Resumo Fatores de Virulência Nos Fungos
Resumo Fatores de Virulência Nos Fungos
Resumo Fatores de Virulência Nos Fungos
como simbiontes, comensais ou em parasitismo. Estima-se a existncia de 1.500.000 espcies de fungo no planeta, mas somente 100.000 200.00 foram descritas. Mais ou menos 200 espcies podem ser patognicas para o homem. O hospedeiro oferece condies diferentes daquelas encontradas no nicho ecolgico, assim o fungo tem que lanar mo de fatores que proporcionem a sobrevivncia no hospedeiro. As condies encontradas no hospedeiro so: altas temperaturas, influncias hormonais, ataque pelos fagcitos, microbiota competidora, pH, barreiras fsicas e mecnicas e outras. Fatores de virulncia so atributos do fungo que proporcionam aos mesmos sobreviver em condies adversas e causar doena. Para um organismo causar doena: tem que entrar no hospedeiro (trato respiratrio, inoculao no tecido pele e mucosa); aderir, se multiplicar no tecido, invadir e evadir do sistema imune; causar dano Todas essas etapas dependem dos fatores de virulncia que o fungo usa. MECANISMOS DE EVASO DO SISTEMA IMUNE Pacientes imunocomprometidos so os principais alvos para infeces fngicas. Na histoplasmose - H.capsulatum regula o pH do fagolisossoma (aumenta o pH para 6.0 6.5), diminuindo a ao das enzimas lisossomais, e aumentando a captao de ferro dentro do fagolisossoma. Os patgenos fngicos apresentam mecanismos ativos e passivos para frustrar a resposta imune, como: formao de tubo germinativo dentro do macrfago, produo de superxido dismutase e catalases na defesa contra radicais oxidativos, cpsula como barreira fagocitria, bloqueio da acidificao do fagolisossoma por H. capsulatum e tambm a protena CBP1 est envolvida na alterao da membrana do fagolisossoma; inibio da maturao do fagolisossoma e da produo de espcies reativas de oxignio; reduo na deposio de complemento na superfcie celular; mascarar molculas imunognicas (ativam o sistema imune) na superfcie da clula. minireviso(Casadevall e Pirofski 2007) Por que somente certos micro-organismos tem a capacidade de serem virulentos e por que certos micro-organismos so virulentos em certos hospedeiros? Existem diferenas fundamentais entre micro-organismos patognicos e no patognicos. Essa viso suportada pela observao que certos micro-organismos requerem fatores, como toxinas, cpsulas, etc., para virulncia animal. Existem claras evidncias que virulncia pode ser uma funo do status imune do hospedeiro. Para micro-organismos que causam doena uma vez e outra no, o determinante da doena normalmente um desafio no hospedeiro que altera a interao parasita-hospedeiro.
Dois tipos de aquisio: Micro-organismos que so adquiridos a partir de outros organismos vivos e aqueles que so adquiridos do ambiente. Quando alguns micro-organismos encontrados em mamferos causam doena, esse fato devido a uma alterao no relacionamento parasita-hospedeiro (imunossupresso, uso de antibiticos, mudanas no nicho em decorrncia de uma grande carga fngica). As doenas causadas por micro-organismos ambientais normalmente acontecem em situaes nas quais o hospedeiro exposto a grande quantidade de inculo e/ou apresenta um comprometimento do sistema imune. Virulncia de fungos associados ao hospedeiro: Ex: Candida Doena causada por esses fungos normalmente esto associados com mudanas na imunidade do hospedeiro ou do relacionamento fungo-hospedeiro. Ex: Candidase humana Alterao na barreira fsica ou imunidade na mucosa (como ocorre em cirurgias, colocao de cateter, dano induzido por radiao; Candidase vaginal aumento do influxo de neutrfilos dentro da vagina. Uso, por exemplo, de antimicrobiano altera o equilbrio entre a flora bacteriana- fungo, por reduzir o nmero de comensais bacterianos, resultando na excessiva proliferao dessas leveduras. Muitos dermatfitos fazem parte da flora normal e ainda podem estar associados a doenas quando ocorre uma alterao com o hospedeiro. (Ex: aumento de umidade e temperatura nos ps). Alguns isolados so mais virulentos, aumento da susceptibilidade do hospedeiro ou ambos. Solo como ambiente extremo: Os micro-organismos que habitam o solo devem se adaptar a mudanas bruscas (temperatura, oferta de nutrientes, radiao, umidade e tambm predadores na forma de amebas e outros protistas). Os micro-organismos utilizam mecanismos para escapar da fagocitose e digesto por esses predadores. As adaptaes usadas pelos micro-organismos no ambiente, certamente podem ser utilizadas como fatores de virulncia. Manuscrito Casadevall 2007 Determinantes de virulncia em fungos patognicos. O dano no hospedeiro pode ocorrer pela ao direta do micro-organismo no hospedeiro ou como resultado da resposta imune ao mesmo ou ambos. Ex: de dano ocorrido pelo fungo: prolongamento da hifa com destruio do tecido, secreo de toxinas (gliotoxina em Aspergillus spp). Doena fngica causada pela resposta imune: alergia causada pelo fungo, sinusite, fibrose tecidual e outros Um determinante de patogenicidade um fator de virulncia e esse normalmente o alvo das respostas imunes e respostas que neutralizem esses fatores so protetoras. A temperatura corporal dos mamferos permite a baixa susceptibilidade s doenas fngicas, uma vez que os fungos crescem melhor a temperatura ambiente
Ao contrrio das doenas bacterianas, virais e parasitrias, as doenas fngicas so espordicas e observadas primariamente em indivduos com deficincia imunolgica, quando ocorre uma alterao na ecologia ou uma exposio ao inculo muito grande.
Alguns fungos podem produzir melanina no solo e essa caracterstica pode proporcionar aumento da resistncia s condies de estresse no ambiente. C. neoformans melanizado mais resistente a ingesto por amebas ou parasitas presentes no ambiente. Esse pigmento tambm pode proteger o fungo de enzimas hidrolticas, UV, radiao solar ou gama, temperaturas extremas, metais pesados e diversos outros compostos txicos. Alguns pesquisadores tem demonstrado que melanina afeta a fagocitose pelos macrfagos e reduz a liberao de citocinas pr-inflamatrias, nas quais so importantes no combate a infeces causadas por fungos. Melanina pode ser encontrada nos espaos intracelulares ou extracelulares dos fungos. Pode ser observada na parede celular em associao com componentes dessa parede; como grnulos que se projetam para a camada externa da parede; ser excretada para o meio ou mesmo no citoplasma da clula. Evaso das defesas do hospedeiro: 1) Fungos melanizados so mais resistentes a fagocitose por macrfagos melaninas so polmeros carregados e hidrofbicos, e sua presena na parede celular altera a carga da superfcie do fungo e esse fato pode interferir com a fagocitose.
5) CPSULA Polissacardeo capsular, o principal fator de virulncia do fungo oportunista Cryptococcus neoformans. Essa caracterstica encontrada, entre os fungos, somente em C. neoformans. Localiza-se na poro externa da parede celular, porm pode ser liberada, se acumulando no tecido durante a infeco. Estrutura: Contm 2 principais polissacardeos glucuronoxilomanana (GXM) e galactoxilomanana (GalXM). GXM um polmero linear de manose com ramificaes de cido glucurnico e xilose e grupos O-acetil e de alto peso molecular. GalXM um polmero linear de galactose, que contm ramificaes de galactose, manose e xilose.
A composio e a estrutura da cpsula podem variar entre os isolados de C. neoformans, e esta caracterstica agrupa os isolados em sorotipos (A, B, C, D e AD). C.neoformans modula a espessura da cpsula em resposta as condies ambientais. Ocorre induo do crescimento da cpsula por limitao de ferro, presena de soro, meio com baixa disponibilidade de nutrientes, CO2 e pH bsico. Algumas condies associadas represso da formao da cpsula so altas concentraes de glucose, aumento da presso osmtica ou meio rico em nutrientes. Contribuies importantes da cpsula: proteo contra fagocitose, diminui o recrutamento de leuccitos para o stio de infeco, diminui a produo de anticorpos, proteo contra dessecao no meio ambiente, importante para formao de biofilme. As propriedades anti-fagocticas de GXM poderia ser, parcialmente, devido repulso eletrosttica entre a levedura capsulada e as clulas fagocticas. A GXM capaz de ativar a via alternativa do complemento, porm esse polissacardeo liberado pelo fungo no hospedeiro causando uma ligao e a conseqente depleo de opsoninas (molculas que aumentam a fagocitose pelos macrfagos) produzidas pela ativao dessa via. GXM inibe a migrao de neutrfilos para o stio de infeco esse polissacardeo induz a perda de molculas de superfcie dos neutfilos, que so responsveis pela adeso ao endotlio vascular e conseqente migrao dos neutrfilos para o stio de infeco. Esse fato ocorre na criptococose disseminada. 6) ADESINAS A aderncia o primeiro passo nos processos infecciosos, sendo assim, necessrio que o fungo expresse diferentes molculas na superfcie que sero responsveis por esse processo. Essas molculas so conhecidas como adesinas e apresentam uma expresso diferencial na fase levedura e na fase hifa. O processo de adeso importante para a colonizao e posterior invaso dos fungos no tecido hospedeiro. Ex: Gp43, de P. brasiliensis, promove ligao a laminina (promove a adeso a membrana basal ou a outras molculas da matriz extracelular), sendo assim, ligao da gp43 a laminina facilita a adeso e disseminao do fungo para outros tecidos.
7) ENZIMAS HIDROLTICAS Nas ltimas dcadas, as enzimas dos patgenos microbianos tem merecido ateno para o seu potencial papel na patognese, e como possvel alvo para confeco de inibidores sintticos que possam tratar as infeces. Fungos secretam Proteases, Lpases e Fosfolipases no meio. Essas enzimas desempenham papel importante no metabolismo dos fungos, porm podem estar envolvidas na patognese da infeco, causando dano ao hospedeiro e suprindo nutrientes necessrios para o fungo. Proteases Os fungos elaboram uma ampla variedade de enzimas e as proteases so ativas em uma ampla faixa de pH (pH 4 a 11) e exibem uma ampla especificidade de substratos.
As proteases podem ser subdivididas em dois principais grupos: exopeptidases e endopeptidases, dependendo do seu stio de ao. As exopeptidases clivam ligaes peptdicas prximas aos terminais amino e carboxi do substrato e as endopeptidases clivam ligaes peptdicas distantes dos terminais. Baseado tambm no grupo funcional presente no seu stio ativo, as proteases so classificadas em serina proteases, asprtico proteases, cistena/tiol proteases e metaloproteases (requerem um on divalente em seu stio ativo). Alguns inibidores das classes de proteases so ferramentas importantes para uma futura terapia antifngica. Funes fisiolgicas das proteases: Sntese e degradao de protenas, participao na esporulao, germinao do condio, nutrio (hidrlise de polipeptdeos em pequenos peptdeos e aminocidos), regulao da expresso gnica; As proteases so consideradas tambm um importante fator de virulncia fngico, uma vez que podem auxiliar o fungo na invaso tecidual e no escape do sistema imune do hospedeiro. As proteases mais bem estudadas e discutidas so as Asprtico proteases secretadas (Saps) de Candida albicans. Essas enzimas facilitam a invaso e a colonizao do tecido hospedeiro, rompendo a mucosa e degradando protenas componentes da defesa estrutural e imunolgica: lactoferrina da saliva, imunoglobulinas, enzimas da exploso respiratria no macrfago, protena C3 do sistema complemento, colgeno, fibronectina, laminina e outras. Apresentam expresso diferencial nos diferentes tipos de infeco por C. albicans. Fosfolipases O termo fosfolipase descreve um grupo heterognio de enzimas com habilidade de hidrolisar 1 ou mais ligaes ster nos glicerofosfolipdeos. A diferena das vrias fosfolipases baseada no modo de ao e alvo dentro dos fosfolipdeos, que so os principais componentes das membranas biolgicas. As subclasses so Fosfolipases A, B, C e D. Vrios estudos j demonstraram a presena de fosfolipases nos fungos Candida spp, Cryptococcus neoformans e Aspergillus fumigatus. Em Candida albicans, a principal atividade fosfolipase foi detectada nos meios de cultura e foi devido a Fosfolipase B (PL B). A expresso dessa enzima pode ser regulada por suplementao nutricional, temperatura, pH e fase de crescimento das clulas de C. albicans. As funes da PLs durante a infeco no so precisamente entendidas, mas acredita-se que estejam envolvidas na penetrao na clula hospedeira, adeso e invaso clula epitelial. C.albicans que no possuem atividade fosfolipase, apresentam uma menor virulncia. Lipases As lipases catalisam a hidrlise e sntese de triglicerdeos. Algumas funes das lipases extracelulares, nos micro-organismos, incluem a digesto de lipdios para aquisio de nutrientes, adeso ao tecido hospedeiro, interaes sinergstica com outras enzimas, iniciar processos inflamatrios.
8) DIMORFISMO E MUDANA FENOTPICA Depende da alterao de temperatura ou nutrientes, favorecendo a instalao do fungo. Os fungos termodimrficos representam uma famlia de seis ascomicetos relacionados filogeneticamente: Blastomyces dermatitidis, Coccidioides immitis, Histoplasma capsulatum, Paracoccidioides brasiliensis, Sporothrix schenckii e Penecillium marnefeii. Esses patgenos so capazes de converterem a forma saproftica filamentosa (hifa e condios), encontrada no meio ambiente, para a forma patognica de levedura (ou esfrula em C. immitis) quando dentro do hospedeiro a 37C. Essa converso morfolgica no fungo termodimrfico requerida para virulncia. A converso pode oferecer proteo contra a morte por neutrfilos e macrfagos. Os neutrfilos so mais eficientes em matar condios do que leveduras. A mudana de morfologia nesses fungos tambm acompanhada por uma mudana de expresso de molculas de superfcie e esse fato conhecido como mudana fenotpica. Ex: aumento de -glucanas na parede celular da forma de levedura com consequente diminuio de -glucanas. Esse processo correlacionado com aumento de virulncia, pois as -glucanas se sobrepem s -glucanas, diminuindo o efeito imunoestimulador destas (Os macrfagos apresentam receptores para -glucanas e uma vez ligadas a esses receptores, ocorre uma sinalizao para produo de citocinas pr-inflamatrias pelo macrfago) -glucanas na parede celular das leveduras de fungos termodimrficos a) mascara componentes da parede celular . b) Pode tambm ser responsvel por proteger o fungo das enzimas digestivas dos fagcitos (beta-glucanases), impedindo a hidrlise de beta-glucanas da parede. c) Impede que as -glucanas da parede dessas leveduras, se liguem aos receptores no macrfago, diminuindo a produo de citocinas pr-inflamatrias. B. dermatitidis expressa, quando na fase de levedura, uma molcula conhecida como BAD1, com funo de adesina e importante para virulncia. Essa molcula induz a diminuio de citocinas pr-inflamatrias e aumento de citocinas anti-inflamatrias, promovendo a progresso da infeco. H. capsulatum expressa, na fase de levedura, uma molcula conhecida como CBP1 (protena de ligao ao clcio), que essencial para crescimento e sobrevivncia dentro do macrfago. Dimorfismo invertido em Candida albicans Entre os fatores de virulncia estudados em C. albicans, o dimorfismo est entre eles. Esse fungo capaz de crescer como levedura ou na forma de hifa e pseudohifa. Essa mudana morfolgica (levedura hifa), que no est associada mudana na temperatura, como descrito anteriormente, tambm contribui para a expresso diferencial de adesinas (protenas da superfcie que esto envolvidas no reconhecimento e adeso) e proteases (envolvidas na invaso tecidual). A hifa tambm promove uma fora mecnica para invaso tecidual ou escape do interior dos macrfagos.
9) BIOFILME Na maioria dos ambientes naturais, os micro-organismos existem predominantemente como biofilme. Biofilme so comunidades microbianas estruturadas, fixadas a uma superfcie. Os microorganismos em um biofilme so embebidos dentro de uma matriz de polmeros extracelulares (carboidratos, protenas, fsforo e hexosaminas e gua). So menos susceptveis a os agentes anitimicrobianos. Placa dentria, superfcie de cateteres, vlvulas cardacas. O biofilme nas infeces pode ser composto por uma nica espcie microbiana ou por uma mistura de bactria e fungo. O biofilme formado por Candida albicans tem sido o mais estudado, uma vez que esse gnero pode ser causador de infeces superficiais e tambm profundas. Podemos encontrar no biofilme formado por Candida albicans, leveduras ovais, hifas e pseudohifas. um importante agente de infeces nosocomiais. Pode ser encontrado formando biofilme em cateteres urinrios, de infuso parenteral, tubo intratraqueal, dentaduras. Esse agente pode ser introduzido pela prpria pele do paciente ou pelas mos de profissionais da sade. a)Resistncia a drogas antibiticos, antispticos e biocidas industriais. Possveis mecanismos: 1) Penetrao restrita atravs da matriz; 2) mudana fenotpica resultante do aumento no crescimento ou limitao de nutrientes, isto ocorre uma adaptao pela mudana de molculas expressas na superfcie e assim modificao da susceptibilidade a droga e 3) expresso de genes de resistncia induzida pelo contato com a superfcie.(expresso da bombas de efluxo multidroga resistente). b)Proteo contra a resposta imune Formao de biofilme maduro e produo da matriz extracelular fortemente dependente da espcie, do isolado, e das condies ambientais (pH, composio do meio (glucose e lipdio) e oxignio).