Capà Tulos 1 A 5 - Histà Ria e Sistemas

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Histria da Psicologia Moderna Captulo 1 O Estudo da Histria da Psicologia - No h uma nica forma, abordagem ou definio de psicologia com as quais

s todos os psiclogos concordem. Existe uma diversidade enorme, e at mesmo uma diviso e fragmentao na especializao profissional e cientfica, bem como disciplinar. - Alguns psiclogos dedicam-se s funes cognitivas, enquanto outros lidam com as foras inconscientes; h os que trabalhamcom o comportamento observvel ou os processos fisiolgicos e bioqumicos. A nica linha de trabalho que une essas reas e esses tratamentos distintos para formar um contexto coerente a histria. Somente a explorao das origens da psicologia e o estudo do seu desenvolvimento que proporcionam uma viso clara da natureza da psicologia atual. - Muitos psiclogos aplicam uma tcnica semelhante e concordam que a influncia do passado ajuda a moldar o presente. Ex: tentar compreender os pacientes adultos explorando a infncia, examinando as foras e os eventos que provocam no paciente determinado tipo de comportamento ou pensamento. - Os psiclogos behavioristas tambm acreditam na influncia do passado na formao do presente. A prpria histria do indivduo pode explicar o seu estado atual, o que fomos no passado pode mostrar o que somos no presente. O Desenvolvimento da Psicologia Moderna - As origens da psicologia podem ser determinadas em dois perodos, com cerca de 2 mil anos de distncia um do outro. - No sculo V a.C., Plato, Aristteles e outros filsofos gregos j trabalhavam com muitas das questes que preocupam os psiclogos de hoje, como memria, aprendizagem, motivao, pensamento, percepo e comportamento anormal. Desse modo, um incio possvel para o estudo da histria da psicologia nos levaria aos antigos textos filosficos sobre esses problemas. - Optando por estudar psicologia como uma das reas mais novas de estudo, podemos comear200 anos atrs, quando a psicologia moderna surgiu da filosofia e de outras abordagens cientficas para proclamar sua prpria identidade como uma rea formal de estudo. - At o final do sc. XIX, os filsofos estudavam a natureza humana especulando, intuindo e generalizando, com base em suas prprias experincias. Mas ocorreu uma transformaoquando os filsofos comearam a aplicar as ferramentas e os mtodos j utilizados nas cincias biolgicas e fsicas para explorar questes relacionadas natureza humana. Somente quando os pesquisadores passaram a confiar na observao e na experimentao cuidadosamente controladas para estudar a mente humana que a psicologia comeou a adquirir uma identidade distinta das suas razes filosficas. - A maior parte da histria da psicologia, depois de sua separao das razes filosficas, a do desenvolvimento contnuo de ferramentas, tcnicas e mtodos para atingir preciso e objetividade crescentes, refinando as perguntas feitas pelos psiclogos e as respostas obtidas. - No sc. XIX, a psicologia tornou-se uma disciplina independente, com mtodos de pesquisa distintos e fundamentao terica. Embora filsofos como Plato e Aristteles se preocupavam com problemas que ainda hoje so de interesse geral, eles

abordavam esses problemas de modo muito diferente do que o utilizado pelos psiclogos atualmente. - Kurt Danziger, estudioso da histria da psicologia, faz referncia s abordagens filosficas antigas para questes da natureza humana como a pr-histria da psicologia moderna. - O perodo entre os sculos XVII e XIX forma o pano de fundo de onde surgiu a psicologia moderna, quando foram realizadas pesquisas fisiolgicas que permitiu a aplicao de mtodos das cincias fsicas e biolgicas ao estudo dos fenmenos mentais. A unio da filosofia e da fisiologia formou uma nova rea de estudo que rapidamente ganhou sua prpria identidade e status. Dados Histricos: a Reconstruo do Passado da Psicologia Historiografia: a Metodologia de Estudo da Histria - Historiografia: princpios, mtodos e questes filosficas envolvidas na pesquisa histrica. - A caracterstica mais distintiva entre psicologia e histria a metodologia para coleta de dados cientficos. Quando os psiclogos desejam investigar alguma questo especfica logo eles criam situaes ou estabelecem condies que permitam a gerao dos dados. Podem realizar uma experincia em laboratrio, observar o comportamento do mundo real sob condies controladas, fazer um levantamento ou calcular a correlao estatstica entre duas variveis. Esses mtodos permitem aos cientistas obter uma medida de controle sobre as situaes ou eventos que optam por estudar, permitindo a verificao dos dados posteriormente e a repetio das observaes. - Entretanto, os dados histricos no podem ser reconstrudos nem repetidos. Uma situao ocorrida em algum momento do passado talvez no tenha sido registrada com os detalhes precisos e com as particularidades do evento na poca. Hoje, os pesquisadores no tm condies de controlar nem de reconstruir os eventos do passado para examin-los luz do conhecimento do presente. - Porm, os historiadores ainda possuem informaes significativas para anlise. Os dados sobre os acontecimentos do passado esto disponveis em fragmentos, descries escritas por participantes ou testemunhas, cartas e dirios, fotografias e peas de equipamentos de laboratrio, entrevistas e outros relatos oficiais. com base nessas fontes que os historiadores tentam recriar os eventos e as experincias do passado. Dados perdidos ou omitidos - Em alguns casos, o registro histrico est incompleto porque os dados foram perdidos. Por exemplo, John B. Watson, o fundador da escola de pensamento behaviorista, queimou, antes de morrer (1958), suas cartas, manuscritos e notas de pesquisa. - Alguns dados podem ter sido extraviados ou ocultados propositadamente do pblico, ou alteradas a fim de proteger a reputao das pessoas envolvidas. Ernest Jones, o primeiro bigrafo de Freud, minimizou de propsito a meno sobre o uso de cocana. - Grande quantidade de documentos a respeito de Sigmund Freud mantida pela Biblioteca do Congresso, em Washington, e, embora alguns tenham sido divulgados em 1998, outros ainda sero colocados disposio para pesquisa. A alegao dada a de proteger a privacidade dos pacientes de Freud e suas famlias e talvez a reputao do prprio Freud e de seus familiares.

Informaes Distorcidas na Traduo - Outro problema so as informaes transmitidas de forma distorcida aos historiadores. Os dados esto disponveis, mas de algum modo foram alterados, por erro de traduo ou pelas distores introduzidas, de propsito ou por descuido, pelo participante ou observador que registrou o importante evento. - Por exemplo, no so muitos os psiclogos com fluncia suficiente para a leitura do trabalho de Freud no idioma original (alemo). A traduo nem sempre transpes a inteno original do autor. - Os trs conceitos fundamentais da teoria da personalidade de Freud so o id, o ego e o superego. No entanto, essas palavras no representam com preciso as ideias de Freud. Elas so o equivalente em latim das palavras de Freud em alemo: id para Es (isso), ego para Ich(eu) e superego para ber-Ich (sobre-eu"). Com o uso de Ich, Freud desejava descrever algo ntimo e pessoal, diferenciando-o de Es, sendo esse ltimo algo externo ou distinto do eu. A opo do tradutor pelo uso das palavras e go e id transformou estes conceitos em termos tcnicos frios, que no denotam as associaes pessoais. - Analisemos a expresso livre associao cunhada por Freud. Nela, a palavra associao implica a conexo entre duas ideias ou dois pensamentos, como se cada um atuasse como um estmulo para provocar o seguinte em uma cadeia de estmulos. Essa no era a proposta de Freud. O seu termo em alemo era Einfall, que literalmente significa intruso ou invaso. Sua inteno no era descrever uma simples conexo de ideias, mas expressar algo da mente inconsciente que incontrolavelmente invade ou penetra fora o pensamento consciente. Informaes Obtidas mediante Relatos Tendenciosos - As pessoas produzem, consciente ou inconscientemente, relatos tendenciosos para se protegerem ou para melhorarem a sua imagem pblica. Algumas distores da histria podem ser investigadas e as divergncias podem ser resolvidas consultando outras fontes. - Esses problemas com os dados histricos mostram que a compreenso da histria dinmica. Ela se modifica e evolui continuamente, alm de ser refinada, aprimorada e corrigida sempre que novos dados so revelados ou reinterpretados. Portanto, a histria no pode ser considerada terminada ou completa, ela est sempre em progresso. Foras Contextuais na Psicologia - Uma cincia como a psicologia no se desenvolve sujeita apenas s influncias internas. Por fazer parte de uma cultura mais ampla, a psicologia tambm sofre influncias das foras externas, que do forma sua natureza e direo. Para entender sua histria, necessrio analisar o contexto em que a disciplina evoluiu, as ideias predominantes na cincia e cultura da poca, ou seja, Zeitgeist ou ambiente cultural do perodo, alm de examinar as foras sociais, econmicas e polticas existentes. Zeitgeist: ambiente intelectual e cultural, o esprito do perodo. Oportunidades Advindas da Economia - Os primeiros anos do sculo XX testemunharam mudanas drsticas na natureza da psicologia nos EUA e no tipo de trabalho que os psiclogos estavam desenvolvendo. Principalmente em funo do cenrio econmico, muitas oportunidades surgiam para que os psiclogos aplicassem seus conhecimentos e tcnicas em busca das solues para os problemas do mundo real.

- No final do sc. XIX, o nmero de laboratrios de psicologia nos EUA crescia bastante, e aumentava a quantidade de psiclogos em busca de oportunidades de trabalho. Quando as universidades foram sendo criadas no meio-oeste e oeste americano, as oportunidades de trabalho aumentavam para esses profissionais. Entretanto, por ser uma cincia muito recente na maioria das universidades, a psicologia recebia a menor verba oramentria. Os psiclogos logo perceberam que, se havia a necessidade constante de melhorar departamentos acadmicos, verbas e receitas, eles deveriam provar direo das universidades e autoridades governamentais que a psicologia podia ser til na soluo dos problemas sociais, educacionais e industriais.Assim, com o passar do tempo, os departamentos de psicologia comearam a ser avaliados com base no seu valor prtico. - As mudanas sociais observadas na populao americana criaram uma tima oportunidade para os psiclogos aplicarem suas habilidades. O fluxo de entrada de imigrantes e a alta taxa de natalidade transformaram a educao pblica em uma indstria crescente. Muitos psiclogos tiraram proveito da situao e buscaram formas de aplicar o conhecimento e mtodos de pesquisa educao, estabelecendo a mudana na nfase da psicologia americana, que passou dos experimentos nos laboratrios acadmicos para a aplicao da psicologia nas questes do ensino e da aprendizagem. As Guerras Mundiais - As guerras foram outra fora contextual que ajudou a estruturar a psicologia moderna, criando oportunidades de trabalho para os psiclogos. As experincias dos psiclogos americanos, colaborando com o esforo de guerra nas duas Guerras Mundiais, aceleraram o desenvolvimento da psicologia aplicada e estenderam a sua influncia para reas como seleo de pessoal, testes psicolgicos e psicologia aplicada engenharia.Esse trabalho demonstrou grande parte da comunidade psicolgica e ao pblico em geral a importante ajuda que a psicologia tinha a oferecer. - A II GM tambm alterou a constituio e o destino da psicologia europeia, principalmente na Alemanha (onde surgiu a psicologia experimental) e na ustria (o bero da psicanlise). Muitos pesquisadores e tericos renomados fugiram da ameaa nazista na dcada de 1930, e a maioria passou a viver nos EUA. Esse exlio forado marcou a fase final da transferncia da psicologia, Europa EUA. - As guerras provocaram grande impacto pessoal nas ideias de vrios tericos. Aps testemunhar a carnificina da I GM, Freud apresentou a tese de que a agresso uma fora motivadora significativa para a personalidade humana. Erich Fromm, terico da personalidade, atribuiu seu interesse pelo comportamento anormal sua exposio ao fanatismo alemo, sua terra natal, durante a guerra. Preconceito e Discriminao - A discriminao por raa, religio e sexo influenciou, por vrios anos, algumas questes bsicas como: Quem est apto a ser um psiclogo? ou Onde ele(a) pode trabalhar? a) Discriminao contra as mulheres. H inmeros exemplos em que as mulheres no eram admitidas no programa de ps-graduao ou eram excludas do corpo docente. Recebiam salrios inferiores e encontravam barreiras para obter uma promoo ou uma titularidade. Por muitos anos, a nica posio acadmica tipicamente acessvel s mulheres encontrava-se nas faculdades exclusivamente femininas e, mesmo assim, muitas dessas entidades cometiam uma forma prpria de discriminao, recusando a

contratao de mulheres casadas. A justificativa era de que a mulher no estava capacitada a administrar ao mesmo tempo a vida domstica e a carreira como docente. Apesar desses exemplos bvios de discriminao, os registros da psicologia relativos igualdade de tratamento entre homens e mulheres so muito mais explcitos do que os de outras disciplinas e profisses acadmicas. b) Discriminao com base em origem tnica.Na dcada de 1960, os judeus enfrentaram quotas de admisso em faculdades e cursos de ps-graduao. Os judeus aceitos eram geralmente segregados e uma porcentagem muito alta era vista como uma ameaa. Vrios estudiosos, cientistas, professores e pessoas no geral que tentavam seguir carreira acadmica resolveram mudar de sobrenome para serem aceitos. Incidentes como esse levaram vrios psiclogos judeus a trabalhar com a psicologia clnica, que oferecia mais oportunidades de emprego, em vez de tentar inutilmente seguir a carreira acadmica. - Os afro-americanos enfrentaram fortes preconceitos da psicologia em geral. Em 1940, somente quatro faculdades para negros nos EUA ofereceram os cursos de graduao em psicologia. Quando o negro era aceito em uma universidade para brancos, enfrentava uma srie de barreiras para conseguir frequentar os cursos. A principal universidade a dar formao em psicologia para estudantes negros era a Howard University, em Washington. Na dcada de 1930, a escola era conhecida como a "Harvard dos Negros". O ttulo de Ph.D. era o primeiro obstculo a ser vencido pelos negros e o prximo era encontrar um emprego digno. Poucas universidades empregavam professores negros, e a maioria das empresas que contratava os profissionais da psicologia aplicada no aceitava os afro-americanos. As faculdades tradicionalmente para negros eram as principais fontes de trabalho. No entanto, suas condies raramente ofereciam oportunidade para o tipo de pesquisa acadmica que promovesse notoriedade e reconhecimento profissional. - Desde a dcada de 1960, a APA tem feito grandes esforos para trazer maior diversidade rea, expandindo oportunidades para que minorias tnicas possam frequentar cursos de ps-graduao e para aumentar sua presena entre o corpo docente das faculdades. Apesar dessas iniciativas, a representao de minorias entre professores com Ph.D nos campi universitrios no tem crescido na mesma proporo dos afro-americanos ou hispnicos na populao em geral. - Quando consideramos os efeitos do preconceito como fator contextual que restringe o acesso das mulheres e das minorias educao e s oportunidades de trabalho na psicologia, importante observar que a histria da psicologia menciona as contribuies de poucos acadmicos do sexo feminino e de minorias em virtude da discriminao. Porm, tambm verdade que a proporo de homens brancos que se destacaram pouca, quando comparada quantidade total de trabalhos produzidos por psiclogos do sexo masculino. Esse fato no resulta da discriminao deliberada; ao contrrio, deve-se metodologia de registro da histria de qualquer rea. "A histria de uma disciplina como a psicologia envolve a descrio das principais descobertas, o esclarecimento das questes prioritrias e a identificao das 'personagens importantes' no contexto de um Zeitgeist nacional ou internacional. Quem executa o trabalho rotineiro de uma disciplina provavelmente no ter destaque. Os psiclogos com muito talento que, no entanto, atuem com discrio, lecionando, atendendo a pacientes, realizando experincias, compartilhando as informaes com os companheiros de profisso poucas vezes sero reconhecidos

publicamente, a no ser por um grupo restrito de colegas." (Pate e Wertheimer, 1993, p. xv) - Assim, a histria ignora o trabalho cotidiano da maioria dos psiclogos, independentemente da raa, do sexo ou da etnia. Vises da Histria Cientfica - Existem duas perspectivas de anlise da evoluo histrica da psicologia cientfica. 1. A Teoria Personalista - A teoria personalista da histria cientfica concentra-se nas realizaes e contribuies de pessoas especficas. De acordo com essa perspectiva, o progresso e a mudana resultam diretamente da vontade e do carisma do indivduo, que, sozinho, redireciona o curso da histria. Napoleo, Hitler ou Darwin foram, assim como afirma a teoria, os principais condutores e formadores dos grandes acontecimentos. A viso personalista parte do pressuposto de que os eventos nunca teriam ocorrido sem o surgimento dessas impressionantes figuras. - Em suma: viso de que o progresso e as mudanas na histria cientfica so causados pelas ideias de um nico indivduo. - Parece claro que a cincia consiste no trabalho de homens e mulheres inteligentes, criativos e dinmicos, que, sozinhos, determinam sua direo. Frequentemente damos a um perodo o nome da pessoa cuja descoberta, teoria ou outra contribuio o tenha marcado. Ex: "ps-Einstein" (fsica), "ps-Michelngelo" (escultura). Esto presentes na cincia, nas artes e na cultura popular indivduos que produziram mudanas que alteraram o curso da histria. - A teoria tem seu mrito, mas no suficiente para explicar toda a evoluo da cincia ou da sociedade. Muitas vezes essas contribuies foram ignoradas ou omitidas em vida, sendo reconhecidas somente muito tempo depois. Esses exemplos indicam que a atmosfera intelectual, cultural ou espiritual da poca pode determinar se a ideia ser aceita ou rejeitada, elogiada ou desprezada. Mesmo os grandes pensadores e inventores foram reprimidos pelo Zeitgeist, pelo esprito ou ambiente da poca. - Portanto, a aceitao e a aplicao da descoberta ou da ideia de uma grande personalidade podem ser restringidas pelo pensamento predominante. Todavia, uma ideia heterodoxa demais para uma poca e um determinado lugar pode prontamente ser recebida e apoiada uma gerao ou um sculo mais tarde. O progresso cientfico tem como regra a mudana lenta. 2. A Teoria Naturalista - Prope que a poca que molda o indivduo, ou, pelo menos, torna possvel reconhecer a proposta de um indivduo. A menos que o Zeitgeist e outras foras contextuais sejam receptivas ao novo trabalho, o proponente pode ser ignorado, isolado ou massacrado. A reao da sociedade tambm depende do Zeigeist. - Em suma: viso de que o progresso e as mudanas na histria cientfica so atribudos ao Zeitgeist, que torna a cultura receptiva a algumas ideias, mas no a outras. - Por exemplo, a teoria naturalista sugere que, se Charles Darwin tivesse morrido jovem, outra pessoa teria desenvolvido a teoria da evoluo em meados do sculo XIX, porque a atmosfera intelectual era satisfatria para aceitar essa explicao sobre a origem da espcie humana. - Os exemplos de descobertas simultneas tambm apoiam a definio naturalista da histria cientfica. Descobertas semelhantes resultaram de trabalhos individuais

realizados a uma distncia geogrfica considervel e, muitas vezes, sem o conhecimento um do outro. - A posio terica dominante no campo cientfico pode inibir ou impedir a observao de novos pontos de vista. Uma teoria s vezes e to plenamente apoiada pela maioria dos cientistas a ponto de reprimir qualquer busca por novos assuntos ou mtodos. - A teoria estabelecida pode determinar a forma de organizao e de anlise dos dados, assim como a autorizao da publicao dos resultados de pesquisas nas revistas cientficas em geral. Descobertas contraditrias ou opostas ao pensamento corrente podem ser rejeitadas pelos editores das publicaes especializadas, impondo a adequao ideia dominante, descartando ou banalizando ideias revolucionrias ou interpretaes inusitadas. - Tanto as cincias como as espcies se adaptam ou mudam em resposta s exigncias do seu ambiente. Se o ambiente permanecer constante por muito tempo, as espcies poucose alteram. No entanto, quando as condies mudam, as espcies acabam extintas, se no reagirem. Do mesmo modo, a cincia existe no contexto de um ambiente, o Zeitgeist, ao qual deve agir com rapidez. O Zeitgeist, assim como o ambiente fsico, est sujeito a mudanas. Quando o Zeitgeist favorecia a investigao, a reflexo e a intuio como caminhos em busca da verdade, a psicologia tambm apoiava esses mtodos. Quando o esprito intelectual dos tempos impunha uma abordagem emprica, os mtodos da psicologia orientaram-se nessa direo. No sc. XX, quando uma forma de psicologia foi transplantada para um solo intelectual diferente, ela se transformou em duas espcies distintas (quando os psiclogos trouxeram para os EUA a psicologia original alem, que foi modificada para se transformar em psicologia exclusivamente americana). - A nfase dada ao Zeitgeist no nega a importncia da viso personalista da histria cientfica, mas necessrio analisar as ideias no contexto. Charles Darwin e Marie Curie no alteraram sozinhos o curso da histria apenas pela fora da genialidade. Eles o fizeram porque o clima era favorvel. - O Zeitgeist desempenha o papel principal. Quando os cientistas propem ideias distantes demais do contexto da poca, formado de pensamentos culturais e intelectuais aceitos, seus conceitos provavelmente cairo na obscuridade. Escola de Pensamento na Evoluo da Psicologia Moderna - Nos anos iniciais da evoluo da psicologia como uma disciplina cientfica distinta (fim do sc. XIX), o rumo da nova rea foi influenciado por Wilhelm Wundt. Psiclogo alemo, tinha ideias precisas em relao forma da nova cincia. Estabeleceu as metas, o objeto de estudo, os mtodos e os tpicos de pesquisa. Wundt foi influenciado pelo esprito da poca, isto , pelos pensamentos filosficos e fisiolgicos vigentes. Todavia, assumiu o papel de agente do Zeitgeist e uniu as linhas do pensamento filosfico e cientfico. Por ser um promotor to determinado do inevitvel, sua viso foi responsvel pela moldagem da psicologia durante algum tempo. - Porm, logo apareceram divergncias entre os muitos psiclogos que surgiam. Novas ideias sociais e cientficas se desenvolviam. Alguns psiclogos, refletindo mais as correntes de pensamento modernas, discordavam da viso da psicologia de Wundt e apresentavam vises prprias. Por volta de 1900, diversas posies sistemticas e escolas de pensamento conviveram, com alguma divergncia.

- Escola de pensamento: refere-se a um grupo de psiclogos que se associam ideologicamente, e algumas vezes, geograficamente com o lder de um movimento. Geralmente, os membros compartilham da mesma orientao sistemtica e terica e investigam problemas semelhantes. O surgimento de vrias escolas de pensamento, seu posterior declnio e a consequente substituio por outras so caractersticas marcantes da histria da psicologia. - O estgio do desenvolvimento da cincia, quando ainda se encontra dividida em escolas de pensamento, foi denominado "pr-paradigmtico" (paradigma: modelo padro, forma de pensamento aceita na disciplina cientfica e provedora das perguntas e respostas fundamentais). - O desenvolvimento de uma cincia atinge estgio mais maduro e avanado quando ela no apresenta mais caractersticas de escolas de pensamento concorrentes, ou seja, quando a maioria dos cientistas concorda com as mesmas colocaes tericas e metodolgicas. Nesse estgio, um paradigma ou um modelo comum define todo o campo. A substituio de um paradigma por outro o que Thomas Kuhn, historiador da cincia, define como revoluo cientfica. - A psicologia ainda no atingiu o estgio paradigmtico. Ao longo de toda sua histria, os cientistas e profissionais vm buscando, adotando e rejeitando diversas definies relacionadas com a rea. No houve uma nica escola ou uma nica viso capaz de unificar as diversas posies. - Os especialistas da rea referem-se histria da psicologia como uma "sequncia de paradigmas frustrados". Alguns psiclogos contemporneos descrevem a rea em termos de sua falta de unidade e criticam a sua constante desintegrao. - Assim, a psicologia hoje parece estar mais fragmentada do que em qualquer outro perodo de sua histria, com cada faco apegando-se sua orientao terica e metodolgica, estudando a natureza humana com diferentes tcnicas e se autopromovendo com jargo especializado, jornais e as pompas de cada escola de pensamento. - Cada uma das primeiras escolas de pensamento na psicologia foi um movimento de protesto, uma revolta contra a posio sistemtica dominante, chamando a ateno para os pontos fracos observados no sistema antigo e oferecendo novas definies, conceitos e estratgias de pesquisa a fim de corrigir falhas. Quando uma nova escola de pensamento despertava a ateno de um segmento da comunidade cientfica, os especialistas rejeitavam a viso anterior. - Nem sempre os lderes da antiga escola de pensamento acabavam convencidos do valor do novo sistema. Geralmente com idades mais avanadas, eram apegados intelectualmente e emocionalmente s suas posies e dificilmente aceitavam as mudanas. J os mais jovens, menos comprometidos com a escola antiga, eram mais facilmente atrados, tornando-se defensores da nova posio. - Cada nova escola usava o seu antigo oponente como alvo de investidas para ganhar destaque. Cada uma manifestava claramente a posio contrria e a caracterstica que a distinguia do sistema terico estabelecido. medida que o novo sistema se desenvolvia e atraa novos adeptos e novas influncias, fomentava a oposio e todo o processo combativo era renovado. Estruturalismo: sistema de psicologia de E. B. Titchener, que considera a experincia consciente como dependente da pessoa que a experimenta.

Funcionalismo: sistema de psicologia preocupado com o funcionamento da mente na adaptao de um indivduo ao seu ambiente. Behaviorismo: cincia do comportamento concebida por Watson, que tratava somente de aes comportamentais observveis, que podem ser descritas objetivamente. Psicologia da Gestalt: sistema de psicologia que se dedica amplamente aprendizagem e percepo, sugerindo que a combinao dos elementos sensoriais produz novos padres com propriedades inexistentes nos elementos individuais. Psicanlise: teoria de Sigmund Freud sobre a personalidade e o sistema de psicoterapia. Psicologia humanista: sistema de psicologia que enfatiza o estudo da experincia consciente e a totalidade da natureza humana. Psicologia cognitiva: sistema de psicologia que tem foco nos processos de aquisio do conhecimento, mais especificamente em como a mente ativamente organiza as experincias. - A psicanlise e o behaviorismo incentivaram o surgimento de diversas subdivises em cada escola. Na dcada de 1950, a psicologia humanista, incorporando os princpios da psicologia da Gestalt, desenvolveu uma reao contra o behaviorismo e a psicanlise. Por volta de 1960, a psicologia cognitiva desafiou o behaviorismo a rever o conceito de psicologia. O foco principal do sistema cognitivo o retorno ao estudo dos processos conscientes. Cp. 2 - As Influncias Filosficas na Psicologia O Pato Mecnico e a Glria da Frana - Parecia um pato, grasnava como um pato, esticava o pescoo para pegar o milho com seu bico, e o engolia, como faz um pato. E depois, excretava numa travessa de prata como um pato? - S que no era um pato, pelo menos no de verdade. Era um pato mecnico, uma mquina cheia de alavancas e dentes de engrenagem e molas que faziam com que se movimentasse. Foi considerado uma das grandes maravilhas da poca. - 1739, Paris, Frana. O pato mecnico levou a Paris um grande nmero de pessoas de muitos pases europeus. Considerando que isso foi no sc. XVIII, tal aparelho havia raramente sido visto. O interesse do pblico em geral pelo fantstico pato fazia parte de uma nova fascinao por todos os tipos de mquinas inventadas e aperfeioadas para uso na cincia, indstria e entretenimento. O Esprito do Mecanicismo - Em toda a Inglaterra e na Europa Ocidental, as mquinas tornaram-se familiares s pessoas de todos os nveis sociais, e logo foram aceitas como parte natural da vida cotidiana. - A relao entre o desenvolvimento macio da tecnologia e a histria da psicologia moderna inevitvel e direta, j que os princpios incorporados nas movimentadas e ruidosas mquinas do sc. XVII exerceram grande influncia na direo tomada pela nova psicologia. - O Zeitgeist dos sculos XVII ao XIX consistiu na base que nutriu a nova psicologia. O esprito do mecanicismo (doutrina para a qual os processos naturais so determinados mecanicamente e passveis de explicao pelas leis da fsica e da qumica), que enxerga o universo como uma grande mquina, foi o fundamento filosfico do sc. XVII, ou seja, a sua fora contextual bsica.

- A ideia do mecanicismo originou-se na fsica. A teoria afirmava que qualquer objeto existente no universo era composto de partculas de matria em movimento. Se o universo constitudo de tomos em movimento, ento qualquer efeito fsico (movimento de cada tomo) resulta de uma causa direta (movimento do tomo que o atinge). Como o efeito est sujeito s leis da medio, deveria ser previsvel. O funcionamento do universo era comparado ao de uma mquina, ou seja, era organizado e preciso. No sc. XVII, os cientistas atribuam a causa e a perfeio a Deus que projetou o universo com perfeio e acreditavam que, se conseguissem dominar as leis de funcionamento do universo, seriam capazes de prever seu comportamento futuro. - Nesse perodo, os mtodos e as descobertas avanavam a passos largos com a tecnologia, e a combinao entre eles foi perfeita. A observao e a experimentao tornaram-se os diferenciais da cincia, seguidas de perto pela medio. Os especialistas tentavam definir e descrever os fenmenos, atribuindo-lhes um valor numrico, processo vital para o estudo do funcionamento do universo como uma mquina. Assim, foram criados mecanismos de medio (termmetros, relgios, barmetros, etc.). O Universo Mecnico - O relgio mecnico foi a metfora perfeita para o esprito do mecanicismo do sc. XVII. Foi a sensao tecnolgica do sc. XVII, nenhum dispositivo mecnico provocou tanto impacto no pensamento humano e em todos os nveis da sociedade. Os relgios menores tornaram-se smbolo de status. - Os relgios maiores, instalados nas torres das igrejas e nos edifcios pblicos, podiam ser vistos e ouvidos a quilmetros de distncia. Assim, relgios tornaram-se acessveis a todos. - Em virtude de sua regularidade, previsibilidade e exatido, os cientistas e filsofos comearam a enxerga-los como modelos para o universo fsico. Os cientistas (como Robert Boyle, Johannes Kepler e Ren Descartes) acreditavam nessa ideia e aceitavam a explicao da harmonia e da ordem do universo baseada na regularidade do relgio, ou seja, o mecanismo fabricado cuidadosamente pelo relojoeiro, assim como o universo foi arquitetado por Deus para funcionar com regularidade. Determinismo e Reducionismo - Comparado com o mecanismo do relgio, o universo funcionava perfeitamente sem qualquer interferncia externa, j que fora criado e colocado em funcionamento por Deus. Desse modo, a comparao abrange a ideia do determinismo (doutrina que afirma que os atos so determinados pelos fatos do passado). Ou seja, possvel prever as mudanas que ocorrem na operao do relgio, assim como no universo, com base na sequncia e na regularidade do funcionamento das peas. - A ideia da facilidade de perceber a estrutura e o funcionamento do relgio levou os cientistas a popularizarem o conceito de reducionismo - doutrina que explica os fenmenos em um nvel (como as ideias complexas) no que se refere a fenmenos em outro nvel (como as ideias simples). Para compreender o mecanismo operacional das mquinas como o relgio, bastava reduzi-las aos componentes bsicos. - Do mesmo modo, para entender o universo fsico (uma mquina), bastava analisa-lo ou reduzi-lo s partes mais simples, ou seja, s molculas e aos tomos. Assim, o reducionismo acabou caracterizando toda a cincia, inclusive a nova psicologia.

O Rob - medida que a tecnologia era aprimorada, aparelhagens mais sofisticadas, desenvolvidas para imitar as atitudes e os movimentos humanos, eram disponibilizadas para o entretenimento da populao em geral. Esses aparelhos foram chamados de robs e eram dotados de capacidade para realizar movimentos incrveis e inusitados com preciso e regularidade. - Os dois robs mais complexos e sofisticados desenvolvidos na Europa foram um pato e um flautista. Ambos obscureceram a linha divisria entre o homem e a mquina e entre o ser animado e inanimado. - Os filsofos e cientistas da poca acreditavam na tecnologia mecnica como uma forma de realizar o sonho da criao do ser artificial. Muitos dos primeiros robs davam essa impresso. Podemos pensar neles como os bonecos Disney da poca e fcil entender por que as pessoas chegaram concluso de que os seres vivos eram simplesmente outro tipo de mquina. As Pessoas como Mquinas - Descartes e outros filsofos adotaram os robs como modelos para os seres humanos. O ser humano funcionaria assim como o universo e, portanto, igual ao mecanismo do relgio. Porm, considerado uma mquina criada pelas mos de Deus, incomparavelmente mais organizada e perfeita do que qualquer outro mecanismo inventado pelo homem. As pessoas podem at ser melhores e mais eficientes do que os mecanismos produzidos pelos relojeiros, mas continuam sendo mquinas. - Os relgios e os robs abriram caminho para a noo de que o funcionamento e o comportamento humanos obedeciam s leis mecnicas e os mtodos experimentais e quantitativos, to eficazes na descoberta dos segredos do universo fsico, igualmente aplicveis ao estudo da natureza humana. - Essa ideia tornou-se a fora motriz do Zeitgeist na cincia e na filosofia e durante muito tempo alterou a imagem predominante da natureza humana, mesmo entre a populao em geral. - Assim, o legado dos sculos XVII ao XIX inclui o conceito do funcionamento do homem como uma mquina e a aplicao do mtodo cientfico na investigao do comportamento humano. O mecanicismo tambm se aplicava ao funcionamento mental humano e o produto final foi uma mquina supostamente capaz de pensar. A mquina calculadora - Charles Babbage, o inventor do primeiro modelo de mquina de calcular, personificou no sc. XIX a noo do funcionamento do homem como uma mquina. Sua calculadora, precursora dos modernos computadores, representou a primeira tentativa de sucesso na reproduo do processo cognitivo humano e no desenvolvimento de uma forma de inteligncia artificial. Os Primrdios da Cincia Moderna - At o sc. XVII, os filsofos buscavam as respostas no passado, nos trabalhos de Aristteles e de outros pensadores da Antiguidade, e na Bblia. As foras que regiam a investigao consistiam no dogma (na doutrina imposta pela igreja estabelecida) e na autoridade. No sc. XVII, nova fora ganhava importncia: o empirismo, a busca do conhecimento por meio da observao da natureza e a atribuio de todo conhecimento experincia. O conhecimento extrado do passado tornara-se suspeito, dando lugar aos anos dourados iluminados pelas descobertas e percepes cientficas que refletiam a mudana na natureza da investigao cientfica.

-O trabalho de Ren Descartes ajudou a libertar a investigao cientfica do controle rgido das crenas intelectuais e teolgicas dos sculos passados. Simbolizou a transio cientfica para a era moderna e aplicou a noo do mecanismo do relgio ao corpo humano. 1. Ren Descartes (1596-1650) - Tinha profundo interesse em aplicar o conhecimento cientfico s questes prticas. O esprito da verdade invadiu a sua mente e convenceu-o a dedicar o trabalho da sua vida proposta de aplicao dos princpios matemticos a todas as cincias, produzindo, assim, o conhecimento inquestionvel.Resolveu duvidar de tudo, principalmente dos dogmas e das doutrinas do passado e aceitar como verdade apenas o que tivesse absoluta certeza. - Dedicou boa parte do tempo a estudar o problema da relao entre a mente e o corpo. As Contribuies de Descartes: o Mecanicismo e o Problema Mente-corpo - Seu trabalho mais importante para o desenvolvimento da psicologia moderna foi a tentativa de resolver o problema mente-corpo, uma questo controversa durante sculos. Os intelectuais discutiam como a mente ou as qualidade mentais podia ser diferenciada do corpo e de todas as demais qualidades fsicas. A questo bsica, porm enganosa : a mente e o corpo, isto , o universo mental e o mundo material so de naturezas distintas? Por milhares de anos, os intelectuais adotaram posturas dualistas, com o argumento de que a mente (a alma ou o esprito) e o corpo so de naturezas diferentes. Entretanto, se so de naturezas diferentes, qual a relao existente entre eles? Como interagem? So independentes ou influenciam-se mutuamente? - Problema mente-corpo: a questo da distino entre as qualidades mentais e fsicas. - Antes de Descartes, a teoria predominante afirmava ser essa interao essencialmente unilateral. A mente era capaz de exercer grande influncia sobre o corpo, enquanto este exercia pouco efeito sobre a mente. A relao seria semelhante quela entre a marionete e seu manejador, ou seja, a mente como o manipulador puxando as cordas do corpo. - Descartes acreditava que a mente e o corpo eram realmente compostos de diferentes essncias. Porm, ele se desviou da tradio ao redefinir essa relao. Em sua teoria, a mente influencia o corpo, mas a influncia deste sobre a mente era maior do que se acreditava. A relao era mtua. Essa proposta, radical no sc. XVII, teve grande repercusso na psicologia. - Depois da publicao da teoria de Descartes, os cientistas e os filsofos passaram a atribuir maior importncia ao corpo fsico ou material. As funes atribudas anteriormente mente comeavam a ser consideradas funes do corpo. - Exemplo: acreditava-se na mente como responsvel no s pelo pensamento e razo, como tambm pela reproduo, pela percepo e pelo movimento. Descartes argumentou que a mente exercia uma nica funo, a do pensamento. Para ele, todos os demais processos eram funes do corpo. - Descartes concentrou a ateno na dualidade fsico-psicolgica. Assim, redirecionou a ateno dos pesquisadores, que passaram do conceito teolgico abstrato da alma para o estudo cientfico da mente e dos processos mentais. Como consequncia, houve transferncia dos mtodos de investigao da anlise metafsica subjetiva para a observao e a experimentao objetiva. As pessoas faziam apenas conjeturas

(hipteses) a respeito da natureza e da existncia da alma, mas podiam realmente observar as operaes e os processos da mente. - Os cientistas acabaram aceitando a mente e o corpo como duas entidades separadas. possvel afirmar que a matria a substncia material do corpo dotada de extenso (ocupa espao) e opera de acordo com os princpios mecnicos. J a mente livre, isto , no possui extenso nem substncia fsica. A ideia revolucionria de Descartes afirma que a mente e o corpo, embora distintos, so capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente capaz de exercer influncia sobre o corpo do mesmo modo que este pode influenciar a mente. A Natureza do Corpo - Segundo Descartes, o corpo composto de matria fsica, portanto tem caractersticas comuns a qualquer matria, ou seja, possui tamanho e capacidade motora. As leis da fsica e da mecnica que regem o movimento e a ao do universo fsico aplicam-se tambm a ele. Logo, o corpo semelhante a uma mquina cuja operao pode ser explicada pelas leis da mecnica que governam o movimento dos objetos no espao. Seguindo esse raciocnio, Descartes prosseguiu com a explicao do funcionamento fisiolgico do corpo com base na fsica. - Descartes foi claramente influenciado pelo esprito mecanicista da poca. Quando descrevia o corpo humano, fazia referncia direta s figuras mecnicas que vira. Os movimentos do rob no resultavam da ao voluntria da mquina, mas de aes externas, por exemplo, a presso da gua. A natureza involuntria desse movimento refletia-se na observao de Descartes de que os movimentos corporais, muitas vezes, ocorrem sem a inteno consciente do indivduo. - Chegou ideia do undulatio reflexa, um movimento no comandado ou no determinado pela vontade consciente de se mover.Descartes definido como o autor da teoria do ato de reflexo, precursora da moderna psicologia behaviorista de estmulo-resposta, cuja ideia consiste na possibilidade de um objeto externo (estmulo) provocar uma resposta involuntria. O comportamento reflexo no envolve pensamento nem processo cognitivo: parece ser completamente mecnico ou automtico. - O trabalho de Descartes tambm serviu de subsdio para a crescente tendncia hiptese cientfica de previsibilidade do comportamento humano. O modo de operao do corpo mecnico pode ser previsto e calculado, desde que os estmulos sejam conhecidos. - Encontrou na fisiologia contempornea a confirmao para a sua interpretao mecnica sobre o funcionamento do corpo humano. Em 1628, William Harvey descobriu os fatores bsicos relacionados com a circulao sangunea no corpo humano. Outros fisiologistas dedicavam-se ao estudo dos processos digestivos; alguns cientistas descobriram que os msculos do corpo trabalhavam em pares opostos e que a sensao e o movimento dependiam, de alguma forma, dos nervos. - Porm, muitas vezes as descobertas eram imprecisas ou incompletas. Mas a preocupao recai no fato da fisiologia do sc. XVII servir como base de sustentao para a interpretao mecnica do corpo. - O dogma religioso estabelecido afirmava que os animais eram desprovidos de alma, sendo assim eram comparados aos robs. Essa teoria preservava a distino entre os seres humanos e os animais. E, se os animais eram robs e no tinham alma, tambm no eram dotados de sentimentos. Desse modo, os pesquisadores da poca de

Descartes conduziam pesquisas com animais vivos, mesmo antes de surgir a anestesia. Os animais pertenciam totalmente categoria dos fenmenos fsicos. Eram desprovidos de imortalidade, de processos de pensamento e de vontade prpria, e seu comportamento era explicado totalmente em termos mecnicos. A Interao Mente-corpo - De acordo com Descartes, a mente imaterial, ou seja, no tem substncia fsica, mas provida de capacidade de pensamento e de outros processos cognitivos. Consequentemente, proporciona aos seres humanos informaes a respeito do mundo exterior. No apresenta nenhuma das propriedades da matria, no entanto, possui a capacidade do pensamento, caracterstica que a separa do mundo material ou fsico. - Como a mente possui a capacidade do pensamento, da percepo e da vontade, de algum modo influencia o corpo e por ele influenciada. Ex: quando a mente decide realizar um movimento de um lado para o outro, essa deciso executada pelos msculos, tendes e nervos do corpo. Do mesmo modo, quando o corpo recebe um estmulo como a luz ou o calor, a mente reconhece, interpreta esses dados sensoriais e determina a resposta adequada. - Antes de Descartes completar essa teoria sobre a interao, precisou localizar o ponto fsico exato do corpo em que ele e a mente interagiam mutuamente. Ela deveria interagir com o corpo em um nico ponto. Tambm acreditava que a interao ocorria em alguma parte do crebro, porque a pesquisa lhe havia demonstrado que as sensaes viajavam at ele, onde tambm se originava o movimento. Estava claro para Descartes que o crebro era o ponto central das funes da mente e a nica estrutura cerebral unitria seria o corpo pineal ou conarium. E considerou lgico ser esse o centro da interao. - Descartes usou os conceitos do mecanicismo para descrever como ocorre a interao mente-corpo. Props que o movimento do esprito animal nos tubos nervosos provoca uma impresso no conarium e a partir da a mente produz a sensao. Em outras palavras, a quantidade de movimentos fsicos (o fluxo do esprito animal) produz uma qualidade mental (uma sensao). O contrrio tambm ocorre: a mente cria uma impresso no conarium e, iniciando-se para uma direo ou outra, a impresso pode provocar o fluxo do esprito animal at os msculos, resultando, assim, no movimento corporal ou fsico. A Doutrina das Ideias - A doutrina das ideias de Descartes tambm exerceu profunda influncia no desenvolvimento da psicologia moderna. Ele afirmava ser a mente produtora de dois tipos de ideias: derivadas e inatas. As ideias derivadas surgem da aplicao direta de estmulos externos, tais como o som do sino ou a imagem de uma rvore. So, portanto, produto das experincias dos sentidos. As ideias inatas no so produzidas por objetos do mundo externo que invadem os sentidos, mas desenvolvidas pela mente ou pelo consciente. Embora elas possam existir independentemente das sensaes, possvel que sejam percebidas na presena das experincias adequadas. Ex: Deus, o eu, a perfeio e o infinito. Ideias derivadas e inatas: as ideias derivadas so produzidas pela aplicao direta de um estmulo externo; as inatas surgem da mente ou da conscincia, independentemente das experincias sensoriais ou dos estmulos externos.

- O conceito das ideias inatas conduziu a teoria nativista da percepo (a ideia de a capacidade de percepo ser inata e no aprendida) e influenciou a psicologia da Gestalt. - Dentre as contribuies sistemticas mais importantes, destacam-se: a concepo mecanicista do corpo; a teoria do ato reflexo; a interao mente-corpo; a localizao das funes mentais no crebro; a doutrina das ideias inatas. As Bases Filosficas da Nova Psicologia: Positivismo, Materialismo e Empirismo 2. Auguste Comte (1798-1857) - Em meados do sc. XIX terminava o longo perodo da psicologia pr-cientfica. Nessa poca, o pensamento filosfico europeu foi impregnado por um novo esprito: o positivismo. O conceito e o termo formam a base do trabalho do filsofo francs Auguste Comte. Positivismo: doutrina que reconhece somente os fenmenos naturais ou fatos que so objetivamente observveis. - Comte empreendeu uma pesquisa sistemtica de todo o conhecimento humano. Decidiu limitar o trabalho a fatos inquestionveis, aqueles determinados exclusivamente por meio de mtodos cientficos. Dessa maneira, a viso positivista referia-se a um sistema baseado exclusivamente nos fatos observveis objetivamente e indiscutveis. Qualquer objeto de estudo de natureza especulativa, dedutvel ou metafsica era considerado ilusrio e, assim, rejeitado. - Acreditava terem as cincias fsicas atingido o estgio positivista, no dependendo mais das foras no observveis e das crenas religiosas para explicar os fenmenos naturais. Entretanto, para as cincias sociais alcanarem um estgio de desenvolvimento mais avanado, deveriam abandonar as questes e explicaes metafsicas e trabalhar exclusivamente com os fatos observveis. O positivismo tornou-se uma fora popular e dominante no Zeitgeist europeu do final dos anos 1800. - A ampla aceitao do positivismo significava que os intelectuais estudavam dois tipos de proposio: Um refere-se aos objetos da razo e consiste na afirmao cientfica. O outro no tem sentido, ou seja, irracional! (Robinson, 1981, p.333). O conhecimento resultante da metafsica e da teologia era irracional. Somente o conhecimento derivado da cincia era considerado vlido. - Outras ideias filosficas tambm sustentavam o positivismo antimetafsico. A doutrina do materialismo assegurava a possibilidade de descrio dos fatos do universo em termos fsicos e da sua explicao por meio das propriedades da matria e da energia. A proposta dos materialistas afirmava ser possvel compreender at mesmo a conscincia humana com base nos princpios da fsica e da qumica. O trabalho relacionado com os processos mentais concentrava-se nas propriedades fsicas, mais especificamente nas estruturas anatmicas e fisiolgicas do crebro. Materialismo: doutrina que considera os fatos do universo como suficientemente explicados em termos fsicos pela existncia e natureza da matria. - Um terceiro grupo de filsofos, os defensores do empirismo, preocupava-se em descobrir como a mente adquiria o conhecimento. Afirmava ser todo o conhecimento resultante da experincia sensorial.O positivismo, o materialismo e o empirismo

vieram a se tornar as bases filosficas da nova cincia da psicologia. O empirismo desempenhou o papel principal. Ele estava relacionado com o desenvolvimento da mente, ou seja, com a forma como ela adquiria o conhecimento. - De acordo com a teoria empirista, a mente evolui com o acmulo progressivo das experincias sensoriais. Essa ideia contradiz a viso nativista de Descartes, da existncia das ideias inatas. Principais empiristas: John Locke, George Berkeley, David Hume, David Hartley, James Mill e John Stuart Mill. 3. John Locke (1632-1704) - Seus escritos trouxeram-lhe fama e influncia. Ficou conhecido na Europa como defensor de um governo liberal. Alguns trabalhos influenciaram os autores da Declarao de Independncia dos EUA. - Como a mente adquire o conhecimento. O interesse principal de Locke estava voltado ao funcionamento cognitivo, isto , forma como a mente adquire o conhecimento.Locke rejeitou a proposta de Descartes sobre a existncia das ideias inatas, apresentando o argumento de que o ser humano nascia sem qualquer conhecimento prvio. Aristteles defendia uma posio semelhante: a mente do homem ao nascimento era uma tbula rasa, uma lousa vazia, em branco, em que se registravam as experincias. Locke admitia que alguns conceitos, como a concepo de Deus, pareciam inatos para os adultos, mas somente porque nos eram ensinados na infncia e no nos lembrvamos do tempo em que no tnhamos conscincia deles. Assim, explicava a aparente natureza inata de algumas ideias fundamentado no conceito da aprendizagem e do hbito. Assim como para Aristteles, considera que a mente adquiria o conhecimento por meio da experincia. - A sensao e a reflexo. Admitia dois tipos de experincias: um derivado da sensao e outro da reflexo. As ideias resultantes da sensao, ou seja, as derivadas da experincia sensorial direta com os objetos fsicos, so simples impresses do sentido. Essas impresses sensoriais operam na mente, que tambm opera nas sensaes, fazendo uma reflexo para formar as ideias. Essa funo cognitiva ou mental da reflexo como fonte de conceitos depende da experincia sensorial, j que as ideias produzidas pela reflexo da mente tm como base as impresses anteriormente percebidas por meio dos sentidos. As sensaes aparecem primeiro. Elas so necessariamente precursoras das reflexes porque, sem a existncia de um reservatrio das impresses do sentido, no h como a mente refletir sobre elas. Durante a reflexo, resgatamos as impresses sensoriais passadas, combinando-as para formar abstraes e outras ideias de nvel superior. Desse modo, todas so frutos da sensao e da reflexo, mas a fonte final continua sendo nossas experincias sensoriais. - O homem busca todo o recurso da razo e do conhecimento na experincia. Nela se fundamenta todo o nosso conhecimento e dela basicamente se deriva o prprio conhecimento. - Primeiro, os nossos sentidos, possuidores de relaes ntimas com determinados objetos sensoriais, transportam para a mente diversas percepes distintas dos elementos. Assim, concebemos as ideias de todas as qualidades sensoriais (quente, frio, amarelo, macio, amargo, etc.), que so transferidas para a mente, produzindo as percepes. Essa imensa fonte de, praticamente, todas as ideias que possumos totalmente dependente dos nossos sentidos, e deles derivada para o entendimento, a sensao.

- As ideias sustentadas pela reflexo so apenas as que a mente obtm mediante a reflexo sobre as prprias reflexes internas. Reflexo expressa a observao que a mente realiza das prprias operaes e do seu modo, a razo pela qual a observao transforma-se em ideias no entendimento dessas operaes. - Ideias simples e ideias complexas. Ideias simples podem surgir tanto da sensao como da reflexo e so recebidas passivamente pela mente. Elas so elementares, ou seja, no podem ser analisadas nem reduzidas a concepes ainda mais simples. Mediante o processo de reflexo, a mente cria ativamente novas ideias, combinando as simples. Estas so as ideias complexas, pois so compostas das simples e podem ser analisadas e estudadas com base nelas. - A teoria da associao. Noo de que o conhecimento resulta da ligao ou associao entre ideias simples para formar ideias complexas.Associao o nome inicial dado ao processo atualmente chamado de aprendizagem pelos psiclogos. A reduo ou a anlise da vida mental na forma de ideias ou de elementos simples tornou-se fundamental para a nova psicologia cientfica. Assim como possvel desmontar o relgio, reduzindo-o at separar todos os componentes e remonta-los para produzir uma mquina complexa, podemos desmontar as ideias humanas. - Locke tratava o funcionamento da mente conforme as leis do universo natural. As partculas bsicas ou os tomos do universo mental so as ideias simples, conceito anlogo ao dos tomos da matria do universo mecnico de Galileu e Newton. Esses elementos da mente no podem ser divididos em outros mais simples, no entanto, assim como seus semelhantes do mundo material, podem ser combinados ou associados para formarem estruturas mais complexas. - Qualidades primrias e secundrias. As qualidades primrias existem em um objeto, sejam ou no percebidas por ns. O tamanho e a forma de um edifcio so qualidades primrias, enquanto a cor uma qualidade secundria, j que no inerente ao objeto em si, mas dependente da experincia do indivduo (nem todos percebem determinada cor da mesma maneira). As secundrias (cor, odor, som e sabor) existem no no objeto em si, mas na percepo individual do objeto. A dor provocada pelo corte de uma faca no se encontra na faca, mas na experincia individual como reao ao ferimento. - Em suma, qualidades primrias so caractersticas, perceptveis ou no; qualidades secundrias so caractersticas que existem em nossa percepo do objeto. - Ex: as qualidades primrias de uma ma, como o tamanho e a forma, existem independentemente de as percebermos ou no. As secundrias, como o sabor, ocorreram apenas no nosso ato de percepo. - Galileu e Descartes tambm apresentaram viso semelhante a essa ideia. 4. George Berkeley (1685-1753) - Publicou dois ensaios filosficos de grande influncia na psicologia: An essay towards a new theory of vision (1709) e A treatise concerning the principles of human knowledge (1710). Era empirista. - A percepo a nica realidade. Berkeley concordava com o conceito de Locke de que todo o conhecimento do mundo exterior tem origem na experincia, mas divergia na distino entre as qualidades primria e secundria. Alegava no existirem qualidades primrias, mas somente as chamadas por Locke de secundrias. Para ele, todo o conhecimento era uma funo ou dependia da experincia ou da percepo do

individuo. Essa teoria recebeu o nome de mentalismo, como expresso da nfase no fenmeno exclusivamente mental. Mentalismo:doutrina que considera que todo conhecimento funo de um fenmeno mental e dependente da pessoa que o percebe ou vivencia. - Berkeley afirmava ser a percepo a nica realidade da qual se tem certeza. No se pode conhecer com preciso a natureza dos objetos fsicos no universo experimental o universo derivado da prpria experincia ou tendo ela como base. Tudo que sabemos como percebemos ou sentimos esses objetos. Sendo a percepo interna e subjetiva, no reflete o mundo exterior. O objeto fsico o acmulo das sensaes experimentadas simultaneamente, associadas mente pelo hbito. - No h substncia material da qual possamos ter certeza, porque, se excluirmos a percepo, a qualidade desaparecer. No existe cor, forma ou movimento sem nossa percepo. - Sua afirmao no era de que os objetos reais s existem no universo fsico quando so percebidos por ns, mas sim que toda nossa experincia acumulada decorre da nossa percepo e que nunca conhecemos precisamente a natureza fsica do objeto. Contamos apenas com a percepo deste. - No entanto, ele reconhecia que havia estabilidade e consistncia nos objetos do mundo material e que eles existiam independentemente de serem percebidos. O argumento para confirmar foi Deus, que funcionava como um observador permanente de todos os objetos, de modo a garantir a persistncia e a estabilidade do objeto fsico. A queda de uma rvore na floresta produz um som, que mesmo que ningum pudesse ouvi-lo, Deus estava presente para perceb-lo. - A associao das sensaes. Usou para explicar como passamos a conhecer os objetos do mundo real. Esse conhecimento basicamente a construo ou a composio de ideias simples (elementos mentais) unidas pelo fundamento da associao. As ideias complexas so formadas pela unio das simples recebidas por meio dos sentidos. Quando um objeto percebido por diferentes sentidos simultaneamente, acaba descrito como sendo um nico e igual objeto. - A mente constri ideias complexas juntando os blocos bsicos de construo mental as ideias simples. - Tambm usou o conceito para explicar a percepo de profundidade visual. Ele estudava como o ser humano percebe a 3 dimenso da profundidade, j que a retina possui apenas duas dimenses. A percepo de profundidade , na verdade, resultado da nossa experincia. As contnuas experincias sensoriais de caminhar em direo aos objetos ou de alcana-los, aliadas s sensaes dos msculos oculares, unem-se para produzir a percepo da profundidade. - Prosseguiu na crescente teoria da associao na filosofia empirista, tentando explicar o processo puramente psicolgico ou cognitivo com base na associao das sensaes. 5. David Hume (1711-1776) - Apoiava a noo de Locke sobre a composio de ideias simples para formar ideias complexas e a afirmao de Berkeley de que a existncia do mundo material para o indivduo ocorria por meio da percepo. Porm, omitindo a ideia de Deus de Berkeley, afirmava que no havia como confirmar a existncia de algo fora da nossa mente, um universo externo. - As impresses e as ideias. Traava uma diferenciao entre dois tipos de contedo mental: impresses e ideias. Impresses so os elementos bsicos da vida mental;

equivalem s sensaes e percepes. Ideias so experincias mentais que vivenciamos na ausncia de qualquer objeto de estmulo; equivale ao que considerado "imagem" pela psicologia. - A diferena entre impresses e ideias no estava na origem, mas na sua fora relativa. Impresses so fortes e vvidas, enquanto ideias so cpias fracas das impresses. - Esses dois contedos mentais podem ser simples ou complexos. A ideia simples semelhante sua impresso simples. As ideias complexas no so necessariamente similares s ideias simples porque so uma combinao sua que evolui e forma novos padres, compostos pelas ideias simples mediante o processo de associao. - Descreveu trs leis de associao: a lei da semelhana ou similaridade, a lei da contiguidade no tempo ou no espao e a lei da causa e do efeito. Quanto maior a semelhana e a contiguidade entre duas ideias (quanto mais prximas no tempo estiverem as experincias), mais rapidamente elas se associam. Quanto mais frequentemente dois eventos ou objetos forem experimentados (ou ocorrerem) na mesma sequncia (o som do trovo seguido pela apario do relmpago), mais tendemos a inferir que um causou o outro, e fortemente os dois eventos estaro associados. Semelhana: noo de que, quanto mais semelhantes forem duas ideias, mais rapidamente sero associadas. Contiguidade: noo de que, quanto mais forte a ligao entre duas ideias, no tempo ou no espao, mais rapidamente sero associadas. - O trabalho de Hume segue a linha do mecanicismo, empirismo e associacionismo. Alegava que era possvel determinar as leis do universo mental, assim como do fsico. Acreditava nos princpios regentes da associao de ideias, que definiu serem universais para a operao da mente, alm de apoiar a noo de construo das ideias complexas na mente por meio da combinao de ideias simples. 6. David Hartley (1705-1757) - Associao por contiguidade e por repetio. A lei fundamental da associao seria a contiguidade (proximidade), que usou como base para explicar os processos da memorizao, do raciocnio, da emoo e da ao voluntria e involuntria. Ideias ou sensaes ocorrem juntas, simultnea ou sucessivamente, tornam-se associadas, de modo que a ocorrncia de uma resulta na ocorrncia da outro. A repetio das sensaes e das ideias necessria para a formao das associaes. Repetio: noo de que, quanto mais frequente a ocorrncia de duas ideias simultneas, mais rpida ser sua associao. - medida que a criana cresce e acumula uma variedade de experincias sensoriais, so estabelecidas as conexes mentais de crescente complexidade. Ao chegarmos vida adulta, os sistemas mais elevados de pensamentos j esto desenvolvidos. Essa vida mental de nvel mais elevado, como o pensamento, o julgamento e o raciocnio, pode ser analisada ou reduzida aos elementos mentais ou s sensaes simples que lhe deram origem. Foi o primeiro a aplicar a teoria da associao para explicar todos os tipos de atividades mentais. - A influncia do mecanicismo. Tentou no apenas explicar os processos psicolgicos com base nos princpios mecnicos, como tambm os processos fisiolgicos subjacentes. - Usou ideias cientficas do universo mecnico como modelo para a compreenso da natureza humana, o que foi importante para a psicologia. Ex: aplicou a ideia de

Newton de que a vibrao umas das caractersticas do impulso no mundo fsico ao funcionamento do crebro humano e do sistema nervoso. Os nervos consistiam em estruturas slidas (e no tubos ocos como acreditava Descartes) e que as vibraes dos nervos transmitiam impulsos de uma parte outra do corpo. Essas vibraes davam incio a outras, menores, no crebro, que consistiam nas duplicaes psicolgicas das ideias. 7. James Mill (1773-1836) - A mente como uma mquina. Aplicou a doutrina do mecanicismo mente humana com objetividade e clareza, para destruir a iluso da subjetividade ou das atividades psquicas e demonstrar que a mente no passava de uma mquina. Acreditava que a mente no era apenas semelhante em seu funcionamento, e sim que era uma mquina funcionava da mesma forma previsvel e mecnica de um relgio. Era colocada em funcionamento por foras fsicas externas e operada por foras fsicas internas. - A mente uma entidade completamente passiva e acionada por estmulos externos. A reao a esses estmulos automtica; a atitude no espontnea. Sua teoria no comportava o conceito de livre-arbtrio, ideia persistente nos sistemas de psicologia derivados diretamente da tradio mecanicista, entre os quais o behaviorismo de B.F. Skninner. - Propunha o estudo da mente pela anlise, ou seja, reduzindo a mente em componentes bsicos, o que remete ao mecanicismo. Para compreender um fenmeno complexo, seja no mundo fsico ou mental, sejam ideias ou relgios necessrio dividi-los em partes, componentes menores. - Sensaes e ideias so as nicas espcies de elementos mentais. Todo conhecimento tem inicio com as sensaes, das quais so derivadas as ideias complexas mediante a associao, que uma questo de contiguidade ou apenas de simultaneidade e pode ser sucessiva ou concomitante (simultnea). - Como a associao um processo passivo e automtico, no acreditava que a mente tivesse uma funo criativa. A associao mecnica e as ideias resultantes so apenas o acmulo dos elementos mentais individuais. 8. John Stuart Mill (1806-1873) - A qumica mental. Tornou-se contribuinte influente no que logo se transformou na nova cincia da psicologia. Combatia a posio mecanicista de seu pai, James Mill, a viso da mente passiva que reage mediante o estmulo externo. Para ele, a mente exercia um papel ativo na associao das ideias. - Afirmava que as ideias complexas no so apenas o somatrio de ideias simples por meio da associao. Elas acabam adquirindo novas qualidades antes no encontradas nos elementos simples. Ex: a mistura de azul, vermelho e verde nas propores corretas resulta no branco, uma qualidade completamente nova. De acordo com essa perspectiva, conhecida como a sntese criativa, a combinao correta de elementos mentais sempre produz alguma qualidade distinta que no estava presente nos prprios elementos. - O pensamento de John foi influenciado pelas pesquisas em andamento na qumica, que lhe proporcionaram modelos diferentes das suas ideias da fsica e da mecnica, que formavam o contexto de ideias do seu pai e dos precursores empiristas e associacionistas. Chamou a teoria da associao das ideias de "qumica mental".

- Contribuio na psicologia: alegou ser possvel a realizao de um estudo cientfico da mente. Recomendou tambm um novo campo de estudo que chamou de "etologia", dedicado aos fatores que influenciam o desenvolvimento da personalidade humana. Contribuies do Empirismo Psicologia Princpios do empirismo: o papel principal do processo da sensao; a anlise da experincia consciente nos elementos; a sntese dos elementos em experincias mentais complexas mediante o processo da associao; o enfoque nos processos conscientes. - O papel principal do empirismo na formao da nova psicologia cientfica tornara-se evidente e foi possvel perceber que as preocupaes dos empiristas formavam o objeto de estudo bsico da psicologia. - Em meados do sculo XIX, os filsofos estabeleceram a justificativa terica para uma cincia dedicada natureza humana. O prximo passo seria a transformao da teoria em realidade - o tratamento experimental do mesmo objeto de estudo -, o que ocorreria logo, graas aos psiclogos, que proporcionaram o tipo de experimentao que viria a completar a fundao da nova psicologia. Captulo 3 As Influncias Fisiolgicas na Psicologia - Ao estudar as divergncias na observao do tempo de movimento das estrelas, em 1795, entre Nevil Maskelyne e David Kinnebrook (que fez supor que a observao de Kinnerbrook, assiste de Maskelyne, estava errada), Fredriech Wilhelm Bessel(17841846) suspeitava que os "erros" de Kinnebrook eram atribudos s diferenas individuais. Assim, as diferenas podem ser encontradas entre os tempos observados por todos os astrnomos, fenmeno que passou a ser chamado de "equao pessoal". - Bessel chegou a duas concluses com sua descoberta: 1. Os astrnomos devem levar em considerao a natureza humana do observador, j que as caractersticas e as percepes pessoais influenciam as observaes; 2. Se a astronomia deve levar em conta o papel do observador humano, certamente ela importante tambm nas outras cincias que dependem do mtodo de observao. - Empiristas como Locke e Berkeley debateram a natureza subjetiva da percepo humana, afirmando que nem sempre h correspondncia exata entre a natureza de um objeto e a nossa percepo sobre ele. O trabalho de Bessel ilustrou e corroborou a teoria com dados de uma cincia pura: a astronomia. - Para concentrar-se no papel do observador humano como responsvel pelos resultados das experincias, os cientistas comearam a estudar os rgos dos sentidos humanos como forma de investigao dos processos psicolgicos da sensao e da percepo. Os fisiologistas comearam a aplicar essa metodologia no estudo das sensaes, e a psicologia estava prestes a seguir o caminho. Os Avanos Iniciais da Fisiologia - A pesquisa fisiolgica que influenciou a nova psicologia era produto dos trabalhos do final do sc. XIX. A fisiologia tornou-se uma disciplina voltada aos experimentos, durante a dc. de 1830, principalmente sob a influncia de Johannes Mller (18011858). - Sua teoria sobre a energia especfica dos nervos (a estimulao de determinado nervo sempre provocava uma sensao caracterstica, porque cada nervo sensorial

possua energia especfica prpria) tambm foi muito importante para a fisiologia e a psicologia. O Mapeamento Interno das Funes Cerebrais - Muitos dos primeiros fisiologistas realizaram suas pesquisas diretamente nos tecidos cerebrais, o que foi importante para o estudo das funes do crebro, e sendo as primeiras tentativas de mapeamento das funes cerebrais. A importncia desse trabalho para a psicologia se d delimitao das reas especializadas do crebro, como tambm no refinamento dos mtodos de pesquisa que mais tarde viriam a ser amplamente usados na psicologia fisiolgica. - Marshall Hall (1790-1857) foi o pioneiro na investigao do comportamento por reflexo, ao observar que os animas decapitados continuavam a se mover por algum tempo mediante o estmulo de vrias terminaes nervosas. Concluiu que os diversos nveis de comportamento tm origem nas diferentes partes do crebro e do sistema nervoso. Hall postulava que o movimento voluntrio dependia do crebro; o movimento de reflexo, da medula espinhal; o movimento involuntrio, da estimulao indireta dos msculos; e o movimento respiratrio, da medula. - Pierre Flourens (1794-1867) concluiu que o crebro controlava os processos mentais mais elevados; partes do crebro mdio controlavam os reflexos visuais e auditivos; o cerebelo, a coordenao, e a medula, o batimento cardaco, e a respirao, e outras funes vitais. - Ambas as descobertas so secundrias para os nossos propsitos em relao ao uso do mtodo de extirpao, no qual o pesquisador tenta determinar a funo de uma parte especfica do crebro, removendo-a ou destruindo-a e observando as consequentes mudanas no comportamento. - A segunda metade do sc. XIX presenciou a introduo de duas outras abordagens experimentais: 1. O mtodo clnico: espcie de "extirpao ps-morte". Exame psmorte das estruturas do crebro para detectar as reas lesionadas, consideradas responsveis pelo comportamento do indivduo antes de sua morte. 2. Estmulos eltricos: tcnica de explorao do crtex cerebral que consiste em aplicar pequenos choques eltricos para observar a resposta motora. O Mapeamento Externo das Funes Cerebrais - Franz Josef Gall (1758-1828), aps algumas pesquisas sobre o mapeamento interno do crebro, voltou sua ateno para a externa do crebro. Ele desejava descobrir se era possvel obter informaes sobre as propriedades cerebrais analisando o tamanho e o formato do crebro. Sobre tamanho, os estudos realizados com animais demonstraram tendncia de comportamento mais inteligente em animais com crebros maiores. Logo fundou um movimento chamado cranioscopia (ou frenologia), que afirmava que o formato do crnio revelava caractersticas intelectuais e emocionais de uma pessoa. - Acreditava que quando uma habilidade mental (conscincia, benevolncia, autoestima) fosse bem desenvolvida, haveria uma salincia correspondente na superfcie do crebro, na regio controladora dessa caracterstica. Se a capacidade fosse inferior, haveria um afundamento no crnio. Depois de examinar as salincias e os afundamentos, Galll mapeou a localizao de 35 atributos humanos. O movimento foi logo popularizados nos EUA, de modo que a leitura de cabeas tornou-se to difundido que muitas empresas americanas usaram a tcnica para selecionar seus funcionrios.

- Pierre Flourens, ao destruir as partes de um crebro (por extirpao), descobriu que o formato do crnio no correspondia aos contornos do tecido cerebral subjacente. Alm disso, o tecido cerebral era delicado demais para produzir alteraes, tais como protuberncias ou afundamentos, no crnio. - O trabalho de Gall reforou a crena na possibilidade de se localizar as funes especficas do crebro. O Estudo do Sistema Nervoso - No mesmo perodo, foram realizadas pesquisas sobre a estrutura do sistema nervoso. Em meados do sc. XIX, os cientistas aceitaram a natureza eltrica dos impulsos nervosos. Passaram a crer que o sistema nervoso constitua-se de um condutor de impulsos eltricos e que o sistema nervoso central desviava os impulsos para as fibras nervosas sensoriais ou motoras. - A nova teoria, a teoria sobre o tubo nervoso de Descartes e a das vibraes de Hartley tinham como base o reflexo: um estmulo provoca impacto no rgo do sentido e, assim, excita o impulso nervoso. - Os pesquisadores tambm estudavam a estrutura anatmica do sistema nervoso. Descobriram que as fibras nervosas eram compostas de estruturas separadas (neurnios) e conectadas a pontos especficos (sinapses). Essas descobertas coincidiam com a imagem mecanicista do funcionamento humano. Os cientistas acreditavam que o sistema nervoso, assim como a mente, era constitudo de estruturas de tomos, partculas de matria combinadas para produzir um produto mais complexo. O Esprito do Mecanicismo - O esprito destacava-se na Alemanha, mais do que em qualquer outro lugar. Na dc. de 1840, um grupo de cientistas (Sociedade de Fsica de Berlim) comprometeram-se com uma proposta: explicar todos os fenmenos pelo princpio da fsica, buscando desenvolver a fisiologia com base no quadro de referncia do mecanicismo. E assim as linhas se entrelaaram na fisiologia do sc. XIX: materialismo, mecanicismo, empirismo, experimentalismo e medio. - A evoluo inicial da fisiologia indica os tipos de tcnicas de pesquisa e as descobertas quefundamentaram a abordagem cientfica da investigao psicolgica da mente. - Contribuies para a psicologia experimental: Empiristas britnicos: argumentavam que a sensao era a nica fonte de conhecimento;O astrnomo Bessel: demonstrou o impacto da observao das diferenas individuais na sensao e na percepo;Fisiologistas: estavam definindo a estrutura e a funo dos sentidos. - As tcnicas disponveis para a investigao do corpo passaram a ser aperfeioadas para a explorao da mente. A psicologia experimental estava pronta para comear. Os Primrdios da Psicologia Experimental - As primeiras aplicaes do mtodo experimental mente objeto de estudo da nova psicologia so creditadas a quatro cientistas: Hermann Von Helmholtz, Ernst Weber, Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt. Todos eram cientistas alemes especializados em fisiologia. Por que a Alemanha? - Sc. XIX: desenvolvimento amplo da cincia na Europa ocidental (principalmente Frana, Alemanha e Inglaterra). O entusiasmo na aplicao das ferramentas cientficas aos diversos temas de pesquisa no estavam concentrados em nenhuma nao, mas

algumas caractersticas exclusivas da cincia alem a tornou solo para o crescimento da psicologia experimental. - A abordagem cientfica alem. A fisiologia experimental estava bem estabelecida na Alemanha, em contraste Frana e Inglaterra. Enquanto cientistas franceses e ingleses favoreciam o tratamento matemtico dedutivo, os alemes, com nfase na coleta minuciosa e completa de dados observveis, adotavam a abordagem indutiva. - Os alemes acabaram por definir integralmente a cincia, que na Frana e na Inglaterra limitava-se fsica e qumica, reas passveis de abordagem quantitativa. A cincia alem inclua reas como a fontica, lingustica, histria, arqueologia, esttica, lgica e at crtica literria. Os estudiosos da Frana e da Inglaterra eram cticos em relao aplicao da cincia complexa mente humana. Os alemes, no, e por isso deram um salto frente, usando as ferramentas da cincia para explorar e medir todas as facetas da atividade mental. - O movimento reformista nas universidades alems. No incio do sc. XIX, uma onda de reforma educacional voltada aos princpios da liberdade acadmica invadiu as universidades alems (liberdade para professores e alunos para escolher as matrias ministradas e estudadas). Essa liberdade, desconhecida nas universidades inglesas e francesas, tambm se estendeu para as novas reas da pesquisa cientfica, como a psicologia. - O estilo universitrio alemo criou o ambiente ideal para o surgimento da investigao cientfica, sendo o pas que promoveu a cincia de forma mais ativa. - Antes de 1870, ano em que fora unificada e dotada de um governo central, a Alemanha era uma confederao dispersa. Cada um de seus distritos era provido de universidades bem financiadas, com um corpo docente bem-remunerado e equipamentos de laboratrio com tecnologia de ponta. - A Inglaterra s possua as universidades de Oxford e Cambridge, sem incentivo ou financiamento para pesquisas cientficas. Alm disso, a poltica acadmica era contrria implementao de novas reas de estudo no currculo. A psicologia experimental ficou fora do currculo da Cambridge por 20 anos e ministrada somente em 1936 em Oxford. Charles Darwin e Francis Galton, por exemplo, viviam como nobres cientistas, com independncia econmica. A situao era semelhante na Frana. - Nos EUA, a primeira universidade dedicada pesquisa surgiu apenas em 1876, com a fundao da Johns Hopkins University, em Baltimore, baseada fortemente no modelo alemo. - As chances de algum se tornar um professor respeitado e bem-remunerado eram maiores na Alemanha do que em qualquer outra parte do mundo. 1. Hermann von Helmholtz (1821-1894) - Dava nfase ao tratamento mecanicista e determinista, partindo do princpio que os rgos sensoriais humanos funcionavam como mquinas. Apreciava analogias tcnicas (transmisses dos impulsos nervosos e a operao do telgrafo). Contribuies de Helmholtz: o Impulso Neural, a Viso e a Audio - Suas pesquisas de interesse para a psicologia referem-se velocidade do impulso neural e sobre a viso e a audio. Forneceu a primeira medio emprica da velocidade de conduo, estimulando um nervo motor e o msculo anexo da perna de um sapo. Observou o tempo entre a aplicao do estmulo no nervo prximo ao msculo e a reao muscular.

- Ao pesquisar os tempos de reao dos nervos sensoriais em seres humanos, descobriu enormes diferenas individuais, alm de divergncias entre um experimento e outro com a mesma pessoa. - Sua demonstrao de que a velocidade de conduo no era instantnea levantou a hiptese de que o pensamento e o movimento seguem um ao outro em intervalo mensurvel e no ocorrem simultaneamente, como se pensava. - Os estudos sobre a viso e audio tambm tiveram impacto na nova psicologia. Pesquisou os msculos externos do olho e o mecanismo por meio do qual os msculos internos focalizam o cristalino, a percepo dos tons, da natureza da harmonia e desarmonia e problema da ressonncia. - Para ele, a misso do cientista era coletar a informao e estender ou aplicar aos problemas prticos. - Sua contribuio tornou-se uma vasta e importante fonte de referncia para o estudo dos sentidos humanos, alm de haver fortalecido a abordagem experimental para a anlise das questes psicolgicas. 2. Ernst Weber (1795-1878) - Sua maior rea de interesse eram os rgos dos sentidos. Aplicou os mtodos experimentais da psicologia aos problemas de natureza psicolgica. Weber foi alm das pesquisas sobre viso e audio e explorou novos campos, mais especificamente as sensaes cutneas e as musculares. O Limiar de Dois Pontos - A determinao experimental exata da distino entre dois pontos da pele refere-se ao intervalo de tempo da distncia entre dois pontos antes de o indivduo experimentar duas sensaes distintas. Quando os dois pontos de estmulo, que eram tocados por seu aparelho, estavam praticamente juntos, as pessoas afirmavam sentir apenas um. medida que aumentava a distncia entre as duas origens do estmulo, as pessoas mostravam-se hesitantes quanto experincia de sentir um ou dois pontos na pele, at atingir a distncia em que sentiam os dois tocando a pele. - Esse procedimento demonstra o limiar de dois pontos, o ponto em que possvel distinguir duas origens separadas do estmulo. Sua pesquisa marca a primeira demonstrao sistemtica experimental do conceito de limiar (o ponto em que comea a se produzir o efeito psicolgico). As Diferenas Mnimas Perceptveis - Weber desejava determinar a diferena mnima perceptvel (dmp), ou seja, a menor diferena detectvel entre dois pesos. Seus participantes, ao levantarem dois pesos, julgaram igualdade entre os dois quando as diferenas eram menores, e disparidade quando eram maiores. Diferena mnima perceptvel: a menor diferena detectvel entre dois estmulos fsicos. - Descobriu que a dmp entre dois pesos consistia em uma proporo constante (1:40), do peso padro, mas apresentavam outro valor se o prprio participante levantasse os pesos, j que envolveria apenas a sensao ttil (quando o peso colocado em suas mos, envolve tambm a sensao muscular). - Sua pesquisa proporcionou a criao de um mtodo de investigao da relao entre o corpo e a mente entre o estmulo e a sensao resultante.

3. Gustav Theodor Fechner (1801-1887) A Relao Quantitativa entre Mente e Corpo - 22 de outubro de 1850: data em que ocorreu a Fechner a ideia sobre a ligao entre a mente e o corpo. Afirmou ser possvel encontrar essa ligao na relao quantitativa entre a sensao mental e o estmulo material. Alegou que o aumento na intensidade do estmulo produzia um crescimento em forma de P.G., enquanto a sensao crescia em P.A. Ex: o acrscimo do som de um sino ao de outro que j esteja tocando produz um aumento maior da sensao sonora do que a adio de um sino a dez outros que j estejam tocando. Os efeitos de intensidade do estmulo no so absolutos, mas proporcionais intensidade da sensao j existente. - A revelao demonstra que a dimenso da sensao (a qualidade mental) depende da quantidade de estmulos (a qualidade fsica). Para medir a mudana na sensao, necessrio medir a alterao no estmulo. Portanto, possvel uma relao quantitativa ou numrica entre o corpo e a mente, vinculando-os de forma emprica, possibilitando a realizao de experincias com a mente. - Para isso, Fechner deveria medir com preciso tanto o que subjetivo (a sensao mental) quanto o que objetivo (o estmulo fsico). No difcil medir a intensidade do estmulo fsico, como a intensidade do brilho de uma luz ou o peso de um objeto, mas como medir a sensao? - Para fazer essa medio: 1) determinar se o estmulo est presente ou ausente, se foi sentido ou no. 2) medir a intensidade do estmulo na qual as pessoas relatam a primeira sensao, ou seja, o limiar absoluto da sensibilidade, ponto de sensibilidade abaixo do qual as sensaes no so detectadas e acima do qual elas so percebidas. - A ideia do limiar absoluto limitada, pois apenas o valor do menor nvel da sensao pode ser determinado. Para relacionar as duas intensidades necessrio especificar toda a faixa de valores do estmulo e os valores de sensao resultantes. Apresentou, assim, olimiar diferencial da sensibilidade, ponto de sensibilidade em que a menor alterao em um estmulo provoca uma mudana na sensao.Em que medida o peso deve ser aumentado ou diminudo para que a pessoa perceba a mudana? - Para medir a sensao que o peso provoca em uma pessoa, no podemos usar a medio fsica do peso do objeto, mas podemos us-la como base para a medio da intensidade psicolgica da sensao. - Sugeriu que, para cada sentido humano, existe determinado aumento relativo na intensidade do estmulo que produz uma mudana observvel na intensidade da sensao. A relao entre os dois pode ser expressa na equao: S=k log R, em que S a magnitude da sensao, K uma constante e R a magnitude do estmulo. A relao logartmica, isto , uma srie aumenta em P.A. e a outra em P.G. Os Mtodos Psicofsicos - Psicofsica: estudo cientfico das relaes entre os processos mental e fsico. Ao longo da pesquisa a esse respeito, que inclua experincias com o levantamento de pesos, percepo visual do brilho, noo de distncia visual e de distncia ttil, desenvolveu um mtodo e sistematizou outros dois. - O trabalho de Fechner desmentiu a alegao de Immanuel Kant de que a psicologia nunca poderia ser considerada cincia porque era impossvel medir ou realizar experincias com os processos psicolgicos. Fechner tornou possvel a medio do fenmeno mental de forma coerente e precisa, e seus mtodos mostraram-se aplicveis a uma ampla variedade de problemas psicolgicos.

A Fundao Oficial da Psicologia - Em meados do sc. XIX, os mtodos das cincias naturais estavam sendo empregados para pesquisar fenmenos puramente mentais. Tcnicas foram desenvolvidas, aparelhagens foram criadas, livros importantes foram escritos e o interesse crescente se espalhava. Os astrnomos e os filsofos empiristas britnicos enfatizavam a importncia dos sentidos, e os cientistas alemes descreviam o seu funcionamento. O esprito intelectual positivista do perodo, o Zeitgeist, incentivava a convergncia dessas duas linhas de pensamento. Porm, ainda faltava algum que pudesse uni-las e "fundar" a nova cincia. Wilhelm Wundt foi quem deu esse toque final. Cp. 4 A Nova Psicologia Tarefas Mltiplas No So Permitidas - No sculo XIX, antes do telefone, mensagens instantneas, videogames e outros aparelhos eletrnicos, muitos estudiosos, inclusive Wilhelm Wundt, no tinham ouvido falar ou mesmo no acreditavam em multitarefas, ou seja, que fosse possvel prestar ateno a mais de um estmulo, ou se envolver em mais de uma atividade mental ao mesmo tempo. - Wundt tentava conduzir pesquisas para deslanchar o desenvolvimento da nova cincia psicolgica. Pensava sobre o conceito de Friedrich Bessel de "equao pessoal". No caso dos astrnomos Kinnebrooke Maskelyne, se o observador olhasse primeiro a estrela, ele obteria uma leitura, mas se olhasse primeiro a grade quadriculada, obteria uma leitura ligeiramente diferente. Era impossvel focar sua ateno nos dois objetos ao mesmo tempo. - Wundt modificou um relgio de pndulo de forma a apresentar dois estmulos um auditivo (sino) e um visual (pndulo). Concluiu que era impossvel perceber os dois ao mesmo tempo. As medidas mostraram que levava 1/8 de segundo para registrar os dois estmulos sequencialmente. Para o observador, os estmulos poderiam ocorrer simultaneamente, mas no para o pesquisador treinado. - "A conscincia retm s um pensamento, uma nica percepo. Quando parece que temos diversas percepes simultneas, somos enganados pela sua rpida sucesso". Wundt havia, assim, medido a mente. Apesar de Fechner j ter feito isso antes, foi ele quem usou o experimento como base para uma nova cincia. O Pai da Psicologia Moderna - Wilhelm Wundt foi o fundador da psicologia como disciplina acadmica formal. Instalou o primeiro laboratrio, lanou a primeira revista especializada e deu incio psicologia experimental como cincia. - Apesar de Fechner ter publicado a obra Elementsofpsychophysicscerca de 15 anos antes (1860) deWundt iniciar os estudos de psicologia, a fundao da cincia atribuda Wundt. A importncia de Fechner reconhecida, e pesquisadores questionam se a psicologia teria comeado naquele momento sem sua contribuio. Porm, a fundao de uma escola de pensamento consiste em um ato deliberado e intencional. Fundao no sinnimo de criao. Fechner simplesmente no estava tentando fundar uma nova cincia. Seu objetivo era compreender a relao entre os universos mental e material. - Wundt, no entanto, estava determinado a fundar uma nova cincia. Seu objetivo era promover a psicologia como uma cincia independente. Porm, embora ele seja

considerado o fundador, ele no foi o criador. A psicologia resultado de uma longa sequncia de esforos criativos. - Na segunda metade do sc. XIX, o Zeitgeist estava propcio para a aplicao da metodologia experimental aos problemas da mente. Wundt foi um agente poderoso do que j estava em andamento. 4. Wilhelm Wundt (1832-1920) Biografia - Wundt se envolveu em fisiologia e comeou a conceber o estudo da psicologia como uma disciplina cientifica experimental independente. Em 1867, comeou a ministrar um curso de psicologia fisiolgica na Heidelberg, o primeiro curso formal dessa rea no mundo. - Em seu livro Principlesofpshysiologicalpshycology, Wundt estabeleceu a psicologia como uma cincia laboratorial independente, com problemas e mtodos de experimentao prprios. - Por vrios anos, as sucessivas edies de Principles serviram como base de informaes para os psiclogos experimentais e de registro do progresso da psicologia. O termo "psicologia fisiolgica" pode dar margem a interpretaes equivocadas, j que naquela poca o vocbulo "fisiolgica" era sinnimo da palavra alem que quer dizer "experimental". Wundt, portanto, lecionava e escrevia sobre psicologia experimental e no sobre a psicologia fisiolgica no sentido atual da palavra. Os Anos em Leipzig - Quando chegou naUniversityofLeizig, instalou um laboratrio e, em 1881, lanou a revista PhilosophicalStudies, publicao oficial do novo laboratrio e da nova cincia. - Seu laboratrio e sua crescente fama atraram muitos estudantes que desejavam estudar com ele, dos quais vrios difundiram verses prprias de psicologia para as geraes seguintes, especialmente americanos, que implementaram laboratrios prprios em seu pas. - Seu laboratrio inspirou tambm italianos, japoneses e, principalmente, russos. A Psicologia Cultural - Wundt voltou a ateno para a filosofia. Escreveu a respeito da tica, da lgica e da filosofia sistemtica. Tambm concentrou seu talento em outra rea: a psicologia social. Produziu um trabalho em 10 volumes, intitulado Cultural psychology. - A psicologia cultural tratou de vrias etapas do desenvolvimento mental humano manifestado pela linguagem, nas artes, nos mitos, nos costumes sociais, na lei e na moral. O impacto dessa publicao serviu para dividir a nova cincia em duas partes: a experimental e a social. - Acreditava que as funes mentais mais simples, como a sensao e a percepo, deviam ser estudadas por meio de mtodos de laboratrio. J os processos mentais superiores, como a aprendizagem e a memria, no podiam ser investigados pela experimentao cientfica por serem condicionados pela lngua e por outros aspectos culturais. Wundt somente acreditava no estudo dos processos de pensamento superiores com o emprego de meios no-experimentais como os usados na sociologia, antropologia e psicologia social, ideia logo contestada e invalidada. - Seu estudo sobre p.cultural exerceu pouco impacto sobre a psicologia americana. Uma razo provvel para a falta de interesse seria a poca de publicao (19001920).Os psiclogos americanos passaram a confiar nas prprias ideias e nas

instituies educacionais e no sentiam mais tanta necessidade de voltar a ateno para os acontecimentos da Europa, como era comum entre 1880 e 1890. O Estudo da Experincia Consciente - A psicologia de Wundt utilizava os mtodos experimentais das cincias naturais, principalmente fisiologistas. Adaptou esses mtodos cientficos para a psicologia. Dessa forma, o Zeitgeist na fisiologia e na filosofia contribuiu para moldar tanto os mtodos de investigao como o objeto de estudo. - Seu objeto de estudo consistia na conscincia. O impacto do empirismo e do associacionismo refletia em seu sistema. Para ele, a conscincia podia ser estudada pela anlise ou pela reduo. "A primeira etapa da investigao de um fato deve ser uma descrio dos elementos individuais dos quais consiste". - Discordncia entre Wundt e a maioria dos empiristas e associacionistas: no aceitava a ideia de os elementos da conscincia serem estticos e se conectarem de forma passiva mediante algum processo mecnico de associao. Acreditava no papel ativo da conscincia em organizar o prprio contedo. O estudo separado dos elementos, do contedo ou da estrutura da conscincia proporcionaria apenas o ponto inicial para a compreenso dos processos psicolgicos. - Voluntarismo. Estudo da capacidade prpria de organizao da mente. Refere-se fora de vontade prpria de organizar o contedo da mente em processos de pensamentos de nvel mais elevado. Enfatizava no os elementos em si, mas o processo ativo de organizao e sntese desses elementos. - Experincia mediata e imediata. Os psiclogos deveriam dedicar-se ao estudo da experincia imediata e no da experincia mediata, que proporciona ao indivduo as informaes ou o conhecimento relacionado com algo alm dos elementos de uma experincia. a forma usual de empregar a experincia para adquirir o conhecimento do nosso mundo. Ex: quando olhamos uma rosa e dizemos "A rosa vermelha", subentende-se que nosso interesse principal a flor e no o fato de percebermos algo denominado "[cor] vermelha". - J a experincia imediata de visualizar a flor no est no objeto propriamente dito, mas na experincia de perceber que alguma coisa vermelha. Ela no sofre nenhum tipo de interpretaes pessoais, como a descrio da experincia de visualizar a cor vermelha da rosa em termos do objeto, da flor em si. Experincia mediata e imediata: a mediata oferece informao sobre qualquer coisa, exceto sobre os elementos dessa experincia; a imediata equilibrada pela interpretao. - Se, ao descrevermos a sensao de desconforto provocada por uma dor de dente, relatamos a nossa experincia imediata. Se apenas dissermos "Estou com dor de dente", referimo-nos somente mediata. - Na perspectiva de Wundt, as experincias bsicas humanas (percepo da cor ou sensao de desconforto) formam os estados da conscincia (os elementos mentais) organizados de forma ativa pela mente. Sua proposta consistia em analisar a mente com base nos seus elementos, nas partes componentes, do mesmo modo que os cientistas naturalistas trabalhavam para dividir o seu objeto de estudo (o universo fsico). A ideia da tabela peridica de DimitriMendeleev serviu de apoio para seu objetivo. Muitos sugeriram que Wundt talvez tentasse desenvolver uma "tabela peridica" da mente.

O Mtodo da Introspeco - O mtodo da psicologia cientfica deve abranger as observaes da experincia consciente. Porm, somente o indivduo que passa pela experincia capaz de observ-la. Wundt estabeleceu que o mtodo de observao devia necessariamente utilizar-se da introspeco, ou seja, da autoanlise do estado mental, para inspecionar e relatar pensamentos ou sentimentos pessoais. Ele se referia a esse mtodo como percepo interna. - Na fisiologia, a introspeco era usada para obter informaes sobre os rgos dos sentidos. O pesquisador aplicava um estmulo e pedia ao indivduo para descrever a sensao produzida (ex: mtodos de Fechner). - A introspeco de Wundt obedecia a regras e condies estabelecidas por ele: Os observadores devem ser capazes de determinar quando o processo ser introduzido e estar em estado de prontido e alerta. Deve haver condies adequadas para se repetir vrias vezes a observao e para se variar as situaes experimentais em termos de manipulao controlada do estmulo. - A ltima condio remete essncia do mtodo experimental: a variao das condies das situaes de estmulo e a observao das mudanas resultantes nas experincias descritas pelo indivduo. Wundt acreditava que o mtodo permitia fornecer todos os dados bsicos necessrios para o estudo dos problemas de interesse da psicologia. - O objetivo de realizar a percepo interna sob rgidas condies experimentais consiste em produzir observaes precisas, fazendo da repetio a sua forma de fornecer dados significativos para seu laboratrio. - Submetidos a esse treinamento repetitivo e persistente, os indivduos estariam aptos a realizar mecanicamente as observaes e se tornariam rpidos e alertas em relao experincia consciente sendo observada, descrevendo a experincia consciente quase imediata e automaticamente. Assim, o intervalo entre os atos de observar e de relatar a experincia imediata seria mnimo. - A descrio introspectiva que Wundt buscava estava relacionada principalmente aos julgamentos conscientes sobre o tamanho, a intensidade, a durao de vrios estmulos fsicos, ou seja, o tipo de anlise quantitativa da pesquisa psicofsica. Poucos estudos do laboratrio de Wundt usaram relatos de natureza subjetiva ou qualitativa, como a percepo de prazer provocada por um estmulo, a intensidade de uma imagem ou a qualidade de uma sensao. A maioria consistia em medies objetivas proporcionadas por equipamentos sofisticados, muitas delas referentes a tempos de reao registrados quantitativamente. Elementos da Experincia Consciente - Metas de Wundt, definidos seu objeto de estudo e a metodologia para a nova cincia: analisar os processos conscientes, utilizando os seus elementos bsicos; descobrir como esses elementos eram sintetizados e organizados; determinar as leis da conexo que regiam a organizao dos elementos. - Sensaes. Wundt alegava ser a sensao uma das duas formas bsicas de experincia. Surge sempre que um rgo do sentido estimulado e os impulsos resultantes atingem o crebro. Pode ser classificada pela intensidade, durao e modalidade do sentido.

- Para Wundt, a imagem tambm estaria associada com a estimulao do crtex cerebral, no sendo, portanto, diferente da sensao. - Sentimentos. Outra forma elementar da experincia. A sensao e o sentimento so aspectos simultneos da experincia imediata. O sentimento o complemento subjetivo da sensao, embora no se origine diretamente de rgo do sentido. Sensaes so acompanhadas de certas qualidades de sentimento; quando se combinam para formar um estado mais complexo, resultam na qualidade de sentimento. - Teoria tridimensional do sentimento: baseada nas observaes introspectivas. a explicao de Wundt para os estados do sentimento, baseada em trs dimenses: prazer/desprazer, tenso/relaxamento e excitao/depresso. - Usando um metrnomo (aparelho que pode ser programado para produzir cliques audveis em intervalos regulares), notou que, aps ouvir uma srie de cliques, alguns padres rtmicos eram mais prazerosos do que outros. Observou tambm um segundo tipo de sentimento: uma leve tenso ao antecipar cada som sucessivo, seguida do alvio aps o clique. Ao aumentar o intervalo dos cliques, sentiu-se suavemente excitado e, ao reduzi-lo, sentiu-se calmo e at um pouco deprimido. - Variando o intervalo do metrnomo e praticando a introspeco, descrevendo as suas experincias conscientes imediatas (sensaes e sentimentos), definiu as 3 dimenses independentes do sentimento. A Organizao dos Elementos da Experincia Consciente - Apercepo.O processo de organizao dos elementos mentais formando uma unidade uma sntese criativa (ou lei das resultantes psquicas) que cria novas propriedades mediante a mistura ou a combinao dos elementos. "Todo composto psquico dotado de caractersticas que de modo algum consistem na mera soma das caractersticas dos elementos". A noo da sntese criativa possui a correspondente na qumica. A combinao dos elementos qumicos produz compostos ou resultantes com propriedades no encontradas nos elementos originais. Apercepo: processo pelo qual elementos mentais so organizados. um processo ativo. Nossa conscincia no atua apenas sobre sensaes e sentimentos bsicos que experimentamos. A mente atua nesses elementos de forma criativa para compor a unidade. O Destino da Psicologia de Wundt na Alemanha - Embora sua psicologia tenha se espalhado rapidamente, no transformou de imediato nem completamente a natureza da psicologia acadmica na Alemanha. Nesse perodo, a psicologia nas universidades ainda consistia em uma rea de especializao da filosofia. Alm da resistncia de alguns psiclogos e filsofos em separar as duas disciplinas, os rgos governamentais responsveis pela criao das universidades no enxergam nenhum valor prtico na psicologia para garantir a alocao de recursos para o estabelecimento de departamentos acadmicos e laboratrios independentes. - O prefeito de Berlim, aps a presso dos psiclogos para obter mais verba, declarou que, primeiro, precisava ver os resultados prticos das pesquisas psicolgicas. A dificuldade estava no fato de a psicologia de Wundt concentrar-se na descrio e na organizao dos elementos da conscincia, no sendo, assim, apropriada para a soluo dos problemas do mundo real. Considerava a psicologia uma cincia puramente acadmica e no se interessava em aplica-las s questes prticas.

- Assim, apesar da sua aceitao nas universidades de vrios pases, a evoluo da psicologia wundtiana, como cincia distinta, foi relativamente lenta na prpria Alemanha. No mesmo perodo nos EUA (entre 1910 e 1925, aprox.), havia muito mais psiclogos e departamentos de psicologia. O conhecimento e as tcnicas estavam sendo aplicados aos problemas prticos, na economia e na educao. Porm, a origem para pensar o campo da psicologia no pas era derivada do pensamento de Wundt. As Crticas Psicologia de Wundt - O mtodo da percepo interna ou da introspeco era especialmente vulnervel. As experincias realizadas com o uso dessa tcnica nem sempre produzem o mesmo resultado, j que se trata de uma auto-observao ( uma experincia particular). Isso era alvo frequente do questionamento dos crticos. - As opinies polticas de Wundt (considerava a Inglaterra culpada por iniciar a I GM e defendia a invaso da Blgica pela Alemanha) tambm eram alvo de crticas, e suas declaraes fizeram com que muitos psiclogos americanos se voltassem contra Wundt e sua psicologia. - Seu sistema tambm enfrentou a concorrncia crescente nos pases de lngua alem aps a I GM. Nos anos finais de sua vida, duas outras escolas de pensamento surgiram na Europa, obscurecendo sua viso: a psicologia da Gestalt, na Alemanha, e a psicanlise, na ustria. Nos EUA, o funcionalismo e o behaviorismo encobriram a abordagem wundtiana. - Com o colapso econmico aps a derrota alem na I GM, as universidades ficaram falidas. A Universityof Leipzig no possua verbas. Seu laboratrio foi destrudo durante um bombardeio de americanos e ingleses. Assim, a natureza, o contedo, a forma e o lar da psicologia wundtiana se perderam. A Herana de Wundt - Wundt deu incio a um novo domnio da cincia e conduziu pesquisas no laboratrio que instalara exclusivamente para esse fim. Publicou os resultados na sua prpria revista e tentou desenvolver uma teoria sistemtica da natureza da mente humana. Alguns de seus alunos deram continuidade ao trabalho, com a criao de laboratrios, utilizando suas questes e suas tcnicas. Assim, Wundt proporcionou psicologia todos os acessrios de uma cincia moderna. - O fato de a maior parte da histria da psicologia ps-Wundt consistir de posies contrrias s limitaes por ele impostas no desvaloriza as suas contribuies. Ao contrrio, enaltece ainda mais a sua grandeza. As contestaes devem ter algum alvo, algo a ser rebatido, e o trabalho de Wundt, sendo esse alvo, proporcionou um incio magnfico e convincente para a moderna psicologia experimental. Outras Tendncias da Psicologia Alem - Os pesquisadores que no concordavam com o ponto de vista de Wundt propunham novas ideias, mas todos estavam comprometidos com a mesma coisa: a expanso da psicologia como cincia. O trabalho desses psiclogos, aliado ao de Wundt, transformou a Alemanha no centro do movimento. - Na Inglaterra, outra direo: Charles Darwin apresentava a teoria da evoluo e Francis Galton comeava a trabalhar com a psicologia das diferenas individuais. Ao chegarem aos EUA, essas ideias exerceram um impacto ainda maior sobre o rumo da psicologia do que o trabalho de Wundt.

- Alm disso, os primeiros psiclogos americanos, muitos formados sob a orientao de Wundt, em Leipzig, retornaram aos EUA e transformaram sua psicologia em algo tipicamente americano. Hermann Ebbinghaus (1850-1909) - Primeiro psiclogo a pesquisar experimentalmente a aprendizagem e a memria. Assim, no apenas demonstrou que Wundt estava errado ao afirmar ser impossvel conduzir experincias com processos mentais superiores, como tambm mudou a forma de estudo da associao e do aprendizado. - Influenciado por Fechner, resolveu aplicar na psicologia a metodologia empregada por ele na psicofsica: as medies sistemticas e rgidas. Seu objetivo era aplicar o mtodo experimental aos processos mentais superiores. Pesquisa sobre Aprendizagem - Para estudar a aprendizagem, ele comeava a anlise com a formao inicial das associaes. Dessa forma, era possvel controlar as condies sob as quais a cadeia de ideias se formava, o que tornava o estudo da aprendizagem mais objetivo. - Seu trabalho a respeito da aprendizagem e do esquecimento foi considerado um exemplo de genialidade e originalidade da psicologia experimental, j que foi o primeiro a tratar de um problema verdadeiramente psicolgico e no fisiolgico. - Para a medio bsica da aprendizagem, Ebbinghaus adaptou uma tcnica adotada pelos associacionistas, cuja proposta afirmava ser a frequncia de associaes uma condio necessria para a lembrana. Acreditava ser possvel medir, por meio da frequncia, a dificuldade de assimilao de um contedo pela contagem do nmero de repeties necessrias para a aprendizagem do material. - Como material para a aprendizagem, Ebbinghaus preparou uma lista de slabas semelhantes, mas no idnticas. Ele repetia a tarefa at se sentir seguro da exatido do resultado. Assim, cancelava os erros variveis de cada tentativa e obtinha uma medio mdia. Pesquisa com Slabas sem Sentido Slabas sem sentido: utilizado como objeto de estudo da sua pesquisa (o material a ser aprendido), eram slabas apresentadas em sries aleatrias para estudar os processos da memria. - Ebbinghaus buscava palavras diferentes das do dia-a-dia, pois as pessoas familiarizadas com a lngua j carregam consigo o significado e as associaes das palavras, e essas ligaes podem facilitar a aprendizagem do material. Ele desejava utilizar material uniforme que no contivesse associaes e que fosse totalmente homogneo e igualmente no familiar material que tivesse poucas associaes j estabelecidas. As slabas sem sentido, tipicamente formadas por duas consoantes intercaladas com uma vogal (lef, bok, yat), satisfaziam esses critrios. Escreveu em cartes todas as combinaes possveis de consoantes e vogais, das quais extraa aleatoriamente o material de estmulo a ser aprendido. - Planejou diversos experimentos usando a sua srie sem sentido de slabas para determinar a influncia das vrias condies experimentais sobre a aprendizagem e a retenes humanas. Um deles investigou a diferena entre a velocidade de memorizao das listas de slabas e a de memorizao daquelas com significados mais aparentes. Concluiu que a aprendizagem de material sem sentido e sem associaes aproximadamente nove vezes mais difcil que a de contedo conhecido.

- Tambm estudou o efeito do tamanho do material sobre o nmero de repeties necessrio para obter uma reproduo perfeita. Quanto mais longo o material a ser estudado, mais repeties eram necessrias e, assim, mais tempo para a aprendizagem. - Estudou ainda outras variveis que acreditava influenciarem a aprendizagem e a memria, por exemplo, o efeito da superaprendizagem (a repetio das listas por mais tempo do que o necessrio para obter a reproduo perfeita), as associaes entre as listas, a reviso do material e o intervalo decorrido entre a aprendizagem e a lembrana. Esta ltima originou a curva do esquecimento de Ebbinghaus, que demonstra que o material esquecido rapidamente nas primeiras horas aps a aprendizagem e mais lentamente depois disso. Outras Contribuies de Ebbinghaus Psicologia - Em 1890, Ebbinghaus e o fsico Arthur Kniglanaram a revistaJournal of Psychology and Psysiology of the Sense Organs. Em sua primeira edio, deram destaque psicologia e a fisiologia. Essas reas "tm crescido juntas para formar um todo; elas promovem e pressupem uma a outra, assim, constituem dois membros de igual importncia de uma grande dupla cincia". - importante no s no estudo da aprendizagem e da memria, ao qual deu incio, como tambm na psicologia experimental como um todo. Franz Brentano (1838-1917) - considerado um dos mais importantes psiclogos do incio da disciplina por causa da diversificao de seus interesses. Enquanto a psicologia de Wundt era experimental, a de Brentano era empirista. Embora no rejeitasse totalmente o experimentalismo, considerava a observao, e no a experimentao, o principal mtodo da psicologia. Para ele, a abordagem empirista aceitava, alm dos dados da observao e da experincia individual, os da experimentao. O Estudo dos Atos Mentais - Para ele, o prprio objeto de estudo da psicologia a atividade mental, por exemplo, o ato mental de ver, e no o contedo mental do que visto. Desse modo, a psicologia do ato de Brentano contestava a noo wundtiana de que os processos mentais envolvem contedo ou elementos. Psicologia do ato: sistema de psicologia de Brentano que se concentra mais nas atividades mentais (ex: o ato de ver) do que nos contedos mentais (ex: o ato de ser visto). - Afirmava que a distino devia ser feita entre a experincia como uma estrutura e a experincia como uma atividade. Ex: ao olhar para uma flor vermelha, o contedo sensorial do objeto vermelho diferente do de perceber ou sentir a vermelhido. Para ele, o ato de perceber a cor vermelha um exemplo do verdadeiro objeto de estudo da psicologia. A cor consiste em uma qualidade fsica, mas o ato de ver a cor uma qualidade ou atividade mental. O ato envolve necessariamente um objeto; sempre deve haver algum contedo sensorial, pois o ato de ver no tem o menor sentido sem a presena do elemento a ser visualizado. - O ato, ao contrrio do contedo sensorial, no acessvel por meio da introspeco. Portanto, foi exigido um mtodo de anlise diferente. Exigia uma observao em larga escala. Essa a razo pela preferncia pelos mtodos mais empiristas do que experimentais na psicologia do ato. Seu mtodo dependia da observao sistemtica.

- Aperfeioou duas formas de estudo dos atos mentais: 1. por meio do uso da memria (a lembrana dos processos mentais envolvidos em um determinado estado mental); 2. por meio do uso da imaginao (imaginando um estado mental e observando os processos mentais que ocorrem). Carl Stumpf (1848-1936) - Inicialmente produziu estudos a respeito da percepo espacial, mas seu trabalho de maior impacto, resultado do seu interesse pela msica, foi Psychologyoftone. Ele e Helmholtz foram considerados pioneiros no estudo psicolgico da msica. A Fenomenologia - Alegava serem os fenmenos os dados mais importantes para a psicologia. A fenomenologia, tipo de introspeco defendida por ele, refere-se ao exame da experincia imparcial, ou seja, a experincia tal qual ela ocorre. Acreditava que analisar a experincia mediante a reduo em contedo ou elementos mentais acabava tornando-a artificial e abstrata e a levava a deixar de ser natural. Fenomenologia: mtodo de introspeco que examina a experincia tal como ela ocorreu, sem tentar reduzi-la a seus componentes elementares. Tambm uma abordagem baseada em uma descrio imparcial da experincia imediata conforme ela ocorre, e no analisada ou reduzida aos elementos. - Continuou a escrever sobre msica e acstica e estabeleceu um centro para a coleta de gravaes de msicas originrias de vrios pases. Publicou a teoria da emoo, que tentava reduzir os sentimentos a sensaes, ideia importante para as teorias cognitivas contemporneas da emoo. Foi um dos psiclogos alemes a trabalhar independentemente de Wundt para expandir as fronteiras da psicologia. Oswald Klpe (1862-1915) - Inicialmente, foi seguidor de Wundt, mas acabou liderando um protesto estudantil contra as limitaes da psicologia wundtiana. Divergncias entre Klpe e Wundt - Klpe concordava com a viso de Wundt sobre a impossibilidade da anlise experimental dos processos mentais superiores. Entretanto, alguns anos depois, convenceu-se do contrrio. Se a memria passvel de anlise em laboratrio (por Ebbinghaus), por que no o pensamento? Ao formular essa pergunta, Klpe desafiava a definio de Wundt acerca do escopo (objetivo, propsito) da psicologia. A Introspeco Experimental Sistemtica - Desenvolveu um mtodo que chamou de introspeco experimental sistemtica, que envolvia, primeiro, a execuo de uma tarefa complexa (como estabelecer conexes lgicas entre conceitos) e, em seguida, a coleta dos relatos individuais sobre os processos cognitivos ocorridos durante a realizao da tarefa. Ou seja, as pesquisas realizavam alguns processos mentais, como o pensamento ou o julgamento, e depois examinavam como haviam pensado e julgado. Introspeco experimental sistemtica: mtodo de introspeco de Klpe que utilizava relatos retrospectivos de processos cognitivos das pessoas, aps terem completado uma tarefa experimental. - Sua abordagem era sistemtica porque a experincia total podia ser descrita precisamente pela sua diviso em perodos de tempo. As tarefas semelhantes eram repetidas diversas vezes, de modo que permitissem a correo, a confirmao e a ampliao dos relatos introspectivos, os quais eram complementados com mais perguntas, dirigindo a ateno do indivduo a pontos especficos.

- A introspeco de Klpedava nfase aos relatos individuais detalhados, qualitativos e subjetivos acerca da natureza dos processos de pensamento. Pedia para os participantes no s um simples julgamento da intensidade do estmulo, mas para eles descreverem as operaes mentais complexas realizadas durante a execuo da tarefa. - Sua abordagem objetivava a investigao sobre o que acontecia na mente do indivduo durante a experincia consciente. Suas metas eram expandir o conceito de Wundt sobre o objeto de estudo da psicologia para englobar os processos mentais superiores e aprimorar o mtodo de introspeco. Pensamentos sem Imagens - Wundt afirmava que toda experincia composta de sensaes e imagens, e tentava reduzir a experincia consciente a essas partes componentes. J os resultados da introspeco direta de Klpe revelaram o contrrio: o pensamento pode ocorrer sem qualquer contedo sensorial ou imagstico. Essa descoberta foi definida como pensamento sem imagens, para representar a ideia de que os significados, no pensamento, no requerem necessariamente imagens especficas e, assim, sua pesquisa identificou o aspecto no sensorial da conscincia. Pensamento sem imagens: ideia de que o significado pode ocorrer no pensamento sem qualquer componente sensorial ou imagtico. Captulo 5 Estruturalismo Edward Bradford Titchener (1867-1927) - Embora afirmasse ser seguidor de Wilhelm Wundt, E. B. Titchener alterou drasticamente o sistema de psicologia ao lev-lo da Alemanha para os EUA. Ele apresentou uma abordagem prpria (o estruturalismo), embora alegasse tratar do mesmo sistema de Wundt. O estruturalismo era completamente distinto e ficou em evidncia por cerca de 20 anos nos EUA at ser superado por movimentos mais novos. - Para Wundt, a mente era dotada do poder de organizao voluntria dos elementos mentais, posio divergente da explicao mecanicista da passividade mental sustentada pela maioria dos empiristas e associacionistas britnicos. - Titchener se concentrava nos elementos ou contedos mentais, assim como na conexo mecnica mediante o processo da associao, mas descartava a ideia da apercepo de Wundt. Para ele, a principal tarefa da psicologia era descobrir a natureza das experincias conscientes elementares determinar a estrutura da conscincia mediante a anlise das suas partes componentes. Os Experimentalistas de Titchener: Proibido para as Mulheres - Um grupo de psiclogos autodenominados "os experimentalistas de Titchener" comeou a se reunir (1904) para comparar as observaes obtidas nas pesquisas. Titchener selecionava os temas e os participantes e conduzia as reunies. Uma das regras era a proibio de participao das mulheres. - Embora exclusse as mulheres das reunies dos experimentalistas, encorajava e apoiava seu progresso na psicologia. Aceitava mulheres nos programas de psgraduao em Cornell e apoiava a contratao de professoras, ideia que muitos consideravam avanada demais. - Em 1929, dois anos aps a morte de Titchener, os experimentalistas renasceram como Sociedade de Psiclogos Experimentais, ainda ativa hoje. Admitia mulheres e tinha reunies anuais para discutir a pesquisa de seus convidados.

O Contedo da Experincia Consciente - Para Titchener, o objeto de estudo da psicologia a experincia consciente como dependente do indivduo que a vivencia. Esse tipo de experincia difere da estudada por cientistas de outras reas. Ex: tanto a fsica como a psicologia podem estudar a luz e o som. Enquanto os fsicos examinam os fenmenos do ponto de vista dos processos fsicos envolvidos, os psiclogos analisam a luz e o som com base na experincia e na observao humanas desses fenmenos. - As outras cincias no dependem da experincia pessoal. Titchener citou, como exemplo da fsica, a temperatura de uma sala que pode ser de 30C, haja ou no uma pessoa presente para senti-la. Todavia, quando h observadores que relatem sentir um calor desconfortvel, essa sensao depende das experincias individuais dos presentes. Para ele, esse tipo de experincia consciente o nico enfoque adequado para a pesquisa psicolgica. - Todo conhecimento humano derivado da experincia humana. Todavia, a experincia humana pode ser analisada a partir de pontos de vista distintos. Por exemplo, tomamos dois pontos de vista, os mais distintos possveis. Em primeiro lugar, consideramos a experincia como um todo, independente de qualquer pessoa em particular; e que ela ocorra, haja ou no algum para vivencia-la. Em segundo lugar, consideraremos a experincia como um todo dependente de uma pessoa em particular; e que ela ocorra apenas quando h algum presente para vivenci-la. - Para comear, tomemos os trs primeiros conceitos da fsica: o espao, o tempo e a massa. Os trs so constantes e sua unidade de medio (cm, s, g) so os mesmos em qualquer parte. Esses casos de experincia so considerados independentes da pessoa que os vivencia. - Passemos, ento, para a viso que considera a experincia dependente da pessoa que a vivencia. A hora em que voc passa no saguo de espera de uma estao e a hora que voc passa assistindo a uma pea interessante so fisicamente idnticas. Mas, para voc, a hora na primeira situao passa devagar e na outra, rapidamente; no so iguais. Pegue duas caixas circulares de papelo com dimetros diferentes e jogue areia dentro delas at as duas pesarem 50g, por exemplo. As duas massas so fisicamente idnticas. Para voc, ao levantar as duas caixas, uma em cada mo, ou ao levant-las uma de cada vez com a mesma mo, a caixa de menor dimetro ser consideravelmente mais pesada. Temos aqui a experincia de espao, tempo e massa considerada dependente da pessoa que a vivencia. A primeira perspectiva apresentanos fatos e leis da fsica; a segunda, fatos e leis da psicologia. - Considerando trs temas bsicos discutidos na fsica, o calor consiste na dana das molculas; a luz, no movimento de ondas do espao celeste e o som, no movimento de ondas do ar. O universo da fsica, no qual essas experincias so consideradas independentes das pessoas que a vivenciam, no h calor nem frio, escurido nem luz, silncio nem rudo. Somente quando as experincias so consideradas dependentes de algum individuo que existem o calor e o frio, o preto e o branco, tons, assobios e estampidos. E esses so os objetos de estudo da psicologia. Erro de estmulo: confuso entre o processo mental que est sendo estudado e o estmulo ou objeto que est sendo observado. Ex: o observador que v uma ma e a descreve apenas como a fruta ma em vez de descrever elementos como a cor, o brilho e a forma que est observado, comete o erro de estmulo. O objeto da

observao no deve ser descrito na linguagem cotidiana, mas em termos do contedo consciente elementar da experincia. - Quando o observador concentra-se no objeto de estmulo e no no contedo consciente, no faz distino entre o conhecimento adquirido no passado em relao ao objeto (por exemplo, que o nome do objeto ma) e a prpria experincia imediata e direta. Ao descrever outras caractersticas que no sejam a cor, o brilho e o formato (que qualquer um sabe), em vez de observar o objeto, o observador o est interpretando. Trata-se, assim, da experincia mediata, e no da imediata. - Para ele, a conscincia a soma das experincias existentes em determinado momento. A mente a soma das experincias acumuladas ao longo do tempo. As duas so semelhantes, apenas com a diferena de que a conscincia envolve os processos mentais que ocorrem em determinado momento, e a mente, o total desses processos. - A psicologia, em sua viso, no se preocupava com a aplicao do conhecimento psicolgico e no se prope a curar mentes doentias nem a reformar a sociedade. Seu nico propsito legtimo descobrir os fatos estruturais da mente. Introspeco - Empregava a introspeco (ou auto-observao) com base em observadores rigorosamente treinados para descrever os elementos no seu estado consciente, em vez de relatar o estmulo observado ou percebido, utilizando apenas nomes conhecidos. - Adotou a mesma definio de Klpe para descrever seu mtodo, introspeco experimental sistemtica. Utilizava relatos detalhados, subjetivos e qualitativos das atividades mentais dos indivduos durante a introspeco. - Divergia de Wundt porque estava interessado em analisar a experincia consciente complexa a partir das partes componentes, e no a sntese dos elementos mediante a apercepo. - O esprito da filosofia mecanicista tambm o influenciou, como se pode ver na imagem que ele tinha dos observadores que lhe forneciam dados. Eram chamados de reagentes, substncia utilizado por qumicos que so utilizadas para detectar, examinar ou medir outras substncias. Ele normalmente passivo, ou seja, usado para provocar reaes nas outras substncias. - Portanto, Titchener enxergava os observadores humanos como instrumentos mecnicos de registro, que reagiam e respondiam de forma objetiva s observaes das caractersticas do estmulo observado. As observaes treinadas se tornariam to mecanizadas e habituais que os observadores no perceberiam mais se estavam realizando um processo consciente. - Se os observadores eram considerados mquinas, no faltava muito para generalizar o conceito a todo ser humano, o que mostra a contnua influncia da viso mecnica do universo de Galileu e Newton. A imagem do homem como mquina caracterizou a psicologia experimental at a 1 metade do sc. XX. - Sua proposta consistia na abordagem experimental para a observao introspectiva na psicologia. Ele obedecia rigorosamente s normas da experimentao cientfica (repetio, isolamento e variao). - A introspeco realizada pelos reagentes ou observadores de seu laboratrio era baseada em vrios estmulos, proporcionando observaes extensas e detalhadas dos elementos de suas experincias.

- Ex: uma palavra falada em voz alta. Pedia-se ao reagente que observasse o efeito que esse estmulo produz sobre a conscincia: como a palavra afeta a pessoa, que ideias vm mente, etc. Os Elementos da Conscincia - Titchener apresentou trs propostas bsicas para a psicologia: 1. reduzir os processos conscientes aos seus componentes mais simples; 2. determinar as leis de associao desses elementos da conscincia; 3. conectar os elementos s suas condies fisiolgicas. - Suas metas para a psicologia estrutural coincidem com as das cincias naturais. Depois de decidir a parte do universo natural que desejam estudar, os cientistas tentaram descobrir seus elementos para demonstrar como eles compem um fenmeno complexo e para formular as leis que os governam. A parte principal de sua pesquisa dedicava-se a descobrir os elementos da conscincia. - Definiu trs estados elementares da conscincia: o estado da sensao, o da imagem e os estados afetivos. As sensaes so elementos bsicos da percepo e esto presentes nos sons, nos cheiros e nas experincias provocadas pelos objetos fsicos do ambiente. As imagens so elementos das ideias e esto no processo que reflete as experincias no realmente presentes no momento, como a lembrana. Os estados afetivos, ou as afeies, so elementos da emoo e encontram-se nas experincias como o amor, o dio e a tristeza. - Apresentou a lista dos elementos da sensao descobertos nas suas pesquisas: cerca de 44.500 qualidades sensoriais individuais, sendo 32.820 visuais e 11.600 auditivas. Cada elemento consciente e distinto dos demais, e pode haver a combinao entre eles para formar as percepes e ideias. - Os elementos mentais podem ser categorizados. Apesar de sua simplicidade, eles so dotados de atributos distintivos. Alm de qualidade e intensidade definidos por Wundt, Titchener adicionou a durao e a nitidez. As quatro so caractersticas fundamentais j que esto em todas as experincias. Qualidade a caracterstica, como "frio" ou "vermelho", distingue um elemento de todos os demais. Intensidade refere-se a fora, fraqueza, sonoridade ou brilho de uma sensao. Durao o curso da sensao ao longo do tempo. Nitidez refere-se funo da ateno na experincia consciente; uma experincia no foco da nossa ateno mais ntida do que a que no seja alvo da nossa ateno. - Sensaes e imagens so dotados dos quatro atributos, enquanto as afeies possuem apenas trs: qualidade, intensidade e durao. Titchener acreditava ser impossvel concentrar a ateno diretamente em um elemento de emoo ou sentimento. Quando tentamos faz-lo, a qualidade afetiva, como a tristeza ou a satisfao, desaparece. Alguns processos sensoriais, especialmente a viso e o tato, so dotados de extenso, j que envolvem a noo espacial. - Todo processo consciente pode ser reduzido a um desses atributos. - Titchener rejeitava a teoria tridimensional dos sentimentos de Wundt. Alegava estar o afeto presente em apenas uma dimenso prazer/desprazer e rejeitava as outras duas dimenses. - Ao final de sua vida, tratou a psicologia sob uma nova perspectiva, de forma mais flexvel e abrangente. Entretanto, no viveu tempo suficiente para implementar suas novas ideias.

Crticas ao Estruturalismo - Muitos psiclogos consideraram a psicologia estrutural uma tentativa ftil de ater-se a princpios e mtodos antiquados. Titchener acreditava que estava estabelecendo uma base para a psicologia, no entanto seus esforos fizeram parte apenas de uma fase da histria da disciplina. O estruturalismo morreu juntamente com Titchener. Crticas a Introspeco - As crticas mais relevantes estavam voltadas ao tipo de observao praticada nos laboratrios de Titchener e Klpe, que lidava com relatos subjetivos de elementos da conscincia (j o mtodo de percepo de Wundt lidava com reaes mais objetivas e quantitativas ao estmulo externo). - Immanuel Kant: declarou que qualquer tentativa de introspeco altera a experincia consciente observada, porque introduzia uma varivel de observao no contedo da experincia consciente. - Auguste Comte: alegou que, se a mente fosse capaz de observar as prprias atividades, teria de se dividir em duas partes: uma observadora e outra observada, e, para ele, isso era impossvel. - Henry Maudsley: afirmou que, se houver concordncia entre os observadores da introspeco, deve-se ao fato de eles estarem rigorosamente treinados e, asism, produzirem observaes parciais. Devido extenso patolgica da mente, o autorrelato dotado de pouca credibilidade. - O segundo alvo das crticas sua metodologia estava relacionado com a tarefa que os observadores estruturalistas eram treinados para executar. Eram instrudos a ignorar algumas classes de palavras ("palavras com significado") que faziam parte do seu vocabulrio. Ex.: a frase "Vejo uma mesa" no era dotada de significado cientfico para o estruturalista, j que a palavra "mesa" possui significado, com base no conhecimento estabelecido, relacionado com a combinao de sensaes que aprendemos para identificar e chamar o objeto de mesa. O interesse do estruturalista no se concentrava no conjunto das sensaes resumido na palavra com significado, mas nas formas bsicas especficas da experincia. Os observadores que respondiam "mesa" estavam cometendo o erro de estmulo. - Para descrever as experincias, seria necessrio desenvolver uma linguagem introspectiva. Dois observadores teriam de vivenciar experincias idnticas e produzir resultados que se corroborassem mutuamente. Com a realizao dessas experincias, praticamente idnticas sob condies controladas, teoricamente seria possvel desenvolver um vocabulrio de trabalho com palavras sem significado. - A ideia da criao da linguagem introspectiva nunca se concretizou. Havia muita discordncia entre os observadores, mesmo quando as condies eram extremamente controladas. - Os crticos tambm alegavam ser a introspeco, na verdade, uma forma de retrospeco, porque havia um intervalo entre a experincia e o seu relato. Ebbinghaus j demonstrara que a taxa de esquecimento mais elevada imediatamente aps a experincia. Os estruturalistas respondiam a crtica de duas formas: 1) alegando que os observadores trabalhavam com o mnimo intervalo; 2) propondo a existncia de uma imagem mental primria que supostamente mantinha a experincia na mente at que pudessem relat-la. - Alm disso, o ato de examinar a experincia de forma introspectivapode, de algum modo, alter-la. Ex: analisar um estado consciente de ira. No processo racional de

prestar ateno e tentar dividir a experincia em suas partes componentes, a ira provavelmente diminuiria ou desapareceria. No entanto, Titchener afirmava que seus observadores treinados continuariam a realizar automaticamente a observao, sem alterar conscientemente a experincia. Mais Crticas ao Sistema de Titchener - O movimento estruturalista foi acusado de artificial e estril na tentativa de analisar os processos conscientes a partir dos elementos bsicos. Os crticos afirmavam no ser possvel resgatar a totalidade da experincia partindo posteriormente de qualquer associao ou combinao das partes elementares. A experincia no ocorria na forma de sensaes, imagens ou estados afetivos individuais, mas em uma totalidade unificada. Parte da experincia consciente perde inevitavelmente em qualquer esforo artificial de anlise. Contribuies do Estruturalismo - Seu objeto de estudo a experincia consciente era claramente definido. Seus mtodos de pesquisa (observao, experimentao e medio) eram cientificamente os mais tradicionais. - Embora o objeto de estudo e os propsitos dos estruturalistas no sejam mais fundamentais, o mtodo de introspeco, mais amplamente definido como relato oral baseado na experincia, ainda empregado em diversas reas da psicologia. - Os relatrios introspectivos que envolvem processos cognitivos como o raciocnio so frequentemente usados na psicologia atual. Os relatos verbais baseados na experincia pessoal so formas legtimas de coleta de dados. A introspeco, embora diferente daquele visto por Titchener, permanece viva e ativa. -Outra contribuio do estruturalismo foi ter servido de alvo de crticas. Os avanos cientficos demandam a existncia de uma oposio. Com o estruturalismo de Titchener sendo alvo de oposio, a psicologia superou seus limites iniciais.

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