Estado do Grão-Pará e Maranhão
Estado do Maranhão (1621-1654) Estado do Maranhão e Grão-Pará (1654-1751) Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1772) | ||||
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Bandeira de Portugal sob Dinastia Filipina | ||||
Continente | América do Sul | |||
País | Reino de Portugal | |||
Capital | São Luís (1615-1737) Santa Maria de Belém do Grão-Pará (1737-1771/1774) | |||
Língua oficial | Português | |||
Outros idiomas | Francês, idiomas indígenas, idiomas africanos | |||
Governo | Monarquia | |||
Rei | ||||
• 1621 | Filipe II de Portugal (Filipe III da Espanha) | |||
• 1772 | José I de Portugal | |||
Governador e Capitão-General | ||||
• 1751 - 1759 | Francisco Xavier de Mendonça Furtado | |||
• 1759 - 1763 | Manuel Bernardo de Melo e Castro | |||
• 1763 - 1772 | Fernando da Costa de Ataíde Teive | |||
• 1772 - 1780 | João Pereira Caldas | |||
Período histórico | Era dos descobrimentos Colonização da América Maneirismo/Quinhentismo Barroco Neoclassismo/Arcadismo Revoluções do Atlântico | |||
• 1615 | Fim da Ocupação Francesa do Maranhão | |||
• 13 de Junho de 1621 | Fundação | |||
• 1652 | Extinção temporária[1] | |||
• 1654 | Estado do Maranhão renomeado Estado do Maranhão e Grão-Pará | |||
• 1737 | Transferência da capital para Santa Maria de Belém do Grão-Pará | |||
• 1751 | Nomeação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado e inversão do nome para Estado do Grão-Pará e Maranhão | |||
• 1771/1774 | Extinção do Estado do Grão-Pará e Maranhão | |||
• 20 de agosto de 1772 de 1772 | Criação do Estado do Maranhão e Piauí e Estado do Grão-Pará e Rio Negro |
O Estado do Grão-Pará e Maranhão (região inicialmente chamada de Mairi)[2] foi uma unidade administrativa portuguesa na América do Sul. Criado com a denominação de Estado do Maranhão em 13 de junho de 1621, por Filipe II de Portugal (ou Filipe III da Espanha), no Norte da América Portuguesa (atual Brasil), e renomeado Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1654, e Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1751, o qual foi dividido em 1772.
No seu período áureo, sua extensão territorial abrangia os atuais estados do Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima.
Historiografia
editarParte da historiografia sustenta que as duas unidades resultantes do desmembramento do Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1772/1774 (Estado do Grão-Pará e Rio Negro e Estado do Maranhão e Piauí) permaneceram subordinadas a Lisboa.[3]
Outros estudos afirmam que a separação do Pará e do Maranhão, caracterizados como "pseudo-estados", levando à reintegração à antiga repartição do Estado do Brasil.[4] Entretanto, o Estado do Grão-Pará permanece como uma colônia autônoma portuguesa na prática até 1823, quando foi anexado autoritariamente pelo Império do Brasil, recém fundado.[5]
A historiografia contemporânea da Amazônia tem reiterado a desconexão entre Brasil e o Grão-Pará, mesmo após a fuga da família real para o Rio de Janeiro em 1808 e após a fundação do Reino do Brasil, no âmbito do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, permanecendo Belém vinculada diretamente a Lisboa e praticamente desligada em vários aspectos da capital fluminense.[6]
Etimologia
editarOs tupinambás inicialmente habitavam a região, estes consideravam-se filhos do grande ancestral e herói "Maíra", assim o topônimo "Mairi", utilizado para representar o território tupinambá (os atuais estados brasileiros do Amapá, Pará e, Maranhão), com origem no nheengatu, inicialmente significaria o "território de Maíra" ou "terra dos filhos de Maíra".[7] Mas esta divindade foi associada aos "homens brancos" e, em especial, aos navegadores franceses, passando a serem chamados de "Maíras"[8] ou “Mair”, e assim a região de "Mairi" passou a representar o "lugar dos franceses".[7]
Cronologia
editar- 1534 — D. João III (Coroa Portuguesa) divide o Brasil em 14 capitanias hereditárias, comandadas por 12 capitães donatários, entre elas a do Maranhão, que incluía o território do atual Estado do Pará, com capital em São Luís;[9]
- 1548 — criação do Governo Geral, para superar as dificuldades das capitanias e centralizar política e administrativamente a colônia, de acordo com instruções vindas de Portugal.[10]
- 1572 — D. Sebastião divide a administração da colônia em dois governos gerais: o Governo do Norte, com sede em Salvador, responsável pelos territórios da capitania da Baía de Todos os Santos à capitania do Maranhão, e o Governo do Sul, com sede no Rio de Janeiro, que administrava os territórios da capitania de Ilhéus para o Sul.[10]
- 1612 — fundação de São Luís do Maranhão durante as invasões francesas, pelo comandante Daniel de la Touche, responsável pela criação do projeto de expansão colonial chamado de França Equinocial.
- 1616 — fundação do Forte do Presépio e do povoado colonial Feliz Lusitânia na região indígena de Mairi[11][12][13] (atual município de Belém do Pará, entreposto comercial do cacicado marajoara)[14][15][16][17][18] localizada na então Conquista do Pará/ Império das Amazonas; a primeira construção desse tipo e a mais significativa no território amazônico;[19]
- 1621 — no contexto da Dinastia Filipina e da União Ibérica (1580-1640), o território da América Portuguesa foi dividido por Filipe III de Espanha em duas unidades administrativas autônomas: o Estado do Maranhão ao norte, com capital em São Luís, abrangeu a capitania do Grão-Pará, a capitania do Maranhão e a capitania do Ceará, a fim de assegurar a posse do território e promover o desenvolvimento; e o Estado do Brasil ao sul, cuja capital era Salvador, abrangendo as demais capitanias;[20][21]
- 1654 — o Estado do Maranhão passa a ser designado Estado do Maranhão e Grão-Pará;[22][23]
- 1665 — desmembrada a Capitania da Ilha Grande de Joanes, compreendendo a Ilha de Marajó, doada a António de Sousa de Macedo;
- 1737 — a capital do Estado do Maranhão e Grão-Pará é transferida de São Luís para Santa Maria de Belém do Grão-Pará;
- 1751 — o Estado do Maranhão e Grão-Pará passa a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão, compreendendo os atuais Estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí;[24][21]
- 1754 — reincorporação da Capitania da Ilha Grande de Joanes, readquirida pela coroa portuguesa ao neto do donatário original;
- 1755 — criação da Capitania de São José do Rio Negro (atual Amazonas), desmembrada da capitania do Grão-Pará, mas ainda integrada ao Estado do Grão-Pará e Maranhão, que passou a compreender quatro capitanias: São José do Rio Negro, Grão-Pará, Maranhão e Piauí;
- 1772 — o Estado do Grão-Pará e Maranhão é dividido em duas unidades administrativas: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, com sede em Belém, e o Estado do Maranhão e Piauí, com sede em São Luís;[20]
- 1774 — Parte da historiografia defende que a fim de centralizar e aumentar o controle colonial, os Estados do Grão-Pará e Rio Negro e do Maranhão e Piauí, passam à condição de capitania e são integrados ao Estado do Brasil, sendo subordinados ao vice-rei do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.[25][21] Porém outra parte da historiografia contemporânea defende que ainda havia completa desconexão entre Brasil e o Grão-Pará mesmo após a fuga da família real para o Rio de Janeiro em 1808 e após a fundação do Reino do Brasil, com Belém sendo vinculada diretamente a Lisboa e sem subordinação ao Rio de Janeiro.[6]
Antecedentes
editarEm 1612, uma expedição francesa partiu do porto de Cancale, na Bretanha, sob o comando de Daniel de La Touche, Senhor de la Ravardière, com o intuito de fixar uma colônia na América do Sul. Com cerca de quinhentos colonos a bordo, a expedição aportou na costa norte do atual estado brasileiro do Maranhão. Daniel de La Touche explorara a região em 1604, mas a morte do soberano francês tinha adiado os seus planos de colonização.
Para facilitar a defesa, os colonos estabeleceram-se numa ilha, onde fundaram um povoado denominado de "Saint Louis" (atual São Luís), em homenagem ao soberano, Luís XIII de França (1610-1643). No dia 8 de Setembro de 1612, frades capuchinhos rezaram a primeira missa, tendo os colonos iniciado a construção do Forte de São Luís.
Cientes da presença francesa na região, os portugueses reuniram tropas a partir da capitania de Pernambuco, sob o comando de Alexandre de Moura. Os franceses se aliaram aos índios na resistência contra os portugueses e em novembro de 1615, a cidade retornou ao domínio português sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, que se tornou o primeiro capitão-mor do Maranhão.
Evolução institucional
editarO Estado do Maranhão foi criado em 13 de junho de 1621 por Felipe III, Rei da Espanha (Felipe II de Portugal), compreendendo as capitanias do Maranhão, Pará, Piauí e Ceará.[26] Com a criação deste Estado, a América Portuguesa passou a ter duas unidades administrativas: Estado do Maranhão, com capital em São Luís, e Estado do Brasil, cuja capital era Salvador. O objetivo da criação deste Estado era o de melhorar a defesa militar na Região Norte e estimular as atividades econômicas e o comércio regional com a metrópole.
O primeiro governador foi Francisco Coelho de Carvalho, que tomou posse em 1626.[27]
Em fevereiro de 1637, tinha a seguinte população de origem europeia:
- São Luís: 250 colonos, 60 soldados;
- Belém: 80 colonos, 50 soldados;
- Ceará: 30 colonos, 4 ou 5 soldados;
- Curupá: 30 colonos.[26]
Em 23 de fevereiro de 1652, foi publicado um Decreto Real, que dividiu o Estado em duas capitanias autônomas: Pará, a ser comandada por Inácio do Rego Barreto; e Maranhão, a ser comandada por Baltasar de Sousa Pereira.[28]
Em 1654, o Estado do Maranhão passa a ser designado Estado do Maranhão e Grão-Pará.[22][23]
Em abril de 1655, foi reinstituído o Estado do Maranhão e do Grão Pará, a ser governado por André Vidal de Negreiros.[28]
Em 1751 o Estado do Maranhão e Grão-Pará passou a chamar-se Estado do Grão-Pará e Maranhão, com a capital transferida de São Luís para Santa Maria de Belém do Grão-Pará.
Posteriormente, em 1772, foi dividido em dois Estados: o Estado do Maranhão e Piauí, com sede em São Luís, e o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, com sede em Belém. A integração política da Amazônia ao Brasil só aconteceu efetivamente a partir da anexação em 1823 promovida pelo Império do Brasil.
Ver também
editarReferências
- ↑ Sampaio, Patrícia Melo. Administração colonial e legislação indigenista na Amazônia Portugues. In: Mary del Priore & Flávio dos Santos Gomes (orgs.). Os senhores dos rios: Amazônia, margens e histórias, Rio de Janeiro, Campus/Elsevier, 2003, p. 123-140, [1].
- ↑ Neves, Ivânia dos Santos (2022). Mairi a terra de maíra: a ancestralidade indígena eclipsada em Belém. 7. Rio de Janeiro: Policromias revista do discurso, imagem e som. pp. 178–205
- ↑ Schwarcz, L. M. (2015). Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, "Estado+do+Grão-Pará+e+Rio+Negro"+independencia&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjo8oOYuMrKAhUCiZAKHbWJDfIQ6AEINTAF#v=onepage&q=%22Estado%20do%20Gr%C3%A3o-Par%C3%A1%20e%20Rio%20Negro%22%20independencia&f=false.
- ↑ dos Santos, Fabiano Vilaça. «O governo das conquistas do norte: trajetórias administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1780)». Catálogo USP
- ↑ PINHEIRO, Luís Balkar Sá Peixoto (2000). «De vice-reino à Província: tensões regionalistas no Grão-Pará no contexto da emancipação política brasileira». Revista Somanlu
- ↑ a b RICCI, Magda (2010). «Pátria minha: portugueses e brasileiros no Grão-Pará (1808-1840)». Entre Mares: o Brasil dos Portugueses
- ↑ a b Neves, Ivânia dos Santos (2022). Mairi a terra de maíra: a ancestralidade indígena eclipsada em Belém. 7. Rio de Janeiro: Policromias revista do discurso, imagem e som. pp. 178–205
- ↑ NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 254
- ↑ «Administração no Brasil Colonial». Conhecimentos Gerais. Consultado em 20 de outubro de 2015
- ↑ a b «Administração no Brasil Colonial». Super Zap. Consultado em 20 de outubro de 2015
- ↑ Silvestrin, Celsi Brönstrup; Noll, Gisele; Jacks, Nilda (2016). Capitais brasileiras : dados históricos, demográficos, culturais e midiáticos. Col: Ciências da comunicação. Curitiba (Paraná): Appris Eireli. ISBN 9788547302917. OCLC 1003295058. Consultado em 30 de abril de 2017. Resumo divulgativo
- ↑ «Brasil, Pará, Belém, História». Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2012. Consultado em 8 de março de 2018
- ↑ Pereira, Carlos Simões (28 de outubro de 2020). «Das origens da Belém seiscentista e sua herança Tupinambá». Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento (10): 146–160. ISSN 2448-0959. Consultado em 13 de janeiro de 2022
- ↑ «I DECLARAÇÃO AOS POVOS SOBRE O TERRITÓRIO MURUCUTU TUPINAMBÁ». Idade Mídia. 7 de janeiro de 2022
- ↑ «Brasil, Pará, Belém, História». Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2012. Consultado em 8 de março de 2018
- ↑ da Costa TAVARES, Maria Goretti (2008). «A Formação Territorial do Espaço Paraense». Universidade Federal do Pará (UFPa). Revista ACTA Geográfica nº 3 - Ano II. ISSN 1980-5772. doi:10.5654/actageo2008.0103.0005. Consultado em 4 de maio de 2016
- ↑ «Veja como foi a fundação de Belém em 1616 e conheça sua história». G1 Pará. 9 de janeiro de 2016. Consultado em 4 de maio de 2016
- ↑ «I DECLARAÇÃO AOS POVOS SOBRE O TERRITÓRIO MURUCUTU TUPINAMBÁ». Idade Mídia. 7 de janeiro de 2022
- ↑ «História do Pará». Info Escola. Consultado em 11 de agosto de 2013
- ↑ a b «No tempo das fábricas». Arquivo Nacional. Consultado em 19 de outubro de 2015
- ↑ a b c «A formação territorial do espaço paraense: dos fortes à criação de municípios»
- ↑ a b A escrita jesuítica da história das missões no Estado do Maranhão e Grão-Pará (século XVII), p. 4.
- ↑ a b O modelo pombalino de colonização da amazónia, p. 5.
- ↑ «Pará também nasceu de uma divisão». Diário do Pará. Consultado em 19 de outubro de 2015
- ↑ «A Administração Pombalina». Multirio. Consultado em 19 de outubro de 2015
- ↑ a b A palavra e o império: A Arte da língua brasílica e a conquista do Maranhão, Pablo Antonio Iglesias Magalhães, disponível na internet, acesso em 04 de novembro de 2016.
- ↑ Crônica e História: a Companhia de Jesus e a Construção da História do Maranhão, acesso em 26 de novembro de 2016.
- ↑ a b Os Jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: Uma Análise Sobre os Escritos dos Protagonistas da Missão, acesso em 11 de novembro de 2016.
Ligações externas
editar- O governo das conquistas do norte: trajetórias administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1780)
- Os governadores do Estado do Grão-Pará e Maranhão: perfis sociais e trajetórias administrativas (1751-1780)
- Palácio e residência dos governadores da capitania do Grão-Pará e Maranhão. O projecto de Landi
- As capitanias do Grão-Pará (1616 - 1753) - Elis de Araújo Miranda
- A escrita jesuítica da história das missões no Estado do Maranhão e Grão-Pará (século XVII)