Medicina integrativa: A cura pelo equilíbrio
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Medicina integrativa - Paulo de Tarso Lima
melhor.
1. Princípios
e conceitos
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A medicina moderna, associada ao avanço da ciência no último século, desmembrou-se em uma série de especialidades que produzem conhecimento sobre cada pequena parte do corpo humano. Ao terminar seus estudos, o médico tende a se aprofundar em uma destas divisões – cardiologia, ortopedia, endocrinologia, anestesia, oftalmologia, oncologia etc. Encontra técnicas variadas de exames de diagnóstico por imagem, de cirurgias invasivas extremamente sofisticadas, de marcadores que indicam células doentes, de medicamentos de última geração que tendem a se tornar cada vez mais individualizados.
Mesmo assim falta alguma coisa. Continuamos sendo acometidos por doenças crônicas, perdendo qualidade de vida e fazendo fila nos consultórios e hospitais. E, mais importante, não nos sentimos cuidados e atendidos plenamente nesse processo convencional, nem conseguimos conviver melhor com a doença. Em resumo, temos um sistema de atendimento à saúde que é um sistema de atendimento à doença. Ele não previne o adoecimento: reage aos sintomas. Não busca entender o paciente inteiro, somente a parte do seu corpo que está acometida por alguma patologia. Mas não precisamos continuar assim.
Uma nova abordagem, chamada medicina integrativa, tem conquistado espaço em instituições de pesquisa, hospitais, unidades de saúde e consultórios médicos ao propor transformações nesse cenário fragmentado e nem sempre eficiente. Organizada como movimento em universidades norte-americanas de pesquisa a partir de meados dos anos 1970, uma de suas grandes inovações está na mudança de paradigma: sai a doença como foco principal da atenção e entra o paciente inteiro – mente, corpo e espírito – no centro do cuidado. Parece simples, mas é um deslocamento gigantesco que modifica toda a prática médica, numa reação em cascata: o paciente é visto como agente responsável por sua melhora, a consulta inclui atenção diferenciada, a relação médico-paciente se fortalece, a escolha de terapias se expande. Até mesmo o conceito de cura é ampliado, deixando de ser entendido apenas como ausência de doença (visão ainda comum hoje em dia) para ser visto como restauração do bem-estar físico, mental e social – definição, aliás, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Outro diferencial da medicina integrativa é a ênfase na capacidade inata de recuperação do organismo. Em outras palavras, isso significa dizer que somos capazes de participar ativamente do nosso processo de cura, apesar de não sermos educados para saber disso. A cura não vem de fora, mas de dentro – remédios, tratamentos e cirurgias são necessários para auxiliar e acelerar essa recuperação, mas não são tudo nem podem fazer todo o trabalho sozinhos. Condicionados como estamos ao pensamento racional e cartesiano, que primeiro divide em partes para depois tentar compreender e racionalizar, temos mais dificuldade do que uma criança para entender a capacidade de recuperação do corpo – um garoto de 10 anos, ao observar um machucado cicatrizando, entende melhor esse conceito do que muitos adultos.
Trata-se de uma mudança de entendimento. Por exemplo, ao se recuperar de uma pneumonia após ingerir antibióticos, qualquer pessoa pensaria que foram os remédios que levaram à cura. Já a medicina integrativa entenderia que o sistema imune do paciente, auxiliado pela redução de bactérias devido ao uso de antibióticos, foi o que permitiu a cura. Parecido, mas totalmente diferente. Na minha experiência como cirurgião, vi muitos pacientes que não cicatrizavam após a cirurgia – com o contato, descobria que eram pessoas deprimidas, que enfrentavam problemas familiares ou algum outro distúrbio emocional. Uma vez resolvidos esses conflitos, elas cicatrizavam. Eram elas mesmas, inteiras, que estavam finalmente reorganizando seu corpo, e se reorganizando, depois de um procedimento invasivo e traumático.
Isso não quer dizer que o papel do médico fique em segundo plano no tratamento. Ao contrário, embasado nesse conceito, cabe a ele orientar e ser capaz de engajar seu paciente num caminho individualizado de tratamento e prevenção, usando todas as ferramentas disponíveis e indicadas a cada um em cada momento. Para isso, o médico adepto da medicina integrativa precisa ouvir, ter tempo, estar disponível para conhecer a história pessoal, o estilo de vida e as características biológicas do paciente. Ele também necessita ter sensibilidade para perceber o estado emocional de quem o consulta. Somente depois de estabelecer um contato profundo com o paciente e de traçar seu perfil poderá capacitá-lo para alcançar mais