A História Da Prostituição Com Desenvolvimento Da Cidade
A História Da Prostituição Com Desenvolvimento Da Cidade
A História Da Prostituição Com Desenvolvimento Da Cidade
momento da histria humana, em torno do segundo milnio a.C., que a instituio da prostituio sagrada tornouse
visvel e foi registrada pela primeira vez na escrita", explica Nickie.
DEMSTENES
CROBIL: Tudo o que voc tem de fazer sair com os rapazes, beber com eles e dormir com eles por dinheiro.
CORINA: Do jeito que faz Lira, filha de Dafne!
CROBIL: Exatamente!
CORINA: Mas ela uma prostituta!
CROBIL: Bem, e isso uma coisa assim to terrvel? Significa que voc ser rica como ela , e ter muitos amantes.
Por que voc est chorando, Corina? No v quantos homens vo atrs das prostitutas, e mesmo assim h tantas
delas? E como elas ficam ricas! Olhe, eu posso me lembrar de quando Dafne estava na penria. Agora, olhe a sua
classe! Ela tem montes de ouro, roupas maravilhosas e quatro criados.
entanto, como aconteceu a todas as sociedades antigas, os primeiros habitantes da Grcia foram povos adoradores da
deusa, afirma Nickie. Os deuses masculinos s vieram mais tarde, por volta de 2.000 a.C., com os invasores indoeuropeus. As duas culturas fundiram-se e produziram o hbrido que chegou at ns. Basta lembrar que Zeus, divindade
suprema indo-europia, casou-se com
Hera, poderosa deusa sobrevivente do culto anterior.
A negao total do poder da mulher na sociedade grega decorrente do governo de uma srie de ditadores homens.
Slon, que governou Atenas na virada do sculo VI a. C., foi o principal deles, tendo institucionalizado os papis das
mulheres na sociedade grega. Passaram a existir as "boas mulheres", submissas, e as outras.
SMBOLO S AVESSAS
Segurando duvidosamente um
crucifixo, o quadro Madalena penitente, de Francesco Hayez (1825), mostra Maria Madalena fugindo da morte e
culpada, por intermdio da religio
Maria Madalena, famosa prostituta arrependida da Galilia, representa que, para ser salva, a mulher precisa abandonar
a profisso
Conhecida como a ex-prostituta da Galilia, Maria Madalena foi uma das mais fiis seguidoras de Jesus Cristo. De
acordo com a Bblia, ela estava presente em sua crucificao e em seu funeral. Foi ela quem encontrou vazio o tmulo
de Jesus, ouviu de um anjo que ele havia ressuscitado e foi dar a notcia aos apstolos.
Prostituta com papel de destaque na histria de Cristo - foi, inclusive, canonizada pela igreja catlica -, Maria Madalena
poderia ter se tornado um smbolo na luta pela aceitao da atividade. Mas o que ocorreu foi o contrrio: como
personificou o esteretipo de "prostituta arrependida", acabou por disseminar uma imagem negativa sobre a
prostituio, ao reforar a idia de que preciso abandonar a atividade para redimir-se dos pecados e ser perdoada
por Deus.
Durante a Idade Mdia, as prostitutas atuantes eram excomungadas da igreja catlica. Mas as que se arrependiam
eram perdoadas e aceitas pela sociedade. Houve at um movimento de converso, em que a igreja estimulou fiis a
"recuperar" prostitutas e casar-se com elas. Tambm surgiram comunidades monsticas de ex-prostitutas convertidas,
que receberam o nome de "Lares de Madalena". Elas proliferaram pela Europa, tendo sido financiadas, em sua
maioria, pelo clero. Alm de Maria Madalena, a igreja enalteceu diversas outras prostitutas que salvaram suas almas
pelo
arrependimento,
como
Santa
Pelgia,
Santa
Maria
Egipcaca,
Santa
Afra
e
outras.
O curioso que nenhuma passagem na Bblia afirma que Maria Madalena foi prostituta. Os textos sagrados a
mencionam como pecadora, de quem Jesus expulsou sete demnios, mas no especificam qual seria seu passado.
Provavelmente, o que a levou a ser vista como prostituta foi a identifi- cao com um relato de Lucas (7:36-50) sobre
uma pecadora annima, descrita de forma a sugerir ser uma prostituta, que em certa passagem unge os ps de Cristo.
O relato de Lucas, a respeito de tal mulher arrependida, antecede a citao nominal de Maria Madalena. No Ocidente
cristo, a verso de que Maria Madalena seria essa mulher foi a mais difundida. No Oriente, a mulher annima e Maria
Madalena so vistas como pessoas diferentes.
Foi tambm Slon quem, percebendo os lucros obtidos pelas prostitutas - tanto as comerciais quanto as sagradas -,
organizou o negcio, criando bordis oficiais, administrados pelo Estado. Neles, havia grande explorao das
mulheres, que eram praticamente escravas. Junto com os bordis oficiais, muitas meretrizes independentes exerciam o
seu comrcio, apesar da legislao de Slon. "Pela primeira vez na Histria, as mulheres estavam sendo cafetinadas oficialmente. (...) Assim, de mos dadas, nasceram a cafetinagem estatal e privada", afirma Nickie.
Maria Regina Cndido, historiadora da UERJ, lembra que foi a presso sobre a terra, com o grande aumento da
populao grega, que levou Slon a criar os primeiros bordis. Isso porque ele trouxe para a regio estrangeiros
ceramistas, com o intuito de ensinar populao excedente uma nova atividade, j que a agricultura no absorvia mais
a todos. "Para que os estrangeiros no molestassem as esposas e filhas de cidados gregos, ele criou um espao de
prostituio oficial na periferia da cidade, os bordis", explica a coordenadora do NEA. Segundo Maria Regina, as
prostitutas ficavam em frente ao cemitrio, na regio do cermico, onde estavam instaladas as oficinas dos ceramistas,
e tambm na regio do Porto do Pireu, onde eram chamadas de pornes, da vem a palavra pornografia.
As prostitutas dos bordis eram estrangeiras, trazidas para a Grcia exclusivamente para cumprir esse papel. Mas
muitas mulheres gregas, depois de casamentos desfeitos por suspeita de traio ou outros desvios de comportamento,
no viam outro caminho a no ser prostituir-se. Essas, estigmatizadas, juntavam-se s estrangeiras nos bordis
oficiais.
As prostitutas do templo de Afrodite deixaram de ser vistas como sacerdotisas e viraram escravas
Muitas prostitutas eram cultas e instrudas, e cumpriam o papel de entreter os lderes daquela sociedade. Cobravam
alto preo por sua companhia e podiam ou no ceder aos desejos sexuais do cliente. So as hetairae, amantes e
musas dos maiores poetas, artistas e estadistas gregos, explica Maria Regina. "As hetairae conduziam seus negcios
abertamente em Atenas, trabalhando independentemente tanto dos bordis do Estado quanto dos templos", diz Nickie.
A prostituio sagrada tambm sobreviveu, embora timidamente, durante o perodo da Grcia clssica. Havia templos
em toda a Grcia, especialmente em Corinto - dedicado deusa Afrodite. As prostitutas do templo no mais eram
vistas como sacerdotisas, eram tecnicamente escravas. Mas, por serem consideradas criadas da deusa, mantinham a
aura de sacralidade e eram homenageadas pelos clientes. "Demstenes pagava caro por essas prostitutas. Ele ia de
Atenas at Corinto s para ter relaes sexuais com elas", diz Maria Regina.
frei So Toms de Aquino, por Fra Anglico: em sua vasta obra filosfica e
moral do sculo XIII, ele defendeu a existncia da prostituio, argumentado esse ser um "mal necessrio"
Roma foi diferente da Grcia. At o incio da Repblica, a prostituio no era to disseminada no territrio romano.
"Roma ainda era muito provinciana, fechada", explica Ronald Wilson Marques Rosa, historiador e pesquisador do
NEA/UERJ. A prostituio apenas se difundiu com a expanso militar do imprio romano e a conquista de escravos.
Antes desta expanso, h indcios de que entre os primeiros romanos, que eram povos agrcolas, existia a antiga
religio da deusa, diz Nickie Roberts. Ela tambm afirma que, em tempos posteriores, a prostituio religiosa estava
ligada
adorao
da
deusa
Vnus,
que
era
considerada
protetora
das
prostitutas.
Aps a expanso militar e territorial, "os escravos eram os prostitutos, tanto homens quanto mulheres. E no havia
estigmatizao, no era algo mal-visto. Era normal o uso comercial do escravo para a prostituio. E, muitas vezes,
eles
usavam
esse
dinheiro
para
conseguir
a
liberdade",
diz
Ronald
Rosa.
De acordo com Nickie, Roma foi uma sociedade sexualmente muito permissiva. "Eles escarneciam de qualquer noo
de conveno moral ou sexual e desviavam-se de toda norma que houvesse sido inventada at ento", afirma. A
grande expanso urbana favoreceu o crescimento da prostituio. A vida era barata, e o sexo, mais barato ainda, diz a
autora. Prostituio, adultrio e incesto permearam a vida de muitos imperadores romanos.
"Falando de modo geral, a prostituio na antiga Roma era uma profisso natural, aceita, sem nenhuma vergonha
associada a essas mulheres trabalhadoras", comenta Nickie. A vida permissiva levava mulheres a rejeitar o
casamento, a ponto de o imperador Augusto estabelecer multas para as moas solteiras da aristocracia em idade
casadoira. Muitas se registraram como prostitutas para escapar da obrigao. O sucessor de Augusto, Tibrio, proibiu
as
mulheres
da
classe
dominante
de
trabalhar
como
prostitutas.
Diferente da Grcia, os romanos no possuam e nem operavam bordis estatais, mas foram os primeiros a criar um
sistema de registro estatal das prostitutas de classe baixa. Isso resultou na diviso das prostitutas em duas classes,
explica Nickie: as meretrices, registradas, e as prostibulae (fonte da palavra prostituta), no registradas. A maior parte
no se registrava, preferia correr o risco de ser pega pela fiscalizao, que era escassa.
"Suprimir a prostituio e a luxria caprichosa VAI ACABAR COM A SOCIEDADE. "
SANTO AGOSTINHO