Obsessão Amorosa
Obsessão Amorosa
Obsessão Amorosa
Resumo: O tema obsesso amorosa muito discutido na mdia da atualidade, contudo no uma novidade, a primeira vez foi divulgada, em 1761, por John D. Moore em seu livro, confundindo amor com obsesso (Confusing Love With Obsession); Atravs de uma reviso de literatura, e sob uma tica psicanaltica, este artigo, procurou analisar a obsesso amorosa dentro da psicanlise, destacando seus sintomas, causas e possveis tratamentos, tendo como publico alvo s mulheres. Palavras-chave: Obsesso Amorosa. Fases Psicossexuais. Neurose Histrica Summary: The theme of love addiction is much discussed in the media today, however is not new, the first was published in 1761 by John D. Moore in his book, confusing love with obsession (Confusing Love With Obsession) Through a literature review, and under a psychoanalytic perspective, this article attempts to analyze the love addiction within psychoanalysis, highlighting its symptoms, causes and possible treatments, having as a target audience of women. Keywords: Obsession Amorosa. Psychosexual stages. Hysterical neurosis.
INTRODUO
O conceito de personalidade ainda algo em construo, embora se tenha vrias definies a respeito desta, h quem defina personalidade como a eficincia que um indivduo tem para produzir reaes positivas nas pessoas, outras avaliam personalidade como a impresso que o indivduo causa nas outras, e h os que defendem que personalidade o conjunto de caractersticas internas que causam um comportamento e que proveniente de experincias individuais de cada um. De forma geral, esse artigo veio caracterizar a obsesso amorosa, segundo o vis psicanaltico, em diferentes pocas, h comear por Freud o fundador da psicanlise, at os psicanalistas atuais, mas sempre retomando os conceitos para Freud; para tanto esse artigo foi elaborado com base em pesquisas feitas a partir de documentos j publicados, como artigo, livros,
internet, peridicos na Universidade Estadual do Piau. Com intuito de facilitar tal compreenso sobre o assunto Esta pesquisa tem um grande interesse social devido quantidade de casos existentes e a popularizao do assunto devido evidenciao da mdia onde a populao tomou conscincia de que s vezes, amar exageradamente pode sim ser uma doena e com isto houve um aumento considervel de pessoas procurando ajuda por identificarem-se com as caractersticas deste transtorno. Os benefcios dessa pesquisa so esclarecer a populao sobre o conceito de obsesso amorosa, fatores desencadeantes, diferenciar a neurose obsessiva da neurose histrica, quais suas caractersticas e as formas de tratamento dentro do contexto psicanaltico.
1. Personalidade
O ser humano desenvolve-se em um meio scio cultural, e nesse meio que ele vai desenvolver sua personalidade. Personalidade essa que no comeo da vida do indivduo ser aprendida mais com o passar do tempo ela ser moldada pelo prprio sujeito. Tericos de vrias abordagens psicolgicas deram suas colaboraes para a formao de um conceito para a personalidade, porm ainda no se definiu um conceito exato para a personalidade, j que esta muito abrangente. Gardner conceitua personalidade como sendo a eficincia em produzir reaes positivas em diversas pessoas e em diferentes situaes; mais tambm a impresso que o indivduo causa em outras pessoas, podendo-se falar em personalidade agressiva, personalidade passiva e personalidade tmida. (HALL E LINDZEY, 2000). O conceito formulado por Gardner mais um dos mais populares, devido ao contedo, pois consegue conceituar de uma forma simples e ao mesmo tempo totalizadora. Alport classifica o conceito de personalidade segundo uma concepo biossocial e biofsica: o biossocial corresponde ao conceito de popular, onde a personalidade entendida em termos de importncia social, um exemplo quando se diz que o indivduo caridoso; j a concepo biofsica, a personalidade apresenta um aspecto aparente e pode estar ligada a qualidades especficas do indivduo, um exemplo dizer que o sujeito alegre. (ALPORT, 1966).
Pode-se entender personalidade como sendo um conjunto de caractersticas que so constitudas de acordo com o meio social e as experincias de cada um; o que ordena o comportamento do indivduo; pode ser definida como um conjunto de caractersticas psicolgicas que determinam a forma de pensar e agir do indivduo. A formao da personalidade particular de cada um. Ha vrias teorias psicolgicas que explicam a personalidade, dentre elas esto psicanlise, a gestalt terapia, o humanismo e o behaviorismo. Para a Freud a personalidade forma-se aos quatro ou cinco anos j para Piaget, ela comea a se formar somente entre os oito e doze anos de idade.
2. Estrutura da personalidade
Segundo Freud, a personalidade composta por trs estruturas, sendo elas: id (isso), ego (eu), superego (super-eu). Cada estrutura possui sua funo e juntas integram e contribuem para o perfeito funcionamento do aparelho psquico, sendo assim, no h uma estrutura mais importante que a outra. (CALVIN, 2000) O id o sistema original da personalidade e formado pelos impulsos herdados desde o nascimento, inclusive os instintos, sendo assim ele no tem noo da realidade objetiva. O id no tolera aumento de energias e por isso regido pelo princpio do prazer, princpio este, que busca manter um nvel de conforto constante e uma baixa energia e entra em ao sempre que o id est em desconforto devido ao aumento de tenso. (HALL & LINDZEY, 2000). O ego regido atravs do Principio da realidade e opera atravs da funo secundria; ele a parte racional da personalidade, ele quem controla quais os instintos sero satisfeitos e de que forma sero satisfeitos. Seu papel principal o de intermedirio entre as exigncias pulsionais do organismo e as condies do ambiente. Seus objetivos consistem em manter a vida do indivduo e garantir a reproduo da espcie. (HALL & LINDZEY, 2000). Para Jung o ego o centro da conscincia; ele fornece um sentido de consistncia e direo em nossas vidas conscientes e contrapem-se a qualquer coisa que ameace essa consistncia. Somos levados a crer que o ego o elemento central de toda psique e chegamos a ignorar sua outra metade, o inconsciente. (NICOLAU, 2007)
O superego funciona como uma arma moral da personalidade, nele esto contidos os padres morais da sociedade, sendo assim, tem como uma de suas principais funes a preocupao em decidir se alguma coisa certa ou errada, ele luta constantemente contra os desejos imprprios e procura sempre a perfeio. Hall e Lindzey afirmam em seu livro: As principais funes do superego so inibir os impulsos do id, particularmente os de natureza sexual e agressiva; e persuadir o ego a substituir os alvos moralistas por alvos realistas; e por fim ele dizia que o superego tinha por funo lutar pela perfeio, ele faz do mundo o reflexo de sua imagem. Ao contrrio do ego o superego no somente adia a gratificao do instinto, mas ele tenta bloque-lo permanentemente. (HALL & LINDZEY, 2000, p.28)
3. Desenvolvimento psicossexual
O desenvolvimento psicossexual do indivduo para Freud o padro de desenvolvimento possui carter universal e necessrio no desenvolvimento da sade mental. Segundo Freud, os estgios psicossexuais so divididos em quatro fases: fase oral, fase anal, fase flica e a fase genital; os trs primeiros estgios psicossexuais acontecem nos primeiros cinco anos de vida, depois acontece o chamado perodo de latncia, onde h uma estabilidade (onde nada acontece) aps esse perodo, na adolescncia, comea outra fase, a genital, e essa percorre por toda a vida adulta. (HALL & LINDZEY, 2000) Na fase oral, que ocorre em crianas recm-nascidas, todo prazer da criana encontra-se na cavidade oral, a priori para satisfazer a fome, mas depois o sugar torna-se uma satisfao sexual, um exemplo disso quando a criana chupa chupeta, ela no satisfaz a fome, ela satisfaz o impulso sexual. (FREUD, 1905) Para Gardner (2000) a fase oral a fase onde comer a principal fonte de prazer produzido pela boca, pois comer envolve estimulao ttil dos lbios e da cavidade oral, e quando ocorre o aparecimento dos dentes a boca usada para comer e mastigar. E estes so os prottipos de muitos traos de carter que podem aparecer mais tarde.
A segunda fase a anal, que ocorre dos trs aos quatro anos de idade, nessa fase o prazer sexual levado para a regio do nus. Freud ainda subdividiu em duas fases; a primeira que de expulso, aonde o prazer vem da expulso dos excrementos, e a segunda que a de reteno, onde o prazer advm do acmulo de fezes. (FREUD, 1905) Para Hall e Lindzey (2000), quando a me muito rigorosa e repressiva nos seus mtodos, a criana pode reter as fezes e constipar-se. Em casos mais graves onde essa me tem esse comportamento com freqncia a constipao se generaliza provocando outras formas de conduta, a criana pode adquirir um carter retentivo. Ela pode tornar-se obstinada e avarenta. A terceira fase a flica, que vai dos trs aos cinco anos de idade, nessa fase o prazer vem dos rgos genitais; o menino possui a satisfao de possuir o pnis e por este a angustia da castrao e a menina sofre pela inveja do pnis. (FREUD, 1905) Para Hall e Lindzey (2000), na fase flica ao mesmo tempo em que ocorre o desenvolvimento das sensaes sexuais ocorre o aumento da agressividade associada ao funcionamento dos rgos genitais, nessa fase que ocorre o prazer da masturbao, e um investimento sexual nos pais, o que resulta no complexo de dipo. Depois de passarem os trs primeiros estgios, a criana passa pelo perodo de latncia onde h uma luta constante contra a masturbao e as fantasias ligadas a esta, pois estas do um sentimento de culpa. (HALL & LINDZEY, 2000) A quarta fase a chamada fase genital, que ocorre aps o perodo de latncia, nessa fase o adolescente comea a voltar a ter as fantasias sexuais e junto com ele o temor a castrao. Nas meninas isso se torna ainda pior com achegada da menarca. A principal funo biolgica dessa fase a reproduo. (HALL &LINDZEY, 2000) Para Hall e Lindzey (2000), na fase genital que vai se manifestar a atrao sexual, a socializao, a atividade de grupo, o interesse profissional, a preparao para o casamento e a preocupao em constituir famlia; o objetivo desta fase proporcionar estabilidade e segurana psicolgica para o indivduo.
A obsesso amorosa um tipo de neurose histrica, tambm conhecida, como uma psiconeurose de defesa onde a pessoa afetada totalmente dependente emocionalmente no de um parceiro, mas da relao obsessiva em si. O obsessivo amoroso, enxerga na pessoa amada um ideal de relacionamento que s existe para ele. Devido a isso, podemos pensar que a obsesso amorosa diferente do amor em si. (LUCHESI, 2007). Para Zimerman (1999) no incio Sigmund Freud dividiu os transtornos emocionais, que ele ento chamava de psiconeuroses, em trs categorias psicopatolgicas: as neuroses atuais, as neuroses narcisistas e as neuroses transferenciais, onde se enquadra a histeria; segundo ele: A histeria uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional e que tem seu incio partir de lembranas reprimidas que tem uma forte intensidade emocional, sendo que a lembrana desse trauma e sua catarse era o caminho para a cura. (ZIMERMAN, 1999, p.207-208) Green (1974) destaca o aspecto defensivo da histeria, ele considera que esse carter exibicionista e histrinico, comum do histrico, sobre tudo o protege contra seus ncleos depressivos, ou seja, por trs dos escndalos o histrico possui baixa auto-estima, extremamente frgil e instvel. Uma caracterstica da neurose histrica o no controle do ego. A neurose histrica ocorre com mais freqncia nas mulheres, j que estas apresentam uma maior complicao no desenvolvimento sexual devido ao sentimento de inveja do pnis. O indivduo histrico se fixou na fase flica, mas com alguns componentes da fase oral. Para Freud (1906) citado por Zimerman (1999), a histeria pode ser de dois tipos: conversiva h sintomas fsicos e dissociativa o estmulo sentido de forma to intensa que quebra a desfuncionalidade da mente, levando a pessoa a atos descoordenados da realidade. Percebe-se que a obsesso em si uma doena que surge de uma de uma fixao da fase flica, mas que o ambiente em que esta pessoa cresceu influencia muito. Freitas (2008) diz: As obsesses esto relacionadas ansiedade criada em resposta a uma situao muito estressante, esmagadora e dolorosa. Uma frustrao amorosa, uma famlia desestruturada, escola ou ambiente de trabalho nocivo ou
ameaador podem causar um excesso de ansiedade ou a pessoa pode ficar comprometida emocionalmente e tentar buscar uma sada para fugir desta realidade. Devido s necessidades bsicas de amor, assistncia e aceitao que foram negados, a pessoa viaja para o mundo das obsesses para evitar a sensao de ansiedade e privao. A necessidade obsessiva cria mecanismos e estratgias para seduzir o outro, originando uma atrao fatal que busca a possesso como forma de incluir o outro em sua prpria vida, tentando o mximo de controle, pois a falta deste ir provoca intensa dor. (FREITAS, 2008) O obsessivo amoroso tem uma preferncia em ser amado ao invs de amar; torna-se uma pessoa altrusta, inconscientemente procura um parceiro pouco disponvel e est disposto a mud-lo atravs do seu amor. O obsessivo amoroso dependente do parceiro e da dor emocional que esse amor lhe proporciona; ele enxerga um relacionamento ideal que s existe para ele. A pessoa que sofre de obsesso amorosa possui uma idia fixa de poder e domnio sobre a outra pessoa, alm de ter uma forte tendncia a se fingir de vtima, necessitando assim de d e de ateno. (MELO, 2008) De acordo com a enciclopdia: A palavra histeria usada desde a antiguidade, por Hipcrates, e era usada para designar transtornos nervosos em mulheres que no haviam tido filhos. Em manuscritos egpcios muitos sculos antes de Hipcrates tambm apareceu uma doena identificvel com o mesmo nome. No sculo XIX Charcot distinguiu a histeria da epilepsia, foi em aulas com Freud que ele percebeu que a histeria no era um fingimento e no se apresentava somente em mulheres, j Janet concebia a histeria como se tratando de uma diminuio da tenso psquica que pode ser provocada por choques emocionais e recordaes traumticas. (WIKIPDIA, 1999). Na histeria, as idias reprimidas ficam inalteradas no inconsciente, mas mesmo assim provocam influncia na personalidade do indivduo. O complexo de dipo juntamente com os impulsos provenientes da fixao da fase anal ser a base para os sintomas da neurose obsessiva. O comportamento do neurtico obsessivo contraditrio, devido mistura do complexo de dipo com os impulsos anais tornando-os ora bondosos, ora cruis. (ZIMERMAN, 1999)
Freud afirma que nas Neuroses Obsessivas, atravs dos sintomas, o Eu obtm uma satisfao narcsica. Os sintomas do neurtico obsessivo bajulam seu amor prprio, fazendo sentir-se melhor que outras pessoas, por se considerar mais limpo ou especialmente consciencioso. Tudo isto resulta no ganho proveniente da doena que se segue a uma neurose. Freud completa A formao de sintomas assinala um triunfo que se consegue combinar a proibio com a satisfao... a fim de alcanar essa finalidade muitas vezes faz uso das trilhas associativas mais engenhosas (FREUD, 1926, p.93-122). Nas neuroses ocorre fuga da realidade onde h uma idealizao do objeto, por isso, o neurtico obsessivo se parece mais com o psictico do que o histrico. Apesar da idealizao, no fundo o individuo tem a conscincia do que verdadeiro e do que falso Para Zetzel (1968) existem quatro tipos de histerias: as verdadeiras ou boas histricas, que atingem a condio de casar ter filhos com bom desempenho profissional e que se beneficiam com a psicanlise; outras tambm verdadeiras com casamentos complicados, geralmente com natureza sadomasoqustica, que no conseguem manter por muito tempo um satisfatrio compromisso com a anlise; aquelas pacientes que manifestam sintomas histricos, que lhes confere uma fachada de pessoas histricas, mas que, na verdade, encobre uma subjacente condio bastante depressiva, sendo que essas pessoas no se completam em nenhuma rea da vida; e as pseudohisterias presentes em personalidades muito mais primitivas, sendo que a sua extrema instabilidade emocional justifica a antiga denominao psicose histrica. O tratamento clnico para obsesso amorosa, num vis psicanaltico, vai depender do analista; Pois cada terapeuta tem sua forma de tratar desse transtorno, uns com a hipnose, outros com terapia. Segundo Zimerman (1999, p. 213-214) diz que: A atividade interpretativa do analista deve ficar centrada nos seguintes aspectos: usar a tcnica de confrontao, levando o paciente a confrontar se h similaridade de como ele se v o de como os outros os vem; utilizar a tcnica de uma imaginria dramatizao verbal, onde a paciente troca de lugar, papel e funo com outras pessoas do seu convvio; trabalhar com as funes conscientes do ego, ou seja,como ele percebe, pensa, discrimina e comunica seus sentimentos de amor e dio.
Diante de todos os conceitos, eles trazem tona a aprendizagem sobre o Normal e o patolgico, tendo em vista o modelo que foi recebido da sociedade, da cultura, das instituies em que o indivduo est inserido, porm o indivduo tem a chance de refletir e tirar suas prprias concluses a respeito da obsesso amorosa em si.
CONSIDERAES FINAIS
A partir desta pesquisa observa-se que a obsesso amorosa classifica-se como uma neurose histrica do tipo dissociativa e ocorre, por natureza, em maior freqncia nas mulheres sendo que as mulheres que cresceram em um ambiente disfuncional so mais propensas a desenvolver a obsesso. As principais caractersticas, da obsesso amorosa, entre outras so: o sentimento de posse em relao ao outro, a idealizao de um relacionamento que s existe para ele e a procura inconsciente de um parceiro emocionalmente indisponvel. Por ser um tipo de histeria, a pessoa tender a sempre assumir o papel da vtima, o que implica a necessidade de receber a d e complacncia das outras pessoas Conforme aprendemos com Freud, somos necessariamente seres sexuais, comandados por nossas pulses sexuais; transferindo e liberando nossa libido, e variando inclusive nosso objeto de interesse ao longo da vida, estando ele dentro do normal, ou no. Cabe ento ao prprio indivduo, dentro da sua sociedade, relacionar e discernir o normal do patolgico, buscando ajuda profissional se necessrio.