Aleijadinho
Aleijadinho
Aleijadinho
ALEIJADINHO
7 ANO A
ALEIJADINHO
na Matriz de Antnio Dias, em uma tumba junto ao altar de Nossa Senhora da Boa
Morte.
Para ocultar sua deformidade vestia roupas amplas e folgadas, grandes
chapus que lhe escondiam o rosto, e passou a preferir trabalhar noite, quando
no podia ser visto facilmente, e dentro de um espao fechado por toldos. Nos seus
ltimos dois anos, quando j no podia trabalhar e passava a maior parte do tempo
acamado, Bretas disse que, de acordo com o que soube da nora do artista, um lado
de seu corpo ficou coberto de chagas, e ele implorava constantemente que Cristo
viesse dar-lhe morte e livrar dessa vida de sofrimento, pousando Seus santos ps
sobre o seu corpo miservel. Porm, os testemunhos de poca no concordam
sobre a natureza nem sobre a extenso de suas deformidades. John Bury diz que a
verso que o apresenta sem mos se originou com John Luccock, que visitou as
Minas em 1818, sendo repetida por muitos outros, mas Auguste de Saint-Hilaire, por
exemplo, que esteve l na mesma altura, referiu que ele preservara as mos,
embora paralisadas, verso repetida pelo baro von Eschwege. A exumao de
seus restos mortais em 1930 no foi conclusiva. No foram encontrados os ossos
terminais dos dedos das mos e dos ps, mas eles podem ter se desintegrado aps
o enterramento, hiptese sugerida pelo estado de Sendo hoje um dos cones da arte
brasileira, sua obra altamente valorizada no mercado, e na problemtica das
atribuies de autoria entram em jogo fortes presses de vrios setores envolvidos,
incluindo instncias oficiais, colecionadores e comerciantes de arte. Apesar de sua
obra documentada se resumir a relativamente poucas encomendas (duas delas
incluindo os grandes conjuntos escultricos de Congonhas, a Via Sacra e os
Profetas), o catlogo geral publicado por Mrcio Jardim em 2006 elencou 425 peas
como de sua lavra exclusiva, sem ajuda de outrem, nmero muito maior do que as
163 obras contadas em 1951, na primeira catalogao. E o nmero no cessa de
crescer: diversas peas de
autoria at
ento
desconhecida
vm sendo
Bigodes nascendo das narinas, afastados dos lbios e fundidos com a barba;
esta recuada na face e se apresenta bipartida em dois rolos;
estilo pessoal se desvia em alguns pontos significativos dos modelos barrocosrococs ento prevalentes. O trao mais marcante nessas complexas composies,
de carter ao mesmo tempo escultrico e arquitetural, a transformao do arco de
coroamento, j sem fronto, substitudo por um imponente grupo estaturio, o que
segundo Oliveira sugere a vocao primariamente escultrica do artista. O primeiro
conjunto foi o projeto da capela-mor da Igreja de So Jos em Ouro Preto, datado
de 1772, ano em que entrou para a correspondente Irmandade. As obras foram
executadas, contudo, por um arteso pouco qualificado, prejudicando o resultado
esttico. Ainda apresenta um dossel de coroamento, mas j est desprovido de
ornamentos e ostenta um grupo escultrico.
O conjunto mais importante o retbulo da Igreja de So Francisco de Assis
em Ouro Preto, onde a tendncia de povoar com figuras o coroamento chega ao seu
ponto alto, com um grande conjunto escultrico representando as trs pessoas da
Santssima Trindade. Este grupo no apenas arremata o retbulo, mas se integra
eficazmente com a ornamentao da abbada, fundindo parede e teto num vigoroso
impulso ascendente. Toda a talha do retbulo tem uma forte marca escultrica, mais
do que meramente decorativa, e realiza um original jogo de planos diagonais atravs
dos seus elementos estruturais, o que se constitui num dos elementos distintivos de
seu estilo neste campo, e que se repetiu no outro grande conjunto que ele projetou,
para a igreja franciscana de So Joo del-Rei.
A etapa final da evoluo do seu estilo como entalhador ilustrada pelos
retbulos que realizou para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto,
projetados e executados por ele entre 1807 e 1809, sendo os ltimos que criou
antes da sua doena obrigar-lhe a mais supervisionar do que executar suas ideias.
Estas peas derradeiras apresentam um grande enxugamento formal, com a
reduo dos elementos decorativos a formas essenciais, de grande elegncia. Os
retbulos so marcadamente verticalizados e se encaixam integralmente dentro dos
cnones do Rococ; abandonam por inteiro o esquema do arco de coroamento,
empregando apenas formas derivadas da concha (a "rocalha") e da ramagem como
motivos centrais das ornamentaes. O fuste das colunas no mais se divide em
dois por um anel no tero inferior, e a sanefa aparece integrada composio por
volutas sinuosas. Projeto para a fachada da Igreja de So Francisco em So Joo
del-Rei
Aleijadinho atuou como arquiteto, mas a extenso e natureza desta atividade
so bastante controversas. S sobrevive documentao relativa ao projeto de duas
nas
esttuas
momentos
de
notvel
beleza
solenidade,
verdadeiramente dignas dos profetas. O conjunto se configura como uma das sries
mais completas representando profetas na arte crist ocidental. Esto presentes os
quatro principais profetas do Antigo Testamento - Isaas, Jeremias, Ezequiel e
Daniel, em posio de destaque na ala central da escadaria - e oito profetas
menores, escolhidos segundo a importncia estabelecida na ordem do cnon
bblico, sendo eles Baruc, Oseias, Jonas, Joel, Abdias, Ams, Naum e Habacuc.
As propores das figuras so extremamente distorcidas. Uma parte da crtica
atribui isso incompetncia de seu grupo de auxiliares ou s dificuldades de manejo
do cinzel geradas por sua doena, mas outros se inclinam para ver nelas uma
intencionalidade expressiva, e outros ainda entend
em as distores como recurso eminentemente tcnico destinado a
compensar a deformao advinda do ponto de vista baixo a partir do qual as
esttuas so vistas, demonstrando o criador estar ciente dos problemas e exigncias
da representao figural em escoro. De fato a dramaticidade do conjunto parece
ser intensificada por essas formas aberrantes, que se apresentam em uma
gesticulao variada e teatral, imbuda de significados simblicos referentes ao
carter do profeta em questo e ao contedo de sua mensagem. Dez dentre eles
apresentam o mesmo tipo fsico: um jovem de rosto esguio e traos elegantes,
mas do rosto salientes, barbas aparadas e longos bigodes. Somente Isaas e
Naum aparecem como velhos de longas barbas. Todos tambm trajam tnicas
semelhantes, decoradas com bordados, salvo Ams, o profeta-pastor, que usa um
manto do tipo dos trajes de pele de carneiro encontrados entre os camponeses da
regio do Alentejo. Daniel, com o leo a seus ps, tambm se destaca no grupo e
cr-se que pela perfeio de seu acabamento seja talvez uma das nicas peas do
conjunto inteiramente realizada pelo mestre mineiro. Segundo Soraia Silva,
"O que o Aleijadinho efetivamente deixou representado nesta obra foi uma
dinmica postural de oposies e correspondncias. Cada esttua representa um
personagem especfico, com sua prpria fala gestual. Mas apesar dessa
independncia no espao representativo e at mesmo no espao fsico, elas
recebendo os estigmas, que para Mrio de Andrade est entre suas criaes mais
primorosas, aliando notvel doura e realismo.
Na mesma categoria devem ser lembrados os lavabos monumentais e os
plpitos que esculpiu em pedra-sabo em igrejas de Ouro Preto e Sabar, todos
com rico trabalho escultrico em relevo, tanto ornamental como em cenas
descritivas.
Depois de um perodo de relativo obscurecimento aps sua morte, ainda que
tenha sido comentado por vrios viajantes e eruditos da primeira metade do sculo
XIX como Auguste de Saint-Hilaire e Richard Burton, s vezes de forma pouco
lisonjeira, o nome de Aleijadinho voltou cena com a biografia pioneira de Bretas em
1858, j citada. Dom Pedro II era um apreciador da sua obra. Mas foi mais tarde que
o seu nome voltou com fora discusso esttica e histrica, com as pesquisas de
Affonso Celso e Mrio de Andrade no incio do sculo XX, aliadas ao novo prestgio
que o Barroco mineiro desfrutava entre o governo, prestgio que levou criao da
Inspetoria de Monumentos Nacionais, o antecessor do IPHAN, em 1933. Para os
modernistas do grupo de Mrio, que estavam engajados num processo de criao
de um novo conceito de identidade nacional, conhecer a obra de Aleijadinho foi
como uma revelao inspiradora, onde foram acompanhados por alguns ilustres
tericos francfonos, num perodo em que o estilo Barroco estava muito
desacreditado entre a intelectualidade da Europa mas no Brasil se tornara o assunto
do momento. Admirado, Blaise Cendrars pretendeu escrever um livro sobre ele, mas
isso acabou no se concretizando. Entretanto, os estudos foram ampliados nos anos
seguintes por, entre muitos outros, Roger Bastide, Rodrigo Melo Franco de Andrade,
Gilberto Freyre, Germain Bazin e tambm pelos tcnicos do IPHAN, e desde ento
tm se expandido ainda mais para abordar uma grande variedade de tpicos sobre a
vida e obra do artista, geralmente afirmando a importncia superlativa de sua
contribuio. Lcio Costa mantinha uma posio dividida; negava-lhe talento de
arquiteto, e repelia sua obra nesse campo como inferior, de nvel decorativo apenas,
e ironizava sua pessoa tambm, chamando-o de "recalcado trgico", ainda que em
outro momento o elogiasse como "a mais alta expresso individualizada da arte
portuguesa de seu tempo".
1799 - Ouro Preto: Quatro anjos de andor para a Igreja de Nossa Senhora do
Pilar.
1808-9 - Ouro Preto: Retbulos de Santa Quitria e Santa Luzia para a Igreja
de Nossa Senhora do Carmo.
CONCLUSO