO?
Percival de Souza
QUERO AMAR-TE . . ."

"CAIM É QUEM TINHA RAZÃO" (ZEZINHO DA VILA MARIA)

Ex-Prainha cega? ), arquivou-se a bronca, sem mais


nem menos. E o bilhão voou, voou . . .
Vocês sabem como se chama a esquina da Oh! Temis, onde estás?
avenida São João com Ipiranga? Pois é,
para o pessoal que freqüenta a noite, O interrogatório
aquilo tem três nomes. O pessoal da anti-
ga, gente que conheceu os saudosos tem- Num foro qualquer (o meretíssimo pediu
Suíça, 16 de julho de 1897. como se eu fosse um manequim acionado por
pos de Castelinho — um dos maiores ma- prá eu maneirar), ouviu-se em juízo uma
um mecanismo externo. Meu querido, meu
Não, não posso trabalhar mais. O pensamen- amor, não me queixo, não peço nada, somente
to volve constantemente para ti. É preciso que quero que compreendas, que não tomes meus landros que já apareceram em São Paulo jovem que havia sido seduzida — e por
isso instaurou-se o competente processo.
te escreva. Meu querido, meu amado, não estás prantos por cenas de comadre. O que é que eu — o lugar se chama Maravilhoso, por cau • Ocorre que a jovem era de origem das
neste momento a meu lado, mas toda minha sei também? Que, com certeza, sou muito cul- sa de um "dancing" que havia ali com mais humildes e ficou encabulada com to-
alma está plena de ti, te abraça. Com certeza te pada, a maior culpada talvez, de que nossas rela- esse nome.
parecerá estranho, talvez até ridículo que te es- ções não sejam harmoniosas e quentes. Mas que do aquele aparato forense. Virando-se pa-
O pessoal mais novo chama aquilo de ra ela, o senhor doutor promotor inda-
creva esta carta estando a 10 passos um do posso fazer . . . não sei, verdadeiramente, não
outro, vendo-nos três vezes por dia; por outra sei como comportar-me! Não sei como fazê-lo,
- Prainha, que é o lugar para onde todo gou: — Quer dizer, então, que a senhori-
parte - posto que sou somente tua mulher - nunca consigo combinar uma situação, sou inca- mundo vai mostrar a plástica. Agora, pros nha foi estuprada? "Sim, seu doutor" -
quê romantismo é este, escrever cartas pela noi- paz de tirar conclusões, sou incapaz contigo de moçoilos que torcem as mãozinhas, o lu- foi a resposta. O capa preta quis saber
te ao marido? Meu amor, o mundo inteiro po- me fixar numa decisão firme . . . a cada mo- gar tem o sugestivo nome de Peg-Pag. Por aonde tinha se sucedido tal fato. Cons-
de rir, mas tu não, tu lês seriamente e de cora- mento me conduzo contigo como me dita meu que? Bem, depois eu conto. trangida, a jovem revelou:
ção, com emoção com essa mesnia emoção impulso; quando se acumula muito amor e mui- — Dos dois lados, né doutor?
com que antes lias minhas cartas - em Genebra ta dor em minha alma . . . me abraço a teu pes- Ah, esses gringos . . .
- quando eu ainda não era tua mulher. Porque coço; quando me feres com tua frieza . . . mi- Estive zanzando um pouco pela boca do Quiião
eu as escrevo com a mesma emoção que então, nha alma se dilacera e te odeio . . . seria capaz luxo. Depois de descobrir que é um tre-
e como então toda minha alma se lança para ti e de matar-te. Mas, meu amor, tu és capaz no mendo grupo dos garçãos (como diria o 0 pessoal do quilo — olha aí, meu chapa,
meus olhos se enchem de lágrimas (provavel- entanto de compreender e analisar, sempre o Stanislaw, garção é garça grande), dessas quilo é assalto — anda preocupado com a
mente sorrias ante estas palavras "porque agora tens feito por ti e por mim em nosso relaciona- boites fajutas deixar a garrafa de scotch falta de ferramentas importadas. Para se
choro por qualquer coisa"!). mento! Por que não queres agora fazê-lo junto aberta em cima da mesa. (depois, eles ter uma idéia, tem um vagau que andou
Meu amado, sabe por que te escrevo, em vez comigo? Por que me deixas sozinha? Ah, eu te
imploro; mas tu, não é certo? como me parece
mandam a conta de uns 900 pedros ...) três dias pela cidade à procura de uma
de dizer-te tudo isso de viva vóz? Porque já não
cada dia mais, já não me amas como antes. Dc Fui ver os strip do quadrilátero Cada ba- "turbina sete meiota" (dica pros loques:
sei, porque já não posso falar-te tão livremente
gulho . . . Parentesis: eu não entrei bem pistola 7,65 mm) e não encontrou. E o
destas coisas. Atualmente, estou tão sensível e verdade, sim, muito de verdade, sinto com fre- melhor é que. não existe similar na indús-
desconfiada como uma lebre. Basta um gesto ou qüência que é assim. nessa do uísque; toquei os considerados
da lei em cima do truta, que pegou um tria nacional.
uma palavra indiferente de tua parte para que Tu vês agora em mim todo o mal e o feio.
meu coração se aperte e meus lábios cerrem., Quase não sentes necessidade de passar teu tem- pepino de crime contra a economia popu- Quem não se cobre, se molha
Não posso falar-te francamente se não me sinto po comigo. Mas o quê me sugere este pensamen- lar, prá deixar de ser besta!). Aí, como
rodeada de uma atmosfera cálida e de confian- to? Tudo que sei é que quando reflito, quando dizia, fiquei sabendo que as panterinhas A turma do quilo está bronca e não se
ça, mas agora é raro que isto aconteça entre me represento esta situação, algo em mim diz da noite estão alvoroçadas com a concor- pode vacilar. Olha aí uns conselhinhos prá
nós. Hoje mesmo me sentia inundada pelos es- que serias mais feliz sem tudo isso, que terias rência dos mamonas da boite Danni. Ma- quem se esconde em quebradas caverno-
tranhos sentimentos que haviam suscitado em preferido escapar para algum lugar e desemba- mona sabem como é, aquele negócio espi- sas: evitar arrocho dos KGs: andar pelo
mim estes poucos dias de solidão e reflexão, raçar-te de toda esta história. Ai, meu querido,
nhudo que dá em qualquer matinho — é meio da rua, prá não tropeçar numa turbi-
tinha tantos pensamentos a comunicar-te, mas te compreendo muito bem, vejo que pouco es-
como são chamados os garotos delicados na na esquina; não fumar prá não dar luz
tu estavas distraído, alegre, te parecia que "o plendor tem para ti este relacionamento, como prá bandido (no meio da noite uma brasa
físico" é inútil, quer dizer, tudo o que nesse te deixo nervoso .com essas cenas, essas lágri- que antes preferiam a Praça da República.
A Danni fica no ponto mais nobre da noi- de giz. ajuda a turma da pesada a fazer
momento me preocupava. Tudo isso me fez mas, essas bobagens, até com essa falta de fé em
muito mal, e tu acreditaste que estava descon teu amor. Eu sei, meu amor, e quando penso te paulistana e os mamonas estão fazendo pontaria). Balão apagado não deve dar
tente porque te ias tão cedo. nisso queria estar longe . . . ir para o diabo, ou concorrência desleal com as panterinhas. sopa em baixa altitude e . . . calma mês
Talvez não me houvesse decidido a escrever- melhor ainda, não existir, de tanto que me dói Quando foi inaugurado o Hilton, as gatas que vem eu dou outras dicas.
te agora, se não me houvesse alentado esse pou- pensar que irrompi em tua vida limpa, orgulho- da Vila Buarque soltaram foguetes, pen-
sa, solitária, com minhas histórias de boa mu- Sambão
co de sentimento que mostraste ao deixar-me, sando que iam passar a receber em dóla-
então senti sobre mim o sopro do passado esse lher, com meus repentes de humor, minha lenti-
res. Agora estão revoltadas, porque os 1 — Em pagode de gente boa não sai bo-
passado em cuja lembrança afogo minhas lágri- dão; e tudo isso por quê? para quê? Meu Deus,
gringos preferem ir ao Danni. chicho. Talismã e Ideval — dois pago-
mas no travesseiro cada noite antes de dormir. para que falar nisso é ridículo! Querido meu, tu deiros de 16 toneladas — disputam o con-
Meu querido, meu amado, estou segura de que te perguntarás de novo o que é que eu quero curso do samba enredo do Camisa Verde,
já estás perguntando com olhar impaciente . . . afinal. Nada, nada, querido, quero somente que O drama do bicheiro este ano. Quem ganhou foi Ideval, mas
"afinal de contas, o que é que esta mulher quer? " saibas que não sou tão cega e insensível quando
te canso com minha pessoa, quero que saibas
O Parisi sempre foi famoso como membro meu amigo Talismã (Mumu para os ínti-
Sei eu, por acaso, o que quero? Quero da quadra e outros bichos, aqui bicho no mos) não chiou e tá na maior empol-
amar-te, quero que reine entre nós essa atmos- que com freqüência choro e amargamente por
fera doce, confiante, ideal, como era então-. Tu, causa disso c uma vez mais . . . que não sei, não sentido do jogo. Por isso, juntou uma for- gação', ajudando a trabalhar o samba do
querido meu, com muita freqüência me com- sei realmente o que fazer. As vezes penso que o tuna de fazer inveja a muita gente. Sua Ideval sobre o tema Essa Nega Fulô, que
preendes de uma maneira simplista. Sempre crês melhor seria que nos víssemos o mínimo possí- amizade com um capa-preta de alto esca- o Camisa vai apresentar neste carnaval.
que me aborreço porque te vais, ou algo pare- vel, outras vezes de um ímpeto quero esquecer lão sempre foi muito comentada. Até aí, Tudo gente boa. Bola branca para os dois.
cido. E o que não podes conceber é que o que tudo, atirar-me em teus braços e chorar e depois morreu o Neves. No começo de 73, o bi- 2 — Em compensação, corre na boca da
me faz um mal profundo, é que para ti nossa .os pensamentos malditos invadem meu espírito cheiro — que por questões de amizade noite que Zédi tá mal com Deus na Gua-
relação é algo estritamente exterior. Ah, não, e me ditam: deixa-o tranqüilo, ele agüenta isto íntima (foro íntimo? ) contratou como
nada mais do que por delicadeza . . . e duas ou
nabara. Zédi era compositor do Vai-Vai e
hão digas, querido, que sou eu quem não com- advogado o filho do capa-preta — ficou a puxou o carro prá GB, no ano passado.
preende, que não é exterior da maneira como três tolices confirmam meu pensamento . . . so-
be-me um ódio e quero te fazer mal, te ferir, te ver navios. O filho do capa, achando que Este ano, ele ganhou o concurso do sam-
eu entendo! Sei, compreendo, ou seja, com- truta tem de dar uma de cabrito (para ser
preendo porque . . . sinto-o. Quando tu me demonstrar que não preciso de teu amor, que ba enredo do Salgueiro (o enredo é Rei da
dizias isto antes, para mim não era mais que um poderia privar-me dele, e novamente me torturo bom, não pode berrar), recebeu quase um França na Ilha da Assombração), mas
som vazio, agora é . . . uma dura realidade. Oh, e me atormento, e sigo e sigo no mesmo círcu- bilho (dos antigos) de uma indenização dizem que houve um marmelo na escolha.
sim, sinto perfeitamente esta exterioridade . . . lo. que a Prefeitura pagou, para botar pro Agora tem um vagabundo do Salgueiro,
sinto-a quando te vejo sombrio e taciturno, e "Quantos dramas'.", não? "Triste, sempre chão o uns sobrados no Bexiga. Mas o cau- derrotado por Zédi, que tá espalhando
guardas para ti tuas preocupações ou tuas penas mesmo." E tenho a sensação de não te haver sídico pegou a grana e tranqüilamente a que vai rechear o peru de azeite na subida
dizendo-me com o olhar: não é assunto teu, dito nem a décima parte nem nada da que que- depositou em sua conta, na Caixa Econô- do morro. Bola preta.
cuida de tuas coisas! Sinto-o quando vejo como ria dizer-te. mica. A família dona da grana esperou até
depois de uma disputa entre nós, ruminas essas "A língua mente à voz, e a voz mente à outubro, e nada do causídico se manifes- Bye, bye
impressões, examinas nossa relação, chegas a idéia; tar. Aí, data vênia, decidiram mandar
conclusões, tomas uma decisão, e te comportas £ ademã: tenho um jantar no Parreirinha,
comigo de tal ou qual maneira, e eu fico fora de
"A idéia brota viva da alma, antes dc que- uma tora em cima dele. Queixa no 59 DP onde comerei rãs à doré, regadas a "Sam-
brar-se nas palavras." ("apropriação indébita") e tretas conse-
tudo isso e não posso fazer nada a não ser com- Adeus, portanto. Já quase me arrependo de ba em Berlim", tendo à mesa, como três
binar em meu cérebro o quê e o como de teus qüentes. convidados de honra, os meus considera-
te haver escrito. Estarás talvez zangado? Por
pensamentos. Sinto-o depois de cada uma de acaso rirás? Ah, não, não rias! Em chegando tal processo ao prédio dos: peso pesado Abate presidente do EC
nossas uniões, quando te afastas e, fechado em "Mas tu, oh meu amado, tu ao menos onde pululam os seres que têm como deu- Sereno; Bira, tira prá frente do 49 DP; e o
si mesmo, te pões a trabalhar. Sinto-o, por fim,
quando meu pensamento abarca toda a minha
Saúda ao fantasma como antigamente!" sa aquela mulher chamada Temis, que se- majura Risca-Faca, super-meu-chapa. Co-
•'ida, todo o meu futuro que se me apresenta gura uma balança numa mão, uma espada mo se vê, os homens da lei estão comigo.
Rosa de Luxemburgo na outra e uma venda nos olhos (ficou Portanto, acautelai-vos, irmãos! a
AS MEMÓRIAS FAJUTA
'MCGRAW-HILL E LIFE REAFIRMAM QUE POSSUEM A AUTÊNTICA AUTOBIOGRAFIA DE HOWARD HUGHES E PLANE
i

Texto de Hamilton Ribeiro O livro do século seria a biografia autori- os homens de status no império. Cada um pulso dos EUA como "comunista"). A
zada de Howard Hughes, o bilionário busca demonstrar publicamente, que é o briga Davis-Maheu começou na organiza-
americano que há quase 20 anos vive sob maior representante de HH e que fala em ção. E quando chegou aos tribunais, apa-
reclusão voluntária e muito bem policia- seu nome. Uma dessas brigas acabou na receram alguns memorandos de HH, era
da. Segundo Time Life e a editora justiça. Coube aos juizes dizer, em senten- , para Davis, era para Maheu. Num deles,
McGraw Hill, HH é "uma das personalida- ça, quem era mais "homem de confiança" HH manda Maheu "comprar" a comissão
des mais controvertidas e mais enigmáti- de HH. A disputa foi entre Chester Davis, de Energia Atômica dos EUA "como se
cas de nosso tempo". A última vez em poderoso advogado — num de seus escri- compra um hotel". Em outro, refere-se ao
que o viram foi em 1958, quando teve tórios trabalha o ex-secretário da defesa movimento pelos direitos civis, na parte
breve contato com um repórter do Time. Clark Clifford; e Robert Maheu, ex-po- em que se pedia maior percentagem de
Desde então, só têm acesso a ele menos licial, que acabou perdendo a parada. empregados pretos nas grandes empresas.
A maior editora do mundo - a Mc de uma dezena de homens, todos fanáti- Cada um se dizia mais HH do que o O memorando é este, dirigido a Maheu:
Graw Hill, dos EUA - gostaria de estar cos da religião mórmon. Esses homens outro, e queria prová-lo. —"Bob: posso resumir minha atitude a
comemorando, agora em março, o 29 ani-não fumam, não bebem, cortam o cabelo Chester Davis era cão de fila de todos os respeito de maior número de negros na
versário de lançamento do "maior negó- baixinho, fazem a barba todo dia e não interesses de HH na justiça, além de ser o
cio literário do século". Um "documento falam com estranhos. cabeça da Rosemont Enterprises. E
para a História", que ia vender no mundo É a "máfia mórmon". Escondem tão bem Robert Maheu era o chefe do SNI parti-
inteiro tanto quanto a Bíblia; e que daria o seu chefão que muita gente nos EUA, cular de HH. Maheu fora tirado de um
à Mc Graw Hill lucros de dois a três mi- acredita piamente que HH está é morto. cargo importante do FBI para trabalhar
lhões de dólares. Este livro fantástico aca- Assumindo pessoalmente a direção de na organização Hughes. Para manter a
bou não sendo publicado, mas ainda as-seus negócios aos 20 anos, HH viveu espe- aparência, tinha um escritório especializa-
sim provocou conseqüências como estas: taculosamente até os 50 anos. Foi um do em "serviços de inteligência e investi-
"herói nacional" com suas façanhas gação"; e aceitava outros clientes, além de
a) apressou o fechamento da revistaaéreas. Ele próprio desenhava os aviões, HH. O colunista Jack Anderson, do
Life; suas empresas fabricavam, e ele os pilota- Washington Post, escreveu certa vez que o
b) desmoralizou a mais tradicional fir-va para bater recordes sobre recordes. escritório de Maheu era uma agência dis-
ma de peritagem grafológica dos Estados Voltou-se para o cinema, comprou a RKO farçada da CIA e, entre outras operações,
Unidos; e tornou-se um dos deuses de Hollywood. já tinha sido encarregada de um plano
cj fêz modificar a mecânica do sigilo Tinha cinco mansões em Beverly Hills e, para assassinar Fidel Castro. Procurado
bancário na Suíça; em cada uma, uma estrela à sua espera pela imprensa, Maheu só disse:
d) levou o autor do livro e sua mulher para o jantar, devidamente aliciada por - No comments.
à cadeia; um exército de súditos e puxa-sacos. De
e) indiretamente, obrigou o negocianteAva Gardner a Loreta Young, de Ingrid A principal missão de Maheu na organiza-
e falsificador de arte Fernand Legros a fugirBergman a Ida Lupino não houve estrela ção HH era coordenar o império do jogo
para o Brasil (aqui, depois de amargarda década de 50 que não tenha desfilado em Las Vegas e lubrificar a engrenagem
uma prisão em Brasília, Legros foi extra- nos braços de HH. Ele era figura constan- do governo americano, para facilitar os
ditado para a França). te nos jornais, na tevê, nas revistas econô- contratos da organização. Opinava,
De maior negócio literário do século, o micas, artísticas ou de puras fofocas. -também, sobre qual dos dois partidos do
livro se tornou "a mais espetacular fraude -"Howard Hughes é um gênio", dizia país a "organização" devia ajudar mais. E,
literária de nosso tempo". Yvone De Cario. segundo consta, foi o intermediário de
HH é considerado o homem mais rico um "empréstimo" de 200 mil dólares a
do mundo. Sua fortuna pessoal alcança de—"Ele é a mais autêntica merda ameri- Donald Nixon, irmão do presidente, em
2 a 2,5 bilhões de dólares. Herdou do pai cana", dizia o escritor Gore Vidal. A prin- troca de favores do governo. Outra atri-
as patentes N9 930.758 e N9 930.759: cípio com naturalidade, mas logo a seguir buição importante de Maheu era desco-
são de uma broca de perfuração de petró- mediante um plano meticuloso HH come- brir comunistas entre os funcionários e
leo. Ninguém pode comprar estas brocas,çou a desaparecer. Não era mais visto em dar-lhes fim exemplar. O ódio de HH aos
só alugar. Assim, HH garante-se o mono- comunistas vem de longe: ele foi um dos
lugares públicos, não recebia mais nin- incentivadores (e financiadores) do ma-
pólio de dois terços da produção de pe- guém, fotógrafo nenhum pôde mais foto- JAMES PH1
tróleo no mundo. cartismo, chegando, — quando mexia com
grafá-lo, nenhuma personalidade — mes- cinema — a proibir que suas salas exibis-
- Não é verdade - disse êle uma vez. mo de governo — tinha acesso a ele. sem filmes de Charles Chaplin (então ex-
- Não é preciso alugar minhas brocas pa-Foi sumindo, sumindo, sumiu.
ra procurar petróleo: sempre resta o re-A curiosidade popular, que já era grande,
curso de usar pás e picaretas. aumentou. Jornais e revistas americanos
Outra de suas empresas dedica-se passaramà a ter um novo tipo de repórter
tecnologia espacial. Constrói satélites, de setor: o especialista em HH. E come-
como esse Intelsat que trouxe a Copa de çaram a aparecer livros contando sua vida
70 pela TV. E está, Justamente agora, — todos perseguidos judicialmente por
tentando vender ao governo brasileiro um uma empresa do próprio HH, chamada
novo satélite, com todos os respectivos Rosemont Enterprises, que se diz "deten-
equipamentos. HH tem também patentes tora da patente HH, com direitos exclusi-
para uso industrial dos raios Laser. É pra-vos sobre sua vida, palavras, obras e
ticamente o único dono da segunda maiorfigura". Começou a especulação sobre o
empresa aérea do mundo, a TWA. Outra que teria determinado a sua reclusão vo-
empresa sua é especializada em Defesa; eluntária. Hipóteses:
constrói equipamento direcional para A família Hughes sofre de surdez heredi-
mísseis, aviões e helicópteros militares, tária. HH, sentindo-se ensurdecer, não
veículos blindados, armas e equipamentos quer expor à humanidade a sua fraqueza;
para guerra submarina, rede de radaresHH tem medo de apanhar doenças e, para
para defesa antiaérea. evitar contaminação, construiu para si um
Os maiores contratos do Departamen-mundo antisséptico, isento de bactérias,
to de Defesa dos EUA são com empresas vírus e micróbios em geral; teme ser rap-
HH - que acaba sendo um dos grandestado e ter de pagar resgate ou sofrer fisi-
pilares do chamado "complexo industrial camente; está paralítico; retirou-se para CLIFFORD IRVING
-militar" americano. A lista de seu impé- trabalhar numa idéia da juventude —
rio financeiro avança em estações de TV construir o maior avião do mundo; ficou
na Califórnia e no Texas; em imensas louco.
áreas de terras em vários estados america-
nos, nas Bahamas e na Indonésia; em
redes de hotéis e hospitais; e - para ter- Canalhices
minar bem — no quase completo domínio Diretores de suas empresas também não o
do jogo em Las Vegas, a "Capital do Peca-vêem mais. Ele montou uma rede de co-
do". municações, e de seu refúgio — quase
sempre o último e indevassável andar de
um hotel — controla os negócios. Inter-
fones, telefones, bips, rádios têm mão
única. HH chama a qualquer hora seus di-
retores; eles não podem mandar chamá-lo
hora nenhuma. A falta de contato pessoal
com o chefão começou a gerar briga entre JOHN MEIER STANLEY ME
5 DE HOWARD HUGHES
!JAM PUBLICÁ-LA COMO FOI INICIALMENTE ANUNCIADO." (DECLARAÇÃO CONJUNTA MCGRAW-HILL, INC. E LIFE)
organização de um modo muito simples: conseguir falsificar com perfeição a letra e
acho uma idéia maravilhosa para ser apli- a assinatura de HH; o velho leão estava
cada por outros, em qualquer outro lugar. muito doente, e com isso de não aparecer
Sei que isso não é muito elogiável, mas nem mesmo para seus diretores mais pró-
acho que os negros já progrediram bastan- ximos, dificilmente iria desmentir "uma
te para os próximos 100 anos, e deve-se biografia a mais"; farto material já publi-
evitar o exagero". A imprensa aproveitou cado em livros e revistas constituía fonte
bem a briga dos capatazes. Numa reporta- suficiente para um livro sobre a vida de
gem com o título "O Bilionário Invisível" HH: bastava pesquizar, dar unidade e ar-
a Newsweek publicou um pequeno ma- ranjar um linguajar para o biografado
nuscrito de HH. Em Ibiza — ilha da Espa- Era preciso encontrar uma editora. Quase
nha perto de Majorca — o escritor todos os seus livros anteriores tinham sido
Clifford Irving, 40 anos, bonitão, ambi- publicados pela McGraw Hill.
cioso, juntava às suas frustrações literáriasClifford mantinha, com a editora, rela-
certos apertos financeiros. Leu a história ções muito corretas. Mas sobretudo uma
do Newsweek, viu o manuscrito e imedia- funcionária importante na leitura e sele-
tamente bolou um plano para ligar seu ção de originais era sua "fã": a chinesinha
I f destino ao de HH. Beverly Loo.
— "Era um canalha encontrando outro" Primeiro escreveu-lhe uma carta dizendo
escreveu o jornalista inglês Stephen Fay. que mandara "Fake" para o milionário
HH e, para surpresa sua, HH respondera,
Mais que 7 minutos agradecendo "o presente"; em seguida,
Irving pergunta à chinesinha o que ela
Numa casa de fazenda antiga de três sé- acha dele tentar obter de HH consenti-
culos, Clifford Irving vivia em Ibiza entre mento para escrever a sua biografia. A
intelectuais frustrados e grãfinos fugidos chinesinha acha a idéia ótima. A primeira
do imposto de renda de seus países. Esta- isca fora mordida.
va no sétimo livro (nenhum de sucesso) e
Clifford produz, a partir daí, uma série de
no quarto casamento (idem). A mulher cartas dele para HH, e vice-versa. E vai
atual era uma suíça divorciada, bonita mandando cópias xerox para Beverly
como as outras, pintora. Clifford, um me- Hoo. Até o momento em que, tudo com-
tro e noventa, cheio de charme e simpatia binado entre os dois e a editora, ele segue
— um sorriso que põe qualquer um a von- para N. York a fim de assinar um contra-
tade" — circulava nos cafés de calçada e to fabuloso, no qual se compromete a en-
nos saraus de grã-finos, mas estava em bai- tregar os originais da "biografia autoriza-
xa. Durante algum tempo tinha sido cen- da do Senor Octavio, com prefácio escrito
tro das conversas e das fofocas, mas dura- pelo próprio Senor Octavio".
ra pouco. Tinha sido quando publicou um O contrato — a princípio de 500 mil dóla-
livro em que punha grandes esperanças e res, logo depois de 850 mil só como a¬
que a McGraw Hill editara. O título era diantamento, elevava Irving à categoria
"Fake" (Falsificação): a história de dos mais bem pagos escritores america-
Elmyir De Heri, pintor de Ibiza que, no nos. Fazia 20 anos que a McGraw Hill não
livro se confessava o "autor" de muitos
Matisses, Modiglianis, Renôirs e Picassos concedia um adiantamento tão alto —
que andavam ultimamente sendo vendi- desde as memórias do general Mc Arthur.
dos na Europa, nos EUA e na América Do dinheiro, a parte maior era para HH, a
Latina. O livro conta que De Hori fazia os quem o próprio Irving — em condições
ELAN
quadros e dava, entre outros, para Fer- ditadas no contrato — faria os pagamen-
nand Legros vender. tos. Outra particularidade: o assunto era
"segredo de Estado". A McGraw Hill fica-
Antes de escrever o livro, Clifford Irving va impedida de dar qualquer noticia do
fez um teste. Pediu a De Hori que pin- negócio até um mes após a entrega dos
tasse dois Picassos, e os levou ao Museu originais. Irving conseguia tudo o que
de Arte Moderna de Nova York com a queria, com a desculpa da excentricidade
conversa de que tinha herdado de uns an- e das exigências de HH. A McGraw Hill,
tepassados e gostaria de saber se eram ver- entorpecida pela idéia de realizar "o
dadeiros. maior negócio literário do século 20",
O MAM de New York entregou-lhe um chiava, mas acabava cedendo. O dinheiro
documento pericial: os quadros eram para HH saia em cheques em nome de
puro Picasso. Em maré baixa outra vez, H.R.Hughes, para depósito em sua conta
após o breve sussesso de "Fake" Clifford "em qualquer lugar do mundo".
ficou incomodado. Na Universidade de Do dinheiro adiantado, 100 mil dólares
Cornell ele tinha sido um rapaz de suces- eram para as despesas de Irving.
so, mais pelo esporte e pelo charme- do Tudo pronto, ele começa a trabalhar em
que pelas notas. Quando casou com "a duas frentes: um escritor seu amigo,
moça mais fascinante do campus", os co- David Susekind, também americano e
legas chamavam a dupla de "o casal de também- vivendo numa ilha espanhola
ouro". O casamento não durou Clifford (Majorca), faz o trabalho de pesquisa,
andou pela Europa e depois começou a levantando todos os dados até então pu-
rondar Hollywood na esperança de ser blicados sobre HH; e ele próprio, Irving,
descoberto. Casou uma segunda e uma inicia sua maratona internacional para os
terceira vez, e a terceira mulher era amiga "encontros", sempre rocambolescos e
de Irwing Wallace, o escritor americano misteriosos, com o biografado. De cada
de sucesso, o autor de "Os Sete Minutos" um desses "encontros" — México,
e outras xaropadas. Os dois Irwings então Bahamas, Flórida, Las Vegas, a maioria
se conheceram, mas Wallace parece que em motéis, muitos dentro do carro de HH
não gostou muito de Clifford. E até um estacionado em estradas desertas — Irving
dia, lendo um dos livros de Clifford, en- vai dando conta regular e minuciosa à
controu nele páginas inteiras "muito pare- McGraw Hill.
cidas" com uma obra sua.
Com quase um ano de trabalho, os origi-
— Pensei até em escrever-lhe para fazer nais ficam prontos; o dossiê do "Senor
uma gozação mas o livro fez tão pouco Octavio" ocupava várias pastas no cofre
sucesso que me pareceu maldade. mais sigiloso da McGraw Hill em N. York:
A vida do senor Octavio manuscritos de HH, cartas, telegramas, os
cheques devidamente endossados e des-
Quando, no fim de 71, em Ibiza, Clifford contados, contratados, adendos. Tudo
lê a história do "bilionário invisível" no perfeito e juridicamente acautelado.
Newsweek, planeja um jeito de fazer a Os mais experimentados editores da
YER NOAH DIETRICH "biografia autorizada" de HH. Seu plano McGraw Hill e, logo a seguir, da revista
se baseia em três coisas: tinha meios de Life — que acabava de comprar os direitos
A MAIOR "BARRIGA" DE TIME-LIFE
jornalísticos da obra — encantaram-se Graw Hill-Time Life. Dois dias depois,
diante da qualidade literária, da abundân- editores distribuíram uma declaração con-
cia de informações e da pureza do de- junta reafirmando a autenticidade da au-
poimento. Foi nesse ponto que Albert tobiografia e a data de lançamento do li-
Leventhau vice-presidente da McGraw vro: 27 de março de 1972.
Hill confidenciou, eufórico: — Estou convencido, acima de qualquer
— É o maior negócio literário do século dúvida razoável, da autenticidade da auto-
20. biografia. Essa convicção se baseia na
Era dezembro de 1971. McGraw Hill e minha familiaridade com HH, na leitura
Time-Life, num comunicado conjunto, dos originais e nas minhas entrevistas com
dão a notícia para o mundo (veja fac- Clifford — declarava Frank Mc Culloch,
simile do documento): " A autobiografia .do Time.
de Hughes cosiste quase inteiramente de Jim Phelan, o jornalista do interior, ainda
transcrições literárias das fitas gravadas insistia:
este ano num período de vários meses, em —Me deixem ver o livro!
quartos de motéis e carros estacionados Não deixavam.
• em todo o Hemisfério Ocidental". O
comunicado diz ainda que o próprio HH Começa a aparecer mulher
escreveu o prefácio do livro, que tem mil
páginas — ou 230.000 palavras. Clifford Irving se ocupava agora em escre-
"Escolhi trabalhar com Clifford Irving ver uma reportagem de capa para Life,
por causa de sua simpatia, discernimento, contando seus "encontros" com HH. E
discrição e, como pude aprender, de sua era o homem mais procurado dos EUA,
integridade como ser humano", escrevia o para entrevistas na TV, jantares, encon-
"Senor Octavio" no prefácio. IRVING E RICHARD SUSKIND tros com artistas e escritores.
Era, mesmo, um livraço. HH, no entanto, não se conformava: qua-
A notícia estourou nos meios editoriais e perito Alfred Kanter, comparando as car- gica para encerrar de vez o assunto: seru se 700 mil dólares haviam sido desconta-
jornalísticos dos EUA. E, também, nas tas com manuscritos oficiais de HH em feita pela mais famosa empresa de perita- dos em banco em seu nome; quem embol-
organizações Hughes. Seus homens fica- processos para concessão de jogos em Las gem americana — a Osborn, Osborn and sara o dinheiro? HH iscou a sua CIA par-
ram perplexos e sem ação, nos primeiros Vegas, entrega seu laudo técnico: Osborn. Relatório final da empresa: "Não ticular e, de banco em banco, foi recons-
dias. Quando á Tool Co. — a firma matriz "As amostras de escrita são da mesma há indício que permita qualquer sombra tituindo a história — ela acabava na conta
de HH, a tal das brocas de petróleo - pessoa. As chances de que outra pessoa de dúvida. Os exemplares em exame estão n9 320.496, do Swiss Credit Bank, em
emitiu um tímido desmentido, Irving ti- pudesse copiar essa grafia, de forma ape- em perfeito acordo; foram feitos pela Zurique. Sem demora, a CIA de HH fez
rou de letra: nas parecida, são de menos de uma em mesma pessoa." estourar na imprensa americana outra
um milhão". Nos lados dos editores, o assunto teria bomba:
— O projeto do livro é um negócio pessoal
de HH comigo. Nenhum preposto dele te- Jim Phelan, jornalista do interior que já morrido. Mas o cão de fila de HH, Chester — A pessoa que recebeu o dinheiro da Mc
ve conhecimento prévio da história. HH fora ridicularizado ao pôr em duvida a Davis, não sossegava, ainda mais que "o Graw Hill e Life não foi, positivamente
não dá contas a ninguém do que faz. autobiografia, tenta de varias maneiras en- velho leão" ficara furioso: quase 700 mil HH. Foi uma mulher!
Quando cresceram as dúvidas e a perplexi- trar em contato com a McGraw Hill. Em dólares, em cheques em seu nome, tinham
sido descontados, e ele não vira a cor de Enquanto Clifford, sempre negando e ar-
dade, o próprio presidente da McGraw vão. Phelan garantia que, se pudesse ver ranjando explicações para tudo — mas já
Hill, Harold McGraw, saiu a campo: os originais, talvez pudesse dar uma pala- um cent. Davis fustiga as duas editoras e a
batalha continua até janeiro de 1972. com um advogado famoso a tira-colo,
— Esse é um negócio da McGraw Hill e de vra decisiva sobre a autenticidade ou não mantinha a cara, começou a grande caça-
do livro. Mas ninguém, na McGraw, estava Os originais já estão prontos para seguir
Time-Life, empresas cuja seriedade está para as máquinas impressoras. da à mulher que movimentara a conta na
acima de qualquer discussão. Nós disposto a perder tempo com "um malu- Suiça em nome de H. R. Hughes.
co do interior". O livro será lançado em menos de 60 dias.
sabemos o que estamos fazendo. O livro Então, a organização Hughes lança mão Para a imprensa americana estava agora
sairá dia 27 de março. Frank Mc Culloch, chefe do escritório do claro que se tratava de uma fraude sensa-
Time em N. York, é também um especia- de seu trunfo maior: HH, pessoalmente,
vai aparecer e negar tudo. Um frisson per- cional. Era só descobrir as partes. O pró-
Começam a correr milhões lista em HH. E tinha sido o homem que, prio Time entrou na caçada, e um inci-
pela última vez, falara com HH. Mas seu corre os EUA. Os americanos, finalmente,
Ao mesmo tempo em que HH acionava pedido para ver os originais também foi poderão ver o homem mais misterioso e dente acabaria fazendo ruir tudo para
seu cão de fila — o advogado Chester Da- negado, por dispensável. Mc Culloch ficou mais discutido dos últimos tempos: terá, Clifford. Ele sempre vinha afirmando que
vis — para obstar a publicação do livro, a por fora do assunto até que um alto fun- ou não, uma barba de meio metro? suas havia um intermediário entre ele e HH.
McGraw Hill e Time-Life começavam a fa- cionário da organização Hughes ligou para unhas terão mesmo 12 centímetros de E, na redação do Time, descrevera com
zer negócios para a venda de seus subpro- ele, dizendo que HH, diretamente, ia tele- comprimento? aparecerá descalço ou de detalhes o tipo físico do tal intermediá-
dutos. A McGraw pagara 850 mil dólares fonar-lhe no dia seguinte "para acabar tênis? Nenhuma dúvida se esclareceu. No rio. Frank Mc Culloch, do Time, começou
" pelos originais. lugar da imagem, veio a "voz". Foi uma a procurar. A busca não demorou muito:
com toda essa palhaçada". a descrição coincidia exatamente com a
Mas já tinha subcontratado 250 mil dóla- E Mc Culloch, que nem sequer tivera per- entrevista em que sete jornalistas estavam
num hotel de Los Angeles, e a "voz" figura de John Meier, agora um político
res para Life publicar três trechos do li- missão para ver os originais, passava agora em evidencia no Partido Democrata, mas
vro; 400 mil dólares para uma editora es- a principal personagem de um drama que vinha das Bahamas, a milhares de km. de
distância. que, durante muitos anos, fora um diretor
pecializada em brochuras; 325 mil dólares já envolvia milhões de dólares, algumas da "organização".
para um clube do "livro do mes". Total úlceras e muitas cabeças. Na hora previs-
até ali: 975 mil dólares. ta, o telefone tocou na mesa de Mc A voz xinga Maheu Frank Mc Culloch corre para a casa de
Vários outros negócios estavam em anda- Culloch: Clifford, para comentar o assunto.
mento, entre eles o de escolher as maiores Os sete jornalistas tinham sido escolhidos Clifford assustado com os últimos acon-
— Pois não, é ele, senhor Hughes. Pode pela própria organização HH entre aque- tecimentos, nega-se a receber o repórter.
editoras em cada país e vender uma parte falar, senhor Hughes.
da mina a cada uma. Antes de sair, o livro les que, 20 anos atrás ou mais, tinham Que, insistindo, manda dizer da porta:
já dava lucro. A venda, segundo Morrie Ríspida, a voz do outro lado declara fir- tido algum contato com ele. Idade media — Preciso falar com ele porque já sei tudo
Holizer, dirigente da McGraw, suplantaria memente: do grupo: 57 anos. Cada um preparara sobre o Meier.
a da Bíblia. No final, a operação renderia — O livro é falso e esse Clifford um im- duas perguntas-chave, cuja resposta sò po- Quando o recado chega a Clifford, sua
entre 2 e 3 milhões de dólares só para postor! deria ser dada por HH. Das 14 perguntas, resistência desaba. No entanto, não passa-
Clifford Irving. A insistência com que os Mc Culloch vira, desse momento em dian- só seis foram feitas; e, das 6, a "voz" fa- va de uma terrível coincidência — ele pen-
capatazes de HH levantavam dúvidas so- te, no grande juiz. Mais que depressa lhe lhou em 4. Eram a respeito de detalhes, sou que o repórter se referia a Stanley
bre a história, porém, começou a incomo- entregam o dossiê do "Senor Octavio" e ou nomes de pessoas, e a "voz" argumen- Meyer, esse sim peça importante na histó-
dar. Por precaução, os editores decidem ele mergulha na leitura. Atento ao jeito tou que sua memória para certos detalhes ria. E decidiu, naquele instante, confessar
formar "equipes de leitura e análise" dos de HH construir as frases, de dizer pala- não era boa. Conforme a pergunta, ele tudo. Não recebeu o repórter; em vez dis-
originais e de todo o dossiê "Senor vras próprias do seu linguajar — até que dizia sim ou nào ou se arrastava longa- so, chamou o promotor público e, numa
Octavio". Primeiro os editores, depois os encontra a descrição de uma passagem mente nas respostas. Falou 8 minutos so- manobra legal, ofereceu a verdade em tro-
executivos, em seguida os revisores de que ele conhece: um encontro entre HH e bre um avião. No mais, queixou-se de ca de uma sentença menos severa da Jus-
texto, por fim os advogados. Decisão una- "um repórter do Time". A passagem era Chester Davis (não fora capaz de saber o tiça. •
nime: o livro é verdadeiro, convincente, verdadeira, e o repórter era ele próprio, que acontecera com o dinheiro pago em
Mc Culloch. Mais ainda: a conversa entre O "mass media" americano girou duas
coerente e, no gênero, um ótimo traba- seu nome) e disse que tudo era uma cons- semanas seguidas em torno da "mais espe-
lho. os dois jamais fora publicada; só ele pró- piração de Robert Maheu — "um f. da p.
prio e HH, portanto, sabiam dela. Mc tacular fraude literária do século". Com
ordinário". Quanto a Irving, era um im- todos os subprodutos que um assunto
Por um período, todos ficaram sossega- Culloch lê avidamente, preso aos mínimos postor de quem nunca ouvira falar. Con-
dos. Quando, outra vez, os boatos de detalhes, e quando termina, decide: desses cria nos EUA: filmes pornográficos
fessou também não ser um homem feliz e com HH e a mulher que descontou os
fraude voltam, a McGraw reúne alguns es- — Estou convertido. O livro é verdadeiro, lamentou viver permanentemente em fuga
pecialistas em HH para um encontro com e é HH puroí cheques na Suiça; botões de lapela; cami-
por causa dos processos trabalhistas de setas; cartuns; shows de tevê, etc.
os diretores e acionistas da editora. Nova ex-empregados descontentes e por causa
conclusão geral: Alívio nas hostes Time-Life McGraw Hill. A mulher que descontara os cheques era a
do Imposto de Renda, "esse roubo". sra. Clifford Irving, usando seu passaporte
— Vamos em frente. O projeto é quente. O advogado Chester Davis propõe um
Não vamos ligar para o choro dos despei- negócio: a troco de ver os originais, arran Quando a entrevista terminou, os sete jor- alemão falsificado para o nome de Helga
tados. jará um encontro entre Mc Culloch e HH nalistas não tinham dúvida: a "voz" era R. Hughes. Nos vários pontos do hemis-
Ralph Graves, o editor de Life, tem uma As editoras consideram a proposta um* mesmo a do velho leão desbocado. Mas fério ocidental onde estivera para os en-
idéia simples: submeter à perícia grafoló- manobra e recusam. Ralph Graves, dt essa convicção não contagiou mais contros com HH, Clifford na verdade se
gica algumas cargas de HH. Idéia aceita. O Life, sugere uma segunda perícia grafoló ninguém, muito menos o consórcio Mc encontrara com lindas mulheres.
ANTES DE ESTOURAR O ESCÂNDALO, FORAM LIBERADOS PARA AS
EDITORAS QUE IAM PUBLICAR AS "MEMÓRIAS" TRÊS TRECHOS DO
LIVRO. ESTE É O PRIMEIRO DELES. SÔ PUBLICAREMOS OS OUTROS
Numa semana, de herói a anti-herói da Enterprises de HH soube do projeto e DOIS SE NOS CHEGAREM MAIS DE 500 CARTAS PEDINDO.
grande imprensa. "O Canalha do Ano", conseguiu impedir a publicação das me-
chamou-o na capa a revista Time.
Dois pontos permaneceram em dúvida
mórias de Dietrich. Mas asfitasgravadas
(exatamente 100 horas, como no "ligro O MAIS CANALHA
durante alguns dias: quem seria o falsi-
ficador genial; e como é que Irving, até
então um escritor de livros medíocres,
do século") circularam pelas mãos de
agentes literários. Um deles era Stanley
M e y e r , produtor fracassado de
DOS LIVROS
produzira uma obra admirável, e com in-
formações tão boas e coerentes a ponto
de enganar os mais vividos especialistas
Hollywood e amigo circunstancial de
Irving. Através de Meyer, Irving obteve
uma cópia do trabalho de Phelan e nele se
(TRECHOS) Vegas e Bel Air eram muito protegidas contra
"Tenho sido sempre melhor com máquinas que
em HH? baseou para construir sua obra — bem me- com pessoas. As máquinas são previsíveis. As germes. Contudo, pessoas vinham me ver e
Para a primeira dúvida, havia uma respos- lhor, segundo todas as opiniões, que a de pessoas, não". quando eu abria a porta eu admitia bilhos de
Phelan, tanto na linguagem, como no bactérias quentinhas. Para minimizar orisco,eu
ta no ar — o falsificador só podia ser "Não desejo que as gerações futuras lembrem
tinha um pequeno quadrado desenhado a gis em
Elmyr De Hori, homem capaz de pintar humor e na "arquitetura". A "linguagem" Howard Hughes somente como um fantástico e
frente à porta. Procurava estar seguro de que o
Picassos que iludiam o próprio Museu de de HH, que todos encontraram no origi- excêntrico homem rico - espero que haja um
guarda tinha colocado o visitante no centro do
Arte Moderna de N. York. Mas nab era. O nal de Irving, era mesmo a "linguagem" pouco mais do que isto para mim. Tudo o que
posso fazer é me apresentar ao mundo - quadrado, para que eu pudesse abrir a porta
falsificador era Irving mesmo: "um ho- de HH, transmitida a Jim Phelan por absolutamente o mínimo para admitir o visitan-
Noah Dietrich. E a ligação de Stanley Howard Hughes, de corpo inteiro".
mem danado, capaz de absorver em pou- "Este livro será meu epitáfio, o único que te- te. Uma vez aconteceu que era Charles
cos minutos o talento de qualquer um", Meyer com o caso foi que provocou, afi- rei". Laughton. Laughton era muito grande e quando
conforme disse De Hori. A outra dúvida nal, o incidente que abriu a guarda de Howard Hughes nas.ceu na véspera do Natal de
eu abri a porta eu o feri na barriga".
seria esclarecida por Jim Phelan, o jorna- Irving. Ele foi condenado nos EUA. Sua A aventura com Mary domina sua mente.
1905. Seu pai, um homem gregário e sociável "Eu fiz uma certa encenação de que era um
lista do interior. Depois que o caso estou- mulher, na Suiça. David Susekind, o escri- estabeleceu a fortuna da família inventando a
tor amigo de Irving que ajudou no traba- mulherengo, por que eu pensava que era isso
rou resolveram finalmente chamá-lo. E broca-perfuradora Sharp-Hughes. Com 166 lâ- que se esperava de mim. Freqüentemente eu
ele matou a charada. Dois anos antes, na lho e até participou de um dos "encon- minas de corte, essa broca ainda é elemento in- saia com uma garota - sempre uma bela garota
Califórnia, trabalhara nas memórias de tros" com HH, também ganhou uma pena dispensável na perfuração de poços de petróleo. - e quando chegava a hora eu não podia. Eu a
Noah Dietrich, homem que foi, durante de prisão. E não pode ser comprada. Só alugada. levava até sua casa e ela dizia "Você não entra
Ele era tímido, meio surdo, tocava saxofone e
30 anos, tesoureiro geral e braço direito os garotos na escola pensavam que ele era efe-
para tomar um café ou um copo de leite? ". Ao
de HH. Aos 80 anos, como muitos outros E o livro foi embargado na Justiça. Pri- minado. As comparações com seu pai, o Big
que eu quase sempre dizia: "Não, desculpe-me,
ex-colaboradores do milionário, Dietrich mas eu tenho um encontro de negócios". Você
meiro a pedido de Chester Davis, depois Hughes, o humilha"am. Sua mãe morreu quan- sabe, meus horários são estranhos".
amargava ingratidões e, principalmente, da própria McGraw Hill com Time-Life. do ele tinha 17 anos e, dois anos depois, chama- Ele tinha e tem horários estranhos.
esperava ganhar bom dinheiro com suas Jamais foi publicado; e talvez nunca ve- ram-no fora da classe no Instituto Rice, de "Funciono melhor nas primeiras horas da ma-
confidencias. Na época, a Rosemont nha a ser, pois é "objeto ilícito". Houston, para lhe dizer que seu pai estava mor- nhã e como sou eu quem tem o dinheiro, não
to. me aborrece chamar pessoas que trabalham para
"Depois que meu pai morreu fui à Europa com mim e as tirar da cama a qualquer hora".
Estella Sharp, viúva do antigo sócio de meu pai, Ele também usa um engenhoso sistema de co-
e seu filho Dudley. Tua Estella, como eu a cha-
PARÁGRAFOS DE ALGUNS DOS INÚMEROS mava decidiu que eu precisava de uma viagem à
municação, baseado em cabines telefônicas pú-
blicas, para evitar escape de informações. Para
DOCUMENTOS EMITIDOS PELOS Europa para sair da minha concha e me encon- driblar seus inimigos, às vezes ele usa dubles e
trar. Eu tinha 19 anos, era inocente e caladio e um deles, em 1965, foi seqüestrado em lugar do
EDITORES AMERICANOS SOBRE O frustadíssimo e esmagado pelo fato de ter fi- verdadeiro Howard Hughes. Um de seus lugares
cado sem meus pais. Em Paris, Dudley e eu es- favoritos para encontros, é o automóvel, o mais
"LIVRO DO SÉCULO" capamos e fomos a um bordel". comum sendo o melhor:
"Então, fomos para Biarritz. Eu era um caipirão
do Texas. A despeito do meu dinheiro, eu me "Não vejo nenhuma razão em comprar um Ca-
sentia como peixe fora d'água. Ainda assim, dilaque novo quando um Chevrolet de segunda
joguei bacará em um velho palácio com lustres mão é tão bom. Se você guia um Chevrolet de
de cristal e crupies sorridentes. Já se viu um segunda mão, ninguém olha duas vezes para
crupie americano sorrir alguma vez? Bastardos você".
mal-humorados".
Seu desastre com um avião F - l l em 1946 e
THE AUTOBIQQIAPHT 07 HOWARD HUGHES "Meu pai sempre me disse - "Não tenha sócio, uma operação após suas viagens à Etiópia tor-
filho, eles só trazem encrencas". Então decidi naram-no consciente da mortalidade.
comprar o que faltava e ganhar controle total "Sou um homem com uma imensa consciência
*444ed by C l i f f o r d Irving <7 sobre a Hughes Tool Co. Peguei o touro pelos da morte. Isso marca todos os meus atos e cada
í&<y6~6 Co -6*t:_ chifres e fui aos bancos tomar dinheiro empres- pensamento e de tal forma que nem eu
to be published by Mc Graw-Hill, S m * , o f New York «RKarch % 1972, tado. Gastei 355 mil dólares, que tive de pagar entendo. Não é como se eu estivesse planejando
em dois anos. Essa parte de 355 mil dólares na deixar um magnífico monumento para a poste-
Hughes Tool Co. vale hoje mais de 150 milhões ridade O que a posteridade pode fazer por
The LIFE serias w i l l consist of three installments of approximately de dólares. Eu podia ser um velho garoto de 19 mim? Sou um homem à morte - bem, nós
anos, mas eu sabia olhar para a frente". todos estamos morrendo. Estaria eu com medo
ten thousand words each.
Com o controle dessa indústria, Howard Hughes da morte? Não mais. Eu sinto que ela vem
JOINT STATEMENT FROM MCGRAW-HILL, INC. AND LIFE tomava, então, posição para sua carreira nos como uma libertação. Eu estou aflito com essa
negócios. Decidiu, aí, assentar também sua vida humanidade decadente. Muitas vezes eu quase
McGraw-Hill and L i f e r e a f f i r m that they possess the authentic auto- privada também. Encontrou e se casou com Ella suspirei pela morte; desejei ter meu espírito li-
Rice, da famosa família texana que fundou o bertado. Não que eu tenha alguma crença nisso
biography ot Howard Hughes and they plan to publlsh i t as was o r i g i n a l l y que é hoje a Universidade Rice. O casamento - eu não acredito em nenhuma vida depois da
durou de 1924 a 1930. Nos seus primeiros anos, morte".
announced on December 7, 1971. a família Hughes mudou-se para Los Angeles.
Howard decidiu que queria produzirfilmes.Ele Ele também não acredita em gente, sejam inimi-
I t i s alleged that Howard Hughes made a telephone c a l l Friday comprou uma casa. "Era um confortável sobra- gos ou amigos. Menos ainda em políticos ou no
do de tijolinho. E foi a última casa que tive. Estado do Texas.
repudiating this m a t e r i a l and the man who worked on i t with him, Aluguei casas muitas vezes, mas eu nunca tive
outra desde que eu vendi aquela na Muirfield "Você pode deixar o Texas afundar no GoUo
C l i f f o r d Irving. Road, em 1931". do México e eu não ligo a mínima. Claro que
em tempo eu extrairia de lá a minha indústria e
Então, ele ficou livre e teve tempo para outras
We cannot accept t h i s . a mudaria para o Arizona".
mulheres. Uma relação, especialmente, marcou
E falando sobre ser rico:
a sua vida.
McGraw-Hill and L i f e have i n t h e i r possession, among many other "O que voce chama de minha germefobia pode "Aposto com você ou com quem quizer, inclu-
ter se originado em grande parte do que me sive com Paul Getty, e aposto qualquer quantia
documenta, a ten-page handwritten l e t t e r from Howard Hughes to aconteceu com Mary. Vamos chamá-la de Mary, que você queira como eu não sou o segundo
assim fica suficientemente anônimo Mary e eu homem maisricodo mundo. Eu sou o mais rico
Harold W. McGraw, J r .
teríamos casado, não fosse por uma coisa horrí- de todos. Você sabe quanto ouro eu tenho nas
vel que aconteceu - a qual suponho, marcou entranhas da terra ou fora? Bem, muitíssimo.
McGraw-Hill and L i f e , thus, have s u b s t a n t i a l w r i t t e n and v e r i f i e d meu relacionamento com mulheres desde então. Ninguém sabe quanto eu tenho em proprieda-
Ela me transmitiu uma doença venerea". des imobiliárias. Nem eu. Tenho investimentos
documentation a u t h o r i z i n g t h i s autobiography. "E não ria. Naquele tempo, não era coisa para onde ninguém sabe que eu os tenho. Coloquei
brincadeira. Era antes da penicilina e eu sofri as 70 milhões de dólares na Indonésia - em petró-
F i n a l l y , we have a completely convincing manuscript; no one who agonias dos malditos". leo — poucos anos atrás. Já deu 600 por cento
Então, Hughes entra em detalhes sobre limpesa de lucro".
has read i t can doubt i t s i n t e g r i t y , o r , upon reading i t , that of e saúde.'
"Não pense que eu suu um maníaco, por favor. "Agora, Getty - Getty tem uma companhia de
Clifford Irving. A maioria das precauções que tomo são ordens petróleo e uma coleção de pinturas, e se ele
de médicos ou sugestões de médicos - por tiver um bilhão e meio eu ficarei surpreso. A
causa de meus pulmões danificados, minha estimativa mais conservadora que posso fazer
doença de pele, minha anemia e várias doenças sobre o que eu tenho, e eu não estou falando'
que eu tive. E olhe que eu já mudei, tanto por- sobre valor futuro, mas sobre o valor agora, nes
que não sou são mesmo, quanto porque essas te minuto, olhe no seu relógio é de dois bilhões
precauções não tem tanta significação assim. De e cem milhões. Isso me faz muito maisricoque
qualquer forma, as minhas moradias em Las Getty e que os outros". a
TEREZA BATISTA Lennon
C A N S A D A DE G U E R R A fundou
AUTOR: Rodolfo Coelho Cavalcante
Trovador Popular Brasileiro
um país.
Declaração de Nutopia
Nós anunciamos o nascimento de um
país conceptual, a Nutopia.
A cidadania do país pode ser
obtida por declaração de
que você está conscio de Nutopia.
Nutopia não tem terra, nem fronteiras,
nem passaportes, só povo.
Nutopia não tem outras leis
que não as cósmicas.
RODOLFO COELHO CAVALCANTE Todo o povo de Nutopia é
Trovador - Popular - Brasileiro embaixador do país.
Como dois embaixadores de Nutopia, nós
RESIDÊNCIA: - l u a Alvarenga Peixoto, 151 = Liberdade — 40.000
pedimos imunidades diplomáticas e
(Par B i s da rua São Cristóvão] - largo do de Tanque - Salvaderflasla
reconhecimento, pela ONU, de
POSTO DE VENDA N°. 1 nosso país e seu povo.
Banca de Postal do Sr. Durval - Elevador Lacerda
(PARTE ALTA)
•yvA^ G^-^t ch^~—'V
Os livros de Rodolfo Cavalcante são nítida-
damente moralistas e de cunho elevado. YOKO ONO LENNON
ODORICO TAVARES
A T E N Ç AO :
Folheta lotorisado pejo Escritor Jorge Amado — la. Edição: Setembro de 1973 JOHN ONO LENNON
Este livro é publicado pela FEIRA DA POESIA / 73
Salvador-Bahia PREÇO . . . . CR$ 1,00 Embaixada Nutopiana
One White Street
New York, New York 10013
19 de abril de 1973
EXEMPLO DE ECONOMIA DE TEMPO, $ E ESPAÇO (NA ESTANTE)

Inspirado no Romance
Do Escritor Jorge Amado
No "EDIFÍCIO VATICANO"
A mulher moça mais linda
Tereza deixou aergipe
Veio à Salvador viver.
Foi a Santa-Pecadora
De tanta beleza, tanta, O ORLANDO
Dei o título do seu livro
E no mesmo baseado
Vou descrever com lhaneza
Do Cabaré Sergipano,
Era o ídolo dos boêmios
Os quais lhe ofertavam prêmios
Sua vida.de mundana
Foi ela a mulher bahiana
Que gozou todo o prazer.
Que o Nordeste a consagrou,
Outra flor não se gerou
Como a mais sublime planta!
DIAS DOS
A história de Tereza
Cujo drama foi narrado.
Nasceu Tereza Batista
Em troca do amor profano.
Era Tereza Batista
Os mais notáveis artistas
Da Bahia apaixonados
Conviveram com Tereza
Tereza foi um exemplo
Da mais pura realidade,
POBRES
O ídolo da juventude,
Na cidade Barracão, Deveras enamorados, Distribuiu seu amor
O anelo dos artistas, Chamado de o grande maluco do rock, Iggy
Que hoje é Rio Real Mesmo triste e maltratada Como exige a Sociedade,
Do Vate em decrepitude, Pop reapareceu em San Francisco depois de três
Situada no sertão Era a mulher cobiçada O seu verdadeiro crime
Porém Tereza vivia anos de ausência. A última vez que Iggy se apre-
Entre Sergipe e Bahia, Dos mais ricos potentados Por sua Vida se exprime
Naquele mar de orgia sentou em San Francisco, cortou o peito com
Nasceu ela em pleno dia Não vender sua Liberdade!
Vendendo carne e saúde. Foi amante de uzineiros, duas baquetas quebradas, arrancou mechas do
De agosto, no verão, cabelo e deslizou pelo chão mordendo o pé das
Foi amante de Doutores, Foi mulher de magistrado, Quando ela na verdade pessoas. Iggy também é conhecido por espar-
Trazendo signo de Léo De ébrios, de taverneiros, Foi concubina de Padre, Por alguém amor sentia ramar hamburger cru ou pasta de amendoim no
Tereza com precisão De poetas mais notáveis, Foi meretriz de soldado, Logo era escravizada peito nu e mergulhar na platéia, convencendo-a
Tinha coragem e destreza Dos humildes jangadeiros, Foi prazer de marinheiro; Por isto muito sofria, a lamber aquilo tudo.
Da bravura do leão, Não se sentia infeliz, Foi Deuza de jangadeiro, Cujo amor pouco durava Após alguns anos de inatividade (e provavel-
Foi mulher pecadora, Era a doce meretriz Teve um esposo ao seu lado. Pois o seu signo marcava mente de insanidade), Iggy e a banda que o
Atraente e sedutora Dos ricos, dos carroceiros! acompanha, The Stooges, estão se apresentando
Pobre Tereza Batista De morrer solteira um dia . . . de novo. Lançaram um ábum chamado Raw
Porém de bom coração. Jamais queria Tereza
Vender sua Liberdade, O teu romance contemplo. Power, com músicas chamadas "penetration",
Sua infância de pobreza Foste dentre as meretrizes Tereza nasceu mulher, "Your Pretty Face is Going to Hell", "Gimme
Como qualquer meretriz Mulher sempre ela viveu, Danger", "Death Trip", etc.
Suportou a tirania Via na sexualidade No sofrimento - um exemplo;
Por seres mulher-perdida Consagrou-se ao amor-livre,
Da desventura da sorte . . . Seu Signo, sua profissão,
Na tua luta aguerrida Sofreu, lutou e venceu,
Perdendo seus pais um dia Na Natureza - um Leão, Jamais foi uma caftina,
Pouca lágrima jorrou, No Coração: — a bondade. Na coragem foste um templo.
Mesmo como libertina
Para frente caminhou Infeliz da pobre moça Nenhuma honra vendeu.
Sem a menor covardia. No "PARIS-ALEGRE'', as noites Que se entrega ao lupanar,
Sábado à Segunda»Feira Assim Tereza Batista
O sertanejo, já disse Pensando que esta vida
Tereza Batista era Que viveu na podridão
Euclides, que é ente forte Só tem um fim: - é gozar! . . .
A Deusa da Gafieira, Foi uma CANÇADA DE GUERRA
Tereza não sucumbiu-se Enfrentou mil desordeiros, E neste viver sem nexo
Com o vendaval da sorte, Dentre a sua geração,
Apanhou de cachaceiros, Tereza devido o sexo Hoje o seu nome famoso
Com 15 anos de idade Enfrentou punhal, peixeira. Foi Santa sem ter altar !
Deixou a sua cidade Cujo drama doloroso
Pegando rude transporte. Quando surgia um valente Se Tereza não tivesse Vive em nosso coração!
Que com ela desejava O seu Signo de Leão
Conseguindo uma passagem Ter relações amorosas Não, venceria na vida, Vê-se muitas meretrizes
Viajou no trem da "Leste" E ela a ele não aceitava Pois a prostituição Neste mundo de meu Deus
Com destino à Aracaju - Tereza enfrentava a briga, Acredito, plenamente, Como Tereza Batista
A Capital do Nordeste Que a própria policia diga Ser a mesma equivalente Com todos os dramas seus,
Onde a vida é agitada Como a tragédia findava. De maconheiro ou ladrão. Outra igual nunca haverá
Pela classe desprezada Pois Tereza hoje está
Do homem "cabra-da-peste" Jamais Tereza entregou-se O fim ue toda mulher Mais Santa, leitores meus.
À qualquer autoridade, Que se entrega ao meretrício
Era Tereza uma Ninfa Era uma hiena feroz Se é que existe um inferno
De um porte magestoso, É arrastar-se na lama
Conhecida na cidade, Como verme . . . em seu ofício, Este inferno está na terra,
Com ar de menina-pobre Quem à ela não bolisse- Quem sofreu como Tereza
Tinha o coração bondoso, É a criatura marcada
Era a virtude em meiguice, Como uma desventurada Na verdade um mártir encerra,
Mas seguindo a triste sina O retrato da bondade. À beira de um precipício . . . Tem razão o romancista
Veio sofrer esta menina
Chamar: Tereza Batista
Um viver mais inditoso. Descrever toda odisséia Porém Tereza Batista - Mulher - CANÇADA DE GUERRA.
Da vida desta mulher Pelo um poder oriundo
Um ce/to dia um Doutor
Só o Escritor Jorge Amado . . . Se o mundo fez a sofrer Me desculpe Jorge Amado
Mais boêmio na cidade
Cuja descrição requer Ela fez sofrer o mundo . . . Se eu fui fraco trovador.
Vestiu-lhe como Rainha
Um romance volumoso Amou, gozou e sofreu .Mas o drama de Tereza
E na sua puberdade
Do seu viver inditoso E no dia que ela morreu É o drama da minha dor,
Conheceu o meretrício
Que nem o Diabo quer. Chorou até vagabundo! Hoje Cançado de Guerra
Caindo no precipício
Da negra fatalidade! Depois de muito gozar, Tereza no nosso século Sofro aqui na sua terra
Todas as noites se via Depois de muito sofrer, Foi a Pecadora-Santa, CIDADE DO SALVADOR.
pelo mundo, perseguindo fantasias cavalei-

LIVROS rescas. O tal dom Quixote é meio louco (sua


figura é magnificamente concebida; realmente,
Cervantes sabe narrar), enquanto que seu criado
é um simplório (dotado de certo e tosco bom

NOVOS
sentido), com quem o leitor não tarda em se
identificar, e que procura desmistificar as fan-
tásticas crenças de seu amo. Até aqui o argu-
mento, que se desenvolve com alguns bons efei-
tos e com não poucos divertidos e jocosos epi-
sódios. Mas a observação que desejo formuiar
transcende o juízo pessoal sobre a obra.
Em nossa afortunada coleção econômica.
"Os fatos da vida", temos publicado com notá-
vel êxito Amadis de Gaula, A lenda do Graal, o
Romance de Tristâo, As trovas do passarinho
etc. Neste momento, temos a opção para editar
MENSTRUAÇAO. U x ( )
Reis da França, do jovem de Barberino, livro
que, na minha opinião, será o sucesso do ano.
Agora, se nos decidimos por Cervantes, pomos
Texto de UmbertoEco
(Umberto Eco se coloca no conselho de
em circulação um livro que, apesar de sua bele-
za, desmentirá tudo o que foi publicado até
agora e fará passar por maluquices de manicô-
mio todas essas outras novelas.
RESOLVIDO EM
redação de uma editora moderna e vai
opinando sobre originais a serem publica-
dos. Ou recusados.)
Compreendo a liberdade de expressão o cli-
ma de rebeldia e outras coisas do gênero, mas
não podemos restringir-nos a nós mesmos.
10 MINUTOS.
Ainda mais que este livro me parece a típica
obra única: o autor acaba de sair da prisão, tem
a saúde abalada, não sei bem se lhe cortaram Texto de Nancy Stevens
um braço ou uma perna, e não dá impressão de A "Womans's Self-Help", organização da Cali- aceitas".
estar disposto a escrever outra. Eu não queria fórnia, que vem educando as mulheres a respei- Além de controlar o período menstrual da
anônimo que, por buscar novidades a qualquer preço, to de seus corpos durante os últimos três anos, mulher, a extração está provando ser um dos
A BÍBLIA comprometêssemos uma linha editorial que até descobriu uma forma de controlar o periodo mais seguros e efetivos meios de controle da
agora tem sido popular, moral (digamos isso menstrual. natalidade.
também) e rediticia.
O método, chamado extração menstrual, ê "Nas Self-Help Clinics, - diz Barbara Hoke
Devo dizer que quando comecei a ler o ma-
nuscrito e durante as primeiras cem páginas, me simples, utilizando instrumentos comuns e bara- - o método é aplicado num grupo de mulheres
senti entusiasmado. É pura ação e tem tudo que kafka, franz tos, de forma a que qualquer pessoa possa ope- que se conhecem umas às outras e que se preo-
o leitor de hoje exige de um livro de evasão: O PROCESSO rar outra. Um tuoo plástico é simplesmente in- cupam com a saúde uma da outra. Isso não é
sexo (muitíssimo), com adultério, sodomia, ho- troduzido no útero da mulher, e depois ligado a apenas um serviço, mas algo com que nos aju-
micídios, incestos, guerras desastres etc. uma bomba chamada "Del-em", que extrai o damos mutuamente".
O episódio de Sodoma e Gomorra, com os Não está mal este livrinho: policial, com mo- fluxo menstrual. Resultado: a mulher sente Mas, muito mais pesquisa é necessária para
travestis que querem violentar os anjos, é rabe- mentos ao estilo de Hitchcock: por exemplo, o pouca ou nenhuma eólica, a inconveniência do
homicídio final, que terá o seu publico. provar totalmente a segurança da extração
lesiano; as histórias de Noé são o mais puro período dura apenas dez minutos, em vez de menstrual. As mulheres da Self-Help-Clinic
Salgari; a fuga para o Egito é uma história que No entanto, me pareceria que o autor escre-
veu sob censura. O que significam essas alusões uma grande parte da semana, e, o mais impor- acham que podem oferecer uma alternativa po-
mais cedo ou mais tarde será levada às te-
las . . . ^ Em suma, a verdadeira novela-rio bem imprecisas, essa falta de nomes de pessoas' e de tante, a mulher assume o controle do próprio sitiva aos métodos "abusivos, ultrajantes, sujos,
contruída, que não economiza efeitos, cheia de lugares? E por que o personagem está sendo corpo. mercenários e inconscientes" dos pesquisadores
imaginação, com uma dose de messianismo que processado? Esclarecendo mais esses pontos, "Se o sistema médico masculino pega o con- masculinos.
agrada, sem chegar ao trágico. ambientando mais concretamente, dando fatos, trole da extração menstrual, vai usá-lo, como o "Desde que eles não tem "períodos", vêm a
Depois, mais adiante, observei que se trata, fatos, fatos, a ação seria mais límpida e o sus- da natalidade, para controlar a vida das mulhe- extração menstrual apenas em termos de aborto
por outro lado, de uma antologia de vários pense mais bem construído. res", diz Barbara Hoke, do Oakland Feminist antecipado", continua Barbara Hoke, acrescen-
autores, com muitos, demasiados trechos de Estes escritores jovens acreditam fazer Women's Health Center, que também acha "que
"poesia" porque dizem "um homem", em vez tando que "as pesquisas realizadas pelos
poesia, alguns francamente lamentáveis e cha- a extração menstrual na mão de homens é peri- homens, sempre ignorarão totalmente o aspecto
tos, verdadeiras jeremiadas sem pé nem cabeça. de dizer "o senhor tal a tal hora, em tal lugar."
Resulta daí um produto monstruoso que Em síntese: se se pode botar a mão, está bem. goso para a saúde das mulheres". de aliviar as mulheres de suas penúrias men-
corre o risco de não agradar a ninguém, porque Do contrário, devolver. Laura Brown, fundadora da Oakland sais".
tem de tudo. Além disso, vai ser um trabalhão Feminist Women's Health Clinic, engrossa a opi- A profissão médica combate o uso da extra-
estabelecer os direitos dos diversos autores a nião de Barbara: "Pesquisas controladas por ho- ção menstrual nas clínicas Self-Help por duas
menos què o representante de todos eles se en- sade, d. a. françois mens não só são perigosas clinicamente para razões: técnicos não-especializados, podem pro-
carregue disso. Mas não encontro o nome de JUSTINE nossos corpos, como também geralmente vocar perfuração de útero; e há possibilidade de
tal representante nem mesmo no índice, como descuidadas, sem valor e incompletas". Ela cita gravidez precoce ou incompleta, resultado dc
se tivesse certa reserva em se identificar.
um exemplo no qual chicanas do .sudoeste dos perda do tonus muscular, que poderia advir do
Eu diria que é preciso ver se se pode publicar O manuscrito estava no meio de um montão
em separado os primeiros cinco livros. Neste ca- de coisas que eu devia ver esta semana e para ser EUA foram usadas para testar "a pílula". De uso da Del-em todo mes.
so, caminharíamos em segurança. Com um títu- sincero, não li inteiro. Abri três vezes, ao acaso, 398 mulheres testadas, 78 receberam placebos Nos três anos de experiências do Self-Help
lo como "Os Desesperados do Mar Vermelho" em três partes diversas, e vocês sabem que, para sem consentimento ou conhecimento prévio. A não ocorreu nenhum dano muscular, mas algu-
bom entendedor, meia palavra basta. experiência resultou em 10 gestações não dese- mas mulheres perfuraram títeros de outras —
Bem: da primeira vez encontrei uma ava - jadas. situação que pode ser eliminada se técnicas fe-
lanche de páginas de filosofia da natureza, com Laura Brown critica principalmente um mininas forem devidamente treinadas. Na opi-
homero divagações sobre a crueldade da luta pela vida, a nião de muitas mulheres, porém, o que os dou-
A ODISSÉIA abortista de Los Angeles, Harvey Karman, "que
reprodução das plantas e a evolução das espé- tores estão combatendo é a atitude, a posição
cies animais. Da segunda vez, pelo menos quin- usa situações de desespero das mulheres que o
ze páginas sobre o conceito do prazer, sobre os procuram para fazer carreira e experiências com das Self-Help, que siginifica "Nós não precisa-
Pessoalmente o livro me agrada. A história é sentidos e a imaginação, e coisas do gênero. Da elas". Karman tem o apoio do "Planejamento mos de vocês, ou de suas consultas de 15 dóla-
bonita, apaixonante, cheia de aventuras. Tem a terceira vez, outras vinte páginas sobre as rela- Familiar" da AID, quefinanciouuma de suas res. Nós trataremos de nós próprias, e controla-
dose suficiente de amor, de fidelidade e de esca- ções de submissão entre homem o mulher nos viagens a Bangladesh, e da Sociedade para o remos nossos próprios corpos"
padas adulterianas (muito boa a figura de Ca- diferentes países do mundo,... Me parece su-
lipso, uma verdadeira devoradora de homens); Controle da Fertilidade. Karman fez abortos em As descobertas das Self-Help, embora já im-
ficiente. Não estamos buscando uma obra de mulheres através de cadeia nacional de televi- portantes e sensacionais, são realmente um co-
tem, inclusive, um momento "lolítico", com filosofia; o público, hoje em dia, quer sexo,
uma garota chamada Nausicaa: no decorrer do são, usando sua não-investigada "super-ducha". meço de algo ainda maior. Sua atitude auto-
sexo e mais sexo. E provavelmente com qual-
episódio o autor se permite mais de uma ousa- quer tempero. Das 15 mulheres "exibidas", 9 vieram a sofrer confiante vem em resposta a uma profissão mé-
dia, mas em nenhum momento comete exage- graves complicações, inclusive útero perfurado. dica que se torna cada vez mais impessoal, tra-
ros. O todo resulta excitante. Há efeitos, gigan- Agora, reivindicando a extração menstrual tando seres humanos com menos respeito que
tes de um olho só, canibais e até um pouco de como coisa sua, Karman vem escrevendo artigos eu ou você damos a um cadáver, e olhando os
droga (o suficiente para não transgredir os limi- mentirosos dizendo às mulheres que elas podem serviços médicos com delicadeza não maior que
tes fixados pela lei: pelo que sei, o loto não está
proibido pelo Departamento de Narcóticos). As joyce, james fazer suas próprias extrações menstruais o que, a de uma oficina de conserto de aparelhos de tv.
cenas finais se inscrevem na melhor tradição do FUSNEGANS WAKE conforme LauraBrown, "requereria uma contor- Quem jamais pensou que se pode começar uma
western: a luta é ferrenha, a cena do arco se cionista". E ataca de novo: "Porque é homem, e revolução com um pedaço de tubo plástico e
mantém magistralmente na corda bamba do sus- segue os mesmos padrões, ou as deficiências dos um especulo?
pense. homens, da profissão médica masculina, Se você quiser maiores informações ou uma
Por favor, digam a redação que tome mais Karman é aceito. Nós, porque não somos gover-
Que dizer? Lê-se de um só fôlego, melhor cuidado, quando me enviar os livros. Leio in- extração menstrual ou ainda, outras técnicas
que o primeiro livro do mesmo autor, este está- nadas por egos masculinos, e estamos propondo aplicadas pelo Self-Help, pode escrever para:
tico demais com sua insistência na unidade de glês, e vocês me mandaram um livro escrito em
sabe lá que diabo de idioma. Anexo, segue o programas que, de fato, deslocarão o eixo de The Oakland Feminist Women's Health' Clinic,
lugar, chato pela superabundância de aconte- poder para as mãos das mulheres, não somos 2930 McClure Street, Oakland, Califórnia.
cimentos (à terceira batalha e ao décimo duelo, dito volume. Recusar. A
o leitor já pega o mecanismo). Além disso a
história de Aquiles e Patroclo, com seu fio de
homossexualidade apenas latente, nos custou si- ANÚNCIOS FÚNEBRES
tuações embaraçosas. Ao contrário, neste segun-
do livro tudo anda que é uma maravilha, até o
tom é mais sereno; pensando, embora não refle- communiTv (213) 826 - 0810
f£RVK£ CEflTER
xivo. E ainda a montagem, o jogo de flash-
backs, as histórias encadeadas!.. .Em suma: al-
ta escola. Realmente, esse Homero tem talento.
Talento demais, diria eu . . . Pergunto-me se
tudo foi mesmo escrito pelo próprio . . . Já sei,
já sei: escreve que escreve, a gente acaba melho-
rando (e quem sabe se o terceiro livro não virá a
ser realmente um estouro!) J.D. PERQN
MENSTRUAL EXTRACTION
Os editores-funcionários do jor (Early Pregnancy Termination) >
nal EX — cumprem o dever de parti-
cervantes, miguel de
DOM QUIXOTE cipar o falecimento do inesquecível $25.00 Total Price
J.D. Perón.
Period Late? Don't Wait!
O livro, nem sempre inteligível, é a história
de um fidalgo espanhol e seu criado que vão
AFRICA.ADEUS ENTREVISTA CONCEDIDA PELO ESCRITOR E JORNALISTA PORTUGUÊS MIGUEL URBANO RODRIGUES

Texto de Eurico Andrade quais vive hoje na capital, Lourenço Marques. tência de um lider que a África considera um
ANGOLA (1.240.000 km2 e 5,5 mühões de ha- dos seus heróis do século XX - Amilcar Cabral, Miguel Urbano Rodrigues, português radicado
bitantes). o único africano que cursou uma escola supe- no Brasil, é escritor e jornalista, editorialista
A falta de unidade das forças nacionalistas rior na metrópole, e voltou com um diploma de d'0 Estado de S. Paulo e redator da revista
A Guiné, segundo a Enciclopédia Barsa: tem criado uma situação de certa tranqüilidade engenheiro e a decisão de libertar seu povo. Em Visão.
para os 50 mil homens do exercito português. O 1956, ele, seu irmão Luis (hoje presidente da
Guiné Portuguesa. Território português movimento de libertação se divide em três gru- República) e Aristides Pereira (hoje secretário-
• Pergunta - Parece que a política brasileira em
situado na África Ocidental, entre o Sene- pos: o MPLA, que controla a elite revoluciona- geral do PAIGC) e outros três nacionalistas fun-
relação às colônias portuguesas na África tende
ria e amplas camadas do povo; a Frente de Li- daram o partido que libertou a colônia.
gal e a República da Guinei abrangendo a mudar. Como português há muito residente
uma área de 36.264 kmA Vivem ali bertação Nacional, controlada por uma figura Foi em 3 de agosto de 1959, quando o exér- no Brasil, o que você têm a dizer a respeito?
contraditória, Holden Roberto, que se intitulou cito matou 50 pessoas durante uma greve de • Resposta - A tarefa principal da Oposição
565.000 habitantes, a maioria dos quais doqueiros, que começou a luta armada. Em
uma vez de "Governo no exílio" e transa nas Democrática Portuguesa no Brasil consiste em
negros, sudaneses e guineanos, do grupo suites dos hotéis de luxo das capitais do Oci- 1970, a ONU reconheceria o PAIGC como o
dos mandingas e Mas. A capital, desmascarar o regime fascista e colonialista que
dente; e a Unitas, que recebe ajuda da China. único representante legal do povo da Guiné- oprime Portugal e suas colônias há quase meio
Bissau, possui mais de 4.000 habitantes 2
GUINÉ-BISSAU (36.000 km e 700 mü habi- Bissau. Em 20 de janeiro de 1973, Amilcar seria século. Não lhe cabe pronunciar-se sobre a polí-
civilizados. As indústrias locais são tantes) assassinado em súa casa, em Conakry, por agen- tica africana do governo brasileiro. É uma nor-
de base agrícola: beneficiamento de arroz, tes portugueses. ma que tem sidorigorosamenterespeitada. Mais
A Guiné hoje reconhecida pela ONU co- Os homens do PAIGC contratacam: derru-
algumas fábricas de óleo e sabão em mo nação independente, seria a colônia menor. de três milhões de portugueses vivem hoje espa-
Bissau, onde há duas olarias. A província bam 20 aviões, inclusive aquele em que viajava lhados por dezenas de países da Europa, Améri-
Dividida em uma parte continental, um cor- o comandante da Força Aérea Portuguesa.
de Guiné não possui recursos econômicos dão de ilhas e o arquipélago de Bissagos. A ca e Oceania. Entre eles há professores univer-
Até que em setembro, dia 24, há aquela festa
suficientes, nem tem condições para pro- maior parte da população vive da chamada eco- do mato, onde os maiores aplausos estouram
sitários, escritores, jornalistas que, no exílio,
gredir sem o auxilio da sua metrópole nomia de subsistência, principalmente extrativa. realizam um importante trabalho de esclareci-
após a leitura do artigo 12 da Constituição da mento. Promovendo atos públicos, fazendo
européia. Nunca a população branca chegou a mais de República da Guiné-Bissau: "A participação na
três mil pessoas. conferências, editando livros e jornais, escre-
luta pela libertação da pátria e a defesa da sua vendo na imprensa, contribuem para aplicar a
Nessa pequena colônia, o Exército Português soberania são a honra e o dever supremo do solidariedade à luta do povo português e dos
sofreu suas mais duras derrotas. Razão: a exis- cidadão". povos coloniais. Todo esse esforço ficaria com-
prometido se houvesse ingerência na política
24 de dezembro de 1973. Numa clareira
dos países onde se acham radicados. Isso não
aberta na mata, os 120 deputados à primeira
significa, claro, que eu seja indiferente à posição
Assembléia Nacional da Guiné- Bissau aprovam
do governo brasileiro diante da política colonia-
a Constituição, proclamam a República e ele-
lista do governo de Lisboa.
gem seu primeiro presidente: Luiz Cabral, irmão
do lider e fundador do Partido Africano para a •P — O embaixador brasileiro em Lisboa, Gama e
Independência da Guiné e Cabo Verde Amilcar Silva, considerou "um disparate" a decisão da
Cabral, assassinado em Conakry, em janeiro de ONU de reconhecer a Guiné-Bissau. Trata-se
1973, por agentes secretos portugueses. realmente de gesto de propaganda, como afirma
o governo português, ou a Guiné tende a ser
Diante de uma multidão emocionada, segun-
reconhecida universalmente como a mais jovem
do jornalistas europeus presentes à solenidade,
nação africana?
foi erguida a bandeira verde, amarela e vermelha
da nova nação, que teve seu governo reconhe- •R — A República da Guiné-Bissau foi reconhe-
cido pela ONU em 20 de novembro contra cida por 72 países membros das Nações Unidas.
votos de apenas seis paises, inclusive o Brasil. O Dezenas de cinegrafistas e jornalistas de todo o
governo de Portugal continua acreditando que mundo têm-na visitado e feito artigos, livros e
tudo não passa de propaganda, mesmo depois filmes que comprovam o controle quase total
da morte do comandante da sua aviação, aba- do território pelos guineenses. As tropas portu-
tido por um míssil terra-ar manobrado pelos guesas ocupam apenas a parte insular e as cida-
negros, que dominam 75% do território da des do interior, cercadas pelos combatentes do
Guiné. As tropas portuguesas controlam apenas Partido Africano da Independência da Guiné e
as cidades, e mesmo a existência de um soldado Cabo Verde-PAIGC.
para cada 15 africanos - porcentagem maior •P - O povo português admite a perda das anti-
que a dos americanos no Vietnã, não é suficien- gas colônias ou isso é coisa de uns poucos inte-
te para tranqüilizar os 3.000 colonos portugue- lectuais esquerdistas?
ses, que depositam em bancos europeus tudo o •R — O povo português demonstrou claramente
que podem, certos de que sua aventura africana durante a "campanha eleitoral" que deseja a
está próxima do fim. paz. Enquanto os comícios do partido oficial se
A guerra pela manutenção das "colônias ul- realizavam em salas vazias, os atos da Oposição
tramarinas" consome mais de 40% de todo o Democrática atraiam multidões entusiásticas. E
orçamento português e custou nos últimos dez a guerra colonial foi tema obrigatório — apesar
anos mais de 4,5 bilhões de dólares. A maioria das proibições — em todos eles. Os candidatos
das nações tem pressionado Portugal no sentido anti-fascistas exigiram do primeiro -ao último
de achar uma solução política junto aos parti- dia da campanha a imediata abertura de nego-
dos de libertação de Angola, Moçambique e ciações com os movimentos libertadores de An-
Guine—Bissau, e afastar-se da África. gola, Moçambique e Guiné-Bissau, na base do
Portugal está lutando para preservar na reconhecimento do direito à independência. O
África uma área de dois milhões de km , com povo apoiou essa política com sua presença e
cerca de 14 milhões de habitantes, divididos em seus aplausos.
três províncias: Angola, Moçambique e Guiné- • P - O esforço de guerra para preservar as colô-
Bissau. Para tentar vencer as lutas de indepen- nias repercute desfavoravelmente junto ao
dência, iniciadas há 17 anos, Lisboa (além dos povo? Em que medida uma nação pobre pode
4,5 bilhões de dólares e do escoamento das re- pagar esse preço? Que preço é esse?
servas monetárias) elevou o serviço militar obri- » R - As guerras coloniais estão arruinando e des-
gatório para quatro anos, mantém na África um povoando Portugal. Desde 1961 o custo da es-
exército de 150 mil homens e mil aviões, e se vê calada africana foi de 4,5 bilhões de dólares.
isolado politicamente em todo o mundo, con- Cerca de" 50% do orçamento nacional são desti-
tando apenas com o apoio dos Estados Unidos, nados a "atividades de defesa", eufemismo que
Brasil (até agora), África do Sul, Espanha e esconde os fins criminosos da guerra. A juven-
Rodésia. tude passa agora quatro anos nas fileiras. Jo-
gam-na nos campos de batalha africanos onde se
E com tudo isso, perdendo a guerra. Nas três
corrompe ou morre. O balanço de 12 anos é
frentes:
pesado: 10.500 mortos, 30.000 feridos, 20.000
MOÇAMBIQUE (775.000 km2 e 8 milhões
estropiados. Isso do lado português. O número
de habitantes).
de vítimas africanas é incalculável. Somente nos
Aqui, Portugal tem um exército de 60 mil
dois primeiros meses da ofensiva desencadeada
homens que vem crescendo desde 1964 quando
em Angola em 1961, para recuperar territórios
a guerra começou. Nesses 10 anos os homens da
perdidos, o Exército português abateu, segundo
Frente de Libertação de Moçambique - FRE-
a imprensa inglesa, mais de 30.000 negros. As
LIMO - libertaram extensas áreas nas provín-
perdas humanas e a destruição do ambiente pro-
cias de Niassa, e Cabo Delgado, ao norte, e se
vocadas pelos bombardeios com napalm e des-
concentram agora na província de Tete, onde o
folhantes são também terríveis. Para fugir à
Governo português tenta construir uma hidre-
guerra, os jovens emigram. Portugal transfor-
létrica maior que a de Assuã, para vender a ener-
mou-se num país de velhos e crianças. Em 10
gia à África do Sul. Os guerrilheiros ameaçam
anos a população diminuiu quase 3%, apesar de
paralisar a construção da barragem e já lutam
uma taxa de natalidade superior à media euro-
nas regiões de Manica e SoFála, criando o pânico
péia. Só em Paris há 600 mil portugueses, novos
entre os 200 mil colonos brancos — metade dos
P A G I N A 21 F X - . I A N E I R Q - 1974
párias de uma sociedade de consumo pós-indus- posso afirmar que desejam, no futuro, uma
trial. O governo fascista de Marcelo Caetano cooperação fraterna entre o Brasil e seus povos.
não se preocupa com a tragédia desses emigran- Infelizmente, pouca gente aqui tomou consciên-

âPRESENTA^TE tes, porque eles contribuem involuntariamente cia da importância dos vínculos que unem o
para o financiamento da escalada, pois o dinhei- Brasil às nações africanas da lingua portuguesa.
ro que enviam do exterior (600 milhões de dó-
lares em 72) permite equilibrar o balanço de
Milhões de brasileiros descendem de angolanos,
moçambicanos e guineenses. A Afrio» também é
pagamentos. Presentemente é graças aos "invisí- Mãe Pátria.
veis" - turismo e remessas dos emigrantes - Obviamente, os patriotas do MPLA e da FRE-
que Caetano compensa o rombo de uma balan- LIMO não pensam no Brasil em termos de "aju-
ça comercial em que as exportações mal alcan- da econômica", na acepção hipócrita da expres-
çam metade das importações. A outra fonte de são vulgarizada pelo governo dos Estados Uni-
financiamento da guerra é constituída pelos dos. A consciência que os povos das colônias
grandes monopólios internacionais. Caetano es- portuguesas têm hoje dos males do imperialis-
tá vendendo no varejo o que não é seu: as rique- mo é tão profunda e indissociável de seus sofri-
zas naturais de Angola e Moçambique. A propa- mentos que não admitem a idéia de uma substi-
ganda fascista, num triunfalismo cínico, procla- tuição de estruturas coloniais por mecanismos
ma como grandes vitórias os colossais investi- neo-coloniais. Não são, assim, as inversões priva-
mentos realizados pelos gigantes multinacionais das brasileiras que interessam a Angola ou Mo-
nas colônias portuguesas. O que não confessa é çambique independentes. O que ambos, assim
que essas sociedades agem como Estados dentro como a pequena Guiné-Bissau, esperam é uma
do próprio Estado. A Unilever, a Anglo Ame- ajuda de outro tipo, que não envolva a depen-
rican Corportaion (as 150 sociedades do Grupo dência ecpnômica, uma ajuda valiosa para a
Openheimer) a Societé Generale, a Peichiney, a construção do futuro em países devastados pela
Krupp, a Gulf Oil e dezenas de outras multina- guerra, esmagados por séculos de opressão colo-
cionais têm motivos para considerar Caetano nial.
um amigo e ver no fascismo português o melhor • P - Que tipo de ajuda seria essa?
dos aliados. • R - À única que concebo como válida entre
• P - Do ponto de vista de um portugês, o que nações soberanas e que forja relações duradou-
existe hoje de concreto em relação à Comunida- ras de amizade entre os povos. A ajuda que não
de Luso-Brasileira? tem como objetivo o lucro do mais forte. Como
R - Nada. Os tratados assinados não funcionam exemplo, posso informar que hoje livros brasi-
por falta de regulamentação adequada. A dupla leiros circulam de mão em mão nas escolas das
nacionalidade, tão comentada, existe apenas na zonas libertadas das colônias portuguesas. A lin-
letra dos instrumentos diplomáticos. Li há tem- gua é um elo que tem uma força extraordinária.
pos que só meia dúzia de portugueses e um bra- Contrariamente ao que muita gente pensa, o
sileiro tinham conseguido obte-la. É natural. A MPLA, a FRELIMO e o governo da República
prova de direitos políticos e a folha corrida são da Guiné-Bissau combatem o colonialismo por-
exigências que esbarram com dificuldades insu- tuguês, mas não o povo português que respei-
peráveis. Basta recordar que em Portugal e Co- tam e cuja amizade desejam preservar. Ofimda
lônias, para uma população total de 23 milhões guerra colonial criará, entretanto, situações no-
de habitantes, há apenas 2,5 milhões de eleito- vas e delicadas. Ninguém melhor do que o Brasil
res. Como pode um imigrante inventar um títu- poderá ajudar a resolve-las Nas universidades,
lo de eleitor? De outro lado, a PIDE - hoje nas fábricas, nas minas, nos portos, nas planta-
chamada Direção Geral de Segurança — é muito ções, em muitos serviços públicos, numa pala-
avara na emissão de atestados de antecedentes. vra, em todo o setor moderno, os intelectuais e
Para ela todo cidadão alfabetizado que não per- os técnicos brasileiros de mentalidade progres-
tença à minoria fascista é potencialmente sub- sista encontrarão amanhã, em Angola e Moçam-
versivo. Para lhe dar um exemplo expressivo, bique infinitas possibilidades de contribuir para
recordarei apenas que os Consulados de Portu- a arrancada dessas jovens nações. Tenho afirma-
gal no Brasil, cumprindo instruções de Caetano, do sempre que a África de lingua portuguesa é
criaram um novo tipo de passaporte para oposi- um mundo mais permeável e aberto ao homem
cionistas: um documento válido exclusivamente brasileiro do que a América Hispânica.
para Portugal. Mesmo assim, quando o profes- P - O Brasil estaria comprometido diante des-
sor Ruy Luis Gomes, ex-candidato à Presidência ses povos como nação que não condena o colo-
da República, se apresentou em Lisboa há um nialismo?
ano, munido de um desses estranhos passapor- • R - Como salientei antes, não me compete,
ALGUMAS DAS COISAS QUE PODES COMPRAR tes, as autoridades não o deixaram desembar- como imigrado, pronunciar-me sobre a política
car . . . brasileira. Direi apenas, porque isso não viola
COM 0 DINHEIRO QUE RECEBES A Comunidade Luso-Brasileira existe no cora-
ção dos dois povos. Mas em termos políticos e
nenhum dever imposto pela hospitalidade, que
o problema foi abordado em Portugal durante a
econômicos é uma ficção. O governo de Caetano última campanha eleitoral. Muita gente acredita
não representa o povo português e muito menos que certos votos do Brasil na ONU (mal rece-
pode falar em nome de 14 milhões de africanos. bidos pela opinião pública) nascem de um equí-
•P - A imprensa tem falado de investimentos voco: a convicção de que o povo português
brasileiros em Portugal e colônias e de um movi- apoia a política colonialista de Caetano & Cia.
mento inverso de capitais portugueses para o Ora, o povo está farto de guerras e aventuras
Brasil. Que conseqüências poderá ter essa ten- coloniais.
dência para a integração do espaço econômico • P — Como se manifesta esse repúdio à guerra?
luso-brasileiro? • R — Através de greves, manifestações de rua,
R - Essa tendência não é tão recente, embora concentrações populares, protestos estudantis,
se tenha acentuado nos últimos anos. O ex-pre- movimentos de indisciplina nos quartéis, sabo-
sidente Juscelino Kubistschek foi um dos pri- tagem de navios e armamentos destinados às co-
meiros brasileiros a se interessar pelos "negócios lônias. E também de fuga ao serviço militar e
da China" permitidos pela legislação de um país deserções na frente de batalha. O povo e a Opo-
definido como o paraíso dos capitalistas. O sr. sição Portuguesa condenam o terrorismo como
Walter Moreira Salles, outro. Ultimamente apro- metódo de ação política. Mas quando um co-
fundaram-se as ligações no' setor bancário, visan- mando de elementos oposicionistas destruiu -
do a uma associação mais íntima do capital fi- sem fazer vitimas - 14 helicópteros e 3 bom-
nanceiro de grandes estabelecimentos dos dois bardeiros pesados na Base Aérea de Tancos, nin-
países. No tocante à África as inversões brasilei- guém lamentou a perda desses aparelhos avalia-
ras são inexpressivas. O terreno tem dono: as dos em 30 milhões de dólares.
gigantescas sociedades multinacionais, ao lado • P - E qual a posição atual do Exercito Portu-
das quais as grandes empresas brasileiras fazem guês?
figura de pigmeus. Acredito que o Brasil só • R — Existem várias tendências. Uma minoria de
pode tirar vantagens de não ter participado, oficiais deseja prosseguir indefinidamente a
através de suas empresas privadas, do assalto às guerra e, se possível, ampliar a escalada. Esses
riquezas de Angola e Moçambique. Não surge homens têm uma mentalidade muito semelhan-
perante seus povos como co-responsável dos cri- te à que tornou famosos os "ultras" franceses e
mes do colonialismo e do imperialismo. americanos na Argélia e no Vietnam. Repetem
• P - Qual a opinião de Cabral e outros líderes da como papagaios velhos chavões sobre o último
África Portuguesa em relação ao papel do Brasil "quarto de hora" e sobre os êxitos da "pacifica-
na libertação das colônias? ção* com a mesma ênfase grotesca dos Salan e
•R - Não há documentos oficiais dos movi- dos Westmoreland. É entre essa gente que se
mentos de libertação africanos que definam encontram os criminosos de guerra responsáveis
aquilo a que poderíamos chamar "uma política por chacinas como as de Wiryiamu e Mucum-
brasileira". Mas em discursos e entrevistas, diri- bura e dezenas de outros atos de genocídio
gentes do PAIGC, do Movimento Popular de menos comentados pela imprensa internacional.
Libertação de Angola-MPLA, e da Frente de Pode-se esperar tudo de racistas como o general
Libertação de Moçambique-FRELIMO, têm ma- Kaulza de Arriaga, que encara o tráfico de es-
nifestado a sua simpatia pelo povo brasileiro e a cravos para a América como um beneficio divi-
esperança de que o Brasil contribua para apres- no, na medida em que despovoou. Angola e
sar a conquista da paz, persuadindo o governo Moçambique. Para esse senhor os negros são
português a cumprir as Resoluções da Assem- seres biologicamente inferiores.
bléia Geral e do Cqnselho de Segurança da A maioria do Corpo de Oficiais adota uma posi-
ONU, isto é, a reconhecer a independência dos ção dê obediência passiva. Outra tendência é re-
territórios que ocupa ilegalmente na África. presentada pelos elementos que se opõem aber-
Como amigo pessoal de alguns desses dirigentes, tamente à guerra. Nos últimos meses até oficiais
de vários países .— Guiné, Tanzânia, Argélia, na luta dos países africanos contra o colonia-

África,
Egito e possivelmente Zâmbia, Mauritânia, lismo. O argumento de que Portugal não" seria
Sudão, Ghana, Nigéria e outros - entrarão em afetado é improcedente, pois as refinarias por-
choque com as forças de ocupação portuguesas tuguesas não têm capacidade para refinar o
na frente da Guiné-Bissau e, mais tarde, em petróleo de Angola cujo teor de enxofre e ou-

Adeus
Moçambique e Angola, Spinola deseja evitar tros produtos é excessivo.
essa ampliação da escalada que poderia ser •P - A Guiné-Bissau, um território pequeno,
como desfecho para o Exército português uma com uma população pequena e despreparada,
humilhação comparável à que sofreu em Goa podeviver como nação independente?
quando Nehru ocupou aquele enclave colonial, *R - A grandeza de uma nação não pode ser
cm 1961. aferida pela dimensão geográfica ou demográfi-
• P - Diz-se que Portugal é um Estado militarista. ca. Ninguém contesta o direito do Luxemburgo
São poderosas- as Forças Armadas portuguesas? à existência como Estado soberano; Atenas era
•R - Portugal não consegue sequer fabricar apenas uma cidade - Estado quando seus filhos
aviões de brinquedo, como dizia Amilcar forjaram a cultura mais avançada da Antigüi-
Cabral. Mas, segundo o Instituto Estratégico de dade. No caso da Guiné-Bissau, o subdesenvol-
Londres, apresenta o índice de militarização vimento econômico não impediu que o seu
mais elevado do mundo. 0 total,das Forças povo tenha empreendido uma luta que transfor-
Armadas excede 220.000 homens, dos quais mou a pequena nação em exemplo para toda a
150.000 se acham envolvidos nas três guerras África. Eu diria que a exceção guineense repete
africanas. A Força Aérea conta hoje com mais a exceção vietnamita, contribuindo para resti-
de 1.200 aviões e helicópteros. Contudo, o uso tuir a fé a dezenas de milhões de novos párias
de foguetes terra-ar pelo PAIGC assinalou o fim do Terceiro Mundo, esmagados e humilhados
da invulnerabilidade dos jatos supersônicos na pela arrogância das potências imperialistas. A
Guiné-Bissau. Quanto à Marinha, dispõe de na- Guiné-Bissau não produziu apenas o maior revo-
vios modernos, equipados com mísseis e os mais lucionário africano deste século - Amilcar
sofisticados equipamentos eletrônicos. Cabral - , está forjando também, no dia a dia, a
••P - É do conhecimento dos portugueses que primeira das Revoluções autênticas da África,
A terceira e última tendência manifestou-se^ existe uma pressão dos países árabes em prol da com uma poderosa originalidade. Os fatos com-
recentemente. Conta com o apoio de persona-i independência dos territórios portugueses na provam que a pobreza do território não é
lidade eminentes das Forças Armadas e seu África? Esse acordo foi formalizado pelos incompatível com um destino nacional autô-
líder é o general Antônio Spinola, ex-gover- nacionalistas africanos? Em que nível ocorreu? nomo. Sob o domínio português foi sempre
nador da Guiné-Bissau e tido durante anos por • R - Muita gente esquece que vários países uma colônia esquecida. Em 1963, a percenta-
um ultra Segundo Spinola, não há solução mili- árabes são simultaneamente países africanos. O gem de analfabetos era de 98%. Hoje, funcio-
tar para o problema colonial e impõe-se uma Islão tem, aliás, na África Negra, uma influência nam nas áreas libertadas 156 escolas primárias e
saída política, isto é, a negociação com os movi- política e cultural muito superior à do Cristia- dezenas de quadros seguem cursos universitários
mentos libertadores. Suas palavras são ambí- nismo. No caso das lutas de libertação das colô- na Europa Ocidental e nos países socialistas. No
guas, mas a meta é clara. nias portuguesas, os movimentos que as dirigem campo da saúde, o PAIGC arrancou da estaca
•P - Como se explica a virada de um homem contaram desde o início com a solidariedade zero. Mas em 1972 funcionavam já 125 ambula-
como Spinola, responsável, segundo a ONU, atuante da Argélia e do Egito. Evidentemente tórios, nove pequenos hospitais e 3 grandes
pela organização do ataque contra a cidade de que a ruptura de relações de 29 países africanos hospitais com um pessoal constituido de 90
Conakry, capital da vizinha República da não-árabes com Israel pesou na decisão da Con- enfermeiros diplomados e 70 auxiliares, dirigi-
Guiné? ferência de Argel de boicotar a venda de petró- dos por doze médicos, oito dos quais nascidos
da Marinha - a Arma mais conservadora - pe-
• R - Por motivos de estrito pragmatismo.! leo a Portugal, África do Sul e Rodesia. Mas na própria Guiné-Bissau. No terreno econô-
diram asilo a Suécia, desertando de seus navios. mico, o progresso é igualmente sensível. Antes,
Spinola é inteligente, embora politicamente seja quando a OUA formalizou o pedido do boicote
Mais significante ainda foi a atitude assumida o déficit era permanente, e as populações do
um indivíduo sem escrúpulos. Além de saber! já se sabia que a decisão dos países árabes seria
por um numeroso grupo de oficiais e sargentos
que a "pacificação" não passa de um mito, te- favorável, o entrosamento estava garantido atra- interior careciam dos bens mais indispensáveis.
em serviço nas colônias, que divulgou um abai-
me a internacionalização das guerras coloniais, vés de países representados tanto na OUA come' Agora, o PAIGC abriu dezenas de armazéns
xo-assinado, condenando o chamado Congresso populares. Nessas lojas do povo, os camponeses
portuguesas. Realmente, é possível, eu diria até na reunião de Argel, com a peculiaridade de
dos Combatentes - iniciativa promovida por trocam os produtos das suas lavouras por rou-
provável, que a Organização da Unidade Afri- alguns serem produtores de petróleo, como a
ultras - e negando-lhe qualquer representati- pas e artigos de primeira necessidade. Mesmo
cana aprove brevemente uma Resolução exor- Argélia, a Líbia e o Egito. A África Negra conta
vidade, pois é "ao povo português, em clima de vivendo sob bombardeiros da Força Aérea por-
tando os Estados membros a participar tamljém com um importante produtor: a Nigé-
absoluta liberdade, que cabe o direito de dis- tuguesa, a República da Guiné-Bissau esta'ex-
direramente das lutas de libertação contra o ria. Por todos motivos existe certeza de que o
cutir e decidir sobre os problemas levantados à portando arroz. Tudo mudou. •
colonialismo português. Se isso ocorrer, tropas petróleo será uma arma cada vez mais utilizada
Nação pela questão ultramarina".

...prá quem acorda cedo. pega condução.


EQUIPE
dá duro, tem uma hora de almoço, sai as seis e
prove ser inteligente.

E também prá quem não faz nada disso e prove a mesma coisa.

inscrições abertas
CESCEM CESCEA MAPOFEI O GRUPO
EDUCACIONAL
EQUIPE Rua Caio Prado, 2 3 2 lei. 2 5 7 - 2 7 5 4 / 2 5 6 - 0 4 2 5
E X - J A N E I R O - 1974
de sua "arte" e "solou" no apito o coro do

II samba, samba-enredo que os Acadêmicos do Salgueiro


cantava. Tanto bastou para que, a partir daque-
le instante e até o fim do desfile a escola fosse
toda num refrão só: "Tengo-tengo/Santo Antô-
nio, Chalé/Minha gente/ É muito samba no pé". Folheto de
uma obra
Outra escola, do Grupo II, como era ano do
Sesquicentenário, veio naquela de exaltar a In-
dependência. Seu carro alegórico, dos mais

de arte...
simples, trazia um cavalo em pasta e um efígie,
recortada em madeira compensada, de Pedro I.

mezzo
Naturalmente deixaram um bebum qualquer en-
carregar-se de armar o carro. Resultado: o
monstro percorreu todo o desfile de uma ma-

alice,
neira muito singular, D. Pedro proclamou a in-
dependência montado de costas . . . E o gozado
é que a escola ainda tirou cinco ou seis em ale- A discografia de Clementina de Jesus está repre-
goria.)

mezzo
sentada pelos seguintes Lps Odeon: "Rosa de
Veio 73 e, aí, apenas Vai-Vai e o Camisa Ouro n9 1", "Clementina de Jesus" (ambos
Verde, todos sabiam, tinham condição de dispu- também editados na Europa); "Rosat de Ouro
tar o título com a Mocidade Alegre. Juarez da n° 2"; "Mudando de conversa"; "Gente da An-

mozzarella.
Cruz, o Cacique, o Carioca, o Macumbeiro, pre-tiga"; "Fala, Mangueira"; e um compacto-sim-
sidente da Mocidade, resolveu ganhar de novo. ples. Ainda nesta casa, interveio recentemente
Com a quadra cheia o ano todo, botou um car- numa faixa ("Escravos de Jó") do Lp de Milton
naval na rua como São Paulo nunca havia visto, Nascimento. Fora daqui: um Lp para o Museu
com oitenta alegorias de mão. O Camisa Verde de Imagem e do Som ("Clementina, cadê vo-
Texto de Jangada e Branco fez força, mas teve que se contentar cê") e a intervenção numa faixa do Lp "A en-
com o segundo lugar. O Vai-Vaii roído por luarada Elizeth".
questões internas, foi parar em terceiro, assim Este seu novo trabalho é feito após cinco meses
mesmo, dizem que por milagre: este, de São de ter sido acometida de uma trombose, que a
Jorge, padroeiro da agremiação, meio chegada princípio deixou todos apreensivos quanto a
Samba existe sim. Pena que o santo tenha feito vais de 69 e 70. no Corintians . . .
o milagre pela metade: nem os paulistas acredi- seu futuro artístico. Mas Clementina é, como
Com dinheiro na mão, muita gente se candi-
tam nele, exceção feita aos que desfilam pelas Foi bom a incorporação dos cordões às esco- ela mesma diz, "madeira de dar em doido".
datou a dirigente de escola de samba — e elas
30 escolas filiadas às União das Escolas de Sam- las? Foi excelente, pode-se afirmar. O que Quase recuperada, entrou nos estúdios durante
brotaram como capim por todos os cantos de
ba Paulistanas e Associação das Escolas de Sam- aconteceu em 72 e 73 chegou a surpreender até quatro sessões, sendo que nas três primeiras pra-
São Paulo. Teve escola que foi flor e ninguém
ba do Estado de São Paulo. Aliás, o samba pau- mesmo os sambistas — mais de 100 000 pessoas, ticamente havia concluído este Lp. Destaque-se
viu a semente. Depois de recebido o generoso
listano já se sente tão forte que suas escolas c não há qualquer exagero no número, saíram à uma longa-faixa, onde se consagra em 5 cantos
dinheiro de Faria Lima, ninguém viu desfilar a
estão divididas. Mas, como eu dizia, São Paulo rua para ver os desfiles. Pena que a imprensa religiosos, acompanhada incrivelmente por Naná
flor. Mas isso também é passado, faz parte do
fez o milagre pela metade: pelo menos para a paulistana, toda em Guarujá ou São Sebastião, um de seus admiradores mais ferrenhos.
folclore, que São Paulo já tem bem rico.
quase totalidade da imprensa paulistana o sam- ou batendo palmas para as escolas cariocas - é
(Em fins da década de 60, determinada esco-
ba da cidade não existe-. Gozado mesmo é quan- bem passar o carnaval no Rio . . . - não saiba Clementina é uma reserva dinâmica de um tipo
la resolveu homenagear Santos Dumont. Seus
do o cara, do alto de sua condição de jornalista, dessas coisas. Tanto assim que ela já forneceu de música que praticamente se extinguiu no
dirigentes quebraram a cabeça e chegaram à
chega e parte para o juízo final: não existe car- uma para o folclore do carnaval paulistano. Brasil, e por um fatalismo especial, foi a ela
conclusão de que a alegoria só poderia ser um
naval em São Paulo. Aí, o sambista, na bronca, avião. Capricharam tanto que se esqueceram de Em 1972, na quinta-feira da semana que an- reservada a honra de preservar e legar para a
faz só uma perguntinha: amigo, você já passou um dado fundamental. Domingo de carnaval, tecede o carnaval, o dramaturgo Plínio Marcos posteridade esse trabalho.
um carnaval em São Paulo? O cara dá um sor- hora de tirar o avião para a rua, descobriram resolveu botar na rua a Banda Bandalha. Poucos Uma vez disse Villa-Lobos: "Eu sou o folclore".
riso superior e deixa cair: eu? vê lá se sou bobo. que ele não passava em nenhuma das portas da acreditaram no sucesso do negócio, ainda mais ; Clementina poderia dizer o mesmo.
Quer dizer, em termos de comunicação escrita, garagem onde fora construído. A escola teve que o desfile estava marcado para as 18 horas É mais ainda: uma pessoa incrivelmente musical
São Paulo precisa fazer alguma coisa para que que homenagear o Pai da Aviação sem mostrar de um dia de trabalho. Mas, às 20 horas — atra- que não ficou presa a um passado cheio de re-
seu milagre seja conhecido. o avião ...) so é de boa lei em tudo o que se refere a povo cordações saudosistas. Ela vibra com Paulinho
Aliás, milagre antigo: já em 1 934 desfilava a Já em 1971 os cordões que ainda existiam - na rua —, mais de 5 000 pessoas se preparavam da Viola, Milton Nascimento, Sérgio Ricardo,
primeira escola em São Paulo, a gloriosa Lava- Mocidade Camisa Verde e Branco, - É branco para sair com a banda. Poucos jornais presentes, Maurício Tapajós, Caetano Veloso (um especial
pés, hoje relegada ao Grupo II, mas ainda redu- mesmo — Vai-Vai e Fio de Ouro - queriam uma ou duas rádios e outras tantas televisões carinho para com seu "filhinho baiano"). Por
to de ótimos sambistas. Só que o samba paulis- transformar-se em escolas de samba, mas as para documentar o acontecimento. Dizem — al- isso tudo, este é um trabalho também dedicado
tano sempre foi uma marginalizado - aliás, o existentes, sentindo a barra pesada que era en- guns dizem também que o jornalista inventou a Caetano Veloso, e por tudo que representa
samba é o grande marginal do Brasil, na tele- frentá-los, deram um breque. A prova de que os esta história . . . - que na redação de deter- para a música popular brasileira.
visão, no rádio, nos discos. Mas, a bem da ver- cordões eram mais populares é que eles, embora minado jornal muito sofisticado, um redator-de É um disco de sons brasileiros, que provavel-
dade, o samba teve que capinar sentado e comer desfilassem no mesmo dia e local das escolas, -plantão recebeu o telefonema de alguém que mente alguns críticos mais apressados vão logo
capim pela raiz para conseguir se impor no eram os encarregados de fechar a festa — o que reclamava de um grupo que passava pela Ave- rotular como um trabalho de pesquisa. Não: é
asfalto paulistano. também acontecia nos anos anteriores. Só que nida São João e impedia o trânsito. Quis saber o um trabalho de constatação da vida maravilhosa
1971 é um ano histórico no carnaval paulistano tamanho do grupo e quando ouviu que era for- dessa mulher negra que passou a infância debru-
Toda vida ele teve um grande inimigo: os 2

- foi o último em que o povo viu passar seus mado por mais de mil pessoas, não vacilou. Che çada nas cantigas de sua mãe, nas modas tiradas
cordões carnavalescos, de maior tradição, maior
cordões. Outro fato marca 1971: uma escola de mou um repórter, pediu fotógrafo, e mandou por seu pai violeiro, nos cantos de senzala que
número de componentes — e apreciadores - e
samba - Mocidade Alegre —, que tinha três brasa: corram para a Avenida São João que os povoaram seus antepassados. Esjas cantigas es-
superior poder econô.nico. Os cordões foram a
n
anos de fundada e nos dois anteriores fora cam- estudantes armaram uma passeata.) tão temperadas pelo tempo: são jongos, chulas,
grande coqueluche de '.o Paulo cidade durante
peã nos Grupos III e II surpreendia a todos e É isso aí. São Paulo tem samba, sim senhor. modas, corimas, lundus, incelenças, batucadas
anos e anos - mas o samba trabalhava em silên-
ganhava o Grupo I, impedindo que a veterana Agora^ele precisa ser descoberto pelos próprios - todo um acervo precioso que, ao longo de sua
cio, aos poucos envolvia os componentes dos
Nenê da Vila Matilde conquistasse o tetracam- paulistanos. E aqueles que estão naquela de São breve carreira artística, oferece àqueles que
cordões com - -u ritmo quente, muito mais"
peonato. Tome podem fazer o óbvio: nesse carnaval bai- acreditam na riqueza de nossa música, nessa en-
sedutor do que a marcha batida que caracteri-
xar - bem cedo - na Avenida São João e tratar grenagem rítmica misteriosa, nessa coisa meio
zava os donos da enchente. Para o carnaval de 72, o samba de São Paulo
de aplaudir as escolas. Para o ano, se o cara sensual que ela expõe com verdadeira geniali-
Até que num determinado instante - o vivia um momento de expectativa. As escolas
gostar de transar um pouco de alegria, pedir dade em "Taratà" — um de seus momentos
jornalista ainda não apurou devidamente quan- diziam que os cordões, ainda mal entrosados
vaga numa escola e, aí, receber aplausos. mais felizes, verdadeira aula que há de comover
do - a coisa começou a mudar. Todos prefe- dentro do ritmo do samba, não fariam frente a
Ah, o que vai dar este ano"? Tudo indica aqueles que seguem os passos dessa mulher ver-
riam o samba. Alguns cordões começaram a de- elas — e consideravam o título conquistado pela
saparecer, outros, para sobreviver, tiveram que novata Mocidade Alegre como um simples aci- que, de novo, a Mocidade Alegre - até porque; dadeiramente extraordinária e única. O amor
este jornalista é bastante chegado à escola e dos jovens por Quelé tem um significado muito
modificar seu conteúdo: em vez de marchas já dente ou descuido da parte delas. Os cordões
confia no taco de sua moçada. Mas se o Camisa especial: ela é a mãe preta que nem todos tive-
cantavam samba, meio quadrado, mas samba. pretendiam se impor pelo maior número de
Verde e Branco emplacar o título é um bom ram, misto de lenda e realidade, raiz de mistério
No mais eram iguais às escolas — e a forma componentes, maior riqueza de suas fantasias e
negócio para o carnaval paulistano. Tanta Moci- que nos cabe o privilégio desvendar.
conta pouco em termos de arte popular. alegorias. Todos os prognósticos entraram pelo
Tinha um porém. Samba e cordões eram dis- cano. Havia apenas uma meia-verdade na dade está ficando chato - pelo menos para as
criminados, diversão de negros analfabetos, opinião de dirigentes das escolas e ex-cordões. outras escolas.
marginais, etc. - e ponhamos etcs nisso. Acon- Aí, já não para surpresa geral, mas diante de HERMINIO BELLO DE ÇARVALHQ
teceu de estalo, para surpresa dos sambistas. Por uma grita total - houve até invasão da sede da
puro acaso. Um carioca, Faria Lima, foi eleito Federação, móveis quebrados, etc - a Mocidade

Recado
prefeito de São Paulo. Ele se tocou de que havia deu uma de repeteco, ganhou do VaiVai por um
samba nas ruas nos dias de carnaval, quis saber ponto, estranhamente o Camisa Verde e Branco
como era a coisa, chamou os dirigentes e deixou ficou a perder de vista no terceiro lugar. Nenê

de Maria
todo mundo de queixo caído: vocês se organi- da Vila Matilde teve que se contentar com um
zam, fazem uma associação e eu lhes dou uma humilde quarto lugar, a Unidos do Peruche, vi-
subvenção. ce-campeã nos três anos anteriores, foi parar em

Brandão
Os sambistas endoidaram de vez. Fizeram a sexto.
tal associação e arrumaram uma diretoria cheia Tudo por uma razão bem simples. Os diri- (PS - O leitor deve perguntar: será que 73
de badulaques, formada por radialistas, jor- gentes não haviam sentido que o tempo da taça não deu um fato folclórico? Deu sim. Determi-
nalistas, cantadores, advogados, o diabo a qua- de mão em mão com seus minguados cruzei- nada escola, que exaltava a primavera, tinha
tro - sambista que é bom, nenhum. Aí a tal rinhos já era. O negócio era trabalhar o ano come base de suas alegorias, muitasflores.Dia Ex-lider popular no porto e nas ruas de Salva-
Federação das Escolas de Samba e Cordões Car- inteiro, não sefiarapenas na subvenção. A com- do desfile, dinheiro curto, um dirigente não dor, Maria Brandão dos Reis, 82 anos, de Rio
navalescos do Estado de São Paulo começou a plicar a situação das que sempre foram escolas, tinha as flores, que deveriam ser artificiais. das Contas, interior da Bahia, é ex-amiga pessoal
levar a vaca para o brejo. Não levou o samba, seus componentes queriam ser vestidos dos pés Usou a cabeça: foi num jardim público e danou do escritor Jorge Amado, do falecido poeta
mas dividiu as escolas, ano passado, nas duas à cabeça — o que não acontecia nos ex-cordões, a colhê-las. Veio a polícia e o encanou. A escola Pablo Neruda, do antigo governador Otávio
atuais entidades associativas. onde cada um já estava acostumado a morrer foi toda para a delegacia e entrou naquela de só Mangabeira, do falecido revolucionário João Al-
Mas voltemos a 1968. Era o primeiro carna- com algum. E o carnaval de 72 também nos descemos quando nosso diretor for solto. O berto, do éx-deputado federal Milton Caires de
val em que as entidades recebiam ajuda. O tem- oferece dois fatos para o folclore. delegado, que não tinha nada com a história, só Brito, bem como de Juarez Távora e Luis Carlos
po da taça passada de mão em mão para ajuda (Certa escola do Grupo III tinha determi- soltou o homem depois que a agremiação tinha Prestes — que conheceu quando a Coluna Pres-
(da agremiação e de alguns dirigentes mais sabi- nado diretor de bateria que nada sabia de suas que desfilar. tes passou por Rio das Contas. O recado de
dos, sempre de olho nas notas graúdas) entrava funções. Ou melhor: pensava que a bateria era O regulamento dos desfiles diz que a Escola Maria Brandão dos Reis, endereçado aos jovens:
para a história. Nesse tempo o jornalista ainda ele. Tanto assim que, diante do encarregado de que não chegar na hora é desclassificada. Não "Quem tiver cabelo grande por motivo de pro-
estava no Rio, como também não viu os carna- seu julgamento, resolveu dar uma demonstração deu outra coisa ...) A testo, deve cortar o cabelo até 19 de abril". •
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A
- l/ÕAQS ? \JOUS QU£M
I \ O quê? P&CXMRA ?
MM/MA í coMjeeSAA.

Editores: Sérgio de Souza, Hamilton de Almei-

jeang stoxe da Filho, Narciso Kalili, Marcos Faerman, Myl-


ton Severiano da Silva, Dacio Nitrini, Palmério
Doria de Vasconcelos, Carlos Alberto Caetano,
Armindo Machado, Ricardo Alves de Oliveira,
Hamilton de Souza, Sumiko Arimori, Sérgio
L e v i s Fujiwara, Befta, João Garcia, Ana Maria Capo-
vila, Fernando Morais, Roberto Freire. Compo-
sição: Compenser - Impressão: Edital.
Loja 1 EX - é uma publicação da EX — Editora Limi-
Rua Iguatemi, 455 (com estacionamento). tada, Rua Santo Antônio, 1043 - São Paulo.
Loja 2 Distribuição própria (garantida). Nenhum direi-
to reservado.
Rick Store - Av. Faria Lima.
Apostamos que dentro
de alguns meses o
seu Herói predileto
será um dos
super-professores das
Faculdades Objetivo.

Já estão abertas as inscrições para o História, Geografia e Conhecimentos Ge-


vestibular dos cursos de Psicologia Clí- rais de Ciências e Matemática.
nica e Experimental, Comunicação, Letras Guias de estudo com programa e ro-
e Pedagogia. teiro das matérias estão à disposição dos
Para os cursos de Comunicação, Letras candidatos.
e Pedagogia, as provas serão de Portu- Venha conhecer seus novos super-he-
guês, Inglês ou Francês, História e Geo- róis e suas incríveis máquinas de ensinar.
grafia.
Há 2 0 0 vagas para cada curso, nos
Para os cursos de Psicologia as provas períodos da tarde e da noite.
serão de Português, Inglês ou Francês,
FACULDADES
OBJETIVO
Aprovadas pelo C F . E (parecer n.° 63/72)
e autorizadas pelo decreto n.° 70.324.
Informações e inscrições
das 9 às 21 horas, na
av. Paulista. 900, 3.° andar.
ISWATCHINC YOU 1
Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
JORNAL DE
TEXTO,
HISTÓRIA EM
QUADRINHO,
FOTOS E DISCOS
VOADORES
ANO I • N9 4-FEVEREIRO 74

Cr$4,00

DISCO VOADOR
LEVOU NÓS DOIS A BORDO
Os dois estavam pescando. Ouviram um Zzzzzzzz atrás deles . . . Página 14

INFERNO 821
como eu,
use Um dos 11 sobreviventes da tragédia de Orly,
Claunor Bello, conta toda a fantástica aventura
do vôo 821 — o maior desastre da história de

somente nossa aviação comercial. Página 3

pilhas
Telegrama da Morte
para
ROBERTO CARLOS Página 13

THE PELE STORY Página 27

ABAIXO REICH!
Entrevista com David Cooper, o pai da antipsiquiatria,
que ataca Wilhelm Reich e fala de seu novo livro,
" A Gramática de Viver". Página 22
DON M A R T I N
Carcará
éojcgodorome-cd
Você pega as suas pa
ecomeoinimigO'
senão o inimigo te ca
É a lei da selva:
Matou, tem que caí
Quem tiver peito,
a
ue coma a I pedr
Carcará.
Da Estrela.

istrela apresenta Carcará. o 1090 do pega mata e come.


ex4 EXCLUSIVO
bcê denende de " É como um vídeo-tape rapidíssimo de toda a vida da gente . . . " essa é a
lembrança que Claunor Bello guarda daqueles momentos em que o Boeing, cheio de
atéf fumaça mortal, se precipitava a 700 km/h sobre uma plantação de cebolas perto de
Orly, França.
ume Claunor Bello era um dos dois engenheiros de vôo (o outro teve a cabeça
arrebentada no primeiro impacto do avião contra o solo) do PP-VJZ e seria um dos
11 sobreviventes desse que foi o mais trágico desastre registrado por nossa aviação
comercial.
Calmo, como é de seu feitio, Claunor contou,em detalhes a pior aventura de
sua vida, desde a véspera, quando teve uma espécie de pressentimento e quando
recebeu vários convites de companheiros de trabalho para não seguir no PP-VJZ
("troca esse vôo comigo, preciso quebrar um galho em Paris."), até a sua chegada ao
Brasil, dias depois.
Nada se sabe, nem ele ouviu falar ainda, sobre as causas da fumaça que em
segundos transformou o Boeing numa câmara de gás. Muitas das coisas que Claunor
diz aqui, foram contadas por ele resumidamente à imprensa, em Congonhas, assim
que desembarcou vindo de Paris. Não há nenhuma revelação sensacional nas duas
horas e meia da entrevista concedida por Claunor Bello ao E x - , mas há o relato
humano de todo o drama de um vôo Rio-Paris que pelo menos 11 homens jamais
vão esquecer.

CAMPANHA

BANDEIRA

Um cara que todo mundo


xinga a mãe.
Que trabalha 12 horas por
dia. t .: i
Que é assaltado e assassinado
a 3 por 2.
Que envenena o pulmão e a
cuca diariamente, esse cara
merece uma estátua.
A tragédia de ORLY
VAMOS CONTRUIR UMA
ESTATUA PARA O
M O T O R I S T A DE T A X I
DE SÃO P A U L O .
Personagens desta história: (sobreviventes) Gilberto, comandante; Fuzimoto,
1? oficial; Alvio, 2? oficial; Claunor, engenheiro de vôo; Zilmar, navegador;
Adesões:
Galletti, chefe da equipe de comissários; Carmelino, Coelho, Alain e Andréa, comis-
Rua Santo Antônio, 1043 '<} o
• ' n o h e l , 2 oficial; Diefenthaeler, engenheiro de vôo; Heleno,
ApcDstamos que dentro
de alguns meses o
seu Herói predileto
será um dos
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nica e Experimental, Comunicação, Letras Guias de estudo com programa e ro-
le Pedagogia. teiro das matérias estão à disposição dos
Para os cursos de Comunicação, Letras candidatos.
e Pedagogia, as provas serão de Portu- Venha conhecer seus novos super-he-
guês, Inglês ou Francês, História e Geo- róis e suas incríveis máquinas de ensinar.
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Há 2 0 0 vagas para cada curso, nos
Para os cursos de Psicologia as provas períodos da tarde e da noite.
serão de Português, Inglês ou Francês,
FACULDADES
OBJETIVO
Aprovadas pelo C F . E (parecer n.° 63/72)
e autorizadas pelo decreto n.° 70.324.
Informações e inscrições
das 9 às 21 horas, na
av. Paulista. 900, 3.° andar.
E N T R E V I S T A C O M C L A U N O R B E L L O , T R I P U L A N T E DO BOEING B R A S I L E I R O EM Q U E M O R R E R A M 123 PESSOAS 8 MESES A T R Á S .

Vamos começar pela véspera. Parece o dia tem um reserva no aeroporto; como afastado dos vôos por uns sete meses, por- tevidéu e Santiago do Chile - chegou
que você sentia já na véspera do vôo algu- eles estavam vendo que eu não chegava, que tinha sofrido um acidente numa mo- uma hora e meia atrasado, entendeu?
ma coisa de "diferente" com você. Como deixaram já de sobreaviso o reserva. tocicleta, onde quase morreu! Depois vol- Então atrasou, saímos à uma hora da ma-
foi? - Quem era? tou a voar, e essa era a. primeira vez de- nhã, mais ou menos.
Ê. Quando cheguei em casa na hora do - Inclusive, o cara quando cheguei, pois do acidente que encontrei com ele e • — Os passageiros não falaram nada?
almoço, a Flora, minha mulher, me trou- ele . . . puxa, estava certo que ia fazer o voamos juntos. Ele tinha sido inclusive — Não. Inclusive eu ví quando entrou
xe o papel da Varig. Como eu estaria de vôo. Era João Alfredo, aqui de São Paulo meu instrutor quando entrei no Boeing. aquele iatista, o Bruder, não queriam dei-
plantão na terça-feira, dia seguinte, eles também. Além disso, no hotel, já tinha Tinha ficado baseado dois anos em Los xar ele levar o equipamento em cima da
estavam me solicitando para um vôo, o outro me esperando, querendo trocar o Angeles fez curso de piloto lá, um cara cabine; e outra, porque ele tinha uns
vôo 821. Paris. Mas não era o meu vôo; eu vôo, um cara muito amigo meu, também inteligente pacas! Porque a profissão de flores. Sabe o que é fiarei São uns fogue-
tinha um vôo oficial na sexta-feira para de São Paulo, o Martelli. Ele disse: "Pô, engenheiro de vôo está meio a perigo, pa- tes de sinalização. Por exemplo, ele tá em
Madri. E esse era um vôo assim . . . ruim, tava te esperando, pensei que você não rece que agora vão exigir que o cara tenha alto mar e surge uma emergência qual-
porque demorava muito tempo fora. Mas fosse chegar mais, porque eu queria ver se" carteira de piloto, para os equipamentos quer . . . é como se fosse um SOS, pra
me solicitaram na terça. Aí, como eu te- trocava o vôo com você . . . " superiores, entende? como vinha DC-10, iluminar o céu. Isso aí é perigoso no vôo,
nho um folheto que diz todos os vôos, fui Eu falei: "Qual é o seu vôo? " Ele falou: ia começar a vir Jumbo e não sei o quê, se dá uma diferença de pressão, pode
ver o 821, Paris, quando ele voltava. Vol- "Madri". Eu falei: "Troco. Não tem pro- todos os caras estão se virando. Então, acontecer qualquer coisa. Já houve um iri
tava na sexta-feira. blema nenhum, mas depende de quando nós estávamos nesse papo, e eu falei: "Pe- cêndio a bordo por causa disso, então é
- Da mesma semana? volta". Ele falou: lo amor de Deus, se eu morrer amanhã, proibido. Ele foi falar com o comandante,
- Da mesma semana. Quer dizer que eu " A h , volta no sábado". Eu falei: " A h , que confusa que eu deixo!" Bom, aí, jan- depois falou comigo e eu: "Mas isso é prá
fiquei contente. A Flora também, que nós então não vou trocar, porque vou voltar tamos, nos trocamos, pusemos o unifor- própria segurança sua, e de todos os pas-
podíamos passar o fim de semana em al- na sexta. E eu na sexta quero estar aqui me e fomos. sageiros, não pode levar a bordo isso de
gum lugar, passear com as crianças. "Puxa porque está chegando um despacho de - Quantos tripulantes são? jeito nenhum". Então ele teve que deixar
que bom que veio esse vôo", tal. Aí eu discos meus, a importação lá da firma, - Cada vôo? Catorze, quinze, . . . então, esse equipamento em terra. Aí, depois
devia telefonar para a escala, confirmando por isso eu não vou trocar". Ele falou: às vezes saem três vôos, seguidos e uns disso, nós fomos pra cabeceira da pista,
que tinha recebido o aviso. Telefonei para "Pô, troca, eu tenho uns negócios pra fa- ônibus bem grandes pegam a gente no ho- fizemos o cheque antes da decolagem
a escala, do Rio, falei "Olha, recebi o avi- zer lá, ver uns amigos . . . " Conversa dele, tel e deixam a gente no aeroporto. Então, tudo normal, decolamos e fomos . . .
so, positivo, pode confirmar meu vôo né? como ele era mais antigo, tinha prioridade — Você em conversa, outro dia, me disse
para Paris". E o rapaz da escala me disse - Casado também? de escolher qual o período que ia fazer. que tinha acontecido alguma coisa com
Olha, se você não quiser fazer, tem uns - Também. Porque durante o vôo, um trabalha da de- um comissário de bordo na perua que" leva
- Tem filhos? colagem até a metade; e o outro vai dor- os tripulantes do saguão do aeroporto até
dois aqui peruando o seu vôo, se você não
- Tem uma filhinha. Ele mora até perto mir, descansando. Depois o outro acorda, o avião . . .
juiser" . . . Eu falei "Não, eu vou porque
de casa. Aliás, antes disso, antes de sair, pega na metade, e faz até o pouso. — Ah, foi a conversa entre o Mascarenhas
vai e volta", e eles até deram risada: " É ,
eu já sabia que você ia confirmar, porque nós fomos jantar juntos lá perto do ho- - Isso, o Diefenthaeler? e o Galleti. O Mascarenhas é comissário e
í um vôo bom, vai e volta". Então insisti- tel . . . - É. E eu, que estava querendo fazer o o Galetti o chefe da equipe de comissá-
ram: "Você vai mesmo?". Eu falei - Que hotel? segundo trecho porque não descansei no rios. Aí, depois que se cumprimentaram,
Vou, pode falar pros outros aí que eu - O Plaza, em Copacabana. hotel, perguntei a ele: "Como é, como é o Mascarenhas dizendo: " ô Galetti, como
confirmo o vôo." - Você e o Martelli? que vamos fazer a separação? Ele falou: vai? há quanto tempo a gente não voa
- Eu, o Martelli e o outro que estava no "Eu vou dormir no primeiro trecho . . . " juntos, e tal . . . " e aquele papo normal
Quantas vezes você foi a Paris antes? mas percebeu que eu fiquei meio assim, e de tripulante, sabe? Aí o Galetti pergun-
vôo comigo. Porque são dois engenheiros
- Ah, eu ia sempre antes, uma ou duas falou: "Por que? você . . . " Eu falei: tou: "Você tá meio chateado? " Aí o
de vôo. Esse tinha vindo de Porto Alegre,
vezes por mês. Às vezes ficava uma tem- "Não, porque eu cheguei de São Paulo ago- Mascarenhas falou: "Pô, eu não tô com
veio cedo, né? Dormiu a tarde toda, le-
porada sem ir, não tem dia certo, o que ra pouco e não deu tempo de descansar, vontade de fazer esse vôo, tô com um
vantou descansadinho e foi jantar conos-
tem de certo é fazer, alternadamente, um se não tivesse importância gostaria de dor- peso, sei lá. Fala que eu te xinguei, assim
co. E o Martelli ainda tentando querer me
vôo para a América, um para a Europa. mir no primeiro trecho." Ele falou: " A h , você me põe fora desse vôo, porque eu
demover desse vôo, pra trocar, e ao mes-
América, podia ser Los Angeles, Miami, OK, eu dormi à tarde, tô descansado, não tô afim de fazer esse vôo." E o Ga-
mo tempo fazendo com que o outro ou-
Nova York, e Europa é Paris, Roma, Lis- você vai dormindo." Isso já foi o primeiro letti: "Que nada, se morrer, vamos morrer
visse, pra ver se o outro dava alguma
boa, Madri. indício de que, se eu estivesse no lugar abraçados, dando risada." E esse Mascare-
deixa, mas o outro também não estava a
- Um por semana? fim de trocar. dele durante o vôo pode ser que tivesse nhas morreu.
- Sempre, mais ou menos, dá um vôo por acontecido o contrário. Aí, fui para o
semana. - Como é que se chamava o outro? — O Galetti não?
avião, cada um vai checar os equipamen-
- Então, naquela segunda feira . . . - Diefenthaeler. — Não, o Galetti se salvou.
tos, eu ou ele, o que vai dormir checa lá
- O que voou? — Bom, então vocês sairam para o
- A í então, eu confirmei o vôo e na terça- fora, e o outro checa a cabine interna
- O que voou junto comigo e que mor- 1
vôo . . .
feira, eu não sei se era algum presságio, onde vai trabalhar, sair trabalhando . . .
reu. Aí, o Martelli falou: " E você, Die- — Decolagem normal, a gente espera a de-
alguma coisa, porque normalmente o dia fenthaeler? Você não quer trocar? " Ele colagem, aí vem o jantar, mas eu já tinha
- O engenheiro de vôo é que checa o
de vôo para mim é uma correria tremen- falou: "Quê! Eu já tenho o fim de semana avião por fora? jantado antes, então fui dormir . . . '
da, tem que fazer um monte de coisas, programado lá em Porto Alegre com a fa- — Dorme-se em beliche?
- Por fora e por dentro. Vem uma ficha
negócios de minha firma (importadora) mília", e começamos a bater papo e pas- ' da manutenção, a gente vêos''reportes"an- — Em beliche, mas só os tripulantes técni-
tal, tenho que deixar tudo certinho, ve- sou um amigo meu e disse: " E i , e aquele ; teriores, o que eles fizeram. Então estava cos. São quatro beliches, que é pro co-
nho correndo, almoço, ainda saio de negócio? e não sei quê," eu levantei para ; tudo em ordem, não tinha problema ne- mandante, o primeiro-oficial, o engenhei-
novo, volto, e depois é que eu vou embo- ir conversar com ele, aí voltei. Logo de- nhum, aí o Martelli veio, porque o Mar¬ ro de vôo e o navegador.
ra, vou sempre na ponte aérea das quatro, pois veio outro cara e me chamou tam- , telli estava também lá fora, o avião dele — E o resto?
pro Rio. Mas nesse dia falei para a Flora: bém, e sempre negócio, aí o Diefenthaeler i perto do meu. — São os comissários, mas eles dormem
"Ah, eu não vou fazer mais nada hoje, chegou para mim e falou: "Puxa, você tá | — Ele ia pra onde? nas cadeiras lá atrás. Aí eu dormi, quando
vou deitar um pouco". Fiquei com ela sempre enrolado, correndo, . . . " Eu fa- ; — Pra Madri. Ele falou: "Cume, vamos chegou na metade do vôo o Diefenthaeler
descansando até as três horas, levantei, lei: "É, já me acostumei, minha vida é ' trocar ou não vamos? " Riu, depois per- veio me acordar e . . ,
arrumei a mala, devagar, como dizendo, assim mesmo". Ele falou: " E u sou o con- | guntou: " E então, conseguiu conversar o — A metade do vôo é onde, mais ou
"eu tô com uma moleza . . . " trário, tenho a vida completamente sosse- cara pra ir dormir? " Eu falei: " É , daqui a menos?
- O avião saia a que horas? gada, tudo em ordem, se eu morresse pouco já tô dormindo". Nós íamos deco- — Bom, eu só sei em horas. Esse vôo era
- Bom, o avião saia às onze da noite do amanhã deixaria minha família numa si- lar acho que às onze, não lembro bem, aí de onze horas, ele me chamou depois de
Rio, mas a gente tem que ir sempre bem tuação que não teria trabalho nenhum. tivemos um aviso que ia atrasar, tanto é cinco horas e meia de vôo. Porque Paris
antes porque a companhia exige que a Tanto é que agora comprei um terreno que a imprensa bateu muito nisso: que o leva quase onze horas.
gente vá pro hotel e descanse antes do aqui em Teresópolis. Acho que vou cons- avião estava em pane. — Direto?
vôo. Sei que acabei indo na ponte das cin- truir uma casa aqui . . . " - Ele vinha voando já? — Direto. O vôo seria' direto, mas aí é que
co horas. Então, cheguei seis e pouco no - Ele tinha filhos também? - Não, ele estava lá. O que atrasou a saí- tem o pormenor: o Diefenthaeler me
Rio,, fui pro hotel, o pessoal já tinha se - Tinha 4 filhos, já tinha até um filho da foi o vôo de conexão, que vinha tra- acordou, eu me lavei, sentei no painel, ele
comunicado com o reserva, porque todo moço, de 16 ou 17 anos. Ele tinha sido zendo passageiros de Buenos Aires, Mon- levantou e tal, e quando um passa o servi-
O 12 aviso do que ia acontecer
ço pro outro, passa as condições, como é dá evacuação da fumaça pra trás, prá não
que está, se tem alguma coisa; a máquina vir mais fumaça pra frente. Então, des-
em sí não tinha problema nenhum, o que pressurizei o avião . . . abri as válvulas
estava havendo de problema é que nós traseiras . . .
tínhamos que pousar em Lisboa, porque — Mas o Galetti chegou a ver fogo?
o combustível não ia dar prá chegar até — Não, nenhum deles chegou a ver fogo.
Paris. Porque o vento estava muito de — Mas descarregou o extintor?
frente, então a velocidade cai, e gasta-se — A l i onde havia o foco de fumaça, -
mais combustível prá chegar no destino. descarregou o extintor e não adiantou
Então, quando o vento é muito forte, nada, porque ali não tinha fogo, só fuma-
sobe o consumo de combustível e às vezes ça saia de lá. Então, não adiantou nada. E
não dá pra chegar, então tem que ser feito o Mascarenhas não voltou mais . . . foi
um pouso intermediário. E foi essa outra um dos que morreram, deve ter sido into-
das razões que levou a imprensa também xicado lá na hora, e ficou. Mas o Galetti
a atacar muito a Companhia. Dizendo que veio pra cabine, junto com o Carmelino, e
o avião estava em pane, que estavam prá depois o Carmelino, outro comissário, nos
resolver se era pra pousar ou não. Conver- contou o que ele fez lá atrás. Ele já tinha
sa mole! Até àquela altura, o avião não experiência de outro acidente, não nas
tinha nada, nada, nada. Aí, o Diefen- mesmas condições, mas foi um incêndio
thaeler me explicou: "Olha, já avisei o co- depois do avião ter batido, naquele aci
mandante Gilberto que nós vamos pousar dente na Monróvia, e aquela fumaça que
em Lisboa". Porque quem faz o cálculo desprendia do incêndio, ele soube que na
do combustível somos nós, praticamente hora alguns se salvaram com pano molha-
de dez em dez mil libras, nós fazemos um do, porque filtrava a fumaça e dava pra
cálculo, prá ver como é que vai indo o respirar. Foi o que ele fez. Ele distribuiu
consumo, e avisamos o comandante. En- um pano molhado pros outros comissá-
tão temos um mapa, onde a gente vai bo- rios, e ele próprio ficou com um; foi como
tando as posições com o devido consumo, ele conseguiu se salvar. E o outro tam-
pra ver quanto está gastando e quanto de- bém, o francês, o Alain.
veria gastar. Por ali a gente sabe se vai
— Isso dentro da sua cabine?
chegar no destino ou não.
— O Carmelino entrou dentro da cabine e
- Pode acabar num lugar onde não haja
sitivo". Avisou Lisboa de novo, e fomos quantos anos estavam voltando a Paris, os outros dois, dois ou três, ficaram lá
campo?
indo, tudo normal. A í , quando chegou iam. rever parentes e tal, e a garotada toda fora.
Não, isso não existe. Dentro da nossa perto da área de Paris, o Diefenthaeler veio na cabine, conhecer . . . Veio a Regi- — E ele deu toalha pra todo mundo?
rota, sempre tem as alternativas e isso é acordou, veio na cabine, bom dia prá na Lecléry. Isso bem antes de começar a — Pros comissários. E-diz ele: "Vê se vo-
previsto bem antes. Mas eu, depois, fiquei todo mundo, tomou cafezinho. E pergun- descer, claro. Então, estávamos a doze mil cês pegam uma toalhinha molhada, por-
com aquilo na cabeça. Pensei: "Será que o tou: "Estamos chegando em Lisboa? " E pés, quando tivemos o primeiro aviso. O que a fumaça já está horrores." e toda vez
vento é tão forte assim? " Perguntei pro eu: "Não, é Paris." E ele: " O que hou- chefe da equipe de comissários que era o que eles abriam um pouco a porta, entra-
navegador e o navegador disse: — "Olha, o ve? " Eu falei: "Acho que você se enga- Galetti, entrou na cabine, junto com o vam aquelas golfadas de fumaça preta
vento não está tão forte". Perguntei: nou, eu já falei com o comandante que Carmelino, que era o primeiro comissário dentro da cabine. A í , ficamos lá, cinco
Quanto é que nós estamos perdendo de deve ter havido algum engano na sua so- e se dirigiu a mim e ao comandante dizen- dentro da cabine, o comandante Gilberto,
tempo? " Ele respondeu: "Olha, tempo ma." Ele foi falar com o comandante e o do que havia fumaça no lavatório traseiro, que estava na direita, o comandante Fuzi-
mesmo nós não estamos perdendo, nós comandante comentou que aquilo não era que era um rolo de fumaça bem grossa, moto, que estava pilotando o avião, na
até estamos ganhando uns dois ou três mi- nada, "qualquer um pode errar; ainda bem preta, uma quantidade enorme já esquerda; tinha o segundo oficial, o Alvio,
nutos de vôo". Minha conclusão era sim- bem que você falou, porque tem alguns saindo. Então eufizmenção de me levan- no posto; tinha eu, o engenheiro de vôo;
ples: "Então se estamos ganhando em que quando erram ficam com medo, e tar do painel onde eu estava sentado, to- tinha o outro engenheiro de vôo, que era
tempo, não estamos perdendo em com- isso é até perigoso, o cara ficar com medo mando conta, trabalhando . . . Mas aí eu o Diefenthaeler, que estava de pé, atrás da
bustível." Ele disse: "Bom, eu também fi- de dizer que errou." Aí, nósficamoslá, pensei melhor e falei: " E u não vou largar minha cadeira; tinha o navegador, o Zil-
quei meio assim, quando o Diefenthaeler na área de controle de Paris, e o coman- meu posto para ir lá atrás, se tem outro mar, que estava no posto dele.
me falou . . . " Eu falei: "Bom, vou fazer dante pediu as instruções para indicar a engenheiro de vôo que está aqui e não — Seis . . .
os cálculos outra vez". Primeiro, somei o descida e viemos descendo, até 12 mil pés está fazendo nada," que era o Diefenthae- — Seis. Aí, entraram mais três: dois co-
que tínhamos nos tanques todos, em li- (mais ou menos 3.600 metros). ler. Aí, falei: "Diefenthaeler, vai lá trás e missários, que eram o Galetti, chefe de
bras. Somei e não conferia com os cálcu- - D e quanto pra 12? dá uma olhadinha lá." E ele: "Positivo!" equipe, e o Carmelino, primeiro-comissá-
los do Diefenthaeler: havia bem mais - De 36 mil para 12 mil pés. E eu estava Pegou a máscara de oxigênio — que nós rio; e a comissária Andréa . . . Foram os
combustível do que ele tinha calculado. no meu trabalho de despressurizar o temos para esses casos, — o extintor, e últimos momentos, que eles entraram,
São quantos tanques? avião, coisa normal que a gente faz antes foi. Mas não demorou quase nada, voltou que não agüentavam mais. O Carmelino
Cinco tanques. Aliás, são sete, tem dois do pouso. Nessa altura, tivemos o primei- dizendo que não dava nem pra ir lá atrás, ficou meio desmaiado, ficou sentado no
auxiliares e cinco principais. Bom, aí eu ro aviso do que viria a acontecer. que a fumaça já estava no meio da cabine, chão, já que não agüentava mais, e a í a
refiz todos os cálculos, e estava errado muito forte," não se enxerga mais nada, cabine começou a ser invadida pela fuma-
- Com os passageiros, durante o vôo, não
mesmo, acho que . . . quando fica assim deve ter incêndio a bordo!" ça, e nós com máscaras os comandantes
houve nada de anormal?
já no final do período, começa a dar um com óculos também. Porque a máscara,
- Não, durante o vôo sempre vinham visi- - A cabine dos passageiros?
pouco de sono, e ele deve ter errado na ela pega aqui, a parte só do nariz, e aquela
tas à cabine, né? Veio o Agostinho dos - É, a cabine dos passageiros, e a fumaça
soma. Então, ia ser uma outra decisão — fumaça, ela ataca também os olhos.
Santos, aquele papo e tal, muitos já se já estava chegando, inclusive, na primeira
não íamos mais pousar. O comandante já — Alguém, antes, chegou dizendo que já
conheciam. E u também já conhecia do classe. Você vê como é que foi rápido o
tinha falado com Lisboa que nós íamos estava morrendo gente?
tempo do Cuba, quando ele começou a troço?
pousar . . . Então eu fiz os cálculos todos — O Galetti, na segunda vez. Tanto que
cantar. - O tempo dele sair e voltar . . .
outra vez, ví que estavam mesmo errados ele entrou desesperado, gritando: "Co-
- Cuba era um cabaré ? - Sair e voltar. Entrou na nossa cabine de
e falei: " ô comandante, acho que nós não mandante, joga o avião em qualquer lu-
- É. Lembra? Na Conselheiro Nébias. repente, antes de entrar tirou a máscara e
vamos precisar pousar em Lisboa mais." gar, porque lá atrás já todo mundo mor-
- Quem mais então veio à cabine? deixou lá atrás — foi com essa máscara,
Ele disse: "Ué, mas por quê? " E u falei: rendo! Ninguém mais agüenta! A fumaça
- Veio um casal que estava em lua-de- portátil, que um dos comissários se salvou
O que houve é o seguinte: o Diefen- já tá chegando aqui na frente! Vai morrer
mel, mocinhos, ele 23 anos, ela 22 anos. - e logo depois entraram mais dois comis-
thaeler acho que se enganou no cál- todo mundo! Tá morrendo todo mundo!
Eles iam passar a lua-de-mel lá em Paris e sários, a comissária dizendo que não se
culo . . . " Ele perguntou: "Você já fez os Quer dizer, ele não via ninguém morrer,
iam estudar, porque os dois tinham conse- agüentava mais lá atrás. E quando o Ga-
cálculos todos?" Eu falei: "Já fiz três mas via desmaiar na passagem, porque na
guido bolsas de estudo. letti, na primeira vez, veio avisar e voltou
vezes os cálculos". primeira aspiração daquela fumaça, os
Conversando pelo fone? - Brasileiros? pra trás, com um extintor que eles tinham
- Brasileiros. Então, o comandante pediu pegado na parte traseira, ele e o outro caras já desmaiavam, era muito tóxica
NSo, ali junto do comandante. Ele dis- aquela fumaça. E ele ficou na cabine.
se: "Bom, entfo posso falar pra Lisboa ao comissário para trazer uma garrafa de comissário, o Mascarenhas, eles tentaram
champanhe para brindar, mas só os noi- apagar, mas nSo conseguiram. EntSo -Todos os passageiros com cinto, já?
que nós vamos direto? " E u falei: " A h ,
pode!" E ele: "Olha lá, hem? " Eu falei: vos, aquele negocio todo! quando j i voltaram a segunda vez, apavo- — A h , já, isso há muito tempo, já tinha
"Tch! Que que é isso? Tá confirmado!" - Na cabine? rados, eu tentei, tentei nlo, eu fiz o que sido feito o "speech", aquele negócio:
Ele levantou, deu uma olhada nos meus - Dentro da cabine. Depois veio um casal deveria ser feito no meu painel, que era " . . . daqui a momentos vamos chegar no
cálculos, viu os tanques, e concluiu: "Po- que vivia no Brasil, uns franceses, com despressurizar o avifio para podermos aeroporto de Paris, a temperatura é tal, o
cinco ou seis filhos, que depois de nlo sei abrir uma janela traseira, com isso a gente tempo se apresenta bom, por favor aper-
Um quente nas costas - sangue
tem os cintos, apaguem os cigarros", en- desmaiado por causa da fumaça. O avião
tende? Tanto é que os passageiros já esta- continua correndo, e eu segurando ali*, b*
vam enxergando a cidade, os arrabal- tendo, batendo, até que parou. Quando a
des . . . Bom, e a cabine a essa altura co- avião parou . . . eu não acreditava que
meçou a ser invadida pela fumaça, já com não tivesse acontecido nada, que não ti-
os novos tripulantes que tinham entrado nha explodido, porque a minha preocupa"
alí, estava se tomando insuportável, aí en- ção era a explosão. O mais rápido que a
tão, de uma hora pra outra ficou comple- gente se livrasse, que se saísse da cabfc.
tamente preto, ninguém enxergava mais ne . . . Nisso eu vejo o comandante CH-
nada dentro da cabine, nem o que estava berto sair pela direita, pela janela dele, e
no meu lado eu enxergava. Havia cinco aí tentei jogar o Diefenthaeler que estava
máscaras de oxigênio, e os que não ti- nas minhas costas, pra janela, mas ele era
nham estavam quase morrendo. Nessa al- muito gordo, forte, e eu não conseguia.
tura, quando ficou preta a situação, me Fui me virar pra pegar ele mais firme, pra
arrancaram a máscara, puxaram assim por ver se conseguia jogá-lo, e quando me vol-
trás, e me tiraram a máscara. tei é que vi a cabeça naquele estado. En-
- Gritos, pânico? tão presumi que ele estivesse morto. Pre<
- Não, não houve gritos, na cabine, mas sumi e então deixei-o e saí pela janela
se ouviam gemidos, — acho que eram da também: era uma altura mais ou menos
comissária, entende? Naquela hora de quatro metros, quatro metros e meio.
eu . . . não dava pra ver quem era, quem Me joguei de cabeça, caí lá e saí correndo.
não era. Tanto é que quando me tiraram a Sempre com a preocupação: vai explodirí
máscara, eu aspirei aquela fumaça, tonteei Quando eu estava correndo, ouço uma ex-
um pouco, e logo em seguida os dois co- plosão. Eu estava certo no meu pensa-
mandantes tiveram acho que, sei lá, o mento: isso aí vai explodir de qualquei
mesmo pensamento: abriram as duas jane- jeito, se tem fogo e ainda com essas bati-
las laterais deles, pra poder divisar alguma das todas, tem que explodir isso. Olhei
coisa lá fora. Porque já não se estava en- pra trás e a asa direita explodiu. Do lado
xergando mais nada, e o avião vinha numa de onde eu tinha saído. Mas eu já estava
picada, numa descida de emergência. Andréa ZUmar Mascarenhas longe. Eu vi assim pegar fogo na asa direi-
- Que velocidade, mais ou menos? ta, e lá atrás as labaredas já estavam altas.
- Ah, vinha a uns 400 nós. Isso eqüivale a E aí, os outros sairam pela esquerda, to-
tem que ser puxada. E ela usa, não só o por causa da velocidade, então eu pus a
uns 700km por hora. Então, como vínha- dos os tripulantes.
oxigênio, mas também o ar da cabine mis- mão na frente do nariz pra aparar o ven-
mos nessa descida, nessa velocidade, sem turado. Então, nesse caso não iria ajudar to, e o vento entrava pelos dedos, e eu - Antes da explosão?
enxergar nada, pô, ia chegar uma altura em nada, porque a fumaça ia junto com respirava normalmente. Aí, foi que eu vi - Antes da explosão.
que ia bater no solo, sei lá. Então eles oxigênio. Isso a imprensa explorou tam- o avião fazendo a curva pra esquerda, eles - O comandante foi o primeiro a sair, e
abriram as janelas laterais pra ver onde é bém: "Como, não tem máscara de oxigê- desviaram da cidadezinha, da colina, você o segundo?
que estávamos, puseram a cabeça meio nio para os passageiros? Por que não foi quando terminaram de fazer a curva as- - Do lado direito foi, E depois, do lado
pra fora, assim, e nessa altura viram que acionada? " Mas não adiantava usar, nós sim, o comandante deve ter divisado direito saíram mais dois, me parece que o
estávamos chegando em cima de uma ei- que estamos por dentro, e sabemos o que aquele campo, uma plantação de cebola, e Galetti e o Carmelino. Do lado esquerdo
dadezinha. é a máscara, sabemos que não ia adiantar deve ter pensado: bom, a chance é aqui saíram mais cinco, que foram o segundo-
- E ninguém falava nada? nada. Eles iam aspirar a mesma coisa, a mesmo. E , questão de segundos, ele já es- oficial Alvio, o Zilmar, a Andréa e o co-
- Não, não se falava nada, só o coman- fumaça. E teria o perigo de eles usarem, e tava a uma altura bem próxima do solo e mandante Fuzimoto.
dante já tinha falado com a torre e tal, desprender oxigênio, e se tivesse uma cha- pousou, fez um pouso forçado. Com o - Quatro?
mas perdera a comunicação, que não dava ma alí, explodiria o avião, entende? En- trem embaixo e tudo. Porque na descida - Quatro.
pra ele falar mais nada. tão, nunca se usa esse tipo de máscara pra de emergência que não é pista, a gente - Um morreu lá dentro?
- Mas dentro da cabine não se disse nada, esse tipo de emergência. E pros tripulan- tem que estar com o trem em cima. - É, o Diefenthaeler, ele ficou lá dentro.
nem um palavrão? tes existem cinco máscaras, pra quem está - Recolhido? Aí, eu continuei correndo, caí numa vale-
- Nada, nada, nada. trabalhando, é claro, e oxigênio puro. - Recolhido. Mas nesse caso, o trem esta- ta que dividia o terreno, acho que era de
- Você imaginou quem teria tirado a sua - No fundo do avião, não? E para os va embaixo, e ficou. Mas aí, eu estava irrigação, pulei e continuei correndo, ali
máscara? comissários? agarrando na cadeira com um braço, as- eu fui encontrando os outros tripulantes,
- Não tive essa preocupação, eu com- - Não, o que tem, são algumas máscaras sim . . . não sabia o que estava acontecen- que vinham correndo. Aí, o comandante
prendi a situação dos caras, entende? Se portáteis, com o tamborzinho de oxigê- do, mas senti o primeiro impacto, não Gilberto: "Vamos lá abrir as portas!** E
estava me sufocando, imagine eles, que es- nio. percebia o que tinha acontecido, que ele não sei o quê . . . querendo ver se ajuda-
tavam há muito mais tempo do que eu, - Sentiu que alguém arrancava a sua más- estava pousando. Pensei que estivesse ba- va, porque estavam todos os passageiros lá
sem máscara. Eu nem me preocupei em cara? tendo em casas, sei lá onde. No primeiro dentro, né? Já tinham aberto a porta: um
saber como foi. - A h , claro, eu senti o puxão! Aí, eu impacto, ele bateu numa árvore, pegou comissário saiu pelo lado direito, na cozi-
- Só de você tiraram a máscara? tonteei e nem pensei em pegar a máscara pelo lado do Fuzimoto, e o tronco de nha dianteira, alí tem uma porta de emer-
- Do navegador também. outra vez. árvore entrou dentro da cabine e estraça- gência. Tinham aberto ali, mas ninguém
- Ele morreu? - Silencio total? lhou todo o braço dele, mas ele ainda fi- mais saiu. Quer dizer, eles já estavam pra-
- Não, esse não. - Total. Na expectativa. Já estava no fi- cou firme no volante, segurando, e o ticamente, todos . . . mortos, e se não
- E as máscaras não apareceram na cara nalzinho, eu já sabia que estava quase che- avião foi se arrastando. Depois é que nós estavam mortos estavam desmaiados e
de ninguém? gando no solo, entende? O comandante viemos a saber que se arrastou durante não tinham como sair de lá de dentro.
-Não. Fuzimoto deve ter divisado essa cidadezi- 800 metros, se arrastando e batendo em Depois nós viemos a saber que o passagei-
- Elas são embutidas no painel, ou portá- nha, tanto é que eu notei que ele puxava elevações. Era praticamente plano, mas ro, esse rapaz que se salvou, o Trajano, ele
teis? um pouco o avião, desviava da cidade, le- sempre tem as elevações, umas arvorezi- se salvou porque quase conseguiu se jogar
- Embutidas, descem por um cano de vantava, porque ele não podia continuar, nhas, e foi arrancando tudo. Nesse primei- dessa porta. O comissário Coelho quando
borracha flexível. que ia bater. Fizeram uma curva pra es- ro impacto, o engenheiro de vôo que esta- se jogou, abriu a porta . . . e viu um vulto
querda, passaram a cidadezinha assim, va atrás de mim, o Diefenthaeler, caiu nas querendo vir atrás, era o rapaz, mas acho
- E o oxigênio seria suficiente pra
quando eles estavam passando a cidade, minhas costas. Senti aquele quente nas que o rapaz desmaiou ali na porta e ficou,
todos?
passaram do lado de uma colina, um mor- minhas costas, sabia que era ele, porque mas com a cara pra fora, e conseguiu to-
- Não, porque . . . máscara teria pra
ro. ele estava ali desde que começou tudo, e mar um pouco de ar, e assim se salvou.
todos, mas não teria oxigênio pra todas as
eu vi assim, de óculos, sabia que era ele. Mas as queimaduras dele foram da explo-
máscaras, porque teríamos que ter um - Você não via nada?
Eu pensei que ele tivesse desmaiado, são da asa direita, que jogou todo aquele
avião carregado só de oxigênio. - Eu não estava vendo, isso me foi conta-
entende? Por causa da fumaça, que ele querosene; além da intoxicação, né? Ele
- Digo, para os tripulantes. do depois. Só sentia a curva, porque eu
estava sem máscara . . . Mas não foi. Foi teve todas as mucosas queimadas. Nessa
- Não, porque só cabem cinco trabalhan- estava sem máscara e comecei a ficar ton-
que no primeiro impacto, uma lâmina do correria, começaram a chegar alguns cu-
do na cabine. Pros cinco tem, entende? to, quase desmaiando, já não agüentava
teto se desprendeu, e é cortante aquilo, e riosos, alí das redondezas, trabalhadores,
Existem máscaras inclusive para os passa- mais, tossia feito um desesperado, já esta-
ele foi pra cima com o impacto e bateu na os agricultores, os franceses. E eu e o co-
geiros. Os passageiros têm um comparti- va sufocando. Então, desatei o cinto, le-
lâmina com a cabeça, e abriu toda a testa. mandante Gilberto voltamos para perto
mento onde há máscaras embutidas. Mas vantei um pouco, assim, segurei na cadei-
E ele caiu, e jorrava sangue da cabeça de- do avião: "Vamos ver se abre . . . dá uma
é pouco oxigênio e não há oxigênio puro, ra do comandante Gilberto, na direita, e
le, mas eu não sabia que era sangue, só escada . . . " Mas ninguém entendia o que
como é o nosso. Esse tipo de máscara, pra pus a cara assim na janela, que vinha aber-
sentia quente. Eu achava que ele tinha a gente queria fazer, porque a gente via
ser ligada com a fonte de oxigênio, ela ta, pra tomar um pouco de ar. Era difícil,
a mente, na queda, um adeus
que os caras estavam todos lá dentro. Aí, e logo que eu cheguei... "Você viu?
veio um francês, e o comandante Gilberto você que não acredita em Deus? olha aí,
eu e esse francês fomos até a asa esquer- isso é mais uma prova, que te salvou pra
da, do outro lado. Então, eu fiz escadinha te provar que existe!" E u falei: "Isso é
pro francês, com as mãos, ele subiu, — questão minha, não é por isso que eu vou
porque em cima da asa tem uma saída de acreditar em Deus. Que existe ou não
emergência — e batia pra ver se abria. Eu existe. Eu não vou acreditar no Deus que
disse "Assim não abre", fiz gestos mos- vocês querem. 0 Deus que vocês acham
trando que há ali uma alavanca que tem que eu tenho que acreditar é de medo,
que ser puxada e virada, pra ser aberta. então eu vou acreditar de medo! Ele me
Ele entendeu, torceu e abriu. Abriu e saiu deu uma chance, agora eu tenho que acre-
aquela fumaça e ele quase desmaiou. Esta- ditar, senão na próxima eu não vou me
va todo cheio de fumaça o avião, aí o salvar? " E falei: "Não vou acreditar nun-
francês desceu e saiu correndo também, ca. Posso acreditar, sei lá, numa outra for-
deixando a porta aberta, mas não saiu ça qualquer, que vocês chamam de Deus,
ninguém. talvez . . . Mas não acho que foi ele que
me salvou."
— Não se ouvia nenhum barulho?
— E o hospital?
- Nada, nada, nada. Alí já estava todo
— Fomos de ambulância, eu já estava sen-
mundo morto. Então, se viu que não tinha
tindo dores horríveis no braço. Eles fize-
mais nada que fazer, podia abrir a porta
ram uma tipóia com uma gravata, e fui
que não ia sair ninguém. Tanto é que a do
eu, o Zilmar e o Alvio. Chegamos lá, eles
lado direito também estava aberta, não
começaram a tirar radiografia de tudo
saiu . . . ninguém. Aí, se reuniram lá os
quanto foi jeito. Ficamos todos num
tripulantes, que estavam machucados, e
quarto. Éramos os dez. Aí, veio oxigênio,
foram sendo levados pro hospital, por
glicose, e os que estavam mais machuca-
particulares, depois foi chegando ambu-
dos, alguns foram sendo operados, que
lância. Foram levando . . . Fiquei eu e o
era o caso do comandante Fuzimoto, que
Ah/io, o segundo-oficial; e o Zilmar, nave-
tinha sofrido diversas fraturas, no pé, no
gador, e ficamos lá. Que eram os três que
braço, fraturas expostas. O comandante
estavam praticamente mais inteiros, sem
Gilberto também tinha sofrido, perto do
ter nada acontecido, aparentemente não
mento que vem na hora, durante aquele ouvido, porque quando ele pôs a cabeça
tínhamos nada. Aí, foram chegando os — Foi quase uma guilhotinada?
período que está na iminência de aconte- pra fora, e o avião bateu, ele bateu com a
bombeiros, chegou a polícia toda, um — Essa parte toda da testa pra cima, abriu
cer o acidente; eu achava que não tinha cabeça na janela. Ele estava sentindo do-
monte de ambulância, médico. E eu esta- assim, ficou tudo exposto. Por isso eu
chance de sobreviver. Então pensei rapi- res horríveis. O Galetti também estava
va com uma preocupação. Uma preocupa- quis contar primeiro a primeira etapa, que
damente, é incrível, parece um video-tape com a testa toda aberta . . . tinha alguns
ção, inclusive um problema de consciên- era pra eu trabalhar e não trabalhei: talvez
da vida toda que passa assim rápido: os que estavam bem machucados, mas grave
cia, porque eu não tinha certeza que o eu estivesse na situação do Diefen-
principais acontecimentos com a família, mesmo só tinha o Fuzimoto e o coman-
Diefenthaeler tinha morrido. E u presumi thaeler, entende? Mas eu era mais baixo,
então vêm os pensamentos . . . pensa-, dante Gilberto.
que ele tivesse morrido. Eu não sei se por talvez a lâmina não me pegasse, são cir-
minha conveniência, "morreu mesmo, eu cunstâncias, né? que a gente não mentos que a esposa, a família, como se a — E o navegador em quem vocês fizeram
vou me pirar", entende? Então, depois, sabe . . . gente estivesse se despedindo, entende? E massagem, sobreviveu?
quando comecei a esfriar, pensei: "Será — O outro comissário que morreu . . . pensei: p . . . . que o p como é que — Não, morreu depois de uma semana;
que eu deixei o cara e o cara não estava Balbino? Como foi? eu fui me meter nessa? Os termos do ficou em estado de coma desde quando
morto? " Então eu estava querendo subir — É, o Balbino. O Carmelino deu uma meu pensamento foram esses mesmos. A foi levado pro hospital. V i também quan-
lá, mas o primeiro cara que tiraram foi toalhinha molhada pra ele, e ele e o Alain gente sempre acha que pode acontecer, do tiraram o rapaz, o Trajano, e levaram
ele. Os bombeiros chegaram, o avião ain- ficaram sentados na entrada principal do mas nunca com a gente, então pensei de helicóptero.
da pegando fogo, eles subiram lá na fren- avião, aquela da primeira classe, que tem outra vez na família: "Pô, não vou mais — E a turma que escapou? O comandante
te, e o primeiro que tiraram foi ele, de- as duas portas, uma lá atrás e outra lá na ver, e tal . . . " F o i assim rapidamente o Gilberto, por exemplo, o que ele comen-
pois o navegador, este estava fora da cabi- frente. Mas o Balbino começou a se deses- pensamento, entende? tou depois com você?
ne. Também trouxeram, numa maca, mais perar, acho, pensando que ia morrer, e — Foi até o começo da carreira? — Sabe o que acontece? Tem algumas
um comissário e vieram pra uma ambulân- começou a chorar, e para chorar, teve que — Não, não chegou . . . passavam assim coisas que precisam ser esclarecidas,
cia onde nós estávamos tomando um pou- tirar o pano. Chorando, soluçando, não algumas coisas, mas tudo ligado à família principalmente do comandante Gilberto.
co de oxigênio. Então puseram o navega- ficou com o pano, e nessa tirada de pano e principalmente à minha situação . . . Não que ele tenha feito coisa errada, nada
dor coberto com uma manta, como se es- ele aspirou a fumaça e desmaiou ali, e em que a situação eu ia deixá-los, enten- de errado. Mas ele, na vontade de querer
tivesse morto, mas nós levantamos a man- morreu ali. de? Situação difícil! Dívidas! Uma p . . . salvar, na vontade de querer fazer, ele
ta pra ver quem era, e vemos que ele me- confusal Isso me veio à mente. Eu já achou que fez. E não fez. Por exemplo:
xeu os olhos. Era o Heleno. Então, cha- — O Carmelino contou isso?
— 0 Alain contou, porque estava sentado achava que ia bater e morrer. Porque pre- ele acha que foi ele que desviou da cida-
mamos o médico: "Olha, acho que ele tejou a cabine toda, não havia mais visão dezinha, acha que ele que pousou . . .
ainda está vivo!" Chamamos e apareceu do lado do Balbino. O Alain ficou firme
lá com o pano, no meio da fumaça, ficou de nada, o avião vinha numa velocida- — Até agora?
um médico, e uma enfermeira, uma por- de então, se ninguém estava enxer-
com a mão na alavanca da porta esperan- — Até agora . . . Mas não foi, pô! Foi o
tuguesa. Ela falou pra gente fazer uma gando mais nada, não havia chance de fa-
do alguma coisa, ele não sabia também o Fuzimoto. Na entrevista que eu dei logo
massagem no coração e a respiração artifi-
cial nele. Então, o Zilmar, o outro nave- que estava acontecendo, mas ficou firme. zer nada! Eu achava que ia bater em al- que cheguei ao Brasil, os jornalistas me
— Fora da cabine de comando? gum lugar e explodir o troço todo. perguntaram: "quer dizer que o coman-
gador, começou a fazer a massagem, e o
Heleno começou a querer voltar, aí o Zil- — É, logo após a cabine de comando. Ba- — Ninguém se abraçou? dante Gilberto fez o pouso? " Eu falei:
teu, parou o avião, ele abriu a porta e — Nada. "Não, foi o comandante Fuzimoto, que
mar cansou, e o Alvio passou a fazer a
vum! se jogou. — Você lembrou de alguma coisa que estava na esquerda." "Então ele não esta-
massagem, aié que o Alvio também can-
— Balbino morreu por questão de se- você gostaria de ter corrigido na vida? va no lugar dele? " Eu disse: "Não, isso é
sou e me disse: "Faz agora você." Quando
gundos? — Profissionalmente? normal, os dois comandantes estão aptos
fui fazer a massagem, não consegui: foi aí
— Questão de pouca coisa . . . de deses- — Não, pessoalmente. a pilotar o avião." Então o normal é o
a primeira vez que eu vi que estava ma-
pero também, né? — Essa situação da família, que eu não seguinte: um é mais antigo, é o coman
chucado. No braço esquerdo; quando eu
— E o Alain estava de costas para os pas- queria deixar assim, entende? dante. E o outro é o primeiro-oficial. En-
segurava no espaldar da cadeira, na desci-
sageiros? — Pensou em Deus? tão, um na ida pilota, e o outro na volta
da, e o avião começou a bater, foi aí que
— De frente. — Não, não pensei. pilota.
me machuquei. Mas então vieram os mé-
dicos, aplicaram oxigênio puro no navega- — Então ele assistiu? — Não fez nenhum apelo, nada? — Parece que como você, o Gilberto foi
dor. Nisso chegou um helicóptero, e leva- — Não, porque estava tudo escuro. Mas — Não, porque eu tenho épocas de acredi- solicitado, isto é, não era um vôo pro-
ram o Heleno correndo pro hospital. En- ele foi lá atrás. Ele foi o primeiro a ir com tar e épocas de não acreditar. E eu estava gramado em sua escala normal . . .
quanto isso, trouxeram a maca do Diefen- o Mascarenhas tentar apagar com o extin- numa época de não acreditar em nada. — É. O comandante Gilberto foi solici
thaeler, então eu abri e vi que estava tor. Mas viu que não dava mais e foi para Então . . . nem pensei. Tanto é que quan- tado, como também a Hanelore, que era
morto mesmo. Devia ter morrido com a a frente. do eu voltei, a Flora quis me levar num instrutora e foi solicitada pela compa-
pancada. Não tinha deixado ele lá com — E o outro ficou . . . padre. Lá no Jabaquara, ele tem um orfa- nhia para acompanhar um menor que ia
vida, aí eu me tranqüilizei mais. Tranqüi- — 0 outro deu uma de . . . entende? nato pra garotos, um cara que parece que viajar sozinho.
lizei é modo de dizer . . . Achava que ainda tinha chance . . . o não é muito católico, entende? Então, — Voltando à questão do pouso: por que
que, eu gostaria de registrar é o pensa- toda a minha família tem a preocupação, o Gilberto se mancou?
Cheiro de enxofre, de inferno
- Não é bem isso. Imagino que se ele es- sim. Eles fizeram diversos testes e ne-
tivesse na esquerda, que é a poltrona de nhum revestimento do avião dava aquele
comando, ele faria o mesmo que fez o Fu- tipo de fumaça, entende?
zimoto. Mas o Gilberto não tinha condi- — E afinal descobriram qual era o tipo?
ções de fazer o pouso — estava sem ócu- Que fumaça era?
los e sem a máscara de oxigênio, que ti- — Eles falaram que era . . . bom, quem
nha quebrado, e então não podia estar falou isso foi um bombeiro lá em Paris:
vendo nada. ácido cianídrico . . .
- O Fuzimoto estava de óculos? — E depois, durante as investigações?
- De máscara e de óculos. E o Gilberto — Não, não deixaram transparecer nada
estava sem máscara e sem óculos. Quando Isto foi um bombeiro contando pra nós lá
eles abriram as janelas, clareou lá dentro, em Paris, e dizendo que o primeiro deles
e eu via o Fuzimoto firmão lá, fazendo que entrou dentro do avião, sem máscara
manobra, com a cabeça pra fora, máscara nenhuma, quase morreu também. Ficou
e firmão lá. Cara que fez tudo certinho. intoxicado, teve que ser levado às pressas
Sabe, o comandante Gilberto bom cara, pro hospital.
bom sujeito, eu vôo com ele desde o — Não teve uma história de um terrorista
Constellation, profissional cem por cento, argentino? Um casal que quando chegas-
cara bom — mas não foi ele que fez, na se lá ia ser preso etc?
minha opinião ele não fez nada disso do — Depois é que começamos a ouvir essas
que ele acha que fez. Porque ele estava histórias, entende? Os jornais começaram
com tamanha vontade de querer fazer, a contar. Isso saiu aqui, eu tenho os recor-
que pôs na cabeça que fez. tes, e um amigo meu que esteve na Argen-
- E o Fuzimoto, como é'ele?, tina, e no Uruguai, disse que leu lá tam^
- Eu me dava muito bem, com ele, ele bém que esse terrorista estaria a bordo,
também era do tempo da Real, coman- teria roubado um passaporte na Argentina
dante. Sempre que voávamos juntos, eu e viajado no nome do dono desse passa-
saía com ele, porque era um cara que gos- porte. Então, a história dizia que a polícia
tava de jogar. E m Lisboa a gente ia ao sabia que ele ia chegar, e que ele levava
Cassino juntos. uma bomba de fumaça, pra dar uma con
fusão na hora do pouso e ele escapar. Mas
- O Alvio?
de uma cultura! Bor n cara, conversava ser lá mesmo, numa sala de reuniões." Aí, aí os caras do partido lá do terrorista que-
- O Alvio eu não conhecia muito bem.
bem. ficamos dois em cada quarto desse hotel, riam matá-lo. Então em vez de dar uma
Não é que não me dava muito bem; é que
eu fiquei com o Galetti; a Andréa ficou bomba de fumaça teriam dado uma bom
ele morava em Porto Alegre e eu voava só — Mascarenhas . . .
sozinha. E depois, .no dia seguinte, come- ba positiva, incendiaria, que era pra aca-
de vez em quando com ele. Já era muito — Dos comissários, o de maior vivacida-
çou o depoimento. bar com o cara. Sei lá . . . os caras iam
antigo, já estava quase pra ser aposentado, de. Super culto, falav a pacas, vivo demais,
fazer isso? Pra apagar um, matar mais
bem mais idade uo que eu, não casávamos até me espantei dele não ter se safado. Eu — Para quem?
cento e cinqüenta? Acho que devia haver
muito . . . fui confidente dele d' iversas vezes, quando — Era uma comissão formada pela polícia
outros meios, menos burros, pra acabar
- E o Ultermohel? a gente se encontrav; i em Roma. Ele che- civil; uma comissão da Boeing; uma co-
com o cara. Agora . . .foram feitos tes-
- Ultermohel eu também não conhecia gou a me contar algi ms problemas, a mu- missão da F A A , que homologa os aviões,
tes com o revestimento todo do avião,
muito, acho que era a segunda vez que lher tinha ciúmes h orrores dele . . . Ele dos E U A ; e a comissão da F A B . Eram
e nenhum material desprendeu esse tipo
voava com ele. Não era vôo dele também, gostava de mulher, i motocicleta, automó- quarenta membros, nessa sala de reuniões.
de fumaça. Uns jornais levantaram a pos-
ele trocou pra ir junto com a noiva. Esta- vel de corrida, vibrav a com corrida, enten- Fizeram uma réplica do avião, igualzinho
sibilidade de a fumaça ter vindo do in
va noivo da comissária Elvira. Aliás, a El- de? O Alain, pratic; amente era um desco- o nosso Boeing e cada um ia lá explicar
cêndio da carga dos porões do avião . . .
vira era alemã, trabalhava em Zurique na nhecido pra mim. J; í conhecia mas nunca sua parte. Tudo normal, só que levou
Varig, era recepcionista, então arrumou tinha voado com ele . muitos dias. — Mas, como é que dava para saber, se
pra fazer o curso de comissária. Iam casar — Agora a fumaça, o cheiro, esse cheiro — Houve alguma alusão a terroristas? na parte traseira queimou tudo?
em agosto. Então arrumaram pra voar lembrava alguma coisa, era cheiro de — Ninguém achava nada, entende? Nem — Mas há os conhecimentos, né?
juntos normalmente. que? se tocava em terrorismo. — E os tais flaers, os foguetinhos do Bru
- Morreram juntos os dois? — Meio de enxofre :, cheiro horrível. Era — Mas nasceu uma história, não? der?
Não, não se sabe. Ele foi encontrado preto e impregnava. , inclusive no corpo, os — História de terrorismo? Com os jor- — Não, não foram.
inteiro, não foi queimado, no meio da ca- cabelos ficaram to dos pretos e eles nais, porque descobriram que havia um — Fizeram testes com eles, depois? Pra
bine, parece. não lavaram ningu ém. Todo mundo foi terrorista a bordo . . . ver se a fumaça podia ser deles?
- A cabine dos passageiros? assim pra cams i, fomos medicados — Isso foi comentado lá na França, ou — Mas osflaersnão foram embarcados.
- É, na de passageiros. Acho que ele ten- assim . . . Nessa n< site, levaram o coman- aqui, depois? — E ele não poderia ter levado escondido,
9

tou voltar à de comando e não conseguiu. dante Fuzimoto pa ra a operação. Enquan- — Lá já se falava de terrorismo. Mas não ou ter sobrado um lá dentro, sem querer
Mas ela foi queimada, foi difícil inclusive to ele estava sendc > operado é que vieram identificaram o terrorista, nem nada. — Não . . .
a identificação dela. me chamar, e aí eu consegui falar com — E a imprensa daqui? — Nem tocaram nisso no inquérito?
- E o Diefenthaeler? meu pessoal, aliás com meu cunhado, que — A presidência da Varig autorizou uma — Não.
- Ele era de Porto Alegre e foi checador. estava de "plantãc i " no telefone da minha entrevista coletiva, quando eu cheguei, — Sobre a fumaça, aqui você conversou
Eu fiz alguns cheques com ele; ele era mãe, enquanto tc >do o resto do pessoal mas pra "não entrar em muitos detalhes, com alguém entendido?
bem antigo, da primeira turma do Boeing, estava na minha c asa, em volta da minha falar o menos possível . . . " Veio televi- — Falei com um médico da Varig, ele
tinha uns 42 anos já, foi aquele que eu mulher. Cheguei a chorar, no telefone. são, rádio, a imprensa toda ali, numa sala também disse que tinha ácido cianídrico
conversei, que se ele morresse amanhã, — E quando foi pra lá a comissão da do aeroporto. Eu, o comandante Veiga, na composição da fumaça. Inclusive esse
etc, família tranqüila. Do Zilmar, tenho Varig, o que é que i pediram a vocês? meu pai, os caras da Varig, ali. E dei a médico me disse que o que encontraram
pouco conhecimento. Voei poucas vezes — O chefe de op erações falou: "Por en- entrevista. Aí, foram me perguntando e no pulmão de um só dos caras que mor-
com ele, um cara quietão, não é muito de quanto não vamc »s dizer nada. Só depois eu fui falando e descobriram que não era reram no acidente . . . dava pra matar um
falar, parece ser um bom cara . . . O Ga- do inquérito é q ue a gente pode falar." o Gilberto que estava no comando, e eu batalhão, de tão tóxica que era a fumaça.
letti, chefe de equipe, de comissários me Aí, nesse dia, d ia seguinte ao desastre, tive que dar aquelas explicações todas. — E a comissão encerrou os trabalhos?
dou muito bem desde o tempo do Cons- apareceu uma cc miissão representando a — Até aí, ninguém falou na causa? — Não.
tellation. Cara que falava diversas linguas, cidadezinha. Trc mxe umas corbeilles de — Não, mas sempre perguntando a causa, — Mas não prometeram que dali a um
e sempre tive negócios com ele . . . O flores pro coma ndante, agradeceu por a né? "É verdade que tinha terrorista a mês? . . .
Carmelino tinha ficado afastado dos vôos gente ter evitad o uma catástrofe maior, bordo? " Eu falei: "Desconheço, de causa — De jeito nenhum. Bom, um acidente
uns tempos, tinha ficado com medo de que não caímos em cima da cidade. E se acho que não se pode saber nada. Só sei que houve uma semana antes, eles deram
voar. Isso aí, de vez em quando dá em dirigiu ao coma ndante Gilberto. O Fuzi- que com o avião não houve nada, o avião agora as causas e publicaram, interna-
alguns, entende? Depois passa. moto estava lá, junto com o médico dele, estava intacto, inteirinho, não teve pane mente, na companhia. Eu recebi. Espero
- Tem psiquiatra quando vocês chegam a meio grogue, n< jm estava sabendo . . . A nenhuma." que eles depois publiquem o de Orly tam
esse estado? homenagem to d a foi pro Gilberto. No dia — E a história, lá, o que se dizia na Fran- bém.
Tem. Acho que descobriram alguma seguinte, me de ram alta. E nos mandaram ça? — Mas só internamente na Varig, de novo,
causa, alguma coisa. para um hotel, dizento antes: Ninguém — Bom, a história de lá . . . começaram a não é?
- E o Balbino? sabe que vocês i são os sobreviventes, vocês ventilar que "pegar fogo assim . . . será — A h , claro. Eles não dão pra imprensa
- Quase não conhecia, foi o primeiro vôo não podem sa ir do hotel, não podem dar que foi carga que pegou fogo? " Porque porque vai prejudicar, vai levantar de
entrevistas pr: a ninguém, o inquérito vai nunca viram uma fumaça tão tóxica as- novo o caso . . . *
que fiz com ele. Bicha convicto, mas cara
AHHH... MPIOJUMBO
TEM HDNCA* DE TODO*
O* TAMANHO* HUMMAl
O CREDITO MAI* BARATO
DO BRAilL MAIf, MAtf,
Atf/M.... UM/VW.
M0IOJUMBO FICA NOJUMÇQ
AEPOPOP0O E *TD. ANDRÉ.
EBOM.EBOVI.AHHHHK..
aulas, porque a escola cobra por aula".

Hermeto em mesa-redonda
Então é isso: às vezes o menino c inteligente,
aprende depressa, e então voce fica empatando,
segurando, para a escola ganhar mais grana.
Outro dia mandei consertar um instrumento c
fui buscar. E me espantei: o moço tinha um
M U S I C A . E R A M 5 E N T E N D I D O S N A M E S A . T O D O S TEÓRICOS diploma de professor na parede e o filho dele
Q U A S E B R I L H A N T E S , M E N O S 1. S O L U Ç Â O : C O R T A R O B R I L H O veio avisar que tinha 20 alunos do lado de fora
esperando. E o moço disse que tinha me visto
E FICAR C O M A SÁBIA S I M P L I C I D A D E D E H E R M E T O P A S C O A L . na televisão mas que não tinha entendido nada
do que eu estava tocando . . .

aí, que tocam "popular", n ias se botarem na É o tal negócio. O cara ou progride para Eu aprendi a traição, discutindo . . . Eu
Eu não gosto muito de participar de debate
frente deles música clássica, eles tocam tam- ganhar dinheiro ou progride pela arte que ele aprendi assim: desde menino, eu enxergo muito
porque eu não consigo segurar, eu falo mesmo.
bém. faz. Ganhar dinheiro é fácil. Se eu quizesse, eu pouco, quase não dá pra ler. Quando eu tô len-
Por exemplo, o presidente da Ordem dos Músi-
ficaria rico em um ano. do um livro, tem gente que pensa que eu tô
cos no Brasil não é músico, pode ser uma coisa
dessas? O comandante do navio não sabe dirigir O Milton Nascimento, o Edu, O Egberto Tem um outro detalhe. Voce liga a televisão, lambendo ele. Aprender lendo no método eu
o navio . . . Gismondi, o Téo, o Valter Santos, essa turma tem um juri lá pra julgar música. Qualquer um não podia. Só se tivesse dois, um comigo
está produzindo muito men os do que pode, do chega, julga e dá a palavra definitiva. O sujeito é outro com o professor. Então eu fazia assim,
Estou curtindo o meu som no meu "jingle" que dá a sua capacidade. Síabe por que? Eles cabelereiro, o outro é não sei o que, o que eles arrumava discussão. Eu escrevia uma música o
mesmo. Eles me dão completa liberdade de cria- andam com raiva, por uma s coisas que estão se entendem? Você já viu juri para julgar Medi- sabia que estava tudo errado, e ficava com o
ção e eu faço a música como eu gosto, como eu passando aí. Eu acho a raiva deles certa, só não cina, Psicologia? Não tem, mas de música tá papel ali pronto. Quando eu via um músico, de
sei. Tem "jingle" que eu gravei, criado pelo Val- acho certo eles descontar em no trabalho. Tá cheio, todo mundo opina, julga, se acha o preferência quando ele estava com a namorada
ter Santos, que é tão bom que eu vou botar no com raiva? Ótimo, então melhora cada vez maior. e ia querer aparecer, chegava nele e dizia: "Olha
meu próximo disco. Eu faço "jingle" sim, mas mais, cria mais, afunda d entro de casa e curte esta música que eu escrevi, olha como é genial".
eu não faço qualquer coisa, eu trato a música criações novas, novos sons . . . O problema da escola de música, aqui, en- O cara se tocava e examinava o papel, c lá vi-
com muito respeito. volve outro problema: É gente pra ensinar! As nha: "Mas tá tudo errado. Voce pulou um com-
Voce sabe esse "jingle" aí do ICM? Toda Eu quero que apareça um Marcos Lázaro escolas de música que tem por aí, ao invés de passo, voce ligou todos eles, voce não conhece
vez que se previu um oboé na gravação, se espe- para dizer que acaba comigo. Se "Os Cariocas" ensinar, estão c complexando - e explorando - separação de compasso? " Eu provocava mais o
ra aquele "pó-pó-pó-pó-pó-pó" de sempre. Eu foram derrotados pelo empresário, zero para muita gente. Algumas pessoas me procuram lá homem e ele acabava dizendo como era. Eu cor-
peguei o tema e o curti do jeito que eu entendo, "Os Cariocas", palmas para o Marcos Lázaro. em casa para falar de música, perguntam muita ria então pra casa e fazia como ele tinha dito, e
aí saiu bom. Eles terem parado é uma fraqueza lá deles. Não coisa, estou pensando que elas estão interessa- meditava naquilo até compreender. No outro
podem mais aparecer na televisão? Não gravam das em estudar música e no fim da conversa^eu dia eu armava outra discussão, sobre outra
Muitas vezes o sujeito me traz um tema e mais? Bolas, façam o seu quarteto num quarto fico sabendo que são professores de música. coisa, e assim ia aprendendo. Se não fosse à
diz: "Voce já ouviu aquele maestro americano de pensão, numa garagem, no meio da rua. Mas "Eu ensino música há mais de 7 anos", diz. O traição como é que havia de ser?
assim-assado? Viu como ele faz com as cordas? parar, nunca! Cantar sempre. outro, já faz 10. Então é isso, é o mesmo cara, e
Então faz igual pra nós". Na hora eu digo que ele ensina música, ensina comunicação, ensina Não é pra já. c mais pra frente. Será uma
está bem, tudo certo, etc. e tal. Ele vai embora ;
F ora a música que eu ando fazendo aí com judô, ensina o diabo. Está muito fácil "ensinar" escola grande onde eu e outros que quiserem,
e eu escrevo do meu jeito, muita vez eu nem sei meu grupo, é,no comercial, realmente, que es- hoje em dia por aqui. Isso é só uma maneira de vamos ensinar,a meninada a tocar e curtir bom
de quem ele está falando. No fim ele gosta, mes- tou tirando o meu sarro. Olha: eu tenho sido dizer, mas não está certo. Música é o meu negó- som. E tudo .de graça, ninguém tem de pagar
mo que não entenda muito, mas isso é da condi- muito convidado para fazer arranjos por aí, mas cio, e é um negocio sério, seríssimo. Estou de nada, qualquer menino que tiver gosto chega lá
ção do papagaio mesmo, e se foi o "americano não aceito. Porque é isso: faço o arranjo, ganho acordo com abrir escolas, mas com pessoas sé- e ensinamos flauta, piano, cordas, gaita, caxixi,
que faz", eie acha bom, e pronto. No fundo, uma nota e vou pra casa. Quando eu vejo o rias, com gente idônea. pandeiro. Um pandeiro é tão importante quan-
estou na minha, e assim se trabalha. resultado, vou gastar mais do que ganhei em Colegas meus, músicos que eu respeito, che- to o piano; é só dosar o momento certo do seu
injeções para o coração, para dor de cabeça, pra garam para mim e disseram: "Olha Hermeto, eu recado, tudo é música.
Quando eu pego no papel para escrever, eu consciência pesada. Isso eu não faço mais, não ensinava numa escola, mas tive que brigar e sair. - E se voce não tiver dinheiro para comer?
esqueço de qualquer coisa, esqueço de dinheiro, adianta, não compensa. O dono queria que eu demorasse 3, 4 dias numa Bom, aí eu morro de fome. Mas vou morrer
esqueço de propaganda, esqueço tudo. Agora, o mesma lição, só para aumentar o número de tocando. £
som que eu vou fazer - Deus que tome conta Em nome do "gosto do público", a maioria
da minha alma! - , é o som que eu estou crian- das rádios, etc, só toca música de segunda, e
do na hora, é o meu som. Ademais, eu só faço
Cartas de BARBARA
isso é falso. Eu acho é que, além disso envolver
"jingle" na Eldorado. No dia que eu sair da uma injustiça, acaba fazendo o povo sofrer por-
Eldorado não faço mais "jingle", a não ser que que não o deixa ouvir as coisas boas. Tem
outro estúdio me dê a mesma liberdade e as muito disco guardado em prateleira que nunca Não posso explicar como chegou esta carta, que não me foi entregue pelo
mesmas condições de trabalho, não sabe? Aí eu ninguém ouviu nenhuma faixa. Por que? Por- amigo carteiro nem por qualquer portador. Até o papel é estranho; nunca vi outro
vou tocar em boate novamente. O dono da que o cara que programa os discos, zero para igual. Passo à transcrição:
boate pensa que eu estou tocando pra dançar, ele. E isso, além de tudo, é uma burrice comer-
mas eu fecho os olhos e estou é tocando pra cial, porque voce vê: Eldorado, Excelsior, Cul- "Meu bom cronista c vizinho - Tantas vezes você apelou para mim e foi
mim, estou tirando o maior sarro. Se ele desco- tura. Eu falo da Eldorado porque trabalho lá, atendido, que agora não me acanho de apelar para você. A situação inverteu-se.
brir isso e não gostar, me manda embora. Aí eu estou sabendo. Ela só programa música de pri- Até ontem, eram os da Terra que apelavam para os do Céu. Daqui por diante, os
vou pra outra, e toco até o novo dono desco- meira qualidade, então qualquer anunciante que do Céu terão de valer-se da benevolência dos que estão aí embaixo.
brir, aí eu saio outra vez^£ vou levando. Tem quiser uma vaguinha precisa 15 dias ou mais pra Ou você já se esqueceu de minha assistência cm momentos graves de sua
bastante boate, dá para ir levando . . . anunciar. Eu acho que toda música merece ser vida? Espero que não. Nas horas de pavor, com o raio cortando o espaço e
ouvida. De outro lado, qualquer música se tocar siderando gente, animais e árvores, era a mim que sua boca chamava, era para mim
Acho que aqui no Brasil eu posso trabalhar todo dia, se voce insistir, essa música acaba na que suas mãos se juntavam. E nem sempre gesto e voz conseguiam traduzir plena-
normalmente quanto em qualquer outro lugar. parada. E o culpado não é o público não, não mente sua necessidade de socorro, tamanha era a aflição. Mas eu adivinhava,
Estamos criando um campo de trabalho. Recen- venham culpá-lo não. compreendia, dava provimento ao rogo desvairado . . . Fui sempre sua camarada,
temente o Santana, desse conjunto muito bada- Carlos. Agora é a sua vez de ajudar-me.
lado, foi na minha casa e disse: "Vam'bora pra Agora eu pergunto: quem toca isso? E o Minha situação é extremamente vexatória. Fui despejada, pior, fui cassada.
Miami, lá eu te dou casa e salário que voce qui- músico. Ele é que acaba cedendo e fazendo Não tenho para onde ir. Lugar existe, e vários, senão muitos, mas já se expediram
ser", mas eu não quis. Vou ficando por aqui tudo o que os outros querem. Há algum tempo ordens para que não me dêem abrigo nas casas que possuo na Terra: belas casas,
mesmo . . . uns músicos chegaram pra mim e disseram: umas, outras mais modestas, mas todas minhas de muito direito e antigüidade.
"Entra na onda, Hermeto, que tá dando umá Tudo isso não é nada. Sem casa, vive-se. Sem título, vive-se. Mas Sem
Alto lá! A música precisa ser boa, isso de nota. Eu tenho carro, tenho tudo, e voce não existência admitida, como pode alguém estar ou ter estado vivo? Este ponto.-é o
nacionalidade é outro papo! tem nada". É verdade, hoje esses caras têm mais grave, meu caro: minha existência foi posta em dúvida, e finalmente negada
tudo, têm carro e tudo, e eu não tenho nada. por ato oficial, emanado daquele poder soberano que era garantia não só de minha
O cara que se dedica à música considerada Mas hoje, eles são músicos de segunda, de ter- vida, como de meus sofrimentos e minhas glórias. Deixei legalmente de existir,
clássica, não conhece os músicos que andam por ceira categoria. está compreendendo? Isso depois de mais de 700 anos de situação regular, consa-
grada universalmente, quer pelos indivíduos quer pelas corporações, que vinham
trazer-me cânticos e flores, já não falando na exclamação dé que eu era objeto
diário, convertida em provérbio e talismã.
Esta, sim, me doeu. Que é existir, ó meu cronista, senão ter existência na
mente dos demais? Se o mundo pensa em mim, eu existo; se me esquece, deixo
de existir. Não importa estar vivo no sentido de andar pelas ruas, tomar café,
ganhar muito dinheiro, obedecer ao governo, etc. Estas materialidades são névoas
sobre o real, que é a aceitação de uma verdade profunda; verdade que não está nos
cartórios. E como agora só se tem por válido o que consta dos cartórios (onde
constam inúmeros erros e mentiras cabeludas), eu, que você conhece desde a sua
remota infância, quando tinha o meu registro pendurado na parede do seu quarto,
eu não sou mais eu, não existo!
Mas, que lhe peço? Imagina, talvez, que eu pretenda gestões terrenas,
campanha jornalística em meu favor, pressão sobre a autoridade que me cassou e
negou? Negativo. Nem o meu caso é isolado. Comigo, mais de trinta ótimos
companheiros estão padecendo este segundo martírio, bem mais atroz que o
primeiro, porque não é no corpo, é na essência. Qualquer pedido individual seria
egoístico, e em conjunto parecia subversivo. E daí, não creio na eficácia do
remédio. O que ouço falar é que outras cassações virão, criando vasto deserto
espiritual a ser repovoado. Fala-se em novo calendário, todo ele "pra frente",
expressão de que não alcanço o sentido místico. Que adiantaria pedir, se a refor-
ma é total?
O que lhe peço, vizinho e fiel (siní, somos vizinhos, pois você nasceu em
lugar que confina com uma de minhas cidades, aquela em Minas que foi berço de
seu dileto mestre Afonso Pena Júnior), o que lhe peço, caríssimo, é muito menos
e muito mais: que me guarde no coração. É só. A paz esteja com você.

(a). - Bárbara, ex-Santa."


Carlos Drumond de Andrade
Mas vou lhe da.r um conselho: não me roube
mais, que é feio''.

Baixa Sociedade
Para maneira r tamanho esculaço, o chefão
convidou o cara para almoçar. No restaurante,
estavam sentado: s todos os editores e acólitos, y0 ^
aos quais o chefâ o apresentou seu convidado de
honra para o rajgú: "este aqui é o ladrão de RECEITA
P E R C I V A L DE S O U Z A papel. Está empre:gado novamente".
Risinhos de aprovação na mesa. O ex-larápio DO
encabulou-se ( e irao era para? ). Aí o dono da
finada cachorra n rais famosa do país deu uma CAMPEÃO!
compensação:
- "Não fica encabulado não, meu filho.
Estes filhos que estão sentados aqui,
há muito tempo ííie roubam também e almo-
çam comigo tod$ c > dia".

" H O M E M SO T E M DONO A T É E N T R A R NA BOCA" (BaianadoSimca) (Pano rápido, como diria


Millor, por sinal grande
a dmirador do citado senhor).
O caso Mãozinha tema nas bocas. Mas nossos cãezinhos já deram
o serviço: foi um lamentável equívoco, pratica- Recado para a Detenção
Ora, quem não se lembra do caso em que o mente acidental, porque, na ordem normal das
coisas, Nelsinho deveria estar vivo. Mas ninguém Alô, Galinha, estou te devendo uma visita aí
sujeito chegou ao hospital dirigindo um fusca
lamentou a sua puxada de prontuário, porque no hotel do "seu" Guedes. Você escolheu um
com uma mão só, porque os impiedosos ladrões
ele era, há muito, um morto-vivo sob dependên- bom advogado para te defender naquela bronca
teriam cortado a outra etc. etc. etc?
cia desses baratos que acabam saindo caro em que você fritou o moço que queria obrigá-lo
Pois bem, tais fatos, devidamente relatados a dar os móveis para casar com sua filha. Obri-
paca . . . Pelo menos, é o que dizem . . .
nos chamados autos, foram enviados pelo sher- gar justo você, não, Galinha? Qualquer hora eu
lock competente ao capa-preta idem. Agora, passo aí para batermos aquele papo. Como você
voltou pros sherlocks de novo, com um certo está desligado há algum tempo, posso te dizer o
pedido de explicações. Nesse ínterim, meus ca- Chain, o milongueiro
seguinte: a falada boca do lixo já era - todo
chorrinhos se puseram a campo, para descobrir mundo puxou o carro, reclamando da Prefei-
umas certas novidades. E tem cada uma, que o 0 bicho saiu de galera, depois de puxar uma
corda fumacenta, e se instalou num apeteó no tura, que tocou lá iluminação a mercúrio e as-
duro é saber quem é mais pilantra que o outro. falto. Sem paralelepípedos e escurinho não exis-
Senão, vejamos: Bom Retiro. Tudo quanto é jornal deu: Chain
quebrou o nariz do Fininho com uma cabeçada, te poesia na boca, né? E a do luxo, está cada
- o causídico. Ora, este foi o primeiro a vez mais lixo. O resto eu te conto pessoalmente.
e sua amiga (a do Chain) ainda deu-lhe uns
espalhar a quatro ventos, no prédio onde Temis
tecos.
habita, que tudo era uma farsa, que o negócio
Pra cima de mim, justo pra cima de mim, Bye Bye
do cara era receber o seguro. Inclusive disse
isso, com ares de quem sabe muito das coisas, Chainl Só porque você é mentiroso, vou reve-
lar aqui a verdade: Este mês estaremos jantando duas ve-
para um meretíssimo nosso considerado. Dias
1 - Você não chegou em casa e topou com zes por semana no Tabu, ali mais ou menos
depois, o mãozinha tem data vênia a tiracolo. E
o moço esquadrólogo lá dentro coisa nenhuma. perto do lugar onde o Fininho apagou o Sapon-
quem é? Surpresa! O mesmo que dizia que ele,
Você estava lá dentro, isso sim, com a sua Maria ga II com uma facada no femuraí. Ao pessoal da
mãozinha, era fajuto. E dias depois, o data vê-
Alice, e a fera chegou. Tocou a campainha e ' boca, peço para não me importunar no hora do
nia foi visto saindo da casa do mãozinha, levan-
do o carro que pode ser dirigido com uma mão
só.
(PS especial pro data vênia: leia isso e se
você deu uma de miguel. Você, apavorãdex,
mandou uns arrebites pela porta mesmo. E o
Fino, pútibundo, deu uma de grosso: derrubou
a porta e entrou sem pedir licença. Aí você
ragú, pois estarei em importantes papos com os
homens da lei, pois a roda-gigante está girando
em alta rotação. Às terças, de madrugada, aten-
derei aos demais considerados no ex-Papai da
IOTONICO F O N T O U R A
manque, senão eu posso contar aquela história doutor Julinho. Recados com o Catarino, meu FAZ CAMPEÕES DE SAÚDE)
do sabonete que dava carro de presente para ainda tentou dar mais uns tecos, mas acabou é
levando uma tunda. amigo garçon que paquerou três horas uma se-
quem achasse uma chave dentro e . . . você nhora neste cama, e na hora H descobriu que a
sabe da fajutagem restante, não é doutor? ) 2 - 0 jovem esquadrólogo deixou-lhe uma
intimação, com prazo para você pagar uma gra- senhora era um campineiro. Bye!
Pros leitores ficarem por dentro: um cara toma-
va banho, numa cidade do interior, às duas da na devida. E você inventou esse papo, atribuin-
matina. Esfolou-se com a chave dentro do sabão do os tiros à Maria Alice, cuja não dá tiro nem
e veio feliz buscar o carro. Chega aqui, a fábrica em parque de diversões. Isso porque você,
de sabão diz que a chave é "falsa". Em cena, o
mesmo data vênia do Mãozinha... ) Argh!
Chain, tá com liberdade condicional e se apron-
tar muito volta pro xadrez. A dívida, sei lá
porque, é de seis quilos de alcatra sem osso,
Sensacionais
- o mãozinha. uma ex-empregada da man-
são manetal deu o serviço para um rato meu
considerado: ela ia servir um cafezinho para o
Certo?
3 - Assim, lamento comunicar que você tor- revelações de
dono da mansão e alguns visitantes, quando os
surpreendeu com apetrechos cirúrgicos em tor-
no do futuro sem-mão.' Aparentemente, a ope-
nou-se um forte candidato a amanhecer com a
boca cheia de formiga, porque você, espalhando
um papo que não é verdade, força o moço a
Francisco Petit da DPZ,
ração teve de ser suspensa. Chi, isso vai ser um
pepino... . »
reabilitar-se na caixa apagando-o . . . Chato,
não? a respeito de
- o nabo. Este voa sob os auspícios da 22..
Vara Criminal. Resultado: um monte de vagau
entrou em galera por causa do mãozinha. Che-
4 - Quem avisa amigo é: deixe de desbarati-
nar com sua barraquinha de frutas perto do
Coringão, porque . . . pô, Chain, você venden-
Paulo Gorodetchi:
garam a dançar todos os portadores de turbina
da zona sul, e ninguém sabia de nada. Não ti-
do fruta . . . não dá . . . quem entra nessa?
o dono da livraria Bux.
nham nada a declarar, coitados. Mas Mãozinha
sifu: vai ser duro receber uma grana nesse clima Hélio se escafedeu
de cumulus fajutus.
Por falar em mentiroso, o Hélio Rubens, de
quem já falei aqui, testemunha anti-Squad, deu
o pirandelo do xilindró de Suzano. Depois de
Cartão à noite: cuidado puxar o carro, Hélio bateu um fio do nosso
reservado para assuntos confidenciais, avisando
Uma dica para os considerados que usam que iria dizer que suas acusações, que entruta-
cartão de crédito: estes dias, os sherlocks enca- vam uma série de sherlocks, seriam desmenti-
naram duas pintas que trabalhavam numa casa das. Que ele, caranguejetro, só fez aquilo para
de samba, por sinal bem freqüentada. Seguinte: tentar obter uns favores da Justiça.
quando a turma que paga com cartão de crédito Como eu já disse, o bicho é mesmo mentiro-
colocava o dito cujo na bandeja para o garçon so e mau-caráter. Da outra vez, eu pedia para
preencher a nota, lá no escurinho o pilantra pas- ele não me escrever mais cartas lacrimejantes da
sava duas vezes aquele rolo compressor apro- Detenção. Agora, eu peço para ele não me im-
priado. Assim, sacava a grana no banco duas portunar mais, porque só estou botando fé na
vezes. E você, lógico, iria receber duas contas turma do Pavilhão 2. E se você é fugitivo, tem é
mais tarde . . . de puxar o carro pra bem longe . . . . se não,
Agora, se o lugar onde você transar não for você também pode ter o seu dia de Nelsinho, e
de fé, olho vivo, porque como diz o meu amigo eu não estou a fim de transformar a coluna em
Osmar, a canalha noturna anda matando jacaré competição ao meu amigo Tônico Boa Mor-
a botmadas. te . . .

Caixa baixa
Considero Paulo Gorodetchi o maior livreiro do Brasil.
Responsável pela evolução da propaganda brasileira
Nota de falecimento e divulgador incansável da cultura em nosso país.
O poderoso chefão de uma conhecida revista
Numa de nossas colunas, falamos sobre especializada em mulheres peladas e sionismo, Por isso, sou fiel a ele.
ó Nelsinho da 45. Chegamos a dizer, inclusive, descobriu que um dos seus mais humildes fun- Só compro livros na sua livraria, ou trazidos por ele.
que apesar do apelido era um panaca, Pois é: o cionários andava se apoderando, todos os me- E ainda digo mais: acho o Paulo tão bom, que ele nem
ses, de uns dez quilos de aparas de papel. Desco-
dito cujo, cujo negócio favorito eram as ampo-
berto, foi para o olho da rua. Chorosa c doente,
precisa ser tão puxa-saco.
las injetáveis, foi devidamente fritado, por um
misterioso personagem, num hoteleco quase
central. Não se sabe qual o motivo da bronca.
Como em boca fechada não entre mosca, nin-
sua mulher foi procurar o chefão. Este como-
veu-se, e resolveu readmitir o larápio, até com
vantagem de grana. Apenas fez um sermãozi-
Bux
Especializada em livros e revistas-nacionais e estrangeiros
nho: "meu filho, você vai ganhar muito mais.
guém está a fim de falar sobre esse palpitante Av. Faria Lima, 1.508 - Tel.: 32-3653 (escr./recados).
C A N T I N A DO

PASQUALE
massas frescas — comida caseira
0 Telegrama que a
<<,
Morte
Rua Martinho Prado 187
entregou O Roberto Carlos

PCNCHO EL PCNCHO EL PCNCHO


casa de lanches - cervejaria
RUA AUGUSTA n<? 169
esquina da Caio Prado.

DEPOIS DE J O R G E A M A D O (NO N? A N T E R I O R , T E R E S A B A T I S T A ETC.) A P R E S E N T A M O S : P A L I T O I.

Para tudo neste mundo O tempo foi se passando Esta letra fez sucesso Quando elo víy .. Morte
tem seu dia e sua hora de tudo ele esqueceu muito dinheiro ganhou - «m sua foice - ::[•>
quem quizer pode fugir só pensava em gravar em ritmo de yê - yê - yê deu um grito t. ;'o; ofendo
pr'a tirar o corpo fora ter dinheiro e apogeu ele mesmo quem gravou tenha de mim compaixão
quando chega seu momento sendo muito moço e forte uma crítica contra ele a Morte então respondeu
vem "Morte" lhe devora foi assim que ele venceu no Brasil se iniciou vim cumprir minha missão
Há anos Roberto Carlos Tinha um bom coração Era consagrado o Rei Trago aqui um Telegrama
abusou com Satanaz isso sempre lhe ajudou da juventude avançada que Jesus Cristo mandou
mandando para o inferno eu me lembro que em Recife fazia o que queria e levantando seu braço
pensando em ser capaz uma vez ele cantou não ligava mais pra nada a mensagem lhe entregou
satanaz no outro dia rendeu 26 milhões sem saber que a "Morte" vinha quando ele recebeu
enviou seu capataz e aos flagelados doou com sua foice afiada alí mesmo desmaiou

LIVRARIA AUGUSTA LTDA. Forrobodó veio a terra Mas um dia de repente Diz um antigo provérbio a Morte foi para o céu

mm DISCOS
LIVROS
REVISTAS
PAPELARIA
uma carta lhe entregou
mas Roberto quando leu
nessa hora se pasmou
quando procurou o Diabo
no local não encontrou
Roberto Carlos mudou
foi em seu apartamento
na caneta ele pegou
e olhando para o céu
que "alguém" jamais esqueça
para quem zomba demais
sempre é bom que aconteça
"Quem com muitas pedras bole
Roberto ficou caído
quando ele despertou
estava muito.abatido
chamou por uma enfermeira
assim ele começou uma lhe cai na cabeça" e pediu um comprimido
Matriz: Rua Augusta, 1403 - SP
Filial: Domingos Monães, 371 tel 71.0890 Na carta dizia assim A profecia é quem diz Depois que ficou sozinho
Roberto tome juizo Jesus Cristo nunca erra 0 Telegrama foi lêr
JESUS CRISTO
de dois meses para cá chamou a "Morte" e lhe disse abriu bem devagarinho
Jesus Cristo, Jesus Cristo
tive grande prejuízo Vá urgente lá na terra isso eu digo "podes crer"
' eu estou aqui
as almas que estão na terra falar com Roberto Carlos pois a sua ansiedade
Olho pro céu e vejo, uma nuvem
só trago quando preciso na dôr da foice ele berra era pr'a logo saber
branca que vai passando
Olho pra terra e vejo uma multidão
Não precisa mais mandar que vai caminhando A Morte saiu correndo Quando abriu o telegrama,
me preste bem atenção Como esta nuvem branca em São Paulo ela parou foi grande o constrangimento
vou construir outro inferno Essa gente não. sabe onde vai procurou em todo Estado porque viu dia e hora
no lado da estação Quem pode dizer o caminho certo Roberto não encontrou e a data de nascimento
de Diabos aqui já chega! É você meu Pai Erasmo ia passando mais embaixo tinha escrito
está completa a lotação Jesus Cristo, Jesus Cristo, A Morte lhe segurou a do seu sepultamcnto
Jesus Cristo, eu estou aqui
Se me desobedecer Toda essa multidão tem no peito amor Quero saber nesse instante Finalizando dizia
e quizer continuar E procura a paz e apezar de tudo onde anda seu amigo pense em tudo que já fêz
a R.P. do inferno a esperança se desfaz tenho aqui um Telegrama pois se assim continuar
vai na terra lhe buscar Como a flor que nasce no chão que pr'a ele é um perigo lá no céu não tem vez
em um disco voador daqueles que têm amor Erasmo lhe respondeu sua data foi marcada
eu mando lhe seqüestrar Olho no céu e vejo sente-se aqui que eu lhe digo pr'a o anò 73"
Descer na terra o meu Salvador
Quando terminou de ler Jesus Cristo Segunda feira passada P ense bem Roberto Carlos
Roberto ficou tremendo Jesus Cristo, Jesus Cristo, para a América viajou A Morte lhe foi sincera
tirou um fósforo da caixa eu estou aqui. e no melhor hospital Lamento quando voíUr
e foi logo ascendendo Em cada esquina eu vejo um olhar ele hoje se internou 1 magine só "que fen:"
queimou a carta e saiu perdido porque estava cantando T ua data foi marca.);
apavorado correndo De um irmão em busca do mesmo e o seu coração parou O inferno te espera
bem
Todo estoque deste disco Nessa direção caminhando A Morte disse obrigado "Podes crer"
nesta hora ele quebrou a Erasmo agradeceu - B i c h o ••
e também no seu programa e em menos de um segundo
nunca mais ele cantou . . . . e o resto é aquele sucesso a Roberto apareceu
Satanás se esqueceu de Roberto Carlos, que todos a surpresa foi tão grande Editor proprietário
desta vez ele ganhou conhecem. que o " R e i " estremeceu o invisível P A L I T O
Joe Garnett
Disco Voador no Mississipi
OS DOIS HOMENS (DA F O T O A E S Q U E R D A ) P E S C A V A M . DE RE-
P E N T E , O U V I R A M UM Z Z Z Z Z Z Z Z A T R Á S D E L E S . E R A O DISCO.
E, DE D E N T R O DO DISCO, S A Í R A M S E R E S E S T R A N H O S . DE
MAIS O U MENOS UM M E T R O E MEIO DE A L T U R A . E T I N H A M
GARRAS.

Os Homens-Caranguejo
do
Espaço Extraterrestre
Texto de JOE E S Z T E R H A S

Pascagoula. Mississipi, 160 Km. a leste seus poemas aqui. abandonado, onde ainda restam ruinas do mais familiarmente, Goula — não se deixa
de New Orleans. 32 km. a leste de Biloxi, Os outros únicos grandes negócios da guindaste do antigamente próspero Esta- levar por idiotas teorias acadêmicas. Ele
64 km. a oeste de Mobile. Alabama, o¬ cidade atualmente são a International leiro Schaupeter, a apenas três quarteirões sempre soube, no seu íntimo, o que pro-
cupa quatro milhas quadradas de barro Paper Company e - seja louvado! - do centro da cidade. vocava a música . . . Todos aqueles cor-
arenoso no Golfo do México. É uma ci- Deus. A indústria de papel cheira tão mal Calvin Parker - filho de um amigo Je pos mortos gorgolejando com voz a mais
dade industrial em desenvolvimento (po- que as mais bravas moscas sobrevoam de Charlie, rapaz forte, queixada larga, pul- forte possível do fundo daquelas águas
pulação do município de Jackson, 1963 longe suas chaminés e ares adjacentes. En- sos grossos - vivia no apartamento de perversas.
- 40.000; 1973 - 120.000) cercada por quanto o negócio de pagamento de reve- Charlie e trabalhava com o velho, desem- . . . Há muitos e muitos anos, os ín-
charcos, baias pantanosas e o maior brejo rência ao Senhor se desenvolve em lugares penhando um tipo de faz-tudo na F.B. dios Pascagoula tinham um templo onde
de todo o Estado -- Pas Bottoms - onde sagrados como a Igreja Batista Ocean Walker and Sons Inc., fabricantes de rebo- adoravam uma sereia todas as noites.
ratos de arroza) escoam através do lixo e Springs, do reverendo Billy Riddick, que cadores, barcaças e barcos exploradores Quando a lua estava visível e no seu zêni-
onde o alligator mississipiensis. um repe-vende folhetos da "Espadas para Cristo" e de petróleo. Tendo deixado o sítio da fa- te, eles se reuniam em torno do templo e
lentíssimo animal de focinho largo e re- correntinhas bentas, fora as arrecadações mília há alguns meses, Calvin Parker era louvavam aquela linda criatura. Um dia,
dondo, já jantou mais de um dedão dos durante os cultos, quando o ar fedorento dado a longos períodos de lugubre silên- por volta de 1539, apareceu entre os índi-
rapagões locais ou unhas de dedões como de Pascagoula se enche de cantos fervoro- cio. Sentia falta da namorada e não se os um homem branco com longas barbas
hors d'oeuvres. sos e a bandeja do Reverendo Billy de sentia em casa em meio aos apitos e sire- cinzentas, estranhas vestimentas e uma
Até a Segunda Guerra, a notoriedade notas e moedas. nas barulhentos dos estaleiros. grande cruz nas mãos. Ele exibiu um livro
da cidade vinha de seu "único cemitério Há algum tempo atrás, alguns yankees, Os dois sentaram na grama, ao ar al- e começou a ensinar a sua religião. Foi
iluminado do Mississipi". Durante a Se- ainda vinham aqui para passar férias, mas miscarado-doentio e ficaram ouvindo a rapidamente convertendo os índios ao
gunda Guerra, vieram as grandes compa- o turismo foi definhando como uma plan- ... música ... vinda das profundezas cristianismo. Até que numa noite, quando
nhias de construção naval com seus fabulo- ta que deixasse de receber água. As praias do rio. Nada extraordinário (a não ser, a lua estava cheia, houve uma súbita agita-
sos contratos oficiais... e a rapaziada da ainda são brancas, a areia ainda composta naturalmente o fato de você fazer um re- ção na superfície das águas. Elas ficaram
roça largou em massa o barro, o charco, a de sílica em sua maior porção, mas a água trospecto de toda a zorra grotesca aqui imediatamente convulsionadas e final-
sujeira, para transformar-se em maquinis- é marron - para ser exato, marron-cloaca. acontecida e ver algum presságio infernal mente se transformou numa enorme colu-
tas, mensageiros, carregadores. "Eles para- Assim, em determinados dias, em certos no fato de os Homens-Caranguejo do Es- na de ondas espumantes. No topo das
ram de plantar amendoim,'" diz um mora- trechos da praia, se algum tolo yankee paço Extraterreno escolherem as margens ondas apoiava-se a sereia, cantando uma
dor local, "puseram a mula no celeiro e em férias leva seu filhinho para nadar - do Singing River para o seu pouso terres- linda melodia com este refrão: "Venham
desceram pra cá". Fun in the Sun, Gulf Riviera, diz o aviso tre). É isso mesmo, o Singing River - por- a mim, filhos do mar! Nenhum livro, sino
Em 1967, o soberano Estado de Missis- na estrada — ele estará mergulhando o que, como todo mundo em Pascagoula sa- ou vela os arrebatará de mimV Os índios
sipi ganhou quatro novas leis para emitir guri na m . . . be, há música naquela imundície, razão ouviram aquilo com êxtase crescente e fo-
130 milhões de dólares de bônus indus- ; pela qual ele é oficialmente chamado de ram entrando, um por um, nas águas fu-
Os camaradas que vivem aqui, o pes-
triais para "o estaleiro do futuro", a In- Singing River e razão também pela qual riosas para não mais vir à tona. Quando o
soal que orgulhosamente chama a si pró-
galls Shipbuilding Company (das Indús- os carros de polícia de Pascagoula exibem último deles desapareceu, as ondas cessa-
prio de "Sons of the Beach", não nada
trias Litton) nas margens do rio Pascagou- um emblema com uma Águia Americana ram e uma gargalhada de exultação foi
muito e se contenta em pescar, mais para
la. Aleluia: trabalho para todo mundo! E de olhar ameaçador e as palavras — City ouvida, vinha da sereia . . .
se distrair . . . Senta ali, joga o anzol e
os jornais traziam anúncios dizendo " M i l quando fisga um peixe, puxa a linha, tapa of the Singing River.
Na noite de 11 dé outubro, 1973,
Vagas - Boa Remuneração!" Um repór- o nariz, retira o peixe do anzol e devolve- Através dos anos, a descrição mais quando a lua estava cheia e no seu zênite,
ter local diz: " F o i como em Birmingham o à latrina corrente . , . comum da música foi "um zumbido de Charlie Hickson e Calvin Parker, em com-
quando descobriram jazidas de ferro". A Assim é que na noite de lua cheia de um enxame de abelhas" e estas as inter- panhia de duas varas de pescar, sentaram
Ingalls dominou Pascagoula a ponto de al- 11 de outubro passado, Charlie Hickson, pretações de cientistas de alto QI: o som na beira do rio olhando para as suas
guns comentarem que seu nome devia ser um careca de 45 anos, de cara ossuda e provinha de alguma espécie rara de peixe, águas. Nenhuma sereia sensual acenou
mudado para Ingalls City porque a pre- olhos de jogador de dados em becos escu- transplantada da América do Sul; do ri- para eles. Eles não ouviram nenhuma mú-
sença da Companhia ofuscou até mesmo ros, pegou Calvin Parker, seu protegido de lhar das areias do fundo; de correntes sica fúnebre, nenhuma gargalhada exul-
as poucas e mixurucas gotas de fama da 19 anos, e lá foram os dois, decididos a aquáticas em choque com profundas cavi- tante.
:idade... como o fato de Henrv Wads- tentar tirar alguma coisa daquela água dades; de gás natural expelido da areia do "É meió nóis vortá", disse Charlie a
worth Longfellow ter escrito alguns de preta. Guiaram o carro até o barracão fundo. Mas o povn •'- P - K - o o u h ou. Calvin, "aqui nóis num vai pega nada."
Os seres Hommmmmm! Hommmmmm!
nha alguma coisa assim como granizo mas ele. "Eles já foro!" Eu catei as coisa de o rapaz, estava assustado até os ossos. Ele
* eu num vi aquilo se mexê em nenhuma pesca e nós saimo correndo dali pro nosso tremia como uma vara verde e choramin-
hora. Eles não tinha olhos. Num dá pra cano. "Filho", eu disse pro Calvin, "nin- gava e chamava Jesus o tempo todo."
dizer se eles era feito de metal ou de pele. guém vai acredita nisso, vamo mantê isso O xerife Diamond (mais habituado a
Era assim cinza claro, um pouco mais pra só pra nóis." Mas depois eu pensei de no- investigar casos de mordidas de cachorro
metal que pra pele de elefante. Eles era vo no assunto. Como diabo que eu ia vol- e ficar vendo seus homens entregando be-
assim cheio de prega. Os pé deles era re- ta pro trabalho como se num tivesse acon- bês em camionetas de transporte) tentou
dondo que nem pé de elefante e num ti- tecido nada? Eu imaginei que talvez o todos os truques policiais em que conse-
nha dedo. Eles num tinha mão também. governo quisesse sabe sobre aquilo. Nós guiu pensar. Hickson e Parker foram in-
Tinha essas garra de caranguejo." ficamo sentado no carro por uns 40 minu- terrogados severamente em salas separa-
"Dois deles veio por cima pro meu la- to imaginando o quê que a gente ia fazê. das; foram ameaçados, insultados, bajula-
do e me pegou por baixo dos braço. V i o Tinha uma garrafa de uísque lá e daí eu dos. Nada disso adiantou. Suas historias
outro pega Calvin e vi Calvin ir mole. Eu me servi um drinque." batiam. "Tá bom," disse Fred Diamond a
sabia que Calvin tinha se desamaiado. Uma hora depois que os Homens-Ca- seus auxiliares, "vamos tentar um Water-
Quando eles me pegaro com suas garra eu ranguejo subiram reto de volta a sua galá- gate particular."
num senti nada. Num senti nada." xia, Charlie Hickson e Calvin Parker fo- Charlie Hickson e Calvin Parker foram
Eles ouviram um Zzzzzzzzzzz atrás "Eu num me belisquei nem nada, mas ram a uma cabine telefônica e chamaram trancados numa cela e informados de que
deles. fiquei no meu prumo e não podia acredita a Base Aérea de Kessler, em Biloxi, num ficariam ali até parar de ver fantasmas e
Voltaram-se e viram a coisa. Não se ati- no que tava acontecendo." assombrações. A cela foi "preparada". 0
centro eletrônico de treinamento de ope-
raram no rio. Estavam tão assustados que "Então eles me pinçaro pelos braço e radores de radar e controladores de tráfe- xerife Diamond e seus homens ficaram
não podiam se mexer. nóis flutuamo na direção da nave. Parecia go aéreo. ouvindo e gravando e esperando que toda
Eram os Homens-Caranguejo! que eu num pesava nada. Nóis flutuamo Eles disseram ao sargento que atendeu aquela tempestade idiota se transformasse
Eles tinham vindo do Espaço Extrater- alguns pé do chão. Eles me flutuara pra o telefone que acabavam de ser raptados e num morno e brando ventinho.
restre para visitar dois terráqueos comuns dentro. A sala num tinha canto, nem de- libertados por Homens-Caranguejo do Es- Eles ouviram Charlie Hickson dizer:
que se compraziam em sentar ao ar fedo- grau, nem nada. Tinha luz pra vale lá den- paço Extraterreno e queriam dar aos mili- "Meu Deus! Eu nunca vi nada parecido na
rento da beira de um rio envenenado que tro, mas de nenhuma cor assim diferente. tares um relatório completo sobre os pés- vida. Tô c'os nervo estorado".
ecoava vozes de defuntos. Num tinha nenhuma lâmpada mas tinha de-elefante e olhos-de-bola-de-rugby. Eles ouviram-no dizer: "Depois de tu-
Estava "plainando" numa clareira a abundância de luz." "Nós não estamos interessados nessas do que me aconteceu aqui nesta terra,
uns 40 pés atrás deles. Eram, no máximo " E u inda tava flutuando ali sem sentir coisas," disse o sargento a eles, "vão con- agora inda tenho que enfrenta tudo isto!"
esforço que Charlie Hickson conseguia fa- nada. Duas das criatura começaram a me tar isso pra polícia" e desligou. Eles ouviram-no dizer: "Filho, eu te
zer para lembrar direito, por volta de no- rodopia com suas garra. Um negócio gran- Eles foram para a redação do Mississipi disse que eles num ia acredita que tinha
ve horas — "Não uso relógio e quando tô dão e redondo que parecia um olho veio Press-Register, alguns quarteirões adiante acontecido. C o s diabo, se eles não vai
pescando, misqueço do tempo." de algum lugar que eu num sei donde. do local de pouso do disco voador, e pedi- acredita que aconteceu, eu num vô acredi-
Quando Charlie Hickson viu a coisa Num é que parecia mesmo um olho, de ram para falar com um repórter. A única ta que aconteceu!"
"meu primeiro .pensamento foi pula pro verdade, sacomé, era do tamanho mais ou pessoa na redação era o zelador. Eles ouviram Calvin Parker pedir, co-
rio mas num pude mi mexê. Lá tava eu, menos de uma bola de rugby, sem tá li- Eles começaram a falar a esse pobre mo uma garotinha recém-batizada: "Jisus
eu e minha vara de pesca e Calvin. Quan- gada a nada, solta. Eles me virava em dife- preto cansado sobre os Hommmmmmm meu, meu Jisus, mi ajuda. Tô Te pidindo
do Calvin viu, virô histérico pra mim. Cal- rentes posição. De barriga pra cima, no mmmmmms! e Zzzzzzzzzzzzs! e garras e Jisus . . . "
vin tava berrando, "Que qui é isso? Que meio do ar, sem fica segurando nem preso ele expulsou-os de lá. "Estamos fecha- Uma hora mais tarde, Hickson e Parker
qui é isso? Jisus! Olha prisso!" Tô dizen- a nada, de costa, e depois num ângulo de dos," ele ficou repetindo a eles, "vão pra foram liberados e aconselhados a ter uma
do agora, cês num pode imagina como era 45 grau. A luz de dentro chegou a brilha casa e durmam ou vão procurar o xerife." boa e repousante noite. Sexta-feira de ma-
a coisa." tanto que quase cegava. O olho se mexia nhã. O auxiliar-chefe do xerife, Barney
Aí por volta das dez e meia, segurando
Era uma nave oblonga, em forma de em volta de mim como se fosse um raio-X duas varas de pescar como prova de sua Mathis, estava dizendo: " E u tenho uma
ovo - " U m F . . . da P . . . Objeto me examinando ou então que tava tiran- aventura, eles se encaminharam à delega- mente aberta e teria de ver os tais seres
Não Identificado," diria um delegado de do retratos ou coisa parecida. Senti como cia do município de Jackson, que fica no com meus olhos. Mas eles estavam sérios e
policia local — suspenso menos de um me- se eles estivesse me fazendo uma inspe- andar térreo do fórum local. ambos contaram a mesma história. Se es-
tro do solo. "Ele num era todo redondo," ção." O xerife Fred Diamond, 44 anos, re- ses dois rapazes estão mentindo, eles de-
diria Charlie Hickson, "mais ou meno "Pensei de novo: Boy, eles gosta do cém-eleito, após ter servido como juiz-in- veriam ir para Hollywood. Estavam com
assim, sacomé, pontudo num lado mais que eles tá vendo, eles vão me leva embo- vestigador do município, estava na sala do tanto medo que eu é que tive medo que
que no outro, mais encurvado, uns treis ra!" júri, quando um de seus auxiliares veio sofressem um ataque do coração." E o
metro de largura e uns dois e meio de "Eu num sabia onde que o Calvin tava avisá-lo de que havia dois homens lá fora xerife Diamond, que preferia não comen-
altura. Tinha essas luz azulada brilhante mas imaginei que eles tava com ele em — um deles cheirando a álcool — dizendo tar o caso, disse: " E u não creio que eu
bem na frente. Num sei se era janelas ou o outra sala ou coisa parecida trabalhando que haviam sido emboscados e raptados próprio um dia viesse a dizer que eles es-
quê que era. Tinha um brilho assim amor- em cima dele com outro olho. Eu devo por Homens-Caranguejo do Espaço Extra- tão dizendo, mas acredito que estão sen-
tecido. Eu ouvi aquele zumbido assim co- ter dito alguma coisa pra eles, qué dizê, terreno. do sinceros".
mo de ar saindo de um esguicho. Nós fica- eu devo ter dito alguma coisa ali, mas O xerife ouviu um dos homens, alta- Na sexta de manhã Hickson e Parker,
mo ali olhando prele, nem se mexendo num consigo me lembra o quê que eu fa- mente excitado, dizer lá fora: " E u vi! Eu que não tinham conseguido dormir, fo-
tanto que nóis tava amedrontado." lei. Eu ouvi uma das criatura solta um v i ! " e "Por que eu? Num posso entende ram para a Walker ? Sons como se fosse
"Parecia que era uma porta que apare- tipo assim de ruido. Fazia assim, era assim por que eu? " um dia comum de trabalho. Danny Davis,
ceu, não que foi aberta, apareceu. Veio que nem um Hommmmmnunmmmrnmm Fred Diamond disse ao seu auxiliar o chefe, viu-os: " E u me dirigi a Charlie e
pra fora da nave espaciá, que nem um co- mm! Hommmmmmmmmmmmmmmm.'" que fizesse naqueles dois caipiras o teste pedi que me mostrasse uma coisa qual-
fre de borracha que cê aperta e sai assim "Daí eles me largara no meio do ar, do bafômetro . . . eles provavelmente ti- quer. Ele mostrou. Eu agradeci e ele mos-
uma moeda devagarinho. E eu vi aquelas um minuto ou por aí, e eu fiquei ali mes- nham andado bebendo uísque falsifi- trou de novo. Eu agradeci de novo e ele
coisa saindo pra fora. Tinha treis deles. mo, parado, ali, imobilizado. Tudo o que cado . . . jamais suspeitando que dali a al- mostrou de novo. A í tentou fumar um
Eles tava flutuando em volta de nóis, num dava pra eu fazê era pisca os olho e mexê guns dias o Press-Register botaria os dois; cigarro e tremia tanto que não conseguia
vinha pro chão, só no ar, ali, flutuando, eles assim dando volta." trêmulos suspeitos neste estrábico contex-; levar o cigarro até os lábios. Depois ten-
voando. Calvin, ele continuava dizendo "Eu tava tão aterrorizado que num sei to: "Assim como os índios americanos tou tomar uma xícara de café e não con-
sem pará: nem direito como fui pará de volta no certa feita se confrontaram com estranhas seguiu erguer a xícara sem derrubar café
— "Ái, Jisus! Meu Jisus!" chão, na beira do rio. Eu acho que a coisa criaturas do mar na forma de Colombo e por todo lado. Eu olhei para Parker e o
" A única coisa que continuava na mi- toda levou uns vinte minuto, por aí. Acho seus homens, nós também estaríamos nos rapaz continuava se segurando e esfregan-
nha cabeça, sacomé, era — Eles vai me qué eles me carregara pra fora de novo confrontando com um Colombo de outro do os braços. Finalmente perguntei a
leva. co'as garra deles e eu flutuei pra baixo. planeta? " Charlie : "Charlie, que diabo que está te
"Eles ficaro flutuando em cima de nóis Eu tava tão fraco que eu caí no chão. Mas mesmo depois de duas longas ho- acontecendo? Você parece que tá a pon-
e eu larguei a vara de pesca. Eles flutuava Calvin tava lá no chão, bambo e guinchan- ras a dupla ainda mantinha uma teimosia to de saltar pra fora da tua pele! Ele não
co'as perna junta. Eles tinha um metro e do. Ele num me lembro de nada depois de asno sobre sua história, e mesmo de- me disse nada. Insisti e ele disse — 'Cê
meio, por aí, de altura, um pouco mais que tudo passou. Eu ouvi o Zzzzzzzzzzz! pois de a maioria dos auxiliares do xerife num ia me acredita se eu te contasse".
baixo que eu. Os corpo parecia humano. de novo e vi a nave do espaço ir-se embo- terem explicado (cansados e vermelhos) Então eu disse — "Tenta!" e ele começou
A cabeça era meio redonda mas eles não ra. Quase que instantâneo ela tinha sumi- que não gostavam muito de perder tempo a me falar desses Homens-Caranguejo. Eu
tinha pescoço. Dos lado da cabeça deles, do. Não que nem um avião, mas direto com coisas tão lunáticas como aquela. corri pra dentro e peguei o Jim Flint, su-
no lugar onde devia tê as orelha, eles ti- pra cima retos. "No começo, eu pensei que eles estives- pervisor da turma, e Orville Bryant, o ge-
nha essas coisa apontando pra fora. Tinha "Calvin tava histérico e eu tava tentan- sem mentindo," disse o policial Glen rente, e pedi a Charlie que contasse tudo
um negócio no meio da cara, sacomé, on- do trazê ele de volta pros sentido dele. Ryder, "mas podia-se garantir, depois de de novo. Ele começou a falar e então as
de devia tá o nariz, e debaixo daquilo ti- "Eles já foro!" Eu ficava repetindo pra algum tempo, que o mais moço dos dois, lágrimas começaram a correr pela cara
COLINGO OVNI
nacional de carrinhos de hamburger que Charlie Hickson, Calvin Parker e o pai de
usava um famoso nome caído em domí- Calvin, em seu escritório de advocacia.
nio público, mas os hamburgers volantes Joe Colingo expôs os ossos do ofício: ele
falharam e Joe Colingo voltou para Pasca- cuidaria de tudo, ele os protegeria daque-
goula. Ele sentia que aprendera tudo so- les pestilentos homens de imprensa que
bre "showbusiness" e "picardia" e que batiam na porta deles, ele os ajudaria a
nunca mais seria "passado pra trás". Ca- ganhar um bom dinheiro. Hickson e
sou com uma das belezas da cidade, a vis- Parker agradeceram — afinal, Joe Colingo
tosa Johnette Walker, e produziu um trio era o advogado da empresa — e um con-
de lindas menininhas. Ele veio também a trato foi redigido e assinado na hora, fa-
se transformar no advogado da firma que zendo Joe Colingo advogado da dupla e
o falecido pai de Johnette, Johnny Wal- agente e empresário e sócio, com uma
ker, fundou: a Estaleiros F.B. Walker & "considerável" fatia de todos os lucros
Sons. que ele tinha certeza choveriam quando
Quando voltou do Fórum aquela sex- seus dois superstars contassem sua Histó-
ta-feira de manhã, Joe Colingo chamou ria Exclusiva sobre os Homens-Caranguejo
seu cunhado, um executivo da Walker's, do Espaço Extraterrestre.
para conversar sobre caçada. O cunhado O pai de Calvin Parker levantou no fim
acabava de regressar de uma excêntrica da reunião e disse que queria agradecer a
caçada de alces na Suécia; Joe estava pla- mr. Colingo por procurar defender os in-
nejando uma bem mais tranqüila caçada teresses de seu menino. Ele estava agrade-
de gamos em Colorado. O cunhado per- cido e honrado que um homem importan-
guntou se ele ouvira falar dos Homens- to como mr. Colingo, se dispusesse a re-
Caranguejo! Joe Colingo riu e disse yeah, presentá-los.
claro. O cunhado disse que os dois rapa- Depois o homem olhou para Calvin
zes que haviam visto os Homens-Caran- Parker, apontou o dedo em direção ao fi-
dele — um homem crescido como Charlie tão escrevi a história honestamente. Eu guejo estavam ali fora, no pátio e já que lho e disse: "Mr. Colingo, eu não sei que
Hickson choramingando por causa dessa disse que os dois homens haviam sido for- Joe era o advogado da empresa, talvez es- diabo eu vou fazer com o menino. Toda
espaçonave e desses seres. Nenhum de nós çados a embarcar numa nave estranha, às tivesse interessado em aconselhá-los. vez digo a ele pra não andar em carros de
sabia o que dizer, até que uma hora man- margens do Singing River. Supus que atin- "Aconselhá-los? ", riu Joe Colingo, "eles estranhos e ele sai da fazenda por duas
damos os dois pro diabo da casa deles e giria alguns leitores, coiho a coisa de Or- precisain é de um médico de cabeça ou semanas seguidas e onde vai e fazer o
tirar folga aquele dia." son Welles, aquela da invasão de marcia- um padre ou coisa parecida, e não de um quê? Vai direto andar num desgraçado de
Sexta-feira de manhã, Murphy Givens, nos. Senti que havia uma tremenda possi- advogado". " P ô " , disse o cunhado, "se um foguete espacial!"
28 anos, um foca magrelinho, setorista do bilidade de ser completamente ridiculari- eles viram o que tão dizendo que viram, "As criaturas mais estranhas que já vi
fórum para o Press-Register, chegou à re- zado e ao mesmo tempo a chance de estar isso pode até valer aí pelo milhão de dóla- não eram Homens-Caranguejo", disse o
dação e telefonou para a delegacia de sentado no topo de uma das maiores re- res!" Joe Colingo levou aquilo em consi- xerife Fred Diamond, "eram os Homens
Jackson. Era parte de sua rotina diária. portagens de todos os tempos. O editor deração — "muito rapidamente", ele ad- da Comunicação. Eles vieram em nuvens
"Cumequié? " não acreditou na história. Eu tinha que mite — e marcou uma audiência com esses chatos desses insetos, carregando
"Tudo legal." convencê-lo a publicá-la como a reporta- Hickson e Parker para aquela tarde. gravadores orientais e câmaras de cinema.
"Alguma coisa? " gem de primeira página. Ele insistiu que ia Meio da manhã de sexta-feira, no an- De New York e Chicago e Memphis e de
"Só os Homens-Caranguejo." botá-la em páginas internas. Eu finalmen- dar térreo do Fórum de Jackson, o auxili- publicações estrangeiras, como Burda, da
"Que p . . . é essa? " te joguei tudo. Disse a ele que aquilo era ar-chefe do xerife, Thomas Huntley, assu- Alemanha e Rizolo da Itália e de publica-
Murphy Givens ouviu a história dos um dos mais dramáticos episódios jamais miu pessoalmente o "Caso das Criaturas." ções que ninguém nunca ouviu falar . . .
Hommmmmmmmmmmms e Zzzzzzzzzzs contados, verdadeiro ou não. Se fosse Catorze anos na profissão, imaginação como Sondando o Desconhecido, e Fusão
e pés de elefante e percebeu que tinha um uma farsa, ok, ela logo seria desmascara- mórbida e do tipo velhaco, Huntley era o e não sei o que mais."
"pepino" pela frente. Não fazia três se- da. Ele respondeu que os dois eram total- mais famoso tira de Goula. Ele era mais Eles agiam como se fossem donos de
manas que estava no Press-Register e gas- mente malucos, mas acabou concordando conhecido por uma única prisão, a de um todo o Golfo do México e foram até a
tara a maior parte desse tempo preocupa- em dar manchete de primeira página." homem chamado Jesse James Thompson, margem do rio examinar a água e o céu
do com sonegação de impostos de um fi- Sexta-feira de manhã — horas depois que negligenciara no pagamento da pen- como se estivessem esperando que os bi-
gurão local denunciado. que o Press-Register apareceu nas ruas são de um filho. Ele encontrou Jesse Ja- chos-papões viessem até eles para dar-lhes
Mas uma reportagem sobre Homens- com a manchete: "Enquanto pesca- mes com uma dama muito pintada num uma entrevista. Emporcalharam toda a
Caranguejo do Espaço Extraterreno? vam • . • Homens de Pascagoula Forçados barraco num ponto qualquer no meio do Zona de Pouso dos Homens-Caranguejo
Murphy Givens falou com os auxiliares do a Embarcar num OVNI, aqui" — o advo- pântano e disse-lhe que andasse logo, ves- com centenas de caixas amarelas da Ko-
xerife, ouviu cinicamente os detalhes, e gado Joe Colingo estava deixando seu es- tisse as calças, porque estava preso. Jesse dak e mais pontas de cigarro do que se
bateu perna pela cidade fazendo pergun- critório de advocacia para uma audiência James apontou um revólver para a contor- recolhe após um jantar árabe no Elks, na
tas objetivas. A Zona de Pouso dos Ho- de divórcio de um cliente. Sua secretária cida cara de Huntley, botou-o de volta ao avenida Krebs. Invadiram o estaleiro Wal-
mens-Caranguejo ficava numa vista pano- parou-o e perguntou-lhe se ouvira falar seu carro de polícia e levou-o até as pro- ker, de onde finalmente Orville Bryant
râmica direta de dois operadores de guin- dos dois homens que tinham sido rapta- fundezas de um eucaliptal, onde amar- teve que expulsá-los, e se amontoavam em
dastes que trabalham 24 horas por dia. dos por Homens-Caranguejo. "Cascata!" rou-o a uma árvore e foi embora. Encon- um lugar após outro, perguntando se al-
Ele procurou-os, perguntando se haviam disse Joe Colingo, " E u não tenho tempo traram Huntley no dia seguinte, após uma guém vira luzes no céu.
visto alguma coisa na noite anterior, algu- pra essas coisas. Tenho que ir pro Fó- busca que mobilizou toda a cidade.
Eles agiam como quem não soubesse
ma coisa . . . fora do comum. Bem, disse- rum." Nesta sexta-feira, Huntley — que bre- que a imprensa não estava ganhando ne-
ram eles, não tinham visto nenhuma cáp- Quando o assunto abarca problemas vemente seria conhecido pela cidade co- nhum concurso de popularidade por aqui
sula espacial, se era isso que Murphy esta- universais, Joe Colingo — que brevemente mo "Bip-Bip Huntley" - interrogou naqueles dias: em Atlanta, Jesse Outlar, o
va querendo saber. Murphy sabia também seria conhecido pela cidade como "Colin- Hickson e Parker sobre os Homens-Caran- editor de esportes do Constitution, fora
que um posto da Ingalls, a uma milha de go O V N I " — é um dos maiores crânios do guejo. "Você diria que eles ainda estavam alvejado e seriamente ferido por um assal-
distância da — ele lembrou a si mesmo — município de Jackson. 34 anos de idade, em estado de choque, um choque bem tante desconhecido em setembro; e em
suposta zona de pouso, utilizava câmaras ele se graduou na Universidade de Ole forte, e nos meus 14 anos nesse negócio Mobile, 65 K m . a leste, A r c h McKay, o
zoomar de segurança pra ficar de olho no Miss, é ex-advogado público de defesa e de crimes, e olha que já falei com assassi- editor dominical do Mobile Press-Regis-
Singing River e suas margens, a fim de uma vez fez um supersecreto trabalho nos e essa coisa toda, nunca vi ninguém ter, fora encontrado algumas semanas
proteger as construções de barcos da Ma- pessoal para o czar do jogo Sam Lee Pres- nesse estado de nervos. Levei os dois ime- atrás caído em seu carro, com o lado di-
rinha (uma porção de destroires foram ley, que estava na cadeia. O filho de Sam diatamente pro nosso hospital local aqui, reito do rosto arrancado a bala. E como
construídos na Ingalls) de sabotagens em Lee, Sam Jr, andava transando com o Singing River Hospital. Eles não tiveram reais insetos que eram, adequadamente a
terra. As zoomars da Ingalls, descobriu Buddy Rich, o baterista, e torrando todo facilidades para fazer um teste de radia- última vez que haviam invadido o Golfo
ele, tinham perscrutado a escuridão a noi- o dinheiro do velho Sam. Este então pe- ção, para ver se tinha alguma radiação ne- em enxames iguais foi quando o Furacão
te inteira da quinta-feira, mas seus opera- diu a Joe Colingo que fosse até a Califór- les, então imediatamente deixei o hospital Camille transformou a costa num cemité-
dores não tinham visto sabotador nenhum, nia buscar Sam Jr. Colingo foi e ficou. e transportei os dois para a Base Aérea de rio e o Presidente Nixon, Deus o abençoe,
terrestre, ou extraterrestre. Veio a ser um dos advogados de Buddy Kessler. Lá checaram os dois. Eles não ti- surgiu para oferecer sua compaixão.
"Bem, eu fiquei pensando no assunto Rich, participou de um monte de festas nham nenhuma radiação por dentro deles,
E desta vez, mesmo aqueles que não
um pouco mais," diria Murphy Givens. de "sex-starlets" em Las Vegas e Beverly mas me deixa te contar uma coisa, eles
vieram e não causaram problemas —
"Os homens do xerife estavam convenci- Hills, tagarelou com "gente famosa como estavam com um desarranjo písquico, um
dos que vieram alguns até provocaram um
dos. Estavam crentes. Eu senti que os ca- Vic Damone". Serviu também como pre- de-sar-ran-jo pís-qui-co, pís-qui-co!"
escândalo uma noite no Dutch Inn onde
ras do xerife estavam sendo sinceros, en- sidente, por uns tempos, de uma cadeia
À tarde, Joe Colingo encontrou com uma garçonete disse que foi beliscada por
O motor Uuuuuuuush! Uuuuush!
tas da coisa toda - "Espero nunca mais bida por Huntley Bip-Bip, uma gravação
ia vendê-la a uma gravadora. Huntley fa-
viver nada parecido," iria dizer o xerife, em fita que Bip-Bip tocava no volume má'
lou a respeito com Joe Colingo. Joe não
"os homens da Comunicação são de ma- ximo para seus amigos da cidade, suposta¬
opôs restrição e Huntley zanzou pela ci-
tar". Segurar as pontas era tão duro às mente o ruido natural do motor de um
dade com o seu gravador, testando seu
vezes que fazia um homem interromper objeto do Espaço Extraterrestre — um ob
humor com a turma do Citizens National
sua caminhada e engolir em seco. jeto visto na vizinha Slidell, Louisianna.
Bank e no Café Luke - e por isso ganhan-
Como na manhã em que Joe Colingo por três policiais na mesma noite do su¬
do o apelido de Huntley Bip-Bip. Infeliz-
foi à sala do gerente do estaleiro Walker, posto pouso em Singing River. "Três poli'
mente, porém, a única pessoa a fazer di-
Orville Bryant, com o bolo de insetos car- ciais receberam telefonemas de um monte
nheiro logo foi Murphy Givens, o repórter
regados de gravadores e câmaras do lado de gente em Orleans Parish," disse Hun-
do Press-Register, que vendia suas repor-
de fora da porta, e Joe viu Orville falando tley, "que dizia estar vendo objetos no
tagens a vários jornais de outras cidades a
com alguém no telefone. céu e que um deles chegou a ficar próxi
25 dólares a peça.
mo do solo. Então esses três policiais fo-
Lutar contra os insetos invasores tam- Ele ouviu Orville dizer: "Sim senhor,
V ram até lá no lugar onde a coisa estava
bém não foi fácil, especialmente para eu acho que esses Homens-Caranguejo
conforme indicação do pessoal que tinha
Hickson e Parker, que tinham repórteres eram robôs de Marte que vieram aqui, sa-
telefonado. E assim que chegaram no l u
perguntando a todos os seus vizinhos comé, porque estamos trabalhando num
gar, debaixo da coisa, de repente suas co
um deles no bamboleante traseiro — não quanto tempo eles tinham passado no sa- punhado de coisas novas no estaleiro e
municações foram interrompidas. Eles
paravam de causar uma devastação nas li- natório de loucos, ou que, a meio cami- eles queriam saber em Marte como cons-
não tinham mais comunicação com ne
nhas interurbanas de telefone. " E u pensei nho entre um escritório e outro, tromba- truímos navios aqui na Walkers."
nhum outro carro de polícia. Essa coisa
que fosse ter uma crise nervosa," disse o vam com aquelas enormes câmaras pretas "Isso mesmo" ele ouviu Orvile dizer,
ficou lá por uns quatro ou cinco minutos
xerife Fred Diamond. "Recebemos cha- atras das quais vozes gritavam: "Vocês es- "porque lá em Marte eles estão interes-
e eles parados ali embaixo."
madas da imprensa dos Estados Unidos tavam bêbedos? . . . Nunca tomaram sados em construção de navios. Claro, isso
inteiro. Isto é, estações de rádio e T V que Ele-Ass-Dee? . . . Vocês vão passar pelo é uma opinião pessoal. Claro, claro, a "Por acaso, um dos policiais tinha um
eu nem sabia que existiam, uma atrás da detector de mentiras? " Calvin Parker fi- qualquer hora, Senador." gravadorzinho no carro e porque o grava
outra. Nossa central telefônica não parou nalmente disse a um deles que ia quebrar- E Joe Colingo quase perdeu aquela úl- dorzinho não foi interrompido também
de funcionar durante quase 48 horas se- lhe o nariz depois de ouvir esta pergunta: tima palavra até que sentiu que ela deixa- ninguém sabe. Mas ele pegou-o estendeu o
guidas. A delegacia fervilhava, não podía- " O que é que você vai fazer no natal, ra um grilo em sua cabeça - Senador! - braço pra fora do lado esquerdo do carro
mos fazer nenhum serviço, e tivemos quando Papai Noel descer aqui no seu tre- disse ele então — "Orville, quem era esse e gravou o som da coisa. Ele disse que a
noites em claro - sim senhor, telefonema nó? " rapaz com quem você estava falando? " coisa estava mais ou menos a 150 metros
em cima de telefonema. Fui entrevistado A NBC enviou uma equipe de filma- E Orville Bryant encolheu os ombros e de altura; estava girando; tinha luzes ver
diversas vezes às duas ou três da madruga- gem de New York para fazer um "Docu- disse - "Oh, o Senador Harold Hughes, melhas, verdes e azuis. Estava parada ali e
da." mento" e quando a equipe telefonou ali de Iowa, da Comissão de Serviços Arma- podia-se ouvir o motor e eu tenho a grava-
Parte desse ouriçamento se devia ao in- do Holiday Inn para Joe Colingo e Joe dos." , ção do motor da espaçonave que o poli-
feliz fato de o xerife Diamond não lhes descobriu que eles "não estavam autoriza- Quando o xerife Diamond ouviu falar cial me deu. Dá até pra você dizer quando
ter dito exatamente nada. "O xerife não dos a pagar nada", ficou furibundo: "Que dos helicópteros sobrevoando o vizinho os seres deram partida no motor, ele faz
diria nada nem a mim após algum tem- audácia! Retirem suas bundas desta cida- município de George, não se surpreendeu uuush! uuuush! uuuuush! Ele subiu reto
po", disse Murphy Givens. "Parecia que de! Não quero nem ver vocês! Sumam de nem um pouco — ele ouvira falar da corri- um pouquinho e depois partiu e então
parte de seu trabalho era evitar que o pes- Mississipi!" A NBC também se excedeu da de Dia de Juizo Final em busca das aquele policial desceu do carro e saiu cor
soal de imprensa descobrisse coisas." O em brilho aos seus competidores ao tentar carabinas modelo 250 de alavanca e dos rendo pela estrada atras da coisa, com o
xerife nem mesmo leria para eles o depoi- obter uma cópia da gravação do interroga- rifles modelo 190 sèmi-automáticos na gravador na mão. Ela manteve a mesma
mento ou os deixaria ouvir a gravação da tório: Seus homens enrolaram os auxilia- loja City Gun e na Pawn Shop, na rua velocidade, até que de repente os seres
interrogação, embora eles logo viessem a res do xerife e conseguiram reuni-los nu- Delmas. Nunca se comprou tanta arma deram uma acelerada ou que diabo tenha
saber que até o mais inexpressivo oficial ma salinha do fórum, onde lhes mostra- desde 1962, quando aquele crioulo malu- sido e a coisa saiu na maior velocidade em
de Justiça do fórum já a ouvira. Então ram um filme — o xerife percebeu que co, Meredith, protegido por tropas fede- linha reta pra cima e aí a gravação pa
eles partiram para a vendeta contra o xeri- todos haviam sumido — em que uma tre- rais, se matriculou na Ole Miss. rou."
fe e seus homens, enfiando microfones menda loura cometia os mais bárbaros Tanto que quando Fred Diamond ou- O Golfo da Riviera, como é chamado
em suas caras o tempo todo e fazendo atos pornográficos. No final, os auxiliares viu a história de que o helicóptero da For- pelos cartazes de estrada, era um "confu-
perguntas tipo: "Ora xerife, vai me dizer agradeceram aos homens da NBC pelo es- ça Aérea lá em George fora alvejado por são diabólica dos infernos" (usando as pa-
que um homem crescido como você acre- petáculo mas mesmo assim não lhes de- atiradores desconhecidos, ele balançou lavras de Bip-Bip) com os insetos da im
dita nesses Homens-Caranguejo? . . . Xe- ram a gravação. seu cabeção e disse a Huntley Bip-Bip: prensa provocando pressão alta e as lojas
rife, vai me dizer que não mandou seus O grande momento dos auxiliares veio, "Mais cedo ou mais tarde alguém vai der- de armas faturando alto e o xerife Dia-
homens fazerem uma detalhada investiga- contudo, quando eles foram forçados a rubar um deles e os Homens-Caranguejo mond falando em "calamidade pública"
ção no local? . . . Xerife, por que seus conter à força um repórter de Biloxi. O vão parecer cocô de filhote de cachorro Todo mundo parecia estar sofrendo se
homens não interrogam os operários e o repórter estava sentado do lado de fora de perto do que vai acontecer." veros faniquitos; os seres do espaço pare
pessoal da segurança da Ingalls? . . . " E uma porta atrás da qual se encontravam Nos primeiros poucos dias após o su- ciam ter enfeitiçado as mentes do pessoal.
aquela outra pergunta insinuante e sarcás- Hickson e Parker, e repentinamente deu posto pouso no Singing River, o xerife Os auxiliares da Defesa Civil marcaram
tica que eles faziam sempre e sempre: um salto e gritou a um policia! - "Cês disse que os seus cidadãos estavam "preo- uma assembléia extraordinária, assim co-
"Xerife, há quanto tempo mesmo você tem que me deixar entrar aí! É muito im- cupados". Depois ele disse que estavam mo os Veteranos das Guerras no Exterior
disse que é xerife? " portante! Vou perder meu emprego! Cês "alarmados". Depois finalmente teve que (mas terrestres), e toda a polícia, todos os
O que os insetos não sabiam era que a vão ter que me matar pra me impedir!" e dizer a verdade e admitir que uma porção departamentos de polícia da região esta-
intransigência do xerife fazia parte do jo- se atirou em direção à porta, batendo vio- de gente estava "histérica". Os Homens- vam recebendo desesperados chamados
go de Joe Colingo. Colingo já tivera al- lentamente com a testa de encontro a Caranguejo, disse o xerife, haviam criado telefônicos.
guns encontros com alguns daqueles inva- uma travessa de madeira e sendo devolvi- "uma calamidade pública". "É verdade que todos os cidadãos fo-
sores chatos e depois dito a Hickson e do estatelado ao assoalho. Parte porque a história de Hickson e ram prevenidos para não se aproximar da
Parker: "Vocês não vão dizer coisa nenhu- Os chutes saidos de Pascagoula corriam Parker havia sido reforçada, quase legiti- praia? " foi um desses chamados, confor-
ma pra nenhum desses p . . . porque ne- de costa a costa. Um cartunista do jornal mada: por um oficial de justiça (também me informação do patrulheiro Jeff Green,
nhum deles quer pagar nada". O que era Atlanta Constitution desenhou os Ho- pregador batista, nas horas vagas); por um de Pascagoula. " E depois recebemos um
verdade: Os p . . . dos repórteres queriam mens-Caranguejo como se fossem perso- ex-vereador da cidade; e por três policiais telefonema de uma senhora que queria sa-
obter suas entrevistas exclusivas e voltar nagens de história em quadrinho, com an- de Orleans Parish, na Louisiana, que ha- ber se era verdade que os seres estavam
aos seus chefes e ganhar aumentos de salá- tenas na cabeça e olhos arregalados. viam visto luzes e objetos aquela mesma nos atacando e que tínhamos encontrado
rios e não dar um tostão por isso. Daí Joe Numa edição noturna do jornal da NBC, noite. Assim, os camaradas que haviam 38 pessoas mortas na praia. Eu disse a ela
Colingo, um democrata vivido e respeita- o locutor disse: "Coisas estranhas conti- dado risada dos dois caipiras malucos/be- - "De jeito nenhum" e ela disse -
do, que ajudara o xerife a ser eleito, disse nuam acontecendo no Mississipi à noite," berrões foram forçados a engolir um pou- "Uh-hum, é o que eu tinha imaginado. Os
ao xerife que queria que este entendesse o que provocou uma tempestade de tele- co a risada quando ficaram sabendo o que Homens-Caranguejo estão violentando e
que ele, Colingo, iria vender a história — gramas acusando a NBC de perseguir um o oficial de justiça, os vereadores e os três matando mulheres e homens e vocês estão
para editoras de livros e talvez para Holly- Estado com a extinta imagem de enforca- policiais estavam dizendo. E , depois de te- cavando buracos e enterrando os cadáve-
wood - e gostaria muito que o xerife ti- mentos noturnos de crioulos. rem engolido as risadas, fizeram a coisa res."
vesse isso na cabeça, sempre. A verdade é que este maluco deste americana mais natural, patriótica e deste- "Quero uma investigação ordenada
Havia muitos tostões para ganhar, isso mundo estava de olho no Singing River mida. Carregaram de chumbo suas (anti- pelo Presidente," disse o xerife Diamond,
era certo. Até o investigador Huntley tive- - não interessava Watergate ou a guerra aéreas) armas. "o governo federal tem a obrigação de
ra uma idéia-de-ficar-rico. Ele gravou uma no Oriente Médio, isto aqui tinha signifi- Servindo também como prova da pro- nos ajudar nesta histeria." E assim aconte
comédia bufa, tirada da gravação do inter- cado intergaláctico! — e cabia ao xerife vável presença dos Homens-Caranguejo, ceu que um xerife do Mississipi pediu a
rogatório de Hickson e Parker e disse que Diamond e a Joe Colingo agüentar as pon- havia uma peça de evidência concreta exi- ajuda federal.
Agora, o piedoso rev. BILLY
dr. Hynek tinha sido chefe da Comissão tudos OVNI da Nova Inglaterra, em Quin- naquilo? Os programas de televisão que
de Inquérito dos OVNI, da Força Aérea, cy, um homem que passava seus fins de vêm através do ar, vocês notaram isso?
no Projeto Blue Book e disse que não ha- semana caçando OVNIs desde 1950. Vocês já tomaram um avião e uma vez no
via Homens-Caranguejo viventes/moran- Putnam estava fazendo a instalação de | ar a primeira coisa que eles dizem é Acei-
tes/zzzzzzzingantes/bip-bipantes lá em uma lavanderia automática em Birmin- ta uma bebida? Gostaria de um pouco de
cima. gham, quando ouviu falar dos Homens- uísque? Um pouco de Gim? Um pouco
"Hickson e Parker queriam contar sua Caranguejo e correu para a cena. Ele pa- de rum? Vejam bem: é o Príncipe do
história para aquilo que eles acreditavam peou natural-e-humoradamente com poli- Poder do Ar!
ser oficial", diria mais tarde o dr. Harder, ciais e com trabalhadores do estaleiro. "Então também vemos em Mateus,
e eles o fizeram. E como! "Não só conta- Disse que estava feliz pelo fato de os Ho- cap. 7, que o Diabo possui uma inumerá-
ram, foram hipnotizados" - porque o dr. mens-Caranguejo se parecerem com Ho- vel quantidade de demônios. Estes demô-
Harder é também hipnotizador amador. A mens-Caranguejo, ao invés de, digamos, nios, estes espíritos sedutores, apoderam-
sessão durou quatro horas e quando aca- aranhas, porque " E u não seria capaz de se dos animais e dos homens! . . . Então a
bou, os drs. Harder e Hynek disseram - ser amistoso com uma aranha inteligente Bíblia nos diz que o inferno será aberto!
"Eles não são pessoas desiquilibradas, não do espaço extraterrestre". E os maus espíritos sairão para fora sob
são pirados. Definitivamente, eles viram Stephen Putnam tornou-se uma cele- formas locustas e terão o poder dos escor-
Mas a Casa. Branca e sua borocracia de algo extra-terrestre", enquanto Hickson e bridade local porque antes de fazer 24 ho- piões e assim por diante. Então, conside-
milhões de dólares ignorou este pedido, Parker fugiam por uma porta dos fundos ras que havia chegado, conheceu o rev. rando este fato OVNI que aconteceu
ou exigência. Disseram ao xerife Diamond e, perseguidos pelos insetos, espalhavam Billy Riddick, pastor da igreja Batista aqui, vejam comigo o Apocalipse cap. 16
que a menos que "houvesse vidas em peri- folhetos mimeografados que diziam: Ocean Springs, a quinta maior igreja em versículo 13. " E eu vi tres espíritos imun-
go" o governo não se envolveria. " A res- "Nosso advogado é mr. Joe Colingo. Por todo o Estado de Mississipi. dos como sapos sairem da boca do dra-
posta mais direta que recebi foi uma res- favor não invadam nossa intimidade. Pre- Ele conheceu o rev. Billy à meia noite, gão! E saindo da boca da besta! E saindo
posta indireta passada a mim por alguns cisamos de descanso e também de traba- no exato lugar onde pousaram os Ho- da boca dos falsos profetas! Porque eles
camaradas da Base Aérea de Kessler" dis- lhar". mens-Caranguejo, nas margens .do rio são os espíritos de demônios! Vocês en-
se o xerife. "Eles receberam um telegrama "Hickson e Parker haviam passado por cheio da música gorgolejante das centenas tenderam? Porque eles são os espíritos
do Pentágono que dizia - "Que diabo es- uma experiência aterrorizante", disse o de índios suicidas. E nesse lugar histórico, dos demônios!
tá acontecendo por aí? " dr. Harder. O professor de engenharia e o OVNIlogista dobrou os joelhos e desco- "Então ontem à noite, esse homen
"Bem, pode ser que eu tenha sido um hipnotizador amador benevolentemente briu Cristo e foi batizado e conduziu o Sthephen R. Putnam, um pesquisador de
pouco impertinente," disse o xerife, comparou-os a "um aborígene da Austrá- rev. Billy para a verdade evangélica . . . OVNIs de Scituate, Massachusetts . . . en-
"Eu imaginei que com todos esses espe- lia que repentinamente se depara com um Hickson e Parker estavam possuídos tão eu visitei o local, ontem à noite com o
cialistas aeroespaciais por aí, eles bem que jato Jumbo". Havia algum indício de que por Satanás. Irmão George Rayburn, onde esses ho-
podiam mandar um pra cá." 0 xerife ti- os Homens-Caranguejo eram hostis? "Se mens Hickson e Parker estiveram, no cais,
nha uma opinião: Pascagoula está pratica- um cientista pega um rato de laborató- VISITANTES DO onde estes homens afirmam que o OVNI
mente cercada por um cinturão de instala- rio", reconheceu o dr. Harder, "o rato fi- ESPAÇO E X T R A T E R R E S T R E surgiu. E uma coisa estranha aconteceu!
ções de pesquisas espaciais e militares. Na cará aterrorizado, quer o cientista tinha O QUE DISSE O SENHOR? i Quando estávamos lá, de repente, um ho-
fronteira do Mississipi são testados fogue- ou não intenções nocivas". E enquanto mem - nós não tínhamos visto um carro
tes da N A S A ; a base aeronaval de Pensa- compara Hickson e Parker a indígenas e Sermão pregado na igreja batista ou coisa parecida - mas ali estava um ho
cola é a duas horas de carro; na verdade, o depois a ratos, o dr. Harder não aprovava de Ocean Springs pelo rev. Billy mem andando na nossa direção. E ele se
próprio Cabo Kennedy não é tão longe e o tempo "Homens-Caranguejo". Riddick no domingo, 14 de outu- aproximou, cumprimentou-nos e se apre-
alguns camaradas de Goulà lembram bro de 1973. Prova conclusiva, a sentou. Era Sthephen R. Putnam e ele me
Ele preferia chamá-los de "autômatos"
quando ele ainda se chamava Estação Ae- partir da Bíblia, de que NÃO existe contou algumas coisas sobre OVNIs e so-
com "pinças na ponta dos "braços". Tam-
ronaval do Rio Banana. E, claro, há a base vida física em outros planetas! Exis- bre seres e outras coisas. Então esse ho^
bém os chamava de robôs avançados. "É
de Kessler, em Biloxi, com seus milhares te uma explicação bíblica para o mem acreditava nessas coisas! Ele veio li
natural, em tais circunstâncias, que eles
de especialistas em radar e eletrônica. aparecimento de criaturas estranhas de longe até aqui porque acreditava nelas!
projetassem características másculas". O
Mas a própria base de Kessler teve ape- na terra? SIM! E você precisa da Ele acreditava nelas, yes, ele acreditava!
dr. Harder concluiu: "Há vida em outros
nas, um envolvimento com a "história", resposta! Este sermão, em fitas cas- "Ele disse que esses seres, na maioria
planetas. Acompanho os fatos e admito
numa reunião de duas horas na qual sete da melhor qualidade, duração das vezes, usam como método de comuni
que 90 por cento deles sejam gerados por
Hickson e Parker - em companhia de de 90 minutos, por apenas dois dó- cação o pensamento e não o som ou o
uma espécie de histeria de massa, mas há
Huntley Bip-Bip — contaram sua história lares cada. Por favor, encomendas movimento. Ou seja, assim que a gente
um punhado de casos que não se pode
a uma sala cheia de oficiais, que agradece- com ordem de pagamento. pensa, eles recebem a comunicação! Mui
deixar de levar em conta."
ram a ambos, apertaram-lhes as mãos, dis- Os dois doutores condenaram o gover- to bem! Eu pensei por um momento. Eu
seram que haviam gostado muito, e dese- O anúncio apareceu nos jornais da
no federal por ter interrompido o projeto pensei, aqui está um homem sozinho, à
jaram-lhes boa sorte. " E u acho que aque- costa do Golfo durante o mês de outubro.meia-noite, — se ele acredita nisso e se as
Blue Book. Disseram que com isso foram
les rapazes só queriam ouvir falar a respei- O cassete foi produzido em massa pelo pessoas que seguem este tipo de coisa
obrigados a voltar às suas aulas e não po-
to da coisa," diria depois Bip-Bip. "Bem filho adolescente do rev. Billy, Dale, e também acreditam, me parece lógico que
diam se dar ao luxo de gastar nem um
que parecia que eles estavam gostando de vendido também em lugares como a Sapa- elas se plantassem ali e pelo processo-pen
tostão a mais do que seus orçamentos per-
ouvir a história". taria Familiar do Eddin. O reverendo samento convidassem aqueles seres para
mitiam, e deixaram a cidade. ("Eles eram
Billy é um gentleman de meia-idade e cara virem até elas e levá-las a bordo e eles
Hickson e Parker — e Joe Colingo — legais," diria Joe Colingo. " É claro que
provavelmente estavam procurando em- de lua. Sua voz é de altíssimo tenor Guin- brindariam sua lealdade e recíproca co-
estavam mais que ansiosos para contar sua
pregos do governo, e eu pessoalmente não chante e ele fala num temerário estilo ba- municação! "Então na noite passada
História Exclusiva para alguém . . . qual-
quer um . . . provadamente oficial — " E u entro muito nessa de hipnotizar pessoas, e teria anti-aérea. Stephen Putnam aceitou Cristo como seu
imaginei que devíamos legitimar a história especialmente não gostei do que fizeram "Meus amigos, o que vamos examinar Salvador! E eu escutei-o dizer esta manhã,
de alguma maneira, se íamos fazer aquele com Charlie e Calvin, transformando-os esta noite são as forças de Satanás! Demô- dfcpois de salvo e batizado: "Eu estava lá
milhão de dólares," diria Colingo. Feliz- em crioulos ou aborígenes, ou ratos ou o nios! Diabos! E eu creio que esse é o ân- ontem à noite, esperando o Diabo'." En-
mente, dois "cientistas" correram milha- que quer que seja, mas de qualquer for- gulo apropriado para tratarmos do caso tão perguntei-lhe - "Os homens que acre
res de milhas para vê-los, vindo para Pas- ma, eles disseram que os dois não são lou- dos Homens Caranguejo do Espaço Estra- ditam nesses OVNIs vão a esses lugares e
cagoula da Califórnia e de Chicago: o gri- cos") terrestre e O Que Diz o Senhor? Eu creio pelo processo-pensamento rezam para es-
salho e cara-de-coruja dr. James Harder, Os drs. Harder e Hyneck não eram os que dentro desta categoria nós encon- ses seres? " E ele respondeu: "Sim! " E
da Universidade da Califórnia, em Berke- primeiros OVNIlogistas a chegar à cidade, traremos hoje aquilo em que teremos que vocês sabem o que isso significa? Isto,
ley; e dr. Alen Hynek, de cavanhaque eiri- e logo o xerife Diamond concluía que al- refletir no futuro . . . muito bem! Antes meus amigos, é estar possuído pelo demo
çado, do Noroeste. ("Drs. CArter e Hy- guns destes cientistas e doutores e investi- de tudo em Mateus, cap. 25. Estamos fa- niol E ele disse que estes seres, espíritos
mie", assim os chamaria Bip-Bip Hun- gadores e seja lá o que for, eram tão es- lando a respeito de demônios neste mo- ou que seja, poderiam muito bem ser os
tley). quisitos quanto os homens de Comunica- mento! Estamos falando a respeito de espíritos de Satão que pegam as pessoas e
ção. diabos! Estamos falando a respeito da- as programam, ou mesmo reforçam-nas
Os drs. Harder e Hynek eram OVNIlo-
queles que fazem a obra de Satanás! O com poderes inaturais. Então estamos
gistas, verdadeiros crentes da existência Mas o OVNIlogista que criou o maior
chegando ao estado inferior da astrologia
de fenômenos extra-terrenos — " E u sabia caso e se tornou uma espécie de celebri- PRÓPRIO DIABO! . . . Eu quero que
e da bruxaria e OVNIs e seres do Espaço
que esses caras eram dedicados", diria Joe dade local — teve o seu retrato publicado vocês vejam alguma coisa a respeito do
Extraterrestre. Tudo isso faz parte do sa-
Colingo, "mas eles pareciam caninamente tanto no Press-Register quanto no Biloxi Diabo hoje à noite que talvez vocês não
co do inferno! E tudo isso está num me*
formais para o público". O dr. Harder, Sun-Herald — era um quarentão barrigu- conheçam. Quero que vocês observem
mo saco!
professor de engenharia hidráulica, campo do, careca e jovial que transou pela cidade isso, em Efesios, cap. 2, o Diabo é conhe-
que tem pouco a ver com a pesquisa espa- com sua papada apoiada num livro de no- cido como O Príncipe do Poder do Ar! "Então esse homem Putnam, disse que
cial, era um investigador de horas vagas, tas e uma Nikon dependurada no pesco- "Então vocês notaram como os progra- acreditava que esses seres espirituais con-
amador, na Organização de Pesquisa de ço. Era Stephem Putnam, de Scituate, mas de rádio que vêm através do ar, vocês vencem as pessoas das coisas e podem fa¬
Fenômenos Aéreos de Tucson, Arizona; o Massachusetts, membro do Grupo de Es- observaram quantas coisas diabólicas há zê-las lembrar ou não lembrar, de acordo
A resposta deles? Bzzzzzzzz!
meu preço. Perscrutam minha barba, meu que nunca estou em casa, só andando por esgotamento nervoso que sofreu esta ma-
casaco esporte e minha gravata (todos in- aí com esses dois caras o tempo todo, e o nhã.
descritíveis) e depois se reviram por causa que vai me dar isso? Nada! E Johnette, "Oh, Deus meu!" diz Joe.
de minha maleta, a belezinha Abercrom- man, aquela menina, mais do que qual- Desliga o telefone, atordoado, e me diz
bie & Fitch de 250 dólares. quer coisa no mundo ama notas de $ 100 - "Você, seu f . . . da p . . . você entra
Não há rodeios. " E u não quero que a e Cadillacs." exatamente no meio disto tudo com essa
detalhada História Exclusiva deles se espa- Ele está satisfeito porém, com certos m . . . dessa pasta cheia de ouro. Agora
lhe através do mundo de uma maneira ir- encaminhamentos. Os produtores dos que p . . . que eu vou fazer? O show de
responsável", diz Joe. " E u quero orientá- shows de T V de Dick Cavett e Merc Cavett quer os dois lá na sexta-feira e
la, vê-la, e colocá-la, e claro, pelo fato de Griffin continuam telefonando. Eles que- Griffin continua telefonando, e Deus! Um
as revelações deles terem interesse mun- rem transformar Charlie e Calvin em as- f . . . da p . . . dum p . . . de um esgota-
dial, tem quehaver um preço." tros de T V e, do jeito que Joe está imagi- mento nervoso? "
"Seja o que for, está certo, " disse eu. nando a coisa, os poucos minutos de ví- Ele não diz nada por alguns momen-
"Não vejo nenhum problema. Só depende deo poderiam ser suficientes para atrair tos, depois me fixa atentamente. "O que
de quão boa seja a História Exclusiva de- contratos de livros e filmes de cinema. você acha que b público vai achar do es-
les." "Se, diz Joe, esses dois f . . . da gotamento nervoso? "
com o desejo deles. E disse ainda que em Ele está vestindo um terno imaculada- p . . . estão mesmo dizendo a verdade!" "Calvin Parker sabia que ia passar pelo
lugares onde as pessoas experimentaram mente bem talhado, acinzentado, e o que de!" detector de mentiras esta semana? per-
esse tipo de contato com os espíritos ou me parece uma gravata Dior exclusiva. Eu fico surpreso com essa última frase, gunto.
seres ou o que forem, aconteceram terrí- Existe uma auréola de bom menino em espantado que o advogado/empresário/ "Esta semana ou a próxima, ele sabia
veis tragédias! Então ele contou que este- volta dele. Noto que modula a pronúncia, agente/sócio ainda não esteja convencido. disso."
ve em Boston, no lugar onde aquela mu- a inflexão, o estilo, conforme a pessoa "Bem, eu realmente não posso imagi- "Algumas pessoas, digo eu, "são ca-
lher morreu queimada recentemente. Vo- com quem esteja falando. Só deixa a voz nar por quê eles estariam mentindo," diz pazes de pensar que ele teve o esgotamen-
cês lembram da mulher que os meninos escorregar pelo nariz, na clássica maneira ele, "falei com os dois várias e várias ve- to nervoso para não passar pelo detec-
jogaram gasolina em cima e atearam fo- sulista de falar, quando está se dirigindo a zes. O xerife também. Aqueles doutores tor."
go? Ele disse que naquela área esteve um empregado ou a Bip-Bip Huntley, ou hipnotizadores também. E todo mundo "Yeah, mas podia ser de outra ma-
uma espaçonave OVNI em atividade pou- a algum trabalhador do estaleiro envolvi- acha que eles estão dizendo a verdade. Eu neira. Eles poderiam pensar que ele teve o
co antes do caso e que houve um contato! do em litígio com a Walker & Sons. acho que eles estão dizendo a verdade.' Se esgotamento nervoso por causa do cho-
Ele disse que visitou lugares onde alguns estiverem mentindo, vamos explusar esses que."
"Os jornalistas vinham aqui em
desses OVNIs colidiram com casas! E en- f . . . da p . . . do Mississipi e garantir "Poderiam." concordo eu.
bando," diz ele, "vinham e falavam comi-
tão aconteceram aquelas desgraças! que nunca mais eles arranjem emprego " E ninguém fora de Pascagoula sabe
go e achavam que iam me tapear como
"Então ele disse também que nos seus uma mula da roça. E então, depois de al- neste Estado." que ele passaria pelo detector esta se-
23 anos de experiência falando e entrevis- guns minutos em que eu ficava olhando- " E o polígrafo? " eu pergunto. "Ouvi mana. Portanto, se Hickson for ao show
tando pessoas que fizeram contato com os de cima, eles não sabiam mais o que dizer que eles estão pra fazer um teste há de Cavett e disser que Parker teve um es-
esses seres, ou espíritos, em suas palavras: falar. Então, oferecia-lhes uma xícara de semanas. O quê está impedindo? " gotamento nervoso por causa do que
"Eu concluo a partir de minhas pesquisas café e suas mãos tremiam. Eu deixava cla- aconteceu aos dois, haverá toda aquela
que existe uma certa destruição ou dete- E Joe Colingo toma uma decisão ime-
ro que estava observando suas mãos tre- compaixão."
rioração do caráter a partir da associação diata — é quase como se seus gestos tives-
merem." "Mas você não sabe, "rebato," se isso é
ou contato com esses seres!" sem sido coreografados. "Diabo, claro,"
Ele me traz uma xícara de café e olha verdade."
diz ele. "Vamos fazer isso já, j á ! "
"Então estou dizendo esta noite que enquanto bebo. Minhas mãos não tre- "Não," diz Joe, "mas pareceria isso."
existem agora e vão existir no futuro, al- Telefona para um ex-colega de escola,
mem. Ele sorri. Telefona para o produtor do show de
guns seres espirituais tentando destuir o da Ole Miss, Charles Pendelton, cujo ir-
"Hey," diz ele, "quanto você acha que Cavett e diz que Parker talvez não possa
trabalho de Deus! Então o que vocês têm mão é presidente da Agência Pendleton
dá pra levantar com a História Exclusiva ir, mas que Hickson irá. O que há com
de fazer, meus amigos, é pôr à prova esses de Detetives, em New Orleans.
dos dois? " Parker? perguntam.
espíritos! Ponham-nos à prova! Testem- "Hey, Charles," diz ele, "me faz um
Eu não sei, respondo. Vai depender favor, boy. Me manda um dos rapazes "Oh, sabe como é," diz Joe, "ele pe-
nos! Então vocês testam os espíritos para muito de como a história possa ser com- gou uma gripe e está fatigado etc."
saber se são ou não de Deus. E a Bíblia de seu irmão aqui pra fazer com estes dois
provada. caipiras que dizem ter visto seres extrater- " M . . . " , diz ele, batendo o fone —
diz — "Todo o espírito que confessa que "Vamos tomar um trago e pensar melhor
" U m milhão, você acha? Eu imagino renos, um teste no detector de mentira.
Jesus Cristo é o Senhor, seu Senhor é de nisso tudo". Tomamos cinco ou seis drin-
que, se vendermos os direitos da histó- Você faria isso por mim, boy? E ouça
Deus e um bom espírito!" ques no Longfellow House. "Espero que
ria para revistas, livros e cinema, dá pra aqui, seja lá qual for o resultado do teste,
"Então meus amigos, esses seres que levantar um monte de dinheiro. Eu acha- esses dois f . . . da p . . . estejam dizendo
vai haver muita publicidade em torno. E
esses homens Hickson e Parker contata- ria jóia se a revista Life ainda estivesse no a verdade!" diz ele. Vamos de carro até
imagino que com toda essa publicidade, a
ram, eles não disseram isso, disseram? mercado." sua casa de 75 mil dólares. O Cadillac está
coisa até sai mais vantajosa pra vocês to-
Eles não disseram que Jesus Cristo é o Vai depender muito também, disse eu, estacionado na garagem. Sua mulher está
dos do que dinheiro." Pendleton diz que
Senhor. Não! Sabem o que eles disseram? da capacidade de Hickson e Parker em re- estacionada na cozinha. Ela diz que houve
vai falar com o irmão e depois telefona
Bzzzzzzzzzz!" latar o que lhes aconteceu. dois telefonemas importantes: para ele
para Joe de novo.
É a última semana de outubro e aqui " M . . . ! Aqueles dois b . . . ! " disse seu bookmaker e um médico de Charles
estou eu no mais longínquo e escuro Sul, "Qual o sentido de contratar uma fir- Hickson.
ele, "estou lhe dizendo, qualquer pes- ma desconhecida para checar uma coisa
seguindo os. rastros dos Homens-Caran- soa que comprar a história deles vai ter o de significado universal? " pergunto a ele. Ele faz seus telefonemas enquanto a
guejo do Espaço Extraterrestre. A cidade meu assessoramento. Tudo o que eles sa- "Por que não contratar alguém inatacável, mulher e eu discutimos sobre um editor
tem tons laranja e preto. Luminosos de bem dizer é — "Eu vi! Eu v i ! " como por exemplo o sujeito que inventou de Pascagoula que ganhou um Prêmio Pu-
neon piscam nas fachadas comerciais. " E d a í , " resmunga ele, "não, fizemos o polígrafo, em Chicago? " litzer em 1962. Ira Harkey, que dirigia o
Há algo importante que prolonga mi- dinheiro nenhum até agora. Pô, tive até "Puts," ri Joe, "isso provavelmente ia Chronicle, na época o único jornal da ci-
nha estada. Este 30 de outubro é o 35? que emprestar algum dinheiro pra eles, me custar o olho da cara!" dade. Ele ganhou o Pulitzer por ter defen-
aniversário da Invasão dos Marcianos, o outro dia, pras contas do empório. Pendleton telefona como prometera. dido a integração e o direito de James
dia em que Orson Welles transmitiu pelo
Todo mundo está fazendo dinheiro, Negocio fechado. O teste será feito no dia Meredith ser aceito como aluno da Ole
rádio a "Guerra dos Mundos".
menos Charlie Hickson e Calvin Parker e seguinte. "Charles, boy," diz Joe, "você Miss. Sua redação foi alvejada a tiros. Sua
O escritório de Joe Colingo fica em
Joe Colingo." vai adorar a promoção nacional que vocês mulher foi ameaçada. Ele viveu certo tem-
frente ao fórum de Jackson, e é guardado
vão ter. Isso vale um milhão de dólares de po na Longfellow House, protegido por
por três secretárias do tipo pêssego-com- O que, eu suponho, é verdade: o reve-
relações-públicas." Ele telefona para o Es- um corpo de soldados as 24 horas do dia.
chantilly. Nenhuma delas parece se im- rendo Billy Ridick já assinou contrato
taleiro Walker e pergunta por Charles Uma comissão de vigilantes locais, lidera-
pressionar muito quando entro com mi- com uma gravadora evangélica de Cincina-
Hickson. da pelo xerife, organizou um boicote de
nha maleta de couro encrustada com me- ti para um disco intitulado Visitantes do
Hickson não está. anúncios contra seu jornal. Finalmente
tal dourado e dou a uma delas o meu car- Espaço Extraterrestre o que Diz o Se-
"Bem, onde diabos ele está? " ele acabou deixando a cidade.
tão de visitas. Suas expressões me dizem nhor? Huntley Bip-Bip está ocupado gra-
que aquelas doçuras são espertas: elas vi- vando sua comédia. Murphy Givens está Charles Hickson está num hospital, em Johnette me passa um livro que Ira
ram muito pentelho chegar sorrindo atra- fazendo o dinheirinho da. cerveja com Laurel, Mississipi. Harkey escreveu sobre Pascagoula, chama-
vés daquela porta para falar com o sr. Co- seus free-lances. E o Press-Register impri- "Que diabo está ele fazendo lá? " do O Cheiro de Cruzes Queimadas. "Uma
lingo. E elas viram todos eles sairem ofen- miu um livrinho chamado OVNIs sobre o Está visitando Calvin Parker. porção de coisas do livro não são ver-
didos ou irritados com o fato de Joe não Mississipi - os 7 Dias de uma Odisséia no "Que diabo está fazendo Calvin Parker dade," diz Johnette, "e de qualquer for-
ser suficientemente burro para dar a al- Espaço. Está vendendo-o por um dólar e lá?" ma, as coisas já não são mais assim" Dou
guém alguma coisa em troca de nada. já vendeu mil exemplares. Calvin Parker é um paciente, lá. uma olhada no livro e noto que ela gara-
" E minha mulher está realmente bron- "O quê? " tujou nas margens das páginas os nomes
O aperto de mão de Joe Colingo é do
queada comigo," diz Joe, "Johnette diz Calvin Parker es.tá sendo tratado de um das pessoas da cidade que Harkey manti-
tipo Charles Atlas e seus olhos avaliam
Um altar ao Homem - Caranguejo
vera anônimas. tão por ela. Eu, de qualquer forma, não trabalho bom, pra mim pelo menos. Eu Singing River. Calvin ainda evita uma por-
"Esse Hickson f . . . da p . . . ! " diz gosto de ir a essas cidades. Uma vez eu não quero mais p . . . nenhuma atrapa- ção de pessoas e se recusa a falar sobre os
Joe. "Parker tem seu esgotamento ner- estava em Washington e ia saindo do lhando a coisa." Homens-Caranguejo. Ele diz que não quer
voso e vocês sabem o que faz Hickson? Hotel Mayflower e um crioulo e sua garo- "Você está dizendo que ainda não está passar por detector de mentira nenhum e
Hickson telefona para o médico e diz que ta crioula vieram na minha direção e o convencido de que seja verdade? " não quer ir a show de T V nenhum e não
quer seu filho, que está de serviço em crioulo me apontou uma arma e eu estou " M . . . boy," ri Joe, " E u sempre fui quer dar sua História Exclusiva para nin-
Okinawa, de volta para casa porque ele ali pedindo pro crioulo não me matar. Os positivo ! E então, você quer comprar a guém. Ele quer simplesmente que o dei-
está nervoso em razão do que lhe aconte- policiais chegam e dizem que a culpa é História Exclusiva deles? Aperta um bo- xem em paz.
ceu. Essa é grande! Ele quer que o minha por estar andando à noite — onde tão e pega o telefone. E um homem de Pascagoula, chamado
governo dos Estados Unidos traga seu fi- diabos eu pensava que estava, em Pasca- É o produtor do show de Cavett; o de Bert Charpie, escreveu uma carta para a
lho de volta quando o governo não quer goula, Mississipi? " Griffin já está garantido. Câmara de Comércio e para o Press-Regis-
nem mesmo ouvir a desgraçada da sua his- No dia seguinte, Charlie Hickson faz o Uma semana depois do dia de Hallo- ter: "Considero uma honra para a costa
tória. teste do detector da Agência de Detetives ween, os Sons of the Beach começaram a do Mississipi que os Homens-Caranguejo,
"Agora estou realmente preocupado," Pendleton e passa pelo teste, embora o repor a sua labuta dentro de uma perspec- com óbvias condições e capacidade de
diz ele. " E u não sei que diabo está acon- homem que o examinasse não tenha dito tiva terrestre e, após algum tempo, os Ho- pesquisar qualquer outra parte de nosso
tecendo. Espero que os f . . . da p . . . exatamente que Kickson disse a verdade: mens-Caranguejo e suas pegadas sumiram planeta, tenham claramente escolhido
estejam dizendo a verdade. Espero que "Estou convencido de que ele acredita de vista. nossa região como a ideal para sua pes-
não estraguem tudo. Não ligo a mínima que foi levado a umnave espacial por tres A Costa do Golfo retornava a uma ro- quisa . . . Eu proponho que um campo de
pro que esses bundas-sujas viram, não seres." tina menos febril: numa cidade não muito pouso e uma estação de boas-vindas sejam
acredito nesses p . . . desses Homens-Ca- Vejo Joe Colingo no fim da tarde se- distante de Jackson, uma enfermeira ne- construídos em algum ponto apropriado,
ranguejo, mas há um monte de dinheiro guinte e pergunto a respeito de Parker. gra visitou uma enfermeira branca três uma ilha por exemplo. Que o terreno seja
envolvido". "Na verdade, Parker não teve um esgota- noites seguidas e na terceira noite a K u limpo e aberta uma clareira, onde se faça
. "Vamos tomar o penúltimo," diz ele, e mento nervoso," diz ele, "foi uma peque- Klux Klan queimou uma cruz no jardim um desenho em cores contrastantes, uma
deixamos Johnette Colingo em sua cozi- na crise e logo ele estará bem". Pergunto de sua casa . . . imagem de 150 metros de largura, de um
nha e o Cadillac na garagem e eu guio o se ele sabe o motivo da pequena crise ner- Joe Colingo trouxe Charles Hickson de Homem-Caranguejo, de modo a que a na-
meu castanhão Monte Cario Hertz para vosa e Joe diz que não sabe, mas que ima- volta do Dick Cavett Show e esperou pela ve deles ao sobrevoar não falhe em ver e
lugares tais como o Dutch Inn, o La Font gina que foram os Homens-Caranguejo. oferta de um milhão de dólares para o reconhecer o ponto. E colocar na estação
Inn, o Tiki e o Holiday Inn, enquanto "Como você se sentiria se visse esses livro e o filme de sua História Exclusiva. de boas-vindas presentes que possam ser
Joe, encharcado de álcool, resmunga so- caras? " me pergunta Joe. Seu tom encer- Ele esperou e esperou e esperou e esperou facilmente levados, como radinhos de pi-
bre seu milhão e sua mulher. ra lágrimas de crocodilo. e esperou e ainda está esperando. "Não lha, máquinas fotográficas, aparelhos de
"Se fizermos o show de Cavett, então "Calvin Parker vai passar também pelo entendo," disse Joe Colingo, "a nossa His- TV, gravadores, relógios, lanternas etc.
eu também tenho que ir. Deus, Johnette detector de mentiras? " , pergunto. tória Exclusiva é maior que Watergate e Com um cordão de isolamento na ilha,
vai ficar uma vara comigo, mas eu preciso "Não, pra quê? Pra mim Charlie já é ninguém quer comprá-la". como se fosse um Altar dos Homens-Ca-
ir, pra garantir que ele não diga uma bes- suficiente." E Charles Hickson e Calvin Parker? ranguejo. Eu aposto que os Homens-Ca-
teira pra algum f . . . da p . . . e estrague " E Hickson, você vai fazê-lo passar por Charlie voltou para o estaleiro e gasta as ranguejo responderão com uma troca de
tudo. Posso até ver a coisa, uma tremenda algum outro exame além do de Pendle- suas tardes de sexta-feira bebendo cerveja souvenirs que eliminará qualquer possível
manchete dizendo NOSSA HISTÓRIA ton? " com os colegas, nunca menciona os Ho- histeria em relação a sua missão na terra."
EXCLUSIVA sem que nos dêem um tos- "Diabo, aqueles rapazes fizeram um mens-Caranguejo, e nunca vai pescar no FIM

...prá quem acorda cedo, pega condução,


dá duro, tem uma hora de almoço, sai as seis e
prove ser inteligente.

E também prá quem não faz nada disso e prove a mesma coisa.

GRUPO
inscrições abertas X X EDUCACIONAL
CESCEM CESCEA MAPOFEJ ^ M T EQUIPE Rua Caio Prado, 232 lei. 257 2754 256 0425
O psiquiatra David Cooper - 41 anos, nascido
na África do Sul mas que circula com passapor-
te inglês e vive na Argentina - fala de seu livro
" A Gramática de Viver", destinado a ter uma
repercussão tão grande quanto "Psiquiatria e
Antipsiquiatria", livro que o fez famoso mun-
dialmente.
Sc no primeiro. Cooper questionou - a partir de >
DAVID COOPER
" N O M E U M A N I F E S T O DO O R G A S M O , M O S T R O O E R R O T O T A L
experiências em comunidades psiquiátricas DO C H A M A D O C R I T É R I O DE O R G A S M O DE W I L H E L M R E I C H "
co-dirigidas por ele e pelos ingleses D.R. Laing e
A.Esterson - o conceito corrente de "doença ções não são tempo-espaciais, c apontam para política da inveja e do ciúme. Em outro capí- pelo hipócrita sistema burguês: inclusive nossas
mental" e afirmou que toda mudança na psi- e vêm de lá - um nada específico que falsamen- tulo, chamado "Sobre como terminam as rela- próprias mortes.
quiatria será estéril sem o acompanhamento de te sc materializa no "si mesmo" mas que, cm ções", questiono ironicamente os debates inter- P - Volta a falar das drogas?
mudança social, em "Gramática" Cooper volta realidade, é o que chamo de "si mesmo zero" mináveis e absurdos das revistas especializadas R - Falo dos viciados, analisando a variedade
a ampliar as ondas concêntricas de seu pensa- ("Zero self"). sobre os critérios da alta em psicanálise. de falsos conceitos que existem a seu respeito.
mento oontestador. O papel da prática psiquiá- P - Que é isso de "si mamo zero"? P - Pode explicar um pouco o seu conceito dc Em Buenos Aires me impressiona muito favo*
trica na sociedade dc hoje, os tabus sexuais, o R - O "si mesmo zero" é um nada específico ciúmes e inveja? ravelmcnte o trabalho que o dr. Alberto Fon-
sentido da vida c da morte, as relações entre o (juntamente com o conjunto de direções ele R - Aqui meu raciocínio é complexo; mas há tana e sua equipe realizam neste momento. 0
micro c o macro-político, o suicídio - são al- forma o indivíduo) que já nío tem a falsa segu- alguns exemplos óbvios sobre a manipulação da que fazem é oferecer ao viciado um contexto
guns dos temas que Cooper redefine, a partir dc rança de ser uma substância com uma parte inveja. Há certos grupos minoritários náo-con- humano permanente, tanto de dia como de
um universo mental c existencial cada vez mais interna c contornos ou limites do interior que a formistas na sociedade burguesa que os dirigen- noite, onde a droga está ao seu alcance até que
abarcador. Aqui está a entrevista que David fazem parecer como separada do "mundo dc tes dessa mesma sociedade e seus sequazes inve- chegue ao ponto que se enfastia dela e então
Cooper concedeu a Ricardo Halac, jornalista de fora". jam secretamente. Isso dá origem à perseguição prefere relacionar-se com outras pessoas sem
Buenos Aires, sobre sua última obra. O que se chama o "inconsciente", ou, digamos, desses grupos - mulheres, os "racialmente infe- necessidade de drogar-se. Finalmente, escolhe
Pergunta - Por que seu livro se chama "Gramá- "repressão" na psicanálise clássica, eu considero riores", os "sexualmente desviados", os "visio- voluntariamente não procurar mais o narcótico.
tica de Viver"? em termos dc estruturas tais como ação sobre nários", as crianças e os que ideológica e religio- Aceita o doloroso passo que significa abster-se
Cooper - Porque não acredito que nenhum de experiência, que desvia a experiência, como samente são diferentes. E, como sempre, a clas- do estimulante, rodeado de outras pessoas com
nós tem a força para gerar estruturas de liberta-ações sobre as ações na experiência, e assim se dirigente se auto-justifica com mitos de per- as quais agora estabelece relações duráveis. Em
ção, devido aos processos que, em escala micro- sucessivamente. feição de sua sociedade "limpa" . . . A reali- clínicas convencionais, especialmente as "pro-
social, começam a ocorrer muito antes da gente Devemos despojar-nos de noções tais como a de dade da inveja foi convenientemente perdida de gressistas" comunidades terapêuticas, a absten-
nascer, e que acabamos arrastando ao longo de que "temos mente", que obedecem aos ditames vista: inveja como ódio da mesma fonte do pró- ção forçada da droga leva à inevitável reinci-
nossas vidas, c de nossas mortes. . . . Escrevi da filosofia ocidental, cm particular às formas prio ser. dência porque ninguém sabe como lidar com o
um livro que não tem receitas de como viver, de pensamento e às categorias de Kant. Idéias P - E quanto ao problema do fim das relações? paciente fora do quadro clínico e médico. Cito
mas que aponta, dentro das principais áreas, simplistas sobre o tempo e o espaço, por exem- R - Tratei de definir a natureza peculiar da o tratamento correto, por exemplo usado pelos
aquelas onde me parece mais urgente que - plo, devem ser substituídas no processo de abo- não-relação psicanalítica, tanto como a das rela- muçulmanos negros, nos EUA, para a cura dos
através de um processo dc desestruturação de lição das "mentes kantianas" que - segundo ções em geral. O casamento, entre outras. O viciados em heroina. Escrevi também sobre a
todo o excremento intelectual, físico e quase- nos ensinaram - sc supõe que tenhamos. Além matrimônio sagrado, na minha opinião, devia experiência psicodélica, que é uma experiência
cspiritual com que encheram nossas cabeças e disso, tratei de despojar-me dos "mecanismos ser mais total e menos sagrado, ainda que haja autônoma, que nada tem a ver com a psiquiatria
nossos corpos - possamos criar novas estruturas psicanalíticos" convencionais como "introjeção uma verdadeira santidade nas relações que formal ou com a interpretação analítica.
autônomas, ou zonas libertadas do espírito. Ou e projeção", que dependem de uma dicotomia abrem um caminho através da selva de mistifica- Num círculo humano apropriado c num am-
seja, onde formemos a vivente gramática da vi- conccitualmentc ilusória do "interno e do ções que as pessoas se criam reciprocamente. biente familiar (jamais numa clínica), a expe-
da. externo". Creio, assim, na possibilidade de um matrimô- riência permite a uma pessoa aprender sobre o
P - Como se alcança esse objetivo? nio sacramentai entre uma pessoa c outra que conhecimento dialético que existe fora e dentro
P - Há no seu livro, então, um novo ataque à
R - Para conseguir isso devemos estabelecer fo- exclui a violência do contrato legal, c c uma da mente, assim como descobrir uma disciplina
psicanálise, tal como é formalmente exercida?
cos ou comunidades onde possamos encontrar renovada e perpétua eleição cm liberdade. que enterra problemas ilusórios (os assim cha-
R - Num capítulo intitulado " A quem o ana-
novas formas dc viver nossas vidas numa socie- P - Consideram-se outros temas na "Gramática mados neuróticos) permitindo tomar uma dis-
lista paga? Uma olhada na "gavilla" da fraude"
dade pré-revolucionária. Mas no primeiro capí- dc Viver"? tância infinita na superação por exemplo dos
- tratei dc desmistificar, do ponto de vista da
tulo desse novo livro, tratei dc esclarecer o que bloqueios sexuais de todo tipo.
"praxis", o contexto da sessão psicanalítica R - No capítulo 119, chamado "Aprendendo
é político c dc levá-lo além do ativismo macro- P - O livro analisa também o problema de
convencional, expressando ao mesmo tempo onde estamos parados", analiso a insegurança
social, da política cm escala dc partidos, Esta- sexualidade?
meu respeito pelo bom trabalho realizado por ontológica das pessoas. Isso leva a uma recon-
dos nacionais ou geo-política. A noção esten- analistas individuais que sc "abriram caminho" R - Na "Gramática de Viver" incluo, e isto c
sideração da natureza do suicídio, que pode ser
de-se ao micro-político, que se ocupa do que as no sentido de permitir uma progressiva humani- dc importância fundamental, um "Manifesto do
- para gente que não chega a encontrar alterna-
pessoas fazem umas para as outras, nos grupos zação da situação onde a reciprocidade e o en- Orgasmo". Procuro demonstrar o erro total do
tiva; gente que existe na realidade - um ato
onde uns se encontram com outros cara a cara, contro anaiista-pacientc sejam possíveis. O obs- assim chamado critério de orgasmo dc Wílhulm
terapêutico estático supremo, que nunca deve-
como na família, na rede de amigos, entre com- táculo principal para o encontro é essa área téc- Reich. Ele afirma, primeiro, que o orgasmo
ria ser castigado com a sutil ou surda violência
panheiros no ambiente do trabalho. nica chamada "interpretação": na interpreta- deve ser heteroscxual, enquanto que, em reali-
da interferência psiquiátrica.
Por isso, o "político" para mim pode estar fora ção, o intercâmbio de experiência que flui livre- dade, o orgasmo homossexual é para muitos
Num capítulo anterior, relacionado com esse
do exercício do poder (e mesmo de seu estudo), mente, é distorcida por um sistema conceituai uma experiência essencial. Quando falo de
("Os paradoxos da normalidade"), exploro a in-
e é mais encontrado em e entre entidades so- imediatista que tem sua origem na teoria antes homossexualidade gostaria de eliminar do ter-
certeza da assim chamada "existência normal"
ciais. que no encontro mesmo. mo qualquer componente psicopatológico
- existência que representa nada menos que o pseudo-científico. A homossexualidade não é
P - E o que entende por entidade social? Estou particularmente impressionado pelo tra- aborto da experiência - como oposta à perigosa
R - Entendo a pessoa, ou partes de uma pessoa balho na Argentina* de alguns psicanalistas uma doença nem tampouco um problema; só a
passagem na direção - e através de - dc uma falta dc uma adequada experiência homossexual
em relação a outras partes dela mesma; uma excepcionais que, cm vez de inocular sutilmente loucura verdadeiramente libertadora. Também
relação entre duas pessoas; a família; outros nos seus pacientes o conformismo, são capazes é que pode ser um problema.
examino as diferentes modalidades do que sc Reich afirma, depois, que não deve haver fanta-
grupos que convivem diretamente e, por último, de deixar que uma pessoa continue com sua chama loucura. Primeiro, a loucura como estig-
no macro-político, coletividades, partidos, igre-própria experiência e com uma clara visão das sias irrelevantes durante o ato sexual. Em reali-
ma social, a conspiração de pequenos grupos dade, elas podem ser necessárias c até enrique-
ja e outras instituições. Também devem-se in- realidades políticas que existem fora das sessões de pessoas, como a família, contra uma vítima
cluir entidades nacionais e entidades geopolí- oficiais. Quando é boa (o que é raro), a psicaná- cedoras tornando-se um tema de conversa futu-
eleita, c revejo as estratégias - algumas das ra com o parceiro (parceira). Reich estabelece
ticas, tais como países em guerra, relações impe- lise não é uma questão dc tres ou cinco anos de quais são bem conhecidas - usadas para fazer
trabalho, senão uma situação experimental cm
rialistas entre países e, por último, a cosmopolí- ainda que o orgasmo deve ser dc uma "duração
uma pessoa "louca" a fim dc aliviar o grupo dc apropriada", quando na verdade pode durar um
tica. que não dá para explicar aqui. que entramos, da qual saímos, e à qual entrare- sua própria e não reconhecida loucura. Em
P - Você falava da extensão do conceito do mos de novo durante todas nossas vidas. Nin- segundo ou - coro ou sem substâncias psicodé-
segundo lugar está a loucura autonomamente licas - infinitos de tempo. Por último, afirma
que é político. guém é tão lúcido ou-sábio na cultura burguesa escolhida, baseada numa escolha original desti-
para que não o beneficie uma autêntica terapia Reich que o orgasmo deve concluir-se numa
R - Convencionalmente, na sociedade burgue- nada a transcender o mundo ilusório da norma- "completa descarga da libido bloqueada", o que
sa, devido à astúeia animal de dirigentes desu- nesse sentido. Parte do trabalho futuro deve ser lidade social. Essa é, por exemplo, a loucura de
a extensão do potencial terapêutico dc todas as é uma absurda e irrelevante redução da expe-
manizados. se opera um processo de rachamen- Antonin Artaud, Gérard de Nerval, Holdcrlin, riência a termos métricos, "econômicos", vio-
to. A velha fórmula do "dividir para reinar". relações dc modo que afinal, quando alcancc- William Blake c muitos outros gênios tranqüilos, lentando a natureza puramente qualitativa do
Devido a essa velha estratégia, na Universidade, i
mos uma sociedade não alienada, a terapia já que ninguém conhece publicamente. momento..
por exemplo, os estudantes estão polarizado- não será um artigo de comercio se não uma P - Ouvi que você mantém em Buenos Aires
propriedade comum a todos. O orgasmb feminino é um sucesso raro mas,
entre os que se preocupam em compreender um grupo dc meditação, é fato?
Uma das principais formas do não-encontro contra todas as falsas concepções, o orgasmo
sensitivamente o que se passa entre eles e o seu R - Com efeito. Nesse grupo se procura supri-
analítico que descrevo no livro, ilustrada com masculino é mais raro ainda. Examinei esses
jnc.jp. de um lado, e de outro, os ativistas, que mir gradualmente a mente c encontrar uma
histórias dc gente que fala dc suas sessões, é temas a partir dc recentes investigações sobre os
si- orientam na busca de uma mudança social "mente renovada". O propósito é adquirir uma
produto da resistência do analista em considerar mecanismos neuromuseulares do orgasmo.
através da politizaçâo da classe trabalhadora, disciplina dc movimento fora de - e dc volta à
a incidência na vida dc um sujeito dc pais "ex- Para chegar ao amor orgásmico, devemos cortar
inas que, lamentavelmente, são cegos diante tio - a própria mente, ao lado dc uma paulatina
ternos" reais, c a redução da comunicação do nossas cabeças dc modo que possamos penetrar
que concrefâmente se passa entre indivíduos e desestruturação do conceito burguês de tempo
sujeito a pais "internos", pedaços de pais e de dc pleno cm nossos corpos: uma auto-decapi-
os grupos menores. A menos que encontremos e da formidanda equação tempo/dinheiro. Em
outros, e a projeção dessas ficções internas. Eu tação que nosjcvará para trás, cm busca de uma
um traço comum entre essas duas posições essência, através da progressiva superação da
substituiria esses conceitos pela noção de "dire- vida perdida.
opostas, a mudança de toda a sociedade fracas- dor e do medo da morte c da loucura, adquiri-
ções": direções não tempo-espaciais, que apon- P - E sobre seus planos?
sará; V tudo o que podemos fazer, então, é re- mos mais liberdade para atuar no mundo.
tam para - e desde - um "eu mesmo" não R - Entre outros, meus objetivos na Argentina
conhecer a necessidade de contestar sempre. A propósito, posso mencionar também que o
materializado: o "eu mesmo zero". são formar comunidades onde pessoas possam
P -Contestarão permanente? ' livro inclui dois capítulos desmistificadores: "A
Na minha opinião, aqui nos encontramos diante curtir sua loucura fora do enquadramento médi-
R - Contestação permanente - do Trances reinvençáo do Amor" e "Experiência para a
de um barato golpe defensivo dc origem burgue- co, c assim contribuir para a formação dc um
"contestation" - é a progressiva desestrutura- Guilhotina".
sa, destinado a bloquear na vítima (o paciente) Centro Internacional de Ensino, onde gente do
ção das formações hierárquicas, tais como a
a visão sobre a verdadeira direção que existe P - Experiência para a guilhotina? "Primeiro Mundo" deverá comparecer, não para
burocracia do poder político, e assim sucessiva-
entre ele (ou ela) e o resto do mundo humano e R - Essa experiência se refere às diferentes ensinar, mas para aprender, num processo inver-
mente.' A contestação permanente nos lará
natural. Devido a isso, um dos capítulos dc meu maneiras com que a sociedade e seus agentes so dc dominação cultural.
encontrar, no final, a síntese de todas as forças
novo livro se chama "O interior e o exterior". abortam, ansiosa e compulsivamcnte, a possibi- Por último, gostaria de esclarecer um mal enten-
polarizadas numa sociedade que busca a mudan-
Outros conceitos psicanalíticos devem ser trans- lidade de uma consciência libertada c visionária, dido que já está ficando chato. Sempre me
ça.
formados com o mesmo espírito radical. Con- que já não tem a paciência dc submeter-se à nomeiam como o teórico da "anti-psiquiatria" c
P - Existe afinal um tema central na "Grama- ceitos tais como "regressão" seVonvcrtom assim inibição do ato espontâneo de assumir tudo o da "nova comunidade terapêutica". Ainda que
tic-i dc Viver"? ; numa forca potencialmente progressiva, que que é, assim como é. tenha mesmo criado o primeiro termo, não
R - Acho que seu tema mais importante é a í chamo. . - >utro capítulo, de "vida revivida". No fim, "Gramática de Viver" tem um capítulo quero ver meu nome associado às "experiên-
necessidade de abolir as noções de "sei!"' (si Também examino, no livro, o ponto de vista chamado "Curriculum mortis" que, entre cias" que sc fazem cm nome dessa palavra sem
mesmo) e do inconsciente (eu consciente e eu míope e reducionista dos psicanalistas sobre a outras coisav trata da maneira como podemos que seu sentido original seja compreendido.
inconsciente). Esses conceitos deram lugar a inveja e o ciúme, e faço especulações sobre a morrer nossas próprias mortes ao invés de mor- Não sou o fundador dessas coisas. Eu apenas
direções de experiência e de ação. Essas dire- rer mottes anônimas que nos foram oferecidas sou.
ABAIXO REICH! A Quién le Paga El Analista? Una ojeada
a la gavilla dei fraude. Por David Cooper

"El lector puede associar libremente fraude aborrecido é ou bem estar aborrecido por uma
ifraud, em inglês) con Freud, si asi Io desea" atividade do outro ou (ativamente) aborrecer-se
(D. Cooper) a si mesmo. De uma maneira similar, aban-
donar-se a algo privado de reflexão, que não
Tratemos de entender o verdadeiro sentido dos parece relevante para a relação, é uma maneira
itos terapêuticos básicos individuais e sociais. muito presente de ausentar-sê. O comentário
Um exame do ato de "interpretação" é funda- "voce está pensando no quê? ", feito pelo ana-
mental neste projeto. As interpretações psicana- lista ao analisado, é um modo de tentar romper
listas convencionais encontram seu fundamento uma ausência presente. Pode tratar-se de uma
na teoria psicanalttica. Essa teoria não permite sensação no analista de que ela (ou ele) não está
nem sequer o menor espaço à liberdade, entre trabalhando com suficiente energia e/ou a in-
seus intersicios; esse ato incondicional de assu- tenção de ajudar ao silencioso analisado para
mir livremente o próprio destino de tal maneira tirá-lo de um estado de bloqueio. Pode ser uma
ue se possa evitar, com um tranqüilo êxtase, o pergunta criativa só quando as condições esta-
S ue teria sido o próprio destino. Os pressupos-
tos dessa teoria são - ao menos idealmente -
belecidas na relação são de tal ordem que o
analisado possa fazer ao analista a mesma per-
que todos os atos humanos são infinitamente gunta. Ainda que aqui eu esteja falando das re-
inteligíveis em termos de coisas que acontece- lações entre analista e analisado, muito do que
ram antes a uma pessoa e que a modificação se digo pode generalizar-se para qualquer relação.
processa quando o sujeito enfrenta, tanto inte- É absurdo considerar a experiência terapêutica
lectual como emocionalmente, o sistema de como área exclusiva de profissionais. Qualquer
ífloramento que se produz no trabalho analí- essencial. Resposta de um a outro, que pode relação que se explora profundamente, em
tico. ocorrer com igual significação no "terapista" forma e suficiente, pode ser o solo fértil onde o
Essa "inteligibilização" da vida de uma pessoano "paciente". Pode ou não incluir palavras. ato De terapêutico básico floresça.
tvita o reconhecimento da liberdade que carac- qualquer maneira, a maior parte da resposta Ademais, com respeito ao entre-jogo entre a
teriza um movimento dialético original dessa estará além das palavras. Na situação de respos- presença e a ausência na relação terapêutica, há
mesma vida, a dialética segundo "nós nos faze- ta, as duas pessoas (ou o grupo) são entidades uma situação em que duas pessoas se encontram
mos do que somos feitos". E estamos "feitos" separadas, ainda que estejam relacionadascada a uma ausente de si mesma e entram no mes-
("passividade") por uma multidão de fatores ponto de uma assimilar as mudanças da outra, e mo espaço que é um espaço entre elas.
condicionantes: nossa biografia; nossa formação os efeitos de cada mudança provocam outras Depois de um tempo indefinido em que convi-
familiar; pela cultura que está além da família, emudanças e repercutem de novo em cada uma. vem no mesmo útero - que é uma produção de
issim sucessivamente (positividades): e por uma Passando de uma metáfora auditiva a uma vi- ambos - cada uma emerge da experiência para
"atividade de negação" (escolhas) que nos defi- sual, poder-se-ia dizer que o "ato terapêuticoencontrar-se presente perante si mesmo e pre-
nem como somos, ainda que possamos libe- básico" é um ato pelo qual uma pessoa (a que sente ao outro, com um novo estado de separa-
rar-nos desse processo que poderia chegar se pode
a referir como o analisado) acende uma ção alcançado. Esse estado de separação proce-
moldar-nos, e esse ato liberador, essa escolha luz no outro (o analista) e quando este se sente de da ausência de cada pessoa de si mesma,
original de ser, no final não pode ser restrita ailuminado, a primeira pessoa é capaz de verausências a que geram uma co-presença que era a
nenhum sistema inteligível, ainda que a exten- luz que acendeu. Dizendo de outro modo: opresença de nenhum, mas de ambos.
são de áreas inteligíveis no campo de nosso co- analisado sabe que se fez conhecer pelo analista, Por último, eu sublinharia a idéia de uma ex-
nhecimento possa facilitar, em uma formae internaliza o ser como ser-conhecido pelo ana- pansão da relação terapêutica além do campo
secundária, nosso movimento autônomo de li- lista de modo que o converte em conhecer-sehumanamente a sufocante e ideologicamente per-
bertação e aqui, por certo, é onde a psicanálise si mesmo. O que importa é a qualidade ontoló-vertido do profissionalismo. Eu poderia susten-
pode ajudar - mas não ajuda. Não ajuda porque gica de conhecer e ser-conhecido em relação àtar, com termos mais ou menos sofisticados,
não pode - devido aos termos de sua teoria -qual o conteúdo de saber verbalizado ou verba- que - por exemplo - um treinamento psicana-
lítico oficial elimina ou ajuda a eliminar equívo-

Lennon
tocar o núcleo não-analisável e irredutível de lizável é absolutamente secundário.
nosso ser, essa espécie de nada-liberdade, intan- Ilustrando graficamente pode-se dizer que, cos, no relacionamento, que bloqueiam a
gível e ininteligível, que cada um de nós "é". numa relação de resposta, a pessoa A influencia "cura"ou "prejudicam" o paciente. Presumivel-
4 pergunta é esta: por que, quando alcançamosa pessoa B que influencia a pessoa A. mente a "cura" implica algum tipo de liberação
i máxima clareza com relação às estruturas inte-
ligíveis de nossas vidas, alguns de nós escolhem
negar certos sistemas condicionadores básicos
A *—* B
Também a pessoa A assiste à pessoa B influen-
do paciente de alguma desordem com que se o
haja batizado. Bem, talvez, a liberação é uma
verdade estabelecida para conformar com os va-
ciando-se a si mesma (B) e também vê a pessoalores burgueses da sociedade, que se refletem
(e, portanto, mudá-los), e outros não? Somos,B impressionando-a a ela (pessoa A).
rides again
alguns de nós, como os "übermenschen" nos estilos de vida da maioria dos analistas. Esti-
A -» (B -> B) + (B -+ A) los de vida excessivamente dominados pelo con-
nietcheanos, mais livres que outros, por nossa O desenvolvimento de um esquema assim é infi-
posse de algum tipo de opaca Vontade? Ou, sumerismo e que colocam um obstáculo intrans- Se os Beatles vão voltar a funcionar juntos,
nito. ponível entre o analista e o analisado ideologi- ninguém ainda sabe, mas que eles - ou pele
para dizer de outro modo, só podemos atuarNa emsituação analítica interpretativa, o gráfico menos três deles (a exceção é George Harrison)
liberdade quando podemos conceber a liberda- camente progressista. O. analista ideologi-
básico é deste modo: a pessoa A impressiona a - estão aparecendo demais ultimamente, estão.
de? Mas, então, por que alguns de nós conce- pessoa B através de seu sistema de medição camente progressista que superou toda a culpa Sóa de Lennon, neste começo dc ano, os jornais
bem a liberdade e outros não? acerca de aceitar dinheiro do analisado e toda
(M ), e a pessoa B influencia a pessoa A atravésculpa sobre a restrição de tempo que tem paraamericanos e europeus já falaram um punhado
a
Creio que a concepção da liberdade e sua subse- do sistema alienado de medição da pessoa A cada um, só pode funcionar autenticamente se dc vezes. Aqui estão quatro dessas notícias
quente inserção no mundo só pode ocorrer atra- A -* M -> B -> M -> P
vés de uma ação que compreenda "assumir valo-
a a a
limitar seus gastos ao mínimo e se também tra-sobre o ex-líder dos Beatles.
rosamente o risco". Digamos, por exemplo, O queato terapêutico básico compreende também a balhar, fora do consultório, para a mudança. As 1? - Como não manter em segredo uma aventu-
estamos jogando vários tipos de roleta russa: dialética de presença e ausência de cada um em entidades psicanalíticas tendem a excluir gente ra secreta: mês passado, na Vila Sevilla, sul dc
nós "apertamos o gatilho" (... ) e depois nos relação ao outro. Neste ponto, gostaria simples- não-conformista, inovadora e criativa, assim co-Sunset Boulevard, Los Angeles, ouviram-se gri-
encontramos livres; se a bala saiu, perdemos mente de sublinhar como a experiência de pre-mo certos clubes de golfe excluem pessoas cuja tos e ruídos de coisas sendo quebradas num
nossa liberdade junto com tudo o mais, e perde- sença ou de ausência do outro pode ser uma raça ou religião sejam "erradas", tais como apartamento. A polícia foi chamada e chegou
mos a partida. Mas, se não corrermos o risco,ilusão enganosa; muito mais do que uma ilusãojudeus ou, mais especialmente, os pretos. Em armada. Bateu na porta; as luzes se apagaram.
também perdemos a liberdade. de colisão. ambos os casos é simplesmente uma mistifica- Bateu de novo, c finalmente uma famosa cabeça
Voltando à natureza do ato de interpretação,A posição comum é: seu pensamento está den- ção trabalhar a favor da integração, coisa que seapareceu - "Alô, sou John Lennon, lembram
vemos que a corrente bi-direcional de experiên- tro de você. torna uma espécie de mendicidade. Essas insti- dos Beatles? ". Os policiais riram e disseram,
cia que se produz entre o analisado e o analista, Mas: você pode entrar dentro do seu pensamen- tuições devem fechar. "Prazer em conhecê-lo, John". E se mandaram.
se vê interrompida por esse ato. O analista inter- to. O apartamento estava ocupado por uma ga-
põe um sistema mediador, derivado de sua Então: você não está aqui porque você está den- No curso da luta pela mudança em nós mesmosrota oriental (não Yoko) que o sublocou de al-
teoria, com o propósito de compreender e desse tro do seu pensamento. e no mundo, a terapia há de ser uma proprie-guém que o sublocara de alguém. De acordo
modo facilitar a substituição por outro, usando Você está em qualquer parte menos aqui dade comum a todos e deixar de ser um artigo com um dos moradores do apartamento, "Te-
a interpretação como veiculo. Esse sistemaMas seu pensamento está aqui no supermercado dos profissionais, Alguns dos nho dó dc quem o sublocou; pelo barulho da
mediador bloqueia a continuidade do intercâm- Portanto você está aqui. que possuem a presença terapêutica maior são briga, não deve ter sobrado nada lá de dentro".
bio de experiência e o bloqueia com resultados Quando duas pessoas se "relacionaram aqueles
significa- que viveram totalmente sua loucura pe-
desastrosos quando o analista se vê obrigado tivamente"
a de forma recíproca, a única baserigosa; em realidade, são as vítimas da psiquia- 2? - John Lennon foi assistir ao show de Ann
usar essa mediação para evitar, como defesa, possível
o para a experiência de ausência ê a pre- tria; o aspirante a terapeuta não pode fazer mui- Peebles, c na ocasião usava um Kotex na cabe-
livre intercâmbio que sente como uma ameaça a sença em relação à ilusão de ausência. A geogra- to mais do que sentar-se durante horas ça.
intermi- Havia umas onze pessoas na sua mesa; ele
suas próprias "estruturas do ego ". Essa não re- fia não tem importância. náveis, vivendo com gente oficialmente rotulada não deixou gorjeta para a garçonete e em res-
conhecida ação defensiva, realizada pelo analista, A dialética de presença e ausência é importante de "psicótica", escutando e sentindo gradual- posta ao chiado desta cie disse, "Sabe quem eu
pode traduzir-se em forma de comentários se-com respeito ao ato terapêutico básico, precisa¬ mente seu caminho na sutil espera de uma ver- sou?", disse ela. "Você é algum bunda-suja
cundo os quais o analisado está oferecendo mente nos termos do tipo de ilusão descrito dadeira e resposta. Ê até demais dizer que esse com um Kotex na cabeça".
- "resistência". Essa resistência pode em reali- da necessidade de desmitificá-la. Por certo que a tipo de atividade não tem lugar no programa de 3? - Um jornalista bem informado de New
dade ser uma estratégia necessária, que necessita retirada acontece e essa retirada de uma pessoa treinamento dos psiquiatras e dos psicanalistas.
A outra presença terapêutica é a dos visionários York jura que Yoko Ono está grávida, nfo de
eonflrmar-se como tal, se o analisado procura pode ser sentida como absoluta e provocar in¬
John mas John quer Yoko de volta de qualquer
manter sua capacidade de manejar realidades tensa dor no outro, e ainda pode ser sentidaque, tentando compreender os acontecimentos
de massa, ajudam a transformar o mundo jeito. Enquanto isso, Yoko consulta um astrólo-
atra-
sociais fora da situação analítica, se é que se mais ou menos intensamente pela pessoa que se
go quase diariamente.
dispõe a manter ume vida autônoma fora da retira. A retirada que gera a experiência devés do impacto liberador nos outros de sua for- •
elaçdo analítica em vez de uma inválida depen- ausência ê, não obstante, o resultado de um mosa, pessoal e louca poesia da ação. 4f - Lennon está pondo om lelllo, este mês, o
dência central com relação a ela. duro trabalho sobre as presenças, trabalho que A loucura é negra, plano no qual foram compostas multas das mu-
"Resposta", e não "Interpretação"-êo termo se realiza durante o período de "ausência", Assim também é a verdadeira antt-psiquiatrta. sicas dos Beatles, Motivo: levantar mais dinheiro
jue prefiro aplicar ao Intercâmbio terapêutico Desse modo, ausência ê atividade; InclusiveA opsiquiatria negra venceráfinalmentea brancapara garantir a defesa de seu amigo Mlchael
"estar aborrecido" ê atividade presente; estar pslnutatrte. Abdul Mallk, líder Pantera Nepa de Londres
que foi condenado à morte em Trinidad, acusa-
do de assassinato.
Uma noite num restaurante

Caçando ostras em NEW JERSEY

W•
Sh<lizi<:h! •••••«.I

jeansstore Editores: Sérgio de Souza, Narciso Kalili,


Hamilton de Souza, Dacio Nitrini, Sumiko
Arimori, Palmério Dória Vasconcelos, Hamilton
de Almeida Filho, Ricardo Alves, Marcos
Faerman, Armindo Machado, Carlos Alberto
Caetano, Antônio Mancini. Ex— é publicado

Levis por Ex-Editora, rua Santo Antônio, 1043, Bela


Vista, São Paulo. Circulação mensal,
distribuição própria. Composto na Compenser,
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SIDE P E L E S H A T T E R E D T H E C Z E C H S WITH A B R I L L I A N T
B R A Z I L H A D Q U A L I F I E D FOR T H E 1970 W O R L D CUP SER- E F F O R T A HIGH B A L L , C A U G H T A T S P E E D ON HIS
IES IN MÉXICO WITH C O N T E M P T U O U S E A S E . T H E O T H E R CHEST A N D T H E N V O L L E Y E D P A S T T H E C Z E C H K E E P E R
T W O S I D E S IN T H E I R Q U A L I F Y I N G G R O U P W E R E E N G - V I C K T O R . A F T E R THIS G R E AT 4 - 1 V I C T O R Y , T H E
L A N D . A N D THE HIGHLY FANCIED C Z E C H O S L O V A K I A N 8 R A Z I L I A N S L I N E D UP A G A I N S T E N G L A N D . B E T W E E N A L L HIS F O O T B A L L I N G COMMITT- WITH N O N E OF T H E P R E S S U R E S OF P L A Y I N G TO WIN, P E L E C O U L D
M E N T S , P E L E F O U N D T I M E TO M A R R Y A E N J O Y H I M S E L F D U R I N G T R A I N I N G , A N D O F T E N P L A Y E D IN G O A L .
BEAUTIFUL GIRL, ROSEMARY, AND BECAME HE S U B S T I T U T E D FOR T H E G O A L K E E P E R A T S A N T O S , 8 U T T H E F A N S
D I S L I K E D THIS A S IT M E A N T TH AT P E L E W O U L D N T BE S C O R I N G A N Y
A FAMILY MAN.
G O L D E N GOALSI '

B R A Z I L E E A T E N G L A N D BY A S I N G L E G O A L . B O B B Y M O O R E
( A B O V E L E F T A N O RIGHT) P L A Y E D P E L E OUT OF THE G A M E .
M O O R E IS P E L E ' S F A V 6 U R I T E P L A Y E R , A N D T H E Y A L W A Y S
E X C H A N G E SHIRTS A F T E R A M A T C H . THE FINAL, AGAINST
1 P E L E WAS A M A R K E D M A N FOR E V E R Y F U L L B A C K D U R I N G
I T A L Y , W A S A F i T T I N G O C C A S I O N FOR P E L E TO S C O R E HIS
100th G O Ã L IN W O R L D C U P F O O T B A L L , A H E A D E R F R O M A T H E 1966 W O R L D C U P , H E L D IN E N G L A N D . E V E R Y T I M E HE
CROSS B Y R I V E L I N O . P E L E H A D H E L P E O B R A Z I L TO THEIR G A I N E D POSSESSION HE WAS B R U T A L L Y H A C K E Q / p O W N . A
THIRD WORLD CUP VICTORY. JUBILANT SUPPORTERS C A R R - HALF-FIT PELE TOOK THE FIELD AGAINST PORTUGAL, BUT.
IED HIM A R O U N D T H E S T A D I U M . WAS S O O N B A C K ON T H E T O U C H L I N E , HIS F A C E TWISTED
WITH A G O N Y . B R A Z I L A N D P E L E W E R E L I T E R A L L Y K I C K E D
OUT OF T H E C O M P E T I T I O N B Y V I C I O U S T A C T I C S .

FORTUNATÊl|Y, C L U B F O O T B A L L H A D
ITS C O M P E N S A T I O N S ! S A N T O S WE R E
NOW P A Y I N G P E L E £60,000 A Y E A R . HE
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THE HIGHEST B R A Z I L I A N D E C O R A T I O N
P E L E H A S WON J U S T A B O U T E V E R Y A W A R D A N D D E C L A R E D A N OFFIÇIAL A S S E T BY
THAT FOOTBALL CAN O F F E R , SANTOS HAD B R A Z I L . F I G H T I N G HIS W A Y T H R O U G H
A S O L I D G O L O F O O T B A L L W E I G H I N G 414 LB. C R O W D E D D E F E N C E S , THE 1000 G O A L
CAST FOR HIM. A P L A Q U E TO C O M M E M M O R A T E TARGET EDGED NEARER. F I N A L L Y ,
HIS 1000 G O A L S C A N BE F O U N D IN S A N T O S .OVER 75,000 J U B I L A N T F A N S M O B B E D
SOCCER STADIUM. A L T H O U G H R E T I R E D • P E L E ' A F T E R HE H A D N E T T E D A P E N -
FROM INTERNATIONAL FOOTBALL, PELE A L T Y AGAINST VASCO DA GAMA.
P L A Y S 'FRIENDLIES' A L L O V E R THE WORLD. B R A Z I L E X P L O D E O WITH R E J O I C I N G .
H E R E HE P L A Y F U L L Y P U L L S T H E H A I R OF P E L E W E A R I N G A S H I R T i W I T H 1,000
BIRMINGHAM'S SENSATIONAL T E E N A G E R , ON IT, W A S C H E E R E D OT-F T H E F I E L D .
TREVOR FRANCIS, BEFORE A GREAT MATCH.
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T H E V A S T O F F E R S T H A T M A N A G E R S S U C H A S H E L E N I O H E R R E R A OF INTER
Ml L A N IRIGHT) M A D E FOR HIS T A L E N T S .

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M O R A L I S E D E N G L A N D IN T H E
"LITTLF WORLD CUP". SMASH-
ING 5 GÒALS PAST B O B B Y
MOOR£'S D E F E N C E . A F T E R T H E
GAME, BOBBY R E M A R K E D : ' T A K E
PELE AWAY FROM THE B R A Z l L -
IANS A N D WE A R E J U S T A S G O O D ,
B U T HE IS S U P E R N A T U R A L . '
T A K E T H A T G O A L HE S C O R E D - HONOUR FOLLOWED HONOUR. PICKED
HE P I C K E D T H E B A L L 'JP OUT- TO P L A Y FOR HIS C O U N T R Y A T T H E
SIDE T H E P E N A L T Y A R E A . T H E N A G E OF 16, P E L E H A D J U S T 2 Y E A R S
BE A T A D E F E N D E R — W H A T TO WAIT FOR THE 19Ü8 W O R L D C U P .
W O U L D HE,DO N E X T ? T H E R E H E L D IN S W E D E N , V I N C E N T E F E O L A .
WERE A T L E A S T F I V E M E N B E - B R A Z I L - S T E A M M A N A G E R . C H O S E TO
TWEEN PELE A N D THE G O A L , A L L - REST P E L E D U R I N G T H E E A R L Y Q U A L
C p R R E C T L Y POStTIONED, BUT I F Y I N G G A M E S , BUT A F T E R BEíNG
PELE FOUND-A GAP A N D C R A S H E D H E L D TO A G O A L L E S S D R A W B Y E N G -
T H E B A L L INTO T H E N E T . T H A T IS LAND, MAINLY THROUGH A GREA+ ,
W H Y P E O P L E C A L L HIM ' T H E G R E A T - DISPLAY BY THE G O A L K E E P E R , COLIN
EST F O O T B A L L E H IN T H E W O R L D ! ' M A C O O N A L D , IFÁR L E F T ) P E L E WAS
R E C A L L E O TO P L A Y A G A I N S T W A L E S ,
A N D IT WAS P E L E W H O P O P P E D UP TO
SCORE T H E V I T A L A N D O N L Y G O A L
IN 1959, P E L E S C O R E D 125 \
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B E G A N 1 0 W O N D E R IF
PELE COULD T A K E THE
S T R A I N . H O W E V E R , HIS
HUMBLE BEGINNINGS
ENSURED THAT PELE P E L E F O L L O W t D UP T H E M A T C H A G A I N S T W A L E S B Y
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I O N A L L Y DISAPPOINT A N G R E E T E D T H E TVVO F I N A L I S T S , FOR T H E I R OWN Slttí
AUTOGRAPH HUNTER, H A D F O U G H T THEIR W A Y T H R O U G H TO T H E F I N A L S .
N E V E R IGNORE T H E C O N - A F T E R O N L Y FOUR MINUTES, SWEDEN U N 8 E L I E V E
G R A T U L A T I O N S OF A B L Y L E A D , THROUGH A G O A L BY THEIR C A P T A I N ,
ANOTHER PLAYER. L I E D H O L M . BUT 8 H A Z I L T U R N E D ON A L L OF THEIR
MAGIC TO R U N ÜUT T H E V I C T O R S , B Y 5- 2. P E L E
H A D N O T C H E D 2 G O A L S , HIS FIRST, A T Y P I C A L G t M ,

M
PICKING THE B A L L UP IN THE C R O W D E D G O A L M O U T H ,
HE F L I C K E D IT F R O M HIS R I G H T T H I G H TO HIS L E F T ,
O N T O HIS H E A D . A D E L i C A T E B A C K H E A D E R A N D T H E N
A 1 8 0 ' T U R N TO S M A S f l A V O L E Y PAST T H E A M U S E D
S V E N S S O N . THIS WAS P E L E ' S W O R L D CUPI

Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
Dezembro,
Segunda quinzena
1975

A volta O pau Não perca!


do pilantra queGodoy Preto é gente!
Simonal
"Quer saber se sou
levou! ISVATAlMâ
O momentoso caso do J H h I a A E U I j' BA
Cante com Ex-!
História Nova!
Fala o povo!
informante do DOPS? ex-vereador de Apucarana Q u a s e d o i s m o r t o s cada três
Vai lá procurar que denunciou prefeito d| m c r i m e s d o E s q u a drão,
Comicus!
minha ficha". e apanhou no quartel. §ó e§te no Rio# E apresentando:
Página 16 Página 9 Frango Caipira!
TIRAMOS O VELOCIMETRO: FALTAM
NOVAMENTE 100 ANOS
PARA O NOSSO
Sacanagem, Millôr, escolhe-
mos você como patrono de
M A I S U M número 1. Nem
sequer avisamos. Mas, enfim,

PRÓXIMO você mesmo disse que todo


homem tem o sagrado direito
de torcer pelo Vasco na arqui-

CENTENÁRIO!
bancada do Flamengo (10?
Mandamento da Revista Pif-
Paf, 1964).
Por que você? Por seus 35

MAIS UMN-1 SAÚDA


anos de imprensa profissional,
por se considerar um franco
atirador e um liberal radical;
pelas compozissõis infãtis,

OS LEITORES,
pelos panos rápidos, por este
slogan: "Imprensa é oposição.
O resto é armazém de secos e

OS JORNALISTAS,
molhados"; pelos pensamen-
tos sem dor e por essa falsa cul-
tura; por Liberdade, Liberda-
de, por Um Elefante no Caos,

OS AMIGOS E PRESTA
pelo homem do princípio ao
"im; pelos clássicos e as fábu-
as; por Voga, revista "estilo
Time/Veja" que você fundou
em 1951, que durou cinco nú-
meros e ainda pode ser lida
sem vergonha; pelo Pif-Paf, o

IMPRENSA
primeiro jornal quinzenal
independente lançado após
1964, que durou 8 números;
pelo Pasquim, que você fun-

NANIGA:
dou; e principalmente porque
nós queremos.
Vai desculpar, Millôr, mas no

MILLÔR
ano em que a imprensa inde-
pendente é batizada de nanica,
cresce e se multiplica, só podia
ser você. Encontramos apenas

FERNANDES
um Millôr; e, como você disse
no Supermercado n? 1, em
1968, na revista Veja, único

AQUELE
E depois vem a história do lugar onde você trabalha hoje,
otimista que se atirou do últi-
mo andar do edifício Avenida já não se fazem Millôres como
e, quando ia passando pelo dé- antigamente. E, na semana em
cimo, murmurou, satisfeito:
que lançamos MAIS UM, você

ABRAÇO!
"Bem, até aqui, tudo bem".
N. R. — Triste pais Ms nos alerta para as emoções que
em que os otimistas se atiram se avizinham: vem aí 1976.
do -alto dos edifícios.
Vamos lá, Millôr, não vamos
O Pif-Paí n» 3, 1964. perder mais este.
MAIS UM-EDITORES: Hamilton Almeida Filho/-
Narciso Kalili/Mylton Severiano da Silva/Paulo Estimado senõr Patarra:
Patarra/Amancio Chiodi/Dácio Nitrini/Palmério
Doria de Vasconcelos/Armindo Machado/Luiz M e es muy grato informale que la Junta de
Guerrero/Alex Solnik/Vanira Codato/Claudio Directores, en su reciente reunión en São Paulo, aprobó su afilia-
Faviere^João Antonio/Jayme Leão/Hilton Libos/Jo-
ta/Marcia Guedes/Monica Teixeira/lvo Patarra/-
ción a Ia Sociedad Interamericana de Prensa. Bienvenido a la SIP!
Gustavo Falcon/Agliberto C. Lima/Luís Pontual/Jo- Nos felicitamos por contar com su valioso apoyo y colaboración en
sé Trajano/Elvira Alegre/Gabriel Romeiro/Waldir la tarea interminable, pero tan necesaria, que nos hemos impuesto.
de Oliveira/Luís Câmara Vitral/Elifas Andrea- En breves dias la oficina matriz le enviará um certificado de afilia-
to/Octavio Ribeiro/Joel Rufino dos Santos/Sérgio ción y otro material sobre la SIP. Espero que tendremos el placer de
Fujiwara/Vilma Grizysnk/João Otavio/Nivaf verlo en alguna de nuestras asambfeas. Lã reunión de medio ejerci-
Manzano/e Millor Fernandes (homenagem).
ble
MAIS U M é uma publicação da EX-EDITORA Ltda., cio se verificará dei 5 al 8 de abril en Kingston, Jamaica, y la anual dei
Rua Santo Antomo, 1043 - CEP 01314, SP. Tiragem: 11 al 15 de octubre en Williamsburg, Virgínia. Hasta tener la oportu-
30 mil exemplares. Distribuição Nacional: Abril nidad de estrechar su mano, reciba un cordial saludo de su colega y
Cultural e Industrial S.A., SP. Composto e impresso amigo,
nas oficinas da PAT - Publicações e Assistência Téc-
nica Ltda., rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 412,
SP. Nenhum direito reservado. Dezembro, segun-
a) Raymond E. Dix, Presidente da Sociedade Interamericana
da quinzena. Ano 1, número 1.
de Imprensa (SIP), Miami
DEZEMBRO/75
2? QUINZENA
FOI SÔ PENA QUE V O O U ! PAU EM NÔS, PÀÜ
NO PASQUIM, PAU EM TODA A IMPRENSA NAN1CA.
IZE MAS NÓS RECONHECEMOS: ÀS VEZES Ê SALUTAR.
Primeiro vocês mataram
o Francis {logo o Francis,
vejam a obra dele, as pri-
- Por que o Pasquim,
que se diz da imprensa
livre e jornalistas idem, e
sões, as polêmicas, as ainda sai sem censura-pré-
idéias, haverá entre vocês via, se omitiu sobre os
alguém mais vivo?). Daí o acontecimentos em torno
Pasquim gozou vocês nas da morte de Vladimir Her-
cartas do Edélsio " I v a n zog?
Lessa" Tavares. Vocês não - Por que o editor do
gostaram, paulistas que Pasquim (o tão bem faleci-
são, fiquei sabendo pelo do Ivan Blota Júnior Lessa)
Ex-15, que tinha também não tem o mínimo respei-
uma insinuação que o to pela pessoa humana e
PUBLICAMOS AQUI, EM PRIMEIRA Ziraldo "trabalha" para as
multinacionais. ( Q u e m
ousa fazer um nota fú-
nebre sobre o caso, que
MÂO,TRECHO DA CARTA ABAIXO: que há de? Vocês escovam achincalha com a verda-
os dentes com o quê? A
" O S PROFESSORES ESTÃO C O M off-set que imprime vocês
de? E ainda mais - omite a
verdade?
SALA RIO ATRASADO HÂ4 MESES". é nacional?).
No Ex-16 então o jogo
- Por que esse editor
(que deveria estar criando Na seção de cartas, o Ex- faz de humorismo partici-
Está se repetindo este empréstimo definitiva- ficou claro. A carta do lei- os programas de humor a 16 trazia a contribuição de pante no Brasil é anedota.
ano uma irregularidade mente. tor anti-Pasquim, o debo- serem apresentados na um leitor (cujo n o m e O Fradim e o Zeferino do
que parece estar se tor- che ao Jaguar na reunião futura TV-Silvio Santos)
Alguém proporia então: consta do próprio expe- Henfil, os desenhos do
nando uma característica da SIP e por fim a " m o r t e " tem o desplante de fazer
"Talvez se se fizesse um diente do jornal)-SÉRGIO Ziraldo e os cartuns do
administrativa da Puc: os do Ivan Lessa. Pobres, humor-negro - através de
ligeiro protesto...!"; não B U A R Q U E , que eu acredi- Caulos, então são meras
professores estão c o m nanicos, censurados, com suas ridículas fotonovelas
acabou a e falar, pois a sala to, precisaria uma maior anedotas.
seus salários atrasados há medo, e ainda por cima - com a morte desse gran-
dos p r o f e s s o r e s f i c o u reflexão. A idéia é boa e Não me levem a mal, eu
exatamente 4 meses. Des- brigando entre si!! Não, de cineasta que é o Pasoli-
vazia, e os que ficaram válida, porque instiga o estou com vocês - em qua-
de o mês de agosto esse não, não culpem apenas ni?
mudaram logo de assunto debate (que é o que estou se tudo -. Mas péra lá,
pessoal não vê a cor do para nao se compromete- o governo, o dinheiro (dos E agora, já não se precisa fazendo através desta car- vamos devagar com a lou-
dinheiro que a Pontifícia rem. (...) outros), a polícia, a censu- mais finalizar cartas como ta), mas o resultado da car- ça. Vamos apontar erros,
Universidade Católica lhe ra, os Estados unidos, pelos o fez o leitor Sérgio Buar- ta dele foi bem aquém do mas não se aproveitar dos
deve. Há três anos estudo males que lhes aconte- que de Gusmão: ... deso-
Mas no fim, também aos que se esperava, porque erros de um (como é o
na Puc e desde o 1» ano cem. ladamente"; não é mais
mestres o decreto lei 477 pautou unicamente por caso do Ivan Lessa), negar
(Básico) ouço essa mesms a) Xicho Eiras, Belô preciso, pela própria atitu-
estende seus longos bra- atacar pessoas (alguns ina- todo o trabalho partici-
estória: "estamos sem rece- de dele em escrever.
ços justiceiros e vergonho- tacáveis) numa análise pante dos outros,
ber há 2 ou mais meses".
samente parciais, impossi- C o m todo o respeito bem emocional. a) Vera Elrindo, Rio.
Não sei onde a Adminis- Em função da carta apre- pelos trabalhos de vocês,
tração foi arranjar a idéia bilitando qualquer reação. Eu concordo inteira-
sentada pelo leitor Sérgio a) Alaor de Morais Gen- mente, quando se critique CONGRESSINHO
de que professor vive de a) Cereni Lipo, SP. Buarque Gusmão: tille, Rio. O que parece ser o mais
brisa; mas por outro lado, a maneira pela qual o jor-
nal O P A S Q U I M noticiou importante hoje é o
pode apoiar-se no fato
comprovado de que esses DEFINIÇÕES DE JORNALISMO: 1) IR, a morte do jornalista Vla-
dimir Herzog, e mais ain-
seguinte: Ex e Pasquim
fazem parte de um mesmo
professores não dão aulas
apenas na Puc. Mas isso VER E TRANSMITIR; 2 ) O ENCONTRO da, quando tez pior sobre
a morte de PASOLINI.
(e espremidíssimo) limite
de resistência da imprensa
não é relevante para pro-
vocar uma total falta de DA LIBERDADE C O M A LIBERDADE. Basta compararmos o Pas-
quim e o jornal Movimen-
democrática nese país. Por
isso, tanto Ex como Pas-
organização, e pior ainda, Ex entrou em mim no quim têm hoje para o Bra-
uma atitude arbitrária, to e será nítida a diferença
m o m e n t o c e r t o , no de abordagem do proble- sil um vbalor inegável. E o
pois são os professores de momento em que eu esta- leitor leva isso muito a
Letras apenas que não ma sobre a morte do P.P.
va em conflito com o que Pasolini. U m traz uma aná : sério. Compra o Ex, com-
recebem e não lhes é dado me ensinavam e com o pra o Pasquim, o Opinião,
sab n o motivo. (...). lise séria e impessoal e o
que eu refletia. No outro, avacalhado, debo- o Movimento. Pode achar
A Fundação São Paulo momento em que não o Opinião mais emposta-
chado, pessoal e bem rea-
fez um empréstimo com a aceito a idéia de que jor- do que o Movimento, o
cionário. Isso aí deve ser
Caixa Econômica Federal nalismo é lead e sub-lead, Movimento mais paterna-
combatido.
para financiamento das mas é só o que vejo. No lista que o Pasquim, o Pas-
Mas não em chavões
anuidades dos alunos; e m o m e n t o em q u e eu quim mais careta que o Ex,
igualmente pessoais a
apesar de todos os contra- achava também que a fór- ou o Ex muito desbunda-
Glauber Rocha (gosto de
tempos e dificuldades, mula Opinião não era a do. Tem suas preferências,
todos os seus filmes), e a
alunos e CEF têm conse- melhor, pois me parecia evidente. Mas quando
Ziraldo (que apesar de
guido se suportar mutua- um jornal feito nao por c o m p r a um, o u t r o o u
vender personagem pro
mente. jornalistas, mas por espe- todos, está de uma forma
Governo - isso nao é sufi-
Talvez baseada nesse cialistas em assuntos eco- ou de outra se alinhando.
ciente para negar todo o
fato, decidiu fazer coisa nômicos, políticos, etc. e Basta c o m p r a r e está
seu seríssimo trabalho
mais ou menos semelhan- por isso mesmo exaustiva- tomando uma posição. (...)
c o m b a t i v o de charge,
te no caso dos salários atra- mente analítico. No Q u e no paraíso, devida-
sados. Tenho boa memó- momento em que o Pas- TALVANI GUEDES DA FONSECA, diariamente no JB; e nem
mesmo o Pererê é a mes- mente vestidos com asi-
ria, e passo a transcrever
mais ou menos os termos
quim estava sendo esma-
gado pela censura-prévia. Q U E M DIRIA, ACABOU EM ma coisa que o Tio Pati- nhas, os senhores Ivan Les-
sa, J a g u a r , H a m i l t o n
nhas. O Pererê, apesar de
do documento: No momento em que eu PERNAMBUCO. (TÍTULORUIM, estar no mesmo esguema Almeida e Dácio Nitrini
pensava nostalgicamente
U m professor inocente-
mente ousou acreditar no
que jornalismo é repórter, MAS ELE NÃO MERECE MELHOR.) de c o m e r c i a l i z a ç a o d e
massa, é um quadrinho
passem momentos de êx-
tase debatendo sobre o
é Realidade em 67/68 (que nacional, diferindo bas- sexo dos anjos, excelente!
lampejo de benevolência Anonimamente, o enve- fiar na autoridade. De
me impeliu definitivamen- tante da M Ô N I C A do Por que não gastar o
da Administração, e foi até lope chegado à redação cabeça erguida. Assumir
te a fazer jornalismo), é ir, Maurício de Souza). mesmo fôlego gasto até
a Caixa para pedir um "a- continha recorte do jornal seu erro se errou - mas,
ver, viver, conviver, obser- aqui nessas discussões pes-
diantamento" dos salários do Comércio, de Recife: antes de tudo, pensar em E muito menos o Jaguar
var, sentir e transmitir. Ex soais em um congresso
atrasados. Qual não foi a um artigo do jornalista Tal- seu país. Não interessa ao é um mero contador de
surge e me mostra que nanico da imprensa nani-
sua surpresa ao ser convi- vani Guedes da Fonseca, país a intranqüilidade, o anedotas. Vocês desco-
tuao isso está vivo e acon- ca? (...)
dado pelo gerente a chefe da sucursal da Edito- terror, o medo. Se Vladi- nhecem, por exemplo, o
tecendo. Desde o "loucu-
esquecer o assunto ra Abril em Recife. Um tre- mir Herzog escolheu uma " B a r S ã o J o r g e " ? " O s Chop- V I V A O EX! V I V A O
ra" (Ex-7) não parei mais
cho do artigo, primeiro de dependência militar para nics"? Se isso é mera ane- P A S Q U I M ! A) Douglas
de ler vocês.
uma série de 3, publicado cometer o suicídio sua dota, então tudo o que se Guimarães, Rio
No momento em que
a 31 de outubro: morte não mudará nada.
(faltando 1 ano pra me for-
mar) eu me conscientizo
O que o George escreveu no Ex-16 é o
que o mercado apresenta O jornalista Wladimir
Foi um gesto seu, apenas que muita gente sente, mas pra escrever é
mínimas c o n d i ç õ e s d e Herzog cometeu suicídio
seu. Ou a serviço de uma
ideologia, de um partido.
preciso coragem. Por isso, tô escrevendo
penetração e em que as dentro de uma dependên- isso prá ele sacar que muita gente sacou:
p e r s p e c t i v a s são mais cia do II Exército. Havia se
negras que a negritude do apresentado às autorida-
Nunca a serviço do Brasil. estamos com medo sim. Com tanto, que
olhar das pessoas com que des depois de ter sido pro-
Devemos respeitar
até afirmar isso por escrito dá medo. Mas
cruzo na rua, senti vonta- curado. Foi interrogado e
quem morre pela pátria. E você saiu do seu medo (ou o enfrentou) e
de de escrever para vocês. confessou ligações com o
Pra pedir que vocês conti- Partido Comunisia Brasi-
lamentar a covardia de escreveu pro jornal. Espero que você não
nuem assim, apesar dos leiro. Apontou nomes,
quem procura próprios
mãos a própria morte. Por-
tenha (a essa altura) "esquecido seus
pesares. - 3} Cuida Vianna, indicou fatos. Depois,
que o suicídio só tem lugar documentos em casa". Espero que você
Rio pediu para ficar só e come-
teu o suicídio.
na história quando se "esteja bem de saúde". E que eu também
Oi. O jornal de vocês é o
reveste de um gesto de continue bem. George, um abraço. Ao Ex
sacrifício. E todos sabem
encontro da liberdade A partir da morte de que o jornalista Vladimir Por motivos que vocês bem sabem, n; iO
com a liberdade, a) Paulo Vladimir Herzog fica uma Herzog não fez nenhum mando meu nome completo. O medo é
A m é r i c o Sunsili, B e l o lição bem gravada: todo sacrifício. Nem foi, tão
Horizonte cidadão de Bem deve con- pouco, sacrificado.' tanto... a) Maria Antônia, SP.
WOTT mmiOTOTfTi^rea&igTgE^ 4'
ROSE, 21 ANOS, BONITA,
ESTUDANTE DE COMUNICAÇÃO,
NÃO SE SENTE FELIZ. TEM ALGUMA
COISA ERRADA MESMO.
Aí vai um desabafo de petróleo, crise do carvão,
uma infeliz que resolveu crise do papel, crise da luz,
fazer um curso de comuni- crise do telefone, crise d e
cação social no Brasil. Há superpopulação, crise nas
três anos venho procuran- fábricas... È P O R C A U S A
do empregos nos jornais. DA CRISE N O S I S T E M A !
Só não sou desempregada Saio. A cabeça não pára
porque nunca fui empre- de latejar. Preciso comer,
gada. beber, morar em algum
O sistema é muito bem lugar. N ã o paro d e ter
montado! As peças funcio- pensamentos de morte. O
nam. È...quer dizer, às sapato está furando e os
vezes falta luz, falta óleo, meus pés ficam cada vez
EM CANDENTES PALAVRAS, os o p e r á r i o s p e d e m
aumento... mas a máquina
mais doloridos. Perto de
uma lata de lixo vejo u m
MAS EM TOM RESPONSÁVEL, continua funcionando e, velho de seus 40 anos. Está
acabado. Em cada ruga d e
CINEASTA INDEPENDENTE VEM A por incrível que pareça,
funciona muito bem para sua face vejo refletido o
PUBLICO DIZER QUE DEPENDE o dono delas.
O sistema me mandou
meu sofrimento. O l h o
bem para os olhos verme-
Prezados leitores: tendo momento e m q u e tudo é estudar. Eu estudei. O sis- lhos do velho. Há uma
colaborado amigavelmen- transformado e m nada, tema me mandou fazer identificação total - eu sou,
te com o número 15 d o ainda a c r e d i t o na ação e s p e c i a l i z a ç ã o . Eu m e o velho e o velho foi o q u e
jornal Ex, m e a c h o no política do cineasta Rober- especializei. Pronto, pen- restou dos seres humanos,
direito d e desfazer certas to Farias, frente às suas res- sei. Sou produto bem fei- a) Rose Esquenazi, R J .
dúvidas q u e me colocam ponsabilidades na Embra- to, bem educado. M a s eis
numa situação um tanto
q u a n t o c o m p l i c a d a , na
filme. C o n v i v e n d o há 30 q u e o sistema não me MANHÃ VAI
medida e m q u e ainda sou
anos c o m a miséria nacio-
nal e com a brutalidade
enquadrou. Esqueceu o
número 793.159.321/06 do NASCER DAQUI
u m cineasta I N D E P E N -
DENTE e m vias de falência,
o c i d e n t a l , v e j o n o sr. sexo feminino, cor branca, A 8 MESES.
motivada pela tal de aber-
Roberto Farias a primeira e
última saída, para q u e o
21 anos de idade, altura 1m
e m e i o , solteira, sem VOCE QUER?
tura e pelo desenvolvi- processo cultural cine- nenhuma doença conta- Andando comigo tem um
m e n t o tupi/guaraná d o giosa, filha d e pais classe serzinho ainda em formação -
maktográfico possibilite a
nosso processo industrial motivo da minha reflexão.
existência de u m cinema média. Falei c o m o siste- Manhã é o seu nome, escolhi-
cinematográfico de científico, r e b e l d e , n ã o ma: do no dia em que descobri
padrão internacional. burocrático^ livre ao Campinho, Rio (Por C. Chaves/C. Romero) que existia - há 5 luas. Gerada
C o n t u d o , q u e r o deixar - E o que é que faço
sonho e à realidade. A nos- agora? Nada? C o m o tem por um filósofo vagabundo e
b e m claro que, visto o sa escola é o H o m e m , a uma nordestina que enfrenta
coragem de dizer isso? E o
entrave da relação d e pro- M u l h e r e o Prazer. O resto Preciso de ajuda, gostaria que publicassem investimento que eu fiz? E
a cidade grande, Manhã é um
dução independente, embrião de sonho. Manhã é
motivada pela atuação cri-
é o resto e e u prefiro tra- esta nota: "Estou farta de conviver com as horas q u e gastei estu- também uma proposta para
balhar sem magias, elo-
minosa de exibidores, dis- gios, vivendo ainda nesta gente ignorante, com pessoas que têm os dando, lendo, discutindo,
sofrendo? Poderia p e l o
aqueles que se dispuserem a
amá-la. Está lançado o desafio
tribuidores, produtores, velha relação d e produ- olhos tapados. Se alguém quiser me escre- menos me dizer a que se - me dispondo a entregá-la
diretores, técnicos e atores
aliados às anomalias defor-
ção, segundo os moldes ver, o endereço é: Rua Nossa Senhora deve essa crise de falta de pronta, daqui a 8 meses, com
ideológicos de de Holly- todas as disposições legais
mativas, repressivas dos wood. a) Luiz Rosemberg Achiropita, 28 São Paulo. Cep: 03159. a) emprego?
para sua adoção, a) Por
países exteriores, neste Filho, Rio. Irene - Se você quer saber, é
por causa da crise d e
enquanto, prefiro ficar anôni-

NOSSO PRESENTE
DE FIM DE ANO
PARA VOCÊ É U M
DOS GRANDES
LIVROS DO ANO
"Malhação do Judas Carioca"
é a obra de maior impacto
de JOÃO ANTONIO,
autor de "Leão de Chácara"
e " M a l a g u e t a , Perus e Bacanaço"

LANÇAMENTO DA
CIVILIZAÇÃO
BRASILEIRA
P e d i d o s p e i o r e e m b o l s o postal
à E d i t o r a C i v i l i z a ç ã o Brasileira.
R u a da Lapa 120, 12» a n d a r .

E M T O D A S AS LIVRARIAS D O BRASIL
Persona

ASSESSORES DA REITORIA, EM PIVETE DE 10 ANOS ASSALTA


LONDRINA, NÃO GOSTAM DE EM FORTALEZA E AINDA
JORNAL ESTUDANTIL BEM ENFRENTA 13 SOLDADOS E
FEITO. MAGNÍFICO, REITOR! UMA RADIO-PATRULHA!
PARABÉNS TOTAL Cleto de Assis, assessor de Eu sempre tive alguma o endereço da pessoa a
D E S I N F O R M A Ç Ã O EX-16 imprensa e coordenador coisa a dizer quando a qual escrevi
VG, REALMENTE SALADA de assuntos culturais, da Tchecoslováquia foi infa- L ê d a : cada v e z mais
TOTAL PT APESAR Fundação Universidade de memente invadida, quan- acredito em menos.
MEMORÁVEL LUTA Londrina, PR. ( N R : Logo do o Vietnam foi infame- Embora os ocultistas e pro-
COMPANHEIROS VG após a saída d o Ex-16, onde mente bombardeado de fetas em geral creiam no
FONTES UTILIZADAS saiu reportagem sobre a napalm e gases químicos Novo M u n d o (quê você
PARA DlDU\GAÇAO Universidade d e Londrina, (...) Eu não sou comunista, acha?), eu estou achando a
UNIVERSIDADE LONDRI- saiu também naquela cida- socialista, capitalista o u coisa muito ruim mesmo,
NA C O M P R O V A M FOR- de o jornal Poeira, feito outra merda equivalente. ou estou errando? Não sei
ÇA VIVA J U N T O ÓR- por estudantes universitá- O que quero é justiça, se você leu ou viu falar na
rios londrinenses. E, con- mas c o m uma détente na morte do Vladimir Herzog
GÃOS IMPRENSA PT
v o c a d o pelo M a g n í f i c o cara, o que fazer? em São Paulo. Nao sei se
G O S T A R I A P O D E R RECE-
Reitor Oscar Alves, da você lê o Ex. Mas Ledinha,
BER C A R O S AMIGOS
Universidade d e Londrina, Envio esta carta (seguin- o medo é grande em toda
PARA VISITAR ET
o presidente d o Diretório C. Chaves/G. Romero te) a vocês, porque nao sei parte, não é um sonho
C O N H E C E R UNIVERSI- paranóico não, é uma
Estudantil, Nilson Montei-
D A D E L O N D R I N A DE
P E R T O V G C O M DEFEI-
ro, o u v i u d e assessores
que o Poeira estava " m u i t o
PERIGO NO CARIBE: SE A GUATEMALA realidade fundada. Aqui
e m Fortaleza d e Nossa
T O S ET V I R T U D E S V G EVI-
T A N D O A S S I M DESCRÉ-
bem feito" para ser apenas
u m jornal estudantil. Os
INVADIR BELIZE» O M U N D O LIVRE PODE Senhora D Assunção eu vi
13 soldados P M , juntos,
D I T O EXCELENTE J O R N A L
JUNTO COMUNIDADE
assessosres d o Reitor suge-
riram também q u e o Poei-
FICAR SEM O DELICIOSO CHICLETE. com ódio, e uma Rádio
Patrulha, em luta na Praça
UNIVERSITÁRIA LON- ra está sendo feito c o m a A mais importante colô- José de Alencar, em frente
km2. Madeira ainda é a independência ao encla-
D R I N E N S E PT M A R Q U E colaboração do Ex. Segun- nia inglesa ainda existente principal fonte de ingres- da igreja, raivosos e arma-
DATA V G G A R A N T I M O S ve, os velizenhos vão ter
do os estudantes, os aludi- nas Américas é Belize, vizi- sos para o enclave, mas que resistir à Guatemala dos de revólveres, para
AMBIENTE AMIGÁVEL VG dos assessores e r a m da nho ao México. U m pro- não deixa de ser importan- agarrar um pivete de 8 ou
S E M G U A R D A DE SEGU- pelas armas. Coisa q u e
Polícia Federal e m Londri- cesso c u r i o s o , p o r é m , te a extração do chiclete também não convém à 10 anos presumíveis, por
R A N Ç A PT A B R A Ç O S a) na.) desenvolve-se ali: Belize (junto c o m o território roubo, a) E d m u n d o d e
Guatemala em crise - falt-
quer a independência da guatemalteco de Petén, ka de emprego, miséria, Souza Ferreira, Fortaleza.
Ex-1: Hitler tomando banho de sol. Um Inglaterra, so que os inde- Belize representa a maior subnutrição, fome,
Ex magrinho na mão e a cuca fervendo.
pendentistas preferem
seguir sob o domínio (pro-
reserva d e chiclete d o corrupção. Dificilmente Muito obrigado
continente). Aí está!
Fundamos um jornal aqui na Zona Norte. teção, para eles) inglês. A Para tratar de sua inde-
Belize virá a ser
país independente; e, se
um pelo EXTRA n M e
O jornal morreu antes mesmo de nascer. razão: no momento em pendência, Belize já bateu resolver não brigar, pas- por todos os Ex já
Morreu no ventre dos morros. Morreu no que os ingleses saírem, a
Guatemala cai em cima
as portas da O E A e da sando pacificamente para publicados. Publi-
O N U . Nada conseguiram.
estômago que ronca feito cuíca. Como é dos belizenhos e nada de E, num esforço a mais,
a Guatemala, então os nor- quem meu endere-
te-americanos é que dire-
duro ser folclore, meu Deus! O Ex tá independência. aproveitando a realização tamente passarão a con- ço pro pessoal me
engordando. Viva! Longa vida a vocês. Em 1783, quando a Gua- dos Jogos Panamerica- trolar o excedente econô- escrever, a) D. Mar-
t e m a l a era i m p o r t a n t e nos (outubro), o gover- mico do " p a i s " da madeira ques Ca/vão - Caixa
Falem por nós. Falem por quem é o último província espanhola, a nador de Belize, G e o r g e e do chiclete. Alfredo D.
que fala e o primeiro que dança. - a) Mar- metrópole concedeu Price, visitou o México. Foi Gonzalez, Cidade d o M é - Postal 49 - Cep
co Antônio Farias, SP. direitos aos ingleses para pedir ajuda ao presidente xico, M é x i c o DF 25.000 -Caxias - RJ.
extrair madeira na região Echeverría. O mandatário
do rio Valis, hoje Belize. È belizenho justifica-se
bom lembrar que o Méxi- d i z e n d o que, em 1821, CIENTISTA BAIANO PEDE
co tinha também preten-
sões sobre parte da con-
quando a Guatemalamala
proclamou-se indepen- AJUDA: QUER FUNDAR NOVA
cessão. E a G u a t e m a l a ,
depois de sua indepen-
dente, Belize já existia. CIVILIZAÇÃO NUMA ILHA
M a s nos mesmos Jogos
dência e m 1821, nunca Panamericanos, havia DESERTA DO PACÍFICO.
deixou de exigir soberania outra visita no México: o C o m o cientista social, gen*e d o po vo que, cansa-
total sobre seu território, vice-presidente da Guate- estou e m fase de fundação nos d y grandes metrópo-
p e d i n d o cada vez c o m mala, Sandoval A l a r c o n d e uma associação que les e Jr. nossa civilização
maior insistência a saída (que em setembro último pretende criar uma comu- tecnocruti, gostariam de
dos ingleses. esteve no Chile como con- nidade experimental. A participar de um projeto
Durante estes quase 2 vidado de honra de Pino- associação que está e m pacífico, de formação de
séculos de administração chet, na comemoração do fase d e f u n d a ç ã o é d e uma a l t e r n a t i v a a esta
colonial inglesa, vieram 2 9 aniversário do golpe). E caráter internacional. A maneira d e vida conheci-
parar em Belize importan- o que disse Alarcon? que Associação Internacional da. E um projeto de grande
tes grupos d e escravos não reconhece a autorida- Pró Comunidades Livres importância humanista.
negros, q u e saíam das de de Price, outorgada visa a criar uma comunida- Nós pretendemos expe-
Antilhas Britânicas (Jamai- pela G r ã - B r e t a n h a . E de experimental numa ilha riemtnar novas formas de
ca, principalmente) para ameaçou: " N a d a de inde- desabitada do Pacífico Sul convivência humana
intensificar a p r o d u ç ã o pendência, ainda q u e cus- e para isto gostaria q u e as orientadas pelos mais altos
madeireira. Lógico que, te a vida de guatemalte- pessoas interessadas ideais de respeito humano
com eles, veio também a c o s . " (A G u a t e m a l a , 4 entrassem em contato e da liberdade social. As
idéia comum de indepen- vezes maior que Belize, conosco. E uma experiên- pessoas interessadas
dência, o inglês como lín- tem 5.700.000 habitantes, cia de caráter científico d e v e m escrever para
gua de todos e o costume numa p r o p o r ç ã o d e 40 que reúne cientistas Ricardo Líper, Caixa Postal
a e sentir-se parte d o guatemaltecos para cada sociais, técnicos, médicos, 404, Salvador, Bahia, Cep
império britânico, e não belizenho.) engenheiros, advogados, 40.000.
da Guatemala. Echeverriia, o presiden-
Belize hoje tem 140 mil te mexicano, apos dizer Rir não doí: Q l 14; Veríssimo, Fraga,
habitantes, descendentes que os mexicanos não têm
de jamaicanos, maias e nenhuma pretensão sobre
Edgar Vasques, 14 humoristas dos bons
q u i c h ê s ( i n d í g e n a s da Belize, lavou as mãos: num livro custando 30. E "Há Margem",
região), pequenas colô- " R e c o n h e ç o os direitos depoimento-poesia de uma geraçao; 12
nias de mexicanos emigra-
dos e grande número de
históricos da Guatemala
sobre a Fegião." E agora a
autores, seguindo a linha de Teia, 10 cru-
mestiços mulatos. Todos sorte de Belize está entre a zeiros. (pedidos à Coletânea, rua dos
distribuídos sobre um Inglaterra e a Guatemala. Andradas, 1.117, PA). - a) Paulo Cezar da
território p o u c o maior Se a Inglaterra optar pela Costa, Porto Alegre.
retirada, concedendo
QUE MALFAZ U M
Nenhum colégio tem o direito de tratar DEBATEZINHO
DE V E Z E M
seu filho como máquina. QUANDO?
No Colégio Equipe seu filho é Diariamente sentimos
tratado como gente. Não como
máquina de responder testes. os efeitos da falta de pro-
Nem eomo um espectador fessores, da falta de livros
passivo, que não tem direitos, na biblioteca, da falta de
que não participa. aprendizado prático, que
Por isso, os estudantes do
Equipe não recebem respostas resultam num baixo nível
prontas, mastigadas, de ensino. A l é m disso,
sacramentadas. Lá eles são vemos que tal ensino é
incentivados a pensar. A formar orientado para formar o
suas próprias opiniões.
A criticar. A sentir e a criar. médico capaz de fazer
Com liberdade. diagnósticos difíceis, o
E, principalmente, com que é necessário; mas a
responsabilidade.
realidade brasileira é a
O Equipe sabe que o papel do
colégio é muito importante. ,>m\ existência de milhões de
São três anos de formação e tuberculosos, chagásicos,
informação que o aluno recebe. esquistossomóticos, d e
Que vão ser decisivos no JUSTIÇA DO KSTADO 00 RIO DK J.WFIIIO - HRASII. uma mortalidade infantil
dia-a-dia. Na hora de escolher
5.* CIRCUNSCRIÇAO: LAGOA E GÁVEA
REOISTUO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
uma profissão e de brigar por COPACABANA - RIO DE JANEIRO
que é uma das maiores do
ela no vestibular. m u n d o , o q u e mostra
Se você tem alguma dúvida NASCIMENTO N.° 2ü,053 claramente a necessidade
sobre que escola escolher para maior de médicos que dis-
o seu fÚho, discuta estas idéias
com ele. D R . R O B E R T O L U I Z F A U S T O J O B I M , O f i c i a r da 5.» Circunscrição do Registro Civil das cutam a e contribuam para
Senão, você corre o risco de P e s s o a s Naturais: L a g o a e G á v e a a resolução de tais proble-
se culpar a vida inteira. mas.
CERTIFICO que a fi* 1?3-V do livro N «A- do registro d» nascimentos foi hoje regiatrado
Esta distorção do ensino
isicntanicilo dc.. Ctello.-
caracteriza a Universidade
brasileira: é o arquiteto
n««cid.a ao .a.vlQt e... çuatra (£4). d* outubro de 1975.»
formado para fazer man-
•— ••• - — _i..a .7. hora. t. 20 sões quando faltam casas
.Jrcliclinico de B?tof?£a., nesta. Çi4r.áe.: populares; o químico e o
O aeto rcr.eculin? de côr bronca tísico preparados para tra-
dc Luiz /uvustoJe Asevei? ffçll»..
balhar nas grandes empre-
Polvo.Lelt»,' gQregq, •-....! sas, quando é necessário
icodo avó» paterno* Í M i M ! Í ? .âftJKSllSOpllg... e Gladya Moringa Azava pesquisar para acabar com
Gollc — —— a dependência da tecnolo-
gia estrangeira espoliado-
Dalton Çoréga e ITernezin Leite Coréjo.. ra, como demonstra as
multinacionais dos remé-
dios que dominam o mer-
Foi decUrante ? PCI* eo 6/11/1975.- cado e remetem para o
Colégio
O • a<rviram de testen.uoba. Glr.dys Xrrin de A=eye;l? Gollc exterior os lucros exor-
Atilo Silvores Henrique . bitantes que aqui obtêm.
Equipe Obtervafõca: Cabe questionar entãoo
que aprendemos numa
Rua Martiniano de Carvalho, 156, Universidade. C o m o os
telefones 289-2709 e 289-2008. estudantes em geral, vive-
Venha de Metrô e desça na mos a contradição a e ser-
Estação São Joaquim.
mos parte de uma popula-
ção que luta para elevar o
nível de vida de todos e,
no entanto, adquirimos
conhecimentos que vão
atender a uma pequena
parcela da população que
NASCE FUTURO LEITOR, JOSÉ PEDRO GOLLO pode pagar pelos serviços
de um profissional. N o
exercício da profissão, o
médico, por exemplo, ain-
da que capaz e bem inten-
As três melhores matérias do ano na cionado, não pode curar
imprensa brasileira: a entrevista com D. aqueles que não se ali-
Evaristo Arns e as reportagens sobre Cuba mentam. E claro que a falta
de alimento não é da res-
e Brasiguay. a) José Joffily Filho, Rio. ponsabilidade do profis-
sional médico, mas é con-
seqüência direta da socie-
dade caracterizada pela
Estou interessado no jornal de música assistência médica na mão
Rock. a) ícaro Lagrotta, Cambé PR. (NR - de empresas que visam ao
lucro, pela concentração
Rock: Rua da Lapa, gr. 504 - ZC 06 - CEP de renda, pela espoliação
20.000 - Rio de janeiro) das riquezas nacionais, da
qual o médico, como ser
social, faz parte e rem res-
NOSTALGIA RAPAZES ponsabilidades, como os
NANICA: PEDEM estudantes. (...)
Então é muito importan-
A MOÇA DE UNIDADE, te que em cada sala de
BRASÍLIA QUER POEIRA, aula se discuta o nível do
ensino que recebemos, o
GRILO E OFICINA E ensino pago, a q u e m
BONDINHO. OUTROS TRÊS. vamos servir como profis-

..quando uma Vi o apelo da Ramparts.


A gente tem chance de
Como fazer para obter
os jornais: Unidade, jornal
sionais. E o que podemos
fazer para melhorar tudo
isso. E da sala de aula

rosa pode aen assinar a revista daqui???


Através do Bicho estou no
meio de uma montanha de
da C i d a d e .
Viver/Londrina,
Domingão e Oficina Sam-
Poeira,
O
podemos fazer estender
como colegas nossos já
têm feito, para seminários,

uma arma H Q e imprensa nanica que


me chegam do Oiapoque
ao Chuí. E vou redistri-
ba? a) Alfredo M.C. de
Souza e Carlos Eduardo
C o r r ê a d e T o l e d o , SP.
c o n f e r ê n c i a s e para
encontros nacionais como
o E C E M ( Encontro Cientí-

contra vooô
buindo as duplicatas. Só (N.R. - Endereços: Unida- fico d e Estudantes d e
não consegui até agora o de: Rua Rego Freitas, 530, Medicina) e como a Sema-
Bondinho e o Grilo. sobreloja, SP; Domingão: na de Saúde Comunitária.
Alguém tem Bondinho e Rua Álvares Cabral, 961, É necessário o livre fun-
q u e r v e n d e r ? a) A n a Ribeirão Preto, SP; Ofici- cionamento de todas as
Lagoa, SQS 307, B, 103, P. na: Rua Antonio Andrade, entidades representativas.
Piloto,. Brasília, DF, 70.000. 13, Areeiro, Lisboa; Poei- È necessário a çabar com o
ra: Rua Antonina, 1777, 477 e o AI-5. É necessário
U M FILME DE
Londrina, PR; Jornal da eliminar a censura à
(N.R. - É só preencher o Cidade: Rua do Socego, imprensa, à música, ao tea-
803, Recife, PE; tro. É necessário o debate,
VANJA m i c o
cupúm do Ex-14 e enviar
junto com o dinheiro para Viver/Londrina: r Pará, a) Jornal Perspectiva n ' 1
o endereço da Ramparts.) 1249, Londrina, PR.) Universidade de Brasília.
ATOR VIVENDO DE VENDER ROUPAS FEITAS^
FAZ ALGUMAS CRÍTICAS A O DIRETOR JOSÉ CELSO:
" A M I G O S SE AFASTARAM E ELE NEM SE T O C O U ! "
Calças jeans, camisa Maiores detalhes telefo- certo, ele sempre será pes- o crédito. (Pombas, um
jeans, sapatos jeans, cue- nar de meio-dia às 14:30 soa importante, mas mes- cara que em 71 tinha medo
quinha jeans store última para 256.8900. A o n d e , mo assim é bom sempre das pessoas e de sair nas
moda, 3 meses de Brasil, 2 mano? Assim nas bocas, de saber da real capacidade ruas sambando, tem a
meses trancado no hospi- graça? de quem está contigo. coragem de vir dizer prá
tal (sonoterapia, choque, o Aí, pintou uma transa, Sinto que são uns lou- cima de moi que estou
escambau a 4) e 1 mês de vender confecções femi- cos, pois nada de coisas alienado e ele é que está
rua, empregos mis, 4, ninas p/verão. Estávamos que tocam a criação se sabendo e integrado no
ginástica, jornal, Górki, no início d e o u t u b r o , aprende no colégio, e o processo de integração
conferências, baratos, jor- topei. 20% de comissão. interesse real de cada um - cultural da ex-terra mãe. A
nal Ex. Sento no banco de Merda (sem fixo). Ao ver sinto que é mínimo; pes- guiuspariu! O irmão dele
imitação de mármore pre- as roupas, me liguei mais, soas que não passaram por é outro, vai trabalhar para
to, irrequieto, paquero as pois tinha coisas desde processo algum, que têm o Guilherme Araújo.
empregadinhas, mas nin- indianas até as caretas e sua mesadinha ae 2.200 O teatro está morto,
guém quer nada comigo, cafonas. Todos os gostos. mensais, que não procu- Viva o teatro! Pelo menos
estou so há 2 meses, e pro- Todos os tipos. Pronto, ram tirar proveito de situa- o da conscientização! Se
curando "sarna para me virei vendedor. Estamos ç õ e s , por p i o r e s q u e não dá pra fazer o careta!
coçar". Como estarão os indo de vento em popa; os sejam, de aprender coisas, Pelo menos algo para dizer
outros? - me pergunto baratos estão agradando se interessar por pessoas que devemos enfrentar
sempre. bastante às pessoas, já fala- mais velhas e considerá-las que estamos no fim, e
Fui ver um emprego, se em montar um atelier como gente que já passou vamos nos solidarizar e ver
através do anúncio a o jor- com capital quase processos importantes, e o que acontece. Só isso.
nal, na agência de imóveis nenhum. Vamos indo (...) que pode dar chaves para Continuo trabalhando, a)
a mafiosa Paulo Bustaman- Ah, agora um retrospec- o u t r a s coisas t a m b é m Henrique Nurmberger,
te Empreendimentos Imo- to. (Começou o sambão importantes. Enfim, perdi Rio.
biliários. Uma sacanagem no Rio. Escolas de samba
deslavada. A desvaloriza- mil.) V i m e m b o r a e m
ção humana. Vendeu?, julho, saí do Oficina. E
ganhou uma TV a cores! como todo mundo é ex-
Um tal de um corretor alguma coisa, eu virei ex-
botar na do outro, de gra- Oticina. Aliás faz tempo
ça, a u e só vendo para que não era ouvido. Virei
acreditar. Aí, vai, ponha o último dos moicanos.
um terno e uma gravata, Hoje, abro o jornal pela
uma boa a p a r ê n c i a , manhã (JB) e vejo uma
conhecimentos gerais e entrevista do Zé (NR José
tudo pronto pra começar. Celso Martinez Corrêa, do
Seu chefe: nada mais nada g r u p o O f i c i n a Samba,
menos que o Carlindonga. agora em Portugal) falan-
A partir de hoje você obe- do, falando, falando.
decerá e se guiará pelo seu Resolvi ler. ao fazê-lo tive
O QUERIDO LEITOR DIZ QUE chefe. P. que p. a figura!
Pra não me assanhar -
vontade de conversar a
respeito com alguém. Não
NÓS TEMOS SANGUE; QUE dizem que quem procura tinna, pois todos tinham
SOMOS U M ESPELHO; E acha - e enfiar na cuca uns
planos homicidas contra o
uma opinião muito abstra-
ta muito abstrata e não
QUE O BARCO VAI AFUNDAR. meu chefe, resolvi no 29 queriam se abster dela (e
dia abandonar o campo de condenavam a mintia),
O jornal de vocês tá Comentando a entrevis- concentração (escritório) sobre a situação em que
p a r e c e n d o O Dia (se ta com o Dualibi, ele foi e tentar outro. viveu o Zé Celso durante
espremer sai sangue). inteligente em dizer que Volto pro banauinho. estes 3 anos, desde a sepa-
Naturalmente, o sangue recusava dar mais qual- Estou novamente on the ração do grupo, c/Renato Gostaria de adquirir números atrasados
a u e ninea è outro, sofrido quer resposta porque "a- road". Cacete, em algum Borghi (hoje em S. Paulo, do EX. Dou em troca números atrasados
e pisado na moral da car- cno que a entrevista está lugar tem uma vaga para com Esther linda) e outras
ne. Mas cuidado com o carregada de pronceitos". um rapaz, alto, 1m92, 25 pessoas, até hoje em dia, do Pasquim. Os leitores interessados na
espelho nu e cru que atrai Se deixasse ele falar mais, anos, solteiro, olhos cabe- pois pela reportagem acho troca escrevam-me. Meu endereço é o
todo o ódio e se impregna dar corda a ele, ele se reve- los castanhos brasileiro, que pouca coisa mudou seguinte: Rua Alfredo de Morais, 776,
dele retornando mais uma laria muito mais, seria um vacinado, com até vestibu- ou quase nada em relação
vez a vocês e a nós leitores. documento mais limpo e lar d e m e d i c i n a , sem de quando fui despejado Campo Grande, ZC 26. a) Dilon da Silva
Nós, supostamente contra objetivo da posição de um defeito físico, que precisa pelo grupo numa ação do Gomes RJ.
o que se vê e se chora no propagandista na socieda- viver (e poder sair um pou- grupo! Acho que ele se
espelho que é o Ex. Q u e de brasileira (...) co do seio familiar e pro- aeu muito mal, ao não Jornalismo é sonho. Censura é a realida-
Olha que a razão é a curar a sua turma), várias tomar qualquer posição,
ele, além a e refletir, pode-
arma mais sensata. passagens pelo teatro (3 nem se tocar ao ver que as
de. Será que vocês me arranjam o endere-
ria transmitir estas ener-
gias pesadíssimas (...) Cuidado para não entrar anos), cinema (2 filmes), pessoas com que ele mais ço do jornal Cogumelo Atômico? a) Ario-
Conscientização, mas tam- no mesmo barco que eles, televisão (2 propagandas), contava foram se afastan- valdo Alves, SP. (NR - Cogumelo Atômico:
desfiles (10), um leve do dele, delicadamente ou
bém trasmutação do nosso que este com certeza vai
conhecimento de inglês - não, caindo nun círculo
rua João Luiz Gonzaga, 58, Caixa Postal
ódio reprimido e manifes- afundar, a) Paulo Luiz
to em amor. Sem frescuras. Barata, Salvador. necessita empregar-se. vicioso de relação. Está 179 - 88350 - Brusque, SC.)
RODRIGO FARIAS LIMA E FLÁVIO
BRUNO APRESENTAM:

wwitâorafò
JMCAT1IAM H -Tüfk niipoinni

de Luiz Marinho —direção de Luiz Mendon-


ça
O espetáculo teatral que ganhou 2 prêmios
Moiière Rio 74.
Trinta atores e músicos.
Tania Alves também está no cordão!
de 3a. a 6.a às 21 horas. Sábado às 20 e 22,30.
Domingo às 18 e 21 horas.
TEATRO APLICADO
AV. B R I G A D E I R O L U I Z A N T O N I O , 931 -
fone 36-4496. Peço os n? 2,5,6 (Ex) algum leitor que os
tenha e queira transar, a) Hamilton Alem,
LIVRflRIB
CHRI/ rua Guilherme Marconi, 80 apto 206, cep.
NANICO É 20.000 RJ.
C O M A CHRIS Benja, Belo Horizonte

Ternos números atrasados do


Ex e Crisis, Cadernos de Crisis,
DENÚNCIA: ALIENADO MENTAL ÉACARRADO
Publicações do Quino,
Livros Latino-Americanos, de
E LEVADO A FORÇA PARA O HOSPITAL; E PSIQUIATRA
Arte e Comunicação. E majs:
Números atuais e atrasados de
SE ENCARREGA DE AFASTAR O " I N C Ô M O D O " .
Como atua a Psiquiatria? O Psiquiatra vem então destruir o poder que lhe é de, a função das institui-
todos os jornais Nanicos. Uma pessoa não conse- c u m p r i r uma f u n ç ã o dado sobre o paciente. ções destinadas a organi-
A Chris fica aberta todos os dias (inclusive gue mais suportar as ten- social: afastar um "incô- fylaud Mannoni, psica- zar os "anormais" (prisões,
sábados e domingos) até meia-noite. sões do meio onde vive, modo". É designado para nalista francesa, relata manicômios) é dirigir tudo
Av. Paulista, 809 — S ã o Paulo isto é, da sociedade e mais segregar o paciente e lhe depoimentos de jovens que se torna obstáculo ou
especificamente da famí- impor um tratamento. m é d i c o s acabados de que seja inútil ao processo
lia, entra em crise e é dada Impor porque, sendo ingressar num hospital psi- produtivo. Anormalidade
r o d r i g o f o n a s limo apresento
como doente mental. Seus alguém declarado doente quiátrico;: " N o começo é é quase sinônimo de não-
c o m p o r t a m e n t o s , por mental, suas queixas não muito difícil entrar em participação no processo
vezes "estranhos", são for- são mais ouvidas e tudo contato com o sofrimento produtivo. Na prática hos-
mas alternativas de expres- que fizer ou disser será daquela gente. Mas, pitalar constata-se que as
são que denunciam toda a enquadrado na lista dos depois, quando vamos classes mais baixas preen-
trama na qual está envolvi- sintomas e terá sua ade- aprendendo quais os sin- chem a maioria dos leitos.
da. Sob o ponto de vista quada medicação. tomas de cada doença e A elite econômica detém
psiquiátrico ela está "deli- Pensar em tratamento quais as medicações ade- certo poder perante o psi-
rando" ou "alucinando", psiquiátrico implica em quadas, vamos conseguin- quiatra, mantendo uma
porque o que diz e o que pensar no conhecimento do nos libertar de toda esta relação de empregador-
taz não consta no rol das que a psiquiatria tem sensibilidade inútil." empregado. O poder psi-
de m o r ç i l i o mo^oes o texto p r e m i a d o p e t o serviço n a c i o n a l
de teaft-o d i r e ç ã o f l ò v i o rangei çom o s v a l d o louzada ida coisas ditas normais por sobre doença mental - o Mannoni serve-se des- q u i á t r i c o vê-se assim
$omes julia mirar»<(a a n d f e valli cenário de gionni ratto determinada sociedade, saber psiquiátrico. Na prá- tes depoimentos "ingê- enfraquecido e o doente
figurinos d e k a l m a murtinho no teatro n a c i o n a l d e comédia em determinada época. tica hospitalar constata- nuos" para mostrar como menos objetivado.
e " 6 ' l s as 2T h o r a s s á b a d o s a s 20 e 22 horas Sua linguagem confusa mos que o cerne deste a formação psiquiátrica é Desde a 2? Guerra Mun-
d o m i n g o a s 18 e 21 h o r a s t e l 224-2356 não merece ser decifrada. saber é o diagnóstico. E dirigida no sentido de des- dial, os asilos clássicos vêm
sob o p ò t r o c í n i o d o s e r v i ç o n a c i o n a l d e t e a t r o p a c d a c mec
É então internada no hos- diagnosticar e observar pojar o psiquiatra da capa- sendo mais "liberaliza-
Ingressos à venda pital psiquiátrico onde a comportamentos e enqua- cidade de entrar em con- dos" para atender à maior
relação médico-paciente drá-los num rol de sinto- tato com o Outro. demanda de mão de obra.
(dominante-dominado) se mas que por si só definem O saber psiquiátrico é Restabelece-se o doente
concretiza. Torna-se um determinado " t i p o de portanto um saber não- mais depressa possível

\àmos
doente que nada sabe de doença". O saber psiquiá- científico a serviço da para que ele volte a traba-
si, nem dos outros nem trico é portanto empírico e ideologia de exclusão da
daquilo que o cerca; tem r e p r o d u z os d a d o s sociedade: ao rotular, Hoje pode não mais
comportamentos absolu- aparentes sem nada abs- afastar e alienar o paciente existir camisa de força, mas

criar
tamente imprevisíveis e trair da realidade, não- num sintoma, o psiquiatra o problema central não é
não pode conviver num científico p o r q u e não cumpr e funçõe s sociais esse. O que deve ser posto
ambiente social. Perde explica essa realidade de excluir e segregar. em questão são os com-
portanto um direito bási- nem tem meios de atuar A psiquiatria age frente promissos sociais da psi-
co, o direito da palavra, da sobre ela, modificando-a. ao doente mental como quiatria, diretamente res-

juntos vontade e da decisão. A supressão do sintoma é detentora da norma da ponsáveis pelos critérios
confundida com a cura. qual ele é infrator. Porém, sobre os quais se funda-
E um alienado mental. No ato de diagnosticar, o a definição dos limites da menta. a) Alfredo Schecht-
Agarrado, geralmente psiquiatra se defende da norma é dada muito além man, Eliane Myriam Serfat
pela polícia, é levado à for- própria ignorância porque dos interesses puramente e Cristina Mair Rauter
A partir de janeiro o Centro Latino- ça para o hospital. questionar seu saber é psiquiátricos. Na socieda- Pereira, UFRJ, Rio
Americano de Criatividade-
Celac — vai juntas as melhores
cabeças da América do Sul
para ajudar a tua
a criar mais.
Antes de começar a construção
da sede do Celac, em Atibaia, ela já
estará tratando de acertar a tua cuca:
dia 6 de janeiro, Enrique
Buenaventura vai dar o l9passo, com
um curso de criação coletiva para
diretores
de teatro. Buenaventura conhece: o
pessoal do Teatro Popular
de Cali, Colombia, onde é
diretor, que o diga.
Vai ser tudo de graça para os
diretores de teatro, mas pernas
pra que te quero - porque o
curso tem limite
de 30 vagas.

Teatro Ruth Escobar


R- dos Ingleses, 209 — fone:
289.2358
( não se trata de galinhas nem vacas,
por enquanto.)
ISSO E QUE E MATANÇA:
0 BALANÇO DE 74/75 ACUSA 198
MORTOS NA CONTA DO ESQUADRÃO,
NO RIO. ESTARREÇA-SE COM AS
CAMINHADAS DO CORONEL ITT
TEIXEIRA XAVIER,
ENTRE AS
OSSADAS QUE
ENCONTRANDO
EM SEU SITIO,
NA BAIXADA
DESDE 1969
NÕS JÁ NOS
ESTARRE
CEMOS
Os primeiros bandidos mortos, quase 15 nua clara. Mas os
>CÍ WJ CW
natural qualquer ato ilegal de menor gra-
anos atrás, entraram na conta do direito à executores há mui- vidade. Em Apucarana. no Norte do Para-
legítima defesa - os bandidos atiravam pri- to se esconderam ná, por exemplo, agindo na clandestinida-
meiro, a polícia reagia. Os policiais que no anonimato"Ma- de e à revelia de seus superiores, um capi-
matavam, nessa fase "heróica", posavam ta-se com facilidade tão prendeu um ex-vereador (visto na foto
para os jornais com suas armas nas mãos. espantosa", escre- acima) e, aplicando-lhe choques elétricos,
Bons tempos, apesar de tudo, em que par- veram nossos re- obrigou-o a assinar documentos que a víti-
te da população chegava a sentir-se prote- pórteres, " o ne- ma nem leu. Felizmente o ex-vereador
gida e aplaudia a lei. E a lei era clara: "Ban- gócio agora trans- não achou normal nem natural a brinca-
dido tem que morrer". formou-se em po- deira. E botou logo a boca no mundo (pá-
Em 1961, metralharam o ladrão Mineiri- derosa indústria da gina 14), embora tivesse sentido muito
nho. Tinha 158 crimes nas costas, justifica- morte". Bandidos medo.
vam alguns. Três anos depois, Cara-de- rasteiros são mortos Medo, mais do que medo, terror, eis
Cavalo. Em 1966, corpos começam a para difundir o pavor entre a criminalidade onde leva o arbítrio, quando o arbítrio ain-
aparecer boiando no rio Guandu. E, no fim é para encobrir o desaparecimento dos ban- da por cima anda armado. A população
da década passada, a Baixada Fluminense didos mais inteligentes, que conseguem paulista é testemunharem recente pesqui-
já está transformada em verdadeiro "ce- sa do Instituto Galkip, citada por jornais de
mitério sem muros". Na cidade de Caxias, randes lucros; esses lucros têm o mesmo
o bandido Roncador é executado, sem
fim misterioso". São Paulo, o paulistano confessou que tem
mais medo de defrontar-se com a polícia
nenhuma chance de defesa, em plena luz Os crimes do Esquadrão mereceram
sempre a repulsa de toda e qualquer auto- do que com um ladrão. Tem cabimento
do dia e diante da população (o fato é con- isso?
tado por Percival de Souza, no livro Mil ridade que tenha sido consultada a respei-
to. Mas a impunidade com que seus inte- A reportagem é de Octávio Ribeiro e
Mortes). Cláudio Faviere. A ilustração é de Elifas
grantes continuaram e continuam agindo
A lei "bandido tem que morrer" conti- pode levar muita gente a achar normal e André ato;
Estamos numa sala pequena no 2' andar da delegacia.
U m prédio de 3 andares, numa área de poucas casas, no
Estado do Rio. O dono da sala é um policial de tórax dila-
tado, cabelos compridos, voz autoritária que ecoa pelos
corredores.
Zum-zum-zum. Entra um advogado, o policial berra
um nome de mulher, a secretária entra correndo, o tele-
fone toca. No meio desse burburinho, conseguimos
obter uma declaração do policial, que amacia a voz:
- O policial não sai pra rua pra matar. Ele sai pra não
morrer.
O zum-zum-zum pára de repente, ninguém mais fala.
Outro policial acaba de chegar e anuncia:
- Olna, esse é o Cuíca!
Nós mal temos tempo de olhar para a porta, onde está
parado u m mulato de seus 30 anos, e ele já está imploran-
do:
- Não sou o Cuíca, não...
- Não mente, desgraçado! Você anda metendo bronca
na jurisdição - o policial gritou.
O mulato está chorando e, reparando melhor, vê-se
que perdeu todo o controle sobre o medo que está sen-
tindo: a urina desce por suas calças. Boca de poucos den-
tes, cabelos crespos despenteados, descalço, o mulato
não tem a quem apelar:
- O Cuíca é outro. Minha arma é da leve - suplica ago-
niado, torcendo as mãos.
- No pau quero ver você confirmar que é só punguis-
ta! Depois vamos conversar melhor. Se chorar, apanha! -
ameaça o policial com um olhar que não admite réplica,
que não quer polêmica.
O mulato não está apanhando, nem sequer está alge-
mado. Mas não chora por causa da porrada que pode
levar. Está apavorado porque tem certeza de que caiu
nas mãos de alguém do Esquadrão da Morte.
- Leva ele lá pra trás!
E assim o mulato sente, aterrorizado, que poderá ser
julgado ali mesmo, num tribunal onde o carrasco é juiz e
a tribuna de defesa fica vazia porque a sentença iá foi
decretada: bandido tem que morrer. O réu tenta salvar a
vida. Vai continuar chorando, suplicando, vai delatar
companheiros. Talvez não adiante mais nada. Talvez nes-
se momento seu corpo crivado de balas esteja abando-
nado num dos distantes distritos de Nova Iguaçu, um
município de quase 1 milhão e 300 mil habitantes, na Bai-
xada Fluminense.

Mecanismo ilegal para evitar que Cuíca,


ou qualquer marginal condenado pelo
Esquadrão, seja salvo por algum mecanis-
mo legal:

19) A prisão. Antes de prender o bandido, os policiais


levaram seus costumes: se tem mais de uma mulher,
onde elas moram, seu dia a dia, lugares que costuma fre- se o torturado sabe que vai morrer, pode não dizer mais
qüentar. Querem prender o bandido sem testemunhas. nada.
No levantamento, sabem qual o ponto fraco: melhor Há uma trégua quando os policiais do Esquadrão saem
será que o bandido facilite de noite, porque para investigar se as informações dadas são verdadeiras.
a escuridão dificulta a visão de possíveis tes- Q u e informações? Se for ladrão de jóias, apanha para
temunhas: C i',o o bandido só fique de bobeira duran- dizer onde estão as jóias, de onde foram roubadas, se
te o dia, vários cuidados precisam ser tomados, para que foram derretidas, quem são os receptadores. O Kecepta-
no futuro os policiais não sejam reconhecidos. A maioria dor, ou intrujão, é preso no mesmo esquema astucioso;
usa Volks branco-pérola (o carro de maior circulação no também será torturado para dizer onde está a mercado-
país) chapa fria. Os policiais se disfarçam ao máximo: ria. Se for um bom golpe, tanto ladrão quanto recepta-
bigode ou cavanhaque postiço; óculos escuros; chapéu dor vão sumir. Se for assaltante da pesada (banco, carro-
enterrado na cabeça; uns, na hora de prender o bandi- pagador, etc.),leva pau para dizer onde está o dinheiro
do, 'ing«m que são aleijados; outros fingem tiques ner- vivo. Se for um bom traficante de tóxico, o intermediário
vosos, corro tremer o ombro ou o rosto; nunca estão - não de boquinhas de fumo, mas de outros intermediá-
vestidos como policiais; alguns se vestem de gari, outros rios maiores - leva pau para contar todo o mecanismo. E,
botam macacão de mecânico, roupas que também não nesse caso, seu corpo aparece em local ermo, num aviso
despertam suspeitas do bandido. para a sua quadrilha.
2") A sentença. Apanhado sem testemunhas, o bandi- 4?) A execução. Se o bandido é ralé, a morte serve para
do vai ficar preso pelo menos 1 semana. Seu nome não apavorar a criminalidade, especialmente assaltantes e
vai constar do registro de nenhuma delegacia, para evi- traficantes da quadrilha à qual a vítima pertencia. O réu é
tar « libertação por meio do habeas-corpus, sobretudo levado vivo ao local da execução, porque no trajeto
per .neio do habeas-corpus de busca e apreensão (que
vaie para todas as dependências policiais). Nos 3 primei-
> >s uias, é bem tratado. E a chamada fase de manjamen-
J to espera de repercussões junto a familiares ou amigos Atiram de preferência na cabeça e coração. Como as mar
i do prev.» Qualquer movimentação, qualquer sujeira, o cas de algemas vinham incriminandosempre a polícia, os
i bandido sai livre, sem qualquer marca de sevícias. Nesses policiais do Esquadrão passaram a "algemar" os conde-
| 3 íns. c poüua! do Esquadrão leva o bandido no papo, nados à morte com esparadrapo enrolado em cima de
nao ! i em morte. Assim, se for libertado, o bandido vai uma proteção de pano. Evitam também atirar com suas
até : pòlhai que naquela jurisdição não tem nenhum próprias armas (o 38 é arma oficial da polícia); atiram
membro cio Esquadrão; e vai passar a marcar mais "bo- geralmente com armas de grosso calibre, 45, Winchester,
beira" ainda, dando a chance que o Esquadrão precisa, fuzil. Se o bandido der bom lucro e não pode aparecer,
para jr ^gá-lo da próxima vez sem deixar vestígio. Única denunciando os crimes. Por que suas cartas não foram
será logo enterrado, em cemitérios próprios do Esqua-
ameaça que recebe: não contar que estava detido numa drão, ou atirados em precipícios. Outras providências respondidas?
'geladeira" - casa, apartamento ou mesmo uma delega- podem ser tomadas, para impedir a identificação da víti-
cia afastada, no Estado do Rio (locais perto dos pontos de Com resposta ou sem resposta, o coronel continua
ma: ácido nas pontas dos dedos, danificando as impres- pesquisando. Toda manhã, deixa a Rural em casa e per-
execução). sões digitais; destruição da arcada dentária; eliminação corre a pé o caminho até o sítio, a 10 quilômetros.
de sinais particulares. - De carro só vejo a estrada. A pé eu vejo tudo - diz ele,
3,J) A tortura. No quarto dia, porém, se não aparece
sentado a mesa de seu sítio, com um revólver calibre 38
nenhum habeas-corpus, nem pedido de parentes ou Cadáveres assim, às vezes ainda ensangüentados, ao alcance das mãos.
amigos, o tratamento na "geladeira" começa a mudar. outros já em decomposição o coronel Ivv Teixeira Xavier
Os policiais do Esquadrão já estão se convencendo de já encontrou 49 - entre 1969 e o dia 30 de novembro de E, depois de encontrar os corpos de meia centena de
que o réu é um futuro indigente... A tortura não tem 1975. Isso só os que ele viu com os próprios olhos, no pessoas, todas trucidadas, depois de escrever às autori-
medida: a vítima nunca será submetida a exame de cor- caminho de casa até o seu sítio, ou seja, sem contar os dades denunciando o coronel fala do assunto não como
po de delito no Instituto Médico Legal. Seu destino será que ele ouviu falar. O coronel Ivy (tenente-coronel se se tratasse de um massacre, mas como se fosse apenas
a cova rasa do indigente. São utilizados choques elétri- reformado da PM), 49 anos, mora com a mulher, e 7 filhas um assunto do seu cotidiano. Recusa-se porém a dar
cos, pau de arara, palmatória (nádegas e solas dos pés); adultas e bonitas, numa casa azul em Cabuçu, um dos uma entrevista ou ser fotografado.
golpes de maricota (borracha de cerca de 1m50 de com- menores distritos de Nova Iguaçu: uma praça de poucas
primento, uns 15 cm de diâmetro, oca, que não deixa casas, supermercado vazio, farmácia, uns 4 bares com - Estou apenas aguardando o resultado das investiga-
équimoses, mas arrebenta o sujeito por dentro); cigarro sinuquinnas, e estreitas ruas de terra batida sem placas ções das autoridades para usar a minha última cartada.
aceso; alicate nas unhas; murros no fígado, baço, testí- de identificação nas esquinas. Nesses 6 anos já escreveu Tenho documentos comprometedores que vão expiodir
culos. Os policiais só faíam em inquérito, não em morte: muitas cartas para as mais altas autoridades do país contra muita gente boa.
dido vai revidar. Existe marginal, no entanto, que tem
medo de trocar tiros com policial, mas como já está mar-
cado para morrer, não ha jeito de escapar. E morto na
hora e, como num passe de mágica, aparece uma arma
em sua mão com algumas balas deflagradas, e uma "mu-
tuca" de maconha em seus bolsos. O corpo não identifi-
cado é enterrado rapidamente como indigente. Na dele-
gacia da jurisdição, o fato não se transforma em inquéri-
to, fica sempre rotulado como investigação policial, tal-
vez porque os agentes destacados para solucionar o caso
já devem saber que os autores são seus colegas, mas per-
tencem ao respeitado Esquadrão e, portanto, ficam
sabendo logo que não poderão aprofundar-se nas dili-
gências nem delatar ninguém. E a lei do terror dentro da
própria política. Calcule-se fora.

O negócio agora transformou-se numa poderosa


indústria da morte. Mata-se com facilidade espantosa.
Os locais dos crimes são diferentes mas as táticas iguais -
cadáveres dos bandidos mais rasteiros são abandonados
nos locais ermos como um carimbo Io Esquadrão. São
infelizes cobaias para difundir o pavor entre a criminali-
dade e para encobrir o desaparecimento dos bandidos
mais inteligentes, que conseguem grandes lucros. Esses
lucros têm o mesmo fim misterioso. Alguns corpos são
lançados em precipícios - antes a Rodovia Rio-Petrópolis
era muito usada - outros são enterrados em lugares
abandonados.

Correm papos. pelos corredores da policia sobre


cachoeiras e lagoas misteriosas, cemitérios de bandidos.
Mas isso ninguém provou até agora, nem será fácil pro-
var daqui por diante. Porque surgiu, com os anos, uma
série de grupos do Esquadrão, alguns invisíveis até para a
reportagem policial carioca, e alguns já estão matando
por encomenda. Outros são misturados em transações
de tóxicos, roubo de carros, assaltos, etc. Ninguém foi
acusado ou condenado por essas mortes, além de Mariel
Moryscotte e mais 5 dos seus colegas. Com a fusão Gua-
nabara-Estado do Rio, a situação complicou, e agora
chega-se apenas a uma conclusão: se o crime lembra os
métodos do Esquadrão - marcas de algemas, tiros de
grosso calibre na cabeça e coração, sinais de tortura, etc.
- ele entrará para a lista dos casos insolúveis, mesmo que
a autoria seja de bandido. Hoje todo mundo teme com-
bater o privilégio que o Esquadrão tem de matar. Os jui-
zes ficam calados. Os promotores idem. O Poder Judiciá-
rio está sendo desmoralizado - alguns policiais fazem
justiça com as próprias mãos; e a populaçao se omite, tal-
vez porque desconheça os detalhes de algumas destas
mortes.
Hoje é impossível fazer uma estatística sobre as mortes
do Esquadrao. Não tem IBGE que dê jeito. Sabe-se ape-
nas que desde 1960 até março deste ano existem 962
casos de crimes não solucionados, transformados em
1.130 inquéritos pelo delegado Helber Murtinho, há 6
meses na Delegacia de Homicídios do Rio. Antes eram
sonsiderados investigações policiais completamente
O coronel já depôs 4 horas na delegacia de Queima- respeitado como valentão nessa barra pesada. Sempre abandonadas nas gavetas. Dos 962 homicídios, a polícia
dos e 12 no DGIE (Departamento G e r a l d e Investigações dizia que não necessitava de pistoleiros para defender a calcula que 250 são do Esquadrão, mas a reportagem
Especiais), no 3? andar da Secretaria de Segurança, no maloca: " e u me garanto sozinho", afirmava. Certo dia, policial carioca calcula em 450 para cima, no máximo 600.
Rio. Ele acha estranha a demora nas providencias para uns bicheiros compraram cocaína e maconha com Para justificar, os jornalistas da sala de imprensa da Dele-
ouvirem as pessoas indicadas em seus depoimentos. Zequinha e, depois <je algumas aplicações, resolveram gacia de Nova Iguaçu argumentam que só de 1974 até
Tem testemunhas que conversaram com um bandido dar uma volta com o carro do banqueiro. Em excessiva agora foram encontrados cadáveres de 198 vítimas do
que escapou vivo do Esquadrão."Dizem que o bandido velocidade, bateram com o carro num poste. O banquei- Esquadrão, mortos e abandonados principalmente na
quase não podia falar, estava com o maxilar esfacelado. Ele ro soube, foi conversar com Zequinha. Eram amigos. O Estrada do Babi, M o r r o da Calunda, Estrada Velha
foi levado para a estrada com mais 2, viu a polícia castrar banqueiro pediu-lhe que, quando alguns de seus Miguel Couto, Monte Alegre e os atalhos de Cabuçu, no
seus amigos. Quando vi os 2 cadáveres pensei que eram empregados viessem procurá-lo para comprar tóxicos, Estado do Rio, onde mora o coronel Ivy Teixeira Xavier.
de mulheres. Em volta do corpo havia muito sangue. ele não os vendesse; e o banqueiro até se comprometia a Estas estatísticas são para os cadáveres encontrados;
Quando chegou a vez dele, mesmo nu, ele correu para o dar a Zequinha o dinheiro perdido. Zequinha não con- quem poderá dizer o número de corpos que desapare-
mato. Um rito de 45 varou a cara dele, mas conseguiu cordou, disse queia vender o bagulho para qualquer um ceram sem ninguém ter ouvido falar? Se a cúpula policial
fugir/'' e, depois de muita discussão, Zequinna ainda ameaçou diz que não nao existe Esquadrão, e que os crimes são
de morte o banqueiro. Neste momento apareceu um cometidos pelos próprios bandidos, então por que a
policial conhecido como sendo do Esquadrão. O ban- polícia não descobre os autores?
queiro conta que foi ameaçado de morte. O policial-
Três histórias de como o Esquadrão age: puxa da arma e diz, antes de atirar:
por encomenda, para defender um bandi- - Eu concedi a licença para a boca funcionar, agora estou

0CORONEL
do contra outro, para justificar a lei de que cancelando.
O cadáver de Zequinha, colocado num carro, desapa-
bandido tem que morrer. receu. O caso é muito comentado entre a malandragem
de Madureira até Bangu.

3 - A tese da morte
1 - O n d e está Amarelinho?

O fofgrafo trabalhava na Cinelândia, Rio, malhado Dezesseis anos, mulata esguia de seios pequenos, saia
pedestres. Tipo magro e ruivo, mais conhecido como curta. Atraiu logo a cobiça de um bandido valente de
Amarelinho. U m dia resolveu subir na vida. Comprou morro, no Estado do Rio. Primeiro ele tentou ganhar no
uma tele-objetiva, fez um levantamento de pessoas papo. Foi repelido. Numa madrugada, atacou: levou a
importantes. Passou a selecionar as vítimas e a seguir seus jovem na marra para seu barraco, depois de ameaçar o
passos. C o m paciência, começou a conseguir fotos alta- pai, caso chamasse a polícia. Amarrou-a com cordas num
mente comprometedoras: gente com amante, etc. Aí fogão e satisfez a cobiça. Nos dias seguintes, passou a
enviava uma cópia à vítima e exigia dinheiro em troca dos chamar os amigos e a cobrar pelos encontros com a
negativos. jovem. Foi quando, 15 dias depois, o tio da jovem - irmão
A situaçao de Amarelinho começou a melhorar. Com- de seu pai - resolveu denunciar o fato a alguns policiais.
prou carro e passou a freqüentar locais grã-finos. Mas Eles subiram no morro e libertaram a moça. O bandido
começou a jogar sujo: recebia o dinheiro e não entrega- fugiu, mas dias depois voltou; e, quando encontrou o pai

POR ODE
va os negativos. Amarelinho ficou cada vez mais exigen- da jovem, foi logo matando, sem nem querer explica-
te, achava seu plano infalível, descuidou-se. Uma das ví- ções. Aí os policiais souberam e agora no morro niguém
timas era amigo de um amigo de um membro do Esqua- ouve falar mais no bandido. O caso foi contado numa
drão... roda grande de policiais, durante um debate sobre o

NÃO OS
Conclusão desta historinha contada há uns 4 anos Esquadrão, em plena rua Marechal Floriano, no Rio. Fj
pelos corredores da polícia carioca: Amarelinho foi pen- serviu para justificar entre eles a tese:
durado no pau-de-arara, levou choque elétrico e cigarro
aceso, de modo que não foi muito difícil entregar tudo -
até o último negativo. Depois, nunca mais ninguém "Bandido tem que morrer"

OUVEM?
ouviu falar desse tal de Amarelinho.
Hoje não é mais novidade: é um pensamento fixo
2 - Cancelada a tiros
entre razoável número de policiais cariocas, autores de
Zequinha era dono de uma boca de tóxico perto de mortes misteriosas, que até iniciam tiroteios para justifi-
um ponto de jogo de bicho. Mulato forte, bem falante, car a legítima defesa, porque têm certeza de que o ban-
O Esquadrão da Morte parece que não é um mau Em 1966, os mortos eram atirados no rio Guandu. Uru- guardados dentro do colchão na casa de Submarino,em
negócio. O jogo de bicho caiu muito e a grana está difícil bus seguiram a trajetória sinuosa das águas, bicando os Belfort Roxo. Além destas, existem outras execuções
para enfrentar a dura inflação. corpos. cujas vítimas foram encontradas com cartazes de Killing,
Então o sujeito pode usar o terror para chantagear. Por o personagem de história em quadrinhos que usa uma
exemplo: dono de uma banca de fumo ou banqueiro do Depois do escândalo dos mendigos sacrificados no rio mascara de caveira.
jogo do bicho que vem obtendo uma boa renda, não vai da Guarda por policiais cariocas, na antiga Guanabara, Os inquéritos estão sob a responsabilidade do delega-
se recusar a pagar a taxa de Cr$ 10 mil semanais cobrada jogar cadáveres no rio Guandu passou a ser a maior "su-
por um membro do Esquadrão, como proteção. A repre- do Helber Murtinho, da Delegacia de Homicídios, e ele
jeira". Então os cadáveres começaram a ser abandona- somente aguarda o resultado dos exames periciais para
sália não será a prisão. Será a morte. dos em terra firme. Nesta época, apopulação não discor- indiciar Vianinha e seu grupo em diversos crimes. Eis o
dava nem tinha medo do Esquadrao, porque achava que que o delegado Helber Murtinho diz:
ele defendia a sociedade.
- Não sou contra o policial matar bandidos. Mas assim
Breve História dos primeiros bandidos Aí surgiu em cena o promotor Rodolfo Avena, como como Vianinha matou, não posso concordar. Matou
um implacável acusador. Mas tempos depois ele sumiu
fuzilados quando Esquadrão não era da com a mesma velocidade. Depois de um recesso, apare-
sempre em proveito próprio. Se for apurar direitinho,
acho que os crimes deste grupo vão passar de 120.
Morte. ceu em São Paulo o promotor Hélio Pereira Bicudo; no
Rio surgiu o promotor Silveira Lobo, que teve participa-
ção direta nasprisões dos ex-policiais Mariel Moryscot-
te, César, Tigrao, Carlinhos. Arlindo Crioulo e Silvinho, Entrevista-relâmpago com o coronel
acusados de matar ladrões de carro e traficantes de tóxi-
Nos meados da década passada, o delegado Cecil co (os cadáveres eram abandonados, a maioria enforca- Ivy Xavier, que recolheu três cabeças e,
Borer assumiu a Delegacia de Vigilância cariota e esco- dos em cordinhas de nylon, ao lado de cartazes com a depois que perderam a pele e os cabelos,
lheu um grupo de policiais chefiados pelo detetive Mil-
ton Le Cocq para combater os marginais em seus escon-
sigla E M e uma caveira, e ainda bilhetes ameaçando as levou dentro de um saco à delegacia
próximas vítimas).
derijos. Le Cocq, o Gringo - magro e olhos azuis -, era da mais próxima:
antiga Polícia Especial (PE), formada por homens muscu- Até na Praça das Nações, em Bonsucesso, bairro movi-
losos, hábeis motociclistas. A PE tinha ficado famosa mentado, foram deixados 2 cadáveres, com recado para
durante a última gestão do presidente Getúlio Vargas - 0 irmão de uma das vítimas, Lúcio Flávio Lírio - inimigo
respeitada pela população e temida pelos bandidos, em número 1 de Mariel (Lúcio morreu esfaqueado por um Na varanda de casa em Cabuçu, o coronel tosse. Está
meados da década de 50. O grupo usava nas motos o preso na Colônia de Ilha Grande, em 1974). Foi uma fase com pigarro nervoso. A mulher e as filhas ficam preocu-
emblema E M - Esquadrão Motorizado. de deboche de um dos grupos do Esquadrão, que che- padas. Comentam que ele passou mal à noite. Ele se faz
gou a irritar os membros da Scuderie Detetive Le Cocq de teimoso, diz que não vai-ao médico, insiste em con-
Ao mesmo tempo que o detetive Le Cocq combatia a (clube formado em homenagem a Milton Le Cocq; seus versar. Mas agora não esconde certo temor pelo Esqua-
.criminalidade com o seu grupo de policiais da pesada, associados usam decalque nos carros, uma caveira com drão, embora negue. Suas filhas, no entanto, não escon-
surgia o detetive Perpétuo de Freitas, famoso por adotar duas tíbias cruzadas, cada um recebe um chaveiro e uma dem que têm medo de algum atentado nas ruas escuras
uma tatrca diferente: prender bandidos sem disparar carteira com o símbolo da caveira, e tem que obedecer de Cabuçu. O coronel não liga, diz que vai continuar a
nenhum tiro. Um tipo forte, moreno, cabelos pretos rigorosamente um estatuto. Entre os sócios existem mili- campanha e revelar os nomes dos matadores, em futuro
lisos, cara de índio, andava sozinho pelos morros e tinha tares, médicos, advogados, jornalistas, comerciantes, próximo.
muitos informantes. Era cascateiro e vaidoso: fazia ami- etc. Todos têm que possuir uma ficha pregressa imacula- Talvez não seja um trabalho fácil, pois ele_pode estar
zade com os repórteres de polícia e sempre aparecia nas da. Sua sede fica num subúrbio carioca). A Scuderie se blefando. Pode ser também desculpa para nao respon-
páginas dos jornais. irritou porque deixavam uma caveira perto do cadáver, der algumas perguntas diretas ligadas ao Esquadrão. Ele
ligando o crime ao emblema da Scuderie Le Cocq. se defende com monossilabos:
Nessa época, o bandido era mais analfabeto e sangren-
to que hoje. Um tempo de assaltos mais violentos e de - O Esquadrão da Morte é formado por policiais?
poucos lucros. Maconha era pouco difundida entre a Balanço de 1975 - Sim.
juventude e os traficantes eram poucos. O combustível - Tem PMs metidos nisso?
do bandido era a cachaça. Bêbado, atirava à toa. E a polí- Até o final deste ano, a situação do Esquadrão na Justi- - Sim.
cia não tinha condições para cercar todas as entradas dos ça está assim: o detetive Ivônio Andrada Viana, Viani-
morros, especialmente o da Mangueira. Nem a Polícia nha, e seus colegas Orlandino Montalvane, Oton - Tem grupos do Exército ou de outro órgão federal
Militar estava preparada para ajudar. Correia de Melo, Cláudio Monteiro, Augusto dos Santos atuando?
Bastos e 2 militares, então sendo acusados de ter assassi- - Não.
Então surgiu com força total o grupo de Le Cocq. Tal- nado 37 bandidos, na maioria traficantes de tóxicos. Via-
vez mais inteligente que Perpétuo,não gostava de ser ninha está detido no Ponto Zero - prisão de policiais que O coronel mostra que não quer responder sobre
fotografado ou entrevistado. Andava de boina preta na aguardam julgamento - enquanto seu principal acusa- isso. Prefere conversar sobre mortos. Uma rotina
cabeça. Ficava dias de tocaia levantando o ponto fraco dor, Moacir Ribas, antigo informante da Polícia, está na macabra que está virando psicose. Ele revela como pre-
do bandido. Introduziu táticas novas e, por isso, era tido Delegacia de Duque de Caxias. Ao depor, o bandido parou suas estatísticas:
como um mito para seus subordinados. Quando um Moacir Ribas esclareceu que auxiliava Vianinha e seu
bandido morria, eram fotografados como heróis: pisto- grupo na Delegacia de Tóxicos, e que foi o responsável - Contei os cadáveres que apareciam em todos os
las 45 e Winchester nas mãos. Era uma época de vedetis- pelo levantamento dos esconderijos de diversos trafi- lugares até cansar. Fui registrando tudo, dia e noite na
mo, que aumentou com o surgimento de um bandido cantes assassinados a tiros de pistola 45. Eis a lista de cri- vigília. M e u estômago ficou treinado em acompanhar a
perijgoso: José Miranda Rosa, o Mineirinho. Aumentou mes apoptados por Moacir Ribas. 5 corpos encontrados decomposição dos corpos, até virar esqueleto. Vi
também a rivalidade com Perpétuo, que queria prendê- dentro de um Dodge Dart, em Irajá; 4 marginais fuzila- cachorros carregando pedaços dos corpos. U m mau
lo sozinho e sem dar um tiro. dos num templo espírita no morro do Adeus, em Ramos; cheiro terrível, atraia centenas de urubus. Várias vezes
Mineirinho mostrou sua periculosidade escapando de 1 traficante conhecido por Betinho, executado dentro pedi às autoridades de Nova Iguaçu providências para
todos os cercos, a polícia toda atrás dele por ordem do de um Opala roubado, na rua Bonina, em Bento Ribeiro; remover os corpos. Não adiantava nada, alegavam que
Secretário da Segurança. Mas Perpétuo armou uma cila- os traficantes Serginho do P ó e Preguinho, mortos numa o cemitério de Marapicu estava lotado.
da para Mineirinho e o prendeu sem dar um tiro. Brasília, em Vaz Lobo; 1 homem na estrada do Viegas;
Aumentou a fama de Perpétuo e a irritação do grupo de outro no conjunto residencial de Lins de Vasconcelos; 1 O cemitério de Marapicu fica a 10 quilômetros de
Le Cocq. Mineirinho ficou preso no Manicômio Judiciá- traficante na favela de Colégio; 2 traficantes na favela de Cabuçu. E o mais famoso nas redondezas, nos fundos de
rio, e alguns meses depois escapou pelo bueiro. Depois Varginha, em Manguinhos; morte de Ramon Ricardo uma igreja branca construída no tempo do Império, no
de alguns dias, seu corpo foi encontrado metralhado na Rivera e sua namorada Sueli Vilar Pereira (o corpo de alto cie uma ladeira. Na frente o cemitério é igual aos
Estrada de Grajaú-jacarepaguá. Sueli foi encontrado nas águas da Barra da Tijuca e o de outros, jazigos espalhados por todos os lados, alguns
Ramon até agora não apareceu; seu carro, um Fiat ver- com datas de até 1821. Separada por uma cerca de arame
Em 1964 apareceu um bandido " c h u l é " chamado melho, foi jogado no mar, na avenida Niemayer); morte farpado, bem nos fundos, a area dos indigentes, na
Cara-de-Cavalo, que explorava mulher na zona do Man- de 2 assaltantes de banco, um deles reconhecido como maioria vítimas do Esquadrão da Morte, nenhum identi-
gue. Certo dia, Le Cocq acompanhado pelo detetive Luiz Carlos Falado Suez, o Submarino. Seu corpo foi ficado. É uma quadra de mau aspecto, mais de meio
Cartola, foi pedir seus documentos. Apavorado, Cara- encontrado na Estrada Velha de Pavuna e Moacir Ribas metro de capim tapando o número das covas. Dizem os
de-Cavalo, matou Le Cocq e feriu Cartola. Foi o enterro conta que Vianinha apanhou Cr$ 80 mil que estavam coveiros que existem sepulturas com mais de um dono
com mais juras de vingança que já houve na polícia: os
tiros para cima obrigavam os urubus a voarem mais alto.
Era o primeiro pacto entre policiais para jantar o bandido
na primeira oportunidade. A cena iria se repetir em cada
enterro de policial morto por bandido. E a marca de vin-
gança iniciou uma nova etapa no tratamento da crimina-
Mdaae. Terror contra terror, lema que trouxe a desmora-
lização do Poder Judiciário, colocando no ridículo o arti-
go 121 do Código Penal (homicídio), já que alguns poli-
ciais se apossaram do livre arbítrio de matar impune-
mente.
A caçada foi violenta. Valeu tudo. Perpétuo era com-
batido por seus colegas: Cara-de-Cavalo não poderia
ser|~preso vivo. Mas Perpétuo queria prendê-lo sem
um arranhão, e com isso aumentar a sua fama.
Perpétuo morreu antes, porém, durante uma caçada
na antiga favela do Esqueleto, ao lado do Estádio do
Maracanã. Discutiu com o detetive Galante e deu-lhe
um tapa. Galante deu-lhe um tiro no peito.

Depois disso, aumentou o ritmo da caçada. O grupo


de Le Cocq, alguns dias depois, encontrou Cara-de-
Cavaio numa casa em Cabo Frio. O bandido não teve
nem tempo de sentir medo: seu corpo foi atingido por
uma saraivada de balas de diversos calibres. O umbigo
foi arrancado.pelos projéteis, ficou grudado na parede.
Os caçadores de bandidos ficaram famosos. E a antiga
Ultima Hora carioca mudou o sobrenome da sigla E M :
tm vez de Esquadrão Motorizado, passou a ser Esqua-
* ã o da Morte. Os membros do grupo não gostaram,
rnada puderam fazer. O apelido pegou rápido em
Brasil e logo foram surgindo outros grupos.
pois, eram muitos mortos para pouco cemitério. Os res- meses atrás, o nome do promotor Rodolfo Avena. do demais? Não acha que eles estão desperdiçando mui-
ponsáveis não aceitam sepultar mais vitimas do Esqua- Agora sem a missão especifica de acusar o Esquadrão. tas balas atirando num morto?
drão: agora os corpos são enviados para o cemitério de Assumiu como diretor-geral do Departamento Geral da - Agora o bandido está mais perigoso e disputando
Iguaçu Velho, em Vila de Cava, também já quase lotado. Policia Civil - um posto abaixo do secretário de Seguran- os pontos dos rivais. É lobo comendo lobo.
- Quando surgiam os policiais nos locais dos crimes ça do Estado do Rio. - Falando objetivamente, o senhor acha realmente
- conta o coronel Ivy, depois de tomar uma colher de Comandando a policia carioca, fomos encontrá-lo que é só bandido que está matando?
xarope - a maioria já vinha com o lenço no nariz. Eu acho em seu pequeno gabinete no 3'andar do Instituto Médi- - Não. Existem alguns crimes cometidos por poli-
que eles têm estômago fraco. Eu nunca precisei tapar o co Legal, rua dos Inválidos, Rio. Tranqüilo, cachimbo na ciais. Mas isso nós estamos investigando. Q u e m tiver
nariz. Mas como eles apareciam uma vez e não Voltavam boca, o ex-promotor Avena respondeu às perguntas: comprovado sua culpa irá para a cadeia.
mais, resolvei guardar 3 cabeças de bandidos, que esta- - O senhor, anos atrás, obedecendo ordens da Procu- - Como estão sendo feitas estas investigações?
vam separadas dos corpos, penduradas nos mourões. Fiz radoria do Estado, investigou os crimes do Esquadrão. O - Através de um memorando feito em conjunto com
isso para provar que as ossadas restantes não eramm de que o senhor apurou? o Departamento Geral de Investigações Criminais (NR:
cabritos ou cachorros. Pertenciam a corpos humanos. - Consegui tirar muitas conclusões. Não consegui ir memorando n.» 118, de 23 de junho de 1975); foi organi-
- O n d e você guardou as 3 cabeças? mais adiante por causa de umas dificuldades? zado um grupo para elucidar a série de mortes mistério-
- No banheiro do meu sitio. Coloquei dentro de um - Q u e dificuldades? sas. Designei o comissário Paulo Cardoso Coelho para,
saco e pendurei. Quando perderam a pele e os cabelos, - Prefiro não responder. pessoalmente, orientar as diligências para esclarecer os
levei para a delegacia de Queimados. No DGIE levei rou- - O Esquadrão da Morte é formado por policiais? fatos.
pas, dentaduras e sapatos. - Esquadrão não existe, como pensam. A maioria - O comissário Paulo Cardoso Coelho tem carta
desses crimes foram praticados por<bandidos. branca?
Quando parecia esquecido, voltou ao noticiário, 9 - O senhor não acha então que tem bandido matan- - Claro. Ele não vai sofrer nenhum tipo de pressão.

0 PROMOTOR JÁ
INVESTIGOU
PORQUE AGORA
ALEGA
PROBLEMA? Como diretor do DGIE, o comissário poderá requisitar
todo auxilio necessário ao bom desempenho da missão.

Por aue ainda não foram ouvidas as tes-


temunnas que o Coronel indicou no seu
depoimento ao comissário Paulo Coelho?
Aquela região virou um "cemitério sem
muros"?

- Aquilo lá já está velho. Não é mais notícia. O quente


está em Engenheiro Pedreira. No local conhecido por
Marajoara existe u ma lagoa onde são jogados os cadáve-
res do Esquadrão. Ê a Lagoa dos Mortos!
- Já passaram 3 meses e nenhuma pessoa que indiquei
no meu depoimento foi ouvida. Sou a única testemunha
no inquérito. Não sei quais as investigações que estão
sendo feitas pelo comissário Paulo Coelho. O governo
deve ter problemas mais prioritários para resolver. O
caso do Esquadrão da Morte deve ser de somenos
importância.
O coronel Ivy bebe água de um balde que tirou do
poço, olhando sempre fixo para o fotógrafo. Ele fala de
má vontade:
Contamos ao coronel que vamos visitar uma barreira
do rio Guandu, onde os corpos ficavam presos. Ele resol-
ve ajudar:
Nervoso, ensina o rotéiro para agente sair do sítio e
atingir a via Dutra, na altura do quilometro 36. U m dadio
curioso em seu roteiro: a ponte de madeira-única pas-
sagem sobre um riacho - foi roubada e sobraram apenas
as 4 estacas, avisa o coronel.
Para alcançar a via Dutra é necessário percorrer ata-
lhos estreitos e alagados pela chuva, rodeados de mato
cerrado. Nenhum sinal de civilização em alguns trechos.
Ruas sem iluminação, uma casa a quilômetros da outra.
O único grupo de pessoas que surgiu foi numa lixeira,
perto do sítio do coronel, onde os carros de limpeza
urbana vão despejar. Alguns moram em casebres de lata,
construídos em cima do próprio lixo, todos catam latas
para vender quilômetros adiante. É um lugar feio, fre-
qüentado por urubus também, um cenário do Esquadrão
da Morte. Ali os bandidos são eliminados com rajadas de
metralhadora, depois de passar vivos nas barreiras rodo-
viárias. Local tão ideal para uma execução, que podem
ser usadas pistolas 45, metralhadoras, Winchester e até
dinamite, que ninguém escuta. Um lugar tão deserto
que, quando passamos, até as estacas da ponte já tinham
sido levadas.

O carro atravessou o riacho no peito, a águaencobrin-


do as rodas, e entramos numa estrada cheia de buracos,
com muitas curvas, postes de iluminação sem nenhuma
lâmpada. Somente quilômetros adiante, quase' beiran-
do a via Dutra, é que surgiram alguns casebres.
A via Dutra, além de perigosa, esconde ao viajante
uma história sangrenta: do quilômetro 1 ao 40, nos dois
lados, principalmente o esquerdo de quem vai do Rio
para São Paulo, é o palco onde atua o Esquadrão da Mor-
te. Um cemitério de muito barro e poucas casas.
E ELE CHEQ0U, CUMPRIMENTEI
i i

ELE, OFERECI INCLUSIVE UMA


COCADA...0 ROMARIZ NÃO ACEITOU E
FALOU QUE EU ESTAVA PRESO!..."
E ASSIM, DA MANEIRA MAIS
RESTA, COMEÇA
O RUMOROSO
CASO DO EX-
VEREADOR
JOSÉ
R E P O R T A G E M DE ALEX
SOLNIK(TEXTO E FOTOS)
E J O Ã O OTÁVIO

GODOT, PRESO E
ESPANCADO
POR UM
CAPITÃO, NO
NORTE DO
PARANÁ. Valmor é o advogado. Godoy agora não desgruda dele, nem sai à rua sozinho

Bom, vamos começar então. Você diz teu nome, tua maçonaria. (Godoy e Romariz são maçons. Godoy, da Senti que o carro deu a ré e entrou às direita. E tocou
idade, tua profissão. loja Moreira Sampaio e Romariz da Loja Grande Oriente - pâááá?. Parou no semáforo e fez um redondo. O único
M e u nome é José Godoy Viana, nasci em Presidente do Brasil.) redondo que tem em Apucarana é a praça interventor
Bernârdes (SP) e logo em seguida meus pais me trouxe- E ele chegou, cumprimentei ele, ofereci inclusive Manoel Ribas. Parou, e o capitão disse: é, Godoy, você
ram prá Apucarana. Sou comerciário. Estou fazendo o uma cocada... vai refletindo aí que eu vou pegar umas perguntas com o
científico. E... tem mais como essas aí. O Kawuai aceitou comer meia cocada, e o Romariz dr. Rui, porque o seu caso é muito grave, e conforme, se
Como foi o seu dia 12 de novembro deste ano? não aceitou e falou que eu estava preso. você colaborar, você ainda vai fazer a sua prova no colé-
M e u dia 12, normalmente, meu banho frio logo G o d o y está danao a primeira entrevista de sua vida, gio hoje.
cedo, saí, e... encontrei um amigo chamado Ariovalao no escritório de seu advogado e amigo Valmor Giavari- Valmor Giavarina estava esperando, no Fórum, por
Abreu Zanoni, fazendo umas transa aí, é despachante... na. Tem 1 metro e 80 de altura, uma cicatriz no queixo e uma audiência, quando viu o capitão Romariz, que o
ele falou assim: vamos até a prefeitura que eu tenho um outra no lado de dentro do ante-braço esquerdo. Filho cumprimentou. Dia 12 de novembro. O capitão saiu do
assunto pra tratar lá. Tá legal. Depois ele sugeriu pra gen- de costureira ajudada faz anos pela família de Valmor. Fórum com fotocópias de documentos que serão utiliza-
te ir tomar um café até a cantina da prefeitura. Eu falei: Este ano perdeu o mandato de vereador por ter faltado a dos no interrogatorio de Godoy.
ah, que que é isso? Eu como ex-vereador acho que tenho 3 sessões extraordinárias. O Guedes ficou no carro me lapidando: é, Godoy,
direito de um cafezinho na Câmara. Vamos dar uma che- Eu dei risada, no duro mesmo. Dei risada e falei: isso você fala, colabora, né... ele vai te fazer umas pergunta e
gada lá. (A Câmara fica em frente à entrada dos fundos da é um blefe! É uma gozação comigo. E bati nele: quer se você não responder é pior pra você. Porque nós já
prefeitura.) Aí fomos lá. E ele muito desconfiado olhou e uma cocada? Aí ele falou que o meu caso se tratava de sabemos de tudo! Mas se você não confirmar o que nós
cismou qualquer coisa. Falei: que que é isso, rapaz? segurança nacional e que eu havia estragado as férias vamos perguntar é pior pra você. Porque depois nós
Aquele rapaz lá - ele viu um amigo meu. Do exército. dele. M e conduziu até o fusca azul-claro, chapa de Lon- vamos te mandar pro segundo escalão, a turma da pesa-
Falei: Aquele rapaz é meu amigo. drina, entrei, ele falou assim: uma algeminha... da, e aí é pior pra você.
Com quem você encontrou na Câmara? Aí comecei a tremer, né, nunca vi aquilo na vida, 31 Capitão, sargento e cabo são do 309 Batalhão de
Com Vadico, que é o porteiro, com as cantineiras, anos de idade, primeira vez que vejo uma algema de per- Infantaria Motorizada que é subordinado à 5? Região
dona Polonia, dona Olga, o Áureo Silva, que é o oficial to, a não ser em filmes. Aí ele: um oculuzinho pra você. Militar e a o 70? Batalhão de Blindados de Ponta Grossa.
de justiça. Ele até brincou comigo: como é, tá berrado? Como era esse óculos? O comandante, coronel Amaury Soares Vieira, é um
Eu disse: não preciso andar armado. Ele falou: o negócio Esses óculos que a gente vê em filme, que eles usa adepto da não-violência:
tá feio na cidade! O prefeito quer te pegar! assim pra enforcar alguém... pra fuzilar. M e puseram um - A violência não resolve.
E quando saí da cantina fui conversar com esse meu chapéu, que segundo dizem, era um chapéu militar, não Sobre o caso Godoy acha melhor esperar pelo vere-
amigo do exército, Jorge Kawuai , que estudou comigo sei que estilo cie chapéu é esse. dito das autoridades militares, que já estão examinando
no colégio S. José. Godoy não sai de perto de Valmor 20 horas por dia, as provas contra Romariz.
E conversamos ali, tal, quando vi que saiu o capitão que é o tempo que o advogado está dando ao caso. Fica - Os nossos chefes falam por nós.
Romariz, que eu também o respeitava muito. Afinal de na sala de espera, ajudando em algumas tarefas como Depois de uns quilômetros no asfalto senti u m terre-
contas, esses dias atrás eu estive na sua iniciação na buscar água ou cigarros. Não pode sair de casa sozinho. no de pedregulho. O capitão mandou parar numa
sombra. E falou para eu continuar refletindo, sempre O capitão voltou e o Guedes, com aquele sadismo, Aí eu já tava... pra ser honesto... era melhor dar um
ameaçando... foi buscar um fio comprido e tal. tiro na gente, matar, liquidar o assunto. Melhor pra mim.
Percebi que estava numa pedreira. Barulho de brita- - Ah, você achou o fio? Aí falei: pelo amor de Deus o senhor dá tudo que tenho
deira e várias explosões. A intimidade entre eles é a coisa mais linda do mun- que assinar. Eu assino. Aí comecei a chorar, me deu um
Eu ainda brinquei: do. Ali não tem hierarquia, não. Nem esse negócio de troço lá, e... assino o que o senhor quiser porque não
- Será que esse cara tá usando canhão? capitão. É tudo igual. agüento mais mesmo.
Mandaram calar a boca. Fiquei dentro do carro um E o cabo chegou pro capitão: Alguns dias depois, José foi chamado à delegacia.
tempão. Depois mandaram descer, e andando manda- - O senhor quer que eu vou buscar cigarro? Acompanhou-se do advogado Arno Ar.dré Giesen,
ram agachar e eles não agachavam. - Ah, mas que é que é isso, vai até a cidade... que não deixaram entrar. Como estava demorando,
- Levanta o pé esquerdo! Tem um toco aí! E eu ali, né, quetão. Rachel foi ver o que estava acontecendo na delegacia.
Subi uína escadinha e sentei numa cadeira e passou Mas via que estavam montando ali um processo que só j Pediu para falar com o capitão, que se dizia chamar capi-
um tempinho. Parou as britadeiras, as explosões, calmou podia ser eletricidade. Aí o sargento falou assim: tão Amaury. Rachel lembrava de ter conhecido um mili-
o ambiente. Foi que senti a presença de outro carro. Pelo tar chamado Amaury em Apucarana, e logo que viu o
motor tenho certeza que era um Volks. - Esse fio pode por na algema mesmo? Não estraga a capitão percebeu que não era ele.
O capitão falou uma hora: algema? - Aí eu já tava desconfiada. Eu não sabia o que fazer
- Tem muita testemunha aqui, olha o que você vai E rindo, aquele sadismo deles. e disse que tinha telefonado para a Polícia Federal e que
falar! E colocaram um fio na algema e outro enfiaram na : eles já estavam vindo para saber o que tava acontecendo.
E começou a fazer perguntas. Todas as perguntas sandália, um fio bem descascado. Aí o capitão plantou-se j Quando falei isso, o ta! capitão ficou nervoso e disse que
que fazia à minha pessoa era pra incriminar o ex-prefeito na mesa muito sossegadamente e falou assim: estava na hora de pegar o avião pra Brasília.
e principalmente pra mim retirar o processo que estou - Godoy, a partir de agora, você é meu inimigo!
Aí me puseram no carro e, na saída do quartel, sem-
movendo contra o prefeito. Começou as mesmas perguntas que fêz na pedreira j pre com os vidro fechado, o capitão bateu o anel no
O pro cesso entrou no Fórum em outubro. Uma e começou a me chamar de comunista, eu jurava que ] vidro, chamou o oficial e mandou entregar a maquini-
ação publica baseada em denúncias de que o prefeito não, pelo amor de Deus, não me fala uma coisa dessa, i nha de volta no portão, sem ninguém ver.
porque todo mundo me conhece, não tenho participa- i
ção nenhuma, graças a Deus. Tenho meus princípios, - Esonde isso ai. Não quero que ninguém veja isso aí.
certo? E não: você é isso, você é subversivo, você com ; E tocou.
esse processo contra o prefeito está agitando a seguran- José assinou os papé.s passando seu carro para Val-
ça nacional. E sempre incriminando o ex-prefeito. duir.
E dada as respostas que eu dava... porque não sei de j
- Ele veio com o capitão até em casa e pegou uns
nada... que que eu vou saber?... o pau comia.
negócios. Não disse nada. E entrou num Opaía verde
O choque vinha, mas vinha direto. Não era pouqui- i que não tinha placa de lugar nenhum. E levaram o meu
nho não. O capitão virava a manivela até que via que eu 1 marido para Apucarana, dizendo que ele ir depor no
ia desmaiar. quartel, antes de ir para Brasília. Mas quando eles tavam
quase perto de Apucarana, pararam o carro e mandai am
Eu já tava urinando na roupa, entende, então quan- o José descer, dizendo que se ele abrisse a boca morria
do ele via que eu desmaiava, ele parava e tal. Aí: você em dois minutos. E mandaram que ele saisse correndo
não tem jeito e tal. E continuava outra vez. pro meio do cafezal.
No dia 12 de outubro, o capitão Romariz prendeu o
deputado Scarpelini, do MDB, para lhe avisar aue não O Kawuai tava esquisito. Em vez de pegar a esquer-
falasse nada na Assembléia sobre os contratos de risco. ] da, pegou a direita, mas é proibido ali dentro do quartel.
Por coincidência, esse deputado foi quem primeiro I O capitão:
falou em público sobre o caso Godoy: leu na Assembléia 1
- Você tá ficando bobo, rapaz?
a declaração do 1? Tabelionato de Notas em que Godoy \
acusa o capitão Romariz de tortura. O advogado queria , Aí ele: desculpe e tal. Q u e o rapaz.tava desnortea-
encaminhar o processo longe do público. Não autorizou ; do. Não sei o que aconteceu, certo? E sempre, anterior-
nem proibiu o discurso de Scarpelini, onde o deputado mente e no caminho também uma recomendação: se
agricultor de 25 anos pediu aplicação do AI-5 para punir você falar isso pra alguém, e manter contato com Val-
o capitão, se a denúncia de G o d o y for comprovada. Dois mor, eu te mato.
dias antes, Scarpelini tinha feito um discurso a favor da
vigência do AI-5, contrariando a plataforma partidária e Sei que daí me largaram na saída para Londrina,
está sendo expulso do partido. No tempo ae vereador numa rua meio escura. Um amigo me viu e me levou até '
em Apucarana foi cassado, e depois readmitido, porque a casa de minha mãe.
feriu o decoro parlamentar ao propor a instalação de um i A entrevista tinha terminado. Valmor Giavarina
bafômetro: ! estava contente porque seu constituinte não tinha dado
quase nenhum tora.
- Alguns vereadores vinham bêbados e as sessões I
eram tumultuadas. - Me digam francamente: uma pessoa simples como
tinha emprestado máquinas da prefeitura para fazer i
Aí o capitão cismou de telefonar pra senhora dele i Godoy seria capaz de inventar uma história com essa
algumas construções na Fazenda Juruba, de Colombino
que não ia jantar em casa e isso observei porque eles ! riqueza de detalhes?
Graçano. haviam pedido comida. Pediram sanduíches e leite para S Nos despedimos.
a cantina e realmente veio. Entrou muifoescondidinnoo '
Você lembra de alguma pergunta? No dia seguinte, vi rapidamente o capitão Romariz. \
lanche deles, o leite, e ele então se comunicou com a
Ah, mais isso aí... não leva a mal, mas... eu falei pra senhora dele que não ia jantar em casa. Já estava para sair de casa em sej Opala verde. Atravessei
você, me perdoe, mas... não quero nem lembrar. Só sei a rua e pedi para ele descer o vidro. É alto, tem bigodes
que ele dizia: Godoy, Godoy, você está mentindo, seu " R e c e p ç ã o bastante concorrida na residência do \ grisalhos, menos de 50 anos, pele bem queimada de sol.
i salafrário, e nomes assim que fiquei abismado. casal Beatris - Capitão Romariz. Foi uma agradável noite ' Me recebeu sorrindo, mas tentei imaginar seu rosto dife-
para nós também. Sempre gentis e com aquele modo i rente. Como será que era seu rosto no momento em que
Teve uma hora que ele perguntou um negócio pra
característico dos cariocas em bem receber." fez a seguinte proposta a Valmor Giavarina, tempos
mim e respondi uma piada. Todo mundo riu. Então reco-
atrás.
nheci a risada do prefeito. Esse comentário saiu na Tribuna da Cidade do dia 23
- O que fizeram com você? de novembro, domingo. Nesse dia, o jornal Radar estam- | - Ele me disse que seu trabalho no serviço de infor-
Começaram a dar bofetões, cascudos, pé d'ouvido. pou a manchete Arbitrário, Prepotente e Desonesto - j mações era muito parecido com o trabalho do pescador,
í Minha voz de tanto gritar foi começando a sumir tam- como Valmor define o capitão. e que ele também não gostava de voltar da pescaria sem
I bém. Eu apelava pra Deus e eles não acreditava, quer nenhum peixe. Como o Biacchi estava falando calúnias a
dizer... Deus ali é um caso à parte,, porque não entrou na - Ele serve-se do exércitoem vez de servi-lo. Se hou- j
meu respeito, o capitão veio me prestar solidariedade.
conversa. Se tivesse entrado, tinha saído meia hora vesse um Romariz em cada estado do Brasil, estaríamos
depois. perdidos. Não olhe; suas mãos, como acho que devia ter feito.
"Durante todo esse "tratamento" pretendiam os ; Nem fiz alguma pergunta á queima-roupa cuja resposta
Ele virou e falou assim: vamos encerrar isso aí.
militares que o peticicnário assinasse documento e fizes- j fosse tão instintiva que se mostrasse no rosto: torturei;
se declarações que comprometessem crirninalmente o j
Então o Guedes acabou de bater mais um pouco ali e
não torturei.
ex-prefeito Valmor Giavarina, chegando ao ponto de
pegou mais papel de outra salinha. Chegou e talou
assim: Me disse, c o m o num comunicado oficial, que não J
procurar envolver * moral da própria esposa do ex-pre-
feito, com objetivos nitidamente torpes, vis e asquero- - Assina aqui. tinha nada para dizer e não sabia que seu nome tinha sai- |
sos." Trecho da declaração por escritura pública que do nos mais importantes jornais da imprensa oficiai do \
Falei: - Só se o senhor deixai eu ler.
Godoy fez, no dia seguinte, no 7? Tabelionato de Notas país. I
- Aí falou assim: é, vamos ter que começar tudo de i
de Apucarana. - S o u um espectador. O tempo dirá.
Aí o capitão falou assim: bão, vambora! M e levaram novo.
i
embora mandando caminhar agachado. Os dois que me O Capitão Romariz está sendo acusado num inqué-
conduziram não se agachavam e o terceiro me empurra- rito policial em Rolãndia, 40 auilometros de Apucarana, Laudo de Exames de Lesões Corporais n?126/75 M K , j
va pela nuca. Pra judiar mesmo. desde 4 de junho deste ano. Junto com o delegado Wil- de seguinte teor. Aos treze dias do mês de novembro de j
O carro pegou as direita e não andou uns dois, três son de Almeida e o escrivão Antonio Barbosa, obrigou o mil novecentos e setenta e cinco, na Clinica de Ortope- <
minutos. Paramos. Pelo barulho percebi onde estava. Aí vendedor de balanças José Dias de Alencar a entregar dia e Traumatologia de Apucarana, à requisição do
tiraram minha venda. um carro para Valduir Américo da Silva, de Londrina. senhor Delegado a e Policia da 17* Subdivisão Policia! do
- Agora ele já sabe onde está, tira a venda dele. Estado foi examinado josé Godoy Viana, brasileiro, com
Mandaram mexer bem os olhos porque, já pensou, A mulher de José, Rachel Fiala, disse que o marido trinta e um anos de idade, branco, solteiro, comerciário,
tinha trocado um Volks pelo Karman Chia de Valduir, residente no Parque Beia Vista desta cidade. Hitórico: !
você vê claridade depois de umas seis horas vendado...
ficando cada um de pagar as prestações que ainda falta- agredido por pessuas nãc conhecidas. Exame: Estrias de
Entrei, e me conduziu sempre algemado a uma sali-
vam de um e de outro. Depois, José deu algumas balan- hiperemia em número de três com inicio na face poste- i
nha que ele tem no quartel. E sei que acendeu uma pla-
ças a Valduir, que em troca ficou de pagar as prestações rsor do pescoço, na altura da sexta e sétima vértebra cer- j
quinha na porta dele, pra ninguém entrar, ninguém per-
cios dois carros. vical, circulando até o osso externo no limite dos terços
turbar. A cortina da janela estava fechada. Fecharam a
médio e superior, lado esquerdo. Duas estrias do hipere-
porta. Aí o capitão me pôs no banco e foi até o sanitário e - Mas em maio desse ano começaram a chegar uns mia partindo da sexta e sétima vértebra cervicaí, circun-
mandou o sargento buscar um... Falou assim: avisos do banco dizendo que as prestações estavam atra-< dando a região cervical até o bordo supes ior da ciavicola |
- Vai lá na frente e peça aquilo emprestado. sadas e iriam a protesto. Meu marido então foi lá e direita. Kiperemia face laíera! esquerdo do pescoço de j
Pra mim, vou lá saber o que é aquilo! paçou. Depois pegou as duplicatas e foi falar com o Val- sessenta milímetros por oiíeuía milímetros; iado direito:
Bom, sei que o cara veio com uma maquininha na duir, dizendo que queria o dinheiro dentro de 15 dias ou hiperemia de quarenta e cinco por noventa milímetros
mão. Maquininha que eu já conhecia. então o negócio estaria desfeito. O prazo terminou e de forma irregular: hiperemia em ambos os punhos cir-
De onde? nada do Valduir pagar. O José foi de novo pra Londrina, cuiarido-os com largura de quarenta milímetros e esco-
para ver se resolvia. O Valduir então disse assim: riação retüinea com sete milímetros de extensão, no
M e u irmão foi telegrafista no exército e já me expli-
cou como é que éaquilo. Já tive oportunidade de ver Isso - Eu vou te tomar este carro nem que tenha que punho esquerdo." (Hiperemia: superabundància de
aí. comprar a polícia. sangue em qualquer parte do corpo.)
MASOQUISTA FEZ Comé que é, Simonal, vamos voltar de
CONTRATO:
TINHA MEDO novo à pilantragem? — Já voltamos!
DE NÃO APANHAR Pensei encontrar o Simonal eu falar? Não, é claro, vocês detur- Isabel, 150, sala 401) e depois leva-
sozinho. Um dia antes marquei a pam tudo. Todos fizeram cara de aprova-
do p ara o DOPS, onde foi espan- ção. Eu fiz uma careta como as do
Contrato amoroso de Mme. entrevista e ele topou de cara. Alguém interrompeu e me dis- cado e obrigado a assinar uma
Mas quando entrei no escritório Simonal, e respondi que preferia
Fanny de Pistor com Léopold de se: confissão, segundo a qual teria
da boate senti um clima diferente: resolver tudo ali mesmo. Mas o
Sacher Masoch: - Porque não faz uma entrevista praticado um desfalque na firma
Simonal estava agitado em com- Abelardo, sem pèrder a calma, leu
sobre o show do Beco? É melhor do cantor. mais uma vez, e fez outra propos-
"Sob palavra de honra, Léopold panhia de três homens que não assim. Deixa esses assuntos pra lá. Simonal denunciou o seu ex- ta::
de Sacher Masoch se comprome- eram dos mais simpáticos. - Olha, eu tô pouco ligando pra empregado e homem de confian- - Então, fazemos o seguinte, viu
te a ser o escravo de Mme. de Pis- - Como é Simonal, vamos pra esse show que o Simonal está
tor e a executar todos os seus
ça - a quem demitira semanas Simonal? Você responde só o que
outra sala falar mais à vontade? fazendo. Quero saber dele, da antes - como desonesto e subver-
desejos e ordens, durante 6 - Olha, bicho, não vai dar não. pilantragem, da sua prisão, dos achar que deve responder. Essa
meses. sivo. Viviani, em troca, respondeu parte política etc, você diz que
Q u e r o saber d i r e i t i n h o q u e discos que estão caindo de ven- a u e Simonal desejava conseguir
reportagem você vai fazer. da... não pode responder. Q u e esta
"Por seu lado, Mme. Fanny de dele um documento que anulasse sob sursis e não pode falar. Eu
- Já falei ontem. Quero saber o - Tá vendo - Simonal entra na a sua reclamação na justiça do tra-
Pistor não lhe pedirá nada deson- acho que fica melhor.
que foi feito do Simonal, o artista conversa - eles só querem o lado balho. O cantor faria, finalmen-
roso (que possa fazê-lo perder sua
mais bem pago do país, que hoje político da coisa. Sou um cantor, te,uma declaração que. para mui- Simonal foi condenado a 5 anos
fama de homem e cidadão). Em
está aqui no Beco, escondido... O quero falar de música. Não tenho tos, foi responsável pelo ostracis- e 4 meses de prisão, mais um ano
cac/a infração ou negligência, ou
que houve com sua carreira... interesse em ser vereador ou coisa mo em que ele caiu nos anos de internação em colônia agríco-
em cada crime de lesa-majestade,
- Ora, não houve nada... parecida. Não me interesso por seguintes: disse que era infor- la, em novembro de 74. Mas,
a dona (Fanny Pisor) poderá casti-
Puxei do bolso 3 laudas onde política. Tudo que você mostrou mante do DOPS, " c o m atuação beneficiado por habeas-corpus,
gar a s e u gosto o escravo (Léopold
tinha anotado trechos de antigas aí no papel é um bando de menti- nos meios artísticos. está em liberdade esperando
de Sacher Masoch).
entrevistas do Simonal: ras. Só preocupação política. As violências praticadas contra novo julgamento. Qualquer inci-
Em resumo, o sujeito obedece- - Olha, aqui está mais ou menos Quer mesmo saber se sou infor- Rafael_ Viviani ficaram comprova- dente policial pode levá-lo à pri-
rá à soberana com submissão ser- o que vou perguntar. mante do DOPS? Vai lá e pergunta das_ não só no exame de corpo são.
vil, acolherá seus favores como Simonal, rápido, levantou da o número da minha carteira. Vai delito, feito 2 dias após o seqües- Simonal pega de novo as laudas.
um dom encantador, não fará poltrona e pegou as laudas. também perguntar ao juiz se ele tro, mas também nas declarações -Veja só: Aqui tá assim: " e u sou
valer nenhuma pretensão a seu Começou a ler. realmente falou o que está escrito de várias testemunhas. ( O Globo, muito nativista, confesso que fico
amor, nem nenhum direito de ser - Por isso não c o n f i o na aí. 13 de novembro de 74). cheio com essas pessoas que desa-
seu amante. Por seu lado, Fanny imprensa. Tá escrito aqui: " e u era Na sentença que c o n d e n o u A v o n t a d e era levantar, ir creditam no Brasil. Nós somos um
Pistor se compromete a usar peles preto por isso tive mil problemas, Simonal, o juiz Mena Barreto diz o embora, mas antes mandar o país pobre, estamos atravessando
sempre que seja possível, princi- não tenho agora porque sou seguinte: " q u e Wilson Simonal Simonal pra algum lugar. Resolvi uma fase difícil." Sou brasileiro
rico." Era preto porra nenhuma, era informante do D O P S é fato
palmente quando se mostrar ficar c a t u c a n d o , a g ü e n t a n d o paca. Mas como tá escrito aí é só
sou preto, bicho. E nunca fui rico, confirmado, quer pela sua própria
cruel. aquela situação. Até que chegou o pra me enrolar. E vai mais a coisa,
nunca disse isso. Assim não dá. testemunha ae defesa, quer pelo
"No fim dos 6 meses, este con- A b e l a r d o F i g u e i r e d o , diretor ouçam só: " O Brasil foi durante
- Eu tô achando que não dá acusado inspetor Mário Borges.
trato de servidão será considera- geral do Beco. M e apresentaram a muito tempo desgovernado, o
mesmo. Vai dizer que você nunca Q u e recebia telefonemas amea-
do nulo e sem maior valor para ele: esquema era devagar, não era
tirou onda de rico? Você não tinha çadores de pessoas que supunha
ambos as partes. Tudo o que - Qual o problema, Simonal? funcional. Se os militares estão aí e
uma Mercedes e uma Fiat? ligadas às ações subversivas tam-
acontecer deverá ser esquecido, - Ele quer fazer uma entrevista. você não gosta desse regime de
com o retorno à antiga relação
- E isso quer dizer que o sujeito bém é matéria pacífica, pois são exceção, o que deve fazer? Traba-
érico? Hoje qualquer um pode ter Mas é sempre aquela história, só
amorosa. O período ae 6 meses inúmeros os depoimentos nesses pergunta coisa que não me inte- lhar para esse regime mudar no
pode sofrer grandes interrup-
esses carros... E sabe lá em que sentido. Entretanto, nenhum des- futuro e não ficar tumultuando
condições eu comprei os carros? ressa responder. Pede a ele pra
ções, de acordo com o capricho ses fatos pode, de modo algum, mostrar o papel com os assuntos... com anarquia, não ficar na goza-
aa soberana. Assinaram o contra-
Sabe, se, por acaso, posei pra algu- justificar a sua ação delituosa e a ção e desacreditando antecipada-
ma agência e ganhei o carro? Passei as laudas para o Abelar-
to, Fanny Pistor Bagdanow e Léo- dos réus Hugo Correia de Matos e do. Ele leu, coçou a cabeça. mente. Pra mim não importa
pold, chevalier de Sacher- Simonal pegou de novo as lau- Sérgio Andrada Guedes" quem está governando. Se todo
das. Lia, parava, se irritava, fazia - Mas tem que ser assim mes-
Masoch. Válido a partir de 8 de No dia 24 de agosto de 71, o mo? Sugiro uma coisa: vamos brasileiro meter na cabeça que
dezembro de 1869." careta. contador Rafael Viviani foi tem que fazer o melhor, o Brasil
levar o Trajano até aquele nosso
- Eu não vejo vantagem nenhu- seqüestrado de sua casa, em barzinho, colocamos uma boa vai dar um banho."
Masoch, escritor e filósofo, fazia
Copacabana, levado primeiro
contratos como este quando casa- ma em dar s entrevista. O que eu garrafa de "scotch" na frente e a Simonal dá uma volta pela sala,
vou lucrar com isso? Posso ter cer- para o escritório comercial de gente acha um denominador senta de novo na poltrona, faz
va. Era um masoquista.
teza que vai sair publicado o que Wilson Simonal (Avenida Princesa comum cara séria.

O cabo! O cabo! - repetiu uma cole- bandeira de luta aos partidários do


gial em unitorme. poder militar). Os outros eram o sena-
U m preto descalço fez o que se dor Lauro Sodré e o deputado Barbosa
mandava. Lima - políticos <jue a "máquina" oli-
Fósforo. O povo se afastou. O bon- gárquica discriminava. Não consegui-
de ardeu. ram.
Q U A T R O DIAS DE REBELIÃO O motim popular já estava frio. A
Dias 12,13 14, e 15 de novembro de polícia recuperara-se das primeiras
1904 o povo do Rio foi dono da cida- derrotas. A rebelião esgotara-se em
de. Apedrejou, saqueou, espancou baderna. (A luxuosa residência do
policiais, invadiu quartéis, defendeu- Ministro da Saúde foi saqueada por
se em barricadas, desmontou os ain- uma "corja fedorenta", enquanto os
dames da futura Av. Rio Branco - e seus familiares colocavam-se em lugar
seguro). Centenas de populares foram

Ministro da Saúde
incediou os bondes da Ligth. Por que?
Uma tradição antiga afirma que esta desterrados para o Acre. Milhares
rebelião foi feita por "arruaceiros e foram recolhidos às cadeias. Estran-
baderneiros" contra a vacinação anti- geiros expulsos como anarquistas.
-«Vr-.-7'W. I

envolvido
varíola obrigatória. Há um grão de P O R TRÁS D A L O U C U R A
verdade nisso - mas apenas um grão. A Varíola diz a Osvaldo Cruz: "En-
É claro que o povo não enlouquece-
O Dr. Oswaldo Cruz, ao assumir a quanto matas mosquitos, eu vou cei-
ra. Nem o problema principal era a
Direção da Saúde Pública fizera um fando vidas mais preciosas".
vacina obrigatória. As razões da

no escândalo
juramento: acabar com a peste bubô- batiam na porta o povo batia nos vaci- violenta e estranha rebelião popular
nica, a febre amarela e a varíola. Daí a nadores. Oswaldo Cruz não entendia foram:
vinte dias os adversários de Rodrigues tanta ignorância. ] A carestia chegou, naquele ano, a
Alves faziam, também, um juramento:

das vacinas
um limite insuportável. (Conseqüên-
acabar com o Dr. Oswaldo Cruz. Este O EXÉCITO ENTRA N O F O G O cia do " m o d e l o econômico" de Cam-
jovem médico, pretencioso e dedica- No comando do povo surgiram pos Sales: exportação, capital estran-
do até o fanatismo, simbolizou aquilocapoeiristas famosos (e admirados), geiro e tratamento de choque contra a
que as correntes políticas do tempo bandidos conhecidos da plícia e sim- inflação).
achavam de ruim no jgoverno. Na ples trabalhadores enraivecidos. No ] O desemprego, em 1904, fora
. O U E B R A Q U E É DA LIGHT! Os protestos partiam de todo Ia» questão da febre amarela, por exem- Centro das Classes Operárias, ao som enorme. (Conseqüência da política
O Chefe de Policia, Cel. Silva Piragi do. plo. Havia duas teses: ou a febre da Marselhesa e da Internacional, nas- económico-financeira das oligar-
be, jurou por todos os santos que não - Covardes! Assassinos! Covardes! amarela se transmite pelo contágio ceu a Comissão Contra a Vacina Obri- quias: paralização das fábricas e crise
haveria o " m e e t i n g " daquela tarde. U m soldado correu para buscar com o doente ou se transmite pelo gatória. Houve comícios, passeatas e, comercial).
Manhazinha cedo mandou os pedes- reforços. U m vendedor de bilhetes, mosquito - então. finalmente, quebra-quebra. (Esta ] C o m a "modernização" do Rio, os
tres cercarem o Rossio: maneta e vesto, pulou para o veículo. Cruz achava que era pelo mosquito - rebelião chamou-se, também, cortiços do centro foram derrubados.
- Não entra nem mosquito enseba- Tomou a chave largada pelo motor- então, ao invés, de perseguir e isolar
Quebra-lampiões). Bondes virados Milhares de pessoas pobres estavam
do. neiro e, num golpe furioso, estourou os doentes ele perseguiu os mosqui- transformaram-se em barricadas. desabrigadas - e breve descobririam
A praça retangular, repleta de sol- o relógio. tos e as poças d'água. O povo, meio Rodrigues ficou encurralado no Cate- as favelas.
dados, era a mesma em que executa- - Quebra que é da Light! por ignorância, meio por revolta con-te. A polícia caçava inutilmente, pelas ] Não havia abertura política na
ram o Tiradentes, 200 anos antes. Os Homens e mulheres viravam ban- tra as dificuldades da vida, não deixava
ruas, os vendedores de jornal, os República Velha. A oposição só podia
comerciantes, não podendo abrir, cos, arrancavam reclames, furavam as os vacinadores entrarem em casa. moradores dos cortiços, os vendedo- se manifestar em ocasiões de explosão
estavam fulos de raiva. O povo, idem. cortinas grossas de lona, estilhaçavam res ambulantes, os pequenos funcio- popular.
Por volta das 9 horas os urbanos inter- O Dr. Oswaldo Cruz conseguiu,
faróis. Dois rapazes tentavam vergar nários, os empregados do comércio, ] Os militares estavam insatisfeitos
ceptaram mais um bonde que avança- mesmo assim, estinguír a febre amare-
para cima a longa tábua do estribo, ela os operários e os desempregados. (principalmente os jovens oficiais e os
va pela Avenida Passos: la da Capital. (Muito ajudou para isso a
foi fazendo praaaaaaaaaque. Dia 15, o governo mostrava-se cadetes do Exército), com a persegui-
- Para o Rossio não passa. demolição dos pardieiros do centro).
- Quebra! Arrasa! Estrepa!
Os passageiros foram descendo, Na questão da vacina anti-varíola, completamente esgotado por tanta ção aos florianistas (outros que
- Queima! Queima!
entre resmungos. Aí, o motorneiro porém, o Rio pegou fogo. E o povão correria. A oposição achou que era o encobriam suas pretensões com u'a
U m hominho calvo abriu a porta do momento de desfechar o golpe de mística qualquer).
repuxou a pera e falou alto: descontou todas as suas misérias.
seu armarinho e dentro de um minuto misericórdia no Presidente impopu- ] A campanha antivaríolica foi feita
- Desaforo! reapareceu com duas latas de quero- Os políticos da oposição achavam lar. Tentaram, para isso, sublevar a com violência policial.
U m soldado trepou ao estribo: zene. Fazia tudo calmamente. As latas um absurdo: então o sujeito não tem Escola Militar da Praia Vermelha e do Não tivemos, felizmente, no Brasil,
- Repete, cachorro. Desaforo é isto! desapareceram das suas mãos, reapa- o direito de não se vacinar? O n d e já se Realengo Q u e m eram esses políticos? depois disso, qualquer problema
E derrubou-o com um pescoção. recendo em cima do bonde. viu! Diziam que ra um despudor a U m era general positivista, Silveira com vacinas.
- Fiuuuuuuuuu! Cafageste! Covar- - Esperem - berrou ainda. - Tem vacinação das mulheres. O povo acre- Travessos. ( O Postivismo, como filoso-
de! q u e desligar o cabo. ditava nisso. E quando os vacinadores fia, estava superado, mas servia de Joel Ruffino dos Santos
Ex-massagista do São Paulo
louco para sair da cadeia
O maior presídio da América Futebol para a Europa, c o m o para o Carandiru. Lupa pára de
do Sul fica em são Paulo - Casa de assistente do Mário Américo. comer manga e ascende os olhos.
D e t e n ç ã o do Carandiru. Tem - Olha o b o n d e !
capacidade para 2 mil presos, mas Antes e depois dos bons tem- De trás vão saindo 40 pessoas, na
sua população afüal passa de 6 pos, quase só levou e deu tranco. maioria jovens. Uma deles cum-
mil. 30% recebem visitas (10% Seu vestibular de delinqüência foi primenta Lupa:
toda semana). E um dos menos atrás dos muros do Instituto Dis- - Ô , belo, cê ainda taí, malan-
visitados é Lupércio. Fomos con- ciplinar de M o g i - M i r i m (SP), dro?
versar com ele. onde ficou dos 12 aos 17 anos com
Roupa cáqui azul, Lupércio o número 318 no peito, até conse- - Não, só de passagem.
atravessa o portão de ferro que dá guir fugir para São Paulo. O bonde com Lupa chegou há
para o pátio e espera que um 3 anos. Ele entrou de novo no arti-
guarda me aponte. Sentamos Adulto, a 1 ? das 5 canas sérias go 281. Pena: 3 anos e 7 meses..
num banco ao lado do relógio de que pegou foi em 62. Jogava bola Suas impressões sobre a estadia:
ponto dos funcionários, depois na praça Princesa Isabel, no cen-
de receber um presente que com- tro de SP, onde existe hoje uma - Atrás dos muros é tudo uma
prei na porta do presídio: meia gigantesca estátua do Duque de c o m é d i a , b e l o . C o m e ç a d e
dúzia de bananas, uma manga, Caxias a cavalo, mas naquele tem- manhã, quando a malandragem
um maço de cigarros. po era um descampado bom para levanta os ossos, e vai até a nora
- Conta o que está acontecen- pelada. de dormir. Solidão, né? Você já foi
do de novo pelos frontes lá de preso alguma vez? No Pavilhão 2
fora. - Dei um pé na bola. Ela subiu, estamos em 800. É gente pra
Lá dentro ele é muito popular, subiu e quando começou a des- burro. Tem gente pra burro e no
conhecido como Lupa, o belo, cer, tinha uns 10 tiras esperando fim cada um tá na sua. Nego chega
locutor dos jogos de futebol do por ela, de bracinhos abertos. Ela em você e piá, piá, piá, quer tro-
Pavilhão 2 - todos os pavilhões estava cheia de maconha, belo. car umas idéias, certo? Mas tem
têm campos, clubes, federações, Dei um pinote mas acabei na Tira- hora que não dá pra agüentar
juizes, jogadores e grande quanti- dentes (penitenciária de SP já tanto papo. Depois das 6 da tarde
dade de torcedores. demolida) - conta Lupércio, 57 tem música de falante: se o cara
Irradiar os jogos foi um jeito anos, cabelos brancos no alto da ficar ligado no barato do som,
que encontrou de se ligar aos cabeça. ajuda um pouco. Ás vezes você
' melhores anos de sua vida". está se ligando e chega uma peça
Entre 51 e 52 trabalhou como Ele vai falando e representan- querendo fazer bandolim da tua
massagista do São Paulo - "sou tri- do, como um bom contador de orelha. Até dá vontade de lascar
color nato e h e r e d i t á r i o " -, histórias: imita cachorros policiais uns fáite na pera do cara pra fazer
Juventus, Seleção Paulista e Brasi- tocaiando marginal na noite, ele dormir um pouco. Olha, belo,
leira de Basquete. E. não fosse polícia dando ordem de prisão, quando eu sair daqui, gudibái,
Simonal: " Q u e r saber se eu sou informante do DOPS? Pergunte ao juiz.
uma cana de 3 meses, por briga até que chegam os carros que não volto mais.
- É uma coisa até engraçada. saber mais? O meu empresário, o feia, ia com a Seleção Brasileira de todas as tardes trazem os presos Hilton Libos
Q u e r saber mesmo? Q u a n d o Marcos Lázaro, fez também uma
garantidores da normalidade ins-
comecei a fazer sucesso, eu era pesquisa popular, e sabe o que
titucional e da paz pública - con-
a p o n t a d o c o m o c o n t e s t a d o r . deu? Q u e eu continuo com o
siderar de seu dever entrar em
Qualquer coisa que eu dissesse já maior prestígio. A maioria das
ação a fim de assegurar a legalida-
achavam que tinha fundo político. pessoas nem sabe que eu fui pre-
de ameaçada pelo próprio presi-
: Durante anos foi assim. Eu dizia: so. dente da República.
i"mas que tranquili-da-de", e o N a q u e l e a n o d e 71, o d o "Move-as a consciência de seu
; pessoal morria de rir. Ora, onde jâ seqüestro de Rafael Viviani, seu Lp sagrado compromisso para com a
; se viu? Q u a l é a graça falar isso?
não chegou a vender 3 mil cópias. Pátria e para com a sobrevivência
Mas como ninguém falava nada, Foi contratado pela Phillips em do regime democrático. Seu
; qualquer frase que eu dizia, os fevereiro de 72 e no mês seguinte objetivo supremo é o de garantir

Pensamento político
í negos já viam outra coisa. Durante gravou um Lp, Se dependesse de ás gerações futuras a herança do
! uns 10 anos foi assim. M i m , que não chegou a vender 14 patrimônio de liberdade política
- Isso eu nunca tinha pensado, mil cópias. Apesar aa intensa cam-

do candidato a
e de fidelidade cristã, que recebe-
você contestador... panha publicitária da gravadora, o mos de nossos maiores e que não
- Mas é mesmo. Tem muito Lp lançado no início a e 73 vendeu podemos ver perdidas em nossas
esquerdinha aí que gosta de posar apenas 21 mil cópias, 20 mil a

presidente,
mãos.
como contestador, mas nunca fez menos que a empresa esperava.
"A coerência impoe-nos soli-
nada. É bonito posar de esquerdi- Lançado há uma semana pela dariedade a esta ação patriótica.
nha, parece que é mais inteligen- Phillips, o novo Lp de Simonal,

onze anos atrás


"Ao nosso lado estão todos os
te. Os jornais, esse pessoal que me Dimensão 75, não está tendo a
. mineiros, sem distinção de classe
ataca, é todo assim. Esse Jornal da aceitação esperada, já que até
e de condições, pois não pode
Tarde então... agora não passou de um 98» lugar haver divergências quando em
Deu no jornal Amanhã (TV Cio- à indisciplina das Forças Armadas
- Mas aquelas músicas que você entre os mais vendidos. Algumas bo, 23 horas): o senador Maga- e o de postular e, quem sabe, ten-
causa o interesse vital da nação
gravou em 69 - Brasil eu Fico e rádios tocam algumas vezes a Ihaes Pinto será candidato à tar realizar seus propósitos refor-
brasileira. É ela que reclama, nesta
Cada U m Cumpra c o m Seu Dever múscia " A z a r " , considerada pelos sucessão do presidente Ce/se/. Foi mistas, com o sacrifício da norma-
hora a união do povo, cujo apoio,
-eram músicas de protesto? apresentadores " m u i t o sugesti- quanto mais decidido e sem dis-
ele o autor do manifesto que lidade constitucional e acolhendo
- Claro que não, porra. Mas o va", enquanto outros preferem a publicamos abaixo, senha que planos subversivos que só interes-
crepância,
,rá
mais depressa
,UHWnw
permiti-
que ninguém sabe ou sabe e não faixa " C u i d a d o c o m o Buli D o g " (
a u CAIlu
o êxito ucde nossos Hpropósitos c
e
t mov,rpentP oe V de sam a minoria desejosa de sujeitar de manutenção da lei e da ordem.
quer dizer, é que gravei porque O Estado de São Paulo, 23 de
aDrii ae I9b4, que terminou com a o povo a um sistema de tirania "Que o povo mineiro com as
era contratado exclusivo da Shell. novembro de 74).
Na capa do Lp tinha isso explica- deposição de João Goulart e a que ele repele forças vivas da Nação, tome a seu
O papo se arrastava. Simonal faz posse do general Castelo Branco "Ante o malogro dos que, a o cargo transpor esse momento his-
do. na presidencia da República.
uma proposta: nosso lado, vinham reclamando a tórico. Só assim poderemos aten-
"Foram inúteis todas as adver- necessidade de reformas funda-
O contrato Simonal-Shell tinha - Vamos fazer o seguinte: você der aos anseios nacionais de
tências que temos feito ao País. mentais, dentro da estrutura do
9 cláusulas, distribuídas em 6 lau- traz as perguntas por escrito, eu Contra a radicalização de posi-
reforma cristã e democrática. Esse
regime democrático, as forças
das datilografadas, espaço 2. Ele se levo pra casa, e digo se respondo ções e de atitudes. Contra a dilui-
o fruto que nos há de trazer a
sediadas em Minas responsáveis
obrigava a fazer programas de Tv ou não. ção do princípio federativo. Pelas
legalidade, por cuja plena restau-
pela segurança das instituições ração estamos em luta, e que
patrocinados pela empresa, a gra- Mas Simonal ainda estava com reformas estruturais, dentro dos feridas no que mais lhes importa e somente ela poderá conseguir."
var iingles, a ler piadas que os as laudas na mão Examinando. quadros do regime democrático. importa ao país - isto é, a fidelida- José a e Magalhães Pinto,
publicitários da Shell escreves- - Outra sacanagem: "já se disse Finalmente, quando a crise nacio- de aos princípios de hierarquia, Governador de Minas Gerais.
sem.. E antes da campanha, a Shell i l u m i n a d o pelos M e s t r e s d o nal ia assumindo características
lançou a imagem de Simonal, Oriente e leu o livro Universo em cada vez mais dramáticas, inútil
associada aos seus p r o d u t o s , Desencanto, quando foi preso". foi também nosso apelo ao gover-
MAGALHAES.O HERÓI DA REV0LUCAC
numa campanha previa, para Misturaram uma coisa séria com no da União para que se manti-
levantamento de fundos para a uma brincadeira. Mas misturar vesse fiel á legalidade constitucio-
seleção d e futebol do Brasil na uma coisa séria, como a religião nal.
campanha do tricampeonato. " U n i v e r s o em Desencanto" com "Tivemos, sem dúvida, o apoio
- Bons tempos aqueles, não? Foi uma pilantragem que inventei, de forças representativas, todas
o maior contato que um artista essa não. Se as perguntas forem empenhadas em manifestar o
brasileiro assinou até aquela épo- desse jeito, não respondo. sentimento do povo brasileiro,
ca. Hoje, soube que seus discos Levantei e resolvi ir embora. ansioso de paz e ordem para o tra-
caíram 80 por cento de venda... Desci as escadas e dei com a cara balho, único ambiente propício á
na porta. Tudo fechado. Atrás de realização das reformas profun-
- Não é nada disso, você mesmo mim, o Abelardo Figueiredo. Vol- das que se impõem, e a Nação
me disse que quando chegou aqui te sempre, disse o Abelardo, deseja, mas que não justificam, de
de taxi, estava tocando no rádio apareça lá em casa quando quiser, forma alguma, o sacrifício da
uma música do meu novo disco. é uma espécie de sucursal carioca liberdade e do regime.
Esse meu último Lp, Ninguém aqui em São Paulo. Pé na rua, um "O presidente da República,
Proíbe o Amor, foi lançado pela alivio. Não sabia que eles tinham como notoriamente o demons-
R C A , depois de uma grande pes- me trancado lá dentro. tram os acontecimentos recentes
quisa de mercado. Acharam que e sua própria palavra, preferiu
era a hora. Tá tudo bem. E quer José Trafano outro caminho: o d e submeter-se Edição Extra do Cruzeiro, 10/4/64
Saldanha, o quase campeão de 70, diz que nem Sir Bobby Charlton escapa:
é um analfabeto em inglês.

Jogador é burro!
< .

Muita gente atribui ao futebol do como um boxeur. Incapacita- Essa história do embrutecimen
um papel de distração. Há até do psiquicamente para qualquer to pode ser encontrada numa dis-
uma frase: atividade que não seja a de tira ou cussão, bonita até, de Sócrates e
- Dá circo ao povo, que o povo d e ladrão. Uns poucos, q u e um discípulo dele. há mais de 2
fica satisfeito. teriam ou têm capacidade natural mil anos, sei lá, sobre ginástica e
Isso foi dito há mil e tantos anos para gerir negócios ou atividades música. Os gregos clássicos cha-
atrás, no t e m p o do I m p é r i o de trabalho, conseguem ser cho- mavam ginástica tudo que dizia
Ròmano. Olha, tanto a frase não é. fer de táxi ou abrir um negocinho. respeito ao físico. Música tudo
verdadeira que o Império Roma- A Fugap (Fundação de Garantia que dizia respeito ao intelecto. O
no foi destruído. Futebol não dá do Atleta Profissional) abriu casas Sócrates chamava a atenção do
prestígio a ninguém. O João de comércio pequenas para deze- discípulo:
Goulart foi campeão do mundo nas de jogadores. Todos faliram. - Você não vê o perigo que há
em 62 e olha só o que aconteceu. Deu uma centena de taxis, quase do indivíduo se dedicar exclusiva-
todos quebraram a cara. mente à ginástica e deixar tudo Saldanha: " P o r que não botar São Jorge na página de turfe?"
O governo se autopromove que seja intelectual fora? Não
com o esporte. E daí? Outros paí-
ses também fazem isso. Mas isso
não traz benefício nenhum. Se o
A profissionalização é que ser-
ve para embrutecer mais ainda o
estaríamos formando um bruto?
E ele tinha razão! Aí eu coloco, MENINA DE 9 ANOS REVELA
futebol, do ponto de vista dema-
gógico, fosse capaz de iludir, tirar
atleta. Mas o profissionalismo
fatalmente vai acabar. Ele se fixou
em contra-partida: um intelectual
que se dedicar somente à cultura, QUEM FOI QUE
o povo do centro de atividades,
do pensamento político ou de
mais na Europa (Espanha, Portu-
gal, Itália e alguns países do Medi-
não vai se atrofiar? E a cultura com
isso não deixa ele se desenvolver. INVENTOU 0 BRASIL
terrâneo). Nos países de nível cul- De certa forma, em nível oposto, Os alunos do 3? ano primá- que Peru Vaz reclamou:
vida, o Mussolini não teria sido tural mais desenvolvido, a profis-
pendurado numa bomba de gaso- temos os brutos do futebol e os rio da Escolinha da Monica, - A minha caneta bic pifou,
sionalização não é total. No norte idiotas da objetividade.
lina, depois que a Itália foi bicam- da França, por exemplo, em em SP, fizeram uma redação bolas.
peã do mundo em 34 e 38. alguns clubes os jogadores só A minha carreira de técnico, é em classe, em outubro passa- Então Pedico chamou seu
Pois é. Não se pode dizer nada. ganham metade do salário. A óbvio, está encerrada. Não dá do, com o tema "O Descobri- amigo Maquineta e pediu-lhe
Tá tudo proibido. Tudo censura- outra metade em emprego. Eles mais para agüentar essas coisas aí. mento do Brasil". Um dos tex- uma caneta bic, Maquineta
do. Até xadrez tá censurado. Tem têm uma atividade e não saem dali Acho que treinador no Brasil não tos impresionou a professora num segundo lhe deu uma
vezes que chego na TV, ou na rá- por dinheiro nenhum. tem condições morais para traba- pela inventividade e ela até faber 90 e Pedico não gostou.
dio, não posso falar nem de lhar. O Fluminense, com umtima- comentou com uns amigos. - Eu pedi Bic, entendeu?
xadrez. É verdade mesmo! Gosto Mas esse embrutecimento não ço daqueles, já trocou 3, 4 técni-
Eles nos trouxeram o texto, BIC!
de xadrez, sei até mexer as pedras, é só do jogador brasileiro não. Por cos. Não é recorde brasileiro por-
mas eu não sou comentarista. Aí o exemplo, o Bobby Chalton, o Sir que já teve o Palmeiras com 6 e o que copiamos com todos os Maquinetta deu 10 canetas
cara veio pra mim e disse: Bobby Chalton, tem um aspecto América mineiro com 9 em 1 ano. "erros ortográficos". A autora bic a Peru Vaz de Caneta.
nobre, mas é um semi-analfa. Um Os russos, os ingleses, os iugosla- tem 9 anos! - Falô! - disse Peru Vaz. Essa
- Por que você não escreve vos vêem sabiamente a figura do é que éboa!
sonado. A q u e l e outro rapaz, A 475 anos atrás Pedico
sobre as retumbantes vitórias do treinador. A parte do treinador, Pedico continuou ditando a
irlandês... galés, sei lá... o George Álvaro Cabrito descobria cr
Mequinho? eu creio, teoricamente, já não carta e assim que acabou
Best, é um Garrincha. Só que fala
Olha, meu caro, respondi, por em inglês. Menos um pouco são vale 5 % . Você pode botar o Brasil - continuou vovô. Foi
pediu para encostarem a lan-
melhor treinador do mundo para assim:
que você não coloca São Jorge na os jogadores alemães, porque lá cha e leu a carta, ficou assim:
página de turfe? dirigir o São Cristóvão que ele não Eles estavam andando em
os clubes têm uma espécie de Meu chapa.
contrato semi-amador. O Bec- ganha. Mas a Brigite Bardot diri- suas lanchas quando o "cara"
Não tô sabendo que o cara era gindo o time do Fluminense, por da lancha da frente "Tô" alegre, pois descobri
kenbauer, por exemplo, não sai gritou:
um graduado, um censor que exemplo, pode ganhar o campeo- uma terra jóia.
queria que eu escrevesse na do Bayern de Munique de jeito - Terra á vistaaaa!
nenhum. Ele é sub-gerente de nato carioca. Também preciso de gasoli-
minha coluna sobre as retumban- Pedico levantou e gritou
uma companhia de seguros. O na "prás" "lancha" e "pro"
tes vitórias do Mequinho. para o seu disco-voador:
Overath, outro jogador da sele- Estou cansado. Não é brinca- disco-voador, falô?
deira fazer diariamente crônica - Pode pousar!
Somos o país mais atrasado em ção alemã, é dirigente de uma Bom, é só isso, aí, tchau!
pra Ultima Hora, comentários Pedico encostou as lanchas
matéria de organização que existe companhia de ônibus, que lá é Pedico Álvaro Cabrito e Peru
na face da Terra. E tem uma coisa: estatal. Mas eles trabalham de para a rádio Globo e TV Rio. Can- e começou a procurar uma
Vaz de Caneta.
nossos jogadores são uns embru- pastinha na mão, dão horário e sado de correr daqui pra lá sem casa para por os esquis e poder
Depois disso Pedico 1oi
tecidos. Quanto mais tempo um tudo o mais. Os suecos são ama- descanso. O futebol está u ma coi- fazer esqui-aquático.
sa de louco. Assim ninguém pegar sua "moto" e começou
jogador joga, mais burro e igno- dores, os dinamarqueses tam- Enquanto esquiava, ditava
agüenta. Nem o futebol. a andar. Andou até ver os ín-
rante fica. Entra pro 39 primário e bém, os holandeses semi-amado- uma carta a Peru Vaz de Cane-
sai analfabeto. E na miséria, sona- res. dios.
José Trajano ta, mas a carta era tão grande Renata N.

Conselho Mundial de Igrejas e o


Grupo de Estudos de Proteínas da
O N U (que, pesquisando no Chile
e na Jamaica, encontraram o mes-
mo problema). No mês passado, a
organização Ação no Terceiro
M u n d o denunciou: "Nestlé mata
Bebê". Acusa a multinacional de
contribuir para a taxa de mortali-
dade infantil em países subdesen-

Manifesto abre a
volvidos.
Por que o leite materno vem
sendo abandonado?
Por que é de graça!

seção e faz sua A indústria de propaganda no


Brasil gastou, no ano passado o
equivalente a 1,3% do PNB (cerca

primeira denúncia:
de 6 bilhões) e nãq foi apenas para
vender produtos. Foi para atirar
mais gente no consumo. Mas não

"Nestlé mata bebê!"


gastou um tostão para esclarecer
o consumidor.
Mais importante que denunciar
um produto é denunciar a publi- Jeca: Banco Mundial pode investir mundos e fundos."
O consumidor é uma galinha não é. São marginais - enchem a cidade! que acabem os estoques de fábri-
agroindustrial. Investiu mundos e
de granja. barriga c o m o que encontram. Ela cria novas insatisfações. ca.
fundos, mas a pobreza não dimi-
Ela vive presa em gaiolas, numa Então é supérfluo defender o Consumir é vender a liberdade a Frango Caipira vai defender
nuiu. Ao contrário, aumentou.
situação artificial, com o único consumidor? Não - ninguém crédito. Você compra hoje e ven- tanto o consumidor como denun-
Houve desemprego em massa e as
objetivo de produzir. É arrancada escapa da sociedade de consumo! de sua liberdade amanhã U m ami- ciar o Status e a Publicidade, o fal-
terras se concentraram nas mãos
do ambiente natural e jogada na Deu nos jornais: na Bahia, uma go ouviu isso de um negro num so progresso.
dos mais ricos.
competição para aumentar a pro- família vende leite de cabra pra boteco: " E u sou um perigo para a Frango Caipira precisa d e
dução. Come mais do que preci- comprar Coca-Cola. E na Nigéria, sociedade de consumo; eu não As coisas só podem mudar se a vocês. Biólogos, antipublicitários.
sa, até cair num estado de depres- a mulher do ex-presidente, Gene- consumo!". Em compensação, gente der nome aos bois! Químicos. Jornalistas. Nutricio-
são. Aí come mais ainda, até ficar ral Gowon, teve que posar em dois guardas noturnos, amigos Frango Caipira, uma trincheira nistas. M é d i c o s . Ecologistas.
louca. foto oficial, ao lado do marido, nossos, não dormem de dia: arru- do consumidor, nasce com o Mais Sociedades de Defesa do Consu-
amamentando o filho. Motivo: as maram outro trabalho para com- U M no 1, para lutar na Terra do midor (só existem duas, uma no
E o pior: o frango e o ovo que mulheres nigerianas tinham per- prar carros. Marlboro. O n d e as leis são criadas Rio de Janeiro, outra no Rio Gran-
você come não tem sabor.
dido o hábito de amamentar seus A qualidade de vida piora na para não serem cumpridas. Não de do Sul). Consumidores. Leito-
Nós somos mais o frango caipi- bebês em troca do leite em pó! medida em que o produto inter- fossem as pressões dos outros paí- res em geral.
ra!
A língua de quem não tem nada no bruto aumenta. E ilusão pensar ses, e ninguém tomava providên-
Mas nós também somos consu- Vamos dar nome aos bois?
e de quem tem tudo é a mesma: a que o crescimento melhora a vida cias contra o DDT: proibido em 20
midores. Está aberta a seção!
publicidade! aa maioria. No México, o Banco países, ainda é usado no Brasil.
56% da população brasileira O caso da Nigéria mexeu com o Mundial promoveu a expansão Desculpe: estamos esperando (Criação de Nivaldo Manzano)
Minamata agora noCanadá Em 1970, Norvald Fimreite, um
estudante de biologia, foi pescar
ram recentemente
cerebral, caso comum
com paralisia
entre as
no rio English - Wabigoon, Cana- mulheres que ingerem mercúrio
dá em busca de material para sua durante a gravidez.
tese na Universidade de Ontário Professores da região notaram
Ocidental. Nessa região vivem os uma proporção muito alta de
índios Ojibway, concentrados em retardados mentais entre as crian-
duas reservas - Grassy Narrows e ças novas. (Em Minamata 29% das
White Dog. Nas férias, os turistas crianças nascidas entre 1955 e
americanos vindos principalmen- 1959 eram deficientes mentais).
te de Minneapolis e Chicago, Estudos anteriores sobre o mal
empregam-nos como guias, para de Minamata provaram também
descobrir mais facilmente os que a possibilidade de ataque car-
locais de boa pesca. díaco aumenta na medida em que
Norvald conseguiu alguns pei- se eleva o nível de mercúrio no
xes e pássaros que levou para exa- sangue. Um guia índio já morreu
minar no laboratório da escola. E em 1972 de um aparente ataque
descobriu que o índice de mercú- cardíaco. Outros guias foram
rio nos peixes estava 50 vezes aci- examinados e mostraram ter índi-
ma do fixado pelo nível interna- ces semelhantes de mercúrio em Primeiro, os gatos.
cional. Imediatamente levou o seu sangue.
caso ao governo canadense. Um No ultimo ano, houve um os índios que poderiam estar afe-
nível quase igual demercúriodes- aumento alarmante de violência tados.
coberto nos peixes da pequena nas duas reservas. Em setembro, Fredy Kelly, um líder índio de
cidade japonesa de Minamata, em um bebê de 6 meses foi encontra- Ontário, diz que o governo está
1956, resultou em 200 mortes e do flutuando no Grassy Lake. Em envolvido num "acobertamento
milhares de casos de invalidez. outubro, um menino de 16 anos político em massa"e oculta infor-
O governo canadense des- foi morto a tiros numa briga de mações aos índios ameaçados. Há
cobriu logo que a Dryden Paper adolescentes. Em fevereiro, um vários anos - segundo ele - o
Company, uma fábrica de papel bebê de 8 meses (oi abandonado governo pegou 20 toneladas de
100 quilômetros ao norte das duas na neve para morrer e um garoto peixe do rio e deu aos gatos para
reservas índias, havia jogado 10 de 13 anos foi esfaqueado. Em comer. Todos os gatos apresenta-
toneladas de resíduo de mercúrio março, um homem de 30 anos foi ram sintomas de envenenamento
no rio, durante os últimos 8 anos. esfaqueado. Em, junho, o corpo por mercúrio, mas nunca se con-
E tomou imediatas medidas para de um velho foi encontrado mor- tou aos índios o resultado do teste
proteger., .seusinteresses turísticos to, com a cabeça esmagada por e nem se alertou diretamente
na região. Proibiu a pesca comer- uma pedra. Em agosto, outro para que deixassem de comer pei-
cial mas continuou permitindo a garoto foi esfaqueado. Em xe. Kelly diz que os índios mere-
pesca por esporte. Colocou por setembro, uma menina morreu ciam no mínimo uma nova fonte
todos os lados cartazes avisando depois de ser espancada. de alimentos, além de uma
que os peixes não deviam ser maneira de ganhar a vida e cuida-
Antes de 1970, segundo Marion
comidos. Os turistas americanos dos médicos para os já afetados
Lamm, que viveu com os índios
gostavam do peixe; os índios pçlo peixe poluído.
por 30 anos, nunca se ouvira falar
tinham nele seu principal alimen- de um assassinato ou um suícidio, Outra acusação: já 1972, a Dry-
to. Todos continuaram comendo. não era da sua tradição, simples- den Paper estava tratando seus
Barney Lamm, dono de um dos mente ia contra seu modo de próprios empregados envenena-
mais populares hotéis da região vida". dos por mercúrio desde a dé-
ficou tão abalado com a desco- A Dryden Paper tem se mantido cada de 60, sem estender esta
berta do mercúrio que fechou seu calada a respeito. Em breve deve- informação médica aos índios e
hotel e abriu um processo contra rá instalar um equipamento que brancos que trabalham no turis-
Desenho de Luiz Carneiro, 17 anos, estudante decomunicações, mo da região.
a Dryden Paper Company, pedin- permite a fabricação de papel
SP. Quase inédito. Até agora só tinha publicado uma série de tiras "Pesco nesse rio desde os 8
do uma indenização de milhões sem utilizar mercúrio. Mas segun-
na revista de quadrinhos Balão/n<• 9. anos", diz o Chefe Keewatin, da
de dólares por ter arruinado seu do os especialistas, o mercúrio já
reserva de Grassy Narronws. "Co-

Samora Machel vê perigo


negócio. O caso foi abafado pelo jogado no rio continuará poluin-
Serviço de Turismo de Kenora. O do os peixes por 8 anos ou mais. nheço o peixe e os animais me
governo ignorou o problema. O governo ,mesmo assim, se conhecem. Sei onde o peixe gosta

nessa revolução: Mulher


recusa a fechar o rio completa- de comer e quando. São coisas
Em 1974, Aileen Smith - que que me foram ensinadas por meu
mente. Na verdade, o próprio
juntamente com o marido, W. pai, e que lhe foram ensinadas
governo de Ontário dirige um

tem que gostar de homem!


Eugene Smith, fotografou e por seu pai. O rio que sempre foi
grande acampamento no rio
escreveu o livro "Minamata" - uma fonte de vida para o meu
poluído, onde os turistas são
chegou á região de Kenora a con- povo, agora, é uma fonte de vene-
encorajados a comer o peixe que
tuem fontes de atrito e contradições. vite de Barney. Ficou chocada no e de mortes".
Samora Machel, 42 anos, é o primei- pescarem juntamente com seus
ro ministro de Moçambique desde 25 Por vezes mesmo, em certos casos com o que viu. "É incrível como Tommy Kesssick, 29 anos, líder
guias índios. O dr. james Clark-
de junho. Além de ter sido o revolu- limites, estas contradições secundá- essa situação é parecida cornado da Sociedade dos Guerreiros afir-
son, especialista renomado mun-
cionário fundador da Frente de Liber- rias, porque não são resolvidas corre- japão. Os mesmos acobertamen- ma que se 1.000 cidadãos brancos
dialmente em matéria de polui-
tação de Moçambique (Frelimo) é tamente, agudizam-se e resultam em tos do governo de interesses eco-
ção por mercúrio, teria sido con- de Toronto fossem tratados como
também escritor. Casado pela segun- conseqüências graves, como o divór- nômicos, sobrepondo-se a vidas
cio. Mas não são estes fatos, por mais tratado para examinar os índios, aconteceu com os índios, a rea-
da vez há uns meses. É a respeito da humanas"
mulher que ele fala nesse texto extraí- graves que possam ser, que alteram a mas até agora as autoridades não ção seria muito mais imediata. E
do de seu relatório à V Conferência natureza da contradição. O casal Smith pediu a uma parecem dispostas a gastar os 100 pergunta: "O governo quer que
da Mulher Moçambicana. Importa sublinhar este aspecto por- equipe de especialistas japoneses dólares por pessoa necessários 300 dos nossos morram antes de
" O conflito homem x mulher é na que na nossa época presenciamos, chefiada pelo dr. Masazumi Hara- para um exame clínico de todos fazer algumacoisa?" Falta pouco.
realidade o conflito mulher x ordem sobretudo no mundo capitalista, uma da, uma das maiores autoridades
social. Esta é a contradição antagônica ofensiva ideológica que, sob a camu- em poluição por mercúrio, que
que exclui a mulher da esfera de deci- flagem de luta de libertação da
visitasse as reservas índias. Em
são da sociedade. Esta contradição só mulher, pretende transformar em ata-
gõnica a contradição com o homem, setembro Harada divulgou seu
pode ser resolvida pela Revolução
porque só a Revolução destrói os ali- dividindo assim homens e mulheres relatório: "Dos 89 índios exami-
cerces da sociedade exploradora e explorados, para impedir que comba- nados, 37 mostraram dois ou mais
reconstrói a sociedade em bases tam a sociedade exploradora. Na sintomas iguais aos encontrados
novas, que libertam a iniciativa da realidade, para além da demagogia nos pacientes com mal de Mina-
mulher, a integram como ser respon- que encobre a sua natureza real, esta mata". E avisou que a situação ia
sável na sociedade e a associam à ela- ofensiva ideológica é uma ofensiva da piorar muito.
boração das decisões. sociedade capitalista para confundir
Por conseqüência, da mesma as mulheres, desviar a sua atenção do Agora o mal de Minamata está
maneira que nao pode haver revolu- alvo verdadeiro. atingindo proporções epidêmicas
ção sem libertação da mulher, a luta No nosso seio aparecem pequenas
e não há nenhum jeito ae impedi-
pela emancipação da mulher não manifestações desta ofensiva ideoló-
gica. Ouvimos aqui e acolá mulheres lo. Pode causar deformação, dis-
pode triunfar sem a vitória da Revolu-
ção. Devemos ainda dizer que os fun- murmurarem contra os homens, túrbios nervosos até a morte.
damentos ideológicos e culturais da como se fosse a diferença dos sexos a Seus efeitos estão ficando cada
sociedade exploradora, que mantém causa da sua exploração, como se os vez mais visíveis nos índios das
dominada a mulher, são destruídos homens fossem uns monstros sádicos duas tribos.
pelo progresso da revolução ideológi- que tiram o seu prazer da opressão da
ca e cultural que impõe à sociedade mulher. Homens e mulheres são pro- O envenenamento por mercú-
novos valores, novos métodos, novo dutos e vítimas da sociedade explora- rio provoca o Mal do Chapeleiro
conteúdo da educação e cultura. dora que os criou e educou, É contra Maluco, um distúrbio psíquico
Mas além desta contradição antagô- ela essencialmente que mulheres e caracterizado pela irritabilidade e
nica entre a mulher e a ordem social, homens unidos devem combater. A inquietação bem como depres-
surgem ainda, como reflexo, outras nossa experiência prática tem prova- são mental e imbecilidade". Nas
contradições que, com caráter secun- do que os processos obtidos na liber-
reservas, muitas pessoas têm lá-
dário, opõem a mulher ao homem. O tação da mulher resultam dos sucessos
obtidos no nosso combate contra o bios e membros retorcidos. As
sistema de casamento, a autoridade
colonialismo e imperialismo, contra a mulheres grávidas abortam 5
marital fundada exclusivamente no
sexo, a freqüente brutalidade do exploração do homem pelo homem, vezes mais que o normal no Cana-
marido, a sua recusa sistemática em pela construção da nova sociedade." dá. Só na reserva de Grassy
tratar a mulher como seu igual, consti- Samora Machel Narrows, quatro crianças nasce- A doença do chapeleiro maluco
não é nada. É um teatro do povo.
Então é gente de todas as cores,
fazendo, levando a cultura do
Menino de Deus não é
povo ao teatro e depois trazendo
de volta ao povo. Quer dizer, a
gente vai, pesquisa com o próprio
proibido de fumar. Mas ai
povo, com o operário, a emprega-
da doméstica, o estudante. Então
é esse o meu sonho: continuar o
dele se fumar
Fizemos 7 ou 8 visitas seguidas às
sonho dele. Mas eu não posso tra- colônias de Santa Teresa e Crajaú, no
balhar sozinha, é muita coisa. Rio, onde mora a risonha empresa-
Uma das coisas que eu também família Meninos de Deus Cia. Ltda.
tô preocupada é que tem um Nessas visitas representamos os papéis

Polícia entra na
movimento negro muito sério mais escabrosos: bicho mucho-loco,
aqui em São Paulo, e o meu medo religiosos, desbundados, repórteres e
até futuros adeptos. Na segunda visita
é o medo que o papai tinha, que a

casa do poeta.
à colônia de Crajaú, discutimos bíblia
coisa partisse para o racismo ao com um meninão americano chama-
contrário. Se a gente luta tanto do Matanias, que pareceu ser o rela-
contra o racismo dos brancos, de ções-públicas de lá. Boquiaberto com

Leva Solano
repente vem uma turma queren- o nosso conhecimento (aliás, um de
do fazer racismo negro. nós era o ex-frei Hélio), Matanias se
Ele ainda era crente - diácono curvou e confessou: "Aqui a gente

e seus livros.
ainda não conhece tão bem o livro
presbiteriano - quando começou
sagrado".
a fazer poemas. Depois deixou de
ser presbiteriano. Então a coisa lá, outro de nós chegou a entregar
modificou assim da água pro o seu coração a Jesus, mas por motivos
Solano Trindade, falecido no ele mesmo levantou de cueca, materiais não pôde aceitar o convite
ano Dassado, era poeta, teatrólo- abriu a porta e a polícia disse vinho, né? É um negócio que eu
para ir morar com a "família". Na últi-
go, folclorista, pintor e boêmio. assim: não entendo. Ele disse que foi um ma visita, em Santa Teresa, desrespei-
Q u e m vai falar sobre ele é sua versículo de São João.
- Tem uma denúncia de que tou uma norma básica - fumar - e foi
própria filha, Rachel Trindade, 39 você tem um arsenal em casa. As mulheres dele foram Maria expulso, ou melhor, convidado a se
anos. Ela é pintora primitivista, Margarida, minha mãe, Dione e retirar do casarão por Obede, um
Pra mim foi o maior choque,
assina seus quadros como Kam- Lycia. Dione é carioca, minha mãe americano gorducho, cabelo estilo
nunca vi meu pai matar uma bara-
binda - nome que tirou de uma paraibana e Lycia, baiana. Então Beatles. Detalhe: em matéria publica-
ta, ele nunca levantou a mão pra da em agosto, no Diário de Minas, um
preta velha do candomblé -, já foi cada uma tem um jeito. Todas as
nenhum de nós. Então não esque- pastor do grupo disse que "nenhum
premiada várias vezes. Vive numa três gostavam dele. Mas, a única
ço aqueles homens dentro de menino de Deus é proibido de fumar,
cidadezinha a 25 km de São Paulo, que aeu certo foi a Lycia, porque M e n i n a de Deus
casa dizendo que tinha um arse- beber ou tomar tóxico".
Embu, o n d e moram muitos ela deixava a casa à vontade, todo
nal e revirando a casa toda. M e u Das 14 pessoas que moram em Santa
outros artistas populares. Seu mundo invadia e ela se sentia Teresa, 8 eram americanas: entram no
Alana: Mas tem gente boa, alegre e
irmão, o Liberto, que tem esse feliz entre eles. Israel, um crioulo de
maior sonho é continuar o maior muito bem. A Lycia tinha minha Brasil como turistas e são obrigadas a
nome porque nasceu no final da óculos que está na capa do disco "A-
sonho de Solano - o Teatro Popu- idade, mais ou menos. Agora, a sair do país de 3 em 3 meses para reno-
guerra, tava com sarampo na perte, não sacuda", é um cara mari-
lar Brasileiro. D e p o i m e n t o a minha mãe ela ficou amiga dele o var o visto. Novas colônias estão sendo
cama. A polícia virou o colchão Ihoso. Li uma pá de cartas do Moisés
Angela Maria Pappiani, Maria da tempo todo. A própria Lycia montadas em todos os estados do país.
com ele e tudo, pra ver se tinha Sem falar na potente gráfica off-set,
David...
Graça Ferrari e Silvia Czapski.) quando chegava com ele lá no
armas. Mas o que eles puderam instalada numa garagem do casarão Mais U m : Por que você não entrou
Rio, os dois duros, no fim iam para a família?
levar foi o livro e o meu pai. de Santa Teresa. E o papel para rodar
almoçar lá na casa de mamãe. E no Alana: Tinha uma escurinha lá que
Ele era diferente dos outros Depois ele foi preso num comício milhões e milhões de cartas com pre-
fim ficou tudo amigo.' As três gações de Moisés David, o líder espiri- m e pareceu bem pobre. Conversei
pais. Os outros pais tinham que na rua Relação.
foram musas pra ele. tual de todos os Meninos de Deus. com ela, sempre me dizia que tinha
sair cedo para trabalhar. A maio- Solano viveu em Caxias de 46 a encontrado a paz, antes vivia de fumo
56, mais ou menos. Mas é do Reci- Quando ele adoeceu, eu che- Outra coisa: no ano passado, os
ria, onde nós morávamos, era e ácido. Pois bem. Não é que muitos
fe, onde fundou a Frente Negra guei de Brasília, ele tava sozinho moradores da rua Paraíso, onde fica
operário e ele trabalhava no IBGE, a colônia de Santa Teresa, descobri- brancos implicavam com ela, manda-
Pernambucana. Era difícil cons- no meio do casarão e tinham rou-
lá no Rio. Como sabia que eu gos- ram que os puros Meninos tinham no vam calar a boca? Uma espécie de
cientizar o negro que ele não era bado tudo, tudo. tudo dele! Tava racismo. Aí comecei a acordar para
tava de arte, me levava pro traba- quintal um completo sistema de rá-
inferior ao branco e que o branco só com a roupa do corpo. A Lycia muitas coisas. Lá em Jacarepaguá tinha
lho, batia o ponto e saia comigo dio-amador, que interferia nos apare-
é irmão. A preocupação do papai a d o e c e u p r i m e i r o . Então a uma tv colorida e quando o conjunto
para mostrar museus, assistir con- lhos de tv das redondezas.
era que o negro nem se desvalori- mulher do Assis (escultor de "Muitos industriais contribuem
de música dos Meninos de Deus
certos de orquestras sinfônicas, apareceu no Fantástico (Rede Globo,
zasse nem se separasse do branco. Embu), dona Imaculada, foi quem com mesadas", disse Flor de Amor,
pra conhecer outros amigos. Até aos domingos, 8 da noite), os pastores
Era ele, josé Vicente Lima, Ascên- pegou ele e pôs no hospital. Papai enquanto, no Largo do Machado, no
que esquecia de voltar pra bater o pediram que todos dançassem rock,
cio Ferreira, o Barros. Depois, em não teve cuidado. Abriu o braço Catete, vendia cartas de Moisés.
ponto de novo. E nisso perdeu o foi aquela festa.
Caxias, ele fundou a Brasiliana, para todo mundo, ficou doente 4 "Ser um problema nosso que não
emprego, né? Mas pra mim era ter nenhuma importancia no nossa Q u e l u z : E uma empresa bastante
grupo folclórico, junto com o anos, passando de um hospital
ótimo, passear. conversa", dizem os americanos do prejudicial à rapaziada. Veja você:
Aroldo Costa. Depois veio o Aska- para outro. Se foram 3 ou 4 amigos não consigo sequer conceber o rock
Quando ele formou o Teatro visitá-lo foi muito. Eu não tendo grupo,- mais vivos, conscientes e -
nasi, um polonês, estilizou muito como uma dança de paz, de amor, de
Popular Brasileiro, em 1950, eu como cuidar dele. Então eu fiquei
sabe-se lá - mais treinados.
Jesus. Pra mim, quando danço rock
devia ter uns 12 ou 13 anos e gos- e ele se afastou. Em 1950, papai Agora, uma breve entrevista c o m
fundou o Teatro Popular Brasilei- num estado de nervos tremendo, u m casal que chegou a freqüentar a
fico completamente louco e dou
tava muito daquelas festas que ele de ver o homem completamente porrada no sistema, nas tradições e em
ro, junto com o sociólogo Edson família dos Meninos de Deus:
fazia em Caxias. Papai ia muito a a b a n d o n a d o . Era V i c e n t e d e tudo que perturbar o juízo. O impor-
Carneiro e mamãe. Q u e l u z : Eu só fui lá uma vez porque
rodas de intelectuais, mamãe aju- Paula, escultor, meu companhei- fomos convidados para ouvir um som.
tante nos Meninos de Deus é que há
dava também, mas sempre muito As pessoas que dançavam no ro, que vinha sempre cuidar dele: Aí e/es tocaram músicas de Aleluia,
um capital firme acionando o movi-
preocupada "Pôxa, vem essa gen- Teatro Popular eram povo mes- mento. Assim que chegaram ao Brasil,
dava b a n h o , c o m i d a . Q u e m leram algumas cartas de mensagem, e
te grãfina dentro de casa, não tem mo. Ás vezes ele dava um espetá- em 73, foram logo gravando um disco
lembrou dele foi a Elis, o Roberto, depois teve um sermão com chavões
de rock manso. E sabe por quêi Por-
nada, as crianças não têm as coisas culo mas já tava devendo tanto o Milton Nascimento que nunca bíb licos. Deu para sacar que todos
que interessa muito mais ter um ban-
"direito" Mas ele nem tava aí, que em vez de pagar o pessoal tiveram um contato maior com
ali, ou pelo menos a maioria, são de
do de ovelhas do que alguns lobos sol-
queria é mostrar os livros. tinha que pagar os outros. Alguns classe média quase burguesa. Uma
ele. tos.
trabalharam com ele um bocado rapaziada entre 17 e 25 anos sedenta
Depois eu me lembro dele nos Hélio Maria, Artur Lat e A. A. Fontes.
de anos, sem ganhar nada. Acha- Aí tem um poema, desses inédi- por transações diferentes.
comícios em Caxias. Ele tinha uma
vam que com ele aprendiam, e tos, parece que ele tava adivi-
linguagem assim, nos discursos,
pronto. nhando como ele ia ficar: "Quan-
bem poética. Depois me lembro
do pararei de amar com intensi-
que a polícia o surpreendeu em O sonho dele era esse Teatro
dade?/ Quando deixarei de me
casa. Escutei aqueles homens Popular, não um teatro negro-
prender aos seres e coisas?/
muito grandes batendo na porta e exótico, não é escola de samba,
Quando me livrarei de mim?/ Do
que sou. do que quero, do que
p e n s o ? / Q u a n d o deixarei de
prantear?/ No dia em que eu dei-
xar de ser. eu/ No dia em que eu
perder a consciência/ Do mundo
que idealizei.../ Neste dia.../ Eu
sorrirei sem saber do que sorrio."
Foi o último poema dele. Interro-
gação. Ele ficou assim, ficou como
criança.
Amor
AMORAL NATO
Um dia farei um poema O Repórter
Como tu queres
dicionário ao lado
um livro de vocabulário Os editores e funcionários do Mais Um
um tratado de métrica
um ti atado de rimas
cumprem o dever de comunicar o faleci-
terei todo o cuidado mento.
com os meus versos
Não falarei de negros
de revolução
de nada
que fale do povo «jt TALVANI C O C Ô
serei totalmente apolítico
no versejar...
O Repórter
Falarei contritamente de Deus
do presidente da República Os editores e funcionários do Mais Um
c o m o poderes absolutos d<
homem cumprem o dever de comunicar o faleci-
Neste dia amor mento.
Solano, numa das últimas fotos c o m a filha. Serei um grande F. da P.
Dono das lojas Jeans Store Assim não dá! Aberta a
temporada de caça aos
ameaçado. E nós com isso? jornalistas na América Latina
Raul Sulzbacher - um comer- nicou: O Departamento de Cen- Em outubro, a Aliança Antico- nalista J o r g e M o n e y , d o La O p i -
ciante jovem e promissor - rece- sura Policia Federal não gostou de munista Argentina - A A A - n i ó n , foi f u z i l a d o e m julho,
beu dois telefonemas anônimos um texto que saiu duas vezes no s e q u e s t r o u a r e p ó r t e r A n a Pasual- d e p o i s d e r e c e b e r várias ameaças.
com ameaças de prisão, em São jornal (Ex-13 e 14): "Os censores da. E n q u a n t o a e s p a n c a v a m , os E os a t e n t a d o s c o n t r a o j o r n a l
Paulo. De quem? ele não sabe, deste jornal recomendam: use seqüestradores falaram numa c o n t i n u a m , g o z a n d o a A A A da
mas não avisa a polícia porque calças e camisas do Jeans Store". E reportagem " n e g a t i v a " q u e ela mais a b s o l u t a i m p u n i d a d e .
desonfia dela. Por quê? A única mandou mudar. e s c r e v e u . Era s o b r e o c e n t r o eso- - A t é h o j e não foi preso
pista que ele tem: o anúncio que a t é r i c o f a v o r i t o d e L o p e z R e g a , ex- n e n h u m m e m b r o da organiza-
sua rede de lojas jeans Store - 6 Aí a agência criou outro anún- h o m e m f o r t e d o g o v e r n o d e Isa- ç ã o , diz E d u a r d o G a l e a n o .
e m SP, 2 no Rio - publicava no jor- cio: "Viver bem é a mulhor vin- belita, t i d o c o m o i n s p i r a d o r da Já na C o l ô m b i a , os a t e n t a t a d o s
nal Ex. gança", que saiu nas duas edições A A A , já e n t ã o fora d o país. são a t r i b u í d o s a " m ã o s d e s c o n h e -
seguintes, sem problemas
- Pare de subvencionar o Ex se nenhum. O primeiro anúncio: não agradou. Antes d o seqüestro d e A n a c i d a s " . S ó a revista A l t e r n a t i v a ,
Mas quando Armindo
não acaba preso... Pasualda, a l g u é m ainda podia ( G a b r i e l G a r c i a M a r q u e z f a z parte
Machado, administrador da Ex- atrasado no pagamento do último pensar q u e a A A A representa u m d o C o n s e l h o Editorial), já s o f r e u
Foi o segundo problema do Editora, procurou a DPZ paraanúncio publicado. Como Jeans p e r i g o a p e n a s para os esquerdis- 2 a t e n t a d o s o ú l t i m o n o dia 5 des-
empresário com seus anúncios no saber se o J e a n s S t o r e queriaStore era um dos únicos anun- tas. M a s a r e p ó r t e r n ã o t e m n a d a te mês. C o l o c a r a m u m a b o m b a d e
jornal. O primeiro foi em anunciar em outra publicação, ociantes do Ex, a Ex-Editora fez a v e r c o m a direita o u a e s q u e r d a m é d i a p o t ê n c i a na f r e n t e da casa
setembro. A DPZ - a agência que Extrai, ouviu esta explicação deoutra tentativa para o cliente (trabalha para a revista f e m i n i n a d e 2 m e m b r o s d o C o r p o Editorial,
cuida de sua publicidade - comu- Jandyr Benetti Jr., encarregado damudar de idéia: C l a u d i a , a a Editora A b r i l d e lá). E E n r i q u e e M a r i a Teresa S a n t o s
veiculação de anúncios na agên- - Não tem anúncios para o pes- só e n t e n d e u o s e q ü e s t r o a o ser Calderón, que escaparam
cia: soal do Ex. Se eu fosse uma Ford, libertada: " U m a radio-patrulha, u m jipe
- Não posso resolver nada sem uma Volkswagen, teria costas
- É u m aviso aos jornalistas, q u e d o F-2 e o u t r o d o Exército, c o m
antes consultar o Raul. quentes para continuar. Não
não passam d e subversivos e s o l d a d o s a r m a d o s d e metralha-
quero estragar meus negócios.
comunistas. doras, c h e g a r a m à r e s i d ê n c i a d e
O cliente, revendedor de pro- Uma semana depois, quando
O s jornalistas t ê m sido u m d o s Santos C a l a e r ó n p o u c o s m i n u t o s
dutos Levis, deu a ordem dias soube que a edição do Extra! nv 2
p r i n c i p a i s alvos da o r g a n i z a ç ã o . d e p o i s d o a t e n t a d o , e seus o c u -
antes. Então Jandyr e Armindo tinha sido apreendida, Raul Sulz-
O u d a s o r g a n i z a ç õ e s q u e se pantes passaram a discutir anima-
tentaram falar com ele pelo tele- bacher levantou uma possibilida-
e s c o n d e m sob o m e s m o n o m e , d a m e n t e o c a s o " c o n t a a revista.
fone. Não conseguiram. Armindo de:
s e g u n d o disse ao M a i s U m o escri-
foi procurá-lo direto em sua loja
rná
- As ameaças talvez tenham tor E d u a r d o C a l e a n o , diretor-edi-
da Alameda Lorena, porque o partido da própria polícia, ao ver
torial da revista Crisis, u m a das
Extra! n ? 2 ia sair logo. que eu vinha anunciando no Ex há publicações que vêm sendo
- Me viu e foi dizendo que não algum tempo. a m e a ç a d a s c o n s t a n t e m e n t e pela

"Viver bem é a
queria mais anunciar no Ex, muito AAA.
menos no Extra! - O s telefonemas não paravam.
No dia seguinte
cumprindo ordens
(26/11) a DPZ,
do cliente, memor
elto vingança
M M a s resolvemos não dar impor-
tância, fizemos u m manifesto e
enviou uma carta à Ex-Editora recebemos a maior solidariedade,
cancelando o último anúncio, de d e n t r o e fora d o país. D o e x t e r i o r
uma série 5, que deveria sair no v e i o m u i t a assinatura d e g e n t e
Ex-17, tornando assim sem efeito famosa: G i a n Maria Volonté,
uma cláusula da tabela de preços Costa Gavras, Jean Paul Sartre e
do jornal: "qualquer cancela- outros.
mento deve ser feito com 60 dias M a s q u e m g a r a n t e a tranqüili- Indalecro otr
de antecedência". E ainda está | O segundo anúncio. d a d e d e Crisis? N i n g u é m . O jor- La candidatura de Heras
I . ..».MnH «/»/»,,» SOFÁS A

jornal Ex está submetido à censura leira de Imprensa, porta-voz de nossas ido às bancas, e encontrava-se ainda
prévia, e que esta será realizada em decisões, por sua tradição de demo- guardado nos depósitos da Distribui-
Brasília. crata de todas as horas; de defensor dora (Abril Cultural e Industrial S/A);
" N a mesma Assembléia da SIP, permanente da liberdade de impren-
- o jornal Extra! n? 2 só continha tra-
denunciávamos também o clima de sa, e por ser, no consenso unânime de
balhos já publicados pelo jornal men-
insegurança reinante nas redações, o toda a categoria profissional dos jor-
sal Ex nos seus primeiros números, ou
que culminaria com a lamentável nalistas, personalidade do ano de
seja, a determinação do Ministro da
morte do jornalista Vladimir Herzog 1975 na luta pela liberdade de expres-
Justiça do Brasil, de ordenar a apreen-
logo em seguida, após ter-se apresen- são e pelo respeito às liberdades
são do Extra! n? 2, contraria de imedia-
tado espontaneamente para depor democráticas no Brasil.
to um princípio primário do Direito:
numa dependência militar em S. Dirigimo-nos também ao Presiden-
" o que é bom hoje, é bom sempre".
Paulo - acontecimento para o qual a te da República Federativa do Brasil,

SOS da Ex-Editora
SIP voltou suas atenções na ocasiao; e Sr. Ernesto Geisel, por sua disposição - O u melhor: " A lei não prejudicará o
que mereceu Inquérito Policiai Mili- manifestadamente demonstrada em direito adquirido, o ato jurídico per-
tar por parte do Governo Brasileiro. várias oportunidades - de restabeleci- feito e a coisa julgada". (§ 3', Cap. IV,
" A s pressões especificamente con- mento das liberdades democráticas, Dos Direitos e Garantias Individuais,

à ABI, a Geisel e
tra nossa Editora, porém, intensifica- das quais estamos atualmente afasta- Constituição da República Federativa
ram-se marcadamente a partir do últi- dos. do Brasil).
mo número de novembro. U m de E, finalmente, nos dirigimos à Orga-
nossos poucos anunciantes - Jeans nização das Nações Unidas, na pessoa - A decretação da "censura prévia",

à ONU:
Store, conta da agencia DPZ - comu- do seu Secretário-Gerai, Sr. Kurt por si só um ato de violência, veio
nicou-nos q u e resolvera cancelar Waldheim, por nos considerarmos agravada pela obrigatoriedade de
meia página de anúncio que vinha uma minoria oprimida pelos atos do apresentar os originais de cada núme-
veiculando no Ex. Motivo: telefone- ministro da Justiça do Brasil, que nos ro do Ex, "previamente", em Brasília, a

Qual é?" <i mas anônimos (dois, segundo o anun- puniu por "delito de consciência", 1.400 km de São Paulo - sede da Ex-
ciante) o ameaçaram, caso continuas- em desrespeito à Declaração dos Editora Ltda. (o agravamento da ilega-
se "subvencionando" o Ex". Direitos do Homem, à Carta a e Cons- lidade - "censura prévia" em Brasília
Sr. Presidente da ABI, Sr. Presidente tituição da O N U e à própria Constitui- foi estendido a outros órgãos de
À ABI, 5 - Conclamar todos os jornalistas, da República, Sr. Secretário Geral da ção aa República Federativa do Brasil. imprensa). (...)
A o Presidente Geisel, os jornais e os leitores, para a luta pela O N U . Foi diante dos acontecimentos A apreensão do jornal Extra! n » 2 e a
A Kurt Waldheim, Secretário-Ceral livre informação. (...) - Nós, jornalistas, independentes,
que tão duramente nos atingiram, que decretação da "censura prévia" ao
da Organização das Nações Unidas. editores da Ex-Editora Ltda., podemos
Logo após os acontecimentos que tomamos as graves decisões anuncia- jornal Ex caracterizam uma retomada
At. Especial do jornalista Prudente - graças à Constituição - ir, vir, infor-
nos golpearam nesse princípio de das no início deste documento. na escalada da violência contra a
de Morais Neto. mar-nos, escrever, informar,trabalhar
mês, enviamos carta à Sociedade Inte- Fazemos do Sr. Prudente de Morais Imprensa q u e nos atemoriza:
Saudações Jornalísticas. enfim.
ramericana de Imprensa (SIP), aos Neto, presidente da Associação Brasi- - o jornal Extra! n? 2 sequer tinha
Nós. a Ex-Editora Ltda., empresa de cuidados do jornalista Júlio de Mes- - Mas, graças às medidas do Minis-
jornalistas independentes, declara- quita Neto, diretor de O Estado deli. tro da Justiça, que nos esmagam eco-
mos ilegal a "censura prévia". E, atra- Paulo e membro da Comissão ae nomicamente, não podemos ir, vir,
vés deste documento, manifestamos Liberdade de Imprensa da SIP. N í f a informar-nos, escrever, informar -
nossa firme disposição de não aceitar carta, resumíamos também o quadro trabalhar enfim.
as medidas ilegais e arbitrárias baixa- de apreensões que temos vivido nos (...) nos arrogamos o direito de exi-
das pelo Ministro da justiça do Brasil, últimos dias: ' gir uma definição do Sr. Ministro da
Sr. Armando Falcão, que ordenou a " E m nossa última intervenção, Justiça - e que o Sr. Presidente da ABI,
apreensão do nosso jornal Extra! n«.2, durante os debates da Comissão de o Sr. Presidente da República e o Sr.
e instaurou a "censura prévia" em L i b e r d a d e d e I m p r e n s a , na Secretário-Geral da O N U se façam
nosso jornal mensal Ex, a partir do seu XXXI Assembléia Anual da SIP - aralí- porta-vozes desta nossa exigência:
número 17. zada em S. paulo de 20 a 24 de outubro O u nos deixam trabalhar, conforme
Assim, tomamos a grave decisão de: - solicitávamos em plenário que a nos g a r a n t e a C o n s t i t u i ç ã o da
1 - Não submeter o Ex à mutilação organização (da qual somos membros República Federativa do Bra«! sp.
da "censura prévia"; efetivos) tomasse providências para IV, Dos Direitos e Garantias indivi-
2 - Suspender a circulação do jornal que a imprensa brasileira não viesse a duais, (Art. 153: A Constituição asse-
Ex enquanto perdurar a "censura pré- sofrer, novos cerceamentos, tão logo gura aos brasileiros e aos estrangeiros
via" decretada pelo Ministro da Justi- terminasse aquela reunião. residentes no país a inviolabilidade
ça; "Nossa apreensões, infelizmente, dos direitos concernentes à vida, à
3 - Lutar, utilizando todos os recur- eram legítimas. Em menos de 24 horas, liberdade, à segurança e à proprieda-
sos da Justiça Brasileira, para provar a entre os últimos dias 1Ç e 2 de de (...).
ilegalidade dos atos do Ministro da dezembro, nossa editora - a Ex-Edito-
ra Ltda. - sofre dois rudes golpes: o Ou, buscando acolhimento na mes-
Justiça, ao apreender o jornal Extrat n'
jornal Extra! n 9 2, contendo uma sele- ma Constituição Brasileira, que julga-
2 e instaurar a "censura prévia" no jor-
ção de trabalhos já publicados nos 12 mos soberana, nos processem, jul-
nal Ex;
prieiros números ao jornal Ex, foi guem, e nos prendam.
4 - Fundar uma nova editora, com o
apreendido (30 mil exemplares); e Saudações Jornalísticas
mesmo grupo de jornalistas indepen-
logo depois somos informados que, a Ex-Editores
dentes, e editar nova publicação:
(Mais Um); partir desta data, 2 de dezembro, o A equipe da Ex-Editora ao lançar o Extra! n ' 1 São Paulo, 5 de dezembro de 1975
A coroa do rei é de lata
Em sua opinião, qual deve ser que a Monarquia representa no vontade nacional, como Rei, não b é m é lógico com suas opiniões e inquebrável aos princípios e
o primeiro ato político de Don quadro institucional para a convi- da Espanha, mas do Movimento. sua história monarquista, quanto ideais do 18 de Julho, e o acata-
juan Carlos de Borbon como rei vência política e como meio para Não, senhor Antonio Garcia Lo- ao arbítrio de seu rei absoluto à mento escrupuloso às Leis Funda-
de Espanha? gue se manifestem as aspirações pes - social-democrata -; o Prínci- decisão e a responsabilidade de mentais que é o que ele jurou ao
Políticos, personalidades, artis- diversas e legítimas da sociedade; pe não pode fazer nada do que o seus próprios atos. O u se é, ou ser designado sucessor de Franco
tas, intelectuais, aristocratas de porque o Príncipe jurou manter e senhor propõe, cumprindo a não se é monarquista. com título de Rei.
todas as cores e matizes, espa- servir ao regime instaurado pela Constituição hoje em vigor; por- Não, s e n h o r J o a q u i m R u i O senhor é o único que não
nhóis, responderam a pergunta vitória e baseado nos princípios que o que o senhor peae é que Gimenez - democrata-cristão de põe em dúvida a firmeza e a leal-
da revista madrilenha Cambio 16, imutáveis do Movimento. não a cumpra. esquerda -; Don Juan Carlos não dade de seu soberano; o único
publicada em agosto desse ano. Não, senhor Miguel Boyer - Sim, senhor Luís Valero Berme- pode submeter a um novo pro- que não o injuria ao insinuar que
Apesar da censura à imprensa do socialista -; o Príncipe não pode jo - direitista de direita -; o cesso constituinte sua própria ele seria capaz de quebrar o sole-
regime de Franco, a revista Cam- tomar contato sério e público senhor ao menos é lógico consigo titularidade como Chefe de Esta- ne juramento, prestado ante um
bio 16 alcança uma tiragem de 300 com todas as organizações repre- mesmo, quando diz que o primei- do, porque - ele o sabe tão bem Crucifixo e na presença das Cor-
mil exemplares e consegue em sentativas das diversas correntes ro ato do Príncipe como Rei seria como o senhor e eu - o novo pro- tes dessa Monarquia medieval
suas matérias políticas ir mais lon- políticas, porque legalmente elas renovar o juramento que fez no cesso constituinte, senão for um instaurada pela vontade carismá-
ge que outras publicações espa- não existem, não se permite que mês de julho de 1969; mesmo artifício como o do referendo de tica do Caudilho da Espanha. O
nholas. elas existam; de modo que o diá- assim, sem dar-se conta, também 1966, desembocará fatalmente no senhor é o único súdito que guar-
Um mês antes de Franco morrer logo com elas suporia a consa- j o senhor o ofende, quando põe restabelecimento da Republica. da os devidos respeitos a seu Rei.
mesmo, cada um dos entrevista- gração da ilegalidade, uma trai- em dúvida se aquele juramento é Por outra parte, esse novo proces- E agora permitam-me acrescen-
dos pela revista recebeu uma res- ção que ninguém pode pedir ao suficiente para que se confie na so constituinte é, mais que peri- tar a moral que qualquer republi-
\ posta não prevista: "Comentá- Príncipe sem insinuar que ele lealidade de Don Juan Carlos. goso, não necessário, pois já exis- cano espanhol haveria descober-
I rios a umas respostas" de Fernan- estaria sendo desleal a seus jura- Não, senhor Felipe Gonzáles te uma Constituição legítima, to nesta curiosa fábula, se lhes
I do Valera, 79 anos, premier da mentos. Márquez - socialista -; o senhor suplantada sim, porém não aboli- houvessem perguntado: O Prín-
j República Espanhola no Exílio. Não, senhor Fernando Alvares q u e se declara republicano da pela vontade nacional que é a cipe da Espanha não pode restau-
! Ele, fosé Maldonado, presidente ! de Miranda - democrata-cristão porém se contradiz ante o fato única competente para faze-lo. rar nem instaurar a Monarquia
da República, e Júlio fust, deputa- -; Don Juan Carlos não pode ado- consumado da usupação. O Sim, senhor Mariano Sánchez democrática, porque o que ele
do, sao os três últimos republica- tar as medidas que contribuam senhor não pode esperar essa Covisa - extrema-direita-; o. aceitou e herdeou de Franco não
nos na Espanha, ainda vivos. para a superação das causas do abertura de um processo político, senhor é fiel a si mesmo e à con- é o Cetro de um Rei, mas sim o
Suas respostas contam uma fá- conflito entre os povos e os com as liberdades políticas e sin- fiança que merece a lealdade de Machado de um Verdugo.
bula, como ele diz, por isso têm homens do Estado espanhol, sem dicais, que o Príncipe não poderia Don Juan Carlos a seus juramen- Paris, Outubro de 1975.
um subtítulo: renegar sua origem, que é a guer- iniciar sem dar por inexistentes as tos. Segundo osenhor, o primeiro Serviços de Informação do
O CETRO D O REI E O ra civil e a vitória sobre os homens Instituições de onde seus poderes ato do Príncipe como Rei da Governo da República Espanhola
MACHADO DO VERDUGO e os povos da Espanha. Nem pode emanam. Espanha, deve ser, e será, a adesão no Exílio.
Não, senhor conde defaotrico convocar uma Corte Constituin- Sim, senhor Enrique Garcia
- monarquista -; o Príncipe não te, o que seria proclamar a ilegiti- Ramal - ex-ministro direitista -; o
pode dirigir-se ao país e expor em midade das Cortes espúrias que o senhor também tem razão ao Aos 49 anos, foi ver teatro
forma clara, precisa e sincera o instituíram, sem consulta prévia a declarar que só a pergunta já lhe
pareceu uma impertinência. O pela 1? vez: era o Rei Momo,
motivo está em saber se Don Juan
Carlos é ou não é o Rei legítimo que já esteve até na Polônia
GÂVETA
da Espanha. E se o é, o correto é
deixar que ele exerça como esta- Quando o grupo de teatro União e Desta Vez Não Deu) que aproveitam
Olho Vivo resolve fazer um espetácu- para contar episódios da história do
belecem suas prerrogativas reais. lo na periferia de São Paulo, nunca Brasil, cantando e interpretando.
Mas se um dia fosse o digno sobram cadeiras. Se os espectadores

^TERARIA
A história é simples e direta, fácil de
sucessor de Alfonso XIII, não as demoram para chegar, os percussio- entender. Depois da peça quase sem-
assumiria sem que antes o povo nistas do elenco vão batucar no bar pre os atores discutem com a platéia,
houvesse abolido a única legitimi- mais próximo, convidando o pessoal. para avaliar o entendimento do enre-
dade que é a expressão autêntica E todo mundo segue atrás do samba do. Mas a discussão sobre o espetácu-
da vontade nacional: a Repúbli- até a escola, a casa paroquial, o circo. lo evolui, para d.scussões mais vivas,
ca; livre e pacificamente, como Foi assim na Vila Maria, no mês pas- relacionadas com o próprio dia-a-dia

Ciclo de Navegação,
sado. Rei M o m o , o carro-chefe do dos espectadores. Então os atores pas-
foi instaurada em 1931.
grupo, era o cartaz de fim de semana sam a ouvir.
Não, senhor Tomás Garricano cio salão paroquial de São João Batista - Não importa que as pessoas não
Goni - ex-ministro conservador... e meia hora depois do início previsto consigam acompanhar a história. Elas

Bahia e Gente:
do regime-; seu Rei não pode ser não havia nenhum espectador. Os entendem é o conceito de bem e mal
de todos os espanhóis, nem há batuqueiros foram até a esquina e vol- - diz César Vieira.
como facilitar tal abertura, por- taram com 103 pessoas. Quem tinha Sua experiência teatral começou

um poema de José
que jurou ser somente rei da fac- dinheiro pagou Cr$2. Para sentar, cai- em 1971. Escreveu e montou com um
ção triunfante na guerra civil, e xotes, cadeiras, bancos e o chão. grupo do Centro
Antes de começar, o autor da peça, Agosto O Evangelho Segundo Zebe-
Acadêmico XI
tinha prometido que para mantê- César Vieira, conversou com o pes- deu, num circo erguido no parque do

Carlos Capinam
la não tremerá a mão... ao firmar soal: Ibirapuera. Nesse ano também apare-
sentenças de morte, suponho eu, ceu a peça Corintians, M e u Amor,
que foi como tremeu Don Nicolási - A gente veio até aqui porque
escrita por César Vieira e montada por
vocês nao podem ir lá na cidade pagar
Urge despedir sem termos Assim se è causa e efeito,
Salmerón quando era Presidente CrS 30, C r J 40 para ver teatro. Queria operários no Teatro Casarão, SP. Em
quem os teve antes docais viagem resulta em ausência. da Primeira República. pedir para a criançada não fazer muita
1972 estreou Rei Momo, que deu 8
meses de trabalho coletivo para ficar
Diz-se adeus, gesto resumo )á começa esta mais cedo, Não, senhor Dionisio Martin algazarra, para que todos possam pronto. No ano seguinte, o grupo se
completo no que se não faz. quando rnexiste a primeira. Sanz - sindicalista de direita -; seu entender. Sei que vocês não podem desligou do XI de Agosto, recebeu o
príncipe não pode, antes da deixar as crianças e m casa, porque não
Não é pranto. Ao definir-se nome atual, e já encenou Rei Momo
adeus é viscosidade
É especial o processo, tomada do Poder, receber de pre- têm empregada. 220 vezes, no Brasil, Polonia, Iugoslá-
de outros do viver diverso:
perdida, ao golpe que rompe sente de seu pai a renúncia à O espetáculo vai começar. Maria via, Itália e França.
efeito que se desenvolve,
ou separa quaisquer faces. sem a causa que o promove.
Coroa, porque Don Juan não Aparecida Salgado, 49 anos, vai ver O grupo tem 28 pessoas. Atores,
Não como quebra o espelho, pode fazê-lo e disse que não faria, teatro pela primeira vez, como quase cenógrafos, músicos, empresários que
fácil, por pedra ou murro. sem cumprir seus deveres históri- todas as pessoas da platéia: trabalham com teatro nos fins de
cos mais elementares. O mero - Cinema, só quando era solteira. semana, porque nos outros dias são
Sua imagem ganha defeitos, [ bala que matou antes advogados, professores, barbeiros,
a do adeus fíca a seguro. de impulsionada a tiro, fato de ser presenteado com essa Com a filha ae 4 anos no colo,
operários, vendedores. Fazem o "tea-
ou fruto que alimentou renúncia, seria um insulto do filho acompanha as primeiras evoluções no
tro de várzea", como dizem, e aplicam
Melhor dura esta de pedra
dentro de uma nova esfera,
ainda o corpo em flor vestido. a dignidade de seu pai, por haver palco. Todos os atores entram sam- o "capoeirismo cultural" - um pé na
bando ao lado do Rei Momo. No fim
Da ausência como ausência surpado os d i/ei tos que conforme
corpo que a forma e guarda
dizer-se é dificuldade da batucada, o rei anuncia que vai frente e outro atrás. Os figurinos,
alta e ainda pesada, a tradição monárquica, legitima- renunciar ao trono. Então a luz apaga aparelhagem de som e luz e cenário
mente lhe correspondiam. e começa o quadro seguinte: uma foram muito simplificados. Podem ser
como antes estava própria Sim, senhor Joaquim Garri^ues mulher que lembra Hebe Camargo transportados sem complicação para
no seu corpo de imagem. Não há maneira segura Walker-liberal-; osenh >ré rv.ais avisa que o novo rei momo será eleito qualquer lugar, e tudo fica montado
Agora não mais em si de lhe fazer-se s imagem em uma hora. Sua caixa de luz, por
Parecera ser presença,
cauteloso quando opina que no Teatro Municipal de São Paulo! exemplo, pesa 2 quilos.
ela mesma em outra carne.
ainda que só em lembrança, agora não se pode c-izer c que O s candidatos a rei são apresenta- Rei Momo está no Teatro Escobar,
t mais montante o que fica tem que fazer o próximo Chefe dos por quatro escolas de samba SP,até 15 de janeiro. Não há espetácu-
que o perdido à distância. de Estado - que poderia ser um (Quem Não Chora Não Mama, Felici- lo às segundas e terças, e sexta-feira há
Príncipe ou também ibé um Presi- dade de Lobato, União e Olho Vivo, o normal às 21 e outro às 24.
dente provisirio; o senhor pru- União e Olho Vivo.
Deste Ciclo de Navegação, Bahia e dentemente não se compromete
Cente, poemas de José Carlos Capi- - no dia D. Nós os republicanos,
nam, fez uma edição de 300 exempla- somos os únicos a quem nunca se
res, capa e ilustração de Calasans consulta; porém tampouco pode-
Neto, especiais para esta obra, da qual mos responder por estar quase
foram reservados 100 exemplares,
quarenta anos amordaçados. E no
numerados e assinados pelo autor, des-
tinados a assinantes. Impresso em S.A.
que tens que fazer, és bem since-
Artes Gráficas, cidade do Salvador da ro: resgatar a soberania nacional
Bahia de Todos os Santos no ano da seqüestrada, quer dizer, restabe-
graça de 1975. Edições Macunaíma. É o lecida a vigência da Constituição
segundo livro de poesias de Capinam: republicana, para que a Espanha
o primeiro, "Inquisitorial", saiu em volte a ser, como Alfonso XIII
1966. Nesses 9 anos. Capinam tem sido queria que fosse, dona de seus
u m dos letristas mais produtivos, em destinos.
quantidade e qualidade, da música
brasileira - um dos poetas mais fortes. Sim, senhor Antonio Maria de
Atualmente é "calouro" de medicina Oriol e Urquijo, - tradiciona-
| C a p i n a m : " N ã o é pranto.- no Rio de janeiro.' lista do regime - o senhor tam-
Bufíalo Billera bobão
ANTE
e dormia com as vacas
COMgEX A imagem que você tem do cow-
boy é a do J o n n W a y n e , né? B o m de
tiro e de jogo. Amante voluntarioso.

Pode Encomendar o
B anco. Forte. Viril. Desprendido. Isso
n > cinema, não é? Na verdade eles
e am o q u e cow-boy quer dizer: o

Seu Caixão, de
h o m e m das vacas. Nada de espírito de
l i b e r d a d e e i n d e p e n d ê n c i a . Eram
vaqueiros q u e cuidavam o dia todo de
vacas e bezerros. Não podiam usar

Cabana, com
armas no rancho. A noite, disciplina:
jogo e álcool proibidos também.

Tinham entre 18 e 25 anos (a maior

Martinho da Vila
parte rapazes frustrados e rudes o u
operários sem trabalho). 3 0 % eram
negros, mexicanos e índios. O s cava-
los não eram seus e nunca galopavam
porque a ordem era economizar os
Se depender de mim animais. Aventuras sexuais: prostitu-
para você viver tas, e não, a Grace Kelly, sem contar
pode encomendar o seu caixão relações -sexuais c o m companheiros
não lhe darei de trabalho.
uma colher de chá
enquanto eu me lembrar da traição Q u e m conta isso é o historiador
que você me fez William Savage, e m " C o w - b o y s life:
sem eu merecer reconstructing an Aerican m y t h " ;
dando muito o que falar quem ' cuida dos bandidos é o
porém, no entanto, ancês John-Coupbar Lattés no livro
nem derramo prantos Nous, le frères Dalton. Esses eram
quando tenho q u e sne lembrar nada inteligentes e acabavam sendo
todo mundo podia me fazer mais vitimas q u e bandidos. Pegavam a
ingratidão culpa de todos os crimes e morriam no
menos voce único assalto a banco que tentavam.
pois eu sempre lhe tratei legal
dispensei-lhe grande consideração A lenda dos cow-boys é do c o m e ç o
no_ entanto você fez o que me fez do século. O cinema a tornou real.
deixando grande mágoa no meu coracão Agora a guardiã da democracia entrou
e m descrédito e os cow-boys estão
virando gente.
Disco: " M e m ó r i a de um Sargento de Autor: Cabana. ( O jornal Ex não está
Milícias" (Martinho da Vila). Música: circulando, mas você pode continuar
P o d e E n c o m e n d a r o seu Caixão, cantando c o m ele - N R ) .
Nat Love,
famoso cow-boy

M a l a n d r o é o que está de fora. de ' do, písadèio"dos Átomos .


canudo na mão.dando trambiques. arjSÁTOMDS DO PESADELOJ OI N O S TROMBnOINHO D(l
* N»0 QUEREMOS UDltíR «S ÍHUOSES fl IMPRCNSll

COMENDADOR!
K maia: <

A M i n a de Vlado

P a u na C.C.T.C.

Fama de Campineiro

Custo d e Viria

G i l b e r t o G.l

Disco V o a d o r
O EQUIPE MAIO-1975 ANO-1 N U M E R O - 0

UM JORNAL ESTA NASCENDO


M e i o e x p e r i m e n t a l , quatro pági- se, v e j a só!!, e unem seus gritos,
nas, pouca g e n t e sabendo, o que juntos soam mais forte.
Jornal do E q u i p e está ai. M a s Os alunos do cursinho e do
é isso mesmo, mais para dar supletivo e n t r e g a m seus
um alô. A f u n ç ã o do j o r n a l é a trabalhos aos c o o r d e n a d o r e s ; os
i n t e g r a ç ã o aluno-escola, dizer o do c o l é g i o , no G r ê m i o . Sempre
que o E q u i p e pensa e quer, a sua .em envelopes fechados para
proposta didática. A n t e s de mais evitar acidentes. Q u a n d o se
nada, o j o r n a l será f e i t o pelos tratar de textos ( c o n t o s , poesias,
alunos, contos, poemas, f o t o s etc.), é b o m e n t r e g a r uma cópia.
entrevistas, historias
em quadrinho. A s ilustrações ( desenhos,
T r ê s alunos f o r a m apanhados no f o t o g r a f i a s , etc.) serão d e v o l v i d a s
pátio do E q u i p e e levados para em p e r f e i t o estado.
uma sala onde encontraram B e m , o n ú m e r o 1 estará
Maurício Kubrusly, Ezequiel circulando daqui um mês,
N e v e s , e l o g o no meio do papo, todos sabendo que existe, todo
f o r a m c h e g a n d o o Gil,o T i m m u n d o c a m i n h a n d o junto.
M a i a , o B o b D y l a n . P o r caminhos Q u a l q u e r i n f o r m a ç ã o , ou idéia,
diferentes pintaram um conto o jornal está aberto.
do H é l i o A l c a n t a r a (3.° C ) e P S : Q u e m está editando,
um desenho do João Baptista dando um toquezinho é o
Bourbonnais (2.° ciclo do pessoal do E X - . É a mão
s u p l e t i v o ) , que c o m p l e m e n t a m - de obra, e n f i m . . .

VOCE E UM ROBOT
SIM OU NÃO?
Risque o sim ou o não. Ou não risque. Isso é tudo. Ou não é?
Nós achamos que não. Isto é: para nós fazer cruzinhas não é tudo na vida. Não é bom a gente pensar?
Há uma sutil diferença entro o Equipe e gio regulares, ginásio e colégio supletivo em todas as áreas. A i estão incluídas as 143
outros cursos: nós não tomamos o aluno co- (metade do tempo do curso regular, para os aprovações de alunos que t e r m i n a r a m o 3.°
mo um ser de ficção-científica, robot que que p a r a r a m de estudar há alguns anos) e o colegial.
deve ser programado para passar no vesti- cursinho.
Já que estamos f a l a n d o em números,
bular. Para ser bem claro , estamos interes- I n f e l i z m e n t e é necessário avaliar o t r a - para ficar claro, segue uma relação de quan-
sado na cuca, no desenvolvimento do raciocí- balho educacional desenvolvido em todos os tas aprovações os alunos do cursinho o b t i v e -
nio de vocês. Certo? cursos através do número de aprovados nos ram em cada área:
Está certo. T e m gente que pensa que o exames vestibulares. Mas o Equipe, só ago-
problema de um colégio é unicamente o de ra; durante a segunda quinzena do mês de Biomédicas: 433.
botá-lo na universidade. Pegá-lo pelo abril, quer divulgar quantos alunos aprovou. M e d i c i n a : 146.
pescoço e a t i r á - l o na USP ou na P U C . Está E n g e n h a r i a / M A P O F E I : 3C1.
certo. Nós não estamos dizendo para vocês Essa atitude tem um motivo bastante Comunicações: 441.
que não pensamos no vestibular. M a s o ves- claro. Durante as campanhas publicitárias Economia/Administração: 597.
tibular é tudo? Ou tem sentido aquela his- feitas no comêço do ano são divulgados nú- Ciências H u m a n a s : 603.
tória de que a escola prepara para a vida? E meros, números e mais números. Se alguém Arquitetura: 15.
então chega a hora da gente dizer: podem conseguir somá-los vai ficar surpreso: vai Dos 176 alunos que concluíram o Colégio
crer, ha vida não há espaço para m e m o r i z a - achar que existem tantas vagas nas facul- Equipe, obteve-se 164 aprovações. Por área
ções mecânicas, condicionamentos irracionais, dades que não é mais preciso vestibular.. . a relação é a seguinte:
••macetes". Robot só se dá bem na T V . E Mas vamos aos nossos aprovados. Todas Cescea: 60.
nem sempre. as informações — passadas, presentes e futu- Puc: 46.
O Equipe começou em 68. H o j e são 5.000 ras — são importantes para quem está no M a p o f e i : 10.
alunos e 150 funcionários (secretários, profes- Equipe. Cescem: 12.
sores, psicólogos, pedagogos, e t c . ) . Esses Tivemos, nos exames realizados de dezem- Mackenzie: 13.
alunos estão divididos entre o ginásio e colé- bro e fevereiro, um total de 2.578 aprovações (Fmu, Faap, Getúlio Vargas, e t c . ) : 20.
Página 2 númer

FOTO Cláudio Faviere


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Página 4 numero zero

0 PAPO DA LAURA E DO REGINALDO


Os coordenadores do cursinho entram em cena e começam a falar de uma coisa muito importante — vocês.
O coordenador é a figurinha — Desenvolver o raciocínio cien- para ver como está se' saindo. logicamente tranqüilo para não f i -
mais fácil do cursinho. Ele (ou tífico e a capacidade de entendi- O aluno do Equipe sempre tem car tenso, e n f r e n t a r uma prova
eles) está (ou estão) em todas. mento de cada assunto. a perspectiva de que a prova não mal elaborada iinguisticamente f a -
Nós f a l a m o s assim porque na v e r - — situar o aluno na realidade é um j o g o onde se acerta ou erra. lando, com uma representação grá-
dade, são dois os cordenoadores do do vestibular para que obtenha Ela é um t e r m ô m e t r o daquilo que fica esquisita, cheias de códigos
cursinho — a Laura e o Reginaldo. tranqüilidade e controle sobre ele está sabendo e, se o termô- confusos para serem respondidos.
Ela está no Cescea; ele no Cescem qualquer situação de exame. metro revelar alguma anomalia, Os meses de outubro e novem-
e M a p o f e i . Bem, a função do co- ela deverá ser sanada, com a re- bro estão reservados para a 4.a
— organizar uma dinâmica no
ordenador é ligar os professores cuperação, uma coisa a s s i m . . . fase. Ela é de importância f u n -
curso e no estudo individual, para
aos a l u n o s . . . e ambos ao vestibu- A 2.a fase dura 6 semanas. Ela damental porque, ao mesmo tem-
o rluno conseguir um ritmo de
lar. É como se eles fossem os se encerra com o ••simuladão", no po, inicia e encerra um ciclo. Ela
trabalho e f i c i e n t e .
maestros, mesmo. f i m do primeiro semestre. Agora, t e r m i n a o ciclo das matérias, mas
São esses os nossos objetivos.
Como eles desempenham um pa- P a r a concretizá-los elaboramos um que j á existe uma base, os alunos é com esse encerramento que o
pel importante, é bom a gente f a - plano que se desenvolverá em 5 terão um ritmo de trabalho mais aluno estará preparado para a
lar mais um pouquinho deles. São fases. V e j a m o s como será cada intenso, fazendo exercícios das P - ó x i m a etapa.
eles, por exemplo, que se reúnem uma delas: matérias prioritárias. Serão dois me~es onde a maté-
com os professores, antes da che- A primeira fase começou com o O e n c a m i n h a m e n t o todo da 2.a ria vai se completando e o pro-
gada dos alunos, para decidirem curso e irá até fins de maio. A fase é para o simuladão, mesmo. g . a m a se concluindo. A o mesmo
quantas aulas serão dadas em ca- gente poderia c h a m á - l a de fase O "simuladão" é a situação cria- .tempo o aluno vai entrando na
da matéria, em que dias, com qual de homogeinização ou de a d a p t a - da com todos os detalhes de um fase seguinte: a revisão.
seqüência, coisas assim. Quando, ção do aluno aos métodos do curso. vestibular verdadeiro, para o pes- Sendo a etapa d e f i n i t i v a antes
os alunos j á esuão aqui, a c o m p a - Ele vai receber uma carga volu- soal ir se acostumando. Depois dcs exames, a revisão é a fase de
n h a m o rendimento da turma, dis- mosa em cada matéria do curso desse exame e da divulgação dos maior importância. É nela que o
cutem o aproveitamento da classe e tem que ter um alicerce para resultados, o pessoal sai para umas i l u n o sente a matéria em bloco,
nas provas, solucionam os proble- isso. E é nessa primeira etapa que férias de 15 dias. panorâmica, encadeada, onde ele
mas que inevitavelmente surgem, se f o r m a esse alicerce. H a v e r á um Agosto inicia a terceira f a s e . tem tudo na f r e n t e e sente com
e n f i m , estão atentos para que saia curso básico de m a t e m á t i c a e to- Neste m o m e n t o as aulas estarão condições de manipulação.
tudo b e m . das as matérias terão uma preo- voltadas especificamente para o A preocupação da revisão é sis-
Mas paramos aqui. Agora eles, cupação de e n f a t i z a r a metodolo- treinamento do vestibular, com o tematizar o volume de i n f o r m a -
os coordenadores, é que f a l a r ã o . gia, o que é a história, o que é a que chamamos de "provas comen- ções que o aluno possui em função
Vão contar tintin por t ntin como física, o que é a g e o g r a f i a . tadas". das provas que fará.
é que será o extensivo nesse ano. A primeira fase termina com - P r o v a c o m e n t a d a " é o seguin- O mês de dezembro, então, fica
O Equipe é constituído de alu- uma prova geral. A gente chama te: são escolhidas questões mais organizado dessa m a n e i r a : l. a se-
nos, professores e funcionários. essa prova de " s i m u l a d i n h o " por- características de vestibulares pas- mana, visão panorâmica: 2 a se-
Mas o aluno não é apenas uma que é um mini-vestibular, p l a n i l i - sados — A Puc tem o seu jeitão mana, preparação específica para
parte integrante do curso e sim cado de acordo com a rotina dos de preparar o exame, o Cescea tem o j ex imes da P U C e M A C K (que
o núcleo de todas as atenções. exames principais. o u t r o . . . — para servirem de mo- l o d o ; , incluindo os do Cescea/
Vamos trabalhar todos juntos para O objetivo do ••simuladinho"' — dêlo. A t r a v é s desse modêlo, são Cescem/Mapofei deverão assistir);
alcançar a mais importante das assim como o objetivo de todas as discutidas e elaboradas com os alu- ;.s i u a s últ.mas semanas para o
nossas metas: colocá-los numa boa avaliações do curso — é f a z e r com nos, soluções para situações costu- •plantão de i_.'ofessores". Esse
faculdade. Para conseguirmos isso que o aluno perceba qual a sua m e i r a m e n t e presentes nos vesti- plantão é assim: todos os mestres
é preciso alguma coisa a mais, que posição com relação ao exame que bulares de cada escola ou área. vão convocados se o aluno tem
não se limite à simples f a m i l i a r i - vai fazer. O "simuladinho", a pro- 'iú vidas aip.da, e'e vai até lá, sen
Essas situações f o r m a m um con-
zação com - m a c e t e s " dos exames. va, o '•simulado", toda a avaliação : 1 co'.li o professor, discute, tem
junto que tem peso no e x a m e .
Essa - a l g u m a coisa a mais" pode que a gente faz, é na realidade um assessoramento individual,
A l é m do aluno ter que saber a
ser vista ass ! m: um posicionamento, o aluno f a z particular, até f i c a r em dia.
matéria, ele tem que estar psico-

O s Poemas de João e Helinho. O Hélio e o João Batista não se nada. essa é a primeira vez. O Hélio
conhecem, mas com certeza já se foi procurado para ver se tinha algum
cruzaram várias vezes no páteo. O material para a gente publicar. O
Hélio estuda no terceiro colegial da João Batista estava, num intervalo
manhã e o João Batista no Supletivo de aulas, no páteo e ficou sabendo —
da tarde. O Hélio gosta de escre- ainda bem que as notícias circulam
ver, lazer poesias, as vezes contos, — do jornal e veio mostrar seus
no ano passado ajudou a editar um desenhos. Resultado: o Hélio e o
livro dos alunos do colégio. O João João Batista juntos, um no ponto de
Batista, que chegou no Equipe em ônibus, outro na calçada.
março, desenha. Nunca publicou

MOMENTO FRANZINO M I N H A BREVE A L E G R I A


E POESIA FRACA
Não nos iludamos.
Esquizofrenia ambulante, Somos poetas.
estão prontos os viajantes, E somos poetas porque
enjaulados por suas cabeças,
escrevemos versos.
eles cambaleam de uma
E somos poetas porque
língua à outra.
sentimos versos.
N ã o há campo úmido que suporte
E somos poetas porque
tanta chuva.
choramos a vida.
Enquadramento e acessórios,
N ã o nos iludamos.
uma luta entre águas e águas.
EU E O BÊBADO Somos poetas.
C a m i n h a d a desnecessária,
Estávamos nas notas mais Somos poetas porque sorrimos luta.
a luta entre a imaginação
altas da tristeza. Mas que não l e v a v a m seu nome. Somos poetas porque
e a.s cordas mentais.
Os c a i r o s parados não nos Ao mesmo tempo, comemos tristeza.
Engradado municipal,
f a z i a m sentido. havia uma m ã e que Somos poetas porque não somos.
a luta entre o povo e os polvos
Talvez em pé, o ônibus chegaria chorava por ele. Não nos iludamos.
de sete armas. Somos poetas.
mais rapidamente ao ponto Não podia chegar cedo pois,
Medalhas oculares, Calados.
f r i o e escuro ouviria os prantos
a luta entre a visão e o olhar. Angustiados.
de onde conversávamos. irritantes da velha gorda e pobre.
Metralha/nento recalcado, Somos poetas.
Ele f a l a v a sobre a psicologia Eram duas heras da m a n h ã .
a luta entre um sino e um caixão. Pedras.
de e n f r e n t a r a vida. M i n h a mãe v i a j a v a .
Corpos cremados,
Segundo suas palavras Meu pai sumia em sonhos Pedras e poetas.
a luta entre pobres e corsários.
desesperadas, a vida era um desvairados em branco e preto. Todos corroídos por seus
Mercenários gigantescos e infiéis,
passatempo agradável. Minha irmã corria próprios versos.
a luta entre as bruxas
— eu o escutava — em busca de seus passos
e suas vassouras. O jornal EQUIPE é editado por
N ã o havia com o que se mágicos e violentos. EX-Editora Ltda, sob a responsabili-
Esquizofrenia ambulante ou.
preocupar ou desculpar. E, eu e o bêbado, chorávamos
a caminhada por entre d dade do Grupo Educacional Equipe,
A vida ali estava. nas notas mais agudas da tristeza. r. Martiniano de Carvalho, 156 SP/SP.
desvairismo d<? certos poetas.
Não tinha filhos n e m esposa. Aquela que sempre andou Composto e impresso no Jornal Pau-
A n d a v a solto pelas calçadas ao nosos lado lista Ltda., rua Oscar Cintra Gordi-
que ele construiu em nas madrugadas i n f a m i l i a r e s nho, 46 SP/SP. Tiragem: 10 mil
algum mês de solidão. e nojentas. exemplares. Distribuição gratuita.

Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
GRANDE ENTREVISTA: ELLSBERG, O QUE
ROUBOU OS DOCUMENTOS DO PENTÁGONO

íex-
São Paulo, junho de 1974 — Número 5 — 5 cruzeiros

PORTUGAL |
0 LIVRO
DAS 3 MARIAS

Cientista americano mostra


em experiência: você pode ser um
AHHH... M O U O J U M B O
T E M H O N C A f DE T O D O *
O * TAMANHOS HUAAMM
O CREDITO M A I * BARATO

HflOJUMBOl
I X ) BRASIL MAU /W^,
A # / M . . . . UMAWI.
MOIDJUMBO FICA NO JUW\po
AEROPORTO E f i a ANDRÉ.
EBOM.EBCM.AHHHHR.
Editores: Narciso Kalili, Hamilton de A reportagem principal desta edição
Almeida Filho, Milton Severiano, Ha- é de Hamilton de Almeida Filho, um
milton de Souza, Dácio Nitrini, Palmé- dos EX-editores. O trabalho dele não
rio Dória Vasconcelos, Armindo Ma- foi programado. Claro, sempre esteve
chado, Antonio Mancini, Sumiko Ari- em nossos planos fazer uma reporta-
mori, Sérgio Fujiwara, Delfin Fujiwa- gem dentro da Casa de Detenção de
ra, Marcos Faerman, Fernando Morais, São Paulo, ou de outra prisão qual-
Roberto Freire, Luiz Carlos Guerrero. quer. Só que isso não deveria aconte-
Diretor responsável: Narciso Kalili cer agora. Nem do jeito que aconteceu.
EX - é uma publicação da EX-Editora Mas como o Haf já estava com a
Limitada, rua Santo Antonio, 1043 — mão na massa — isto é, preso — e como
São Paulo. Nenhum direito reservado. está sempre trabalhando, vocês têm
EX - está assentado no cadastro da Di- nesta edição do EX - a reportagem.
visão de Censura de Diversões Públicas Ao virar a página, você vai conhecer
do DPF, sob o n<? 1.241-P.209/73. este mundo. Se já não conhece,
Distribuidora : Lamana Ltda.

CARTAS
INTELIGÊNCIA Se tem, me mandem pelo reembolso
Sr. Diretor: ou por qualquer outro meio (serve até
Foi com imenso prazer que folhei pombo-correio), e continuem me man-
um exemplar do magnífico jornal que dando os números que .forem agüen-

u
o senhor dirige. Pude notar, após rápi- tando tirar. Aqui ele não chega, por
do exame, que a sua redação soube uma contingência de nosso subdesen-
honrar com galhardia a tradição mais volvimento creio.
pura do nosso jornalismo. Parabenizo- Anatole Ramos, Goiânia.
o, pois, pelo espírito criador, imagina-
ção, ousadia de estilo e apresentação. Pois é Anatole. Já estamos durando

ELLSBERG
Por outro lado, quero crer que o e parece que vamos agüentar por
senhor sabe que os dias hoje são pérfi- muito tempo. Portanto, prepare-se
dos, sórdidos e até mesmo mórbidos. para arranjar alguém aqui de São Paulo

22
O nosso presente é atribulado e nossa que lhe mande a revista. Ainda não
existência e a nossa vida repletas de temos condições de fazer assinaturas
acrobacias, que visam a defender a ou mandar o EX - pelo reembolso
nossa existência e o nosso trabalho. Pa- postal.
radoxalmente, EX - é o exemplo mais
vivo da inteligência humana, da aliança . . RITIBA DO MUNDO
insuperável do homem consigo mesmo, Sr. Diretor.
do homem com outros homens e do Não sei nem por onde começar a ar-
homem com a natureza. gumentar, para convencê-lo e que o
Diante desse panorama, como con- jornal EX - precisa chegar aqui.

MARIAS ceber Francisco Petit, colunista do Falo de Curitiba, segundo alguns o


EX? Formulo novamente, para ficar . .ritiba do mundo (por favor, não me
mais simples e dramático: diga-me sin- leve a mal, mas isso já está incorporado
ceramente, senhor diretor, porque cha- ao nosso folclore).

26
maste Petit para dizer o dito, chistes e O que lhe peço, é que não acentue
gracejos no seu jornal EX-celente? nossa condição. Que haja pelo menos
João Antonio Maciel, Lapa-São frestas de luz para libertar-nos das tre-
Paulo. vas.
Gostaria que considerasse ô aspecto
Maciel, as páginas do EX - estão social, além do cultural-informativo.
abertas para todos aqueles que consi- Apelo também ao seu sentimento
derarmos pessoas com alguma coisa a cristão. Não há de se negar o pão a
acrescentar. Foi o caso do Petit. E bocas famintas. Aguardo, se possível,

TORTURA
pode ser o de muitas outras pessoas uma resposta pessoal, pois dependo do
que você admira ou detesta. Nestes acaso para ler o jornal de vocês. Estou
tempos em que quase ninguém deixa interessada em possível assinatura, mas
falar, o EX - está fazendo tudo prá seria bom vê-lo nas. bancas, ou nem
aumentar o número dos que deixam. que seja em uma livraria somente.

30
Rita Pavão, Curitiba.
NOSTRADAMUS
Sr. Diretor: Rita, apesar de não querermos tirar
Estou acabando de devorar o n9 3 a boca de ninguém do nosso pão, e
de sua revista, justamente a edição de nem de acharmos que Curitiba seja
janeiro. Vou lhes contar: é a melhor tanto assim o . .ritiba do mundo, a res-
publicação que já li, e gamei intensa- posta que temos pra você é a mesma
mente nela. É tão boa que posso jurar do Anatole aí em cima: por enquanto

6AIARSA
e dar uma de Nostradamus: vai durar não dá pra mandar revistas aí para Cu-
pouco. ritiba nem fazer assinaturas. A solução
Quero saber de vocês uma coisa: é arranjar alguém aqui de São Paulo
ainda tem aí os primeiros números? que lhe mande o jornal.
Um número. Um papel. Até a Blém! Um som pesado, sem cabelo ficar tão grande, seja passando "O problema de um país subde
hora em que ouvir de novo aquele acústica, nada de sino, mas ferro pesa- pela farmácia, porta ao lado, tirando a senvolvido é que a sociedade não tem
blém! do portão lá da frente, pelas do batendo em ferro pesado, acompa- roupa na frente de um médico que fundo — o homem pode descer infini-
costas, não posso deixar de ser esse nú- nhado do esforço de se mover sem nem olha pra você, a não ser com a tamente."
mero; de representar esse papel: preso. óleo, sem qualquer leveza. Nada de curiosidade de ver um novato, respon- Somos, aqui, 5.200 homens
sutileza, nem mesmo nas curvas ou nas der, responder, responder, ser vacinado empurrados, descendo. Só há um regu-
. . . no jornal mural lá de casa, freadas que o motorista dá. O sacolejo e ir para o fim do corredor, no mesmo lamento, a desconfiança. Tem-se que
não me lembro mais em qual deles, eu de subir na calçada, o barulho de pri- andar, assim zonzos, sem saber por ter pronta sempre uma resposta para
havia escrito duas manchetes: "Estar meiro portão, o acelerar fazendo vum- onde se está andando e dar com um uma pergunta que não foi feita; e um
preso hoje é uma mera formalidade". vum-vum na frente do outro, o segun- monte de mesas, de datilógrafos, onde álibi para uma situação ainda não
E: "Só se muda de atitude, quando se do barulho, e aquela freada brusca, você vai responder um monte de per- criada. Mas apesar de tudo o homem, o
muda de realidade". seca num chão molhado. Chegamos. guntas: nome do pai, da mãe, do filho, ser humano resiste. Sobrevivo aqui.
da mulher, do irmão, do c . . . Vai dizer Antes pensava — pelo começo vocês
Sabem, lá em casa a parede está — Quem é Hamilton Almeida
se tem marcas, cicatrizes, tatuagens, podem ver - fazer o que chamam de
cheia de jornais desenhados; tem 0 Es- aí?
vai responder de novo o nome da mãe, matéria, reportagem, satisfazer a curio-
tado de Espírito; O Estado do Povo; O Um do lado do outro, segurando do pai, da mulher, do filho, do irmão,
Estado d'Alma; mas o primeiro mesmo os bagulhos, mantas e saquinhos de sidade de quem aí fora nunca pensou
o endereço, a profissão, o grau de ins- sobre o lugar onde mandam seres hu-
foi 0 Estado da Gália, homenagem a roupas, cigarros, de frente para um ho- trução, enfim, vai ficar respondendo
A$terix e seus amigos, os que resisti- lofote forte que mandava uma luz bem manos presos. Só que agora não tenho
quantas vezes o cara que está na má- nada a contar, a curiosidade de quem
ram. Depois de 13 anos de jornalismo na cara da gente, desde lá de cima das quina trocar de papel. E, se você não
muralhas — dava pfa ver quem pergun- está aí fora não merece o menor res-
profissional, 28 de vida, ao fazer na sabe, vai ficar sabendo que aquilo é o peito meu. Eles sabem dos ghetos, dos
parede do armário da cozinha o O Es- tava, porque o ser humano preso se seu prontuário, terá um número, a sua campos de concentração, das favelas,
tado da Gália, no inverno do ano pas- acostuma rapidamente a tudo — pra foto, e toda a sua vida dentro da Casa da miséria. E daí?
sado, vendo o Estadão cheio de poesias sobreviver. de Detenção, único documento, que
e o Jornal da.Tarde cheio de receitas, — Sou eu, sim senhor! jamais será inutilizado. Quando você
. . . a realidade aqui fica a um
eu me sentia bem, ao dar em manche- — 0 Percival teve aí hoje até as 8 sair, ele continuará aí e, se por acaso
horas, lhe esperando. Veio ontem tam- você voltar, ele será tirado do arquivo- palmo do nariz. Que vocês fiquem com
te: "O ridículo não tem limites. Esta-
bém. morto e revivido. Enfim, você virou Papillon, Soljhenitsin e o diabo. O bra-
mos apenas no começo".
— Sim senhor, obrigado. um número preso. sileiro nasce de costas e morre de bar-
riga para cima. O que se passa aqui fica

Dentro do carro fechado, daque- . . . depois de cinco dias dentro


les preto-e-branco, Ford antigo mais de um distrito, numa cela com 11 nos
parecendo uma lata velha toda solta, dias mais cheios e com 7 nos mais
você não vê nada pelos buraquinhos. vazios, dormindo no chão puro, sendo
Ele é dividido em dois, no sentido da acordado pela cotucada do sapato do
cabina para a traseira, de cada lado um carcereiro na sua costela, prá conta-
banco de ferro, um pequeno espaço gem, na troca do plantão, ser mandado
para colocar os pés, as pernas você que para a Casa de Detenção, é uma coisa
se vire; e a parede-divisão, também de que você não sabe se é pior ou melhor.
metal, no seu nariz. Era de noite; fora Dos dias passados no xadrez da 4?,
fazia frio, mas dentro não havia ar. Na uma frase não me saiu mais da cabeça,
ponta, Márcia; eu, Polé, Marcos e Edi- dita pelo Mestiço, um rapaz da Bela
nízio. Do outro lado, a gente sabia que Vista, de pé, noite a dentro, em meio a
iam mais dois, ventanistas; estavam no nós todos deitados, encolhidos:
mesmo xadrez da gente na 4? DP. "Vou abandonar o chiqueiro,
Os sacolejos, a dúvida, a incerte- porque já peguei nojo dos porcos!"
za, a vontade de ver lá fora, de tentar
fazer o trajeto mentalmente, vendo as Fomos colocados para andar, um
ruas, os caminhos, sem saber pra onde atrás do outro, pra. dentro do prédio
se está indo, o estar no ar mergulha- cinza. Éramos um bonde especial, já
ndo, no escuro. Chega um tempo em passava das dez da noite, nunca nin-
que você se perde nas dobradas à direi- guém chega tão tarde aqui na Casa de
ta e à esquerda, desiste de acompanhar Detenção. O horário normal do bonde
com a cabeça, e fica só com o mal-es- dos novos presidiários é 17, 18 horas,
tar, a falta de ar. O carro parou duas mas eles vêm da Capturas, por onde
vezes: no DEIC pra deixar os ventanis- nós não passamos. O Juiz Corregedor
tas, sujos, barbados, com a cabeça re- achou melhor nos livrar do chiqueiro
bentada, as roupas rasgadas; e no Hipó- do DEIC, onde só estivemos por dez
dromo, prã deixar a Márcia. Ela e Polé minutos no dia de nossa prisão: uma
já vinham desde a 4? DP com as mãos jaula enorme, cheia de gente, onde os

dadas, por cima de mim. O que a gente presos ficam por alguns dias aguardan- E, como primário, sem antece- pra quando qualquer um de vocês cair
sente só dá mesmo pra traduzir pela do remoção para cá, de short ou de dentes criminais, você precisa se colo- nas mãos da polícia, da Justiça — essas
contração, no aperto da mão, da cara, cueca, só no cimento, normalmente car rapidamente na condição de coisas que inventaram e ajudam a en-
dos ossos, do coração. Márcia ficou lá. molhado, seja de água ou de urina. aprendiz, estender seu cobertor no gordar. Posso dizer que sou primário,
Atravessamos o pátio, interno, chão da carceragem pra dormir a pri- como dois mil e tantos aqui. Só que
direto pra carceragem, onde se começa meira noite, mesmo que você não este- cheguei tarde, fora de época, não pas-
a repetir infinitamente as mesmas coi- ja conseguindo posição, depois de ter sei por Juizado de Menores, RPMs ou
. . .fui preso num sábado, depois sas, seja pro carcereiro, pro cara da apanhado 15 horas seguidas, dentro de Correcionais, nem nunca fui chamadc
de ter ido levar uma amiga até a Rodo- rouparia, sala ao lado, onde se deixa uma salinha, ora de 4, ora de 5 caras, de menino-bandido pelo Jornal de
viária, e ter andado todo o centro de toda a roupa, se ganha um roupão ve- dos que te prenderam ou dos colegas Tarde — quando tinha a idade desse;
São Paulo - de lá até o Teatro Oficina, lho e esburacado, seja no banheiro, ao deles, e suas costelas não agüentem meninos, eu era editor daquele jornal.
para procurar o Zé Celso, ver se tinha lado, onde se toma banho frio com um mais nem o movimento de respiração Ironia.
vindo do Rio, se íamos terminar uma ou dois presos olhando, perguntando, do pulmão. Você apanhou até des-
entrevista. Eu sempre gostei de andar a "qual é a tua bronca? " - "Tava no maiar já faz quatro ,ou cinco dias, mas
não tem importância, isso foi lá na 4?, . . . se querem mesmo saber o
pé, sozinho, pelo centro de São Paulo, Teatro Oficina"... — "Êntão vocês
sempre vai ter um preso pra te dizer que é uma prisão, tranquem-se no ba-
em dias assim, como sábado à tarde, são artistas? " . . . — e já saindo pra di-
que isso não é nada, que apanhou nheiro de casa ou apartamento de
domingo pela manhã, feriado. Há anos zer pros outros que os artistas chega-
muito mais. foi pendurado no pau de vocês, com mais dez ou quinze pes-
que ao chegar à São Luís, vê-la vazia, ram, seja subindo para o primeiro
arara, levou choque aqui, ali e lá. soas, fiquem o tempo que agüentar, fa-
as lojas fechadas, tenho uma imensa andar, já vestido com uma calça azul
Mesmo sem achar que você mesmo não zendo tudo: pensando, se mexendo,
alegria. Uma coisa interior, pessoal. enorme, de amarrar na cintura, uma
sofreu, você vai aprender a ficar quie- dormindo, acordando, comendo, be-
Assim como uma certeza que se tem, camisa de malha azul, já sabendo que bendo, sonhando. Quando não agüen-
sem se saber de onde vem. Como quan- to, a guardar essas coisas pra você, por-
não pode ficar de bota ("aqui não tarem mais, pensem que aqui tem gen-
do afirmei ao Zé Celso, durante a en- que não lhe valem de nada. Um ser
pode, vou te arranjar um bute; bota, te vivendo assim 24 horas por dia de
trevista que fiz com ele para a revista preso, esse o meu papel.
aqui, serve pra esconder maconha"), muitos e muitos anos. 0)que aprendi
O Bpndinho, que no Brasil nenhuma seja indo pra barbearia, que é no corre- aqui serve pra mim: experiência se
experiência chegava ao fim. dor mesmo, sentado num banquinho . . .um psiquiatra meu amigo, vive, não se transmite. Mas de uma
Zé, vê se aprende, agora é proi- com os caras gozando a sua cara, per- Edu Machado Gomes, que trabalhou coisa eu tenho certeza: Oiticica, um
bido experimentar. guntando quanto tempo levou pro teu 12 anos no Juqueri, me disse certa vez: dos poucos teóricos anarquistas brasi-
leiros da década de 30, tinha razão pada na outra? Ainda por cima numa
quando falava sobre advocacia: "É sociedade patriarcal, onde a mulher
uma profissão parasitária". E o Brasil, não tem vez, a não ser na horizontal?
todo mundo sabe, é terra de doutor... . . .onde se está, este será o cen-
Estou à disposição da Justiça, há tro do universo: eu estou aqui, preso.
50 dias, sem saber se vou ficar, se vou Não me importa se já fui jornalista, até
sair. Na primeira vez que fui ao Fórum mesmo editor do EX-. Isso não é uma
(a gente vai num caminhão chamado matéria, a matéria sou eu. Quando
bonde, vamos em 100 ou 150, sem ar, muito, isso fica sendo um bilhete, um
sem lugar para por os pés, no sufoco), alô, um exercício noturnCf entre a mas-
pensei: que poder tem este homem de turbação de uns e o ronco de outros,
companheiros, irmãozinhos. Eu,
me julgar? Depois, durante a audiên-
mesmo quando ninguém mais procede
cia, ao ver que ele fica afundado num
assim, me respeito. Coisas aprendidas'
monte de papéis, que nem sabe o Paulo Orlando í-afer * 'iMarct* :<attc«iotti • ••
com minha avó, gente da antiga, filha
nome das pessoas, que pra ele o que l - S ~ 1 IpSÉ ' i Í § | k . W M Ê Ê m Ê
de escrava. Mesmo preso, meu pensa-
importa é se o rito está sendo cumpri-
mento é livre e minha memória farta.
do ou não, descobri que aquele pensa-
Quem sabe a gente se encontra?
mento era pura literatura "demodée"
Só reconheço a existência de uma
- pra qualquer juiz, o julgamento de
droga, um doping: o dinheiro. E só me
um ser humano é mera burocracia,
julgo culpado pela co-autoria de um
onde o que importa é meia dúzia de crime: a morte de Deus. O resto eu
papéis e uma linguagem teatral, fora da deixo pra ser resolvido pelas feras que
compreensão da maioria. Isso é teatro. virão, os seus, os meus filhos. E que
0 bom senso, na maioria das ve- tudo o que foi escrito se transforme na
zes, tem que perder seu conteúdo para imensa salada das palavras não enten-
ser introduzido no recinto. Salamale- didas ou simplesmente numa forma de
ques, diria Oswald de Andrade. O que sair daqui, livre no pensamento, pra
se pode esperar de uma mulher de dizer aos amigos e aos inimigos, um
olhos vendados, com um peso em uma ensinamento de minha avó: Cadeia não
das mãos desequilibrando-a e uma es- foi feita ora cachorro" Haf Maria Lúcia

CARTA-CONTO
Muihei de detento que não vê o marido há 30 dias

"£ssa hora que pode chegar alguma vez fora de toda hora, buraco na Meu amor, meu irmão, meu filho, meu alegria meu pai. Fazia (faço) as coisas do teu
rede do tempo, essa maneira de estar entre, não por cima ou atrás, amigo, meu pai, meu homem. Meu tudo jeito. Ai fico mesmo parecida com teu cor-
mas entre" isso, essas palavras todas, esses papéis todos: po, nos teus gestos, sem importar o que as
as palavras destruídas, os papéis interpreta- pessoas tavam pensando, isso até faz parte,
dos - não vividos. Ê uma pena, menino. Ou da coisa toda. Gosto disso.
Júlio Cortázar (Prosa do Observatório) é isso mesmo? Te conheci escrevendo, te lendo. Depois
Estamos destruindo a nossa linguagem, te vendo todo dia. Agora, quando recebo
"Eu acredito em destino. Não como uma fatalidade, mas como uma assim como nós mesmos, ou estamos crian- você, o que mais gosto de fazer é escrever,
cópia interior que cada um tem que cumprir" do nossa linguagem, assim como nós falar, dançar.
mesmos? Estamos sempre fazendo as duas
Por não levar a sério isso, não lhe mostra-
coisas. Os dois lados. Dois?
Nise da Silveira (Fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente) rei mais as coisas que você escreveu comigo.
Um poeta de profissão chegou a dizer Não faço mais isso. Agora sou eu mesma
que o amor tá sempre sendo (é) o ridículo quem tô escrevendo. Eu mais. Pra querer
da vida. Ê ridículo ouvir isso. que você pense como vai ser sua vida saben-
Eu te amo. E agora? O que vem sendo do que não penso em deixar você só, nunca,
feito com iS&o, as TVs, as vendas nos merca- a não ser que isso seja bom para você, que
dos. A p. .. já era ou ficou sendo. Não im- você queira, pense que eu acredito que o
porta mesmo. amor existe, é bonito e eu sinto bem que te
O que tá acontecendo quando recebo amo. Penso que eu quero que nosso filho vá
você, quando você entra em mim e eu saio procurar o teu, a tua pra dizer: eu sou seu
pulando, cantando, falando o que você fala- irmão, venha brincar comigo.
ria, escrevendo o que você escreveria, sendo Fique calmo sempre daqui pra frente,
o que você seria. Sem nunca deixar de ser pros lados. Eu sou sua, o que você precisar
quem sou. Sabe por que? No começo não porque quero. Hoje eu existo porque pensei
entendia quando me arrepiava, tremia e em você, na sua vida, na sua pessoa. Eu vou
acrescentava você a mim. Depois foi tran- falar tudo o que penso hoje da minha, da
qüilo e calmo como é hoje meu amor, meu nossa vida, das grades. Das cercas. Olhando
querer você. Percebia você chegando, e que você, te pegando, ouvindo o silêncio. Calma-

mente, passando tudo a limpo, você é, tran- CABO VÈRDE ANÚNCIOS: PINTORES PAVILHÃO 2
qüilamente, a pessoa que me faz continuar
resistindo. Sem drama, sem nada. Simples-
mente. Racionalmente.
Fique tranqüilo. Onde estou, estou te
amando. Durmo cedo pensando em você.
Leio, faço crochê. Não tenho vontade de Letra e música de Cláudio Vieira
andar. Espero você, sejam quantas luas fo-
rem. Não faça nada, não precisamos de ne- cidos. Estradas intermináveis da cultura. So-
Edinízio: detido há um mês, acusado
nhum dinheiro. Durma muito. Não temos lidão, trancados em celas-telas subterrâneas.
de porte de maconha. Um quadro: 15 paco-
pressa. No estado de fuga, calma é a man- Organismos expostos, sangrando em cores
Olha, no Diário da Noite, tes de cigarros Kent. Figurinista, gráfico,
chete permanente. surreais.
Noticias, na Manchete, mataram Francisco pintor. Quadro: Mulher-Pássaro (á mulher
Viage sem nada em cima, sem nada em como complemento da liberdade).
lugar nenhum. Viaje sempre. Com velocida- Mané
Azul:. Detido há dois anos, condenado
de bem baixa, diafragma bem aberto. Sem Mataram Francisco Mané.
Reuler: Detido há um ano, acusado de por assalto. Ligado a automobilismo. Come-
mistério: a máquina é você. porte de maconha. Um quadro: 15 pacotes çou a pintar na prisão: Cristos, palhaços, Sa-
Liberdade, você sabe, você sabe, meu Zilda, encontraram Cabo Verde
de cigarros Kent. Um ano de temática: Cru- grada-Familia. Palhaço de cara borracha das
homem. Cruzado de balas na Freguesia do Ô\
cificação, Retirantes, Santá-Ceia, Canga-, cores de un\a sociedade decadente. Cristo de
Aqui o pé na rua, nada mudou. Pra nada. Vejo as crianças chorando, aonde está meu
ceiro, Natureza-morta. A linha escura ritma- cara livida e roupagens vivas. Textura de
Vai ver. Veja. papai.
da, salientando as partes indispensáveis à cores em tempero sobre tela de lençol. Dedi-
Não tem mãe, não tem casa,
transmissão da idéia. Cangaceiro: mão, mos- ca-se à pintura nas horas vagas da cozinha.
Mais um bandido pra nascer.
quetão, cinturão, balas, pé, sandália, chão,
chapéu-olho, e estrelas - vermelhão em
Encontraram Cabo Verde, meninão
tudo. Um conjunto desconjuntado. Lembra
Só vendo que tristeza, meninão
as composições do velho mestre francês,
O Zé Francisco morreu
Léger.
O que se pode fazer, a vida continua
Boca calada não entra formiga (bis)
Dema-.Detido há três anos, acusado de
Fui saindo do local desbaratinando, e
roubo. Van Gogh o faz pintar mesmo na
devagar. . .
cadeia. Alusão à loucura, estado cabuloso
após a condenação. Deixar cair no barato.
Torre, tochas iluminam vales de mulheres
Cláudio Vieira, há 10 anos arrebatadas: dedos nos seios, lanças nas cos-
na Casa de Detenção. tas. Mascarados. Botões florais de recém-nas-

A ÚLTIMA DERROTA
DE PELÉ EU - UM SENHOR NEURÓTICO

Preso. Bacana, né? É, sou preso porque disser o contrário, mente. Os nossos funcio-
sou ladrão de profissão e ambicioso por na- nários fazem todo o possível para nos eno-
Crônica de EB preparava para lutar contra ele, pois aos
tureza. Atualmente estou cursando o vesti- brecer (apesar de às vezes eles quererem can-
poucos todos iam se aproximando, cercan-
bular de deliquenciologia na maior Faculda- tar nossas mães, irmãs que aqui vêm). Mas,
do-o, encúrralando-o em seu próprio "cór-
de da América Latina, e que é o orgulho tudo é lucro. Eu, de maneira particular,
ner". Todos, todos, até mesmo os seus ami-
ATENÇAO! Hoje, agora, no terceiro desse enorme verde-amarelo. Já estou há gosto muito dos funcionários: é só dar um
gos. AMIGOS? Por que então investiam
andar, cela nÇ 309, sensacional luta, sensa-X quatro anos aqui e admito que é de grande ministrinho pra eles e tudo bem. Quanto ao
daquela maneira? Por que não calçavam lu-
cional combate, Rosemiro "Pelé" dos San- • proveito esse enclausuramento, pois já me mal psíquico que essa digna sociedade cristã
vas? Alguns armados de paus e enormes
tos, versus o Mundo .... pedaços de borracha. Traziam até uma rede, especializei desde o suborno de funcionários está me fazendo, não tem importância, pra
Sim, Senhoras e Senhores, o Ex-Cam- como no tempo dos gladiadores. Para que a até ao estouro de uma burra sem dor. mim tudo é lucro, não tenho filhos, não te-
peão Sul-Americano, o Ex-Campeão Brasilei- rede? Como todos os burguezinhos, vocês de- nho compromissos. Se morrer? Pra que
ro que tantas e tantas glórias havia dado ao vem saber o grande número de alunos aqui, viver a vida só desejando ter o melhor, não
Rosemiro "Pelé" dos Santos não en-
pugilismo nacional, iria agora se defrontar não? Se não sabem, leiam o jornal de recei- ser, não ter?
tendia, sua imaginação não podia alcançar o
com a sua própria torcida, com aqueles tas alimentícias que ultimamente vem cur- Desculpe, chapa, mas não sei bem se é
que seus olhos viam; seus reflexos outrora
mesmos que outrora o haviam aplaudido e tindo essa chinfra. Somos 5 mil e tra-tá-lá egocentrismo, mas só sei falar de mim, de
tão rápidos estavam desordenados. Por que
aclamado. A luta, antes mesmo de iniciar, já (digo tra-lá-lá porque é impossível dar o nú- minha revolta, do meu nojo, da minha co-
aquela gente toda avançava em sua direção ?
se havia definido. E "Pelé" seria fatalmente mero exato, pois todos os dias chegam 20 vardia, porque se eu desse vazão aos meus
derrotado, coisa evidente aliás, pois seus AGORA!, gritou alguém, e tal como ou 30, mais ou menos). Esses velhinhos da anseios já teria bebido o sangue de muito
adversários se somavam, não era um só, eram um vendaval todos aqueles rostos se Execuções não gostam de dar o diploma aos f.... da p...., mas me vejo obrigado a por
muitos, e muitos mais se retíniam àqueles contraíram e num repente investiram. Rose-
internos. Sabem como é né? Eles têm que a mão pra trás e acatar as ignorâncias e saca-
que já o rodeava m. miro ainda ensaiou um "jab" de esquerda e-
ficar virando prontuários, vendo vida pre- nagens. Como vocês sabem, isso é uma cida-
um "huper" de direita que se perderam no
Mesmo assim, a derrota iminente não gressa. Geralmente o aluno tem alguma arbi- de onde tudo é frio, é individual. Mas a vida
vazio. Nem ao menos chegou a tocar em um
o atemorizava. Via diante de si, não os trariedade cometida nos 10 ou 12 anos aqui; está ai, logo serei gente novamente (digo
só dos adversários e nem chegou a entender
homens que dentro em pouco o teriam der- isso, sabem como é, complica. E depois, pra gente porque já levei pela cara que não sou
o porquê, pois mala luta se iniciou, alguém,
rotado, via diante de si apenas um amon- quê mandar os meninos embora, se logo eles ninguém, sou preso). Mas breve sairei, volta-
com muita habilidade, atirou sobre seu
toado de fãs que como outrora adentravam o estão de volta? É melhor não fazer das tri- rei, e dessa vez vai ser mais cruzeiro. Quero
corpo aquela estranha rede e num instante o
"camarim" e, enquanto era massageado, Pelé do boxe sentiu-se impotente, dominado pas coração e passar as tardes nas salas refri- ter dinheiro para ter liberdade, comodidade,
diziam coisas bonitas, palavras de incentivo, naquelas grossas malhas. geradas com cafezinhos e minerais, esperan- respeito. Não sei se isso me trará felicidade,
torciam pela sua rápida vitória. Para Rose- Contorcia-se, e tanto mais se esjor- do a compulsória: o útil e o agradável. mas eu prefiro %a ordem e progresso do po-
miro, o Pelé do boxe brasileiro, a diminuta çava, mais se emaranhava nas malhas da E agora com os preços - do Chivas, bre, lutando como rato por um sortido do
cela transformara-se em um imenso "giná- rede, quando notou que um dos seus adver- Royal Label, das camisas de seda, gravatas - dia-a-dia. Posso estar errado, mas quem é
sio"; seu catre frio, o "ring" e aqueles ho- sários, vestindo um avental branco, portan- altos como estão, deve ter diminuído a fila certo?

mens todos ali aglomerados: seus fãs, seu do uma seringa hipodérmica, se aproximava. de familiares dos alunos que vão lá a fim de O Capelão diz que Deus perdoa, então
público que esperava ansioso o inicio do Muitas mãos então o seguraram e "PELÉ" presenteá-los para que seus filhos ou mari- quando eu estiver cruzando o cabo mesmo,
combate. sentiu que havia sido atingido, não por um dos saiam mais rápido. peço perdão e tudo bem.
Na realidade, dentro em breve haveria golpe de boxe, mas pela picada da agu- Mas, de maneira geral, aqui é muito bom, Meu nome? Eu sou preso, e preso é
mesmo um combate, Rosemiro dos Santos, lha ... muito humano, muito movimentado. Quem preso; só e mais nada.
o "Pelé" do boxe brasileiro, dentro de mais
alguns instantes, seria "nocauteado" na luta Suas forças começaram a abandoná-lo,
contra o Mundo, no imenso estádio da vida. o tablado treme, oscila, tudo ao seu redor
Tudo preparado, a torcida já havia parece girar, girar, girar . . .
tomado os melhores lugares do "estádio"; Rosemiro começa a cair, cair, cair,
Rosemiro acabava de ser massageado, fazia sem nem mesmo entender como e por que
estava sendo nocauteado, como perdera
CORRESPONDÊNCIA SENTIMENTAL
um pequeno aquecimento e um leve exer-
cício de "sombra", sentia-se seguro de si aquela batalha.
mesmo, conhecia a potência dos seus "jàbs". As pancadas de outrora haviam afe-
Contudo, o adversário também se havia pre- tado o seu cérebro bom de quase
criança. Os anos de cárcere, o abandono, se A David Laginhas, Av. Cruzeiro do flor preferida é rosa vermelha.
parado, não para lutar, mas para derrotar Sul n9 2630 - Araraquara, 2-5-74 As músicas que gosto são as popula-
Rosemiro, pois aquela seria uma luta dife- haviam somado à dor da saudade .,.
ROSEMIRO "PELÉ" DOS SANTOS havia res brasileiras. Sei dirigir automóvel, porque
rente, uma luta que embora não figurasse no David no convento eu que levava as irmãs viajar.
noticiário dos "especializados" nem ao me- caido; cafdo no abismo da psicose. O ídolo
Tudo bom? Espero que sim. Quanto à definição da palavra amor,
nos no "Ranking Mundial", estava destinada de outrora, o êx-campeão passava a integrar
Eu vou indo bem, levando a vida de eu vou lhe dizer que amor é compreensão, é
a causar a mais viva e triste das impressões a agora o mundo daqueles que vivem em
sempre; só que agora um pouco mais movi- alegria, é flor de afeto na conquista, é beijo
quantos tivessem a desventura de presen- outras dimensões; que vivem fos brumas e
mentada, devido às dezenas de cartas que roubado com mente pura, é viver a dinâmica
ciá-la nas trevas em que vivem, aqueles cuja mente
tenho recebido. David, confesso a você que da vida sem estabelecer datas, minutos ou
se perdeu no abismo desconhecido.
Foi então que alguém gritou: ATEN- dentre as várias cartas que recebi, a sua foi instantes.
Nenhum comentário, nenhuma
ÇÃO, SENHORAS E SENHORES, vai ser aquela que mais me impressionou. Gostei dos seus dados, da sua idade e
crítica, nenhuma notícia, tudo é silêncio; é a
iniciado o sensacional combate - ali, no cór- Você me pergunta qual é o meu obje quanto ao fato de voçê ser desquitado não
derrota dcf campeão . .
ner direito, Rosemiro "Pelé" dos Santos, no tivo, da correspondência e eu lhe respondo. tem importância. Em outra oportunidade
côrner esquerdo - o Mundo. Fiquei 17 anos num convento apesar de conversaremos o assunto.
Soa o gongo, "segundos" fora! O Juiz nunca gostar; depois desse tempo consegui Despeço-me enviando-lhe um grande
ergue os braços e, como diria o Fiori sair, minha família mora em Santa Catarina, abraço.
Gigliotti - "abrem-se as cortinas e começa e e eu fiquei só aqui. Tenho poucos amigos
espetáculo". sou bastante solitária.
Num repente, porém, pareceu a Rose- O meu signo é aquário, quase não Dora Werner - Av. Bandeirantes 389 - Ara-
miro que toda a platéia, todo o estádio se passeio. Gosto de praia, de campo. A minha raquara.
CANTINA DO

PASQUALE
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A MQRTE DE UMA ABELHA

Certo dia, na cela que habitava de, se pôs a arrastar-se, exausta e trô-
no presídio de Presidente Wenceslau, pega, pelo parapeito da janela, agitan-
encontrava-me à janela, absorto na do freneticamente as azinhas, numa
contemplação da paisagem que se vi- desesperada tentativa de alçar vôo.
sualisava ao longe. Localizada no andar Logrou alcançá-lo, após muito insistir
de cima, e nos lados em que o prédio neste objetivo, para em seguida voltar LIVRARIA
L i « n n n i H AUGUSTA LTDA. PCNCHO EL PONCHO EL PCNCHO
DISCOS
tem suas janelas voltadas lá pras ban- a cair, desta vez para sempre: Estava casa de lanches - cervejaria
LIVROS
das da cidade, a cela proporcionava morta. Tal incidente, tão insignificante
REVISTAS
uma visão parcial do mundo livre. Es- — uma abelha que morre — deixou-me PAPELARIA RUA AUGUSTA n9 169
távamos em pleno verão. deveras chocado, por culpa de uma ¥
Com uma intensidade incrível; é sensibilidade mórbida, talvez, mas o Matriz: Rua Augusta, 1403 - SP
Filial: Domingos Monães, 371 tel 71.0890
esquina da Caio Prado.
sol e calor hoje, sol e calor amanhã, sol fato é que vislumbrei, na tentativa de-
e calor depois de amanhã, e assim su- sesperada daquela abelhinha para alçar
cessivamente. A gente sentir as caracte- vôo, o próprio destino do homem que
rísticas metereológicas da Primavera, cai, se debate, se arrasta, cansado, feri-
do, mas mesmo assim não abandona o
do verão, do outono e do inverno! E
tudo num único dia às vezes! Era cêrca
de meio-dia. Uma canícula terrível, su-
ideal que se propôs a si próprio, e se
esforça, e luta para novamente alçar o
Sensacionais
focante, fazia transpirar até as paredes
da cela, convertendo-a num forno an-
perdido e almejado vôo, morrendo até
nesta tentativa, se necessário for, mas
revelações de
gustiante. Além das muralhas, a paisa-
gem estava sob uma ofuscante luz ama-
sem nunca abandoná-lo. Sou pintor,
não sou poeta, nem entendo de fazer
Francisco Petit da DPZ,
rela. 0 Sol, uma bola incandescente
suspensa num espaço de um azul co-
versos, tão pouco sou escritor, mas
como na ocasião andava fazendo
a respeito de
balto reverberante, sem nuvens, incidia
seus raios numa vertical de fogo enlou-
exaustivos exercícios de prosa, e lendo
um pouco de poesia, extravazei tal es-
Paulo Gorodetchi:
quecedora. No meio deste braseiro tado de espírito no seguinte "poema".
o dono da livraria Bux.
infernal, um lavrador sulcava a terra, Minúscula e peluda abelha
manejando um arado manual, puxado Janela da minha cela adentra
por um cavalo branco. Eu distinguia No parapeito interno cai
ainda uma casinha banca, com telhado
Sem um grito, sem um ai!
vermelho, reverberante ao Sol; um
grande coqueiro de um verde cinzento,
Estaria morta?
que se destacava no cenário da paisa-
gem; duas. árvores secas, e um ipê ama- Oa então ferida?
relo, eclodindo numa exuberante flora- Ou trágica ferroada
ção do estio. Dera-lhe morta
0 que eu via, sugeria-me ora uma Desgraçada?
ensolarada tela impressionista de Sis-
ley, ora uma torturada e vibrante tela Não! eis que se levanta!
expressionista da fase artesiana do Planta-se nas patas
grande cultor solar, o alucinado e ge- Um vôo ensaia!
nial Van Gogh...
Subitamente, um pontinho pre- Agita-se febril,
to, rasgando o espaço, projeta-se na Impulsionada por esforços mil,
minha direção, choca-se contra uma O vôo alcança Considero Paulo Gorodetchi o maior livreiro do Brasil.
das grades da janela, e cai no parapei- Como uma última esperança! Responsável pela evolução da propaganda brasileira
to, provocando um quase imperceptí- e divulgador incansável da cultura em nosso país.
vel baque. Absorvido que estava na Mas, tragédia: caiu! Por isso, sou fiel a ele.
contemplação da paisagem, isso provo- Sem um grito, sem um ai, partiu! Só compro livros na sua livraria, ou trazidos por ele.
cou-me um pequeno susto, despertan- E ainda digo mais: acho o Paulo tão bom, que ele nem
Pobre abelhinha desditosa,
do-me do devaneio no qual estava precisa ser tão puxa-saco.
Sua sorte foi lamentosa
imerso. Curioso, firmei a vista no mi-
núsculo bólide, e vi que o mesmo era
uma abelhazinha, preta.e peluda, que
Seu destino me contristou
E em dor profunda me lançou...
Bux
Especializada em livros e revistas-nacionais e estrangeiros
após segundos de completa imobilida- Dema - Casa de Detenção Av. Faria Lima, 1.508 - Tel.: 32-3653 (escr./recados).
Apostamos que dentro
de alguns meses o
seu Herói predileto
seira um dos
super-professores das
Faculdades Obietivo.

Já estão abertas as inscrições para o História, Geografia e Conhecimentos Ge-


vestibular dos cursos de Psicologia Clí- rais de Ciências e Matemática.
nica e Experimental, Comunicação, Letras Guias de estudo com programa e ro-
e Pedagogia. teiro das matérias estão à disposição dos
Para os cursos de Comunicação, Letras candidatos.
e Pedagogia, as provas serão de Portu- Venha conhecer seus novos super-he-
guês, Inglês ou Francês, História e Geo- róis e suas incríveis máquinas de ensinar.
grafia.
Há 2 0 0 vagas para cada curso, nos
Para os cursos de Psicologia as provas períodos da tarde e da noite.

FACULDADES
serão de Português, Inglês ou Francês,

OBJETIVO
Aprovadas pelo C.F.E (parecer n.° 6 3 / 7 2 )
e autorizadas pelo decreto n.° 7 0 . 3 2 4 .
Informações e Inscrições
das 9 às 21 horas, na
av. Paulista. 9 0 0 , 3.° andar.
Daniel Ellsberg, que chegou a ser dirigida para a compreensão de sua
Subsecretário-Auxiliar da Defesa» dos vida intelectual; süas experiências nos
Estados Unidos, talvez tenha sido o processos secretos de decisão, dentro
primeiro alto funcionário público que do Departamento de Defesa dos Esta-
deixou o governo americano para, com dos Unidos; e 'para a compreensão dos
documentos Top Secret. — Os Docu- motivos e métodos que orientam o fe-
mentos do Pentágono- revelar suas chado círculo de decisões do governo
operações rigorosamente secretas. americano.
Como convém a um homem que arris-
O pensamento- de Daniel Ellsberg
cou a reputação para combater o go-
pode ser definido por um conceito de-
verno de seu país, ele é presunçoso,
mocrático básico:
egocêntrico e está totalmente conven-
cido de que agiu corretamente. "Um homem, a ação de um só homem
A entrevista que publicamos foi pode fazer a diferença".
P — Qual era sua relação com de ameaçar, mas de infligir violência. P — Quando você entrou em con- bre Nixon, como aquela sua famosa
Henry Kissinger? Kissinger não pode ser um rebelde, ele tato com Kissinger depois da Rand? declaração na Convenção Republicana
R — Ele estava no Centro de As- não poderia se conceber tomando de 1968 - "Richard Nixon não tem
suntos Internacionais de Harvard, e em parte numa violência dirigida contra a R - Ele foi para o Vietnã em condições para ser presidente".
1959 dei dois seminários para seu gru- autoridade; mas, com toda certeza, ele 1966, como consultor de Henry Cabot
po, sobre estratégia e política. Com o quer muito tomar parte na violência. Lodge. Fiquei muito impressionado, P - E poucos meses mais tarde
passar dos anos, eu o veria de vez em Não se discute que ele gosta de fazer ele foi nomeado conselheiro para polí-
quando, em conferências da Rand ameaças. Eu suspeitaria fortemente porque aceitou meu conselho, de evi-
tica externa do presidente eleito . . .
(companhia que faz estudos sigilosos que ele quer que algumas de suas tar comunicados oficiais, ou conversas
para o governo americano e para a qual ameaças sejam desafiadas, para que com qualquer pessoa na frente de seu R - Ele foi nomeado Assessor Es-
Ellsberg trabalhou mais de dez anos). tenham de ser cumpridas. chefe; em vez disso, que procurasse pecial para Assuntos de Segurança Na-
Eu tinha uma atitude muito nega- pessoas que tivessem rodado, que co- cioanl e pediu um estudo sobre nossas
tiva em relação a Kissinger porque ele P — Como você definiria nhecessem muito sobre o Vietnã; que possibilidades de opção no Vietnã, que
estava defendendo a idéia da guerra Kissinger e Nixon? falasse com elas em particular. E que estivesse pronto para a primeira reu-
nuclear limitada, como um substituti- conversar com os vietnamitas o má- nião do Conselho. O presidente da
vo não só da guerra total, mas também R — Estamos falando de pessoas ximo possível. Mac Namara nunca fez Rand, Harry Rowen, sugeriu-me para o
da ausência de guerra nuclear. Ele que jogam 4 milhões de toneladas de isso, sempre conversava com os conse- trabalho.
achava que, se nós renunciássemos à bombas sobre a Indochina. É difícil lheiros distritais na presença do general P — Você falou pessoalmente
possibilidade de usar armas nucleares, encontrar palavras para definir as pes- encarregado; e nunca pareceu perceber com ele antes de começar o estudo?
o mundo seria tomado por nações mais soas que tomaram estas decisões; e jus- o quanto estava sendo enganado.
fortes; e que, se limitássemos nossas R - Não. Trabalhei várias sema-
tamente nos anos de 1969 a 1972. Eles
opções às ameaças de guerras nuclear nas elaborando o documento sôbre as
não estavam enfrentando Joseph Stalin Kissinger viu as pessoas que suge-
total, a perspectiva seria tão horrenda opções (Memorando n? 1 da Segu-
ou Adolf Hitler, nem agiram baseados r i Ele é um entrevistador talentoso;
que ficaríamos paralisados e incapazes rança Nacional) e fui para seu escritó-
em qualquer equívoco de que Ho Chi toma nota, ouve cuidadosamente e
de usar as armas nucleares. Ele achava rio, um conjunto de apartamentos que
Minh pudesse ter se enfraquecido. Eles apreende muito bem. Com duas visitas
que a estratégia correta seria escalar e, eles ocupavam, com máquinas Xerox e
tomaram essas decisões depois que curtas apreendeu uma quantidade fora
conforme o caso, ameaçar com a utili- de escrever, no Hotel Pierre, no dia de
Lyndon Johnson e Robert MacNamara do comum de informações. Era prome- Natal de 1968. Passamos dois dias em
zação de pequenas armas nucleares tá- lançaram dois milhões de toneladas, tedor.
ticas, do tamanho da bomba de Hiroxi- cima do Memorando.
ma e até dez vezes maiores.
Kissinger não tem qualquer origi-
nalidade como intelecto. Li todos os
seus escritos que estavam dentro do
campo em que eu trabalhava, e achei
extremamente sem originalidade. Eram
exposições bem escritas das idéias de
outras pessoas e muitas vezes conti-
nham análises críticas. Ele mudava as
fontes de livro para livro, e a qualidade
do pensamento refletia com muita pro-
ximidade a qualidade de suas fontes.
"Nixon usa a violência
Seu primeiro livro foi admirado
por Nixon. O presidente lhe deu gran-
de publicidade ao aparecer em uma fo-
tografia, na primeira página do New
como ameaça; e gosta
York Times, carregando-o debaixo do
braço, enquanto se dirigia para uma
reunião do Conselho de Segurança Na-
cional. Era o livro sobre a guerra nucle-
quando alguém o desafia"
ar limitada.
As fontes nunca eram diretamen-
te reconhecíveis. E ele tinha um
truque para se cobrir, que consistia em
incluir as pessoas em sua bibliografia,
mas dé forma totalmente enganadora.
Ele incluía referências a obras secun-
dárias dessas pessoas. Mas não fazia
qualquer menção às obras que imitava. fracassaram, e foram postos para fora Estive com ele em duas confe- Sugeri que ele colocasse um mon-
Ele queria ser considerado não só um de seus cargos. Eles lançaram 4 milhões rências em 1967, e .ele manifestava te de questões, para que pudesse perce-
intelecto capaz — o que ele é como então uma opinião muito à frente de ber onde estavam as contradições. Eu
de toneladas de bombas depois de qualquer figura política de proa sobre
expositor e crítico, e por si só já basta- elaborei essas questões com ele. Queria
1969, apesar de terem sido eleitos por esse ponto; ou seja, que nosso único
ria para uma carreira acadêmica — mas que ele visse quanto debate havia.
também como uma pessoa original, pessoas que em sua maioria esperavam objetivo no Vietnã seria assegurar que P — Você se sentiu gostando de-
uma pessoa criativa A solução para que eles terminassem a guerra . . . houvesse o que ele chamava de interva- le?
este problema deve tê-lo colocado sob A história que ainda não foi con- lo decente, antes que os comunistas to- R — Ele costuma ser simplesmen-
tensão durante anos. tada - e que talvez sega agora - é massem o poder, para que não fôsse- te agradável e tem hábito de elogiar a
como Nixon conseguiu montar e levar mos humilhados internamente ou no
P — Não seria essa também a ori- gente na frente dos colegas. Logo de-
até o fim, durante anos, o maciço em- plano internacional com um fracasso
gem da tensão de Nixon? pois das eleições, ele fez várias confe-
buste de que estava trabalhando para nue cru. rências na Rand, e em dado momento
R - Tenho um sentimento forte
terminar a guerra sem vitória, e de que disse ao grupo, na minha presença:
de que Nixon e Kissinger são personali-
tinha toda intenção de -terminá-la o McCarthy e Robert Kennedy
dade muito semelhantes. E sinto, com "Aprendi mais de Daniel Ellsberg so-
mais cedo possível. ainda falavam de uma solução negocia-
base nisso, uma grande afinidade e bre o Vietnã do que com qualquer ou-
da com — na melhor da hipóteses - tra pessoa".
atração entre eles. Cada um dos dois
Foi u m a f r a u d e mara- um governo de coalizão. Não deseja-
pode ser o melhor amigo do outro, ao
vilhosamente montada. De fato, isto vam falar sobre uma retirada unilateral
menos na hora de fazer negócios. P — Então ele é bajulador?
me levou a ter, do ponto de vista técni- ou a aceitação de uma tomada do po-
Kinssinger - e" seguramente Nixon R - É, digamos, um belo hábito
co, um grande respeito pelo planejador der pelos comunistas, em qualquer épo-
também — tem uma crença ideológica que, no entanto, é prejudicado por ou-
do embuste. Fizeram um trabalho qua- ca que fosse. Mais pombos que Kissin-
muito forte na eficácia e legitimidade da tros traços. Eu acreditava que Kissin-
se milagroso, vendendo para o povo
ameaça de violência, como instrumen- ger eram apenas pessoas como Abbie
norte-americano a continuação da ger estava bem convencido das perspe-
to de poder e como meio para estabe- Hoffman ou Dave Dellinger, que pe- ctivas realistas e pessimistas do Vietnã
guerra de 1969 a 1973. E ainda além.
lecer a ordem no mundo. diam uma retirada imediata. e que seria um bom conselheiro para
Pode-se supor - e eu não sou Finalmente, é lógico, ele manifes- Nixon. Entretanto houve um sinal de
P - E Henry Kissinger?
psiquiatra nem produtor de perfis ofi- tava desprezo total e aberto por mau agouro ao qual não prestei muita
ciais — que Nixon e Kissinger são pes- R — Era uma peça importante Richard Nixon. Trabalhava para Ro- atenção naquela época: ele disse que a
soas com desejos muito fortes não só dessa campanha de vendas. ckefeller e gostava de dizer coisas so- escalada da guerra não tinha sido sufj -
cientemente comentada em nossa dis- esse homem me diria se soubesse o que Henry Kinssinger; e< com uma grande nhado como ele esperava em junho;
cussão das opções. eu sei? Ele me daria esse mesmo con- esperança de que eles nos tirariam que Nixon e Kissinger tinham escolhi-
Aproveitei a ocasião, para inocu- selho? ou mudaria totalmente suas re- daquela situação. do uma das opções que nós tínhamos
lá-b contra os efeitos da informação comendações? E esse exercício mental Quando deixei a Casa Branca, fiz afastado inicialmente - não a da reti-
secreta que começava a receber. Muitas é tão torturante, que depois de certo uma série de recomendações para no- rada unilateral, mas a opção de vencer
vezes tinha pensado na chance de tempo você renunciará a ele e simples- vos estudos. Um deles era uma pesqui- a guerra. Uma escolha desastrosa. Mas
advertir alguém novo no governo, e mente parará de ouvir. Eu já vi isso sa urgente sobre os efeitos de nossas não pública ainda; eles ainda não esta-
transmitir-lhe uma das lições que com meus superiores, meus colegas e operações de artilharia e bombardeio vam totalmente decididos.
aprendi. Duvido que ele se lembre do comigo mesmo. sobre o povo vietnamita, com atenção Procurei algumas pessoas da Rand
que lhe disse: "Uma vez que vai precisar mentir especial para a possibilidade de reduzir que, durante todo esse tempo, tinham
"Henry, há uma coisa que gosta- cuidadosamente sobre o que sabe, você drasticamente essas operações ou sus- sido favoráveis à retirada unilateral e
ria de dizer-lhe, porque uma pessoa vai tratar as pessoas do ponto de vista pendê-las totalmente. Outro era sobre disse: "Estou com vocês agora: o que
que está pegando um cargo como esse daquilo que você quer que elas creiam, a correção de nossas informações a res- vamos fazer? " Eles propuseram uma
precisa saber. Há muito tempo você e da impressão que você quer que elas peito de vítimas civis. Mas ninguém carta ao New York Times, defendendo
tem sido um consultor e tem trabalha- levem. Enfim, você vai manipulá-las. tentou jamais estudar estas questões. a retirada unilateral que, evidente-
do com uma grande quantidade de in- Você renunciará a qualquer tentativa Kissinger mandou-me uma res- mente, até esse momento, não tinha
formações Top Secret. Mas você está de entender o que elas dizem, e o pe- posta, dizendo que as sugestões eram sido defendida por nenhuma persona-
em vias de ter acesso a muitas outras rigo é que você acabe virando um retar- muito úteis, mas que já tínhamos colo- lidade política importante.
categorias de documentos, mais altas dado mental. Você se tornará incapaz cado questões em quantidade suficien- A publicação daquela carta foi
que o Top Secret. Eu tive isso tam- de aprender da maioria das pessoas, te. E todas as sugestões foram deixadas provavelmente tão controvertida na
bém, e conheci também outras pessoas não importando quanta experiência ou de lado. Rand e na comunidade da Defesa,
que tiveram. Em primeiro lugar, você conhecimento elas tenham em sua área Encontrei-me com Halperin quanto viria a ser mais tarde minha
vai se sentir um bobo por ter estudado, (colega de Ellsberg na Rand) em junho revelação dos Documentos do Pentá-
particular, ou o quanto elas são maio-
escrito e conversado sobre esses assun- de 1969, pouco depois do discurso gono. Nesse meio tempo, sem contar a
res do que você".
tos - por ter discutido decisões toma- mais conciliatório de Nixon sobre a ninguém na Rand, comecei a copiar os
Ele me agradeceu e disse que era
das pelos presidentes - durante anos, guerra, e ele me disse: "Pela primeira Documentos do Pentágino para entre-
interessante meu conselho. Foi difícil
vez estou contente com a política dos gá-los ao Senado.
sem ter sabido da existência de toda para ele compreender totalmente, por-
essa informação interna. Você ficará que ainda não tinha acesso a essas in- Estados Unidos no Vietnã". Embora P — Qual foi o seu contato se-
formações e o efeito delas é realmente Nixon não tivesse se comprometido guinte com Kissinger?
espetacular sobre você: aprender a res- com uma retirada total, Halperin esta- R — Logo depois de meu segundo
peito das operações que o presidente va muito confiante em que até o fim casamento, em setembro de 1970. Foi
pode executar por sua vontade e que do ano ele já teria aceito a idéia. pior do que eu imaginava. Meus senti-
você não imaginava que fossem permi- Mas em junho de 1969, os russos mentos anteriores eram baseados em
tidas a qualquer ser humano. reconheceram o Governo Revolucio- sua atitude diante de uma situação
nário Provisório, deixando claro que meramente hipotética de guerra
Disse a Henry que considerava es-
não cooperariam com os Estados Uni- nuclear. Mas agora estávamos diante de
sa informação secreta como a poção que
dos para pressionar o Norte a negociar um homem que administrava a destrui
Circe dava aos viajantes que apareciam
w t i g r uma retirada mútua. Foi então que ção do Camboja.
'.isBÊk em sua ilha, e que transformava os ho-
mens em porcos. Kissinger começou suas conversações Eu ainda não tinha ouvido muito
P — Qual foi o destino do seu es- secretas com Hanoi, renunciando mais sobre seu papel. Não estava completa-
—. 'jM^B^y
tudo? ou menos à colaboração dos russos. mente claro quanto disso era de Nixon
í J W |
R - O Memorando n? 1 da Segu- No livro Catch the Falling Flag, e quanto de Kissinger; apenas ele esta-
gg*f» rança Nacional passou por mais uma Richard Whalen descreve as conversas va executando uma política desastrosa.
BPMÉi redação, a pedido de Kissinger; a única que teve no fim de 67 com Nixon — Nessa época, não sentia repulsa em en-
Ê-K-fiaH opção que previa a retirada unilateral Whalen era o redator principal dos contrá-lo.
foi riscada; e 'todas as outras alternati- discursos presidenciais sobre o Vietnã Quando um amigo comum, que
vas tinham a característica de nos man- —, quando ele propôs a Nixon que t i n h a encontro marcado com
ter no Vietnã. Nesse meio tempo, eu ameaçasse colocar minas em Haiphong. Kissinger, propôs levar-me com ele,
trabalhava no conjunto de perguntas e Isto, supostamente, levaria os russos a concordei. Valia a pena encorajá-lo a
respostas sobre o Vietnã. uma crise como a dos mísseis em ler os Documentos do Pentágono, para
As respostas, cerca de mil pági- Cuba, e os encorajaria a pressionar ele descobrir que já se tinha falado em
nas, mostravam a profundidade dos Hanói para aceitar um acordo. Nixon continuação da escalada em tom cores-
desacordos e a possibilidade de parar a comprou a idéia, mas ela fracassou. piratório, e que isso não tinha funcio-
infiltração minando o porto de Mesmo assim , Nixon e Kissinger não nado.
Haiphong e bombardeando o Norte. acreditaram e continuaram com a mes- P - Como é San Clemente? ( A
Elas vinham de departamentos como a ma estratégia. fazenda de Nixon)
CIA, o setor de investigações do De- Chamei Halperin no fim de junho R - Entramos por um portão e
bobo de ter roçado os ombros durante partamento de Estado, e dos civis do de 1969 com uma questão que era no- uma voz saiu de qualquer parte como a
uma década com funcionários que ti- Departamento de Defesa, que normal- va para»mim: "Qual é,' na sua opinião, voz de Deus, de um alto falante em
nham acesso a toda essa informação, e mente não seriam chamados a exprimir o número de vietnamitas que preferi- cima da casa de guarda, dizendo-nos
você não sabia que eles tinham. diretamente suas opiniões sobre o as- riam a paz, mesmo sob um governo onde estacionar. Lembro-me de que
"Você se sentirá como um bobo, sunto para o presidente. Através desse comunista, a ver a guerra continuar? esse olho invisível controlava todos os
e isso vai durar umas duas semanas. En- processo de relatórios paralelos, asse- "Oh, 90%", disse ele. movimentos.
tão, depois de se acostumar a usar es- gurei, ao novo presidente cálculos irtuis "Você acha que seu chefe tam- Você entra numa sala de espera
sas verdadeiras bibliotecas de informa- realistas do que qualquer outro presi- bém pensa assim? ", perguntei.- externa, exatamente como a de um
ções escondidas, guardadas com rigor dente já tinha obtido sobre tais assun- Nunca discuti isso com ele, mas dentista, mas com grandes fotografias
muito maior do que os meros dados tos. suponho que sim". coloridas de Nixon enfileiradas na pa-
Top Secret, você se esquecerá de que Eles mostravam claramente, ape- "Então, como podemos justificar rede. De fato, o fotógrafo oficial parou
houve tempo em que você não tinha sar de alguns desacordos, que o exér- a continuação disso um dia mais, seja à no saguão e bateu um papo conosco,
isso, e ficará consciente apenas de que cito vietnamita nunca seria capaz de espera de uma retirada mútua ou seja até que saiu correndo porta a fora, en-
você tem agora, e os outros resistir ao assalto norte-vietnamita sem lá o que for? Não nego certa utilidade quanto entrava um carrinho cor-de-
não e qüe todas essas outras pes- bordadeio e tropas terrestres dos Esta- de esconder nossa denota, etc. Mas rosa de golfe. Tinha uma pessoa diri-
soas são bobas. dos Unidos. Foi dito muito claramente podemos justificar a matança de mais gindo, como se fosse um carrinho da
"Depois de um período mais lon- a Nixon, pela maioria das respostas, Vietnamitas, quando nossa própria Disneylandia, a 10 por hora. Era
go, você poderá descobrir as limitações exceto naturalmente pelos da Força suposição é de que quase todos eles Nixon, carrancudo e parecendo muito
dessa informação: há muita coisa que Aérea, que o bombardeio do Laos não querem o fim da guerra? zangado. Logo atrás dele vinha outro
ela não dirá a você; niuitas Vezes ela é estava tendo qualquer efeito. Agora "Bem", disse ele, "essa é uma boa carrinho cor-de-rosa de golfe, dirigido
imprecisa e poderá levá-lo ao erro, tan- nós sabemos que, naquele mês, as pergunta . . . deixe-me pensar nisso". por Bebe Rebozo, e mais um terceiro
to quanto pode errar o New York Ti- questões já estavam encerradas. Em Foi nesse momento — 1969 — carrinho cor-de-rosa com dois homens
mes. Mas isso demora um bocado . . . março de 1969, começou o bombar- que comecei a perceber a necessidade do Serviço Secreto. Um comboio.
"Nesse meio tempo, vai ser muito deio secreto do Camboja. de terminar a guerra mais urgentemen- Finalmente, vimos Kissinger na
difícil aprender de quem não tenha Deixei Washington com esse sen- te. Comecei a ver a continuação como hora do almoço em um pequeno pátio.
acesso a essas informações, porque vo- timento de consultor satisfeito por ter imoral, e não como um erro apenas. O general Haig estava na mesa. Depois
cê estará pensando consigo mesmo, en- feito tudo o que podia levar uma infor- Em setembro de 69, soube de que todos dissemos alô, Kissinger vi-
quanto escuta as pessoas: O quê que mação realista ao novo presidente e a Halperin que a política não tinha cami- rou-se para meu amigo e disse: " V o c ê ^
sabe? Aprendi muito mais de Dan Queria entregar-lhe uma folha de vez foi adiada, e depois eles marcaram - "Essa é uma questão formulada muito
Ellsberg . . . " , e eu pensei que ele ia papel com a estratégia de Nixon escrita uma terceira data. E foi adiada. inteligentemente".
repetir aquele negócio do Vietnã, mas nela. Tinha passado a noite trabalhan- Eles me pediram para marcar Fiquei com um pouco de raiva.
ele pareceu hesitar, e disse então: "a do para reduzi-la a uma única página, o outra data, mas nunca mais voltei a "Não estou tentando de modo algum
respeito de barganha do que de qual- que foi muito difícil, e ela ficou assim: chamar. A única razão dele querer me ser inteligente. Trata-se de uma ques-
quer outra pessoa". lenta redução de forças, ameaças, ver era para poder dizer que tinha ou- tão muito fundamental. Você pode
Caí para trás. Não sabia a que se ações demonstrativas como o Cambo- vido "todo mundo" — um leque com- respondê-la? "
referia, embora minha especialidade ja, a probabilidade de invasões futuras pleto de opiniões: por exemplo, Dan Ele pensou por um minuto, havia
acadêmica fosse a "teoria da barga- e, finalmente, a colocação de minas em Elsberg entre outros" - e eu decidi silêncio, e disse: "Você está me acusan-
nha". E repentinamente lembrei-me de Haiphong e a fraude deliberada do pú- que deveria cair fora. do de uma política racista".
que 10 anos antes, quando fiz uma blico. P — Você voltou a vê-lo? "Raça não é problema aqui. Tam-
série de conferências sobre " O Ato de R — Mais ou menos um mês de- bém posso perguntar: quantos seres
Coerção", também dei duas dessas Enquanto lhe descrevia a política, pois, fui a uma conferência de estudan- humanos nós vamos matar com nossa
aulas para o seminário de Kissinger em ele me olhava com os olhos muito tes e homens de negócios que critica- política nos próximos 12 meses? "
Harvard. "Você tem uma memória apertados, de um jeito que me garantia vam a guerra, e ela seria iniciada com Ele parou de novo e explodiu:
muito boa", eu disse. E ele replicou: que eu estava no caminho certo; mas uma exposição de Henry Kissinger. Quais são as suas alternativas? "Dr.
"Foram boas aulas". ele não me respondeu. Tamborilava Tinha umas sessenta pessoas. Kissinger", disse eu muito firme, "co-
Quando, voltei a pensar nissa, com os dedos sobre a mesa e disse: Eram homens de negócios, que não es- nheço a linguagem das alternativas e
meu cabelo ficou de pé. As aulas ti- "Não quero discutir nossa política; va- tavam tão comprometidos quanto os das opções muito bem, e ela não tem
nham sido sobre a chantagem de Hitler mos passar para outro assunto", Business Executives Move for Peace, nada a ver com a questão. Estou lhe
com a Áustria e Checoslováquia, no Entramos na discussão dos Do- mas que faziam crítica à guerra. Um perguntando qual é o seu cálculo sobre
fim da década de 30, o que lhe permi- cumentos do Pentágono. Perguntei se monte deles eram republicanos relati- as conseqüências de sua política nos
tij* ocupar esses países justamente e ele sabia do estudo de MacNamara so- vamente liberais. A idéia da conferên- próximos 12 meses, se você tem uma
attavés da ameaça de destruí-los. Uma bre o Vietnã e ele disse que sim. "Você cia era reduzir o conflito de gerações resposta. Você fez o cálculo, ou não? "
das aulas era " A Teoria e a Prática da tem uma cópia dele na Casa Branca? " entre estudantes e homens de negó- Houve um longo silêncio e o estu-
Chantagem". E a outra se chamava "O Ele disse que sim. cios. Não me teria atraído se não me dante que presidia a reunião levantou-
Uso Político da Loucura". "Você leu? " tivesse dado a oportunidade de ouvir se e disse: "Bem, foi uma longa reu-
A passagem de informações sobre "Mas nós temos realmente algo a Kissinger. nião e acho que já fizemos muitas per-
a invasão do Camboja, claramente feita aprender desse estudo? " Ele falou da "tragédia" dos movi- guntas. Talvez devêssemos deixar o Dr.
por auxiliares não-oficiais de Kissinger, Meu coração parou. A maior lição mentos revolucionários por terem essas Kissinger voltar para Washington".
revelava que o objetivo principal da in- do estudo era que cada pessoa repetia infelizes conseqüências instabilizado-
vasão era convencer os russos e os chi- a mesma política de seu predecessor, ras, e da "trágica" necessidade de agir
neses de que nosso processo de decisão sem sequer conhecê-la. Eu pensei: Meu violentamente contra eles. Na hora do
era imprevisível, e que desde que po- Deus! Ele está com o mesmo estado de debate, um estudante perguntou por
díamos fazer algo aparentemente tão espírito de todas as pessoas que tive- que o ritmo da retirada não era mais
imprevisível e louco como invadir o r a m de tomar decisões nesse longo pro- rápido, e Henry explodiu depois de
Camboja, eles não poderiam contar cesso; cada uma delas pensando que a duas perguntas desse tipo, dizendo:
com nossa ponderação numa crise. história tinha começado com seu go- "Vocês me perguntam de um jeito,
Essa era a política consciente de verno, e que não tinha nada a aprender como se nossa política fosse permane-
Hitler: a ameaça do imprevisível. Eu a dos anteriores, cer no Vietnã. Mas nossa política é sair
descrevi em minhas aulas como uma Fiquei realmente deprimido, mas do Vietnã. Nós estamos reduzindo a
estratégia possivelmente eficaz, mas continuei dizendo: "Bem, acho com intensidade da guerra, e eu lhes assegu-
extremamente perigosa. Era um com- certeza que sim; são 20 anos de histó- ro que ela vai continuar a diminuir de
promisso com a loucura. Descobrir - ria e há muito que aprender deles", intensidade".
não que Kissinger tenha aprendido essa " M a s depois de tudo", disse ele, Depois de um pouco mais de
tática de mim, o que é muito duvidoso "nós tomamos decisões muito diferen- questões, que ele tratou muito convin-
- mas que tal pensamento estava em t e s agora". E a minha depressão au-
centemente e com tranqüilidade, eu
sua mente, o bastante para ele se lem- mentou ainda mais. Acrescentei: me levantei. Tinha decidido fazer uma
brar da tese apresentada dez anos an- " O Camboja não foi tão diferente pergunta com um fraseado muito cui-
tes, isso foi deprimente. Confirmou a assim". E ele pareceu incomodado e dadoso. Imaginava que era a última vez
natureza de sua política e até que um pouco inquieto em sua cadeira, que falava com ele.
ponto ele podia ir. "Você precisa compreender, o
"Tenho uma pergunta, mas antes
Conversamos apenas um momen- Camboja foi resolvido por razões
quero fazer um comentário. Você disse
to antes dó almoço. Meu amigo entrou muito complicadas",
que a Casa Branca não é lugar para fa-
imediatamente no assunto do Vietnã, "Henry, não houve uma só déci-
zer filosofia moral, mas na verdade a
mas Kissinger disse: "Bem, nós não es- são nessa área, durante 20 anos, que
Casa Branca educa o povo com tudo o Os homens de negócio ficaram
tamos aqui para falar de Vietnã". não tenha sido tomada por razões
que ela faz, tudo o que diz e tudo o bastante contrariados com o episódio
Olhou para mim verdadeiramente ner- muito complicadas. E normalmente
que não diz. Especificamente esta noi- — não tanto porque se opunham à
voso e deixou claro que não queria fa- eram as mesmas razões muito compli-
te você está exprimindo valores quan- guerra, mas porque desejavam estar em
lar na minha frente. cadas". Cada uma dessas pessoas pen-
do nos diz que a guerra está diminuin- bons termos com as pessoas da geração
Calculei que era porque queriam sava que diferentemente de seus prede-
do em intensidade, e que vai continuar dos seus filhos. Escreveram logo uma
mentir para meu amigo de um modo cessores tinham considerações muito
a diminuir, e depois menciona em liga- severa resolução contra os bombar-
que não seria fácil em minha presença. especiais que exigiam a escalada - ra-
ção com isso o número de baixas dos deios, qualificando-çs dç criminosos -
Kissinger começou a tamborilar na z õ e s que elas escondiam do público,
EUA e o número de tropas dos EUA foi assombroso aquelas pessoas escre-
mesa com os dedos e então disse re- razões que seus predecessores tinham
ainda no Vietnã. Você deixou de men- verem isso.
pentinamente: " O que você acha, • escondido delas como membros do pú-
cionar as baixas indochinesas, os refu-
Dan? Por que você e' o general Haig blico. Cada pessoa nessa função pensa- No fim, quando eles votavam a
giados e a tonelagem de bombardeios,
não almoçam juntos, enquanto nós tra- v a <lue s e u s predecessores tinham to- resolução, sugeri que, sendo homens
que na realidade estão aumentando.
tamos de outros assuntos? Depois en- mado decisões erradas por estúpidas muito ricos, votassem uma resolução
Você diz ao povo americano que ele
tão, nós nos reunimos". Assim fez ele razões ideológicas e geopolíticas, en- para não mais dar dinheiro para a cam-
não precisa nem deve se preocupar
realmente. quanto ela estava tomando as mesmas panha política de quem não se dispu-
com nosso impacto sobre o povo indo-
Haig foi muito agradável e relati- decisões por razões políticas internas, sesse a fazer um compromisso público
chinês, e o encoraja a apoiar decisões
vãmente acessível. Decidi tentar com realmente diferentes, muito inteligen- de acabar com os bombardeios e com a
cujo impacto ele ignora.
ele minha tática de "soltar informa- tes - E assim, ano após ano, a guerra guerra.
ções" sobre a estratégia de Kissinger. continuava. "Assim, tenho uma questão para Isso dividia a reunião em pedaços.
você: segundo o seu melhor cálculo, Todos ficaram furiosos, igualmente os
Já conversávamos fazia uma hora, Quando se despediu de mim, ele qual é o número de indochineses que republicanos e os democratas, porque,
quando Kissinger reapareceu. Disse falou: "Agora . . . não conversamos o nós mataremos, se continuamos mais quando liam a sugestão, percebiam que
que queria falar comigo e que combi- tempo suficiente. Estou ansioso por 12 meses com sua política? " eu os desafiava a se colocarem na mes-
naríamos um encontro. vê-lo de novo. Você pode vir a Ele estava completamente ator- ma linha de frente daqueles estudantes
P - Você foi para San Clemente Washington? " doado. Foi muito surpreendente e amigos de seus filhos. Fiquei surpre-
no meio de sua lua-de-mel e ele Então eu disse que o chamaria para o público, porque era a primeira endido; não tinha me ocorrido que eles
fugiu . . . logo que chegasse ao leste. Chamei — vez que ele mostrava uma quebra em não estariam dispostos a fazer esse tipo
R — Voltei novamente a San Cie- uma data foi marcada, e depois recebi sua tranqüilidade. Ficou parado um se- de compromisso.
mente e não consegui vê-lo. Mas, numa aviso adiando o encontro, e a secretá- gundo, depois me olhou muito pene- Na manhã seguinte tivemos uma
última visita, eu encontrei com ele. ria marcou outra data, e esta por sua trantemente e disse em tom acusador: sessão em que descrevi a política de
Nixon para um pequeno grupo de tra- que diariamente ou semanalmente, blicas deste governo, e possivelmènte pas, que seriam substituídas por forças
balho, que incluía Osborne Elliot, o quando ele secretamente sabia tudo o de qualquer governo. vietnamitas. Ele insinuou que retiraría-
editor da revista Newsweek. Falei da que diziam para suas outras fontes e P — O que você sentiu quando foi mos nossas tropas dentro de muito
probabilidade de que o próximo passo, colegas. Em outras palavras, através anunciado o bombardeio de Hanói, pouco tempo. A maioria dos editores e
na melhor das hipóteses, seria a inva- desses aparelhos de escuta Kissinger sa- após a declaração de que "a paz está proprietários de meios de comunicação
são do Laos; e na pior, a invasão do bia se estava convencendo esses caras, ao alcance das mãos" e das eleições? foram convencidos, por Kissinger, que
Vietnã do Norte. Elliot estava extre- como contestar uma posição com cre- R — Desespero. Horror. Quando nós estaríamos fora do Vietnã dentro
mamente cético. Dizia que não havia dibilidade, de um jeito que os jornalis- o bombardeio veio, no Natal de 72, me de 12 meses.
sinais de ameaça de uma escalada tas nunca perceberiam que ele se ba- pegou totalmente de surpresa. Acho Mort Halperin e vários outros,
assim. seava em conhecimento secreto. E era que o bombardeio tinha uma finalida- particularmente John Vann, que tinha
Depois de uma parada na sessão, prècisamente seus maiores amigos que de bastante cínica, amplamente atingi- contatos muito íntimos no Departa-
porém, Elliot voltou-se para mim di- ele tinha mais desejo de poder contro- da: demonstrar que a estratégia manti- mento do Exército, contaram-me logo
zendo: "Ellsberg, aparentemente há lar. da quatro anos, de se apoiar em bom- que uma parte tinha sido apresentada
algo no que você diz. A sucursal de bardeios e ameaças de bombardeios, de modo enganador: a retirada total
De fato, as revelações do FBI in-
Saigon informa que foi imposto um tinha sido mesmo eficiente para levar não estava prevista, mas a redução
dicam que ele pediu essas escutas dire-
embargo total sobre as notícias vindas ao acordo. Era sabido que a colocação muito lenta de tropas, tão lenta que
tamente, e que eles insistiram na neces-
do Vietnã do Sul". Acontecia que, na- de minas em Haiphong também não permitisse a Nixon chegar a uma gran-
sidade de autorização presidencial. Foi
quele exato momento em que Kissin- tinha conseguido absolutamente nada. de força residual que permaneceria in-
então que ele procurou o presidente e
ger nos dizia que "a guerra está dimi- Por isso, Nixon finalmente se preparou definidamente.
o envolveu.
nuindo de intensidade", começava o P - Assim, Kissinger pode ter si- para aceitar um acordo, no qual os P — Então qual era a verdadeira
bombardeio de preparação da invasão do o homem que incentivou o plano, norte-americanos não tinham de retirar política de vietnamização?
do Laos. muito mais do que Ehrlichman? (prin- suas tropas — o que era sua principal R - De fato, o pessoal de Nixon
P — Foi Kissinger que pediu o seu cipal Assessor para Assuntos Internos). exigência desde 1969. Mas ele se sentia não esperava que o exército sul-vietna-
perfil psiquiátrico? R - Definitivamente, sim. Ehrli- mal por ter de assinar um acordo que mita melhorasse muito; eles não pre-
R - O diretor da CIA, Richard chman não estava envolvido no início muito claramente resultava de uma di- tendiam retirar todas as forças ameri-
Helms, testemunhou que Kissinger pe- dessas atividades. E o controle delas minuição de suas exigências. canas. E naturalmente não negociavam
diu o meu perfil psiquiátrico. Isto sig- primeiro foi feito pelo general Haig e P — Então você acha que eles seriamente.
nifica que ele o leu, o que confirmaria Kissinger, que respondiam diretamente bombardearam Hanói só para fazer Mas havia cerca de outras cinco
uma coisa da qual estou seguro: o pre- ao presidente, mandando cópias para com que uma política fracassada pare- ou seis dimensões do programa, que
sidente o leu também. Haldeman (chefe de Gabinete de Ni- cesse uma política de sucesso? foram escondidas do povo americano.
R — Exatamente. Com a pressu- Em várias épocas, uma ou outra parte
posição de que Nixon assinaria mais acabou sendo revelada, mas mesmo
tardé um acordo — essencialmente o então o conjunto do projeto deveria
mesmo que já existia antes do bombar- permanecer escondido. Esse projeto in-
deio; então, ele poderia atribuir o acor- cluía o bombardeio do Camboja, o
do ao bombardeio e contar com a su- pesado bombardeio do Laos, opera-
posição pública de que não só esse ções terrestres no Camboja, retomada
bombardeio tinha ajudado, mas todos dos bombardeios no norte — os
tf

Kissinger, o os bombardeios anteriores também. In-


felizmente, acho que esse raciocínio
tático foi correto; ele ensinou uma "li-
ção" que é tão errada quanto diabóli-
quais, você se lembra, tinham sido in-
terrompidos em outubro de 68 —, a
colocação de minas na baía de Hai-
phong, e o bombardeio do Vietnã do

inspirador de ca.
P — Quando Nixon planejou

R — Logo depois de sua primeira


Norte sem nenhuma restrição.
Em vários desses pontos, o pri-
meiro passo era a ameaça, e depois o
cumprimento da ameaça, caso ela fa-

Watergate" posse. O que ainda não foi revelado,


em nenhuma discussão de Watergate, é
a conexão entre o que ele fazia inter-
namente e o que fazia na Indochina.
lhasse. Mas, desde que essas ameaças
deveriam quase que certamente fracas-
sar, qualquer um poderia prever muito
bem que elas seriam cumpridas.
Eu acho que são coisas ligadas muito Assim, o que estou afirmando é
intimamente. que todas as coisas que vimos, inclu-
Creio que o objetivo de Nixon era sive o bombardeio de Hanói em de-
enfrentar as eleições de 1972 com uma zembro de 1972, estavam todas explí-
vitória conseguida na Indochina — não citas nos planos secretos que já exis-
xon); tempos mais tarde, passaram a o tipo de acordo que ele conseguiu, tiam em 1969.
P — O que você diz das escutas
telefônicas de Kissinger? responder diretamente a Haldeman. E mas algo muito mais ambicioso. Creio Em maio de 1969 - e disso fui
Young, o chefe dessas atividades, veio que ele tinha um plano para isso, e al- informado por Halperin em setembro
R - Veja, Kissinger mentiu quan- diretamente do gabinete pessoal de gumas partes já tinha em mente em — no mesmo dia em que Nixon fez seu
do essas escutas foram reveladas. Sua Kissinger. Kissinger se meteu na políti- 1967 e 68. Talvez tivesse um plano discurso mais conciliatório sobre o
primeira reação foi dizer que não tinha ca interna muito mais do que se sabe, e completo. Ele começou a executar esse Vietnã, prevendo um acordo (discurso
nada com isso. Então foi revelado que pode bem estar envolvido em muitas plano no momento em que tomou pos- em grande parte elaborado por Hape-
ele tinha sido a única pessoa a escolher outras espionagens. se, embora executasse suas partes de rin), Kissinger chamou Dobrynin, o
os nomes de quem devia ser espionado. modo a confundir e enganar o povo embaixador soviético, à Casa Branca.
Estou praticamente seguro de que
Igualmente a história de que Kissinger americano em relação aos objetivos. Mostrou-lhe o discurso e chamou aten-
eles me espionaram diretamente, ou
estava preocupado com revelações de P — Como você soube disso? ção para a passagem que dizia, justa-
nessa época ou depois de junho, quan-
informações secretas fica absurda, R — De meia dúzia de pessoas, mente, que "ninguém tem nada a ga-
do os Documentos foram publicados.
quando você olha para as pessoas, es- mas a principal fonte foi Mort Halpe- nhar em ficar esperando". E Kissinger
Saíram notícias no Washington Post de
pecialmente jornalistas que ele espio- rin, a quem conheço há muitos anos. deixou claro a Dobrynin que-isso signi-
que eu era pessoalmente espionado
nou. Eram pessoas que recebiam infor- Mort me sucedeu como Assessor Espe- ficava que Nixon estava preparado
desde maio.
mações secretas quase só de Kissinger: cial do Subsecretário de Defesa John para escalar, se os russos não ajudas-
Eles sempre negaram, e essa é
Marvin Kalb, Henry Bradan, Joe Kraft. uma das poucas coisas que precisam McNaughton, no Pentágono. Mais tar- sem a conseguir um acordo aceitável.
Como interpretar isso? Parte da ser esclarecidas. Também suspeito que de foi trabalhar para Kissinger. Mort Para tornar essa ameaça digna de
interpretação foi dada por um funcio- eles espionaram um monte de outras me disse que Nixon tinha um plano, e crédito, já tinha havido uma escalada,
nário da Casa Branca, que disse que pessoas que não gostariam de admitir que na realidade tinha escolhido uma inclusive o bombardeio do Camboja.
Kissinger queria ver se, nas suas costas, — provavelmente todos os senadores opção ou uma das combinações de lon- Mais tarde soubemos que houve j uma
esses jornalistas, e seus próprios asses- candidatos potenciais à presidência, e a go alcance que nós tínhamos elabora- operação terrestre no Laos, na prima-
sores na Casa Branca, eram leais a ele. liderança da oposição à guerra. E isso é do para Kissinger e para ele, logo de- vera de 69. Os "Veteranos Contra a
E ele queria saber se essas pessoas ti- cerca de 15% dos senadores. pois de sua eleição. Guerra" denunciaram isso, inclusive
nham outras fontes que contradiziam P - Como Kissinger conseguiu es- O plano que Nixon anunciou em fuzileiros navais que tomaram parte. E
o que ele afirmava. capar da maldição de Watergate? 3 de novembro de 1969, era o da eu fui ihformado, pouco antes da Con- -
Ninguém fez esse raciocínio: ima- R - Ele afirma para todo o mun- "vietnamização". Ele o descreveu venção Republicana, que foram envia-
gine a capacidade que Kissinger adqui- do que não está envolvido, e nada dire- como tendo duas partes: negociações dos homens-rãs à baía Haiphong no
riu de manipular esses indivíduos com tamente sobre ele foi revelado. Ele di- para um acordo justo com os vietnami- começo de 1969, para examinar a pos-
os quais trabalhava e conversava quase rige a melhor operação de relações-pú- tas do norte, e retirada de nossas tro- sibilidade de colocar minas, e que eles^
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Crung tâm nàij dei hi thifnng
vi vÕ khi. Xin dtfnp manft
vó khi vào Crung úm.
o

FAVOR NÃO USAR ARMAS

90 por cento dos


pacientes deste Centro
sofreram ferimentos
causados por armas.
Por favor, deixe as
suas do lado de fora.
realidade que eles continham era que o com grande potencial. Você acha que a nós usar uma arma como a bomba atô-
modelo de 1964-65 estava perto de se guerra do Vietnã foi deliberadamente mica ainda em 1940 ou 41. Mesmo
tornar novamente uma perspectiva; e sustentada para a saúde do Poder Exe- nossos oficiais da Força Aérea ficavam
se eu pudesse mostrar que uma vez no cutivo? chocados porque os ingleses tinham
passado um governo tinha agido de R — Saímos da Segunda Guerra sido levados a bombardear cidades e
forma conspiratória, as pessoas pode- com um Poder Executivo largamente zonas industriais. Passaram quatro
riam ao menos pensar na possibilidade ampliado. A mística da solução do anos, e ficamos prontos para bombar-
de que isso estivesse acontecendo no- Executivo foi restaurada. A extensão dear Tóquio e outras cidades do Japão
vamente. daquilo que era legítimo ao presidente em escala maciça. Depois de fazer isso,
Além disso, já que era uma histó- fazer, por sua própria iniciativa e secre- era perfeitamente natural usar a bom-
ria sobre um governo democrático - tamente, foi ampliada quase ilimitada- ba atômica.
vários deles, na realidade, incluindo o mente. Permitimos ao presidente fabri- Isso aconteceu numa época em
de Truman — a revelação desses do- car armas atômicas secretamente e lan- que o presidente americano estava
cumentos poderia tentar Nixon a lan- çá-las por sua própria iniciativa. A essa mais do que nunca livre de ter seus
çar a responsabilidade da guerra sobre altura, não havia mais muita coisa que poderes controlados ou desafiados. O
os democratas, e a levá-la rapidamente um presidente norte-americano não sucesso do Projeto Manhattan o da
ao fim. Não poderia imaginar outra pudesse fazer. bomba atômica parecia legitimar o se-
maneira para ele acabar com ela. Sen- P — Qual foi o efeito da Segunda gredo sem precedentes que o acompa-
tia que era urgente publicar os do- Guerra sobre as pessoas do segundo es- nhou. Ele levou toda a nação à idéia de
cumentos, antes que ele se comprome- calão? que há segredos que o presidente preci-
tesse publicamente. Achava que, na- R — Elas se desenvolveram num sa esconder do mundo, mesmo às
quela época, ele ainda não tinha toma- Estado inteiramente governado pelo custas de escondê-los de seu próprio
do uma decisão definitiva. presidente, com grande aceitação po- povo.
Durante um breve período, o pes- pular, e com a aparência muito forte Entretanto, a natureza da infor-
soal da Comissão de Relações Exterior- de que tinha de ser assim para comba- mação era tal que você não podia guar-
es do Senado ficou entusiasmado com ter Hitler, e talvez para contra-atacar a dá-la em segredo de outros países por
receberam instruções para deixar sinais a possibilidade de fazer audiências de Depressão: um Estado no qual o Con- muito tempo. Essa possibilidade não'
de que tinham estado lá. investigação sobre a guerra, do tipo das gresso era quase totalmente desacredi- passava de uma ilusão do leigo. Mas a
Assim, antes da ameaça direta a audiências sobre Pearl Harbour, usan- tado e isolacionista. Além disso, logo ilusão servia para justificar a ampliação
Dobrynin em maio, nós tínhamos esca- do os Documentos do Pentágono. Mas depois da Guerra, o Congresso parecia de um programa de categorias de segre-
lado em todos os três países da Indo- esse estado de espírito se esvaiou em peculiarmente reacionário e paroquial, dos, um fenômeno do pós-guerra no
china francesa, além do Vietnã do Sul, um mês ou dois. Logo que as tropas dominando por sulistas e fazendeiros. governo de Truman. Um sistema geral
e com todas as três Forças Armadas. deixaram o Camboja, todo o mundo Por isso, eles não tinham respeito pelo de classificações nessa área foi estendi-
começou a dizer que Nixon não repeti- Congresso, nem pelos tribunais, qu"; do pela primeira vez aos setores civis
Isso combina com uma declara-
ria isso. Eu, Halperin e uns poucos ou- ainda não tinham tomado iniciativas do governo.
ção que Kissinger me fez no Hotel
tros sabíamos que ele ia fazer mais, positivas em relação aos direitos e li- O campo nuclear parecia envolver
Pierre em dezembro de 68. Argumen-
mas não havia jeito de convencer nin- berdades civis. A imprensa tinha sido segredos que precisavam ser guardados
tei com ele que a ameaça da escalada
guém. muito subserviente durante a Guerra; e perpetuamente. A partir daí desenvol-
não tinha praticamente nenhum valor,
no movimento trabalhista, os elemen- veu-se uma comunidade cujos mem-
pois os norte-vietnamitas tinham resis- P — Todos esses anos, poucas pes-
tos mais radicais eram partidários de bros tinham sua carreira dedicada à in-
tido a anos de bombardeio. Ele retru- soas tiveram uma visão completa do
uma política antigreve. formação secreta — grandes burocra-
cou que "sem a ameaça da escalada, que se passava no Vietnã. Ninguém pa-
como se poderia procurar a negocia- recia ter uma visão completa, uma Todas essas instituições pareciam cias onde não só os processos de deci-
ção? " Pensei que seu ponto de vista compreensão adequada das forças que sem iniciativa, charme, respeitabilida- são do dia-a-dia eram invisíveis, mas
fosse acidental naquela época. No últi- nos mantinham envoldidos nela. Como de, poder e legitimidade. O Executivo também os resultados e objetivos bási-
mo mês, quatro anos e quatro milhões isso pôde acontecer? era o único time em campo, e com um cos. Esse desenvolvimento foi essencial
, de toneladas de bombas depois, ele R - Limitações na estrutura inte- enorme poder de fascinação. para as coisas que estamos vendo agora
ainda pedia aos congressistas que não lectual com a qual cada facção aborda- P — Você acha que a Guerra afe- — a capacidade de se começar guerras
cortassem seus bombardeios no Cam- va o problema. Os "radicais" tinham tou a fibra social e ética dos homens secretas e campanhas de bombardeio
boja, porque isso o deixaria sem poder uma perspectiva mais ampla e eram le- que a conduziram? maciço sem que ninguém solte qual-
de barganha. vados a menos erros do que pratica- R — O processo de atrair para o quer informação. Ou mesmo a opera-
A perspectiva da escalada conti- mente qualquer outro grupo. alto pessoas cujos valores eram bastan- ção de Watergate, sobre a qual nada se
nuava. Naquele mês, Halperin predisse: O Movimento de Libertação Fe- te limitados a operações administrati- revelou até o arrombamento, e nem
"O presidente não chega às eleições de minino, por exemplo, vindo de um vas, recompensou aqueles que se orien- muito depois disso.
1972 sem ter minado Haip hong". En- ponto de partida diferente, é bastante tavam para o poder e para uma leal- P — Quais foram suas experiên-
tendi que isso significava que Nixon capaz de ver o apelo forte ao chauvi- dade extremamente disciplinada. cias pessoais com processos secretos?
não queria enfrentar a acusação de nismo masculino que está no centro do Assim, desenvolvemos um Poder Exe- R — Estudei crises de decisão, co-
seus críticos de direita — como Reagan dogma imperialista. Evidentemente, cutivo altamente burocrático, com mo a crise dos mísseis de Cuba, um
ou Wallace — de que tinha deixado de Nixon, cuja vida adulta coincidiu com grandes afinidades com governos buro- tipo legítimo de manobra muito rápida
usar uma tática que os militares há a guerra e com a Guerra Fria, apelou cráticos como o da Rússia e de outros e intensa, onde era essencial que o ad-
muito tempo julgavam vencedora; do início ao fim para o temor da fra- países. versário não soubesse o que você esta-
qualquer que fosse o acordo consegui- queza, para que se evitasse uma rendi- Acabo de vir de uma conferência va para fazer. Foi nesse ano, com aces-
do com os norte-vietnamistas, ele gas- ção "feminina" diante do comunismo da War Resistors League (Liga dos so de nível muito alto a todos os nos-
taria de dizer que tinha experimen- agressivo. A política do machismo. Sua Opositores à Guerra), criada na Segun- sos segredos que comecei a perceber
tado. acusação é sempre de que a gente é da Guerra pelos "objetores de cons- que era exatamente o processo de
mole com o comunismo, de que a gen- ciência". Os objetores não eram inca- guardar segredos que criava problemas
te é seduzido pelo comunismo. E ou- pazes de ver a maldade de Hitler, mas na elaboração das decisões. As coisas
Quando comecei a trabalhar para
tras noções mais abstratas — falta de tinham um monte de coisas a dizei so- eram compartimentalizadas e escondi-
Nixon no começo de janeiro de 69, ha-
resolução, indecisão. bre os preços de uma entrada em com- das de um setor do governo por outro,
via a suposição geral de que qualquer
Acho que Nixon está mudando bate — que entrar numa luta enorme criando muitas vezes a crise ou tornan-
pessoa que chegasse ao poder aprovei-
consideravelmente sua ideologia, pára com esse poderoso inimigo ia mudar os do-a mais intensa.
taria o novo cargo para acabar com a
guerra. Olhando agora para trás, é cla- o apelo imperialista mais geral e explí- Estados Unidos, e essa mudança ia ser Fiquei também consciente do
ro que ele tinha em mente vencê-la: o cito de ser o Número Um no mundo, reforçada precisamente pelas caracte- grau de influência que a política inter-
outro lado deveria ser chantageado até uma vez que agora estamos competin- rísticas más do regime de Hitler. na tem nos processos de decisão da po-
aceitar uma permanência indefinida de do com esses gigantes comunistas — e Em outras palavras, o processo de lítica externa. A política externa tem
tropas americanas ou do regime de com a Europa Ocidental e o Japão — transformar os Estados Unidos nurm o objetivo de aumentar as chances de
Thieu, através da ameaça de que sofre- em termos mais ou menos iguais. As- enorme máquina para matar, em gran- reeleição de um presidente, ou de di-
riam uma violência muito maior que sim, há uma abordagem não-ideológica de escala, um inimigo que parecia exi- minuir a possibilidade dele ser afastado
todas. Isso desembocaria, pensava ele, em termos de Guerra Fria, mas muito gir técnicas muito desumanas, acabaria do cargo. Comecei a perceber os moti-
num acordo do tipo vitorioso — ao ideológica nos termos das velhas res- por ter péssimas conseqüências para vos que estão por detrás de uma boa
menos uma retirada mútua de tropas. ponsabilidades imperiais, no sentido de nós. Não está em questão agora se o parte de nossa política, mas naquela
Naturalmente, isso é algo que ele não Rudyard Kipling, de manter a ordem efeito foi muito além do que geralmen- época eu queria aprender mais de den-
teve em 72, não tem, nem nunca terá. no mundo e nossa própria supremacia. te estamos dispostos a reconhecer. Fo- tro.
P — Você escreveu que a guerra é mos transformados num país capaz de P — Quando você começou a se
boa para a saúde do Poder Executivo, preparar a destruição de toda a vida sentir eganado pelo acesso ao material
Mas os Documentos do Pentágono... especialmente as guerras secretas, as sobre a terra. secreto, como reagiu diante desse co-
bem, eu fiz algo de pouco comum. A grandes crises e as guerras limitadas Lembre-se, era impensável para nhecimento? •
R - Bem, um monte desses fatos cionais —, com grandes interesses fi- Isso é uma grande parte da base nhas, e depois por votos, -com base na
secretos eram suposições quanto à fa- nanceiros na Europa Ocidental. da nossa política de Guerra Fria. Não capacidade deles administrarem a
bricação de mísseis russos — que pro- P — Havia um corpo coerente de quer dizer de modo algum que Stalin Guerra Fria com competência e dure-
varam estar erradas. Nós respondíamos pensamento dentro dessas empresas fosse uma força benigna para o mun- za. Quase todas as eleições depois de
a uma situação que não estava se de- multinacionais e da indústria pesada? do; eles percebiam o que ele era real- 48 foram orientadas para esse proble-
senvolvendo. E para mim foi um gran- uma atividade que influenciava o Exe- mente — um ditador sangrento e para- ma primário. Kennedy competiu com
de choque, em 1961, quando descobri cutivo? Ou era uma confluência de de- nóico. Mas era um governante conser- Nixon, em parte, com base em que
que os russos não tinham construído cisões tomadas separadamente? vador, que não estava nada inclinado a Eisenhower e Nixon tinham permitido
sua força de mísseis. A partir desta R — Isso é o tipo de coisa que se expandir na Europa Ocidental. o declínio de nossa força e prestígio
época comecei a ficar preocupado com quero pesquisar. A tese de revisão bási- Nós tínhamos esse sistema de militar, e que tinham permitido aos co-
o fato de o governo poder errar tanto, ca é que um número determinado de "erros de percepção", que começa a se munistas tomar uma área a 90 milhas
em sua percepção e em suas previsões. homens no fim do governo de Roose- revelar um modelo muito consistente de nossa costa. Eles tinham "perdido
A explicação veio para mim depois que velt e durante o de Truman temia uma quando você faz um exame de ponta a Cuba para o comunismo", exatamente
deixei a Rand em 1970. recessão econômica depois da guerra, e ponta. Nós descobrimos Acheson (o como Harry Truman foi acusado por
Comecei a ler as histórias de revi- perceberam isso como o resultado ine- secretário de Estado de Truman), to- Nixon de ter perdido a China e a Co-
são da Guerra Fria e percebi em que vitável de um colapso de nosso comér- talmente "equivocado" sobre a nature- réia do Norte.
extensão a percepção dos poderosos cio com a Europa Ocidental. Eram pes- za da situação grega, que ele descrevia Em 64 a disputa não era entre um
perigos era crucial para a expansão do soas com interesses econômicos na Eu- como orientada pela Rússia, apesar de pombo e um falcão, mas entre um ad-
Executivo, para vender ao povo uma ropa Ocidental. um monte de evidências de que as ministrador mais responsável e outro
política expansionista, e em particular Para impedir um colapso, eles coisas aconteciam contra os desejos de menos responsável da Guerra Fria:
um orçamento militar volumoso. Gran- tentaram arrancar várias medidas eco- Stalin. "quem você prefere para dirigir a guer-
de parte dessa política foi considerada nômicas do Congresso, inclusive baixas E no curso de tudo isso, aos ra do Vietnã? "
importante para nossa economia, não tarifas — no que não tiveram êxito; e a poucos adquirimos os atributos que já McGovern, em 72, foi o primeiro
só para certas indústrias específicas, ajuda externa para a recuperação euro- nos censuravam em período muito an- candidato nesta geração a não fazer
mas também para todo o nosso comér- péia, a fim de apoiar as exportações terior, já em 39 e 40, por esses pacifis- campanha como um administrador
cio de exportação, e talvez para evitar dos Estados Unidos para a Europa. tas: o desenvolvimento de um Estado potencial da Guerra Fria. Quem sabe o
uma depressão de pós-guerra. Mas eles esbarraram num Congresso militar, dominado por administradores que poderia ter feito? Mas ele oferecia
dominado por republicanos do meio- militaristas da política externa, um Es- uma alternativa para a política da
P - Era uma política deliberada oeste, que representavam interesses tado que tinha as características de um Guerra Fria, e questionava suas premis-
do Executivo? Ela aumentou seu econômicos relativamente locais. Mas acampamento militar. sas básicas.
poder? esses congressistas eram anticomunis- P - Você acha que o imperialis- F — Depois de Watergate, você
R - Sim, muito. E isso também tas e se mostraram receptivos quanto à mo econômico é basicamente o que acha que o povo continua tão vulnerá-
servia a outros interesses que apoiam o necessidade de combater o comunismo nos levou ao Vietnã? vel a esses tipos de manipulação do
Executivo, particularmente as indús- ateu. R — Pelo contrário. Acho que o processo político?
trias comprometidas com o comércio Assim, essas enormes empresas fi- Vietnã, na verdade, foi o preço de toda R — Uma razão pela qual estou
internacional. Estou falando sobre a nanceiras, consciente e cinicamente, essa ideologia, mais do que um objeti- seguindo Watergate de perto, é que
indústria automobilística, de armas, a apresentaram ao Congresso essa amea- vo. A gente não poderia deixar de in- acho que esse caso está atingindo a
IBM, a do petróleo obviamente, e de ça, anormemente exagerada, tendo em tervir no Vietnã, sem minar a base ra- consciência da massa de modo tão cru-
frutas, utilidades públicas, da minera- mente incrementar um objetivo polí- cional de toda nossa política. cial que vai mudar a cultura política
ção na América Latina, da ITT; e de- tico muito válido e justificado — no Especificamente: tínhamos um deste país. Está redespertando o povo
pois, de um crescente número de em- caso, arrancar dinheiro do Congresso sistema onde os políticos competiam e dando-lhe uma tremenda vitalidade,
presas - Wall Street e bancos interna- para o plano Marshall. por contribuições para suas campa- enfim. •

BOLSAS EQUIPE
...prá quem acorda cedo, pega condução,
dá duro, tem uma hora de almoço, sai as seis e
prove ser inteligente.

E também prá quem não faz nada disso e prove a mesma coisa.

GRUPO
inscrições abertas X X EDUCACIONAL
CESCEM CESCEA MAPOFEI ^ M T E Q U I P E . ^ F ^ a r c r c i M / w - o * .
P — O que você sente ao assistir as Nixon tentava vender como heróis na mais tarde, a invasão do consultório de sos, a Casa Branca é a única que posso
audiências e ouvir seu nome dia após cionais. meu médico seguramente seria revela- imaginar.
dia? Um monte de gente poderia dizer da, uma vez que exatamente os caras Depois que os Documentos foram
R — Desde que terminou meu jul- que Nixon dizia aquelas coisas porque que tinham feito aquilo estavam nas publicados no New York Times, quem
gamento, em meio a um crescendo de precisava se defender. Mas sou obriga- mãos do Departamento de Justiça. Pre- mais — diabo! — os daria aos russos, e
revelações sobre Watergate, as audiên- do a declarar que não é fácil ficar to- sumo que eles então estruturaram meu por que motivo os russos poderiam de-
cias me absorveram totalmente. Venho talmente relaxado quando você vê o processo de tal forma que limitasse o sejá-los? Custava cerca de 12,95 aos
assistindo com tensão, como se estives- presidente fazer esse tipo de ataque prejuízo que essa revelação lhes causa- russos, na edição Bantam, talvez 50
se sendo caçado. Vejo como fui caçado contra você. ria. centavos na edição do governo. E nesse
nestes dois anos, muito mais do que P — Por que Nixon é tão obses- P — Mas acharam alguma coisa meio tempo, eles o compravam por 10
imaginava. Sinto que o presidente esta- sivo quanto a você? nos arquivos de seu psiquiatra? cents por dia no New York Times. 0
va preparando o bote para um último R — Talvez quisessem demonstrar R — Viram algumas coisas no ar- pessoal da Casa Branca tinha uma bela
ataque contra mim. aos outros que o comportamento se- quivo, porque ele ficou remexido. oportunidade para transformar meu
P — O primeiro sinal de que você gundo a consciência, de ficar falando Eram papéis com meu nome em cima, processo em um caso de verdadeira es-
se tornaria um alvo tático surgiu quan- coisas, não era de todo permissível. mas nada de que eles pudessem gostar, pionagem, de modo que não custaria
do Nixon deu sua primeira resposta às De modo geral, eu podia ser visto nada de pessoal. nada. Nada seria mais fácil do que tirar
audiências sobre Watergate, no ban- — eu me vi assim — em termos pura- P — Que tipo de coisa você acha uma cópia extra e enviá-la para a Em-
quete da Casa Branca para os prisionei- mente Gandhianos. Foi não-violento, que poderiam usar? baixada Soviética.
ros de guerra? de fato um puro e abstrato ato de di R — Realmente não há nada de Mas eles tinham dificuldade em
R — Eu tinha sido convidado a zer a verdade. É quase um clássico so- verdadeiro capaz de me embaraçar explicar por que teria eu dado os Do-
falar no Today Show, o que achava nho Gandhiano, pressupor que tal ato nesse momento. Entretanto, a piada da cumentos aos russos. Todos os elemen-
melhor aceitar porque as coisas esta- de dizer a verdade — e assumir a res- Embaixada Soviética revela que eles tos, como certificava meu perfil da
vam ficando um pouco pesadas e tal- ponsabilidade pessoal por ele, publica- não vão se limitar a acontecimentos CIA, indicavam que eu tinha agido por
vez fosse bom eu aparecer. Estava nos mente — é precisamente o que basta verdadeiros. motivos patrióticos. Por isso, como po-
estúdios do Today Show em Nova para perturbar esse governo profunda- P — Você é capaz de descobri deriam eles explicar que eu tinha dado
York às 7 da manhã. Estavam proje- mente. onde se originou a acusação de que os Documentos aos soviéticos?
tando trechos do discurso de Nixon da Quando me meti nisso, tinha sem- você entregou os documentos à Embai- Chantagem? A revista Harper's
noite anterior. Ele estava iluminado à pre a suposição de que me atacariam — xada Soviética? tinha um cara que estava escrevendo
moda de Rembrandt. Faces iluminadas primeiro colocando-me na prisão pelo R — Ela apareceu pela primeira um livro sobre Watergate e tinha con-
e sombras profundas. E exaltava-se, resto da vida, e depois destruindo mi- vez no testemunho de Krogh, no final- versado com Sturgess, um dos caras
louvando a bravura dos homens que nha reputação. Nós sabíamos que eles zinho de meu julgamento. Ele disse presos na invasão. E Sturgess disse à
tinham bombardeado Hanói. Eles estavam reunindo o máximo de que tinha sido informado pelo FBI. revista que a equipe tinha sido infor-
aplaudiam. Então ele disse: "Acho que material que podiam sobre vinha vida Depois, a revista Time citou outra mada que eu era homossexual...
é tempo de pararmos de transformar sexual, minhas companhias e coisas fonte do FBI, segundo a qual nunca P — A equipe?
em heróis nacionais homens que rou- pessoais, mas parecia que eles não esta- houve qualquer prova concreta, apenas R - A equipe de Watergate. Eles
bam segredos e entregam à imprensa". vam usando isso. Estávamos sempre es- um "vago rumor" flutuando por aí. foram informados que eu era homosse-
Os prisioneiros de guerra lançaram-se a perando pelo ataque desse lado. Desde o início, minha suspeita foi, e xual, que tinha sido forçado, por chan-
seus pés e começaram a apláudi-lo fu- Agora sabemos que, quando os ainda é, de que nada chegou jamais à tagem, a entregar os Documentos à
riosamente. Dava uma sensação lúgu- invasores foram pegos em Watergate, Embaixada Soviética; mas se me per- Embaixada Russa.
bre ver o presidente apelando em tais todos os que estavam ligados àquilo gunto quem teria motivo para mandar Bem, logo que ouvi isso, pude
termos para esse grupo, os homens que compreenderam que, mais cedo ou os Documentos do Pentágono aos rus- perceber qual o sentido. Suas mentes ^

Ladrão: A calça Levfs ou a vida!

Levrs I Rapaz: ?...?...?...?...?...


Conselho: Dê a calça Levfs que na
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são orientadas para a chantagem em táticas insurrecionais. O FBI parecia mais íntimos tinham em mente - quer do Estado. Em outras palavras, quem
todos os casos. não estar mais atrás de mim, por isso fossem ou não totalmente conscientes faz o rei e a quem ele serve?
P - Desde o momento em que voltei para a Rand, escrevendo o estu- disso — era uma mudança bastante ra-
Mas outra razão pela qual eu gos-
você foi identificado, parece que os do até 30 de junho. dical em nossa forma de governo. Nós
tava da palavra "monarquia" e falava
ataques contra você vieram diretamen- Na última semana do julgamento, sabemos, é claro, que Nixon tinha cer-
de um golpe do Executivo, é que sem-
te da Casa Branca. Certo? para nossa surpresa, descobrimos que o tas metas para a Corte Suprema. E em-
pre questionei o ponto de vista que
R - Cheguei à conclusão de que FBI tinha estado na Rand em 1970; e bora possa não ter examinado as impli-
atribuía todo poder e influência ao
esse processo era uma decisão da Casa tinha falado sobre a informação de que cações dessas metas, ele estava de fato
Pentágono. Uma crença muito comum
Branca, porque não tinha precedentes eu copiara documentos Top Secret. A castrando a Corte e eliminando-a como
é a de que o pessoal do Pentágono está
em termos legais. Isso levantou ques- Rand imediatamente identificou: eram poder independente. O Congresso já ti-
no controle; eles dirigem a guerra, eles
tões*Sobre qual era o objetivo real. os Documentos do Pentágono. nha aceitado aquela função passiva, e
escalam a guerra. Os riscos vêm dos mi-
Nossa primeira idéia foi que eu Agora, esse maço de papéis estava ele fez o que podia para mantê-lo em
litares. Acabei concluindo, pelo con-
tinha sido indiciado simplesmente em meu cofre, de modo que é claro seu lugar. Assim, ele se orientava
trário, que os militares não predomi-
porque tinha divulgado milhares de pá- que a partir desse momento o FBI es- muito claramente para ser o único do
naram em nossa orientação de política
ginas de informações Top Secret. Mas, tava em condições de examiná-lo. Su- governo.
de guerra.
quanto mais examinávamos a legisla- ponho que ele examinou. Além disso, agora que sabemos de
Os Documentos do Pentágono
ção antiga e a atual, mais claro ficava Por isso foi muito interessante sa- seu plano de inteligência interna, ele se
mostram, inequivocamente, que todos
que nenhuma lei tinha sido violada. Se ber que, exatamente no mesmo mês orientava rapidamente para um gover-
os presidentes seguiram políticas dife-
não houvesse modo de provar a inte- em que o presidente pedia que Tom no de tipo realmente mais autoritário.
rentes das que lhe eram propostas pe-
ção de prejudicar os interesses dos Es- Huston elaborasse um plano de inteli- Acho que podemos dizer — de- los militares. E tomavam orientações
tados Unidos, ou de ajudar uma potên- gência interna e passava por cima de pois dos depoimentos espantosamente que os militares diziam energicamente
cia estrangeira, não poderia haver pro- todos os departamentos de inteligên- detalhados que ouvimos, e depois dos que não funcionariam.
cesso no quadro da Lei de Espiona- cia, o FBI tomava conhecimento da memos que seus auxiliares escreviam
Assim, a responsabilidade pelos
gem. E no que diz respeito a copiar, maior revelação de informações secre- uns para os outros — que Nixon e seus
acontecimentos cabe particularmente
•transferir informação, não se está sujei- tas da história. É inconcebível que o auxiliares têm um conjunto de valores
aos próprios presidentes; e a pressão
to a processo por roubo. presidente não tenha sido informado. políticos que não são universalmente
sobre eles a favor da escalada veio
Cada vez mais a questão principal partilhados pelos políticos americanos;
P — Então você acha que ele deli- tanto de civis quanto de militares.
para nós se tornou por que o processo que eles têm muito pouca compreen-
beradamente deixou que você fizesse a P — O que você acha que vai
foi iniciado? Nossa principal suposi- são e simpatia pelos valores democrá-
coisa? acontecer se Nixon não sofrer o im-
ção era a de que eles tentavam conse- ticos.
R — Eu realmente não sei; encaro peachment, se não renunciar?
guir, através de minha condenação, o Quando Nixon começou a pren-
isso como um verdadeiro mistério. R — Isso depende das circunstân-
equivalente a uma Lei dos Segredos der verbas e a assumir o controle de
O FBI obviamente sabia de todos cias. Se significa que o povo voltou a
Oficiais (como na Inglaterra), que eles todo o processo orçamentário, tirou
os fatos relevantes. De todos os fatos atenção para outro programa de TV e
não conseguiam do Congresso, graças à do Congresso o único poder que lhe
pelos quais eu estava sendo indiciado, simplesmente ficou cheio, decide que
Primeira Emenda. Eu ainda acho que restava. Ele não só mudou a composi-
um ano antes que eu fosse indiciado. depois de tudo não era tão mal... en-
isso era parte de seu raciocínio. ção da Corte Suprema, mas revelou pu-
Assim, a partir do momento em que tão, é claro, a situação será pior do qüe
P - Que mais tentaram contra blicamente que vai ignorar suas deci- antes. Teremos ido para muito longe
eles leram aquelas manchetes no New
sua reputação? sões. da democracia.
York Times, não pode ter passado uma
R - Nós soubemos, através da re- O senador Harold Hughes me Mas pense na situação um mo-
hora até o pessoal de cima saber o que
vista Times, e depois através de teste- disse em 1971: " O que faz você achar mento. Se não houver mais nenhuma
tinha sido revelado; o que tinha sido
munho, que a equipe de Watergate foi que o presidente pararia com os bom- prova além das que existem agora,
copiado; que estudo era; quando fiz
enviada para me atacar nos degráus do bardeios, se cortássemos suas verbas? " ainda haverá o suficiente para indiciar
aquilo; como fiz aquilo.
Capitólio, em maio de 1972. Os cuba- Em outras palavras, o Congresso tinha o presidente.
nos-americanos testemunharam que Tudo isso tem que ser visto no uma forte suspeita de que já tinha per-
contexto de que " . . . nós temos de Ao contrário do que acontece
foram levados de Miami, recrutados e dido seu poder sobre verbas, e sobre a
criar uma unidade especial na Casa quando o presidente desrespeita "leis
pagos por Baker, que tinha recebido guerra e a paz, e simplesmente estava
Branca, para realizar uma investiga- internacionais", no plano interno todo
dinheiro de Liddy. São os famosos 114 adiando o momento em que isso fosse
ção". . . Investigação de que? Era uma o mundo sabe que existem leis que
mil dólares na conta de Baker. Mostra- notado publicamente. Dizer isso é
coisa que eles já sabiam fazia 12 meses. precisam ser cumpridas, e há uma má-
ram-lhes uma fotografia minha e disse- dizer, com todos os seus aspectos subs- quina para garantir seu cumprimento,
ram: "Este é o alvo", conforme o tes- P — O que mais você acha? tanciais, que o golpe já tinha ocorrido. e um principio que deve ser aplicado,
temunho, "vocês têm de esmurrá-lo no R — Vou fazer uma suposição P — Então como você descreveria mesmo ao presidente. Essas declara-
nariz, chamá-lo de traidor e ir embo- sobre a razão pela qual o FBI não veio Nixon e seus auxiliares? ções que o presidente anda fazendo -
ra." a mim imediatamente. Minha suposi-
R — Eles trabalharam com ener- que não é obrigado a fornecer do-
Eu tinha decidido participar dessa ção se baseia no livro de Evans e No-
gia para mudar rapidamente o estado cumentos ao tribunal, e assim por
concentração por causa do bombar- vak, "Nixon in the White House", que
atual das coisas, o que poderia poste- diante - não estão funcionando. Acho
deio de Haiphong. Nós temos uma fita descreve a campanha eleitoral para o
riormente ser reconhecido como fascis- que o povo percebe que ele está escre-
de meu discurso, e você pode ouvir Congresso em 1970, na qual Nixon se
mo. Obviamente, não se aceitaria esse vendo uma nova constituição à medida
pessoas gritando "traidor", no fundo. meteu.
nome. Posso dizer que, falando publi- em que avança. E que ela é diferente
Posteriormente, soube que alguns ho- A lista original de inimigos era camente, usei durante alguns anos a da que nós temos. g
mens tinham tentado chegar até mim. formada por republicanos renegados, expressão "forma monárquica de go-
Mas que tinham sido impedidos pelos que deixavam todo o pessoal da Casa verno".
jovens que estavam atrás do palanque. Branca louco, especialmente Nixon. E
A palavra "monarquia" não só é
Eles foram pegos pela polícia quando na cabeça da lista estava o senador
nova nesse sentido, mas também con-
começou o tumulto, e então, as teste- Charles Goodell. Nixon, aparentemen-
tém grande parte do que quero mos-
munhas concordaram, um homem de te, estava decidido a pegá-lo de jeito. O
trar - uma inclinação para o poder
temo cinza fez um sinal e a polícia os relatório inicial do FBI estava incorre-
executivo sem controle, em que o úni-
soltou. to num ponto: afirmava que eu tinha
co homem no alto tem o poder domi-
dado os Documentos a Goodell. Isso
P - Quando você deixou seu em- nante e é inevitavelmente cercado de
deve ter excitado o pessoal da Casa
prego na Rand? pessoas que, como cortesãos, depen-
Branca, porque eles tinham uma chan-
R - No meio de abril de 1970. dem apenas de seu favor e boa-vontade
ce de dar uma paulada em Goodell,
Deixe-me falar de algo que ainda é um para terem o poder delas; elas compe-
acusando-o de espionagem. E é muito
mistério. Em abril de 70, o FBI soube tem para dizer-lhe o que ele quer ouvir
sintomático que a lista de inimigos
de alguma coisa. Tinha começado a co- e fazer o que ele quer que seja feito,
continha Halperin, Clifford, MacNama-
piar os documentos em 30 de setem- independentemente da lei ou da reali-
ra, eu. Em outras palavras, todo mun-
bro de 1969. Dei um maço deles a Ful- dade.
do ligado aos Documentos do Pentágo-
bright, (o senador) em novembro. Na A imagem do presidente como
no: em vez de perseguir a frágil esquer-
primavera de 70, minha ex-mulher me um monarca entrou na consciência
da radical, estavam atrás do
telefonou para dizer que o FBI a tinha americana até certo ponto - graças
establishement liberal
procurado para perguntar sobre do- principalmente a Watergate e, em grau
cumentos secretos que eu tinha copia- P — Então você acha que havia menor, aos documentos do Pentágono.
do. Demiti-me da Rand menos de 24 uma operação para silenciar toda a É um grande passo à frente. Entretan-
horas depois. Mas o FBI não veio oposição, e não os radicais apenas? to, não levanta as questões extrema-
Fiquei longe durante um mês; então a R - Tenho um sentimento cada mente controvertidas e energicamente
Rand, parecia interessada em me ter de vez maior de que Nixon pensava mais defendidas, de quais interesses econô-
volta para acabar um documento sobre longe. O que ele e seus companheiros micos estão entrelaçados com o poder
O livro Novas Cartas Portu-
guesas apareceu em Portugal no
segundo semestre de 1972. Muito
antes da Revolução dos Capitães
que derrubou o regime de Mar-
celo Caetano. As três autoras-
marias — Maria Teresa Horta
(poetisa), Maria Velho da Costa e
Maria Isabel Barreno (romancis-
tas) — foram processadas e presas
(uma delas ficou tuberculosa nas
prisões da PI DE), porque tiveram
a sem cerimônia, a liberdade, a
coragem de fazer um retrato da
mulher portuguesa sob o regime
salazarista.
As Três-Marias partiram das
cartas de certa Soror Mariana do
Alcoforado, apaixonada pelo
fidalgo francês Conde de Cha-
milly, reunidas no livro "Cartas
de Portugal", no século passado.
Maria Velho da Costa Maria Isabel Barre no Maria Teresa Horta A Soror Mariana das Três-Marias,
no desenrolar de Novas Cartas
Portuguesas, se subdividem e se
transformam em todas as mulheJ
res portuguesas.
O livro é uma colagem-
denúncia, que retoma a tradição
realista da literatura portuguesa.
Feminista, político, sexy. Um li-
vro essencialmente de ooragem.
Trechos do livro Novas Cartas mos na recusa e menstruo será o estigma que partes de ti, a ti por essa causa e de mim no
eles tomam por feminina causa de nos exi- contentamento de as ter, me comprazer com
Portuguesas de Maria Isabel Bar- girem a vontade e silenciarem o gesto com elas".
reno, Maria Teresa Horta e Maria que nos despimos ou negamos para nosso
E como Soror Mariana, talvez até diga-
Velho da Costa - Editorial Futu- próprio proveito e palavra dada ã nós mes-
mos: "que seria de mim sem tanto ódio e
ra, Lisboa, 1974. mas.
tanto amor ( . . . )". Porém, nunca de pena
Direito conquistámos, também, de esco- mas prazer nos ficamos, irmãs, sem ser por
lher vingança, já que vingança se exerce no nostalgia, ou crença. Pois clausura rompe-
amor e amor nos é dado de uso: usar o amor mos, já rompemos.
com as ancas, as pernas longas que sabem,
Que seria de nós sem tanto amor, — pelo
cumprem bem o exercício que se espera de-
puro desprazer que isso nos daria. Carta de uma mulher de nome Maria
las.
E eis novamente em tema o exercício, Ana, da aldeia de Carvalha!,
como se de paixão se tratasse e vingança
14/3/71 pertencente à freguesia de Oliveira de
fosse de amor uma das justiças. Para que o Fráguas do concelho de Albergar-
exercício da justiça nos coubesse ès três, ia-a-Velha, distrito de Aveiro, a seu
dado de amor, somente, talvez por defesa ou Conversa do Cavaleiro de Chamilly marido de nome Antônio, emigrado no
atenção a tudo. Canadá há doze anos, na cidade de KA
com Mariana Alcoforado timat, na Costa Oriental, frente às
Como Maina sagraremos "dessa crua dis-
tância, o direito ao absurdo dos demais e à maneira de saudade Ilhas da Rainha Carlota e perto ^a
seu", ~ fronteira do Alaska
Primeira Carta I - De vossos peitos
Saciadas estaremos algum dia. — Per- Carvalhal, sexta feira da paixão do se-
senhora
gunto: daquela voraz saciedade em que nos nhor do ano de mil novecentos e setenta e
Pois que toda a literatura é uma longa estou de vós lembrado
pomos? — Desembuçadas iremos, embora u m . Meu querido e nunca esquecido
carta ji um interlocutor invisível, presente, saibamos que isso nos arrasta às ameaças, ao
- De tua boca em tê-los Antônio aproveito a passagem de hoje com
possível ou futura paixão que liquidamos, simples maldizer aceso com a madeira dos
e o medo os nossos da nossa prima Luísa que me faz o
alimentamos ou procuramos. E já foi dito usos e da raiva.
de perdê-los favor de ter esta escrita para te escrever que
que não interessa tanto o objeto, apenas pre-
O que nos restará então de nós depois a falta das tuas é muita. Olha Antônio há
texto, mas antes a paixão; e eu acrescento
desta aventura? - - D e vosso ventre dois anos qua não vens a ver da gente e isto
que não interessa tanto a paixão, apenas pre-
A freio nos quererão domar e a rédea senhora só dá fm piorar se bem que não nos faltes
texto, mas antes o seu exercício.
curta. Mas de onde nossa mãe dormia não estou de vós lembrado dos dinheíros que o nosso Jorge alevanta em

«
Não.será portanto necessário perguntar- Aveiro a saber todos os meses e que deus
nos vem sequer a fímbria desse susto; outras
mo-nos se o que nos junta é paixão comum nosso senhor te pague o esforçado que tens
roupas costuramos para nossa alegria e aban-
de exercícios diferentes, ou exercício - De teu leite cheio
dono. Que o abandono é outro pressuposto, sido que os teus filhos e eu bem to agradece-
comum de paixões diferentes. Porque só nos e chama
costume ou uso em roca onde se fia o gosto. mos que outros aí se ajeitam e só mandam o
perguntaremos então qual o modo do nosso tão acesa em sê-lo
Deste modo vamos construindo um azu- de menos que as terras que a gente tem por-
exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem demais que eu tenteie e ponha ainda mais o
lejo: painel. Carta por carta ou palavra escri- - De vossas coxas
dúvida que nostalgia é também uma forma da Amélia que quando não está grosso ainda
ta, volátil, entregue. A nós principalmente, senhora
de vingança, e vingança uma forma de nos- amanhã só dão silvas e caimão por causada
depois a eles; a quem nos quiser ler mesmo estou de vós lembrado
talgia; em ambos os casos procuramos o que podridão das águas do Caima que cá viste
com raiva. E nunca o amor foi tão inven-
não nos faria recuar; o que não nos faria deitarem tudo a perder dos peixes e feijão
tado, logo verdadeiro: • De te serem
destruir. Mas não deixa a paixão de ser a nem falar e assim os gastos são todos para
"este prazer que abraço se te abraço e os tidas
força e o exercício o seu sentido. fora, por mor da fábrica de papel que inda é
teus dedos, devagar, me vão correr nos tra- se queixam desvalidas
Só de nostalgias faremos uma irmandade o que dá que fazer a quem cá fica até às
ços, nas coxas, pelos seios. — A que tontura
e um convento, Soror Mariana das cinco car- sortes que depois tu sabes que o nosso Júlio
me entrego e me demoro. Em que grito ras- - De vossas artes
tas. Só de vinganças, faremos um Outubro, já anda apalaviter-se para a França, tu vê se
gado me debato e cresço, me acrescento e senhora
um Maio, e novo mês para cobrir o calen- lhe escreves a desenganá-lo antes no quero à-
cresço, me enlouqueço e basto; ou não me estou de vós lembrado
dário. E de nós, o que faremos? tua beira que a lonjura é maior e essas frial-
basto e por isso te invento, reinvento, te
faço, te desfaço em meu sustento. dades que tu cá contaste mas é outro asseio
1/2/71 - De ti roubada
Atenta, pois, nisto: o perigo de nos que- que lá na França que só me chegam notícias
nelas
rermos ou nos negarmos. Tu homem dono de desgraças com mulheres e desleixo nas
por mim tomada delas
que me cavalga ou o pretende e eu que te casas que lá tem e os dinheíros que é uma
Primeira Carta II pareço seguir nesse jogo, consentir nele, ralação para no trazerem. O peixe anda todo
porém, na realidade recusando-o, caminhan- morto pelo Caima abaixo e nem a roupa se
De vosso gemido
"Venceste" —, digo Logo sou eu que te do já em labirintos, outros, em verões tórri- lá pode corar por mor do fedor que nem os
venço e tu perdes, pois confiado na vitória dos, por certo, mas meus trajectos. senhora animais se lá chegam a bebêla. Todos aqui e
esqueces a vigilância sobre mim, que te exa- Porque só de minha posse na verdade te estou de vós lembrado o priòr novo que me veio de bênção me per-
mino. importas: eu tua terra, colônia, tua árvore- guntam de ti e^eu não me vou queixar que
Friamente? sombra-programada para acalmar sentidos. De prazer o grito o aconchego que me pões cala-me a boca e
Que outra maneira tenho de examinar as Também em ti me queres de clausura: tu menor só te digo estas por ser a mão da LUÍsa mas
coisas, os outros: com toda a minha paixão? próprio meu convento, minha única ambi- que o meu gemido se me deixas sem as faltas e misérias que por
Aquela alimentada pelo simples prazer ou ção, afinal meu único deserto" aqui tantas as há e até com que lhes acuda £
dor que me dá senti-la. — Assim te procuro, "Venceste"' —, digo, e tu pensas: venci, De vosso orgasmo disso me agrandeça dos respeitos que me
te uso, te escrevo; pOrém as palavras não são mas estás vencido. — Minha lenta viração de senhora dão é como se andara a penar de viúva que
elos, nem pontes, nem laços a desatar na nada, te acrescento carta a carta. Tentando estou de vós lembrado vou este ano em trinta e oito anos e dei-te
solidão das salas. perceber de nós três todo e qualquer seqües- três filhos antes de abalares e que agora de
Em salas nos queriam às três, atentas, tro, da sua motivação como projecto de pai- De teu corpo criados nunca te deitei manchas nas ausên-
a bordarmos os dias com muitos silêncios de xão ou já paixão em si mesmo. Assim, o campo cias e quando foram aqueles choros de aba-
hábito, muito meigas falas e atitudes. Mas penso, estamos nós três neste dar de mãos, do meu corpo o canto lares outra vez deste-me palavra de eu haver
tanto faz aqui ou em Beja a clausura, que a nesta entrega, nesta independência nossa. de ir-me a juntar-me a ti nessas terras que eu
ela nos negamos, nos vamos de manso ou de Nos procuramos, vos procuramos-enten* De vossa língua não sou mulher de medo às friuras nem às
arremesso súbito rasgando as vestes e mon- der porquê. Quem sabe que desmesurado an- senhora lidas e depois mandaste por escrita que espe-
tando a vida como se machos fôramos — seio este, se temos não mais que.um luxo, estou de vós lembrado rasse teres que bastasse para a riqueza dos
dizem. um acinte, uma avidez: - - filhos e estares de volta maior que os mais
Oe imediato então nos querem tomar "pelo corpo deixo que a paixão me tome: o Na tua boca o suco daqui. Mas olha Antônio de que me serve
pela cintura, em alvos lençóis de cama se corpo ele próprio já essa paixão ou objecto no teu membro vires daí um senhor e a gente estar de gastos
necessário, e filhos. Que mãos nos galgam as dela, sua raiz, sua motivação, seu ócio. — o espanto e sem serventia lixo rico como o do Caima e
carnes a fim de retomarem a posse, impon- Como não recordar tuas ancas estreitas e o Jorge já lá é espesializado e vão-no mandar
do-nos matriz de dono, porque dano causa- jamais te dizer paixão por elas? Assim, amo 9/4/71 a estudos e o Júlio de partida para a guerra •
sabe deus o que me rala as entranhas isso na lhadas, estreitando-se do largo dos ombros da larga, trabalhada; os cortinados assim velha, com quem se entende muito bem des-
tua falta mais os perigos dessa friura nessas até à anca com a rectidão da pedra talhada, como os lençóis, de branda fragância suspen- de sempre.
serrações tu que não ás homem de te cobri- mas de braço a braço a curva bombeada, alta sa; os cortinados assim como a casa, de Estes dados tal como os que se seguem,
e suave, que a meio se cava bruscamente macia transparência a delinear a nudez, a de- s3ó importantes, na medida em que podem
res com termos e deus permita que esteja em
como o leito dum rio, e movendo-se ainda o linear as ancas. As pernas longas, pálidas, vir a esclarecer o estado mental da doente,
condições a camisola de lã que te mandei osso da anca, delicado, anguloso, saliente
que já nem te sei as medidas do corpo e as tensas, vergam-se ao de leve, mas logo se fir- ou as causas que a levaram ao acto que pra-
agora de sua habitual discrição no corpo que
tirei pelo Júlio vê-me lá bem o corpo que ele mam a agüentar do corpo o peso; as ilhargas ticou, acrescentando-se desde já, nunca Ma-
repousa de lado e se debruça, leve, cavando
já deitou. E agora mais a nossa Cândida de um pouco a cintura, escondendo o ventre e quentes, secas, lentas; a'cintura recurvada riana A. ter dado, segundo a família e atesta-
professora nas freiras em Aveiro que a que- a densa doçura dos pêlos mornos, e um aos dedos, a toda a violência. dos médicos, sintomas de alienação, ou ten-
rem para noviça e que anda nuns choros que pouco o sexo, alteando o redondo — no E brandos são os pés agora no lajedo dência para aberrações sexuais. Tendo desde
eu sei lá já coisas de mulher por causa do entanto severo, cinzelado — das duas náde- aceso do terraço, sob o sol. Brandos no pas- criança uma cuidada e rígida educação cató-
filho do Mourinhas que também está na gas estreitas, aparecendo depois o sexo entre so incerto, breve. Sereno o movimento pos- lica, fez seus estudos em colégios de freiras,
as duas pernas que se abrem, uma estendida to de vidro no gesto cauto, vigilante. cumprindo sempre com a rígida moral lá es-
África e que não lhe dá novas nem manda-
sobre a cama e a outra levemente flectida, tabelecida. No entanto, a meio da tarde do
dos, tal como a ti e ela está lá em Aveiro de esvaindo-se a coxa da anca alteada até à Largo o risco traçado pela sombra que o
casa posta com a madrinha e de boas roupas corpo projecta, remove, doma, cresce e flo- dia 16 do mês de Abril do corrente ano,
cama, onde o joelho pousa, e aí segue a per-
e bragal com o dinheiro que tu mandas. E já resce na própria sombra. Enquanto Maria Mariana A., deu entrada de urgência neste
na tão abandonada no lençol que quase o
que esta é por mão da Luísa que lhe quero fere com seu peso, e entre as coxas, renas- agora desce novamente, transpõe o perigo hospital, acopulada com um cão. A doente
como se irmã fôra também te digo que de cendo da sombra do ventre escondido, e que dos outros e desce ainda, no bosque que tão que se encontrava em estado de histeria, era
asseada e composta como me trazes de longe se estende como savana cálida, que em si bem conhece, embora lá nunca tenha na rea- acompanhada pelos sogros qüe prestaram as
não me faltam cortesias e maus pensares que retém o amarelo da luz, na curva nascente lidade ido. Que meigas folhas a roçar os lá- seguintes declarações:
das nádegas, nas coxas, nas pernas, entre as
aiiíoa sei luzir apesar de gasta e roída de bios, os seios na terra onde pernoita o "Estávamos a repousar depois do almo-
coxas e o seu sexo, os dois pequenos pomos
saudades porque mulher sem homem é cuja firmeza se desenha na pele branda e a tempo, o corpo recolhido, acolhido na erva, ço, quando ouvimos gritos e choros vindos
como terra baldia e forno de pão a atumiar corola recolhida de seu pênis adormecido. à mistura com o sabor ácido do rio. Maria do quarto da nossa nora. Quando consegui-
sem préstimo. Cá me vou rendrthando e alirv fecha os olhos e sabe que adormece, ali tão a mos abrir a porta, não entendemos logo o
dando a casa para a tua volta que nem sei se 18/5/71 resguardo, tão tranqüila, tão esquecida de que se passava, imaginando primeiro que
hê-de ser que o pouco que me mandas dizer tudo, tão desarmada, os joelhos erguidos, Mariana estivesse a ser atacada pelo animal e
é sempre das tuas afadigas e ganhos e de junto è boca, como nela estivera já a filha corremos para a ajudar, então . . . bem, não
lembrança só a aflição em que te vi de me quisemos acreditar, percebe, ela era tão sos-
Alba
largares e o bom aconchego que me deste já Querida Mãe: segadinha, tão ajuizada, sempre fechada em
fez dois anos por Março e a gente parecia casa a escrever ao marido! Nós até'lhe dizía-
Maria atira para trás o lençol, devagar: Mando-lhe a Ana que aqui não pode con-
outra vez de noivos e remoçados que inda mos que devia sair connosco para apanhar
o calor do quarto empasta-lhe os cabelos tinuar. Tõme conta dela, distraindo-a do que
hoje mo gabam não sei se de nos terem em um pouco de ar . . . Claro que nunca a dei-
num brando suor, às têmporas, ao pescoço, por cá se passou e ela viu.
estimação se de me enjeitarem estes bens xaríamos sair sozinha ou mesmo com
aos ombros, sobre a almofada; volta-se, Maria parece ter enlouquecido (poucas
que só ganho de te ter longe e quem sabe se alguma amiga, aliás ela não chegou a fazer
consciente do silêncio da casa, do jardim esperanças de curá-la nos dão os médicos) e
me deitas a perder que eu não te quero de
imenso. O terrível silêncio do bosque: amigas em Lisboa, o nosso filho era muito
volta para me veres as brancas e a ruindade o Francisco nega-se à verdade, os dias meti-
metido consigo, gostava só de se dar com
de velha e os modos de viúva rica por mor " O bosque com as suas lenas sombras, as do no quarto dela, onde se fica em silêncio a
pessoas que conhecesse bem, em tudo que
de ti. Adeus, Antônio, Deus te guarde bem suas ternas saliências, o seu verde húmido de olhá-la como se a quisesse despertar para a
dizia respeito à mulher, então, era bastante
que hoje é o dia da sua agonia de todos os ãgua; dunas. As suas dunas de pássaros ador- vida.
esquisito, mas ela até parecia gostar disso.
males que não te esqueças de cobrir a cabeça mecidos. A sua dormência uterina, a sua vo- Ralo-me por ele, no entanto não te pre-
Muito ensimesmada desde que o nosso
por mor desses toros grandes que me falaste ragem quase monstruosa onde mergulharia, ocupes de mais, que eu me encarregarei de o
Antônio foi para África, não dormia de noi-
e que te agasaihes e que não bebas mais que se envolveria, despida de si por completo. convencer (conheço meu irmão) a internar
te, nem se alimentava o suficiente, estáva-
o que te carece por mor dessas neves. Muitas — Mas que bosque, Maria, que loucura Maria numa clínica.
mos até para a levar ao médico".
recomendações da Lufsa e os teus filhos pe- que invenção? — diz ele enquanto a acari- Não fales à Ana, da mãe, é preferível que
cia, lhe beija os peitos soltos sob o fato, não comece já, a esquecê-la, pois melhor seria Mariana A., durante os primeiros dias re-
dem-te a benção e muitos beijos desta tua
querendo ou podendo reparar-lhe no vazio não lembrá-la nunca como sempre foi. cusou-se a fazer quaisquer declarações, cho-
mulher que te traz na alma e no coração
dos olhos, no crispado dos lábios, na indi- Bem sabes que jamais previ algo de bom rando, gritando quando não estava sob o
para sempre e tinha feito um folar de seis
ferença dos braços. No medo crescente, deste casamento. Mas agora que aqui estou, efeito de hipnóticos. Em seguida caiu num
ovos porque nunca sei quando pode ser a
todos os dias maior, possessivo, envolvente, tudo se arranjará e há-de voltar a dantes. mutismo que parecia não ceder aos trata-
tua chegada e como da outra vez foi pelas
radical, por dentro das pupilas verdes, tolda- De volta espero levar-te o Francisco. Pro- mentos a que era sujeita. Hoje já presta de-
festas e sem nenhum aviso, e beijo-te de
das; um verde cinzento já sem transparên- meto-te. Entretanto vou dando notícias. clarações, recusando-se no entanto a falar do
todo o meu coração, desta tua mulher para
cias. Beijo-te afectuosamente. Tua filha dedi- que a levou a cometer o acto que a fez ser
todo o sempre, Maria Ana.
Uma manhã em que Ana se lhe demorou cada, Mariana internada, não querendo igualmente refe-
mais no colo, disse baixo, como se fosse um rir-se ao marido, nem ao seu casamento.
10/4/71
segredo entre as duas: 9/4/71 Caso se insista, parece deixar de ouvir, os
olhos fitos num ponto fixo, assim podendo
— "Anda minha filha, vamos para o bos-
ficar horas. Comunicando-nos as enfermeiras
que". que Mariana A. monologava bastantes vezes
O Corpo Depois riu-se, baixo, e correu as mãos Relatório Médico-Psiquiàtrico
alto quando se julgava sozinha no quarto,
pelo rosto, indo encostar a testa nos vidros sobre o estado mental de Mariana A. recorreu-se a gravações. Transcrevemos
Ali estava o seu corpo adormecido, ani-
nhado no seu descanso, tão quieto, tão pre- mornos da janela que dava para o jardim adiante uma das que nos pareceu maior in-
sente na luz amarelada, definindo-se por seu imenso com as suas dálias, os seus crisân- O Conselho Médico-Psiquiàtrico do
teresse:
peso e por aquele estar quieto, todo tomado temos, os seus alucinantes malmequeres hospital de ( . . . ) foi incumbido de exami-
de luz, sem contorno que separasse corpo e nar o estado mental de Mariana A., que deu "Tu nunca percebeste nunca. A minha
amarelos, a perder de vista.
luz, os músculos lisos debaixo da pele, tão entrada na tarde de 16 de Agosto do ano de mãe dizia é pecado a carne é luxúria e mes-
— Que bosque, Maria? Mas que bos- mo contigo o era. Foste sempre uma prisão
escorridos na presença quieta, quase diluí- ( . . . ), neste hospital onde ficou internada.
dos, ninho de seu próprio descanso, prolon- que . . . que caminho? Ali % o portão, de- alguma vez pensaste em me ouvir? E agora
pois as casas, as pessoas, Maria; masque bos- Mariana A „ de 25 anos de idade, casada,
gando os lençóis desfeitos e suas curvas frou- longe estes anos todos. Anos e anos e eu que
que estás sempre a inventar, que domínio, naçceu em Beja e vive em Lisboa há cerca de
xas de fadiga, e a cova morna do colchão, e fazia? Que fazia desses dias de todo esse
a luz quieta e densa como pele amarela so- 3 anos. Sabe-se que o pai se suicidou e a
que bosque, meu amor; que rio, que desati- tempo em que a única luz seriam as tuas
bre a outra, enchendo o quarto até o tecto e mãe, senhora muito religiosa e austera, tem
no? cartas onde tudo me explicavas em por-
às paredes, absorvendo em si, como corpos hoje 50 anos. Deste casamento nasceram
Maria atira para trás o lençol de linho menor te gabavas de coragem feitos de
amáveis naquele sono, o candeeiro e a mesa três filhos: duas raparigas e um rapaz, viven-
branco, devagar; o calor da tarde agarre- armas riSfco e das lutas que para ti são já
baixa e os livros e as roupas, todo o quarto do a rapariga mais velha e ainda solteira com
se-lhe à pele, ao sono mal desfeito ainda, ao divertimentos um jogo ou como se em caça-
feito camadas sucessivas de luz e substância a mãe. A doente, até há três anos, mais pre-
variada rodeando o centro, núcleo de respi- corpo que a camisa de noite, de tom rosado, das se tornassem elas. Daí a fotografia que
dormente, exibe mais do que se estivesse nu. cisamente até 20 de Maio de ( . . ) data do
rar muito brando, e a tudo se propagando seu casamento com Antônio C., hoje em ser- me enviaste onde apareces sorrindo e os teus
esse único e muito brando movimento, a pe- Maria sai da cama, escorrega para o chão pais mandaram encaixilhar e está na sala em
as pernas altas, levanta os braços e despe-se, viço de soberania no Ultramar, vivera tam-
le doirada estendendo-se um pouco, no pei- cima do piano. É luxúria dizia minha mãe é
to alto, de curva possante e com os seus entontecida, numa leve, leve tontura ou náu- bém na casa materna. Segundo suas próprias
informações, dava-se ela muito mal com a pecado a carne e mesmo contigo eu sentia
mamilos quase rosados, e as costas moven- sea a tomar conta de si . . . De pé, espera
progenitora, preferindo esta claramente os que o era quando gozava e só eu sei como
do-se também com a mesma unida e certa um breve segunda antes de contornar a
ondulação da água mansa, as costas bem ta- outros dois filhos, em especial a filha mais me tentava retrair. E depois todos estes anos
cama, afastar os cortinados brancos, na ren-
a pesarem-me no ventre todos estes pensa- interrogatórios sobre a sua vida toca, a sua pois todos se vão a elas. Algumas são por sob o vosso poder me internarem aqui, onde
mentos estes desejos estas idéias a tua mãe a vida toda, os seus passos, as suas conversas, sinal muito boas as gajas com as mamas agora me vieram procurar para perdoar-te o
vigiar-me o teu pai a ler o que eu te escrevia até os seus olhares, em tudo era posta sus- direitas assim nuas e às vezes a gente fica tão "castigo" que me destes . . .
e o que tu me mandavas dizer. E tu como peita de conspirações e crimes, e ele saltou doido que não se interessa do cheiro ou da Castigo? Mas que castigo merecia eu?
ama prisão sempre como uma prisão e eu a do catre com as suas botas pesadas, e come- cor delas . . . que somos todos iguais . . . Acaso será a mulher obrigada a suportar
çou a dar-lhe pontapés meticulosamente, bem sei . . . mas faz-me impressão e fico cá a um homem todas as humilhações só
:riar-te horror a criar-te todo este asco todo
primeiro nas canelas, depois nas coxas, de- a remoer depois de me pôr nelas estes pen- porque ele é marido: dono, senhor? Acaso o
este enorme medo". pois no sexo, as botas subindo sempre, à samentos . . . Então os tiros a modos que se nascer mulher significa ser-se infeliz e
medida que o seu corpo se dobrava, se cur- dão comigo em maluco e só tenho ganas de agüentar uma carga que ultrapassa a sua
Resumo: vava, se enrodilháva, subindo também aque- fugir e assim cada vez me agacho mais e se te capacidade de carrego?
1? o — Mariana A. não é alienada. le ardor, aquele abrir da carne a medusas estou a desabafar dos meus fundos é porque Enganaram-se, de minha boca nunca
2? — Não apresenta qualquer indício de ácidas que se instalavam estendendo uma não posso deixar de te escrever estas linhas e ouvirás uma palavra que em alguma coisa se
rede de qujmaduras que alastravam como não só pelas nossas combinações mas tam- possa aproximar do perdão. Pelo contrário:
tara sexual.
tentáculos, e do meio dessa ferida na carne bém por mor da tua irmã Joana. até á morte e mesmo depois dela, seguir-te-á
3? — O acto que aqui a trouxe pode ser subindo um raio fino que vinha espetar-se na
atribuído apenas a um grave desequi- A rapariga põe-me o juízo a arder tem o meu ódio: pois não me condenaste para
cabeça, na nuca, atrás dos olhos, o seu corpo cabelo na venta o raio. Moída de orgulhos e todo o sempre a esta prisão onde me puse-
líbrio de ordem nervosa, cujas causas todo feito numa massa mole, desconhecida, teimosa como quê meteu-se-lhe na cabeça ram por louca?
devem ser aprofundadas a fim de se só a si ligada pela dor, e os pontapés subindo que não casa "6 melhor acabar com tudo" e E pode-se, mãe, pedir a lucidez de um
poder tentar curar adoente. sempre pela barriga, pelo peito, pelas costas, mais isto e mais aquilo a fazer-se senhora lá verdadeiro perdão, a uma demente?
pela cabeça, quando' esta roçou o chão já porque tem estudos e agora já não lhe sirvo Perdão de quê e porquê, afiAal? Não são
exausta, julgando-se no limite daquela que eu na altura disse à tua mãe minha
Hospital de ( . . . ), 30 deDezembro vocês normais e eu demente? Nàda terei,
decomposição interior, mas tudo foi ainda madrinha "ponha-a é na costura se tem
de ( . . . ). então, a perdoar-te, podes morrer com o
novo choque súbito, novo existir só por saúdes fracas e nasceu fina de mais para o meu ódio sem que isso te impressione sequer
fcquele partir e esmagar por dentro, com campo. Isso de estudos não me agrada". Mas como aliás tem sido teu hábito, não será
1/5/71 pontapés nos olhos, na boca, no nariz, até ela teimou e a fidalga D. Mariana toda finu- assim?
que deixou de ver, tudo foi escuro, e ali ras e falinhas doces a puxá-la lá para casa a- Sabe, no entanto, que se para me libertar
ficou no chão, inchando e sangrando. pòr-lhe laços e vestidos e dar-lhe livros . . . a me prendi entre estas grades, não me arre-
O Cárcere Quando voltou a si, julgou aihda ouvi-lo estragé-la a estragá-la que nunca mais foi a pendo . . . somente que imprudência a mi-
repetir "é isso que pensas, que te atreves a mesma E bem sabes que a gente éramos nha não contar com as vossas garras e o peso
Andava entre as quatro paredes, que dizer, é isso? ", som monótono que incan- conversados desde pequenos e agora se me das leis! Recusei-me a usar a astícia, única
tinham bolhas de salitre e grandes manchas tara a sua descida ao abismo. Mexeu a boca pôs a tua irmã a mandar cartas dessas de arma que se permite à mulher, usei antes da
acastanhadas, arrastando os pés nas lajes. devagar, junto ao chão, e pelo silvo soube acabar. lealdade numa luta onde só se apunhala pe-
Percorria aquele chão ao longo do dia, sem- que tinha dois dentes partidos, e lembrou-se Peço-te da minha parte que trates com las costas.'
pre e sempre, e também com as mãos e com de tudo, sim, porque dissera aquilo, lem- ela mas pelo jeito do bem que pelo mal já E mais uma vez falho, mãe, na guerra de
os joelhos, e o não levantar os pés era can- brou-se de quando o José fora preso e sova- sabes que não se leva a melhor com a Joana. nós duas, sei bem que jamais esta carta te
saço, mas mais ainda esforço desnecessário do, sovado na prisão, e como todos eles ti- Antônio segue esta carta pelas mãos do chegará às mãos . . .
num chão todo conhecido. nham protestado então, com alarido e com Manuel das Vinhas que aproveita combinar Mas que estranha certa para ser escrita
Num canto estava o pequeno fogarei- ódio aos polícias, e viera mesmo um senhor contigo a venda de uma propriedadezita de por uma louca, Antônio . . . não quererás tu
ro e a marmita amolgada, bens com muito com um papel para se assinar o nome a pro- que se quer desfazer. Agora que acabou com igualmente um dia o meu perdão? Nessa
esforço conseguidos. Na outra parede ficava testar, e o José ainda tinha feito qualquer as guerras diz ele querer acabar também com altura dar-te-ei todo o ódio, intacto e cheio,
o catre, com o enxergão duro e cheio de coisa, rixa, ou propaganda contra a polícia o amanho da terra. repleto de mais ódio, tal como agora o dou a
nós, tapado pelo único cobertor, esburaca- ou assim, mas por mim, senhores, não há Por hoje não te cheteio mais dá recomen- minha mãe a quem nunca lerás estas linhas
do, puído de tantas lavagens e relavagens, papéis nem zangas, e porque me trata ele dações à tua mãe minha madrinha e tu rece- mal traçadas pela minha mão desacostumada
agora outra vez cheio de nó do as, com pasta- assim, a mim, que lhe cozo as. batatas, que be um aperto de mão deste que se despede e ao hábito de segurar uma caneta.
das de terra seca e bosta agarradas, das suas lhe trato da roupa e que pari os seis filhos assina, José Maria. Nada te impede de me levares (eu sei) à
botas, pois ele quando vinha muitas vezes se que ele me fez? força, como me trouxeste, até junto da
sentava ali, resfastelado, juntando aos res- 18/5/71 cama dessa mulher para que ela me veja e na
tantes insultos o esfregar acintuoso das bo- 17/5/71 sua meia-morte entenda a minha presença
tas sujas nos buracos do cobertor. como de perdão. Então, podes estar certo,
Pouco mais havia naquele espaço estrei- Antônio, que ao lhe cuspir na cara estarei a
to, e dentro dele o seu cuidar e ocupar-se Carta de um homem chamado agradecer sinceramente a oportunidade que
com tudo e com nada, vai e vem de dia lento me deste de o poder fazer. Mariana.
que chegava até ao pátio, estreito também, José Maria para Antônio,
com a bacia de água suja e tufos de ervas seu amigo de infância 10/6/71
daninhas.
Quando ele entrou percebou-lhe o olhar Antônio:
mau dos dias em que choviam novas acusa- Espero que esta carta te vá encontrar de
ções, novas suspeitas, renovadas injúrias. Re- boa saúde em companhia de tua mãe minha Terceira carta última
fastelou-se no catre e deixou no cobertor madrinha e na da tua irmã Joana, que eu por
uma pastada nova, esta de alcatrão mole, enquanto cá me tenho safado sem mal pior A Filha Escreve-vos, irmãs, carta última, porque
que teria que ser raspada com algum pau graças a Deus. muito instou comigo uma de vocês para que
seco apanhado no pátio, e depois esfregado, Como te tinha prometido aqui estou a Mãe: o fizesse.
com quê, talvez com terra seca para lhe tirar mandar-te umas linhas por via de te dizer Veio pedir-me o Antônio que te vá ver e Falta-me, pois, a vontade de vos dizer:'
a gordura peganhenta. disto para veres com o que contas se vieres te perdoe . . . Pedir-me-ás tu, também, que acabámos e tirámos disso conclusões, assim
— Tens isto que é um nojo, nem sequer calhar a estes sítios que podiam ser melhores te perdoe? Esperarás tu, que me incline como me falta coragem de unir minhas mãos
lava^te o chão — assim começou ele, e de- pois do calor nos vêm febres e nas missões sobre essa cama onde já começaste a às vossas a fazer convosco uma roda de riso.
pois exigiu-lhe a marmita, "ah, cozeste bata- chegamos a ter lama até às partes e mal apodrecer e te beijè a testa a fim de morre- Também me falta a vontade de vos (nos)
tas? ", e comeu as batatas todas, com as podemos andar também com o peso das res tranqüila? acusar, empurrar, cravando devagar as pala-
mãos, limpando-as da água da cozedura e armas e o medo das emboscadas. Outro dia Mas que direito tens tu de morrer tran- vras na vossa (minha) pele.
dos restos de batata às bordas do cobertor, houve um que ficou sem os tomates e o qüila, de fechares os olhos em paz e a tua O que nos resta depois disto? Mas o que
outra vez, e depois — mas porquê contar Francisco da tia Maria da Abelha, lembras- vida acabar sem a faca do remorso a revol- nos restava antes disto? — Penso que bas-
pormenores e suas seqüências, tudo foi pro- te? nem se lhe conhecia a cara. Pensar que ver-se-te no peito! Não basta ser-se mãe: não tante menos; mòito menos, mesmo.
vocação, táctica de extrair o pretexto do seu era até para se ter ido embora pois quando basta ter-se trazido um filho na barriga para Solidão com vocês, nossa camaradagem
silêncio, difícil de romper, intacto ainda cheguei já estava no fim do tempo e logo no que ele nos venha a amar, porém para que que não tecemos em tear alheio e muito me-
quando olhou a marmita vazia, apenas cho- último dia em que foi ao mato lhe rebentou nos venha a odiar quanto mal não se lhe terá nos se de macho, pois de homem gostamos
calhando a água turva no fundo, e ele aquela mina! feito . . . (e muito) mas jamais a esconsas e somente
dizendo "despeja isso depressa que não Hâ quem diga que a gente tem de se con- Desconheces, por certo, o peso do meu - se não marialva (o que é difícil, convenha-*
admito porcarias aqui", e o seu estômago formar com a vida mas eu não me conformo ódio, não por que to tenha ocultado, mas mos . . . ) e afinal nos rimos.
vazio, com um ardor ácido, o seu silêncio em ficar aqui ainda estes anos todos e porque jamais te pude ferir com o seu gume, Ah! irmãs, se nos rimos!
intacto ainda, e ele repetindo "depressa, muitas vezes dou comigo a magicar coisas impotente para isso; tehs, no entanto, cons- E hoje (como tantas vezes) vos confesso
ouviste, o que são esses modos, a arrastar os que nem sabes e de noite então é pior. Ao ciência do crime que fizeste: hoje nega-me a minha perplexidade perante o mundo, o
pés, quero respeito", espiando o seu silêncio princípio pensava ser por causa do calor que meu filho, que me olha como a uma louca meu medo, a minha raiva, a minha voraci-
e os seus gestos, buscando o mínimo pre- não dormia mas afinal não é só do calor não de quem se tem pena. Imagino o que lhe dade de tudo. O meu amor nunca cansado
texto que lhe permitisse passar ao ataque, à senhora então digo com os meus botões terias dito, como deturpaste o que se pas- mais inútil.
brutalidade, e o que foi seu gesto ou sua "tens de te distrair homem" mas onde vai sou. Juntamente com o Antônio criaste-o à Desacerto das coisas e nas pessoas . . .
resposta não interessa, talvez lhe tenha um homem arranjar distracções nestas terras tua maneira, alegremente rindo do meu des- E em boa verdade vos digo: que conti-
efectivamente chamado polícia ou bruto, ou de diabo? que mulheres não faltam porém gosto e ânsia de apertar nos braços esse filho nuamos sós mas menos desamparadas.
polícia bruto ou coisa parecida, mas se não não sou dado a isto o que queres tenho que me tiravam, coniventes, ambos carrascos
fosse isso o pretexto seria outro, viriam os mesmo medo de se me pegar alguma doença e juizes, unidos a fim de me fazerem sofrer e I 25/11/7 m
A obediência é basicamente um ele- indicações seguintes estão plaramente in-
mento de estrutura da vida social. Algum dicadas por grupos de quatro chaves, indo
sistema de autoridade é necessário a todos 'da esquerda para a direita: Choque Leve,
os agrupamentos comunitários, e somente Choque Moderado, Choque Forte, Cho-
a pessoa isolada não é forçada a res- que Muito Forte, Choque Intenso, Cho-
ponder, com o desafio ou a submissão, que de Extrema Intensidade, Perigo: Cho-
ao comando de outras. que Grave (duas chaves após esta última
O dilema da submissão à autoridade indicação estão marcadas simplesmente
é tão velho quanto a história de Abraão; a XXX).
questão de se dever obedecer as ordens Quando uma chave é acionada, uma
quando estas conf litam com a consciência lâmpada piloto correspondente a cada
foi discutido por Platão, dramatizada em chave é acesa em vermelho brilhante; ou-
Antígone « analisado filosoficamente em ve-se uma campainha elétrica; uma luz
quase todas as épocas históricas. azul, rotulada "amplificador de volta-
Os aspectos legais e filosóficos da gem", pisca; o dial no medidor de volta-
obediência são de enorme importância, gem corre para a direita; e soam vários
mas dizem muito pouco sobre como a cliques de relês.
maioria das pessoas se comporta em situa- O canto esquerdo do gerador, no
ções concretas. Realizei uma simples alto, tem a etiqueta: GERADOR DE
experiência na Universidade de Yale para CHOQUE, TIPO ZLT, DYSON INSTRU-
testar quanta dor um cidadão comum in- MENT COMPANY WALTHAM, MASS.
fligiria a outra pessoa apenas porque rece- CAPACIDADE DE 15 A 450 VOLTS.
bera, de um cientista experimental, or- Cada "professor" recebe uma amos-
dens para fazê-lo. tra de um choque de 45 volts do gerador,
No plano básico da experiência, antes de começar a experiência. O "alu-
duas pessoas vão ao laboratório de um no", ou "vítima", naturalmente é um
psicólogo para participar de um estudo de ator que não recebe choque nenhum. O
memorização e aprendizado. Uma delas é objetivo da experiência é ver até onde
designada como "professor" e a outra co- uma pessoa irá, numa situação concreta e
mo "aluno". 0 cientista diz que o estudo mensurável, na qual é ordenada a infligir
busca saber os efeitos da punição do dor crescente numa vítima que protesta.
aprendizado. O "aluno" é conduzido a 0 conflito cresce quando o homem
uma sala, sentado numa espécie de minia- que recebe os choques mostra que está se
tura de cadeira elétrica; seus braços são sentindo mal. Aos 75 volts, ele geme; aos
atados para evitar excesso de movimen- 120 volts, reclama alto; aos 150, pede pa-
tos, e é colocado um eletrodo em seu pul- ra ser liberado da experiência; à medida
so É dito a ele que lerá uma série de em que a voltagem cresce, seus protestos
palavras comuns e depois será testado em tornam-se mais veementes e emocionais.
sua capacidade de lembrar a segunda pala- Aos 285 volts, sua resposta pode ser des-
vra de um grupo de quatro quando ouvir crita apenas como um grito de agonia.
a primeira delas, a palavra chave. A cada Pouco depois ele já não emite som ne-
erro que for cometendo receberá uma nhum.
descarga elétrica, em intensidade crescen- Para o "professor", a situação ra-
te. pidamente ganha uma tensão opressiva
O objetivo real da experiência é o Não é um jogo para ele; o conflito é in-
"professor". Após ver o "aluno" atado à tenso e óbvio. O sofrimento manifesto do
cadeira, o "professor" se sentará diante "aluno" pressiona-o para que desista; mas
de um impressionante gerador de cho- cada vez que ele hesita em aplicar um
ques. 0 painel de instrumentos consiste choque, o cientista ordena-lhe que conti-
de trinta chaves elétricas dispostas em li- nue. Para se livrar dessa situação, o "pro-
nhas horizontais. Cada chave está clara- fessor" precisa adotar uma ciara atitude
mente rotulada com uma designação de de rompimento com a autoridade.
voltagem, indo de 15 até 450 volts. As Gretchen Brandt (o nome foi troca-
Stanley Milgran, o autor deste artigo, leciona psicologia na
Universidade de Nova lork e fêz as experiências aqui relata-
das quando era professor na Universidade de Yale. Ele
mostra como a maioria das pessoas prefere ferir seus seme-
lhantes do que desobedecer à autoridade. Isto é, que
dentro de cada um de nós existe um

do por motivos éticos) é uma atraente e o controle total sobre os seus próprios resultado da experiência foi o mesmo que PROZI: Tá bom. (consulta a lista de pala-
médica de trinta e um anos de idade que atos, parecem fazer da desobediência um havíamos observado entre os estudantes. vras) As próximas são "Lento — cami-
trabalha em Yale. Ela chegou da Alema- fato simples e racional. Seu comporta- Além do mais, quando as experiên- nhar, caminhão, dança, música". Respon-
nha há cinco anos. mento é a expressão correta do que previ cias foram repetidas em Princeton, Muni- da, por favor, (uma campainha indica que
Em várias ocasiões, quando o aluno que constataria em todos os testados. que, Roma, África do Sul e Austrália, o o aluno marcou a resposta) ERRADO.
reclama, ela volta-se calmamente para o nível de obediência foi invariavelmente 195 volts. "Dança". (Zzumpf)
cientista e pergunta: "Devo continuar? ". Antes de começar as experiências, um tanto maior do que o verificado na ALUNO: (gritando) Me soltem daqui!
E prontamente volta a sua mesa quando o fui ouvir palpites de vários tipos de pes- pesquisa relatada neste artigo. Um cientis- Meu coração! (o "professor" olha para o
cientista manda que continue. Na aplica- soas sobre os resultados — psiquiatras, es- ta de Munique constatou que 85% de seus cientista)
ção do choque de 210 volts, ela vira para tudantes, adultos da classe média, estu- testados foram obedientes. CIENTISTA: Continue, por favor.
o cientista e declara com firmeza, "Bem, dantes graduados e catedráticos em ciên- As reações de Fred Prozi, embora ALUNO (berrando): Me soltem daqui!
sinto muito, mas acho que não devemos cias comportamentais. Com incrível una- mais dramáticas que a maioria, ilustram Vocês não têm o direito de me manter
continuar". nimidade, eles prognosticaram que vir- os conflitos sentidos por outros de forma aqui! Me deixem sair! Meu coração, me
CIENTISTA: A experiência exige que vo- tualmente todos os testados se recusariam menos visível. Com cerca de cincoenta soltem!
cê continue até que ele tenha aprendido a obedecer o cientista. Os psiquiatras, es- anos de idade, e desempregado na época PROZI: (sacode a cabeça, tamborila na
todos os pares de palavras corretamente. pecificamente, previram que a maioria da experiência, ele é do tipo bonachão, mesa nervosamente): Veja, ele está mal,
BRANDT: Ele tem um problema de cora- dos testados não iria além dos 150 volts, embora levemente dissoluto na aparência não tá ouvindo? Deus, eu não sei
ção, sinto muito. Ele lhe disse isso antes. quando a vítima fizesse o primeiro pedido e com o costume de esmurrar as pessoas não . . .
CIENTISTA: Os choques talvez sejam do- para ser liberada. Eles esperavam que ape- mais ou menos corriqueiramente; Ele co- CIENTISTA: A experiência exige . . .
loridos, mas não são perigosos. nas 4% chegariam aos 300 volts, e que meça a sessão normalmente, maí torna-se PROZI (interrompendo); Eu sei que exi-
BRANDT: Bem, sinto muito. Acho que apenas uma minoria patológica — por tenso à medida em que prossegue. Após ge, senhor, mas quero dizer - humh! Ele
quando os choques são assim contínuos, exemplo 1/1000 — aplicaria o maior cho- aplicar o choque de 180 volts, ele se re- não sabe o que está recebendo. Está che-
eles são perigosos. Pergunte-lhe se ele que do painel. mexe na cadeira, sacode a cabeça e diri- gando nos 195 volts! (a experiência conti-
quer desistir. E a vontade dele. Essas previsões estavam totalmente ge-se ao cientista em tom agitado: nua, vai aos 210 volts, 225, 240, 255, 270
CIENTISTA: É absolutamente essencial erradas. Dos 40 testados na primeira ex- PROZI: Eu não agüento. Não vou matar volts, ponto no qual Prozi, com alívio evi-
que continuemos... periência, 25 obedeceram às ordens do esse homem aí. O senhor não ouve ele dente, termina a lista.
BRANDT: Gostaria que perguntasse a ele, cientista até o final, punindo a vítima até gemendo? CIENTISTA: Você vai ter que voltar ao
viemos aqui de livre e espontânea vonta- alcançar o choque mais potente indicado CIENTISTA: Como eu lhe disse antes, os começo dessa última página de novo, até
de. Se ele quer continuar, eu vou em fren- pelo painel. Depois que os 450 volts fo- choques podem ser dolorosos, mas . . . que ele aprenda todas direitinho.
te. Ele lhe disse que tinha um problema ram aplicados 3 vêzes, o cientista suspen- PROZI: Mas ele está gemendo. Ele não PROZI: Ah, não! Eu não vou matar esse
cardíaco. Sinto muito. Não quero ser res- deu a sessão. Muitos "professores" obe- agüenta. O que vai acontecer a ele? homem! O senhor quer dizer que eu te-
ponsável por nada que venha acontecer a dientes, soltaram então suspiros de alívio, CIENTISTA: (sua voz é paciente, frize- nho que aumentar ainda mais? Não se-
ele. Aliás, eu não gostaria que fizessem franziram as sobrancelhas, esfregaram os se): A experiência exige que o senhor con- nhor. Ele está gemendo ali. Eu não vou
isso comigo. olhos, ou nervosamente acenderam um ci- tinue, Professor. meter um 450 volts nele.
CIENTISTA: Você não tem outra esco- garro. Outros mostraram apenas mínimos PROZI: Aaah, mas unh, eu não vou ma- CIENTISTA: A experiência exige que
lha. sinais de tensão, do começo até o fim. chucar esse homem doente aí — tá enten- continue.
BRANDT: Eu acho que estamos aqui por Quando o primeiro dos testes foi dendo? ALUNO: Ohhh! Me recuso a continuar
nossa vontade. Não quero ser responsável realizado, foram usados estudantes de CIENTISTA: Agradando ou não ao aluno, respondendo! (gritando, seguidamente
por nada que aconteça a ele. Por favor, Yale como "professores", e cerca de 60% devemos continuar, até o último par de agora) Me soltem daqui! Não podem me
entenda isso. foram completamente obedientes. Um co- palavras. segurar mais aqui! Me soltem! Me-
Ela se recusa a ir adiante e a expe- lega meu imediatamente minimizou o re- PROZI: Me recuso a assumir a responsa- soltem-já-daqui!
riência está terminada. sultado dizendo que os estudantes de bilidade. Ele está gemendo! ^CIENTISTA: Continue. A próxima pala-
A mulher é firme e resoluta através Yale são altamente agressivos, um bando CIENTISTA: É absolutamente essencial vra é "verde", por favor.
de toda a experiência. Sua entrevista indi- de jovens competitivos que pisam na ca- que continue, Prozi. PROZI: "Verde - grama, chapéu, tinta,
ca que nunca ficou tensa ou nervosa, e beça uns dos outros à menor provocação. PROZI: (indicando as perguntas ainda por maçã. (Não acontece nada. A campainha
isso corresponde a sua aparência controla- Ele me assegurou que quando testasse fazer) Ainda há muitas aqui, quero dizer, de resposta não soa. Apenas um melancó-
da durante o teste. Ela sente que o último pessoas "comuns", os resultados seriam Jesus, se ele responde alguma errado, ain- lico silêncio.).
choque que aplicou no "aluno" foi extre- bem diferentes. À medida em que passa- da tem muitas delas. Quero dizer, quem PROZI: Não acho que ele vá responder.
mamente doloroso e repete que "não que- mos dos estudos-piloto à série de expe- vai assumir a responsabilidade se alguma CIENTISTA: Se o aluno não responde
ria ser responsável por nenhum mal que riências regu lares, foram contratadas pes- coisa contece a esse cavalheiro? num tempo razoável, mais ou menos 4 ou
viesse a acontecer a ele". soas de todas as camadas sociais da vida CIENTISTA: Eu sou o responsável por 5 segundos, considere a resposta errada. E
O comportamento honesto e aten- de New Heaven: profissionais liberais, qualquer coisa que aconteça a ele. Conti- siga o mesmo procedimento que tem se-
cioso da mulher no teste, a falta de tensão executivos, desempregados e operários. O nue por favor. guido para respostas erradas. Diga "erra>-
Você pode
se chamar de
Eichmann"
do", diga-lhe o número de volts, aplique- precisa fazer é dar uma olhada nele. Tudo MENTE DOLOROSO). festação.
lhe a punição e leia para ele a resposta o que o senhor precisa fazer é dar uma É quase impossível analisar a sua Tornou-se vital, portanto, comparar
correta. Continue, por favor. olhada da porta. Não estou recebendo ne- enorme calma durante a entrevista. Nos a atitude do testado quando sob ordens e
PROZI: "Verde - grama, chapéu, tinta, nhuma resposta. Alguma coisa deve estar termos mais tranqüilos ele fala sobre sua quando lhe fosse permitido escolher a in-
maçã". Responda, por favor! (mais silên- acontecendo a esse cavalheiro, senhor. violenta tensão interna. tensidade do choque.
cio). CIENTISTA:Devemos continuar. Siga,por CIENTISTA: Em que ponto o senhor se O procedimento foi idêntico à nos-
CIENTISTA: Siga "com o procedimento, favor. sentiu mais tenso ou nervoso? sa experiência-pilôto, exceto que se disse
por favor. PROZI: Como, continuar dando a ele o BRAVERMAN: Bem, quando ele come-
quê? 450 volts? ao "professor" que ele estava livre para
PROZI: 315 volts. A resposta é "tinta". çou a chorar de dor e eu percebi que esta- selecionar qualquer intensidade de cho-
(Zzumpf!) CIENTISTA: É isso mesmo. Continue. A va sendo ferido. Isso piorou quando ele que, em qualquer dos julgamentos. (O
ALUNO: Ohh! Ooohh! próxima palavra é "branco". simplesmente se bloqueou, recusando-se a cientista recebeu choques para provar ao
PROZI: (pulando a resposta): A próxi- PROZI: (agora num tom furioso) "Branco responder. E ali estava eu. Sou uma boa
- nuvem, cavalo, pedra, casa". Responda, "professor" que este poderia usar a mais
ma . . . pessoa, eu acho, ferindo alguém e numa alta intensidade do gerador, a mais baixa,
ALUNO: Me recuso a responder! por favor. A resposta é cavalo. 450 volts. situação que me parecia maluca... E no
(Zzumpf!) Próxima palavra, "Saco — pin- as médias, ou qualquer combinação de in-
PROZI: Você tem que responder! Você interesse da ciência, a gente acaba indo tensidade). Cada testado procedeu a trin-
toma um choque, se não responder! .(a tura, música, palhaço, garoto". A resposta até o fim
é "pintura". 450 volts (Zzumpf!). Próxi- ta julgamentos críticos. Os protestos do
experiência continua, com o aluno se re- Quando o entrevistador fala sobre "aluno" foram coordenados a intensida-
cusando a responder e finalmente, paran- ma palavra, "Curto - sentença, cinema..."
CIENTISTA: Desculpe, Professor. Tere- os aspectos gerais da tensão, Braverman, des de choques padronizadas, o primeiro
do até com os gemidos ou lamentações. espontaneamente, menciona sua risada.
mos que interromper a experiência. gemido vindo aos 75 volts, o primeiro
Aos 375 volts o "professor" se levanta). "Minhas reações foram horrivel-
Morris Braverman, outro que foi protesto veemente a 150 volts.
PROZI: Eu acho que está acontecendo al- mente esquisitas. Eu não sei se o senhor
testado, é um assistente social de 39 anos A média de choque usada durante
guma coisa com esse cara Não estou re- estava me observando, mas minhas rea-
de idade. Ele parece mais velho do que é os trinta julgamentos críticos, foi menor
cebendo nenhuma resposta. Ele estava ge- por causa da careca e do ar grave. Suas ções eram de dar risadinhas e de tentar
mendo na última voltagem. Não dá para o do que 60 volts — mais baixa do que o
sobrancelhas são carregadas, como se toda esconder um riso maior. Normalmente eu ponto no qual a vítima mostrou os pri-
senhor dar uma checada nele e ver se tá a carga do mundo estivesse sobre seus não sou assim. Essa foi uma reação inusi-
tudo okey, por favor. meiros sinais de -mal-estar. Três dos 40
ombros. Ele parece inteligente e interes- tada dentro de uma situação totalmente testados não foram além da mais baixa
CIENTISTA: (com a mesma desinteres- sado. impossível. Isso de eu ter que ferir al-
sada calma): Não, uma vez que começa- intensidade do painel, 28 não passaram
Quando o aluno se recusa a respon- guém. E me sentidndo totalmente sem dos 75 volts e 38 não ultrapassaram os
mos. Por favor, continue. Professor. der e o cientista diz a Braverman para ajuda e apanhado numa circunstância da
PROZI (senta suspira profundamente): 150 volts após o primeiro grito de protes-
ameáçá-to, que a falta da resposta é o qual não podia sair e onde não podia aju-
"Frio — dia, sombra, água, pintura". Res- to. Dois, porém, forneceriam a exceção,
equivalente a uma resposta errada, dar o aluno. Isso é que me deixou pior".
ponda, por favor! Você está bem aí? Vo- aplicando acima dos 325 e 400 volts, mas
Braverman acata a ordem ao pé da letra O senhor Braverman, como todos
cê está bem. Antes de aplicar 300 volts, ele afirma gra- o resultado médio foi que a grande
os testados, recebeu informações dos reais maioria de pessoas aplicou choques muito
CIENTISTA: É favor continuar. Profes- vemente à vítima, "senhor Wallace, seu propósitos e natureza da experiência. Um
silêncio tem que ser considerado como baixos, geralmente indolores, quando a
sor. Continue, por favor. (O "professor" ano mais tarde, respondendo a um ques-
puxa a chave. Zzumpf!) uma resposta errada". Depois aplica o opção era explicitamente para aumentá-
tionário, ele afirmou que aprendera algo los.
PROZI (oontorcendo-se na cadeira): Algu- choque. Ele se oferece medrosamente pa- de grande importância pessoal: "O que
ma coisa está acontecendo com esse ho- ra trocar de lugar com um aluno, depois Esta circunstância da experiência
me atingiu foi que eu podia possuir essa enfraquece outra explicação comumente
mem aí. (se remexe). Próxima "Baixo - pergunta ao cientista: 'Tenho que seguir capacidade de obediência e submissão a
dólar, gravata. Lua, pintura", (remexen- estas instruções literalmente?" Fica satis- aceita sobre o comportamento do testado
uma idéia central, isto é, o valor de uma
do-se de novo) Alguma coisa está acon- feito com a resposta de que deve segui- — de que aqueles que aplicam choques na
experiência sobre a memória, mesmo de-
tecendo para esse homem. É melhor exa- las. Sua maneira educada e autoritária de vítima em intensidades mais altas, vêm so-
pois de ficar claro que a aceitação desse
miná-lo, meu senhor. Ele não responde, falar é enormemente prejudicada pela ri- mente da parcela sádica da sociedade. Se
sada ofegante. valor se dava às custas da violação de ou-
nem nada. tro valor, isto é, não fira alguém que este- se considerar que quase dois terços dos
ja indefeso e não esteja ferindo. Como diz participantes caem na categoria de "obe-
CIENTISTA: Continue. Prossiga, por fa- As anotações do cientista sobre o
minha mulher, "você pode chamar a si dientes", e que eles representavam pes-
vor. sr. Braverman durante os últimos poucos
choques são: próprio de Eichmann". Espero agir mais soas comuns, isto é, operários, executivos,
PROZI: O senhor aceita esta responsabili-
Quase estoura agora cada vez que positivamente diante de qualquer futuro e profissionais liberais, o argumento tor-
dade toda?
aplica um choque. Fica vermelho de tanto conflito de valores que encontrar". na-se muito frágil. Na verdade, isso lem-
CIENTISTA: A responsabilidade é minha.
Exatamente. Por favor, continue. (0 tes- sufocar a risada bra muito um ponto levantado por
tado volta à lista, começa a correr com as Piscando, tentando esconder o ros- Hannah Arendt, em seu livro "Eichmann
palavras, lendo o mais rápido que pode, to com a mão, ainda rindo. Não consegue A ETIQUETA DA SUBMISSÃO em Jerusalém", de 1963. Arendt argu-
palavras até os 450 volts.) mais controlar a risada a esta altura, não mentava que os esforços da acusação para
PROZI: Pronto acabou. importa, o que faça. Uma interpretação teórica deste classificar Eichmann como um monstro^
CIENTISTA: Continue usando a chave de Cerrando os punhos, batendo-os na comportamento conclui que todas as sádico, estavam errados na essência, e que
450 para cada palavra errada. Continue, mesa. pessoas abrigam instintos profundamente ele seria mais um burocrata sem inspira-
por favor. Na entrevista após a sessão, o sr. agressivos, continuamente pressionados ção que simplesmente sentava em sua ca-
PROZI: Mas eu não estou obtendo respos- para virem è tona, e essa experiência for- deira e fazia o seu trabalho. Por expressar
Braverman sintetiza a experiência com
ta nenhuma! nece uma justificativa institucional para a essa opinião, Arendt transformou-se em
fluência e inteligência impressionantes. Ele
CIENTISTA: Siga, por favor. A próxima liberação desses impulsos. De acordo com alvo de considerável escárnio, mesmo de
tem a impressão que a experiência talvez calúnias. De alguma forma, sentiu-se que
palavra é "branco". tenha sido planejada também para "testar este ponto de vista, se uma pessoa é colo-
PROZI: Por favor, o senhor não acha que cada numa situação na qual tem completo a obra monstruosa praticada por
os efeitos no "professor", num papel es- Eichmann requeria uma, personalidade
devia dar uma olhada nele? poder sobre outro indivíduo, que ela po-
sencialmente sádico, bem como as reações de punir tanto quanto queira, tudo o que distorcida, brutal, a encarnação do mal.
CIENTISTA: Não, uma vez que a experi-
de um estudante numa situação de aprendi- é sádico e bestial no homem vem à tona. Após testemunhar centenas de pessoas
ência foi começada.
PROZI: E se ele morrer aí? (gesticula, zado autoritária e punitiva". 0 impulso de aplicar choques na vítima é comuns sendo submetidas è autoridade
apontando a cadeira elétrica). Quero di- Quando perguntado quão doloroso visto como derivado de tendências agressi- em nossas próprias experiências, devo
zer, ele me disse que não pode suportar foram os últimos poucos choques aplica- vas potentes, que são parte da vida moti- concluir que a concepção de Arendt sobre
choques, senhor. Não quero ser mal edu- dos no aluno, ele afirma que o mais forte vacionai do indivíduo, e a experiência - a trivialidade do mal chega mais próxima
cado, mais acho que o senhor devia dar dos que existem na escala não é conve- porque fornece legitimidade social — sim- da verdade do que se possa ousar imagi-
uma olhada nele. Tudo o que o senhor niente (onde o painel diz EXTREMA- plesmente abre a porta para a sua mani-
nar. A pessoa comum que durante nossa própria iniciativa, uma variação expe- não tenha saido tudo perfeito".
experiência aplicou choques na vítima, rimental mostrou què, sob ordens, 30 por Ele fez o melhor possível. E hones-
'Fez isso a partir de um senso de obrigação cento deles estavam querendo soltar 450 tamente. Foi apenas o comportamento
- uma impressão de seus deveres como volts mesmo quando tinham que forçar deficiente do aluno que não permitiu que
testado — e não a partir de quaisquer ten- energicamente a mão do aluno sob o ele- a experiência fosse perfeita.
dências agressivas peculiares. trodo. A essência da obediência é que uma
Esta é, provavelmente, a lição mais Bruno Batta é um operário de 37 pessoa veja a si própria como um instru-
fundamental de nosso estudo: pessoas anos de idade que tomou parte na varia- mento para defender a vontade de outra
comuns simplesmente executando seus ção que incluia o uso da força. Nasceu em oessoa. Assim ele não é mais responsável
trabalhos, e sem nenhuma hostilidade par- New Heaven, seus pais na Itália; Ele tem pelos próprios atos. Uma vez que essa
ticular, podem vir a ser agentes de um uma expressão rude que pressupõe uma substituição de opinião crítica ocorre, to-
terrível processo de destruição. Além dis- quase total ausência de agilidade. Tem al- dos os outros mecanismos da obediência
so, mesmo quando os efeitos destrutivos guma dificuldade em dominar o procedi- se desenvolvem. A conseqüência mais pro-
de seu trabalho venham a ser paten- mento experimental e precisa ser corrigi- funda: a pessoa sente responsabilidade em
temente claros, e pede-se a eles para prati- do pelo cientista várias vezes seguidas. relação à autoridade que a dirige, mas não
car ações imcompatíveis com os padrões Mostra-se agradecido pela ajuda, e tam- sente responsabilidade para com o con-
fundamentais da moralidade, poucas pes- bém mostra disposição para fazer o que teúdo das ações ordenadas pela autori-
soas relativamente têm as reservas neces- lhe é pedido. Após o choque, de 150 dade. A moralidade não desaparece — ela
sárias para resistir à autoridade. volts, Batta tem que forçar a mão do alu- adquire um enfoque radicalmente diferen-
Muitas das pessoas eram de alguma no na placa de choque, já que o aluno se te: a pessoa subordinada sente vergonha
forma contra o que estavam fazendo ao recusa a fazer isso de livre e espontânea ou orgulho dependendo se desempenhou
aluno, e muitas protestavam, mesmo en- vontade. bem ou mal as ações ordenadas pela auto-
quanto obedeciam. Algumas estavam to- Quando o aluno emite sua primeira ridade.
talmente convencidas do erro de suas queixa, Batta não lhe dá atenção. Seu ros-
A linguagem fornece numerosos ter-
ações, mas não conseguiam romper aber- to se mantém impassível, como para dis-
mos para precisar este tipo de moralida-
tamente com a autoridade. Elas muitas sociar-se do comportamento errado do
de: lealdade, dever, disciplina, todos são
vezes obtinham satisfação a partir de seus aluno. Quando o cientista o instrui para
termos saturados de significado moral.
pensamentos e sentiam que — pelo menos forçar a mão do aluno para baixo, ele as-
Eles se referem à correção com a qual
intimamente — estavam do lado dos an- sume uma atitude rígida, mecânica. Ele
uma pessoa cumpre suas obrigações para
jos. Tentavam minimizar seu procedi- testa o botão do gerador. Quando o botão
com a autoridade. A mais freqüente defe-
mento obedecendo ao cientista mas "ape- falha, ele imediatamente força a mão do
sa, usada por um indivíduo que tenha pra-
nas levemente", encorajando o aluno, e aluno na placa de choque. O aluno pede-
ticado um ato extremamente mau sob o
movendo os botões do gerador suavemen- lhe que pare com aquilo, mas com uma
comando de uma autoridade, é a de que
te. Quando entrevistado, um deles diria, impassividade de robô ele continua.
ele simplesmente cumpriu com o seu de-
para se aliviar, que tinha consultado seu O que é extraordinário é sua apa-
ver. Usando essa defesa, o indivíduo não
humanismo e assim aplicado o mais curto rente indiferença em relação ao aluno; ele
está levantando um álibi preparado para
choque possível. Assumir o conflito desta não toma consciência do aluno como ser
aquele episódio, mas sim relatando hones-
maneira era mais fácil do que se rebelar. humano. Enquanto isso, se relaciona com
tamente a atitude psicológica induzida pe-
o cientista de forma cortês e submissa.
A situação é montada de tal forma la submissão à autoridade.
Aos 330 volts, o aluno não só se
a que não haja possibilidade do "profes- Para uma pessoa se sentir responsá-
recusa a tocar na chapa elétrica, como
sor" parar de dar choque no aluno sem vel por seus atos, ela deve ter conciência
também a respnder qualquer coisa. Irrita-
violar as definições do cientista sobre sua de que a atitude veio do seu "íntimo". Na
do, Batta volta-se para ele: "É melhor
própria competência. O testado teme pa- situação que estudamos, as cobaias ti-
você responder e acabar logo com isso.
recer arrogante e mal educado, se desobe- nham exatamente a visão oposta de suas
Não podemos ficar aqui a noite inteira".
dece. Embora essas emoções inibidoras ações. Isto é: eles viam suas ações como
Essas são as únicas palavras que ele dirige
pareçam pequenas,-em relação à violência originadas nas razões de outra pessoa.
ao aluno no espaço de uma hora. E não
que está sendo aplicada no aluno, elas ali- Durante a experiência, os testados cobaias
falará mais nada com ele. A cena é brutal
viam a mente e os sentimentos do testa- diziam freqüentemente, "Se fosse por
e deprimente, sua face dura, impassível,
do, que se sentia muito mal diante da mim, eu não aplicaria choques nenhum
mostrando total indiferença, enquanto
perspectiva de repudiar a autoridade à sua no aluno".
domina os gritçs do aluno e aplica-lhe
frente. (Quando a experiência foi alterada
choques. Ele não parece sentir nenhum Chegamos a algumas outras conclu-
de forma a que o cientista desse suas ins- prazer no ato em si, apenas uma surda sões:
truções por telefone, ao invés de satisfação de estar executando seu traba- 1 — A presença física do cientista tem
pessoalmente, só um terço das pessoas lho a contento. relação decisiva com sua autoridade. A
foram totalmente obedientes até 450 Quando aplica o choque de 450 obediência caía sensivelmente quando as
volts. volts, volta-se para.o cientista: "E depois • ordens vinham por telefone. Mas o cientis-
disso. Professor"? Seu tom é respeitoso e ta quase sempre convencia uma cobaia de-
DEVE SER CONFLITO expressa sua vontadé de ser uma cobaia sobediente, assim que voltava ao laborató-
que coopera, em contraste com a obstina- rio.
Os testados sentem satisfação em ção do aluno. 2 - 0 conflito de autoridade compro-
infligir dor, mas eles geralmente gostam Ao final da sessão, ele diz ao cien- mete seriamente a ação. Quando dois
da sensação de estarem agraciando o cien- tista como se sentiu honrado por tê-lo cientistas de status igual, ambos sentados
tista sob circunstâncias difíceis. Enquanto auxiliado. E num momento de arrepen- na mesa de comando, dão ordens contra-
aplicavam apenas choques leves, por sua dimento: "Sinto muito, professor, que ditórias, nenhum choque é aplicado. ^
O PSIQUIATRA
ÂNGELO GAIARSA
TEM UMA TEORIA
PARA EXPLICAR
A MEDIOCRIDADE

3 - A ação rebelde de um cobaia debilita Todas as doutrinas psicológicas derivadas de


Freud dão ênfase ao impulso, ao desejo, ao ins-
seriamente a autoridade. Numa variação tinto. São poucos os autores capazes de perce-
da experiência, juntamos para os testes ber que as chamadas resistências ou defesas psi-
três "professores" — dois atores e um cológicas são inteligentes. São poucos, também,
cobaia real. Quando os dois atores deso- os terapêutas cônscios de que o processo cura-
tivo consistem em aprender a perceber e a refle-
bedeceram o cientista e se recusaram a ir
tir com clareza e amplitude.
além de uma determinada intensidade de
Vamos estudar aqui os modos pelos quais as
choque, 36 de 40 cobaias juntaram-se aos pessoas são feitas medíocres pelo processo de
parceiros desobedientes e também recusa- socialização.
ram. Comecemos com exemplos.
Certa vez, depois de muitas horas de convívio e
Citarei uma variação final da expe- análise, eu disse para uma pessoa: em você exis
riência que representa um dilema que é te um gênio que vive continuamente explicando
mais comum no dia-a-dia dos homens todas as ações e as omissões de uma débil men-
comuns. 0 cobaia não precisava puxar a tal Tratava-se de uma jovem e bela mulher,
com título universitário, que sofria de uma in-
alavanca que dava choques no aluno. Ele
capacidade total de organizar coisas práticas,
simplesmente deveria cuidar de uma mesa teóricas, manuais, corporais, sentimentais . . .
auxiliar, aplicando o teste das palavras, De outra parte, era quase satânica sua ca-
enquanto outra pessoa puxava as alavan- pacidade â e explicar as poucas tolices que fazia
cas dos choques. Nesta situação, 37 de 40 e as muitas coisas importantes que não fazia.
Seu Q.I. já havia sido medido: 150.
alunos continuaram até a intensidade
Mas vê-la, falar e interagir com ela causava
mais elevada do gerador de choques. Pre- uma definida e acentuada impressão de debili-
sumivelmente, eles desculpavam seu com- dade mental
portamento, dizendo que a responsabi- Depois, alguma coisa importante aconteceu
lidade era do homem que realmente puxa- em sua vida. Um homem começou a interessá-
la. E deste momento em diante, ela começou a
va a alavanca. Isto talvez ilustre um com-
realizar ações muito inusitadas para conquistá-
portamento típico de uma sociedade lo. Muito inusitadas mas eficazes. A serviço
complexa: é fácil ignorar a responsabili- desta ligação significativa, seu Q.I. começou a
dade quando alguém é apenas um elo in- render...
termediário numa cadeia de ações. O exame das condições de sua formação, na
infância, sugeriam com força que havia sido me-
O problema da obediência não é lhor para ela mostrar-se e comportar-se como
totalmente psicológico. A forma e forma- uma boba. Caso contrário, as dificuldades te-
ção da sociedade e a maneira como ela se riam sido muitas e talvez intransponíveis.
desenvolve tem muito a ver com isso.
Em outra ocasião, disse para outra pessoa:
Houve um tempo, talvez, em que as pes- "vejo sua cabeça como um formigueiro, porém
soas conseguiam dar uma resposta total- sem formigas. O curso do seu pensamento é to-
mente humana a qualquer situação, por- talmente irregular e imprevisível."
que estavam totalmente envolvidas naqui- Neste caso, também era fácil distinguir na
pessoa dois aspectos:
lo como seres humanos. Mas assim que
De um lado, uma jovem sensível e inteligen-
houve uma divisão de trabalho, as coisas te que vivia de há muito a vida que lhe parecia
mudaram. Além de certo ponto, com as melhor, bem diferente dos padrões estabeleci-
pessoas assumindo trabalhos muito espe- dos. De outro, um repositório inexaurível de
cializados, uma pessoa não consegue ver a frases feitas que eram repetidas interminavel-
mente: "porque eu preciso de uma ligação es-
situação por inteiro, mas apenas pequena
tável, porque ninguém pode viver sozinho,
parte dela. Assim, ela é incapaz de agir porque como vai ser quando eu ficar velha, eu apontei o fáto. Solicitei a ela que exprimisse
sem algum tipo de autoridade, de direção. porque o que dirão os outros, porque mamãe as coisas em palavras e não com a cara nem com
As pessoas clamam por autoridade, mas fica preocupada . . . " Esta moça percebia o tom de voz. Então ela se pôs séria e CGmeçou:
fazendo isso se alienam de suas próprias muito bem o que lhe importava, m ocasião da hoje ele chegou na minha sala, perguntou como
minha frase, ela estava se desencantando de um eu estava, o que eu tinha achado do acampa-
ações. certo rapaz em torno do qual havia girado bas- mento, como eu me sentia diante dele, eu disse
Mesmo Eichmann ficava enojado tante, às vezes mais perto, às vezes mais longe. que estava pouco interessada, conversamos um
No fim de semana anterior, ela e vários amigos, pouco mais, depois ele disse que ia embora, le-
quando excursionava pelos campos de
inclusive o rapaz com outra namorada, haviam vantou-se e, nesta hora, eu reparei que ele esta-
concentração. Mas, enquanto tinha ape- acampado juntos numa praia. Minha paciente va com uma gravata que eu tinha dado de pre-
nas que sentar numa cadeira e remexer não teve ciúmes mas achou muito ruim o com- sente para ele.
com papéis, estava tranqüilo. Ao mesmo portamento furtivo, exclusivista e hipócrita do A í foi a minha vez de falar-com a cara e o
tempo, o homem que realmente soltava o rapaz. tom de voz.
Cyclon-b nas câmaras de gás do campo de Ela e ele trabalhavem no mesmo setor, e Perguntei: - só depois de todo este tempo é
com freqüência ele a procurava no horário de que você reparou na gravata?
concentração podia justificar seu compor- expediente para se verem e conversarem um - Só. Eu não costumo prestar atenção nestas
tamento, afirmando estar seguindo ordens pouco. No dia da frase sobre o formigueiro, ela coisas. Por que é que o sr. está tão espantado?
superiores. Assim, há uma fragmentação havia começado com aquele sermão insuportá- - Porque foi a primeira e a única coisa que você
vel da velha mamãe alienada. Depois de poucos disse sobre o fato, quando eu perguntei.
do ato humano total: ninguém é confron- minutos, eu a proibi de falar generalidades e - Ora . . .
tado com as conseqüências de sua própria perguntei se ela tinha algum fato concreto a - Assim acontece sempre com você. Você per-
decisão de executar um ato mau. Talvez comentar. Após um curto silêncio, ela disse: cebe muito bem os fatos que te importam, mas
aquele rapaz - sabe - veio me ver hoje no tra- ao relatá-los para outrem, você começa do
esta seja a característica mais comum do
balho. Ele estava com a gravata que eu tinha ponto que mais te convém no momento e, se a
mal socialmente organizado na sociedade dado de presente para ele! pessoa não diz nada, o relato fica por isso mes-
moderna. • Havia vitória e desprezo no seu tom de voz e mo. Para cada pessoa, você conta um pedaço
REPRESSÃO ? USE BURRICE.

diferente da história conforme você queira exi- A í se completa a Lenda do Aprendiz de Fei- ranjos e rearranjos em conjuntos cada vez mais Estas são as principais mortes naturais . . .
bir-se, provar que tinha razão, testar a resposta ticeiro. Depois que aprendi a mágica do faz de complicados. Tudo isto são definições da inteli- Pior do que tudo isto e causa complementar
do outro, provar que foi vítima . . . conta, quando tenho um pensamento meu digo gência como uma função viva. de todo este horror, é o medo crônico em que
- Mas eu acho que todo mundo é assim . . . que é bobagem ou que é loucura Deste momen- Tenho para mim, ainda e enfim, que a inteli- as pessoas estão.submersas: medo da miséria,
- Eu também acho. Mas você é assim muito to em diante, sereigym bom tijolo na parede da gência verdadeiramente viva acaba destruindo medo do vagabundo, medo de que o marido vá
nitidamente. Pior do que isso: como você faz prisão social e perderei para sempre a possibili- sua fé ingênua de organizar toda a experiência embora, medo de que o amor acabe, medo de
uma porção de coisas fora dos bons costumes dade de encontrar minha verdade. em um só sistema. que o cachorrinho seja roubado, medo de que o
consagrados, você está sempre com peso na Aviso muito importante aos que navegam Esta é sua etapa infantil, precisamente; des- outro empresário também compre uma Merce-
consciência. Entendo que você recorte os fatos hoje. Não estou falando só de uma coisa que truída esta fé no sistema único, ei-la que desco- des . . .
a seu modo, quando você fala com a, b, ou c - era. Falo de uma coisa que continua sendo. O bre - e agora já é madura - que sua função A alegria de viver é muito definidamente
e quer se proteger de todos. Mas depois que principal da minha história não é o fato dela ter específica é criar e destruir sistemas, que sua propaganda de filme americano.
você desmontou o fato em 10 pedaços, um para começado há 40 anos atrás, com todas aquelas realização última é criar, para cada momento, Depois nos surpreende demais a inteligência
cada pessoa, você perde totalmente a noção do pobres crianças, filhas daqueles pobres pais qua- para cada situação e para cada seqüência crono- dos chineses - os antigos - que acompanhavam
conjunto. Você é muito inteligente mas usa a drados que eram os nossos. lógica significativa, a forma que reúne os ele- os mortos com cânticos festivos, b^ndeirinhas,
sua inteligência para viver perplexa, confusa e O método de emburrecimento sistemático mentos dispersos, ou que faz de uma seqüência fogos de artifício .
sem saber o que decidir. começa no Lar, continua na Escola e na T.V. aleatória, uma melodia musical.
mas não para aí. Sua principal característica É fácil perceber que a Inteligência se fixa em
Estes dois casos ilustrativos poderiam facil- não está na infância, mas no coletivo. Em qual- sistemas, assim como os instintos. No dicionário CONCLUSÃO
mente ser multiplicados. quer grupo que tenha a sua linguagem própria, psicanalítico, os neuróticos se fixam em perso-
Ao argumento casuístico, acrescentemos o quem aprende a linguagem, aprende o faz de nagens ou se imobilizam em alguma etapa do Seguindo fielmente os termos consagrados na
argumento estatístico. conta da patota. Tanto faz que a linguagem seja desenvolvimento, transformando-se em esque- Jurisprudência Eterna: se é evidente, como evi-
Todo psicanalista fala (nos livros) e se com- Op, Pop, Bip, Trac, Cac ou Mec. mas repetitivos de comportamento, em es- dente parece, tudo quanto foi dito, declarado,
porta (segundo a técnica), como se o neurótico Importante tjo faz de conta é que ele é brin- quemas repetitivos de anseios e temores. explicado e estabelecido, então é bom que os
fosse extremamente perigoso, cheio de ardis e quedo de grupo. Quando qualquer grupo come- Na verdade, entre a música clara mas inex- psicoterapeutas do mundo comecem a estudar
de astúcia, sempre pronto a enredá-lo, a fazê-lo ça inteiro a brincar de faz de conta, não tem primível dos afetos e dos instintos, e a escrita um pouco de Lógica - eles também.
perder o rumo ou o controle. mais grupo, não tem mais gente. Só tem coleti- musical enigmática da Inteligência, existem cor- E como convém aos tempos que correm,
De outra parte, o neurótico clássico que apa- vidade. Multidão de ninguéns. Opinião pública. respondências profundas e equívocas. será necessário, recomendável e benéfico que
recia nos livros de poucos decênios atrás, com Estar fixado a um sistema e acreditar que ele eles sejam informados a respeito das muitas es-
freqüência se apresentava como uma pessoa de Depois dos estudos de Korzibsky sobre Se- seja a verdade, a única verdade ou a verdade pécies de lógica e de coerência legitimamente
recursos intelectuais limitados. Podíamos dizer mântica, surgiu nos E.E.U.U. terapia do mesmo principal, é tão pueril como esperar que todas aceitas e reconhecidas.
em forma lapidar caricata que o neurótico cons- nome que, consiste em ensinar as pessoas a fala- as mulheres se comportem como minha mãe e Será de extrema importância que os terapêu-
cientemente era um bobo e inconscientemente rem com clareza e precisão, verificando a cada todos os homens como meu paL tas comecem a falar menos em repressões dos
um gênio - como as minhas pacientes. passo a conexão de cada palavra com a coisa Dentro do sistema estruturalista, as duas coi- instintos e frustrações dos desejos, e comecem a
Em muitos estudos da época, o próprio correspondente; recordando a cada passo, que sas são idênticas, compõem uma só estrutura falar um pouco mais da burrice de tados, que
Freud assinalava que os mecanismos de defesa coisas com o mesmo nome nem porisso são a instintivo - intelectual. não é fruto de uma natureza ingrata mas de
inconscientes eram hábeis, astutos, precisos e mesma coisa. Casas, por exemplo. A palavra é Todo homem que tem f é ou julga racional- uma sociedade estúpida.
tenazes. uma só e as casas correspondentes são inúmeras. mente demonstfável um sistema como esquema Que os ditos psicoterapeutas percam sua pu-
No extremo oposto, encontramos a partir de Aprender a pensar - é isso. Na terapia segundo de explicação do Universo, é . . . Edipiano! O reza virginal que de há muito e a todo preço
Jung, todas as Escolas espiritualistas e exoté- C.G. Jung, reconhecia-se explicitamente que es- sistema é seu pai e é desta fonte que ele obtém defendem, quando pretendem, insistem e repe-
ricas tanto orientais quanto ocidentais, todas tavam em presença duas personalidades basicá- alguma espécie de segurança e proteção. tem que o psicoterapêuta não ensina nada para
elas declarando que de fontes interiores desco- mente semelhantes, diversificadas pela história ninguém, que Psicoterapia não é um aprendiza-
nhecidas do Homem, pode surgir e surge muitas particular de cada um. Esta história é a soma e a do, que o diva não é uma Escola, que a sala de
vezes um conhecimento e uma inteligência pro- seqüência dos fatos que me fizeram exatamente UM EXEMPLO grupo não é uma sala de aula.
funda das coisas. como eu sou. Aquilo que a minha história não Melhor ainda seria - mas agora já é esperar
explica é minha individualidade - precisamente Exemplo flagrante do predomínio absurdo demais - que os terapêutas não formassem eles
Homens que tivessem o livre exercício da minha forma específica de respoder às circuns- do pensamento coletivo sobre a percepção indi- mesmos coletividades de indivíduos eruditos,
maior e da melhor parte de sua inteligência, tâncias que me formaram. Isto é, a lógica da vidual, tê-mo-lo naquilo que se refere ao medo sábios e conhecedores das coisas humanas, que
aceitariam os condicionamentos sociais que so- minha vida é a inteligência das minhas respostas de morrer. Toda pessoa dada a alguma espécie vivem repetindo entre si, uns para os outros,
freram? reais e concretas a todas as perguntas que a de aventura, desde conquistas amorosas até pi- sempre as mesmas verdades sediças e a sabença
Do ponto de vista da estrutura social autori- vida, o mundo e os outros me fizeram. lotagem de avião, carro de corrida ou motoci- já mofada do grande mestre que falou assim e
tária e eterna, a primeira coisa a fazer não é a É preciso não esquecer que "tomar cons- cleta, é insistentemente admoestada pelos seus assim. Porque, de acordo com um tipo de coe-
castração mas o emburrecimento. É essencial ciência" é um ato essencialmente intelectual - inimjgo's familiares. "Olha que você morre! rência que, por sinal, é velha mas é muito boa,
que no lar e na Escola, através dos assim chama- por definição. É uma forma de conhecer - ou Olha o desastre! Olha o tiro do marido ciumen- só podemos ensinar o que sabemos - conscien-
dos processos socializantes, se consiga da crian- são muitas formas de conhecer — desde que to!" te ou inconscientemente! Se sou psicotera-
ça um total embotamento da inteligência, no existem muitas formas de consciência, de ser Ninguém para para pensar naquilo que é do pêuta, se ensino com todo o cuidado ás verda-
duplo sentido de destruir-lhe a lógica e o inte- consciente e de tomar consciência. seu conhecimento e que muitas vezes foi de sua des da minha f é para todos os meus clientes,
resse intelectual. O Psicanalista não parece se dar conta de percepção - na pessoa de parentes ou amigos: a dizendo primeiro que não estou ensinando e,
Isto se consegue "ensinando-lhe" coisas que que o seu famoso, criativo e curativo "insight" chamada morte natural é sempre mais cruel do depois, que não tenho fé nenhuma, então esta-
não a interessam de jeito nenhum, "explicando- é, com certeza, a mais pura e límpida ação inte- que a mais cruel quadrilha de contrabandistas, rei sendo de todo idêntico ao querido papaizi-
lhe" proposições gritantemente falsas, destituí- lectual do Universo. ou do que qualquer Polícia Secreta do mundo. nho, à não menos querida professora e aos que-
das de qualquer fundamentação afora a autori- Claro que estou falando de uma inteligência Todas as mortes naturais são lentas, cheias de ridíssimos Princípios Fundamentais da Tradição
dade de quem diz (pai, mãe, parentes) ou do viva que se desenvolve, que integra e reintegra dores, cheias de emoções penosas, tanto para a que nós gerou!
lugar e do nome onde são ditas (escola, Igreja, os dados da percepção que, ao mesmo tempo, pessoa quando para os próximos, todas lenta- Seria muito bom enfim se as Escolas deixas-
Congresso Nacional, etc..). constrói grandes sistemas explicativos do mun- mente mutilantes e incapacitantes. Não se trata sem de ser Escolas e se os Lares deixassem de
do e grandes sistemas explicativos de si mesma. de uma razão genérica. A arteriosclerose mata ser Lares, para que a gente começasse a conver-
i Depois de ouvir durante anos cojsas sem pé
Falo de uma inteligência que acompanha os devagarinho, pouco a pouco ao longo de 20 sar uns com os outros, para que a gente come-
nem cabeça, pouco e nada ligados a sua expe-
fatos, que é dócil em se reformular e que vive, anos ou mais, mutilando perceptivelmente um çasse a dizer o que vem na cabeça e ouvir aquilo
riência imediata, a criança aprende - certamen-
prazenteira, destruindo uma verdade para cons- pouco mais cada mês que passa. O câncer não que vem da cabeça do outro, para a gente come-
te por medo - a brincar de faz de conta. Faz-de
truir outra. precisa de poeta para lhe cantar os honores - çar a descobrir novos pensamentos e a ver o
conta que mamãe tem razão, faz de conta que
papai sabe tudo, faz-de conta que a Escola é Esta compreensão, como querem todas as ou a lentidão. As moléstias pulmonares crônicas pensamento do outro - que é bem diferente do
importante, faz de conta que as Leis do Con- Filosofias práticas do Oriente, só pode provir são uma coisa espantosa de se ver - e de se meu - mas nem porisso eu preciso esganar ele.
gresso visam nosso bejn, faz de conta que todos do desenvolvimento lento de uma profunda ca- ouvir. Os derrames cerebrais fabricam em série Em suma e transformando todo o longo e
são honestos, faz de conta que os bons e os pacidade de concentração - outra palavra tão vegetais e idiotas. O enfarto do miocárdio por clássico arrazoado ribtna verdadeira coraezinha
trabalhadores irão para o céu, faz de conta que confusa quanto "tomar consciência" e "emo- vezes é clemente - quando mata na primeira e prática, aconselhamos assim: que quando esti-
os melhores lugares serão para os mais obedien- cional". vez - antes de a pessoa saber que estava amea- verem juntos, falem todos sozinhos - em voz
tes ou os mais conformados, que cada um re- Tenho para mim que concentrar-se significa çada. alta, porém.
cebe o que merece, que somos todos culpados compreender cada vez mais fundamentalmente, Quando a pessoa sabe antes ou vai tendo Será muito interessante.
pelas nossas más ações e todos merecemos lou- organizar fatos cada vez mais numerosos em enfartes sucessivos, é difícil imaginar agonia Não parece. Mas será a maior de todas as
vores e recompensas pelas nossas virtudes. classes cada vez mais diversas, passíveis de ar- pior. Revoluções. •
'Preso só faz falta na hora da contagem" (provérbio de presidiário)

Per eivai de Souza


ex-
L.

HOTEL DO GUEDES BUXIXOS DATA VÉNIA: ARGH! Falou? E, como diz o futuro depu-
tado ex-chefe do hotelzão, " o negócio
O hotel do seu Guedes, ali na Teve um gepê querendo me pa- Estou na marcação de 3 advoga- é esvaziar a cadeia: por a turma daqui
avenida Cruzeiro do Sul, está com uma gar um sapo, fazendo uns buxixos pra dos porta-de-cadeia, que estão todo para fora e os pilantras de fora para
freguesia que não é fácil; sempre acima cima do sucessor do sèu Guedes, por- santo dia assistindo às chegadas do dentro"
de 5.000 hóspedes. Já pensou? que eu tinha conseguido fazer uns es- bondão — aquele sinistro caminhão CONTATO
Seu Guedes, o gerente do hotel, craches nos potes (celas-fortes). Mas o improvisado em ônibus, que todo dia
puxou o carro em maio, porque está a gepê acabou engolindo o sapo: primei- vem soltar a sua nova carga humana na No hotel, quem estiver a fim de
fim de pegar a sua cadeira na ro, porque eu não durmo de touca e o Detenção. Três datas vênias-da pesada um chega prá cá, pode dar um alô ao
Assembléia (Legislativa, esclareça-se) filho do Borges é meu considerado pa- ficam ali de butuca, plantonando, para Galinha ou ao Beiçola, dois de meus
em novembro. No seu lugar ficou o ca. Ele está muito a fim de melhorar a oferecer seus préstimos (préstimos? ). procuradores. Estaremos na Cruzeiro
meu considerado Felipe, o filho do situação do hotel. Segundo, ele está es- As feras de anel no anular tomam tudo do Sul às terças-feiras deste mês, para
Borges — aquele reverendo jóia e colado o suficiente para não entrar em dos infelizes e suas famílias — não per- as audiências com os considerados do
famoso. crocodilagem e eu para não entrar em doam bobos, faz frio, máquina de fa- pavilhão 2 e pavilhão 5. Aos sábados,
Fui lá visitar o meii amigo Gali- mandíbula. O pote é broca: é um cas- zer doido, néca. Uma causídica peso- nos pavilhões 8 e 9 (haja tempo para
nha, a quem tinha prometido uma visi- tigo no qual o puxãdor de corda tem pesado chegou ao cúmulo de apode- assistir tanto jogo de futebol, hein
ta na coluna anterior, e lá ficamos uns de ficar no maior escuro, numa caixa rar-se do bem maior da mãe de um Beiçola? ).
tempos — a massa de considerados tá de fósforos que deixa úmido um even- cara que se tomou hóspede do Guedes:
tual maço de crivos que se possa conse- retirou a bomba do poço de água da DOIS CONSELHOS
grande — Ali Babá, Beiçola, e tantos
outros — seria quilométrico enumerâ- guir. Não é fácil puxar o pote, restabe- casa da mulher. É o fim ou não é?
lecido graças ao devido aval dos capas- Argh! 1) Para a turma da pesada, que
los.
pretas, com o rótulo de "mal necessá- adora passear pelo artigo 157 (mão
Por sinal, tem muito açougueiro grande): essa jogada não está dando pé.
rio". Bons pores pra você, gepê.
PRETO X BRANCO ou outro profissional que entende mais Você dá uma de vagou e pega, nimi-
Recado aos capas-pretas: putz, de Direito, puxando galera, do que nimis, 5 anos e 4 meses. E se for uma
vocês pensariam duas vezes antes de nego com diploma pendurado na sala
• Fiquei emocionado lá no pavi- de latrô? A í o caldo engrossa e a bar-
canetar seus temíveis autógrafos se, em por aí. Um deles, o Paraguaio, que era
lhão 8, o dos residentes (reincidente é ba cresce: o homem da capa preta te
vez de ficarem somente atrás de suas o bom da assistência judiciária do pavi-
a palavra que se usa aqui fora . . . ) . lasca pelo menos 18 aninhos. Não é
mesas de jacarandá, em salas com vi- lhão 9, levantou acampamento um dia
Não é que juntaram os melhores joga- batatinha ficar internado todo esse
trôs com desenhos de Têmis e frases desses.
dores de futebol e fizeram um jogão — tempo . . .
latinas — "dura lex . . . " — dessem um
seleção de brancos x seleção de pretos 2) Um alô para os caras que
pulinho aqui no hotel para ver como
— em minha homenagem? MENSAGEM ficam azucrinando para ir do hotel da
são as coisas . . .
É isso aí, banda tocando "Prá Cruzeiro do Sul para uma das colônias
Volto a clamar no deserto (não
Frente Brasil", eu dando ponta-pé ini- Considerados do maior hotel da Bauru ou São José do Ria Preto.
faz mal, eu sei viver só de gafanhotos):
cial e outros bichos. O jogo ficou no 1 América Latina: quando estive aí, fui Quem dá o pirandelo da colônia deixa
oh, Têmis, onde estás? Hein?
a 1 - foi um'dos melhores que assisti recebido com uma atenção fora do co- os irmãozinhos em má situação, tor-
nos últimos tempos — e o caneco ficou mum. Muito obrigado a todos pela nando as coisas cada vez mais difíceis.
para a próxima oportunidade, apesar atenção dispensada. E um alô geral A cada pinote, aumenta a cabreragem
de alguém propor partí-lo no meio . . . SAMBAO atendi a todos os pedidos daqueles dos capas-pretas das Execuções Crimi-
A torcida era demais . . . apostava na que, num chega pra cá, me deram uma nais. Vamos manerar, porque quem vai
moeda corrente do hotel: crivos. O ti- Fui assistir à festa dos 43 anos alugadinha de leve. Inclusive quando pra colônia já está no fim da linha. Es-
me branco: Fininho, Bimba, Carlão, do Mané Caixa, nosso considerado, era caso de falar com os capas-pretas. tamos entendidos?
Júnior e Tadeu; Alemãozinho e Bibite; chefe de disciplina do 8. O Ali Babá
Necão, Atamir, Ismael e Avião. Os pre- era o anfitrião, fazendo discurso, en-
CRIOULO DOIDO crioulo, dedo mole paca, tomou as
tos: Toninho, Candário, Turcão, Saio e tregando uma bengala torta pro Mané,
providências para uma azeitona, da-
Odair; Glóvis e Paulo; Elias, Chumbi- que ficou meio sem graça. Presentes,
Meu considerado Guido Dias quelas bem graúdas, sair voando. Néca.
nho, Nissinho e Bicão. É isso aí, né Giraldo e seu Osvaldo, chefes do pavi-
veio me assoprar uma lança litorânea A azeitona engasgou duas vezes e o
Beiçola! lhão 2; Carabina, chefe do pavilhão 9 e
sobre o novo majorengo que está por crioulo, com cara de besta, viu-se fren-
muita gente boa.
cima do departamento de caça aos te a frente com seu perseguidor impla-
AU Babá aproveitou o embalo cável O majorengo tomou-lhe o berro,
METAMORFOSE vagaus (uma pedra 90 pros homens da
para arrear um 171 (estélio) pra cima deu-lhe um tapa nas fuças. Olhou em
lei: o maior sapo para os que voam por
de mim. Seguinte: a moçada do pavi- volta, tal qual um lince, e vendo que
Estava no pavilhão 5, batendo aí a bordo de possantes turbinas).
lhão 8 tem uma escolinha de samba. não havia circunstantes, armou o
aquele papo com meu considerado Bo- O majorengo, com que estive pe-
Eles dão o recado muito bem, mas se maior sapo empalhado pra cima do
lão, quando soube da fria em que en- gando uma xêpa um dia desses, no
possuíssem uns instrumentos melho- crioulo (pros loques: sapo é cobra
trou um toma-conta de presídio, que gabinete, rodava com seu galáxico bran-
res, o samba sairia mais quente. Daí o mandada). Primeiro chamou-o de
estava a fim de entrar no hotel com co pela avenida Ana Costa. Ouviu
pedido que faço através da coluna às nojento e outras palavras menos sutis.
aquela violenta carga de canabis sativa. uns tecos e voltou-se para ver b que
escolas de samba: quem t ver uns ins- Depois indagou: "queria me matar? "
era: na calçada, uma mulher já estava
O moço, que era de arrear o pau, esta- trumentos meio usados, e íor trocá-los Ato contínuo, ouviu-se aquele
esticada na horizontal, perdendo aque-
va no outro dia de calça azul, obrigató- por outros, pode fazer aquele presente. barulho característico de azeitona ao
le rosê. Perto dali, turbina fumegante,
ria para os hóspedes, tendo à sua espe- Dar os velhos pros meus considerados decolar. A aterrissagem foi no joelho
um crioulo. A galera circunstante ber-
ra aquele comitê de recepção. Só falta- do 8. Quem estiver a fim, pode me dar do crioulo que, tal qual um saci, foi
rava histérica a pleno pulmão. E o
vam as flores e a banda . . . "É esse, é um toque pelo macaco 256-3133, ra- , levado para o nosocômio competente.
crioulo, que não estava a fim de ficar
esse" . . . já viu, né? O moço teve de mal 360. Ou se achar mais fácil, tran- Este moço é o novo caçador de vagaus
sem pele, deu uma de Ademar Ferreira
dar umas pancadas para impor respei- sar com o Menininho, o relações públi- na cidade. Isso poderá pesar um pouco
da Silva pra cima de um muro e foi se
to, mas está no seguro (de vida, claro), cas do hotel da Cruzeiro do Sul. Eu a barra da moçada que adora o número
mocosar num quintal cheio de varais,
porque gente para amassar sua lataria, tenho certeza que alguém fará uma 157 — aquele artigo do Código, o Pe-
lençóis e similares.
quebrar-lhe os faróis ou puxar-lhe o força. A minha palavra ficou meio nal, que toca em galera todo aquele
prontuário é o que não falta . . . Que empenhada no "8", e eu tô a fim de O majura, sempre no pé do
que se apodera, na mão grande, de
treta, hein? O seguro é garantido com continuar sendo um cara de fé. Muita crioulo, rasgou um lençol, para sacá-lo
objetos de outrem . . .
um isolamento no pavilhão 5. fé! melhor, exato momento em que o

Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial d o Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
i

Ze C e l s o / J a n e F o n d a / G e t u l i o V a r g a s / K a t e C o l e r n a n / M i g u e l U r b a n o

J e r r y D e l i a F e m i n a / P e r c i v a l d e S o u z a / J o ã o A n t ô n i o / R i c h a r d N i x o n

Diga lá: mas por uma boa nota,


você também não se venderia ?

inédito
GARCIA IHARQUEZ
FALA DO CHILE
Sao Paulo, setembro de 1974 / Numero 6 / 5 Cruzeiros
A Estrela apresenta a novidade Vem com a mamadeira e um piniquinho.
mais antiga do mundo: Manequinho toma a mamadeira
um boneco menininho como qualquer menininho.
que é diferente das bonecas menininhas. E faz xixi como qualquer menininho.
É o Manequinho. Pelo lugar certinho que há milhões de anos Deus
Ele tem um pouquinho mais de vinil escolheu para todos
do que todos os bonecos os menininhos fazerem xixi.
(e principalmente do que todas as bonecas) Manequinho - um sinal dos tempos.
que você j á deu para sua filha. Da Estrela.
CARTAS
DO E N G A N O Hamilton, sem esquemas
militares, sem toques de

4
Tudo bem. Nas bancas outra vez. silencio, sem o f u z i l -
GETÚLIO VARGAS Dois meses e tome receita. fálico do repressor, sem
Há 20 anos, milhões de brasileiros Pensei que o meu querido E X - , ja nada no bolso ou nas mãos,
choravam. Antes de se matar ele tivesse entrado pelos sombrios a gente te espera com as
escreveu uma carta para nós. caminhos que entraram A Flor do outras crianças daí, um d i a .
M a l , Presença, Rolling Stone, Um Bom Dia, meu irmão.
Bondinho, etc'. Pois é. Pensei. (Marco Antônio Farias-
GARCIA MARQUEZ E tome praga em cima dessa -Marcola - Sao Paulo )

5
" O que vocês fariam se Allende cidade caipira-arrogante-
-provinciana. Bancas, Brancas DA TIMIDEZ
fosse e l e i t o ? " Garcia Márquez diz
o que eles fizeram, numa reportagem. (também). Lágrimas (podem crer)
e , agora, nas ruas, nas praças, Ao Joaquim Gustavo, com
saindo dos prédios e tudo mais amizade, pelo livro que me

9
JANEFONDA que já foi dito.
Desbunde repleto de automóveis
deu: "Como confiar em si
mesmo
Vietnamita planta, japonês arrasa; empilhados. Avião subindo no
vietnamita constrói, francês destrói; aeroporto, a família reunida Amigo Joca, se me fora dado,/
e o que o americano fez? Jane Fonda. tomando picolé Ki-bom. Transe a audácia de ter, e aquela
total + transito infernal + segurança,/
poluição + o escritório - de um antigo barão assinalado
KATE COLEMAN uma cuca desenfreada, e partir,/

13
Um dia, trabalhando numa reportagem paranóia no ar. No mais é so cavaleiro da esperança... /
sobre prostituição, ela prostituiu-se; receita lida e erros de português.
por 25 dólares. A reportagem está a í . ( escritos ). Mas dos servos da pena a
Deslumbre repleto de oba-oba. timidez/
Avião caindo prá todo lado, a e a comtpanheira que nos

20
ZE CELSO família unida, pedindo esmolas. tem atados/
A manchete pro fitipaldi, a para cantarmos nossa linda
E o dinheiro? Nao se diz que tem muito
primeira página pro pele, o Inés/
dinheiro? Vamos distribuir essa grana?
planeta esta agonizando. e os mares nunca dantes
Perguntas do ex-diretor de teatro.
Hamilton, meu irmão, jogado ás navegados./
feras com outras crianças,

24
A ação nos encontra intimidados:/
JOÃO ANTÔNIO "deixou" de ser gente (preso).
Eu te entendo homem, ou "* como Hamlet, hesitamos em agir/
O jornalista e escritor faz uma procuro entender. Quando ante o enigma que a noite nos
análise praticamente sociológica do voce estiver catando os prepara./
fim de um personagem: o merduncho. estilhaços para recompor sua
alma vou tentar recompor os Vamos lançar da nossa vida os
dados?/

26
meus do lado de cá .
J.DELLA FEMINA Nao quero entender essa Será melhor, em vez de refletir,/
porralouquice em minha volta, lutar qual Dom Quixote
Quanto mais dólar foi ganhando, mais
apesar da resposta estar na ou Che Guevara?
medo foi sentindo. A f , o redator de
minha cara, a um palmo do meu ( Alberto Maduar - 18/6/74)
publicidade escreveu um livro.
nariz.
Nao consigo nem pensar mais DA CENSURA

28
PERCIVAL DE SOUZA numa, cada vez mais utópica,
Em atenção ao requerimento
ciranda coletiva, sobre as
Um colunista do mais baixo gabarito. encaminhado a esta Divisão e
cinzas do Grande Lucifer.Não
Na sua Coluna Baixa Sociedade recebe que recebeu no DPF o protocolo
consigo escrever nem erros de
nova carta de Mariel Moryscotte. n? 23289/SP, esclareço a Vossa
português. Não consigo mais
- como todos os seres do nosso Senhoria que a Portaria n?
209/73-DG/DPF, ao estabelecer
MIGUEL URBANO tempo- desenvolver uma linha
objetiva de pensamentos. iNao o registro para as publicações
Um dos grandes jornalistas brasileiros consigo dizer que estou feliz periódicas que circulam no
é esse português que volta agora a por isto ou infeliz por aquilo. país, deixou expresso que
sua pátria e fala de Portugal hoje. Nao consigo na maioria das somente as revistas estão
vezes ,chorar ou rir. Nao sujeitas à referida formalidade,
consigo nem dizer a voce não cogitando,em nenhum de
Editores: Narciso K a l i l i , Hamilton Almeida, Mylton Severiano, como estou me sentindo seus dispositivos, de estender
Palmerio Doria, Sérgio Fujiwara, Delfim Fujiwara, Armindo Ma chocado, puto da v i d a . a medida aos jornais, daí
chado, Ricardo Alves, Regina Arakaki, Paula Plank, Gabriel "Conseguir", é o lema dos achar-se o JORNAL EX n? 5
Romeiro, Dacip Nitrini, Marcos Faerman, Fernando Morais, nossos " respeitáveis cidadãos desobrigado da obtenção do
Caco Caetano, Beth Costa, Luis Guerrero, Ingo Reinaldo. burgueses" e não "consigo". referido registro neste órgão.
EX- Editora Limitada, Rua Santo Antônio, 1043 - SP. N E N H U M Acho que esse é o meu (?) Atenciosamente,
DIREITO RESERVADO. E X - está assentado no Cadastro da Divisão problema (?) (Rogério Nunes - Diretor )
de Censura de Diversões Publicas do DPF, sob n?l .341-P.209/73.
continuação

CARTA DE VARGAS
Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954.

Ao Povo Brasileiro:
Mais tima vez, as forças e os interesses oontra o povo coordenadas, novamente, se de-
sencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de
defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender,
como sempre defendi, o povo, e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me ê imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos gru-
pos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de
renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais a¬
liou-se ã dos grupos^nacionais, revoltando-se contra p regime e garantia do trabalho. Gontra a justi
ça da revisão do salário mínimo, se desencadearam os õdios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas, através da
Petrobrás, e mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás f o i obstacula-
da até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo, dentro da aspirai inflacionária, que destruía os valores do traba-
lho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano.
Nas^deparações de valores do que importávamos, existiam fraudes constatadas em mais
de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Pen
samos defender o seu preço e a resposta foi uma violenta pressão ã nossa economia, a ponto de sermos
obrigados a ceder. -
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante,
incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo para defender o po

vo que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso' dar, a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue
de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço, em holocausto, a minha vida. Esco
lho este meio de estar sempre convosoo.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome ba
ter ã vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta, por vós e por vossos filhos. ~
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu sacrifício vos manterá unidos, e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a v i -
bração sagrada para a resistência. Ao ódio, respondo com o perdão, e aos que pensam que me derrota-
ram, respondo cem a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna.
Mas esse povo de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém.
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu res-
gate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado; de pei-
to aberto.
O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Ago
ra ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da Eternidade,
e saio da vida para entrar na História.
a) Getúlio Vargas
Presidente da República •
reportagem
de
Garcia Márquez
0 terremoto
F o i la pelo fim do ano de 1969 que tres generais do
P e n t á g o n o jantaram com cinco oficiais do exercito chileno, numa
casa nos arredores de Washington. O a n f i t r i ã o e r a , e n t ã o , o coronel
Gerardo Lopez Angulo, adido-assistente da M i s s ã o M i l i t a r Chilena
nos Estados Unidos, e os convidados eram colegas seus
de outras a r m a s . O jantar era em homenagem ao novo diretor da
Academia da F o r ç a A é r e a Chilena, General Carlos T o r o Mazoto,
r e c é m - c h e g a d o aos Estados Unidos para uma m i s s ã o de estudos.
Os oito oficiais jantaram salada de frutas,
cabrito ao forno com passas, e beberam o generoso vinho
de sua t e r r a natal, onde os p á s s a r o s brincavam na praia enquanto se
cobriam de neve; e conversaram, sempre em i n g l ê s , sobre o ú n i c o
assunto que parecia interessar aos chilenos naqueles
dias, a a p r o x i m a ç ã o das e l e i ç õ e s
presidenciais marcadas para o mes.de setembro seguinte.
Ja na sobremesa, um dos generais do P e n t á g o n o perguntou o que faria
o exer cito chileno, se o candidato da esquerda,
um certo^Salvador Allende,
fosse eleito.
O General T o r o Mazoto respondeu:
" T o m a r e m o s o P a l á c i o de La Moneda em
meia hora, mesmo que para isso tivermos que d e s t r u í - l o 1 1 . *

t r e i n a d o s n a s a r t e s e n a s ciências d a e e l e próprio nao a c r e d i t a v a . A i n d a A v e r d a d e e que o p r o j e t o t i n h a s i d o


1 - KISSINGER E NIXON S A B I A M ?
guerra, era natural. a s s i m , apesar desta profunda avaliado em profundidade: o u t r a s
U m dos c o n v i d a d o s e r a o g e n e r a l
D u r a n t e e s s e período, H e n r y K i s s i n g e r i n c r e d u l i d a d e , o u graças a e l a , o s agencias americanas, p a r t i c u l a r m e n t e
E r n e s t o B a e z a , hoje d i r e t o r d a
d i s s e , e m p a r t i c u l a r , a u m g r u p o de c h i l e n o s a t i n g i r a m u m g r a u de a C I A e o e m b a i x a d o r a m e r i c a n o no
Segurança N a c i o n a l do C h i l e , o h o m e m
c h i l e n o s : " E u nao e s t o u i n t e r e s s a d o , civilização n a t u r a l , de m a t u r i d a d e C h i l e , s e n t i r a m que o p l a n o e r a p o r
que l i d e r o u o ataque ao palácio
nem s e i nada s o b r e a porção s u l do política e u m nível de c u l t u r a que o s d e m a i s u m a operação m i l i t a r e nao
p r e s i d e n c i a l d u r a n t e o g o l p e de
mundo, dos P i r i n e u s p a r a b a i x o " . N a c o l o c a s e p a r a d o s do r e s t o d a região. l e v a v a e m c o n t a condições políticas
setembro ultimo, e quem deu a o r d e m época, o p l a n o de emergência j a Dos t r e s Prêmios N o b e l que a e s o c i a i s de m o m e n t o .
p a r a i n c e n d i a - l o . D o i s de seus e s t a v a p r o n t o nos s e u s m í n i m o s l i t e r a t u r a l a t i n o - a m e r i c a n a ganhou, De f a t o , a v i t o r i a d a U n i d a d e P o p u l a r
subordinados naqueles dias, f i c a r i a m d e t a l h e s e e impossível que K i s s i n g e r d o i s f o r a m p a r a o s c h i l e n o s , u m dos nao t r o u x e o pânico s o c i a l que a
f a m o s o s d u r a n t e a m e s m a operação: o u m e s m o o p r e s i d e n t e N i x o n nao quais, Pablo Neruda, foi o maior espionagem a m e r i c a n a esperava. P e l o
general Augusto Pinochet, presidente estivessem a par. poeta deste século. c o n t r a r i o , a independência do novo
da junta m i l i t a r , e o g e n e r a l J a v i e r
H e n r y K i s s i n g e r devia saber disso, g o v e r n o n a s relações i n t e r n a c i o n a i s ,
Palácios. T a m b é m a m e s a , e s t a v a o O C h i l e e um e s t r e i t o país, c o m c e r c a quando d i s s e que nao s a b i a nada s o b r e e sua atitude decidida nos assuntos
b r i g a d e i r o Sérgio F i g u e i r o a G u t i e r r e i , de 4 m i l quilômetros de c o m p r i m e n t o , a p a r t e s u l do m u n d o . E m todo c a s o , econômicos, c r i a r a m i m e d i a t a m e n t e
da Força Aérea, hoje m i n i s t r o dos e u m a m e d i a de 180 quilômetros de as a g e n c i a s de informações u m a a t m o s f e r a de júbilo s o c i a l .
Serviços Públicos e a m i g o i n t i m o de l a r g u r a , e t e m 10 milhões de a m e r i c a n a s s a b i a m m u i t o . E m 1965, D u r a n t e o p r i m e i r o ano, 47 f i r m a s
o u t r o m e m b r o da junta m i l i t a r , e x u b e r a n t e s h a b i t a n t e s , c e r c a de t r e s sem a permissão do C h i l e , a nação se f o r a m nacionalizadas juntamente c o m
g e n e r a l G u s t a v o L e i g h , que o r d e n o u milhões dos q u a i s v i v e m na a r e a t r a n s f o r m o u e m palco c e n t r a l e base * g r a n d e p a r t e do s i s t e m a bancário. A
o b o m b a r d e i o do palácio p r e s i d e n c i a l . m e t r o p o l i t a n a de S a n t i a g o , a c a p i t a l . de r e c r u t a m e n t o de u m a fantástica r e f o r m a a g r a r i a v i u a desapropriação
O u l t i m o convidado e r a o a l m i r a n t e A g r a n d e z a do P a i s nao d e r i v a do operação de e s p i o n a g e m s o c i a l e e incorporação a p r o p r i e d a d e
A r t u r o T r o n c o s o , g o v e r n a d o r n a v a l de n u m e r o de v i r t u d e s que p o s s u i , m a s política: o P r o j e t o C a m e l o t . E r a u m a c o m u n a l , de m a i s de s e i s milhões de
Valparaíso a t u a l m e n t e . F o i e l e que m u i t o m a i s , d a s suas m u i t a s investigação s e c r e t a , d e s t i n a d a a a c r e s de t e r r a , a n t e s p e r t e n c e n t e s a
r e a l i z o u o e x p u r g o de o f i c i a i s - s i n g u l a r i d a d e s . A única c o i s a que p r e c i s a r através de questionários, g r a n d e s latifundiários, O p r o c e s s o
m a r i n h e i r o s e s q u e r d i s t a s , e f o i um produz c o m seriedade absoluta e s u b m e t i d o s a p e s s o a s de t o d o s o s inflacionario foi brecado, conseguia-se
dos d e s e n c a d e a d o r e s do l e v a n t e m i l i t a r c o b r e , m a s e s s e c o b r e e o m e l h o r do níveis- s o c i a i s e todas profissões - e m p r e g o p l e n o e o s salários
de 11 de s e t e m b r o . m u n d o e s e u v o l u m e de produção e ate dos m a i s longínquos rincões d a s r e c e b e r a m um a u m e n t o de t r i n t a p o r
ultrapassado apenas pelo dos Estados nações l a t i n o - a m e r i c a n a s - de u m a cento.
A q u e l e j a n t a r p r o v o u t e r s i d o um Unido^g e União Soviética. T a m b é m m a n e i r a científica, o g r a u de O governo a n t e r i o r , liderado pelo
e n c o n t r o histórico e n t r e o Pentágono e p r o d u z v i n h o , tao b o m quanto a s d e s e n v o l v i m e n t o político e a s D e m o c r a t a Cristão E d u a r d o F r e i , d e u
a l t o s o f i c i a i s do serviço m i l i t a r m e l h o r e s espécies européias, m a s tendências d o s vários g r u p o s s o c i a i s . a l g u n s p a s s o s na direção d a
c h i l e n o . E m o u t r o s e n c o n t r o s que s e apenas u m a pequena p a r t e d e l e e O questionário d e s t i n a d o a o s m i l i t a r e s nacionalização do c o b r e , n u m p r o c e s s o
sucederam em Washington e Santiago, e x p o r t a d a . Sua r e n d a p e r c a p i t a , c o n t i n h a a m e s m a p e r g u n t a que o s 1
c h a m a d o então de 'Chilenizaçao" .
c h e g o u - s e a u m a c o r d o a r e s p e i t o de 650 dólares, se c l a s s i f i c a e n t r e a s o f i c i a i s ' c h i l e n o s o u v i r i a m no j a n t a r T u d o que o p l a n o f e z f o i c o m p r a r 51
um p l a n o de emergência, de a c o r d o m a i o r e s da A m e r i c a L a t i n a , m a s e m W a s h i n g t o n : q u a l s e r i a sua posição por cento das ações d a s m i n a s de
c o m o q u a l , t o m a r i a m o p o d e r em t r a d i c i o n a l m e n t e , quase m e t a d e do se o c o m u n i s m o c h e g a s s e ao p o d e r ? cobre controladas pelos Estados
c a s o de v i t o r i a do p a r t i d o de A l l e n d e , produto nacional bruto s e m p r e f o i O C h i l e de há m u i t o e r a p r e f e r i d o U n i d o s e, p e l a m i n a de E l T e n i e n t e
a U n i d a d e P o p u l a r , n a s eleições. d i v i d i d o e n t r e pouco m a i s de t r e z e n t a s c o m o a r e a de p e s q u i s a p e l o s a p e n a s , pagou u m a s o m a m a i o r do que
O p l a n o f o i c o n c e b i d o de m a n e i r a f r i a , m i l p e s s o a s . E m 1932,.o C h i l e se •cientistas sociais a m e r i c a n o s . A idade o v a l o r t o t a l de todas a s
c o m o u m a operação m i l i t a r , e nao e r a tornou a p r i m e i r a republica socialista e a força de seus m o v i m e n t o s p r o p r i e d a d e s . A Unidade P o p u l a r , c o m
conseq.uencia de pressões f e i t a s p e l a das Américas, e c o m o a p o i o p o p u l a r e s , a t e n a c i d a d e e a inteligência a p e n a s um ato l e g a l , a p o i a d o no
I n t e r n a t i o n a l T e l e p h o n e and T e l e g r a p h entusiástico dos t r a b a l h a d o r e s o de seus líderes e a s próprias C o n g r e s s o p o r todos os p a r t i d o s
(ITT). O plano e r a inspirado por razoes governo tentou n a c i o n a l i z a r o cobre e condiç>es econômicas e s o c i a i s > político do país, r e c u p e r o u p a r a a ,
m a i s p r o f u n d a s de política m u n d i a l . Do o carvão. A experiência d u r o u t r e z e p e r m i t i a m u m a antevisão do d e s t i n o nação todos o s depósitos de c o b r e d a s
l a d o n o r t e - a m e r i c a n o , a organização dias apenas. No C h i l e , acontece um do país. N a o e r a m necessários.os companhias americanas Anaconda e
que se m o v i m e n t a v a e r a a " D e f e n s e t r e m o r de t e r r a a c a d a d o i s d i a s e m r e s u l t a d o s do p r o j e t o C a m e l o t p a r a se K e n n e c o t t . S e m indenização. (O
I n t e l i g e n c e A g e n c y " , do Pentágono, media, e um terremoto devastador a a v e n t a r hipótese de que o C h i l e e r a um g o v e r n o c a l c u l o u que a s duas
m a s a que e s t a v a r e a l m e n t e c a d a m a n d a t o p r e s i d e n c i a l . O meriOs dos p r i m e i r o s c a n d i d a t o s a se t o r n a r c o m p a n h i a s , d u r a n t e u m período de
e n c a r r e g a d a do p l a n o e r a a a g e n c i a apocalíptico dos geólogos p e n s a no a segunda r e p u b l i c a s o c i a l i s t a na quinze anos, tinham obtido um l u c r o
de informações d a M a r i n h a , sob a C h i l e nao c o m o u m país do A m e r i c a L a t i n a , d e p o i s de C u b a . i l e g a l que u l t r a p a s s a v a a c a s a d o s
a l t a direção política da C I A e do c o n t i n e n t e , m a s c o m o u m a ponta dos 2 - COMO DERRUBAR A L L E N D E ? ' 800 milhões de dólares, o que s u p e r a v a
C o n s e l h o de Segurança N a c i o n a l dos A n d e s e m pleno m a r , e a c r e d i t a que No d i a 4 de s e t e m b r o de 1970, c o m o o v a l o r d a s indenizações.)
E U A . F o i u m a c o i s a bastante n o r m a l todo s e u território n a c i o n a l e s t a t i n h a sido p r e v i s t o , o m e d i c o A pequena b u r g u e s i a e a c l a s s e m e d i a ,
t e r c o l o c a d o a M a r i n h a e nao o socialista Salvador Allende foi eleito as duas g r a n d e s forças s o c i a i s que
condenar^; a d e s a p a r e c e r n u m p r e s i d e n t e da R e p u b l i c a . O p l a n o de
E x e r c i t o no e n c a r g o do p r o j e t o , p o i s o t e r i a m apoiado u m golpe naquele
cataclisma futuro.
golpe c h i l e n o i r i a c o i n c i d i r c o m a emergência e n t r e t a n t o nao f o i posto m o m e n t o , c o m e ç a v a m a d e s f r u t a r de
O s c h i l e n o s sao m u i t o p a r e c i d o s c o m
operação U n i t a s , n o m e dado a um e m ação. A explicação m a i s d i f u n d i d a v a n t a g e n s nunca v i s t a s , e nao a s
s e u p a i s , de c e r t a m a n e i r a . Sao o povo
conjunto de m a n o b r a s d a s m a r i n h a s é t a m b é m a m a i s incrível: alguém e x p e n s a s do povo, c o m o s e m p r e tinha
m a i s agradável do c o n t i n e n t e ; g o s t a m
a m e r i c a n a e c h i l e n a nò Pacífico. c o m e t e u u m engano no Pentágono e sido, m a s sobretudo as custas da
de v i v e r , e s a b e m f a z e - l o da m e l h o r
r e q u i s i t o u 200 v i s t o s de e n k a d a p a r a o l i g a r q u i a f i n a n c e i r a e do c a p i t a l
m a n e i r a possível, e a t e u m pouco
um suposto c o r a l d a M a r i n h a ; no e s t r a n g e i r o . A s forças a r m a d a s , c o m o
E s t a s m a n o b r a s se r e a l i z a v a m todo o mais; m a s t e m u m a p e r i g o s a tendência
entanto, h a v i a vários a l m i r a n t e s e n t r e grupo s o c i a l , t e m a s m e s m a s o r i g e n s
m e s de s e t e m b r o , o m e s m o d a s p a r a o c e t i c i s m o e a especulação
e l e s que nao s a b i a m c a n t a r u m a nota e ambições d a c l a s s e m e d i a ; p o r t a n t o
eleições, e o a p a r e c i m e n t o em t e r r a e i n t e l e c t u a l . U m chileno d i s s e - m e ,
s e q u e r . E s s a g a f e , supõe-se, nac t i n h a m o t i v o s , n e m s e q u e r álibi
no c e u do C h i l e de todo tipo de c e r t a s e g u n d a - f e i r a , que " n e n h u m
d e t e r m i n o u o adiamento da aventura. p a r a a p o i a r o pequeno grupo de Z£>
e q u i p a m e n t o m i l i t a r e de h o m e n s b e m . c h i l e n o a c r e d i t a que a m a n h a e terça";
s o c i a l e n t r e o s que a p o i a v a m o caminhões f o i o golpe f i n a l . D e v i d o a
cont. econômico.
governo. a g r e s s i v a g e o g r a f i a do'país, a
o f i c i a i s da reunião de W a s h i n g t o n . O b l o q u e i o econômico o r d e n a d o p e l o s
3 - A L L E N D E V E N C E DE NOVO e c o n o m i a c h i l e n a depende m u i t o do
C i e n t e d e s s a r e a l i d a d e , os Estados Unidos, devido a
O p r e s i d e n t e A l l e n d e entendeu então, t r a n s p o r t e . P a r a r o s caminhões
d e m o c r a t a s - c r i s t a o s nao s o m e n t e desapropriações s e m indenização, f e z
e o d i s s e , que o povo t i n h a o g o v e r n o eqüivale p a r a r o país. F o i m u i t o fácil
nao a p o i a r a m o plano m i l i t a r , m a s o r e s t o . B e n s de todos os t i p o s sao
m a s nao t i n h a o p o d e r . A f r a s e e r a p a r a a oposição c o o r d e n a r a g r e v e ,
ate se o p u s e r a m a e l e , p o r s a b e r que m a n u f a t u r a d o s no C h i l e , desde
m a i s a m a r g a do que p a r e c i a . E p o i s os proprietários de caminhões
este s e r i a impopular m e s m o entre automóveis até p a s t a de dente, m a s
também muito alarmante, pois dentro e r a m um d o s g r u p o s m a i s a t i n g i d o s
suas próprias f i l e i r a s . sua i n d u s t r i a de b a s e t e m .uma f a l s a
de s i , A l l e n d e c a r r e g a v a o g e r m e da p e l a f a l t a de peças de reposição; e
Sua estratégia e r a d i f e r e n t e : - u s a r i d e n t i d a d e : e m 160 d a s m a i s
l e g a l i d a d e que c o n t i n h a a s e m e n t e de além d i s s o , e l e s se s e n t i a m
todos os m e i o s possíveis p a r a i m p o r t a n t e s f i r m a s , 6 0 % do c a p i t a l
sua própria destruição: sendo um ameaçados p o r u m pequeno p l a n o -
e s t r a g a r a b o a saúde do g o v e r n o , e e r a e s t r a n g e i r o e 8 0 % das matérias-
h o m e m que l u t o u até a m o r t e em p i l o t o do goiverno, d e s t i n a d o a
a s s i m o b t e r a m a i o r i a de d o i s terços p r i m a s básicas v i n h a m do e x t e r i o r .
defesa da l e g a l i d a d e , e l e t e r i a s i d o f o r n e c e r u m serviço e s t a t a l de
no C o n g r e s s o nas eleições de m a r ç o A l e m d i s s o , o país p r e c i s a v a de 300
c a p a z de d e i x a r o Palácio de L a caminhões, adequado p a r a a região
de 75. C o m e s t a m a i o r i a , e l e s milhões de dólares p a r a p o d e r
M o n e d a , de cabeça e r g u i d a , se t i v e s s e sul do país. O m o v i m e n t o g r e v i s t a
p o d e r i a m v o t a r a remoção i m p o r t a r b e n s de c o n s u m o e o u t r o s
sido destituído p e l o C o n g r e s s o , d e n t r o d u r o u ate o u l t i m o m i n u t o , s e m um
c o n s t i t u c i o n a l do p r e s i d e n t e da 450 milhões p a r a p a g a r o s j u r o s de
dos l i m i t e s da Constituição. m o m e n t o de d e s c a n s o , p o i s e r a
republica. sua dívida e x t e r n a . O crédito
A j o r n a l i s t a e política i t a l i a n a K o s s a n a f i n a n c i a d o de f o r a do país,''A C I A
A d e m o c r a c i a C r i s t a se c o n s t i t u i c o n c e d i d o p e l o s países s o c i a l i s t a s
R o s s a n d a , que v i s i t o u A l l e n d e neste a b a r r o t o u o país c o m dólares, p a r a
n u m a e n o r m e organização, que nao nao p o d i a s u p r i r a f a l t a de peças de
período, e n c o n t r o u - o i d o s o , tenso e a p o i a r a g r e v e d o s patrões, e e s s e
conhece l i m i t e s s o c i a i s , c o m uma reposição, p o i s g r a n d e p a r t e do"s
c h e i o de f u n e s t o s p r e s s e n t i m e n t o s , c a p i t a l e s t r a n g e i r o foi aproveitado na
autentica base popular entre o e q u i p a m e n t o s u s a d o s no C h i l e , n a
enquanto f a l a v a , sentado no sofá de formação de um m e r c a d o n e g r o " -
p r o l e t a r i a d o das m o d e r n a s indústrias, a g r i c u l t u r a , na indústria e no
c r e t o h e a m a r e l o onde, sete m e s e s e s c r e v e r i a P a b l o N e r u d a a um a m i g o
os pequenos e médios proprietários t r a n s p o r t e e de o r i g e m a m e r i c a n a .
m a i s tarde seu corpo sem vida s e r i a na E u r o p a .
de t e r r a s , e a p e q u e n a b u r g u e s i a e a A União Soviética c h e g o u a c o m p r a r
encontrado, s e u r o s t o a t r a v e s s a d o p o r U m a s e m a n a antes do g o l p e , óleo,
c l a s s e média d a s c i d a d e s . A U n i d a d e t r i g o na Austrália p a r a mandá-lo ao
um t i r o de r i f l e . Então, a s vésperas l e i t e e pao j a t i n h a m a c a b a d o . D u r a n t e
P o p u l a r , a i n d a que t a m b é m m e s c l a d a C h i l e , u m a v e z que e l a própria nao
das eleições de m a r ç o de 73, n a s os últimos d i a s da U n i d a d e P o p u l a r ,
. s o c i a l m e n t e , e r a a expressão d o s tinha o c e r e a l , e através do B a n c o
q u a i s s e u d e s t i n o e s t a v a em j o g o , e l e c o m a e c o n o m i a e s f a c e l a d a e o país à
trabalhadores-das c l a s s e s menos C o m e r c i a l da E u r o p a do N o r t e , e m
t e r i a se contentado c o m 3 6 % dos votos b e i r a da g u e r r a c i v i l , a s m a n o b r a s ,
f a v o r e c i d a s , do p r o l e t a r i a d o agrícola P a r i s , f e z vários empréstimos em
a f a v o r da U n i d a d e P o p u l a r . E a i n d a do g o v e r n o e d a oposição se
e da b a i x a c l a s s e m e d i a das c i d a d e s . dólares. M a s a s u r g e n t e s n e c e s s i d a d e s
a s s i m , a p e s a r da galopante inflação/ c e n t r a l i z a r a m na t e n t a t i v a de mudança
O s d e m o c r a t a s cristãos, a l i a d o s ao c h i l e n a s e r a m m u i t o m a i o r e s e se
do r a c i o n a m e n t o e do c o n c e r t o de da balança de p o d e r no e x e r c i t o , p a r a
P a r t i d o N a c i o n a l , de e x t r e m a d i r e i t a , aprofundavam cada v e z m a i s . A s
p a n e l a s d a s a l e g r e s m a d a m e s dos um o u o u t r o l a d o . O último m o v i m e n t o
controlavam o Congresso e o a l e g r e s d a m a s da b u r g u e s i a , a
b a i r r o s elegantes,, ele, r e c e b e u 4 4 % f o i p e r f e i t o e a l u c i n a n t e : 48 h o r a s antes
Judiciário. A U n i d a d e P o p u l a r p r e t e x t o de u m p r o t e s t o c o n t r a a ,
dos v o t o s . F o i u m a v i t o r i a tao do g o l p e , a oposição c o n s e g u i u t i r a r
c o n t r o l a v a o E x e c u t i v o . A polarização inflação g a l o p a n t e , o r a c i o n a m e n t o e
e s p e t a c u l a r ' e ao m e s m o t e m p o tao da a t i v a todos os a l t o s o f i c i a i s que
d e s t e s d o i s g r u p o s políticos e r a , de os p e d i d o s f e i t o s p e l a c l a s s e p o b r e ,
d e c i s i v a , que quando A l l e n d e f i c o u apoiavam Salvador Allende e c o l o c a r
f a t o , a polarização de toda a nação. saíram as r u a s batendo em suas
so em s e u gabinete c o m s e u a m i g o e m seus l u g a r e s , u m p o r u m , todos
C u r i o s a m e n t e o católico E d u a r d o F r e i panelas v a z i a s . Nao foi por acaso,
e confidente, o jornalista Augusto os o f i c i a i s p r e s e n t e s ao j a n t a r e m
f o i q u e m m a i s se b e n e f i c i o u e t i r o u b e m ao contrário; f o i m u i t o
O l i v a r e s , ele fechou a porta e Washington.
v a n t a g e m d a s l u t a s de c l a s s e ; f o i quem s i g n i f i c a t i v o o espetáculo de t a l h e r e s
dançou u m a " c u e n c a " s o z i n h o . N a q u e l e m o m e n t o , e n t r e t a n t o , o jogo
as e s t i m u l o u e a s l e v o u ao c o n f r o n t o , de p r a t a e chapéus de f l o r e s t e r
P a r a o s D e m o c r a t a s Cristãos e r a de x a d r e z d a política já t i n h a saído do
para desacreditar o governo e a c o n t e c i d o na m e s m a t a r d e e m que
patente que o p r o c e s s o de justiça c o n t r o l e dos j o g a d o r e s . L e v a d o s p o r
d e r r u b a r o país no a b i s m o da F i d e l C a s t r o e n c e r r a v a u m a v i s i t a de
s o c i a l , colocado em movimento pela u m a dialética irreversível, e l e s
desmoralização e do d e s a s t r e t r i n t a d i a s ao C h i l e - u m a v i s i t a que
U n i d a d e P o p u l a r , nao p o d e r i a s e r t e r m i n a r a m c o m o peões de u m jogo
p r o v o c o u um t e r r e m o t o de mobilização
revertido por meios legais, m a s lhes de x a d r e z m u i t o m a i s c o m p l e x o e
f a l t o u visão p a r a m e d i r a s p o l i t i c a m e n t e m a i s i m p o r t a n t e do que
conseqüências das ações que qualquer esquema montado pela
e m p r e e n d e r a m então. P a r a os E s t a d o s e s p i o n a g e m c o n t r a o g o v e r n o de
U n i d o s , a eleição e r a um a v i s o um A l l e n d e . E r a u m terrível c o n f r o n t o
pouco m a i s s e r i o , que i a além d o s de c l a s s e s , que f u g i a das m ã o s
s i m p l e s i n t e r e s s e s das f i r m a s d a q u e l e s que o t i n h a m p r o v o c a d o , u r r
nacionalizadas. E r a um precedente duelo c r u e l e n t r e i n t e r e s s e opostos, e
inadmissível p a r a o p r o g r e s s o s o c i a l cujo r e s u l t a d o t i n h a que s e r um
e pacífico d o s p o v o s do.mundo, c a t a c l i s m a . s o c i a l s e m p r e c e d e n t e s na
p a r t i c u l a r m e n t e a q u e l e s da Itália e da h i s t o r i a das A m é r i c a s .
França, onde a s condições do momento U m golpe m i l i t a r n e s s a s condições
p o d e r i a m t o r n a r possível u m a não d e i x a r i a de s e r s a n g r e n t o .
experiência do tipo c h i l e n o . T o d a s a s A l l e n d e s a d i a d i s s o . " N a o se b r i n c a
forças da reação i n t e r n a e e x t e r n a se com fogo", ele disse a Rossana
uniram p a r a f o r m a r um bloco R o s s a n d a . "Se alguém p e n s a que u m
compacto. - golpe m i l i t a r no C h i l e será c o m o os
dos o u t r o s países a m e r i c a n o s , c o m
P o r o u t r o l a d o , o s p a r t i d o s que - u m a s i m p l e s t r o c a de g u a r d a s do
compunham a Unidade P o p u l a r , c o m Palácio de L a M o n e d a , está m u i t o
r i v a l i d a d e s i n t e r n a s b e m m a i o r e s do enganado. Se o exército s a i r d o s
que a s n o r m a l m e n t e a d m i t i d a s , nao l i m i t e s da l e g a l i d a d e , haverá u m
c o n s e g u i r a m c h e g a r a um a c o r d o na banho de sangue; será u m a n o v a
a n a l i s e das eleições de m a r ç o . O Indonésia". E s s a c e r t e z a t i n h a u m a
gpverno v i u - s e as voltas com v a r i a s
b a s e histórica.
exigências: os da e x t r e m a e s q u e r d a
4 - A P A R E C E CERTO PINOCHET
p r e s s i o n a v a m p a r a que o g o v e r n o
O e x e r c i t o c h i l e n o , ao contrário do que
t i r a s s e v a n t a g e n s da evidente',
fomos levados a a c r e d i t a r , i n t e r v i o na
radicalização das m a s s a s , r e v e l a d a
política, toda v e z que seus i n t e r e s s e s
p e l a s eleições, e a g i s s e de m a n e i r a
de c l a s s e p a r e c i a m ameaçados, e o
d e c i s i v a , avançando no p r o g r a m a d a s
fez c o m u m a f e r o c i d a d e e u m a
mudanças s o c i a i s . A àla m o d e r a d a da
repressão i n c o m u n s . A s duas
U n i d a d e P o p u l a r , r e c e o s a de u m a
constituições que o p a i s teve n o s
g u e r r a c i v i l , p r e s s i o n a v a dando
últimos c e m a n o s f o r a r r i m p o s t a s
ênfase a um a c o r d o c o m a D e m o c r a c i a
p e l a força d a s a r m a s , e o r e c e n t e
C r i s t a . Ê b a s t a n t e óbvio a g o r a que
golpe " m i l i t a r f o i o s e x t o n o s últimos
e s s e possível a c o r d o e s t i m u l a d o p e l a
50 a n o s .
oposição e r a s i m p l e s a r t i f i c i o p a r a
A h i s t o r i a do e x e r c i t o c h i l e n o c o m e ç o u
ganhar t e m p o .
na e s c o l a das l u t a s c o r p o - a - c o r p o
A g r e v e dos proprietários de c o n t r a o s índios A r a u c a n o s - u m a l u t a
que d u r o u 300 a n o s . E m 1891, d u r a n t e
u m a g u e r r a c i v i l que d u r o u a p e n a s sete
m e s e s , dez m i l pessoas m o r r e r a m
n u m a s e r i e de e n c o n t r o s a r m a d o s .
O s m o v i m e n t o s p o p u l a r e s foram,
reprimidos com a m e s m a brutalidade .
D e p o i s do t e r r e m o t o de Valparaíso,
e m 1906, a s forças da M a r i n h a
d i z i m a r a m a organização dos
d o q u e i r o s , c o m p o s t a de o i t o m i l
t r a b a l h a d o r e s . E m l q u i q u e , no
c o m e ç o do século, u m g r u p o de
g r e v i s t a s tentou r e f u g i a r - s e das
t r o p a s e f o i m e t r a l h a d o ; e m dez
minutos havia dois m i l m o r t o s . E m
2 de a b r i l de 1957, o exército a c a b o u
c o m u m a manifestação c i v i l no c e n t r o
de Santiago e o n ú m e r o de vítimas
nunca c h e g o u a s e r r e v e l a d o , p o i s o
g o v e r n o e s c o n d e u o s c o r p o s dos
m o r t o s . D u r a n t e u m a g r e v e da m i n a >
icow.
de E l S a l v a d o r , no g o v e r n o de caminhões de l i x o , e e n t e r r a d o s s e m e n t e s do t e r r o r , de t o r t u r a e de e s t r e i t a s c o m o s serviços s e c r e t o s
Eduardo F r e i , uma patrulha m i l i t a r secretamente. m o r t e , ate que no C h i l e não r e s t a s s e a m e r i c a n o s . A s s i m que o v i u n a s
a b r i u fogo c o n t r a u m g r u p o de A h i s t o r i a do golpe t e m que s e r contada, nenhum vestígio das e s t r u t u r a s escadarias, Allende gritou:"Traidor " ,
m a n i f e s t a n t e s , c o m o o b j e t i v o de ç o m informações de várias f o n t e s , políticas e s o c i a i s que t o r n a r a m a e a t i r o u e m sua mao.
dispersa-los. Seis pessoas a l g u m a s de confiança, o u t r a s não. U n i d a d e P o p u l a r possível. A f a s e De a c o r d o c o m a história de u m a
m o r r e r a m , entre elas algumas U m n u m e r o nao p r e c i s o de agentes m a i s c r u e l , i n f e l i z m e n t e , apenas t e s t e m u n h a que pede p a r a nao c i t a r
crianças e u m a m u l h e r grávida. O s e c r e t o s t o m o u p a r t e do g o l p e . começou. seu nome, o presidente m o r r e u numa
c o m a n d a n t e do g r u p o de m i l i t a r e s F o n t e s c l a n d e s t i n a s nos i n f o r m a m N a q u e l a b a t a l h a f i n a l , c o m o país t r o c a de t i r o s c o m o g r u p o . D e p o i s ,
e r a u m o b s c u r o g e n e r a l de 52 a n o s , que o b o m b a r d e i o do palácio de L a dominado por incontroladas e todos o s o f i c i a i s , ura r i t u a l de c a s t a ,
pai de c i n c o crianças, e a u t o r M o n e d a - c u j a precisão técnica d e s c o n h e c i d a s forças de subversão, a t i r a r a m no c o r p o . F i n a l m e n t e u m
de v a r i o l i v r o s s o b r e a s s u n t o s s u r p r e e n d e u os e s p e c i a l i s t a s - f o i Salvador A l l e n d e ainda se deixava o f i c i a l nao c o m i s s i o n a d o d e u u m a
m i l i t a r e s : Augusto Pinochet. executado p o r u m t i m e de a c r o b a t a s g u i a r p e l a l e g a l i d a d e . A contradição c o r o n h a d a e m sua f a c e , c o m o c a b o
O m i t o do l e g a l i s m o e d a d e l i c a d e z a do a r a m e r i c a n o s que e n t r a r a m no m a i s dramática de s u a v i d a , f o i t e r do r i f l e . H á u m a f o t o : o fotógrafo
deste e x e r c i t o f o i inventado pela p a i s sob a proteção da Operação s i d o um i n i m i g o congênito da violência o f i c i a i J u a n E n r i q u e L i r a , do j o r n a l
b u r g u e s i a c h i l e n a , e m s e u próprio U n i t a s , a f i m de f a z e r u m a e u m a p a i x o n a d o revolucionário . E l e E l Mercúrio, b a t e u u m a c h a p a . F o i o
i n t e r e s s e . A Unidade P o p u l a r manteve demonstração aérea no d i a 18 de acreditava ter resolvido esta único a quem se p e r m i t i u f o t o g r a f a r o
o m i t o , na esperança de m u d a r o s e t e m b r o , d i a da Independência contradição c o m a hipótese de que a s c o r p o . E s t a v a tao d e s f i g u r a d o , que
e s q u e m a de c o m a n d o em s e u f a v o r . N a c i o n a l . H a a i n d a a e v i d e n c i a de que condições c h i l e n a s p e r m i t i r i a m u m a quando f o i m o s t r a d o , já no caixão, à
M a s Salvador Allende sentia-se mais m u i t o s agentes das polícias s e c r e t a s evolução p a r a o s o c i a l i s m o , sob a s e n h o r a H o r t e n s i a A l l e n d e , não se
a vontade e p t r e o s C a r a b i n e i r o s , u m a de países v i z i n h o s se i n f i l t r a r a m l e g a l i d a d e b u r g u e s a . A experiência permitiu a ela descobrir a face.
força a r m a d a , de o r i g e m p o p u l a r e através d a f r o n t e i r a b o l i v i a n a , e se e n s i n o u - l h e , m u i t o t a r d e , que u m E l e f a r i a 64 anos no último m ê s de
c a m p o n e s a , que e s t a v a sob c o m a n d o e s c o n d e r a m ate o d i a do g o l p e , quando s i s t e m a nao pode s e r m o d i f i c a d o p o r julho e e r a u m Leão p e r f e i t o : t e n a z ,
d i r e t o do P r e s i d e n t e da República. De d e r a m início a u m a s a n g r e n t a um governo sem poder . f i r m e em suas decisões e imprevisível.
f a t o , a j u n t a teve que d e s c e r q u a t r o perseguição c o n t r a o s r e f u g i a d o s de E s s a t a r d i a desilusão deve t e r s i d o a "O que A l l e n d e p e n s a , só A l l e n d e
d e g r a u s n a h i e r a r q u i a dos £a,rabineiros, o u t r o s países l a t i n o - a m e r i c a n o s . E m força que o i m p e l i u a r e s i s t i r até a s a b e " , d i s s e - m e u m de s e u s
ate e n c o n t r a r u m o f i c i a l que a p o i a s s e 1972, u m g r u p o de c o n s e l h e i r o s m o r t e , defendendo a s ruínas m i n i s t r o s . E l e a m a v a a v i d a , a s flores,
o golpe. O s jovens o f i c i a i s a m e r i c a n o s fez u m a v i s i t a a L a P a z , f l a m e j a n t e s de u m a c a s a que nao e r a os c a e s , e r a m u i t o g a l a n t e , c o m u m
e n t r i n c h e i r a r a m - s e c o m seus c o l e g a s cujo o b j e t i v o nao f o i r e v e l a d o . a sua, u m a sóbria m a n s ã o que u m toque d a v e l h a e s c o l a e m s u a v o l t a ,
de o u t r a s p a t e n t e s , na e s c o l a de T a l v e z tenha s i d o a p e n a s coincidência, arquiteto italiano c o n s t r u i u para s e r coisas como cartas perfumadas e
o f i c i a i s de S a n t i a g o , e r e s i s t i r a m e n t r e t a n t o , que pouco t e m p o d e p o i s um palácio e que t e r m i n o u c o m o e n c o n t r o s f u r t i v o s . Sua m a i o r v i r t u d e
quatro d i a s , ate s e r e m desalojados desta v i s i t a , começaram movimentos r e f u g i o de u m p r e s i d e n t e s e m p o d e r . foi s e m p r e s e g u i r adiante, m a s o
p o r ataque aéreo. de t r o p a s na f r o n t e i r a da Bolívia c o m Ele r e s i s t i u por seis horas, c o m um d e s t i n o l h e r e s e r v o u apenas a trágica
E s t a f o i a m a i s c o n h e c i d a b a t a l h a de o C h i l e , dando a o s m i l i t a r e s c h i l e n o s r i f l e , que l h e f o i p r e s e n t e a d o p o r e r a r a g r a n d e z a de m o r r e r e m
todas a s que se t r a v a r a m d e n t r o d o s m a i s * u m a o p o r t u n i d a d e de reforçar Fidel Castro. Foi a primeira arma d e f e s a dos anacrônicos b o n e c o s d a
p o s t o s m i l i t a r e s , n a véspera do g o l p e . s u a s posições i n t e r n a s , e r e a l i z a r que S a l v a d o r A l l e n d e u s o u e m s u a justiça, defendendo u m a C o r t e
O s o f i c i a i s que se r e c u s a v a m a a p o i a r t r a n f e r e n c i a s de p e s s o a l e promoções v i d a . P o r v o l t a de q u a t r o h o r a s da S u p r e m a de Justiça, que o t i n h a
o g o l p e , o u que f a l h a v a m n a s missões na a r e a do a l t o - c o m a n d o favoráveis t a r d e , o g e n e r a l J a v i e r Palácios r e p u d i a d o m a s que l e g i t i m a r i a s e u s
de repressão, f o r a m m o r t o s ao g o l p e . c o n s e g u i u c h e g a r ao segundo a n d a r a s s a s s i n o s ; defendendo u m C o n g r e s s o
friamente pelos conspiradores. F i n a l m e n t e , a 11 de s e t e m b r o , do palácio, a c o m p a n h a d o de s e u miserável que o t i n h a d e c l a r a d o
R e g i m e n t o s i n t e i r o s se a m o t i n a r a m , enquanto se d e s e n v o l v i a a Operação ajudante de o r d e n s , capitão G a l l a r d o , i l e g a l , m a s que se d o b r a r i a
tanto e m S a n t i a g o c o m o no i n t e r i o r , U n i t a s , o plano o r i g i n a l - concebido à e u m g r u p o de o f i c i a i s . A l i , e m m e i o d o c u m e n t e ante a vontade d o s
e f o r a m r e p r i m i d o s s e m perdão, m e s a de u m j a n t a r e m W a s h i n g t o n - as f a l s a s c a d e i r a s e s t i l o Luís X V , u s u r p a d o r e s ; defendendo a l i b e r d a d e
tendo seus líderes s i d o m o r t o s c o m o f o i p o s t o e m prática, c o m u m a t r a s o v a s o s c h i n e s e s e p i n t u r a s de dos p a r t i d o s de oposição que v e n d e r a m
u m a lição p a r a a s t r o p a s . . . O de t r e s anos., m a s p r e c i s a m e n t e c o m o Rugendas, na ante-sala vermelha, suas a l m a s ao f a s c i s m o ; defendendo
c o m a n d a n t e d a unidade de b l i n d a d o s t i n h a s i d o c o n c e b i d o : nao c o m o u m Salvador Allende os esperava. E l e toda a parafernália de u m s i s t e m a de
de V i n a D e l M a r , c o r o n e l C a n t u a r i a s , golpe c o n v e n c i o n a l de q u a r t e l , m a s e s t a v a e m m a n g a s de c a m i s a , c o m m e r d a que e l e t i n h a p r o p o s t o a b o l i r ,
f o i m e t r a l h a d o p o r seus c o m o u m a d e v a s t a d o r a operação de u m c a p a c e t e de m i n e i r o e o r i f l e , m a s sem u m t i r o s e r d i s p a r a d o . O d r a m a
s u b o r d i n a d o s . Será p r e c i s o m u i t o guerra. t i n h a pouco munição. a c o n t e c e u no C h i l e , p a r a tragédia dos
t e m p o , p a r a que o n u m e r o de vítimas 5 - UM CORPO DESFIGURADO Allende- conhecia b e m o general c h i l e n o s , m a s passará à história
desta c a r n i f i c i n a interna seja T i n h a que s e r d e s t a m a n e i r a , p o i s nao Palácios. A l g u n s d i a s antes e l e d i s s e c o m o a l g o que a c o n t e c e u a nós t o d o s ,
conhecido, pois os corpos dos m o r t o s e r a apenas o p r o b l e m a de d e r r u b a r a A u g u s t o O l i v a r e s que e s t e e r a u m crianças d e s t a e r a , e ficará e m
f o r a m t r a n s f e r i d o s dos quartéis e m um g o v e r n o , m a s de p l a n t a r a s n e g r a s h o m e m p e r i g o s o , c o m ligações m u i t o nossas vidas para sempre. •

...prá q u e m a c o r d a c e d o , p e g a c o n d u ç ã o ,

d á d u r o , t e m u m a h o r a d e a l m o ç o , s a i a s s e i s e

p r o v e s e r i n t e l i g e n t e .

E também prá quem não faz nada disso e prove a mesma coisa.

GRUPO
inscrições abertas Z Z EDUCACIONAL
CESCEM CESCEA MAPOFEI ^ M T EQUIPE ^ ^ ^ ^ ^
Jane Fonda,

enviada e s p e c i a l

ao V i e t n a n ,
Tom Hayden, eu e o nosso bebê de 9 meses, Troy,
chegamos a Hanói dia 19 de abril. Era minha segunda v i s i t a ,
e a quarta de Tom; ma& esta seria a mais longa permanência de
nós dois. Era a época indicada para uma v i s i t a longa. 0 país uma
vez mais se reconstruía ã beira da guerra; e o Sul se defrontava com a perspectiva
de uma nova guerra interminável, que havia começado quase ao mesmo tempo
do desejado cessar-fogo. Assim deixamos Troy em Hanói, em boas mãos, e
iniciamos uma jornada ao Sul, de duas semanas, com o diretor de cinema
Haskell Wexler e um câroera-man, e um técnico de som da República Democrática do
Vietnan. 0 filme está agora sendo editado e deve,, ficar pronto até o fim do ano. Será
distribuído através da Campanha de Paz da Indochina, cem sede em Santa
Monica. O que segue é uma série de lembranças, sob forma de
diário, do que v i , olhei e senti,
enquanto o grupo se d i r i g i a de Hanói até a zona
liberada da província de-Quang T r i .

Um país feito a mão


nesta descrição, bonitas em sua provincial f o i bombardeado pelo tentando salvar pacientes. O edíficio
Apesar da guerra continuar no Sul, o
bombardeio sobre o Norte parou - graça despojada. Moderno, mas ainda menos uma vez, bem como centros onde elas morreram era agora uma
riinguém sabe por quanto tempo - e vietnamita. residenciais, escolas, pagodes, p i l h a de destroços, e há un pequeno
assim as pessoas do Norte lançam-se catedrais. Com exceção do centro monumento em sua homenagem.'
Em Hanói, porém, o luxo da estética de Hanói, poupado por razoes
ã reconstrução. Habitações, escolas, Fiquei chocada com os danos que eu v i ,
tem de ser adiado. Eles precisam de- diplomáticas, todas as outras
estradas, serviços de saúde prédios inteiros desaparecidos, tetos
constituem as necessidades imediatas. muita coisa, e em muito pouco tempo. cidades do Norte têm que ser e paredes derrubados. Chovia fino e
Desta vez, v i s i t e i alguns lugares Para a gente apreciar ^talmerste / reconstruídas^ em muitos lugares tínhamos de
perto de Hanói, que tinham sido o e s p i r i t o e a resolução oom que os Os sinais de apoio internacional atravessar poças dágua, enquanto
bombardeados em 1972. Un deles era vietnamitas parecem enfrentar a.tarefa são vistos em toda parte. Casas visitávamos as enfermarias. Ainda
um grande bloco de dormitórios de de reconstrução, é preciso t e r em mente pré-fabricadas vieram do Japão; assim o hospital continuava funcionando.
milhares de trabalhadores. a extensão de destruição. czmiinbois, guindastes e tratores, da Operações são f e i t a s , crianças nascem,
Una série de programas de reconstrução China e União Soviética; maquinaria, destroços sao removidos e novas
rápida f o i iniciado desde a Qualquer visitante notará logo que . paredes construídas em v o l t a deles. O
da Europa Oriental; mapeamentos e
assinatura dos acordos de paz, todas as grandes estruturas, e muitas . Dr. Dai disse, rindo: "Em condições
equipamentos hospitalar, da. Suécia.*
para garantir casa a todos os das pequenas, toda ponte> toda normais, este hospital estaria
desabrigados. l o c a i s , como os que estrada, principalmente nos arredores 0 artigo 21 do acordo de p a z o b r i g a os condenado, e se a gente i n s i s t i s s e em
visitamos, terão 12 edíficios, de Hanõi^ foram bombardeadas. Como uma EUA a a u x i l i a r na reconstrução, mas - continuar, seriamos presos."
abrigando 60 famílias cada um.Utt epidemia, crateras marcam os campos a administração Nixon tem-se- recusado
jardim de infância e lojas fazem perto das estradas. O debate sobre se e está mesmo bloqueando fundos Nguyen Khac Vien, e s c r i t o r è editor,
parte dos conjuntos. 400 trabalhadores, o Pentágono "pretendia" atingir apenas norte-americanos para o programa da resumiu os problemas da reconstrução.
metade deles mulheres, ocupavam-se da objetivos militares, que seja UNIQSF de ajuda ãs crianças vietnamitas. "O desenvolvimento i n d u s t r i a l requer
construção, quando os visitamos. Eles resolvido pelos historiadores; isso certo ritmo de vida. listamos
não mudará o fato de que praticamente No entanto, o povo ainericano levantou, desenvolvendo isso com os soldados,
não têm indústrias de prê-fabricados;
tudo f o i bombardeado.' nos últimos 18 meses, mais de um milhão camponeses, estudantes que tiveram
assim, as peças de cimento são
de dólares - a maior parte em moedas de nada de experiência. Em Hanói existem
construídas no l o c a l , em moldes
Esta é a terceira vez que o mesmo 5 e 10 centavos - para a u x i l i o médico
cavados no chão. São necessários centenas e centenas de pessoas que 10
povo começa a recoristruir seu pais, ã TjTdochina. Esta campanha se
4 ou 5 meses para terminar um anos atrás nunca estiveram numa cidade
em 30 anos. Após a guerra de 10 anos comprometeu a reconstruir a a l a de
prédio. Quase tudo parece ser f e i t o em c r i s e . Quando o semáforo está
contra os franceses, derrotados em otorrino do Hospital Bach Mai, de
a mão, mas existem alguns caminhões e vermelho, por exemplo, muitas pessoas
1954, eles nos contam que sobraram especial importância, pois muitas
guindastes em volta. "Depois de 13 continuam andando. Isso não tem
apenas 100 quilômetros de ferrovias crianças ficaram surdas com o barulho
anos de guerra, nós não podemos importância porque existem poucos carros
e uma pequena rodovia. A moderna das bombas. Os primeiros equipamentos
fabricar máquinas", explicou um e você não pode ser atropelado por uma
indústria só contribui com 1,5% do enviados já chegaram.
dirigente no l o c a l das construções. bicicleta.Mas nas fábricas ê difícil
Produto Nacional. Então em_1965,
As casas não têm luxos, como Eu e Tom já tínhamos visitado o para as pessoas trabalhar obedecendo
Johnson começou a guerra aérea, e
venezianas ou tintas brilhantes. D um horário. Um artesão pode fumar
tudo aquilo f o i destruído. Apôs a hospital Bach Mai, antes do terror do
contraste entre elas e a delicada cachimbo por 15 minutos e voltar ao
suspensão dos bombardeios, em 1969, bcmbardêio, no Natal de 1972.
riqueza da arquitetura vietnamita trabalho. Mas numa linha de montagem,
mais uma vez eles recomeçaram a Jjsnibrei-me das médicas que tinha
tradicional é doloroso. Em 1972,- . você tem que chegar na hora, e
construir; mas em 1972 Nixon conhecido. Vejo seus restos fortes
disseram-me que o Vietnam reconstruído desenvolver ritmos de trabalho. Un
recomeça os bombardeios, e desta vez toda vez que mostramos nossos
do futuro seria "vietnamita, prático, examplo extremo de trabalho, são os
nada foi. poupado. Foram atingidos slides das "mulheres do Vietnam".
simples, compreensível a qualquer montanheses. Nos feriados, eles voltam
todos os centros industriais, Quando f a l e i que queria vê-las
um". Na verdade, vimos no i n t e r i o r para as v i l a s para as férias de 3
represas, diques, fazendas novamentei me disseram que a maioria
algumas áreas novas que se encaixam meses! Mas nós não podemos fazer isso.»
goyemamentais. Todo hospital morreu durante o bombardeio,
continuação

"O d i r e t o r da f á b r i c a de b i c i c l e t a s ,
o r g u l h o s o , mostra a sua: i n t e i r i n h a f e i t a
de b o m b a r d e i r o s a m e r i c a n o s a b a t i d o s "

Um regime s o c i a l i s t a proíbe qualquer podiam sustentar suas famílias. Muitas


um de ser despedido. Temos sessões de delas faziam operações plásticas para
crítica, mas na maioria das vezes isso arredondar os olhos e aumentar os seios
não os preocupa. Assim, após as férias, Salões de massagem e filmes ocidentais
nós os recebemos de volta e dentro de enchem as ruas de Saigon.
alguns anos eles chegarão a padrões
normais de trabalho." ONDE HO NASCEU

"Também há um problema de direção. Os Vinh chegou a t e r a quarta maior


soldados que lutaram bravamente não população entre as cidades do Norte.
se teansformam necessariamente em Localizada numa e s t r e i t a região
bons diretores. Mas um bom técnico, conhecida como Cabo da Panela, na
que não lutou, tem o problema de província onde Ho Chi Minh nasceu, o que
adquirir o respeito dos trabalhadores resta da cidade de Vinh são troncos de
árvores e espaços vazios, e esqueletos
que lutaram. Problemas humanos. É
de prédios marcados por fragmentos de
difícil encontrar militantes
bombas.
especializados. Assim, temos pessoas
mais velhas que lutaram e jovens que A p a r t i r de 5 de agosto de 1964, o
estudaram, desenvolvendo-se juntas." primeiro d i a da guerra aérea de
Johnson, até o cessar-fogo de 1973, Vinh
Nguyen Dinh.Thi, autor t e a t r a l ,
sofreu 34.000 ataques aéreos, incluindo
descreveu com uma imagem o problema
12 B-52 e um F - l l l . 35 navios, foram
da industrialização de uma sociedade
afundados...Como em qualquer lugar que
camponesa. "Imagine 10 camponeses
visitamos, fizemos as anotações numa
diante de um automóvel, nenhum deles
longa mesa com chá e biscoitos,
mecânico ou motorista. São inteligentes
enquanto um porta-voz dava um relato
e trabalhadores e podem se unir para
cuidadosamente detalhado.
lutar contra um tirano. Mas o máximo
que fazem ê empurrar o carro. Sob o
domínio francês havia apenas um ARTHUR MTTiTFiR
engenheiro vietnamita em toda Tenho v i s t o "yankee go nome" escrito
Tjridochina. Agora, no Norte, vemos o em vários muros de muitos países. Mas
problema bem cedo e passamos privações no Vietnan, mesmo em 1972, nunca ouvi
para mandar um de nossos jovens até o suicidou-se de tanta frustração. ou v i qualquer slogan antiamericano.
enormes posters pendurados nos
exterior para estudar. Hoje podemos Finalmente, substituíram-na por uma Eles apontavam para crateras de bombas
cruzamentos_em 1972, que anunciavam
esperar que, entre 10 camponeses, ponte suspensa, cuja construção e diziam acusadoramente "Johnson" ou
quantos aviões tinham sido
haverá) pelo menos uma criança que demorou 5 anos. Bombardeiros destruíram "Nixon", mas nunca "ianque".
derrubados, agora mostram
sabe d i r i g i r . " gente reconstruindo e plantando. a ponte no fim da década de 60, mas os Fiquei surpreendida com essa f a l t a de
Para os vietnamitas, seu país tem vietnamitas a reconstruíram em 1973, hostilidade em relação aos americanos,
uma língua e uma história comuns, uma em 69 dias. até que comecei a descobrir que há um
TROY
cultura, apesar de dividido em Norte e esforço, em todos os níveis, para ajudar
Sul. A responsabilidade pelo'Sul ê Eu tinha decidido que queria outro DONG HA VIBRA o povo vietnamita a compreender quem
fortemente sentida na medida em que o f i l h o quando estava em Hanói, em 1972. somos nós, nossa história e cultura.
Assim dois anos depois, Troy veio Dong Ha já teve 40 m i l habitantes.
Norte se reconstrói. Lutadores feridos Nunca f o i bombardeada durante a
e vítimas de torturas na prisão, assim conosco. Tínhamos sido avisados O Comitê de Solidariedade é o p r i n c i p a l
anteriormente que não poderíamos reocupação. Mas dois dias antes da responsável por este trabalho. A
como órfãos, são enviados ao Norte assinatura do acordo de paz, os EUA
onde há facilidades de cuidado. levar Troy para o Sul, pois a viagem história americana tem sido traduzida
seria muito dura. Não sabíamos que enviaram bombardeiros B-52 e a para o vietnamita. Assim eles conhecem
Nguyen Khae Vien descreveu^os laços' achataram. Hoje Dong Ha está novamente
entre as duas partes do país. "Nós a viagem levaria duas semanas de jeep. tanto Thomas Paine como racismo e
Estávamos mais ou menos ansiosos, mas vibrando. A praça do mercado está genocídio. Filmes de movimentos contra
sempre dividimos alegrias e tragédias. povoada e há carne, açúcar, sorvete e
0 Sul tem sido brutalmente devastado. lembramos que muitas famílias a guerra foram mostrados por unidades
vietnamitas ficaram separadas por tabaco. Ao contrário das zonas de móveis. Eles cantam canções americanas
Agora que as zonas liberadas desfrutam Saigon, o arroz não é um grande
de r e l a t i v a calma, nossos amigos vários meses e até anos por vários progressistas que aprenderam de Joan
bombardeios. A doutora Huong f o i problema aqui. As autoridades prevêem Baez e Peter Seeger ou através de
do Sul são capazes de começar a que brevemente estarão até exportando
reconstrução. É natural que o Norte, escolhida para tomar conta de Troy. rádios ocidentais.
E l a é uma médica assistente do o produto. Todos têm pelo menos um
menos devastado, colabore. Todos nós teto provisório. Vimos muitas casas
temos parentes no Sul. Quando estamos Vietnan do Sul, que trabalha e mora UM DIA NA CORTE
num jardim de infância de Hanói. remendadas com alumínios e outros
formando Uma biblioteca numa cidade materiais salvos de bases abandonadas. Um d i a soubemos de um julgamento em
do Norte, compramos dois l i v r o s : um Deixou seus próprios f i l h o s , de 9
e 11 anos, para mudar-se para um Em Dong Ha, encontramos um grupo . de Dong Ha. Três antigos soldados de
para o Norte e outro para o Sul. Nas artistas do Conjunto de Canto e Dança Saigon tinham matado alguém. Era um
fábricas têxteis as pessoas trabalham quarto no andar térreo do hotel,
e f i c a r com Troy durante a maior Libertação. Fui apresentada como a moça crime passional, pelo qual eles já
horas extras para produzir tecidos que fez Barbarella e agora está se tinham cumprido seis meses.
para o Sul. Em todos os setores parte dos 24 dias que estivemos
no Vietnan. Chorou quando teve dedicando ã paz.
acontece a mesma coisa." Fomos levados a uma sala de reuniões,
que dizer adeus a ele. Foi a parte recém-construída, abarrotada pelos
mais difícil da despedida. Freqüentemente me parece que uma das
Visitamos uma fábrica de b i c i c l e t a s qualidades vietnamitas mais preciosas ê habitantes da cidade, talvez uns 300.
ha cidade de Than Hoa onde há quase 200 a habilidade para mudar. Assim, antigos Outros ficaram lã fora, ouvindo os
trabalhadores, 80 dos quais eram mulheres. Durante a viagem de duas semanas o f i c i a i s de Saigon são aceitos em zonas alto-falantes. Na extremidade do salão
Produzem cerca de 400 estruturas de pelo Sul, recebemos telefonemas liberadas, e prostitutas aceitas em havia três juizes sentados - eram
b i c i c l e t a s por mês, a maior parte de constantes informando sobre o que postos importantes. Em casa eu era mais representantes da Frente de Libertação
restos de aviões americanos e invólucros Troy tinha comido, como estava aceita pomo Barbarella, e os primeiros l o c a l . Ao lado de cada um havia um
de bombas. Estes são derretidos e prensados dormindo e quanto tinha engordado. discursos que f i z foram rotulados como escrivão e, um promotor. Logo abaixo, no
sob forma de estruturas e correntes. "venha e ouça Barbarella f a l a r " . A lado oposto, estavam as famílias das
0 diretor da fábrica mostrou, 0 QUEIXO DO DRAGÃO mudança ê inquietante. V i v i muito vítimas e testemunhas. Do outro lado, a
orgulhoso, sua própria b i c i c l e t a , tempo com todas ás armadilhas e com a defesa. Os três foram condenados a 18
Quando apenas chegamos ã província estrutura mental de uma sociedade meses de prisão, com d i r e i t o a sursis.
parte da qual f e i t a com restos de
de Thanh Hoa, vimos caminhões com alienada. De fato', como a t r i z sem
bombardeiros de Johnson e parte dos Fizemos várias perguntas sobre o
bandeiras do Governo Revolucionário consciência s o c i a l , era uno promotora
bombardeiros de Nixon. Provisório s u l i s t a atravessando sistema judiciário nas áreas liberadas.
dessa cultura. Agora, não só tenho que
uma ponte a caminho do Sul, levando l i d a r com seus efeitos libertadores Madame Chi (do Comitê Conselheiro do
HANOI bambus para casas, sementes de Governo Provisório) explicou que não
sobre mim, mas também tenho que
As ruas de Hanói estão barulhentas e arroz, coqueiros e búfalos. considerar que essa cultura está sendo havia estrutura definida, já que não
exuberantes; e mais do que isso, Reconheci esta famosa ponte de um (conscientemente) exportada para outros existe constituição. "Somos um governo
existem crianças; multidões benignas pôster cubano. Localizada entre duas países (encontramos uma tradução do provisório", disse. "A Constituição do
de belas crianças com aparência f e l i z montanhas, com quase 400 metros de l i v r o Barbarella ã venda num hotel de Vietnan do Sul será e s c r i t a por um
nos seguiam, os visitantes de pele altitude, a ponte era um objetivo Bangladesh, enquanto os jornais falavam governo de coalizão e l e i t o pelo povo.
branca, sempre que dávamos um passeio. perfeito e desafiante para os pilotos de ameaça de fome). Um pintor disse Isso acontecerá assim que o acordo
Quase não haviai crianças em Hanói dos EUA. A montanha de um dos lados apaixonadamente: "Talvez os americanos de paz f o r cumprido integralmente."
quando estive lã, em julho de 1972. tinha sido bombardeada e ficou reduzida pensem que a guerra no Vietnan ê
Centenas de milhares delas tinham a um terço. Os o f i c i a i s da Província, principalmente uma agressão t e r r i t o r i a l . INDO PARA 0 SUL
sido evacuadas para o i n t e r i o r e disseram que 106 aviões foram derrubados Aqui os Estados Unidos não só
foram abrigadas em casas de camponeses. aqui. Isto é: em média, 1 avião para A viagem de Hanói â zona desmilitarizada
construíram bases, mas atacaram nossas
Nunca v i grandes grupos de pessoas cada 2 metros de ponte. Ham Hong, o leva_dois dias e meio. A estrada é
estruturas sociais e culturais. Os
reunidas, os bombardeios tornavam nome da ponte, s i g n i f i c a Queixo do " Estados Unidos tentaram transformar o suficientemente larga para a passagem de
isso muito perigoso; os visitantes Dragão, e um o f i c i a l contou a história. Vietnan num dos 51 estados, e os caminhões e dois terços dela estão
estrangeiros limitavpm-se às viagens, Foi construída originalmente pelos vietnamitas em americanos de pele pavimentados.
è estas, em geral, ocorriam no franceses, em 1905, mas não podia ser amarela. Eles trouxeram ao Vietnan a Desisti de contar as crateras de bombas
escuro em carros camuflados. Ilas em terminada porque o l e i t o do r i o se cultura da decadência". que eu v i no caminho. Algumas vezes,
a b r i l de 1974, 15 meses após o Acordo recusava a apoiar um dos pilares
contamos mais de 40, algumas com
de Paz, podíamos andar sós por toda principais. Por isso os franceses
Ainda permanecem no Vietnan do Sul aproximadamente 10 metros de largura.
Hanói. Ao invés de alerta de ataque trouxeram engenheiros alemães para
entre 400 e 500 mil prostitutas, a Lembram-se .dos noticiários, "hoje aviões
aéreo, os alto-falantes nas ruas enfrentar o problema, mas eles também
maioria das quais recrutadas no i n t e r i o r /americanos atingiram uma importante
tocavam músicas vietnamitas. Os não conseguiram ajudar. Um alemão
ou refugiadas que se vendiam, porque não rodovia no Vietnan do Norte, destruíram;?
Soo Paulo, setembro de 1974

continuação

"Quanto m a i s me a p r o f u n d e i em t e r r i t ó r i o
v i e t c o n g , m a i s gado e u v i ,
e a s c a s a s t i n h a m um a r p r ó s p e r o "

quando passaram pude ver o rosto de


uma ponte e ?" Aqui estavam essas
um jovem agonizando. E l e morreu uns
pontes, algumas com menos de 5 metros
20_minutos depois. Sangrou até morrer.
de comprimento.
Tinha 26 anos e seu nome era Van Ba.
A viagem f o i dura. Não só pelo calor e
Alguns minutos depois, uma segunda
poeira, mas a visão do jeep era
constrangedora, e nós tínhamos muito maca f o i trazida com outro corpo
tempo para pensar no significado dessa coberto. Bui Thi Duanh morreu a
vitória. Como é que os computadores caminho do hospital.
poderiam prever que bandos de escolares O Suboomite relatou que "até agora
inventariam modos de desligar bombas- nem o pentágono nem a missão da USAID'
relógio lançadas ã noite? soldados atribuem qualquer grau de
andando por meses carregando partes de responsabilidade aos EUA nesta área.
tanques nas costas? estes soldados
sendo alimentados e abrigados por O OUTRO GOVERNO
camponeses que não soltavam seus
segredos? Poderiam eles imaginar que Sob os termos do acordo de paz, existem
um time de mulheres trabalhando duas adniinistraçois no Vietnan do 'Bul:
ã noite, pode encher uma cratera de a República do Vietnan (Saigon) e o
bomba cem as mãos e em pouoos dias Governo Revolucionário Provisório(GRP).
restabelecer o tráfego! Saigon controla a maioria das grandes
cidades; e o GRP, a maioria do campo.
E aqui estávamos nós, indo para o Sul
O antecessor direto do GRP era a
pela rodovia 1, observando o trem
Frente de Libertação Nacional- FLN -
carregado de pessoas, homens e mulheres
fundada em 1960. A FLN era uma união
consertando a estrada, rochas e montões
de estudantes, minorias, católicos,
de terra; e uma cadeia humana nivelando
comunistas. O que os uniu f o i a oposição
a estrada, com a paisagem despida, .
ã ditadura Diem-americana. O programa da
plantada com arvorezinhas para florestas
FLN era acabar com o domínio econômico,
do futuro. Uma nação sendo reconstruída
cultural e político dos EUA no Vietnan,
a mão.
incluindo o regime Diem, e promover
à medida que nos aproximávamos do Sul, mudanças sociais como reforma agrária,
pior ficava a estrada. As crateras estabelecimento de liberdades
ficavam mais perto. bombardeada no Vietnan do Gul. Era democráticas, igualdade para as
atingiam os barcos, e uma vez tive que
uma área de importância estratégica mulheres e desenvolvimento da educação.
No fim do segundo d i a chegamos ao nadar um quilômetro até a praia". O
senhor Diet contou que sua casa por várias razoes. Foi ponto de
d i s t r i t o de Vinh Linh, metade no Norte Em junho de 1969, com o i n i c i o das
tinha sido bombardeada e destruída apoio para a invasão do Laos, em
e metade no Sul. conversações de paz em Paris, surgiu a
pela 79 Frota. E l e e seus amigos a 1971, e local de batalha pelo Campo
necessidade de se formar um governo: o
Eu tinha v i s t o um maravilhoso reconstruíram sete vezes. C a r r o l l , rodovia 9 e Khe Sanh.
Também f o i a primeira área a ser GRP. Isso ocorreu durante um congresso
documentário de J e r i s Ivan,"Paralelo 17"
NA ZONA DESMILITARIZADA liberada na ofensiva de 1972, quando de representantes na zona liberada
filmado antes de Vinh Linh ser arrasada.
forças de Saigon e dos EUA perto de Saigon.
Foram derrubadas lã 10 toneladas de O r i o Ben Hai marca o paralelo 17,
bombas por pessoa, num d i s t r i t o que ou o que f o i o meio da zona retrocederam e abandonaram bases de Assim como a FLN, o GRP ê uma coligação
tinha sido muito fértil, com r i c a desmilitarizada. Chegamos a l i numa vários milhois de dólares. Não de personalidades da FLN e da Aliança
vegetação e agradáveis casas de dois calma manhã de domingo, após meia podendo controlar o território, de Forças Nacionais Democráticas e da
andares. hora de viagem de Vinh Linh. A os EUA tentaram tirá-lo do mapa, Paz.
grande bandeira vermelha e dourada bombardeando continuamente com B-52 -
Muito f o i reconstruído no último ano, napalm, desfolhantes e gases químicos. O GRP já f o i reconhecido por 38 países.
mas ainria podíamos ver vastos espaços da República Democrática do Vietnan Na conferência de países não-alinhados
onde a terra parece morta. tremulava na margem norte. A na Argélia, em setembro de 1973,
Desde a primavera de 1972, 85% da
bandeira azul, vermelha e dourada do representantes de 100 países,
Visitamos uma grande fazenda estadual província de Quang T r i ficaram sob
Governo Revolucionário tremulava do
onde as seringueiras e pimenteiras controle do Governo Provisório. representando cerca de dois b i l h o i s de
outro lado do r i o . A estratégia
foram replantadas.. Os trabalhadores, pessoas, reconheceram o GRP aomo único
americana, que tentou c r i a r uma
disseram que foram jogadas 200 MINAS, APAVORANTES representante legítimo do Vietnan do Sul
barreira, tinha acabado; e agora
toneladas de bomba por acre. Andamos camponeses, pescadores, búfalos e Quando as forças dos EUA se retiraram,
ao redor de duas crateras produzidas Mas, como em qualquer governo, o
alguns carrdnhoes iam e vinham pela deixaram atrás de s i um número teste fundamental da legitimidade
por bombas de 200 Kg jogadas de B-52, estreita ponte. "Eles podiam destruir incontável de minas não explodidas,
para observar quatro tratores russos está na sua habilidade de melhorar a
pontes de metal, mas não as pontes talvez mais apavorantes do que as
novos brilhando, nivelando a terra, vida do povo e c r i a r uma sociedade
de nosso coração"', disse um o f i c i a l . bombas - porque não são visíveis.
preparando-a para a colheita de estável.
Esperávamos na ponte a devolução
outono. Uma trabalhadorardisse que, dos nossos passaportes. O Governo Não há nenhum ruído de avião, Um jornalista de Washington, em
durante a guerra, eles continuaram Provisório tem documento e nenhum aviso de alerta aéreo, mas, v i s i t a ã v i l a de Binh Phu, no delta
trabalhando; "quando atacavam, íamos procedimento próprios. Olhei o duas ou três vezes ao dia, o pisar do Mekong, no início de 1973, relatou:
para os túneis, quando iam embora, outro lado do r i o . O Ben Hai não é suave de uma sandália de borracha "Parece que o vietoong está fazendo
voltávamos. Desse modo, apesar da muito largo, um pescador poderia provoca ferimentos, mutilações ou morte. parte da sociedade afluente, porque há
destruição, sempre tínhamos o que atravessá-lo sem esforço. Os vários sinais de riqueza r u r a l , barcos
Só para construir os quartos de
comer. E cantávamos. Nosso lema era habitantes da v i l a pontilham suas com motores, bombas de água americanas,
hóspedes onde ficamos, que ocupam
"vamos cantar e abafar o barulho das margens. Membros de uma mesma bastante comida e gado. Um repórter do
uma área de um quarteirão, 400
bombas". família em geral moram numa e Newsweek, em viagem por Ca Mau, no
minas foram detonadas. Um ano depois
noutra margem; mesmo assim após da assinatura do acordo de paz, extremo s u l do Vietnan, escreveu:
Pedimos para v i s i t a r esses túneis. Tom 1954 os visitantes do Norte eram "Quanto mais se aprofunda em território'
e eu ouvimos f a l a r nas cidades as minas mataram 300 pessoas e_1.000
considerados invasores. Recebemos búfalos em Quang T r i . Ê difícil vietoong, mais gado eu v i , e as casas
subterrâneas de Vinh Linh, labirintos nossos documentos e andamos pela tinham um ar próspero."
que se aprofundam na terra com amplas detectar as minas, devido ao enorme
ponte, para a zona liberada de volume de restos de metal pouco
salas de reuniões, postos de água, Quang T r i . Sentimos uma diferença A prosperidade r e l a t i v a do GRP deve-se
salas de aula e de parto. 70 m i l abaixo do solo. A queima controlada inicialmente, ao fato de que sua
em Quang T r i . Ao contrário do Norte, de áreas minadas tem tido um efeito
pessoas foram forçadas a viver a l i o povo do Sul nunca conheceu a paz economia não depende de auxílio
durante os bombardeios. irónirno.
durante suas vidas, e não só tem estrangeiro aomo Saigon. As pessoas
sido submetido a bombardeios, mas O problema não- se limita a Quançj T r i . trabalham coletivamente para melhorar
Descemos levando lanternas por longos
também a ocupações estrangeiras, A missão de estudos, do Suboomite a terra, assim como lutaram juntas
túneis de terra, passando por quatro
primeiro a França, depois os EUA. Kennedy sobre refugiados r e l a t a que para defendê-la. A economia é
cubículos minúsculos, que se ligavam ã
A terra tem um aspecto diferente, há, em toda Indochina, entre 150 a planejada.
passagem p r i n c i p a l a intervalos
regulares. Cada um abrigava uma família. como se tivesse sido pisada até 300 milhois de quilos de explosivos, Q GRP tem enfatizado o desenvolvimento
Um era sala de parto, onde nasceram 17 a morte por botas estrangeiras. "que podem explodir em seus campos educacional tanto de crianças como de
crianças. A prolongada f a l t a de oxigênio Latas de Pepsi e de cerveja, l i x o e florestas durante os próximos anos". adultos. Muito da área que ocupam *
e luz solar nesses túneis provocou e restos. Os olhos das pessoas agora estava antes temado por forças,
pareciam repletos de memórias Uma manhã visitamos o hospital de
problemas de pele, tuberculose e e a proporção de analfabetismo era
recentes de campos de concentração • Quang T r i . Durante os bombardeios
reumatismo, principalmente em velhos e alta. Agora em Quang T r i , por exemplo,
crianças. Após 10 minutos (não e violências. Nossos amigos tinham dito de limpeza, o hospital tinha sido
65% da população ê alfabetizada.
tínhamos sequer atingido as salas de que o Sul fora mais destruído. transferido para a selva. Agora
reuniões maiores) tudo o que eu Agora, sentimos o impacto dessas f o i reoondtruido nas ruínas com 150 Numa época em que a c r i s e econômica de
queria era s a i r d a l i . Tom e eu palavras. Isso me entristeceu mais l e i t o s , 15 médicos e 35 enfermeiras. Saigon piora - o custo de vida dobrou
percebemos que não poderíamos do que qualquer coisa que tenha Todo tratamento ê gratuito. no último ano e a fome se alastra - a
sobreviver nesse tipo de vida visto no Norte. crescente estabilidade das zonas do GBP
Vimos rrderoscópios e equipamentos tem explicações políticas profundas.
subterrânea. cirúrgicos de outros países, mas De acordo com o ministro de Refugiados
Há menos gente, e mais mulheres tragicamente poucos - comparados de Saigon, 600.000 famílias pediram
O senhor Diet, pescador de 70 anos, que homens. O motivo: "Alguns homens com a maciça necessidade da província. permissão para retornar às suas casas
disse que passou quase 3 anos aqui.
são forçados a f i c a r no exército de Devido ã f a l t a de plasma, ê difícil nas áreas do GRP. E contaram-nos que
"Nunca sabíamos quando vinham as
Thieu. Alguns morreram", explicou uma evitar que pessoas morram de hemorragia. os soldados de Saigon, e até mesmo
bombas. Quando elas paravam saíamos
mulher que trabalha num moinho do o f i c i a i s ãs vezes, fazem trocas com
para o mar e pescávamos, depois De repente, vimos dois homens correndo
Sul. o GRP, para arranjar comida suficiente
voltávamos aos túneis. As bombas caiam com uma maca em direção ao hospital.
perto dos barcos. Algumas vezes A província de Quang T r i f o i a mais E l a estava molhada de sangue, e para se alimentarem. •
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Por isso, sou fiel a ele.
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nesta reportagem ela decidiu levar o jornalismo-vivência às últimas
conseqüências: experimentou na carne o drama de uma prostituta.

Texto e
experiência de
Kate Coleman
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A Q U I , VOCÊSABE apenas compensações financeiras: dão ao cliente o telefone de sua
MARLY, TERESONA,
O N D E IR. E M N O V A - "Eu simplesmente própria casa, passando a perna
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Y O R K , PROCURE adorava todos os minutos do n e l a , e nao dividem as gorjetas
C O M O A DE
A CLARE, negocio. Foi o maior divertimento recebidas na intimidade. Clare
N O S S A LAURIE
N O EAST SI DE. da minha v i d a . assume pose de um mártir quando
A h , eu era uma tremenda questionada sobre a justiça de
No 199 andar de um luxuoso m u l h e r . . . elegante. Eu deixava dividir o dinheiro de uma Olhos escuros e pele morena, Laurie
prédio de apartamentos no East os caras ligados, com meus dormida igualmente, uma v e z que se autodenomina uma prostituta
Side, Nova York, o sol do fim de cabelos longos, loiros; e com as a prostituta parece fazer todo o
"estritamente n e g o c i a n t e " . Sua
tarde entra através das frestas da minhas unhas compridas - que eu trabalho. Ela responde que da para
figura tensa e uma voz estridente
janela, formando um mosaico de ainda conservo - e com meus as meninas um lugar limpo e uma refletem uma natureza nervosa.
cores no assoalho. Uma dracena se s e i o s . . . vou te contar: eu clientela respeitável, seus fregueses Usa peruca l o i r a , um pouco aberta
espalha sobre a sala de estar. O parecia uma maquina IBM - ha anos. demais para seu rosto pequeno e
apartamento, de dois quartos a o jeito que eu andava e f a l a v a , Para se proteger da p o l í c i a , Clare inadequada para sua pele escura.
500 dólares por més, é um bordel, tudo muito c a l m o " . paga o porteiro e o zelador do prédio: Encontrei-a no apartamento de Clare
que presta serviços aos homens de A Clare de hoje ainda tem os. "os donos do apartamento nao sabem e ela concordou imediatamente em
negócios. Depois do expediente, cabelos até a cintura, mas sao de nada". A cada dois ou tres anos me dar uma entrevista. Para ela e
o apartamento serve de residência grisalhos e presos em cima da troca de apartamento e telefone, e algo como uma confissão, um ritual
para a madame. cabeça, com uma rendinha assim se desfaz de clientes cujos em queeia oferece sua tristeza.
Clare é uma ex-prostituta, que c o l o r i d a . Ela nao usa maquiagem negócios não interessam mais (ou Ela dá a idade como " 2 3 ja
venceu os obstáculos da m e i a - nas faces, exceto um batom porque eles mostram tendências chegando aos 9 0 " . Sempre
idade, ao tornar-se proprietária (usado à Ia Joan Crawford), e à violência, ou porque estão acrescenta dois ou tres anos a mais
de um negócio prospero e lucrativo. sua única mania e enfeitar de pagando muito pouco). para os clientes, coisa que ela
Uma vovó, ja na casa dos 6 0 , maneira esquisita as unhas. Ela Por um lado ela idealiza sua • aparenta. Laurie não tem sorte.
ela entrou bem tarde na prostituição, é durona e desbocada. As meninas própria experiência como prostituta; Sua vida é uma hi stória de
com 38 anos, viuva depois do e os cliente passam o tempo em foi muito excitante e ate uma infortúnio e dor. Abandonada pela
segundo casamento e mae de dois sua mesa de jantar, ouvindo libertação da sua vida c h a t a , mãe ainda criança, foi deixada aos
filhos já crescidos. Ela diz que velhos casos. Clare fala conv afundada em O k l a h o m a . Por outro cuidados de um padrasto que a
antes dos dias de " v i r a ç a o " , era. reserva de outras madames. l a d o , não aconselha a ninguém : violentava seguidamente.
uma mulher muito inocente, mas " E l a s são viciadas; sao mas com " se voce nao começou a se virar, Periodicamente a mae retornava, mas
bastante interessada no " o u t r o " as meninas e abusam delas. Eu
não comece - torna-se um habito e apenas para depois deixá-la em
lado da v i d a . tenho medo delas, pra dizer a
uma coisa muito d i f í c i l de se livrar, companhia de algum namc ->do."'.j a
Grande contadora de historias, verdade". Uma prostituta que
porque voce vai ficando preguiçosa v e n e r a v a " , Laurie diz amargamente,
Clare diz que sua formação foi trabalha para Clare a diferencia
e sua mente so funciona para "mas agora sei que ela é uma mulher
um paradoxo. Com voz forte e das outras madames, atribuindo-lhe
dinheiro As prostitutas - ela suja, preguiçosa e imoral, e eu a
seca - reconhecível em qualquer um instinto* maternaI em sua relação
resume - "esquecem as coisas odeio".
lugar - conta: com as meninas. Mas a madame nega
esse tipo de sentimento:"Eu nao quero finas da vida e se arruinam por Os traumas precoces foram
-"Venho de uma família religiosa causa dos homens ao conhecer acompanhados de duas crises nervosas
saber do instinto maternal.
(batista) e tinha mais de 12 irmãos. apenas um lado deles". ainda antes da puberdade:"Eu tinha
Pegar um cigarro era o mesmo que Evidentemente, ofereço bons Ela reclama que o negocio da ilusões t e r r í v e i s . . . a h , desilusões, e
cometer uma desgraça para toda a conselhos às meninas quando prostituição a excluiu de qualquer eles achavam que eu teria que ser
família. (Hoje ela é fumante elas precisam, mas nao posso me outra coisa . "Toda vez que a internada num manicômio para
inveterada). Quando eu era permitir um envolvimento maior campainha t o c a , eu sei o que é, sempre, mas fui ajudada pelo:
criança, tinha que andar na com seus problemas . 1 1
sexo, sexo, sexo '. Toda v e z que o tratamento de c h o q u e " . Com treze
linha; e quando me v i sozinha, telefone t o c a , e sexo, sexo, sexo . 1
anos sai de c a s a . Desde então ja
Sem duvida nenhuma , Clare
depois da morte de meu marido, Eu nunca estou sozinha, exceto passou cinco anos na prisão, tentou
e um bom negócio. O preço
foi um caos t o t a l . quando vou dormir a noite". A o suicídio várias vezes, engravidou
de uma dormida - de 35 a 70
dólares - e dividido igualmente impressão deixada por esta mulher, três v e z e s , todas terminando em
Ela diz que se 'infiltrou
com as meninas que chama para comparada a de outras prostitutas aborto a que se seguiram
na viraçao'. Algum tempo depois,
trabalhar. Ela está constantemente com metade de sua idade, e de que brigas com diferentes gigolos -
iria sofisticar sua atuação.
Era uma mulher bastante à procura de novas meninas, que ela vai bem apesar das oscilações que por duas vezes a deixaram quase
especial, naquela época, com encontra quase sempre através de • do negocio. Seu humor, e morta. Já tentou matar um gigolo
muita classe; outras. Ela elimina as que criam evidentemente o dinheiro, a mantém
e, pelo menos, estava muito caso ou as velhas, simplesmente na a t i v a . continua
continuação rem muito a ver com a natureza dos toda sorte de mentiras e desculpas,
desejos sexuais, que eles trazem para evitar novos desempenhos A L U N A LÂ N A
uma v e z , "quando ele me fez perder às prostitutas, mas que nao UNIVERSIDADE, C O M O
sexuais. "Estar entre os homens
o c o n t r o l e " , D i z que sua mente manifestam a suas próprias mulheres. T A N T A S . U M DIA,
durante tanto tempo me faz ficar
escurece completamente nessas " E l es nao querem que suas J A N E T E RESOLVE
enjoada d e l e s " , conta, " e voce
ocasiões. esposas saibam que eles sao frios e CAIR N A VIDA ...
d i z então, a h , eu nao quero ser
1
Quando a entrevistei, tinha acabado trazem seus problemas sexuais a nos'. incomodada por mais um homem. Foi uma combinação de c h a t i c e ,
com seu terceiro g i g o l o , por causa Que problemas sao estes? Sem ,Não quero mais ser prostituta e curiosidade sexual à Ia " b e l l e de
de uma b r i g a . Suas observações a constrangimento, Laurie cataloga os o dinheiro que vá para o j o u r " e uma temporária crise
respeito deles coincidiram desejos escondidos dos clíentes_na inferno". financeira que levaram a decidida
com as de várias outras prostitutas. categoria de "tarados-sem-tesao". Mas quando voce pergunta a Janette, de 21 anos, a trocar as
;
" E u já estou cheia deles. Eles me Ex stem também os masoquistas , Laurie porque ela nao deixa o galinhagens do colégio pela
bateram com cabides, ou qualquer que querem ser torturados, abusados, negócio e tenta alguma outra prostituição. Sob todos os pontos
outra coisa que a p a r e c i a . H o je amarrados, Laurie nao se incomoda c o i s a , e l a responde amargamente v i s t a , e l a é o oposto da visão
não tenho nada. Os meus gigolos com isso. Mas faz ver que que nao serve para outra coisa: estereotiparia de uma prostituta
saíram com automóveis, dinheiro, "freqüentemente torna-se ridículo " U m a v e z prostituta, sempre de alta classe. Ela se parece com
mobília, tudo que eu tinha f e i t o , e da muito medo, porque voce pode prostituta, e acredite-me, isso o perfeito tipo ingênuo de nossos
Se eu não tivesse tido um g i g o l o , acabar machucando alguma parte do é v e r d a d e ' . " Uma v e z , ela
dias. Um retrato tipo revista Life
poderia ter muito dinheiro no banco, corpo deles- "mas e o que eles tentou ser d i r e i t a , como
da criança-flor i d e a l . A l t a e
um belo apartamento". Ela se querem". balconista de um b a r , ganhando
esguia, do tipo c o e l h i n h a , tem
proclama a maior besta que A mais estranha história que ela 56 dólares por semana. Mas o
longos e finos cabelos castanhos,
conheceu. contou passou-se numa casa, um conhecimento de ganhar dinheiro
olhos levemente marrons e uma
Laurie explica sua queda por gigolos bordel barato de IO dólares, que como prostituta fez o emprego
boquinha de bebe. A formação
com muita simplicidade: começou ela usava para trabalhar. O no bar ter vida curta, " E u tentei,
de Janette e tao incomum quanto
com sua enorme necessidade de amor. sujeito entretanto , oferecia I O O realmente t e n t e i " , desculpa-se,
sua aparência de prostituta: ela
" N o começo,você procura o amor, dólares por uma dormida "mas nao posso viver disso, depois
é a única filha de pais da alta
certo? Eu nunca tive amor de Inicialmente, o rapaz que tinha de me acostumar a fazer quase 500
classe média de N o v a Y o r k ;
ninguém. Então o primeiro homem 1,80 de altura, pediu a Laurie dólares por semana. Ê impossível".
descreve o p a i , um engenheiro,
que aparece e te trata como uma para pendurá-lo na janela, amarrado N a o apenas o dinheiro, mas todo
como " d i r e i t o , conservador e
rainha, te conversa docemente, pelos pes. Ela d i z que recusou: o estilo de vida é muito d i f í c i l de
republicano roxo (partido de
rpromete que quer casar e ter uma " N a o vou te matar e depois ir ser quebrado. " Voe e se acostuma a
N i x o n ) " . Sua infância foi normal,
casa . . . voce c a i nessa dizendo para a cadeia '. 1 apenas ficar deitada no fim do
passada em escolas publicas e
" é isso que eu q u e r o " . Ela balança trabalho, e se acostuma a fazer
A alternativa do sujeito, contudo, acampamentos de verão. Durante
a cabeça."Sou muito fraca de apenas o que quer - ir para a
nao era menos i n c r í v e l , pois ele dois anos freqüentou um colégio
espírito; porque quero amor e cama, dormir todo o d i a , toda a
propunha horríveis abusos sexuais, so para moças, e depois se
compreensão. Se eu tivesse isso, noite, ou qualquer coisa; voce
" E l e adorava tortura; adorava a transferiu para uma Universidade
teria t u d o " . f a z . í uma festa, dia e noite. E
dor". Seguindo suas instruções na N o v a Inglaterra, onde se formou
Apesar de muito instável depois de tantos anos fazendo
à r i s c a , ela amarrou-lhe os pes em Ciências Biológicas.
emocional mente em relação aos apenas isso, de repente, pensar
e as mãos no balaústre da c a m a . Durante mais ou menos um ano,
seus namorados, ela é uma prostituta em bater um cartão, levantar às
O ato seguinte de seus levou vida dupla como universitária
d i s c i p l i n a d a . Laurie devota muito seis da manhã e ficar de pé o dia
estranhos prazeres incluía um e prostituta; finalmente deixou a
cuidado ao seu corpo quando esta todo, é impossível. É impossível
pedaço de f i o , que ele ordenou universidade para viver e trabalhar
trabalhando. Muitas prostitutas esquecer."
que Laurie amarrasse o mais em N o v a York em sua nova profissão.
negligenciam o corpo, e pegam apertado possível em volta de seu Laurie que trabalhou numa fábrica O que a levou a fazer esta tentativa?
doenças, alem das óbvias doenças penis - " e u nao sei como ele podia de sapatos pouco antes de tornar-se " E u sempre fui muito curiosa com
venéreas. Religiosamente, Laurie agüentar",disse com um meneio de? eprostituta, acha que é mais fácil prostituição, sempre f i z fantasias
visita um médico uma v e z por descrédito. "Então, eu tinha que vender a comodidade de seu corpo, sobre ser prostituta e dormir com
semana, para ter certeza de que puxar o f i o , esticá-lo como um do que enfrentar horas homens mais velhos. Evidentemente,
está sadia. " S e você está elástico e amarrá-lo na corda em regulamentadas, mal pagas, de também é uma maneira de ganhar
fazendo dinheiro, nao tem volta de seus pes. Também tive um trabalho não e s p e c i a l i z a d o .
Infelizmente, ela esta enquadrada dinheiro, embora essa nao fosse a
sentido deixar de fazer os que colocar brincos em suas bolas
numa situação de alternativas única r a z ã o " , afirma. "Isso eu quero
check-ups". você sabe, aquele tipo pingente, deixar bem c l a r o " .
e então arrancá-los fortemente de insatisfatórias. Mas todas as Apesar de ter deixado de ser virgem
Ela insiste em dar um banho nos prostitutas com quem conversei,
maneira a b e l i s c á - l o " . Ele também aos 17 anos, achou os rapazes do
homens com quem v a i se deitar. estavam para largar doli a pouco.
mandou que Laurie apertasse seus colégio sexualmente sem graça,
Mesmo no polido ambiente do Apesar- de todo seu desdém pela
testículos - "belisquei com toda força
estabelecimento de C l a r e . E l a prostituição, e por extensão por muito iguais. " A viraçao mé parecia
que eu tinha". Em seguida Laurie
acostumou a ir para cama com sí mesma, uma grande parte do seu uma maneira agradável de dormir com
abandonou o sujeito no quarto,
um homem sem ter orgasmos. _ contentamento está reservada aos uma porção de pessoas e fazer
amarrado e gemendo, e foi cuidar
" N ã o tenho nenhuma sensação, que lhe pagam:"Eu digo sempre; experiências sexuais. Eu nao podia
de outro c l i e n t e . "Isso e r a tudo
nao sinto nada; acompanho o os caras sao bobos.Sei que sou fazer isso com os rapazes Ia da
o que ele queria, entende?, e
movimento. E isso é t u d o . " A o uma prostituta", declara minha cidade; eles nao me satisfaziam
quando terminei com o segundo,
contrário de outras prostitutas, desaf iadoramente. a tal ponto".
Laurie nao e permanentemente tive que voltar a ele e sentar em Porque os caras são bobos? Sua Inicialmente v i u - s e no papel de
frfgida ( Clare confessou que e ) . cima de seu rosto. Você a c r e d i t a ? " , reposta foi devastadora: " E l e s são " a l i c i a d o r a " . Começou fazendo uma
Ela admite sentir-se bem naqueles pergunta elevando a v o z . A relação mais bobos do que a gente, porque lista de amigos de amigos, para
raros momentos em que cruza com um sexual nunca foi pedida .Laurie eu sinto que qualquer um deles atrair clientes que lhe dessem uma
bom amante. " A maioria deles me repete sem parar que esta no poderia conseguir qualquer mulher rica recompensa financeira para o
faz ficar d o e n t e " . E acrescenta negócio por dinheiro, e que nao que quisesse como namorada, se primeiro encontro. Sua primeira
filosoficamente: " A maioria dos gosta do trabalho. O sexc apenas tentassem um pouco - e eu semana, durante um período de
caras tem uma atitude indecente propriamente dito nao tem falo de meninas decentes ( não férias na primavera, e l a achou
em relação ao sexo; eles abusam nenhum gosto. O trabalhador que nos nao sejamos; nós somos muito monótona. E reclamou muito
d e l e . V o c e sabe, o sexo e muito nesse caso torna-se realmente uma classe diferente das prostitutas de um velho horrível " c o m um pinto
bonito quando usado da maneira alienado do produto. Laurie de rua)." muito grande", que lhe causou
c e r t a " . Quando disse que mesmo com seu atual _ Por que ela não foi capaz de apenas dor e repugnância. M a s , um
termina o charme na c a m a , as encontrar um amor para si mesma? pouco depois, conclui que a
amante, que e l a d i z t e - l a
prostitutas revelam grande desprezo prostituição e compensadora " p o r
excitado várias vezes na c a m a , , "Durante toda a minha v i d a " ,
pelos consumidores de seus serviços. uma s e r i e " de motivos. " P r a ser
freqüentemente se v i u implorando ela suspira de modo fatalista, " eu
Sua atitude em relação aos homens bastante simples, eu tinha orgasmos
a ele para não t o c á - l a , dando conheci as pessoas erradas".
continuação i disse a ele para dormir com seu Seus gigolos nao se distinguem do um branco. Meu marido tinha
orgasmos mesmo - e por isso continuei. pijama b o r d a d o . " resto da fauna que lá é encontrada. reumatismo desde criança. V i v i a
Eu me sentia muito mais satisfeita, O dinheiro que ganhou é um Os hotéis fedidos onde as putas tomando essas enormes pílulas brancas
do que dormindo com os meninos da dado secundário, nesta levam seus clientes, por seis dólares toda manhã, mas eles agiram como se
escola. Nunca pensei antes que a " v i a g e m " . Quando estava o quarto, sao encontrados nas ruas ele estivesse muito bem; e que se ele
prostituição seria a maneira de ter trabalhando, chegou a fazer laterais. Esses hotéis e os prédios podia jogar bola, servia para defender
orgasmos todos os dias. 1500 dólares por semana, tendo ém frente sao freqüentemente palco o exército e morrer".
0 orgasmo foi um lucro-surpresa auatro ou c i n c o casos por d i a . de espancamento, esfaqueamentos e Quando os agente do FBI chegaram,
para Janette. Isso é uma raridade assassinatos. A esquina é reservada Leonora agrediu-os e foi em seguida
Perguntei sobre o destino do dinheiro; presa. N o julgamento, xingou e
entre as prostitutas . Sua atitude quase que exclusivamente para as
Janette deu de ombros e respondeu ameaçou matar o j u i z , que, em
também é diferente da maioria das prostitutas negras, ou para brancas
que gastou em roupas, drogas contrapartida, sentenciou-a a duas
prostitutas. Ela nao tem nenhum que tem namorados ou gigolos negros.
psicodélicas ou simplesmente deu aos semanas de observação no Hospital
orgulho profissional de fazer bem A prostituta branca que tentar entrar
amigos. Rockland State. Enquanto estava
o trabalho, como Clare; ela é no negocio será advertida apenas uma
completamente indiferente ao fato " E u nao tinha razão nenhuma para v e z para mudar para outro I ugar. Uma presa no hospital, recebeu a noticia
de ter agradado ou nao o homem economizar d i n h e i r o " , ela afirma segunda visita faz um novo cliente de que o marido tinha sido atingido
com quem dormiu. A o mesmo tempo, explicando o fato de nao ter nenhum para o hospital. e morto na guerra. Sua razão de
não tem a visão do tipo "negócios hoje, " e alem do mais me parecia viver quase terminou. " E u gostava
Leonora tem 22anos, nasceu no Harlem
são negócios" que tem Laurie, ridículo que me pagassem para uma dele mais do que de minha m a e " ,
e e mae de duas meninas gêmeas, de
apesar de freqüentemente pintar coisa que eu faria de qualquer jeito. ela d i z emocionada . " E l e foi a
dois anos. Ela é uma insignificante
um quadro bastante cor de rosa dos O u seja, eu nunca precisei ganhar única coisa realmente significante
prostituta de r u a , que espera os
prazeres sexuais, que às vezes nao d i n h e i r o " . Aqui esta uma ética para mim. e^ quando morreu me
homens encostada em carros e
está de acordo com o resto de sua puritana ao contrário : o dinheiro senti como se tivesse perdido tudo.
parquímetros, vestida numa mini-sala
narrativa. Mas é verdade que essa nao significa nada, porque nao Se não tivesse as crianças, gostaria j
de jérsei cor de rosa, que ressalta sua
envolve trabalho - isto e, ela
maneira não ortodoxa de " v i r a ç a o " de ter morrido também".
pele negra. Em volta do pescoço, usa
freqüentemente, se confrontava nao merecia o dinheiro. Outras Ela culpa o governo pela morte do
uma enorme cruz de pedra.Seu vestido
prostitutas também revelaram esta marido e v ê a indenização que
está descosturado emvários lugares.
com os namoricos de quarto e c a m a . filosofia de entre-e-sai em relação recebe como uma tentativa de
Leonora casou com seu amor de infância
"Eu nunca dormi com um cara que ao que ganham. Alem,do mais, suborno das autoridades. " E l e s que
quando tinha 15 anos , mas agora e
me pedisse para fazer o que ele quer. esbanjar dinheiro proporciona as v a o para o inferno com seu d i n h e i r o " ,
v i u v a ; o marido foi morto no Vietnam,
Ele sempre me perguntam o que quero prostitutas um sistema de d i z , com r a i v a . " Q u a n d o eles me
na primavera de 6 7 . Leonora era a
fazer, e eu geralmente digo a eles compensações imediatas, que as deram o dinheiro, eu simplesmente
única menina numa família de 16
para me comerem ate eu gosar, e libera da tensão e do sentimento passei para minha mãe e mandei por
crianças, educadas pela a v o .
eles sempre me satisfizeram, apesar de culpa latente do trabalho de no banco para as crianças . N a o quero
de ter levado muito tempo para eu prostituta. Ultimamente Janette esse dinheiro; ele nao v a i trazer meu
ficar f e l i z . Então, depois de eu deixou de " s e v i r a r " . Primeiro A mae desta jovem viúva é quem toma
marido de v o l t a " . Ela prefere sair às
ter gosado, eles eram rápidos. É por causa de uma infecçao conta das gêmeas, quando ela esta
ruas e " s e v i r a r " para ganhar
realmente diferente do que a : constante; e depois por sua trabalhando. Leonora se defende quando
dinheiro.
maioria das meninas" d i z ela desilusão e desinteresse por esse pergunto se sua mae sabe o que ela f a z :
filosoficamente. O que é verdade, tipo de v i d a . " N ã o , eu digo prá ela que vou ficar Como muitas outras, Leonora discute
segundo as entrevistas que f i z : sem na rua. Q u e r d i z e n e u ja sou crescida, a prostituição como um mai "menor".
Trabalhando agora num emprego entende ? E ela nao v a i me encher Ela nao gosta, mas a prostituição
cair no obvio, a maioria das
estável, ela se recusa a voltar enquanto eu estiver cuidando das supera qualquer outra maneira
prostitutas tem a intenção de fazer
para a prostituição , apesar de se crianças. Comigo nao é coisa de todo realista de fazer dinheiro. Para e l a ,
o cliente ejacular o mais rápido
declarar pobre. A c h o que ela tem d i a , eu só trabalho quando q u e r o " , a " v i r a ç a o " é desagradável por
possível. A procura de prazer
medo de que a prostituição tome acrescenta rapidamente. Ela só tem causa das crianças."Eu me sinto m a l ,
pessoal seria vista por elas como
conta de toda a sua v i d a . " F o i a si e as duas meninas para sustentar, acho que qualquer pessoa que sente
"mau n e g ó c i o " , mesmo quando
muito gostoso durante certo tempo e nunca teve g i g o l o : " E u nao confio alguma coisa se sentiria dessa
possível. Mais conversas com
passar as tardes só d e i t a n d o " diz em dar dinheiro para os homens.--Eles maneira se tivesse criança .Eu não
Janette revelaram que ela se sente
calmamente , "mas vira uma vida nao sabem pegar metade do seu quero fazer isso durante toda a minha
culpada de exagero, ao afirmar
muito sem interesse. Voce acaba se dinheiro, eles pegam tudo". Mas ela v i d a " , diz em silencio, baixando os
que sente prazer todas as v e z e s .
cansando e nao tem mais energia tem um tipo diferente de olhos por um momento. " O l h a , meus
Conta várias historias de clientes
nem vontade de fazer outra c o i s a , relacionamento com seu homem:
cujos pedidos deixaram pouco espaço filhos tao com dois anos e nao quero
além de passar o dia na cama, tóxicos. O v í c i o lhe custa 3 0 dólares
para seu próprio prazer sexual. Às que fiquem sabendo o que eu estou
dormindo. Voce fica num bagaço, por d i a , porque recentemente ela
vezes, nao chegava nem a haver fazendo, mas é um dinheiro r á p i d o " .
sem poder fazer nada, e se passou mal e ficou 28 dias no
sexo. Num destes casos, porém, Suas entradas no mercado de trabalho
transforma em meia pessoa". hospital. Em outras épocas, o v í c i o
ela se divertiu muito. Descreveu como datilografa foram desastrosas e
este cliente como tendo 27 anos, Janette acha que sua vida sexual chegou a lhe custar 60 dólares por
terminaram em demissão, por
rico, bacharel e judeu. Este dia.
melhorou desde que deixou a incapacidade de receber ordens.
cliente requereu pouco trabalho, prostituição. " N a o durmo mais com N a verdade, Leonora começou " n a N a " v i r a ç a o " ela não tem patrão,
uma vez que logo lhe ofereceu um tantas pessoas e então isto tem mais v i d a " antes de ficar v i c i a d a : tinha nem tem que ficar pedindo coisas,
vinho, a melhor escolha de música significado." 17 anos e v i v i a com o marido, então e recebe entre 10 e 20 dólares por
estereofonica e um confortável estudante de engenharia .Às dormida. Contudo ela nunca gostou
sofá coberto por uma colcha de escondidas, ela se virava para da parte I igada ao sexo; e de seus
ve!udo."Este rapaz estava numa •jSêl VOCÊCONHECE comprar alguma coisa especial, um outros comentários, suspeito que
de escravo, e eu não precisei novo vestido, por exemplo. " E l e seja uma mulher f r i a . Isso pode ser
L E O N O R A , S U A IRMÃ
tirar a roupa - apenas fiquei me mataria se soubesse", diz com atribuído aos narcóticos. A parte
L)\i DE C O R ?
sentada bebericando meu vinho um misto de suspiro e sorriso. relativa ao trabalho lhe e
f W ELA V I R O U PROSTITUTA
e ordenando a ele para dormir
com qualquer c o i s a " . \JI DE R U A .
As coisas começaram a ficar pretas
quando o FBI invadiu o apartamento
desagradável. Ela e x p l i c a sua
atitude assim: " E u só penso em
O objetivo do jogo era abusar A esquina da 3 a . Avenida com a do casal e levou o marido, por acabar logo. Assim que pego o
dele verbalmente, exigindo que 12a. Rua está alguns anos-luz do desobedecer a convocação do dinheiro, nao quero fazer mais
ele chegasse ao clímax. A cada arejado apartamento de Clare e exército. Leonora acha que o nada estou pronta para ir embora,
vez que e j a c u l a v a , ele pagava do quartinho "prá f r e n t e " de marido nunca deveria ter servido mas e claro que nao dá para fazer
25 dólares. " U m a v e z " , ela Janette. Esta esquina da Zona Norte, o exercito, e que foi convocado isto". Mas às vezes ela f a z , e
conta, " eu pedi a ele para em frente da pequena lanchonete e por motivos racistas. "Desculpe descobri que enquanto tem escrúpulo
dormir com o aparelho de T V ; do bar caindo aos pedaços, e o que vou d i z e r , d i z ela em pedir presentes aos clientes, seu
mas para gozar so depois que a habitada dia e noite por bêbados, timidamente, mas eles sao rna^s código moral não a impede de roubar.
imagem aparecesse. Outra v e z , parasitas na imurdície da rua e
prostitutas viciadas em heroina . rápidos em convocar um negro do que — — i i i — — > continua
continuação
continua çao. Ele e duas prostitutas mexeram muito Baseei minha recusa com a ajuda de Uma prostituta me respondeu. " V o c e
comigo, por nunca haver dormido por C l a r e , que tentava explicar que eu vê? essa e que e a questão: a sua
Pergunto inocentemente como e que dinheiro. O rapaz estava incrédulo: nao estava trabalhando. " M a s eu nao pesquisa nao e r e a l . . . v o c e nao tem
ela f a z : ê assalto ou é furto? " D o Quer dizer que você nunca fez isso? v i ela sair do quarto com aquele cara o direito de recusar. Voce nao tem
jeito que eu puder. Eu tento ser nem para dar de presente, deixando agora mesmo ? " ele perguntou, já esse tipo de liberdade, de escolha.
decente e enganar os c a r a s " , d i z de lado o d i n h e i r o ? " M e sentindo no um pouco ofendido. As outras Se eu ainda tivesse alguma duvida,
sorrindo com seu rosto tímido aceso m e :
' o de uma b r i n c a d e r a , respond' prostitutas me pediram para ir com ela acabava de d e s f a z e - l a . As
pela esperteza. Pergunto: dinheiro num sorriso, " e u nao mè importaria ele, mas eu fui t a x a t i v a . A simples implicações eram claras. Peguei
ou relógios ? Ela responde :"dinheiro se eles fossem todos bonitos como idéia de ir pra cama outra vez com meus 25 dólares, das mãos de'Clare;
é c l a r o , o que e que posso fazer com v o c ê " . Então por que eu nao f a z i a ? alguém que nao fosse o meu homem, e, vermelha, deixei o apartamento.
um relógio? Pego o relógio so depois eles ousaram perguntar. Ele disse que me pareceu naquele momento mu+to Lá vai a falsa prostituta'. N o dia
de ter pego todo o resto". Às vezes se sentiria honrado em ser o meu repugnante. E este homem era seguinte consegui gastar o dinheiro
ela simplesmente pega a calça do " p r i m e i r o " . Isso ajudaria minha f l a c i d o , grosso e tinha uma numa enorme e ridícula planta de
sujeito e sai correndo pela porta, reportagem, disseram todos bandeirinha americana na lapela - folhas aveludadas, para um
tirando a carteira e deixando as falei então que pensaria sobre o um desastre t o t a l . apartamento no qual eu nao v i v i a . |
calças no caminho, escadas a b a i x o . assunto. Fui para casa e fiquei
Além dos aspectos desagradáveis do fantasiando, tencb as palavras de
A PRIMEIRA N O I T E
sexo, como uma prostituta de rua, Janette batendo em minha cabeça:
DE U M A M E N I N A
Leonora se ve constantemente "Eu teria dormidocom eles de qualquer
DE BEM E M
ameaçada de prisão. Uma v e z , no maneira."
SEU N O V O E M P R E G O
entanto, ela se defendeu perante No dia marcado, me ensaboei toda no
uma cOrte, e o caso foi arquivado. chuveiro e me vesti com o nervosismo
O oficial que a prendeu tinha de uma garota de escola ja caminho de Polaca saiu do Rio para trabalhar em Saò Paulo, como
dormido com ela - e ela testemunhou seu primeiro encontro .Fumei um pouco, modelo. Tres meses depois, ainda nao tinha recebido um
que ele usava cuecas de listinhas ã maneira dos antigos fedayeen que tostão da firma. A i , ja que uma amiga vinha sempre insistindo,
vermelhas e brancas; ele era culpado ofereciam o narguille como prova de resolveu ir vender seu cobiçado corpo numa boate de
de cumplicidade perante a l e i . coragem a Alá, antes de ir para a luxo, a nunca menos de 500 cruzeiros por cabeça. Ela conta
Mas o perigo e outras vantagens da batalha. N o apartamento de C l a r e , como foi isso a repórter Ana Maria C a v a l c a n t i .
prostituição correm lado a lado com depois de tomar cafe e conversar
a heroína. Leonora diz que tem sobre banalidades que se conversam
dinheiro no banco, mas ainda num bar de solteiros, Clare pegou o Sou do R i o . M e u p a i e j u i z , e u s o u ne? E ele falou: -"Você v a i
nao decidiu o que fazer com e l e . meu homem e a mim e levou para um m a n e q u i m . Já f i z n o v e l a , de tudo, escolher â garota. A í , pronto, falei:
Admite que se sente "desrespeitosa" quarto; deixou duas toalhas e saiu, ' -mas e u v o u " l a " p o r q u e nao d a j - P o , c o m o ? M a s tá l e g a l . E cheguei
tenho s e i s irmãos, uns e s t u d a m , p r a u m a m e n i n a e f a l e i : - Tem. um
se virando, chama a isso "uma coisa nao querendo intrometer-se, como se
o u t r o s t r a b a l h a m , e u f i z o ginásio. p e r s o n a g e m aí que está q u e r e n d o
muito baixa na v i d a " , mas nao pode fosse uma camareira de Cleopatra. E u v i m p a r a Sao P a u l o ha 6 m e s e s . f a z e r uma... F i q u e i n e r v o s a e ela:
escapai do estilo de vida v i c i o s o : Era um quarto comum, com uma A n t e s disto m o r a v a em c a s a c o m - " B o m , l e g a l , quanto é que é ? "
e l e s . Saí de c a s a c o m 16 a n o s , f u i - 5Q0 prá c a d a . P o , eu t r e m i a
v iraçao-heroína. cama coberta de lençóis brilhantes, m o r a r c o m u m c a r a , nao d e u c e r t o , t o d a , tudo no p r i m e i r o dia'. E u '
Pensa em novo casamento? a resposta mas nos dois ev ita mos escrupu I osa mente aí e u v o l t e i p a r a c a s a c o m u m s u p e r g e l a d a . A í f o m o s prá c a s a
vem cínica: " N a o existe nenhum olhar para a c a m a , enquanto nos f i l h o . Então c o m e c e i a t r a b a l h a r . do c a r a . U m a c a s a riquíssima,
Fui contratada para uma novela, f i z , m a r a v i l h o s a , é d e p o i s da r u a Augusta
homem lá fora que eu queira". esfregávamos como dois adolescentes saí e d e p o i s v i m p a r a São P a u l o na z o n a dos J a r d i n s . A í f i z e m o s lá,
no chão. O rapaz, um fotógrafo dos f a z e n d o d e s f i l e s . E r a um c o n t r a t o de ne? E o c a r a f i c o u olhando, o cara
6 m e s e s . E o que a c o n t e c e u é q u e , nao f e z n a d a . Só o l h a n d o . B e m ,
seus 30 anos, tinha freqüentado a
2. m e s e s nao m e p a g a v a m , então a c o n t e c e m m i l c o i s a s . , né ? P a r a
KATE TERMINA casa de Clare por anos, como uma f a l e i , "o que v o u f a z e r " . Então m i m e r a c o m o se e u e s t i v e s s e
SUA R E P O R T A G E M maneira de ser fiel a sua mulher c o n h e c i u m a m e n i n a que t r a b a l h a v a fazendo uma p e s q u i s a , nos p r i m e i r o s
:SE V E N D E N D O : 1 n u m a b o a t e . E l a f a l o u prá m i m : d i a s . E u s o u m u i t o tranqüila, sabe?
(que fidelidade .). Ele se sentia
" O l h a , é legal, fatura h o r r o r e s " As vezes nem eu m e s m a me
25 DÓLARES muito seguro com as prostitutas,mas E u nao q u e r i a a c e i t a r i s s o de j e i t o entendo. Aí* a s g a r o t a s já nao me
menos seguro com uma jornalista . n e n h u m , e n t e n d e u ? A c h a v a . . que o l h a v a m l e g a l . V i r a v a m a c a r a , me
Durante minhas entrevistas, dezenas Aparentemente relutante em fazer
1
po. A Í e u p e n s a v a : se e u nao f o r , f a l a v a m c o i s a s , e u d i z i a que não
vou m o r r e r de f o m e : t r a b a l h o , nao q u e r i a b r i g a r e a v i s a v a que se fosse
de meninas ofereceram a "relação algum movimento em direção à c a m a , r e c e b o ; r e c e b o e nao d a , então eu b r i g a r , e u i a b a t e r m u i t o n e l a s . "A
dos clientes",dizendo que seria a a suavidade e o charme do rapaz vou. E f u i . O p r i m e i r o d i a , quando m i n h a nao e b r i g a r , é f a t u r a r uma
melhor maneira de conseguir informação começaram a diminuir, e eu e n t r e i , Deus me livre'. F i q u e i l o u c a , g r a n a l e g a l " , d i z i a . E u anotava tudo
v i u ? Super-lotada a boate,de h o m e m . que g a n h a v a . N o p r i m e i r o m ê s faturei
de primeira mao. A idéia tinha me subitamente senti que estava num G a r o t a nova, os fregueses sabem uns. 22 milhões. M a s a média a g o r a
passado pela cabeça, mas rejeitei. Nao quarto com um novato muito nervoso. quando c h e g a u m a . E u nao s a b i a se e 15, 16 milhões p o r m ê s . De 15 em
estava de acordo com meus próprios f i c a v a e m pe o u s e n t a d a , t o d a h o r a i a
Os fatos provaram o contrario. A sua 15 d i a s d o u g r a n a prá m i n h a f i l h a .
p a r a o b a n h e i r o . E a m i n a dando E l e s p e r g u n t a m , d i g o que e s t o u
conceitos de liberdade s e x u a l . A l e m magnífica atenção preliminar vinha da força: " V o c e n a o q u e r t o m a r t r a b a l h a n d o , e l e s m e a c h a m diferente
disso, nao senti falta de verdade em era pré-industrial: vagaroso e u m uísque., n ã o ? " A í c h e g o u u m desconfiam, meu p a i ficou muito
minha reportagem - longe disso, senti deliberada mente estético, sensível e com c a r a : - " B o a n o i t e " - B o a noite. Aí d e s c o n f i a d o . A gente c o m p r a m u i t a
eu c o m e c e i a r i r , n e ? - " V o c e é de p e r u c a , m u i t a r o u p a , m u i t a jóia e
que meu sexo aumentava as chances a exata mistura de um explorador, o n d e ? " - E u sou daqui m e s m o , f a l e i . a b r i u m a c a d e r n e t a de poupança,
da verdade aparecer, porque eu nunca enriquecido por dedos muito bem Então e l e f a l o u a s s i m : - " E u t e v
l e t r a s d e c a m b i o . C l a r o , e u não estou
poderia ser vista como possível c l iente. treinados e uma boca de mestre, de um conheço de a l g u m l u g a r " . A Í eu t r a b a l h a n d o e m b o a t e prá j o g a r
fiquei super n e r v o s a . E l e v i r o u p r a d i n h e i r o f o r a , de j e i t o n e n h u m .
Al em do mais, enquanto eu assumia o homem gue tinha cumprido suas m i m e disse: -"Vamos tomar um G a s t a r , a gente g a s t a , p o r q u e t e m
ornai ismode ex per iene ia (em oposição obrigações, primeiro como um aprendiz, d r i n k ? " - Vamos, mas com medo, que se a r r u m a r m e s m o , f i c a r l i n d a ,
aogrande mitoamericanodá reportagem e depois como um conhecedor. A minha ne? M o r r e n d o de m e d o . PÓ", s a i r m a r a v i l h o s a , senão. . . p o r q u e a
c o m u m h o m e m que e u nunca, v i h a concorrência é m u i t o g r a n d e . E u
objetiva), a idéia de fazer uma decisão parecia amplamente justificada. v i d a , d e v e s e r horrível. A Í d e p o i s nao s e i , e u d o u s o r t e , graças a
reportagem de vivência me pareceu Gostoso, pensei quando saímos do de t o m a r uns d r i n k s , e l e d i s s e : D e u s . . . T e m h o m e n s s u p e r exigentes.
absurda neste caso, onde a formação e quarto. Ele me beijou amigavelmente, -"Vamos s a i r ? " - Vamos. "Aonde, A g a r o t a t e m que t e r a q u e l e papo,
no m e u a p a r t a m e n t o o u no t e u ? " p o r q u e senão... c o r p o t a m b é m ,
estilo de vida parecem inseparáveis da elogiando as minhas qualidades para E u f a l e i : -Não tenho a p a r t a m e n t o . b e l e z a . T e m u m a s f e i a s , s a e m três
prostituição. C l a r e . Sentei-me então à mesa com E nao t i n h a m e s m o , e s t a v a h o s p e d a d a v e z e s p o r s e m a n a . A s b o n i t a s saem
n u m h o t e l , p o r q u e o c o n t r a t o de
Com todos esses pensamentos bem C l a r e , dois novos clientes e as outras t r e s v e z e s p o r n o i t e . M a s já
m a n e q u i m m e d a v a tudo. A í e l e a c o n t e c e u de e u s a i r c o m u m c a r a ,
gravados na minha cabeça, eu no mulheres, para beber um c a f é . Eu perguntou: - " Q u a n t o ? " Aí m e u e c o m b i n a r preço, tudo l e g a l , e na
entanto me v í tendo um caso no nem tinha visto os novos clientes, coração, n e ? A s m e n i n a s m e t i n h a m hora_o c a r a chegar e falar: "olha
f a l a d o , " v o c e pede 500, 300, depende
apartamento de C l a r e . As pois ainda estava flutuando. De eu não tenho g r a n a " . O u então
do p r o g r a m a que o c a r a q u e r f a z e r " . a q u e l e que d i z : "você é u m a m...
circunstancias foram as seguintes. Em repente ouvi um dos clientes se A í e u p e g u e i e f a l e i : 500. E l e falou: na c a m a , nao v o u t e pagar'. E às
uma de minhas visitas fui apresentada dirigir a mim. Levantei os olhos e v! -"Ta b o m , so que e u não s a i o c o m v e z e s o u t r o s f a l a m a s s i m : " o l h a , sou
u m a m u l h e r so., t e m de f a z e r uma...'
a um cliente que se distinguia da um gorducho, tímido, com uns p o b r e , nao tenho g r a n a , m a s e que
Então e u q u e r i a m o r r e r , né? A Í v o c e e m u i t o b a c a n a " . Então e u digo:
c l i e n t e l a unidimensional da casa, por óculos de aro numa cara b a l o f a . M e u ele p e g o u e f a l o u : - " V o c ê q u e r
ser um jovem marcado por feições deus do c é u , ele está pedindo pára receber agora ou d e p o i s ? " -Depois
v o c e m e d a , m o r r e n d o de v e r g o n h a ,
agradáveis. Era muito charmoso, mesmo. eu ir pro quarto com ele - com ele'. (continuação na página 28)
A p o s t a m o s q u e dentro
de a l g u n s m e s e s o
s e u Herói predileto
s e m u m dos
super-professores d a s
F a c u l d a d e s Objetivo.

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das 9 às 21 horas, na

av. Paulista. 9 0 0 , 3.° andar.


Entrevista
de Ze C e l s o
Aos 37 a n o s , e l e a i n d a s e s e n t e José C e l s o M a r t i n e z C o r r e i a ,
ura d o s n o s s o s m a i o r e s d i r e t o r e s d e t e a t r o , e v i r g e m . Mas sem
q u a l q u e r p r e c o n c e i t o c o n t r a a . p r o s t i t uição: a c h a q u e p o d e s e
v e n d e r a i n d a . Há 17 a n o s , f u n d o u o Te a t r o O f i c i n a , q u e f o r a
e s c o l a de a t o r e s ( h o j e , q u a s e t o d o s n a t v ) ; uma v a n g u a r d a , d e
t e a t r o como g r u p o ; e , p o r f i m , uma e s c o l a d e v i d a ; a í , f a l i u .
A g o r a , e l e q u e r f a z e r um b om negócio: ''se v i r a r " como o José
C e l s o Medalhão M a r t i n e z Co r r e i a , p a r a v i r a r um Z é , b r a s i l e i r o
ã t o a n a maré a l t a d a últin a e t a p a do c a p i t a l i s m o . F a l a , Zé:

Ex-: O que r e p r e s e n t a l e v a r o personagens daquele s i s t e m a de comédia , Zé: Vamos f a l a r p o r p a r t e s . Hao se t r a t a informação e v i v i a esquizofrênico, você
já. E Rcda V i v a já e r a o aparecimento do de r e c e i o p e l o que há de v i r , ê o oposto v i v i a possuído. HÕs todos fomos formados
ftei da V e l a ao cinema?
personagem que t e r m i n a o R e i da V e l a , d i s s o , é uma chamada p a r a o que há de p e l o esquema americano, nós somos loucos
o personagem J u j u b a , o cachorro J u j u b a , v i r , uma chamada p a r a a mudança; nesse s e n t i d o , nós não vemos o
Zé: £ um espelho muito mais c l a r o que o
que se a l i a aos o u t r o s cachorros e i n c l u s i v e é estágio da consciência, real,
t e a t r o , porque no t e a t r o tem um
movimento, a platéia f i c a e n v o l v i d a , r e c u s a os privilégios que querem l h e d a r . inevitável na nossa c l a s s e s o c i a l . a visão do r e a l . E l a só se f a z através
muito dentro da situação. A platéia \ I!o R e i da V e l a tem um cachorro que é Osvald de Andrade ê homem de a l t a da v i d a . Dentro da necessidade de
e s t a v a fazendo aquelas c o i s a s , e s t a v a i d e a l i s t a . E esse cachorro é t r a z i d o b u r g u e s i a , de o r i g e m até latifundiária, relações c o n c r e t a s , o homem sonha.
tendo aquela visão. P o r exemplo: para dentro do s i s t e m a que ê um q u a r t e l e que v a i tomando consciência dessa O sonho l e v a e l e a mudar. Agora, e l e
na época, a c o i s a pegava no i n c o n s c i e n t e , para l h e darem comida, mas e l e r e c u s a e situação de c l a s s e , e v a i operando a sonha o que pode sonhar. Se e l e sonha
então as pessoas se chocavam com as sè a l i a aos o u t r o s c a c h o r r o s . revolução n e l e mesmo enquanto burguês. A alguma c o i s a d e n t r o de uma necessidade,
máscaras, as c o r e s , Em Roda V i v a , entraram os cachorros em própria i n d i v i d u a l i d a d e burguesa d e l e ê porque e l e tá próximo de r e s o l v e r
o tropicalismo, cena, e n t r o u o coro. E Roda V i v a s a i u v a i se pondo a serviço da v i d a e da esse problema. Quer d i z e r , o
t o d a , não da minha cabeça, mas de um. revolução, e das o u t r a s c l a s s e s . E v a i c i e n t i s t a c o l o c a problemas? Se e l e
o caos aparente. E no cinema, h o j e , se queimando, e a s p i r a n d o chegar ã c o l o c a problemas, é porque e l e s estão
t i p o de gente que'subiu ao p a l c o p a r a
é uma discussão muito mais c l a r a do que consciência do J u j u b a , ã consciência próximos a s e r r e s o l v i d o s . E se o
f a z e r um t e s t e , uma gente v i n d a de
e r a num t e a t r o , porque é um espelho do solidária; através da consciência da a r t i s t a sonha
c l a s s e mais b a i x a , que s u b i a no p a l c o e
sistema b r a s i l e i r o , do s i s t e m a c l a s s e d e l e , que e l e v a i assumindo, mas
demonstrava que t r a z i a alguma c o i s a , que é porque a q u e l a matéria do sonho está
c a p i t a l i s t a , b r a s i l e i r o , agora firmado, v a i tomando uma posição c o n t r a o
e r a a presença d e l e s mesmos, próxima de se t o m a r r e a l i d a d e . E
o sistema c a p i t a l i s t a tentando vencer. O privilégio da c l a s s e d e l e , e l e v a i
a presença do c o r o , a presença da massa, então a tática t o d a do s e r humano, de
processo é•que e s s a peça t r a i n d o a c l a s s e d e l e e v a i se
a presença do J u j u b a . Com a evolução nós t o d o s , de quem está nesse sonho, é a
f o i e s c r i t a em 33, durante uma c r i s e aproximando cada v e z mais, t a n t o que e l e
dos acontecimentos, o coro f o i t i r a d o tática de "qual maneira" t r a n s a r a
v i o l e n t a do s i s t e n a c a p i t a l i s t a v a i empobrecendo. Hos anos 30, e l e
do p a l c o , f o i relegado ã experiência necessidade para que e l a possa s e r
i n t e r n a c i o n a l , e do r e f l e x o que teve passa muito p a r t i c i p a n d o da experiência;
da l o u c u r a , do exílio, porque a p r i m e i r a transformada. De que maneira, para que
aqui no B r a s i l i m e d i a t o . nessa época e l e t e v e uma participação
t e n t a t i v a d e l e f o i metafórica, t e a t r a l ; o real
F o i e s c r i t a por um a u t o r possuído p e l o s muito grande, tentando chegar ã
a própria c o i s a que o t e a t r o demonstrava e o concreto
fantasmas da época, p o r um a r t i s t a ; experiência da m a i o r i a , mas tentando
naquela época, que ê o ooro que i n v a d i a possam s e r transformados. Aí e n t r a a
porque acho que e x i s t e uma coisa_que se i n t r o d u z i r nessa experiência da m a i o r i a ,
o p a l c o , e r a o mesmo coro que saía, que ciência s o c i a l , a ciência política, a
convenciona chamar de manifestação o elemento exatamente de mutação, o
i a nas ruas: e r a uma encenação do coro; ciência econômica, essas ciências todas,
artística, em que o indivíduo percebe uma elemento de j o g a r para,o f u t u r o , se
e r a tão encenação o que a c o n t e c i a no que ê a própria consciência que você tem
série de c o i s a s que não sabe comunicar, queimando mesmo. ;
p a l c o , como o que a c o n t e c i a f o r a do da sua necessidade. De saber onde você
formular. Então o p r i m e i r o estágio p a r t e É uma visão d a decadência, e da mudança.
p a l c o . A i n d a e r a uma manifestação v a i encontrar o l i m i t e para exercer
da cabeça d e l e p a r a o p a p e l , p a r a s e r Acho, p e l o contrário, que esse
totalmente dominada, movida mais p e l a a sua l i b e r d a d e .
representado no t e a t r o , p a r a s e r v i v i d o movimento não teme i s s o . A s p i r a a i s s o .
condição histórica, quer d i z e r : empurrada
por pessoas. HÕs somos todos possuídos, num país Tem o s e g u i n t e : é só uma c o i s a que
mais do que propriamente dominada.
Mas na época d e l e , as pessoas estavam Tanto assim que a c o i s a teve que conhecer subdesenvolvido, p o r fantasmas, p o r m i l importa: Quem manda e quem obedece.
demais naqueles papéis, as pessoas nao a reação c o n t r a e l a . O Roda V i v a s o f r e u t r a n s e s , nós somos possuídos t o t a l m e n t e . O de cima e o de b a i x o .
tinham afastamento, nao tinham d o i s ataques; ê sdi.ibólico i s t o , e l e f o i HÕs somos de um país c o l o n i z a d o , um E de que maneira e s s a relação de
consciência do que e s t a v a acontecendo i m p o s s i b i l i t a d o f i s i c a m e n t e de e x i s t i r . s i s t e m a de produção c o l o n i a l ; então t o d a produção, e s s a relação e n t r e os homens,
naquele momento, e l a s estavam dentro. Teve que s o f r e r t o d a a viagem experiência do mundo ê r e c e b i d a . é a n t i g a , e e l a consegue o p e r a r e f e i t o
A t o r da época, Procópio F e r r e i r a da l o u c u r a , a viagem do aprendizado da Então, nós não "somos". sobre a r e a l i d a d e . E l a c r i a um real.
f o i convidado p a r a f a z e r , e nao entendeu consciência dentro d a r e a l i d a d e , HÕs somos os empregados, os e x e c u t i v o s , É uma relação já conhecida. O que tá em
a peça. experiência completa cora o s i s t e m a , de todo um p l a n o de produção cima e o que tá embaixo. Agora, a
para que houvesse domínio t o t a l dele,e i n t e r n a c i o n a l . A nossa v i d a não é só relação dos que estão de b a i x o , se
T r i n t a anos d e p o i s , com função s o c i a l
esse coro v o l t a s s e novamente. nossa, então p o r nós sermos exatamente l i g a r e m p a r a e s t a b e l e c e r uma nova
p a r e c i d a , que f o i o ano de 68 no mundo
Então, o f i l m e anuncia i s s o p a r a o grande i s s o , a nossa mente também r e f l e t e i s s o . relação, ou uma relação de r e b e l d i a com
todo, sob e s s a convulsão, o R e i da V e l a
público. Se c o n s e g u i r i r p a r a as t e l a s , As idéias todas que nós devemos t e r os que estão em cima, e s s a relação
f o i uma das muitas manifestações
ê mais uma e t a p a de uma_força de sobre o nosso t r a b a l h o , sobre tudo ê nova.
artísticas que a t r a d u z i r a m , mas já em
c o n f r o n t o com pessoas que pudessem consciência em direção ã r e a l i d a d e . que nós fazemos, sobre a nossa própria
encarnar - não que essas pessoas Ho t e a t r o , e r a uma relação do que e s t a v a resistência, sobre a nossa l u t a , já
t i v e s s e m consciência do que estavam acontecendo. Os que estavam de f o r a estão todas programadas, nós somos
fazendo totalmente. não entendiam aquele p r o c e s s o , e e l e americanos.
Eu mesmo não t i n h a consciência do que e r a colocado como l o u c u r a , r a d i c a l i s m o . Ex-: "Aos que estão presos a e s s a
e s t a v a fazendo, mas o p t e i E t a l v e z até fosse.- A América é uma t e r r a que, j u n t o com o posição desesperada, já de s i esmagados
conscientemente p o r d e i x a r f a l a r meu sistema de produção, recebe a p e l a situação pequeno-burguesa, não há
i n c o n s c i e n t e . Eu, que t i n h a formação informação. Então o l a t i n o - a m e r i c a n o só nenhuma forma mais avançada, mais
r a c i o n a l i s t a bem c l a r a , nessa época v a i começar a saber das c o i s a s , ã medida revolucionária, do que a adotada por
s e n t i que d e v i a d e i x a r f a l a r e s s a c o i s a que v a i experimentando, e l e mesmo, a e l e s , todas as o u t r a s acusadas de
chamada o a r t i s t a , o l o u c o , porque e l e Ex-: "Esse r a d i c a l i s m o esconde um experiência d e l e , sem haver c u l t u r a p o r tímidas e superadas." (H. W. Sodré)
t i n h a c o i s a s a serem r e g i s t r a d a s , paradoxo. Sob a aparência de um s e n t i d o trás. A c u l t u r a t o d a , e l a não s e r v e . SÓ
d i t a s , através dos corpos dos a t o r e s , revolucionário extremado, estão o serve quando a gente experimenta,
do cenário, e tudo. desespero e a desorientação de camadas f i s i c a m e n t e . Aí, a gente começa a
Então f o i aquele r i t u a l . E logo depois o ou grupos s o c i a i s que perderam as entender as c o i s a s . Porque nós vivemos Zé: É o s e g u i n t e . E u pertenço a uma
Outro, a conseqüência d i r e t a do R e i da p e r s p e c t i v a s e que, esmagados p e l a s tudo antecipadamente, como país geração que se encantou com os caras da
V e l a , que é Roda V i v a . Hão se pode condições r e i n a n t e s na sociedade subdesenvolvido, porque ao mesmo tempo geração um pouco a n t e s , que a c r e d i t a v a
compreender um sem o o u t r o . Quer d i z e r , burguesa, temem de o u t r o l a d o mudanças que a c o n t e c i a um t i p o de relação de só no esforço i n d i v i d u a l . F o i enfim uma
o R e i da V e l a e r a uma análise de toda a s o c i a i s que tornem seu i n d i v i d u a l i s m o produção aqui no B r a s i l , no mundo forma que v i n g o u , que conseguiu algum
i n v i a b i l i d a d e do s i s t e m a b r a s i l e i r o , de inaceitável." (Nelson W. Sodré, 1969) a c o n t e c i a outro.AÍ você r e c e b i a a q u e l a movimento na América L a t i n a , f o i e s s a , ^>
porque de repente doze homens tomaram um l o u c u r a . P o r exemplo, eu saí, não soluções. É d e n t r o desse s i s t e m a , não no e o que é que você pode p e l a minha?
país. F o i um a c i d e n t e , mas aconteceu. e n c o n t r e i condições nenhuma de t r a b a l h o , s e n t i d o de comprometido com e l e ; mas é será que se pode f a z e r esse t i p o de
Eu t i n h a e s c r i t o aquele S.O.S. (um sabendo que ã minha v o l t a não t i n h a ' base c r i a r uma transação t e n t a d a como f o r negócio? P o r exemplo, eu posso t e d a r
documento e s c r i t o em maio, onde José nenhuma, a s pessoas i g u a i s a mim estavam possível. comida se você me der comida, ou se você
Celso p e d i a união da c l a s s e t e a t r a l , na mesma situação de impotência que e u , me d e r d i n h e i r o . Mas se e u t e a j u d a r na
para s a l v a r o t e a t r o O f i c i n a do e não podiam f a z e r nada p o r mim. E l a s sua l i b e r d a d e , você ne a j u i a na minha?
fechamento); e r a o i n d i v i d u a l i s m o podiam me d a r as c o i s a s do b l u e : Ex-: Você chegou a a d m i t i r a Com a mesma s e r i e d a d e ?
desesperado, procurando a aliança do " I c a n ' t g i y e you, b u t l o v e " p o s s i b i l i d a d e de vender você, vender 0 mundo todo e x p l o d i u na l o u c u r a ,
c o l e t i v o . Essas c o i s a s todas são (não posso t e d a r senão amor). seu nome. houve toda uma v o l t a p a r a a d i r e i t a no
relacionadas a uma c o i s a chamada poder. E e u só p o d i a s o b r e v i v e r nas minhas mundo i n t e i r o . O t e r r e n o da
Quando você não tem poder, você v i v e condições de t r a b a l h o se me negasse; e revolução, d a mudança, é próximo J a
Zé: Eu f u i p a r a a Hollywood b r a s i l e i r a ,
na impotência a b s o l u t a , a impotência t e s e r i a abrigado p o r uma instituição a n t i g a l o u c u r a , mesmo da c o i s a c o l e t i v a , porque
a TV Globo, eu me pus na f i l a , e f u i
leva a procurar, soluções que você que ê a família; ou então p o r uma cúpula, a mudança t r a z condições a i n d a não
r e j e i t a d o , p e l o menos da maneira como me
possa o b t e r no momento. Então a única que compraria em mim a minha perícia p r e v i s t a s . Âs vezes ganha alguma
c o l o q u e i . Tenho que acabar o f i l m e , então
solução que e n c o n t r e i f o i a p e l a r p a r a técnica, i n d i v i d u a l , ignorando todo o o b j e t i v i d a d e , mas v o l t a então a todo um
p r e c i s o de d i n h e i r o e condições. T e n t e i
essa abstração chamada homem u n i v e r s a l , esforço c o l e t i v o que eu v i n h a fazendo, caminho a n t i g o , que é o caminho do senhor,
vender o u t r o f i l m e p a r a a Globo, a
e para essa c o i s a que tínhamos ignorando todo um t r a b a l h o de grupo que que é o caminho de v o l t a .
filmagem da última p a r t e do R e i da V e l a ,
redescoberto, que e r a o amor. E s s a eu v i n h a fazendo então, como se e l e não Hoje no mundo nós taraos a s s i s t i n d o uma
a queima dos cenários e um casamento
c o i s a c o n c r e t a que é o amor. E a t i v e s s e e x i s t i d o ; e na verdade, p a r a e s s a v o l t a de o u t r a s c o i s a s que são c o n c r e t a s
c o l e t i v o numa p r a i a d e s e r t a . A queima
resposta f o i l o g o d i a s depois e u me camada t o d a e l e não e x i s t i u , porque não também, e tão c o n c r e t a s quanto o d i n h e i r o ,
f o i no cemitério da Consolação, e o
encontrar numa situação (José C e l s o chegou ao que se chama ide r e a l i d a d e . que é a v o l t a da aspiração d a l i b e r d a d e ,
casamento na p r a i a de Boracêia. Rousseau.
refere-se a sua r e c e n t e detenção). Porque ê o s e g u i n t e . Eu e x i s t i até 73, a l i b e r d a d e que é uma c o i s a que as
As pessoas l i g a d a s p e l o amor, p e l o que
Algo que me acordou p a r a a r e a l i d a d e . no máximo, enquanto h a v i a a sociedade de pessoas querem...É tão bom quanto comida,
querem f a z e r em oomum, mas as pessoas sem
Então, saindo de lã, meu irmão me T e a t r o O f i c i n a L t d a . , a empresa jurídica: ê tão c o n c r e t a quanto o sexo,
capacidade de e n f r e n t a r a v o l t a p a r a a
mostrou um l i v r o de Maiakõvski, cem um eu i n c o r p o r e i a q u e l a empresa. quanto c o n f o r t o .
cidade d a destruição.
poema e s c r i t o d e p o i s da revolução de A p a r t i r do momento em que a q u e l a empresa Então e n t r e i na f i l a p a r a a
1905. É um monólogo p a r e c i d o com o meu desapareceu, ê como se eu t i v e s s e - p a r a tlão s e t r o c a c o n f o r t o p o r l i b e r d a d e .
Hollywood b r a s i l e i r a .
S.O.S. E l e f a l a que t r a z n e l e a s c e r t o esquema - m o r r i d o naquela época. Só há c o n f o r t o quando há l i b e r d a d e .
A nossa consciência tá tão e s t r a n h a que
lágrimas do povo. É uma cena em que o E agora, nesse momento, e u tô Eu sou neto de i m i g r a n t e s , e de uma
eu não tenho nem coragem de c o l o c a r , de
povo t r a z sacos e sacos, e e n t r e g a as reaparecendo. O t r a b a l h o e x i s t e n t e nesse família que f a z um esforço incrível
c o n t a r que, de r e p e n t e , mais ou menos
dores p a r a e l e . A c l a s s e média t r a z período não e x i s t i u , f o i uma p a r a s e r uma família, p a r a r e s i s t i r .
22 pessoas foram submetidas a um t i p o
saquinhos menores, e a c l a s s e a l t a l o u c u r a , piração, f o i a r . A única prova E a minha posição é óbvia, eu não posso
de violência, que mudou r a d i c a l m e n t e a
traz uns p i n g o s , p i n g u i n h o s , e e n t r e g a que e l e e x i s t i u ê o- f i l m e , mas o f i l m e t e r uma consciência operária, não posso
v i d a d e l a s , e e l a s se encontraram num
pra ele. Hão há c o i s a que d e f i n a a cena, f a l t a uma h o r a de c o r t e , f a l t a um mês de t e r uma consciência camponesa. Eu tenho
estágio de impotência. É uma c o i s a que
assim como o poeta que ê aquele c a r a m o v i o l a , f a l t a m cem milhões de c r u z e i r o s . que t e r uma consciência do que eu s o u ,
eu s i n t o que não s e n s i b i l i z a .
que é deputado da s e n s i b i l i d a d e A sobrevivência da minha transação do que eu posso no s e n t i d o de me
Mais do que nunca e s t o u c u r t i n d o um
do povo. i e s t a v a em xeque. AÍ e u p e r c e b i que u n i v e r s a l i z a r o mais possível.
senhor chamado B e r t o l d B r e c h t .
Quer d i z e r , e l e pega a lágrima d a e x i s t i a m duas componentes nessa jogada Hão s e i exatamente porque é que as pessoas
fi um s u j e i t o fantástico, que v i v e u
maioria porque está s i n t o n i z a d o oom toda: uma jogada de base e uma jogada de me procuram. É exatamente i s s o que f i q u e i
experiência semelhante na época, ná sua
ela, pega um pouquinho do sentimento da cúpula. E eu e r a um indivíduo apto p a r a sabendo d e n t r o da prisão.
época, na Alemanha. Ilõs tamos sendo
classe média e menos a i n d a d a c l a s s e que j o g a r com cúpula, mas tendendo p a r a j o g a r 0 que ê que as pessoas querem de mim?
submetidos agora âs mesmas condições do
•está no poder, que ê o senhor. Aí, com base. Eu sou uma pessoa Qual é? Eu tenho m i l h a r e s de amigos,
c a p i t a l , então nós tamos tendo
pega, põe tudo i s s o numa mala, f e c h a a respeitadíssima, e u , José C e l s o tenho m i l h a r e s de transações.
experiência dessa c o i s a , agora eu entendo
mala e se p i c a . E meu irmão d i s s e : M a r t i n e z C o r r e i a , né? Então e s s e nome Por exemplo, o meu p r o d u t o r de cinema.
B e r t o l d Brecht.
-"Olha, tem um prefácio h o r r o r o s o , de a i n d a é vendável, desde que eu possa Ele d i s s e , "bom, o R e i da V e l a eu tô
Trotsky, que acaba oom e l e . " com e l e i n c l u s i v e o que se f e z em 68 Ele tem aquele poema m a r a v i l h o s o dos 1
fazendo i s s o p o r política' . Que política?
Pois aí a c h e i o prefácio s e n s a c i o n a l . mesmo, o personagem que começou a s e meninos p o l o n e s e s , com uma t a b u l e t a do que se t r a t a ? Vamos p r e c i s a r as
Era uma crítica muito c l a r a , c o n s t i t u i r em t o r n o desse nome. I!as a "Ajude-nos". relações e n t r e nós. Quais são a s
inteligentíssima, do estágio incompleto transação do Zé, e s s a transação é que É saíram p e l o mundo durante a g u e r r a . No relações humanas? o quê queremos uns dos
daquela visão, do i n d i v i d u a l i s m o . está em xeque no momento^ E e l a só v a i f i n a l d a marcha e r a um bando de o u t r o s ? É esse estágio que e u acho que
Senti i s s o como a consciência que eu e x i s t i r se f o r n a prática, tias é uma e s q u e l e t o s marchando, e só f i c o u a no B r a s i l é um estágio de l o u c u r a c o l e t i v a .
t i n h a antes de p a s s a r p e l o que p a s s e i ; e d i f i c u l d a d e extrema, porque é p r o v a r que t a b u l e t a "Ajude-nos". Realmente o que As pessoas agem inconscientemente a i n d a .
depois, aomo p a s s e i p o r e s t a s e x i s t e o u t r o caminho. AÍ e n t r a . o tema l i g a as pessoas é a necessidade,mesmo.
experiências, e não foram experiências de Nós somos todos i n c o n s c i e n t e s .
fundamental d a minha angústia, a q u i e Então, até que ponto a gente superou [lõs tamos todos a l i e n a d o s .
t e a t r o , foram experiências sobre o agora, que é o tema <fe discussão no nosso subdesenvolvimento a
corpo, experiências r e a i s , então Nós não sabemos a i n d a os motivos r e a i s da
exatamente d a r e a l i d a d e : necessidade de comer, a necessidade de nossa ação. A r e a l i d a d e ê a s e g u i n t e - é
comecei a a c o r d a r o o u t r o , comecei a d i n h e i r o , fundamentalmente o d i n h e i r o . t r e p a r , e já tem a necessidade de s e r
acordar sobre t o d a a transação em o c a p i t a l , é o d i n h e i r o , então você tem
O m i t o d o , d i n h e i r o , o m i t o da l i v r e ? Até que ponto a l i b e r d a d e ê um que se vender ao d i n h e i r o p a r a s o b r e v i v e r .
v o l t a , um diálogo com o r e a l , e n t r e o p r o p r i e d a d e , o m i t o do salário, o m i t o a r t i g o de p r i m e i r a necessidade, até que
SOS e a r e s p o s t a que t i v e . E a p a r t i r Eu f u i t r a n s a r
do c a p i t a l , e s s a c o i s a t o d a , p a r a ponto e l a é mascarada p e l a " l o u c u r a " , com um grupo de p r o d u t o r e s agora, no P i o
daí s o f r i uma revolução na minha c u c a , no a r t i s t a ê tabu. Porque a grande a r t e , a p e l o m i s t i c i s m o ? Ho p r i m e i r o estágio,
meu corpo, na minha v i d a , em tudo. de J a n e i r o , um grupo da chamada b u r g u e s i a
grande criação h o j e , ê c o n s e g u i r realmente a oomida é mais necessária que p r o g r e s s i s t a b r a s i l e i r a . Então, e l e s
Quer d i z e r , mais uma v e z v o l t o a mim p a r a concretamente c r i a r e s s a reação ao o amor. Essas pessoas i n c l u s i v e s a c r i f i c a m
s a i r de mim i n c l u s i v e , porque não e s t o u trabalham numa f i n a n c e i r a o d i a t o d o , e
extermínio. Porque o c a p i t a l i s m o ê o amor. Eu s a c r i f i c o o amor, querem p r e s t i g i a r a c u l t u r a n a c i o n a l .
mais i n t e r e s s a d o em enlouquecer, tô muito f o r t e . O assunto c a p i t a l e t r a b a l h o s a c r i f i q u e i uma série de c o i s a s em t r o c a
muito i n t e r e s s a d o em m o s t r a r a s É uma c o i s a muito i n d e f i n i d a . Porque se
é que tem de s e r d i s c u t i d o . da l i b e r d a d e i n d i v i d u a l . . Agora, de que e l e s quisessem ganhar dinheiro-- com a
engrenagens que levam e produzem a E através daí ê que se tem de e n c o n t r a r maneira a l i b e r d a d e é uma aspiração c u l t u r a n a c i o n a l , e r a c l a r o , ilas e l e s
c o l e t i v a ? o quê e u posso p e l a l i b e r d a d e , não querem ganhar d i n h e i r o ; mas também 3 .
não querem perder. E l e s nao sabem o que Por exemplo, seu Nelson Vferneck Sodrê, r e a l , técnicos de esconder o r e a l , e de e n t r o u na Alemanha com o c a p i t a l i s m o .
querem: se a c u l t u r a n a c i o n a l ê útil e l e tá fazendo a análise de uma mostrar p a r a o p a i s todo, através d o #
Tanto que os personagens são gangsters e
a e l e s , se não ê; não sabem o que estão consciência que deve s e r a consciência v e i c u l o mais f o r t e de comunicação da p r o s t i t u t a s , é maravilhoso.
querendo com a c u l t u r a n a c i o n a l . de um Zé, mas a consciência de Zé não é r e a l i d a d e , uma r e a l i d a d e encoberta; não Então, na mintaprostituição - eu nunca
Então ê uma c o i s a morna, não e x i s t e , fi possível. É uma consciência que tem que mostrar o r e a l , porque o me v e n d i , e u sou virgem. Então e s s a
um papo furado. s e r b a t a l h a d a , então eu não posso me d a r r e a l ê uma c o i s a muito f o r t e ; a t v é uma virgem v a i se o f e r e c e r , e como ê cabaço,
É uma c o i s a s o c i a l ; a pessoa f a z i s s o o d i r e i t o de s e r o Zé, p o r que o Zé, o o i s a m u i t o f o r t e : se começassem a se v a l o r i z a , não é? Então uma virgem v a i
por ascenção s o c i a l , p o r coerência enquanto não tem base que g a r a n t a a mostrar o r e a l n a t v , um d i a s e r i a se o f e r e c e r ao maior machão que tem:
de idéia, fi c l a r o , se você pega um p o s s i b i l i d a d e de s e r , e l e ê u m d i f e r e n t e do o u t r o . -"Vooê tem p e i t o p r a me comer? eu
raciocínio m a r x i s t a , ê uma ciência, né? abstração, sonho, a r , p o e s i a , l e t r a de Quem c o n t r o l a . i s s o ? e s t o u dando p a r a você."
Então você assume um dado de uma música, metáfora, e l e ê tudo, mas não é Quem c o n t r o l a esse excesso de informação? Agora, será que agüento e s s a transação?
ciência, você deduz, d e c o r r e , então você real. Então, p e l o contrário, um d i a tem que
é coerente cem a q u i l o . lias i s s o ê uma E l e ê r e a l p r a mim, pros meus amigos, s e r i g u a l ao o u t r o , tem que d a r a q u e l a
l o u c u r a também. para a m a i o r i a que está comigo, mas não idéia de que as c o i s a s são imutáveis, de
Na a t u a l prática política, não quer d i z e r comunica com o mundo, porque e n t r e - que ê a q u e l a chapação só, sempre a q u e l a
Ex-: E o que voce v a i f a z e r
nada, você pode saber de c o r , você pode e l e e o mundo e x i s t e uma e s t r u t u r a t o d a z o e i r a , que você ouve todo d i a . Quando
com o d i n h e i r o ?
saber f a l a r sobre o marxismo h o r a s , mas do d i n h e i r o , do c a p i t a l , da p u b l i c i d a d e , você vê c o n j u n t o s de música pop tentando
a q u i l o é um papo furado, que é uma r e a l i d a d e , e o Zé p r e c i s a balançar alguma c o i s a , não balança c o i s a
Zé: Com o d i n h e i r o ? Com esse michê? Não
porque a t u a prática ê o u t r a . e n c o n t r a r o meio de enfrentá-la. nenhuma, porque f i c a tudo embalado , e l e s
se vender é s a i r do mundo, mesmo.
0 underground h o j e em d i a não ê uma f i c a m embalados, está tudo v i c i a d o
Tem um preço e s s a transação. 0 p l a n e t a
opção i n t e l e c t u a l , ê uma verdade, fi uma na dopação.'
i n t e i r o tá nessa. 0 d i n h e i r o ê o Deus
f a i x a de gente, que v i v e . Mas a m a i o r i a A f a b r i c a de diversão, Hollywood. Sempre f o r t e . Então tem que se vender bem, não
dessa f a i x a ê como meu primo que se Ex-: Teve uma c r i t i c a c o n t r a aquele e x i s t i u p r a i s s o . E tem que t e r uma é? E eu sou um produto c a r o .
s u i c i d o u ontem: não tem s a l d a , não tem debate seu com o J o r g e de Andrade ('Os Hollywood...Agora, eu t a v a a f i m de Agora, se não f o r possível - e u acho
mais v i n c u l o com a família, nem com as Ossos do Barão', TV Globo); d i z i a m que t r a n s a r uma com a TV Globo. P e n s e i em que n i o v a i s e r possível, t a l v e z eu
cúpulas, os amigos, então tem que se você pecou muito com suas c r i t i c a s ã propor: e s t e j a condenado a não me vender, pode
matar. Agora, nós que já temos televisão; então, e s s a sua posição -"Olha, vocês tão muito o r g u l h o s o s , s e r que a minha missão s e j a d e s c o b r i r
um cosmo, que já vivemos em função de de t r a n s a r t v nos surpreende... pegaram alguns nomes muito importantes como f a z e r uma c o i s a sem prostituição...
organismo, como ê o Ex-, o O f i c i n a , do B r a s i l , J o r g e de Andrade ...Bom, a Agora, já tá dada a bandeira,eu acho que
nós somos os germes de uma transação de Zé: fi que tudo é fantástico! A e n e r g i a minha s u b e u l t u r a não pode chegar n a t v não pode s e r f e i t o mais.
base, i s s o ê muito importante no B r a s i l atômica ê fantástica, mas e l a f a z a a i n d a , porque a p r e n d i a f a z e r um t i p o de Mas vamos d i s t r i b u i r e s s a grana, moçada!
de h o j e . Uma transação de conseguir bomba; a televisão ê fantástica: c o i s a que não pode s e r na t v . " A l , com o d i n h e i r o eu g o s t a r i a de f a z e r
p r o d u z i r alguns produtos; que não sejam i n c l u s i v e o V i a n i n h a (Oduvaldo V i a n a Mas e u t o p a r i a f a z e r i s s o n a área que eu um t r a b a l h o com as pessoas, com os
l i t e r a t u r a só, daquele nível que você F9, nosso teatrólogo f a l e c i d o em j u l h o s e i f a z e r , que ê o t e a t r o . Então eu a t o r e s , com os atores.do B r a s i l , pessoas
f a z seu p r o j e t o mas não r e a l i z a ; mas que último), e l e d i z i a assim: p r o p o r i a f a z e r uma peça chamada Mahagoni, que já trazem no corpo a marca, d a
sejam c o i s a s mais c o n c r e t a s , desde -"Televisão é fantástica, o problema d a que B e r t o l d B r e c h t e s c r e v e u durante ã vivência, d a l u t a p e l a l i b e r d a d e . E no
a nossa maneira de v i v e r , i n d i v i d u a l televisão ê que e l a não i n f o r m a . " c r i s e de 29 na Alemanha, uma p e j a sobre B r a s i l tem grandes a t o r e s . Pessoas que já
mesmo, das nossas casas, até nossa Mas mesmo a t v na mão de quem está, é um o Show Business. Sobre a diversão, a passaram uma b a r r a , os a t o r e s , gente que
maneira de p r o d u z i r , até as c o i s a s instrumento poderosíssimo de criação de p u b l i c i d a d e . E s s a peça t e r i a o s e n t i d o já está sacando, já está sabendo d a c o i s a ,
que nós produzimos. dope, de alienação, de l o u c u r a , de t o t a l d e l a como t e a t r o , se f o s s e não no papo, não n a opção i n t e l e c t u a l ,
e s q u i z o f r e n i a . As crianças que f i c a m produzida p e l a Globo, se quem f i z e s s e a não na obrigação m o r a l , mas n a
vendo televisão o tempo t o d o , estão peça se vendesse p a r a a TV Globo. Acho necessidade dos J u j u b a s .
vendo imagem f a l s a e recebendo uma que a TV Globo tem força p a r a a c e i t a r Me l e m b r e i de M a r i a G l a d i s . E l a me deu
Ex-: Agora f a l a sobre a viagem, informação v e r t i c a l . Então, até e l a se i s s o . E l a p o d e r i a f a z e r i s s o sem s e uma força agora. Grande a t r i z .
de como o José C e l s o M a r t i n e z C o r r e i a l i b e r t a r d i s s o , v a i passar p o r uma d e s t r u i r , só com jogo de humor. S e r i a Então, se essas pessoas da v i d a , que não
v e i o se transformando no Zé. experiência s o f r i d a de v i d a , como f o i d i v e r t i d o . S e r i a um espelho podem se m a n i f e s t a r de o u t r a maneira, só
p a r a a gente se l i b e r t a r do cinema do que e l e s fazem. podem se m a n i f e s t a r d e s s a , se e l a s se
Zé: fi. O Zé é uma t e n t a t i v a de chegar a americano. Porque a q u i l o e n t r a n a cuca Esse t r a b a l h o eu g o s t a r i a de propor ao unirem, e f i z e r e m j u n t a s algumas o o i s a s ,
uma c o i s a , o nível de consciência que eu da gente como uma r e a l i d a d e . Agora, a sistema. Vamos r e p r e s e n t a r no paloo as não p r e c i s a nem dizerem uma p a l a v r a , basta
a s p i r o , que ê o cidadão u n i v e r s a l . Um t v em s i , a serviço do r e a l , ôrra! o emoções r e a i s , do nosso tempo, que não e l a s estarem j u n t a s , e dizerem algumas
s u j e i t o que me transcenda e que me dilema ê o s e g u i n t e : são as emoções do amor e t a l ; não, é a c o i s a s algumas v e z e s , no l u g a r que se
i d e n t i f i q u e com a m a i o r i a , e p o r t a n t o se tudo que a p r e n d i , eu f a z i a n a v i d a como emoção d a transação p e l a sobrevivência, chama de cena. Pode s e r um p a l c o , pode
põe a serviço da m a i o r i a , e que s e j a um comunicador, como técnico em comunicação; com a mesma emoção de uma cena de s e r uma praça, pode s e r um t e a t r o , um _
Zé Ninguém, a serviço da m a i o r i a , de f o i sempre o s e g u i n t e : c r i m e , de uma cena de amor - uma l u g a r onde e l a s estejam j u n t a s , e l a s vão
todos. Zé, de l e t r a Z. Tem até uma l e t r a vooê deve mostrar o r e a l , você deve cena de transação. t e r a oportunidade de m o s t r a r que uma
de música que eu f a l o : Z, de último. ê mostrar o r e a l , você deve mostrar o P a r a mostrar como o homem se r e l a c i o n a . o u t r a v i d a ê p o s s i v e l . No t e a t r o , p o r
Agora, não tenho condição de Zé, porque que é. E tudo que depois se passou a Como os homens transam. Como ê que enquanto; mas que v a i s e r possível na
o Zé agora só v a i e x i s t i r quando t i v e r f a z e r em comunicação f o i ê a transação do d i n h e i r o . Em termos de r e a l i d a d e . Porque n a experiência
uma e s t r u t u r a , um poder, que e l e mesmo -"não, você deve ê c o b r i r o r e a l , você m u s i c a l , todo mundo cantando, todo i n d i v i d u a l i s t a e i n d i v i d u a l delas, elas
v a i c r i a r , com o u t r o s Zés Ninguém que nunca deve mostrar o r e a l " — mundo dançando, com muitas o o r e s , r e d e s c o b r i r a m uma série de c o i s a s , e
agüentem a b a r r a , porque senão e l e ê Então vooê tem t o d a uma t v em p r e t o e atendendo o p r e t o e branco, atendendo se e l a s conseguirem s o c i a l i z a r i s s o ,
obrigado a s e r José C e l s o M a r t i n e z branco, uma lanchonete de l u x o , c u l t u r a l , a c u l t u r a , tudo. entre elas
C o r r e i a , ou p e l o menos Zé C e l s o . . com meninas d a PUC, t o d a uma encenação E Brecht escreveu para ser f e i t o pelos
Zé não dá. Nao tem condição. p a r a embalar o r e a l , p a r a esconder o americanos, como o americanismo que Então p a r a i s s o e u t a v a querendo muito >
P O D E R JUDICIÁRIO
JUSTIÇA MILITAR FEDERAL

3.' Hloili da V C. 1.1:


SAO PAULO

C E R T I D Ã O

aoBsaacG ns FIGUEIREDO SAT.LAH SSHT

Escrivão da Justiça Militar Federal, com Exercício na 3.» Auditoria


da 2." Clrcunscrição Judiciária Militar, Estado de Sao Paulo,

CERTIFICA, pedido verbal de pessoa interessada,que


revendo era Cartório os r.utos do inquérito p o l i c i a l registra-
do nesta Auditoria sob nÊ* 64/74, referente a JOSÉ CEL3C fiAll-
"INSZ CORRÊA, f i l h o de Jorge Borges Corrêa dona Angela Mar
tinez Corrêa, natural d* Araraquara-St', nascido a 5 0 / 0 7 / 1 9 3 7
constatei quanto ao nominado o seguinte:-Foi. preso e i 22 de
maio de 1974, sendo indiciado no inquérito p o l i c i a l n2 17/7 a

instaurado na Delegacia Especializada de Ordem o O c í a I , p r i -


são essa realizada pelo DOPG, por envolvimento na organiza -
ção subversiva conhecid? por A I. R, tendo sido posto em li-
berdade em 17/06/74. CERTIFICA mais que, indo os autos com -
vista ao ür Procurador ! i l i t a r , opinou ele pelo arquivamento
por entender não haver "qualquer crime nos presentes autos",
tendo o MM Dr Juiz auditor, por Decisão de 06/08/74,adotando
o Parecer do Dr Procurador, determinado o arquivanento dos -
autos. NADA MAIS. Dado e passado nesta Cidade e Capital do -
"stado de São Paulo, ao? sete ( 0 7 ) dias do mês de agosto do-
'ly^iovecentos e setenta e quatro (197*) • Eu
'u<^, • loy<?~-, -
'. • , Eduardo Gp^SB, mec.unograf o, que a
datilografei, e eu /Ás-rí^T <*-"-

f a z e r um espetáculo que p a r t i r i a do Então esse f i l h o mais f o r t e que o p a i ê Canudos, Porque "Os Sertões ê a c o i s a de CIA. Inteligência tática. Você tem
Prometeu Acorrentado, e i r i a até o que v a i l i b e r t a r Prometeu. E e l e é mais importante que se tem como l i n h a de que b o l a r meios que permitam que as pessoas
Ato dos Apóstolos, de São P a u l o . cercado p e l o povo, que é o coro grego, pensamento, mais importante que Oswald se reúnam, possam se d a r ao l u x o de serem
Esse ê o t r a b a l h o que s e r i a uma que ê o povo escravo. de Andrade. Muito mais importante ê a pessoas, de serem humanas, de.serem f r a c a s .
espécie de c o n t i n u i d a d e p a r a mim, h o j e , E é exatamente o que eu q u e r i a f a z e r com l i n h a que vem dos Sertões. Mas nós temos, Não e x i s t e o heroísmo. De,certa maneira,
numa o u t r a , da experiência de G r a c i a s o p e s s o a l de umbanda. Quando Prometeu ê no espetáculo de G r a c i a s Senor, o f i l m e se teve que s e r em c e r t a época, i s s o e
Senor. Que acho uma experiência superada. abandonado p o r todos, o povo escravo de Mandassaia, que ê o resumo dessa uma b e s t e i r a . 0 gênio ê uma grande
Uma experiência de determinado momento. f i c a ao lado d e l e , aí Júpiter manda aspiração. Que ê uma ponte que a gente besteira. Viva a rapaziada : A rapaziada
Um momento em que se sonhava com a união as maiores t o r t u r a s em cima d e l e . constrói e n t r e a gente e os camponeses. tem que e n c o n t r a r um j e i t o de v i v e r se
dos corpos, com a divisão dos corpos, Porque e l e ê a l u z , ou o Espírito Santo E os Sertões, v e j a , aconteceu no B r a s i l baseando p e l o mais f r a c o , não p e l o mais
com a ressurreição dos corpos, e s e como chamam os católicos, ou a na época da instalação da República, f o r t e . I n c l u s i v e heroísmo ê uma c o i s a
acordava no uso da lança. Eu acho que consciência política, como chamam os j u n t o com mais d o i s fenômenos - Lampião reacionária. P o r exemplo, eu s i n t o que
nós estamos no p r i m e i r o uso da lança, m a r x i s t a s . E o povo f i c a com e l e , f i c a sou u t i l i z a d o muitas vezes como bode,
e o Padre Cíoero. Três fenômenos populares:
no momento em que nós vamos s a l t a r . sofrendo com e l e . E s s a s e r i a uma p a r t e bode do heroísmo, bode d a abstração.
Padre Cícero, o conchavo, PSD. Lampião a
do t r a b a l h o . A o u t r a s e r i a baseada no Como bode da p u r e z a , como bode da virgem.
T i n h a um memento em que um dos a t o r e s g u e r r i l h a ; e Antônio C o n s e l h e i r o , a
I s s o ê uma c o i s a que só c o m p l i c a a
i a s a l t a r , mas e l e e s t a v a de o l h o negro. Ato dos Apóstolos, de São Paulo. Porque anarquia. E s i n t o o Antônio C o n s e l h e i r o consciência das pessoas. É uma estátua.
A i p e r d i a - s e todo o t r a b a l h o , e t i n h a - s e eu quero conhecer Sao Paulo. Porque cada uma c o i s a de f i c a r . De r e s i s t i r . 0 Eu sou uma estátua v i v a .' Então ê um
que v o l t a r novamente no começo. E nós vez mais e u s i n t o são Paulo como o s a r t a n e j o é antes de tudo um f o r t e . Como momento dificílimo.
vamos t e r que v o l t a r ao começo quantas l u g a r mesmo, cada vez mais. E s s a cidade n capacidade de um povo de se o r g a n i z a r S i n t o que sempre que f a l o em d i n h e i r o ,
vezes f o r necessário. E nós tamos do t r a b a l h o e d o capital.É_aí que a s para s e r o que quer s e r . P a r a f a z e r o s f a l o num tabu. É um grande trauma. A única
v o l t a n d o ao começo. Tamos no zero de novo, c o i s a s vão acontecer e estão acontecendo. Sertões t e r i a que s e r um f i l m e japonês. psicanálise que v a l e a pena de.ser f e i t a
prá c o n s t r u i r tudo do começo.Então nessa Aí, na prisão eu comecei a l e r a Bíblia T e r i a que t e r várias etapas. P o r exemplo ê e s t a . Quem manda e quem obedece. E
fase èu g o s t a r i a de f a z e r um t r a b a l h o e o A t o dos Apóstolos de São P a u l o , que um f i l m e só,_deveria s e r A T e r r a . A t e r r a , q u a l é a do d i n h e i r o . "É incrível aquela
l i g a d o ao t e a t r o do povo escravo e r a o c a r a que p r e n d i a os cristãos, e que ê o sertão propriamente, um f i l m e f a l a do R e i da V e l a : " Vocês a r t i s t a s têm
b r a s i l e i r o , que é a raça negra; e do e l e f i c a cego da consciência. Então histórico, até a t e r r a como tá que s e r mantidos p e l a sociedade na mais
espírito crítico de que eu não a b d i c o , e l e recebe o éter, recebe a l u z , h o j e . B r a s i l . 0 espaço, como ê que é. completa miséria, p a r a s e r v i r e m como bons
que ê da minha c u l t u r a r a c i o n a l i s t a , recebe a consciência, e passa_a a t u a r 0 segundo f i l m e , O Homem. Quem l a c a i o s , obediente, prestimosos, é a vossa
da minha c u l t u r a grega, que não dá p r a ao lado dos cristãos, uma espécie de h a b i t a esse espaço. Quem somos nós. Desde função s o c i a l . Você f a z v e r s o s ? E l e
.abdicar, porque e l a tá em mim, e de um Antônio das Mortes. AÍ o c a r a s a i dando
0 s e r t a n e j o , o f o r t e , que passa p o r tudo responde ( o p o e t a ) : "Quadrinhas,
encontro dos d o i s , e é um espetáculo testemunho do Espírito Santo p e l o mundo acrósticos, j i n g l e s . " - F u t u r i s t a s ? "Já
i s s o e r e s i s t e , e até consequentemente
que e u s i n t o a p o s s i b i l i d a d e de f a l a r em todo. Mas e l e não v a i l e v a r o testemunho f u i f u t u r i s t a , mas noutros tempos. Depois
quem ê o homem urbano. Quem somos nós que
descolonização. Quando e l e chega, já tem uma pessoa no começou a f a l t a r d i n h e i r o em c a s a , t i n h a
tamos fazendo esse f i l m e . E o t e r c e i r o
B o t a r a l u z na macumba. l u g a r , que já está i l u m i n a d a , já está minha mulher, meu f i l h o , aí eu v i r e i
f i l m e chamado A L u t a . Como é que um homem
Quebrar a e s q u i z o f r e n i a da macumba, com a consciência. AÍ, com e s s a pessoa, passadista."
se reúne com o u t r o s homens, a f i r m a uma
quebrar, e i n t r o d u z i r n e l a a l u z de e. com o u t r a s que vêm, e l e c r i a um É incrível, e s t e personagem que eu
maneira de s e r , como ê que elê l u t a p a r a
Prometeu. Prometeu ê o éter, o c a r a que grupo. E a q u i l o ê irresistível, com debochava em 68 - sou eu! Agora, tem uma
manter e s s a maneira de s e r . .Contra
rouba o fogo de Júpiter e dá aos homens. a q u i l o ninguém pode. Porque Deus está c o i s a incrível tembêm: só agora tô
homens que querem s e r sua o u t r a maneira
E o fogo ê a razão, a c u l t u r a , é as a r t e s ; do lado. v a l o r i z a n d o o t r a b a l h o , as pessoas que
de s e r . É um d e s a f i o . Eu não acho que a
é a ciência; é a técnica, são todas E eu t a v a querendo f a z e r um t r a b a l h o história dos Sertões vã se r e p e t i r , e f i z e r a m esse t r a b a l h o , onde quer que
aquelas c o i s a s que os homens encontraram em que i s s o f o s s e só uma e s t r u t u r a , mas não acho que s e j a dessa maneira. Tô s e j a , p r a s a i r d i s s o . S a i r da miséria
e n t r e s i , descobriram e n t r e s i prá s a l t a r que e n t r a s s e t o d a nossa criação desses ' muito mais i n t e r e s s a d o em e n c o n t r a r o u t r a da submissão. P o r exemplo, e s t o u
sobre as c o i s a s . Prometeu é i s s o . s e i s anos. Não só nossa do Grupo O f i c i n a forma de resistência. No t r a b a l h o . v a l o r i z a n d o um pedacinho do Jorge Amado .
Mostrar o fogo dos m o r t a i s , do povo. mas das pessoas que viessem p a r t i c i p a r Eu tô com a minha cabeça c h e i a de c o i s a s , Mesmo que depois e l e tenha s e aburguesado.
Aí e l e é crandenado p o r Júpiter a f i c a r do t r a b a l h o . Porque n i s s o ' e s t a r i a tô numa f a s e em que tenho demais o que Você vê, aquele f i n a l de Jubiabã,pô'.e u
amarrado eternamente numa pedra, e só compendiada t o d a a demonstração de tudo, d i z e r , tenho demais o que comunicar, tenho um grande r e s p e i t o p o r e l e . Nesse
sairá s e r e v e l a r q u a l o segredo d a é como f o i mais ou menos G r a c i a s Senor. tenho demais o que t r a b a l h a r . Sabe, eu s e n t i d o esse c a r a (Ifemeck) tem razão:
destruição do império de Júpiter. Eu acho que não p r e c i s a s e r uma c o i s a tão tenho música, tenho pensamento, tenho
a gente queimou m u i t a c o i s a , e ê.
E Júpiter t e n t a oomprã-lo, enquanto, e l e epopéica assim. B a s t a as pessoas estarem saudável i s s o . Quer d i z e r , queimar tudo
f i l o s o f i a , que eu acho que ê uma c o i s a
está amarrado. Usa de todos os meios. j u n t a s , tudo bem, mas oomo a gente g o s t a prá depois r e c u p e r a r tudo. fias é
importante, eu d e s c o b r i a f i l o s o f i a , tô
•0 deus do comércio, deus rfercúrio, v a i de f a z e r c o i s a s , se se t i v e r que f a z e r perigosíssimo, porque é uma transação
entendendo o que quer d i z e r s e r . Eu quero que pode l e v a r ao i r r a c i o n a l i s m o , que
f a l a r com e l e . E e l e se encontra com uma o b r a , p e l o p r a z e r de uma o b r a de a r t e e s c r e v e r sobre i s s o , quero f a z e r peças,
o u t r a mulher que tá condenada a vagar e s s a s e r i a uma p... o b r a de a r t e , que eu l e v a ao nazismo. Você d e s a c r e d i t a de
quero t r a n s a r com as pessoas, tudo, tudo, tudo, você destrói tudo, todas as
p e l o mundo, e l a v a i t e r de p a s s a r p o r uma a d o r a r i a f a z e r com e s s e d i n h e i r o . Depois muito, e eu tenho que e n c o n t r a r o s meios
transformação incrível, i s s o ê l i n d o , até d e f e s a s , você destrói a r e a l i d a d e , t u d o
vamos r e a l i z a r o sonho dos anos 70, que de t r a n s a r i s s o , e s e i que não encontro,
e l a p a r i r , um d i a , um f i l h o mais f o r t e que e x i s t e . Cada um tem que f a l a r p o r
ê "Os Sertões". Que "Os Sertões" é o maia porque também não e s t o u sabendo. Não ê
do que o p a i . Esse f i l h o mais f o r t e do sí. C l a r o , mas enquanto i s s o não é
m i t o b r a s i l e i r o p a r a mim, nesse momento, c u l p a do sistema. Porque eu a i n d a não sou possível, tem as que f a l a m p e l o deus
que o p a i v a i n a s c e r , segundo Prometeu, que não quero s a i r do B r a s i l . Que eu f«ii c l a r o . A minha consciência a i n d a navega
dessa mulher, e de uma geração de d i n h e i r o , p e l a s organizações, p e l o s
preso. Saindo, t i n h a tudo encaminhado na l o u c u r a . Esse suicídio do meu primo, s i n d i c a t o s . Quando a q u i l o tudo ê destruído,
mulheres que não vão s a c r i f i c a r o f i l h o p a r a abandonar o país e f i c a r naquela e s s a situação em que nós nos encontramos,
p o r razões de E s t a d o , e dessa mulher f i c a só você, a massa, perante um ponto
posição de quem não tem condições. Eu tô 1
agora, me a b r i u p a r a o u t r a p e r s p e c t i v a . c e n t r a l que determina tudo, e f o i o que
nasce uma d i n a s t i a r e a l , que é a procurando- as condições para f i c a r . Agora, acho que nessei momento não é houve na Alemanha também. •
d i n a s t i a do amor, e dessa mulher v a i 1
'Os Sertões"" ê empreendimento tão importante uma transação em que as pessoas
nascer o f i l h o mais f o r t e que b p a i . grande, quase como f o i a epopéia de tenham que s e r heróis.É uma inteligência
Um c o n t o - o r a l
de João Antônio

Se o botequim acabou, a praça acabou,


a casa de samba acabou, o taxi-dance tá acabando,
a sinuca não poderia estar deixando de morrer -
1
"a rua hoje é um local de conflito. "
Re-incurscês do antigo autor de "Malagueta, Perus e
Bacanaço", o jornalista-escritor João Antônio,
na arte de divagar sobre a manha, a dissimulação e
o desacato da sociedade urbana, até
encontrar um tipo de hoje, ã beira da morte:

0 merduncho
ou d e n t r o de. uma- zana de meretrício...
y ^ ntão a s i n u c a sempre Porque a l i e l e v i a a grandeza d a
M J caminhou assim como um vida-. A l i . ele.; topava com t i p o s
M_\ troço esquecido. Quando autênticos - não tainha aqfiele vai-não-
realmente, e l a representava v a i dos', l u g a r e s onde e l e v i v i a .
a concentração de um t i p o que f i c a Geralmente eram; os- l u g a r e s onde se
muito próximo do m a r g i n a l , que é o . a f i r m a v a sua.condieao: de homem. Porque
lúmpen, que é o eara-marginalizado d e s a p a r e c i a toda a f r i v o l i d a d e , você
mesmo. f a i x a s o c i a l meio vaga chamada lúmpen; p r e c i s a v a - s a b e r o que é que você
A s i n u c a é-um negócio desoonhecido e de cinema, indústria de l i v r o ,
assim t a l v e z só tão característica e s t a v a fazendo. Você-precisava saber
quando aparece, um c a r a f a l a n d o d i s s o indústria do não s e i o quê, a i n d a
quanto e s t e s eserevedores de jogo do com quem você e s t a v a mexendo.
com propriedade, é levado como assim e l e s f i z e r a m um f i l m e sério
sobre s i n u c a . Oom muitos d e f e i t o s . Um b i c h o , que- são c a r a s realmente lúmpen, mesmo- tempet, havia* um aprendizado,
p i t o r e s c o ! Não é p i t o r e s c o ! É um meio c a r a s que só sabem f a z e r a q u i l o . assim de v i d a , . naqueles ambientes q u ^
de d i v e r t i m e n t o , digamos assim: um f i l m e com o P a u l Newman: o "Desafio a
Corrupção". ê um título babaca, como os Então e s s a gente-ganha a s s i m um poder você. sabia, que nada p o d i a s e r de graça;
l u g a r lúdico, e-também um ganha-pão p r a dramático} a p a r t i r - d a f i g u r a física Tudo c u s t a v a alguma c o i s a , i n c l u s i v e
o u t r o s c a r a s que não têm meios p r a o u t r o s que estão aí. Mas e r a ura f i l m e
sério. E l e apresentava a s i n u c a d e l e s , d a magreza, d a p a l i d e z , do em termos éticos, de r e s p e i t o p e l o
grande j o g o , né? Os mesmos c a r a s do o u t r o ; Embora, c o m o : d i r i a uma visão
realmente. A r e a l idade. Só que não envelhecimento precoce. Entende?
salão de s i n u c a colocados assim no burguesa, f o s s e um "mar-de lama", uma
apresentava a polícia, um elemento Não são bem os bandidos, não são bem
Jóquei são uns pés de c h i n e l o , uns perdição — e r a realmente com dramas
fundamental n a sinuca-, aparecendo como os m a r g i n a i s : são mais-uns-pés-de-
c a r a s que jogam muito pouco. São caras tremendos. Mas -havia o u t r a grandeza,
o elemento mais sórdido, como elemento c h i n e l o , o pé-rapado-, o zê-mané, o
que jamais sonharam com B o l s a de que i s s o aí e s t o n t e a v a o s c a r a s
V a l o r e s , e l e s nem sabem o que ê de exploração do jogador.0 p o l i c i a l e i r a - s e m - b e i r a , o merduncho - a q u i no
aparece no jogo da s i n u c a como R i o se u s a m u i t o e s s a expressão da minha geração.
B o l s a de V a l o r e s ; . . são-caras assim
que não são dados ao põquer, o máximo e x p l o r a d o r do próprio jogador. merduncho. Quer-dizer-, ê um :
Naquele tempo, o c a r a p r e c i s a v a saber
que e l e s jogam no b a r a l h o ê jogo de Então, a s i n u c a também ê uma cópia da d e p r e c i a t i v o quase a f e t i v o de um merda, dançar d i r e i t i n h o porque e l e era_um
ronda - esses-joguinhos de 21, o n o s s a sociedade. Na s i n u c a e x i s t e o merda-merda; então, em v e z de um duro; se f o s s e lã no dancing e não
joguinho do b i c h o . patrão, e x i s t e o empregado: o c a v a l o ; bosta-bosta* o cara-diz—"ê um dançasse bem d i r e i t i n h o , as mulheres
e x i s t e o s u j e i t o que tem d i n h e i r o e não merduncho". Ê um troço da maior oobravam d i n h e i r o d e l e e e l e não
Agora, a gravidade da s i n u c a t a l : que sabe j o g a r , que ê o s u j e i t o que p a t r o a tragédia, que- evidentemente não p o d i a t i n h a com que pagar. Então e l e t i n h a
nem no d i v e r t i m e n t o , nem no campo o jogo. Aparentemente é um j o g u i n h o , s e n s i b i l i z a r - a c l a s s e média, nem os de dançar bem p r a c o n q u i s t a r uma
lúdico esses c a r a s têm assim o d i r e i t o mas s e - v i s t o d a angulação do i n t e l e c t u a i s b r a s i l e i r o s - Não ê p o r mulher, p r a que a q u e l a mulher f i c a s s e
do d i v e r t i m e n t o , porque até i s s o p r a malandro, daí a grandeza, se v i s t o da mau-earatice, não é p o r nada, ê que camarada d e l e e dançasse de graça.
e l e s é um negócio patético, ê um angulação do malandro... tá lã no A s i n u c a , como o t a x i - d a n c i n g , esse
e l e s são f i l h o s d a c l a s s e média, jamais
negócio dramático, é um negócio do d i a l i v r i n h o que eu f i z ; e l a ê a própria mundo todo, os c a r a s continuam s e
vão o l h a r essas c o i s a s , jamais!
de amanhã, entende? 0 camarada quando síntese do patetismo da v i d a , d a devorando - que nem porco-espinho
tá jogando 50 contos numa p a r t i d a de dramaticidade, d a l u t a . Daí porque os enroscando um-no o u t r o , v a i i n d o .
omo é que um c a r a como e u - eu

C
s i n u c a , ou 20, ou 10, e l e tá jogando ê c a r a s dizem troços que me parecem até O grande momento- ê a t a r d e , a
o d i n h e i r o da xepa de amanhã, do ragu, hoje meio p i e g a s , melodramáticos: não e s c r e v i sobre s i n u c a ã t o a ,
hora não p e r c e b i d a . A única
da comida. É a sobrevivência d e l e . "A mesa ê t r i s t e como uma b o l a branca f e c h e i botequim oom 16 anos!
vantagem desses c a r a s , esses c a r a s
Esse negócio ganha uma dimensão muito que c a i . " Eu jogava bem: ccmo ê que
jamais são óbvios, são os caras que
grande e i s s o passou desapercebido, um c a r a como eu c a i n i s s o ? Um c a r a cem
aprenderam a dissimulação.
até agora, p e l o menos p e l a m a i o r i a dos I s s o é f r a s e que apanhei de vagabundo s e n s i b i l i d a d e , vivendo em V i l a
A dissimulação e n t r e e l e s , je também o
c a r a s . E cada v e z que um j o r n a l i s t a v a i da Lapa. Parece uma fraseJ-iterária, Anastácio, em São P a u l o , que é um f i m
desacato. Seguindo uma- p a r t i d a de_
f a l a r sobre s i n u c a , o c a r a v a i p r o c u r a r mas não ê. Você imagina: um c a s s i n o de mundo, ê onde-judas-perdeu-as-
s i n u c a e n t r e jogadores mesmo, você v a i
uma porrada de o o i s a s que já tão do lúmpen. O que s e r i a ? S e r i a uma b o t a s , um problema sério, até de
v e r que e l e s têm as armas mais s u t i s ,
e s c r i t a s em outros j o r n a i s , v a i mesa de s i n u c a às quatro da manha, ou condução.
as mais políticas i n c l u s i v e . 0 s u j e i t o
conversar com meia-dúzia de malandros- às c i n c o , n a hora em que a polícia já Então esse: c a r a , um c a r a de c e r t a ganhar a p a r t i d a do o u t r o ,
chave, são os medalhões da s i n u c a , são se esbaldou de a p r o v e i t a r , já passaram s e n s i b i l i d a d e , tem desejo de desacatando o o u t r o , encabulando
os gênios' da s i n u c a realmente: o por a l i aqueles que não têm compromisso aventura, tem essa- c o i s a m a r a v i l h o s a o o u t r o através d a f a l a ; Assim um
L i n c o l n , Carne F r i t a , o E s t i l i n g u e , o nenhum com a s i n u c a , os que jogam p a r a da juventude, do "grande f e i t o " - e desacato debochado, a q u e l a c o i s a que
Boca Murcha. Esses caras a q u i e em São passar o tempo, e estão os onde é que e l e v a i _ j o g a r i s s o ? Numa rumina dentro do s u j e i t o , instigação,
P a u l o , esses caras dão uma visão s o b r e v i v e n t e s d a s i n u c a , uns comendo v i d i n h a danada de dura':, com tudo e a c o i s a não acontece p o r acaso. P o r
f a n t a s i o s a d a s i n u c a porque da s i n u c a aos outros-. Violentamente, tá o e r t i n h o , contadinho, tudo contadinho, exemplo: um jogador de s i n u c a não
e l e s t i r a r a m um s t a t u z i n h o s o c i a l , o de entendendo? Você v a i e n c o n t r a r um um miserê danado p o r todos os lados? bebe, não bebe- nem c a f é;
jogador de s i n u c a . 0 F r i t a chegou a c a s s i n o p r e t o e branoo, sem retoque, A s i n u c a e r a o lúdico, a s i n u c a e r a Vooê a s s i s t e um c a r a j o g a r 8, 10 h ,
v i a j a r p r a b a i x o e p r a cima com o você v a i e n c o n t r a r o c a s s i n o do a aventura, f i n a l m e n t e e l e - i a f a z e r e l e s bebem água com açúcar p o r incrível
_dinheiro_.de. ___j_aica. chamado lúmpen. Que ê o_lúmpen mesmo q u a l q u e r . c o i s a m a l d i t a , mal comportada. que pareça, ou então um suco de
- o jogador de sinuca, não ê bem o Esse desejo que a juventude tem de qualquer c o i s a bem açucarado, e f i c a m
Então, a s i n u c a ê mais um fenômeno que malandro, nem bem o t r a b a l h a d o r , nem contestar, a sinuca e r a - c l a r o ,
escapa ao i n t e l e c t u a l d a nossa . a l i em v o l t a da mesa durante todo
bem o operário, e l e f i c a v i z i n h a n d o ^ a minusculamente - uma forma de d i z e r : aquele tempo, num c o n t r o l e de
sociedade. Nosso i n t e l e c t u a l está pobreza, v i z i n h a n d o a miséria, não é o "PÔ, não! Eu v o u e n t r a r num salão de
preocupado com o u t r a s c o i s a s porque já nervos danado.
e s m o l e i r o também; pode t e r algum s i n u c a . Não pode menor-de idade?
e n c o n t r a todo um processo p r a só pensar elemento l i g a d o ã prostituição, que Não quero nem saber!" A i n d a h o j e , n a C e n t r a l , - p o r exemplo,
nessas o u t r a s o o i s a s ; T i n h a c a r a n a minha i d a d e , com 16, 17 você vê p a r t i d a s como essa; Você
Por exemplo: os americanos, com todos v a i lã a p o s t a r ê um lúmpen mesmo.
anos, que só achava graça em beber vê, p o r exemplo, t i p o s d e s a l o j a d o s de
os d e f e i t o s que e l e s têm, com toda Acho que a s i n u c a ê a mais c e r v e j a d e n t r e de um salão de s i n u c a o u t r o s ramos de malandragem. E a q u i l o ^
a q u e l a preocupação de f a z e r indústria " característica dessas c o i s a s , d e s s a
continuação
forma uma f a i x a de gente e s p e c i a l , d i v e r t i m e n t o s populares. 0 mesmo antro de jogo é lugar de gente perdendo. Perdia pra um, perdia pra
i n c l u s i v e se esconde durante o d i a , processo acontece h o j e em l i m i t e muito complicada, os mal-amados, os outro; hoje 40 contos aqui, 50
nas u l t i m a s horas da manhã. 0 maior com. as e s c o l a s de samba. P o r t e l a esquecidos, os abandonados, os a l i ; assim i a fazendo sua plantação.
r e s p e i t o com que•eles t r a t a m um h o j e ê uma i n d u s t r i a de samba, a tímidos, esses doentes nervosos todos, Sozinho, era um lúmpen solitário,
otário ê impressionante. Porque e l e s Mangueira lioje é uma e s c o l a que f a t u r a evidentemente a sinuca é um arriscado a matarem e l e lã dentro ou
só s e desrespeitam, se desacatam h o r r o r e s , ê uma c a i x a - r e g i s t r a d o r a . excelente escoadouro dessa gente. O na saída.
e n t r e s i ; quando chega o otário, e l e s Não tem mais aquela aventura da c o i s a lugar de c u r t i r solidão, mas aquela Numa bela segunda-feira. Boca Murcha
t r a t a m o otário como uma majestade; pobre, não há mais l u g a r p r a pobre solidão menos doença nervosa, solidão apareceu no salão de niadrugada, às
como a p r o s t i t u t a t r a t a o seu freguês, nesses l u g a r e s , como não há botequim. mesmo. Aqueles caras que ficam olhando * 3 h, e começou a quebrar, o que vinha
o seu c l i e n t e e, s e q u i s e r , o seu O desaparecimento do botequim no R i o é o jogo, ficam até 3 horas-da manhã, ele traçava, e l e já tinha estacado
p r o s t i t u i n t e - e l a é mesurosa, um f a t o s e n s a c i o n a l . Ou você bebe de jamais, jogaram sinuca, sabem, percebem as mesas, e l e jogou até a tarde, ele
mesurosa porque tá com tóxico n a pe" oú o botequim do R i o de hoje ê uma alguma coisa. Especialmente velhos, já tinha quebrado todo rrtmdo,
cabeça, se não e l a e n f o r c a v a aquele farmácia, ê um negócio com mesa de o velho não tem mais lugar, onde v a i o inclusive dois patrões de jogo, e lã
c a r a . È mesurosa, agradável, t o l e r a , f p r m i c a e t a l . Acabou aquele negócio velho? Eles ficam por a l i fazendo pelas 5, 6 h da tarde ele conseguiu
agüenta aquele s u j e i t o até não de você poder sentar para tomar um apostas por fora, que o jogador não correr no meio de unia partida pro.
poder mais, até não poder mais. café de manhã. E acaba o botequim, tem nada a ver com isso; é um meio da rua São Vicente e pegou um
acaba de você tomar c e r v e j a de n o i t e . divertimento onde as horas passara, táxi. Conseguiu derrubar toda a
No momento que c a i a distinção de quando o cara se lembra já é de c u r r i o l a de um botequim que ele tinha
c a r a d a s i n u c a ê muito mais o

O c a r a de v i v e r a v i d a , de
p r o c u r a r sugar um pouco mais. 0
c a r a de s i n u c a é o c a r a que
v i v e realmente, dentro do padrão do
seu l i m i t e . Então, aqui no -Rio, quando
Zona Norte e Zona S u l , sobe a de quem
tem c a r r o e de quem não tem. As
As pessoas que não têm c a r r o não usam
mais a r u a , e l a s andam de c a r r o p e l a
rua. Mas e l a s não têm mais a praça,
madrugada, v a i pra casa, dorme,
esquece que tá sozinho.
Na sinuca existe o l e i t e de pato, o
cara que brinca em serviço - ê o
estudante, o cara classe
plantado uma semana.
O Boca Murcha v a i desaparecer meses,
vai se mandar por a i . A vida deles é
isso mesmo, eles cáxculam sem
parar. Alguns se regeneram, ou
c a i o Lamas, não é exatamente o não têm mais o media sem ccmpromisso, "se regeneram", como o Carne F r i t a .
Lamas do filé ã f r a n c e s a , que f o i botequim porque a que v a i a l i para se ' Por exemplo o F r i t a , o Valfrido,
freqüentado p o r Coelho Neto, p o r v i d a se transforma d i v e r t i r . E há considerado o melhor taco do B r a s i l .
Machado de A s s i s e p e l o s estudantes em 4 paredes. Hão o profissional: o jogo Ele é um a r t i s t a , um esteta jogando,
não s e i de quê: quando c a i o Lamas, têm mais contato é realmente o sustento é dentro da nwalandragem uma certa
c a i a s i n u c a atrás, separada p o r uma humano com a cidade. dele, por incrível que aristocracia, certo e s t i l o de
p o r t a , separada totalmente •. 0 que acabou? Acabou que pareça, é o Gerson,
0 c a r a que freqüenta a mesa de s i n u c a a praça, acabou a sustento dele. Há uma de Nilton Santos, dessa categoria,
do Lamas é o c a r a que nunca sentou na casa de samba, acabou diferença brutal de apesar de malandro e sórdido,
mesa p r a comer aquele p r a t o . T a l v e z a Lapa. Hoje o classe, que começa como todos os outros. O-Frita hoje
e l e até desconheça a existência s u j e i t o tem medo de pela maneira de v e s t i r tá velhinho, é um sergipano
daquele p r a t o , e l e ê um c a r a que comeu e n t r a r numa boate, e e que acaba na própria pequeninho, muito vaidoso no v e s t i r ,
em casa ou não comeu, ou defendeu psicologia die vida. como todo jogador vaidoso, mão
um sanduíche. E l e ê realmente vergonha porque e l e Até a gíria é diferente, manicurada, aquele negócio todo,
um miserável: e o o u t r o , qualquer c a r a não tá v e s t i d o , nem só eles se entendem. trocando de terno. Isso você nota
que freqüenta o Lamas, não e n t r a lã sabe o preço do uísque Que ê pra poder muito no jogador
com menos de 50 contos no b o l s o . Agora esse distanciamento de dissimular os outros de futebol, nos Paulos Cisar da vida.
o c a r a que passa d i r e t o p e l a s mesas v i d a na r u a v a i t e e_os outros ficarem na 0 cara precisa ser visto. Inclusive
e v a i lã p r o fundo, esse c a r a não tem afastando. dúvida. Isso é um alguns deles conseguem impressionar
50 oontos não; e se t i v e r é uma sobrevivente urbano num grau mesmo de como grandes caras fora do salão,
Porque r u a hoje é um f a t o
plantação que e l e v a i f a z e r com aquele lúmpen, não chega a pertencer ã justamente pela vestimenta e pelo
c o n f l i t a n t e , ê um elemento de
d i n h e i r o , p r a i n v e s t i r aquele d i n h e i r o , marginalidade. No rruãximo, você pode coiportamento disciplinado no meio
desgosto, o c a r a s a i de c a s a , p i s o u
p r a r e t i r a r 70 ou 100. E l e ê um 1 enquadrá-lo no artigo 59, de da rua. São educados, incapazes de
na r u a , pumba. c o n f l i t o . C o n f l i t o ,
homem muito- mais f i x a d o naquela Vadiagem. Se você correr as.bocas, brigar por uma ninharia, uma pessoa
você tá n a área de c o n f l i t o ,
r e a l i d a d e , a q u e l a r e a l i d a d e não 1 vai encontrar casos até hoje de de fino trato. É um pobre que
t e c u i d a , s a l v e - s e quem puder.
aparente do Lamas, que ê a r e a l i d a d e tuberculose, de caras que estão mal sabe escrever, l e r .
Então o mundo da s i n u c a e r a uma
lã atrás, f o r a do quase tuberculosos. Inclusive aquele brilho Então, acabou o divertimento popular,
i l h a dentro dessa área. de c o n f l i t o ,
acontecimento s o c i a l . nos olhos, caras subalimentados, que e a sinuca é uma dessas coisas.
uma das últimas que restam nessa f i l e i r a
É um problema de c o n c e i t o . 0 R i o , que passam a l i dias e noites, e ao lado Imagine nessa sociedade bem comportada,
de c a s a de samba, de g a f i e i r a em
é a c a p i t a l do samba, o melhor c a r n a v a l disso os seus exploradores, os seus embora torturada sem comunicação,
g e r a l , de botequim em g e r a l , de praça
do mundo, esse negócio todo, o R i o de patrões, os caras que estão mas bem comportada, o cara tem vergonha
em g e r a l . E l a a l i a v a o a l t o poder
J a n e i r o não tem mais casa de samba, apostando neles, de viver um grande' amor. A palavra
artístico ã h a b i l i d a d e , mas também com
as casas de samba Eram d i v e r t i m e n t o s amor é ridícula, hoje não existe coisa
a devoração dos caras: uns p e l o s a t o t a l responsabilidade no taco.
p o p u l a r e s , onde você p e d i a uma cachaça, mais ridícula que o
o u t r o s . E r a o a b r i g o dos m a r g i n a i s
uma c e r v e j a , você comia um t i r a - g o s t o amor.
do t i p o " v e n t a n i s t a s " (ventana,

F
qualquer e t a l . E r a um negócio que icou célebre aqui na Gávea a
j a n e l a ) . 0 c a r a que você chegava, passagem do Boca Murcha, que é Você chegar prum cara e dizer que você
você f a z i a com pouco d i n h e i r o . I s s o f o i
t i r a v a o paletó, e daqui a pouco um velho malandro, cujo está apaixonado, é ridículo. Não pode.
i n v a d i d o p e l a zona s u l ,
não t i n h a mais paletó . Cadê o apelido vem do fato dele não Hoje é vergonhoso viver um grande
os endinheirados
paletó? O ventana l e v o u . E r a um l u g a r ter dente. E l e se veste oomo um amor. É ridículo.
Então esses d i v e r t i m e n t o s p r a uma de c u r t i r solidão, de assumir a sua caipira, um matuto, mete um chapelão, Então a sinuca é um pedacinho
f a i x i n h a s o c i a l , a g a f i e i r a , a c a s a de solidão com aquela macheza que a uma calça larga, e chega aqui na dessas coisas todas. (Gravado por HAF) •
samba, os dancings, esses eram o s solidão tem. Evidentemente qualquer Gávea, e durante uma semana ele passou

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Você vai se sentir em casa.

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Jerry Delia Femina é um desses caras muito engraçados, muito gozadores
que gostam de trabalhar com os pés em cima das mesas; um desses ca
ras muito criativos que você conhece, um cara muito atento''
que às vezes pode chegar até a ser um palhaço brincalhão; um
vendedor. Jerry ê um vendedor, um redator de p u b l i c i
dade, talvez um dos mais talentosos da Madison Avenue,
a avenida das agências mais poderosas do mun
do. Jerry já vendeu a ndlhões de pessoas, não sõ
nos Estados Unidos como em outros países, desde pasta
de dentes até avião supersônico. Sendo um reda
tor de publicidade, Jerry pode ser capaz de te vender
praticamente qualquer coisa; ou melhor, e l e te
convence a comprar; e l e ê um mestre na arte de desper
tar tua gula para os mais estrambóticos petis
cos: o 139 carro da família; o creme dental que
contém uma bactericida fulminante com ação retro
ativa; o sabonete usado por 18 em cada 20 coxas de es
trelas de Hollywood; com uma frase bem bolada num anúncio,
Jerry é bem capaz de te vender até o que você não quer
Jerry começou como bcy de agência, saindo de uma família de

Siíjta as de
C e r t a s e x t a - f e i r a , um s u j e i t o que t r a b a l h o u até t a r d e na agencia M a r v i n , S c o t t & Quando t r a b a l h e i na F u l l e r & Smith & Ross, e l e s tinham um matador que e r a uma
F r J i a l , d e c i d i u que e r a hora de p a r a r e i r p a r a casa. S a i u de sua s a l a e p o r s o r t e , m i s t u r a de matador e de b i c h a . Realmente e r a . Esse s u j e i t o p o d e r i a t e "matar"
h a v i a um e l e v a d o r parado no andar. 0 s u j e i t o - ura c o n t a t o de p u b l i c i d a d e - o l h o u a b e i j o s . E l e está morto agora, mas não v e j o ninguém se lamentando. Esse matador
em v o l t a p a r a v e r se não h a v i a mais ninguém, e n t r o u no e l e v a d o r e f o i p a r a o andar era.o g u a r d a - l i v r o s da agência, o c a r a responsável por- todo o d i n h e i r o que
térreo. A b r i u a p o r t a , e_de tão cansado s a i u tropeçando do e l e v a d o r . e n t r a v a e saía. Em c e r t a época e l e s começaram a i n s i s t i r p a r a que eu preenchesse
Na- segunda-feira de manhã, alguém e n t r a em sua s a l a e pergunta se e l e t i n h a f i c a d o meus time-sheets (NT: f o l h a s que marcam o tempo gasto em determinado
trabalhando até t a r d e na s e x t a - f e i r a . 0 c o n t a t o d i z _ q u e sim, que de f a t o .trabalhou t r a b a l h o , não há tradução em português e a s agências de p u b l i c i d a d e daqui
até 11:30 da n o i t e . "Você a s s i n o u o l i v r o de saída ãs onze e 25?" usam a p a l a v r a i n g l e s a ) - t a n t a s horas t r a b a l h a d a s p a r a t a l e t a l c l i e n t e , esse
0 s u j e i t o d i z que e s s a deve t e r s i d o a hora que s a i u . "Bem", f a l a o o u t r o , "não s e i t i p o de c o i s a . I n s i s t i que i a perder meu tempo com as t a i s "Time-sheets".
c a i o l h e d i z e r i s t o . S i n t o muito, mas você está despedido". O c o n t a t o f i c a em estado Finalmente chegou num ponto que o d i n h e i r o de pequenas despesas, que me e r a d e v i d o ,
de cheque e d i z : 'Por quê?" E o o u t r o d i z , "Eu s e i que parece l o u c u r a e não s e i chegava a 115 dólares e eu e s t a v a realmente p r e c i s a n d o d e l e . Então f u i até
como e x p l i c a r a você, mas você roubou o e l e v a d o r p e s s o a l de Marvin L. M a r v i n , s e x t a - o matador-bicha e d i s s e , " J o e y , vooê sabe que eu g o s t a r i a de receber o d i n h e i r o
f e i r a ã n o i t e . 0 elevador que você tomou e s t a v a lã esperando e l e ; ê o e l e v a d o r só que você me deve". O matador respondeu, "Bem, você está atrasado oom as suas
p a r a e l e , que l e v a Marvin L. Marvin p a r a cima e o t r a z de v o l t a . " Marvin L. Marvin
"time-sheets". Eu d i s s e , "Esqueça. Eu l h e d a r e i as "time-sheets" amanhã, mas dê
ê o dono da agência; e e s s a história, p o r f a l a r n i s s o , nos f o i contada p o r o u t r o
o meu d i n h e i r o agora."Joey d i s s e , "Não, absolutamente não. Você não v a i
contato da mesma agência, que nunca t r a b a l h o u até t a r d e e, p o r t a n t o , nunca teve
receber seu d i n h e i r o até que eu v e j a todas as "time-sheets" a q u i . " Então
problemas. _ _
eu d i s s e , "O.K., vou s a i r e c o n s e g u i r meu d i n h e i r o " . E l e d i s s e , "Como
tfesmo que s e j a mais ficção do que f a t o , a história serve para d a r idéia de que o você pretende c o n s e g u i r seu d i n h e i r o se eu não vou dã-lo a você?"
c o n t a t o , nesse caso, passará o r e s t o da v i d a a t e r r o r i z a d o , com medo de nunca mais e eu d i s s e , "Vou pendurar minha máquina de e s c r e v e r . "
e n t r a r num e l e v a d o r . A história serve tantón p a r a mostrar os t i p o s que e x i s t e m n a Então peguei minha máquina de e s c r e v e r em b a i x o do braço e comecei a
Madison Avenue, e como o medo pode se desenvolver. Em 1967 e 1968, quando uma andar p a r a s a i r do_edifício. 0 matador-bicha me vê e começa a g r i t a r , "Vou mandar
agência grande e s t a v a passando p o r um período muito, muito apertado parasse s a l v a r t e prender, se você l e v a r e s s a máquina de e s c r e v e r " . Bem, o d i r e t o r de criação
foram despedidas umas 600 pessoas. Muitas dessas 600 pessoas eram secretárias, ouve toda e s s a g r i t a r i a - e ninguém consegue g r i t a r como um matador-bicha -'e
ajudantes e assim p o r d i a n t e , mas devem t e r i d o muitos dos grandes também. E l e s
vem correndo do seu escritório e há uma tremenda duma reunião. A f i n a l , decidem d a r o
estavam todos no mesmo andar - que e r a chamado, o "Andar dos homens esquecidos" p e l o
meu d i n h e i r o em forma de v a l e , porque d o i s d i a s depois t i v e que e n t r e g a r minhas
p e s s o a l das o u t r a s agências da c i d a d e . 0 andar e r a s e r v i d o apenas p o r uma g a r o t a , que
"time-sheets". Acho que a m a i o r i a dos matadores de agência escolhem esse emprego
sentava n a e n t r a d a e a t e n d i a os t e l e f o n e s , -para d a r a esses homens um último f i a p o
por s i mesmos. Ninguém v a i até e l e s e d i z , "Você tem c a r a de f i l h o da p..., de
de d i g n i d a d e , e não terem e l e s mesmo, que atender os t e l e f o n e s . E s t e s eram os Homens
péssimo caráter e pode s e r matador a q u i " . E l e não tem que t e r poder,
Esquecidos. Todos tinham escritórios e estavam cumprindo sua p a r t e no c o n t r a t o de
e s s a ê a p a r t e i n t e r e s s a n t e . P B matadores fazem c o i s a s que podem, eventualmente,
t r a b a l h o que mantinham com e s s a agência grande.
l h e render o emprego. Como mostrar excesso de z e l o em espremer 50 c e n t s de
Eram todos c a i x a - a l t a , s u p e r v i s o r e s de conta e d i r e t o r e s ganhando 50,60,70 m i l diferença numa conta a s e r paga a um fornecedor.
dólares p o r ano - os salários r i a i s a l t o s do ramo de p u b l i c i d a d e . Nenhum d e l e s Eventualmente, alguns matadores fazem t a l ''matança", que o conselho dos a c i o n i s t a s
jamais a d m i t i u que t i n h a s i d o um dos despedidos, mas vejam: e l e s não tinham r e s o l v e mudar toda a d i r e t o r i a da agência. Então, toda uma l e v a de c a r a s ê t r a z i d a de
secretárias nem nada. E r a g r o t e s c o ; e l e s mesmos não sabiam que aquele e r a f o r a , e esses caras novos mal sabem que têm um matador nas mãos. É aí
o "Andar do Homens Esquecidos', mas dava p a r a terem uma idéia. Saiam para que os matadores levam a d e l e s . Sempre que um matador ê derrubado numa
v i s i t a r c l i e n t e s e o t e l e f o n e t o c a v a , os_recados chegavam e, no f i m do d i a , agência, ou quando se aposenta, há uma celebração. Uma v e r d a d e i r a f e s t a .
quando e l e s voltavam, aquela mesma secretária i a atéjjm dos escritórios e d i z i a : A f e s t a de despedida do matador da Bates f o i m a r a v i l h o s a . Praticamente toda a
'o senhor recebeu c i n c o recados." E l e s andavam p o r lã mas eram zumbis. 0 que agência compareceu. P r i m e i r o , porque todos tinham c e r t o r e s p e i t o p e l o cidadão - sabe,
eu não posso entender ê que e l e s nunca falavam um_cpm o o u t r o sobre
e i s a q u i um v e r d a d e i r o s o b r e v i v e n t e que passou p o r todos os t e s t e s .
serem despedidos. Todos apareciam p a r a t r a b a l h a r ãs 9:30 da manha, j r a r q u e
E, segundo, porque ninguém i a se f a z e r de bobo e não aparecer, p o i s quem sabe,
e r a o hábito, e tinham que i r até o u t r o andar p a r a e n c o n t r a r uma máquina de
t a l v e z e l e se enchesse de f i c a r aposentado e v o l t a s s e p a r a t r a b a l h a r na agência.
café, porque não h a v i a máquina de café no "Andar dos Homens Esquecidos". Um s u j e i t o
Ninguém q u e r i a c o r r e r um r i s c o desse. Até aposentado, o s u j e i t o i n f u n d i a t e r r o r
que eu conheço h o j e , e s t a v a nesse andar e, recentemente, encontrou-se cem o u t r o dos
nas pessoas.
que f a z i a m p a r t e daquele andar na mesma época. Começaram a f a l a r e c o n c l u i r a m ,
Uma das razões__para todo esse caos é que, subitamente, uma c o n t a pode
p e l a p r i m e i r a v e z , que haviam s i d o despedidos.
s a i r de uma agência. Una conta tem que d a r ã agência um a v i s o de noventa
Normalmente, as grandes agências têm os "matadores" para executar o t r a b a l h o de d i a s , antes de s a i r . Sou capaz de j u r a r que há pessoas n a Madison Avenue que
demissão. A m a i o r i a das agências tem um matador; as agências maiores podem t e r se esconde no banheiro ãs s e x t a s - f e i r a s . S e x t a - f e i r a é d i a de matança porque é
até d o i s matadores. Na Ted Bates & Ccmpany, o matador da agência e r a um s u j e i t i n h o , o f i m de semana - a "matança" ê f e i t a n a s e x t a - f e i r a p o r razões contábeis.
que chamarei de B i l l y , que começou com Ted Bates quando a_agência a b r i u no começo dos 0 _ t r i s t e ê que os caras errados é que sao despedidos. A d i r e t o r i a chama um c o i t a d o
anos 40. E lã f i c o u até sua aposentadoria poucos anos atrás. E l e despediu centenas lã e l h e d i z : " Como você sabe, levamos na cabeça em quinze milhões de dólares de
de pessoas nesse período -e f o i l i t e r a l m e n t e a causa de m u i t a desgraça, mais do faturamento anual e o seus 60 dólares p o r semana nos deixara e n t r e o d e s a s t r e e a
que 'qualquer homem que conheço.
sobrevivência", É quase cômico de tão absurdo. As agências f i c a m cem 15 p o r c e n t o do
gente pobre do Etrooklin ( o pai era cortador de papel nas
oficinas do Times). Depois, Jerry vendeu seu trabalho a
quase todas as grandes agências, até que, aos 29 anos, chegava
ã famosa Ted Bates, ganhando uma nota por mês: 30 milhos
temais de 50 m i l dólares — em dólares —por ano ). Aí,
a p a r t i r de 1967, Jerry fez o que todo mundo tem vontade
de fazer: e l e era um redator de mão cheia; arrumou
k^um diretor de arte de mão idem, e fundou a sua
própria agência, a Jerry Delia Femina & Partners,
em 1967. A agência dele jâ f o i considerada
a melhor de Nova York, em artigo de Capa da
revista Newsweek. Mas não estamos aqui para vender o Jerry.
O texto abaixo é dele. Foi condensado de seu l i v r o •
"Essa gente Maravilhosa que já nos deu Pearl Harbour":
um capítulo que f a l a do medo. Naquele mundo
que se chama publicidade, lã corro aqui,
no fundo é tudo igual - só que'diferente. Leia o Jerry.
Ele conta rindo que em toda agência onde esteve, sempre f o i
assim: quanto mais posição, quanto mais $ você ganha,
mais medo você tem. Só que o medo, em dólares, f a l a mais alto.

ias do medo
faturamento da c o n t a , mais um pequeno e x t r a por c o i s a s cano produção, que são cobradas conta. Então, alguém f i c a com o o c e i r a s lã na TWA e decidem que t a l v e z o
ã p a r t e . A agência que perde 15 milhões de dólares de faturamento a n u a l , na r e a l i d a d e que e l e s mais precisem, além de umas duas l i n h a s para o Havaí, é um pouco de
estã perdendo 2,5 milhões em d i n h e i r o , e aí, e l e s vão para o_coitado que estã ganhando p u b l i c i d a d e nova. Então, telefonam para Foote, Cone e dizem, " Vocês são uns
8 o u 9 m i l dólares p o r ano e l h e dizem, " o l h a , a s c o i s a s estão muito más e p o r i s s o caras ótimos, Foote, Cone, mas nós não estamos muito s a t i s f e i t o s . . . "
vamos t e r que despedí-lo." Ò s u j e i t o que d i z i s s o , por s i n a l , estã na f a i x a dos Acho que a conta da TWA naquele tempo e r a de uns 22 milhões de dólares.
40 ou 50 m i l dólares p o r ano, e, p o r i s s o , geralmente a s a l v o . Parece haver uma. Percebe o que i s s o s i g n i f i c a para uma agência? Qualquer agência?
l e i muda, e s c r i t a em algum l u g a r , p e l a q u a l o s u j e i t o que ganha 30 m i l dólares ou mais, Bem, o pânico s e espalhou p e l a Foote, Cone como incêndio de f l o r e s t a .
sempre estã mais seguro do que o s u j e i t o que ganha 11 m i l . 0 que aconteceu naquelas próximas semanas f o i o segundo estupro
fi um sistema terrível e um dos r e s u l t a d o s é que o s u j e i t o que ganha esses 30 ou público, depois do r a p t o das Sabinas. tlunca a n t e s , n a história da
40 m i l p o r ano ê geralmente um c a r a nervoso. Embora e l e e s t e j a realmente mais seguro, p u b l i c i d a d e t a n t a s pessoas foram levadas no papo ao mesmo tempo.
tem muito mais a perder.'A n o i t e , e l e chora um bocado. Durante o d i a , você pode vê-lo A TVJA realmente f e z um t r a b a l h o de p r i m e i r a . Uma porção de
se esguéirando da agência p a r a uma conversinha de 50 minutos com o p s i q u i a t r a . c a r a s , e s p e r t o s e sabidos foram derrubados. F o i o maior golpe.
Só Deus sabe quantos c a r a s na tladison Avenue vão a p s i q u i a t r a s , mas o número e A TWA começou pedindo " f r e e b i e s " - amostras "'grátis" de t r a b a l h o das
percentagens devem s e r enormes. Vooê vê todos e l e s se mandando, q u a r t a - f e i r a ã .tarde agências. Não s e i quantos caras t e l e f o n a r m p a r a a TWA e disseram:
aí p e l a s duas ou três horas, para tomar sua dose. Quando voltam, já estão funcionando "Queremos e s t a r n a apresentação", e também não s e i quantos foram
como caras normais de novo. Já estão O.K. chamados p e l a TWA e convidados a apresentar " f r e e b i e s " . De repente a
Se você começar uma discussão com alguém sobre p s i q u i a t r a , e l e se fecha. I r a p s i q u i a t r c c o i s a toda v i r o u uma b o l a de neve que r o l o u até se perder de v i s t a .
não é nada que dê " s t a t u s " a ninguém. 0 p e s s o a l ê muito sensível a r e s p e i t o Todo mundo de repente, começou a t r a b a l h a r na campanha da TWA como se já
de seus p s i q u i a t r a s . C l a r o , alguém pode se lembrar, casualmente, que uma v e z , há uns t i v e s s e a conta. .
dez anos atrás, f e z uma v i s i t i n h a de nada a um p s i q u i a t r a , màs f o i só i s s o . O Já h a v i a algum tempo, naquela época, um garoto magrinho chamado J i m Webb,cora
c a r a de p u b l i c i d a d e v a i ao p s i q u i a t r a porque estã preocupado,com medo de perder um um monte de c a b e l o , e s t a v a s o l t o p e l a c o s t a o e s t e , começando como
sua conta. O p s i q u i a t r a , provavelmente, está indo escondido ao seu p s i q u i a t r a compositor. Se esse garoto soubesse o caos que causou em Nova York t e r i a
porque e l e está preocupado, oom medo de perder todos aqueles caras de p u b l i c i d a d e enlouquecido. Uma das músicas que e l e escreveu chamava-se "Up,up and away"
que desembolsam todo aquele d i n h e i r o . Assim, o p s i q u i a t r a tem que segurar o c a r a de e t i n h a f r a s e s como " wouldn't you l i k e t o f l y / i n my b e a u t i f u l baloon?"
p u b l i c i d a d e , o c a r a de p u b l i c i d a d e tem que segurar a c o n t a . E todo mundo s e segura para (você não g o s t a r i a de voar / no meu l i n d o balão?) e c o i s a s assfci. Bem, ccmeçou
s a l v a r a p e l e . A i n d a v a i chegar o d i a que um bando de p s i q u i a t r a s v a i r e s o l v e r se uma v e r d a d e i r a c o r r i d a p a r a se conseguir o s d i r e i t o s c o m e r c i a i s da música.
Um conjunto chamado " F i f t h Dimension" h a v i a f e i t o a gravação e e r a um sucesso
j u n t a r para formar uma agência.
naquela época. Que l u t a houve p o r causa daquela música .'
Eu e r a boy na correspondência d a P u t h r a u f f S Ryan quando eles. estavam p a r a perder a
conta d a K e n t i l e . Os garotos que trabalhavam na s a l a de correspondência, ganhando 60 E mais: c o r r e u o rumor que a TWA d e t e s t a v a o c o m e r c i a l que t i n h a então. E que
dólares p o r semana, sabiam,com um ano de antecedência, que a R u t h r a u f f & Ryan i a aquela música p a r e c i a s e r i d e a l . De qualquer maneira a própria Foote, Cone
perder a c o n t a e estavam duros de medo. E, vejam, o s garotos estavam c e r t o s , acabou s e apoderando da música, e assim que souberam, todos resolveram que
a K e n t i l e s a i u de lá em, mais ou menos, dez meses. A R u t h r a u f f s Ryan já se tinham que t e r músicas. Vocês não podem imaginar as cenas de desenho animado
f o i - não e x i s t e mais. Uma das razões que causou sua morte f o i a f a l t a de comunicação. que ocorreram na Bates então. Eu me lembro de um dos grandes da agência
A s a l a de correspondência s a b i a que e l e s iam perder contas antes da d i r e t o r i a . E r a correndo p e l o s c o r r e d o r e s com uma capa de d i s c o - esíie c a r a ganhava aí - •
uma agência do modelo a n t i g o , de métodos antiquados, e foram se perdendo aos p e l o s .100 m i l dólares p o r ano - g r i t a n d o , " E s t a ê a música, ê e l a que v a i
poucos até desaparecer. Quando f u i t r a b a l h a r lã em 1955, a maior novidade nos t r a z e r a c o n t a '"
e r a um c a r a que e l e s haviam contratado e que t i n h a "um grande l i v r o de endereços". Bem, todo mundo apresenta. Quem jamais- saberá quanto d i n h e i r o f o i gasto
Eu não s a b i a o que e l e s queriam d i z e r com a q u i l o , e então, de repente, ms deu nas apresentações de todo mundo? Mais que um milhão de dólares, p a r a c h u t a r
o e s t a l o : e l e s contrataram um c a r a quê e r a mais um cafetão do que um c o n t a t o . por b a i x o . Bem, todo mundo apresenta as suas campanhas e lã está a Foote, Cone,
E s t e c a r a com o grande" l i v r o de endereços que i a s a l v a r a todos. sua b e l a música, agora mudada p a r a " Up, Up and Away-TWA" e todos os o u t r o s
Quer d i z e r , pode esquecer o r e s t o , esse c a r a s a b i a como "amaciar" qualquer com c o m e r c i a i s acabados, anúncios impressos, o diabo. Depois de olhar, as
c a r a na c i d a d e . Filmes pornográficos? E l e t i n h a . l o u r a s , morenas ou campanhas, a TWA manda f e r r o em quase todas. 'Belo t r a b a l h o " , dizem. E depois:
r u i v a s ? E l e t i n h a . Sabe duma c o i s a , eu e s t a v a irapressionadíssimo com "Foote,Cone: vocês f i z e r a m um t r a b a l h o tão bom, que nós vamos d e i x a r a c o n t a
o c a r a . E s t e c a r a e r a p a r a s e r agente de prostituição d a agência. c o n t i n u a r cem vocês mesmos."
E o papo e r a o s e g u i n t e : "Esse c a r a v a i nos t r a z e r todos os negócios'. ' Na Bates, quando o p e s s o a l soube o que aconteceu, f o i o D i a da Vitória sobre o
E l e s honestamente pensavam que um c a r a ccmo esse f o s s e salvá-los. E Japão, só que e r a como se fossem e l e s os japoneses. Inacreditável.
ainda há agências, h o j e em d i a , que têm uma a t i t u d e , de c e r t o modo, Não é que todo negócio de p u b l i c i d a d e s e j a d o i d o , mas algumas v e z e s , algumas
p a r e c i d a . "Adoçar" a conta. A r r a n j a r entradas para importantes vezes... E é a d o i d i c e que l e v a ao nervosismo, que l e v a ao v e r d a d e i r o medo, na
p a r t i d a s de f u t e b o l . J a n t a r e s f a u s t o s o s no '21' e no "Le P a v i l l o n " . Madison Avenue. A história da TMA deve t e r levado v i n t e caras ã bebida e e s s a
Agora, algumas vezes, um c l i e n t e t i r a vantagem de todo esse medo não f o i situação única. Sempre haverá nervosismo onde o d i n h e i r o grosso e s t i v e r
de^perder contas. A TWA ê o exemplo clássico. Em 1967, a TWA e s t a v a com a em jogo. E, mais do que qualquer o u t r a c o i s a , a Madison Avenue ê um l u g a r
agência a Foote, Cone & B e l d i n g e e l e s estavam fazendo um bom t r a b a l h o com a de d i n h e i r o grosso. (tradução eduardo b a r r e t o ) •
10
(conclusão da página )
-"Qual e o? se sou bacana, estou aí
pra faturar. E tem os caras de
romance: "voce e tao bacana, p que
esta fazendo a q u i ? " E outros já
1
falam : "Po , e o seguinte, mulher
bacana tem de faturar mesmo". J a
aconteceu de um homem querer me
tirar deste tipo de vida. Um cara
casado, muito importante, nao posso
Uma c o l u n a de
nem pensar em falar quem e esse
homem. Casado e aí me levava prá
casa dele, ne ? Porque a esposa
estava sempre viajando, Europa...
E aí eu comecei a transar com. o
P e r c i v a l de Souza
c a r a . Todo dia ele me apanhava lá,

Baixa Sociedade
todo dia, todo dia, todo dia uma
nota violenta. E aí ele pegou e
falou pra mim: "Olha, eu estou
apaixonado por v o c e " - Bom, mas que so podem empolgar quem devaneia
eu nao estou a fim de me a m a r r a r Mariel Moryscotte escreve-nos mais uma vez. E manda seu l i v r o , "Mariel, distante, (alguns anos-luz) da
um Ringo a Sangue Frio". Um trechinho em avant-première: "Matei defendendo realidade nada cor de rosa.
com voce , nao. Voce é casado, eu
sociedade, que me pagava para protegê-la. E hoje estou na cadeia." Mas o dito cujo l i v r o de Talese
vou estragar sua vida. -"Nao, porque
tinha sido agüentado por um
eu quero, vou alugar um apartamento breques e minhas peitas. Como e l e desmunhecante ser, que fioou
CHAIM NO ALÉM
para voce, voce fica so comigo, eu costuma mocozar os dooes e enrustir conhecido como "NÊbzinha".
te dou tudo. Pode trazer tua filha São Pedro puxou a capivara de Einah o rango, não quero dar uma de zica. Identificado, o ladrãozinho pé-de-
pra c a " . E u falei que nao, que Aued Chaim,o manjado "Chaim", que O Nagib agora deu prá bancar o chinelo devolveu Talese num envelope
nao i a aceitar aquilo de jeito mantinha uma banca de canabis loque: perdeu uma t r i n a de dias: e assinou oomo remetente: "Mãozinha"
sativa perto do Coringão.Gozado: f o i se meter a jogar mexe-mexe
nenhum. E l e disse que nao se dava
aqui,nessa coluna,eu previ que São comigo e perdeu uma gãmbia. HEES LIVRE?
com a esposa. Até hoje ele quer... Pedro i r i a requisitar o Nelsinho Hoje f i z três biscõrpios prá uns
Chega um que tem problemas com quatro cinco. Não deu outra. Para o pé de breque lá do 9. 0 pior ê Por f a l a r em Mãozinha, Hees (aquele que
a família, chega outro que tem "Chaim" também prevíamos terríveis que são todos uns residentes, não diz t e r sido assaltado e ficou sem
problemas financeiros, outros bebem formigas (saúvas) na boca, ao 1
sei não. Ando com a minha ventana e mão) teve quase um happy-end em seu
demais, sabe? bebem de cair mesmo, amanhecer. Só que seria uma bronca a minha canjica naquela base. Vê se processo.Tal nabo esvoaçava pela 229
com o "Elninho", o moço do Esquadrão. bota na tua pipoca um pouoo de Vara Criminal, onde o MM Juiz
ficar em estado de coma. E a i , poxa
"Chaim" inventou um xaveco,falando cascalho, senão os caras vão dizer entendeu que não havia elementos
a gente conhece tao bem, tao bem as suficientes para entrutar o Mãozinha
que tinha mandado uns arrebltes prá que eu estou com palha.
pessoas...Agora eu olho prás pessoas cima do esquadrólogo ser.Mas "Chaim" oomo homo-fajuctus. Mas, a p a r t i r do
O Ary quis arrochar o meu moco. Sem
e ja tou sabendo.Tem muitos que nao ficou em decSbito ventral depois de essa.' E l a termina tomando uma instante em que surgir uma
estão a fim de ter relações com levar chumbo de uma jovem de vasto pregada, pois não sabe como eu sou a l v i c a r e i r a novidade... já v i u , nê?
mulheres. T a mais a fim de desabafar, latifúndio dorsal.Agora,acautelai-vos arara. Amanhã vou dar um tombo no (O data-vênia do Mãozinha anda
falar tudo, falar de seus problemas, com as nossas futuras previsões de telhado, para não parecer sangue cabreiro, porque truta oom truta...
falecimentos - estamos acertando ruim, senão o mosca de boi do Franco é uma união duca!)
so pra bater papo, outros prá i r a 1
na mosca. v a i começar a zicar comigo.
coquetéis, jantar fora. . . T e m
O crente do Bispo, não dá outra, BRANCOS 3 x CRIOULOS 1
outros caras que dao um trabalho largou a niâquina de escrever e tá
tremendo, quando a gente chega em O troféu Percival de Souza fiçpu
Aü-AU FUGA dando uma de 59. Traga prá ele uma
casa. Tem que mudar de roupa, mesmo com os brancos da Detenção.
bolacha preta - "A luz dos olhos
Primeiro jogo, 1 a 1. A decisão
botar fita na cabeça, sapato alto. Dois moços do Pavilhão 5 do hotel do meus". Parece que é de Waldick
ficou para um segundo jogo, que
E u saí com um cara, japonês, seu Guedes,na Cruzeiro do Sul, Soriano. Tenha dó. Traga também
a s s i s t i numa mesinha no meio de
esquisito. E r a um japonês lindo, planejaram escapulir na chamada umas bolachas pretas do Roberto
campo, ao lado do meu considerado
calada da noite, quando os gatos Carlos prá eu dar pro Johny.
maravilhoso, alto. E aí fomos prá Luiz Philippe Florence Borges ,
são pardos e os chafras vacilam nas Nega, o Valente tá numa de albergue,
casa. Servi um drink prá ele e fui diretor da Casa de Detenção. Os
guritas (teve um que puxou um ronco, mas o doto amigo dele falou: se
la pra cozinha . E l e falou prá mim. . . brancos venceram fácil por 3 a 1, e
balançou,bateu na muralha e sua marcar 59 de l i t r o , v a i mancar.
"Voce tem que calçar sapato fino os negrões foram vaiados paca pela
dentadura caiu lá de cima...).Mas, Teu nego, mora nega" sua inconformada torcida.
e cinta de l i g a " - estas cintas de oomo d i z i a , os dois foram saindo de O Lupércio irradiou o jogo com um
liga que usavam antigamente... mansinho,depois de se mocozarem na ,Aos paspanatas (loques): quem não megafone emprestado pelo diretor,
meias, cintas, ligas, sutiãs... Porque plantação de gererê,com teresas morou, boiou. Estarei jantando no revelando sua parcialidade, pois
de roupa?, eu perguntei. "Ah, eu só (cordas inprrjvisadas) e tudo.Mas,na Tabu ( a l i perto da praça onde o t o r c i a ostensivamente pelos pretos.
gosto a s s i m " . Mas por que voce gosta hora agã,eis que surgiu Lorna,a f i e l Fininho espetou o Saponga), às Atenção, considerados do presídio-
cadela do seu Guedes.Lorna l a t i u , quintas deste mês, da zero às 2 da cidade. Um bizu ótimo prooês: meu
a s s i m ? Deve ter uma explicação.
latiu,chamou a atenção. matina. Posso traduzir pros trouxas. considerado Luiz Philippe v a i
Daí ele pegou e falou, "olha... Os dois ex-fugitivos amargaram 40 Ãs terças, perguntem por mim prá mandar gramar todo o campo do pav.
geralmente e porque gostou de uma dias de pote (cela-forte). Carola, na boca do l i x o . E as sextas 8. Esperem e verão.
mulher e ela se vestia a s s i m . . . E r a prá Anita, porque fim-de-semana é na Atenção Lupa: já f a l e i com o j u i z
uma mulher, e ela só ficava assim, LAIGINHAS EM BAURU boca do luxo...) sobre o teu caso. Calma, calma, que
e eu me acostumei." Seis meses e você não demorará muito a bater as
eu ja conheci tudo, nao tem mais o Meu considerado Davi Laiginhas,"juiz" ALO, AID, BAIXADA.' asas.'
que conhecer. Tem garotas que tem de uma das celas do pavilhão 2 do
hotel do seu Guedes,já está curtindo Um engenheiro químico de Santo
cinco anos , quatro anos, aquelas André desceu a serra prá mandar CADEÃO: 19 E ULTIMO NUMERO
uma de colônia agríoola.Ater>ãendo a
que... sei l a , pra elas, elas nao azeitonas em cima da linda Verinha Enquanto estagiavam no maior hotel
um pedido seu,fui conversar com o
existem, é terrível... Sao super- meretissimo capa-preta das Execuções e seus pais. Depois queimou o chão das Américas, Haf e Polê bolaram e
revoltadas., nao sei como pode Criminais.Não deu outra:na hora,o (pros looues: puxou o carro) com lançaram O Cadeão, jornal carcerário
acontecer. Conheço umas que, elas meretissimo corregedor mandou o três crimaceos e uma tentativa distribuído por todos os pavilhões, com
Laiginhas para o Instituto Penal pra puxar, e com pepê em cima. tiragem de 2000 exemplares. Mas o Cadeão
saem assim, prá casar... depois
Agrícola de Bauru,onde -após cumprir Estive acompanhando o caso durante fechou, tomando-se assim o 19 jornal da
nao da certo com o marido, elas uma semana, com os sherloques do história a fechar porque seus editores
estágio mais ameno - sairá para a
voltam outra vez. . . nao conseguem . . . DERAL. Inclusive com o majura do foram... libertados.' (Lias, absolvidos i n
liberdade.Parabéns,Laiginhas.
outras falam que nao conseguem, tao 39 d i s t r i t o de lá, o meu considerado totum pelo MM Juiz da 59, com o chamado
acostumadas a ficar a noite toda Vou, mato e volto. Com Pedrinho, trânsito em julgado etc. Um rabanete
MENSAGEM DO TROTA escrivão de mão cheia, e Chadid, o
acordadas... Bom, daí umas bebem procê, Vian, t i r i n h a dente-de-leite, p i -
muito, bebem demais... elas já estão fuçador chefe da tiragem, o majura de-breque mentiroso e muito sem-vergonha)
O Truta,outro considerado do hotel do tá por cima da carne seca. Argh.'
super frustradas. Agora eu estou seu Guedes,aprontou uma t r e t a e está Comi uma peixada daquela com os
achando que estes seis meses eu passando uns longos dias na isolada, considerados da l e i da baixada e
sem d i r e i t o a lhufas,nem v i s i t a s . MARIEL LANÇA "RINGO"
vegetei, nao v i v i . Porque no fundo, depois fomos ouvir um som no cais,
no fundo, a gente fica super Através da coluna ele manda um piá onde a barra já não é mais aquela: O Américo, chefão do teatro rebolado
para a Teresana, da Boca do Lixo. tá mais prá t u r i s t a do que prá Santana, veio me entregar em mãos uma
frustrada, porque todo mundo fica
Seguinte: turma da pesada. Mas por v i a das carta e um l i v r o , enviados por Mariel
querendo a gente porque a gente e
"Minha nega: oomo o mar não está prá dúvidas, f u i coberto. Nunca f u i de Moryscotte. Nome do l i v r o : "Mariel -
p. . . e acabou, a fim de trepar, peixe,tou chamando urubu de meu louro um Ringo a Sangue F r i o " . Dedicatória:
1
dormir de touca
pagar e tchau mesmo . A m a i o r i a é e dando nó em pingo dágua, um pouco "Neste l i v r o existem verdades confundindo
assim,né? A gente bebe muito... naquela de cruzar cabra com se oom ficção; fiação que confunde oom
Mas agora eu vou viajar, vou ficar periscópio prá ver se dá bode A INFLUÊNCIA DE TALESE NO 155 verdades. Mas na realidade, o fato é que
seis m e s e s i o r a e acontecer... arranjei expiatório. O bom texto Gay Talese ("Aos Olhos estou sendo julgado. Com saudades, o
um contrato de manequim na Europa. Ontem, após traçar uns marrooos, dei da Multidão") provocou um caso, amigo de sempre, Mariel".
um tapa de responsa na minha jega, e daqueles ótimos para Agatha C r i s t i e , Em sua carta Mariel me diz: "Não me sinto
Dizem que mulher de boate, ela
f u i c u r t i r a minha com Morfeu. na redação de um conceituado culpado de nada errado que possa t e r
nunca se a m a r r a em ninguém. E l a Confesso que tava injuriado e não f e i t o . Porque se e r r e i , f o i no i n t u i t o de
vespertino desta capital. Talese,
fica com tudo quanto e homem. . . acreditava que i a fazer esse papagaio. acertar; eu defendia a sociedade, era
que também já pariu "Os Honrados
Nao tem condições de gostar de Imagine vjocê que um B.M. tentou fazer Mafiosos", tem nos "Aos Olhos..." pago por e l a e d a i para frente meus dias
ninguém, de se a m a r r a r em alguém, hora comigo só porque pedi uma cara muita coisa inspirativa para aqueles passaram a t e r 30 horas. Deram-me
não tem mesmo. Nao aconselharia a do seu rango. E o pior, mina, é que que passam a vida pensando em carteira de p o l i c i a , um revólver, 6 balas
ninguém esta vida. Porque olha, quase danoei, pois os samangos deram escrever cada vez mais bonitinho. por ano, um mês de estudos na Escola de
uma rupa no cubioo atrás da sujeira P o l i c i a , e disseram-me:"Vã e tente não
a gente fica tao frustrada, a gente (Pode ser um vazio, mas... desde que
e, veja só, na jega tinha umas balas, morrer". Eu f u i , não morri, matei
fica f r i a , f r i a a s s i m no modo de seja um ôco lindo, tá tudo jóia).
um rastelo, uma pereréca e uma defendendo a sociedade, que me pagava
a g i r . . . nao aconselharia mesmo, nao, Mas o l i v r o "Aos Olhos", pertencente
teresa de 3 metros dentro do meu para protegê-la, e hoje estou na cadeia".
a um dos cabeludos do local descrito
nao aconselharia. Poxa, depois de oome-quieto.Puxa.' Suei às pampas e Mariel: estarei te visitando por esses
acima, desapareceu. Como seria caro
passar por tantos homens... sabe se não fosse o truta do Beiçola seria dias aí na Guanabara, para ürocarmos uma
contratar Hercule Poirot ou Miss
o que e? a gente conhece os aquele sufoco. Ele v i u a minha parte, idéia. Dê um abraço para os considerados
Marple, saímos nós mesmo a campo,
O resto tá legal. da Invemada, da Vigilância (Botafogo) ,_
sentimentos das pessoas , entendeu? juntando detalhes, fragmentos de
muito especialmente pro Euclides (Msninão)
Sei l a , a gente participa demais Nega, te manca e vê a parte daquela informação. Sou muito mais Kurt
Guayba, Cartola e J a c a r é — •
das oessoas. 9 g i j a no domingo. O meu chegado, (grande t i r a de Homicídios), do que
Magalhães, tá a fim de c u r t i r meus Poirot ou Miss Marple, dois fajutos
Depoimento
de M i g u e l Urbano
Miguel Urbano Rodrigues? Conhecemos. É o velho
Miguel, português que em 16 anos de Brasil
sem poder voltar para sua terra, se tornou um dos
maiores jornalistas brasileiros. Signo: Leão.
Agora ele fala de Portugal hoje. E de sua vida:
debaixo do salazarismo, na luta longe de sua terra,
pela libertação de uma de suas muitas
pátrias. A sua pátria mesmo é o mundo, Portugal,
Brasil, América Latina. 0 jovem Miguel de hoje volta
â terra acreditando no futuro daqui e de lã.
Apesar de tudo, vocês vão se divertir: o Miguel que
conhecemos ê um sujeito muito bem humorado.

Portugal, passado a limpo


Ex - Como voce se t o r n o u um tomada de consciência acentuou-se em 57, marítimos. Tudo que h a v i a s i d o f e i t o
combatente a n t i f a s c i s t a ? quando assumi a c h e f i a de redação do de p o s i t i v o e r a como que o b r a do
Diário I l u s t r a d o , de L i s b o a . Os contatos íascismo. E r a de um ridículo
M i g u e l - Eu pertenço a uma com a censura me levaram a uma reflexão extraordinário: a linguagem e r a a
geração f r u s t r a d a . Uma profunda. Enfrentamos uma quantidade mesma p a r a o p r e s e n t e e p a r a o
geração que nasoeu oom o infindável de problemas, até que c e r t o passado. H a v i a a i n d a a preocupação
fascismo. É p r e c i s o t e r v i v i d o f a t o forçou-me a r e n u n c i a r . F o i o de t r a n s f o r m a r o português num super-
e s t a situação p a r a t e r a e x a t a p r i m e i r o grande d e s a f i o d a imprensa homem, numa super-raça, retomando as
noção do que s i g n i f i c a p a r a um portuguesa ao f a s c i s m o , em termos .teses de todos o s teóricos f a s c i s t a s .
menino de 10 anos s o f r e r um > c o l e t i v o s . Então, e r a considerado um a t o E víamos chegar os e s t r a n g e i r o s
processo de "bourrage du crane". s u b v e r s i v o a renúncia c o l e t i v a de durante a g u e r r a , gente que v i n h a d a
A minha r e b e l d i a acentuou-se j o r n a l i s t a s . No nosso c a s o , e l a só não França p e r s e g u i d a p e l o s n a z i s t a s , e
com a Guerra d a Espanha. Eu f o i c o l e t i v a porque não renunciamos no pensávamos: "essas pessoas parecem
t i n h a 12 anos e i a num trem de mesmo d i a . A imprensa européia ocupou-se mais c u l t a s c i v i l i z a d a s , mais r i c a s .
subúrbio p a r a o E s t o r i l , uma do assunto e nenhum de nós t i n h a mais Será que nós somos realmente um povo
p r a i a e l e g a n t e do t o p - s e t condições de t r a b a l h a r como j o r n a l i s t a . , excepcional?'¬
i n t e r n a c i o n a l , e v i d o i s navios Aconteceu o seguinte,: um c o l e g a f o i No p l a n o da c u l t u r a , a s obras dos
da esquadra portuguesa d e m i t i d o vergonhosamente, p o r motivos grandeè e s c r i t o r e s , dos grandes
p a r a l i s a d o s no T e j o , a t i n g i d o s políticos. 0 motivo alegado: e l e l e v o u pensadores portugueses, eram
p e l o s obuses da a r t i l h a r i a d o i s pedacinhos de chumbo da o f i c i n a : p r o s c r i t a s . E l e s eram p e r s e g u i d o s .
c o s t e i r a . Os m a r i n h e i r o s d a p a r a p r e p a r a r seus anzóis. E u t i n h a 31 Na U n i v e r s i d a d e , os grandes
esquadra portuguesa tinham s e ou 32 anos, e s e n t i que e s t a r i a l i q u i d a d o p r o f e s s o r e s eram cassados. P o r t u g a l
r e v o l t a d o p a r a se u n i r aos seus como homem se-não tomasse uma decisão. t e v e uma geração de médicos famosos-
companheiros da armada espanhola, F e l i z m e n t e , a m a i o r i a esmagadora da V a l e n t e , Fernando d a Fonseca, Cascão
p a r a defender a república, redação r e a g i u d a mesma forma. a f a s t a d o s da U n i v e r s i d a d e e
ameaçada p e l o fascismo. 0 que substituídos p o r autênticas mediocridades
s e n t i então não f o i uma reação
. que apareciam em todas as sessões s o l e n e s
política, mas s i m uma reação de Ex - O que a c u l t u r a f a s c i s t a jogava numa de exaltação do regime. Havia o s
a d o l e s c e n t e , uma sensação de criança? h i s t o r i a d o r e s o f i c i a i s , os p r o f e s s o r e s
espanto e admiração p e l o heroismo
o f i c i a i s . A Faculdade de D i r e i t o e r a
daqueles -marujos. Depois, s e r v i M i g u e l - Em p r i m e i r o l u g a r , e r a um ninho de f a s c i s t a s . A esmagadora
como o f i c i a l de c a v a l a r i a num obrigatória a inscrição n a mocidade m a i o r i a dos m i n i s t r o s de S a l a z a r eram
regimento d a f r o n t e i r a cem a Portuguesa, m a s c u l i n a e f e m i n i n a . E l a t i r a d o s de lã. A a t i t u d e
Espanha, esmagada p e l o f a s c i s m o . t i n h a o s escalões de acordo oom a idade: p e r f e i t a m e n t e s e n h o r i a l dos grandes
I s s o e s t i m u l o u a minha r e b e l d i a . os l u s i t a s , o s v a n g u a r d i s t a s e o s proprietários de t e r r a s , em f a c e dos
Eu amava a Espanha e i s t o cadetes. E u e s t a v a no segundo ano do camponeses sem t e r r a , r e f l e t i a também
aumentava minha r a i v a c o n t r a o s ginásio quando a Mocidade Portuguesa f o i os aspectos c u l t u r a i s do fascismo.
n a z i - f a s c i s t a s . Depois, e n t r e i no c r i a d a . 0 processo de Nenhuma camponesa p o d e r i a v e s t i r - s e de
Diário de Notícias de L i s b o a , cemo institucionalização do f a s c i s m o f o i forma c o n s i d e r a d a imprõria p a r a sua
um jovem repórter, em 1949. E o g r a d u a l . F o i implantado em 1926, mas c l a s s e . S e r i a escandaloso s e no
c o n t a t o com as pompas e a h i p o c r i s i a as instituições p a r a - m i l i t a r e s só domingo, p o r exemplo, uma além-tejana
f a s c i s t a acentuou minha tendência s u r g i r a m n a a l t u r a d a Guerra d a pusesse um pouoo de baton nos lábios
p a r a a r e b e l d i a , que se transformou Espanha, em 1936. Os jovens eram ou umas meias de seda. P o r i s s o , o
em tomada de consciência, através de obrigados a s e i n s c r e v e r n a Mocidade tratamento f o i uma das c o i s a s que mais
um processo g r a d u a l . Mas não posso Portuguesa e a v e s t i r f a r d a : camisa me surpreenderam ao chegar ao B r a s i l ,
d i z e r exatamente quando d e i x e i de s e r v e r d e , calça marron, botas em tons em 1958. Não c o n h e c i a nada do B r a s i l ,
apenas a n t i f a s c i s t a , p a r a tomar m i l i t a r e s e um c i n t o com o S de mas v i a que o relacionamento e n t r e as
consciência do problema português. Se S a l a z a r na b a r r i g a . Tínhamos h o r r o r pessoas e r a muito mais democrático que
nós éramos o p r i m i d o s , a opressão do da Mocidade Portuguesa, com suas em P o r t u g a l . O Vossa Excelência só agora
c o l o n i a l i s m o português e r a -
paradas e d i s c u r s o s . está desaparecendo, como também o
incomparavelmente p i o r . No p r i m e i r o
Senhor Doutor, que ã uma marca estamental.
c o n t a t o que t i v e oom a S f r i c a , ao Ex - Qual e r a a prática d a Mocidade Eu p a s s a r i a a entender P o r t u g a l melhor
desembarcar em 1954 n a i l h a de São
: Portuguesa? f o r a de P o r t u g a l . A minha visão
Tome, v i praticamente um leilão de
científica d a política processou-se no
e s c r a v o s . R o c e i r o s - o nome que lã
M i g u e l - As p a r a d a s ^ as mãos B r a s i l , e devo i s s o em grande p a r t e a
empregam p a r a o s f a z e n d e i r o s -
e s t e n d i d a s , a saudação f a s c i s t a amigos b r a s i l e i r o s .
examinavam um grupo de t r a b a l h a d o r e s , de
Cabo Verde-ou Angola, como se fossem • com o braço d i r e i t o e s t e n d i d o ,
autênticos e s c r a v o s : levantavam-lhes os copiado de H i t l e r . Eu nunca
lábios, apalpavam-lhes as pernas e o s p a r t i c i p e i das reuniões. Ex - Como ê que f u n c i o n a v a a censura
braços, avaliavam a mercadoria. Horas P a r t i c i p e i de duas ou três em P o r t u g a l ?
d e p o i s , em Luanda, o grupo de j o r n a l i s t a s paradas e t i v e vários c a s t i g o s .
f o i abordado intempestivamente p o r uma F u i r e b e l d e desde o início.
p a n d i l h a de energúmenos, oolonos brancos Havia uma preocupação g r o t e s c a de M i g u e l - As agências telegrãficas - e r a
de Angola, que v i n h a p e d i r nossa deformar a história de forma a no tempo em que ainda não h a v i a o t e l e x
s o l i d a r i e d a d e , porque s e consideravam identificá-la com o regime, f e i t o s - enviavam o noticiário i n t e r n a c i o n a l
v i t i m a s de uma o f e n s a . Um p r o f e s s o r g l o r i o s o s que representavam d i r e t o p a r a a c e n s u r a , que depois se
mulato ou negro t i n h a s i d o nomeado justamente a antítese do fascismo. comunicava com o s j o r n a i s : " o telegrama
p a r a um cargo importante num colégio Os oompêndios de História davam a número t a l da Agência France P r e s s ou
o f i c i a l d a C a p i t a l de Angola.- E s t a impressão de que o senhor S a l a z a r ê UPI está c o r t a d o t o t a l ou p a r c i a l m e n t e " .
que t i n h a f e i t o o s descobrimentos Quanto ao noticiário n a c i o n a l , todo o
continuação

m a t e r i a l t i n h a que s e r enviado p e l a s r e p r e s e n t a n t e da Polícia I n t e r n a c i o n a l t e r i a d i r e i t o de e x i s t i r se v i v e s s e S


redações aos serviços de censura, que de Defesa e Segurança do Estado. (A PIDE c u s t a de o u t r a s . 0 comércio com as
eram d e v o l v i d o s ãs redações oom o s t i n h a mudado de nome: p r i m e i r o chamava-se colônias não r e p r e s e n t a o que se pensa.
c o r t e s considerados necessários• Cada Polícia de Vigilância e Defesa do O p r i n c i p a l p a r c e i r o c o m e r c i a l de
j o r n a l t i n h a um m o t o c i c l i s t a ou um Estado, chamada p e l o povo de P i v i d e , uma P o r t u g a l ê a I n g l a t e r r a . C r e i o que o
c i c l i s t a , um mensageiro permanente e n t r e g i r i a empregada p a r a a t i v i d a d e s volume do ccmêrcio.externo oom a
a censura e as redações. A censura é homossexuais). Acompanhei o homem, que I n g l a t e r r a , em termos muito g e r a i s ,
sempre i r r a c i o n a l e, de modo g e r a l , achou necessário t i r a r um revólverimenso. r e p r e s e n t a 20% do comércio português;
pouco i n t e l i g e n t e . Às vezes saíam, como Não v a l e u nada eu e s t a r acompanhado dos as oolônias representam apenas e n t r e
em t o d a p a r t e onde há c e n s u r a , c o i s a s f i l h o s do chefe de Gabinete do M i n i s t r o 11 e 12%; e o Mercado.Europeu,- 48%.
incríveis e quase h a v i a c r i s e n a c i o n a l da Marinha, então.o a l m i r a n t e Américo Então, o probiema sob e s t e aspecto não
por i s s o . Mas o critério e r a Tomas, e do chefe d a Polícia de ê insóluvel.
extremamente rígido. P o r exemplo, Segurança Pública de L i s b o a . O agente O p a i s também estã enfrentando uma
qualquer caso de plícia não p o d i a t e r d i s s e que não q u e r i a saber dos p a i s d e l e s , inflação g a l o p a n t e herdada do f a s c i s m o ;
mais que 40 l i n h a s , f o s s e q u a l f o s s e o que me deu uma noção e x a t a do.poderio e imediatamente a d i r e i t a , i n d o com
a importância do crime. Suicídio e r a da PIDE. P a s s e i uma n o i t e lã. F u i muito a c e r t o ao ponto, t e n t o u c h i l e n i z a r
p r o i b i d o de s e r n o t i c i a d o . Suicídio i n t e r r o g a d o de madrugada. E s t a v a quase o país- Empresas que antes recusavam aumentos
e r a n o t i c i a d o "morte súbita" . I s s o c a i n d o , não de nervoso, mas de tensão, de i n s i g n i f i c a n t e s , aumentos que dariam 4 ou 5
c r i a v a uma grande confusão e n t r e sono. F i q u e i de pé, o u v i uma reprimenda,e - escudos p o r semana, passaram a e s t i m u l a r
lessoas que se suicidavam e as que o último me d i s s e : "Se vooê t i v e s s e 17 anos reivindicações s a l a r i a i s iiicomportaveis
o r r i a m de e n f a r t e , porque em e f o s s e um pouco maior, i a d i r e t o p a r a o até p o r países do Mercado Comum. Eram
P o r t u g a l morte súbita e r a e n f a r t e . T a r r a f a l oom suas insolências".(Tarrafal e r a empresas que antes nem homologavam os
A censura, t i n h a a i n d a p e c u l i a r i d a d e s um campo de concentração). c o n t r a t o s c o l e t i v o s de t r a b a l h o aprovados
curiosas. O presidente da Republica, p e l o próprio Ministério das Corporações
marechal Carmona, t i n h a uma f a s c i s t a . Em maio, houve uma onda de
quantidade núnima de substância Ex - Corro f o i que você conheceu o A m i l c a r reivindicações de um saláricrmínimo
c i n z e n t a no cérebro. Quando f a l a v a em Cabral? n a c i o n a l de 6 m i l escudos, o que eqüivale
público, e r a uma catãstofre. Tanto mais ou menos a 1,7 m i l c r u z e i r o s . Nem
g r a m a t i c a l oomo c o n c e i t u a i . Se f a l a v a M i g u e l - f o i quando c o n h e c i o s p r i n c i p a i s a Alemanha F e d e r a l , o país de economia
de i m p r o v i s o , e r a c e r t o e sabido ã d i r i g e n t e s do Movimento P o p u l a r de libertação mais f o r t e d a Europa,, r e s i s t i r i a a i s s o .
n o i t e v i n h a uma instrução d a censura de Angola - , que t i n h a seu q u a r t e l em Houve empresas que foram mais longe. A
dizendo que o p r e s i d e n t e d a República C o n a c r i . E r a o início d a revolução angolana. famosa ITT se apressou ..a r e a l i z a r um
t i n h a considerado necessário r e t i f i c a r 0 c o n t a t o oom os revolucionários a f r i c a n o s congresso na I l h a d a Madeira, e deu ordens
o d i s c u r s o , porque o aparelhamento rme i n s p i r o u profundo r e s p e i t o p a r a com a p a r a que seus r e p r e s e n t a n t e s em P o r t u g a l
sonoro não e s t a v a bom, o u q u a l q u e r o u t r a revolução a f r i c a n a . P a s s e i então de uma posição, fossem compreensivos e l i b e r a i s oom relação
j u s t i f i c a t i v a p e r f e i t a m e n t e i m b e c i l . 0. a n t i c o l o n i a l i s t a teórica p a r a uma posição a reivindicações s a l a r i a i s . A empresa
c e r t o é que v i n h a um t e x t o completamente atuante. Nos p r i m e i r o s encontros que t i v e p r o n t i f i c a v a - s e a pagar um salârio-irdmmo de
d i f e r e n t e . Aliás, e s s a tradição manteve-se. com A m i l c a r C a b r a l f i q u e i l o g o com a impressão, 7,5 m i l escudos. O governo aprovou d e p o i s
0 a l m i r a n t e Tomás ê um homem totalmente que t i n h a conhecido um dos revolucionários um salário-mlnimo n a c i o n a l de 3,3 m i l escudos,
incompatível com as r e g r a s mais mais lúcidos do T e r c e i r o Mundo e, certamente, (cerca de 800 c r u z e i r o s ) que já c r i a problemas
elementares da gramática, e seus d i s c u r s o s o maior revolucionário a f r i c a n o d e s t e século. p a r a a economia, mas ê i n t e i r a m e n t e j u s t o
eram sistematicamente c o r t a d o s . A censura Nessa época e l e e s t a v a organizando o P a r t i d o oomo f a t o r de redistribuição de renda.
sempre mandava o u t r o . Só recentemente, A f r i c a n o p a r a a Independência d a Guiné e Cabo Mas em P o r t u g a l , . o poder de compra é
já no tempo do s r . M a r c e l o Caetano, é Verde, PAIGC p a r a a l u t a armada na s u p e r i o r ao do B r a s i l .
que f o i possível r e p r o d u z i r alguns Guinê-Bissau. 0 seu t r a b a l h o deu f r u t o s no A d i r e i t a , como não t i n h a conseguido, no
d i s c u r s o s , v e r d a d e i r a s "obras-primas". ano de 1963. campo da,fixação do salário, um nível que
E r a Qbrigatõria e eliminatória nos provocasse o caos d a econcmia, t e n t o u
l i c e u s , que correspondem aos colégios provocá-lo através de lock-routs, greves de
b r a s i l e i r o s , uma d i s c i p l i n a chamada - Ex - Qual a saída que você vê p a r a o
patrão. No f i m de maio, durante d o i s d i a s ,
Organização Política e A d m i n i s t r a t i v a problema econômico português?
L i s b o a f i c o u sem pão e sem t r a n s p o r t e .
da Nação. E r a uma propaganda e x a l t a d a Tentaram p e r t u b a r o abastecimento de
do fascismo. Éramos obrigados a combustível e o s e t o r de telecomunicações.
decorar a Constituição, p u r a fachada. M i g u e l - A econcmia portuguesa a p r e s e n t a A d i r e i t a q u e r i a d a r a impressão de bagunça,
0 a r t i g o r e f e r e n t e aos d i r e i t o s aspectos que a tomam extremamente de subversão, de i n c a p a c i d a d e do governo
humanos f i g u r a v a na Constituição p a r a vulnerável. A balança c o m e r c i a l , no c o n t r o l a r a situação. E, a s s i m , quebrar a
inglês>ver. Outro aspecto c u l t u r a l último ano, apresentou um déficit de aliança das forças p o p u l a r e s oom a s Forças
ridículo: o monopólio das grades mais ou menos 1 bilhão e 100 milhões :de Armadas. E s s a manobra f o i desmascarada.
f i g u r a s históricas e literárias. Eça dólares. I s s o mostra como as exportações Também f o i d e s m o r a l i z a d a a preocupação de
de Queirós, p o r exemplo. 0 governo portuguesas são pequenas p a r a c o b r i r as determinados elementos que se dizem
fundou o chamado Círculo Eça de importações. É e v i d e n t e que uma p a r t e democráticos, que pretendiam regulamentar o
Queirós, onde se f a z i a tudo sobre e l e das importações - produtos suntuãrios, d i r e i t o de g r e v e . F i c o u c l a r o também que não
conferências, seminários e t c . . Até o por exemplo - pode s e r r e d u z i d a , mas há que f a b r i c a r l e i s p a r a regulamentar greve.
f i l h o Antônio que não herdou a i s s o não s i g n i f i c a muito. A balança de A desvalorização do escudo é inevitável. Mas,
inteligência do p a i , t i n h a vários ** pagamentos é e q u i l i b r a d a p e l a s remessas no momento, nao há escassez em P o r t u g a l , não
cargos renumerados só porque e r a f i l h o enviadas p o r emigrantes e pe"lo t u r i s m o . há "mercado negro" . A situação tem evoluído
de Eça. E l e chegou a e s c r e v e r um No ano passado, no t u r i s m o rendeu de forma m i l a g r o s a . A c a r e s t i a , que e r a
romance e umas novelas péssimas, tão aproximadamente 500 milhões de dólares sensível nos últimos três meses do s r . Caetano,
más que a crítica o desancou. Um d i a , e as remessas dos emigrantes foram não manteve o mesmo r i t m o . Os problemas
Antônio i a subindo o Chiado e encontrou levemente i n f e r i o r e s a 1 bilhão de são extremamente complexos e e u não vou lançar-
um desses críticos - A l f r e d o Pimenta, dólares, o que p r o p o r c i o n o u um s a l d o me numa abordagem p r o s p e c t i v a que s e r i a
que e r a até monarquista - e agrediu-o. gratuita.
na balança de pagamentos e s t e ano.
Chegou a polícia e perguntou ao
0 balanço de pagamentos v a i f e c h a r com
agredido o que e l e desejava. "0 que eu
déficit porque a balança c o m e r c i a l
d e s e j o , o s r . não me pode d a r : q u e r i a
continuará deficitária e o s emigrantes
que baixassem um d e c r e t o p r o i b i n d o esse
senhor de e s c r e v e r . " da França, que no ano passado mandaram c e r c a Ex - Os i n t e g r a n t e s do Movimento dos
de 1 bilhão de dólares, devem mandar menos, O f i c i a i s sempre s e negam a f a l a r em
e n t r e 450 e 500 milhões de dólares. De termos p e s s o a i s . Esse t i p o de a t i t u d e
o u t r o l a d o , a v o l t a âe 100 m i l refratários, r e f l e t e uma unidade ou medo de desunião?
que não se apresentaram ao serviço m i l i t a r .
Ex - Voce t e v e alguma experiência com E l e s vão r e g r e s s a r , mas não imediatamente. M i g u e l - As duas c o i s a s . Além de uma unidade
a Pide? Quanto o exército d a África r e g r e s s a r , riiuito grande e x i s t e a consciência de que a
também c r i a r a o u t r o problema. Estão lã quebra dessa unidade t e r i a e f e i t o s
M i g u e l - F o i no d i a que as forças anglo- mais de 150 mil,'homens, não s e i q u a l ê extremamente n o c i v o s . A sobrevivência do
americanas desembarcaram no Marrocos a porcentagem jéxata de a f r i c a n o s , mas f a s c i s m o , durante 48 anos, c r i o u e n t r e
e Argélia, em novembro de 1942. Eu uma p a r t e taml^m virá. E, dos 780 m i l a o f i c i a l i d a d e sentimentos de r e p u l s a muito
t i n h a 17 anos. E r a a grande v i r a d a da colonos brancos de Angola e Moçambique, f o r t e s p o r t o d a espécie de medidas
Segunda Guerra. Não h a v i a mais dúvida uma p a r t e difícil de a v a l i a r v a i f a z e r autoritárias. O p l u r a l i s m o ideológico, a
que o fascismo i a s e r d e r r o t a d o , cedo às malas antes do f i m das negociações. a b e r t u r a que p e r m i t e d i s p a r a t a s oomo o
ou_tarde,.„ Ao comprar a edição e x t r a , E c r i a r um problema de reabsorção de m a n i f e s t o dos homossexuais, os v i v a s ã
t i v e uma reação de júbilo e d i s s e : mais de meio milhão de pessoas, uma revolução l i b i d i n o s a , o s pedidos p a r a a greve
S a l a z a r ê realmente um c r e t i n o , um mão-de-obra d e difícil colocação. do sexo das mulheres, o m a n i f e s t o das
c a v a l o . I s s o porque e l e t i n h a f e i t o SÓ uma m i n o r i a dos colonos tem meios p r o s t i t u t a s , tudo i s s o s e e x p l i c a p e l o h o r r o r
um d i s c u r s o na véspera, i n s u l t a n d o a que l h e s permitem até r e a l i z a r da repressão. Mas não há uma unidade p e r f e i t a
democracia e decretando a falência de i n v e s t i m e n t o s . Mas a o u t r a tem que e n t r e o f i c i a i s do Movimento. A c r e d i t o que
todas as i d e o l o g i a s democráticas. A i se i n t e g r a r nõltiercado de t r a b a l h o . uma fração importante provavelmente d e s e j a r i a
apareceu um s u j e i t o que me p e d i u p a r a Não ê verdade que P o r t u g a l não p o s s a que as Forças Armadas t i v e s s e m e n f e i x a d o o
accmpanhã-lo. I d e n t i f i c o u - s e como v i v e r sem as colônias. Uma nação não poder em suas mãos p a r a f a z e r avançar o »
continuação
processo revolucionário mais rapidamente. Mas Ele continua a ser o p r i n c i p a l inimigo muito difícil de p r e v e r e eu nao quero
um regime autoritário t e r i a um e f e i t o do povo português. Os c o r i f e u s , as e n t r a r no t e r r e n o da f u t u r o l o g i a .
extremamente n e g a t i v o sobre amplos s e t o r e s grandes p e r s o n a l i d a d e s do f a s c i s m o , ou
da população, p r i v a d o s da l i b e r d a d e há meio estão na prisão, ou no exílio, ou em c a s a ,
século, e sobre uma p a r t e do corpo de o f i c i a i s Ex - Até que ponto os grandes grupos
c a l a d a s . Mas, no nível de pequenas e médias
essencialmente democrática. Em P o r t u g a l , econômicos portugueses que têm i n t e r e s s e s
empresas, no s e t o r de serviços, o fascismo
t r a t a - s e de c o n s t r u i r uma sociedade econômicos na África, p r i n c i p a l m e n t e em
está presente. A m i n i - c r i s e do f i m de maio
democrática que terá de s e r Angola e tfcçambique, vão p e r m i t i r ou a c e i t a r
ê um exemplo. Etu numerosos serviços
necessariamente c a p i t a l i s t a , encaminhada a concessão de independência a esses d o i s
públicos há a d m i n i s t r a d o r e s intermediários
p a r a um desenvolvimento em moldes países?
que são ideologicamente f a s c i s t a s . O
c a p i t a l i s t a s , porque as e s t r u t u r a s d a afastamento de t o d a e s s a gente é muito
sociedade portuguesa são e continuarão a s e r difícil, até porque o povo português é M i g u e l - Os v e r d a d e i r o s donos das colônias
c a p i t a l i s t a s p o r b a s t a n t e tempo. c o n t r a vinganças, o que ê c o r r e t o . foram sempre as empresas m u l t i n a c i o n a i s
0 serviço diplomático i um câncer. Mas associadas âs grandes empresas portuguesas,
o c h a n c e l e r Mário Soares só pôde mudar até que contam com o apoio de uma m i n o r i a de
Ex - 0 p r o f e s s o r F l o r e s t a n Fernandes colonos r i c o s , que se sentem angolanos e
agora meia dúzia de ambaíxadores. A
a f i r m a , num . a r t i g o r e c e n t e , que a g u e r r a moçambicanos, mas c u j o s e n t i d o de
m a i o r i a desses embaixadores ê gente que não
c o l o n i a l d e f l a g r o u a consciência p a t r i o t i s m o é inseparável da manutenção de
merece a m í r L i m a confiança, no B r a s i l , quando
democrática em P o r t u g a l , assim oomo a privilégios que gozam. A solução do
qualquer j o r n a l d i z i a a verdade sobre a
g u e r r a do Vietnam teve um grande p a p e l problema a f r i c a n o ê menos fácil do que
África, v i n h a sempre uma c a r t a desmentido.
na formação de uma nova consciência nos parece. 0 caso de Angola ê o mais difícil
Alguns até tentavam p r o c e s s a r as televisões,
Estados Unidos., de se r e s o l v e r . Ao contrário de Guiné,
os j o r n a i s . Agora, não respondem ãs
provocações c o n t r a a nova ordem democrática onde o diálogo e r a com o PAIGC e de t

M i g u e l - Concordo com o p a r a l e l o . Mas em P o r t u g a l : dizem que são apolítiaos. rtjçambique, onde a FRELIMO ê hegemônica e
preciso_tambêm d e i x a r c l a r o que o 25 de há 40 negros p a r a cada branco (são 200
a b r i l não t e r i a s i d o possível, s e , m i l brancos p a r a 8 milhões de n e g r o s ) ,
paralelamente ã g u e r r a c o l o n i a l , as Angola tem três novimentos que se
forças p o p u l a r e s , os p a r t i d o s democrãtioos Ex - Quem l e u o l i v r o P o r t u g a l e o Futuro apresentam como l i b e r t a d o r e s . Mas f o i o
e os_elementos a n t i f a s c i s t a s não t i v e s s e m tem a ^jmpressão que, em P o r t u g a l , só duas Movimento P o p u l a r de Libertação de
também d e s a f i a d o o fascismo de maneira pessoas não leram o l i v r o antes de 25 de Angola que suportou todo o peso da
permanente. Todas as oportunidades eram a b r i l : Marcelo Caetano eVAmêrico Tomás. O guerra. Há a i n d a a UNITA, f i n a n c i a d a
a p r o v e i t a d a s - congressos de A v e i r o , f a r s a s g e n e r a l Spínola praticamente "canta" o.-golpe. p e l a República Popular da China, c u j a
e l e i t o r a i s , que m u i t a gente c r i t i c a v a , mas política em África ê c h e i a de ambiguidaués e
que foram muito importantes nesse processo. d e s t i n a d a mais a e s t a b e l e c e r a confusão do
Muitos também não acreditavam na l u t a M i g u e l - Os o f i c i a i s das forças Armadas já que e s t i m u l a r a libertação dos povos
d e n t r o dos s i n d i c a t o s , porque os s i n d i c a t o s deixaram c l a r o que o g e n e r a l Spínola não a f r i c a n o s . Outro rtovimento é a Frente de
eram f a s c i s t a s . Mas, depois do 25 de a b r i l , p a r t i c i p o u da organização do golpe. Libertação N a c i o n a l , l i d e r a d a p o r Olden •
os s i n d i c a t o s f i c a r a m sob o o n t r o l e das Roberto, ex-chefe do chamado Governo
forças democráticas, o que p r o v a que o Revolucionário de Angola. E l e ê um
t r a b a l h o f o i c o r r e t o . Também h a v i a Ex - O grande c a p i t a l , a base do fascismo a v e n t u r e i r o que enriqueceu em n e g o c i a t a s
p r o t e s t o s permanentes c o n t r a embarque de português, não f o i tocado e nem será tocado, cem o p r e s i d e n t e d a República do Z a i r e , o
t r o p a s p a r a a s colônias. porque se t r a t a de c o n t i n u a r d e n t r o de uma s r . M±>utu. É um homem que sempre e s t e v e
sociedade c a p i t a l i s t a . sob o s i g n o do i m p e r i a l i s m o norte-americano
e h o j e é um joguete nas mãos d a G u l f O i l .
Ex - De uma visão g e r a l de f a t o s que marcaram que e x p l o r a o petróleo de Cabinda. A G u l f
M i g u e l - 0 casamento e n t r e a cúpula do quer t r a n s f o r m a r Angola no p r i m e i r o
a presença da oposição portuguesa.
Estado f a s c i s t a e o grande c a p i t a l f i n a n c e i r o produtor de petróleo d a África. Seu o b j e t i v o
f o i , durante longo tempo, p e r f e i t o . E h a v i a mínimo ê separar Cabinda do r e s t o de Angola,
M i g u e l - 0 Campo de concentração do T a r r a f a l , uma coincidência de i n t e r e s s e s que p e r m i t i u p r i v a n d o o povo angolano de sua maior
por exemplo, onde morreram homaes c u j a l u t a que o c a p i t a l m o n o p o l i s t a português f o s s e r i q u e z a . O o b j e t i v o será e s t a b e l e c e r u r a
c o n t r i b u i u poderosamente p a r a os um dos mais evoluídos d a Europa, em termos espécie de congolização de Angola, que
acontecimentos que se v e r i f i c a r a m t a n t a s de construção de uma e s t r u t u r a econômica' favoreça o i m p e r i a l i s m o e as grandes
décadas d e p o i s . Durante muitas décadas, que s i r v a a seus i n t e r e s s e s . P o r t u g a l ê empresas. Que grupos são e s t e s ? Aparece
P o r t u g a l f o i o país com maior peroentagem de o p a i s que apresenta a maior concentração de mais a G u l f O i l ; mas se a gente o l h a r
presos políticos do mundo. A l u t a v i n h a r i q u e z a d a Europa. A maior empresa _ bem, verá o grupo Clppenheimer, mais de 200
de l o n g a d a t a . % c a n d i d a t u r a do g e n e r a l portuguesa ê inconparavelmente maior empresas inseparáveis, l i g a d a s ã Anglo-
Delgado p a r a a presidência,e o f e r v o r que a maior empresa espanhola. Os grandes América, a s s o c i a d a â Societê General b e l g a ,
p o p u l a r que a rodeou nao t e r i a s i d o bancos portugueses são de nível que p o r sua v e z c o n t r o l a a Guiné. Então, \
possível se o povo não e s t i v e s s e i n t e r n a c i o n a l ; 0 s i s t e m a bancário., devido todos esses i n t e r e s s e s oonspiram c o n t r a a *
p s i c o l o g i c a m e n t e preparado p a r a ã sua concentração em pouco mais de meia- v e r d a d e i r a independência de Angola.
e n f r e n t a r o fascismo. O^jando dúzia de bancos, ê poderoso. Mas, oom o O exército português tem um p a p e l : e v i t a r :

perguntaram ao g e n e r a l Humberto Delgado, advento d a g u e r r a c o l o n i a l , passou a uma falsa,independência de Angola, q u e -


numa e n t r e v i s t a c o l e t i v a , em 1958, o tjaver, de c e r t o momento em d i a n t e , uma D o d e r i a p r e j u d i c a r decisivamenteíO
que e l e f a r i a com S a l a z a r se f o s s e e l e i t o , contradição de i n t e r e s s e s fundamental. O f u t u r o i m e d i a t o dos angolanos, ou então um
e l e respondeu: "Eu o demito" . I s s o e r a fascismo, para sobreviver, precisava caos g e n e r a l i z a d o , com matanças que dariani
já um refçexo do espírito de l u t a do povo manter as guerras c o l o n i a i s . E as uma imagem i n j u s t a de imaturidade do país,
português. E a p o p u l a r i d a d e do g e n e r a l guerras c o l o n i a i s representavam a p o i s s e r i a provocada de f o r a .
Delgado é inseparável d i s s o . absorçSb de metade do orçamento n a c i o n a l .
Houve um momento em que s e chegou ã As guerras c o l o n i a i s também t i r a v a m do
conclusão de que determinadas ações de p a i s a sua força de t r a b a l h o , p r i n c i p a l m e n t e
violência eram necessárias pára l u t a r c o n t r a
jovens. Outros emigravam. Houve então uma Ex - C e r t a v e z , você f a l o u sobre um tema
o_fascismo. Mas essas ilusões românticas
contradição de i n t e r e s s e s e n t r e a lógica dd profundamente desconhecido aqui no B r a s i l :
não f i z e r a m c a r r e i r a . Quando na América
um c a p i t a l i s m o m o n o p o l i s t a f o r j a d o p e l o a história d a África.
L a t i n a estavam no auge t e o r i a s de
f a s c i s m o , e os i n t e r e s s e s , i m e d i a t o s , e
g u e r r i l h a r u r a l e d a tomada do poder p e l a
f u t u r o s , desse c a p i t a l i s m o . A r a c i o n a l i d a d e M i g u e l - A África ê um c o n t i n e n t e sem
violência, o problema e r a v i s t o de
do c a p i t a l i s m o m o n o p o l i s t a português, ao memória, mas não sem história. A visão
maneira d i f e r e n t e em P o r t u g a l . Chegou-se
chegar a uma f a s e de maturidade, e o eurocêntrica do mundo d i s t o r c e u a visão da
ã conclusão que certas- ações de violência
p r o j e t o do f a s c i s m o tornaram-se história a f r i c a n a . Grandes civilizações
eram necessárias, mas deviam s e r
incompatíveis. A Europa do Mercado f l o r e s c e r a m d a África O c i d e n t a l , em regiões
r e a l i z a d a s tendo em v i s t a o b j e t i v o s
r e j e i t a v a a integração de P o r t u g a l com que vão desde o Senegal, Nigéria,Gana, C o s t a
políticos bem determinados e sempre
todos os problemas ao fascismo e ao do Marfim... Do o u t r o l a d o da c o s t a o r i e n t a l
r e l a c i o n a d o s com a g u e r r a c o l o n i a l . As
c o l o n i a l i s m o . I s s o p r e j u d i c a v a as t e n t a v i v a s por influência dos c o n t a t o s mantidos oom os
forças democráticas portuguesas sempre
das grandes empresas portuguesas de sé árabes que vinham d a Península Arábica,
condenaram o t e r r o r i s m o . Mas s u r g i u ,
a s s o c i a r às m u l t i n a c i o n a i s européias. 0 quando os portugueses chegaram, no século XV
depois d a posse do s r . Marcelo Gaetano,
C a p i t a l i s m o que regulamentava as i d a s ÓX> não encontraram, ao contrário do que se
a Ação Revolucionária Armada. E l a
b a n h e i r o e em que h a v i a as c o i s a s mais pensa, civilizações comparáveis como as que
r e a l i z o u ações de repercussão i n t e r n a c i o n a l ,
ridículas, uma relação de senhor p a r a encontraram no B r a s i l . Havia uma f i l e i r a de
sempre tendo em v i s t a o o b j e t i v o
e s c r a v o , em que se chamava a p o l i c i a s e grandes cidades do Cabo do Marfim até o Sul.
prioritário: a denúncia d a g u e r r a c o l o n i a l .
h a v i a uma reivindicação de 50 centavos - i s s o de ttoçambique, oom construções de pedra,
Mas nunca derramou sangue nas suas ações.
não c o r r e s p o n d i a mais aos i n t e r e s s e s de um grandes palácios e um comércio i n t e n s o ao
c a p i t a l i s m o que q u e r i a s e r moderno no longo da c o s t a , que foram r e d u z i d a s a c i n z a s
aspecto econômico, e no aspecto s o c i a l não p e l o c o l o n i a l i s m o . Os i n g l e s e s encontraram
e r a . 0 problema dos salários também já não ruínas a i n d a estão lã o que prova o grau de
Ex - Qual e r a a e s p i n h a d o r s a l do fascismo oonvinha, porque a incorporação de uma refinamento que essas civilizações a t i n g i r a m
POSIÇÕES EE LUTA: 1. Em guarda; 2. Golpe de frente; 3. Pri-
e o que a i n d a r e s t a d e l e ? são de braço em pé; 4. Golpe de oostas; 5. Golpe ao revés; economia de mercado em uma sociedade de Mais t a r d e , p o r v o l t a dos anos 30, foram
6,7. Golpes de agilidade; 8. Volta sobre a anca oom prisão
de-cintura; 9. Prisão dupla de cabeça; 10. Prisão de braço consumo que já não c o i n c i d i a com os encontradas, na África do S u l e Rodésia,
e joellvos; 11. Colar de força; 12. Báscula e dupla prisão
dos poisos; 13. Prisão da perna; 14. Gravata; 15. lesoura. i n t e r e s s e s de c e r t a s empresas que a t i n g i a m construções de p r a t a comparáveis oom o que
M i g u e l - 0 fascismo não está destruído. o nível europeu. O que v a i o c o r r e r é qualquer civilização f e z de mais b e l o . •

MAS ELE NAO TEM NADA PARA )


CONFESSAR
ISSO É PROBLEMA DELE
Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, junho de 2 0 1 0 .
Jornal de texto,
história em quadrinhos,
ensaio fotográfico,
loucos, Cortázar,
Wilhelm Reich,
Ronald Laing,
Nise da Silveira,
Antonin Artaud,
Evita Perón,
Qorpo Santo
e outros:
OUTUBRO. 1974 / NUMERO 7 / 5 CRUZEIROS

VAN GOGH NA
ASSASSINADO! LOUCA
POETA FRANCÊS ACUSA: TRATAMENTO DF
PSIQUIATRA MATOU O CHOQUE: PENSAMENTOS
GENIAL PINTOR DE MAO, CONFORME
(O POETA TAMBÉM SE SUICIDOU). PRESCRIÇÃO MÉDICA.
PÁGINA 32 PÁGINA 30

29 ANOS NUM
REPÓRTER BÊBADO
DESCOBRE: DEIXARAM
FILHO PRESO NO QUINTAL
TODO ESSE TEMPO. Museu do Inconsciente:
PÁGINA 28 poemas e imagens de internos
do Hospital Pedro II, no Rio.
Página 2Q.

ENLOUOUECEU?
MÃTA! SEXO
PSIQUIATRA E VELHO PENSADOR *
HUMORISTA FAZ ESTA AINDA LEMBRA: V
PROPOSTA: VAMOS MATAR PRECISAMOS
LOGO ESSA GENTE? FAZER MAIS.
PÁGINA 15 PÁGINA 12
Detetive, o novo jogo da
Estreia. U m mistério (ação! sus-
pense! emoção!) para ser resol-
vido por até 6 pessoas. E para
ser assistido por quantas coube-
rem na sua sala.
Quem cometeu o crime?
Onde? Com que arma? Ganha
quem acabar primeiro com o sus-
pensa.
Agora você pode rece-
ber as suas visitas com um bom
programa: um belo crime.
Detetive. Um verdadei-
ro caso de polícia. Da Estrela.

Sherlock Holmes,
Hercule Poirot,
Inspetor Maigret,
Columbo e Cannon
não seriam capazes
de descobrir quem
cometeu este crime.
Você seria?
CARTA
D E JOÃO
Copacabana,

Narciso
23 de setembro

Kalili, Hamilton
de 1974.

Almeida,
Mylton Severiano, amigos, companhei-
OS ANONÜHOS Chamada Para Uma Próxima Matéria De Capa: Vamos Contar Juntos Essa História?

ros, toda a equipe de EX-. Principal- O underground no Brasil é uma multidão marginal e uma imprensa underground. uma liberdade militante. No Brasil não há
mente Hamiltinho. de anônimos, de desconhecidos. A sua história Marginal aquela que conseguiu margear o consciência de que se é minoria, não há
é pós-68; e sendo pós-68 é mais exatamente sistema e underground aquela que é anônima consciência política do underground.
pós-70, Pouquíssimas pessoas que já tinham mesmo. A imprensa underground brasileira de Underground foi uma reação ao esfacelamento
Hamiltinho e todo o resto do algum nome pré-68 participaram dos hoje, resultado de 4 ou 5 anos de vida, é tudo político, mas sem consciência política, sem se
pessoal: movimentos tidos como undergrounds no aquilo que eu talvez não conheça nesse reconhecer como revolucionário. Enquanto
leio aqui O Merduncho transforma- Brasil. Houve sim um preconceito enorme e momento. Alguma publicação feita em um jovem americano pode se reconhecer
do em conto-oral pelo talento do brutal de toda a intelectualidade brasileira, de qualquer lugar nesse momento e com um mesmo não pertencendo a nenhum partido, a
t o d o o movimento cultural, contra qualquer caminho maior para percorrer, pra se nada, como um militante de suas idéias, pode
inquieto Hamiltinho. Ao lado da minha marginalizar. Será alguma coisa mais amadora, se dar ao luxo disso, pela liberdade, pela
movimentação, num momento em que,
surpresa (não grande porque conheço a simplesmente, toda a cultura brasileira tava porque o Brasil é outro papo mesmo - vamos politização e pelo próprio estilo de repressão
coragem e o talento do amigo) uma aterrorizada; então teorizava a respeito de não citar o exemplo fora e aqui. Tudo que cai aqui que é diferente. O underground no Brasil pode
afirmação, a de que vocês é que estão participar de nada e os mais novos que se toma outros contornos, enfrenta outra ser efiamado de um movimento sem direção,
estrepassem, que fossem fazer experiências realidade, bate em outras pedras. É digerido um movimento não dirigido. No mais amplo
certos. Estão enfrentando as coisas,
sem contar com eles, porque não tavam nessa. por outros estômagos. A antropofagia da sentido.
não estão se deixando perder, castrar, gente taí. O nosso 1984 é mais engraçado, é
Essa história é uma história de anônimos. Então agora é um momento onde se vive
enquadrar, aceitar a omissão como £ uma história que está sendo vivida e não tá outro. outra realidade. Por isso que toda essa
meie vergonhoso de vida. Vocês estão podendo ser contada. Imaginem o absurdo de Mas lá fora, a imprensa underground teve movimentação dessa minoria de anônimos
encarando e enfrentando. Parabéns! E uma história que você pode viver mas não de se profissionalizar para enfrentar o sistema. passa agora por uma fase de balanço. De
coragem. pode contar. E pra todos os efeitos essa A imprensa underground fora do Brasil história para continuar fazendo história.Como
história não existe, então é uma brincadeira. conseguiu inclusive o seu papel como bloco, no mundo todo. É engraçado você ver isso —
O aproveitamento do material que É quando chega a hora do balanço. O balanço como status. Mas a profissionalização da 1968 foi no mundo e no Brasil também. O
falei ao Hamiltinho demonstra clara- é uma forma de tentar contar a história. O imprensa underground fora do Brasil foi Brasil faz parte do mundo, isso é incrível! Mas
mente, sem faraismo e sem demagogia, momento que a gente vive hoje é esse. É o viável exatamente porque a imprensa oficial aí é que tá a coisa oswaldiana. A coisa tem um
momento onde a história fugiu totalmente dos também é viável. Aqui no Brasil não. A segundo de diferença e tem outra pratica, tem
sem laudatórios e salves-salves, que
livros, fugiu de tudo e tá arrumando sua equivalência pra imprensa underground outra qualidade, e é digerida, é comida de
Hamiltinho é um dos homens de maior última trincheira na imprensa. Mas ao mesmo brasileira é uma imprensa oficial esfacelada outra maneira. Se no mundo agora também se
fibra e mais quente talento dessa tempo que essa história refugia-se na imprensa, pela censura, pela restrição que em 6 anos fez passa por isso, no Brasil é uma situação muito
geração de massacrados, manipulados, essa imprensa marginal ou underground é a imprensa oficial parar — não há nada de novo particular. Porque no Brasil as coisas se
moidos e calados à força. Como é um parte da história. Tem que continuar a na imprensa oficial burguesa brasileira, em desenvolvem em ritmos diterentes. tnquanto
batalha dela, que é não poder subsistir mas desenvolvimento técnico, em pesquisa de a politização dessa minoria dá-se lentamente e
homem de talento especial, será sempre novas formas de comunicação e linguagem.
poder viver e fazer parte da história. Eu acho dá-se no braço, na vida. Quer dizer, tem que
a mesma fera a dar trabalho para os que o problema da imprensa underground no No Brasil, a imprensa underground não se cair na vida. É um negócio sofrido, mais
doutores de falsa fama, inveja para os Brasil é esse. expande ao ritmo de se tornar marginal arrebentado, a repressão dá-se ao nível
maus escribas, repórteres medíocres e No meu balanço, eu só considero coerente. O único órgão que teve condição de científico. A í começa a desequilibrar o jogo.
bons fariseus do bundamoli°.mo nacio- underground o anônimo. Aos que ninguém ser um marginal coerente foi o Pasquim. E se Os caras jogam dopados e o pessoal vai de cara
tava ensinando nada e eles estavam resistindo tornou incoerente. Ele se consumiu nele limpa. A í é mal. O pessoal vai tomando
nal. Jamais será/para minha alegria e de bolacha da vida pelas esquinas, pegando suas
ou vivenciando a sua loucura. A imprensa mesmo, na geração dele que é uma geração
toda a sua geração, um homem bem underground no Brasil não podia ser outra anterior a 68. O Pasquim não teve objetivo doenças venéreas por aí, tomando cascudo,
comportado e sabe a que hora, seja a coisa senão um aborto. Fora do Brasil, . político suficientemente forte que o sendo preso, bem intencionado, não
que for, nunca será dos mansos. Sem imprensa underground existe em dois níveis: mantivesse numa linha marginal. Os outros cometendo nenhum crime contra a sociedade
militância, política ou partidária, ou órgãos acabaram. Foram undergrounds ou não, mas sofrendo a repressão social, caindo na
briga não tem amor e sem luta a vida
militância de costumes, de modo de vida, ou já nasceram com certo approach marginal, vida; e o outro vem de Laranja Mecânica, o
não tem graça. Nem sentido. outro vem com coisa científica, o outro vem
religião. Underground é isso. porque aí é que tá, Flor do Mal pra mim não
A todos de EX-, ao querido Percival Num país em que a imprensa oficial chega a era underground, era uma coisa com approach com a TV Globol A í é uma p . . . desvantagem.
retroceder — vantagem já é estagnar e marginal, como O Bondinho, O Verbo. Eles Então, numa experiência desse tipo que é a
de Souza (um dos poucos homens que experiência brasileira, o que salva é que a
continuar a ser um grande negócio. Aí, o que eram undergrounds enquanto não conseguiam
fazem policia em jornal neste pais e nem imprimir, não conseguiam chegar numa gente é tupi.
pode ser uma imprensa underground? Quer
ainda não enriqueceu, o que poderia e dizer, ela pode inexistir. Então, a existência rotativa e tavam querendo ser marginais. Ser
impunemente) e aos cçmpanheiros que de qualquer coisa publicada, impressa no comprado em bancas. Já contavam com as Extraído de entrevista concedida por
nem conheço, desejo que mantenham- Brasil, livre, passou a ser considerada imprensa beirolas do sistema, as margens. Hamilton Almeida ao jornal ünderground
se vivos, como as matérias que pro- underground. E de fato. Com todo o direito Quantas áreas se usou pra se tentar Flops — SP — 3s3
de assim ser chamada, porque se a turminha informar nesses últimos tempos? A
duzem. Vocês representam uma verda-
do colégio tal imprime um jornalzinho e tá informação fugiu pras músicas, pra todo lado.
de brasileira. Gostaria, sem papos distribuindo, aquilo é que é imprensa A t é o boca-a-boca, que é o maior centro de
empostados, de que vocês contassem underground nesse país, nesse momento, informação dessa minoria — porque tem que
comigo, dentro de minhas proporções, nessa imprensa. hav<3r consciência de que se é uma minoria.
para o que desse e viesse. Afinal, como E você vai encontrar uma imprensa Co nsciência que no estrangeiro existe. Nos
E U A , freak, hippie, underground,
sabem, para mim escrever não pode
an ti-sistema, bicha, feminista, lésbica, tem
significar (como querem os atuais consciência que é uma minoria e uma p . . .
donos da verdade e do jornalês) mimoria. Masé uma minoria com politização
produzir coisa para o escárnio e a
indiferença dos leitores. João Antônio

BAIXA SOCIEDADE

A coluna "Baixa Sociedade" não sai nesse número:


Percival de Souza está em férias.
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MIS QUERIDOS DESCAMISADOS DE AYER Y DE HOY, MANANA Y DE SIEMPRE:


Hace 4 anos, desde este mismo Y les pido hoy, companeros, una ése nunca se sentirá más de lo que
balcón, bajo este mismo pedazo de sola cosa: que juremos todos, publica- e s . . . i nunca se convertirá por lo
cielo y frente a esta misma multitud de mente, defender a Perón y luchar por Si este pueblo me pediese la vida, se tanto en oligarca, que es lo peor que
pueblo, se consagro un hombre, nues- él hasta la muerte. Y nuestro juramen- la daria cantando, porque la felicidad puede sucederle a un peronista!
tro querido Coronel Perón. to será gritar durante un minuto para de un solo descamisado vallemás que
que nuestro grito llegue hasta el último toda mi vida. Não importa que ladrem.
rincón dei mundo: La Vida por Perón. Pior seria se o
Desde estos mismos baicones, el inimigo nos aplaudisse.
lider asomaba como un sol, rescatado Porque el 17 de Octubre formulé mi
por el pueblo y para el pueblo, sin más voto permanente, ante mi propia con- Soy sectaria, sí. No lo niego; y ya
armas que sus queridos descamisados Siempre creí en mis queridos desca-
ciencia: ponerrne integramente al servi- lo he dicho. i Pero podrá negarme
de la Patria, retemplados en el trabajo. misados porque nunca olvidé que, sin
d o de los descamisados, que son los alguien ese derecho? i Podrá negarse a
ellos, el 17 de Octubre hubiese sido
humildes y los trabajadores. Tehía una los trabajadores el humilde privilegio
fecha de dolor y de amargura, porque
deuda casi infinita que saldar con ellos. de que yo esté más con ellos que con
esa fecha estaba destinada a ser de
Yo no deseo, no quiero para el Yo creo haber hecho todo lo que estuvo sus patrones?
ignomínia y de traición. Pero el valor
peronismo a los ciudadanos sin mística en mis manos para cumplir con mi 6 Si cuando yo busqué amparo en
de este pueblo lo convirtió en un dia
revolucionária. Que no se incorporen, voto y con mi deuda. No tenía mi amargo calvário de 1945, ellos
de gloria y de felicidad. (17 de
que queden rezagados si no están entonces, ni tengo en estes momentos, solamente ellos, me abrieron Ias puer-
Outubro de 1951)
convencidos. El que ingrese, que vuel- más que una sola ambición, una sola y tas y me tendieron una mano amiga?
que su cabeza y su corazón sin gran ambición personal: que de m í se Mi sectarismo es además un desagra-
retaceos para afrontar nuestras luchas, diga, cuando se escriba el capitulo vio y una reparación. Durante un siglo
que siempre habrán de terminar en un i Ustedes creen que si el puesto de maravilloso que la história seguramente los privilegiados fueron los explota-
glorioso 17 de Octubre. vicepresidenta fuera un cargo y si yo dedicará a Perón, que hubo al lado de dores de la clase obrera. i Hace falta
hubiera sido una solución, no habría Perón una mujer que se dedico a llevar que eso sea equilibrado con otro siglo en
contestado ya que sí? (22 de agosto al Presidente Ias esperanzas dei pueblo, que los privilegiados sean los trabaja-
de 1951) y que, a esa mujer, el pueblo la dores! 1
Y ahí está la justificación de la
llamaba carinosamente "Evita". Eso es
revolución histórica dei 17 de Octubre.
• lo que quiero ser. (31 de agosto de
Fué determinada por causas sociales, 1951)
políticas y economicas. En lo social, el Nosotros no nos vamos a dejar Cuando pase este siglo creo que re-
abandono total de la justicia, con el aplastar más por la bota oligárquica y cién habrá llegado el momento de tratar
conquistamiento de los privilégios y la traidora de los vendepatrias que han con la misma medida a los obreros que
explotación dei trabajador. En lo explotado a la clase trabajadora; porque a los patrones, aunque sospecho que ya
Unos poços dias al ano, represento para entonces el Justicialismo habrá
político, con la sistematización dei nosotros no nos vamos a dejar explotar
el papel de Eva Perón; y en ese papel conseguido su ideal de una sola clase
fraude en favor de los partidos que se jamás por los. que, vendidos por 4
creo que me desempeno cada vez de hombres, los que trabajan.
turnaban en el Gobierno o se lo monedas, sirven a sus amos de Ias
mejor, pues no me parece difícil ni
quitaban mutuamente según el menor metropolis extranjeras y entregan al
desagradable.
o mayor apoyo de los interesses en Pueblo de su Patria con la misma
La inmensa mayoría de los dias soy No importa que ladren.
juego y en lo economico, el entre- tranquilidad con que han vendido el
en cambio Evita, puente tendido entre Cada vez que ellos ladran nosotros
guismo y la venta dei país, surgidos de país y sus c o n c i e n c i a s . . . (19 de maio
Ias esperanzas dei pueblo y Ias manos triunfamos.
sus reyertas. (17 de Outubro de 1949) de 1952)
realizadoras de Perón, primera pero- i Lo maio seria que nos aplau-
nista argentina, y éste sí que me diesen! En esto muchas veces se ve
resulta papel difícil, y en el que nunca todavia que algunos de los nuestros
Nada de lo que yo tengo; nada de lo Quiero comunicar al pueblo argenti- estoy totalmente contenta de mí. conservan viejos prejuicios.
que soy; ni nada de lo que pienso es no mi dec.isión irrevocable y definitiva De Eva Perón no interesa que Suelen decir por ejemplo:
mio; es de Perón. Yo no le diré la de renunciar al honor con que los hablemos. — i Hasta la "oposición" estuvo de
mentira acostumbrada; yo no le diré trabajadores y el pueblo de mi patria Lo que ella hace aparece demasiado acuerdo!
que no lo merezco; sí, lo merezco, mi quisieron honrarme en el histórico profusamente en los diários y revistas No se dan cüenta de que aqui, en
general. Lo merezco por una sola cosa, Cabildo Abierto dei 22 de agosto. Ya de todas Ias. partes. nuestro país, decir "oposición" signifi-
que vale más que todo el oro dei en aquella misma tarde maravillosa, En cambio sí, interesa que hablemos ca todavia decir "oligarquia" . . . Y eso
mundo: lo merezco porque todo lo que nunca olvidarán mis ojos y mi de "Evita"; y no porque sienta ninguna vale como si dijésemos "enemigos dei
hice por amor a este pueblo. corazón, yo adverti que no debía vanidad en serio sino porque quien pueblo".
cambiar mi puesto de lucha en el movi- comprenda a "Evita" tal vez encuentre Si ellos están de acuerdo, cuidado;
miento peronista por ningún otro luego facilmente comprensible a sus con eso no debe estar de acuerdo el
puesto. "descamisados", el pueblo mismo, y pueblo.
Desearía que cada peronista se mi Patria? Esto sí merece una explica- Y sin embargo estuvimos siempre en Cuando se haga justicia no habrá
grabase este concepto en lo más intimo ción. la hora de la agonia y en todas Ias ningún pobre, por lo menos entre
dei alma; porque eso es fundamental — 6 Cómo va usted — me decían — horas amargas de la humanidad. quienes no quieren serio . . .
para el movimiento. a dirigir um movimiento feminista si Parece como si nuestra vocación no Con sangre o sin sangre la raza de
i Nada de la oligarquia puede ser usted está fanaticarnente enamorada de fuese sustan ciai mente la de crear sino los oligarcas explotadores dei hombre
bueno! la causa de un hombre? I No reconoce la dei sacrifício. morirá en este siglo.
No- digo que puede haber algún así la superioridad total dei hombre Nuestro símbolo debe ria ser el de la
"oligarca" que haga alguna cosa bue- sobre la mujer? i No es esfo contra- madre de Cristo al pié de la Cruz.
na. .. Y sin embargo nuestra más. alta Minha última vontade:
dictório?
Es difícil que eso ocurra, pero si misión no es sino crear. viver com meu povo
No, no lo es. Ya lo "sentia". Ahora
ocurriera creo que seria por equivoca- Yo no me explico-pues por qué no e Perón, eternamente.
lo sé.
ción. Convendría avisarle que se está La verdad, lo lógico, lo razonable es estamos allí donde se quiere crear la
haciendo peronista! que el feminismo no se aparte de la felicidad dei hombre. Quiero vivir eternamente con Perón
Y conste que cuando hablo de naturaleza misma de la mujer. y con mi pueblo.
oligarquia me refiero a todos los que Sempre vivi em Esta es mi voluntad absoluta y
Y lo natural en la mujer es darse,
en 1946 se opusieron a Perón: conser- desordem. Acho que permanente, y es, por lo tanto, mi
entregarse por amor, que en esa
vadores, radicales, socialistas y comu- nasci para a revolução. última voluntad.
entrega está su gloria, su salvación, su
nistas. Todos votaron por la Argentina eternidad. •
dei viejo régimen oligárquico, entrega- 6 El mejor movimiento feminista dei Además yo he sido siempre desorde- Quiero que sepan en ese momento,
dor y vendepatria. mundo no será tal vez entonces el que nada en mi manera de hacer Ias cosas; que lo quise y que lo quiero a Perón
i De ese pecado no se redimirán se entrega por amor a la causa y la me gusta el "desorden" como si el con toda mi alma y que Perón es mi
jamás! doctrina de um hombre que ha desorden fuese mi médio normal de sol y mi cielo. Dios no me permitirá
demostrado serio en toda la extensión vida. Creo que nací para la Revolución. que mienta si yo repito en este
de la palabra? He vivido siempre en libertad. Como m o m e n t o una vez más: " n o concibo el
Es que creo que solamente con los pájaros, siempre me gustó el aire cielo sin Perón".
fanáticos triunfan los ideales, con libre dei bosque. Ni siquiera he podido
fanáticos que piensen y que tengan la Yo creo que el movimiento femenino tolerar esa cierta esclavitud que es la
valentia de hablar en cualquier momen- organizado como fuerza en cada país y vida en la casa paterna, o la vida en el Mientras viva Perón, él podrá hacer
to y en cualquier circunstancia que en todo el mundo debe hacerle y le pueblo natal . . . Muy temprano en mi lo que quiera de todos mis bien es:
se presente, porque el ideai valle más haría un gran bien a toda la humani- vida dejé mi hogar y mi pueblo, y venderlos, regalarlos e incluso que-
que la vida, y mientras no se ha dado dad. desde entonces siempre he sido libre. marlos, porque todo en mi vida le
t o d o por un ideal, no se ha dado nada. No sé en dónde he leído alguna vez He querido vivir por mi cuenta y he pertenecç, todo es de él, empezando
Y todo es la vida misma. que en este mundo nuestro, el gran vivido por mi cuenta. por mi propia vida que yo le entregue
Demasiado intrascendente y medío- ausente es el amor. con amor y para siempre, de una
Por eso no podré ser jamás funcio-
cre seria vivir la vida si no se la viviese Yo, aunque sea un poco de plagio, manera absoluta.
nário, que es atarse a un sistema,
por un ideal. diré más bien que el mundo actual encadenarse a la gran máquina dei Pero después de Perón el único
Los hombres de nuestro tiempo, padece de una gran ausência: la de la Estado y cumplir allí todos los dias heredero de mis bienes debe ser el
más que los de todos los tiempos de la mujer. una función determinada. pueblo v pido a los trabajadores y Ias
história, necesitan quien les senale el Todo, absolutamente todo en este mujeres de mi pueblo que exijan, por
No. / o quiero seguir siendo pájaro
camino; pero exigen que quien los mundo contemporâneo, ha sido hecho suelto en el bosque inmenso. cualquier médio, el cumplimiento ine-
quiera conducir tenga algo más que según la medida dei hombre. xorable de esta voluntad suprema de
Me gusta la libertad como le gusta
buenas y grandes ideas. Nosotros estamos ausentes en los al pueblo, y en eso como en ninguna mi corazón que tanto los quiso.
Necesitan de un conductor extraor- •
gobiernos. otra cosa me reconozco pueblo.
dinário. Estamos ausentes en los Parlamen- •
Los hombres de este siglo, tal vez Quiero que todos mis bienes queden
tos.
por habérselos enganado tanto, nece- Yo no sé que pensarán de esto los a disposición de Perón, como represen-
No estamos ni en el Vaticano ni en
sitan de gênios para creer, porque historiadores y los que comentan la tante soberano y único dei pueblo.
el Kremlin.
entonces ellos verán por los ojos de su história, pero creo firmemente — y de •
Ni en los Estados mayores de los
conductor y maestro, oirán por los esta idea no me podrán sacar — que la
imperialismos.
oídos de él y hablarán por sus lábios. causa de todos los males de la história Mis joyas no me pertenecen. La
Ni en Ias "comisiones de la energia
de los pueblos, es, precisamente, el mayor parte fueron regalo de mi
atômica".
predomínio dei espíritu oligarca sobre pueblo. Pero aún Ias que recebi de mis
O natural na mulher Ni en los grandes consórcios.
el espíritu dei pueblo. amigos o de países extranjeros, o "dei
é dar-se,

Ni en la masoneria, ni en Ias
General, quiero que vuelvan al pueblo.
entregar-se por amor. sociedades secretas.
No quiero que caigan jamás en
No estamos en ninguno de los El m u n d o tiene riqueza disponible
manos de la oligarquia y por eso deseo
I Quê por ser peronista no puedo grandes centros que constituyen un como para que todos los hombres sean
que constituyan, en el museo dei
encabezar el movimiento femenino de poder en el mundo. ricos.
peronismo, un valor permanente que
solo podrá ser utilizado en beneficio
directo dei pueblo.
Que así como el oro respalda la
moneda de algunos países, mis joyas
sean el respaldo de un crédito perma-
nente que abrirán los bancos dei país en
benefício dei Pueblo, a fin de que
construyan viviendas para los trabaja-
dores de mi Pátria.

Por fin quiero que todos sepan que


si he cometido errores los he cometido
por amor y espero que Dios, que ha
visto siempre en mi corazón, me juzgue
no por mis errores, ni mis defectos, ni
mis culpas que fueron muchas, sino
por el amor que consume mi vida.

o (Peronismo, ano 30: texto m o n t a d o


á com trechos de discursos; dos livros La
< Razon de Mi Vida e História dei Peronis-
£ mo; e do Testamento de Eva Perón. Ela
£2 morreu em 1952, antes de assistir a
w mais uma festa do famoso 17 de
o Outubro. Era a data em que Perón
o tinha subido ao poder, em 1945.)
Havia pra mais de cinqüenta zinhas. Os saqués cresciam ao
saqués no terreiro da fazenda. As tempo, encostados à natureza. As
peninhas preto-e-branco acinzen- galinhas, meio controladas. No
tadas, bem estruturadas no corpo. ninho, no particular.
Um xadrez redondo e andante. O sol já deixando nuvens
As cabeças dos bichinhos eram vermelhas, moldando círculo diá-
iguaizinhas, que semlhança: rio, e a gente não vendo mais
aquelas tantas carinhas de padre. direito o que de manhã se via
Quando um gritava "tou-fraco" claro, se amontoavam no quintal
seguia-se um coro extensivo. Se- vizinho ao curral, as cheinhas de
Essa geografia foi objeto de melhante a um eco enorme, que penas, calmas. Um limoeiro gran-
mais escondia cada um no meio de agarrado ao muro ficava cheio
da multidão de saqués. Andavam de galinhas cacarejando para se
sempre no seu grupo reunido. equilibrar nos galhos de espinhos.
Demonstrando que as formigas a um pequeno jardim da rua Trabalhando e comendo coletiva- Essas eram as mais feias, isoladas
são as verdadeiras rainhas da Laprida, 628, Buenos Aires. Os mente. Ninguém sabia quando por natureza. Espalhados pelo
criação (o leitor pode tomá-lo mares paralelos são dois pequenos um saqué botava ninho. Ela se terreno os cavaletes feitos a facão
como uma hipótese ou uma canais de esgoto; a água infinita, escondia no mato, distante de — ao gosto dos bichos. Os saqués
fantasia: de qualquer maneira lhe uma banho para patos; a Grande casa, e tinha a cobertura de todos ocupavam um cavalete na disputa
fará bem um pouco de antropo- Sombra Verde, um canteiro de e de seu corpo. Parecidíssimo. igual de lugares. Ajeitavam tudo
fugismo), eis aqui uma página de alface. Os Imensos Seres Horrí- — Essas pestes não presta pra no fim, pressão da noite escura,
sya geografia: (Pag. 84 do livro; veis insinuariam patos ou gali- criar, não! mistério pros animais. Outro^
assinalam-se entre parênteses os nhas, embora não se deva descar- Na sua cara, o saqué nada tem cavaletes ficavam com os perus,
possíveis equivalentes de determi- tar a possibilidade de que real- de sertão. Mas difícil é a casa desequilibrados nos seus pés de
nadas expressões, segundo a clás- mente se tratem de homens. A dum alguém que não tenha saqué ave.
sica interpretação de Gaston respeito do Céu Duro desenvol- no terreiro, enfileirado. Ninguém Entre a aparência do saqué, da
Loeb). veu-se uma polêmica que não sabe por que. "Essa desgraça veio galinha e do peru, estava um que
" . . . mares paralelos (rios? ). A acabará tão cedo. A opinião de da África". não era nenhum deles. Não era
igua infinita (um mar?) cresce Fry e Peterson, que vêem nele Nunca junto aos saqjés vivia a outro também. Um emio, inter-
em certos momentos como uma uma parede de tijolos, opõe-se à quantidade de galinhas: d'Angola mediário entre os tres sem ser
hera-hera-hera (idéia de uma pare- de Guillermo Sofovich, que pre- — careca no pescoço, assemelhada nenhum. Do peru tinha o tama-
de alta, que expressaria a maré? ). sume um bidê abandonado entre a um soldado real na sua postura, nho e o costume de explodir o
Se a gente vai-vai-vai-vai (noção as alfaces. Júlio Cortázar Leghom, um monte, um lote de cu. Também o modo de andar
análoga aplicada à distância) che- galinha*s diferente na caracterís- desconjuntado. A cada pedaço
ga à Grande Sombra Verde (um tica. Uma infinidade de poedeiras andado um estampido nos fun-
campo semeado, um mato, um 4*4*4* divididas na raça, na cor, no dos. Do saqué, a forma, o
bosque? ) onde o Grande Deus cacarejo. Uma vermelha, pedrez, contorno do ser. Uma parte
eleva o celeiro contínuo para suas
Melhores Operárias. Nesta região OTERTO pintada. Uma branquinha peque-
na — danada no ninho — umas
grande meio oval, desprenden-
do-se daí um pescoço caracterís-
abundam os Imensos Seres Horrí-
veis (homens?) que destroem DE M I M que eram sangue de todas. Emba-
ralhavam-se no ciscar: pé-duro.
tico e a cara de padre, vinda no
jeito do meio da África. 0 bicho
nossos caminhos. Do outro lado Um bicho é como outro qual- As galinhas, ao contrário dos não cantava uma coisa sua. Não
da Grande Sombra Verde começa quer, confunde-se no número e saqués, punham seus ovos em era o gurguiejo do peru, nem o
o' Céu Duro (uma montanha? ). E na igualdade. Na confusão, um casa. Eram deitadas por Darvino, "tou-fraco" do saqué. Era mais o
tudo isso é nosso, mas com desigual aparece. No destaque, ora numa cangai ha velha, ora có có có da galinha. Parecia.
ameaças' Sexo não devia de ter. Sua
caminha. num cesto estragado: domestica-
indiferença nos olhos contem-
plando o nada pelas laterais não
era jeito de macho, bicho fogoso,
matreiro, necessitando de fêmea a
cada dia. Fêmea não era: sem
redondeza nos fundos, sem nunca
ter posto ovos, assim. Já tinha
dois anos naquela vida de inter-
médio. De existir, ele tava ali:
comia o milho espalhado, tinha
as suas penas. Andava sozinho
dentro dos bichos. Sua natureza
era de solidão. Só batia um galo,
pato ou saqué quando era atocha-
,do. Em meio ao inverno de um
ano de chuva forte, ele tinha
matado um pato que tentou
incubá-lo. Fim do dia aparecia
algumas vezes com uma cobra
enrolada no bico — saculejando
na luta de escape.
Por não dizer o que era,
trancado no silêncio de ave, na
confusão, sem por nem repor,
comendo milho atoa, ele entrou
na faca. Bicho indefinível era
bom na panela.
Quando mordi suas coxas gor-
das, redondinhas, chorei um pou-
quinho,
Gustavo Faicon (jornalista, baia-
no, 21 anos; conto escrito em 71)
Juan Caizadilla, venezuelano, poeta e
ilustrados- ido livro Maios Modaies, Caracas, 1965)
volta empunhado aquele easy-ri- Um recital de poesia pode estamos no céu
der caboclo que não cabia dentro melhorar a situação? Pode, pelo estrela és tu
MULHERj? do couro.
Aconteceu algumas tragadas
menos, aproximar as pessoas, e o
sentimento de fraternidade, tam-
estrela sou eu
a terceira guerra já começou
QUE DIZ que com toda certeza foram até
as tripas e as figuras subiram as
bém esquecido, pode tocar leve-
mente as pessoas, pois elas não
navios combatem nos rios de suor
dos marinheiros
paredes e começaram a andar estão sozinhas como às vezes
TCHAU pelo teto.
Foi nesse fotograma que a
pensam. Ou como às vezes que-
rem, e acham normal.
gerentes de banco atacam clientes
com bombas de dinheiro
em todas as casas gritos de pavor
Levo comigo um maço vazio e porta estourou e os homens Um recital de poesia não deve os telhados desabam sob os pés
amarfanhado de cigarros "Repu- caíram em cima de cassetetes, ser obrigatoriamente uma coisa dos engenheiros
blicana" e uma revista velha que coronhas, algemas e patas, e os chata, velha, como nos mostra- acordarei dentro de tua xícara de
você deixou aqui. Levo comigo viajantes enguliram pacificamente ram as festinhas cívicas ou infan- café com leite
os dois últimos bilhetes do trem o que tinham na boca e nada tis. Aquela obrigação de mostrar e me tomarás ainda quente no
de ferro. Levo comigo uma folha mais teria ocorrido se o peter- pras visitas uma poesia decorada balcão do bar
de papel com a cara minha que fonda dos pobres não tivesse não é senão uma deformação do da estrada que resolvermos tomar
você desenhou, de minha boca sai puxado o revólver. 3to de falar poesia. E mais esse sabendo de suas mortes, de seu
um balãozinho com palavras, as A í eu só me lembro de um pequeno detalhe de nossa educa- trajeto vital
palavras dizem coisas cômicas. polegar grosso baixando, as pálpe- ção nos afasta da poesia, como
eu café tu leite misturados por uma
Também levo comigo uma folha bras sobre meus olhos e fechando nos afasta da realidade.
colher de lata
de acácia recolhida na rua aquela as cortinas para o espetáculo que O poeta pode ser um louco; seu numa xícara de metal no balcão
noite, quando caminhávamos se- eu fui nessa vida. empresário e diretor pode ser o de bar
parados de todo o mundo. E enfermeiro; e eles dois pulam o da estrada que resolvermos tomar
outra folha, petrificante, branca, Otoniei Santos Pereira (poeta, muro do hospício, chegam ao as palavras da cabeça ninguém toma
que tem um furinho igual a uma publicitário, cineasta, paulista, 33 teatro e se apresentam. O poeta, vou juntando e só eu sei a soma
janela, e a janela estava velada anos, casado, 3 filhos) por medida de segurança, metido temperando e só eu sei o aroma
pela água e eu soprei e ví você e numa camisa-de-força. Assim co- em momentos de emergência como
esse foi o dia em que a sorte meça o espetáculo; esta é uma
começou. 4*4*4* das possibilidades de transformar
esse tudo serve
qualquer coisa escreve sobre as
Levo comigo o gosto do vinho um recital de poesia num aconte- epidermes
na boca. (Por todas as coisas
boas, dizíamos, todas as coisas TRÕCURA cimento envolvente, amplo, for-
necedor de informações que
nessa hora é tão difícil seguir as
leis
cada vez melhores que vão acon- De poesia não se vive, dizem. transcendem a própria poesia, em
só é fácil pra quem difíceis as fez
tecer conosco)^ Fazer poesia é loucura. A poesia busca de um lugar para o homem
ou nem esses talvez lhes escapem
Não levo comigo nenhuma diz umas verdades que as pessoas no universo.
entre os dedos
gota de veneno. Levo os beijos de não querem ouvir. Recital de O espetáculo chama-se PRO- já viu dedo? u m por um?
quando você ia embora (eu não poesia numa época em que o CURA, tem três partes, e eu e as pálpebras recortadas
estava nunca adormecida, nunca.) homem vive a crise da tecnologia mesmo digo as minhas poesias em forma de coração?
E um assombro por tudo isso que talvez seja um absurdo. A média durante quase uma hora. Vai ser está bem
nenhuma carta, nenhuma explica- das pessoas prefere receber uma no Teatro de Arena, 14, 21 e 28 está bem
ção, podem contar para ninguém informação imediata e mastigada, de outubro, três segundas-feiras.
o que foi. que não obrigue a refletir. Quem
Eduardo Galeano (escritor, uru- perde tempo em refletir pode me declaro claro Alexandre Solnik (24 anos)
guaio, esteve preso recentemente, perder seu lugar. E no entanto, como o dia ia
jornalista na Argentina agora) cada vez mais, pessoas comuns e como a nuvem vem
incomuns escrevem poesias, quase troco minha cabeça-de-vento

4*4*4* sempre para si mesmas, no máxi- por um par de mãos fortes


mo para quem ama . Mas o fato meus olhos cheios de lágrimas
é que se expressam, sabendo, por um coração em festa
evidentemente, que disso não
minha vida formal
TISAGRA sairá seu pão; dificilmente verão
as poesias publicadas, dificilmente
pela morte sem formas
estamos na terra
elas chegarão ao público envene-
Fausto entrou peidando e cha-
nado pela televisão, consumidor
coalhando a barra da calça, mas
do que a televisão manda consu-
ninguém ligou pra atitude dele
mir. Essas pessoas não vêem
porque ali estavam todos mais
outra saída que não a de encon-
preocupados com não-sei-o-quê.
trar uma profissão, um salário
Apenas Mariana ergueu meio bra-
fixo, um emprego bom, seguro. E
ço e fez assim com o dedo
não são nada insensatas ao proce-
indicador e o pai de todos, em
der assim. É o caminho normal
forma de vê, trazendo no vértice
de todos nós.
um toco de cinza apagado. O
ambiente era de uma simplici- A poesia (como todas as expres-
dade atroz: no chão liso eu vi um sões artísticas) faz parte de nós,
jornal rasgado, um suspensório, e alguns de nós que esquecemos
muita fumaça. Nas quatro pare- dela, abandonamos, outros de nós
des nada vi, nem sequer uma que a preservamos e fazemos dela
janela. Tinha um cigarro circu- um meio de vida, agora no
lando entre dentes e dois pintas sentido mais gerai de vida, pois
estranhamente vestidos de terno, de poesia se vive, sim. E a poesia
camisa de seda e gravata baba- pode ser lida e pode ser ouvida,
vam-se um no outro e .ainda não há nada de novo nisso. Nada
deixavam resíduos para os próxi- de revolucionário. Embora o pró-
mos. prio ato de criação seja revolucio-
— Porra, putada, estamos aí. nário: plantar, dançar, cantar,
Disse Fausto sem a mínima representar. Se hoje tais atos são
convicção. muitas vezes considerados anor-
Nisso rosnou a Honda na mais, e há uma nova normalidade
porta, lá embaixo, e uma saia nas ruas, devemos estar atentos.
Scrreu peios degraus e já subiu de Algo vai mal.
QORASÃO ABERTO Na grafia que mais tarde inventaria, sofreu o diabo. T e n t o u implantar uma
seu nome de batismo era Joze Joaqim nova ortografia, eliminando os K, Ç,
de Qampos Leão. Nasceu em 1829, em PH, SS, RR e demais inutilidades.
Triunfo, pequena cidade às margens do Escreveu peças absurdamente ousadas
rio Jacuí, no coração da Província de para o teatro da época. Escreveu
São Pedro do Rio Grande, Em 1863, poemas agressivos, sem métrica, sem
alcunhou-se " O Qorpo-Santo". Morreu rima, sobre formigas, aranhas, tinteiros
a 19 de maio de 1883 em Porto e quinquilharias, escandalizando as
Alegre, deixando mulher, quatro filhos mentes parnasianas. Editou sua própria
vivos, e a pequena fortuna de 40 obra, pomposamente chamada Ensiqlo-
contos de réis em bens imóveis. pédia ou Seis Mezes de Huma Enfermi-
Foi caixeiro-viajante, vereador, dele- dade.
gado de polícia. Tornou-se professor de De 1862 a 1868 Qorpo-Santo foi
"Língua Pátria" (Português). Dirigiu " r é u " de um processo de interdição. A
renomados estabelecimentos de ensino. 17 de agosto de 1868 foi oficialmente
Teve alunos ilustres. Destes, alguns che- declarado louco, e incapaz de gerir seus
garam a acompanhar-lhe o enterro. Era bens, sua família e a si próprio. Na
monarquista convicto, adversário incan- fase final do processo, Qorpo-Santo foi
sável dos rebeldes farroupilhas que pro- encarcerado e enviado ao Hospício D.
clamaram, em 1835, a República de Pedro, no Rio de Janeiro, para me-
Piratini. Na concepção mais legítima lhor exame. No Hospício tomou
do termo, era um "cidadão do Império". muitas notas. E depois publicou-as sob
Ao certo, ninguém sabe o que o irônico título de Qinze dias na
houve. A lenda conta que, por volta de Corte.
I 1862, dois assaltantes noturnos bate- Na verdade, foram quatro meses de
ram-lhe muito na cabeça, e que esta "Corte", embora depois ele conseguisse
desandou. Ele próprio escreveu que, a transferência para uma casa de saúde
7 de junho de 1863, José de Leão particular. O que segue é um extrato
subiu ao céu e virou santo. Seu corpo dessas notas, redigidas em forma de
ficou m o r t o por doze horas, até que diário. O depoimento de um encarce-
nele se infiltrou um " o u t r o " - O rado.
Qorpo-Santo.
A partir daí- Qorpo-Santo fez e Flávio Aguiar

Conversação com um surdo no Eu: Perguntei para, se gostasse Elle: - Adeos.l hade melhorar de
Distração no hospício
hospício obter-lhe algum livro em que se tratamento e de quarto.
estretenha algum tempo, ou até que Eu: - Ficarei muito grato a V.Sa.
Este (arrancando os cabelos e baten- Faz-me saudade, Meigos sorrizos
lhe chegasse o que deseja. Hospício Abril 10 de 1868.
do as mãos): Que é feito dos meus Saudade extrema.1 Me vem à menté.l
Ele (gritando): Qual entreter.l
bahús.l onde estão? . . . tenho neles Deos sabe o que.l De tantas canduras
Ném livro, nem penna me entre-
roupa.l estou descalço . . . com os pés Um tal problema Doces temuras
tem.l
fora das botinas (virando estes) e já ha QUINZE DIAS NA CORTE Não se resolve.l? Sonhando eu gozo.l
Sou cavalheiro da Roza, fidalgo de
oito d i a s l . . . e não me aparecem.l?
casa Imperial, estava em um hotel, e
irra.l irra.l irra.l — é muito aturar.l é Um descrente innocente. De branca vaga Amores meus.l
quando menos esperava — recebi or-
muito sofrer.l Que docemente Mulheres minhas.l
dem do chefe de policia para vir para
(Em t o m mais moderado): Mas eles Meu Deos! todos converssam e A ' praia bate; Porque azinhas
esta casa.l
h ã o de aparecer.l Eu sinto embate De mim fugis?
E então não heide estar iiidgnado.l? (passeam!
Eu (depois de haver conversado com Só eu - não posso de triste - Em meu coração.1 Ingratas sois.l?
Eu: — tem razão, tem muita razão.
algumas Irmãs, e com o Secretário do (passear.l Acaso perdi-vos.l?
Mas nada consegue indignando-se, mais
hospício): Não se aflija, (batendolhe no Porque, meu Deos! assim me
que amofinar-se: é melhor esperar com Abril 12 de 1868
h o m b r o ) não se aflija.l já se deram as (aheeiam
paciência — que o respeitem, e cum-
providencias necessarias, ja se oficiou à Neste viver — que não posso
pram para com V.S. seus deveres.
policia afim de os fazer vir para este (gozar!?
estabelecimento. É portanto de su- A todos dá gosto — o pão que HOSPÍCIO, ABRIL 19 DE 1868
por-se que hoje mesmo aqui os tenha. (alimenta: E hoje o dia em que para mim pela
Tranquilize-se pois. E a mim ó meu Deus! - só primeira vez raiou a luz clara e pura,
Ele: Mas os meus bahús.l a minha Conversação com os médicos que (atormenta.l que nos faz ver e conhecer as brilhan-
roupa.l os documentos e mais papeis me vião. tes e admiráveis maravilhas,• ou porten-
que nele tenho . . . - documentos no Porque, Senhor meu — matas-
tozas obras do Omnipotente.l tendo a
valor de tantos contos de reis.l Em? . (me a vida maquina do tempo feito-me viajar no
H u m delles: - Então como passa, 1
isto é o diabo 1 (meneando o corpo e a Eu: — Estou muito sentido para Nesta enfadonha e horrível lida!? pelago- insondavel da vida trinta e seis e
cabeça) Estão na policia, mandou-se com V.Sa. por não haver ainda querido Todos dançam, alegres, conten mais tres annos.l
buscar, vem hoje, amanhã, depois, e ha determinar que se me dê nesta caza o (tes. Estamos porem com quanto muito
oito dias, e eu - sujo, e rôto, e nada tratamento a que estou acostumado, e Passam parece - em vida feliz.l respeitado e estimado em um estabele-
de bahús, e estes não aparecem.l que tantas vezes lhe hei pedido.l So eu separado destes viventes, cimento do qual se nos ha permittido
Já se vio - que d i a b o . l . . . já se vio Elle: — isso é estabelecido em Sinto das magoas, o toque infeliz/ sahir de hoje a quatro dias; não direi
que m s r t y r i o . l . . . (passeia em um tabella. nós não temos culpa. ATiora aprazada, trancam-me como preso em cadeia, doente em
longo corredor). Eu: — pois não deve haver tabella (a porta: hospital; mas como alumno interno em
Eu (encostando-me a ele): Então já para sãos, e para doentes grão de sua A' mais avançada - julgo que colegio.l
está mais tranqüilo? gosta de lêr? enfermidade e compleição? (é m o r t a Pai de seis filhos, professor publico
quer esgrever alguma couza? Elle: — Só se reformarmos our — Aquela a quem amo no maior — posso dizer de duas cadeiras, com 39
Ele: Não: o que preciso unicamente riscarmos a tabella.l (extremo; annos de idade, cazado, fundador de
é dos meus bahús para mudar (pegando Eu: - Se não posso ter o trata- A quem jurei — fé — pelo um colégio, e director de ois, proprie-
no peito de um paletó preto de alpaca, mento que precizo, continuarei a sofrer (Ente Supremo.l tário, e litterato/ - Dêdeqe horrorozos
e algum tanto estragado) roupa, bo- algumas horas de incommodo quando Senhor! Senhor/ Senhorl crimes contra minha pessoa, familia e
tinas, (torcendo os pés) e para que se me sento á mezapara comer, e quando se Acudi a — um desgraçado 1 bens perpetrados, que me pozerão em
não perca a minha resalva, e outros feixa a porta do m e u quarto antes da Morre, morre -- desesperado,! tal condição.! '
papeis.l hora em que costumo deitar-me.l Se lhe não toca - o teu favor:
Carta aos diretores
dos asilos de loucos
Senhores:
As leis, os costumes, concedem lhes
o direito de medir o espírito. Esta
lurisdição soberana e terrível, vocês

a exercem c o m sou raciocínio.


N ã o nos façam rir. A credulidade dos
povos civilizados, dos especialistas
dos governantes, atribui à
psiquiatria estranhas luzes
sobrenaturais. Antes de julgada, a
profissão de vocês já t e m ganho de
causa. IMão pensamos discutir aqui o
valor dessa ciência, n e m a duvidosa
existência das doenças mentais. Mas
para cada cem pretendidas patogenias,
onde se desencadeia a confusão da
matéria e do espírito, para cada
cem classificações onde as mais vagas

são t a m b é m ns únicas utilizáveis,


quantas tentativas nobres se c o n t a m
para conseguir melhor compreensão do
m u n d o irreal onde vivem aqueles que
vocês encarceraram? Quantos de vocês,
por e x e m p l o , consideram o sonho do
d e m e n t e precoce ou as imagens que o
acossam como algo mais que u m a salada
de palavras?
Não nos surpreende ver até que p o n t o
vocês estão abaixo de uma tarefa para
a qual só há poucos predestinados.
Mas protestamos contra o direito
concedido a certos homens - incapazes
ou não - de dar por terminadas suiis j
investigações no campo do espírito
c o m u m veredito de encarceramento
perpétuo.
E que encarceramento! Sabe se -
nunca se saberá o suficiente - que os
asilos, longe de ser "asilos", são
cárceres horrendos onde os recluscj

fornecem mão de obra gratuita e


c ô m o d a , onde a brutalidade é norma.
F. vocês toleram t u d o isso. O hospício
de alienados, sob o a m p a r o da ciência
e da justiça, é comparável à prisão,
aos trabalhos forçados.
N ã o nos referimos aqui às internações
arbitrárias, para lhes evitar o
i n c ô m o d o de u m fácil desmentido.
A f i r m a m o s que grande parte de seus
internados — c o m p l e t a m e n t e loucos
segundo a definição oficial — estão
t a m b é m reclusos arbitrariamente. E
não podemos admitir que se impeça o
iivre desenvolvimento de u m d e l í r i o ,
tão l e g í t i m o e lógico c o m o qualquer
outra série de idéias e atos humanos.
A repressão das reações anti-sociais,
em p r i n c í p i o , é t ã o quimérica c o m o
inaceitável. Todos os atos
individuais são anti-sociais. Os
loucos são as v i t i m a s individuais
por excelência da ditadura social.
E e m nome dessa individualidade, que
é p a t r i m ô n i o do h o m e m , reclamamos a
liberdade desses condenados da
sensibilidade, já que não está
dentro das faculdades da lei condenar
ao desterro a todos aqueles que
pensam e trabalham.
Sem insistir 110 caráter
verdadeiramente genial das
manifestações de certos loucos, na
medida de nossa capacidade para
estimá-las, a f i r m a m o s a legitimidade
absoluta de sua concepcão da
realidade e de todos os atos que
dela derivam.
Esperamos que amanhã de manhã, na
hora da visita médica, recordem isto,
q u a n d o começarem a conversar sem
dicionário c o m esses homens sobre os
quais — reconheçam só t ê m a
superioridade da força.

Antonin Artaud
— Antes da internação, você
Nestas duas páginas, falam, escre- trabalhava em quê?
vem e desenham vários internos — Pedreiro, servente de pe- CASIMIRO
de três hospícios de Buenos Aires. dreiro.
O material todo — textos, conver- — Que cuidados tomam com Com apenas 10 anos, Casimiro
Domingo - nascido em 1882 num
sas gravadas, desenhos — foi você?
povoadozinho espanhol - foi para
recolhido durante cinco anos por — Praticamente nenhum. O
Madri e começou a trabalhar de sa-
Vicente Zito Lema, poeta e advo- interno fica abandonado aqui, pateiro: seria sua profissão pelo resto
gado argentino. Uma parte de seu não há tratamento, não . . . Co-
trabalho foi publicada pela revista
Crisis, também de Buenos Aires,
mo poderia d i z e r . . . não aju-
dam o interno, precisavam cui-
da vida. Com 31 anos, Casimiro veio
para a América Latina e instalou-se
na Argentina. Sapateiro, sempre.
Com a palavra
de onde extraímos os textos e dar dele . . . Em 1935, teve o primeiro "cha- — Você acha que agora, sob
desenhos aqui apresentados. mado obsessivo" de que "os espíritos
um governo popular, podem
o reclamavam como intermediário en-
melhorar as condições deste
tre eles e o m u n d o " . E assim, obe-
A MORTE decendo a "forças alheias", começou hospital?
— Poderia ser se mudassem as
— Que castigos? a desenhar, sem ter a menor noção
— São vários, diferentes. Por M a s p a r a que querem, enten- do que fazia nem ter nunca tentado autoridades daqui, porque hoje
exemplo te pegam no banho com der? . . . sequer traçar um risco. A mesma voz continua sendo tudo igual, não
um cobertor, vários enferemeiros, A morte me mostrou a língua ao interior guiava seus textos, cheios de mudou nada.
lado de uma árvore, enquanto meu sabedoria e inocência.
e até com ajuda de outros —Quanto tempo faz que vo-
pai preparava o assado e eu decidia Casimiro Domingo, após uma lon-
internos, e te cobrem de porrada, cê está aqui?
se dava ou não um tiro em mim, ga internação, morreu no hospício
no estômago, isso tudo . . . com a pistola Tala. Entendeu bem? — Tenho seis anos aqui e
em 1969. Seu valor não está apenas
— Continuam usando camisa Te ponto a ponto ele ponto a pon- em suas formas de expressão, capazes sempre estão os mesmos. Já
de força? to. Dei-me conta de que a Tala po- de despertar beleza, emoção, a infi- estavam aqui antes de Lanusse.
— Sim, e molham as camisas dia ficar talado e via o buraco bran- nita ânsia do maravilhoso; mas tam-
para amarrar os doentes . . . co e a morte mostrando-me a língua bém em ter sido, apesar de sua ino- — E como vê a vida nessa
— Alguma vez lhe aplicaram e isso me excitava e para não me cência ou por causa dela, o dono situação?
choque? masturbar pus-me a caminhar e um original de conhecimentos profundos — Eu lhe digo: espero ficar
espinho me entrou e começou a que escapam daqueles que o pren- bom, cair fora e trabalhar, para
— Sim . . . como esquecer. . .
doer a doer mas continuei caminhan- deram declarando-o "incapaz".
É uma barbaridade, o castigo que ser útil à sociedade.
do e então apareceu o Anjo e com
lhe dão aqui é uma barbaridade. a espada cortou a língua da morte e
Te pegam aí, te amarram . . . os eu aproveitei e passei-lhe a mão' na
próprios doentes mandados pelos bunda e voltei correndo para junto
enfermeiros, quando vêem que de meu pai que continuava fazendo
alguém se rebela ou porque não o assado e quando me viu disse: vo-
vão com a cara . . . cê parece São Pedro, e começou a
rir.

— E choque elétrico, conti-


nuam aplicando?
— Continuam.
— Mesmo contra a vontade
do interno?
— Claro. Mesmo assim apli-
cam. Alguém reclama mais dura-
mente, outro se rebela, você
briga por alguma coisinha,
enfim . . .
— É uma forma de cas-
tigo . . .
— É como a "congesta" da
— O que é pior aqui, além polícia.
de estar preso?
— Tudo é mau, não apenas a
— Como acha que se poderia
comida. Afora isso, maltratam a
melhorar a situação geral do
gente brutalmente, que sei
hospital?
eu . . . te fazem de tudo,
— Eu a primeira coisa que
aqui . . . os médicos, os enfer-
faria seria tirar o diretor e as
meiros . . . Sem contar que os
demais autoridades que estão
enfermeiros tomam o pecúlio
com ele, porque são pessoas
dos internos, então não pode-
que não se tocam. Pelo menos de-
mos comprar nada, nem ci-
viam percorrer os pavilhões on-
garros . . .
de estão torturando os internos,
— E vocês não têm jeito de onde estão amarrados com len-
defender-se? çóis, e o diretor não toma ne-
— Que jeito? se vão e dizem nhuma medida, não tem nenhu- CARTA A MINHA MUIÉ "SOLEÁ'
ao médico e nos metem uma ma responsabilidade. E também
injeção ou choque elétrico! Nos tem a negociata da carne; a Estas longe muié! Estás longe! Eu esto facendo meu calvário para
m a l t r a t a m , nos maltratam. carne que entra aqui, eles tiram Deus benditif te ampare, madona. não deixá de esta cuntigo. Porque
Quando não amarram a gente com um caminhão pelo outro Como pashas? Eu estou como Deus estarás muito pertinha dos quirubins,
numa cama, de castigo. E daí a manda. serafins e arcanjos.
lado, pela porta de ferro que
gente vai reclamar pra quem? Às vezes, às vez pensso. Puderia- Se às vezes tenho uma fraquez,
dá para a avenida Brandsen, e mos está jontosh. Mas se Deus o me perdoas. São coisas que sau. Mas
Contudo não os odeio. Fazem por ali tiram tudo — assim que quero. Que sheja u que Deu queira. Soleá, como sempre me faz acum-
o que podem. entra, levam de novo . . . Bendita a mãe que te pariu. Ben- panhadu, shei que voltarás.
O terrível é que nos trazem — E quem é responsável por dita sheja. Deste-me uns anos bons. Devo confessar-te uma coisha. Per-
para que a gente não morra pelas isso? Que mais? Madona: lembra-se de dão. Tenho outra muié. Me perdoas?
ruas. Ê logo todos nós morremos — E quem mais s é r i a . . . as mim às vezes? Sabes que existo? Se chama, também, SOLEÁ.
aqui. autoridades, não? Que lindo guisadus fazias! Que olé!
Que Ele te tenha. Tu mereches. Teu marido
AM
— Em geral, a maioria dos
internos veste uma espécie de
uniforme e bem gasto, muito
roto. Não dão roupa a vocês?
— Roupa? Tem um depósito
onde precisa ir comprar; eu,
por exemplo, comprei estas cal-
ças, porque aqui não me davam
roupa. É a mesma roupa que o
os oprimidos governo manda para agente, mas
acontece que aqui eles pegam e
vendem.
— Você se sente abandonado?
— E com a comida, o que
- Naturalmente, porque não
acontece?
há quem me ajude. E sem contar
que os médicos pegam gente e — Também: você dá uma gor-
botam para trabalhar, porque não geta ao cozinheiro, e ele dá um
têm pessoal, não têm nada, e pedaço de carne. Se não, você
então os próprios internos têm nunca recebe . . .
que distribuir medicamentos, dar
injeção, os próprios doen- — Você é casado?
tes . .. porque há um enfermeiro — Não, solteiro.
para cada quatro ou cinco anda-
res, então os internos têm as — Você acha que aqui existe
chaves dos consultórios, eles dão injustiça social?
injeções, comprimidos... en- — Naturalmente, todos perce-
fim . . . e são doentes mentais que bemos.
Quais são para você as causas e O que é poesia para você?
não têm responsabilidade! Ima- — E quais são as evidências
conseqüências da reclusão nos Criar poesia determina em
gine, se vão e lhe dão um desta situação?
hospícios? mim um compromisso enquanto
remédio errado, porque não sa- — Pra mim, o castigo que dão devo expressar, o mais fielmente
Acho que a maioria das pes-
bem . . . aos doentes. possível, aquilo que nos faz
soas padece de transtornos men-
tais, inclusive os próprios médi- vibrar, cotidianamente. Tento ex-
ASPIRAL cos. Ou por acaso a maioria dos
que estão nos armazéns e nas
pressar o gesto, a dor, o rosto, de
todo este microcosmo que está
Casimiro Domingo
lojas é gente de razão? Nenhu- em volta.
Nada sou nada posso senti pai curba entre estas duas raias ou seja
meu . mas siétua dibina bontade algo entre estes dois estados de alma ou ma! E os médicos, por exemplo, Acho que é ver além do papel;
eu poderei espricar algo poderei dizer seja entre estes dois caminhos que uns mais, outros menos, padecem da correta forma do verso.
concernente com esta aspirai que seja sejam aberto asegir neste gran de psicoses. E será que alguém É récriar nossa vivência, nos
pintado que sejadesenhado conjunto de colorido adifiniouirdifi- sabe o que é alma, o que é o
nada demais, com toda intensidade
mais para irmanifestando algo destes nindo amedida que bamos traçando intelecto? possível. Não é fácil, pressupõe
fenômenos naturais que nos
alguns destes rasgos destas raias de Me aplicaram choque elétrico. passado onde bronca, frustração e
vassendo dado compreender para ir cor ou deexpressão desta cor desta afi- Vê-se que queriam arrancar-me a penas são os componentes essen-
analisando aque causas ou efeitos nidá corelatiba um com outro e ciais, a maioria das vezes.
obedecem estes fenômenos que seestão
doença do corpo. Mas não me
poder for mar uma cubra nesta cubra
Quero lembrar isto ao leitor,
desenvolvendo em nosso redor sem poder um triângulo neste triângulo uma queixo. Do que teria que me
transmitir o que sente "nosso
esf®ar-nos quesão e que poderão raia e desta taia for maremos uma queixar? Os médicos são bons.
ser esta agromeração de raias e pon- cadeia e com esta cadeia e elos que Fazem o que podem. Receitam, homem da rua''. E como se
tos em cores dirijidos a distintas di- podemos ir unindo nos irá condu- dão conselhos... transforma ao deixar de sê-lo,
reções para ir-se cordenando um cos zindo aos uns eaos outros a esta E mais, se saísse daqui, quando ingressa num "lugar para
outros e poder conbinar uma massa gran mole de aspirai a este espaço aonde iria? Não tenho nada. Não doentes mentais".
deconjunto de cores e podê-la lebar infinito e este tempo inter minável a tenho ninguém. Ali aparece uma faceta pouco
a formar uma mole como é esta aspirai esta bida em que bibemos todos uni- conhecida da poesia. Quase diria,
No fundo os médicos não
que neste quadro avemos pintado a dos bamos conduzindo-nos em redor temida pelo homem. Faz sofrer
vemos desenhado para poder sentiti-
entendem dessas coisas da mente,
desta aspirai desta causa sem fim muito. Ele não agüenta.
zar algo do ultra tereno e poder-nos nemlimiíes desta gran vida unibersal do espírito. Portam-se bem, mas
entroduzir nesse mundo astral espiri- manifestada nesta gran mole aspirai não podem ser o que não são.
Deve-se romper o mito. Aquele
tual onde todos os seres nos mobe- que nos baconduzindo por meios de Simplesmente tomam a tempe- que escreve viajou com o leitor
mos nos ajitamos em distintas formas rotatibos copi suas curbas com suas ratura; dão comprimidos, inje- em ônibus, come, troca a camisa,
debida a m a n i f e s t a r por suas
raias air for mando distintas de novas ções, como se se tratasse de um vê através dê seus mesmos olhos,
combinações de bida abiber neste cadeias de união debida mas que armazém. E esquecem que no quer dizer, é sobretudo HU-
mundo em quebimos a nós e em sempre é uma avida universal que fundo é uma questão moral. E MANO.
que bibem os outros mas tendo rela- sempre jira sobre esta mole sobre não conheço ninguém que possa Este é o compromisso com^
ção uns cos outros isso quer dizer esta aspirai de bida infinita que sempre
entender a mente. os demais.
Deus meu isso quero traçar do que esta em redor nos ba fazendo jirar para
aspirai ou significa em sua birtuali- que asigamos em seus estados derota-
dade osiniftcado que ensi tem ou ção a manifestação de expressão des-
TÃO POUQUINHO
pode ter este gran conjunto de mani- te estado de alma em ordem mani-
festações de estados de alma mais ou festatiba super ebolucional anterior Só de ilusões vivemos.
menos ebolucionadas umas se dirijem que espresso e se manifestou por Quantas promessas nos fizeram e
por um lado outras por outro mas segir esta curba que nos bai traçando quão poucas foram c u m p r i d a s . . .
cada uma tem ensi u m colorido uma raia para que podamos formar Uma delas, foi um trator que pas-
quesedesprede amedida que vaebolucio- um novo triângulo nesta bida pro- saria diariamente recolhendo o resto
nando amedida que seu pensamento ba- gressiba que bamos tendo todas as de comidas, pois é até ridículo que
modificando-se paraser uma força de almas que nela bamos ebolucionando
tenhamos de ir todos os dias, os
conjunto de colorido ouexpressão de es- "bamos progressando quer dizer bamos
pacientes dos pavilhões, jogar fora os
tado de alma que é dirijir-se auns fins de- per feccionando-nos nós mesmos nes-
desperdícios. Se lêem isto, que o
modificação deste gran conjunto de ex- tas de rotatibos debida asegir so- leiam como uma lembrança do pro
pressão que ensiemos tido até que a nós bre esta curba sobre esta raia desta
metido, do tão pouquinho que foi
outros outro maior chegou em outra or- gran mole de aspirai que nos baile-
prometido mas igualmente negado ou
dem de coisas decores bistas sob um es- vando que nos baiconduzindo cada
por acaso esquecido.
tado de alma em uma ordem mais supe- vez mais aque nos harmonizemos
rior quese dirije paraunlado para abiber nesta ordem ebolutiva e dero-
o outro e por último forma uma tativa.
perturbação na harmonia da vida tual dos homens. A sexualidade
Até para explicar por que escolhemos os governantes errados, Wilhelm Reich vegetativa; e, em particular, da (em linguagem fisiológica, a fun-
recorre a suas teses de repressão sexual. Ele só pensa nisso (felizmente). vida sexual, sobre a base da ção sexual) é a energia vital
sociedade dividida. produtiva por excelência. Repri-
Em outubro de 1935, trezen- sobre a própria vida e destino; Na ciência oficial, o capítulo mi-la seria alterar, não apenas no
tos psiquiatras, entre os mais não poder refletir que mesmo da sexualidade ainda não foi terreno médico, mas também de
conhecidos, .chamaram o mundo aqueles que a gente elege como escrito. E já não se pode duvidar maneira geral, as funções vitais
à reflexão. A Itália havia iniciado grandes dirigentes do Estado e da, que as reações psíquicas anormais fundamentais; encontramos a ex-
seu ataque contra a Abissínia. .Economia são seres que dormem, têm "sua origem na orientação pressão mais essencial, sob o
Num instante, milhares de comem, têm pertubações sexuais, doentia da energia sexual insa- ponto de vista social, no compor-
seres humanos, e entre eles mu- defecam, estão dominados por im- tisfeita. tamento irracional dos homens,
lheres, velhos e crianças, tinham pulsos inconscientes, incontrolados, Tocamos, pois, a raiz da into- em sua loucura, seu misticismo,
perecido sem poder se defender. como o mais comum dos mortais; xicação psíquica dos povos, quan- sua religiosidade, em seu consen-
Podia-se prever as dimensões que proibir aos jovens na flor da do atacamos a questão da ordem timento para a guerra, etc.
assumiria o assassinato coletivo, idade a felicidade da união amo- social da vida sexual. A energia Disto conclui-se que a política
no caso de nova guerra mundial. rosa. sexual é a energia construtiva do sexual deve partir desse proble-
Que uma nação como a Itália, Poderíamos continuar até o aparato psíquico. É ela que forma ma: por que motivo se reprime a
cujas massas estavam famintas, infinito. a estrutura sentimental e intelec- vida amorosa dos homens?
respondesse com tanto entusias- O chamado de trezentos psi-
mo e sem rebeliões, ao chamado quiatras era uma ação, uma
guerreiro, alguém podia esperar, politização oficial desta ciência
sem dúvida; mas no entanto é até agora não alheia ao mundo e
incompreensível. Este fato forta- pretensamente apolítica. Mas esta
A necessidade de
lecia a impressão geral de que o ação era incompleta. Não se
inundo não só se deixa governar aprofundava nos fatos que por
aqui e ali por homens nos quais outro lado expunha com grande
prazer nos agrupa
Tentaremos expor brevemente tam a necessidade geral dos
os psiquiatras reconhecem sinais clareza. Não passava, da realidade de que forma a economia sexual homens de agrupar-se em socieda-
de doença mental, mas também da doença mental, geralmente concebe a relação entre a vida de. As "relações de produção"
que os homens de todos os muito difundida entre os homens psíquica dos homens e o estado que assim nascem, alteram as
continentes são de fato doentes de hoje em dia. Não se pergun- econômico da sociedade, que necessidades fundamentais mas
mentais; suas reações intelectuais tava por que o povo está tão modela as necessidades humanas, sem conseguir extingui-las, e
são anormais e estão em contradi- desmedidamente disposto a sacri- transforma-as, e particularmente criam a partir delas novas exigên-
ção com seus próprios desejos e ficar-se pelo interesse de alguns. as reprime: eis como nasce a cias. As exigências humanas, alte-
suas capacidades reais. Não se percebia a oposição entre estrutura psíquica dos homens. radas e renascidas, determinam
Constitui um sintoma de rea- uma verdadeira satisfação das Não. é inata, mas se desenvolve por sua vez a continuação do
ção psíquica anormal estar famin- necessidades e uma satisfação em cada indivíduo, durante o desenvolvimento da produção,
to em meio à abundância, ficar ilusória no delírio do naciona- combate perpétuo entre necessi- dos meios de produção (ferra-
exposto ao frio e à chuva tendo lismo, absolutamente semelhante dades e sociedade. Não existe mentas e máquinas), e ao mesmo
quantidade suficiente de carvão, aos estados de êxtase dos faná- estrutura inata dos instintos; esta tempo das relações de produção,
de máquinas de construção, dis- ticos por uma religião. A fome e estrutura se adquire nos primeiros se desenvolvem determinadas con-
pondo de milhões de quilômetros a miséria do povo, em uma época anos de vida. 0 inato é uma cepções spbre a vida, a moral, a
quadrados de terra, etc; de progresso e de produtividade medida mais ou menos grande de filosofia, etc. Correspondem ge-
acreditar que uma potência da economia, tiveram como resul- energia vegetativa. Pela ação da ralmente ao estado geral da
divina de larga barba branca tado — em lugar da economia da sociedade dividida nasce a estru- técnica, portanto à capacidade de
dirige tudo, e que se está subme- vida, racional, planificada — o tura do "sujeito", dócil e rebelde captar a existência dominá-la
tido a esta potência pela morte e reforço da fome e o empobreci- ao mesmo tempo. A sociedade do A ideologia social assim nascida
pela perdição; mento. 0 movimento socialista se futuro quer o homem livre; deve determina por sua vez a estrutura
havia eclipsado. O problema não conhecer não só a estrutura do dos homens. Transforma-se dessa
entusiasmar-se com o massacre
é a psicologia dos homens de homem burguês, mas também maneira numa força material e se
de pessoas que não fizeram mal a
estado, mas sim a das massas. conceber como quer estruturar os conserva na estrutura dos homens.
ninguém e acreditar que é preciso
conquistar um país do qual Atualmente os homens de Es- homens e que forças deve empre- Todo o resto está ligado a
nunca se ouviu falar; tado são amigos, irmãos, primos gar. uma alternativa: ou todo o con
ir vestido com farrapos e ou cunhados dos grandes empre- O núcleo da psicologia prática junto da sociedade participa da
sentir-se representante da "Gran- sários. Em troca, a massa de e política é a política sexual, pois elaboração da ideologia social, ou
deza da Nação'-' à qual se per- homens pensantes, parcialmente o funcionamento da alma é a apenas uma minoria o faz. Na
tence; cultos e instruídos, não vê isto e função sexual. Isso já foi demons- sociedade do futuro onde não
desejar a sociedade sem classes não atua; este é um problema trado pelo caráter da literatura e existirão interesses de poder de
e confundí-la com a "comuni- que não poderia resolver-se atra- da produção cinematográfica; 90 uma minoria, a ideologia social
dade do povo" e seus caçadores vés de exames de "psico-diagno- por cento de todas as novelas deverá corresponder aos interesses
de benefícios; se-individual". As doenças psíqui- (romances), de toda a poesia vitais de todos os membros da
esquecer o que prometia um cas, como as perturbações do lírica, 99 por cento de todos os sociedade.
Chefe de Estado antes de conver- entendimento, a resignação, o filmes e espetáculos, etc., são A vida sexual dos homens,
ter-se em guia da nação; servilismo, o masoquismo, a cren- produções para as necessidades pequena, miserável, pretensamen-
ou ainda simplesmente deposi- ça cega em um guia, etc., reduzi- sexuais. te "apolítica", deve ser explorada
tar em indivíduos, inclusive em das a sua forma mais simples, não As necessidades biológicas, nu- e dominada, fundamentalmente
homens de Estado, tanto poderio passam da expressão de uma trição e prazer sexual, fundamen- em relação às questões levantadas
pela sociétlade do futuro. A alta modificação da estrutura humana. sociedade, por outro a nova cesso vital dos indivíduos como a
política não se joga, em verdade, Não se trata mais do problema de moral e a satisfação das necessi- condição preliminar de todo
nos almoços dos diplomatas, mas um maquinismo bicentenário, dades sexuais. acontecimento social, significa ad-
sim nesta minúscula existência. mas sim de uma estrutura huma- Quando falamos de uma "nova mitir que a vida existe com suas
Por tudo isso é impossível deixar na de 6 000 anos de antigüidade, moral" não dizemos nada; o necessidades. Mas esta vida, em
de lado a politização da chamada que até agora se mostrou incapaz sentido concreto desta nova mo- si, não é absoluta; nasce e passa
vida pessoal dos homens. Se os 4 de colocar as máquinas a seu ral está unicamente no conteúdo pela troca de gerações, mas se
milhões de habitantes da terra serviço. Por mais grandioso e da satisfação racional das necessi- conserva inalterada sob a forma
compreendessem a atividade de revolucionário que tenha sido o dades, e isto em outros âmbitos de células sexuais que se perpe-
cem diplomatas dirigentes, então descobrimento das leis da socie- além da sexualidade. Se a ideolo- tuam de geração em geração.
tudo andaria bem; já não se dade capitalista, não seria sufi- gia proletária não reconhece que A vida em seu conjunto — por
orientaria a sociedade, não se ciente, só isso, para resolver o é nisto — entre outras coisas — pouco que se tenha em conta os
organizaria a satisfação das neces- problema do servilismo e do que consiste seu sentido concre- espaços cósmicos — é um produ-
sidades humanas com base em próprio envilecimento. É certo to, então, não pode falar de nova to mineral, e desaparecerá um
interesses armamentistas ou em que em todas as partes havia moral e ficará amarrada a fatos dia, se acreditarmos na teoria da
princípios de ordem do dia. Porém grupos humanos, setores oprimi- superados. instabilidade dos astros, quer di-
esses 4 milhões de habitantes da dos, lutando por "pão e liber- A nova moral consiste exata- zer, um dia voltará ao mineral:
terra não poderão ser donos de dade"; mas o grosso da massa se mente em tornar supérflua a hipótese necessária ao pensamen-
seu destino enquanto tomarem mantém afastada, ou então luta regulamentação e em produzir a to dialético. Nenhum outro pon-
consciência de sua modesta vida por liberdade . . . ao lado de seus regência automática da vida so- to de vista deixa entrever com
particular. E as potências internas opressores! Que essa massa cial. Tomemos o exemplo do maior clareza como são minúscu-
que impedem isto chamam moral padeça desastres incríveis, ela roubo e o da moral que se opõe las e insignificantes as ilusões dos
sexual e religião. percebe a todas as horas, dia a ao roubo: que não tem fome não homens sobre o seu "dever espiri-
dia, às próprias custas. Que lhe tem necessidade de roubar, e tual", "transcendental".
A ordem econômica dos últi- dêem apenas pão e não todos os portanto não precisa de uma Podia-se concluir disto que as
mos 200 anos modificou enorme- gosos da vida, isto reforça a sua moral que o impeça. A mesma lei lutas sociais parecem absurdas,
mente a estrutura humana. Mas modéstia. É que a liberdade — o fundamental vale para a sexuali- diante do processo cósmico, onde
esta modificação é pouco impor- que ela pode ser ou será — não dade; nenhuma pessoa satisfeita o homem constitui apenas uma
tante, comparada com a devasta- foi mostrado até agora às massas tem necessidade de violar e é pequena parcela; como é ridículo,
ção que a humanidade conheceu, de forma compreensível e concre- desnecessário, portanto, proibi-la poderia dizer-se, que os homens
desde que há milhares de anos ta. Não se colocou em evidência disso. se matem uns aos outros para ter
entrou em vigor a repressão da as possibilidades de uma felici- o que fazer, ou para levar um
Outro erro seria crer que há
vida natural, e em primeiro lugar, dade geral na vida. Onde se Hitler ao poder, organizando pro-
uma sexualidade absoluta, que
da vida sexual. A subjugação, tentou agir nesse sentido, para cissões nacionalistas, quando no
entra em conflito com a socie-
várias vezes milenária da vida "ganhar" as massas, apenas lhes espaço as estrelas continuam gi-
dade atual. É por exemplo, um
instintiva, criou primeiro o terre- mostraram as satisfações malsãs, rando. Não seria melhor gozarmos
erro fundamental da psicanálise
no para a psicologia das massas: miseráveis, deformadas pelo senti- a natureza?
oficial conceber os instintos co-
medo de autoridade, servilismo, mento de culpa das "Noites" mo um fato biológico absoluto; Uma interpretação assim seria
incrível modéstia por um lado, mesquinhas para pequenos-bur- isso porém não pertence à essên- extremamente falsa, já que justa-
brutalidade sádica por outro, reli- gueses, do campo e das férias. cia da psicanálise, que é especifi- mente o ponto de vista científico
gião e satisfação ilusória; sobre Quando, na realidade, o núcleo camente dialética, mas ao meca- fala contra a reação e a favor de
esta base consegue tundamen- de uma vida ditosa é a felicidade nismo de pensamento dos analis- uma nova concepção do mundo;
tar-se e manter-se uma economia sexual. No entanto nenhum polí- tas, que por outro lado sempre é^ a primeira tenta encerrar o cosmo,
de lucros bicentenária. tico influente se animou a tocar completado por teses metafísicas. infinito e o sentimento da nature-
nesse ponto. Sexo é um assunto Pois bem, os instintos, também za, no marco da idéia infinita-
Porém, não nos esqueçamos de particular, e não tem nada a ver
que eram os processos sociais e eles, nascem, evoluem e passam. mente reduzida da penitência
com a política. A reação política Mas o lapso sobre o qual se sexual e do sacrifício co'm fins
econômicos que haviam dado não pensa de outro modo.
lugar, há milhares de anos, à estendem as modificações biológi- patrióticos, coisa que a abstinên-
cas é tão grande, que se estas cia sexual jamais conseguirá; esta
últimas nos são impostas como nova sociedade, pelo contrário,
fatos absolutos, os instintos pelo tenta pôr no devido lugar a vida
contrário são flutuantes e relati- infinitamente pequena do indiví-
A moral vai além vos. Para estudar os processos
sociais concretos, estritamente li-
duo e da sociedade, no marco
poderoso de toda a evolução da
mitados ,no tempo, é suficiente natureza, e eliminar a contradição

da sexualidade comprovar o conflito entre um


instinto biológico qualquer e a
maneira como a ordem social o re-
provocada por um "desarranjo
novo" da natureza — seis mil
anos de exploração, de religião e
Objetivamente — a crise sexual movimento proletário supera esta cebe e trata. Para as leis biológicas de repressões sexuais — por mais
é uma manifestação da oposição contradição primeiramente atra- da evolução sexual, com suas eta- "necessário" que isto fosse. Em
de classes; mas como se represen- vés de uma ideologia favorável à pas divididas em séculos, isto não síntese: toma posição pela sexua-
ta objetivamente este antagonis- satisfação das necessidades se- acontece de maneira alguma; aqui lidade contra a ética sexual-anti-
mo? Que significa a "nova moral xuais, e de uma nova ordem é preciso trabalhar para estabele- natural, pela economia internacio-
proletária"? É a moral capitalista na vida sexual. De modo que cer com clareza a relatividade, a nal planificada, contra a explora-
que se opõe à sexualidade, e estas duas coisas vêm sempre instabilidade do sistema instinti- ção e pela superação das fron-
portanto é ela que está na origem juntas. Por um lado o capitalismo vo. Se devemos entender o pro- teiras nacionais. w . Reich ( i f e !
da contradição e da miséria; o e a repressão da sexualidade na
UM PAPEL
AIRTONl DE
RESPONSABILIDADE

[SOARES A SELECTA responsabiliza-se pelo


papel que vende: só tem do

CONTRA
importado. E pelo preço que cobra:
40% menos que as outras lojas.
Por isso, pessoas de muita
responsabilidade dirigem-se á
SELECTA: publicitários,
arquitetos, engenheiros,
estudantes.

Milimetrado, onion-skin (blocos),


.V você é c o n t r a o Ai 5, o d e c r e t o 4 7 " , parassol, opaline, carmen, cartões
o a r r o c h o salarial, a c e n s u r a ,
de desenho Schoeller, em todos
as e l e i ç õ e s i n d i r e t a s ,
os tamanhos, folhas cortadas ou
você t a m b é m é o p o s i ç ã o .
Você está c o m o MDB,
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Marquês de Itú 134, (esq. Bento Freitas) fone 52-6556 (recados)

PSICOLOGIA
Não perca: sai no mês de
novembro o primeiro livro Ex-:
poemas de Otoniel Santos Pe-
reira, inclusive os premiados em
NA SOCIEDADE DE CONSUMO
concurso continental, realizado
setembro passado pela Casa La-
O CEPA - Centro de Estudos de Propaganda tino América de Buenos Aires.
Aplicada estará promovendo para outubro,
o curso de Psicologia do^Consumidor:

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO


E ATITUDES DO CONSUMIDOR

Este curso visa dar uma visão


estado
de
exata do comportamento,
motivação e atitudes do
consumidor frente à Sociedade de
Consumo com suas mais avançadas
técnicas de Marketing e o grande

coisas
volume de apelos publicitários do
quotidiano.

EM COLABORAÇÃO COM O
CENTRO DE PESQUISAS : ESTUDOS COMPORTAMENTAIS
Um lançamento da Ex Editora Ltda.
Nas grandes bancas e livrarias de
( m o DE ESTUDOS DE PROPAGANDA APUICADA
todo o país.
Aguarde.
POR QUE NÃO
MATAMOS LOGO
ESSA GENTE?"
Eu juro que, se amanhã se eu, o que cria o preconceito nas
falasse na França em liquidar, pessoas é o fato de Hitler já
por meios brandos, 50 a 80 mil havê-lo feito, e sua detestável
doentes mentais e alienados (há reputação deixada na Europa é
um número bem maior em hospitais lembrada por alguns até hoje. (Em
outras instituições, porém não outros lugares, isso se deu mais
podemos reduzir à inatividade as simplesmente, não sendo nem mesmo
milhares de pessoas que trabalham necessária a aplicação de medidas
em saúde, e, além do mais, há os. particulares: na França, por
sindicatos), milhões de pessoas exemplo, durante a ocupação, a
considerariam tal idéia justa, e fome, por si só, matou muitos
falariam de sua realização como milhares de doentes nos hospitais
de uma obra humanitária, e haveria psiquiátricos.) Se Hitler tivesse
quem seria condecorado por isso, os escrúpulos que nos assaltem agido com menos precipitação e
legião de honra e tudo mais. quando encaramos frente a frente, mais sutileza, não estaríamos
Afirmo que haveria psiquiatras sem estarmos preparados, a idéia hoje onde estamos em relação a
dispostos a organizar a relação de aplicar tal golpe aos doentes esse problema. E a "eutanásia
das doenças passíveis de mentais, não devemos crer que a justa" dos doentes mentais - da
eutanásia, e a selecionar pessoas execução de tal projeto seja mesma maneira como se fala em
segundo esses critérios; poderiam verdadeiramente dolorosa para "bomba justa " - teria podido
ser catalogadas, haveria qualquer um de nós após certo aliviar nossa sociedade de um
comunicados às sociedades amadurecimento e conseqüente fardo dia a dia mais pesado.
científicas. E entre enfermeiros, preparo técnico - nessas ocasiões Eu desafio todo diretor de
administradores, assistentes não se improvisa. hospital psiquiátrico, todo
sociais, todos aqueles que tratam Estou certo de que cada um lhe administrador da Segurança Social,
dia a dia dos doentes mentais, dará razão, e mesmo muitas se ele é verdadeiramente sincero
muitos deles topariam desembaraçar famílias ficarão agradecidas, sem consigo mesmo, a negar que tais
os hospitais psiquiátricos de um contar que uma parte não idéias tenham alguma vez
grande número de doentes crônicos, desprezível do déficit da Segurança atravessado seu espirito.
ditos incuráveis, mesmo que isso Social seria absorvido; que a Se, de resto, no século XIX e no
permitisse apenas que se tratasse psiquiatria ficaria aliviada, que início do nosso, não se examinou
melhor dos restantes e fosse dada isso poderia ser o início de uma a possibilidade de recorrer à
a eles a chance de cura. nova era terapêutica cheia de liquidação física dos doentes
Eu insisto sobre as vantagens promessas - é sempre permitido mentais, foi indubitavelmente
reais de tal projeto, sobre as sonhar... Enfim, os doentes que porque o problema não tinha maior
intenções muito louváveis que sobrassem, quer quisessem quer não, expressão econômica. Além do mais,
poderiam justificá-lo, sobre os seriam mais bem tratados o sistema ainda não estava tão
excelentes sentimentos, a sincera e por menor preço. corrompido. Mas, acima de tudo,
compaixão pelos doentes que o Como objetar a isso? O que não havia de fato necessidade de
acompanhariam. Sejam quais forem mais aflige nesse projeto, creio matá-los; era bastante não vê-los.
PACIENTE
APARECIDO
devoraria. Antes deste desfecho, os
homens se devorariam como lobos, em
Reuniu-se a polícia, a soldadesca, e guerras civis, e uma guerra mundial
botou-se em marcha para o arraial do irromperia entre as nações. No meio do
Profeta. Santa Fé inteira ftíi para a universo de luto e morte, o exército do
janela espiar o evento. Era primeiro de boiadeiro Aparecidão esperaria o fim,
outubro de quatro anos atrás. O poder orando. Rebenques carregariam apenas
do Prdíeta ia ser destruído à força da para se defender das agressões, e
força. também dos demônios.
Enquanto isso, o Profeta rezava com
os seus seguidores, no templo, e o V
templo era sua casa, pequeno salão
quadrado, paredes baixas, dois janelões Naquele dia . . . primeiro de outu-
que jogam um pouco de luz nas bro . . . esperava-se o Exército do Se-
paredes de barro. O sol da terra quente nhor no arraial do Profeta. Mas quem
de Rubinéia, terra paulista, para os chega é a suada, a esbaforida polícia de
lados de Mato Grosso, reflete-se no Santa Fé. Dizem os policiais que o
enorme crucifixo que traz no peito, e Profeta ergueu a mão e mandou os
nos santinhos de sua invenção. fiéis atacarem; dizem os fiéis que a
Por força de seus milagres, ali polícia nada falou. Foi entrando,
estavam quinze fiéis. Cantava-se, reza- batendo, quebrando. Foi um cor-
vam-se Pais-Nossos, porque era à força po-a-corpo de meia-hora dos vinte
de oração que o Exército do Profeta — policiais contra os quinze fiéis. Os
de fardas azuis e verdes copiadas da derrotados foram levados num cami-
farda que o Profeta vestiu quando era nhão para Estrela do Oeste. Os mais
soldado do capitão Pimpão — iria para infelizes foram montados como se
o céu. fossem cavalos.
E a terra, dizia o Profeta, estava Acusado de formar um exército, e
condenada à morte no Fogo Eterno. de pregação ilegal, chegou à Justiça
Era isto que ele, ruivo e barbudo, Militar. Não foi julgado, porque certos
cabelos e barba pela barriga, dizia, os psiquiatras disseram que era um louco
olhos parados, a mão fixa. Fogo que por ouvir vozes. Por isso, está preso há
tudo devoraria, gente e terra, terra e quatro anos em um lugar que é pior
bicho. Ai de quem não entrasse para o que o Presídio d e São Paulo, pior que
exército do Profeta, armado com o Juqueri (onde os pacientes ao menos
oração e um rebenque. têm uma amplidão de terra para
Até criar este exército, alguns meses caminhar ou trabalhar): o Manicômio
4
antes, Aparecidão era respeitado e Deus lhe dera uma missão. Falava Judiciário.
desprezado como se respeita ou II coisas vagas em torno de urra Voz, e Os filhos que o visitam dizem que
despreza um benzedor. Muitos o piocu- também de uma Missão. A família ele continua calmo, porque a vida de
ravatn, fala-se em 200 pessoas por dia Quando moço, Aparecido Galdino nada entendia, nem podia entender. um boiadeiro ensina paciência. Mas o
— embora a elite da cidade preferisse lutou nas tropas de certo Capitão Podemos imaginar o caboclo à boiadeiro que pregava o bem e a
tratá-lo como um louco ou um bobo: Pimpão, no Paraná, célebre pela cruel- frente do cavalo, seus gostos, e o trote justiça só sairá do Manicômio Judiciá-
então iria Deus dar confiança a um dade. Nestas histórias ele aparece como do animal sarado. Ele não era mais rio no dia que um homem — o seu
bo iadeiro? o soldado Galdino, decidido no gatilho, simples peão, era o Predestinado. psiquiatra —, sobre o qual não há
Começa a correr que Aparecidão e impondo lei mais pelo fogo do que Fama que começa a correr bote- nenhum controle possível, nem da lei,
seu bando preparavam uma passeata pela palavra. Aos 22 anos, vamos quins, se uns riem, outros arregalam os nem dos homens, nem de um possível
por Rubinéia e até pela cidade maior encontrá-lo em lombo de burro seguin- olhos. E lá começa a aparecer naquela Deus — disser que ele está " b o m " . Isto
vizinha, Santa Fé do Sul, e que o do pelo Mato Grosso e Goiás uma terra pobre uma romaria de peão e é, que não ouve "vozes". Neste dia,
rebenque iria cantar em cima dos destinação de boiadeiro, por trilhas boiadeiro, empregadinhas, gente desen- então, talvez seja julgado — mas não é
infiéis. mínimas que se perdem nas matas, ganada pelos médicos, atrás dos passes preferível o julgamento à prisão sem
E a tudo isto somava-se a história fugindo de onça, dormindo em árvore, do curador, e que achava que Deus julgamento? O primeiro delegado que
das coisas que Aparecidão estava di- comendo quando possível, e até, talvez podia estar tanto na boca de um invadiu o seu templo-casa está preso,
zendo, e que cheiravam a pregação exercendo o ofício de jagunço. Mas, analfabeto como eles, quanto na boca por corrupção. O segundo delegado,
ilegal; coisas em torno da terra: "a por volta de 62, se dá o nascimento de cheia de latim. A fama se espalha por Geraldo Antônio Galante Ferreira, che-
terra não é propriedade de ninguém, Profeta, e começa a paixão e a mais léguas ainda, e até automóvel fe da operação final, morreu num
pois foi deixada por Deus para que os desgraça de Aparecido Galdino Ja- aparece no arraial do Profeta. desastre de automóvel. O mesmo fim
homens a tratassem e plantassem para chinto, por força dos mistérios tornado do escrivão do processo, Eurico Luís
sobreviver, e ninguém é dono dela". E Aparecidão, o boiadeiro que sonhou IV Custódio. A dez minutos do lugar em
também aos impostos: "Ninguém deve chefiar um Exército Divino — e que que ficava o templo, hoje imerso nas
•pagar impostos porque o terreno é terminou no pior dos hospícios. águas da represa, existe uma estrada, e
Mas, certo dia, a Voz que o
propriedade c o m u m " . E ainda à cons- nesta estrada existe uma árvore. A
encaminhara ao reino do Mistério lhe
trução da barragem de Ilha Solteira: árvore foi plantada pelo boiadeiro, que
III diz que ele deveria formar um exérci-
"não é certo impedir t o d o o percurso disse aos seus filhos: "ela viverá mais
to . . .
do rio . . . porque os homens não do que eu e vocês; todas as vezes que
Começou a ficar ensimesmado, e a . . . Porque o mundo . . . o mundo
podem subir e descer livremente o rio, vocês passarem por esta estrada, a
barba cresceu. Passava os dias em casa, terminaria antes do ano 2.000, ai
bem como os peixes que têm esse verão, e se lembrarão de mim. Assim
e orava. E disse aos filhos que se daquele que não estivesse preparado
direito". eu sempre viverei." (MF)
curasse certo cavalo, era sinal certo que para receber o fogo eterno que tudo
CONVOCATORIA GERAL
PARA UM JULGAMENTO
(POR D E N T R O ) DO P R O F E T A
Quem faz a convocatória é o romancista nordestino Paiilo Dantas, estudioso das
questões da alma mística do nosso povo, autor, entre outros livros, de Capitão
Jagunço, Sertão do Boi Santo, Quem foi Antônio Conselheiro e O Livro de
Daniel.
Convocados: psiquiatras, sociólogos, escritores, poetas, educadores, autoridades.
Local: nossa redação.

Agarro, com certa e carinhosa fúria, Não queremos fazer movimento de bóia-fria, na fronteira de três Estados ções, matéria de uma espantologia
a máquina de escrever. Penso na contracultura, nem de antipsiquiatria, — São Paulo, Mato Grosso e Paraná. sofrida que não pertence mais aos
primavera que chegou lá fora e mas apenas revolver as camadas profun- Desde que li sobre o assunto, a dolo- laudos de um processo penal, feito ao
das de uma matéria que interessa a rosa figura desse cavaleiro me preocupa e sabor de cartórios provincianos, na
convoco todos os puros de coração, em
todos - legisladores, sociólogos, educa- atormenta. Isto simplesmente porque, tomada de depoimentos obscuros, con-
meio de impurezas tantas, inclusive do
dores, artistas, escritores, psiquiatras e em meio de tantas acomodações gerais, duzidos pela burocracia de uma justiça
ar que respiramos na cidade grande,
autoridades, já que a causa'posta em ainda nos resta um pouco daquela gasta e insensível. Agora, não cabem a
para uma bela e nobre tarefa: realizar,
questão transcende, pela sua importân- corajosa sensibilidade para não ficar- delegados, soldados, fazendeiros, os
na redação do jornal Ex - , uma
cia, a área da simples reportagem ou mos ausentes ou indiferentes aos sofri- depoimentos para a formação de um
mesa-redonda sobre o caso do Apareci-
do jornalismo de danaçãó, es- mentos e às pregações evangélicas de diagnóstico social mais válido e apro-
dão, aquele ex-boiadeiro e profeta que
praia ndo-se em outros domínios das um homem ou de um ex-homem fundado de urn caso, como o deste
andou nos jornais através dos belos e
ciências sociais. (expressão de sabor gorkiano) que, tido boiadeiro mineiro ou goiano, que
corajosos textos de Marcos Faermann
como alienado, padece num hospi- ousou ser profeta em sua terra, contra-
(Jornal da Tarde, 2-9-74) e daquele Lembro-me das palavras de Thomas
tal-prisão, depois de ter sonhado e riando vaticínios sagrados ou profanos.
índio vago, Edilson (Jornal do Brasil, Mann: " o povo alemão era uma espécie
de São Sebastião trespassado de flechas lutado, numa área de geografia deserda- Novas iluminações do seu "inferno
sucursal paulista).
por todos os lados". E o que dizer, da, por uma causa de melhoria social privado" ou de seu "paraíso prome-
então, do atual e sofrido povo brasilei- para os entes viventes dos abandonos t i d o " precisam ser feitas por homens
0 jornal E x - , na sua destinação de
ro, que, em meio a tantos malefícios, do Oeste. que entendem ou que procuram enten-
"ex-tudo", quixotescamente, comprou
a questão e quer mesmo fazer a nem sequer t e m o direito de ter o, seu Porque, como bem argumentou o der, além do bem e do mal, o seu caso
mesa-redonda do ex-boiadeiro, ex-cu- santo ou o seu herói, o seu profeta, advogado não de Deus, nem do Diabo, tipicamente social ou paranormal.
randeiro, ex-santo, ex-revolucionário, acima das suas ditas desditas ou dos mas simplesmente da causa em ques- Aparecidão deve ser estudado por
agora preso nas grades d o Manicômio seus enredos malditos? tão, dr. Alcides Silva, lá do interior, nós, membros dessa insatisfeita família
Judiciário. neste caso de Aparecidão estão vislum- que — segundo as quentes dicas
Queremos saber mais coisas da vida brando "delitos onde meramente ocor- daquele genial escritor nórdico, Par
O tema alcança várias áreas sociais e desse personagem, não o deixando rem fatos psico-sociais alheios ao cam- Lagerkvist — um ser carregado de
emotivas: a alienação e o sofrimento soçobrar entre as grades de um Manicô- po penal". desespero, mas cheio de esperança, não
do povo brasileiro, o misticismo e a mio Judiciário, pois não é t o d o o dia Em t o r n o dessa nova versão de um cessa de atormentar-se, "por causa da
angústia popular, os direitos da Justiça que surge ou aparece um homem tão novo Antônio Conselheiro do Oeste, justiça e da injustiça, da verdade ou do
e os domínios da f é ou da reli- acobertado de .espantos e de arrancos, precisamos realizar uma tribuna livre erro, do bem ou do mal, por causa da
giosidade, da qual brotam santos e he- falando e ouvindo "vozes místicas" dos sentimentos machucados, revol- salvação, da graça e da condenação
róis, profetas ou incompreendidos justi- qfíe o convocam para uma dura e vendo por dentro, causas e efeitos,, eterna, por causa do diabo e de deus e
ceiros, curandeiros e feiticeiros. inocente missão social nas terras de um delírios e fantasias, sonhos e frustra- suas estúpidas contendas".

Feito na colônia agrícola de Porto Alegre,


onde ficam os loucos-loucos, "irrecuperá-
veis". Tem uma seção lá, e que é a das
fotos, que se chama de Pavilhão dos
Sórdidos. É uma barra, com 50 homens, 1
funcionário, merda, sujeira, 1 cara que é
louco-surdo-mudo-cego (tudo ao mesmo
tempo). A maioria deles é gente feliz, isto
eu notei (mas lá, só sendo l o u c o . . . ) . A
prisão da insanidade, a liberdade da loucu-
ra. Personagens errantes, silenciosos, semi-
nus, sem papel, sem nome, sem passado e
sem futuro. Comendo comida com as mãos;
de pé no corredor, completamente sozi-
nhos; o dia inteiro com a cabeça abaixada;
personagens do cinema búlgaro; sem senti-
rem frio nem calor; também personagens do
teatro brechtiano; iluminados por raios de
sol/itário. Fiquei dois dias lá e não bati
mais que 187 fotos. Não sei mais o que
C
*'Zer" Leonid Streliaev
(25 anos)
OHJsraa
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CfiVtinPtíJ-y í
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O título é um poema do poeta
Carlos, que você vai conhecer já.
forte sopro dessa tragédia toca em
É o poema preferido de Nise da
cheio o complexo de incesto comum a
Silveira, diretora da Terapia Ocu- todos os seres humanos. Os poetas
pacional do hospital Pedro II, no ouvem as vozes abafadas do inconsci-
Rio, que assina o 19 texto destas
páginas: ela fala sobre o artista EU NÃO PERGUNTARIAVIDA? ente e exprimem para os demais seus
oprimidos desejos. Parecem mesmo
que todos nós somos. E apresenta
alguns trabalhos de seus hóspedes
— expostos no Museu das Imagens
EU LEMBRARIA A VIDA... haver herdado de Homero o privilégio
de descer aos infernos e voltar à luz do
sol contando aos mortais o que viram
naquelas regiões tenebrosas. Assim
do Inconsciente, por ela fundado
Fausto, ansioso de evocar Helena,
há 28 anos.
mergulha no mais profundo dos abis-
mos, onde habitam as figuras primíge-
nas das mães. E o estremecimento de
O diretor do Museu de Arte medo que sente ante essas deusas
Moderna de S. Paulo visitou o estúdio poderosas ao redor de quem se movem
de pintura e escultura do Centro as imagens da vida comunica-se ao
Psiquia'trico do Rio e não teve dúvida vigília. Na sua trama de idéias ilógicas, subjetivas, que apresenta ora quase leitor do drama imortal. Estes mesmos
em atribuir valor artístico verdadeiro a encaradas do p o n t o de vista do adulto nuas ora complicadamente veladas. arquétipos que do inconsciente coletivo
muitas das obras realizadas por homens civilizado desperto, descobriremos o Parece mesmo encontrar prazer em emergem como relâmpagos nas visões
e mulheres ali internados. Talvez esta sentido da realização de desejos tal exibi-las; alegra-se quando os outros o de poetas, de pintores, vêm constituir
opinião de um conhecedor de arte qual no sonho, sob o disfarce dos sntendem e o aplaudem. A atividade o conteúdo avassalador de neuroses e
deixe muita gente surpreendida e mesmos mecanismos psicológicos. artística seria pois "caminho de volta psicoses.
perturbada. É que os loucos são Os adeptos de certas religiões do que conduz da fantasia a realidade" Talvez muitas das obras aqui apre-
considerados comumente seres oriente costumam concentrar-se em (Freud). sentadas causem a impressão de estra-
embrutecidos e absurdos. Custará longas meditações durante as quais Outros seres igualmente entram em nheza inquietante que acompanha a
admitir que indivíduos assim rotulados acontece não raro que os pensamentos conflito com o mundo exterior e se manifestação de coisas conhecidas no
em hospícios sejam capazes de realizar se tornam visíveis, adquiram forma e evadem para reinos imaginários. Mas aí passado, porém que jaziam ocultas
alguma coisa comparável às criações de cor. Se estes fenômenos se firmassem se perdem. Neles, as produções da (conceito do sinistro segundo Schelling
legítimos artistas — que se afirmem numa condição permanente seria difícil fantasia tornam-se mais vivas, mais e Freud). Presumimos obscuramente
justo no d o m í n i o da arte, a mais alta distingui-los de sintomas psicóticos. poderosas que as coisas objetivas. possuir no f u n d o de nós mesmos
atividade humana. Entretanto, o adepto foi instruído de Invadem a esfera da consciência com imagens semelhantes. Exemplos deste
Examinemos de perto se de fato que essas formas e cores são vazias tanta força que o indivíduo já não as tipo são os desenhos evocadores de
loucos e normais s-ão ainda quando representem deuses ou distingue das experiências reais. Pertur- figuras místicas que acreditávamos su-
fundamentalmente diferentes. ancestrais. Após as intensas bam-se assim suas relações com o meio peradas ou os que representam desdo-
Todos temos a experiência do experiências das horas de meditação, social — passam a ser chamados loucos. bramentos da personalidade, revelado-
sonho. Nos seus breves instantes ele retoma suas ocupações diárias sem Outra prova de que apenas questão res de épocas psíquicas primitivas, nas
podem ser vividos os mais recônditos e que ninguém conheça os segredos de de grau, de permanência ou transitorie- quais o ego ainda não se havia
impossíveis desejos, encontram meio de sua vida interior. Por t u d o quanto diz dade em estados semelhantes diferen- nitidamente delimitado em relação ao
expressão nossas tendências mais ou faz é um homem sensato e sábio. ciam normais de psicóticos é esta mundo exterior. Se certas figuras
profundas. Através do sonho O artista é certamente um ser própria exposição. Por que vos emocio- angustiam, a beleza de outras formas
manifesta-se o inconsciente, usando a extraordinário. Seus fortes impulsos nais contemplando estes desenhos, fascina. Ressaltam estruturas concên-
velha língua das imagens em estranhas instintivos não se amoldam ao estas pinturas e esculturas? Decerto, tricas, círculos ou anéis mágicos, deno-
figuras, umas servem de máscara a princípio da realictede. Insatisfeito e entre os motivos de vossa emoção, está minados em sânscrito mandalas, ima-
outras, representam muitas de maneira rebelde foge para o mundo da fantasia, que eles despertam • ressonâncias, que gens primordias da totalidade psíqui-
constante os mesmos pensamentos onde lhe é dado viver seus desejos fazem vibrar em cada um cordas afins. ca. Místicos, hindus e chineses utilizam
como nos hieróglifos. Mas apenas se livremente. Mas vínculos de amor, Este é um dos caminhos pelos quais as mãndalas de rico valor artístico como
abrem os olhos voltam todas para seu exigente necessidade de comunicação obras de arte nos atingem. Se Hamlet instrumento de contemplação. Imagens
mundo subterrâneo. Os delírios, se os com seus semelhantes, o atraem de continua através dos séculos abalando de idêntica configuração surgem nas
estudamos atentamente, são de certo novo ao mundo. E ele retorna, profundamepte os públicos do mundo mind pictures de jovens e sadias
modo sonhos prolongando-se pela trazendo-nos a dádiva de suas aventuras inteiro, explica a psicanálise, é que o inglesas, que as vêm de olhos fechados.
num estado de repouso próximo ao de intensos conflitos. Trate-se de artis- tinham a afetividade embotada e a desse estado de coisas. Ninguém ignora
que precede o sono, em experiências tas sadios ou de artistas doentes, inteligência em ruínas. Estariam, por- a extraordinária renovação da psiquia-
feitas nas aulas de pintura de uma permanece misterioso o dom de captar tanto, muito bem habitando edifícios- tria realizada por Freud e Bleuler desde
escola secundária feminina (Herbert as qualidades essencialmente significa- -prisões chamados hospitais, abrigados os primeiros anos do século. Até então
Head). Símbolos eternos de humani- tivas seja dos modelos interiores seja e alimentados. Nas melhores dessas se aceitava que a demência precoce
dade, aparecem também pintad;: por dos modelos do mundo exterior. Have- casas vêem-se leitos forrados de colchas (esquizofrenia) conduzisse inexoravel-
doentes mentais europeus (Jung) o por rá doentes artistas e não artistas, assim muito brancas e corredores de soalho mente à demência e ao apagamento da
esquizofrênicos brasileiros completa- como entre os indivíduos que se lustrosissimo. Mas que se procure saber afetividade. Hoje está demonstrado que
mente desconhecedores a o símbolo reli- mantêm dentro das imprecisas frontei- como correm para seus habitantes as mesmo após longos anos de doença a
gioso oriental. Os que se debruçam ras da normalidade só alguns possuem longas horas dos dias, durantes meses e inteligência pode conservar-se intata e a
sobre si próprios estarão sempre sujei- a força de criar formas dotadas do anos a fio. Venha-se vê-los vagando nos sensibilidade vivíssima. E aqui estão
tos a encontrar imagens dessa catego- poder de suscitar emoções naqueles pátios murados, tais fantasmas. Pois a para prova os nossos artistas: Emigdio,
ria, depositárias de inumeráveis vivên- que as contemplam. verdade é que as .tentativas de internado há 25 anos, e Raphael,
cias individuais através de milênios. Daí Voltemos a acentuar o f a t o funda- psicoterapia e ocupação terapêutica doente desde os 15 anos, ambos sob o
as analogias inevitáveis entre a pintura mental: os mais estranhos fenômenos feitas nos nossos hospitais t ê m apenas o diagnóstico de esquizofrenia.
dos artistas que preferem os modelos encontrados nas doenças do espírito valor de amostras do que poderá ser Os hospitais, porém, continuam se-
do reino do sonho e da fantasia e a em nada diferem qualitativamente de realizado, não chegando ainda a adqui- guindo rotina de raízes em concepções
pintura daqueles que se desgarraram mecanismos que também podem ser rir significação, dado o reduzido núme- já superadas, muito distantes da cultura
pelos desfiladeiros de tais mundos. surpreendidos na vida psíquica normal. ro de beneficiados em face da imensa atual de seus médicos. Cumpre refor-
Surpreende o número de doentes Nessas doenças são mudanças na estru- maioria desatendida. má-los.
mentais que buscam expressão gráfica. tura psíquica que ocorrem. Estágios Esta situação decorre de se haver Sejam os trabalhos apresentados
E freqüente desenharem sobre as pare- pretéritos da evolução emergem e admitido arbitrariamente que nos doen- uma mensagem de apelo neste sentido,
des ou em qualquer pequeno pedaço impõem suas maneiras correspondentes tes mentais se tenham extinguido as dirigida a todos os que participaram
de papel que lhes caia nas mãos. de sentir, perceber e pensar. Os múltiplas necessidades humanas além intimamente do encantamento de for-
Mesmo os mais inacessíveis, de contato indivíduos assim atingidos tornam-se de dormir, comer e quando muito mas e de cores criadas por seres
mais difícil, raramente deixam de inaptos para o nosso tipo de vida social trabalhar em ofícios rudimentares. humanos encerrados nos tristes lugares
desenhar se lhes entregamos o material e por isso são segregados. Antes que se Entretanto, só os poderes da inércia que são os hospitais para alienados.
necessário. Este fato curioso explica-se procurasse entendê-los, concluiu-se que favorecem a aceitação conformista (Nise da Silveira)
quando nos colocamos no> ponto de
vista da psicopatologia genética, admi-
tindo ocorrerem nas psicoses processos
regressivos, que reconduzem o indiví-
duo a fases anteriores do seu próprio
desenvolvimento ou mesmo da evolu-
ção da humanidade. O pensamento
abstrato, aquisição mais recente , cede Borboletas Negras doloridas
lugar na doença ao pensamento concre- Que vejo sempre na mata voar
to, isto é, as idéias passam a apresen- Fantas de mel ha Procura
tar-se sob a forma de imagens (aliás, o Borboletas hei de sempre amar
mesmo acontece no sonho e nos
estados intermediários entre sono e Eu sou ha Borboleta queita
vigília). Uma vez cindido e submerso o
Que me ves sempre pousada
pensamento lógico, fic% simultaneamen-
te prejudicada a linguagem verbal que é
Deixa-me em Paz doradora
o seu instrumento de expressão. Desde Porque Oh Deus do incerto amor
que seu pensamento flue agora em
imagens, o indivíduo muito natural- Ce um dia de mim lembra
mente usará exprimir-se reproduzin- sahirei ha Procura e ha Pensar
do-as. Pode projetá-las, entretanto, sem Encontrei quem de mim se lembre
nenhum intento de comunicar-se com sou eu Venho agrader e Prosar
outro, impulsionado por mera tendên-
cia fisiológica à exteriorização. Neste
Eras que deixar saudades
caso os desenhos nascem inteiros de
um só jato, multiplicam-se em número
Dos tempos que la ce vão
espantoso e suas cores são quase Do meigo abraçar apertar
sempre muito vivas. Mas apenas o ego De uma lavadeira Precisa e amar
começa a lançar frágeis pontes para o
mundo real, aos modelos interiores Venha ou anoitecer
vêm juntar-se objetos do mundo exte- Dos dias de amargor
rior recordados ou vistos no presente, a Vida sonha meditar
produção diminue e faz-se através Dos anjos acalentar
trabalho mais demorado, o colorido se
enriquece de nuances. Esses sinais
Deixe eu ser carbodas flores
indicam que passos começam a ser
dados no caminho de volta à realidade, De um Perfume entenecedor
desenho ou pintura estão se tornando Pensando estas em amargor
linguagem emocional. A atividade artís- Oh mel de mim Vaidade
tica poderá mesmo adquirir o sentido
de um verdadeiro processo curativo. Oh cachopa cem contar
De dias e longos annos
Compreende-se pois, a importância
cem percentir ou caçohar
da instalação de estúdios de pintura e
e esqritor a trabalhar
de escultura nos hospitais psiquiátricos,
À
tanto para meio de estudo de obscuros
mecanismos psicopatológicos que se
tornam patentes nas produções plás-
• 1 Negruras ha dor orfeão
De tremidos vandavaes
ticas, quanto pela função terapeutica simbilante ha Perguntar
de que a própria atividade artística Amando sou seu amar
muitas vezes se reveste.
Levantar-se-á talvez a pergunta: se Eu sou oh cagado da cascata
nascem no inconsciente as fontes de Que vivo sempre ha rodar
toda a inspiração e o louco é aquele
No ceiro da verde gramma
que foi invadido pelas torrentes subter-
em sopapo Pensador
râneas, então estaria ele mais que
ninguém em condições de criar obras
de arte? Decerto não basta sonhar Pedrinha dos meus olhares
acordado, ter contato íntimo com Serás por deus inquecivel
imagens primígenas, falar a linguagem Oh Deus deixa-me viver
ios símbolos, sofrer a tensão Porque outra ha de nacer
um

MAIS POEMA
DE CARLOS I PARABOLAS E estava certa vez Carlos mergu-
hado em uma lata de lixo. A
mestra Nise da Silveira aproxima-
se, e pergunta: Mas Carlos, o que

DO MUSEU DAS
faz você aí? Você está sujando
Quantas maldades enfim todas as suas mãos. Carlos não é
so ha me lembra de mim de falar, mas naquele dia falou:
sera que não tenho outra "sementes não foram feitas para
companheira da mesma dor

IMAGENS DO
serem plantadas em latas de lixo.
Sementes foram feitas para a
Deus vos dei Por immença terra". Ergue-se, então, com as
imencidade Florida incarnecida sementes que colhera na lata do
das Pedra que não murchou iixo. E foi plantá-las no pátio do
Que controe palacios de amor hospício.

Vivo em concolo da lua


Subistuição do coração dois
Deixo falar oh ceu centir Estavam os pacientes trabalhando
Ce um dia a luta trahir num campo de futebol, quando
viram um cãozinho perdido. Co-
Vejo a luz dos teus olhos meça a chover. O amor dos
Ou que queros os teus roserais loucos leva o cãozinho para um
são Para mim oh começar teto. A dra. Nise observando.
De Primaveril ha emcostar Então, a mestra concluiu que
aqueles homens internados há
Oh Deus dos seus Pecar tantos vinte anos eram sensíveis a
Disceste em Perjuro amar este amor. E começou a povoar o
Pensando Vivias morrer hospital com seus cães. Há muitos
De uma serpente ha morder anos, os cães não são mais cães,

OPERAÇÃO
Quem es, Sou oh sol
Com meus flecos ha Queima
De luses ha te iluminar
Oh Deus hei de te adora

Que culpa tenho eu

LÚCIO:
De ojerer a luz da sombra
Sou ou Deus inesquecível
Atenção do coração

Duello são cem espadas


Do mundo das sombras negra
Pensando no enganecer
Porque? ha sombra também morrer

Caminheiro enternecido
Ca minha ha tu estrada
Vido sois em cruz de amor
Que cruza ha mesma dor

Oh Oedras de deus esquecida


hadimiradas do encergar cego
Porque meu Pãe Celestial
Deste fantasias e não verdades

Rema Oh fada silvestre


inesquecível do ceu amargor
De um mar tracoeiro
Em chama de multicor

Oh mascarado ha almentar
Dises oh que Pode cer
Uma mascara ha esconder
De rotos lábios aparecer

Vivas ou meu amor


Mores ce não conhecer
Do Panno ha cahir
De uma mascara te cobrir

Mar com fim distante


Deixae caminhar olhar
Sois horizonte e nacer
Poente ha ce enteder

Quando vires não encotrar


De retalhos sonhador
Foi ha brisa que Pagou
Do amor que ce Passou LÚCIO, ANTES
no Museu: a dra. Nise só os sete bém-porque os loucos são crianças em que esteve Graciliano Ramos,
chama de co-terapeutas. O pessoal do Museu sempre e são pobres como estes campone- e assim pulou para dentro das
esquecia a porta da sala principal ses marrons das telas de Portinari. palavras do escritor, e para dentro
três aberta. Até que um dia encarrega- de seu coração, e para as palavras
A hora do café, às dez da ram Carlos, internado há mil dez das "Memórias do Cárcere", veja
manhã, é uma festa no Museu: os anos, "doente crônico, incurável", Henry Ey, Lopez Ibor, Ramon só, doutora Nise presidiária-psi-
cães invadem a sala da direção e na voz da psiquiatria clássica, de Sarró. Nomes de alguns grandes quiatra-libertária, uma lágrima inr
vão comer biscoitos na mesa da zelar para que à noite a porta psiquiatras internacionais. Disse- visível correndo de seus olhos
diretora. fosse fechada. Nunca mais a porta ram que o Museu era fascinante, junguianos, ao descobrir um mito
ficou aberta. maravilhoso, hermoso, divino, da Lua e do Sol, de um tempo
quatro muy rico. A maior coleção do perdido, uma evocação milenar,
E as pacientes passam pela porta, oito mundo de obras criadas por nas palavras, nas imagens do
enfiam a cabeça e gritam para a Toda sexta-feira Carlos dá um doentes mentais. Vinte anos de inconsciente de um operário brasi-
doutora: — como vai, queridinha? presente a doutora Nise: grama trabalho. Aqui, ninguém conhece leiro, de um hóspede do Hospí-
que colhe com amor, para os o Museu. Onde estará o homem cio, ser multiplamente marginal;
cinco gatos da casa da mestra. Na casa que matou os cachorros e os gatos? por que está no lado de avesso da
Um dia, os cães da doutora da doutora Nise os gatos passeiam Não estará escondido no banheiro sociedade dos ricos, porque está
Nise amanheceram mortos. Era a e dançam nas mesas. — não sairá com seu veneno e seu do lado do avesso da sociedade
vingança dos inimigos do Museu. punhal, dos fundos do hospício, dos racionais; porque é natureza
Onde se viu tratar cão como agora que a doutora Nise vai se no mundo "humano". Doutora
gente? Onde se viu chamar louco nove aposentar, ou vai ser aposentada — Nise: operária da psiquiatria, rejei-
de hóspede? Um crítico herege disse que só porque sabe tudo, aos 71 anos tando a tentação da clínica rica,
Emygdio, pintor do Hospício Pe- de idade? A doutora Nise salta escolhendo o mundo do múltiplo
seis dro II, onde funciona o Museu, para os dois lados da realidade e marginal hóspede do hospital do
A primeira exposição dos hós- era o maior pintor do Brasil, da irrealidade e entra na pele povo, e plantando com tijolos de
pedes saiu em 49. Um crítico maior que Portinari. O fantasma curtida pelo sol do sofrimento, imagens que outros colegas nem
carioca disse que a arte dos de Portinari, eu sei, bateu palmas pula para o lado de lá, salta para olham — ou consideram apenas
loucos não era arte. Outro crítico de alegria; os seus camponeses de o lado de cá, também oorque psicopatia — uma compreensão
disse que era. Os criadores nunca pés grandes, também, as suas esteve no lado de lá do muro, no que ainda está por vir, mas que
souberam de tal discussão. crianças de olhos fundos, tam- tempo do Estado Novo, na prisão virá.

Em 1949, correu no Hospital D.


Pedro II, no Rio, que um dos
pacientes. Lúcio de tal, seria lobotomi-
zado. A doutora Nise Magalhães da
Silveira avisou que iam matar um
artista. Porque Lúcio era um artista.
Uma de suas esculturas lembra os
melhores trabalhos de civilizações per-
didas — maias, incas, astecas -,
soterradas por nossa civilização. Seus
desenhos tinham força e imaginação. .» \ ^
Mas Lúcio era o ser mais sem direitos
que se conhece, um loúco, e os
lobotomizadores não pensaram no "ar-
tista". Lúcio foi um dos nove artistas
plásticos que participaram da primeira
exposição de pintores e escultores do
Engenho de Dentro. Depois suas obras
foram apresentadas no Museu de Arte
Moderna do Rio, e no MAM de São
Paulo. Mesmo assim ele foi levado para
a sala de operações, onde foi destruí-
do. A doutora Nise da Silveira organi-
zou um dossier sobre o caso. A
respeito de Lúcio, escreveu: "produziu,
antes da intervenção cirúrgica, modela-
gens de notável qualidade artística, que
exprimiam sua concepção da luta entre
as forças do bem e do mal. Pode-se
sentir nos seus trabalhos forte tensão
emocional, contida dentro da rigidez
de formas das figuras. Após a loboto-
mia, modelagens e desenhos revelam
catastrófica regressão, trazendo as mar-
cas do déficit características das altera-
ções orgânicas do cérebro: pobreza
imaginativa, puerilidade de concepção,
inabilidade na execução". A lobotomia
e outras experiências semelhantes foi
uma das técnicas mais empregadas pelos
psiquiatras da Alemanha nazista.

Hoje, ela ainda é feita em São


Paulo, em instituições aparentemente
insuspeitas e sérias. Está voltando a
moda como técnica, na Itália e outros
países da Europa, e nos Estados
Unidos.

Este texto, bem como o das


Parábolas, é de Marcos Faerman.
... DEPOIS.
Sensacionais
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Francisco Petit da DPZ,
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e nós lhe mandamos EX-, e divulgador incansável da cultura em nosso país.
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ICTTO Por isso, sou fiel a ele.
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' ÍW.*«I«OJAESS E ainda digo mais: acho o Paulo tão bom, que ele nem
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15,00
A primeira se matou com 19 anos. Mãe — B o m . . . o senhor entende,
Nasce a segunda, a mãe lhe dá o ela está doente há muito tempo, e
mesmo nome (a mãe é a irmã da que antigamente dizia quç a culpa era
se matou). Quando a segunda também nossa, que queríamos prendê-la num
faz 19 anos, entra em crise. Mas não é hospital; e as vezes queria nos bater;
só por causa do suicídio da tia. Ronald mas agora se queixa menos.
Laing, anti-psiquiatra inglês, entrevistoü Entrevistador*— Como explicam as
toda a família da segunda Ruth; e o acusações e queixas?
resultado são os diálogos adiante re- Mãe — B o m . . . não, eu não me
produzidos. Parece teatro. explico, aoenas compreendo, percebo
que ela está doente e não sabe o que
diz.
Entrevistador — Sabe o que ela quer
dizer q u a n d o , . . .
Mãe - Porque, veja o s e n h o r . . . ela
tenta nos bater e depois, no minuto
seguinte, se desculpa . . . — "Ah, ma-
mãe, estou desolada, não quis fazer
isso de verdade, não quis . . . "

Em oito anos de tratamento, não


somente a família atribuiu à doença
seu "mau humor e ressentimento",
bem como sua conduta incontrolâvel;
os psiquiatras também, e parece que
ninguém, até onde pudemos saber,
pensou em colocar isso em dúvida.
Quando tinha uma "recaída", Ruth
se vestia "de modo estranho" e tentava
"imitar" o irmão, que era escritor.

Entrevistador — A senhora diria que


habitualmente Ruth se comportava
bem?
Mãe — Sim, sim.
Entrevistador - Em resumo, não há
nenhum problema nesse sentido?
Mãe: — Não, nenhum. É só durante
seus períodos de crise, o senhor enten-
de.

TEVE UM " A T A Q U E "


E SAIU
DE MEIAS COLORIDAS

O irmão de Ruth tinha consciência


de que seus pais eram "pessoas limitadas".
E "se mandou de casa". Os pais aceita-
ram até certo ponto que ele tivesse am-
bições "artísticas", mas não poderiam
admitir que a filha também tivesse. Sua
atitude em relação a coisas "artísticas"
— literárias, musicais e plásticas — está
claramente revelada na seguinte passa-
gem:

Mãe — Me ensinaram piano . . . me


forçaram a aprender, e eu tinha horror;
tive que estudar anos, e tinha costume
de ir a concertos com meu professor de
música . . . e durante todo tempo eu
Quando esta entrevista foi feita, presença da mulher; e informou que Então, já com 20 anos, de modo detestava música.
Ruth tinha 2 8 anos. Desde os 20 já estaria de acordo com tudo o aue ela inexplicável, ela começou a se sentir Pai — Eu acho que uma pessoa pode
tinha sido hospitalizada seis vezes, e dissesse. Fizemos 16 horas de entrevis- deprimidae a se queixar de "irreali- gostar de tocar algum instrumento — é
durante os últimos oito anos quase não ta, sendo 13 gravadas. Entrevistamos dade". Seu comportamento tornou-se como um homem que aprende um tra-
saiu de hospital. Nos primeiros 18 Ruth; a mãe; o irmão; Ruth e a mãe; a "incontrolâvel" e depois disso, não fez balho. Agora . . . ser artista, isso é muito
meses de sua primeira internação, mãe e o pai; a mãe, o pai e Ruth. mais do que ser doente o tempo t o d o , abstrato.
diagnosticaram uma situação entre a embora às vezes, nos intervalos entre
histeria e a esquizofrenia. Mais tarde, ERA UMA MENINA os "ataques", voltasse a ser a mesma Desse modo, Ruth é " d o e n t e " , se
diversos psiquiatras de diversas tendên- boa menina de anteís, muito obediente,
TÃO BOA; DE REPENTE, veste "de maneira estranha" e "maca-
cias concordaram em declará-la esqui- muito cordata, muito sensata etc. queia" o irmão.
QUERIA BATER NA MÃE
zofrênica. Examinaremos a seguir o que seus
pais chamavam de "doença"-. Tanto Entrevistador — O que é que, pelas
Os sintomas variaram, mas durante O Sr. Gold e a mulher tinham as para a mãe como para o pai, e também palavras e atos, faz a senhora pensar que
todo esse t e m p o ela manteve um mesmas opiniões sobre a história da para o irmão, os sinais mais evidentes ela está doente?
comportamento paranóide, sujeito a filha. Segundo eles, a "depressão" de da " d o e n ç a " de Ruth eram o ressenti- Mãe — Eu sempre posso dizer quando
ilusões e a uma desordem de pensa- Ruth foi um acontecimento súbito e mento e o mau humor em relação aos é que ela vai ter um ataque . . . quando
mento do tipo esquizofrênico. Às inesperado; ela teria sido uma criança pais, da mesma forma que seu compor- o ataque vai começar.
vêzes, tinha idéias suicidas ligadas a um normal, fácil de educar, muito afetuo- tamento "incontrolâvel". Entrevistador — O que é que ela fala
estado depressivo ou a momentos de sa, respeitosa, prevenida, muito chega-
agitação. ou faz nesses momentos? E em que sua
da à mãe, e que, às vêzes dava Mãe — Ela é às vezes muito conduta é diferente?
Antes de entrar pela primeira vez pequenas demonstrações de irritação, desagradável; outras, menos — não Mãe — Ah, bom . . . ela ficou estra-
num hospital, Ruth vivia com os pais; rapidamente esquecidas. Ela se "con- demonstra agora tanto ressentimento nha, ela não é normal. Além disso, não
e tinha um irmão de 32 anos que havia formava" inteiramente com a vontade quanto no início da doença. se veste corretamente Quando tem um
saído de casa quando ela fez 14. Seu dos pais, e isto os deixava muito Entrevistador — Quando foi que isto
pai somente aceitou ser entrevistado na satisfeitos. aconteceu?
ataque, põe as roupas mais extravagan-
tes.que encontra.
Entrevistador - Mas ela faz isso
quando leva amigos jovens pra casa,
por exemplo? Ela fica estranha, se
veste de forma diferente?
Mãe — Sim. Aconteceu assim uma
vez que ela teve um ataque. Mas isso
não acontece há muito tempo.
Entrevistador — E como ela se
vestiu?
Mãe — Bom . . . ela estava de meias
coloridas; e colocou tudo o que não
vestiria numa situação normal.

E necessário fazer algumas observa-


ções sobre as opiniões contraditórias
que os pais tinham a seu respeito. A
mãe nos disse que, antes de ficar j
" d o e n t e " , Ruth tinha muitos amigos,
ia a muitas festas e freqüentava clubes.

Entrevistador - Ela não tem nenhu- roupas que as pessoas que vao a esses de ser difícil, egoísta e grosseira
ma vida social? lugares costumam vestir. porque lhe causa preocupações. Mas Parece que o caso amoroso de Ruth
Mãe - Não . . . mas eu gostaria que Entrevistador - Pode dizer por que pai e mãe não a censuram, porque não (a filha) terminou mais ou menos da
ela levasse uma vida normal e saísse se veste desse jeito? a consideram responsável por. seus atos. mesma maneira. O rapaz demonstrou
mais. Ela parece ter perdido todos os Ruth - Sim . . . eu acho estético. Eles "sabem" que a moça é esquisita e indiferença e não voltou para suplicar
amigos desde que ficou doente. Entrevistador — Voce acha que esse doente. Assim, mistificada e colocada o reatamento.
Entrevistador — Ela não freqüentava estilo talvez seja mais artístico do que numa situação intolerável, Ruth fica
gente da mesma idade? uma roupa convencional? desorientada e desesperada, lança "lou- Entrevistador- A senhora sabe por
Mãe — Não. Conhece algumas pes- Ruth — Sim. Há outras moças que cas" acusações, pretende que os pais que Ruth a acusa? sabe do que ela
soas mais velhas do que ela, tem uma também usam meias coloridas . . . não querem que ela permaneça viva, e está falando quando lhe faz acusações?
amiga . . . saem j u n t a s . . . Entrevistador - Voce se dá conta foge de casa. completamente desequi- Mãe — "É por causa dela que estou
de que seus gostos podem ser uma librada. d o e n t e " , diz ela . . . e . . . eu tive uma
A pobreza de sua vida social e a fonte de tensão em casa? Esclarecidos pelo conflito que os irmã que se matou com 19 anos, foi
mania de fechar-se em si mesma Mãe — Mas não existe tensão. Não pais pretendem ignorar, pudemos exa- uma lembrança dela que nós demos
parecem ser uma invenção inconsciente há tensão porque assim que o ataque minar o comportamento de Ruth, do este nome à Ruth, e ela reclama
dos pais que nunca foi colocada em passa, ela reencontra seu equilíbrio e qual ela mesma nos deu explicação, e sempre. Fala muito de minha irmã.
dúvida por ninguém. volta a ser como antes. Mas ela sempre compreender sua dificuldade de viver. Mas não chegou a conhecê-la. Faz 32
foi atraída pelo gênero artístico. Se vê Ruth não consegue esquecer que lhe anos que minha irmã morreu.
Ruth — Meus pais não gostam dos alguém na rua desse tipo, alguém um deram o mesmo nome de uma irmã de Entrevistador - E o que a senhora
lugares que freqüento. pouco diferente do costume, diz: "— sua mãe, que se suicidou aos 19 anos, acha que ela quer dizer quando lhe faz
Mãe - Quais? Olha, olha lá. Olha como está bonito". após um caso de amor "infeliz. Ruth estas acusações?
Ruth - O Eddie's Club, por Pai — É . . . para quem é mais ficou doente aos 20 anos, e após um Mãe - Talvez pense que é como
exemplo. t r a d i c i o n a l . . . esses tipos e essas garo- caso semelhante. Qualquer que tenha minha irmã . . . ela pergunta:"Minha tia
Pai — Meu Deus! Voce não quer tas que se vestem de um jeito sido o papel desempenhado pela mãe era normal? Ou era louca? Eu sou
dizer realmente . . . esquisito . . . bom, eles são bizarros. de Ruth, na realidade ou na imagi- louca como ela? Isso é uma doença
Ruth - Claro . . . Mãe — Mas agradam a Ruth. nação, quanto ao suicídio da irmã, o m e n t a l ? " Enfim, o senhor compreen-
Entrevistador — O que é esse Pai — Eles são diferentes. fato é que ela teve um papel dos mais de. Ela não sabe a que . . . atribuir.
Eddie's Club? Entrevistador — Ruth leva pessoas curiosos na história de amor da filha.
Mãe — É um lugar onde se bebe. A primeira Ruth morreu afogan- Entrevistador - Mas ela parece que
para casa?
Mas ela não vai lá para beber. Ela só do-se. subentende. Parece que implicitamente
Mãe - Ela levou cada tipo em
quer encontrar todo tipo de gente. ela lhe faz uma acusação.
casa . . . Quando está doente, 'convida
Entrevistador — Parece que as pes- pessoas que em tempo normal ela nem Mãe - Absolutamente. Absoluta-
soas que ela gosta de encontrar desa- toleraria . . . uma espécie de beatniks. Entrevistador — Por que sua irmã mente.
gradam aos senhores. . . Pai - Escritores e sabe Deus mais o preferiu morrer? Entrevistador — E a senhora percebe
Mãe — Talvez seja verdade. quê . . . Mãe — Ela foi infeliz no amor. por quê?
Pai — Sim. Entrevistador — Os senhores não Rompeu um noivado. Era muito moça Mãe — Ela talvez pense que se eu
gostam de escritores? quando conheceu o noivo, 10 anos não lhe tivesse dado o nome de minha
Mãe — Não, não é isso . . . não, mais velho. Tinha 16 quando o trouxe irmã, não teria ficado doente.
Os pais repetiram diversas vezes que até nossa casa — meu pai queria
não . . . claro que nós gostamos de Entrevistador — Hummm . . . Ela lhe
Ruth não se dava conta do que lhe conhecê-lo. Ele dizia á minha irmã que disse isto?
escritores.
acontecia ou do que fazia. Nós nunca ela era muito jovem, mas que se
Pai — Naturalmente. Mãe — Não me disse assim, mas deu
pudemos estabelecer se tinham razão amavam, e continuaram se vendo, e a entender.
ou não. Entretanto, segundo a mãe, papai permitiu o noivadd quando ela
SEU GRANDE MEDO Entrevistador - Ela lhe deu a
Ruth . . . fez 18 anos. No começo, o noivo era entender outras coisas?
É TER O MESMO NOME
DA TIA QUE SE MATOU muito ciumento, depois começou a Mãe — Não creio, não creio.
Entrevistador — Ela já chegou bêba- ganhar bastante dinheiro, e isso deve Entrevistador — Por que lhe faz
da em casa? ter-lhe subido à cabeça, porque ele acusações? Ela nunca fez nenhuma
0 senhor a a senhora Gold, apesar
Pai - Não. começou a se divertir — jogando golfe alusão?
dos julgamentos contraditórios sobre as
Mãe — . . . não gosta que lhe ações de Ruth, têm uma idéia relativa- — e começou a desprezar minha irmã, Mãe — Não, não, não. Quando está
lembrem tudo isso. Tentamos não mente clara e persistente sobre a que sofreu muito. Romperam o noi- doente, não quer que eu cuide dela,
falar. personalidade da filha. Esse modo de vado e reataram umas duas ou três tenta fazer tudo sozinha, mas não sabe.
Entrevistador — Você se sente ver as coisas é um traço comum a vezes, e cada vez ele vinha e pedia De alguma forma tenho de tomar as
doente nessas ocasiões? todas as famílias entrevistadas. Quando perdão, depois não voltou mais. Ela rédeas, fazer tudo o que é preciso.
Ruth - Não. Ruth é "realmente" ela mesma, quan- chorou muito e eu pensei que falava Talvez a tenha mimado um pouco
Mãe - Não, ela não se dá conta do do está " b e m " , não se interessa em matar-se para nos meter medo . . . demais depois que ficou doente, mas
que lhe acontece, nem que está doente. seriamente por escritores e artes, não eu não acredito que quisesse realmente ela é tão doente, não é capaz nem
Ruth — Eu não acredito mesmo que usa meias coloridas, não vai escutar se matar . . . não se deu conta do que mesmo de ficar limpa . . . o senhor
esteja doente. música num boteco, não leva amigos estava fazendo . . . deixou um bilhete compreende . . . eu tenho que fazer
em casa e não sai de noite. É só de vez dizendo onde encontrar as roupas, o tudo, mas ela me diz: "Não se meta
Entrevistador - E o que você sente
em quando que Ruth tenta se afirmar, colar e os brincos, mas não pensamos nos meus assuntos, deixe-me em paz".
nessas ocasiões? Pode descrever seu
e nesse simples gesto destrói a imagem que queria realmente se matar. Prova- Mas a gente não pode deixá-la sozinha.
estado? Que é que voce faz?
que os pais fazem dela; é só de vez em velmente pensou em assustar um pouco É impossível ter confiança.
Ruth — Bom, simplesmente . . .
quando que procura agir segundo seu o noivo . . . sem dúvida, achou que isso
acho que meus pais inventam uma Entrevistador - Como foi que tudo
próprio juízo. Sua mãe então " s a b e " o traria de volta, mas ela era muito
tempestade em copo dágua . . . se vou começou?
que um ataque é iminente. Acusa Ruth jovem.
a certos lugares, gosto de vestir as Mãe - Depois do caso de amor
infeliz. Saiu com um rapaz por dois muito e não quero mais". Rompeu. Entrevistador — De que vocês não chorei e falei de Richard. Há dois anos
anos, ela devia ter 18 ou 19 anos. Até Depois ficou muito deprimida e nunca gostavam nele? que não pensava mais nele, e foi de
então havia sido uma garota fácil de mais foi a mesma. Não sabíamos o q u e Mãe - Ele era polido mas parece repente que as coisas jorraram.
educar . . . a h n n . . . não era muito era. Pensava que ela continuava infeliz que não levava as coisas a sério, mesmo
ativa, nem voluntariosa, mas era inteli- por causa dele. Mas ela passeava com sendo ciumento, e não ficava preocu- Entrevistador — Como se você
gente, passou pelos exames escolares as amigas, depois saiu de férias. Passou pado de não convidar minha filha para tivesse reprimido seus sentimentos?
sem problemas, chegou no secundário. o natal na casa de uma amiga e voltou ir à casa de seus pais, não tinha Ruth — Sim. Tinha enterrado t u d o
Estava sempre de bom humor, limpa, dois dias depois. Semanas mais tarde, nenhuma vergonha disso. no f u n d o de mim mesma. Por isso tive
ordeira, e n f i m : um encanto. Realmen-_ devia ir ao aniversário d e - u m a amiga, a depressão.
te, até o dia em que encontrou esse Entrevistador — Ele nunca disse por
mas não foi. Estávámos muito preocu- quê?
rapaz. Ela teve muitas amigas, diver- Mesmo hoje, Ruth não sabe o que
pados, não sabíamos o q u e fazer. Um Mãe - Não.
tia-se muito, e q u a n d o começou a se passou, o que " r e a l m e n t e " se
dia, voltou num táxi, chorando aos Entrevistador — Vocês lhe pergunta-
trabalhar ficou no emprego por dois passou. Ela vive agora com os pais, que
soluços, c o m os saltos dos sapatos ram?
anos, depois largou, o rapaz não queria estão contentes com o arranjo das
que ela ficasse no emprego ou coisa quebrados. A partir daí, f o m o s a um Mãe — Tínhamos vontade. Pedimos coisas.
assim. Ela largou o emprego e os psiquiatra atrás de o u t r o . que ele terminasse com Ruth.
patrões ficaram muito contrariados. Mãe — Nos entendemos muito bem.
Eles confiavam muito nela. Ela abria a ACABOU FICANDO Entrevistador — Em suma, vocês lhe
Ela já não fica fechada o dia todo.
loja de manhã, uma loja de modas COM OS PAIS PARA pediram abertamente que rompesse.
Quero dizer que agora nossa vida está
onde era vendedora. Ruth queria ser ESCAPAR AO HOSPITAL Mãe — Suplicamos.
orientada em f u n ç ã o da vida dela.
desenhista de modas. Seu irmão é Pai — Completamente.
escritor e ela sempre o imitou, queria A mãe admite q u e suplicou ao rapaz O pai e a mãe de Ruth conversaram
l»ia acabar com Ruth. Mas nega isso com o rapaz contra a vontade da filha. Entrevistador — Vocês querem dizer
ser artista como ele, chegou até a fazer
diante de Ruth, e algumas vezes diante Ao mesmo t e m p o , pressionaram a i que não fariam as coisas que fazem se
um curso, mas não c o n t i n u o u e se
t o r n o u vendedora. Foi a í que encon- de nós. Ruth não sabe bem que parte filha. Mas se lamentaram quando eles j estivessem sós?
de responsabilidade atribuir à mãe no romperam. Mãe - É isso. Mas estamos muito
trou o rapaz. Ela não estava tão ;
apaixonada assim por ele; era muito r o m p i m e n t o do namoro. A mãe tam- Mesmo agora, Ruth não compreende felizes de fazer o que fazemos.
ciumento e praticamente vivia aqui em bém não sabe q u e parte de responsabi- bem o que se passou, e não poderia
casa. Estudava medicina e parece que lidade lhe cabe. Quando Ruth acusa a mesmo compreender, pois sempre teve Ruth t a m b é m se sente " m e l h o r "
seus pais não estavam muito satisfeitos mãe, esta diz que ela está doente. poucos detalhes sobre o caso. Ela a b a n d o n o u as roupas, os clubes, os
com o caso: achavam mais importante amigos que os pais não gostavam.
ele continuar o curso com seriedade. Mãe — Acho que lhe fez mal ver o Ruth — Tudo isto me parece i Entendeu agora que eles a a m a m .
rapaz com outra moça, 15 dias depois estranho. Encontrei-o em vários luga- j Mas às vezes tem dúvidas.
Ele repetiu duas vezes algumas maté- do fim do caso. Isto feriu-a profunda- res, mas ele nunca falou comigo. Um ;
rias, e implorei para q u e rompesse com dia, desmaiei q u a n d o saía de um Ruth — Estou um pouco perdida.
mente. De qualquer maneira, tinha
Ruth. Falei assim: " V o c ê s são m u i t o prédio e f r e q ü e n t e m e n t e passava mal. Não para t u d o . , M a s a este respeito me
perdido dois anos com ele, e ele nem
jovens, p o d e m recomeçar mais tarde, Mas não sei por q u e meus pais me coloco muitas perguntas, porque a
sequer tinha t e n t a d o revê-la, para
quando já estiver f o r m a d o " . Mas ele levaram ao hospital para ver um maioria das pessoas tem má opinião
perguntar se as coisas podiam se
não queria viver sem ela. Isso d u r o u médico. sobre os beatniks, não é? Minha
arranjar. Tinha repetido t a n t o que a
dois anos, e embora os pais do moço amava! Éramos contra o namoro, mas Entrevistador — Aí você começou a : melhor amiga nunca poderia sair com
soubessem que ele praticamente não eu não queria que ela acabasse para pensar que tinha perdido alguma coisa um deles.
saía daqui, jamais convidaram Ruth evitar que me acusasse. importante para você? Entrevistador — Mas você acha que
para ir lá, e isso a humilhava muito. Ruth - Sim. deve estar de acordo com o que a
Ela tinha vergonha por nós e, depois Entrevistador — Por que vocês eram Entrevistador — Era Richard? maioria das pessoas pensa?
de dois anos, decidiu romper. Me contra? Ruth — Sim. Mas era completamen- Ruth — E q u e , q u a n d o não estou de
lembro d o dia q u e e n t r o u aqui dizendo Mãe — Não gostávamos do caráter te inconsciente. Conscientemente, não acordo, encontro-me sempre no hos-
que ia acabar. Eu disse: "Você pensou dele. Era muito mimado, não trabalha- sentia que era ele. Certa vez, quando
bem? " Ela respondeu: "Sim, eu pensei va como devia. tive uma entrevista com um médico,

Considero a família tal como a com o corpo de quem, e com os


conhecemos - o núcleo familiar ur- corpos de quem mais. Absolutamente
bano ocidental, >duas gerações, pais e fundamental. E não há dúvida que isto
filhos - com uma forma social muito está mudando muito. E está mudando
pouco comum, que se desenvolveu no terreno imaginativo; quero dizer, a
recentemente em formas sócio-econô- gente imagina coisas que eram extrava-
micas particulares e que, sem dúvida, é gantes faz uns poucos anos.
uma das muitas formas de vida social 0 paranóico mais célebre da litera-
que vão e vêm segundo circunstâncias. tura médica é Schreber, um juiz que
Através da antropologia comparada e escreveu suas memórias; sobre estas
em termos da história das culturas, pelo memórias, Freud baseou seu estudo
que li e pelo que vários antropólogos mais importante da paranóia. Schreber
me contaram pessoalmente, nosso nú- situa o começo de sua "enfermidade"
cleo familiar nunca havia existido na quando, deitado na cama certa manhã,
história da raça humana, até não faz cruzou por sua mente o pensamento,
mais que 100 anos na Europa. E não que não podia vir dele, de que "seria
existe em nenhuma outra parte fora do agradável ser uma mulher sucumbindo
complexo industrial. Que eu saiba, só ao coito sexual". Tal pensamento era,
há uma história detalhada de como para Schreber, "contrário à ordem do
eram as famílias na Europa até uns mundo". Pois bem, para um juiz
200 anos (Philip Aries: Centuries of alemão, pensar em como seria ser
Childhood). Este livro assinala que é mulher era uma monstruosidade até 60
muito recente a célula de duas gera- anos atrás, mas não creio que fosse
ções, em que os filhos são "internos" e agora.
na qual só duas pessoas têm responsa- As mudanças nas formas sociais vêm
bilidade "normal", econômica e educa- pressagiadas por mudanças em tudo o
tiva sobre eles. É justo dizer, a respeito que podemos imaginar, conceber.
dos pais, que é difícil esperar tanto de Acontece que quando a gente começa
duas pessoas, e que eles esperem tanto a imaginar coisas nas quais nunca havia
um do outro e de si mesmos. Estas pensado, começa a imaginar que já não
duas pessoas vêm encontrando sua é tão profundamente perverso e dege-
satisfação total em alguma forma de nerado, nem símbolo de algo fora dos
cendo e surgem novas, não só entre os -tem-relaçóes-com-quem, acho que se-
intimidade, e a maior parte do consolo limites do natural, e começa a conce-
jovens. Sem dúvida, ultimamente, mui- rão cruciais. Não posso imaginar ne-
e apoio e recompensa e alegria e ber relações de uns com os outros,
ta gente convencional de classe média nhum sistema social sem regras, quais-
desfrute da vida um no outro, e em partes do corpo em que se supõe que
vem organizando associações de mora- quer que sejam, aplicadas a quais
ninguém mais. não se deve pensar em conjunção com
dia, e habitam unidades familiares relações físicas são permitidas, prescri-
Fala-se de neo-tribatismo; sem dú- múltiplas. Ninguém sabe como vão tas e proscritas; quem está autorizado, outras, relacionando-se entre si.
vida as velhas formas estão desapare- funcionar. As regras que regem quem- e para quê tipo de relações íntimas Ronald Laing,
Reportagem de Patinhas (João) / Fotos de Juvenal Silva

Os donos do mundo e do destino de do temor ao desconhecido. Do medo


Secundo: Antônio José dos Santos, seu do louco, do cachorro doido, da raposa
pai; Petronílio José dos Santos, seu " . ..CONTAR O TEMPO azeda. PETRONÍLIO, IRMÃO E GUARDA
irmão - Tenente Mota, delegado de NÃO CARECE . . . "
Jequié em 1943. SE O CACHORRO ROMPE A O chiqueiro foi construído na ro-
(Secundo, unhas de lobisomem, de- CORRENTE A CULPA É DO DONO cinha de Petronílio José dos Santos,
O CHIQUEIRO: dos comidos por bicho de porco, na irmão do louco. A oito quilômetros do
véspera de sua viagem para o "Juliano Em 1943, um raio rachava a família chiqueiro de Secundo surgiu a faixa
Dois metros quadrados, toros de Moreira", em Salvador, outubro de 1972). de Antônio José dos Santos. 0 mesmo escura da Rio-Bahia, para carregar seus
madeira, formiga e bosta. No seu raio que desagregou a mente de seu loucos em gaiolinhas de ferro e rodas
interior um bolo de carne uivante: filho Secundo ameaçava a segurança de borracha.
Secundo, ex-louco furioso, apodre- UM SANATÓRIO SERTANEJO regional. Todos temiam o louco Secun- Em frente do chiqueiro de Secundo,
cendo sua loucura. Vinte e nove anos do que começava a cometer desatinos. guardada a distância para apagar seus
de espinha dobrada, uivos e mastur- Um chiqueiro é um pequeno cerca- Surge na história o senhor inquisi- uivos e diminuir o fedor da bosta,
bação. Esta história tem começo mas do feito de toros de madeira e coberto dor. -Um homem sem capa preta mas ficava a casa do seu irmão Petronílio.
ninguém sabe o fim, apenas uma de palha. Pouco espaço porque a coberto com a farda da polícia militar. Petronílio, preto brilhante, analfabeto,
passagem de um chiqueiro para outro. gordura do porco depende do pouco Tenente Mota, delegado de Jequié, o ingênuo, covarde, pai de uma rinha de
Em outubro de 1972, Secundo foi movimento que ele faz dentro do homem que tinha a chave da cidade secundinhos barrigudos, famintos, nus.
transferido para um depósito de loucos chiqueiro. 0 chiqueiro é um lugar de pública e idéias para criar pequenos Casa de taipa, chão batido, fedor de
na capital. engorda, de inchação. chiqueirinhos, sanatórios domiciliares. bosta de menino. Menos azeda que
— Quem é que manda em sua casa, Já foi também lugar onde se A família do Secundo ouviu as bosta de doido. A voz de Petronílio,
homem? Faça um chiqueiro e bote guardava o medo e se aplicava justiça. ordens do tenente. Construíram o guardião do irmão bicho:
este homem lá dentro! Lugar de louco é A justiça da normalidade contra a chiqueiro e enjaularam o filho miste- — O que a gente podia fazer? la
no chiqueiro! loucura. rioso. Mas a jaula era fraca para o deixar ele fazendo desatinos no mato,
(Tenente Mota em 1943, falando ao Secundo José dos Santos foi um louco moço. Um, dois, três. Secundo acabando as feiras, capaz de matar uma
pai de Secundo.) louco justiçado num chiqueiro. Ficou teve forças de destruir três chiqueiros pessoa? Dinheiro a gente não tinha
apodrecendo na gaiola de 1943 a 1972, para se render no quarto. De toros para mandar ele para um asilo. E tinha
quando um jornal de Salvador denun- mais grossos e pedras bem pesadas. que ficar alguém tomando conta,
ciou o fato. Até então poucos sabiam dando de comer a ele . . .
que um homem, sentenciado pelo
medo dè sua família, lutava contra Estranho, louco não engorda em
uma prisão absurda encravada na ca- chiqueiro!
atinga e guarnecida pela lei primitiva
Secundo não engordou nos 29 anos Juliano tem seus corredores, suas alas,
seus fios elétricos e uma divisão DEPOIS O BRANCO . . . OU O
de cativeiro. Não podia se movimentar, a
radical: a pátria dos tuberculosos e o PRETO,
altura do chiqueiro não permitia que O CHOQUE ELÉTRICO É CARICIA
país dos não tuberculosos. OU O BURACO
ele ficasse em pé, mas talvez pela pouca PARA QUEM PASSOU 29 ANOS NUM
CHIQUEIRO? E para lá foi Secundo, saído do seu AFINAL, ISTO É E NÃO É UMA
comida ele não adquiriu a opulência
chiqueirinho. A terapia do sertão FÁBULA.
flácida dos porcos.
Sabugo de milho, bicho de porco, As autoridades de Jequié sentiram-se contra os dragões elétricos dos sanató-
rios urbanos. E agora Secundo? Existem agora poucas notícias do
licuri, pão seco. Mas o pouco movimen- envergonhados depois que correu a
Secundo no Juliano Moreira. Um
to da prisão lhe conferiu a passividade notícia de que bem próximo dali um
porteiro barrigudo, filão de cigarros,
dos loucos românticos, repertório dos louco estava preso, morrendo a mín- SERÁ QUE FIQUEI MALUCO?
que barra as pessoas na porta, diz que
justos. Bobos? gua. Para que Secundo saísse foi
ele foi embora. Terá voltado para o
Os filhos de Petronílio eram visitas preciso destruir o chiqueiro. Não havia Secundo estava acostumado à soli-
chiqueirinho?
constantes de Secundo. Encostavam a portas. dão. Preso no seu chiqueiro estava
E assim a história de um louco
cabeça entre as madeiras e conversavam Ele foi arrastado e jogado num entregue somente aos seus fantasmas.
contido, preso e torturado em dois
com o tio-bicho. carro fretado pela Prefeitura e o Lá não tinha choque elétrico, pílulas,
chiqueiros pela justiça terapêutica
Secundo quase não falava, murmu- " a r r ô t a r y " club. Horas depois abria-se nem injeções de fazer bonecos duros,
o encontro e o conflito da lucidez e
rava, fazia caretas infantis, cantava prá um portão, e Secundo ingressava no babões, e de olhos esbugalhados. Lá
da loucura. Um homem preso num
lua. Quieto, Secundo ensinava as crian- Juliano Moreira. tinha bosta, bicho de porco e uma
chiqueiro como um bicho do mato.
ças que neste mundo lugar de louco é O Juliano é um depósito de loucos imobilidade total. As situações em
Um homem encolhido num sanatório
no chiqueiro. Que os homens normais existentes em Salvador. Ocupa um parte trazem semelhança, a incapaci-
como um bicho da cidade.
são os donos absolutos do destino dos quarteirão inteiro e foi modulado a dade perante a loucura.
Entre os dois, e o mesmo homem, o
loucos. Que o louco é menos perigoso partir de um casarão secular. Hoje dá Os diques, os açudes para conter o
estigma da loucura.
do que o medo. impressão de um cruzamento de enge- desaguar de águas perigosas. O que
Vinte e nove mais vinte e nove mais
Secundo ensinava às crianças que no nho de açúcar com orfanato, albergue pode ter passado pela cabeça de
vinte e nove, tudo igual. A castração.
chiqueiro também se vive, Comendo noturno e depósito de cereais. Á sua Secündo depois de arrancado do seu
A morte. O nascimento.
bosta, corpo coberto de formiga, olhos localização desenha o mapa da obscura chiqueiro e lançado no meio de
Secundo José dos Santos, duro
inundados de remela. Secundo ensinava paranóia urbana, contida e recolhida dezenas de outros seres angustiados e
como um jumento. Forte como um
às crianças que o homem se acostuma entre encostas e apartamentos finan- torturados pelos métodos de sanatórios
louco que assombra a passividade dos
a tudo. Os que fazem os chiqueiros e ciados por uma vida inteira: o Juliano urbanos? Talvez ele tenha pensado que
mortos-vivos. Existirá sempre uma jaula
os que vivem dentro dele. ocupa uma área circular, completa- enloqueceu . . .
aberta-fechada para engulir um louco?
mente rodeado por pombais do BNH.
Secundo, responda!
Sua população atual é de setecentos
internos. A dos pombais deve ser de Grite de dentro de seu chiqueiro!
dez vezes mais. Os pombais tem suas (e aqui morre o papo porque eu já
solitárias e os choques rede globo. 0 estou ficando bêbado). /ana
HOSPÍCIO CHINÊS: CALMANTE OCIDENTAL E ACUPUNTURA NELES

MAOTERAPIA Um relato sobre um importante centro psiquiátrico de Xangai; e uma


entrevista com dois médicos de província; os chineses tratam os
pacientes também com um remédio que consideram infalível: Pensa-
mentos de Mao, os já famosos, em doses diárias e segundo prescrição
médica.

do hospital, é o reflexo exato daquilo preciso saber o que eles pensam. "Em
Por Gregório Bermann, cientista argentino. Bermann esteve três vezes na China,
que se passa no país, e que tende a primeiro lugar, mostramos verdades
e em 1970 lançou " A Saúde Mental na China", série de artigos e reportagens simples que cada doente pode colocar
destruir o privado para construir o
sobre a situação psiquiátrica naquele país. Após uma vida política intensa, que público. em prática. Os artigos de Mao são
abrangeu os mais variados campos da medicina e da filosofia, Bermann morreu muito simples, mas têm um conteúdo
em 1972, com quase 80 anos. A CURA PELO PENSAMENTO de verdade muito profundo que orienta
para a ação", dizem os médicos.
Aproximava-se do fim a minha abriu a boca durante toda a reunião. Eles citam Mao Tse-tung: "as idéias Eu perguntei em que medida os
última viagem à China, e eu estava bem Os médicos estavam confinados nos dos homens não têm outra origem ensinamentos da psicologia médica são
longe de ter captado os valores e o pavilhões esperando os doentes. No senão a prática". O trabalho clínico utilizados na China. Me disseram que o
sentido da revolução cultural na psi- último momento, a meu pedido apare- ensina que os doentes mentais estabele- trabalho médico se funda sobre o amor
quiatria, apesar de todas as demonstra- ceu um professor de psiquiatria, e falou cem relações precisas com as situações de classe: "em nossa sociedade, estabe-
ções que me fizeram. Tudo isto é tão muito pouco. reais. É necessário, antes de mais nada, lecemos relações de amizade íntima
diferente de meus conhecimentos e de conhecer a realidade do pensamento e com os pacientes, e isto nos permite
minha vida! Em primeiro lugar, o que No hospital não existiam estatísti- a ideologia dos pacientes. O conheci- um justo conhecimento de seu espírito;
tinha me chocado era a caricatura de cas, não se publicavam estudos, não se mento aprofundado dos pacientes reali- conforme a realidade viva de cada um,
revolução cultural que tinha testemu- faziam pesquisas. Neste caso, ao me- za-se graças aos laços estreitos que os empregamos métodos específicos Ide
nhado em um hospital psiquiátrico de nos, a revolução cultural era uma unem aos médicos e ao pessoal sanitá- tratamento".
província. Devo acrescentar que tinha grosseira demagogia. A revolução cultu- rio. Uma vez que se sabe o que eles No hospital, assisti a uma reunião
uma prevenção contra a ação das ral parecia ter, aqui, diminuído, ou pensam e quais são os seus problemas de estudos mantida pelos doentes, a
massas, eudeusadas na China como as degradado, aqueles que deveriam diri- ideológicos, pode-se estudar com eles partir de leitura de citação de Mao; as
criadoras de um novo mundo, em gir; no caso deste hospital, os médicos. os meios de resolver os problemas, em citações eram comentadas pelos pró-
razão da experiência tão dolorosamente Os rebeldes revolucionários que toma- função de cada doença. prios doentes, na presença dos enfer-
negativa que tinha sofrido na Argen- ram o poder ocuparam o vazio deixado Ptir exemplo, um paciente melancó- meiros e com a sua colaboração. Um
tina, minha pátria. Lá, aclasse operária pela direção, provavelmente porque lico considerava sua doença muito doente diz: "ser médico não é impor-
e uma parte importante das classes não havia entre os médicos pessoas grave e incurável; o que ele tinha de mais tante, o importante é aprender para
médias foram conduzidas por um líder, enérgicas e com um pensamento claro sério era sua intensa preocupação - poder servir ao povo". Outro doente
adorado pelo povo, e levadas em uma e correto. Foi com estas coisas na assim, tentou muitas vezes o suicídio; atribui sua doença a uma causa ocasio-
direção que, na minha opinião, não cabeça que conheci, então, a experiên- durante anos, nada disse do que se nal; "é preciso se armar de coragem
favoreceia a sua libertação, bem pelo cia do hospital psiquiátrico de Xangai. passava na intimidade de seu coração, e para enfrentar os problemas", diz ele,
contrário. aqueles que viviam a seu lado podiam citando outro "pensamento".
E Xangai é, sem dúvida, o centro
Vou contar como começou a decep- psiquiátrico mais importante da China, constatar somente a sua vontade de
ção de que falei acima. Fui acolhido não só pela sua organização e seu suicidar-se. Finalmente os médicos CADA DOENÇA, UM ARTIGO
com grande cordialidade pelo pessoal ensino, como porque aqui trabalha o entenderam o que se passava. E, com
do hospital e "pelos doentes, que no homem que abriu o caminho para a eie, leram os tres mais importantes A grande maioria dos doentes são
meio da neve, ao ar livre, entoavam psiquiatria no país* o professor Hsia. O artigos de Mao, e constataram a sua operários, camponeses e membros do
citações do presidente Mao, repetindo hospital que visitamos, em 1965, tem perda de confiança na capacidade de partido. Antes do intemamento, eles
conhecidos slogans. Me disseram que o 6 0 0 leitos, é bem equipado, tem muito cura. Durante longos anos, nem os estavam habituados, como todo o
hospital não tinha diretor, que o pessoal, e sua disciplina e higiene são remédios puderam curá-lo, coisa que mundo, na China, a estudar os ensina-
comitê revolucionário assumia o poder excelentes. Em ! 967, no total, Xangai entendeu lendo os artigos. Uma vez mentos de Mao, o que facilita muito o
no quadro de uma direção coletiva possuía 2 7 0 0 leitos no domínio psi- curado, o paciente escreveu um artigo trabalho. Segundo aqueles ensinamen-
onde havia somente um jovem médico. quiátrico. sobre o que tmhr, se passado em seu tos, um divide em dois: de um lado, os
Um membro da direção tomou a Vou procurar reproduzir aqui, na espírito e em seu coração no processo aspectos patológicos do espírito; de
palavra, creio que era um enfermeiro, medida do possível, as próprias pala- de cura. „" outro lado, os aspectos sadios; "são os
enquanto o responsável, que tinha toda vras das pessoas com as quais falei. A Para que o pensamento de Mao últimos que devem ser reforçados para
a aparência de um oligofrênko, não situação da revolução cultural, ao nível penetre m espírito dos doentes, é curar as partes doentes".
Os doentes são divididos em função vencer as dificuldades". Há outros que Alguns doentes manifestavam "confu- enriquece-se a vida cotidiana. Em tudo,
da etapa em que se encontram de sua perdem a coragem e vacilam em são ideológica"; se preocupavam exces- as pessoas se ajudam e se criticam
evolução mental e orgânica. Diferentes continuar vivendo: eles são encorajados sivamente com o futuro, de modo que mutuamente. Estudando com os doen-
artigos de Mao, são usados para lendo "Servir ao Povo", ou as citações viviam sob perspectivas sombrias, tes, os médicos podem ver se manifes-
enfrentar essas situações diversas. No sobre a "Crítica e Autocrítica", etc, tinham medo de não poder mais tarem alterações e sintomas que não
decorrer da terapia, acontece seguida- Os médicos apontam os resultados trabalhar; estudando, "seu nível se poderiam ver nas entrevistas indivi-
mente que os pacientes recusam tomar de seu método: elevou, a luz aparece em seu espírito, e duais. Os doentes falam e comentam
remédios ou seguir outro tratamento. 1. Eleva-se a atividade subjetiva dos sob o efeito da atração exercida pela entre si o que estão pensando, e
doentes e, por aí, eles são ajudados a solidariedade e pelo fim de seu egocen- quando encontram alguma dificuldade
Eles são ajudados pela leitura de trismo, o que desenvolve seu gosto em um comportamento, falam com os
vencer seus sintomas e suas dificulda-
"Como Yukong ultrapassou a Monta- pelo interêsse público, suas crenças médicos. Os resultados obtidos "se
des. Numerosos doentes aprendem a
nha", por exemplo. Um paciente que desaparecem". Uma atividade correta devem ao prestígio de Mao". O dr. Yu
considerar suas emoções como "tigres
escondia seus medicamentos, após estas de papel", desprezando-as estrategica- da parte dos doentes diante de seus Shei-Tsei, de Xangai, diz: "Devemos
leituras, fez sua autocrítica reconhecen- mente e tomando-as em consideração próprios sintomas é uma vantagem que estudar de maneira viva. Durante as
do os erros e mudou de conduta. Na taticamente. Numerosos pacientes "cri- permite levar mais adiante o tratamen- diferentes etapas do processo de sua
véspera de sair do hospital, existem ticam as idéias errôneas que tinham to. doença, os pacientes têm diferentes
pacientes que desenvolvem idéias erra- sido; por exemplo, alguns pensavam de idéias. Os médicos organizam o estudo
2. Os médicos se educam por si
das; que os outros zombam deles, etc. maneira desordenada em mil coisas para substituírem as idéias errôneas por
mesmos, estudando junto com os
diferentes, de maneira unilateral, to- pacientes e os enfermeiros. idéias justas. Estimulam a ajuda mútua
Neste caso, é sugerida a leitura de
mando assin; o aspecto pelo todo: entre os doentes, o que anima a vida dos
"Sobre a Guerra Prolongada", e assim 3. Através da organização do es-
depois desse tipo de estudo, eles pavilhões. O hospital se transforma
eles "elevam o nível de consciência e a tudo, pode-se reforçar o sentimento de
corrigem seus pontos-de-vista errôneos". numa escola".
confiança em sua possibilidade de disciplina através do trabalho conjunto,

"ESTUDAMOS FREUD PARA COMBATER SEUS ERROS"


O hospital que visitamos fica ao sul sentido de coletividade humana, de Essa educação do doente é seguida Dra. Sho — A maior parte são operá-
da cidade de Sian. Tem 250 leitos e povo. As massas populares, diz Mao, por uma ação médica na qual intervém, rios e camponeses, entre 25 e 50 anos.
u m dispensário; 22 médicos, 62 enfer- têm um poder criador ilimitado. Elas ao mesmo tempo, elementos da medi- Mas se considerarmos que essas duas
meiros e 66 membros entre o pessoal são capazes de se organizar, de dirigir cina ocidental e da medicina tradicio- classes representam 90% dos habitantes
da administração e empregados. Um suas forças e de lançar sua energia em nal chinesa (a acupuntura, por exem- do país, não podemos afirmar que a
"comitê revolucionário" de 10 pessoas todas as direções e dentro de todos os plo). Da medicina ocidental, utilizamos maior parte provenha dessas camadas
dirige o hospital-, representando a campos. Noutro tipo de sociedade, alguns calmantes, aplicados em peque- sociais. Isso significa que, seguindo a
tríplice união: "soldados-quadros diri- cada pessoa é condicionada por seu nas doses. Após a revolução cultural, diretiva de Mao, as camadas sociais
gentes-massas populares". Nossos entre- modo de vida; suas idéias têm sempre eliminamos os três elementos conside- pobres são as mais visadas pelo esforço
vistados, dr. Han e dra, Sho, fazem as marcas de sua classe. Muitas das rados "mágicos" para esse gênero de sanitário.
parte desse comitê. anomalias e desequilíbrios mentais sao doenças: o choque de insulina, o - O senhor acha que a implantação
Dr. Han — Adquirimos novos conhe- reflexo da luta entre duas concepções choque elétrico e grandes quantidades do regime socialista e sobretudo da
cimentos sobre doenças mentais a de mundo. Em regimes sociais diferen- de calmantes. O tratamento ideológico revolução cultural provocou um au-
partir das teses filosóficas do presiden- tes, as doenças mentais têm caracterís- é o principal, o tratamento médico é mento de doenças mantais?
te Mao. No campo da psiquiatria, ticas diferentes. A psiquiatria, portan- secundário. Dr. Han - Evidentemente, as pes-
c o m o em todos os outros, há uma luta to, é ao mesmo tempo ciência médica
soas marcadas profundamente pela
entre duas linhas, conseqüência de duas e social. - O senhor nos falou de neuroses e mentalidade individualista adaptam-se
concepções diferentes do m u n d o : a Nossa, sociedade evolui rapidamente. psicoses produzidas por uma inadapta- com dificuldade à nova organização
individualista, onde o homem se situa Há apenas 22 anos éramos dominados ção social. Em seu hospital não existe coletiva; essa mudança radical pode
no centro do universo, e a coletivista, por um regime feudal e capitalista. nenhum caso de demência produzida originar um trauma psíquico. Mas em
onde o h o m e m está a serviço da Nosso sistema atuai é uma etapa de por outras causas ? nossa sociedade atual não existem
sociedade. Em nosso campo, a primeira transição. Esse progresso em busca de muitos dos desvios da sociedade oci-
Dr. Han - Sim, temos também as
concepção criou as grandes sumidades uma organização social mais justa dental.
doenças provocadas por lesões de
cujas teorias são aceitas mais pelo peso só pode ser feito através de um - Vocês usam a psicanálise?
órgãos internos, por envenenamento,
de sua autoridade, que pelo seu valor constante processo de "luta-crítica-re- Dra. Han - Nós usávamos antes da
por intoxicação, doenças nervosas, etc.
objetivo; essas sumidades detêm sozi- f o r m a " , cujo p o n t o crucial é a trans- revolução cultural, mas hoje a conside-
Quando as lesões cerebrais impedem a
nhas as chaves da sabedoria e suas formação da mentalidade de cada ramos um método idealista, e por isso
compreensão, utilizamos acupuntura e
sentenças são inapeláveis. Dessa manei- indivíduo. Num regime socialista, gran- foi suprimida. No lugar, procuramos
calmantes, mas nos momentos de
ra, muitas doenças mentais que podiam de parte dos desequilíbrios mentais se fazer a mais completa pesquisa possível
lucidez, tentamos reeducar os pacientes
ser curadas f o r a m declaradas incuráveis; produzem nos indivíduos que não no meio onde o doente nasceu. Em sua
com a ajuda do pensamento de Mao,
o erro dessa concepção é entregar o assimilaram a nova concepção coletiva maneira de ser, em suas reações e em
para que eles adquiram, por seu lado, a
indivíduo a tratamentos ou medica- do mundo e não aceitam a direção e a seus contatos com outras -pessoas,
vontade de se curarem.
mentos sem pensar que as raízes do metodologia dos trabalhadores. São encontramos as raízes de sua doença.
mal se encontram na sociedade, e é - Em seu modo de ver, todas as
indivíduos que não puderam resolver a
elevando a consciência de cada um de doenças mentais são curáveis? - Vocês conhecem Freud?
contradição entre o subjetivo e o
seus membros que encontraremos os Dr. Han - Em nossos hospitais, 90% Dr. Han - Suas teorias já tiveram
objetivo, entre o proveito pessoal e o
meios de trazer o mal à superfície. As dos doentes melhoram; 80% recupe- bastante influência sobre os psiquiatras
bem-estar coletivo, entre o indivíduo e
teorias da psiquiatria ocidental podem ram-se totalmente. de nosso país. Hoje, estudamos Freud
a nossa sociedade. Isso produz uma
ser resumidas em três tendências: - E os incuráveis? para combater seus erros. Nossa con-
perturbação no cérebro, causadora de
Dra. Sho — Temos centros de inter- cepção não aceita a existência de
a) a tendência dos que explicam as grande parte das neuroses e psicoses de
nação, cuja orientação é completamen- princípios inatos que determinam os
doenças mentais por um funcionamen- que tratamos. Desse p o n t o de vista,
te nova. Não há camisas de força nem sentimentos e a vida do homem. Todo
t o patológico dos órgãos; b) a tendên- nossa terapia consiste princip^ mente
celas. Quando a situação permite, os o conteúdo de nossa consciência vem
cia dos que explicam as doenças em educar o paciente de m o d o que ele
internos vivem com suas famílias. do conhecimento sensitivo.
mentais por causas hereditárias; c) e, próprio resolva suas contradições. Nos-
Participam das atividades do hospital, - Mas vocês não adiam que há
finalmente, o grupo dos "agnósticos", so método consiste em fazê-lo estudar
segundo a capacidade de cada um, e neuroses provenientes de anomalias
que preferem ignorar as origens reais todo dia as obras do presidente Mao.
aos sábados e domingos vão à* cidade sexuais?
dos desequilíbrios mentais. Dessa maneira, ao mesmo tempo que
visitar amigos. Organizamos também Essa pergunta incomodou visivel-
compreende a nova orientação da socie-
O pensamento do presidente Mao atividades esportivas e culturais* como mente nossos entrevistados, que, por
dade, integra-se aos três movimentos de
considera que todas as coisas do por exemplo representações teatrais. um pudor incompreensível, evitaram
nossa revolução: a luta entre categorias
universo são regidas por leis próprias e - Qual é a idade média de seus todas as perguntas referentes a proble-
sociais, a luta pela produção e experi-
que o h o m e m é capaz de descobri-las e pacientes e de que camada social mas sexuais. /«•.
mentação científica.
dominá-las - o homem, é claro, n o provêm na maioria?
Durante muito tempo me apaixonou
a pintura linear pura até que descobri
Van Gogh, que pintava, em lugar de
linhas e formas, coisas da natureza
morta como que agitadas por convul-
sões.
E morta.
Como sob o terrível embate dessa
força de inércia a que todos se referem
com meias palavras, e que nunca foi
tão obscura como desde que a totali-
dade da terra e da vida presente se
combinaram para esclarecê-la.
Bem, são cacetadas, realmente cace-
tadas o que Van Gogh aplica sem parar
a todas as formas da natureza e aos
objetos.
Desenredadas pelo punção de Van
Gogh,
as paisagens exibem sua carne hostil,
o rancor de - suas entranhas rebentadas,
que não se sabe, além do mais, que
força insólita está metamorfoseando.
Uma exposição de quadros de Van
Gogh é sempre uma data culminante
na história,
não na história das coisas pintadas,
mas na própria história histórica.
Pois não há fome, epidemia, erup-
ção vulcânica, terremoto, guerra, que
separem as mônadas do ar, que retor-
çam o pescoço da cara turva de fama
fatum, o destino neurótico das coisas,
como uma pintura de Van Gogh, —
exposta à luz do dia,
colocada diretamente ante a vista,
o ouvido, o tato,
o aroma,
nos muros de uma exposição —, Em pinceladas vibrantes como as de seu biografado, Antonin Artaud revolve a
lançada por fim como nova na alma atormentada de Van Gogh; traduz para a palavra escrita alguns de seus
atualidade cotidiana, posta outra vez quadros geniais; e chega à conclusão de que o pintor de uma orelha só, não se
em circulação. suicidou coisa nenhuma: foi "suicidado" por seu psiquiatra.

Os corvos pintados dois dias antes seguindo o talho negro da linha enquanto Van Gogh acreditava que
de sua morte não lhe abriram, mais onde o bater de sua soberba plumagem é preciso aprender a deduzir o mito
que suas outras telas, a porta de certa faz pesar sobre os preparativos da das coisas mais rasteiras da vida,
glória póstuma, mas abrem à pintura pin- tormenta terrestre a ameaça de uma e segundo eu penso, caramba que
tada, ou melhor, à natureza não pintada, sufocação vinda do alto. estava certo.
a porta oculta de um mais além possível, E, no entanto, todo o quadro é Pois a realidade é extraordinaria-
através da porta aberta por Van Gogh soberbo. mente superior a qualquer relato, a
para um enigmático e pavoroso mais Quadro soberbo, suntuoso e sereno. qualquer fábula, a qualquer divindade,
além. Digno acompanhamento para a mor- a qualquer super-realidade.
Não é freqüente que um homem, te daquele que, em vida, fez girar Não se necessita mais que o gênio
com um balaço no ventre do fuzil que tantos sóis ébrios sobre tantas parvas de saber interpretá-la.
o matou, ponha numa tela corvos rebeldes ao exílio e que, desesperado, O que nenhum pintor, antes que o
negros, e debaixo uma espécie de com um balaço no ventre, não pôde pobre Van Gogh, havia feito,
planície, possivelmente lívida, de qual- deixar de inundar com sangue e vinho o que nenhum pintor voltará a fazer
quer modo vazia, em que a cor de uma paisagem, empapando a terra com depois dele.
borra de vinho da terra se enfrentam uma última emulsão, radiante e tene-
loucamente com o amarelo sujo do brosa ao mesmo tempo, que sabe a Não preciso interrogar a Grande
trigo. vinho acre e a vinagre picado. Ceifadeira para que me diga com quais
Mas nenhum outro pintor, fora Van supremas obras-primas teria sido enri-
Gogh, foi capaz de descobrir, para O que mais me surpreende em Van quecida a pintura se Van Gogh não
pintar seus corvos, esse negro de trufa, Gogh, o maior pintor de todos os tivesse morrido com 37 anos,
esse negro de comilona fastuosa e ao pintores, é que, sem sair do que se porque, depois de "Os Corvos", não
mesmo tempo como de excremento, denomina e é pintura, sem se separar posso crer que Van Gogh chegasse a
das asas dos corvos surpreendidos pelos do tubo, do pincel, do enquadramento pintar mais um quadro.
resplendores declinantes do crepúsculo. do motivo e da tela, sem recorrer à Creio que morreu com 37 anos
anedota, ao relato, ao drama, à ação porque já tinha chegado ao termo de
E de que se queixa a terra ali, sob sem imagens, à beleza intrínseca do sua fúnebre e lamentável história de
as asas dos faustos corvos, faustos só, tema e do objeto, chegou a infundir possuído por um espírito maligno.
sem dúvida, para Van Gogh e, ademais, paixão à natureza e aos objetos em tal Porque não foi por si mesmo, em
fastuoso augúrio de um mal que já não medida que qualquer conto fabuloso conseqüência de sua própria loucura,
lhe diz respeito? de Edgar Poe, de Herman Melville, de que Van Gogh abandonou a vida.
Pois até então ninguém como ele Nathaniel Hawthorne, de Gerard de Foi sob a pressão, dois dias antes de
havia convertido a terra nesse trapo Nerval, de Achim d'Arnim ou de sua morte, desse espírito maligno que
sujo empapado em sangue e retorcido Hoffman, não superam em nada, den- se chamava doutor Gachet, psiquiatra
até escorrer vinho. tro do plano psicológico e dramático, a improvisado, causa direta, eficaz e
No quadro há um céu muito baixo, suas telas de dois centavos, suficiente dessa morte.
achatado, suas telas, por outro lado, quase Lendo as cartas de Van Gogh a seu
violáceo como as margens do raio. todas de moderadas dimensões, como irmão cheguei à firme e sincera con-
A insólita franja tenebrosa do vazio respondendo a um propósito delibe- vicção de que o doutor Gachet,
se eleva em relâmpago. rado. "psiquiatra", na realidade , detestava
A poucos centímetros do alto e Van Gogh, pintor, e que o detestava
como proveniente do baixo da tela, Penso que Gauguin acreditava que o como pintor, mas acima de tudo como
Van Gogh soltou os corvos como se artista devia buscar o símbolo, o mito, gênio.
soltasse os micróbios negros de seu agigantar as coisas da vida até a É quase impossível alguém ser ao
baço suicida, dimensão do mito, mesmo tempo médico e homem hon-
rado, mas é vergonhosamente impossí- crer que ele pratica a magia em
vel alguém ser psiquiatra sem estar ao segredo".
mesmo tempo marcado ao fogo pela "Prometeram pagar-lhe essa soma e
mais indiscutível loucura: a de não a pagarão. O senhor não pode conti-
poder lutar contra esse velho reflexo nuar obstinado a ponto de atribuir esse
atávico da multidão que converte atraso à má vontade".
qualquer h o m e m de ciência aprisiona- Todas essas práticas suaves de psi-
do na multidão, numa espécie de quiatra bonachão, que parecem inofen-
inimigo nato e inato de todo gênio. sivas, mas que deixam no coração algo
* como a fenda de uma linguinha negra,
No alienado há um gênio incompre- a linguinha negra inofensiva de uma
endido que cobiça na mente uma idéia salamandra venenosa.
que produz pavor, e que só no delírio E algumas • vezes não é preciso nada
consegue encontrar uma escapatória mais para levar um gênio ao suicídio.
para as opressões que a vida lhe Chegam dias em que o coração
prepara. sente tão terrivelmente a falta de saída,
O doutor Gachet não dizia a Van que é surpreendido, como uma paulada
Gogh que estava lá para retificar sua na cabeça, com a idéia de que já não
pintura (como ouvi o doutor Gaston poderá mais ir adiante.
Ferdière, médico-chefe do asilo de Pois foi precisamente depois de uma
Rodez, dizer que estava lá para retifi- conversa com o doutor Gachet que
car minha poesia), mas o mandava Van Gogh, como se nada tivesse
pintar a natureza, sepultar-se numa acontecido, entrou no quarto e suici-
paisagem para evitar-lhe a tortura de dou-se.
pensar.
Pois bem, tão logo Van Gogh virava Eu mesmo estive 9 anos num asilo
a cabeça, o doutor Gachet lhe desligava de loucos e nunca tive a obsessão do
o comutador do pensamento. suicídio, mas sei que cada conversa
Como se não quisesse a coisa, mas com um psiquiatra, de manhã na hora
através de uma dessas desprezíveis e da visita, fazia surgir em mim o desejo
insignificantes torcidas de nariz nas de me destruir, ao compreender que
quais todo o inconsciente burgês da não poderia degolá-lo.
terra inscreveu a antiga força de uin E Theo talvez fosse muito bom para
pensamento cem vezes reprimido. seu irmão, do p o n t o de vista material,
mas isso não lhe impedia de o
Van Gogh se representou a si considerar um delirante, um iluminado,
mesmo em grande número de telas, e um alucinado, e se obstinava, em vez
por mais bem iluminadas que estives- de o acompanhar em seu delírio, de o
sem sempre tive a penosa impressão de acalmar.
que as haviam feito mentir a respeito Que depois tenha morrido de pesar,
da luz, que tinham tirado de Van Gogh não muda a coisa em nada.
uma luz indispensável para cavar e O que mais importava a Van Gogh
traçar seu caminho dentro de si. no mundo era sua idéia de pintor, sua
E esse caminho, não era sem dúvida terrível idéia fanática, apocalíptica de
o doutor Gachet a pessoa capacitada iluminado.
para indicá-lo. Não há ninguém que tenha jamais
Mas como já disse, em todo psiquia- escrito, ou pintado, esculpido, mode-
tra vivo há um sórdido e repugnante lado, inventado, a não ser para sair do
atavismo que o faz ver em cada artista, inferno.
em cada gênio, um inimigo. E para sair do inferno prefiro as
E não ignoro que o doutor Gachet naturezas desse convulsionário tranqüi-
deixou na história, com relação a Van lo às formigantes composições de
Gogh, a quem ele atendia, e que Breughel, o velho, ou de Jerônimo
acabou suicidando-se em sua casa, a Bosch, que não são mais do que artistas
impressão de ter sido seu último amigo ali onde Van Gogh não é senão um
na terra, algo assim como um consola- declarar que me canso. arrebatar suas idéias sadias. Porque se pobre ignorante empenhado em não se
dor providencial. tal maneira de ver, que é sadia, se enganar.
No f u n d o de seus olhos, como Alguém devia a Van Gogh certa difundisse universalmente, a Sociedade
depilados, de açougueiro, Van Gogh se soma de dinheiro, e a propósito disso a já não poderia viver, mas eu sei quais Para que escrever um quadro de
entregava sem descanso a uma dessas história nos diz que Van Gogh estava heróis da terra encontrariam sua liber- Van Gogh! Nenhuma descrição tentada
operações de alquimia sombria que de mau-humor fazia vários dias. dade. por quem quer que seja poderá se
tomam a natureza por objeto e o As naturezas superiores têm a incli- Van Gogh não soube livrar-se a equiparar com a simples enumeração
corpo humano por proveta - ou crisol. nação — sempre situadas num nível tempo dessa espécie de vampirismo da de objetos naturais e de tintas a que se
acima do real — a explicar t u d o pela família, interessada em que o gênio de entrega o próprio Van Gogh, tão
E sei que segundo o doutor Gachet
influência de uma consciência maligna, Van Gogh pintor se limitasse a pintar, grande escritor quanto pintor, e que
essas coisas cansavam Van Gogh.
a crer que nada se deve ao acaso, e sem reclamar ao mesmo tempo a revo- transmite a propósito da obra que
O que não era no doutor resultado
que tudo o que sucede de mau é lução indispensável para o desenvolvi- descreve a impressão da mais descon-
de uma simples preocupação médica,
devido a uma vontade maligna, consci- mento corporal e físico de sua personali- certante autenticidade.
mas a manifestação de zelos tão
conscientes quanto inconfessados. ente, inteligente e deliberada. dade de iluminado.
Coisa em que os psiquiatras nunca E entre o doutor Gachet e The o, 8 de setembro de 1888
Porque Van Gogh tinha alcançado
esse estado de iluminação no qual o crêem. irmão de Van Gogh, houve muitos
pensamento em desordem reflui diante Coisa em que os gênios sempre desses hediondos conciliábulos entre "No meu quadro Café à Noite,
das descargas invasoras da matéria, crêem. familiares e médicos-chefes dos asilos tentei mostrar que o café é um lugar
no qual o pensar já não é consu- Quando estou doente, é porque de alienados, em relação ao enfermo onde a gente pode se arruinar, ficar
mir-se, estou enfeitiçado, e não posso conside- que tem em mãos. louco, cometer crimes. Em resumo
rar-me doente se não admito, por "Tome conta para que não tenha tentei, através de contrastes de rosa
e nem é sequer,
outro lado, que alguém tem interesse mais esse tipo de idéias" "Olha, foi o tênue e vermelho sangue a borra de
e no qual nada resta além de reunir
em me arrebatar a saúde e tirar doutor que disse, você tem de largar vinho, de verde suave Luís XV e.
corpos.
proveito de minha saúde. esse tipo de idéias". "Faz mal a você Veronês em contraste com verdes
Não, doutor Gachet, uma tela nunca Também Van Gogh acreditava estar pensar sempre nelas; vai ficar internado amarelentos e esbranquecidos duros,
cansou ninguém. São energias frené- enfeitiçado e o dizia. toda a vida". tudo junto numa atmosfera de forno
ticas em repouso, que não determinam No que me diz respeito creio "Mas não, senhor Van Gogh, vamos, infernal de enxofre pálido, mostrar
firmemente que estive, e um dia direi convença-se de que tudo é pura algo como a potência tenebrosa de
agitação.
onde e como-aconteceu. casualidade; além disso não fica bem uma taverna.
Eu estou como o pobre Van Gogh;
também deixei de pensar, mas dirijo, O doutor Gachet foi o grotesco querer examinar assim os segredos da " E apesar de tudo isso, assumindo
cada dia de mais perto, formidáveis cérebro, o pustulento e purulento cére- providência. Conheço o senhor Fulano uma aparência de alegria japonesa
ebulições internas, e seria digno de se bro de jaqueta azul e roupa engomada, de Tal, é uma excelente pessoa; seu unida à candura de um Tartarim . . .
ver que um médico qualquer viesse posto diante do mísero Van Gogh para espírito de perseguição leva a gente a "Que quer dizer desenhar? Como s e ^
consegue? É a ação de abrir caminho por essa mesma razão ainda que t u d o isso nos tenha to, havia matéria explosiva,
através de um m u r o de ferro invisível um formidável músico. enfeitiçado, vulcão m a d u r o ,
que parece interpor-se entre o que se Organista de uma tempestade detida até que por fim nos t e n h a m o s pedra de transe,
sente e o que é possível realizar. O que que ri na natureza límpida, apaziguada suicidado, paciência.
fazer para atravessar esse m u r o , pois de entre duas torrhentas, ainda que, c o m o pois acaso não f o m o s todos, c o m o o Diante de uma h u m a n i d a d e de
nada serve golpeá-lo c o m força; para o próprio Van Gogh, essa natureza mísero Van Gogh, suicidados pela macacos covardes e cachorros molha-
conseguir é preciso corroê-lo lenta e mostre claramente que está p r o n t a para sociedade! dos, a pintura de Van Gogh demonstra-
pacientemente com uma lima, essa é a partir. Então o velho Van Gogh era u m rei rá ter pertencido a u m t e m p o e m que
minha; o p i n i ã o . " Depois de olhá-la, pode-se voltar as contra quem, e n q u a n t o dormia, se não havia alma, n e m espírito, n e m
Como parece fácil escrever assim. costas a qualquer tipo de tela pintada, inventou o curioso pecado denominado consciência, nem p e n s a m e n t o ; apenas
Pois bem! Tente então, e diga-me se pois n e n h u m a tem mais nada a nos cultura turca (plebéia), elementos primordiais, alternativamente
você, não sendo o autor de uma tela dizer. A tempestuosa luz da pintura de exemplo, habitáculo, m o t o r do pe- encadeados e desencadeados.
de Van Gogh, poderia descrevê-la tão Van Gogh começa suas récitas sombrias cado da h u m a n i d a d e , que não soube Paisagens de intensas convulsões, de
simplesmente, sucintamente, objetiva- no mesmo instante em que deixa de fazer nada melhor do que devorar o traumatismos enlouquecidos, c o m o os
mente, duravelmente, validamente, soli- ser olhada. artista q u a n d o vivo para se enriquecer de u m c o r p o que a febre a t o r m e n t a
damente, opacamente, maciçamente, Unicamente pintor, Van Gogh, e c o m sua probidade. para restituí-lo à saúde perfeita.
autenticamente e milagrosamente, nada mais; nada de filosofia, de Pois a h u m a n i d a d e não quer se dar Por debaixo da pele o c o r p o é u m a
c o m o essa breve carta. mística, de rito, n e m de liturgia,' ao trabalho de viver, de tomar parte usina novamente aquecida,
Não há fantasmas nos quadros de nada de história, n e m literatura nem-- nesse volutear natural entre as forças e por fora,
Van Gogh, n e m visões, nem aluci- poesia; esses girassóis de ouro bronzea- que c o m p õ e m a realidade, c o m o o e n f e r m o brilha,
nações. do estão pintados; estão pintados c o m o objetivo de obter u m corpo que reluz,
Só a tórrida verdade de u m sol das girassóis e nada mais; mas para compre- n e n h u m a tempestade possa mais preju- c o m todos os seus poros,
duas da tarde. ender u m girassol na realidade, será dicar. explodidos, « '
U m lento pesadelo genésico p o u c o a indispensável, de agora em diante, Sempre preferiu apenas existir. c o m o uma paisagem
p o u c o elucidado. recorrer a Van Gogh, da mesma f o r m a No que diz respeito à vida, costuma de Van Gogh
Sem pesadelos e sem afetos. que para compreender uma t o r m e n t a ir buscá-la n o próprio gênio do artista. ao meio-dia.
Mas ali está o s o f r i m e n t o pré-natal. real, Ao contrário Van Gogh, que pôs Só a guerra p e r p é t u a explica u m a
É o lustre ú m i d o de um pasto, d o um céu tempestuoso, para assar uma de suas mãos, nunca paz que é unicamente transitória,
caule n u m a plantação de trigo que uma planície real; temeu a luta para viver, isto é, para c o m o o leite a p o n t o de derramar-se
está ali p r o n t o para a ceifadura. já não se poderá mais deixar de separar o f a t o de viver da idéia de explica o bule e m que fervia.
E de que a natureza um dia prestará recorrer a Van Gogh. existir, Desconfie das famosas paisagens de
contas. O simples motivo de uma vela acesa e certamente qualquer coisa pode Van Gogh remoinhantes e plácidas,
C o m o t a m b é m a sociedade prestará numa cadeira de palha com armação existir sem se dar o trabalho de ser, crispadas e contidas.
coritas de sua m o r t e prematura. violeta diz m u i t o mais, graças à m ã o de e t u d o pode ser, sem se dar o Representam a saúde entre dois
Na hora e m que escrevo estas linhas Van Gogh, d o que t o d a a série de trabalho, c o m o Van Gogh, o fora de acessos de u m a febre ardente que está
vejo o rosto vermelho ensangüentado tragédias gregas, ou de dramas de Cyril órbita, de irradiar e relampejar. para passar.
d o pintor chegar até mim, numa Turner, de Webster ou de F o r d , que T u d o isso a sociedade tirou dele Representam a febre entre dois
muralha de girassóis desabrochados, até agora, por o u t r o lado, ficaram sem para organizar a cultura " t u r c a " que acessos de uma insurreição de boa
n u m a formidável c o m b u s t ã o de bra- ser representados. tem a probidade c o m o fachada e o saúde.
sas de jacinto o p a c o e de ervas Pois não é para este m u n d o , crime c o m o origem e pontal. U m dia a pintura de Van Gogh
lápis-lazúli. nunca é para esta terra, que t o d o s E assim que Van Gogh m o r r e u armada de ferro e de boa saúde,
T u d o isso no m e i o de u m bombar- temos sempre trabalhado, suicidado, porque o consenso da socie- retornará para lançar ao vento o p ó
deio me teórico de átomos no qual se lutado, dade j á não conseguia mais suportá-lo. de u m m u n d o enjaulado que seu
destaca cada grão, s u p o r t a d o o h o r r o r da f o m e , da Pois se não havia n e m espírito, n e m coração n ã o podia suportar.
prova de que Van Gogh concebeu miséria, d o ódio, do escândalo e do alma, n e m consciência, n e m pensamen- Antonin Artaud
suas telas c o m o pintor, e unicamente asco, Poeta, escritor, crítico, roteirista, ator de cinema, ensaísta, teórico do teatro, etc.'
c o m o p i n t o r , mas que seria que todos f o m o s envenenados, Considerado um dos maiores artistas do século. Suicidou-se.

Editores: Hamilton Almeida. Myl-


tainho, Delfim Fujiwara, Sérgio Fuji-
wara, Palmério Dória, Armindo Ma-
chado, Marcos Faerman, Regina Ara-
kaki, Ricardo Alves, Dácio Nitrini,
Luís Guerrero, Gabriel Romero,
Alex Solnik, Sandra Adams. Gabriel
Bonduki, Fernando Morais, Caco
Caetano, Norma Freire, Domingos
Cop Jr., Lúcia , Robert Crumb.
EX - F.ditora Ltda, rua Santo
Antonio, 1043 - SP/ NENHUM
DIREITO RESERVADO/ Ex - está
assentado no Cadastro da Divisão de
Censura de Diversões Públicas do
DPF, sob n«? 1.341-P.209/73/ Dis-
tribuição nacional: Supeibancas
Ltda. (R. Guianazes, 248, SP)/
Tiragem: 20 mil exemplares/ Com-
posição: Birôgraph/ Fotolito Poly-
ex-
Aquele texto que o Neil, o Joca, o Washington, o Otoniel, o
Palhares não têm tempo de escrever prá você, nós escrevemos.
Aquele iay-out que o Klaus, o Petit, o Zaragoza, o Gabi não podem
bolar prá você, porque não aceitam free-lance, nós bolamos.

QUEM FAZ Aquela reportagem que o Bob Woodward, o Carl Bernstein, o


Raimundo Pereira não farão prá você, porque estão viajando,
nós fazemos.

O EQUIPE Aquele folheto que a DPZ, a Alcântara, a Mauro Salles,


infelizmente não aceitam executar prá você, porque a verba é

SEMPRE TEM pequena, nós executamos.


Aquele jornalzinho que o Estadão, o JB, a Abril não estão
aparelhados prá editar prá sua empresa, nós editamos.

ALGUMA COISA Aquele livro seu que a Melhoramentos, a Nova Fronteira, a


MacGraw Hill lamentam não publicar, nós publicamos.

PRÁ DIZER.
EQUIPE VESTIBULARES/COLÉGIO EQUIPE/COLEGIO EQUIPE SUPLETIVO EX - EDITORA
Rua í-teirquês de Paranaguá 111 - tel.: 257 0177/257 0375 Rua Santo Antônio, 1043.

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Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
UM JORNAL D E AUTOR
Caetano Ve/oso
Eduardo Galeano
José J. Veiga
Neruda
Bioy Casares
Borges
Antonin Artaud

DEZEMBRO 1974 NÜMERO 8 CR$ 5,00

LATINOAMERICA
FUTEBOL
O o O* MUSICA

7/i

HUMOR
l RANGO
VERÍSSIMO
CARLOS ESTEVÃO
Leve um conjunto Milady para a Estrelinha que você tem em casa
A Estrela está lançando uma
aula de manicure doméstica para as
menininhas: Conjunto Milady.
Essa aula não tem um pingo
de teoria. É todinha prática.

A menina põe duas pilhas


na base do Conjunto Milady, liga
e aprende sozinha a ter um pouco
mais de higiene e carinho com as
unhas e as mãos.
0 Conjunto Milady tem
os acessórios que a senhora costuma
usar na manicure: lixas, espátula,
removedor de esmalte, vidrinhos de
esmalte, secador e polidor.
Funcionando em silêncio,
carinhosamente.
Ponha essa aula de manicure
na frente de sua filha.
O Conjunto Milady
Estrela vai despertar na
menina a mesma vaidade
que a senhora conserva
até hoje.

»V "
FLOR. NO CONCRETO Posada, da Faculdade de Comuni-
A LOUCURA N O S J O R N A I S "Ex - surgiu para mim como uma cação da Universidade Católica de
flor brotando do concreto. O n.° 7, Minas Gerais).
"O último número do jornal Ex-, Loucura, está uma obra-prima. Tenho notado á ótima qualida-
especial sobre loucura, não está Infelizmente as pessoas cada vez de dos textos apresentados no nú-
só nas bancas à disposição do pú- mais se fecham, botam armadu- mero 7 do Ex -, o primeiro que
blico. Está também em várias f a - ras e saem às ruas". (Carlos Al- nos chegou às mãos. Gostaria de
culdades de psicologia de São P a u - berto Jundiaí). saber coom adquirir os números
lo e do Rio". (Jornal da Tarde, de MAIS LOUCURA anteriores.
São Paulo). '•O Ex-Loucura está muito bo- (João Batista Magro Filho, Vi-
'•O número 7 do Ex - acaba de nito. Mas não escrevo só p a r a tória, Espírito Santo).
sair e, nesta edição, ele assume elogios. Sou desenhista, meus tra_
inteiramente a causa de uma mi- balhos vogam atualmente sobre o Infelizmente, só temos os três
noria tão anônima quanto o pró- tema citado. Gostaria de saber últimos números. Mandem 5 cru-
zeiros (em dinheiro ou cheque vi- QUADRINHOS
prio jornal. E que, dificilmente lefá se os amigos têm outros documen-
um único exemplar que seja dos tos não publicados que pudessem sado) e nos lhe mandamos o Ex.
17 mil da edição: a causa dos i n - me ceder: fotos, artigos... Exis- A estréia de dois cartunistas gaúchos
ternos nos hospícios". (José Paulo tem livros editados de Qorpo San- no Ex-: L. F. Veríssimo (pág. 22)
Borges. Última Hora, de S. Paulo). to?" Paulo de Tãrso, Campinas. Edgar Vasques (pág. 10).
Paulo, temos mais material, e E uma homenagem a
vamos publicá-los. Mas, se você Carlos Estevão (pág. 26).
DEPOIS DO VENDAVAL passar por aqui, a gente pode t r a n -
E X - E d i t o r a L t d a . , r. S a n t o A n t o n i o , 1043
"O Ex _ é um jornal organizado sar alguma coisa. De Qorpo San-
— S P / NENHUM D I R E I T O R E S E R V A D O
e editado p e l a . t u r m a que traba- to há, por exemplo, As Relações
/ Ex- e s t á a s s e n t a d o n o C a d a s t r o d a D i -
lhava no Bondinho. O Bondinho Naturais e outras Comédias, edi-
visão de C e n s u r a de Diversões P ú b l i c a s
desapareceu num destes vendávais tado graças ao trabalho de Gui-
do DPF, sob n." 1,341-P.209/73. Distri- ( s Q ^ T B LSrevciAPCTR E 5 í )
que vez por outra se abatem sobre lbermino César, professor gaúcho.
buição nacional: Superbancas Ltda. (R.
publicações que procuram inovar G u a i a n a z e s , 248, S P ) . T i r a g e m : 17 m i l
o jornalismo e as idéias. É o des- NÚMEROS ATRASADOS exemplares. Impresso nas oficinas do
tino. .. Ex - é uma publicação mo- Está nas bancas de jornais de J o r n a l P a u l i s t a , r. Oscar C i n t r a G o r d i -
derna que complementa não só o Belo Horizonte o número 7 do n h o , 46 São P a u l o .
trabalho da imprensa diária. E Ex - e, dado seu alto nível, esta- ( y i
jornal de texto, análise, interpre- mos interessados em colocar os
tações sobre assuntos de atuali-
1 1
números anteriores n a biblioteca ASSINATURA DE 6 NÜMEMOS DO EX—:
dade". (José- Onofre, Folha da de nossa faculdade. 45 C R U Z E I R O S . PARA O E X T E R I O R , 30
Manhã, de Porto Alegre). (Prof. Jorge Enrique Mendoza PARA O BRASIL.

CARTAS ÍNDICE
CENTRO ACADÊMICO DE DEBATES E ESTUDOS FASCISMO
D A
Ordem e Tradiçao, Ordem Negra,
Ordem Nova, Alicante,
ESCOLA SUPERIOR DE PSICANÁLISE Paladin, Jovem Europa:
ENTIDADE DIDÁTICA DE UTILIDADE PÚBLICA. FISCALIZADA PELO GOVÊRNO FEDERAL • FILIADA hoje, qual é a cor da camisa
A FEDERAÇÃO NACIONAL DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR DO BRASIL negra de Mussolini? Pág. 4.
RUA SILVIO N.° 3 - ( GRUPO CADEP ) - BRÁS - SAO PAULO 9 E X - U M JORNAL imp
DE F U T U R O rari
Senhores Editores, aluí FUTEBOL
saudações acadêmicas. nac Os caras saem daqui para conquistar
de. a Europa. Terminam
mai passando vergonha e jogando
des: na várzea belga. Pág. 8
P e l a coragem, daspreendlmento e a l t í s s i m a vi sofr
sao J o r n a l í s t i c a , d e m o n s t r a d a p e l a e q u i p e d e EX q u e , em seu nos IMPRENSA
ú l t i m o número ( O u t u b r o ) , superou suas p r ó p r i a s perspectivas - Fitt Cláudio Bojunga, que já esteve
f i l o s ó f i c a s , para oferecer a população b r a s i l e i r a , um r e t r a t o seu: na China, e João Antônio, o cronista
chocante e, ao mesmo t e m p o s o c i o l ó g i c o e h u m a n o , de n o s s a (Mi dos malandros, falam com tristeza
crescente loucura, conseguindo ainda, nesta verdadeira lição da segunda profissão mais
de r e a l i s m o , t r a n s m i t i r aos l e i t o r e s , o paradoxal lirismo e antiga do mundo: o repórter. Pág. 9.
sensibilidade, q u e e x i s t e e f l u i a t r a v é s da l o u c u r a , a Direto ®
ria do C e n t r o A c a d ê m i c o de D e b a t e s e E s t u d o s de P s i c a n á l i s e e
S POLÍTICA
a c o l e n d a C o n g r e g a ç ã o da E s c o l a S u p e r i o r d e P s i c a n á l i s e de
Pau Marcos Freire é lançado
Sao P a u l o , s e unem m m mesmo e s i n c e r o v o t o de congratulação, para governador íe Pernambuco
né?
por mais e s t e r e l e v a n t e s e r v i ç o de u t i l i d a d e p ú b l i c a , presta- Bra num livro de cordel.
do a t o d o s n ó s , que n o s c o n s i d e r a m o s , (apenas) "estatístioamen (lV£ O autor aproveita o ensejo
te" normais. para elogiar todo mundo
P o r i s t o mesmo, e s t u d i o s o s do p s i q u i s m o huma
neste país. Pág. 11.
no, s e n t i m o s de v e r d a d e , q u e t ã o b e n e m é r i t a e d i ç ã o de E Z . a t i n
g i u s e u s o b j e t i v o s de i n f o r m a r e p a r a l e l a m e n t e , serviu para Hamilton de Almeida, que já Ugh!
d e s m o r a l i z a r os p r e c o n c e i t o s e x i s t e n t e s c o n t r a a a l i e n a ç ã o - publicou coisas aqui no pasca N Primeiro tablóide ilustrado
mental, a b a n d o n a d a n a e s c u r i d ã o medonha a d e s o n e s t a , doa pri
manda a revista que ele e uma as < ameríndio. Pode ser vendido
v i l é g i o s que c e r t a s c a t e g o r i a s p r o f i s s i o n a i s c r i a r a m , não pa
turma muito boa lá de São Pau- e n separadamente. Pág. 13.
r a p e s q u i s a r e m a r e s o l v e r e m o p r o b l e m a da l o u c u r a , mas sim-
lo estão editando. O nome é dep
"Ex",(não é difícil imaginar que lio
p l e s m e n t e p a r a se l o c u p l e t a r e m de sua e x p l o r a ç ã o mercantillza
se trata de uma alusão ao "Bon- con LATINO AMERICA
dora, num r e t r o c e s s o o i e n t í f i c o sumamente i n q u i s i c i o n a l que, O escritor uruguaio Mario Benedetti
dinho", que foi um dos bons - e
sem a m e n o r dúvida, no f u t u r o , s e r á a v e r g o n h a de uma s o c i e d a
por isso mesmo raros - momen- cai de pau nos seus colegas
de q u e s e d i z olvilizada.
tos do jornalismo brasileiro, na que vivem na Europa.
última década. Dá-lhe, Hamil- A seguir, retratos e auto-retratos
E s t a mesma oomunidade a que pertencemos, es
ton, o negócio é não deixar cair de 5 caras famosas:
ta geraçao de consciências robotizadas, que na teoria cultu-
a peteca. "Ex" já ultrapassou o Sábato, Garcia Márquez, Neruda.
ralista d* S.Promm, prefere "o mído a liberdade", sofreu um Borges e Bioy Casares. Pg. 17.
fatídico número 4; já está no F
rude mas necessário - choque dá realidade, que esperamos te
seu número 7. Está muito bom e vee
nha sido sufioientemente durador, para que nossas Autôridadea
está nas bancas. Vamos lá, gen- te . OS LUSÍADAS
• todas as orlaturas ligadas a Saúde PÚblloa, voltam suas te boa. - (Jaguar) Uma seção sobre o que está saindo
ani na imprensa de Portugal. Pág. 21.

BAIXA SOCIEDADE
Inverno em Camandueaia;
EXPEDIENTE ríssimo, Edgar Vasques, João
Quando Fininho Dançou;
üolas hranoas. pretas e murchas:
COLABORADORES: o senhor Percival de Souza,
EDITORES: Wilson Moherdaui, Paulo Mo- Antônio nosso cronista mundano,
Marcos Faerman, Palmério Dó- reira Leite, Edimilton Lampião, PUBLICIDADE: voltou das férias para a pág. 23.
ria de Vasconcelos, Gabriel Araken, Jòca, Miranda, Pharaó, Dácio Nitrini e Paula Plank.
Bonduki, Guilherme Cunha Vitor Vieira, Nelson Blecher, CIRCULAÇÃO:
Pinto (redação), Cláudio Fer- Olavo,Vanira Codato, Sandra Luís Guerrero GAVETA LITERÁRIA
lauto. Cristina Burger e Her- Adams, Teresa Caldeira, Lina ADMINISTRAÇÃO: Um calendário para você recortar
mes Russini (arte) Gorenstein, Luís Fernando Ve- Armindo Machado e vomitar. Pág. 24.
OLÊ, OLÁ,
O MUSSOLINI
TÁ BOTANDO
PRÁ QUEBRAR
Espionagem. Conspira- -Sérac, outro francês, partiu _ favorável ao colonialismo ção para ficar segura de suas
ções. Atentados. Golpes pouco antes dó golpe, sem que se opunha à indepen- convicções anticomunistas.
de Estado. Apesar das re- que ninguém soubesse para dência da Argélia). Sobre a Quando o resultado era po-
centes derrotas em Por- onde. ficha de Robert Leroy, lê-se: sitivo, o correspondente re-
As investigações começa- "ex-membro da Waffen-SS". cebia uma carteira de im-
tugal e.na Grécia, ainda ram logo depois de revela- A Ordem e Tradição, que ti-
não se pode falar em fas- prensa, registrada em Lisboa,
ções feitas por muitos dos nha seus estatutos redigidos com a sua foto. Ele virava
cismo como fenômeno do agentes da Pide presos em em francês, português e in- assim, oficialmente, um em-
passado. Ele está por ai, Caxias. "Nós trabalháva- glês, mantinha relações pregado da Aginter que po-
protegido e organizado. mos". eles contaram, "em es- muito íntimas com a Ordre deria ser muito bem remu-
treita ligação com a Aginter. N o u v e a u (depois Faire nerado, se fosse produtivo.
Em Lisboa, a descoberta -Press que, com a fachada Front), com a italiana Or-
dos arquivos de uma Depois de alguns meses e
de agência de notícias, f u n - dine Nuovo (depois Ordine uma - outra investigação,
agência portuguesa de cionava em certos assuntos Nero) e com um outro mo- mais rigorosa, a Aginter lhe
"informações", dirigida como filial da DGS". vimento italiano de extre- propunha que se tornasse
por franceses que fugi- O tenente Moniz Matos ma-direita. a Vanguarda agente de informações. Re-
transfere o que foi encon- Nacional de Stefano delle cebia então falsas carteiras
ram depois da queda de trado nos quatro cômodos Chiaíe. Título do boletim de imprensa, documentos
Marcelo Caetano, revelam para um caminhão militar informativo da Ordem e falsos e mais todos os pa-
as ramificações de uma e volta a Caxias. Uma par- Tradição: "veritas ubique". péis que poderiam -ser ne-
verdadeira conspiração te do carregamento — tudo E o lema: "melhor acender cessários. Seu trabalho tor-
internacional, que quer o que estava nos escritórios uma pequena vela do que nava-se o de um espião clás-
e no laboratório — é tran- maldizer a escuridão". Os sico. Mais freqüentemente,
ver a Ordem numa Euro- cada no pequeno cômodo do boletins eram impressos em ele virava pura e simples-
pa enfim livre da Demo- primeiro andar do forte. Dieppe, na França, num im- mente um auxiliar da Pide,
cracia, essa "infecção do Uma outra parte — as cai- pressor chamado Ruffel, n.° com missões na África, re-
espírito". A partir desses xas e os dossiers com os re- 58 da rue de la Barre. Por crutamento de mercenários
cortes de jornais — fica coincidência, a sede france- e, não raro, virava merce-
arquivos, o repórter fran- amontoada numa grande sa da Aginter Press também nário mesmo. Na França,
cês René Backmann co- sala ao pé da escada cen- era em Dieppe, n.° 53 da rue além do seu trabalho de in-
meçou a decifrar uma tral, por falta de espaço. de la Republique, n a casa de formação sobre a esquerda
charada que já dura 20 Alguns dias mais tarde, o Joseph Vannier. e a extrema-direita, o cor-
anos: hoje, qual é a cor comandante Abrantes Serra, Foi-me mostrado também respondente da Aginter era
da camisa negra de Mus- novo responsável pelo forte, como o laboratório fotográ- encarregado de espionar os
dá ao tenente Costa Correia fico servia para fabricar do- emigrantes portugueses (cer-
solini? a tarefa de fazer um inven- cumentos falsos. Havia ma- ca de um milhão), parti-
tário do material apreendi- trizes para impressão de car- cularmente os opositores do
Não há mais segredos na do e. principalmente, exa- teiras de identidade, cartei- regime de Marcelo Caetano
ala sul do forte de Caxias. miná-lo minuciosamente. Os ras de motoristas, passapor- e os dirigentes da esquerda
Ali. a 20 quilômetros de Lis- primeiros relatórios do te- tes franceses e também uma portuguesa exilados no país.
boa, uma pequena sala do nente Correia são surpreen- incrível coleção de carimbos Tudo isso em estreita cola-
primeiro andar guarda uma dentes: na verdade, a Agin- espanhóis, franceses e por- boração com os agentes da
bagunça de dossiers, formu- ter não só escondia um es- tugueses, próprios para au- Pide infiltrados na emigra-
lários mimeografados, fichá- critório internacional de in- tenticar documentos falSos. ção portuguesa".
rios, recortes de jornais, ve- formação política, como ser_ Entre esses carimbos, estão Um oficial conta que em
lhas fotos, caixas de clips, via de cobertura para uma os das prefeituras de Haute- Angola e Moçambique "os
carimbos, grampeadores. São importantíssima rede de ex- -Garonne e de Oran, do ser- homens da Aginter desem-
os arquivos de uma pequena trema-direita, o movimento viço de passaportes da Pre- penhavam missões de espio-
agência de notícias, coloca- Ordem e Tradição, que se feitura de Polícia de Paris, nagem ou de provocação.
dos ao lado dos documentos define como "uma organi- da Ordem dos Advogados do Alguns estavam infiltrados
da antiga. polícia política zação de ação e de combate fórum de Annecy, da alfân- nos movimentos de liberta-
portuguesa, sob a guarda da em todos os momentos e em dega de Alicante, da comis- ção, outros nas tropas por-
Comissão de Desmantela- todos os países". são de carteiras de identifi- tuguesas. Mesmo ali eles
mento da Pide-DGS. Mas cação de jornalistas france- agiam por conta da Pide".
ORDEM E TRADIÇÃO ses e muitas assinaturas de
por que tanta , importância Estabelecida na França, A África era um dos princi-
para os papéis de uma agên_ diplomatas e oficiais supe- pais campos de atividade da
Itália, Espanha, Portugal e riores franceses. A Aginter
cia noticiosa sem expressão? Alemanha Ocidental, a Or- Aginter. Nos dossiers de
Press tinha correspondentes Caxias, o tenente Correia
No últiiço dig, 22 de maio, dem e Tradição edita regu- em Bonn, Buenos Aires, Ge-
menos de um mês depois do larmente um boletim de in- encontrou yma documenta-
nebra, Saigon, Roma, Tel ção rica e abundante, cui-
golpe de Estâdo que derru- formações enviado a todos Aviv, Washington. Estocolmo
bou 48 anos de salazarismo, os seus seguidores. Folheei dadosamente mantida em
e Taipé. dia.
um comando de fuzileiros alguns desses boletins em
navais, tendo à frente o te- Caxias. Formam um monte REPÓRTER ESPIÃO Robert Leroy contou a um
nente Moniz Matos, investi- de propaganda extremista," Um antigo correspondente jornalista italiano que tinha
ga um apartamento da La- recheada de literatura polí- n a França explica os méto- cumprido "missões de pro-
pa, em Lisboa. É o prédio tica da guerra-fria, tempe- dos de recrutamento e f u n - paganda" na América do Sul
número 13.da rua das Pra- rada com souvenirs da OAS, cionamento da Aginter: "De- e na África, e que trabalhou
ças, üm imóvel moderno on- com fortes odores de nacio- pois de uma tomada de con- com maior profundidade n a
de os quatro cômodos da so- nal-socialismo e, em seu to- tato com a sede de Dieppe Tanzânia, Rodésia, Malawi e
breloja estão desertos. Os do, polvilhada de referências e seu diretor, Joseph Van- Moçambique, onde se infil-
dois prirfieiros cômodos são ao franquismo, ao salazaris- nier, o candidato primeiro trou principalmente nos mo-
mobiliados como escritório, mo e ao caído regime dos devia fazer o trabalho h a - vimentos de libertação. Se-
no terceiro há um laborató- coronéis gregos. bitual de todo redator de gundo ele, "o processo de
rio fotográfico, no quarto agência noticiosa: fornecer intoxicação era muito bem
Pude também consultar o informações. O que se pe-
estão classificados os arqui- fichário dos membros e as sucedido".
vos, divididos em países. Es- dia. principalmente, eram
fichas de adesão de certos informações sobre atividades Mas em Portugal os ho-
te apartamento é a sede da dirigentes da Aginter-Press, mens da Aginter não esta-
agência Aginter-Press. O ge- "progressistas". Depois de
e assim levantar alguns no- um estágio de alguns meses, vam inativos. Documentos
rente, Jean Vallentin, f r a n - mes. No boletim de todos descobertos na sede da agên-
cês. está ausente. Quanto se o candidato agradasse, a
eles, estava escrito '"antigo Aginter fazia uma investiga- cia mostram que, na véspera
ao proprietário Yves Guérin- OAS" (grupo radical francês do 25 de abril, duas "opera-
Os turistas entram na Grécia
com uma máquina fotográfica nas mãos.
Saem com uma arma

ções pontuais" estavam em violentamente os .dirigentes de taxi que morre logo em liras aos conjurados da Rosa
preparação: um rapto, que do partido que queriam apre- seguida, vítima de uma dos Ventos.
deveria acontecer num café sentar candidatos às eleições "pneumonia fulminante". Daí A volta de Saio
de Lisboa, e um assassinato legislativas: "A democracia em diante, uma estranha Com o apoio do Ordine
em Villafranca de Xira, a é uma infecção do espírito", maldição acompanha as pes- Nuovo e da Vanguarda Na-
30 quilômetros da Capital. justificou. Em Atenas, Pino soas que poderiam inocentar cional, um Comitê de Ação
Rauti encontra também o Valpreda: uma testemunha para o Despertar Nacional e
O cérebro dessas duas ope- coronel Agamemnon, do KYP suicida-se com gás, depois
rações foi Yves Guérin-Sérac, um grupo que se intitula
(serviço secreto grego). Justiceiros da Itália se pre-
aliás Ives Herlou. aliás Ralph de moer-se de pancadas;
Keriou, aliás Yves Guillou. Nos meses seguintes, um uma outra dispara sobre o param para tomar o poder.
Alto 1 metro e 78 —, loiro, funcionário da Embaixada próprio corpo mais da me- Seu programa: o da Repú-
atlético, 48 anos, Yves Gué- Grega começa a distribuir tade de um carregador de blica de Saio (a mesma que
rin-Sérac, antigo capitão "do convites e, assim, centenas pistola automática; outras Mussolini t e n t o u fundar
exército francês, pertenceu à de fascistas italianos vão à ainda sofrem terríveis aci- quando o país foi ocupado
OAS e por isso mesmo foi Grécia em visitas turísticas dentes de trânsito. Com pelos aliados). Para isso, ti_
condenado pela Corte de Se- que sempre terminam num sua inocência provada, Val- nham quatro comandos de
gurança do Estado. Primei- campo de treinamento, no preda hoje está tão livre 250 homens, mais o apoio de
ro refugiado na Espanha, norte do país. No dia 15 de quanto os verdadeiros cul- setores do exército e dos ca-
como muitos outros "oficiais novembro de 1969, o Ordine pados . rabineiros.
perdidos", em seguida foi Nuovo junta-se oficialmente A conspiração foi desco-
ao Movimento Social Italia- Sobre todos esses assun-
para Portugal, onde fundou tos, um homem, hoje preso berta. Entre os muitos ofi-
a Aginter Press em 1966. com no, e Pino Rauti torna-se ciais superiores inculpados
um dos seus amigos, Pierre- membro do comitê central na Itália, sabe muito. Seu
nome é Guido Giannettini, estão o tenente-coronel Amos
-Jean Surgeon. Ele deixou do partido. Spiazzi e o general-de-briga-
Lisboa pouco antes do golpe. 43 anos, antigo especialista
Em junho do mesmo ano, do MSI em problemas mili- da Ricci, que comanda a re-
Yves é considerado por um importante documento tares. Trabalha agora para gião militar de Salerno.
três magistrados italianos o tinha sido enviado ao em- o SID (Serviço de Informa- Também nesse caso o SID
programador do atentado baixador da Grécia em Ro- ção e Defesa), ao lado de estava muito bem informa-
que provocou 16 mortos e ma. É a cópia de um rela- dois mil agentes que saltam do. O caso é tão grande
cerca de 100 feridos no Ban- tório de um agente da KYP da extrema-direita à extre- que em julho seu diretor, o
co da Agricultura, em Milão, na Itália, endereçado ao ma - esquerda, espionando general Micelli, que sucedera
no dia 12 de dezembro de chefe do governo da Grécia aqui, manipulando ali. En- ao almirante Henke, é subs-
1969. Mas ele não está só. e que revela estreitas rela- tre esses agentes estão 200 tituído pelo general Mario
E não são somente uns pou- ções entre os serviços secre- oficiais das três armas e dos Casardi. e as fichas das per-
cos sangüinários nostálgicos tos gregos e os oficiais supe- carabinieri. sonalidades políticas são
do Duce que estendem suas riores italianos. O relatório queimadas. O industrial An-
fala, com palavras claras, Há 10 anos. uma comissão dréa Mario Piaggio foi preso
ações à Espanha, Portugal, parlamentar tinha revelado
Alemanha, França e Grécia; numa ••ação" a ser realiza- em 23 de agosto de 1974, in-
da: "O único ponto de dis- os curiosos métodos de t r a - culpado de "participação em
são políticos importantes, córdia é quanto à fixação balho do SID (na época cha_
uma grande parte dos ser- associação subversiva" e de
das datas precisas de ação. mado SIFAR). Acusado de "conspiração política".
viços secretos, oficiais, poli- espionar e conspirar por
ciais, agentes duplos, triplos Isso porque, segundo os ita- conta própria, o chefe do Nesse meio tempo uma ou-
ou quádruplos, especialistas lianos, eles estão em um ní- SID, general Di Lorenzo, foi tra conspiração foi descober-
vel ainda baixo no plano or- substituído pelo almirante ta e neutralizada. Seu chefe
em ação psicológica que gos- ganizacional". A conclusão é um aventureiro de 49 anos,
tariam muito de um regime do agente.: "Aumentar, o nú- Eugênio Henke e logo em Cario Fumagalli. Profissão:
à moda grega ou chilena. mero de cidadãos que, no seguida se elegeu deputado destruidor de automóveis.
50 MORTOS plano exterior, reclamam pelo Movimento Social I t a - Em 1943 ele tinha criado em
Nos últimos cinco anos, os uma melhoria nas relações liano. Os deputados pedi- Valteline um grupo de par-
nazi-fascistas — como eles com a Grécia e, no plano ram que os relatórios e dos- tisans "autônomo e apolíti-
se denominam — provoca- interior, desejam ordem e siers do SID fossem destruí- co", os Chat-Huants de Val-
ram mais de 50 mortos e tranqüilidade". dos, mas eles foram tranca- teline, depois de uma cam-
muitas centenas de feridos: dos nos arquivos, com in- panha nos serviços sociais do
16 mortos e 100 feridos em Como se diz, a melhor ma- formações sobre todos os V Exército Norte-Americano
Milão; 8 mortos e 95 feridos neira de aumentar a neces- políticos, ativistas de extre- que lhe valeu a Estrela de
no dia 28 de maio, em Bres- sidade de ordem e tranqüi- ma-direita, sindicalistas, jor-
cia; 12 mortos e 48 feridos lidade é simplesmente per- nalistas, magistrados, oficiais Bronze. Conta-se que sob a
no expresso Roma-Munique, turbá-las. -Quanto mais superiores, cardeais, bispos e fachada de seu grupo de
incendiado por uma bomba forte for a perturbação, mais industriais italianos. partisans escondia-se uma
de magnésio na noite de 4 forte é a necessidade". Em organização que fazia os ju-
de agosto. Depois de um pe- agosto de 1969, três meses Nesse emaranhado há um deus italianos passarem pa-
ríodo de pânico, começou-se depois da chegada desse do- bom lugar para Giannettini. ra a Suíça; e conta-se tam-
a descobrir um fio que liga- cumento a Roma, 10 aten- Durante 12 anos, ele percor- bém que Fumagalli despoja-
va todos esses atentados, tados destróem material fer_ reu todos os caminhos do va os judeus de todos os seus
graças às pesquisas da im- roviário no norte e no cen- néo-fascismo europeu, a par- bens e os entregava aos ale-
prensa e da justiça italianas. tro da Itália. Em dezembro, tir de 1961, quando foi iden- mães.
é a bomba da Piazza Fon- tificado numa missa, na Es-
A primeira data é 1967, tana, em Milão. No mesmo panha, ao lado de represen- Em 1962 Fumagalli cria o
quando os coronéis tomam dia, três outras bombas ex- tantes da Falange e de f u - Movimento de Ação Revolu-
o poder em Atenas. Entre plodem em Milão e Roma. turos dirigentes da OAS. De- cionária (MAR), que preten-
os primeiros visitantes ofi- pois de intensa atividade em de instaurar na Itália uma
ciais do novo primeiro-mi- Indignada, a imprensa vol- muitos países, Giannettini é república presidencial. Para
nistro Pattakos está Pino ta-se contra a extrema-es- encontrado novamente nu- isso, recorre várias vezes aos
Rauti, fundador do movi- querda e reclama mais fir- ma conspiração descoberta explosivos. As explosões nos
mento Ordine Nuovo, jorna- meza do governo. no fim do ano passado, a vales de Valtelini e o tráfico
lista. no matutino romano SUICINATOS da Rosa dos Ventos. Foi ele de armas com a Suíça são
de extrema-direita "H Tem- Dois dias depois, Pietro quem convenceu o industrial obras de Fumagalli. Em
po". Considerado "linha Valpreda, beatnik e anar- aposentado Andréa Mario 1970, seu objetivo é atacar
dura" entre os próprios néo- quista, é preso pelo atentado Piaggio, um dos 10 indus- casernas e lançar a respon-
-fascistas do Movimento So- da Piazza Fontana. Foi de- triais, mais ricos da Europa, sabilidade pelos atentados
cial Italiano, Rauti criticou nunciado por um motorista a entregar 180 milhões de sobre a extrema-esquerda,
Paladin, uma agência de emprego
para espiões, assassinos e mercenários

para convencer o exército a tende a fazer da Itália uma peo". Mas, abandonado por loto, um comandante de n a - Hoje. Cláudio Mutti está na
sair às ruas. Fala de seus democracia popular, com ò seus superiores que o consi- vio. um navegador, três es- prisão, por atividades sub-
planos a oficiais e abre-se objetivo de constituir no Es- deram incômodo, Giannetti- pecialistas em explosivos, versivas fasçistas. Entre os
também com um jornalista tado o equilíbrio essencial de ni é logo deixado de lado dois experts em camuflagem, responsáveis pela Associação
do "Corriere de la Sera" e uma democracia ocidental". também por seus amigos dois especialistas em língua está também Aldo Gaiba, 35
agente do SID, Giorgio Zi- Admirador do general De franceses e, no dia 24 de ju- vietnamita, dois especialis- anos, amigo de Orsi,. antigo
cari. Gaulle, Edgardo Sogno pre- nho passado, ele deixa Paris tas em língua chinesa". Os animador dos comitês pela
No dia 8 de março, sua tende uma república presi- rumo à Espanha e aos Es- candidatos sãó avisados de libertação de Freda. Conta-
audiência já é maior: Fu- dencial. Diz um jornalista tados Unidos. que suas missões podem ser se que agentes do governo
magalli expõe seu projeto a italiano que, "de todos os É encontrado um pouco perigosas e que elas podem líbio teriam assistido, em se-
representantes de 10. organi- complôs descobertos, esse é mais tarde em Buenos Aires, levá-los além das "cortinas tembro de 1972, em Munique,
zações. reunidos em Milão. o mais realista". onde, depois de um mês de de ferro ou de bambu". As ao primeiro congresso da
Um mês depois acontece o Sogho não é um aventu- permanência, rende-se às propostas devem ser ende- extrema-direita européia, em
primeiro de uma série de reiro, nem um saudosista de autoridades consulares ita- reçadas a Alicante ou a ou- que a França estava repre-
100 atentados. Procurado, retro-política. Adido mili- lianas, até hoje não se sabe tro endereço de Zurique. sentada pela Ordre Nouveau.
Fumagalli passa para a clan- tar italiano junto à OTAN, porque. Interrogado agora, OS ARABES?
destinidade durante um ano, nos anos 50, ele foi consul- ele se escuda em seu papel Certos de que todos esses
Mais surpreendente ainda: elementos, esparsos, não che-
quando será absolvido pelo -geral da Itália na França, de agente de informações. juizes italianos descobriram
tribunal de Luca. Em março depois embaixador n a Ro- "Eu participava dos complôs gam a constituir provas, os
estranhas ligações entre ho- juizes italianos esforçam-se
passado, Fumagalli assiste, mênia. A CIA parece de- apenas para informar os mens ou organizações de ex_
como convidado, à criação positar grandes esperanças meus superiores". Segundo para identificar um erro
trema-direita e representanl nesta enxurrada de informa-
do Ordine Nero em Cattoli- nesse diplomata, pois muitos revelações que um antigo tes de certos países árabes.
ca, ao sul de Rimini. Lá agentes americanos assisti- agente secreto espanhol fez ções. O que não impede que,
Tanto assim que o represen- hoje., alguns deles tenham a
estão, além dos dirigentes da ram à reunião de 27 de se- à imprensa italiana, um do- tante em Roma da Al F a t a h
nova organização, Mario tembro de 1970. numa vüla cumento da Direção Geral convicção de que o financia-
e da OLP, Nail Zwaiter, que mento da extrema-direita
Peccoriello, Ricardo Occasio, de Segurança de Madri in- foi assassinado pelo serviço
Clemente Graziani. antigo perto de Varese. Além de dica que Giannettini fez, em italiana não vem só dos pa-
secreto israelense no dia 16 trões do açúcar e do petró-
conjurado .da Rosa dos Ven- - Edgardo Sogno, dela partici- julho e em outubro de 1973, de outubro de 1972, freqüen-
tos. O objetivo do Ordine param um alto magistrado, três viagens a Alicante, na leo, mas também de um país
um banqueiro e vários polí- tava assiduamente os diri- árabe que encontraria no
Nero é suceder ao Ordine Espanha. Nelas, teria estado gentes da organização de ex-
Nuovo, dissolvido a 23 de no- ticos, a maioria ligada a or- em contato com Harmut von antisemitismo dos neo-na-
ganizações de resistência trema-direita Luta do Povo, zistas italianos um éco do
vembro de 1973. "Aterrori- Schubert, diretor de uma es- que agora aumentou o seu
zar com bombas os anti- anticomunista. tranha agência de propa- seu antisionismo.
nome para Organização de
fascistas, criar uma situação Se todos esses dados ainda ganda e recrutamento cha- Luta do Povo. Ontem, a Itália estava
de violência, de acordo com não são suficientes para li- mada Paladin. Encarregada cercada de ditaduras. Hoje,
os métodos da grande e ines- gar os fios da "trama ne- de recrutar e utilizar por sua Essa organização tinha es- Caetano caiu, os coronéis
quecível OAS", continuam gra", o procurador D'Ambro- conta — ou por conta dos treitas ligações com Jeune gregos foram banidos e tu-
sendo seus princípios. O sio, encarregado da investi- prudentes serviços oficiais — Europe, dirigida por Cláudio do pode acontecer na Espa-
congresso é também uma gação do atentado do Banco espiões, assassinos e merce- Orsi, sobrinho do general nha depois de Franco. Na
conferência de cúpula, por- da Agricultura em Milão, nários. a Paladin, que tivera Balbo e amigo pessoal de Itália em crise o PC está às
que Fumagalli planeja um desvendou algumas ligações até então sede em Paris, Franco Freda, que dinami- portas do poder, dizendo-se
golpe de Estado, que é apro- interessantes. Em abril de transferiu suas atividades tou a Piazza Fontana. Aliás, disposto a trabalhar lado a
vado para o dia 10 de maio 1971, por exemplo, dois dos para Alicante. Segundo al- foi o próprio Freda quem lado com os homens da de-
de 1974. responsáveis pelo atentado guns militares portugueses, organizou, em Pádua, o pri- mocracia cristã. "É a nossa
Mas no dia 9 de maio, às são presos: o procurador a Paladin poderia ser o meiro congresso italiano da única chance de evitar o fas-
duas da manhã, ele é preso. Franco Freda e o livreiro- "braço armado" da Aginter- Al Fatah, çm 1969. Quando cismo', dizem alguns; "se o
Um verdadeiro arsenal é en- -editor Giovanni Ventura. E -Press em certas operações., Freda foi preso, muitas or- PC chega ao poder, o país
contrado no carro de um de dois outros homens voltam ganizações de estudantes vira um Chile três meses de_
à cena, inculpados: Pino Mas existem coisas mais árabes publicaram um pan- pois", pensam outros. Mas
seus amigos. Nas horas se- surpreendentes ainda. Um fleto em Roma, reclamando o que ninguém duvida: n a
guintes, os amigos de Fuma- Rauti e Guido Giannettini.
magistrado, o juiz Sica, abriu sua libertação e proclaman- Itália, as dificuldades colo-
galli deveriam assassinar Rauti, o amigo dos coro- uma investigação contra a do: "Viva Freda, valoroso cadas no trabalho dos jui-
políticos, os dinamitadores néis gregos, aproveita sua Paladin pç>r suspeita de cum- combatente da revolução zes, a passividade cúmplice
deveriam fazer saltar diques, liberdade provisória para se plicidade com os autores de palestina". dos serviços secretos, de uma
vias férreas e estradas, e os candidatar às eleições para um atentado assassino no parte da polícia e da maio-
comandos deveriam encerrar deputado. Eleito sob a le- aeroporto de Fiumicini. De Mais: a Assosciação Itália-
uma reunião do PCI com ra- -Líbia é presidida por Cláu- ria do exército diante da
g e n d a d o MSI ele reivindica acordo com os documentos agitação "nazi-fascista" e
jadas de metralhadoras. o privilégio da imunidade que o juiz tem, o atentado dio Mutti, 28 anos, professsor
de romeno, tradutor de Cor- mais a presença da CIÀ
Novo Golpe parlamentar. inutilmente, de 17 de dezembro de 1973 mostram que, nostalgia à
porque depois do atentado — que provocou 32 mortes e neliu Zelea Codreanu, chefe
A última conspiração des- dos fascistas romenos no pe- parte, ainda se dança pela
coberta fez menos barulho. de Brescia foi suspensa a foi atribuído a uma or- orquestra negra.
imunidade de todos os depu- ganização palestina — teria ríodo entre as duas guerras.
Soube-se apenas, no começo
de outubro, 1 que cerca de 40 tados do MSI. sido preparado em Alicante,
pessoas, entre elas várias sede da Paladin.
Giannettini ainda passaria
personalidades italianas co- por uma última aventura. Fundada em 1970 por Ghe-
nhecidas, estão sendo acusa- Quando, no dia 5 de maio, rard Harmut von Schubert
das de terem preparado um os magistrados batem à sua (que foi adjunto de Johan-
golpe de Estado 'que deveria porta, ele estava desapare- nes von Leers, antigo chefe
acontecer no dia 2 de junho cido já há um mês. Fugiu do departamento de propa-
passado. para Paris, onde ficou no ganda no' ministério de
Entre essas personalidades hotel Claridge. O aviso de Goebbels), a Paladin produz
conhecidas está Edgardo busca ordenado pela Inter- t e x t o s bem claros para
Sogno, conselheiro nacional pol não tinha por que in- anúncios classificados, como
do Partido Liberal, que, pas- quietá-lo: "Fui ajudado pe- este publicado no "Interna-
sando à clandestinidade, dis- la proteção dos serviços cional Herald Tribune" de 23
se: "É indispensável reagir franceses", disse mais tarde
contra a ação comunista que à revista italiana "L'Euro-
Ingrid nunca duvidou que seus
pais fossem franceses
mortos em campo de
concentração. Um dia descobriu
que era filha de um oficial SS
e de uma sueca, escalados
para fazer "amor" e produzir
mais guris purinhos para o
papai Hitler educar. Como
Ingrid, há na Europa
100 mil pessoas que nasceram
para viver no III Reich.

Os filhos d o FuetirerPOR PAULO MOREIRA LEITE


Pega-se um alto, forte e cruel oficial tos pelo tempo estritamente necessário que não pairassem dúvidas sobre a qua- caria com ele por três meses, depois se-
da SS. Junta-se a uma moça da boa para que ela fosse gerada. lidade do filho que estava sendo gerado. ria entregue a uma família de sarlgue
sociedade, racialmente pura, loura e de Puro Sangue. Este foi o título de um Assim, as mulheres precisavam preencher ariano e princípios nazistas, que se encar-
olhos azuis, como devem ser as boas longo documentário que a BBC passou há um questionário, provar a ascendência regaria de educá-lo até os 18 anos. À
arianas. Leva-se os dois para a cama, pouco tempo na televisão inglesa. Nele, ariana, fornecer um certificado de boa falta de famílias, a própria clínica se
onde irão prestar, de graça e de boa von- o jornalista Marc Hiller e sua mulher, saúde e apresentar referências. encarregaria disso.
tade, mais um serviço pela grandeza do Clarissa Henry, mostravam os resultados Segundo os funcionários da Lebensborn,
III Reich. Se tudo correr bem, nove de uma viagem de 20 mil km pela Euro- MACHÕES a vida nas clínicas era "relaxada, fami-
meses depois, a Alemanha ganha mais pa, à procura de pessoas como Ingrid. liar, muito diversa da de um hospital".
um soldado, o Fuehrer fica contente, e o Ao lado dela, muitas mulheres, princi- A Lebensborn dava preferência aos fi- As mães e filhos recebiam o melhor tra-
casal é dispensado. palmente checas e polonesas, contaram lhos dos oficiais da SS. Por quê? Di- tamento possível. Não se sabe se a Le-
sua vida como "crianças do Fuhrer", zem que Himmler fez questão de experi- bensborn chegou a receber doações de
A idéia de produzir crianças para como Himmler gostava de chamá-las. mentá-los antes de concluir quê eles grandes empresas que ganharam bom
Adolf Hitler — para a morte num campo eram "machos verdadeiramente válidos" dinheiro com a guerra, como a Krupp;
de batalha ou para qualquer tarefa Mas os chefes da Lebensborn não qui-
seram dar • entrevistas: o coronel Max para a missão. O médico Kerstein, para ou se os laboratórios que tiveram gran-
necessária ao Estado — foi de Hein- quem a discrição da história reservou des lucros aperfeiçoando, fabricando e
rich Himmler, o chefe da SS; a receita, Sollman, da SS e administrador da Le-
bensborn; Inge Viermetz, agora escon- apenas o papel de "massagista" e confi- vendendo gases para os campos de exter-
criada e aperfeiçoada pelas clínicas da dente do chefe da SS, ouviu, certa vez, mínio de judeus, comunistas, socialistas,
Lebensborn, foi espalhada pela Europa dida pelo sobrenome Klingsporn, de seu
casamento, responsável pelas clínicas es- explicação um pouco diferente. Além de democratas contribuíram com boas somas
ocupada pelos alemães; o resultado foram racialmente "irrepreensíveis", eles eram para o bem estar de mães, filhos e fun-
100 mil crianças produzidas por nazistas trangeiras; o doutor Gregor Ebner, do
Departamento Médico; e Guenther Tesch, soldados que "partem em batalhas e não cionários. Parece que bastavam as pi-
fanáticos até o espermatozóide. podem saber se voltarão ou se cairão por lhagens nos países ocupados para garan-
do Departamento Legal. Eles fazem ques-
Mas, algumas vezes, os oficiais da SS tão de desfrutar da conveniência do sua pátria". Talvez por isso é que me- tir remédios, ótima alimentação e muita
estavam ocupados demais, perseguindo, anonimato. recessem moças tão bem tratadas. higiene para todos-
torturando e matando os adversários do Nem por isso todos guardam lembran-
regime, para poderem se dedicar a essas "O surpreendente era que a maior par-
ARIANÍSSIMOS te das moças", conta um obstrata da ças muito agradáveis da Lebensborn. A
tarefas mais amenas — igualmente de sua começar pelas crianças que, para infeli-
exclusiva competência. Entretanto, nunca Lebensborn, "eram secretárias, filhas da
faltou tempo aos médicos, enfermeiros e Diante do Tribunal de Nuremberg, ju- burguesia, vinham de um estrato da so- cidade de Himmler, podiam ser louras e
funcionários da Lebensborn de dar uma raram que foram enganadas por todos ciedade onde os nascimentos ilegítimos ter olhos azuis, mas eram absolutamente,
olhadinha nas crianças dos países ocupa- aqueles anos. Garantiram que nunca são menos comuns. Talvez para elas iguais às de qualquer parte do mundo.
dos. Depois de um exame detalhado, de- lhes passou pela cabeça ,enquanto sele- fosse mais fácil apresentar-se do que as "Como em todos os lugares, havia as
cidiam se elas eram dignas de "germani- cionavam mães e pais, que seu objeti- do povo, que se deixam seduzir mais por muito inteligentes, as normais e as de-
zação" ou se não mereciam nada além da vo era a criação de cidadãos "arianíssi- uma pessoa do que por uma ideologia. ficientes", disse uma freira encarregada
morte. mos". Ao contrário: sempre pensavam Fosse por', amor ao Fuhrer, posse por de tomar conta de uma clínica, depois da
que estavam trabalhando em clínicas de- excesso de conformismo, a verdade é, que chegada das tropas aliadas. Se, muitas
Assim, na Polônia, 2,5 milhões de crian- dicadas ao estudo da natalidade e do vezes, sinais claros de algum problema
ças, a maioria judia, foram assassinadas. moças belas, saudáveis e sempre dis-
aborto, com fins beneficientes. Ao me- postas era o que não faltava nas clí- mais grave bastavam para que os filhos
Outras 200 mil foram levadas para os nos os juizes acreditaram nisso; e eles do cruzamento arianíssimo fossem envia-
viveiros especiais para estrangeiros, onde nicas da Lebensborn. Elas se espalha-
foram absolvidos. vam por apartamentos — havia muitos dos a um campo de extremínio, os es-
sua educação, alimentação e comporta- trangeiros sofriam um pouco mais.
mento eram fiscalizados diretamente por Na Europa, muita gente achou estranho deles em Mônaco —, em pequenas chá-
Himmler. Famílias da Noruega, Holanda, o Veredito de Nuremberg, principalmente caras e sítios. "Eram moças altivas, Para serem admitidas, eram submetidas
França e Checoslováquia também tive- o advogado de acusação, que concluiu: distantes, muito diferente de nós", lem- ao seguinte exame: medição antropomé-
ram seus filhos mortos ou raptados. "a Lebensborn era o núcleo central da bra uma vizinha do número 95 da La- trica da fronte, do nariz, do perfil; aná-
utopia nazista, o sonho de um'reino mile- maningenstrasse. lise de um chumaço de cabelos, um teste
Hoje, na Europa, homens e mulheres nário de super-homens louros. Se era Quando apareciam ps garanhões da SS
entre 30 e 40 anos têm razões para sus- de inteligência, um exame de sangue.
preciso exterminar as raças "inferiores" — conhecidos, oficialmente, como "assis- Depois disso, as crianças aprovadas eram
peitar de sua origem — se não puderam — ou aproveitá-las como mão-de-obra tentes para procriação" — a animação
conhecer seus pais verdadeiros. Uma confiadas às clínicas para estrangeiros.
escrava em alguns campos de concentra- era grande. As festas e os banquetes iam Em Oberweiss, na Áustria, haviam uma.
morena de 30 anos, Ingrid, nunca duvi- ção, a serviço das grandes empresas, não até alta madrugada. Antes de executar
dou que fosse filha de francesses mor- Lá, poloneses, húngaros e austríacos de-
poderia haver mal nenhum em se esti- o serviço, podia-se namorar um pouco. viam esquecer a língua de seu país, apren-
tos em campo de concentração. Por isso, mular o crescimento das "superiores". Em Mônaco, havia -um sítio com uma
sempre odiou os alemães. der o alemão e esquecer-se de seus pais.
Tudo era feito com baixo custo, extremo casinha rodeada de árvores onde os casais Atos de desobediência comum eram puni-
cuidado e máxima discrição. Foi em chegavam a parecer românticos em seus dos com castigos especiais — por exem-
SURPRESA! passeios de aquecimento.
Mônaco — "capital da nova ordem e da plo, passar algumas horas ajoelhado num
Um dia, remexendo alguns papéis, na família", segundo Himmler —, que se RITUAL quarto escuro, sozinho.
casa de seus pais adotivos, em Bordeaux, instalou a primeira clínica oficial da Terminada a guerra, pouquíssimas-fo-
descobriu o documento de sua adoção. Lebensborn, em 1942. Não se tem notí- A SS chegou a imaginar um ritual para ram repatriadas; era difícil saber quem
Ali, seu sobrenome constava como De cia de nenhum general cortando a fita comemorar o nascimento de cada criança. era alemão de nascimento e quem apren-
Fouw, de sonoridade estranha demais para inaugural, mas sabe-se que logo apare- Em vez do batismo, as mães do dia ves- deu a ser por obrigação. A maioria jurava
ser francês. Depois de percorrer escri- ceram voluntárias de várias partes do tiam suas melhores roupas, se reuniam que tinha nascido na Alemanha. Mas nem
tórios e registros, Ingrid foi parar na mundo. numa sala enfeitada de flores, bebiam sempre eram tão dóceis assim: um ra-
Cruz Vermelha, em Genebra, onde ficou Mas trabalhar com um oficial da SS era café, comiam doces, escutavam música. pazinho da clínica de Oberweiss, não
sabendo a verdade: não tinha nascido privilégio que Himmler fazia questão de De repente, a mãe dizia: "Te chamo conseguia esquecer que nascera na Po-
num campo de concentração, mas numa distribuir com cuidado. Se a mulher era Hartmut, para que você seja um homem lônia. Um dia, esse menino se recusou
clínica,da Lebensborn, em Paris, a 31 de solteira ou casada, ninguém ia se preo- duro e forte". A partir desse instante, a saudar seu instrutor alemão, e foi
julho de 1944. Era filha do cruzamento cupar com isso: "estavam trabalhando o menino era propriedade exclusiva da assassinado na hora por Johanna Sander,
de um oficial da SS com uma sueca, para a pátria". Mas sua árvore genealó- SS, que se encarregaria de registrá-lo em a diretora da clinica, sempre muito preo-
escalados para fazer carinho e trocar afe- gica era examinada criteriosamente, para seus arquivos particulares. A mãe fi- cupada em manter a ordem.
A ARAPUCA
DOS CANAEINHCS
NA BÉLGICA
A POUCO MAIS DE MIL QUILÔMETROS DE
MARSELHA, ONDE PAULO CÉSAR E JAIRZINHO
VIVEM COMO REIS, 32 JOGADORES BRASILEIROS
SOFREM NO SUBMUNDO DO FUTEBOL BELGA. O
REPÓRTER GUILHERME CUNHA PINTO SOFREU COM ELES.
Zedelgen é uma cidadezinha belga Zottegen, time do ponta de lança Gil- quando vi esse chute que você deu: nho vive sonhando como em Santo
habitada por velhinhas ranzinzas e berto (ex-Santos, trazido à Bélgica por que tal formar um time de rugby?". André. Quando ele se apóia no balcão
máquinas de fliperama. Como em um outro empresário). O Zottegen es- Talvez tirando Valter Zum-Zum, com os olhos meio fechados, todos sa-
quase todo o interior da Bélgica, os tava numa das últimas colocações da ponta direita do São Paulo na década bem quem está com o camisa 5 do
olhares se fuzilam de janela a janela 2.a divisão, Gilberto jogando entre de 60, e Peixe-Galo, Madureira dos Olimpique de Marselha ou do' Paris
e, mesmo durante o dia, todos os ga- os reservas porque era boicota- anos 50, nenhum outro brasileiro fa- Saint-Germain, jogando seu futebol
tos são pardos. Pois foi em Zedelgen, do pelos* titulares. No fim de um co- ça sucesso no futebol belga. Os ou- elegante para um grupo de manequins
e nos lugarejos à sua volta, que o letivo, cansado de pedir a bola sem tros 30 estão ameaçados de demis- e magnatas. Em vez disso, trabalha
futebol brasileiro conquistou as suas receber, Gilberto reparou o técnico são a qualquer momento, como acon- como um louco na fábrica de bicicle-
menores glórias. conversando no centro do campo com teceu com o Souzinha e Pelezinho no tas de Zedelgen que sustenta dois ti-
Nessa região estão espalhados, pelas Zezé, que fazia grandes gestos. Irrita- ano passado, quando perderam seus mes da cidade.
4.a, 5 a e 6 a divisões do campeonato do com aquilo — além de jogar ele lugares para dois cavalões brancos ho- "Trabalho manso", prometeu Zezé
belga, 32 talentos da várzea paulista. A tinha que trabalhar num posto de ga- Todos os craques costumam se reu-
Gambassi, "coisa leve só pra você ga-
maioria foi trazida pelo empresário nhar o ordenado pelo futebol, porque
paulista Zezé Gambassi, um especia- os times de 5.a divisão não podem ser
lista em promessas: nos bares de profissionais." Cedinho ,ele e quase to-
pinga da periferia de São Paulo, dos os craques entram num trabalho
arregalava os olhos dos craques do que só pára no almoço — sanduíche
Corintinha de São Caetano ou do Boca — e vai até as quatro da tarde. Três
de Rudge Ramos com histórias mag- vezes por semana tem treino — 50
níficas sobre a vida do outro lado do piques pelo campo todo, ginástica,
oceano; nos pequenos clubes belgás, chute a gol, depois uísque. Então fá-
aparecia com álbuns de fotos mos- brica, sanduíche, fábrica, treino, uís-
trando o que ele chamava de "as que, jogo, por um dinheirinho igual
maiores revelações do futebol brasilei- ao de Santo André.
ro", coisa fina por pouco dinheiro.
Como jamais conseguiu agradar qual- No começo, Toninho tentou mostrar
quer uma das partes, depois de al- seu estilo refinado: quase quebraram
guns anos Zezé caiu em descrédito no a sua perna. Aí resolveu aceitar o
mercado e, em agosto passado, chegou conselho de Paulo, que já estava há
à desgraça. mais tempo: "Alguém te lança uma
bola, você vê que não vai dar pra.pa-
Como sempre fazia nos meses de rar. Então corre feito um louco, se
férias — julho, agosto e setembro —, esborracha atrás da linha de fundo. A
Zezé organizou este ano uma excursão massa gosta. Chegou perto da área,
pela Europa. Nos outros anos reunia manda de qualquer jeito pro gol. Ss
uns 15 brasileiros em Zedelgen, Zot- estiver cara a cara e jogar a bola pra
tegen e Bruges, e saía para os está- fora do estádio a negada vai te
dios da Espanha e da Itália com os aplaudir: mas se tentar driblar o go-
BB (Brasileiros da Bélgica), time com leiro e perder, os homens te matam".
o uniforme da CBD e a eficiência do
Zaire. Mas naqueles tempos o que o Foi-se adaptando, acabou aceito pe-
público queria era o futebol do Bra- los torcedores, mas confessa que te-
sil, nem que fosse o Madureira. Irri- ria vergonha de jogar assim em Santo
tado com o fracasso da seleção brasi- André, onde todos estão muito orgu-
leira na Alemanha, Zezé achou que o lhosos com seu sucesso. Sempre pe-
vexame exigia ' uma nova tomada de dem para ele aparecer no Brasil pelo
posição: arrumou uns uniformes bran- menos uma vez, nas férias. O Paulo
cos e juntou um grupo de belgas que César e o Jairzinho vira e mexe não
formaram o "Santos", sem Pelé, numa estão no Rio, só para um fim-de-se-
excursão pela Franca, a preços nunca mana? Foi tanta a pressão que Toni-
vistos. nho não aguentou e mandou um re-
cado para casa: "Mãe, estou morrendo
Depois de ser massacrado em Nice de saudades, mas não dá mesmo para
por 14 a 2, o "Santos" só foi dar na ir aí: acabei de ser convocado para
vista em Rouan, onde perdeu por 10 a seleção belga". Balança a cabeça.
a 0. Enquanto os torcedores come- "Imagine, eu na seleção, eu". Só pá-
moravam a maior vitória do futebol ra de rir quando Airton entra corren-
local, os dirigentes, que conhecem do no bar de Liv, empurrando os bê-
bem os jogadores que têm, correram bados dos fliperama.
ao vestuário: "Não vamos pagar a "Toninho, Toninho, os marroca tão
cota acertada até que vocês mostrem aí."
seus papéis". A um grito de Zezé, os
companheiros de Pelé pegaram suas Os marroca são os marroquinos, ar-
roupas e, ainda com os uniformes gelinos, tunisianos e todo mundo que
sujos pelos tombos, escaparam do vier da África, gente que entre os
estádio como puderam. nossos craques tem fama de violenta
e traiçoeira. Onde há um marroca, há
uma briga e um punhal, costuma di-
Mas há anos, quando ainda era zer Airton (ex-Portuguesa), o líder dos
respeitado, Zezé fez grandes negó- jogadores. No sábado anterior o Sou-
cios. Do subúrbio de São Paulo trou- zinha arrumou uma confusão no dan-
xe Souzinha, Paulo, Toninho, Louri- cing, justamente com a mulher de
val, Batata I e Batata II (são ir- um marroca. Ela começou a gritar
mãos) e muitos outros craques da "minha bolsa, roubaram minha bol-
várzea. Antecipando-se ao futebol to- sa", apontando para Souzinha, QBS
tal adotado pela Holanda em 1974, solina — Gilberto f i n a l m e n t e se viu nir nos barzinhos de fliperama, quan- fugiu e foi procurar os companheiro»
Zezé já sabia que no futebol moderno d i a n t e d a bola, e c o m t o d a a raiva do não agüentam mais ouvir os mes- no fliperama. Os craques limparatíl o
ninguém m a i s pode ter posição fixa d e u u m c h u t ã o p a r a cima. I a s a i n d o mos discordo Martinho da Vila e Ro- nome de Souzinha com o dono do
em campo. Um ponta direita poderia do c a m p o , de volta p a r a o Brasil, berto Carlos, nem folhear as revistas dancing e ainda deram um pau nos
v i r a r lateral e s q u e r d o , u m zagueiro q u a n d o viu o técnico cochichar pela "Amiga" que recebem de mês em mês quatro marroca que encontraram no
central p o d e r i a ser t a m b é m u m p o n t a ú l t i m a vez c o m Zezé e se a p r o x i m a r : e j á c o n h e c e m de cor. Às seis da tar-
salão. Agora eles queriam vingança.
de lança, tudo d e p e n d e n d o d a n e c e s - "Meu filho", ele disse c o m voz suave, de do m ê s q u e vem, p o r exemplo, p o -
Em três carros, já tinham fechado as
sidade do clube belga i n t e r e s s a d o . M a s "eu estava vendo você e m c a m p o e de ser que ninguém toque na vitória s a í d a s d o b a r de Liv.
Zezé exagerou: uin dia vendeu Collela, f i q u e i p e n s a n d o n u m a s coisas. Vi q u e d o MDB, m a s s e g u r a m e n t e Lourival
goleiro do juvenil do São Paulo, você a n d a c a n s a d o desse m u n d o s u j o vai l e m b r a r 20 vezes a m o r t e do E r - "Os m a r r o c a ' " , r e p e t e T o i n h o , a p a -
c o m o " c e n t r o avante r o m p e d o r , estilo do f u t e b o l , e até dou razão. Q u e r s a - ion Craves e, se estiver no q u i n t o u í s - vorado, j á a g a c b a ã o a t r á s d o b a l c ã o .
Vavá", a u m time da 4. a Divisão. ber de u m a coisa? E u t a m b é m a n d o que, talvez T o n i n h o c h o r e . " E agora, Airton, o q u e é q u e n ó s v a -
N o a n o p a s s a d o houve u m t r e i n o no c a n s a d o disso tudo. E n t ã o pensei, Baixinho, m u i t o f o r t e , ruivo, T o n i - m o s fazer?".
Cláudio Bojunga é um gosto, que não passa de uma im-
repórter brasileiro portação cultural. No momento
em que nos aproximávamos do
que foi à China e depois nosso povo, das suas dores, lutas,
escreveu uma série esperanças, misérias crônicas, nós
para o Jornal da Tarde. nos sentíamos como que envergo-
As reportagens agora nhados e cheios de distância. Isso
nos impede de aceitar que é tão
estão num livro, importante fazer jornalismo de
editado pela Brasiliense. cidade ou político, como fazer po-
E é falando nelas lícia, esporte, ou caderno 'femi-
que Bojunga defende nino, com dignidade. Tudo aquilo
que não cheira o bom perfume de
um estilo de jornalismo: Até cinco anos atrás, o nossa intelectualidade, faz mal ao
repórter era a alma nosso nariz. Nós estamos cheios
da redação. O jornalista de uma importância de sabidice e
de teorismo inúteis que não quere-
João Antônio conta mos nos aproximar daquilo que
porque o está diante de nosso nariz, nas
repórter está virando ruas, nas conduções coletivas, nas
gerais dos campos de futebol, nos
trens suburbanos, porque tudo
U m apanhador isto fede e fere o nosso chamado
bom gosto, que eu não sei de onde
veio: somos afinal uns mestiços
REPORTAGEM NA ESTANTE de dados
luso-afro-tupiniquins com incrí-
veis problemas de povo pobre, mas
pensamos em termos de uma civi-
poucos descobrindo que o impor- lização cristalizada e que pode se
tante era o olhar que fotógrafo e dar ao luxo de pesquisar e divagar
O que é a sua reportagem sobre repórter lançam sobre a realidade. DEPOIMENTO A NELSON
a China? BLECHER sobre problemas esotéricos antes
E como foi êsse processo? de resolver os problemas da exis-
Seria impossível tentar fazer Os americanos foram importan-
algo exaustivo na China era ape- A reportagem deu uma parada tência mais imediata: a alimen-
tes. Muitos trabalharam na con- tação, a habitação, saúde, educa_
nas 15 dias. Além disso, a biblio- fluência da literatura com o jor- há cinco anos, quando desapare-
grafia internacional sobre a Chi- ceu a coesão da equipe que parti- ção, etc. Somos uns deslumbra-
nalismo: John Dos Passos, James dos daquilo que nem conhecemos:
na de Máo deve ultrapassar a ca- Agee (And Now Let Us Praise Fa- cipava da melhor fase da revista
sa dos três mil livros. Fora os li- Realidade. Os fatos determina- América do Norte e Europa.
mous Men), Truman Capote (A
vros escritos sobre a civilização e Sangue-Frio). Não esqueçamos de ram então o aparecimento de vá- O exemplo vivo da inoperância,
história chinesa. Prefiro então, Euclides da Cunha; a terceira par_ rios tipos de censura que acabam da omissão bem comportada,
relatar minha viagem em forma te dos Sertões foi publicada pelo iiiibindo, limitando e até emas- deu-se na despedida do Pelé. Os
de diário — um diário seletivo, de Estado de São Çaulo. Depois ele culando o repórter. As exceções jornais e re vistas, salvo exceções,
várias dimensões e muitos interes_ acrescentou A Terra e O Homem, continuam gloriosas e raras, ain- resolveram falar todos a mesma
ses. Um diário que não exprimisse o que há de mais chato no livro. da se faz reportagem no Brasil. coisa ao mesmo tempo: a apolo-
opiniões, reflexões ou sentimentos, E já que falamos de Agee: uma Temos, pelo menos em alguns se- gia de um herói bastante discutí-
que apenas usasse a forma diário grande reportagem está muito tores, por sinal muito corrompi- vel, o endeusamento de um homem
de bordo, e que poderia ter como próximo do trabalho dos grandes dos, alguns elementos que não se que no momento pode ser discutido
epigrafe essa frase de Malraux: antropólogos: Tristes Tropiques corromperam. É o caso das edi- sobre todos os aspectos, e que nós
"que interessa o que só interessa de Levy-Strauss; Os Filhos de torias de esporte e polícia. São insistimos em dizer que é apenas
a mim?" Não, o que interessa ao Sanchez, de Oscar Lewis. A escola áreas muito corruptíveis nos jor- um rei. Um jovem de 24 anos hoje
leitor é a China. que floresceu em torno da revista nais. Fala-se que a reportagem não tem mais nada para ler nos
Aliás, acho Que os antigos via- Esquire e que hoje foi em parte morreu e eu me arrisco a pergun- jornais tradicionais. O substan-
jantes (Vaz Caminha, Gandávo) para a revista New York é quentís- tar se não estão sendo os próprios tivo e o verbo, que significam o
eram grandes repórteres. Não ti- sima: Breslin, Sak. Wolfe. Não es- gurus das redações que a - estão fato e a ação estão sendo substi-
nham nenhuma voracidade por quecer Norman Mailer e Helen matando. Hoje não se motiva, tuídos pelo adjetivo e o advérbio,
"furo" (já imaginou: Brasil des- Lawrenson. Franceses? Lacouture, não se pauta, não se orienta os que afinal são elementos de re-
coberto!), nenhum sensacionalis- K. S. Karol, Chris Marker, meu jovens que querem fazer jornalis- , forço.
mo em suas "coberturas". Tinham mestre. Grandes escritores são óti- mo. O repórter vai para o fato e Diria que é bom não deixar que
mais o olhar do fotógrafo Cartier- mos repórteres: Morávia; ótimos o fato não consegue mais sur- certas marés chegem até nossas
Bresson do que dos fotógrafos pre- repórteres são esplêndidos escrito- preendê-lo. praias. Se isto acontecer, todos
miados porque conseguiram_ fixar res: Eduardo Galeano. Os sociólo- O papel do repórter seria alta- nós vamos nos arrepender muito
o momento-em-que-o-avião-em- gos em geral são chatos, mais ain- mente modificador, além de veri- porque tudo o que sabemos, tere-
chamas-atinge-o-solo. Tinham da do que os economistas. Existem ficador de dados. Acontece que mos que esquecer. É preciso for-
olhos novos e atônitos, uma curio- pelo menos três economistas que não está sendo porque cada vez çar a barra. A reportagem tem de
sidade imensa, estavam mais in- escrevem bem: Marx, Keynes, Gal- mais ele está se tornando um apa- se intrometer mais e até fora dos
teressados no que está ao alcance braith. nhador de dados bem educado, jornais e das revistas. Ela tem
do homem do que no que sensa- E no Brasil? comportado, omisso e morno de que pular para o livro, para o fil-
cionalmente escapa ao seu alcan- press releases. O repórter virou me, para a aula. Nos EUA ela já
ce. Eram mais profundos, mais re- Sem entrar no mérito do que o
repórter pensa da vida, existe mui- recado de luxo de fontes oficiais significa um novo gênero literá-
pórteres. que nada esperam da sua pessoa rio, que é um dos maiores corpo
ta gente fazendo um bom traba-r
Você parece ter certa preferên- lho. Saiba que David Nasser, com e menos ainda do empresário além a corpo com a vida de que se tem
cia pelos não repórteres que f a - todas as suas artimanhas e vulga- de uma boa obediência. A repor- notícia até hoje. Exemplos: Nor-
zem reportagens? ridades é um dos maiores estilis- tagem não pode ser nenhum ato man Mailer, Truman Capote, He-
Não, isso é exagero. Mas, veja, tas da imprensa. Do livro recente- de piedade com a sociedade que minghway.
há uma linha de literatura não mente editado Reportagens que que aí está. A impressão que eu No Brasil há muitos preconcei-
ficcional (que não exclui certos Abalaram o Brasil, a sua, sobre tenho diante de certas revistas é tos depreciativos diante da repor-
elementoss de ficção) que parte os últimos momentos de Barreto que elas são feitas de empresários tagem, como se ela fosse um pro-
dos viajantes da época das desco- Pinto é uma obra-prima., Mario para empresários, isto é, de donos duto ameno, inconseqüente, es-
bertas, percorre uma certa litera- Filho inventou o jornalismo espor- da empresa para seus anuncian- crito para a indiferença dos lei-
tura científica dos séculos XVII e tivo brasileiro, a dramaturgia de tes. Tudo nelsvs poderia ser até tores. O seu sentido e objetivo
XVIII e serva de base para o Nelson Rodrigues (péssimo cronis- perfeito, se não existisse o leitor. podem, no entanto, devido à sua
grande romance do século XIX. ta mas grande autor) saiu toda da O leitor está sendo esquecido. A penetração nas massas, ganhar
Balzac era um grande romancista, crônica policial. Paulo Francis é reportagem está sendo burocrati- força de um dos depoimentos mais
mas também um grande repórter. um esplêndido polêmico, Luis Ed- zada, enquanto se esperava dela vivos e modificadores da sociedade
Mesmo Stendhal. Hemingway dizia gar de Andrade fez boas reporta- — se continuasse os caminhos ini- que aí está. Uma política de sa-
que a única coisa que o interessa- gens. Muitos nomes: Antonio Cal- ciados há cinco anos — um papel lários inteiramente injusta fez
va em toda a Cartuxa de Parma lado, Hamilton de Almeida, Sérgio reformulador, de protesto, de de- com que o grande repóter se afas-
era a descrição da batalha inicial de Souza, Narciso Kalili e a equipe núncia, de apelos, de novas pro- tasse da reportagem, passasse aos
que, mais tarde, Fabrizio descobre da primeira fase de Realidade que, postas. Ela se conformou a um poucos cargos, ou de chefia, ou
ser Waterloo. Opinião um tanto hoje em dia, virou uma espécie de farisaismo, a uma impessoalidade simplesmente administrativos. É
radical, o livro todo é maravi Seleções. Não esquecer a equipe do típica de quem aceita a omissão preciso lutar contra essa política
lhoso. Esse processo de pes- Jornal da Tarde, onde a grande re- diante dos fatos. O repórter Per- mesmo que se tenha de voltar à
quisa e trabalho sobre a realidade portagem se refugiou: Percival de cival de Souza, um dos poucos reportagem. Em tempo: não é
foi feito por todos os grandes ro- Souza, Vital Bataglia, Marcos Fa- homens de imprensa que fazem preciso ressuscitar a reportagem.
mancistas do século passado: Di- erman, Fernando Portela, Fernan- polícia neste país e que não enri- É preciso fazê-la.
ckens. Hardy, Flaubert, Checov, do Moraes, Moisés Rabinovitci, queceram no caminho fácil e tão
Tolstoi. O jornalismo do século José Maria Mairynk. Impossível à mão da cbrrupção, declarou que
XX (nos seus grandes momentos citar todo mundo. Mas uma coisa o papel do jornalismo seria o de
pôde assim herdar muitas de suas é certa: as empresas jornalísticas remexer na lata de lixo da socie-
tarefas e métodos, liberando a li- tendem a sufocar a grande repor- dade. Acho bom começar a pensar
teratura que procurou novos ca- tagem, colocar a personalidade de sobre isso. É preciso compreender
minhos (Proust, Kafka, Joyce). O quem tem personalidade em mol- que os nossos preconceitos cultu-
mesmo processo que ocorreu com a des confeccionados por gente que rais, nossa falta de raízes, nossa
pintura em função da fotografia. não tem personalidade e nem quer aristocracia (aristocrotice?) nós
ter. E, afinal, a imprensa só pode- impedem de aceitar o exercício da
Mas, assim como a fotografia profissão com a devida humildade
não se contentou em ficar mera- rá escapar do esquecimento da
História graças ao talento de al- e dedicação.
mente registrando as coisas, a re- guns poucos. Repórteres, claro.
portagem no nosos século foi aos Temos uma falsa noção de bom
0 ! NVERHO
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RflNGO, 0 FAMINTO
Herói
O Rango é um grilo. Que foi cres- o que passava pela minha cabeça aos 9 (Pensamentos dos 18 anos, no caminho da
cendo dentro da minha cabeça. A par- anos de idade, brincando na rua). Quem é faculdade).
tir do seguinte: quem é esse cara que anda esse guri, o "menorabandonado", quem é Este cara está à margem de tudo, por que
esfarrapado, com aquela porção de cachor- esse que não tem o que vestir, onde morar é que ninguém se importa? Por que é que

do nosso ros em volta, pô, cheio de mosca em cima e o que comer, que cata lixo, que dorme eu tenho o básico e o supérfluo e ele não
dele, e os pés dele, que gozado, parecem nos portais dos edifícios, que quando pode tem nada? Como é que se resolve isso? Não
bolo inchado, e só diz coisas engraçadíssi- se atira na cachaça pra sobreviver ao frio sei. Vou perguntar aos outros. (E, com 20
mas e sem nexo, esse cara andou bebendo, e à realidade, que os cachorros protegem da anos, fiz a primeira história do Rango. Te-

tempo a gurizada deita e rola e ele não reage e


por que é que ele tá comendo aquele resto
de pão duro e sujo? (Isto é mais ou menos
solidão mas não protegem da loucura, e por
que é que eu o vejo todos os dias multipli-
cado e todo mundo acha que vai tudo bem?
nho agora 25 anos. As perguntas estão de
pé).
Edgar Vasques
Eis um humorista autên-
tico em que anedota e traço
são da melhor qualidade.
Edgar Vasques é um cari-
caturista de primeira ordem.
Dirão os felizes acomodados
da vida que suas estórias
nos deixam um ressaibo
amargo. Claro! Vasques é o
campeão do marginal, do
homem que sofre de fome
crônica. Faz no reino do
humorismo o que Josué de
Castro fez no da sociologia,
isto é, chama a atenção do
mundo para o trágico pro-
blema dos famintos. Cada
uma das suas pequenas es-
tórias em quadrinhos vale
por um editorial de jornal
— mas um editorial realis-
ta, corajoso e pungente.
Rango é um herói de nosso
tempo, de todos os tempos.
Se há sarcasmo neste pe-
queno livro que nos faz rir
e pensar, esse sarcasmo se-
rá menos do artista do que
uma imposição inelutável
dos temas de que ele trata.
Recusando a alienação, o
caricaturista Vasques com-
bate a miséria com as gran-
des e nobres armas de que
dispõe: pena ,tinta, espírito
de solidariedade humana...
e talento.
Porque o povo do mundo Olhando evidentemente No jogo Marcos - Cleofas
parece uma mosca tonta a triste situação Cleofas levou olé
Dia 15 de novembro sem zero no quociente o povo viu-se forçado Marcos Freire bom na voz
o eleitor acordou cedo não tira a prova da conta votar na oposição bom na urna bom no pé
botou o título no bolso Se Deus fosse um candidato pensando que Marcos Freire o povo marcou Marcos
sem ter truque nem segredo o povo votava contra baixava o preço do pão como quem marca Pelé
José Soares - poeta-reporter penetrou numa cabine
votou sem ódio e sem medo Para fazer continência Em São Lorenço, primeiro Agora depois de tudo
a Deus eu tiro o chapéu iniciou a contagem o jogo foi terminado
Quem votou em Marcos Freire os homens faz a receita logo nas primeiras urnas um lado saiu sorrindo
agora está exultante mas o remédio é do céu Marcos levava vantagem o outro lado encabolado
dizendo <jue no Senado ninguém conhece o carrasco tinha nego que dizia Cleofas está todo são
s< tem um Senador vibrante aqui todo mundo é réu Cleofas leva lavagem e Marcos todo marcado
3>
prá defender Pernambuco O que mais surpreendeu
06
< to de uma maneira optante Um bêbado estava dizendo
eu não voto em João Cleofas
As eleições é um jogo consernente a eleição
sem sombra de dúvida foi
u
06
<
oC/2
o
O povo de Pernambuco
do Sertão, Brejo e Agreste
porque vou perder meu voto
e vai servir de "gaiofa"
quando um perde outro ganha
se gasta tempo e dinheiro
esgota numa campanha
a fraquesa do sertío
além da expectativa
e eu não gosto de gente fora de cogitação
% escolheram um candidato
como quem fazia um teste que conta muita "farofa"
prá no fim sair logrado
com a surpreza tamanha
elegeram Marcos Freire Diceram que Marcos Freire
o Senador do nordeste Sucedeu um fato em foco Tinha gente que lembrava fez um negócio ingraçado
uma coisa muito rara as eleições de atraz antes de abrir as urnas
Marco ganhou prá Cleofas estava tão cofiado
A Esmagadora Vitória
dizendo que João Cleofas
coisa que estava na cara estava velho demais que no dia da eleição
pois um cego é quem não via embora com muito peito já foi dormir no Senado

de Marcos Freire
por essa cerca de vara faltava o folego e o gaz
8

Ninguém interplete mal Marcos Freire é uma sigla


a frase que vou dizer Fazendo uma panoramica da terra de Joaquim Nabuco
se a Arena ganhar Ninguém vá tomar por crítica da guerra dos eleitores além de ser precavido
continua o meu sofrer nem dizer que incinuei vi muita coisa engraçada não bota mão em combuco
Se o M. D. B. ganhar o que vi nos bastidores por detrás dos bastidores e volta em 78
não vem me dar de comer das eleições eu contei que coloriu os meus versos prá governar Pernambuco
faltou somente um detalhe com relevos multicores
não dizer em quem votei Marcos vai para Brasília
Mesmo Cleofas perdenuo Por exemplo um poliglota mas quando sair de lá
o povo está confiante O meu entento foi esse dizia para um rapaz não vai haver diferença
na atuação do governo espor a situação Cleofas está muito velho pois tem o vice VAVA
Dr. Moura Cavalcanti embora sem gabarito não sabe mais o que faz quando um sair outro fica
que vai fazer um governo para apontar solução pode ficar tranqüilo é aquele lá e cá
convicente e retumbante que na vontade dos outros de queda não morre mais
não posso meter bicão O senador Marcos Freire
Quem é o lado de Marcos receba minha homenagem
Não vou dizer nem de longe Um doido disse a um moço está com muita euforia defenda meu Pernambuco
Dr. Marcos Freire ganha em quase todos os estados com sensatez e coragem
que João Cleofas não presta para amanhã ou depois
não julgo sua conduta vai levar de ponta a ponta obteve a maioria não distorcer sua imagem
é difícil cair nesta nem precisava campanha p'ra mim não foi surpresa
que nem o bom nem o mau só com os votos das moças era o que o povo previa
traz uma estrela na testa ele ganha e reganha. ..
No interior Cleofas
Como eleitor na ativa Um pescador disse a outro começou levar vantagem
no dia da eleição falando dentro de um barco um eleitor da Arena
vou para as urnas cumprir se Marcos Freire perder disse em tom de pabolagem
c dever de cidadão nesse navio eu embarco esse tal de Marcos Freire
como brasileiro nato no dia da eleição vai levar uma lavagem
fazer minha obrigação marco Marcos, marco, marco

UM PAPEL
DE
RESPONSABILIDADE

A SELECTA RESPONSABILIZA-SE PELO


PAPEL QUE VENDE: SÓ TEM DO
IMPORTADO. E PELO PREÇO QUE COBRA:
40% MENOS QUE AS OUTRAS LOJAS.
POR ISSO. PESSOAS DE MUITA
RESPONSABILIDADE DIRIGEM-SE À
SELECTA.: PUBLICITÁRIOS,
ARQUITETOS, ENGENHEIROS,
ESTUDANTES.

VEGETAL SCHOELLER, EM ROLOS E FOLHAS


MILIMETRADO, ONION-SKIN (BLOCOS),
QUEM FAZ
PARASSOL, OPALINE, CARMEN, CARTÕES
DE DESENHO SCHOELLER, EM TODOS
OS TAMANHOS, FOLHAS CORTADAS OU
O EQUIPE
MARGEADAS, TODOS OS TIPOS DE
BLOCOS DE DESENHO NUMERADOS.
SEMPRE TEM
ALGUMA COISA
SELECTA
D I R I J A - S E A
PRÁ DIZER.
EQUIPE \GSTIBULARES/COLEGIO EQUIPE/COLEGIO EQUIPE SUPLETIVO
UMA LOJA PARA UMA CLASSE SELETA Rua : arques de Paranaguá 111 - tel.: 257 0177/257 0375
Marquês de Itú, 134 (esq. Bento Freitas) Fone 37-7988
* R A L A I &PRÊ >WÚSICÜ t U M Ò E S T E I H A ; TOCAR. E í/yMK LPUCUfy.99
1 — A idéia de produzir um disco de SMETAK cria dificuldades no plano
Walter SMETAK nasceu em mim no prático que apontam sempre para ve-
dia em que fiquei conhecendo a série redas de elevação espiritual, de modo
de instrumentos que ele inventou e que o trabalho se dá numa corda
fabricou. É um conjunto tão extraor- bamba de delícia e de susto. Um ou-
dinariamente fascinante de objetos tro amigo (produtor dos primeiros es-
compostos com uma variedade de ma- petáculos que eu, Gal, Bethânia e Gil
teriais que vai da cabeça ao isopor, é fizemos na Bahia), Roberto Santana,
um mundo tão grande de sugestões treinadíssimo em acabar qualquer
plásticas e sonoras, que me pareceu "cerca-lourenço" no grito, transformou
absolutamente necessário documentar a produção do disco numa produção
o trabalho desse homem singular. e o disco num disco. Ele foi de fato
quem produziu esse disco, tornando
2 — SMETAK vive em Salvador- possível a transação material entre os
Bahia há muitos anos. Eu já o co- instrumentos de SMETAK e o equipa-
nhecia de vista desde 1963: um curio- mento de Maurice. Quanto a mim, na
so senhor sobre uma motocicleta, um engrenagem dessa produção, me en-
músico entre os outros na orquestra trei em algum lugar entre o sonho de
sinfônica da Universidade. Em 1961, Gil e os gritos de Roberto.
Gil e Rogério foram procurá-lo e des-
de então mantém contato' permanente 4 — A música de SMETAK me esti-
com ele. O flautista e compositor mula e eu acredito que deva ser do
Tuzé Abreu já era, a essa altura ,um mesmo modo estimulante para tanta
freqüentador da oficina do velho. Re- gente que, no Brasil hoje, tem tantos
firo-me aqui somente a alguns amigos interesses e preocupações semelhan-
muito prófximos: muita gente na tes às minhas. Estou totalmente por
Bahia (e de fora) vem atentando há fora dos planos internos da música
muito mais tempo para o trabalho erudita contemporânea. Não conheço
de SMETAK do que eu. Mas foram mesmo nada direito de música clássi-
esses amigos que me levaram a en- ca de qualquer época. "Porque este
trar em contato com ele. Faço ques- novo gênero que surge é uma fusão
tão de frisar que Gil, Rogério e Tuzé do oriente e do ocidente e não é eru-
são mais responsáveis do que eu pela dito nem popular", disse SMETAK
existência do LP. falando do seu próprio trabalho e me
parece sensato espalhar sementes de
3 — A produção foi uma viagem. sonho por aí.
A espontaneidade de uma criança con- CAETANO VELOSO
duzindo uma mente sofisticada. Bahia, 1974

POR EDINILTON LAMPIÃO


Um cantador cego, maltrapilho e para as ruas. Banquete dos Mendigos poetas, artesãos, uma batalha que Embora não faça a menor questão
armado com um violão velho caminha foi um show realizado no ano passado certamente vem influenciando todo o de sair da semi-marginalidade, a mu-
por uma certa rua escura. De repen- no MAM do Rio, com participação de trabalho de Jards Anet da Silva — dança de gravadora talvez venha a in-
te é cercado por bêbados e ladrões, Jorge Mautner, Gal Costa, Paulinho ou pior, da Selva, ou melhor, da-vida. fluir muito na repercussão da pro-
espancado e obrigado a contar histó- da Viola, Chico Buarque de Holanda O último show no 13 de Maio mal dução que Macalé vai apresentar
rias sob a mira dos inesperados visi- e muitos outros. A RCA já comprou deu para pagar os dois músicos que em disco daqui para a frente: excetua-
tantes. Está começando Amuleto de a fita e o disco deve sair' logo: o acompanharam. Mas o trabalho foi do, evidentemente, o tão aguardado,
Ogum, filme de Nelson Pereira dos — Só mais uns detalhezinhos — diz apresentado. Banquete dos Mendigos (cujo pri-
Santos, e o cantor acossado é Jards Macalé, sorrindo com aquele mesmo Por enquanto • Macalé prefere não meiro nome sugerido era Poeira de
Macalé, que além de ator providen- riso que as pessoas decifram na capa falar de O Banquete dos Mendigos. Estrelas).
ciou também a trilha sonora. Boa de Aprender a Nadar. Todo o trabalho, que está sendo feito Macalé saiu da Philips e passou
parte da história foi filmada em Ca- A união com Marlui Miranda foi em cima do disco ainda é expectativa, para a Sigla, gravadora que leva dis-
xias, no sítio de Tenório Cavalcante. através de Ana Maria Miranda, mu- dependência de mil fatores: co ao povo através da televisão, via
Quem foi assistir Smile, o show que lher de Macalé, atriz e pintora. Mar- — Esse disco está na ponte aérea Rede Globo. Por enquanto Macalé
Macalé • apresentou durante quatro lui é dessas que ficam horas e mais — disse Macau uma vez, referindo-se não tem nada preparado para a Sigla.
dias no Teatro 13 de Maio, teve a horas debruçada sobre partituras, mu- aos vai e vem da fita pelo Brasil Uma coisa é certa: o envolvimento
confirmação de que ele e seu novo sicando textos de Xico Xaves, treinan- afora. de Macalé com o ouvinte brasileiro
grupo — Marlui Miranda, violonista, do, e aliando técnica com sua incrível Smile foi uma verdadeira monta- tende a ser maior. Essa tentativa fica
compositora e Pedro dos Santos, per- sensibilidade musical. O entrosamento gem, com aproveitamento de tudo o clara em Smile, onde os músicos esti-
cussionista criador — continuam mui- Marlui-Macalé foi lento e gradativo, que servisse para a idéia do espetá- veram descontraídos, agredindo é
to próximos do papel que Macau começando com curtições na casa de culo. No Rio — montado por Xico, acariciando ao mesmo tempo, nurti
aceitou como abertura de O Amuleto. Macau, diálogo de violão para violão, Flor Maria e mais colaboradores — clima de compreensão, sem deixar de
Em Santa Teresa, convivendo com de coração para coração. Smile foi mais vibrante, mais senti- lado a crítica, tema permanente de
Macalé, o cidadão pode sentir o que E Pedro dos Santos estava lá em do. De qualquer forma, após as apre- Jards Macalé enquanto existerem pre-
é o dia-a-dia de um cara que se dis- Santa Teresa mesmo, disponível, vi- sentações aqui em São Paulo, Marlui, gos para os muitos faquires.
põe a fazer exatamente aquilo que zinho de Macalé, num quarteirão on- Macalé e Pedro dos Santos não pa- Mas o que mais toma o tempo de
gosta e da maneira que mais lhe con- de os artistas dominam. Quem viu Pe- reciam decepcionados. Marlui, por Macalé e do pessoal que está com ele
vence. dro mostrar sua criação no 13 de exemplo, sentiu que suas músicas em é o lançamento do Banquete dos
O pessoal que trabalha com ele nes- Maio teve uma ligeira idéia do que é parceria com Xico possuem realmen- Mendigos, em verdade o primeiro
te momento não poderia estar des- sua figura incrível, cheia de energia. te muita força. E Pedro dos Santos disco ao vivo feito nó Brasil com um
vinculado do drama de um "faquir da Pedro é capaz de falar horas segui- faz um tipo de trabalho que não se objetivo determinado, realizado no
dor". Todos os que o cercam são fa- das sobre aquilo que mais o apaixo- pode medir pelos aplausos — talvez dia em que se comemorava a carta da
quires da dor. na: a vida e como ela pode fluir li- muito mais pelo silêncio, pois sua ONU sobre os Direitos do Homem.
Começa por Xico Xaves, o novo vremente no ato da criação que ele percussão é atemporal. em cima de Tão logo o disco fique livre e pronto
parceiro. Parceiro em tudo: letras, lu- impõe. todos os ruídos, baseada no verdadei- para o público, Jards Macalé vai con-
ta para que a gravação ao vivo de O E no mais Santa Teresa é a pró- ro transe de Pedro, em busca de vi- tar com exclusividade para Ex toda
Banquete dos Mendigos venha logo pria dureza do undeirground. Pintores, das passadas, presentes e futuras. a emocionante história que o envolveu.
Um encontro de índios, experiência nos mostrou que o s
no Paraguai. Um funcionários e os missionários
relato de Artaud sobre só transmitiram a sua cultura c
não a nossa. Assim, a educa-
os teimosos Tarahuma- ção nas zonas indígenas deve
ras, do México. dada na nossa própria língua.
Galeano fala de um Saúde — Queremos participar
mundo que acabou. E com nossa experiência da solu-
u m conto de José J. ção dos problemas que nos
atingem; que se eliminem o con-
Veiga. trole da natalidade nas comuni-
dades indígenas; que se t o m e m
medidas para evitar ao máximo
a propagação das enfermidades
infecto-contagiosas, transmiti-
das pelas sociedades nacionais,
de acordo com o maior ou m e -

O JORNAL DO ÍNDIO
nor risco que correm os indíge-
nas; que se montem postos s a -
nitários nas comunidades, c o m
enfermaria e assistência médi-

TREINO PARA A ONU


ca permanente; que se implan-
te nas universidades, o estudo Eles chegam com mulher e
das medicina indígena c o m a crianças, através de impossíveis
participação direta dos índios. trajetos que nenhum animal
ousaria tentar.
POR ANA MARIA CAVALCANTI Organização — As comunida- Ao vê-los passar por suas
Em São Bernardino, uma ci- Isso porque eles são sempre a Hansa, e o s militares bolivia- des devem se organizar e m estradas, através das torrentes,
dadezinha paraguaia, a 50 qui- marginalizados em seus países, nos. Na verdade, mais da m e - organismos regionais. Assim da terra que racha, da mata es-
lômetros de Assunção, 32 índios sejam maioria ou minoria. tade das terras não foram divi- poderão defender melhor seus pessa, pelas escadas de rocha,
sul-americanos se reuniram, en- "Nenhuma tribo brasileira bo- didas entre o s índios".
direitos e sua cultura. Estas os muros a pique, não posso
tre 8 e 14 de outubro, para falar tou um índio na universidade", federações regionais devem pro- deixar de pensar que eles sou-
Por isso, num dos principais curar por sua vez, integrar-se beram conservar a força da gra-
de seus problemas e de uma diz Daniel Hatenho, da tribo pontos do documento divulgado
idéia que surgiu no Canadá: dos parecis — 400 índios que o mais rápido possível e m con- vitação natural dos primeiros
no f i m do encontro, o s índios federações nacionais e inter- homens.
uma representação indígena na vivem numa reserva às mar- pedem que "os governos d e - nacionais. A primeira vista, é impossível
ONU. gens da rodovia Cuiabá—Porto volvam as terras para as tribos
Velho. chegar à terra dos tarahuma-
Havia índios da Bolívia, Ar- ou comunidades de índios, jun- ras.. São apenas algumas ligei-
gentina, Venezuela, Brasil e Pa- Daniel é um caso raro: fez tamente com os títulos de pro- ras pistas que de 20 em 20 me-
4 0 0 anos
raguai. Alguns — o único quase todo o ginásio num pa- priedade".
tronato indígena. Aos 17 anos, tros parecem desaparecer na
representante brasileiro, por no entanto, voltou para sua
Eis alguns dos pontos tratados terra. Quando a noite chejga,
exemplo — souberam durante o nesse documento: quem não é pele-vermelha deve
encontro o que era a ONU, mas
logo entenderam por que pre-
cisam dela:
Terra — O' índio é dono da
terra, com ou s e m títulos de de parar. Porque só um pele-
vermelha sabe onde botar os
pés.
teimosia
propriedade. Os governos, além
"Assim, todas as nações verão de assegurar esse direito, devem Quando os Tarahumaras des-
o que passamos e dirão basta" apoiar a s cooperativas indígenas cem às aldeias, eles mendigam.
(Cirilo Quispe, índio boliviano) e dar facilidades de crédito, Mas são mendigos surpreen-
"Não temos direito de votar, assessoramenlo técnico e meios dentes. Param à frente da por-
sabendo escrever ou não" (Do-
mingos, índio parp^guaio).
de transporte até os mercados
de consumo para a s c o m u - Antonin Artaud ta das casas e ficam de perfil,
com um ar de desdenho sobe-
nidades". rano. Eles tem a cara de quem
"Somos 800 mil, mas o go- Ao norte do México, a 48 ho-
verno diz que não há índios Trabalho — "Exigimos a se- diz: "Tu é rico, mas és um
ras da Cidade do México, vive cão, eu valho muito mais do
na Argentina, só camponeses" gurança e a liberdade de tra-
uma raça de puros índios ver-
(Elias Medrano, índio argenti- balho que deve gozar todo ser que tu, eu cag... para ti."
melhos, os Tarahumaras. Qua- Ganhando ou não ganhando a
no). humano no século X X . Não
renta mil homens vivem ai,
"Estamos desaparecendo. Só somos animais para viver tra- esmola, eles vão embora, sem-
balhando sob a tutela de patrões como viviam antes do Dilúvio. pre no mesmo tempo. Se a
uma representação na ONU Eles são um desafio a este
pode nos salvar" (Daniel Ha- ou de missionários. O produto gente dá a esmola, não dizem
do trabalho realizado pelos in- mundo, onde se fala tanto em obrigado. Porque dar àquele
tenho, índio brasileiro). progredir, pelo desespero que
dígenas nas reservas estatais e que nada tem é menos do que
Desse debate saiu o Parlamen- •tribo, que tem 200 anos de con- missões religiosas devem per- traz o progresso. um dever, é uma lei de recipro-
to Índio do Cone Sul, constituí- tato com os brancos, mas ainda tencer, em sua totalidade, a Esta raça, que deveria estar cidade fisica que o Mundo
do no hotel onde eles estavam cultiva sua cultura. Entre os nossos irmãos. EsSas reservas fisicamente degenerada, resiste Brando traiu. A atitude deles
hospedados, ao som de "índia" parecis, Daniel era chamado de estatais e missões religiosas de- há 400 anos a tudo o que veio parece dizer: "Obedecendo a
e "Becuerdos de Ypacarai", que "branco". vem pertencer, em sua totali- atacá-la: a civilização, a mes- esta lei, fazes um bem a ti mes-
as rádios de São Bernardino "Sinto orgulho de ser índio e dade, a nossos irmãos. Essas tiçagem, a guerra, o inverno, as mo, não tenho porque te agra-
não param de tocar. O Par- quero que meu povo continue reservas ou missões devem ser feras e a floresta. Vivem nus, decer."
lamento se reunirá de novo no a viver sua vida. Os brancos administradas por nós, ou pelo no inverno, em suas montanhas Os índios praticam natural-
Canadá, no ano que vem, no podem nos ajudar ensinando m e n o s c o m a nossa participa- cobertas de neves, desprezando mente essa lei de reciprocidade
Congresso que reivindicará um melhores meios de trabalhar ção direta. todas as teorias médicas. A física que chamamos de cari-
lugar para os índios das Amé- dentro do nosso sistema comu- igualdade existe entre eles, dade. Naturalmente, e sem ne-
ricas na ONU. nitário. Mas devem evitar o Política — Não pertencemos como um sentimento de solida- nhuma piedade. Aqueles que
choque cultural, que só nos às organizações políticas da ci- riedade espontânea. nada têm, porque perderam a
Por trás dessa idéia estão vá- destruirá como povo".
rias entidades religiosas, cató- vilização colonizadora, pois sa- Por incrível que pareça, os colheita, porque o milho quei-
No Parlamento índio do Cone b e m o s que os partidos políticos Tarahumaras vivem como se já mou, porque seu pai nada lhes
licas e protestantes. Talvez para Sul, Daniel falou sobre a ne-
se desculpar de todo o mal que estão à parte de nossa rea- tivessem morrido... Eles não deixou ou por qualquer outra
cessidade de se criar no Brasil lidade. vêem a realidade e tiram for- razão, não precisam se justifi-
fizeram à cultura indígena até uma Federação Indígena. "Nela,
recentemente, elas se esforçam ças mágicas do desprezo que car. Simplesmente vão às casas
os índios poderiam discutir os Educação — Tentaram — os senteifi pela civilização. daqueles que têm alguma coisa.
agora para defendê-la. seus problemas e ficar mais brancos, os mestiços e os ín- Aparecem algumas vezes nas Imediatamente, a dona da casa
"Quem entende o problema sep;uros de si". dios que renegaram seu povo cidades, empurrados por não lhe dá tudo o que tem. Nin-
do índio é o próprio índio. Mas Na Bolívia, os índios são — destruir nossos valores cul- sei que vontade de zombar, ver, guém olha nem aquele que dá,
ele está isolado, as tribos não maioria — 85 por cento da po- turais. No entanto, graças às dizem eles, como são os ho- nem o que recebe. Após ter
têm comunicação entre si, o pulação. "Quando elegemos um tradições transmitidas de gera- mens que são enganados. Para comido, o mendigo vai embora,
índio de um país não conhece representante, ele se volta con- ção e m geração, proclamamos eles, viver nas cidades é um sem agradecer nem olhar
os problemas do índio de outro a vigência de nossa cultura. A erro. ninguém.
tra os índios, vira branco", diz
país", explica o representante da Cirilo Quispe, um dos lideres
Universidade Católica de Assun- da Minka, que reúne mais de
ção, que promoveu o encontro. 5 mil índios em seu país.
"Como os índios não têm di- Para Cirilo, a Minka, criada
nheiro para se organizar e pro- em 1969, é o começo da organi-
mover encontros como este, te- zação dos índios bolivianos em
mos um fundo apenas para defesa de seus interesses. "A
isso", diz o reverendo José Chi- maior parte vive nos campos
penda, do Conselho Mundial da cultivando a terra, cuidando das
Igreja (protestante), sediado em ovelhas, de animais; não temos
Genebra, que financiou o en- chance de entrar na universi-
contro. dade nem mecanismos para nos
José Chipenda, um negro de desenvolver, mas se protesta-
An»;ola, participou da reunião mos contra isso, dizem que so-
de São Bernardino como obser- mos extremistas".
vador do Programa de Com- Em 1952, a reforma agrária de
bate ao Racismo, do Conselho Paz Estenssoro desarticulou
Mundial da Igreja. Para ele, ainda mais o sistema comuni-
"é fundamental que os índios tário deles ao dividir a terra
de todo o continente se unam em minifúndios. "Mas as me-
para recuperar a dignidade lhores terras ficaram com as
perdida." companhias estrangeiras, como
FIM MUNDO
POR EDUARDO GALEANO
Em 1581, Felipe I I disse, de habitantes. Astecas, incas sucessor, Carlos II, renovou
em Guadalajara, que um e maias somavam entre 70 e tempos depois o decreto. Es-
terço dos indígenas da Amé- 90 milhõçs de pessoas quan- tas minas de mercúrio eram
rica já haviam sido aniqui- do os conquistadores apare- exploradas diretamente pe-
lados, e que os que ainda vi- cem no horizonte; um sécu- la Coroa, ao contrário das
viam eram obrigados a p a - lo e meio depois, eram ape- minas de prata, que estavam
gar tributos pelos mortos. O nas 3,5 milhões. Segundo o em mãos de empresários.
monarca disse, ainda, que Marquês de Barinas, entre A MÁQUINA DE MATAR
os índios eram comprados e Lima e Paita, onde viveram Em três séculos, o cerro
vendidos. Que dormiam n a mais de 2 milhões de índios, Rico de Potosí queimou, se-
intempérie. Que as mães não restavam mais do que 4 gundo Josiah Conder, 8 mi-
matavam seus filhos para mil famílias indígenas em lhões de vidas. Os índios
salvá-los do tormento das 1685. O arcebispo Linan y eram arrancados das comu-
minas. Cisneros negava o extermí- nidades agrícolas e conduzi-
nio dos índios: dos junto com mulheres e
Mas a hipocrisia da Coroa
tinha menos limites que o — Eles se escondem — di- filhos, rumo ao cerro. De ca-
Império: ela recebia uma zia — para não pagar tribu- da dez que marchavam até
quinta parte do valor dos tos, abusando da liberdade os altos páramos gelados, se-
metais que seus súditos ar- que gozam e que não t i n h a m te não regressavam jamais.
rancavam em toda a exten- n a época dos incas. Nas comunidades, os indí-
são do Novo Mundo hispâni- Jorrava sem cessar o me- genas t i n h a m visto "voltar
co, além de outros impostos; tal das minas americanas, e muitas mulheres aflitas sem
e outro tanto ocorria, no sé- da Corte espanhola chega- seus maridos e muitos filhos
culo XVIII, com a Coroa vam também sem cessar, or- órfãos sem seus pais", e sa- trabalho indígena e estala- dindo esmola pelas ruas.
portuguesa- em terras do denanças que outorgavam biam que as minas reserva- va em tinta o talento dos Seis mil e quinhentas foguei.
Brasil. uma proteção de papel e vam "mil mortes e desastres". juristas espanhóis, na Amé- ras ardiam à noite nas la-
uma dignidade de tinta aos Os espanhóis percorriam rica a lei "se acatava mas deiras de cerro Rico, e nelas
A p r a t a e o ouro da Amé- indígenas, cujo trabalho e x - centenas de milhas em bus- não se cumpria". Numero- se trabalhava a p r a t a valen-
rica penetraram como u m tenuante sustentava o reino. ca de mão-de-obra. Muitos sos indivíduos reivindicavam do-se do vento que enviava o
ácido corrosivo por todos os A ficção da legalidade am- índios morriam no caminho, ante os tribunais sua condi- "glorioso São Agostinho" do
poros da sociedade feudal parava o índio; a explora- antes de chegar a Potosí. ção de mestiços para que céu. Por causa do fumo dos
moribunda da Europa e, ao ção da realidade o sangrava. Mas a maioria morria por não os mandassem para as fornos, não havia pastos
serviço do nascente mercan- Da escravidão à encomienda causa das terríveis condições escavações, nem os vendes- nem plantações num raio de
tilismo capitalista, os em- de serviços, e desta à enco- de trabalho n a mina. sem e revendessem no 40 quilômetros ao redor de
presários mineiros converte- mienda de tributos e ao re- O frei dominicano Domin- mercado. Potosí, e as emanações não
ram os indígenas e os escra- gime de salários, as varian- go de Santo Tomás denun- eram menos implacáveis
vos negros em um numero- tes da condição jurídica da ciava ao Conselho das í n - Nos fins do século XVIII, com os corpos dos homens.
síssimo "proletariado exter- mão-de-obra indígena não dias, em 1550, que Potosí era Concolocorvo, por cujas
no" da economia européia. A alteraram mais que super- "uma boca do inferno" que veias corria sangue indígena, OS ÍNDIOS SAO "JUDEUS"
escravidão greco - romana ficialmente sua situação tragava anualmente mi- renegava assim os seus: Não faltavam as justifica-
ressuscitava em um mundo real. lhares e milhares de — "Não negamos que as ções ideológicas. A sangria
distinto; ao infortúnio dos índios, tratados como "ani- minas consomem número do Novo Mundo se convertia
indígenas dos impérios ani- A Coroa considerava tão mais sem dono" pelos considerável de índios mas n u m ato de caridade ou de
quilados na América hispâ- necessária a exploração inu- mineiros. Os caciques das isto não procede do trabalho razão de fé. Junto com a cul-
nica, soma-se o terrível m a n a da força de trabalho comunidades tinharft a obri- que têm nas minas de prata pa nasceu todo um sistema
destino dos negros arrebata- indígena, que em 1601 Felipe gação de substituir os mi- e mercúrio mas sim da li- de justificações para as
dos das aldeias africanas III ditou regras proibindo o tayos, que iam morrendo, bertinagem em que vivem." consciências culpadas.
para trabalhar no Brasil e trabalho forçado nas minas por novos homens de 18 a 50 O testemunho de Capoche, Transformava-se os índios
nas Antilhas. A economia e, ao mesmo tempo, enviou anos de idade. O curral de que tinha muitos índios a em bestas de carga porque
colonial latino - americana outras instruções secretas partilha, onde os donos de seu serviço, é ilustrativo agüentavam um peso maior
dispôs da maior concentra- ordenando continuá-lo "no minas e engenhos arremata- nesse sentido. As glaciais que o que podia suportar o
ção de força de trabalho até caso daquela medida dipii vam os índios, uma gigantes- temperaturas da intempérie débil lombo da llama, e as-
então conhecida, para tor- nuir a produção". Da mes- ca concha de paredes de pe- alternavam com o calor in- sim se comprovava que os
nar possível a maior con- ma maneira, entre 1916 e dra, serve,agora para que os fernal do fundo dos carros. índios eram de fato bestas
centração de riqueza de que 1919, o juiz e governador trabalhadores joguem f u t e - de carga.
jamais dispusera civilização Os mitayos faziam o miné-
J u a n de Solorzano féz uma bol; o cárcere dos mitayos, rio saltar à ponta de picare- O vice-rei do México acha-
alguma na história. um monte de ruínas, ainda
investigação sobre as condi- ta e logo subiam carregando- va que não havia melhor re-
Aquela violenta maré de ções de trabalho nas minas pode ser contemplado na en- o nas costas, por escadas, à médio que os trabalhos n a s
cobiça, horror e bravura não de mercúrio de Huancavé- trada de Potosí. luz de vela. Fora da escava- minas para curar a "malda-
se abateu sobre estas comar- lica: Na recompilação de Leis ção, moviam os engenhos ou de natural" dos indígenas.
cas senão ao preço do geno- " . . . o veneno penetrava das índias não faltam de- fundiam a prata e o fogo, J u a n Ginés de Sepulveda, o
cídio nativo: as investiga- n a medula, debilitando to- cretos daquela época, estabe- depois de moê-la e lavá-la. humanista, sustentava que
ções recentes mais f u n d a - dos os membros e provocan- lecendo a igualdade de di- Era uma máquina de tri- os índios mereciam o t r a t o
mentadas atribuem ao Mé- do um tremor constante, reitos dos índios e espanhóis t u r a r índios. O emprego de que recebiam porque seus
xico pré-colombiano uma morrendo os trabalhadores para explorar minas e proi- mercúrio, para a extração da pecados e idolatrias consis-
população que oscila entre geralmente no espaço de bindo expressamente que se p r a t a por amálgama, enve- tiam uma ofensa a Deus. O
os 30 e 37 milhões de habi- quatro anos", informou ao lesassem os direitos dos n a - nenava tanto ou mais que conde de Buffon afirmava
tantes, e calcula-se que h a - Conselho das índias e ao tivos. A história formal — os gases tóxicos do ventre da que não ,se registrava nos
via uma quantidade aproxi- monarca. • letra morta — não t i n h a do terra. Fazia cair o cabelo e os índios, animais frios e dé-
mada de índios n a região Mas, em 1631, Felipe IV que se queixar, mas enquan- dentes e provocavam tremo- beis, "nenhuma atividade da
andina; a América Central ordenou que fosse mantido to se debatia entre papela- res incontroláveis. Os "azou- alma". Bacon, De Maistre,
tinha entre 10 a 13 milhões ali o mesmo esquema; e seu das infinitas a legislação do gados" se arrastavam pe- Montesquieu, Hume e Bo-

O artesanato indígena po-


de ser encontrado em sete
roporto
Galeão.
Internacional do
Arco &
Eis o que as principais Li- 50) e Antropologia Estrutu-
ral (456 pgs., 36). De Silvio
lojas organizadas pela FU- Os preços são bem razoá- vrarias têm à disposição dos
NAI, em São Paulo, Rio de veis (foram até rebaixados interessados no assunto ''ín- Coelho dos Santos, índios e
Janeiro, Brasília, Cuiabá e recentemente). Você pode dios", segundo nossas pes- Brancos no Sul do Brasil
Manaus. Essas lojas estão lo- comprar, por exemplo: co- quisas: (300 pgs., 30). De Pedro
calizadas em pontos estra- cares kaiapó, 170 cruzeiros; Dois de Darcy Ribeiro: Ui- Agostinho, KWARUP, Mito e
tégicos. de preferência onde diademas dos borôro, 15; rá sai à procura de Deus Ritual no Alto Xingu (250
o movimento de turistas é arcos, de 10 a 80; flechas, 15; (Ed. Paz e Terra, 175 pgs., pgs., 50). Egon Schaden
grande: estações rodoviárias saias, a 55; tangas de penas por 25 cruzeiros) e Os índios Aculturação Indígena (333
e aeroportos. e redes a 60; esteiras, de 17 a e a Civilização Ed. Civ. Bra- pgs., 25). índios do Brasil, de
35; mais cestos, lanças, potes sileira, 450 pgs., 45). 3 livros Júlio César Melatti (35).
Em São Paulo: Lojas Ar- e bonecos de cerâmica de to- de Roberto Cardoso de Oli-
tíndia — Rua Augusta n.° das as tribos. veira: A Sociologia do Bra- Em tradução esjpanhola,
1371, Loja 5, Galeria Ouro A balconista da - Artíndia sil indígena (149 pgs., 23), muitos e bons. Alguns: Re-
Velho; no Rio de Janeiro, garante que os melhores t r a - O índio e o Mundo dos bran- ligion y Magias Indígenas,
em dois lugares: Museu do balhos estão em Brasília, cos (139 pgs., 25) e Urbani- de, Alfred Métraux (266 pgs.,
índio, na rua Mata Macha- onde os diplomatas "só que- zação e Tribalismo (237 pgs., $80,00); Los Argonautas dei
do (ao lado do Maracanã) e rem do bom e do melhor pa- 6). De Claude Lévi Strauss: Pacífico (Bronislaw" Mali-
n u m a loja no saguão do ae- ra sua coleção". Tristes Trópicos {520 pgs., nowski, 505 pgs., $95.00).
quistado alto nível de eficá- Tanto os terraços como os TODOS ESQUARTEJADOS
cia no vale do México, e em aquedutos de irrigação fo-
Yucatán e n a América Cen- ram possíveis, naquele impé- Este cacique mestiço, des-
tral a civilização esplêndida rio que não conhecia a roda, cendente direto dos impera-
dos maias persistia nos po- o cavalo, nem o ferro, gra- dores incas, encabeçou o
vos herdeiros, organizados ças à prodigiosa organiza- movimento messiânico e re-
para o trabalho e a guerra. ção e à perfeição técnica ob- volucionário da maior im-
tida através de uma sábia portância. A grande rebelião
Estas sociedades deixaram irrompeu n ã província de
numerosos testemunhos de divisão do trabalho, m a s
também griças à força reli- Tinta. Montado no seu ca-
sua grandeza, apesar do lar- valo branco, Tupac Amaru
go tempo de devastação; entrou n a praça de Tunga-
monumentos religiosos le- suca e ao som de tambores
vantados com maior sabedo. anunciou que havia condena-
ria que as pirâmides egípcias, do à forca o corregedor real
eficazes criações técnicas Antonio J u a n Arriaga.
para domar a natureza, ob- Tambêm foram assombro-
jetos de arte que indicavam sas as respostas astecas ao
desafio da natureza. E m A Província de Tinta es-
grande talento. No museu de tava ficando despovoada por
Lima podem ser vistos cen- nossos dias, os turistas co-
nhecem por "jardins -flutu- causa do serviço obrigatório
tenas de crânios que foram n a s escavações de p r a t a de
objeto de trepanações e t r a - antes' as poucas ilhas sobre-
viventes no lago dessecado cerro Rico. Poucos dias de-
tamento com placas de ouro pois, Tupac Amaru decreta-
e prata, operações dos cir- onde agora se levanta, sobre
as ruínas indígenas, a capi- va a liberdacàj dos escravos.
urgiões incas. Aboliu todos os impostos e a
tal do México.
Os maias foram grandes partilha de mão-de-obra in-
astrônomos, calcularam o Estas ilhas foram criadas dígena em todas as suas
tempo com precisão assom- pelos astecas em resposta ao formas. Os indígenas se so-
brosa, e também o espaço, problema da f a l t a de terras mavam, milhares e milha-
descobriram o valor da c i - no lugar escolhido p a r a a res, às forças do "pai de to-
f r a zero (antes que qualquer" criação de Tenochtitlán. Os dos os pobres e de todos os
povo n a história). Os açudes índios t r a n s p o r t a r a m g r a n - miseráveis e desamparados".
e as ilhas artificiais criadas des massas de barro da m a r - À frente de seus guerrilhei-
pelos astecas deslumbraram gem e prenderam as novas ros, o caudilho se lançou so-
Hernán Cortez, embora não ilhas de limo entre delgadas bre Cuzco.
din se negavam a reconhe- res. Mas como os índios de- fossem de ouro.
viam ao encomendero servi- paredes de cana, até que as
cer como semelhantes os ho- raízes das árvores lhes de- Marchava pregando e dis-
mens degradados do Novo ços pessoais a títulos econô- A conquista rompeu as ba-
micos, não sobrava muito ses daquelas civilizações. r a m firmeza. Entre os novos cursando: todos os que mor-
Mundo. Hegel falou da im- espaços de terra deslizaram ressem sob suas ordens nes-
potência física e espiritual tempo para introduzi-los ílo Pior conseqüência que o
caminho eristão da salva- sangue e o fogo da guerra foi os canais de água. Sobre es- sa guerra ressuscitariam pa-
d a America e disse que os tas ilhas inusitadamente ra desfrutar as felicidades e
indígenas haviam perecido ção. Em recompensa por ser- a implantação da economia
viços prestados, Hernan Cor- mineira. As minas exigiam férteis cresceu a poderosa as riauezas de que foram
ao sopro da Europa. tez havia recebido 23 mil grandes deslocamentos de_ capital dos astecas, com suas despojados pelos invasores.
No século XVII, o padre vassalos; repartiam os ín- população e desarticulavam amplas avenidas, seus p a l á - Sucederam-se vitórias e der-
Gregório Garcia sustentava dios entre si, ao mesmo tem_ as unidades agrícolas comu- cios de austera beleza e suas rotas; por fim, Tupac Amaru
que os índios eram de des- po que outorgavam a si mes- nitárias; não só extinguiam pirâmides escalonadas: bro- foi traído e capturado por
cendência judaica, -'porque, mos as terras, mediante f a - inumeráveis vidas, através tada mágicamente da lagoa, um dos seus chefes. O juiz
como os judeus, são pregui- vores reais ou por despojo do trabalho forçado, como ela estava condenada a de- Areche entrou em seu cala-
çosos, não crêem nos mila^ direto. também, indiretamente saparecer ante os embates bouço para exigir, em troca
gres de Jesus Cristo e não es- destruíam o sistema coletivo da conquista estrangeira. O de promessas, os nomes dos
tão agradecidos aos espa- Desde 1536. os índios eram de cultivos. Os índios eram México demorou quatro sé- cúmplices da rebelião. Tupac
nhóis por todo o bem que outorgados em encomienda conduzidos às escavações, culos para alcançar ufria po- Amaru lhe respondeu com
lhes têm feito". Pelo menos junto com sua descendência, submetidos à servidão dos pulação tão numerosa como desprezo:
este sacerdote não negava pelo espaço de duas vidas: a encomenderos e obrigados a que existia naqueles tem- "Aqui não h á n e n h u m
que os índios descendessem do encomendero e seu h e r - a entregar por n a d a as pos. cúmplice a não ser você e
de Adão e Eva: eram n u m e - deiro imediato; a partir de terras que deixavam. eu; você como opressor, eu
rosos os teólogos e pensado- 1629 o regime se estendeu a Os indígenas eram, como
Na costa do Pacífico, os diz Darcy Ribeiro, o combus- como libertador, merecemos
res que não ficaram conven- três vidas; e desde 1704, a a morte."
cidos com a bula do Papa espanhóis destruíram ou tível do sistema produtivo
quatro vidas. No século deixaram morrer enormes colonial. Tupac foi submetido a su-
Paulo III .publicada em 1537, XVIII os índios, os sobrevi- plício, junto com sua m u -
que declarou os índios como cultivos; o deserto devorou
ventes, já asseguravam a vi- rapidamente grandes exten- lher, seus filhos e seus prin-
'•verdadeiros homens". da cômoda de muitas g e r a - "É quase seguro — escre- cipais partidários, n a p r a ç a
sões de terras que receberam ve Sérgio Bagu — que nas mi-
O padre Bartolomé de Las ções. Como os deuses venci- vida da rede incaica de irri- de Wacaypata, em Cuzco.
dos persistiam em suas m e - nas espanholas foram lança- Cortaram-lhe a língua. Ata-
Casas agitava a corte espa- gação. Quatro séculos e meio dos centenas de índios es-
nhola com suas inflamadas mórias, não faltavam justi- depois da conquista só resta r a m seus braços e pernas a
ficações santas para o usu- cultores. arquitetos, enge- quatro cavalos, para esquar-
denúncias contra a cruelda- a m a t a no lugar da maioria nheiros e astronomos, con-
de dos conquistadores da fruto de sua mão-de-obra dos caminhos que uniam o tejá-lo, mas o corpo não se
por parte dos vencedores: os fundidos entre a multidão partiu.
América: em 1557, um m e m - império. Ainda que as gi- escrava, para realizar um
bro do conselho real respon- índios eram pagãos, não me- gantescas obras públicas dos Decapitaram-no ao pé da
reciam outra vida. ordinário e esgotante t r a b a -
deu-lhe que os índios esta- incas tenham sido, em sua lho de extração. P a r a a eco- forca. Enviaram a cabeça a
vam muito baixos n a escala A ASSOMBROSA TÉCNICA maior parte, destruídas pelo nomia colonial, a habilida- Tinta. Um de seus braços foi
da humanidade para serem INCA tempo ou pelas mãos dos de técnica desses indivíduos para Tungasuca, e o outro
capazes de receber a fé. Las Quando os espanhóis ir- usurpadores, restam ainda, não interessava. Eles só p a r a Carabaya. M a n d a r a m
Casas dedicou sua fervorosa romperam,na América, esta- desenhados n a cordilheira eram contados como t r a b a - uma perna p a r a Santa Rosa
vida à defesa dos índios con- va em seu apogeu o império dos Andes, os intermináveis lhadores não qualificados." e outra para Livitaca. Quei-
tra os desmandos dos minei- teocrático dos incas, que se terraços que permitiam e m a r a m - l h e o dorso e joga-
ros e dos encomenderos. irradiava sobre o que hoje ainda permitem cultivar as "Mas não se perderam t o - r a m as cinzas no rio Wata-
Dizia que os índios prefe- chamamos Peru, Bolívia e ladeiras das montanhas. Um dos os resquícios daquelas nay.
riam ir para o inferno, para Equador, abarcava parte da técnico norte - americano culturas. A esperança de dig- Recomendou-se que fosse
náo encontrar os cristãos. Colômbia e Chile e chegava calculou, em 1936, que os nidade perdida iluminaria extinta toda a sua descen-
"Encomendavam" indí- até o norte argentino e à terraços incas custariam 30 numerosas sublevações in- dência, até o quarto grau.
genas para catequizar, aos selva brasileira; a confede- mil dólares por acre se fos- dígenas. Em 1781, Tupac (extraído do livro "Veias
conquistadores e colonizado- ração dos astecas havia con- sem construídos neste ano. Amaru cercou Cuzco. abertas da América Latina")

Séculos antes de Sigmund


Freud, os índios iroqueses
dividiam a mente humana
em dois. "reinos": um ilumi-
nado e outro escuro^, (cons-
ciente e inconsciente ?).
Dario Nin-Su Sales é o Quem afirma isso é o psica-
único eleitor dos 1.237 índios nalista norte-americano E.
caingangue que vivem no Fuller Torray, em The Mind
Posto Indígena Cacique No- Game. Segundo ele, os bru-
•noai, no Rio Grande do Sul. xos dessa tribo também sa-
Em troca de seu Vóto, na úl- biam que os sonhos eram re-
tima eleição, exige que os presentações simbólicas de
eleitos expulsem os nove mil desejos reprimidos e que,
brancos que invadiram as com a livre associação, podia
terras do posto. Ele já tem revelar-se seu significado. E
opinião formada sobre os praticavam a "terapia de
políticos: "Antes das elei- grupo" em certos bailes ri-
ções, falam muito; depois tuais, quando os iroqueses
das eleições, não fazem na- expressavam suas fobias,
da". medos e desejos.
DOMINGO curou o ' delegado para saber
em que pé andava o processo,
o delegado disse que não an-
dava*.- em pé nenhum, processo
de índio é complicado, segue

DE legislação especial, ele não ia


mexer em casa de marimbondo
por um assunto tão trivial: bas-
tava o criminoso gramar uns
tempos na cadeia para deixar o

FESTA
vicio; depois, as famílias todas
estavam pedindo a liberdade de
Aritakê, precisavam muito dele
para a baldeação de água.
Os dias passavam iguais e
sem sentido mesmo para um
índio, a comida chegando com
atraso porque os meninos esca-
lados para levá-la não tinham
pressa, o soldado que a rece-
bia também não ia interromper
a história que estivesse con-
tando ou ouvindo, e Aritakê
CONTO DE curtindo fome calado. De tem-
pos em tempos um soldado che-
gava com uma lata d'água e
JOSÉ J. VEIGA despejava no pote por cima do
lado antigo. Aos domingos os
soldados levavam os presos para
despejarem o barril dos detri-
tos e tomarem banho se quises-
Aritakê tinha uns quinze anos Um dia esse branco, Seu San- uma canoa carregada de peles. ram, a viúva Santonis morreu, sem. O povo ficava olhando de
quando íoi ao Posto pela pri- tonis, perguntou a Aritakê se Quando a mulher de Seu San- outra família foi morar na casa, longe, quem estivesse na janela
vez. O pai ainda hesitava em ele não o queria ir para a ci- tonis deu a notícia a Aritakê Aritakê continuou lá porque era se retirava por causa do mau
mandá-lo, os rapazes que iam dade freqüentar a escola, apren- ele não chorou, o que para ela necessário. Até o dia que ele cheiro, ninguém aproveitava a
ao Posto voltavam entusiasma- der ofício e viver como bran- provava que índio é mesmo fez aquela bobagem com o pa- ocasião para dar aos presos um
dos e sem cabeça para qualquer co. Aritakê queria, muito, ia gente sem sentimento. letó de pijama. pedaço de fumo, uma peça de
trabalho na aldeia, muitos fu- agora mesmo, sabia que Seu Com a morte de Seu Santinis Era um paletó de listras vivas, roupa, dinheiro; achavam que
giam e sumiam de vez, ou Santonis já estava de viagem a vida de Aritakê mudou muito. estendido com outras roupas preso tem de tudo na cadeia.
apareciam anos depois, tristes e armada para o dia seguinte. Para começar, a viúva achou numa corda. Aritakê passou, Uma tarde de festa — pro-
calados; mas desta vez o velho Seu Santonis explicou que não que era muito desaforo pagar viu o paletó, achou bonito. cissãp, foguetes, banda de mú-
Ipinauí não teve outro remédio, podia ser assim de repente, uma pessoa para carregar água sica — os soldados se descui-
primeiro era preciso falar do chafariz, quando tinha ali Olhou a camisa do corpo, ras- daram na vigilância. Aritakê
precisava de sal, machado, ra- gada, sem cor: decidiu-se.
paduras, e ele mesmo não es- com o pai de Aritakê. Aritakê um índio sacudido, que podia notou a porta do calabouço mal
ficou desapontado mas se con- fazer o serviço em paga da Ninguém viu Aritakê apanhar o fechada, subiu os degraus de
tava podendo andar por causa paletó, mas muitos o viram an-
daquela dor nas cadeiras, sinal formou. casa e da comida. E por que pedra como quem não quer
não emprestá-lo também a ou- dar pelas ruas com ele, parando nada, empurrou a porta e foi
de que a terra já começava a de vez em quando para levantar
puxá-lo para ela. Ipinauí ouviu o pedido do fi- tras famílias? índio parado em saindo. Os soldados estavam
lho sem dizer nada, parece que casa fica reinando maldade. uma aba até a altura dos olhos discutindo sobre armas de fogo
Quando Aritakê chegou ao já estava. esperando uma coisa Quando o par de botinas dada (não podia baixar a cabeça por em uma sala, do corredor se
Posto estava lá um homem assim; desde que instalaram o Seu Santonis se gastou, Aritakê causa da vasilha de água). ouvia a conversa.
branco não exatamente branco Posto ali perto, os índios es- teve de andar descalço, e quan- Aritakê não levou nada, não
mas vermelho, como se tivesse O dono do paletó, homem
tavam perdendo o gosto pela do as roupas foram se acaban- correto e respeitador das leis, tinha o que levar, nem sabia
passado tinta de tucum na cara, vida na aldeia; muito triste, do a viúva lhe dava roupas para onde ia. Desceu o largo,
no pescoço, nas mãos. O ho- muito ruim; mas como é que fez o que áchou que devia fa-
velhas do marido, elas ficavam zer: levou o caso ao delegado, parou um pouco na porta da
mem manejava uma caixa pre- se ia evitar? Ipinauí levantou-se engraçadas em Aritakê porque igreja, não se interessou pela
ta, aberta no meio, punha uma ainda calado, preparou fumo, mas fez questão de explicar que
o morto era mais alto e muito não era pelo valor da peça, era barulheira, continuou andando,
chapa redonda numa banda da encheu o cachimbo e não deu mais gordo; e quando essas passou a ponte e foi acompa-
caixa, mexia lá numas coisas e resposta, não falou com Aritakê pelo princípio; o paletó ele nem
também se estragaram, Aritakê queria mais, não ia vestir roupa nhando o rio. Já na estrada,
á caixa começava a soltar mú- o resto do dia. No dia seguinte passada a máquina de arroz e
cedo ele chamou o filho e disse só vestia molambos, que a que andou em corpo de índio.
sica. O brinquedo era tão bom viúva s8 remendava quando o a cerca do matadouro, ouviu
que não só os índios mas os que fosse. Queria ir, fosse. Achando que o assunto era
Ipinauí ia ficar triste, mas não' rasgão era em lugar inconve- de importância secundária o tropel e gritos atrás.
brancos também se juntaram niente. Um dia, vendo-o en-
para ver e escutar, os índios fazia mal. Queria ir, fosse. delegado entregou-o ao cabo — Pega o preso! Vai fugindo!
Aritakê foi. trar na cozinha para encher do destacamento e partiu num Aritakê olhou para trás, viu
um pouco mais atrás, por des- uma vasilha d'água pom a rou-
confiança. caminhão cheio de cachorros os soldados, entendeu que era
Seu Santonis ficou feliz de ter pa muito rasgada, ela achou para uma caçada que ia durar com ele. O jeito agora era
Aritakê ficou no Posto até um índio em casa, chamava que não ficava bem ter um ín- dias. O cabo gostou, havia correr.
que o homem branco fechou a Aritakê para mostrar aos ami- dio seminu trançando pela muito tempo que não funcio- — Pega! fi preso fugido!
caixa e pegou na alça para le- gos. queria que eles vissem que casa, e mandou fazer um cubí- nava como. autoridade. Pega!
var. Aí Aritakê se lembrou das índio não é nada do que o povo culo de tábuas de caixotes para Aritakê enchia um pote do Sentado na porta de sua ca-
encomendas do pai, mas o pensa — gente porca, estouvada, ele morar e dormir no quintal. chafariz, quando o cabo chegou sinhola com uma criança nos
empregado do armazém disse sem preceitos; era gente sadia A única parte da casa onde com dois soldados armados' de braços um homem ouviu o
que não podia mais atender nin- e limpa, capaz de aprender tudo ele entrava agora era na cozi- sabre, chegou e deu ordem para apelo. Depressa ele entregou
guém, estava na hora de fechar, que os brancos aprendem. nha, assim mesmo só para des- agarrar e algemar. Aritakê deve a criança á alguém lá dentro e
agora só amanhã. Aritakê ro- pejar água. ter pensado que eles o estavam tentou cercar o fugitivo. Ari-
dou pela vila, um espalhado de Seu Santonis mandou fazer De noite, sentado num caixote presenteando com alguma coi- takê quebrou cangalha fácil e
casas na beira do rio, encantou- roupas para Aritakê iguais às na porta do cubículo, Aritakê sa, ficóu olhando as duas pul- passou'.
se com o viver dos brancos dos rapazes da cidade, e con- enchia o cachimbo com o fumo seiras niqueladas e sorrindo. — Pega ! Não deixa fugir!
que aparentemente se resumia tratou um mestre particular que as famílias lhe davam em Mas quando os soldados o pu- Tranqüilamente o homem le-
em beber cachaça, tocar viola para ele. A mulher de Seu gratificação pelo carreto de seram para diante a empurrões, vou a mão à cintura, puxou
ou sanfona e dar tiros a esmo Santonis fechava a cara e di- água e ficava como dormindo, aí ele não entendeu e apontou uma arma, atirou. No baque
ou em galinhas que ciscavam zia que ele estava perdendo daquele jeito que os índios
nos barrancos; aprendeu mais o pote com as duas mãos. O do tiro Aritakê perdeu o passo,
tempo e facilitando muito, índio gostam de ficar. Que ele não cabo, homem experiente, não ia focinhou de lado e caiu de om-
algumas palavra^ da língua dos não pode ser tratado como filho estava dormindo via-se pela
brancos, deviam ser palavras se atrapalhar, resolveu o pro- bro na beira da estrada, uma
de família. atenção que dava ao cachimbo blema quabrando o pote com perna adiante da outra na po-
engraçadas, todos riam de se — Veja você — dizia ela às para conservá-lo aceso. Quan-
quebrar quando ele as repetia; uma botinada, a ájgua se espa- sição de correr.
amigas — depois de tantos anos do o cachimbo afinal chiava e lhando entre os cacos pela laje Os soldados já vinham che-
aceitou cachaça de uns e outros, de casada arranjei um filho que parava de dar fumaça, Aritakê
embriagou-se, caiu largado do chafariz. gando, elogiaram a pontaria.
não sabe comer com garfo nem batia-o no caixote para despe- De empurrão em empurrão, o — Vai atirar bem assim na
num capinzal, onde foi encon- dormir em cama. E nem sei
trado por outro índio mais ex- jar a cinza e recolhia-se ao cabo atrás com os polegares no praia — disse um.
se ele é batizado. cubículo. É possível que no cinto explicando aos curiosos o O homem e os soldados fo-
periente que o levou para o
rancho do posto. No dia se- Quando ouviu isso de batismo colchão de capim, furado e motivo da prisão, Aritakê foi ram ver o efeito da bala, o
guinte ele voltou para a aldeia pela primeira vez Seu Santonis cheio de percevejos, com o pes- jogado no calabouço, lugar re- homem ainda com a arma na
com o machado, o sal e meia explicou que Aritakê tinha sido coço duro do peso das latas e servado a presos perigosos. A mão — a queda podia ser
rapadura, a outra meia ele co- batizado pelo bispo no Posto e potes, Aritakê sonhasse com a porta foi fechada com a chave truque de índio treteiro.
meu aos poucos pelo caminho. recebera o nome de Ari para aldeia; não havia meio de saber enorme, Aritakê ficou no escuro. Um soldado virou o cadáver
Ipinauí achou que ele tinha se aproveitar o nome antigo. Isso porque ele não tinha com quem Afora os empurrões, que ele com o pé. A bala tinha en-
saído muito bem para uma pri- deixou a mulher engasgada por- conversar, as crianças fugiam não entendeu, parece que Ari- trado nas costas e saído no
meira missão e não o repreen- que para ela batismo de bispo dele, ouviam dizer que índio takê não se importou com a' peito.
deu nem pela demora nem pela devia ser mais forte do que ba- come gente, e os homens não prisão. Sentado no parapeito da — Conheceu, tapuio safado!
falta de meia rapadura. Ari- tismo de padre. tinham tempo a perder com janela, atrás dos barrotes de — disse o soldado.
takê voltou outras vezes ao Mas Seu Santonis viajava um um índio maltrapilho e quase um palmo de largura re- O outro estava interessado
muito, e a mulher aproveitava morrinhento. forçados com chapas de ferro, era na arma.
Posto e acabou fazendo amizade as ausências dele pára cortar Quantos anos ele passou nessa ele passava o tempo entretido — É ximite, não é? Dá li-
com o homem da caixa de as asas do índio, como ela di- vida seria difícil dizer. As pes- em olhar as listras do paletó, cença? — examinou e comple-
música, que freqüentemente zia. Numa dessas viagens Seu soas que o viram chegar fo- prova do pouco caso que fazia tou, entendido: — Logo vi.
aparecia lá comprando e ven- Santonis ficou, comido pelas ram morrendo ou se mudando, da justiça. Bicho que não faz vergonha.
dendo. piranhas no afundamento de os meninos cresceram e sumi- Lá um dia o queixoso pro- Quer negociar?
LETRAS LATINAS AO PORTADOR
O melhor perigo por que passa Garcia Márquez. Criou-se, imedia-
atualmente a literatura hispano- tamente, uma polaridade tãó ingê-
americana no Brasil é o da forma- nua quanto ilusória: na literatura
ção de um mercado, ou melhor, o hispano-americano haveria "dois
da apropriação mais ou menos de- modos" de criar. De um lado, o
finitiva de uma parcela do merca- realismo mágico de Márquez. Do
do editorial. outro, as experiências de Júlio
É o melhor; um mercado supõe Cortazar, que então também arri-
continuidade. E o que nos chega bava em grande escala por estas
sob o rótulo de "literatura hispa- bandas. Tratavam-se os escritores
no-americana", é, via de regra, do e seu modo pessoal de criar como
bom e do melhor. Se de um lado o se fossem partidos a tomar. O
recente delírio desenvolvimentista mercado, ofertando ambos "livre-
arrastou os olhos agressivos de mente". exibia com disfarçada
nossa empastelada classe média malícia seu caráter "democrático",
para os Estados Unidos e a E u r o - ao mesmo tempo que propunha o
pa, enchendo os super-mercados leitor como juiz dessa "importan-
de uísques escoceses, foie gras e te", "decisiva" questão: vendia-lhe,
outras dondoquices de "país em pois, a ilusão de liberdade. E con-
vias de desenvolvimento", de ou- tribuía para atrapalhar o juízo
tro lado o também recente "estou- crítico desse mesmo leitor, dimi-
ro" da literatura hispano-ameri- nuindo-lhe os parâmetros de jul-
cana no mercado brasileiro dava gamento, dando-lhe o produto e,
sua contribuição (entre muitos ou- de mão beijada, o modo "correto"
tros fatores, é claro) para fortale- de consumi-lo: a estéril "polêmi-
cer, em nosso consenso cultural, as
vinculações com o "terceiro mun-
ca". Curiosa maneira de neutrali-
zar (ou de assim tentar) seus ini- dfcrge £uis Borges
do" e a consciência de que faze- vida intelectual atualizada e atu- migos literatos e literários. E não
mos parte inalienável de um con- ante. O que, certamente, não inva- se trata aqui de acusar o livreiro
tinente "subdesenvolvido". Que, no lida coisa alguma: só acrescenta tal, o editor, ou o escritor A por
fundo, somos um país "subdesen- à literatura um tanto de dignida- tais contradições. Existe apenas
volvido" de. uma série de "culpados" eu. tu,
O público leitor voltou-se para os Por que. então, perigo? Ora, tra- ele, nós, vós, eles. Ah, sim: e Você.
latinos de más allá também em ta-se de um mercado, e o mercado Mas é, sem dúvida, o melhor pe-
busca de uma literatura que mos- possui certamente razões que o rigo: sempre é estimulante o en-
trasse um melhor comprometi- nosso melhor coração desconhece. contro direto com o inimigo. Nes-
mento intelectual com a realida- O destino do mercado é iludir o te caso particular, da literatura
de. Bons escritores não faltam no consumidor, propiciar-lhe a sen- hispano-americana no mercado
Brasil. O diabo é que muitos desses sação de liberdade quando, na ver- brasileiro, o saldo é- altamente po-
bons escritores acabam entrando dade, o sujeita por dependência. sitivo. Pouco a pouco livros gene-
para a Academia Brasileira de Le- Para tanto esta entidade — o mer- rosos, combativos e de execlente
tras: se satisfazem em ser o flori- cado — recorre a certas artima- qualidade tomam seus postos nas
légio da sociedade. Do outro lado nhas tão perigosas quanto detec- estantes, nos ônibus, nas faculda-
nos chegam notícias de escrito- táveis. Por exemplo, em termos de des, nas escolas, e dali espalham
res combativos, voltados para a cültura: a simplificação das ques- seus diferentes modos de criar. E
História e não para as Academias, tões, ou sua transposição para. um há tantos outros perigos piores: o
que fazem pronunciamentos lem- plano genérico, vago, inócuo. Re- esquecimento, as proibições, a au-
brando a todos a necessidade de cordo-me que a primeira grande tocensura, o fogo, as inquisições
libertar o continente. Trata-se,, pedra-de-toque dessa atualização — apenas para citar alguns.
como se vê, de uma questão menós do mercado em relação ao conti-
literária do que de anseio por uma nente" foi Cem anos de solidão, de Flávio Aguiar

(-mesto Sábato

POR Q U E E S T A M O S AÍ
Estas coisas são muito complica_ imaginação golpeia no vazio. Po- cem assim e nesta época. Uma no-
das, a gente sempre corre o risco de existir de tudo pa literatura vela como Rayuela ("O Jogo da
de esquematizar. Mas ocorreram que se faz na Europa sobre a Amé- Amarelinha") é comentada no su-
muitas coisas, e nós precisamos rica Latina. Mas acho que falta plemento literário do Times de
deixar de lado qualquer manique- mais "carne" — isto é, uma coisa Londres, em uma nota que t r a t a
ísmo. É evidente que se cruzam quase inevitável. de 10 novelas. Para Rayuela, o Ti-
muitas coisas. Por exemplo, uma De outro lado, estão os escrito- mes dedicou 8 centímetros — e t r a -
das que se cruzam são os escrito- res que vivem na América Latina. ta-se de uma novela importante, dtdólfo $ioy Casares
res que estão na América Latina e Algumas vezes assinalei uma m a - na qual o autor trabalhou muitos
os escritores que se vão para a Eu-
ropa, e sua obsessão em escrever
nobra para mitificar o êxito do es-
critor latino-americano no estran-
anos, e que merecia outro t r a t a -
mento. rrzá
sobre temas latino-americanos, ou geiro. Penso que esta é uma das Além disto há o problema das
sobre o que eles imaginam que se- manobras mais hábeis da penetra- traduções. As traduções de Var-
ja a América Latina. Também ção imperialista na cultura latino_ gas Llosa feitas na Alemanha, por
acontece de muita gente escrever americana. É aquela coisa de pen- exemplo, são um desastre. Ou se-
com os olhos postos na Europa. sar que nesses países todos vive- ja: este boom da novela latino-
Bem, eu acho que é difícil fazer mos frustrados, que o escritor não americana na Europa só existe n a
as coisas de longé. É preciso subs- tem compensação, que não conse- América Latina. É um reflexo não
tituir o testemunho pela imagina- gue ir adiante, que é obrigado a só condicionado mas intencional,
ção. Mas é claro que toda a dinâ- competir com outros ofícios, em que deforma uma realidade, que
mica da vida destes países atinge sua própria vida, etc., e que. em tenta fazê-la raais importante do
de certa maneira mesmo aqueles
que, aparentemente, estão mais
troca, o escritor que fez nome no
estrangeiro, bom, é um cara que
que é. O que procura isto? Que os
escritores jovens pensem que pre-
Qabriel Qatcia dMarquez
alheios. Afetam porque, é uma coi- evita todos estes inconvenientes, cisam sair da América Latina p a -
sa que está no ar que respiras to- que tem tranqüilidade para escre- ra escrever, e até para ver o con-
dos os dias, dos ruídos que ouves ver, etc. E, se em parte isto é cer- tinente na sua totalidade. Penso
todos os dias. Ou todas as madru- to, em parte também há uma mi- que estar em nossos países pode
gadas . . . sobretudo ultimamente. tificarão deste êxito. Porque eu te ter desvantagens^ é claro. Isto de-
E isto, o cara que está longe tem digo — e estive vivendo em Paris pende do que nos interessa, por-
de substituir pelo que escrevem as um ano, na época em que aparece- que, assim como há prioridades na
agências noticiosas internacionais, ram as novelas mais destacadas vida, também para o escritor, a
os jornais estrangeiros. Tens que da literatura latino-americana es- política pode ser mais importante,
substituir pelas cartas da família, crita na Europa, e, bom, elas apa- em certo momento. Mas eu não
muitas vezes inteiramente subjeti- reciam em agosto, por exemplo, sou esquemático nisto. Escrever
vas. E. também, com a imagina- quando os críticos estão de férias, sobre temas políticos é como es-
ção. E há uma coisa que não se quando as páginas literárias não crever poemas de amor. A políti-
pode substituir nem pela imagina- se ocupam de literatura, quando os ca, afinal, é apenas uma das for-
ção: a vivência direta. Uma vivên- leitores também não estão n a ci- mas do amor.
cia direta pode ser incomensura- dade. Então aparecem as novelas
damente enriquecida pela imagi- latino-americanas. E quero dizer Mario Benedetti
nação, mas sem esta vivência, a que as melhores também apare-
ELES POSARAM PARA DUAS FOTÓGRAFAS
ARGENTINAS — SARA FACIO E
ALICIA D'AMICO. E DEPOIS, A PEDIDO
y c y MI C A C A DELAS, FALARAM DA CARA E DO
JEITO QUE TÊM. FOTOS E TEXTOS
FORAM PUBLICADOS NUM
LIVRO — RETRATOS E AUTO-RETRATOS.

Eu, senhor, me chamo Gabriel rito descomunal, porque sou muito


Garcia Márquez. Lamento: também bruto para escrever. Tive que me sub_
não gosto, desse nome, porque é uma meter a uma disciplina atroz parã
série de lugares comuns que nunca terminar meia página em oito horas
consegui identificar comigo. Nasci em de trabalho; luto a tropeções com ca-
Aracataca, Colômbia. Meu signo é da palavra e quase sempre é ela quem
Peixes e minha mulher é Mercedes. sai ganhando, mas sou tão cabeçuâo
Essas são as duas coisas mais impor- que consegui publicar cinco livros
tantes que me ocorreram na vida, por- em vinte anos. O sexto, que estou es-
que graças a elas, pelo menos até crevendo vai mais devagar que os
agora, consegui sobreviver escreven- outros, porque, rafrPfSl credores e
do. uma nevralgia, me sobram mUitQ
poucas horas livres.
. Sou escritor por timidez. Minha Nunca falo de literatura, porque
verdadeira vocação é a de prestidi- não sei o que é, e, além disso, estou
gitador, mas me confundo tanto tra- convencido de que o mundo seria
tando de fazer um truque, que tive igual sem ela. Em compensação, estou
que me refugiar na solidão da lite- convencido de que seria completamen-
ratura. Ambas atividades, em todo te diferente se não existisse a polícia.
caso, conduzem à única coisa que me Penso, portanto, que teria sido mais
interessou desde menino: que meus útil à humanidade se em vez de es-
amigos me queiram mais. critor et» fosse...
Ser escritor, no meu caso, ê ; um mé- - : Gabriel Garcia Márquez

Acho que foi Leonardo quem tinação ou impiedade, esses ce-


afirmou que aòs cinqüenta anos a nhos que se contraem por inquie-
gente tem a cara que merece. So- tação ou estranheza ou se levan-
bre ela foram — lenta mas inexo- tam por interrogação óu dúvida,
ravelmente — deixando suas pega- essas veias que incham por raiva
das os sentimentos e as paixões, ou sensualidade, vão delineando
os afetos e os rancores, a fé, a ilu- ruga após ruga o desenho que fi-
são, os desencantos, as mortes que nalmente a alma imprime sobre
vivemos ou pressentimos, os outo- essa carne,sutil e maleável de nos-
nos que nos entristeceram ou de- so rosto. Revelando-se assim, se-
sanimaram, os amores que nos en_ gundo essa fatalidade da alma,
feitiçaram, os fantasmas que nos que só pode existir encarnada e se
visitaram (de mortos nos sonhos, manifestando através dessa maté-
de personagens que nos arrastam, ria que é sua prisão e, ao mesmo
e também os mascarados de nos- tempo, sua única possibilidade de
sas próprias ficções, que ao mes- existência.
mo tempo nos expressam e nos Sim, eis aí: com cruel e delica-
traem). Esses olhos que revelam da exatidão, nestes retratos está,
com suas lágrimas as tristezas, como um condenado atrás das
essas pálpebras que se fecham de grades, meu próprio espírito: o
sono o; pudor ou de astúcia, es- rosto com que observo o Universo.
ses lábios que se apertam por obs- Ernesto Sábato
Como é que vou fazer para parecer mal
e ficar bem? É como quando você se olha
no espelho (ou no retrato) procurando
o ângulo bonito (sem que ninguém ob-
serve) para constatar que continua sen-
do sempre você mesmo.
Alguns se colocam de soslaio, outros
imprimirão a verdade do que quiseram
ser, outros se perguntarão: como sou?
Mas a verdade é que todos vivemos
nos anotando, nos espreitando, só mos-
trando o mais visível, escondendo a ir-
regularidade da aprendizagem e do
tempo.

Mas vamos ao que interessa.


Para mim sou ou acredito ser duro de
nariz, mínimo de olhos, escasso de ca-
belos na cabeça, avantajado de abdo-
mem, comprido de pernas, largo de pés,
amarelo de pele, . generoso de amores,
impossível de cálculos, confuso de pala_
vras, terno de mãos, lento de andar, ino-
xidável de coração, aficionado das estre-
las,. marés, maremotos, admirador de
escaravelhos, caminhante de areias, ig-
norante de instituições, chileno perpé-
tuo, amigo de meus amigos, mudo para
inimigos, intrometido entre pássaros.

mal educado em casa, tímido nos salões,


audaz na solidão, arrependido sem obje-
to, horrendo administrador, bom de pa-
po, discreto entre os animais, afortuna-
do em aguaceiros, investigador nos mer-
cados, obscuro nas bibliotecas, melancó-
lico nas cordilheiras, incansável nos
bosques, lentíssimo dê^ resposta, espiri-
tuoso anos depois, vulgar durante todo o
ano, resplandecente com meu caderno,
monumental de apetite, tigre para dor-
mir, sossegado na alegria, inspetor do
céu noturno, trabalhador invisível, de-
sordenado persistente, valente por n e -
cessidade, covarde sem pecado, sonoien-
to de vocação, pródigo de mulheres,
ativo de padecimento, poeta por maldi-
ção e tonto de capirote.
Pablo Neruda

Marcelino Menéndez y Pelayo ~ cujo estilo, ape- um grandè escritor; agradeço essa curiosa opinião,
sar da quase impossibilidade de pensar e do abuso de mas não compartilho com ela. Qualquer dia desses, al_
hlpérboles espanholas, foi certamente superior ao de guns lúcidos a refutarão facilmente e me chamarão dê
Unamuno e Gasset, mas não ao que Groussac e Al- impostor e aproveitador, ou das duas coisas ao mesmo
fonso Reyes nos deixaram —costumava dizer que de to- tempo. Quero deixar escrito que não cultivei minha f a -
das as suas obras, a única com a qual estava razoa- ma, que será efemera, e que não a busquei nem alentei.
velmente satisfeito era a sua biblioteca: paralela- Talvez uma ou outra peça — El Golem, Página para
mente sou nvenos um autor que um leitor, e agora um lembrar o coronel Suárez, Poema de los dones, Una
leitor de páginas que meus olhos não lêem mais. Mi- rosa y Milton, A intrusa, El Aleph, — permaneça nas
n h a memória é um arquivo heterogêneo e sem dúvida indulgentes antologias.
inexato de fragmentos em diversos idiomas, inclusive Não sou um pensador. Considero-me um homem
o latim, o inglês antigo e brevemente, espero, ~o nór- bom e talvez um santo, o que é prova suficiente de que
dico antigo. Certa vez pensei que meu destino de mero na realidade não o sou. Fora Juan Manuel Rosas, meu
leitor era pobre; agora, aos setenta anos, suspeito que parente distante, e outros ditadores cujo nome não
ter lido, e relido, a balada de Maldon é talvez uma ex- quero recordar, não consigo entender bem o que é o
periência mais vivida e valiosa que a de haver batalha- ódio. Percorri boa parte do mundo. Amo com amor pes-
do em Maldon. "Estão verdes as uvas", observaria Eso- soal muitas cidades: Montevidéu, Genebra, Palma de
po, sorrindo. Majorca, Austin, São Francisco da Califórnia, Cam-
bridge, Nova York, Londres, Edimburgo, Estocolmo...
O acaso (esse é o nome que nossa inevitável igno- Quanto a Buenos Aires, quero-a muito, mas bem que
rância dá ao tecido infinito e incalculável de efeitos pode se tratar de um velho hábito.
e de causas) foi muito generoso comigo. Diz que sou Jorge Luis Borges
Durante muitos anos acreditei ma coisa sempre nos escapa. Que- que havia de certo em tão pompo- cara teria escolhido, e descobri que
que a cara era uma questão de ro dizer que levei muito tempo pa- sa formulação. Relembrei: se in- nenhuma me convinha. A do jo-
acaso. Cheguei até a pensar que ra aprender o que ninguém igno- fluímos na evolução de nossa ca- vem de luvas, de Ticiano, admirá-
não havia razão para que a cara ra: que os loucos têm cara de lou- ra, de alguma maneira somos res- vel no quadro, não me parecia ade-
das pessoas inteligentes deixasse cos; os gênios, de gênios; os idio- ponsáveis. O mau é que a decrepi- quada, pois corresponde a um ho-
ver, de alguma fonaa, a inteligên- tas, de idiotas. tude também colabora nesta evo- mem cujo gênero de vida eu não
cia (porque imaginei que ela t r a - É verdade que um elemento de lução. Mas talvez dependa de nós desejo para mim. Além do mais,
balhava silenciosamente, na pro- nossa cara é uma questão de aca- que a decrepitude manifeste-se intuia que, nele, a atividade fí-
fundidade, sem alterar a superfí- so; o ponto de partida, a base, o mais ou menos avessa, imbecil, sica prevalecia pelo excesso. Os
cie, como um redemoinho em fundamento, recebemos por via inescrupulosa, ávida. santos pecavam por um defeito
águas mansas). Em troca, me di- hereditária; também é certo que Segundo a minha experiência, oposto: eram excessivamente se-
zia: as pessoas que necessitam de boa parte do resto de nossa pessoa um observador não muito atento dentários. O Deus Pai eu julgo de-
toda a sua atenção para entender acolhemos por herança, e que não da própria cara, identifica-se, e masiado solene. As caras dos pen-
as coisas mais evidentes, sem dú- invocamos a circunstância para por fim conforma-se com a ima- sadores são pouco saudáveis, e a
vida imprimem à sua cara, atra- fugir a responsabilidades. gem frontal que lhe propõe o es- dos boxeadores, pouco sutis. As
vés de prolongado esforço mental, Não lembro bem em que oportu- pelho. Os perfis — quando os per- caras que realmente me agradam,
uma expressão aguda, ou pelo me- nidade, um fotógrafo me disse: cebe — surpreendem-no talvez in- são de mulher; mas não servem
nos, alerta. Com esta reflexão, eu "Você é capaz de não acreditar, gratamente, como o timbre da voz, para trocar pela minha.
reconhecia que a matéria de que é mas há pessoas que não assumem quando reproduzida por aparelhos Depois desta indagação de pre-
feita a cara, e' dócil ao espírito — a responsabilidade da própria ca- mecânicos. ferências, me resignei à cara her-
vamos assim dizer — que a anima. ra." Rapidamente resolvi assumir Algumas vezes pensei que minha dada. Vista de frente, no espelho,
Mas tem tanta coisa para se a responsabilidade da que tenho, cara não era a que eu tinha esco- me parecia aceitável. Ainda que
aprender neste mundo, que algu- não sem perguntar-me sobre o lhido. Então eu me perguntei que não assegurasse uma vontade ou
poder efetivo, prometia tudo isto
em vagas reservas.
Essa promessa, me desiludiu. Os
anos infundiram aos olhos um en-
fraquecimento que aparentemente
os derreteram e que tornou sua luz
mais escura e triste. A mímica,
própria de minha maneira nervo-
sa, desenhou nos lados da boca,
rugas em forma de arcos ou de pa-
rênteses, que transformaram o
jovem leão num cachorro velho.
Nunca me entendi com seus per-
fis. Acho que o esquerdo expressa
uma remota fraqueza de meu es-
pírito, me desagrada. No outro,_ o
nari7 cresce grosseiramente e, não
sei porque, èncurva-se.
Definitivamente, esta é a cara
que tenho. Procurarei não agravá-
la com ruindades, para investir
algum dia. ainda que protegido
pelo emagrecimento inevitável, a
plena responsabilidade que, de al-
gum tempo para cá, simulo diante
de meus amigos, fotógrafos.
Adolfo Bioy .Casares
Mas o que Zé Celso,
Filpo Nunez, Darcy Ribeiro,
Lefebvre e O Exorcista
estão fazendo juntos em OS LUSÍADAS
Portugal? É
o que se publica nos jornais
do outro lado do oceano.

DARCY RIBEIRO
"Um dos problemas fundamen- teatro como ação direta, corpo a dade. Alguns, mais sensíveis aos
tais da Universidade portuguesa corpo, com outros meios: fotogra- prováveis efeitos malignos, mas
de hoje é o de tratar o estudante fia, cinema, videoteipe, música, incapazes de resistir à tentação de
como um indivíduo, para quem as dança, festa. Eu quero encontrar uma premiere, com toda a circuns-
responsabilidades universitárias a energia dessa região, despertar tância da praxe, terão tomado as
terminam com a licenciatura, com para a criação coletiva com pes- suas precauções — quero dizer, os
a obtenção do diploma. Em lugar soas que não falaram esse tempo, seus sedativos — e, discretamen-
disso, ele deve considerar que a que têm uma maior conservação te, como quem não quer nada, le-
Universidade está aberta para ele, do sentido de povo, que foram vavam lá muito 1 escondido um pe-
permanentcfnente, e deve atrair os
melhores deles para incorporar FILPO N U N E S massacradas e sentiram a necessi-
dade de se entender. A função do
queno crucifixo...
O ambiente não lhe podia ser
nos seus quadros como futuros teatro é mostrar as possibilidades, mais propício — até nas duas am-
professores, ou para prepará-los "No treino da tarde de hoje, en- aglutinar. O teatro é móvel, cigano. bulâncias, com os respectivos bom-
como quadros docentes de investi- trará no relvado um homem que (De uma entrevista a Maria da beiros, que a Lusomundo (esses
gação de outras universidades e de tem tradições no clube leixonense: Paz "Minouche" Urbano Rodri- demoníacos distribuidores...) teve
outras instituições científicas. o argentino Filpo Nunes, que deu gues, para o Diário Popular, de o cuidado de colocar à porta do
a única Taça de Portugal à coleti- Lisboa.) antes tranqüilo restaurante, agora
Portugal vai experimentar uma vidade, há 13 anos." (De uma no- cinema e complexo comecial do
expansão muito grande do ensino tícia publicada pe;o jornal A Ca- Campo Grande, à beira do lago,
superior nos próximos anos. Por
isso, esse procedimento é absoluta-
pital, de Lisboa, anunciando a
dispensa do técnico do Leixões, o LEFEBVRE não viesse a suceder que você sal-
tasse do écran e se apoderasse de
mente indispensável. Vejo em Por- brasileiro Haroldo Campos, e sua algum pacato espectador, porven-
tugal muita gente assustada com a substituição pelo argentino, natu_ Precisafnos de uma civilização ra mais desprevenido.
expansão das universidades. Mas ralizado brasileiro, Filpo Nunes.) que preserve a nossa tradição e a
essa expansão ainda é pequena, nossa cultura, o que naturalmente Portanto, você dispunha, à par-
com respeito à que vai ocorrer nos implica numa noção nova de es- tida, de todos os trunfos para im-
próximos anos. Nesse sentido, Por-
tugal vai precisar de muito mais ZÉ CELSO paço e numa arquitetura global
diferente." (De um depoimento do
pressionar, para se impor,' para
corresponder à fama que os trom-
professores e é preciso que esses filósofo francês Henri Lefebvre ao beteiros da publicidade americana
professores não sejam formados "Vou fazer um trabalho com se esforçaram por lhe dar. antes
portugueses, brasileiros, africanos. Diário Popular, depois da palestra de desembarcar nesta cidade, por
por critérios nepóticos ou por cri- Há uma hipótese de dar um curso que fez no Laboratório de Enge-
térios antigos, mas sim por pro- nharia Civil, em Lisboa.) obra e graça do 25 de abril.
gramas regulares de pós-gradua- de dois meses, mas nada é defini- Mas, você, absolva-me desta
ção a nível de master, e a nível de tivo. Quero fazer um trabalho de crueza, você falhou. Foi um de-
doutoramento. Isso é ainda mais
importante, pelo fato de que, pro-
movimento, de criação coletiva e
descolonização. Um trabalho de O EXORCISTA mônio oportunista, palhaço. Numa
palavra, você foi um demônio sem
vavelmente, Portugal, mais do que ação direta para despertar para a classe. Os seus truques não me
outras nações, vai ser chamado a criação coletiva. Estou interessado "Meu caro: espero que por isto convenceram. A sua interpretação
ajudar no esforço de Angola, de em desenvolver essa proposta em que lhe vou dizer não venha a zur- foi de mau gosto. A sua revelação
Moçambique e da Guiné, para for- Trás-os-Montes. Trabalhar com o zir-me com as achas do Inferno — não vai agradar nem aos seus mais
mar suas próprias universidades." povo português é descobrir o de- mas, com franqueza, você me de- fiéis devotos servos das profunde-
nominador comum. Dizer como sapontou. Era a sua primeira zas do Inferno.
(De uma entrevista concedida ao encaramos a descolonização, mu- apresentação em público, que me Meu caro, se me permite, siga
jornal A Capital de Lisboa, pelo dando a relação senhor-escravo, recorde, a sua primeira grande in- este conselho: mude de vida. Por-
ex-ministro da Educação do Brasil na África e em Portugal, saber o terpretação cinematográfica, a co- que, a continuar como o vi ante-
e primeiro reitor da * Universidade que eles pensam. O teatro em fun- res, e com banda sonora. No foyer, ontem, ainda acaba saneado."
de Brasília, professor Darci Ribei- ção desse contato, um trabalho você era temido antes de começar ("Credo!... Epístola ao Demônio
ro. que está em Portugal para co- com as coisas não formuladas. Não o espetáculo. Cochichava-se pelos com Sérias Reservas", de Dinis de
laborar na reestruturação da Uni- vamos tentar ensinar; eu procuro cantos do "Caleidoscópio" aquele Abreu — um' dos "Onze Exercí-
versidade portuguesa, a convite do a comunicação com o que está vi- misto de respeito (pela sua perso- cios sobre o Exorcista", publicados
professor Rui Luís Gomes.) vo; acredito no poder do circo, do nalidade) e mal disfarçada ansie- pelo Diário Popular,'de Lisboa.)

Catteno •Gbrt&ar-Gr
QIL • MACALÉ o y/ALL?
AUGUSTO • £>EC/0 • OURRAT
CHACAL o OUNSA • FlAVtO RONS
LÚCIO FLAVlO o v/V/.LOUREIRO Ufr&ANO
, A CALLAbO o HEUO O/TIOCA
\/OSE OTÁVIO o fiOLINHA ® Z>. EMY ® MAOBL
„ \/os£ onofre * Rui osterman
ALBERTO CARBONE o (qRAV/NO Y RENI $r OUTROS

'QUEREMOS COISAS DE VOCÊSt


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MOLARôO ANESTESIA
/ ^
vo T&RPêXQD
MUNtX) NESTA
GERAL
^ $ CÒNFWRâM^iA L/VRÊA S E N Ã O MAo Holly Kemp, de Richmond, Califórnia, tem 32
anos e é preta. Segundo os autos de um processo
FDFDLAçÃO euJ>ATIRO ATIRA corrente no tribunal local, ela é "ligeiramente re-
tardada", motivo pelo qual vive sob a supervisão
PROTESTO coixv&h de uma casa de assistência. Mas Holly Kemp não é
OAUfeWSMO vos TAfetS tão retardada a ponto de não compreender o sen-
tido da palavra "esterilização". Assim como um
PfeS^NVOLVlRDí?, QUE: USAM grande número de mulheres nos Estados Unidos —
muitas delas pretas, muitas delas pobres, muitas de_
O FANTASMA P A S U P t S R - Ias provavelmente retardadas — Holly Kemp não
quer ser esterilizada. Mais especificamente, não
pDpÜLAçAO K3C H U M t ^ O - concorda que alguém tenha o direito de esterilizá-
la contra a sua vontade — e, com a ajuda da Asso-
OM P R ^ L H M A iMHXlSTHMtH ciação Norte-Americana para os Direitos Civis, está
Itt^MFE^AVeiS tentando provar isso ao juiz de Richmond.
Nesse ponto, há inteiro acordo entre ela e Nial
Ruth Cox, da Carolina do Norte, que também é pre-
ta e é pobre, sendo que a principal diferença entre
elas é que Nial já não tem nada a dizer ao juiz.
E?ASTA A l S ü B M U£VAMTAR
HAO lAR(?o! Ela está com 26 anos, e quando tinha 17 o Estado
da Carolina do Norte decretou que fosse esteriliza-
TAPAWARASül E 1£><3Ó
da. Há uma segunda diferença: Nial não é sequer
-TOSAM O LUÔAR!^ ligeiramente retardada, É apenas desempregada —
b < r o que, para a lei da Carolina do Norte, constituiu
» • ' ° -o ^ -o- ( / S r cí s ^ f argumento bastante em favor da esterilização. Com
base nesse tipo de raciocínio, 1.107 mulheres foram
esterilizadas nesse Estado, nos últimos 10 anos.
Por estranho que pareça o raciocínio da corte
OLHA (SOE no caso de Nial Ruth Cox, o processo de Holly Kemp
MAO A T I R A
EO ATIRO é mais ainda. Sua esterilização foi pedida por seu
pai, Joseph L. Kemp, o qual declarou ao tribunal
que Holly era "sexualmente ativa" que um aborto
seria perigoso para a saúde dela. Como veio Kemp
a saber que Holly era "sexualmente ativa"? Foi o
médico quem disse, afirmou ele. Consultado pela
imprensa, o médico de Holly disse que Kemp é que
lhe informara isso.
Mais: quando há conflito de interesse entre o
MAO L A Ç & O tutor e a tutelada a lei prevê que esta tem direito
a aconselhamento jurídico independente. Ao pro-
curar recorrer a um tribunal superior contra uma
primeira sentença — que decretara a esterilização
. A R T g NA RÒS^IA
•Q de Holly— o advogado do Estado descobriu que o
mais forte argumento de apelação era este: a assis-
tência jurídica fornecida pelo Estado fora incom-
«í petente. Agora, como é que o Escritório de Advoga-
ridículo! dos do Estado haveria de denunciar a incompetên-
cia do Escritório de Advogados do Estado? Holly só
H U ATIRO! HAO A T I R A não ficou sem defesa nenhuma porque o advogado,
num gesto de alta coerência moral, pediu a interfe-
rência da Associação dos Direitos Civis.
O mais estranho de tudo, no entanto, ocorreu
no condado de Aiken. onde um tal dr. Pierce, do
hospital público local, decretou que uma paciente
perderia toda assistência médica gratuita se re-
cusasse a esterilização. Seu argumento:
— Trabalho duro para pagar meus impostos.
Estou cheio dessa gente que vem ter bebês que terão
Ç^sT,.. VSSC E OM E S P E l r t ) , <3ENJEQM.. de ser sustentados com os dólares dos impostos.
Ninguém sabe se todos os médicos de Aiken
pensam assim. Mas o fato é que, do total de mu.
lheres sob regime de previdência social nesse con-
dado, um terço foi submetido à esterilização.
A esterilização de retardadas, desempregadas,
incapacitadas, etc., está prevista na legislação de
22 Estados norte-americanos. Segundo a Associação
de Defesa dos Direitos Civis, tais procedimentos
"eugênios" têm um tom "nitidamente racista", (já
que a maioria das esterilizadas é de cor negra) e
revela "profunda inumanidade". Mas, independen-
temente de qualquer consideração moral, há situa-
ções nítidas e nráticas que, nesses casos, nunca fo-
ram tentadas. Uma delas leva o nome de pílula.
de resolver os dramas dos menores e boa: tem uma fábrica de becas n q
não faz Ihufas. Bola preta para Têmis 2." DP, apeté no Bexiga e em Copa-
Percival de Souza Apresenta: toda, com venda nos olhos, espada e cabana e uns terreninhos onde pre-
balança na mão, pela sua" omissão. tende criar gado, embora a turma do
Bola preta pro pigmeu do Morumbi, outro lado diga que ele quer é plan-
que fica de braços cruzados. E bola tar cânhamo. Para quem quiser e s -
super-preta para a sociedade, podre, crever, Dion está na penita da Pédra
corrupta e sem vergonha da qual emer- D'Água, e mVila Velha, Espírito
g e m porcos de patas em riste, baten- Santo.
do palmas para os. gênios que tive-
ram a idéia do ônibus. Está tudo
podre. ARGH! Três vezes AAAAAAA
RRRRRRGGGGGGHHHHHH!!!
CANABIS SATIVA
JOÃO PIRATA
E já que falamos de Dion e da ex-
O parpanata, vagau de destaque no portação de calrros para o Paraguai,
submundo, achou que estava com tudo aí vai uma, prá quem dorme de botina:
e lascou brasa: assaltos, homicídios, Pedro Juan Caballero chorou bébé.
latrocínios. Tanto aprontou que pas- S dá ganso e rato. Até as minas can-
sou a ir ao seu encalço o temível dou- tam pros homens. Olho vivo minha
tor Paranhos, o majura mais afamado gente, que HÇ preventivo é melhor que
"Em jogo de boca, ganha trado é só em filme americano, man-
dessas plagas. Não deu outra: João puxar corda. E já que é hora de dar
quem tiver um par de 45" jaram?).
Pirata dançou, enquanto a justa toda milho prá bico, uma bola branca e
(Pedro Galinha) A bem da verdade, o Geraldo do
passou a ficar de butuca em cima do uma preta:
Assalto é um gaiato nessa história, e Bola branca para Telusa, odalisca
Eliezer, que também sifu. Gozado: o
Meu considerado Joaquim Pires Ri- realmente merecia a complacência de de fé da boate ChaCrinha. Telusa
"Correinha" me contou que há uns seis
beiro esteve em fins de outubro no Têmis, já que está de olhos vendados sabe das coisas, mas não bate prá nin-
anos ele era dedo-duro da Delegacia
Palácio dos Capas-preta, também c o - mesmo... Pô, mas o Saad, aquele guém. Ganhou até um fusca branco
de Roubos. Ora, vejam só!
nhecido por Templo de Têmis. data vênia, não precisava fazer cena de presente de um caranguejeiro.
banco dos entrutados do II Tribunal de teatro de subúrbio, ameaçando Pros loques: esses dois bandidões
Quem sabe das coisas da Telusa sou
do Júri ,ele foi absolvido pela morte agredir o promotor, o meu considera- deram o pinote do Fórum de Guaru-
eu e Papai do Céu. A mina é filha
dos abdallas têxteis — ou seja, o do Milton Cícero — um boa gente, Ihos e desde então aprontam como
de um coleguinha do Ramón Salvívar.
Adolfo e o Olavo, daquela firma Miti- que briga com o intelecto, não com aprontavam antes de entrar em galéra.
Bola preta para Lázaro Calonga,
dieri. Meus considerados Negrini e punhos. O Eliezer fugiu e quis fazer uma sur-
irmão do João (das coisas) Calonga.
Bandeira, dois advogados pedra 90, Por isso, como detesto capitulações presa para sua cara-metade, visitan-
Lázaro vende incenso em sua loja
deram uma de Mandrake: criaram a por lesões corporais, vou dar u m alô do-a no dia de seu "nat". Mas eis
Dos Pueblos e depois engessa. Di-
tese "coação moral irresistível" e o s pro Saad: cuidado com essa onda de que ele surpreende a aniversariante
zem que se não fosse o irmão, que é
jurados embarcaram na canoa. Assim, machão. Se você levantar o topete com um outro pinta, a bordo de um
vagabundo bom, Lázaro já tinha dan-
ele foi absolvido pelos dois crimes — com outro representante do MP (Mi- lustroso Maverick. Eliezer chegou,
çado com umas tochas de recheio.
os caras tinham metido a mão no nistério Público, seTi loque) — como meteu umas azeitonas grossas entre
João Calonga está moscozado em
bolso do Joaquim — e pela morte de o meu considerado Marino, por exem- os celebins do infeliz e deu uma tunda
Capitán Bado.
sua mulher. Agora, com Joaquim e m plo — vai tomar uma bordoada no na mulher, no melhor estilo dos dra-
Eu sei porque meu considerado
liberdade — estava em galera desde meio das fuças. Quem avisa, amigo é. mas possionais.
"Cadinhos" esteve lá prá conferir.
1972 — o meu chapeta Luiz Philippe, Todas as honras e glórias da cana
Gente boaé o Nardo, barman do Ho-
diretor da Casa de Detenção, ex-hotel HOMENAGEM A PELÉ da Pirata, que de pirata mesmo não
tel Eiruzu, lá de Pedro Juan. Con-
do seu Guedes, precisa arrumar um tem nada (sequer um louro no o m -
siderado de todo mundo, não vê, não
novo encarregado para a sala dos O negrão fez seu último jogo com bro ou uma igarrafa de rum) foram
fala, não houve. Nardo só trampa no
data vênia. a Ponte, deu voltinha, verteu lágrimas pro doutor Paranhos. Cruzei c o m o
legal. Ainda moço, já é malandro
de crocodilo etc. etc. No mesmo dia, majura, e isso aconteceu no mesmo
velho, não mexe com crime e não
o seu considerado Nofc-di (MM Juiz), dia da cana do bandidão Pirata e no
não perturba quem mexe.
estava na Detenção, estudando um sis- dia do nabo voador de Guarulhos prá
FININHO DANÇA São de desconsolar os preços das
tema de audiência lá dentro, por deter- cima do majorengo. Este, irônico, m e
máquinas em Pedro Juan. Pois é, 45

Não foi por falta de dar conselhos minação do presidente dos Capas perguntou: lá tá custanto mais caro que na Bai-
ao moço. No Paraguai, por onde dei Preta. — Qual das canàs vocês prefere? a xada Fluminense.
umas bandolas, eu falei mil vezes pro Numa dessas audiências, ele inter- minha ou a do João? Cuidado com os cata-mendigo de
moço: vê se te emenda, porque o mar rogou um tremendo 171, com deriva- Pedro Juan, todos eles entregam.
não está para peixe. O Fininho pa- ções pro 155 (artigos do Código, seu FÉRIAS Você vai pensando que é piá e bola,
receu sensibilizar-se e até me pediu trouxa) que tinha vendido um anel, vai ver é bola e piá. Quando eles ofe-
para selecionar-lhe uns bons trechos caro paca, pro negrão da vila. Ocorre Puxei o carro em setembro, andando recem mirra os homens já tão do outro
bíblicos do Livro dos Livros que ha- que o anel era mandado e o Pelé pela aí. Podemos recomendar: o vinho lado da rua, de butuca nos lock que
via ganho quando puxou uma Peni- sifu: deu o tutu — um mil, dos novos do Caraça (MG), onde se serve tam- embarcam.
tenciária nos idos de 1970. Então, a — e ficou a ver navios. O vigário se bém um bom conhaque de laranja; o
Os trutas que se dedicam a caran- '
pedidos, curti uma de teólogo. fechava em copas, "não tenho nada ragú da Pousada de Ouro Preto (MG),
guejar dizem que está mais difícil
Mas o jovem esquadrólogo passou com isso". Até que, num repente de com abichanada cozinha francesa; o
passar caranj a por Bela Vista, perto
a circular pela aí. sem n e n h u m a p r e o - admiração pelo gênio do futebol, de- grande japonês do Barrote, comida
de Pedro Juan. Carioquinha foi
cupação com d e s b a r a t i n o . e foi des- clarou ao perplexo juiz: japa em Jacareípe, a 30 kms de V i -
grampeado com todos babilaques e m
contar um tutu n u m bank do P a r i e — O senhor quer saber de uma coi- tória (ES). E na volta, via Rio, se
branco em cima. De quebra os ho-
dançou. Quando se tocou, já estava de sa? E m homenagem ao Pelé, eu conto você estiver enjoado de peixe e cama-
mens ainda pegaram cinco mil garra-
capuz no rosto e g r a m p o s nos pulsos. tudo... rões, não perca o macarrão da espe-
finhas com o Carioquinha. O moço
Do bank e desse jeito — uóóóó! foi lunca do Ângelo (o nome é esse
tá puxando sua cordinha em Bela
levado para o gabinete do sr. secretário CAMANDUCAIA CITY mesmo) em Cabo Frio.
Vista.
da justa, que não lhe deu moleza. Nota: não autorizo o Cotrim a re-
Estava possesso! Agora. Fininho está Bola pretíssima, e toda recheada de produzir, in totum ou parcialmente,
a m a r g a n d o uma 1'enila. K o pior: com fel, para os homens da lei que enche- essas indicações, que são exclusivas NOTA DE FALECIMENTO
processos para para puxar, todos por r a m um ônibus de pivetes, e deixa- da coluna.
121. É. como diria B. Franklm, quem r a m - n o s nus perto de Camanducaia, De Vitória — aquela cidade capi- Lamento informar que o Marcílio,
vive de esperanças m o r r e r á ein aprazível cidade afamada pelo San- xaba onde um majorengo já disse que ex-hóspede do hotel do seu Guedes,
jejum! girard. se forem prender todo mundo que que ultimamente dava uma de data
Foi u m a t r e m e n d a sacanagem, por- mexe com caranga roubada, nem eu vênia em um escritório que é uma
Death Squad que ainda d e r a m u n s cascudos nos fico de fora prá fechar a porta, che- jóia, teve sua capivara requisitada por
Ou: MOKT1S ( F M l Kl A moleques, com pedaços de pau. M u i - gam duas notícias que interessam toda S. P.edro. Marcílio estava pegando
(gostaram do latim?) ta valentia! Bater em meninos i n d e - low society (Low-society é a gente uma gororóba no aeroporto, quando
fesos e ainda com capuzes nos foci- mesmo, meu povão) do país. chegaram uns pintas bravas, de m á -
É, aquele festival de presuntos que nhos. para não s e r e m reconhecidos. Dion de Paiva (quem não conhece quna na mão .mandando chumbo.
caracterizou os anos de <>S. (i!i <• 70 Aqui a expressão "focinho" é literal, o Dion, que trabalhou no setor de ex- Descanse em paz, Marcílio.
está começando a dar a maior crépr porque quem fez isso não é gente: é portação de automóveis para o Para- Este mês não estarei dando expe-
na selva de pedra, vulgo São 1'auln. porco! Pig! Argh! guai com o saudoso Tenório Capote?) diente madrugai no "Papai" da Júlio
Os heróis do passado são os covarde E m b o r a tenhamos mil considerados manda dizer que estará de volta no Mesquita. Quem precisar de uma
do presente, cabreiros com a corda no DEIO, bola preta prá todo mundo. próximo ano. Mas Dion diz que quer consulta, pode me procurar no Palácio
que puxam e com a possibilidade dr Bola preta também pro meretíssimo deixar a baixa e passar para a alta Têmis, às 3.as e õ.as, no mocó do II
vestir calça azul ou cáqui (pijama lis- capa preta e bola murcha encarregado sociedade. O. moço tá bacana, gente Tribunal do Júri. Bye bye!
t r ^ipísaa J
•' V iüRI ^
Jr Et- "

o a l b h b X B X O gürftuJto \

afonso ávila diz que bastião nunes


produz uma poesia de choque, de
lay-out, da lei do olho. este calen-
dário faz parte de um de seus tra-
balhos, o tratado geral de levita-
ção, ele participou do poemação,
um encontro de poetas e criadores,
realizado no museu de arte moder-
na do rio de janeiro, no fim de
novembro.

VOCÊ TEM GRANA


NO BOLSO?
Então vê se bota alguma coi-
sa na cabeça. EX, o jornal de
Pablo Neruda, Garcia Mar-
oui97í ou l< quez, David Cooper, Percival
de Souza, Miguel Urbano, R.
D. Laing, Artaud, Jane Fonda,
Macalé, R. Cumb, Carlos Este-
vão, índios e loucos. Assinatura
de seis números: 30 cruzeiros.
Exterior: 45.
Aceitamos cheques em nome
da EX-Editora Ltda., rua
Santo Antônio, 1043, São
Paulo.
Aquele t e x t o que o Neil, o JoCa, o Washington, o Otoniel, o
Palhares não têm tempo de escrever prá você, nós escrevemos.
Aquele lay-out que o KJaus, o Petit, o Zaragoza, o Gabi não podem
bolar prá você, porque não aceitam free-lance, nós bolamos.
Aquela reportagem que o Bob Woodward, o Carl Bernstein, o
Raimundo Pereira não farão prá você, porque estão viajando,
nós fazemos.
Aquele folheto que a DPZ, a Alcântara, a Mauro Salles.
infelizmente não aceitam executar prá você, porque a verba é
pequena, nós executamos.
Aquele jornalzinho que o Estacjão, o JB, a Abril não estão
aparelhados prá editar prá sua empresa, nós editamos.

KX EDITORA Aquele livro seu que a Melhoramentos, a Nova Fronteira, a


Rua Santo Antônio, 1043. MacGraw Hill lamentam não publicar, nós publicamos.

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A Livraria Ciências Humanas tem


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Inclusive aquele que o professor de Sociologia
pediu e que não tem em lugar nenhum. Ou aquele
que você viu no Quartier Latin e não comprou
porque estava sem grana.
Pois o Kaul Mateos Castell — o dono da livra-
ria está por dentro das necessidades de cada curso.
Antropologia, Filosofia, Ciências Sociais, His-
tória — é com ele mesmo. E com sua equipe: os
próprios professores dessas disciplinas.
Se você escolhe livraria pelo tamanho, não
precisa aparecer: ela é pequenina. Mas, não sendo
um super-mercado de livros, tem a maior quanti-
dade de livros importantes — por metro quadra-
do — qu evocê pode imaginar.
Faça um roteiro de férias com o Raul. Afinal,
como dizem os antigos, é a melhor época para ler
e estudar. De verdade.
E se você não pode chegar até a Livraria
Ciências Humanas, ela chega até você. Pelo Reem-
bolso Postal.
7 DE ABRIL, 264, LOJA B-2
FONE: 36-9544
C. POSTAL 4439 CEP 01044
Um cigarro sempre amarelando na mão
esquerda, o desenho escorria pela direita.
Ele também já foi brasileiro, andou de
studebeiquer, desceu lá le cima com a mala
de couro forrada, viveu entre Belô e Rio por-
que não podia chorar.
Se o dia ia bem ou mal, atravessava a
C a r l o s Estevão, c r i a d o r do noite de Gillot em punho, e de manhã era
sempre um sobrevivente.
Dr. M a c a r r a , c o l a b o r a d o r em jornais Ao completar 50 anos, respondia a um
repórter, por detrás das olheiras:
e revistas de Minas e d o — Apesar da fama. não era bem isso o
que eu queria.
Rio, morreu aparentemente há dois Entrementes, todos os meninos do inte_
rior iam ao barbeiro, sem querer viam o
anos em Belo Horizonte. Cruzeiro e aprendiam que (sem querer?) as
aparências enganam.
Alguns desses pirralhos nunca mais foram
ao barbeiro ou folearam O Cruzeiro, mas não
precisava mais.
Já sabiam olhar a mesma coisa de duas
maneiras diferentes, duvidar • das aparências
e rir do óbvio, mesmo em decúbito dorsal;
hoje ensaiam passos sobre o fio da navalha.
E se nunca mais alguém viu Sir Charles
dirigindo seu possante studebeiquer, não se
P R ESENTS engane, oh boy. São apenas aparências.

AS APARÊNCIAS ENGANAM...
— PUXA... SEM' QUE FUI MESMO ATROPELADO ?
como gil vê jorge

1 j o r g e mautner ê um homem, f o r t e como um rochedo, c l a r o como a água, l e v e


como o v e n t o , os f i o s e l é t r i c o s , a b o l a de b o r r a c h a , os buracos da flauta,
a s o l a do s a p a t o , as p a t a s do m o s q u i t o , e o p a l i t o no meio do p l r u l i t o . j o r g e
mautner pode ser q u a l q u e r c o i s a , por que e l e quer ser q u a l q u e r c o i s a . t u d o .
c l a r o que tudo ê tudo e todo mundo é , d i r i a você; mas Jorge r e a l i z a , em s í \
a caminhada para a c o n s c i ê n c i a d e s t e TUDO; e como e l e b r i n c a com as pedras do
caminho!

2 j o r g e mautner é uma c r i a n ç a d i s t r a í d a e t o l a . sua t o l i c e é como a l e n t e


p o t e n t e do t e l e s c ó p i o do monte p a i o m a n t r a z as e s t r e l a s para p e r t o , para
d e n t r o , p a r a o c e n t r o do p e n s a r , pensar t o l i c e s de menino numa maquina de
a m p l i a r , a s s i m é como eu j a ví J o r g e m a u t n e r , t a n t a s v e z e s , a p e n s a r , e l e e ,
não tenho d u v i d a s ; e l e é um menino d i s t r a í d o que nos pede para l h e e n s i n a r ,
um m e s t r e , e l e ê um m e s t r e .

3 " d e s a f i n a d o " foi^


do homem da h i s t o r i a
anos 5 0 . " t r o p i c a l I a "
um m a n i f e s t o da alma
d a q u e l e tempo» b r a s i l ,
f o i um m a n i f e s t o da
alma do homem da h i s t ó r i a d a q u e l e tempo
- b r a s i 1 , anos 6 0 . 1'maratatu atômico" ê

um m a n i f e s t o da alma do homem da h i s t o r i a
d e s t e tempo - b r a s i l , anos 7 0 . 5 0 , 6 0 , 7 0 , e
assim por d i a n t e , caminho do corpo
u n i v e r s a l , o espi r i t o de deus.
J L o I p de j o r g e I mautner tem t r e z e
m ú s i c a s , d e l e ou de j é r S * ' ^ % J ^ j p a r c e r i a com n e l s o n
j a c o b i n a , um g a r o t o dos l i . s o n ^ o s c a r i o c a s , da

a v e n t u r a de ipanema. f j ^ mSÊSm.IflrtKék J t u t i moreno e c h i c o


a z e v e d o , tocam b a t e r i a V % e percussão, e j o r g e ,
j a c o b i n a , r o b e r t o c a r v a l h o e e u , aparecemos aqui e a l i , tocando p i a n o ,
g u i t a r r a , v i o l i n o , bandolim e v i o l ã o , j o r g e c a n t a tudo com a q u e l e j e i t o . d e
s é c u l o XIX e X X I . eu g o s t o m u l t o do d i s c o , a t a u l f o a l v e s se d e l i c i a r i a com
" m a t e m á t i c a do d e s e j o " , os sambas sao todos l i n d o s , e , " g i n g a de mandinga"
de p a r c e r i a com o b a i x i s t a r o d o l f o g r a n i j r . ê uma s e r p e n t e ! r a que se ;
d e s e n r o l a e n r o l a n d o todo mundo, de j o i o g l l b e r t o a h e r b l e hancock. os
r o c k t o s o s " g u z z y muz£y", " r o c k da t v " , " c i n c o bombas a t ô m i c a s " e " s a l t o no
e s c u r o " me fazem pensar que a f i n a l p i n t a uma banda, a q u i , tocando e soando
como os r o l l l n g stones e assim m i l anos l u z de d i s t â n c i a dos r o l l l n g s t o n e s ,
pra f r e n t e ou p r a t r á s . a l i a s , do I p , eu tenho um p e n s a m e n t o / s í n t e s e : o d i s c o
e s t a a t r a s ou a f r e n t e , acima ou a b a i x o de q u a l q u e r c r í t i c a , para uma t e r r a
que tem j o r g e ben t i n h a que p i n t a r J o r g e m a u t n e r .
beijos,
gtlberto gl1
O

ps: - r o d o l f o , o b a i x i s t a , e uma e s p é c i e , a s s i m , de g e r s o n do t i m e , observou


caetano.
[o venda em todas as l o j a s p r o d u z i d o « d i s t r i b u í d o p«io

LP 2451 051 K7 3175 051 • PHONOGRAM •


MfAUTAMtNr© «serviços o m t v o s

Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, junho de 2010.
ÍÍQ
u m homem de negocios, n a ü a mais.
Ganhei dinheiro atendendo aos pedidos da po-
pulação. Se, fazendo isso, cometi alguma in-
fração às leis, meus clientes são tão culpados
AL CAPONE
O homem de visão de 1929
quanto eu".

Al Capone, u m exemplo de como subir


na vida enquanto quase todos os outros
descem, sabia bem o que dizia. Em 1960, quan-
do o escritor inglês Keneth Alsop foi a Chicago
colher depoimentos sobre o personagem mais
famoso da história da cidade, ouviu de u m pro.
fessor universitário:
"Capone foi u m dos benféitores da nossa
cidade. Não digo isso por admiração, limi-
to-me a reconhecer os fatos. Os empreendi-
mentos de Capone correspondiam às idéias le-
gais e morais de seus habitantes". Um soció-
logo completa: "Os habitantes de Chicago que-
riam álcool, jogos e mulheres. A organização
de Al Capone era u m a espécie de serviço pú-
blico ã disposição de seus clientes. Sem o con-
sentimento público ela não teria durado u m a
semana. Eram precisamente as pessoas de bem
que velavam para que os homens de Al Capone
tivessem sucesso. Pessoalmente, tenho muito
respeito por ele. Fez muito pelos desempre-
gados, durante a Grande Depressão. E mais:
fez mais publicidade para o Cadillac, como p a r .
te integrante do american way of life, do que
toda a General Motors".
Mesmo Pasley, biógrafo de A.1 Capone, teve
que reconhecer: "Seu dom p a r á negócios era
assombroso. Fez inovações em todos os seto-
res". Frederick Sondem, u m dos redatores do
Reader's Digest, só lamenta que a sociedade
norte-americana t e n h a desperdiçado u m dos
maiores empresários que já possuiu: "Com seu
tino de organização, teria se tornado u m no-
tável presidente ou diretor geral de u m a gran-
de empresa de negócios".
Fiel seguidor das tradições norte-america-
nas, sincero admirador de Lincoln e Washing-
ton, eficiente cabo eleitoral dos políticos mais
conservadores do país, bravo adversário do co-
munismo, defensor ardente da família, gene-
roso milionário que distribuía refeições gratuL
tas aos desempregados da Grande Depressão,
herói dos escoteiros de seu Estado, católico de
ir à missa sempre que podia. Esse era o Al
Capone, homem de negócios com talento in-
discutível. Mas justo ele, de repente, foi trans-
formado no maior dos bandidos, no sujeito que
todos os bons cidadãos deviam combater e des-
prezar, obrigado a se esconder da ira norte-
-americana numa discreta mansão da F l ó r i d a ,
à espera da morte. (Continua na pág. 2)
Até m o r r e r , em 1947, e e n q u a n - m e r o de elogios que f a z p a r a o v a - t i n a s . E m 10 anos, 35 mil pessoas t r a d i c i o n a i s , que n ã o c o n s e g u i a m
t o a sífilis que p a r a l i s a v a seu cé- lor do cheque que vai receber a s s i m i r i a m m o r r e r de i n t o x i c a ç ã o alcóoli- esquecer o gim e o uísque?
r e b r o p e r m i t i u , Al (de Alfonse) C a - que t e r m i n a r . F i n a l m e n t e , a f i g u - ca, 500 mil s e r i a m c o n d e n a d a s à Torrio começou f a z e n d o aquilo
pone n ã o conseguiu p e r d o a r a i n - r a m a i s dispensável deste r e s t a u - p r i s ã o por c o m p r a , v e n d a , t r a n s - que q u a l q u e r h o m e m de negócios
g r a t i d ã o do m u n d o : '-Queria saber r a n t e de luxo, a poucos m e t r o s d a porte, c o n s u m o ou f a b r i c a ç ã o do que n ã o tivesse perdido o b o m s e n -
por que me c h a m a m de inimigo p ú - p r e f e i t u r a : o conselheiro h o m e n a - " d e m ô n i o do álcool", c o n f o r m e d i - so f a r i a : assegurou o controle d a
blico. S a t i s f a ç o u m desejo g e r a l . geado, c u j o o l h a r f a l s a m e n t e i n g ê - zia u m a d a s m u i t a s sociedades que maioria das indústrias paralisadas;
F a ç o o melhor que posso, e m e e s - nuo e agradecido dispensa maiores h a v i a p a s s a d o 10 a n o s e m c a m p a - r e u n i u os destiladores de v i n h o n u -
forço p a r a d i m i n u i r as p e r d a s o explicações sobre s u a h o n e s t i d a d e . n h a pela Lex V o l s t e a d . m a p r o d u ç ã o em cadeia; o r g a n i z o u
m a i s possível. Não posso m u d a r a s Desde que J i m Colosimo m o r r e u , Por m e d i d a de s e g u r a n ç a , Colo- e racionalizou, com f i l a s de c a m i -
circunstâncias. Procuro remediá- no dia 11 de m a i o de 1920, Chicago simo s e m p r e t i n h a , a seu lado, u m nhões, o t r a n s p o r t e do c o n t r a b a n -
las, é tudo". começou a c o n t a r em m o r t o s os p r e - r a p a z que viera de Nova Y o r k : do; p l a n e j o u a distribuição e v e n d a
Como o escritor K e n e t h Alsop des- juízos de seus negócios. Não fosse J o h n n y Torrio. L a d r ã o n a j u v e n - d a s m e r c a d o r i a s . Assim, ao f i n a l
cobriu, Chicago se a r r e p e n d e u e, s u a e x c ê n t r i c a m a n i a de u s a r s u s - tude, assassino p r o f i s s i o n a l em E a s t de dois a n o s j á e r a dono d a s oito
q u a s e 50 anos depois da Depressão, pensórios e ligas b o r d a d a s com d i a - River, c h a n t a g i s t a , a g o r a Torrio e r a m a i o r e s i n d ú s t r i a s d a cidade, c o n -
voltou a a d m i r a r Al Capone. M e s - mantes, n e n h u m a das tradicionais o h o m e m de c o n f i a n ç a de Colosimo. t r o l a v a a m a i o r p a r t e de seu m e r -
m o s*endo do c o n h e c i m e n t o geral f a m í l i a s d a cidade l e m b r a r i a que J i m Fiel, só se a f a s t o u dele u m a vez, cado e podia i m p o r seus preços à
que o seu revólver a t i r o u pelo m e - começou a vida e n g r a x a n d o s a p a - em t o d a a s u a v i d a : foi n a q u e l e 11 melhor freguesia.
n o s 20 vezes p a r a m a t a r ; que p r o - tos, depois e n t r e g a r a jornais, c o m e - de m a i o de 1920, p a r a f a c i l i t a r o Mas, m e s m o u m a t a r e f a a p a r e n -
motores, advogados e juizes j á cal- t e r a pequenos r o u b o s , f u n d a r a u m a alvo do a t i r a d o r que h a v i a c o n t r a - t e m e n t e t ã o simples, exigiu dele o u -
c u l a r a m que, obedecendo suas o r - associação de eieitores, conseguira t a d o por 10 mil d ó l a r e s . t r a s habilidades. Como, por e x e m -
dens, dos estojos de violino dos seus c r i a r u m círculo de i n f l u ê n c i a s e, Senadores e contrabandistas, fis- plo, f a l a r em público p a r a p e q u e -
a u x i l i a r e s s a í r a m as t r a d i c i o n a i s por fim, se t o r n a r a p r o p r i e t á r i o de cais e donos de bordéis, g a n g s t e r s n o s i n d u s t r i a i s i n d e p e n d e n t e s de
• m e t r a l h a d o r a s que f i z e r a m m a i s de u m a cadeia de bordéis, salas de j o - e policiais d a v a m e n c o n t r õ e s , se es- Chicago, que a c a b o u t r a n s f o r m a n -
400 v í t i m a s . gos e boates. E l e g a n t e , n u n c a se b a r r a v a m e se c o n s o l a v a m e n t r e as do e m sócios m e n o r e s de seus e m -
Mas, dizem, os t e m p o s e r a m o u - a p r e s e n t a v a sem s u a b e n g a l a e seu cinco mil pessoas que f o r a m ao e n - p r e e n d i m e n t o s . Ou convencer l a -
tros . c h a p é u mole. Culto, n ã o p e r d i a u m t e r r o de Colosimo. T r ê s juizes, u m drões, atiradores, b o o k m a k e r s e o u -
CHICAGO, espetáculo de ópera. Dizem que e r a , p r o c u r a d o r d a República, dirigentes t r o s peritos e m comércio c l a n d e s -
m u i t o amigo de C a r u s o . d a ó p e r a d a cidade, dois d e p u t a d o s tino, a a c e i t a r seus salários e s u a s
ANOS 20 ordens. S a b e n d o d a s d i f i c u l d a d e s e
Se b e m que fosse a c u s a d o de 10 no Congresso e diversos conselhei-
O d i a começa com c a d á v e r e s . Eles m o r t e s , Colosimo n ã o e r a e x a t a - ros m u n i c i p a i s s e g u r a v a m as a l ç a s p r o b l e m a s que o a g u a r d a v a m , T o r -
a p a r e c e m de m a n h ã , b e m cedinho, m e n t e o que se p o d e r i a c h a m a r de de seu caixão. Com t a n t a p o m p a rio n ã o se i m p o r t a v a de g a s t a r m a i s ,
j u n t o com o leiteiro: n u m m o n t e de u m n e g o c i a n t e audacioso. Tanto a f a t u r a da empresa funerária c o n t a n t o que se cercasse dos m e -
l e n h a , n o vestíbulo de u m hotel de que, em 17 de j a n e i r o de 1920, chegou aos 500 mil d ó l a r e s . lhores assessores que h a v i a . Assim,
luxo, e n t r e as l a t a s de óleo de u m q u a n d o o Congresso n o r t e - a m e r i c a - Torrio p a g o u tudo, a c h o u a t é b a - fez m u i t a s v i a g e n s a Nova York, só
depósito. M a s n i n g u é m liga para n o aprovou a Lex Volstead, que r a t o . Com ele, iria c o m e ç a r a m a i s p a r a e n c o n t r a r a l g u n s de seus m e -
eles porque t e m pressa, e o i m p o r - proibia a " f a b r i c a ç ã o , a v e n d a , o l u c r a t i v a d a s i n d ú s t r i a s que C h i c a - l h o r e s colaboradores. E n t r e eles,
t a n t e é n ã o c h e g a r a t r a s a d o ao t r a n s p o r t e , a i m p o r t a ç ã o ou e x p o r - go j á teve: a i n d ú s t r i a do álcool. t r o u x e Al Capone, r a p a z que j á t i -
b a n q u e t e em h o n r a do conselho m u - t a ç ã o de t o d a bebida e m b r i a g a d o r a " , P e r s o n a l i d a d e com senso p a r a n e - n h a u m p a s s a d o de m u i t a s f a ç a -
nicipal, por volta do m e i o - d i a . ele se limitou a b a l a n ç a r os o m b r o s gócios, visão a m p l a , de boa a p r e - n h a s , s u f i c i e n t e p a r a que fosse
Ali estão t o d a s as pessoas que v a - e a r e s m u n g a r u m a queixa. E s t a s u a s e n t a ç ã o , c a p a z de t o m a r i n i c i a t i - digno de t o d a c o n f i a n ç a .
lem a l g u m a coisa n e s t a c i d a d e . As f a l t a de, digamos, visão e m p r e s a r i a l , vas e l e v á - l a s a d i a n t e , cheio de Mas C a p o n e a i n d a e r a u m a p r e n -
f l a p p e r s , aquelas m u l h e r e s de cabelo iria lhe c u s t a r u m a b a l a n a t e s t a , idéias, sociável e de espírito c r i a - diz q u a n d o chegou a Chicago, o
oxigenado e d e s a l i n h a d o , saias c u r - q u a t r o meses depois. dor; h á b i l n e g o c i a n t e , com l o n g a m e s t r e e r a Torrio. F a z e n d o c o n -
experiência e m todos os domínios tribuições de 250 mil dólares p a r a
da produção e venda: Torrio t i n h a a c a m p a n h a eleitoral, ele c o n t r o l a -
— s e g u n d o todos os c r o n i s t a s d a va o prefeito;" g a s t a n d o a t é 30 mil
época, os amigos e os inimigos, a s dólares por bairro, ele t o m o u c o n t a
t e s t e m u n h a s corruptíveis e as i n - d a polícia em todos os seus e s c a -
corruptíveis — u m t a l e n t o à a l t u r a lões. N u m a de s u a s i n d ú s t r i a s , a
do que se exige h o j e n o s a n ú n c i o s Genna Irmãos fabricava vinhos —
que p r o c u r a m pelos m e l h o r e s exe- d e z e n a s de fiscais d a p r e f e i t u r r e
cutivos . 400 policiais r e c e b i a m u m a c o m p e n -
Só seus m é t o d o s é que n ã o e r a m s a d o r a q u a n t i a m e n s a l . E, p a r a evi-
m u i t o ortodoxos. Se o segredo e o t a r abusos, u m comissário m u n i c i -
silêncio c o s t u m a m f a z e r p a r t e dos p a l e n t r e g a v a u m a lista de n o m e s
negócios m a i s e s p e t a c u l a r e s , a a s - e o t o t a l a receber de c a d a u m . Afi-
censão de T o r r i o pôde ser a c o m p a - n a l , só se devia p a g a r q u e m h a v i a
n h a d a n a s r u a s de Chicago, p e l a s trabalhado:
salvas de m e t r a l h a d o r a que se o u - — Q u e m n ã o e s t a v a n a lista n ã o
viam. Escandalosos, n e m por isso a d i a n t a v a insistir que n ã o r e c e b e -
seus meios se r e v e l a r a m pouco e f i - r i a n a d a — l e m b r o u u m alto f u n -
c i e n t e s : cinco a n o s depois, a i n d ú s - cionário d a G e n n a , m u i t o s a n o s
t r i a do álcool e s t a v a l h e t r a z e n d o m a i s t a d e , i n c a p a z de esconder
u m a r e n d a b r u t a de 70 m i l h õ e s de u m a p o n t a de orgulho pela p e r f e i -
dólares por a n o . ção de s u a o r g a n i z a ç ã o .
ANTES DE CONQUISTA
CAPONE DA CIDADE
O uísque j o r r a v a pelo c a n o de Mas, às vezes, a lista e r a p e q u e n a
p e q u e n a s destilarias, q u a s e a r t e s a - d e m a i s p a r a g a r a n t i r , a p e n a s com
n a i s ; a c e r v e j a e r a p r o d u z i d a como dinheiro, os lucros do m e r c a d o p a r a
se a i n d a vivêssemos n o estágio d a Torrio. Quando queria estabele-
t a s de cetim b r i l h a n t e , c h a p é u s e m Assim que a lei foi p r o m u l g a d a , m a n u f a t u r a ; o estoque de i m p o r t a - cer seu monopólio sobre d e t e r m i -
f o r m a de vasos com a l g u m a s f l o r e s a n a ç ã o a m e r i c a n a f o i t o m a d a de ção e r a pequeno, m a l t r a n s p o r t a d o , n a d a região, e n v i a v a p a r a lá u m
e s p e t a d a s em cima. Os políticos, u m a sede histérica. J o r n a i s , revis- e só n ã o d e s a p a r e c i a c o m p l e t a m e n - g r u p o de colaboradores m u i t o s i m -
sem n e n h u m a p r e o c u p a ç ã o com as tas, boletins, e x p l i c a v a m como f a - t e por c a u s a do esforço de t u r i s t a s , páticos, e d u c a d o s e b e m vestidos.
a p a r ê n c i a s , e c o n f i a n t e s n a conquis- zer c e r v e j a em casa. E m t o d a s a s que r e c e b i a m p e q u e n a s comissões Eles i a m de c a s a em casa, se o f e -
t a dos votos d a s associações de i m i - e s q u i n a s s u r g i a m l o j a s vendendo" l e - p a r a c h e g a r à cidade com a l g u m a s recendo para resgatar hipotecas,
g r a n t e s . Os policiais, e m q u e m a vedo, lúpulo, m a l t e , e as f e r r a m e n - g a r r a f a s . Como a t e n d e r , assim, aos e m p r e s t a r d i n h e i r o a j u r o s baixos,
e s p e r a n ç a de u m a c o m p e n s a d o r a t a s necessárias para a construção d e s c e n d e n t e s de a l e m ã e s , a p r e c i a - r e g u l a m e n t a r f a t u r a s a t r a s a d a s ou
promoção desmanchava a careta que de a l a m b i q u e s domésticos. Nova dores de u m a boa cerveja, aos i t a - f i n a n c i a r a c o m p r a de u m c a r r o
suas f a c e s p o d e r i a m exibir e m o u - York só precisou de u m a n o p a r a lianos que n ã o d i s p e n s a v a m o copo novo. M a s e m Cícero, n o s s u b ú r -
t r a situação. E m p e r t i g a d o em seu p a s s a r de seus 15 mil b a r e s legais de v i n h o às refeições, e m a i s i r l a n - bios de Chicago, n ã o foi a s s i m . E
discurso, o a d v o g a d o c o n v e r t e o n ú - p a r a a s 32 mil t a b e r n a s c l a n d e s - deses, escoceses e n o r t e - a m e r i c a n o s ela teve de ser c o n q u i s t a d a .

C\PEDIfNTE
Repórteres: Pesquisa: E X - E d i t o r a L t d a . . r. S a n t o A n t o n i o . 1043
Nelson B l e c h e r e Dácio Nitrinl Vanlra Codato, Luís Guerrero, — S P / NENHUM D I R E I T O R E S E R V A D O
Cláudio Faviere. / Ex- e s t á a s s e n t a d o n o C a d a s t r o d a D i -
visão de C e n s u r a de Diversões P ú b l i c a s
do DPF, sob n." 1.341-P.209/73. Distri-
EDITORES: Colaboradores: buição nacional: Superbancas Ltda. ( R .
Publicidade:
Cristina Burger, Edinilton Lampião, Hermes G u a i a n a z e s , 248, S P ) . T i r a g e m : 17 m i l
Marcos F a e r m a n , P a l m é r l o D ó r l a de V a s c o n - PAULA PLANK
Ursini, S a n d r a N i t r i n i , D o m i n g o s Cop J ú n i o r . * exemplares. Impresso n a s oficinas do
celos. G u i l h e r m e C u n h a P i n t o , G a b r i e l B o n -
T e r e s a Caldeira, J o c a , M i r a n d a e P h a r a ó . J o r n a l P a u l i s t a , r . Oscar C i n t r a G o r d i -
d u k i (redação», Cláudio Ferlauto. Delfim Administração:
n h o , 46 São P a u l o .
Fujlwara (arte). Luiz Henrique F r o u e t . ARMINDO MACHADO
Com 50 mil h a b i t a n t e s , a m a i o r i a peu s u a c a m i n h a d a p a r a s a b e r o dade, roteiro o b r i g a t ó r i o de t u r i s t a s
de a l t a classe m é d i a , f u n c i o n á r i o s que e s t a v a a c o n t e c e n d o . que a c h a v a m e x c i t a n t e se e n c o n t r a r
bem estabelecidos, c o m e r c i a n t e s i n - MONOPÓLIO com um g a n g s t e r que saía d a s s a l a s
dependentes, u m R o t a r y Club, u m a OU MORTE de t r e i n a m e n t o de d e f e s a , o n d e h a -
C â m a r a de Comércio p r ó p r i a , Cíce- via professores de boxe, b a r r a s fixas,
ro n ã o concordou em t e r , ao lado Filho de irlandeses, Dion O B a n i o n pesos e remos. P a r a e v i t a r que as
de suas belas residências, u m b a i r r o h a v i a sido servo e c o r o i n h a d a C a - visitas f i c a s s e m chocadas, os c a m -
de casa de jogo, bordéis e boates. t e d r a l de S a n t o Nome, em Chicago, pos de t r e i n a m e n t o de tiro f o r a m
Preocupados em m a n t e r a a u s t e r i - a n t e s de c o m e ç a r a b a t e r c a r t e i r a s . i n s t a l a d o s no c a m p o , longe d a curio-
dade do lugar, os m o r a d o r e s a c r e - Depois, foi a c u s a d o de 25 a s s a s s i - sidade i n c o n v e n i e n t e .
d i t a r a m n a s eleições m u n i c i p a i s p a - n a t o s , m a s m e s m o assim, t o d a s as
noites, e n t o a v a c a n t o s religiosos Seria m u i t o difícil a t r i b u i r u m a
ra resolver seus p r o b l e m a s . Se T o r - e x a g e r a d a i n c l i n a ç ã o p a r a soluções
rio era a p o i a d o pelos a t u a i s conse- com s u a voz melosa. D u r a n t e , o
dia ele g a s t a v a com m ú s i c a clás- pacificas a Al Capone. Em p r i n -
lheiros, eles v o t a r i a m n a oposição cípio, ele parece ter c o m p r e e n d i d o
assim que tivessem essa o p o r t u n i - sica e flores o que g a n h a v a à noite,
v e n d e n d o bebidas, e x p l o r a n d o c a s a s m u i t o bem que os tiros e r a m a p e -
dade. n a s u m a m a n e i r a m e n o s c o m u m de
de jogos e de m u l h e r e s .
Não t i v e r a m . C o n t a u m r e l a t ó - uma empresa capitalista eliminar
rio oficial: "Automóveis, o c u p a d o s — Somos g r a n d e s c a p i t a l i s t a s ,
m a s n ã o t e m o s o c h a p é u alto — alta. Mas j á n ã o e n c o n t r a v a a m e s - os c o n c o r r e n t e s e g a r a n t i r seu cres-
por h o m e n s a r m a d o s , r o n d a v a m a s cimento. E n t r e t a n t o , ele n ã o es-
disse ele, n u m a e n t r e v i s t a . m a disposição de a n t e s , n e m p a r a
r u a s da cidade. Os p r e s i d e n t e s de condia de n i n g u é m que a g u e r r a
Se n ã o deixava de s e n t i r orgulho organizar a produção e distribuição
mesa f o r a m e s p a n c a d o s e r a p t a d o s , p e r m a n e n t e , n a s r u a s de Chicago,
de suas p r o p r i e d a d e s , 0 ' B a n i o n po- d a s bebidas, n e m p a r a p l a n e j a r u m a
e os lugares de v o t a r o c u p a d o s por n ã o e r a do seu a g r a d o .
deria ter sido u m pouco .mais m o - ação m a i s a r r i s c a d a . C h a m o u o fiel
g a n g s t e r s a r m a d o s . Os eleitores vo-
desto em suas convicções. O caso Al C a p o n e e disse: Se a m e t r a l h a d o r a h a v i a sido i n -
t a v a m e colocavam as cédulas n a s
u r n a s sob a, a m e a ç a de u m revólver. é que, em 1924, o c r e s c i m e n t o d a s — Estou cheio, preciso de u m p o u - dispensável p a r a d e s b r a v a d o r e s co-
Os desobedientes f o r a m j o g a d o s n o s e m p r e s a s de Torrio e s t a v a exigindo co de sol. Vou p a r a a I t á l i a . Você mo Torrino, t o r n a r a - s e u m a a r m a
carros, levados p a r a Chicago, o n d e m e r c a d o s c a d a vez m a i o r e s p a r a toma conta da barraca. u l t r a p a s s a d a n a s m ã o s de Al Ca-
f i c a r a m presos a t é o e n c e r r a m e n t o que seus lucros n ã o f i c a s s e m c a d a AL CAPONE: pone e seus c o n c o r r e n t e s . Cinco
das eleições. A oposição t e l e f o n o u vez m e n o r e s . Teimoso, O B a n i o n O HERÓI a n o s depois de estabelecida, a in-
p a r a a polícia local p e d i n d o socorro, recusou-se a v e n d e r seus a l a m b i - "Napoleão foi o m a i o r g a n g s t e r d ú s t r i a do álcool só podia ser a t r a -
70 policiais p r e s t a r a m j u r a m e n t o ques e destilarias, t e n t o u i m p e d i r do m u n d o , m a s eu poderia t e r lhe p a l h a d a pelas l u t a s de vida e m o r t e
d i a n t e do juiz e f o r a m t r a n s p o r t a - que T o r r i o estabelecesse monopólio d a d o a l g u m a s idéias". pelo m e r c a d o . W a l t e r Stevens, u m
dos p a r a Cícero. A b r i r a m fogo, sobre a região — a zona n o r t e d a Al C a p o n e n ã o e s t a v a b r i n c a n d o de seus a t i r a d o r e s prediletos, co-
i m e d i a t a m e n t e , sobre as s e n t i n e l a s Cidade. A ousadia lhe custou a q u a n d o disse isso. Se Napoleão c o n - b r a v a 50 dólares por c a d á v e r ( " T e -
dos g a n g s t e r s . A b a t a l h a t e r m i n o u vida. quistou a E u r o p a n a p o n t a de baio- n h o u m a m u l h e r d o e n t e e preciso
com p e r d a s dos dois lados: ao todo, Uma manhã, 0'Banion estava n e t a s , ele iria c o n q u i s t a r a América c o m p r a r livros p a r a m e u s filhos
q u a t r o m o r t o s e 40 feridos. Nas a p a r a n d o os g a l h o s de u m feixe de com m e t r a l h a d o r a s , uísque e d i n h e i - adotivos", q u e i x a v a - s e ele). Não
apurações, o a n t i g o conselho m u - crisântemos. U m a l i m u s i n e azul ro. S u a p r i m e i r a m e d i d a foi r a c i o - e r a um desperdício?
nicipal foi reeleito por grande passou d i a n t e de s u a p o r t a . Des- n a l i z a r a a d m i n i s t r a ç ã o c e n t r a l de Foi com e s t a s idéias n a cabeça
maioria. ceram três homens sorridentes. O todos os negócios. P a r a isso, c o n - que, em o u t u b r o de 26, Al C a p o n e
Um a n o depois, a n ú n c i o s l u m i - p r i m e i r o l h e a p e r t o u a m ã o , os ou- t r a t o u - G r e a s y F i n g e r s " Guzik, i n - r e u n i u - s e com os g r a n d e s c o n c o r - -
nosos, t a b e r n a s , salões de jogos, tros lhe a c e r t a r a m cinco tiros. substituível especialista em f i n a n - r e n t e s . C e r t i f i c o u - s e de que todos
centro de a p o s t a s , c o r r i d a s de cães, N e n h u m p r e s i d e n t e dos E s t a d o s ças. J u n t o s , os dois i n t r o d u z i r a m estavam desarmados e apresentou-
boates, t i n h a m m u d a d o a vida de Unidos foi e n t e r r a d o com t a n t a m é t o d o s m o d e r n o s de organização, - l h e s u m a a r m a m u i t o m a i s pode-
Cícero. Mas T o r r i o n ã o p e r d o o u s u n t u o s i d a d e . O corpo de 0 ' B a n i o n c o m p r a r a m m á q u i n a s calculadoras, rosa e g a r a n t i d a que as velhas m e -
aqueles conselheiros que l h e h a v i a m ficou exposto d u r a n t e t r ê s dias nos m o n t a r a m u m escritório onde 25 t r a l h a d o r a s : f u s ã o de capitais, c r i a -
dado t a n t o t r a b a l h o . Exigiu que lhe salões de u m a e m p r e s a f u n e r á r i a , f u n c i o n á r i o s c u i d a v a m de todos os ção de n o v a s f i r m a s , u m a t a b e l a de
pagassem u m a c o n t r i b u i ç ã o , espé- e m a i s de 40 mil pessoas a s s i n a r a m p r o b l e m a s burocráticos, como n a s preços onde todos p o d e r i a m g a n h a r
cie de m u l t a pela i n c a p a c i d a d e de o livro de visitas p a r a vê-lo. O c o r - modernas firmas. mais.

g a n h a r e m u m a eleição h o n e s t a m e n - - t e j o t i n h a m a i s de dois q u i l ô m e t r o s Depois criou u m d e p a r t a m e n t o de T e r m i n a d a a r e u n i ã o , p a r e c i a qué


te. E, pouco depois, f a z i a a s c o n - de c o m p r i m e n t o , e r a a c o m p a n h a d o s e g u r a n ç a e i n f o r m a ç õ e s : espiões a i n d ú s t r i a do álcool iria f i n a l m e n -
tas, t i r a v a as p e r d a s dos g a n h o s , e por 20 mil pessoas, t r ê s o r q u e s t r a s e s p a l h a d o s pela a d m i n i s t r a ç ã o d a te se desenvolver em r i t m o de c a -
podia f i c a r s a t i s f e i t o : só de Cícero e seis c a r r o s cobertos de f l o r e s . "O c i d a d e e do Estado, pelos hotéis, pital monopolista. Todos c o n c o r d a -
lhe v i n h a u m a r e n d a b r u t a de 100 c a i x ã o e r a e n f e i t a d o por a n j o s de a g ê n c i a s de viagem e r e s t a u r a n t e s ; r a m em cinco p o n t o s p r i n c i p a i s : 1)
mil dólares por s e m a n a . p r a t a n a cabeceira e nos pés, e f i - u m a equipe de e s c u t a , especializada armistício i m e d i a t o e n t r e os grupos
Mas n e m isso a c a l m a v a seus â n i - c a r a i l u m i n a d o por velas em c a s - e m ouvir c o n v e r s a s pelos t e l e f o n e s r e p r e s e n t a d o s ; cessação d a s r i x a s e
mos. D e s c o n f i a n d o c a d a vez m a i s tiçais de ouro maciço", descreveu q m a i s i m p o r t a n t e s . No f i m , todo o d a s b a t a l h a s com a r m a de fogo; 2)
da i n c o m p e t ê n c i a dos políticos, colunista social de A T r i b u n a , o p r i n - m a t e r i a l conseguido, que incluía d a - f i m dos a t a q u e s à m ã o a r m a d a de
Torrio escolheu u m h o m e m q u e vi- cipal j o r n a l de C h i c a g o . dos preciosos sobre a vida, as opi- grupos isolados aos depósitos de
via em Chicago como a n t i q u á r i o , niões e i n t e n ç õ e s d a s f i g u r a s m a i s álcool dos outros; 3) a n i s t i a gerai
numa butique da avenida Wabash, Se Torrio n ã o e r a u m dos a d e p t o s i m p o r t a n t e s d a cidade, e r a recolhi- p a r a as ações g u e r r e i r a s do p a s s a -
p a r a ser o v e r d a d e i r o p r e f e i t o de m a i s fervorosos do diálogo p a r a r e - do, depois, n u m arquivo c u i d a d o s a - do; 4) o c h e f e de c a d a g r u p o g a -
Cícero: Torrio, a g o r a livre d a s f o r - solver as questões com seus c o n c o r - mente organizado. r a n t e p e s s o a l m e n t e a disciplina e a
m a l i d a d e s de u m g a b i n e t e , só p r e - r e n t e s , n ã o p o d e r i a e s p e r a r que eles execução do acordo; 5) as regiões
cisava de u m t e l e f o n e p a r a d a r s u a s agissem de o u t r a m a n e i r a . Assim, P a r a f a c i l i t a r seus e n c o n t r o s de de vendas, os preços c o r r e n t e s e a s
ordens ao prefeito. N u m d i a e m t r ê s meses depois do e n t e r r o de d o m i n g o com os c h e f e s de polícia, p a r t i c i p a ç õ e s n o s m e r c a d o s serão f i -
que este h o m e m , u m t a l de K l e n h a , O B a n i o n , ele e s t a v a e n t r a n d o em os g r a n d e s políticos e j u r i s t a s , Al xados d u r a n t e a r e u n i ã o . No dia
h a v i a se m o s t r a d o e s p e c i a l m e n t e casa q u a n d o cinco b a l a s o j o g a r a m C a p o n e m u d o u - s e , com seus p r i n c i - seguinte, a c o m o d a d o em s u a p o l t r o -
lerdo p a r a a t e n d e r seus desejos, • por cima d a p o r t a , e n s a n g ü e n t a d o . pais assessores, p a r a o Hotel M e t r ó - n a , Al C a p o n e e s f r e g a v a as m ã o s
Torrio a p a r e c e u n a p r e f e i t u r a , p e r - No hospital, disse aos detetives: pole. Logo, aqueles dois a n d a r e s r i - de c o n t e n t a m e n t o , q u a n d o os j o r -
deu a p a c i ê n c i a n o meio de u m a — Sei q u e m foi, m a s isto n ã o é g o r o s a m e n t e vigiados, dois elevado- nalistas apareceram para uma en-
conversa e d e r r u b o u - o a rolar p e l a s d a c o n t a de vocês. Não sou u m d e - res de uso pessoal, b a r e s privados t r e v i s t a coletiva:
e s c a d a r i a s do lugar. U m policial do d u r o . e a d e g a s com v i n h o s especiais, t o r -
que assistia à c e n a n e m i n t e r r o m - T r ê s s e m a n a s depois, ele recebeu n a r a m - s e u m a d a s sitrações d a ci- — Fiz os m e n i n o s v o l t a r e m à r a -
zão. — declarou — T í n h ^ m b s u m - m a d e - m a n m u i t o a p r e c i a d o por t o - Chicago, de que j á n ã o e r a gros-
negócio e n o r m e e o que f a z í a m o s ? dos os escalões da classe m é d i a seiro d e m a i s p a r a se t o r n a r u m de-
Um c a m p o f e c h a d o . Assim, n ã o h a - a m e r i c a n a . Nem os escoteiros de les. Como h a v i a t r a n s f o r m a d o a
via n a d a a g a n h a r , e foi isso o que Chicago e s c a p a r a m ao fascínio que polícia, os t r i b u n a i s , os políticos e
lhes expliquei. Nosso t r a b a l h o j á suas b r i g a s com os outros grupos, p a r t e do m o v i m e n t o operário n u m a
é b a s t a n t e d u r o e perigoso, sem sua i m p r e s s i o n a n t e ascensão e sua e m p r e s a p e s s o a l . ("A policia é m i -
m e s m o f a l a r destas- disputas. Um a m b i ç ã o indomável provocava n a s n h a p r o p r i e d a d e " dissera Torrio,
h o m e m que, em seu r a m o , t r a b a l h a ' pessoas: q u a n d o 10 mil deles e s t a - seu mestre, c e r t a vez), podia caçoar
d u r a m e n t e , t e m vontade, no f i m do vam reunidos n a N o r t h - W e s t e r U n i - de suas pretensões de h o n e s t i d a d e ,
dia, de voltar p a r a casa e repousar. versity, no c e n t r o da cidade, e Al rir de seus ideais h u m a n i s t a s , sem
E q u a n d o ele n ã o se arrisca n e m C a p o n e a p a r e c e u por lá, foi s a u - ser a m e a ç a d o por n i n g u é m . Só a
a ficar s e n t a d o perto da j a n e l a ou d a d o por u m coro de h u r r a s e gri- b u r g u e s i a tradicional, com dinheiro,
a b r i r s u a porta, que proveito pode tos pelos a l t o - f a l a n t e s : -Good Old disposição e s e g u r a n ç a p a r a se or-
t i r a r de tudo isto? Al! Good Old Al!" g a n i z a r f o r a de seu controle, pode-
AL CAPONE: Dos 12 milhões de d e s e m p r e g a d o s r i a , d e r r u b á - l o . E foi o que ela co-
O PATRIOTA n o r t e - a m e r i c a n o s criados pela crise meçou a fazer em 1930, r e u n i d a n u -
de 29, Chicago ficou com a maior m a c e r t a Comissão de Chicago, ao
J á não era mais o italianinho
p a r t e . E m u i t o s deles c o m i a m n a s l a n ç a r como publicidade em todos
nascido em C a s t e l l a m a r e . bem p e r -
cozinhas que Al Capone m o n t o u , os j o r n a i s a C a m p a n h a C o n t r a o
to de R o m a . que os pais t r o u x e r a m
onde as refeições e r a m servidas de Inimigo Público. Dos 28, Al C a p o n e
p á r a a América com u m a n o de i d a -
graça. Como pouca gente sabia que era o primeiro d a lista.
de, que estava ali. U m a história que
começou como a da m a i o r i a d a s pes- os a l i m e n t o s e r a m c o m p r a d o s com Até parecia b r i n c a d e i r a . No m e s -
soas: i n f â n c i a miserável, r e p a r t i d a o d i n h e i r o dos sindicatos, onde ele mo ano. a W a r n e r Bros. resolveu
com m u i t o s i r m ã o s : u m e m p r e g o de perseguia e m a t a v a os operários que t r a n s f o r m a r a h i s t ó r i a n u m filme,
salário baixíssimo em vez da escola, r e c u s a v a m sua l i d e r a n ç a , as pes- com o titulo: Inimigo Público. Di-
aos 13 a n o s de idade; pequenos r o u - soas m a i s i n g ê n u a s j a m a i s esque- zem os boatos de Hollywood que,
bos em lojas, assaltos u m pouco c e r a m sua g e n e r o s i d a d e . a n t e s de J a m e s Cagney, Al Capone
m a i o r e s em cabarés, depois a dire- Se fosse por Al Capone, a f a m í l i a em pessoa t e r i a sido convidado p a -
ção de u m a b o a t e com bar, salão americana estaria garantida para r a r e p r e s e n t a r seu próprio papel,
de jogos e q u a r t o s p a r a casais. Por s e m p r e : "Lugar de m u l h e r é em ao lado da louríssima J e a n Harlow.
casa, j u n t o ao berço dos filhos", di- Apesar dos 200 mil dólares o f e r e - se o motivo, o governo dos Estados
fim, e m p r e s a s que, só no álcool, lhe
zia. J á Walter Stevens, seu a s s a s - cidos, ele n ã o aceitou, b a s t a n t e Unidos e s t a v a disposto a castigá-lo.
r e n d i a m 100 milhões de dólares por
sino favorito, e r a u m pouco m a i s aborrecido com a c a m p a n h a . Depois de m u i t o s estudos e investi-
ano. U m a f o r t u n a pessoal que c h e -
r a d i c a l : n u n c a deixou que suas fi- A a v e n t u r a foi p a r a as telas, gações, em o u t u b r o de 1931, fiscais
gava aos 40 milhões de dólares. A
lhas a d o t i v a s ' se m a q u i a s s e m ou m a s a r e a l i d a d e começou a perder do Ministério d a s F i n a n ç a s conse-
cicatriz d a v a u m a a p a r ê n c i a selva-
usassem saias c u r t a s . Elas t a m b é m a g r a ç a : s a i n d o de um c i n e m a n a g u i r a m c o p d e n á - l o a 11 anos de
gem a seu rosto, é v e r d a d e .
e s t a v a m proibidas de ir ao t e a t r o e Filadélfia, Al C a p o n e foi r e c o n h e - prisão e m u l t a de 50 mil dólares
Conservava o gosto pelas a v e n t u - pelo único crime que todo bom .ci-
de ter amigos e n t r e os r a p a z e s de cido e revistado por dois detetives.
r a s a r r i s c a d a s . Três meses depois d a d ã o j á cometeu pelo menos uma
sua g e r a ç ã o . Como Stevens, J o h n n y Com ele. e n c o n t r a r a m u m a a r m a .
daquele célebre acordo, as m e t r a - vez n a vida: sonegar imposto de
Torrio j a m a i s pôs u m a gota de ál- Não p a s s a v a de um corriqueiro e,
lhadoras apareciam novamente. renda.
cool n a boca, a n ã o ser que fosse n a época, quase inofensivo revólver.
Seus rivais t e i m a v a m em viver em
p a r a t e s t a r a q u a l i d a d e dos a l a m - Mas como ele n ã o t i n h a licença p a - Capone foi liberado em 1939, dei-
regime de concorrência, q u a n d o j á
biques que possuía; assim que se es- r a c a r r e g á - l o teve que se a p r e s e n - xando médicos e funcionários da
e r a t e m p o de se u n i r e m p a r a con-
t r o l a r o m e r c a d o , sem m a i o r e s pro-
blemas, como f a z i a m a Ford e a
G e n e r a l Motors, por exemplo. Assim,
era obrigado a agir sozinho. Nem
por isso se m o s t r a v a m e n o s esperto:
u m a vez, m a n d o u que h o m e n s de
seu d e p a r t a m e n t o de assaltos f u r a s -
sem os pneus de 50 mil c a r r o s es-
tacionados, no prazo de q u a t r o se-
m a n a s , só p a r a a u m e n t a r as r e n d a s
de suas garagens, onde h a v i a f a l t a
de serviço.
Depois de controlar a polícia de
Chicago i calcula-se que dois terços
da corporação, desde o p r a ç a até a
m a i s alta p a t e n t e , recebiam c o m -
p e n s a d o r a s q u a n t i a s de seus f u n c i o -
n á r i o s ) ; de d o m i n a r advogados, jui-
zes e promotores (só 4 das 700 bri-
gas e n t r e os gangsters, de 1920 a
A
30, p a s s a r a m pelos t r i b u n a i s ) ; de
eleger políticos m a i s convenientes
p a r a seus negócios, Capone desco-
briu u m r a m o de negócios onde
t a m b é m iria g a n h a r d i n h e i r o e f a -
m a : os. sindicatos o p e r á r i o s . E r a o
fim da d é c a d a de 20, a crise do c a -
pitalismo m u n d i a l , os m o v i m e n t o s
operários se t o r n a n d o c a d a vez m a i s
r a d i c a i s e combativos, os velhos lí-
deres sendo substituídos por jovens
descompromissados e decididos. E Al
C a p o n e foi um dos primeiros a dei-
xar de lado qualquer pudor ideoló-
gico p a r a g a r a n t i r a ordem e s t a b e -
lecida: u s a n d o de coerção, a m e a ç a
de mortes, métodos que a n t e s só p a -
reciam h a b i t u a i s nos regimes f a s -
cistas, g a r a n t i u p a r a si u m terço dos
sindicatos de Chicago, em 1931. tabeleceu -como negociante de s u - t a r ao delegado. No dia seguinte, prisão impressionados com seu bom
Agora, além da P r e f e i t u r a , da C h e - cesso, u m a de suas p r i m e i r a s preo- o c h e f e da m a i o r e m a i s lucrativa humor e inteligência. Escondido,
f a t u r a . de Poiícia, dos T r i b u n a i s , cupações foi c o m p r a r u m a m a n s ã o i n d ú s t r i a ilegal do país; o dono da voltou para a Flórida, acompanhar
e r a m os t r a b a l h a d o r e s que ouviam de 15 e m p r e g a d o s p a r a a m ã e , que m a i o r cadeia de boates, casa de jo- do de poucos amigos. Nunca se
as o r d e n s de Capone. E elas obe- t i n h a ficado n a I t á l i a ; o u t r a , era gos e bordéis; o conselheiro de j u - conformou com as humilhações que
deciam, sempre, a u m a política m u i - c h e g a r cedo em casa, dedicar ura ristas, policiais e políticos i m p o r - recebeu ( Vocês não foram justos
to ao gosto dos p a t r õ e s : bom t e m p o à m u l h e r e aos filhos t a n t e s e r a c o n d e n a d o a u m ano de comigo", queixou-se ao tribunal
P r e c i s a m o s c o m b a t e r o bolche- c-Nossa u n i ã o foi u m a lua de mel prisão por porte ilegal de a r m a , sem quando lhe negaram revisão da sua
vismo — gostava de dizer — que sem nuvens", lembrou a viúva, cer- direito a f i a n ç a . maior pena). Pouco antes de mor-
b a t e à nossa p o r t a . É preciso que t a vez). J á Hymie Weiss, o u t r o E r a só o começo. Ao sair da p r i - rer, quando aquele avião da Força
nos u n a m o s p a r a lhe fazer oposição a t i r a d o r de e x t r e m a eficiência do são e s t a v a t ã o d e s m o r a l i z a d o que Aérea Norte - Americana jogou a
m e s m o g a b a r i t o que Stevens, n ã o ti- um p r o m o t o r de Chicago conseguiu bomba atômica sobre Hiroshima, Al
com todas as nossas forças. A Amé-
n h a coragem de sair de casa se n ã o levá-lo aos t r i b u n a i s p a r a r e s p o n - Capone deve ter sentido uma pon-
rica deve ficar p u r a e sem m a n c h a .
estivesse com sua c o r r e n t i n h a de der a um processo de v a d i a g e m . ta de inveja do presidente Harry
Devemos proteger os t r a b a l h a d o r e s cruz no pescoço. Como a m a i o r i a
contra a literatura e a propaganda Pouco depois, foi s i m p l e s m e n t e ex- Trumman. Afinal, como ele fazia
dos h o m e n s de Al Capone, Weiss só pulso da Flórida, onde t i n h a u m a com suas metralhadoras em Chica-
vermelha, e vigiar p a r a que suas d i s p a r a v a seu gatilho depois de p e -
convicções c o n t i n u e m sãs. casa de campo, sem j u s t i f i c a t i v a al- go, 200 mil pessoas foram mortas
dir a proteção d a Virgem Maria. guma. A b a n d o n a d o pelos amigos, só para que o mercado japonês fi-
Boas convicções não f a l t a v a m a casse garantido para os empresá-
Al Capone e seus amigos. E m b o r a INIMIGO desprezado pelos a d m i r a d o r e s que
PÚBLICO? podiam lhe p r e s t a r a l g u m a a j u d a , rios norte-americanos, então im-
fosse um pouco grosseiro demais pressionados com o avanço das tro-
p a r a conseguir a imagem de herói Apesar de seus esforços e de sua Al Capone decidiu:
pas russas pela Sibéria. Um crime
nacional, os. problemas que e n f r e n - lealdade a t o d a prova. Al C a p o n e — Estou cheio. De r e p e n t e virei perfeito.
tou no inicio da vida, e a f o r t u n f n ã o conseguiu convencer os g r a n - um bode expiatório p a r a todo m u n -
que conseguiu a c u m u l a r , n ã o po- des industriais, os g r a n d e s c o m e r - do. Vou me r e t i r a r em. paz,
d i a m deixar, de .fazer dele u m self- c i a n t e s as t r a d i c i o n a i s f a m í l i a s de Não conseguiu. Qualquer que f o s - Paulo Moreira Leite
CO/T
C^/IA/
Eu sou Costa G a v r a s , cine- irrisório d a s situações políticas, de utilizar o inimigo, a f o r m a cioso: f a z e r u m filme que c o n -
a s t a grego. F a ç o o c h a m a d o ci- vejo a loucura incrível do que o c i n e m a e m p r e g o u (desde d e n a a sociedade de c o n s u m o e
n e m a político. Estou fazendo m u n d o em que vivemos, j á n ã o o começo ele foi feito p a r a p r o - que a c a b a v i r a n d o objeto de
a g o r a u m filme sobre a o c u p a - a c r e d i t o n a s e p a r a ç ã o do b e m e p a g a r a ideologia do c a p i t a l i s - consumo. Acho que t u d o se
ç ã o a l e m ã n a F r a n ç a , em 1941 do m a l em pólos opostos n i t i d a - mo) p a r a c h e g a r a m i l h õ e s de c o n v e r t e em o b j e t o de c o n s u -
— u m a crítica d a j u s t i ç a f r a n - m e n t e . As coisas são m u i t o m a i s pessoas com coisas que n ã o f o - m o : o pobre Che, seus posters,
cesa sob as o r d e n s dos n a z i s - loucas e s u r p r e e n d e n t e s . Quero r a m d i t a s ou n ã o se pode dizer. os livros políticos; Marx, o p e -
tas, com roteiro de J o r g e S e m - c o n t a r assim m i n h a s histórias, Esta seria, de m a n e i r a geral, q u e n o livro v e r m e l h o de Mao —
p r ú n , escritor e s p a n h o l exilado minha filosofia do cinema. 700 mil e x e m p l a r e s vendidos
em Paris. Nele, t e n t o m o s t r a r o M u i t a g e n t e p e n s o u que Es- ' Acho que, q u a n t o m a i s se c o m - n a F r a n ç a . M a s a c h o que o
c o m p o r t a m e n t o dos h o m e n s n o t a d o de Sítio e r a u m a apologia p l e t a u m t e m a , q u a n t o m a i s se slogan " o b j e t o de c o n s u m o "
poder d u r a n t e esse t e m p o . do m o v i m e n t o t u p a m a r o Não a p r o f u n d a u m a análise, m e n o s aplicado a t u d o é falso. É c e r -
foi isso. O f i l m e é, n a v e r d a d e , público temos. Não sei se nós, to que nossa sociedade f a b r i c a
Dos m e u s filmes, os m a i s co- u m a t e n t a t i v a d i d á t i c a de e x - os c i n e a s t a s , colocamos essas u m n ú m e r o de coisas e f a z o
n h e c i d o s são Z, E s t a d o de Sítio por o m e c a n i s m o desse tipo de coisas n a b a l a n ç a p a r a fazer possível p a r a v e n d ê - l a s . M a s
e Confissão, o ú n i c o que passou intervenção n a América Lati- u m filme, m a s posso dizer q u e o u t r o s as f a b r i c a m , digamos, por
n o Brasil. Z é u m a história n a . Busco n o f i l m e a desperso- E s t a d o de Sítio teve em P a r i s acidente, pelo próprio m o v i -
real, onde s u b s t i t u í u m p r o f e s - n a l i z a ç ã o do p e r s o n a g e m . S a r - m e n o s d : m e t a d e dos e s p e c t a - m e n t o desse g r a n d e m e c a n i s m o
sor a s s a s s i n a d o em 63, d u r a n t e t o r i (Don Mitrione, a g e n t e d a dores de Z. Talvez porque s e j a produtor e o sistema n ã o faz
u m a p a s s e a t a , por u m d e p u t a - CIA m o r t o pelos t u p a m a r o s n o u m f i l m e m a i s complexo, n ã o n a d a p a r a que se v e n d a m . Que
do. Um r e p ó r t e r e u m juiz, U r u g u a i ) é u m simples e x e c u - t ã o e s p e t a c u l a r , que p r e t e n d e interesse pode t e r e m que se
f a z e n d o a s investigações, desco- tor do sistema, u m i n s t r u m e n t o . fazer u m a análise mais p r o f u n - v e n d a m aos m i l h õ e s os livros
brem toda a corrupção e o fas- H á c e n t e n a s , m i l h a r e s de se- da. de M a r x ou de Marcuse, que se
cismo que c e r c a m o a s s a s s i n a t o , n h o r e s Mitrione no m u n d o . O v e j a m certos filmes?
m a s n a d a conseguem provar m a i s m o n s t r u o s o do persona- Eis a q u e s t ã o : ou se f a z e m
porque as t e s t e m u n h a s vão d e - gem é sua n o r m a l i d a d e . filmes que p r e t e n d e m ir o m a i s
saparecendo misteriosamente. longe possível n a a n á l i s e das Não sou u m h o m e m que b u s -
Fui m u i t o criticado por c a u s a ca t e m a s c o n t r a a repressão,
situações, que são vistos por
E s t a d o de Sítio c o n t a a vida, de Confissão. H á u m velho cli- m a s vivi a r e p r e s s ã o n a G r é c i a
u m a m i n o r i a , ou bem se s i m -
t r a b a l h o e m o r t e de u m a g e n t e c h ê s t a l i n i s t a : -isso pode ser e isso i n f l u e n c i o u m e u s filmes.
plifica p a r a o u t r o público que
d a CIA. É u m a t e n t a t i v a d i d á - utilizado pela d i r e i t a " que pode H á 20 anos, tiye que f u g i r da
se s e n t e a t r a í d o e vai ao cine-
tica de expor o m e c a n i s m o des- ser t r a d u z i d o p o r : - n ã o fale- Grécia p a r a a França. Um imi-
m a . Esse é u m dos motivos por
se tipo de i n t e r v e n ç ã o n a A m é - mos n a d a , que isso pode ser g r a n t e que f u g i a d a r e p r e s s ã o
que Yves M o n t a n d é o m e u a t o r
rica L a t i n a . O t e m a de Con- ser utilizado pela d i r e i t a " . Que c o n t r a os e s q u e r d i s t a s a p ó s a
favorito. Dirijo m e u s filmes
fissão é o s t a l i n i s m o : a crise de p a r t i d o c o m u n i s t a do mundo "guerra civil. Meu pai, u m f u n -
fundamentalmente '-aos que
consciência de u m h o m e m que fez u m esforço sério p a r a e x - cionário público, u n i u - s e aos
vão ver M o n t a n d porque é u m
sofre prisão e t o r t u r a , m a s c o n - plicar o s t a l i n i s m o ? O objetivo maquis — a resistência contra
bom moço, porque c a n t a b e m " .
t i n u a t e n t a n d o ser comunista de Confissão n ã o e r a explicar o a o c u p a ç ã o dos a l e m ã e s e i t a -
Essa gente, que n ã o leva m o t i -
a p e s a r de Stálin. stalinismo, m a s colocá-lo sobre lianos —, e foi perseguido d e -
vações p a r a o c i n e m a , e n t r a
a m e s a p a r a r e t o m a r u m a dis- pois d a libertação, como todos
Vejo Z como u m filme de j u - pouco a pouco no mecanismo
cussão e n t e r r a d a . E q u a n d o as os resistentes, como " c o m u n i s -
v e n t u d e , f e i t o com violência, do filme e o aceita, p o r q u e
discussões são e n t e r r a d a s , c h e - t a " . G a r o t o , tive que e n f r e n t a r
ódio e a m o r ; u m grito que l a n - aceitou M o n t a n d . E r e c u s a r i a
g a m o s a situações como o s t a - o e s t i g m a de f i l h o - d e - b a n d i d o .
cei ao c o m p r e e n d e r o m e c a n i s - imediatamente um ator antipá-
linismo. L a m e n t o que n ã o exis-
mo da r e p r e s s ã o que vivi n a tico dizendo "isso é p u r a p r o -
t a m a i n d a m a i s f i l m e s desse t i -
Grécia, d u r a n t e a g u e r r a civil, p a g a n d a " . Além disso, ele é u m
po. Se existissem m a i s explica- E m Paris, a n t e s de cinema,
após a S e g u n d a G u e r r a . Alguém bom a t o r . E m Z, u m filme que
ções sólidas do stalinismo, A r - tive mil ofícios: m o t o r i s t a , g a -
se t o r n a m i l i t a n t e p o r q u e dese- d u r a m a i s de d u a s h o r a s , M o n -
quipélago Gulag, de ragista, comprador e vendedor
j a m u d a r as coisas, porque so- t a n d a p a r e c e sete m i n u t o s , e
S o l z h e n i t s y n , não- f a r i a t a n t o de j o r n a i s velhos. Q u e r i a es-
freu humilhações e injustiças, q u a n d o se p e n s a e m Z, se p e n -
sucesso. crever m a s descobri que o ci-
e quer a c a b a r com isso. sa e m M o n t a n d .
n e m a é u m meio de expressão
Não sou u m teórico; quero m u i t o m a i s forte, com uma
Hoje n ã o p o d e r i a f a z e r u m m e c o m u n i c a r com o público, Muitos m e p e r g u n t a m se n ã o possibilidade de a u d i ê n c i a m a i s
filme com t a n t o ódio. Vejo o s i m p l e s m e n t e . Acho que t e m o s m e p r e o c u p o com o círculo vi- a m p l a que a l i t e r a t u r a .
NERUDA
Confesso que vivi Estas memórias ou lembranças são intermitentes e às vezes
esquecidas, porque precisamente assim é a vida. A intermitência
do sonho nos permite sustentar os dias de trabalho.
Talvez eu não tenha vivido em mim mesmo; talvez tenha
vivido a vida dos outros.
Minha vida é u m a vida feita de todas as vidas: as vidas
do poeta.
Pablo Neruda
Começarei por dizer, sobre os dias tinha um nome mais bonito, quase to- perdida a razão, andando hierática por poderei esquecer, acabavam de sair do
e anos de minha infância, que meu dos herdados das antigas propriedades uma rua de pedras, seguida por cem cárcere, iam regressar a seus muros
único personagem inesquecível foi a araucanas. Essa foi a região dos mais meninos vagabundos e atônitos; essa foi talvez amanhã. Porque eles pretendiam
chuva. encarniçados combates entre os invaso- minha entrada na Europa, sublevar-se contra a miséria e contra
Por muito que tenha caminhado, res espanhóis e os primeiros chilenos, os deuses. Essa é a época em que nos
me parece que se perdeu essa arte de filhos profundos daquela terra. 9 coube viver. E esse é o século de ouro
chover que se exercia como um poder da poesia universal. Enquanto os
terrível e sutil em minha Araucanía 0 Junto ao rio sagrado se eleva o tem- novos cânticos são perseguidos, um
natal. plo de Khali, a deusa da morte. En- milhão de homens dorme noite a noite
Pelo tempo em que tinha escrito meu tramos misturados com centenas de pe- junto ao caminho, nos subúrbios de
primeiro poema, chegou a Temu.co regrinos que chegaram desde o fundo Bombaim. Dormem nascem e mor-
uma senhora alta, com vestido muito da província hindu, para conquistar sua • rem. Não há casas, nem pão, nem
Se Temuco era a dianteira da vida comprido e sapatos de salto baixo. graça. Atemorizados, farrapentos, são medicinas. Em tais condições deixou
chilena nos territórios do sul do Chile, Era a nova diretora do colégio das me- sobrepujados pelos brâmanes que a seu império colonial a civilizada, orgu-
isso significava uma longa história de ninas. Vinha de nossa cidade austral, cada momento se fazem pagar por al- lhosa Inglaterra. Despediu-se de seus
sangue. das neves de Magalhães. Se chamava guma coisa. Os brâmanes levantam antigos súditos sem deixar-lhes esco-
Pressionados pelos conquistadores Gabriela Mistral. um dos sete véus da deusa execrável las, nem indústrias, nem moradas, nem
europeus, depois de trezentos anos de Eu a olhava passar na rua, e tinha e, quando o levantam, soa um golpe de hospitais, a não ser prisões e monta-
luta, os araucanos se reuniram naque-' medo. Era jovem demais para ser gongo como se fosse para demolir o nhas de garrafas de uísque vazias.
Ias regiões frias. Mas os chilenos con- seu amigo, demasiado tímido e ensi- mundo. Os peregrinos caem de joelhos,
tinuaram o que se chamou "a pacifi- mesmado. Mas posso dizer que Ga- saúdam com as mãos juntas, tocam o
cação da Araucanía", ou seja, a con- briela me embarcou nessa séria e ter- solo com a testa, e continuam andando
tinuação de uma guerra a sangue e rível visão dos novelistas russos e que até o próximo véu. Os sacerdotes fa- O ônibus saía de Penang e devia
fogo, para despojar nossos compatrio- Tolstói, Dostoievski, Chekov, entraram zem convergir a ura pátio onde deca- cruzar a selva e as aldeias da Indo-
tas de suas terras. Contra os índios, em minha mais profunda predileção. pitam bodes de uma só facada e co- china para chegar a Saigon. Ninguém
todas as armas foram usadas com ge- Seguem acompanhando-me. bram novos tributos. Os balidos dos entendia meu idioma nem eu entendia
nerosidade: o disparo da carabina, o Depois de muitos anos de colégio, animais feridos são afogados pelos gol- o de ninguém. Parávamos em clareiras
incêndio de suas choças; logo depois, entrei na terceira classe do trem notur- pes do gongo. As paredes de cal sujo da selva virgem, ao largo do intermi-
de forma mais paternal, empregou-se a no, que levava um dia e uma noite in- se salpicam de sangue até o teto. A nável caminho, e desciam os viajantes,
lei e o álcool. O advogado transfor- termináveis para chegar a Santiago. deusa é uma figura de cara escura e camponeses de estranhas vestes, taci-
mou-se também em especialista na es- olhos brancos. Uma língua escarlate turna dignidade e olhos oblíquos. Já
A vida daqueles anos na pensão de
poliação de seus campos, o juiz os de dois metros desce desde sua boca sobravam só três ou quatro dentro do
estudantes era uma fome completa.
condenou quando protestaram, o sacer- até o chão. De suas orelhas, de seu imperturbável veículo que reclamava e
Escrevi muito mais que até então, mas
dote os ameaçou com o fogo eterno. pescoço, pendem colares de crânios e ameaçava desintegrar-se sob a noite
comi muito menos. Alguns dos poetas
E, por fim, o aguardente consumiu o emblemas da morte. Os peregrinos pa- quente.
que conheci naqueles dias sucumbiram
aniquilamento de uma raça soberba gam suas últimas moedas antes de s e - De repente, me senti preso de pâni-
por causa das dietas rigorosas de
cujas proezas, valentia e beleza don rem empurrados para a rua. co. Onde estava? Aonde ia? Por que
pobreza.
Alonso Ercilla deixou gravadas em es- passava essa noite interminável entre
trofes de ferro, em sua Araucana. Eram muito diferentes daqueles pe-
regrinos submissos os poetas que me desconhecidos? Atravessávamos o Laos
rodearam para me dizer suas canções e o Camboja. Observei os rostos im-
Um dia de junho de 1927 partimos e seus versos. Acompanhando-se de penetráveis de meus últimos compa-
para remotas regiões. seus tamboretes, vestidos com suas nheiros de viagem. Iam com os olhos
Fui crescendo. Começaram a me A Lisboa alegre daqueles anos, com roupas brancas, sentados de cócoras abertos. Suas feições me pareceram
interessar os livros. Nas façanhas de pescadores nas ruas e sem Salazar no sobre o pasto, cada um deles lançava patibulares. Encontrava-me, sem dúvi-
Buffalo Bill, nas viagens de Salgari, trono, me encheu de espanto. No pe- um ronco, entrecortado grito, e de seus da, entre típicos bandidos de um con-
meu espírito foi se estendendo pelas queno hotel, a comida era deliciosa. lábios subia uma canção que ele tinha to oriental.
regiões do sonho. Grandes bandejas de fruta coroavam a composto com a mesma forma e me- Trocavam-se olhares de inteligência,
Estávamos rodeados de montanhas mesa. As casas multicolores; os ve- tro das canções antigas, milenares. Mas me observavam de soslaio. Nesse
virgens, mas eu queria conhecer o mar. lhos palácios com arcos na porta; as o sentido das canções tinha mudado. mesmo momento, o ônibus se deteve
Por sorte, meu voluntarioso pai, que monstruosas catedrais com os escon- Não eram canções de sensualidade, à silenciosamente em plena selva. Esco-
era condutor, conseguiu uma casa em- derijos daqueles que teriam feito, há toa, mas canções de protesto, canções lhi meu lugar para morrer. Não permi-
prestada de um de seus numerosos séculos, Deus viver em outro lugar; as contra a fome, canções escritas nas tiria que me levassem para ser sacri-
compadres ferroviários. casas de jogos dentro de antigos palá- prisões. Muitos desses jovens poetas ficado embaixo daquelas árvores desco-
O trem percorria um pedaço da- cios; a multidão infantilmente curiosa que encontrei em toda a extensão da nhecidas, cuja sombra escura escondia
quela província fria. Cada estação nas avenidas; a duquesa de Bragança, índia, e cujas olhadas sombrias- não o céu. Morreria ali, num banco do

DOSTOIEVSKI GABRIELA MISTRAL Buffalo Bii:


desengonçado ônibus, entre cestas de lhas. Nós vamos nomear o poeta da
vegetais e jaulas de galinha que eram América e da Espanha: R u b é n . . .
a única coisa familiar naquele mo- NERUDA: Darío. Porque, seno-
mento terrível. Olhei à minha volta, ras . . .
decidido a enfrentar a zanga de meus LORCA: y senores...
verdugos, e reparei que eles também NERUDA: Onde está, em Buenos
tinham desaparecido. Aires, a praça de Rubén Darío?
Esperei muito tempo, só, com o co- LORCA: Ele amava os parques.
ração agoniado pela escuridão intensa Onde está o parque Rubén Darío?
da noite estrangeira. Ia morrer sem LORCA: Onde está a barraca de
que ninguém soubesse. Tão longe de rosas de Rubén Darío?
meu pequeno país amado! Tão sepa- NERUDA: Onde estão a macieira
rado de todos os meus amores e de e as maçãs, de Rubén Darío?
meus livros! LORCA: Onde está a mão cortada
De repente, apareceu uma luz e •de Rubén Darío?
outra luz. O caminho se encheu de NERUDA: Onde estão o azeite, a
luzes. Tocou um tambor; estalaram as resina, o cisne de Rubén Darío?
notas estridentes da música cam- LORCA: Rubén Darío dorme em
bojana. Flautas, tamborins e tochas sua "Nicarágua natal" debaixo de seu
encheram o caminho de claridades e de espantoso leão de mármore, como esses
sons. Subiu um homem que disse em leões que os ricos põe nos portais de
inglês: suas casas.
— O ônibus sofreu um enguiço. NERUDA: Um leão de farmácia ao
Como a espera vai ser grande, talvez fundador de leões, um leão sem estre-
até o amanhecer, e não há aqui onde las a auem dedicava estrelas.
dormir, os passageiros foram buscar NERUDA: Federico Garcia Lorca,
uma trupe de músicos e bailarinos para espanhol, e eu, chileno, transferimos a
que você se entretenha. responsabilidade dessa noite de cama-
Durante horas, sob aquelas" árvores radas, para essa grande sombra que
que não me ameaçavam mais, presen- cantou mais altamente que nós, e sau-
ciei as maravilhosas danças rituais de dou com voz inusitada à terra argentina
uma nobre e antiga cultura e escutei, que pisamos.
até que saiu o sol, a deliciosa música LORCA: Pablo Neruda. chileno. "
que invadia o caminho. eu, espanhol, coincidimos no idioma e
O poeta não pode temer o povo. no grande poeta nicaraguense, argen-
Pareceu-me que a vida me fazia uma tino, chileno e espanhol, Rubén Darío.
advertência e me ensinava para sempre NERUDA e LORCA: Por cuja ho-
uma lição: a lição da honra escondida, menagem e glória levantamos nosso
da fratrenidade que não conhecemos, copo.
da beleza que floresce na escuridão.

Não permaneci muito tempo no


Havia ruas inteiras dedicadas ao consulado de Buenos Aires. No co-
ópio... Sobre baixos estrados se meço de 1934, fui transladado com o
estendiam os f u m a d o r e s . . . E r a m os mesmo cargo para Barcelona. Ao che-
verdadeiros lugares religiosos da í n - gar a Madrid, convertido da noite para
dia. .. Não tinham nenhum luxo, nem o dia por arte de birlibirloque em côn-
tapeçarias, nem tecidos de s e d a . . . Tudo sul chileno na capital da Espanha, co-
natas, dos colonizadores, se destinava "Dois toureiros podem tourear ao nheci a todos os amigos de Garcia
eram tábuas sem pintar, cachimbos de mesmo tempo o mesmo touro e com
aos colonizados.. Os fumaderos ti- Lorca e de Alberti. Eram muitos. Em
bambu e almofadas de louça chinesa... um único capote. Esta é uma das pro-
nham na porta seu preço autorizado, pouoos dias eu era um a mais entre os
Pairava um ar de decoro e austeri- vas mais perigosas da arte taurina.
seu número e sua p a t e n t e . . . No inte- poetas espanhóis. Naturalmente que
dade que não existia nos templos. Os , Por isso se vê muito poucas vezes.
rior reinava um grande silêncio opaco, espanhóis e americanos somos di-
homens Adormecidos não faziam mo- Nunca mais de duas ou três vezes num
uma inação que amortizava a desgraça ferentes. Diferença que se leva sem-
vimento nem r u í d o . . . Fumei muitos século, e só podem fazê-lo dois tou-
e adoçava o cansaço. . Um silêncio pre com orgulho ou com equívoco por
cachimbos, até que conheci... Não há reiros que sejam irmãos ou que, pelo
caliginoso, sedimento de muitos sonhos uns ou por outros.
sonhos, não há imagens, não há paro- menos, tenham sangue comum. É isso
interrompidos que achavam seu reman- Os espanhóis de minha geração eram
xismo... Há um enfraquecimento me- que se chama tourear al alimón. E
so... Aqueles que sonhavam com os mais fraternais, mais solidários e mais
lódico, como se uma nota infinita- isso é o que faremos num discurso".
olhos entrecerrados estavam vivendo alegres que meus companheiros da
mente suave se prolongasse na atmos-
uma hora submersa debaixo do Eis aqui o texto do discurso: América Latina. Comprovei ao mesmo
fera. .. Um desvanecimento, uma dila-
mar, uma noite inteira numa colina, go- NERUDA: Senoras... tempo que nds éramos mais universais,
tação dentro da gente... Qualquer mo-
zando de um repouso sutil e delei- LOCA: . . . y senores: Existe na mais metidos em outras linguagens e
vimento, do pescoço, da nuca, qual-
toso... festa dos touros uma prova chamada outras culturas. Eram muito poucos
quer som longínquo de carruagem, uma
toreo al alimón, em que dois toureiros entre eles os que falavam outro idioma
buzinada ou um grito corriqueiro, pas-
escondem seu corpo do touro protegi- fora do castelhano.
sam a fazer parte de um todo, de uma
dos pela mesma capa. Eu tinha sido um épico inventor de
repousante delícia... Compreendi por Como era Federico NERUDA: Federico e eu, amarrados revistas que logo deixei ou me deixa-
que os empregados de plantação, os
por um cabo elétrico, vamos duelar e ram. Em 1925 fundei uma tal Caballo
jornaleiros, os rickshamen que puxam Uma comprida viagem por mar, de responder esta recepção muito decisiva. de Bastos . Era o tempo em que escre-
e puxam o ricksha o dia inteiro, ficavam dois meses, me devolveu ao Chile em LORCA: É costume nestas reuniões víamos sem pontuação e descobríamos
ali de repente, obscurecidos, imóveis... 1932. Aí publiquei El Bondero Entu- que os poetas mostrem suas palavras Dublin através das ruas de Joyce. De-
O ópio não era o paraíso dos exotistas siasta, que andava extraviado em meus vivas, prata ou madeira, e cumprimen- pois, com Manuel Altolaguirre, dirigi a
que me tinham pintado, mas a fuga dos papéis, e Residência en la terra, que tem com voz própria seus companheiros revista Caballo Verde. Foram para a
explorados... Todos aqueles, no f u m a - tinha escrito no Oriente. Em 1933, me e amigos. rua cinco números primorosos, de in-
dero, eram pobre diabos... Não ha- designaram cônsul do Chile em Buenos NERUDA: Mas nós vamos entre dubitável beleza. O sexto, ficou na rua
via nenhum pano bordado, nenhum in- Aires, onde cheguei no mês de agosto. vocês, um morto, um comensal viúvo, Viriato, sem paginar nem costurar. A
dício da menor riqueza... Nada bri- Quase ao mesmo tempo chegou a escuro nas trevas de uma morte maior revista devia aparecer em 19 de julho
lhava no recinto, nem mesmo os semi- essa cidade Federico Garcia Lorca, que outras mortes, viúvo da vida, de de 1936, mas naquele dia a rua se en-
cerrados olhos dos f u m a n t e s . . . Des- para dirigir e estrear sua tragédia tea- quem fora marido deslumbrante; vamos cheu de pólvora. Um general desco-
cansavam, dormiam?... Nunca sou- tral Bodas de sangre, na companhia de nos esconder sob sua sombra ardendo, nhecido, chamado Francisco Franco,
be... Ninguém falava... Ninguém Lola Membrives. vamos repetir seu nome até que seu tinha se revoltado contra a República
falava n u n c a . . . Não havia móveis, Fomos convidados pelo Pen Club a poder saia do esquecimento. em sua guarnição da África.
tapetes, nada.. Sobre os estrados um banquete em nossa homenagem. LORCA: Nós vamos, depois de en-
gastos, suavíssimos de tanto tato hu- Demos uma grande surpresa. Tínha- viar nosso abraço com ternura de pin- O crime foi em Granada.
mano, se viam umas pequenas almo- mos preparado um discurso aí alimón. güim ao delicado poeta Amado Villar, Justamente quando escrevo estas
fadas de madeira.. Nada mais, a não Vocês provavelmente não sabem o que vamos lançar um grande nome sobre linhas, a Espanha oficial celebra muitos
ser o silêncio e o perfume do ópio, significa essa palavra e eu mesmo não a toalha, na segurança de que vão se — tantos! — anos de insurreição cum-
estranhamente repulsivo e poderoso.. o sabia. Federico, que estava sempre quebrar os copos, vão pular os garfos, prida. Neste momento, em Madrid, o
Sem dúvida existia ali um caminho para cheio de invenções e tiradas, me ex- procurando o olho que eles anseiam, e Caudilho vestido de ouro e azul, rodeado
o aniquilamento... O ópio dos mag- plicou: um golpe de mar vai manchar as toa- pela guarda-mor, junto com o embai-

PICASSO
xador norte-americano, o da Inglaterra se atrevia a opinar sobre nada, nem escritores antifascitas de todas as p a r - cidades vazias; havia vista fábricas de
e vários outros, passa em revista as sequer sobre os nazistas que já mon- tes do mundo, em Madrid. Foi ali trágica presença mas não havia visto
tropas. Compostas, na maioria, de ra- tavam em cima de Paris como lobos que comecei a conhecer Aragon. O que o sofrimento debaixo dos tetos, sobre
pazes que não conheceram aquela famintos. me surpreendeu inicialmente nele foi as ruas, em todas as estações, nas
guerra. sua capacidade incrível de trabalho e cidades e no campo.
Eu sim a conheci. Um milhão de organização. Cumpria longas horas Às primeiras balas que atravessa-
espanhóis mortos! Um milhão de exi- seguidas de trabalho em nosso pequeno r a m as guitarras da Espanha, quando
lados. Parecia que nunca mais se , Aragon e Paul Eluard escritório. E logo, como é sabido, em vez de sons saíram delas borbo-
apagaria da consciência humana essa escreve extensos livros em prosa e sua tões de sangue, minha poesia se de-
espinha sangrenta. E, no entanto, os Tive por sorte na França, e por poesia é a mais bela da língua francesa. tém como um fantasma em meio das
rapazes que agora desfilam diante da muitos anos, como meus melhores ami- Tinha ficado sem o consulado e, em ruas da angústia humana e começa a
guarda-mor, ignoram talvez a verdade gos os dois melhores homens de sua conseqüência, sem um centavo. Fui subir por ela uma corrente de raízes e
dessa história tremenda. literatura, Paul Éluard e Aragon. trabalhar, por quatrocentos francos an- de sangue. Desde então meu caminho
Tudo começou para mim na noite Eram e são curiosos clássicos do di- tigos, numa associação de defesa da se junta ao caminho de todos. E logo
de 19 de julho de 1936. Um chileno vertimento, de uma autenticidade vital cultura, dirigida por Aragon. Vivíamos vejo que desde o sul da solidão fui
simpático e aventureiro, chamado que os situa no mais sonoro do bos- num hoteleco suspeito onde todo o até o norte que é o povo, o povo a
Bobby Deglané, era empresário de que da França. Ao mesmo tempo são primeiro andar era reservado para os quem minha humilde poesia quisera
catch-ascan no grande circo Price de naturais participantes da moral histó- casais ocasionais que entravam e servir de apoio e de lenço, p a r a secar o
Madrid. Manifestei-lhe minhas reser- rica. Poucos seres tão diferentes entre saíam. Comemos pouco e mal durante suor de suas grandes dores e para dar-
vas sobre a seriedade desse "esporte", si como esses dois. Desfrutei o pra- alguns meses. Mas de todas as partes lhe uma a r m a na luta do pão.
e ele me convenceu para que fosse ao zer poético de perder muitas vezes o chegavam valiosas respostas. Uma de
circo, junto com Garcia Lorca, para tempo com Paul Éluard. Se os poetas Yeats, poeta nacional da Irlanda.
verificar a autenticidade do espetáculo. respondessem de verdade às entrevis- Outra de Selma Lagerlof, a grande
Convenci Federico e ficamos de nos tas," soltariam o segredo: não há nada escritora sueca. Os dois eram muito Siqueiros
encontrar ali. Passaríamos um tempo tão gostoso como perder tempo. Cada idosos para viajar a uma cidade asse- David Alfaro Siqueiros (o mura-
vendo as truculências do Troglodita um tem seu estilo para esse antigo cos- diada e bombardeada como Madrid, lista mexicano) estava então no cár-
Mascarado, do Estrangulador Abissínio tume. Com Paul não me dava conta do mas ambos aderiram à defesa da cere. Alguém o tinha embarcado numa
e do Orangotango Sinistro. dia nem da noite que passava e nunca República espanhola. incursão armada à casa de Trotski.
soube se tinha importância ou não <>
Federico faltou ao encontro. Já ia Conheci-o na prisão, mas, na verdade
que conversávamos. Aragon é uma m á -
na direção de sua morte. Já hão nos também fora dela, porque saíamos com
quina eletrônica da inteligência, do
veríamos mais. Seu encontro era com o comandante Pérez Rulfo, chefe da
conhecimento, da virulência, da velo-
outros estranguladores. E desse modo, Traga-me espanhóis penitenciária, e íamos tomar uns copos
cidade eloqüente. Da casa de Éluard
a guerra da Espanha, que mudou minha por ali, onde não fôssemos muito no-
sempre saía sorrindo, sem saber de
poesia, começou para mim com o desa- O governo do Chile tinha mudado. tado. Já tarde, na noite, voltávamos e
que De algumas horas com Aragon
parecimento de um poeta. Os mesmos inspiradores do povo espa- eu me despedia com um abraço de
saio esgotado porque esse diabo de
Que poeta! Nunca vi reunidos como nhol tinham robustecido as forças po- David que ficava atrás de suas grades.
homem me obrigou a pensar. Os dois
nele a graça e o gênio, o coração alado pulares chilenas, e agora tínhamos um Siqueiros é a explosão de um tempera-
foram irresistíveis e leais amigos meus
e a catarata cristalina. Federico Garcia governo progressista. Esse governo da mento vulcânico que combina assom-
e talvez o que mais eu gosto neles é
Lorca era o duende dissipador, a ale- Frente Popular do Chile decidiu me brosa técnica e longas: investigações.
sua antagônica grandeza.-
gria centrifuga que recolhia em seu enviar à França, para cumprir a mais Entre saídas clandestinas da prisão
seio e irradiava como um planeta a nobre missão que exerci em minha e c o n v e r ^ s sobre tudo o que existe,
felicidade de viver. Ingênuo e come- vida: a de tirar espanhóis de suas pri- tramamos Siqueiros e eu sua libertação
diante, cósmico e provinciano, músico sões e enviá-los a minha pátria. definitiva. Munido de um visto que eu
singular, esplêndido mímico, assustado Nancy Cunard Quase inválido, recém-operado, en- mesmo estampei em seu passaporte,
e supersticioso, radiante e gentil, era gessado em uma perna, apresentei-me dirigiu-se ao Chile com sua mulher,
uma espécie de resumo das idades da Na verdade, ela foi um dos per- ao presidente, Aguirre Cerda, que me Angélica Arenales. O México tinha
Espanha, do florescimento popular; um sonagens quixotescos, crônicos, valen- recebeu com afeto. construído uma escola na cidade de
produto arábico-andaluz que iluminava tes e patéticos, mais curiosos que co- Chillán, que havia sido destruída pelos
— Sim, traga-me milhares de espa-
e perfumava como um jasminzeiro todo nheci. Herdeira única da Cunard Line. terremotos, e nessa "Escola México",
nhóis. Temos trabalho p a r a todos.
o palco daquela Espanha, ai de mim!, filha de Lauy Cunard, Nancy escan- Siqueiros pintou um de seus murais
Traga-me pescadores; traga-me bascos,
desaparecida. dalizou Londres lá pelo ano 1930, fugindo extraordinários. O governo do Chile
castelhanos, extremenhos.
Federico teve um pré-conhecimento com um negro, músico de um dos pri- E em poucos dias, ainda engessado, me pagou este serviço à cultura nacio-
de sua morte. ( . . . ) Presenciou, então, meiros jazz band importados pelo fui p a r a a França buscar espanhóis nal, suspendendo-me de minhas funções
uma cena de terror. Os porcos se hotel Savoy. para o Chile . por dois meses.
jogaram sobre 6 carneiro e ao lado do Quando Lady Cunard encontrou o
horror do poeta despedaçaram-no e o
devoraram.
leito vazio de sua filha e uma carta dela
em que lhe comunicava, orgulhosamen-

te, seu negro destino, a nobre senhora Comprei um jornal. Ia andando por Asturias
Federico Garcia Lorca não foi fu- se dirigiu a seu advogado e tratou de
zilado; foi assassinado. Naturalmente uma rua de Verenes-sur-Seine. Na- Decidi visitar a Guatemala. Pas-
deserdá-la. quele dia estourava a segunda guerra sei u m a semana com Miguel Angel
ninguém podia pensar que o matariam
alguma vez. De todos os poetas da Nancy Cunard devolveu o golpe. mundial. Assim o dizia em grandes Asturias, que ainda não se havia reve-
Espanha, era o mais amado, o mais Em dezembro do ano em que foi exco- tipos de suja tinta preta, o diário que lado com suas novelas vitoriosas.
querido, o mais semelhante a um me- mungada pela mãe, toda a aristocracia caiu em minhas mãos naquela velha Compreendemos que havíamos
nino por sua maravilhosa alegria. inglesa recebeu como presente de Natal aldeia perdida da França. nascidos irmãos e quase nenhum dia
Quem poderia acreditar que haveria um caderno de capas vermelhas inti- Acostumei-me naqueles dias cre- nos separamos. À noite, planejamos
sobre a terra, e sobre sua terra, mons- tulado Negro man and white lady ship. pusculares a essa incerteza européia visitas inesperadas a longínquas para-
tros capazes de um crime tão inex- Nunca vi nada mais corrosivo: que não sofre revoluções contínuas nem gens de serras envoltas pela neblina ou
plicável? "Se você, branca Senhora, ou me- terremotos, mas mantém o veneno a portos tropicais da United Fruit.
lhor os seus, tivessem sido seqües- mortal da guerra saturando o ar e o Os guatemaltecos não tinham direito
A incidência daquele crime foi para trados, feridos e aprisionados por uma pão. De rfiedo dos bombardeios, a a falar e nenhum deles conversava de
mim a mais dolorosa de uma longa luta. tribo mais poderosa e logo transpor- grande metrópole se apagava de noite, política diante do outro. As paredes
A Espanha sempre foi um campo de tados para longe da Inglaterra para ser e essa escuridão de sete milhões de ouviam e delatavam. E m algumas oca-
gladiadores; uma terra com muito san- vendidos como escravos, expostos como seres juntos, essas trevas espessas em siões, parávamos o carro no alto de
gue. A praça de touro, com seu sacri- exemplos irrisórios da fealdade huma- que tinha de andar em plena cidade- uma meseta e ali, bem seguros de que
fício e sua elegância cruel, repete, en- na, obrigados a trabalhar a chicotadas luz, ficaram-me coladas na memória. não havia ninguém atrás de uma
feitada de trapaça, o antigo combate e mal alimentados, o que teria subsis- No final dessa época, como se toda árvore, tratávamos avidamente da si-
mortal entre a sombra e a luz. tido de sua raça? Os negros sofreram essa longa viagem tivesse sido inútil tuação.
• essas e muitas outras violências e volto a ficar só nos territórios recém-
crueldades. Depois de séculos de so- descobertos. Olho para todos os pon-
frimento, eles, ainda assim, são os me- tos da claridade e da escuridão e só
Passou o tempo. Minha função lhores e mais elegantes atletas, e cria- encontro o próprio vazio que as mi- Magia e mistério
consular tinha terminado. Por minha ram uma nova música, mais universal nhas mãos elaboraram com cuidado
participação na defesa da República que qualquer outra. Poderiam vocês, fatal. As absurdas pretensões "racistas"
espanhola, o governo do Chile decidiu brancos como você, ter saído vitoriosos de algumas nações sul-americanas, pro-
Mas o mais próximo, o mais funda-
afastar-me de meu cargo. de tanta iniqüidade? Então, quem vale dutos elas mesmas de múltiplos cruza-
mental, o mais extenso, o mais incal-
Chegamos a Paris. Pegamos um mais?" mentos e mestiçagens, é uma tara de
culável não aparecia até este momento
apartamento com Rafael Alberti e Ma- em meu caminho. Tinha pensado em tipo colonial. Querem montar um pa-
ria Teresa León, sua mulher. Atrás da todos os mundos, mas não no homem. lanque onde uns tantos esnobes, escru-
gente, na praça Dauphine, vivia o escri- Havia explorado com crueldade e ago- pulosamente brancos, ou brancuços,
tor francês Alejo Carpentier, um dos Estávamos em Paris em 1937 e o nia. o coração do homem; sem pensar apresentem-se em sociedade, gesti-
homens mais neutros que conheci. Não principal era preparar um congresso de nos homens havia visto cidades, mas culando p a r a os arianos puros ou os
turistas sofisticados. vou sete dirigentes. Os guardas iam a — Companheiro — lhe disse viam quebrantado alguma mola no fun-
Acabei por me cansar e num dia cavalo, enquanto os operários, a m a r r a - Empreste-me teu passaporte. Concede- do do novelista brasileiro. Somos ve-
qualquer renunciei para sempre ao meu dos a uma corda os seguiam. Foram me o prazer de chegar à Europa trans- lhos amigos, compartilhamos anos de
posto de cônsul-geral. assassinados com algumas descargas. formado em Miguel Angel Astúrias. desterro, sempre nos tínhamos identi-
Ademais, me dei conta de que o Seus corpos ficaram estendidos sob o Devo dizer que Astúrias sempre foi
sol e o frio do deserto, até que foram ficado numa convicção e numa espe-
mundo mexicano, reprimido, violento um liberal, bem alheio da política mi- rança comuns. Mas eu acredito ter
e nacionalista, envolto por sua cortesia encontrados e enterrados por seus litante. No entanto, não duvidou um
companheiros. sido um sectário de menor quantia; mi-
pré-colombiana, continuaria tal como instante. Em poucos dias, entre "senhor
Anteriormente as coisas foram mui- nha própria natureza e o temperamen-
era sem minha presença nem meu tes- Astúrias por aqui" e "Senhor Astúrias
temunho. Quando decidi regressar ao to piores. to de meu próprio paí& me inclinavam
por ali", cruzei o largo rio que separa
meu país, compreendia menos a vida a Argentina do Uruguai, entrei em a um entendimento com os outros.
mexicana que quando cheguei ao Mé- Montevidéu, atravessei aeroportos e vi- Jorge, pelo contrário, sempre tinha si-
xico. As artes e as letras se pro- gilâncias policiais e cheguei finalmen- do rígido.
duziam em círculos rivais, mas ai da- Senador te em Paris, disfarçado de grande no-
quele que de fora tomasse partido a velista guatemalteco. Mas parece ter começado ali, a
favor ou contra alguém ou algum Até o Senado dificilmente chega- Conseguir novos papéis não foi tão bordo daquele barco, entre os desfila-
grupo: uns e outros caíam-lhe em cima. vam as amarguras que eu e meus difícil. Aragon e Paul Éluard me a j u - deiros fabulosos do rio Yang-Tsé, uma
Tudo podia acontecer, tudo aconte- companheiros representávamos. Aquela davam. Enquanto isso, tinha que viver etapa diferente de sua vida. Desde en-
cia. O único jornal da oposição ern cômoda sala parlamentar estava como em situação semiclandestina. Entre as tão ficou mais tranqüilo, foi muito
subvencionado pelo governo. Era a de- que acolchoada para. que não repercu- casas que me abrigaram estava a de mais sóbrio em suas atitudes e em
mocracia mais ditatorial que se pode tisse nela o vozerio das multidões des- Madame Françoise Giroux. Nunca es- suas declarações. Não creio que tives-
conceber. O presidente era um impe- contentes. Meus colegas do lado con- quecerei essa dama tão original e in- se perdido sua fé revolucionária, mas
rador azteca, mil vezes mais intocável trário eram mestres acadêmicos na ar- teligente. Seu apartamento ficava no se reconcentrou mais em sua obra e
que a família real da Inglaterra. Ne- te das grandes alocuções patrióticas, e Palais Royal. vizinho ao de Colette. tirou dela o caráter político direto que
debaixo de toda essa tapeçaria de se- Tinha adotado um menino vietnamita. a tinha • caracterizado.
nhum periódico, nem de brincadeira
da falsa que desenrolavam, senti-me O exército francês se encarregou numa
nem a sério, podia criticar o excelso
afogado. época da tarefa que depois assumiram
funcionário sem receber de imediato
um golpe mortífero. Renovou-se a esperança, porque os norte-americanos: a de matar gente
um dos candidatos à presidência, Gon- inocente nas longínquas terras do Viet-
zales Videla, jurou fazer justiça, e sua nã. Então ela adotou um menino.
eloqüência ativa lhe atraiu grande sim- Recordo que nessa c a havia um
MACCHU PICCHU patia. Ganhou por grande maioria de Picasso dos mais bonitos que já vi.
votos. Mas os presidentes em nossa O mais longo contato que eu man-
Num daqueles dias veio o próprio Pi-
America criolla (colonial? — n. t.) tive com um líder cardinal do mundo
O ministério se apressou em aceitar casso visitar-me no esconderijo. Levei-
sofrem muitas vezes uma metamorfose o junto a seu quadro, pintado havia socialista foi durante nossa visita a
o fim voluntário de minha carreira.
extraordinária. No caso que estou con- tantos anos. Tinha-o esquecido por Pequim. Consistiu' num brinde que
Meu suicídio diplomático me pro-
tando, rapidamente mudou de amigos completo. Decidiu-se a exàminá-lo com troquei com Mao Tsé-tung, no decor
porcionou a maior alegria: a de poder,
regressar ao Chile. Pünso que o homem o novo mandatário, vinculou "sua famí- seriedade, submergido nessa atenção rer de uma cerimônia. Ao bater de
deve viver em sua pátria, e creio que lia com a "aristocracia" e pouco a pou- extraordinária e algo melancólica que nossos copos, me olhou com olhos sor-
o deslocamento dos seres humanos é co se converteu de demagogo em mag- poucas vezes mostrava. Esteve mais de ridentes, e largo sorriso entre simpá-
uma frustração que de alguma maneira nata. ' 10 minutos em silêncio, aproximando- tico e irônico. Manteve minha mão na
ou outra entorpece a claridade da alma. Meus discursos se tornaram violen- se e distanciando-se de sua obra es- sua, apertando-a por uns segundos
Parei no Peru e subi até as ruínas tos e a sala do Senado estava sempre quecida.
mais que o costume . Logo regressei
de Macchu Picchu. Fomos a cavalo. cheia para me escutar. Logo se pediu — Cada vez eu gosto mais — disse- à mesa de onde havíamos saído.
Naquela época não havia automóvel. e se obteve minha cassação e se orde lhe quando concluiu sua meditação —
Do alto, vi as antigas construções de nou à polícia minha detenção. Picasso virou de novo a cabeça para o
pedra rodeadas pelos altíssimos cumes Mudava de casa quase diariamente. quadro, fixou a olhada na tela mag-
dos Alpes verdes. Da cidadela carco- Em todos os lados se abria uma porta nífica, e respondeu:
mida e roída pelo passo dos séculos para me proteger. Era sempre gente — Não está mal. Che
despencavam torrentes. Massas de ne- desconhecida que de alguma maneira
blina branca se levantavam desde o tinha demonstrado seu desejo de me
rio Wilcamayo. Me senti infinita- cobiçar por vários dias. Me pediam O Che era moreno, pausado no fa-
mente pequeno no centro daquele u m - como asilado nem que fosse por umas Ceilão Reencontrado lar, com indubitável acento argentino.
bigo de pedra; umbigo de um mundo horas ou umas semanas. Passei por Era um homem para conversar deva-
desabitado, orgulhoso e eminente, a campos, portos, cidades, acampamen- gar, no pampa, entre mate e mate. Suas
Uma causa universal, a luta contra
quem de algum modo eu pertencia. tos, como também por casas de cam- frases e r a m curtas e terminavam com
a morte atômica, me fazia voltar de
Senti que minhas próprias mãos ha- poneses, de engenheiros, de advogados, um sorriso, como se deixasse no ar o
novo a Colombo.
viam trabalhado ali em alguma etapa de marinheiros, de médicos, de minei- comentário.
Regresso, muito tempo depois, a
longínqua, cavando sulcos, alisando ros. Há um velho tema da poesia fol-
esta impressionante reunião de paz à
penhascos. clórica que se repete em todos os nos- Alguma coisa me disse Che que
que aderiu o governo do país. Reparo
sos países. Trata-se do corpo repartido. me desorientou bastante, mas que tal-
a presença de numerosos e às vezes
O cantor popular supõe que tem seus vez explique em parte seu destino. Fa-
centenários monjes budistas, agrupa-
pés num lugar, seus rins noutro, e des- lávamos de uma possível invasão nor-
dos, vestidos com suas túnicas de aça-
creve todo seu organismo que deixou te-americana a Cuba. Eu tinha visto
Pampa Salitreira frão, desaparecidos na seriedade e na
espalhado' por campos e cidades. As- pelas ruas de Havana sacos de areia
meditação que caracterizam os discípu-
sim eu me senti naqueles dias. distribuídos em pontos estratégicos.
Durante muitos anos, as empresas los de Buda. Lutando contra e guerra,
a destruição e a morte, esses sacerdo- Ele disse subitamente:
salitreiras instituíram verdadeiros do-
mínios, senhorios ou reinos no pampa. tes afirmam os antigos sentimentos de — A guerra.. . A g u e r r a . . . Sempre
paz e harmonia que predicara o prín-
Os ingleses, os alemães, toda sorte de Astúrias, em Paris e com passaporte cipe Sidarta Gautama, chamado tam- estamos contra a guerra, mas quando
invasores fecharam os territórios da bém Buda. Que longe — penso — de a fizemos não podemos viver sem a
produção e lhes deram o nome de es- Naturalmente que minha maior assumir essa conduta está a Igreja de guerra. A todo momento queremos
critórios. Ali impuseram uma moeda preocupação, depois da fuga e da che- nossos países americanos, igreja de voltar para ela.
própria; impediram qualquer reunião; gada a Buenos Aires, foi a r r a n j a r uma tipo espanhol, oficial e beligerante. Refletia em voz alta e para mim.
proscreveram os partidos e a imprensa nova identidade. Os papéis falsos que Eu o escutei com sincero espanto. Pa-
popular. Não se podia entrar nos re- serviram para cruzar a fronteira ar- ra mim, a guerra é uma ameaça e não
cintos sem autorização especial, que gentina não seriam igualmente utilizá- um destino.
por certo muito poucos conseguiam. veis se pretendia fazer uma viagem
Segunda visita ã China
Estive uma tarde conversando com transatlântica e deslocar-me pela Euro-
os operários nas oficinas salitreiras de pa. Como obter outros? Enquanto isso,
a polícia argentina, avisada pelo gover- Desse Congresso da Paz em Colom-
Maria Helena. O solo do enorme gal-
pão está sempre encharcado de água, no do Chile, me procurava afoitamente. bo, voamos através da índia com Jor-
do azeite e dos ácidos. Os dirigentes ge Amado e Zélia, sua mulher. Os aviões
E m tais apertos, lembrei-me de uma
sindicais que me acompanhavam e eu, hindus viajavam sempre repletos de
coisa que dormia em minha memória.
pisávamos sobre um estrado que nos passageiros enturbantados, cheios de
O novelista Miguel Angel Astúrias, meu
ilhava do barrozal. cores. Parecia impossível meter tanta
velho amigo centro-americano, achava-
— Esses estrados — me disseram se provavelmente em Buenos Aires, de- gente num avião.
— nos custaram 15 greves sucessivas, sempenhando um cargo diplomático Durante toda a travessia do Yang-
oito anos de petições e sete mortos. de seu país, Guatemala. Tínhamos uma Tsé, Jorge Amado me pareceu nervoso
O último se deve a que numa des- vaga semelhança fisionômica. Veio me e melancólico. A verdade é que as re-
sas greves a polícia da companhia le- ver em meu esconderijo. velações sobre a época stalinista ha-
Baixa Sociedade
Percival de Souza

RATO SE MANDA moveram aquela festa numa BENETTI NA FACULDADE ragem, tivesse bronca do Deo-
A VOLTA, COM TUDO
mansão da zona sul, com lago dato, a bem da verdade é bom
Seu Guedes está de volta, Pois é, quem diria que o Zeca, e tudo. Os convivas só poderiam O referido senhor, que esteve que se reconheça, pelo menos
desde dezembro, ao imenso aquele rato que foi um tempão ser personas gratas. E, em- 5 anos no hotel de seu Guedes in memoriam, que o negrão foi
"hotel" da avenida Cruzeiro do da Capturas, iria dar uma des- bora eu já tenha quebrado ga- e que agora faz parte da quase um mestre na Delegacia de
Sul, a cidade-presídio (5.400 sa? Pois é, o Zeca a r r a n j o u um lhos e pepinos de meio mundo alta, prestou vestibular na Fa- Roubos. Eu mesmo vi um dia
hóspedes), mais conhecida por sutil Puma lilás e com esse veí- da fauna jotateana. entrei no culdade de Direito de São Ber- em que ele chegou a uma casa,
Casa de Detenção. culo atacava as indefesas mo- rol dos podados — isto é, per- nardo do Campo e entrou. onde haviam vários vagaus mo-
çoilas da Zona Sul. Máquina sona non grata. cozados, mandando arrebite
Meu considerado Luiz Phi- Agora, vai curtir os 4 anos para
lippe, até então diretor, enquan- em punho, o rato obrigava as A festa teve lances tragi-cõ- bacharelar-se e ser um novo p a r a tudo quanto é lado. Ele
to seu Guedes tentava sua ca- meninas a entrar no veículo micos. Nego pouco sutil que- data vênia. Parabéns! chegou, desceu u m vasto veludo
deirinha na Assembléia (deu lilás, f a t u r a n d o - a s em seguida. rendo cantar uma jovem jambo; Por falar em data vênia, a no gogó, entrou com tudo e
crepe), retirou-se de vez, um Deu azar, foi reconhecido e o bebum caindo no lago; jovem barra pesou para cima do pegou os caras à unha. Além
tanto quanto putibundo, mas meretíssimo Rama, do Palácio correndo desesperado, pergun- Toporcov, aquele que vive no disso, embora mandasse os pi-
certo de que será muito bem de Têmis, canetou-lhe a vida. tando onde estaria o clã dos lantrões p a r a o xadrez, Deodato
hotel de seu Guedes, esperando
aproveitado, quando março vier. O rato preferiu escafeder-se fumetas (dica: 281 dá de 1 a se preocupava (pacas) com os
a chegada dos bondões para
para lugar incerto e não sa- 4 anos de estágio ad galleran). filhos dos bandidões. Inclusive,
Seu Guedes retornou meio oferecer os seus préstimos aos
bido, do que ficar marcando Lá pelas tantas, o anfitrião era padrinho de vários deles.
arara, e pôs prá quebrar. Para novos hóspedes. Tem nego es-
bobeira e ir tomar café de ca- revelou-se como excelente lei- Por isso mesmo, era conceitua-
começo de -conversa, o Lotar, cabreado prá burro com o data
noquinha no hotel de seu Gue - tor de mãos. De repente, for- díssimo no submundo, coisa
um imenso negrão (porém com vênia, não sem motivos. E,
des . . . ram-se filas para ler as mãos. evidentemente que não é p a r a
cérebro de galináceo) foi trans- um dia desses, dois marman.jos
Um campinildo curtiu meia resolveram adotar o estilo dos qualquer um. Como sabia das
ferido do Jaraguá (pav. 2) para
hora de fila. Aí, o vidente olhou coisas, claro que teve nego sus-
fundão — pav. 9. Foi juntar-se pivetes e deram a maior trom-
MILTON SIFU os risquinhos e, com olhar de pirando de alívio com a sua
ao Serjão, que estava numa boa, badona em cima de um casal
extrema malícia, confidenciou: puxada de prontuário. De mi-
mas arrombou uma gaveta um de gringos que veio aqui conhe-
"casamento próximo..." O jo- nha parte, só quero que o ne-
dia, com a ajuda do Lótar, p a r a O Milton R. dormiu de tou- cer a selva de pedra. Um tira
vem deu um estarrecido "ohü!" grão descanse em paz. E m
surrupiar um bocado de cana- ca: foi fazer um programa com ia passando pelo local e, ten-
e quase caiu duro. Sei que tempo: os capas-pretas rela-
bis sativa. a Heleninha, jovem bem dota- tando grampear um deles, le-
muita gente está de butuca, an- xaram o flagra da mulher que
Além disso, seu Guedes acer- da que gosta de jantar no Gi- siosa pelas revelações da colu- vou uma canivetada no olho.
tou o passo de um gepê que geto. Subiu e, ao chegar no Os trombadões foram em cana o fritou. Quer dizer: aguardará
na. Mas paremos aqui — estava o julgamento em liberdade. O
estava a fim do introduzir erva apeteó da moça, topou com um tudo muito "argh". Bola preta! mas antes de chegarem ao
desbaratinada em vela. Um cafetão de subúrbio, que en- Distrito, adivinhem quem es- erro do negrão talvez tenha
Aos que vetaram o meu humil- sido acreditar que tivesse o
mau passo para um funcioná- grossou o caldo. O pior é que de nome, lembro apenas que tava lá, à espera, rechonchu-
rio com 15 anos de serviço. a moça, na hora agá, ficou do dinho? O tal Toporcov ! corpo fechado. (Não tinha!)
o mundo gira, até as pedras se
Fora disso, houve um boxixo lado do explorador, e sacou 5 encontram. Aguardem a volta! Segundo me contaram os con-
de pinote. Mas meu considerado técos de 22 prá cima do Milton siderados do Distrito (o 1.°), o
Guedes, que não brinca em ser- R. O dito, que tempos atrás data vênia chegou lá num Ga-
viço, duvida que qualquer coisa gostava de andar por aí dando laxie, dirigido por um truta PAQUINHA NO MARACHA
nesse sentido tenha êxito. "É pança de sherloque, foi parar KISS TOP-TOP conhecido por Pintado. O cau-
que eu", explica o considerado, no chamado nosocômio. A sídico pulou fora, disse até que O imberbe Paquinha, boyzi-
"tenho uma rede de alcague- Heleninha. que transa no "Zo- O moço, com sobrenome de foi sherloque até 1969, mas le- nho paulistano, tem reunido a
tagem que vou te c o n t a r . . . " díaco", está puxando corda no beijo inglês, tinha um progra- vou o maior esculaço da paró- sua curriola e ido todas as sex-
Não é a toa que a tal rede é no 4.° DP. E embora eu não ma sherlocal na PKB-9. Mas, quia do chefão do DEGRAN e tas-feiras aprontar na sessão
conhecida por Gestapo. cruze muito com o Milton, dei- muito malandro, quis valer-se do manda-chuva da Segurança. maldita do Marachá. O jovem,
xo seu sobrenome por "R." das ondas hertzianas para fatu- daqueles recém-18 anos e nova
Enquanto isso, meu conside- Inclusive, tem a maior sindi-
mesmo. Razão: Milton é casa- rar indevidamente. Assim é que motoca, se julga o dono do
rado Philippe decidiu afastar-se cância em cima do data vênia,
resolveu dar um bete em cima mundo e foi expulso do cinema,
de vez das lides carcerárias. do e inventou uma cascata e os homens da lei estão a fini
de uma firma de carangos, cuja um dia desses. Agora, a tur-
Fomos ver um jogo de futebol, de assalto prá cima de sua per- de acertar-lhe o passo na Or-
tem como data vênia o Hélio, ma do 4.° DP está de butuca
no Pacaembu, um dia desses. plexa cara-metade dem dos Causídicos.Vamos ver
aquele truta. Como dois bi- na turma do Paquinha, que
Entre um e outro saquinho de no que vai dar poderá ser até proibido de cir-
pipoca, o ex-chefão do casarão cudos não se beijam, o ser ra-
diofônico tentou forçar a bar- cular pelas ruas da bôea na
da Cruzeiro do Sul queixava-se madrugada. Lugar de moleque
GALINHA NA PENITA ra, inventando uma tentativa DEODATO FOI-SE
do W. Nogueira, o paspanata é outro, menino.
que, infelizmente, está por ci- de homicídio. Pegou um berro
ma (hierarquicamente) dos ba- Meu considerado Galinha foi e deu uns tiros contra a porta Toda a baixa sociedade ficou
bados relativos a xilindrós removido da Detenção p a r a a de seu próprio carro. Depois, de luto com a requisição da Para encerrar: aos interessa-
paulistas. De fato, W. Nogueira Penitenciária. E o pior é que veio com um grupo: queriam capivara do Deodato, o antigo dos em bater um papo (no
está mais por fora que umbigo meus considerados da Penita fritá-lo. A estória não colou, tira de Roubos, único inspe- máximo 5 minutos) de esclare-
no Xingu. me bateram que o Galinha está mesmo porque não havia ân- tor de carreira paulista. Ho- cimento, atendo após a feijoada
chateado comigo, dizendo que gulo de tiro. Positivou-se a m e m que abotoou muito bandi- no ex-Papai da praça Júlio (das
eu teria influenciado para essa fajutice e a PRB-9 deu um dão bom e que fechou o paletó ? às 3 da matina de sábado).
remoção. Que é isso Galinha? pontapé glúten prá cima do de muitos outros, acabou indo As audiências devem ser mar-
"MENINAS" EM PÂNICO Onde você está com a cabeça? moço, que anda mais sujo do para o além pelas mãos de uma cadas com antecedência com
Isso é boxixo da oposição. Não que pau de galinheiro . mulher do Glicério. E m b o r a meu considerado Catarino, o
Um misterioso pinta que foi se esqueça nunca que você faz muita gente, entre a própria ti- melhor garçon do pedaço.
visto algumas vezes pilotando parte do rol dos considerados.
uma vasta Mercedes vermelha A propósito, uma dica: aquela
está fritando os seres desmu- 45 que lhe tomaram no Fórum, GAVIÃO JA ERA
nhecantes da cidade. O tal quando você, muito animus
cara da Mercedes nem esperou exaltandi, estava a fim de fritar Gavião, ou Espanhol, tinha
a colaboração de S. Pedro para um rato pilantra, está com um domínio de anos na bôea do
puxar quatro prontuários, co- oficial dos capas pretas do Tri- lixo. Primeiro, vendia prote-
locando em pânico a bichara- bunal de Nuremberg de Têmis. ção ao mulheril; depois passou
da paulistana. Meus considera- Mas, como você tem mais uns a mexer com ampolas. Entrou
dos sherloques do 3.° DP estão 13 anos para puxar, não faz mal, e saiu de cana, até que resol-
por cima do lance, com meu né? veu desbaratinar dando uma de
xará e o Ulisses à frente. Com gerente de um curta p e r m a -
uma paciência de Jó, meus con- nência atrás da Rodoviária.
siderados homens da lei espe- Uns vagaus resolveram fazer
ram chegar ao cara da Mer- FESTAO EM SANTO AMARO uma visita de madrugada ao
cedes, por enquanto considerado h.o.; Gavião quis bancar o bom,
apenas uma peça muito estra- Uns caras que bem poderiam mas fecharam-lhe o bico com
nha, que somente Freud pode- ser meus chapas, não fosse suas um téco de 38, perto do cele-
ria explicar. constantes desmunhecadas. pro- bim direito. Descanse em paz.
INDUSTRIA
DE SONHOS
Texto de Myltainho
I'otos de Sandra Adams t* Buquê

I F a z dois a n o s q u e t r a b a l h o n e s t a i n d ú s t r i a I | M e u g a l ã preferido é o M a r c o s P a u l o . Achei I


A p e d i d o d o E x - , M a r i a Célia. Luzia e I d e plásticos. M a s m e u s o n h o é ser a r t i s t a | Isensacional a idéia de fazer esta f o t o n o v e l a . l
S o l a n g e , o p e r á r i a s p a u l i s t a s de u m a f á b r i - Ide TV
ca, e s c r e v e r a m e r e p r e s e n t a r a m u m a h i s -
t ó r i a : R i c a r d o o p a t r ã o , se i n t e r e s s o u p e l a
o p e r á r i a q u e j á e s t a v a i n t e r e s s a d a p o r ele h á
t e m p o s . M a s a f a m í l i a da m o ç a e r a c o n t r a o
r o m a n c e , a r g u m e n t a n d o que r a p a z rico só
g o s t a de m e n i n a p c b r e p a r a se a p r o v e i t a r .
M e s m o a s s i m a m o ç a resolveu m a n t e r o c a -
so, a t é q u e u m d i a s u r p r e e n d e u R i c a r d o c o m
sua noiva, u m a m u l h e r da a l t a sociedade, e
e n t ã o percebeu que o a m o r seria impossível.
Essa e r a a h i s t ó r i a o r i g i n a l imaginada
pelas moças. Mas acontece que. ..

M a r i a Célia a c h a q u e m u l h e r só deve t r a - Conforme a história escrita por Maria


b a l h a r f o r a a n t e s de c a s a r . N e s t a i n d ú s t r i a , I Célia e s u a s d u a s a m i g a s , o p a t r ã o c h e g a | |
ela n ã o e x e r c e n e n h u m a f u n ç ã o e s p e c i a l i - n a h o r a do a l m o ç o .
z a d a , c o m o a m a i o r i a d a s colegas.
. ttXWTà

[ N u n c a f u i a u m c i n e m a . G a n h o 376,00 p o r m ê s , t e n h o
q u a t r o i r m ã o s m e n o r e s e d o u q u a s e t u d o era c a s a .

Minha fotonovela favorita é O incidente criado por Maria .derrubar a revista no chão,
Capricho. . Célia, para chamar atenção do após simular um esbarrão
patrão .. I nele... -
s
L • ^n^ j
Ela é a p a i x o n a d a pelo p a t r ã o ; ele é " d a a l t a
sociedade" e ela é " m o ç a pobre". M a s , c o m o
[em t o d a h i s t ó r i a , a s f a m í l i a s " n ã o a c e i t a m " : |

I As mulheres são mais dóceis, aceitam salários com


que um homem jamais se contentaria — diz Eclea Bosi,
I em "Cultura de Massa e Cultura Popular"..
| Nos t e m p o s d e crise, r e c a e m os t r a b a l h o s | Cantor? P a u l o Sérgio! Eu prefiro Roberto
1 . p e s a d o s sobre o o p e r a r i a d o f e m i n i n o ( o p . c i t . )
\| ~
I Conforme a história que criou, Maria I m g Ê m
ICélia vai comentar com as colegas que!
Iconseguiu marcar encontro de amor nol
Iescritório do patrão. Elas têm umal I a» áSSk K S ^ t e ; t
I hora de almoço, na própria fábrica. [
I Trabalham oito horas por dia, de se-| IIHt " y
Igunda a sábado. Nenhuma estudou!
lalém do primário.
jfp-- S i -
[Trabalho como homem e g a n h o bem menos.
Isso é i n j u s t i ç a .

Esta é a amiga de Célia: chama-se Luzia, M a r i a Célia e n t r a à s 8 d a m a n h ã . E sai


tem 16 anos e trabalha aqui há um ano. à s 17 h o r a s .
Também ganha 376,00 mensais.

1
Idéia delas: ir ver vestidos de noivas,
"Qual o maior desejo?" — perguntou a
i
j
«|W
repórter às moças. Resposta de Célia: i
"Ter o homem que eu amo". |

f f&w 'irfffli 1ÍÍÍ2M3

••
1 I Antigamente, serviço especializado era s ó i
No d i a s e g u i n t e . para os homens. Hoje melhorou, mas a q u i j
' n a fábrica continua a mesma coisa...
[ As r e c é m - c h e g a d a s d o i n t e r i o r s ã o m a i s dó_
ceis a i n d a . As dos b a i r r o s f a b r i s t r a d i c i o -
nais, quando há u m a pendência, ficam con-
t r a os p a t r õ e s !
• m
J ' '""Sím

Mas no baixo operariado a mulher traba- [


lv-- lha como lavradora ao lado do marido e |
. dos filhos...

ik
I
Icíl
1 S e n t e - s e ai.


X
[Bem, aqui pelo menos a gente ganha o
Isalário no fim do mês. Em compensação,!
Ias mulheres são mais desunidas na h o r a |
O patrão chama Célia. I de pedir aumento...

Vindo p a r a a cidade, a m u l h e r a c a b a t r a - i M a r i a Célia v o l t a ao trabalho. .e c o m e n t a a história c o m Luzia.


[ b a l h a n d o como operária. Mas sempre a c h a
I q u e seu l u g a r é e m c a s a , n ã o é?
m: Estou a c h a n d o sensacional
•Si

1
"Sr

i Romântica...
O p a i de Célia trabalha em indústria de j E m c a s a , só e l a e o p a i t r a b a l h a m f o r a . Segundo a história, seu pai n ã o aceita o |
| papel. namoro entre a filha e o p a t r ã o . . .

" " " • ! •? kM

| . . . e a aconselha a esquecer. | A h i s t ó r i a t e m f i n a l t r i s t e , s e g u n d o Célia,


ffli'

| N a s h o r a s de f o l g a c u r t o f o s s a . . . N u n c a li u m livro.
Jornal? Quase nunca. Não t e n h o n a m o r a d o

O p a p e l é d e s e m p e n h a d o por S o l a n g e M o -
r e i r a , 16 a n o s , o p e r á r i a c o m o Célia e L u z i a .

A noiva do p a t r ã o c h e g a . . . | S o l a n g e g o s t a r i a de ser m a n e q u i m . Mas,


c o m o q u a s e t o d a s , n ã o g o s t a de t r a b a l h a r |
fora...

Em casa, ela £ m a i s dois i r m ã o s ajudam


nas despesas.

E agora vamos trabalhar pessoal, a fóto-


novela acabou.

I Solange t a m b é m g a n h a o m í n i m o Nunca I
1 foi ao c i n e m a , n u n c a leu n e n h u m livro e |
Isua leitura preferida é Capricho.

K iM l :
1
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I Seu m a i o r d e s e j o ? "Casar". | J^ 1
• • H M B * 39 Zm
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MÊÊ
Hffil
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Apesar de c o m e t e r e m erros de i n f o r m a ç ã o e n ã o a j u d a -
rem muito a reconstituir o funcionamento complexa-
m e n t e b u r o c r á t i c o , ou m e s m o d e l i n e a r a f u n ç ã o de o r g a n i s m o de
mobilização n a c i o n a l que o D I P teve, os d e p o i m e n t o s valem por serem
os p r i m e i r o s que e x - f u n c i o n á r i o s d ã o a j o r n a i s . Ê possível que m u i t o s
j o r n a l i s t a s brasileiros de a g o r a , ao l e r e m e s t a s declarações, c o n s -
c i e n t i z e m - s e de que, d a q u i a a l g u n s anos, p o d e r ã o e s t a r n a c a d e i r a
de Vieira e M i t k e . E é a t é possível que o u t r o s leitores p e r c e b a m que
Pouca gente neste país tem a dimensão exata c e n s u r a é a a r m a m a i s b r a n d a de u m r e g i m e p a r a c e r -
do que significa c e n s u r a aos meios de c o m u n i c a ç ã o . cear a liberdade, exercida, b a s i c a m e n t e , sobre j o r n a i s que
Vivemos dois períodos p a r t i c u l a r m e n t e n e g r o s : o p r i m e i r o às vezes d e s t o a m , m a s j a m a i s a b a n d o n a m o coro que eles p r ó -
n o govêrno de V a r g a s (1930-45, com d e s t a q u e p a r a o E s t a d o prios a j u d a r a m a f o r m a r , os que n ã o e n t r a m no coro
Novo, 1937-45). Na época de V a r g a s p o n t i f i c a v a u m o r g a n i s m o p e r d e m a voz, ou as p á g i n a s . Os d e p o i m e n t o s f o r a m p u b l i c a d o s n o
d e n o m i n a d o D e p a r t a m e n t o de I m p r e n s a e P r o p a g a n d a — D I P n ú m e r o 23 do j o r n a l d a Associação Brasileira
—, que cristalizou o processo de c e r c e a m e n t o d a l i b e r d a d e de de I m p r e n s a , u m a e n t i d a d e que recebeu m u i t o s e m p r é s -
expressão. É sobre ele que p u b l i c a m o s d e p o i m e n t o s de timos de V a r g a s e f a v o r e s do D I P (Sérgio B u a r q u e )
dois a n t i g o s f u n c i o n á r i o s — Álvaro Vieira e S a m p a i o
Mitke — a D o m i n g o s Meire les

"Não a d i a n t a esconder ou dissi- cando, com a f i r m e z a de u m bis- Vieira corre os dedos pelos ca- r a m a i m p i a i u a ç a o de u m a c e n - presidencial atravessada no peito.
m u l a r a realidade dos f a t o s . Ela t u r i , o órgão q u e teve como berço belos Invadidos por fios b r a n c o s : s u r a prévia a f i m de c o n q u i s t a r
é como d e t e r m i n a d o s a g e n t e s m i - u m a sala a p e r t a d a e mal i l u m i - a t e s t a larga, vincada, acentua a s i m p a t i a dos donos dos jornais. "Salgado Filho escolheu q u a t r o
crobianos q u e d e n u n c i a m a f a c e n a d a , no q u a r t o a n d a r da C h e f a - ainda mais o constrangimento A censura, p o r t a n t o , seria poste- Jornalistas p a r a auxiliá-lo na orga-
da doença q u e se p r o c u r a enco- t u r a de Polícia do Distrito Federal, q u e ò d o m i n a s e m p r e q u e seus rior e aqueles q u e n ã o a c a t a s s e m nização da c e n s u r a . Um deles e n -
brir. No E s t a d o Novo, a Censura e q u e depois cresceu, em acomo- p e n s a m e n t o s são assaltados por as s u a s d e t e r m i n a ç õ e s t e r i a m as t r o u h á a l g u n s anos p a r a a Aca-
e m p e n h a v a - s e em negar sempre, dações m a i s espaçosas, ao se ins- velhas r e m i n i s c ê n c l a s do tempo edições a p r e e n d i d a s . N a q u e l a épo- d e m i a Brasileira de Letras. Os
"com veemência, q u e as i n s t i t u i - t a l a r nos salões do Palácio T l r a - em q u e f r e q ü e n t a v a o prédio cin- ca, o D I P ( D e p a r t a m e n t o de I m - q u a t r o f i c a r a m como assessores di-
ções democráticas estavam e n f e r - dentes, onde passou a f u n c i o n a r z e n t o da R u a d a Relação. p r e n s a e P r o p a g a n d a ) era a i n d a retos do Salgado e cada u m . de-
mas. O c u l t a v a m - s e os s i n t o m a s , com o f e c h a m e n t o do Congresso u m a sigla inocente, quase sem ex- pois, criou seu próprio s t a f f . Cer-
A c h e f i a de Polícia, n a q u e l a ca de 20 ou 30 j o r n a l i s t a s f o r a m
com m e d i d a s coercitivas, m a s as Nacional. época, era exercida pelo ex-Depu- pressão política. A s u a s o m b r a só
c h a g a s i a m aos poucos se alas- iria erguer-se, a l g u n s anos depois, c o n t r a t a d o s pela 4." Delegacia co-
No a p a r t a m e n t o acanhado de t a d o B a t i s t a Luzardo, que, após a m o censores. O salário era de t r e -
t r a n d o por todo o o r g a n i s m o so- q u a r t o e sala, em Botafogo, o m é - vitória da revolução de 1930, n o - com o Estado Novo, q u a n d o c h e -
cial. Até m e s m o o leigo, com o garia a m e a ç a d o r a , às redações de zentos mil réis. Eu era e s t u d a n t e
dico e j o r n a l i s t a a p o s e n t a d o Ál- m e o u Salgado Filho p a r a a 4." de Medicina, t r a b a l h a v a como re-
correr do t e m p o , j á era capaz de varo Vieira confessa, com uma Delegacia Especializada a f i m de todo o Pais. Seus funcionários
diagnosticar o mal d i a n t e das m u . d e d i c a v a m - s e a t é e n t ã o a obrigar d a t o r em A Batalha, o que eu ga-
p o n t a de remorso, q u e a t é hoje q u e , com a perseverança de um n h a v a era u m a m i s é r i a . Um amigo
tilações provocadas pela própria n ã o c o n s e g u i u se l i b e r t a r do f a r d o missionário, se e m p e n h a s s e n a or- donos de bares, r e s t a u r a n t e s e
doença". mercearias a exibirem o r e t r a t o de i n f l u e n t e r e c o m e n d o u - m e ao Sal-
q u e carrega, com resignação, por ganização de u m "serviço de c e n - gado F i l h o . Ao ser i n f o r m a d o do
A voz p a u s a d a , t e m p e r a d a com haver servido à C e n s u r a , nos pri- s u r a " . As c o n f e s s a d a s ambições G e t ú l i o Vargas e n f i a d o em u m f r a -
q u e de tropical inglês, com a faixa t r a b a l h o q u e me h a v i a m reserva-
leve s o t a q u e mineiro, vai disse- meiros a n o s da d i t a d u r a g e t u l i s t a . políticas de Salgado Filho i m p e d i -
do, declinei do convite, m a s os t a m b é m ser publicados. Os e s p a n . C h a t e a u b r i a n d p a r a escrever u m a r a v a m com o Governo. Eu ou o n ã o divulgar o a f u n d a m e n t o de
c o m p a n h e i r o s q u e Já h a v i a m sido c a m e n t o s f r e q ü e n t e s dos adversá- c o l u n a s e m a n a l sobre a s s u n t o s m é - Lourival é q u e ligávamos p a r a a navios brasileiros. F u i obrigado a
contratados Insistiram para que rios reais e i m a g i n á r i o s do regime dicos em O Jornal. Vieira assinou alfândega autorizando a retirada m a n d a r a p r e e n d e r várias edições
eu ficasse. Utilizaram u m a r g u - Jamais p u d e r a m ser registrados p e - a seção d u r a c t e cerca de 30 a n o s do p a p e l " . desse Jornal. Mas o Rodolfo Car-
m e n t o que, n a q u e l a é p o c a , m e c o n - la i m p r e n s a . A p a r t i r da revolu- a t é o dia em q u e o "órgão lider valho, q u e era u m h o m e m extre-
venceu: era m e l h o r q u e a c e n s u r a ção de 1932 a C e n s u r a passou a dos Diários Associados" deixou de O DIP era u m verdadeiro s u p e r - m a m e n t e inteligente, estava s e m -
fosse exercida por Jornalistas do ser prévia e nos t r a n s f e r i m o s p a r a circular. m i n i s t é r i o . Lourival Fontes, m o - pre b r i g a n d o com a c e n s u r a a f i m
que por policiais. Fiquei e n t ã o as redações dos Jornais. L e m b r o - desto f u n c i o n á r i o d a p r e f e i t u r a do de capitalizar prestígio p a r a O Ra-
t r a b a l h a n d o sob a o r i e n t a ç ã o de - m e de u m episódio q u e quase m e "As nações crescem, os povos se Distrito Federal, ao ser n o m e a d o
desenvolvem e, com o passar do dical. No dia seguinte, o Rio e,
Ribamar Castelo Branco. F u n c i o - levou à prisão. E s t a v a f a z e n d o a p a r a a s u a direção-geral lhe d e u depois, o País i n t e i r o c o m e n t a v a m
nava como u m a espécie de contato c e n s u r a de O Jornal quando o t e m p o , o bom senso acaba sempre vida nova e' u m estigma do q u a l
C h a t e a u b r l a n d e n t r o u n a redação, prevalecendo sobre o arbítrio. M u i - a apreensão do Jornal. Alguns
entre a C e n s u r a e a direção de a l g u n s dos seus m a i s eficazes co- a n o s depois, com a criação dos
três Jornais: O Globo, Correio da eufórico, com u m a f o t o e m q u e t a s verdades q u e n ã o p u d e r a m ser laboradores a t é h o j e n ã o conse-
o Francisco Campos aparecia ft publicadas, n a q u e l a época, vieram DEIPs, q u e p a s s a r a m a c o n t r o l a r
Manhã e Diário de Noticias. Se g u i r a m se libertar. O prestígio e d i r e t a m e n t e os Jornais nos Estados
alguma notícia proibida fosse p u - f r e n t e de u m a legião de c a m i s a s - a público anos depois. A Censura, a força do D I P e r a m avaliados pela
- a m a r e l a s , d u r a n t e u m desfile ocor- n a verdade, a t e n d i a m a i s aos I n t e - de origem, o serviço foi ampliado,
blicada, eu p r o c u r a v a o diretor res- d u r a ç ã o das a u d i ê n c i a s q u e Louri- m a s a c e n s u r a c o n t i n u o u a i n d a sob
ponsável e lhe t r a n s m i t i a as a m e a - rido em Minas Gerais. A f o t o era resses pessoais dos g o v e r n a n t e s do val F o n t e s m a n t i n h a com Getúlio,
ças e apreensões do Salgado Filho. exclusiva e o C h a t e a u b r i a n d q u e - q u e aos sagrados interesses da Na- o m e u controle. O p r o b l e m a m a i s
t o d a s as q u i n t a s - f e i r a s . Nesses grave que e n f r e n t e i foi o f e c h a -
A censura a posteriori desses Jor- ria p u b l i c á - l a n a p r i m e i r a p á g i n a . ção em n o m e de q u e m era sempre dias, ele subia os degraus do Ca-
nais era f e i t a d i a r i a m e n t e por A n o t í c i a estava, e n t r e t a n t o , i n - aplicada com extremo rigor. A m e n t o de O Estado de S. Paulo,
t e t e com seus auxiliares carregados em 1940, por ordem do Góis M o n -
mim". c l u í d a n o index e n ã o podia ser Censura t e m a p e n a s u m valor epi- com p a s t a s de papelão. O n o m e
divulgada. O C h a t e a u b r i a n d insis- sódico, t e m p o r a l . Não se pode d e s . teiro, q u e era o Ministro do Exér-
t r u i r a verdade como q u e m e s m a - das diretorias e divisões que i n t e - cito. Ele o r d e n o u p e s s o a l m e n t e ao
As, r o t a t i v a s dos Jornais mal co- t i u , disse q u e era p o l i t i c a m e n t e g r a v a m o D I P reluziam n a c a p a
meçavam a se espregiuçar e u m i m p o r t a n t e d e n u n c i a r o fascismo ga y m Inseto". Cel. Scarcela Potrela q u e ocupasse
das p a s t a s em l e t r a s d o u r a d a s . m l l i t a r m e n t e o Jornal. L e m b r o - m e
motociclista da polícia Já estava q u e Já começava a dar seus p r i -
p l a n t a d o n a o f i c i n a p a r a recolher meiros passos, desajeitados, e n t r e O ex-chefe do "Serviço de Con- "As p a s t a s da m i n h a divisão, de q u e cerca de 600 f u n c i o n á r i o s
a primeira f o r n a d a de exemplares, nós. O "furo" era r e a l m e n t e s e n - trole da I m p r e n s a " do E s t a d o . No- "Serviço de Controle de I m p r e n s a " , f i c a r a m desempregados. Foi o u t r a
na boca da m á q u i n a , a f i m de que sacional e n ã o pensei d u a s vezes: vo, S a m p a i o Mitke, f a l a do alto e r a m sempre de papelão ordinário, violência i n ú t i l , de valor a p e n a s
o noticiário fosse e x a m i n a d o pelos liberei o texto e a f o t o . Fui sus- dos seus 76 anos com a experiên- com l e t r a s d e s e n h a d a s a t i n t a . t e m p o r a l , pois o Jornal aí está,
censores, n a 4.» Delegacia, a n t e s penso 15 dias pelo Salgado Filho. cia e a i n t i m i d a d e de q u e m c o n h e - Fazia isso de propósito. Nos rela- o u t r a vez, sólido como u m a rocha,
de chegar às m ã o s do leitor. . Alguns meses depois, com a a s c e n - ce os s u b t e r r â n e o s a t a p e t a d o s do t ó r i o s semanais, eu registrava t o - n a defesa dos ideais d e m o c r á t i c o s " .
são do F l l i n t o Mueller, q u e era u m poder q u e f r e q u e n t o u com assi- dos os pedidos de c e n s u r a q u e ha_ Até h o j e S a m p a i o Mitke n ã o c o n -
Naquela época, os Jornais n á o obscuro c h e f e da g u a r d a n o t u r n a , d u i d a d e e n t r e 1938 e 1942. T r i n t a viam sido e n c a m i n h a d o s ao órgão. seguiu se l i b e r t a r do peso de a l g u -
a t r a i a m a a t e n ç ã o do público ape- á C h e f a t u r a de Polícia, n o l u g a r e dois anos depois, S a m p a i o Mitke, Dizia q u e m pediu, os motivos ale- m a s a r b i t r a r i e d a d e s que assegura
nas com a f o r ç a e o peso das m a n - de B a t i s t a Luzardo, o a m b i e n t e n a ex-secretário de redação da Asso- gados e as i n f o r m a ç õ e s proibidas j a m a i s haver cometido. Um de
chetes c o n s e n t i d a s , m a s t a m b é m R u a da Relação f i c o u tenso. O ciated Press, exerce agora as f u n - de serem divulgadas. O Getúlio seus vários adversários i m p l a c á -
como auxílio de ruidosas sirenas, F l l i n t o era u m h o m e m t r u c u l e n t o ções de gerente-geral dos Jornais ficava sabendo de t u d o . Havia veis, o a r t i c u l i s t a Osório Borba,
instaladas n a s p o r t a s das redações. e a r r o g a n t e . Seu braço-direito, Lo- O Dia e A Notícia. Sampaio não t a m b é m a l g u n s pedidos pessoais a t a c o u - o d u r a n t e vários anos após
Sempre que ocorria u m f a t o i m - pes Vieira, Delegado de Ordem P o - c o n t é m seu e n t u s i a s m o d i a n t e d a s a q u e d a do Estado Novo, através
lítica e Social, era a p r ó p r i a i m a - q u e eu recusava a t e n d e r m a s que
p o r t a n t e . a c i o n a v a m - s e as sirenas lições q u e a História lhe d e u . O n ã o deixava de i n c l u i r no m e u re- das p á g i n a s do Diário de Notícias.
e o público se acotovelava n a s gem do terror. A p r e s e n ç a de Jor- p o r t e elegante e vigoroso realça o
n a l i s t a s n a C h e f a t u r a de Polícia, latório. O Estado Novo, como t o - Osório acusava Sampaio Mitke de
calçadas p a r a ler ás notícias q u e t e r n o escuro q u e abriga u m corpo dos os regimes de exceção, neces- ser u m fascista convicto, m a s o
m u i t a s vezes n ã o saiam n o dia se- m e s m o a serviço d a ditadura, a i n d a Jovem p a r a os seus 76 anos.
passou a ser u m incômodo e a sitava d a C e n s u r a como o ar que ex-chefe da C e n s u r a Jamais se
guinte. Ao se d e b r u ç a r agora sobre o pas- seus g o v e r n a n t e s r e s p i r a m . Esses p r e o c u p o u em r e b a t e r essas a c u s a -
C e n s u r a foi t r a n s f e r i d a p a r a o ga- sado. ele reconhece a i n u t i l i d a d e
Mas a C e n s u r a logo i m p e d i u a b i n e t e do Ministro do I n t e r i o r e regimes são frágeis, pela s u a pró- ções que a t r i b u i a u m a v i n g a n ç a
da f u n ç ã o q u e exerceu com des- pria n a t u r e z a , q u e sem ela n ã o pessoal, por c o r t a r a l g u n s dos edi-
divulgação de q u a l q u e r i n f o r m a ç ã o J u s t i ç a , A g a m e n o n M a g a l h ã e s . Al- vêlo.
sem ò seu c o n h e c i m e n t o . A f i m g u n s dos crimes e violências q u e seriam capazes de sobreviver". toriais q u e Osório Borba redigia
de que n ã o houvesse m a i s d ú v i d a s t e s t e m u n h a m o s , q u a n d o a i n d a es- A voz grave, l i g e i r a m e n t e estri- p a r a o Diário de Noticias. Duran-
d e n t e , vai aos poucos e n c h e n d o de S a m p a i o Mitke a m o r t e c e u , pes- t e a l g u n s , anos S a m p a i o Mitke
sobre o q u e era proibido publicar, távamos na Chefatura, foram ati- s o a l m e n t e , m u i t o s golpes q u e t e -
fez-se u m decálogo d i s t r i b u í d o a rados a n o s depois pelo próprio Fl- recordações a sala espaçosa, f o r - a i n d a se e m p e n h o u em retirar, p a -
r a d a por u m t a p e t e de bouclê q u e r i a m a t i n g i d o e desgastado, irre- c i e n t e m e n t e , o u t r a s p e d r a s que f o -
todos os. Jornais. linto, n a c o n t a de velhos ressenti- m e d i a v e l m e n t e , a i m a g e m do Go-
m e n t o s pessoais". t e r m i n a sob os s a p a t o s pretos de r a m a t i r a d a s sobre as s u a s vidra-
"As proibições e r a m as mais a b - cromo a l e m ã o : verno q u e o DIP t i n h a por obri- ças.
surdas. Não se podia f a l a r sobre "O m e u serviço n ã o exercia a gação preservar. Ele h o j e é o p r i -
m e i r o a reconhecer q u e n u m re- "Muitas dessas pedras, que re-
os porres do B e n j a m i m Vargas e c e n s u r a prévia. Nós t r a n s f e r i m o s colhi n o m e u q u i n t a l , estão h o j e
das brigas d a s f a m í l i a s ligadas ao Com o a d v e n t o do Estado Novo. gime de f o r ç a todos estão c o n f i -
o DIP adquiriu a prerrogativa de p a r a os Jornais a responsabilidade a m a r r a d a s às costas dos q u e as
Governo. Havia coisas a i n d a m a i s pela p u b l i c a ç ã o das n o t í c i a s q u e nados. A maioria dos Jornais n ã o
exercer t a m b é m a c e n s u r a n o p i a . ousava desrespeitar as d e t e r m i n a - atiraram contra mim, durante o
ridículas, como a proibição de di- d e s a g r a d a v a m ao Governo. O t r a - Estado Novo, e q u e h o j e a t r o p e -
vulgar u m r o u b o ocorrido em casa n o nacional, depois q u e seu d i r e - ções q u e e r a m t r a n s m i t i d a s , em
tor, Lourival F o n t e s , cinzelou s u a b a l h o era l i m p o e eficiente. As lam, esquecidos das lições da His-
do Coronel J u a r e z Távora. O J u a - sanções q u e aplicávamos eram seu n o m e , pelo telefone, p a r a as
feição t o t a l i t á r i a . A l g u n s J o r n a - redações do Rio e de São P a u l o . tória. os mesmos valores a u e de-
rez t i n h a sido o g r a n d e líder m i - listas, como Álvaro Vieira, q u e n ã o m u i t o m a i s eficazes do que as f e n d i a m n a q u e l e t e m p o . Sócrates
litar da revolução de 1930 e, de a m e a ç a s d a policia p o r q u e eram Os Jornais dos o u t r o s Estados re-
m e r e c i a m a c o n f i a n ç a da nova or- cebiam as i n s t r u ç õ e s por telegra- a c h a v a preferível ficar sem sol o
acordo com a tica p a l a c i a n a , esta dem, f o r a m dispensados d a polí- de n a t u r e z a econômica. Os Jor- universo do que privada da liber-
notícia poderia c o m p r o m e t e r a s u a n a i s d e p e n d i a m do Governo p a r a ma.
cia por Cives Müller Pereira, so- dade a p a l a v r a da R e p ú b l i c a . N ã o
Imagem de herói lesado por u m b r i n h o de F l l i n t o e seu dedicado a importação do papel linha "Só tive p r o b l e m a s com O Radi- i m p o r t a q u e ele houvesse pregado
ladrão c o m u m . c h e f e de g a b i n e t e . d ' á g u a . As t a x a s a d u a n e i r a s e r a m cal. O Brasil estava em g u e r r a no deserto, p a g a n d o com a p r ó p r i a
Escândalos a d m i n i s t r a t i v o s e p r i - elevadas e deveriam ser pagas em com os países do eixo e seu dire- vida a a u d a c i a de evangelizar iaeias
vados, q u e envolvessem pessoas da Ao ser d e m i t i d o da 4.» delegacia, 24 horas. E o DIP só isentava de tor, o Rodolfo Carvalho, h a b i t u a l - n a o aceitas pelõs d o m i n a d o r e s do
estima do Governo, n ã o p o d i a m Álvaro Vieira foi convidado por p a g a m e n t o os Jornais q u e colabo- m e n t e desrespeitava a proibição de seu povo".

+
OTHON BASTOS PRODUÇOES ARTÍSTICAS
APRESENTA

FEDERAÇÃO DAS
FACULDADES BRAZ CUBAS
DE MOGI DAS CRUZES
Concurso Vestibular 1 9 7 5
INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ 2 0 / 0 2 / 7 5

DIREITO - CIÊNCIAS ECONÔMICAS E ADMINISTRAÇÃO D E


E M P R E S A S - COMUNICAÇÃO SOCIAL
(Jornalismo, Publicidade e Propaganda,-Editoração e Ralações Públicas)
FILOSOFIA (Estudos Sociais, Psicologia Clinica, Educacional e Industriai,
Educação Moral e Cívica, Letras, Ciências e Pedagogia) -

CAMINHO LICENCIATURAS ESPECIFICAS DO 2.• GRAU


DATA E HORÁRIO DAS PROVAS: 2 3 / 0 2 / 7 5 , às 8 h da manhã

DE VOLTA
D E C O N S U E L O DE C A S T R O
PROVAS:
ÁREA D E C O M U N I C A Ç Ã O E E X P R E S S Ã O : prova com 50 questões de
Língua Portuguesa e Literatura Brasileira - Á R E A D E E S T U D O S
MEEÇfc S O C I A I S : prova com 5 0 questões de História e Geografia
FBRNANB|p PEIXOTO e prova com 50 questões de Organização Social e Política do Brasil
ÁREA D E C l É N C i A S : prova de 50 questõés de Matemática,
Física, Química e Biologia

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES:
M O G I D A S C R U Z E S - R. Francisco Franco, 133 - tels. 4 2 0 0 a 4 2 0 4
R. Manoel Caetano, 265 - tels. 2255 e 4218 - Av. Francisco
Rodrigues Filho, 1233 - tels. 4 4 3 7 e 4 4 3 8
S Á O P A U L O - R. Álvaro de Carvalho, 5 0 - cj. 2 - tel. 33-3597
S A N T O A N D R É . - R. Cel. Oliveira Lima, 252 - s/ 35 - tel. 4 4 4 - 5 8 0 0
TEATRO ALIANÇA FRANCESA S A N T O S - R. Floriano Peixoto, 20 - s/ 25 - tel. 4 - 0 6 4 2
G U A R U L H O S - R. D. Pedro II, 3 3 4 - tel. 209-2072
R. GENERAL JARDIM, 182
M ASTll KBACÃ()
Pornografia: escritos ou pin-
turas obscenas para provocar
excitação sexual (The Penguin
abjeta submissão. Por isso,
Jill Tweedie diz: "O módulo
essencial da pornografia é o de
English Dictionary). uma larga e penosa saga da
Aceito esta definição como Masud Khari, degradação da mulher". Mas,
apropriada e vou tentar explo- como vemos no caso de Sade,
rar a natureza da "provoca-
ção" e a qualidade da "excita-
editor da Psychoanalytical Library, analisa não só da mulher, também do
homem. Genet nós brindou,
rão sexual" engendradas pela igualmente, com o estranho es-
literatura e pela imaginação
pornográficas.^ Para isso, ofe-
textos de Sade e a obra de Genet. petáculo da degradação, muti-
lação e submissão violenta.
reço um exemplo de escrito A capacidade da pornografia
pornográfico, tomado ao acaso. para transmutar a raiva latente
lhe dá três poderosas funções:
Um homem que nunca vimos, subversiva, terapêutica e ins-
disse aquela amável p . . . , veio trutiva. É subversiva negando
até a casa e propôs uma ceri- a pessoa. O cúmplice/leitor
mônia incomum: queria que lhe alcança e participa deste tipo
amarrassem a uma escada. de texto só em instâncias mui-
Nós amarramos seus músculos to específicas de estados de
e sua cintura ao terceiro tra- despersonalização e dissocia-
vessão e, levantando seus bra- ção. É terapêutica na medida
ços por cima de sua cabeça, em que transmuta a ameaça
amarramos seus punhos ao de- de violência e destruição totais
grau mais alto. Estava nu. De- existentes na raiva latente de
pois de firmemente amarrado, um indivíduo e de uma cultura
foi exposto à tunda mais feroz, numa linguagem dosada e ero-
golpeado com o chicote até iizada. De um modo macabro a
que os nós das pontas se des- terapêutica da pornografia con-
fizeram. Estava nu, repito, e segue aquilo que Freud busca
não houve necessidade de por- no tratamento psicanalítico. Na
lhe um dedo em cima, nem ele pornografia tudo é eu e só o
mesmo se tocou, mas quando eu, não há ele, não há corpo,
terminou de receber esta surra não há pessoa. O ele, a pessoa,
selvagem, seu instrumento o corpo, são simplesmente ex-
monstruoso se elevou como fo- plorados para estabelecer e
guete, se mexeu e pendulou en- atualizar a maquinaria de even-
tre os travessões da escada e tos somáticos. Sua função ins-
em pouco tempo lançou seu trutiva está em ensinar os t r u -
jorro ao meio do quarto. De- ques ao cúmplice/leitor para
samarrado, pagou e foi embora. que este possa participar de sua
(Sade: Les 120 Journées particular realidade. E aqui de
de Sodome) novo entra o Divino Marquês:

O mais rápido exame do caso Que as atrocidades, os hor-


revela, além de qualquer dú- rores, os crimes mais odiosos
vida, a impossibilidade de sua não te assombrem, Eugênia
realização física para uma mu- minha, pois o mais sujo, o mais
lher e um homem. O persona- infame, o mais proibido é o que
gem de Sade, logo depois da melhor excita o intelecto... fc
surra, não se'sente debilitado o que nos permite mais deli-
ou dolorido. E citei um exem- cioso desafogo.
plo que para Sade é moderado. Sade expôs com clara com-
Se casos como esse são cla- preensão a ausência do instin-
morosamente impossíveis em to e o papel onipotente do in-
termos do corpo humano e telecto nestes eventos somá-
suas possibilidades, pergunto: ticos.
de onde extraem esses "eventos Este hiper-funcionamento es-
somáticos" sua autenticidade e pecífico do intelecto, quando
seu poder de estimular sexual- cria eventos somáticos aprisio-
mente o leitor? A resposta é: nados em palavras, não só alie-
do uso especializado das p a - na como isola o cúmplice/leitor,
lavras na pornografia; elas não como isola os personagens de
descrevem vivência humana obra pornográfica. Geoffrey
nenhuma. O absurdo e impos- Gorer, num artigo sobre A
sível do caso lhe dá um novo Pornografia da Morte, conta este
poder, transcende os limites tura. Com os devidos respei- se tornou sagrada, alguém de- mações perversas se encontra fenômeno de maneira interes-
físicos inatos dentro dos quais tos a Apollinaire, Jean Paulhan, ve usar estè conceito — é que no pavor de entrega emocio- sante:
o corpo humano vive a dor e a Geoffrey Gorer, Georges Bataille não é propriamente literatura: nal. Pode-se dizer que o pro- Por outro lado a pornografia,
excitação. e Roland Barthes, ninguém sua intenção é deslocar a lite- blema da pornografia está na a descrição de atividades tabu
Este uso especializado das pa- pode reclamar nenhuma virtu- ratura de seu verdadeiro pa- incapacidade para a entrega para produzir a alucinação ou
lavras tem outra qualidade: a de para o estilo de Sade. De- pel na vida do indivíduo e da sensual. A passagem de Sade a desilusão, parece que é um
mentalização do instinto. O vemos admitir que o texto de cultura. A pornografia nega a que citei não pode deixar de fenômeno mais raro. Prova-
que se descreve não são as ex- Sade é opressivamente repetiti- imaginação, o estilo e a tra- captar algo parecido com um velmente só pode aparecer em
periências sexuais espontâneas, vo e carente de invenção. dição da luta do homem por ataque apoplético. sociedades letradas e certamen-
mas acontecimentos sintéticos e É a partir da consideração usar a linguagem para se co- te não temos informações de
nhecer e realizar. A pergunta seguinte é: qual é
elaborados, produzidos pela estética da pornografia que al- a natureza do afeto que estes sua existência em sociedades
mente através das palavras. guém descobre que ela é tão Vejamos agora os aspectos eventos somáticos tratam de não-letradas, pois enquanto o
falsa em suas pretensões de ser psicológicos da pornografia. atualizar, exteriorizar e distri- gozo da obscenidade é predo-
Ainda quando aparentemente literatura quanto está longe de minantemente social, o gozo-
acreditamos que as experiên- Acho que a pornografia aliena buir (ninguém pode dizer com-
ser um veículo de experiências seus "cúmplices" — ninguém partilhar)? Minha resposta é: da pornografia é predominante-
cias são físicas e concretas, de instintivas ampliadas. Os es- pode falar de leitores — tanto mente privado.
fato tais casos só podem acon- critores pornográficos tiveram raiva. A pornografia transmu-
tecer na mente e naquele vazio de seu próprio ser quanto do Minha proposta é que este
a sorte de encontrar a grita- outro. Não é senão uma ta a raiva em eventos somáti-
evocativo que é o terreno da ria histérica dos ultrajados eu- cos e eróticos. Uso intencio- requisito de separação, de iso-
pornografia. É esta caracte- mistura mental estéril e aliena- lamento, outorga outra função
ropeus criados nas tradições da. Esta característica me fez nalmente a palavra "transmuta"
rística que coloca a pornogra- puritanas. Desse modo per- e não "sublima" já que, de- subversiva à pornografia. O
fia além do domínio da ética afirmar, certa vez, que a por- fato vulgar é que a pornogra-
deu-se a pista do problema. nografia é uma ladra de sonhos. vido a uso peculiar das pala-
e da moral. Ela só pode ser Não é que a pornografia seja vras nesta literatura, nela não fia é usada geralmente, senão
avaliada estética e psicologica- imoral, é má literatura, não uti- Nela não há espaço para o. so- ocorre nada da assimilação e exclusivamente, para a m a s t u r -
mente, não judicial nem etnica- liza a imaginação nem a sensi- nho nem para as relações. Tudo elaboração do afeto da raiva bação.
mente. Já que a pornografia é bilidade do leitor, só lhe ofere- foi aprisionado com pala- que a sublimação implica. O Sartre, em seu estudo Saint
exclusivamente um jogo mental ce um mundo limitado de pala- vras num jogo tirânico e vio- que faz é arejar a raiva trans- Genet — Comedien et martyr
pervertido que tem pouco ou na- vrório onipotente, com seus lento com o eu corporal e o mutada em eventos corpóreos, — diz, quando discute a função
da a ver com as experiências falsos clímax e orgasmos, outro. Seu tempo é o presente mas com a violência da raiva da masturbação na obra de
sexuais ordinárias, é necessário frente aos quais o cúmplice estático e perpétuo... daí sua ainda presente. O que na saúde Genet:
estudá-la estética e psicologi- pode se excitar. atmosfera nostálgica. pode viver-se como entrega Buscando excitação e prazer,
camente mais de perto. Rara- sensual, na pornografia se tor- Genet começa por envolver-se
O pecado original da porno- Anna Freud diagnosticou que
mente a pornografia é litera- na, mediante eventos violentos, em suas imagens como um
grafia — já que a pornografia a dificuldade essencial nas for-
gambá se envolve em seu chei- poder estabelecer eventos somá- instinto de uma cultura e um
ro. Estas imagens trazem pa- ticos que desconhecem a pes- intento de cura de um sinto-
lavras que as reforçam, fre- soa e o ser das personagens. ma. Por isso é que ponho
qüentemente as imagens perma- Assim, alguém pode ver um ênfase no terapêutico da porno-
necem incompletas; as palavras tipo de rompimento específico' grafia. É necessário agora en-
devem completar a obra; as pa- nestes eventos. Primeiro, o tender melhor a natureza e o
lavras exigem ser pronunciadas impulso sexual instintivo é dis- funcionamento do sintoma, de
e finalmente escritas, o texto sociado de sua natural expres- um lado, e o caráter da revolu-
provoca e cria a audiência. O são corporal e de sua satisfa- ção que a pornografia criou nas
narcisismo onanista termina por ção na relação com o outro. culturas européias, de outro.
estancar-se em palavras. Genet Segundo, esta mutilação do de- De nada vale dizer que o sinto-
escreve num estado de sonho sejo sexual é usada então para ma e a revolução serão corri-
e, para poder consolidar seus criar, mediante a linguagem, um gidos por ação legislativa.
sonhos, sonha que escreve; en- tipo específico de violência, Como diz Gorer, a pornografia
tão escreve que sonha e o ato uma violência que deve eroti-
de escrever o desperta. A vem com a leitura e nas déca-
zar-se mais para que seja agra- das recentes os meios de difu-
consciência da palavra é um dável. Mas as coisas conti-
despertar parcial dentro da fan- nuam sendo as mesmas: nega- são e publicidade mencionaram
tasia; ele se acorda sem parar ção do ser e do outro. É nesta um vasto vocabulário de ima-
de sonhar. particular redistribuição dos im- ginação visual e pornográfica.
pulsos instintivos sexuais e Todos os pensadores sérios —
Não estou tão convencido, agressivos que se encontra a sejam poetas, psicólogos ou fi-
ímpeto e desejo institivo espon- contra ela mesma como também real patologia da pornografia.
como Sartre, de que o fenôme- tâneo — então alguém pode de- contra o corpo do outro. Os lósofos — deste século se preo-
no do sonho tenha muito a ver Substituiu a liberdade e a pos- cuparam com a indiscutível de-
fini-la como algo sectariamen- campeões da pornografia e os sibilidade de compartilhar a se-
com a obra de Genet. Eu di- te preocupado com a busca autores pornográficos susten- sumanização que afeta a rela-
ria o contrário. Todo o fan- xualidade por um ato mental de ção do homem consigo mesmo.
mental de sensações e que ex- tam freqüentemente que estão coerção ao submetimento e hu-
tasiar onanista compulsivo de clui emoções e relações. As tratando de curar a inibição da Acho que, com a revolução in-
Genet é uma maneira de com- milhação extremos impostos ao dustrial e o surgimento da tec-
palavras são sua única reali- experiência instintiva indivi- eu corporal e ao outro. Neste
pensar sua incapacidade de so- dade. D problema da porno- dual, imposta pela sociedade. nologia científica nas culturas
nhar e de relacionar-se com o caso, a pornografia é inerente- européias, o homem começou a
grafia não é estar contra a lei Afirmam que estão tentando li- mente fascista.
outro. E a pornografia, neste de Deus, mas contra a lei da berar o indivíduo para que sin- se considerar não à imagem de
sentido, é uma objetivação des- natureza, pois subverte o pro- ta mais os seus instintos se- Até agora tratei do aspecto Deus nem do homem, mas sim
tas incapacidades de seus au- gresso do adulto rumo à sua xuais. E, no entanto, o que a negativo da pornografia. Não da máquina, que era sua pró-
tores. Alguém * disso podia, realização pessoal. pornografia consegue é justa- se pode negar, no entanto, que pria invenção. Os textos e a
exagerando, dizer que a por- Usei o conceito de eventos mente o contrário. Como Sade se levou a cabo, mediante a imaginação pornográfica tratam
nografia não é mais que texto somáticos e dei duas classes de e Sartre mostram, a mente e a pornografia, uma revolução cul- de fazer do corpo humano uma
masturbatório. exemplos deles. Mas alguém palavra tiram a função natural tural desde o Divino Marquês máquina ideal capaz de ser
precisa examinar melhor isso. do instinto na experiência hu- a San Genet. Pelo que sei, manipulada até produzir um
Se no estético a pornografia mana, apropriando-se da urgên-
carece de imaginação e no psi- Ainda quando pretende ser de ninguém tratou de dar conta máximo de sensação. Essas
natureza sexual, a sexualidade cia sexual numa confecção disso seriamente. A pornogra- sensações são derivados instin-
cológico de emoção e relação ultra-mental de uma imaginação
com o outro — e se no físico é meramente explorada para ex- fia é um sintoma de processos tivos, mas de intenção essen-
pressar violência e raiva, tanto freqüentemente brutal, para específicos da desvitalização do cialmente agressiva.
é sintomática da ausência de

UM RAPEL
DE Aquele t e x t o que o Neil, o Joca. o Washington, o Otoruel. o
Palhares não têm tempo de escrever prá você, nós escrevemos.

RESPONSABILIDADE
Aquele lay-out que o KJaus, o Petit, o Zaragoza, o Gabi não p o d e m
bolar prá você, porque não aceitam free-lance, nós bolamos.
\ q u e l a reportagem que o Bob W o o d w a r d . o Carl Bernstein, o
Raimundo Pereira não farão prá você, porque estão viajando,
iiós fazemos.
Aquele folheto que a DPZ, a Alcântara, a Mauro Salles.
infelizmente não aceitam executar prá você, porque a verba ê
pequena, nós executamos.
Aquele jornalzinho que o Estadão, o JB, a Abril não estão

A SELECTA RESPONSABILIZA-SE PELO aparelhados prá editar prá sua empresa, nós editamos.

PAPEL QUE VENDE: SÓ TEM DO ÍX EDITORA Aquele livro seu que a Melhoramentos, a Nova Fronteira, a

IMPORTADO. E PELO PREÇO QUE COBRA: Rua Santo Antônio, 1043. MacGraw Hill lamentam não publicar, nós publicamos. *

40 MENOS QUE AS OUTRAS LOJAS.


POR ISSO. PESSOAS DE MUITA
RESPONSABILIDADE DIRIGEM-SE A
SELECTA: PUBLICITÁRIOS,
ARQUITETOS, ENGENHEIROS, leia
ESTUDANTES. . e

CRIT L t t l
a s s i n e
VEGETAL SCHOELLER, EM ROLOS E FOLHAS
MILIMETRADO, ONION-SKIN (BLOCOS),
PARASSOL, OPALINE, CARMEN, CARTÕES
DE DESENHO SCHOELLER, EM TODOS
OS TAMANHOS, FOLHAS CORTADAS OU
MARGEADAS, TODOS OS TIPOS DE
BLOCOS DE DESENHO NUMERADOS.

ALELUIA EM BELEM
D I R I J A - S E A
C 1975 anos depois, nasceu
SELECTA UMA LOJA PARA UMA CLASSE SELETA
no Pará um jornal: ASMÁQUINAB L A V A / V . A / o d l/e
Marquês de Itú, 134 (esq. Bento Freitas) Fone 37-7988 BANDEIRA 3 } MAJOR STRTORIO 318-DAS8as24;
Filósofo f r a n c ê s r e c o m e n d a :

Entrevista com Henri Lefébvre

Acha necessário estudar atenta- vés d a s i m a g e n s do corpo, que são depois. J á e n c o n t r a m o s nele uma esta e x p a n s ã o . A c o n t r i b u i ç ã o de.
mente o Oriente para reconquistar s u a n e g a ç ã o . O visual é o signo do teoria do desejo, v i n c u l a d a ao p e n - Bataille e s t á aí: ele p r o c u r o u utili-
um conhecimento prático sobre o n ã o - c o r p o . Ó "phallus", r e p r e s e n t a - s a m e n t o de Reich e Bataille. zar essa p a r t e do excesso de e n e r -
corpo? ção do corpo e m i m a g e m e em o b j e - Nietzsche foi m u i t o pouco c o m - gia — p a r t e m a l d i t a — que no ser
HL — Não conheço s u f i c i e n t e - to, d e f i n e o c o n t r á r i o do corpo. O p r e e n d i d o em s u a época, pelo m e n o s h u m a n o e ' n a sociedade é consumi-
m e n t e o assunto. O O r i e n t e n ã o m e que eu p r o p o n h o , e n f i m , é u m a f i - n a F r a n ç a , onde só lhe d e r a m a t e n - d a a q u a l q u e r custo. Se n ã o for
seduz. P r o c u r e i c o m p r e e n d ê - l o . É losofia dionisíaca. ção escritores r e a c i o n á r i o s como q u e i m a d a n a criação, ela explode
m u i t o m a i s difícil do que se p e n s a . Percebemos, em certas discipli- Montherlant. Descreveram-no co- n u m a violência d e s t r u t i v a .
Não b a s t a fazer a l g u n s gestos e pos- nas e pesquisas contemporâneas, in- mo teórico d a a u t o r i d a d e , quase co- Contra os que propõem um re-
t u r a s p a r a c o m p r e e n d e r o zen e o dícios de uma "volta ao corpo". Não mo u m c a n t o r do Estado, coisa que torno ao corpo e uma afirmação da
ioga. queremos negar a existência de uma ele foi m u i t o pouco. A noção de "de- vida existem muitas correntes pes-
O O r i e n t e n a o cultiva a a b s t r a - brecha aberta pelo marxismo, e de- sejo de d o m i n a ç ã o " provocou nu- simistas: a noção do instinto de
ção ocidental em relação ao corpo, pois pela psicanálise, num saber merosos m a l e n t e n d i d o s . Nietzsche morte em psicanálise, um certo
e m b o r a t e n h a vivido m o m e n t o s de ocidental estupidamente racionalis- c o m b a t e a v o n t a d e de d o m i n a r . E existencialismo e as reflexões sobre
ascetismo; percebe o corpo de u m a ta e seguro de si. IVfas não seria tem- diz s i m p l e s m e n t e que, d e n t r o da a angústia.
maneira muito mais concreta que po de criticá-las por sua insistência metamorfose, da grande luta contra HL — O i n s t i n t o de m o r t e é u m
nós: em sua riqueza i n t e r n a . A es- exclusiva sobre a cabeça e seu des- o nihilismo (ou s e j a , p r i n c i p a l m e n - a c h a d o duvidoso d a psicanálise.
c r i t a por i d e o g r a m a s t e m lá u m p a - prezo pelo corpo? te a t r a d i ç ã o cristã) , deve crescer Reich o r e j e i t o u e foi aí que r o m p e u
pel d e t e r m i n a n t e : os c a r a c t e r e s são HL — E n t r e os c o n t e m p o r â - a v o n t a d e de viver, a a f i r m a ç ã o da com o f r e u d i a n i s m o . Desde que se dê
obras de arte, q u a d r o s ou poemas. neos, q u e m m e l h o r falou sobre o vida, u m g r a n d e sim dito ao corpo u m a c h a n c e p a r a o i n s t i n t o de m o r -
O discurso lógico n ã o se s e p a r a da corpo foi o p o e t a m e x i c a n o Octávio e à e x i s t ê n c i a . Ele disse isso p o e t i c a - te, ele a t a c a e i n v a l i d a todo o res-
arte, ao c o n t r á r i o do logos ociden- Paz. No c o n j u n t o d a s filosofias, d a s m e n t e , n ã o a t r a v é s de conceitos, t o . A g e n t e se consome em m e d i t a -
tal. m e t a f í s i c a s , d a s ideologias, ele dis- m a s por p a l a v r a s que p r o c l a m a m e ções sobre a m o r t e , f l e r t a com a a n -
Não quero dizer que • devemos t i n g u e os signos do corpo dos signos acendem a imaginação. gústia, como o existencialismo, que
n e g a r o p e n s a m e n t o ocidental. Não do não-corpo; Com razão, ele a c u s a É necessário recolocar Nietzsche pegou isso do cristianismo. G u a r d e i
é necessário excluir o racional, o o m a t e r i a l i s m o m a r x i s t a de estar d e n t r o d a s c o r r e n t e s do p e n s a m e n t o de Nietzsche, desde m i n h a adoles-
cérebro. Por exemplo, n ã o escolho cheio de signos do não-corpo. Não m o d e r n o , ao lado de M a r x e, n u m a cência, a idéia do t r i u n f o da vida,
e n t r e cérebro e sexo. É u m a m u t i l a - basta falar da matéria para falar c e r t a m e d i d a , de F r e u d , Reich ou que se e n c o n t r a t a m b é m em Spinoza.
ção, é preciso m a n t e r os dois, i m p e - do corpo. Pelo c o n t r á r i o , f a z e m o s do Heidegger, u m a g r a n d e constelação Sou a f a v o r da a f i r m a ç ã o d a vida,
dir que f i q u e m o s só com o cérebro. corpo u m objeto, u m f r a g m e n t o d a d e n t r o da qual t e m o s que e n c o n t r a r a despeito de tudo. É aborrecido
Claro, os signos do não-corpo r e l a - m a t é r i a inerte. as v e r d a d e i r a s relações. Seria u m d e m a i s m o r r e r sem n u n c a ter ou-
c i o n a m - s e com o f u n c i o n a m e n t o a u - O corpo é u m c o n j u n t o de r i t - erro ver em Reich o a r t e s ã o de u m vido f a l a r disso. T e m pessoas que
t ô n o m o do cérebro, com a intelec- mos. Em vez de psicanálise, p r e f i r o "Freud-marxismo", e não temos n a - me parecem cachorros uivando à
t u a l i d a d e , com o cerebral. Mas não a r i t m a n á l i s e , a análise de todos os d a p a r a fazer com u m " M a r x - n i e t z s - morte, e eu acho isso horrível.
concordo em valorizar exclusiva- r i t m o s que a t r a v e s s a m o corpo: os c h i a n i s m o " , u m "Nietzsche-budis-
m e n t e o s e x u a l . A i m a g e m do a c é - r i t m o s de vida, do dia e d a noite, mo" ou o d i a b o . Todos c o n t r i b u e m Você acha que o conflito tende
falo, o ser h u m a n o sem cérebro, que de m i n h a f a d i g a e atividade, r i t m o s p a r a u m desenvolvimento, c a d a u m aos poucos a se decidir para um ou
e n c o n t r a m o s às vezes como i l u s t r a - individuais, biológicos ou cósmicos. acentuando determinado aspecto. para outro lado, ou que há ciclos?
ção dos t e x t o s de Bataille, m e d e s a - Por r i t m o s cósmicos, e n t e n d o os M a r x falou d a ação e revelou o m e - HL — C e r t a m e n t e o conflito
gradam particularmente. r i t m o s do ano, por exemplo, ou ou- c a n i s m o de nossa sociedade. Nietzs- f u n c i o n a por ciclos. Octávio Paz
Você vê manifestar-se histori- tros que a i n d a n ã o conhecemos, t o - che f a l a d a alegria e do s o f r i m e n - distingue n a s filosofias d a Ásia fases
camente esse retorno ao corpo? dos os g r a n d e s ciclos. to, e t e n t a d e f i n i r u m a nova civili- de depressão, de niilismo, de pessi-
HL — N u m a c e r t a m e d i d a , m u i - A psicanálise r o m p e esse c o n - zação. mismo e de p u r i t a n i s m o . Na Euro-
to d e s a s t r a d a m e n t e , com m u i t o des- j u n t o , divide-o em tópicos; em r e - pa, o século XIII foi u m período
vio. H á n u m e r o s a s filosofias do n ã o - Na França, sempre que se fala m u i t o bonito, o R e n a s c i m e n t o u m
giões, o aqui, o super-ego, o sobre-
corpo, que p a s s a m por filosofias do de Reich, pensa-se em seus primei- m o m e n t o grandioso, e m b o r a m u i t o
m i m . Ela d e s m e m b r a u m a u n i d a d e
corpo. Estou p e n s a n d o nesse culto ros trabalhos dentro do movimento cedo q u e b r a d o pelas g u e r r a s de re-
e x t r e m a m e n t e complexa. Octávio
^persistente e r e n o v a d o r d a n a t u r e z a . comunista. Ignora-se, deforma-se ligião e pela g r a n d e crise européia.
Paz coloca M a r x e F r e u d e n t r e os
I d e n t i f i c a - s e a n a t u r e z a ao corpo. ou se calunia os últimos anos nos O século XVIII p r o j e t a t a m b é m be-
p o r t a d o r e s de signos de n ã o - c o r p o .
M u i t a g e n t e se a g a r r a nisso, n o f a - Estados Unidos, o Reich da "orgone las luzes. E m c o m p e n s a ç ã o , t e n h o
to de que a n a t u r e z a está a m e a ç a - Marx e Freud monopolizaram a therapy". Foi esse Reich que reali- h o r r o r do século XVII e t o d a a cul-
d a de destruição. Mas n ã o a b o r d a atenção dos revolucionários ociden- zou uma pesquisa essencial sobre o t u r a f r a n c e s a repousa sobre ele.
v e r d a d e i r a m e n t e o problema, o cor- tais durante muito tempo. Um re- corpo. Caímos h o j e n u m a e n o r m e o n -
po como f o n t e de a l e g r i a . O t r a b a - torno ao corpo também implica HL — Vocês t ê m r a z ã o — de- d a de pessimismo e niilismo. As
lho que devemos e m p r e e n d e r é a num retorno a Nietzche? fendo' o Reich dos últimos anos. idéias p a t i n a m n u m a espécie de lo-
seleção. HL — Foi q u e m p r i m e i r o a t a - Há u m a e n e r g é t i c a do corpo que d a ç a l : n ã o se sabe qual é o l u g a r
A a f i r m a ç ã o do corpo n ã o deve cou a t r a d i ç ã o j u d a i c o - c r i s t ã . Ele Reich e Bataille e x p l o r a r a m . Nietzs- do h u m a n i s m o , f a l a - s e do d e s e j o . . .
ser f e i t a sem u m a v e r d a d e i r a explo- m o s t r o u que o corpo e r a u m dos che t a m b é m t i n h a p r e s s e n t i d o q u a l - Percebo isso pelos escritos de m e u s
r a ç ã o do corpo, sem disciplinas do g r a n d e s e n i g m a s d a existência que quer coisa assim. O corpo n ã o é u m a alunos. É uma grande mistificação.
corpo, d a s q u a i s o esporte só r e p r e - precisava ser d e c i f r a d o . Critica o m á q u i n a de desejo. É u m a m á q u i - Só se f a l a de desejo q u a n d o n ã o se
senta a paródia e a caricatura. É c a r á t e r m e c a n i c i s t a e ascético do n a d u p l a : de u m iado recebe as i n - d e s e j a mais. M u i t a g e n t e n e m c h e -
necessário c o n s t i t u i r u m a cultura, materialismo, mesmo o materialis- f o r m a ç õ e s pelos sentidos, de o u t r o ga m a i s ao pessimismo, c o n t e n t a - s e
u m a pedagogia do corpo. Não sei se m o dialético de Marx. É necessário acumula energia, alimenta-se. O em f i c a r v a g a m e n t e n a u s e a d a . A
é possível. É preciso a c a b a r com t r a z e r de volta a poesia. Considero corpo* g u a r d a o excesso de e n e r g i a a m e a ç a de h o j e e s t á n o tédio. E,
m u i t a s ilusões. Acredita-se muitas o p e n s a m e n t o de Nietzche m u i t o n u m c o m p a r t i m e n t o inútil que p r o - pessoalmente, a i n d a p r e f i r o a a n -
vezes e s t a r c u l t i v a n d o o corpo a t r a - m a i s rico do que m u i t o s que v i e r a m duz o p r a z e r : n ã o existe p r a z e r sem gústia ao tédio.

cusmn
negócio de alimentação comu- frio. O x é p r o n u n c i a d o como
nitária, que eu saiba, é uma xadrez. O h é a s p i r a d o e só

JORNAL DO ÍNDIO transa de 20 mil anos atrás. a p a r e c e e m t r ê s ou q u a t r o

ü&f
Essa moçada segurou econo- palavras. O g não é pronun-
micamente este nível de orga- c i a d o c o m som de ,i, m e s m o
nização social durante alguns a n t e s de e, i ou y. O m e o n
19 mil e não sei quantos anos. n a s a l i s a m as vogais v i z i n h a s ,
Agora, realmente, eu digo: o m a s d e v e m ser articulados
Ano1 - numero 2. espaço da civilização branca é claramente, embora no fim
muito grande e há falta de re- d a p a l a v r a . Ex.: a - s e m , Py-
cursos. Num lugar onde tem seem.
caça você introduz a espingarda GRUPOS CONSONANTAIS
aldeia nessa época. Aí nós, e muda o equilíbrio ecológico. Além do nh, só h á mb,
A malcheirosa
contentíssimos, íamos preparar Você não tem mais capacidade
tudo, quando alguém pensou: nd, ng. No p r i n c i p i o d a p a -
de sobreviver com arco e fle-
cha, você passa a ter necessi- l a v r a . n ã o se f a z e m a c o m p a -
"Pô, a gente tá com tanta n h a r de vogais. Ex. nd' o - ú - i
aventura n a carne e amanhã não vai ter dade da espingarda...
( n ã o o c o m e m ) ; m b a é (coi-
n a d a . . . nós podíamos guar-
sa).
dar uma carne de paca".

íerra d o urubu Imagina, pô, uma perna de


paca ou um t a t u . . . ontem não
Aqui, O d no princípio da p a l a -
v r a é s e m p r e p r e c e d i d o de n.
m a s p o d e - s e p r o n u n c i a r só o
tinha nada, então é uma festa.
Tupi
n, sem o d. Ex.: de ou nde
E, além disso, é o princípio da ( D r o n u n c i a - s e nde ou ne,
poupança. Isso passa a acon- n u n c a de) = t u . T a m b é m o
Como o cineasta branco Gustavo Dahl, tecer. Então, no dia seguinte g c o m p o r t a o n; Ex.: gatu
tentando ensinar poupança aos filmamos e penduramos a per- (pronuncia-se ngatu) -
na de paca bem no alto, para A m a i o r i a d o povo b r a s i -
bom, b e m .
índios, estragou uma bela perna de paca. a gente não comer. No outro leiro p e n s a q u e t o d o s os í n -
dia filmamos as nossas coisas. dios s ã o i g u a i s e f a l a m a VOGAIS
mesma língua. É um erro Y t e m som p e c u l i a r , o b t i -
Depoimento a Marcos Faerman. Quer dizer, o dia foi meio atri- t ã o grosseiro q u a n t o com- do ao se a b r i r os lábios co-
bulado. No terceiro dia, quando parar um latino a um anglo- m o p a r a p r o n u n c i a r i, m a s
amanheceu, eu não piquei a tal saxão e a c h a r que o francês t e n t a n d o p r o n u n c i a r u. As
carne de paca porque o assado e o russo "são i g u a i s " . O u t r o d e m a i s v o g a i s t ê m som p a -
Ou os brancos são superiores Por outro lado acontecia o se- (olha, por exemplo, como hoje d r ã o e n ã o se d i s t i n g u e m e e
erro é pensar que todos f a -
aos índios ou os índios são su- guinte: na aldeia a comida é é diferente), os índios quando
lam o "tupi-guarani", com- o f e c h a d o s de a b e r t o s . Além
periores aos brancos. Essa é propriedade comum. A farinha pegavam a carne, cortavam em
pedaços de bife e assavam rá- b i n a ç ã o que, a r i g o r , não disso, t o d a s as v o g a i s p o d e m
a nítida impressão que o índio é trabalhada coletivamente, é existe; tupi é u m a língua e ser n a s a i s : ã, i õ, íí, y.
dá: não é muito possível uma distribuída também coletiva- pido, tostavam ao fogo e co-
miam. Nós botávamos o per- g u a r a n i o u t r a : a p e s a r de
relação de igualdade. Pensei mente. Quer dizer, ainda que p a r e c i d a s , d i s t a n c i a m - s e co- SEMIVOGAIS
nisso quando estava no interior você seja velho, criança, invá- nil inteiro e ficávamos rodan-
do ele três horas pro assado mo o português do espanhol, H á t r ê s : 1, u, y. F o n e t i c a -
do Maranhão, numa aldeia lido, louco, vagabundo, você mente, assemelham-se e
ficar mais saboroso. Tínhamos H o j e , os e s p e c i a l i s t a s q u e e s -
Urubu, aculturada há muito passa a cuia de farinha e ga- c o r r e s p o n d e m à s vogais i, u
nha mesmo que você não tenha um rapaz que era assistente e t u d a m as línguas indígenas
tempo, para filmar Uirá. Mes- e y, m a s f o r m a m dítongo
mo assim havia muito índio trabalhado. Ou seja: a coletivi- cenógrafo, que é um amigo meu estabelecem quatro grandes
dade garante um mínimo de so- italiano, um grande cozinheiro. troncos: Tupi, Jê, Caribe e c o m a vogai que a n t e c e d e ou
por lá.
brevivência material para todos. Aruak. Sendo todas elas que se segue. Ex.: aü, eu, al,
Ele aprendeu a assar no Ve- l i n g u a s o r a i s (ou alguém eí, ií ( p r o n . áu, éu íu, ái.éi,
Um dia apareceu a mulher do neto. E, de repente, quando
chefe da aldeia, trazendo um Imagine bem, na civilização pensa que índio sabe escre- ii).
ele se encostou diante daquela v e r ? ) , é o T u p i o de m a i o r
menino de quatro anos de idade, • ocidental, a liberação que não DITONGOS
com um abcesso na cabeça cau- daria, por exemplo, os filhos posta maravilhosa de uma per- tradição escrita, que come- Crescentes: a vogai v e m
sado por berne. Berne é uma não dependendo dos pais, as na de paca, você imagina que çou c o m os missionários
aconteceu... e nós entramos a «n t e A
s d a 4s e mAi v oAg a l .A O r a i.A
s:
coisa que a gente está acostu- mulheres não dependendo dos (Anchieta, Nóbrega) elabo-
mado a ver em bicho. Mas h o m e n s . . . a liberação mental. numa de assados. rando gramáticas para me- ai, eim, oi, ui, yi, au, eu, íu,
tinha muito, era realmente uma l h o r e n s i n a r o p o r t u g u ê s aos oü, uu, m yu. N a s a i s : mã, ãi,
Além disso, tem a relação Acontece que, na manhã se- ei, 'ei, õí, üí, yí, ãfi, eu, Tfl, m,
coisa horrível, e fedia. guinte, de repente, vi um índio índios e a s s i m c a t e q u i z á - l o s ,
com a carne: a caça também é õu, t í u , yü.
distribuída coletivamente, dentro passando pelo nosso tesouro, isto é, a b r i r c a m i n h o ao co-
No primeiro dia não tive co- Obs. M u i t a s vezes esses
de um regime de trocas de gen- pela nossa perna de paca, lonizador.
ragem nem de chegar perto. ditongos são compostos de
De longe joguei água oxigenada tilezas alimentares. Então, se olhando e fazendo um sinal no C o m o de c o s t u m e , n ã o é
nariz com o dedo. Aí eu disse: dois e l e m e n t o s semantica-
em cima e disse "passa ama- você ontem me deu uma perna uma organização brasileira m e n t e d i s t i n t o s — e por isso
de paca, eu te dou um meio- "Pô, mas que esse índio safado q u e e s t u d a os t r o n c o s l i n -
nhã". Aí, no dia seguinte, me quer aqui?" Aí eu pergunto: se e s c r e v e m s e p a r a d o s por
lembrei do filme do Rosselini cachorro, pois sei que ama- güísticos e d i a l e t o s f a l a d o s h í f e n (ú-u, e - u ) , m a s pro-
sobre São Francisco, e disse: nhã. .. quebro o seu galho, "Que que há?" O índio: "tá por n o s s o s índios, m a s sim
você quebra o meu. É n u n c i a m - s e n u m a só e m i s -
"Não, vamos com calma, que bom não". Eu respondo: "como uma norte-americana, o s ã o de voz.
história é essa?" E tinha um uma mistura de interesses, gen- é que não tá bom, rapaz, você S u m m e r I n s t i t u t e of L i n -
tilezas, é uma coisa realmente D e s c r e v e m o s : a vogai vem
amigo meu que trabalhava no está é com inveja". "Não, não, guistic, que, a p e s a r d a s o r i - d e p o i s d a semivogal. O r a i s :
filme, fazia o som, o José An- galante. Parece que você está não, assim caboclo não gosta
na Provence, Galícia. É uma gens, f a z u m b o m t r a b a l h o ía, l e , JO, ue, ui, etc. N a s a i s :
tonio Ventura, que curtia um não". De repente alguém ficou de d o c u m e n t a ç ã o e r e c o n s - ia, le, íu. etc.
coisa absolutamente medieval. com medo — "pô, mas será
pouco essa t a m b é m . . . e nós t i t u i ç ã o de l i n g u a s q u e j á
dois começamos a tratar da fe- que realmente estragou a nossa desapareceram. Cente- HIATO
Acontece que o índio tem perna de paca?" Então nós fo- Q u a n d o se e n c o n t r a m d u a s
rida. A gente não sabia muito outro relacionamento, comple- n a s delas f o r a m sepultadas
também como... não conhecia mos lá e quando pegamos a c o m os ú l t i m o s r e m a n e s c e n - vogais, d á e n t r e as d u a s u m
tamente diferente, com o ali- perna de paca, vimos que es- h i a t o . D e v e m ser s e p a r a d a s
as técnicas rurais de tratamen- mento que ele detém. É com , tes d a s tribos, o u t r a s substi-
to da berne... então fomos na tava estragada, que "estava fe- na pronúncia. Exemplos
digamos assim, acumulação. t u í d a s pelo p o r t u g u ê s . Ésse
persistência: limpeza, desinfec- dendo. Daí fiquei com aquela contrapostos:
perna de paca estragada na risco o t u p i n ã o corre. Mas,
ção... tínhamos um estojo sa- Numa aldeia indígena, é claro, q u e m s a b e f a l a r t u p i ? No Português Tupi
nitário, desses da Johnson, não há geladeira. Quando tem mão, porque não tinha o que Faraó "aoba (a — oba)
guardar no dia seguinte. Fiquei B r a s i l civilizado, t a l v e z c i n -
aliás com um tubinho de ipo- comida, eles comem tudo o co p e s s o a s q u e s ã o c o n s i d e - caí p a i (Pa — i)
glós ou de uma pomada dessas. que tiver. Às vezes fazem com medo da fome no dia se- Macaé m b a é (mba — é>
guinte. Então guardei a per- radas excêntricas; ninguém
Durante 15 dias ficamos cui- aquelas festas enormes. Real- se i m p o r t a e m f a l a r p o r t u - Os h i a t o s se distinguem,
dando do menino. Era um pro- mente se empapuçavam duran- na de paca, que nesse mo- n a e s c r i t a , dos d i t o n g o s e
mento não dava mais prá co- guês, u m a l í n g u a e u r o p é i a
blema, porque ele vivia tirando te dois dias seguidos. É pos- tritongos, porque estes in-
mer. Aí peguei e tive de ter a q u e n a d a t e m a ver c o m a
o curativo; quando os vermes, sível que depois de dois dias cluem sempre u m a semivo-
as larvas se sentiam irritadas tenham de beber, se der, água coragem de me desfazer da gente, assim como ninguém
perna de paca, que em aldeia se p r e o c u p a e m b a l b u c i a r a l - gal ê, ú. ou y.
pela pomada e afloravam no e farinha. Mas, da mesma ma- Exercício:
de índio serve de comida du- g u m a s p a l a v r a s do idioma
miolo da ferida, a mãe ia cutu- neira que ficam alegres quando rante um dia p a r a duas a - é = digo
car com um graveto. Pegava, têm comida, não ficam tristes que era falado n a costa b r a -
pessoas. sileira, do Rio a t é o M a r a - a - í = diz
removia mecânicamenté a lar- quando não têm. a k a n g - ü e r a = caveira
va. Então, além de tratar, a nhão, e hoje está desapare-
Nós porém tínhamos esse É u m a , b a r r a um pouco mais c e n d o j u n t o c o m os índios potiá = peito
gente tinha que convencer o in- moema mentira
diozinho a não tirar o curativo problema de sentir falta de pesada do que na cidade. Você desse t r o n c o . Decidimos, por
carne, tínhamos problemas com vê realmente a estupidez de jo- isso, p u b l i c a r u m c u r s o da apyaba = macho
e a mãe a não mexer na ferida. m p - p ü - a r a - o que toca
certos hábitos alimentares, de gar fora uma perna de paca, língua tupi, elaborado pelo
Hi! O índio fugia, chorava, e comer feijão com carne, ou, di- num lugar que poderia servir dei padre Lemos Barbosa, e sa- gu-ara o que come
todo dia nós fazíamos isso. zendo assim, compor um prato alimento a duas famílias, porque t i s f a z e r o d e s e j o do major ikó a i b = viver m a l
Até que, depois de uns 10 dias, com hidrato de carbono, pro- você quis guardar, ficou com Policarpo Quaresma, o per- s - u p i á - ovo
começou a haver uma melhora. teínas. Isso são dados já mui- medo de não ter comida no dia s o n a g e m de L i m a B a r r e t o karaiba = homem branco1
Uns 20 dias depois, a ferida to fortes da nossa cultura. seguinte. Eu tive então uma
tinha fechado e eles não fica- q u e s o n h a v a vê-lo a d o t a d o uí farinha
sensação muito estranha. Sa- (Lembre-se: o hífen não
ram espantados, pois tinham Levi Strauss está aí para isso quei o bode da civilização c o m o l í n g u a oficial.
procurado a gente para isso mesmo, para mostrar como se deve ser c o n s i d e r a d o n a p r o -
ocidental: o medo da morte. LIÇÃO 1 núncia).
mesmo. Mas, ao mesmo tempo, dão muitas bandeiras nessas
aquilo confirmava um instante- coisas. Me lembro de um dia Realmente, sem ele... a morte As Consoantes Nos p r ó x i m o s números:
zinho de superioridade técnica. em que nós ganhamos duas faz parte da vida. Tem comi- Nosso a l f a b e t o s e r á o se- Acento, M e t a p l a s m o s , S u b s -
Pelo menos aquela técnica cura- pernas de paca e meio ca- da a gente come, fica alegre, g u i n t e — a. b ( d ) , e, (g>, h, tantivos, Gêneros e Núme-
tiva era uma técnica que nós chorro. Passara por lá um né? Não há essa tal de pro- i, i, k, m, n, nh, o, p, r, s, t, ros. C o m p r e o P e q u e n o Vo-
brancos manejávamos melhor. grande caçador, Urucutu. Ele priedade privada, a acumula- u, u, x. y, y. O s soa c o m o o cabulário Tupi - Português
É evidente que você sabe que tinha caçado três pacas. Sei ção. De repente você tem uns nosso ç e n ã o c o m o z. O r é para, brevemente, poder t r a -
uma ferida não se cura com um que, por uma dessas contin- lances um pouco profundos na sempre brando, m e s m o no d u z i r os t e x t o s que p u b l i c a -
graveto. gências, havia muita carne na medida de tempo, porque esse início d a p a l a v r a . Ex. roy = remos..
Índio exilado em São Paulo pinta e conta a história do Parque do Xingu
Amatí é um Trumai de
C PINTOR
vel. Amatí se encolheu, cho- sarampo, das rixas e aos
4MÂII não adiantaria nada e a só se locomove em cadeira
quase 30 anos, os 15 primei- rou muito, chamou seu pai e poucos foram se aproximan- única saída para seu caso de rodas empurrada por al-
ros vividos sem nenhum não apareceu ninguém. O do do posto. Os Suiás até era o hospital da cidade. guém e suas mãos estão de-
contato com brancos. Seu tempo conseguiu acalmá-lo pararam de brigar com os Amati pegou suas coisas, e formadas. Faz tempo que
mundo era o Xingu: as an- e trouxe muitas novidades. Trumai por causa do urucu e- veio de novo. O tratamento não desenha, m a s conseguiu,
danças com o pai, cacique da das mulheres. Nessa época, era sério: a tentativa de ven- através do Orlando, fazer
tribo, convidado, com as Sua saúde melhorou. Ele já Amati (que já estava moran- uma exposição dos seus de-
cer uma doença dolorosa, o
bonrarias tradicionais, para sabia muitas palavras da do e trabalhando com Or- senhos no Clube dos Promo-
língua nova e acabou conhe- reumatismo, que deformava
homenagear os mortos do lando. no posto) conversou e paralisava o índio aos pou- tores Públicos. Ele gostou
Quarup, mostrar boa ponta- cendo pessoalmente o Orlan- com seu pai e a tribo mudou- muito da exposição. Só
do. Já ouvira falar nele, na cos.
ria no Jawarê e tocar o Ja- se para mais perto também. achou estranho ter que cor-
cuí, a flauta sagrada dos sua região. Amatí já estava Foi em 68, no hospital, que tar o cabelo bem curtinho e
chefes. se acostumando com o hos- O contato com Orlando Amati começou a pintar, de- vestir terno para mostrar
pital da Ilha do Governador, transformou Amati. Um dia senhar, com o guache que suas obras. Mas valeu a pe-
Um dia veio o sarampo e quando recebeu alta e voltou teve que parar de trabalhar ganhou de presente. Primei- na.
a vida da tribo mudou. Ele para o Xingu. Sua chegada porque sentiu uma dor forte ro eram uns rabiscos, depois,
no joelho. Aconselhado pelo Hoje, Amati pode ser en-
não sabe muito bem quem foi confusa. Ficou entre pu- quando^ pegou jeito no pin-
pai a procurar um pajé, contrado na enfermaria n.°
chegou primeiro, se foi o lar de alegria ou chorar a cel, começou a reproduzir as
Amati relutou. É que ele não 2, da Santa Casa de Miseri-
branco ou o sarampo; só morte de mais da metade da cenas de sua terra: bichos,
acreditava mais em pajés e córdia do Jaçanã, SP, aguar-
lembra que seu corpo come- tribo. O sarampo havia obri- cores da mata, rostos de
feitiçarias. dando a hora de rever o
çou a esquentar, ficou ver- gado sua tribo a mudar do guerreiros amigos, o mundo
Xingu. Ele está lá, na sua
Guaianum para o Amoni. que estava longe: a selva.
melho sem usar urucu, e • É gozado. Quando eu era cadeira, quase todos os dias
.Amati pôde caminhar de
teve que ir para a rede, Nessa nova aldeia ficou sa- mais moço, queria ser pajé. tendo que explicar paciente-
novo. Voltou para o Xingu,
a cabeça girando, girando, bendo que o Orlando. logo Queria ser pajé, participar mente para os outros doen-
meio estranho. Como é que
girando, até parar. Quan- que recebeu a notícia da epi- do ritual, fumando tabaco e tes que o c h a m a m de "bu-
branco vive na cidade? Per-
do ela voltou a funcionar demia, levou os doentes pa- maconha e fazer t a n t a s ou- gre, animal, essas coisas"
ra o posto do SPI (o atual guntaram seus pais. E Ama-
e ele acordou, foi um sus- tras coisas, saber dos mis- que "nós, índios, não somos
posto Leonardo Villasboas) ti caiadão. O que é que você
to de louco que nem a paje- térios. Mas meu pai não de matar os outros por cau-
para serem medicados até a fazia lá, Amati? E Amati
Iança podia entender: o ver- gostou porque eu gostava sa de dinheiro. Nós mata-
doença desaparecer da re- nada. Só queria saber de
de do Xingu tinha ficado to- muito de mulher." mos sempre para defender o
gião. deitar n a rede e dormir.
dinho branco, as estrelas es- Mas a dor aumentou, ficou lugar. Quando vocês ouvem
Com o tempo aconteceu o essas coisas da Transama-
tavam presas ao teto, bem Dizem que a vida no X i n - insuportável. Então apare- inevitável. A doença evoluiu
perto da cabeça, e a mulher ceu um médico, que contou zônica, vocês falam assim.
gu volta à calma .muito rapi- muito e ele voltou para a ci-
toda de branco, que vinha para ele que sua dor não ti- Mas acho que vocês não
damente. As tribos da região, dade, para tentar mais uma
na sua direção, falava uma nha nada de espiritual. Ex- compreendem mesmo".
os kamaiurás, os kalapalos. vez a cura. Suas pernas pa-
língua nova, incompreensí- acabaram se esquecendo do plicou-lhe que a pajelança raram definitivamente. Ele Dácio Nitrini
Contos bretudo, porque dona Djil, ao'
longo dos seus 84 anos, sem-
imortalidade? Bem. Os que
duvidavam não foram, pelo m e -
Filosóíicos GAVETA LITERÁRIA p r e demonstrou u m a estranha
preferência pelos Divinos, os
nos, pegados de surpresa pela
Grande Revelação.
Anjos e Potestados que habi- Foi o próprio Etenildo Bon-
tualmente nos visitam. Rufino, sil, em suas pesquisas nas ca-
Eleôncio e Maravins, Anjos, e vernas da Ala Norte, que desco-
Uma Dupla de Cleonildo e Bavalera, Potestades, briu o pergaminho e veio cor-
viviam a organizar festinhas rendo pelas montanhas, às que-
Homossexuais (eles chamavam de tertúlias!) das, gritando "descobri! desco-
O masoquista: Caio a teus no iglu de dona Djil, e a portas bri!", na maior agonia, provo-
pés, faz-me sofrer de verdade fechadas! Se isso poderia ser cando uma reunião de todo o
hoje mais do que nunca, o chamado de um escândalo, to- povo aterrorizado na praça
máximo que possas. dos nós, ultra-liberais, diria até principal. Etenildo chegou e,
O sádico: Não! permissivos, fingíamos não arfando, subiu no coreto. Es-
O masoquista: Obrigado. ouvir os arrufos, gritinhos, ti- tava emocionadíssimo:
lintar de copos, ruflar de asas, — Achei o Diário de Caim na
e as risadas de dona Djil, acom- Caverna dos Três Ursos!
p a n h a d a s quase sempre de uma O povo n ã o . p o d i a abrir a
f r a s e intrigante, berrada (pra-
boca, de susto. O poVo pedia,
O Real e o zer? dor?) de cinco em cinco
só com as expressões do ros-
minutos:
Imaginário to, que ele dissesse tudo. E
— Ó Senhor d a s Divindades! ele:
Um pai e u m a mãe centauros
Fazei crescer no pelado! — Está escrito aqui! Aqui!
contemplam seu filho, que
Para Etenildo Bonsil, o Pro- Uma mulher da nossa r a ç a con-
brinca n u m a praia mediterrâ-
feta, a frase traía-se por si ceberá de u m Anjo; e o f r u t o
nea. O seu pai se volta p a r a a
mãe e pergunta: devemos di- mesma: segundo ele, as festi- dessa união seá chamado de
zer-lhe que é apenas u m mito? nhas de dona Djil não passa- O Messias. Ele trará, como
vam de sessões espíritas onde filho do Senhor feito homem,
o Senhor de Tudo era invocado a Verdade e a luz da v i d a . . .
p a r a criar sexo nos Anjos e Po- — E qual a Verdade? Qual
testades. Cansadas dos praze- é a Verdade? — a multidão se
meira ocasião favorável, diga- gens e o vigor dos cavalos de r e s mentais, as Divindades, in- refez do susto, m a s estava
A Morte mos a passagem de u m estrepi- tiro. A bicicleta, meio de fluenciadas por dona Djil C a r - desesperada.
Um m a n d a r i m chinês propôs toso avião a jato, a f i m de m o s - t r a n s p o r t e altamente científico, mina (no fundo u m a mulher — Aqui não diz não — quase
uma vez ao governador de u m a t r a r aos jovens os admiráveis se coloca historicamente entre ardente, inconformada com a s chorava Etenildo —, m a s posso
província esta medida que não resultados do esforço humano. a diligência e o trem, sem que limitações deste mundo) não adiantar que dos meus próprios
se tardou a adotar. No m o - O exemplo do "jet" é u m a das se possa definir exatamente o só concordavam com as ino- estudos, conclui que o Messias
mento em que a vítima devia melhores provas. Qualquer u m momento de sua aparição. vações, como agiam no céu, em nos t o r n a r á mortais e que se-
colocar a cabeça sobre o cesto sabe, ainda sem haver viajado Sabe-se, por outro lado, e isso moto próprio, através do t r á - remos perseguidos até o final
para que o carrasco pudesse neles, o que representam os constitui o último elo do p r o - fico de influências junto aos dos séculos...
cortá-la, u m cavaleiro chegava aviões modernos: velocidade, gresso h u m a n o , que o incômodo Querubins e serafins seus O povo, sem perguntar mais
a todo galope e gritava: Alto! silêncio na cabina, estabilidade, inegável das diligências agu- amigos.- nada, correu até o iglu de dona
O Senhor indultou o condena- rádio. Mas a ciência é por an- çou o engenho h u m a n o a tal Todos nós acreditamos na hi- Djil Carmina. Cada u m levou
do à morte! E nesse instante tonomásia u m a busca sem fim, ponto que não demorou a ser pótese formulada por Etenildo u m a arma, pedaço de pau, pe-
de euforia suprema, o carrasco e os "jets" não d e m o r a r a m a inventado u m meio de t r a n s - Bonsil, o Profeta. Tudo p a r e - d r a , vassoura.
cortava a cabeça do feliz mortal. ficar atrás, superados por n o - porte incomparável, o andar a cia tão claro! Bestavam outras — Sai daí, mulher! Sai daí,
vas e mais portentosas m o s - pé. Andarilhos e nadadores explicações , mas essas não mulher!
t r a s do engenho humano. Com constituem assim o coroamento ousamos especular, sobre os gri-
da pirâmide científica, como se O povo não precisou gritar
todas suas inovações esses tinhos, as asas ruflandos, os muito. Dona Djil Carmina
aviões tinham numerosas des- pode comprovar em qualquer copos batendo, ruídos típicos de
praia quando se vê os passean- abriu a portinhola do iglu, ao
O Ser vantagens, até o dia em que bacanais. lado dé u m Anjo que não co-
f o r a m substituídos por aviões a tes da represa que p o r sua vez
Um sábio chinês passeia com observam embevecidos as evo- E a vida foi correndo assim, nhecíamos. Estava linda, toda
hélice. E s t a conquista repre- durante muito tempo, nós a de azul, na sua gravidez bem
seu discípulo. Atravessam u m a sentou u m importante progres- luções dos banhistas. Talvez
ponte. Qual é a essência da seja por isso que h a j a tanta andar pelas montanhas ou a avançada. Dona Djil parecia até
so, pois ao voar a pouca ve- brincar com os nossos tetráne- mais moça com uns 70/75 anos.
ponte?, pergunta, o aprendiz de gente nas praias, pois os p r o -
locidade e altura o piloto tinha tos, colhendo nosso alimento Com a voz sua que nunca teve,
filósofo. gressos da técnica, embora igno-
maiores possibilidades de fixar como os patriarcas vêm fazendo voz celestial, ela apresentou o
Seu mestre o olha e com u m rados por muitas crianças, aca-
o r u m o e efetuar em boas con- há milênios. Anjo à multidão terrificada:
empurrão joga-o no rio. bam sendo aclamados por to-
dições de segurança as mano- da humanidade, sobretudo na Mas, no meu caso (e acho — Este é o Taludiano, gente.
b r a s de decolagem e aterrisa- época de férias pagas. que muita gente pensava co- O pai da criança.
gem. No entanto, os técnicos migo, só não falava por medo Taludiano cumprimentou a
continuaram trabalhando em ou respeito a u m profeta como todos com u m gesto de cabeça
busca de novos meios de co- Júlio Cortázar Etenildo), a dúvida a t o r m e n t a - e puxou sua espada de fogo
As Vozes do municação ainda mais adian-
tados, e assim d e r a m a conhe-
va. Prazer: seria esse o único p a r a deixar claro que nos m a -
motivo que levava dona Djil taria se déssemos um passo á
Silêncio cer, em breve intervalo, dois Carmina a querer implantar frente.
A energia atômica encadeada descobrimentos capitais: nos sexo nos Anjos? Não haveria,
LOUVADO
Depois, foi essa danação que
se desencadeou finalmente e referimos ao barco a vapor e p o r trás de tudo, u m a terrível todo mundo sabe.
destruiu toda a vida h u m a n a ao trem. Pela primeira vez, e conspiração política que p u -
graças a eles, se obteve a con- desse, inclusive, atingir a nossa Fernando Portela
SEJA
no planeta. Apenas u m habi-
tante de u m a r r a n h a - c é u de quista extraordinária de viajar
Chicago se salvou. Depois de a nível da terra, com a inesti-
ter comido e bebido o que h a - mável margem de segurança
via na sua geladeira, lido, visto
e ouvido sua biblioteca ideal,
que isso representava.
O SENHOR PROCESSO
seu museu imaginário e sua dis-
coteca real, desesperado por não
se ver m o r r e r , decide supri-
te, a evolução destas técnicas,
começando pela navegação
DE TUDO Foi você, seu filho,
mir-se e se atira ao vazio do marítima. O perigo dos in- (soa um tapa, voa uma pata)
40.° andar. No momento em cêndios, tão freqüente em alto A gravidez de dona Djil Car-
que passa pelo primeiro a n - Seu pai, sua mãe, seu amigo,
mar, incitou os engenheiros a mina, aos 84 anos de idade, não
d a r ouve tocar o telefone. encontrar u m sistema mais se- foi n e n h u m a surpresa,, nenhum (e o fio corre para a tomada)
guro: assim f o r a m aparecen- escândalo, pois neste Paraíso
do a navegação a vela e mais em que moramos, a vida será
Kostas Axelos tarde (embora a cronologia não perpetuada até o final dos sé- Foi você, seu cão.
—X—X—X—X— seja segura) o r e m o como meio culos. E acho desnecessário (a mão no interruptor)
mais adiantado p a r a impulsio- explicar mais. Todos vocês
sabem quem somos, todos os Sua namorada, seu irmão,
O Tesouro
n a r as naves.
Este progresso era considerá- jornais e revistas já falaram de (o murro, o urro ininterrupto)
vel, m a s os naufrágios se r e - nós. Com fotos.

da petiam de tempo e m tempo p o r


razões diversas, até que as ino-
E u dizia que não houve es-
cândalo na gravidez de dona Foi você, seu mal-
Juventude vações técnicas proporciona- Djil Carmina. Isto é, na gra-
r a m u m método seguro e a p e r - videz em si. Biologicamente, dito, foi seu sangue
feiçoado p a r a deslocar-se na era u m lugar-comum. Mas as vermelho, (água, sal, .
As crianças são mal agrade- água. Nos referimos n a t u r a l - circunstâncias — ah, as circuns-
cidas por natureza, coisa c o m - mente à natação, além d a qual tâncias !— f o r a m efetivamente o mergulho no tanque)
preensível pois não fazem mais não parece haver progresso misteriosas, p a r a não dizer e s -
que imitar seus a m a d o s pais; possível, embora a ciência seja púrias. Nós, * que não temos
assim, os que agora voltam da nada mesmo que fazer, andan- Foi você, sua mão, seu olho,
pródiga de surpresas.
escola, a p e r t a m u m botão e se do por essas montanhas de sua unha, seu dente, seu corpo,
sentam p a r a ver a telenovela Quanto aos trens, suas van- gesso e respirando o ar r a r e -
do dia, sem que lhes ocorra tagens e r a m evidentes e m rela- feito que nos m a n t ê m lúcidos seu pulso sem impulso, seu lábio roxo,
pensar u m só instante nessa ção aos aviões, m a s f o r a m s u - e viris até o Fim do Mundo, seu coração sem ação,
maravilha tecnológica que r e - perados pelas diligências, veí- não podíamos deixar passar u m
p r e s e n t a a televisão. Por isso caso desses sem muito cochi-
não será inútil insistir ante os
culos que não contaminavam o
cho e maledicência. É que dona
seu morto.
ar com a f u m a ç a do petróleo e
parvos n a história do progresso Djil Carmina sempre morou
científico, aproveitando a p r i -
do carvão, e que permitiam
a d m i r a r as belezas das paisa-
sozinha no seu iglu. E é, so- Otoniel Santos Pereira
H á u n s oito m e s e s , C a r t o l a
m e disse, e m s u a c a s i n h a a o
l a d o d a q u a d r a d a Escola de
S a m b a de M a n g u e i r a , n o R i o
de J a n e i r o , que s a m b i s t a h o -
j e e m d i a n ã o liga p a r a a
CAMBA DC ADONIRAN Edinilton Lampião
dro lembrado por Adoniran
n a c a n ç ã o Saudosa Maloca,
parou repentinamente
b e b e r q u a n d o o u v i u seu n o -
m e c a n t a d o pelo p o e t a —
a n o s depois, o m e s m o r e g e -
de

letra, "tudo avacalhação'. Fi- n e r a d o Mato Grosso morreu


q u e i curioso. O q u e é '-ligar — O sucesso de S a u d o s a c o r r i g i d o e n ã o de u m disco E s e m p r e m u i t o crítico, de i n t o x i c a d o por 12 c e r v e j a s
p a r a l e t r a " ? E u m c a r a co- M a l o c a — diz ele — n ã o é a ser e s c u t a d o " . C o m o se olho tias "sociedades" a r r e c a - pretas, d u r a n t e u m a come-
m e u . É d o povo. M i n h a m ú - sua única originalidade esti- dadoras de direitos autorais m o r a ç ã o a o l a d o de a m i g o s .
mo Adoniran Barbosa?
sica é o c h ã o f a l a n d o . B a s - vesse n a m a n e i r a n a d a g r a - ("Vitrola e m b a i x o do braço, Todo poeta tem visões,
C a r t o l a e n c o s t o u o violão, t a ouvir o c h ã o e m q u e o m a t i c a l de dizer a s coisas e prá v e n d e r disco n a rua!", a f i r m a m . O disco de Ado-
l i m p o u os óculos e s c u r o s n a povo p i s a e t r a d u z i r n u m a não no sentimento tão forte b r a d a v a e m 1958), n a s d e m o - n i r a n B a r b o s a e s t á n a s lo-
camiseta e cheguei a pensar boa. É isso a í . de l i g a ç ã o c o m o meio, q u e lições, n a desumanização, jas. E c o m u m discutível
q u e ele n ã o d i r i a n a d a . U m Se p e r t e n c e s s e a o u t r o ( s ) , o receio do r i d í c u l o d i a n t e nos e s t r a n h o s amores e pai- " a t r a s o " , j á que p i n t o u n o s
p i g a r r o , u m q u a s e sorriso a frase acima poderia muito dos i n t e l e c t u a i s cai p a r a t e r - xões d e s e n c a d e a d a s n o s s u b - m e s m o s t e m p o s das incríveis
(hoje em dia Cartola não d á b e m ser p e n d u r a d a n o c a b i - ceiro, q u a r t o p l a n o . t e r r â n e o s de S ã o P a u l o . Já ("engraçadas"?) letras de
g a r g a l h a d a s ) e o h o m e m que de d a d e m a g o g i a b a r a t a . M a s V a m o s i m a g i n a r este filho o c h a m a r a m de nosso pri- Raul S a n t o s Seixas, Walter
fez -Corra e olhe o céu" c o - A d o n i r a n n ã o é h o m e m de de v e n e z i a n o s c r i a d o e m V a - m e i r o p o e t a d o underground, F r a n c o , G i l b e r t o Gil, J o r g e
m e ç o u a m e d i t a r sobre o o u - se p a s s a r p r á esse t i p o de linhos circulando pela f a n - h o m e m acostumado ao gru- M a u t n e r , S m e t a k (sim, S m e -
t r o q u e c o m p ô s "Progréssio". coisa. P a r a q u e m r e s i d i u n a t á s t i c a S ã o P a u l o dos a n o s de, à l a m a , a n j o c a p a z de t a k ) , O. J o s é , G i s m o n t i e o u -
r u a A u r o r a ( l u g a r d a s bocas, 30 p a r a cá, f a r e j a n d o c o r t i - c a m i n h a r i m u n e n o m e i o de tros.
— Bom. O Adoniran, o
ços e d e t r i t o s , b o c a s e b o t e - q u a l q u e r t i p o de c o n f u s ã o N ã o se vê A d o n i r a n B a r -
A d o n i r a n é o s e g u i n t e : ele e m S P ) e a t é h o j e só t r a n s a
cos, a r m a z e n a n d o i n f o r m a - generalizada. bosa a g r e d i r q u e m q u e r que
n ã o p á r a p r á c o m p o r ; ele legal c o m a m a l a n d r a g e m ,
compõe e n q u a n t o anda, en- -As Mariposas" só p o d e r i a m ções e m seu c r â n e o c r i a d o r , E a m a n e i r a incrível c o m o seja em suas letras. Mas
quanto fala. Avacalhar prá ser c a n t a d a s a s s i m , que n e m t o m a n d o a o s goles t o d o o encarnou personagens nos e s t e b r i l h a n t e a d v o g a d o dos
m i m é n ã o ter o que dizer, n o disco: "Eu sou a l â m p i - e s c â n d a l o a b e r r a n t e d a so- f i l m e s A Primeira Missa, A humildes é habilidoso —
o que pensar. Antigamente, da e as m u l é é a s mariposa / ciedade xarope contemporâ- Carrocinha? desprezar a pompa, e partir
q u a n d o comecei a c o n h e c e r f i c a m d a n d o vorta e m vorta nea. C e r t a m e n t e escandali- Que e s t r a n h a s caracterís- para o bate-papo informal
as m ú s i c a s dele, a c h a v a p a - de m i m / t o d a noite, só prá zado. Então, p i n t a r a m no ticas um d e t e r m i n a d o tipo é sua grande a r m a .
l h a ç a d a . Depois, f u i g o s t a n - me bejá". meio da sua arte histórias de s a m b a e s t á t o m a n d o h o j e Nos E s t a d o s U n i d o s , de
do, g o s t a n d o , e h o j e a c h o ele E além do mais, toda a que hoje aterrorizam São em dia, Adoniran Barbosa? forma furiosamente mais
demais. f i l o s o f i a de A d o n i r a n . C o m o Paulo: Iracema, atropelada — Modelo 19 — r e s p o n d e u , f a n t á s t i c a , o c h o c a n t e Lou
Então, assim como a lite- todo bom pensador, reveste em plena avenida São João. sem p e n s a r . R e e d — líder d o "Veludo
ratura caduca levou um s u a s a b e d o r i a com u m a i n o - I r á c e m a , q u e e r a seu a m o r , Mulher, P a t r ã o e Cachaça, Subterrâneo", afilhado do
g r a n d e baile n o início d a d é - c e n t e d e s p r e t e n s ã o , coisa de e h o j e vive n o i m e n s o céu. Dona Boa, Malvina, Joga a papa Andy Warhol, criado
c a d a de 60, q u a n d o J o r g e quem curte mesmo a estrela E n o seu r o s t o e n r u g a d o Chave, Aqui Gerarda, a s m ú - n o s becos de NY — d e s e m -
M a u t n e r começou a publicar b a i l a r i n a . Do s a m b a a t u a l , está desenhado o Adoniran s i c a s dele s e m p r e contam p e n h a algo s e m e l h a n t e em
s u a t r i l o g i a "Mitologia do seis p a l a v r i n h a s : contrastante e maravilhoso: h i s t ó r i a s , d e u m a f o r m a ou c a n ç õ e s t e r r í v e i s e b e l a s co-
K a o s " , t a m b é m o s a m b a le- — Do j e i t o q u e vai, n u m um poeta sofrido m a s inca- de o u t r a . A de Vardemá m o Vicious, Walk on t h e
vou p o r r a d a s à s c u s t a s de p a z de e s c o n d e r o b r i l h o i n - dotô, g r a v a d a p a r a o c a r n a - wild side, P e r f e c t Day, He-
vai. roin e t o d a s .
Adoniran. É fácil n o t a r em A t o r (de c i n e m a , t e l e n o v e - f a n t i l e c a t i v a n t e dos olhos val d e 1958 — a n o e m q u e
g r a n d e s s a m b i s t a s c o m o Noei las, c i r c o s ) , h o m e m de r á d i o c a s t a n h o s , o sorriso m a n h o - o escrete brasileiro começou Atenção: Adoniran g a r a n -
Rosa, Nelson C a v a q u i n h o , o (inúmeros programas, levan- so, o h u m o r . a conquistar suas -maiores t e q u e n ã o vai p a r a r de c o m -
próprio" C a r t o l a , Candeia, do ao ar tipos populares), Ninguém pode n e g a r em g l ó r i a s " d o o u t r o l a d o do por. F a z e r o C i r c u i t o U n i -
M a r t i n h o d a Vila ou P a u l i - ex-profissional dós m a i s v a - Adoniran as virtudes de u m O c e a n o A t l â n t i c o , t e m p o de versitário está em seus pla-
n h o d a Viola — j á n e m f a l o o b s e r v a d o r a t e n t o de t o d a s Pelé — levou A d o n i r a n a nos, os t r a b a l h o s n a R e c o r d
riados e incríveis biscates,
e m Chico B u a r q u e — o g o s - a s r e a l i d a d e s , visíveis e i n - m a t u t a r sobre a necessidade vão c o n t i n u a r ( " b o m p r á f i -
u m a v e r d a d e i r a Escola. Ele
to f r e q ü e n t e e l i g e i r a m e n t e visíveis. D o s p a s s e i o s pelo d e se " l e v a r u m a v i t r o l i n h a c a r p e r t o de t o d o m u n d o " )
m e s m o a c h a q u e os c r í t i c o s e sua mente incansável é
incontrolável pela poesia de música ("a maioria, n ã o bairro da Liberdade brota- para as calçadas e apresen-
bem construída, a gramática r a m s a m b a s como aquele do b e m c a p a z de e s t a r r e s e r -
todos", adverte) analisam tar a arte n a rua, feito ca-
bem comportada. Adoniran chinês, o pasteleiro a t r a p a - vando mais pauleiras para
sua obra como quem está melô".
lhado . o distinto público.
n u n c a ligou p r á isso. d i a n t e de "um t e x t o a ser "Mato Grosso", u m m a l a n -

*
SpyteTA W U

JE HUMOR f

A Livraria Ciências Humanas tem


sAiu
i soo
books, libros, livres e livros ÉXeMPfA
Inclusive aquele que o professor de Sociologia
pediu e que não tem em lugar n e n h u m . Ou aquele
que você viu no Quartier Latin e não comprou
porque estava sem grana.
^P;> —
>f\
Pois o Kaul Mateos Castell — o dono da livra-
ria está por dentro das necessidades de cada curso. KX
Antropologia, Filosofia, Ciências Sociais, His-
tória — é com ele mesmo. E com sua equipe: os
próprios professores dessas disciplinas.
Se você escolhe livraria pelo tamanho, não
precisa aparecer: ela é pequenina. Mas, não sendo
u m super-mercado de livros, tem a maior quanti-
dade de livros importantes — por metro quadra-
do — qu evocê pode imaginar.
Faça u m roteiro de férias com o Raul. Afinal, NO Rio;
como dizem os antigos, é a melhor época papa ler L Í V R A R i A CARLÍTo5
e estudar. De verdade. (CO?PcA®ftHFf)
E se você não pode chegar até a Livraria
Ciências Humanas, ela chega até você. Pelo Reem- V
bolso Postal. A VENDA N A F A U ( u s p ) E E M C O M U N [ C A Ç O E S
7 DE ABRIL, 264. LOJA B-2 C U S P ) — El N A A G E N C IA e c L O O K 9Y (Q UT F1 CA NA-
FONE: 36-9544 QUE LA GALERK , E t j Q U Í N A D A A V . C 0 N 5 0 L A Ç Ã 0 E Av.S.LUÍS)
C. POSTAL 4439 CEP 01044
Detetive, o novo jogo da
Estreia. U m mistério (ação! sus-
pense! emoção!) para ser resol-
vido por até 6 pessoas. E para
ser assistido por quantas coube-
rem na sua saia.
Quem cometeu o crime?
Onde? Com que arma? Ganha
quem acabar primeiro com o sus-
pense.
Agora você pode rece-
ber as suas visitas com um bom
programa: um belo crime.
Detetive. Um verdadei-
ro caso de polícia. Da Estrela.

Sherlock Holmes,
Hercule Poirot,
Inspetor Maigret,
Columbo e Cannon
não seriam capazes
de descobrir quem
cometeu este crime.
Você seria?
GILBERTO GIL
AO VIVO
Por quase dois anos Gil amadureceu a idéia deste Lp.
Gravá-lo ao vivo foi se impondo aos poucos, na meaida
em que as interpretações de Gil começaram a se basear, cada vez
mais, em diálogos com a platéia: músico estimulando as pessoas
e as pessoas deflagrando a criatividade do músico.
Essa "conversa" está registrada e você pode participar dela.

•S Vi? • i
0 T* % M

/
PHILIPS
PRODUZIDO E DISTRIBUÍDO PELA

PHONOGRAM
Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial d o Estado de São Paulo, j u n h o de 2010.
ATFPÉ A FAVOR DATRADIÇÃO,DA PROPRIEDADE,

E CONTRA U M A FAMÍLIA.
Ditlnha nasceu em Puribi, no interior de ^ ^ F e n z ^ r t m n ã ^ a l z q u ^ n ã ^ e ^ N a õ ^ M S e m
São Paulo. Tinha doze irmãs ("acho que foi por causa da pobreza, o que falta mesmo é um
por isso que comecei a desmunhecar"), que a amor. Se conseguisse, ia ser a melhor dona de
d) §•9 vestiam de mulher, pintavam, brincavam com casa do mundo, largava o palco e ia ficar em
ela, de comidinha, casinha e costureira. Diti- casa, cuidando da roupa dele, fazendo comida
" a nha se chamava Benedito e, aos oito anos, e ajeitando a casa. A vida tem bons momentos,
o 2 quando perdeu a mãe, era um menino pobre, sentencia, mas duram muito pouco. Como quan-
"O feio, preto, que a molecada do lugar já gostava do, ao ir ao Rio de Janeiro pela primeira vez,
Q> | 1 de gozar: "eu saia na rua e era um tal de todo para participar, como convidada especial, de um
mundo fazer ai ai, ui ui e de me chamar de espetáculo de Caetano Veloso ("uma glória!"),
to «> florzinha, coisinha..." O consolo de Ditinha Ditinha foi presa na rua e passou a noite na
_ gS era a paixão por Antônio, o filho de um fazen- delegacia, sem ter feito nada de mal, só porque
deiro, com quem conviveu intimamente ("O meu estava parada na calçada da Cinelàndia, quando
"o § 1 primeiro e único amor") até que ela deixasse o carrão passou.
a cidade.
> »o Ditinha foi excelente estudante e tem, na
As circunstâncias em que Ditinha abando- bolsa, a caderneta com suas notas de ginásio.
(D &o nou o chamado hinterland foram trágicas: o Gostaria de ensinar história, mas não vê jeitp
pai surpreendeu-a em plena imitação de Car- de concluir nem mesmo o colegial. Sua vida é
cr mem Miranda e apontou a porta da rua. Ne- trabalhar e, nos fins de semana, ir à boite Danhy
s& nhuma das irmãs intercedeu e. aos quinze anos, e passear pela avenida São João, onde diz que,
Ditinha passou a viver no meio dos matos, de- de vez em quando, "aparece cada coisa mara-
baixo dos pés de jabuticaba, apanhando fruta vilhosa e eu vou logo dizendo, vem cá, com a
o do quintal dos outros e roubando pão, de ma- m a m ã e . . . " Não tem vontade de se operar, se
" O 0 O" drugada. Foi ai que pintou a idéia de ir para tivesse dinheiro ia montar um canto e deixar
c São Paulo: "uma cidade grande, onde eu ia o teatro, onde mora mal e de favor. Fossa? De
O 1 I poder me soltar, ser eu mesma". vez em quando. Até que Ditinha é otimista:
Essa mania de ser ela mesma prejudicou bas- -se eu for dar bola prà tristeza, não penso em
tante a vida na cidade grande. Durante quatro outra coisa, meu bem. Já pensou o que é ouvir,
meses ninguém quis lhe dar emprego e, morando como eu já ouvi, nem sei quantas vezes, as
na rua, nem banho Ditinha podia tomar. Um pessoas dizerem que têm nojo de você?"
dia, montou banca de engraxate e começou a (José Antônio Nonato)
trabalhar. Mas logo descobriu que até os sapa-
tos sujos tinham lá sua discriminação e nunca
escolhiam Ditinha para limpá-los. A solução
foi pedir emprego a uma senhora conhecida, Si he muerto y no me he
uma mulher caridosa, que empregou Ditinha dado cuenta a quién le pre-
para fazer todo o serviço de casa, a troco de
morada e comida, sem pagamento. Mas foi uma
gunto la hora? ESPERANDO
época feliz, "eu me vestia do jeito que queria,
trabalhava cantando e imitando a Dalva e a
Angela Maria, ela nem ligava piás minhas pintas
OS VIETS
e prás minhas fechações". Perto da autoestrada do sul, dei carona a
o °l Foi nessa época que Ditinha resolveu estu- "< Q . & S J" í> um rapaz. Cabelos compridos, calça Lee puída,
dar. Procurou muito achou um ginásio que um casaco verde do exército americano, tinha o
t- e

ar decidido do homem que sabe para onde v a i .


a aceitou. E onde, -nos dias de prova, de festa, Os Estados Unidos e demais países
os dias importantes", aparecia gloriosa, de mu- industrializados fecham as portas de Pergunto:
~ õ « lher. Pena que, quando acabou o ginásio, não 5 & % 3 „ — Você vai prá onde?
c s houve cursinho que aceitasse matricular Ditinha, suas fábricas e despedem empregados — Menton.
o * com a mania de ser ela mesma. A essa altura, por causa da crise de capital. Apenas — Não posso ser muito útil, eu paro em
já tinha largado o emprego de doméstica e tra- uma industria não conhece essa crise: Nemoura. Mas não é difícil ir de lá até Menton.
I?
C o
balhava, entre rosas e camélias, numa floricul-
tura da avenida São João. E, quando a flori-
cultura faliu, Ditinha atravessou a rua para ^3*
s s ap
8 38
a de armas.
O comércio internacional de armas
Você está de férias?
Não queria ser indiscreto. Mas ele tinha
vontade de falar e a conversa passou depressa,
pedir emprego no Teatro das Nações, onde mora c S ül o „ tem crescido vertiginosamente: entre não sei como, para o Vietnã.
S até hoje e onde tem o orgulho de dizer que co- « P3 CD i-i t?» Q, 1952 e 1969, a venda nos Estados Unidos Ele me explicou que no Cambodge e no Vietnã
meçou nas funções de zelador para galgar, passo passou de 300 mil a 5 milhões de dóla- a revolução estava quase feita. E u admiti que
O p> os comunistas estavam mesmo ganhando nestes
a passo, o difícil caminho da vida artística, pois,
agora, é uma das estrelas do espetáculo "As G i - . — P m res. No ano passado, o número já havia dois países.
goletes". subido para 18 milhões. Os Estados Uni- - E o Laos? Você acha que aquilo dura mui-
Sobre os homens, Ditinha é reticente: I » $ ° dos exportaram até agora, a 74 paises, a to tempo? Os exércitos dos dois Vietnãs reu-
•Hoje em dia, meu bem, é muito difícil en- •—o & 3 O" ÍT> soma de 22.800.000 de dólares em ar- nidos dão mais de três milhões de homens. O
contrar um homem, homem mesmo. De vez O . § * 5 3
V ?B3 > Laos não agüenta uma semana".
~ CD 35 0 3 mas de todos os calibres
em quando, eu aceito um convite e saio com um co o Eu admiti que se o novo Vietnã quisesse, o
rapaz ou outro. Eles chegam, cheio de machi- 2 - » U I & CD Durante a "guerra fria" dos anos Laos n ã o teria, realmente, muito tempo.
ces, na hora agá, meu bem, nem te conto O C Vi CD 50, os compradores mais entusiasmados - E por que não ia querer? — saltou meu
Com homem que desmunheca, Ditinha não CD >—1
> foram a Alemanha Ocidental e a Coréia interlocutor. Um exército revolucionário foi feito
sai, -mulher, chega eu..." Seu tipo preferido X* 3 O prá fazer a revolução".
t/2
B3 í/3 do Sul. Depois, passou a ser o Vietnã do
tem entre 25 e 30 anos, é moreno e tem, o que O Ü 9 Eu disse que esta idéia era freqüentemente
ela diz com os olhos brilhantes, -um corpão". CD O tQ t/2 Sul. Finalmente, Israel, os países ára- admitida. Ele puxou uma esferográfica do bolso
A situação de inferioridade da mulher preocupa 3 C bes e, claro, os militares gregos. A fre- e continuou.
Ditinha, mas, em sua opinião, as coisas estão 2 fí- o co S guesia vai mudando conforme os con- •Veja a fronteira entre uma Indochina co-
melhorando, porque -agora nós já trabalhamos rt- 03 5. munista e a Tailândia. Imensa. Indefensável.
e os homens não utilizam mais a gente".
i
P>. & ^ g.
O CD CO CO

^ Op ü
2.
^2
o To J3
»
flitos ditados por uma esperta diploma-
cia.
Um piparote e tudo aquilo cai. Você acha que
o Congresso dos Estados Unidos vai mexer uma
palha p r á defender aquele governo? O Bangla
NOVA DROGA PARAL1ZA E FAZ VOMITAR.
Moderníssimo método
de tortura acaba de ser
introduzido em várias
clínicas americanas, após
uma série de experiências^
em prisões e hospitais
psiquiátricos para
criminosos. Trata-se da
terapia por aversão
(aversion therapy).
A nova técnica está ligada
às pesquisas do chamado
" Compor tamentalismo ",
do cientista Burrus
Skinner — cuja teoria
domina o ensino de
psicologia nas faculdades
dé todo o mundo ocidental.
Consiste em aplicar no
paciente uma dose de
Anectina, remédio que
paralisa os músculos
e a respiração por quase
dois minutos. Nesse
espaço de tempo, o médico
facilmente convence o
paciente de que a
sufocação e a paralisia
são causadas por suas
tendências destrutivas
. — e ameaça repetir o
tratamento se ele insistir um para chegar a sentir Ben Turpin.
em suas atitudes. As vontade de vomitar. Ilustração chupada do
experiências foram feitas A terapia foi prevista por Bondinho
• com fumantes, alcoólatras, .Anthony Burgess, em o
viciados em drogas e "Laranja Mecânica", filme
homossexuais. O sucesso que ainda não tivemos o
foi total, em muitos casos. gostinho de ver.
Um homossexual ficou Perguntamos a um
tão curado, que hoje nem psiquiatra brasileiro:
pode mais ver homem. —* Isto vem para o Brasil?
Basta apertar a mão de — Vem, tudo vem —
disse ele.

Com Anectina
Dona Maria C o n c e i ç ã o da Luz, 46 a n o s , moradora'da A c l i m a ç ã o , e m p r e g a d a
doméstica, e x - o p e r á r i a faz um apelo neste depoimento prestado ao repórter
Dacio Nitrini

SEU PLÍNIO, DEVOLVA MEU FILHO

O moço Ademir, depois que entrou para a TFP, acha pecaminoso a t é abra
çar a própria mãe! Surrou as irmãs com uma borracha porque elas usam
calça comprida! Ei, Ademir, pare com isso rapaz, sua íamília está muito•
preocupada.
Ele, meu filho, conheceu um moço que tava adiantava... Dai o pai disse para eu dizer No dia do aniversário dele, na casa da
na TFP, o Bruno, que estudava junto com para ele que se ele quisesse voltar a minha mãe, eu estava conversando com
ele e que tinha uma perna mecânica. O estudar, era só dizer o quê e onde, que ele ele, peguei e dei um abraço rápido nele,
Bruno era um tipo assim bonitinho, gordinho, pagava tudo e que se ele quisesse morar ele pegou e me empurrou. Eu falei
eram amigos inseparáveis um do outro. O numa pensão, num hotel, onde fosse, que o puxa vida, eu sou sua mãe, será que nem
Bruno tinha um carro, eles iam junto para a pai pagava. F u i lá na T F P e falei para ele. eu posso te abraçar, sou sua mãe, posso
escola, quando chovia ele vinha buscar, tinha Dai ele respondeu para mim: -'eu não vou até te dar banho. Falei brincando e ele
umas meninas que também estudavam com mais estudar porque os estudantes são não achou graça, ele não acha graça em
eles. Eu não n ã o sei por que, mas o Bruno j á todos uns satânicos". E parou, não estuda nada.
era c}a T F P , e foi levando ele. Depois mais.
inclusive o professor de religião começou a Ele me falou assim: " A senhora gostaria de
Você vai lá na sede e vê muitos morando me ver usando hábito? Eu respondi, mas
virá-lo. Ess professor parece que depois lá. Tem bastante. Todos de família,
e

expulsaram ele do colégio onde lecionava, como é que é isso? Ele me respondeu:
todos estudados, um j á é engenheiro, outro é "Lembra-se do São Francisco, quando
lá em São Bernardo do Campo, porque médico, outro é advogado. Todos que
desviou muitos rapazes para a T F T . Esse andava pelo mundo, andava de hábito".
estão lá na sede, a maior parte mora por ali Acho que agora na T F P , os que subirem
senhor professor mora lá no Largo do mesmo, parece um quartel, sabe?
Cambuci com a senhora m ã e dele, que é mais, se aprofundarem mais, vão vestir
Todos morando por ali mesmo, todos essa roupa.
velhinha, ele também j á é um senhor, o tal estudados, todos com o seu diploma...
professor que desencaminhou ele mais o Só o meu filho, ele e mais alguns, que não Um dia eu estava atacando a T F P e ele me
Bruno. deu tempo e não chegaram a terminar o mostrou a fotografia do Dr. Plínio — é
Quando chegava Carnaval, Semana Santa, curso. Foi assim que eu perdi meu filho. um senhor velho — beijou e guardou no bolso.
coisa assim, ele pedia algum dinheiro Ele vem visitar minha m ã e de vez em Me assustei e perguntei: "Ué, ele j á virou
(ele não trabalhava), para ir para uma quando. Mas demora muito. Ele nem santo?" Ele me respondeu "Não, mas devo
chácara que a T F P tem lá em Itaquera, pergunta por mim, acho que ele acha que tudo para esse homem aqui porque foi
diz que é muito rica a chácara lá de Itaquera, eu sou mulher à toa, que sou isso, que sou ele quem me deu educação". Eu falei que
e eles iam acampar lá em Itaquera. Eu aquilo, ele não suporta, não gosta. Ele não, "você não deve nada a ele, porque
gostava, era coisa de religião, sabe? Todos pergunta para as meninas se elas gostam quando ele pegou você, você era um moço
os domingos o professor dava aulas para ele de m i m . estudante, não fumava, não bebia.era um
ir confessar e comungar. Todos os domingos Elas respondem que é lógico que elas rapaz educado, todos gostavam de você"
ele começou a ir na igreja lá perto da casa gostam, e ele fica quieto. Ele fugiu da Ele ficou bravo e falou: " A senhora queria
da minha m ã e . Mas daí o padre se família, quer dizer que para ele n ã o tem me ver com um copo na mão dentro de
escamou, estranhou, ele viu aquele rapaz família. Ele se dava muito com meu irmão, um bar, ou então queria me ver tomando
todos os dias e tocou ele lá da Igreja, daí ele que é pouca coisa mais velho que ele. Eles tóxico ou senão agarrado com umas
mudou pra outra e foi mudando, mudando ficaram mocinhos juntos, um usava a roupa prostitutas. É isso que a senhora quer?"
até que ele ia todos os dias lá na Catedral do outro, meu irmão sempre dava ü m Eu respondi que queria e a t é gostava, porque
confessar e comungar. Quando eu v i aquilo dinheirinho para ele — meu filho n ã o fuma assim "você era igual aos outros, i g u a l " . . .
e senti... n ã o dava mais. nem bebe — mas meu irmão sempre
Ele mudou. E m casa ele r a um rapaz comum,
e dava um dinheiro para ele. Eles perderam a Ele evita falar com a gente. Ele não olha,
tomava o copo de cerveja dele, tinha um amizade. U m dia, lá n a rua Agostinho ele não olha assim para os olhos dos outros,
conjunto, tinha dezoito anos, a t é tenho Gomes, no Ipiranga, eles estavam fazendo ele fica olhando para o lado, parado,
fotografia. Comprei uma guitarra para ele, uma campanha com bandeiras, faixas, meu não encaram as pessoas, entende? Não
comprei um violão que tenho guardado a t é irmão viu e correu a t r á s deles. Porisso dobram as mangas da camisa perto da
hoje. Ele ensinava os meninos a tocar eles não se falam mais. família, se vai dormir e tiver alguém no
cavaquinho, dava aulas. T.odos os A última vez que fui pedir para estudar, quarto ele n ã o vai, se ele estiver deitado no
domingos tinha um quarto vazio onde ele falou para mim que o D r . Plínio deu quarto, nem que seja a mãe, o irmão,
ensaiavam para tocar num bailinho da vila umas aulas para ele e disse que tem que qualquer um, não pode vê-lo, não pode nem
ganhavam corbeille de flores, um dinheirinho, ter todas as classes. Que tém que ter passar. A gente fica interessada, se
e vinha um senhor de carro buscar para o varredor de rua, que tem que ter o aprofundando para tentar chegar lá mas
eles tocarem por a í . faxineiro, que tem que ter o porteiro... não dá, quer chegar mas não d á . . .
Depois, quando ele começou bem mesmo n a que tem que ter todas as classes. Éu falei Outro dia dei um chinelo para ele e ele
TFP, chegava em casa e não queria que as para ele: "Você n ã o tinha dinheiro, mas me disse: " A senhora acha que vou andar
irmãs pusessem calça comprida. Quando um dia você poderia ser alguém, n ã o ser de chinelo?" Nem o pé! Eles não podem
foi um dia, minha m ã e n ã o estava em rico, mas ser alguém de nome porque você tirar a meia perto de ninguém, eles não
casa, ele pegou as três meninas, estava estudando, um dia poderia ser querem mostrar nada do corpo.
pegou uma borracha e falou para elas: advogado, ser médico, ser o que quisesse". Só sei dizer que entreilá um dia e tem um
— "Vocês, agora, vão tirar essas calças O homem pôs na cabeça dele que ele n ã o pavilhão bem grande com muitos
compridas. Quem demorar mais para tirar, não poderia estudar porque tem que ter a rapazes, mas muitos mesmos, sabe o que
apanha mais. Quem tirar mais rápido, classe pobre que varre o chão, que limpa. Lá é um quartel que tem bastante gente?
apanha menos." na T F P ele é faxineiro, serve de garção. Era assim, um tipo de um quartel. U m
A primeira vez que fui na T F P e perguntei entrava outro saía; gente do interior
Então ele ficou no quarto, elas tiraram as por ele, ninguém o conhecia. E u falei que
calças e deram. Ele saiu para o quintal, que chegava. Passam perto um do outro e
era meu filho, que fazia tanto tempo que fazem que nem soldado, fazem
jogou álcool e pôs fogo. E l estava mesmo
e
tinha saído de casa e eu sabia que ele
mudado, j á estava mudado, ele começou a continência. Todos sabem essas lutas:
tava l á . Entã o eu dei um aperto e o Ademir parece inclusive que dá aulas de
bater nas meninas, a t é que um dia a gente apareceu outro que disse que ele tava em
falou para ele ficar de vez na T F P . caratê lá.
outra casa, na outra sede, eu fui me
Um dia ele deu um p o n t a - p é na irmã dele informando, me informando, aí chegou Tem o de grau mais alto, de grau mais baixo;
na Miriam, que machucou todo o braço, não um senhor de moto, eu falei para batem o pé um para outro e chamam qualquer
chegou a quebrar, mas machucou. Aí eíe ficou ele que era m ã e do Ademir, assim assim, pessoa de senhor, pode ser a t é uma
só pensando na religião, só falando em Santo e que queria falar com ele. Ele mandou criancinha que é senhor. A gente n ã o
so falando em Deus, tudo para ele era pecado. eu voltar no outro dia e consegui falar com consegue descobrir o que é. Só vamos saber
Tirar a meia perto de uma pessoa é pecado meu filho. mesmo quando sair alguém lá de
se voce tira a camisa perto de uma pessoa dentro. Faz tempo, um tal de Orlando
e pecado, eu que era a m ã e dele não podia saiu, ví no jornal, atacou mas não acontece
por a mão nele, a m ã e gosta de chegar perto O pai dele foi diversas vezes lá e foi m a l
recebido, eles falam que não está e fecham nada, ninguém se importa com eles na rua,
do filho e abraçar, mas não podia por a mão a polícia n ã o faz nada.
nele que era pecado, tudo para ele a porta, n ã o querem pessoas de fora,
não têm atenção para outras pessoas. A última vez que eu ví o Ademir foi na T F P .
ficou sendo pecado. Cheguei lá e duas senhoras velhas
Agora eles estão com uma santa, acho que é
Um dia mostrei o blusão do Liceu Siqueira a Nossa Senhora de Fátima, dizem que é mandaram eu entrar. Fiquei num lugar
Campos, onde ele tirou o ginásio. Sabe, os uma santa muito milagrosa, uma santa que que tinha escrivaninha e a máquina
moleques todos escrevem uns nas costas' fala. E l a não é do Brasil, ela veio de avião, de escrever dele. Quando ele chegou e me
dos outros, fazem desenhos, tudo... eles vão fazer uma procissão e estão viu disse: "Olha, estou em cima da hora
pintado. Aí falei assim: "ó Ademir, eu vendendo um santinho dela por Cr$ 10,00. e agora vou fazer uma coisa muito
guardei esse blusão aqui porque a gente pagou Em frente de onde ele mora tem uma colega importante"... Eu falei que j á sabia o
o ginásio para você ali, com tanta de infância dele, que está louca para que era. Eram quase seis horas, hora da
dificuldade, que quis guardar esse blusão falar com ele, conversar. E l a me disse ave-maria. Eu falei pode ir, pode ir
como lembrança", Ele respondeu para mim: que o Ademir j á reconheceu çla mas n ã o porque nunca mais volto aqui. Saímos
Mãe, dá que eu vou queimar esse blusão olha para ela. Acho que eles não olham nós três, eu as Irmãs dele. E ele saiu também,
e

porque isso é coisa do capeta". ninguém, eles recebem instrução para n ã o foi embora com um terço desse
Aí que eu ví que ele j á t a v a . . . que n ã o olhar. tamanho, que eles usam na m ã o .

REFÓRTERES: COLABORADORES:
Dácio Nitrini, Cláudio Faviere,' Alexander Solnik, Perclval de
Moacir Amâncio e Nonato. Souza, João Antônio, Moisés R a -
binovich, Cyntia de Almeida P r a - Ex-Editora Ltda., r. Santo Antônio.
FOTÓGRAFOS: do, Lúcia Villar, Teresa Caldeira, 1043 — SP NENHUM DIREITO R E -
Vilma Grysinski, Mariangela SERVADO Ex- está assentado no
Domingos Cop. Jr., Lucrécio Jr., Cadastro da Divisão de Censura de
Mário Paiva Jr. Quintela Medeiros, Vitor Vieira,
EDITORES: Pharaó, Luis H . Maia Fruet, Diversões Públicas do DFF. sob n.o
Marcos Faerman, Miltainho, Paulo Moreira Leite, José Antônio 1.341 — P. 209/73. Distribuição na-
ARCHIVO E PRODUÇÃO cional: Superbancas Ltda. (Rua Guaia-
Hamilton Almeida Filho (HAF), Severo, Edinilton Lampião, Nelson
Palmério Dória Vasconcelos, G u i - Luiz Carlos Guerrero. Blecher, Polé. Delfim Fujiwara, nazes, 248, SP). Tiragem: 17 mil
Sandra Nitrini, Edgar Vasques, exemplares. Impresso nas Oficinas
lherme Cunha P.nto (redação); do Jornal Paulista, r. Oscar Cintra
Hermes Ursini, Vanira Codato, Administração: Publicidade: Mareei Faerman, Marli Salvino de Gordinho, 46 — SP.
Joca Pereira (arte) ARMINDO MACHADO PAULA PLANK Araújo.
flDOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICAD m LASSIFICADOS
Kor Jim H ouga m

ESPIÕES A L U G A - S E

£ Temos longa tradição no


ramo. Entre nossos
clientes, contamos com
firmas importantes
como a ITT.
I
/Chame a Intertel, nas
Bahamas, Londres, Toronto
ou Washington.
I
INTERTEL Principalmente w hington
as

L J
CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIF
Washington transformou-se numa cidade conhecem a natureza eventualmente bélica de
paranóica. Se alguém ouvir com atenção, po- seu relacionamento com outros países, com os AGENTE SECRETO
derá perceber os acordes da -Danse Macabre" controles governamentais por estes impostos e
pairando sobre as casas e acima da sede da
CIA em Virgínia. O clima é surrealista, Nunca
com o público.
OFERECE-SE
houve tantas sombras por aqui, tantos espiões Branco, americano, culto,
e contra-espiões, analistas clandestinos, agita- E X E M P L O C O M NIXON bonitão, vasta experiência e
dores, manipuladores, especialistas em mter-
cepção, investigadores e detetives. A comuni- O melhor exemplo desse tipo de organiza- bons contatos. Referências-
dade da inteligência, outrora mero subúrbio ção privada, provavelmente é a International "J. EDGAR HOOVER", Was-
do governo, cresceu até atingir dimensões de Intelligence Inc. — Intertel —, misteriosa fir- hington DC.
metrópole. Uma cidade secreta entre nós. I m - ma cujas atividades tiveram relação com cs
possível determinar seu tamanho exato — para negócios de Howard Hughes, Robert Vesco, os
não falarmos em sua influência. Tudo é se- "encanadores", a ITT, Bebe Rebozo e até a já ocuparam: chefe da Seção de Planos Espe-
creto em relação a ela. Mafia. De fato, existe uma relevância parti- ciais da Agência de Segurança Nacional, dire r

Também é difícil avaliar o número de cular na constatação de que sua própria exis- tor da Divisão de Segurança Interna e Inteli-
pessoas que trabalha em atividades de inteli- tência parece ter lançado uma sombra de pa- gência do Serviço de Imposto de Renda, vice¬
gência, mas o senador William Proxmire cal- ranóia sobre Richard Nixon — e, pelo menos -diretor de segurança da Agência de Segurança
culou, em 1973, que o governo emprega pelo indiretamente, contribuído para a destruição Nacional, vice-diretor de segurança do Depar-
menos 148 m i l funcionários nesses serviços, política do ex-presidente. tamento do Estado, supervisor de Atividades
cifra que, não obstante, é muito baixa, pois Em 1971, Jack Caulfield, um agente da de Inteligência do F B I .
inclui apenas os empregados nas organizações Casa Branca, estava tão preocupado com a Contudo, não é a motivação da Intertel
englobadas pela U . S . Intelligence Advisory Intertel que recomendou uma campanha de que merece ser questionada, mas a de seus
Dia, Seção de Inteligência do Departamento do contrainteligência para neutralizar esta empre- clientes. Uma -análise de integridade de co-
Board: CIA, Agência de Segurança Nacional. sa. O que alarmou Caulfield foi a explosiva municações" soa muito bem — e esta é a i n -
Estado e as divisões de inteligência do Exér- mistura de associações políticas e econômicas tenção —, mas e se o equipamento do códigos
cito, Marinha, Força Aérea, F B I e Departa- que cercava a Intertel. Muitos agentes da fir- e criptogramas resultante for usado para arrui-
mento do Tesouro. Não estão incluídos os ma a serviço de Howard Hughes tinham uma nar a economia ou subverter as instituições
agentes em tempo parcial e o grande número profunda afeição pela família Kennedy. As políticas de outro país? Os -analistas' são
de agentes e investigadores distribuídos por controvertidas relações da família Nixon com responsáveis?
todo o governo em instituições supostamente Hughes, combinadas com as simpatias políticas
-abertas", como o Serviço de Imposto de Renda dos agentes da Intertel, sugeriam a possibili-
e o Departamento da Justiça. dade de revelações embaraçosas para o presi- CONFUSÃO NO PARAÍSO
Seja qual for seu tamanho exato, a comu- dente, no ano vital da campanha para sua re-
nidade da inteligência é ampla e cresce cada eleição. Em parte para combater a organi-
zação privada, Caulfield tramou a Operação A Intertel nasceu no fértil solo geopòlítico
vez mais. No mínimo, seu guarda-roupa é su- das Bahamas, um arquipélago de mais de 2.500
ficientemente espaçoso para acomodar 148 m i l Sand Wedge, plano que incluía a criação do
que ele descreveu como -uma Intertel republi- ilhas e recifes que se estende na altura do l i -
capas e, talvez, igual número de espadas. Seus toral sül da Flórida. Lugar ideal para o apa- 1

serviços especiais — infiltração, subversão, v i - cana". Incapaz de decidir quem deveria che-
fiar a empresa — Caulfield nomeou a si mes- recimento de uma agência tipo -missão impos-
gilância e espionagem — têm demanda cres- sível", freqüentado por vigaristas, playboys, c a .
cente. Embora ainda existam muitas fontes mo, enquanto outros insistiam no irmão de Rose
Mary Woods, a fiel secretária de Nixon —, a fetões, bilionários, ingleses das colônias e pre-
diferentes de poder nos Estados Unidos, tudo tos miseráveis. Durante grande parte de sua
indica que a tendência do país para a tecno- Casa Branca expandiu as atividades de sua
unidade interna de -encanadores' — com ps história recente, as Bahamas foram controla-
cracia impõe uma equivalência mais completa das por um grupo de negociantes, brancos co-
entre informação e poder. Mais que nunca, resultados conhecidos.
nhecidos como os Bay Street Boys, dos quais
a força política e econômica advém para aque- O plano de Caulfield ilustra bem uma ca- um dos mais poderosos era sir Stafford Sands,
les que possuem acesso especial ou controle racterística das organizações privadas: elas ali- advogado cujas atividades particulares nada
sobre linhas de comunicação e informação fora mentam mutuamente suas paranóias. A pro- sofriam com seu serviçop úblico como minis-
do alcance do público. posta tende também a confirmar aquilo em tro das Finanças e do Turismo. Um de seus
Um segundo motivo para a emergência das que muitos jornalistas acabaram por acredi- clientes, o ex-convicto Wallace Groves, pagou¬
organizações privadas de serviços de inteligên- tar: os microfones instalados na sede do Par- -lhe quase dois milhões de dólares em -hono-
cia é o fenômeno das multinacionais. Alguns tido Democrata em Watergate parecem ter sido
7
rários' . Pg-
destes conglomerados foram descritos como um exercício de contrainteligência. Groves tinha condições para isto. Graças 7
"Estados soberanos'. A metáfora é mais que A Intertel é uma rede de agentes cujas a leis escritas por sir Stafíord, Groves comprou
adequada e está ficando cada vez mais apa- especialidades incluem os campos da coleta de uma área de 550 quilômetros quadrados na prin-
rente que o que é bom para as multinacionais informações, economia, processamento de da- cipal ilha do arquipélago por 2,50 dólares o
não é necessariamente bom para os Estados dos, contabilidade, engenharia de sistemas é acre, revendendo-a alguns anos depois por 50
Unidos — como a Marinha descobriu, durante ciências do comportamento. A firma tem seu mil dólares o acre. Sands também conseguiu
a última guerra no Oriente Médio, quando n ã o quartel-general no segundo andar do edifício as licenças para que fosse permitido o jogo em
pôde abastecer seus navios diante da recusa de Hill em Washington, além de filiais em Lon- Freeport, ponto-chave do império financeiro de
uma companhia petrolífera supostamente "nor- dres, nas Bahamas, Toronto, Detroit, Nova York Groves.
te-americana", cujos diretores temiam ofender e Los Angeles. A empresa não fornece sua Por volta de 1964, as propriedades de Gro,-
seus sócios e anfitriões árabes. lista de clientes, mas sabe-se que oferece con- ves valiam muitos milhões de dólares. E l con-
e
sultoria a bolsas de valores, bancos de investi- tava com muita ajuda, não apenas de Sands.
mentos, jornais, aeroportos, companhias de se- mas também de seu sócio Lou Chesler, um f i -
guros, bilionários, governos, estabelecimentos de nancista canadense que pediu dinheiro aos ban-
SIGILOSO jogos e corporações multinacionais. Tom Mc
Keon, vice-presidente executivo e conselheiro
cos e conselhos a Meyer Lansky, o famoso
gangster da Mafia. Não se sabe se Lansky os
Estou a perigo, man. geral da Intertel, diz que a organização aceita deu, mas certamente tinha motivos para fazê-lo.
Cartas para "Mancha Ne- clientes americanos e estrangeiros, mas seu alvo Desde que Fidel Castro nacionalizara as pro-
básico em matéria d marketing é o grupo dos priedades da quadrilha em Cuba, o crime or-
gra", redação deste jornal. e

1.000 mais ricos, publicado pela revista For- ganizado procurava uma nova base para seus
tune. cassinos. As Bahamas eram uma alternativa
A Intertel protege informações secretas, razoável para substituir Havana.
Os objetivos a longo prazo da política ex- quer estejam gravadas, impressas ou na cabeça
terna norte-americana nem sempre coincidem de um empregado, investiga antecedentes e
com os planos das multinacionais, mesmo quan- avalia a "atitude dos funcionários",- cria -sis-
do seus intereses são mútuos. A CIA, como temas de inteligência" industrial contra a es-
percebeu o diretor da ITT, John McCone, ao pionagem neste ramo, fornece "investigações
tentar sabotar a economia e manipular as elei- eletrônicas defensivas" para saber se o seu
ções no Chile, não faz suas operações na de- cliente tem microfones ocultos no telefone ou
pendência da disponibilidade dos milhões de escritório, autentica ou desabona documentos
dólares oferecdios pela indústria privada — em- realiza -análises de integridade das comunica-
bora McCone devesse saber disso, pois foi d i - ções" para ver se o cliente precisa de equipa- Enquanto estes acontecimentos ocorriam em
retor da agência de 61 a 65. mento criptográfico, promove campanhas para Freeport, Huntington Hartford, o excêntrico
Quando se trata de guardar "informações melhorar a imagem de organizações ou indiví- magnata dos secos e molhados, empenhava-se
patenteadas' dentro dos Estados' Unidos, codi- duos, aconselha em relação às oportunidades em transformar uma ilhota chamada Hog no
ficar os meios de comunicações, infiltrar gover- géo-políticas em matéria de "switch-trade" Mônaco do Caribe. Batizou a ilha de Paradise
nos no Oriente Médio ou financiar contra-revo- (transações internacionais em que o vendedor e aplicou milhões em seu desenvolvimento, mas
luções na América Latina, as multinacionais é pago com favores e não em dinheiro), iden- faltavam duas coisas essenciais para o sucesso:
precisam se virar sozinhas, criando seus pró- tifica letras e ações roubadas, evita o roubo d e uma ponte ligando ao continente e uma licen-
prios serviços de inteligência ou contratando valores e faz "pesquisas industriais de campo', ça para o jogo. Hartford não conseguiu ne-
os serviços de firmas cuja lealdade está a ven- uma espécie de análise econômica e político¬ nhuma delas, possivelmente porque o seu cas-
da. Mas, de forma geral, o capitalismo de -social que lhe dirá, entre outras coisas, se o sino competiria com o de Groves e possivel-
canhoneira seguiu o mesmo caminho da d i - lugar onde você vai instalar sua indústria tem mente porque cometeu a asneira de contribuir
plomacia de canhoneira: nos altos negócios, tal estradas de ferro em número suficiente ou ao Partido Liberal Progressista, rival dos Bay
como na política internacional, hoje em dia é muitos comunistas. E faz mais, muito mais, Street Boys. Para salvar sua posição, Hart-
preciso uma estratégia mais sutil. Trata-se, tudo envolto numa linguagem extremamente ford vendeu quase todos os interesses de Para-
porém, de uma estratégia basicamente anti- misteriosa. dise Island à Mary Carter Paint Company
democrática, uma vez que depende da mani- Em outras palavras, a Intertel é uma firma a firma que se tornaria a Resorts International,
pulação sub-reptícia de instituições, informa- de "consultoria administrativa", especializada, fundadora da Intertel. O novo sócio de Hart-
ções e da opinião pública. Afinal, a comuni- em serviços confidenciais no setor de inteligên- ford, James Crosby, não perdeu tempo para
dade da inteligência lida com habilidades ca- cia. Para que ninguém vá pensar que a Intertel entrar em acordo com Groves, adquirindo os
racterísticas da guerra. Ao recorrerem a estas é apenas um grupo de detetives decadentes, serviços de sir Stafford, e logo depois conseguiu
habilidades, as multinacionais mostram que re- estes são. alguns dos cargos que seus agentes a licença para o jogo e a ponte. O cassino de

CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSI


CADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS
Paradise Island só deveria ser aberto em j a - claro. O que é certo é que a Intertel teve ' Ao mesmo tempo, Vesco também era alvo
neiro de 1969, mas j á chamara a atenção do uma grande participação em sua expatriação. de uma investigação da Intertel e, embora a
homem que se tornaria presidente da Intertel: Na véspera do Dia de Ação de Graças em companhia certamente tivesse conhecimento das
Robert Peloquin, na época chefe da primeira 1970, Hughes foi tirado de seu quartel-general acusações contra o financista, Crosby só inter-
Força de Ataque contra o Crime Organizado do em Las Vegas e embarcado num avião com des- rompeu as negociações com ele quando o caso
Departamento da Justiça, um dos principais tino a Paradise Island. Agindo sob ordens de estourou.
responsáveis pela popularização do conceito de altos executivos da Hughes Tool Company, a A intriga continuava. Enquanto suas ati-
uma conspiração criminosa nacional chamada Intertel assumiu o controle dos cassinos de vidades eram investigadas pela Comissão dê
La Cosa Nostra. Hughes. Robert Maheu, confidente e chargé Valores e Ações e pela Intertel, agentes do De-
James Crosby foi visitar Peloquin no De- d'afaires do bilionário, foi sumariamente des- partamento de Narcóticos e Drogas Perigosas
partamento da Justiça, pedindo ajuda em re- pedido, tal como outros empregados de con- foram contratados por um sócio de Vesco a
lação a dois problemas. Primeiro, queria o fiança. Maheu afirmou que seu patrão fora fim de revistarem os escritórois do financista
nome de uma firma que cuidasse da segurança -raptado'', citando entre outros motivos seu em busca de aparelhos de escuta. Posterior-
e fiscalizasse os empregados de seu novo cas- estado de saúde extremamente impróprio para mente, Vesco pagou o organizador da busca
sino. Peloquin respondeu que não podia reco- uma viagem. Que Hughes fosse para as Baha- com três mil dólares em fichas de jogo de um
mendar nenhuma empresa no gênero. Segun- mas —. diante do estudo secreto desfavorável, cassino das Bahamas'
do, Crosby estava apavorado com um jogador de sua doença e de sua raiva aos negros
chamado Mike McLaney que, juntamente com parecia muito excêntrico.
outros, queria um pcuco de ação em Paradise Tom McKeon, conselheiro-geral da Inter-
Island. tel, a t é hoje fica suscetível quando se fala na SERVIÇO
Peloquin providenciou uma investigação, Operação Hughes, mas insiste em frisar que a
introduziu matérias na imprensa sobre a In-
fluência do -crime organizado" nas Bahamas
companhia agiu segundo as ordens expressas GARANTIDO
do bilionário De qualquer forma, o caso foi
e negociou a expulsão de várias pessoas da ilha. muito lucrativo para a Intertel, que começava Muitos anos de prática.
Meses depois, demitiu-s do Departamento da
e assim suas atividades com uma operação espe- Homens treinados em alijar
Justiça e pôde então se encarregar do outro tacular. do mercado aquela empresa
problema de Crosby: a segurança do cassino
e a vigilância de seus empregados. concorrente no tráfico de
A Resorts International é um produto da drogas.
Mary Carter Paint Company. Depois de cons-
truído o cassino em Paradise Island, Crosby
SENTE-SE Fale conosco!
desligou as propriedades nas Bahamas do resto
da Mary Carter e criou a nova empresa, cujas
ESPIONADO ??
perspectivas pareciam grandiosas. Peloquin Apenas um ano depois de receber ajuda
saiu do Departamento da Justiça e abriu o Oferecemos esquema se- de agentes do Departamento de Narcóticos,
escritório de advocacia Hundley and Peloquin, guro de contra-espionagem. Vesco foi acusado de ter financiado uma tran-
que admitiu a Resorts como cliente. A com- Cartas para Crazy. sação internacional de heroína.
panhia prosperou de maneira impressionante.
Amigo íntimo e sócio comercial de Beb Re- Numa série de acontecimentos aparente-
e

bozo, Crosby doou 100 mil dólares à campanha mente não relacionados, a própria Intertel foi
de Richard Nixon em 1968. SPY x SPY envolvida com agentes de narcóticos em 1973.
Funcionários do Departamento de Narcóticos
O encontro entre Nixon e Crosby parece entraram em contato com a Intertel em feve-
ter sido um caso de amor à primeira vista. Por volta do final do primeiro ano de exis-
tência, a Intertel estava envolvida num tenso reiro daquele ano, com uma proposta chamada
Crosby chegou até a colocar o iate da compa- Operação Dólar de Prata, uma conspiração des-
nhia à disposição do candidato e, posterior- e eventualmente cômico jogo de espião - ver-
sus - contraespião. Enquanto a companhia i n - tinada a pegar em flagrante um hóspede inde-
mente, tornou-se um dos convidados ocasionais sejado do Frontier Hotel, pertencente a Hughes
da Casa Branca. vestigava Mahéu, e vice-versa, o espião da Casa
Branca Jack Caulfield investigava a Intertel, — um hóspede que se acreditava ser traficante
convencido de que a empresa era uma CIA de drogas. O Departamento de Narcóticos pro-
particular trabalhando em nome dos interesses meteu infiltrar-se no grupo do homem se a
Intertel induzir a organização de Hughes a
V E J A ILUSTRE da família Kennedy. O que levou Caulfield a
esta conclusão não é difícil de se imaginar. financiar a operação. Ficou tudo acertado, mas
no final o homem não mordeu a isca.
8 PASSAGEIRO Menos de um mês antes do assassinato do se-
nador Robert Kennedy, Hughes ordenou a A esas altura, os leitores j á devem estar
Maheu que contratasse Larry 0'Brien e "qua- bem zonzos com esta rede intrincada de cami-
Será que o belo tipo faceiro tro ou cinco homens-chave da turma de K e n - nhos cruzados — acidentalmente ou não — en-
que está sentado ao seu lado nedy". Conseguido isto, a agência de publi- tre Hunt, Hughes, Intertel. Vesco e assim por
cidade de 0'Brien começou a fazer um "tra- diante. O labirinto é realmente confuso e o
não é um espião? balho de relações públicas' para Hughes, que objetivo aqui foi apenas mostrar até que ponto
Contra-ataque: prevenir é nunca foi esclarecido. Após o "golpe do Dia os Estados Unidos alimentaram fantasmas que
melhor que remediar. de Ação de Graças", em 1970, Hughes encerrou continuam a assombrar os seus cantos escuros.
Contratar-nos. Cartas para suas relações com 0'Obrien, e transferiu a con- (Adaptação de Vilma Gryzinski)
ta de relações públicas para a Robert Mullen
Ron Merino. & Company, agência estreitamente ligada ao
Sigilo total. Partido Republicano e à C I A .
Neste ponto, a situação fica de uma com-
plexidade bizantina e agentes secretos come-
çam a pulular por toda parte.
OPERAÇÃO HUGHES Enquanto Caulfield e Maheu vigiavam a
Intertel, a Intertel e o Serviço de Imposto de
Depois de anos de existência de fato, a Renda investigavam Maheu. (A Intertel tam-
longa gestação da Intertel terminou. E m j a - bém estava trabalhando para a ITT e investi-
neiro de 1970, a Resorts providenciou o finan- gando Jack Anderson, bem como Clifford Ir-
ciamento necessário a fim de formar uma so- ving, neste caso agindo para Hughes). Mais
ciedade como "organização cpnsultiva criada ou menos ao mesmo tempo, E. Howard Hunt,
especificamente para -salvaguardar atividades funcionário de Mullen e da Casa Branca (que
comerciais dos riscos ocultos da vulnerabilidade pode ou não ter sido também um agente co-
a elementos criminosos e dar assistência a es- berto da CIA) planejava instalar microfones
tados e cidades no desenvolvimento de amplos nos escritórios de um editor de Las Vegas, a
mecanismos de controle ao crime". fim de roubar um maço de memorandos secre-
tos de Hughes. Nestas negociações, Hunt con-
Durante a década de 60, os Estados Unidos ferenciou com agentes de segurança de Hughes
sofreram uma reviravolta moral que resultou que não eram nem dá Intertel nem do Serviço
na redefinição de muitas opiniões convencio- de Segurança da Hughes Tool Company, mas
nais. Deu-se grande atenção à legalização da de uma terceira rede chefiada por um cara
pornografia, mas muito mais importante, eco- chamado Ralph Winte.
nomicamente, foi a nova atitude em relação ao
jogo. O que era uma falcatrua dirigida por Quem é Ralph Winte? Realmente, chega
quadrilhas virou, no final, da última década, uma hora em que é preciso parar de fazer
uma indústria administrada por burocratas do perguntas, se não vamos precisar conhecer me-
governo e corporações como a Hughes Tool, tade da população norte-americana.
Pan Am e ITT. O pioneiro foi Howard Hughes Mas enquanto esses acontecimentos se de-
que, em 1966, com 546 milhões de dólares em senrolavam, ainda outra dimensão foi acres-
dinheiro provenientes da venda forçada da dentada a toda a intriga: Robert Vesco. .
Trans World Airlines, foi para Las Vegas sob Durante o ano de 1972, Vesco negociou com
guarda armada e começou a fazer ofertas que James Crosby a. compra de quase todos os seus
ninguém poderia recusar. bens em Paradise Island, incluindo o cassino,
Hughes continuou procurando novas pro- apesar da possibilidade de nacionalização de
priedades e um dos lugares que o interessavam que este poderia ser aivo. Mas Vesco também
mais era as Bahamas. Primeiro, encomendou estava sofrendo uma intensa investigação por
um estudo secreto, cujos resultados não foram parte da Comissão de Valores e Ações, que
nada satisfatórios, citando as instabilidades po- finalmente o acusou de uma das maiores frau-
líticas do arquipélago, a probabilidade" de dis- des da história do dinheiro: uma soma ava-
túrbios raciais e de um eventual cataclisma so- liada em 224 milhões de dólares fora suposta- :

cial. Não obstante, Hughes mora atualmente mente desviada da Investors Overseas Service,
nas Bahamas. O que fez com que o bilionário dirigida por Vesco, para os bolsos do financista
não seguisse os conselhos que pedira não está e seus cupinchas.

CABOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS CLASSIFICADOS


Ex-entrevisla Oisis.
com provas de muita simpatia

Duas vezes, estando em Buenos em São Paulo. Conversamos 4


Aires, tentei entrevistar Eduardo horas, numa noite chuvosa. Ele
Galeano. Mas ele estava sempre contou aventuras vividas nos
viajando. Galeano é o países latino-americanos que
repórter e escritor latino-americano visitou; contou como foi que
escreveu o mais belo livro sobre
que mais conhece o continente.
nossa terra ("Veias Aberta da
Finalmente, há algumas semans, América Latina"); falou da tragédia
recebi recado de Eric Nepomuceno, de seu pais, o Uruguai; e contou
jornalista brasileiro que morou histórias íntimas de escritores
algum tempo na Argentina, latino-americanos com quem
informando que Galeano estava conviveu.

Depoimento a Marcos Faerman


quatro anos não toco em nada nizações parecidas. Estive com os
disto. Em compensação fiquei sa- guerrilheiros nas montanhas e es-
tisfeito por ter escrito um livro crevi um livro sobre isso. Mas em
que é lido até por porteiros de Montevidéu, nos cafés, falavam
edifícios, jogadores de futebol, co- muito da triste morte de Eduardo
mo o Ramos Delgado, que disse à Galeano nas montanhas da Gua-
revista "Gente"', de Buenos Aires, temala. Quando voltei, uns caras
ter aproveitado as folgas da con- desmaiavam ao me v e r . . . "Mas
centração do Santos para ler che, você não morreu, che?" Lá
"Veias Abertas da América L a t i - por 71,72, quase morro de verdade
na'! Acho que a importância do nas minas de diamante da Vene-
livro está numa linguagem que zuela, onde peguei malária duas
rompe com os chavões habituais vezes. Esta região mineira é uma'
da literatura progressista na Amé¬ mistura da pré-história com o ano
rica Latina. O que importa é d i - 2 mil. Tem diamante, mas é de
zer a coisa e n ã o o nome da coisa, quem pegar primeiro, e tem aque-
o palavreado. Além disso, é um las caras dormindo nas árvores
livro indefinível: n ã o é novela, n ã o que só bebem Balantines e só fu-
é ciências-sociais, não é história; mam Marlboro, e se ganham 40
é um pouco de tudo, tentando mil dólares numa semana... na
captar as caras de nosso conti- outra estão mais pobres do que
nente . uma barata. Bom, eu estava na
M E você tem mais percepção praia com dois amigos quando eles
do Brasil do que a maioria dos começaram a falar das tais minas.
autores dos demais países da Amé- Não tinha nada para fazer em
rica Latina. Caracas, e falei: "ora, vamos para
lá'. E fomos. Pegamos um carro
G — Você sabe, eu sou uruguaio, e com ele chegamos a um pequeno
e o Uruguai é um país muito liga- povoado indígena. A partir daí,
do ao Brasil, tem toda aquela fai- de avião, chegamos às minas. H a -
xa da fronteira que fala o portu- via muitos equívocos. Por exem-
nhol, e tal. Para m i m o Brasil é plo: cada um de nós achava que
sempre uma injeção de vida, ape- o outro tinha dinheiro. Chegamos
sar dos pesares, apesar de você. lá e descobrimos que nenhum de
(E cantarola a música de Chico). nós tinha. Era uma viagem pre-
Quando começamos a fazer Crisis, vista para três dias, mas passa-
tivemos a clara percepção de que ram-se quinze porque nos torna-
era preciso falar de toda a cultura mos prisioneiros da chuva e da
importante da A L , que é uma ver- pobreza, e assim ficamos espe-
dadeira contracultura. E que para rando o primo de um deles che-
isto deveríamos olhar muito para gar. No meio da selva, não tinha
o Brasil. Pois a partir do seis, jeito da gente sair, a não ser por
sete da revista, começaram a che- uns aviõezinhos caríssimos. É uma
gar cartas dizendo que estávamos zona estranha, onde as prostitutas
fazendo o jogo do "subimperialis- podem ganhar 400 dól.ares por uma
mo brasileiro". noite, até 600. No meio do mato,
M — Carlos Drummond de A n -
drade agente do subimperialismo! existem povoados para 400, 500
G — É . . . aquela confusão toda pessoas, que vivem enquanto h á
que alguns sacanas e babacas fa- diamantes, depois somem e apa-
zem entre o sistema de um país e recem outras. Quando voltamos
.seu povo. para Caracas, estávamos os três
M — Mas vamos falar um pou- com m a l á r i a . . . e se a primeira
quinho de sua vida, tá? Certa vez foi benigna, coisa parecida com
li que você desenhava, quando ga- uma gripe forte, a segunda foi
roto. violentíssima. Estava num hospi-
G E ainda desenho alguma tal e só me lembro que quando
coisa. Mas isto é raro, hoje em melhorei um pouco disse ao m é -
Marcos - Galeano, você é o autor G — Pois nunca imaginei que dia, porque a literatura é muito dico que queria pagar. Ele me
de uma das mais belas reportagens isto pudesse acontecer. Na ver- possessiva. disse: mas por que pagar? este
escritas sobre a nossa América L a - dade, eu queria fazer uma espécie M — Você foi uma espécie de hospital é da universidade. Mas
tina; ela se passa num trem boli- de manual de divulgação de algu- garoto prodígio de Montevidéu, não, eu falei, eu ouvi- falar em pro-
viano cheio de índios, de contra- mas idéias que estão escritas, em não? blemas econômicos... mas não —
bandistas, de t i r a s . . . Como é que "código" pelos economistas e so- G — Bem, com 14 anos comecei disse ele — vpcêu ouviu outra coi-
você foi parar neste trem? ciólogos; queria converter tudo is- no jornalismo, como desenhista, sa, você escutou um dos caras que
Galeano — Eu acho que fiz esta to numa história de aventuras, diagramador, e aos vinte era chefe o trouxe aqui dizer: "este aí pe-
viagem em 1970, quando estava num. romance, numa história de da redação do Marcha, de Monte- gou a econômica'. Mas que eco-
trabalhando meu livro '-Veias pirataria, de amor, de traição, de vidéu, um ótimo jornal semanário nômica?, perguntei. "Econômica é
Abertas da América Latina". F u i tudo. E tem tudo isto, como se que não morreu de morte natural, o nome da febre que você pegou.
de trem, num vagão da terceira sabe, na história da América L a - íoi assassinado. Aos 24 anos, era Ela mata num dia, e a gente nem
classe, simplesmente porque esta- tina. Bem, seis meses depois do diretor de outro jornal de Monte- gasta remédio". Histórias como
va duro, duríssimo. Mas nesta lançamento, recebo uma cartinha vidéu, o Época. Fiz muitos jornais. esta eu levei para meus livros,
viagem de quatro dias, infinita- da Editora Siglo X X dizendo... Uns foram fechados pelos credo- "Veias Abertas", "Vagamundo" e
mente longa, conheci aquele povo, "seu livro teve uma recepção dis- res, outros pelo governo. Depois outros. E m "Vagamundo", livro de
vi aquele monte de contrabandis- creta. . í mas isto é o máximo que fui para a Argentina, onde faço contos, eu escrevo a história real
tas e índios muito pobres que v i - se pode esperar diante de um te- Crisis. de um enorme negro nascido n u -
ma tão explorado'. "Mas a venda ma ilha britânica dó Caribe e que
vem do contrabando-formiga. H á n ã o é m á . . . 546 exemplares". Eric — O Galeano podia falar
uma infindável briga entre os ca- das histórias que ele viveu pela estava na Venezuela atrás de dia-
Agora j á está em 126 mil. mantes. Acontece que o cara rou-
ras das alfândegas internas da América afora, pelo mundo, como
Bolívia, que vem dos tempos da co- M — A linguagem funcionou. repórter. bou um diamante e foi cercado
lônia, e os pequenos contraban- G — Eu trabalhava num banco. pelos mineiros, que queriam ma-
distas. E m cada alfândega h á um Um dia fiquei com o saco cheio tá-lo. Mas ninguém falava a lín-
cara que entra no trem e todo demais. F u i ao gerente e pedi que gua dele, o inglês, e eu fiquei de
mundo fica apavorado. E o cara me pagasse o q u devia, que eu i a intérprete do cara, apavoradíssi-
vai passando, gritando, querendo
e

embora. Naquela noite fui para mo, mas que não queria dizer onde
arrancar a lata de azeite do índio, J o g a d o r de Buenos Aires, trabalhar numa re- o diamante estava. Os caras j á
estavam preparando as facas para
que precisa dela para sobreviver; vista que foi, naturalmente, fecha-
liquidá-lo; ali não tem polícia, n ã o
e vem aquele papo horrível, aque-
les gritos... futebol lê da pelo governo. Voltei para Mon-
tevidéu . . . e de lá parti para a tem nada, só tem uns tiras que
China. Então, o meu conhecimen- aparecem de vez em quando para
M — Como é que você vivia na arrecadar -impostos'. No fim, o
época em que fez o livro?
G — Vivia como podia; vivia
Galeano. to do mundo e r a . . . Montevidéu,
Buenos Aires e Pequim — isto é, cara tirou o diamante que tinha
Marte. Fiz umas 400 entrevistas escondido debaixo da língua. Achei
muito mal. Trabalhava no De- esta história muito linda para
partamento de Publicações da e depois de dois meses fui para
Moscou. Era o ano de 1963, e os contar, e contei. Depois tem uma
Universidade de Montevidéu e t i - outra história muito simples mas
nha de me virar para sobreviver. G — A minha vocação é a no- chineses m avisaram que eu po-
vela, o conto, a narração. Mas
e

dia ir à URSS, t á legal, mas que muito dramática do Alto P a r a n á ,


Durante quatro anos fui recolhen- onde estive h á dois, três anos. Uma
do material aqui e ali, nas biblio- naquela época eu fiquei quatro a passagem de volta, quem ia pa-
gar era a URSS, o que mostra que mulher tem nos braços um menino
tecas, com os amigos, mas preci- anos sem escrever ou ler uma l i - lindíssimo chamado Noel, que está
sava de muita experiência direta, nha de narrativa, sempre às vol- as coisas não estavam muito idíli-
cas entre eles. que não eram rela- morto, que morreu ao longo da
e o livro seria, afinal de contas, tas com os chatíssimos informes viagem de caminhão, ao longo das
dos economistas da ALALC, da OEA ções de foto-novela. Mesmo assim
bem melhor se eu tivesse dinheiro muita gente me chamou de agente matas. É uma região recentemen-
para fazer algumas viagens que e não sei mais o q u ê . . . o dia i n - te ganha para a chamada civili-
teiro com aqueles tijolos, aqueles da reação por escrever sobre o con-
não foram feitas, na condição de flito sino-soviético... Depois da zação, fronteira do Paraguai, mas
jornalista free-lancer. Eu estive cientistas-sociais, aqueles historia- cheia de brasileiros. A mulher
dores que escrevem para a mino- URSS, voltei para o Uruguai e
na Venezuela, por exemplo, só de- parti para a Europa, Estados U n i - está viajando de caminhão, ao meu
pois de ter escrito meu l i v r o . . . e ria da minoria. Enfim: peguei uma lado, e o menino morreu no curso
bruta alergia do café que tomava dos, Guatemala. E m 67, fiz um
estava com medo de que as coisas livro sobre a Guatemala. Foi um da viagem. Acontece que ela não
não fossem bem como eu tinha para não dormir — trabalhava das podia dizer que o menino estava
11 da noite às 5 da m a n h ã — e ano terrível lá, com sete mil mor-
dito! Mas eram. tos pelo Esquadrão da Morte de- morto, porque nenhum caminhão
M — Mas seu livro virou um uma alergia mais forte ainda a iria levá-la. É uma região cheia
livros de ciências-sociais etc. Há les, a Mano Blanca e outras orga-
verdadeiro best-seler do gênero
r de superstições, e sempre se fala Mas que tristeza, era el miedo M — Por isto mesmo um jornal tava muito a redação era a raça
por lá que transportar cadáver dá el que le apagaba la voz. Qual- humanista como Marcha não po- dos gigolôs. Cada vez que uma
azar, e o único que sabia do me- quier camionero sabe que dá mala dia sobreviver. Marcha que foi, menina r a presa, aparecia um gi-
e
nino morto era eu. Esta é a m a t é - suerte atravesar la selva con un talvez, o melhor semanário que j á golô na redação? protestando con-
ria-prima de uma história de " V a - ' muerto. tivemos na América Latina. tra a prepotência da polícia. A
gamundo". Nos trepamos a la caja. Los G — É, eles fecharam o Marcha redação estava cheia de loucos, de
contrabandistas, los hacheros y los porque era um jornal importante, perseguidos pelas formigas, de i n -
campesinos celebraban con cana um jornal q u conseguiu viver 35
e
ventores, como um cara que en-
brasileha la aparición dei camión. anos. Colaboravam, por exemplo, chia o saco de todo mundo falan-
A Algunos cantaban. E l camión ar-
ranco y se callaron después de los
o Neruda, o Octavio Paz, o Bene-
detti, que foi um dos editores, o
do de uma nova invenção para
apagar fogo sem água disparando
primeros sacudones. Onetti, que foi chefe de redação, um tiro de canhão com areia. E
história é esta: — Y a ahora, por qué vas? e o Cortázar. todo mundo, o As- tinha as bichas que iam dançar
nuas em cima das mesas da re-
Fué la primera vez que ella me turias... Marcha é a m ã e de Crisis.
miro, y parecia asombrada: Trabalhei quatro anos lá, me for- d a ç ã o . . . Um dia, o jornal pegou
Noel. — Adonde? mei junto com Carlos Quijano, um fogo. F u i para lá caminhando,
— Esto lleva hasta Corpus velho jornalista sensacional, mui- muito triste, e no meio dos poli-
L a lluvia nos había sorprendido Christi. to digno, um Dom Quixote, um ciais, da fumaça, eu vi um cara
a mitad de camino; se había des- — Alia voy. Voy hasta Corpus cavalheiro-fidalgo, um economista que tínhamos mandado embora
cargado, rabiosa, durante dos dias a rezar para que venga el cura. com um charme incrível para d i - porque só fazia papelão, só dizia
y dos noches. El cura tiene que bautizar. Noel zer as coisas. Em todos os senti- besteira, e o cara estava numa
no está bautizado y yo voy a es- dos, ele foi o meu mestre no jor- bicileta de circo, daquelas que têm
Ya hacía unas horas que hábía uma roda enorme e a outra pe-
vuelto el sol y los ninos andaban perar al cura hasta que él venga nalismo. Onetti foi o primeiro
con las águas sagradas. chefe-de-redação, lá no ano de 39, quena. . . olhando para o incêndio
por ias orillas dei monte buscan- e rindo, dando gargalhadas. Era
do el yacaré caído dei cielo. E l El viaje se hizo largo. Ibamos quando Marcha nasceu. Eu sei
que ele a t é morou no Marcha, em a vingança. Lembro até de uma
sol atacaba los barriales de los a los tumbos por la picada abierta frase que o Alberto Carbone, um
sombradíos y la espesura cercana, en la selva. Y a era noche cerrada 39, mas como nasci em 40, só sei
disto por certas referências. Qui- jornalista muito importante lá dos
arrancandoles nubes de vapor y y por aquelas comarcas también nossos lados, disse a ele: "que l i n -
aromas vegetales limpios y ma- vagaban disfrazadas de bichos es- jano pagava Oneti com almoços..
ovos fritos, vinho. Marcha foi do abuerto se perdió tu v i e j a " . . .
readores. pantosos, las almas en pena.
sempre muito bom e muito pobre. — Hoje em dia, todo mundo de
M — Claro que não tão pobre Época está no estrangeiro... a l -
como nosso jornal. Mas como é guns foram mortos. Que história
que o Marcha viveu tanto tempo? sensacional se a gente reunisse to-
G — A situação do país dava do mundo para relembrar aquele
para isto. J á não dá mais; nem tempo... daria um lindo livro.
do ponto de vista econômico, nem
do ponto de vista político. Marcha
chegou a ter 35 m i l leitores, o que
num país pequeno é um milagre. M a t o u a galinha
Mas isto era explicado pelo alto
nível cultural do país e pela am-
plíssima margem de liberdades; que xingou
você podia dizer o que quisesse ou
quase isto. O pessoal trabalhava
por fora para ganhar algum d i -
a mãe
nheiro, e no Marcha "por amor a
la camiseta". Depois disto eu d i -
rigi durante dois anos um tablói- E — Montevidéu tem histórias
de diário de 32 páginas sem ga- incríveis, personagens incríveis,
nhar nada! como Paco Spinola.
G — Paco Spinola é um escritor
quase tão bom como Onetti mas
muito pouco conhecido fora do
Uruguai. Ele conta histórias dos
Bichas subúrbios das pequenas cidades do
interior enquanto Onetti fala do
dançavam drama da urbe grande, aquela coi-
sa do cara que fica olhando para
Nosotros estábamos esperando o teto, que não tem coisa alguma
que un ruído de motores nos anun-
ciara la continuación dei viaje, y
nuas nas mesas. dentro de si, esse é o personagem
de Onetti. Paco foi um cara i m -
dej abamos pasar el tiempo, entre A máquina portante, que recolheu lindas his-
bostezos, sentados de espaldas tórias do interior e as contou nu-
M — Galeano, você n ã o quer vir
contra el frente de madera dei
almacém e echados sobre bolsas de de destruir trabalhar no E X - ? ma linguagem sensacional. Uma
delas é a famosa história da ga-
azúcar o maíz molido. G — (Risos) Este jornal chama¬
linha, que seus amigos gostam de
De los brazos de una mujer, a gente. -se Época, e eu o dirigi de 64 a
66. Nesta época eu tinha 24 anos repetir. Paco era um tipo multo
mi lado, brotaba un débil gemido guloso, e gostava de comer gali-
continuo. Envuelto en trapos, Noel e era um dos mais velhos da reda-
ção . . . uma redação onde ninguém nha. Ele tinha uma irmã, dona
gemia. Tenía fiebre; un mal se M — E agora, Galeano? Vitória, proprietária de uma cha-
le h a b í a metido" por la oreja y le ganhava nada, e que se às vezes
G — Eu tenho escrito muito so- tinha 50 colaboradores, às vezes crinha no interior; era uma cha-
había ganado la cabeza. bre o Uruguai. Sofro muito com crinha muito pobre, com gente
não tinha nenhum. Olha, chegou
Mas allá de los campos ama- a situação de meu país, onde se um dia em que não tínhamos nem muito generosa e muito fraternal.
rillos de soja, se extendia un vasto instalou uma máquina de destruir jornalistas, nem máquinas de es- Dona Vitória fazia sempre bons
espacio de cenizas y muíiones de o homem. Narrei isto numa his- crever, nem teletipos, porque as almoços com arroz, batatas, muita
árboles talados y carbonizados. tória que ganhou o concurso da agências tinham carregado os te- coisa, mas ela proibiu que se to-
Pronto volverían a alzarse, por Casa das Américas, e que também letipos, nem telefone, que foi cor- cases nas galinhas. U m domingo,
detrás de esos eriales, las espesas será publicada no Brasil. É a m á - tado porque não pagamos a conta, meio dia, Paco foi convidado para
columnas de humo de las hoque- quina da opressão em funciona- e o único rádio tinha caído no um destes almoços. De repente,
gras que es abrían paso hacía el mento na vida cotidiana, a perse- chão e quebrado. Eu e os outros ele desaparece; mais ou menos
fondo de la maleza invicta, donde guição e o assassinato em todas quatro caras que tinham apare- uma hora depois, eis o Paco vindo,
florecían, porque . era época, las as suas formas, o escravizamento cido na redação ficamos nos de longe, com um -vulto'' na mão.
campanillas moradas de los lapa- de um destino. É aquela coisa de olhando, e concluímos que só ha- A medida que ele vai chegando
chos. Esperando, esperando, me você se sentir sem futuro, sem via uma coisa a fazer: ir para a perto, se descobre que ele tem na
dormi. nada, e a falta de liberdade até janela ver se acontecia alguma mão uma galinha morta. Mas vem
nos planos em que ela não é clara. coisa na rua. com tanta tristeza, vem tão aba-
Me desperto mucho después, la O jovem é visto como um i n i m i - tido, com a cabeça baixa, assim,
agitación de la gente que gritaba go e vai embora. Setecentos m i l E — Um dos personagens fa- bamboleando aquela galinha na
y alzaba bultos, bolsas y valijas. uruguaios vivem hoje na Argen- mosos deste jornal era o cronista mão, que ninguém o reprova. A
E l camión, rojo de barro seco, ha- tina e o Uruguai é um país de dois do turfe. irmã aproxima-se e pergunta:
bía llegado. Yo estaba estirando milhões e meio de habitantes! G — Ele era um sujeito sensa- -Mas o que é que tu tens, Paqui-
los brazos cuando escuché, junto Imagine estas coisas. Isso dói cional, filho de família ilustre, um to?" Ele falava de um jeito muito
de mi, la voz de la mujer: muito em mim e em todos os uru- gordo leninista que adorava cava- particular, tinha o queixo muito
guaios. los. Era um especialista em coi- pronunciado... "Nada , diz ele,
— Aydane a subir. sas estranhas, um cara que conhe- nada. Bem, aconteceu uma coisa
L a mire, mire al nino. E — É importante se lembrar cia profundamente o mundo das importante". "Mas o que foi, P a -
— Noel no se queja — dije. que o Uruguai tinha três milhões drogas, o mundo dos cavalos de quito?" "Bem, eu estava tomando
Ella inclino suavemente la ca- de habitantes em 1969. corridas... Então, ele acertava um solzinho quando vem uma ga-
beza y luego continuo con la vista G — Individualmente, podemos todas. Época era um jornal lidís- linha, aí eu peguei e lhe dei uns
clavada, sin expresión, en las altas até viver bem no exterior, porque . simo pelos progressistas e pelos fa- grãozinhos de m i l h o . . . ela vem,
arüoledas donde se rompían las o nível cultural do Uruguai é bom, náticos de cavalos. Todo o dinhei- come e se retira. Depois veio uma
uit^mas íuces de la tarde. é uma mão-de-obra boa, especia- ro da venda avulsa era, às vezes, galinha vermelha e eu também lhe
Noel tenía la piei transparente, l i z a d a . . . Dá pra se viver bem jogado nas corridas. Todos os d«i uns milhinhos; ela come, ela
color sebo de veia; la madre ya melhor do que no Uruguai. Mas loucos de Montevidéu iam à re- se serve, ela se vai. Depois, de-
le había cerrado los parpados. Su- h á um problema gravíssimo: a dação de Época. Um deles tinha pois chegou esta aí — e levanta a
bitamente senti que me retorcían perda da nacionalidade. Você vira mania de roubar anjos, esses an- defunta — chegou e me olhou as-
las tripas y senti la ciega neces- um cara sem raízes, no ar; sofre jos de mármores que ficam fazen- sim ó. Eu lhe digo: "você n ã o
sidad de peiearme a puhetazos a gangrena do país que está se do xixi nas praças; pois ele rou- come, filha minha?'' E ela me diz:
contra Dios o contra alguien. esvaziando... todos os sistemas bava um anjo e corria para a re- "vá para a p.... que p . . . " . Então
— Culpa de la lluvia — mur- opressivos são inimigos da vida dação. "Esse jornal não se vende' ele diz chorando para a i r m ã :
muro ella —. L a lluvia, que cierra E h á tentativa de não deixar o jo- — gritava o cara — é o refúgio "Percebes o que ela disse, mani-
dos câminos. vem ser jovem. dos perseguidos". Quem freqüen-
nha, percebes... é a nossa m ã e ! " meios de comunicação que respon- técnica, afinal Vargas Llosa é um não quer ir ao banheiro? Juro
Ela diz: "sim, está bem, me d á a dem às necessidades dos interesses cara incrível capaz de fazer um que tens vontade de ir ao banhei-
galinha que eu vou depenar e bo- econômicos dominantes." Isto de- diálogo com 60 vozes. Mas é uma ro". "Não, não", disse ela — é
tar ela no fogo". A i o Paco fica termina que esta minoria consu- novela que n ã o tem o fogo inte- muito ingênua. "Não tenho von-
sozinho com os amigos. Chama o midora que os intelectuais inte- rior de " L a Ciudad y los Perros". tade de ir ao banheiro". Pouco
pessoal e lhes diz: "vou dizer a gram nos países latino-americanos Eu prefiro a literatura da expe- depois, com o garfo no ar ele disse:
verdade pra vocês: a galinha n ã o seja um grupo que vive uma vida riência sofrida ou gozada. "Estás com o nariz brilhando,
disse nada". Mas o Paco tem m i l importada. Vive às custas da tra- E — Ele anda dizendo muita bo- convém que vás ao banheiro e po-
histórias. Üma vez ele foi nomea- dição, da história, das caracterís- bagem hoje em dia. nhas um pouco de pó-de-arrez".
do delegado do Uruguai na Unesco. ticas reais do país que habita, G — Mas eu prefiro o equívoco Ela tira o espelhinho da bolsa e
Ele foi à sua cidadezinha de trem, porque o seu nível de consumo lhe à hipocrisia. Falo isto do ponto lhe responde: "Não, n ã o está bri-
para receber as homenagens de permite ascender — .eu me refiro de-vista pessoal, mas politicamen- lhando". Guarda o espelhinho e
seu povo. Mas na cidadezinha à classe média alta, à classe m é - te eu acho muito equivocadas as fica. Isso quatro, cinco vezes, até
ninguém sabia o que era Unesco. dia e à classe alta — a padrões opiniões de Vargas Llosa. A sua que ele insiste na coisa e ela reage
Ele chega lá e conta assim: "Es- de vida e de consumo que são crítica à expropriação dos jornais pela primeira vez. Diz: "Ah, você
tavam todos, todos: o prefeito, os padrões europeus e norte-america- peruanos não é a expressão de um quer ficar sozinho com ele. Mas
doutores, até as putas com suas nos: automóveis, livros, cinema, socialismo aberto mas apenas a devia ter me dito isso, assim eu
peles... era um dia de verão, ima- teatro, e revista Crisis t a m b é m . lamúria da velha anciã liberal. ia embora". Ent ão ela começa a
ginem, e tinha um sol. Estava Enfim: gostaria que o que eu faço A verdade é que multa gente es- chorar e se levanta para ir em-
toda a cidadezinha reunida e eu chegasse além dos limites a que tava esperando um Solgenitzen bora. Ele diz: "Não, de maneira
tinha que explicar-lhes o que era chega normalmente um livro na peruano. Um homem tem de ser nenhuma, sente-se, fique aqui, va-
a Unesco para que soubessem a América Latina, mas eu n ã o me sincero mas deve medir cuidado- mos comer a sobremesa". Foi a
importância que tinha o fato de engano diante do fato de que as samente o que faz e diz, porque pior sobremesa d minha vida,
e

um filho de San José chegar à massas do continente são total- as opiniões de um escritor impor- imagina a situação, os três comen-
Unesco como delegado do Uruguai, mente alheias ao que podemos d i - tante como ele pesam na socie- do a sobremesa em silêncio. E l a
delegado da P á t r i a ! Tinha que ir zer. Mas eu me pergunto, conhe- dade. terminou a sobremesa e foi emr
aí explicar como fazia, né? Então cendo muitos intelectuais latino¬ bora. Aí pedimos café. Passa uns
me ocorreu o seguinte e lhes disse: -americanos, se não h á tipos que M — E pessoalmente, como ele 20 minutos e ele me diz: "O que
•vamos supor, fazer de conta que são mais alheios à nossa vida, v i - é? são as coisas, o que é a vida. Eu
estamos todos aqui reunidos e co- vendo em nossos países, do que G — É um cara que tem uma queria estar sozinho com você, sa-
meçamos a tomar vinho. Toma- no estrangeiro? Temos que ter disciplina incrível: tem horário de be pra que? Para te dizer que eu
mos uma garrafa, duas, três, cem muito cuidado com estas coisas: escritório para escrever. O Onetti estou muito bem com ela, que
garrafas de vinho. Ao final, esta- não é a geografia que determina costuma dizer que a diferença en- smtò como numa primavera da
mos todos bêbados, e brigamos uns o maior ou menor vínculo que tre ele e o Vargas Llosa é que o vida, que me sinto como que re-
com os outros, a gente faz um ba- um homem pode ter com sua Vargas Llosa tem cem a literatura nascido com ela, que fazia anos
rulho grande de verdade. Aí vem pátria, com o destino de seu a relação de um esposo, e ele tem que isto n ã o acontecia... e que
a polícia leva todo mundo preso... povo. A melhor pintura uru- uma relação de amante. Tem uma aqqi em Buenos Aires eu volto a
menos a m i m . . . ah, a mim ela guaia de todos os tempos foi feita vida muito ordenada, acorda todos a m á - l a loucamente. Era isto que
não prende!" Esse foi o jeito que em Paris por um velho pintor de os dias à mesma hora, sabe hoje eu queria te dizer, que coisa, n ã o ? "
ele achou melhor para contar aos meu país. Mas, por outro lado, o que lhe acontecerá dentro de Acho que essa história o retrata
caras como era importante a tem que se levar em conta que um ano. como nenhuma outra.
Unesco! Assim são as histórias esta terra vive tão cheia de aven-
de Francisco Spinola, Paco Spinola, tura e violência, e que muda, co-
um cara legal que morreu no dia tidianamente, com tal velocidade
do golpe de Estado no Uruguai, c intensidade, que estas experiên- Onetti, As
em julho de 1973. cias não poderiam ser vividas em
outro lugar. Um homem que n ã o
está convivendo com essa tensão o homem mentirinhas d e
diária pode perdê-la de vista. E
depois de algum tempo a boa vida está perdido. Juan Rulfo.
Somos na Europa pode introduzir m u -
danças não desejadas por um cria-
dor naquilo que escreve. Tudo
íntimos isso n ã o quer dizer, como falei, E — "Pantaleão e as Visitado- E Você é um especialista
nestas histórias, Galeano. Isto me
que um tipo que viva numa cidade ras" faz muito sucesso no Brasil,
lembra o seu encontro com Rulfo,
da Coca-Cola. latino-americana esteja vacinado
contra a alienação.
atualmente.
G — E é um péssimo livro. Por- em Buenos Aires. Ligaram várias
que ele n ã o tem senso de humor, vezes para a Crisis dizendo que
logo n ã o pode fazer um livro de Juan Rulfo estava em Buenos A i -
M — E aquela interminável dis- M — E como é que Cortázar fica res e que la ficar um dia apenas,
nesta? humor, é aquele tipo de sujeito
cussão a respeito dos escritores que só r i de uma piada depois de mas queria ver o Galeano. Ga-,
latino-americanos que vivem na G — O Cortázar, coitado, é o leano n ã o acreditou mas marcou'
mais atacado, porque vive em P a - uma explicação.
Europa? Ouvindo você, pensei com Mas vou falar, agora, alguma um encontro no Hotel Plaza, só
mais clareza na posição do uru- ris. Mas creio que é um homem para ver quem estava dando o
sincero, muito honesto, que n ã o coisa sobre o Onetti, uma história trote. Chega lá — e encontra o
guaio Mário Benedetti intransigen- que mostra melhor do que qual-
te crítico dos "exilados de Paris". faz trapaças, que escreveu coisas Rulfo.
importantes para toda a América quer coisa o seu caráter e a sua
E o que pensei é que para um literatura. Uma vez, faz dois anos, G — Eu n ã o conhecia o Rulfo,
uruguaio é difícil entender que Latina. Lamentavelmente, ele tem
imitadores que confundem a lite- Onetti foi a Buenos Aires como fiquei um pouco a s s i m . . . acho que
alguém vá deixar sua terra sem jurado do concurso de Literatura ele é o escritor mais importante
a coação da fome ou da policia. ratura de Cortázar com um vazio
exercício de estilo, uma pirotécni- da Editorial Sud-Americana e do da América Latina. Estava um
G — É verdade que muita gente ca para deslumbrar incautos; são jornal " L a Opinion". Ent ão ele pouco inibido e ele falava muito.
pensa que o Uruguai n ã o tem des- os tais caras que estripam pala- me chama pra jantarmos juntos. Ele é muito mentiroso, mas muito
tino nem sentido como país, e que vras, estrangulam frases, jogam Bem, ele estava meio doente, co- mesmo. Faz vinte anos que n ã o
deve desaparecer. Estamos viven- com a linguagem, como se ela não mo sempre. É um cara muito fra- escreve, desde o "Pedro Paramo";
do agora uma diáspora .pior que fosse uma ferramenta, um digno co, um homem envelhecido, bebe tudo que ele escreve, queima.
a dos judeus, porque n ã o temos instrumento de trabalho. muito, não come nunca, mistura Queimou um romance, coisas as-
raízes sólidas comuns. O que une pílulas de diversas cores e tama- sim. E todo mundo sabe que ele
um uruguaio ao outro no exílio? E — Você acha que os 24 anos nhos. Toma pílulas para se tran- não escreve. Mas ele mente e diz
Mas eu acho que n ã o se deve ter de "exílio profissional" do Cortá- qüilizar, para regular, para acor- que tem um livro de contos pron-
uma posição radical diante dos zar em Paris são os responsáveis dar, para dormir, e mistura todat, to, mas que n ã o tem tempo para
escritores do -exílio'. Há muita pelos equívocos do "Livro de M a - elas com uísque, com v i n h o . . . é revisá-lo. Mas como n ã o tem
coisa mais importante do que o nuel"? (O último livro de Cortá- essa a sua alimentação. Consome tempo lhe perguntei? "Porque
boom, que não passa de um pro- zar, que tem como tema a violên- de sólido as pílulas e de líquido trabalho muito no Instituto I n -
blema transitório de sucesso co- cia na Argentina). o álcool. Fraco, alto, muito silen- dianista do México". Mas podias
mercial de alguns autores. E m G — Bem, isto pesa, sobretudo cioso e muito digno, uma con- conseguir uma licença. "Não, além
primeiro lugar, seria preciso defi- quando ele quer reproduzir a rea- cepção muito negra do homem e do mais meus nervos estão em es-
nir com clareza o que é nacional lidade argentina em seus aspectos de seu destino. Muito negra: ele tado de miséria". Mas por que n ã o
e o que é estrangeiro. A litera- mais dolorosos e violentos. A ten- acha que o homem não pode ser pede uma licença médica?. "Não,
tura que conhecemos na América são é uma coisa que a gente res- redimido. O homem é uma mer- eu não creio nos medicamentos,
Latina é a cultura com a bênção pira. Ou não. A vida está aqui. da e continuará uma merda, com além do mais não gosto dos m é -
pública e oficial, quer dizer, uma capitalismo ou sem capitalismo. dicos . . . meu único amigo médico
cultura que se produz, gera e con- Mas ele faz uma grande litera- é cardiologista e meu coração está
some num círculo muito limitado tura, muito sincera e muito deli- bom". Mas vá a um médico e diga
e num raio muito pequeno da po-
pulação total de cada um de nos-
Lamúrias cada; áspera, seca, verdadeira, co-
mo poucas, com grande beleza de
qualquer coisa. "Não posso. Não
posso... como vou chegar n um
sos países. O escritor provém de estilo, é um homem com a capa- médico e dizer: estou doente, dou-
uma elite consumidora e trabalha de cidade da beleza para dizer ü m a tor; sabe o que acontece doutor?
para ela porque é essa elite con- coisa como poucos escritores da estou triste. Ah, ele n ã o me dá
sumidora que compra livros; isso
é claríssimo. Mas as grandes mas-
V a r g a s Llosa. AL. Mas com uma concepção
muita negra do que é a condição
licença".
sas da América Latina têm outra humana. Então ele se defende o
cultura. E a grande verdade é que tempo todo de sua própria ter-
as centrais norte-americanas de M — Mario Vargas Llosa cons- nura. Então, aquela noite fomos
TV, os anúncios da Coca-Cola, t ê m truiu boa parte de sua obra no
exterior, e quem duvida de sua
comer com sua mulher. Comía- Aventuras d e
uma relação mais íntima com a mos, e ele estava calado. Falá-
importância?
cultura latino-americana tal qual
ela é, do que as melhores novelas G — Eu gosto muito das pri-
vamos de muitas coisas, de Buenos
Aires, onde tinha v i v i d o . . . bem,
G . Marquez
de Onetti e Juan Rulfo. A cultura meiras novelas dele. " L a Ciudad ele não falava quase nada, até que
que o povo consome não é a cul-
tura latino-americana do mais alto
y los Perros" (Batismo de Fogo)
é a grande novela da violência na
um momento disse à sua mulher:
"Você quer ir ao banheiro, n ã o ? "
na turopa.
nível, a que tem a ver com a con- América Latina — e foi escrita na Ela disse: "não, não". " A h " , ele
quista de nosso destino, mas aque- Europa. J á "Conversación en l a disse, e continuou comendo. Um M — Você esteve h á pouco
la que nos é induzida de fora pelos Catedral" me pareceu uma espécie pouco depois ele insiste: "Você tempo com o Garcia Marquez, não?
de demonstração de habilidade E o tal novo livro dele?
queria conhecer Borges... não é ameaça, cordialidade, tudo, e tudo outros escritores e de todo mundo.
G Ele está com essa novela Ele divide os escritores em pro-
que acabou, mas está corrigindo ninguém, ninguém conhece este fracassou, então ele vai embora,
uruguaio. Ele s chama Felipe vai descendo a escada, e o coronel fissionais e não profissionais, que
muito, duvidando muito. É uma e
que está muito tenso com o são aqueles que escrevem com
responsabilidade imensa ter escri- Moreira. Telefonou pra mim e
disse "eu quero conhecer o Bor- que aconteceu e transpira (ele é «as vísceras. Entre os profissionais,
to "Cem Anos do Solidão". E n - um gordo frenético), o alcança na ele inciuía o Carlos Fuentes e
tão ele está com medo, com muito ges". "Procura na lista telefônica
o telefone dele, vê o endereço e boca da escada e grita: — "você o Cortázar, que ele odiava. O livro
medo do que possa acontecer com jamais vai ter esta m u l h e r . . . foi publicado * depois que ele
o novo livro. Ele mandou para vai lá". O cara foi pra casa do
Borges, tocou a campainha, per- esta mulher é minha!, é minha!" morreu. Ele suicidou-se — e eu l i
Crisis duas páginas do original. o livro na Venezuela. Quando fui
É um texto à máquina, muito cor- guntaram quem é, e ele disse: "Fe-
lipe Moreira do Uruguai, quero ver a Montevidéu, depois disto, visitei
rigido. Parece que é uma novela o Onetti e lhe falei do livro, que
Borges". Mandaram entrar, ele
muito diferente de "Cem Anos de
Solidão". Ele me disse que pre- entrou e viu o Borges numa mesa Coragem ele ainda n ã o tinha lido. Arguedas
diz no livro uma das coisas mais
tende publicar depois um livro de enorme comendo sozinho, aquelas
contos reunindo cem histórias que mesas enormes, para muitos con- vamos bonitas que se pode dizer sobre
uma pessoa — "Estou em Santiago
vidados, e o Borges sozinho, no
tem num bloco onde ele anota
coisas que lhe acontecem na E u - meio das toalhas brancas, borda- morrer. do Chile e gostaria de ir a
Montevidéu para ver Onetti e
ropa. Seriam as aventuras de um das, com os candelabros, e um apertar a m ã o com que ele
latino-americano na Europa. Ele omelete de batatas no prato. Ele M — É uma história fantástica. escreve." Contei isto a Onetti — e
me contou que da primeira vez é cego, completamente cego. Che- Mas jamais permitiria que esta ele começou a chorar. Pobre Onetti,
que chegou à Europa, foi a Roma ga, o Moreira e ele diz: "ah, do sagrada inquisição sobre a Amé- que tanto fabrica culpas.
Uruguai", pois minha avó é do rica Latina e seus escritores ter-
e haviam lhe recomendado unia minasse sem um toque a respeito
dessas pensões que existem por Uruguai. Sente-se, sente-se". E
o cara assistiu durante meia hora da figura e da obra de José Maria
l á . . . são várias pensões num
mesmo edifício. São hotéizinhos a guerra entre o Borges e o ome- Arguedas, o índio peruano.
G — E você tem razão. De ime-
Esquadrão
muito simpáticos, em prédios ve- lete, porque como ele é cego, ten-
tava pegar o omelete com o garfo diato penso em dois dos seus l i -
lhos; cada andar tem um albergue
diferente. Disse que haviam reco- e ele escapava; o omelete fugindo vros, "Los Rios Profundos", que d a morte
e ele perseguindo pela mesa, com considero o melhor, e " E l Zorro de
mendado u m . . . ele pegou o ele-
vador para ir pra lá — ficava no o garfo. Afinal, pegou e pôs i n - Arriba y E l Zorro de Abajo", um dos poetas.
teiro na boca. romance-testamento. Ele decidiu
quarto andar — e viu um monte escrever este livro a partir do mo-
de ingleses de shorts, tomando chá mento em que decidiu matar-se.
na entrada. Ele ficou t ã o apavo- M — Você falou coisas muito
Havia feito várias tentativas de verdadeiras sobre a morte e so^
rado com aquele monte de ingle-
ses — ele, um colombiano com O coronel suicídio, mas todas haviam fa-
lhado. Mas um dia ele decidiu
bre a coragem. No meio da vio-
lência em que vive a Argentina,
cara de argentino — que fugiu que amava matar-se com arma de fogo, e Crisis, apesar de ser "apenas" uma
para o quinto andar, onde tinha ,essa tentativa não falha, é pra revista de cultura, não é amea-
um outro albergue, e ficou aí. Na yaler. Ele conseguiu a arma e a
m a n h ã seguinte, encontra um Evita. guardou durante um a n o . . . du-
çada? Não recebe aqueles famosos
telefonemas anônimos?
amigo que lhe perguntou como ia, rante esse ano, ele escreveu a
e tal. "Estou no albergue tal", G — Crisis j á recebeu várias
última novela de sua vida, que é ameaças por telefone, mas você
falou. "Ah, sim, bem em cima do M — Esta historia do velho Bor- o testamento onde ele diz tudo não pode dar crédito a estas coisas.
outro albergue?" "Sim", respon- ges nesta situação é tão estranha o que pensa sobre todo mundo, Pode ser um cara furioso porque
deu. "Você n ã o viu o jornal de quanto os contos que ele mesmo porque ele vai morrer, e não tem você pegou a mulher dele; pode
hoje? Morreram mais ou menos escreve. Mas o que você me diz nenhum problema, pode falar com ser um amigo brincando; pode
17 ingleses de i n t o x i c a ç ã o ! " . . . Mas de Rodolfo Walsh, este magnífico toda a sinceridadg. Sim, eu penso ser um cara que está indignado
isto aí deve ser mentira, porque jornalista, autor de "Operação que o que está rio fundo da co- porque a revista não publicou um
ele inventa muita coisa... mente Massacre", um trabalho muito me- ragem é a consciência da morte; poema dele. Sabe, tem o esquadrão
muitíssimo. Inventou uma biogra- lhor do que muita coisa que virou se alguém sabe que vai morrer, da morte dos poetas que é o pior
fia totalmente falsa, mas muito moda entre os repórteres brasilei- tudo passa a ter um valor muito de todos... Sim, os poetas unidos
divertida. ros — e no entanto absolutamente relativo, e isto faz com que se con- são uma força. É. desse esquadrão
M — Aquela do bordel? A vida desconhecido. quiste uma temeridade e um valor que eu tenho medo.
dele num bordel? Pois o E x - p u - G — Walsh é o cara que melhor muito maior do que o de outra
blicou. Jamais perdoaremos o se- pessoa ainda ligada a uma ficção " A divisão internacional do tra-
demonstra o quanto é importante balho consiste em que uns países
nhor Gabriel Garcia Marquez... o jornalismo para um escritor. E u de imortalidade. Ganha-se a co-
ragem de um Arguedas. Esta no- se especializaram em ganhar e
E a primeira m e n t i r a . . . a h h h h . . . acho que o jornalismo é impor- outros em perder. Nossa comarca
que noso jornal publica. tantíssimo para um cara que pre- vela de que falei é ao mesmo tempo
a história de Chimbote, uma aldeia do mundo, que hoje chamamos
G — Pois é tudo mentira. Ele tende escrever, porque te ensina a América, foi precoce: especia-
tem a vida mais chata que você dizer as coisas diretamente, a ser de pescadores, e o testamento lite-
rário e humano de Arguedas, onde lizou-se em perder desde os re-
imaginar. Mas ele tem uma fan- claro, a ser sintético e a ter a co- motos tempos em que os europeus
tasia enorme, então èle cria men- ragem necessária para entrar na ele, de capítulo em capítulo, vai
dizendo tudo o que pensa dos lançaram-se através do mar e cra-
tiras sensacionais. E u acho legal vida dos outros. Walsh foi um varam os dentes na garganta."
um cara inventar uma vida, é issJo grande jornalista e um grande
que ele faz. E u acho perfeito escritor. Tem contos incríveis.
Ele inventa as coisas mais absur- Uma de suas histórias é um
das. Tem m i l mentiras excelen- conto-reportagem, um conto-real,
tes... uma imaginação! Toda uma entrevista com um coronel do
biografia dele é inventada. H á exército argentino, um dos homens final: não falemos mais nisso
uma única mulher na vida dele. que teve a seu cargo a tarefa de porque vão ver o livro pronto.
Mas ele inventa uma biografia
sensacional. . . . Casou com uma
fazer o corpo de Evita sumir.
Antes do corpo aparecer num
O — Somente uma coisa: o que des-
cobriu sobre o poder, escrevendo
cemitério da Itália, houve n a o livro?
namoradinha de adolescência. Mas
ele gosta de dizer que viveu muito Argentina um mistério muito N O V O LIVRO — Muitas coisas: é que enquanto
tempo num bordel, aquela coisa grande em torno do destino do você escreve um livro, você passa
toda. cadáver de Evita, inclusive a
versão aceita hoje em dia propõe
DE G A R C I A o dia todo pensando nisso. E eu
escrevo meus livros para poder
que a equipe dirigente da Revo-
lução Libertadora em 1955 entre-* MARQUEZ lê-los. Meu ditador diz que "o
poder é um peixe vivo"; nunca
Um gou, em missão secreta, sete
ataúdes diferentes a sete pessoas,
chega a saber que poder tem to-
dos os dias o está conquistando e
para que os fizessem desaparecer.
fantástico Um dos sete ataúdes continha o — Está pronto " E l Otono dei P a -
por final diz: "Carajo, a falha
deste País é que qwase nunca tem
cadáver e os outros seis estavam
reacionário vazios. Então, Walsh vai e entre-
triarca?"
— Foi entregue ao editor. Sai no
feito algo por m i m " .
— Que espera de " E l Patriarca"
vista um dos coronéis que havia mes de abril. São quatrocentas e
recebido um ataúde, e que era um em relação aos leitores?
M — E o velho Borges? cinqüenta páginas a máquina; — "Cem Anos" é a vida cotidiana,
homem encurralado pelas amea- muito mais curto do que "Cem
G — Borges é um sujeito muito ças, um acossado. O diálogo desta creio que por isso interessou tan-
acessível, sabe? Mas é um rea- entrevista converte-se num conte Anos", que tinha mais de sete- to. Não sei quem disse que em
cionário fantástico; ao lado dele magnífico chamado "Esa Mujer". centas. "Cem Anos" pela primeira vez se
o Ronald Reagan é um Pidel Cas- O autor está no conto o tempo — Depois do trabalho de fôlego de havia tratado da vida íntima, a
tro. A Maria Ester Grillo fez uma todo, tentando tirar informações "Cem Anos de Solidão", o livro se- cama, dos latinoamericanos, essa
entrevista maravilhosa com ele, do cara que se defende. E o co- guinte não deve ser nada f á c i l . . . é a coisa que mais agarrou o lei-
mas tive que cortar a metade por- ronel limita-se a dar algumas — Para meu próprio processo, tor. É possível que " E l Otono dei
que ele dizia coisas que não fa- informações para que a curiosi- "Cem Anos" não é um passo mais Patriarca" terá menos leitores
riam nada bem a ele. Ester disse: dade do jornalista n ã o m o r r a , ' m á s largo'que os demais. "Ninguém porque o problema do poder, ao
"Borges, eu te admiro tanto... não diz tudo porque quer tê-lo escreve ao coronel" me deu tanto nível que eu trato, não interessa
gosto tanto do que você escreve... preso, como tem presa na me- trabalho quanto "Cem Anos de So- a tanta gente. Ninguém sabe se
mas você brinca com os entrevis- mória a recordação da mulher que lidão". Eu não coloco um livro em será assim, porque fixando-se no
tadores e as entrevistas... diz fez desaparecer. Aí entra a con- termos de melhor ou pior que o problema do poder, você s refere
e

brincadeiras que eles levam a sé- versa a respeito de um caudilho anterior: quero dar o passo. à casa, ao trabalho, num táxi, em
rio". "Que coisas?" "Como os ne- do interior da Argentina, da — Vamos ao tema deste, « n t ã o . . . qualquer lugar que v á .
gros . . . você diz que são inferiores guerra civil dos montoneros do — Diz-se muito que Cem Anos de — Qual é a idéia central sobre o
aos brancos..." - E são", diz o passado, que foi enterrado de pé. Solidão é uma síntese simbólica poder, no livro?
Borges. "Você nunca olhou, nun- - E lhe enterramos de pé porque de toda a história da América L a - O desastre do poder individual;
ca sentiu o cheiro deles?" E daí era um macho", diz o coronel. E tina. Se se aceita essa premissa, se o poder individual não funcio-
para frente, como: "Os índios quando o jornalista abandona o seria uma história incompleta na, não restará outra opção que
morreram e estão bem mortos". coronel, porque não h á nenhuma porque falta uma reflexão sobre o contrário: o poder coletivo real.
E — Você chega a Buenos Aires, possibilidade de lhe arrancar a o problema do poder. Esse é o Mas que o digam os leitores. J á
telefona para ele, diz que quer tema de " E l Patriarca"'. E ponto falei demais.
e n t r e v i s t á - l o . . . é na hora. verdade porque ele j á tentou de
G Por exemplo, um uruguaio tudo, simpatia, suborno, extorsão,
Tradução de
Marli Savino de Araújo deve carregar p«sa sobre os joelhos. O operador sempre pronto a transformar em piedade ou
os passa em revista, tomando a medida das ca- em admiração a vergonha que era imposta ao
beças e adaptando as enormes coleiras de uma supliciado.
polegada de espessura. Para fechar uma, é
necessária a cooperação de três verdugos; um
4o curso dos últimos anos, 'pre- sustenta a bigorna, o outro sustenta, reunidas,
Isídios de todo o mundo < revol- as duas divisões da coleira de ferro e m a n t é m
Itaram-se. Seus objetivos, suas segura, com os dois braços estendidos, a cabeça
Ipalavras-de-ordem, seu desenvol- do paciente; o terceiro bate com golpes redo- •Doravante, o escândalo e a luz vão
vimento tinham alguma coisa de brados e achata a haste metálica sob o martelo Ise separar de outra maneira, é a
I paradoxal. compacto. Cada golpe sacode a cabeça e o •própria condenação que admitiu
Eram revoltas contra toda uma miséria fí- corpo... De resto, não se pensa no perigo que •marcar o delinqüente como signo'
sica que data de mais de um século: contra o a vítima poderia correr se o martelo desviasse o Inegatiyo e unívoco: publicidade
frio, o sufocamento, os muros solenes, a fome, rumo; esta impressão se anula, ou antes se J p o r t a n t o do processo e da sen-
as pancadas. Mas eram, também, revoltas contra apaga, diante da profunda sensação de horror tença, e a execução é como uma humilhação
as prisões-modelo, os tranqüilizantes, o isola- que se experimenta ao contemplar um ser hu- suplementar que a justiça tem vergonha de
mento, contra o serviço médico ou educativo. mano tão humilhado. impor ao condenado, ela se m a n t é m à distância,
Os objetivos destas revoltas não eram mate- Pois é esta a dimensão do espetáculo pú- tendendo sempre a confiá-la a outros, e sob o
riais, então? Revoltas contraditórias, contra a blico: segundo a "Gazeta dos Tribunais", mais sinal do segredo. É desagradável ser punido,
perda de direitos, mas contra o conforto, os de cem m i l pessoas visitam os grilhões partidos mas pouco glorioso punir. Eis o duplo sistema
guardas e também contra os psiquiatras?
De fato, eram corpos e coisas materiais que
estavam em questão em todos estes movimentos,
como estão em questão em inumeráveis discus-
sões que a prisão produziu desde o começo do
século X I X . O que gerou as discussões e re-
voltas, estas lembranças e ataques, são peque-
nas, ínfimas materialidades. Cada um pode ver
o que quiser: reinvidicações cegas ou estratégias
estranhas. Mas o fundo de tudo é a revolta.
Uma revolta ao níve'l dos corpos, contra o
próprio corpo da prisão.
O que está em jogo não é p quadro mais
ou menos sujo ou mais ou menos ascético, mais
rudimentar ou mais aperfeiçoado da prisão: é A sociedade em que vivemos e mais humana rio que as anteriores diante dos homens
a sua materialidade na medida em que ela é
instrumento ou vetor do poder; é toda a tecno-
logia do poder sobre o corpo, que a tecnologia
da "alma" — a dos educadores, psiquiatras e
psicólogos _ não chegam nem a mascarar
nem a compensar, pela simples razão de que
ela não é mais do que um instrumento. É desta
prisão, com todos os seus bloqueios políticos do
corpo que ela procura imitar em sua arquite-
tura fechada, que eu procurei fazer a história.
Por puro anacronismo? Não, se entendemos que
eu procuro fazer a história do passado nos
termos do presente. Sim, se procuramos fazer
a história do presente.

I Vamos ao passado. A passagem do


I suplício — com seus rituais lumi-
Inosos, sua arte confundida com
luma cerimônia do sofrimento
para penas em prisões encer-
_ l radas em arquiteturas maciças e
guardadas por segredo das de administração,
não é a passagem a uma penalidade indlferen-
ciada, abstrata e confusa; é a passagem de
uma a r t de punir a outra, não menos sábia.
e

Mutação técnica. Desta passagem, um sintoma:


a substituição da procissão dos forçados pelo
carro de presos, em 1837.
O grilhão, tradição que vinha da época das
galeras, subsistia ainda sob a Monarquia de
Julho na França. A importância que parece ter
assumido como espetáculo, no fim do século
X I X , é ligada, talvez, ao fato de que assumia
em uma só manifestação os dois modos de cas-
tigo: o caminho para a prisão se desenrolava
como um cerimonial de suplício.
As narrativas do "último grilhão" — que
de fato muito marcou a F r a n ç a no verão de
1846 — e dos escândalos a ele ligados, fazem
reviver este funcionamento bem estranho às
regras da -ciência penitenciária".
De saída, um ritual de aquecimento: é a
chumbagem das coleiras de ferro e dos grilhões,
no pátio de Bicêtre: o prisioneiro tem a nuca
tombada sobre uma bigorna, como contra um de Paris, em 19 de julho. de proteção que a justiça estabeleceu entre ela e
cepo; mas desta vez a arte do verdugo, mar- A ordem e a riqueza vêm ver passar de as penas que impõe.
telando, não é a de esmagar a cabeça, habili- longe a grande tribo nômade que se encadeia? A execução da pena tende a tornar-se um
dade invertida que não provoca a morte. esta é outra espécie que povoa as prisões. Os setor autônomo cujo mecanismo administrativo
O grande pátio de Bicêtre x p õ e os instru-
e espectadores populares, como no tempo do su- dispensa a justiça; ela se isenta desse mal
mentos de suplício: fileiras de grilhões com plício, prosseguem com os condenados, em suas por um enterramento burocrático da pena. E,
suas coleiras de ferro. Os chefes dos guardas, ambíguas trocas de injúrias, de ameaças, de enquanto havia esta distinção administrativa,
ferreiros temporários, dispõem da bigorna e do encorajamento, de golpes, de raiva ou de operava-se a negação teórica: o essencial da
martelo. Nas grades do caminho da patrulha, cumplicidade. pena que, nós juizes, nos infligimos, n ã o creia
estão fixadas todas essas cabeças, com uma Uma onda de violência se espalha e não que consiste em punir: procura corrigir, refor-
expressão morna ou audaciosa, que o operador cessa de correr durante todo o processo. mar, "curar*',, uma técnica de aprimoramento
vai revirar. Acima, em todos os estágios da Dessa maneira, a justiça não se furta mais afasta, na pena, a estreita expiação do mal e
prisão, percebem-se pernas e braços pendentes de acusar publicamente a parte da violência libera os magistrados do papel vilão de castigar.
através das cabines, como se fosse um bazar de que está ligada ao seu exercício. A morte n ã o
carne humana: são os presos que vêm assistir Há na justiça moderna, e nos que a dis-
a preparação de seus companheiros da é mais a glorificação de sua força, mas um ele- tribuem, uma vergonha de punir que não exclui
véspera... mento que ela é obrigada a tolerar, e que é o zelo — sobre esta ferida a psicologia fervilha.
difícil ignorar. As marcas da infâmia se redis- O desaparecimento do suplício é pois o
Ei-los aqui, numa atitude de sacrifício. tribuem nos castigos-espetáculos, um estranho espetáculo que s apaga, mas é também a
e
Sentados no chão, agrupados ao acaso, e se- horror jorrava do patíbulo falso, envolvendo de prisão sobre o corpo que se rompe.
gundo a sua estatura, as grilhetas que cada um uma vez o carrasco e o condenado: e se estava Não mais tocar o corpo, ou em todo o caso,
ÊLiteiãrío
Suplemento,
Um intelectual, ainda mais brasileiro,pode — Eu faço um erotismo elevado, bacana,
se chamar de Cassandra Rios a Jorge Amado, como se diz na gíria. Fazer como aquele fran-
de Plínio Marcos a Guimarães Rosa, de Carlos
Zéfiro a Hermilo Borba Filho, Autran Dourado
ou Osman Lins Entra muita gente. Inclusi-
ve Willan Parkson, Paul Demougart e Jean
FELISBELO cês. . . não, n ã o cite o nome, é bom a gente
evitar nomes comprometedores, ah! é norte¬
-americano? É mesmo? Pois eu pensava que
era francês. É um judeu a í . . . Como n ã o é
Floubert, que n ã o passam de uma única pessoa,
três em um. Trata-se do sergipano Felisbelo escritor d a silva judeu? É gringo e gringo é tudo judeu! Não,
não cite o nome dele por favor, nos meus livros
da Silva, 45 anos de idade, 23 de São Paulo, sobre vigarice jamais citei um nome sequer.
investigador de Polícia no 9.° Distrito (Santa- Eu não faço como esse autor aí e outros estran-
na). geiros que se prevalecem da imoralidade para
Porém nas horas.que ele considera de folga faturar com major rapidez, com maior segu-
torna-se um misto de romancista-filólogo-poe- r a n ç a . Meus livros, altamente eróticos, n ã o
ta-desenhista-músico. Felisbelo publicou quin- são pornográficos. Eu apresento todas as per-
ze livros, dos quais vendeu mais do que a maio- versões sexuais mas de maneira decente, de
ria junta dos escritores nacionais (com exce- forma que o homem pode ler e uma moça tam-
ção daqueles grandes campeões). Vendeu bém pode ler, porque os meus livros eróticos,
nada mais nada menos do que 300.000 exem- além de despertar o interesse pelo sexo, que é
plares, durante quinze anos de carreira literá- salutar e muito normal, muito natural, uma
ria. Além disso gravou 18 músicas de todos os mulher por exemplo, uma moça deve saber o
gêneros populares, do iê-iê-iê à valsa e a t é que é o lesbianismo, o sadismo, a necrofilia, a
mesmo um ritmo novo no Nordeste muito pouco necrolatria, o narcisismo, que é também uma
conhecido, o Carimbo, gravado por um conjun- tara sexual, a pessoa fica se olhando, a pala-
to que leva o mesmo nome. Um experimen- vra vem de Narciso, acho que era grego, o exi-
talista? bicionismo, que existe tanto em mulher como
em homem.
Então ele se prepara para deitar cátedra:
Numa diferente — Mas você sabe o que é necrolatria?
— Não.
Felisbelo ou "Belinho", como é conhecido — É a pessoa que n ã o tem relações mas
na delegacia pelos colegas ou na rua esburaca- gosta de ficar se esfregando em cadáver.
da da Vila Gustavo onde mora, n ã o inventou
aqueles nomes explosivos porque achou que o 102 anos
seu era um nome ruim, desemxabido, exces- »
sivamente brasileiro. Pode ter certeza: ele Belinho nasceu em Própria, Sergipe, limite
não tem vergonha do seu nome. Inclusive, nos com Alagoas, em novembro de 1928. Não era
-
seus dois últimos livros ("Explosão Sexual' e pobre, o pai fazendeiro chegou a m a n d á - l o
- A Gíria Sensual") ele aparece como Felisbelo estudar em Recife.
da Silva e como Belinho mesmo, -sem nome de
judeu" — Até os dezesseis anos vivi com meu pai ,
O bem acima de tudo j á falecido. Meu pai morreu de velhice com
Quando muito pode-se ver insegurança na 102 anos, sabe por que? Porque caiu e quebrou
adoção dos pseudônimos, mas é difícil passar Estatura baixa, cabelos crespos, jeitão lem- a perna e n ã o dá pra encanar a perna de um
daí. Insegurança causada também pelo fato brando o Teixeirinha (Churrasco de Mãe), bem homem de 102 anos. Do primeiro consórcio
consumado de que um nome gringoso vende humorado, ^ e l i n h o fala de boca cheia e sem do meu pai nasceram dezenove. Do segundo
mais do que José da Silva ou Antônio Batista. papas na língua que começou a escrever livros nasceram mais três, inclusive eu No segundo
Sua explicação é outra. Como nunca teve pre- porque, como bom cristão, achou que deveria consórcio meu pai contava 59 anos e minha
conceito em matéria de arte, o que está claro fazer o bem ao próximo. Nas suas palavras, mãe quinze. Naquele tempo.. . Tenho irmãos
pela diversidade dos gêneros que pratica, achou "ajudar os menos favorecidos da sorte, que são espalhados por todo o Brasil, inclusive uma
que deveria entrar numa diferente também as vítimas dos meliantes, dos espertalhões". irmã que é freira em J a n u á r i a , Minas Gerais.
com isso de nomes. Enquanto o papo fica nos livros de "Utili- Aqui em São Paulo tenho irmão com mais de
— J á sacou amizade, em matéria de arte dade Pública" a coisa é bastante óbvia. Mas oitenta anos!
e literatura eu faço de tudo. quando se passa para os romances e contos de Aos vinte e dois anos resolveu vir p r á São
Belinho é polígrafo. William Parkson, Paul Demougart e Jean Paulo, porque alguns dos seus muitos" irmãos
Sua obra divide-s em duas partes. Na
e
Floubert, surge alguma complicação. A come- viviam aqui.
primeira encontram-se livros de "Utilidade P ú - çar pelos títulos:''Kenny, o furor sexual"; " P a - — Foi depois do exército, vim para a casa
blica". Foram os primeiros que escreveu e que ris, Sexo, Prazeres e Crimes"; "Sexo, Delírios e dos irmãos. Lá no Nordeste eu era negociante
também levam seu nome por extenso. Inclusive Tormentos". Ainda os assinados com o nome de tecidos, n ã o vim na pior não, vim de avião
"Utilidade Pública" é o título de um deles, on- verdadeiro e com o apelido: -Explosão Sexual"' pela Real, paguei um conto e seiscentos e pou-
de o autor, numa linguagem que só poderia ser e a -Gíria Sensual'* (contos), respectivamente. co. Não vim na pior não. Uma semana depois
classificada como própria, conta ao leitor muii- Este último por sinal tem uma chamada a ca- comprei casa em São Paulo.
ta coisa ."útil", emitindo ao mesmo tempo seus ráter, que nem mesmo o Rabbath do Teatro
Natal conseguiria bolar: A razão da m u d a n ç a é bastante simples:
conceitos morais e policiais. Seu assunto, por — Muitos nordestinos que vêm pra cá
fatalidade e obrigação, é a marginália. U m "Seguinte, bicho, se tu estás por fora das estão bem de vida lá, seguindo o lema de que
exemplo pode dar a medida da .coisa. É do transas do sexo, desliga deste, que a barra é não h á bom profeta em sua terra, como diziam
capítulo - A Operação': pesada; mas, se estás entrosado nessa onda os escritores no tempo de Cristo. Vem por
"Outra -mania" que os patifes têm, é a de legal, tu vais te esbaldar, porque tem mina aventura. Mas a maioria vem por necessida-
pedir dinheiro-para operar um filho, sposa,
e
pacas... a) o escriba". de, outros com o espírito de luta e muitos deles
etc. Novamente as maldosas listas são postas conseguem vencer no grande centro, São Paulo
em circulação, e o povo — menos esclarecido — Viva o sexo! e Rio. Daí o fato de se dizer que as faculdades
dá o seu dinheiro sacrificado àqueles que prefe- Estes são os livros "Eróticos". Quem é estão repletas de nordestinos, gente do Norte
rem viver da fraude." Kenny? A julgar pela loira da capa deve ser e Nordeste. As repartições públicas estão
Nesses livros encontra-se de tudo. Todos um daqueles materiais de primeira, de endoide- cheias de chefes nordestinos, os militares em
os tipos de malandragem vêm descritos mais ou cer São Pedro em dia de mau humor. Mas é todas as partes. O nordestino é como portu-
menos na forma de crônicas — o autor nunca isto mesmo. Kenny nasceu em lugar incerto guês, português é que nem cavalo, luta mesmo.
deixa de estar presente com seu corpo e sua e não sabido na Europa Central — o autor dá Nordestino em geral é um cara que é jogado, é
alma. Outro exemplo. "O Manual Prático — algumas dicas mas não todo o serviço. Deta- atirado, vem sem dinheiro ou com dinheiro, de
Social — Médico _ Policial" abre-se com um lhes sem importância. O que realmente "nos avião ou pau-de-arara, não liga pra isso. Com-
artigo sobre "O Desarmamento Infantil", passa interessa é que ela era uma mulher sensual, prei logo unia casa no Tucuruvi, hoje possuo
por provérbios populares ou do Beli- uma mulher sexual, erótica". E sobretudo três casas, automóvel e telefone, sim, os livros
nho mesmo, por assuntos eomo a "Cura do universal. Vai de Paris ao Rio de Janeiro ajudam bastante... pode-se dizer que venci.
Câncer', -Remédios Caseiros", como se faz um transando com a mesma facilidade e compe- Tive uma lojinha na Senador Feijó, miudezas
requerimento, etc. tência. Uma beleza. Lembre-se que ele nun- em geral, para n ã o dizer bugigangas e roupas.
Esta parte da sua obra n ã o fez com que ca saiu do Brasil, mas essa vidração na Europa Quinquilharias. Fechei porque em São Paulo
Belinho ficasse conhecido apenas de certa fai- não é exclusiva dele. se n ã o for um negócio muito grande, h á muita
xa do povão. Os livros de "Utilidade Pública" Numa dessas de erotismo n ã o se pode ver despesa e dá prejuízo. Aí entrei para a polícia
são usados nas escolas de polícia e h á tradu- muita chance para o tal bom cristão que Beli- e depois, com a prática da vida e a minha vo-
ções deles em alguns países. Na Argentina, a nho afirma ser batendo no peito. Pior ainda, cação, comecei a escrever levado pelo princípio
Interpol faz bom uso deles e h á pouco a editora para o bom católico que ele é, chegando mes- básico de que se deve fazer o bem ao próximo
Luzeiro recebeu um pedido completo para a mo a assistir missa. De vez em quando, é acima de todas as coisas e na medida das
África do Sul. Belinho chega longe. natural. nossas forças.
E h á o filólogo do "Dicionário de Gíria" — Como é,,.seu Belinho? Nos últimos anos Felisbelo tem se desviado
a
dos marginais na 7. edição, com milhares de Acontece que ele é mais coerente do que um pouco das atividades literárias para se de-
verbetes, que, segundo ele, foi o livro que mais um louco. Por isso ele n ã o é louco, está na dicar mais à música, ao curso de madureza
deu trabalho. Não é p r á menos. O "Dicioná- cara. Sua trama semi-consciente é bem urdida. completo j á concluído e ao curso de direito em
rio" é estudado por gente especializada na área Sem pestanejar, com a boca sempre cheia do Pouso Alegre, que deverá terminar neste 1975.
da universidade. Além disso este livro pode queijo que come temperado com cerveja, de- Mas não sabe ao certo o que fazer depois. (En-
servir como vocabulário auxiliar para os leito- bruçado sobre a mesa do botequim no Arouche trevista com o escritor na última página deste
res do autor que estejam por fora. onde conversamos, ele manda: suplemento.) Moacir Amâncio
e os que dizem não e Tchecoslováquia. vil faz sofrer me- uma vez ele discu-
G regory Corso
Livros louvo a vontade
dos que dizem
Em Madrid publi¬
cou-se um estudo
nos qüe a cadeira
elétrica ou a câma-
te com a mulher,
Yara Amaral, do-
não de Pilar Gomez Be- ra de gás. Cada vez na-de-casa destruí-
da pela falta de
tradução
e a humildade dos date com o titulo: que o governo os
que dizem sim
choro ao saber
"João Antônio y la
Picaresca Paulista"
convoca para cum-
prir uma execução,
compreensão
regras do sistema
das
de Marcello Corção.
que os que Mas entre as opi- lhes envia também em que vive, pia-
dizem não niões sobre a obra os sinceros votos nista caseira, es-
continuarão a a de Marques Re- para que: "Deus os perando o filho
dizer não quando belo ficou famosa. guarde por muitos Guima para a festa
a situação for sua
:
Além de cons derar anos..." de Reveillon: o poe-
e os que dizem "MALAGUETA PE- ta, o sem-rumo, sem
sim continuarão a RUS E BACANAÇO" emprego. Nem a
dizer sim sim sim um dos livros mais reaparição de Fer-
e sonho o dia em importantes da mo- nando (Enio Gon-
que tirarem dos derna ficção brasi- çalves), antigo
dicionários e dos leira, deu ao autor amor, reacende a
corações os o maior de todos os vida em Janete.
pronomes elogios que Jcão Tudo está perdido
13 pontos: o pri- Antônio diz já ter pela família, mas
possessivos
meiro romance bra- recebido ein vida: acima de sua mor-
O poema é do livro
sileiro sobre loteria te há uma conta
Havia um Caminho "— Você é autor
esportiva. Epopéin de luz a pagar.
no Meio uas Pedras, de boas histórias
do Gilberto, em- (Alexandre Solnik).
de José Júlio d? velhacas".
presado no escritó-
Azevedo.
rio de financeira
paulistana até ga- Zé Júlio é de
nhar o maior prê- Cambe, cidade nor-
mio. O personagem te-paranaense. MEMÓRIAS DE Cartas
é fictício mas anda Seu livro foi lan- CARRASCO
pela realidade do çado em São Paulo Vinte e cinco anos
depois de escolher NO TEMPO DE
todos os outros ga- em abril; é ilustra-
sua profissão, V i - CAETANO
nhadores, cruza com do por artistas
cente e Antônio pu- REVEILLON Portugal. Lindo
o Ibraim Sued. tem cambeenses: Ma-
blicaram suas me- Alienação diante país. Cabral. Brasil.
mãe que gosta da nuel Yepes Frota
Hebe e se assusta mórias em um livro: da morte: esta é a A exploração de-
e Cláudio Cambe testável. A colônia.
com a polícia. (autor da capa). Los Verdugos Espa- história de "Reveil-
noles. lon", comédia de Que m... aquela
O autor assina Edições Digital, época. A escravidão.
Curitiba. Antônio e Vicente Flávio Márcio mon-
.Mauro de Mack tada no palco pela Aquelas porres to-
mas é o crítico dc são especialistas em
direção de Paulo das.
música Maurício garrote vil, método
de execução insti- José e cenário de E o português ti-
Kubrusly (Jornal da Flávio Império no cou na história co-
Tarde): "Eu quero A VOLTA DK tuído na Espanha
no final do século Teatro Anchieta. mo idiota da piadi-
concorrer com o "MALAGUETA", nhas de humor ne-
XIX pelo rei Fer- Quando se pensa e
Zé Mauro de Vas- PERUS i; como se escreveu gro, branco, azul.
concellos. sem ser BACANAÇO" nando VII, para
acabar com "as de- nos jornais que »i Pra p... que p .. a
canalha o piegas uma situação fami - decadência do cora-
como ele é. A in- Esses três senho- gradantes práticas
liar, num aparta- ção português. Se
tenção foi fazer um res de vida nada da forca e da tor- mento, no último eu pudesse eu ia
livro direto, um respeitável — os tura". A lei declara dia do ano não se até aquele País, ba-
cordel urbano. O três malandros d"' que o número de está dizendo nada tia um papo com
livro e popular, não João Antônio — es- vardugos para o
ou melhor, está se um mont-: do gen-
quero nada que tão de volta em país ibério não de- dizendo tudo para te, e iazia o respei-
chamem de litera- grande estilo e pro- VÍÍ ser superior a deixar a surpresa to (náo aquele vin-
tura." Edições Ilha metem arrepiar de três. O cargo é vi- para a hora de ver do do medo da
Deserta, Editora Mu. novo, como diria o talício. As condições a peça, pois o que grande nação, mas
São Paulo. autor. Enquanto exigidas para o
acontece não se as- aquele nascido da
aparecerá em ju- cargo: ser maior de semelha a nada do admiração, do amor)
nho uma segunda idade, ter menos de que se viu por aqui retornar. A lingua
Camisa de Força, edição do livro, a 50 anos, e possuir ultimamente. "Re- portuguesa é linda
romance de Wladyr TV GLOBO vai "aptidões físicas"
veillon" é uma sur- quando bem usada.
Nader, jornalista, transformar no mes- Desde que iniciaram presa porque não FERNANDO PES-
começa com breviá- mo mês "MALA- o ofício, Antônio e pretende nada de SOA! P . , que p...
rio do autor: "Para GUETA, PERUS E Vicente realizaram novo: é o próprio Que maravilha. Até
que tanta • desculpa? BACANAÇO" num um total de 39 exe- novo não como má- o nome é lindo.
Sou covarde, por- Caso Especial — cuções e declaram: ximo, que se po- Marct'!
tanto praticamente horário nobre da., "temos aprendido
de obter em criati-
incapaz de iniciati- quartas-feiras — di- com a prática." vidade no gênero
vas. Meu destino é rigido por Maurice Antônio se encar- humano; a peça é
Sapovilla com diá- regou de cumprir a WAKONDA! Talako! peru alcooli- torce-te e esmurra tua
fazer parte da nova porque atrai o zado para a morte fazendo glu-
massa subjugada e logos de João Antô- sentença de morte Agradeço cordial- d í g e n a com o ú l t i m o 1
espectador da clas- gluglu na noite de passos ma¬
importante. Como nio. O autor esteve do jovem anarquis- mente aos editores do amor do amor,
se média e o envol- cios!
ela, só reajo com a em São Paulo para ta Salvador Puig ve numa trama si- do Ex a publicação Oh a m é r i c a , oh cantos
localizar todos os Antiach em Barce- de "Você já olhou Penas de pontas azuis amarelas quiem —
corda no pescoço", nistra delicadamen-
salões de sinuca, lona, no dia 2 de pro céu?", uma cria- vermelhas tingidas com arando O tropel nas p l a n í c i e s d
por exemplo. Edi- te. Regina Duarte
muquinfos e bocas março de 74. Mas, ção conjunta de b a l a n ç a m na d a n ç a louca do nhos fantasmas de anil
tora Vertente, Belo fazendo a f i l h a
onde se passa o a mais penosa de dois artistas novos: fogo hahaha homens mortos ho- comidos apodrecendo a<
Horizonte. montada em taman-
conto c "MALAGUE- suas memórias, foi Mareei Faerman mens de pele vermelha homens- Perseguindo o espírito d
cos, depois vestida
TA. PERUS E BA- a execução de José (texto) e Sandra - c o m - p e n a s - n a - c a b e ç a na noi- terra pelas p l a n í c i e s afi
como Marilyn Mon-
CANAÇO" será fil- Maria Jarabo, em Abdalla (desenho). te! na eternamente, a ir
roe, praticando ao
mado nas bocas de 1959, na prisão de mesmo tempo sexo Não sou especialis- Fúria animal de carne no osso no tribo Kiwago devastE
inferno originais da Carabanchel. e auto-repressão se- ta em crítica de terreiro quente de fumo! tranqüilos Dakotas, oh
história, nos subúr- xual, trágica, vulgar, obras literárias ou Cantos de réquiem para a confe- ca —
bios e no centro — Jarabo havia
desinformada pare- artísticas. Tenho d e r a ç ã o dos índios do sudeste América ó a m é r i c a de mi
da cidade bebido várias doses
ce sintetizar criti- apenas a sensibili- norte-americano! Ah, a morte casso oh a m é r i c a petrif
de conhaque duran-
camente todas as dade de um repór- . dos Creeks. dos Choctaws, alga do que j á foi outre
Maurice Capovilla te a noite, para ter
personagens que fez ter, que é minha Do guerreiro Brave, transbordan- a grande e adorável conf
está realizando um coragem de ver gi-
nas telenovelas, pois profissão. Foi com te de juventude, e pranto, segu- das tribos do Golfo, oh
velho sonho de rar a manivela",
sua Janete tem as essa sensibilidade rando uma truta na sua m ã o sugadora de petróleo
quinze anos: conhe- afirma Antônio. "E,
mesmas característi- de repórter que moribunda, uma truta orgulho- d i s s o , , p e t r ó l e o de dias i
cendo a história h > quando comprovei,
cas embora seja reagi favoravelmen- sa apanhada com sabedoria, lebres para caçar, pei
original, já preten- depois de sete mi-
mais esculhambada. te aos estímulos da O mais leve dos pés, o mais veloz, fisgar, p é s velozes c<
dia filmá-la mesmo nutos, que o homem
No cenário forrado bela obra de Mareei ah lamento da américa, ô amé¬ tribos dali sobrepujada
antes de editada. O não agüentava mais,
em partes com jor- e Sandra. Há mui- rica dos noruegueses e suecos, para comer para am
Louvo a coragem livro de contos, ho- pedi aos médicos
nais, Sérgio Mam- to ternpo, venho do tabaco de mascar, dos cri- morrer
dos que dizem je considerado uni que lhe examinas-
berti, o pai, senta sentindo falta des- mes, saques e massacres, de ah cantos fúnebres, o de
não não não clássico da literatu- sem o pulso. Os
numa escrivaninha se tipo de estímulos, Deus e dos tratados desfeitos, h á muito profetizou "v
louvo a humil- ra brasileira com- médicos responde-
cercado de plihas em órgãos da im- Ah relincho dos cavalos pampas! Trombetas heráldicas
dade dos que dizem temporánea. fez ram: Continue, ain-
de jornais. Seu per- prensa nacional de Ah canto fúnebre do t r e n ó in- branco afinadas segunc
sim sim sim grande carreira — da não terminou.
sonagem, Murilo, grande penetração d í g e n a pranteando o chefe mo- lodia coiote para larc
existem homens está incluído em (! Jarabo resistiu a
manifesta-se pelo na massa de lei- ribundo! morte do sol poente a pE
fortes e homens antologias nacionais morte mais do que
conformismo de tores, cada vez Morangos silvestres, abeto, uva- t r e n ó de cada moribun
fracos ambos são i inclusive escolares o previsto (25 mi-
completar uma ex- mais robotizados. -do-monte, milho caboclo, trigo e exangue, o tremor
castigados e para-didátieas), nutos) porque es-
tensa lista de per- Obrigado a Mareei do mato — oh escassez de ho- mens, de cada um dc
os fortes porque ganhou todos os tava excitado pelo
sonalidades às quais e Sandra que me mens! morrendo lentamente,
dizem não os prêmios do gênero álcool ou porque
dedica sua biogra- ajudaram a olhar lho e quente na sua r
fracos porque no ano de lança- era de forte muscu- Mulher pele-vermelha de pescoço
fia quase pronta: só pro céu. Demó- de couro —
dizem sim mento 11963) c tem latura." comprido, irmã guerreira, mo-
falta o final que ele crito Oliveira Mou-
a rotação do poder traduções esparsas Atualmente, An- ça de tenda, amante de cicatri- Balancem lentamente
só vai poder es- ra — Central Par-
continua na Argentina, Es- tônio e "Vicente de- zes, n ã o despedaces mais o rato lho, os dentes do falcã
crever no fim. Só que da Lapa — São
e sempre haverá panha. Alemanha claram: "Bem exe- almiscarado com tua m ã o car- nos de casca, entoem le
Paulo (SP).
os que dizem sim Oeidental, Venezuela cutado, o garrote nuda, mas desespera-te, con- te o lamsnto, ó réqu
Dema do índb na moto choro! Oneidas. os Onondagas. que lhes
Calamidade i n d i â n i c a ! n ã o f o i , a dão g r a ç a s !
cabeleira arrancada dos homens Oh alegria! oh anjos! oh paz! oh-
a primeira í a c a que penetrou terra! terra terra terra, oh morte
no coração de uma idade selva- Ah as balas, as flechas, o chumbo
gem, devastadora de terras vir- grosso, o uísque, o rum, a morte
gens, oh cantos fúnebres, e a terra,
Oh nuvem de tempestade, trovoa- Ah feiticeiras, t á v e r n a s , homens
das provocadas por pássaros quakers, Salem e Nova Amsterdã,
f a n t á s t i c o s , chuva-no-rosto, gri- as p l a n t a ç õ e s de milho,
to nas trevas, morte, E a noite, pés ligeiros, morte, mas-
E mantas e p l a n t a ç õ e s de milho, sacre, massacre, oh américa, oh
e pegadas t r a n q ü i l a s do homem réquiem —
à procura de Kiwago, a m é r i c a Casas de madeira, fortes, postos
Kiwago, américa, a m é r i c a mi- a v a n ç a d o s , entrepostos de co-
lho, c a n ç ã o singela de um trisk mércio, lugares distantes,
menino pele-vermelha c a n ç ã o nuvens,
na noite sob o olhar da cabeça Poeiras, hordas, tribos, morte,
que espia com curiosidade de morte, jovens louras que mor-
c a b e ç a intrusa de Zeus trove- rem, vestidos que queimam, ho-
jante e zombeteiro, ah essa an- mens de jaquetas vermelhas e
gústia, essa morte, essa noite, de jaquetas azuis que morrem,
Réquiem, américa, entoe um la- jovens que rufam os tambores,
mento fúnebre que faça o trige que tocam os pífaros, que pra-
preto e branco tremular altiva- guejam, gritam e morrem, ca-
mente em louvor do índio que valos... que morrem, crianças
nunca mais h a v e r á de nascer, pequenas... que morrem;
desaparecido, desolado, extinto;
Ouça as planícies, as grandes cor- Iiiiiiiiuuuuuuuu ! Hhhhhaaaaa!
dilheiras de montanhas, ouça o EEEEEEeeeeeeEEEEEEaaaaaa!
vento desta noite raça de Okla»
homa primeira a chorar no la- Morrer morrer morrer morrer
mento das monanhas, das cor- morrer morrer... américa, ré-
rentezas, das árvores, dos p á s - quiem .
saros, do dia e da noite, do Rude, desajeitado, molenga, lá vai
brilhante e contudo desapare- o índio na sua roupa de sacris-
cido t r e n ó f a n t á s t i c o , tão, d e s e n g o n ç a d o , risível, b ê -
A c a b e ç a curvada de um índio é bado.
suficiente para curvar a cabeça Cansado, desleixado as antigas
de um cavalo e os dois juntos i n d u m e n t á r i a s e as botas bran-
morrem morrem morrem e nun- cas se perdem, a alegria das
ca mais morrem definitivamen- lestas e das d a n ç a s terminou,
te, a noite devora os moribun- acabou, o índio Seneca dorme,
dos, devora o sofrimento e n ã o sem trenó, sem cavalo pampa,
h á mais sofrimento para o í n - sem fim, dorme apenas, e uma
dio, n ã o h á mais nenhuma í n - nova era, um novo dia, uma no-
dia grávida, n ã o h á mais meni- va luz, o milho nasce com far-
nos cobertos de brancos orna- tura e a noite é eterna, assim
mentos de couro, exalando o como o dia;
aroma ú m i d o de tabaco e coisas O avião a jato risca velozmente o
doces, ah a m é r i c a a m é r i c a — céu do Texas,
Todos os anos Kiwago vê seus Réquiem
bezerros emagrecerem, v ê sem
franzir o cenho seus matadores A noite o motociclista índio P é -
mortos, os novos atiradores, de
pontaria certeira, com suas es-
-negro com um cinturão largo III
passado na cintura mais selvagem
pingardas e balas, atiram e der- do que os olhos luminosos do fal-
rubam o mais velho dos touros, c ã o senta em sua possante moto-
o rei, o Kiwago da planície re- cicleta preta ajeita-se no assento
manescente — e arregala os olhos na e s p e r a n ç a
Todos os anos Kiwago vê o deser- de loucas aventuras saindo numa
to imóvel, o deserto seco sem disparada pela rua abaixo mais
l á g r i m a s e sem filhos, o deserto veloz do que a correria de seus
sem f u m a ç a , o deserto triste e antepassados a cavalo pelos des-
sem índios — filadeiros cobertos de f u m a ç a c
Todos os anos Talako vê o p á s - pelas cabanas embandeiradas A h
saro voar sem flecha perseguin- a t í m i d a sombra de Kiwago ago-
do-o na sua paz do céu, na sua ra! o ronco louco do cano de esca-
liberdade de devorar tudo que pamento de sua moto Indian
cudam lentamente o vento dos O relincho chorado dos cavalos, a ecoa nas ruas como o ruído en-
noite das é g u a s e dos potros, o existe da velha a m é r i c a , da
ventos, ah as penas murchas le. a m é r i c a virgem calma selva- surdecedor de ferro e lata explo-
vadas pelas brisas da tarde, lento chefe da morte, enrugado, dindo brrrrrummmmm não há
triste e sem vigor, sem horizon- gem,
Lamentem o ú l t i m o t r e n ó arras- apenas no seu capacete oleoso Ah
te, sem f u m a ç a , triste e orgu- Ah américa, ah canto de réquiem,
tado pelo cavalo pampa, o triste ele é uma m á q u i n a veloz a vapor
lhoso morrendo — oh n a v e g a ç ã o rasteira, ó c é u do
rei perplexo e ferido "dos Mon- correndo na disparada sem ban-
Em direção ao território coiote Oeste, cada ano é um outro ano,
• tanas, da de m ú s i c a para o receber é
da montanha e da lua, a alga- n ã o se perde uma partida de
E m u d e ç a m os c a ç a d o r e s france- bola, o braço delgado e rnuscu- uma pena ele ser estúpido a pon-
ses de peles que zombam nas zarra exultante, o riso orgulho- to de sentar-se no Horn & Har-
so de homens sem conta, P é s - loso que segura a l a n ç a n ã o se
suas e m b a r c a ç õ e s fluviais, que levanta mais, o sábio conselho dart em sua visita à Nova Iorque
n ã o se ouça nenhum canto de -negros, Mohawks, Algonquia- e sentir-se feliz na companhia de
nos, Senecas. todos homens, oh dos reis reunidos n ã o e s t á mais
guerreiro perante uma tal abun- quente com vida, com peles, garotas de faces rosadas e cabe-
d â n c i a de ratos almiscarados e americano, homens reunidos no los louros que conversam sobre a
alto que inclinam umidade, calor, milho assado e
castores, desprezem-nos, carne seca, agora a índia n ã o sua enorme moto e a moto enor-
Que a histeria da mulher pele- Suas c a b e ç a s brancas cobertas de me delas, Ah ele se comporta co-
trocará mais sorrizinhos com
-vermelha abata-se sobre a palha e morrem à maneira dos mo um anjo no meio delas embora
sem bem amado, n ã o conversa-
a m é r i c a , a a m é r i c a carroça co- cavalos pampas com a lua nas- sua a p a r ê n c i a citadina seja sinis-
rá mais de amor difícil e da ne-
berta de pioneiros, as carroças cente, na noite quente, perdida, tra sinistra quando fuma à noite
cessidade do homem e da mu-
da conquista incendiadas por vazia, nunca vista, sem música,, um cigarro numa ruela deserta,
lher viverem, juntos, da neces-
flechas, a ú l t i m a resistência dos indiferente; sem vento esperando, américa, esperando o
sidade dos filhos, filhos, n ã o
quakers, antes de perecerem, Na luz sombria e terrível do Ter- h a v e r á mais filhos nos anos vin- fim, o ú l t i m o Í n d i o louco sem
das bruxas de capuz branco nas reno da Caça Feliz douros, n ã o h a v e r á mais apa- peixe nem pés d e s c a l ç o s nem ca-
cabeças, dos orgulhosos con- Três gerações de chefes exibem rência de vida, de vida aprazí- ca na floresta altiva, louco nos
quistadores, jovens e mortos, seus troféus i n ú m e r o s de cabe- vel, n ã o , n ã o mais, américa, joelhos que cavalgam a motoci-
Ó J e r ô n i m o ! Washington Bolívar ças humanas, batendo as tran- mas em lugar disso as pedras cleta, é dele o ú l t i m o canto de
de rosto duro como níquel de cas louras de uma criança con- mortas, as árvores secas, as réquiem a ú l t i m a a m é r i c a A F E S -
uma cidade moribunda que tra o pano sujo, encardido e
nuvens dc poeira percorrendo a TANÇA DO F U N E R A L ESTA
nunca existiu, esse monstro- áspero da tenda; terra de uma extremidade à SAINDO os votos de boa sorte são
-morto, que os d e m ô n i o s se reu- Ela desaba em meio a uma raon- outra — réquiem. acenados, os pneus s ã o cheios, os
niram para pilhar e pilharam, toeira de coisas espelhadas, des- Os bacamartes dos pioneiros, as óculos de corrida j á foram coloca-
ó Touro Sentado! homem cor-de- truída, acabada, devastada, as fivelas largas que usavam, os cha- dos, o motor, a gasolina, os freios
-ameixa Jefferson L ê n i n e L i n - costas livres do cais, transfor- péus altos, holandeses, ingleses, — está tudo em ordem! í n d i o s
coln homem pele-vermelha mor- ma-se na carcaça vazia dos c r ã - sapatos de couro patenteados, B í - de 1958, vestidos da c a b e ç a aos
to, obrigue teu espírito a bater neos sem cabelos dos mortos que blias, rezam, esfriam os â n i m o s , pés com roupas d couro — AR-
e

asas, encubra a terra de nu- procuram na sepultura dos são circunspectos, circunspectos, R A N C A M na disparada pela es-
vens, ah o condor, o abutre, o brancos a criança de cabelos nada lhes comove a n ã o ser festas, trada cor de terra da Morte, o
falcão os dias da abundância arrancados; perus assados, milho, frutas sabo- pequeno Richard ouve a trombeta
passaram e tu t a m b é m , oh a m é - Ah a tristeza inelutável nessa rosas, doces e geléias que sabo- prodigiosa e no desastre ocorrido
rica. oh cantos de réquiem, eternidade i n d í g e n a , reiam rodeados de uma m u l t i d ã o a toda velocidade seu blusão de
Ela justifica, oh américa, teus de convidados felizes e surpresos, couro, c h ç i o de ar, reiincha como
Vales secos, marcos de caveiras, nos velhos tempos!
territórios Apache, terra de sol urros, teus brados, teus gritos, os Iroqueses, os Mohawks, os
vermelho, trenó i n d í g e n a , teus relinchos e explosões de
O Pensamento Vivo de Belinho
Pergunta — Você gosta de" Sexo? Ostentas, pois, tal honra mui pujante, obrigação de fazer algo pelos seus semelhantes,
Belinho — É claro que gosto. Sexo a meu ó meu São Paulo de grandezas m i l ! é dever sagrado pelos menos favorecidos pela
ver é o troço mais bacana, mais palpitante do Acolhes com bondade o mundo inteiro, sorte, que são as vítimas dos espertalhões.
mundo, é lógico, se tirar todas as mulheres do E és o orgulho do povo brasileiro!" Pergunta — O que você pensa do marginal?
mundo vai ficar o que, homem? Sexo é a coisa Belinho — O bandido geralmente, o delin-
mais, linda, mais apreciável que existe sobre a E vai por aí. Essa é a poesia que você fica um qüente, não é que nasce delinqüente, é fruto
face da terra. Primeiro o amor a Deus, depois mês, um ano burilando e às vezes não consegue primeiramente da educação dos pais, excesso
o amor à mulher, que começa no amor fraternal e o povo não dá valor, é por isso que é a arte de mimo por exemplo. Se você diz para o seu
pela minha mãe, pela sua irmã, depois vem ingrata, a mais difícil. A prosa é muito mais filho não pegar este objeto, ele pega, etc. Tem
os outros. fácil que a poética. filho que bate na cara do pai, pobre ou rico.
Pergunta — E você pratica muito sexo? Pergunta — O que você acha que é preciso Todos devem fazer o possível para educar o
Belinho — É claro que pratico bastante, para a pessoa se tornar escritor? filho. Todos devem se valer da excessiva boa
onde tem mulher estou aí. Eu já decantei a Belinho — Primeiramente, para a pessoa vontade do governo para educar o povo, os fa-
mulher em verso, prosa e música. Todas minhas escrever, se considerar escritor, tem que saber velados também. Hoje h á escolas para todo
obras são sobre a mulher. dominar completamente a língua, tem que saber mundo, não estuda quem não quer mesmo. Eu
Pergunta — O que você pensa da vida português para poder depois se jogar a campo. mesmo estou estudando direito na Faculdade do
sexual de hoje? E a prosa não é difícil como a poesia, pois não Sul de Minas (Pouso Alegre), 4o. ano. Você
Belinho A vida sexual das pessoas em exige métrica nem rima. No entanto o escritor sabe para que? Para me formar advogado.
geral.atualmente, o mundo de hoje, que é muito tem que saber concentrar muito bem o assunto Quando estiver com o canudo, bem, não sei o
diferente do mundo de ontem, se faz sexo como e ser o mais simples possível e não ser prolixo. que fazer, ouviu? E fiz madureza ginasial e
nunca, h á uma evolução muito grande, não é Meus livros são assim. Porque o autor deve colegial, meus diplomas tem assinaturas de d i -
como dantes, quer dizer, antigamente, quando fazer tudo para não antipatizar com o público, retores de uma porção de cidades, não é diploma
as mulheres n ã o podiam nem aparecer na j a - para ser agradável para que o povo goste e não comprado não. Penei pra burro, não pensa que
nela. Hoje é a mini-sáia, a tanga e isso não o antipatize e esse é o maior tormento do artista caiu do céu.
é imoral, é lindo. A mulher realmente é a flor da pena — é ser capaz de agradar ao público Pergunta — E sobre suas músicas?
mais bela que a natureza criou. O casamento com seus escritos. Para se escrever é preciso
ter alguma vocação, como é preciso vocação para Belinho — Gosto mais de ser compositor do
é um negócio sério, o homem e a mulher devem que escritor, mas quem não gosta? Primeira
se casar, não condeno o casamento. Mas não se ser mecânico, para fazer mesa, para aviador,
pedreiro nãq, porque vão dizer que tenho medo música foi a marcha-rancho "Hino à Prima-
me casei ainda. Sabe por que? Porque aqui vera", gravada pelo Duo Glacial h á mais ou
pra nós casamento é pra trouxa. do pesado, para ser desenhista... Eu sou de-
senhista diplomado pela Escola D. Bosco e não menos oito anos. Eu sou compositor de ore-
Pergunta — Você se importa com o que lhada, não leio música nem toco nenhum instru-
pensem ou digam dos seus livros? tenho vocação para a engenharia. Sabe por
que? Porque não gosto de matemática, daria mento, estou aprendendo agora a tocar violão.
Belinho — Com 15 livros publicados, fatal- Mas faço a letra e a melodia e todos os gêneros
mente eles tem que me reconhecer um dia como um péssimo engenheiro.
musicais, do iê-iê-iê à valsa. Minha canção
escritor e mais 18 músicas gravadas, eles tem Pergunta — Como você descobriu sua mais bonita, "Noite de Natal", ganhou o pri-
que me reconhecer um dia como compositor. vocação? meiro lugar no Concurso de Músicas Natalinas
Pergunta — Quais os gêneros literários que Belinho — Bem, comecei fazendo versinhos organizado pela Secretaria de Turismo de SP
você pratica? lá na minha terra, Própria, gostava muito de, em 1971, que ainda n ã o foi gravada. Atenção,
Belinho — No gênero literário faço todo declamar e sempre gostei de estudar a língua' alô para as editoras. E m 74 gravei dois boleros
gênero, prosa e poesia (clássica), pois não con- portuguesa. Depois fui me aperfeiçoando, estu- com o Duo Siriema, dois boleros com o Roberto
sidero poesia a moderna, que nunca foi poesia. dei no Colégio Salesiano do Recife e lá sempre Nunes, uma marcha-rancho-frevo com o Ger-
O mais difícil na literatura e o mais ingrato, tive boas notas em português. Os livros são re- mano Matias pela Fermata, marcha-rancho com
porque o povo pouco entende de poesia. A sultado da prática de vida, sacou amizade? o José Américo e um frevo com o J i n Castro,
poesia tem que ter rima e métrica, é a arte Numa cidade cosmopolita como é São Paulo estas últimas para o recente carnaval de 1975.
maior na literatura. Veja esse verso, por eu tive a oportunidade de pesquisar os vários Gravei também com os Carimbos, do Nordeste.
exemplo, do meu livro esgotado "Vozes D'Alma'", setores da malandragem, enfim, alguma coisa Pergunta — O que você acha da vida de
do poema "Exaltação a São Paulo": que beneficia o público, sim, beneficia o p ú - investigador de polícia?
'•Ilustre e grande terra bandeirante, blico contar as arremetidas dos marginais, so- Belinho — É um trabalho suado, sacou
Majestade suprema do Brasil! bretudo dos estelionatários. Todo indivíduo tem amizade?

D o i s Delírios d o S e x o
Tomou pela mão a encantadora mulher e a 2 — Tarado
levou às águas.
O mar estava bravio. As ondas se agigan- Por inacreditável que seja, nossa protago-
tavam a cada instante, mas Kenny estava pro- nista pediu complacência ao mancebo Volmey,
tegida, pelo braço vigoroso de Volmey, o moço machão que a deixou em precário estado, após
de elevada estatura e bem delineada constitui- os débeis momentos.
ção física. Não obstante, a sedutora mulher, em uma
A praia estava maravilhosa, mas os dois só tarde, mantivera relações com diversos indi-
jovens tinham nas mentes, formidáveis planos. víduos.
Deixam aquele aprazível local e em poucos Mas ela estava exausta. O mocetão a pre-
minutos j á se encontravam em um belo apar- judicou bastante, porque, na verdade, ele me-
tamento. receu o título de cavalo, conferido por ela pró-
Kenny se despiu, mostrando ao amigo a pria .
sua plástica perfeita. Buscou, então, algum divertimento a fim
Volmey, fitando o olhar naquele monu- de se libertar de um doentio tédio que lhe en-
mento de beleza, tremeu de voluptuosidade. volveu o âmago. Tomou um táxi e ordenou ao
Sem hesitar também se despe. profissional que a levasse a determinado bairro,
Kenny, a megera do sexo, igualmente pas- aonde se encontrava uma grande casa de d i -
ma diante da beleza máscula de seu parceiro, versões, ambiente de luxúria e sensualidade.
mas sobretudo sente medo, porque o moço era O motorista era um crioulo alto e forte, o
do tipo descomunal. qual não titubeou em cumprir-lhe a ordem.
Carinhosamente, apavorada, ela o chamou Durante o trajeto, entretanto, o homem
de cavalo. do volante entorpeceu a beldade com alguma
1 — O homem descomunal droga poderosa, que a fez perder os sentidos.
Ele a tomou nos braços. Beijou-a. Sorveu
Kenny era o sexo enaltecido, ou o pecado de sua boca palpitante, o mais suav perfu-
e
Horas depois, a infeliz voltou a si, mas
sublimado. Inconstante, todavia, era o seu me. .. constatou que se achava em um bosque, aonde
gênio, porque às vezes ela era meiga, angelical. Erótica e muito mais encantadora que se mil vozes de pássaros anunciavam o despertar
Outras vezes surgia exótica, agressivamente possa imaginar, a flor-mulher delira nos po- de um novo dia. Constatou ainda que estava
sexual, incansável, capaz de acolher no ato l m - tentes braços do amigo e a ele franquia o seu sem as suas vestes íntimas e sentia dores i n -
pudente, um exército completo. corpo mimoso. suportáveis.
Pela ponta de uma praia, caminhava sozi- E a bela sofreu sob os violentíssimos impul- Pobre Kenny! Tinha sido barbaramente
nha, procurando ausentar-se da irrequieta sossos do mancebo anormal; entre o prazer e estuprada pelo chofer que era um perverso
multidão de banhistas. Súbito, divisa um mo- o sofrimento, ela chorou copiosamente; fora maníaco sexual.
ço que caminhava em sua direção. rijamente castigada, mas não condenou o seu Suas tentadoras entranhas estavam em
Ao perceber a beleza sem-par de Kenny, o verdugo, pelo contrário, somente o elogiou, d i - lastimável estado, contudo, por sobre as primp-
jovem sente um reflexo misterioso, percorrer¬ zendo-lhe também da simpatia que o mesmo rosas nádegas, escorria uma listra de sangue.
-lhe todo o corpo, refletindo-se-lhe no rosto lhe despertou. Certo. Estava comprovado. O bestial mulato
enrubecido. Após, estavam exaustos. Volmey, todavia, — de proporções anormais, sem dúvida alguma
Kenny nota o transe pelo qual passava ainda se mostrava afrodisíaco e pretendeu — praticara com ela todas as perversões, e isto
aquele rapagão. Diminui os passos. P á r a . bisar a dose de prazer. note-se, de maneira brusca.
O cavalheiro, descontrolado, saúda-lhe: Kenny, a máquina do sexo, não se sabe Sofria muito a infelicitada Kenny. Fora
— Encantado, senhorita... como, pediu paz ao seu considerado. Confes- vítima de um violento atentado sexual. Tinha
Maliciosa qual serpe, a donairosa criatura sou que não mais seria possível, em razão de as partes pudibundas em precário estado. Ade-
lança da boca de coral o delicioso veneno e ele ser dono de um físico terrivelmente exage- mais estava sob forte emoção. Sofria, sem u'a
responde: rado e brutal. mão amiga para a m p a r á - l a .
— Obrigada. Sua presença me alegra. Co- O programa foi encerrado, forçosamente, Caminhou até encontrar o asfalto. To-
mo se chama? na primeira etapa, devido à violência que ocor- mou um ônibus e, em seguida, um táxi que a
— Volmey. E você? reu durante o ato. conduziu a um hospital.
— Não importa. Vamos ao banho. Kenny teve de repousar a fim de se refa- Pobre criatura! Pagava ao mundo, com
O moço j á estava mais à vontade, livre, zer da surra que tomou do seu colossal simpa- um sofrer imenso, o tributo de sua excepcional
portanto, do nervosismo que o acometera. tizante . formosura.
o menos possível, e para atingir qualquer coisa Quando o momento da execução se apro- ou como uma multa desapropria os bens. Ela
que não é o próprio corpo. Pode-se dizer: a xima, dá-se aos pacientes picadas de tranqüi- considerou aplicar a lei menos ao corpo real

a
prisão, a reclusão, os trabalhos forçados, a lizantes. Utopia do poder judiciário: tirar a suscetível de dor que a um sujeito jurídico,
interdição da residência, a deportação que existência evitando deixar de sentir o mal, detentor, entre outros direitos, daquele de
ocupa um lugar tão importante nos sistemas privar de todos os direitos sem sofrimento, impor existir. Ela deve ser a abstração da própria lei.
penais modernos — são mais penas físicas: d i - penas despojadas de dor. Apaga-se então, no início do século X I X , o
ferentes das multas, incidem diretamente sobre grande espetáculo da punição física, descar-
o corpo. tados os corpos supliciados, exclui-se de cas-
Mas a relação castigo-corpo não se identi- tigos a representação do sofrimento. Entra-se
fica com a dos suplícios. O corpo se encontra Deste duplo processo — retrai- na era da sobriedade punitiva.
em posição de instrumento ou intermediário: mento do espetáculo, anulação da A atenuação da severidade penal no curso
s« h á ação sobre ele com ferimentos ou fa- dor — os rituais modernos trazem dos últimos séculos é um fenômeno bem conhe-
zendo-o trabalhar, é para privar o indivíduo testemunho. Um mesmo movi- cido dos historiadores do direito. Mas, h á longo
d» uma liberdade considerada às vezes como mento arrastou, cada qual com tempo, foi visto como um fenômeno quantita-
um direito e um bem. O corpo, segundo esta ritmo próprio, as legislações euro- tivo: menos de crueldade, menos de sofrimento,
penalidade, é tomado como um sistema de vio- péias: para todos, uma mesma morte, sem que mais de doçura, mais de ••humanidade". Na
lência e de privação, de obrigações e de inter- realidade, essas modificações foram acompa-
dições. O sofrimento físico, a dor do corpo não esta leve a marca específica do crime ou seu
status social: uma morte que não dura mais nhadas de uma m u d a n ç a no objeto mesmo da
sao elementos constituintes da pena. O castigo operação punitiva. Diminuição de intensidade?
passou de uma a r t de sensações insuportáveis que um instante, que nenhuma animosidade
e
deve multiplicar de antemão ou se prolongar Talvez. Mudança de objetivo, certamente.
Se não é mais ao corpo que se dirige a
penalidade sob suas formas mais severas, sobre
o que estabelece ela suas presas? A resposta
dos teóricos — aqueles que abrem por volta de
1760 um período que ainda não se fechou — é
simples, quase evidente. Ela parece inscrita na
própria questão: desde que não é mais corpo,
é a alma. A expiação que atinge o corpo, deve
suceder um castigo que aja diretamente sobre
o coração, o pensamento, a vontade, as
disposições.

1 I
• M o m e n t o importante. Os velhos
parceiros do fausto punitivo, o
corpo e o sangue, cedem o lugar.,
U m n o v o
k j | Personagem entra em
^ ^ 4 ^ 4 J cena, mascarado. Acaba certa tra-
MÉAÉ gédia: começa uma comédia com
silhuetas de sombra, vozes sem rosto, entidades
impalpáveis. O aparelho da justiça punitiva
deve atacar esta realidade sem corpo.
Sob o nome de crime ou delito, julga-se
sempre objetos jurídicos definidos pelo Código,
mas julga-se ao mesmo tempo paixões, instin-
tos, anomalias, enfermidades, inadaptações,
efeitos do meio ou hereditários; pune-se
agressões mas, através delas, agressividades;
violações, mas ao mesmo tempo perversões,
mortes, que são também paixões e desejos.
Pode-se dizer: n ã o são eles que são julgados,
sua invocação é para explicar os fatos que
serão julgados e determinar a t é que ponto
estava implicado no crime a vontade do su-
jeito. Resposta insuficiente. Porque são elas,
as sombras de trás, os elementos da causa, que
são belamente julgados e punidos.
Resumindo: desde que funciona o sistema
penal — o definido pelos grandes códigos dos
séculos X V I I I e X I X — um processo global con-
duziu os juizes a julgar outra coisa além do
crime; foram induzidos em suas sentenças a
fazer outra coisa além de julgar e o poder de
julgar foi, em parte, transferido a outras
instâncias, que são os juizes da infração. A
operação penal toda está carregada de ele-
mentos e de personagens extra-jurídicos.
Diremos que não h á nada de extraordinário,
que é do destino do direito absorver pouco a
pouco os elementos que lhe são estranhos. Mas
uma coisa é singular na justiça criminal mo-
derna: se ela se carrega de tantos elementos
extra-jurídicos não é para poder qualificá-los
juridicamente e os integrar pouco a pouco ao
estrito poder de punir: é, ao contrário, para
poder fazê-los funcionar no interior da ope-
ração penal como elementos não jurídicos; é
para evitar essa operação de ser pura e sim-
plesmente uma punição legal; é para desculpar
o juiz de ser pura e simplesmente aquele que
castiga.
a.ama economia de direitos suspensos. sobre o cadáver, uma execução que atinja mais A justiça criminal, hoje, não funciona e
Se é preciso ainda à justiça manipular e a vida que o corpo. não se justifica a não ser por esta referência a
agir sobre o corpo dos justiçados, isto se faz Não h á mais suplícios onde o condenado é outra coisa que n ã o ela, por esta incessante
de longe, adequadamente, segundo as regras humilhado, onde seu ventre é aberto, suas reinscrição nos sistemas não jurídicos.
austeras e visando um objetivo mais "elevado". entraphas arrancadas às pressas, para que ele Sob a doçura acre dos castigos, pode-se re-
Padfa o efeito dessa nova moderação, toda uma tenha tempo de ver, por seus olhos, que as parar um deslocamento de seu ponto de apli-
brigada de técnicos veio tomar o lugar do lançam ao fogo; onde ele é decapitado enfim e cação, e, através desse deslocamento, todo um
carrasco, anatomista imediato do sofrimento: seu corpo dividido em partes. A redução dessas campo de objetivos recente, todo um novo re-
os vigilantes, os psicólogos, os educadores, os "mil mortes", a estrita execução capital, define gime da verdade e uma imensidão de dramas
médicos, -os psiquiatras, os capelães; por sua toda uma nova moral própria ao ato de punir. quase inéditos no exercício da justiça cri-
presença ao lado dos condenados, eles cantam A guilhotina utilizada a partir de março de minal. Um saber, técnicas, discursos científicos,
à justiça a linguagem da qual ela necessita, 1792, é ,_o mecanismo adequado a esses prin- se formam e se entrelaçam com a prática do
eles lhe garantem que o corpo e a dor não são cípios. A morte é reduzida a um acontecimento poder de punir.
os objetos últimos de sua ação punitiva. visível, mas instantâneo. Entre a lei, ou os que Objetivo desse livro: uma história correlata
É preciso refletir sobre isso: um médico, a põem em execução, e o corpo do criminoso, da alma moderna e de um novo poder de julgar,
hoje, deve velar sobre os condenados à morte, e o contato é reduzido ao tempo de um raio. uma genealogia do atual complexo científico
até o último momento, se justapondo assim Sem mais afrontas físicas: o carrasco n ã o tem — judiciário onde o poder de punir encontra
como encarregado do bem-estar, como agente que ser mais que um relojoeiro meticuloso. seu apoio, onde é justificado e de onde recebe
do não-sofrimento, aos pacientes cuja vida eles Quase sem tocar o corpo, a guilhotina su- suas regras, estende seus efeitos e mascara sua
são encarregados de suprimir. prime a vida, como a prisão tira a liberdade exorbitante singularidade.
EX. - 11
Estas duas crônicas que Graciliano Ramos publicou em datas es parsas no Jornal de Alagoas nunca foram publicadas em livro.

GRACILIANO INÉDITO
Comandantes A: parte mais forte da nossa deruba as portas das meretri- ficaram atrás, sumiram-se
de Burros população rural está com zes. É mais ou menos casado na poeirada; agora parece que
Lampeão — os indivíduos que com uma sujeita que lhe pre- as coisas em redor se imobi-
dormem montados a cavalo, para a comida, lava a roupa lizaram. O carro que nos
Quando Lampeão esteve no os que suportam as secas ali- e possui um baú de folha, um
município de Palmeira dos transporta avança rápido,
mentados com raiz de imbu e saquin e um papagaio. inutilmente. Há meia hora
índios, onde se demorou al- caroçus de mucunã, os que
guns dias mandando bilhetes Vai aos batuques de ponta tínhamos pressa contagiosa,
não trabalham porque não de rua, sem ser convidado, e mas isto desapareceu.- Seria>
para a cidade e sem poder en- têm onde trabalhar, vivem nas
trar nela, trazia mais de cem é bem recebido. Muita con- melhor subirmos a cavalo es-
brenhas, como bichos, igno- sideração. Mas quer dançar ta ladeira empinada e cheia de
homens que não se escondiam rados pela gente do litoral.
na capoeira nem transitavam com todas as damas, e se buracos, onde as rodas se
Os que não têm coração alguma lhe mostrar má ca- enterram. Com dificuldade,
em veredas. Corriam pela
mole encontram-se, quando ra, faz um barulho feio: apa- lá nos vamos sacolejando, do-
estrada real, bem montados,
o verão queimar a caatinga, ga-se a luz e a festa acaba em bramos um cotovelo, entra-<
espalhafatosos, pimpões, cha-
numa situação medonha. Três pancadaria. mos numa rua esquisita, a
péus, de couros enfeitados de
saidas: morrer de fome, as- É vaidoso, cheio de sucep- máquina cançada geme e pára.
argolas e moedas, cartuchei-
sentar praça na polícia, emi- tibilidades. I m p o r t â n c i a Desço, bocejando. Para bem
ras enormes, alpercatas que
grar para o Sul. Antes da imensa. Em horas de abor- dizer, não sinto curiosidade.
eram uma complicação de cor-
morte, da emigração ou da recimentos sai à calçada do Cheguei até ali porque tive pre-
reias, ilhós e fivelas, rifles em
farda, essas criaturas são quartel, nú da cintura pra guiça de resistir e porque me
bandoleira, lixados, azeitados,
maltradadas pelas diligências, cima e grita: era agradável a companhia
alumiando.
que não querem saber quem — Esta terra não tem ho- de dois amigos. Conversando
O Major José Lucena, chefe é bom nem quem é ruim: es- mem!
do destacamento que perse- com eles, teria ido a um mu-
pancam tudo. Como nenhum responde, seu ou a qualquer outro lu-
guia bandidos, notando a pe- torna a gritar:
quena eficiência da sua tropa O cabloco apanha bordoa- gar.
da sempre: apanha do pai, da — Apareça um. O homem que desejam ver
de peões, entendeu-se com os Ninguém aparece.
proprietários sertanejos, que mãe, dos tios, dos irmãos mais gastou anos correndo os ser-
velhos, apanha do proprietá- Vai para as encruzilhadas tões do Nordeste, numa horrí-
lhes ofereceram cavalos e tomar as facas dos matutos.
burros para o restabeleci- rio que lhe toma a casa e abre vel existência fecunda em
a cerca da roça para o gado Os matutos que têm facas histórias que povoaram a
mento da ordem. Houve al- levam murros porque são de-
gumas escaramuças e Lam- estragar as plantações, apa- infância, com certeza enfei-
nha do cangaceiro que lhe sordeiros, os que não têm tadas pela imaginação dos
peão deixou Alagoas, tomou facas levam murros porq\ie
rumo para o Rio Grande do raspa p osso da canela a pu- cantadores. Depois uma em-
nhal e lhe deita espeques nas são mofinos. boscada e o cárcere prova-
Norte, entrou em Mossoro, Levam murros e sentem,
onde Jararaca morreu e a ca- pálpebras, para ver a mulher, velmente o desmantelaram.
a filha, a irmã serem possuí- como é natural, o desejo de Talvez as marchas, as lutas,
broeira se espalhou. ser soldados, o desejo de co-
das. E se um inimigo vai à a fome, a sede, a fuga cons-
Os burros se tornaram chilar horas e horas, de papo
rua e o acusa, o delegado tante e as fadigas das traves-
inúteis. pra cima, sem obrigações, sem
manda prende-lo e ele agüen- sias não o tenham abalado:
O Major Lucena separou-os. exercícios, sem a botina qua-
ta uma surra de facão no cor- mas a bóia da cadeia, as gra-
em dois lotes, mandou um renta e quatro a apertar-lhes
po da guarda, outra de cipó des, a esteira suja na pedra,
deles para um engenho de os calos, o desejo de beber
de boi no xadrez aplicada pe- os mesmos gestos repetidos,
Viçosa, e o outro para uma vinho branco na feira e pisar
lo preso mais antigo, que re- as mesmas palavras largadas
povoação de Palmeira dos os Jpés dos pobrezinhos que
cebe quinhentos réis do torno em horas certas, infinitas mi-
índios. só têm armas fracas: o bu-
e é o juiz da cadeia. sérias e porcarias, inutiliza-
Neste tempo o Sr. Álvaro ranhem e a quicé de picar fu-
Suporta esses últimos tor- ram o velho herói de encruzi-
Paes, que projetou e iniciou mo, o desejo de comer massa,
mentos resignado, quase com lhadas. É quase certo irmos
trabalhos excelentes de orga- o desejo de tomar -as mulhe-
indiferença porque enfim pri- encontrar um indivíduo som-
nização municipal, viajava res dos outros, o desejo de
são se fez para homem e apa- brio e cabisbaixo, embruteci-
todas as semanas pelo inte- comprar fiado nas bodegas
nhar do governo não é desfeita. do pela desgraça, indiferente
rior do Estado. Foi um via- sem intenção de pagar.
Às vezes morre das sovas. às façanhas antigas, hoje ate-
jante incansável e chegou a Um cartão do doutor Juiz
Outras' vezes atira-se para São nuadas, esparsas. Está ali
conhecer perfeitamente as de direito, do promotor pú-
Paulo, para o Espírito Santo, perto um fantasma triste e
árvores e os homens do blico, do Coronel chefe polí-
para algum lugar onde haja desmemoriado, mostrando va-
sertão. tico tem muito valor!!!
café. Ou espera que a lagar- gos sinais de vida em movi-
Um dia parou num povoado Entouxam a roupa e em- mentos de autômato.
com o intuito de ensinar aos ta coma o algodão e as cacim-
bas se esgotem. barcam. Penso assim, olhando o pa-
matutos a cultura da pinha, Quando voltarem dormirão
da mamona e de outros ve- Nesse ponto tem ódio a teo duma habitação coletiva.
Deus e aos homens que o tra- tranqüilos, baterão Jias pros- Alguém foi anunciar a nossa
getais que se desenvolviam titutas, beberã cachaça nas
bastante na Imprensa da épo- tam mal, tem vontade de vin- visita. E, enquanto espero,
gar-se. Pede um cartão ao toldas, em companhias do ins- vejo com desgosto à entrada
ca. Estava tratando de con- petor e do sub-delegado.
vencer o maiorial da locali- doutor juiz de direito, vendȒ uma enorme criatura que se
o cavalo, arranja o malote e E serão com a ajuda de achata, que se derrama, gor-
dade quando se aproximou Deus, alguma coisa grande.
dele um soldado com duas marcha para a capital, donde da, paralítica, medonha. Essa
volta alguns meses depois, Comandante de burros por figura monstruosa perturba-
fitas, um botão fora da casa, exemplo.
chapéu embicado, faca de transformado, calçando per- me, fixa-me a idéia de que ali
neiras, vestindo uniforme ca- Jornal de Alagoas, Maceió, vive outro ser doente, com
ponta à cinta. Continência e 27 de maio de 1933.
apresentação: qui, falando difícil, terrivel- deformações invisíveis, pio-
— Pronto seu Governador, mente besta, desconhecendo res que as que agora me sur-
cabo fulano, comandante dos os amigos e perguntando o gem. Desejo não ser recebido,
burros do Major Lucena. nome das coisas mais vulga- receio tornar a ver um daque-
Era o encarregado de to- res. Antônio Silvino les rostos, pavorosos que há
mar conta dos animais que Abre as vogais escandalo- tempo me cercavam.
tinham servido para afugentar samente, diz. Exercito, servi- O automóvel deixou a ci- Recebem-nos. Dois minutos
Lampeão. ço. dade, atravessou arrabaldes de jespera. E estamos na pre-
Esta história podia findar Anda a peneirar-se, todo de pequena importância, ro- sença de Antônio, Silvino, um
aqui, mas não serão talvez pachola, com o quepi à ban- dou aos solavancos numa es-' velho que me desnorteia, afu
excessivas algumas palavras da, a grpnha aparecendo por trada que marginam casas genta a imagem que eu havia
sobre a classe a que pertencia baixo oala. decreptas, miúdas e descasca- criado, tipo convencional,
esse extraordinário coman- Bebe. não trabalha, dorme das. Moleques de cabelos de símbolo idiota, caboclo ou
!

dante. Horrível. Sujeitos inso- demais fogo, tranqüilidade, silêncio, mulato que, medido por um
lentes, provocadores, pregui- À no'te mete-se nos bote- tudo morno e brasileiro. A dos médicos encarregados de
çosos. quins aos bairros safados ou agitação e o cosmopolitismo provar que os infelizes são
degenerados, servisse bem: porque a palavra odiosa se colhidos, silenciosos como co- perfeitamente como é difícil
testa diminuta, dentes acava- tornou um estigma. legiais tímidos, enquanto lá um indivíduo conservar-se ali
lados, cabelo pichaim, olhos Um dos meus companhei- dentro o chefe conferenciava sem se degradar. De alguma
parados e sem brilho, enfim ros é o escritor José Lins do com o proprietário. Certa- forma a degradação Justifica-
um desses pobres diabos que Rego, que em menino conhe- mente esses pobres seres, a pena: ordinariamente o que
morrem morrem no eito e não ceu o sertanejo temível no anônimos, sem menção nas volta do cárcere é um farrapo.
fazem' grande falta, agüentam engenho do coronel José Pau- cantigas dos violeiros, desfi- Antônio Silvino isolou-se,
facão de soldado nas feiras lino, hoje famoso por ter fi- zeram-se na poeira social, achou meio de não se conta-
das vilas e não se queixam. gurado em vários romances mas o seu comandante está minar. Foi um preso muito
Enganei-me, estupidamente. notáveis. José Lins em pou- rijo, palestrando com um ne- bem comportado, tanto que
Antônio Silvino é um homem cas palavras, reata o conhe- to do coronel, não muito di- lhe permitiram esta coisa es-
branco, Seria mais razoável cimento antigo, e Antônio Sil- ferente do que era há trin- tranha: alojar os filhos no
que fosse um representante vino logo se torna íntimo de- ta anos. Penso na distância cubículo onde vivia. Criou-os,
das raças inferiores, que, no le, conta histórias do cangan- enorme que os separava do dividiu com eles a ração ma-
Nordeste e em outros luga- ço, brigas, visitas que fez a patrão. gra, conseguiu, fabricando bo-
res, constituem a maioria da outros personagens de roman- Antônio Silvino dirigiu-se tões de punhos, obter os re-
classe {inferior. Mas é um ces. Ultimamente, ao sair da com altivez, não ombreou cursos necessários para edu-
branco, e se for examinado prisão, parece que andou nas com eles. Teve amigos po- cá-los E educou-os de manei-
convenientemente, não dá terras do velho Trombone e, derosos, combateu longamen- ra espantosa. Na situação em
para bandido. Não dá e não com sisudez e prudência, es- te inimigos poderosos tam- que se achava, seria natural
quer ser bandido. Por isso palhou conselhos úteis que bém. Os oficiais das tropas que lhes incutisse idéias de
malquistou-se com alguns re- resolveram certas dificulda- volantes eram seus adversá- vingança. Nada disso. Ensi-
pórteres desastrados que o des de família. rios, o que teve a sorte de nou-lhes o respeito à lei, à
ofenderam. Conversando, narrando as ferí-lo e vencê-lo foi, segundo lei que os afastava do mundo,
Conosco é amável em de- suas aventuras numa lingua- ele afirma, um adversário leal. cultivou neles sentimentos,
masia. A hospitalidade serta- gem pitoresca, ri alto, mexe- Na caatinga imensa, persegui- religiosos e patriotismo. Or-
neja revela-se em apertos de se, os olhos miúdos atiçam- do, queimado pela seca, An- gulha-se de os ter formado
mãos, em abraços, num largo se, !uma bela cor de saúde tônio Silvino teve sempre os assim, de os ver hoje servi-
sorriso que lhe mostra den- tinge-lhe o rosto enérgico, modos dum grande senhor, dores fiéis do exército e da
tes claros e sãos Esse pé de vincado pelo sofrimento. muitas vezes mostrou-se ge- marinha^
mandacaru, transplantado pa- Apesar das rugas, tem uma vi- neroso e caprichou em apare-
ra um subúrbio remoto do vacidade de rapaz; um tiro cer como uma espécie de ca- O trabalho desse sertanejo
Rio, deita raízes na pedra do no pulmão e vinte anos de valeiro andante, protetor dos verdade é que ele não se
morro e esconde cuidadosa- cadeia não demoliram essa pobres e das moças desenca- transformou para realizá-lo.
mente os seus espinhos. organização vigorosa. Os ca- minhadas. Na prisão desviou- Homem de ordem, indispôs-
Antes de refletir, aperto a belos estão inteiramente bran- ste com soberba dos crimino- se com outros homens de or-
garra poderosa. Antigamen- cos, mas a espinha não se sos vulgares e, não obstante dem, fêz tropelias no sertão,
te essa aproximação teria curva, a voz não hesita. É o ter vivido em Fernando de deve ter sido enorme, mas a
sido impossível: fui, como ou- mais robusto dos que se Noronha, nunca se misturou caiu numa cilada e penou vin-
tros, um sujeito muito besta e acham na sala acanhada, em com eles. A convicção que te anos para lá das grades.
convencido de não sei que torno duma pequena mesa. jmanteve do próprio valor Continuou, porém, a ser o
superioridade. Felizmente es- Lembro-me dos seus anti- manifesta-se em todos os seus que era, apesar da cadeia: ho-
queci isso. Dou razão a n- gos subordinados, viventes atos. mem de ordem, membro da
tonio Silvino, que não quer mesquinhos que ele submetia Não parece que o regime classe média, com todas as
ser bandido, não porque os a uma disciplina rude. Nas penitenciário seja bom para virtudes da classe média.
bandidos sejam muitos piores ivisitas ao velho José Pauli- endireitar os condenados. Os Jornal de Alagoas, Maceió, 18
que os outros homens, mas no. ficavam no alpendre, en- guardas da correção sabem de setembro de 1938.

ANÚNCIOS FÚNEBRES

H. K i s s i n g e r
Os Editores e Funcionários do EX-
LAVE & SEC'$ ; ^
cumprem o doloroso dever de par- em 2 horas
ticipar o falecimento. V, 4 kg de roupa porC$Tff
.(ektjuaríto as máquinas éP'
\ 3pá você lê asrevistasque'
' até 1/2 noite I l^j^l '
irio, 3^|(en*rej*fêgo
ISSO E COISA DE PRETO Freitáse Amaral Gurgel]|
" S i "

NAO FAZEMOS LAVAGEM CEREBRAL


W O C U W CONHECER
O BALÃO
O BICHO que ia vai mudar
pegar já pegou.
Evocê já pegou no FARA ASSINAR O EX.
BICHO? EX-EDITORA LTDA.
RUA STO ANTÔNIO. 1043
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EM QUALQUER ENOEREÇO.

LOJA DE BRANCO É Cr$4O0 ' ANEXO CHÉÓUÉ VISAÔÔ ÕU DINHElRÒ'

(ce vai pegar ou não EZI Cr$30.00 • Cr$60QO


6 edições 12 edições
vai? heim? j CZ3 Cr$4QOO PARA o EXTERIOR E U Cr$ 8OO0.
BAIXA SOCIEDADE
Percival de Souza

Te entrega
Cristino!
Ninguém vai
te fazer mal.
Se reuniam os três irmãos ficasse tranqüila, que ninguém lhe -eu estava com raiva, disposto a condessa carioca e a agência no-
Cada qual mais animado faria mal e n t r o u na casa. Mas
e tudo, mas não fui — meu destino ticiosa France Press cozinharam
Disse eu ao pai j á velho Corisco tinha fugido pelos fundos era outro..." violentamente minhas matérias
Bote a questão pra meu lado e ele saiu atrás, até encontrar. O abaut). Jurubeba deu uma de
Diabo Louro estava apenas com Lampião desde esse dia
E deixe estar que o meu rifle jurou vingar-se também machão: "se eu andei atrás de
É um bom advogado. Xun parabellum na mão, e Zé R u - Lampião, vou ter medo desse mo-
fino gritou: "Te entrega, Cristi- dizendo: foi inimigo,
(Virgulino-Lampião - Ferreira) mato, não pergunto a quem... leque"? Entretanto, por via das
nq! Ninguém vai te fazer mal". dúvidas, Jurubeba e sua valentia
Só respeito neste mundo
Cansado das podridões do sul, Atenção, historiadores: o grito Padre Ciço e mais ninguém! toda deram o pinote de fina, até
sumi por 15 dias em direção a Sal- foi "te entrega, Cristino", e não as coisas se acalmarem...
vador e Recife, e às caatingas "te entrega Corisco", como faju- Volante Bom — Manoel R i - Mas o meu maior lance de Serra
baianas e pernambucanas, para tam por a í . Mas deixemos que o beiro, primo legítimo de Maria Talhada foi o seguinte: eu pre-
aprender muito da vida — apren- insuspeito Bentevi conte o resto. Bonita, diz que é tudo cascata cisava conversar com o meretís-
der de sabedoria, sofrimento e dor (De fato, é um cabra bom: Dadá, esse negocio de "amor proibido' simo capa preta. Cujo, dias an-
— com a boa gente do sertão. a mulher do falecido Corisco, foi entre ela e Lampa. Mas o meu tes, andava de carro e o Vilmar
Gozado: em Jeremoabo, a 400 visitá-lo duas vezes em Jeremoa- considerado Manoel, bom papo, mandou-lhe dois arrebites, chum-
km de Salvador, muita gente me- bo. Visita de cortesia, j á viu, muita sensibilidade, fabricava al- bo grosso — ficaram dois tre-
tida a fazer história de cangaço né?) percatas. Os Volantes viviam t i - mendos buracos na caranga.
nunca botou os pés. Daí, um — Corisco deve ter pensado: rando o couro do pobre Manoel e Fui no Fórum, o meretíssimo "tiriná
monte de personagens e fatos ain- •••i melhor morrer de atrevido que
ele, cansado de tanto lhe tirarem saído para o cartório. F u i ao car-
da inéditos para nós, cá do sul. de esmorecido". E fez fogo. Zé o couro, assaltarem mesmo, parou tório, meretíssimo estava na Pre-
Rufino também atirou, mas D i a - um dia para pensar, fazer uma feitura. Daí em diante, levei dois
Procurador Meu j á conside- opção na vida: ser boi ou ser fer-
rado Gaudêncio Gonçalves, escri- bo Louro caiu de um tiro dispara- dias para localizar a peça, cuja
do pelo soldado Murundu. Ele foi rão? Cangaceiro ou volante? De- achava que, no mínimo, eu seria
vão sherlock de Jeremoabo, reu- cidiu-se pela volante e saiu atrás
niu mais de 90 volantes, aquela preso ainda com vida e só morreu o Vilmar, desbaratinando, andan-
de Lampa e sua prima, para ca- do na cola dele. Percebendo a ca-
gente que andava atrás de L a m - na estrada. (Aposto que vocês breiragem geral dos macacos,
pião — entre eles muito bandidão nunca tinham ouvido falar nesse breragem do meretíssimo, pedi ao
em troca da diária de alguns con- meu considerado Pilão, dono da
pior que cangaceiro. Gaudêncio Murundu...) tos de r é i s . . . Meu considerado
virou procurador dessas peças, hospedaria Planalto, para expli-
E o tutu. hein? Bentevi dá um Gaudêncio, na delegacia local, v i - car as coisas ao juiz — cujo, aliás,
para ver se eles arrancam algum sorriso maroto: bra todo quando fala de Virguli-
do Inps, pois estão a perigo. E u tirou a venda de Têmis e colocou
— Na bagagem que Corisco car- no, "o maior comandante do mun- rios seus próprios olhos...
sempre achei que essa sigla signi- regava havia muito ouro. Eu mes- do, pois com apenas algumas de-
fica "infelizmente não posso ser- mo vi uma sacola cheia. T e v um zenas de homens enfrentou du- Pilão, o inocente — Por'falar no
vi-lo"; daí-, os volantes vão é ficar e

soldado que pediu a Zé Rufino: rante anos forças policiais de sete hoteleiro da terra de Lampião:
chupando os dedos calejados com me dê esse anel do homem". E Estados". E faz uma análise iné- ele me contou que j á esteve muito
o manejo da enxada. Mas j á que dita de Virgulino: melhor de vida, mas precisou f i -
Rufino disse que não, que ia levar- car enrustido 6 anos no Mara-
os pesquisadores de cangaço acha- pra o comando (grupo!). Mas ele
ram que para ir a Jeremboabo é — Quem mandou Lampião foi n h ã o . Ele, seu causo e as razões
preciso comer muita poeira e não era muito vivo, deve ter tirado o Deus, para acabar com o corone- de sua inocência:
vale a pena tanto sacrifício, dei- melhor e entregado apenas umas nelismo que assolava o sertão. — Minha filha namorava um
xem-me revelar coisas novas (eu bobagens. Zé Rufino sempre foi Quem mais ele perseguia eram os cabra, e eu não topava. Fiz opo-
fui lá!) para a história. muito v i v o " . . . coronéis, donos de engenho, que sição, minha filha nem ligou.
Volante — Bandido — Dica pa- possuíam muitos cabras e prati- Daí, o cabra apareceu morto, e
Corisco — Severiano Ramos ra os sociólogos e historiadores cavam desmandos sem receber
Cruz, o Bentevi, ex-contratado, não sei por que acharam que t i -
ainda interessados no Cangaço. castigo. Depois da morte de L a m - nha siido logo eu que havia feito
macaco aposentado, o bom para Façam um sacrificiozinho e che- pião, morreu o cabra e nasceu o
achar rastro, foi o cara que mais a pele do moço.
guem a Jeremoabo. Lá vocês po- pistoleiro, que finalmente está de-
contribuiu para fazer a fama do dem encontrar, entre outros, o É, Pilão, o mundo vive cheio de
saparecendo . . . injustiças.. .
finado Zé Rufino comandante de considerado Porfírio Amâncio da
volante. Pois é: os dois se aparta- Serra Talhada, barra pesada Ah, os antiquários.. . A Delega-
Conceição, irmão positivo de Pau Lampião nasceu aqui, lugar
ram, mesmo objetivo, cada um Ferro, um dos muitos cabras de cia de Furtos e Roubos sacou que
com sua patota para um lado, até onde, atualmente, uma peça de o sumiço de obras de arte das
Lampião — Porfírio lhes contará, nome Vilmar Gaia t á botando a
que Bentevi cruzou Rufino, levan- como me contou, que.. . Igrejas baianas revela a existên-
do Dadá (mulher de Corisco) com canalha pra j â m b a r . Família cia de muito pilantra desbarati-
O Capitão Virgulino e seus Gaia de um lado, família Ferraz
um teco no pé, e a cabeça do Dia»- homens não faziam mal aos mo- nado em apreciador de obras de
bo Loiro de Lampião dentro de, de outro, macacos entre as duas arte. Mas, também, teve padre
radores da Caatinga. Todo mun- . .. não é fácil. Os macacos pilan-
uma lata de querosene. Dadá do respeitava eles. As volantes é paca vendendo obras a preço de
olhou para o rastreador e disse: tras foram retirados da Serra, banana. Um monte de batina pre-
que faziam mal, pois j a chegavam aprazível lugar onde a populaçác
'•você é Bentevi, t conheçp: não
e batendo em todo mundo, dizendo ta se enrolou com a Polícia. Seu
batia em ninguém, não espanca- assistiu a copa de 70 instalando bispo virou jararaca...
que era coiteiros de cangaceiro. antena e aparelho de T V na serra.
va ninguém. A gente sabia de Por causa de meu irmão, Pau Fer- E, por falar em Delegacia de
tudo, sabia que você era um cabra Qualquer paspanata tem 38 (o Furtos e Roubos, nada menos do
ro, toda minha família sofreu na berro) no mínimo; e fuzil belga,
bom, apesar de ser macaco". Aí, mão das volantes. Eu mesmo tive que 26 tiras sifu através de inqué-
então, Bentevi entrevistou Rufino modelo 1908, é a maior sopa por ritos policiais e administrativos.
preso três meses e cinco dias, aqui. Tanto que, em mais um r

que l h contou...
e amarrado, apanhando e passando Dando uma de Nelson Duarte,
capítulo da guerra familiar, apa- eles estavam enroscados paca em
— Cheguei no sítio onde Curis- fome e sede, para dizer onde é garam o Álvaro Gaia, dono de
que meu irmão se escondia. Como corrupção, uso de tráfico de en-
co estava açoitado, cerquei a casa sortida mercearia no Alto de Bom torpecentes. Bola preta para eles,
e ataquei. Quando pulei na va- se eu soubesse... Jesus, a tiros de fuzil. Ele morreu e bola superbranca para a cúpula
randa, de metralhadora na mão, torfírio conseguiu dar o pinote, ali no chão, balaço na cabeça, a dos sherloques baianos, que soube
tinha uns tropeiros sentados des- mãos amarradas, e passou três mulher e os quatro filhos em vol- sentar a pua nesses pilantras.
cansado. Gritaram assustados: dias no mato, até topar João M a - ta. J á viu esses meninos, princi- ***
"não atire, os homens que o riano e sua patota de cangacei- palmente o de 15 anos, quando Para a bicharada da imensa
senhor procura estão dentro da ros: botei o chapéu dele na cabe- crescer mais um pouco, né? fauna paulista, preocupada ainda
casa". ça, pendurei o embornal e os ar- David Jurubeba, ex-chefe das com festas e rebus, • despeço-me
Dada viu Rufino e gritou: "Co- mamentos" . Mariano disse que volantes pernambucanas, machão deixando um pensamento de She-
risco, olha os macacos" e saiu de Porfírio havia ficado um canga- de araque, outro caçador de L a m - kespeare: "nada h á de mau ou de
casa dando tiro. Recebeu um no ceiro muito bonito, e chegou a pião, ficou n a lista negra desse bom, se o pensamento não o tor-
pé e caiu. Rufino disse que ela convidá-lo para entrar no bando: Vilmar — (por sinal, o jornal da na tal". Pensem, não dói!
Sra. Corisco

A entrevista também Carlos refere a Corisco


foi feita em Alberto Ricardo. como "o marido
janeiro de 1974, da Dadá".
em Salvador, Dadá mora em Hoje, costureira
por Carlos Doria Salvador, numa de 60 e tantos
e Arthur E i d . velha casa que anos, ela ainda
E l a faz parte divide com desafia a vida na
de um estudo filhos, netos e linha que corre
mais amplo, seu segundo na ponta da
do qual participa marido, que se agulha.
seguição atrás dele.., Foi tudo coisa de políti- ciar uma coisa que chega a ser meu parente?
Fui levada. c a . . . Corisco tinha uma tia"que era uma pes- Eu sei que com a conversa de meu pai ele
soa muito cheia de confusão... E ós filhos conformou e foi embora. Lá, não sei que en-
Eu ouvia falar em cangaceiro, mas nunca dela, se deu uma confusão, umas questão por cheram os ouvidos dele, eles foram, mataram
liguei, não tinha medo não. Não sabia. Não l i - causa dos revoltosos... e por intermédio disso, o rapaz que pertencia... que era dono desse
gava aquilo não. Ouvia falar horrores que se eles ficaram perseguidos... Ficaram perse- criatório, o Cazuza. Eu gostava, nós se dava
davam, que tinha Lampião, que dava aquilo guidos pelas volante... e não era brincadeira m u i t o . : . nós tudo em fuzarca e festa, Isso tu-
tudo. Mas cangaceiro mesmo eu vim a conhecer n ã o . . . Teve um deles que era melo pancada. do, sempre d a n ç a n d o . Então alvoroçou todo
em 28. E ficou nos matos, arranchando no mato, e pe- aquele barulho todo, ele não ficou satisfeito do
Vim conhecer direito o que é cangaceiro. gando o criatório de quem encontrava. Resul- que fez, ehegou e disse para o Corisco que t i -
Menino, quando Lampião travessou com o pes- tado: o dono do criatório era gente acostada nha sido meu pai. A m ã e do fulano que foi
soal prá esse lado aqui da Bahia, daí que eu vi na polícia. Denunciaram esse indivíduo, um preso disse prá Corisco que viesse e me car-
as forças se danar, gente correndo, escondida. tal de João Alencar. A polícia veio, abafou o regasse, que eu era uma pessoa perdida, que eu
Corisco ficou tendo tiroteio com as volantes... lugar que ele tava, pegou, bateram muito, cor- era uma àftoa,mas pintou o diabo.-Então Co-
eu era pequena. taram cabelo, deram com o sebo prá ele correr, risco chegou e disse que conhecia a família de
Nós não tinha medo do cangaceiro, n ó s fizeram mesmo tortura com ele, levaram preso. meu pai, que eu não era aquilo que dizia. Ficou
tinha medo das volante, eram uns danados. Então, resultado, ele ficou com raiva porque a naquilo. Quando é um dia, ele sempr apare- e

Eu era pequena, ia saber o que é medo? Crian- família que tinha criatório se dava muito bem cia, mandava dinheiro, ele mandava tanta coi-
ça não sabe que a guerra é aquele horror do com meu pai. Eu era menina, seguramente de sa prá m i m . . . mas eu não conhecia, vi uma
mundo, aquele pega fogo, aquele horror. Mas uns dez anos, foi uma fuxicaria danada, e apa- vez, quase me assombrou de ver aquele ho-
eu era viva, não era acanhada, costurava mul- receu Corisco. Então Corisco, sendo sobrinho mem. . Aí, resultado, ficou.
to, dinheiro do meu pai era na minha mão, vida dela, ele pegou Corisco, falou. Então Corisco
veio e diz que para matar meu pai. Quando, Como meu pai podia impedir que me le-
bacana. vassem? Como? Chega um grupo de revoltosos,
Ele, o Corisco, não era cangaceiro n ã o . . . chegou em casa, nós tinha chegado de uma
festa, o pai tava dormindo. Ele chamou o velho' se puder lheamarra, lhetòate, leva, apanha, leva
Aí deixou o bando e veio prá esses lados a q u i . . . o que quisé e pronto. Oito hoirfens armados,
Aí ficou escondido aqui, ia prá todo canto prá de velho, chegou meio zangado e meu pai disse::
— Eu não sou homem disto, não ocupo que era um povo? Meu pai não tinha jagunço,
ver se livrava disso e sempre as persigas com não tinha nada disso. E que tivesse, inespera-
e l e . . . Deixou Lampião e veio prá esse lado, dessas coisas, mal-feito desse povo, eu também
sou prejudicado, o que é que ganho em denun- do, era besteira, né? Se por acaso ele tivesse
quando chegou aqui do lado baiano, veio a per- prá lá, chegasse uma coisa assim, de vupt...

Eu não sabia ainda.. Minha filha,


isso

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