Contos Reunidos

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CONTOS REUNIDOS

Universidade Estadual de Santa Cruz


GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Jaques Wagner - Governador
SECRETARIA DE EDUCAO
Osvaldo Barreto Filho - Secretrio
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
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Conselho Editorial:
Maria Luiza Nora Presidente
Adlia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Antnio Roberto da Paixo Ribeiro
Dorival de Freitas
Fernando Rios do Nascimento
Janes Miranda Alves
Jorge Octavio Alves Moreno
Lino Arnulfo Vieira Cintra
Lourival Pereira Junior
Maria Laura Oliveira Gomes
Marcelo Schramm Mielke
Marileide Santos Oliveira
Raimunda Alves Moreira de Assis
Ricardo Matos Santana

ARAMIS RIBEIRO COSTA

CONTOS REUNIDOS

Ilhus - Bahia
2010

2010 by Aramis Ribeiro Costa


Direitos desta edio reservados
EDITUS - EDITORA DA UESC
Universidade Estadual de Santa Cruz
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Tel.: (73) 3680-5028 - Fax: (73) 3689-1126
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Projeto Grfico
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Diagramao
Alencar Jnior
Reviso
Maria Luiza Nora

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)


Ficha catalogrfica: Elisabete Passos dos Santos - CRB5/533

C837
Costa, Aramis Ribeiro.
Contos reunidos / Aramis Ribeiro Costa. Ilhus : Editus, 2010.
645p. - (Coleo Nordestina, 69)
ISBN: 978-85-7455-200-2

1. Contos brasileiros Coletnea. I. Ttulo.

Printed in Brazil

CDD 869.93
ISBN - 978-85-7455-200-2

memria dos meus avs


o comeo de tudo.
memria dos meus pais
a razo de tudo.
memria do meu tio Adroaldo
como um farol, iluminando tudo.
Para minhas irms e minhas sobrinhas
a continuao de tudo.
Para Gerana
a companheira de tudo.

O MESTRE ARAMIS E
SEUS CONTOS REUNIDOS

Vem em boa hora essa reunio de alguns contos de Aramis


Ribeiro Costa, a cargo da editora da UESC Universidade Estadual de
Santa Cruz, Coleo Nordestina, no somente porque permitir, aos
que no conhecem sua singular fico, o primeiro contato e o prazer
da descoberta, e aos que conhecem, a oportunidade de reler, com
renovada surpresa, algumas de suas histrias extraordinrias. Histrias como A rosa de Natlia, Ldia: uma histria de Herdoto, As
duas mortes de Olegrio Otvio, A interminvel noite de Percival,
O morto Rogaciano, A oportunidade, Dez anos depois e Me,
entre tantas outras.
Fao minhas as palavras de Hlio Plvora, em orelha de
A assinatura perdida (1996), quando ressalta: Ainda se escrevem
contos que so contos. O conto que narra, a partir de um ncleo ficcional definido, mesmo que limitado, sem a preocupao da trama.
O conto que se exprime pela linguagem e pelos significados humanos
recolhidos. O conto na tradio dos clssicos, mas tocado pelo esprito de modernidade. Perfeito! Neste pequeno pargrafo, o ensasta e

tambm contista baiano toca em trs aspectos fundamentais da construo narrativa do seu conterrneo.
O primeiro deles concerne relao fbula e trama ou, em
outros termos, enredo e composio. Aramis o tpico contista da efabulao, na medida em que situaes e personagens, ocorrncias e
conflitos como que fundam a arquitetura do discurso literrio. o qu
mais que o como, o contedo mais que a tcnica de organizao que
adquire ostensiva visibilidade. Com isto no quero dizer que o autor
no domine a tcnica de narrar e os recursos formais e estilsticos. Ao
contrrio: o domnio to slido que o resultado e aqui no importa
a opo pelo andamento linear evidencia-se com tanta naturalidade.
Por isto, seus contos apresentam uma das caractersticas
essenciais ao gnero, segundo Tchekhov, isto , fora, pois desde o
incio arrebata o leitor, levando-o, incontinente, ao final da narrativa.
Em muitos de seus contos no h como suspender o processo de
leitura. Seduzido pela curiosidade, estimulado pela imaginao, presa
das armadilhas ficcionais, o leitor se deixa conduzir, fascinado, para
o desenlace da ao. No raro, estranho e impondervel desenlace. A
este propsito, convoco os leitores para a deliciosa e surpreendente
viagem de um conto como A rosa de Natlia ou A interminvel noite
de Percival. Aquele, trilhando um percurso lrico, ertico e realista;
este, beirando o fantstico...
Alis, eis as duas matrizes estticas que parecem conduzir
o autor de Os bandidos (2005). De um lado, h um conjunto de
peas em que a linhagem hiper-realista, a um Dalton Trevisan, a um
Srgio Sant`Anna e a um Rubem Fonseca, do a tnica, sem incidir,
contudo, no esquemtico denuncismo que tanto tem prejudicado a
literatura de notao urbana e social. Dessa vertente, figuram como
exemplos, entre outros: Me, Kety, O zelador, Reportagem
urbana e Assassino. De um outro, existe um leque de contos que
transita pelo fantstico, porm o fantstico encravado na carne do
cotidiano mais ordinrio, como nos demonstram, em especial, dois
contos emblemticos: A oportunidade e O morto Rogaciano.

O segundo aspecto, entrevisto na citao de Hlio Plvora,


refere-se correspondncia entre os contedos humanos e a linguagem. Diria que os fatos existenciais, ou melhor, a situao excepcional
em que se envolve as personagens, quer no vis realista quer no vis
do fantstico, define bem o inusitado, o surpreendente, o estranho da
experincia humana vivenciada. Para me socorrer, mais uma vez de
Tchekhov, vejo aqui a marca da novidade, ou seja, o impacto do acontecimento indito assim como a maneira particular, inslita de captar
a temtica e de desenvolver o assunto atravs de ngulos inesperados.
Confira o leitor, lendo, por exemplo, um conto como Ldia: uma histria de Herdoto ou mesmo o desconcertante As duas mortes de
Olegrio Otvio.
Novidade, nesta perspectiva, no se confunde com novismo nem tampouco com as invenes pirotcnicas da forma gratuita e vazia em que muitos se comprazem. A essa novidade, que
provavelmente se aproxima do conceito de originalidade, Aramis
Ribeiro Costa procura associar a clareza, outra exigncia tchekhoviana, sobretudo quando se molda pela objetividade narrativa e pela
simplicidade da linguagem. Tanto no conto mais longo quanto naqueles mais curtos, o narrador revela economia de meios e senso
de equilbrio na seleo dos elementos, delimitando bem o ncleo
seminal da narrao, cadenciando o ritmo do suspense, enfim,
atingindo o clmax e o desfecho.
Da, chegamos ao terceiro aspecto: Aramis um contista de
herana clssica, porm tocado pelo halo da modernidade. O clssico
vincula-se evidentemente ao modo de narrar, elaborao de uma
trama quase sempre linear de comeo, meio e fim com narrador bem posicionado, claramente definido, conflitos bem articulados,
enfim, com todas aquelas diretrizes que vm de mestres como Maupassant, Ea de Queirs e Machado de Assis, com os quais o escritor
baiano parece manter fortes afinidades eletivas.
O toque moderno, por sua vez, dado pelo olhar, s vezes
emptico s vezes irnico, s vezes lrico s vezes humorstico, com

que o narrador visualiza o drama e o desamparo dos personagens,


suas tristezas, alegrias, frustraes, medos, dvidas, perplexidades,
desespero, loucura... Enfim, pelo senso das coisas contemporneas,
pela presena recorrente da cidade, a bela e misteriosa Bahia de So
Salvador, topografia real e simblica desse universo de humilhados
e ofendidos que Aramis Ribeiro Costa transfigura com a objetividade da observao sensvel e com a poeticidade da imaginao
criadora.
semelhana de Herdoto, um de seus personagens,
Aramis gosta de contar histrias. Mas no qualquer histria. No a
histria pela histria. O conto, para ele, tem de ser significativo, isto
, deve ultrapassar as fronteiras episdicas que o deslindam, fazendo explodir, conforme sustenta Julio Cortzar, num dos captulos de
Valise de Cronpio, a energia espiritual que ilumina bruscamente
algo que vai muito alm da pequena e s vezes miservel histria que
conta. Como no poema de Fernando Pessoa, a emoo aqui tambm
pensa. A perplexidade diante do acontecido, principalmente da singularidade do acontecido, leva reflexo, transformando seus contos
naquela bolha de sabo, a que alude Cortzar, que se desprende
do autor, do seu pito de gesso.
O significativo, a seu turno, no existe sem a intensidade
a eliminao dos ingredientes suprfuos, na lio de Edgar Allan
Poe; a intensidade e o significativo se consumam na tenso, que,
para Henry James, uma intensidade que se exerce na maneira pela
qual o autor nos vai aproximando lentamente do que conta. Ora,
tais caractersticas avultam e se mesclam na obra ficcional de Aramis Ribeiro Costa, perfazendo sua unidade esttica e sua densidade
semntica.
A Bahia regio agraciada pelas vozes de grandes ficcionistas da literatura brasileira. Basta lembrar os nomes de Jorge Amado,
Herberto Sales, Adonias Filho, Antnio Torres, Joo Ubaldo Ribeiro,
Jorge Medauar e Hlio Plvora, para citarmos apenas os mais conhecidos. Creio que Aramis Ribeiro Costa, a par da obra consolidada que

vem publicando e j ceifando os melhores frutos da maturidade, espiritual e artstica, de que serve de exemplo essa bem vinda coletnea,
integra perfeitamente, qual um mestre entre seus pares contemporneos, a rica galeria dessa tradio.

HILDEBERTO BARBOSA FILHO


poeta e crtico literrio paraibano.
Comarca das Pedras, outubro de 2008.

SUMRIO

A Imagem no Espelho
17
Dez Anos Depois
30
Amncio
36
A Nota de Roslia
53
Sete-Sete
61
A Assinatura Perdida
83
Os Sobrinhos
91
Kety
103
As ltimas Frias do Tio Edson
110
O Aniversrio de Normando
118
A Porta Aberta
147

Oflia
154
A Mgoa Eterna de Dona Cizinha
163
Os Bandidos
174
Procura de Francine
192
O Zelador
215
As Duas Mortes de Olegrio Otvio
225
Itapagipe
237
O Anel
256
A Interminvel Noite de Percival
261
A Oportunidade
283
A Casa
291
Uma Vontade Enorme de Chorar
309

Misria
325
A Primeira Noite de Mariazinha
334
Chico do Morro
351
Reportagem Urbana
359
Praia
385
Era Vspera de Natal
393
Incio
413
O Desejo de Leondia
425
Me
432
A Mulher de Negro
441
Miolo de Po
449
Dona Laura Est Dormindo
454
Assassino
461

Ladeira da Conceio
465
Segunda-Feira Sem Data
479
O Gato
513
O Mar Que a Noite Esconde
518
Visita Casa Paterna
538
Malu
545
Mame Est Morrendo
558
O Favor do Velho Tio
564
Ldia - UMA HISTRIA DE HERDOTO
583
O Morto Rogaciano
604
A Rosa de Natlia
613
Do Autor
633
Nota Bibliogrfica
635

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