Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $9.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Naquele fim de semana
Naquele fim de semana
Naquele fim de semana
E-book420 páginas7 horas

Naquele fim de semana

Nota: 4.5 de 5 estrelas

4.5/5

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Duas amigas viajam. Só uma volta... Naquele fim de semana é um thriller envolvente, viciante, cheio de reviravoltas e com um final surpreendente.
 
Orla e Kate são melhores amigas há muito tempo. Juntas, elas já enfrentaram várias coisas — seja o desafio de Orla como mãe de primeira viagem ou o divórcio complicado de Kate. E, independentemente do que aconteça na vida delas, todo ano as duas tiram um fim de semana para viajar juntas. Sozinhas, tirando um tempo só para elas.
Naquele fim de semana, o destino é Lisboa. Para começar o breve período de férias com estilo, nada melhor do que uma noite inesquecível: um jantar, regado a champanhe, em um restaurante sofisticado. E por que não esticar em um bar depois?
Na manhã seguinte, quando Orla acorda, ainda de ressaca e sentindo-se culpada por ter deixado o marido sozinho com a filhinha deles, descobre que a amiga desapareceu. Ela procura a polícia, mas eles informam que é necessário esperar vinte e quatro horas para registrar um desaparecimento. Então só lhe resta esperar. As horas passam, e Kate não aparece. Apavorada, Orla se dá conta de que é a única esperança da amiga.
Com apenas uma vaga lembrança dos acontecimentos da noite anterior, ela decide refazer seus passos. O que se desenrola em seguida é uma série de descobertas devastadoras, que ameaça tudo o que ela mais ama. Orla sabe que Lisboa guarda o segredo do que aconteceu naquela noite, mas não faz ideia de que a verdade pode estar mais perto do que ela imagina...
Um thriller de tirar o fôlego e com escrita imersiva, Naquele fim de semana terá adaptação cinematográfica produzida pela Netflix e estrelada por Leighton Meester. É a leitura perfeita para os fãs de Paula Hawkins e Gillian Flynn.
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento4 de out. de 2021
ISBN9786555873733
Naquele fim de semana

Relacionado a Naquele fim de semana

Ebooks relacionados

Filmes de suspense para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Naquele fim de semana

Nota: 4.25 de 5 estrelas
4.5/5

4 avaliações0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Naquele fim de semana - Sarah Alderson

    Índice

    Capa

    Rosto

    Créditos

    Dedicatória

    Sumário

    Prólogo

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Agradecimentos

    Naquele fim de semana

    Colofon

    Guide

    Sumário

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    Alderson, Sarah

    A335n

    Naquele fim de semana [recurso eletrônico] / Sarah Alderson ; tradução Maria Luiza X. de A. Borges. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2021.

    recurso digital

    Tradução de: The weekend away

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN 978-65-5587-373-3 (recurso eletrônico)

    1. Ficção inglesa. 2. Livros eletrônicos. I. Borges, Maria Luiza X. de A. II. Título.

    21-73275

    CDD: 823

    CDU: 82-3(410.1)

    Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439

    Copyright © Sarah Alderson 2020

    Publicado originalmente na Grã-Bretanha pela HarperCollinsPublishers, 2020

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais da autora foram assegurados.

    Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.

    Produzido no Brasil

    ISBN 978-65-5587-373-3

    Seja um leitor preferencial Record.

    Cadastre-se no site www.record.com.br e receba informações

    sobre nossos lançamentos e nossas promoções.

    Atendimento e venda direta ao leitor:

    [email protected]

    Para Nichola

    Sumário

    Prólogo

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Agradecimentos

    Prólogo

    Rob não consegue disfarçar a expressão de puro terror.

    — Vocês vão ficar bem? — pergunto, ansiosa.

    — Claro — responde ele. — Vamos ficar bem. Vai lá e aproveita.

    Marlow se agita no colo dele, estendendo os braços gorduchos para mim, e sinto uma vontade louca de mudar meus planos. Não tenho certeza se Rob vai dar conta, apesar de insistir que eu devo ir e aproveitar. É a primeira vez que o deixo completamente sozinho com nossa bebê, e, apesar de um fim de semana em Lisboa com minha melhor amiga ter parecido uma boa ideia antes, já estou começando a me sentir arrependida.

    Mas agora é tarde demais para desistir. Kate já me mandou uma mensagem dizendo que está a caminho do aeroporto.

    Marlow soluça, e estendo os braços para ela, deixando suas mãos grudentas tentarem agarrar meu cabelo.

    — Não se esqueça de dar comida para ela — digo a Rob. — E da hora de colocá-la para dormir.

    — Acho que consigo me lembrar disso — diz ele.

    Beijo Marlow, apertando suas bochechas lindas e fofas como pão chinês, e dou um selinho em Rob.

    — Não se preocupe — pede ele, vendo que estou visivelmente preo­cupada.

    Faço que sim com a cabeça e pego minha mala. Ele está certo. É só um fim de semana. Apenas alguns dias. Nada que vá me matar.

    Talvez eu até me divirta um pouco.

    Capítulo 1

    — Caramba, Kate, isso aqui é maravilhoso — digo, largando minha mala na entrada, andando, em choque, pelo apartamento, atraída como uma mariposa recém-saída do casulo para a visão brilhante diante de mim. O sol se derrama pelas enormes janelas francesas. Fico contemplando o amontoado de construções em tom pastel e, pelos espaços entre os telhados, um brilho azul não muito longe. Deve ser o rio, que acho que se chama Tejo. Seja qual for o nome, é uma visão muito mais convidativa que a cor de lama do Tâmisa.

    Kate se junta a mim perto das janelas, que vão do piso ao teto e abarcam todo o comprimento da sala de estar. Ela dá um aperto no meu ombro e se vira para mim, sorrindo.

    — Nada mau. — Ela ri e então se vira e vai direto até as malas. — Certo, onde está aquela sacola do Duty Free? Bora começar a festa.

    Enquanto Kate pega a garrafa de Dom Pérignon que comprou no aeroporto, encontro o trinco da porta de vidro, abro-a e acabo saindo para a varanda. A adrenalina com toda aquela empolgação percorre meu corpo como uma corrente elétrica.

    Levo um tempo para me dar conta de que a agitação que estou sentindo não é resultado do café que tomei no avião, e sim a empolgação ilícita da liberdade. Eu me sinto como uma prisioneira que cavou um túnel para fugir da cadeia, botou a cabeça para fora do buraco no chão e se deu conta de que conseguiu escapar com sucesso. Inebriada pela vitória.

    Mas, assim que reconheço a origem do sentimento, sinto uma pontada de ansiedade que o cancela completamente. Como será que Marlow está? Será que Rob se lembrou de colocá-la para dormir na hora certa? Quinze minutos de atraso e ela vira um monstro no dia seguinte. Será que ele vai ouvir se ela acordar à noite? Ele dorme como uma pedra, normalmente. E se ele não trocar a fralda dela e ela ficar assada? Ah, meu Deus, e se ele der uva para ela sem partir ao meio e ela morrer engasgada?

    Minhas mãos se contraem, procurando automaticamente meu celular. Então de repente me lembro de que ele está na minha bolsa, jogada em algum lugar perto da porta da frente. Resisto à vontade de procurá-lo e mandar uma mensagem. Não quero ser esse tipo de mãe ou esposa, Rob está bem com Marlow. Ele é um pai ativo e já tomou conta dela sozinho antes. Mas de fato ele pareceu nervoso por ter de cuidar dela sozinho durante um fim de semana inteiro. Não, digo firme a mim mesma, preciso parar com isso e me divertir. Não tenho por que me preocupar.

    Fecho os olhos e respiro fundo, inspirando o cheiro de uma nova cidade e aproveitando o ar suave e quente contra a minha pele. Sinto mais uma vez a deliciosa sensação elétrica da empolgação. Por três dias não tenho ninguém com quem me preocupar, exceto eu mesma. Posso comer o que eu quiser, beber o que eu quiser, dormir até a hora que eu quiser, e basicamente voltar à vida que eu tinha antes de ter minha bebê, quando subestimava totalmente o quão maravilhoso é poder fazer xixi em paz, ou como é agradável usar roupas que não estejam manchadas de golfada de recém-nascido.

    — Aqui!

    Eu me viro e vejo Kate estendendo uma taça de champanhe para mim. E eu a aceito.

    — Saúde! — diz ela.

    — Saúde! — respondo, fazendo um brinde com ela.

    — Isso aqui é maravilhoso — digo, apontando para a vista do apartamento. — Inacreditável esse lugar. — Corro os olhos pela varanda com seus móveis externos elegantes, suas espreguiçadeiras e... inclino a cabeça ao ver algo quadrado no canto. — Espera aí... aquilo é uma hidromassagem?

    — É — responde Kate. — Não contei para você?

    — Não. Senão eu teria trazido meu maiô.

    — Não precisamos de maiô. — Kate ri, voltando para dentro para pegar a garrafa de champanhe.

    Vou atrás dela, de repente me dando conta de que há um tempo eu provavelmente não pensaria duas vezes antes de ficar nua na frente dela ou de qualquer pessoa, mas agora ficar nua até na frente de Rob é algo que eu só faria sob ameaça de morte.

    É que agora há muitas dobras que antes não existiam. Meus seios parecem dois balões de hélio, que antes flutuavam orgulhosos, mas que agora estão se enrugando nas beiradas e voltando a cair no chão. Minha barriga também ainda não voltou à sua forma plana inicial e meu abdome está coberto por uma camada macia de gordura que nenhum exercício parece conseguir eliminar. Se bem que, para ser justa, os cinco abdominais que consigo fazer uma vez por semana provavelmente não ajudam muito, nem o pain au chocolat que compro quase toda manhã quando levo Marlow ao parque ou a um grupo de mães e bebês. Tentei cortar o açúcar, mas descobri que doce é a única coisa que deixa esses grupos suportáveis, e às vezes é a única coisa que me abastece nas doze horas exaustivas sozinha com a minha bebê.

    Ninguém diz o quanto é difícil ter filhos, ou o quanto é difícil recuperar a forma física, principalmente aquelas malditas celebridades, que posam de legging e top um dia depois de dar à luz. Acho que isso não é tão real assim; muita gente diz que ter filhos é difícil, mas essa noção é bem vaga antes de se ter um. É como ouvir que cumprir prisão perpétua numa solitária é desafiador. Você pode até imaginar aquilo, mas é só quando está de fato sentada sozinha em sua cela, olhando para as paredes, sabendo que será assim pelo resto da vida, que você começa a realmente compreender o quão desafiador aquilo é.

    Enquanto Kate me serve mais uma dose de champanhe, dou uma olhada nela e não consigo evitar sentir vergonha de mim. Ela está tão chique e bem-arrumada, com jeans skinny enfiados em botas Louis Vuitton, uma blusa decotada que exibe seus seios empinados de maneira tão injusta e seus braços tonificados. Sua maquiagem parece recém-retocada também, embora tenhamos passado cerca de seis horas viajando. Não consigo me lembrar da última vez que usei batom, muito menos de quando raspei as pernas. Meus antebraços perderam toda a definição que conquistei nas aulas semanais de Pilates e agora correm o risco de se tornarem completamente flácidos.

    Kate e eu costumávamos ter mais ou menos o mesmo peso e a mesma forma, um metro e sessenta e quatro, e magras — o suficiente para podermos usar as roupas uma da outra —, mas agora somos muito diferentes. Nunca tinha sentido inveja da silhueta de Kate antes e tento não cair na armadilha de me comparar a ela. Eu pari uma criança, pelo amor de Deus! Vai levar um tempo até eu voltar a caber nos meus jeans skinny.

    — Fiz reserva num restaurante que um amigo meu indicou — diz Kate, sem se dar conta de minha infeliz comparação entre nossos corpos. — A reserva é para as dez horas.

    Dou uma olhada no meu relógio. São quase sete horas.

    — Caramba! — digo, controlando um bocejo. — Normalmente durmo às dez.

    — Você pode dormir quando estiver morta, Orla — diz Kate, colocando a taça na mesa e piscando para mim.

    Solto um gemido. Essa costumava ser nossa rotina quando éramos mais novas e tínhamos vinte e poucos anos, morávamos juntas em um minúsculo apartamento em Stoke Newington e íamos para a balada toda sexta-feira e todo sábado à noite. Ficávamos na rua até o amanhecer, quando íamos para casa, parando para comer um bagel na Brick Lane ou um kebab na esquina da Old Street, nos empanturrando antes de cair na cama. A gente acabava dormindo até a tarde seguinte.

    Kate deve ter notado minha expressão quando me dou conta de minha exaustão, me perguntando para onde foi aquela reserva de energia juvenil.

    — Tudo bem — diz ela. — Tira um cochilo que eu acordo você às nove. — Ela sorri para mim. — Vem, vamos dar uma olhada nos quartos.

    Corro atrás dela, nós duas agindo como criancinhas animadas ao abrir as portas e explorar o apartamento. A cozinha é brilhante e cheia de eletrodomésticos de ponta novíssimos, e tem uma mesa grande o suficiente para dar uma festa com um jantar para doze pessoas.

    — Como foi que você encontrou esse lugar? — pergunto, maravilhada, abrindo as portas dos armários e admirando a linda porcelana e as delicadas taças de vinho expostas.

    — Airbnb — responde Kate, abrindo a geladeira, onde há garrafas de água com gás, leite, ovos e café. — Acho que o proprietário mora no apartamento de baixo. Ele também é dono do outro e o aluga.

    — Quanto foi? — pergunto, ligeiramente hesitante.

    — Não se preocupe com isso. — Kate abre um sorriso malicioso para mim. — O Toby está pagando.

    Dou uma olhada de lado para ela.

    Ela dá de ombros.

    — Ele se esqueceu de pegar um dos cartões de crédito comigo. Não se preocupe, ele não vai perceber.

    Balanço a cabeça, mas não consigo segurar o riso.

    — O filho da puta me deve isso — murmura ela, e concordo em silêncio.

    Para começar, nunca gostei muito do ex de Kate, Toby, mas, depois que ele a traiu, parei de fingir que algum dia simpatizei com ele. Ele não é nem bonito, o que não significa que, se fosse, eu o teria perdoado... mas é difícil entender como um homem com uma aparência tão medíocre poderia trair uma mulher como Kate, que é visivelmente areia demais para o caminhãozinho dele.

    Nunca entendi o que Kate viu em Toby, com sua cabeça careca em formato de domo e tufos contraditórios de pelo preto e grosso no corpo, embora ele tenha até um charme, e, como Kate gostava de brincar, homens baixos e carecas se esforçam mais para agradar na cama. Não que eu queira imaginar isso.

    Há dois quartos enormes no apartamento: uma suíte master com um banheiro de mármore e outro quarto menor, que ainda é muito mais bonito que qualquer quarto de hotel onde eu já tenha ficado. Tudo é branco — o edredom, que parece uma nuvem, os travesseiros, as paredes, a poltrona Eames no canto, as cortinas de linho —, mas quem quer que tenha decorado o quarto também salpicou cores vibrantes para evitar que ele ficasse com cara de hospital. Almofadas com estampas em azul e amarelo estão perfeitamente alinhadas na cama, como se tivessem sido arrumadas com um transferidor, e há uma parede ladrilhada com azulejos de cerâmica com detalhes em azul. Algo que você encontraria na revista Condé Nast.

    — Você fica no quarto grande — diz Kate.

    — Ah, não. Estou satisfeita com esse aqui. É ótimo.

    — Eu faço questão — contesta Kate. — Você merece. — Antes que eu consiga dizer qualquer outra coisa, ela arrasta sua mala de rodinhas para o quarto menor. A mala de Kate é tão grande que ela precisou despachá-la, enquanto eu trouxe só uma bagagem de mão. Ela disse que tinha muitos sapatos e vários itens de higiene para viajar apenas com uma mala de mão, o que é típico de Kate, que costumava usar o segundo quarto do apartamento onde morava com o Toby para guardar suas roupas, e o terceiro quarto, para sapatos e bolsas.

    Puxo minha mala esfarrapada com uma rodinha quebrada para a suíte master, que é decorada com praticamente a mesma paleta de cores do quarto menor, e desabo na cama. Pela janela, vejo nuvens brancas infladas flutuando pelo céu alaranjado e roxo. É uma sensação maravilhosa só ficar aqui deitada, sentindo o estresse dos últimos dois anos começando a desaparecer. É incrível o que uma cama confortável e a perspectiva de um fim de semana repleto de risadas e dormindo até tarde podem fazer.

    Kate já está no meu quarto no minuto seguinte e se joga ao meu lado na cama, seu braço roçando o meu. Ficamos deitadas ali em silêncio, olhando para as nuvens, que começam a ficar coloridas como algodão-doce.

    — Estou tão feliz por termos vindo — digo, depois de um minuto de silêncio satisfeito.

    — Eu também — rebate Kate.

    Viro a cabeça em sua direção e sou pega de surpresa pela tristeza gravada em seu rosto enquanto ela olha pela janela. Por um momento, eu me pergunto se Kate esteve chorando, mas depois me dou conta de que é apenas a luz cor-de-rosa do entardecer se infiltrando no quarto. Kate não costuma ficar triste. Sempre que está chateada com alguma coisa, ela recorre ao humor ácido para sobreviver. Nunca se queixa. Antes de conhecer o Toby, quando um cara dava um fora nela, Kate nunca choramingava, só ria e soltava uma de suas frases: Levanta a cabeça e bola pra frente, tem muito mais babacas por aí.

    Quando perdia um cliente, ela pegava o celular e dava um jeito de fisgar outro ainda maior. Nem mesmo quando descobriu que Toby estava dormindo com acompanhantes em suas frequentes viagens de negócios para Seul e Xangai, ela chorou, nem passou dias na cama se empanturrando de sorvete, como eu teria feito. Não, ela pegou o cartão de crédito dele e comprou uma passagem de primeira classe para as Ilhas Maurício e passou uma semana no Four Seasons, deitada numa praia tomando coquetéis e fazendo sexo selvagem com o salva-vidas da piscina. E depois me contou que estava seguindo o sábio conselho de que a melhor forma de superar alguém era ficar debaixo de outro alguém. Ninguém no mundo lida melhor com a depressão do que Kate. Na verdade, eu provavelmente devia aprender com ela, mas meu cartão de crédito tem um limite muito mais baixo.

    Mas agora, enquanto olho para ela no brilho dourado do pôr do sol, me pergunto se Kate não está escondendo a verdade de mim. E se, durante todo esse tempo em que pensei que ela estava bem, na realidade minha amiga estivesse sofrendo? Não seria de surpreender, considerando tudo pelo que ela passou. E, agora que estou pensando nisso, me dou conta de que fui estúpida por não ter cogitado a ideia antes. A questão com Kate é que ela é uma dessas pessoas que parecem seguras de si, mas que às vezes escondem rachaduras debaixo do papel de parede.

    Agora, olhando mais de perto, ela de fato parece nervosa. Por baixo da maquiagem, percebo olheiras sob seus olhos, como se ela não tivesse dormido ultimamente. E ela passou o voo todo quieta. Ela estava mordendo a pele em volta das unhas dos polegares também — algo que só faz quando está ansiosa.

    Então eu me dou conta de que tenho sido uma amiga de merda. Antigamente, Kate e eu contávamos tudo uma para a outra. Éramos mais próximas que irmãs, certamente mais próximas do que sou da minha própria irmã, que mora na Irlanda e quem raramente vejo. Quando me mudei de Cork para Londres, uma menina ambiciosa de vinte e dois anos, desesperada para sair da minha pequena cidade natal, fui morar num apartamento compartilhado em West Hampstead. Foi lá que conheci Kate. Ela alugava o outro quarto.

    Desde o minuto em que nos vimos pela primeira vez foi como se nos conhecêssemos desde sempre. Éramos as duas sagitarianas, perdemos o pai aos oito anos, amávamos os livros de Richard e Judy, adorávamos ler revistas de fofocas e ir para a balada. Toda quarta-feira a gente comemorava o fato de ter chegado ao meio da semana nos nossos péssimos empregos temporários comprando uma garrafa de quatro libras de vinho Black Tower, que a gente decantava inteiro em duas taças enormes para evitar levantar do sofá para pegar mais. Depois a gente se acomodava para assistir a maratonas de Buffy, a caça-vampiros. A gente é o tipo de amiga que se interrompe o tempo todo, fala mais rápido que um trem-bala para Busan, e consegue se comunicar durante uma conversa inteira só com expressões faciais, se for preciso.

    Moramos juntas por oito anos até que eu, por fim, fui morar com Rob. E, mesmo depois disso, a gente ainda se via pelo menos uma ou duas vezes por semana e se falava por telefone todos os outros dias. Mas agora eu me dou conta de que passamos semanas inteiras sem nos falar, e, quando nos falamos, estou sempre distraída ou tendo de desligar no meio de uma frase para lidar com uma crise relacionada à bebê ou alguma outra coisa.

    Mas, para ser sincera, eu já não estava sendo uma boa amiga mesmo antes de ter Marlow. Três anos de FIV fracassadas me transformaram numa babaca escrota e rabugenta, como meu irmão gostava de me chamar. Fiquei deprimida, e provavelmente meio egocêntrica. Kate tentava ser compreensiva, mas eu percebia que ela não entendia de verdade. Ela não queria filhos e, por isso, era incapaz de compreender totalmente por que eu estava tão infeliz por não conseguir engravidar.

    Depois que Kate rompeu com Toby, há seis meses, eu de fato passei a ligar para ela com mais frequência para saber como estava, mas Marlow era muito bebê e eu estava enfrentando as dores terríveis da amamentação e ficava tantas noites sem dormir que tinha a impressão de estar vivendo no fundo de um poço. E, além disso, Kate parecia tão de boa com relação à separação que eu sinceramente pensei que ela estivesse de fato bem. Ela estava no modo Kate — seguindo em frente sem olhar para trás. Mas é possível que eu não tenha conseguido perceber que era tudo conversa fiada — e que talvez ela não esteja tão bem quanto eu pensei.

    — Senti falta dos nossos fins de semana só das garotas — digo, encaixando meu braço no dela.

    Ela se vira para mim e sorri, a tristeza desaparecendo em um segundo, fazendo com que eu me perguntasse se havia imaginado aquilo tudo. Talvez eu esteja só projetando parte da minha própria infelicidade secreta nela.

    — Sim — diz ela. — Há quanto tempo a gente não faz isso?

    Preciso resgatar da memória.

    — Pelo menos dois anos — respondo, fazendo a conta de cabeça —, porque no ano passado eu estava grávida.

    — Tem mais tempo do que isso — diz Kate. — Você estava fazendo todas aquelas tentativas de fertilização. Acho que a última vez que a gente deu uma fugida foi há uns quatro anos, talvez.

    — Não pode ter tanto tempo assim — digo, franzindo a testa, apesar de achar que talvez ela esteja certa. — Aonde a gente foi?

    — Valência — responde ela, de imediato.

    — Ah, isso mesmo. Foi maravilhoso — digo, me lembrando do hotel boutique em que nos hospedamos, com camas com dossel e lareiras.

    — Você se lembra de Paris? — questiona Kate, reflexiva. — Ficamos naquele hotelzinho sem-vergonha no Marais.

    Eu rio.

    — Meu Deus, eu me lembro da musse de chocolate que a gente comeu naquele restaurante pequeno perto da Place des Vosges... Vou me lembrar disso pelo resto da vida. Foi a melhor coisa que já coloquei na boca.

    — Não fala isso para o Rob. — Ela dá uma risadinha.

    — Você disse para o americano na mesa do lado que você falava francês... Aí ele foi lá e pediu o que você falou que era pato e na verdade era focinho de porco.

    Morremos de rir com essa lembrança.

    — A gente sabe que isso tem muito tempo — digo — porque foi antes dos smartphones e dos aplicativos de tradução.

    Ficamos ali deitadas, contando todos os lugares onde tínhamos ido juntas, começando por Paris. Pegamos o Eurostar. Foi minha primeira vez e me achei, oh, tão chique. Até comprei uma boina da Accessorize para ficar parecida com as parisienses. Depois que vi como as francesas realmente se vestem, escondi a boina na minha mala. Então comprei uma echarpe, mas nunca consegui descobrir como amarrá-la de um jeito tão elegante quanto as francesas.

    Após essa viagem para Paris, Kate e eu decidimos que viajaríamos juntas um fim de semana por ano pelo resto de nossas vidas, sempre para uma cidade diferente. Rimos dizendo que, quando tivéssemos uns 90 anos, teríamos viajado o mundo todo e nos contentaríamos com duas cadeiras de praia na beira do mar em Margate. Fizemos essa promessa e a cumprimos por anos, a cada ano vendo um ligeiro aumento nos preços dos hotéis onde nos hospedávamos e na qualidade dos restaurantes onde comíamos e na bebida que comprávamos no Duty Free. Mas, basicamente, foi uma promessa que eu deixei de cumprir.

    — Desculpa não termos conseguido viajar por um tempo — digo a Kate, uma onda de culpa me inundando.

    — Não tem problema — diz ela, apertando minha mão. — Estamos aqui agora. Vamos aproveitar o máximo possível. — Então ela rola para fora da cama, pegando a taça vazia na mesa de cabeceira. — Vai cochilar e eu acordo você daqui a umas horas para a gente sair para jantar.

    Capítulo 2

    — Acorda, acorda — diz Kate, me sacudindo pelo braço.

    Eu pisco com a visão embaçada e me esforço para me sentar, me sentindo grogue e desorientada. O quarto está escuro e, quando Kate acende o abajur da mesa de cabeceira, levo alguns segundos para me situar.

    — São nove e quinze — diz ela. — Hora de levantar.

    Bocejo e jogo as pernas para fora da cama, ignorando minha vontade de me virar, puxar as cobertas sobre a cabeça e voltar a dormir. Quando minha visão fica mais nítida, vejo Kate pronta para curtir a noite na cidade. Ela está deslumbrante em um minivestido preto com mangas franzidas e sapatos de salto alto dourados que ressaltam suas pernas queimadas de sol e tonificadas. Sinto um desânimo ao olhar as roupas na minha própria mala. Fui prática ao escolhê-las, sabendo que Lisboa era uma cidade construída sobre morros e pensando que íamos andar muito e fazer passeios turísticos. Não trouxe nenhum salto, só tênis e um par de sandálias baixas, e tenho certeza de que não coloquei na mala nada tão elegante quanto o vestido que Kate está usando. Para início de conversa, nem tenho nada tão bonito assim. Kate possui milhares de vestidos lindos, em parte porque gosta de roupas, de fazer compras e tem dinheiro para comprar coisas novas, mas também porque, sendo assessora de imprensa, frequentemente precisa ir a estreias e after-parties e, como a rainha, não usaria a mesma roupa duas vezes nem morta.

    Enquanto Kate vira o resto do champanhe na minha taça vazia, abro o zíper da minha mala e vasculho o conteúdo: jeans, um vestido de verão, um short, uma blusa, um casaco de moletom com capuz, algumas camisetas e, por último, meu pijama de flanela xadrez. Há uma blusa meio brilhosa com lantejoulas da H&M, que eu tinha pensado em usar com meus jeans se saíssemos para jantar, mas eu não estava esperando nada com estrelas Michelin. Esperava que a gente fosse comer em pequenos restaurantes locais sem um código de vestimenta.

    — Não tenho o que vestir — digo a Kate, me sentindo frustrada e enfiando minha blusa da H&M de volta na mala. Gostaria que ela tivesse me avisado que havia feito reserva em um restaurante chique.

    — Quer alguma coisa emprestada? — pergunta ela e, antes que eu consiga responder, sai porta afora gritando sobre o ombro para que eu vá com ela.

    Seu quarto não é mais um oásis branco, parece ter sido saqueado por um ladrão desesperado. Há roupas e sapatos espalhados por toda parte. Era exatamente assim quando morávamos juntas. Costumava me deixar louca o jeito como ela deixava sapatos, casacos, bolsas, pratos sujos e canecas espalhados pelo apartamento, como se tivesse sido criada em uma mansão e estivesse acostumada com empregados arrumando tudo para ela, quando, na verdade, havia crescido em um conjunto habitacional na zona norte de Londres.

    Quando discutíamos por causa disso, Kate explicava que a vida era curta demais para perdermos tempo nos preocupando com um pouquinho de bagunça e me convencia de que seria melhor sairmos para ir ao pub ou às compras. No fim das contas, meu próprio TOC triunfava e eu começava a limpar o apartamento, e Kate, me vendo de quatro esfregando o chão do banheiro, acabava sempre se juntando a mim de má vontade e resmungando. Quando ela foi promovida e começou a ganhar mais, a primeira coisa que fez foi pagar uma faxineira uma vez por semana.

    Agora eu vejo Kate jogar apressadamente algumas coisas de volta em sua mala e fechá-la, depois pegar um vestido no chão e me oferecer. É um minivestido de seda azul jacquard e, embora eu ache lindo, tenho zero dúvida de que, se eu tentasse passá-lo pelos meus quadris, ele ficaria preso e a cena viraria um esquete de comédia... eu me contorcendo para sair dele igual a uma lagarta lutando para sair do casulo. Kate vê minha expressão e joga o vestido de volta no chão e pega outro, um longo e bordado, com um decote profundo.

    — Toma — diz ela, segurando-o contra o meu corpo. — Experimenta esse.

    Eu o levo comigo para o banheiro e fecho a porta, sem querer tirar a roupa na frente dela. O vestido, de um estilista que eu reconheço, desliza pelo meu corpo e, para a minha grande surpresa, cai muito bem, embora seja de alcinha e eu precise tirar o sutiã. Imagino que isso não vá me favorecer, mas por sorte a cintura império do vestido levanta meus peitos de forma tão eficaz quanto um sutiã com aro. Nunca usei vestido longo, mas, contemplando meu reflexo, começo a me perguntar se não deveria reconsiderar meu estilo agora que cheguei aos quarenta.

    A bancada está repleta de séruns, frascos, produtos de maquiagem e cabelo. Pego um babyliss e tento me lembrar da última vez que me dei ao trabalho de fazer alguma coisa com meu cabelo que não fosse só lavar e prender num rabo de cavalo ou num coque bagunçado.

    Kate enfia a cabeça pela porta entreaberta.

    — Ah! — exclama ela, entrando. — Ficou ótimo em você! Você tem que ficar com ele.

    Começo a protestar, mas ela me interrompe.

    — Não, eu faço questão. Fica muito melhor em você do que em mim. Olha esses peitos! Parecem melancias! Estou com inveja. Acho que eu

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1