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Malandro É Malandro, Mané É Mané
Malandro É Malandro, Mané É Mané
Malandro É Malandro, Mané É Mané
E-book296 páginas2 horas

Malandro É Malandro, Mané É Mané

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Sobre este e-book

Uma coletânea de contos, alguns bem humorados e outros reflexivos escritos pelo autor Josué Veríssimo enquanto divagava devagar por aí. Pequenos textos para distrair a mente em momentos cansados.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de nov. de 2021
Malandro É Malandro, Mané É Mané

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    Malandro É Malandro, Mané É Mané - Josué Veríssimo.

    Malandro

    é

    Malandro,

    Mané é

    Mané

    Josué Veríssimo do Nascimento

    Índice

    Malandro é malandro, Mané é Mané 6

    História de Cabra-macho

    10

    Uma história

    19

    Não Biodegradável

    61

    AA - Alcoólatras Associados 88

    Dieta

    98

    Bonito, hein?

    104

    Superstição

    116

    Quem tem medo de fantasma?

    133

    O Último Adeus

    137

    Normal

    144

    Um conto de f...das

    157

    O Papa é Pope

    179

    Na Terra de Lá

    196

    Malandro é Malandro, Mané é Mané

    Que me acreditem quem não for cismado.

    Pois eu não sou de inventar.

    Vou deixar tudo tão bem explicado.

    Que até o mais incrédulo vai descismar.

    Juro por tudo o que é mais sagrado.

    Sem os dedos precisar cruzar.

    Eu fico até arrepiado.

    Vocês também ficariam em meu lugar.

    Malandro enganando o coisa ruim.

    Tão bem que nem vendo acreditei.

    Pensei logo que o cabra teria triste fim.

    Vocês têm que ver como eu me enganei.

    Disse que era o melhor de lábia do mundo.

    Mulher com ele era açúcar com mamão.

    Perdeu quem apostou contra o gaiato.

    Que vi passando a perna no cão.

    Todo mundo ficou apavorado.

    Quando a aposta resolveu triplicar.

    Não se mostrou nem um pouco preocupado.

    E o desafio decidiu complicar.

    De seres humanos já tava cansado.

    Queria alguma coisa que desse emoção.

    Gritou para todos que lhe tinham desafiado.

    Ia passar a perna no cramunhão.

    7

    Rindo ou fazendo o sinal da cruz.

    Todos duvidaram da sua esperteza.

    Aconselhamos não mexer com quem foge da luz.

    Que não tentasse essa proeza.

    Respondeu que o desafio tava lançado.

    Casasse o dinheiro quem tivesse peito.

    Não apostou contra o diabo porque era corajoso,

    Mas porque tinha é muita lábia mesmo.

    Depois de todo mundo ter casado.

    Riu da quantidade de grana que deu.

    Deu uma bicada em sua cerveja, acendeu um cigarro.

    Comentando que aquele dinheiro já era seu.

    Bobo fui eu que entrei nessa.

    O que mais poderia esperar.

    De quem chama o capeta na encruzilhada.

    Comendo manjubinha e bebendo cerveja.

    Não precisou nem ir longe.

    Ali mesmo, na frente do bar.

    Em qualquer encruzilhada o demo se esconde.

    É só ter coragem para lhe chamar.

    Nunca tinha imaginado na Lapa.

    Inferninho pensei outra coisa.

    Meia noite o bicho tava lá.

    E o sujeito pediu que calassem a boca.

    O um sete um começou a enrolar.

    O diabo perguntou logo o que queria.

    Muito dinheiro para enricar.

    E vida mansa todo santo dia.

    8

    Como era de se imaginar.

    Sua alma o cão sarnento exigiu.

    Só que o malandro, carioca.

    Desconversou e acabou que o iludiu.

    Explicou que a alma era coisa de Deus.

    Que a dele ele podia até dar.

    Mas se Deus quisesse pegar de volta o que era seu.

    Ninguém conseguiria empatar.

    Por que não ficar com coisa melhor?

    Que Lúcifer realmente fosse usar.

    Tipo o morro do Cristo Redentor.

    Copacabana e o Pão de Açúcar.

    Ali daria uma ótima mansão.

    Com vista para todo aquele mar.

    Teria mulheres lindas de montão.

    Quando em Copacabana fosse nadar.

    Como não gostava mesmo de Cristo.

    A estátua podia mandar retirar.

    Trazer lava quentinha do inferno.

    E fazer uma piscina particular.

    O diabo na maionese viajando.

    Eu percebi no seu olhar.

    Ele caiu na conversa do malandro.

    Que continuava a lhe enrolar.

    Ter o bondinho lhe esperando.

    Só você para subir lá.

    Tá entendendo o quê que eu to falando?

    É pegar ou largar.

    9

    Por demais entusiasmado.

    Fez surgir o contrato o cramunhão.

    Guardando tão logo assinado.

    Não conferindo o tentação.

    O malandro, como era malandro.

    Pediu um tanto a mais.

    Reclamando que a escritura dava trabalho.

    E o governo cobrava taxa demais.

    Carregou duas malas apressado.

    Pegou mais o dinheiro da aposta e sumiu.

    No outro dia o coisa ruim voltou brabo.

    Procurando, ói, o presidente do Brasil.

    Descobriu que agora era uma mulher.

    Que havia sido passado pra trás.

    Nunca mais ia confiar em ninguém.

    Enganar o capeta já era demais.

    Na lapa só se comenta o assunto.

    Copacabana continua linda, cheia de mulher.

    O Pão de Açúcar a mais bela paisagem do mundo.

    E o Cristo Redentor continua de pé.

    10

    História de Cabra Macho

    Nunca conheci história di cabra macho, mas macho mêmo, -sem olhá vesgo pru meu ladu, qui u negóciu aqui é ôtro, -u mais macho qui eu conheci in toda a minha

    existência

    sobri

    essa

    terra

    miseráver qui um dia há di mi com...

    Num

    vai

    não.

    Sem

    baitolagi,

    essi

    negócio di cidadi grandi, purque aqui nós semu é macho mêmo.

    Sô di terra di macho, mas êli era o presidenti

    oficiar

    mandatário,...

    i

    também eu vo mandá mi queimá, mais num é purque tenhu rosca. Essa é a história du cabra macho mais macho dus cabra macho du sertão, qui foi disafiadu puruma muié.

    Entonce: diz puraí qui a coisa pra enfrentá êli, quarqué qui fossi, desda lepra inté u coisa ruim, ô tinha qui sê muitu da doida, dessa di atirá preda pra cima drento di guarda-chuva, ô já tê u caxão cumpradu. Dar duas uma: ô arguma santa alma ia te qui comprá o caxão ardispois pra ajudá u difunto, ô só tê u trabaio di interrá u tar. É

    mintira não. Pra arguém morrê na cidadi tinha

    qui

    passá

    purêli.

    Ô

    êli

    artorizava, ô fazia u sirviço.

    Tinha u socu tão forti, mas tão forti qui si êli tivessi na roça i começassi a chuvê, i a chuva dessi na locura di vi na direção dêli i êli num tivessi muito afim di si moiá, êli dava um socu na direção dela qui a tempestade ia protro lado.

    Seu nomi era Darci, mas ninguém tinha peito di chamá êli pelu nomi. Darc,...

    11

    -Dexa eu pará di falá, sinão sobra pra mim também.

    Continuano:

    detestava,

    i

    quem

    si

    atrevessi

    a

    pronunciá

    a

    palavra

    proibida, levava um supapo no pé dus calça ócros qui nunquinha mais pudia calçá ócros nium. Tinha qui usá aqueli negóço frescu, di francês, u tar du picenê. Ô binócro, qui era mió, qui inxergava mais lonjura i pudia vê Dar...

    vê u cabra chegano pertu i sumi protro lado. Quem levava u supapu deli, só dispois di um ano, trezento i sessenta i quatro dia, vinti i três hora, cinquenta i nove minuto i cinquenta i cinquenta i nove segundo, si num fosse ano bissexto, é qui vortava a consegui oví di novu u qui si falava. Devi di tá si perguntano: ora, mas pur qui num diz logu dois ano? Tem qui ficá enrolano?

    Num é por mó di num podê esperá um sigundinho só di nada qui eu vô ganhá fama di mintiroso. Qui qui custa esperá?

    Isperei dez mês i uns dia aí pra nascê.

    Num vô arredondá purque cês tão quereno i vão impricá cumigo. Pois bem.

    Tevi

    uma

    veiz

    in

    qui

    Dar...

    êli

    caminhava purum pastu, pra mó di incoiê caminhu. I pru azá du tôro, êli tava sortu lá nessi dia. Qui fossi nessi dia, mas não no mêmo segundo da mêma hora in qui Dar, -mas qui raio di insistência di nomi disgramento. No mêmo sigundu da mêma hora in qui u cabra macho usava u pastu pra cortá caminhu. Qui tivessi cagano, pôco importa. U tôro só num tinha qui vê êli, i si vissi comu viu, qui dessi as costa, disfarçassi i fossi protro cantu, contá carnerinho, mas não.

    12

    U nome du bicho qui um dia Deus pôs sobri u mundo i u cabra mandô di vórta era Cismado. Cismado era cismado cum tudo e cum todos. Si cismava qui tinha arguém no seu pedaçu, saía correno i chifrava u ventu. Era bom pur dimais di aperceber

    u

    chêro

    dus

    otro

    si

    aproximano pra mais di légua. Custumava inté derribá árvres cavucano a raiz co chifri. Viciô nissu dispois qui derrubô um ipê di sessenta braça di artura, cum dois muleque incima fazeno traquinage cuêli. U IBAMA nem si preocupô im processá u bichão, di tanto medu qui tinha deli. Daí pra dispois foi pau Brasir, aruêra, pinhêro, araucária i tudo u mais qui tinha raiz di mais di dois metru di fundura pra dibaxo da terra, com ô sem muleque incima.

    Êli era negru, pretu mêmo, mais qui carvão in cinza in forno di carvoaria.

    Tão negru, mas tão negru, qui quano entrava

    na

    sombra

    di

    uma

    núve,

    disaparicia. Paricia mais pacto co cão.

    Quano tinha o tar du ecripse do sor puraquelas banda entonce, viche, nem si fala. Todo mundo si iscondia drento di casa cum medu. Menus Dar... cês sabi quem. Num vo falá não.

    O animar fazia arruaça na cidade qui nem arma penada. Quano o disavisado via, num via, só sintia é u bafu du chifrudu nu cangoti, fazeno carinhu qui nem casar apaixonadu, i logu-logu vuava qui nem passarinhu in queimada. Ô purque Cismado lhe corneava, ô purque Cismado corneava êli, num tinha iscape. Ô era oitenta ô oitenta.

    13

    Vortanu au acontecido: Cismado viu u cabra, i u cabra viu Cismado, (suspense agora purque us dois tão oiano no zóio um du otru qui nem vesgu, só qui vesgu olha pru olho deli mêmo). I Cismado viu qui u cabra viu qui Cismado viu êli, i u cabra viu qui Cismado viu qui êli viu qui Cismado viu êli venu Cismado, ói,...

    Ondi é qui eu tava mêmo, hein? Ah, sim, pra azá deli, di Cismado, Cismado cismô co cabra, i u cabra cismô coa cisma di Cismado, i... É melhó pará cum issu qui eu to ficano tontu. U sujeitu feiz poco casu da cisma du animar, continuano no mêmo caminhu qui era seu, ino pra cima deli, fazeno mira bem no meiu dus arranca tocu di Cismado, no centru du cucuruco deli.

    Qui arma qui nada. Num tem arma nessa terra di meu Deus qui faz u qui um socu di

    Darc...

    du

    cabra

    faz.

    Ia

    churrasco naqueli dia, i só Cismado num sabia. U sôcu foi tão forti, mas tão forti, qui Cismado morreu du sopru no mêmo instanti. U seu côro saiu todinhu pelas ponta dus chifri, inteirinhu, qui nem casacu di mulher bacana, inquanto u restanti du qui foi Cismado ia pra trás.

    Seu ispinhaço foi impurradu pra trás levano todas as custela di uma só veiz, fatianu toda a carni du bichão no mêmo instanti, dexano um monti di bife já prontu no chão.

    Mas comu tudo na vida acaba,... a brabesa di Darci num acabô não. Agora eu já possu falá u nomi deli qui eli si amansô, qué dizê, conseguiro amansá êli.

    Êli até gosta, i ocês vão intendê 14

    purque. Diminuiu, mas num acabô. É só num bulir.

    Issu aconteceu a parti du dia in qui foi disafiadu puruma muié. Cárma, muita cárma, sinhores ledoris, principarmente nessa hora, qui vai sobrá pru meu ladu si num tivé carma. Cárma! Eu vo chegá lá!

    Êli num chegô a levantá um dedu siqué pra ela, muitu pelu opostu du contrário, baxou us dedu, a cabeça, a guarda. I ela nem aí preli. Êli num tinha nem noção di qui pudia sê disafiadu e derrotadu puruma muié, logu puruma muié, ainda

    mais

    uma

    istrangera

    naquelas

    terra. Ela num fazia a menó ideia di qui um dia, comu essi qui u sol alumia, ela disafiaria u homi mais brabu da Terra, numa terra tão distanti.

    Tudu si assucedeu por mó di quano ela apareceu na única venda da cidadi, i pra num ficá pirdida foi si informa lá, por sinar.

    As mosca si ajuntava in vorta dos doce.

    Pra fala a verdadi, in vorta di tudo, i seu Anátema, -nomi istranho, mas in cidadi piquena é ansim mêmo, acustuma,

    -tentava ispantá elas cum aqueli panu amarelu di tantu qui matava elas i elas apareciam cada veiz in mais, comu qui trazeno as amiga a mandu du cão, -na minha opinião, elas são treinada pra fazê

    isso,

    sem

    fala

    qui

    era

    uma

    distração pra êli qui fica u dia intero sozinhu. Achu também qui é êli qui adestra elas.

    Seu Anátema dexô di bulinar coas mosca, ô elas qui bulinavam cum êli, num sei, pois tava prestano atenção na moça qui 15

    acabara di chegá. Ela queria sabê ondi qui ficava a casa da irmã du finadu seu Joca, seu avô. Anátema já ia falá, quano entra Darci contano a proeza qui acaba di fazê cum Cismado.

    -Tadinho. Foi tudo qui ela precisô falá pra começá a rusga entre us dois.

    Us seu oiá si cruzaro, mas não comu qui di dois vesgu, qui u olhá dessis, qui já é cruzadu, si si cruzá, valha-mi Deus, ninguém mais consegui separá. I diziam mais qui tudo. Não nu modu vesgu, qui essi também num sabi u qui diz. São gagu dus olhu. Direita é isquerda, isquerda é direita, i tomi bagunça. Só muita cachaça mêmo pra mó di consertá, i só êlis mêmo pra intendê,... ô não.

    Êssi modu di dizê entri us dois é diferenti. É ispeciar. Diziam mais inté qui quarquer livru ô quarquer contadô di história di quarquer cantu du mundu.

    Di ondi qui u sol nasci até ondi êli si apruma pra mó di discansá da labuta du dia,

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