Lombalgia
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Edição Especial
Lombalgia
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Imamura, S.T., Kaziyama, H.H.S., Imamura, M. Lombalgia. Rev. Med. (São Paulo), 80(ed. esp. pt.2):375-90, 2001.
RESUMO: A lombalgia é uma das queixas mais comuns no ser humano. Várias são as razões de sua ocorrência. Dentre elas
destacam-se as de origem músculo-esquelética, incluindo especialmente, as síndromes dolorosas miofasciais. Os dados de história
e de exame físico são a base do diagnóstico das etiologias e nosologias das lombalgias. A investigação diagnóstica com exames
laboratoriais, eletrofisiológicos e de imagens deve ter seus achados validados com base no exame clínico e na história. O tratamento
é fundamentado no controle dos sintomas e de suas repercussões físicas e psicossociais e na restauração da funcionalidade das
estruturas regionais.
DESCRITORES: Síndromes da dor miofascial/prevenção & controle. Dor lombar/etiologia. Dor lombar/diagnóstico. Dor/patolo-
gia. Dor/diagnóstico. Diagnóstico diferencial.
INTRODUÇÃO
A
dor lombar pode ser causada por várias idade, talvez em decorrência das conseqüências da
entidades nosológicas e modificada por osteoporose4. A dor lombar constitui a principal causa de
transtornos psicossociais. Estudos absenteísmo ao trabalho, ultrapassando o câncer, o
epidemiológicos demonstram que cerca de 50% a 90% acidente vascular encefálico e a síndrome de
dos indivíduos adultos apresenta lombalgia em algum imunodeficiência adquirida como causa de incapacidade
momento de suas vidas15. Em países industrializados, a nos indivíduos na faixa etária produtiva. É uma das causas
lombalgia é a principal causa de incapacidade em mais onerosas de afecções do aparelho locomotor15 e é a
indivíduos com menos de 45 anos4,5,15,74. A incidência segunda causa mais comum de procura por assistência
parece ser igual nos homens e nas mulheres, sendo que as médica em decorrência de doenças crônicas4,5,55. Custos
mulheres queixam mais de dor lombar após 60 anos de sociais decorrem de assistência médica, absenteísmo no
*
Médica Fisiatra, Divisão de Medicina Física e reabiliatação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
**
Médica Fisiatra da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Membro do Centro Multidisciplinar de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo.
***
Médica fisiatra da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência: Rua Cariris, 177. Pinheiros. 05422-020. São Paulo, SP.
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graças à disposição das fibras do anel e estão limitadas e quinta vértebra lombar e quinta lombar e primeira sacral.
pela disposição do plano das articulações posteriores. A Estes discos sofrem enorme ação de forças por serem o
maior parte dos movimentos da coluna é limitada pelos principal sítio de movimento da coluna no sentido ântero-
ligamentos que unem as vértebras. O ligamento posterior e látero-lateral.
longitudinal anterior se estende do crânio até o sacro, ao
longo da face anterior da coluna. A face interna é aderida
CLASSIFICAÇÃO
ao corpo vertebral e não ao disco. O ligamento longitudinal
posterior situa-se na face posterior dos corpos vertebrais,
As lombalgias podem ser classificadas de acordo
no interior do canal raquidiano e, diferentemente do
com a duração como agudas que apresentam início súbito
ligamento anterior, insere-se nos discos. Os ligamentos
e duração inferior a 6 semanas28,95,127. As subagudas que
amarelos se inserem na superfície articular de uma lâmina
apresenta duração de 6 a 12 semanas28,127 e as crônicas
e na borda superior da lâmina imediatamente inferior. Os
que apresenta duração superior a 12 semanas 95,127.
ligamentos intertransversos constituem conexões fibrosas
Lombalgia recorrente é aquela que reaparece após períodos
entre as apófises transversas. Os ligamentos
da acalmia. As lombalgias também podem ser classificadas
interespinhosos unem a base das apófises espinhosas com
como específicas e inespecíficas. As lombalgias
o bordo superior da apófise correspondente à vértebra
inespecíficas são aquelas em que a causa anatômica ou
inferior. O ligamento supraespinhoso é uma estrutura
neurofisiológica não é identificável45,127,130 e as específicas
fibrosa contínua que se adere ao vértice dos processos
são as resultantes de hérnias discais, espondilolistese,
espinhosos. Os forames de conjugação são espaços
estenose do canal raquidiano, instabilidade definida (mais
limitados superiormente pela borda inferior, inferiormente,
de 4 a 5 mm no estudo radiológico dinâmico de flexão e
pela borda superior do pedículo de duas vértebras
extensão), fraturas vertebrais, tumores, infecções e doenças
contíguas, posteriormente, pela articulação interapofisária
inflamatórias da coluna lombar. Em menos de 15% dos
coberta por sua cápsula e reforçada pelo ligamento amarelo
indivíduos a lombalgia é tipo específica117.
e, anteriormente, pela face posterior da vértebra
supradjacente, pela borda superior da vértebra inferior e
pela face posterior do disco intervertebral recoberto pela AVALIAÇÃO CLÍNICA
expansão lateral do ligamento longitudinal posterior.
Contém nervos raquidianos, vasos e ramos nervosos Anamnese
destinados ao osso e outros elementos do canal vertebral.
As alterações discais ou das articulações posteriores podem A história do início e da evolução dos sintomas, o
comprometer estes elementos, sendo a sua expressão mais tipo e a localização da dor, a sua irradiação, os fatores
freqüente, a radiculopatia. predisponentes e desencadeantes e os de piora ou de
A estabilidade da coluna vertebral depende dos melhora devem ser investigados72. Uma vez que a dor
ligamentos e da ação muscular. Sob o ponto de vista lombar constitui um sintoma que pode ser causado por
biomecânico, a coluna vertebral pode ser considerada uma doenças de outros órgãos e sistemas, a anamnese e os dados
viga dinâmica, suportando cargas de compressão, tração, sobre os diversos aparelhos, a história familiar e os
cisalhamento longitudinal e transverso 107 . Para a antecedentes pessoais devem ser rotineiramente
manutenção desta viga dinâmica em posição de equilíbrio, pesquisados. Os hábitos do doente, incluindo o
um conjunto sinérgico e antagônico de atividade muscular tabagismo70,109, a posição de dormir, o tipo de colchão e
determina as curvas de adaptação no sentido ântero- de travesseiro, as principais posições assumidas durante
posterior, a lordose lombar, em relação às cargas oriundas o trabalho, estudo, lazer e atividades esportivas, e
dos membros inferiores107. Enquanto o corpo vertebral satisfação pessoal e no trabalho são elementos importantes
recebe as cargas de compressão, a lâmina recebe as cargas para elucidação diagnóstica e para prevenir a perpetuação
equilibrantes de tração, com o auxílio dos músculos e do quadro doloroso após o tratamento.
ligamentos situados nas goteiras paravertebrais107. O disco Dor intensa e início súbito lancinante, descrita
intervertebral exerce papel importante na absorção da como queimor, choque ou latejamento, que se inicia na
energia mecânica, sofrendo deformações elásticas frente coluna lombar e irradia-se para o membro inferior,
aos esforços. As sobrecargas são menores no canal atingindo a extremidade distal e que piora com a tosse e o
raquidiano e nos pedículos vertebrais107. Estas estruturas espirro, geralmente é de origem neurológica. A dor de
não sofrem forças de compressão nem de tração. As origem mecânica localiza-se na coluna lombar e pode
articulações interapofisárias são elementos primordiais na irradiar-se para os membros inferiores acompanhando ou
estabilização e no equilíbrio da coluna. Os discos não a distribuição nervosa; geralmente é agravada pelos
intervertebrais mais sobrecarregados estão entre a quarta movimentos da coluna lombar. A dor de origem vascular
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apresenta características próprias. Apresenta-se como anterior da coluna lombar para, a seguir medir-se a
claudicação intermitente sendo geralmente acompanhada distância entre as duas marcas. A distância normal é de
por anormalidades na temperatura e na coloração do 15 cm73.
tegumento e alterações tróficas. Queixas de parestesias,
alterações de sensibilidade, motricidade, neurovegetativas Palpação
cutâneas e esfincterianas também podem auxiliar na
identificação do diagnóstico etiológico. A palpação muscular sistemática da musculatura
Bigos et al.15 apresentam um guia para a avaliação evidencia pontos gatilhos miofasciais, pontos dolorosos
e tratamento das lombalgias agudas, baseadas na localizados e espasmos musculares. Deve ser seguido da
identificação de sinais de alerta da ocorrência de possíveis palpação dos pontos de reparos ósseos (apófises
quadros específicos. Doentes com idade superior a 50 anos, espinhosas e transversas), dos ligamentos (supra e inter-
apresentando queixa dolorosa durando mais de 1 mês, espinhosos) e articulações (articulação sacro-ilíaca). O
antecedentes pessoais de tumores malignos, redução ângulo inferior da escápula é o ponto de reparo ósseo para
inexplicável de peso corpóreo, dor noturna e ausência de a localização de T7 e a crista ilíaca para L473. A palpação
melhora após um mês de tratamento devem sofrer
e a percussão dolorosa na região dos corpos vertebrais,
investigação quanto à presença de tumores malignos29. Na
associada à redução na mobilidade da coluna lombar, febre
coluna lombar são freqüentes as metástases de neoplasias
e comprometimento do estado geral podem sugerir quadros
primárias da mama, próstata, tireóide, pulmão e rins.
infecciosos locais. A palpação abdominal pode
Infecções no tegumento, uso de drogas por via intravenosa
diagnosticar lesões expressivas incluindo tumores e
ou internação prévia em unidades de terapia intensiva
aneurismas da aorta.
alertam para o diagnóstico de osteomielite espinal133. As
O algiômetro de pressão é útil para mensurar a
fraturas-compressões devem ser suspeitadas em idosos
dor 38,39,41,43.
com história de traumatismos ou em doentes que usam
Fischer 40,43 desenvolveu técnica de palpação
corticosteróides 15 . Nos casos de estenose de canal
raquidiano, a idade geralmente é superior a 50 anos e a muscular para avaliação dos músculos superficiais e
queixa é de claudicação neurogênica128. O principal dado profundos que segue o acrônimo das iniciais das palavras
da anamnese de doentes com hérnias discais é a história da língua inglesa “POSTAIRE”. O primeiro par de letras
de ciática 31,115 . Anestesia em sela, anormalidades significa ação a ser realizada e o segundo o objetivo a ser
esfincterianas de instalação recente e déficit neurológico alcançado; colocar em posição (P) para expor músculo
progressivo, sugerem síndrome da cauda eqüina. Os open (O), alongar stretch (S) para induzir tensão (T), ativar
doentes com espondilite anquilosante geralmente (contrair) o músculo para identificá-lo (I) de acordo com
apresentam queixas quando têm idade inferior a 40 anos a sua função, relaxá-lo (R) para examinar (E)40,43.
e lombalgia acompanhada de rigidez matinal na região da A avaliação clínica inclui também a quantificação
coluna lombar, que não melhora na posição supina, com da força muscular, a pesquisa dos reflexos miotáticos
duração superior a 3 meses50. (patelar (L4), aquileu (S1) e isquiotibiais (L5)), o sinal de
elevação da perna estendida e a avaliação da sensibilidade
Inspeção superficial e profunda15,30. A pesquisa da força muscular
deve seguir a seqüência: flexão dorsal do tornozelo e do
O exame da constituição física do doente, hálux para a pesquisa da atividade da raiz L5, extensão do
ocorrência de deformidades, espasmos musculares, joelho para L4 e flexão plantar do tornozelo e do hálux
amiotrofias, crescimento anômalo de pêlos, marcas de para S1. O de sensibilidade para os dermatômeros de
nascimento, desnivelamento dos membros, aumento ou Keegan e Garrett 63 é adequado para avaliação das
redução das curvas fisiológicas, escoliose e proeminência alterações decorrentes de processos neurológicos e
abdominal. A inspeção dinâmica visa à visualização dos sensibilizatórios; a raiz L4 é responsável pela inervação
movimentos da coluna lombar, da marcha, da coordenação do hálux e da região medial do pé, a L5 pela região dorsal
e do equilíbrio. A marcha com o calcanhar e na ponta dos dos dedos centrais e a S1 pelo dedo mínimo e região lateral
dedos auxilia a avaliação da força dos músculos flexores do pé. O teste de Gaeslen e de Patrick e a compressão nas
dorsais (L5) e flexores plantares (S1) do tornozelo, espinhas ilíacas ântero-superiores sugerem comprome-
respectivamente. O teste de Schöeber avalia a elasticidade timento da articulação sacro-ilíaca58,73.
da coluna lombar; com o doente na posição ereta, demarca- Fischer41 descreveu sistemática para a pesquisa da
se a junção lombosacra com uma linha que une a espinha sensibilização espinal segmentar de influência do sistema
ilíaca póstero-superior e delinea-se uma marca situada nervoso neurovegetativo no tegumento, tecido celular sub-
10 cm rostralmente e solicita-se ao doente realizar a flexão cutâneo e músculos nos segmentos acometidos.
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enxertos ou de pseudoartrose. A estenose do canal Às vezes, há superposição de ambos os extremos dos hemi-
vertebral lombar pode manifestar-se como uma simples arcos, estando um em posição mais elevada que o outro.
lombalgia ou como ciatalgia semelhante à causada pelas Em geral, localiza-se no segmento L5 e S172. A espina
hérnias discais, distingue-se desta pela história de bífida oculta, localizada no sacro não acarreta nenhum
claudicação neurogênica intermitente, condição em que a transtorno. O achado radiológico é casual, na maioria das
dor é desencadeada ou intensificada progressivamente com vezes.
a marcha o que obriga o doente a parar e sentar-se
intermitentemente durante 10 a 20 minutos. A extensão Espondilolistese
da coluna lombar aumenta os sintomas7. Difere da
claudicação de origem vascular periférica por apresentar Consiste do deslizamento anterior do corpo verte-
mais dor na raiz da coxa e por ser acompanhada de bral em relação à vértebra imediatamente inferior. Segundo
parestesias na perna e pé, associadas à sensação de à causa classificam-se como grupo I: espondilolistese con-
fraqueza e não ceder simplesmente com a posição gênita ou displásica devida a anomalia das facetas articu-
ortostática, o doente necessita permanecer agachado ou lares do sacro ou das apófises articulares inferiores de L5;
sentado. Após estes procedimentos o doente consegue grupo II ou espondilolistese ístmica, decorrente de
caminhar por alguma distância. Dor atípica nos membros espondilolise; grupo III ou traumática, conseqüente a fra-
inferiores e síndrome da cauda eqüina crônica também tura traumática do ístmo; grupo IV, degenerativa e resul-
podem ser manifestações clínicas de estenose do canal7. tante de artrose das articulações posteriores; grupo V ou
Os métodos de imagem evidenciam redução do diâmetro patológicas, devido a estreitamento ou ruptura do pedículo
do canal raquidiano; a comprovação é feita com a secundariamente a enfermidades ósseas, como
tomografia computadorizada ou ressonância magnética da osteogênese imperfecta, acondroplasia e neoplasias. A lise
coluna lombar. do ístmo parece não ser congênita, pois manifesta-se aos
5 e 7 anos de idade. O deslizamento ocorre habitualmente
Anomalias da transição lombossacral entre 10 a 18 anos e, raramente progride a partir dos 20
anos. A localização mais freqüente é entre L5-S1. Acre-
A vértebra lombar pode apresentar característica dita-se que a espondilolistese ístmica decorra de fratura
de vértebra sacral (sacralização) ou a vértebra sacral pode de fadiga semelhante às que ocorrem em outras regiões
apresentar características de vértebra lombar do esqueleto137.
(lombarização). Esta anormalidade pode ser uni ou bila- A espondilolistese e a espondilolise podem ser
teral, simétrica ou assimétrica. A apófise transversa de L5 assintomáticas. Quando ocorre dor lombar em um
pode ser aumentada de tamanho (megatransversa) e indivíduo com espondilolistese, esta nem sempre é
contatar a asa do sacro originando, às vezes, articulação causadora de dor. Sintomas dolorosos estão geralmente
verdadeira (neoartrose transverso-sacra) ou estar fundida relacionados a escorregamentos acima de 25% 137
com o sacro (sinostose uni ou bilateral). O último disco localizados na região lombar e às vezes nas nádegas e na
pode estar representado só por vestígios ou não existir face posterior da coxa, zonas habituais de dor referida de
(sinostose completa). A doença degenerativa do disco da origem lombar. A dor é do tipo mecânica que se inicia ou
transição lombo-sacra é rara, porém a do imediatamente se exacerba com a atividade e melhora com o repouso. A
superior é mais freqüente. O buraco de conjugação con- lombalgia sem padrão da “ciática” pode ter outras causas
serva a sua altura. As anomalias da transição lombossacral como degeneração discal de outros níveis, hiperlordose,
são causa de dor devido à degeneração discal superior à degeneração discal na transição tóraco-lombar, síndrome
vértebra de transição, à neoartrose transverso-sacra e, prin- dolorosa miofascial e síndrome íleolombar, dentre outras.
cipalmente, devido à síndrome dolorosa miofascial. A Todas estas possibilidades diagnósticas devem ser
maioria dos doentes com diagnóstico de anomalia da tran- lembradas para que os resultados do tratamento sejam
sição lombossacral apresenta ao exame físico, pontos-ga- satisfatórios. Retração dos músculos flexores da coxa de
tilho nos músculos quadrado lombar, glúteo médio, glúteo causa não esclarecida é uma manifestação freqüente da
mínimo e piriforme segundo vivência dos autores. espondilolistese; o doente adota atitude (postura)
caracterização por flexão dos joelhos e quadris, pelve
Espina Bífida inclinada para trás (pubes deslizada para frente e para
cima), retificação da lordose lombar e os passos tornam-
A espina bífida consiste da falta de união dos dois se encurtados e a pelve roda para um e outro lado,
hemiarcos posteriores ao nível das apófises espinhosas e suscessivamente durante a marcha. A magnitude destes
ocorre em 5% a 10% da população. A zona de separação sinais é relacionada com o grau de deslizamento. Pode
pode estar na linha média ou deslizada a um ou outro lado. haver inclinação lateral do tronco semelhante à atitude
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antiálgica. O diagnóstico é confirmado com o exame do segmento móvel levam as articulações posteriores ao
radiográfico de perfil que revela o deslizamento anterior limite de sua resistência; esta sobrecarga funcional parece
de L5 sobre S1. O deslizamento é classificado em 4 graus. causar artrose interfacetária, principalmente na fase
Quando o ângulo posterior e inferior de L5 não sobrepassa crônica das hérnias discais.
o 1/4 posterior da superfície superior do sacro, a listese é O quadro clínico das hérnias discais consiste de
denominada de grau 1, quando alcança o 1/4 anterior dor lombar e lombociatalgia. Há grau variado da
denomina-se grau 4. Raramente L5 sobrepassa totalmente intensidade de dor, escoliose antálgica, déficit motor,
o sacro, é condição denominada de ptose de L5. A projeção alteração da sensibilidade, dificuldade para flexão do
radiológica para visualizar a lise é a oblíqua com incidência tronco, positivididade do teste de elevação da perna
do raio ligeiramente ascendente e centrado sobre o disco estendida e hiporreflexia ou arreflexia miotática. O sinal
lombossacral. O tratamento operatório, geralmente a de elevação da perna estendida, mais conhecido como de
artrodese sem descompressão 8 , está indicado na Lasègue, é considerado positivo quando gera dor radicular
dependência do grau da listese e dos sintomas, e do até 60 graus de elevação do membro acometido estando o
resultado do tratamento conservador que consiste no doente em decúbito dorsal62. Há casos em que ocorre sinal
repouso relativo, uso de órtese lombo-sacra e tratamento de Lasègue contra-lateral, o que indica hérnia extrusa ou
reabilitacional. seqüestrada. A hérnia discal lombar é tida como a mais
freqüente causa de lombociatalgia mecânica. O diagnóstico
Protrusão e hérnia discal é clínico em mais de 90% dos casos e pode ser confirmado
com a tomografia computadorizada (TC), ressonância
A protrusão discal consiste do abaulamento magnética (RM) e eletroneuromiografia. Estudos
localizado ou difuso do disco resultante de alteração comparativos demonstraram haver maior sensibilidade da
degenerativa do anel fibroso. A hérnia discal ocorre RM em relação à TC91. Outras causas de lombociatalgia
quando o material do núcleo pulposo desloca-se através em que os sinais neurológicos são discretos ou ausentes
da ruptura do anel fibroso devido à fissura radial do anel. incluem a estenose do canal medular, a espondilolistese,
De acordo com o grau de deslocamento do núcleo, as as anormalidades da articulação sacroilíaca, as síndromes
hérnias podem ser classificadas como prolapsadas, dolorosas miofasciais do músculo glúteo mínimo,
extrusas e seqüestradas. Em caso de hérnia prolapsada, paravertebrais, psoas, e piriforme, os abcessos epidurais,
há ruptura do anel fibroso mas há integridade do ligamento as anormalidades arteriais obstrutivas e a fibromialgia.
longitudinal posterior, de modo que só o núcleo insinua-
se no ligamento. Quando o ligamento rompe-se e o núcleo Lombalgia degenerativa
pulposo degenerado migra para o canal vertebral ocorre
hérnia extrusa. Quando o material do núcleo pulposo migra A lombalgia degenerativa quase sempre é
para o interior do canal rostral ou caudalmente ou no acompanhada de comprometimento discal e
interior do forâmen, ocorre hérnia seqüestrada 54. A interapofisário, dor na região lombar de instalação súbita
protrusão e a hérnia discal são devidas à alteração ou insidiosa que bloqueia os movimentos, determinando
degenerativa do anel, às exigências mecânicas externas atitude de rigidez da coluna lombar. O processo
as quais se submete e ao turgor do núcleo pulposo. A hérnia degenerativo das pequenas articulações posteriores pode
discal ocorre com maior freqüência no adulto jovem que causar irritação das raízes L3, L4, L5 e S1, provocando
no idoso, porque embora haja ruptura do anel fibroso dor no território comprometido72. Por outro lado, a acen-
devido à degeneração, o núcleo ainda conserva o seu tuação da lordose devido à acentuação do ângulo lombo-
turgor. O comprometimento póstero-lateral do disco é o sacro ou fraqueza dos músculos glúteos e abdominais
local mais frágil. As alterações puramente mecânicas que causam aumento do apoio nas articulações interapofisárias
constituem a hérnia de disco são possíveis causas de dor, e dor72. A assimetria das facetas articulares lombares
assim como a compressão da raiz nervosa. Existe uma também pode ser razão de manifestação dolorosa.
relação funcional entre o disco e as articulações
interfacetárias, ligamentos intervertebrais (ligamento Síndrome dolorosa miofascial
longitudinal anterior, posterior e amarelo) e ligamentos
inter-espinhosos. Qualquer alteração na morfologia ou na Cerca de 90% dos doentes, com dor de origem
função do disco repercute nas demais estruturas do vertebral de difícil diagnóstico e com exames de imagem
segmento móvel. A hipermobilidade discal associa-se à e laboratoriais normais, aparentemente apresentam
mobilidade anômala das articulações posteriores e a síndrome dolorosa miofascial. Esta condição está presente
redução da altura do disco pode provocar a sua na grande maioria dos doentes com lombalgia, seja
incongruência ou sub-luxação. Os movimentos extremos primariamente, seja como componente dos quadros
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degenerado, edema, acúmulo de fluidos anormais, massas clínicas antes da cirurgia15. O estudo das condições
extradurais, discos seqüestrados, fibrose e estenose do metabólicas, hormonais e a investigação para descartar
canal9. É o exame de escolha para demonstrar hematoma infestações parasitárias permite avaliação de fatores
epidural, infecções e tumores intrarraquidianos e nas perpetuantes.
estruturas músculo-esqueléticas9. A ressonância magnética
com contraste paramagnético gadolíneo permite Avaliação psicocomportamental e social
diferenciar fibrose de recidiva de hérnia discal9. Apesar
da detecção de anormalidades com grande precisão à Como em casos de dor crônica, o estudo do perfil
ressonância magnética, elas não são freqüentemente psicossocial deve ser realizado rotineiramente, pois a dor,
relacionadas às queixas18,19,56. Evidenciou-se hérnia discal além dos seus componentes físicos apresenta aspectos
nos exames de ressonância magnética em até 76% de psíquicos, econômicos e espirituais. Não havendo indícios
indivíduos assintomáticos19, geralmente tal achado é de lesões tumorais, infecciosas ou traumáticas deve-se
evidenciado em 20% a 40% dos indivíduos, de acordo iniciar o tratamento conservador que consiste do controle
com a idade18. A ressonância magnética deve ser realizada dos sintomas e de restauração funcional durante um mês
quando há suspeita de infecção, neoplasia, disfunção antes do prosseguimento das investigações com estudos
neurológica progressiva e traumatismos agudos graves ou de imagem e de laboratório. Várias modalidades
quando os sintomas dolorosos não melhoram em 7 terapêuticas são rotineiramente utilizadas no tratamento
semanas56. das lombalgias agudas e crônicas. Isto justifica a avaliação
A cintilografia óssea deve ser considerada quando e o tratamento.
há suspeita de tumores, infecções ou fraturas ocultas sem Revisão sistemática sobre estudos randomizados
localização definida74. Este exame não deve ser indicado controlados revelou que nenhum tratamento,
em gestantes15. isoladamente, é eficaz para o controle da lombalgia crônica
inespecífica127.
Eletrodiagnóstico
TRATAMENTO
A eletroneuromiografia fornece informações sobre
o estado funcional da unidade motora e sensitiva. O principal objetivo do tratamento da lombalgia
Possibilita avaliar o comprometimento agudo ou crônico crônica é o retorno ao trabalho e às atividades usuais. As
do sistema nervoso periférico, raiz, plexo, tronco nervoso, diversas opções terapêuticas para promover o alívio
a junção mioneural, o axônio, a bainha de mielina e o sintomático da dor podem facilitar este processo.
músculo. Quantifica também o grau de disfunção nervosa, O tratamento na fase aguda visa ao alívio
fornece dados para o prognóstico da lesão e auxilia a sintomático da dor e da inflamação e a orientação para a
identificar o nível da anormalidade anatômica e funcional. proteção das estruturas acometidas136, evitando-se posturas
Detecta precocemente anormalidades quando outros ou atividades que exacerbem o quadro álgico devido à
exames ainda são normais, principalmente, em casos de sobrecarga mecânica sobre a coluna lombar. O repouso
radiculopatias. no leito é freqüentemente prescrito para os doentes com
O potencial evocado sômato-sensitivo possibilita lombalgia aguda. Esta medida pode aliviar os sintomas
a localização da lesão nervosa, o segmento comprometido devido à redução das pressões intra-discais e ou nas
e o grau da lesão. O exame é útil nos casos em que o estruturas nervosas; essas pressões são mínimas quando
exame clínico não localiza o local da lesão, ou quando os indivíduos assumem a posição de semi-Fowler ou seja
não há correlação entre os achados clínicos e os exames de decúbito dorsal, com os joelhos e quadris levemente
de imagem, ou quando a sintomatologia persiste mesmo fletidos 92,93. Devido ao fato de a posição sentada
após a normalização do exame neurológico ou quando há proporcionar maior sobrecarga na coluna lombar,
dúvidas quanto ao exame morfológico nos casos recomenda-se que o doente levante e caminhe no domicílio
previamente submetidos a procedimentos operatórios. ou no ambiente de trabalho, evitando posições que
aumentem as pressões intra-discais92,93, incluindo os
Exames laboratoriais movimentos torcionais e de flexão anterior28,113.
Apesar dos efeitos benéficos do repouso no leito
O hemograma, a velocidade de hemosedimentação, durante dois dias descritos por Spitzer117, estudos recentes
a glicemia, a eletroforese de proteínas e as dosagens séricas não evidenciaram tais vantagens e recomendam que seja
de cálcio e fósforo e o exame de urina72 são importantes realizado o retorno gradual às atividades normais15,28. Os
para o diagnóstico das lesões tumorais, infecciosas, autores deste capítulo sugeriram o retorno precoce às
metabólicas e inflamatórias e para avaliar as condições atividades respeitando-se a tolerância de cada indivíduo,
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desde que não cause dor ou agrave os sintomas. As faixas- da coluna lombar aliviam a dor devido à redução da
coletes lombares podem ser utilizadas durante breve sobrecarga nas fibras anulares posteriores e sobre a raiz
período de tempo para lembrar que o doente não deve nervosa, aumento da aferência sensitiva mecanoreceptora,
realizar movimentos abruptos e inadequados como a flexão além de outras136. Os exercícios de extensão devem ser
anterior e a rotação lombar. Deve ser encorajada a iniciados na posição em decúbito ventral colocando-se um
deambulação e o início de atividade física é recomendada travesseiro sob a região abdominal para manter a coluna
e a posição sentada ou de desconforto deve ser mantida lombar em posição neutra. Progressivamente, e de acordo
durante o mínimo de tempo possível. Exercícios aeróbicos com a tolerância à dor, solicita-se ao doente que retire o
como a deambulação, natação e pedalar de bicicleta travesseiro, assuma a posição de extensão da coluna
proporcionam mínima sobrecarga na coluna lombar lombar apoiando-se sobre os cotovelos fletidos e,
podendo ser iniciados durante as primeiras duas semanas15. ulteriormente, sobre a palma da mão com os cotovelos
Recomenda-se alternar deambulação durante 20 a 30 bem estendidos 118 . Os desvios laterais devem ser
minutos a cada três horas de repouso no leito em posição devidamente corrigidos antes do início dos exercícios de
adequada. O repouso prolongado no leito durante mais de extensão lombar. Os doentes devem ser orientados a
4 dias causa mais debilitação e deve ser evitado em casos assumir a posição de extensão da coluna lombar várias
de lombalgias agudas sem causa plausível. Os efeitos vezes ao dia durante o ortostatismo. Em alguns casos,
deletérios do repouso prolongado no leito incluem atrofia recomenda-se o uso de suporte lombar que mantém a
muscular, descondicionamento cárdio-pulmonar, redução extensão lombar durante o sono e na posição sentada. Os
do componente mineral ósseo, hipercalcemia e exercícios de extensão lombar estão contra-indicados em
hipercalciúria e eventualmente, tromboembolismo doentes com hérnias discais volumosas, evidências de
pulmonar15,28,136. Ocorre 1,0% a 1,5% de redução de massa déficits motores e sensitivos bilaterais e quando há piora
muscular ao dia, 15% de perda da capacidade aeróbica da sintomatologia dolorosa lombar ou radicular durante a
em 10 dias15,28 e mais de 70% de perda da força muscular sua realização136.
do tronco no plano sagital 6 meses após o início da dor O fundamento teórico para a eficácia dos clássicos
lombar84. Além disso, agrava os efeitos sociais e causa exercícios de flexão de Williams é a redução das forças
perdas econômicas devidas ao absenteísmo no trabalho20. de compressão nas articulações zigoapofisárias, o
Isto significa que a maioria dos doentes, nesta fase, não alongamento dos flexores do quadril e extensores
necessita de repouso no leito; deve ser realizado durante lombares, o fortalecimento dos músculos abdominais e
2 a 4 dias, nos doentes com sintomas iniciais graves e, glúteos reduz atitude que as forças compressivas na região
principalmente, quando há dor primariamente nos posterior do disco por induzir a abertura do forâmen
membros inferiores. Na fase aguda além dos cuidados intervertebral 136. Devem ser evitados nos casos de
agravamento dos sintomas durante a sua realização.
físicos é indicado o uso de analgésicos morfínicos ou
Exercícios de báscula da bacia também podem ser
antiinflamatórios não hormonais 3,28,121 e relaxantes
propostas com o intuito de reduzir a sobrecarga sobre as
musculares 13,25,28,105. Parece não haver diferenças na
articulações zigoapofisárias e auxiliar a percepção
eficácia entre estes agentes 6,15,59,105. A termoterapia
pélvica136.
superficial e as compressas de gelo podem ser realizadas
Em gestantes, recomenda-se calor superficial
em regime domiciliar. Apesar da ausência de evidencias
(infra-vermelho, forno de Bier, compressas quentes,
científicas quanto à eficácia dos exercícios terapêuticos
massagem do tecido conjuntivo ou da zona reflexa). A
na fase aguda da lombalgia15,117,127, seguimos Fischer40,41
acupuntura também é indicada, desde que se evitem pontos
que recomenda a realização de exercícios de relaxamento que estimulem contrações uterinas.
muscular seguidos do seu alongamento. Os principais Os doentes com suspeita de hérnia discal
músculos acometidos são o quadrado lombar, o glúteo acompanhada de sinais clínicos de síndrome da cauda
médio e mínimo, os paravertebrais lombares, o piriforme, eqüina e ou déficit motor rapidamente progressivo devem
o tensor da fáscia lata e os isquiotibiais. A realização de ser encaminhados para procedimento operatório de
protocolos padronizados de exercícios terapêuticos, sem urgência 15,136 . A cirurgia não deve ser indicada
considerar os déficits específicos e individuais pode ser a precocemente; a correlação entre os achados dos exames
principal responsável pelos achados inconclusivos da diagnósticos e o quadro clínico do doente é necessária.
literatura136. Quando a prescrição do exercício é baseada Nas fases aguda e subaguda, o procedimento operatório
nos sintomas, resultados mais animadores são acarreta resolução mais precoce do quadro radicular
obtidos33,118,136. Na fase aguda, o objetivo dos exercícios doloroso do que as outras modalidades terapêuticas.
terapêuticos é o controle da dor e não o fortalecimento Entretanto após o primeiro ano, os benefícios do
muscular, uma vez que este não é fisiologicamente obtido tratamento operatório e não operatório são similares no
de forma aguda. Teoricamente, os exercícios de extensão que diz respeito à avaliação funcional100,135.
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ABSTRACTS: Lumbalgia is one the of most common reasons of chronic pain, specially in adults. Many are the causes of lumbalgia;
the most frequent aetiology are the muscleskeletal conditions, mainly the myofascial pain syndromes. The data of the history and
clinical examination are more important for the diagnosis those that the complementary exams; the laboratorial, electrophysiological
and image exams should be vailidated with clinical basis. The treatment of lumbalgia is based on the aleviation of symptoms,
removal of the aetiological factors and on the restoration of the physiology of the elements of the lumbar region.
KEYWORDS: Myofascial pain syndromes/prevention & control. Low back pain/etiology. Low back pain/diagnosis.
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