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Musa Velha
Musa Velha
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E-book125 páginas54 minutos

Musa Velha

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Sobre este e-book

"Musa Velha" de Francisco Palha. Publicado pela Editora Good Press. A Editora Good Press publica um grande número de títulos que engloba todos os gêneros. Desde clássicos bem conhecidos e ficção literária — até não-ficção e pérolas esquecidas da literatura mundial: nos publicamos os livros que precisam serem lidos. Cada edição da Good Press é meticulosamente editada e formatada para aumentar a legibilidade em todos os leitores e dispositivos eletrónicos. O nosso objetivo é produzir livros eletrónicos que sejam de fácil utilização e acessíveis a todos, num formato digital de alta qualidade.
IdiomaPortuguês
EditoraGood Press
Data de lançamento15 de fev. de 2022
ISBN4064066409029
Musa Velha

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    Musa Velha - Francisco Palha

    Francisco Palha

    Musa Velha

    Publicado pela Editora Good Press, 2022

    [email protected]

    EAN 4064066409029

    Índice de conteúdo

    DONA MORTE

    POR FIM...

    CARTA

    REQUERIMENTO

    PREFACIO D'UM LIVRO INEDITO

    MAL POR MAL...

    A UMA CREATURA

    ALÉM DA CAMPA

    A JULIO CESAR MACHADO

    DIES IRAE

    O MEU TINTEIRO

    A VENUS NOVA

    O LOBO E O CÃO

    DEUS E O AMOR

    (1870)

    ENTEADA

    N'UM ALBUM

    RAPHAELA

    I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    VII

    VIII

    IX

    X

    XI

    AS MINHAS MEMORIAS

    ESTRELLA CADENTE

    AO ACTOR JOÃO ANASTACIO ROSA

    ÁS RÃS PEDINDO REI

    ONZE DE NOVEMBRO

    ASSIM É QUE EU GÓSTO D'ELLA!

    EM CINTRA

    PEDINDO O INDULTO

    PROCESSO

    1875

    LIBELLO

    CONTRARIEDADE

    SENTENÇA

    DONA MORTE

    Índice de conteúdo

    Deu na tonta de entrar na minha escada

    á Dona Morte um dia.

    A pobre anda estafada

    do continuo ceifar desde que ao nada

    por divinaes processos da alchimia

    a terra foi roubada.

    *

    Da comprida queixola desdentada

    esta sentida nenia lhe saía:

    —Senhor! forte estopada!

    Sem poisar a caveira o mundo corro.Em toda a parte estou. A toda a hora

    prostro alguem a meus pés, e geme, e chora

    por minha culpa alguem! Nenhuma aurora,

    de luz nenhuma o jorro,

    as orbitas vazias me alumia!...

    Nunca uma esp'rança! nunca uma alegria!

    Á dôr alheia pondo um suave termo

    só a minha o não tem!... Só eu não morro

    emquanto o mundo não tornar um ermo!...

    Á obra! Á obra!—

    E lepida subindo

    tocou a campainha:

    um lugubre tocar que dava medo;

    que não mais deixarei de estar ouvindo,

    e fez com que eu então, muito em segredo,

    rezasse a ladainha.

    *

    Era um simples aviso, pois que a porta

    por si se escancarou e deu entrada

    áquella feia ossada

    de vermes revestida, e negra, e torta,

    de mim ha longo tempo enamorada.

    —Senhora Morte, viva!—

    disse ao vêl-a, fingindo animo forte;

    mas cá por dentro, como a sensitivan'haste as folhas retráe que lh'as não córte

    quem d'ella se aproxima

    e levemente a mão lhe põe por cima,

    cá por dentro a minh'alma, em pasmo estranho

    por vêr-se em tão cruel extremidade,

    foi-se encolhendo até ser do tamanho

    d'um reles feijão frade!

    *

    —Desculpe a impertinencia—

    continuei.—Como é que usam tratal-a?

    Por tu? Por Excellenciacomo é hoje tratada toda a gente?—

    «A mim é-me indifferente.

    Não faz ninguem de tal miseria gala

    no reino onde eu impero.»

    Esta resposta

    me deu a Dona Morte, e junto ao leito,

    onde eu espreguiçava a mandrieira,

    chegou; puxou cadeira;

    sentou-se gravemente, sobreposta

    uma rótula n'outra.

    Com effeito

    mau é vêl-a!... peior á cabeceira!

    E poz-me a fria mão aqui no peito.

    «Que bons pulmões tens tu! e como pulsa

    na tua idade o coração ainda

    pelas paixões mundanas agitado!»—Então...—volvi com voz menos convulsa—

    inda tenho a viver um bom bocado?!—

    «Conforme. Tudo finda

    quando me apraz e breve.»

    —Se ao teu lado

    para afastar-te eu não chamar a Siencia.—

    «Dou-te um dôce que a chames! Cáe tu n'essa!

    descobriste a maneira, tem paciencia,

    de eu carregar comtigo mais depressa.»

    —Banal! Banal! Cuidei que era outra coisa—

    rosnei com meus botões.—Um vende bolas,

    um palurdio qualquer vindo de Loiza,

    da Lourinhã, do inferno, esta sandice

    ancho diria qual a Morte a disse.

    *

    Ella no entanto, um pé bamboleando,

    co'as phalanges dos dedos descarnados

    batendo sobre a tibia, ia soltando

    uns sons de castanholas

    com que sóe convocar gatos pingados

    ás grandes, funerarias cabriolas. Após pequena pausa

    de subito se ergueu.

    «Não ha remedio!

    Deixar-te vou por causa

    d'uns ganchitos que tenho aqui no predio.

    O cónego não dorme ha tres semanas.

    Rouba-lhe o ar a suffocante angina

    que o peito dilacera.

    Tem esgotado as provações humanas.

    Na longa vida santamente austera

    fez jus, coitado! á compaixão divina.

    Melhor que o da morphina,

    premio á virtude, um somno lhe preparo

    brando, quieto, sereno como um lago.

    Apanha o padre agora! e apanha, é claro,

    quem lhe abichar na Sé o logar vago.

    O conego aviado, tenho uns planos

    de ir tocar no ferrolho ao conselheiro.

    Quero abater-lhe a prôa!... Setenta annos

    e sóbe inda lampeiro

    outros tantos degraus!... Então córado!

    redondo!... Uma cereja!...

    E como se espenneja

    quando vae pela rua engravatado,

    para as moças olhando ás furtadellas

    como quem diz: Assim quisessem ellas!Chucha um pisco ao jantar; um pisco á ceia.

    Por não dormir de tardenem trazer nunca a barriguinha cheia

    considera-se livre do meu jugo

    e d'isso faz alarde!

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