Jornal de Teatro Edição Nr.06
Jornal de Teatro Edição Nr.06
Jornal de Teatro Edição Nr.06
Vera Zimmermann
fala sobre TV,
teatro, vida, carreira,
Nelson Rodrigues...
Uma publicação da Aver Editora - 1º a 15 de Julho de 2009 - Ano I Nº 6 R$ 5,00 Pág. 7
MARKETING CULTURAL
Dada a largada Agentes: tê-los ou não tê-los, eis a questão
para o período
Em um mercado cada vez mais fechado, presença do agente tem
se tornado fundamental, embora nem todos pensem assim
Pág. 8
de festivais
Divulgação
INTERNACIONAL
Teatro Maipo, o
símbolo de uma
Celia Aguiar / Divulgação
Divulgação
época na Argentina
Conheça a história de um
lugar mítico, considerado
a catedral do Teatro de
Revista Portenha, em meio
a comediantes e vedetes.
Pág. 23
Vítima de câncer, Pina morreu dia 30
DANÇA HOMENAGEM
Emoção à flor da pele Teatro-dança perde
no Festival Ballace sua criadora: Pina
Bahia, em Camaçari Bausch, aos 68 anos
Págs. 10 e 11 Pág. 20
Acrobacias no Festival de Londrina (PR) Espetáculos de rua em São José do Rio Preto
Carlos Roberto / Divulgação
HISTÓRIA
Divulgação
Anderson Espinosa
VIDA E OBRA
As muitas faces
do dramaturgo
Tom Stoppard
Figura emblemática, Sir
Tom Sttopard, um dos
mais importantes nomes
do teatro mundial, terá nova
peça encenada no Brasil.
Inovação na capital catarinense Caras e bocas para agitar Canela (RS)
Pág. 21
2 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
Promoção válida para compras realizadas entre 27/junho e 3/julho/09 e embarques em julho, agosto e setembro. Válida para pacotes
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Jornal de Teatro 1º a 15 de Julho de 2009
3
Editorial
Celia Aguiar / Divulgação
FESTIVAIS
Junho e julho marcam o
período dos festivais de
Encontra a luz,
teatro, de dança e
de todas as artes que
emocionam o público em
arruma o cenário..
cinco cidade brasileiras É hora de aproveitar esse espaço nobre do jornal para agradecer as pessoas
que encontramos até aqui. Uso o verbo “encontrar” não com o sentido de
Págs.: 12 a 18
achar ou descobrir, mas com o signicado de tornar próximo. Encontros in-
ternos de uma equipe localizada em seis cidades diferentes e com experiências
e formações variadas. Encontros de ideias artísticas espalhadas pelo Brasil.
Encontros de referências e problemas brasileiros que também podem ser per-
cebidos em outros palcos. Encontro de paixão e trabalho para um espetáculo
que não se encerra com o aplauso.
Enm, o encontro nunca esteve tão presente em uma edição do Jornal de
Teatro, e isso acontece, em grande parte, pela presença marcante das matérias
de Festivais. Para mim, este é um reencontro com estes eventos que sempre
TÉCNICA .................................................................19
Theo Werneck
Cartas
PARABÉNS PELA EDIÇÃO DE 16 A 30 DE JUNHO
O multiartista fala de sua experiência com sonoplastia teatral. À toda equipe de colaboradores do Jornal de Teatro,
O músico está em cartaz com “A Vida Que Pedi, Adeus” Parabéns pela edição que está linda e de excelente nível cultural e artístico.
Em especial ao repórter Felipe Sil pela matéria sobre a Tônia Carrero que está
INTERNACIONAL.................................................... 23 incrível, um excelente texto.
Atenciosamente
Teatro Maipo Cia de Teatro Contemporâneo
Histórias e curiosidades da “catedral da Revista”, a centenária Rua Conde de Irajá 253 – Botafogo - tels.: 21 25375204 ou 31832391
casa de espetáculos de Buenos Aires www.ciadeteatrocontemporaneo.com.br
Divulgação
AL-MANÃK COMPANHIA TEATRAL ESTREIA “ESTÓRIAS ORDINÁRIAS”
CURSO GRATUITO DO
RIO DE JANEIRO APRESENTA A CONFERÊNCIA NOVA DATA PARA O CRÍTICA TEATRAL
INTERNACIONAL DE TEATRO DO OPRIMIDO PRÊMIO CAREQUINHA Estão abertas as inscrições para o
Foi prorrogado para o dia 10 de Curso de Crítica Teatral do Núcleo de
Evento, que acontece de 20 até 26 de julho,
Divulgação
de Teatro Dad 2009/1, com o espetáculo “O lembranças, confu- – Mostra Internacional de Teatro In-
País de Helena”, inspirado na obra do escritor Av. Barão do Rio Branco, 2.234 fantil de Cuiabá. A mostra acontecerá
sões entre realidade – Centro, Juiz de Fora, Minas Ge-
uruguaio Eduardo Galeano. Ao fim de cada e fantasia, passado de 28 de setembro a 4 de outubro e
semestre os formandos do Departamento de rais. CEP: 36016-310. tem sua programação composta por
e presente.
Arte Dramática da Ufrgs apresentam traba- Haverá, ainda,
Os grupos e companhias tea- espetáculos nacionais e internacio-
lhos que foram realizados no período, caso o painel “Expres- trais poderão inscrever espetáculos nais, seminários, ocinas, show mu-
desta obra que ainda será apresentada, nos são Dramática na nas seguintes categorias: Adulto, sical e exposições. Mais informações:
dias 6 e 7 de julho, e tem no elenco e direção Educação Infan- Infantil e Espetáculo de Rua. Mais (65) 3028-6285 ou contato@mos-
estudantes do departamento. til: longa jornada “O País de Helena” informações: (32)3690-7033 ou trainfantil.com.br.
Elisa Volpatto e Priscila Colombi, por escola a dentro”, de Eduardo Galeano www.pjf.mg.gov.br.
exemplo, cursaram a cadeira de Estágio de apresentação do trabalho de conclusão de
Atuação II e agora formam o elenco de “O curso da formanda em Licenciatura, Daiane
País de Helena”. A direção é de Ana Paula Frigo, orientada pela professora Vera Lúcia
Divulgação
Cena do espetáculo
Zanandréa, que cursou Estágio de Monta- Bertoni dos Santos. Além disso, acontece
gem II. A orientação é da professora Inês
“O Amargo Santo da
a mostra paralela de alunos que não estão Puricação”, da Tribo
Alcaraz Marocco. concluindo o curso.
Além desta produção, haverá montagens de Atuadores Ói Nóis
As peças ocorrem nas salas Qorpo Santo
como “Fragmentos Lorquianos”, cujo objetivo Aqui Traveiz que esta-
(Av Paulo Gama, s/n, Campus Central da Ufrgs)
é encontrar e levar à cena as mulheres que po- e Alziro Azevedo (Av Salgado Filho, 340 – Cen-
rá nas cidade gaúcha de
voam a poesia do autor; e “Fina Flor”, que tem tro). A entrada é sempre franca. Informações Viamão, dia 5 de julho,
roteiro e atuação dos alunos Letícia Pinheiro e completas sobre a programação em http:// “Ói Nóis Aqui Traveiz” na Serra Gaúcha e em Bom Jesus, dia 18.
Thiago Pirajira. Na obra, duas senhoras se en- mostradad.blogspot.com. Felipe Prestes
6 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
Prêmio
Prêmio APTR de Teatro completa três anos com novidades
Festa da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro fará homenagem à atriz Tônia Carrero, que completa 60 anos de carreira
Por Douglas de Barros rias, com 48 indicações de es- importantes, como Molière,
petáculos estrelados durante a Mambembe, Ibeu de Teatro,
Com 60 anos de carreira, a temporada de 2008. Entre os Coca-Cola. No entanto, dos
atriz Tonia Carrero será a ho- jurados, nomes consagrados anos 1990 para cá, isso foi mu-
menageada da noite, durante da crítica teatral, como Barba- dando e só restou o Shell. As
a terceira edição do Prêmio ra Heliodora, Macksen Luiz, empresas privadas e as esferas
APTR de Teatro. A festa, que Lionel Fischer, Debora Ghi- do governo se desinteressaram
promete ser uma das prin- velder, André Gomes, Tânia pela cultura, em geral, e pelo
cipais atrações do teatro na- Brandão e Mauro Ferreira. Os teatro, em particular”, lamenta.
cional este ano, está marcada premiados receberão das mãos Marinho explica ainda que
para o dia 6 de julho, às 21h, de colegas da ribalta uma esta- nunca existiu um prêmio cujo
no Teatro Fashion Mall, em tueta idealizada pelo produtor corpo de jurados fosse for-
São Conrado, e contará com a Fernando Libonati. mado pelos críticos, os únicos
apresentação dos atores Thia- Os espetáculos “Ensina-me que vêem todas as produções.
go Lacerda e Zezé Polessa, a Viver” e “Noviça Rebelde” “Criamos o Prêmio APTR de
além de roteiro e direção do receberam o maior número Teatro para celebrar e festejar
autor Flávio Marinho. de indicações, sete cada um. o nosso meio de vida, den-
O Prêmio da Associação Já “Traição”, dirigido por Ary tro das nossas possibilidades.
dos Produtores de Teatro do Coslov, e “Clandestinos”, es- Será uma festa à la Oscar, com
Rio de Janeiro estreia, em 2009, crito e dirigido por João Falcão, muita emoção, humor e gla-
nova categoria, a de “Melhor concorrem em quatro catego- mour”, revela.
Espetáculo”. Outra novida- rias. Mesmo sendo realizado Para cada categoria, um
de é a categoria de “Melhor mais uma vez sem patrocínio grande nome para a entrega do
Produção” que, a partir deste (apoiado apenas pela segurado- prêmio. Feras como Nathália
ano, passa a ser escolhida pelos ra Porto Seguro), a premiação, Thimberg, Aderbal Freire Fi-
próprios associados da APTR. atualmente, é um dos princi- lho, Lúcio Mauro, Júlia Lem- “A Noviça Rebelde”, com Saulo Vasconcelos e Kiara Sasso
Ano passado, já foram criadas pais eventos teatrais da cidade, mertz, Alcione Araújo, Kalma
as categorias “Homenagem segundo conta Flávio Marinho. Murtinho e Amir Haddad, en-
Especial”, além dos títulos de “O Prêmio APTR surgiu tre outros. “É uma festa emi-
“Melhor Ator” e Melhor Atriz” da necessidade de se preen- nentemente teatral, rica em A LISTA COMPLETA COM TODOS OS INDICADOS VOCÊ CONFERE
em papéis de coadjuvantes. cher um vazio. Historicamente, animação e amor pelo teatro”, NO SITE DO JORNAL DE TEATRO (WWW.JORNALDETEATRO.COM.BR)
Ao todo, são 12 catego- o teatro tinha vários prêmios completa Flávio Marinho.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Julho de 2009
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Entrevista
Veraz!
Vera Zimmermann – atriz
João Caldas
[ve.raz - adj m+f (lat verace) 1 Que diz a verdade. 2 Em que há
verdade; verídico. sup abs sint: veracíssimo] Dicionário Michaelis
Marketing Cultural
Agentes de ator se tornam fundamentais
Em um mercado cada vez mais fechado, o artista precisa ter alguém para gerenciar a sua carreira e orientá-lo profissionalmente
Por Ive Andrade agenciada. Grandes agências
Divulgação
como essas tem amplo portfólio
Para ser ator, talento é fun- não só de atores, mas de canto-
damental... Mas não o sucien- res, atletas e até mesmo de jorna-
te. A prossão, há tempos, exi- listas, o que prova o valor desse
ge não somente os requisitos de prossional em diversos âmbi-
formação cênica, mas envolve tos da mídia. “Para ser um bom
muita burocracia – através de agente, ter os contatos certos
contratos, testes e indicações é decisivo, além de saber fazer
de conhecidos – o que torna es- abordagens na hora certa, sem
senciais os famosos “contatos”. ser inconveniente”, diz Marcos.
Para facilitar esses caminhos e Apesar da relevância do
deixar que o artista preocupe-se agente na carreira do ator, o
somente em mostrar a sua arte, mercado não está em ampla
existe o agente de ator. expansão. “A demanda por
O agente é a gura que faz a agenciamento é muito grande,
intermediação entre diretores de o mercado, então, cresce, mas
elenco e atores, conduz a carrei- não muito”, frisa Oliver. Para
ra do artista (marca testes, envia Montenegro, isso acontece
material e promove seu casting). porque “o mercado já não é
Para isso, é consenso no merca- grande de maneira geral”.
do que esse prossional precisa Mas como o ator pode sa-
ter amplo conhecimento cultural ber se seu agente faz o trabalho
e não necessita ser artista para certo? Primeiro, é importante
isso. “É muita responsabilida- identicar o foco do agente, se
de ter a carreira de alguém nas ele trabalha com o tipo de área Relação de conança: o agente Marcos Montenegro com os atores Irene Ravache e Cacau Hygino
mãos. O agente precisa ter uma que o ator deseja. Depois, ana-
visão de business, uma cabeça lisar quais são as pessoas que
diferente da do artista, agendar trabalham com ele, se há identi- vai gerenciar sua carreira. “O casting, não tem errou/voltou. para contratos publicitários, de
os trabalhos certos para poder cação com seus trabalhos pas- prossionalismo é fundamental. Portanto, ca mais difícil o artis- teatro, de televisão ou de cine-
fazer seu trabalho bem feito”, sados. Cobrar o agente de forma Tratar com seriedade, mas de- ta conseguir o trabalho apenas ma. Mas isso pode variar de
explica o gestor cultural do gru- excessiva, exigindo trabalhos, pois de um tempo você se torna porque foi indicado”, arma. agente para agente e contrato
po TMB, Oliver Callegali. nunca é a opção certa. “O ator amigo, é como uma família”, ex- Mas essa opinião pode diver- para contrato”, diz um dos do-
“Hoje, o agente é um pros- que começa a ‘pentelhar’ (sic) o plica Montenegro. gir. “Um agente é fundamental nos da Montenegro e Raman.
sional necessário”, avalia Marcos agente pode ser queimado no Entre atores de teatro, de te- para qualquer ator hoje em dia”, Serviço
Montenegro, da agência Mon- mercado, que é uma área peque- levisão e de cinema, para o ges- observa Montenegro, acrescen- Montenegro e Raman
tenegro e Raman, que tem um na, na qual todos se conhecem”, tor Callegali a função do agente tando que o que de fato varia é www.montenegroeraman.com.br
casting de 180 artistas e recebe avisa Oliver Callegali, para quem é mais ou menos relevante. “Em a porcentagem do agente nos
cerca de 10.000 propostas por é fundamental construir uma teatro é menos válido, porque contratos para as diferentes áre- Grupo TMB
mês de gente que deseja ser relação de conança com quem o artista precisa passar pelo as. “Existem números padrão Telefone: (11) 3656 7672
Política Cultural
Rio Branco tem lei de incentivo à cultura, “mas ainda não é suficiente”
Por Renata Hermeto bre experiências de outros es- ads. Depois de três meses de ferência Municipal de Cultura, 300.000, distribuídos em qua-
tados e municípios brasileiros. análise, o município conseguiu, realizada em 2007. Na ocasião, tro editais, três deles temáticos:
A criação de uma política A partir destes estudos, a enm, a alteração da lei. foi formada uma Comissão de Edital 1: Formação; Edital 2:
pública voltada à Cultura em FGB montou um documen- O documento foi, então, Revisão, vericando-se, mais Produção e Circulação; Edital
Rio Branco (AC) começou em to que propunha a criação de encaminhado ao PROJURI tarde, a ausência de condições, 3: Intercâmbio. O último se
2005, com o I Fórum Munici- quatro novos instrumentos de (Procuradoria Jurídica do mu- naquele momento, de empre- encontra aberto até o dia 17
pal de Cultura, proposto pela gestão: Conselho Municipal nicípio), que aconselhou o ender tal ação. “Inclusive das de outubro, unicado, ou seja,
FGB (Fundação Municipal de de Políticas Culturais, Fundo desmembramento da nova lei. Artes Cênicas, no sentido de contemplando diversas nature-
Cultura Garibaldi Brasil). A Municipal de Cultura, Cadastro No m do processo, dois pro- termos mecanismos de nan- zas de projetos.
idéia era traçar um diagnóstico Cultural de Rio Branco e Lei jetos de lei foram apresentados ciamento mais adequados à De acordo com Flavia Bu-
da situação dos setores ligados Municipal de Patrimônio Cul- e aprovados pela Câmara dos realidade local e mais signica- larqui e Eurilinda Figueredo,
à cultura no município e fazer tural. O documento foi levado, Vereadores: a lei 1.676/2007, tivos para os produtores cultu- chefe do departamento de
um levantamento dos princi- em primeira mão, para o Con- que institui o Sistema Munici- rais locais”, informa Flavia Bu- Articulação, “a lei não atende
pais problemas estruturais e cultura (Conselho Estadual de pal de Cultura de Rio Branco, e larqui, responsável pelo setor com eciência, já que conta-
sociais enfrentados e relacionar Cultura) e para a Fundação Es- a lei 1.677, a Lei Municipal de de Informação. mos com poucos recursos dis-
suas principais expectativas em tadual de Cultura. Ambos r- Patrimônio Cultural, ambas de No que se refere aos meca- poníveis para o nanciamen-
curto, médio e longo prazo. maram parceria para trabalhar 20 de dezembro de 2007, apro- nismos de nanciamento, a Lei to de projetos. Em 2009, por
A capital do Acre contava na criação da lei. vadas, sem alteração, pela Câ- Municipal de Incentivo à Cul- exemplo, foram R$ 780.000
apenas com a Lei Municipal de O público foi o primeiro a mara Municipal de Vereadores. tura disponibilizou, em 2008, a para atender projetos nas áre-
Incentivo à Cultura, criada em ter contato com o projeto. Por quantia de R$ 566.678,74, con- as de arte (incluindo as artes
1993 e alterada em 1999. Em meio do site da prefeitura e do LEI DE INCENTIVO cedendo recursos a 80 projetos cênicas), esporte e patrimônio
2006, o trabalho cou pela co- blog de cultura, o documento À CULTURA culturais. A inovação do SMC cultural”. Ela acrescenta: “Em
leta de referências bibliográ- pôde ser analisado pelos in- Há uma orientação do Con- foi o funcionamento do FMC 2009, tivemos 13 projetos de
cas e estudos sobre as políticas teressados. De acordo com selho Municipal de Políticas (Fundo Municipal de Cultura). Artes Cênicas apresentados
culturais propostas pelo Go- dados da prefeitura, foram re- Culturais para revisão desta lei, Ainda em 2008, o FMC traba- e, desses, somente seis foram
verno Federal, bem como so- alizados cerca de 300 downlo- uma das deliberações da I Con- lhou com a importância de R$ aprovados”.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Julho de 2009
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Editais
Funarte lança editais para viabilizar 86 projetos do setor artístico
Fundação apresenta três novos projetos de incentivo à arte e oferece prêmios de até R$ 50 mil para potencializar cada vez mais a área
Por Pablo Ribera
A Funarte (Fundação Nacional de Ar-
tes) apresentou mais um apoio à cultura
brasileira ao lançar, no último dia 30, os
editais de três projetos de incentivo à arte:
o do “Prêmio Interações Estéticas - Resi-
dências Artísticas em Pontos de Cultura”,
o do “Bolsa Funarte de Produção Crítica
sobre Conteúdos Artísticos em Mídias
Digitais/Internet” e o da “Bolsa Funarte
de Criação Literária”. O objetivo da fun-
dação com esses projetos é impulsionar e
potencializar a produção e difusão artísti-
ca, a capacitação prossional e o debate
de ideias no setor de cultura. Para cumprir
essas expectativas, a Funarte viabilizará 86
projetos, através desses editais.
Para o Prêmio Interações Estéticas,
serão investidos R$ 2 milhões – do orça-
mento da Secretaria de Cidadania Cultural
do Ministério da Cultura – nas propos-
tas vencedoras. Promovido em parceria
com a Secretaria de Cidadania Cultural do
MinC, o Prêmio, que vai para sua segun-
da edição, oferece a possibilidade de de-
senvolver projetos integrados à ações de
Pontos de Cultura de todo o País, sendo
que artistas de diversos segmentos podem
concorrer. Serão concedidos 71 prêmios:
66 deles, com valores entre R$ 15 mil e Fundação pretende, com os três editais, impulsionar e promover a integração cultural no Brasil
R$ 50 mil, serão divididos entre as cinco
regiões brasileiras; os outros cinco, de R$ co sobre a arte brasileira na atualidade e ou estejam expostos em websites, CDs, projetos de todas as regiões do País. Dessa
90 mil cada, estão destinados a projetos de sua relação com as tecnologias digitais. DVDs e celulares, entre outros. forma, a Funarte cria integração cultural
“Abrangência Nacional”. Serão distribuídas cinco bolsas de R$ 30 Já a Bolsa Funarte de Criação Literária em todo o Brasil, valoriza a diversidade
A Bolsa Funarte de Produção Crítica mil, uma para cada região do Brasil. As tem como principal objetivo fomentar a cultural brasileira e democratiza o acesso
sobre Conteúdos Artísticos em Mídias propostas de trabalho devem estar rela- produção de textos literários inéditos nos dos prossionais aos meios de produção
Digitais/Internet também chega à se- cionadas à análise de conteúdos artísti- gêneros lírico e narrativo. A Funarte con- artística e intelectual, colocando ao alcan-
gunda edição e oferece condições para cos – das áreas de artes visuais, de dan- templará, por meio deste programa, dez ce do público trabalhos que nem sempre
que pesquisadores, teóricos, artistas e ça, de circo, de teatro, de performance, autores brasileiros, dois de cada região. encontram espaço na grande indústria
estudantes possam criar, estudar e se de- de fotograa, de música, do audiovisual Cada um receberá uma bolsa de R$ 30 mil. do entretenimento. As inscrições se en-
dicar à produção de conhecimento críti- e da literatura – que tenham sido criados Os prêmios e as bolsas darão viabilidade a cerram no dia 13 de agosto.
Opinião
Qual deve ser o envolvimento de um dramaturgo na encenação de um espetáculo?
A peça ganha mais com a interferência do criador do texto, ou somente
com a exploração do diretor e dos atores sobre o texto?
Sérgio Roveri
Tivesse eu o objetivo de atrair a ira de boa parte dos diretores brasileiros, eu começaria este momento, somente o autor é capaz de ouvir.
pequeno artigo criando uma nova máxima: autor bom é autor vivo. Mas como respeito profundamen- E então eu me pergunto: se é possível contar com esta ferramenta valiosíssima, que é a observa-
te a classe dos diretores e tive o privilégio de me tornar amigo íntimo de quase todos com quem já ção do autor, qual o sentido em desprezá-la? Não pareceria muito mais lógico e produtivo se, durante
trabalhei, me permito aqui uma pequena alteração nesta máxima recém-criada: autor bom também as leituras de mesa e, mais adiante, nos ensaios propriamente ditos, o elenco pudesse ter a chance
pode ser autor vivo. Ou vice-versa. Difícil é fazer com que alguns profissionais acreditem nisso. de solicitar ao autor um hemograma completo dos seus personagens – ainda que os elementos ofe-
Muito estranha a figura do autor. Ela parece incomodar não somente durante os ensaios, mas recidos por ele fossem desprezados ao longo do processo? Imagino o imenso deleite que seria poder
também ao longo da temporada. Como se nós, autores, fôssemos uma espécie de inspetor geral in- perguntar a Shakespeare se Hamlet é mais vítima de loucura ou de caprichos. Talvez não estejamos
teressado no livro-caixa da companhia. Quando, na verdade, acredito eu, queremos ver apenas como criando Hamlet, alguns podem argumentar, mas sabemos o que estamos criando. E andamos cada
é a voz, o corpo, a emoção e, principalmente, como se equilibram em pé todas aquelas personagens vez mais loucos para compartilhar este saber.
que, ao escaparem do nosso computador e da nossa impressora, não passavam de figuras chapadas Entendo que o processo de direção pode ser tão solitário quanto o é, na maioria das vezes, o
em branco e preto. Se somos mesmos os pais biológicos de tantas histórias, penso que nosso acesso processo de escrita de um texto. Mas, o que eu defendo aqui, é a possibilidade de uma democrati-
ao berçário deveria ser irrestrito. Porém, respeito as barreiras. zação nestas relações. Que cada um tenha o direito de mostrar o que sabe e o que tem de melhor.
Assumo aqui que não sei dirigir. Não tenho uma visão cênica aprimorada, meu conhecimento de Quem ganha com isso não sou eu, os diretores ou o elenco. Quem ganha com isso é aquela pessoa
luz é primário, tenho uma queda, pequena, é verdade, mas ainda assim incontrolada para o melodra- desconhecida, que sai de casa, enfrenta filas e deixa alguns reais na bilheteria como um crédito de
ma e sinceramente não sei se conseguiria controlar um grupo de atores. Mais que isso: talvez eu já confiança em nosso trabalho. A ela, devemos tudo. O resto a gente resolve nas coxias.
me sentisse satisfeito com a primeira visão do personagem que cada um deles me apresentasse. Por
isso, minha admiração ao profissional que entende daquilo que eu não entendo: o diretor. Sérgio Roveri é jornalista e dramaturgo. É autor das peças Andaime, prêmio Funarte de
Mas existe uma sutileza que se encontra mais em poder do autor do que nas mãos do diretor e do Dramaturgia, e Abre as Asas Sobre Nós, prêmio Shell de autor. Duas peças de sua autoria
elenco: é a sutileza da intenção, é aquela filigrana de emoção que parecia concentrada unicamente estão em cartaz em São Paulo até o fim de julho: Dueto da Solidão,
naquela palavra que o diretor resolveu cortar, é o silêncio entre uma frase e outra que, num primeiro no Sesc Vila Mariana, e A Vida que eu Pedi, Adeus, no Teatro Cosipa
10 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
Dança
Cristiano Castaldi
Ballet
Por Carla Costa
da vida
representaram empecilho para
quem tem vontade de vencer.
Anal, estudar no Bolshoi do
shoi no Brasil.
Para Sylvana Albuquerque,
todos os participantes foram
Apresentações de dança Brasil pode ser a oportunidade vencedores, pois muitas vezes
moderna, de salão, popular e de mudar para melhor todo o eles não têm espaço adequado
balé clássico encheram o calen- percurso de vida. para ensaiar, nem condições -
dário cultural da cidade de Ca- Na plateia, os sonhos dos nanceiras para investir até mes-
maçari (BA). Para a população participantes eram multiplica- mo nos próprios vestuários. “A
local, o Festival Ballace Bahia é dos pelos dos pais e familiares. importância desse trabalho já
a oportunidade de ver de perto Eles acompanharam, ansiosos, fala por si só, pois tudo o que
a beleza de coreograas cui- cada apresentação. Este ano, o fomenta a cultura e a dança
dadosamente desenhadas para evento – que teve apresenta- deve ser considerado primor-
emocionar, e que tem como ções paralelas incluídas ao fes- dial para o desenvolvimento Bailarina Mariana Gomes pretende um dia ser júri do Festival
pano de fundo a história de tival, devido à grande demanda de qualquer ser humano”, ar-
vida dos integrantes das seleti- de público – registrou público ma. Segundo ela, os bailarinos
vas que nomeiam os três indi- recorde de 3.500 expectadores baianos mostram que sabem o prossionais e praticantes da o estilo de vida. Isso signica,
cados para as vagas da Escola no Teatro Cidade do Saber. valor da arte e se destacam em dança de outros cantos do País. inclusive, morar em outro esta-
de Ballet Bolshoi para 2009. As audições foram acom- exibilidade, bravura e vontade Quando é chegada a hora do, pois a instituição se localiza
Este ano, 1200 bailarinos panhadas pela coordenadora, de vencer. “Temos muito pra- de conhecer os dois escolhidos em Santa Catarina, na cidade
de todo o País se inscreveram Sylvana Albuquerque, e pela zer em assisti-los”, conclui. pelos coordenadores, a Bahia – de Joinville.
na disputa, realizada entre 11 e coordenadora artística do Bol- Apesar do nervosismo e an- sede do festival – é nomeada, O curso, que tem duração
14 de junho, pelo terceiro ano shoi no Brasil, Maria Antonieta siedade dos participantes, eles pelo segundo ano consecutivo, de oito anos, oferece aulas te-
consecutivo, na cidade baia- Spadari. A meta era selecionar não negaram a felicidade em a grande vencedora (ca com óricas, técnicas de dança, curso
na. Em meio a coreograas e os dois melhores dançarinos poder participar de um evento as duas vagas do Bolshoi). As de inglês, aulas de literatura, de
passos precisos, eles mostra- do Festival Ballace e mais uma tão importante e que lhes abre bailarinas Lara Pithon e Aneli- piano e de pilates. Ao término
vam a excelência do trabalho criança que estude no comple- portas. Além de, também, terem ce Souza ganharam bolsas inte- desse período, os bailarinos
desenvolvido em classes sem xo artístico, Cidade do Saber, oportunidade de fazer um in- grais, mas, para fazer o curso, sempre voltam ao Bolshoi para
muita estrutura, mas que nunca para integrar o corpo do Bol- tercâmbio de experiências com terão que mudar radicalmente novos aperfeiçoamentos.
çoamento, a Escola do Teatro os pais, garçons, e com sua estava diante de uma excelente ida, a menina arma que irá
Bolshoi no Brasil oferece a to- irmã. Todos vivem em uma bailarina. “Ela tem grande po- segurar a emoção e seguir em
dos os bolsistas ensino regular casa simples, com a renda de tencial. Só precisamos lapidá-la frente. “Sei que deve ser difícil
gratuito, uniformes, plano de dois salários mínimos. A mãe, para que ela se torne uma péro- car tão longe, mas não vou
saúde, transporte e alimenta- Márcia Souza, conta que, des- la preciosíssima. Anelice é uma me abater. Quero ir e aprovei-
ção. Mas não dá moradia aos de criança, Anelice dava sinais criança que dança com emoção tar essa grande chance. Peço a
bailarinos. O que, para muitos, do quanto tinha vocação para e é muito carinhosa”, avalia ajuda de todos que possam me
como a bailarina Anelice Sou- o balé. “Ela sempre andou na Monteiro. apoiar a conquistar o meu so-
za, de 11 anos, é um grande ponta do pé e se destacava nas Anelice, que já ganhou di- nho”, frisa Anelice.
obstáculo para seguir em fren- festas devido a forma de dan- versos prêmios, diz que não O desempenho de Ane-
te. “Rezo todos os dias para çar”, revela Márcia. esperava ser escolhida pelo lice fez com que os auditores
que Deus me dê a graça de Márcia conta, ainda, que Bolshoi, apesar de ter a cons- adiantassem o início do curso
conseguir ir para lá, pois tenho a boneca Barbie sempre foi a ciência de que dança bem. Ela da garota, que só deveria in-
certeza que é a grande chance inspiração da sua lha, que ten- conta que, quando soube do gressar no Bolshoi em feverei-
da minha vida, de seguir o meu tava imitar os passos que a per- resultado do concurso, cou ro de 2010. Assim, caso consi-
sonho e ainda ajudar a minha sonagem fazia em comerciais muito feliz e só pensou que ga patrocínio para comprar as
família”, desabafa. e lmes. “Ela me pedia para Anelice, de 11 anos: patrocínio era chegado o momento de dar passagens e pagar por moradia,
A menina, agora, precisa entrar em uma escola de dan- para mudar para Joinville melhores condições de vida a menina começará o curso no
vencer mais uma etapa: con- ça, mas, infelizmente, minha para sua família. segundo semestre deste ano.
seguir patrocínio para manter falta de condições nanceiras 9 anos, a mãe dela conseguiu Quando questionada so-
uma moradia durante todo o não permitia. Doía muito ver a colocá-la na academia de dança bre a saudade que sentirá dos Apoio: Quem quiser ajudar
período que precisará car em minha lha cheia de potencial, do bairro. Foi lá que a garota familiares, Anelice responde Anelice deve entrar em
Joinville para completar o cur- mas sem oportunidades”, diz teve apoio para seguir em fren- que seria muito bom se todos contato com a professora
so. Criança humilde, que mora Márcia. te. Assim que começaram as pudessem se mudar para Santa Vera Monteiro através do
em uma região de classe baixa Quando Anelice completou aulas, sua professora de dança, Catarina com ela, mas, como já telefone (71) 8816-9028
Jornal de Teatro 1º a 15 de Julho de 2009
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Divulgação
HISTÓRIA DO FESTIVAL MOSTRA
QUE A PARTICIPAÇÃO POPULAR
É O MAIOR RESPONSÁVEL PELO
SEU CRESCIMENTO
rios caminhos e o Bolshoi é ape- na Mariana Gomes, única bra- dei tudo. Assim ganhei meu
nas um deles”, finalizou Sylvana. sileira que compõe o corpo espaço”, diz.
Em 2008, o Ballace trouxe o de dança do Ballet Bolshoi na A bailarina admite que
diretor Pavel Kasarian, da Escola Rússia, conta sua história, fala o caminho até o Bolshoi da
do Teatro Bolshoi , para selecionar da saudade e sobre a vontade Rússia é árduo, e, infelizmen-
alunos da comunidade, oferecen- que tem de compor o corpo te, nem todos que estudam
do-lhes duas bolsas de estudo de jurados do Festival Ballace. no Bolshoi do Brasil terão a
completas. A expectativa inicial A companhia da qual Mariana mesma oportunidade. “Infe-
dos representantes do Bolshoi era faz parte é considerada a mais lizmente não é fácil conse-
a de selecionar crianças para a tradicional do mundo, funda- guir chegar lá e mostrar suas
etapa nacional. No entanto, eles
da em 1776, e conhecida mun- qualidades, mas, com certeza,
foram surpreendidos pela aptidão
dialmente devido aos rigoro- a maioria dos bailarinos terá
dos participantes e decidiram, de
forma inédita, aumentar o número sos critérios para a seleção, chance em outras companhias
de vagas para aquele ano. perfeição e precisão de todos do mundo”, avalia Mariana.
Assim, oito alunos foram os passos dos seus bailarinos. Ela conta que conhece e já
classificados e concorreram com “É preciso muita coragem e ouviu falar muito do Festival
mais 500 candidatos de todo determinação, além de técnica, Ballace. Para Mariana, é muito
Brasil. Finalmente, quatro crian- muito caráter e inteligência”, importante saber que, através
ças foram contempladas com as explica Mariana. deste evento, vários baianos
bolsas de estudo. Números que Com apenas 21 anos, ela é são selecionados para o Bol-
tem crescido com a realização o exemplo de determinação e shoi. “Eu ainda não participei,
de cada uma das novas edições. superação que inspira a maioria mas, assim que receber um
Para se ter uma ideia, de 2008 dos dançarinos brasileiros. A convite, terei o maior prazer
para 2009, o número de inscri- sua trajetória na dança foi inicia- em realizar uma apresentação
tos cresceu de 1000 para 1500, da aos 7 anos, quando começou e de ser jurada também”.
firmando o Ballace no calendário a estudar na Escola de Ballet Mariana naliza a entre-
artístico nacional. Adalgisa Rolim, na cidade de vista deixando para todos
Junto com os números, o Lauro de Freitas (BA). Aos 14 Mariana Gomes, a baiana de 21 anos que conquistou a Rússia os bailarinos brasileiros uma
festival chama a atenção de no- anos, ela foi incentivada por sua mensagem de incentivo. “Se-
mes de peso da dança, que se professora de dança para fazer selecionada para o estágio re- me”, conta. jam muito mais que bailarinos,
envolvem com o projeto. Assim, um teste na Escola de Teatro munerado e se mudou para a Com uma rotina inten- muito mais que estagiários,
bailarinos brasileiros de destaque do Bolshoi, de Joinville, e aca- capital Russa. Mariana conta sa, ensaios diários, das 8h às muito mais que contratados,
que participam de companhias que teve problemas de adapta- 22h30, e intervalos de três
bou selecionada entre os 4.700 façam a diferença. Usem a
e eventos consagrados nacio- ção e sofreu discriminação por horas com folgas somente na
nal e internacionalmente, além
currículos enviados. inteligência e nunca percam a
Mariana passou a inte- ser brasileira, mas soube ven- segunda-feira, Mariana teve humildade. Dancem quando
de estudantes e praticantes da
grar o corpo de baile e a via- cer os obstáculos, inclusive, sua grande chance ao subs- estiverem tristes e com sauda-
dança do Brasil, têm se reunido
no palco e plateia do TCS. Isso jar por todo o Brasil, sempre o mais difícil deles: a saudade tituir uma bailarina russa, 15 des, quando estiverem de fol-
contribui para inserir o Comple- com medalhas de honra como que sentia da sua família e dos minutos antes da estreia do es- ga e até mesmo de férias. Dan-
xo de arte-educação camaça- melhor aluna. Em 2005, nas amigos. “Aprendi a conviver petáculo Bolt. “Era uma apre- cem pra curar todas as dores,
riense como parte importante avaliações anuais, feitas por com a saudade, e aprendi que sentação difícil e nem todo mas que seja sempre com
do cenário da dança mundial. professores de Moscou, foi tudo é uma questão de costu- mundo sabia fazer tudo, mas amor”, nalizou a bailarina.
Jornal de Teatro 1º a 15 de Julho de 2009
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Festivais
Fotos: Divulgação
A proposta experimental do FIT será mantida em 2009 Em 1969, o Festival de Teatro de São José do Rio Preto surgiu com caráter competitivo
Festivais
Divulgada a programação do
Festivais
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Participação artística
como arma para
No total, 41 apresentações Cia. Gioco Vita, da Itália, com pontos da cidade, com compa-
nacionais e internacionais foram “Pépé e Stella. nhias nacionais, com destaque
realizadas em 13 espaços da ca- Outro destaque foi “Passa- para os catarinenses. Os brasi-
pital, gratuitamente ou a preços ge Désemboîté”, da companhia leiros mostraram igualmente ao
populares (de R$ 4 e R$ 8). O francesa Les Apostrophés. O que vieram, como a Cia. Circo
sucesso foi tão grande que hou- espetáculo invadiu as ruas do de Bonecos, com o espetáculo
ve necessidade de uma segunda centro de Florianópolis e pren- “Circus – A nova turnée”, que
sessão em um dos espetáculos, deu atenção dos transeuntes e encantou e lotou o auditório
como é o caso da peça o “Ha- curiosos. Quem parou para as- principal da Universidade Fe-
gënbeck”, da Cia. Experimentus sistir, deu boas risadas. Homens deral de Santa Catarina (UFSC).
Teatrais, de Itajaí. Os ingressos já de terno e gravata manipulavam Já o espetáculo “Socorro”, do
haviam se esgotado quatro horas objetos simples, fazendo deles Ronda Grupo de Dança e Te-
antes do início da apresentação. personagens que ditavam o rit- atro, de Florianópolis, lotou o
Entre os espetáculos mais es- mo das ações dos quatros atores, teatro da Ubro, entre outros que
perados estavam os internacio- com o sanfoneiro que conduzia entraram em cena, como as com-
nais. A abertura do evento, dia o público entre as várias histó- panhias Cirquinho do Revirado,
14, contou com a participação rias. O encerramento, dia 18, - com “O Sonho de Natanael”, o
de grande público, que assistiu cou por conta da Cia. Jordi Ber- Anima Sonho com a “Bonecrô-
a companhia peruana Teatro tran, da Espanha, no Centro de nicas” e “Circus – A Nova Tur-
Hugo & Inês, com “Cuentos Cultura da Universidade Federal née”, da Cia. Circus de Bonecos,
Pequeños”, que se utiliza de de Santa Catarina (UFSC), com e o “Menino Maluquinho”, da
partes do corpo para dar vida a “Antologia”. Cia. Andante. Mais informações
personagens. Receberam muitos Mas não foi só isso: a magia em www.taoripa.com.br
Passage Desemboîte, do Grupo Frances Les Apostrofes, invadiu, com muito bom humor, as ruas da Capital Desle de abertura do Fita Floripa 2009 pelas ruas de Florianópolis
16 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
Festivais
Marcio Correa, da Legião de Palhaços, apresenta “Circo de Pulgas” no meio da rua para crianças de todas as idades Espetáculos se notabilizaram pela irreverência
Festivais
Cerca de 2.800 vagas são oferecidas para os seminários, cursos e workshops. A integração entre a professora e a aluna, durante a aula de balé clássico, contagia as demais bailarinas
João Caldas
Divulgação
Jornal de Teatro – Se você sica para cinema, z a pesquisa mundo, cria uma trilha quando sentidos (como a visão ou todos os atores poderiam, eu
tivesse que explicar para al- musical de “Carandiru”, o lme). caminha ou quando está dentro tato) para o seu trabalho? disse poderiam, aprender a de-
guém sobre o que se trata o JT – Na peça que está do metrô, do ônibus...). Para as Ou você só se baseia no in- senhar, como exercício, para se
seu trabalho como sonoplasta em cartaz, “A vida que Pedi, gravações usei um gravador e nito universo dos sons? colocar em cena, para entender
no teatro, como você o faria? Adeus”, você usou recursos microfone digitais. TW – Cada trabalho é um tra- o campo cênico. O desenho é
Theo Werneck – Comecei da vida real, gravações de JT – Qual a principal dife- balho. Quando trabalhei com o matemática, assim como a mú-
minha carreira no teatro aos 17 sons urbanos e ruidagem para rença, em se tratando do pro- circo dos acrobáticos Fratelli tive sica, e isso inuencia e modi-
anos. Fui técnico, cenotécnico, compor a trilha da montagem. cesso criativo, na concepção que me ligar nos tempos coreo- ca tudo. Nós, que não somos
assistente de cenograa, contra- Porque trazer o real como op- de “A Vida que Pedi, Adeus” grácos dos números do circo e, só matemática, podemos sentir
regra e operei bonecos. Um dia, ção à uma criação articial? e “A Alma Boa de Setsuan”? por vezes, acompanhar o movi- as coisas e interpretá-las.
trabalhando como contrarre- TW – A idéia é fugir do ób- TW – São trabalhos com- mentos dos artistas e trapezistas. JT – Qual é o seu som
gra na peça infantil “Esqueci vio e trazer o ambiente urbano pletamente diferentes, na ‘Alma É um pouco de tudo misturado. preferido? E o seu ruído?
a porta da cabeça aberta”, um para dentro do teatro usando a Boa...’ usei mais a composição JT – Algumas de suas pri- TW – Adoro som de tro-
ator não foi avisado de uma mu- trilha como textura sonora. e criação musical no sentido de meiras discotecagens caram vões, adoro sons inusitados e
dança de horário e como eu sa- JT – Que tipo de equipa- trilha sonora mesmo, com temas famosas no Teatro Mambem- inesperados, bips e sons ele-
bia todos os textos fui chamado mento você utilizou? Quan- para cada cena. Na ‘A Vida Que be. Você acha que o fato de trônicos, batuque em banco de
para substituí-lo. Na montagem to e como isso inuenciou Eu Pedi...’ a pesquisa foi mais um teatro abrigar, de certa metrô ou de ônibus, batuques
seguinte do grupo, ganhei um no seu trabalho? conceitual, no sentido de criar forma, suas origens inuen- em latas de lixo. Guitarra dis-
personagem e passei da coxia TW – Trabalhei com muita ambientes dentro das situações. cia o seu trabalho hoje? torcida. Tudo.
para o palco. A música sempre gente que me inuenciou e me JT – Na coletiva de “A TW – A minha experiência JT – Você gosta de fazer
caminhou lado a lado com a ex- ensinou a ‘fuçar’ nas coisas e vida”, você mencionou que com teatro e performances barulho (em todo e qualquer
periência no teatro, então, fazer a obter sons do que aparecesse. só há uma composição mu- nos anos 80/90, sem dúvida, sentido)?
música de um espetáculo é parte Trabalhei com o André Abuja- sical na peça toda, o que se inuenciou e inuencia o meu TW – Amo! Fazer barulho
natural da minha experiência. mra no grupo Boi Voador, com entende por “música”. O trabalho como um todo, seja ou fazer um som é premissa
JT – Onde você busca suas Ulisses Cruz e também fui dire- que é a música para você? tocando, cantando, atuando básica para ser ouvido ou en-
referências para a criação da tor musical. Pude, então, enten- TW – Aprendi com o meu ou discotecando. tendido no universo, seja o
trilha teatral? der que a música não é nenhum irmão André Abujamra que JT – E como ator, o que choro do nenê ou o violino do
TW – Em tudo. No cinema, monstro de sete cabeças, mas tudo pode ser música, tudo... você usa dessa formação vizinho aprendendo a tocar, o
nos shows, na televisão, nas artes algo que está no cotidiano das Até o nada é musica... dramática para suas cria- seu lho aprendendo a asso-
plásticas, na moda, nos discos pessoas, dentro da cabeça delas JT – Você costuma trans- ções audiofônicas? biar, seu sobrinho tocando he-
antigos (sou pesquisador de mú- (todo mundo, ou quase todo por elementos de outros TW – Na verdade, acho que avy metal, tudo é música.
Homenagem
Precursora do teatro-dança, Pina Bausch morre aos 68 anos
Dançarina e coreógrafa alemã sofria de câncer e faleceu cinco dias após o diagnóstico. Circunstâncias da morte, porém, não foram divulgadas
Fotos: Divulgação
Bausch faleceu na terça-feira, dia 30, aos
68 anos. Cinco dias antes, Pina havia sido
diagnosticada com um câncer, mas as cir-
cunstâncias de sua morte ainda não foram
divulgadas. Pina faleceu em sua residência,
em Wuppertal, onde, poucos dias antes,
estava nos palco com sua equipe.
Pina Bausch nasceu na cidade de So-
lingen, oeste da Alemanha, em 27 de ju-
lho de 1940. Nasceu Josephine Bausch
mas, logo no início da carreira, mudou seu
nome. As primeiras apresentações lúdicas
com o balé infantil ocorreram em Wu-
ppertal e Essen. Com 15 anos, iniciou sua
formação de dança na Folkwangschule de
Essen, fundada pelo célebre coreógrafo
Kurt Joos, em 1955.
Pouco tempo depois, no início da dé-
cada de 60, ganhou notoriedade na Metro-
politan Opera de Nova Iorque e na Juillard
School Music, aonde apresentou seus espe-
táculos de dança. Nos anos 70, Pina criou
novas formas e estilos no teatro e na dança.
“
Dez anos mais tarde, seu trabalho ganhou, A Companhia de Pina Bausch esteve no Brasil pela última vez em 2006. O grupo deve voltar a São Paulo em setembro desse ano
na Alemanha, a mesma importância que o
teatro falado e caracterizou o país como
berço do segmento artístico.
Pina Bausch era considerada a gran-
de dama da dança contemporânea ale-
mã, já que tinha um estilo expressionis-
ta único que, no início de sua carreira,
provocou grandes polêmicas, antes de Cada peça é um novo apelo
ser reconhecido mundialmente. O tea-
tro-dança, como a maioria denomina, para que o espectador cone
foi a principal contribuição dela. Pina,
no entanto, se referia a uma abordagem em si mesmo, se enxergue e
psicológica individual.
A companhia de Pina Bausch esteve
se sinta”, dizia ela. “Cada
pela última vez no Brasil em 2006 e deve peça é diferente, mas pro-
voltar para shows em São Paulo, em se-
fundamente ligada a mim.
”
tembro, quando mostrará duas obras im-
portantes na carreira da coreógrafa: “Café
Müller”, peça de 1978, e “A Sagração da
Primavera”, de 1975, com música de Igor
Stravinsky. Trata-se do mesmo programa
que Bausch e seu grupo de Wuppertal
apresentaram no Brasil em 1980, na pri-
meira turnê da companhia no País. Pina criou, nos anos 70, o que é chamado hoje de teatro-dança
Arquivo Pessoal
Pâmio. O encontro com Sto-
A origem histórica do título ppard foi, segundo ele, impres-
de “sir” remete a quem pos- cindível para que a tradução da
suía domínio sobre um feudo, peça fosse feita sem tirar o seu
sobre o mercado de escravos sentido original. Para a surpresa
ou era apenas uma forma de do tradutor, o escritor inglês se
agraciar algumas personalida- mostrou inteiramente solícito e
des da nobreza e da realeza aberto a tirar dúvidas comuns
nos tempos medievais. Com se tratando de um texto teatral
a modernidade e o avanço so- metalinguístico. “Fui me encon-
cial, o título passou a pertencer trar com ele em janeiro deste
àqueles que dominavam um ano. Ele é uma criatura adorá-
conhecimento especíco sobre vel, uma pessoa de simplicidade
algum assunto. Foi assim, por no convívio. Ele foi digníssimo,
exemplo, com o físico Sir Isaac solícito, sem qualquer ponta de
Newton e com o cineasta Sir esnobismo. Fomos ao teatro, to-
Charlie Chaplin. Mas a mesma mamos um café e ele teve total
regra não pode se aplicar a Sir disponibilidade para elucidar,
Tom Stoppard. Muito além do discutir qualquer dúvida que eu
papel de autor e dramaturgo, tivesse no texto. O tempo que
Stoppard oferece, desde 1958, ele dedicou a mim foi algo que
quando começou a trabalhar ele nem precisaria fazer, mas ele
como crítico teatral e colunis- cou bastante impressionado
ta no Bristol Evening World com alguém de fora da Inglater-
(Inglaterra), trabalhos diversi- ra fazendo sua obra considerada
cados para reexão históri- Stoppard (à dir) recebeu Marco Antônio Pâmio, em Londres, para uma conversa sobre a sua peça ‘Travesties’ a mais difícil”, diz.
ca e antropológica, obras que Fica a dica do Jornal de Te-
repercutem e elevam o pensa- olho no olho, ainda mais partin- atro para aqueles que já conhe-
Divulgação
mento daqueles que puderam do de um autor do porte dele. cem a obra de Sir Tom Stoppard
ser atingidos pelo seu furacão Após isso, trocamos correspon- e, principalmente, àqueles que
de ideias. dência por duas ou três vezes e ainda não tiveram a oportuni-
Para entender Stoppard e o meu tradutor, Marco Antônio dade de entrar em contato com
seu processo criativo é preci- Pâmio, foi a Londres se encon- o universo de reexão daquele
so voltar um pouco no tempo, trar com ele para resolver os úl- que é hoje em dia não “apenas”
mais precisamente 72 anos, idade timos detalhes”, conta Villela. um dos maiores dramaturgos
completada por Stoppard dia 3 de O tradutor da peça, Marco ainda vivos, mas também um
julho. Nascido em 1937, na então Antônio Pâmio, que também é iluminista contemporâneo. Um
Tchecoslováquia, presenciou sua ator, destaca o desao que foi homem que, apesar de não ter
terra ser invadida pelos nazistas traduzir o texto mais difícil de um e-mail e sequer ter paciência
e se mudou com dois anos de Stoppard. “O “Travesties” é para digitar em um computador,
idade para Singapura. Mais uma muito verborrágico, ele mistu- desenvolve em suas obras um
invasão, mais uma mudança. Por ra, em uma mesma obra, vários espírito jovem-contestador in-
conta da invasão japonesa à Sin- planos narrativos. Como é uma capaz de datar seu trabalho cada
gapura, foi com sua família para peça que se passa na cabeça vez mais atemporal.
a Índia, onde recebeu educação Trazido para o Brasil, ‘Rock’n Roll’ foi tema de debate na Flip de 2008 de um personagem, há ashes
inglesa e, enm, se estabilizou. “A Fronteira da Utopia” (The tano Vilella se movimenta para de memória num jogo de ida e BIOGRAFIA TEATRAL
Mas logo se desestabilizou. Ainda Coast of Utopia), em 2002. A encenar, a partir de outubro, vinda misturando três planos (NOMES ORIGINAIS):
bem. Aos 17 anos largou os es- história, com vários intelectuais “Travesties”, obra de 1974 de históricos reais. Você tem que
1966: Rosencrantz & Guildenstern
tudos e começou a trabalhar em e revolucionários russos, pas- Stoppard. A peça é uma paró- ter domínio de assuntos e even- Are Dead
jornais, onde se envolveu nal- sa a mensagem que a História dia do livro A importância de tos diversos para tornar viável a 1968: Enter a Free Man
mente com as artes, para sorte nada mais é do que uma ironia ser Prudente, de Oscar Wilde. montagem desse quebra-cabeça 1968: The Real Inspector Hound
do grande público. em movimento a peça rendeu “Eu queria um autor contem- na cabeça da plateia. Stoppard 1970: After Magritte
O escritor tcheco natura- a Stoppard sete prêmios Tony – porâneo que falasse do papel coloca tudo isso em um calde- 1972: Jumpers
lizado inglês talvez seja mais o Oscar do teatro. do artista na sociedade e tivesse rão com bastante sentido e lógi- 1972: Artist Descending a Staircase
conhecido no Brasil pela co- No Brasil seu trabalho pas- o viés político. Aí, caiu no Tom ca, porém, exige bastante aten- 1973: Born Yesterday
autoria, junto com Marc Nor- sou a ser mais conhecido e re- Stoppard. Conheci o “Traves- ção da plateia, do leitor”, diz. 1974: Travesties
man, de “Shakespeare Apaixo- conhecido a partir de sua par- ties” e vi que tinha muito sobre Pâmio lembra que teve de 1976: Dirty Linen and
nado”, blockbuster de 1998, ticipação na edição de 2008 da o que eu queria falar, então fui interromper seu trabalho diver- New-Found-Land
vencedor de sete estatuetas do Flip (Festa Literária Interna- atrás. Ele queria me conhecer sas vezes para estudar a fundo 1977: Every Good Boy
Oscar, incluindo melhor lme e cional de Paraty). No evento, para saber qual seria a minha os assuntos tratados e poder Deserves Favour
melhor roteiro. Mas, muito an- onde foi a principal atração, leitura da peça, pois, segundo entender o que traduzia. “Tra- 1978: Night and Day
tes, sua obra já havia encantado Stoppard falou, com mediação ele, “Travesties” é o texto dele vesties” é uma peça muito con- 1979: Dogg’s Hamlet,
plateias em todo o mundo. Sua de Luis Fernando Veríssimo, mais difícil de se traduzir. Tive- centrada em conteúdo. Geral- Cahoot’s Macbeth
estreia no teatro foi em “Ro- sobre o processo criativo de mos um encontro no Aeropor- mente levo um ou dois meses 1979: 15-Minute Hamlet
sencrantz e Guilderstern es- suas principais peças, principal- to de Cumbica e nossa conversa para um trabalho de tradução 1979: Undiscovered Country
tão Mortos”, de 1966, na qual mente “Rock’n Roll”, de 2006, durou quatro horas. Ele gostou e acabei levando sete, oito me- 1981: On the Razzle
Stoppard se inspira em dois espetáculo que se passa duran- e aprovou a minha proposta, ses porque houve momentos 1982: The Real Thing
amigos de infância de Hamlet, te a emergência do movimento em que tive que parar tudo 1984: Rough Crossing
falou que eu estava no caminho
democrático no leste europeu, para estudar. Fui elucidando 1986: Dalliance
onde o príncipe é aparentemen- certo e me deu total liberdade.
pouco depois de eclodir a Pri- 1988: Hapgood
te secundário e toda a história O medo de Stoppard era de a um monte de elementos quase
1993: Arcadia
parece invertida: era o início da mavera de Praga, chegando à peça ter um viés mais comer- como charadas para aquilo ter 1995: Indian Ink
recorrente utilização de perso- Revolução de Veludo, sob a cial, ele não quer isso. Ele foi sentido na tradução. Stoppard 1997: The Invention of Love
nagens historicamente meno- perspectiva dos defensores da muito acessível, quei até sem brinca muito com a linguagem, 2002: The Coast of Utopia
res e de metalinguística teatral. liberdade e do proletariado. graça. Não existe muito isso no ela é muito atrevida. Ele faz um 2004: Enrico IV
Sua consagração, porém, veio No embalo da vinda do es- teatro de o autor antes de ceder jogo de metáforas, sonoridades 2006: Rock’n Roll
com a montagem da trilogia critor ao Brasil, o diretor Cae- os direitos querer te conhecer no inglês, que para o tradutor
22 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro
História
Fotos: Divulgação
Revista Mutis X El Foro tantes do momento publicaram seu espetáculo no Maipo, até
uma frase que dizia: Última fun- que Perón o fez calar-se.
Era o centenário da Revo- ção e fechamento do teatro para Este ano, se completaram
lução de Maio e a Argentina efetuar com rapidez as obras de cem anos desde que foi aberto o
se preparava para uma grande ampliação. Hoje, o diretor do es- Scala. Cem anos de penas e lante-
festa. Buenos Aires, a Paris da paço, Lino Patalano, conta que joulas, de comediantes e vedetes,
América do Sul, se converteu foram fechados por estarem li- de escadarias e telões vermelhos:
em um grande cenário, com ave- gados aos Lombardo, a maior o Teatro da Revista Porteña.
nidas iluminadas, esplêndidos família de prostituição daquele
edifícios públicos, grandes lojas momento. Reabriram as portas O FANTASMA DO MAIPO
e palácios. Em maio de 1908, em outubro de 1915 com outro No ano de 1950, Luis Cá-
praticamente com o início dos nome: Teatro Esmeralda, como ceres chegava a Buenos Aires à
preparativos do Centenário, e a rua aonde está localizado. Qui- procura de um trabalho e de um
em uma etapa de grande desen- seram fazer uma concorrência lugar para viver. Começou a tra-
volvimento artístico e literário, mais familiar e a novidade foi a balhar no Teatro Maipo como
foram inaugurados dois grandes incorporação de um cinema. maquinista. Lembram seus co-
teatros: o Colón e o Scala. O pri- Durante esses anos, foi ce- legas que ele era muito perfec-
meiro seria o templo da música nário para o debute de atração cionista, chegava pontualmente
clássica e o segundo se conver- variada da dupla Gardel/Razza- e começava seu trabalho sem
teria, com os anos, na Catedral no, com um repertório muito pausa até o m da jornada.
da Revista, o Teatro Maipo. variado. Em 14 de outubro de Um sábado de 1985, depois
No dia 7 de maio de 1908, 1917, estrearam o tango “Lita”, de 35 anos, realizou todas as
começou o teatro aristocrático, logo chamado “Mi Noche Tris- suas tarefas, cumprimentou ao
com a estreia de “La Revue de te”, considerado na história pessoal e, às 18h, se enforcou no
la Scala”. É o terceiro music-hall como o primeiro tango-canção. terraço, enquanto no palco o pú-
em Buenos Aires, depois de Ca- blico batia palmas para alguma
sino e o Royal Music Hall. Os di- ABERTURA obra. Há 15 dias, Cáceres havia
ários o classicavam como aris- Apenas em 1922, o teatro descoberto que sofria de uma
tocrático porque se correspondia recebe o nome de Maipo. Nes- doença terminal. Desde esse dia,
com uma concorrência de públi- sa época, realizou funções a ele se transformou no fantasma
co de alto nível socioeconômico, companhia parisiana Ba-ta-clan. teatral mais famoso do Maipo.
típico da rua Esmeralda. Eram quadros breves de baile, Às vezes, o escutam traba-
O estilo do Scala foi a can- canto e dança, com coristas bas- lhar na sala de máquinas. Da
ção, o diálogo breve e o cancan. tante desvestidas para a época, ocina do quinto andar do
Apresentavam-se operetas, vau- coroadas de penas e brilhantes teatro, Lino Patalano conta:
devilles, revistas breves que alter- falsos. Este espetáculo inspirou “Quando saio ao corredor para
navam com variedades, frente novas ideias estéticas no concei- pegar o elevador, eu não aper-
a um público masculino para o to de Revista portenha. to o botão para chamá-lo. Ele
qual as vedetes insinuavam mui- Em 1944, Luis César Ama- vem sozinho. Ao abrir a porta,
to mais do que mostravam. dori compra o teatro e Pepe eu digo “obrigado Cáceres”.
Em 10 de dezembro de Arias marca como maestro da (Tradução: Pablo Ribera) O Maipo é o berço do tango-canção e abriga o espírito de Luis Cáceres
Aproveite as
férias e conheça
o Brasil.