POLÍTICA AMBIENTAL E PLANEJAMENTO ENERGÉTICO - Emílio La Rovère

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UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COPPE – INSTITUTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DE


ENGENHARIA

PPE - PROGRAMA DE PLANEJAMENTO ENERGÉTICO

LIMA – LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR DE MEIO


AMBIENTE

POLÍTICA AMBIENTAL E PLANEJAMENTO ENERGÉTICO

Emilio Lèbre La Rovere


Professor, PPE/COPPE/UFRJ
Coordenador, LIMA/COPPE/UFRJ
[email protected]

JUNHO 2002
Revisada em fevereiro de 2007

1
ÍNDICE

Parte I O que é energia ......................................................................................................... 1

Conceituação ....................................................................................................................... 1
Formas de Energia .............................................................................................................. 1
Fontes de Energia ............................................................................................................... 2
As Leis da Energia ............................................................................................................... 4
Breve História do Uso da Energia no Mundo ...................................................................... 8
Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento..................................................................... 11

Parte II - Energia no Brasil .................................................................................................. 16

Evolução Recente e Situação Atual .................................................................................. 16

Parte III - A Utilização Racional da Energia no Brasil ...................................................... 26

A Importância do Uso Mais Eficiente da Energia .............................................................. 26


Níveis de Atuação para Racionalizar o Uso da Energia ................................................... 27
Instrumentos de Ação do Estado para Promover a Conservação .................................... 29
A Participação da Sociedade Civil no Uso Eficiente da Energia .................................... 32

Parte IV - Impactos Ambientais da Produção e Uso de Energia no Brasil .................... 33

Carvão Mineral .................................................................................................................. 33


Petróleo e Gás Natural ...................................................................................................... 35
Hidroeletricidade ................................................................................................................ 38
Energia Nuclear ................................................................................................................. 42
Lenha e Carvão Vegetal .................................................................................................... 44
Álcool e Bagaço de Cana .................................................................................................. 45
O Efeito Estufa ................................................................................................................... 48
Impactos Ambientais do Setor Energético por Bioma ....................................................... 49
Diretrizes para a Gestão Ambiental do Setor Energético .................................................. 54
Relações do Setor Energético com Outros Macrovetores ................................................ 55

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 57

Anexo 1 Potencial de Fontes Alternativas de Energia no Brasil .................................... 59

1. Energia Solar ................................................................................................................. 59


2. Energia Eólica ................................................................................................................ 60
3. Xisto ............................................................................................................................... 60
4. Turfa............................................................................................................................... 61
5. Outras Fontes ................................................................................................................ 61

Anexo 2 : GLOSSÁRIO ........................................................................................................ 63

2
PARTE I - O QUE É ENERGIA

Conceituação

O conceito de energia foi introduzido pelo físico inglês Young, no início do século XIX
(Debeir et al, 1986). Muito antes disso, porém, o Homem já observava as manifestações de
diferentes formas de energia existentes na Natureza : o fogo, a radiação solar, o movimento dos
astros celestes, as quedas d’água, os ventos. A humanidade cedo começou a aprender como
aproveitá-las para tornar sua vida mais fácil, utilizando a Natureza como fonte de suprimento de
energia, nas diversas formas apropriadas a satisfazer suas necessidades básicas : calor,
movimento, iluminação, por exemplo.

Hoje, a ciência define energia como a capacidade de realizar trabalho. Com efeito,
etimologicamente o termo “energia”, de origem grega, é quase um sinônimo de trabalho. Por sua
vez, a Física conceitua trabalho como o produto de uma força pelo deslocamento que ela provoca
no sentido em que é aplicada. É interessante notar que a ciência física utilizou nessas definições o
termo “trabalho”, um conceito já existente, de origem sócio-econômica, atribuindo-lhe um
significado particular (Bôa Nova, 1985). Essa associação foi decorrente da noção de mobilizar as
forças da natureza para efetuar as tarefas de transformação da matéria que a simples força
muscular do homem encontrava dificuldades em executar. Com efeito, a antropologia já identificou
como a mais importante diferenciação da espécie humana, com relação aos outros animais, sua
capacidade de prolongamento : da mente, através da exteriorização do pensamento, por meio da
palavra ; e do corpo, graças a ferramentas e máquinas multiplicadoras do poder de seus
membros, utilizando fontes de energia disponíveis na Natureza (Leroi-Gourhan,1961).

Assim, o Homem começou a utilizar a energia da Natureza antes mesmo de entender e


saber reconhecer suas diversas formas. A definição de energia veio unificar, sob o mesmo
conceito, o trabalho de movimentar um automóvel, ferver água numa chaleira, levantar um peso,
por exemplo, mostrando que se podia medir essas diferentes atividades por uma mesma
grandeza, numa única escala. Esta abstração foi possível pela observação de que a energia se
transforma de uma forma em outra, adquirindo diversas manifestações.

Formas de Energia

Um corpo que se move possui energia, assim como outro, mesmo em repouso, sob a
atração de um campo gravitacional, como a força da gravidade que atrai os corpos em posição
elevada para a superfície da Terra. Por exemplo, a energia dos ventos e das quedas d’água são,
ambas, formas de energia mecânica, cinética a primeira, e potencial, a segunda (à medida que as
águas escoam, parte de sua energia potencial se transforma em cinética).

1
Existem várias outras formas de energia, além da mecânica (Rosa, 1985) :

- gravitacional, ilustrada pela atração entre grandes massas como os corpos celestes : dá origem, por
exemplo, às marés, forma de energia devida à atração mútua entre a Terra e a Lua.

- eletromagnética, como a energia radiante da luz, presente quando cargas elétricas se encontram sob a
atração ou repulsão de um campo elétrico : uma corrente elétrica produz trabalho ao passar sob um
campo magnético (que ela própria pode induzir em um eletroímã), fazendo surgir uma força que move as
espirais de fio do enrolamento de um motor elétrico.

- elástica, presente em uma mola comprimida, que pode realizar trabalho ao se distender.

- térmica, sendo o calor na verdade a energia cinética das moléculas do corpo aquecido, podendo ser
proveniente diretamente do sol, nossa principal fonte de energia, ou obtido a partir da energia mecânica
(caso dos atritos, por exemplo), elétrica, química ou nuclear.

- química, que mantém a coesão dos átomos nas moléculas de materiais combustíveis, isto é, que
liberam calor na sua queima (reação química exotérmica com o oxigênio do ar), como o petróleo, o
carvão e o gás natural, por exemplo. Na verdade, essa coesão é de origem eletromagnética, devida à
interação das cargas elétricas dos elétrons entre si e com os núcleos atômicos.

- nuclear, devida à coesão dos prótons e nêutrons dentro dos núcleos atômicos. Reações nucleares,
como a fusão e a fissão, em que partículas nucleares se chocam com núcleos atômicos dando origem a
novos núcleos e partículas, podem liberar uma energia até milhões de vezes maior que as reações
químicas.

Fontes de Energia

Apesar de suas múltiplas formas, a energia se origina de apenas três tipos de interações
fundamentais da natureza : gravitacional, eletromagnética e nuclear (ver Figura 1).

A energia solar, por exemplo, a mais importante para o Homem, provém da fusão
termonuclear, na superfície do sol, de elementos leves, especialmente do hidrogênio, produzindo
deutério e hélio. Como a massa total resultante é ligeiramente menor que a inicial, há nesse
processo uma transformação dessa pequena diferença de massa em uma enorme energia,
liberada sob a forma de calor, segundo a fórmula da teoria da relatividade restrita de Einstein : E =
m.c2 (energia igual ao produto da massa relativística pelo quadrado da velocidade da luz). Parte
da energia produzida atinge a Terra, sob forma de radiação eletromagnética, especialmente a luz
visível. Cerca de 30 % dessa energia é refletida de volta ao espaço, pelas nuvens, por partículas
na atmosfera e pela superfície terrestre. O resto é absorvido pela atmosfera e, principalmente,
pela Terra, que esquenta. Aquecendo-se, a Terra reemite esse calor de volta ao espaço, mas
como sua temperatura é bem menor que a do sol, a frequência dessa radiação é também muito
menor, possibilitando a absorção de parte desse calor por alguns gases que estão na atmosfera (o
dióxido de carbono e o metano, por exemplo). Este fenômeno é chamado de “efeito estufa”, por
analogia com o plástico das estufas que também retêm o calor necessário para o crescimento de

2
certas plantas, em clima frio. É graças ao efeito estufa que a temperatura do nosso planeta subiu
até atingir um nível equilibrado, que permitiu o aparecimento e o desenvolvimento de formas cada
vez mais complexas de vida.

Assim, a energia do sol é vital para a vida na Terra e dessa fonte energética derivam ainda
outras formas de energia utilizável no nosso planeta. Os vegetais crescem e se desenvolvem
graças à fotossíntese, que é a assimilação da energia solar pela clorofila de suas folhas,
transformando-a em matéria orgânica, a biomassa. A lenha e o carvão vegetal de florestas
plantadas, o álcool e o bagaço da cana de açúcar, por exemplo, são combustíveis produzidos de
forma renovável, graças ao fluxo de energia que recebemos do sol.

Além disso, os chamados combustíveis fósseis - petróleo, gás natural e carvão mineral, são
oriundos da decomposição da biomassa, durante milhões de anos, pela ação de bactérias. Essa
fermentação conduz à uma perda do oxigênio presente nos vegetais, dando origem, de acordo
com o tempo de decomposição, à formação de diversos tipos de carvões, como a hulha, o linhito e
a turfa, por ordem de idade decrescente. O petróleo e o gás natural resultam da fermentação
bacteriana de matéria orgânica sob condições especiais, transformando os hidratos de carbono
em hidrocarbonetos, que em estado líquido ou gasoso se deslocaram facilmente na crosta
terrestre até serem aprisionados por rochas porosas. É importante notar que os combustíveis
fósseis constituem um estoque não renovável, pois o tempo de sua formação na Terra, da ordem
de milhões de anos, é muito maior que a escala de tempo das atividades humanas.

A energia solar também é responsável pela evaporação da água na superfície de oceanos,


lagos e rios. O vapor d’água resultante sobe à atmosfera e após certo tempo, tendo percorrido
alguma distância, se condensa em gotas d’água, retornando à Terra como chuva e liberando calor
no processo de condensação. Assim, a energia do sol realimenta a energia hidráulica das quedas
d’água, originada pela força de gravidade, que desta maneira se torna renovável.

A diferença entre as quantidades de energia solar recebida nas várias partes da superfície
terrestre causa diferenças de temperatura e pressão, provocando ventos na atmosfera. Também
contribuem para sua formação a energia cinética do movimento de rotação da Terra e a atração
gravitacional da Terra sobre a massa da atmosfera que a envolve. Portanto, a energia eólica
resulta da energia solar e da energia gravitacional.

Também a partir dessas duas fontes, os oceanos poderão (no futuro, pois hoje só temos
projetos-piloto para desenvolvimento das tecnologias necessárias, que de modo geral ainda são
muito caras) fornecer energia de três tipos :

- das marés, provocada pelo movimento de revolução da Lua em torno da Terra, arrastando pela atração
gravitacional a massa de água dos oceanos, fazendo variar a altura da superfície do mar, que pode ser
usada próximo às costas.

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- das ondas, provocadas por efeitos combinados de movimentos do mar e dos ventos que se atritam com
a superfície dos oceanos.

- da diferença de temperatura entre a água da superfície, aquecida pela energia solar, e as águas mais
profundas dos oceanos.

Pode-se, enfim, usar diretamente a energia solar como fonte energética, através de equipamentos
especialmente construídos para captá-la, destacando-se :

- coletores planos, capazes de aproveitar não só a radiação direta do sol mas também a radiação difusa
(única disponível em dias nublados) para aquecimento de água e do ar (na secagem de grãos, por
exemplo).

- células fotovoltaicas, para geração direta de energia elétrica, aproveitando o efeito fotovoltaico : a
radiação solar direta desprende elétrons de materiais semicondutores (como o silício metálico, por
exemplo), dando origem a uma corrente elétrica.

- coletores concentradores (cilíndrico-parabólicos, por exemplo) da radiação solar direta num único
ponto, de forma a produzir calor em alta temperatura para vaporizar a água e gerar eletricidade numa
turbina.

Outra fonte energética renovável, mas que não é originada pela energia solar, é a
geotérmica, formada pela alta temperatura do núcleo da Terra, e alimentada pela desintegração
radioativa de núcleos atômicos instáveis, presentes no seu interior.

Finalmente, quando se sabe controlar a reação nuclear, que se desenvolve


exponencialmente, em cadeia, sua energia pode ser usada como uma fonte energética. É o caso
da fissão de núcleos pesados, como o urânio, usado nos reatores nucleares onde são submetidos
a um bombardeio de nêutrons. O calor liberado serve para produzir vapor, movimentando uma
turbina que aciona um gerador elétrico. Entretanto, esta fonte é não renovável, pois o estoque de
materiais físseis na crosta terrestre é finito, sendo o urânio relativamente escasso. Já a fusão de
núcleos leves, mais abundantes, ainda não é controlada pelo Homem, que até agora só conseguiu
utilizá-la para gerar explosões, com fins bélicos, como no caso da bomba de hidrogênio (bomba
H).

As Leis da Energia

De um modo geral, a atividade humana necessita captar uma fonte de energia da natureza
e transformá-la numa forma em que possa ser utilizada, na quantidade suficiente para a produção
de bens e serviços demandados pela sociedade. As conversões da energia na natureza têm
portanto dois aspectos, relacionados à quantidade e à qualidade da energia, de interesse para o
Homem, que os estudou no ramo da Física conhecido como Termodinâmica, considerada a
ciência da energia.

4
O Primeiro Princípio da Termodinâmica, conhecido como a Lei da Conservação de Energia,
estabelece que a energia não pode ser criada nem destruída. Dentro de um sistema fechado (por
exemplo, a Terra ou o sistema solar), a quantidade total de energia não se altera, embora as
formas em que ela se apresenta possam mudar. Trata-se da versão, no campo da energia, do
famoso princípio da Química, enunciado por Lavoisier : “Na natureza nada se perde, nada se cria :
tudo se transforma”.

Para se medir a quantidade de energia, foram estabelecidas diferentes unidades, de acordo


com a forma em que ela se manifesta. Assim, para medir energia térmica, utiliza-se a caloria (cal),
que é a quantidade de calor necessária para elevar de um grau centígrado (1 oC) a temperatura de
1 grama (g) de água destilada, inicialmente a 14,5 oC. Um joule (1 J) é a energia mecânica
transferida por uma força de um newton (1 N) ao longo de um deslocamento de um metro (1 m),
sendo 1 N a força que, atuando sobre um corpo de 1 kg de massa, produz sua aceleração em 1
m/s2. Para todas essas diferentes unidades, quando se deseja descrever seus múltiplos, usa-se
normalmente os termos gregos k (quilo), M (mega), G (giga) e T (tera), para quantidades mil, um
milhão, um bilhão e um trilhão de vezes maiores, respectivamente.

Assim, por exemplo, 1 Tcal = 103 Gcal = 106 Mcal = 109 kcal = 1012 cal.

A energia elétrica é usualmente medida em quilowatt-hora (kWh) e seus múltiplos, a partir


da definição da unidade de potência, o Watt (W). Em termos físicos, potência é a taxa de
transferência de energia por unidade de tempo, e 1 W = 1 J/s. Assim, 1 kWh é a energia
transferida por um equipamento de potência de 1 kW funcionando ininterruptamente por um
período de 1 hora.
Em cálculos econômicos e comerciais, costuma-se medir a energia em termos da massa
equivalente do combustível necessário para produzir a energia em questão. Por exemplo, como o
poder calorífico do petróleo é de 10800 Mcal/t (em média, no Brasil), isto é, o calor produzido pela
queima de 1 tonelada de petróleo é de 10800 milhões de calorias, usa-se frequentemente a
unidade “tonelada equivalente de petróleo” (tep), sendo :

1 tep = 10,8 Gcal = 10800 Mcal = 10.800.000 kcal = 10.800.000.000 cal.

Como todos os tipos de trabalho ou energia são interconversíveis, existem relações de


equivalência que podem ser estabelecidas entre as diversas unidades de medida da energia,
térmica, mecânica e elétrica, destacando-se :

1 kcal = 4184 J ; 1 kWh = 3,6 MJ ; 1 kWh = 860 kcal.

Complementarmente à conservação da quantidade total de energia, a Física nos ensina que


há qualidades diferentes de energia. Assim, determinadas formas de energia são mais nobres que

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outras. Quando duas partículas em movimento se chocam, a energia total do sistema antes e
depois do choque é a mesma. Porém, a energia cinética total das duas partículas após o choque é
menor, pois uma parte dessa energia se transformou em calor, devido ao atrito durante o choque.
Ora, essa energia em forma de calor não está mais disponível para mover as partículas, sob forma
de energia mecânica. Dizemos então que ela se degradou, dispersando-se no ambiente, fora do
sistema composto pelas duas partículas em movimento. Para fins práticos, a parcela de energia
que se transformou em calor representou uma perda para o sistema. De modo geral, todas as
formas de energia podem ser transformadas em calor. Porém, o Segundo Princípio da
Termodinâmica nos informa que a transformação inversa, do calor para outras formas de energia,
só é possível em parte: jamais podemos converter toda a energia térmica de que dispomos em
trabalho. Ou seja, para galgarmos um degrau na qualidade da energia que queremos usar, somos
forçados a abrir mão de uma parte da quantidade inicial, que se dissipará sem poder ser
recuperada. Dentre suas várias formulações, o segundo princípio da Termodinâmica pode ser
enunciado da seguinte forma : " Na transformação de calor em trabalho, o sentido é sempre do
estado térmico mais alto para o mais baixo, e sempre com rendimento menor do que 100 % "
(Sevá, 1989). Isto quer dizer que “é impossível operar uma máquina térmica que converta
completamente em trabalho o calor de um corpo quente, sem rejeitar parte do calor para um corpo
mais frio” (Carvalho e Goldemberg, 1980). Portanto, nessa conversão de forma, há sempre uma
perda de energia útil.

Este princípio vem complementar a Lei da Conservação, afirmando que, se a quantidade


total de energia se mantém durante suas transformações, por outro lado sua qualidade decai. Em
outras palavras, existe um aumento contínuo da entropia, ou do grau de “desordem” do universo,
conceito criado para quantificar a degradação da energia.
Pode-se estabelecer então uma hierarquia das diversas formas de energia, quanto à
qualidade, que é bastante intuitiva. A energia elétrica é certamente muito nobre : fácil de
transportar (por um fio), apresenta grande eficiência no seu uso final para fornecer o serviço
demandado pela sociedade. Por exemplo, sua eficiência para gerar calor (em chuveiros e fogões
elétricos), através de uma resistência, é superior a 90 %, contra 60 a 70 % de equipamentos que
usem combustíveis líquidos (derivados de petróleo) e gasosos (como o gás natural). Enquanto a
energia mecânica se situa em posição intermediária, o calor é menos nobre, e quanto menor a
temperatura em que está disponível, maior a dificuldade para sua utilização.

Dentre os combustíveis, os líquidos e gasosos são mais nobres que os sólidos, por sua
maior eficiência de uso final e menor custo de manuseio, estocagem e transporte, graças a seu
menor volume, propiciado por sua maior concentração. Com efeito, o poder calorífico dos
combustíveis fornece uma primeira aproximação de sua comodidade de uso. Assim, numa escala
crescente de qualidade temos a lenha, com 2500 a 4000 kcal/kg, o carvão, com 6000 a 7000
kcal/kg, e o petróleo, com cerca de 10000 kcal/kg. Podemos carbonizar a lenha, ou liquefazer o
carvão, obtendo um combustível de melhor qualidade, com maior eficiência de uso final e mais

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compacto. Porém, temos de pagar um preço por isso, em termos da quantidade de energia
disponível. Por exemplo, na transformação de lenha em carvão vegetal cerca de metade da
energia contida inicialmente na lenha é consumida na carbonização, restando apenas a outra
metade disponível sob forma de carvão. Mesmo assim, convém efetuar essa transformação
quando temos de transportar a lenha para ser consumida a grandes distâncias. Dependendo dos
parâmetros de custo de transporte específicos em cada contexto, raramente o raio econômico de
uso da lenha como combustível supera 200 km, tornando-se mais interessante sua transformação
em carvão vegetal, a partir desse limite.

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Breve História do Uso da Energia no Mundo

É interessante notar que o homem, ao longo de sua História, foi dominando sucessivamente
o uso de fontes cada vez mais nobres de energia. O próprio ser humano pode ser visto como uma
máquina que ingere alimentos e realiza uma certa quantidade de trabalho. O homem corresponde
a um motor de 100 W de potência, necessitando uma entrada de 2 mil kcal/dia de energia
bioquímica (combustão dos alimentos) para que o coração e os músculos realizem suas atividades
de trabalho mecânico. Quando aprende a controlar o fogo, inicialmente para se aquecer, cozinhar
e proteger-se, o homem realiza sua primeira grande conquista energética, pois a queima de
apenas 1 kg de lenha seca pode chegar a produzir 4 mil kcal. Estima-se que o homem nômade,
extrativista, consumia 5 mil kcal/dia, por volta de 100 mil anos A.C. (Goldemberg, 1987).

Com o advento da agricultura, e a sedentarização das sociedades primitivas, o homem


começa a utilizar-se da energia solar, captada através da fotossíntese, para o cultivo de seus
alimentos. Logo passou a empregar também a energia dos animais que conseguiu domesticar,
para arar a terra, transporte de cargas e pessoas. Assim, na altura de 5 mil anos A.C., o homem
utilizava cerca de 10 mil kcal/dia, ou seja, 5 vezes a energia necessária para mantê-lo vivo. Era
como se o homem dispusesse da energia fornecida por 5 “escravos mecânicos”. Com efeito, é
sobre a base do trabalho escravo que serão construídas as obras colossais das grandes
civilizações escravistas da Antiguidade : Egito, Grécia e Roma.

Durante a Idade Média, sociedade rural em que o escravismo foi substituído pelo regime de
servidão feudal, as principais fontes de energia continuaram as mesmas : lenha, tração animal e
força muscular humana, além da energia solar na agricultura. Mas surgiram gradativamente
importantes inovações para aumentar o rendimento da captação e uso da energia : a charrua e a
atrelagem dos animais pelo peitoral elevaram a eficiência do trabalho mecânico; e expandiu-se o
uso de moinhos de água e de vento. Já na transição para a Idade Moderna, duas inovações foram
marcantes : modificações nos tipos e arranjos das velas tornaram a energia eólica mais importante
que os remos, na navegação ; e a descoberta da pólvora (mistura de salitre, carvão e enxofre
pulverizados) pelo Ocidente, com seu uso nas armas de fogo. O uso de energia era da ordem de
26 mil kcal/dia (Bôa Nova, 1985).

A grande ruptura do modo de produção baseado essencialmente na captação de energia


renovável se deu na Revolução Industrial, com o advento da máquina a vapor. Antes dela, o
homem vivia na obediência dos ciclos naturais, utilizando o fluxo fontes renováveis de energia
como o vento, a água, a energia muscular e dos animais. Uma importante exceção era a lenha,
oriunda de desmatamentos: quando escasseava, chegou até a obrigar importantes comunidades a
se deslocarem para regiões mais próximas de florestas, na Idade Antiga, quando essa solução
ainda era viável graças à baixa densidade demográfica. Desta forma, também o suprimento de
lenha podia ser renovado.

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Às suas vésperas, a potência empregada pelo homem, isto é, a taxa de consumo de
energia por unidade de tempo, ainda era a mesma de milhares de anos atrás. Em consequência,
sua velocidade de deslocamento em terra continuava sendo a do cavalo, por exemplo. O mapa da
França nos lembra disso, quando observamos sua divisão administrativa em departamentos
(como os nossos estados), ainda a mesma estabelecida pelo Código Napoleônico : o tamanho de
cada departamento corresponde à distância percorrida em 1 dia de viagem a cavalo para
atravessá-lo, maneira encontrada por Napoleão, hábil estrategista, de calcular o deslocamento de
suas tropas. Ou seja, os exércitos napoleônicos se movimentavam com a mesma velocidade que
as legiões romanas ao invadirem a Gália, dois mil anos antes.

A partir da era industrial, não só o consumo energético per capita explodiu, atingindo 77 mil
kcal/dia por volta de 1875, como a quantidade de energia mobilizada por minuto cresceu
tremendamente, com os requisitos de potência bem mais elevados das máquinas a vapor. Elas
podiam ser alimentadas a lenha, mas logo se descobriu a vantagem de substituí-la pelo carvão
mineral, de poder calorífico sensivelmente superior. Começava assim a grande transição para os
combustíveis fósseis : nos Estados Unidos, por exemplo, a participação da lenha no consumo
energético total caía de 90 % para 20 % em apenas 50 anos, entre 1850 e 1900, enquanto no
mesmo período o carvão subia de 10 % para 70 %.

O binômio motor a combustão interna / derivados de petróleo acentuou exponencialmente


esse ganho de potência, o consumo de energia e a dependência dos combustíveis fósseis. Nova
transição da base energética, desta feita do carvão para o petróleo, teve lugar ao longo do século
XX : nos Estados Unidos, o petróleo passa de 1 %, em 1875, a 70 % do consumo total de energia,
em 1975. Neste ano, esse país, erigido em modelo da sociedade industrial de consumo, usava em
média 243 mil kcal/dia por habitante, representando um salto de ordem de grandeza com relação
ao consumo energético médio do homem antes da Revolução Industrial (mais de 10 vezes
inferior).

O período do quarto de século após a 2a Guerra Mundial, de 1948 a 1973, ficou


particularmente marcado como os anos dourados da indústria do petróleo, ensejando um aumento
sem precedentes do consumo de energia no mundo. Com efeito, a partir dos anos 60 o petróleo
suplanta o carvão em sua contribuição ao balanço energético mundial, graças às condições de
suprimento abundante, barato e de preço decrescente das jazidas super-gigantes de petróleo do
Oriente Médio, controladas pelas empresas multinacionais conhecidas como as “sete irmãs”.
No entanto, os choques de aumento de preços do petróleo no mercado internacional, em
1973/74 e 1979/80, com a mudança de relação de forças causada pela ação da OPEP -
Organização dos Países Produtores de Petróleo, ilustraram dramaticamente a fragilidade
geopolítica do suprimento de petróleo para o Ocidente. Mais ainda, demonstraram também a

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inconsistência da crença na possibilidade de um crescimento ilimitado do consumo de energia,
diante da perspectiva de progressiva escassez e encarecimento do petróleo no futuro.

Esta crença foi também abalada pela crescente poluição do ambiente com os resíduos do
uso da energia, e pela inexistência de uma fonte energética alternativa ao petróleo, abundante e
barata. Desde o século passado o homem havia descoberto a energia elétrica, a partir da
descoberta do eletromagnetismo, em 1820, e da indução eletromagnética, pouco depois : a
possibilidade de gerar uma corrente elétrica num fio metálico enrolado em forma de bobina, a
partir da movimentação de um ímã, ou seja, a transformação da energia mecânica usada para
mover o ímã na eletricidade induzida na bobina. Mas a eletricidade não é uma fonte, e sim uma
forma de energia extremamente cômoda, graças à sua limpeza, facilidade de controle e eficiência,
e por permitir um fácil transporte via linhas de transmissão, viabilizando sua utilização a grandes
distâncias. Um gerador elétrico, composto basicamente de um conjunto de bobinas e ímãs,
precisa ter seu movimento impelido por uma turbina (ver Figura 2), movida pela energia hidráulica
(potencial/cinética de uma queda d’água) ou térmica (vapor produzido numa caldeira pela queima
de lenha, carvão ou óleo). Como os recursos hídricos só bastam para suprir uma pequena parcela
da demanda de eletricidade, em escala mundial, as principais fontes de energia para a geração
elétrica no mundo são o petróleo e o carvão mineral.

No imediato pós-guerra, imaginou-se que a energia da fissão nuclear seria a fonte


energética abundante e barata do futuro, gerando vapor para acionar grupos turbogeradores
análogos aos de centrais termoelétricas. Entretanto, essa promessa não se realizou, devido aos
graves problemas de segurança, riscos de acidentes de proporções catastróficas sem precedentes
na história da humanidade, problemas de disposição de resíduos não resolvidos satisfatoriamente
e seu enorme encarecimento (por um fator de 10, aproximadamente), em parte devido aos fatores
antes mencionados.

Quanto à fusão nuclear, atual promessa de energia abundante e barata, as enormes


dificuldades tecnológicas para seu controle fazem com que mesmo os cientistas mais otimistas
não ousem prever a possibilidade de seu aproveitamento comercial antes de meados do próximo
século, na melhor das hipóteses. Resta a energia solar, que vem registrando uma queda de
preços acentuada nas últimas décadas, graças aos progressos da tecnologia de células
fotovoltaicas, mas ainda não é competitiva para geração elétrica em grande escala.

Enfim, a solução técnico-econômica encontrada até o momento pelos países


industrializados foi o aumento da eficiência no uso da energia. Assim, entre 1973 e 1986, as
economias dos países da OCDE conseguiram crescer sem aumentar seu consumo de petróleo.
Os esforços de racionalização arrefeceram-se um pouco a partir de 1986, com a nova queda dos
preços do petróleo no mercado internacional. Entretanto, a promoção de um uso mais racional da
energia é hoje a opção mais segura disponível, diante das incertezas a curto prazo e das

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tendências de aumento a longo prazo dos preços da energia, além de minimizar os impactos
ambientais do sistema energético. Afinal, como vimos, a humanidade foi capaz de progressos
enormes, mesmo usando quantidades moderadas de energia.

Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento

O uso de energia é essencial para a satisfação das necessidades humanas. Ao longo dos
séculos, o homem aprendeu a utilizar as fontes de energia disponíveis na natureza para atender
às suas necessidades.

Hoje, a energia, em suas várias formas, está presente em todas as atividades humanas,
seja como um serviço essencial à qualidade de vida, seja como um fator de produção que
dinamiza o desenvolvimento econômico. Deve-se portanto tratar a produção e o uso de energia
dentro de um enfoque sistêmico, superando uma abordagem limitada ao setor energético. Isto
acarreta a necessidade de consideração da componente energética das diversas políticas
setoriais, analogamente ao que ocorre com o requisito de uma adequada inserção da dimensão
ambiental no processo de desenvolvimento.

A relação entre energia e meio ambiente também é muito intensa, devido à utilização de
recursos naturais e aos impactos ambientais envolvidos ao longo da cadeia de produção,
transformação, transporte, distribuição, armazenagem e uso final da energia. A energia só se torna
útil ao homem graças ao uso de equipamentos de consumo (por exemplo : caldeiras, motores,
fogões, fornos, turbinas) que convertem nos bens e serviços desejados (calor para aquecimento
de ar e de água, para cozinhar e para atividades produtivas; força motriz para o trabalho mecânico
e para os meios de transporte; iluminação; etc.) o conteúdo energético das formas finais em que a
energia é entregue ao consumidor : gasolina, óleo diesel, óleo combustível, nafta, querosene, gás,
coque, carvão vegetal, álcool, eletricidade, dentre outras. Por sua vez, estas formas de energia,
ditas secundárias, são obtidas a partir de fontes de energia primária, providas pela natureza
(petróleo, gás natural, carvão mineral, lenha, cana de açúcar, energia hidráulica, urânio,
principalmente), em centros de transformação : refinarias de petróleo, plantas de gás natural,
usinas de gaseificação, coquerias, carvoarias, destilarias, usinas hidroelétricas, centrais
termoelétricas (a carvão, gás, derivados de petróleo e nucleares), por exemplo. Algumas fontes de
energia primária também podem ser utilizadas diretamente pelo consumidor final, como no caso
do uso de lenha para cocção de alimentos. A Figura 3 ilustra a cadeia de transformações da
energia.

Ao longo de toda essa cadeia, os processos de produção, transformação, transporte,


distribuição, armazenagem e uso final da energia envolvem uma série de perdas que reduzem a
quantidade de energia efetivamente útil à sociedade a apenas uma fração do total de energia
primária captada na natureza. No caso do Brasil, por exemplo, uma estimativa efetuada para o

11
ano de 1983 indicou que, da oferta interna bruta (produção mais importações menos exportações
e variações de estoque) de energia primária, a energia útil representava 33 %, 11 % foram
usados como matéria-prima para fins não-energéticos, e as perdas atingiram 56 % do total (12 %
na passagem da energia primária à secundária e 44 % nos equipamentos de uso final).

Este elevado nível de perdas tem duas origens principais. Em primeiro lugar, em muitos
países de todo o mundo, inclusive o Brasil, desperdiça-se grande quantidade de energia em
decorrência de planejamento e funcionamento ineficiente dos processos e equipamentos usados
para converter a energia nos serviços necessários às atividades humanas. Isto se explica
principalmente pela influência do baixo preço da energia, em particular o petróleo (fonte energética
dominante a nível mundial), na orientação do progresso técnico ao longo de todo o período (os 25
anos após a 2a guerra mundial) em que se moldou grande parte do atual aparelho produtivo
mundial. E pela baixa incidência dos custos energéticos no orçamento das empresas e das
famílias (menos de 5 % na grande maioria dos casos). Por outro lado, um certo nível mínimo de
perdas ao longo da cadeia de transformações energéticas é inevitável, por força das próprias leis
da Física, em particular do segundo princípio da Termodinâmica.

Na verdade, ao efetuar as transformações necessárias à obtenção de uma forma de energia


de fácil uso final, o homem tem de pagar um preço pela melhor qualidade da energia desejada
(mais nobre, mais concentrada, de manuseio e transporte mais cômodo, como, por exemplo, na
passagem de lenha para o carvão vegetal). A luta contra a " desordem " exige a dissipação de
uma determinada quantidade de energia, que se perde fora das fronteiras do sistema. De um
modo geral, as atividades econômicas buscam a estruturação da matéria de modo a propiciar sua
utilização pelo homem e, para isso, exigem a incorporação de um aporte de energia externa. Em
contrapartida, uma perda sob a forma de energia degradada é rejeitada para o ambiente externo.
Assim, a incorporação pelo homem da energia fóssil (petróleo, carvão, gás) à produção de bens e
serviços será acompanhada necessariamente da emissão de resíduos (matéria/energia) sobre o
meio externo, causando uma série de impactos ambientais (Odum, 1988).

Além da emissão de resíduos, o aproveitamento das fontes energéticas origina impactos


ambientais associados ao custo (econômico, social e ecológico) de oportunidade da utilização de
recursos naturais. Tais impactos podem ser muito significativos mesmo no caso do emprego de
fontes renováveis de energia (como a hidroeletricidade, a biomassa plantada, a energia solar e
eólica), pelas extensas áreas necessárias para a produção energética em grande escala (na
construção e na área de influência de grandes barragens, em florestas e plantações energéticas,
na superfície ocupada por coletores solares e cataventos).

Adicionalmente aos impactos ambientais que acompanham a operação normal das


instalações de produção e uso da energia, as tecnologias energéticas engendram riscos de
acidentes, catástrofes e desvios de seu uso para fins indevidos, com grandes prejuízos potenciais

12
para o meio ambiente. O caso da energia nuclear é sem dúvida o mais importante neste campo,
mas, em outra escala e com características diversas, também as barragens hidroelétricas, as
biotecnologias, as minas de carvão, os poços, as refinarias e o transporte de petróleo, entre
outros, apresentam riscos tecnológicos que têm de ser considerados.

Os riscos ambientais (abrangendo os riscos tecnológicos e os impactos ambientais)


associados ao uso da energia chegam hoje a colocar em perigo a própria sobrevivência da
humanidade e da vida na Terra. Se o uso de energia é essencial para a satisfação das
necessidades humanas, também é verdade que o homem é o único animal cujas necessidades
mudam significativamente ao longo das gerações. A humanidade evoluiu paralelamente a um
crescimento moderado de seu consumo energético, até a Revolução Industrial. A ruptura aí
introduzida multiplicou o número de " escravos mecânicos " do homem, exigindo o salto a uma
nova ordem de grandeza em sua utilização de energia (Puiseux, 1977). A passagem da lenha ao
carvão no século XIX e a generalização do uso do petróleo e da eletricidade após 1930
assentaram a base da moderna civilização industrial sobre o consumo de combustíveis fósseis
que a natureza havia levado milhões de anos para produzir. A aceleração sem precedentes do
ritmo de expansão do uso de energia após a 2a guerra mundial (o consumo energético mundial
cresceu sete vezes entre 1900 e 1965) levou, enfim, ao emprego da energia nuclear para a
geração de eletricidade.

Por outro lado, com a rapidez e a amplitude desse desenvolvimento, perigosos limites foram
superados : pela primeira vez na história, as atividades humanas podem destruir frágeis equilíbrios
ecológicos essenciais para a reprodução da vida, seja pela escala de sua agressão ao meio
ambiente (rejeitos poluentes perturbadores dos ciclos biogeoquímicos), seja pela ocorrência de
acidentes com consequências maciças. Com exceção do "buraco" da camada de ozônio, os
principais riscos ambientais em escala planetária com que hoje nos defrontamos estão
intimamente associados à elevação do consumo de energia :

a) O aumento do "efeito estufa" : o aquecimento da atmosfera devido à emissão de gases que se


acumulam na atmosfera, sobretudo o dióxido de carbono (CO2), liberado na queima dos combustíveis
fósseis (e também pelo desmatamento), poderá causar perigosas mudanças climáticas.

b) A poluição do ar urbano, principalmente nas grandes metrópoles, pelas indústrias e veículos de


transporte.

c) A chuva ácida e seus impactos sobre os solos, os recursos hídricos, a vegetação e as construções.

d) O risco de acidentes em reatores nucleares, os problemas criados pela disposição de seus resíduos e
pela desativação dos reatores, após seu tempo de vida útil, e os perigos de contaminação associados ao
uso da energia nuclear.

A queima de combustíveis fósseis, principal responsável pelos três primeiros riscos


ambientais citados, e a utilização da energia nuclear podem, assim, ameaçar toda a biosfera,

13
superando amplamente as fronteiras dos países que se beneficiam de seu emprego. Três
consequências deste fenômeno são particularmente importantes :

1) O desafio de preservar o meio ambiente exige uma tomada de consciência mundial e torna-se
extremamente complexo por necessitar de uma ação coordenada a nível internacional.

2) O planejamento energético terá cada vez mais de incorporar uma dimensão ambiental, que
condicionará de forma crescente as decisões a serem tomadas sobre a produção e o uso de energia.

3) A curto e médio prazos, é fundamental conter o crescimento do consumo energético dos países
industrializados (que com 29 % da população mundial, são responsáveis por 84 % do consumo
energético global) através de uma ampla política de conservação que promova o uso mais eficiente da
energia. Aos países do Terceiro Mundo, caberá evitar o mimetismo com relação à sociedade de
consumo do Norte, de todo modo necessariamente restrito ao benefício de suas elites (com sua
"poluição do desperdício" e a inevitável contrapartida da "poluição da pobreza" da grande maioria da
população). Isto implica a busca de um estilo de desenvolvimento menos intensivo em energia e, a longo
prazo, não destruidor dos equilíbrios vitais do planeta e que, ao mesmo tempo, propicie erradicar os
males próprios do subdesenvolvimento econômico, social, tecnológico, político e cultural, certamente os
principais fatores de deterioração da qualidade de vida nesses países (La Rovere, 1990).

É neste contexto geral que se situa a relação entre energia, meio ambiente e
desenvolvimento na realidade brasileira, adicionalmente caracterizada por algumas
especificidades, entre as quais se destacam :

i) a forte preponderância da geração de origem hidráulica no suprimento de eletricidade, com a maior


parte do potencial hidroelétrico remanescente localizado em região de ecossistemas particularmente
frágeis e de elevada biodiversidade, a Amazônia.

ii) a existência de importante segmento da indústria siderúrgica, em particular a produção de ferro gusa e
ferro-ligas, baseada no uso de carvão vegetal (como redutor e combustível), oriundo em sua maior parte
de desmatamentos.

iii) a importância do álcool de cana de açúcar como combustível de automóveis, graças ao maior
programa de biomassa renovável em todo o mundo.

iv) a má qualidade do carvão mineral brasileiro, com seus altos teores de cinzas e enxofre.

Estas especificidades reforçam e complexificam ainda mais, no caso brasileiro, a atual interpenetração
entre a política ambiental e o planejamento energético, acima mencionada. Grandes centrais
hidroelétricas tiveram sua construção cancelada ou adiada devido à reação da sociedade frente ao
potencial de seus impactos sociais e ecológicos. Novas unidades de produção de gusa vêem sua
viabilização ameaçada pela obrigatoriedade de obtenção de carvão vegetal a partir de reflorestamentos.
Foi necessário abrir uma exceção na redução do teor de álcool na gasolina, para preservar a qualidade
do ar na cidade de São Paulo. A queima de carvão mineral para geração termoelétrica no Rio Grande do
Sul é apontada como causadora de chuvas ácidas no Uruguai.

14
Estes e outros exemplos demonstram a necessidade de nossa política ambiental estar
particularmente atenta às características da produção e uso da energia no país, assim como a
importância crescente de uma adequada inserção da dimensão ambiental no planejamento
energético brasileiro.
Além disso, emerge a relevância fundamental da promoção do uso mais eficiente da energia
em todas suas aplicações, na medida em que a energia mais barata e a única que não causa
impactos ambientais é aquela que se economiza, graças a medidas de racionalização do uso de
energia.

15
Parte II - Energia no Brasil
Evolução Recente e Situação Atual

Uma visão de conjunto do uso de energia no país é fornecida pelo balanço energético
nacional, que agrega as quantidades consumidas das diferentes formas de energia através de
seus equivalentes em toneladas de petróleo calculados a partir dos poderes caloríficos superiores
de cada fonte. São apresentadas nos Quadros 1 e 2 a evolução nas últimas décadas da estrutura
da oferta interna bruta de energia no país (requisitos energéticos globais para atender ao consumo
interno de energia primária: produção mais importações menos exportações) e sua situação atual.

Quadro 1 :
Evolução da estrutura da oferta interna bruta de energia no Brasil de 1940 a 1980
Fontes de 1940 1940 1970 1970 1980 1980

Energia Mtep % Mtep % Mtep %

Petróleo e 1,5 6,4 24,7 37,3 54,3 48,1


derivados

Gás Natural - - 0,2 0,3 1,1 1,0

Carvão Mineral 1,5 6,4 2,7 4,1 5,8 5,1


e derivados

Energ. Nuclear - - - - - -

Subtotal não 3,0 12,8 27,6 41,6 61,2 54,2


renováveis

Hidroelétrica e 0,3 1,3 3,4 5,1 11,1 9,8


Hidráulica

Lenha e Carvão 19,6 83,8 31,8 48,0 30,7 27,2


vegetal

Derivados de 0,5 2,1 3,5 5,3 9,0 8,0


Cana-de-açúcar

Outras - - - - 1,0 0,9


Renováveis

Subtotal renov. 20,4 87,2 38,7 58,4 51,8 45,8

TOTAL 23,4 100 66,3 100 113,0 100

Mtep = milhões de toneladas equivalentes de petróleo


Fonte : MME-SE-DNDE ; "Balanço Energético Nacional", 1999; EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2006.

16
Quadro 2 : Evolução recente da estrutura da oferta interna bruta de energia no
Brasil e sua situação atual - 1990 a 2006
Fontes de 1990 1990 2000 2000 2005 2005 2006 2006
Energia Mtep % Mtep % Mtep % Mtep %
Petróleo e 57,7 40,7 86,7 45,5 84,5 38,6 84,6 37,5
derivados
Gás Natural 4,3 3,1 10,3 5,4 20,5 9,4 21,7 9,6
Carvão Mineral e 9,6 6,8 13,6 7,1 13,7 6,3 13,5 6,0
derivados
Energ. Nuclear 0,6 0,4 1,8 0,9 2,5 1,1 3,7 1,6
Subtotal não 69,7 50,9 112,4 59,0 121,3 55,5 123,5 54,8
renováveis
Hidroelétrica e 20,0 14,1 30,0 15,7 32,4 14,8 33,5 14,9
Hidráulica
Lenha e Carvão 28,5 20,1 23,0 12,1 28,5 13,0 28,6 12,7
vegetal
Derivados de Cana- 18,9 13,4 20,8 10,9 30,1 13,8 33,0 14,6
de-açúcar
Outras Renováveis 2,1 1,5 4,4 2,3 6,3 2,9 6,7 3,0
Subtotal renov. 69,7 49,1 78,2 41,0 97,3 44,5 101,8 45,2
TOTAL 142,0 100 190,6 100 218,7 100 225,3 100,0
Fonte : MME-SE-DNDE ; "Balanço Energético Nacional", 2001; EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2007.

O consumo total de energia primária no Brasil registra forte crescimento ao longo da década
de 70, com seu aumento sofrendo uma desaceleração nos anos 80. O incremento do uso de
energia no país começa a apresentar taxas elevadas a partir do término da 2a guerra mundial,
impulsionado pela urbanização acelerada de uma população crescente, pelo processo de
industrialização e pela construção de uma infra-estrutura de transporte rodoviário, de consumo
energético intensivo. Em 1940, para uma população de cerca de 41 milhões de habitantes, dos
quais 69% estavam no meio rural, o consumo brasileiro de energia primária era de apenas 23,4
Mtep. No final do século, 60 anos depois, 81 % de uma população de 170 milhões de habitantes
viviam nas cidades de um país com 4171 dólares de PIB/capita (em US$ de 2005), e o consumo
energético médio por habitante tinha quase que duplicado, passando de 0,6 para 1,1 tep/hab/ano
(ver Quadros 2a e 2b).

17
Quadro 2a
População, PIB e Consumo de Energia Primária no Brasil, 1990-2006

1990 2000 2005 2006

População 146,6 171,3 184,2 186,8


(milhões hab.)
PIB 703,2 899,3 1.029,5 1.067,6
(bilhões de US$ 2006)
Oferta Interna de Energia (Mtep / ano) 142,0 190,6 218,7 226,1
PIB / capita 4797 5.250 5.589 5.715
(US$ 2006)
OIE / capita 969 1,113 1,187 1,210
(tep / hab)
OIE / PIB 0.202 0.212 0.212 0.212
(tep / 103 US$)
Notas :
tep = toneladas equivalentes de petróleo;
Fonte : EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2007.

Quadro 2b
População, PIB e Consumo de Energia Primária no Brasil

Taxas Médias Anuais de Crescimento, 1990-2006

1990-2000 2000-2006

Crescimento da População 1,64 1,51


(% / ano)
Crescimento do PIB 2,65 3,12
(% / ano)
Crescimento do Consumo 3,25 3,10
de Energia (% / ano)
Elasticidade Consumo de Energia / PIB 1,23 1,00
Fonte : MME, 2001; IPEA, 2001; EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2007.

A estrutura da oferta de energia também se alterou radicalmente ao longo desse período,


acompanhando a transformação da demanda. Em 1940, numa sociedade eminentemente rural, a
lenha fornecia mais de 80 % da energia primária utilizada no país, contra uma contribuição de
apenas 6 % do petróleo e do carvão mineral e de 1,3% da hidroeletricidade. Hoje predominam
dois grandes sistemas centralizados de âmbito nacional, constituídos basicamente pela ação do
Estado : o hidroelétrico e o petrolífero. Assim podem ser supridas formas fundamentalmente
diferentes de energia demandadas por um país industrializado, urbano e rodoviário : eletricidade
para a indústria, os domicílios, o comércio e os serviços urbanos; óleo diesel para o transporte por
caminhões e ônibus; óleo combustível para a indústria; gasolina e álcool para os automóveis
particulares; nafta para a indústria petroquímica; gás liquefeito de petróleo para cocção de
alimentos; coque de carvão mineral e carvão vegetal para a indústria siderúrgica, principalmente.

18
Os Quadros 3 a 6 mostram a evolução recente e a estrutura atual do consumo energético final por
setor e por forma de energia secundária utilizada.

É importante observar que a convenção adotada para contabilizar a hidroeletricidade no


balanço energético nacional, até o ano de 2003 tendia a superestimar a importância desta fonte e
dos setores de uso intensivo de eletricidade, assim como o próprio consumo total de energia.
Valorizava-se o recurso hidráulico através do coeficiente de equivalência com a quantidade de
combustíveis fósseis que seria necessária para gerar a eletricidade correspondente numa
termoelétrica de eficiência limitada (1 Mwh = 3132 Mcal = 0,29 tep). Na verdade, a energia
fornecida ao consumidor final por 1 MWh de eletricidade é de 860 Mcal = 0,08 tep, que é o valor
utilizado atualmente pelo Balanço Energético Nacional.

Quadro 3 : Estrutura do Consumo Energético Final - Brasil - 1997 - em Mtep/ano


Setores Eletrici- Deriv. Lenha Bagaço Gás, C. TOTAL
dade Petr. C. Veg. Álcool Min,Out. GERAL
Energético 0,8 4,3 - 8,5 1,6 15,2
Residencial 6,1 6,1 6,4 - 0,0 18,6
Comercial 3,2 0,5 0,2 - 0,0 3,9
Público 2,1 0,5 - - - 2,6
Agropecuário 0,9 4,6 1,8 - - 7,3
Transportes 0,1 39,5 - 6,7 - 46,3
Uso não energ. - 10,5 - 0,5 1,0 12,0
Indústria 11,3 12,0 8,9 7,9 14,6 54,7
TOTAL GERAL 24,5 78,0 17,3 23,6 17,2 160,6
Fonte : EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2006.

Quadro 4 : Estrutura do Consumo Energético Final na Indústria - 1997 - Mtep/ano


Eletrici- Deriv. Lenha Bagaço Gás, C. TOTAL
Setores
dade Petr. C. Veg. Álcool Min,Out. GERAL
Cimento 0,3 1,7 0,3 - 0,5 2,8
Ferro gusa/aço 1,2 0,5 3,2 - 8,9 13,8
Ferro-ligas 0,6 - 0,5 - 0,1 1,2
Miner./Pelot. 0,5 0,7 - - 0,5 1,7
Não Fer.OutMet 2,4 1,3 0,0 - 0,3 4,0
Química 1,4 3,2 0,1 0,9 5,6
Alim./Bebidas 1,2 1,1 1,7 7,9 0,4 12,3
Têxtil 0,5 0,3 0,1 - 0,2 1,1
Papel/Celulose 0,9 0,9 0,8 - 2,4 5,0
Cerâmica 0,2 0,8 1,6 - 0,2 2,8
Outras 2,1 1,5 0,6 - 0,2 4,4
total Indústria 11,3 12,0 8,9 7,9 14,6 54,7
Fonte : EPE, “"Balanço Energético Nacional", 2006.

19
Quadro 5 : Estrutura do Consumo Energético Final - Brasil - 2006 - em Mtep/ano
(números arredondados)
Setores Eletrici- Deriv. Lenha Produtos da Gás, C. TOTAL
dade Petr. C. Veg. Cana Min,Out. GERAL
Energético 1,3 4,8 0,0 8,9 3,8 18,8
Residencial 7,4 5,7 8,8 0,0 0,2 22,1
Comercial 4,7 0,5 0,1 0,0 0,3 5,6
Público 2,8 0,6 0,0 0,0 0,05 3,5
Agropecuário 1,4 4,9 2,3 0,0 0,0 8,6
Transportes 0,1 44,7 0,0 6,4 2,0 53,3
Uso não energ. 0,0 12,6 0,0 0,6 1,2 14,3
Indústria 15,8 11,6 11,3 15,3 22,9 76,8
TOTAL GERAL 33,5 85,3 22,5 31,2 30,4 202,9
Fonte : EPE ; "Balanço Energético Nacional", 2006

Quadro 6 : Estrutura do Consumo Energético Final na Indústria - 2006 - Mtep/ano


(números arredondados)
Eletrici- Deriv. Lenha Bagaço Gás, C. TOTAL
Setores
dade Petr. C. Veg. Álcool Min,Out GERAL
Cimento 0,4 2,1 0,3 0,0 0,4 3,1
Ferro gusa/aço 1,5 0,7 4,6 0,0 10,2 17,0
Ferro-ligas 0,7 0,2 0,7 0,0 0,1 1,6
Miner./Pelot. 0,9 1,2 0,0 0,0 0,9 3,0
Não Fer.OutMet 3,2 1,7 0,0 0,0 0,8 5,7
Química 1,9 3,0 0,1 0,0 2,4 7,4
Alim./Bebidas 1,8 0,6 1,8 15,2 0,6 20,1
Têxtil 0,7 0,1 0,1 0,0 0,3 1,2
Papel/Celulose 1,3 0,5 1,3 0,0 4,9 8,0
Cerâmica 0,3 0,5 1,8 0,0 1,0 3,5
Outras 3,3 0,9 0,7 0,0 1,2 6,1
total Indústria 15,8 11,6 11,3 15,3 22,9 76,8
Fonte : EPE ; "Balanço Energético Nacional", 2006

O rendimento médio de utilização vem crescendo lentamente ao longo dos anos, porém,
devido à penetração de energéticos de eficiência de uso mais elevada (eletricidade e derivados de
petróleo, principalmente), enquanto o uso de lenha (combustível de baixo rendimento) estagnava
nos anos 70 e decrescia levemente na década de 80 (ver Quadros 1 e 2).

A forte expansão do uso de eletricidade no país pôde ser suprida pelo aproveitamento do
enorme potencial hidroelétrico nacional (ver Quadro 7). A geração hidroelétrica vem respondendo

20
desde o início da década de 70 por mais de 90 % do consumo nacional de eletricidade. E o grau
de utilização do potencial hidroelétrico inventariado permanece inferior a 40 %. As importações de
eletricidade pelo país a partir de 1985 (ver Quadro 8) se referem à contabilização como importada
de metade da energia gerada pela central binacional de Itaipu.
Com efeito, o refino e a distribuição de derivados, segmentos mais rentáveis da indústria do
petróleo, foram priorizados pela Petrobrás, no início de suas atividades, em detrimento dos
esforços de prospecção. Isto causou graves dificuldades econômicas ao país quando os preços do
petróleo no mercado internacional se elevaram acentuadamente, em 1973 e em 1979/80. As
importações líquidas de petróleo e derivados (importações menos exportações), no nível de 44
Mtep em 1980, atingiram um valor de 9,4 bilhões de dólares, chegando a representar 47 % da
receita total de exportações do país.

As respostas da política energética brasileira aos choques do petróleo foram o lançamento


de programas de substituição de derivados de petróleo por fontes energéticas nacionais (álcool de
cana, carvão mineral, hidroeletricidade, gás natural, lenha e carvão vegetal) e o crescimento da
produção interna de petróleo através da intensificação dos esforços de prospecção "off-shore".

21
Quadro 7 : Recursos e Reservas Energéticas (medidas, indicadas e
inventariadas)(1), Brasil, 31/12/2006
Fontes de Energia Unidades Recursos e Reservas Equivalência Energética –
103tep
Petróleo 103 m3 1.936.665 1,725,569
6 3
Gás Natural 10 m 347.903 345,468
6
Carvão Mineral – in situ 10 t 10.090 2,754,570 (2)
Hidroeletricidade GW ano (3) 112.2 236.000 / ano
Energia Nuclear t U3O8 177.500 1.236.287 (4)
Notas :
(1) Não inclui recursos e reservas inferidas e estimadas, nem as demais fontes energéticas novas e renováveis.
(2) Coeficientes de conversão variáveis e admitindo recuperação média de 70 % e poder calorífico médio de 3900 kcal/kg
(3) Energia firme, convertida pela relação 1 MWh=0,08 tep
(4) Consideradas as perdas de mineração e beneficiamento, sem considerar reciclagem de plutônio e urânio residuais.
(6) Nota: 1 tep = 10.000 kcal
Fonte : EPE ; "Balanço Energético Nacional", 2007

No caso dos derivados de petróleo, porém, o grande aumento de seu consumo acarretou
um elevado grau de dependência do petróleo importado, que chegou a 83% em 1980
(ver Quadro 8).

Quadro 8 : Dependência Externa de Energia - Importações energéticas líquidas


(Mtep) e Deficit / Demanda total (%) – 1980 / 2006
Fontes 1980 1980 1990 1990 1994 1994 2000 2000 2006 2006
Energéticas Mtep % Mtep % Mtep % Mtep % Mtep %
Petróleo/der. 46,2 83,0% 25,6 43,4% 32,6 47,9% 24,3 27,1% -3,5 -4,0%

Gás natural 0,0 0 0,0 0 0,0 0 1,9 19,3% 8,6 39,1%

Coque/c.met 3,7 62,7% 7,9 82,2% 9,4 82,6% 10,9 80,3% 11,0 80,9%

Eletricidade 0,0 -0,2% 2,3 11,9% 2,7 12,2% 3,8 12,7% 3,5 9,8%

Urânio 0,0 0,0% 0,0 0,0% 0,0 0,0% 0,6 34,2% 5,9 162,1%

Álcool -0,2 -11,7% 0,6 9,5% 0,8 11,3% -0,1 -1,3% -1,8 -26,0%

Total 49,6 42,9% 36,4 25,3% 45,6 28,4% 41,5 21,1% 23,7 10,3%

Notas :
- déficit negativo = exportações líquidas
- importação de álcool inclui metanol
- É importante esclarecer a particularidade do valor de 162,1% para o Urânio em 2006, explicada
pelo aumento do estoque de Urânio: Devido ao grande número de atividades envolvidas na
transformação do urânio natural (na forma de U3O8 em urânio enriquecido, contido em pastilhas de
UO2, componentes dos elementos combustíveis), o tempo de processamento dessa transformação
é, em média, de 21 meses. Devido a esse fato, convencionado que todo urânio em processamento
no ciclo do combustível é registrado como ‘estoque de U3O8’. A cada ano é estornado do estoque de
U3O8 a parcela correspondente à produção do urânio contido no UO2 dos elementos combustíveis,
acrescida de cerca de 1,5% de perdas de transformação.
Fonte : EPE ; "Balanço Energético Nacional", 2006

A política adotada viabilizou a drástica redução da dependência externa de petróleo, na


década de 80. Também contribuiu nesse sentido a queda do ritmo de aumento do consumo de

22
energia devido à diminuição das taxas de crescimento econômico do país nos anos 80. Houve
uma reversão da tendência de aumento da participação dos derivados de petróleo no balanço
energético nacional. Foram mobilizados os importantes recursos energéticos nacionais (ver
Quadro 4). Grandes investimentos asseguraram a penetração significativa do uso de álcool nos
transportes, do gás natural e do carvão mineral na indústria e a continuidade da expansão da
oferta de hidroeletricidade a taxas elevadas (ver Quadros 1 e 2). Mesmo a lenha, usada
diretamente ou após sua transformação em carvão vegetal, avançou consideravelmente em
alguns segmentos industriais, que hoje chegam a absorver, em seu conjunto, quase a metade de
toda a energia fornecida pela lenha (ver Quadros 3 a 6), atenuando a perda de sua importância
causada pela queda de seu consumo no meio rural.

Por outro lado, a produção nacional de petróleo saltou de 9,3 para 28,2 Mtep entre 1980 e
1985. Isto contribuiu decisivamente para reduzir os gastos de divisas com as importações líquidas
de petróleo, que caíram para 4 bilhões de dólares em 1985. Posteriormente, o anti-choque de
preços do petróleo, que em 1986 derrubou suas cotações no mercado internacional, permitiu
minimizar as pressões do dispêndio de divisas com importações líquidas de petróleo sobre o
balanço de pagamentos : a parcela do valor das exportações brasileiras absorvida para este fim,
que chegou a 47 % em 1980, era de apenas 10 % em 1986. Este nível se manteve praticamente
estável até 1993 (quando as importações líquidas de petróleo e derivados custaram 3,5 bilhões de
dólares, correspondentes a 9 % das exportações totais do país). Com a estabilização do nível de
preços e a retomada do crescimento econômico a partir de 1994, a demanda interna de petróleo
voltou a crescer, atingindo 1/3 do consumo total de energia primária em 1997. Apesar de um
aumento significativo da produção nacional de petróleo (atingindo 44 Mtep em 1997), as
importações voltaram a crescer, chegando a 39 Mtep em 1997. Entretanto, graças à estabilização
dos preços do petróleo no mercado internacional e ao crescimento das exportações brasileiras, os
dispêndios líquidos com a importação de petróleo e derivados ficaram em 5,7 bilhões de dólares,
representando 11 % das exportações totais do país em 1997.

Se a política energética contribuiu nos anos 80 para atenuar a crise do balanço de


pagamentos, por outro lado o esforço de investimento no setor, absorvendo parcelas crescentes
da poupança interna de uma economia combalida, certamente magnificou as pressões
inflacionárias. O risco de hiperinflação presente ao longo de toda a década levou à contenção das
tarifas públicas, afetando fortemente o setor energético, onde a presença do Estado é
preponderante. Preços e tarifas inferiores aos custos de produção (ver Quadro 9) por longos
períodos mergulharam o setor em profunda crise financeira.

23
Quadro 9 : Preços Médios Constantes de Fontes de Energia no Brasil
(US$ de 2006 / barril equivalente de petróleo)

Energéticos 1985 1990 1995 2000 2006


Petróleo imp. 29,7 23,2 16,9 29,9 68,6
Óleo diesel 44,9 46,5 63,9 58,9 139,4
Óleo comb. 20,5 23,9 28,2 32,2 61,5
Gasolina 70,7 104,5 103,1 148,8 209,6
Álcool 71,4 121,9 129,4 151,0 214,9
GLP 28,2 32,3 51,7 102,4 144,4
Gás natural 26,1 24,2 24,6 26,4 52,0
Eletr. indust. 44,9 93,2 97,3 83,0 212,5
Eletr. resid. 62,3 123,4 174,8 195,0 328,3
Carvão vapor 5,9 8,9 16,9 9,8 14,9
Carvão veg. 12,2 16,9 18,3 10,7 32,0
Lenha nativa 5,6 10,6 13,8 9,8 9,9
Lenha de refl. 7,7 15,0 17,9 10,8 nd
Notas :
- preço do petróleo importado : dólar corrente convertido a dólar constante de 2006 pelo IPC dos EUA.
- Como forma de manter a série histórica, é adotado bep baseado no poder calorífico superior da fonte.
Fonte : MME ; "Balanço Energético Nacional", 2006

Seus efeitos foram agravados pelos atrasos cumulativos de diversas obras de grande porte,
devidos à não materialização da demanda prevista e à crônica insuficiência de recursos. Este
processo conduziu a desperdícios de energia e de recursos, acarretando um crescente
endividamento e um nível insuficiente de investimentos nos setores de eletricidade, carvão mineral
e álcool (MIF, abril 1991). A partir de 1994 o governo vem procurando reduzir os subsídios ao
preço do álcool: de 1994 para 1998 o preço real deste energético alternativo aumentou. Os preços
da energia para o consumidor residencial (eletricidade residencial e GLP) também aumentaram
nesse período (ver Quadro 9).

Também a partir de 1994, foi retomada a recuperação tarifária do setor elétrico, para atingir
o nível médio de tarifas preconizado pelo Banco Mundial (67 US$/MWh contra 33 US$/MWh no
início da década). Estas cifras dão a medida da extensão da crise financeira do setor elétrico,
talvez o mais atingido pelos fatores anteriormente mencionados (compressão tarifária, não
materialização da demanda, atrasos de obras de grande porte por falta de recursos,
endividamento externo), por se basear em grandes hidroelétricas, envolvendo altos investimentos
de longo prazo de maturação.

Um novo modelo institucional para o setor se encontra em implantação, buscando sua


racionalização de forma a viabilizar a captação de recursos privados para investimento na
expansão da capacidade instalada. A nova orientação adotada estimula a participação da iniciativa

24
privada no setor elétrico. A figura do produtor independente de energia foi regulamentada e o
processo de privatização já se encontra em estágio avançado. No início dos anos 90, o setor
elétrico era constituído pela Eletrobrás, empresa federal, por 4 empresas de âmbito regional sob
seu controle (Eletronorte, CHESF, Furnas, Eletrosul), e por cerca de 60 empresas estaduais ou
locais de distribuição, públicas ou privadas. Hoje, o segmento de distribuição já foi transferido para
a iniciativa privada. A rede de transmissão, com acesso garantido a todos os agentes, é operada
por uma instituição privada independente, o ONS – Operador Nacional do Sistema. O
planejamento do setor, por parte da SNE/MME e da Eletrobrás, é essencialmente indicativo.

25
Parte III - A Utilização Racional da Energia no Brasil

A Importância do Uso Mais Eficiente da Energia

Vimos ao longo deste trabalho que a promoção do uso mais eficiente da energia é de
importância fundamental no Brasil de hoje, por três razões principais :

a) Economia de investimentos

b) Minimização de impactos ambientais

c) Contribuição ao desenvolvimento, aumentando a qualidade e a produtividade

Dispor de um suprimento energético adequado, em quantidade e qualidade, é essencial


para todas as atividades da sociedade moderna, como vimos. A energia elétrica, em particular,
vem sendo cada vez mais usada, em todo o mundo, graças a sua facilidade de transporte e uso
final. Sua qualidade, na iluminação, no acionamento de aparelhos domésticos e de equipamentos
industriais, e em diversas outras aplicações, é insubstituível. No Brasil, como nas demais nações
em desenvolvimento, a eletricidade vem penetrando rapidamente no balanço energético nacional,
como vimos, pois seu consumo cresce a taxas bem mais elevadas que as dos demais
energéticos. Além do aumento no uso de energia devido ao crescimento demográfico e à elevação
progressiva do padrão de vida da população urbana, milhões de pessoas vêm migrando para as
cidades brasileiras, todo ano, ampliando a demanda por formas modernas de energia, como a
eletricidade, a que não tinham acesso no meio rural. Assim, mesmo quando a economia estava
estagnada, nos anos 80, com a indústria não aumentando significativamente seu consumo
energético, o uso de eletricidade continuou a crescer.

Para aumentar a oferta de energia elétrica no ritmo requerido pela sociedade brasileira, é
necessário dispor de vultosos recursos financeiros (cerca de 6 bilhões de dólares por ano, nos
próximos 5 anos) devido à escala das obras necessárias para a construção de centrais de geração
e linhas de transmissão de eletricidade. Estes recursos ficam imobilizados por longos períodos : o
prazo total de estudo, projeto e construção de uma grande central hidroelétrica é de cerca de 10
anos. Só depois de sua conclusão o investimento inicial começa a ser recuperado com a receita
proveniente da venda da energia. Enquanto isso, essa massa de recursos não está disponível
para investimento em outras prioridades do desenvolvimento nacional, como educação e saúde,
por exemplo. Hoje, o Estado se encontra em grandes dificuldades para financiar a expansão da
geração e transmissão de energia elétrica necessária ao país, diante da insuficiência e das outras
prioridades de alocação da poupança nacional. Isto pode colocar em risco a própria garantia de
fornecimento da energia elétrica, no futuro, em quantidade e qualidade condizentes com o esforço
de retomada do crescimento econômico do país.

26
Por outro lado, “sabendo usar, não vai faltar”. A conservação pode ser vista como uma fonte
alternativa de suprimento das necessidades de energia elétrica, pois cada kWh economizado
permite evitar a construção da capacidade de gerar 1,2 kWh (em média, devido às perdas na
transmissão e distribuição da rede elétrica), reduzindo a magnitude das obras requeridas em
novas usinas e linhas de transmissão. O mais interessante é que se pode economizar muita
eletricidade a um custo menor do que o necessário para gerar, transmitir e distribuir a mesma
quantidade de energia elétrica. Além disso, o prazo de maturação dos investimentos em
conservação é bem menor que o longo período de gestação de centrais hidroelétricas,
possibilitando uma resposta mais rápida às necessidades da sociedade.

Outra vantagem da conservação é ser a única “fonte” de energia que não gera, de modo
geral, impactos ambientais negativos, pois, ao contrário, evita a implantação de grandes
empreendimentos. Isto é particularmente relevante no Brasil de hoje, para amenizar os impactos
ambientais advindos da expansão futura do setor elétrico brasileiro, minimizando a necessidade
de construção de grandes hidroelétricas e linhas de transmissão na Amazônia, de termoelétricas a
carvão ou de centrais nucleares, por exemplo, com todos seus impactos e riscos ambientais
anteriormente mencionados.

Enfim, o uso mais eficiente da energia na indústria e nos serviços traz quase sempre
benefícios adicionais para as empresas, em termos de economia de tempo e matéria-prima,
criação de empregos qualificados e aperfeiçoamento do produto final, contribuindo para a
elevação da produtividade global da economia.

Níveis de Atuação para Racionalizar o Uso da Energia

O conceito de utilização racional, uso eficiente ou conservação de energia, elétrica ou não,


deve portanto ser entendido de maneira abrangente, estando associado a outros fatores, pois
viabiliza outras economias e, reciprocamente, às vezes outras formas de conservação (de água,
reciclagem de resíduos) contribuem para poupar energia. As formas de atuação do Estado, das
empresas e da população nesse sentido abrangem diferentes níveis de intervenção :

a) A eliminação do desperdício na acepção restrita do termo, conferindo-se maior atenção a esse


aspecto nas atividades produtivas e na vida cotidiana :
Evitar deixar luzes acesas e aparelhos (eletrodomésticos, motores, bombas, elevadores, etc.)
funcionando desnecessariamente, por exemplo, estabelecendo-se rotinas de procedimentos de
verificação.

b) A melhoria do funcionamento de sistemas de produção e consumo existentes graças a uma


organização mais eficiente e à racionalização administrativa :
Assegurar que caldeiras, motores (elétricos, de veículos, etc.) e equipamentos em geral estejam sempre
bem regulados, através de manutenção apropriada. Um exemplo interessante, fora do âmbito da energia

27
elétrica : o valor da economia de óleo diesel, importado, que seria obtida, caso os ônibus de nossas
cidades andassem com seus motores bem regulados, seria suficiente para pagar o salário de uma
equipe de mecânicos responsáveis por sua manutenção; isto significa trocar um gasto de divisas por
criação de empregos e importante redução da poluição, graças à conservação de energia.

c) A reestruturação do aparelho produtivo, buscando-se tecnologias de produção poupadoras de energia


através da adoção de equipamentos e processos mais eficientes no uso da energia :
Por exemplo, o processo “via seca”, na indústria de cimento, requer um consumo de óleo combustível
por tonelada de cimento fabricada bem menor que no caso da “via úmida”; os processos de fabricação
integrada, como o lingotamento e laminação contínua, na siderurgia, consomem menos energia por
unidade de produto final; um maior reaproveitamento dos resíduos da produção como combustíveis ou
matérias-primas (reciclagem) também contribui para uma maior eficiência energética.

d) A reestruturação do aparelho de consumo, através da concepção de produtos (como eletrodomésticos


e habitações) com normas de uso reduzido de energia, seja diretamente como indiretamente (conteúdo
energético dos materiais de fabricação empregados, maior facilidade de manutenção e aumento da vida
útil) :
Por exemplo, projetos de arquitetura apropriados para economizar eletricidade na iluminação e
condicionamento ambiental de centros comerciais, hotéis e edifícios de escritórios; veículos com menor
consumo de combustível por quilômetro rodado; aumento da reciclagem de produtos intensivos em
energia (plásticos, papel, vidro, metais); geladeiras verdes, à base de hidrocarbonetos (sem CFCs que
destroem a camada de ozônio) e com baixo consumo de energia (10,5 kWh/mês para o modelo de 364
litros de capacidade); e outros eletrodomésticos com menor consumo de eletricidade, para igual serviço
prestado, como já se pode ver em inovações tecnológicas surgidas em outros países.

e) A exploração de formas alternativas de satisfação da mesma necessidade social: Aumento da oferta


de transporte coletivo de passageiros e de ferrovias e hidrovias no transporte de mercadorias; utilização
de equipamentos coletivos nos prédios residenciais (lavanderias em substituição a máquinas de lavar
individuais, por exemplo).

f) A mudança de valores que podem modificar a estrutura da demanda social : Educação para promover
a auto-limitação dos níveis de consumo material, em nome da preocupação de preservar a qualidade do
meio ambiente, a solidariedade com as gerações futuras e com aqueles que hoje não gozam do mesmo
acesso aos recursos.

É certo que as dificuldades de implantação dessas medidas aumentam gradativamente


quando se percorre os diferentes níveis, de (a) até (f). Os obstáculos vão se tornando maiores, à
medida que se toca mais profundamente nas estruturas existentes, seja as econômico-financeiras
(o valor do investimento necessário para economizar uma unidade de energia cresce, em geral, ao
longo dos seis níveis) como as político-institucionais : grupos de interesse afetados e a própria
dinâmica de acumulação capitalista : se até o nível c pode-se obter em muitos casos uma
rentabilidade aceitável para todos os agentes econômicos envolvidos, quando se chega no nível d,
ao aumento da vida útil dos produtos, por exemplo, atinge-se o cerne do processo de
obsolescência planejada que é um dos motores do avanço do sistema.

28
Instrumentos de Ação do Estado para Promover a Conservação

Para superar os obstáculos acima mencionados, o Estado dispõe de grande poder de


regulação das atividades do mercado, em particular no caso brasileiro, através da aplicação de
uma bateria de instrumentos tradicionais de política econômica para a promoção da utilização
racional da energia no Brasil, tais como :

a) Política de preços
Vimos anteriormente os prejuízos causados ao setor elétrico e ao país pela manutenção de
tarifas de energia elétrica artificialmente baixas no passado. Na verdade, o preço baixo da energia
é uma vantagem ilusória, pois a sociedade como um todo acaba pagando o seu custo real, através
dos impostos que recolhe, subsidiando os grandes consumidores que pagam barato pela energia
que consomem. Assim, os preços da energia devem refletir o mais fielmente possível o conjunto
de seus custos para a sociedade : econômicos (produção, transporte, distribuição) e também, na
medida do possível, sociais e ambientais (nem todos passíveis de quantificação). Isto é
fundamental para que os agentes econômicos dêem o devido valor à energia, evitando seu
desperdício e preocupando-se com seu uso mais eficiente. Um nível mais elevado de preços da
energia favorece também a realização de investimentos para poupar energia, pois seu tempo de
retorno se reduz, graças à maior rentabilidade.

b) Política fiscal
A incidência regressiva de taxas e impostos, segundo o nível de eficiência energética de
equipamentos e serviços, pode ser utilizada para sinalizar aos agentes econômicos a
conveniência da adoção de medidas de conservação. Em outras palavras, impostos mais
elevados em automóveis de alta cilindrada ou eletrodomésticos de baixo rendimento energético,
por exemplo, podem inibir o uso intensivo de energia, enquanto uma redução ou isenção de
impostos pode ser aplicada para estimular a penetração de um produto/processo/equipamento
energeticamente eficiente, baixando seu preço para o consumidor final.

c) Política de crédito
De um modo geral, após o esgotamento dos potenciais de conservação de energia
disponíveis nos primeiros níveis de ação (eliminação de desperdícios e racionalização), a
obtenção de economias de energia adicionais depende da realização de investimentos iniciais
mais elevados do que no emprego das tecnologias convencionais de produção. É fundamental
para sua viabilização que existam ou sejam criadas linhas de crédito em condições adequadas
para financiar a implantação de processos e equipamentos produtivos mais eficientes no uso da
energia.

d) Política de investimentos

29
A disponibilidade de novas tecnologias mais eficientes no uso da energia depende do nível
de investimento no desenvolvimento científico nesse campo, acompanhado de sua transformação
em inovações tecnológicas que sejam difundidas na economia, o que requer uma série de
esforços coordenados de diversas políticas públicas (industrial, de capacitação de recursos
humanos, etc.)

e) Política de encomendas de instituições públicas


A forte presença de órgãos governamentais e empresas públicas na economia brasileira
gera um volume de encomendas significativo que se constitui em grande oportunidade para
disseminar inovações tecnológicas de conservação de energia em hotéis, escolas, hospitais,
quartéis e outras edificações públicas, além de procedimentos, equipamentos e processos
produtivos nas empresas do Estado.

f) Ações legislativas, regulamentações e normas


Enfim, a sinalização ao mercado na direção de promover um uso mais eficiente da energia
através de leis, regulamentações administrativas e normas é uma função insubstituível do Poder
Público, em suas várias instâncias, que se bem orientada pode produzir resultados significativos
para a conservação de energia (como por exemplo na etiquetagem do consumo de energia de
aparelhos eletrodomésticos).

Além da regulação da política econômica, o Estado brasileiro dispõe de uma estrutura


institucional na área energética que se constitui em poderoso instrumento para a promoção do uso
eficiente da energia.
Por exemplo, o serviço de energia elétrica no Brasil é uma atribuição da União, que tem o
poder exclusivo de legislar sobre o tema e de conceder a terceiros a exploração desses serviços.
O poder concedente da União é exercido através do Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica - DNAEE que examina e aprova os projetos e recomenda ao Ministro das Minas e Energia
a concessão ou autorização de instalação, conforme a natureza do empreendimento. No exame
dos aspectos de engenharia e meio ambiente o DNAEE deve ouvir a Eletrobrás. O DNAEE é
também responsável pela fixação de tarifas de energia elétrica.

A Eletrobrás atua na coordenação geral do planejamento, financiamento e operação dos


sistemas de suprimento. O projeto, construção e operação de empreendimentos é de
responsabilidade direta das empresas concessionárias. Estas integram órgãos colegiados,
coordenados pela Eletrobrás, onde se estabelecem diretrizes e se aprovam planos relativos aos
diversos campos de atuação do setor. Dentre estes se destacam o GCPS - Grupo Coordenador de
Planejamento dos Sistemas Elétricos, o GCOI - Grupo Coordenador para Operação Interligada, o
COMASE - Comitê Coordenador de Atividades de Meio Ambiente do Setor Elétrico e o CONSEL -
Conselho de Conservação de Energia do Sistema Eletrobrás, recentemente criado. O setor

30
elétrico já vem atuando para promover o uso mais racional da energia elétrica no país, através da
execução do PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Santos, 1994).

31
A Participação da Sociedade Civil no Uso Eficiente da Energia

Além do Estado e das empresas, o cidadão também tem sua parte a fazer na busca de uma
utilização mais racional da energia no Brasil. É importante salientar que isto reverterá em seu
próprio benefício, podendo representar economia no seu bolso e melhoria de sua qualidade de
vida. A conservação de energia é, portanto, antes de mais nada, uma atitude inteligente da sua
parte.

Buscar a eficiência energética contribui também, como vimos, para a proteção do meio
ambiente, que é um dever de todos, Estado e cidadãos, registrado na Constituição brasileira. Por
outro lado, a sociedade também tem assegurada, na nossa Constituição, o direito a um meio
ambiente sadio. Este dever/direito está expresso em seu artigo 225 : “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.

Assim, esta dupla atribuição abre um campo imenso para o exercício da cidadania pelos
indivíduos e suas associações, na realização de esforços de conservação de energia como sua
contribuição para um desenvolvimento sustentável. É importante destacar duas dimensões desta
busca :

a) O esforço pessoal/coletivo para racionalizar o uso de energia na sua casa, escola, local de trabalho,
eliminando desperdícios e se comportando como um consumidor atento ao critério de eficiência
energética na aquisição de bens e serviços. Para tanto é fundamental estar informado sobre seu
consumo energético, direto (em casa, na escola, local de trabalho) e indireto (embutido nos bens e
serviços que utiliza), e adotar as medidas que estão a seu alcance para conservar energia.

b) A cobrança de atitudes e medidas consistentes do Poder Público, da classe política e das empresas
no sentido de aumentar a eficiência energética da economia brasileira.

32
Parte IV - Impactos Ambientais da Produção e Uso de Energia no Brasil

As fontes de energia dominantes no balanço energético nacional atualmente e no futuro


próximo (ver seções anteriores) são os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão
mineral), a hidroeletricidade e a biomassa (lenha, carvão vegetal, álcool e bagaço de cana de
açúcar). Em pequena escala, mas importante qualitativamente, registra-se ainda a utilização da
energia nuclear. Impactos ambientais significativos são produzidos ao longo de toda a cadeia
desde sua produção até seu uso final (ver La Rovere, 1990, Moreira e Poole, 1991, e Eletrobrás,
1991) :

Carvão Mineral

A mineração de carvão, especialmente a céu aberto, causa a erosão e acidificação do solo,


inutilizando extensas áreas. Os recursos aquáticos da região também são afetados pelas águas
acidificadas da drenagem das minas. Os problemas dos trabalhadores desse setor são graves, em
termos de saúde e de segurança. Os mineiros estão expostos a acidentes nas minas (incêndios,
explosões, desabamentos), à inalação de poluentes e ao ruído.

O beneficiamento do carvão brasileiro, em lavadores e ciclones, é fundamental para a


redução em 65 a 75 % de seus altos teores de cinza (25 % no Paraná, 40-45 % em Santa
Catarina e superior a 50 % no Rio Grande do Sul) e em 40 a 50 % de seus elevados graus de
enxofre (de 1 a 1,5 % no RS a 6,5 % no Paraná). Esta etapa viabiliza seu uso combustível (carvão
vapor) e metalúrgico, porém ao preço da formação de enormes pilhas de refugo que vêm se
acumulando ao longo do tempo. A água usada no processo é poluída com finos em suspensão. O
rejeito sólido do beneficiamento polui o ar com material particulado de finos de carvão, óxidos de
nitrogênio e óxidos de enxofre, exige a inutilização de grandes áreas para sua disposição e
apresenta o risco de entrada em combustão espontânea das pilhas de refugo.

Na estocagem de carvão ao ar livre, a chuva oxida um de seus componentes, a pirita


(composto de ferro e enxofre), gerando drenagem ácida com altos teores de sólidos em
suspensão (semelhante à que ocorre com os rejeitos da mineração), o que favorece a lixiviação de
elementos menores, como metais pesados, associados ao carvão.

Em toda a zona carbonífera da região Sul do país, e em especial na área de Criciúma, em


Santa Catarina, o meio ambiente já foi sensivelmente degradado pela mineração, beneficiamento,
transporte e estocagem de carvão e seus resíduos. Os impactos negativos sobre os
assentamentos humanos e sua infra-estrutura são significativos. O relevo e a paisagem sofreram
profundas alterações. Algumas mineradoras gaúchas, catarinenses e paranaenses iniciaram a
implementação de programas de conservação ambiental. Entretanto, sua capacidade de arcar
com os custos envolvidos é limitada pela crise que se abateu sobre o setor, após a retirada do

33
Estado de seu papel regulador da atividade : a eliminação do uso de carvão metalúrgico nacional
e a redução do raio de utilização do carvão vapor têm inclusive causado desemprego e conflitos
que agravam a situação social nessas áreas. Além disso, o custo de recuperação da área
minerada através do recondicionamento do solo chega a superar o valor da terra na região.

A geração termoelétrica, utilização predominante do carvão (mais de 80 % do crescimento


do consumo até o ano 2000), afeta sobretudo o Rio Grande do Sul (538 MW instalados e 1050
MW de expansão prevista), em particular a região de Candiota (446 MW em operação e adições
de 700 MW projetadas). Além de seus efluentes líquidos (impurezas e sólidos em suspensão nas
águas usadas) e resíduos sólidos (disposição de grande quantidade de cinzas no solo), os
impactos ambientais mais importantes desta atividade são as emissões atmosféricas dos produtos
da combustão : CO2, particulados, hidrocarbonetos, óxidos de enxofre e nitrogênio. O CO2 é o
principal responsável do aumento do efeito estufa (tratado mais adiante). A interação dos demais
poluentes na atmosfera causa danos ao aparelho respiratório dos homens, animais e plantas,
além de acidificar as precipitações (fenômeno conhecido como "chuva ácida"). Os efeitos da
chuva ácida sobre a saúde humana ainda precisam ser melhor estudados. A ocorrência de danos
à vegetação, ao solo e às águas e de corrosão de edifícios, estruturas metálicas e veículos pela
acidificação do meio ambiente já foi comprovada, entretanto, pela experiência recente da
Escandinávia e da América do Norte. Já se observa a acidificação das precipitações no extremo
sul do país e, devido à direção dos ventos dominantes, também no Uruguai, que vem enviando
protestos diplomáticos ao governo brasileiro.

Todos os poluentes atmosféricos gerados pelas termoelétricas, com exceção do CO2,


podem ter seu nível de emissão controlado com investimentos em sistemas anti-poluentes. Nos
Estados Unidos tais sistemas custam entre 30 e 40 % do investimento total na usina, podendo
chegar a até 50 % para garantir a remoção quase total de particulados e óxidos de enxofre. No
Brasil existem normas (Resoluções CONAMA no 005, de 1989, no 002 e no 008, de 1990) para
emissões de particulados e enxofre das novas instalações (a partir de dezembro de 1990). Sua
obediência exigiria o atingimento de eficiências de coleta em torno de 99,5 % para material
particulado e de cerca de 80 % para SO2, com base nas características do carvão mineral do Rio
Grande do Sul. Hoje se chega a eficiências entre 98 e 99 % de captação de material particulado
em precipitadores eletrostáticos, sendo possível com algum esforço alcançar-se os 99,5 %
pretendidos. Entretanto, nenhuma termoelétrica brasileira tem controle de dióxido de enxofre e as
emissões variam de 6,50 a 21,70 mg/kcal (contra normas para as novas centrais de 5,00 mg/kcal
em unidades de até 70 MW e 2,00 mg/kcal em usinas maiores). Estima-se em US$ 760 milhões os
investimentos que seriam necessários para instalar sistemas de controle de poluição, condizentes
com as novas normas, nas termoelétricas já em operação. A legislação não o exige, mas essa
cifra, somada à falta de capacitação tecnológica, revela a magnitude das dificuldades para a
implantação das futuras centrais.

34
Configura-se assim um impasse cuja solução depende da compatibilização das metas de
expansão do uso de carvão com as normas para emissão de enxofre. De um lado, há distorções
nas normas : os padrões estabelecidos se baseiam em emissões na fonte, e não nas condições
do meio ambiente, aumentando consideravelmente o custo de controle ; e os níveis permitidos
para usinas maiores que 70 MW são mais rigorosos que os praticados em países industrializados
onde a qualidade do ar já estava muito degradada (2,00 mg/kcal contra 2,16 nos EUA, 3,06 na
RFA e 3,96 na região norte da França). Por outro lado, a prioridade da meta fixada para o
aumento da produção de carvão pode ser questionada diante de outras alternativas de política
energética (ver seções anteriores).

Uma possível solução tecnológica seria a adoção da combustão em leito fluidizado nas
futuras termoelétricas a carvão. Esta tecnologia permite uma queima limpa do carvão, graças à
adição de calcário e à temperatura de operação no leito, retendo todo o enxofre sob a forma
inofensiva de CaSO4 (gesso). Já existem no país, com tecnologia nacional disponível
comercialmente, caldeiras queimando carvão em leito fluidizado, para fornecimento de calor
industrial, em escala correspondente a 1 MW de geração elétrica. Não há maiores dificuldades, do
ponto de vista científico, em ampliar essa capacidade até 50 MW, bastando-se equacionar os
problemas de engenharia inerentes a todo "scaling-up" tecnológico. Prevendo essa possibilidade,
o próprio Plano 2010 da Eletrobrás já havia previsto em 1987 a construção de termoelétricas a
carvão deste porte no final dos anos 90. Entretanto, encontra-se praticamente paralisado, devido à
falta de recursos, o programa visando a capacitação para o projeto e construção de termoelétricas
deste tipo, através da instalação de uma unidade de demonstração de 12 MW, reunindo
universidades, centros de pesquisa e firmas de engenharia nacionais sob a coordenação da
Eletrosul.

Petróleo e Gás Natural

A exploração e a produção de petróleo e gás natural, em terra como no mar ("off-shore"),


ocasionam vazamentos de hidrocarbonetos e incêndios. Falhas de equipamentos e acidentes,
como explosões ou intempéries, têm causado danos significativos aos trabalhadores dessa
indústria, à população usuária de praias atingidas pela poluição resultante, ao setor de turismo, à
vida animal, à pesca, e a dispersão na atmosfera de grandes quantidades de CO2 e de óxidos de
enxofre e de nitrogênio. Apesar das medidas de segurança, alguns vazamentos de grande porte
têm ocorrido. Mesmo com o cuidadoso tratamento dos efluentes, as operações "off-shore" e em
terminais de transbordo resultam em pequenos vazamentos cujos efeitos a longo prazo sobre
ecossistemas de manguezais e estuários ainda têm de ser melhor estudados. Em terra, pode
haver infiltração de petróleo no solo e contaminação do lençol freático.

O comércio internacional de petróleo baseia-se essencialmente no transporte marítimo, que


também desempenha importante papel na distribuição interna pelo Brasil de petróleo e derivados

35
via navegação de cabotagem. Os riscos de colisão, incêndio e sossobramento de navios são
crescentes, devido ao aumento do tráfego e do tamanho dos petroleiros. Além da experiência dos
grandes acidentes ocorridos a nível internacional (Bretanha, Alasca, etc.), os pequenos
vazamentos decorrentes das operações normais de transporte são responsáveis por 35 % do
total de descargas de óleo nos oceanos, com impactos negativos em vários pontos de zonas
costeiras. Também não podem ser esquecidos os riscos de vazamento, explosão e incêndio em
oleodutos, gasodutos, trens, caminhões e depósitos de gás e produtos petrolíferos, como vêm
demonstrando as ocorrências recentes de acidentes deste tipo.

As refinarias de petróleo são grandes instalações industriais que, geralmente próximas a


zonas urbanas, poluem o ar com gases tóxicos, usam grande quantidade de água, gerando
efluentes líquidos, e representam um problema de segurança por causa dos riscos de explosão e
incêndio. Os impactos ambientais mais importantes são as emissões na atmosfera de compostos
orgânicos, óxidos de enxofre e de nitrogênio, monóxido de carbono e particulados, além de 0,412
kg de CO2 por litro de petróleo processado e dos odores desagradáveis desprendidos. Os
efluentes líquidos contêm óleo, graxa, fenóis, amônia e sólidos dissolvidos ou em suspensão.

Os impactos ambientais da produção, transporte / estocagem / distribuição e refino de


petróleo, gás natural e derivados se fazem sentir nas regiões do país que concentram as
instalações petrolíferas. No litoral norte fluminense, próximo aos poços da bacia de Campos,
freqüentes vazamentos têm poluído o mar e as praias, e forte incêndio destruiu a plataforma de
produçùo de Enchova. Os terminais de petróleo da ilha Grande e de São Sebastião também vêm
causando inúmeros vazamentos, com grandes prejuízos para regiões de importóncia turística e de
lazer. A produção de gás natural em Urucu, na floresta amazônica, apesar de sua pequena escala
ilustra os impactos decorrentes da abertura de estradas e clareiras na mata, alertando para as
possíveis consequências de sua ampliação. Diversos acidentes têm ocorrido no transporte de
produtos petrolíferos, envolvendo navios, trens, caminhões e, no mais dramático deles, um
oleoduto que originou explosão e incêndio na favela de Vila Socó (Cubatão). A refinaria de Duque
de Caxias, além de ter registrado explosões e incêndios em suas instalações, é um dos maiores
agentes poluidores da baía de Guanabara.

O uso final do gás natural e dos derivados de petróleo causa impactos ambientais da
mesma natureza que os da queima dos demais combustíveis fósseis, como o carvão mineral (ver
item anterior), sendo o mais importante a emissão de uma série de poluentes atmosféricos :
material particulado, monóxido de carbono, óxidos de enxofre e de nitrogênio, compostos
orgânicos, traços de metais e de radionuclídeos, além do CO2 que vem ocasionando o aumento
do efeito estufa (ver adiante). A magnitude das emissões varia de acordo com o tipo de
combustível usado, sua composição e as medidas tomadas para reduzi-las. De um modo geral, o
gás natural é o combustível mais limpo, com grande vantagem sobre os derivados de petróleo,
que por sua vez poluem menos na sua combustão que o carvão mineral, por unidade de energia

36
fornecida. O óleo combustível pesado e os derivados ultraviscosos do petróleo (resíduos asfálticos
- RASF e de vácuo - RESVAC) apresentam problemas parecidos com os do carvão mineral, pois é
no "fundo do barril" que se concentram o enxofre e metais pesados. Com a evolução prevista
para a estrutura do refino no país, sua produção deverá aumentar, e sua utilização em
termoelétricas (1000 MW já estão planejados a curto e médio prazo) deverá ser cercada dos
mesmos cuidados necessários com o carvão (ver item anterior).

Ainda que em diferentes proporções, a queima de todos os combustíveis fósseis contribui


para o agravamento dos três riscos ambientais globais mais significativos : a acidificação do meio
ambiente (ver item anterior), o aquecimento global da atmosfera (ver seção sobre efeito estufa) e a
contaminação do ar em zonas industriais e urbanas. A poluição do ar já atingiu níveis alarmantes
em diversos países, inclusive o Brasil, onde São Paulo e Cubatão são as cidades em situação
mais delicada nesse aspecto. A queima de óleo combustível nas indústrias e o uso de gasolina e
óleo diesel em veículos estão entre suas principais causas. Diante das ameaças da poluição
atmosférica ao meio ambiente e à saúde humana, causando problemas respiratórios cada vez
mais graves, alguns potencialmente fatais, medidas de controle foram tomadas, no Brasil como
em outros países : estabelecimento de padrões de qualidade do ar, limitando com rigor os níveis
aceitáveis de emissão de poluentes (Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar -
PRONAR, de 1990 - ver item anterior) ; proibição da queima de carvão e de óleo combustível com
alto teor de enxofre nas zonas urbanas ; e fiscalização das indústrias pelos órgãos ambientais,
obrigando a adoção de tecnologias de controle das descargas poluidoras. Nos estados onde estes
órgãos estão bem aparelhados, o controle é facilitado pela concentração de boa parcela das
emissões em pequeno número de estabelecimentos industriais. Na grande São Paulo, em 1988 a
indústria foi responsável por 51 % das emissões de particulados, 27 % das de SO2, 18 % das de
hidrocarbonetos e 10 % das de NOx.
As fontes veiculares de poluição atmosférica, além de serem as mais importantes,
aumentando sua contribuição relativa em cidades menos industrializadas, são as de mais difícil
controle, devido a sua grande dispersão. Os veículos a diesel (sobretudo ônibus e caminhões) são
os maiores responsáveis pela emissão de óxidos de enxofre e de nitrogênio, contribuindo em
menor escala com outros poluentes : 69 % do SO2, 71 % dos NOx, 16 % do CO, 15 % dos
particulados e 13 % dos hidrocarbonetos emitidos na grande São Paulo, em 1988. Normas para
emissão de particulados (fumaça) entraram em vigor em 1987 mas são amplamente
desrespeitadas na operação dos veículos (manutenção inadequada e desregulagem, até
deliberada). Em 1989 foram regulamentadas as normas de emissão para os demais poluentes,
com os mesmos limites da Comunidade Européia, para entrada em vigor em 1993 e compatíveis
com a qualidade do diesel produzido no país. A exceção é a emissão de enxofre, para a qual não
há limites fixados, e que é mais sensível às especificações do óleo diesel. Com o forte aumento da
fração do diesel no perfil do refino, não foi possível manter o diesel dentro de suas especificações,
especialmente quanto ao teor de enxofre. Dentre as medidas de política energética possíveis para
reduzir as emissões veiculares de enxofre em nossas cidades, pode-se citar : melhor controle da

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manutenção dos veículos, maiores investimentos no refino, aumento do preço do diesel e sua
substituição por gás natural em ônibus urbanos.

Os veículos a gasolina são os maiores responsáveis pela emissão de monóxido de carbono


e hidrocarbonetos nas cidades, também contribuindo com óxidos de nitrogênio para a poluição
atmosférica urbana : 60 % do CO, 29 % dos hidrocarbonetos e 13 % dos NOx emitidos na grande
São Paulo, em 1988. As emissões dos carros a gasolina e a álcool foram normatizadas pelo
PROCONVE - Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, através de
protocolo firmado em 1986 com a indústria automobilística. Os limites estabelecidos se aplicam
inicialmente aos veículos novos, a partir dos modelos para o ano de 1992 : 1,4 g/km de NOx, 12,0
g/km de CO e 1,2 g/km de hidrocarbonetos. A imposição de normas mais restritivas está prevista
para 1997. Ainda assim os padrões do PROCONVE estão defasados em relação aos dos países
industrializados. Além disso, não foram fixados limites para as emissões de carros usados.

A indústria automobilística equipou os modelos novos de 1992 com catalisadores, para


atender às normas fixadas. Para isto foi preciso eliminar o último resquício de chumbo na gasolina
brasileira, pois o chumbo envenena rapidamente o catalisador, inutilizando-o. Apenas a refinaria
de Manguinhos ainda adicionava chumbo tetraetila à gasolina, o que agora será evitado graças ao
processamento de nafta de melhor qualidade fornecida pela Petrobrás (a adição de álcool anidro à
gasolina já havia permitido eliminar o chumbo nas demais refinarias). Um problema remanescente
é que a vida útil do catalisador (80 mil km) é inferior à do carro.
Mas a maior dificuldade reside na especificação do combustível. Os novos carros estão
sendo regulados para um teor de 22 % de álcool anidro na mistura com a gasolina. Ocorre que
desde a crise de desabastecimento de álcool em 1989/90 a produção nacional ainda não
recuperou o nível necessário para garantir este teor, além de abastecer a frota de carros a álcool
hidratado. Apenas a cidade de São Paulo conseguiu manter a especificação de 22 % de álcool,
para evitar o agravamento da reconhecida degradação de sua qualidade atmosférica, pois o
álcool apresenta emissões inferiores às da gasolina. Assim, a proporção de álcool na gasolina tem
variado erraticamente em torno de 12 %, atualmente. Isto reduz sensivelmente a eficiência dos
catalisadores, impedindo o cumprimento das normas. A proposta da Petrobrás para solucionar o
impasse é a redução do teor de álcool anidro na gasolina para 10 %. É tecnicamente possível
ajustar os veículos novos com catalisadores para operarem com esta mistura, a partir de 1993. O
setor sucroalcooleiro prefere manter 22 % de álcool na gasolina e a indústria automobilística exige
uma definição das especificações do combustível. Um grupo de trabalho coordenado pelo
Ministério da Infra-estrutura está encarregado de solucionar o problema até março.

Hidroeletricidade

A geração de energia hidroelétrica acarreta impactos ambientais significativos no caso de


centrais com grandes barragens. Esses impactos atingem os meios físico, biótico, social e

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econômico tanto na área do lago artificial como no rio, a jusante da represa. Trata-se na verdade
de uma transformação radical que se opera no ecossistema, substituindo-o por outro,
artificialmente construído. A retenção no reservatório dos sedimentos carreados pelo rio pode
acelerar a erosão e assorear o lago, além de prejudicar a agricultura e a pesca a jusante. O
equilíbrio dos recursos hídricos e todo o ciclo hidrológico podem ser afetados pela construção da
barragem. O enchimento do lago gera movimentos sísmicos que podem causar terremotos. O
microclima local também se torna sujeito a variações.

A qualidade da água é alterada pelas barragens, com variações sazonais de temperatura e


sólidos dissolvidos e em suspensão, causando a estratificação por densidade e afetando suas
propriedades físicas, químicas e biológicas. A formação de gás sulfídrico em águas estagnadas,
com a possível eutrofização do lago, exala odor desagradável e elimina os peixes. O enchimento
do reservatório provoca a transformação de um ecossistema terrestre/fluvial em lacustre,
causando mudanças na flora e na fauna ao longo das diversas fases de estabilização da represa.
Pode haver perdas de patrimônio genético, inclusive desconhecido, devido à desaparição de
espécies em ecossistemas de maior diversidade biológica. No estágio de estabilização, ocorre
uma grande proliferação de plantas aquáticas no reservatório, que pode causar diversos
inconvenientes, inclusive a própria paralisação de turbinas. Também podem ocorrer incidência
generalizada de esquistossomose, gastroenterite e proliferação de mosquitos na área da represa.

Do ponto de vista econômico, é necessário contabilizar os custos da perda de produção


agrícola, efetiva ou potencial, no trecho do rio a jusante e na área inundada pelo reservatório,
assim como o valor da madeira da floresta submergida e o das jazidas minerais eventualmente ali
existentes.

Os impactos sociais das barragens começam desde a fase de construção, com o grande
afluxo da mão de obra atraída pelo empreendimento sobrecarregando a normalmente já
insuficiente infra-estrutura preexistente em termos de assentamentos humanos. O principal
problema nesse campo, porém, é certamente a necessidade de realocação das famílias que
habitam a área a ser inundada pelo reservatório. Na verdade, a população afetada direta e
indiretamente em suas condições de vida pela construção da barragem é bem maior, abrangendo
também a população ribeirinha. A experiência de compensação das populações locais atingidas
tem se mostrado altamente insatisfatória em todo o Brasil : planejamento inadequado, orçamento
insuficiente, execução apenas parcial dos planos e adoção de tecnologias inapropriadas. Assim,
enquanto os benefícios da geração de eletricidade são distribuídos a nível nacional pela rede de
transmissão, a nível local ficam apenas os impactos negativos. De um modo geral, não é
aproveitado o potencial de contribuição das hidroelétricas para o desenvolvimento social e
econômico da região, através de seu aproveitamento para irrigação, agricultura, pesca, turismo,
lazer e a instalação de pequenas indústrias, além do fornecimento de energia elétrica. Ao

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contrário, via de regra não se permite o uso múltiplo da água, impedindo-se até a navegação em
muitos pontos.

Do ponto de vista cultural, os reservatórios freqüentemente acarretam perdas, como a


submersão de sítios arqueológicos ou de interesse paisagístico (como as Sete Quedas, por
exemplo), ou ainda de áreas de reservas indígenas. Enfim, deve-se lembrar a existência de riscos
de rompimento de barragens, devido a terremotos, falhas construtivas, cheias de rio inéditas ou
má operação do reservatório (como ocorrido com duas barragens em São Paulo). Às vezes o
benefício de regularização de cheias se transforma em agravamento da onda de cheia a jusante,
quando a abertura das comportas com água passando pelos vertedouros da represa é forçada
para evitar seu rompimento, devido a restrições em vários níveis na operação do reservatório.

Finalmente, deve-se mencionar os impactos ambientais das linhas de transmissão de


eletricidade, particularmente longas no caso das hidroelétricas, que normalmente estão bem mais
distantes dos mercados a serem atendidos que as termoelétricas. Os principais são : o
requerimento de extensas faixas contínuas de terra; prejuízos à fauna; influência dos campos
elétrico e magnético sobre os seres vivos; formação de ozônio por efeito Corona ou descarga
elétrica; efeitos estéticos negativos; interferência em sistemas de comunicação; perigo de
acidentes.

Até recentemente, a mitigação de impactos ambientais dos empreendimentos do setor


elétrico era de importância quase insignificante diante do objetivo de otimizar sua relação custo
econômico / benefício energético. Esta postura teve como consequência exemplos históricos de
construção de usinas altamente impactantes, em todo o país : Sobradinho, Tucuruvi, Samuel,
Balbina, entre outras, podem ser citadas. A fragilidade dos ecossistemas amazônicos, em
particular, onde está situada a maior parte do potencial hidroelétrico remanescente, é fonte de
grande inquietação por sua vulnerabilidade frente aos impactos causados pelas usinas, seja direta
como indiretamente (sobretudo a abertura de estradas de acesso). Nos anos 80, após a abertura
política do regime de governo do país, esta situação começou a se alterar por três motivos
principais :

1. a forte reação das populações atingidas, que se organizaram para resistir e negociar em melhores
condições com as empresas do setor elétrico, inicialmente na região sul e difundindo-se a seguir pelo
país até a criação de uma comissão nacional de atingidos de barragens.

2. as exigências de organismos financeiros internacionais, como o BID e o Banco Mundial, que sob a
pressão de movimentos ecológicos, opinião pública e governos em nível internacional passaram a
condicionar seus empréstimos para a construção das usinas à garantia de mitigação de seus impactos
ambientais.

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3. a regulamentação pelo CONAMA (resoluções 001/86 e 006/87) da exigência de aprovação de estudo
prévio de impacto ambiental para o licenciamento da construção e operação das centrais hidroelétricas.

Diante destes fatores e dos sérios problemas causados ao setor elétrico pela irrupção da
questão ambiental, como o atraso de cronogramas de obras e o consequente aumento de custos,
sua postura frente a essa questão vem sofrendo inegáveis transformações. Departamentos de
meio ambiente foram criados na Eletrobrás e suas subsidiárias, coordenando a execução de uma
série de estudos visando aperfeiçoar a compreensão e o tratamento dos aspectos ambientais dos
empreendimentos do setor. Consolidando seus resultados, elaborou-se um Plano Diretor de Meio
Ambiente do setor elétrico. Reconhecendo as deficiências de seus procedimentos tradicionais, o
novo discurso ambiental do setor recomenda a prevenção dos impactos de seus
empreendimentos e a abertura do processo decisório sobre sua implantação.

Entretanto, a extensão e a profundidade das mudanças estruturais em todo o ciclo de


planejamento do setor elétrico no Brasil, requeridas para uma consideração adequada de sua
dimensão ambiental, superam amplamente as medidas até hoje implementadas. Este fato é
cabalmente ilustrado pelos problemas ambientais e sociais causados pela implantação de grandes
centrais recentes, como Itaparica, Xingó, Itá e Machadinho, por exemplo, apesar dos avanços
registrados em comparação com empreendimentos anteriores. Mesmo estes avanços se
encontram ameaçados agora pela não cumprimento dos acordos firmados com as comunidades
atingidas, devido à crise de recursos do setor. Mas não se trata apenas de uma questão de
recursos financeiros. O caso de Itaparica é eloqüente a esse respeito : a concessão de vultoso
empréstimo do Banco Mundial vinculado especificamente à mitigação de seus impactos
ambientais e sociais, e as despesas incorridas nesta tarefa, superiores a 300 milhões de dólares,
não foram suficientes para evitar a persistência de uma série de problemas.

Impõe-se uma mudança de mentalidade, uma vontade política e uma capacitação adequada
para lidar com os desafios colocados pela questão ambiental que não podem se limitar aos
departamentos de meio ambiente das empresas do setor. Alguns requisitos básicos para uma
inserção adequada da dimensão ambiental no planejamento do setor elétrico brasileiro são (La
Rovere, 1990a ) :

1. A necessidade de organizar a efetiva participação do público no processo de tomada de decisões do


setor, através da concepção e implantação de mecanismos adequados. Isto se aplica não só à discussão
de projetos de usinas e linhas de transmissão de eletricidade, mas também ao plano de expansão de
longo prazo e ao programa decenal de obras do setor.

2. A consideração "ex-ante" dos impactos ambientais, exigindo seu estudo prévio desde a etapa do
inventário das bacias hidrográficas, permitindo avaliar diversas alternativas de partição de queda da
bacia quanto a sua consequências sobre o meio ambiente.

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3. A necessidade de se inserir os empreendimentos elétricos nas estratégias de desenvolvimento
regional integrado de suas áreas de influência, articulando-se a atuação do setor elétrico com as
instituições responsáveis pela política ambiental, econômica e social nessas regiões.

4. A conveniência de se revisar a regulamentação do processo de avaliação de impactos ambientais


aplicada ao setor elétrico, adaptando-a ao longo ciclo de planejamento e maturação de seus
investimentos, de forma a antecipar, já na etapa do inventário, esses impactos.

Energia Nuclear

A única central nuclear brasileira iniciou sua operação comercial em 1985, no município de
Angra dos Reis (RJ). Com 650 MW de potência, representa apenas 1,2 % da capacidade instalada
de geração elétrica no país em 1990. Seu reator é do tipo PWR (pressurized water reactor), o mais
difundido em todo o mundo, operando a partir do seguinte ciclo do combustível nuclear :
mineração do urânio; fabricação do "yellow cake" (concentrado de óxidos de urânio); purificação e
conversão para hexafluoreto; enriquecimento do urânio; fabricação dos elementos combustíveis;
irradiação do combustível no reator; reprocessamento do combustível para recuperação de urânio
e obtenção de plutônio (esta fase é opcional); disposição final dos resíduos de baixa, média e alta
radioatividade; desmantelamento das instalações nucleares desativadas.

A única jazida brasileira de urânio atualmente em produção é a de Poços de Caldas (MG),


com capacidade de cerca de 250 t/ano, e um fator de utilização que depende da demanda
nacional. Entretanto, seu custo de extração (70 US$/lb) a torna não competitiva com o minério
importado. No caso de se concluir a construção de Angra 2 e 3, com 1250 MW de potência cada
uma, como previsto no cenário alternativo do governo, pode-se iniciar a exploração de outra
jazida, como a de Lagoa Real, de maiores reservas e menores custos de extração. A mineração
de urânio, além dos impactos ambientais inerentes a toda atividade de mineração (análogos aos
descritos para as minas de carvão), expõe os trabalhadores à radiação nuclear, que pode causar
câncer de pulmão. Na concentração de urânio, as substâncias tóxicas dissolvidas em seus
efluentes líquidos têm um potencial de percolação para as águas subterrâneas, porém os níveis
de radiação envolvidos são bem menores que na mineração.

A conversão para hexafluoreto e o enriquecimento do urânio, bem como a fabricação de


elementos combustíveis, não causam impactos ambientais significativos. Assim, sua eventual
realização no país (até hoje o urânio enriquecido utilizado foi todo importado), a partir do
desenvolvimento de tecnologia nacional, em andamento no Centro Tecnológico da Aeronáutica e
no programa da Marinha em Aramar, não inspira maiores cuidados, desse ponto de vista. A
exemplo das termoelétricas convencionais, as usinas nucleares liberam 2/3 do calor produzido
para o ambiente próximo à usina. No caso de Angra, o mar absorve o aumento de temperatura
(cerca de 8 oC) da água de circulação, causando pequeno impacto ambiental. A operação normal

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de uma usina nuclear submete seus trabalhadores a uma pequena dose de radiação e a
população em torno a dose ainda menores. Estas emissões são baixas e controladas, porém
ainda se necessita de estudos conclusivos sobre os efeitos a longo prazo da exposição contínua a
pequenas dose de radiação.

Resíduos radioativos são gerados em todas as áreas da indústria nuclear, com diversos
níveis de radioatividade. A maior quantidade de resíduos ocorre no início do ciclo do combustível,
nas etapas de mineração e concentração, enquanto os rejeitos de mais alta radioatividade são
produzidos no final do ciclo pela operação dos reatores e pelo eventual reprocessamento (no caso
de sua adoção para reciclagem do combustível). Os resíduos classificados como de nível baixo e
intermediário de radioatividade são enterrados, acondicionados em tambores especialmente
concebidos para esta finalidade. Os rejeitos de alta radioatividade teriam de ser solidificados e
mantidos isolados por um longo período (várias gerações futuras) em depósitos convenientes,
porém na verdade nenhuma solução efetivamente satisfatória para esse problema é conhecida
hoje. Como o reprocessamento não está sendo feito em escala industrial, os elementos
combustíveis irradiados no reator são estocados provisoriamente em um dos prédios da usina,
solução empregada em Angra. No entanto, a vida útil desses depósitos é inferior à duração da
radioatividade do rejeito.

De um modo geral, pode-se dizer que a importância dos riscos potenciais prevalece
amplamente sobre os impactos ambientais da produção e uso da energia nuclear em condições
normais, ao contrário do que ocorre no caso das grandes hidroelétricas. Apesar da probabilidade
de acidentes ser considerada baixa, as consequências podem ser funestas, e a multiplicação das
instalações, das necessidades de transporte de materiais radioativos, o envelhecimento das
centrais e o inevitável relaxamento, com o tempo, na segurança do fator humano, entre outros
elementos, apontam para uma probabilidade real crescente de acidentes de grandes proporções
(como os casos de Three Mile Island e Tchernobyl já comprovam). Ao lado desses fatores
objetivos de risco, a percepção social do risco também é afetada negativamente pela desconfiança
de seu uso em aplicações militares, pelo temor do desvio de materiais radioativos para fins
terroristas e de atos de sabotagem, pelo fato da radiação não ser perceptível por nossos sentidos,
pela falta de conhecimento e informação a seu respeito e pela proximidade das centrais nucleares
a zonas densamente povoadas.

No caso brasileiro, dois aspectos se destacam. Em primeiro lugar, a necessidade da


elaboração e ampla divulgação entre os interessados de um Plano de Emergência adequado para
a central de Angra dos Reis. Os exercícios de simulação realizados têm demonstrado as
deficiências do plano atual. Além disso, é fundamental definir a responsabilidade pela disposição
dos rejeitos radioativos e os locais de sua destinação final, como foi dramaticamente ilustrado pelo
acidente de Goiânia. Um projeto de lei vem tramitando no Congresso com esse objetivo,

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prevendo-se que cada estado deverá se encarregar da disposição dos resíduos radioativos
gerados em seu território.

Lenha e Carvão Vegetal

Atualmente, a combustão direta da lenha ainda fornece energia para cocção à maioria da
população rural brasileira. Este uso vem caindo regularmente, devido principalmente ao aumento
da taxa de urbanização do país. Em 1990 menos de 1/3 da lenha utilizada para fins energéticos foi
absorvida pelo setor residencial. Já o seu consumo pela indústria e na agropecuária, da mesma
ordem de grandeza, cresceu até meados da década de 80 para estagnar em seguida. O mesmo
comportamento teve o uso de carvão vegetal na indústria, onde é consumido principalmente pela
siderurgia (na fabricação de ferro gusa e ferro ligas). A transformação da lenha em carvão vegetal
ainda é feita, em sua maior parte, por pequenos fornecedores da indústria que se utilizam de
fornos rudimentares de baixa eficiência : metade da energia contida na lenha é perdida nessa
etapa.

O maior impacto ambiental do uso energético de lenha e carvão vegetal é o desmatamento


de floresta nativa induzido. Dada a baixa densidade energética da lenha, sua coleta indiscriminada
pode afetar extensas áreas, causando a erosão e degradação do solo, contribuindo para o avanço
do processo de desertificação. Deve-se ressaltar, porém, que no caso brasileiro as principais
causas do desmatamento são outras, como a expansão da fronteira agrícola. A maior parte do uso
de lenha como combustível residencial no meio rural não implica na destruição das matas, graças
à utilização de resíduos florestais e a um consumo difuso em relação ao recurso natural. Assim, ao
contrário do que ocorre em outros países do Terceiro Mundo, este uso não é um grande fator de
desmatamento, podendo no entanto causar impactos relevantes a nível local, em particular na
região Nordeste.

O desmatamento causado pelo uso de lenha como combustível industrial é mais


significativo, podendo atingir dimensões regionais. Destacam-se os setores cerâmico e de
alimentos e bebidas, em que pequenas empresas tradicionais são comuns. Um bom exemplo é a
devastação de manguezais e mata atlântica por mais de uma centena de olarias no estado do Rio
de Janeiro, do fundo da baía de Guanabara até o Norte fluminense.

Mas os maiores impactos ambientais se devem ao uso de carvão vegetal na siderurgia, que
está historicamente associado ao desmatamento de Minas Gerais e do sul da Bahia e de Goiás.
Cerca de 45 % da lenha se destina à fabricação de carvão vegetal, que tem 80 % de seu consumo
absorvido pelo setor siderúrgico, concentrado em Minas Gerais. Apesar dos esforços de
reflorestamento das usinas integradas de ferro gusa e do segmento de ferro ligas, apenas 30 % do
carvão vegetal utilizado é produzido de forma renovável. Daí a polêmica sobre a instalação de um
novo pólo guseiro na região de Carajás, que poderia agravar o processo de desmatamento da

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Amazônia. O IBAMA havia exigido a implantação de Planos Integrados de Florestamento (PIFs)
para assegurar a produção renovável do carvão vegetal na proporção de 70 % em 1992, a ser
aumentada regularmente até atingir 100 % em 1995. Esta exigência, no entanto, vem sendo
sistematicamente desrespeitada. Recentemente, uma lei estadual aprovada em Minas Gerais
reconheceu a inviabilidade desses prazos, estendendo-os até 1999. Receia-se, no entanto, que o
impasse volte a se repetir, apenas postergado por mais quatro anos.

O problema de fundo é a inviabilidade econômica da exportação (pretendida em Carajás) do


ferro gusa fabricado a partir de carvão de floresta plantada. Na verdade, é necessário um salto de
qualidade na tecnologia de carvoejamento empregada. Não basta utilizar fornos de alvenaria, com
chaminés e controle de temperatura, permitindo a recuperação de alcatrão, como já vem sendo
feito pelas grandes siderúrgicas integradas de Minas Gerais. Esse estágio intermediário deve ser
superado pelo desenvolvimento da carbonização contínua em retorta metálica, com
aproveitamento do gás da pirólise e a obtenção de metanol, ácido acético e produtos químicos de
alto valor de mercado. A Acesita vem trabalhando nesse sentido, com uma unidade piloto já em
funcionamento. Essa alternativa de produção integrada de energia e matérias-primas industriais
poderia viabilizar o aproveitamento do enorme potencial de reflorestamento existente no país para
o suprimento de biomassa renovável. Levantamento recentemente efetuado para a elaboração do
programa FLORAM identificou a possibilidade de se reflorestar 20 milhões de hectares, de áreas
degradadas, principalmente, num prazo de 30 anos. Evidentemente seria fundamental tomar as
devidas precauções ecológicas nesses reflorestamentos, garantindo sua sustentabilidade através
da manutenção do equilíbrio ambiental.

Para que esta contribuição positiva à qualidade ambiental do país e à luta contra o aumento
do efeito estufa ( o crescimento das árvores retira CO2 da atmosfera - ver adiante) se concretize,
será necessário reorganizar linhas de crédito para os programas de reflorestamento, pois o
sistema anterior de incentivos fiscais (que deu margem a grandes distorções) foi extinto.

Álcool e Bagaço de Cana

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi lançado em 1975, usando a cana de açúcar
como matéria-prima, com base na capacidade instalada da indústria açucareira. Graças à
concessão de financiamentos governamentais em condições privilegiadas para construção de
grandes destilarias e expansão da área plantada de cana, a produção de álcool pôde aumentar
rapidamente. Em 1979 passou-se à adaptação dos motores dos carros novos para uso de 100 %
de álcool (hidratado), após a adição à gasolina ter atingido o nível de 25 %. Já em 1985 a
produção de álcool atingia 12 bilhões de litros por ano. Hoje, 4,2 milhões de carros são movidos
apenas a álcool hidratado, consumindo 10,5 bilhões de litros, e os demais utilizam 1,3 bilhões de
litros de álcool anidro em mistura com a gasolina.

45
Apesar de seu sucesso tecnológico, o Proálcool também apresenta importantes custos
sociais e ecológicos. Os incentivos dados à expansão da cultura da cana de açúcar, não
desfrutados pelas culturas alimentares para abastecimento do mercado interno, chegaram a
causar, em algumas regiões, a substituição de cultivos alimentícios pela cana. Sua produção, à
base de monocultura com a prática da queimada para facilitar o corte, exige muito do solo, além
de um elevado uso de insumos : fertilizantes, água, pesticidas. A transformação da cana em álcool
nas destilarias gera os principais impactos ecológicos, na queima do canavial, na lavagem da
cana, na queima de bagaço e na obtenção de subprodutos poluentes, como a torta de filtro e
sobretudo o vinhoto.

As águas de lavagem e o vinhoto são efluentes líquidos produzidos em grande quantidade


(200 litros de água por tonelada de cana e 10 a 17 litros de vinhoto por litro de álcool, o que
significa mais de 150 bilhões de litros por safra) e contendo alta carga poluidora : demanda
biológica de oxigênio elevada pelo teor de matéria orgânica, além de metais e elementos minerais
retirados do solo pela planta. O tratamento desses resíduos em lagoas de decantação pode
contaminar os lençóis freáticos, e além disso deu margem a diversos acidentes de rompimento ou
transborde das represas em época de grandes chuvas, tendo o conseqüente despejo do vinhoto
em rios causado mortandade de peixes (os casos mais importantes foram registrados na Bahia e
em Pernambuco). Em algumas regiões, pode-se retornar o vinhoto ao solo da lavoura, para
fertirrigação, o que tem representado uma solução efetiva no caso das usinas da Copersucar, em
São Paulo (onde essa aplicação absorve 63 % do vinhoto gerado). Restrições de tipo de solo e
topografia impedem, no entanto, sua adoção generalizada. E já há alguns anos foi lançado a nível
comercial o processo de biodigestão anaeróbica para tratamento de vinhoto e produção de biogás
e biofertilizante.

A torta de filtro, resíduo sólido, também pode ser aplicada na lavoura, em quantidades
limitadas, porém, para não prejudicar o desenvolvimento das raízes. Sua biodigestão anaeróbica
também constitui uma possível alternativa. A queima do bagaço como combustível das caldeiras
da usina produz fuligem (arraste de bagaço não queimado) que polui a atmosfera na usina e seus
arredores. Existe tecnologia de controle disponível (ver item sobre termoelétricas a carvão),
exigindo no entanto um esforço econômico-financeiro. Mais grave é a liberação para a atmosfera
de particulados e cinzas na queima dos canaviais. Além do aspecto visual dos incêndios, os
efeitos sobre a saúde das populações dos centros urbanos vizinhos (incidência de doenças
respiratórias e irritação das mucosas) são acentuados em regiões de grande concentração de
usinas (como por exemplo as áreas próximas a Ribeirão Preto e a Piracicaba, no estado de São
Paulo). A solução a médio prazo reside na mecanização da colheita. O estado de São Paulo já
apresenta um índice de mecanização de 15 %, em média. Esta transição deverá ser lenta e
gradual, porém, sob pena de causar pesados custos sociais.

46
Com efeito, do ponto de vista social o impacto mais positivo do Proálcool foi a geração de
empregos no meio rural. A agroindústria sucroalcooleira é responsável por 720 mil empregos
diretos, estimando-se em mais de 200 mil os empregos indiretos por ela criados. O investimento
total para se gerar um emprego nesse setor (US$ 36 mil em São Paulo e seguramente menor nas
demais regiões) é sensivelmente inferior à média nacional (US$ 41 mil). Certamente as condições
de trabalho, a remuneração e a sazonalidade desses empregos limitam a qualidade de seu
benefício social. No entanto, em comparação com outras atividades agrícolas, os índices de
ocupação de mão de obra por unidade de área, de remuneração e de sazonalidade da cana de
açúcar estão entre os melhores. Por outro lado, é inegável que o Proálcool foi também
concentrador de renda ao privilegiar a produção em destilarias cada vez maiores, transferindo
recursos públicos altamente subsidiados a pequeno número de usineiros. Também do ponto de
vista de redução de desigualdades regionais o programa pouco contribuiu, pois 60 % da produção
de álcool está concentrada no estado de São Paulo. Enfim, do lado da utilização final, seu efeito é
perverso por se destinar à faixa restrita de proprietários de veículos particulares, beneficiada por
estímulos fiscais ao carro a álcool e pelo subsídio ao preço do álcool pago pelo consumidor.

Do ponto de vista ecológico, porém, o uso final do álcool traz importantes benefícios. Em
primeiro lugar, sua queima não contribui para o aumento do efeito estufa, pois a quantidade de
carbono emitida para a atmosfera corresponde à fixada no crescimento da cana de açúcar. Os
motores a álcool puro são bem menos poluentes que os alimentados por gasolina, devendo-se,
porém, estudar melhor os efeitos sobre a saúde humana de aldeídos, emitidos em maior
quantidade. A adição de álcool à gasolina permitiu a substituição do chumbo tetraetila
anteriormente usado como antidetonante. Além disso, quanto maior o teor de álcool na mistura,
menores os níveis de poluentes atmosféricos emitidos (com exceção dos aldeídos). Com a
oscilação desse teor (ver item sobre petróleo), o desempenho dos carros a gasolina foi afetado, e
o consumidor começa a voltar gradativamente a comprar carros novos a álcool : após cair a 4 %
no auge do descrédito do programa, em meio à crise de desabastecimento do produto em
1989/90, hoje a proporção de carros a álcool nas vendas de veículos novos já está entre 10 e 20
%. A meta do governo é recuperar o nível de 40 % (MIF, abril 1991), compatível com o atingimento
da plena utilização da capacidade instalada de destilação de álcool (16 bilhões de litros/ano) no
ano 2000. Para isto, no entanto, será fundamental expandir a área plantada (atualmente de 3,7
milhões de hectares), liberando créditos para a expansão do plantio de cana.
A regularização do Proálcool a médio prazo depende, porém, de um ajuste estrutural que
permita acelerar a redução de custos de produção (que já vem ocorrendo). Há um enorme
potencial de ganhos de produtividade no setor, em particular através da valorização de
oportunidades de aproveitamento de subprodutos. Nesse sentido, urge remover os obstáculos
institucionais e tarifários à utilização do bagaço de cana em sistemas avançados (via gaseificação,
ciclos combinados de cogeração e turbinas com injeção de vapor) de geração termoelétrica,
viabilizando um importante excedente a ser injetado no sistema elétrico.

47
O Efeito Estufa

A queima de combustíveis fósseis, a perda de cobertura vegetal, e algumas atividades


agrícolas e industriais, vêm causando o acúmulo de alguns gases (CO2, principalmente, mas
também metano, CFCs, N2O, vapor d'água) na atmosfera. O teor atmosférico de CO2 passou de
280 ppm (partes por milhão, em volume), antes da Revolução Industrial, para 340 ppm em 1980.
Estima-se que, mantidas as tendências atuais, já na década de 2030 venha-se a atingir a marca
de 560 ppm, o dobro do nível correspondente à era pré-industrial. Esses gases, sem afetar a
entrada da radiação solar incidente, impedem a passagem do calor reemitido pela Terra. Isto
contribui para aquecer o globo terrestre, aumentando o chamado "efeito estufa". Tal aquecimento
poderá vir a causar importantes alterações climáticas. Modelos de simulação indicam que, para
uma duplicação do nível de CO2, haveria uma elevação das temperaturas médias da superfície
terrestre de 1,5 a 4,5 oC, sendo o aquecimento mais pronunciado durante o inverno nas latitudes
mais altas que no equador. Isto poderia fazer o nível dos oceanos subir de 25 a 140 cm, afetando
as cidades costeiras e as áreas agrícolas mais baixas. Além disso, essas variações climáticas
mudariam os regimes pluviais, e muitos países poderiam sofrer graves desequilíbrios em suas
estruturas econômicas, sociais e políticas.

Outros modelos, porém, chegam a variações menores de temperatura, partindo das


mesmas hipóteses de aumento de concentração atmosférica de gases de efeito estufa. Na
verdade, no atual estágio do conhecimento o grau de incerteza sobre os impactos ambientais
globais do aumento do efeito estufa ainda é bem elevado. Há o risco, entretanto, de que as
certezas sobre o fenômeno só cheguem quando for tarde demais para controlá-lo. Por outro lado,
nenhum país dispõe sozinho dos meios para combater alterações climáticas globais. É necessário
um acordo internacional para promover o acompanhamento e o estudo do efeito estufa e
estabelecer uma política comum para reduzir as emissões dos gases que o provocam. Este é o
objetivo de uma das convenções internacionais que estão sendo negociadas para eventual
assinatura no Rio de Janeiro em junho de 1992 por ocasião da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD / Rio - 92).

Estudos internacionais vêm situando o Brasil em posição de destaque (terceiro ou quarto


maior contribuidor) a nível mundial quanto às emissões atuais de gases de efeito estufa.
Contrariamente ao que ocorre nos países industrializados, a contribuição do desmatamento para
as emissões é significativamente maior que a do uso de energia, no Brasil (primeiro lugar mundial
nas emissões oriundas do desmatamento e 15o a 20o lugar nas emissões devidas ao uso de
energia). Devido à insuficiência dos dados disponíveis, normalmente se deixam de lado os outros
gases e calcula-se o valor correspondente às emissões de CO2, mas ainda assim registra-se um
largo espectro de estimativas para as atuais emissões brasileiras causadas pelo desmatamento :
540 Mt C /ano (milhões de toneladas de carbono por ano), segundo o World Resources Institute,
454 Mt C /ano para Myers, e de 290 a 410 Mt C /ano para Reis e Margulis (1990), por exemplo. Os

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últimos autores estimaram apenas a contribuição da Amazônia, mas ainda assim há discrepâncias
causadas por diferentes hipóteses sobre superfície desmatada e densidade de biomassa da
floresta.

De todo modo, a contribuição do uso de energia no Brasil para o aumento do efeito estufa é
significativamente inferior. Considerando apenas as emissões de CO2, as estimativas preliminares
do PPE/COPPE/UFRJ são de 69 Mt C /ano para 1990, valor bastante próximo às 66 Mt C /ano
calculadas por Moreira e Poole (1991). Isto corresponde a pouco mais de 1 % das emissões
globais, contra 4,7 a 6,6 % do desmatamento da Amazônia (segundo Reis e Margulis, 1990). O
relativamente baixo valor das emissões de CO2 devidas ao uso de energia se explica pela grande
participação da hidroeletricidade e de biomassas renováveis no balanço energético brasileiro (ver
seções anteriores). Diante da imprecisão dos dados disponíveis referentes à lenha, considerou-se
que apenas 20 % da lenha (incluindo seu uso na forma de carvão vegetal) consumida no setor
residencial era oriunda de desmatamentos, contribuindo assim para o aumento do efeito estufa.
Nos demais setores de uso de lenha, supôs-se que essa proporção se invertia (80 % da lenha
oriunda de desmatamentos).

Segundo essas hipóteses, em 1990 o petróleo contribuiu com 61 % das emissões de CO2, a
lenha com 14 %, o carvão vegetal com 11 %, o carvão mineral com 10 % e o gás natural com 4 %.
Dos setores de uso final, o maior responsável por emissões de CO2 foi o industrial com 40 %,
seguido do de transportes com 35 %, do residencial com 10,5 %, do agropecuário com 8 %, do
energético com 5,5 % e do comercial e público com 1 %.

A principal contribuição brasileira para deter o avanço do efeito estufa teria de vir,
naturalmente, da redução do desmatamento, em particular na Amazônia. Algumas medidas de
política energética, porém, também podem contribuir nesse sentido, e podem estar sujeitas a
menores dificuldades para sua implementação. A mais importante é, sem dúvida, a promoção da
conservação de energia, em diferentes níveis, através de um aumento do rendimento energético
global que permita o atendimento das necessidades econômicas e sociais com um menor
consumo de energia. Complementarmente, a substituição do uso dos combustíveis fósseis por
fontes energéticas renováveis (hidroeletricidade, bagaço de cana, lenha e carvão vegetal de
reflorestamentos, outras biomassas, energia solar, por exemplo), e o maior uso de gás natural em
substituição a derivados de petróleo e carvão mineral, também podem contribuir para a redução
do efeito estufa.

Impactos Ambientais do Setor Energético por Bioma

Para analisar a distribuição dos impactos ambientais do sistema energético no espaço


nacional, este foi dividido em 10 subespaços, com características basicamente correspondentes
ao conceito de bioma (com a exceção da inclusão do ambiente urbano como um dos subespaços).

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São eles : a Amazônia, o Meio Norte, o Cerrado, o Pantanal, a Mata Atlântica, a Caatinga, os
Campos do Sul, os Pinheirais, a Zona Costeira e o Ambiente Urbano.

Os impactos ambientais das diferentes cadeias energéticas, anteriormente descritos em


detalhe, incidem diferenciadamente nesses subespaços. Essa espacialização é apresentada a
seguir, para cada fonte de energia, através de quadros analíticos do cruzamento entre as
atividades envolvidas em cada segmento da cadeia energética, os impactos ambientais
resultantes e os biomas em que incidem de forma mais acentuada, com uma síntese
hierarquizada ao final.

a) Carvão Mineral

Os impactos ambientais decorrentes da produção e uso do carvão mineral nacional se


concentram na região Sul do país. Já o carvão metalúrgico é hoje totalmente importado, sendo
transformado em coque nas grandes usinas siderúrgicas da região Sudeste, em Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

Quadro 10 : Impactos Ambientais do Carvão Mineral por Bioma


Atividades Impactos Biomas
Mineração Prejuízos à saúde dos mineiros Campos do Sul
Beneficiamento Poluição dos recursos hídricos Pinheirais
Estocagem de rejeitos Inutilização de grandes áreas Zona Costeira
Coquerias Poluição atmosférica urbana (SC,RS)
Termoelétricas Risco de incêndios Ambiente Urbano
Chuvas ácidas SC,RS, pólos
Aumento do efeito estufa sid.MG,SP,ES,RJ

b) Petróleo e Gás Natural

A produção de petróleo e gás natural é relativamente concentrada, na bacia de Campos


(RJ) e no Recôncavo baiano. Entretanto, 1/3 do consumo de petróleo é importado, chegando às
refinarias através de portos espalhados ao longo da costa. Para viabilizar um uso essencialmente
pulverizado em todos os ramos da atividade humana, as redes de dutos, o transporte hidroviário,
ferroviário e rodoviário atravessam todo o território nacional para entregar os derivados de petróleo
nas bases de distribuição espalhadas pelo país.

Quadro 11 : Impactos Ambientais do Petróleo e Gás Natural por Bioma

50
Atividades Impactos Biomas
Perfuração, Sísmica Desmatamento Amazônia
Produção (plataformas) Prejuízo à fauna
Risco de incêndios
Oleodutos e Gasodutos Vazamento hidrocarbonetos mar Zona costeira
Terminais Marítimos Prejuízo a lazer e turismo (RJ, SP, NE)
Ferrovia, Rodovia, Navios Prejuízo à saúde da população Mata Atlântica
Refinarias Poluição de baías-metais pesados
Queima de derivados Poluição atmosférica urbana Ambiente urbano
Aumento do efeito estufa

c) Hidroeletricidade

As usinas hidroelétricas com reservatórios de grande porte são responsáveis pelos


principais impactos ambientais decorrentes do aproveitamento desta fonte energética. As 60
centrais em operação com potência superior a 30 MW, ao final de 1989, correspondentes a uma
potência instalada total de 52 milhões de KW, estão distribuídas pelo território nacional. Ao todo,
os reservatórios dessas usinas ocupam uma área de 2,4 milhões de hectares, cerca de 0,3 % do
território nacional, com uma relação média de 46 hectares/MW instalado. Das 14 maiores usinas,
que respondem por 78 % da área total alagada, 5 estão na região Norte/Nordeste, inundando 1
milhão de hectares (43 % do total).

As 47 novas usinas hidroelétricas previstas pelo Programa Decenal de Geração 1990/99,


têm reservatórios que deverão ocupar, em seu conjunto, 1,3 milhões de hectares adicionais. A
maior parte se situa na região Sudeste/Centro-Oeste : 28 usinas com cerca de 1 milhão de
hectares de área alagada (73 % do total), sendo que apenas 6 centrais estarão localizadas dentro
dos limites da Amazônia legal, inundando 0,3 milhões de hectares. Com relação à população
ribeirinha a ser afetada pelas novas usinas hidroelétricas previstas até o ano 2000, o setor elétrico
estima em 136 mil o número de habitantes a serem remanejados, principalmente nas regiões Sul
(70 mil) e Sudeste/Centro-Oeste (49 mil). A população indígena afetada é estimada
preliminarmente em 8 mil, sendo mais de 5 mil na Amazônia legal. Maiores detalhes e a
desagregação desses dados por empreendimento hidroelétrico, de forma a situar em escala mais
precisa seus impactos ambientais, são fornecidos no Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor
Elétrico 1991/1993 (Eletrobrás, 1990). Documentos mais recentes do setor, como o Programa
Decenal de Geração 1994/2003, indicam um adiamento da entrada em operação prevista para a
maioria das novas centrais hidroelétricas, deslocando consequentemente a manifestação de seus
impactos ambientais para o horizonte dos próximos 10 anos, com possíveis variações, caso a
caso, e em função do ritmo de retomada do crescimento econômico e do mercado de energia
elétrica.

51
Naturalmente os indicadores de área inundada pelos reservatórios e de população a ser
remanejada não cobrem adequadamente o conjunto dos impactos ambientais causados por
grandes centrais hidroelétricas, servindo apenas para fornecer uma primeira visão da distribuição
pelo território nacional da magnitude desses empreendimentos. O Quadro 12 apresentado a seguir
resume os principais impactos ambientais, por bioma, das centrais hidroelétricas e das linhas de
transmissão necessárias ao transporte da energia gerada.

Quadro 12 : Impactos Ambientais da Hidroeletricidade por Bioma


Atividades Impactos Biomas
Centrais Hidroelétricas Erosão e retenção de sedimentos Amazônia
com grandes barragens Risco de rompimento da barragem Mata Atlântica
Risco de abalos sísmicos Campos do Sul
Risco de cheias inéditas a jusante Cerrado
Perda de qualidade da água Ambiente Urbano
Perdas para agricultura e pesca Pinheirais
Prejuízo à fauna e à flora
Risco de perda de biodiversidade
Prejuízo à saúde da população
Perda de solos agricultáveis
Perda de recursos minerais
Perda de recursos florestais
Grande afluxo migratório
Remanejamento de comunidades
Impedimentos à navegação
Perda de patrimônio histórico
Perda de patrimônio paisagístico
Interferência - reservas indígenas
Interferência em quilombos
Linhas de Transmissão Prejuízo à fauna Ambiente Urbano
Formação de ozônio Mata Atlântica
Efeito de borda sobre florestas Cerrado
Efeitos estéticos negativos Amazônia
Campo eletromagnético Campos do Sul
Risco de acidentes Pinheirais

d) Energia Nuclear

Os impactos ambientais da energia nuclear se concentram na área do complexo de


mineração e beneficiamento de urânio em Poços de Caldas (MG), e na praia de Itaorna, em Angra
dos Reis (RJ), onde se situam os reatores em operação e em construção. Os riscos ambientais
decorrentes de sua utilização, porém, se estendem por distâncias consideráveis, dependendo da
magnitude de dispersão de radioatividade no ambiente causada por eventuais incidentes, podendo
atingir zonas densamente povoadas.

52
Quadro 13 : Impactos Ambientais da Energia Nuclear por Bioma
Atividades Impactos Biomas
Mineração de urânio Radiação sobre trabalhadores Cerrado
Beneficiamento de urânio Poluição local do solo, água, ar Mata Atlântica
Operação de reatores Resíduos radioativos Zona Costeira
Risco de dispersão radioativa Ambiente Urbano

e) Lenha e Carvão Vegetal

O uso da lenha como combustível doméstico é mais impactante no Nordeste, enquanto os


impactos do carvão são induzidos a partir de Minas Gerais e Carajás.

Quadro 14 : Impactos Ambientais da Lenha e Carvão Vegetal por Bioma


Atividades Impactos Biomas
Cocção a lenha Desmatamento Caatinga
Lenha para calor industrial Devastação de manguezais Zona Costeira
Monocultura de eucaliptos Degradação de solos Cerrado
Fabricação de carvão veg. Poluição hídrica Mata Atlântica
Queima de carvão vegetal Prejuízo à saúde de trabalhadores Meio Norte
(combustível industrial) Aumento do efeito estufa Pantanal
Pinheirais

f) Álcool e Bagaço de Cana

Além do estado de São Paulo, onde se situa a metade da capacidade instalada, sofrem os
impactos ambientais da produção de álcool, principalmente, Minas Gerais e Paraná, no Sul, e
Alagoas e Pernambuco, no Nordeste, havendo também a dispersão de 1/4 da produção em
destilarias espalhadas nos demais estados. O uso do álcool em motores de veículos se concentra
nas zonas urbanas, enquanto o bagaço é consumido nas usinas de açúcar e álcool ou em
caldeiras de indústrias vizinhas.

Quadro 15 : Impactos Ambientais do Álcool e Bagaço de Cana por Bioma


Atividades Impactos Biomas
Monocultura de cana Competição com outros cultivos Mata Atlântica
Queima do canavial Empobrecimento dos solos Zona Costeira
Queima do bagaço Poluição atmosférica urbana Pantanal
Fabricação do álcool Poluição hídrica:vinhoto/águas lav. Cerrado
Risco de mortandade de peixes Ambiente Urbano
Resíduos sólidos (torta de filtro)
Queima do álcool Emissão de aldeídos

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Risco de acidentes com metanol

g) Intensidade dos Impactos Ambientais do Vetor Energético por Bioma

No intuito de fornecer uma visão resumida do conjunto dos impactos ambientais do vetor
energético sobre os diferentes biomas, procedeu-se a uma classificação aproximada de sua
intensidade, para viabilizar a apresentação do quadro-síntese a seguir. Naturalmente, a escala de
magnitude utilizada (pequena/média/grande) é meramente indicativa da distribuição relativa dos
impactos de cada sub-vetor pelos biomas, devendo portanto ser lida por coluna, não se julgando a
relevância de suas consequências nos níveis local e regional, que podem ser importantes.

Quadro 16 : Intensidade dos Impactos Ambientais do Vetor Energético por Bioma

Energia/ Carvão Petróleo e Hidroele Energia Lenha e Álcool e


Bioma Mineral Gás Nat. tricidade Nuclear Carvão V. Bagaço
Amazônia - Média GRANDE - pequena -
Meio Norte - pequena pequena - Média -
Caatinga - pequena - - GRANDE -
Cerrado - pequena Média pequena GRANDE Média
Pantanal - pequena pequena - Média Média
Mata Atl. - Média GRANDE - GRANDE GRANDE
Pinheirais GRANDE pequena Média - Média -
Campos do GRANDE pequena Média - pequena -
Sul
Zona Costeira GRANDE GRANDE - GRANDE Média GRANDE
(SC,RS) (RJ,SP)
Ambiente GRANDE GRANDE Média GRANDE - GRANDE
Urbano (SC,RS) (RJ)

Diretrizes para a Gestão Ambiental do Setor Energético

O panorama geral apresentado mostra a importância dos impactos ambientais da produção


e uso da energia. Neste sentido, cumpre considerar, desde as fases iniciais de estudo das
diversas alternativas de projetos, programas e planos energéticos, a análise de sua dimensão
ambiental. Muito ainda há por fazer, porém, no desenvolvimento de metodologias adequadas e no
estabelecimento de procedimentos político-institucionais que permitam alcançar esse objetivo,
além da indispensável vontade política de atingi-los. A crescente interpenetração do planejamento
energético com o ambiental exige o estabelecimento de novos mecanismos, mais ágeis e
eficazes, de cooperação para o equacionamento dos conflitos de interesse e a indispensável ação
conjunta no seu enfrentamento. Emerge reforçada a necessidade de uma política ambiental

54
proativa, e não meramente de controle, com relação ao sistema energético nacional. A título de
exemplo, alguns pontos prioritários para sua atuação, abordados neste trabalho, são resumidos a
seguir :

1. Promoção de uma ampla política de conservação de energia, em todos os níveis.

2. Compatibilizar as normas de emissão atmosférica de enxofre em termoelétricas com as metas de


expansão do uso de carvão mineral.

3. Prosseguir o desenvolvimento da tecnologia de combustão em leito fluidizado para geração


termoelétrica em grande escala.

4. Elaborar um Plano Diretor de Meio Ambiente para o setor de Petróleo e Gás Natural.

5. Definir as especificações dos combustíveis líquidos de forma a viabilizar o cumprimento das normas
estabelecidas no PROCONVE.

6. Antecipar para a fase do inventário de bacias hidrográficas a elaboração do estudo prévio de impacto
ambiental e contribuir para a implementação do sistema nacional de gerenciamento de bacias
hidrográficas.

7. Definir mecanismos de incorporação da dimensão ambiental e de sua discussão com a sociedade no


plano de expansão de longo prazo e no programa decenal de obras do setor elétrico.

8. Definir na forma de lei a destinação final dos rejeitos radioativos produzidos no país.

9. Rever o Plano de Emergência da usina nuclear de Angra dos Reis.

10. Desenvolver tecnologia apropriada a cada contexto regional para reflorestamento e carvoejamento
de madeira, com aproveitamento de seus subprodutos para a indústria química.

11. Elaborar e implantar um novo sistema de estímulo ao reflorestamento no país.

12. Estabelecer as metas futuras do Proálcool : proporção de carros novos a álcool, teor de álcool na
mistura com a gasolina, expansão do plantio de cana ; e os instrumentos de política para atingi-las.

13. Implantar um programa de desenvolvimento tecnológico de fontes alternativas de energia e de


difusão do uso de bagaço de cana.

Relações do Setor Energético com Outros Macrovetores

Há uma série de relações do setor energético com outros vetores que têm agido com
destaque na dinâmica ambiental do país, tais como : exploração madeireira, exploração mineral,

55
urbanização, “agribusiness”, industrialização, fluxos de circulação, fluxos internacionais e
exploração pesqueira.

As influências e determinações recíprocas entre esses macrovetores e o aproveitamento


energético, por cada fonte de energia, estão sumarizados no quadro-síntese a seguir, que se
utiliza de uma escala de magnitude (pequena/média/grande) indicativa da intensidade das
relações existentes em cada caso.

Quadro 17 - Relações do Setor Energético com Outros Macrovetores


Macro Carvão Petróleo e Hidroele Energia Lenha e Álcool e
Vetores Mineral Gás Nat. tricidade Nuclear Carvão V. Bagaço
Expl. Madeira - - pequena - GRANDE -
Expl. Mineral GRANDE GRANDE pequena Média - -
Urbanização Média GRANDE Média GRANDE - GRANDE
Agribusiness - - - - Média GRANDE
Industrializ. Média GRANDE pequena - Média Média
Circulação pequena GRANDE GRANDE pequena pequena Média
Fluxos Intern. Média GRANDE pequena Média - pequena
Expl. Pesca - Média - - - -

56
Referências Bibliográficas

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La Rovere, E.L. "Conservação de energia em sua concepção mais ampla : estilos de
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Rodrigues, A.P.; Economia e Tecnologia da Energia, FINEP/ Ed. Marco Zero, Rio de
Janeiro, 1985, p. 474-489.
La Rovere, E.L. "Energia e Meio Ambiente", in Margulis, S. Meio Ambiente : aspectos técnicos e
econômicos, IPEA / PNUD, Brasília, 1990, p. 11-34.
La Rovere, E.L. "Requisitos para a inserção da dimensão ambiental no planejamento do setor
elétrico brasileiro", in Relatório Final do Projeto "Análise da Implantação de Grandes
Projetos Energéticos : o Caso do Setor Elétrico no Brasil", AIE/COPPE/UFRJ - Fundação
Ford, 1990a
La Rovere, E.L.; “Five hundred years of energy use”, “500 años de mucha energia”, Petrobras
Magazine, vol. 7, no. 28, Summer/Verano 2000, p.24-29
Leroi-Gourhan A. Le Geste et la Parole, Albin Michel, Paris, 1961
Moreira, J.R., Poole, A. "Energia e Meio Ambiente". Subsídio técnico para a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, junho 1991
Nascimento, M.V.G.; Pires, S.H.; Lacorte, A.C.; Menezes, P.C.P.; Santos, M.A.; Nascimento,
J.A.S.; Borges, J.L.; La Rovere, E.L.; Guimarães, A.P.C.; “Mapeamento Regional para

57
Avaliação de Alternativas Energéticas para Sistemas Isolados na Amazônia : o estado do
Amapá”, Revista Brasileira de Energia, vol. 7, no. 2, 2o. semestre 1999, p.9-22
Odum, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1988
Puiseux, L. La Babel Nucléaire. Paris, Galilée, 1977
Reis, E.J., Margulis, S. "Options for slowing Amazon jungle-clearing", Conference on Economic
Policy Responses to Global Warming, Roma, outubro 1990
Rosa, L.P. “Visão Integrada das Fontes de Energia”, in La Rovere, E.L.; Rosa, L.P.; Rodrigues,
A.P.; Economia e Tecnologia da Energia, FINEP/ Ed. Marco Zero, Rio de Janeiro, 1985, p.
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Rosa, L.P. "Dimensões básicas de um novo estilo de desenvolvimento. A infraestrutura física e as
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Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, maio 1991
Santos, M.F.M. “O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica”, in Seminário
Internacional Estratégias de Conservação de Energia Elétrica para o Brasil,
PROCEL/Eletrobrás, Rio de Janeiro, outubro 1994.
Sevá, A.O. "Risco tecnológico e natureza alterada". Campinas, 1989.

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Anexo 1
Potencial de Fontes Alternativas de Energia no Brasil

1. Energia Solar

O Brasil se situa em segundo lugar, a nível mundial, quanto à energia solar incidente. Em
média, sobre uma superfície horizontal do território nacional incidem entre 1500 e 2000 kwh/m2
por ano, variando conforme o local do país. Isto significa que, tomando-se uma eficiência média de
conversão de 6 % da energia solar em eletricidade através de células fotovoltaicas, numa área
equivalente aos 142 mil km2 que seriam inundados por reservatórios formados pelas barragens
caso todo o potencial hidroelétrico do país fosse utilizado, seriam obtidos cerca de 15 trilhões de
kwh/ano, ou seja, mais de 20 vezes o valor do potencial hidroelétrico inventariado. Hoje esta
comparação tem seu significado prático limitado pela diferença de custos entre as duas fontes :
cerca de 2000 US$/kw para a hidroeletricidade contra 6000 a 8000 US$/kw para a eletricidade
solar fotovoltaica. No futuro, porém, as células fotovoltaicas poderão se tornar competitivas caso
prossiga a tendência de redução de seu custo (que era de 20000 US$/kw no final da década de
70), pois o custo de aproveitamento do potencial hidroelétrico é crescente. Do ponto de vista
tecnológico, o Brasil foi o primeiro país do Terceiro Mundo a fabricar comercialmente a célula
fotovoltaica, a partir do silício monocristalino, não se limitando à simples montagem dos painéis
solares.

Atualmente, porém, o uso mais difundido da energia solar no país é o aquecimento de água,
em residências, hotéis, hospitais e piscinas. Na segunda metade da década de 80, já existiam no
país 25 fabricantes de coletores solares planos para aquecimento de água, com uma capacidade
anual de produção de 30.000 m2. A secagem solar de produtos agrícolas, a climatização
ambiental, o bombeamento d'água, a refrigeração solar, a destilação e a dessalinização de água
são outras aplicações da energia solar já pesquisadas e demonstradas no país em escala piloto.
Em alguns casos, em particular no meio rural, se atinge as condições de viabilidade econômica. O
elevado investimento inicial, entretanto, é um obstáculo importante, assim como para outras fontes
não convencionais de energia, na ausência de mecanismos de financiamento ao consumidor.

De um modo geral, os impactos ambientais do aproveitamento da energia solar são


globalmente positivos, graças à conservação de recursos energéticos não renováveis e à redução
dos poluentes emitidos em sua queima, por se tratar de uma fonte de energia pouco agressiva ao
meio ambiente e captada em pequena escala. Embora os requerimentos de área (superfície de
captação) sejam comparáveis aos de centrais termoelétricas convencionais, em sua maior parte o
espaço ocupado não compete com outros usos (terras improdutivas, tetos de edificações, por
exemplo).

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2. Energia Eólica

A disponibilidade de energia eólica também é intermitente, mas ao contrário da energia


solar, seu aproveitamento é viável apenas em áreas limitadas do território nacional, onde os
ventos ocorrem com alta velocidade média (4 m/s ou mais) e frequência relativamente constante.
Assim, o potencial eólico brasileiro equivale a somente uma pequena fração do potencial
hidroelétrico nacional. Apesar disto, sua utilização pode ter importância a nível local,
principalmente ao longo da costa, nos estados do Nordeste e do Sul do país, onde levantamentos
locais de vento revelaram dados promissores.
Cataventos de pequeno porte podem gerar energia mecânica para bombeamento d'água e
irrigação. Existe tecnologia disponível comercialmente no país também para geração elétrica em
pequena escala (da ordem de 1 kw). Unidades de maior porte foram estudadas em universidades
(COPPE/UFRJ, UFPb, UFPe, UFRGS, PUC-RJ) e centros de pesquisa como o IAE-CTA. A
primeira experiência piloto com uma turbina eólica do porte de 100 kw foi implantada em Fernando
de Noronha, para substituir cerca de 10 % do óleo diesel utilizado para geração elétrica na ilha.
O estado da arte em nível internacional, principalmente em países como a Dinamarca e os
Estados Unidos, onde operam comercialmente geradores eólicos de até 1 MW de capacidade,
aponta para custos de investimento entre 1200 e 1600 US$/kw, que podem se revelar
economicamente competitivos em regiões isoladas.
Os impactos ambientais do uso de energia eólica envolvem apenas o risco de acidentes, o
nível de ruído, o efeito estético, a interferência eletromagnética nas telecomunicações, a influência
sobre a fauna alada, o uso do solo e, em alguns casos, a possibilidade de alterações
microclimáticas. Com exceção de zonas densamente povoadas onde se pretenda instalar
"fazendas de cataventos", a pequena escala de aproveitamento da energia eólica torna esses
impactos relativamente pouco significativos.

3. Xisto

O Brasil possui a segunda maior ocorrência de xisto do mundo. As reservas inferidas e


estimadas são mais de 20 vezes superiores às reservas medidas e indicadas de óleo e gás de
xisto, que totalizam 487 Mtep. Assim, o potencial energético dos recursos totais de xisto no país
supera o das jazidas de petróleo, sendo da mesma ordem de grandeza do carvão mineral. Esses
recursos estão localizados em nove áreas no sul do país que vão desde o Paraná até o Rio
Grande do Sul. A Petrobrás desenvolveu a tecnologia para produção de óleo, gás combustível,
nafta e gás liquefeito de petróleo (glp), além de enxofre, a partir do xisto (processo Petrosix). Uma
usina piloto operou em São Mateus do Sul (Paraná) de 1981 a 1989, sendo reativada para
operação a partir de 1992 com sua capacidade ampliada para 3870 barris/dia de óleo.
Os dois principais obstáculos para o aproveitamento do potencial energético do xisto são
seu custo elevado e a magnitude de seus impactos ambientais. O custo de produção é superior ao
preço do petróleo importado, mas que poderá se tornar competitivo no caso de sua elevação. O

60
problema ambiental é considerado solúvel, quanto à recuperação da área degradada, com base
nos conhecimentos adquiridos com a experiência piloto. Deve-se alertar, porém, que toda
mineração em céu aberto de grandes áreas causa impactos consideráveis sobre o meio ambiente.
No caso do xisto, os danos ambientais são agravados pela maior quantidade de rejeitos
produzida. Além do material estéril, no processo de retortagem de xisto para a produção de óleo o
rejeito aumenta de volume, acarretando a necessidade de maiores superfícies para disposição.
Pode ocorrer a lixiviação dos poluentes contidos no xisto retortado e na água de retortagem,
contaminando os recursos hídricos da superfície e subterrâneos.

4. Turfa

As reservas estimadas e inferidas de turfa chegam a 3 vezes o valor das reservas medidas
e indicadas, que são da ordem de 40 Mtep, mas ainda assim os recursos brasileiros de turfa
atualmente conhecidos representam um potencial energético relativamente modesto em relação
aos demais combustíveis fósseis. Entretanto, sua valorização energética pode ser importante a
nível regional, em conjunto com seu uso na agricultura para recuperação de solos. A Companhia
Brasileira de Pesquisa de Recursos Minerais concluiu a identificação geológica de inúmeros
depósitos de turfa em áreas litorâneas da região Nordeste, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em
Santa Catarina. Lavras-piloto foram realizadas pela CECRISA em Santa Catarina, pela CESP
(Companhia Energética de São Paulo) em São Paulo e pela COPENER (Copene Energética) e
pelo CEPED (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) na Bahia, com apoio da FINEP
(Financiadora de Estudos e Projetos). Estes projetos permitiram o desenvolvimento da tecnologia
de lavra, secagem, combustão e gaseificação, que é relativamente simples.
Os custos de produção de energia da turfa variam conforme o local, o tipo de exploração e
a distância aos centros de consumo. A geração termoelétrica junto à turfeira e o uso como
combustível em cerâmicas ou cimenteiras próximas são as opções economicamente mais
promissoras. Dificuldades de drenagem, no entanto, inviabilizaram a exploração energética de
turfeiras em zonas litorâneas apesar de sua boa qualidade como combustível (alto poder calorífico
e baixo teor de cinzas). Seus impactos ambientais também são variáveis, podendo ser sensíveis
na medida em que grandes quantidades sejam retiradas sem a devida recomposição do solo.

5. Outras Fontes

Naturalmente o Brasil se destaca por seu imenso potencial energético de outros recursos da
biomassa, além do álcool de cana de açúcar, que já é uma realidade comercial no país desde
1975.
Merece um destaque especial a possibilidade de aproveitamento mais eficiente do bagaço
de cana, subproduto das usinas de açúcar e de álcool. Já existe tecnologia disponível para
concretizar sua utilização na cogeração de energia elétrica a ser injetada na rede, que depende
apenas da criação de condições para a viabilização econômica de sua comercialização junto às

61
concessionárias de energia elétrica. O estado de São Paulo vem desenvolvendo um programa
piloto nesse sentido.
Outra alternativa promissora é o aproveitamento de óleos vegetais disponíveis localmente
(dendê, buriti, etc.) para acionamento de motores diesel, seja para movimentar veículos como para
geração de energia elétrica em pequena escala. Experimentos-piloto com motores especialmente
concebidos para uso de óleos vegetais in natura vêm sendo realizados pela COPPE/UFRJ.
A biomassa sob forma de resíduos também pode representar uma importante fonte de
recursos energéticos a nível local. Por exemplo, a geração elétrica a partir de resíduos da
mandioca revelou-se economicamente viável em recente estudo sobre sistemas isolados no
estado do Amapá (Nascimento et al, 1999).
Além do aproveitamento da energia das biomassas, alguns estudos têm sido realizados no
Brasil sobre outras tecnologias energéticas alternativas, procurando acompanhar o estado da arte
a nível internacional.
Ainda em estágio de pesquisa e desenvolvimento, e em alguns casos já com projetos de
demonstração, podem ser mencionadas : as células a combustível, o uso do hidrogênio como
vetor energético, o aperfeiçoamento das tecnologias atuais de combustão, gaseificação e
liquefação de carvão, reatores nucleares intrinsecamente seguros, a fusão nuclear, e o
aproveitamento das diversas formas de energia dos oceanos : marés, ondas, correntes, gradiente
de salinidade e gradiente térmico entre a superfície e o fundo do mar.
A mais longo prazo, algumas aplicações dessas tecnologias poderão se revelar
promissoras. Entretanto, para valorizar essas oportunidades deve-se retomar em escala ampliada
os esforços de desenvolvimento científico-tecnológico no campo energético. Nos últimos anos, os
estudos de fontes alternativas de energia foram sendo descontinuados devido à queda do preço
do petróleo e à crise do sistema nacional de ciência e tecnologia. Um apoio institucional adequado
e a alocação de recursos financeiros em níveis compatíveis com as potencialidades são
indispensáveis para reverter este processo.

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Anexo 2 : GLOSSÁRIO

No intuito de facilitar a compreensão do texto, fornecemos abaixo uma série de definições


simplificadas de termos pouco usuais, no sentido em que foram empregados neste documento :

A jusante - trecho de rio abaixo da barragem de uma usina hidroelétrica.

A montante - trecho de rio acima da barragem de uma usina hidroelétrica.

Biomassa - matéria orgânica de organismos vivos ou oriunda destes (por exemplo, vegetais,
esterco, restos de alimentos).

Célula Fotovoltaica - dispositivo que produz eletricidade diretamente a partir de sua exposição à
luz, aproveitando o efeito fotovoltaico : os fótons da luz desprendem elétrons da superfície de
materiais semicondutores, como o silício, usados na fabricação da célula, originando uma corrente
elétrica.

Central termoelétrica - usina de geração de eletricidade a partir da queima de um combustível que


gera vapor para impulsionar o turbogerador elétrico.

Combustão espontânea - incêndio acidental de material combustível estocado ao relento que


queima facilmente.

Consumo sustentável - utilização de um recurso em ritmo moderado, compatível com sua


renovação, no caso de recursos renováveis.

Coqueria - fábrica de coque, derivado do carvão mineral (de tipo metalúrgico) para uso em alto-
fornos siderúrgicos, na redução do minério de ferro (produção de ferro-gusa, primeira etapa da
transformação em aço).

Destilaria - fábrica de álcool, a partir da fermentação do caldo extraído da cana de açúcar e sua
destilação : processo químico em que se evapora e condensa um líquido com o fim de obtê-lo
puro, separando-o de outro.

Efluente - resíduo líquido, por exemplo de atividades industriais.

Energia elástica - presente em uma mola comprimida, que pode realizar trabalho ao se distender.

Energia eólica - energia dos ventos (movimento das massas de ar).

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Energia gravitacional - atração entre grandes massas como os corpos celestes : dá origem, por
exemplo, às marés, forma de energia devida à atração mútua entre a Terra e a Lua.

Energia mecânica cinética - energia de um corpo em movimento.

Energia mecânica potencial - energia de um corpo, em repouso, sob a atração de um campo


gravitacional, como a força da gravidade que atrai os corpos em posição elevada para a superfície
da Terra.

Energia térmica - energia sob a forma de calor, sendo o calor na verdade a energia cinética das
moléculas do corpo aquecido.

Fabricação de cimento por “via úmida” - processo produtivo em que se necessita de grande
quantidade de energia, sob a forma de calor, para evaporar a umidade da massa.

Fabricação de cimento por “via seca” - processo energeticamente muito mais eficiente, por evitar o
consumo de energia para eliminar a umidade da massa.

Finos em suspensão - material particulado sólido (de carvão, por exemplo), imerso em meio
líquido ou gasoso (água ou ar, por exemplo).

Fissão nuclear (desintegração radioativa) - esfacelamento do núcleo de um átomo através de seu


bombardeio por neutrons, originando partículas com massa total inferior à massa do átomo inicial :
a diferença muito pequena de massa se transforma em enorme quantidade de energia,
recuperada sob a forma de calor.

Fusão nuclear - junção de duas ou mais partículas atômicas formando uma massa ligeiramente
menor que a soma de suas massas iniciais : a diferença muito pequena de massa se transforma
em enorme quantidade de energia, recuperada sob a forma de calor.

Fonte alternativa de energia - fonte energética que pode substituir a fonte predominantemente
usada atualmente (por exemplo, petróleo e derivados).

Fonte renovável de energia - fonte energética que continua sendo gerada naturalmente em um
ritmo semelhante ao de sua utilização pelo Homem.

Formas primárias de energia - formas em que a energia se encontra disponível na natureza


(petróleo, gás natural, carvão mineral, lenha, cana de açúcar, energia hidráulica, urânio,
principalmente), constituindo fontes que podem ser captadas pelo Homem.

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Formas secundárias de energia - formas finais em que a energia é entregue ao consumidor
(gasolina, óleo diesel, óleo combustível, nafta, querosene, gás, coque, carvão vegetal, álcool,
eletricidade, dentre outras), obtidas a partir de fontes de energia primária em centros de
transformação : refinarias de petróleo, plantas de gás natural, usinas de gaseificação, coquerias,
destilarias, carvoarias, por exemplo.

Fotossíntese - assimilação da energia solar pela clorofila das folhas, transformando-a em matéria
orgânica, a biomassa.

Gerador elétrico - equipamento que transforma a energia mecânica em eletricidade.

Impacto ambiental - alteração do comportamento de um ecossistema ao longo do tempo,


provocada por uma perturbação externa, por exemplo um empreendimento (projeto, programa ou
plano) econômico : é definido como a diferença entre o estado futuro do ecossistema, em um dado
horizonte temporal, sem a existência da perturbação, e o seu estado futuro na presença da
perturbação.

Laminação contínua - processo de se reduzir a espessura de uma chapa (de metal como o aço,
por exemplo), produzindo lâminas, de forma contínua, imediatamente após a produção da chapa,
sem interrupção, evitando que o material se resfrie e depois deva ser aquecido novamente para
ser trabalhado, o que envolveria um gasto maior de energia.

Leito fluidizado - espaço de confinamento de partículas sólidas em suspensão no ar (ou oxigênio)


para sua queima ou transformação em gás, onde se injeta um combustível (carvão, por exemplo)
pulverizado.

Lingotamento - transformação de metal fundido (aço líquido, por exemplo) em barras (lingotes).

Lixiviação - efeito de liberação dos sais contidos em certas substâncias, produzido, por exemplo,
pela lavagem do solo pelas águas das chuvas.

Máquina térmica - qualquer máquina que processa uma transformação de energia em calor.

Núcleos atômicos instáveis - núcleos de átomos que tendem naturalmente a se transformar em


outros, não ocorrendo de forma estável na natureza.

Precipitador eletrostático - equipamento que elimina partículas poluentes em suspensão no ar,


depositando-as através da atração de um campo eletrostático.

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Radiação eletromagnética - energia radiante, que pode ser a luz visível ou ondas ultra-violetas e
infra-vermelhas.

Recurso natural renovável - recurso que continua sendo gerado na natureza em um ritmo
semelhante ao de sua utilização pelo Homem.

Recurso natural não-renovável - recurso finito, formado na natureza mas que não se renova em
um ritmo semelhante ao de sua utilização pelo Homem.

Refinaria - unidade de processamento do petróleo, para produção de seus derivados, como a


gasolina, o óleo diesel, o óleo combustível, a nafta, entre outros, através de reações químicas
propiciadas pelo calor e elementos catalisadores.

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