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APLICAO DE LGEBRA LINEAR NA ENGENHARIA

Andresa Pescador [email protected]


Universidade do Estado de Santa Catarina
Rua Dr. Getlio Vargas, 2822
89140-000 - Ibirama - SC
Janana Poffo Possamai [email protected]
Cristiano Roberto Possamai [email protected]
Universidade Regional de Blumenau
Rua Antnio da Veiga, 140
89012-900 - Blumenau SC

Resumo: Este trabalho discute a importncia de apresentar aplicaes no estudo da
disciplina lgebra linear nos cursos de engenharia. Apresenta-se alguns casos de aplicao
de sistemas lineares, atravs de circuitos eltricos na engenharia eltrica, balanceamento de
equaes qumicas visando a engenharia de produo e equilbrio de estruturas metlicas na
engenharia civil. Os problemas apresentados so solucionados atravs da resoluo
matricial dos sistemas lineares, que envolvem dados numricos, permitindo sua resoluo
manual. Problemas reais, em geral, apresentam dimenses maiores e necessitam do auxilio
de softwares computacionais apropriados para a resoluo.

Palavras Chaves: Matrizes, Sistemas Lineares, Formao de Engenheiros


1 INTRODUO

A matemtica tem relao direta com vrias reas do conhecimento (fsica, qumica,
engenharia, informtica, economia, biologia, medicina, cincias humanas), ocupando um
lugar de destaque no mundo cientfico contemporneo.
Na modelagem de situaes que necessitam avaliar a tendncia dos dados reais, na
codificao e criptografia, na implementao de algoritmos para a criao de softwares, no
clculo estocstico em finanas, tem-se nesses alguns exemplos do papel essencial da
matemtica em nossa sociedade que se torna cada vez mais tecnolgica.
Encontra-se assim, em diversas profisses (executivos altamente qualificados, tecnlogos
superiores, altos cargos industriais, administrativos, engenheiros) esta necessidade de
competncias matemticas adaptadas.
Nos cursos de engenharia de modo geral tem-se nos primeiros semestres um ncleo
comum de disciplinas bsicas da rea da matemtica, entre elas, lgebra linear, geometria
analtica e clculo diferencial e integral. Os profissionais da engenharia necessitam da
formao de competncias para sua atuao, das quais, construir modelos para descrever e
analisar situaes, testar hipteses, analisar e otimizar processos, que constituem habilidades
adquiridas no estudo dessas disciplinas da matemtica.
Neste trabalho destaca-se a disciplina de lgebra linear na formao de engenheiros.






2 ESTUDO DA LGEBRA LINEAR

A lgebra linear ocupa lugar de destaque nas diversas reas da matemtica da anlise
estatstica, onde se utilizam, constantemente, o clculo matricial e vetorial. A importncia da
lgebra linear tem crescido nas ltimas dcadas. Os modelos matemticos lineares assumiram
um importante papel juntamente com o desenvolvimento da informtica e como seria de se
esperar, esse desenvolvimento estimulou um notvel crescimento de interesse.
Algumas das possibilidades de aplicaes dos contedos da disciplina na modelagem
matemtica de problemas e situaes concretas em engenharia so:
Equaes lineares em decises gerenciais; circuitos eletrnicos e explorao de
petrleo, entre outros.
lgebra matricial em computao grfica.
Determinantes em clculo de reas de volumes de slidos polidricos.
Espaos vetoriais em sistemas de controle.
Autovalores e autovetores em sistemas dinmicos, entre outros.
Apesar da linguagem especfica desta disciplina muitos problemas de ordem prtica so
resolvidos por meio de tcnicas simples, como por exemplo, o uso de sistemas lineares para
tratar de situaes que envolvam n variveis relacionadas atravs de m equaes. Os
algoritmos de resoluo de sistemas lineares podem ser apresentados atravs da notao
matricial, tornando sua aplicao uma expanso do tratamento com nmeros.

3 APLICAES

So apresentadas trs aplicaes onde faz-se necessrio o uso de sistemas lineares: uma
aplicao na engenharia eltrica atravs de circuitos eltricos, uma na engenharia qumica no
balanceamento de equaes e uma aplicao na engenharia civil atravs de estruturas
metlicas.

3.1 Circuitos Eltricos

Para tratar de circuitos eltricos faz-se necessrio definir: Lei de Ohm, em que a fora
eltrica o produto da resistncia pela corrente eltrica, descrita pela equao:

E = R i (1)

e as Leis de Kirchhoff em que tem-se a Lei dos Ns, onde a soma das correntes que entram
em qualquer n igual soma das correntes que saem dele, e a Lei das Malhas, onde a soma
das quedas de tenso ao longo de qualquer circuito igual tenso total em torno do circuito
(fornecida pelas baterias).
Numericamente, pode-se analisar o caso abaixo onde deseja-se determinar as correntes do
circuito eltrico.



























Figura 1 Circuito eltrico

No circuito com duas baterias e quatro resistores, tem-se as seguintes equaes para os ns:

0 i i i
3 2 1
= + (2)

0 i i i
3 2 1
= + (3)

Pelo circuito CABC tem-se:
8 i i 4
2 1
= + (4)
Pelo circuito DABD:
16 i 4 i
3 2
= + (5)

Sendo assim, o sistema linear em questo segue:

= +
= +
= +
16 i 4 i
8 i i 4
0 i i i
3 2
2 1
3 2 1
(6)

O sistema linear formado (6) pode ser escrito na forma matricial B Ai = , onde a matriz A a
matriz dos coeficientes, ou seja,
(
(
(


=
4 1 0
0 1 4
1 1 1
A , o vetor i o vetor das incgnitas,
(
(
(

=
3
2
i
i
i
i
i e
o lado direito dado por
(
(
(

=
16
8
0
B .
1
i
2
i
3
i




3.2 Balanceamento de equaes qumicas

Uma equao qumica balanceada uma equao algbrica que d o nmero relativo de
reagentes e produtos na reao e tem o mesmo nmero de tomos de cada tipo do lado
esquerdo e direito. Mantm reagentes esquerda e produtos direita.
Tem-se que 2H2 + O2 2H2O uma equao balanceada. Duas molculas de
hidrognio se combinam com uma molcula de oxignio para formar duas molculas de gua.
Ainda, 6H2 + 3O2 6H2O tambm uma equao balanceada.
No caso abaixo, a combusto de amnia (NH3) em oxignio produz nitrognio (N2) e
gua. Uma nova aplicao de sistemas lineares se d quando quer-se encontrar uma equao
qumica balanceada para a reao seguinte:

O H z N y O x NH w
2 2 2 3
+ + (7)

Pode-se fazer a seguinte correspondncia:
Nitrognio:

w = 2y (8)
Hidrognio:

3w = 2z (9)

Oxignio:

2x = z (10)

E assim, o sistema linear est formado:

=
=
=
0 z z 2
0 z 2 w 3
0 y 2 w
(11)
Neste caso, o sistema linear (11) pode ser escrito na forma matricial b Ax = , onde a matriz A
a matriz dos coeficientes, ou seja,
(
(
(

=
1 0 2 0
2 0 0 3
0 2 0 1
A , o vetor x o vetor das incgnitas,
(
(
(
(

=
z
y
x
w
x e o lado direito dado por
(
(
(

=
0
0
0
b .






3.3 Construo de estruturas metlicas

Seja um guindaste que deve erguer cargas, assim, pode-se dizer que tem-se um problema
de uma estrutura metlica na qual quer-se determinar o esforo mecnico em cada viga da
estrutura, de forma que se possa escolher as vigas com a resistncia adequada.



Figura 2 Diagrama da estrutura metlica composta por vigas

A partir do momento que se conhece a massa a ser suspensa e tambm o comprimento do
brao deste guindaste, o clculo das foras que incidem na estrutura torna-se imediato. Para
que a estrutura permanea em equilbrio o somatrio das foras em cada n, de 1 a 6, deve ser
nula tanto na direo horizontal como na direo vertical. Para tanto calcula-se a fora
exercida por cada viga nos ns, ou seja, calcula-se a fora
ij
f , que significa a fora exercida
sobre o n i pela viga que liga o n i ao n j.
Para exemplificar, toma-se o n 2, que afetado pelas vigas que o ligam aos ns 1,3 e 4.
Suponha que
i j
u representa o ngulo entre a viga (ij) e a vertical. Ou seja, no equilbrio de
foras, para o n 2 tem-se as seguintes equaes:

2 24 24 23 23 21 21
F cos f cos f cos f = u + u + u (12)

0 sen f sen f sen f
24 24 23 23 21 21
= u + u + u (13)

Constri-se as demais equaes do somatrio das foras para cada um dos ns, ou seja,
tem-se:

1 14 14 13 13 12 12
F cos f cos f cos f = u + u + u (14)

0 sen f sen f sen f
24 24 13 13 12 12
= u + u + u (15)

0 cos f cos f cos f cos f
36 36 32 32 35 35 31 31
= u + u + u + u (16)





0 sen f sen f sen f sen f
36 36 32 32 35 35 31 31
= u + u + u + u (17)

0 cos f cos f cos f cos f
46 46 42 42 45 45 41 41
= u + u + u + u (18)

0 sen f sen f sen f sen f
46 46 42 42 45 45 41 41
= u + u + u + u (19)

E por fim constri-se a equao que representa a situao em que a estrutura, como um
todo, no tem nenhuma acelerao horizontal, promovendo o equilbrio:

0 sen f sen f sen f sen f
63 63 54 54 46 46 35 35
= u + u + u + u . (20)

Faz-se
ji ij
f f = e assim, pode-se escrever as equaes (12)-(20) na forma matricial, isto ,

F Af = (21)

Onde:
) 22 (
f
f
f
f
f
f
f
f
f
f
46
45
36
35
24
23
14
13
12
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(

=


Assim,
) 23 (
0
0
0
0
0
0
F
0
F
F
2
1
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(

=





) 24 (
sen sen sen sen 0 0 0 0 0
cos 0 0 0 cos 0 cos 0 0
0 0 sen sen 0 sen 0 sen 0
0 0 cos cos 0 cos 0 cos 0
0 0 0 0 sen sen 0 0 sen
0 0 0 0 cos cos 0 0 cos
0 0 0 0 0 0 sen sen sen
0 0 0 0 0 0 cos cos cos
A
46 45 36 35
46 24 14
36 35 23 13
36 35 23 13
24 23 12
24 23 12
14 13 12
14 13 12
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(

u u u u
u u u
u u u u
u u u u
u u u
u u u
u u u
u u u
=

Neste problema, no ter soluo significaria que a estrutura correspondente no seria
capaz de se manter em p, e teria de ser trocada.
Se o problema agora fosse estrutura metlica da figura (3), trabalhar-se-ia de forma
anloga, a nova configurao teria apenas ngulos diferentes.
Para uma mesma estrutura sujeita a foras externas variveis, pode-se encontrar a matriz-
coluna das foras que atuam sobre as vigas multiplicando-se a inversa da matriz que modela a
estrutura metlica pela matriz-coluna das foras externas.



Figura 3 Diagrama de uma segunda estrutura metlica composta por vigas

4 SOLUO

Poder-se-ia fazer a seguinte pergunta: qual a diferena entre os problemas (3.1), (3.2) e
estes dois prottipos citados em (3.3) e os problemas reais em engenharia? Basicamente a
resposta seria, tem-se, na prtica problemas maiores, com um nmero maior de componentes
eltricos, de reagentes e de vigas, ter-se-ia estruturas com profundidade, largura e altura
(tridimensionais) e cada viga teria um peso, o que resultaria nos mesmos problemas acima
descritos, mas de dimenso maior.
Percebe-se aqui a grande vantagem de se conhecer a lgebra, j que os dados das matrizes
A so de fcil obteno, ou seja, uma forma de resolver os problemas acima, descritos agora
pelas equaes matriciais citadas dada por:





B A i
1
= , b A x
1
= ou F A f
1
= (25)

claro que para esta soluo ocorrer a matriz A deve ser inversvel. Em sala de aula, ao
se trabalhar a lgebra linear e/ou clculo numrico, ensina-se outras formas de se resolver
sistemas lineares, alguns deles sem a necessidade de inverso de matrizes como na equao
(25), pois alm deste processo ser caro computacionalmente, a inversa nem sempre existe.
Ou seja, fez-se trs aplicaes de lgebra linear aplicadas a engenharia: uma soluo para
um circuito eltrico, uma soluo para o balanceamento qumico, e o projeto de uma estrutura
composta por vigas metlicas. Cada problema exige que se resolva um sistema de equaes
lineares. No terceiro problema tem-se que quanto mais complexa for esta estrutura, maior ser
o nmero de equaes e de variveis. A matriz dos coeficientes do sistema deve ser inversvel
para que a estrutura no entre em colapso.
Destaca-se que resolver as equaes matriciais dos problemas citados implica em tratar-
se de um sistema linear onde tem-se duas classes de mtodos, os diretos e os iterativos. A
escolha do mtodo a ser utilizado depender das propriedades da matriz A, como esparsidade
e o nmero de condio, por exemplo. Os mtodos diretos so aqueles que, aps um nmero
finito de etapas, permite encontrar a soluo. Nos iterativos calcula-se uma sequncia de
aproximaes da soluo dada uma aproximao inicial.


5 CONSIDERAES FINAIS

Tradicionalmente os livros didticos de lgebra linear focam na apresentao de
definies, propriedades e algoritmos de resoluo, onde os exerccios propostos tratam de
casos numricos ou de aplicaes para os outros ramos da prpria matemtica. Neste trabalho,
ao apresentar-se trs aplicaes na rea da engenharia, quer-se mostrar a possibilidade de
discutir contedos bsicos, nesta rea da matemtica, atravs do uso de tecnologias para sua
resoluo. Assim, possibilita-se vislumbrar a utilizao prtica de sistemas lineares e de
matrizes, analisando as limitaes da resoluo manual de problemas reais e compreendendo
os resultados obtidos atravs de sistemas computacionais.
Espera-se contribuir com o ensino de lgebra nos cursos de engenharia possibilitando que
essas aplicaes sejam utilizadas e que inspirem a elaboraes de outros projetos de
aplicao, no apenas no contedo de sistemas lineares, sua representao e soluo matricial
mas tambm em outros onde seja possvel discutir a contribuio da matemtica da soluo de
problemas reais.

REFERNCIAS

ANTON, Howard; RORRES, Chris. lgebra linear com aplicaes. Porto Alegre: Bookman,
2001.

BASSANEZI, R. C. Ensino-aprendizagem com modelagem matemtica. So Paulo: Editora
Contexto, 2002.

STRANG, Gilbert. Introduction to linear algebra. Wellesley: Cambridge, 2003.





APPLICATION OF LINEAR ALGEBRA IN ENGINEERING

Abstract: This paper discusses the importance of presenting applications to the study
of linear algebra course in engineering courses. It presents some cases of application
of linear systems, electric circuits in electrical engineering, balancing chemical equationsin
order to balance production and engineering of steel structures in civil engineering. The
problems presented are solved by solving linear matrix systems that involve numerical data,
allowing for manual resolution. Real problems, in general, are larger in size and require
the help of computer software appropriate for the resolution.

Keywords: Matrices, Linear Systems, Engineering Education

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