O Método Dialético Na Pesquisa em Educação

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Universidade Católica do Salvador

Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania


Metodologia
Professora: Mary Castro
Semestre: 01/2010

O método dialético na pesquisa em educação

Virgílio Alberto S. Pinto1

RESUMO

A análise crítica do objeto é o ponto norteador para o método dialético na


pesquisa obrigando-nos a desvelar as determinantes que o fazem ser tal
objeto. As determinações devem ser apropriadas a partir das suas relações,
pois a compreensão do objeto deverá contar com a totalidade do processo, na
linha da intencionalidade do estudo, enquanto construção epistemológica como
forma de criar as bases teóricas para sua transformação. Nesse sentido, o do
método dialético tem como principal característica a contextualização do
problema a partir de questões de fundo: quem faz pesquisa, quando, onde e
para que? Tais questionamentos não podem ser considerados como
subjetivismo, pois a intencionalidade é o que permeia o fazer metodológico do
pesquisador dialético, tendo a historicidade o princípio da relação sujeito e
objeto na pela ação de pensar.
Isso implica que as categorias metodológicas fundamentais na Dialética são:
totalidade, a historicidade e a contradição.

Palavras-chave: dialética, método, educação.

ABSTRACT

A critical analysis of the object is the guiding point for the dialectical method in
research requiring us to uncover the determinants that make him to be such an
object. Measurements should be appropriate from their relationships, because
understanding of the object should have the entire process, in line with the
intent of the study, while epistemological construction as a way of creating the
theoretical basis for its transformation. In this sense, the dialectical method's
main characteristic is the contextualization of the problem from fundamental
questions: who does research, when, where and for what? Such questions can
not be regarded as subjectivism, because the intent is what permeates the
researcher's methodological doing dialectic, and the principle of the historical
relationship between subject and object in the action of thinking.
This implies that the fundamental methodological categories in the Dialectic are
full, the historicity and contradiction.

Keywords: dialectical method, categories.

1
Mestrando em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador.
1
A Pesquisa em Educação e o Materailismo Dialético

A pesquisa no campo da educação vem, marcadamente sendo desenvolvida


tendo como abordagem a perspectiva positivista, onde a separação de fatores
intricados em questões epistemológicas diversas exige um olhar interdisciplinar
que possibilite confrontar seus fatores, suas nuances históricas numa postura
dialética por que histórica.
Essa abordagem cartesiana traz como princípio a fragmentação do real
para análise das partes como se forma e conteúdo fossem indissociáveis.
Entendendo que os fenômenos sociais estão interligados ao sistema
socioeconômico vigente, a metodologia pode está a serviço da manutenção ou
da superação de tal realidade. No caso da nossa sociedade burguesa, o
conhecimento está a favor do capital ou para sua superação:

A pesquisa científica e suas „metodologias‟ estão submetidas à


concepção burguesa de ciência, a qual potencializa o desenvolvimento
do conhecimento segundo a ótica do capital. O conhecimento, ou
melhor, a sistematização da realidade social está voltada para
interesses „produtivos‟, o que torna limitada a relação do saber com o
„mundo dos homens‟. Em favor desta concepção, adota-se,
freqüentemente, o argumento de que a extensão da ciência moderna é
sinônimo de especializações em todas as áreas do saber. O
conhecimento está fragmentado e é acentuado pela falta de diálogo
entre as áreas, o que, conseqüentemente, colabora para a
compreensão do homem e da sociedade como partes isoladas da
dinâmica social e da tecedura histórica. (LARA, 2007, p. 74).

Ao buscar compreender o sistema educacional, no interior da sociedade


capitalista, implica que o método de pesquisa dê conta de desvelar suas
relações com o modo de produção pois a educação é o reflexo da realidade
objetiva, numa perspectiva revolucionária, ou seja, na busca da transformação
da realidade dada.

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Se for verdade que há uma fragmentação do conhecimento sobre os
fenômenos sociais e, entendendo a educação como um desses fenômenos,
então a concepção sobre o Sistema Educacional Brasileiro é fragmentada.
Mais alem, se tomarmos como recorte a avaliação sobre o fazer social e
político dos sujeitos no âmbito da escola pública veremos que ela não reflete o
real, pois se constitui num recorte da totalidade histórica da sociedade
brasileira pois se dá a partir dos resultados de desempenho de escolas, alunos
ou professores e não levam em conta o processo e suas relações com a
totalidade, com os aspectos gerais da economia, da política e do próprio
sistema capitalista. Como um método de pesquisa pode dar conta de revelar as
relações totalizantes dessa teia na qual a educação está inserida? Tal questão
implica o aprofundamento sobre a questão política que permeia o sistema
vigente e um discernimento filosófico do pesquisador que vislumbre uma
ruptura com a realidade. Contudo, há um equívoco quanto ao conceito de
totalidade no âmbito da pesquisa que é desmistificado por M. Ciavatta:
Outra dificuldade é a compreensão equivocada de que
totalidade tem o sentido de tudo, o que inviabiliza um processo sério de
conhecimento. No sentido marxiano, a totalidade é um conjunto de
fatos articulados ou o contexto de um objeto com suas múltiplas
relações ou, ainda, um todo estruturado que se desenvolve e se cria
como produção social do homem [...]. Estudar um objeto é concebê-lo
na totalidade de relações que o determinam, sejam elas de nível
econômico, social, cultural, etc. (CIAVATTA, 2001, p.132).

Aqui há uma necessidade de enterder os ajustes organizacionais dos


sistemas educacionais e que perceber que seguem a lógica do sistema
produtivo pois tal sistema depende da educação básica para “qualificar” a sua
mão de obra. Há de se perguntar: Que tipo de educação? Qual o “conjunto de
fatos articulados ou o contexto” que formam ou constroem tal fenômeno?
Sobre essa questão, Frigotto afirma:

Trata-se de uma educação e formação que desenvolva


habilidades básicas no plano do conhecimento, das atitudes e dos
valores, produzindo competências para a gestão da qualidade, para a
produtividade e competitividade e, consequentemente, para a
“empregabilidade”. Todos estes parâmetros devem ser definidos no
mundo produtivo, e, portanto os intelectuais coletivos confiáveis deste

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novo conformismo são os organismos internacionais (Banco Mundial,
OIT) e os organismos vinculados ao mundo produtivo de cada país.
(FRIGOTTO, 1998. p.45).

Ao optar pelo método histórico dialético para analisar esse paradigma,


entendo (...) que, no método dialético, o pesquisador é orientado a afirmar com
clareza a partir de qual concepção está situada a investigação e a análise
empregada sobre o seu objeto (IANNI, 1988).
Ao trazer para esse debate a afirmação de Frigotto sobre o vínculo da
realidade educacional à lógica do capital reforça-se a proposição do
materialismo dialético enquanto possibilidade metodológica de explicar a
realidade da educação pública enquanto caminho para superação da lógica
fomal e construção da lógica dialética.
Não se trata de uma simples compreensão da realidade, más, uma
interpretação crítica possibilitando a ruptura. Aqui carecemos compreender as
categorias da dialética que implicam o desvelamento da realidade dada. Suas
leis, pois
O método dialético implica sempre em uma revisão e em uma
reflexão crítica e totalizante porque submete à análise toda
interpretação pré-existente sobre o objeto de estudo. Traz como
necessidade a revisão crítica dos conceitos já existentes a fim de que
sejam incorporados ou superados criticamente pelo pesquisador. Trata-
se de chegar à essência das relações, dos processos e das estruturas,
envolvendo na análise também as representações ideológicas, ou
teóricas construídas sobre o objeto em questão. (LIMA e MIOTO,
2007., p.40).

Nesse sentido, a totalidade, a historicidade e a contradição, enquanto


categorias metodológicas fundamentais na Dialética implicam uma tomada de
postura pelo pesquisador e levam-no a contextualizar o objeto de pesquisa, a
partir da experiência vivida por que a escolha do método não é algo isolado, faz
parte da sua ação revolucionaria de transformação da realidade.
Essa postura da experiência vivida é compartilhada por Lílian Anna
Wachowicz quando afirma:
(...)A experiência vivida é que nos possibilita atingir o nível
crítico, o que nos remete a uma característica própria do método
dialético: a contextualização do problema da pesquisa.

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Quem faz a pesquisa, quando, onde e para que? São questões que,
embora pareçam apenas pessoais, fazem parte do método científico,
segundo alguns autores do materialismo histórico (KOPNIN, 1978),
porque contextualizam o problema e, principalmente, esclarecem a
opção pelas categorias simples inicialmente tomadas. (WACHOWICZ,
2001.,p. 04).
Tomando as provocações de WACHOWICZ, compreendemos a ação
do sujeito não só o fazer, más o pensar, e epistemologicamente a ação
pesquisadora,
Então já é possível entender, por esse recorte, a unidade
sujeito X objeto, pela ação de pensar. E também fazer a aproximação
com a definição de educação como sendo uma ação, portanto teórica e
prática ao mesmo tempo. Trata-se de unidades, que são uma síntese,
porém, constituída numa relação de tensão. Nesse momento, é preciso
considerá-las segundo as categorias metodológicas da dialética, que
são a totalidade e a contradição. . (WACHOWICZ, 2001.,p. 04).

Ao trazer essas considerações para a pesquisa sobre o fenômeno da


educação, é imperativo atentar que o fenômeno concreto não é explicado
apenas pelas leis da dialética; é preciso fazer articulação destas com as leis
específicas do fenômeno. Buscar suas particularidades que envolvem sua
origem, desenvolvimento, características fundamentais, etc. Atentar que o
fenômeno deve ser abordado em relação aos aspectos universais (o que está
presente em todos os fenômenos da realidade).
Contudo, ao decidir pelo método dialético, o pesquisador compreende
que terá um percurso metodológico que envolve, no campo de educação,
desvelar seu conteúdo que se constitui em categorias do fenômeno que o
permite se aproximar do objeto da pesquisa.
Sobre as categorias, Lílian Anna Wachowicz afirma:

(...) são dois tipos de categorias que se apresentam, no


trabalho do pesquisador: as categorias simples e as categorias
metodológicas.
Categorias simples são aqueles elementos iniciais,
determinados pelo conteúdo da análise crítica que fez o pesquisador,
ao eleger seu objeto de estudo e ao se deparar com a dificuldade de
tomá-lo por um ou mais aspectos que sua análise lhe indicou. Posso
então chamar essas categorias simples de categorias de conteúdo.

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Categorias metodológicas são aquelas que constituem a teoria que vai
informar a maneira pela qual o pesquisador trabalha o seu objeto. Se
ele o toma em sua totalidade, então esta é uma categoria
metodológica. Se ele contextualiza seu objeto, então estará
respeitando a categoria metodológica de historicidade. (WACHOWICZ,
2001.,p. 05).

Na busca de desvelar a realidade educacional brasileira no âmbito do


capitalismo, onde o Banco Mundial determina as políticas estratégicas de
reforma do sistema educativo, implica uma atitude engajada do pesquisador
numa perspectiva dialética buscando a objetividade do conhecimento do
fenômeno social que se constitui a educação brasileira.

A objetividade do conhecimento, por conseguinte, só


se torna possível quando as determinações fatuais, à primeira
vista “simples, puras, imedia-tas e naturais” no âmbito do
capitalismo, perdem sua condição de dados inquestionáveis e
passam a ser compreendidas como momentos de uma
“totalidade concreta como reprodução intelectual da
realidade”. (Musse, 2005).

A possibilidade de compreender as nuance do sistema de educação


implica buscar numa abordagem do processo em detrimento de resultados de
desempenhos, para confrontar variáveis de diversas dimensões que o compõe,
seja a dimensão governo, professor, aluno, gestor, escola, etc. Todas estão
intricadas em categorias a serem analisadas metodologicamente por categorias
como contradição, totalidade e historicidade.

Referências Bibliográficas

MÉSZÁROS, I. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.

LARA, Ricardo. Pesquisa e Serviço Social: da concepção burguesa de ciências


sociais à perspectiva ontológica. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p.
73-82 2007

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CIAVATTA, M. O conhecimento histórico e o problema teórico-metodológico
das mediações. In: CIAVATTA, M. e FRIGOTTO, G. Teoria e Educação no
Labirinto do Capital. Petrópolis, RJ: Vozes, 2º Edição, 2001.

IANNI, O. Dialética e capitalismo: ensaio sobre o pensamento de Marx.


Petrópolis: Vozes, 1988.

Telma Cristiane Sasso de Lima e Regina Célia Tamaso Mioto. Procedimentos


metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa
bibliográfica. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p. 37-45 2007
Disponível em:
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/viewPDFInterstitial/103
0/5742

WACHOWICZ , Lílian Anna. A DIALÉTICA NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO.


Revista Diálogo Educacional - v. 2 - n.3 - p. 171-181 - jan./jun. 2001.

Ricardo Musse. A dialética como discurso do método. Tempo Social, revista de


sociologia da USP, v. 17, n. 1. Jun/2005.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n1/v17n1a15.pdf

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