Analise de Implicação
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Analise de Implicação
Ceclia Coimbra
A emergncia do conceito de anlise de implicao. Para pensar a anlise de implicaes no cotidiano de qualquer profissional importante trazermos sua emergncia dentro do que Lourau (1993)1 denominou campo de coerncia da Anlise Institucional. Segundo esse autor a anlise de implicaes se constitui no escndalo da Anlise de Institucional, por colocar em xeque o lugar sagrado e inquestionvel dos chamados especialistas. Essa ferramenta surge da ampliao, para o campo institucional, dos conceitos de transferncia e contra-transferncia utilizados pela psicanlise, e emerge a partir do movimento da psicoterapia institucional, ocorrido na Frana durante o ps-guerra, nos anos de 1950. Em 1971, com a publicao do livro Para um conhecimento da sociologia, Ren Lourau e Georges Lapassade nos apontam alguns traos preliminares da noo de implicao. Entretanto, s em 1973 que vemos esse conceito mais explicitado em suas publicaes. Para isso contriburam no somente os relatos das intervenes socioanalticas produzidas pelo grupo vinculado a esses autores, em especial durante o incio da dcada de 1970, como tambm a influncia fenomenolgica exercida por Merleau-Ponty sobre esse
Ren Lourau, Georges Lapassade, Rmi Hess, Antoine Savoye e outros fazem parte de uma abordagem terica vinda da Frana nos anos de 1960 e 1970, que se convencionou chamar Anlise Institucional. Estes pensadores, atravs de diferentes experimentaes, vo elaborando ferramentas que pensam criticamente as chamadas intervenes socioanalticas realizadas em pequenos e grandes grupos, em diferentes estabelecimentos. A anlise de implicaes uma dessas ferramentas. Sobre o tema consultar Coimbra (1995).
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grupo. Naquele momento j se fazia uma crtica radical ao positivismo e sua crena na neutralidade cientfica. Segundo Merleau-Ponty, o socilogo chega ao conhecimento no s pela observao de um objeto exterior, mas canalizando tambm sua prpria implicao no momento da observao (...) Merleau-Ponty vai mais longe do que aqueles que se detm na compreenso das instituies por meio de uma anlise do vivido. Para ele, estudar o social saber( ...) como pode ser em si e para ns. ( Lourau, 1975, p. 38) A partir dessa influncia fenomenolgica Lapassade e Lourau propuseram a pesquisainterveno, onde as noes de sujeito e objeto, de pesquisador e campo de pesquisa so colocadas em anlise. Segundo tal formulao, essas noes se criam ao mesmo tempo, num plano de imanncia, onde as prticas produzem os sujeitos, os objetos, os pesquisadores e os campos de pesquisa, no havendo determinaes causais de uns sobre os outros. Assim sendo, teorias e prticas so sempre prticas. A pesquisa-interveno, ou apenas a interveno, como procedimento de aproximao com o campo, mostra-nos que ambos - pesquisador e pesquisado, ou seja sujeito e objeto do conhecimento - se constituem no mesmo momento, no mesmo processo. (Barros, 1994, p. 309) Opondo-se ao intelectual neutro-positivista, a Anlise Institucional vai nos falar do intelectual implicado, definido como aquele que analisa as implicaes de suas pertenas e referncias institucionais, analisando tambm o lugar que ocupa na diviso social do trabalho na sociedade capitalista, da qual um legitimador por suas prticas. Portanto, analisa-se o lugar que se ocupa nas relaes sociais em geral e no apenas no mbito da interveno que est sendo realizada; os diferentes lugares que se ocupa no cotidiano e em outros locais da vida profissional; em suma, na histria. Ainda, segundo Lourau, trata-se de encontrar um mtodo de anlise das implicaes que, em cada situao particular, possamos nos situar nas relaes em geral, nas redes de poder, em vez de nos fixarmos cristalizados numa posio pseudo-cientfica.
Tal anlise no dada a priori por meio de um esclarecimento objetivo sado da manga do mgico, surge na crise, na contradio, na luta e no na ginstica dialtica sobre papel branco (Lourau, 1979, p.34). Os psiclogos, os psicanalistas, os polticos, os militantes, em suma, os chamados intelectuais psi e sociais apresentam um desprezo ou uma clera mal dissimulada quando nos referimos anlise de nossas implicaes. Para alguns deles, todas essas instituies2 esto naturalizadas, neutralizadas e impermeveis transversalidade 3das relaes sociais. Na perspectiva de construir um novo campo de coerncia onde a pesquisa no se separa da interveno e onde o campo de interveno inclui tanto o pesquisador quanto o chamado objeto de sua pesquisa, Lourau, ao longo de toda sua obra, metodolgico que interroga as implicaes do traz um debate pesquisador/profissional. Assim que,
olhando sua trajetria como intelectual, podemos perceber que a noo de implicao est o todo tempo sendo construda, constantemente presente em seus estudos, constantemente sendo dinamizada, ocupando um lugar de destaque em seu caminhar como pesquisador. A proposta de analisar nossas implicaes uma forma de pensar, cotidianamente, como vm se dando nossas diferentes intervenes. Dentro de uma viso positivista que afirma a objetividade e a neutralidade do pesquisador/profissional, as propostas da Anlise Institucional tornam-se, efetivamente, um escndalo, uma subverso. Colocar em anlise o lugar que ocupamos, nossas prticas de saber-poder enquanto produtoras de verdades - consideradas absolutas, universais e eternas - seus efeitos, o que elas pem em funcionamento, com o que elas se agenciam romper com a lgica racionalista ainda to fortemente presente no pensamento ocidental. A anlise de implicaes traz para o campo da anlise sentimentos, percepes, aes, acontecimentos at ento considerados negativos, estranhos, como desvios e erros que impediriam uma pesquisa/interveno de ser bem sucedida. Implicado sempre se est, quer se queira ou no, visto no ser a implicao uma questo de vontade, de deciso consciente, de ato voluntrio Ela est no mundo, pois uma relao que sempre estabelecemos com as diferentes instituies com as quais nos encontramos, que nos constituem e nos atravessam. Por isso, a Anlise Institucional fala de anlise de implicaes e no apenas de implicao.
Para a Anlise Institucional, o conceito de instituio difere do de organizao ou estabelecimento. Instituio o espao onde as relaes de produo esto institudas de maneira aparentemente natural e eterna e no onde o jurdico se manifesta., 3 O conceito de transversalidade muito utilizado pela Anlise Institucional e representa a clareza que se tem dos entrecruzamentos, das pertenas e referncias de todos os tipos (poltico, econmico, social, cultural, sexual, libidinal, etc.) que atravessam nossas vidas. As relaes transversais so, em geral, inconscientes, no sabidas e desconhecidas.
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Colocar em prtica a utilizao de tal ferramenta nos ... remete a um processo de desnaturalizao permanente das instituies4, incluindo a prpria instituio da anlise e da pesquisa (...) Ela inclui uma anlise do sistema de lugares, o assinalamento do lugar que ocupa, que busca ocupar e do que lhe designado ocupar com os riscos que isto implica. (Barros, 1994, p. 308-309). Dessa maneira, ao tomar a anlise de implicaes como um dispositivo para problematizar as prticas de qualquer profissional, estamos querendo afirmar o carter poltico de toda e qualquer interveno. Ao colocarmos em xeque os lugares institudos de saber/poder que ocupamos em muitos momentos de forma natural e ahistrica estamos afirmando nossa implicao poltica, dentre tantas outras implicaes que nos atravessam.
No sentido de ampliarmos a ferramenta anlise de implicaes iremos pens-la segundo as contribuies trazidas por Deleuze (1996) a partir do conceito de dispositivo. Para ele, o dispositivo um conjunto de mltiplas linhas, de diferentes naturezas que seguem diferentes direes, formando processos sempre em desequilbrio. Cada linha encontra-se quebrada e est submetida s mais variadas direes. De um modo geral, os dispositivos esto sempre produzindo objetos, sujeitos, prticas e Deleuze os percebe como mquinas de fazer ver e de fazer falar (p.84). Ao comportar uma srie de linhas de foras, os dispositivos, ainda segundo Deleuze, estabelecem o vai e vem entre o ver e o dizer, agem como flechas, que no cessam de entrecruzar as coisas e as palavras, sem que por isso deixem de conduzir a batalha (p.85). Portanto, todas as linhas do dispositivo so linhas de variao, visto trabalharem com foras singulares, contendo uma multiplicidade de processos em marcha, que se entrecruzam, se mesclam, suscitando variaes e mutaes. Assim, Os diapositivos tm por componentes linhas de visibilidade, linhas de enunciao, linhas de fora, linhas de subjetivao, linhas de brecha, de fissura, de fratura, que se entrecruzam e se misturam, acabando umas por
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dar noutras, ou suscitar outras, por meio de variaes ou mesmo mutaes de agenciamento (Deleuze, 1996, p.89). Dessa concepo de dispositivo podemos apontar dois importantes efeitos. O primeiro refere-se ao repdio dos universais, visto que ele nada explica e, segundo Deleuze, ele que deve ser explicado (p.89). Esse repdio aos universais enfatiza os processos singulares e a multiplicidade que se encontram em cada dispositivo, em ns e no mundo. Ao tomarmos a anlise de implicaes como um dispositivo, estamos recusando os universalismos, as totalizaes e unificaes e afirmando as processualidades, singularidades e multiplicidades. Para tanto, fundamental que possamos empreender uma anlise constante e cotidiana dos lugares por ns ocupados e das foras que nos atravessam e nos afetam em diferentes momentos, no somente em nossos trabalhos de interveno como tambm em nossas vidas. Ou seja, queremos apontar que a anlise de implicaes, tomada enquanto um dispositivo, sempre micropoltica, sempre um colocar em anlise nossos modos de existncia que, segundo Espinoza e Nietzsche, devem ser pensados a partir de critrios imanentes, sem nenhum apelo a valores transcendentais. Assim, a anlise de implicaes por ser micropoltica encontra-se no plano da imanncia, no plano dos encontros onde se produzem as enunciaes, onde se presentificam o fazer ver e o fazer falar. Ou seja, utilizar a anlise de implicaes tornar visvel e audvel as foras que nos atravessam, nos afetam e nos constituem cotidianamente. O segundo efeito de uma filosofia dos dispositivos refere-se a uma crtica orientao positivista que nos impe a crena no eterno e absoluto. A proposta a apreenso do novo, do atual, entendido por Deleuze (1996) como no sendo (...) o que somos, mas aquilo em que vamos nos tornando, aquilo que somos em devir (...) (p.92/93). Isto , o atual o esboo daquilo em que nos vamos tornando (p.93). Pensar a anlise de implicaes enquanto um processo que nos possibilita perceber este devir constante que somos entend-la como uma importante ferramenta de trabalho e de vida. estranhar e recusar as essncias, as naturalidades normalmente vinculadas ao eterno, ahistoricidade. , portanto, afirmar o diverso, as diferenas que esto em ns e no mundo. Tais suportes filosficos presentes no conceito de dispositivo reafirmam a colocao de Lourau (1993) de que a anlise de implicaes tem sido o escndalo da Anlise Institucional por seu carter desestabilizador e desnaturalizador de lugares confortveis e acriticamente ocupados, de verdades institudas e aceitas como universais e absolutas. Ou seja, a anlise de implicaes nos retira dos portos seguros, dos caminhos lineares e
conhecidos, da paz das certezas, nos jogando em alto mar, no turbilho das dvidas, da diversidade e dos contornos indefinidos. Um dos efeitos polticos presentes na ferramenta anlise de implicaes , portanto, a problematizao das relaes de saber/poder, visto que ela aponta para o lugar institudo de onde falamos quando, com nossas prticas especialistas, legitimamos a diviso social do trabalho no capitalismo. Ou seja, fortalecemos essa diviso quando naturalizamos que h aqueles que sabem, que detm a verdade cientfica, neutra e objetiva os especialistas e acadmicos - e de outro os que simplesmente devem executar o que foi pensado/planejado por esses iluminados, detentores do saber/poder. Se a anlise de implicaes micropoltica e encontra-se no plano da imanncia, ela tem relaes com o que Foucault (Apud Deleuze, 1996) denominou de critrios de vida. A saber, a possibilidade de se produzir coisas novas no mundo, de se crer perto do porto, quando, ao contrrio, se est sendo lanado em alto mar, apesar de, na contemporaneidade, vivermos submetidos ao controle globalizado e ao biopoder hoje imperantes. No podemos nos esquecer que esta filosofia dos dispositivos desvia-se do eterno, do homogneo, do modelar para apreender o novo em suas multiplicidades. Nossa aposta, ento, de que possamos nos tornar profissionais da Vida, fortalecendo sua potencia medida que possamos analisar nossas implicaes no cotidiano, tema que desenvolvermos melhor mais adiante.
O dispositivo anlise de implicaes em uma interveno O trabalho de interveno junto a professores da Escola de Auxiliar de Enfermagem da FAETEC, por ns realizado, foi iniciado sem que fizssemos qualquer anlise da demanda apresentada, parte importante em nossa anlise de implicaes.Os impedimentos foram vrios: a aprovao de nosso projeto pela FAPERJ, sem que tivssemos, enquanto equipe, tido tempo de fazer contato com todo o grupo com o qual iramos trabalhar. Da mesma forma, o acmulo de tarefas em outros espaos e a correria do mundo globalizado impuseram uma chegada ao campo de pesquisa-interveno sem que tivssemos realizado uma anlise de nossas implicaes. Afinal de contas, a demanda inicial era nossa, visto necessitarmos de um grupo onde pudssemos pensar as questes propostas em nosso projeto apresentado FAPERJ. Apesar de trabalharmos com alguns pressupostos da Anlise Institucional que enfatiza, no s a anlise de implicaes, mas tambm a anlise da demanda, a urgncia e a escassez do tempo no nos permitiram pensar e colocar em prtica essas ferramentas. Ocorreu apenas um contato inicial com a direo da escola e alguns poucos professores que fariam parte do grupo. Nesse mbito que foram acertados horrios, datas, prazos, perodos, local,
interesses para a realizao do trabalho. Por isso, nosso primeiro encontro com o grupo de professores da FAETEC, pelo desconhecimento que alguns tinham da proposta, foi pleno de dvidas, surpresas, interesses diversos e, at mesmo, desconfiana. Naquele momento, que poderia ter sido aproveitado para iniciarmos tais anlises, tambm no as fizemos. S posteriormente, ao debatermos o primeiro encontro no espao da equipe de interveno, comentando o mal estar que havamos percebido no grupo e em ns, nos demos conta da falta de discusso sobre os diferentes graus de implicao e diferentes demandas que estavam ali presentes. No primeiro encontro, de forma at mesmo invasiva, apresentamos nossas propostas, quais eram as nossas demandas, a forma como iramos funcionar, sem debater com o grupo quais eram suas propostas, suas demandas e as formas como gostariam de trabalhar. Posteriormente, a partir do momento em que conseguimos iniciar uma anlise das demandas e implicaes ali presentes, percebemos que aquele conjunto de situaes pelo qual havamos passado era tambm, dentre tantas outras foras, um dos efeitos de nossas prticas, que poderiam estar sobreimplicadas. Segundo Lourau (2004) a sobreimplicao a crena no sobretrabalho, no ativismo da prtica, que pode ter como um de seus efeitos a dificuldade de se processar anlises de implicaes, visto que todo o campo permanece ocupado por um certo e nico objeto. No mundo contemporneo, a urgncia invadiu nossas vidas e nos so exigidas aes imediatas e instantneas. Impe-se a todos ns a necessidade de acelerar as tarefas, o tempo, pois s assim conseguiremos sobreviver ao ritmo imposto pelo rendimento mximo. O profissional sobreimplicado responde naturalmente a essa demanda instituda, ocupando o lugar que lhe est sendo designado. De um modo geral, a forma de perceber o que se deve fazer no dia a dia ocorre, quase sempre, em uma situao que colocada como urgente, ao mesmo tempo em que se atravessado pela iluso participacionista5. Assim, uma de nossas hipteses que a sobreimplicao de nossas prticas nos impossibilitou fazer a anlise de demandas e de implicaes, tanto da equipe de interveno quanto do grupo de professoras e do prprio conjunto de nossa interveno. O debate e as anlises produzidas no espao da equipe de interveno, nos permitiu que, a partir do segundo encontro, consegussemos tornar mais claras algumas demandas relacionadas diretamente aos cotidianos de sala de aula das professoras. Ou seja, somente a partir do momento em que produzimos em ns da equipe um dispositivo analtico, que conseguimos fazer ver e fazer falar o grupo de professores/interventores. De acordo com
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Deleuze (1996) cada dispositivo tem o seu regime de luz, uma maneira como cai a luz, se esbate e se propaga, distribuindo o visvel e o invisvel, fazendo com que nasa ou desaparea o objeto que sem ela no existe. (p.84). Entendemos, assim como os filsofos aqui citados, que os diferentes objetos, saberes e sujeitos que existem no mundo - e o prprio mundo - so produtos das diferentes prticas sociais em diferentes contextos histricos. Dessa forma, esses objetos, saberes e sujeitos no existem em si, no tm uma essncia, so incessante e continuamente produzidos pelas aes dos homens. O fazer ver e o fazer falar, dependendo das especificidades do encontro produz diferentes maneiras de como a luz ir cair, se esbater, se propagar, se distribuir, produzindo o nascimento, o fortalecimento, o desaparecimento, a fragilizao de alguns objetos, saberes e sujeitos.
Anlise de implicaes: fortalecendo nossa potncia Eu te invento, realidade! Clarice Linspector A utilizao da anlise de implicaes na contemporaneidade se torna cada vez mais necessria tendo em vista o novo regime que se impe, o do biopoder Como diz Foucault, nesse novo regime o poder destinado a produzir foras e as fazer crescer e ordena-las, ais do que a barr-las ou destrulas. Gerir a vida, mais do que exigir a morte. E quando exige a morte, em nome da defesa da vida que ele se encarregou de administrar. Curiosamente, quando mais se fala de defesa da vida que ocorrem as guerras mais abominveis e genocidas (...) ( Pelbart, 2003, p. 56). Se antes, as disciplinas se dirigiam ao corpo, ao homem-corpo, hoje, o biopoder se dirige ao homem vivo, ao homem-espcie, vida.. Entretanto, nesse poder sobre a vida h tambm o poder da vida, sua potncia poltica de inveno. Questes que se colocam para todos ns que trabalhamos com a produo de subjetividade e utilizamos os dispositivos anlise de implicaes e sobreimplicao. Questes que no temos a pretenso de responder, mas que devem ser colocadas como analisadores de nossas prticas, tais como:
O que significa a vida hoje? O que significa poder sobre a vida? Como entender potncia da vida, nesse contexto? O que significa que a vida tornou-se um capital? O que uma tal situao acarreta, do ponto de vista poltico? De que dispositivos concretos, minsculos e maisculos, dispomos hoje para transformar o poder sobre a vida em potncia da vida, sobretudo num contexto militarizado? Como isso se conecta com o desafio urgente de reinventar a comunidade? 2003, p. 14). Entendemos que a utilizao dos conceitos de anlise de implicaes e sobreimplicao podem nos potencializar nesses tempos de biopoder, no sentido que, mesmo micropoliticamante, possamos transformar as mutilaes, os constrangimentos, os adestramentos, os entorpecimentos que fazem parte de nosso cotidiano, em potencia de Vida. Vida entendida como virtualidade, diferena, inveno e potncia. A Vida em sua imanncia, enquanto acontecimento tico-poltico que permita potencializar o carter heterogneo e mltiplo dos diferentes modos de existncia que se encontram no mundo. Como tais perguntas redesenham a idia de resistncia hoje, nos vrios domnios? (Pelbart,
(...) No agento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa vlvulas, que olha o relgio, que compra po s 6 horas da tarde, que vai l fora, que aponta lpis, que v a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. (...) ( Manoel de Barros, 1998, p. 79)
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. COIMBRA, C. e NASCIMENTO, M. L. Sobreimplicao prtica de esvaziamento poltico? Disponvel em www.slab.uff.br . Acesso em 01/12/2006. DELEUZE, G. O mistrio de Ariana: cinco textos e uma entrevista de Gilles Deleuze, Lisboa: Estudo Vega / Passagens, 1996. LOURAU, R. A Anlise Institucional, Petrpolis/RJ: Vozes, 1975. LOURAU, R. Socilogo em tempo integral, Lisboa: Estampa, 1979. LOURAU, R. Anlise Institucional e prticas de pesquisa, Rio de Janeiro: UERJ, 1993 LOURAU, R. Implicao e sobreimplicao In: ALTO, S. (org) Ren Lourau: Analista institucional em tempo integral. Rio de Janeiro: Hucitec, 2004. PELBART, P. P. Vida Capital: ensaios de biopoltica, So Paulo: Iluminuras, 2003.