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O Paradoxo da Garota dos Sonhos: Série: O Paradoxo 99 Volume - 1
O Paradoxo da Garota dos Sonhos: Série: O Paradoxo 99 Volume - 1
O Paradoxo da Garota dos Sonhos: Série: O Paradoxo 99 Volume - 1
E-book704 páginas7 horas

O Paradoxo da Garota dos Sonhos: Série: O Paradoxo 99 Volume - 1

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Sobre este e-book

Série O Paradoxo 99: O Paradoxo da Garota dos Sonhos

“Sonhos são a realização dos desejos.”

(Sigmund Freud )

 

A Série

Paradoxos, um complexo e instigante tema teórico-científico, e de ficção, que sempre despertou nossa curiosidade na literatura e cinema — e invariavelmente promete dar nó no nosso cérebro...

Explorando a premissa dos enigmáticos e aparentemente inevitáveis efeitos paradoxais de uma hipotética ingerência humana no Fluxo temporal, a série 'O Paradoxo 99' abordará, através da confusa ótica mental do protagonista, o privilégio e as implicações psicológicas, históricas, filosóficas e éticas desse extraordinário recurso na vida dos personagens — assim como os imprevisíveis e adversos resultados da empolgante possibilidade do trânsito entre Realidades: e tudo tendo como pano de fundo, uma frenética, imprevisível e arriscada 'missão' de salvamento no final dos icônicos anos 90.

 

SINOPSE Volume 1:

Neste volume, comece a acompanhar conosco a dramática saga de Denny, e seu Alter ego, um jovem que trabalha para a polícia de Murity, uma pequena cidade do Recôncavo baiano, que se acha apaixonado e tendo recorrentes sonhos românticos com uma bela estudante e violoncelista, Emmanuelle Machado — paradoxalmente sequestrada e morta 20 anos atrás, por um antigo serial killer.

Enquanto Denny e sua Contraparte procuram respostas para este e outros quebra-cabeças que subitamente entraram em sua pacata vida de funcionário público, descobrem estar de posse de uma enigmática ROM — na verdade um Sistema de Deslocamento Temporal — que transforma seu simples Smartphone numa poderosa Máquina do Tempo — e o conecta à uma data, em 1999.

Bom, para saber o desenrolar e as respostas — ou mais perguntas — à essas e muitas outras intrigantes e paradoxais situações que envolvem a singular existência do Denny, é só começar a ler a série 'O Paradoxo 99'!


K.S.Z OLIVER


TENHA UMA BOA LEITURA!

 

IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de jun. de 2022
ISBN9781526020048
O Paradoxo da Garota dos Sonhos: Série: O Paradoxo 99 Volume - 1

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    O Paradoxo da Garota dos Sonhos - KSZ OLIVER

    Episódio 1

    A Garota Dos Sonhos

    Sonhos São a Realização dos Desejos.

    Sigmund Freud

    Capítulo

    I

    Parte 1/I:

    A Bolha

    A

    madeira em brasa crepitava enquanto o fogo iluminava aquela sombria e gélida noite no Recôncavo. Ele se encontrava sentado, recostado no tronco de uma árvore. Atrás dele, enormes chamas do que parecia ser um incêndio. Uma bela garota de cabelos longos e vestido preto estava com a parte superior do corpo em seu colo. O calor do fogo aquecia o ambiente e à ele. A moça não apresentava qualquer reação.

    Havia bastante fumaça no ar. Seu nariz coçava e seus olhos ardiam. Mas lacrimejavam pela dor da perda. O rapaz segurava seu corpo pequeno e frio com um braço, enquanto olhava para o que parecia ser um celular no chão, ao lado. O aparelho tinha um vídeo pausado no display. Ao passo que a fumaça aumentava de volume, sentia uma grande vontade de espirrar devido a rinite. Todavia, ignorava.

    Ao mesmo tempo em que acariciava o cabelo dela, admirava sua pequena e linda face. Em seu coração, experimentava um misto de revolta e culpa: lembrava-se do sorriso que ele conhecia e amava naquele rosto, no momento sem vida.

    Mesmo sabendo o que devia, podia e queria fazer, ele ainda relutava. Porém, concluiu que não tinha escolha. Ou tinha. Tomou uma súbita decisão.

    Com o coração acelerando, num ímpeto, pegou o dispositivo e deu play na gravação em pausa. Cerrando forte os olhos, ele pressionou prolongadamente um dos botões do aparelho em seguida...

    O celular vibrava intensamente em sua mão...

    Ugh! — Denison despertou num sobressalto, soltando o aparelho que segurava. — Uou, uou, uou!... — exclamou, pegando rapidamente o smartphone, que só não foi ao chão com ímpeto porque, antes de cair, num ato de reflexo havia fechado as pernas fazendo-o parar em seu colo. — Cacetada!... Quase!...

    Pegando o celular de volta, verificou que não houve nele nenhum dano. Notou que o aparelho apenas tinha apagado, sem energia.

    — Caramba!... Eu cochilei, foi?!... — se perguntou meio desnorteado, sem saber ao certo o que houve com sua pessoa. — Caracas!... Que sonho esquisito!...

    Após o susto com a vibração inesperada, notou um detalhe intrigante: tudo estava absurdamente silencioso, quase como um vácuo. Mas não era um vácuo: Ele respirava, percebeu.

    Não que aquele estado de calmaria fosse exatamente uma novidade ali: ele estava no subsolo do prédio e, lá, o ambiente era tranquilo por natureza. Entretanto, presumiu que tinha algo mais do que simplesmente tranquilidade. Aquilo parecia ir além de um simples silêncio: O ambiente demonstrava estar 'parado' — ou 'paralisado'..., ele observou.

    Imediatamente, também sentiu algum tipo de ‘zumbido oco’ no ar... A sensação lembrava quando se põe uma concha no ouvido, ou se está debaixo d'água. Pensou que se tratasse apenas daquelas situações onde é necessário bocejar para equilibrar a pressão nos ouvidos.

    — Eu não tô ficando meio surdo não, né?... — se perguntou preocupado, coçando a orelha com o dedo mínimo, mas logo se dando conta que escutava sua própria voz. Após ficar um pouco mais aliviado por não está surdo, não seria somente a falta de som no local que chamaria sua atenção...

    Levantando-se, ficou impressionado com mais alguns detalhes que presenciou: O ventilador de teto e o circulador de ar na parede pareciam ter emperrado de repente. E achava que as luzes das lâmpadas estavam meio 'fracas'... Talvez, tenha sido algum tipo de queda de energia...", supôs.

    Não soube se era apenas na sua cabeça, mas também notava um certo cheiro de fumaça no ar. Por conta daquilo, tinha vontade de espirrar. Cheirando suas roupas, todavia não notou odor algum. Achou que estava apenas em sua mente, mesmo.

    Por fim, acreditou que tudo aquilo se tratava de efeitos do sono e cansaço que percebia experimentar naquela noite.

    Seus olhos estavam meio turvos e lacrimejantes. Ao esfregá-los...

    — Oh, merda!... — reagiu, ao sentir que uma das lentes saiu dos olhos.

    Ainda não estava totalmente habituado ao uso contínuo delas. As vezes, esquecia que usava. Enquanto tentava pôr a lente de volta, planejava subir até o térreo por um instante para aliviar aquela coceira no nariz e enorme vontade quase compulsiva de espirrar.

    Naquele momento, mesmo com um dos olhos embaçados, lhe pareceu estar diante de algum tipo de película transparente à sua frente. Olhando para cima, viu que ela se estendia sobre e em volta dele, como uma espécie de bolha azulada — ou era uma cúpula translúcida com ele dentro...

    Ao colocar a lente de contato de volta, pretendia checar se aquilo era real ou efeito da sua visão míope embaçada. Porém, após as lentes não mais a percebeu ali: Notou apenas uma leve brisa, ou deslocamento de ar o atingindo...

    Naquela hora, sentiu também a claridade do ambiente chegar aos seus olhos. Foi como se, de uma hora para outra, as lâmpadas tivessem voltado a irradiar toda sua luz, como se antes estivesse ‘presa’ — como prende a gravidade do Sol sua energia, no primeiro momento em que a produz. Também notou ruídos de hélices girando: foram os ventiladores que voltaram a funcionar.

    Entretanto, não foi apenas aquele barulho que escutou...

    Mmm Mmm Mmm Mmm... ( som musical vocal)

    Ai, cacilda!... — quer me matar do coração, é?!... —  reclamou, pondo a mão no peito e se segurando num dos armários. — Não tem nenhum fantasma aqui não, né?... — brincou ele com o ocorrido para aliviar a tensão do susto.

    O rapaz tinha ficado surpreso ao ouvir, de repente, vindo do computador em sua mesa, parte da música "Mmm Mmm Mmm Mmm" de Crash Test Dummies. Com o coração batendo forte de surpresa, ele escutou o restante daquela que era uma de suas canções favoritas dos anos 90...

    "Cause then there was this boy

    Parents made him

    Came directly home right after school

    And when went to their church..."

    Esquisito...  — disse, analisando o que aconteceu ali.

    Depois de desligar o som, ficou intrigado que, ao ouvir essa melodia, por instante ele teve a leve impressão de já ter vivido aquilo antes... Para ele, exceto por esses fenômenos estranhos, tudo parecia recordar semanas ou dias atrás: Então, por que estava ali, fazendo as mesmas tarefas naquela noite, novamente?, se perguntou.

    Olhando para o calendário, viu que estava marcando 13 de julho de 2019...

    — 13 de julho?!! Não!... Jura?!... — ficou intrigado e confuso, ainda tentando se situar, como se tivesse despertado em estado de confusão.

    Em vista dessa incerteza sobre a noção exata de tempo, ele escutou:

    Você sabe que isso é ridículo, certo? Duvidando da própria realidade que está vendo?... Se você não percebeu, está quase dormindo em pé, de tão cansado... — o lembrou seu Alter ego.

    — Hmmm...! Acho que tem razão. — disse ele, concordando, reconhecendo seu estado físico naquela hora. — Isso tudo não passa de efeitos do sono. Por quanto tempo eu cochilei mesmo, hein?!... Parece que por semanas!..., pensou Denny, mais uma vez tendo a impressão de haver uma espécie de lapso de tempo em sua memória.

    Após reconhecer que, estranhamente, seu estado físico não estava dos melhores, ele já procurava encerrar suas horas extras naquele fim de semana....

    Apesar de ter ficado muito intrigado com todos aqueles acontecimentos, como não soube explicá-los, deixou pra lá: "Estava estranhamente mui desanimado para lidar com aquilo tudo naquela noite… — argumentou. — Além do mais: quem garantiria que foram reais tudo que ele achou ter visto? Afinal, estava arriado de sono e cansaço!", justificou ele os esquisitos e supostos acontecimentos naquele lugar.

    Parte 2/I:

    Denny

    D

    enison Assunção, ou Denny, como o chamavam, tinha 29 anos e trabalhava no Departamento de polícia do Recôncavo, sediada em Murity, uma cidade do litoral baiano, também conhecida como a terra do poeta negreiro, Castro Alves.

    Com cerca de 40 mil habitantes, distava 120 km da capital, Salvador, e se encontrava uns meio km acima do nível do mar. Portanto, era uma cidadezinha do interior bastante fria no inverno.

    Denny era um jovem de estatura média, fisionomia normal e pardo. Possuía olhos apertados e cabelos castanhos escuros — características que lhe renderam o apelido de chinês, no ensino médio. Mas esses detalhes físicos estavam mais relacionados à miopia e suas características levemente indígena, herdadas de sua mãe.

    Ele atuava na parte administrativa da delegacia do município, órgão que funcionava numa espécie de complexo de serviços públicos no centro. O local tratava-se de um conjunto de prédios erguido entorno da antiga delegacia, onde haviam reunido os principais serviços públicos, como o Fórum, o cartório e as secretarias da prefeitura — além do próprio DP.

    Ainda no DP...

    SOB PRESSÃO?

    Olhando no relógio do PC, Denison viu que já passavam das 9:20 da noite. O expediente do seu turno normal já tinha se encerrado desde às 5:00 da tarde. Entretanto, ele havia estendido suas atividades noite adentro.

    Ele digitalizava documentos e arquivos antigos do município como parte de um programa nacional para criação de um banco de dados central digital. Como o projeto estava com o cronograma de trabalho atrasado, o Governo Federal pagava adicional para quem produzisse mais. Por conta daquilo, naquela noite, decidiu que faria horas extras para aumentar seus rendimentos mensais: "E também para  dar uma acelerada no volume de serviço", admitiu. No entanto, às vezes se empolgava e exagerava na carga horária.

    Quase 21:30

    Denny havia determinado trabalhar até às 22:00. Todavia, após aquele ocorrido envolvendo o susto com o aparelho vibrando em suas mãos, as coisas que teve a impressão de ter visto naquela sala e, principalmente, em função do estranho cansaço, resolveu antecipar sua saída: "Aquilo tudo tinha sido um claro aviso do seu estado de desgaste físico e mental," suspeitou.

    Enquanto se dirigia para pegar o veículo no pátio do DP, Denison notou que estava mais do que, simplesmente, física e mentalmente exausto...

    Não sabia onde tinha gasto tanta energia naquele dia, se surpreendeu. Parecia ter vindo de uma guerra — ou que tivesse levado uma surra, pensou, massageando os músculos dos ombros, doloridos. Seus braços também doíam, e sua rinite foi  desencadeada de um jeito que só era comum na presença de fumaça, fazendo seu nariz coçar e desencadear coriza. Só que não havia fumaça no local.

    Ou talvez, quem sabe, só tivesse apenas com a imunidade baixa...também considerou seu Alter ego.

    — Bem, então acho que tô precisando comprar um suplemento vitamínico!... — decidiu ele se auto medicar, como fazia sempre.

    Ele percebeu que o estado de estafa do seu corpo lembrava muito aquele em que ficava quando executava algum tipo de trabalho pesado e prolongado: "Se fosse dar um diagnóstico do próprio quadro clínico, diria que esteve sob uma grande pressão psicológica e esforço físico durante todo aquele dia. — reparou. — O que era estranho, pois só foi trabalhar a partir de meados daquela tarde de Sábado", se recordou.

    Parte 3/I:

    Déjà vu

    21

    :37 da noite

    Denison estava à caminho de casa. Escutava e tentava acompanhar, com seu inglês picotado, uma das canções da sua playlist em seu pendrive, Under Pressure, do Queen...

    "Um boom ba bay Ba ba boom ba be be

    Um boom ba be Pressure!

    Pushing down on me

    Pressing down on you

    No man asked for Under pressure…"

    De repente, mudando de assunto na sua mente, lembrou-se do que supostamente sonhara durante o cochilo no DP — e do estranho episódio com a vibração inesperada do telefone celular...

    "Que sonho estranho... — ele admitiu, lembrando de quem era o rosto da garota em seu colo, naquele sonho. — Provavelmente deveria estar olhando muito as fotos dela nesses arquivos... ", reconheceu enquanto mantinha os olhos cansados na pista.

    Enquanto dirigia, lembrou-se de quando o dispositivo vibrou em sua mão sem que ele tivesse pressionado algum botão ou recebido uma ligação. Denny até pensou que havia sofrido um choque naquele momento...

    "Mas ele não se lembrava de ter dormido com o aparelho nas mãos... — pensou. — Além disso, o smartphone não estava no carregador: então também não poderia ter sido um choque elétrico" — reconsiderou. — Tudo o que lembrava, antes de supostamente cochilar na cadeira, foi que ele havia pego telefone e gravado um vídeo quando ligou a câmera frontal por engano..."

    "Interessante!... — pensou depois de ter se lembrado do episódio onde tinha gravado uma espécie de auto-vídeo sem querer. — Mas nada daquilo parecia uma lembrança tão recente. Era como se ele tivesse vivido há semanas, não naquela noite!...", teve ele aquela peculiar impressão.

    Denison então concluiu que aquilo seria o que a ciência chama de 'Déjà vu'. No entanto, ele veria que este, Déjà vu, não se restringia apenas aos eventos no porão daquela delegacia...

    Por volta das 21:40...

    Enquanto ainda dirigia pela cidade, voltou a experimentar o mesmo sentimento do porão...

    Daquela vez, a leve sensação de já ter passado por aqueles locais, antes. Não apenas de haver simplesmente passado por aqueles lugares: Mas de também já ter vivenciado e, inclusive, pensado sobre o fato de achar já ter vivido tudo aquilo anteriormente, estranhamente percebeu.

    O que é isso? Algum tipo de Déjà vu de Déjà vus?!... — se perguntou brincando, porém um tanto quanto impressionado. Lembrou-se também que, no subsolo do Departamento, a impressão que teve ao despertar foi a de que esteve — ou estava — em algum outro lugar, segundos antes de acordar ali.

    Porém, além de pensar que esses episódios pareciam estar se repetindo com ele, Denny perceberia que essas estranhas percepções de eventos duplos não seriam as últimas — ou as únicas.

    Ao parar o veículo num semáforo, em frente a uma escola Batista, olhava as pessoas passarem ordenadamente pela faixa de pedestres... De repente, como se soubesse o que ocorreria em seguida, ele previu — ou se lembrou que: Uma mulher tropeçaria nos próprios calçados e outra voltaria apressadamente para pegar um dos seus cães pinscher que tinha ficado para trás.... E assim estranhamente ocorreu.

    — Hã??!!... Mas o qu’é que é...?!... — se surpreendeu ele, olhando pra trás e pros lados, achando tudo aquilo extremamente inusitado.

    Ainda sob o som de Under Pressure e debruçado sobre o volante, estava empolgado com aquelas supostas previsões. Então, começou a tentar prever outras possíveis ações e reações daqueles transeuntes. Contudo, sem muito sucesso daquela vez.

    Denny já tinha lido, ou melhor, assistido sobre os Déjà vus no YouTube. Sabia que, segundo as explicações científicas sobre o tema: Se tratavam de uma espécie de atraso na transmissão de imagens, em tempo real, de um lado do cérebro para o outro. E esse ‘delay' de comunicação entre os hemisférios cerebrais, geravam nas sinapses a impressão de que aquelas imagens, ou cenas, eram lembranças do passado...

    Portanto, constatou que tudo aquilo que achou ter previsto minutos antes não passou mesmo de um simples episódio de Déjà vu, pura dedução lógica, coincidência ou probabilidade matemática, mesmo.

    É isso, ou você simplesmente está ficando maluco, imaginando coisas...ele escutou, vindo da projeção mental de si mesmo, com quem frequentemente conversava.

    — Mais maluco que conversar com uma versão virtual de mim mesmo?... — retrucou Denny, irônico, enquanto voltava a dirigir ao som de Queen.

    Parte 4/I

    O Vazio

    P

    róximo das 21:50, sábado a noite

    Denny morava no subúrbio de Murity, no final de uma avenida que praticamente cortava a cidade. Sua casa era no 3º andar de um conjunto de 3 imóveis que pertenciam à sua família, e cujos aluguéis dos outros 2 ajudavam a manter sua mãe e irmã, em Salvador.

    Chegando em casa, ele brincou ao entrar.

    — Querida, cheguei! Mas é: eu moro sozinho... — ele lembrou. — Sem ofensa, hein Pantera. Você não era exatamente o ideal de companhia feminina que eu tinha em mente pra passar o resto da vida... — Denny disse a um animal de estimação que foi ao seu encontro, miando demorada e insistentemente.

    O pet tratava-se de uma gata negra de quase 9 anos que sua mãe e irmã deixaram com ele depois de se mudarem para a cidade de Salvador. Foi doado à família junto com um irmão idêntico a ela, cujo nome também era Pantera — Pantera 1.  No entanto, ele morreu meses depois, envenenado: "Provavelmente por alguém da vizinhança que odiava gatos pretos", Denny suspeitou na época. Ele também sabia que existiam muitos supersticiosos na região que demonizavam esses animais ou os usavam em rituais religiosos.

    O gatinho esfregava-se nas suas pernas, aparentemente querendo algo dele...

    — Eu já sei o porque todo desse chamego comigo. Você não me engana. Quer ração, né? A semelhança entre você e algumas mulheres, é que vocês só se aproximam de nós, homens, por algum interesse... — conversava Denny com a gatinha enquanto colocava comida num pratinho. — Não exatamente de mim, claro... Caras com dinheiro...", ele acrescentou.

    Enquanto fazia aquilo, surpreendentemente lhe sobreveio uma atípica sensação...

    De repente, Denny experimentou um estranho sentimento de vazio... Não apenas de um vazio no ambiente: "Foi como se, de fato, daquela vez faltasse alguma coisa — ou alguém naquele lugar", procurou ele explicar pra si.

    Igualmente, de uma maneira incomum, Denny também sentia-se exausto. Depois de alimentar seu gato, ele foi para o quarto. Lá, novamente experimentou o mesmo sentimento misterioso de vazio ou perda: Parecia estar faltando um pedaço de sua vida. Não simplesmente, 'alguma coisa'... Mas parecia um vazio específico. Ele notou a falta de 'uma pessoa', alguém em particular.

    Denny estranhou tudo aquilo. Não sabia explicar. Mais uma vez, ele pôs tudo na conta do stress e cansaço que inexplicavelmente sentia.

    — "Ou então, talvez, seja a chamada, ‘crise dos 3.0’. Algo que tinha chegado um pouco mais cedo para você", brincou seu Alter ego, sugerindo aquilo ser apenas uma mera crise existencial, e algo pelo qual todo solitário e solteirão na casa dos ‘30’ passaria, eventualmente.

    Pegando um mini controle em cima da mesinha de centro, Denny ligou um som da sala.

    "So many lovers, to many nights

    Face in the mirror that keeps you alive

    Like a fool, I was waiting

    Like a fool, for you to come back

    Fool, I waa standing alone in the rain

    Like a fool, I was dreaming..."

    Aquela música sempre o lembrava do quanto havia sido um tolo no passado.

    Era cerca de 23:00...

    A PASTA

    Após um banho e comer a única coisa que sabia preparar, macarrão instantâneo no micro-ondas, procurou por seu velho celular e o pôs pra recarregar. Depois de algum tempo no carregador, notou que o aparelho estava anormalmente quente. Mesmo assim, conseguiu ligá-lo. Olhando as horas, viu que já eram quase 11:00 horas da noite.

    O velho dispositivo parecia engasgar e travar bastante no processamento dos comandos de tela. E o touch screen as vezes ficava demasiadamente resistivo. Ele presumiu que aquele fato se dava por ser um aparelho relativamente antigo e possuir pouca memória RAM. Por conta daquilo, cansou de esperar o App do WhatsApp, abrir. Já estressado, jogou o celular no criado mudo...

    — Banana de celular!... — exclamou, sentindo os olhos já cansados.

    Sabia que, se não dormisse logo, amanheceria com os olhos roxos e semblante cansado: Teria um dia horrível se acordasse indisposto. Como se a própria segunda-feira já não fosse o ‘dia internacional da preguiça’!..., ele brincou. No entanto, imediatamente se deu conta de algo: — Ah, é: amanhã é domingo... — se lembrou aliviado, já que  tiraria todo o dia para descansar.

    Após ter arremessado o smartphone no criado mudo, percebeu que o display estava aceso e uma janela de comandos tinha se aberto na tela. A mensagem perguntava: Se o usuário desejava reiniciar o sistema. Denny clicou em OK e deixou o dispositivo onde se encontrava. Sabia que, quando reiniciasse, o aparelho provavelmente melhoraria seu funcionamento e desempenho.

    Cerca de 23:45 da noite...

    Na cabeceira da cama havia uma pasta contendo cópias de arquivos de um antigo e não solucionado caso policial. O inquérito envolvia um misterioso assassino em série que agiu na região do Recôncavo, cerca de 20 anos antes — e uma jovem vítima, uma estudante local.

    Era uma pasta de documentos padrão, amarela — ou era cor de abóbora. Estava um pouco encardida de tanto ser manuseada. Na parte de dentro da capa, na borda superior e presa com um clipe de metal parcialmente enferrujado, tinha a fotografia de uma bela e sorridente jovem. A etiqueta dizia: Vítima de sequestro seguido de assassinato — 1999.... Começou a folheá-la mais uma vez...

    Enquanto aquilo, sem que ele prestasse atenção, o display do aparelho ainda aceso indicava que seguia em processo contínuo de reinicialização. Parecia se encontrar num estado conhecido como ‘Loop infinito do Sistema'.

    Depois de algum tempo, ao se dá conta daquela situação, pegou o smartphone. Lembrou-se que aquele celular vinha apresentando mau funcionamento desde que tentou fazer 'Root' no seu novo Sistema Operacional. Também notou que o aparelho ainda estava bastante quente. Presumiu que se devia ao fato dele está conectado à tomada, carregando: Segunda, o levaria como sem falta pro Minhoca dar uma olhada, planejou.

    Denison ainda tentou prosseguir analisando os documentos. Não conseguiu de tão exausto. Cochilava e despertava com a pasta nas mãos. Depois de alguns minutos, ele viu que o aparelho finalmente tinha reiniciado. Naquela hora, também percebeu sua gata subir na cama, por cima do lençol e se aninhar aos seus pés, prendendo a ponta do cobertor. Meio sonolento, ainda notou uma ‘Logo' desconhecida piscando na tela inicial do smartphone antes do sistema abrir completamente. Seus olhos estavam carregados de sono, mas conseguiu vê-la bem antes de sumir. Reparou que era uma imagem formada por cinco letras em caixa alta e em 3D, separadas por pontos.

    VIBER?!... — estranhou Denison.

    Ou será que se pronunciava ‘Vaiber'?... — sugeriu sua Contraparte mental, antes dele apagar completamente no sono.

    Denny não estava mais consciente. Por essa razão, não presenciou quando algo, como ondas de choque, se expandiu além daquele quarto — como numa explosão silenciosa tendo o aparelho como epicentro. Ao se propagar, aquelas emanações não sônicas acabaram assustando a gata que pulou da cama, mas misteriosamente não caiu no chão, nem em canto algum dali. Logo após aquele rápido fenômeno, todo o tecido da realidade ondulava como perturbações provocadas numa superfície dum rio, até se estabilizar e retornar ao normal.

    Contudo, Denison prosseguia dormindo profundamente como uma pedra...

    Capítulo

    II

    Parte 1/II

    A Garota dos Sonhos

    "

    Denny parecia se encontrar no banheiro da sua casa. Estava sentado sobre a tampa do vaso sanitário, quando a avistou subindo na cama e engatinhar sobre ela. Seu vestido estava ligeiramente levantado... Ele então se levantou e foi até a porta do quarto. Seu bumbum e calcinha estavam provocantemente à mostra. Certamente era proposital. O olhava de modo insinuante: 'como se o convidasse a se juntar à ela...’. ‘Seu rosto ficava ainda mais lindo quando bancava a ‘sensual!...', ele se ouviu pensar.

    Denison se dirigiu até a cama. Diante dela, a segurou pelo quadril e passou a beijar suas coxas por trás, subindo devagar... Notou que seus pelos claros estavam todos eriçados. Ela se deitou um pouco, pondo sua cabeça num travesseiro e inclinando seu bumbum. Ele o acariciava e o beijava, mordiscando delicadamente. Afastou sua calcinha pro lado e passou a acariciar seu clitóris com a língua. Em seguida abocanhou seus grandes lábios, sugando os pequenos levemente...  Ela avançava de bruços sobre a cama, tentando dissipar os espasmos de prazer pelo corpo.

    Denny, então, movido por um desejo ardente, ajoelhou-se sobre ela e a virou. Em seguida agarrou suas coxas, e a puxou para ele. Tirou completamente sua lingerie. Abrindo suas pernas, curvou-se, pondo sua cabeça entre elas... Percebeu pequenos tremores nos quadris dela em reflexo aos seus estímulos. A garota gemia e arquejava com ar de sorriso e de prazer no rosto. Ela então segurou a cabeça dele ali, para que não parasse...

    — Ah!... Humm!... Husss!!... — ele ouvia seus gemidos contidos de prazer, enquanto se deliciava com aquele gosto, ora parecendo levemente amargo, ora meio agridoce em sua boca...

    Naquela hora, ele acordou ofegante e com o coração acelerado,  tendo uma polução — uma ejaculação durante o sono..."

    — Uhmm!... USS! USS! USS! UFF! UFF! — Denny ofegava enquanto sentia seu coração bater forte: a impressão que ele teve ao despertar, foi a que esteve lá. Ou que ela estivesse ali com ele. — Visssh!... Mas o que é que foi aquilo?!... Que troço foi esse, mesmo?!... — exclamou pra si mesmo, após perceber que tinha tido uma ereção e ejaculado durante aquele sonho romântico... — Ca-ramba!...

    Denison se impressionou com as cenas e sensações extremamente reais que experimentou: Parecia tão...!... Tão real!..., se espantou. Ao acender a luz, viu que a gata ainda se encontrava dormindo aos seus pés. — E aí, Pantera? Que tal dar uma licencinha?  — falou ele puxando o lençol debaixo dela, querendo se levantar para ir até o banheiro. O felino, encolhido, dormia profundamente. Estava perfeitamente aninhada como uma serpente enrolada, com as patinhas por cima das orelha. No entanto, ela despertou. Ao olhá-lo...

    Renhau! Renhau-nhau! Fff! — reagiu o animal instintivamente ao vê-lo, aparentemente estranhando-o.

    — Hei, hei, hei! — Tá me estranhando, Pantera! Tá assustada, garota?!... — Se assustou Denny também com o repentino comportamento hostil do animal de estimação.

    Rrrrrrrr! Ffff! — continuou a gata enfrentando-o, estranhamente desconhecendo-o.

    Em seguida, pulou da cama e fugiu rapidamente do quarto.

    — Enlouqueceu!... Pirou na batatinha, foi?! — falou Denny ainda meio sonolento e sem entender absolutamente nada do que ocorreu com seu animal. — Caramba!... Não tem nenhum fantasma aqui não, né?!... — brincou ele com aquela crendice popular local, onde se dizia que gatos supostamente teriam a capacidade de ver coisas sobrenaturais que humanos não podem enxergar.

    Denny pegou o celular para saber as horas. Mas ele se encontrava ‘apagado’ e o ícone da bateria indicava que parecia ainda carregar. Mesmo assim procurou ligá-lo, o deixando reiniciando na mesinha que usava como criado mudo.

    Um pouco mais desperto, e após a inesperada reação da sua gata, Denny voltou a processar o conteúdo daquele sonho... Por um momento, ainda mantinha a sensação de que realmente esteve ‘ali', ou ‘lá', com aquela jovem. Parecia, inclusive, até sentir o gosto da sua intimidade na boca. Seu cheiro e calor estavam vivos em sua memória. Tinha sido uma experiência única e inusitada. Simplesmente não soube como explicar. Foi como se realmente tivesse sentido suas mãos no corpo dela. Denny nunca antes tinha tido um sonho daqueles — tão realista: Foi como se ele tivesse sido arrancado ou expulso de lá quando acordou, notou.

    — Agora eu fantasio com garotas mortas, é?!... — se espantou ele, lembrando-se imediatamente de onde conhecia o rosto daquela jovem

    Cara, parece que você tá mesmo precisando de uma mulher... — mencionou sua Contraparte.

    — É… Estou mesmo na seca... Tô até sonhando com mulheres mortas!... — reconheceu, já se levantando e se dirigindo ao banheiro.

    Enquanto lavava o rosto na pia para recobrar a sanidade, Denison se lembrou que, as vezes, era comum ele ejacular quando tinha algum sonho erótico. Principalmente nos meses seguintes ao término do seu antigo, primeiro e único namoro de verdade. Mas aquilo foi devido a abstinência sexual involuntária. E não acontecia há ano, pontuou, mais uma vez estranhando com quem havia tido aquele tipo de sonho.

    Denny admitiu que, mesmo já tendo apresentado uma certa obsessão por aquela garota antes, ele não se lembrava de possuir ‘sentimentos’ ou desejos por ela. Preocupado, quis saber o que afinal estava lhe acontecendo. Todavia, reconheceu que ultimamente esteve muito com aquele rosto em mente. Desde que passou a estudar aquele caso mais profundamente há alguns meses, aquilo virou mais que uma obsessão para ele. Por essa razão, concluiu que seu inconsciente apenas usou a face daquela moça para ilustrar suas fantasias e aliviar sua tensão sexual latente.

    Entretanto, mesmo após aquela auto explicação toda, ele não podia negar que podia ter algo ligeiramente errado, ou diferente com ele. Contudo, apesar do sonho inusitado e bastante perturbador, optou em tratar aquele episódio apenas como um fato isolado. Mas uma vez, ele não percebeu o padrão dos eventos — ou fingia não perceber. Resolveu ignorar tudo aquilo, argumentando que tinha sido apenas aquela vez.

    — "Bem, é essa explicação ou então sua vida solitária deve tá te deixando meio biruta", brincou mais uma vez a projeção virtual de sua segunda personalidade.

    — Como se falar comigo mesmo não já não me fizesse biruta o suficiente… — meio que murmurou Denny pra si mesmo.

    O fato foi que Denny não parava de pensar naquele sonho. Era como se ele se lembrasse daqueles momentos, não que os tivesse sonhado, não parava ele de pensar. De volta ao quarto, ao checar o celular, ainda seguia tentando reiniciar... Querendo abafar aquelas perturbadoras imagens, buscou na gaveta do criado mudo um velho MP3 e pôs os fones de ouvido, escolhendo aleatoriamente uma música...

    "The world was on fire and no one could save me but you

    It's strange what desire will make foolish people do

    I never dreamed that I'd meet somebody like you"

    Parte 2/II

    Lembranças, estranhas lembranças...

    A

    inda era madrugada...

    "No, I don't want to fall in love (this girl is only gonna break your heart)

    No, I don't want to fall in love (this girl is only gonna break your heart)

    With you, with you (this girl is only gonna break your heart)"

    A melodia que escolhera não estava lhe ajudando a esquecer o rosto vívido daquela garota dos sonhos. Na verdade, estava potencializando... Enquanto o sono não retornava, quase que inevitavelmente voltou a pensar nos detalhes e sensações tão reais que experimentou durante aquele último e inusitado sonho...

    "Não foi como se estivesse apenas sonhando: mas 'relembrando' ou 'revivendo aquelas cenas — voltou ele a comparar. — Eram como memória reais vivenciadas, não fantasias", Denny reparou, inegavelmente ainda balançado pelas imagens tão palpáveis do corpo daquela jovem — aparentemente viva — em seus braços.

    Denny estava intrigado com aquele episódio. Não era muito de dar bolas a sonhos ou mesmo de atribuir-lhes sentido especial — ou espirituais, como comumente fazia sua religiosa mãe. No entanto, não podia deixar de admitir que havia sido um sonho deveras diferente de todos que ele já teve até ali.

    Subitamente, Denny passou a notar algo estranho lhe ocorrendo… Não soube dizer como ou de onde vinham todas aquelas imagens estranhas: como se fossem partes de lembranças perdidas em sua memória, e que vinham à tona naquela hora.... Mas o fato é que percebeu algo sendo desencadeado em seu interior, Como se também fossem fragmentos de um passado recente.... Ele passou a senti-las como autênticos pedaços de supostas memórias que, de repente, começaram a invadir ou eclodir em sua cabeça — como se sempre tivessem estado lá. Era como tivesse sofrido algum tipo de amnésia seletiva durante todo aquele tempo e, só naquele momento, começasse a se recordar...

    Como podia possuir tantas lembranças com uma garota morta em sua cabeça?..., se questionou meio perturbado, querendo pegar no sono novamente, achando, ou desejando se tratarem somente de meras fantasias — ou apenas vestígios do intenso sonho que acabou de ter.

    As festas juninas já tinham passado há quase um mês. Todavia o clima de julho permanecia bastante frio e chuvoso: Aquele dia era perfeito para ficar na cama — enrolado e enrolando..., ele imaginou.

    Deitado na cama, olhava para o teto notando que aquelas inquietantes imagens que surgiram na sua mente após o sonho não o tinha deixado: mas se avolumavam. E cada vez mais ele as via como se fossem lembranças, como havia notado outrora. Não apenas aquilo: Pareciam relativamente recentes. Entretanto, mais uma vez procurou ignorá-las, não querendo lhes dar importância. Inutilmente...

    Denison também se deu conta que algumas daquelas pseudlembranças pareciam ser deles ali, naquela casa...

    Não podiam ser lembranças reais, pois ele nunca esteve com aquela pessoa. Nem poderia: ela estava morta!, disse, coçando novamente os olhos. De repente, após esfregar os olhos, percebeu que tinha dormido usando as lentes de contato, de tão cansado...

    — Quer ficar cego, diacho? — se repreendeu ele, levantando-se rapidamente para checar e ver se ambas estavam no lugar. Após retirá-las e as pôr num copo com líquido na cabeceira da cama, deitando-se, tentou voltar a dormir.

    Sem conseguir dormir, recostado na cabeceira da cama, reanalisava cada detalhe daquele misterioso sonho erótico com aquela vítima dos arquivos policiais. Por mais que tentasse, não conseguia tirar as imagens do rosto dela da sua cabeça. Não apenas aquelas, mas muitas outras vívidas memórias que passaram a vir à seu reboque. Ele também estranhou quando percebeu que aquelas supostas imagens ‘imaginadas’ — ou não — estavam carregadas de algo que não sabia como explicar: "Um incomum sentimentos de afeição por aquela falecida jovem muritybana..."

    No entanto, também se recordou que sempre teve uma imaginação muito fértil. Por essa razão, acreditava que, possivelmente, aquilo tudo era fruto dessa sua capacidade imaginativa adicionada à carência emocional em que vivia. Carência aquela à qual havia se submetido anos antes... Logo desapareceriam, previu.

    Ele passou a acreditar que aquilo tudo era apenas por conta da solidão. Não admitia — ou não queria aceitar — que qualquer outro fator estivesse envolvido naquela questão: "Ele estava sozinho há muito tempo, sem nenhum relacionamento duradouro. Aquelas supostas fantasias poderiam ser apenas um reflexo daquilo", quis se convencer. Só não compreendia como aqueles sonhos com uma garota, vítima de homicídio, se encaixava naquele quadro: Será que estaria tão carente àquele ponto?...., se preocupou.

    Permanecia escuro lá fora...

    Por mais que procurasse escapar, Denison ainda se encontrava intrigadamente pensativo sobre o ocorrido... Ele acabou se dando conta que aquele podia não ter sido seu primeiro sonho com a garota. Se lembrava do estranho episódio no DP, quando cochilou e a viu em seu colo diante de algum incêndio... Com aquele, daquela madrugada, já seria o segundo sonho com a figura daquela jovem em apenas um dia e meio..., estranhou.

    Pensando sobre aquela coincidente reincidência com a imagem daquela bela jovem e sua antiga obsessão por ela, ele se recordou do que disse Freud: Que os sonhos são a realização dos desejos…. No entanto ele não se lembrava de ter possuído, em nenhum momento antes, desejos sexuais por cadáveres ou por figuras femininas assassinadas.

    Em vista daquilo, dos sonhos repetidos, também lhe veio à mente um providencial artigo sobre psicologia e natureza dos sonhos que leu na internet. Segundo a matéria:

    "Quem sonhava reiteradas vezes com o mesmo tema, ou personagens, podia significar que seu subconsciente estivesse tentando lhe dizer algo importante ou apontava para algum tipo de assunto inacabado do passado. Mas também podia ter algo a ver com algum acontecimento do dia — ou

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