Noites de Prazer
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Sobre este e-book
Quando Diane voltou a si, a cabeça doía-lhe muito. Sentia-se muito atordoada e cansada, e as imagens que os seus olhos viam, mais pareciam a de um pesadelo. Não estava no quarto humilde da sua pensão, mas sim num leito estranho e luxuoso, protegido por um dossel de onde caíam véus de sedas e rendas. Ela virou-se lentamente, e a impressão que teve, era de que estava sonhando e ainda se tornou mais forte, aquando mesmo a seu lado, estava ali um homem deitado, com a cabeça morena recostada no seu travesseiro! Diane mal pôde conter um grito, ao reconhecer o seu parceiro de cama; era o arrogante e belo Marquês de Vange! Mas o que estaria acontecendo? Diane estava atordoada, teria de descobrir rapidamente, que realidade era aquela… um mistério que teria de desvendar…
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Noites de Prazer - Barbara Cartland
Barbara Cartland
NOITES DE PRAZER
Título Original:
«A Night of Gaiety»
Published by ©2023
Copyright Cartland Promotions 1985
Ebook Created by M-Y Books
Table of Contents
Barbara Cartland
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO I
1891
—Isso é tudo?— perguntou Diane.
—Sinto dizer que sim, senhorita Kilcraig— respondeu o procurador—, é lamentável que seu pai tenha sido tão extravagante em seus últimos anos de vida. Infelizmente, como a senhorita bem sabe, nunca deu ouvidos aos conselhos que meus sócios e eu lhe dávamos, no sentido de economizar um pouco.
Diane não fez qualquer comentário. Sabia que tudo o que o Sr. Stirling havia dito era verdade. Ele sutilmente insinuava que naqueles últimos anos seu pai agira de maneira irresponsável, gastando mais do que tinha e entregando-se desmedidamente à bebida, sem admitir qualquer crítica à sua conduta.
A própria Diane tentara por diversas vezes conversar com o pai sobre a situação financeira de ambos sem, no entanto, encontrar qualquer receptividade por parte dele. Mas o Barão Kilcraig estava morto e o que a filha tanto temera era agora um fato concreto: as dívidas aumentavam mais e mais, a cada dia.
A situação já estivera bastante difícil antes da madrasta de Diane ter abandonado seu pai. Mas, depois que ela se fora, o Barão Kilcraig passara a esbanjar o pouco dinheiro que lhe restava em divertimentos e uísque, o suficiente para roubar-lhe a consciência.
Apesar disso, nem mesmo nos piores momentos Diane imaginara que tudo o que lhe restaria um dia seriam umas parcas duzentas libras e uma absoluta solidão.
O Castelo que tinha pertencido aos Kilcraig por centenas de anos estava hipotecado e o que restava dos móveis que decoravam seu interior tinha sido vendido.
O pai de Diane já se desfizera das melhores peças, tais como telas de valor e espelhos com molduras douradas, logo após seu casamento com Katie Kingston.
Naquele último ano de vida do pai, ao vê-lo tornar-se mais irresponsável a cada dia, Diane quase chegara a odiar sua madrasta; apesar de tudo, a jovem sentia que, de certa forma, Katie tinha tido boas justificativas para seu comportamento.
Depois da morte da esposa, três anos antes, quando Diane tinha apenas quinze anos de idade, o Barão Kilcraig, desejoso de livrar-se do sentimento de solidão que o dominava, passara a ir a Edimburgo e depois a Londres, à procura de divertimento.
Mesmo então Diane aceitara a atitude do pai: era compreensível que ele tivesse saudade da vida alegre de rapaz que levara em Londres, antes de herdar o título de Barão e vir para a Escócia, a fim de se casar com sua mãe e dar rumo à vida.
Apaixonado pela esposa, o Barão Kilcraig depressa se habituara a viver no antigo Castelo da família, praticamente em ruínas, cercado por campos improdutivos e vizinhança pouco numerosa.
Ao casal bastavam as pescarias e caçadas que realizavam nas matas próximas ao Castelo e as viagens ocasionais a Edimburgo ou a Londres.
A mãe de Diane, no entanto, preocupava-se com as despesas que faziam nessas viagens.
—Não estamos em condições de gastar esse dinheiro, Iain— ela advertia, sempre que o marido sugeria que deixassem a pequena Diane entregue aos cuidados dos empregados e fossem desfrutar de uma segunda lua-de-mel.
—A juventude dura pouco e precisamos aproveitá-la com intensidade— dizia o Barão.
Aquele era um argumento irrefutável, diante do qual a mãe de Diane ia arrumar nas malas seus melhores vestidos, partindo pouco depois com o marido, sob o olhar da filha que os via afastarem-se apaixonados, como se de fato estivessem em lua-de-mel.
Há três anos, porém, num inverno enregelante, quando os ventos do mar do Norte sopravam através das montanhas cobertas de neve, a esposa querida fora tirada de seu pai, deixando-o entregue a uma profunda tristeza e desolação.
Fora com alívio, portanto, que Diane ouvira o pai dizer que não estava mais suportando a tristeza da Escócia e que planejava ir para o sul da Inglaterra.
—Vá para Londres, papai, procure seus amigos— sugerira Diane—, eu estarei bem aqui e quem sabe, possa até acompanhá-lo quando tiver mais idade.
—Não creio que meus velhos antros sejam lugares próprios para você, querida— respondera ele sorrindo—, mas vou pensar no assunto. Enquanto isso, quero que continue com suas lições. Desejo que você seja tão culta quanto é bonita!
Aquele era o tipo de elogio que agradava a Diane. Sabia que era muito parecida com a mãe e ninguém podia negar que Lady Kilcraig fora uma linda mulher.
Diane costumava olhar para o retrato da mãe colocado sobre a lareira da sala e pedia a Deus que a fizesse cada vez mais semelhante a ela.
Tinham a mesma cor de fogo nos cabelos; não o ruivo tom de cenoura, característico de tantos escoceses, mas o acobreado das primeiras folhas de outono, que mais parecem iluminadas pelos raios de sol. Também a cor dos olhos da mãe se repetia nos de Diane; dependendo da luz, eram ora verdes, ora acinzentados; mas invariavelmente tão límpidos e inocentes quanto as águas cristalinas dos rios.
Era possuidora de uma beleza quase pueril. O desenho perfeito de seu rosto e a doçura de sua boca lhe davam o aspecto de uma rosa em botão, complementando a beleza de seus cabelos e olhos.
—Com todo o seu colorido, você deveria parecer uma sedutora sereia— dissera-lhe o pai certa vez—, em vez disso, porém, minha querida, seu aspecto é o de uma fada menina, deixada num campo de cogumelos, onde as fadas costumam dançar.
Diane adorava ouvir o pai falar dos mitos e lendas que circulavam entre os camponeses da Escócia, uma herança dos antigos bardos.
Nas longas noites de inverno era costume desses povos reunir as crianças em volta da lareira para contar-lhes lendas dos chefes dos clãs, intercaladas de comentários, superstições e histórias próprias de sua condição de gente humilde e crédula.
Tudo aquilo estivera tão arraigado à infância de Diane que agora era difícil para ela perceber com clareza onde acabava o conhecimento e começava a imaginação.
A mãe de Diane também alimentara bastante as fantasias da filha com essas histórias. Seus avós maternos, ambos escoceses, tinham vindo das ilhas ocidentais e sua bisavó era irlandesa.
—Sua mãe trouxe os duendes com ela!— costumava dizer o Barão Kilcraig para brincar com a esposa, sempre que alguma coisa desaparecia misteriosamente ou quando ela pressentia que algo estranho estava para acontecer.
Mas aqueles tempos felizes tinham passado e Diane fora incapaz de amenizar a tristeza do pai ao enviuvar e, mais tarde, sentira-se um pouco culpada por ele ter se casado novamente em Londres, movido pela solidão que o dominava e que ela fora incapaz de preencher.
De início, Diane estranhara o fato de seu pai ter escolhido uma atriz do teatro de variedades para segunda esposa. Ao conhecer Katie Kingston, porém, simpatizara com ela. O primeiro choque que sofrera, ao saber que outra mulher ocuparia o lugar de sua mãe, logo se amenizara.
Katie era uma mulher atraente, embora usasse muita maquilagem, coisa que não era comum na Escócia. Tinha a voz e o riso educados que davam vida e alegria àquela casa, tão triste desde a morte da Baronesa Kilcraig.
Com o passar do tempo, no entanto, Katie começou a se entediar com a vida que levava, e seu entusiasmo inicial foi substituído por um nítido sentimento de insatisfação: uma coisa era se casar com um Barão em Londres, com todos os atores e atrizes famosos à sua volta, mas outra coisa muito diferente era viver num Castelo sombrio e monótono, cercada de uns poucos camponeses incultos, uma enteada sem qualquer conhecimento da vida e um marido, que além de tudo passava o dia praticando esportes em algum lugar da propriedade.
—O que vamos fazer hoje?— Katie costumava perguntar a Diane, assim que se sentava na cama para tomar o café da manhã, contemplando melancolicamente os campos através da janela.
—Você escolhe— dizia Diane, procurando amenizar a insatisfação da madrasta com sua gentileza.
—Se estivesse em Londres, iria fazer compras na Bond Street, passear pela Regent’s Street e depois almoçar com algum admirador no Romano’s.
Suspirou, cheia de nostalgia, antes de continuar:
—Acima de tudo, saberia que às seis da tarde estaria correndo pela porta dos atores, diretamente para o meu camarim, a fim de me arrumar para a sessão vespertina.
O tom nostálgico que Diane aprendeu a captar na voz da madrasta parecia se intensificar sempre que contava sobre as coisas que se desenrolavam nos bastidores do teatro de comédia.
Katie tinha agora trinta e seis anos— principal motivo que a levara ao casamento—, e assistira às grandes mudanças que tinham se processado no teatro, ao longo dos anos.
—Nunca se viu nada semelhante, quando Hollingsbead, o Diretor daquela época, instalou luz elétrica no teatro— contou ela certa vez.
Havia um brilho de excitação nos olhos azuis de Katie ao relatar o que presenciara naquela ocasião:
—A corrente foi ligada às nove horas da noite do dia dois de agosto de 1878. As lâmpadas piscaram e segundos depois, se acenderam, fazendo com que verdadeiras multidões, corressem pela Strand em direção ao teatro.
Mas não era apenas sobre as coisas do teatro que Katie falava. Por diversas vezes ela mencionara os Johnnies, jovens almofadinha
que chegavam em troles sofisticados, vestidos em trajes de noite, chapéus altos de seda sobre a cabeça, luvas brancas nas mãos e botas altas brilhando como espelhos.
—Todos eles ficavam esperando que o espetáculo terminasse a fim de nos levar para cear— dizia Katie cheia de emoção e saudade—, enviavam flores que enchiam nossos camarins e frequentemente nos ofereciam presentes caríssimos.
—Devia ser excitante!— exclamava Diane, tentando imaginar o cenário desses acontecimentos.
—Nunca no mundo houve atrizes com mais glamour e esplendor que nós, estrelas do teatro de variedades!— se gabava Katie—, os jornais diziam que encarnávamos o espírito da alegria de Londres e era a pura verdade! O diretor do teatro sabia que atraíamos a nata da sociedade e não media despesas conosco, oh, não senhora! Para uma atriz de variedades, apenas o melhor!
Katie mostrou a Diane os vestidos que costumava usar em cena, alguns dos quais tinham sido presentes que o Diretor George Edwards lhe dera antes da partida da atriz para a Escócia. Eram trajes deslumbrantes, confeccionados em sedas e cetins da melhor qualidade, anáguas debruadas de pura renda de Bruxelas e chapéus ornamentados com as mais caras plumas de avestruz.
—Nós, atrizes do teatro de variedades somos famosas!— vangloriava-se Katie.
Diane depressa entendeu o que Katie queria dizer com isso: que, na verdade, não importava se um homem era rico ou pobre, velho ou jovem; levar uma atriz para cear, acompanhá-la de trole até em casa, ou patrocinar seu jogo no Maidenhead, era o máximo dos máximos em matéria de romance.
O que Katie omitira em seus relatos a Diane, Hector, o antigo Valete de seu pai, contara-lhe depois que a madrasta se fora:
—Não se pode aprisionar um pássaro livre, senhorita Diane— comentou ele, com seu forte sotaque escocês—,