Da Comunidade À Individualidade
Da Comunidade À Individualidade
Da Comunidade À Individualidade
1. Introduo: O presente trabalho busca traar uma abordagem histrica3 acerca do individualismo e seu estabelecimento no meio social, especialmente atravs da dicotomia sociedade individualista x sociedade holista, valendo-se, para tanto, dos escritos de Louis Dumont. Num segundo momento busca abordar a socialidade psmoderna e seu afastamento dos conceitos individualistas, conforme exposto em Michel Maffesoli. O cotejamento entre os dois referenciais tericos torna possvel o debate acerca do (novo) papel que se pretende ao direito, marcadamente de raiz individualista, neste (emergente) contexto social. Todavia, se esboam, no contexto europeu, novas propostas tericas para o direito enfatizando a solidariedade, a alteridade, a pluralidade, a igualdade na diferena e o pacto social: uma no mbito da filosofia do direito, denominada direito fraterno, protagonizada pelo professor italiano Eligio Resta. Enfatiza-se que no se tem a pretenso, tampouco condies, de uma anlise acabada e profunda das novas propostas. Objetiva-se, apenas, apresent-las, buscando uma aproximao
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Trabalho elaborado para a disciplina de Antropologia Social II, ministrada pelo Prof. Dr. Carlos Henrique Armani, do Programa de Especializao em Cincias Penais da PUCRS. 2 Ps-graduanda do Programa de Especializao em Cincias Penais da PUCRS. E-mail: [email protected] 3 Embora no pretenda estabelecer sua origem.
com os referenciais tericos utilizados4 e, especialmente, enfatizar a mudana que, embora tmida, se operacionaliza, mesmo que se d nos bancos acadmicos.
2. Individualismo e socialidade Para Louis Dumont, indivduo pode designar duas coisas distintas ao mesmo tempo: um objeto fora de ns e um valor. De um lado o sujeito emprico, a amostra individual da espcie humana, que pensa, fala e quer: de outro, o ser moral autnomo, independente, no-social, portador de nossos valores supremos e que se encontra em primeiro lugar em nossa ideologia moderna do homem e da sociedade5. Por conseguinte, nas sociedades em que o indivduo constitui o valor supremo, falamos de individualismo; em contrapartida, naquelas em que o valor se encontra no todo, denominam-se sociedades holistas6. O autor vai problematizar como, a partir das sociedades holistas pode desenvolver outro tipo, fundamentalmente oposto. Valendo-se dos estudos nas sociedades indianas, Dumont identifica o indivduo fora-do-mundo, o indiano renunciante ao mundo social, em busca de independncia, sabedoria e libertao dos entraves da vida, diferente da salvao crist. O pensamento do renunciante semelhante ao do indivduo moderno, mas com uma diferena: enquanto este vive no mundo social, aquele vive fora dele7. Embora se encontre na ndia o indivduo fora-do-mundo, trata-se esta de uma caracterstica complementar, pois ainda possui a estreita relao de interdependncia entre seus membros, uma solidariedade orgnica peculiar a estas sociedades8 tanto que Dumont formula a seguinte hiptese: se o individualismo deve aparecer numa sociedade do tipo holista, ser em oposio sociedade mesma,
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Da a intitular-se este trabalho Notas... DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropolgica da ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 37. 6 Ibidem. 7 Ibidem, p.p. 37-38. 8 Conforme MAFFESOLI, Michel.A violncia totalitria: ensaio de antropologia poltica. Porto Alegre: Sulina, 2001. p.p. 224-225.
como uma espcie de suplemento, ou seja, sob a forma de indivduo fora-domundo9. Para o autor, algo do indiano renunciante est presente nos primeiros cristos e em torno deles no comeo de nossa era, pois o homem como um indivduo-em-relao-com Deus, , essencialmente, um indivduo-fora-do-mundo. Identificam-se, assim, os primrdios do individualismo no Ocidente10. Ora, os cristos esto fora-do-mundo, pois tm seus coraes voltados a Deus; renem-se em Cristo, de quem so membros, resultando desta relao uma fraternidade e uma igualdade que s existe enquanto filhos Seus11. A relao do extramundano com a vida no mundo d-se por meio institucionalizada, com a ao da Igreja, que se estabelece como um ponto de apoio entre o mundo e o divino12. Todavia, a converso do imperador Calvino ao cristianismo, no incio do sculo IV, altera este panorama, justamente pela implicncia na relao da Igreja com o mundano, pois esta passa a relativizar-se, mantendo uma relao mais estreita com o Estado, politiza-se, busca o poder e acaba por trazer o divino e o indivduo para o mundo13. Finalmente, com a reforma de Calvino complementa-se a entrada do indivduo no mundo. O elemento antagnico que at ento o individualismo deveria reservar lugar desaparece. O campo est completamente unificado. O indivduo est no mundo e o valor individualista reina sem restries nem limitaes14. Existe uma continuidade entre os dois tipos de individualismo, entre o individualismo fora do mundo dos cristos e o chamado moderno individualismo no mundo. A distino que demarca o holismo e o individualismo, supe um individualismo no mundo (ou intramundano) deste. Contudo, o extramundano no se ope ao holismo, conforme Dumont, no da mesma maneira que o plo
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DUMONT, Louis. Op. cit., p.p. 38-39. Inclusive denota-se o paralelismo entre a doutrina crist e budista: a preocupao exclusiva do indivduo fundada em uma desvalorizao do mundo, uma relativizao de seus valores e volta do homem a valores supremos. Ibidem, p.p. 39 e 43. 11 Ibidem, p.p. 42-44. 12 Ibidem, p. 46. 13 Ibidem, p.p. 52-60. 14 Ibidem, p.p. 62-63.
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intramundano. O individualismo extramundano ope-se hierarquicamente ao holismo, como j mencionado, ficando parte da sociedade e suas relaes, enquanto o individualismo intramundano nega ou destri a sociedade holista e substitui-a15. Neste sentido, Maffesoli ao discorrer sobre a importncia do individualismo (mundano, adotando a acepo de Dumont) na tradio ocidental, ligado idia de progresso e utilidade, responsvel pelo privilgio outorgado ao setor econmico e ao controle racionalizado, acentuando o primado das relaes do homem com as coisas, menciona o rompimento da solidariedade orgnica e a conseqente atomizao do indivduo, a hipstase do indivduo emprico que opem contraditoriamente homem e sociedade16. Este processo o oposto do coletivo, da comunidade, da troca simblica de que as sociedades holistas servem de paradigma, e cujo ponto nodal a relao dos homens entre si, pois embora passem pela mediao das coisas, o que importa realmente nestas sociedades a interdependncia que especifica o conjunto da estruturao social17. Assim, traando um estudo acerca da configurao das sociedades psmodernas e as relaes humanas e sociais nela travadas, descarta a noo de individualismo, enfatizando seu declnio nas sociedades de massa18. Como refere Schmidt, Maffesoli chega concluso de que o individualismo um bunker obsoleto que merece ser abandonado. A pessoa somente existe em sua relao mitolgica com o outro, ao contrrio, a lgica individualista funda-se numa
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Ibidem, p.p. 67-68. MAFFESOLI, Michel. Op. cit., p.p. 224-225. 17 Ibidem, p. 225. 18 Para tanto, remetemos obra MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos: o declnio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1987.
identidade separada e fechada19 sobre si mesma20. No h identidades, mas processos de identificao, onde o eu s existe em relao ao outro. O sujeito que pensa e age21, piv da tradio ocidental e que encontra seu apogeu no individualismo moderno, perde-se num conjunto mais amplo, na vacuidade dos ajuntamentos ps-modernos22, desenraiza seu ego, ultrapassa o si individual rumo a um Si mais global, o da comunidade. O fenmeno da tribalizao ps-moderna, o retorno do trgico, no sentido nietzschiano, do mito de Dionsio, levada a cabo pelas relaes de identificao e pela superao da rigidez identitria do indivduo (ou a prpria diluio das identidades individuais), traz tona a revitalizao do mito da comunidade, do viver o esprito conjunto e reativa a necessidade da solidariedade. Ao se referir a esse fenmeno, Maffesoli23 concebe-o como uma maneira profana de viver uma franco maonaria pag, baseada na tica da solidariedade em seu sentido pleno: aquela que liga s pessoas e s coisas. Talvez seja essa a principal caracterstica do fenmeno da tribalizao ps-moderna: fortalecer os vnculos de solidariedade e fidelidade, em suma, corroborar uma comunidade de destino. De certa forma, nessa socialidade emergente, pode-se traar um paralelo com as sociedades holistas, com o universalismo, estrutura antropolgica do Oriente.
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Estamos longe da reivindicao de identidade fechada, do indivduo indivisvel, de um esprito isolado. Identidade primria do ideal moderno, da autonomia. A gesto de um fundo comum desencadeia um mecanismo de identificao primordial. A de uma participao no pr-inividual (MAFFESOLI, Michel. A Parte do Diabo. Resumo da Subverso Ps-Moderna. Rio de Janeiro: Record, 2004. p.151). 20 SCHMIDT, Andrei Zenker. A violncia na desconstruo do indivduo. In.: GAUER, Gabriel J. Chitt: GAUER, Ruth M. Chitt (Orgs.) A Fenomenologia da Violncia. Curitiba: Juru, 2003. p. 132. 21 O sujeito emprico, portanto. 22 So exemplos de ajuntamentos ps-modernos capazes de engendrar relaes de socialidade e identificao: os movimentos musicais, inclusive sua esttica, as fuses esportivas, imitaes em torna da moda, comunhes religiosas, agrupamentos filosficos, etc. Conforme Maffesoli, especificamente em relao msica: as histerias (...) musicais poderiam ser consideradas provas iniciticas prprias a todos os caminhos para um mais-ser ( MAFFESOLI, Michel. A Parte do Diabo. Resumo da Subverso Ps-Moderna. p.p.184-185). 23 Ibidem, p.p. 170-171.
No por acaso, Maffesoli menciona que esses so tempos de feminizao do mundo, fazendo aluso a mitos orientais, como o Amae japons, que rene os elementos: calor matricial, proteo no-racional, coisas que favorecem a fuso, a confuso individual e que, na verdade, fundamentam o ideal comunitrio24. Trata-se de uma indulgncia generalizada25, que bem lembra a postura materna, que se dirige ao outro, natureza, sensibilidade ecolgica, compaixo, enfim, capacidade de vibrar com a alteridade e de viver junto s paixes comuns, o que corrobora a reatualizao do ideal de comunidade e dos laos de solidariedade. O cenrio ps-moderno como estudado por Maffesoli demonstra uma ttica social e individual totalmente alternativa quela que prevaleceu na trajetria judaicocrist, na ascenso das sociedades econmicas, nas teorias de emancipao modernas ou no mito progressista. Em suma, trata de algo oposto ao individualismo no mundo. At mesmo pelo fato, como menciona em outra oportunidade, de que para o desenvolvimento pleno do individualismo e para a ecloso de toda uma organizao social e estatal que lhe peculiar, as representaes de solidariedade orgnica26 foram, progressivamente, suprimidas27. Assim, esse retorno ao holismo conforme exposto por Maffesoli, faz emergir as relaes de socialidade em detrimento ao individualismo o qual se encontra na base social do Ocidente e de suas estruturas sociais e polticas. No tocante ao Direito e seus mecanismos, essa revitalizao da comunidade, deixada de lado pela na transio e ascenso para as sociedades econmicas, torna possvel o questionamento acerca (da necessidade) de novas estruturas capazes de levar em considerao essa nova conjuntura.
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Ibidem, p. 181. Ibidem, p. 182. 26 Conforme a utilizao do termo empregada por Maffesoli, a solidariedade orgnica possvel na medida em que a personalidade individual se perde e absorvida no organismo coletivo, ao passo que a solidariedade dita mecnica no depende seno do bem querer da deciso de uma personalidade tipificada (MAFFESOLI, Michel. A violncia totalitria: ensaio de antropologia poltica. p. 223). 27 . Ibidem, p.p. 229-230.
Gostaramos socialidade.
de
apresentar
duas
novas
propostas
que
esto
se
3. A socialidade e o direito: o ideal comunitrio presente na proposta do direito fraterno e na justia restaurativa A (re)valorizao do conceito de comunidade e os reflexos da advindos comea a esboar novos estudos e tendncias para o direito, no intuito de gerarem novas propostas para sua aplicao nesta socialidade. Como j mencionado, no se tem a pretenso ou a condio de anlise acurada de tais propostas, vis-se, tosomente, apresent-las, buscando um paralelo com os referenciais tericos apresentados, justamente pela nova abordagem propugnada, transindividual. A primeira proposta a ser apresentada desenvolve-se no mbito da filosofia do direito, pelo professor italiano da Universidade de RomaTRE, Eligio Resta, cuja nica obra traduzida para o portugus chama-se Direito Fraterno o mesmo nome designa a nova forma de anlise do papel do direito nesta sociedade. Como o prprio nome refere, o direito fraterno busca uma retomada do conceito de fraternidade28, trazendo-a para o mbito de aplicao normativa e recolocando e jogo as regras da comunidade, inclusive poltica. Conceito este deixado de lado, como uma condio excluda desde o cenrio iluminista, que deve transformar-se em cdigo, em regra, com todos os paradoxos, mas tambm com todas aberturas que comporta29. O sentido de fraternidade a ser retomado, por sua vez, possui um sentido vagamente anacrnico, identificando uma singular contemporaneidade no contempornea de idia, smbolos e eventos. Apresenta a Histria como um mundo de possibilidades no qual tudo poderia ser, no simplesmente ter sido. Na linguagem
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Cuja origem remeter-nos- ao contexto iluminista. Neste sentido consultar RESTA, Eligio. Direito Fraterno. Trad.Sandra R. Martini Vial. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.
da vida cotidiana indica uma andar contra o tempo; o lugar das possibilidades contra o mundo das contingncias que vencem, tempo que no permite denomin-lo univocamente de nosso30. Da, tambm, o direito fraterno colocar em evidncia toda a determinao histrica de um direito fechado na angstia dos confins estatais e traz-lo ao espao de reflexo comunitria ligado ao tema dos direitos humanos31. A fim de no se estender na exposio acerca da construo terica do direito fraterno e sua aplicao, opta-se por apresentar suas estruturas fundamentais e propostas, sinteticamente32: a) concebe o direito como um pacto jurado conjuntamente, atravs do compartilhamento das regras de convivncia; b) livre de obsesso da identidade, entendida como a busca de uma legitimao para o direito. Ao contrrio, busca espao num espao poltico aberto, tendo por justificao a communitas; c) volta-se questo da humanidade, afinal, no pelo fato de ser homem que se possui humanidade. Assim, aposta numa antropologia dos deveres, pedindo a revogao de todos os etnocentrismos; d) contra os poderes centrados que exercem domnio sobre a vida nua33; e) busca no anular as diferenas. Em resumo, os postulados do direto fraterno apontam que os novos caminhos a serem percorridos pelo direito no cenrio social atual, devem buscar sua fundamentao na revitalizao do ideal de comunidade, posto de lado ao longo da histria, mas jamais extinto. O direito aplicado neste contexto prope uma descentralizao do individual, indo ao encontro do bem coletivo, da comunidade de destino, do outro. Em realidade, trata-se de uma tica da alteridade. A aplicao aparentemente impossvel destes postulados parece encontrar reflexo no emergente paradigma da justia restaurativa, que comea a ser aplicado
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Ibidem, p.p. 9-12. Ibidem, p. 13. 32 Remetemos leitura de Resta, Eligio. Op.cit., especialmente s pginas 132-136, nas quais expe resumidamente tais postulados, embora sejam abordados ao longo de sua obra. 33 No seria a prpria efervescncia da vida cotidiana, presente na sociedade contempornea e capaz de gerar as mais diversas formas de socialidade, como expe Maffesoli?
em alguns pases da Europa, Austrlia e Nova Zelndia e vem crescendo em Espanha, como refere a criminalista espanhola Elena Larrauri34. A justia restaurativa representa uma nova compreenso da concepo de delito. Diferentemente do paradigma da Justia retributiva (tradicional), que concebe o crime como uma violao ao Estado (lei), a justia restaurativa concebe-o como uma violao aos valores comunitrios; exacerba-se a natureza interpessoal do delito. Sua operacionalizao dar-se- em audincias ou conferncias restaurativas, onde participa no s a vtima o autor do delito e o mediador, mas toda a comunidade participa como facilitadora. Sendo o crime concebido como uma violao dos valores comunitrios, buscar-se- a verdadeira (re)integrao do infrator, atravs do restabelecimento dos laos violados, da a justificativa para a participao da comunidade no procedimento que se instaura e a busca por uma soluo conjunta, visando tambm a reparao vtima. Embora os estudos da justia restaurativa compreendem um mbito de anlise menor que aquele protagonizado pelo direito fraterno, cingindo-se esfera de aplicao dos mecanismos processuais penais e propondo novos mecanismos, embora tambm se reconhea que no se trata de estudo imune a crticas, pelo contrrio, e que est em fase de implementao, cabe apresent-lo no presente trabalho, por se tratar, tambm, de uma nova forma de proceder com o direito, que encontra na valorizao da communitas seu fundamento.
4. Consideraes finais No se tem a pretenso ou condio de apresentar concluses, apenas se buscou, neste trabalho, deixar em aberto o campo de reflexo e investigao, atravs dos estudos do individualismo intentado por Dumont, cotejando-o s novas configuraes sociais que se apresentam na contemporaneidade, conforme
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Para uma leitura completa LARRAURI, Elena. Tendencias actuales de la justicia restauradora. Revista Brasileira de Cincias Criminais, n. 51, nov./dez. 2004, p. 67-104.
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Maffesoli e as implicncias que trazem ao prprio indivduo e suas relaes interpessoais. Um indivduo contemporneo que se dilui numa comunidade de destino, reavive o mito dionisaco, a essncia do trgico, diluindo, com isso, o intocado pedestal do indivduo emprico e as estruturaes sociais que nele se fundamentam. Se se trata de um re-viver da tragicidade grega, um culto contemporneo a Dionsio ou a retomada, em certa escala, do holismo oriental, o fato que estas novas formas de socialidade trazem consigo a superao da esfera individual e da rigidez identitria em prol da confirmao de um sentimento coletivo, na solidariedade e na revitalizao da comunidade. Sentimentos, efervescncias, identidades diludas, ajuntamentos,
comunidade de destino... So estas as estruturas que passam a compor a sociedade e, sabedora de sua existncia, novas propostas jurdico-terica vo buscar construir neste espao o papel de mediao do direito. 5. Referncias DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropolgica da ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. LARRAURI, Elena. Tendencias actuales de la justicia restauradora. Revista Brasileira de Cincias Criminais, n. 51, nov./dez. 2004, p. 67-104. MAFFESOLI, Michel. A Parte do Diabo. Resumo da Subverso Ps-Moderna. Rio de Janeiro:Record, 2004. ________________. A violncia totalitria: ensaio de antropologia poltica. Porto Alegre: Sulina, 2001. ________________. O Tempo das Tribos: o declnio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1987.
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RESTA, Eligio. Direito Fraterno. Trad.Sandra R. Martini Vial. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. SCHMIDT, Andrei Zenker. A violncia na desconstruo do indivduo. In.: GAUER, Gabriel J. Chitt: GAUER, Ruth M. Chitt (Orgs.) A Fenomenologia da Violncia. Curitiba: Juru, 2003.