Abrindo Portas
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Abrindo Portas - Fabiano Viana Oliveira
ABRINDO PORTAS
Fabiano Viana Oliveira
(Copyright 1995)
Oliveira, Fabiano Viana
Abrindo Portas – Fabiano Viana Oliveira. Rio de Janeiro: Litteris, 1995. Reedição do autor: 2021.
188p.
ISBN 85-7298-119-5
1. Literatura brasileira. 2. Contos.
A REAÇÃO
É noite. E uma bela parede branca pede para ser pichada. Ele não se importa, só não pode mais aguentar.
É uma grande agência; importante; reconhecida. A mensagem está quase pronta. Foi difícil notar o guarda chegando:
-Ei! Isso é propriedade privada!
-Tem razão. Privada mesmo!- Ele está agachado e se levanta de súbito, jogando tinta no rosto do guarda, que, desorientado, fica a sua mercê. Toma sua arma e em seguida atira. Agora ele é um criminoso, mas não importa mais; antes de começar, a batalha já era perdida.
Amanhece, e as pessoas que vão aparecendo na rua notam o corpo no chão, o sangue; a tão adorada violência. Mas, em seguida, também
notam o outro personagem da cena. Está sentado no topo de sua escada; sujo de tinta e com uma arma na mão. A polícia não demora a chegar.
Todos olham, mas ninguém se aproxima. Os policiais veem o corpo de um colega no chão e prontamente colocam ele nas suas miras. Não tem refém, não ameaça se matar, mas o livro de tratamento a psicóticos da polícia diz que um
louco
é sempre imprevisível.
Dez minutos se passam, e um oficial da polícia aparece, tendo junto uma psicóloga; era a turma de negociações. Ele vê os dois se aproximarem e desce da escada, sob o olhar atento dos policiais.
O julgamento de passividade foi prematuro: a um passo dele, o oficial é rapidamente atingido por uma bala no abdômen. Sua ação foi tão rápida que os policiais pensaram que ele estava simplesmente indo em direção aos dois negociadores. Agora era
tarde; o oficial estava em choque, sangrando no chão, e a psicóloga estava sob sua mira, deixando os policiais sem ação. Mas ele, ainda assim, aparentava calma, permanecendo calado; coisa que a doutora não segue:
-O que você quer? Talvez possamos ajudar!
-Cala-boca. - E ela se cala. Tremendo, diante de tal
pedra de gelo
. E assim se passam mais trinta minutos.
As pessoas já tomam toda a rua. Os funcionários da agência param para observar a confusão, e finalmente chega a imprensa. A primeira câmara que ele vê, aponta. A psicóloga retruca que ele deseja falar com a mídia. Os policiais deixam os repórteres entrarem no círculo que fizeram, para que possam falar com o elemento. Perguntas aparecem, das mais absurdas e incríveis que se
possa imaginar, mas ele não responde a nenhuma.
Então, ergue a mão esquerda, fazendo todos se calarem, inclusive os repórteres, e diz:
-Aos policiais: eu já usei duas balas. Vocês vão esperar que eu use as outras quatro? - Os policiais se entreolham, sem saber direito o significado daquilo, e ele:
-A vocês da mídia: Ninguém é inocente! Vocês serão os próximos! No fim, não vai sobrar ninguém!- Dá dois passos para trás e atira na nuca da doutora. Muitos gritos e correria, ninguém esperava aquilo; nem os policiais. Notando a insistente hesitação dos policiais, atira em um deles, finalmente provocando uma reação dos mesmos, que o atingem várias vezes, em vários lugares, terminando finalmente por matá-lo.
Agora, na rua, só restavam uma parede pichada com uma mensagem, um prédio de uma agência publicitária, uma multidão de pessoas assustadas, muito sangue e sete corpos no chão.
As pessoas olham e notam: era o elemento, o oficial, a psicóloga, dois policias e mais duas pessoas atingidas no tiroteio. E então, alguém diz:
-Olhem! A mensagem na parede. - Ela era a mesma, todo o tempo, mas agora o contexto a tornava uma verdade incontestável. Todos a leem, todos a entendem. A multidão se reúne e começa a atacar os repórteres; os policiais não sabem o que fazer: atirar em todo mundo? Era como uma caçada, gente atrás de gente; batendo e matando com as mãos limpas. Alguém diz:
-A agência! Vamos pegá-los também!- E todos começam a correr para o prédio. Corpos começam
a ser jogados pelas janelas, gritos ecoam para fora do prédio, o desespero reinava. A polícia se reorganiza para tentar parar o tumulto, mas era tarde;
os policiais,
mesmo
armados, são
envolvidos e trucidados pela multidão. Capturam as câmaras de TV, que transmitem para todo o mundo, via satélite, o que eles próprios estavam fazendo; mostrando sua reação.
Tempo...
Em todo o mundo, a mensagem da parede chegava e provocava insatisfação geral, seguida de reação após reação. Tudo se tornou motivo para violência. Até mesmo essas reações sofreram reações de pessoas que não concordavam. Todo o planeta entrou em guerra; não de países ou regiões, mas de pessoas com pessoas; era como previa o elemento da mensagem: "Ninguém é
inocente!" Os que se opunham sofriam reações. E
a violência continuava. Nem a igreja, governos ou pacifistas; ninguém mais tinha a razão ou a palavra. Somente uma coisa era vista e ouvida no mundo, a mensagem e a reação que ela causava: o fim da existência humana na Terra. E só assim a paz foi restabelecida.
A ATITUDE CERTA
(Uma teoria do massacre)
Eu vi o que estava acontecendo, eu sabia que não era a atitude certa, eu sabia que eles estavam errados, mas era impossível deter o massacre.
Tudo começa numa casa de uma farm1ia qualquer, em uma cidade já esquecida pelo tempo:
-Mãe! Eu sou o que eu sou. Não posso negar!
Tenta aceitar.
-Aceitar?! Sua... sua... desgraça! Aceitar! Isso não é natural. Isso nunca... - O que vem a seguir é irrelevante, pois as consequências da escolha sexual dessa garota são sentidas tempos depois por seu irmão.
Eu era seu amigo, e vi sua alma ficar negra de tanto ódio. Sua família tinha atingido uma situação de total disparidade. A mãe não falava com a filha e, por tristeza, alienava o filho com superatenção.
O pai tentou ficar do lado de todos, mas a mãe não aguentava ver o marido ajudar sua filha não natural
; terminaram por se separar.
E, a essa altura, meu jovem amigo tentava se segurar para não concentrar a culpa de tudo na irmã, mas a cada crise da mãe e briga dela com o pai, sua raiva aumentava e eu via sua alma e consciência se esvaírem em ódio.
Eu cheguei a vê-lo