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A mão invisível
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E-book271 páginas4 horas

A mão invisível

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Sobre este e-book

Este livro é um esforço para enfrentar as questões e dúvidas que surgem com relação à Providência de Deus. Foi planejado para analisar a questão da providência não apenas do ponto de vista doutrinário, mas, principalmente, a partir do exame das experiências concretas de pessoas de carne e osso cuja vida e lutas foram registradas para nosso benefício na Sagrada Escritura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mar. de 2022
ISBN9786559890842
A mão invisível

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    A mão invisível - R. C. Sproul

    A mão invisível © 2014, Editora Cultura Cristã. Publicado originalmente em inglês com o título The invisible hand ©1996, R.C. Sproul pela P&R Publishing Company, P.O. Box 817, Phillipsburg, New Jersey 08865–0817. Todos os direitos são reservados.

    1ª edição 2014

    S771m Sproul, R.C.

    A mão invisível / R.C. Sproul; traduzido por Marcos Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

    Tradução The invisible hand

    Recurso eletrônico (ePub)

    ISBN 978-65-5989-084-2

    1. Aconselhamento 2. Providência de Deus 3. Sofrimento I.Título

    CDU 2-465


    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    EDITORA CULTURA CRISTÃ

    Rua Miguel Teles Jr., 394 - CEP 01540-040 - São Paulo - SP

    Fones: 0800-0141963 / (11) 3207-7099 / Whatsapp (11) 97133-5653

    www.editoraculturacrista.com.br - [email protected]

    Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Para Maureen e Dave Buchman,

    que da tristeza extraem alegria

    e do caos, ordem.

    [Sumário]

    Agradecimentos

    1 Dura Providência

    2 A mão invisível

    3 Providência com provisão

    4 O choro ouvido em todo o mundo

    5 Tudo está contra nós?

    6 Providência e governo

    7 A mão visível

    8 O mistério da Providência e da concorrência

    9 A túnica tecnicolor de José: Um perfil da Concorrência

    10 Causas primárias e secundárias

    11 A Providência e a História

    12 A interseção entre a história da redenção e a história secular

    13 A Providência e a Igreja

    14 Só a Deus seja a glória

    15 Desastre de trem

    16 A Providência e o problema do mal

    17 Todas as coisas cooperam para o bem

    18 A Providência e os milagres

    19 Milagres falsificados

    20 Providência e oração

    [Agradecimentos]

    Embora entre as minhas obrigações como professor de seminário esteja a de explorar a doutrina da Providência de maneira universitária e técnica, tentei manter este livro a pelo menos um passo de distância do universo acadêmico. Ele foi escrito para leigos, pois eles enfrentam as duras questões da Providência na concreta arena da fé – e quase nunca a partir da abstrata perspectiva privilegiada da arena acadêmica. Às vezes acho quase impossível evitar o aspecto abstrato. Temo que ocasionalmente eu cruze a linha e entre no âmbito acadêmico. Quando isso ocorre, procuro explicar e ilustrar a questão de maneira que, com certeza, não demande formação em seminário. Quando não consigo isso, a falha cabe a mim e não à minha excelente e prestativa editora, Sue Ann Jones. Sem a competente assistência de Sue Ann, este livro seria bem mais acadêmico e muito menos legível. Agradeço a ela, e também a Maureen Buchman e Donna Mack pelo auxílio em preparar o manuscrito. Agradeço de modo especial a Joey Paul, Kip Jordon e Nelson Keener da editora Word pela graciosa paciência para comigo neste empreendimento.

    RC Sproul

    Orlando, Páscoa de 1996

    [Capítulo 1]

    Dura Providência

    Tinha acabado de estacionar o carro na garagem e descido dele quando a porta da cozinha se abriu e minha filha, Sherrie, apareceu. Com o semblante pálido e o horror no olhar, ela se atirou em meus braços, deixando escapar as palavras: Papai, meu bebê está morto!.

    Apertei-a ao peito enquanto ela chorava aos prantos. Estava no nono mês de gravidez e acabara de chegar de um exame médico com seu obstetra. Ele não conseguiu captar o batimento cardíaco e, o mais gentilmente possível, explicou-lhe o que isso significava: a criança em gestação havia morrido no ventre.

    Na manhã seguinte, Sherrie deu entrada no hospital. Seu médico induziu as contrações, e logo ela entrou em trabalho de parto, sabendo que seu bebê nasceria morto. Nesses casos, a prática do hospital é, ao contrário do que se espera, seguir os procedimentos de um nascimento normal. Assim, quando a criança, uma linda menina, nasceu, foi limpa, medida e pesada, e tiraram as impressões de seus pés. Em seguida, a criança morta foi entregue à mãe. Sherrie acarinhou-a por vários minutos e depois a entregou a seu marido. Após alguns instantes, permitiram que eu segurasse minha neta nos braços.

    Acho difícil reconhecer crianças recém-nascidas pela expressão facial. Para mim, todas são parecidas. Mas a imagem daquela criancinha ficou para sempre gravada em minha memória. Enquanto a segurava nos braços, senti-me esmagado por essa incrível conjunção de vida e morte. A criança estava perfeitamente formada em todos os aspectos, mas não estava respirando.

    Sherrie e o marido, Tim, deram à criança o nome de Alícia. Ela foi sepultada em uma cerimônia normal, na qual toda nossa família e nosso pastor estiveram presentes. Pusemo-nos à beira da sepultura e choramos juntos ao encomendarmos seu corpo à terra e sua alma ao nosso Pai celestial.

    Toda mulher que já deu à luz uma criança natimorta tem consciência do quanto isso devasta o coração. Quem passaria por tal experiência sem clamar aos céus, indagando: Por quê?. Nessas circunstâncias, é normal questionar-se onde está Deus. É quando a angústia humana se encontra diante da providência divina.

    Este livro é um esforço para enfrentar as questões e as dúvidas que surgem com relação à providência de Deus. Foi planejado para analisar a questão da providência não apenas do ponto de vista doutrinal, mas principalmente a partir do exame das experiências concretas de pessoas reais cuja vida e lutas foram registradas para nosso benefício na Sagrada Escritura.

    Uma dessas pessoas foi o rei Davi.

    Curvando-se diante da providência de Deus

    Davi foi golpeado, ferido em sua consciência pelas penetrantes palavras do profeta Natã, que ecoaram em seus ouvidos e atravessaram-lhe a alma: Tu és o homem. O que havia começado como o relato de uma grave injustiça cometida por um súdito do seu reino desabara, de súbito, sobre o próprio rei. Davi achou que estivesse ouvindo uma história sobre a exploração mesquinha cometida por um anônimo, e não uma parábola velada e tênue sobre si mesmo, um relato profético cujo alvo era a consciência do próprio rei. Era uma história simples.

    O

    Senhor

    enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha.

    Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado.

    Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã:

    Tão certo como vive o

    Senhor

    , o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu.

    Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem (2Sm 12.1-7).

    Uma enxurrada de culpa desabou sobre Davi. A parábola atingiu o alvo, golpeando o coração do rei. Seus olhos se abriram ao ver a verdade acerca de si mesmo, a qual ele tentara esconder com tanto zelo. Esse é Davi, conhecido como o homem segundo o coração de Deus. Era o herói de Israel, seu grande guerreiro. O rei mais ilustre de Israel, o autor de salmos. Davi subira ao trono com a morte de Saul, que Deus rejeitara como rei de Israel. Era o ungido do Senhor e fora elevado ao trono após a queda dos poderosos. Ele chorou a desonra de Saul e se irritou com o triunfalismo dos filisteus, que anunciaram as novas em Gate, e com os menestréis, que cantavam alegremente: Como caíram os valentes!.

    Agora, Davi se juntara à fileira dos caídos. Foi grande a sua queda, registrada para toda a posteridade. Era o protótipo vivo de um herói shakespeariano maculado com uma mancha mortal, marcado por um escândalo indelével.

    A queda de Davi começou com um mero pensamento, com uma inclinação nascida da concupiscência quando ele, inadvertidamente, espiou uma linda mulher tomando banho. Não teve início com um plano para cometer adultério. Ele não estava de tocaia em busca da primeira amante disponível. Um instante de luxúria explodiu em paixão compulsiva. Então, Davi lançou a justiça ao vento, arriscando sua alma em troca de um romance ilícito. Anestesiou a consciência e endureceu o próprio coração. O registro bíblico é sintético e, ao mesmo tempo, revelador quanto à escuridão do coração de todo homem à espreita no peito:

    Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa. Davi mandou perguntar quem era. Disseram-lhe: É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o heteu. Então, enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com ela. Tendo-se ela purificado da sua imundícia, voltou para sua casa (2Sm 11.2-4).

    Davi possuiu a mulher de outro homem. Assim como o homem rico da parábola de Natã, ele serviu-se da cordeirinha de um de seus fiéis soldados. Urias era casado com Bate-Seba. Embora Urias estivesse servindo a Davi com lealdade, Davi estava se aproveitando da esposa de Urias. Bate-Seba ficou grávida, e a criança em seu ventre não fora, nem jamais poderia ter sido, gerada por Urias.

    É óbvio que o coração do rei foi tomado pelo pânico. Ele tramou um complicado esquema para encobrir seu pecado, decidindo conceder a Urias uma licença da batalha, uma pausa da guerra, para que ele retornasse por algum tempo ao seu lar e esposa. Assim, quando a criança nascesse, Urias seria enganado e levado a pensar que o filho era seu. Davi cumulou Urias de elogios hipócritas, deu-lhe um presente (com o claro objetivo de aliviar a própria consciência) e o mandou ir para casa.

    Contudo Davi subestimou a lealdade de Urias. O soldado não queria abandonar seu posto nem tirar vantagem da generosidade do rei. Ele era um verdadeiro soldado. Não importava o quanto ansiasse estar com a esposa, continuava sentindo-se forçado a prestar serviço ao seu rei. Em vez de voltar para casa, como havia planejado Davi…

    Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu para sua casa. Fizeram-no saber a Davi, dizendo: Urias não desceu a sua casa. Então, disse Davi a Urias: Não vens tu de uma jornada? Por que não desceste a tua casa?

    Respondeu Urias a Davi: A arca, Israel e Judá ficam em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber e para me deitar com minha mulher? Tão certo como tu vives e como vive a tua alma, não farei tal coisa.

    Então, disse Davi a Urias: Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei. Urias, pois, ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou; à tarde, saiu Urias a deitar-se na sua cama, com os servos de seu senhor; porém não desceu a sua casa (2Sm 11.9-13).

    A maquinação de Davi falhou. Seu desesperado plano para encobrir a verdade foi frustrado exatamente pela lealdade do homem a quem ele havia traído. Neste ponto, talvez fosse de se esperar que Davi despertasse da sua letargia concupiscente e fosse levado ao arrependimento. Antes, ao contrário! Cada vez mais desesperado, Davi acumulou pecado sobre pecado e culminou a sua culpa com um assassinato. Ele escreveu uma carta ao seu general, Joabe, que seria revelada para toda a história pela íntima operação de Deus, o Espírito Santo. Não havia à disposição nenhuma máquina fragmentadora de papeis para destruir essa prova e a ocultar do exame público. Davi foi ao ápice do comportamento nefasto ao fazer o próprio Urias levar a carta selada para Joabe. Em ingênua lealdade, Urias não imaginava que a missiva levada à linha de frente da batalha continha a sua própria sentença de morte:

    Escreveu [Davi] na carta, dizendo: Ponde Urias na frente da maior força da peleja; e deixai-o sozinho, para que seja ferido e morra. Tendo, pois, Joabe sitiado a cidade, pôs a Urias no lugar onde sabia que estavam homens valentes. Saindo os homens da cidade e pelejando com Joabe, caíram alguns do povo, dos servos de Davi; e morreu também Urias, o heteu (2Sm 11.15-17).

    Mais tarde, do cenário da batalha, Joabe enviou um mensageiro para informar a Davi que Urias tinha sido morto. Davi pensou que estava salvo, que seu segredo estava escondido dos olhos dos homens, enterrado com o cadáver de Urias. Bate-Seba também recebera a notícia e, de imediato, ficou de luto. Mas não por muito tempo. Davi mandou buscá-la, trouxe-a para o seu palácio e tornou-a sua esposa, e ela lhe deu à luz um filho. Parecia que ninguém jamais viria a saber que a criança nascida era filho do adultério.

    No entanto o Deus de toda a providência tinha os olhos sobre Davi. O segredo do rei não enganou seu olhar. O que estava oculto ao discernimento humano estava descoberto diante dele. Com um clássico eufemismo, a Escritura declara: Isto que Davi fizera foi mal aos olhos do SENHOR (2Sm 11.27b).

    Foi a desaprovação divina que motivou a visita de Natã a Davi. Natã estava sobrecarregado com o peso da verdade. Sua tarefa era pesada, já que fora enviado por Deus para confrontar um rei. Era algo perigoso para um profeta, conforme bem atestam as experiências de Elias e João Batista. Mas a reação de Davi ao juízo profético foi muito diferente da de Acabe ou Herodes. Davi ouviu a palavra do profeta e foi quebrantado por ela. Depois de Natã declarar com ousadia que Davi era o homem da parábola, Deus proferiu sua acusação completa através dos lábios do profeta:

    Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o

    Senhor

    , Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; deite a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do

    Senhor

    , fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o

    Senhor

    : Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol (2Sm 12.7-12).

    Ao pronunciar a sentença, Deus citou as bênçãos que havia concedido a Davi. Tudo quanto Davi recebera foi dado pela mão invisível da providência de Deus. A bênção dessa providência seria agora acompanhada pelo juízo. A mão de Deus pesou sobre Davi. Mas não foi tão pesada que não concedeu a graça, bem como o juízo. Até mesmo aqui, a justiça de Deus estava sendo temperada pela misericórdia. Deus poderia ter invocado a pena de morte sobre Davi. Os delitos cometidos por ele eram crimes capitais em Israel.

    O coração de Davi derreteu. Ele reagiu com profundo e genuíno arrependimento. Não causado pelo medo do castigo, mas pela contrição, pelo remorso verdadeiro por ter ofendido a Deus. Em seu grandioso salmo de arrependimento escrito após o incidente, Davi clamou: Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos (Sl 51.4). Tal declaração deve ser considerada como uma hipérbole, já que não é estritamente correta. Davi fez mais do que pecar contra Deus. Ele pecou contra Urias, contra Bate-Seba, contra a sua própria família e contra a nação inteira, traindo a confiança depositada nele como rei. Não obstante, todo pecado é, em última análise, contra Deus e, em termos absolutos, somente contra ele, embora, em um sentido mais próximo, envolva outras pessoas.

    Antes de escrever seu extenso salmo penitencial, Davi disse a Natã: Pequei contra o Senhor (2Sm 12.13). A sua confissão do pecado, a admissão da culpa sem qualquer tentativa de justificar a si mesmo, deparou-se de imediato com a proclamação do perdão de Deus:

    "Disse Natã a Davi: Também o

    Senhor

    te perdoou o teu pecado; não morrerás. Mas, posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do

    Senhor

    , também o filho que te nasceu morrerá" (2Sm 12.13-14).

    O alcance da providência de Deus

    Deus removeu o pecado de Davi. Isso significa que Deus estava concedendo a Davi a remissão de seus pecados. Embora a culpa eterna do pecado de Davi tenha sido remida, ele recebeu o castigo temporal pelo seu pecado. Por meio de Natã, Deus anunciou que a criança nascida da união adúltera seria tirada de Davi e Bate-Seba. O versículo seguinte é difícil de ser assimilado pela nossa fé, mas é um texto que afeta em muito o nosso entendimento da providência de Deus:

    "Natã foi para sua casa. E o

    Senhor

    feriu a criança que a mulher de Urias dera à luz a Davi; e a criança adoeceu gravemente" (2Sm 12.15).

    A Escritura declara que o Senhor feriu o filho recém-nascido de Davi com uma doença mortal. É duro ouvir isso. Hoje é lugar comum na igreja ouvir dos pregadores tentativas inúteis de isentar Deus de qualquer envolvimento com a doença e a morte dos seres humanos. Ouvi um televangelista afirmar que Deus não tem nada a ver com as doenças e a morte. Ele atribuiu essas tragédias humanas à obra de Satanás.

    Tais opiniões cometem violência não somente contra o nosso entendimento da providência de Deus, mas também contra nossa compreensão de todo o caráter de Deus. O cristianismo não é uma religião dualista na qual Deus e Satanás são iguais, enfrentando poderes opostos, e destinados a um combate eterno que só pode resultar empatado. Deus é soberano sobre toda a sua criação, inclusive o domínio subordinado de Satanás. Deus é Senhor tanto da morte como da vida. Ele exerce domínio tanto sobre a dor e a doença quanto sobre a prosperidade.

    Se Deus não tivesse nada a ver com a doença ou a morte, os cristãos, entre todos os povos, seriam os mais dignos de pena. Significaria viver em um universo governado pelo caos, no qual a mão do nosso Pai estaria amarrada pelo destino e presa pela instabilidade do acaso. Seu braço não seria poderoso para salvar, seria impotente. Mas, ao contrário do que dizem certos pregadores, Deus tem tudo a ver com a doença e a morte. Deus

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