Análise Do Capítulo XVII Do Livro
Análise Do Capítulo XVII Do Livro
Análise Do Capítulo XVII Do Livro
Introdução
Resumo do Capítulo
No Ramalhete, Baptista acorda Ega (que tinha em sua posse a caixa já conhecia a verdade acerca dos
laços que uniam Carlos a Maria Eduarda), às 7 horas. Este, sem coragem de contar a verdade a Carlos,
inventa uma ida a Sintra com o intuito de não passar a tarde com o amigo para poder contar a verdade a
Vilaça e os dois resolverem o problema.
Mais tarde, Ega desvenda o segredo ao procurador e incumbe-o de revelar a notícia ao neto de Afonso.
Após uma tentativa falhada, Vilaça consegue contar a verdade a Carlos, e quando Ega se confronta com o
amigo, este já estava ocorrente dos laços sanguíneos que o uniam à mulher que tanto amava e queria levar
ao altar. Desesperado, Carlos procura explicações no avô que de nada sabia acerca da neta. Afonso revela
a Ega que conhece a relação, agora incestuosa, que une os dois amantes.
De seguida, numa tentativa desesperada de acabar com a relação com Maria, Carlos planeia uma
mentira para ganhar tempo e depois revelar o que sabia à irmã. No entanto, ao visitar a amante, Carlos cai
no seu leito e, mesmo consciente dos laços de sangue, não consegue evitar comete incesto voluntário.
Apesar do amor que os unia, Carlos começa a sentir repugnância física do corpo quente com quem
dormira nas últimas noites e toma consciência dos seus actos, da completa morte dos seus valores morais
e do sofrimento que causara ao avô e ao amigo, conhecedores do incesto voluntário.
Numa das noites em que voltava para casa, por volta das quatro da manhã, após o encontro com a irmã,
Carlos encontra-se, pela última vez, com o avô que o fita com os olhos e não lhe dirige uma palavra. Na
manhã seguinte, os criados chamam Carlos até ao jardim onde este se depara com Afonso, morto, sentado
no banco de jardim. Carlos sente-se desesperado e culpado, pois sabe que o avô morreu de desgosto.
Depois do funeral, Carlos parte para Santa Olávia e deixa dinheiro a Ega para que este o entregue a
Maria, incumbindo-o também da tarefa de revelar o conteúdo da carta de Maria Monforte. Maria Eduarda
deveria partir para Paris, a pedido de Carlos.
Juntamente com Ega, Maria parte no comboio que a levaria para França e deixaria Ega no
Entroncamento, a fim de se dirigir para junto do amigo.
Os Vários Espaços ao
Longo do Capítulo
Espaço Físico
Ega acorda no Ramalhete às 7 horas e vai procurar Vilaça à Rua da Prata por volta das 11
horas.
No dia seguinte, no Ramalhete, Vilaça conta a verdade a Carlos.
Nessa noite, Carlos procura Maria e comete incesto voluntário. Passa as próximas quatro
noites com a irmã.
Numa das manhãs em que acordava no Ramalhete, após passar a noite com a irmã, Carlos
depara-se com o avô morto no banco de jardim.
No dia seguinte, após o funeral, Carlos parte para Santa Olávia e Ega entrega a Maria, na Rua
de S. Francisco, a carta de sua mãe.
No dia seguinte, Ega e Maria embarcam na estação de Santa Apolónia com destino a Santa
Olávia e à capital Francesa, respectivamente.
Espaço psicológico
Este tipo de espaço representa as emoções, a afectividade, o íntimo das personagens. É
traduzido sob a forma de sonhos, reflexões e visões, portanto está ligado ao mundo interior e não
ao mundo objectivo. Assume maior importância nos momentos próximos do desenlace, pois as
inquietações, os conflitos psicológicos intensificam-se, ao nível da intriga, mais concretamente
com as personagens Ega e Carlos.
Ega sente-se preocupado com a dimensão dos actos de Carlos e das suas consequências. Carlos
sente-se revoltado e impotente face aos acontecimentos, não tem coragem para acabar o
relacionamento com Maria Eduarda.
Espaço Social
A crónica de costumes remete para este tipo de espaço. Reflecte a oposição entre o ser e o
parecer das personagens-tipo que se apresentam nestes ambientes. Estas pertencem à alta
burguesia, à elite portuguesa, que vivia ociosamente sem precisar de trabalhar para sobreviver. A
intenção satírica do autor manifesta-se, sem dúvida, na descrição destes espaços assim como nas
situações lá vividas.
Neste capítulo o espaço social está presente nos jantares no Ramalhete e nos jantares com o
Marquês.
Personagens
Neste capítulo intervêm:
Carlos da Maia Sequeira
Afonso da Maia D. Diogo
João da Ega Steinbroken
Maria Eduarda Darque
Vilaça Taveira
Baptista Cruges
Rosa Dr. Azevedo
Miss Sarah Vargas
O escrevente de Melanie
Vilaça Neves.
Craft
Personagens Tipo
Personagens como Craft, Sequeira, D. Diogo, Steinbroken, Darque, Taveira, Cruges, Vargas e
Neves não ocupam um lugar muito importante no decorrer da intriga, são todas personagens tipo e
representam uma determinada classe social ou mentalidade.
Craft é um inglês amigo de Carlos e de Ega. Tem uma formação inglesa pelo que é
culto. É rico e leva uma vida boémia.
Aparece no sarau no Ramalhete e no funeral de Afonso.
Figurantes
Personagens como Miss Sarah, Dr. Azevedo, Melanie, Rosa e o escrevente de Vilaça funcionam
apenas como figurantes da acção e só intervêm nela devido à necessidade de existência de um
intermediário.
Miss Sarah e Melanie são empregadas de Maria Eduarda e Rosa é sua filha.
Dr. Azevedo apenas aparece para confirmar a morte de Afonso.
O Escrevente de Vilaça apenas aparece quando Ega procura Vilaça e não o
encontra.
Ega
Neste Capítulo Ega sente-se desanimado, desesperado, e preocupado, devido ao facto de ter
descoberto que Carlos e Maria Eduarda são irmãos. Quando contou ao Vilaça, Ega sentia-se
ligeiramente impaciente, e, á medida que Vilaça lhe ia contando coisas sobre a Maria Eduarda, Ega
ficava mais confuso e mais preocupado com a situação.
Quando Ega e Vilaça foram abrir o cofre de Monforte, Ega ficou muito impaciente e decide retirar
tudo o que estava dentro desse cofre. Ao terminar Vilaça entregou-lhe uma enorme folha de papel,
em que explicava tudo o que era necessário saber, Ega quando vê ele sente-se sufocado por toda a
verdade e confusão. Quando termina de ler o que estava escrito na folha de papel Ega decide que tem
que entregar esse documento a Carlos da Maia.
Só mais tarde é que Ega ganha coragem e conta tudo a Carlos e a Maria Eduarda.
Vilaça
Homem mais honesto e prático, que Ega conhece. Fica espantado com o que Ega lhe conta, ficando
pálido. No início ficou esmagado e emparvecido, sem compreender, não queria acreditar. Não queria
contar a Carlos, mas Ega insistiu. Neste capítulo, Vilaça apoia Carlos e Ega em todas as situações.
Afonso da Maia
Afonso aparece quando Ega conta a Carlos a história/situação, entrando com um sorriso
perguntando pelo chapéu do Vilaça. Carlos e Ega contam, a Afonso a situação e este fica devastado,
com a notícia.
Afonso fica numa angústia ao saber que Carlos esteve com "essa mulher" (Maria Eduarda) até de
manhã. Quando Carlos chega a casa, Afonso finta-o como um fantasma, não diz nada e vai-se
embora. Na manhã seguinte sente-se mal no jardim e morre de ataque cardíaco.
Carlos da Maia
Neste Capítulo Carlos da Maia sente-se contente no princípio quando vai ter com Ega, mas, mais
tarde quando o Vilaça lhe mostra os papéis de Monforte, Carlos fica confuso e chateado, após isto
Carlos tem uma conversa com Ega sobre a conversa que Ega teve com o Sr. Guimarães e ao longo da
conversa Carlos aumentava o seu tom de voz e fica zangado.
Quando descobriu que Maria Eduarda era sua irmã ele ficou revoltado e preocupado porque teria
que contar toda a verdade a Maria Eduarda, mas, quando vai contar a Maria Eduarda que se vai
ausentar (para adiar a verdade), mostra-se fraco de valores, comete incesto voluntário e depois enoja-
se de ele mesmo.
Mais Tarde Carlos chora pela morte de seu avô, pela qual se sente culpado, e mostra saudosismo,
ao recordar quando o seu avô estava vivo. Carlos da Maia parte para Santa Olávia em que deixa uma
carta a Ega para dar Maria Eduarda para ela saber toda a verdade.
Maria Eduarda
Neste capítulo encontramos pela primeira vez Maria Eduarda na cama pois estava cansada. Carlos
entra no quarto com a notícia de que ia partir para Sta. Olávia, esta questiona porquê um tanto triste e
admirada, mas compreende a explicação que Carlos lhe dá. Ela pega-lhe na mão e beijam.se. Carlos
tenta conter-se mas não consegue.
Apesar de Maria Eduarda nunca ter visto Afonso da Maia compreende o sofrimento de Carlos,
perante a morte do avô. Mas ao saber que Carlos foi para Sta. Olávia, sem um bilhete e sem uma
palavra, quase como um abandono, fica triste e chora em silêncio. Com isto Ega conta-lhe a verdade.
E, ela "mal compreendia, lívida, num indefinido terror, parte, no vagão-salão melancólica e nobre,
rumo a Paris.
Simbologia
A realização do incesto voluntário por parte de Carlos significa a completa morte dos seus valores
morais
Carlos, com um profundo sentimento de culpa, dirige-se da Rua de D. Francisco para o Ramalhete
pensando que, depois de ter cometido incesto consciente, é-lhe impossível recomeçar a sua vida,
tranquilamente, na presença do avô e de Ega.
No momento da chegada ao Ramalhete (p.667), no exterior “os candeeiros ainda ardiam”, porém o
advérbio de tempo “ainda” indica que a noite está prestes a acabar, dando lugar à luz do dia. Mas no
interior reinava a escuridão e Carlos procurava uma luz para iluminar os seus passos e o seu
comportamento, é que moralmente sentia-se também às escuras.
Neste momento de hesitação surge o avô com uma luz, manifestada primeiro como claridade que
vai crescendo e depois se torna num clarão, numa luz bem definida. Podemos descortinar nesta luz
um simbolismo: o avô sempre representou a luz, uma luz para Carlos, que lhe dissipava os momentos
de incerteza e o orientava na vida. Mas agora “estava lívido”, descorado pelas dúvidas, os seus olhos
estavam vermelhos, não só por ter passado a noite em claro, mas pelo sofrimento. A luz de
antigamente apagara-se e agora o avô não se encontrava ali para orientar mas para pedir contas, para
recriminar.
A luz do avô agora assustava Carlos porque este, cedendo ao prazer pecaminoso, tornou-se
cúmplice do mal e do poder das trevas. Não admira que entrasse no quarto às escuras, sem rumo,
desorientado, tropeçando num sofá, sem saber o que fazer. A imagem do avô ficou gravada no neto,
sobretudo através de duas cores: o lívido do rosto e o vermelho da vela e dos olhos, ambas de
natureza negativa que apontam para a morte. A partir desta confrontação, a vida perdera todo o
sentido para ele.
Foi preciso ser anunciado o sol e a luz do dia para ele reagir a este estado depressivo que o
dominava e adormecer. Através da evasão do sono, logrou fechar as portas à luz do dia e da razão, e
mergulhar na escuridão que é o antegosto da morte.
Conclusão
A acção deste capítulo desenrola-se através do seguimento do reconhecimento da verdade por Ega e
pelos leitores, no capítulo anterior, onde a acção atinge o clímax. No entanto, é neste capítulo que é
revelada a verdade acerca dos laços de sangue dos amantes às personagens interessadas, “Maria
Eduarda era, pois, sua irmã!... E um defronte do outro, o velho e o neto pareciam dobrados por uma
mesma dor nascida da mesma ideia.”.
Note-se a cobardia e a falta de princípios morais de Carlos que toleraram a sordidez do incesto,
“Sem resistência, como um corpo morto que um sopro impele, ele caiu-lhe sobre o seio. Os seus
lábios secos acharam-se colados, num beijo aberto que os humedecia. E de repente, Carlos enlaçou-
se furiosamente, esmagando-a e sugando-a, numa paixão e num desespero que fez tremer todo o
leito.”, cuja ideia só rejeita por via de repulsa física
Devido aos acontecimentos anteriores, instala-se a pathos, pois, apesar da falta de moralidade de
Carlos, este toma consciência dos seus actos e do sofrimento que provocavam, “Era, surgindo do
fundo do seu ser, ainda ténue mas já perceptível, uma saciedade, uma repugnância por ela, desde
que a sabia do seu sangue!... Uma repugnância material, carnal, à flor da pele, que passava como
um arrepio.”.
Do reconhecimento à catástrofe que aniquilará os Maias é apenas um passo. O neto que Afonso
educara desde pequeno acabou por matar, de desgosto, o avô.
É neste capítulo que se fazem as revelações mais importantes e é onde se decide o futuro das
personagens, pelo que o último capítulo apenas funciona como remate de uma história trágica, com o
tempo como um factor de esquecimento, que acaba por enterrar o passado.