Onda Senoidal

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Onda Senoidal

Introdução
As formas geométricas das ondas, em particular a retangular e a triangular, já
nossas conhecidas de textos anteriores, foram postas com o objetivo de
ilustrar determinados princípios. Porém, simples como possam parecer tais
ondas, o emprego de qualquer uma delas como norma, complicaria a
matemática e a prática das correntes alternadas. Todavia, essas ondas não
são encontradas comumente no dia-a-dia; nenhuma delas está de acordo com
nossa idéia corriqueira de onda, já que a temos em vista como uma curva
contínua.
Porém, algumas curvas, ainda que contínuas como as queremos, podem
apresentar diferentes formas, pelo que foi necessário escolher uma onda que
obedeça a uma lei matemática. A norma que se usa baseia-se em uma das
funções trigonométricas fundamentais, a saber, o seno de um ângulo. A curva
senoidal é o gráfico do seno de um ângulo (em geral expresso em radianos)
traçada em função do ângulo; qualquer onda dessa forma é denominada de
senoidal, senóide ou ainda sinusóide. A função em questão é então do tipo:

y = sen x
ou na sua forma, mais geral,
y = a.sen(x + b)

onde y é a função senoidal, x o ângulo em radianos, sendo a e b constantes


em relação a x.

A curva senoidal tem numerosas aplicações. São exemplos os muitos


sistemas mecânicos oscilatórios --- o sistema massa-mola, o diapasão, o
pêndulo simples --- onde o movimento é 'harmônico simples', ou seja, onde o
gráfico do deslocamento, quando traçado tomando-se o tempo como variável
independente, dá como resultado uma senóide.

Nesse presente texto investigaremos a aplicação da curva do seno para as


grandezas alternantes. Destacaremos suas vantagens particulares para esse
propósito, ainda que algumas serão melhor apreciadas ao longo do
amadurecimento do aprendizado.

A curva senoidal
Qualquer livro de tabelas matemáticas inclui os valores dos senos naturais
para ângulos até 90o. Uma calculadora científica, mesmo as mais simples, dá
diretamente o valor do seno de um ângulo até com 9 casas decimais; esses
valores podem ser empregados para traçar a curva. Na ausência de tabelas e
calculadoras ainda poderemos traçar uma curva aproximada se
memorizarmos os seguintes valores: sen 0o = 0; sen 30o = 0,50; sen 60o =
0,86 e sen 90o = 1.

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Todavia, será bem mais instrutivo nesta etapa inicial desenvolver a curva
senoidal mais simples, dada pela função y = sen θ, através da técnica
indicada na ilustração abaixo, onde se usa da idéia de 'raio girante':

O raio r da circunferência ABCD inicia seu movimento de rotação em torno de


O, a partir da posição OA, girando em sentido anti-horário. Na posição
ilustrada acima, o raio está deslocado do ângulo θ e o sen θ fica definido pela
relação (razão) entre a perpendicular p e o raio r. Todavia, se r é tomado
como a unidade de medida linear, resultará que p será numericamente igual a
sen θ e poderá ser projetado para obter um ponto da curva, como se ilustra
acima, à direita da circunferência. Outros pontos poderão ser obtidos de modo
semelhante, girando r sempre no sentido anti-horário.
O ângulo θ não precisa, necessariamente, ser medido em "graus"; como boa
alternativa, a linha base (eixo das abscissas, no gráfico) pode exibir medidas
circulares, como é o caso do "radiano", como se indica na ilustração. Sabemos
que 2π radianos corresponde a 360o, logo 1 rad = 360o/2π 2π = ~57,3o. Vale
lembrar: 0o = 0 rad; 30o = π/6 rad; 60o = π/3 rad; 90o = π/2 rad; 180o = π rad;
270o = 3ππ/2 rad; etc.

O uso do radiano para a medida de ângulo, além de ser a unidade oficial do


Sistema Internacional, tem a vantagem de simplificar muitas fórmulas de C.A.

Gerando um f.e.m. senoidal


Em princípio é bastante simples produzir uma f.e.m. que siga a lei dos senos;
tudo que se necessita é fazer girar um quadro de fio, ou uma bobina, à
velocidade constante, em um campo magnético uniforme, ainda que, como
veremos depois, existem certas dificuldades para a aplicação desse princípio
básico aos alternadores práticos.

Por simplicidade, representamos apenas um único condutor na ilustração


abaixo (x), deslocando-se desde A até a posição definida pelo ângulo θ e
cortando obliquamente as linhas do campo de indução B, no vácuo ou ar.

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A velocidade tangencial V, pode ser decomposta em dois componentes
ortogonais u e v, um paralelo e outro perpendicular ao campo de indução B,
de modo que, pela geometria da figura, podemos escrever para seus módulos:
u = V.cos θ e v = V.sen θ. O componente v determina a rapidez com que o
condutor corta as linhas de indução do campo e, portanto, é a velocidade que
interessa no equacionamento da f.e.m. instantânea gerada no condutor móvel.
Sabemos, do eletromagnetismo, que a f.e.m. gerada num condutor de
comprimento L que se desloca com velocidade v perpendicularmente às linhas
de indução de um campo cuja densidade de fluxo é B é expressa por:

E = B.L.v

com B em tesla (T), L em metros (m) e v em metros por segundo (m/s), E


resultará em volts (V).

Essa expressão pode ser usada para a f.e.m. instantânea (e) induzida no
nosso condutor móvel (x), simplesmente substituindo-se v por Vsen θ:

e = B.L.V.sen θ

Nessa expressão, BLV representa a f.e.m. máxima (valor de pico), Emáx., de


modo que:

e = Emáx.sen θ

Esta é a expressão básica para uma f.e.m. senoidal, independente do modo


como foi gerada; pode também ser empregada para representar outras
grandezas senoidais, como a intensidade de corrente alternada por exemplo,
substituindo-se os símbolos apropriadamente.

Freqüência angular (ω)


Suponha que o condutor (x) ilustrado acima execute f revoluções por segundo.

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Assim, f é a freqüência e, posto que gira de 360o (ou 2π rad) em cada volta,
sua velocidade angular (o total de ângulo que descreve em cada segundo)
será 360.f. O valor de θ em graus, vale então 360.f.t, onde t é o tempo em
segundos transcorridos desde o início do movimento em A ou,
simbolicamente: θ = 360.f.t .

Se θ for medido em radianos, na expressão acima basta substituir 360 por 2π


e teremos: θ = 2π.f.t
2π , onde 2π.f
2π é a velocidade angular do condutor em
radianos por segundo. A quantidade 2π.f
2π aparece freqüentemente nas
fórmulas de C.A., baseadas em grandezas senoidais; foi atribuído o nome
especial de freqüência angular à essa velocidade angular e indica-se com a
letra ω (letra grega minúscula 'omega').
A equação fundamental poderá ser escrita então:

e = Emáx.sen ωt

Exemplo 1: Uma bobina quadrada de 100 mm de lado e com 250 espiras gira
à razão de 60 revoluções por segundo, com seu eixo perpendicular a um
campo magnético uniforme, cuja densidade de fluxo é de 40 militeslas. A
bobina parte da posição de fluxo concatenado nulo (θ θ = 0o)
Calcular:
(a) a f.e.m. máxima induzida (Emáx.);
(b) a f.e.m. instantânea quando a bobina descreveu ângulo θ = 1 radiano (e1);
(c) a f.e.m. média (Em);
ω);
(d) a freqüência angular (ω
(e) instante no qual a bobina atinge pela primeira vez sua f.e.m. máxima
induzida.

Solução:
Ajustes para unidades coerentes: densidade de fluxo B = 40 mT = 0,04 T;
comprimento do lado da bobina c = 100 mm = 10 cm = 0,1 m; freqüência de
rotação da bobina f = 60 r.p.s. = 60 Hz; raio de giro da bobina r = c/2 = 0,05 m;
ângulo de giro θ = 1 radiano = 57,3o .

(a) A cada volta completa de uma espira da bobina, temos dois comprimentos
c ativos, logo o comprimento efetivo do condutor da bobina será L = 2.c.250 =
2 . 0,1 . 250 = 50 m.
π.f.r = 2 . 3,14 . 60 .
Velocidade tangencial do condutor periférico V = 2.π
0,05 = 18,84 m/s.
F.e.m. máxima induzida Emáx.= B.L.V = 0,04 . 50 . 18,84 = 37,68 volts
Resposta (a): Emáx. = 37,68 volts

(b) sen(57,3o) = 0,8415 (obtido pela calculadora ou tabela trigonométrica)


θ = 37,68 . 0,8415 = 31,7 volts
F.e.m. instantânea e1 = Emáx..senθ
Resposta (b): e1 = 31,7 volts

(c) área da bobina quadrada A = c2 = 0,12 = 0,01 m2


fluxo máximo concatenado com a 1 espira φmáx.esp. = B.A = 0,04 . 0,01 =
0,0004 weber = 0,0004 Wb

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fluxo máximo concatenado com a bobina de n = 250 espiras φmáx.bob. =
φmáx.esp. = 250 . 0,0004 = 0,1 Wb por revolução.
n.φ
A variação de fluxo, desde zero até seu valor máximo e de máximo até o
retorno a zero, ocorre 2 vezes para cada meia-revolução, donde a variação
total ∆φ = 2 . 2 . 0,1 = 0,4 Wb a cada volta completa, ou seja, durante o
intervalo de tempo ∆t = 1 período = 1/f = 1/60 s.
A f.e.m. média induzida, em cada período, será (lei de Faraday): Em = ∆φ/∆
∆φ ∆t
= 0,4/(1/60) = 0,4 . 60 = 24 volts.
Resposta (c): Em = 24 volts

(d) freqüência angular ω = 2π


πf = 2 . 3,14.60 = 376,8 rad/s .
Resposta (d): ω = 376,8 rad/s

(e) A primeira f.e.m. máxima induzida ocorrerá quando o fluxo também for
máximo pela primeira vez, ou seja, após o primeiro quarto de volta (90o). Em
outras palavras, ao completar o primeiro quarto de período, logo, t = T/4 =
(1/f)/4 = 1/4f = 1/4.60 = 1/240 = 0,004 s.
Outro modo de ver isso é escrever a equação geral da f.e.m. induzida: e =
Emáx..sen(2π πf.t) e determinar para que valores de t a f.e.m. torna-se igual à
Emáx.; logo Emáx. = Emáx..sen(2π π.60.t) ou sen(120ππ.t) = 1. Assim, a equação é
satisfeita para 120π π.t = k.π
π/2 , com k inteiro. Simplificando, 120.t = k/2. O
menor dos k, positivo, é 1, logo: t = 1/240 = 0,004 s.
Resposta (e): t = 0,004 s

Propriedades de uma onda senoidal


As relações entre os valores máximo, médio e rms, já são nossas conhecidas;
agora devemos especificá-los para a onda senoidal. Podemos estimar valores
aproximados pelo método da ordenada média, como visto anteriormente,
porém, tendo-se em conta a importância da onda senoidal convém partirmos
para a obtenção de relações mais exatas.
Isso pode ser feito facilmente por meio do cálculo ou pela interpretação de
certas equações trigonométricas; aqui, no escopo desse texto, nos
contentaremos com provas geométricas simples, todas elas baseadas na
revolução de um condutor em um campo magnético uniforme. Ainda que
estabelecidas para as f.e.m(s), essas relações se aplicam igualmente à
intensidade de corrente e outras grandezas senoidais.
Importante: Referindo-nos ainda à ilustração acima, vale salientar que: a f.e.m.
instantânea é proporcional a v e a f.e.m. máxima é proporcional a V, pelo que
será suficiente determinar o valor médio e o rms da primeira velocidade em
termos da segunda.

Valor médio
Na ilustração a seguir, parte da figura anterior, destacamos que o ponto P,
projeção do condutor sobre o diâmetro AC, move-se com velocidade variável v
. Se você examinar bem a geometria da figura e notar que o eixo AC está
orientado positivamente de C para A, perceberá que devemos ter v = - V.senθ θ,
com o condutor na posição da ilustração. Mas, vamos por outro caminho:

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O tempo necessário para que esse ponto P percorra o diâmetro de A para C é
igual ao tempo que o condutor necessita para percorrer a semicircunferência
ABC, com velocidade tangencial constante V. Porém, o diâmetro AC em
questão vale somente 2/ππ da semicircunferência, pelo que o valor de v é, em
média, somente 2/ππ do valor de V [veja o destaque Importante acima].
Aplicando-se isso para a f.e.m. teremos:

π).Emáx.= 0,637.Emáx.
Em= (2/π

Essa relação é válida para todas as grandezas senoidais e para a curva do


seno; por exemplo, poderia ter sido empregada para resolver o item (c) do
exemplo 1 acima, usando o resultado do item (a). Observe: no item (a)
obtivemos [ Emáx.= 37,68 volts] , logo para resolver o item (c) bastaria fazer [
Em = 0,637.Emáx.= 0,637 . 37,68 = 24 volts ].

Valor quadrático médio (rms)


Neste caso, será necessário, primeiro, determinar o valor quadrático médio, ou
seja, o valor médio de v2 , em termos de V.
Na ilustração acima, aplicando-se o teorema de Pitágoras ao triângulo das
velocidades v, u e V teremos:

v2 + u2 = V2 = constante

Então: valor médio de v2 + valor médio de u2 = V2 = constante


(*)

Porém, a menos do sentido, u sofre as mesmas variações no segundo


quadrante que sofre a v no primeiro quadrante, e vice-versa; assim, tomando-
se sobre meia-revolução (meio período) teremos:

valor médio de v2 = valor médio de u2

Substituindo-se essa identidade na expressão acima (*):

2 x valor médio de v2 = V2
valor médio de v2 = V2/2 ... <=== a raiz quadrada disso será o rms!

ou seja, valor quadrático médio de v = rms de v = raiz quadrada(V2/2) = V/(raiz


quadrada de 2).

Donde se infere que o valor quadrático médio da f.e.m. (Erms) será:

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Erms = [1/(raiz quadrada de 2)].Em = 0,707.Em

Novamente, esta relação é válida para a curva senoidal e todas as senóides.


Deve-se notar que o valor médio de v2 é a metade de V2, pelo que o valor
médio de e2, será também a metade de (Emáx.)2 ; para a curva senóide (y =
θ), em si mesmo, o valor médio de sen2θ é 1/2 = 0,5.
senθ

Fator de forma
Define-se como fator de forma a razão entre o valor quadrático médio (rms) e
o valor médio de uma grandeza alternada; para a f.e.m., teremos, portanto:

fator de forma = Erms/Em = 0,707.Emáx./0,637.Emáx. = 1,11

Fator de pico
Define-se como fator de pico a razão entre o valor máximo e o valor
quadrático médio (rms) de uma grandeza alternada; para a f.e.m., teremos,
portanto:

fator de pico = Emáx./Erms = Emáx./0,707.Emáx.= 1,414

Velocidade ou rapidez de variação


É outra propriedade importante de uma senóide e conseqüentemente das
grandezas alternadas como tensão elétrica, intensidade de corrente elétrica
etc. Vamos nos concentrar na conceituação da rapidez da variação da tensão
alternada em volts por segundo, ao longo de um ciclo (um período).
Novamente nos ateremos ao condutor girando com velocidade angular
constante no campo magnético uniforme, analisando sua projeção P no
diâmetro AC. Já sabemos que sua velocidade instantânea (v) varia
senoidalmente, produzindo a f.e.m. senoidal; queremos saber agora com que
rapidez varia essa velocidade, ou seja, sua aceleração através das linhas de
campo.
Se o texto se destinasse ao nível superior, a tarefa seria simples, bastaria
dizer que essa aceleração é simplesmente a segunda derivada da função e =
Emáx..senωω.t em relação ao tempo. Todavia, estamos nos esforçando para
evitar a matemática superior e, não vamos 'mudar a regra do jogo' agora.
Continuemos.

Conforme o condutor se movimenta em uma trajetória circular com velocidade


tangencial V, de módulo (valor) constante, sua aceleração radial também tem
módulo (valor) constante, porém sua direção varia de ponto a ponto, sempre
com sentido orientado para o eixo de rotação; trata-se, portanto, de uma
aceleração centrípeta. Na ilustração abaixo essa aceleração centrípeta se
representa por A e mostra também seus componentes retangulares, dos quais
destacamos a parcela vetorial a que é justamente a aceleração do ponto P. A
geometria da figura mostra claramente que : a = A.cosθθ.

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O valor (módulo) de A é constante, mas a aceleração transversal a é
proporcional ao cosseno de θ . Assim, se infere que a rapidez de variação de
uma grandeza senoidal (que é proporcional a senθ θ ), pode ser representada
por uma curva cujos valores são proporcionais a cossenoθ θ . é o que
mostramos abaixo:

A curva cossenoidal (verde) mostrada na figura acima é a própria curva


senoidal (azul) deslocada para a esquerda de 90o ; a curva dos cossenos tem
a mesma forma da curva dos senos e, portanto, é uma senóide. Isso significa
que a rapidez de variação de uma grandeza senoidal é também senoidal. A
recíproca também é verdadeira, se a rapidez de variação de uma grandeza é
senoidal, a própria grandeza também deve ser senoidal; nenhuma outra curva
periódica possui uma propriedade semelhante.

Curva do quadrado do seno


Como já notamos acima, o valor quadrático médio (rms) requer o
conhecimento do valor médio do sen2θ, e isso pode ser representado por uma
curva, como veremos a seguir.

A ilustração abaixo foi obtida elevando-se ao quadrado os valores dos senos


de vários ângulos desde 0 até 360o. Na figura, os ângulos θ são indicados por
x.

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Ao contrário da curva dos senos (y = sen x), essa nova curva encontra-se
completamente acima da linha de base (eixo x), porque o quadrado de um
número sempre é positivo, independente de seu sinal. Além disso, os valores
do seno ao quadrado de θ são, no geral, menores que os os valores do seno
de θ, porque esse último é sempre menor que a unidade.

Como já mencionamos, o valor médio de sen2θ é 1/2 = 0,5, que também está
indicado na figura acima. Pode-se observar claramente que a curva sen2θ
(preenchida para dar destaque) é simétrica em relação ao seu valor médio e
que flutua em torno desse valor médio com o dobro da freqüência da curva
original sen θ, sendo também uma senóide (*); além disso, repare que se
'cortarmos' suas cristas, essas partes preencherão perfeitamente seus vales.

(*) Nota matemática: Isso dito acima, resulta da identidade trigonométrica


sen2θ = 1/2 - (1/2).cos2θ
θ . Neste caso, a constante 1/2 representa o
deslocamento para cima do eixo horizontal (translação de eixos) e, com essa
nova linha de base, a curva fica representada por -(1/2).cos2θ θ, sendo portanto
de forma senoidal.

Superposição de curvas senoidais


Quando duas f.e.m.(s) ou duas intensidades de corrente se superpõem num
circuito C.C., a resultante será sempre sua soma algébrica. Assim, uma pilha
de f.e.m. 2 V e uma outra de f.e.m. 1,5 V poderão ser conectadas em série e
concordância para se obter 3,5 V ou em série e oposição para se obter 0,5 V,
porém, não será possível nenhum outro valor.
Duas f.e.m.(s) alternadas, senoidais, também poderão ser superpostas do
modo acima descrito, sempre que tenham a mesma freqüência e passem
simultaneamente por seus valores 'zero' e 'máximo'. Essas associações em
concordância e oposição de curvas senoidais de mesma freqüência são
representadas abaixo.

JOSUÉ PETERSON MACEDO DE OLIVEIRA Página 9


Na ilustração superior, as f.e.m.(s) E1 e E2 de dois alternadores ligados em
série, estão em concordância de fase entre si e se superpõem para produzir a
f.e.m. resultante E, igual à sua soma algébrica em cada ponto definido pelo
ângulo de giro no ciclo.
A fase de uma dessas f.e.m.(s), digamos a E2, pode ser invertida se trocarmos
as conexões, como se indica na ilustração inferior do quadro acima. As
f.e.m.(s) estarão agora em oposição de fases (ou, em contra-fase, como
também se diz) e a superposição delas produz a resultante E, igual à soma
algébrica em cada ponto. Assim, no ponto definido pelo ângulo de 90o, por
exemplo, teremos E1 = + 2 V e E2 = - 1 V, dos quais resulta E = E1 + E2 =
(+2V) + (-1V) = + 1 V.

Esse exemplo descrito acima é, sem dúvida, um caso especial de


superposição de duas f.e.m.(s) para circuitos de C.A. Suponhamos que as
f.e.m.(s) não estão nem em fase, nem em contra-fase ou oposição; qual será
então o valor da resultante?
Dependendo das relações de fases entre as duas f.e.m.(s), a resultante
poderá assumir qualquer valor contido entre sua soma e sua diferença. Uma
JOSUÉ PETERSON MACEDO DE OLIVEIRA Página 10
situação dessas possibilidades está ilustrada abaixo, os as f.e.m.(s)
apresentam uma diferença de fase dada pelo ângulo φ (letra grega, minúscula,
fi). Este ângulo, medido em graus ou em radianos, entre as posições
correspondentes, se denomina diferença de fase ou ângulo de defasagem.

A primeira f.e.m. que passa por seu valor 'zero' ou seu valor 'máximo' se diz
que está adiantada ou que está adiante da outra (caso da E1,no exemplo
ilustrado acima), a qual, por sua vez se diz que está atrasada ou que está
atrás em relação à primeira; na ilustração, E1 está 30o adiante de E2, ou E2
está 30o atrás de E1.
Existe, sim, o perigo de confundir-se, porque à primeira vista parece que E2
está adiante de E1, olhando da esquerda para a direita. Todavia, não são as
curvas que se movem, nós (observadores) é que devemos, imaginariamente,
percorrer a linha de base da esquerda para a direita e observar os eventos
que têm lugar.
Como podemos observar na ilustração acima, onde usamos a letra 'y' para
representar as f.e.m.(s) e 'x' para representar o ângulo θ, as curvas são
gráficos das seguintes equações:

θ
e1 = E1máx..senθ e θ - φ)
e2 = E2máx..sen(θ
ou, ωt
e1 = E1máx..senω e ωt - φ)
e2 = E2máx..sen(ω

O sinal "-" indica que a segunda f.e.m. está atrás da primeira. A curva da
f.e.m. resultante E pode ser obtida somando-se algebricamente as ordenadas
das curvas que se superpõem (componentes). A seguir, seu valor máximo
pode ser medido e seu valor quadrático médio (rms) pode ser calculado; além
disso, sua relação de fase com qualquer das componentes pode ser lido ao
longo da linha de base.

Esse processo acima descrito é demorado e tedioso; seria interessante


procurar uma técnica mais rápida e simples para resolver tais questões ---

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felizmente tal método existe! E tem um nome pomposo: vetores girantes de
Fresnel, por vezes simplificado, simplesmente, para fasores.

Fasores = vetores girantes de Fresnel


Vimos, na Parte 1 desse trabalho, como um círculo de raio unitário (r = 1)
pode ser utilizado para desenvolver uma curva senoidal; e, se assumirmos
que tal raio represente o valor máximo de uma f.e.m. ou de uma corrente
senoidal, a sua curva característica pode ser construída. Assim, tudo de que
se necessita para especificar uma grandeza senoidal e seu desenvolvimento
quer em relação ao ângulo, quer em relação ao tempo é traçar um segmento
orientado (segmento de reta dotado de uma seta de orientação) em uma
escala apropriada e fazê-lo girar ao redor de um eixo perpendicular à sua
direção, passando pela sua extremidade. Nada além de um 'vetor girante'
(agora chamado de 'fasor'), como o foi introduzido por Fresnel. Eis um visual:

No geral, uma grandeza vetorial, como são exemplos a força, a velocidade, a


aceleração etc., apresentam três características importantes, a saber: um
módulo ou valor (medida da grandeza), uma direção e um sentido. O vetor que
representa tal grandeza pode ser traçado numa escala conveniente para
indicar seu módulo.
As coisas também ocorrem assim em relação ao vetor elétrico ou fasor. Neste
caso, sua direção é fixada por uma fase particular do ciclo, como se
representa acima. Na superposição de grandezas elétricas de mesma espécie
[f.e.m.(s), por exemplo], teremos distintos fasores em um mesmo diagrama e é
importante que se indique a defasagem correta entre eles, isto é, se a
diferença de fase entre as duas grandezas é de 60o, seus fasores devem ser
desenhados com uma separação angular de 60o.

Adição geométrica de fasores


A resultante de duas forças concorrentes ou de duas velocidades, como
sabemos, é dada pela "regra do paralelogramo", ou seja, a diagonal do
paralelogramo traçado, usando como lados adjacentes os vetores dado, é a
representação, na mesma escala, da sua resultante. A pergunta básica é:
esse princípio bem conhecido se aplica também aos fasores de correntes e
aos de f.e.m.(s)?

A ilustração a seguir é um diagrama de fasores, em escala, representando as


f.e.m.(s) componentes e defasadas de φ = 30o (é exatamente o caso da
terceira figura desse trabalho).

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O fasor E1máx. representa, em escala, o valor máximo de E1, colocado fazendo
um ângulo θ com a horizontal; o outro fasor E2máx. está desenhado atrasado
com um ângulo de diferença de fase igual a φ. Assim, construímos o
paralelogramo e desenhamos sua diagonal.
Para comprovar que, na realidade, a diagonal representa a f.e.m. resultante E,
deveremos mostrar que na posição (ou tempo) considerado, a f.e.m.
instantânea e é soma algébrica dos valores instantâneos de e1 e de e2. E é
exatamente o que o diagrama mostra, somando-se algebricamente as
projeções e1 e e2. Incidentalmente a ilustração mostra algo bem importante: o
fato da f.e.m. poder ser representada por um fasor (E), demonstra que ela
própria é uma curva senoidal!

Se o diagrama for construído, como se faz geralmente, não para avaliar


valores instantâneos, senão apenas com o propósito de obter o valor da
resultante de duas grandezas senoidais, a orientação do paralelogramo não
tem importância alguma e é isso que mostramos na ilustração acima, em (b).

Existe ainda outra simplificação. O diagrama de fasores é muitas vezes


solicitado para superpor valores quadráticos médios [rms(s)] de f.e.m.(s) ou de
correntes. Estritamente, esses rms(s) devem ser convertidos a seus valores
máximos, antes de desenhar o paralelogramo, e a seguir, o valor máximo da
resultante deve ser re-convertido para seu rms. Uma trabalheira!
Com o objetivo de evitar essas sucessivas conversões, é costume (como foi
feito na figura acima) representar diretamente seus rms(s). Escolher o valor
máximo da grandeza senoidal ou seu rms para desenhar a figura dependerá
apenas do uso que se deva dar ao resultado da superposição.

Exemplo 2
A resultante de duas correntes senoidais tem valor de 5 ampères. Se uma das
componentes vale 3 ampères, estando 30o atrás da resultante, determinar o
valor da outra componente e sua relação de fase com a resultante.

Solução:
A corrente resultante de 5 A é utilizada como fator de referência, como se
ilustra abaixo, e o componente de 3 A está desenhado com atraso de 30o.
Completa-se então o paralelogramo (traçando as paralelas que faltam;

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tracejadas, na ilustração) para obter a corrente que falta (em vermelho) e seu
ângulo f com respeito à resultante.

Nota: Um método alternativo consiste em 'inverter' o fasor de 3 A (ou seja,


construir o fasor oposto daquele que representa os 3 A) e adicioná-lo
geometricamente (regra do paralelogramo) com o fasor de 5A, para obter o
fasor procurado. Isso se baseia na subtração vetorial onde, subtrair o vetor b
do vetor a (efetuar a - b) nada mais é que somar geometricamente ao vetor a
o vetor oposto de b, que se indica por -b, ou seja: a - b = a + (-b).

Ondas não senoidais


As condições nos alternadores práticos diferem consideravelmente daquelas
de um condutor ou uma bobina girando em um campo magnético uniforme. Na
realidade, por exemplo, o fluxo polar corta os condutores 'mais ou menos' em
ângulo reto e o próprio fluxo em si não está uniformemente distribuído devido
à presença das ranhuras. Ainda que o projetista empregue vários recursos
para obter uma onda que se aproxime da senoidal, ou pelo menos uma com
mesmo fator de forma, poderá obter uma distorção considerável.
Também nos transformadores, continuando a exemplificar, a tensão de saída
pode estar distorcida devido aos efeitos de histerese no núcleo e à variação
na permeabilidade do ferro no decorrer do ciclo magnético.

Ainda que o fornecimento de tensão seja senoidal, a corrente desenvolvida


não o será, necessariamente. Uma lâmpada fluorescente conduz somente
quando a tensão instantânea excede um certo valor e ainda existira uma
distorção posterior devido à variação na resistência dos gás ionizado. Assim,
nos circuitos de C.A., deveremos estar preparados para encontrar ondas ---
particularmente de correntes --- que se afastam da ideal. A teoria das ondas
senoidais, como discorremos nesse texto, não pode ser aplicada diretamente
em tais casos, porém será útil se as ondas puderem ser decompostas em
seus componentes senoidais. E é isso que veremos.

Harmônicos
Existe um teorema, chamado de Fourier, que nos diz que qualquer onda
periódica completa pode ser considerada como constituída de duas ou mais
das seguintes ondas senoidais:

(i) uma onda fundamental da mesma freqüência que a onda complexa.


(ii) ondas harmônicas cuja freqüência seja 2, 3, 4, ... etc. vezes a freqüência
fundamental.

Exemplos disso ocorrem fartamente em música. Um diapasão vibra com


movimento harmônico simples (em primeira aproximação) e produz no ar uma
onda sonora sinusoidal. O tom da nota emitida, dependente da geometria do

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diapasão, pode ser o Dó médio, com 256 Hz. Este som produzido é 'seco' e
até 'desagradável', segundo nos informa os 'ouvidos bem apurados' dos
mestres na arte.
Um instrumento musical, ou mesmo a voz humana, também poderá produzir
uma nota dessa mesma freqüência mas, sem dúvida, a onda não será
senoidal! Mesmo um ouvido não apurado discernirá o som emitido pelo
diapasão daquele emitido pelo instrumento ou da voz humana. Essa onda
produzida pelo instrumento conterá aquela freqüência de 256 Hz e diversos
harmônicos, de modo que a onda resultante apresenta um 'timbre' totalmente
diferente daquele do diapasão. A onda resultante nada tem de aspecto
senoidal! As fontes produtoras do som são diferentes.

Harmônicos na onda de C.A.


O teorema de Fourier se aplica também às ondas de C.A., que podem ser
consideradas, portanto, como formadas por uma onda fundamental e uma ou
mais ondas harmônicas. Para muitos propósitos, estes componentes se
comportam como se existissem 'em separado', dando-nos então a vantagem
de se poder aplicar a teoria fundamental das ondas senoidais sucessivamente
a tais componentes. Os componentes podem ser medidos com instrumentos
especiais ou, se conhecemos a priori a forma de onda, podem ser calculados
mediante processo matemático denominado análise harmônica. Ainda que a
dificuldade de tais processos escapem ao teor desse texto (não queremos nos
aprofundar usando da matemática superior), é vantajoso examinar alguns
casos simples com o objetivo de entender como as harmônicas afetam a
forma de onda.

As formas de onda resultante, nas ilustrações a seguir, foram obtidas por


soma algébrica das ordenadas de uma onda fundamental (usei y = 2.senx)
com uma ou mais de suas harmônica (Hi).

Fundamental + segundo harmônico


É costume expressar a harmônica como uma percentagem da fundamental.
Nesta primeira ilustração adotou-se o valor alto de 20% apenas com o objetivo
de ressaltar seu efeito. Ainda nesta ilustração, por simplicidade, se considera
que a harmônica passa por zero no mesmo instante que a fundamental, ainda
que isto não ocorra, necessariamente, em muitos casos práticos.

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Observe que o segundo harmônico foi tomado como positivo com relação à
fundamental ao iniciar seu primeiro período. Ao iniciar seu segundo período o
segundo harmônico ainda é positivo ainda que a fundamental seja agora
negativa. Deste modo, os dois semiciclos da onda resultante têm formas
diferentes e uma delas não é imagem especular da outra, ou seja, invertendo-
se o primeiro semiciclo ele não será superponível ao segundo semiciclo, por
simples translações. Isto exclui o segundo harmônico e todos os harmônicos
de ordem par das formas de ondas originadas nos alternadores (este é um
requisito básico!).

Fundamental + terceiro harmônico


As coisas são diferentes com o terceiro harmônico, como veremos a seguir.
Ilustremos a superposição:

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Aqui o harmônico se inverte três vezes enquanto que a fundamental se inverte
uma vez, portanto ambas iniciam juntas o segundo semiciclo como o fizeram
no primeiro. A onda resultante tem simetria especular (o inverso do primeiro
semiciclo é superponível ao segundo semiciclo por simples translação) e isto
se estende quando estão presente os harmônicos ímpares. O terceiro
harmônico é a harmônica, no geral, mais provável nas ondas de C.A. e,
harmônicas ímpares superiores, quando ocorrem, são geralmente de
amplitudes decrescentes.

A fase do movimento harmônico simples pode ter efeito considerável na forma


de onda resultante. Assim, se o terceiro harmônico na ilustração acima tiver
deslocamento de fase em relação à fundamental, a forma da onda resultante
apresentará sérias modificações. Se a onda harmônica se inverte (adiantada
de 180º --- ilustração à direita) a onda resultante deve ter um pico em lugar de
achatamento com cavidade.

Fundamental + vários harmônicos

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Uma aplicação das harmônicas é seu emprego na determinação do valor
r.m.s. Cada componente da onda resultante produz seu próprio aquecimento
proporcional a seu valor quadrático médio, sendo o efeito total de aquecimento
igual ao da onda resultante. Por esta razão o valor r.m.s. da onda resultante é
dado pela seguinte expressão:

onde os símbolos representam os valores rms da onda fundamental e das


harmônicas.

Vantagens da onda senoidal


Concluiremos este trabalho relativo à curva senoidal com um resumo de suas
principais vantagens:

1- A onda senoidal é a forma periódica mais simples possível, posto que não
pode ser decomposta em componentes mais simples que ela mesmo.
2- Por outro lado, qualquer onda periódica pode ser analisada em suas
componentes senoidais.
3- A rapidez com que se modifica uma grandeza senoidal é também senoidal
(derivada).
4- Quando se combinam várias curvas senoidais de mesma frequência,
produz sempre outras curvas senoidais.
5- Uma grandeza senoidal pode ser representada por um fasor e duas ou mais
senoidais de mesma frequência podem ser combinadas por adição de seus
fasores.

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