O amanhã a Deus pertence
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O amanhã a Deus pertence - Zibia Gasparetto
CAPÍTULO 1
Aline subiu no avião, colocou a mala de mão no bagageiro e acomodou-se gostosamente. Apanhou uma revista que a aeromoça lhe oferecera e começou a folheá-la.
Mas não conseguiu prestar atenção no que estava escrito. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse na aventura que a esperava em Miami.
Desde a adolescência, sonhava em um dia poder ir morar nos Estados Unidos e esforçara-se estudando inglês, que falava com certa fluência.
Segunda filha de um casal de classe média, desde cedo Aline se empenhou nos estudos pensando em conseguir uma bolsa em alguma escola norte-americana.
Procurou o consulado, informou-se das possibilidades. Apesar de haver intercâmbio cultural entre os dois países, eles não estavam facilitando as coisas.
Foi convidada a preencher alguns formulários e percebeu logo que a instituição não tinha interesse em receber alunos brasileiros. Enquanto cursava o segundo grau, fez tudo o que sabia para conseguir o que desejava, mas foi inútil.
Quando entrou para a faculdade de letras, conheceu Marcelo, que cursava o terceiro ano de arquitetura. E, desde o primeiro dia, ele apaixonou-se por ela.
Aline não estava querendo namorar firme, pois tinha outros projetos. Mas Marcelo insistiu, cercou-a de tantos carinhos que ela acabou cedendo.
Tanto Mário como Dalva, pais de Aline, simpatizaram logo com ele e faziam gosto no namoro. Era um rapaz de boa família, bem situado na vida, inteligente, simpático e logo estaria formado.
Mário, pai de Aline, viera de uma família modesta. Trabalhara alguns anos em uma fábrica de calçados e, com muito esforço, sacrifício e economia, conseguiu realizar seu sonho. Tornou-se comerciante: abriu uma loja de calçados no bairro de Santana.
Quando alugou o local para montar a loja, Dalva ficou temerosa.
Vai deixar o emprego? E se não der certo? Você nunca foi comerciante.
— Nunca fui, mas sei o que estou fazendo. O comércio é melhor, mais lucrativo. Acho que tenho jeito para vender. Depois, as meninas estão crescendo e poderão nos ajudar. Juntos, nós vamos prosperar.
Mário era amável, sério, tratava os clientes com atenção, pagava as contas pontualmente, e, aos poucos, sua loja ganhou credibilidade e ele começou a prosperar. Aline e Arlete, a filha mais velha, ajudavam na loja quando voltavam da escola.
Quando Marcelo conversou com Mário, desejando marcar a data do casamento, Aline tentou esquivar-se. Gostava dele, mas, ao mesmo tempo, não desejava desistir de seus projetos.
Seus pais nunca a haviam levado a sério. Para eles, Aline era sonhadora como todas as moças naquela idade. Logo se casaria, constituiria família e esqueceria essas fantasias.
Marcelo era um rapaz atraente, bonito, cheio de vida. A princípio, Aline sentiu-se muito orgulhosa de desfilar com ele pelas ruas do bairro e ver os olhares invejosos das moças da vizinhança.
Mas, com a convivência, começou a gostar dele de verdade e, naqueles tempos, deixou de lado todos seus projetos.
Quando ele se formou, o pai deu-lhe dinheiro para montar um escritório. Marcelo associou-se a um colega, e juntos começaram a trabalhar. Rodrigo, como ele, pertencia a uma família de classe média. Tornaram-se bons, prósperos profissionais, obtiveram sucesso.
Marcelo montou uma linda casa e casou-se com Aline. A princípio, tudo correu bem. Ela envolveu-se inteiramente com a nova vida, continuando os estudos e dedicando-se aos afazeres da casa.
Mas, com o passar do tempo, a rotina foi tomando conta, fazendo-a retomar seus antigos objetivos.
Marcelo desejava filhos, mas ela esquivava-se, alegando que só os teria quando acabasse os estudos e pudesse se dedicar completamente ao papel de mãe.
Depois de formada, sentiu-se frustrada, não tendo onde exercer seus conhecimentos. Pensou em arranjar um emprego, mas Marcelo foi contra.
Aline, porém, foi se tornando uma pessoa triste, irritada, dizendo que havia estudado durante tantos anos para nada.
— Logo, teremos filhos, e você, como mãe, será mais feliz do que trabalhando para os outros.
Aline, contudo, não engravidava e tornava-se mais aborrecida a cada dia. Ele não suportava vê-la triste, sem vontade de conversar e acabou concordando que ela arranjasse um emprego, fazendo-a prometer que, quando engravidasse, iria abandoná-lo. Aline logo arranjou um emprego em uma empresa de comércio exterior e começou a trabalhar com entusiasmo.
Em pouco tempo, voltou a ser a moça alegre de sempre, e Marcelo sentiu-se feliz.
Lembrando-se do marido, Aline remexeu-se na poltrona do avião. Uma sensação desagradável a acometeu. Àquela hora, ele certamente já teria lido a carta. Deveria estar desesperado.
Ela havia pensado muito antes de tomar aquela decisão. Reconhecia que Marcelo era um marido ideal, que a amava profundamente, mas, por outro lado, sentia que nunca havia correspondido a esse amor como ele merecia.
Muitas vezes, sentia-se irritada com a maneira como ele a tratava, fazendo-lhe todas as vontades, sendo tão passivo.
Nessas ocasiões, tornava-se um tanto agressiva, provocando-o para ver se ele reagia, mas não. Marcelo fazia exatamente o oposto do que ela queria. Ela teria preferido que ele se posicionasse de outra forma, fosse mais exigente. Aos poucos, Aline foi perdendo a admiração que sentia por ele e o amor foi morrendo.
Por outro lado, a vontade de deixar aquela vida sem graça e de tentar a sorte nos Estados Unidos reapareciam com toda a força.
Quando recebeu a proposta de uma empresa para trabalhar no escritório de Miami, ela não conteve o entusiasmo. Era tudo o que ela mais queria. Não podia perder essa chance tão ardentemente desejada. Sabia que Marcelo não aceitaria e, para ir, teria de acabar com o casamento. Para ela, o relacionamento acabara havia muito. Não o amava mais nem desejava continuar fingindo um sentimento que não possuía.
Sabia que ele iria sofrer, mas considerava pior continuar enganando-o. No começo, ele ficaria desesperado, mas, com o tempo, acabaria esquecendo, tocando a vida para frente, e encontraria outra pessoa que lhe oferecesse o amor que ela não estava apta a dar.
Naquele momento, reconheceu que nunca o amara de verdade. Por isso, mesmo sem ele saber, continuou tomando pílulas para não engravidar.
A aeromoça estendeu-lhe a bandeja com o jantar, e Aline, arrancada de seus pensamentos íntimos, apressou-se a abrir a mesa à sua frente.
Sentiu fome e começou a comer prazerosamente. Precisava banir os pensamentos tristes. Estava realizando seu grande sonho e vivendo um momento especial em sua vida. O passado havia ficado para trás.
Certamente, seus pais não aceitariam o que ela havia feito. Quando soubessem, iriam tentar fazê-la voltar atrás, mas ela não cederia. Estava disposta a assumir as consequências de sua decisão e seguir em frente.
O filme ia começar na televisão à sua frente, e Aline ajeitou-se satisfeita, disposta a não perder nada. Era uma comédia, e ela adorou.
Depois, as luzes foram apagadas, e todos tentaram dormir. Aline ajeitou o pequeno travesseiro, colocou a manta sobre as pernas e procurou acomodar-se.
Estava cansada, mas sem sono, devido à excitação da aventura. Quase não dormira na noite anterior e o dia fora cansativo, tendo que preparar tudo às escondidas.
Procurou relaxar e finalmente adormeceu. Algum tempo depois, sonhou que o avião estava atravessando uma tempestade e havia perigo. Os passageiros estavam assustados, e, de repente, ela viu entre eles a figura de Marcelo, com o rosto machucado, sangue escorrendo do peito e das pernas.
Ele gritava seu nome desesperado. Parou diante dela e disse aflito:
— Aline! Finalmente a encontrei! Não me deixe nunca mais! Diga que ficará para sempre ao meu lado.
Aline deu um grito e acordou suando frio, com dificuldade para respirar.
Na mesma hora, as luzes do avião acenderam-se, e uma aeromoça foi até ela dizendo:
— Calma. Está tudo bem. Você sonhou.
— O que aconteceu com Marcelo? Ele estava cheio de sangue. Como veio parar aqui?
Outra aeromoça colocou um copo com água na mão de Aline, dizendo:
— Acalme-se. Você teve um pesadelo. Não tem ninguém aqui.
Aline tomou a água sentindo seu coração bater descompassado. Respirou fundo e, por fim, disse:
— É. Acho que foi um pesadelo mesmo. Foi horrível. Havia uma tempestade, os passageiros estavam assustados, o avião estava prestes a cair.
— É comum acontecer isso com quem tem medo de voar. Está tudo bem. Quer um calmante?
— Não, obrigada. Eu não tenho medo de voar.
— Seja como for, você sonhou. Veja, está tudo calmo. As pessoas voltaram a dormir. Procure descansar.
Aline tentou se acalmar. Fora mesmo um pesadelo. A viagem às escondidas de todos, a separação do marido... tudo isso, certamente, a impressionara mais do que ela supusera.
Seu coração ainda batia descompassado, e ela esforçou-se para manter a calma. Conseguiu até certo ponto, porém não dormiu mais.
Quando fechava os olhos tentando dormir, a figura de Marcelo desesperado, com os olhos esbugalhados e o corpo cheio de sangue, reaparecia à sua frente, fazendo-a assustar-se.
Começou a pensar que talvez houvesse sido melhor ter enfrentado a situação em vez de fugir.
Sabia que Marcelo não aceitaria com facilidade a separação e por isso decidira agir daquela forma. Ele sofreria o abalo, mas, como a situação estava consumada, não teria outro remédio senão aceitar e tocar a vida adiante.
Novamente, a lembrança do sonho apareceu, e ela viu Marcelo desesperado à sua frente. Aline remexeu-se na poltrona, inquieta. Ela programara aquela viagem havia muito tempo, mas não imaginara que ficaria tão assustada. Sim, porque um pesadelo como aquele só poderia ter acontecido porque ela, apesar de não perceber, estava com medo.
Chamou a aeromoça e disse que aceitaria um calmante. Tomou o comprimido e acomodou-se, tentando relaxar. Logo estaria em Miami e esqueceria aquele momento desagradável.
Pouco depois, adormeceu e desta vez sem sonhos. Mas, ao seu lado, durante todo o tempo, estava o espírito de Marcelo.
No momento do acidente, ele sentiu que foi projetado para longe e perdeu os sentidos. Quando acordou numa rua desconhecida, apesar de atordoado, lembrou-se de que precisava procurar Aline e impedi-la de viajar.
Olhou em volta e viu o carro, o caminhão, pessoas ao redor e lembrou-se do estrondo que ouvira. Pelo jeito, sofrera um acidente e fora atirado para fora do carro.
Aproximou-se do local e pensou:
Ainda bem que fui arremessado para fora, pois o carro se acabou. Felizmente, eu estou vivo.
Precisava ir ao aeroporto. Aproximou-se mais, querendo saber se o carro ainda teria condições de uso. Sentiu uma tontura que o obrigou a sentar-se no meio-fio.
Respirou fundo, procurando reagir. Ele não podia desmaiar agora. Aline iria embora, e ele precisava impedi-la. No entanto, não estava conseguindo se levantar.
Foi quando viu um furgão aproximar-se e um corpo ser retirado do carro com dificuldade. Reconheceu ser ele mesmo e gritou com todas as suas forças:
— Não! Não pode ser! Eu não estou morto!
Sua visão turvou-se, e ele perdeu os sentidos. Quando acordou, estava deitado em uma maca e um enfermeiro estava ao seu lado.
— Onde estou? — indagou Marcelo.
— Estamos indo para um hospital. Você sofreu um acidente e precisa de tratamento.
— Não posso ir. Preciso ir ao aeroporto impedir Aline de tomar aquele avião.
— Acalme-se. Agora, você não está em condições. Quando melhorar, poderá procurá-la.
Então será tarde. Ela terá partido.
Você precisa de tratamento agora. Acalme-se.
Marcelo sentou-se na maca. Seu corpo doía, e, conforme se movia, o sangue escorria de suas feridas abertas. Ele não se importou.
Observando sua inquietação, o enfermeiro disse:
— Se não se deitar e ficar quieto, serei forçado a lhe dar um calmante.
— Não quero nada. Minha vida não importa mais se eu perder Aline. Preciso encontrá-la! — disse isso com tanta força que foi arremessado para fora do veículo. O enfermeiro disse a seu companheiro que conduzia a ambulância:
— Vamos para o posto de socorro. O paciente não aceitou nossa ajuda.
Imediatamente, o veículo mudou o rumo, enquanto eles conversavam sobre as dificuldades que as pessoas têm de aceitar o desencarne.
Marcelo viu-se em um corredor escuro, com poltronas e pessoas adormecidas. Passou por elas procurando Aline.
Exultou quando a viu dormindo. Finalmente, encontrara Aline. Chamou-a várias vezes querendo acordá-la, mas foi inútil. Ela dormia.
Decidiu esperar. De repente, teve uma estranha sensação. Viu-a entrar no avião e aproximar-se do seu corpo adormecido.
Foi quando ele a encarou dizendo:
— Aline! Finalmente a encontrei! Não me deixe nunca mais. Diga que ficará para sempre ao meu lado.
Aline deu um grito e mergulhou no corpo adormecido. As luzes se acenderam, e as aeromoças foram conversar com ela, enquanto algumas pessoas acordavam e olhavam assustadas.
Marcelo não entendeu de pronto o que estava acontecendo. Porque ela gritara ao vê-lo? Certamente, assustara-se devido aos seus ferimentos.
Mas não lhe deu tempo de explicar. Ouviu a conversa delas e pensou: Não consegui chegar ao aeroporto e ela embarcou. Estamos no avião. Como vim parar aqui?
.
Sentiu aumentar a tontura e reagiu com medo de perder os sentidos outra vez. Havia sofrido um acidente e precisava se recuperar. Seria melhor não tentar saber o que havia acontecido, pelo menos até estar mais forte.
Quando pensava nisso, sentia-se mal. O que importava era estar ao lado dela. Viu quando Aline tomou o comprimido e adormeceu.
Marcelo esperou que Aline deixasse o corpo, mas, dessa vez, isso não ocorreu. Ele não notou nada, então, se acomodou ao lado dela. Sentia-se mais calmo agora. Aline não o deixaria mais. Iria com a esposa aonde ela fosse.
Afinal, o mais importante era estarem juntos. Pensando assim, conseguiu relaxar até que finalmente adormeceu.
CAPÍTULO 2
Aline desembarcou e, depois de passar pelos controles de identificação, empurrando o carrinho com as malas, saiu olhando ansiosa por todos os lados. Sorriu ao ver um rapaz segurando um cartão com o nome dela.
Aproximou-se dele satisfeita e apresentou-se. Era um rapaz alto, elegante, louro, de olhos azuis, que se apertavam um pouco quando sorria.
Ele apertou a mão que Aline lhe estendeu, dizendo:
— Muito prazer. Meu nome é Michael. Trabalho na empresa. Fui encarregado pela direção de dar-lhe as boas-vindas e levá-la até o lugar onde ficará hospedada.
Obrigada.
Permita-me levar suas malas.
Aline afastou-se um pouco, ele segurou o carrinho e continuou:
— Meu carro está no estacionamento. Vamos.
Aline acompanhou-o com satisfação. O dia estava lindo, e ela olhava curiosa à sua volta, não querendo perder nenhum detalhe.
Naquele momento, esquecera-se completamente do pesadelo e do marido, que ficara para trás.
Seus olhos brilhavam alegres, enquanto caminhavam até o carro. Michael a observava, curioso. Notou a euforia dela e indagou:
— É a primeira vez que vem a Miami?
— É a primeira vez que saio do Brasil. Desde criança, sonho em conhecer os Estados Unidos.
— Pensei que já tivesse vivido aqui. Você fala corretamente nosso idioma.
Aline sorriu alegre.
— Estudei inglês desde criança. Parece um sonho estar aqui.
Chegaram ao carro, e Michael abriu a porta para que ela se acomodasse. Depois, colocou as duas malas no veículo e sentou-se ao lado dela.
Durante o trajeto, ele sorria observando a curiosidade de Aline, que olhava tudo ao redor. Conversou um pouco sobre a cidade, sobre a empresa, e finalmente parou em frente a um prédio de três andares.
— A empresa alugou um flat para você. Se não gostar, mais tarde poderá se mudar.
— Vamos ver — respondeu Aline.
Estava adorando o jardim cheio de flores. O prédio era simples, mas elegante. Aline tentou parecer natural, pois não queria que ele a achasse provinciana.
Entraram no saguão, Michael apresentou-a, apanhou a chave, e os dois subiram um lance de escada. Ele abriu a porta, e entraram na espaçosa sala mobiliada com gosto. Logo chamou a atenção dela um balcão, atrás do qual havia uma pequena cozinha.
Michael levou as malas para o quarto e colocou-as sobre uma mesinha. Aline olhava tudo encantada. Voltando para a sala, ele perguntou:
Acha que ficará bem aqui?
Sim, obrigada.
— Você deve estar cansada da viagem. Amanhã cedo, às oito, passarei aqui para levá-la até a empresa.
— Não precisa vir me buscar. Amanhã, às oito horas, estarei lá.
Ele meneou a cabeça negativamente:
— De forma alguma. Fui encarregado de levá-la e é o que farei. Depois, poderá ver-se livre de mim.
— Não diga isso. Apreciei muito o fato de ter me recebido e acompanhado. Pensei em facilitar as coisas para você.
— Não pense. Eu sou suficiente para cuidar de mim.
— Tenho certeza disso.
— Comprei algumas coisas e coloquei na geladeira. Espero que goste. Se desejar algo mais, há um mercado a três quadras daqui.
— Obrigada.
Depois de um aperto de mão, ele se foi, e Aline suspirou feliz. Foi logo ver a cozinha e abriu a geladeira, olhando curiosa os alimentos.
Na parede, havia um porta-chaves pintado com motivos culinários, onde estavam dois chaveiros com chaves. Ao lado, havia um porta-correspondência. Dentro havia um papel que ela apanhou e leu. Eram algumas regras de convivência dos moradores e algumas instruções para o manuseio dos aparelhos elétricos.
Aline sentiu fome, mas queria tomar um banho antes de comer. Foi para o quarto, abriu as malas, apanhou o que precisava e foi ao banheiro.
O perfume gostoso do lugar e as novidades que observava davam-lhe uma grande sensação de liberdade.
Parecia estar sonhando. Finalmente, estava livre para viver todos os seus sonhos. Dali para frente, tudo seria diferente. Novos amigos, novos ambientes, nova vida.
A água jorrava sobre seu corpo, e ela sentia-se feliz. Quando saiu do banheiro, estava renovada. Todo o cansaço da viagem havia desaparecido.
Aline foi para a cozinha pensando: Vou comer alguma coisa e sair para dar uma volta
.
Havia pão de forma, queijos e manteiga. Abriu as gavetas do armário, adorou a louça, os copos, tudo. Arrumou a mesa com um jogo americano, colocou várias iguarias sobre ela e sentou-se para comer.
Era um lanche simples, mas para Aline era como um banquete.
Depois de comer, apanhou algum dinheiro e saiu. O dia estava quente e o sol forte. Ao passar por uma loja, Aline entrou pensando em comprar óculos escuros. Havia deixado o seu no Brasil na certeza de que em Miami encontraria um mais bonito.
Notou que as pessoas se vestiam de modo descontraído e, em matéria de moda, havia de tudo. Passou pelo mercado que Michael lhe indicara e entrou para conhecê-lo.
O calor era forte, e ela tomou um sorvete. Depois, continuou andando e entrando nas lojas que a agradavam.
Até que, sentindo-se cansada, comprou algumas revistas e resolveu voltar para casa. O sol ainda estava alto, e ela não sabia que horas eram, pois não acertara seu relógio ainda.
Quando chegou ao saguão do prédio, viu que o relógio de lá marcava apenas sete horas. Acertou o seu e subiu para o flat.
Havia comprado alguns petiscos, comeu um pouco, tomou refrigerante e sentou-se na sala para ver televisão.
Lembrou-se de Marcelo e teve uma sensação desagradável. Certamente, ele estaria triste, inconformado.
Suspirou pensativa. Apesar de não querer magoá-lo, pensava que havia sido a melhor solução. Ela não o amava mais e não seria justo fingir um sentimento que não tinha. Ele sofreria a princípio, mas, como não sabia onde encontrá-la, com o tempo a esqueceria.
O espírito de Marcelo, que a seguira durante todo o tempo, aproximou-se. Ela estava pensando nele. Não fizera isso o dia inteiro.
Havia momentos em que ele se sentia atordoado, as dores voltavam, e ele recostava-se para descansar. As imagens misturavam-se em sua cabeça. Apesar disso, ele pensava que, acontecesse o que acontecesse, ele não poderia perdê-la de vista.
Sua prioridade era ficar ao lado de Aline. Tinha esperanças de que, em algum momento, ela o pudesse ver ou ouvir.
Às vezes, duvidava que tivesse morrido naquele acidente. Ele ouvira dizer que estava morto… Por que, então, desejavam levá-lo a um hospital? Por que ele se sentia vivo e, quando se apalpava, percebia os músculos de seu corpo? Sabia que alguma coisa diferente havia lhe acontecido, mas não tinha certeza de nada.
Sentindo que Aline pensava nele, Marcelo aproximou-se esperançoso e procurou ouvir seus pensamentos.
Eu preferia ter conversado com ele, explicado meus motivos. Fui cruel ao fugir e lhe deixar apenas uma carta. Mas, se eu houvesse conversado, seria pior. Ele não aceitaria e faria tudo para me impedir de vir.
— Por que você insiste em querer me deixar? Você é minha! Eu nunca vou deixá-la fazer isso. Ficaremos juntos para sempre — disse ele, abraçando-a.
Aline não ouviu o que Marcelo lhe dizia, mas sentiu um arrepio desagradável.
É melhor que eu esqueça esse assunto. Ele não sabe onde estou; terá que se conformar. Um dia, ainda vai me agradecer por haver sido tão sincera.
— Nunca, Aline. Jamais me conformarei com seu abandono. Eu nunca vou deixá-la.
Sem ouvir o que ele dizia, Aline continuou pensando: Eu não poderia ficar vivendo com ele sem amor. Quando o amor acaba, o melhor é separar. O nosso acabou. Não tem volta
.
Marcelo beijou-a várias vezes na face, dizendo aflito:
— Como pode dizer isso? Nós nos amamos! Juramos pertencer um ao outro para sempre.
Ele agarrou-se mais a ela, soluçando, e Aline sentiu uma forte tontura. Sua respiração ficou difícil, e ela levantou-se assustada tentando respirar fundo. Foi até a cozinha. Suas mãos tremiam e as pernas estavam bambas.
Aline apanhou um copo, colocou água e tomou alguns goles, tentando reagir. Talvez fosse cansaço. Vivera muitas emoções em pouco tempo. Resolveu se deitar.
Vendo que Aline não estava bem, Marcelo largou-a, fitando-a preocupado.
Ela sentiu-se melhor e foi para o quarto. Precisava estar bem-disposta no dia seguinte. Vestiu o pijama, lavou-se e mergulhou prazerosamente na espaçosa cama macia. Apesar de excitada com a viagem, ela estava cansada e logo adormeceu.
Acordou bem-disposta na manhã seguinte e levantou-se apressada. Michael foi pontual. Quando tocou a campainha, já eram oito horas, e Aline estava pronta.
Foram imediatamente para a empresa. Lá, Aline foi apresentada ao doutor Edward, seu chefe, e a alguns dos seus colegas com os quais teria contato mais direto.
Tratava-se de uma empresa de comércio exterior, que importava produtos do mundo todo, suprindo o mercado interno e exportando os excedentes.
Aline fora contratada para fazer parte da equipe do doutor Edward, um dos diretores e sócio da empresa. A chefe de pessoal, Janet, conduziu-a à sala em que ela deveria trabalhar.
— Por enquanto, você vai dividir a sala com a Rachel. Vocês já foram apresentadas?
A moça alta, magra e muito elegante aproximou-se e, sorrindo, disse:
— Seja bem-vinda.
— Obrigada — respondeu Aline.
Janet entregou-lhe um livreto e disse:
— Aqui você encontrará todas as informações sobre nossa empresa. Se não entender alguma coisa, pode me procurar. Há algumas facilidades que nossa empresa oferece a pessoas como você.
— Quais?
— Além das que você já foi informada, o financiamento de um carro com juros baixos e um bom prazo para pagar.
Satisfeita com a novidade e interessada em aprender tudo rápido e realizar um bom trabalho, Aline dedicou-se inteiramente às novas tarefas.
Tratava-se de uma empresa importante, e o cargo que ela iria ocupar na diretoria lhe proporcionava, além do ótimo salário, alguns privilégios.
Aline simpatizou com Rachel desde o primeiro momento. Além de mostrar-se cordial, olhava direto em seus olhos quando falava, agia com naturalidade e notava-se que era muito eficiente.
Michael havia lhe contado que Rachel trabalhava naquele cargo havia mais de cinco anos e era a secretária predileta do presidente da empresa, pois cuidava de todos os seus assuntos pessoais.
O dia passou depressa, e, na saída, Rachel ofereceu-lhe uma carona.
— Não se incomode — respondeu Aline, um pouco acanhada. — Sei como voltar para casa.
Notando o constrangimento de Aline, ela explicou:
Eu moro um pouco depois de você. De qualquer forma, terei de passar pela sua casa. Será uma boa oportunidade de nos conhecermos melhor.
Nesse caso, aceito. Estou mesmo querendo fazer amigos.
Durante o trajeto, Aline ficou sabendo que Rachel era divorciada e tinha um filho de oito anos que ela mencionava com entusiasmo.
— E você, não tem filhos?
— Não. Mas acho que foi melhor assim. Fui casada por sete anos, mas acabamos de nos separar. Com criança, tudo fica mais complicado.
Rachel pensou um pouco, depois respondeu:
— Tudo depende da maneira como você faz isso. John é um menino inteligente, entendeu nossas razões e aceitou bem a situação. Para mim, foi bom, porque ele é muito ligado a mim e é um excelente companheiro.
Aline suspirou pensando em sua família. Como teriam recebido a notícia de sua partida?
Rachel olhou-a rapidamente e continuou:
— É a primeira vez que você vem a Miami?
— Sim. Nunca havia viajado para fora do meu país.
— Admiro sua coragem. É uma mudança radical. Não vai sentir falta de sua família?
— Talvez. Mas, desde criança, eu sonhava em vir trabalhar nos Estados Unidos.
— O que esperava encontrar aqui?
— Não sei. Houve uma época em que isso chegou a ser uma fixação. Eu não pensava em outra coisa. Por esse motivo, dediquei-me ao estudo do idioma, costumes etc.
— Sei que, em muitos países, os jovens têm esse sonho. Mas você acha que vale a pena abdicar do país de origem, onde estão suas raízes, sua família, o ambiente em que foi educada, para se aventurar em um lugar estranho no qual não conhece ninguém e não sabe o que vai encontrar?
— Achei que valia a pena tentar. Não me iludo quanto à vida aqui. Sei que, se não trabalhar duro e não der o melhor de mim, não terei sucesso. Mas quero pelo menos experimentar. Se não gostar, voltarei para meu país.
— Você me parece determinada. Penso que vai gostar de viver aqui.
— Por enquanto, estou adorando. Estava precisando mudar. Eu vivia em uma rotina que, com