Transtornos Alimentares
Transtornos Alimentares
Transtornos Alimentares
CENTRO UNIVERSITRIO PLNIO LEITE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CINCIAS DA SADE E DO AMBIENTE
Niteri 2010
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CENTRO UNIVERSITRIO PLNIO LEITE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CINCIAS DA SADE E DO AMBIENTE
Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Cincias da Sade e do Ambiente, da Coordenadoria de Ps-Graduao e Extenso do Centro Universitrio Plnio Leite, como parte dos requisitos para obteno do Ttulo de Mestre em Cincias da Sade e do Ambiente.
Niteri 2010
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Prof. Dr.
Prof. Dr.
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Dedico este trabalho monogrfico a minha esposa Berta pela pacincia e estmulos que me impulsionaram a buscar vida nova a cada dia, e por ter aceito se privar de minha companhia pelos estudos, concedendo a mim a oportunidade de me realizar ainda mais e de lograr xito nessa elaborao.
AGRADECIMENTOS
Em especial, Profa. ANA BRANCO pela dedicao verdade, e pesquisa Biochip (informao da vida), que foi fundamental para a transformao do meu olhar sobre a histria, sobre as pessoas e a vida.
A minha Orientadora Dra. Profa. ROSE MARY LATINI pela pacincia e dedicao com o processo rduo de criao de uma Dissertao de Mestrado, e pelos estmulos para que o trabalho fosse sempre aprimorado, a orientao metodolgica incansvel, e a imensa pacincia.
E, tambm, aos Professores Doutores do CENTRO UNIVERSITRIO PLNIO LEITE, pelos conhecimentos transmitidos no curso de Mestrado em Ensino de Cincias da Sade e Ambiente. Especialmente, Profa. LUZA RODRIGUES DE OLIVEIRA, pela dedicao formao crtica de seus alunos, Profa. MAYLTA BRANDO, pela poesia no lidar com as questes sociais, Profa. CARMEN SILVEIRA, pelos sempre bem vindos conselhos, e ao Prof. ANTONIO CARLOS DE MIRANDA, pelos discursos inovadores e sua paixo pelo lecionar.
Aos colegas de classe pela espontaneidade e pacincia com meus questionamentos radicais.
E, finalmente, a DEUS pelo sopro de vida que me move a buscar cada vez mais o que faz sentido, a sade e a fraternidade.
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Os remdios no so mais do que venenos e todos os efeitos que deles resultam so aqueles do envenenamento... O erro fatal de todas as escolas mdicas, qumicas ou naturais, consiste em querer substituir o poder da autocura do organismo por seus mtodos violentos. Curar um processo biolgico que no conseguido com remdios, mas com processos de vida. Herbert Shelton (1895-1985)
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RESUMO
Apesar do tema transtornos alimentares ser amplamente estudados nos ltimos 30 anos, no se conseguiu avanar na percepo da etiologia, tendo como conseqncia tratamentos insatisfatrios. Os estudos foram ineficientes em impedir que a incidncia dos transtornos alimentares dobrasse nas duas ltimas dcadas, e se tornasse a terceira doena crnica mais comum entre adolescentes nos Estados Unidos. A proposta de tratamento por equipe multiprofissional, no se traduz em melhores resultados, pois, interesses corporativos esto presentes na rea da sade, e a prtica interdisciplinar ainda muito incipiente. O prognstico no tratamento da anorexia apresenta uma taxa baixa de recuperao, em torno de 36%, e uma previso de perodo de 10 a 15 anos de tratamento. A partir desses fatores, foi criada uma comunidade no Orkut, denominada Anorexia e Bulimia Nova Viso, que possibilitou estabelecer contato direto com pessoas que sofrem de transtornos alimentares, atravs de um amplo debate crtico em tpicos criados pelos usurios, sobre os caminhos atuais de tratamento dos transtornos alimentares. O objetivo central da criao dessa comunidade foi de verificar a possibilidade de criao de um espao que possibilitasse uma concreta educao para a sade. Por isso, essa dissertao se preocupou em analisar a comunidade citada acima, e verificar se o contedo existente estava adequado proposta de educar para a sade, utilizando o ambiente da internet como meio de divulgao cientfica. As informaes geradas pela comunidade, desde sua fundao em 2006, contriburam para a construo de um produto , um site com recursos educacionais, o <www.anorexiaebulimia.com>, com melhores perspectivas de divulgar criticamente idias cientficas, atravs de postagens de artigos, vdeos, espaos para postagens e discusso, assim como promover sade integral, e contribuir para a transformao da prpria realidade, utilizando o ambiente da internet atravs de uma comunicao informal, propositalmente escolhida, j que pessoas que sofrem de transtornos alimentares, principalmente anorxicas e bulmicas, gostam de manter sua privacidade. Esperamos que nosso processo de construo possa contribuir com novas possibilidades de percepo sobre os transtornos alimentares. PALAVRAS-CHAVE: Transtornos Alimentares; Anorexia; Bulimia; Divulgao cientfica; Educao informal, Comunidades Virtuais
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ABSTRACT
Although the topic eating disorders be widely studied in the past 30 years, has failed to advance the understanding of the etiology, and treatment as a result unsatisfactory. The studies were ineffective in preventing the incidence of eating disorders doubled in the last two decades and has become the third most common chronic disease among adolescents in the United States. The proposed treatment by the multidisciplinary team, does not translate into better results, because corporate interests are present in the area of health, and interdisciplinary practice is still very low. The prognosis in the treatment of anorexia has a low rate of recovery, around 36% and a forecast period of 10 to 15 years of treatment. From these factors created a community on Orkut called "Anorexia and Bulimia New Vision", in order to establish direct contact with people suffering from eating disorders through a wide-ranging debate on critical topics created by users on the current paths of treatment of eating disorders. The main purpose of creating this community is to study the possibility of creating a space that would enable a practical education to health. Therefore, this dissertation has bothered to examine the community mentioned above, and verify that the content was appropriate to the existing proposal for health education using the environment of the Internet as a means of scientific communication. The information generated by the community since its founding in 2006, contributed to the construction of a product, a website with educational resources, the <www.anorexiaebulimia.com>, with better prospects for disseminating critical scientific ideas, such as posting articles, videos, space for posts and discussion as well as promote overall health, and contribute to the transformation of reality itself, using the Internet environment through an informal communication, deliberately chosen, since people suffering from eating disorders, especially anorexia and bulimia, like maintain their privacy. We hope that our construction process can contribute to new possibilities of perception about eating disorders. WORD KEYS: Eating Disorders, Anorexia, Bulimia, Scientific dissemination, Informal Education, virtual communities
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SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................... 11
CAPTULO I - TRANSTORNOS ALIMENTARES.............................................. 18 1.1 Justificativa............................................................................................................. 18 1.2 Conceitos................................................................................................................ 19 1.3 Anorexia sagrada................................................................................................... 22 1.4 Etiologia.................................................................................................................. 24 1.5 Tratamento............................................................................................................. 25
CAPTULO II - DIVULGAO CIENTFICA: entre a informao e a reflexo........................................................................................................................... 33 CAPTULO III A COMUNIDADE DO ORKUT................................................... 47 3.1 A comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso............................................... 51 CAPTULO IV RESULTADOS E DISCUSSO................................................... 61 CAPTULO V O PRODUTO................................................................................... 88
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NDICE DE FIGURAS
Figura 1. Levantamento sobre pases usurios do Orkut (em <http://www.orkut.com.br/Main#MembersAll>)......................................................... 48 Figura 2. Pgina inicial da comunidade (em <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=11721833>) ............................. 52 Figura 3. Tpico indique coisas fceis de vomitar ................................................... 52 Figura 4. Pgina Frum, onde so criados os tpicos .................................................. 54 Figura 5. Idade dos freqentadores do Orkut .............................................................. 59 Figura 6.Interesse dos freqentadores do Orkut .......................................................... 59 Figura 7.Link como posso ajudar? ............................................................................ 69 Figura 8.Link saiba mais dentro de Alimentao .................................................. 86 Figura 9. Pgina inicial do site ..................................................................................... 89 Figura 10. Link Partilha, contendo tambm um saiba mais.................................. 104 Figura 11. Link Alimentao viva ........................................................................... 105 Figura 12. Exemplo de texto justificado (pgina inicial)............................................. 107 Figura 13. Exemplo de texto centralizado ................................................................... 108
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INTRODUO
A incidncia dos transtornos alimentares praticamente dobrou nas duas ltimas dcadas, especialmente entre as mulheres jovens dos pases ocidentais. A anorexia nervosa a terceira doena crnica mais comum entre adolescentes nos Estados Unidos, perdendo apenas para a obesidade e a asma. Um estudo, realizado com mulheres estudantes de nutrio, no Rio de Janeiro, revelou que 14% das alunas apresentaram sintomas de anorexia nervosa. (BOSI et al.,2006). Um outro estudo, realizado por Vilela et al (2004), com 1.807 estudantes de escolas pblicas do Ensino Fundamental e Mdio, com idade entre 7 e 19 anos, em Minas Gerais, encontrou dados significativos. 13,3% de alunos, com predominncia significativa do sexo feminino, apresentaram possveis transtornos de alimentao. Em 12%, foram encontrados episdicos bulmicos. Os mtodos purgativos para perder peso foram utilizados por 10%, 59% encontravam-se insatisfeitos com sua imagem corporal, e 40% faziam uso de dieta para emagrecer. fato que os transtornos alimentares, principalmente a anorexia nervosa e a bulimia nervosa tm sido amplamente estudados nos ltimos 30 anos. No entanto, apesar das muitas publicaes, pouco se sabe sobre a etiologia dessas sndromes, o que compromete seriamente a eficincia dos tratamentos. A maior parte das pessoas que sofrem de transtornos alimentares so do sexo feminino, e tm acesso a informaes sobre alimentos, regimes, consequncias dos transtornos, tipos de laxantes ou moderadores de apetite. No entanto, as informaes so seletivas, ou seja, no h fixao sobre os malefcios dos comportamentos anorticos ou bulmicos, o que no surpreende, pois em uma comparao com fumantes, vemos que grande parte continua com seu vcio, apesar das informaes visuais significativas que esto impressas nos maos de cigarros. Alm disso, dados sobre sade e alimentos so,
12 muita vezes, contraditrios e superficiais, principalmente quando divulgados em revistas no especializadas, ou na maioria de sites e blogs. Isso uma questo preocupante, pois pessoas que sofrem de transtornos alimentares costumam buscar informaes justamente nessas mdias, principalmente na internet, em blogs e comunidades que tm a possibilidade de congregar pessoas com o mesmo problema, e a vantagem de manter o anonimato e a privacidade de seus participantes. No entanto, a troca de experincias nesses locais dificilmente permite o entendimento do transtorno alimentar, ou mesmo sua superao. Os sites que oferecem uma abordagem tcnica mantm uma comunicao unilateral e fria, no estabelecendo uma interao e aproximao com o mundo anortico e bulmico. Como exemplo, podemos citar o site do Dr. Drauzio Varella, <http://www.drauziovarella.com.br/arquivo/arquivo.asp?doe_id=63>, onde existe a
descrio da doena, dos sintomas, das possveis causas, alm de algumas recomendaes e sugesto de tratamento. Mas as informaes so reprodutoras daquelas encontradas em vrios outros sites, e ignoram, por exemplo, que medicamentos antidepressivos tm eficincia inferior a placebos no tratamento da anorexia nervosa, conforme publicao de pesquisa realizada em 2006, pelo Dr. B. Timothy Walsh, diretor de pesquisas em transtornos alimentares do New York State Psychiatric Institute, na Universidade de Columbia, publicado na revista da Associao Mdica Americana (WALSH et al, 2006). Podemos ainda citar os sites
<http://www.mentalhelp.com/anorexia.htm> e <http://www.alimentacaosaudavel.org/ Anorexia-Nervosa.html>, observando pequenas diferenas. No primeiro, os sintomas so descritos de maneira mais detalhada, e oferece mais dicas aos pais, alm de tentar se aproximar do mundo anortico, ao colocar um depoimento de uma anorxica. O segundo apresenta o problema da anorexia, em formato interessante, mas sem acrscimo de
13 informaes. So sites que no definem seu pblico, pois no trazem informaes relevantes a profissionais de sade interessados em pesquisar os transtornos alimentares e, nem oferecem um diferencial para o portador do transtorno e, talvez, apenas se destinam a trazer alguma informao aos familiares leigos, preocupados em saber se seus entes possuem ou no essas doenas e como devem agir. Existem vrios outros sites, com pouca diferena, seja no contedo ou no formato. Ao analisar os blogs pr-anorexia e pr-bulimia, pode-se observar que existe uma grande preocupao com o formato, incluindo imagens significativas, abordando modelos e signos atraentes ao universo feminino. Alm disso, o contato estabelecido diretamente, com possibilidade de dilogo, atravs da postagem de comentrios. Tambm existem links divulgando outros blogs pr-anorexia e bulimia, estabelecendo uma espcie de grande comunidade ou de grande crculo. No entanto, as informaes que circulam, como sugestes de comportamentos e regimes, apenas reforam o problema, como podemos observar em dois trechos dos seguintes blogs1.
Hoje estava tudo muito bem, almocei bem pouco e fiz caminhada durante 1h e 30 min., porm minha me me fez jantar, comi muito, no devia ter exagerado. Mas j me puni, tomei 2 laxantes e espero ficar livre desse jantar terrvel. Estou morrendo de clicas e provavelmente no dormirei bem essa noite, mas j que isso me trar bons resultados em breve, passarei o mal que for preciso, eu pago esse preo, afinal entrei na anna2 sabendo todo o mal que pode ocorrer comigo e disposta a aceitar isso para ficar perfeita. (<http://annamylifestyle.blogspot.com/>, grifo nosso). Fui na psiquiatra esses dias. Meu pai, iludido, disse que no tem visto mais sinais de T.A.s em mim pra ela. (Estou fingindo bem, miando em silncio ou no meu quarto, t pegando as manhas), mas pra ela contei algumas verdades, como do semi-nf3 de 42 kcal que consegui fazer no dia anterior da vspera da consulta e das 2x que miei na vspera. (...) No sei quanto estou pesando, meus ossos to aparecendo e ainda to manequim 34, 36 fica saco de batatas de to largo e decidi que s vou
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Em todas as falas retiradas da comunidade, considerei que deveria alterar algumas palavras, escritas com erros de grafia, a fim de tornar a leitura mais fluente e evitar dificuldades no entendimento. No entanto, mantive algumas formas grficas caractersticas, a fim de no descaracterizar as falas. A grafia original pode ser consultada diretamente nos endereos. 2 Anna (ou Ana) apelido dado Anorexia Nervosa, entre as pessoas que possuem o transtorno. 3 Semi-nf refere-se a um processo onde o no food (NF) feito sem rigidez, ou seja, h consumo de calorias.
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me pesar quando o 34 ficar to largo que precise usar cinto. (...) Bem, sei que muito extremo querer pesar 25/30 kg pros meus 1m 56cm de altura, mas definitivamente eu sinto que preciso ser a mais magra, preciso sentir, mesmo que s um pouco. (<http://dra.anna.zip.net/>).
A fim de tentar estabelecer contatos e aproximar pessoas que sofrem de transtornos alimentares, o autor dessa dissertao criou em 14 de abril de 2006, uma comunidade no Orkut com a denominao Anorexia e Bulimia Nova Viso. O perfil das pessoas que participam da comunidade abordado no terceiro captulo. A escolha da mdia Orkut foi justificada pela febre entre os brasileiros, que contriburam para que essa rede social fosse o site com mais page views (pginas visualizadas) do Google no mundo. E foram justamente as comunidades temticas, que se caracterizam pela discusso em torno de um interesse comum, que explica este fenmeno de mdia, o que pode ser confirmado pelo amplo debate em tpicos criados pelos usurios ou pelo coordenador da comunidade, sobre os caminhos atuais de tratamento dos transtornos alimentares. O objetivo central da formao dessa comunidade foi de verificar a possibilidade de criao de um espao que possibilitasse uma concreta educao para a sade. Por isso, essa dissertao se preocupou em analisar a comunidade citada acima, e verificar se o contedo existente estava adequado proposta, utilizando o ambiente da internet como meio de divulgao cientfica. Optou-se por uma pesquisa qualitativa de cunho exploratrio e descritivo, pois essa a forma possvel quando se buscam percepes e entendimentos de aspectos subjetivos e motivaes no explcitas. Nesse caso, no h neutralidade possvel, embora ela seja sempre impossvel em qualquer caso. A participao do pesquisador nesse processo de pesquisa envolve uma contnua anlise e aprendizagem, numa relao entre sujeitos, portanto dialgica, no havendo um objeto a ser contemplado e conhecido. Ou seja, no h a pretenso em se falar sobre anorticos ou bulmicos, mas se falar com eles, pois o pesquisador e os pesquisados esto em
15 interao contnua, o que tambm se reflete nas transformaes que acontecem na prpria comunidade.
(...) um sujeito, como tal, no pode ser percebido nem estudado como uma coisa, uma vez que sendo sujeito no pode, se continua sendo-o, permanecer sem voz; portanto o seu conhecimento s pode ter carter dialgico. (Bakhtin,1985, p.383)
Inicialmente, a proposta era de elaborar o produto final dessa dissertao a partir da comunidade citada, avaliando-se seu contedo. No entanto, para evitar alguns transtornos provocados pela administrao do Orkut, a opo final foi de construir um site, <www.anorexiaebulimia.com>, como produto final desta dissertao de mestrado, com o objetivo de divulgar criticamente idias cientficas, atravs de postagens de artigos, vdeos, sendo este o tema do ltimo captulo. Tambm se buscou ofertar espaos para postagens e discusso, aproveitando mais recursos educacionais. Dessa forma, o produto final desse trabalho pretende ser um espao para o processo de alfabetizao cientfica, j que tem a possibilidade de atingir pessoas de formaes distintas, de faixas etrias diversas, possibilitando que a grande maioria tenha acesso aos conceitos necessrios para pensar sobre conhecimentos cientficos que sejam importantes para a sua sade. Pretende-se atingir os objetivos gerais de promover sade integral, gerar desenvolvimento das potencialidades, da autonomia, e contribuir para a transformao da prpria realidade, utilizando o ambiente da internet atravs de uma comunicao informal, propositalmente escolhida, j que as pessoas que sofrem de transtornos alimentares, principalmente anorxicas e bulmicas, gostam de manter sua privacidade, no revelando, muitas vezes, nem aos parentes ou amigos mais prximos, sua relao conflitante com os alimentos. Ainda, nesta dissertao, no primeiro captulo, discutimos os transtornos alimentares em seus vrios aspectos. No levantamento da literatura, observamos que alguns trabalhos, como exemplo o de Weinberg, Cords e Munoz (2005) e o de Cords e
16 Claudino (2002), ainda se perdem ao propor uma analogia entre o comportamento de santas medievais e as anorxicas atuais, sem considerar que no existem alguns critrios fundamentais para esse diagnstico atravs dos relatos antigos, assim como, o principal fator para o diagnstico da anorexia nervosa, conforme critrio adotado pelo CID-10 (2003) (Classificao Internacional de Doenas) e DSM-IV (Manual Estatstico e Diagnstico das Desordens Mentais, quarta edio), a distoro da imagem, elemento que no se apresenta nos textos que criaram o conceito da anorexia sagrada. No h o medo mrbido de engordar e no h a imagem gorda refletida no espelho, nas santas da Igreja Catlica, afastando esse diagnstico a-histrico. Talvez, por no se saber a etiologia dos transtornos alimentares, a American Dietetic Association (ADA, 2001), recomenda um tratamento realizado por uma equipe multiprofissional, com carter interdisciplinar. Infelizmente, apesar da proposta de atuao interativa entre profissionais de sade, interesses corporativos so bastante presentes na rea da sade, como podemos perceber com a discusso recente sobre a lei que regular o Ato Mdico4. A prtica interdisciplinar ainda muito incipiente no campo educacional, o que faz com que no ocorra interao entre profissionais diversos, cada um retendo a sua tica, a sua percepo de mundo, isoladamente. O tratamento, consequentemente, uma combinao de retalhos, com prescrio injustificada de medicamentos que alteram o sistema nervoso, internaes hospitalares e uma abordagem nutricional que busca fundamentalmente o aumento da ingesto de calorias, sem considerar a qualidade dos alimentos administrados. Dessa forma, o prognstico no tratamento da anorexia apresenta uma taxa baixa de recuperao, em torno de 36%, e uma previso de perodo de 10 a 15 anos de tratamento Alm disso, a recuperao envolve apenas o
O PL 7.703/06, que regulamenta as atividades privativas dos mdicos e est em tramitao no Senado, recebeu crticas de todos os outros Conselhos da rea de sade por considerarem que o projeto de lei prejudica a competncia profissional dos outros profissionais de sade, colocando em risco a sade da populao brasileira.
17 restabelecimento do peso, o retorno da menstruao, e a normalizao dos comportamentos alimentares, no levando em considerao a recidiva da sndrome, tornando os resultados ainda mais questionveis. Para aumentar a circulao de idias, que por serem contrrias ao capitalismo encontram pouca penetrao, o espao da divulgao cientfica no pode se confundir com a prtica da informao, atravs da simples transmisso de notcias, como se elas fossem isentas de ideologias. No segundo captulo, discutimos que no h neutralidade na cincia, e isso pode ser constatado em vrios autores e momentos histricos, como em 1838, quando se divulga que o leite de vaca tem mais protena do que o leite materno, informao que vai ser aproveitada pelo mercado, em detrimento da sade dos nascituros vindouros (REA, 1990). No Brasil, j no sculo XX, o marketing da indstria de leite influencia diretamente o pensamento mdico, fazendo pediatras acreditarem que uma das
formas de combater a mortalidade infantil era a administrao de frmulas lcteas s crianas (AMORIM, 2005). Portanto, transmitir contedos sem acrescentar uma viso crtica no
contribui para a compreenso de como a cincia funciona, fortalecendo as ideologias do mito da cincia como verdade, e da neutralidade cientfica, ou seja, a cincia como saber puro e autnomo. Para que(m) til a alfabetizao cientfica que fazemos?, pergunta Chassot (2003, p.99). Portanto, fundamental que haja uma alfabetizao crtica, possibilitando que se perceba as contradies e interesses por trs de um discurso, seja ele caracterizado como um artigo cientfico ou no. Esperamos que nosso processo de construo possa contribuir com novas possibilidades de percepo sobre os transtornos alimentares.
18 1. TRANSTORNOS ALIMENTARES
1.1. Justificativa
A incidncia dos transtornos alimentares aumentou muito, tendo praticamente dobrado nas duas ltimas dcadas, especialmente entre as mulheres jovens dos pases ocidentais, conforme foi constatado por diversos autores como Dunker & Philippi (2003). Bhadrinath (1990) descreveu a anorexia nervosa como um fenmeno raramente encontrado na sia, frica ou em pases rabes, considerando que a razo disso est na no valorizao da esttica magra nos corpos femininos, sem considerar as diferenas na cultura alimentar entre essas regies e o ocidente. Mas Hoek (1998) percebeu que os transtornos alimentares no so um fenmeno puramente ocidental, o que foi confirmado por pesquisas em pases orientais, incluindo dois estudos japoneses que compararam as populaes urbanas e rurais, quanto incidncia da anorexia. Ambos estudos encontraram valores superiores de incidncia nas populaes urbanas. Em um deles, nas escolas de 2. Grau em Kyoto, a prevalncia foi quatro vezes superior em relao a meninas de escolas de reas rurais (AZUMA E HENMI, 1982). O outro estudo encontrou uma prevalncia aumentada em trs vezes para meninas japonesas de reas urbanas, comparativamente com as de reas rurais (OHZEKI et al,1990). Encontramos tambm estudos, realizados em outros pases, apresentando resultados discordantes, ou seja, sem diferenas significativas entre as populaes rural e urbana, quanto incidncia da anorexia nervosa. Mas preciso observar que, ao contrrio de outros lugares, a diferena dos hbitos alimentares entre a populao rural e urbana no Japo, cada vez mais se acentua. (MITCHELL, INGCO E DUNCAN, 1997). Essa no percepo das diferenas entre as culturas pode justificar os resultados contraditrios nas pesquisas.
19 Os transtornos alimentares tambm no esto restritos a uma faixa scioeconmica, havendo uma distribuio ampla, conforme relatou Hay em 1998. Mas, a freqncia se apresenta maior em pases industrializados, segundo diversos estudos como os de Wlodarczyc-Bisaga e Dolan (1996), Lee et al. (1998) e Ghazal et al. (2001). Por exemplo, nos Estados Unidos, entre os transtornos alimentares, a anorexia a terceira doena crnica mais comum entre adolescentes, s perdendo para a obesidade e a asma, sendo que sua prevalncia varia de 2 a 5% em mulheres adolescentes e adultas (FISCHER et al, 1995). Alm do crescimento alarmante na incidncia desse transtorno alimentar, Saito e Fagundes-Neto (2004) observam que na anorexia nervosa a taxa de mortalidade est associada a doenas como as cardacas, alm da ocorrncia de suicdios. Esses dados so suficientes para justificar os transtornos alimentares como foco de vrios estudos e ateno dos profissionais da rea da sade. Os transtornos alimentares, especialmente a anorexia, apresentam elevados graus de morbimortalidade, podendo ser considerados epidemiolgicos (PINZON E NOGUEIRA, 2004). O estudo de Theander (1983), realizado na Sucia, apresenta uma elevada porcentagem de 20% de mortalidade por complicaes resultantes da anorexia. Em outros levantamentos, a taxa de mortalidade permanece elevada, como no estudo de Ratnasuriya et al. (1991) com 17,5% e Ajuriaguerra (1976) com 9,81%. Percebemos que mulheres em idades reprodutivas esto falecendo, por uma sndrome que vem aumentando progressivamente sua incidncia, apesar da ateno dos profissionais da rea de sade e das pesquisas.
1.2 Conceitos Os transtornos no se confundem com doenas, pois nos primeiros a etiologia ainda est sendo investigada e, por isso, ainda no podem ser definidos como doenas, cuja etiologia est definida, mesmo que mais tarde se descubra uma outra origem. Os
20 transtornos alimentares so sndromes comportamentais cujos critrios diagnsticos tm sido amplamente estudados nos ltimos 30 anos. Esto divididos em duas categorias principais: anorexia nervosa e bulimia nervosa (MAGALHES et al., 2005). A Agncia Nacional de Sade Suplementar (2008), ANS, em suas diretrizes para a sade mental, atravs de estudos da American Psychiatric Association (2000), APA, e diversos autores como Kurth et al. (1995), Shisslak, Crago & Estes (1995) e Keel, Leon & Fulkerson (2001), observa que entre os transtornos alimentares, as principais patologias so a anorexia nervosa, que ocorre em 0,5% a 1%, e a bulimia nervosa que prevalente em 0,9% a 4,1% da populao adolescente e de adultos jovens do sexo feminino. Por esse motivo, este estudo dar maior contorno a estas duas patologias, embora tambm faam parte dos transtornos alimentares, por exemplo, o Transtorno de Compulso Alimentar Peridica (TCAP), o Transtorno Alimentar Noturno e o Binge, includos no Manual Estatstico e Diagnstico das Desordens Mentais, em sua quarta edio, (DSM-IV APA,1994) como Transtornos Alimentares Sem Outra Especificao, cdigo F50.9 307.50. O Pica, uma perverso instintiva do apetite e paladar, includo como um transtorno alimentar de primeira infncia. Importante observar que a obesidade no considerada um transtorno alimentar, sendo includa na Classificao Internacional de Doenas (CID) como um problema mdico, sem conexo suficiente com a psique. A bulimia nervosa se diferencia pelos episdios de ingesto exagerada de alimentos, acima da quantidade que a maioria das pessoas comeria em um mesmo perodo, seguidos de mtodos compensatrios purgativos, principalmente vmitos autoinduzidos, com sentimentos de perda de controle, fraqueza, culpa e vergonha (SAPOZNIK et al., 2005). A anorexia nervosa um outro tipo de transtorno alimentar que apresenta dimenses de maior gravidade e maior complexidade no tratamento.
21 Etimologicamente, o termo anorexia deriva do grego an, que quer dizer deficincia ou ausncia de, e de orexis, que pode ser traduzido como apetite. Bruch (1973) foi a primeira a mencionar a distoro da imagem corporal vista como um distrbio da paciente com anorexia nervosa na percepo de seu corpo, em 1962, propondo que a psicopatologia central da anorexia nervosa compreendesse trs reas. A dos transtornos da imagem corporal, a dos transtornos na percepo ou interpretao de estmulos corporais (quando ocorre no reconhecimento da fome) e, por ltimo, uma sensao paralisante de ineficincia que invade todo o pensamento e atividades da paciente. Hilde Bruch considerava o fator da distoro da imagem corporal mais alarmante do que a m nutrio em si, presente na anorexia. Pensamento acompanhado por Cash e Deagle (1997), que consideram o distrbio da imagem corporal um sintoma nuclear nos transtornos alimentares. Mahan e Stump (1998) tambm reforam esse fator, pois em funo dessa distoro da imagem corporal, os indivduos com anorexia nervosa no se percebem magros, mas sempre gordos, e, por isso, continuam a restringir suas refeies de uma maneira ritualizada. Duchesne e Almeida (2002) acrescentam que a anorexia estaria dependente de crenas distorcidas acerca do peso e formato corporal, sendo o distrbio da imagem corporal determinante central para o diagnstico e para o tratamento. Para Tavares (2003), a imagem corporal distorcida com que a anorxica se percebe como obesa, no um delrio ou distoro em seu pensamento, mas a revelao da identidade de um sujeito na histria de suas relaes concretas, com suas memrias e singularizao de uma rede de informaes. Essas definies so fundamentais, pois caracterizam o quadro da anorexia nervosa, compondo o diagnstico. Segundo o Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais, em sua quarta edio, (DSM-IV APA,1994), que inclui as primeiras definies de Lasgue e
22 Gull at posies mais recentes, a anorexia nervosa se caracteriza como: a recusa do indivduo em manter um peso corporal na faixa normal mnima, um temor intenso de ganhar peso e uma perturbao significativa na percepo da forma ou tamanho do corpo. Alm disso, as mulheres ps-menarca com este transtorno so amenorricas. A CID-10 (Classificao Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade) tambm cita o medo de engordar e a percepo de se estar muito gorda(o), como um dos critrios para a identificao da anorexia. Portanto, como percebemos, esses so os critrios para se considerar uma pessoa com anorexia nervosa.
1.3 Anorexia sagrada Bell (1985), em seu livro Holy Anorexia, cria um paralelo entre o comportamento de 250 mulheres santas ou beatas da Igreja Catlica, que teriam vivido entre 1200 e 1600, com a anorexia nervosa, o que ele denomina de anorexia sagrada, considerando que tanto nas santas estudadas, assim como nas atuais anorxicas, existe conflito de identidade, e uma tentativa de libertao feminina da sociedade predominantemente patriarcal. Para essa associao, Rudolf Bell utilizou-se de escritos autobiogrficos, cartas, testemunhos de confessores e relatos cannicos. Seu trabalho influenciou vrios outros, como o da psiquiatra chilena, Rosa Behar (1991, p.710), que diagnostica a anorexia nervosa em Santa Rosa de Lima, apesar de fazer uma ressalva de que no corresponderia catalogar a la primeira (Santa Rosa, destaque nosso) como anorctica, ni a la ltima (anortica atual, destaque nosso) como santa5. Adverte Behar (ibidem) que,
(...) describir a Santa Rosa como uma anorctica seria caer em um mero reduccionismo y desacreditar su especial calidad y fervor mistico, tal y como fue vivido y percebido por ella. Vale decir, seria convertir uma conducta humana compleja em uma simple
No seria correto catalogar Santa Rosa como anorxica, nem a anorxica atual como santa.
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aproximacin biomdica, ignorando adems la inmensa distancia habida entre el ser uma santa y ser una paciente.6
Mas, apesar das ressalvas de Behar em seu pargrafo final, essa associao encontra-se presente na maioria dos artigos publicados, tendo influenciado vrios autores, incluindo Weinberg (2004), que em funo do que ele denomina como registros de anorexia nervosa em outras pocas e culturas, baseado na histria das santas e beatas da Idade Mdia, com seus jejuns auto-impostos, considera que a importncia do papel da moda discutvel. Seu argumento reconhece nas santas um ideal no de beleza, mas de ascese e de comunho com Deus, no entanto, considera o trabalho de Behar como a prova da existncia de uma anorexia nervosa no contempornea.
A existncia de transtornos alimentares em outras culturas e sculos anteriores aos relatos de Morton (1689), Gull (1868) e Lasgue (1874) de grande interesse psicopatolgico, na medida em que coloca no centro da discusso a questo do patogentico e do patoplstico em psiquiatria e torna relativa a influncia da modernidade, muitas vezes colocada como fator principal. (...) traar um paralelo entre as anorxicas atuais, as meninas clorticas do sculo XIX e as santas medievais levou-nos a perceber comportamentos que surpreendem pela proximidade, ainda que a forma e a motivao dos comportamentos restritivos tenham variado ao longo do tempo. (...) Apesar de considerada por muitos uma patologia contempornea, h evidncias de que a anorexia atual seria um contnuo de um tipo de comportamento inalterado atravs da histria do Ocidente. (...)Patografias como as de Rosa de Lima oferecem no apenas provas da existncia da doena em diferentes pocas, como o paralelismo de seu quadro com o das santas anorxicas da Europa medieval salientam o carter transcultural de seu quadro. (WEINBERG, 2004, P.55).
Essa associao se difundiu, apesar de Habernas (1989) defender que no h possibilidade de se fazer essa analogia, pois no existem alguns critrios fundamentais para o diagnstico atravs dos relatos antigos, alm de que a expresso religiosa estava associada com a autoflagelao, no perodo medieval. Alm disso, o principal fator para
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Descrever Santa Rosa como apenas anorxica seria cair em um mero reducionismo de desacreditar em sua especial qualidade e fervor mstico, tal como foi vivido e percebido por ela. Vale dizer, seria converter uma conduta humana completa em uma simples aproximao biomdica, ignorando alm disso a imensa distncia que existe entre ser uma santa e ser uma paciente.
24 o diagnstico da anorexia nervosa, critrio adotado pelo CID-10 e DSM-IV, a distoro da imagem, elemento que no se apresenta nos textos que fundamentaram a criao do conceito da anorexia sagrada. No h o medo mrbido de engordar e no h a imagem gorda refletida no espelho. Finalmente, Foucault (2006) nos lembra que o corpo no obedece apenas s leis da fisiologia, mas tambm as da histria. Ou seja, o corpo formado pela histria de seus regimes, venenos, alimentos, valores, hbitos alimentares e leis morais. Viso compactuada por Polhemus (1978) que considera que o corpo humano somente concebvel dentro da construo social da realidade, e por Helman (1994) que observa os alimentos, no como elementos nutricionais, mas vinculados cultura. Segundo Viertler (2000, p. 171) entre os Bororo, para ser belo no basta comer a dieta adequada, mas preciso saber consumi-la, aprendendo a controlar a gula e a vomitar os excessos, em suma, preciso comer pouco. O paralelo proposto por Bell semelhante ao se afirmar que os Bororo sofrem de transtornos alimentares, principalmente bulimia, por causa de seus rituais de vmito, e anorexia, pelo controle da quantidade de alimentos ingeridos, sem considerar que so atos culturais e vistos como tcnicas de purificao. Portanto, um erro tentar descolar as santas medievais de sua histria e diagnostic-las atravs de um olhar contemporneo. Mais erro ainda propor esse diagnstico, sem levar em considerao os prprios conceitos que definem o perfil desse transtorno, presentes no CID-10 e no DSM-IV. Fazer isso se afastar ainda mais da possibilidade de definio da etiologia da sndrome, prejudicando o prprio tratamento.
1.4 Etiologia Artigos publicados sobre os transtornos alimentares, como os de Dunker & Philippi (2003), Gonalves et al. (2008), Vilela et al. (2004), Morgan et al. (2002), afirmam que a etiologia multifatorial, porque seria determinada por uma diversidade de
25 fatores que interagem entre si de modo complexo, para produzir a doena. Abott et al. (1993) j afirmavam o desconhecimento sobre a origem dos transtornos, mas sugeriam que em sua gnese houvesse uma associao de fatores sociais, psicolgicos e biolgicos. Appolinrio & Claudino (2000) tambm acreditam que diversos fatores biolgicos, sociais e psicolgicos se inter-relacionam, gerando e mantendo os transtornos, e, por isso, o tratamento difcil. Amigo (2005) tenta demonstrar a associao da anorexia com distrbios neuroqumicos, pois essas anormalidades podem ser conseqncia do prprio estado de desnutrio, ao invs de ser a causa, mas reconhece a dificuldade em poder afirmar isso. Cereser (2001) compartilha dessa proposio, pois acredita ser a inanio a responsvel por provocar as alteraes nos neurotransmissores, observando ainda no ser possvel comprovar a associao etiolgica por dificuldades na prpria pesquisa. Morgan (2002) sugere, que a privao alimentar, e sua conseqente desnutrio, possa ser a causa das alteraes fsicas e psicolgicas dos pacientes. Lask el al. (1993) tentaram associar a anorexia com a deficincia de zinco, sem ainda explicar a origem da prpria deficincia do mineral. Matarazzo (1992) acredita que a anorexia seja a materializao no fsico de um problema emocional. Percebe-se ento que no se conhece a origem dessa patologia, o que ir afetar o prognstico do tratamento, como pode ser observado a seguir.
1.5 Tratamento Os transtornos alimentares so justamente descritos como transtornos, e no como doenas, por ainda no se conhecer sua etiopatogenia, como pode ser observado pelo item anterior. Apesar disso, artigos reforam e reproduzem discursos anteriores, como vimos na criao do conceito da anorexia sagrada, no conseguindo avanar nos tratamentos, que permanecem sem alcanar ndices satisfatrios, apesar das propostas de
26 interdisciplinaridade na atuao teraputica. A American Dietetic Association (1998), ADA, recomenda que o tratamento dos transtornos alimentares seja realizado por uma equipe multiprofissional, com carter interdisciplinar. Essa uma tentativa de buscar a etiologia do transtorno e um tratamento mais eficiente, atravs da atuao interativa de profissionais de sade As equipes multidisciplinares so compostas por psiquiatras, clnicos gerais, psiclogos e nutricionistas, principalmente nos ambientes hospitalar e ambulatorial (GORGATI e colaboradores, 2002). No entanto, a prtica interdisciplinar ainda muito incipiente em nosso campo educacional, sofrendo ainda interferncias dos interesses corporativos, bastante presentes na rea da sade. Os principais mtodos teraputicos adotados utilizam frmacos, estratgias nutricionais e neuropsicolgicas (APPOLINRIO E BACALTCHUK, 2002; ADA, 2001). O uso de medicamentos na sndrome anorxica defendido por alguns autores que consideram uma forma de psicose as distores na percepo da imagem. Pretendem tambm corrigir com medicamentos as alteraes do apetite e os sintomas depressivos associados (ZHU E WALSH, 2002; APPOLINARIO E SILVA, 1998). Appolinario e Silva (1998) ainda observam que em razo do grande nmero de complicaes clnicas concomitantes, a prescrio de agentes farmacolgicos deve ser feita com bastante cautela. Mesmo com os cuidados recomendados, a defesa da prescrio de medicamentos no se justifica, pois estes no so direcionados etiologia da sndrome, j que ela multifatorial e, portanto, desconhecida. Medicamentos antidepressivos e antipsicticos, que tiveram resultados satisfatrios em estudos abertos para a anorexia nervosa, foram criticados em ensaios clnicos randomizados, atravs de resultados no confirmados (LACEY et al., 1980; KAYE et al, 2001; VANDEREYCKEN E PIERLOOT, 1982; WEIZMAN et al, 1985). Freitas (2004) observa que as drogas de escolha so a fluoxetina ou o citalopram, inibidores seletivos de recaptao da
27 serotonina, embora alerte para a necessidade de observar os riscos desses medicamentos. E ainda ressalta que apesar da amitriptilina proporcionar ganho ponderal, aumenta o risco de problemas cardacos, pois so ministrados a pacientes com grande deficincia nutricional e com desequilbrio eletroltico. Os resultados dos estudos com os antidepressivos (clomipramina, amitriptilina e fluoxetina), e os antipsicticos (pimozida, sulpirida) mostram que no h diferena estatisticamente significativa, na fase aguda, quando comparados ao placebo. Beecher (1955) j observava que a taxa de resposta do placebo fica em torno de 35%, publicada em seu artigo O poderoso placebo. Teixeira (2008) relata que a cincia ignora a natureza do efeito-placebo e os motivos de sua eficcia, mas observa que apesar disso, os mdicos, em sua prtica clnica, renunciam a utilizar seu poder de cura e alvio. Preferem prescrever, como placebo, vitaminas ou analgsicos que dispensam receita, e antibiticos ou sedativos, ao invs de plula de acar ou soluo salina. Tiburt el al (2008), avaliaram atravs de questionrio, mil e duzentos clnicos e reumatologistas em atividade nos Estados Unidos para compreender suas atitudes e comportamentos referentes a tratamentos com placebo. Apesar de mais da metade reconhecer que incorpora o placebo em sua prtica diria e considera seu uso eticamente permissvel, a questo para os autores foi descobrir porque os mdicos utilizam, como placebos, substncias ativas farmacologicamente. O artigo, publicado em outubro de 2008 pelo exBritish Medical Journal, atualmente BMJ, levanta a hiptese de que o mdico possa se sentir enganando mais ativamente seu paciente ao indicar uma plula com substncia completamente inativa. A deciso pela prescrio de antibiticos e sedativos, principal descoberta do estudo, preocupa pelas conseqentes reaes adversas para pacientes e para a sade pblica. Os autores no levantaram a possibilidade da prescrio ser uma influncia exercida pela indstria farmacutica, desde os perodos de estudo na
28 universidade. Patel et al (2005) apresentam uma taxa aproximada de 20 a 45% para a resposta do efeito placebo, observada em meta-anlises recentes. Um percentual, por vezes superior ao obtido pelo tratamento multidisciplinar aplicado usualmente para a anorexia nervosa. Ento, no se justifica utilizar frmacos que podem gerar efeitos adversos, j que a Associao Mdica Mundial reunida em assemblia em Paris, em outubro de 2008, alterou o artigo 32 da Declarao de Helsinque, que regula a pesquisa clnica com seres humanos, considerando que o uso de placebo, ou o no-tratamento passa a ser aceitvel quando, para a doena estudada, no existir current proven intervention, ou seja, uma interveno atual comprovada, o que o caso da anorexia nervosa. At ento, a norma considerava que a prescrio de placebo significava burlar a confiana do paciente, violando, dessa forma, a regra do consentimento informado. Alm do ambiente ambulatorial onde est presente a prescrio medicamentosa, existe a teraputica de internao hospitalar, permitida pela legislao brasileira, com o atestado de um laudo mdico comprobatrio e de um termo de responsabilidade da familiar responsvel. No entanto, isso no uma regra, pois em junho de 2007, uma adolescente de 15 anos na Bahia, teve sua internao determinada pela justia, a pedido da equipe mdica do Hospital So Matheus, apesar da no concordncia dos pais (GLOBO.COM..., 2007). A justificativa para a internao compulsria encontrou-se na alegao que alguns pacientes no possuem conscincia crtica de sua morbidade, podendo correr risco de morte iminente. Mas Russel (2001) faz a ressalva de que a internao sem a concordncia da prpria paciente questionvel, sendo vlida apenas em curto espao de tempo, suficiente apenas para a recuperao do IMC (ndice de massa corporal). Ramsay et al (1999) apresentam argumentos mais contundentes contra a internao na anorexia, ao observarem que ocorrem taxas maiores de mortalidade em pacientes internadas contra a sua prpria vontade, fator ignorado pela equipe mdica do
29 Hospital So Mateus em 2007. Importante observar que a teraputica alimentar ministrada no ambiente hospitalar tambm pode levar a maiores danos, j que somente se preocupa com o aumento do IMC, sem perceber a toxicidade presente na prpria alimentao. Na abordagem nutricional a meta visa fundamentalmente o aumento da ingesto de calorias, para que ocorra uma recuperao do peso, estratgia defendida por vrios autores, como Rock e Curran-Celentano (1996); Dempsey e outros (1984); Vaisman e outros (1991). A ADA (2001) determina que o nutricionista deve monitorar a ingesto diettica para assegurar um ganho de peso apropriado, posio acompanhada pela APA (2000), ao estabelecer que as metas no tratamento nutricional na anorexia nervosa envolvem o restabelecimento do peso, e a normalizao do padro alimentar, atravs de um ganho de peso controlado, recomendando valores entre 900g e 1300g por semana para pacientes que estejam em enfermarias, e 250g e 450g, tambm por semana, para pacientes em ambulatrio. Macarson (2002) estipula que 1.200 Kcal/dia o valor mnimo energtico total da dieta. Podemos observar que no h uma preocupao com o tipo de alimento a ser ministrado, mas com seu valor calrico, a fim de tentar repor o IMC da paciente. Os tratamentos descritos anteriormente no foram estruturados na etiologia da anorexia, pois, como j dito, ela multifatorial, ou seja, desconhecida. Ribeiro (2004, p.205) afirma que em relao aos transtornos alimentares, sua causa desconhecida, apesar das crescentes evidncias apontarem para uma interao de diversos fatores no apenas na gnese, mas tambm na perpetuao do quadro. Isso faz com que o prognstico no tratamento da anorexia apresente uma taxa baixa de recuperao em torno de 36%, em vrios registros (HALMI, 1995), e uma previso de perodo para tratamento, que pode ultrapassar 10, ou mesmo, 15 anos (KEEL et al, 1999). Nunes
30 (1998) refora esse prazo, ao observar que vrios estudos afirmam que um tempo de tratamento menor que 5 anos tende a ser insuficiente. Alm do prognstico no favorvel no aspecto do tempo de recuperao, o critrio de melhora varia entre diversos autores. Enquanto para Herzog, Nussbaum e Marmor (1996) necessrio no haver mais nenhum comportamento compulsivo, Keel et al. (op. Cit.) consideram a paciente recuperada apenas com a diminuio na frequncia das compulses, no havendo necessidade de cessar todos os sintomas. Nabuco de Abreu e Cangelli Filho relatam em seu artigo Anorexia nervosa e bulimia nervosa abordagem cognitivo-construtivista de psicoterapia que o prognstico para a anorexia nervosa no favorvel.
Desde as publicaes mais antigas em revistas especializadas at os dias de hoje, os artigos existentes que so poucos e que por ventura contenham sua descrio, prognstico de melhora ou mesmo os ndices de recuperao, apresentam, na grande maioria, resultados desalentadores. (...) Assim, a pesquisa disponvel a respeito da AN ainda apresenta dados muito contraditrios, embora a maioria dos estudos de resultado em longo-prazo aponte para um sucesso bem mais limitado. Somente para citar um exemplo, em um olhar mais amplo em mais de cem estudos, somente cerca de 50% das pacientes se recuperam totalmente (e isto quer dizer o restabelecimento do peso, a normalizao dos comportamentos alimentares e o retorno da menstruao regular). Outros 30% experienciam uma recuperao parcial caracterizada por algum tipo de resduo ou distrbio no comportamento alimentar e pela falta de habilidade para manter o peso normal. E, finalmente, nos 20% restantes, a doena assume uma forma crnica, no apresentando qualquer sinal de remisso (NABUCO DE ABREU E CANGELLI FILHO, 2004, p.181).
importante ressaltar que a recuperao de 50%, relatada por Nabuco de Abreu e Cangelli Filho (2004), envolve apenas o restabelecimento do peso, o retorno da menstruao, e a normalizao dos comportamentos alimentares, no levando em considerao a recidiva da sndrome. Os prprios autores ressaltam essa dificuldade na recuperao real.
Um outro estudo mais recente com 193 anorxicas sugeriu que, em tratamento de curto prazo, a maioria recobrou o peso com um nico propsito: deixar a internao. Portanto, pode-se facilmente perceber que estamos diante de uma das populaes mais refratrias a qualquer forma de ajuda. (op cit).
31 Fatores tambm percebidos por outros autores, que destacam a ineficincia, a dificuldade, e a resistncia das prprias pacientes.
O tratamento da anorexia nervosa e bulimia tende a ser rduo, prolongado e de resultados duvidosos e, muitas vezes, insatisfatrios. Isso se deve, em parte, s condies inerentes doena que, na sua complexidade e rebeldia, representa um desafio a qualquer esforo teraputico. (RIBEIRO et al, 1998, P.51).
Tambm encontramos essa percepo em Rego (2004, cap.4, p.114) ao afirmar que complexa a discusso sobre o diagnstico e o tratamento desse quadro (anorexia nervosa, grifo nosso) psicopatolgico que contempla diferentes leituras em vrias reas cientficas. preciso lembrar que sem compreender a etiologia, ou seja, a causa primria do transtorno, no h como estruturar um tratamento eficiente, a no ser por sorte. RIBEIRO (2004, p.206) afirma que poucos estudos biolgicos foram realizados para elucidar a patognese e a fisiopatologia da bulimia, e podemos tambm dizer que o mesmo se aplica anorexia nervosa. Steinberg (1987) acredita que os sintomas obsessivos encontrados nas anorxicas so conseqncia de sua deficincia nutricional, observando que eles desaparecem com o restabelecimento do peso. Mas no explica porque, aps o restabelecimento do peso, o comportamento anorxico retorna, no se estabelecendo a cura definitiva. Busse & Ribeiro (2001) observam que nos transtornos alimentares existem sintomas grastrointestinais, e isso pode dificultar o diagnstico da doena celaca, ou mesmo de outra patologia, levando a um diagnstico equivocado de anorexia nervosa. No entanto, da mesma forma que ocorre hipersensibilidade ao trigo, classificada como doena celaca, com sintomas semelhantes ao quadro de anorexia, possvel que a prpria anorexia nervosa se caracterize por um quadro de hipersensibilidade a determinados tipos de alimentos, alm do trigo, tornando a rejeio a esses alimentos um sintoma de um processo de autocura, e no um sintoma a ser
32 combatido. Essa percepo da anorexia como sintoma de um processo de autocura pode ser encontrada em Bruch (1975), ao afirmar que atravs da abstinncia de alimentos, as anorxicas buscam um autodomnio, ou um encontro com o self , ou seja, com o prprio ser. As discusses travadas at aqui mostram aspectos relacionados apenas a conceitos, etiologia e tratamentos. A comunidade anorexia e bulimia nova viso, foi criada no orkut com a inteno de se aproximar do usurio de comunidades e blogs, relacionados com a questo alimentar. A comunidade oferece espaos que permite aos freqentadores no se sentirem inibidos em manifestar pensamentos, sentimentos e prticas. Desta forma, a percepo do problema pelo portador do transtorno alimentar, com quem ele se relaciona e de que forma, nosso objeto de estudo e ser discutida no captulo 3. Como inteno dessa pesquisa a criao de um veculo virtual de informao, antes, porm, discutiremos, no captulo a seguir, as caractersticas da divulgao cientfica.
No h neutralidade na cincia. O doutor John Harvey Kellogg7 utilizou, por exemplo, um discurso cientfico adequado s indstrias que necessitavam de braos, e ofereceu um modelo alimentar para as jovens damas de classe mdia, gerando condies para desviar os corpos femininos para o mercado de trabalho (LEVENSTEIN, 1998). O movimento conhecido como New Nutrition (ibidem), que surge no final do sculo XIX, nos Estados Unidos, tambm utiliza o discurso cientfico para transmitir conceitos de qumica, com o objetivo de sugerir que os operrios economizassem, ao optar por fontes proticas mais baratas, e com isso, mais dinheiro poderia ser gasto em outras despesas. Esse movimento considerava um desperdcio os gastos dos trabalhadores talo-americanos com frutas, verduras e legumes, alimentos sabidamente nutritivos e saudveis, pois entendia que estes alimentos eram constitudos principalmente de gua. Outros vrios exemplos demonstram que no se tratou de equvocos isolados, mas de uma sincronia de interesses entre o discurso cientfico-mdico e o discurso da burguesia detentora dos meios de produo. Rea (1990) retrata em sua dissertao o que ocorreu na Alemanha em 1838, quando se divulga que o leite de vaca tem mais protena do que o leite materno. Informao deslocada de seu contexto, favorecendo ao uso do leite de vaca, e que vai ser aproveitada pelo mercado, em detrimento da sade dos nascituros vindouros. Em 1856, Gail Borden, desenvolve o mtodo para produzir leite condensado. Doze anos depois, Henri Nestl, inicia a produo de leite condensado
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John Harvey Kellogg (26 de fevereiro de 1852 - 14 de dezembro de 1943) foi um mdico cirurgio americano, que dirigia um sanatrio usando mtodos holsticos, e fundou a Sanitas Food Company, com seu irmo, para produzir cereais. Seu irmo, Will Keith Kellogg, rompe a sociedade por insistir em adicionar acar nos cereais, e funda a Battle Creek Toasted Corn Flake Company, que viria a ser a Kellogg Company.
34 enlatado, que passou a ter um papel importante na alimentao infantil na Gr-Bretanha, pois se adequou a necessidades das mes em trabalhar fora de casa. Tambm nesse perodo que aparecem as mamadeiras de vidro substituindo os seios maternos pelo bico de borracha (BULLOUGH, 1981), patenteado nos EUA em 1845 por Pratt, gerando gravssimos problemas de sade s crianas do terceiro mundo, por contaminao dos bicos (MARQUES, 2000). Amorim retrata a influncia do marketing da indstria de leite sobre o pensamento mdico no Brasil, na dcada de 20, do sc.XX.
Pediatras brasileiros desse perodo acreditavam que uma das formas de combater a mortalidade infantil era a administrao de frmulas lcteas s crianas. Esses mdicos eram influenciados pelo marketing das indstrias de leite em p, que destacavam aspectos desse produto, como a pureza bacteriolgica, o equilbrio bioqumico - entre outros. No levavam em considerao que as camadas mais pobres da populao no tinham acesso ao leite industrializado ou, quando dele dispunham, faltava-lhes gua tratada para o preparo das mamadeiras, facilitando a contaminao e a ocorrncia de diarrias. (AMORIM, 2005, P.51).
Foram tambm questes mercadolgicas que levaram ao desenvolvimento de pesquisa cientfica, com o objetivo de substituir matrias primas naturais importadas dos pases tropicais, como o acar de cana, por matrias primas sintticas, como os adoantes sintticos. (SZMRECSNYI e ALVAREZ, 1999). E em 1879, a sacarina produzida pela indstria qumica ou farmacutica, tendo sido o primeiro adoante sinttico, surgindo posteriormente, de maneira acidental, os ciclamatos em 1937, e o aspartame em 1965. (SZMRECSNYI e ALVAREZ, 1999). E, forjados os adoantes sintticos, era necessrio, mais uma vez, a associao do discurso cientfico aos interesses mercadolgicos, acusando o acar de ser uma verdadeira droga, o p branco cristalizado, dermatolgicos, causador de cncer, e doenas cardacas, diabetes, problemas op. cit.).
hiperatividade
lerdeza
mental
(LEVENSTEIN,
35 impulsionou uma nova onda, o Diet, permitindo indstria alimentar expandir o mercado para a utilizao de adoantes sintticos. No importa que hoje os adoantes sintticos sejam alvo de acusaes, associando seu consumo a doenas tambm graves como o cncer, pois a cultura do Diet j impregnou o hbito, garantindo o seu consumo. Entre 1949 e 1959, mais de 400 compostos qumicos novos foram aprovados, sendo que em 1960 a indstria alimentar j utilizava 704 produtos qumicos (ibidem). Na dcada de 1920, surge o movimento da vitaminomania (LEVENSTEIN, 1993), quando so feitos grandes investimentos para o lanamento de produtos alimentcios processados, relacionando a palavra vitamina s idias de vitalidade e energia. A idia somente no foi mais longe na indstria de alimentos, porque uma outra indstria, a farmacutica, entrou rapidamente nessa fatia de mercado, comercializando vitaminas em cpsulas, uma maneira mais prtica que vigora at hoje. O interessante que, a partir da concorrncia, o discurso da indstria alimentcia mudou, levando-a propor um limite na comercializao de vitaminas, atravs de um pacto com a American Medical Association e com o governo americano, baseado na tese de que no havia necessidade de suplementao, pois os alimentos americanos continham todos os nutrientes necessrios, portanto ao consumi-los se obtinha uma boa sade (LEVENSTEIN, 1998). A Nestl, segundo Amorim (2005), patrocinou eventos cientficos na dcada de 30, procurando influenciar profissionais da rea da sade. Essa estratgia plenamente utilizada pelas indstrias ainda hoje, ao financiar congressos, laboratrios em Universidades, entre outras benesses.
As estratgias utilizadas pela indstria, em relao aos profissionais de sade, foram as seguintes: o estmulo a produes acadmicas, premiando os melhores trabalhos na rea de Puericultura e Pediatria; a divulgao de estudos atravs do Servio de Informao Cientfica, criado em 1956, juntamente com o primeiro Curso Nestl de Atualizao em Pediatria; a distribuio de amostras de produtos para os pediatras, acompanhados de folhetos explicativos e orientaes
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sobre a composio qumica dos alimentos; o patrocnio de eventos cientficos, at financiando a participao de profissionais, entre outros. Com esse tipo de estratgia, a Nestl procurou influenciar a formao de profissionais de sade, especialmente dos pediatras, com o objetivo de que o produto chegasse aos consumidores com o aval mdico. Lembramos que, desde 1930, as propagandas de leite em p incorporaram a figura do mdico como avalista do produto, associando-o cincia. Como uma autoridade do saber, respeitada pela populao, o mdico era o intermedirio ideal entre a indstria e o pblico consumidor. (AMORIM, idem, P.106-107).
No de se estranhar o flerte entre a cincia e os interesses do Capital emergente, pois como revela Foucault (2007, p.207),
(...) a questo da ideologia proposta cincia no a questo das situaes ou das prticas que ela reflete de um modo mais ou menos consciente; no , tampouco, a questo de sua utilizao eventual ou de todos os empregos abusivos que se possa dela fazer; a questo de sua existncia como prtica discursiva e de seu funcionamento entre outras prticas.
Portanto, cincia essencialmente discurso, que tem a pretenso da verdade e que no se dissocia do desejo e do poder. A cincia torna-se o supremo juiz daquilo que devemos ou no ingerir, desqualificando ou restaurando alimentos, confirmando que no h neutralidade nesse discurso, mas disputa de poder. Roberto Machado, na introduo de Foucault (2006), ratifica a inexistncia da neutralidade em um saber.
Todo conhecimento, seja cientfico ou ideolgico, s pode existir a partir de condies polticas que so as condies para que se formem tanto o sujeito quanto os domnios de saber. A investigao do saber no deve remeter a um sujeito de conhecimento que seria sua origem, mas a relaes de poder que lhe constituem. No h saber neutro. Todo saber poltico. E isso no porque cai nas malhas do Estado, apropriado por ele, que dele se serve como instrumento de dominao, descaracterizando seu ncleo essencial. Mas porque todo saber tem sua gnese em relaes de poder. O fundamental da anlise que saber e poder se implicam mutuamente: no h relao de poder sem constituio de um campo de saber, como tambm reciprocamente, todo saber constitui novas relaes de poder. Todo ponto de exerccio
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do poder , ao mesmo tempo, um lugar de formao de saber. (FOUCAULT, 2000, p.XXI).
Machado afirma que saber e poder se implicam mutuamente, e essa percepo fundamental no processo de alfabetizao cientfica que esse trabalho prope. Foucault (2007) nos alerta que a influncia da ideologia sobre a cincia est alm da prpria conscincia dos sujeitos da construo.
A influncia da ideologia sobre o discurso cientfico e o funcionamento ideolgico das cincias no se articulam no nvel de sua estrutura ideal, nem no nvel de sua utilizao tcnica em uma sociedade, nem no nvel da conscincia dos sujeitos que a constroem; articulam-se onde a cincia se destaca sobre o saber. (FOUCAULT, 2007, p.207).
Podemos considerar que a prpria comunidade cientfica ignora os fenmenos sociais e polticos que influenciam a atividade cientfica. Por isso, no processo de divulgao cientfica o importante informar sociedade sobre os mecanismos institucionais relacionados com o controle, o financiamento e a organizao da cincia. Transmitir contedos no contribui para a compreenso de como a cincia funciona, fortalecendo as ideologias do mito da cincia como verdade, e da neutralidade cientfica, ou seja, a cincia como saber puro e autnomo, constituda sem a interferncia de fatores relacionados com a poltica, o social e o econmico. Fortalecer a crena no jornalismo cientfico de carter informativo, com o prefixo in caracterizando a ausncia de uma formao no fato a ser narrado, prprio do jornalismo ao dividir os textos publicveis em informativos (como reportagens, entrevistas ou notcias), ou opinativos (como editoriais, artigos e colunas). No prprio jornalismo cientfico encontramos as marcas do sensacionalismo e do marketing, apropriadas para vender as notcias. Mariani (1998, p.81) afirma que a mdia est jogando no interior da prpria iluso que sustenta o mito da informatividade para poder dizer / relatar o que lhe interessa, ou seja, o jornalismo
consequentemente geram maior venda de mdia. Coracini (2003) destaca o funcionamento da imprensa, revelando que ela faz circular o que interessa s instncias do poder.
(...) a imprensa funciona construindo um modelo de compreenso dos sentidos, instituindo uma ordem, isto , organizando e fazendo circular os sentidos que interessam a instncias que o dominam. Declarando-se comprometida com a verdade dos fatos, a imprensa finge no contribuir para a construo das evidncias, atuando no mecanismo ideolgico das aparncias de obviedade. (p. 204)
Segundo Granger (1994), atualmente, no sculo XXI, a cincia ocupa o imaginrio social como produtora de verdades e detentora de poder, conseqncia da expanso do capitalismo, da transformao da cincia em mercadoria, e do surgimento do jornalismo cientfico e da divulgao cientfica. Para entender como no possvel narrar um fato no ideolgico, presente na idia das narrativas informativas, Deleuze (2004) nos revela a transio da sociedade foucaultiana ou disciplinar para a de controle.
certo que entramos em sociedades de controle, que j no so exatamente disciplinares. Foucault com freqncia considerado como o pensador das sociedades de disciplina, e de sua tcnica principal, o confinamento (no s o hospital e a priso, mas a escola, a fbrica, a caserna). Porm, de fato, ele um dos primeiros a dizer que as sociedades disciplinares so aquilo que estamos deixando para trs, o que j no somos. Estamos entrando nas sociedades de controle, que funcionam no mais por confinamento, mas por controle contnuo e comunicao instantnea". (DELEUZE, 2004, p. 215-216).
Hardt (2000) complementa Deleuze, reforando a onipresena desse controle, ao afirmar que ele , assim, uma intensificao e uma generalizao da disciplina, em que as fronteiras das instituies foram ultrapassadas, tornadas permeveis, de forma que no h mais distino entre fora e dentro". (HARDT, 2000, p.369). Pcheux (1995) afirma que a prtica discursiva fundamentalmente ideolgica, por isso, no h como pensar em uma cincia assptica.
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Toda cincia qualquer que seja seu nvel de desenvolvimento e seu lugar na estrutura terica produzida por um trabalho de mutao conceptual no interior de um campo conceptual ideolgico em relao ao qual ela toma uma distncia que lhe d, num s movimento, o conhecimento das errncias anteriores e a garantia de sua prpria cientificidade. Nesse sentido, toda cincia inicialmente cincia da ideologia da qual ela se destaca. (Pcheux, 1995, p.63-64).
Portanto, no h cincia no ideolgica, no h divulgao cientfica informativa, pois em toda comunicao existem idias circulando. Dessa forma, na comunicao cientfica, no se trata apenas de transmitir conhecimentos, mas de determinar qual viso de cincia encontra-se acoplada atividade proposta. Segundo Christovo Braga (1997, p.40), John Bernal cria na dcada de 40 o termo comunicao cientfica para expressar entre pesquisadores (...) o amplo processo de gerao e transferncia de informao cientfica. Paul Hurd cria a denominao alfabetizao cientfica em uma publicao na dcada de 50, a Science Literacy: Its Meaning for American Schools (HURD, 1958). Na dcada de 60, Garvey (1979) apresenta um modelo onde o prprio pesquisador ou cientista o emissor da informao apresentada aos seus prprios pares. Bueno (1984) prope a diferenciao dos termos difuso cientfica, disseminao cientfica, e divulgao cientfica, considerando o primeiro termo como sendo o mais amplo, abrangendo todos os processos usados com o objetivo de comunicar a informao cientfica e tecnolgica ao pblico em geral, ou seja, para especialistas ou leigos. A disseminao cientfica pressupe a transferncia de informaes cientficas e tecnolgicas, transcritas em cdigos especializados, a um pblico seleto, formado por especialistas (BUENO, 1985, p. 1421). Bueno (ididem) ainda prope a diferenciao da disseminao cientfica em dois segmentos distintos, intrapares e extrapares, considerando os interlocutores. No primeiro segmento, a comunicao acontece entre especialistas de uma mesma rea do saber, o que permite cdigos fechados e contedos especficos. No segundo segmento, a propagao da
40 informao cientfica atinge um pblico tambm especialista, mas de outras reas do conhecimento, estabelecendo uma comunicao interdisciplinar. A divulgao cientfica o termo que aparece com mais freqncia na literatura, mas tem um sentido mais restrito, pois busca apenas o pblico leigo, atravs da traduo da linguagem especializada. Apesar do modelo proposto por Bueno, Hernndez Caadas (1987, p. 25), observa que os termos difuso, disseminao e divulgao cientficas so freqentemente utilizados sem rigor conceitual, na literatura, sendo a difuso cientfica o mais geral, significando (...) todo e qualquer processo ou recurso utilizado para a veiculao de informaes cientficas e tecnolgicas. Concordando com a classificao de Bueno, baseada em acordo com o pblico a que se destina a linguagem cientfica, Caadas prope que a difuso cientfica, o termo mais geral, divida-se em disseminao cientfica, difuso para especialistas e divulgao cientfica voltada para a circulao de informao cientfica para o pblico em geral. Gonzalez (1992, p. 19) percebe a divulgao cientfica como a comunicao entre cincia e sociedade, sendo uma democratizao relativa do conhecimento cientfico, que legitima e refora o perfil ideolgico da cincia. O produto final desse trabalho pretende ser uma estratgia prtica de divulgao cientfica, ou seja, direcionado ao pblico em geral, mas revelando as contradies e os conceitos presentes nos discursos cientficos relacionados aos transtornos alimentares. Tambm ser um espao para o processo de alfabetizao cientfica, j que tem a possibilidade de atingir pessoas de formaes distintas, de faixas etrias diversas, possibilitando que a grande maioria tenha acesso aos conceitos necessrios para pensar sobre conhecimentos cientficos que sejam importantes para a sua sade, e, dessa forma, ajudar a resolver necessidades bsicas de sade, e adquirir percepo crtica das relaes complexas entre cincia e sociedade (FURI et al., 2001). Chassot (2003, p.91) explica
41 a necessidade de haver alfabetizao cientfica, pois sendo a cincia uma linguagem (...) ser alfabetizado cientficamente saber ler a linguagem em que est escrita a natureza. Mas, alerta com a pergunta para que(m) til a alfabetizao cientfica que fazemos? (ibidem, p.99). Portanto, fundamental que haja uma alfabetizao crtica, possibilitando que se perceba as contradies e interesses por trs de um discurso, seja ele caracterizado como um artigo cientfico ou no. Promover sade permitir o desenvolvimento de habilidades e atitudes para a formao de uma conscincia crtica e do empowerment pessoal (LAVERACK, 2001). No inteno fornecer textos sem o seu desnudamento ideolgico, pois como observa Pozo (2002) h excesso de informao disponvel.
Em comparao com outras culturas do passado, em nossa sociedade no preciso buscar ativamente a informao, desejar aprender algo, para encontr-la. antes, a informao que nos busca, atravs da mediao imposta pelos canais de comunicao social. (POZO, 2002, p.35).
De fato, Mueller (2000) observa a ampliao das formas de acesso e difuso de informao, mais eficientes, rpidas, e capazes de vencer barreiras geogrficas, hierrquicas e financeiras. Merton (apud PINHEIRO, 2002, p.10) refora essa percepo da velocidade da informao, destacando que os canais informais apresentariam, entre algumas vantagens, alta rapidez e seleo, avaliao e sntese da informao transmitida. A velocidade da comunicao interpessoal, por exemplo, superaria em meses e at anos as demais. Portanto, transmitir simplesmente contedos, alm de no contribuir em uma sociedade abundante de informao, no possibilita dar uma viso adequada de cincia, no contribuindo para que se compreenda como a cincia funciona, nem qual a ideologia h por trs de cada movimento. Chassot (op. cit, p.90) nos diz que se pode afirmar que a globalizao determinou, em tempos que nos so muito prximos, uma inverso no
42 fluxo do conhecimento. Se antes o sentido era da escola para a comunidade, hoje o mundo exterior que invade a escola, de tanta informao que produzida na forma de livros, arquivos disponveis na internet, filmes etc. Utilizar os canais miditicos para transmitir conhecimentos acrticos, com o adjetivo de serem cientficos por terem sido publicados, ou seguido metodologias aceitas na academia, implantar um processo passivo, comumente encontrado na educao tradicional, tambm denominada de bancria por Paulo Freire (2001), pois o receptor apenas arquiva informaes. E a conseqncia dessa educao formar pessoas medocres, a-histricas, como observa Collares et al (1999).
O objeto cognoscvel de que esse sujeito se apropria, forma-o pela incorporao no transformada dos conhecimentos adquiridos. Do ponto de vista da cincia clssica, a educao como formao intelectual forma os sujeitos transformando-os em seres a-histricos, racionais, em que o espao para os acontecimentos est desde sempre afastado. Trata-se de negar a contingncia da subjetividade para evitar o que ela supostamente seria: uma fonte de erros ou de perturbaes (COLLARES et al., 1999, p.207).
Santos (1991, p.32) observa que o prprio mtodo cientfico transformou-se em um mito de um mtodo todo poderoso, universalmente fecundo, especial, mecnico e perene a que os cientistas recorrem para chegar verdade; (...). Isso ocorreu porque, durante sculos, a metodologia quantitativa de provar o conhecimento afastava qualquer dvida sobre esse saber, mas novas teorias apareceram (LAKATOS, 1979). Entre elas, podemos citar Maturana e Varela (2004) que propem uma nova metodologia, resgatando o lugar do qualitativo e do subjetivo.
(...) no se pode tomar o fenmeno do conhecer como se houvesse fatos ou objetos l fora, que algum capta e introduz na cabea. (...) tudo o que dito dito por algum. Toda reflexo faz surgir um mundo. Assim, a reflexo um fazer humano, realizado por algum em particular num determinado lugar. (P.31-32, grifo do autor).
Chassot (2003, p.96) considera o livro Contra o mtodo como uma das obras que foram decisivas para novas concepes de cincia, e ainda, aps destacar adjetivos
43 para seu autor, afirma que prefere estar ao lado dele, que ao lado de posies conservadoras.
Ento, mais uma vez, me parece claro por que Feyerabend, um dos crticos mais perspicazes, faz anlises da cincia to desestabilizadoras. No sem razo que ele chamado em rodas mais fechadas de terrorista epistemolgico, tendo sido chamado por alguns fsicos, mais recentemente, de o pior inimigo da cincia, encabeando uma lista em que so nomeados Karl Popper, Imre Lakatos e Thomas Kuhn (Regner, 1996). Prefiro estar ao lado de Feyerabend, e no de seus crticos conservadores. (ibidem, grifo do autor).
Luckesi (1994) afirma que no existe educao livre de ideologias dominantes, sendo fundamental que ocorra reflexo sobre o prprio processo educativo. Trata-se de aprender a aprender, ou seja, mais importante o processo de aquisio do saber do que o saber propriamente dito. (LUCKESI, 1994, p.58). O processo de aprender a aprender exige um dilogo entre interlocutores ativos e iguais (FREIRE, 2001). Silva e Fernandez (2007, p.29) observam que deve haver ruptura com idias originrias do pensamento positivista, segundo o qual o conhecimento cientfico consiste na descrio positiva dos fenmenos da natureza, idias que apiam a transmisso e no a construo do conhecimento. Caso contrrio, permanece a crtica de Chassot (2010) que em
44 entrevista Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) constata que a maioria do que ensinamos no serve para nada, ou ainda mais trgico: serve para aumentar a dominao. Muito do que ensinamos serve at para fazer alunas e alunos mais refns dos dominadores. Portanto, o produto final dessa dissertao materializa o processo de divulgao cientfica no site <www.anorexiaebulimia.com>, com o objetivo de promover sade integral, gerar desenvolvimento das potencialidades, da autonomia, e contribuir para a transformao da prpria realidade (CANDEIAS, 1997), participando da proposta presente no relatrio final da XI Conferncia Nacional de Sade.
As Polticas de IEC (Informao, Educao e Comunicao) devem (...) estar voltadas para a promoo da sade, que abrange a preveno de doenas, a educao para a sade, a proteo da vida, a assistncia curativa e a reabilitao sob responsabilidade das trs esferas de governo, utilizando pedagogia crtica, que leve o usurio a ter conhecimento tambm de seus direitos; dar visibilidade oferta de servios e aes de sade do SUS; motivar os cidados a exercer os seus direitos e cobrar as responsabilidades dos gestores pblicos e dos prestadores de servios de sade. (CNS, 2010, item 208, grifo nosso)
A proposta utilizar o ambiente da internet e recursos presentes em servios como correio eletrnico, listas de discusso, hipertextos, entre outros disponveis, e estabelecer uma comunicao informal entre os usurios do site, que so pesquisadores de diversas reas do conhecimento, leigos com interesse em assuntos relacionados sade, ou, principalmente, pessoas que sofrem direta ou indiretamente as conseqncias dos transtornos alimentares, possibilitando o desenvolvimento de autonomia no processo de tomadas de deciso, e oferecendo novos caminhos de divulgao do pensamento cientfico (PINHEIRO, 2002). O espao informal foi propositalmente selecionado, j que as pessoas que sofrem de transtornos alimentares, principalmente anorxicas e bulmicas, gostam de manter sua privacidade, no revelando, muitas vezes, nem aos parentes ou
45 amigos mais prximos, sua relao conflitante com os alimentos. Nonin (1999, p.690, destaque nosso) percebe que
O isolamento outro aspecto a ter em considerao, uma vez que se encontra freqentemente associado depresso. Muitas vezes o incio da dieta da anortica induzido, de acordo com a prpria, pelo fato de se sentir gorda e, logo, ostracizada pelos seus pares.
Caracterstica tambm percebida por Appolinrio & Claudino (2000, p.28-29), ao afirmarem que, gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em funo da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, restringindo seu campo de interesses e levando ao gradativo isolamento social (destaque nosso). Portanto, o contato atravs de uma mdia que permite perfis fakes ou e-mails que no revelam imediatamente a verdadeira identidade facilitado, permitindo que se inicie um processo educacional, que vem a ser, inclusive, sugerido pela ADA (1994) como a primeira fase do processo teraputico para pacientes com anorexia nervosa. Apesar do verbo educar ter sua origem no latim educere, que significa conduzir, nosso projeto educacional se inspira em Paulo Freire (1972), atravs da construo de canais de dilogos, da implantao de uma pedagogia no-normativa que possibilita encontros e trocas entre o pblico especializado e o leigo. No aspecto da divulgao cientfica, importante o espao para que o pblico em geral tenha acesso a informaes contraditrias no campo da sade. A democracia nas informaes , de certa maneira, ilusria, pois no campo da sade os grandes laboratrios dominam as mdias com compras de espaos publicitrios, situao j alertada por Landmann (1983).
As companhias farmacuticas no se limitam a agir sobre o mdico e o farmacutico. Hoje, raros so os programas da televiso comercial que no tenham mensagens de remdios para resfriados comuns, cefalias, distrbios digestivos e doenas do fgado, alm da publicidade de fortificantes e vitaminas feita como panacia, por artistas, desportistas ou outras figuras conhecidas. (p.114).
46 Apesar disso, o produto final dessa monografia pretende estar em contnuo processo de elaborao, a fim de, nas palavras de Pereira et al. (2000, p.39), oferecer oportunidades para que as pessoas conquistem a autonomia necessria para a tomada de deciso sobre aspectos que afetam suas vidas, sem provocar culpa por no terem tomado conta de sua sade de maneira adequada (BERLINGUER, 1996). Apesar de Ilya Prigogine, prmio Nobel de qumica em 1977 ter afirmado que somente tinha uma certeza: as de minhas incertezas (L MONDE, 1989, p.59), a prtica mdica, apesar de desconhecer a etiologia dos transtornos alimentares, continua efetuando teraputicas, e ignorando suas incertezas.
47 3. A COMUNIDADE DO ORKUT
O Ibope Nielsen Online (2010a), em julho de 2009, revelou dados de uma pesquisa realizada sobre o ndice de pessoas conectadas em nosso pas, tendo destaque a informao de que os sites de redes sociais tiveram importncia para o crescimento do tempo mdio de conexo do internauta brasileiro.
No ms de julho de 2009, 36,4 milhes de pessoas usaram a internet no trabalho ou em residncias, o que significa um crescimento de 10% sobre os 33,2 milhes registrados no ms de junho. (...) Entre os internautas residenciais, o nmero de usurios ativos chegou a 27,5 milhes de pessoas, um crescimento de 7,4% em relao aos 25,6 milhes do ms anterior e de 16% sobre os 23,7 milhes de julho de 2008. O tempo de navegao em residncias em julho cresceu 9% sobre junho e 21% sobre julho de 2008, e atingiu a marca indita de 30 horas e 13 minutos por pessoa. (...) Em tempo de navegao por pessoa, as categorias que mais cresceram foram Entretenimento, com 13,3%, Buscadores, Portais e Comunidades, com 10,8%, e Telecomunicaes e Servios de Internet, com 9,5%. Sites de redes sociais, de comunicao e de entretenimento foram os que mais contriburam para o crescimento do tempo mdio de uso do internauta brasileiro no ms de julho, informou Jos Calazans, analista de mdia do IBOPE Nielsen Online. (IBOPE, 2010a, grifo nosso).
Entre os sites de redes sociais, Arajo (2006, p. 30) destaca a velocidade do Orkut, lanado de forma discreta em 22 de janeiro de 2004, na conquista de novos membros, ultrapassando a marca de 2.000.000 membros em menos de um ano, sendo que deste total, 75% dos usurios so brasileiros. Melo (2007, p.11) observa tambm que o Orkut tem causado um grande sucesso entre usurios brasileiros. Tal sucesso refletese tambm no fato de que apesar de ser um servio desenvolvido e hospedado nos EUA, o Brasil o pas com mais usurios cadastrados no Orkut. Na figura 1, disponibilizada pela prpria Google, podemos constatar a informao de que o Brasil o pas com o maior nmero de usurios, seguido por ndia, sendo os Estados Unidos da Amrica o terceiro colocado, apesar de ser o local onde se encontra a sede da Google,
48 administradora do Orkut. Interessante observar que no Japo o Orkut sofre uma concorrncia direta do lder Yahoo, desenvolvido, coordenado e localizado no Japo.
Para melhor compreender o conceito da rede social Orkut, filiada ao Google (companhia americana servios na Internet, em <www.google.com>), Melo (2007) define esse servio como sendo um facilitador de contato entre usurios que tm interesses em comum. Um local que tem o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos. Mas no podemos deixar de observar a autodefinio do Orkut.
O orkut uma comunidade on-line criada para tornar a sua vida social e a de seus amigos mais ativa e estimulante. A rede social do orkut pode ajud-lo a manter contato com seus amigos atuais por meio de fotos e mensagens, e a conhecer mais pessoas. Com o orkut fcil conhecer pessoas que tenham os mesmos hobbies e interesses que voc, que estejam procurando um relacionamento afetivo ou contatos profissionais. Voc tambm pode criar comunidades on-line ou
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participar de vrias delas para discutir temas atuais, reencontrar antigos amigos da escola ou at mesmo trocar receitas favoritas.Voc decide com quem quer interagir. Antes de conhecer uma pessoa no orkut, voc pode ler seu perfil e ver como ela est conectada a voc atravs da rede de amigos (...). (ORKUT, 2010a).
Em 30/10/2009, o Ibope Nielsen Online (2010b) publicou notcia divulgada no jornal Brasil Econmico, informando que a rede social Orkut ainda detm grande penetrao entre os usurios da Internet, no Brasil.
Criada em 2004 pelo engenheiro turco do Google, Orkut Buyukkokten, a rede social que tem o nome do seu criador foi dominada pelos usurios brasileiros sem nunca ter feito sucesso nos Estados Unidos e na Europa. (...) Na opinio de Jos Calazans, analista de mdia do IBOPE Nielsen Online, pelo menos por enquanto o Orkut no precisa se preocupar com o Facebook no Brasil, uma vez que o site ainda detm 73% de penetrao entre os usurios da web nacional. (IBOPE, 2010b).
De fato, os brasileiros estabeleceram na internet a febre do Orkut, contribuindo para que essa rede social seja o site com mais page views (pginas visualizadas) do Google no mundo. Uma das possveis explicaes para este fenmeno encontra-se na estratgia do Orkut, ao lanar a novidade, se diferenciando de outras redes, de permitir que os usurios criassem comunidades temticas, que se caracterizam pelo debate e discusso em torno de um interesse comum. Alis, a formao de comunidades pessoais , segundo Meneses (2004), um dos pontos fortes do Orkut. Melo (id) tambm observa que os elementos caractersticos das comunidades do Orkut so os temas, sendo justamente o interesse por contedo informacional comum o fator estimulante para a associao do usurio.
A presena dessas comunidades no Orkut o que mais claramente aproxima este servio de redes sociais s comunidades virtuais tradicionais. Estes ambientes se caracterizam pelo debate e discusso em torno de uma temtica ou interesse comum e a gerao de valores compartilhados e do sentimento de pertencimento. (ibidem, p. 37).
50 As caractersticas gerais que podem definir uma Comunidade Virtual so o de possuir membros efetivos, com sentimentos de reciprocidade e idias compartilhados comuns aos ideais da comunidade, e que se relacionam atravs do ambiente frum, dividido em tpicos com assuntos propostos pelos usurios que os criam. Esse o espao prprio para as discusses entre os membros de uma determinada comunidade, que tm a opo de participar de um tpico j existente ou de criar um novo tpico. Sobre o frum, Melo (ibidem, p. 41) informa:
O frum, sesso do Orkut analisada neste trabalho, est disponvel em cada uma das comunidades temticas e dividido em tpicos por assuntos propostos pelo usurio que inicia o tpico. Portanto, um frum formado por um conjunto de tpicos de discusses de uma dada comunidade. no espao delimitado por cada tpico onde ocorrem efetivamente as discusses entre os usurios membros de uma dada comunidade. O frum, assim, apresenta-se como o ambiente ideal para que ocorram as interaes assncronas entre os usurios do Orkut. Alm dos tpicos, uma comunidade do Orkut tambm comporta uma seo chamada Eventos em que os usurios podem postar mensagens a respeito de eventos que digam respeito ao tema discutido na comunidade.
Um tpico no frum iniciado por qualquer membro da comunidade, que posta uma informao ou opinio que pode ser comentada ou no por outro usurio, incluindo o prprio emissor. A troca de comentrios estabelece as interaes entre os usurios. No entanto, a ausncia de interao de algum usurio pode classific-lo como lurkers, denominao proposta por Takahashi e Fujimoto (2002 apud CHANDRASEKAR, 2004), para definir os usurios que esto em uma comunidade apenas para receber informaes, no trazendo nenhuma contribuio aos outros membros.
No final de 2008, o Ibope Nielsen Online (2010c) fez um importante levantamento mostrando que o cuidado com a aparncia e dietas dominam os blogs e as comunidades sobre sade e bem-estar. Interessante observar que as comunidades
51 menores e que esto relacionadas com o tema de emagrecimento so as que apresentam maior ndice de atividade no fluxo de comentrios nos fruns.
Milhares de brasileiros recorrem blogosfera e s comunidades digitais para se informar sobre sade e bem-estar, mas os maiores nveis de atividade foram detectados em comunidades de menor porte, destinadas troca de informaes especficas sobre dietas, segundo levantamento do IBOPE Inteligncia para o site MinhaVida.com.br. O trabalho analisou mais de uma centena de blogs e 760 comunidades no Orkut, buscando identificar os temas que despertavam maior interao entre os usurios e os formadores de opinio sobre o assunto. Verificamos que os maiores nveis de atividade no esto nas comunidades de maior porte, mas sim nas voltadas para temas especficos, como dietas, que chegam a apresentar um volume mdio de mais de 120 comentrios por postagens em alguns casos, afirma Marcelo Coutinho, diretor de anlise de mercado do IBOPE Inteligncia. Segundo o IBOPE, as comunidades sobre emagrecimento predominam na categoria sade e apresentam uma intensidade no fluxo de comentrios maiores que os verificados nas que se propem a discutir o conceito de vida saudvel. O trabalho detectou, tambm, um elevado nmero de links recprocos entre elas, mostrando que as pessoas interessadas em dicas de emagrecimento freqentam vrias simultaneamente, fazendo com que elas ocupem posies centrais dentro da rede (...). (IBOPE, 2010c, grifo nosso).
De fato, foi possvel observar esses ndices na comunidade Anorexia e Bulimia nova viso, desde sua criao em 2006, pelo autor dessa dissertao.
3.1. A Comunidade Anorexia e Bulimia nova viso J no primeiro ano da comunidade construda no Orkut, houve uma grande filiao de pessoas interessadas em discutir sobre transtornos alimentares. Na figura 2 pode ser visto a pgina inicial que contm a descrio desta comunidade.
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Foram criados 48 tpicos, mas o volume de comentrios em tpicos com o ttulo formas de emagrecer e formas de emagrecer (2), postados por usurias, foi bastante elevado, com 744 e 249 postagens respectivamente, confirmando a percepo do Ibope. O tpico criado anonimamente em 4 de novembro de 2009, com o ttulo de Indique coisas fceis de vomitar, com 80 postagens at o momento, tambm merece destaque por seu tema, conforme imagem a seguir.
Exceto por um tpico criado pelo coordenador da comunidade, todos os outros foram colocados pelos membros da comunidade. No entanto, 52,08% dos tpicos, ou seja, 25 tpicos, no geraram comentrios, se restringindo apenas ao texto do seu
53 criador. A grande maioria desses tpicos so apelos para que os usurios participem de reportagens ou de pesquisas. Outros propem temas que fogem da questo dos
transtornos alimentares, como o que sugere que uma pessoa descubra o nome de seu par ideal, em uma espcie de corrente, ou os que dizem no ao ato mdico!! Vamos repassar e votar..!! e contra os desmandos do Senado!!, protestando contra o projeto de regulamentao da medicina. Outros divulgam tratamentos, clnicas ou sites de ajuda queles que sofrem de transtornos alimentares, como o grupo de discusses para mes psiquiatria infantil, o grupo de estudo msn, o Chat de MSN gratuito, e o site excelente para aludar a tds e tirar dvidas.. (foi mantida a grafia da postagem). No h a informao sobre se essas postagens tiveram xito em seu marketing de utilizar o frum da comunidade para a divulgao do trabalho que realizam, j que o interessado pode entrar em contato direto com os autores. Apenas 5 tpicos despertaram grande interesse, Ficha de anamnese, Formas d emagrecer (postado com essa grafia), A ficha, Formas de emagrecer (2), e Anorexia tudo de bom, com mais de 140 comentrios cada um, sendo os dois primeiros concentrado mais de 700 comentrios. Com o tema formas d emagrecer e 747 postagens, esse tpico confirma o interesse que o assunto desperta entre os usurios, conforme comentado acima. O tpico Ficha de anamnese concentra postagens de pessoas que solicitam ajuda para solucionar seu transtorno alimentar.
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A comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso possui atualmente 1466 membros, sendo a grande maioria composta por mulheres jovens envolvidas direta ou indiretamente com o tema transtornos alimentares. Cerca de 20% dessas pessoas utilizam perfis falsos, ou seja, nomes trocados e, geralmente, fotos de modelos ilustrando o perfil. Muitas adotam como nome ou sobrenome os termos mia ou ana, designando suas preferncias pela bulimia ou anorexia respectivamente. 938 pessoas, a maioria participante da comunidade, enviaram pedido de ajuda para o seu problema relacionado com a alimentao, seja anorexia, bulimia ou obesidade, tendo recebido e respondido uma ficha de anamnese a fim de possibilitar a construo de parmetros individuais e coletivos. A ficha de anamnese, estruturada dentro da anlise proposta pela medicina tradicional chinesa, visualizada em anexo, coleta informaes sobre dados pessoais, como data e local de nascimento, peso e altura, autopercepo do estado emocional, sono, digesto, alimentao preferida, utilizao de medicamentos, chs, laxantes ou diurticos, alm de depoimento livre sobre seu transtorno alimentar. Grande parte dessas
55 pessoas, apenas se inscreveu na comunidade com o objetivo de receber ajuda. Ao receberem a ficha de anamnese, preenchem, enviam as informaes de volta, e, a partir deste ponto, se retiram da comunidade, estabelecendo contato direto com o coordenador por e-mail, em geral por receio de serem descobertas por amigos e, ou, familiares, mesmo utilizando perfis fantasias. O formato das comunidades virtuais adequado para estimular o aprendizado informal, em funo dos espaos disponibilizados para troca de idias e informaes. No caso dos transtornos alimentares, o espao informal importante a fim de se tentar estabelecer um contato real, mesmo que seja atravs de um perfil fake8, adotado pelo usurio da comunidade. De fato extremamente difcil estabelecer contatos mais prximos com pessoas que desenvolvem transtornos alimentares, em funo de seus medos, vergonhas, e sentimentos, sendo essa dificuldade um dos aspectos principais que afetam as pesquisas cientficas, conforme constatam vrios autores, por exemplo, Kaplan (2002, p.238) e Giordani (2006, p.81) que afirmam que anorxicos costumam no confiar em mdicos, sentindo grande reao negativa em relao aos tratamentos. Nos tpicos da comunidade, podemos tambm perceber essa dificuldade, em funo do apelo de pesquisadores e jornalistas para que usurios da comunidade participem de suas pesquisas e entrevistas, mesmo anonimamente. Em 23 de setembro de 2009, uma jornalista criou um tpico se apresentando e solicitando a participao de algum usurio para a matria no Jornal do Brasil.
Fake (falso em ingls) um termo usado para denominar contas ou perfis usados na internet para ocultar a identidade real de um usurio. Para isso so usadas identidades de famosos, personagens de filmes, desenhos animados, animes e at mesmo de pessoas conhecidas do dono da conta. Como no se sabe a identidade real do usurio, comum chamar o seu perfil de "fake". De maneira geral, os "fakes" so comumente encontrados em sites de relacionamento (como o orkut), mas tambm existem em servios de mensagem instantnea (como o msn messenger) e fruns. Uma das finalidades de um fake dar opinies sem se identificar, evitando constrangimentos ou ameaas pessoais ao opinante (...). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fake)
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Sou reprter do Jornal do Brasil, e estou fazendo uma matria sobre distrbios alimentares de uma forma geral. Sero abordados tanto os mais conhecidos, como bulimia e anorexia, como Brancorexia (pessoa deixa de se alimentar em troca do consumo maior de bebida alcolica) e Diabulimia (quando os diabticos comem os alimentos que no podem e depois vomitam). Gostaria de saber se algum pode me ajudar, em uma conversa, mesmo que a pessoa no queira se identificar na matria. Por favor, enviem um e-mail para (...).
No dia seguinte, uma reprter da Rede Gazeta do Esprito Santo, tambm solicita a ajuda de algum da comunidade para participao, atravs de depoimento.
Desculpem por invadir esse espao. Sou reprter da Rede Gazeta, no Esprito Santo (www.gazetaonline.com.br) e estou fazendo uma matria sobre a drunkorexia ou alcoorexia, que tambm vai abordar outros comportamentos alimentares de risco, anorexia e bulimia. Estou atrs de pessoas que tm ou tiveram esses problemas e que possam me dar um depoimento sobre como comeou, as dificuldades enfrentadas, como decidiram buscar ajuda. Se algum aqui puder me ajudar, agradeo. No preciso se identificar, vamos preservar a identidade de quem se dispuser a falar. Peo que entrem em contato pelo orkut ou pelo e-mail (...).
Em outubro de 2009, uma reprter de uma afiliada da Rede Globo de So Paulo tambm solicita a participao de pessoas para sai matria.
E preciso muito da ajuda de quem se habilitar e puder dar um relato da experincia que teve ou tem com essas doenas. Eu sei que supercomplicado falar sobre isso, mas achei que recorrendo s comunidades do orkut, um espao onde as pessoas discutem os temas abertamente, eu poderia encontrar algum que topasse falar. Se algum puder me ajudar, pode mandar um email (...) Podemos conversar por email mesmo ou msn.. se a pessoa preferir podemos omitir a identidade real na matria...
No final de 2009, uma jornalista da Editora Abril envia um e-mail pedindo que o coordenador da comunidade divulgue na comunidade que a Revista Sou+Eu! oferece um cach de R$ 1.000,00 para algum que esteja disposto a dar um depoimento sobre drunkroxia, um transtorno que combina a anorexia com o alcoolismo.
57 Uma aluna de uma escola tcnica, no Rio Grande do Sul, tambm criou um tpico solicitando que os usurios da comunidade respondessem a um questionrio para sua pesquisa.
Ol, no estou aqui para julgar ningum, apenas para concluir um projeto de pesquisa. So aluna da Fundao Escola Tcnica Liberato Salzano Vieira da Cunha de Novo Hamburgo-RS. Meu projeto voltado para pessoas com anorexia e bulimia, ento se puderem responder, me ajudariam muito, no mais, o questionrio: Essa pesquisa busca compreender as pessoas com anorexia e bulimia que procuram auxilio na internet para atingir sua meta: o corpo perfeito. O questionrio formado de questes mistas, nas quais voc deve marcar um X na resposta em que se adequar ou preencher o espao se sua resposta no estiver entre as dadas. Por favor preencha com sinceridade e honestidade as questes. 1- Na sua opinio, como um corpo perfeito? ( )magro ( ) gordo ( ) malhado ( ) __________________ 2- O que voc j fez o que para atingir esse corpo? ( ) Regime ( ) atividade fsica ( ) _______________ 3- Sua famlia sabe sobre este seu esforo para atingir a sua meta? ( ) sim ( ) no 4- Ao postar em sites relacionados ao corpo que voc quer atingir, o que buscou? ( ) dicas ( ) incentivo ( ) apoio ( ) _______________ 5- E esses sites lhe ajudaram? ( ) sim ( ) no 6- Voc sabe dos riscos que corre? ( ) sim ( ) no ( ) alguns
Uma estudante de jornalismo solicita a colaborao de usurias da comunidade para responder a um questionrio de seu Trabalho de Concluso de Curso.
Sou estudante de jornalismo e estou buscando fontes para entrevistas para o meu Trabalho de Concluso de Curso. Preciso entender um pouquinho mais sobre anorexia, so poucas perguntinhas. E as identidades sero preservadas.
Um estudante de jornalismo cria um tpico solicitando depoimento de algum homem com anorexia.
Fao faculdade de jornalismo, e como proposta de avaliao temos que escrever uma reportagem. O tema que escolhi foi, "homens com anorexia", senti essa necessidade pelo fato de ver na mdia uma grande quantidade de informaes voltadas s mulheres e pouca coisa sobre homens com esse transtorno alimentar. Gostaria de saber se algum homem, que j passou por esse problema gostaria de me ajudar. Sei
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que para muitas pessoas no uma coisa fcil falar sobre um problema desses, mas caso algum queira me ajudar, meu email (...).
Todos esses exemplos confirmam a dificuldade encontrada para entrar em contato com pessoas que sofrem de transtornos alimentares. A alternativa para pesquisadores ou jornalistas solicitar ajuda atravs da intermediao de comunidades no Orkut e blogs relacionados com o tema. No h como saber se houve contato das usurias com os autores dessas postagens, pois constam endereos e telefones para comunicao direta, sem a necessidade de intermediao da comunidade. Alm disso, o coordenador da comunidade tambm percebe que a preferncia de contato atravs de comunicao direta, conforme j observado anteriormente, atravs do tpico ficha de anamnese, pois recebe e-mails de pessoas que nem so usurias da comunidade, e que se justificam pelo medo de terem seus transtornos descobertos por conhecidos. Essa caracterstica foi importante para a pesquisa, pois o processo de comunicao direta com os usurios, gerado pela criao e coordenao da comunidade, abriu espao para compreender as dificuldades e realidades dessas pessoas. difcil estabelecer um perfil definido dos usurios do Orkut, pois este se constitui como um servio de rede social aberto, no havendo nenhuma restrio, a no ser na divulgao de contedos ilegais. Alm disso, os perfis so fornecidos pelo usurio, no havendo garantias de que as informaes sejam verdadeiras. Mas, o prprio Orkut, no link sobre o Orkut, apresenta dados referentes ao seu pblico, apresentado em grficos de barras horizontais, trazendo informaes estatsticas por faixa etria, interesses que buscam no Orkut, e que relacionamento afetivo esto vivenciando.
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Os dois grficos apresentados nas figuras 5 e 6 mostram que o grande pblico do Orkut encontra-se abaixo dos trinta anos, com 68,95%. justamente nessa faixa em que encontramos o maior nmero de pessoas com transtornos alimentares. Na questo dos interesses, o objetivo de conquistar novos amigos est relacionado com a atrao que as comunidades despertam por proporem o encontro de pessoas com objetivos comuns. Apesar dos recursos disponibilizados pelo Orkut, incluindo links para vdeos postados no youtube.com, uma situao provocada, corretamente, pelo Ministrio Pblico, considerou necessrio o estabelecimento de um maior controle do contedo postado pelos usurios e comunidades, o que provocou a postagem pelo Orkut de um texto, e o estabelecimento de Termos de Servios (ORKUT, 2010b), em 16 de abril de 2007, disponibilizando a possibilidade de denncia de violaes aos termos estabelecidos, atravs do link denunciar abuso.
Gostamos do orkut tanto quanto voc e queremos que continue a ser um espao interessante e limpo - ou, como costumamos dizer, bonito. Ultimamente, o orkut tem sido grande foco de ateno da mdia brasileira, dando a impresso de que nossa comunidade est
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impregnada de atividades ilegais e usurios insatisfeitos. Qualquer usurio ativo do orkut sabe que isso simplesmente no verdade, e que, de fato, o sucesso do nosso site se deve sobretudo habilidade de nossos membros de criar contedo e comunidades interessantes e que isso constitui a grande maioria do contedo e das pessoas que fazem parte do orkut. Na realidade, as 50 principais comunidades do orkut, com o total de mais de 37 milhes de membros e aproximadamente 1,3 milho de visitantes por dia, no tm nenhum tipo de contedo ilegal. (...) O sucesso do orkut se deve a voc, a todos os nossos usurios e ao contedo criado por todos. Com isso em mente, contamos com nossos usurios e pedimos que nos notifiquem sobre possveis violaes de nossos Termos de Servio. Isso pode ser feito por email ou clicando no link "denunciar abuso" exibido em destaque em todas as pginas do orkut.com. De nossa parte, vamos analisar o perfil ou a comunidade em questo individualmente e, se constatarmos que houve alguma infrao de nossos termos de servio, vamos remover o contedo e desativar a conta por meio da qual ele foi criado. (...) Lamentamos muito os casos em que nossos usurios se deparam com contedo ilegal ou ofensivo no orkut. importante diferenciar contedo ofensivo ou imprprio de contedo ilegal. Sempre haver algum material que algumas pessoas consideraro ofensivo ou imprprio, embora no seja ilegal ou contrrio s polticas do orkut. Evidentemente, impossvel eliminar totalmente todo contedo ofensivo de qualquer comunidade que inclua milhes de pessoas, seja on-line ou off-line. (...) Mesmo assim, estamos fazendo o possvel para encontrar mais maneiras de minimiz-lo. Por exemplo, nos ltimos anos trabalhamos muito no desenvolvimento de um software que consiga identificar de modo eficaz o significado do contedo de uma pgina web especfica, para ajudar as pessoas a encontrar informaes relevantes em bilhes de pginas. Agora, estamos experimentando formas de aplicar essa tecnologia para detectar e eliminar contedo questionvel do orkut. (ORKUT, 2010c, grifo nosso).
Atualmente, esse link de denncia foi alterado, mas, de qualquer forma, isso gerou uma instabilidade, pois mesmo no descumprindo nenhuma norma, uma simples denncia annima possibilita a retirada da permanncia da comunidade do ar, um risco
desnecessrio. Assim, o produto final dessa pesquisa foi estabelecido como um site, <www.anorexiaebulimia.com>, especificamente construdo atravs da anlise gerada pela comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso, aproveitando a disponibilidade de mais recursos, e o foco de possibilitar a divulgao cientfica sobre o tema relacionado com os transtornos alimentares.
61 4. RESULTADOS E DISCUSSO
A Pesquisa Qualitativa Esta pesquisa de cunho qualitativo se realizou em decorrncia da espontnea participao de pessoas em uma comunidade no Orkut. A comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso foi um espao que permitiu a manifestao livre de pessoas que vivem transtornos alimentares, facilitando o estudo dos fenmenos em seu setting9 natural (DENZIN E LINCOLN, 1994). A tarefa de coletar e observar os dados iniciou em 2006, e foi extensa e rdua, mas, segundo Downey e Ireland (1979) em qualquer pesquisa, seja quantitativa ou qualitativa, esse processo ser sempre problemtico. O objetivo principal foi o de interpretar os depoimentos que foram sendo publicados na comunidade, no espao Frum, e nos e-mails e fichas de anamnese10 que foram sendo enviados. As hipteses no estavam presentes antes da formao da comunidade, mas foram sendo construdas a partir de observaes. Isto significa que, inicialmente, no havia uma idia sobre como se dava o fenmeno dos transtornos, e, por isso, foi necessrio tentar compreend-los a partir da perspectiva dos participantes. Em razo do desconhecimento de sua etiologia e da complexidade dos fatores, o tema dos transtornos alimentares precisa ser investigado qualitativamente. Sanches e Minayo (1993), ao caracterizar os aspectos da pesquisa qualitativa, observaram que ela apropriada em situaes onde h necessidade de se aprofundar fatos e processos que sejam altamente complexos, o que representa a problemtica do nosso tema. No possvel reduzir os fenmenos presentes nos transtornos alimentares a variveis
tempo, lugar e circunstncias em que algo ocorre, se desenvolve, ou se define Ficha de anamnese um instrumento usado na comunidade para levantar dados, como profisso e horrios, queixa principal, utilizao de medicamentos, laxantes ou diurticos, alm de uma investigao sobre sintomas em diversos sistemas. A ficha cria um canal direto de comunicao, e revela as marcas do transtorno alimentar no corpo e na alma do usurio. No obrigatrio fornecer nome, e pode enviar por algum e-mail feito especialmente para esse fim, pois a identidade do usurio no importa. Ele cadastrado a partir do e-mail que enviou. Modelo no anexo.
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62 numricas, e, conforme Minayo (1995) observa, a pesquisa em sade ser sempre qualitativa quando:
trabalha com o universo de significados, motivaes, aspiraes, crenas, valores e atitudes, o que corresponde a um espao mais profundo das relaes, dos processos e dos fenmenos que no podem ser reduzidos operacionalizao de varivel. (p.22).
A ficha de anamnese foi uma forma utilizada de entrevista, semi-estruturada, porque apesar das perguntas e respostas em mltipla escolha j definidas, o participante poderia relatar o que considerasse importante. Conforme observa Spink (2000, p.45), estamos, a todo momento, em nossas pesquisas, convidando os participantes produo de sentidos. Os dados coletados atravs das fichas de anamnese, dos e-mails e dos depoimentos postados no Frum, foram o foco desta pesquisa, sendo interpretados dentro de um processo de produo de sentidos, onde o dilogo com estes textos permite o encadeamento das associaes de idias" (ibid, p.106).
Identificar processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam e/ou compreendem o mundo em que vivem, incluindo elas prprias. Nesse sentido, o foco de estudo passa das estruturas sociais e mentais para a compreenso das aes e prticas sociais e, sobretudo, dos sistemas de significao que do sentido ao mundo. (Ibid, p.60).
Como observam Martins e Bicudo (1989), na pesquisa qualitativa o objetivo est na anlise dos significados, e no nos fatos em si.
A preocupao se dirige para aquilo que os sujeitos da pesquisa vivenciam como um caso concreto do fenmeno investigado. As descries e os agrupamentos dos fenmenos esto diretamente baseados nas descries dos sujeitos, e os dados so tratados como manifestaes dos fenmenos estudados. (p.30).
63 Os fatos no so suficientes, sendo necessrio observ-los com a imaginao de um bricoleur11, ou um trabalhador que recorta e cola manualmente pensamentos e sentimentos contidos nos textos espontaneamente produzidos nos ltimos quatro anos, e que nas palavras de Chau (1995),
(...) produz um objeto novo a partir de pedaos e fragmentos de outros objetos. Vai reunindo, sem um plano muito rgido, tudo o que encontra e que serve para o objeto que est compondo. (p.161).
Comeamos, neste captulo, a interpretar fragmentos de discursos, que passam a formar uma bricolage12, conceito apresentado pelo antroplogo Lvi-Strauss (1989), e que orienta nossa metodologia.
Mesmo estimulado por seu projeto, seu primeiro passo prtico retrospectivo, ele deve voltar para um conjunto j constitudo, formado por utenslios e materiais, fazer ou refazer seu inventrio, enfim sobretudo, entabular uma espcie de dilogo com ele, para listar, antes de escolher entre elas, as respostas possveis que o conjunto pode oferecer ao problema colocado. Ele interroga todos esses objetos heterclitos que constituem seu tesouro, a fim de compreender o cada um deles poderia significar. (p.34).
Apesar de todos os fatores, j comentados anteriormente, que dificultam o estabelecimento de um perfil de usurios do Orkut, e consequentemente da comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso, os textos postados nos tpicos, e os e-mails e fichas de anamnese enviados diretamente ao coordenador dessa comunidade, permitiram a confeco de um desenho prximo ao perfil dos seus freqentadores.
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Pessoa que faz trabalhos manuais. A palavra surge do verbo Bricoler, que significa ziguezaguear, mas tambm, falsificar, ou fazer uso de meios indiretos ou tortuosos. Sentidos pejorativos que muitas vezes acompanham implicitamente uma pesquisa qualitativa, como se uma pesquisa quantitativa pudesse abstrair de modo absoluto a tica de seu observador. Nessa pesquisa, o termo justifica sua presena, por representar um trabalho com o que se tem mo, com aquilo que se recebe livremente do outro, e com objetos inesperados. 12 Produto de uma composio, decomposio e recomposio, onde o passado, ou aquilo que j no se quer, usado para a construo do novo. tambm considerado um trabalho de amador, sendo um termo utilizado por lojas de materiais de construo com o sentido de faa voc mesmo. Mas, pela antropologia visto como aquele onde a tcnica improvisada, ou adaptada s circunstncias.
64 Para isso, as postagens feitas atravs de alguns tpicos foram selecionadas, sendo retiradas referncias de e-mails e fotos, apesar destas informaes estarem disponveis no espao Frum da comunidade, j que so pblicas. Nas que foram enviadas
diretamente por e-mail, incluindo as fichas de anamnese, os autores tiveram suas identidades mantidas anonimamente. Os textos so apresentados como depoimentos e tiveram sua gramtica alterada, a fim de facilitar o entendimento, sem, no entanto, alterar o sentido original. Frases dos textos foram destacadas em negrito, a fim de facilitar a prpria anlise. Alm dos textos retirados de e-mails, os seguintes tpicos foram os que forneceram mais postagens para a anlise: formas de emagrecer, a bulimia no emagrece, indique coisas fceis de vomitar, anorexia tudo de bom, formas d emagrecer, a ficha, a ficha de anamnese, quero emagrecer de verdade! Ajudem!, quem emagreceu com a ajuda do Fernando? e compulso alimentar e bulimia, em funo da concentrao de postagens e do contedo. Da leitura das falas dos participantes emergiram categorias de anlise que permitiram a compreenso do objeto novo a partir de pedaos e fragmentos de outros
objetos, conforme j dito por Chau. As categorias utilizadas na significao destas falas foram: a imagem distorcida no espelho, compulso, solido, ao policialesca, me ajuda, por favor, e alimentao.
A Imagem Distorcida no Espelho Os fragmentos de textos puderam compor categorias, percebidas atravs da comparao de diversas falas. A imagem distorcida no espelho uma categoria importante, considerada o distrbio central para o diagnstico e tratamento dos transtornos alimentares, conforme j destacado no primeiro captulo, e que se repete em quase a totalidade dos depoimentos. Observe o peso da autora em relao a sua altura, e o desespero de sua fala.
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Cara, t precisando muito de ajuda! Tenho 15 anos, 1,60m , 47kg, no consigo emagrecer, e isso acaba me deixando um pouco depressiva. J tomei vrios remdios para emagrecer, mas nenhum surte o efeito que eu espero. Tomo laxantes, diurticos, e j pensei at em comprar anabolizantes! Fao academia de manh e noite, mas de nada adianta! (DEPOIMENTO 1).
Duchesne e Almeida (2002) entendem que a anorexia seria dependente de crenas distorcidas acerca do peso e formato corporal. De fato, em vrios artigos a responsabilidade imputada mdia ou ao modelo de beleza imposto pela sociedade contempornea, que promoveriam essa crena e o culto ao corpo, como podemos observar em Sobreira (2006). No entanto, a reflexo no deixa de ser ingnua, pois restringe sua observao, no percebendo que o modelo de beleza propositalmente construdo e que, o estabelecimento de padres inatingveis lembra a produo da falta do seio materno, implantada por Freud, e que utilizada para movimentar o mercado capitalista.
O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provm da satisfao (de preferncia, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possvel apenas como uma manifestao episdica. Quando qualquer situao desejada pelo princpio do prazer se prolonga, ela produz to-somente um sentimento de contentamento muito tnue (FREUD, 1930/1974, p. 95).
A impossibilidade da felicidade no um fato descoberto por Freud, mas a produo de um novo sentido, muito bem aproveitado por um sistema que precisa da introjeo da falta, para que a mesma seja preenchida, apenas temporariamente, no mercado, mantendo o consumo em ritmo constante (SANTOS, 2002). A estratgia de criar imagens inalcanveis, porque no pertencem nem mesmo aos seus modelos, j que so photoshops13, proposital, pois cria um grande mercado,
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Adobe photoshop um software caracterizado como editor de imagens profissionais. O termo photoshopping um neologismo que significa "editar uma imagem" independentemente do programa que se utilize, assim como photoshop usado como substantivo para uma imagem alterada, ou retocadas
66 que vende tratamentos estticos, spas14, produtos lights, revistas, artigos de toucador15, cirurgias plsticas de lipoescultura e reduo do estmago, medicamentos 16 para reduo do apetite etc. Esse mercado movimenta cerca de 20 bilhes de reais por ano somente no Brasil (MACEDO, 2008), e a crtica em relao a um modelo esttico artificialmente produzido no capaz instigar transformaes, pois o Capital no est preocupado com as consequncias danosas que isso pode gerar. Alis, quanto mais sofrimento, quanto mais doenas, como consequncias dos transtornos alimentares, mais o Capital se beneficia com a venda de internaes, medicamentos, terapias psicolgicas etc. A fragmentao presente na imagem refletida pelo espelho daquele que sofre de transtorno alimentar, a fragmentao presente propositalmente na contemporaneidade. Jameson (1985) e Harvey (1992), em uma perspectiva relacionada percepo marxista, acreditam que a fragmentao da realidade tem origem nas transformaes provocadas por nichos de mercado, desterritorializao da produo e do consumo, conduzindo a comportamentos fragmentados. Portanto, acreditamos que a crtica no deve ser feita a segmentos, como a mdia ou a moda17, mas ao Capital em si.
(retouched). Como exemplo, recentemente em 15 de abril de 2010, o jornal ingls Daily Mirror divulgou fotografias de Britney Spears, com a prpria autorizao da cantora pop, antes de serem tratadas digitalmente para apresentao ao pblico, em resposta aos boatos de que as fotografias teriam sofrido um tratamento pesado e teriam ficado descaracterizadas. No entanto, na comparao entre a imagem no modificada e a tratada pelo computador possvel constatar que foram diminudas cintura, pernas e ndegas, apagadas tatuagens, alm de eliminadas manchas e celulite (DIRIO DIGITAL, 2010) 14 Spa, termo que surgiu na Blgica, deriva da expresso latina salute per aqua (sade pela gua). 15 Artigos de embelezamento e higiene pessoal. 16 Procpio (1999) relata que, em 1995, a indstria farmacutica havia faturado aproximadamente 10 bilhes de reais, com o Brasil sendo o quarto consumidor mundial em medicamentos. Em vrios depoimentos postados na comunidade, incluindo os destacados nesta dissertao, assim como nas fichas de anamnese, possvel observar a citao a vrios medicamentos, que incluem moderadores de apetite, laxantes e diurticos, comprados com ou sem receita mdica. 17 A organizao do SPFW (So Paulo Fashion Week), aps a temporada de vero de 2007, em parceria com a Secretaria Estadual de Sade de SP, estabeleceu regras proibindo o desfile de modelos com IMC (ndice de massa corporal) abaixo de 18 (aproximadamente pessoas com 1,78 m e 59 kg) e menos de 16 anos. Nesse mesmo ano, organizadores da Passarela Cibeles, um dos mais conceituados desfiles de moda da Europa, ao lado de governo regional de Madrid, tambm aplicaram as mesmas normas. A Itlia tambm estabelece o mesmo ndice, enquanto a Organizao Mundial de Sade (OMS) recomenda um IMC de 18,5 como peso mnimo saudvel As alteraes surgiram depois da morte, em novembro de 2006, da modelo brasileira Ana Carolina Reston, por causa de anorexia. Essas medidas no solucionam o problema dos transtornos alimentares, e apenas criam a falsa impresso de que a origem da imagstica,
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Deve-se compreender o que levou fragmentao do objeto e compreender como indivduo se constitui atualmente sem se reconhecer na sociedade, assim como o porqu de a sociedade no ter entre seus objetivos a felicidade e a liberdade individuais. (CHOCHIK, 2001, p.26).
Alm de Chochik, Lash (1986) tambm constri uma associao entre o mecanismo
Dentro da categoria imagem distorcida no espelho, podemos ainda observar que existem alguns fatores que podem agravar essa percepo.
Ontem, eu e minha me discutimos sobre meu peso. Ela fala que eu estou engordando muito. Eu olho no espelho e me sinto gorda. Ento decidi provocar meu vomito at eu perder esses quilinhos a mais. Eu s quero emagrecer e acho que a mia18 pode me ajudar. No quero provocar vmito pra sempre, s at conseguir meu objetivo. Eu tenho vontade de comer, mas eu t me segurando. Quando a fome aperta, eu bebo gua ou como uma fruta ... (DEPOIMENTO 2). Sou uma comedora compulsiva..s vezes, quando como demais entro em depresso e resolvo emagrecer tudo de uma vez fico at 12h sem comer nada e quando como pouca coisa!! minha me a maior culpada disso. Passa o tempo todo mandando eu parar de comer, que estou gorda e ridcula. Me ajude!! (DEPOIMENTO 3) Tenho medo das consequncias, apesar de ciente das causas..tambm me isolei dos meus amigos e perdi meu namorado, s que ele no me ajuda com essa doena, pois quando eu engordava uns dois 2 kg ele j notava e me dizia que deveria me cuidar, porque ele no gostava de mulher gorda.... Meu manequim 38! Tenho grande projeto de vida, terminei a faculdade e j fiz minha ps, quero fazer mestrado, mas no
relacionada ao padro contemporneo ocidental de beleza, est sob controle e responsabilidade da indstria da moda. 18 Mia apelido para o distrbio da Bulimia.
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sei se conseguirei atingir meus objetivos antes dessa doena acabar comigo, pois estou cada vez pior! Tambm procuro ajuda, mas nunca falei a respeito dessa doena pra ningum! (DEPOIMENTO 4). SOCORRO! No sei o que acontece comigo. Fiz uma rinoplastia19 e depois disso comecei a engordar... Porm, comecei academia e voltei ao meu peso. Depois de um perodo de internao de H1N120 onde perdi uns 3 kg em 1 semana, comecei a engordar descontroladamente. Minha me fala o tempo todo que eu t gorda, e s no tomo anfetamina com medo de ficar careca! Hoje, fui ao supermercado e comprei tudo light. A minha meta no comer. H umas 2hrs miei pela segunda vez e entrei na net para ver se eu achava uma forma mais fcil, da comecei a ler e comecei a pensar se miar iria resolver. Me sinto gorda, estou realmente fora do peso! tenho 1,70 e 70kg e no sei o que fazer! Quero os meus 58 kg de volta e durante a semana praticamente impossvel eu fazer uma atividade fsica, como academia, pois saio de casa s 6:45h e chego da faculdade aps o trabalho s 0:45h! No sei o que fazer! Vou comear a tomar um shakes, mais minha vontade hoje me trancar no quarto e no sair enquanto no voltar ao meu corpo normal. O fim foi esse feriado que eu fui pra praia e a me da minha amiga me chamou de fofinha! Tudo bem que eu tenho muito busto, mas fofinha demais...Da comecei a pirar... Acho s vezes que mia ajuda, outras no.. FERNANDOOO ME AJUDA!!! (DEPOIMENTO 5). Ol Fernando, estou nesta comunidade h algum tempinho j, porm, nunca enviei nenhuma mensagem. Sou do tipo que observa, encontra semelhanas, porm nunca se expressa. Tenho medo de que mais algum no entenda o que passo, e me diga que s uma frescura, coisa que aqui todos sabem que no bem assim! Tenho bulimia h mais ou menos 2 anos e pouquinho... Isso se eu no contar os anos de comer compulsivo, uso indiscriminado de laxantes e jejum. complicado pra mim procurar ajuda, pois at mesmo em minha casa no encontro apoio. Meus pais sabem, minha irm, meu cunhado tambm. Porm, o que ouo so somente crticas e mais criticas. Fora quando no tiram com minha cara dizendo: se algum quiser comer, come agora porque daqui a pouco no tem mais nada. E outras piadinhas que nem vale a pena citar... Enfim, pode parecer que so coisas simples, mas realmente magoam e fazem comer ainda mais! Tenho vomitado todos os dias, e perdi completamente o controle da situao. Sei que este tpico no para se falar disso, mas se no dissesse agora, talvez nunca mais falaria. Bom espero que possa me ajudar. Beijos e obrigada. (DEPOIMENTO 6).
A imagem gerada pela estratgia capitalista dilatada dentro do mundo mais prximo das anorxicas e bulmicas, como percebemos nos quatro depoimentos
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Rinoplastia a modificao da forma do nariz, atravs da cirurgia plstica, podendo diminuir ou aumentar o tamanho do nariz, ou a forma da ponta, ou abaulamentos no dorso do nariz, e, ainda, corrigir alteraes da respirao por um problema interno. 20 H1N1 uma sigla que representa o vrus da Influenza A subtipo H1N1 tambm conhecido como A (H1N1), que um subtipo de Influenzavirus A , a causa mais comum da influenza (gripe) em humanos.
69 anteriores. O espelho, dessa forma, reforado por familiares e outras relaes afetivas que destacam a imagem da gordura ou da magreza, sem efetivamente apresentar solues, apenas amplificando o sentimento de desconforto, angstia e ansiedade. Tavares (2003) entende que a imagem corporal distorcida que aparece no espelho da anorxica, no delrio ou distoro em seu pensamento, mas a revelao da histria de um sujeito, suas relaes concretas e suas memrias. De fato, as vozes materna e paterna ecoando uma imagem na memria de uma anorxica ou bulmica, agrava a que j se encontra presente a todo instante no mercado. Essa categoria motivou a criao de um link especfico no produto (www.anorexiaebulimia.com) a fim de orientar familiares sobre a melhor forma de apoiar pessoas que estejam vivenciando os transtornos alimentares.
70 Compulso Outra categoria que deve ser destacada a compulso, predominante nos transtornos alimentares e nos depoimentos postados na comunidade. Ela bem construda pelo Capital, que divulga padres de beleza fakes, oferece alimentos tambm fakes, mas embalados em discursos que os caracterizam como saudveis, e ao mesmo tempo, distribui fartamente no mundo dos consumidores possibilidades infinitas, atravs de um imenso volume de objetivos sedutores disposio do consumidor, que nunca poder ser exaurido (BAUMAN, 2001, p.86). O processo implantado pelo capitalismo cria nas anorxicas e bulmicas as condies para a instalao da compulso ao oferecer-lhes algo e ao mesmo tempo priv-las disso (HORKHEIMER e ADORNO, 1985, p.132), como a promessa de um prazer sempre postergado, pois o prazer da comida artificializada desaparece rapidamente, atravs de uma bioqumica que inclui a produo de picos mais rpidos e elevados de insulina, criando uma armadilha metablica que eleva a fome, apesar da ingesto excessiva de alimentos. A pulso no consegue se satisfazer e se conjugar ao objeto de sua verdade, retornando em crculo em busca desse objeto, e se deparando com um lugar vazio, tendo como nica possibilidade torna-se compulso. Dois alimentos podem ilustrar esse mecanismo, acar e cafena, que so apresentados em diversos formatos, como biscoitos, doces, bombons, bolos e balas, beneficiados pela publicidade e acesso facilitado em prateleiras de qualquer mercado e cantina, oferecidos para pessoas que acreditam que no possuem mais tempo, pois o tempo ao Capital pertence, obedecendo frmula de Benjamin Franklin, para quem tempo dinheiro. Os alimentos destacados acima no foram escolhidos gratuitamente, mas em funo de suas propriedades qumicas que produzem padres compulsivos em seus consumidores.
71 A compulso pode se manifestar pelo desejo de comer muito ou pela obsesso em no comer, sendo tambm comparada a outros vcios, como o do cigarro, figura utilizada pela autora do depoimento 7.
Eu no gosto de vomitar, no gosto mesmo! No vomito por prazer, jamais. Eu no sinto prazer em sentir aquele gosto horrvel de leite voltando para a minha garganta, sentir os gros de arroz quase saindo pelo meu nariz, ficar com uma puta dor de garganta e estmago. No, prazer eu no sinto, mas infelizmente tornou-se um hbito. Pra mim uma forma, digamos, mais fcil de encarar o que eu considero como erro... V se segue um NF21 ou um LF22 de pouqussimas calorias, mas tem uma compulso e quer, porque quer, se livrar daquilo. Ento vai l e vomita. Muitos no concordaro com o que eu direi, mas no fundo no fundo, acho que a bulimia um sinal de covardia. Acho que os bulmicos deveriam tentar encarar o "erro", no apelar para o vmito forado e o uso de laxantes e diurticos... mas enfim, digo que no fcil. a mesma coisa que um cigarro. Voc vai l, d uma pitada, depois outra, depois pede o cigarro de um amigo, compra um cigarro solto, e quando percebe, j est fumando mais de uma caixa por dia. Eu falo isso para que a pessoa que esteja pensando em fazer a mesma merda que eu fiz, nem tente, porque eu comecei assim. (DEPOIMENTO 7). Voc falou tudo. A bulimia um vcio, que eu tenho desde os 17 anos e agora estou com 31. Mas ela sempre volta. Por isso digo que ainda tenho, por causa das recadas. E elas esto cada vez mais freqentes. Sinceramente j no sei mais o que fazer. (DEPOIMENTO 8). No agento mais viver sendo compulsiva por comida. Amo comer, mas depois o sentimento de culpa pela alta ingesto de alimentos me apavora e coloco tudo para fora. J fui bem acima do peso, consegui emagrecer me entupindo de remdios (que se diziam naturais). Neste perodo de dieta conheci uma amiga que me apresentou a "mia". Fazia de tudo para vomitar e no conseguia, mas no desistia de tentar e acabou ficando fcil. Quando cheguei aos 64 kg, resolvi fazer uma lipo e passei mais de um ms comendo apenas frutas, verduras e grelhados. Sequei! Pensei que depois da cirurgia iria estar livre do que eu nem achava que fosse bulimia, mas quando fiz a primeira refeio regada gordura, l estava eu vomitando de novo. Depois de muito tempo, resolvi assumir que estou doente23. Parece um vicio. No consigo me imaginar gorda de novo, mas quero ter sade. Ser que possvel conseguir ter o peso dos sonhos sem ter que utilizar desses mtodos?
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NF sigla para No Food, ou seja, sem comida. Uma criao do universo anortico, que prope no comer durante alguns dias, apenas beber lquidos e mascar chiclete. 22 LF sigla para Low Food, ou seja, pouca comida. Uma dieta criada pelo universo anortico, tendo como criadora e praticante uma internauta chamada Mandi,AKA, que criou um frum no site fadingobssesion.com para divulgar essa dieta que no tem restrio de nenhum alimento, mas tem restrio calrica diria entre 70 a 800 calorias. 23 Na pgina 19, existe a diferenciao entre doena e transtorno. Nos discursos postados, essa diferenciao no existe.
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Eu no sei... E isso me apavora. Me ajude por favor! (DEPOIMENTO 9).
Dentro dessa categoria, importante destacar que a compulso pode aparecer como uma entidade exterior, que controla e domina, sensao to intensa que em alguns depoimentos a
Havia comido uma sopa, mas eu no podia comer porque estava fazendo uma dieta. Fui pro banheiro, abri o armrio e enfiem uma escova na garganta, e vomitei tudo...Chorei depois, mas pensei comigo, Ah, s hoje, nem quero mais fazer isso. Quando dei por mim, fazia isso todo os dias, s vezes mais de uma vez por dia. Se voc quer emagrecer, procure um mtodo saudvel, uma RA26.. Se possvel um endocrinologista (evite o uso de medicamentos). No faa a mesma merda que eu e vrias pessoas aqui fizeram, porque quando a bulimia se apossa dos seus pensamentos voc perde o controle. No voc que comanda, ela. (DEPOIMENTO 10). PERDI 24 Kg em dois meses. Eu hoje sou Ana Mia... Comecei na mia h 5 anos. Engravidei...engordei horrores porque fiquei depressiva e fui compulsiva por comer muito. Era como se forrasse um vazio, sabe? Hoje, faz dois meses que minha mia voltou com tudo...e o pior, comecei com laxantes, ao ponto que 6 dulcolax no me fazem mais efeito. Cansei de vomitar. Srio. Me sinto feia, inchada e gorda. Eu me olho no espelho e vejo algo monstruoso, a ponto de nem querer tirar fotos com minha filha. Por no agentar mais vomitar, t parando de comer. Faz 5 dias que vejo que como 200 kcal no mximo por dia...mas isso foi conseqncia da mia, no porque eu quis. Se sou feliz??? Pasmem...SIM mais do que nunca! No quero que nem a ana nem a mia se vo. Sei que pra muitos isso horrvel, mas eu as amo. fcil vir aqui e criticar, fcil vir aqui e implorar pra gente ensinar a vocs a vomitarem. O que lhes digo ...LIVRE ARBTRIO. No adianta, isso est em nossas mentes e corpos. Parem de vir aqui e criticar. Sabe a frase que me marcou? "A gente no vive pra comer, e
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sim come pra viver" Ento eu como s pra no desmaiar, pra no morrer mesmo. No preciso de mais do que isso. (DEPOIMENTO 11).
A compulso tambm pode se manifestar como se fosse contrada por um agente microbiolgico. Mas, ainda assim, continua como uma entidade que se apossa do organismo, o infecta e o contamina, fazendo o sujeito se sentir sujo, como o autor do depoimento 13.
Ol pessoal, estou aqui pra contar pra vocs a minha histria. Desde pequena tenho compulso alimentar, e agora, de uns meses pra c, acho que h uns 6 ou 7 contrai a bulimia. a coisa mais horrvel desse mundo. Eu no suporto ser assim. Eu quero me curar desse mal. Eu t na fase em que meu corpo est se acostumando com a doena. Unhas fracas, acidez no estmago, acordo de manh com ardncia na garganta, logo que como meu organismo fica pronto para vomitar. ASSUSTADOR, e por mais vezes que eu coma sem a inteno de vomitar, s vezes me d um desespero profundo e eu vomito. Mas eu no vomito a cada refeio, s quando eu como um pouco a mais. Eu fico muito nervosa, inquieta e a nica coisa que me acalma sentir meu estmago vazio. E como isso acontece? Vomitando... Eu gostaria de saber se algum j se curou da bulimia, como fez. Eu quero ajuda, eu quero viver livre da bulimia, livre da compulso alimentar... POR FAVOR, ME AJUDEEEEEEEM! (DEPOIMENTO 12). (...) Tento ao mximo me controlar. Fico muito tempo sem miar, quando estou tomando remdio, porque com eles consigo ficar sem comer, mas se eles acabam fico desesperada. Acabo tomando laxante e miando e sempre emagreo....E como, mas depois... No quero aqui dar mau exemplo pra ningum, pois quando fao esse tipo de coisa me sinto mal, suja, derrotada, acabada de verdade. Mas me faz me sentir to bem ao mesmo tempo. Gostaria de ajuda, mas esse negcio de dieta saudvel... sinceramente, se eu fao eu engordo. A tristeza essa. Meu organismo acostumou ficar sem comida, e o mnimo que eu como j me engorda.....No posso dizer que fazendo essas coisas sou feliz, mas sem fazer no consigo me imaginar...Entro em desespero... (DEPOIMENTO 13).
O grito de socorro uma constante nos depoimentos e e-mails, buscando uma forma de se libertar de um mecanismo que domina o fisiolgico e o emocional.
No Brasil, eu pesava 50 kg, Mudei para a Austrlia e engordei 10kg em 6 meses.. Tenho 1,60cm, estou desesperada. No entro em nenhuma das minhas roupas, estou em depresso, me sinto horrvel. Estou tentando fazer regime desde que cheguei. Fico sem comer direito, depois tenho crises de compulso. Tive isso na adolescncia e agora voltou. Sei que so essas crises de compulso que me engordaram, mas no estou conseguindo controlar..Voltei a ser bulimia por conta disso.. o que impediu que o meu peso suba ainda mais, mas detesto ter bulimia.. meu rosto fica horrvel, me sinto
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pssima, minha autoestima detona e minha pele fica feia.. No sei o que fazer mais para voltar ao meu peso e superar a bulimia.. No Brasil, ia para a academia todos os dias. Gostaria muito de voltar a ir, mas no tenho coragem de colocar as roupas de ginstica, pois me sinto ridcula nelas. Sempre fui considerada muito bonita, no sei lidar com excesso de peso. No estou feliz.. No saio de casa noite. No quero nem mesmo me envolver com algum enquanto estiver assim.. No sei o que esta acontecendo comigo, mas quero votar ao normal.. Se algum puder me ajudar, estou realmente precisando.. Beijos para todos! (DEPOIMENTO 14). Oi, tenho 17 anos, e bulimia h + ou - uns 9 meses. Sofro de compulses e muita ansiedade. No inicio, alm de vomitar, eu fazia exerccios fsicos, tomava chs, enfim, fazia de tudo. Com isso emagreci uns 8kg. Nunca estive to feliz sem eles. Agora, s vezes fico sem vomitar, alis muitas vezes... Parei com minhas atividades fsicas, devido falta de tempo, porque estou no terceiro ano do EM, e no me sobra muito tempo. Primeiro engordei 3 kg, e agora estou com mais 5kg recuperados. Preciso perd-los! No sou feliz com eles! Mas quero me curar, e perd-los de forma saudvel... Mas na hora de por em prtica, muito mais difcil! No agento mais vomitar, e mesmo assim to engordando desse jeito! Preciso de ajuda! (DEPOIMENTO 15). No sou muito diferente de voc. Convivo com essa doena h mais de seis anos, sem que minha famlia soubesse. No consigo mais controlar minha compulso, e depois miar, terrvel...Fao isso mais de trs vezes por dia. (DEPOIMENTO 16)
O sistema capitalista opera a construo de sujeitos sem apegos a no ser pelo consumo compulsivo. Imposio pelo capitalismo, as compulses no podem ser atribudas ao desejo das classes ou de grupos dominantes, pois fazem parte da prpria lgica do sistema, atravs da produo fetichista da mercadoria. No h, portanto, uma conscincia controladora, pois, a dinmica capitalista incorpora a compulsion, manifestada em toda a estrutura social (WOOD, 2001). Portanto, a lgica do capitalismo que precisa ser alterada no interior das pessoas que vivem os transtornos alimentares. Giddens entende que o vcio surge a partir do rompimento com a tradio, processo inerente ao Capital que dissolve culturas, territrios, naes, a no ser quando a cultura torne-se mais um produto a se oferecido no mercado, e o sentimento de nao possa ser coisificado e vendido.
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(...) o fato de hoje podermos nos tornar viciados em qualquer coisa qualquer aspecto do estilo de vida indica a real abrangncia da dissoluo da tradio. O progresso do vcio uma caracterstica substantivamente significante do universo social ps-moderno, mas tambm um ndice negativo do real processo de destradicionalizao da sociedade. (1997, p.91).
Mas Giddens (ibid, p.92) acredita que atravs da repetio, do vcio, o sujeito estabelece uma estratgia de ficar no nico mundo que conhecemos, uma compensao para a destradicionalizao, ou para evitar a exposio a valores estranhos, ficando no seguro movimento cclico. No entanto, o que Giddens no considera que o vcio, a compulso, a repetio, so mecanismos introjetados pelo capitalismo. No importa que a compulso possa se estabelecer como um osis de segurana para o sujeito, como pensa Giddens, mas que a compulso intrnseca ao sistema, ou seja, se o compulsivo se libertar do objeto de seu vcio ser compelido a buscar outro substituto, perpetuando sua compulso.
Considerados desta maneira, o haxixe ilegal, o LSD e o cenrio das drogas so apenas uma extenso do cenrio de consumo legal, onde todo mundo mais ou menos se torna "viciado" em nicotina, lcool, Coca-Cola, televiso, ou seja o que for. (SCHNEIDER, 1977, p.
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A imagem proposta por Schneider pode ser completada com alimentos industrializados, medicamentos, jogos, e todo o aparato que coisificado e disposto em prateleiras do mercado. Bucher (1992) faz uma crtica contundente ao mecanismo de combate s drogas, pois entende que se tratar de ingenuidade pretender a eliminao das drogas da vida social (p.32), e eleg-las como bode expiatrio, semelhante ingenuidade de acreditar que a anorexia ser eliminada atravs do controle no IMC de modelos, elegendo a moda como outro bode expiatrio.
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O clebre combate s drogas no passa de uma fantasia quando pretende erradicar as substncias psicoativas da vida social, como se elas fossem algo ocasional e suprfluo, um mal acrescentado por fora e no inerente sociedade. Tratadas dessa forma, as drogas transformam-se em um mito carregando uma srie de no-ditos e todo mito tem uma funo social, seja to somente aquela de bode expiatrio. (ibid, p.3, grifo nosso).
Solido A solido27 uma categoria que est presente em diversos depoimentos. Ela precisa ser contextualizada, como experincia de angstia, isolamento, ausncia ou carncia. E, dessa forma, pode ser percebida como mais uma das contradies necessrias do capitalismo. O mercado o local comum, ilusoriamente, pois somente o para aqueles que podem consumir. O mercado cria a iluso de que pode preencher o vazio, com suas festas artificializadas, suas diverses industriais, seu barulho perptuo, que mesmo no silncio concreto impede que o sujeito consiga escutar o seu self e o alm de si mesmo. No h nenhuma inteno de preencher as lacunas interiores da alma, apenas manter acesa a chama da possibilidade da sua completude. A solido a que nos referimos como categoria, aquela que se mantm insistente, seja no deserto 28 ou no meio da multido, que inspirou Gabriel Garca Mrquez a escrever Cem anos de solido, ao relatar a invaso e mtodos do capitalismo americano, ou que retratada por Melanie Klein e Carlos Drumonnd de Andrade.
Estou me referindo ao sentimento de solido interior o sentimento de estar sozinho independentemente das circunstncias externas; de sentirse s mesmo quando entre amigos ou recebendo amor (Klein,1971, p.133).
Do latim solitudo, estado de quem est s. Ausncia de relaes sociais; isolamento. Lugar despovoado e no freqentado pelas pessoas; ermo. (Dicionrio Larousse Cultural, 1992). 28 Importante observar o sentido do deserto em vrias passagens da historia da Bblia, como um local de encontro com Deus e consigo mesmo. Abrao peregrinou no deserto para buscar a terra prometida. Moiss atravessou o deserto para a libertao da escravido. Jesus se preparou por 40 dias no deserto para cumprir sua misso. Para o cristianismo, no deserto que o eu desaparece, e com ele a solido da angstia.
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Nesta cidade do Rio, de dois milhes de habitantes, estou sozinho no quarto, estou sozinho na Amrica, (...) Estou s, no tenho amigo, e a essa hora tardia, como procurar um amigo?. (ANDRADE, 2010).
A solido, que est presente em anorxicas e bulmicas, no leva a inspirao ou criao, mas composta de um sofrimento paralisante. O isolamento surge pela sensao de que o problema no e no ser compreendido pelo outro, seja familiar ou no. Nodin (1999,
p.690) observa justamente que o isolamento outro aspecto a ter em considerao, uma vez que se encontra freqentemente associado depresso. Appolinrio & Claudino (2000, p.28-29) observaram que, gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em funo da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, restringindo seu campo de interesses e levando ao gradativo isolamento social.
No deixei menino chegar perto faz um tempo. Me isolei. Alias perdi meu namorado, sem ter jamais contado pra ele o meu problema. Sem falar do sofrimento. Um parto bucal. Afogar-se na privada seria menos dolorido. (DEPOIMENTO 17). No sou muito diferente de voc...Convivo com essa doena29 h mais de seis anos, sem que minha famlia soubesse....No consigo mais controlar minha compulso e depois miar, terrvel...Fao isso mais de trs vezes por dia, tenho medo das consequncias, apesar de ciente das causas..Tambm me isolei dos meus amigos e perdi meu namorado. (DEPOIMENTO 18). Faz parte do quadro se isolar...mesmo se no for evidente para os outros, a gente se sente sozinho, pois guarda um segredo bem desagradvel... (DEPOIMENTO 19).
A solido tambm pode se manifestar na forma de um encastelamento em suas prprias idias, na recusa ao dilogo e percepo de novos caminhos, levando o sujeito mesma imobilidade de um Rei encastelado30 no jogo de xadrez. Nos depoimentos, a seguir, podemos perceber que os autores no desejam vivenciar novas possibilidades,
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Ver nota 23. O encastelamento uma jogada no xadrez, onde o Rei e a torre, em sua primeira movimentao, movem-se ao mesmo tempo. O Rei se desloca duas ou trs casas na direo da torre, e essa torre transferida para a casa que o Rei acaba de cruzar. Dessa forma, o Rei fica protegido, mas geralmente imobilizado.
78 talvez porque tenham tido vrias experincias sem sucesso, comportamento j relatado por Nabuco de Abreu e Cangelli Filho (2004, p.181) quando afirmam que estamos
diante de uma das populaes mais refratrias a qualquer forma de ajuda..
No quero saber que danos vai trazer. Quero perder esse corpo terrvel que tenho. Eu s vou comer coisa que eu possa vomitar! (DEPOIMENTO 20). Fizeram a pergunta ai pra ser respondida. Ningum aqui quer saber se faz mal, se mata, se di, enfim, a maioria j sabe... se eu escolhi vomitar e quero saber como fazer e com que fazer, ou como fica mais fcil, isso escolha minha. Tem outros tpicos ai pra vocs fazerem suas criticas ou contarem suas experincias, pedirem pra que aceitemos Jesus.... Poxa horrvel ser gordo, se sentir pior do que todos, se sentir um lixo...buscar uma ajuda...e ainda se criticado. Prefiro ficar doente que morrer gorda e mal comigo mesma. Se eu quero passar por essa experincia, a escolha minha, ningum tem nada a ver com isso... Se eu precisar de ajuda vou ao mdico falou...Desculpe a quem no devia ver isto...mas no custa nada respeitar as escolhas alheias (DEPOIMENTO 21). Pessoal contra anorexia e bulimia, principalmente Fernando: fico feliz que queiram nos ajudar, mas todas ns que somos anorxicas e/ou bulmicas sabemos dos riscos, danos, consequncias que nossas prticas nos provocam... Mas, no adianta mesmo que vocs falem, isso no nos leva a desistir... No fazemos por preferncia, somos doentes31 e a deciso sobre nosso corpo, nosso emagrecimento, nossa fome e nosso desespero por ter comido totalmente NOSSA! Nem muitos especialistas conseguem ajudar, depende de ns mesmas tomar a deciso da cura. No percam seu tempo, no esto mudando nada, infelizmente. (DEPOIMENTO 22). (...) E alguns falam com uma simplicidade, como se fosse a coisa mas simples do mundo. No dando sermo que vai ajudar (,,,) mesmo assim eu acho, como nossa amiga ai, que no adianta ...podem morrer falando e aconselhando. Temos que querer em primeiro lugar. A parte mais difcil dar o primeiro passo. Querer tentar parar. (DEPOIMENTO 23) As pessoas ficam falando, dando conselhos, falando que a gente precisa de ajuda. elas nunca vo entender o que se olhar no espelho e se ver gorda, feia, sem graa. Ns decidimos esse caminho. Ento o problema nosso. NO agento mais a opinio das outras pessoas...MIA PRA SEMPRE32 ! (DEPOIMENTO 24).
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Ver nota 23. Slogan muito utilizado por bulmicas que defendem sua estratgia.
79 A solido precisa ser rompida, ou seja, a voz do outro precisa encontrar espao para penetrar naquele que vivencia o transtorno alimentar, e gerar algum movimento, necessidade que justifica a importncia do produto desta dissertao.
Os pensamentos fixos levam obsesso, s regras rgidas, e perda da flexibilidade. A preocupao e o excesso de idias fixas alteram diretamente o Bao que o rgo responsvel pelo transporte e pela transformao de energia. Ocorre uma indigesto mental ou ruminao constante dos pensamentos. Assim, por meio da preocupao, e da obsesso, o paciente estagna a circulao de Qi33. (CAMPIGLIA, 2004, pp. 114-115).
Quando ocorre a fagulha do dilogo, a estagnao at ento presente, tende a desaparecer, como podemos perceber no depoimento 25.
Desagradvel mas contei. Faz 2 semanas que minha famlia est sabendo. J estou bem melhor, pelo menos emocionalmente...Tendo recadas, lgico, mas fazendo diversas terapias. Fiquei surpresa com a compreenso das pessoas. O mais difcil foi contar para algum pela primeira vez. Tive que contar pra professora, pois essa semana vai ter prova com um verdadeiro banquete na sala...doce, bolo chocolate quente, ficar olhando pra tudo isso durante 6 horas seria pedir demais...por isso contei pros professores, e eles tm sido bem legais e arrumaram um outro lugar pra mim. O importante no se isolar, impossvel sair dessa sem ajuda! (DEPOIMENTO 25).
A libertao do segredo traz grande alvio e rompe o isolamento, porque, como constata a autora impossvel sair dessa sem ajuda. Quando a pessoa que sofre o transtorno alimentar encontra apoio ao contar sobre seu problema, a prpria revelao inicia o processo de cura, diminuindo o peso da solido, como constata o autor do depoimento 25, ao perceber, depois de ter revelado seu segredo famlia, que est bem melhor, pelo menos emocionalmente. Outro caminho pode ser construdo, atravs da simples leitura de postagens que tenham a capacidade de estabelecer contato afetivo, alm de transmitir informaes corretas.
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Na concepo chinesa, a energia e a matria so a manifestao contnua de um aspecto, a composio do Universo, por isso o Qi tem atributos tanto energtico quanto material.(ROSS, 1994, p.12)
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Oi gente, desculpa estar resgatando um tpico de 1000 anos atrs... Mas pensei que ajudaria, talvez a quem estivesse na situao em que eu me encontrava h dois anos.... Se vocs acham, que impossvel sair dessa, desencanar completamente dessa coisa de magreza, bulimia etc.... possvel sim! Estou no meu peso ideal h 2 anos, sem dieta, sem bulimia e sem crises de depresso, complexo etc. Como eu consegui? Bem...isso com o tempo, no de hoje pra amanh...Tm vrios caminhos....O importante mudar a rotina, acho que a parte mais chata. Bom, isso. Muito obrigada a todos. Eu entrava muito nessa comu, quando estava mal....Me ajudava. Espero que fiquem bem tambm, logo, logo.(DEPOIMENTO 26). Mudar a rotina, romper a estagnao, so processos necessrios para a mudana. No depoimento acima, podemos perceber que a autora quando estava mal, entrava na comunidade do Orkut, mesmo sem se manifestar, os textos postados estabeleciam um dilogo em seu interior.
Ao Policialesca Esta uma categoria criada como um alerta para os familiares que acreditam que atravs de mecanismos de viglia e de punio conseguiro alterar o comportamento daqueles que vivenciam os transtornos alimentares. O controle no tem a capacidade de produzir mudanas, mesmo que seja exercido como instrumento para uma vigilncia permanente, exaustiva, onipresente, capaz de tornar tudo visvel (FOUCAULT, 1977, p.188), pois no h como realizar de fato essa ao constante. Dessa forma, o resultado obtido com aes policialescas o de estimular a produo de estratgias para que o controle seja burlado.
Me ajudem. Tenho 15 anos, peso 66 kilos e tenho 1,68 de altura. J tentei emagrecer, mas no consigo. J tomei remdios vrios tipos de coisas e agora estou com bulimia, mas minha me me pegou vomitando e fica no meu p. Quando ela est por perto, que quase sempre, no consigo vomitar, e acabo engordando. ME AJUDEM POR FAVOR (DEPOIMENTO 27). Minha me escondeu a balana. O que ser que ela quis dizer com isso...ahhhh, estou ficando goooooorda!!!!! s me vejo mentindo pro psiclogo, que feio n...falo que estou bem, que est tudo. (DEPOIMENTO 28).
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Nas refeies tipo janta e almoo que eu fao com minha famlia, e no da pra enganar falando que eu comi, e no comi, eu ento vou ao banheiro e enfio a escova na minha garganta, mas no consigo vomitar tudo. Eu s fiz isso 2 vezes (ontem e hoje) e s saiu um pouco ... Eu sinceramente no acho que tenho bulimia e nem vou ter! S acho que a MIA pode me ajudar a perder umas gordurinhas! Eu comentei com uma amiga minha e ela falou que ia contar pra minha me. Como eu falo as coisas muito brincando, eu disfarcei e comecei zoar ela, falando que era mentira. (DEPOIMENTO 29).
Tambm
aparece
esse
aspecto
no
depoimento
postado
no
blog,
(http://dra.anna.zip.net/), citado na introduo, onde a autora afirma que meu pai, iludido, disse que no tem visto mais sinais de T.A.s em mim pra ela. (Estou fingindo bem, miando em silncio ou no meu quarto, t pegando as manhas). No h como vigiar o tempo todo, apenas quase sempre como observa o autor do depoimento 27. Mas, na mnima distrao, a compulso realizada. H diversas maneiras de mentir e enganar, e, nem mesmo a internao compulsria tem sua eficincia, conforme observaram Ramsay e outros (1999), afirmando que ocorrem taxas maiores de mortalidade em pacientes internadas contra a sua prpria vontade. No h como induzir ou forar o sujeito a comer, como no depoimento a seguir.
verdade, a tendncia se isolar. Tenho um namorado h 02 meses e ele no sabe da minha doena..... mas acho que desconfia porque sempre me chama para lanchar e eu no quero comer. (DEPOIMENTO 30).
No possvel segu-lo constantemente para que ele no vomite, pois estado de vigilncia pode ser sempre burlado, em algum momento, portanto no pode representar um processo teraputico, j que no altera o padro interior. No assim que nascer o desejo interno e necessrio de transformao.
82 Me ajuda, por favor! Essa uma grande categoria, que no precisaria ser destacada, j que se supe que quem se integra comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso no Orkut est buscando ajuda para solucionar seu transtorno alimentar. No entanto, podemos perceber dois anseios diferentes, nessas solicitaes desesperadas. Aqueles que desejam manter seu transtorno, mas pedem ajuda para aprimorar suas tcnicas, um auxlio invertido, onde o distrbio amplificado pelo reforo do comportamento, que pode se dar atravs de receitas para conseguir controlar mais eficientemente a fome e permanecer mais tempo recusando alimentos, ou dicas para evitar os danos causados pelo retorno do cido gstrico, e para facilitar o mecanismo do vmito, como vemos no depoimento 31.
Comecei com a mia h pouco tempo. Eu fao gua morna com sal e depois coloco a escova de dente na garganta, mas isso ta machucando muito e depois de um cento tempo para de funcionar. Algum tem dicas de como miar e funcionar sempre, e que machuque menos?? Por favor, me ajudem!!! (DEPOIMENTO 31).
O depoimento 32, no se afasta do sentido anterior, porque o autor busca a plula mgica, que faz parte da crena sustentada pelo capitalismo, ao vender frmulas prontas, rpidas e disponveis, balas mgicas, cirurgias, e toda a parafernlia oferecida no mercado ilusrio da esttica. No h, portanto, como haver transformaes atravs de processos artificiais e de atalhos.
H pessoas catando comida no lixo. Isso me faz sentir mal Mal mesmo. De saber que desperdio, embora pouco, enquanto outros precisam34. Economia de tempo. J fui de passar 3 horas ou mais por dia em exerccios. Dietas de tudo quanto natureza. E tenho tempo pra trabalhar, estudar, fazer coisas que gosto. No tenho mais o pic de
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(...) desde os anos 80, a fome e a desnutrio se expandem. (...) Todas essas atrocidades no remontam ao fato de uma taxa de natalidade muito elevada ter conduzido a um excesso de populao que, com as atuais possibilidades tcnicas, incapaz de ser alimentada e deve de algum modo ser neutralizada, como prognosticara no incio do sculo 19 o famigerado idelogo liberal Thomas Malthus. Ao contrrio, do sculo 18 at hoje as foras produtivas cresceram com velocidade infinitamente maior do que a populao mundial (KURZ, 2001, p.1). Portanto, pessoas no passam fome porque h falta de comida.
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antes.. Quando era mais jovem. No queria tambm que meus futuros filhos ficassem como eu. Mas a verdade que existem pessoas cujo metabolismo diferente. Existem pessoas que engordam com a maior facilidade do mundo. E eu infelizmente sou assim.. Ento desafio: existe maneira mais prtica, pra quem no tem tempo, de manter os desenhos do corpo bem definidos, de levantar a autoestima, de sentirme bem espiritualmente falando? Se parar com isso vou ser infeliz. Esta a clara impresso que tenho. Tem alguma cpsula milagrosa que no faa mal a minha sade, e resolva o problema? (DEPOIMENTO 32).
Para esse primeiro grupo, existem sempre pessoas dispostas a ajudar, seja orientando em como adquirir cpsulas milagrosas para emagrecimento, seja sugerindo tcnicas para facilitar o vmito. No depoimento abaixo, o autor orienta, mas se afirma culpado em ensinar suas prticas doentias. Atitude contraditria mas prpria do capitalismo, pois a contradio possibilita a crise que gera o consumo, uma corrupo da anttese marxista, pois leva sempre mesma sntese, o mercado.
Hmmm.. sorvete est no topo! Bem fcil, sorvete, iogurte, cremes, sopas, molhos... Frutas como uvas, ameixas, bananas, goiabas, mamo... so bem fceis tambm. Massas como bolo, po, macarro, salgadinhos, biscoitos ... so bem pesados e mais difcil de sair. E chocolate, gruda na parede do estmago e NO SAI! Tem que forrar o estmago antes, mas ainda assim tem vezes que no sai mesmo... ainda mais se voc vomita muito. A est sua resposta, mas fico triste de ter lhe ensinado das minhas prticas doentias, peo desculpas. Fora sempre. (DEPOIMENTO 33).
O segundo grupo manifesta o desejo de se libertar da compulso, do transtorno alimentar, da priso balana, e encontrar mecanismos saudveis para reverter o problema.
Consegui passar duas semanas sem vomitar, mas no mudava o pensamento t gorda, t feia, t feia.. Quero muito me curar, muito mesmo, e essa comunidade minha soluo, porque meus pais no aceitam isso como uma doena35. Dizem sempre que frescura minha, coisa de gente doida.. ai fernando me ajuda por favor por favor por favor. (DEPOIMENTO 34)
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No aguento mais viver sendo compulsiva por comida. Amo comer, mas depois o sentimento de culpa pela alta ingesto de alimentos me apavora e coloco tudo para fora. J fui bem acima do peso, consegui emagrecer me entupindo de remdios (que se diziam naturais). Neste perodo de dieta conheci uma amiga que me apresentou a "mia". Fazia de tudo para vomitar e no conseguia, mas no desisti de tentar e acabou ficando fcil. Depois de muito tempo resolvi assumir que estou doente. Parece um vicio. Ser que possvel conseguir ter o peso dos sonhos sem ter que utilizar desses mtodos? Eu no sei... e isso me apavora. Me ajude por favor! (DEPOIMENTO 35). Ol Fernando, estou te escrevendo porque realmente preciso de sua ajuda. Olha a minha histria a seguinte. Eu nasci com o problema de ser gordinha. A vida toda meus pais me controlando pra eu no comer, porque eu precisava emagrecer, e eu comia escondido. Quando cresci e me dei conta do que acontecia ao meu redor, em relao isso, eu entrei numa nia pra emagrecer. No comeo, eu s era compulsiva (ainda sou) comia muito, muito, muito mesmo, e sofria por ser gorda. A comecei a fazer academia, e fiz por uns quatro anos mais ou menos, e segui fazendo dietas, emagreci e engordei duas vezes.. Ai sai de casa, vim estudar em SC, e morar sozinha. Engordei muito, como jamais tinha engordado. Pesava 105 quilos, para um 1,78m, parei com a academia e s me mantive com dieta. O meu problema que nesse meio tempo, e no meu desespero para emagrecer, adquiri como brinde a bulimia, e hoje estou com 83 quilos, mas eu no agento mais a esse infeeeeerno dessa doena que me mata por dentro... Olha, a bulimia pra mim, acho que foi decorrente da compulso alimentar somada com o desespero de engordar. Eu no quero mais engordar, mas eu no sei o que fazer. Eu quero emagrecer ainda, mas quero me livrar dessa doena... Eu preciso de ajuda por favor. Meus pais nunca me entenderiam pra me levar num profissional seja ele qual for. Eles no entenderiam nem o que a bulimiaaaaaa.. Por favor eu te imploro ajuda! (DEPOIMENTO 36). Tenho grande projeto de vida, terminei a faculdade e j fiz minha ps, quero fazer mestrado, mas no sei se conseguirei atingir meus objetivos antes dessa doena acabar comigo, pois estou cada vez pior! Tambm procuro ajuda, mas nunca falei a respeito dessa doena pra ningum! (DEPOIMENTO 37).
possvel verificar em alguns depoimentos, que os autores so graduados, podendo possuir ps-graduao, muitas vezes na prpria rea de sade. Esse aspecto confirma a observao de Hay (1998) de que os transtornos alimentares no esto restritos a uma faixa scio-econmica. Os autores desejam intensamente emagrecer e se libertar de seu transtorno, e possuem conhecimentos variados sobre alimentao, que buscam em sites, revistas, na troca de experincias, e na prpria vivncia. Mas as informaes, disseminadas dessa forma, esto muito distantes daquilo que podemos
85 denominar de cientficas. O Ibope Nielsen Online (IBIDEM) acrescenta que as informaes que costumam circular em comunidades de anorxicas e bulmicas esto relacionadas com receitas e dicas imprecisas.
As informaes que circulam nas comunidades do Orkut, pela prpria natureza do ambiente on-line em um contexto colaborativo, so passveis de imprecises. Apesar disso, seus usurios parecem utilizlas de maneira indiscriminada. Um caso especfico o de comunidades de anorxicas e bulmicas, que trocam receitas e dicas, inclusive com o uso de medicamentos sem prescrio mdica. (IBIDEM).
A frustrao nas diversas tentativas para emagrecer, incluindo as com acompanhamento mdico e, ou, nutricional, gera uma dvida sobre se existe alguma estratgia saudvel que possibilite a cura do transtorno alimentar. Em razo disso, muito comum que mdicos, nutricionistas, e psiclogos, muitas vezes sofram transtornos alimentares em seu prprio corpo, ou na experincia de um familiar, como no depoimento 38.
Fernando, Gostaria de receber a ficha. Como j falei sou nutricionista e tenho uma filha que sofre de transtorno alimentar. Estou desconfiada que meu filho est iniciando o processo, nos meninos mais difcil de diagnosticar, em funo da ausncia de menstruao...Agradeo antecipadamente. (DEPOIMENTO 38).
Alimentao A categoria alimentao fundamental para que se compreenda o tipo de comida que costuma ser ingerida por pessoas que sofrem de transtornos alimentares. uma questo central percebida no discurso dos freqentadores da comunidade, e que precisa ser colocada com suas razes histricas, para que possa ser compreendida.. Por isso, no produto www.anorexiaebulimia.com foi criado um link saiba mais, com o intuito de contribuir para elucidar o processo complexo relativo aos transtornos alimentares.
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Nos depoimentos postados na comunidade do Orkut, assim como no campo da ficha de anamnese Relate suas opes alimentares atualmente, possvel verificar que a constante alimentar a do junkfood36. Pessoas viciadas em acar, desde o ventre materno, reproduzindo a cultura alimentar de seus pais, herdeiros de um mundo de conservantes, aromatizantes37, acidulantes, aditivos, complementos, suplementos, prcozidos, congelados, enlatados, pr-temperados.
Sou bulmica h 13 anos e tenho crises peridicas durante o ano. Fico um tempo curada e depois volta tudo. Meu peso tambm varia muito, cerca de 10 a 15kg (ou 20kg s vezes) de variao por ano. Pareo uma mutante. Quem fica mais de 6 meses sem me ver sempre tem uma surpresa, pois posso estar magra ou uma bolotinha. E com esse processo meu corpo inteiro e rosto mudam muito. Estou numa crise e estou muuuito gorda. No quero sair de casa e nem estudar, nem fazer nada. Quero energia de novo e quero me sentir saudvel e magra. E o
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Termo utilizado para designar alimentos com alto teor calrico, mas com nveis reduzidos de nutrientes, como bombons, bolachas, sorvetes, tortas, batatas, pipoca, refrigerantes, salgados e sanduches. 37 A Internacional Flavors & Fragrances (IFF), instalada em Nova Jersey, conhecida por ser a maior produtora de sabores do mundo, tendo a estratgia de no divulgar as frmulas dos seus compostos, tampouco a identidade de seus clientes, garantindo sigilo.
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pior que nem gosto muito da comida que como e vomito. Pra mim quase uma necessidade de me purificar (claro que da pior maneira possvel). De me sentir limpa. Nunca cheguei no peso desejado. Talvez, s uma vez quando tomei remdios para emagrecer pela 1 vez que cheguei perto do peso almejado. S por uma nica vez, senti o gostinho do que no ter vergonha do meu prprio corpo sem roupas. Voc sabe qual a sensao de ter pnico de praia, Fernando? Eu tenho desde pequena, pois tenho vergonha de por um biquni. Descarto convites e mais convites para viajar por causa disso. E vou morar com meu namorado em 2 meses, e ele gosta de viajar e entro em pnico s de pensar que vou ter que inventar uma desculpa para no ir com ele. Mas, pelo menos no estarei mais na casa dos meus pais, onde minha me sempre compra e faz doces, bolos, compra chocolates e coisas de padaria. Desde que nasci sou viciada em chocolate. Na minha casa tinha caixas e mais caixas de todos os tipos de chocolate. Quero chegar nos 52 kg e quero ser um exemplo pra os meus futuros filhos e no quero que eles tenham o mesmo problema que eu. (DEPOIMENTO 39) Ol, tenho 1,62 e 51 kg, tenho miiia ha uns dois meses, e isso me trouxe vrios problemas de estmago. at achei estranho isso acontecer em to pouco tempo..., mas acho que isso nunca se passa na cabea dos meus pais, pois eu como muito doce, e tal... pra eles, fao como qualquer outra pessoa, engole e sai naturalmente. (DEPOIMENTO 40) Eu tambm preciso dessa ficha, minha alimentao totalmente junkie... no consigo comer, frutas, verduras e legumes, acho tudo isso horrvel... vivo engordando e emagrecendo... o famoso efeito sanfona!!!!! (DEPOIMENTO 41) Tomei cibutramina38 por dois meses, a de 10 mg, mas meu comprimido acabou. Agora estou voltando a ter fome de novo. Se meu problema fosse fome de comida eu no ligaria, mas meu problema so as besteiras. tipo po, pizza, frituras, refrigerantes. O legal que achei nesse remdio que ele reduz muito vontade de comer besteiras. Mas por favor, eu gostaria de receber essa ficha. (DEPOIMENTO 42).
As besteiras no so percebidas como comida, pelo autor do depoimento 42, embora, esses alimentos-simulacro so ingeridos como se comida fossem. No mais se reconhece o que alimento in natura, pois o alimento no mais um alimento, mas um negcio. Por essa razo, no desperta interesse o produto in natura, pois no permite
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Sibutramina - um frmaco anorexgeno utilizado no tratamento da obesidade, que age inibindo a recaptao de noradrenalina. Por ser uma substncia que pode causar dependncia fsica ou psquica, a sua venda controlada pela Resoluo SVS/MS 344, de 1998, com reteno de receita. Os efeitos colaterais principais incluem dor de cabea, secura da boca, insnia, dor nas costas, vasodilatao, taquicardia, palpitaes, anorexia, constipao, aumento do apetite, nuseas, dispepsia, vertigem, parestesia, dispnia, sudorese, alterao do paladar e dismenorria, sinusite e doenas do aparelho auditivo. Tendo como contra-indicaes, antecedentes de anorexia nervosa ou bulimia, conhecimento ou suspeita de gravidez, ou uso durante a lactao. Apesar disso, costuma ser oferecido na internet, e parece que comprado facilmente nas farmcias, sem receiturio.
88 valor agregado, e, portanto gera menor lucro. Quanto mais processado e artificializado, mais interessante se torna esse produto, que se transforma em alimento pela fora do marketing, pelo poder do Capital, capaz de seduzir o at mesmo o discurso cientfico39. Se no fcil romper o padro familiar, que possibilitou a construo do vcio da autora do depoimento 39, atravs da compra e preparao constante, pela me, de doces, bolos, chocolates e coisas de padaria, mais difcil ainda, romper com a cultura-popalimentar imposta pelo capitalismo, e que transita em todos os territrios40. 5. PRODUTO
Espao Foi definido o endereo disponvel <www.anorexiaebulimia.com>, feito o registro do domnio, e contratado um plano de hospedagem em novembro de 2009. Aps o site entrar no ar, foi colocada divulgao na pgina da comunidade do Orkut Anorexia e Bulimia Nova Viso, sendo os membros tambm avisados diretamente, atravs dos e-mails cadastrados. Um dos recursos disponibilizados no site um contador de acessos, recurso que no h na comunidade do Orkut, apenas contagem de membros, de tpicos postados no frum, e dados referentes s pesquisas.
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A Nestl, segundo Amorim (2005), patrocinou eventos cientficos na dcada de 30, procurando influenciar profissionais da rea da sade. Essa estratgia plenamente utilizada pelas indstrias ainda hoje, ao financiar congressos, laboratrios em Universidades, entre outras benesses. 40 A implantao da marca McDonalds em culturas tradicionais, como a da China, incrementou o consumo de protena animal, o uso crescente de alimentos preparados, e o aparecimento da categoria comida de criana. (JING, 2000). No Japo, como conseqncia, o consumo per capita de arroz caiu aproximadamente de 107 kg para menos de 65 kg, enquanto o consumo de carne aumentou de 5 para quase 40 kg. (MITCHELL, INGCO E DUNCAN, 1997, p. 73), conseqncias de uma cultura globalizada, onde os tipos de alimentos consumidos nos diferentes pases tendem a ser cada vez mais semelhantes. Ainda que comportamentos alimentares sejam adaptados cultura de cada povo e pas, alterando alguns itens no cardpio, como o hambrguer composto por uma fatia de carne prensada por dois bolos de arroz vendido nas lanchonetes da rede de Taiwan e Singapura (INVERTIA, 2006), prevalece o gosto pasteurizado.
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O dois fatores que aliceraram a elaborao do site foram a sua natureza educacional e o carter de divulgao cientfica. O verbo educar vem do latim educere, que significa "guiar para frente. Um significado que pode induzir a uma educao adestrativa, ao invs de promover a autonomia e uma educao libertadora. Mas, o fato de estar em um espao no-formal, sem uma grade curricular a ser seguida, pode dificultar a reproduo de uma postura educadora convencional , j que o prprio acesso informao, pode ser realizado a qualquer momento, caracterstica que o aproxima da gerao zappiens (VEEN e VRAKKING, 2009)
Os usos dessas tecnologias influenciaram o modo de pensar e o comportamento do Homo zappiens. Para ele, a maior parte da informao que procura est apenas a um clique de distncia, assim como est qualquer pessoa que queiram contatar. Ele tem uma viso
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positiva sobre as possibilidades de obter a informao certa no momento certo, de qualquer pessoa ou de qualquer lugar.(pp. 30-31)
Veen e Vrakking (2009) definem o conceito de zapear, processo que se estabeleceu definitivamente em nossa cultura globalizada, com as tecnologias do controle remoto, a possibilidade de abertura de mltiplas janelas durante a navegao na internet, e o desenvolvimento dos links que caracterizam os hipertextos.
Processo de troca de um fluxo de informao para outro, como se faz, por exemplo, com o controle remoto de uma televiso quando se troca de canal. Em geral, zapear um mtodo para aumentar a densidade de informaes interessantes no menor tempo possvel; uma forma eficiente de gerenciamento do tempo.(IBIDEN, Glossrio).
O desenvolvimento do hipertexto permitiu a construo de textos em rede, atravs da disponibilizao de links em frases ou palavras, o que aumentou o fluxo da informao. Ao criar o termo hypertext, Theodor Nelson (1981) esperava que esta forma de texto possibilitasse a criao de conexes entre documentos e o estimulo da criatividade. Mas, de que adianta os recursos tecnolgicos disponveis no hipertexto, se os textos apenas cumprirem a funo de transmitir informaes, sem revelar quais as vises de cincia que esto associadas quela proposta?
Contedo Silva e Fernandez (2007) observam que a tecnologia pode estar implicada com uma concepo ideolgica conservadora.
Muitas vezes tais recursos tecnolgicos podem ter presentes concepes epistemolgicas nas quais se fundam idias de ensino e aprendizagem tradicionais e concepes de cincias distorcidas, como, por exemplo, uma cincia vista como produtora de verdades que devem ser aceitas sem questionamento.(p.28).
O contedo do site foi elaborado a partir do contedo desta dissertao, incluindo os depoimentos e suas categorias, e as discusses desenvolvidas no captulo anterior. Por
91 exemplo, observamos, dentro da categoria alimentao, a importncia de se colocar este tema na perspectiva histrica a fim de ser compreendido, e possibilitar um olhar crtico sobre os transtornos alimentares. Para no prejudicar a dinmica do site, foi criado um link saiba mais, para quem pretende se aprofundar no problema. Como o texto base para a publicao no site no se encontra em nenhum dos captulos anteriores, e face sua importncia, ser apresentado em destaque neste tpico. No site, ser apresentado em documentos PDF ou Word, para aqueles que desejarem abrir ou fazer o dowunload. O site foi estruturado com 21 links para pginas internas, incluindo a pgina inicial. Os links so Anorexia, quem sou eu?, Bulimia, quem sou eu?, Compulso, Como posso ajudar?, Depoimentos, Alimentao Viva, Tratamento, Partilha, Receitas, Alimentao, Leucocitose Digestiva, Artigos Cientficos, Vdeos, Mitos, Eventos, Links, Livro de Visitas, Entre em Contato, Sobre ns, e Bibliografia, alm da pgina inicial. Os dois primeiros, conceituam respectivamente a anorexia e bulimia, utilizando texto simples e direto e um link interno saiba mais, para quem tiver interesse em abordar questes mais profundas sobre o tema. Ao clicar, documentos em formato Word so abertos e podem ser baixados. Os textos foram construdos, a partir do material disponvel nesta dissertao. A maioria dos outros links seguem a mesma formatao, ou seja, apresentam um texto direto e um link saiba mais. O link Receitas apresenta receitas da alimentao viva, e apresenta link direto com receitas dispostas na pgina da Profa. Ana Branco da PUC-RJ. Leucocitose Digestiva apresenta um resumo do artigo de Paul Kouchakoff, que foi traduzido do original41. Artigos Cientficos disponibilizam alguns artigos cientficos para discusso e downlouad. Vdeos disponibilizam filmes que explicam e ensinam algumas receitas da alimentao viva. Outros links possibilitam que o visitante interaja, enviando um e-mail,
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Isabella Lyra Reis realizou grande parte da traduo do francs para o portugus, deixando de traduzir os termos tcnicos, que foram traduzidos por mim.
92 ou deixando uma mensagem. Sobre ns apresenta um breve currculo do criador do site e informa que o mesmo foi criado como produto desta dissertao. E, Bibliografia apresenta a relao de livros e artigos que foram utilizados para a confeco desta dissertao. Alguns contedos sero destacados a seguir.
Contedo: saiba mais sobre o origem da alimentao contempornea A partir da segunda metade do sculo XVIII, a Revoluo Industrial transformou as relaes, ao implantar um processo contnuo de produo em massa, que potencializou a capacidade de transformao da natureza, atravs de mquinas movidas a vapor, tornando acessvel aos consumidores uma quantidade cada vez maior de produtos. Mas, para que uma nova cultura seja implantada, suprimindo os hbitos anteriores, derrubando convenes construdas historicamente, preciso alterar a forma de lidar com o tempo, tarefa imposta pelo novo mundo do trabalho, para em seguida oferecer solues, alimentos pr-cozidos, congelados, enlatados, pr-temperados, alimentos com empacotamento a vcuo, e reduzir o perodo gasto com as tarefas de preparo da alimentao.
Antigamente os rituais alimentares imprimiam o ritmo vida familiar. Hoje a alimentao est cada vez mais submetida s imposies do trabalho. (...) a refeio coletiva, moderna, industrial, diettica, barata, compromete a comensalidade: na hora do intervalo, no restaurante da empresa ou em outro lugar com os tickets-restaurantes, a pessoa almoa depressa, cercada pelos colegas, mas no com eles. No se tem tempo, visto que uma parte deste intervalo ser utilizada nas caminhadas. Tempo curto de consumo. Tempo curto de preparao (RIES & DUBY, 1992, p. 320).
O perodo aps a segunda guerra mundial caracterizou-se pelo que foi denominado o american way of life, e provocou uma exploso de consumismo,, buscando-se o cmodo e o prtico, uma nova forma de vida necessria para a expanso do mercado e crescimento das indstrias de bens de consumo, alimentcia e
93 farmacutica. Geladeiras, freezers, processadores, batedeiras, fornos microondas combinam-se com novos alimentos, simulacros do real, calcados na tecnologia e referendados pelo prprio discurso tecnocientfico (SODR, 1990), inventados para suportar as novas exigncias de consumo, que por sua vez se combinam com as plulas mgicas farmacuticas criadas para anestesiar e suportar o novo modo americano de viver (LEVENSTEIN, 1998). Atualmente, quase tudo em nossas vidas dirigido pela lgica de consumo capitalista, com necessidades sendo criadas para serem supridas atravs da oferta de produtos totalmente essenciais, mesmo que s tenham chegado recentemente ao mercado. Menasche e Schmitz (2006, p.6-7) retrata o efeito gerado pelo freezer e a luz eltrica, no somente nos costumes alimentares, mas tambm nas relaes sociais.
A criao de sunos no sistema tradicional era comum at a dcada de 1970. Segundo um agricultor entrevistado, naquele tempo, o negcio era banha, pois, a banha valia o dobro da carne, carneavam o porco e vendiam a banha. A banha era o principal produto comercializado pelos colonos: o porco devia ser gordo, para dar bastante banha. (...) Alm do valor comercial, a banha tambm era muito importante no dia-a-dia dos colonos, pois era utilizada para cozinhar e para conservar a carne. A carne de porco era assada ou frita e guardada na banha e, dessa forma, conservada por meses. A banha era armazenada em enormes latas e era a necessidade de banha que determinava quando seria necessrio abater outro porco, mesmo que ainda houvesse armazenado carne, lingia e torresmo. Portanto, a carne mais consumida nesse tempo no era a bovina, e sim a suna, em funo da possibilidade de ser armazenada melhor, em barris cheios de banha. O abate de um boi era um verdadeiro evento na comunidade, pois j que a carne no podia ser conservada por muito tempo, vizinhos e parentes vinham ajudar no ritual. Com a distribuio de carne bovina, as relaes de sociabilidade da comunidade eram renovadas. Mas a eletricidade e especificamente o freezer possibilitaram o armazenamento da carne bovina, permitindo o seu consumo quase dirio, alterando o hbito alimentar e as relaes sociais, pois deixou de ser realizada a troca entre vizinhos e parentes. A protena animal passou a ser rotineiramente consumida pela populao ocidentalizada. (LOBATO e MONDONI, 2004, p.248).
Em 1948, a diviso de trabalho de Taylor foi implantada, pelos irmos McDonald, de maneira emprica no sistema de preparo de alimentos em restaurantes,
94 com os objetivos de reduzir os preos, elevando o volume de vendas, aumentar a velocidade no servio, atravs de uma uniformizao, padronizando o sabor da comida. Foi o incio do que o socilogo Benjamim Barber (1995) chamou de McMundo, que representa a produo de um mundo globalizado ou homogeneizado, com alterao de tradies culturais e alimentares, e substituio de refeies partilhadas em casa, por alimentos comprados e consumidos na rua. Processo que abreviou o tempo de convvio ao redor da mesa, atravs do consumo de alimentos prontos, e aquecidos de forma rpida e prtica nos microondas em casa ou nos postos de trabalho. Uma nova percepo de tempo e espao se reflete no modo de comer e de se relacionar com a alimentao, como conseqncia do trabalho exigindo cada vez maior especializao, do aumento de deslocamento entre o local de moradia e o do emprego, do estabelecimento de horrios rgidos, e da concorrncia das mulheres na disputa pelas vagas. Uma cultura globalizada, onde os tipos de alimentos consumidos nos diferentes pases tendem a ser cada vez mais semelhantes. Ainda que os comportamentos alimentares sejam adaptados cultura de cada povo e pas, a homogeneidade no se torna relativa, prevalecendo o gosto pasteurizado e sem graa, o consumo de alimentos industrializados, a alimentao fora do domiclio, a preferncia pelos supermercados para a compra dos alimentos processados, e a busca de praticidade e economia de tempo. A preferncia por um produto industrializado no pode ser colocada como uma escolha, mas uma imposio construda atravs de vrias tcnicas capitalistas. Pois, a cozinha fast food faz parte de um complexo sistema de produo em srie, que gera alimentos-plstico sem qualidades nutricionais e sem sabor, que so corrigidos por substncias qumicas, atravs da agregao de aditivos, e que vo fornecer sabor, odor e cor aos alimentos-simulacro (JAFF, 1981).
95 Mintz (2001) apresenta a idia de que o alimento em nossa sociedade uma mercadoria, e, portanto, explorado pela mdia, como outra mercadoria qualquer. Sifontes e Dehollain (1986) destacam que quanto mais se desce na escala da estratificao social, maior a influncia exercida principalmente pela televiso nas condutas alimentares, sendo essa mdia a principal fonte de informaes sobre questes alimentares utilizadas pela populao. O lanche fast food ganha longe na preferncia dos alimentos in natura, em funo da velocidade no preparo e a facilidade no consumo gerada com as novas tcnicas de conservao. O junk food42, termo utilizado para designar alimentos com alto teor calrico, mas com nveis reduzidos de nutrientes, foi implantado como cultura, estando presentes em todos os tipos de mdia. No se deve esquecer que raramente alimentos saudveis como frutas e vegetais em natureza so publicitados (GARCIA, 1999). Outro obstculo produzido pelo capitalismo so os mecanismos de reduo do tempo, percebidos claramente na sociedade contempornea, e que afetam diretamente a questo da alimentao, dificultando o preparo de refeies sadias, e estimulando a busca por atalhos, materializados em lanches silenciadores da fome, mas vazios em nutrientes, pois so compostos por ingredientes inventados para distrair, seduzir, enganar com sabores e odores introduzidos artificialmente. A dificuldade para alterar padres alimentares, coletadas na ficha de anamnese43 enviada atravs da comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso, justificada pela ausncia de tempo, pois a grande maioria sai de casa cedo e retorna tarde, fazendo algumas refeies na rua. Fernandez-Armesto (2005, p.20) observa a interferncia do tempo na prpria estrutura de famlia, pois a palavra famlia se origina de famulus, que quer dizer, famintos em torno de uma panela com comida (WOORTMANN, 2005).
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(...) os horrios das refeies foram fragmentados, onde diferentes membros das famlias escolhem pratos diferentes para consumir em horrios diferentes. (...) comem ao mesmo tempo em que fazem outras coisas, desviando seus olhares das outras pessoas.
E aponta diretamente a inveno do forno de microondas como fator de eroso social, observando que com a ajuda dessa mquina, as pessoas podem, facilmente, aquecer qualquer prato pronto que estiver mo.
(...) Essa nova maneira de se alimentar inverte a revoluo culinria que transformou a alimentao num ato socivel e ameaa nos fazer retroceder para uma fase de evoluo pr-social. Parte do resultado da sociedade que se alimenta de lanches o prejuzo sade, medida que as desordens alimentares se multiplicam (Ibid., p.21).
Fernandez-Armesto, em seu texto, associa diretamente as alteraes alimentares com a multiplicao das desordens alimentares. Percebe-se que no somente alimentos so substitudos por outros de qualidade duvidosa, mas o prprio ritual social de se alimentar foi substitudo pelo comer solitrio, caracterizando o desenraizamento e a desterritorializao da alimentao, alijada da sua tradio.
As refeies feitas em horrios certos fazem parte dos rituais mais antigos da humanidade. Os efeitos sociabilizantes do comer em grupo ajudam a nos humanizar. (...) O fim das refeies regulares implica dias desestruturados e apetites indisciplinados. (...) Nas famlias regidas pelo microondas, a vida familiar se fragmenta. O fim do preparo das refeies em casa algo que foi previsto com tristeza e, ao mesmo tempo, ardentemente desejado. O movimento contrrio cozinha caseira comeou h cem anos, sem muita fora, entre os socialistas que queriam libertar as mulheres da cozinha e substituir a famlia pela comunidade mais ampla. (...) Agora o capitalismo conseguiu fazer o que o socialismo no foi capaz (...) a culinria rendeu-se chamada "convenincia", em que o desmembramento das famlias comea pela geladeira. Os pontos de alimentao imaginados por Bellamy se concretizaram, mas so pontos de venda de fast food fornecidos por empresas privadas, e a comida que servem uma alimentao padronizada e uniforme. (FERNANDEZ-ARMESTO
(2005, P.20))
97 No basta voltar a cozinhar em casa, conforme acredita o autor, mas necessrio mudar o modo de cozinhar, e o que cozinhar. A alimentao-viva44 no utiliza o fogo, ou pouco o utiliza, preferindo a energia do sol, rompendo com um modelo energtico contemporneo, e resgatando o tempo em seu pulsar real, pois o fogo sugere o desejo de mudar, de apressar o tempo, de levar a vida a seu termo (Bachelard, 1999, p.25). A alimentao-viva ou crudivorista rompe com a prpria estrutura do capitalismo, mesmo que em sua teia voraz, esse sistema tente capturar o movimento, produzindo restaurantes de alimentos crus, ou associando alimentos orgnicos alimentao viva, absorvendo um novo nicho de mercado. Atender nichos especficos de consumidores, atravs da produo de produtos especializados e diferenciados, no representa uma ameaa massificao da produo e ao controle centralizado dos grandes capitais, mas significa somente uma reestruturao tecnolgica e organizacional com fortalecimento do poder global das grandes corporaes transnacionais de alimentos (FRIEDLAND, 1994, p.210-231). Swientek (2000, p.22-24) relata que recentemente, gigantes transnacionais processadoras de alimentos adquiriram as empresas e marcas mais promissoras da indstria norte americana de alimentos orgnicos, as quais vinham crescendo independentemente desde os anos 70 (BY, 1999). No entanto, a alimentao viva no se prende aos ditames do mercado que inflaciona os produtos batizados com o rtulo orgnico. A alimentao-viva recusa qualquer alimento que tenha sido processado industrialmente, afastando-se da raiz do modelo industrial, e rompe com a lgica
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Alimentao Viva (life food) semelhante ao Crudivorismo (ver nota 19), mas com mais nfase s sementes germinadas. Alimentao internacionalmente divulgada pelos Ann Wigmore Health Institute (Porto Rico), Hippcrates Health Institute (Flrida - EUA), e Tree of Life Rejuvenation Center (Arizona EUA). No Brasil, a pioneira na pesquisa da alimentao viva a Profa. Ana Branco, da PUC-RJ, atravs de seu projeto Biochip (informao da vida), um grupo aberto de estudo, pesquisa e desenho, que investiga as cores, odores, sabores e informaes contidas nas frutas, hortalias e sementes revitalizadas pela germinao, e que faz parte das atividades desenvolvidas no LILD -Laboratrio de Investigao em Living Design do Departamento. de Artes e Design da PUC-RJ. O Biochip inspirou a mdica Maria Luiza Nogueira, irm de Ana Branco, a criar na Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) o projeto Terrapia.
98 potencializada pelo frezzer e geladeira, elaborando pratos que so consumidos imediatamente, no havendo sobras, congelamento, ou armazenamento substantivo essencial no capitalismo, que estimula a poupana e o acmulo. A alimentao-viva tambm subverte o que visto por lixo, pois na sociedade de mercado, tudo o que no serve para a produo de mercadorias e a acumulao do capital, desprezado, mas na alimentao-viva, os resduos vivem o ciclo da vida, atravs do processo de compostagem, que vai gerar nova terra. Nada se perde, vivendo seu moto-contnuo. Portanto, a alimentao-viva subverte o tempo controlado pelo Capital, o conceito de lixo, mesmo aquele que chamado de reciclvel 45, a lgica do armazenamento46, o gasto energtico, alm de ignorar a grande maioria de produtos dispostos no mercado alimentcio.
Contedo: o processo da partilha. A palavra companheiro, como no francs compagnon e no ingls companion, tem sua origem em cum panem, aqueles que compartilham o po. Partilhar47 as vivncias, que so o nosso po, uma prtica da comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso, com o objetivo de promover a sade integral, gerar desenvolvimento das potencialidades, da autonomia, e contribuir para a transformao da prpria realidade (CANDEIAS, 1997). Ela se inicia aps a devoluo da ficha de anamnese preenchida, quando o usurio recebe por e-mail uma partilha, e se inicia uma nova fase, atravs da proposta de vivncia da alimentao-viva. A partir desse momento, contatos recprocos
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A reciclagem do lixo uma forma de mito, pois no soluciona o problema, j que somente se recicla o que interessa, alm de se gastar elevada energia no respectivo processo. 46 Armazenar e acumular so princpios bsicos do capitalismo. 47 Partilha - ato inspirado no verbo partilhar que significa repartir, participar de, desdobrar-se, dar a vez, permitir que outros ocupem o tempo, ou espao que seria seu, ou ainda, expor suas idia para o grupo. Dessa forma, a partilha uma divulgao da minha experincia em alimentao viva, construda a partir do projeto de pesquisa Biochip, da Profa. Ana Branco da PUC-RJ, e se concretiza atravs da comunicao atravs de e-mail, com os usurios que enviaram a ficha de anamnese preenchida.
99 se estabelecem atravs de e-mails, compartilhando vivncias, num ciclo espiral, que somente interrompido pelo silncio do usurio. A importncia da divulgao de trechos de partilhas est na revelao aos outros de que possvel a transformao dos padres compulsivos, pois isto fortalece e cria nimo. Foram selecionadas trs partilhas, que so apresentadas trazendo dados dos autores, fornecidos atravs da ficha de anamnese. Aps o recebimento da partilha e vivncia do processo, os autores enviaram e-mails com relatos, compartilhando a experincia, e estabelecendo o dilogo. Os relatos esto colocados a seguir dos cabealhos, com as informaes sobre os autores.
Partilha 1 Professor, 38 anos, 168 cm de altura, 75 kg, compulsivo e bulmico, com halitose, hipertenso e hipercolesterolamia, nefrose na infncia. Aps o envio da ficha de anamnese, recebeu uma partilha com vivncias relacionadas com a alimentao-viva. Aps algum tempo, envia e-mail compartilhando sua vivncia.
Oi Fernando, tudo bem? bom, recebi seu e-mail h um bom tempo, entretanto, somente agora pude respond-lo. Hoje faz quatorze dias que comecei tomar o suco que voc partilhou comigo. Acho que tudo tem o momento certo. Tudo comeou depois do carnaval, aps muita farra (bebedeira e comilana). Estava exausto, fsica e emocionalmente, pois havia terminado um relacionamento de longa durao. Mesmo assim, acordei na quarta-feira de cinzas disposto a encarar uma mudana mais radical e resolvi iniciar o suco de luz48, e em jejum o suco de limo em gua morna. Decidi tambm dar um tempo na bebida. j no terceiro dia que estava tomando o suco, comecei a sentir as primeiras mudanas. Mais disposio, menos interesse por qualquer tipo de comida e bebida, mais estabilidade emocional, perda de peso, de 74,5kg para 72,5kg, presso 136/87mmhg para 124/75mmhg. Hoje aguardo muito feliz a hora de tomar meu suco, como eu o apelidei, rsrsrs. Meu peso est em 69,8 kg (isso no acontecia h anos). Estou fazendo atividade fsica todos os dias e tenho muita disposio no
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Suco da Luz do Sol suco feito com a combinao de hortalias, privilegiando as de produo orgnica, com pepino, ma, gros germinados, em um liquidificador, coado em um coador de pano. Batizado pela Profa. Ana Branco com inspirao na ao do sol nos alimentos. A receita foi disponibilizada no site anorexiaebulimia.com, atravs de descrio detalhada e vdeos auxiliares.
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trabalho e em casa. Minha presso sangunea est em torno de 11/7 mmhg, pra quem j foi diagnosticado hipertenso e tomava todos os dias 50mg de losartana potssica49, est bom , no acha?agora quero refazer os exames sanguneos que eu fiz no incio dessa terapia (dia 19/02/2010), pois todos os resultados estavam alterados. Veja a seguir. Colesterol: 246mg/dl. Triglicride: 261mg/dl. Transaminase glutmico oxalactica: 50 u/l. Transaminase glutmica pirvica: 47 u/l. Na verdade, estou confiante que essas taxas tenham baixado, entretanto, fico meio apreensivo ao pensar que no baixaram. Ento, estou esperando dar os 28 dias que o corpo leva para assimilar as novas substncias no organismo. O que achou da minha partilha, alguma sugesto para me auxiliar em minhas buscas para recuperar meu estado de sade? Aguardo contato.
A partilha um processo contnuo e mtuo, enquanto o usurio desejar manter a comunicao, o que o caso, conforme se percebe no encerramento do e-mail acima.
Partilha 2 Estudante de pr-vestibular noite, mulher, 19 anos, 180 cm de altura, 75 kg, , apetite aumentado, halitose, gases, poliria, TPM compulso por doces, foi bulmica dos 13 aos 15 anos, mas aos 16 se tornou vegana50 por motivos ticos, mas problema de sade na famlia aumentou sua ansiedade e as compulses voltaram, engordando 5 quilos.
Tenho tricolomania51 - mania de arrancar os cabelos pela metade (eu no arranco a raiz, apenas tiro um pedao de fio e jogo fora). como a bulimia, uma doena que no se sabe a causa, mas uma vez li um cientista dizendo que a causa poderia ser uma reao alrgica a determinados alimentos. Quem sabe sua dieta tambm no me ajuda com isso? Queria perguntar se voc acha que a dieta tambm pode ajudar meu pai a se desintoxicar dos remdios de Parkinson, pois eu poderia fazer a comida pra mim e pra ele. Desde quando li sua
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Losartana potssica - medicamento indicado para o tratamento da hipertenso, tambm utilizado no tratamento da insuficincia cardaca, geralmente em combinao com diurticos e digitlicos. Pode apresentar os efeitos adversos de edema (face, lbios, faringe, lngua), diarria e anormalidades da funo heptica, mialgia. enxaqueca, urticria, ou prurido. 50 O veganismo foi criado na dcada de 40, por dissidentes da The Vegetarian Society (Sociedade Vegetariana), por questes ideolgicas. Formaram a The Vegan Society (Sociedade Vegan), adotando um termo que uma corruptela de vegetarian, sendo suprimidas as 5 letras centrais. No consomem nenhum produto animal ou que tenha sido testado em animal. No uma dieta, mas uma ideologia que luta pela incluso dos animais na sociedade humana. 51 Tricotilomania - distrbio em que ocorrem impulsos para arrancar os fios de cabelo para controlar a ansiedade, podendo gerar calvcie ou grandes falhas no couro cabeludo. Na Tricotilofagia o cabelo arrancado comido, gerando acmulo de cabelos no estmago, exigindo cirurgia para a remoo. No se conhece as causas desses distrbios, mas h teorias sobre desequilbrio qumico, problema gentico, ou origem alrgica, provocada por uma dieta inapropriada.
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comunidade no consigo vomitar mais. E tenho lido muitas coisas sobre crudivorismo52. J li os 12 passos53 tambm. Amei Hoje o 10 dia. Fiquei muito feliz com os resultados do suco. Nos 3 primeiros dias me senti um pouco tonta, enjoada e com dor de cabea. Do quarto dia em diante foi s alegria. Me senti muito mais disposta, minha pele melhorou muito e finalmente estou conseguindo largar a cafena. Tambm, estou consumindo mais frutas, legumes e tomo o limo todo dia. Fico aguardando a segunda etapa.
Partilha 3 Economista, mulher, 29 anos, altura 162 cm, peso 75 kg, tem TPM, chocolates, bulmica h 13 anos, quando tem compulso vomita cheeps e bolachas recheadas.
Oi Fernando! Tudo bem com voc? Bom, foram dias bens interessantes esses ltimos.....Eu entrei em crise, numa crise boa, vamos dizer. Logo nos primeiros dias tomando o suco, me veio um monte de coisas na cabea e uma reflexo importante pra mim: durante toda a minha vida no tive autenticidade nas minhas escolhas. Aderi teorias, filosofias, modos de vida, dietas que eu achava interessante, mas tudo sempre ficou num plano terico, intelectual. Nessa reflexo, me senti uma ovelha seguindo os passos dos "gurus" desse mundo. Me faltou autonomia e autenticidade pra seguir meu caminho, nico, exclusivo, individualismo. E de repente, comecei a questionar tudo e todas as minhas escolhas, e at esse caminho que voc prope de alimentao viva (apesar de ter a certeza que voc tem as melhores das intenes. Sei isso de corao), e senti uma necessidade imensa de pesquisar antes de entrar de cabea nesse novo estilo (como sempre entrei em tudo na minha vida: de cabea e sem criticidade). Li tudo que vi e achei na internet sobre crudivorismo, jejum, alimentao viva e higienismo54. Ainda quero ler muito mais, mas quero mesmo experimentar e testar no meu corpo esse estilo de alimentao natural. bom me apoderar desse processo pois me sinto mais dona
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Crudivorismo (raw food) - sistema alimentar que s admite alimentos crus, com consumo de frutas, verduras, legumes, cereais, brotos, sementes germinadas, tudo cru, e ausncia de produtos de origem animal, processados ou refinados. Pela no utilizao do fogo, ou aquecendo e desidratando os alimentos ao mximo de 42C, podendo ser ao sol, no ocorre a destruio de vitaminas, minerais, fibras, e desnaturao de protenas. Tambm no utiliza a geladeira para armazenamento. Ao contrrio do popular dito que todo apressado come cru, no crudivorismo a alimentao sem pressa, tendo alguns pratos bastante elaborados que exigem mais de 10 horas no preparo. 53 12 passos para o crudivorismo livro escrito por Victoria Boutenko, em 2001, editado por Raw Family Publish, EUA, inspirado nos 12 passos apresentados pelo A. A. (Alcolatras Annimos), mas sendo um programa diverso, no voltado para a recuperao do alcoolismo. 54 Higienismo - filosofia que defende que todas as doenas so causadas, primordialmente, pelo acmulo de toxinas no corpo, e que, secundariamente, agentes externos, como microorganismos, poderiam se aproveitar da debilidade do doente. Os sintomas das doenas seriam manifestaes de um processo de desintoxicao que cederia quando o organismo estivesse livre das toxinas que causaram a doena. Dessa forma o sintoma j o processo de cura, e o uso de medicamentos para alvio dos sintomas prejudica a eliminao de toxinas, e tambm a cura. A doena seria uma crise de eliminao. O higienismo condena, alm das combinaes alimentares erradas, o uso de comidas industrializadas (refinadas), carnes (que no so alimentos especficos para a espcie humana) e vegetais cozidos (estgio mais elevado do higienismo), a no ser os legumes, que podem ser cozidos no vapor, e as razes, que podem ser cozidas.
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de mim mesma, apesar de saber que isso tambm envolve uma grande responsabilidade. Bom, psicologicamente, esse foi o insight. Em relao a essa experincia tenho que dizer que meu intestino melhorou muuuuito e minha pele ficou mais bonita. Mas devo dizer tambm que no gostei do sabor do suco, nem um pouco. Posso trocar a couve por alface, por exemplo? Posso colocar tomate e outro legumes e vegetais? Achei tambm um pouco trabalhoso a preparao do suco, pois no gosto de cozinhar e preparar coisas na cozinha. Esse o maior desafio a vencer: preguia de cozinha e o desejo de um caminho mais simples. No tive mais crises de bulimia. Tentei comer apenas frutas e o suco no dia, mas percebi que bem difcil comer muitas frutas durante o dia e acabo comendo outras coisas porque sinto "fome". Como saciar essa "fome" ou necessidade mnima de calorias com apenas frutas e vegetais sem ter "fome"? Apesar de ter achado gostoso tomar o ch de limo, porque tom-lo? Quais as razes e benefcios? Na alimentao viva, recomenda-se usar condimentos como: pimenta, salsa desidratada, manjerico seco e sal marinho, azeite? T sentido uma necessidade e quase desejo de comer mais legumes e vegetais. T sonhando com aipo (apesar de nunca ter experimentado) com molho de tomate batido no liquidificador com um pouco de cebolinha, salsa e pimenta.....craaazy!
J que alimentos cozidos no so indicados, quando bater aquela fome louca, o que melhor: fazer uma sopa de vegetais e tubrculos ou comer um carboidrato, tipo po, de acordo com a combinao de alimentos? No mais, esses so os meus relatos. Aguardo nova partilha. Boa noite.
que foram percebidos em vrios sistemas, circulatrio, digestivo, emocional, pele, alm de atuar sobre pensamentos e sentimentos. Como exemplos, podemos citar a normalizao
da presso sangunea, a reduo de peso e a estabilidade emocional, relatadas na partilha 1, ou as declaraes estou conseguindo largar a cafena e consumindo mais frutas, legumes, presentes na partilha 2, destacando a frase desde quando li sua comunidade no consigo vomitar
mais que refora a importncia de espaos, onde existam pontes de comunicao, que facilitem a compreenso de informaes importantes para o estmulo de alteraes
alimentao viva. O autor afirma ser bom me apoderar desse processo pois me sinto mais dona de mim mesma. Permitir que algum se apodere55 de um processo, e torne-se dono de si mesmo , justamente, o fruto desejado em um processo educacional, conforme reflete Pereira et al. (2000, p.39), oferecer oportunidades para que as pessoas conquistem a autonomia necessria para a tomada de deciso sobre aspectos que afetam suas vidas.
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Empowerment empoderamento ou libertao do indivduo de estruturas, conjunturas e prticas culturais e sociais que se revelam injustas e opressivas, atravs de um processo de reflexo sobre a realidade da vida humana.
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Contedo: a alimentao-viva A alimentao-viva recupera a conscincia do ato de alimentar-se, e a percepo do todo, distante da fragmentao imposta pelo capitalismo da especializao. Uma alimentao que, nas palavras da Profa. Ana Branco (2007, p.1), permita a cada pessoa se apropriar de si mesmo. Ser mestre de si mesmo. Poder se apropriar da prpria vida, rompendo com o a essncia do comrcio, pois o alimento vivo no para ser vendido.
105 para a gente poder se regenerar., permitindo a construo de um novo paradigma de sociedade. A pesquisa Biochip, que significa informao da vida, representa uma ameaa para o setor alimentcio, pois, relata a professora, promove a independncia da indstria, que aprisiona os consumidores com os rtulos "saudveis" e rentveis. Liberta ainda dos prprios alimentos orgnicos, que so destinados para a elite, pelo alto custo, e no representam o conceito de uma alimentao transformadora, mas que promove dependncia financeira, social e psicolgica.
Forma Para a elaborao do formato do site, dentro das limitaes encontradas no hospedeiro, buscou-se orientao a partir de alguns autores com percepo de diagramao em Web, assim como em propostas encontradas no RIVED Rede
106 Interativa Virtual de Educao -, um programa da Secretaria de Educao a Distncia SEED, que orienta sobre a construo de objetos de ensino ou aprendizagem. Wiley (2000, p. 3) define os objetos de aprendizagem (OA) como qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o suporte ao ensino. Para a Rede Interativa Virtual de Educao - RIVED (2006) o OA :
(...) qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar suporte ao aprendizado. Sua principal idia quebrar o contedo educacional disciplinar em pequenos trechos que podem ser reutilizados em vrios ambientes de aprendizagem. Qualquer material eletrnico que provm informaes para a construo de conhecimento pode ser considerado um objeto de aprendizagem, seja essa informao em forma de uma imagem, uma pgina HTM, uma animao ou simulao.
Os OAs possibilitam fragmentar o contedo educacional em trechos menores, para serem reutilizados em outros ambientes de aprendizagem, multiplicando o fluxo de idias, e podem ser formados com imagens, documentos VRML (realidade virtual) hipertextos, animaes, sem limite de recursos e tamanho, apenas mantendo seu propsito educacional definido, estimulando a reflexo, e possibilitando aplicao em mais de um contexto (BETTIO; MARTINS, 2004). A prpria construo de um AO, por si s, gera conhecimento, pois ao construir o mundo ao redor estamos construindo a ns mesmos, em um processo contnuo at a formao da conscincia (BECKER, 2006). Utilizamos, at o momento, a disponibilizao de vdeos que j eram apresentados no Youtube. O processo de construo do site gerou conscincia da importncia do tipo de letra utilizada, seu tamanho, cores, imagens, de tal forma que o conjunto de informaes pudesse ser mais bem apreendido pelo internauta-educando-educador. A escolha das fontes tambm importante, pois as fontes com serifas, como Times New Roman e Courier New, dificultam a leitura, em funo de seus pequenos detalhes, enquanto que as sem serifa, como Arial, Helvetica , Verdana e Tahoma facilitam a viso e a leitura na
107 tela, sendo mais legveis (BURMARK, 2002). Por essa razo, a Verdana, uma fonte otimizada para a tela do computador a adotada no RIVED. O corpo do texto, ttulos, e subttulos devem estar sempre no mesmo formato em todas as pginas do site. Foram seguidas as sugestes propostas pelo RIVED, e Verdana foi a fonte selecionada para todos os textos, exceto os documentos em Word, dispostos para serem baixados, que esto em Times New Roman. Para Rubeinstein e Hersh (1984), preciso ter cuidado com o recurso da justificao do texto em um site, pois o texto justificado nem sempre aumenta a legibilidade na tela. Por isso, optou-se por no utilizar a justificao, exceto em um texto na pgina inicial.
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As linhas de texto devem ser curtas, se a inteno que o texto seja, preferencialmente, lido na prpria tela, ao invs de ser impresso para a leitura no papel, pois estudos demonstram uma eficcia menor nas linhas mais longas (HANSEN & HAAS, 1988; DEBRA, 1996). Em razo disso, na maioria das pginas, o texto pequeno, sendo utilizado o recurso do link saiba mais para outras informaes. Lindermann (1983) prope a simplificao do texto, com ateno na quantidade a fim de se evitar o recurso da barra de rolamento, diminuindo a fadiga. No entanto, no foi possvel abrir mo desse recurso, em funo da necessidade de vrios links esquerda, o que aumentou o tamanho vertical das pginas. Apesar do RIVED sugerir que cabealhos e pequenos textos podem ser centralizados, mas o restante deve se alinhar pela esquerda, pois essa disposio reduz a carga cognitica, j que estamos acostumados leitura da esquerda para a direita, foi dada
109 preferncia pela centralizao do texto na maioria das pginas, por ter uma visualizao melhor. Ao aplicar links, deve-se usar cor para destacar, ao invs do sublinhado, sugesto que foi seguida. No aspecto das cores, quando a pgina tiver um fundo colorido, se utiliza cores do texto para obter contraste, para ampliar a visibilidade (PARIZOTTO, 1997). Observar para no usar cores arbitrariamente; pois os usurios interpretam cores (HOWLET, 1996). O fundo das pginas azul claro, dessa forma optou-se por manter a cor preta na fonte Verdana, para maior destaque e harmonia. Quando bem utilizados, mltiplos formatos de informao, como textos, som, animaes e vdeos, colaboram no processo de aquisio do conhecimento (MAYER, 2001). Utilizamos, texto, som e vdeos. Mas, de que adianta os recursos tecnolgicos disponveis, incluindo as mdias e o hipertexto, se os textos apenas cumprirem a funo de transmitir informaes, sem revelar quais as vises de cincia esto associadas quela proposta? Silva e Fernandez (2007) observam que a tecnologia pode estar implicada com uma concepo ideolgica conservadora.
Muitas vezes tais recursos tecnolgicos podem ter presentes concepes epistemolgicas nas quais se fundam idias de ensino e aprendizagem tradicionais e concepes de cincias distorcidas, como, por exemplo, uma cincia vista como produtora de verdades que devem ser aceitas sem questionamento.(p.28)
Com os cuidados para elaborar um design pedaggico, esperamos, tambm, que o contedo possibilite a construo de um pensamento crtico. O site entrou na web no dia 19 de novembro de 2009, mas passou por contnuas transformaes durante o processo de concluso desta dissertao. O que no quer dizer que esteja pronto, pois se trata de um produto em constante dilogo, e, portanto, sujeito a alteraes.
A proposta da comunidade pretende que pessoas tenham acesso aos conceitos necessrios para pensar sobre conhecimentos cientficos que sejam importantes para a sua sade, e, dessa forma, possam resolver necessidades bsicas de sade, e adquirir percepo crtica (FURI et al., 2001). Ao contrrio da educao tradicional, denominada de bancria por Paulo Freire (2001), e que se constitui em um processo passivo onde o receptor recebe e arquiva informaes, a partilha estabelece um dilogo com aqueles que vivenciam os transtornos alimentares. A comunidade Anorexia e Bulimia Nova Viso tem possibilitado o desenvolvimento de atitudes para a formao de uma conscincia crtica e do empowerment pessoal. O site, produto dessa dissertao, ao aumentar os recursos disponveis, pretende estar em consonncia com a promoo da sade. fundamental desenvolver estratgias que possibilitem a transformao das relaes humanas na direo da constituio de uma conscincia coletiva, baseada no verdadeiro conhecer, no naquele que se deixa seduzir pelo poder econmico, assim como estimular uma nova alimentao, pois a alimentao o que nos move, e o que nos penetra. Fome, obesidade, transtornos alimentares diversos, multiplicao de doenas, esses so os maiores desafios do sculo XXI. preciso educar para a libertao do consumo passivo no mercado, do corpo aprisionado, medicalizado. Como educadores precisamos estar voltados para a essncia da vida, perseguindo a sntese, seja a do processo filosfico, ou a da biologia, que gera produo de energia nas clulas, e resulta na criao.
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ANEXO
FICHA DE ANAMNESE Data de Nascimento: Profisso e horrios: Hora de Nascimento: Tipo Sanguneo: Queixa Principal: Peso: Altura:
Transpirao: ( )Fria ( )Noturna ( )Diurna ( )Corpo Todo ( )Extremidades ( )Cabea ( )Palmas (mos) ( )Solas(ps) ( )Peito ( )Ondas de calor Sono: ( )Insnia Inicial ( )Terminal(acorda antes) ( )Intermitente(acorda vrias vezes) ( ) Ronca ( )Bruxismo(ranger dos dentes) ( ) Sono agitado ( )Pesadelo ( )Medos Noturnos ( )Sonolncia Fneros: ( )Pele seca/descamada ( )Acne (espinhas) ( )Furnculo ( )Perda de cabelos ( )Unhas c/ manchas ( )Unhas quebradias Dentes: ( )Dente Fraco Gengivas: ( )Afta ( )Perda de dente
Vertigens ou Tonteiras: ( )Sim ( )No Audio: ( )Hipoacusia(diminuio) ( ) Zumbido ( )Estalido ( )Dor de ouvido
Alimentao: ( )Diminuio do paladar ( )Desejo de coisas estranhas ( )Apetite diminudo ( )Apetite Aumentado Preferncia por: ( )Alimentos Frios ( )Alimentos Quentes
Preferncia por sabor: ( )Amargo ( )Azedo ( )Doce ( )cido ( )Picante ( )Salgado Sede: ( )Aumentada ( )Diminuda Toma mais de 2 litros de gua? ( )Sim ( )No ( )Boca seca ( )Halitose (mau hlito)
Faz uso de algum contraceptivo? ( ) Qual? Cefalia (dor de cabea)?: ( ) Qual a freqncia? Qual a regio da cabea? ( )frontal ( )nos olhos ( )na nuca ( )na lateral da cabea Problemas na Coluna? ( ) Qual a regio? ( )Regio Cervical ( )Regio Lombar Cor da Lngua: ( )Vermelha ( )Prpura Saburra (cobertura da lngua): ( )branca ( )amarela ( )escura ( )sem saburra Apresenta marca dos dentes nas laterais? ( ) Rachaduras? ( ) Tremores na ponta? ( ) Medicamentos que faz uso com freqncia? Utiliza laxantes, purgantes ou diurticos? Doenas e cirurgias que j vivenciou? Doenas familiares? J teve avaliao da funo tiroidiana? Diabetes mellitus, tumores, neoplasias, doena de Crohn? Teve algum diagnstico clnico recente? Relate suas opes alimentares atualmente. Deseja relatar mais alguma coisa?