CM Moita
CM Moita
CM Moita
RELATÓRIO COASTWATCH
2008/2009
Situado na margem esquerda do Estuário do Tejo, o Concelho da Moita tem uma área de 55
km2 e uma população de cerca de 70.000 habitantes. A sua frente ribeirinha estende-se ao
longo de 20 km, apresentando um aspecto meândrico que lhe confere, no contexto do estuário,
uma enorme riqueza paisagística e ecológica.
Ao longo do tempo, actividades como a pesca, a indústria naval, a produção de sal, os viveiros
de peixe e ostras e o transporte de produtos foram transformando as margens naturais do Tejo,
com a construção de diques e comportas, moinhos de maré e pequenos portos. Já neste
século, a evolução dos transportes terrestres e a instalação da grande indústria no Barreiro
veio provocar o abandono progressivo das actividades tradicionais, acentuando-se o seu
declínio a partir da década de 60. Os aglomerados populacionais perdem então parte das suas
referências ribeirinhas, crescendo para o interior e a paisagem litoral degrada-se rapidamente.
Nos anos 80 o Município inicia uma intervenção de fundo nalgumas zonas da frente ribeirinha,
criando parques com equipamentos colectivos e zonas de lazer. Em 1981 a Autarquia iniciou
também a recuperação de duas embarcações tradicionais, que vieram juntar-se às
embarcações das associações e clubes náuticos. Organizam-se passeios de barco e percursos
pedestres, sensibilizando a população para a identidade do espaço que hoje habitamos.
Sarilhos Pequenos
Gaio-Rosário
Baixa da Banheira
Moita
Alhos Vedros
Vale da Amoreira
1
Estuário do Tejo visto do céu
2
COASTWATCH: GRUPOS ENVOLVIDOS E ACTIVIDADES
Nesta edição do Coastwatch conseguimos angariar mais participações do que nos anos
anteriores, o que se deveu à articulação que promovemos entre outros projectos em curso e o
Coastwatch, utilizando o tema da presente edição, a Biodiversidade.
Participaram duas escolas: a EB 2/3 José Afonso, situada na freguesia de Alhos Vedros, e a
EB 2/3 D. João I, localizada na freguesia da Baixa da Banheira. Participou ainda o
Agrupamento de Escoteiros da Baixa da Banheira.
As saídas foram realizadas nas datas abaixo indicadas. No caso das EB 2/3, participaram
turmas do 5º ao 9º ano:
3
RESULTADOS
As observações registadas constam da base de dados que segue junto ao presente relatório.
Tendo em conta que o tema do presente ano é a Biodiversidade, durante as saídas utilizámos
guias de campo sobre as aves, destacando as diversas espécies que fomos observando e
convidando os participantes a uma observação cuidada das características morfológicas e do
comportamento das diversas espécies.
A nível da fauna e flora estuarina, apesar das evidências indirectas de alguma vitalidade
(existência de aves alimentando-se de bentos e de pessoas que apanham bivalves e pequenos
peixes) há também indícios de degradação ambiental, nomeadamente vasa escurecida
denunciando anaerobiose, maus cheiros e entradas de esgoto. Cremos que a futura ETAR do
Barreiro e Moita, actualmente em construção, trará melhorias significativas na qualidade
biológica das águas, permitindo a revitalização das cadeias tróficas dependentes do plâncton e
do bentos, sobretudo micro e meiobentos da vasa.
A nível do intertidal essa impressão é acentuada pela inexistência de espécies mais sensíveis
de flora, como a zostera sp e pela extensão de Spartina marítima não ser muito significativa.
Porém, em termos gerais, podemos dizer que subsistem ainda numerosas zonas de refúgio e
habitat, nomeadamente para aves.
AVALIAÇÃO
Pela avaliação feita pelos participantes e do que constatámos houve na maioria das visitas
bastante interesse - tanto por parte dos alunos como dos professores responsáveis e
acompanhantes - tendo-se destacado em particular a participação dos Escoteiros.
Para além do preenchimento dos questionários, o Coastwatch constitui uma oportunidade para
os mais jovens tomarem contacto com a zona ribeirinha do Concelho da Moita, desenvolvendo
a sua capacidade de observação e registo. Igualmente obtêm, através das técnicas que
acompanham o projecto, informação relativa ao património natural do estuário e a aspectos da
história e património cultural do mesmo. Desta forma, cremos que o projecto pode contribuir
também para a formação de uma identidade local e para o conhecimento da realidade do
Concelho. Procuraremos no próximo ano lectivo manter uma elevada participação.
CONCLUSÃO
Cremos que este projecto, tal como se encontra formatado actualmente, é útil para os
participantes desenvolverem as suas capacidades de observação e registo e, através do
contacto com a realidade local, devidamente orientado e guiado, reforçarem a sua ligação ao
território, uma vez que em muitos dos casos verifica-se que não tiveram contacto prévio com a
zona ribeirinha.
4
ANEXO I - CARACTERIZAÇÃO DOS TROÇOS VISITADOS
No ano corrente foram visitados praticamente todos os blocos, exceptuando-se troços que são
inacessíveis por terra, ou que apresentam perigosidade para a passagem com alunos.
Apresenta-se em baixo uma breve descrição das principais características da zona ribeirinha,
de acordo com as divisões por blocos propostos na metodologia do Coastwatch,
nomeadamente localizados na unidade NUT PT 172, Blocos 007, 008 e 009. Apresenta-se uma
breve caracterização da paisagem e ecologia da zona ribeirinha.
5
Bloco 008 – De Alhos Vedros ao Gaio, passando pela Moita
Começa na área do cais de desmantelamento de navios. É uma zona com marcas
diversificadas da acção do homem, mas também com valores ecológicos e naturais
interessantes, incluindo vastas extensões de sapais onde se refugia grande quantidade de
avifauna. O bloco segue junto à urbanização da Fonte da Prata, perto da qual existem antigas
salinas abandonadas e muitas outras aterradas, mas onde ainda se podem observar aves
aquáticas. O bloco abrange a Vila da Moita, com o seu cais histórico e caldeira com margens
consolidadas, bem como um dique. Este é o troço que tem sido intervencionado ao abrigo do
programa POLIS. Seguindo para norte, junto à Escola EB 2/3 Fragata do Tejo, podem
observar-se sobretudo antigas salinas abandonadas até chegar ao Gaio, localidade ribeirinha
onde até há pouco tempo funcionou um estaleiro naval tradicional.
7
ANEXO II - BIODIVERSIDADE DA ZONA RIBEIRINHA
Assim, podem distinguir-se na área do concelho três zonas naturais: as zonas húmidas,
ribeirinhas (de cota até 10 metros), as zonas húmidas dos vales interiores (de cotas de 10 a 25)
e as zonas de encosta e planaltos (de cotas não inferiores a 40).
Flora
Nas zonas húmidas ribeirinhas de sapais e salgados, onde as marés e os níveis de salinidade
são determinantes, verifica-se a predominância de espécies adaptadas ao sal, chamadas
halófitas. No “alto sapal”, mais longe da linha de água ou nos taludes
das marinhas, domina a salgadeira (Atriplex halimus); mais abaixo
surgem as gramatas Salicornea radicans, Sarcocornia sp., Suaeda
vera e Halimione portucaloides e finalmente pode surgir, na zona que
fica submersa na preia-mar, a Spartina maritima, designada
popularmente por morraça,. Nas zonas sob influência de água salobra
e água doce, podem desenvolver-se caniçais (Phragmites sp.), cujas
raízes contribuem para a remoção de poluentes de águas e solos. As
canas (Arundo donax) crescem onde há abundância de água doce,
desenvolvendo-se abundantemente perto de linhas de água e zonas
marginais a estradas e terrenos.
8
Fauna
No território do concelho podem observar-se aves selvagens em diversos locais, mas
sobretudo em determinadas áreas que proporcionam o habitat apropriado. È o caso das zonas
ribeirinhas, os parques e jardins e as zonas ainda florestadas, de onde se destaca a área de
montado de sobro na Zona de Protecção Especial (ZPE) em Sarilhos Pequenos. Esta área foi
delimitada ao abrigo do Decreto-Lei nº 46/97 de 24 de Fevereiro, para ampliação da ZPE do
Tejo, a qual por sua vez surgiu no âmbito da Directiva Aves (79/409/CEE). Através destas
zonas protegidas pretende-se preservar o habitat de aves, podendo manter-se usos
tradicionais do solo.
A área ribeirinha classificada como Reserva Ecológica Nacional é constituída na sua maior
parte por antigas marinhas, sapais, caniçais, lodos e areias. Actualmente as marinhas não se
encontram em funcionamento, exceptuando um ou outro caso em que funcionam parcialmente,
sem fins de exploração comercial. Estas áreas constituem um excelente habitat para a avifauna
aquática do estuário, que aí encontra refúgio, alimentação e local para reprodução e
nidificação. Durante todo o ano, mas sobretudo durante o Outono e Inverno, pode observar-se
uma grande quantidade de aves na zona ribeirinha, muitas das quais são protegidas por
Directivas Europeias. Indicam-se algumas espécies que ocorrem na área do concelho e o tipo
de locais onde é mais frequente encontrarem-se.
9
Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) – Nas antigas salinas e
zona entre-marés.
Quanto aos peixes, a sua entrada na baía do Montijo e esteiros da Moita e Alhos Vedros
dependerá sobretudo do estado da maré, sendo mais comuns os seguintes, que também
ocorrem no restante estuário: taínhas (Liza sp.), robalo (Dicentrarchus labrax), dourada (Sparus
aurata), solha (Platichthys flesus), linguado (Solea sp.), enguia (Anguilla anguilla), biqueirão
(Engraulis encrasicholus), congro (Conger conger), savelha, (Alosa fallax), entre outros.
Nos caniços e canaviais dos terrenos junto da zona ribeirinha encontram-se também outras
espécies de aves, nomeadamente passeriformes como os pintassilgos (Carduelis carduelis), os
rouxinóis dos caniços e felosas (Acrocepahus sp. e Locustella sp.), pintarrôxo-comum
(Carduelis cannabina) e o guarda-rios-comum (Alcedo atthis).
10