Plantas Tintureiras

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Plantas Tintureiras

Dye Plants

Maria Do Carmo Serrano1, Ana Carreira Lopes2, Ana Isabel Seruya3

RESUMO Existe uma vasta bibliografia, at ao sc. XVIII, sobre plantas produtoras de corantes naturais, sendo que apenas um nmero limitado foi utilizado no tingimento de txteis antigos, devido capacidade de resistncia lavagem e ao desvanecimento. O cultivo de plantas ou a sua existncia no mundo silvestre tiveram uma enorme importncia scio-econmica para muitas comunidades espalhadas pelo mundo e pelas intensas trocas comerciais que geraram. A extraco dos corantes era feita a partir de diferentes partes de plantas ou rvores. Nalgumas plantas eram utilizadas as folhas, enquanto noutras se aproveitavam as flores, as razes, os frutos, troncos ou sementes. Os corantes podiam ser extrados atravs de processos complexos que envolviam diversas operaes como macerao, destilao, fermentao, decantao, precipitao, filtrao, etc. Neste mbito, so apresentadas algumas das plantas cultivadas em Portugal e em muitos outros pases europeus e que foram usadas em tinturaria.

Este trabalho pretende ser um contributo para obstar perda de conhecimentos das condies de cultivo e da forma como se maximizava a produo de corantes. Palavras-chave: Plantas tintureiras, corantes, extraco, purificao, tingimento.

ABSTRACT A vast bibliography exists, until the 18th cen-tury, on natural dyes obtained from plants, but only one limited number was used in the dyeing of old textiles, due to capacity of resistance to wash and light fading. The culture of plants or its existence in the wild world had an enormous economical importance for many communities spread for the world, and the intense commercial exchanges that had generated. The extraction of dyes was done from different parts of plants or trees. In some plants was used the leaves, others, only the roots, the fruits, trunks or seeds. The dyes could be extracted through complex processes that involved various operations as maceration, distillation, fermentation, decantation, precipitation, filtration, etc. In this scope, some of the plants cultivated in Portugal are presented and in many other European countries and that they had been used on dyeing. This work intends to contribute to the loss knowledge of the conditions of culture and to the form of how it was maximized the production of dyes. Key-words: Dye plants, extraction, purification, precipitation, filtration, dyeing.

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 nstituto Nacional dos Recursos Biolgicos, I L-INIA [email protected] Av. da Repblica, Quinta do Marqus 2784-505 OEIRAS 2 Universidade da Beira Interior Departamento de  Qumica 6201-001 COVILH 3 Instituto Portugus de Conservao e Restauro  Rua das Janelas Verdes, 37 1249-018 Lisboa

Recepo/Reception: 2007.06.25 Aceitao/Acception: 2007.07.18

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INTRODUO Desde sempre que o Homem foi atrado pelas mais variadas cores, produzidas pela natureza, o que ter levado a querer aplic-las como matrias corantes nos txteis (Feller, 1986) que produzia. Foi tal a importncia que veio a caracterizar esta actividade, que a histria nos revela que o processo de extraco de corantes vegetais fez parte integrante da vida humana desde tempos ancestrais e que se transformou mesmo numa importante actividade econmica em vrias culturas e civilizaes. As substncias corantes eram obtidas a partir de flores, sementes, frutos, cascas, madeiras e razes de plantas atravs de diversos processos fsico-qumicos cujo objectivo era a obteno de uma substncia que fosse solvel no meio lquido onde era mergulhado o material a tingir. As cores obtidas directamente da natureza podiam ser divididas em duas categorias: as muito caras, devido dificuldade de obteno e necessidade de tintureiros experientes, e as menos dispendiosas, fceis de obter por extraco da flora local. Assim, as cores mais requisitadas, enquanto elementos diferenciadores de um estatuto social elevado, eram a prpura, o azul, e certos tons de vermelho. A utilizao destas cores requeria a habilidade de tintureiros e artesos com conhecimento dos mtodos de extraco e fixao, normalmente secretos, e que foram sendo transmitidos entre vrias geraes de tintureiros. Neste contexto, vrios foram os factores que influenciaram a cor do vesturio medieval e renascentista, de entre os quais se citam os demorados e extensos processos de tingimento e a necessidade de mode-obra especializada, que na maioria das vezes levavam a resultados desiguais. Da que, embora as classes mais desfavorecidas tivessem acesso e pudessem dispor de uma variedade de cores, provenientes de fontes vegetais mais baratas, existentes na flora local, as cores vermelha, prpura, e a maioria de tons de azul no se encontravam,

certamente, entre elas, tal como acontecia com o verde, o cor-de-rosa, o cor-de-laranja, o cinzento, o amarelo ou o dourado. Assim, a cultura e o comrcio de plantas e animais raros, mas preciosos como substncias corantes, tiveram sempre enorme importncia socio-econmica para muitas comunidades espalhadas pelo mundo. A partir de 1690, os procedimentos utilizados para tingir, eram artesanais e semi-industriais e eram realizados atravs de normas que estabeleciam quais as plantas que poderiam ser utilizadas para obter uma determinada cor. Neste contexto, com o tempo, tornou-se possvel produzir um alargado leque de cores, utilizando as mesmas substncias corantes naturais, com recurso utilizao de diferentes sais metlicos, que veio preencher a necessidade humana de dominar e utilizar a cor na arte, nos ofcios, nas manifestaes rituais, enfim, em mltiplas situaes quotidianas. O objectivo global deste trabalho consistiu no estudo de algumas plantas tintureiras mais utilizadas como corantes para tingir txteis, em Portugal, entre os sculos XVI e XVIII. Estas plantas, pertencentes a famlias muito diversas, foram produzidas nos territrios nacionais e tiveram grande importncia na economia da poca.

Tingimento de vermelho Garana Histria do uso A arte de tingir com a garana, ou granza, tambm designada por ruiva-dostintureiros-da-ndia, (Rubia cordifolia L.) parece ter tido origem no Oriente e, atravs dos imprios egpcio e persa, ter atingido a civilizao greco-romana. O nome vulgar ruiva atribuda a vrias espcies de Rubia que podem ser utilizadas em tinturaria, mas a mais importante a Rubia tinctorum L. (Figura 1) que foi cultivada desde a antiguidade. Era um corante muito popular no

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Mdio Oriente tendo sido identificado em tecidos encontrados no s em tmulos egpcios, como tambm no deserto da Judeia (Forbes, 1964). O tingimento com a ruiva permitia obter tecidos de um vermelho intenso e brilhante, especialmente em fibras de algodo e linho, conhecido por vermelho-da-turquia (Turkey red), processo no qual o clcio incorporado no complexo do corante, sem paralelo com outros corantes vermelhos. A alizarina foi o primeiro corante a ser sintetizado na segunda metade do sculo XVIII, o que levou a que o material natural rapidamente desaparecesse do mercado. Em Portugal, no Regimento da Fbrica dos panos de 1690, referida a utilizao de granza para tingir de vermelho podendo ser adicionado pau-brasil para obteno de outros tons de vermelho.

que foi introduzida na ndia como uma fonte corante de qualidade superior. Na cultura desta planta, com o intuito de aumentar o contedo de corante, foram feitos esforos para aumentar o volume das suas razes, o qual depende no s do tipo de planta mas, sobretudo, do tipo de solo. Para se obter um alto teor de corante nas razes, necessrio um solo alcalino (rico em clcio), pelo que frequente efectuar-se uma calagem e adicionar substratos calcrios (Fao, 2006) aos solos onde feita a cultura desta planta. Nos Pases Baixos, produtores importantes, o cultivo era rigorosamente regulamentado. Obteno da matria corante Aps a colheita, as razes eram secas em grandes celeiros com ar quente. A casca eralhes retirada e a camada contendo o corante era moda, comprimida e crivada. A partir da, vrias qualidades de garana ficavam assim disponveis com granulometrias mais ou menos finas (Karr, 1936), sendo a de melhor qualidade aquela em que a casca e a parte lenhosa da raiz eram removidas. As razes secas sem esta separao constituam uma categoria secundria. Os resduos do processo de separao eram vendidos com qualidade inferior sob o nome de mul. Os Forais contem inmeros regulamentos referentes indstria do vesturio com o intuito de exigir a melhor qualidade para o tingimento dos tecidos. Nas razes da garana-europeia (Rubia tinctorum L.) encontra-se uma mistura complexa de antraquinonas, sendo maioritrias a alizarina, a purpurina, a pseudopurpurina, e (Tabela 1) glucsidos de alizarina cido rubieritrico, mas a separao e purificao destes produtos requer primeiro uma hidrlise dos percursores glucsidos existentes nas razes. O cido rubiertrico hidrolisado em alizarina e glucose por aquecimento com cido mineral diludo. Com o tempo a pseudopurpurina descarboxila, em purpurina, quando a raiz seca armazenada. No entanto, este processo alm de no ser muito rpido

Figura 1 Rubia tinctorum L.

A garana, Rubia tinctorum L., uma planta herbcea perene, cujas razes so usadas em tinturaria, distribuda por uma vasta rea geogrfica, que se encontra naturalmente no Sudeste da Europa at Oeste dos Himalaias. As razes de certas espcies foram exploradas como fonte de corante para tingir txteis. Para alm da espcie asitica (garana-indiana - Rubia cordifolia L.), a garana-europeia (Rubia tinctorum L.) foi a mais importante para a produo comercial, e de tal forma,

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no completo. A purpurina presente no corante forma-se durante o processo de secagem da planta, sendo diminuta a quantidade existente naturalmente na planta, e considerada um produto indesejvel na alizarina extrada da ruiva, pelo que lhe diminui o valor comercial. Mtodo de tingir As substncias tintureiras provenientes das vrias espcies de Rubia pertencem ao grupo dos corantes ao mordente que precisam de um tratamento prvio com um sal metlico. Os sais metlicos mais usados so o almen e alguns compostos de ferro. Em muitos procedimentos recomendado, o uso de sais de clcio especialmente quando se pretende conseguir uma colorao mais rpida e um maior brilho. A alizarina origina uma cor vermelha intensa aps converso numa laca insolvel, pela adio de almen e de uma base. A adio de diferentes mordentes no tingimento da l, seda, algodo e linho com a garana, permitia obter vrias cores. Estas tonalidades podiam variar entre vermelho, rosa, laranja, lils e castanho. Assim, com a aplicao de sais de alumnio podiam obter-se azuisavermelhados; com sais de cobre obtinhase a prpura escura, com sais de estanho e almen conseguia-se o laranja-amarelado e o vermelho alaranjado-escuro produzia-se com o mordente de cobre (Tabela 1). Outras rubiceas corantes Por outro lado, existem outras plantas tintureiras que contm alizarina e antraquinonas

como principais corantes, nomeadamente as pertencentes a outras espcies de Rubia e aos gneros Galium, Relbunium, Morinda e Oldenlandia (Graff, 2004). Para alm da alizarina, as Rubiceas, apresentam outras substncias corantes, nomeadamente a munjistina, a pseudopurpurina, a purpurina, a xantopurpurina e a rubiadina. A presena ou ausncia de uma ou mais destas substncias e a proporo entre elas, indicam qual o material vegetal que foi utilizado (Wouters, 2001). No gnero Relbunium so esperados, principalmente, a xantopurpurina, munjistina, purpurina e pseudopurpurina. A ausncia de alizarina em espcies do gnero Relbunium tpica e representa uma diferena decisiva entre a Rubia tinctorum (Europeia) e as espcies de Relbunium. Embora diversas variedades de Rubiceas tenham sido usadas como tintureiras por todo o mundo, apenas as mais conhecidas e melhor investigadas so referidas por Wouters (2001). Aafro-bastardo Histria do uso O aafro-bastardo (Carthamus tinctorius L. - Figura 2) usado desde a antiguidade para tingimentos vermelhos. Referencia-se que antes do sc. XVIII o aafro no foi importado pela Europa (Levey, 1955), no entanto, no incio do sc. XVII, podem ser encontrados vrios textos, com descries que o mencionam. O uso do aafro vermelho foi muitas vezes interdito por regulamentos municipais. No entanto, para txteis mais

Tabela 1 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios da garana (Cardon, 1990).

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baratos, algodo e linho, o uso desta espcie parece ter sido usado frequentemente.

Figura 2 Carthamus tinctorus L.

O aafro-bastardo uma planta herbcea anual (um cardo), bem adaptada s condies temperadas e subtropicais. uma erva de caule esbranquiado e folhas alternas espinhosas. nativa do oeste da sia, sendo cultivada na China, ndia, Prsia, Egipto e Europa do Sul, incluindo Portugal, na zona do Algarve, onde conhecida por aaflor. Apesar de ter sido suplantada pelo lrio-dos-tintureiros, ainda continua a ser a mais utilizada na sia Menor, onde existem diferentes variedades. Obteno da matria corante Os captulos das flores so colhidos completamente frescos para serem cuidadosamente secos sombra (a luz directa destri a substncia corante). Ficando cor-de-laranja. Antes do tingimento, as ptalas so primeiro amassadas com gua para se remover a substncia corante amarela, que solvel em gua, prensando-se depois a massa em forma de bolos e colocando-se a secar. O tradicional mtodo indiano de processamento de secagem das flores inicia-se com a remoo dos pigmentos amarelos solveis em gua, envolvendo repetidas lavagens em gua acidificada durante vrios dias.

Existem duas qualidades no mercado: lavado e no lavado. A variedade europeia no lavada e menos valiosa, mas as variedades persas, de melhor qualidade, tal como as egpcias e de Bengala so lavadas. O corante obtido das flores amareloavermelhadas por lavagem em gua. A matria corante formada pela cartamina (Fao, 2006) (Tabela 2) e pela cartamona. Alm de cartamina, o aafro-bastardo contm o aafro-amarelo solvel em gua e aafro A e B, cuja composio ainda desconhecida. No processo primrio tradicional, os ltimos pigmentos so deliberadamente removidos das flores da planta de aafro por lavagem em gua, de modo a permitir a utilizao desejada como corante vermelho do material. A variedade vermelha escura contm principalmente cartamina vermelha; a variedade amarela contm neocartamidina e menos cartamina, enquanto que a variedade laranja contm cartamona, bem como cartamina. A cartamina no solvel em gua sendo apenas parcialmente solvel em lcool etlico e metlico. insolvel em ter. Dissolve-se com uma cor laranja, a frio, em hidrxidos alcalinos diludos, carbonato de sdio e amonaco, e precipitada em solues alcalinas por cidos. Com o cido sulfrico origina uma soluo vermelha turva que, depois de aquecida a 100C, origina com gua um precipitado violeta, que solvel em solues alcalinas, com uma colorao verde. A cartamina muito sensvel hidrlise e convertida numa cartamina sem cor (Schweppe, 1986). Mtodo de tingir Vermelho Antes do tingimento, as ptalas de aafro bastardo so lavadas com gua at a substncia corante amarela estar completamente removida. A massa residual tratada com uma soluo alcalina para extrair a substncia corante (cartamina). As ptalas do aafro bastardo so filtradas e o filtrado neutralizado com um cido fraco.

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Tabela 2 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do aafro-bastardo (Harbone, 1988).

O linho e o algodo podem ser corados directamente nesta soluo corante. So produzidos lindos vermelhos e rosas, que so, no entanto, de fraca estabilidade luz. No caso da seda, muitas vezes adicionado almen. Amarelo O extracto aquoso das ptalas de aafro bastardo pode ser usado em seda ou l que, quando mordentadas com almen, origina amarelo alaranjado e, quando o mordente o cobre, obtm-se acastanhado e acastanhadoescuro (Schweppe, 1986).

desde aquela poca, em rochas e penedos nos arquiplagos atlnticos e, particularmente, nos Aores e Cabo Verde. A sua explorao econmica foi uma importante fonte de rendimento para os Aores, tendo atingido o seu apogeu no sculo XVI (Faria, 1991). A urzela um lquen que apresenta a cor verde-acinzentada. O espao geogrfico de localizao deste lquen foi muito ampliado desde aquela poca, sendo a Roccella tinctoria a que se pode encontrar nas ilhas Canrias, nos Aores, Madeira, Marrocos, e nas ilhas de Cabo Verde, nas costas frica Ocidental e do Sul.

Lquenes que tingem de vermelho Urzela Histria do uso A urzela (Roccella tinctoria DC.- Figura 3), outra planta tintureira cujo conhecimento na arte do tingimento muito antigo (possivelmente desde a civilizao mesopotmica) sendo referido por Theophrastus, filsofo e naturalista grego (371-287 a. C.) como originando uma cor muito mais bela do que a prpura. A partir deste lquen preparava-se uma tintura cuja cor era de um vermelho-violceo. Desde muito cedo, foi referida nas viagens atlnticas do sc. XV, tendo sido colhida

Figura 3 Roccella tinctoria.

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Obteno da matria corante A orcena preparada colocando os lquenes durante dois dias em solues de amonaco (antigamente era utilizada a urina como fonte de amonaco), misturados com cal apagada e deixados em fermentao durante seis semanas. Depois desta macerao amoniacal e fermentao obtm-se a substncia corante, a orcena. O princpio corante extrado da urzela uma substncia incolor, o cido lecanrico, que convertido aps oxidao em orcena, uma substncia cristalina de cor vermelhoacastanhado (Figura 4), sendo portanto obtida de diferentes variedades de lquenes da famlia das Roccellaceae. A orcena uma mistura de hidroxi-orcenas, amino-orcenas e amino-orceniminas. A Tabela 3 apresenta as estruturas qumicas dos principais com-

ponentes da orcena e em que e se referem a ismeros do mesmo composto. Como a orcena um corante txico o seu uso foi proibido na Unio Europeia. Mtodo de tingir Com este corante tingia-se a l e seda, directamente em tons de vermelho, castanho e azulado at violeta. Mordentados com sais de estanho permitia a obteno de tons vermelhos e com almen originava os tons violetas. Este corante muito pouco slido e era utilizado para imitaes de prpura j na Roma Antiga atravs da utilizao em conjunto com outros corantes, obtidos em diferentes banhos, para economizar os corantes mais dispendiosos como o quermes, a cochonilha.

Figura 4 Obteno da orcena (Stainsfille, 2006).

Tabela 3 Estrutura qumica dos constituintes da urzela (Stainsfille, 2006).


Frmula qumica

-amino orcena

-hidroxi orcena

-amino orcena

-hidroxi orcena

-amino orceinimina

-amino orcena

-hidroxi orcena

-amino orceinimina

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Madeiras corantes Pau-brasil Histria do uso Desde a Idade Mdia at ao sc. XVIII o pau-de-sapam desempenhou um papel muito importante como corante vermelho para tx-teis. Era obtido originalmente do cerne da madeira Caesalpinia sappan L., uma pequena rvore originria do sudoeste da sia, tendo sido introduzida na China (Faria, 1991). Com a descoberta do continente americano, foram encontradas outras espcies de rvores que tambm forneciam um corante vermelho de qualidade superior e que veio substituir o que provinha da ndia. O pau-brasil foi o primeiro recurso comercivel detectado pelos Portugueses no continente americano, num espao inicialmente baptizado de Terra de Vera Cruz. O seu nome vulgar, pau-brasil, ficou ligado maior Nao de lngua portuguesa. Do pau-brasil obtinha-se um extracto vermelho que era utilizado em tinturaria, para tingir de vermelho, e competindo com outras matrias-primas tintureiras produtoras dessa cor, nomeadamente a gr (obtido da cochonilha), o quermes, a rbia, o sanguede-drago, etc. A sua utilizao como matria corante em tinturaria foi, a partir do fim sc. XVII, interdita e, nalguns casos, vigiada (Regimento da fbrica dos panos de 1690).

Ao longo dos anos, tm sido citadas como provenientes de vrios pases as espcies Caesalpinia echinata Lam. (Figura 5) proveniente do Brasil, a C. violacea (Mill.) Standl. proveniente da Jamaica, Guatemala, Mxico, Carabas e Cuba e a Haematoxylyum brasiletto H. Karst. originria da Venezuela, Colmbia e Califrnia, como fontes de madeiras que forneciam corantes vermelhos conhecidos pau-brasil. As madeiras vermelhas podem ser divididas em dois grupos de acordo com a solubilidade das substncias corantes presentes nas madeiras. As substncias corantes insolveis em gua contm santalina como principal matria corante. A madeira de sndalo (Pterocarpus santalinus L. f.), nativa da ndia e tambm conhecida como sangue-de-drago, a madeira vermelha de Angola e a madeira vermelha da frica Ocidental, pertencem a este grupo (Fao, 2006). A brasilna, um composto neoflavonide, a principal matria corante das madeiras vermelhas solveis. A este grupo de corantes da madeira pertencem o pau-brasil, o paude-pernambuco, o pau-da-jamaica, o pauda-nicargua, que so os mais conhecidos e frequentemente usados em vrias partes do mundo. Obteno da matria corante De acordo com vrios processos, para extraco do corante em p, os troncos do pau-brasil eram divididos em pequenas pores e raspados. Um dos processos mais utilizados era complexo, mas originava um produto puro de boa qualidade. Consistia em evaporar em calor brando e at secura um cozimento de pau-brasil. O resduo era dissolvido em gua e o lquido resultante filtrado e agitado com xido de chumbo. A mistura era evaporada secura em banho-maria e a matria resultante era, ento, posta em digesto com lcool etlico a 90%, durante 24 horas. A soluo alcolica era filtrada e evaporada em lume brando at o lquido obter uma consistncia

Figura 5 Caesalpinia echinata Lam.

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Tabela 4 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do pau-brasil (Stainsfille, 2006).

Parte usada: cerne da madeira


h ho

Frmula qumica
oh

o ho oh

Brasilina
xaroposa. Nessa fase era diluda com gua qual era adicionada gelatina. Procedia-se a uma nova filtragem e recuperava-se o corante da gelatina tratando-o com lcool, onde este solvel, no dissolvendo a gelatina. Aps uma ltima filtragem a soluo alcolica era evaporada secura, obtendo-se finalmente o corante que era utilizado na tinturaria do algodo, da seda e da l. A principal substncia corante a brasilina est presente em quase todas as madeiras vermelhas solveis. A substncia corante um neoflavonide que oxidada por um processo de fermentao e oxignio em brasilena (Tabela 4). Esta solvel em gua, lcool etlico, ter etlico e solues alcalinas. Dissolve-se para originar uma cor amarela que se transforma gradualmente em vermelho, mas no facilmente solvel nos vulgares solventes orgnicos. Em solues alcalinas dissolve-se com uma colorao vermelho plido, que se torna castanha quando exposta ao ar. Dissolve-se em cido sulfrico concentrado com uma colorao amarela baa e uma fluorescncia esverdeada. Mtodo de tingir Existiam dois mtodos que se utilizavam vulgarmente no tingimento dos txteis: o da madeira cortada, onde a matria corante j tinha sido oxidada, e era colocada num recipiente e o do corante que extrado com gua morna, onde o lquido era uma soluo corante concentrada. Este corante tingia a l, seda e algodo, em

Brasilena
tons alaranjados, com mordentes metlicos de estanho e almen, tons acastanhados, com mordentes de crmio e cobre. Sabe-se que estes tingimentos desvaneciam muito. Dragoeiro Histria do uso O termo de sangue-de-drago foi aplicado desde pocas antigas resina colorida vermelha obtida a partir de diferentes espcies de plantas de quatro gneros distintos: Croton, Dracaena, Daemonorops e Pterocarpus provenientes de vrias origens geogrficas, respectivamente da Amrica do Sul, do Sudeste Asitico e do Mdio Oriente. No comrcio externo portugus no sculo XV, o sangue-de-drago foi uma das matrias-primas tinturiais utilizadas e surgia ao lado da gr, de produo continental, nas listas de produtos exticos exportados pelos portugueses para a Europa (Faria, 1991). O sangue-de-drago atingia elevados preos, em tinturaria, constituindo nos tempos iniciais de povoamento europeu das ilhas dos Aores, Cabo Verde, Madeira, Canrias e Ilhas selvagens um importante produto de exportao. Dracaena draco L. apresenta como nome comum dragoeiro (Figura 6), uma planta originria de ilhas Macaronsicas no Oceano Atlntico norte perto da Europa e do norte de frica.

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um alcalide a taspina. inodora, inspida, dura, frivel e inflamvel. solvel em lcool, ter e leos. tambm utilizada no preparo de vernizes alcolicos para produzir uma cor vermelho rubi (Langenheim, 2003). Plantas que tingem de amarelo Lrio-dos-tintureiros Histria do uso Antes da descoberta da Amrica, em 1492, era o corante mais usado na Europa Ocidental. Existem dvidas quanto introduo do lrio-dos-tintureiros na Europa, embora haja fortes possibilidades de ter sido introduzido no Imprio Romano. Depois da descoberta da Amrica o lrio-dos-tintureiros (Figura 7) foi ali introduzido, podendo ser encontrado ao longo das costas colonizadas.

Figura 6 Dracaena draco L.

O dragoeiro pertence classe Liliopsida, ordemAsparagales, famlia das Dracaenaceae, sendo comum nos arquiplagos atlnticos das Canrias, Madeira, e Aores, atingindo centenas de anos de idade e produzindo plantas de grandes dimenses. Obteno da matria corante A resina do sangue-de-drago obtida fazendo incises no caule da planta e recolhendo a seiva. O dragoeiro deve o seu nome cor da sua seiva depois de oxidada por exposio ao ar: forma uma substncia pastosa de cor vermelho viva que foi comercializada na Europa com o nome de sangue-de-drago. O sangue-de-drago uma substncia resinosa que contm 90% de compostos fenlicos (Tabela 5) incluindo proantocianidinas (B-1 e B-4), catequinas, epicatequinas e

Figura 7 Reseda Luteola L.

Tabela 5 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do sangue-de-drago (Piozzi, et al., 1974).

Parte usada: seiva

Frmula qumica

Catequina Procianidina B-1

Epicatequina

Galocatequina

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Tabela 6 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do lrio-dos-tintureiros (Harbone, 1988).

Parte usada: Toda a planta


oh oh

Frmula qumica
oh

ho
ho o

oh

oh

Luteolina

Apigenina

O lrio-dos-tintureiros, de nome vulgar gauda ou gonda (Reseda luteola L.), uma erva anual, geralmente erecta, frequente nos campos, searas, caminhos e pousios de Portugal. Originria do oeste da sia, Europa e Norte de frica Macaronsica (Goffer, 1980). O regimento da Fbrica dos Panos de 1690, refere o seu uso na tinturaria, em Portugal. Obteno da matria corante Aps a florao a planta era colhida aparecendo no mercado em feixes de plantas secas. Estas eram fervidas em gua qual se adicionava potassa e urina para facilitar a extraco do corante. A soluo corante obtida era filtrada e utilizada para tingir. Das folhas e caules da Reseda luteola L., ou do lrio-dos-tintureiros extrai-se um corante amarelo, puro e estvel, utilizado em tinturaria para tingir seda e l. O princpio corante maioritrio a luteolina (Tabela 6), contendo outros corantes flavonides dos quais se destaca a apigenina. Mtodo de tingir Tal como a maioria dos corantes orgnicos, o lrio-dos-tintureiros um corante ao mordente. Todos os materiais txteis podem ser tingidos com ele, obtendo-se vrios tons de amarelo quando mordentados com estanho, alaranjados quando usado com almen, verde azeitona quando mordentados com

ferro, e acastanhados quando mordentados com crmio. Os tingimentos devem efectuarse a uma temperatura inferior a 70C para evitar a absoro de corantes contaminantes como a apigenina. Giesta-dos tintureiros Histria do uso So inmeros os escritos que referem o facto da Genista tinctorum L. (Figura 8) conter uma substncia corante amarela, e que foi usada no tingimento da cor amarela, na l, desde a pr-histria. A giesta-dos-tintureiros era o nico corante amarelo vegetal usado antes da importao do lrio-dos-tintureiros e outros corantes amarelos para a Inglaterra, no incio da Idade Mdia (Mell, 1936).

Figura 8 Genista tinctorum L.

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A giesta-dos-tintureiros, Genista tinctorum L., uma planta que pode ser encontrada nos pastos, matas, geralmente em solos cidos, em quase toda a Europa. Provavelmente originria do Centro Oeste da sia, est tambm estabelecida nos Estados Unidos. Obteno da matria corante As folhas e ramos so fervidos com gua e o extracto resultante usado para o tingimento. A principal matria corante a luteolina e a genistena, encontrando-se esta ltima na forma de glucosdo da genistna, que se hidrolisa por aco de cidos diludos em genistena e glucose (Tabela 7). A genistena solvel em gua, lcool e ter e em bases originando uma cor amarela plida. Mtodo de tingir Tal como muitos outros compostos flavonides a giesta-dos-tintureiros um corante ao mordente. Existe uma estreita semelhana com as propriedades de tingimento entre a giesta-dos-tintureiros e o lrio-dostintureiros, mas o poder de tingimento do primeiro notoriamente mais fraco. Outra diferena torna-se aparente quando o crmio era usado como mordente, a giesta dos tintureiros confere um tom mais bao e acastanhado. A l tem que ser pr-mordentada com almen, obtendo-se um amarelo alaranjado, mas depois da descoberta do estanho como mordente, era usado para se conseguir uma cor amarela mais brilhante.

Como a cor produzida o amarelo esverdeado, era frequentemente usado para tingir de verde num suporte de ndigo ou anil (mas o lrio-dos-tintureiros usado quando se quer uma cor amarela brilhante). Depois dos txteis serem corados de azul, iniciava-se o segundo processo de tingimento. O txtil azul era tratado com um mordente (almen, caparrosa ou verde espanhol) e depois corados na decoco dos ramos da Genista. Para tingir de verde a seda, o processo inverso (Graaff, 2004). Aafro Histria do uso O aafro (Crocus sativus L. - Figura 9) uma substncia corante usado desde a antiguidade, principalmente no prximo e extremo Oriente. Ganhou grande popularidade na Europa onde foi cultivado desde a idade Mdia sendo ainda hoje cultivado e usado no tingimento em amarelo para l e seda, no entanto, em menor escala do que o lrio-dos-tintureiros e fustete. O aafro tambm foi usado como pigmento em iluminura na Europa, bem como na ndia e na Prsia (Barkeshli, 1999). Como o aafro era uma mercadoria muito cara, muitas vezes era adulterado com substncias corantes menos caras, tais como o aafro-da-ndia ou aafro bastardo (Curcuma longa L.). Na Prsia o aafro j era cultivado muito antes da era crist e da foi introduzido na China por nmadas mongis (Bender, 1947).

Tabela 7 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios da giesta (Cardon, 1990).

Parte usada: Toda a planta


oh

Frmula qumica
ho
oh

ho

oh

o oh

oh

Genistena

Luteolina

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Obteno da matria corante Os estigmas do Crocus sativus L. eram secos, depois modos at p e muitas vezes prensados em pequenos bolos. O material modo facilmente solvel em gua a crocetina um dos poucos corantes directos que ocorrem na natureza. A principal matria corante amarela presente nos estigmas do aafro e nos frutos do jasmim-do-cabo a crocina (Tabela 8), um glucsido da crocetina. Alm da crocina, os frutos do jasmim-do-cabo contm pigmentos como iridides e flavonides (Sujata, 1992). A crocetina produzida atravs de hidrlise, a partir da crocina (Tabela 8), por aco de cidos diludos quentes. A crocetina um p vermelho amorfo, facilmente solvel em gua e lcool e solvel em solues alcalinas originando uma cor vermelhaalaranjada. A crocetina facilmente solvel em cido sulfrico concentrado, originando uma cor azul fraca. Com acetato de chumbo a crocetina origina um ligeiro precipitado castanho (Colour ndex, 1982). Mtodo de tingir Os txteis so tingidos num banho corante fervente de aafro sem a adio de mor-

Figura 9 Crocus sativus L.

O aafro extrado dos estigmas secos das flores de Crocus sativus L. foi nativo da Grcia, Turquia e Iro, mas actualmente apenas cultivado desde a Europa Ocidental at sia. Tambm foi extrado da Gardenia jasminoides J. Ellis designado vulgarmente como jasmim-do-cabo, existente na Indochina at ao Japo; Crocus sativus L. uma planta perene que floresce no Outono e adaptvel a uma grande variedade de climas desde os temperados aos sub-tropicais. Os solos variam desde os arenosos aos argilosos mas bem drenados.

Tabela 8 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do aafro (dcb-carot, 2006).

Parte usada: estigmas


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Frmula qumica
Ch3 oh

o oh Ch3 Ch3

Crocetina
ho oh ho o o ho oh ho oh oh oh o o Ch3 Ch3 o o o o oh Ch3 Ch3 o o ho oh oh oh

Crocina

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dentes, mas tambm possvel tingir com a adio de mordente. Neste caso o txtil tem de ser pr-mordentado com uma soluo de almen, obtendo-se a cor amarela brilhante. Madeiras corantes Fustete Histria do uso No passado, vrias rvores existentes nas florestas, ou plantadas, foram utilizadas no tingimento, quer em comunidades locais, quer como fonte de corantes referidas em tratados internacionais. Exemplos incluem, a Maclura tinctoria (L.) Steud. que se estende desde a Amrica Central e Sul, de onde se extraa o fustete; Cotinus coggygria Scop. (Figura 10), originria do sul da Europa China de onde se extraa uma substncia designada por fustete-novo; e Quercus velutina Lam., originria da Amrica do Norte de onde se extraa o quercitron. Os corantes amarelos surgiram no mercado em perodos diferentes. O fustete-novo tambm designado por madeira-amarela-da-hungria ou sumagre foi usado desde a Antiguidade, particularmente para obter misturas de cores como laranja e verde. Plnio, em Histria Natural, menciona o seu uso como corante para tingir de amarelo. No entanto, como apresentava desvanecimento luz foi substitudo, depois da descoberta da Amrica, por fustete e quercitron que apresentavam maior resistncia luz. Depois da descoberta da Amrica, o fustete foi introduzido na Europa no incio do sc. XVI, no entanto, raramente era mencionado nos manuscritos dos corantes no sc. XVII, em conjunto com o pau-brasil. Este corante era usado na Europa para tingir de preto ou de verde. Aps os scs. XVIII e XIX o seu uso aumentou face ao lrio-dos-tintureiros. No sc. XX, passou a ser usado em conjunto com o fustete-novo e o lrio-dos-tintureiros. O quercitron, tambm designado por carvalho-preto, foi tambm um produto

proveniente da parte oriental do norte da Amrica e Canad e introduzido na Europa no sc. XVIII.

Figura 10 Cotinus coggygria Scop.

As rvores tm um crescimento natural, podendo ser por vezes cultivadas quando utilizadas para corantes. As folhas e os galhos raramente so usados para obter as cores castanhas e pretas enquanto que o cerne da madeira usado para obter as cores amarelas e laranja. Obteno da matria corante A extraco do corante realizada a partir do cerne da madeira, atravs da reduo, em pequenos pedaos, que so colocados num saco e extrados em gua quente. Depois do processo de extraco, o lquido limpo depois de depurado utilizado no tingimento. O principal material corante do fustetenovo a fisetina, uma hidroxiflavona presente na madeira como um glucosdo juntamente com o cido tnico. Durante o processo de tingimento o cido tnico divide-se originando fustina e um resduo de glucose. Podemos tambm encontrar como componente minoritrio a sulfuretina. A fisetina facilmente solvel em lcool etlico, acetona e cido actico. , contudo, insolvel em gua, ter etlico, benzeno e clorofrmio.

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O fustete apresenta outras hidroxiflavonas como principais substncias corantes: a morina, a maclurina e o kamferol enquanto que o quercitron apresenta a quercitrina, a quercetina entre outros. Mtodo de tingir O banho do corante, que continha a madeira corante fervida em gua e depois de filtrado era utilizado no tingimento da l ou da seda (Kremer-pigmente, 2006). Este corante um corante ao mordente podendo utilizar-se, por exemplo, sais de almen, cobre (Kremer-pigmente, 2006). As cores obtidas variam consoante o mordente usado: com almen obtinha-se a cor alaranjada; com cobre o castanho-avermelhado escuro, obtendo-se com crmio a cor vermelha acastanhada (Tabela 9); ou o amarelo sem a utilizao de mordentes. As cores apresentavam uma boa resistncia lavagem, mas uma baixa luminosidade. No regimento da Fbrica dos Panos de 1690 referido a adio de sumagre ao lrio-dos-tintureiros para obteno de outros tons de amarelo. Plantas que tingem em azul Pastel-dos-tintureiros Histria do uso O corante ndigo ou anil pode ser extrado de vrias espcies de plantas do gnero

Indigofera, originrias dos trpicos, e de Isatis tinctoria L. originria da Europa. A espcie existente na sia era a Indigofera tinctoria L. e as existentes na Amrica Central e do Sul era a Indigofera suffruticosa Mill. (anil) e em frica a Indigofera arrecta Harv. (ndigo-de-natal), enquanto a espcie existente na Europa era a Isatis tinctoria L. (pastel-dos-tintureiros). At o fim do sculo XVI, quando o ndigo se tornou mais disponvel atravs das rotas do comrcio do Extremo Oriente, o pasteldos-tintureiros era a nica fonte de corante azul disponvel na Europa (Balfour, 1998). As primeiras referncias cultura do pastel em Portugal datam de 1445 (28 Agosto) numa carta de privilgio passada por D. Afonso V ao Infante D. Henrique, onde lhe conhecido o exclusivo da exportao daquela cultura (Faria, 1991). O pastel-dos-tintureiros, nome comum da planta Isatis tinctoria L., constituiu um dos principais produtos de exportao dos Aores, no seu perodo inicial de colonizao (sc. XV e XVI), originando um activo comrcio entre as ilhas e a Flandres. Este comrcio, cedo transformado em monoplio da coroa portuguesa, era to importante que foi criado o cargo de lealdador do pastel com o objectivo de garantir a qualidade e o peso das bolas exportadas. Desse tempo ficaram vrios traos na toponmia aoriana, sendo comuns as designaes de Canada do Engenho e Engenho, referindo os locais onde se situavam as instalaes de preparao do

Tabela 9 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do fustete-novo (Cardon, 1990).

Parte usada: cerne da madeira


oh

Frmula qumica
oh oh

ho

oh

ho

o oh
ho o

ho

oh o
o

oh

Fisetina

Fustina

Sulfuretina

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pastel. No Faial a memria da sua cultura perpetuada na designao do lugar do Pasteleiro, arredores da cidade da Horta (Stainsfille, 2006). A cultura, recolha, tratamento e exportao desta tintureira atingiu valores elevados no sculo XVI, seguido de uma grande decadncia a partir do ltimo quartel do sculo XVII. A decadncia registada ficou a dever-se essencialmente concorrncia feita pelo anil produzido nas colnias espanholas da Amrica Central de onde era trazido para a Europa. No entanto, a crise interna provocada pela dominao Filipina e a especulao de produtores e comerciantes so apontados como factores simultneos ou de antecipao crise geral provocada pela introduo do ndigo tropical e do anil, pondo assim termo a um importante e irreversvel ciclo econmico insular. O extracto fermentado das suas folhas era usado como corante azul em tinturaria. A sua utilizao actual limita-se tinturaria artstica e produo de tecidos orgnicos (produzidos sem recurso a produtos sintticos).

prefira solos ligeiros. Necessita de elevada humidade para germinar e de boa exposio solar para atingir o mximo desenvolvimento, embora tolere algum ensombramento. Era semeada em alfobre e depois plantada em regos, a planta no podia ser cultivada com sucesso no mesmo terreno em anos seguidos (agr.unipi.it, 2006). Obteno da matria corante O mtodo de preparao a partir da planta pouco mudou ao longo do tempo. As folhas da planta do pastel eram colhidas duas vezes por ano, mergulhadas em gua, durante 9 a 14 horas, e trituradas num engenho constitudo por uma atafona movida por uma vaca ou burro, e moldadas em bolas que eram deixadas fermentar. A fermentao, que produzia um cheiro ptrido intenso, levava ao desdobramento dos pigmentos corantes contidos nas folhas. Este licor fermentado retirado e arejado para que se d a oxidao do corante forma oxidada, corada, que precipita. A camada lquida superior decantada e o restante aquecido para parar a fermentao. O licor filtrado e a pasta resultante depois de seca est pronta para ser distribuda. As bolas fermentadas eram depois deixadas a secar at atingirem um grau reduzido de humidade, sendo depois encaminhadas para as tinturarias (madehow. com, 2006). O corante, que na planta se encontra na forma de um glucsido, hidrolisado a glucose e forma leuco, que solvel em gua. As folhas e caules so ricos em glucsido indicana que ao decompor-se por fermentao produz indigotina, o princpio activo do corante azul ndigo (Tabela 10). O pastel-dos-tintureiros, depois de seco, uma substncia terrosa, sem cheiro ou sabor, de cor azul-escuro, ganhando um brilho violeta acobreada quando esfregado, contendo, alm da indigotina, numerosas outras substncias corantes e impurezas inertes. A indigotina insolvel em gua, da o seu interesse em tinturaria, dissolvendo-se apenas em cidos fortes.

Figura 11 Isatis tinctoria L.

O pastel-dos-tintureiros uma planta anual ou bienal, raramente perene, da famlia das Cruciferae ou nativa da Europa e do sudoeste da sia, mas naturalizada em quase toda a zona temperada e subtropical. Pode ser cultivada em qualquer tipo de solo, embora

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Tabela 10 Estrutura qumica dos constituintes maioritrios do pastel-dos-tintureiros.

Parte usada: Folhas

Frmula qumica
o h n

n h o

Indigotina
Mtodo de tingir O pastel-dos-tintureiros no solvel em gua; para ser dissolvido, deve sofrer uma transformao qumica. Um processo de tingimento usado na Europa, consistia em dissolver o ndigo em urina. A urina reduzia o ndigo, insolvel em gua, a uma substncia solvel conhecida como ndigo branco ou leuco-indigo, que produzia uma soluo amarelo-esverdeada. Os tecidos (a l e a seda) tingidos nesta soluo ficavam tingidos de azul, aps o ndigo branco oxidar e transformar-se em indigo azul. Aps o sc. XIX a urina foi substituda por ureia sinttica. No processo de tingimento os tecidos podiam ser mordentados com almen para se obterem os azuis, ou cobre ou crmio para a obteno dos tons cinzentos (Tabela 10). CONCLUSES Neste trabalho, realizmos uma recolha bibliogrfica sobre algumas plantas tintureiras cultivadas ou plantas espontneas locais, que foram utilizadas como corantes txteis entre os sculos XVI a XVIII. Do exposto, podemos verificar a existncia, no Ocidente, de determinadas plantas tintureiras, como a garana (Rubia tinctorum L.) ou o fustete novo (Cotinus coggygria Scop.) que foram usadas no tingimento para obteno da cor vermelha e amarela, respectivamente. No entanto, a partir do sc. XVI, quando as trocas comerciais se intensificaram, foram introduzidas no Ocidente outras plantas tintureiras, provenientes do Oriente, como a rubia (Rubia cordifolia L.) que tingia de vermelho ou o fustete (Maclura tinctoria (L.) Steud.) que tingia de amarelo respectivamente e possibilitaram a obteno de mais e variadas cores para os tecidos da poca. Verificmos tambm a existncia de substncias, provenientes de madeiras como a madeira do sndalo (Pterocarpus santalinus L.f.), originria da ndia e o dragoeiro (Dracaena draco L.), originria das Ilhas Macaronsicas, que apresentam composio qumica diferente para o mesmo nome corante: sangue-de-drago. As plantas tintureiras deram um importante contributo tornando-se num recurso procurado e originando fluxos de comrcio internacional. Portugal, no quadro da sua vocao ultramarina, forneceu os mercados europeus oferecendo-lhes matrias-primas que se desenvolvem nas novas terras descobertas. O sangue de drago, a urzela, o pau-brasil e o pastel so alguns dos produtos de troca que marcaram no s a passagem dos portugueses como o seu interesse por estes lucrativos produtos tintureiros. Posteriormente, com o aparecimento e comercializao dos corantes de sntese, e a consequente baixa de competitividade dos corantes naturais, a sua utilizao declinou at sua quase extino. Muitos dos procedimentos artesanais e semi-industriais, foram quase perdidos.

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Contudo, aquelas substncias e as prticas que lhes estavam associadas sempre foram consideradas como fazendo parte de um tempo glorioso que comeava a ser ofuscado pelo vertiginoso desenvolvimento das indstrias qumicas que, no sculo XIX, as iam remetendo para uma actividade cada vez mais residual e que so hoje recuperadas, entre outras, por questes patrimoniais.

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