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Os judeus em Minas Gerais

Marcelo M. Guimares em 25/07/2012
Portugal concedeu a nacionalidade a

trs descendentes de judeus expulsos
do pas h cerca de 500 anos. Desde
que a nova lei foi aprovada, no incio do
ano, deram entrada no Ministrio da
Justia 247 pedidos.
Discurso de Marcelo M. Guimares na
Cerimnia inaugural pela criao do Dia
em Memria s vtimas da Inquisio
Cidadania portuguesa para
descendentes dos Judeus Sefaraditas. O
que voc precisa saber no caso dos
descendentes de Cristos-Novos
brasileiros?
Criado em BH o dia da Inquisio
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Em 1591 nomeou-se o primeiro comissrio do Santo Ofcio, Heitor F. de Mendona o

qual chegou na Bahia no dia 09 de Junho. Oficialmente o decreto de instituio da
Inquisio em Portugal e nos pases do Reino s aconteceu no dia 31 de Maro de
1821.
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Entretanto, a separao entre Igreja e Estado no Brasil s ocorreu em 1891, na

primeira constituio republicana, quando o direito de crer ou no crer foi respeitado.
Podemos afirmar sem sombra de dvida, de que o Brasil foi o pas do mundo onde a
Inquisio durou por mais tempo, 381 anos se considerarmos a data do descobrimento
que ocorreu nos primrdios da introduo da Inquisio em Portugal.
As comunidades judaicas se localizavam preferencialmente em cinco Estados. Iniciouse na Bahia, Pernambuco, Paraba. Mais tarde, no Rio de Janeiro e Minas Gerais, o
Estado que mais se destacou no Brasil no sculo XVIII e no mundo, quando a notcia
da garimpagem do ouro nos seus rios tornou-se e uma sonho para muitos
aventureiros.
As idias iluministas da Revoluo Francesa, trazendo uma nova ordem institucional,
refletiu diretamente nesta capitania, destacando os famosos e ilustres inconfidentes
mineiros, entre os quais, os cristos-novos descendentes dos judeus portugueses que
desempenharam relevantes papis na independncia que mais tarde viria.
Abaixo consta a relao de cristos-novos de Minas Gerais que foram julgados pela
Inquisio de Minas Gerais (estes processos foram analisados pela historiadora Neuza
Fernandes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro conforme o livro de sua
autoria denominado A Inquisio em Minas Gerais no sculo XVIII.
Processos de Inquisio em Lisboa
1. Agostinho Jos de Azevedo n 8.670
2. Antnio de S Tinoco n 2.490
3. David Mendes da Silva n 2.134
4. Diogo Lopes Simes n 8.209
5. Domingo Nunes n 1.779
6. Joo de Moraes Montezinhos n 11.769
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7. Joo Luiz de Mesquita n 8.018

8. Jos Nunes n 430
9. Luiz Vaz de Oliveira n 9.469
10. Luzia Pinto n 252
11. Manuel Gomes de Carvalho n 7.760
12. Martinho da Cunha n 8.109
13. Miguel Nunes Sanches n 8.112
14. David de Miranda n 7.489
Todos esses processados foram acusados de crime de judasmo entre 1712 e 1763.
Tambm atravs desses processos, Neuza Fernandes constatou a importncia dos
cristos novos que detinham o poder nas transaes financeiras e comerciais da
regio. Neles esto registrados dvidas e emprstimos por compras e vendas de
mercadorias, de imveis, gados, escravos, ouro e diamantes.
Milhares de cristos novos tornaram-se prsperos e bem sucedidos cidados do
Estado. Era comum nesta poca a ocupao de terras devolutas. Inicialmente, estas
famlias marranas moravam nas imediaes de Ouro Preto, Mariana, Sabar , Serro
Frio, Brumado. Mais tarde, comearam a imigrar para outras regies que mais tarde
receberiam o nome de Jequer, Ponte-Nova, Rio Casca, Caatinga, localizadas mais na
zona da mata mineira. Outras imigraram-se para o norte do Estado, motivados pelo
ouro de aluvio no Rio das Velhas e minas de prata em Sete Lagoas. Mais ao norte, a
regio de Diamantina e Arauar se destacariam pela abundncia de pedras preciosas.
Borba Gato, genro de Ferno Dias Paes, foi destacado para seguir o Rio dos Velhos
em estudo. Prosseguindo, alcanou Paraopeba fundando o arraial de Santana, onde
permaneceu por alguns anos. Prosseguindo mais para o norte, chega ao sumidouro,
no Serro Frio, onde fundou mais arraiais. Nesta poca, surgiam os arraiais de
Baependi, Matias Cardoso, Olhos dgua, Montes Claros, Conquista etc.
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A expedio dos bandeirantes ligou, finalmente, o norte com o sul, do Serro Frio para
Bahia e So Paulo.
A descoberta do precioso metal continuou. Sua descoberta inicial data de 1693 com
Borba Gato Entretanto, expedies de Ferno Dias, Duarte Lopes descobriram o ouro
nas imediaes de Mariana. Destaca-se tambm na regio das Minas Gerias, a
presena do cristo novo Antnio Rodrigues Arzo (Hazn que em hebraico quer
dizer Cantor das rezas nas sinagogas) no descobrimento do nobre metal em 1643. [3]
Pedroso da Silveira e Bartolomeu Bueno de Siqueira foram aqueles que apresentaram
as amostras de ouro das Minas Gerais ao Governador do Rio de Janeiro, Antnio Paes
de Sande, e a partir do seu sucessor (Sebastio da Costa Caldas), essas amostras
foram enviadas a D. Pedro, o El-Rei, em 1695.
A partir de 1705 a regio da minerao sob o domnio dos paulistas. Estima-se que a
corrida do ouro levava anualmente para Minas de 8 a 10 mil pessoas norteadas pala
viso das serras brilhantes, ricas em mica? , cujo brilho se confundiria com o do ouro.
Assim, o serto mineiro era cada vez mais devastado na regio do pico Itacolom.
O propsito deste pequeno relato histrico e continuar a presena dos cristos novos
na expanso comercial deste precioso metal, que acabaram habitando muitas terras
aps o apogeu do ouro e diamante que ocorreu no perodo de 1750 a 1760
estendendo at a virada do sculo.
Consequentemente, novos caminhos do ouro iam surgindo. Os mais conhecidos foram
o Velho, o da Bahia, o de So Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Mais tarde,
surgiram os caminhos para Gois e Mato Grosso. De So Paulo para o Rio Grande do
Sul a rede hidrogrfica foi bastante utilizada.
O ouro descoberto descia das Minas Gerais pela Serra da Bocana e escoava pelo
porto do Rio de Janeiro. Este trecho ficou conhecido como o Caminho Velho. O
segundo caminho do Rio para Minas ficou conhecido como o Caminho Novo e se
tornou a grande Estrada Real, que passou a ser o principal Caminho do Ouro. Sua
construo iniciou em 1648 por Garcia Rodrigues a pedido do Governador do Rio. O
percurso seguiu pela Serra da Mantiqueira e a Serra do Espinhoso at o registro velho
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e a borda do campo (municpio de Barbacena), passando por Palmira (Santos

Dumont). Depois, seguia-se em direo Juiz de Fora, Matias Barbosa, Simo Pereira,
Trs Irmos, Rocinha da Negra, paraibuna. Do outro lado do rio Paraba, o Caminho
seguia em direo Roa do Alferes, Serra do Couto, Tingu (no p da Serra), Iguau
Velho alcanando a Bahia da Guanabara at o Porto do Rio de Janeiro.
Este caminho possibilitou o povoamento de Minas e o escoamento do Ouro para a
coroa portuguesa.
A Inquisio no havia acabado e, por isso, os judeus cristos-novos temendo as
sbitas perseguies e acusaes, procuravam as montanhas de Minas, mais distante
do Porto do Rio e mais seguro, para ali se estabelecerem com suas famlias. As
regies de origem dos cristos-novos que imigraram para Minas Gerais podem ser
identificadas como sendo:
1. Aps o Domnio Holands no Brasil (1654): Pernambuco => Bahia => Minas Gerais.
No incio, pelo rio So Francisco e, mais tarde, pelos caminhos Velho e Novo, Rio para
Minas
2. Direto de Portugal.
3. A partir de 1705, quando as mineraes passaram para o domnio dos jesutas.
Entretanto, pelas minhas pesquisas, a maior parte dos cristos-novos foram
provenientes da Bahia/Rio/Minas, uma vez que a primeira comunidade judaica ocorreu
durante o domnio holands na Bahia e Pernambuco. Pelos processos inquisitoriais,
analisando a procedncia dos processados, deduz-se que a maioria deles eram
oriundos da Bahia, Minas e Rio de Janeiro.
Quando as Minas comearam a se esgotar, depois de trs dcadas de grande
produo (1750/80), a vila virou um humilde povoado. Os mineiros, ento, que no
tinham mais razes no norte ou mesmo no sul, passaram a procurar outras atividades,
deslocando-se para terras mais frteis da Zona da Mata ou para os campos de criao
de gado.
Isaac Izeckson [4] calcula que a imigrao para Minas chegou a 800.000 indivduos,
sendo que a metade era um expressivo nmero de cristos-novos. Augusto de Lima
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Jnior tambm confirma este grande nmero de contingente de cristos-novos que

abandonaram Portugal, sobretudo o norte, para se radicar em Minas.
Na verdade, Portugal sofreu a maior Sangria Migratria para as Minas Gerais. Foram
multides de cristos-novos portugueses que atravessaram os oceanos, montanhas e
florestas cerradas, para justamente com os africanos, fazerem a histria de um povo,
afirma Neuza Fernandes [5]. Abaixo, alguns exemplos de cristos-novos, grandes
atacadistas e agentes financeiros do Estado de Minas Gerais.
David de Miranda, portugus, morador em Ribeiro do Carmos, hoje Mariana, durante
os anos de 1721 e 1724. Foi importador de tecidos de Lisboa em empreendimento com
seu irmo Francisco, atendeu esse negcio at as Minas. Concomitantemente, aliou-se
ao cunhado, Diogo de vila Henriques, que, por sua vez, era scio do primo Diogo de
vila. Outros primos, Gaspar Henriques e Jernimo Rodrigues mantinham ativo
comrcio entre Minas e Bahia, incluindo roupas e tecidos.
Damio Roiz Moeda, tinha negcio de transporte de cargas de negros, chapus e
escravos do Rio de Janeiro para Minas Gerais. Era scio do cunhado, Joo Roiz Vizeu,
e do proprietrio de engenho Joo Roiz do Vale, que financiou a sociedade
estabelecida na base de um tero dos lucros para cada um.
Francisco Nunes de Miranda, (o nobre nome Nunes tem origem do hebraico Ben
Num Filho de Num; o sobrenome Miranda vem da importante cidade da fronteira
de Portugal com a Espanha, a qual recebeu a maior quantidade de judeus expulsos da
Espanha em 1492). Cristo-novo. Foi mdico e rico comerciante, com domiclio na
Bahia, Rio e Minas (cidade-Mariana). Mantinha relaes comerciais com Francisco
Pinheiro e com outro parente, Joseph de Castro, que transportava escravos da costa
de MIna e de Angola para o Brasil. Foi o primeiro cristo-novo preso no sculo XVIII no
Brasil pela Inquisio Processo Nmero: 1.292. [6]
Manuel Nunes Viana, rico comerciante e homem de negcio de ouro, escravos, terras
e gado, sediando na fazendo de Jequita, em sociedade com seu primo Luiz Soares.
Miguel Telles da Costa, tinha relaes comerciais nas praas de Minas, Rio e Portugal.
Associado ao seu sobrinho, concentrou suas atividades na regio do rio das Mrtes
mais ao sul, prximo a Curralinhos e Itaperava MG.
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Joo de Moraes Montezinhos, tinha em Minas, negcios com seu cunhado,

trabalhando com carregamentos e recebendo uma percentagem de 5% sobre as
vendas.
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Autor: Marcelo
42
M. Guimares
Engenheiro Industrial, ps-graduado em Engenharia Econmica com MBA em

Finanas. Escritor, Telogo e Conferencista. Fundador da ABRADJIN (Associao
Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisio), e do primeiro Museu da
Histria da Inquisio no Brasil.
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