ACabrita Toponimos
ACabrita Toponimos
ACabrita Toponimos
HENRIQUE CABRITA
LHA~
subsdios para 0 estudo cbs ongens cbs lopOnnDs cbconcero
NOTA DE ABERTURA
Antonio Henrique Cabrita nasceu em Olhiio a 20 de Dezembro de /913. Depois de completar, com brilho, 0 curso secunddrio no Liceu de Faro, [requentou a Facu/dade de Letras do Universidade de Lisboa, niio tendo concluido a curso por motivos alheios a sua vontade,
Desde multo cedo, porem, revelou uma decidida VOCQ{:DO para as problemas da linguagem sendo, sem sombra de duvidas, um. dos maiores vultos intelectuais olhanenses da sua geraciio. Mais: ele e 0 maior lil6/ogo e etimologista que OIMo jamais tera produzido, pais desenvolvendo e aumentando os seus estudos e alargando as silas investigaciies, conseguiu conhecimentos profundos sobre a materia, do que e claro exemplo 0 presente trabalho.
Considerado lima autoridade em assuntos [ilologicos, mesmo IIOS meios do especialidade, tern igualmente coiaborado, 116. muitos anos, em varios jornais e revistas, por eles deixando espalhados inumeros estudos au simples «apontamentos», todos eles de real merito e inegavel valia. E, entre eles, niio siio ilos menos voliosos os que dedicou 00 lao caracterlsttco e curioso «[alar» do povo olhanense, dos mais ricos e originais que e possivel encontrar nos povos de lingua portuguese e que ninguem, ale ho]e, estudou como A II10nio Henrique Cabrita 0 [ez.
Socia [undador da prestigiosa e prestimosa «Sociedade de Lingua Portuguese», que sucedeu a «Teruilia da Recta-Prontincia» (que tambem ajudou a [undar), outre face/a lid 110 sua vida, ha;e totalmente esquecida, e que merece ser devidamente realcada. Re[erimo-nos a sua actividade desportiva. Foi dos mais destacados nadadores algaTVios de todos os tempos, campeiio incontestado e incontestavel do Algarve, IIOS primeiros anos do decada de 30. E, importante pormenor do sua carreira desportiva, conseguiu aliar o util ao agradtivel, pais as suas enormes [aculdades de nadador permitiram-lbe arrancar aos perigos do mar muitas vidas, algumas delas em circunsttincias particularmente dificeis. [actos a que toda a imprensa de entiio deu 0 merecido relevo, tendo por isso sido condecorado e louvado varias lIezes.
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Tambem nos meios [ilologicos e lingulsticos tem Ant6nio Henrique Cabrita sido alvo de algumas reierencias elogiosas que provam 0 merito e 0 valor dos seus trabalhos, destacando-se, de entre etas, a que nao hd muito tempo lhe [oi prestada pela Faeuldade de Letras da Universidade de Coimbra, na palavra do ilustre catedratieo Doutor Manuel de Paiva Boleo, professor de Filologia Partuguesa naquela Faeuldade.
Trata-se de um olhanense que tern sabido honrar e dignifiear a sua terra, quer no campo intelectual, quer como desportista ..
Por isso a Camara Municipal de O/hiio lhe presta justa homenagem, 00 [azer editar, com todo 0 gosto, 0 seu livro «OLHAO - subsldios para 0 estudo das origens dos lopanimos do concelho».
A Camara Municipal de Olhao
A minha mulher e aos meus lilhos, os meus melhores amigos; a todos as meus conterriineos; e
aD Povo das quatro [reguesias do concelho de O/hiio.
Composro e i.m,presso nas oflclnas da Ernpresa LltogroUlca do Sui, S, A. R. L. Tel. 161 - Vila Real de Santo Ant6nlo 1.000 ex, J unho 1978
OLIIAO
Consubstanciado na pessoa de urn Amigo, com quem dialogava e trocava impressoes acerca do cpusculo «Toponfrnia Arabica no Algarve», do Dr. Jose Pedro Machado (e que, mais tarde, me facultou gentilmente os respectivos recortes), quis 0 acaso que tivessem cbegado ao rneu conhecimento, do is de uma serie de artigos sabre a origem de varies topcnimos algarvios, publicados, no «Correio do Sul», pelo Padre Jose Cabrita, norneadamente, os relacionados com Olhao e suas freguesias, vindos a lurne em 14-12-1972 e 11-1-1973.
Lidos com 0 maior interesse, e nao men ores cuidado e atencao, enfermarn os ditos trabalhos, a meu ver, de algumas deficiencies e incorreccoes, que procurarei cornentar e corrigir, E comecarei, naturalmente, pelo que se refere a OLHAO, por ser nao s6 a sede do concelho, eomo tambem (e talvez precisarnente par este facio) minha terra natal (e de onde, ao que suponho, 0 Padre Cabrita e igualmente natural).
Que fundamento tern 0 Padre Jose Cabrita para afirmar que, no portugues arcaico, 0 aumentativo de «olho» seria «olhonx ou «olhom»?
Na «Gramatica da Lingua Portuguesa», publicada, em 1540, por Jolio de Barros (autor, igualrnente, das «Decadas da Asia», e geralmente considerado 0 prirneiro e rnais antigo trabalho do genero editado sabre a nossa lingua, pode ter-se, no capitulo respective, 0 seguinte:
DO NOME AUMENTATIVO
«Bsta rnaneira de «nome aurnentativo» e contraria 11- de cima, porque ua diminui e outra acrescenta.
Deste nornes, Gregos e Latinos nao tratarn em suas Grarnaticas por os nao terem e casi todos terminam em «ani» e «az», como «mulheram),«cavalam», «velhacaz», «Iadravaz» e outros que sernpre siio ditos em desprezo e abatimento da pessoa a que OS atributrnos»,
Par seu turno, Augusto Moreno, em «Lic6es de Linguagern», vol. III, a pags, 160 e 161, ao responder a uma pergunta sobre diminutives, ensina, designadarnente no que concerne a «frangainho» e a «pintainho», «que provierarn, respectivamente, dos primitivos «Irangarn» (frlingao) e «pintarm (pintiio), e que a sua evolucao deve ter sido:
«frangan» + inho - fraganinho - Irangainho - frangainho
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Para «plntatnho», prossegue Augusto Moreno, «conjectura-se iambem um primitivo «pintarn», que daria igualmente
«pintan» + inho - pintaninho - pintliinho - pintainho
Estas citaooes, como se vol, contradizem, em absolute, a opiniiio do Padre Cabrita.
Mas htl: rnais: entre as caracterfstjcas que diferenciarn 0 portugues arcaico do portugueaactual, encontro nos «Textos Medievais Porrugueses», de Correia de Oliveira e de Saavedra Machado (e no tocante it terrninacao -«lIo»), este passe bastante elucidative e esclarecedor:
«Terrninavam em «om» os nomes que hoje terminam em -«iiO»,. desois de passarem pela forma em -«am» (6 sublinhado e meu) ...
... Mas a terrninacao -«fio» encontra-se ja no portugues arcaico, como em «1009fio» (cloucano»), «sao» (sano), etc.»
Bern entendido, esta diferenciacao nfio se refere especif'icamente aos nomes aumentativos (talvez nern mesrno a eles se aplique),
mas aos substaruivcsern geral, .
o Padre Cabrita sabe, sem duvida melhor que eu, que no portugues arcaico au medieval, ocorriam indistinta, alternada e paralelarnente as terminacoes em -eon», -eom», -eam», -ean» e at6 -"il», na grafia da rnesma palavra: non, nom e. nam (nao); Joharn, Joarn, Joan e Joa (Joao); Stevarn e Estevam (Estevao); Fernan e Fernam (Fernjlo); deitararn (deitarso): sam (sao); na~,am (na9,ao); dam (dao); galardam (galardao); coracon e coracam (coracao): determinacam (determinacao): Brandarn (Brandao); eontradieam (contradicao); rrazarn (razdo); Plutarn (Plutfio); e tantas mais,
Por outre lado, pareee existir (e digo parece, por, dele, nao ter conhecimento directo) urn docurnento, com data de 1378 (medieval, portanto), eque se ju1ga ser a mais remota e antiga referencia relative a Olhao, no Qual D. Fernando deu de Foro uma courela de vinha e figueiral, situada num local designado «Olharn», proxlrno de Faro.
Nao quero deixar de ref'erir aqui uma pergunta que me assaltou subitamente no decurso deste escrito: porque serao «olhAnenses» os naturals de Olhii.o, e«portimOnenses» os de Portimao? Certamente, por assirn 0 determiner a origem, bern diferente e distinta, dos dois nomes. Enquanto «olhanense» deve ter por base o etimo «Olhan» ou «Olham», «portimonense» tera provindo necessariamente de «Portimon» ou Portimorn», que, se nio for a origem deste topenimo, sera ou lera sido, pelo menos, uma fase por que passou ou ter~. pa.ssado at6 teT atingido a formaaclual (0 mesmo terA acontecido com «fundanense» (de F·undiio); «damanenSe>l (de Damao) «lourbanense» (de Lorviio); e com outr~ mais que, de mom en to, me escapam.
E, mudando de paragraro, lratemos de outra aspecto do trabalho do Padre, Cabri(a lamb6m, e ainda, respei.tanle a Olhiio.
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Como prova da antiguidade queatribui it laboriosa e caracteristica vila cubista, socorre-se 0 Padre Cabrita da frase atribulda a urn olhanense, e citada por Atafde de Oliveira, na sua «Monografia do "Concelho de Olhiio»: eaqui esrnorrou 0 meu pai e 0 meu avo, .. »
Embora careca de elementos que, me perrnitarn aceitar ou refutar a oplniao do Padre Cabrita quanta a este ponto ~ 0 da antiguidade de, Olhao ~ a qual, aduz, «deve vir desde tempos imernoriais», ocertoe nada provar, nesse aspecto, a eitacao da aludida frase.
" Com efeito, a Igreja Matriz (ou Igreja Grande, como e conhecida), cornecou a. ser construlda no ano de 1698, e s6 foi aberta ao culto no princfpio do seculo XVIII (entre, talvez, 1710 e 1720), e referindo-se, como e 0 caso, 0 autor da citada frase, as paredes do dito templo, a outra conclusao niio podernos chegar senao it de que a ancestralidade de quem a proferiu niio poderia, na ocasiao (e quando muito), iralem de 17oo,.ano em que a Igreja ainda niiose encontrava aberta ao culto, nern rnesmo estaria completamente construfda.
Apontadas 0 que me parecem falhas e deficiencies, nada mais justo que, de igual modo, enalteca e exalte as virtudes que, indubitavelrnente, ressaltam do trabalho do Padre Jose Cabrita,
o merito maier das investigacoes a que procedeu esta no facto de acreditar que 0 top6nimo «Olhao» nada tern a ver com 0 substantivo comum aumentativo «elhao», A sua opiniao vern abrir urn novo capitulo sobre 0 problema, e fez despertar em mim uma ideia Que, de tonga data,SI) enoontrava «adormecidai na minha mente. .
Em boa verdade, nunca alinhei no nurnero daqueles (e praticarnente serao todos) que atribuern 0 nome de «Olhao: e urn grande «olho» de Agua ou nascente existente na zona ou (irea da actual vila, «olho» de agua, nascente, Fonte ou poco que, na reaIidade, ninguem sabe, concrerarnente e de ciencia certa, em que ponto se enconrrava situado (querem-no uns !I. nascente da Esta- 9i1o do Caminho de Ferro, outros localizam-no, mais ou rnenos, no centro da actual Avenida da Republica, e alguns outros, decerto, noutro ou noutros locais), Tudo muito vago, muito incerto, como se observa.
Quem nos garante (sernpre me acompanhou esta duvida) que «Olhao», top6nimo, e «olhao», substantive, tern a rnesrna origem, c nao sao, pelo contrario, formas convergentes ou paralelas, provindas de erirnos diferentes, tal como acontece com «rio» (do
. verbo «rir») e «rio» (curso de agua); «sao» (apocope de «santo»), «sam) (saudavel) e «sao» (do verbo ((sen»; etantas mals?
Ora, 0 Padre Cabrita, ao filiar no Arabe «al-Hayufl» ou «aI·Hain» a origem de «Olhio», velo Irazer novo e importante contributo para 0 eSludo e clarifica~ito da questiio. Faltam-me ele· mentos que me permitam apreciar conveniente e devidamente 0 aeetlo ou desacerto da opiniiio do Padre Cabrita, nao s6 por me
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escassear 0 conhecimento da lingua arabe, como tambem por ignorar como se processam ou processararn as transformacoes e modificacoes foneticas, e, por consequencia, como se desenvolve a evolucao do arabe para 0 portugues.
Parecera talvez deselegilncia ou indelicadeza da minha parte, o ernprego do termo desacerto, ao referir-se it versao do Padre Cabrita quanto it origem arabe do toponimo «Olhaos. Mas nao o e (niio 0 e, nem tal estaria, naturalmente, em meu prop6sito).
J:: que, nao obstante a minha total (e j{i declarada) ignorancia da lIngua arabe, nao vai ela ao ponto de me impedir que saiba (0 que, de resto, acontece com todos aqueles que se dedicam ou andarn ligados a estes assuntos de linguagem) que 0 artigo arabe «al», invariavel em genero e numero (e pelo qual principia grande numero de palavras portuguesas), manteve, na sua passagern para a nossa lingua, a sua forma original, quer dizer, Iixou-se no partugues sem haver sofrido qualquer alteracao ou transformaeao fonetica, Designadarnente, na toponfmia, onde os exemplos abundam (Algarve, Alcoutim, Alportel, Alcaria, Aljezur, Almancil, Albufeira, Alcantarilha, Alfontes, Alcongosta, Algoz, etc.), niio me consta que 0 «ail) arabe desse, em portugues, a forma «ol». Nao afirmo (nlio est au em condicoes de poder faze-Io) que tal nao tenha ou nao possa ter sucedido, mas 0 certo e que nao conheco urn unico exemplo que seja.
. Ora, a niio haver possibilidade de 0 «al» arabe ter dado ou dar «011) em portugues, cai, obviamente, pela base a hipotese de «Olhao» ter a sua origem, como pretende 0 Padre Cabrita no arabe «al-Hayun» ou «al-Hain», Teria dado, quando muito, «Alhiio», de que 0 actual «Olhao» seria uma corruptela 01:1" deturpacao, verificada ja no tempo em que 0 toponimc se grafava ainda «Olham», Mas, terti realmente acontecido assim? Ou conhece 0 Padre Cabrita algum caso em que 0 artigo arabe tive e dado I(Oh> em portugues?
Deixo ao elevado e esclarecido criteria do reverendo sacerdote as eventuais respostas a estas interrogacoes,
Repito, e apesar de todos estes senoes, numa coisa estou de acordo com 0 Padre Cabrita: que «Olhao», top6nimo, e «olhao», substantive cornum, sao palavras convergentes, com origens diferentes, portanto. A cireunstancia de nao se ter encontrado ate agora 0 etirno de «Olhao», niio significa de modo algum que ele nio exista, como e evidente, 0 que 6 necessario e encontra-lo, descobri-lo, Iocaliza-lo, 0 que pode muito bern suceder de urn momento para 0 OUtTO ou ... talvez nunca.
Seja como for, e muito em bora possa estar enganado, nao acredito, volto a dize-Io, que «Olhao» provenha do tal poco de que muito se tern falado e fala, mas de que ninguem conhece ao certo a 10c~liza~0 exacta. Pense que 0 logo de «Olhams e muito anterior a existencia do famigerado PO!;!O. Trata-se de uma lenda, na linha das da moura «Floripes» e do igualmente moure «Menino dos Olhos Grandes» (de natureza e caracteristicas dife-
rentes, naturalmente), nada rnais, ISIO, a meu ver, bern ente.ndido.
o que era necessario, vinha eu dizendo, era descobrir um etirno que justif'icasse a origem do toponimo, pois nao se pode partir do zero, do nada. Ha 'Jue. ter-se urn ponte de partida.
E indispensavel, absolutarnente mdlspens{iy;I.., _
E esse etimo, pese ern bora todas a~ duvidas, interrogacoes e obieceoes que suscite ou venha a suscitar, pode '!lUltO be~ ser o indicado pelo Padre Jose Cabrita. Pode 0 seu vaboso contribute ser ate a chave que venha finalmente abrir a porta do enigma que, quanta a rnirn, envolve a origem do nome da nossa terra natal,
A analogia, sabern-no quantos se dedican; aos estudos lingu is ticos , e a semelhanca ou conexao que eXlst~ entre palavras ou expressoes frasicas, quer sob 0 aspecto Ionetieo, quer sob 0 morfico, quer sob 0 ortografico, quer sob 0 semantico, quer, ate, sob 0 sintactico.
Com base na analogia, podemos estabelecer uma explicacao valida e perfeitarnente logica para a transforrnacao, em «01», do
artigo arabe «al», Vejam.os: _ .. .
Nos tempos da domlnacao arabe, lena existido no local ou na regiao onde actualrnente se situa a importante vila de Olhao, urna fonte ou nascente, na qual se abasteceriam de agua os habitantes da area e suas redondezas, Ao local ou lugar, teriam os arabes dado 0 nome de ,(aI·HMo», que, na sua lingua, significa precisarnente «a fonte» (nao Ialo propositadameote em «po!tQ), dado que a existencia deste pressupoe a implicacao ou intervencao do homem na sua abertura ou construcao, ao passo que «Fonte» e fenorneno natural, por isso que brota «voluntaria: e espontanearnente do solo, sern a colaboracao, auxflio ou ajuda de quem
quer que seja), . .:
Apo a expul ao dos arabes, 0 nome por que seria conhecida a regiao -eal-Hain»- teria entrado na no sa lingua (eo tao no inicio da sua Iorrnacao), e nela se teria fixado sob a forma «Alhar» ou «ALham».
Exi tiria ja, nesses recuados e Iongfnquos tempos, a palavra portuguesa «olho- (oriunda, por via popular, do latim «oculu/m)», depois de «peneirada» pelos fenomenos foneticos de queda do «U» intermedio (slnccpe), e de transforrnacao, em «lh», do grupo consonantico medial «chi (palatizaCio).
«Olho» teria tarnbern j& entiio adquirido. por virtude de urn caso de analogia perfeita e facilmente explicavel, 0 significado de «fonte» ou «nascente de ngua» (lernbro, por curiosidade intencional, a praia des «Olhos d' Agua», perto de Albufeira).
Que poderia, entao, ter sucedido? Isto, simplesmente: 0 povo, leva do e «auxiliado» pela semelhanca fonetlca e soruca (e talvez tarnbem ortograf'ica), e pela conexao de significado e de sentido existentes entre a palavra de origem arabe «Alhan» ou «Alharn» e a entao j{i portugueslssima «Olham» (aurnentativo de «olho» (de iigua), de formacao nltida e retintarnente portuguese) terra
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transformado 0 «a» em «0», dando assim origem ao top6nimo «Olhao. Nao por ser aurnentativo de «olho», e querer hignlficar «Ionte» ou «nascentei de caudal e proporcoes fora do normal, mas sim, e apenas, pela semelhanca f'onetica, gn'ifica e sernantica que se verificava (e verifica) entre os do is termos. (Cabe aqui esclarecer que niio encontrei, em nenhum dos muitos dicionarios de que dispondo, «olhaoi com 0 significado de «nascente de agua» de grandes proporcoes; todavia, nalguns deles, e a par de «olheiro», verifica-se 0 regis to de «olho», no sentido de «Fonte», «nascente», isto e, (101ho d'agua», Na acepcao de «grande nascente de agua», «nascente abudante de agua», depara-se-me, sim, 0 termo «olheiraO» (aumentativo de «olheiro»), Bastante curiosa e sintornatico ... ).
Nao disponho, e evidente, de elementos seguros (quem, deles, podera dispor em circunstanclas como estas?) que me permitam afirmar ou assegurar que as coisas se tivessem passado ou processado deste modo. Mas que a minha tese e bastante aceitavel, por bem alicereada e fundamentada, disso nao tenho a meoor duvida, Do ponto de vista Iingufstico, sebrepoe-se mesmo, clara e irrefutavelmente, Ii versao tradicional que pretende situar a origem de «Olhiio» num «poco», de que, em rigor, ninguem sabe a localizacao, e «poco» que (e isto parece-rne ser me mo 0 mais certe) provavelmente nem sequer existiria, quando «Olhao» jii 5e denominava «Olham», 0 que se verificava ja, se nao antes, pelo rnenos, no seculo XIV.
De qualquer maneira, persisto na minha conviccao (e agora muito bem acornpanhado pelo sabedor e erudito Padre Jose Cabrita, que, gracas a sua preciosa e uti! intervencao, possibilitou a exteriorizacao da minha opiniao): provem de etimos diferentes «Olhao», top6nimo, e «olhao» (aumentativo de «olho»), substantivo comum.
E, para concluir este capitulo do meu trabalho, nada melhor do que a citacao de urn dos rnilhentos cases ou exernplos da influencia e do poder que a analogia exerce na transf'orrnaeao e desenvoivimento da linguagern. E justamente de um em que a «Iorca» analogica transformou urn «a» em «0», tal como julgo poder ter acontecido na evolucao arras descrita de «Alharn» para «Olham»
(<<OlhiiQ»). '
De harmonia com as leis Ioneticas que regem e regulam a passagern do latirn para 0 portugues, 0 vocabulo latino «fame» (que signif'ica «fome») apenas podia ter dado em portugues «fame» (cornpare-se com «Iarninto» e «farnelico»), e foi realrnente isso a que se verificou, pois era «fame» que se dizia e escrevia no POTtugues arcaico, Como explicar, entao, a passagern ou transicao de «fame» para «forne», contraria a todas as regras Ioneticas e absolutarnente inexplicaveis a luz das mesrnas?
Segundo D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, Antenor Nascentes, Sa Nogueira e outros, tal transformacao apenas pode ser explicada pela acoyao exercida pela analogia, devida nao 56 a conexao de ideias e correlacao de sentido entre «ferne» e «come»
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(do verbo «comer»), como tamhern par uma questao e necessidade de rima entre os dois termos, bern patente, por exernplo, no aforismo popular: «so come, quem tem Iorne».
RES UMIND 0: - Do que fica dito, conclui-se:
a) «Olhao», top6nirno, nada tern a ver com «olhao», substantive; sao apenas, e tao-s6, f'orrnas convergentes: b) a pas agern de «Alhan» ou «Alharm a «Olham» (Olhao) deu-se ou par corruptela ou, mais provavelmente, por analogia; e
c) tivesse 0 top6nimo a sua origem nurn ~o<;o ou nascente de grande- proporcoes (de agua), ten a dado, segundo os lexicos e dicicnarios que <_:o_nsultcl (e alguns foram), nao rOlhao», mas sirn «Olheirao».
1J.
I
t
.FUZETA
Concluldo (?) 0 problema toponimico referente a Olhao, debrueemo-nos agora sobre as posslveis e provaveis origens dos nomes das suas quatro freguesias,
E, para nao Ierir susceptilidades ou nao ser acusado de parcialidade, dando preferencia a esta ou aquela dessas freguesias, facamo-lo por ordern alfabetica.
Assirn, vou iniciar este novo capitulo do rneu trabalho pela
lreguesia da Fuzeta. -
Sobre a origem deste top6nimo, escrevi Manos, para 0 «Boletirm da Soeiedade de Lingua Portuguesa, urn apontamento, do qual passe a transcrever a parte que julgo rnais importante e sign ifica t iva:
Freguesia do concelho de Olhao, de que dista cerca de nove quildrnetros, esta populosa e progress iva localidade, tirou 0 seu nome de «Pozeta», dimlnutivo de «fez»: urn pequeno curse de 'gua, 0 ribeiro Tronco, vai desaguar numa pequena foz, junto da povoacao.
Antigamente, escrevia-se «Fozeta». Hi documentos que 0 atestam, de dois dos quais tenho conhecimento: uma escritura de venda feita em 1572 (descoberta e transcrita por J. Fernandes Mascarenhas no seu opusculo «Origem dos Toponimos das Freguesias de Olhao e de alguns dos seus sltlos), e «Portugal Antigo e Mcderno», de Pinho Leal (citado por Atafde de Oliveira, na «Monografia do Concelho de Olhao»), no qual 0 autor diz:
«Antes de mais nada, apresso-me a dizer que escrevo FUZETA, porque assim vejo escrito em todos os autores, mas estou eonvencido de que ~ urn grande erro, porque, sen do esta palavra diminutivo de «foz», dever-se-ia escrever sernpre FOZETA e nao «FUZETA):
Depois, e certarnente devido il. pronnncia fechada do «.0», passou a grafar-se com «0), ou seja,«PUzetIH), grafia esta que se manteve ate ha bern pouco (e que continua a ser a geralmente usada),
Recenternente, porem, no novo C6digo Administrativo, apareceu a forma «Fuseta», com «S», 0 que, naturalmente, veio trazer certa confusao.
Desconhecern-se as razoes em que os Iautores do Codigo Administrative se fundamentaram para alterar a graCia tradieional (e of ida I, creio) «Fu zeta), com «Z», para «Fuseta», corn «5». (Eu, pelo rnenos, ignore-as, e nao encontrei ainda quem. mas indicasse).
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Portanto, e segundo a opiruao unanimemente aceite e acatada (niio sei de qualquer discordancia), «Fuzeta» vern de «Fozeta ». Primeirarnente, escreveu-se com «0» (comprovam-no os documentes atnis citados) e, depois (e ate aos nossos dias) , com «ua, mas sempre com «z», Agora, e de fresca data (e sern que se salbam os motives), 0 C6digo Administrative estabelece econsagra a grana com «s», isto e, «Fuseta» ..
Pelo que deixo exposto, penso, evidentemente, que 0 top6nimo deve grafar-se «Fuzera» (como, de resto, de ha multo vern sendo Ieito), vlsto tratar-se de urn diminutive de, «foz» (efoz» mais «era»), cujo processo de formacao e normal, e identlco, por exemplo, aos de «Iingueta», «rnaquineta», «fabriqueta», «roseta», «Barreta», etc.
Posteriormente a este apontamento, chegou ao meu conhecimento (e isto vern reforcar a minha opinilio) que eta «Fouta» a grafia usada no seculo XVIII,. conforme 0 «Numerarnento (hoje chamar-lhe-Iamcs Recenseamento), a. que 0 Intendente Pina Manique mandou proceder em 1798 (<<0 Terrno de Olhio», da autoria de Antero Nobre, e J. Fernandes Mascarenhas, no opusculo
arras referido). .
o Padre Cabrita filia a origem do toponimo noarabe «huza», que signif'ica «praia», A «huza» ter-se-ia juntado osufixo diminutivo «eta», donde «Huzeta» e, mais tarde, «Fuzeta». E opinii.o Hio respeitavel e digna de apreco como qualquer outra, mas que carece, quanto a mim, de prova documental em que se apoie,
Nae a. perfilho. Prefiro a versao que deriva «Fuzeta: de «Fozeta» (pequena «Ioz»), de que a forma com «u» e alteracao perfeitamente normal e aceitavel.
Para se admitir II hipotese do Padre Jose Cabrita, teriamos de reconhecer iI. piscat6ria e pitoresca localidade urn passado muito remote e recuado, 0 que parece nll.o ser 0 caso. Pelo menosvque eu saiba, ninguem conseguiu ainda, ale hoje, apurar quando «nasceui ou foi construfda a dita povoacao, Nada M. que prove a sua existencia antes do seculo XVI. ISIO, de maneira nenhuma, se pode interpretar como urna afirrnacao categorica de que niio existisse jli antes daquele seculo, mas sim que hli raltaabsoluta de provas que 0 confirrnem.
MONCARAPACHO
Depois dos exaustivos e aturados estudos e investigacoes a que procederam J .. Fernandes Ma~carenhas ~A:nt,ero. Nobre, dois moncarapachenses ilustres, autenucos e infarigaveis desbravadores da «selva» historica da sua bucolica aldeia natal, que poderei eu acrescentar as tentativas por eles Ievadas a cabo para localizar o provavel climo ou a possivel origem do top6nimo «Moncarapacho»?
. 0 primeiro, inegavel espfrito de invesrigador, met~c~los,?, seguroe ordenado, depois de aludir. as versdes tradlclon.1I1S de «Monte dos Capachos» e de «Monte Escarpado», de que discorda (e eu tarnbem, por as considerar, a amb.a~,. mars ou meno~ ~antasiosas e pueris), inclina-se para a possIbdld~de de 0 toporumo provir de «Mons Carpasium», sendo «Carpasiurn», que deu em espanhol «Carapacho» (concha, casca, carapa~~ que co~re oC-O.rpo das tartarugas e dos cara 11 gu ej os), nome proprio de origem latina. E e com base no espanhoi «carapachc» que J. Fernandes Mas-
carenhas procura alicercar a sua versao, .
Bern entendido J. Fernandes Mascarenhas .sabe bem que «Carpasiurn» nao poderia dar ern portugues a forma «Carapacho», e sim «Carpajoi ou"Carpaxo». De facto, e de harmonia com as leis Ioneticas que regulam a evolucao do latirn para 0 portugues, o grupo «si» (ou «se») da regularrnente «]» ou «x» (veja-s~. os casos de «basiu» (beijo); «passione» (paixao): «caseu» (queijo); «ecclesiar (igreja); «laesione» (aleijao); etc. Daqui, portanto, 0 fundarnentar a. sua versiio no espa.nhol «carapacho», E, ao apresenta-Ia e expo-la, aduz grande c6pia de argumentos,
Antero Nob re ,. navegando nas mesmas ~guas e seguindo a esteira do seu conterraneo, tern identica opiniao.
Jose Pedro Machado, demasiado laconico e cauteloso, pouco ou nada adianta, pols Iirnita-se a dizer que «terernos, porventura, o elemento latino «Mom), mas nada se pode afirmar de concreto quanto b. restante parte (scarapacho») do toponirno».
Por seu turno, 0 Padre Jose Cahrita, num dos dois recort.es, em meu poder, da serle deartigos, que, sob 0 tftulo gen~T!co de «Toponlmia e Historia», publicou no «Correio do Sui» (designsdarnente, no nurnero 8), escreve: "MONCARAPACHO» - «!I quinta do arranhado», como vimos», 0 que !T!e leya a pensa! qu~ riTia a sua origem numa palavra ara.be, que, infelizmente, nao .sel qual seia, visto nilo dispor da coleccao ccmpleta da sua aludida serie de art igos.
Todos podemos pensar, imaginar, julgar, fantasiar, arquitectar,
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raciocinar, supor, opinar, e cada urn pode faze-Io como melhor lhe parecer e entender, E direito natural e inalienavel de que todos podemos e devemos fruir, cada qual a seu modo sem nunca esquecer, contudo, 0 respelto e a consideracao que 'devemos ler i~mpr~ e em qualquer circunstancia, pelas opinioes alheias, poU; so a;;Slm estaremos em condicoes de poder exigir igual tratarnento e atitude em. rela~o is nossas. Por isso, 0 aparecimeato de tan los pontes .de vista, hipoteses, dedueoes, versoes e opini6es, quantas vezes dlame!ralmente opostos e contraditorios, para explicar factos, casos e fenom~nos, de que, em bora concretos e Tea is, se nao conhecern, todavia, as causas ou as origens.
Assim sendo, tam bern tenho opiniiio formada sobre a eventual e possivel proveniencia de «Moncarapacho». E nao me furto a expende-la, Sera talvez rnais uma a acrescentar as outras e dela ~enhum dano virli ao mundo. Bern simples ela e, por adas~. Ta~ simples que custa a crer que ninguem dela se houvesse ainda lembrado. Melhor, que apenas J. Diogo Correia em 1960 na «Revista de Portugal», serie Lingua Portuguesa, a iivesse aflo;ado, embora a sua versiio 56 parcialmente coincida com a minha.
No concelho de Olhao (nlio sei se tambem no resto do Algarve) e em certas regioes do Alentejo, a palavra «monte» e vulgarrnente usada na acepciio de uma courela ou bocado de terra de semear com casa para moradia (1. Fernandes Mascarenhas faz referencia a. este pormenor, ."0 seu. ja citado trabalho «Origem dos Top6- n.lI~os das Freguesias do Concelho de OIMo e de alguns dos seus s~tIOSll). Es.ta a razao ~a designacao de «rnontanheiros», por que sao conhecidos os proprtetarios ou os locatarios dos aludidos «montes", e, por extensso, os camponeses e trabalhdaores rurais em geral. Todos quantos, em suma, moram ou labutam na area rural do concelho,
A ~arlir deste ernprego do termo «monte» podernos formulae uma hipotese, que me parece nao 56 pertindnte como tarnbem a?solu,tamente 16gica.e valida. S6 que, hlpotese que e, pode ser discutfvel. E eu adl'!lIto-o sem reserves, ja que nlio disponho de teste.munhos categ6ncos ou de proves insofisrnaveis para a declarar mcontroversa e irrefutave],
No que co~cerne ~. apelidos e a alcunhas, todos sabemos que os ha dos mais esqutsrtos, ~xtravagantes e estapafurdlos, alguns deles t~cando, rnesrno, as raias do picaresco, do c6mico, do rid!c~lo. Sao lis centenas, para nlio dizer aos milhares. E, de grande n!-l"me.ro deles, desconhece-se por complete as origens ou proveruencias.
. Nlio podera ter existido, ja depois de Portugal se haver constitufdo como nacso, qualquer indivlduo com 0 apelido ou a alcunha de «Carapacho», que tivesse sido dono ou proprietario de urn «monte •• , no shio .(ou nas suas imediacoes) onde hoje se situa «~onc.arapacho», apelido ou alcunha que se tera extinguido, perdido ou desaparecido na noite dos tempos?
Terfarnos, deste modo (e a ter-se verificado tal), 0 (Monte do
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Carapacho» tal como ainda hoje ternos 0 «Monte da Guerreira», o «Monte da Mans inh all , 0 "Monte do Estevens», 0 «Monte do Rorneirao» e tantos outros espalhados pelas freguesias rurais do concelho de Olhao.
De «Monte do Carapacho» ter-se-ia passado Iacilrnente, por agtutinacao, a «Moncarapacho», tal como sucedeu com «Mencorvoa (de- Monle do Corvo) (I), «Monsanto» (de Monte Santo), «Monforte» (de Monte Forte), etc.
E natural (e de adrnitir tambern) que me ponham a seguinte pergunta: qual, entao, a origem do apelido ou da alcunha «Carapacho» (a ter existido, evidentemente)?
A perguntas desta natureza, irrespondlveis, costurnava 0 rneu saudoso Mestre e grande filologo Agostinho de Campos responder com outras perguntas do rnesrno genero, isto e, igualmente irrespondiveis. You imita-lo: quem sera capaz de me explicar ou indicar, concretarnente e sern rnargem pam duvidas, a origem ou a proveniencia dos apelidos ou alcunhas «Alagaia», «Galhapao», «Belhocas, «Cagaia», «Patagalha», «Bochenina», «Riquiqui», «Pastagal», «Licopito», «Froita», e tantos rna is?
A titulo meramente inforrnativo, transcrevo 0 conteudo de urn documento que suponho inedito, e foi descoberto na Biblioteca da Ajuda, por feliz acidente pela nossa ilustre coruerranea e minha estimada parente por afinidade, Exma. Senhora D. Raquel Pousao Lopes. Ref'ere-se ele a Moncarapacho, e reza assirn: B. A. - 47·XIlJ - 16, fls, 185/ Lagos fl. 185/ Ines de Brito/ Ordenou Capela em N.' Sr." da Graca de Mencarapeicho com mis a cada domingo foi provida pelo Senhor Rei D. Manuel no ana de 1520 na conta de rendimento dos bens./ in Memoria de Destribuicao das notas da Cidade de Lisboa.
Emhora a forma «Mencarapeichoi me pareca urn erro de grafia, urn pormenor ha que nlio me atrevo a desprezar, mutio em bora ele seja de reduzidas e remoras possibilidades para urna eventual explicacao do top6nimo. Trata-se da circunstancia curiosa (que eu, pOT mim, considero simples coincidenciaf de, no documento em apreco, 0 lop6nimo principiar por «Men» (ou Mem?), nome proprio rnasculino, e que entra na ccmposicao de alguns sitios ou localidades, de duas das quais tenho conhecimento: «Mem» Moniz, no concelho de Louie, e «Mern Martins», em Agualva, Cacern (Lisbca), Repito: a meu ver, trata-se de urn erro de grafia, mas, quando nao hA elementos seguros sobre a solucao de deterrninado problema, todos os elementos que a ele se refiram tern de ser devidamente analisados, ponderados e considerados. E 0 que estou fazendo.
(J) No autorizada opiniiio do distinto [ilologo pro]. A leixo Gomes, MONCORVO terd provindo de MENCORVO e niio de MONTE CORVO ou de MONTE DO CORVO. MEM sera a [orma apocopada de MEN DO.
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PECHA.O
Cumprindo a ordern alfabetica que me irnpus, cabeagora a vez a Ireguesia de «Pechao»,
Par carencia de elementos e de dados seguros e lncontrover- 50S, nada se pede aflrrnar, em termos rigorosamente concretos e categoricos, sobre 0 etimo deste top6nima. QuantO,acerca do ass unto. , se tern dito e publicado.nao passa de simples conjectures, de rneras, e sempre fallveis hip6teses.
Cada uma a seu modo, como Ii: 6bvio, tres versoes existent para explicar a proveniencia do nome desra freguesia do conceIho de Olhao, Exponhamo-las sucintamente, e procuremos comenta-las, apontando as folhas e as deficiencias que, a nosso ver, nelas ocorrern.
Uma delas atribui a origem do top6nimo a «peixao», tornado este termo na acep9iia popular de «mulher bonita, formosa e bela» (importa referir aqui que, a par de «peixao», e com identico sentido, encontrei, logo. no. primeiro dicionario de que me servi, igualrnente «pexa», farm a dupla, portanto, daquela),
Ora, em v{irios documentos (alguns de datas relativamente recentes), 0 nome desta Ireguesia aparece grafado precisamente «PeXaO» (com 0 «p» inicial maiusculo, naturalmente), a que podera levar a. pensar que esta versao renae todas as condicoes para ser considerada coma autentica, e, per consequencia, coma a verdadeira e indiscutivelorigem do tooonimo. Mas nao me parece
que seja assim. -
E nao me parece que seja assim, nao porque a area au a regiao nao tivesse sido povoada, coma diz Ataide de Oliveira, par «alguma antiga padeira de Aljubarrota, que Iosse natural de Paro, corn a diferenca a seu favor da formosura e galanteria, que escasseavam na virago. que matou sete espanhois», ou nela nao houvesse existido au vivido, em tempos recuados, qualquer darna cam tais arributos fisicos. Nada disso. Mulheres belas e formosas sempre as houve, M e ha-de haver, em todas as epocas e latitudes, e, da sua passagern por este «vale de lagrirnas», nao deixaram (salvo rarissimas,.e, nalguns casas, pouco honrosas, excepcoes), qualquer vestigia au memoria. Se 0 facto de nao se conhecer a exlstencla de qualquer «peixao» na zona ou regiaa onde se enconlra localizada a freguesia de «Pechao» Iosse motive determinante para a nao aceitacso desta hip6tese (a que eu, de maneira alguma, posso aceitar), de igual modo terfamos de proceder em relacao a "Brancanes», que 1. Fernandes Mascarenhas filia nurna hipotetica «Branca Aries» au "Branca Eanes».
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Nada disso, repito. A razao por que, em meu entender, nao pode ser esta a raiz do nome da povoacao, e bern simples, por sinal: 0 emprego do terrno «peixao» (ou «pexao»), para - designar umawmulher esbelta, atraente e formosa», deve ser de uso bastante recente em relacao it antiguidade do povoado, 0 qual, segundo pro vas documentais colhidas e citadas por pelos infatigaveis e profundos conheeedores destes problemas, J. Fernandes Mascarenhas (eOrigern dos Top6nimos das Preguesias do Concelho de Olhao e de alguns dos seus sftios») e Amero Nobre (<<0 Termo de Olhao»), remonta, pelo menos, ao seculo XV. E eu nao creio que 0 ernprego de «peixao: (ou «pexao») no sentido de «mulher bela e formosa», va rnuito alem do seculo XIX. E de Antonio Feliciano de Castilho a rnais antiga referencia que conheco do uso do termo Com aquele significado: «A menina sempre e muito rnais «peixao» do que a Joaqulna».
Nestas circunstancias, isto e, se «Pechao», toponirno, for, como pcnso, muito mais antigo do que «peixao» ou «pexao», na acepcao popular de «mulher bela e formosa», creio nada mais ser precise acrescentar para dernonstrar, «urbi et orbi», que nlio pode haver relacao entre os dois termos, e que, POT consequencia, 0 primeiro nao pode provir do 'segundo, porque lhe e muitlssimo anterior,
Na.o fora este porrnenor ~ «dessincronizacsr» entre os dojs terrnos -, seria esta a versao a que darla 0 meu veto, a minha prefereacia.
Outra versao'fllra 0 etirno de «Pechar» no terrno «pexso», nome por que e designada certa casta de uva da regHio de Leiria. (A proposito, lernbro que existe tarnbern a palavra «pexii», designativa de urna casta de uva tinra, cultivada no Cartaxo e no A[garve).
Pergunta Atafde de Oliveira: «seria esta treguesia, nos seus prirnordios, povoada por vinhas desta qualldade? Nao sabernos».
Antero Nobre, por sua vez, ao cornentar esta versao, afirma que «nao hli memoria de por ali existirern ou terem exisrido vinhas» (~{O Termo de OlMo»).
Niio me parece que a interrogacao do prirneiro e a afirmacao do segundo constituam argurnento valido e razao decislva para recusar ou negar chipoteses» a. esta hipotese. Se nao, vejamos:-
HlI oito ou dez anos, tentou urn floricultor norte-americano plantar na Quinta de Marirn, determinadas especies de Ilores mats ou menos delicadas e exdtlcas, e oriundas, evidentemente de outros pafses e .de outras paragens do globe. (Devo esciarecer que estou dentro do assunto, por nele haver partjcipado direclamente). . Todavia, factores que nlio interessaenumerar ou mencionar fizeram fraca.ssa.r e gorar a tentativa. - - .•
Pergunto eu: nos seculos futuros, haven!: alguem que saiba ou venha a ler conhecimento desta tentaliva, malograda e infrulifera, do floricultof norte-americano, levada a cabo na ultima metade do nosso seculo? Suponho bern que nio.
o mesmo poden!. ter sucedido .a alguem que, em tempos remolos e muito recuados, houvesse tentado 0 cu1tivo da uva «pexiiQ»,
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na area da actual freguesia de «Pechao», e que a sua tentativa nao tivesse resultado, em virtude de as condicoes e as caracterlsticas do solo nao serem propicias ao desenvolvimento dessa casta, como, ate mesmo, absolutamente impr6prias para a. plantacao de toda e qualquer casta do ref'erido fruto (0 que justiIica, nesse aspecto, a afirmacao de Antero Nobre de que nao M memoria de, na freguesiaou na regiao de «Pechao», terem algurna vez existido vinhas), Nada mais natural que isto pudesse ter ocorrido, e que, do empreendimento, nenhurna notfcia, quer oral, quer escrita, tivesse chegado ate n6s. Ta.1 como, suponho, vira a acontecer ao Floricultor norte-americano, a que aeima me refire, no decurso imparavel e inexoravel dos tempos.
Portanto, esta hipotese tern inteiro cabimento, per bastante logica e sensata, e e, por isso mesmc, perfehamenteaceitavel. A meu ver, mantem-se plena de «vida», e Ii. espera de que outra, concreta e incontroversa, a «mate» OU faca desaparccer para todo o sempre.
Em face destes considerandos, faei! se torna concluir que nao estou de acordo com a versao que da como origem do toponimoa expressao epio chao» , versao esta que e a apoiada pela generalidade" dos que tern queimado as pestanas na investigacao e no estudo do problema. E e que nao estou mesmo. Porque?
Bern, a linguagem adquiriu (e continua incessantemente a adquirir) USOS, costumes e habitos que determinam construcoes, expressoes e rnaneiras de dizer, por vezes, absolutamente inexplicaveis. Tern esses habitos tarnanha importancia, e exercern tanta e tao profunda influencia na linguagem que, nalguns cases, ale servern para explicar fenornenos e problemas Iingulsticos e grarnaticais que, de outra forma, nao tern ou nao tcriam.,; explicacao ..
£ pot isso que e indiferente dizer-se «born homem» ouehornem born». «bonita rapariga» ou «rapariga bonita», etc. 0 ou vido acomoda-se a qualquer destas duas expressoes, e aceita-as perfeitamente, sern a minima reaccao, Todavia, se se dizer, per exemplo, «gordo hornerm por «hornem gordo», «cheia lua» por «lua cheia», «cheia mare» por «mare chela», etc., 0 ouvido e a naturalidade repudiam e recusam energicamente tais expressoes por as cons iderar (e sao-no, de facto) arrevezadas e contrarias aos usos, aos costumes, a Indole da nossa Ilngua, Isto, para niio aludir jll os casos de «muiher rica» e «rica mulher», «mulher boa» e «boa rnulher», expressoes que, como todos sabemos, tern sentidos e significados bastante diferentes.
Salvo melhor jufzo, quer-me parec,er que {(pio chilo) esta em identica.s circunstfineias. E como se se dissesse ~{cheia Iua» {(eheia man!», «alto homem», {(gordo rapaZf). 0 ouvido nao se compadece com tal maneira de dizer, por contraria ao hiibilOS da Iinguagem.
o proprio Antero Nobre, no seu esp[endido estudo sobre 0 top6nimo (e talvez mesmo gem do facto se ter apercebido). 0 confirma, quando, a certa altura, escreve «a capel a ser:ia considerada uma ({obra pia». edificada para servir os muil.os e piedosos peregri-
nos ou rOO1eiTOS que acorriam it fonte milagrosa, e 0 local da capela e da fonte, por isso e pela ac~o sobrenatural da agua que ali brotava, considerado tambem um terreno ou «chao pio», Assim, da designacao «Pio Chao», dada pelos peregrines ao local, teria derivado «Pichao» e depois «Pechao» ... »
o habito, a naturalidade, 0 ouvido levararn Antero Nobre a escrever, instintivamente, «obra pia» e «chao pio», ap6s 0 que passa para «Pio Cham), sern explicar como tal inversao de terrnos se teria processado ou side posslvel.
Esta lnversao de «chao pio» para «Pia Chao» e, quanta a mim, inexplicavel. Ainda se se tivesse verificado a contrario, o~ se 0 top6nimo fosse «Chao pio», nenhum reparo me merecena esta versao. 0 facto explicar-se-ia pela tal «lei» do habito, da naturalidade, do ouvido. Compare-se, por exemplo, com Maria Pia e Casa Pia, que a ninguern, decerto, passara pela cabeca dizer ou escrever «Pia Maria» ou «Pia Casa».
Jose Fernandes Mascarenhas tarnbem ere ser «Pio Chao» a origem do actual «Pechao».
Quante ao Padre Jose Cabrita nao sei que pensa ele sobre 0 assunto, e gostaria, evidentemente, de 0 saber, pols s6 assirn seria possive I pronunciar-me sobre a sua eventual opiniiio. Quem sabe se nao estarernos em presenca de urn toponirno de origem arabe, como jii foi sugerido por Atafde de Oliveira, ao dizer que talvez seja a corrupcao de algurna palavra maometana, para ele desconhecida? Quem 0 pod era af'irrnar au negar?
Outra hip6tese todavia, se podera Iorrnular, e com inteiro cabimenlo, suponho.
«Pechao», cuja area, segundo Antero Nobre, tera sofrido acentuadas modificacoes e alteracoes na sua extensao, situa-se nurna zona que vern, rnais ou rnenos, das faldas ou sopes do Cerros de
S. Miguel e do Guelhim ate praticarnente ao literal,
o solo au terreno onde a freguesia esta situada, uma especie de anfiteatro, e liso e plano, sern elevacoes ou desniveis acentuados, ja que e, pode dizer-se, como urn que urn vale relativamente extenso, conforme pode facilmente observar-se 80 longo da e trada que liga Olhao a Faro.
Erudito que e, 0 povo desconhece (nao e ousadia afirrna-Io) a termo «sope», que signif'ica, como se sabe, falda, en costa , base au «pe» (veja-se 0 sltio dos «PeS)} do Cerro, que. pertencente 11 freguesia de Moncarapacho, rica precisamente na base ou ((SOpe» do Cerro de S. Miguel), E e por «pe» ou «pes: que 0 povo designa e conhece a falda, a base au 0 «soper de qualquer cerro, monte, celina au simples outeiro.
«Chao», por eu turno, e a forma popular que deu, ern portugues, a latim «planutrn)», e significa, na . ua origem, jus tamente «plano», «lise», «nivelado», «Iacil de percorer» (compare-se com «mar chao», que quer dizer mar sern ondulacao, lisa, plano),
Ora. face us caracterfsticas geof'lsicas do solo, sern desnivela-
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mentes pronunciados, lisa, plano, e, portanto, «chao», poderia o povo denomina-lo de «Pe chao», estando aqui «pe» POf «sope», terrno este que, repito, por demasiadamente culto, era e e estra-
nho 1l lingnagem popular. .
Daqui, a hipotese de «Pechao» poder ~er provmdo de (so) «Pe chao» Iixando-se depois na actual «Pechao», ap6s haver passado
par dfversas grafias (Peixao, Pichao, Pex~o e Peichao). ,
E mais uma sugestao, uma nova hipotese para 0 estudo do top6nimo. Niio tern au nlio. tera q_ualquer fundam;nto, mas ... te,lo-ao, porventura, as delT!als. versoes apr~se~tadas. .
Deixo 0 problema ao criterio e it apreciacao de outros rnais cornpetentes e corn mais autoridade na materia.
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QUELFES
E chegamos, finalmente, a «Quelf'es», derradeiro troco desta digressao mais ou menos etimol6gica atraves das possiveis e eventuais provenlencias dos names de Olhao e das suas quatro freguesias,
Emilio Hubner, arqueologo e Iilologo alernao de renome internacional, que dedicou parte do seu tempo ao estudo de problemas relacionados com a Peninsula Iberica, julga SeT de origem gerrnanica 0 toponimo ,<'Quelfes)l, 0 que nos leva a conclusao de que o povoado existia ja na epoca visigotica, e era, portanto, anterior aos tempos da dominacao arabe. E, com toda a autoridade que se Ihe reconhece DaO terao, decerto, faltado ao arque6logo alemao razdes para as i~ pensar, de entre as quais nao tera side das de somenos impcrtancia a circunstancia de, em Marim (pertencente, como e sabido, it freguesia de Quelfes, e situada, evidentemenle, dentro da area da sua jurisdicao), terem side detectados alguns vesugios visigoticos,
Todavia, 0 arabista Frei Joao de Sousa e de opiniao diametralmente oposta, pois considera como arabe, e nao gerrnanica, a proveniencia do top6nimo. Trata-se, explica, do plural do adjectivo arabe «quelfe», que significa «malhado», e deriva do verbo «calefs» (eter au ser de cor negra, misturada com manchas amarelas»). E esta opiniao encontra eco e apoio na pessoa da competente professors de Illologia gerrnanica, D. Julia Lopes Barbosa.
Por sua vez, tanto 1. Fernandes Mascarenhas, como Amero Nobre tambern perfilham esta versdo. Antero Nobre vai mesrno mais longe: desenvolvendo e ampliando a opiniao de Frei Joao de Sousa, lanca habilrnente a sugestao de que «talvez nao seja aventuroso suporrnos que por ali se «misturararn» nao poucos berberes «mais escurosi (porque erarn berberes ou rnuculmanos que ocuparam 0 Algarve durante cinco seculos) com romanos ou visigodos «mais claros», dando origem a uma especie de «rnesticos» ou «rnalhados», ou entiio que a populacao primitiva era principalrnente, ou rnesrno exclusivarnente, constitufda por «rnocarabes», portanto, por cristaos praticando 0 culto muculrnano, uma especie de «malhados» nas crencas religicsas ... 1) «(0 Termo de Olhdo»). Nao se pode, na verdade, negar «engenho earle) ao seu raciocinio, meu caro Antero,
Um tanto inesperadarnente (jli que parece filiar no arabe a origem da quase totalidade dos top6nimos algarvios), 0 Padre Jose Cabrita escreve: «QUELFES, que, it falta de docurnentos que nos deem a forma drabe do nome, podernos explicar de varies rnodos,
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ou pela cor escura dos terrenos, ou por ser terra de carpinteiros ou calafates ou de outro modo».
Surpreende e espanta que 0 Padre Jose Cabrita, competente conhecedor que e da lingua arabe, ignore a existencia do termo «quelfe» (ou do seu etimo «caletas), e se refira, por outro lado, a «cor escura dos terrenos».
ill aqui evidente e flagrante contradicao entre 0 Padre Jose Cabrita e Frei Joiio de Sousa (e D. Julia Lopes Barbosa, tam bern).
Diz igualmente 0 Padre Cabrita que «se pode explicar de varios modes» a origem do toponimo, 0 que pressupoe a con vic cia de que tern diversas (e diferentes, necessariamente) expljca~6es para 0 problema.
Em presenca de varias explicacoes ou opinioes diferentes em relacao a urn mesmo facto, de duas, uma: ou estao lodas erradas ou (e na melhor das bip6teses) apenas uma delas podera estar certa, B da sabedoria das nacoes, e daqui nao podemos fugir. E adrnitindo pOT ab urdo Ga que, havendo uma autentica e verdadeira, nao se justificaria a existencia de outras explicacoes), que, entre OS «varies modes» de explicar a origem do toponimo urn deles estara certo, surge, imediata e naturalrnente, a perguntas:
Equal deles?
Quanto a mim, desta Ieita, nao me e possivel tomar qualquer posiCiio sobre 0 problema, pois nao disponho de urn lndicacao ou pista, tenues que fossem, que me permitam desenvolver urna versao ou aventar uma simples hipotese.
A meu ver, e enquanto nao surjam pro vas documentais decisivas (0 que, infelizmente, no caso, me parece praticaruente irnpossivel), a origem deste top6nimo conrinuara 11 ser uma incognita indecifravel, urn misterio insoluvel,
Como se sabe, foram os Bascos e os Celtas os primeiros povos que habitaram a Peninsula.
Vieram depots, e suce sivarnente, os Fenicios. os Grego, os Cartagineses, os Rornanos (149 anos a. C.), os Barbaros, compreendendo os Godos e os Vislgcdos, e, por fim, no seculo VII. loda a Peninsula (batalha de -Guadalete, em 7 J 1), cai em poder des Arabes, que por ca perrnanecerarn durante cerca de cinco seculos,
Das vicissitudes por que passou 0 solo da antiga Lusitania, resultou que a Hngua portugucsa conheceu e passou por inumeras rases.
:8, portanto, provavel, que tivesse sido 0 Basco (ou Vasconce) ou 0 Celticc 0 nosso idiorna primitivo como 0 provam algumas palavras de origem basca ou vasconca (<<aba», «bezerro», «esquerdo», etc.) e celtica «(Penalva», «Penacova», «Penela», «CeI6briga», «Conlrnbriga», «Beletania», «bardo», «Minho», «coelho», «gordo». etc.).
A presenca 113 Peninsula dos outros povos jii referidos, provocou, como nao podia deixar de ser, modificacoes e alteracoes profundas na nossa lingua, 0 que e confirrnado pelo uso que ainda
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hoje fazemos de inumeros vocabulos de origem Ienlcia (sfarda», «barca», «galera», «Lisboa», «Lusitania», «mapa», «tunica», etc.); de origem grega, de que temos ainda bastantes vocabulos, ditongos, perfjxos, etc.; dos romanos, de quem herdamos .corno e do conhecimento geral, 0 substracto da nossa lingua,
Com a invasao dos Barbaros, 0 Iatim popuular (base de toda a actUal lingua portuguesa) Ii profundarnente alterado, corrornpe-se, e, a pouco e pouco, dii lugar a diversos dialectos, correspondentes aos locais e aos agrupamentos desses povos. Do germantco, J(ngua falada pelos Ba.rbaros (God os e Visigodos), que invadiram a Peninsula no seculo V, tambem reeebemos muitcs !ermos: «guerra», «rico», «Ieudo», «norte», «oeste», «Carlos», «fresco», «elmo», «franco», «arauto», «albergue», «Alberto», etc.
Do arabe, como ja foi dito, ficaram-nos igualmente muitos vocabulos, tais como, e entre inumeros, «alcalde», «alcool», «alrange», salmotolia», «almofada», «algebra», «alcachofra •• , «algalia», «alfAndega», «algarismoa, «algema», xarope», «oxala», «zero», «Alcoentre», «almargern», etc.
Como se observa por este rapido bosquejo historico-Iongufstico, a lingua portuguesa, embora de origem latina, e uma lingua a que se pode charnar, com inteira propriedade, universal. Niio universal no sentido de ser falada em ou por todo 0 rnundo, mas por albergar e conter, dentro de si, terrnos e vocabulos das mais variadas e diversas origens e procedencias, uns anteriores ao pr6prio latim, outros posteriores,
Nestas circunstancias, «Quelfes» pode ate nio ser de origem germanica, nem tao-pouco de proveniencia arabe. Sabe-se la, ao certo, qual 0 etirno deste nome! Quem pod era responder alaI interrogacao? A seculos de di tan cia do aparecimento e fixacao deste top6nimo na lingua portuguesa, quem sera capaz de desvendar 0 rnisterio que envolve a sua origem?
inguern, estou em crer.
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srnos DO OONCELHO DE OLHAO
Era minha intencao inicial estudar apenas as origens dos nomes de Olhao e das suas quatro Ireguesias. Estudar ou, melhor dizendo, trazer novos elementos para uma eventual solucao do problema, jli que, em boa verda de, nada de concreto e irrefutavel terei conseguido adiantar em relacao ao mesmo.
Uma vez, porem, que estou «corn as rnlios na massa», decidi alongar 0 meu contribute, e ocupar-me, desta feita, dos nornes de alguns dos sitios do nosso concelho (e 86 de alguns e nao de todos, dado que sttios e lugares existem, para cujas denorninacoes, epee toda a minha boa vontade e todos os meus esforcos, nao me foi posslvel descortinar a minima explicacao ou, sequer, a mais ligeira referencia),
Iniciarei esta nova ronda do meu trabalho, pelo CERRO DE
S. MIGUEL, essa autentica e maravilhosa pedra preciosa com que a Natureza nos dotou, estranha e inexpllcavelmente votada ao mais complete abandono e ostracisrno por parte das entidades competentes. E pensar a genre que, para a valorizacae e dcscnvolvimento do local, basta ria a construcao de urn acesso focil ao seu topo, do qual 0 visitante pode, extasiado, conternplar, ale aonde a vista alcanca, urn dos rnais belos, extraordinarios e desIumbrantes panoramas de toda a provincia algarvia, Pensar-se assim, e verificar-se- que nada ale hoje Ioi Ieito nesse sentido, entristece e magoa.
De modo algurn constltuira exagero, af'irrnar que escassos serao aqueles que sabem que a de igna~o oficial deste Cerro ~ MONTE FIOO, designaCiio esta que provira de Monte do Figo (0 solo do Cerro - afirmou-mo urn habitante do mesmo - e de uma fertilidade espantosa no desenvolvimento de Iigueiras, e dar, julga-se, a sua designacao oficial).
A maioria da populacao do concelho desconhece, por completo, este facto, e se se the perguntar se sabe onde, ria regifio, fica 0 Monte Figo, a resposta sera, cerlamente, negativa.
Como e porque se popularizou com 0 nome de S. Miguel 0 idflico e paradisiaco local?
Sem duvida, dir-se-a, por virtude de, no aludido Cerro, se encontrar consagrada a S. Miguel, uma capela ou ermida, de cuja construcao se ignora a data, mas que, segundo me informou 0 Padre Isidore Domingos da Silva, prior de Moncarapacho, deve ter side erguida entre os fins do seculo XV·e rneados do seculo XVI. Anteriormente, disse-mo igualmente 0 rnesrno sacerdote, a capela fora construfda no cume do Cerro, mas os ventos e os temporals (par-
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[icularrnente violentos em local tao elevado e desabrigado) a que estava exposta ,cedo a danificaram, e de tal mo~o e a tal ponto que nova capel a foi construida, desta vez, mats abrigada e proteglda da violencia das intemperies, no sitio onde, actualrnente ainda se mantern, ou seja, na en costa norte do Cerro, no charnado Barranco
de S. Miguel. r
Tudo indica ser esta a razao, E quase certo ser esta a exp rca-
cao da origem da denominacao do Cerro. Mas serti realmente
assim, ou talvez; seia assim? ., . ,
Sernpre que urn equasei ou urn «talvez» extstern, e ~e~to e sabido existir sernpre, implicita e par~lel!~~ente~ uma ~duv~da. Por outras palavras: ainda que todos os ,mdlclos; ~Ircunstancalse el.ernentos de apreciacao nos conduzam a mars loglca, natur!!1 e ad.mlssivel das conclusoes, niio haja provas ~oncilldentes e irrefutaveis sobre seja qual for 0 facto que se queira comprovar _ou demonstrar a duvida e a incerteza manter-se-ao sempre. ~ao concc:_tos abs~lutamente indis ociaveis. E dos livros e da sabedoria das nacoes.
Ora sendo assim uma duvida (urna, pelo menos) se pode.levantar. 'Ei-Ia: teria sido 0 Cerro que teria. tirade 0 nome ~a en:llda, ou acr inves -reria sido 0 Cerro que terra dado origem a designao;li~ da cape'la? Seria 0 Monte Fi~o ja conh~ci~o par Cerro de
S. Miguel, antes de a errnida ICC sido construida?
Embora pouco provavel, e possivel. .
Ap6s a expulsao des arabes, lancararn-se os portug~es.es, quase de seguida, na exploracao e na conquista do norte de Afr ica, sucedendo-se as expedicoes armadas no combate aos mour'!'s.
Eram padroeiros dos portugueses S. Jorge e S. Miguel (se a mem6ria nao me Ialha, foi O. Afonso III quem invoc<?u S. Jorge como patrona dos lusitanos). «Por S. Jorge e S. Miguel! ". e.ra expressao muito usada, como palavra de .. 0rde'!1' pelos expedicionarios e mareantes portugueses nas suas incursoes e empre as por
terras de Mafoma. .
Segundo empre ouvi dizer da boca de tripulantes de antigo_s calques olhanenses que Iaziarn as «carr.eiras)) do Algarve para G~braltar e Marrocos, no regresso, e precisamente 0 Cerro de S. MIguel a prirneira terra portuguesa que se a~lsta. .. •
, A ser assirn (e nlio tenho qualquer molivd. para por em .du,:ida esta informacli.o),o mesmo tera decerto sucedido com cs p[l~elros expedicionarics e marinheiros portugueses, que? nos pnm6rd~os ds nossa nacao, se aventurararn ate aquelas perigosas e 10nglOqu~s paragens (perigosas e longinquas, em relacao a epoca em que tats viagens se realizaram).
No regresso (e ale a circunstancia lhes serviria de ponto de reIereneia e de consequente orientacao), tinham a. certeza de estar~",1 a aproximar-se da patria, logo que. 0 Monte, Fl_?O se to~n~va VISIvel no horizonte, e, na sua alegna e sausfacao (e cnstaos que erarn), nao conteriam a exclamacao da hab.itual «Por S. Jorge e S. Miguel!)), como primeiro acto de agradeclmento por lerem voltado, slios e salvos, ao solo patrio.
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Oeste modo, passaria 0 Monte Figo a ser conhecido popularmente por Cerro de S. Miguel (e s6 por Cerro de S. Miguel, em virtude de, nesse tempo (seculos XIII e XIV), existir jiI, ero Lisboa, certarnente, 0 Castelo de S. Jorge).
Pessoalrnente, penso que 0 Cerro deve a sua denorninacao popular ii. capela que, dedicada a S. Miguel, nele foi e se encontra construida. Parece-me a versao mais logica, quase inatacavel e indiscutivel. Mas podemos, os que assirn pensamos, estar todos redondamente enganados, e ter origem diferente 0 nome por que 0 Cerro e vulgarrnente conhecido,
Ademais (importa cita-Io), contrariando a inforrnacao do Padre Isidoro Domingos da Silva de que, antes da actualrnente existente, houve outra errnida no topo do Cerro, 0 sabedor e competente historiador e arqueologo olhanense Abflio Gouveia, afirma-rne nunca ter ouvido Ialar em tal, nem nunca ter encontrado 0 menor ve tigio de algurna vez la ter existido qualquer construcao. E a «me tre» Abilio, conhecedor profundo que e de toda a hist6ria local ,0 facto nao teria, deeerto, passado despercebido,
* .. •
Para explicar a etimologia de MARIM varias versoes existem. Com excepeso da do Padre Jose Cabrita (que lhe e posterior). encontram-se todas essas vers6es condensadas no opusculo «Origem dos Toponimos das Freguesias do Concelho de Olhao e de alguns dos seus sltios», da autoria, como ja aqui tern sido ref'erido, de J. Fernandes Mascarenhas. Creio valer a pena transcrever, na Integra, a parte que se refere a este toponimo.
«Sltio dos rnais apraziveis do concelho de Olhao, cheio de hortas verdejantes, salpicadas pelo branco das casas com as suas chamines rendilhadas, e tendo por fundo 0 azul lindfssimo do mar algarvio, nele rtoresceram varias civilizacoes, tais como a romana, vi ig6tica e arabe, de que se enconlram vestfgios bern nftidos, E fronteira ii. barra velha de Olhao qual sentinela vigilante contra os piratas argelinos e rnarroquinos que outrora talavarn as costas algarvias, ergue-se 0 resto da terre mandada consrruir par El-Rei D. Dinis, ostentando urn brasao das armas portuguesas desse reinado e urna inscricao em caracteres uncials aleg6rica it construeao da velha terre ..
.0 tepenirno MARIM talvez seja de procedencia arabe, pois, prectsamenre como hoje se escreve, foi urn nome de urn anrepassado da tribo dos «Benemarim: ou «Bclernarirn», a qual. segundo o ilustre arabista Prof. David Lopes, em cuja valiosa obra tambern nos baseamos, pertencia a familia real dos Merfnidas, que reinou em Africa e na Hisp!nia, ap6s os Alm6hadas.
o Dr. I. Xavier Fernandes, se bem Que hipotetiacmente tambern the atribui origem ambe, com 0 ignificado de um «posto civil e mililar, entre os mouros».
Sero duvida que, dessa civiliza~iio existem em MARIM varios vestigios. No seu aro, com muitos Ii: f6rteis botelhos regados com a
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tradicional cegonha ou picota, 0 «tellen_<») dos ro~anos~ que os arabes tambem utilizaram, e que Santo ISIdro dc Sevilha cl~a sob 0 nome de «ciconia» corre tambern na tradicao oral e escnta uma celebre lenda arab~, que parece denotar a existencia, no local, de
qualquer potentado da religiao de Mafoma. .
Tern ela por prolagonistas principais uma formosa moura,. filha de urn poderoso e rico senhor desse suo (talvez de nome Marirn), e urn jovem mouro, poeta e ~usico, .que muito ~ arnava, mas cujos amores contrariados pelo pal, terrmnaram tragicarnente num grande abis~o cheio de agua que surgiu certa noile, magieamente, ~m frente do seu castelo no memento em que esse pal cruel precrpitava sua filha sobre 0' mancebo enamorado, que, desequilibrando-se,
caiu no abisrno, arrastando-a consigo. .
Nao obstante todos esses vestigios, a palavra MARIM deriva de «Marinus» (terrno latino que significa «rnarinho, terra junto ao man», 0 que alias nao admira, dado que os romanos ocupararn 0 norte de Africa, onde deixaram vesugios, nao so monumentass, como do seu idiorna.
o Prof, Leite de Vasconcelos inclui 0 terrno MARIM «entre os nornes de pessoas tornados geograf'icos, tomando-o como resultante
do genitive «Marini» do antroponirno (,Marill,;!s}).. .
De identica opiniac e tambern 0 nosso querido Amigo e erudite latinista Prof. Antonio Augusto Ramos.
MARIM deve ser, portanto, urn top6nimo de procedencia arabe, mas derivado do latim, pelas razoes anteriorrnente expostas, :£ pois provavel que Fosse trazido pelos rnouros quando dominaram 0 Algarve ou, entflo, se porveruura 0 suio jii tinha essa designacac, nao e de crer que tivesse coexistido urn «Statio Sacra» hipotetica cidade romana que nao vern cit ada no «Itinerario de Antonino», e que 0 saibamos so na «Cosmografia de Revennate», IV, 43, que a situa entre Balsa e Oss6noba, e sobre a qual, apesar dos mUlIOS vestlgios arqueol6gicos encontrados no local, 0 Prof. Leite de Vasconcelos era da opiniao que 0 citado autor tivesse invertido a posi9il.o dos lugares, e que. «Statio Sacra» seia sinonimo de «Prornuntoriurn Sacrum», em coruradicao, portanto, com 0 que afirma Estacio da Veiga.
Seia como for, esse espolio arqueologico, entre 0 qual. Figura uma curiosa «aedicula», recolhida por Estacio da Veiga no Museu Etnol6gico de Lisboa, que lhe fora ofertada pelo proprietaric da quinta de MARJM, Jose Lucio Pereira, pai do grande e esquecido poeta algarvio Joflo Lucio, e outros objectos, rnuitos dos quais encontrados nas exploracoes feitas pelo distinto arqueologo Sf. Abilio Gouveia, vern provar a existencia de urn importante nucleo populacional, que desapareceu, mas cuja verdadeira dencmlnacao seria interessante esclarecer-se cientificamente».
o Padre Jose Cabrita, por sua vez, tam bern atribui ao top6nimo proveniencia arabe, e diz: «MARIM, «a terre», de que ainda restam paredes na casa da Quinta de Marirn»,
No que se refere a significado, a versiio do Padre Cabrita nao
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converge com a do Dr. J. Xavier Fernandes, pois, enquanto' este diz que MARIM significa, em arabe, «p03tO civil e rnilitar», aquele afirma significar ele «a terre». Ha, portanto, neste aspecto, "flagrante contradicao,
Por outro lado, ternos aqui, no Algarve, a vila de Castro Marim, 0 que, a aceitar-se a lese do Padre Cabrita, daria urn hibridismo que se traduziria por Castelo Torre ou coisa parecida, E isto seria uma incongrunecia, dado que todos os castelos ou castros tern ou tinharn, como parte integrante, a respectiva torre (pelo menos, a chamada torre de menagem). Castro Marim, em meu entender, quer direr castelo, fortaleza ou fortif'icacao «junto ao ou do man).
Como se observa, as divergencies, para alern de pormeriores de natureza secundaria, incidem sobre se e latina ou arabe a proceden cia do toponirno,
Eu «vote» na prirneira hipotese, ou seja, que 0 termo MARIM e de origem latina.
A designacao tera sido dada ao local pelos rornanos, persistiu durante a invasao dos barbaros, e resistiu nos cinco seculos em que as rnouros foram amos e senhores do nosso territorio. Cases semelhantes se verif'icararn, de resio, urn pouco por todo '0 .Por-
tugal. (
Foneticamente, «Marinu-» deu regularrnentc, em portugues, «Marinho»: 0 «n» latino, quando entre vogais, e scndo a prirneira dessas vogais «i» ronico, e a segunda qualquer outra (excepto sc era caduca), reduzia-se a «nh». Eis alguns exernplos: «caminu-» - caminho; «cocina-» - cozinha; «linu-s - linho; «sardina-r - sardinha; «farina-» - farinha; «rnarinu-» - marinho; mas «fine-r - fim; «latine-» - latim; «sine) - sern (por ser caduca nestes
tres ultirnos cases, a vogal final). ' ,
o que se refere it pa agern da terrninacao «inhor a «irn» e fenorneno de certo modo vulgar na linguagern do povo.
Como se sabe, e obedecendo talvez II charnada «lei do menor esforco», 0 povo transforms au dissimula 0 «0» (fechado) em «e» (0 ((O)) final, bern enlendido). :£ este 0 motive POl' que ouvimos proferir «poce», por p090; «quante», por quanto; «sale», por gato; «tante», por tanto; esapate», por sapato: «macaque», par macaco; «garote», por garoto; «padrinhe», por padrinho; «bonequinhe», por boncquinho; etc.
E, a partir ja da terrninacao popular «inhe», hfI certa tendencia para a pronunciar «irn». Atente-se, por exernplo, em «rnerim: (pronuncie-se «rnerim», ou «rneirirn» (de «meirinho», funcionario judicial .of'icial de diligencias); «Manelirm (de Manelinho, diminutivo de Manuel); «quartim» (de quartinho, antiga designacao de 1S20 ou 1.200 reis): «Francisquim» (de Francisquinho, diminutivo de Francisco); «Marim» (leia-se «Marim») ou «Mairim» (de Marinho ou Mairinho, diminutivo de Mario) e tantos mais ,(Alias, convern notar que «irrn e tambem sufixo diminutivo).
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J{j quase me escapava urn pormenor, a que deveria ler aludido na altura propria.
Conheco, de les-a-les, pode dizer-se, a Quinta de Marim (0 Dr.
Joao Lucio era meu padrinho, fui nado e criado na sua casa, e. depois da sua rnorte (e durante largos anos), continuei a viver com Iamiliares seus), e nunca me apercebi da existencia, na extensa propriedade que e Marim, das rutnas da torre arabe a que 0 Padre Jose Cabrita se refere,
Nao haven! aqui confusao com a torre mandada erguer por
D. Dinis, torre essa multo posterior (nao poderia deixar de 0 ser) a estada dos mouros na regiiio?
Ou sera que, no local, existem restos das duas torres, urna de origem arabe, outra de construcao portuguesa?
Niio nego, nern afirmo, mas duvido. Duvida que nao me impede de me inclinar para a possibilidade de haver confusao da parte do Padre Jose Cabrita.
Portanto, em meu entender, 0 etirno de MARIM e 0 latim Marinus, quer este termo seja tornado como substantive cornurn, quer considerado como antrop6nimo (como opina 0 ProF. Leite de Vasconcelos) tornado top6nimo, cases estes de que abundam exernplos por esse Pais fora.
.. . .
o nome BRANCANES, suio pertencente, na sua quase totalidade" iI. freguesia de Quelfes, mas praticamenle absorvido pela lreguesia de Olhao (para quando uma revisao administrativa que fixe os novos lirnites das Ireguesias do nosso concelho?), tera resultado, segundo J. Fernandes Mascarenhas, da aglutlnacao do nome proprio «Branca Eanes» ou «Branca Anes», senhora que no local tera vivido, e distinguido. por qualquer motivo.
E opiniao perfeitamente aceitavel, e com todos os laivos de veracidade. Capacissima, portanto, de estar certa. Admito-a quase sem reservas,
E digo «quase sern» e niio apenas «sern», por haver urn porrnenor que faz oscilar urn pouco os seus alicerces.
Em Setubal, cidade cujas actividades laborais mais importantes erarn, ate ha bern pouco, identicas e sernelhantes as de Olhao - as industrias da pesca e das conservas -, existe (na estrada nacional que liga II rainha do Sado a Lisboa) urn sitio igualmente denominado «Brancanes». Por outras palavras, nos arredores de Olhao (e. no dizer feliz de 1. Fernandes Masearenhas, como Que a abraca-la por todos os lados»), enos arrabaldes de Setubal, localidades, repito, com caracterfsticas sirnilares e afins, verifica-se a existencia de urn suio ou lugar com nome precisamente igual: «Brancanese.
Pura (mas quase impossivel) coincidencia? Teria existido lambern outra «Branca Eanes» ou «Branca Aries» na periferia de Setubal, e que tivesse de igual modo dado 0 seu nome ao local ondc teria vivido, tal como teria acontecido com a sua hom6nima de Olhao?
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Uma colncidencia des te quilate e quase inacreditavel, Teria 0 nome sido trazi~o para Olhao por setubalenses ou levado por olhanenses. para :setubal? Para se responder a esta q uestao seria, antes de mars, indispensavel apurar-se desde quando se chamam «Brancanes» os dois sitics, 0 de Olhao e 0 de Setubal,
. . ..
Na freguesia de Moncarapacho, e entre outros, ha cs sltios da JORDANA e da MARAGOTA, toponimos que, na opiniao de
J. Fernandes Mascarenh as , sao de provenienela espanhola.
Muito especialmente no que se refere II JORDANA, nao concordo com esta versao,
E antiquissimo em portugues ° onomastico Jordao nao s6 como apelido, mas tambem como nome pr6prio. Enco~tramo-Io
em qualquer Vocabulario Onornastioo. "
Nao sera (nao e mesmo) muito comum, de facto. Todavia tambern nao e ~ao in vulgar e incornurn como mll~ente pod erA pensar. Ul!'a simples consulta a urna list a telef6nica comprova esta assercao, (E, certamente, nem todos as portadores deste apelido disporao de telefone ... ).
10R!>ANA, em me~ entender, e 0 feminino (popular, claro) de Jordao, nome pr6pno ou, mais provavelmente, apelido de alguem que, em epocas recuadas, no sltio houvesse vivido. lORDA.NA tera sido, pois, a mulher, viii va, filha, mae ou parente enf~m ~e qualquer .1ordao, e que, por qualquer ra.zao (sao tantas e tao .dlversas as circunstancias que ocorrem na denorninacao dos toponimos) the determinou a designa9io.
Tal como le~a sucedido ~om «Galvana» (de Galvao); «Brandoa» (de Brandao); «Guerreira» (de Guerreiro); «Carma Dias»; «Rosaria Cavacas (de Cavaco, sern dlivida); «Ana Velha»; etc.
En_fim, mais urn dos imimeros casos de anlrop6nimos tornados top6mmos.
~b~~ aq.ui urn pareruese para referir urn caso bastante curioso e significativo: 0 Largo de S, Joao de Deus, em Olhiio, ainda hoje e vulgar e popularmente conhecido pelo nome de Largo da «Cacela», por nele ter est ado estabelecida com uma venda ou .'aberna, uma velhota conhecida pela tia «Cacela». A proprietana e 0 estabe!ecim~nto jli desapareceram hti muitas dezenas de anos, m!lS. a deslgnacao popular da arteria - Largo da Cacela _ tern resisrido ao rodar do tempo, e continua a ser a geralrnente u~ada, e de tal mo.d~ que nao e~ certarnente exagero afirrnar que nao havera, em Olhao, quem nao saiba onde e 0 Largo da Caeela, e ~ ue poucos serao os que sabem onde se situa 0 Largo de S. 1080 de Deus ...
Isto de JORDANA provir de Jor<liio nao constitui, de modo algum, • un:-a certeza. E apenas uma hipotese, pois nao ignore a ~xlstencla, em po~tugul!s, (e pai"ticularmente no Algarve) de munos termos de origem espanhola UA publiquei, ate, hA anos,
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na REVISTA DE PORTUGAL, Serle Llngua Portuguese, urn estudo sobre esre lema).
Pode muito bern dar-se 0 caso de J .. Fernandes ~~carenhas ter razao, isto e, ser 0 castelhano a orrgem do topommo_ JORDANA. Simplesmcnte, ~. pelos exemplos que aponto, nao. me incline para. a opiniao do distinto investigador moncarapachense
., Quante a MARAGOTA,. _permilo-me . ap_el_lasescIarecer ._que este termo existe em. portugues, co~ 0 significado de «bod laO!), peixe que abunda na nossa costa, E a sltio .da MAR~GOTA nao fica muito distante do literal (pelo contrario), e muuos dos,seus moradores dedieam-se a faina e 11 labuta da pesca. Querera isto dizer alguma coisa? Ignoro.
E simplesrnente a exteriorizacao de uma ldeia, de urn pensa-
rnento. Urna sugestao, nada rnais,
Consequents, inconsequente?
Niio sei, confesso.
* • l1li
ALFANDANGA, na freguesia de Moncarapacho, repr.es~n.ta, segundo 0 Padre Jose Cabrila,. 0 arabe «al-fa~dak», que significa «a estelagem». Nada tenho a opor a. e~ta vcr~a.o ..
Ternes tarnbem na rnesrna freguesia, 0 stuo de B~AS. , . Era rninha conviccao que este top6nimo era urn hipocortsuco
(no plural, ja se vel do' nome proprio Marj~. .
Como e sabido, e bastante usual (pelo rnenos, aqu~ no Algarve), chamar-se carinhosa e fami.Uarment~ .BIA- as criancas cUJO nome proprio e Maria, e tal hipocoristico acompanha-as, regra geral, pela vida fora. Terja havido, pensava eu, duas, Ires, quatro ou mesmo mais Bias que, nele vivendo, terram dado 0 nome ao .sttio. Mais tarde t~ria sido aberto urn carninho ou passagem (tornado posterio;mente estrada nacional), circunstsncia que teria situado umaou rnais dessas Bias ao Sui, e ao norte outra ou outras, Daqui, naturalmente, a designacao aCI!:_ai de BIAS_ DO SUL e .BIAS DO NORTE, con forme a sua sttuacao em relacao 11 estrada, Era esta a rninha explicacao para a 'etirnologta ou origem deste top6nirno. Parecia-rne a rnais natural, 16gicae convincente.
Tive, coatudo, de abandona-la quando chegou ao meuconhe: cirnento 0 que, na «Corcgraf'ia do Reyno do Algarve», de F~el J oiio de S, Jose, este escreveu no ano de 1577, e vern transcrno na «Origem des .Toporumcs das Freguesias do Concelho de Olhiio e de alguns dos seus sttios», de J. Fernandes Mascarenhas:
«Tern Farao born porto e seguro a que se entra polla foz do Rio BIAS, que est! afastado da cidade quasi hua legua e mea, c este rio he de agua salgada, e tern duas bocas; par esta q he a maier entrfio nauios de 130 e 200 torieladas; e polla outra rnenos principal caruellas e outros bayxeisdesta· ·sorte».
Em l'inguagem actual, escrever-se,-ia deste modo: Tem Faro porto born e segura, para 0 qual se entra pela .foz do Rio BIAS,
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que esta afastado da cidade quase uma legua e meia; esre rio e de agua salgada, e tern duas bocas (enlradas). Por uma, a maior, en tram navies de 130 e 200 toneladas;e pela outra, rnais pequena, caravelas e outros baixels do mesmo tipo ou calado.
Deve tratar-se da charnada «Barra Velha» , situada na ponta leste da Ilha da Cula!ra, que dava entrada no canal existente entre a Ilha do Coco e a referlda Ilha da Culatra, canal que se estendia (e. estende) ate Faro, e fambem acesso a Ria Formosa pelo estreito canal entre a Ilha da Armona e a Ilha do Coco (Irente, apmximadamente, ao moinho de Marim).
Tudo certo e comprovado, como facilmente se observa,
E. opiniao de J. Fernandes Mascarenhas, com a qual estou plenamente de aeordo, que 0 nome de BIAS teria side posto pela tripulacao dequalquer barco grego, ou mesmo proveniente de indivtduo de origem helenlca, que no local tivesse habitado. (Cabo aqui referir que se sabe terem os gregos estado no litoral algarviol, Portanto, e ate prova em contrario, BIAS ede origem grega, tanto mais que se tratava de anlrop6nimo multo vulgar entre os helenicos,
Contra factos (e docurnentos) nao M possibilidades de argumentacao.
• * •
Passernos a QUATRIM, sltio igualruente pertencente 11 Ireguesia de Moncarapacho.
Quante a rnim, este nome, que tanto pede ser substaruivo comum, como aleunha ou apelido, esta intimamente ligado a patavra «quatro» e seus derivados, tais como «quarto», «quadri», «quarti» ou «quatri» (estes. do is 61timos funcionando como primeiro elemento na composi~o de varlas palavras em que, entra o significado ou a nocao de «quatro»). Podera, portanto, significar urna quarts parte (pequena) de qua!quer quantidade ou medida, e, neste case, 0 top6nimo seria a reducao de «quartlnho», e, consequenlemente, indicaria uma dlminuta ou pequena parce!a ou courela de terra,
Como alcunha ou apelido tambern ex isle em portugues a forma «Quartim» (estou a lembrar-me do eng.i Quartirn Graca, que foi figura grada e destacada durante 0 regime marcellsta, e que, por interrnedio do saudoso Dr, Francisco Fernandes Lopes, me fez, em tempos, uma consulta sobre a possivel origem do seu apelido, e ainda de. urn antigo capitiio de . milfclas; de seu nome Lazaro ou Caetano Quartirn, se nao me falhaa memoria), de que 0 actual QUA TRIM tambern podera ser uma ligeira adulteracjle, pela simples troca de duas letras no interior da palavra, fen6meno que, em fonetica, se chama «metatese». e se verlf'ica tanto a nlvel erudite, como a popular (veja-se, por exernplo, estes dois casos de cunho popular, j4 que os de natureza erudita se estabeleceram, na sua generalida.de, no infc.io da formacio da nossa lingua: Ant6ino,. par Ant6nio, e Greg6iro, por Greg6rio),
Por m.eta curiosidade, referire.i que exisle em poriugu~s 0 subs-
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tantivo comurn «quatrim», com 0 sign,ificado de «antiga moeda de pouco valor»; «ceitil»; «branca» (antiga moeda d~ prata).
Portanto, a meu ver, QUATRIM ou 6 subst!"ntlvo comum ou
I ha (mais tarde tornado apelido) convertldo, como tanto. s
a cun . . . .' Q' 'do em
outros em top6nimo. 0 apelido gena uartim; corrompu .
Quatri~ (au vice-versa), .u~do par aiguem q~e tivesse nascido au
vivido no sitio, e lhe OrJgmasse a denorninacao. .
• * ..
Se ba names cujas ongens sao urn verdadeiro desafio a mais ferlll das imaginacdes, ESTIRAMANT~NS e, sern duvida, urn
deles. Urn autentico quebra-cabecas. , .
Pertencente, em parte, a freguesia de Moncar~pa~ho, e emgm;a praticamente insoluvel a etimologia ou a proveruencia destc topo-
nimo. I' - d bo
Tanto pede ser 0 resultado de uma ag utmacao . e urn ver_
com urn substantive, como urna alcunha, como, =. a deturpal;ao de urn nome proprio. Pode ser isto tude, e pede nao ser ... nad~ disto. Qual a sua verdadeira e exacta origem? Quem a eonhece.
Apenas hip6tese e conjectures se pode~ aventar,
Como aglutinao;:ao de verbo e substantl~o,. podem~s (e devemos) dividir a palavra em dois elementos distintos e independentes: «estira» (do verbo «estirar» e «mantens» (plural do sub.stantivo «mantem» que signifiea «Ioalha de mesa», e se usa habitual-
mente no plural). . ..
«Estiran) tern, entre outros, 0 significado de «~Ienden~,. e, ne tas condicoes, indicaria 0 local ou lugar o~de uvesse vivido qualquer lavadeira (de roupas, clare), que, depois de as lavar, .as «estendesse» ao sol para as secar. Seria ou teria sido tal lavadeira especialista na lava gem de «mantensi ~u «toalhas, de mesa~. (Importa, talvez, lernbrar que, nao ha mUltos. anos aU1~, havia mulheres (geralmente, do campo) que exerciarn 0 ~t1Isler de lavadeiras, Vinham semanalmente busear a roupa SUJa as casas das suas clientes, levavarn-na consigo para a lav~r e secar .. ~p6s. 0 que a vinham trazer, uma vez limpa e nas devidas condicoe , E e ta roupa era geralmente lavada nos ribeiros).
o lugar teria sido iniei.aLmente {(Estl~a ~antens), tendo-se depois os dois termos fundido, por aglutinacao, em «ESTIRAMANT~NS)).
Embora da minha lavra c inteira responsabilidade, ache, no entanto, csta hip6tese pouco plausfvel e conseque!lte, ja que, quer «estirar», quer «mantens» (prmcipalmente este~ sao termos por de mais eruditos para serern usados e conhecidos pelas carnadas populares. Todavia, num, oceano de dtividas tao encapela~o, com,o se apresenta a tentativa de explicar este estranho e insolito topanimo, e rnais urna achega, mais uma hip6tese, '
E de admitir tambem que a designaCao do siti~ pro.ve~ha da alcunha de qualquer morador no local o~ nas ~uas Imer:ha.9o~.
Por mais de urna vez jA, tenho aqur referido a existencra de
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alcunhas, esquisitas e extravagantes, de que, em muitos easo.s (quase diria na maioria), se desconhecem cornpletarnente as ongens.
Ern abono desta afirmacao, apenas urn exernplo:
Em 1952 urn morador na Rua do Caquele em Castelo Branco, pretendendo'saber a origem daquele {(Caquei6), e depois de, em vao, 0 ter tentado por todas as vias de que dispunha, resolveu, ern ultima instancia dirigir-se Ii Sociedade de Lingua Portuguesa, que, na respect iva seccao «<ConsultoriOl», the deu, mais ou menos, a seguinte res pas ta:
ao sabemos quais as autoridade consultadas pelo nosso consulente, mas, na verdade, nao encontramos qualquer tentativa etimolegica para explicar 0 dito etimo: rnais: nenhurna referencia, como simples registo, nos foi dado achar.
. Conhecemo-Io agora par intermedio do senhor consulente, Devemos-lhe esta fineza e a ele fica cabendo a respansabilidade do novo verbete com que varnos enriquecer 0 nosso ficheiro.
o que varnos dizer nan passa, evidenternente, de hipoteses, pois faltam-nos a respeito deste nome todos as elementos corn que, noutros ca os, se explicarn, com variavel facilidade, as toponimos.
Ha, para cornecar, urn ponte sobre 0 qual poucas possibilidades pode haver de desacordo: trata-se inicialmente de urn antroponimo, de uma alcunha.
E, depois de apresentar tres hipoteses pari! a eventual explica«iio da palavra, conclui 0 porta-voz da Sociedade de Lingua Portugue a:
«Ern qual des las Ires hip6teses reside a explicacao, ou qual sera a quarta e verdadeira, 56 0 podera saber, alern de Deus, aquele que urn dia descobrir quem era a figura popular albicastrense que se dava pela alcunha de «Caquele», e [he dedicar um estudozinho, por onde possarnos tarnbern deduzir a significaCao de tao estranho vocabulo».
E prossigarnos com 0 toponirno ESTTRAMANTENS.
No que se refere a uma passive I derurpacao, possa ela embora parecer demasiadarnente profunda e acentuada, e hipotese que nao podemos repelir ou recusar sem rnais est as OLi aquelas.
De Facto quem nos pode garantir nao ser ESTIRAMANrnNS uma adulteracao ou corrupcao de urn nome pr6prio, melhor, de uma expressiio substantivada pr6pria? Par exemplo, de urna Esler Mateus, Matias ou mesmo Martins?
Aqui mesrno, no nosso concclho, temos cxcrnplos de deturpao;:oes que alteram, acentuada e profunda mente, a pronuncia dos names originals, designadamente, no que concerne a onomasticos. Todas estas deturpacoes Sao de natureza popular. Eis algumas, ao acaso: a Quinta de doao de Ourem» chama 0 povo Quinta de «Jondrens»; «Torreiao» e corrupteia de «Torre de Johanes»: «Noiteb (Largo do «Noitel», em Moncarapacho) e, corn certeza (aquela certeza relativa que se pode ter nestes problemas), ou alcunha ou desvirtuaeao do nome pr6prio Neutel.
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Entre inumeros casos locais de que tenho conhecimento directo, cito a seguinte: rnorreu, ha anos, em Olhao, urn «ilho», cujo nome proprio era Hipolito. (Con vern esclarecer que 0 term a «ilhoi I! a designativo popular dado aos pescadores que, provenientes da Murtosa, de Estarreja, de Ovar, de Ilhavo (ailhos I! mesmo, suponho, deturpacao de Ilhavo), em suma, de toda a regii'io aveirense, que por aqui se fixaram e estabeleceram).
Pois bern. Sabem como ele proprio pronunciava 0 name? Nada mais ,nada menos do. que «Ripolde». E, porque entrada jii em arios, os carnaradas, cornpanheiros, amigos e conhecidos, todos ern suma, tratavam-no por «Ti Ripolde»,
Informou-mc a meu velho Amigo Joao Novak que, algumas pessoas do meio rural do. concelho de Tavira (ao qual pertence a outra parte de ESTJRAMANTENS) proferem «Bstragarnanteus» como designacao do top6nimo. Muito grato pela informacao, adianto. que a Dr." Mariana Machado. Santos ja se debrucou sabre a assunto, e e de opiniao de que «Estragamanteusi e que seria a verdadeiro nome do. sftio, e, par consequencia, que «ESTIRAMANTENS» sera Lima cOITuP9aa de «Estragamanteus». «Manteu» significa, entre outras coisas, «saia lisa, sern pregas»; «cueiro»; «capindo de velha».
Parafraseando a conclusao da Sociedade de Lingua Portuguesa acerca do toponirno «Caquele», direi que s6 Deus sabera a verdadeira e exacta origem de ESTIRAMANTENS. Tudo quanto ale hoje se tern ou tera dito, nao passa de meras e fallveis hipoteses.
.. . ..
Temos ainda, na Ireguesia de Moncarapacho, os sitios da FOUPANA, do GlAO, do LAGOAO, dos MURTAIS e da MURTEIRA.
FOUPANA, ja que, coma substantivo, parece nao existir no. vocabulario portugues (eu, pelo menos, naa consegui localiza-lo nos varios dicionarios que consultei), apresenta-se coma terma de difleil explicacao, Bstar-se-a talvez em presenca de mais urns alcunha tornada denominacao de local, Parece-rne esta a hip6tese mais 16gica e consequente,
Havera ainda a possibilidade (remotfssima, con vern acrescentar) de 0 !op6nima ser deturpacao au corrupcao de «choupana», que, tad as a sabem, significa «easa rustica de madeira ou de ramos de arvores para habitacao de pastores», Mas, a ser assirn (do. que duvido), como se teria processado a passagern ou evolucao do «ch» para «fll, contraria a todas as leis foneticas, au. pelo menos, naa prevista au eontemplada par essas rnesmas leis? Defeito de prommcia? Dificuldade au erro de diccao? Tudo I! posslvel,
Todavia, e hipotese com remotfssirnas possibilidades, tanto. mais que ha, ern Martim Longo, freguesia de Cachopo, concelho de Tavira, urn curso de ligua, chamado Ribeira da «Foupana», 0 que torna ainda mais dincH a explicacao da origem au proveniencia deste top6nima.
9uanto a, GlAO, e nome proprio de alguem que, par qualquer rnotrvo au circunstancia, deixou 0 seu onomastico ligado ao sftio. Nome pr6prio que tam bern podera eventualmente funcionar como apelido, tal como tantos outros (Afonso, Carlos Tome Artur DoIT!ingas, etc.), Vern registado num Vocabulario 'OnOmli~!ico d~ que disponho, 0 que ignore e se e ainda sancionado actualmente (embora nenehuma lei tenha sido prornulgada nesse sentido certos names ha que s6 pod em ser apostos mediante parecer ou a'utorizal;aa su~rior?s). Mas que GLAO, nome proprio 00. apelido, existe ou existra, dLSSO naa tenho a rnenor dtivida, Incidentalmente referirei que, no. concelho ?e Alcoutim, ha a freguesia de GiOES, toponimo, por certo, derivado do antroponimo «Giao».
LAGOAO e aumentativn de «lagoa», e significa, portanto, «lagaa grande» ou «grande lagoa.». Tera havido no local alguma {(.POl;a>I de ~gua de proporcoes relativamente volumosas, da qual nve e provindc a designacao do sftio? Ou tratar-se-a de alcunha P?T que rivesse sido conheeido qualquer individuo que al haja nascido au vivido em tempos recuados? A falta de melhor decide-me
por esta ultima hipotese, '
No que respeita a MURTAIS, cuja graf'ia altemou, durante anos, com a de «Mortais», provern de «murtal»: campo de «rnurtas »ou terreno onde existern «murtass (cornpare-se com «Olivais» (de «olivais»), «Ieraniais», «eucaliptais», «Iigueirais», «amendaais», etc.),
MURTE!~A esta rarnbem intimamente ligado a «rnurta», pois esta p~ant~ e igualmente conhecida par «rnurteira», «rnurteiro» au «rnurtinheiro».
• • •
A freguesia de Pecha a pertencem, entre outros, os sltios da ARROCHELA, do. ARRUNHADO e da RETORTA.
C? primeir? - ARROCHELA - e na~ apenas top6nima, como ape!Jda relatlva'!lente vulgar. Tanio aSSLm que se encontra ja devida e convenientemente estudado e tratado a «nlvel nacional», Vasco Botelho. de Amaral, meu barn Amigo, por exemplo, ocupou-se do termo nas suas «Palestras de Lingua Portuguesa» (Vol. Ill, 2.1 Serie, pAg. 199):
«ARROCHELAI) e, alern de top6nimo, urn apelido. 0 nosso a~tigo dicionarista Morais e Silva, ao regis tar «arrochelado», escrevia: - De Arrochela, praea rnui forte, onde se sustentaram muito tempo as Hugonotes de Franca -. De facto no seculo XVI essa praca resistiu heroicarnente as forcas de Ridhelieu.
o A inicial de ARROCHELA corresponde ao «La» frances de LA ROCHELLE, mas deve ter surgido coma articular naturalmente, seguindo a tipo de palavras como «arrocho», «arrs», etc.
AR~OCHEL"A ~, portanto, aportuguesarnento do toponirno gecgraf'ico frances «La Rochelle», aportuguesarnento cuja explicacao acabo de dar .Quanto ao facia historico, tern razao Morais.
ARROCHELA vern, de facto, do. name dessa celebre praca forte de Franca, chamada «La Rochelle», do latirn vulgar hlpote-
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tico «rocca», isto e, «pedra», «rocha». :&~a praca Ticou celebre peia tenaz resi tencia em varios lances historicos. De «La ~ochelle.) Iicou na nossa Lingua esse adjectivo «arrochelado», ISIO, e, ({~orte~) ou «Fortificado» como a praca de «La Rochelle», e, dar, 0 signif'icado de «bern fortificado>., «encastelado», «tenaz~),. «pernnaz». ,
o toponirno, presumivelrnente, deve a sua .. ongem ao. apeh~o de qualquer morador ou habitante do local, pots, que se saiba, ~~o hii memoria da exi tencia, no sltio, de qualquer casa ou ediftcio bern fortificado, encastelado ou. amuralhado.
ARRUNHADO (e nao «Armmhado», como, por lapse ou ~rro de composiciia, Antero Nobre rnenciona em «0 Te:mo de Oihao») e rnuiro provavelmente, a forma popular de «arruinado».
, Com efeito, os dicionarios registarn 0 verbo «arrunhar» como forma popular de «arruinar», e tarnbem com 0 significado de «abrir, rasgar, aparar em red or a sola d~ calcado: a~f1r O,JavTe para encaixar os tarnpos». (Para os que, nao sa!bam, nao sera descabido, nern inoportuno, informar que «javre» e a recorte ou ~ntaIhe feito na aduela, onde encaixa 0 tarnpo au 0 fun~o da vasilha).
Em meu entender, referir-se-a 0 te,rm? a algu~m que, ~endo sido pessoa abastada, tivesse catdo na m iseria, na fUl,na;, que nvesse ficado arruinado ou «arrunhado». OU. entfio, ao pro~no solo tor-
nado, por qualquer circunstancia, esteril ou improdutivo. .
Quante a RETORTA.' penso tratar-se d~ alc,:,nha ou apelido (apelido que, embora murto P?lICO vulgar, na~ deixa, contudo, d: existir) do qua! 0 sltio tera tirade a deslgnacao, Poder! ate ser a alcunh~ por que ters side conhecida qualquer mul~er ~oradora. no local, de quem vizinhos e conhecidos, pel a sua termosra e roruce, dissessern ser mais que torta: ser ({retorta~), Pode ainda s~r.1I denominacao de uma propriedade que. no sit to, houvesse eXI~lldo.
o povo profere geralmente ({~RRETORTA», 0 que e Ienemeno bastante vulgar e encontradlco ria nossa lingua, Tra~a-se de uma prote e (acrescentamento de urn fonema ou de uma sflaba no principio de urna palavra), de que temos bastes exemplos: «arrebentar», por rebentar»; «arrecuar», por recuar»; «arraiar», por raiar: «arrecear» Oll «arrecear-se», por recear; (~arrolha.f», por rolhar; «arra .. , por ra (todos estes jii sancionados e registados): «arreceber», por receber; «Arraul», por Raul; «Arrenato», por Renate: etc. Isto para citar apenas palavras comecadas por «r», pols ml:itas outras ha em que identico fen6meno se vcnflca:. «alenterna», por lanterna; «abanhar», por banhar ou ba.nhar-se, «adanan>, por nadar (neste caso, protese e metatese, simultancamen-
Ie); salevantar». por levantar, etc. . . . .
Na mesma freguesia (Pechao) ha ainda os SIUOS de BELA
MANDIL e de BELA CURRAL. .• .
Segundo 0 Padre Jose Cabrila,. Sa? .ambo~ de provelllencla arab_e:
o primeiro termo - Bela - Slgmflca «fllha»; os segundo ~ao nomes proprios. Por consegllinte, B LA M NDlL quer dlzcr
«filha de Mandih). «BELA CURRAL», «fIlha de CurTaI... .
E. por fim, e ja que os reslantes sil.ios das quatTO freguesl.as de
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Olhao, tais como, IGREJA, ALECRINEIRA, VALE DA MO, PEREIRO, CALII;;OS, LARANJEIRO, etc. se explicarn por si rnesmos ( ao (self-explanatory», como diriam os ingleses), tratemos de urn que e neces ario e imprescindivel esclarecer de urna vez para sernprc, nomeadamente no que concerne a grafia: PIARES, pertencente it freguesia de Quelfes, muito embora grande parte dele esteja praticamente dentro des Iimites (1) da freguesia de OIMo,
PIARES, cuja grafia alternou durante largo espaco de tempo com a de PEARES (certamente por virtude da homofonia existente entre os dois terrnos), deve a sua origem - di-lo a tradicao - ao facto de 0 local ter side muito frequentado por aves nocturnas, nomeadamente, mochos, que, dele, faziarn 0 seu habitat predilecto. Os seus higubres «piares» prolongavarn-se, evidentemente, pela noite fora. Esta a TaZaO por que 0 sitio fieou a ser eonhecido per {(PlARES}).
Esta explicacao, transrnitida, em duvida, de pais para Iilhos, de gera(,:iio para geracao, sempre a ouvi, desde rnuito jovern, da boca de pessoas idosas, Ainda nao ha multo, tive uma vez rnais ocasiao de a confirmar por intermedin do meu bom Amigo e conterrfmeo Rene Quintas, que me contou que seu avo paterno, dono de uma propriedade no sitio de ({PIARES.), mandou benef'iciar e aumentar a casa que na mesma propriedade existla, com 0 proposlto de, nela, passar com a familia a estaeao estival, E assim aconteceu, Porem, logo no dia seguinte a primeira noire que hi passaram, forarn forcaden a regressar a Olhlto, dado uma tia daquele meu Amigo nao ter podido suportar os «piares» das aves nocturnas, que nao a deixararn nregar olho durante toda a noite,
Tradicao e lenda, ernbora em sentido restrito len ham significades perfeitarnente demarcados, em sentido lato, confundern-se. Andam de braco dado, «vivern» paredes rneias. Sao. pede afirrnar-se, sinonimos, Aqui, porern, nilo se trata de urna tradicao-lenda (ou vice-versa), mas de uma tradicao-tradicac, ja que corresponde a urn facto real, concreto, com visas. portanto, de autentico, de veroslrnel. Para rnais, a grafia "Pea res» nada tern que a recornende, nenhuma base ou fundamento a avaliza.
Ora, a persistir-se na grafia, errada, de «Peares», aos futures estudiosos destes problemas topontmicos deparar-se-a ou urn problema insotuvel ou, entao, seja qual for a explicacao ou versao que powarn apresentar, ela sera sernpre e neccssnrlamente incorrccta c inexactn. porquc, partindo, como nartirao. de princlpio errado, a conclu ao tera de ser logicamente falsa e incorrecta.
Adernais, «Peares» e uma flexao do verbo «pear» (eprender com peiai e, por extens!io, «irnped in> , ('p6r obstaculos a», «embara~ar»), enquanto PIARES, embora igualmente uma flexilo verbal (de «pian», e aqui empregado sub tantivamente, com 0 significado de «pios). de aves.
Por conseguinte, ~ nao s6 aconselhavel, como conveniente que se adopte oficialmente, a forma «PlARES),. e que as listas telefo-
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nicas (estas, sobretudo) deixem de nos impingir «Peares» (com «ell), grafia erronea e incorrecta, como deixo cabalrnente demonstrado, e passem a apresentar PlARES, como a origem da denominacao do sltio plenarnente justifica e exige, E nao s6 «Peares» devers ser corrigido para PIARES. Do mesmo modo se devers proceder em relacao a -Almancil, Fuzeta, Estoi, e talvez outros, que aparecem nas referidas listas (e tambem nalguns Prontuarios e Vocabularies) grafados, respectivamente, Almansil, Fuseta, Est6i (este, entiio, de bradar aos ceus, e que tanta e tanta genre tern induzido em erro, norneadarnente, locutores da Radio e da Televisao, que, involuntariamente, tern sido os «rnelhores» veiculos da expansao desta inadrnissfvel silabada).
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Com excepcao do Dr, Francisco Fernandes Lopes (que apresentau uma versao sobre a posslvel origem da designacao de urna delas - a da Armona -), nao sei de quem, algurna vez, tenha procurado ou tentado explicar a proveniencia dos nomes das tres «ilhas», que, situadas a sui da nossa vila, constituem como que um quebra-rnar que a def'ende da f'tiria dos violentlssirnos temporals e vendavais, que, nao raro, assolam a nossa costa. Refire-me, todos o devem ter ja calculado, as nossas tlpicas e aprazlveis ilhas: a do COCO, a da CULATRA e a da ARMONA.
Para a primeira - a do COCO - cuja designacao oficial e Ilheu de S. Lourenco ou Ilheu dos Amores, duas versoes (que eu saiba) existem para explicar 0 nome popular por que e conhecida, (Evidentemente, nao se refere qualquer delas a «coco», como fruto do «coqueiro», pois nlio hit memoria, nem consta que, no minusculo ilhote, tivesse alguma vez havido fruto daquela especie, ou rnesmo de qualquer outra),
Alguns rnapas e cartas marltimas antigos rnencionarn «Ilha dos CoCOS»), 0 que leva a conclusao de que, inicialmente, teria sido e te o nome que era vulgarrnente dado a pequena duna de areia (nos anos 20 e 30 era a praia preferida pela populacao olhanense). Pesteriormente, e por razoes que nao Iazern ao case, a denorninacao passaria a usar-se no singular, donde lLHA DO COCO ou simplesmente 0 COCO, designac;io por que passou a ser e e vulgar e popularmente conhecida,
Diz-nos uma dcssas versoes que COCOS tem, no caso vertente o significado popular de «papoes», «medos», «fantasrnas», e, sendo assirn, a ILHA DO COCO (ou dos COCOS, como se dizia em tempos idos) querera dizer Ilha dos Papoes ou dos Medos ou a local onde estes costumavarn aparecer.
Esta explicacao parece-me perfeitarnente J6gica e consequente tendo em vista que os pescadores e maritimes olhanenses, embora au dazes e destemidos (dos mais valentes e arrojados de toda a costa portuguesa), mas tementes a Deus, foram sempre bastante supersticiosos, mormenle, no que se relaciona com almas do outro mundo, espfritos malignos, fanlasmas, etc. (0 que acontecia com maior incidencia e acuidade antes do aparecimenlo e instalacao da luz
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el~ctrica). Comprova.m estavassercao, pelo paralelismo entre eles eXIS~ente nos demlnios da supersticao e do sobrenatural outros !0~1S. da orla maritima olhanense, cujos nornes revelam,' clara e iniludivelrnente, a existencia dessas crencas e temores: a «ilha» dos GEMlDOS, o. Esteiro das BRUXAS, 0 MEDO BRANCO, etc, Isto sem referir as lendas do «MENINO DOS OLHOS GRANDES» e a da formosa e desditosa moura «FLORIPES».
Poderao talvez objectar-me que, corn 0 significado de «papflo», o que 0 povo usa e «coca» e nao «coco», e, se assim 0 fizerem ou pensa.rem, terao absoluta razao, Eu mesmo me ative neste pormenor, que ~e pareceu estranho, e sobre ele me interroguei tambern. Procurei, por ISS?, esclarecer-me (e esclarece-lo, tambem, evidentemente), E apurei que ambos os termos, isto e, tanto 0 mascuhn_o (coco), como 0 feminine (coca) tern 0 mesmo significado (papao), muito embora actua~me~te haja uma predominiincia quase total do segundo s.obre 0, prtrneiro (pelo rnenos, na nossa regiao).
. ~ outra versao, q~e, 9uanlo a mim,. n~o resiste, a qualquer anal~se ou argumentacao, Simples ou superficial que seja (basta que se dlga que, quando os primeiroa olhanenses se estabeleceram em Luanda, haveria jii muitos e rnuitos anos que 0 Ilheu de S. Lourenco ou dos Arnores era local e popularrnente conhecido por ILHA DOS C_:OCOS ou ILHA DO COCO), pretende que 0 nome tern a sua ~T1gem no facto seguinte: entre os primeiros colonizadorese habitantes ~e Luanda. (e ~e outras localidades angolanas, d~ algumas das quais fo~am proneiros e fundadores) havia grande numer? de olhanenses (ficararn famosas na hist6ria maritima local as perigosas e arriscadrssimas viagens de muitos calques olhanenses para Angola, das quais algumas tiveram urn fim tragico).
Quando, n? seculo passado, esses pioneiros e colonizadores regressavam definitiva ou temporariamente a Olhao, teriam comecado a charnar, ao IMu de S. Lourenco, Ilha dos Cocos, isto pelo facto d.e, frente a Luanda, e tal como acontece em retacao a Olhao, estar SIlU8:da a Ilha dos Cocos, local, onde, ao tempo, vivia 0 soba d.aquela cldad~ angolana, Dada a semelhanca da situacao geografica das duas ilhas (ambas em frenle e pr6ximas de duas localidades), tornou-se, ra~il a comparacao, que bem poderia ser considerada c,?mo autentica (ou, pelo men os, como consequente e aceitav:l) origem do top6nimo, nao fora a circunstiincia de a denornina(,:.110 da TIna ser bastante anterior (prcvam-no os mapas e as cartas : Que atras me refire) a i~a dos primeiros olhanenses para terras
ngolanas. Mas, a srm, cal pela base tal versao, por infundamentada e inconsistente.
Umporme?or, toaayia, tem de ficar, desde ja, convenientemente esclarecido e ~evlda,!,enle definido, para evitar que os vindouros .v~nham um dia a cair em err o.eu, pelo menos a ficar com uma duvld~ em suspenso.: a familia de origem italiana, de apeJido Cocco, radlcada hA dezenas de anos em Olhao, nada tern aver (de perto ou de !onge) com a designacao da Jiha do COCO. Membros dessa respeltada familia, estao. isso sim, intimamente ligados
it moderna «colonizacao» da Ilha da Armona, pois foram dos primeiros a construir, no princlpio da .decada dos anos 40, naquela Ilha, casa de pedra e cal, on de ainda hoje continuama passar a epoca balnear. Ja antes disto, essa rnesma familia era frequentadora assidua da Ilha da Culatra, onde todos os anos se instalava durante a estacso estival, A Cesar 0 que e de Cesar!
. ..
Ocuperno-nos agora dessa bela e maravilhosa estancia balnear Clue e a ILHA DA CULA TRA,
. Constitui enigma pratlcamente indecifravel a origem destelop6nimo. Nao por se -ignorar 0 significado 'da palavra (contrariamente ao que sucede noutros cases, como Quelfes, Bstiramantens, Pechao, Foupana, etc.), mas por se desconhecer, em absolute, 0 morivo, a razao, ou a causa que ocasionaram ou deterrninararn a aplicacao do terrno na dcnominacao da apraztvel praia, Se alguma documentacso existe em que nos possamos basear OU fundamentar para a, explicar, dela nao tenho 0 mfnirno conhecimento.
Nestas condicoes, 0 multo, portanto, que me e posslvel Iazer e formular hlpoteses, com certa medida de adrnissibilldade e algo de veroslrneis. Contudo, sempre falfveis (ou nao se tratasse de hip6- teses),
- E algumas podern aventar-se. Por exemplo (e para principlar):
E do conhecimento geral que, alern de significar «a parte inferior do cane das armas de fogo; a parte posterior do canhiio», 0 terrno «culatra» e usado, em gfria e na linguagern popular, no sentido de «nadegas» ou «regiao nadegueira». Nao teria existido, em epoea mais ou menos recuada, qualquer lomba ou elevaCiio de areia na Ilha, que fimse lembrar ou se assemelhasse a essa parte do corpo humane, e que dessa configutacdo, e por comparacao, Ihe tivessc advindo a designacao?
Esta hiootese talvez n1l0 seja Hio infantil e descabida como, iI primeira vista pod era parecer. Pelo contrario, pois nio 6 caso virgern 0 da cornparacao de coisas e object os (ou do sell aspecto) com palavras de significado bern diferente (de significado e de lISO), Siio ate bastante vulgares tais cornparacees, quer no aspecto obiectivo c concreto, quer no subjective e abstracto. Aqui vii.o algumas, ao acaso: na linguagern des carpinteiros, certo tipo de «verruma» e chamado «pica de porco», por analogia ou comparacao com 0 aparelho reprodutivo do porco, muito semelhante a um parafuso ou saca·rolhas. A palavra «porcR», na acep~io de ac~6- rio de paraFu<;o, lem a sua origem no dito aparelho genital do porco: como a «porca»,acess6rio de parafuso, tern um buraco onde estepenetra, 0 povo fez uma comoara<;:&o fadl e perreita· menle l6gica, «vendo», naabertura genital da porCa (anima!), fun~iio identica e semelhante a desempenhada pela «porca» (acess6rio) em rela!;!io ao parafuso. Do ponto' de vista subjec-tivo ou abstracto. temos, por excmplo., 0 «fogo» da paixao; a ((coroa» da montanha»;
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_ . "- ~... ..: \.; _. v, r;
«Sa.ntareme como urn «livre de pedra»; «prirnavera» davida: «Iagrimas» de crocodile; «flor» da mocidade», etc.
Mas (e mais apropriado, por mais semelhante) ha, aqui bern perto de nos, urn exernplo que comprova a pertinencia e a viabilldade da hip6tese acima referida: 0 do Cerro da Cabeca, que deve seu nome Ii circunsrancla de, visto de Ionge (de urna acoteia, por exernplo), e em conjunto com os Cerros de. S. Miguel e do Guelhirn, se assemelhar a uma figura humana, deitada e com Iorrnas perfeitarnente definidas: cabeca, tronco e membros inferiores estes representados pelo Cerro do Guelhim, 0 tronco plo Cerro de S. Miguel, e a «cabecas precisarnente pelo Cerro da Cabeca,
Em surna , a urna lornba ou elevaeao ex.istente na propria I1ha (ou mesmo a urn simples e pequeno cabeco junto dela ou nas suas imediacoes) poderia 0 povo ter chamado «culat ra», per motive da sua configuracao ou aspecto fazer Iembrar a aludlda regiiio do corpo humane. Tal lomba, elevacao ou cabeeo teria desaparecido com ? rodar do tempo, deles nao tendo ficado qualauer vestigio ou memoria (a nao sec na denominacao da propria Ilha).
Se atendermos ao facto (rnais que provado e evidence) de que a~ nossas tres ilhas estao em constante e ininterrupta mutuacao no que respeita a sua.' forma fis.ica, iI sua «fislonornia» (que se alteram, pode afirm a r-se , de ano para ano), devido nao s6 ao fluxo e refluxo das mares e consequentes correntes marltlrnas, mas tambern, e muito especialrnente, a violencia e ii furia, por vezes extrema. dos temporaise vendavais, que, niio poucas vezes, as acoitarn e [lagelarn, loglco e concluir que tal lomba, elevacao on cabeco possa ter desaparecido, sern, de si, ter deixado 0 minimo rasto ou vestigio.
Dutra hipotese:
Naa sei desde quando a Ilha se denomina CULA TRA, nem quando cornecou a ser habitada ou quem foram os seus prirneiros habitantes, Dequaiquer modovnao sera despropositado supor-se que nela tivesse morado (01.1 a ela estivesse estado ligada por qualquer motivo) alguma mulher que SIl tivesse feito notar pelo anormal volume das suas nadegas, pelo excepcional «exagero» da sua «culatra», e que, por esle mesrno nome (e devido a tal anorrnalidade}. tlvesse side conhecida (a Ti'Culatra, por exemplo),
N1io sera descabido ref'erir aqui que. durante largos anos, a Ilha quase perdeu a sua designacio de CULATRA, e passou a ser conhccida pela Ilha do "Faz-gosIOSY), n[cunha por que era c.onllecido urn comercianle que [a se eslabeleceu com urn eSlabeJecimen- 1.0 de mercearia e «come.s-e·bebes» (ate cerlo ponto, e em rela<;:&o it ~poca e 1.10 local, bastanle rUncional e modemo). Ainda hoie h{i quem a conhe~a pela nha do «Fa:z..gostos», embora este, de h:1 muito, a tivesse abandonado. 0 fa.cto deve-se, creio, it circunsciincia de, deste modo, se poder destrincar da actualmente conhe('ida nela IIha do Farol, que lamb~m e parle integ:rante da llha da CULATRA. Quer dizer, tanto 0 «Faz-gostos», como 0 «Faroh> se
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situam, ambos, na Ilha da CULATRA, e dai a necesidade de diferenciar e de distinguir, urn do outro, os dols locals.
Urn ponto existe que, pela sua grande e decisiva relev:in<:ia, importa desde ja focar: ignore desde quando a Ilha e con.heclda por CULATRA, e tambem quando 0 termo «culatra» f.ol~ pela prirncira vez, empregado, na Imguage~. popular, !la acepcao d~ (madegas», Se .0 seu uso com este sentido e a~tef!or ao apar_eclmente do toponirno, quer uma, quer outra das hipoteses que ~ClID~ formulo, sao perfeitamente aceitaveis e consequentes; se, ao tnves, tal emprego Ihe e posterior, entao e caso para dizer (e perdoe-se-me o plebeismo) que estive a falar ou, rnelhor, a escrever para. 0 ... «boneco»,
Uma terceirahipotese (e, das trb, qui!;a, a mais coerente):
Poucos serao certamente, aqueles que tem conhecimento da existencia,em tempos nao muito distantes, de uma fortaleza n.a I1ha de S. Lourenco (Ilha do Coco) para defesa contra as eventuais investidas ou ataques vindos do exterior, particularmente dos muculmanos, Era a. Fortaleza de S. LOUten90, construida no principia dasegunda . .metade do seculo xvn (concretamente, em 1653 ou 1654). Situava-se num local, ainda hoje conhecido pelo sitio da Fortaleza, mais ou menos em frente da ponta leste ou oriental da Ilha da Culatra, e dispunha, como e 6bvio, nao 86 da respectiva guarnfcao rnilitar, como tambem doarmamenlo entiio rnais em yoga, seja, canhoes e espingardas, (E a altura de dizer que, das rulnas da referida Fortaleza, ainda foram recuperados tres dos canh6es que nela havia, de urn dos quais e fiel depositario (se assim se lhe pode charnar) 0 meu bom e velho Amigo Abilio Gouveia,' 0 sabedor e competentfssirno historiador e arqueelogo local, a cujos meritos nunca me cansarei de dar, sernpre que posslveJ, 0 iusussimo e devido rea Ice).
Havera alguma relacao entre a «culatra» dos canhoes e das espingardas da Fortaleza de S. Lourenco e 0 t.op6nimo ILHA DA CULATRA, para II qual 0 aludido armamento estava pratjcamente assestado e virado? Talvez, Tudo ~ possivel, neste oceano de duvidas.
A menos que algum didonario antigo que eu desconheca (e tantos serao) registe «culatra» com uma acepcao ou urn senlido que possibilite a descoberta de urn pista conducenree uma explicacao categorica e lndiscutlvel do top6nimo, creio bern que 0 problema nao tera solucao. E dernasiadamente tarde. E mi~t~rio cornpletamente envolvida nas trevas do tempo, e que e hoie praticamente irnpossivel penetrar-se,
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Olbfio, que algumas nulldades tern por vezes homenageado, esqueceu urn tanto 0 Dr. Francisco Fernandes Lopes, esse extraordinArio vulto da sua hist6ria, talvez· 0 maior coloss.o mental e
inteleetual que a nossa terra. jamais produziu, E certo que o seu nome se encontra perpetuado na lapida de urne arteria local. Com isso, porem, nao esta, nem fica saldada II divida de Olhao a UIJl dos seus filhos rnais ilustres, a urn dos seus varees rnais sables e eruditos, e ao olhanense insigne que, por valor e merito proprio, «da lei da marie» mais se tera libertado.
Figura destacada e prestigiosa da Cultura Portuguesa, nos mais variados sectores da actividade intelectual, .0 Dr. Francisco Fernandes Lopes passava, com a sua nurnerosa familia, 0 verao na ILHA DA ARMONA.
Alern dos soldados da Guarda Fiscal, em service no Posto que ainda hoje M existe, erarn 0 Dr. Francisco Fernandes Lopes e sua esposa e filhos, embora ternporariarnente, os tlnicos habirantes da, en Ilio,. solitariae erma praia.
Fe-lo ininterruptamente de 1922 a 19.33, e foi indiscutivelmente ele 0 verdadeiro precursor ou 0 criador da ILHA DA ARMONA como estancia balnear e zona turfstica de largo futuro. Ate havia quem, nesse tempo, the chamasse a Ilha do Dr .. Lopes!
Como ja referi, foi tam bern .0 Dr. Francisco Fernandes Lopes quem, primeiro que ninguem, se debrucou sobre 0 problema da possfvel proveniencia deste topcnimo, que, nao obstante, persiste urn enigma indeeifravel. Bis urn excerto do seu estudo:
«Creio que foi em 1933 0 ultimo ana que gozei da «minha ilha», Uma especie de cicJone que por la passou esfrangalhou-rne as barracas cujos rest os os rnontanheiros forarn lirnpando, tendo-me urn, amigo, trazido, como recerdacao, urna das portas, pequenas, que conserve,
Quero tarnbem lernbrar 0 facto de urn dia me ter aparecido .Ia urn casal espanhol, 0 conde «de nao sel que y Armona», a perguntar-rne 0 que lhe saberia eu direr da JigaCilo da ilha corn 0 seu ape lido fidalgo. Nada sabia eu naturalmente, limitando-rne a responder que talver. o nome ARMONA fosse deturpacao de «harmonia».
Ha tempos, porern, urn compadre meu, 0 erudite arqueologo e professor Dr. Leonel Ribeiro, diz-me que 0 nome ARMONA teria origem no latirn ARMA, do nrego ER MAS,. mencionado por Fausto A vieno na sua celebre «Ora Maritima). Se 0 meu erudite cornpadre tern razito, con forme me pareceu, pela rectificacac geografica que fez da correspondente passagem do celebre poerna, enUi.o ja a excelencla da duna dataria de multo Ionge,
Seja, perem, como for, a ILHA DA ARMONA, 30 levante de Olhao, e hoje, de Iacto, urn para/SO turfstico do maior relevo, na costa algarvia, Ainda desconhecida, a bern dilCr, convem chamar para. ela a atenCiio de quem
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de direito, como estacao ideal de verao e de outono, e mesmo de in verno, destinada, sern duvida, a urn futuro do maior proveito para 0 Algarve e para Portugal».
Nada lenho a contrapor as opinioes expressas quer pelo Dr, Francisco Fernandes Lopes, quer pelo prof. Leonel Ribeiro. Nao disponho da mais tenue e simples pista que me permita ou possibilite a lorrnulacao de qualquer hip6tese que contrarie, no todo ou em parle, as explicacoes por eles apresentadas para a posslvel origem do top6nimo.
Devo, no entanlo (e a pen as) , recordar que, a aceitar-se como valida a versao de que BIAS e nome de procedencia grega (e nada ha que a desminta ou contrarie), tarnbern ARMONA, cujas praias sao em parte banhadas pelo antigo Rio Bias (hoje, sern duvida, a Ria Formosa) tern fortes e solidas hip6teses de ser vocabulo de proveniencia helenica,
E concluo aqui este meu ja longo trabalho.
Nao sera 0 rnelhor (nao 0 e com certeza), mas estou convertcido de que e 0 mais complete e extenso que, ate hoje, se fez sobre a toponfmia do concelho de Olhao,
Muitos casos nao terao sido convenientemente aprofundados, e poderiam (e talvez devessern), na verdade, te~lo sido. Estou a lembrar-me, por exemplo de ESTIRAMANTENS, em que a ramo por que este toponimo nao e precedido de artigo definido devcria ter side focada. Parece pormenor de ordem secundaria, mas talvez nao seja exactarnente assim. Sei bern que nao existe uma regra rlgida e inflexivel (dispondo embora das habituais e limitadas excepcoes que sernprc acornpanham todas as regras) que estabeleca ou indique: quando e em que condicoes os to pOnirnos devem er ou nao precedidos de artigo. E 0 habito e 0 use que determinarn essa condicfio, E 0 povo, por conseguinte, quem a irnpoe. E, quando 0 povo ordena, os grarnaticos limitarn-se a obedecer e a acatar as suns «ordens». Nao e irnpunemente ou por acaso que se diz «que e povo quem faz a lfngua». Ble e, realrnente, 0 «grande senhor» nestes problemas. A ultima palavra pertence-lhe sempre. «U us tyrannus est». 0 uso e tirano em tudo, ale rnesmo nil linguagern .... , no dizer de Vasco Botelho de Amaral.
Usei uma linguagern simples, U.cil e clara mas directa e objectiva; acesstvel e ao alcance de todas as c~m~das populates. a quem essencialmente, 0 rneu trabalho se destina.
Tratei todos os toponimcs com base na linguistica, relegando e recusando sistematicamente lendas e tradicoes, quase sempre rilhas da fantasia e da imaginaciio populares. E, quando 0 nao sao, 0 decurso dos tempos, fa-las chegar ate n6s cornpletamente deturpadas e distorcidas, Irreconheclveis, numa palavra, Quem conta urn con to, acrescenta-lhe urn ponto. Praticamente e impesslvel saber-se onde acaba a lenda e corneca a tradlcdo, Nao nos podernos fiar, em absolute, no «diz-se que» ou «no consta que». E indispensavel estarrnos sernpre de sobreaviso, «de pe atras», Frase
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com que 0 povo exprime tao expressivamente «estar precavido».
Espero que 0 meu estudo concorra (pelo menos, como achega) para urn mais desenvolvido e profundo trabalho sobre 0 proIbema que, sobre a toponfmia de Olhao e das suas freguesias, se encontra ainda muito longe de ser resolvido e solucionado (se e queisso alguma vez ira a acontecer),
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INDICE
OIMo '._. Pagina 5
Fuzeta » 13
Moncarapacho II 15
Pechao ... » 19
Quelfes .. I) 25
Sitios do ConceLho de Olhlio II 29
Cerro de S. Miguel » 29
Marim ... I) 3]
Brancanes » 34
Jordana » 35
Maragota » 36
Alfandanga . » 36
Bias .. ... ... » 36
Quatrim .... » 37
Bstirarnanten » 38
Foupana » 40
Gilio. ... I) 41
Lagoao I) 41
Murlais I) 41
Murteira .... }) 41
Arrochela ... j) 41
Piares ... » 43
Coco .... » 44
Culatra .. » 46
Annona .... » 49