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Graça sobre graça: Espiritualidade para hoje
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Graça sobre graça: Espiritualidade para hoje
E-book353 páginas5 horas

Graça sobre graça: Espiritualidade para hoje

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Sobre este e-book

A espiritualidade cristã é, de forma simples, seguir a Jesus. É a vida comum de fé na qual recebemos o Batismo, vamos ao culto divino, participamos da Santa Ceia, lemos as Escrituras, oramos por nós e pelos outros, resistimos às tentações e trabalhamos com Jesus no local determinado para nós aqui na terra.

O desejo pelo cumprimento da espiritualidade, inevitavelmente combinado com a frustração espiritual, é normal entre os cristãos. Lemos e estudamos o suficiente a Bíblia? Prestamos culto o número de vezes necessário e da forma correta? Oramos o suficiente, do modo certo e pelas coisas certas? Como nos tornamos verdadeiramente espirituais? E as respostas de muitos livros de autoajuda espiritual somente levam à confusão e ao medo de perder os passos principais no caminho para nos tornarmos espirituais. Em resposta, John W. Kleinig deixa claro que não há um processo para se tornar espiritual. Em vez disso, Deus graciosamente nos dá cada dom espiritual que necessitamos, começando pelo próprio dom da fé em Cristo, nosso Salvador. Porque Deus nos uniu a Cristo, ele continuamente vem para nos dar vida.

Assim toda nossa vida como filhos de Deus é uma vida de recepção. Tendo sido justificados pela graça de Deus Pai, agora vivemos pela fé em sua graça. Porque cremos nele, agora recebemos dele cada dom espiritual. Recebemos graça sobre graça da plenitude do Cristo encarnado. "Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça." (João 1.16)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de nov. de 2023
ISBN9786555910827
Graça sobre graça: Espiritualidade para hoje

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    Graça sobre graça - John W. Kleinig

    1

    O MISTÉRIO DE CRISTO

    Pede para que as coisas invisíveis te sejam reveladas, de modo que nada abandones e superabundes em toda graça. (Inácio, Carta a Policarpo, 2.2)¹¹

    UM BANDO DE MENDIGOS

    A ARTE DE MENDIGAR

    As ruas no mundo antigo estavam cheias de mendigos que abordavam aqueles que passavam. Esses mendigos não tinham garantia do sustento; muitos deles não tinham uma rede familiar de ajuda e não podiam trabalhar devido a alguma incapacidade. Aqueles que eram desfavorecidos, como os aleijados ou os cegos, enfermos ou idosos, viúvos ou órfãos, não tinham um sistema de seguridade social para cuidar deles. Dependiam da misericórdia dos ricos para sua subsistência.

    Havia uma arte de mendigar. Por experiência, os mendigos sabiam que receberiam esmolas com muito mais facilidade ao se aproximarem das pessoas de modo agradável e apelarem para a sua melhor natureza com uma bajulação mais discreta em vez de serem agressivos ou exigentes. Assim, normalmente eles apelavam por ajuda dizendo: "Kyrie, eleison!, Senhor, tem misericórdia!" Esse pedido era ouvido quase todos os dias por todas as ruas. Os evangelhos nos contam que pessoas necessitadas usavam o mesmo pedido quando apelavam pela ajuda de Jesus (Mateus 9.27; 15.22; 17.15; Marcos 10.47-48; Lucas 17.13).

    Na verdade, era vergonhoso mendigar. Cidadãos respeitáveis tinham orgulho de ganhar a vida e de ter riqueza suficiente para cuidar dos seus dependentes. Exceto alguns homens ou mulheres trapaceiros, ninguém escolhia se tornar um mendigo. Somente o desespero os levava a buscarem caridade dos outros em público – e mendigavam somente se não tivessem outra opção.

    O Sermão da Montanha (Mateus 5 a 7) contém o ensino de Jesus sobre a vida de um discípulo. Esse sermão inicia com um assombroso resumo do seu ensino: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mateus 5.3). Aqui Jesus congratula aqueles que estão empobrecidos espiritualmente e elogia a pobreza espiritual como a marca do discipulado. A palavra grega para pobre é também o termo para mendigo. Aqueles que são pobres em espírito não têm qualidade ou credenciais espirituais. Não têm nada a oferecer a Deus Pai; eles recebem tudo dele. Os pobres em espírito não são espiritualmente ricos e poderosos; eles recebem o Espírito Santo como mendigos que pedem por aquilo que não têm. O reino do Pai é seu como um presente, algo que é sempre recebido, porém nunca possuído. A menos que recebam o reino de Deus, nunca poderão entrar e reinar nele com Cristo (Marcos 10.15; Lucas 12.32; 22.28-30).

    Essa bem-aventurança contracultural resume toda a espiritualidade cristã. Ela contradiz a religião popular e a piedade comum. A piedade popular pressupõe nosso potencial espiritual não realizado; ela procura o enriquecimento e empoderamento espirituais pela prática de exercícios espirituais apropriados. Em contraste com esse desejo de autoaperfeiçoamento e autodesenvolvimento espirituais, Jesus ensina que começamos, continuamos e terminamos nossa jornada espiritual com ele como mendigos diante de Deus Pai, o Rei Celestial. Não devemos, ao seguir a Jesus, nos tornar cada vez mais autossuficientes. Em vez disso, aprendemos, pouco a pouco, a arte de mendigar de Deus Pai; até na nossa morte não podemos fazer nada além de dizer: Senhor Jesus, tem misericórdia de mim!

    Martinho Lutero conhecia tudo sobre mendigar. Ao entardecer da noite em que ele morreu, ele escreveu uma pequena meditação sobre como aprendeu a compreender as Escrituras em sua experiência pastoral. Sua curta reflexão termina com as palavras: Nós somos mendigos. Isto é verdade.¹²

    Porque nossa vida espiritual depende do que recebemos de Deus, Cristo nos ensina a nos tornarmos mendigos com ele. Como ele, recebemos tudo de Deus Pai (João 3.35; 5.19; 8.28). Isso faz com que seja difícil, mas ao mesmo tempo fácil, vivermos como seus discípulos. É difícil porque temos um orgulho muito grande das nossas realizações e autossuficiência. Não gostamos de pedir qualquer coisa a Deus ou a outra pessoa. É muito melhor fazer sem que nos tornemos dependentes de outros. Agora, também é fácil de fazer porque nossa espiritualidade não depende da nossa performance, mas daquilo que recebemos de Deus. Ninguém é mais ou menos avantajado espiritualmente. Para mudar a imagem, temos todos que nos tornar crianças pequenas, infantes incapazes que são totalmente dependentes de suas mães (Mateus 18.3; Marcos 10.14-15; 1Pedro 2.2).

    ENRIQUECIMENTO ESTRANHO

    Em nossa jornada espiritual da pia batismal à sepultura, caminhamos diante de Deus Pai como mendigos. Mas isso é somente metade da história. Podemos ser mendigos, mas, paradoxalmente, também estamos associados aos santos anjos. Esse paradoxo maravilhoso é confessado com mais clareza no culto pela curiosa justaposição do Kyrie: Senhor, tem misericórdia e do Gloria: Glória a Deus nas alturas. No Kyrie e também nas orações do Gloria nos unimos ao bando de mendigos que apela pela misericórdia de Jesus como nosso advogado diante do Pai. No Gloria, nos unimos aos anjos que estão diante de Deus Pai em adoração e alegria, glorificando-o.

    Você deve lembrar que algo extraordinário aconteceu na noite em que Jesus nasceu em Belém. Os anjos, que até então executavam sua doxologia diante de Deus nos Céus (Salmo 29), apareceram aos pastores e os convidaram a se juntar ao seu grande canto de louvor (Lucas 2.8-14). Os anjos tinham boas razões para fazer esse convite. Com o seu nascimento humano, o Filho de Deus construiu uma ponte sobre o abismo entre Céus e Terra. Daquele dia em diante, seu corpo humano era o novo tempo de Deus, o lugar onde o povo de Deus tem acesso à presença do Pai no santuário celestial aqui na Terra (João 1.14; 2.21; Hebreus 10.19-22). Assim, agora não há mais dois lugares de adoração, um no Céu e outro na Terra, com dois cânticos de louvor, um executado pelo coro dos anjos e o outro executado por um coro humano. Agora há apenas um lugar de adoração que é tanto terreno como celestial, e apenas um único cântico de louvor cantado pelos fiéis em conjunto com os anjos. Com a encarnação de nosso Senhor começou o culto celestial, de modo misterioso e invisível, aqui na Terra, na Igreja (Hebreus 12.22-24).

    Assim, temos um duplo status, espiritualmente falando. Como filhos caídos de Adão e Eva, somos mendigos diante de Deus, mas em Cristo somos mendigos santos com status angelical. Por causa dele ficamos com os anjos na presença de Deus Pai e temos acesso à sua graça. Compartilhamos da filiação de Jesus. Glorificamos o Pai junto com os anjos.

    No Antigo Testamento e na tradição judaica, os anjos são chamados de santos porque têm acesso direto ao lugar celestial.¹³ Foi uma surpresa para mim, como estudioso do Antigo Testamento, que no Novo Testamento os cristãos são chamados comumente de os santos, os santos de Deus. Jesus se tornou um ser humano e santificou todo o círculo da vida humana, do útero à tumba, para que pudesse compartilhar sua santidade conosco de forma corporal e nos unir aos anjos na grande comunhão dos santos, a companhia dos santos. Por isso, somos mendigos santos, pessoas que estão no mesmo nível dos anjos. Mas temos esse status apenas em Cristo, porque somos santos nele. Paradoxalmente, quanto mais nos tornamos mendigos diante de Deus e vivemos em sua graça, mais razão temos para entoar o cântico de louvor junto com os anjos, o cântico que eles cantam sobre a glória de Deus nos Céus e da sua paz sobre a Terra. Nosso problema é que queremos ter a glória sem a mendicância.

    Paulo reflete profundamente no caráter paradoxal de nossa vida espiritual em 2Coríntios 4.1-12, como participação no sofrimento de Cristo, bem como na sua glória. Paulo afirma que pela pregação do Evangelho a luz de Cristo brilhou em nossos corações, de maneira que não apenas temos acesso corporal à glória de Deus, mas também temos a glória oculta em nossos corpos, como templos do Deus vivo. Nossos corpos são os locais para a teofania de Deus, lugares onde Deus aparece. Mas essa teofania acontece de uma forma estranha quando participamos no sofrimento e na morte de Cristo.

    Paulo usa uma analogia vívida para explicar esse difícil ensinamento. No mundo antigo, as casas eram iluminadas à noite por pequenas lamparinas de barro cheias de azeite. Cada uma tinha um pequeno buraco para um pavio que boiava no azeite e alimentava a chama. A presença graciosa de Deus, o tesouro de sua glória e poder, está escondida à vista, dentro de nós, como o azeite dentro de uma simples lamparina de barro. Não geramos vida e poder espiritual, mas as recebemos de Deus quando as empregamos. Paradoxalmente, a vida divina, a vida que temos em Cristo, é mais evidente em nosso sofrimento, envelhecimento e morte. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal (2Coríntios 4.11). Glória na insignificância, vida na morte, força na fraqueza, riqueza na pobreza – tudo isso marca nossa vida em Cristo. Nada é possuído; tudo é emprestado dele.

    PROGRESSO REVERSO

    No Batismo, fomos marcados com a cruz para mostrar que pertencemos a Cristo. Temos a marca dele em nós. Pela sua morte ele nos redimiu da morte e nos deu Vida Eterna com ele, na presença do Pai. Com ele, passamos da morte para a vida. Toda a nossa vida, então, está marcada pela cruz e vivida sob a cruz. Em nossa jornada da Terra para os Céus andamos com Jesus no caminho da cruz. A morte sacrificial de Cristo modela nossa vida espiritual e dá à nossa vida seu caráter paradoxal. Desse modo, o sacrifício de Cristo reverte e corrige todas as noções comuns de progresso espiritual.

    Todos nós, naturalmente, desejamos por alguma evidência de desenvolvimento e crescimento espiritual, por alguma prova clara que estamos na trilha certa como discípulos de Cristo. Nada é mais desencorajador que o fracasso, o sentimento de que estamos atolados e não vamos a lugar algum em nossa jornada espiritual. A figura que tem mais apelo para mim é a imagem da minha vida como uma jornada espiritual da escuridão para a luz (Provérbios 4.18), quando prossigo de força em força (Salmo 84.7) e de glória em glória (2Coríntios 3.18). Agora, a compreensão progressiva da vida espiritual não é formada pela minha experiência ou pelo ensino do Novo Testamento. Ali temos progresso na vida espiritual, mas é um tipo de progresso reverso ou paradoxal, nosso progresso batismal fora do nosso velho homem e em Cristo.

    Você deve lembrar que o Senhor Deus apareceu ao seu povo no Monte Sinai. Esse encontro foi a grande teofania dele, seu aparecimento principal aos filhos de Israel. Mas ela aconteceu de uma forma estranha. Sua glória, sua graciosa presença visível, estava encoberta em uma nuvem que era escura durante o dia e luminosa à noite. Ele se ocultava nesta intensa nuvem escura de modo que pudesse se revelar em segurança enquanto falava. Assim, do ponto de vista humano, quanto mais perto chegassem dele, mais profundamente entravam na escuridão. Por isso, em Êxodo 20.21 lemos que o povo estava de longe, em pé; Moisés, porém, se aproximou da nuvem escura onde Deus estava.

    A jornada de Moisés em direção à presença de Deus é um símbolo apropriado para o progresso peculiar em nossa vida espiritual: o progresso nos leva através da escuridão para a luz de Deus, em vez de afastar da escuridão. Quando amadurecemos na fé, nos movemos do orgulho próprio e de nossas próprias realizações para uma consciência gradual do nosso fracasso espiritual e da obra de Cristo em nós ao nos confiarmos a ele. Movemo-nos da convicção de que somos autossuficientes para a repetida experiência da falência espiritual. Movemo-nos das desilusões sobre a nossa importância espiritual em direção ao crescente sentimento da nossa total insignificância e da glória de Deus. Movemo-nos do prazer com nosso próprio poder para o dolorido reconhecimento da nossa fraqueza espiritual. Somos levados da nossa justiça própria para uma crescente consciência de que somos pecadores. Em cada uma dessas penosas realizações, reconhecemos a glória de Deus. Cristo preenche nosso vazio e nos justifica por graça. Em resumo, o poder de Cristo é aperfeiçoado em nossa fraqueza (2Coríntios 12.9). Abba Matoes, um professor de espiritualidade na Igreja Primitiva, resume nossa experiência do progresso de maneira simples e profunda: Quando eu era jovem, costumava dizer para mim mesmo: talvez um dia eu faça algo bom; mas agora que sou velho, vejo que não há nada de bom em mim.¹⁴

    Em nossa vida humana, crescer envolve a mudança gradual da dependência para a independência. Mas o contrário é verdade para nós, quando crescemos espiritualmente. Em nossa jornada, nos tornamos mais e mais dependentes de Cristo, para tudo e em todas as situações. Assim, não vamos da infância para a vida adulta; seguimos em frente em nossa infância espiritual quando crescemos na fé e nos tornamos pessoas de oração. Por isso é que Jesus diz para nos tornarmos criancinhas para receber nossa completa herança real como filhos e filhas de Deus (Mateus 18.3). Quando amadurecemos na fé aprendemos a empregar tudo que necessitamos e tudo que somos em Cristo. Apenas como mendigos temos acesso à presença do Pai e à sua graça. Apenas quando recebemos graça sobre graça da sua plenitude (João 1.6) podemos louvá-lo no coro celestial (Efésios

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