ARTIGO-Sene, (Aborto)
ARTIGO-Sene, (Aborto)
ARTIGO-Sene, (Aborto)
359
RODRIGUES, H.G.1*; MEIRELES, C.G.2; LIMA, J.T.S.2; TOLEDO, G.P.2; CARDOSO, J.L.2; GOMES, S.L.2 1 Cincias da Sade (UNB), Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros e Faculdades Integradas Pitgoras de Montes Claros (FIP-MOC), Avenida Professora Ada Mainartina Paraso, 80, CEP: 39400-000, Ibituruna-Brasil *[email protected] 2Farmcia das Faculdades Integradas Pitgoras de Montes Claros (FIP-MOC), Avenida Professora Ada Mainartina Paraso, 80, CEP: 39400-000, Ibituruna-Brasil
RESUMO: O uso milenar de plantas medicinais mostrou ao longo dos anos, que determinadas plantas apresentam substncias potencialmente perigosas. Do ponto de vista cientfico, algumas pesquisas mostraram que muitas dessas plantas possuem substncias agressivas e por essa razo devem ser utilizadas com cuidado, respeitando seus riscos toxicolgicos. Os efeitos mais preocupantes do uso indiscriminado de plantas medicinais so embriotxico, teratognico e abortivo, uma vez, que os constituintes da planta podem atravessar a placenta, chegar ao feto e gerar um desses efeitos. Este estudo objetiva fornecer uma listagem das principais plantas medicinais que tenham efeitos embriotxicos, teratognicos e abortivos comprovados, conhecendo as partes da planta utilizadas e seus respectivos nomes cientficos, com a finalidade de alertar gestantes quanto aos riscos de seu uso. Realizou-se buscas nas bases eletrnicas de dados SciELO, PubMed, MEDLINE, LILACS, CAPES e Google acadmico. Nos resultados encontrados, plantas como Arnica (Arnica montana), Artemsia (Artemisia vulgaris), Arruda (Ruta chalepensis/ Ruta graveolens), Barbatimo (Stryphnodendron polyphyllum), Boldo (Vernonia condensata) dentre outras, podem vir a gerar um desses efeitos. A partir deste estudo comprova-se que para a maioria das plantas medicinais no h dados a respeito da segurana de seu uso durante a gravidez. Palavras-chave: plantas medicinais, gestao, teratognico, embriotxico, abortivo ABSTRACT: Embryotoxic, teratogenic and abortive effects of medicinal plants. The ancient use of medicinal plants has shown over the years that certain plants have potentially dangerous substances. From a scientific point of view, some studies have shown that many of these plants contain aggressive substances and therefore should be used with caution, respecting their toxicological risks. The most important effects of the indiscriminate use of medicinal plants are embryotoxic, teratogenic and abortifacient since the plant constituents can cross the placenta, reaching the fetus and leading to one of these effects. This study aimed to provide a list of the major medicinal plants that have proven embryotoxic, teratogenic and abortifacient effects, including the used plant parts and their respective scientific names, in order to warn pregnant women about the risks of its use. Searches were carried out in the electronic databases SciELO, PubMed, MEDLINE, LILACS, CAPES and Google Scholar. Results indicated that plants such as mountain arnica (Arnica montana), mugwort (Artemisia vulgaris), fringed rue (Ruta chalepensis / Ruta graveolens), Barbatimo (Stryphnodendron polyphyllum) and Boldo (Vernonia condensata) are likely to generate such an effect. This study shows that for most medicinal plants there are not data regarding the safety of their use during pregnancy. Key words: medicinal plants, pregnancy, teratogenic, embryotoxic, abortifacient agents
360
INTRODUO A utilizao de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e preveno de doenas uma das mais antigas formas de prtica medicinal da humanidade (Veiga Jnior et al., 2005). No Brasil, essa prtica amplamente difundida e na maioria dos casos, a escolha de uma terapia baseada em plantas medicinais sempre sem orientao mdica. Um dos principais problemas da utilizao destes produtos a crena de que produtos de origem vegetal so isentos de reaes adversas e efeitos txicos (Gallo & Koren, 2001; Clarke, 2007). O uso milenar de plantas medicinais mostrou ao longo dos anos, que determinadas plantas apresentam substncias potencialmente perigosas. Do ponto de vista cientfico, algumas pesquisas mostraram que muitas dessas plantas possuem substncias agressivas e por essa razo devem ser utilizadas com cuidado, respeitando seus riscos toxicolgicos (Veiga Jnior et al., 2005). Os efeitos mais preocupantes do uso indiscriminado de plantas medicinais so teratognico, embriotxico e abortivo, uma vez que os constituintes da planta podem atravessar a placenta, chegar ao feto e gerar um desses efeitos (Brasil, 2002). Para Embiruui et al. (2005), os teratgenos constituem agentes ambientais, qumicos, fsicos e biolgicos, que podem causar anormalidades obsttricas e (ou) fetais. Smithells (1980) define a teratologia como um termo que se refere ao ramo da cincia mdica preocupado com o estudo da contribuio ambiental ao desenvolvimento pr-natal alterado. A ao teratognica sobre o embrio ou feto em desenvolvimento depende de diversos fatores, destacando-se o estgio de desenvolvimento do concepto, a elao entre dose e efeito, gentipo materno fetal e mecanismo patognico especfico de cada agente (Schler-Faccini et al., 2002). Acredita-se que a exposio planta durante a gravidez seja somente responsvel por cerca de 1% das malformaes fetais. Embora essa porcentagem parea pequena, os numerosos totais so expressivos. O estudo das aes das drogas sobre diversas fases do processo reprodutivo visa detectar os efeitos da fertilidade, transporte, embriognese e organognese, parto e recm-nascido. O risco teratolgico existe durante todo perodo gestacional, no entanto maior na fase de embriognese, quando ocorrem diferenciao tecidual e organognese. ainda possvel que o desenvolvimento no perodo ps-natal possa sofrer alteraes estruturais e metablicas, a custa de substncias utilizadas no perodo pr-natal (Araujo, 1998). O efeito teratognico da droga deve ser devido potente ao uterotnica, promovendo um dficit transitrio na circulao fetal que, a depender da intensidade do fenmeno vascular, do seu tempo de atuao e do momento de ocorrncia, pode ocasionar
um grande espectro de anomalias congnitas (Fonseca et al . ,1991; Pastusazk et al., 1997). Apoiando este ponto de vista, Moreira et al. (2001) observam que vrios fatores, tais como a absoro, metabolismo e distribuio maternos, transferncia placentria e metabolismo fetal, interferem na suscetibilidade a um teratgeno potencial e so caractersticas nicas para cada par me/filho em funo da heterogeneidade gentica. A embriotoxidade se refere perturbao no desenvolvimento embrionrio ou fetal, a custa de dosagens que no afetam o organismo materno. A embrioletalidade observada aps administrao de doses txicas para a me deve ser considerada como efeitos txicos gerais da planta. A reao do embrio aos agentes exgenos depende em grande parte da constituio gentica do mesmo (Araujo, 1998). O aborto a interrupo da gravidez pela morte do embrio ou feto, junto com os anexos. Os mdicos obstetras consideram o aborto at a 22a semana de desenvolvimento humano, aps esse perodo, a interrupo da gravidez considerada parto prematuro, e se houver bito do feto, este considerado natimorto. Sendo assim, at os cinco meses e meio de desenvolvimento humano, a eliminao do feto considerada prtica de aborto; dos cinco meses e meio em diante um parto prematuro. Mas a maioria dos abortos ocorre bem antes da 22a semana do desenvolvimento (Hardy et al., 1994). O aborto um mtodo muito antigo de controle de natalidade, praticado em todas as civilizaes. Embora seja reconhecido em diversos pases, proibido em quase toda a Amrica Latina, o que no impede a prtica no Brasil, com nmero prximo a meio milho por ano, dos quais apenas 5% so permitidos pela lei (Farias et al.,1975). Entre os recursos abortifacientes mais comumente utilizados esto os chs e infuses de plantas medicinais. Existem tambm controvrsias sobre o efeito teratognico das ervas medicinais, no apenas pela falta de comprovao cientfica, mas tambm pelas interaes com outros remdios e a procedncia dessas ervas (Moreira et al., 2001). Dessa forma, o uso indiscriminado de plantas medicinais por gestantes um problema de sade pblica, uma vez que as gestantes fazem o uso de plantas medicinais sem saber os possveis efeitos causados por esse tipo de terapia. Vale destacar que, nesta reviso, o enfoque na clientela gestante justifica-se pelo fato de este perodo na vida da mulher exigir cuidados especiais, principalmente no primeiro trimestre de gestao. Diante da necessidade de se conhecer as plantas que poderiam causar efeitos embriotxico, teratognico ou abortivo, torna-se indispensvel realizao dessa reviso que tem como objetivo levantar informaes sobre plantas e
361
os possveis efeitos teratognicos, embriotxicos e abortivo, que podem gerar riscos s gestantes. As buscas foram realizadas nas bases eletrnicas de dados SciELO, PubMed, MEDLINE, LILACS, CAPES, Google acadmico e Google. Este ltimo se mostrou muito eficiente utilizando as palavras-chave (teratognico, embriotxico, abortivo, nome popular e cientfico da planta) com o termo pdf aps a digitao das mesmas. Os critrios de incluso eram artigos publicados recentemente; alguns artigos clssicos sem considerar a data de publicao; plantas selecionadas e que possuam referncias bibliogrficas. J os critrios de excluso eram artigos que no abordavam as idias principais a serem exposta no artigo; plantas que foram excludas por no apresentar referncias bibliogrficas. Plantas medicinais com potencial embriotxico, teratognico e abortivo A utilizao de espcies v egetais normalmente so para fins teraputicos conhecidos a partir de ditos populares e que em alguns casos h comprovao cientfica. O que pouco se sabe que essas mesmas plantas utilizadas para f ins teraputicos podem apresentar efeitos que so desconhecidos e que podem gerar transtornos para gestantes. O uso dessas plantas pelas gestantes, deve seguir rigorosamente os mesmos cuidados dos medicamentos alopticos, ou seja, sempre com o conhecimento mdico prvio, j que, pde-se observar em achados literrios o f ator embriotxico, teratognico e abortivo de muitas espcies. A associao entre plantas e ef eito teratognico ou embriotxico escassa, entretanto, a relao entre plantas e efeito abortivo mais freqente. A Tabela 1 mostra a relao de 16 plantas com efeito abortivo; 7 plantas com efeito embriotxico; 11 plantas com efeito teratognico. O critrio utilizado para organizao da tabela foi ordem alfabtica para o nome vulgar das plantas. Dentre as plantas encontradas com efeitos comprovados, as partes comumente utilizadas so folhas, frutos, cascas dos galhos, flores e razes variando de planta para planta e de acordo com sua constituio. Os resultados encontrados para o perodo a ser evitado e a dosagem foram a partir de pesquisas realizadas em animas mais especificadamente, ratas Wistar, sendo que os perodos a serem evitados mais frequentes foram pr-implantao, ps-implantao e organognese observados nesses animais. J as doses que poderiam provocar o efeito, variaram de 0,500 a 7000 mg kg-1 dia-1, alm de depender da concentrao que encontra-se a substncia derivada da planta. O perodo de pr-implantao compreende
o perodo de 0-16 dias de gestao em humanos (Rang et al., 2004), na qual ocorre a diferenciao celular e conseqente formao do blastocisto (Mello, 2000). A fase que antecede a implantao, fase primplantao, representa um perodo de autonomia relativa do embrio. Nesta fase o embrio no depende apenas da circulao materna, mas necessita de secrees tubrias para sua manuteno e desenvolvimento e ainda de secrees autcrinas (Oneill, 1998). Na fase de pr-implantao, o embrio parece estar susceptvel letalidade do que a teratogenicidade. Durante essa fase, perodo entre a concepo e a implantao, o blastocisto parece ser muito sensvel a aes de substncias qumicas, resultando em nenhum efeito ou morte do blastocisto (WHO, 1984). Mello (2000) afirma que o perodo de organognese o que compreende a formao definitiva dos rgos, que ocorre normalmente no perodo de 17-60 dias de gestao em humanos. O perodo de ps-implantao ou perodo de histognese e maturao funcional compreende o perodo aps 60 dias de gestao em humanos (Rang et al., 2004). Para Veiga Jnior et al. (2005), a anglica (Angelica archangelica), sucuba ( Himathantus sucuuba), alecrim (Rosmarinus officinales), arnica (Arnica montana), cnfora (Cinnamomum canphora), conf rei ( Symphytum officinale L.), eucalipto (Eucaliptus globulus) e sene (Cassia angustifolia e Cassia acutifolia) so abortivos, pois podem estimular a motilidade uterina e provocar aborto. A anglica utilizada como anti-coagulante e a cnfora tem largo uso como anti-sptico e sedativo em problemas genitais e urinrios; a sucuba usada no combate amebase, lcera e gastrite. O alecrim apresenta propriedades estimulantes, antioxidantes, antiespasmdicas, anti-spticas, antifngicas e antibacterianas (Joly, 1993; Porte & Godoy, 2001; Sartoratto et al., 2004; Adigzel et al., 2005). A arnica utilizada topicamente em contuses, entorces, hematomas, distenses musculares, flebites, artrites; o confrei utilizado em lceras de difcil cicatrizao, psorase, cicatrizao de queimaduras, fissuras; o sene utilizado como purgativa e laxativa (Londrina, 2006). O uso do Eucaliptus globulus (eucalipto) especialmente eficaz no tratamento de inflamaes pulmonares e mucosidade excessiva (Lavabre, 2001). Estudos realizados com ratas wistar prenhas mostraram que arruda (Gonzales et al., 2006), barbatimo (Vitral et al., 1987), cambar (Mello et al., 2005), chapu-de-couro (Toledo et al., 2004b), falso boldo (Almeida & Lemonica, 2000), vidreira (Chan & NG, 1995), Rhazya stricta (Rasheed et al., 1997) e Senecio latifolius (Steenkamp et al . , 2001) apresentam efeitos que podem ser prejudicial a gestante e o concepto. A arruda (Ruta graveolens) possui atividade anti-helmntica, anti-hemorrgica,
362
TABELA 1. Relao de plantas embriotxicas, teratognicas e abortivas comumente utilizadas pela populao.
Nome vulgar Nome cientfico Efeito Parte usada Dosagem Perodo a ser evitado Referncias Joly, 1993; Porte & Godoy, 2001; Sartorato et al., 2004; Adiguzel et al., 2005 Veiga Junior et al. , 2005 Londrina, 2006; Veiga Junior et al. , 2005
Alecrim
Abort ivo
Anglica Arnica
Arruda
Folhas
10 mg k g-1 dia-1
Matos, 2000; Ps-implantao Sousa et al., 2004; Gonzales et al., 2006 Tigno et al., 2000; Tigno & G umila, 2000; Nacul et al., 2001; Calliari, 1998; Bortolini & Martin, 2001 Vitral et al.,1987 Monteiro et al., 2001 Newall et al., 1996; Mengue et al., 2001; Almeida et al., 2000 Mengue et al., 2001; Schenkel et al., 2003; Matos, 2000; Sousa et al., 2004 Veiga Junior et al., 2005 Seawrigth, 1965; Sharma et al., 1988; Mello et al., 2005
Artemsia
Artemsia v ulgaris
Folhas
6000 mg kg dia-1
-1
Organognese
Sementes Folhas
Peumus boldus
Folhas
Luffa operculata
Frutos
Casca Folhas
Psimplantao
Abort ivo
Folhas
1 mL dia -1
Primplantaco at Toledo et al., 2004b organognese Londrina, 2006; Veiga Junior et al., 2005 Souza-Formigoni et al., 1991; Jorge et al., 2004; Montanari & Bevilacqua, 2002 Veiga Junior et al. , 2005; Lavabre, 2001
Abort ivo
Folhas
Espinheira Sant a
Abort ivo
Folhas
Primplantao
Eucalipto Falso Boldo Gengibre Ginseng brasileiro Hortel Ip Roxo ou Quina Verdadeira Q uebra Pedra Sene
Almeida & Lemonica, 880 mg kg- 1 dia -1 Pr-mplanta o 2000 1000 mg kg-1 dia- 1 1 mL dia -1 11 s emanas gestacionais Conover, 2003
Teratognico
Raiz
Primplantao at Toledo et al., 2004a organognese Vieira, 1992; Navarro, 2000 Matos, 2002; Navarro, 2000
Folhas
Tabebuia impetiginosa
363
TABELA 1. Relao de plantas embriotxicas, teratognicas e abortivas comumente utilizadas pela populao.
... continuao
Nome ci entfico
Efeito
Parte usada Folhas, flores e f rutos Folhas Folhas Razes secas Folhas Caules e folhas
Dosagem
Referncias Matos, 2002; Sousa et al., 2004 Londrina, 2006; Veiga Junior et al., 2005;
Phyllanthus amarus Cassia angustifolia / Cas sia ac utifolia Himat hantus sucuuba Tripterygium wilfordii
Abort ivo
Abort ivo Abort ivo Teratognico Embriot xico Embriot xico Teratognico Teratognico
Veiga Junior et al., 2005; Zhang, 1992; Chan & NG , 1995 Rasheed et al.,1997; Wasfi, 1994 Steenkamp et al. , 2001
Rhazy a stricta
Senecio latifoliu
abortiva, carminativa, antiespamdica e estimulante. Indicada para reumatismo, hipertenso e verminoses. Contra indicada durante a gravidez, pois exerce fortes contraes no tero (Matos, 2000; Sousa et al., 2004). Alm disso, estudos comprov aram o efeito embriotxico e teratognico a partir do extrato aquoso das folhas de Arruda (Ruta chalepensis) no perodo de ps-implantao (Gonzales et al., 2006). J o Barbatimo (Stryphnodendron polyphyllum) apresenta atividade antioxidante e antimicrobiana (Soares et al., 2002). As sementes do barbatimo (Stryphnodendron polyphyllum) foram testadas em ratas grvidas na qual encontrou-se diminuio do peso dos ovrios e do peso e medidas dos corpos lteos gravdicos das ratas. A partir de ento, acredita-se que o efeito do barbatimo ocorra atravs de alteraes da zona basal da placenta, acarretando a morte embrionria e atrofia do corpo lteo (Vitral et al., 1987). Mello et al. (2005) afirmam que o cambar (Lantana camara) apresenta atividade embriotxica. utilizado para fins antipirticos, antimicrobianos e antimutagnicos (Seawrigth, 1965; Sharma et al., 1988). A planta chapu-de-couro (Echinodorus macrophyllus) utilizada na medicina popular para tratamentos de doenas renais, reumatismo, afeces cutneas e problemas do fgado. Em ensaios realizados com extratos aquosos de chapude-couro em ratas, comprovou-se que os fetos apresentaram hepatomegalia branda, pontos hemorrgicos pelo corpo, pele viscosa. Um tero encontrava-se desprovido de fetos e preenchido com um lquido semelhante ao amnitico comprovando seu efeito abortivo (Toledo et al., 2004b). O efeito abortivo do falso boldo (Coleus barbatus) foi comprovado em estudo realizado no perodo de pr-implantao cujo efeito anti-implantao e desenvolvimento retardado
(Almeida & Lemonica, 2000). O falso boldo utilizado para o tratamento de problemas digestivos (Fischman et al., 1991). Chan & Ng (1995) afirmam que a vidreira (Tripterygium wilfordii) embriotxica. potencialmente til para doenas como lpus eritematoso sistmico ou sndrome nefrtica como afirma estudos farmacolgicos utilizando animais (Zhang et al., 1992). Para Rasheed et al. (1997) a Rhazya stricta apresenta efeitos embriotxicos ou teratognicos, entretanto, a incidncia de malformaes como micromelia, hipoplasia maxilomandibular e edema, no fizeram alcance estatstico significativo, e ainda, a mesma usada no tratamento de diabete mellitus, condies inflamatrias, helmintases e possui atividade microbiana. E o Senecio latifolius uma planta usada no tratamento de queimaduras e f erimentos. Os alcalides pirrolizidnicos presente nesta planta, pode estar relacionado ao efeito teratognico provocado por esta planta (Steenkamp et al., 2001). A atividade antiinflamatria exercida tanto pela artemsia (Artemisia vulgaris) (Tigno et al., 2000) quanto pela espinheira santa (Maytenus ilicifolia) (Souza-Formigoni et al., 1991; Jorge et al., 2004). Alm disso, a artemsia pode apresentar efeito antihipertensivo (Tigno et al., 2000; Tigno & Gumila, 2000), digestivo, antiespasmdico, anti-helmntico, reguladora da menstruao e provocar aborto (Ncul et al., 2001). Entretanto, quando as doses ingeridas so insuficientes para interromper a gestao, podem resultar em toxicidade para a gestante e o concepto (Calliari, 1998) ou em alteraes no desempenho reprodutiva materna (Bortolini & Martin, 2001). A espinheira santa ( Maytenus ilicifolia ) alm de antiinflamtria, tem ao antiulcerognica e
364
antinoniceptiva (Souza-Formigoni et al., 1991; Jorge et al., 2004). Extratos hidroalcolicos de espinheira santa mostraram-se abortivos por atuarem no perodo de pr-implantao dos embries no tero (Montanari & Belilacqua, 2002). A plantas utilizadas para fins digestivos so boldo (Monteiro et al., 2001), boldo do Chile (Newall et al., 1996) e gengibre (Zingiber officinale). O extrato aquoso de folhas de boldo (Vernonia condensata) indicado para tratamento da desordem gastrintestinal, enxaqueca, diarria e alm de possuir propriedades analgsicas. Possui baixa toxicidade e nenhuma evidncia mostra risco de teratogenicidade ou mutagenicidade, entretanto o nico efeito txico era um lev e retardo de crescimento f etal ou embriotoxidade (Monteiro et al., 2001). O boldo do Chile (Peumus boldus) indicado para hepatites, dispepsias hiposecretoras, mal estar, afeces do fgado e da vescula, clculo biliar, diarria, digesto, febre, fraqueza orgnica, gota, insnia, m-flatulncia, previne ictercia, priso de ventre, problemas diurticos, reumatismo, uria (Newall et al., 1996). O Boldo do chile teratognico (Mengue et al., 2001) e estudos tm demonstrado ao abortiv a e teratognica (Almeida et al., 2000). Alm atuar com auxlio digestivo, o gengibre (Zingiber officinale) utilizado como estimulante, diurtico e antiemtico. Estudo realizado em ratos com 11 semanas de gestao obteve-se resultados teraputicos que incluam abortos, alm disso, encontraram associao entre exposio pr-natal e aumento da perda fetal (Conover, 2003). Segundo Navarro (2000), o ip roxo (Tabebuia sp.) e hortel (Mentha piperita) possuem efeito teratognico. Foram encontrados ensaios-clnicos confirmando a atividade antineoplsica do Ip Roxo (Matos, 2002). J a hortel indicada para distrbios gastrintestinais, vermfugo (giardase e amebase), gases, analgsica, anti-sptica, antiespasmdica, antiinflamatria, tnica, problemas respiratrios (Vieira, 1992). Quebra-pedra (Phyllanthus amarus) no pode ser utilizada durante a gravidez, pois possui princpios ativ os que atravessam a barreira placentria, podendo provocar aborto, e essas substncias tambm podem ser excretadas no leite materno (Matos, 2000; Souza et al., 2004). A quebrapedra (Phyllanthus amarus) possui propriedades diurtica, hipoglicemiante, antiespasmdica, litoltica, colagoga (Londrina, 2006). Muito comercializada para rinite e sinusite a bucha paulista ou cabacinha ( Luffa operculata) (Mengue et al., 2001; Schenkel et al., 2003) possui substncias denominadas cucurbitacinas responsveis pelas aes embriotxicas e abortivas, podendo causar hemorragia grave ou at mesmo a morte (Matos, 2000; Sousa et al., 2004). Ginseng (Pfaffia glomerata spreng) que utilizado para fins
afrodisacos, calmante, contra lcera e hipoglicemica. Em ensaios realizados com esta planta, foi possvel observar malformaes externas viscerais e esquelticas, provocando mudanas estruturais que podem prejudicar o desenvolvimento dos fetos, observou-se tambm atraso no desenvolvimento fetal em relao a fetos controle (Toledo et al., 2004a).
CONCLUSO Este estudo verificou que para a maioria das plantas medicinais no h dados a respeito da segurana de seu uso durante a gravidez. Os dados existentes so escassos e muitas v ezes contraditrios. Dessa forma, a principal orientao para as mulheres grvidas no utilizar qualquer medicamento, seja ele de origem vegetal ou no, sem o conhecimento prvio do seu mdico, j que, pdese observar em achados literrios o fator embriotxico, abortivo e teratognico em algumas espcies. Outro dado que se comprova que algumas plantas que apresentam efeito abortivo podem apresentar efeito embriotxico ou teratognico, isto , se alguma planta vier a ser utilizada com finalidade de interrupo da gestao e esse fato no se consumar, a criana pode vir a nascer com problemas como malformao tanto de membros quanto de rgo e ou problemas relacionados a sade.
Aos profissionais da rea de sade cabe informar s mulheres o risco da utilizao de plantas medicinais e fitoterpicos durante a gravidez, chamando ateno para o perigo potencial da automedicao e das conseqncias associadas a ele. Se o emprego destes produtos se fizer necessrio, que seja pelo menor perodo de tempo possvel. Em todos os casos, indispensvel uma anlise detalhada da situao da paciente e uma avaliao da relao risco-benefcio para a futura me e feto.
REFERNCIA
ADIGZEL A. et al. Antimicrobial effects of Ocimum basilicum (Labiatae) extract. Turkish Journal of Biology, v.29, p.155-60, 2005. ALMEIDA, F.C.G.; LEMONICA, I.P. The toxic effects of Coleus barbatus B. on the different periods of pregnancy in rats. Journal of Ethnopharmacology, v.73, p.53-60, 2000. ALMEIDA, E.R.; MELO, A.M.; XAVIER, H. Toxicological evaluation of the hydro-alcohol extract of the dry leaves of Peumus boldus and boldina in rats. Phythoterapy Research, v.14, p.99-102, 2000. ARAUJO, R.C. Estudo toxicolgico das drogas. Correlao clinicopatologia. In: SILVA, P. Farmacologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. Cap.20, p.131-50. BORTOLINI, C.E.; MARTIN, M.R.C. Performance reprodutiva de ratas tratadas com o extrato aquoso de
365 Artemsia vulgaris Linne, durante a gestao In: MOSTRA DE INICIAO CIENTFICA, 11., 2001, Passo Fundo. Resumo... Passo Fundo: UPF, 2001. p.59. BRASIL. Resoluo SES no1757, de 18 de fevereiro de 2002. Contra-indica o uso de Plantas Medicinais no mbito do Estado do Rio de Janeiro e d outras providncias. Dirio Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 20 fev. 2002, v.27, n.33. Parte I. CALLIARI, M.R.T. Effects of prenatal exposure to restraint stress and monocrotophos on behavioral and physical development in the rat. Genetics and Molecular Biology, v.21, n.3, p.171-178, 1998. CHAN, W.Y .; NG, T.B. Adverse effect of Tripterygium wilfordii extract on mouse embryonic development. Contraception, v.51, p.65-71, 1995. CLARKE, J.H.R.; RATES, S.M.K.; BRIDI, R. Um alerta sobre o uso de produtos de origem vegetal na gravidez. Infarma, v.19, n.1/2, p.41-8, 2007. CONOVER, E.A. Herbal agents and over-the-counter medications in pregnancy. Best Practice & Research Clinical Endocrinology and Metabolism, v.17, n.2, p.23751, 2003. EMBIRUUI, E.K. et al. Risco teratognico: a percepo em diferentes segmentos da populao. Revista de Cincias Mdicas e Biolgicas, v.4, n.3, p.201-7, 2005. FARIAS, F.; SATURNINO, J.; NASCIMENTO, N. Aborto provocado : condies scio-econmicas e culturais. Programa de Reproduo Humana. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1975. 102p. FISCHMAN, L.A. et al. The water e extract of Coleus barbatus Benth. decrease gastric secretion in rats. Memrias do Instituto Oswaldo Cruz, v.86, n.2, p.1413,1991. FONSECA, W . et al. Misoprostol and congenital malformations. The Lancet, v.338, n.2, p.56, 1991. GALLO, M.; KOREN, G. Can herbal products be used safely during pregnancy? Focus on Echinacea. Canadian Family Physician, v.47, p.1727-8, 2001. GONZALES, J.R. et al. Efecto embriotxico y teratognico de Ruta chalepensis L. ruda, en ratn (Mus musculus). Revista Peruana Biologia, v.13, n.3, p.223-5, 2006. HARDY, E. et al. Caractersticas atuais associadas histria de aborto provocado. Revista Sade Pblica, v.28, n.1, p.82-5, 1994. JOLY, A.B. Botnica : introduo taxonomia vegetal. 11.ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1993. 777p. JORGE, R.M. et al. Evaluation of antinociceptive, antiinflammatoryand antiulcerogenic activities of Maytenus ilicifolia. Journal Ethnopharmacology, v.94, n.1, p.93-100, 2004. LAVABRE, M. Aromaterapia : a cura pelos leos essenciais. 5.ed. Rio de Janeiro: Record Editora Nova Era, 2001. p.18-89. LONDRINA. Prefeitura do Municpio. Autarquia Municipal de Sade. Fitoterapia: protocolo. Londrina, 2006. MATOS, F.J.A. Plantas medicinais: guia de seleo e emprego de plantas usadas em fitoterapia no nordeste do Brasil. 2.ed. Fortaleza: Editora UFC, 2000. 344p. MATOS, F.J.A. Farmcias vivas: sistema de utilizao de plantas medicinais proj eto para pequenas comunidades. Fortaleza: EUFC, 2002. 267p. MELLO, F.B. et al. Effects of Lantana camara (Verbenaceae) on general reproductive performance and teratology in rats. Toxicon, v.45, p.459-66, 2005. MELLO, R.A. Embriologia humana. So Paulo: Editora Atheneu, 2000. p.37-97. MENGUE, S.S.; MENTZ, L.A.; SHENKEL, E.P. Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira Farmacognosia, v.11, p.21-35, 2001. MONTANARI, T.; BEVILACQUA, E. Effect of Maytenus ilicifolia Mart. on pregnant mice. Contraception, v.65, n.2, p.171-5, 2002. MONTEIRO, M.H.D. et al. Toxicological evaluation of a tea from leaves of Vernonia condensata. Journal of Ethnopharmacology, v.74, n.2, p.149-57, 2001. MOREIRA, L.M.A. et al. Associao entre o uso de abortifacientes e defeitos congnitos. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrcia, v.23, n.8, p.517-21, 2001. NCUL, A.P.; CALLIARI-MARTIN, M.R.; CECHETTI, D. Uso de plantas medicinais com finalidade abortiva na periferia de Passo Fundo. In: MOSTRA DE INICIAO CIENTFICA DA UPF, 11., 2001, Passo Fundo. Resumo... Passo Fundo: UPF, 2001. p.55. NAVARRO, M.C.M. Uso racional de las plantas medicinales. Pharmaceutical Care Espana, v.2, p.9-19, 2000. NEWALL, C.A.; ANDERSON L.A.; PHILLIPSON, J.D. Herbal medicines: a guide for healthcare professionals. London: Pharmaceutical Press, 1996. p.145-50. ONEILL, C. Autocrine mediators are required to act on the embryo by the 2-cell stage to promote normal development and sulvival of mouse preimplantecion embryos in vitro. Biology and Reproduction, v.58, p.13039,1998. PASTUSAZK, A.L. et al. Misoprostol use during pregnancy is associated with increased risk for Mobius sequence. In: MEETING OF THE TERATOLOGY SOCIETY, Londres, 1997. Teratology - The Journal of Abnormal Development. New York : Wiley-Liss, 1997. p.36. PORTE, A.; GODOY , R.L.O. Alecrim (Rosmarinus officinalis L.): propriedades antimicrobiana e qumica do leo essencial. Boletim Centro de Pesquisa de Processamento de Alimentos , v.19, n.2, p.193-210, 2001. RANG, H.P. et al. Efeitos nocivos dos frmacos. In: RANG, H.P. et al. Farmacologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2004. p.825-56. RASHEED, A.R. et al. Effect of Rhazya strzcta on the developing rat fetus. Reproductive Toxicology, v.11, n.2, p.191-9, 1997. SARTORATTO, A. et al. Composition and antimicrobial activity of essential oils from aromatic plants used in Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v.35, n.4, p.27580, 2004. SCHLER-FACCINI, L. et al. Avaliao dos teratgenos na populao brasileira. Cincia & Sade Coletiva, v.7, n.1, p.65-71, 2002. SEAWRIGTH, A.A. Toxicity for the Guinea pig of an extract of Lantana camara. Journal of Comparative Pathology, v.75, p.215-21, 1965. SHARMA, O.P.; MAKKAR, H.P.S.; DAWRA, R.K. A review of the noxious plant Lantana camara.Toxicon, v.26, n.11, p.975-87, 1988. SCHENKEL, E.P. et al. Plantas txicas. IN: SIMES, C.M.O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento.
366 5.ed. Porto Alegre/Florianpolis: Editora da UFRS/UFSC, 2003. p.959-93. SMITHELLS, R.W . The challenges of teratology. Teratolology, v.22, p.77-85, 1980. SOARES, J.DH . et al. Atividade tripanocida in vivo de Stryphnodendron adstringens (barbatimo) e Caryocar brasiliensis (pequi). Revista Brasileira de Farmacognosia, v.12, p.1-2, 2002. SOUSA, M.P. et al. Constituintes qumicos ativos e propriedades biolgicas de plantas medicinais brasileiras. 2.ed. Fortaleza: Editora UFC, 2004. 448p. SOUZA-FORMIGONI, M.l.O. et al. Antiulcerogenic effects of two Maytenus species in laboratory animals. Revista Brasileira de Famacognosia, v.34, p.21-7, 1991. STEENKAMP, V. et al. The effect of Senecio latifolius a plant used as a South African traditional medicine, on a human hepatoma cell line. Journal of Ethnopharmacology, v.78, n.1, p.51-8, 2001. TIGNO, X.T.; GUMILA, E. In vivo microvascular actions of Artemisia vulgaris L. in a model of ischemia-reperfusion injury in the rat intestinal mesentery. Clinical Hemorheology and Microcirculation, v.23, n.2/4, p.159-65, 2000. TIGNO, X.T.; DE GUZMAN, F.; FLORA, A.M. Phytochemical analysis and hemodynamic actions of Artemisia vulgaris L. Clinical Hemorheology and Microcirculation, v.23, p.167-75, 2000. TOLEDO, M.R.S. et al. Extratos aquosos de Pfaffia glomerata S . e seu efeito txico em ratas prenhes, Revista Horticultura Brasileira, v.22, n.2, p.493, 2004a. TOLEDO, M.S. et al. Comparao da Fitotoxicidade dos extratos aquosos de Echinodorus macrophyllus (Kunt) Mich. em ratas prenhes. Revista Horticultura Brasileira, v.22, n.2, p.493, 2004b. VEIGA JNIOR, V.F.; PINTO, A.C.; MACIEL, M.A.M. Plantas medicinais: cura segura? Qumica Nova, v.28, n.3, p.51928, 2005. VIEIRA, L.S. Fitoterapia da Amaznia: manual de plantas medicinais (a Farmcia de Deus). 2.ed. So Paulo: Editora Agronmica Ceres, 1992. 347p. VITRAL, G.S.F.; PETERS, V.M.; GUERRA, M.O. Mecanismos da ao embritoxica do barbatimo (Stryphnodendron polyphyllum M.). Reproduo & Climatrio, v.3, p.222-6, 1987. W ASF, L.A. The effect of Rhazya stricta on glucose homeostasis in normal and streptozototin diabetic rats. Journal of Ethnopharmacology, v.43, p.141-7,1994. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Principles for evaluating health risks to progeny associated with exposure to cheminicals during pregnancy. Geneva: WHO, 1984. ZHANG, X.Y. et al. Prolonged survival of MRL-lpr/lpr mice treated with Tripterygium wilfordii Hook F. Clinical Immunology and Immunopathology, v.62, n.1, p.6671,1992.