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Le Chevalier e a Exposição Universal
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Le Chevalier e a Exposição Universal
E-book203 páginas2 horas

Le Chevalier e a Exposição Universal

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Sobre este e-book

1867. Um assassinato. Uma conspiração internacional. Um espião sem nome.

A poucos dias da abertura da Exposição Universal de 1867, o assassinato de um agente francês ameaça a celebração que consolidaria Paris como a capital do mundo moderno. Assassinos e chantagistas se espalham no submundo da espionagem internacional, inflamados pela vitória da Prússia em uma guerra relâmpago contra a Áustria. Muitos temem os olhares cobiçosos de Bismarck sobre a rica e aristocrática França.
Mergulhado nas trevas, o Bureau de Investigações convoca o seu melhor homem. Um agente sem passado e sem nome. A serviço da sua Majestade, ele é conhecido apenas como: Le Chevalier!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de dez. de 2024
ISBN9788554472641
Le Chevalier e a Exposição Universal

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    Pré-visualização do livro

    Le Chevalier e a Exposição Universal - A.Z. Cordenonsi

    Copyright© 2024 A. Z. Cordenonsi

    Todos os direitos dessa edição reservados à editora AVEC.

    Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos ou em cópia reprográfica, sem a autorização prévia da editora.

    Editor: Artur Vecchi

    Capa e projeto gráfico: Coletivo Criaturas | Bruno Romão

    Revisão: Ismael Chaves

    Adaptação para eBook: Luciana Minuzzi

    2ª edição, 2024

    Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    C 794

    Cordenonsi, A. Z.

    Le Chevalier e a exposição universal / A. Z. Cordenonsi. – 2. ed. – Porto Alegre : Avec, 2024.

    ISBN 978-85-5447-251-1

    1. Ficção brasileira I. Título

    CDD 869.93

    ____________

    Índice para catálogo sistemático: 1.Ficção : Literatura brasileira 869.93

    Caixa Postal 6325

    CEP 90035-970 — Porto Alegre — RS

    [email protected]

    www.aveceditora.com.br

    @aveceditora

    Sumário

    agradecimentos

    prólogo

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17

    18

    agradecimentos

    O meu eterno e especial agradecimento recai, sempre, sobre os ombros da primeira e mais especial leitora, Giliane, que aguenta todos os percalços da minha produção. Se pudesse, arranjaria uma dúzia de drozdes para ela.

    Ao Artur Vecchi, editor e companheiro, que incentivou, editou, reclamou, elogiou e brigou até que a obra estivesse concluída, construiria um drozde falcão.

    A Gaston Leroux, escritor da versão mais conhecida do Fantasma da Ópera, cuja obra inspirou a criação do Le Chevalier, lhe presentearia um drozde coruja.

    E, é claro, ao mais incrível grupo que já conheci: W.C.M., com Cesar Alcázar, Christopher Kastensmidt e Duda Falcão. Que uma matilha de lobos drozdes os acompanhem!

    Torres, verão de 2014.

    prólogo

    Paris, Parque da Exposição Universal, 1867

    Milhares de lampiões a querosene espalhavam seu brilho como vaga-lumes na noite abafada do Campo de Marte. Trabalhadores executavam piruetas dependurados em andaimes, soldando as últimas escoras, e guindastes bufavam e chiavam para levar as pesadas esculturas até os andares superiores da magnífica construção que abrigaria o parque da Exposição Universal. Mesmo tarde da noite, os operários não poupavam esforços para realizar o sonho do Imperador Napoleão III.

    Enquanto sangue e suor eram gastos em doses cavalares, drozdes pessoais acompanhavam seus amos, esgueirando-se por entre a floresta de aço e argamassa para amparar os humanos a quem foram conectados. Um observador mais atento notaria suas formas desengonçadas e seu comportamento errático. Afinal, entre a classe operária, autômatos complexos eram raros. Muitas vezes, o drozde não passava de um relógio mecânico sofisticado.

    Construídos em latão ou zinco, ainda havia alguns de segunda mão, mas estes eram raros. Depois que o cristal de quartzo vibrava pela força das molas pela primeira vez, as minúsculas engrenagens reorientavam-se automaticamente, garantindo um comportamento individual e único para cada autômato. Para os poetas, esta era a centelha da vida mecânica: sua personalidade era definida e o drozde afeiçoava-se ao amo, permanecendo eternamente ligado a ele. A troca era possível, mas efeitos colaterais bizarros e um comportamento um tanto quanto errático desestimulavam as tentativas. Entre a miríade de gatos, cachorros e pardais mecânicos (uma verdadeira febre por drozdes pardais baseados em Ardonita¹ ocorrera havia uns dez anos, levando a fábrica do Monsieur Jaquet-Droz a produzir milhares deles. À maneira das manias de todos os lugares do mundo, o entusiasmo arrefeceu; depois de um tempo, os porões da fábrica acabaram abarrotados com a mercadoria encalhada. Como uma última medida desesperada para recuperar parte do investimento, Monsieur Jacques vendera os pardais a preços populares; agora, os pássaros habitavam boa parte das classes menos abastadas de Paris), o professeur² Verne e o ingénieur³ Dupond andavam de um lado para o outro com as pranchetas de anotação em punho, conferindo tudo nos mínimos detalhes. Um elegante basset metálico e um gato persa de bigodes dourados trotavam entre os dois homens, compartilhando com seus amos a ansiosa expectativa que parecia irradiar no canteiro de obras.

    Afinal, em apenas seis dias a exposição seria aberta e cinco anos de planejamento seriam postos à prova.

    Afastado do burburinho incessante e dos quilômetros de dutos de pressão por onde escapavam silvos agudos de vapor, um homem baixo e atarracado caminhava pela noite eterna dos corredores de apoio, que avançavam como um labirinto de portas e escadarias. O toc-toc da fina bengala de prata ressoava estranhamente agudo naquele espaço vazio, acompanhado apenas pelo roçar do longo e elegante capote negro que esvoaçava rente ao soalho de madeira encerado.

    Em seu ombro, junto à cartola negra, um drozde em forma de marmota ressonava, tranquilamente, enquanto suas patas traseiras escorregavam pela insígnia da coroa, que laureava a bandeira negra, branca e vermelha. O homem afagou a marmota com seus dedos grossos, piscando rápido. Os olhos rechonchudos, recobertos por um pincenê de aro dourado, eram vigilantes e atentos. O queixo fraco sustentava lábios finos, que carregavam uma piteira de âmbar, onde um cigarro deixava escapar a fumaça enrodilhada pela brasa acesa.

    O andar do homem era curiosamente firme e descompromissado, como se estivesse passeando em Montmartre, ou se dirigindo ao Café Anglais, em vez de perambular pelos escritórios dos representantes estrangeiros da Exposição Universal, um lugar que deveria permanecer fechado e vazio durante a noite.

    Uma luz cinzenta e pálida escapava da sua mão. O mecanismo, provavelmente um filamento de Woulfe-Lehmann alimentado por uma célula galvânica, distribuía sombras aranhosas pelos corredores opacos e o chão de tábuas, alongando a silhueta do homem atarracado e seu drozde até o início do corredor, onde um segundo homem o espreitava.

    Outro andarilho nos corredores internos da exposição era algo tão improvável quanto a ausência do Imperador Napoleão III no badalado baile de abertura, dali a cinco noites, no Palácio das Tulherias. A sua presença só poderia ser explicada pelo seu comportamento, um tanto quanto suspeito, em vigiar o homem atarracado com os olhos semicerrados, como se buscasse enxergar por trás da máscara fleumática e dos seus passos confiantes.

    As suas roupas estavam amarrotadas e empoeiradas, mas eram de boa qualidade. O chapéu-coco, da marca Bingley & Sons, era conhecido pela sua durabilidade, sendo possível encontrá-lo nas cabeças da maioria dos cidadãos parisienses naqueles dias. De abas um pouco mais largas do que o normal, o acessório ajudava a esconder os estranhos e grossos goggles, que ocultavam os olhos do sujeito. Graças a um intrincado jogo de lentes, o artefato capturava o máximo de luz possível do ambiente, o que lhe permitia rastrear sua presa a uma distância segura. E caso isso não bastasse, ele ainda podia contar com a ajuda segura do seu drozde coruja, que observava atentamente o corredor, empoleirado em seu ombro direito. Alheio à movimentação sigilosa que ocorria atrás de si, o homem atarracado repousou a elegante bengala e vasculhou com os olhos as portas que se seguiam, até que um quê de reconhecimento transpareceu em seu rosto. Levantando o bastão até a altura do queixo, ele bateu por duas vezes em uma porta e girou a maçaneta, desaparecendo em seu interior.

    O seu perseguidor não perdeu tempo; assim que aquele desapareceu, ele avançou pelo corredor com os passos rápidos, sabendo que os sapatos com as micromolas senoides abafariam sua aproximação. Com a memória fotográfica treinada em inúmeras missões, ele se aproximou da porta recém-aberta do escritório com a confiança de quem não se enganaria em um detalhe tão prosaico.

    Ao reconhecer o brasão pontilhado em um cartão preso na porta, o homem deu um passo para trás.

    Foi o seu grande erro.

    Uma mão em forma de garra apertou o seu pescoço, tão silenciosa, que seu atento drozde não percebeu, até ser tarde demais. Piando baixo, o artefato em forma de coruja voou enquanto o seu amo lutava pela própria vida.

    O homem tentou se livrar do abraço sufocante, mas o atacante era esguio e contorcia-se ao seu redor, impedindo que os seus braços musculosos encontrassem algum ponto de apoio. Ele tentou se virar, mas a dor no pescoço era excruciante: dedos longos e fortes, como torqueses, penetravam lentamente na carne mole, alcançando a traqueia e comprimindo a sua garganta até ele querer urrar, sem conseguir emitir um único som.

    A coruja piou mais uma vez e o homem arfou, lutando com as suas últimas forças. Num gesto desesperado, ele abandonou as mãos do seu atacante e buscou no bolso do capote a pistola Laumann, mas era tarde demais. Ele foi desarmado antes mesmo de poder engatilhar a arma.

    Um gemido engolido escapou quando seus sentidos esvaeceram e suas mãos descansaram ao redor do corpo.

    Bastaram apenas alguns momentos para que o atacante terminasse o seu trabalho macabro, apertando os dedos até sentir a garganta estalar entre suas falanges. O corpo escorregou para o chão, ao lado da silhueta de um homem esguio e disforme, que trajava vestes justas. Os olhos eram tão fundos quanto poços e o seu dorso parecia estranhamente retraído, como se alguém tivesse escavado parte dos seus músculos abdominais.

    Um sorriso malvado surgiu entre seus lábios finos e, com um salto atlético, ele alcançou o pequeno drozde coruja, que piava desesperado, sem entender o que estava acontecendo. Ele acariciou lentamente o pequeno artefato de cobre, como se o acalantasse da perda do amo.

    Então, uma raiva corrosiva relampejou em seus olhos, e trouxe um brilho obscuro à suas faces escorridas. Com os dentes trincados, ele destruiu o drozde, socando-o repetidamente no chão, até vê-lo desmantelado entre seus dedos. A sua respiração se tornou audível por longos momentos e somente o silêncio escuro reverberou pelos corredores vazios.

    Pouco depois, o sinistro som do arrastar de um corpo foi observado apenas pelas paredes e portas, testemunhas mudas de um assassinato feroz.


    1 Ardonita! O famoso isótopo de Osmium descoberto pelo Monsieur Ardan. Um metal leve e instável, incapaz de existir em quantidades superiores a poucas gramas sem oxidar-se. Suas propriedades antigravitacionais têm sido utilizadas em drozdes pessoais e pequenos brinquedos.

    2 Mestre.

    3 Engenheiro.

    01

    Sede do Bureau Central de Renseignments et D’Action

    — Ele foi assassinado!

    O homem estava estupefato. Mesmo após servir como gendarme⁵ por quinze anos, e responder como Comissário Especial na última década, o corpulento e irrequieto Cloud Simonet parecia incapaz de esconder a própria frustação. Trajando ainda o pesado capote cinza, apesar do calor que fazia nas dependências do escritório do Major Valois, ele cofiava os finos bigodes com uma expressão de absoluto descontentamento. Seus olhos negros pareciam tão vívidos quanto duas contas de vidro e seus lábios grossos tremiam como se ele tivesse sido obrigado e engolir algo desagradável. No chão, ao seu lado, o drozde em forma de toupeira fungava entre as pernas da cadeira.

    Valois o examinou detrás da sua elegante e vasta escrivaninha. Veterano de duas guerras, o velho soldado já vira mais mortes em períodos de paz do que nas lutas encarniçadas nas frentes de batalha e tinha pouca paciência para arroubos desse tipo. Suspirando fundo, ele olhou por entre as janelas de polideído, o material alquímico contrastando com a natureza selvagem do Lago Inferior, onde o Bureau estava assentado em sua ilha artificial. As flores dos cedros brancos estavam desabrochando na primavera e o parque Bois de Boulogne tingia-se de roxos e lilases. Um odor almiscarado espalhava-se por entre os escritórios, graças às propriedades sudocapilares do polideído.

    Um assobio fino se seguiu a um chacoalhar diletante, trazendo abruptamente o Major Valois à realidade. A locomotive⁶ pneumática, o orgulho máximo do Imperador Napoleão III, alcançara a estação na Suchet Boulevard, descarregando os seus inúmeros passageiros que se dirigiam ao centro comercial Montmorency ou que aproveitariam o dia ensolarado no parque. Por um momento, o som sibilado do escapamento do ar comprimido lhe lembrou o assovio letal dos morteiros chineses, e Valois apertou os dedos contra a palma da mão, em um gesto instintivo. Instalado havia cinco anos pelo professeur Verne, o sistema de transporte público ainda causava arrepios no Major.

    Deixando de lado os papéis que havia recebido para examinar, o comandante da seção de Espionagem e Contraespionagem do Bureau esticou as costas arqueadas e se recostou na cadeira de espaldar alto, antes de perguntar:

    — Quando?

    — Ontem à noite, enquanto vigiava o Conde Dempewolf. O seu corpo foi encontrado boiando no Rio Sena, junto ao Port de la Bourdonnais. Fizemos algumas investigações, mas é impossível descobrir qualquer coisa desde que o Imperador começou a construir aquela monstrueux⁷!

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