Acaso
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Sobre este e-book
Maria José Silvestre
Maria José Silvestre was born in Porto, Portugal, on June the 18th, 1961. She moved to Angola while she was still a baby and lived there until she was 15 years old. In 1975, her family moved back to Portugal, where she finished her studies. At 47 she moved to the United States, where she still lives. She graduated in Geography from the Faculdade de Letras of Universidade do Porto and specialized in Educational Supervision and Teacher Formation also at Universidade do Porto. She is a certified Local Development Agent by the IPSS, Porto.
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Acaso - Maria José Silvestre
ÍNDICE
Prefácio
Setembro De 2006
A Primeira Despedida
O Reencontro
A Definição
Agosto De 2007
Fevereiro De 2008
Julho De 2008
Agosto De 2008
Setembro De 2008
Novembro De 2008
Janeiro De 2009
Junho De 2009
Setembro De 2009
A Recuperação
Um Novo Ano
Dezembro De 2010
Este livro foi escrito respeitando o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.
À minha querida filha,
Quando pensamos que a vida já nos mostrou tudo, que já vimos tudo, que já nada nos surpreende . . . eis que surge o inesperado.
Como que por magia, tudo muda de rumo, os caminhos cruzam-se, a vida deixa de ser o que era, novas opções e novas decisões têm que ser tomadas.
Sabia eu naquele fim de verão o que me esperava?
A partir do verão de 2006 tinha pela frente um futuro incerto, mas um amor à vida e uma fé estonteante de estar a caminho da felicidade.
Acreditar, mesmo sabendo que esse acreditar trazia consigo a dor da saudade.
Saudade, esse sentimento que se instala de diversas formas e por variados motivos na alma do ser humano.
Sentimento de perda, de vazio, que se espelha numa paisagem agreste, em que o vento não sopra, o Sol não brilha, as águas do mar não batem na areia, a água da chuva não mata a sede e os rios acabam por secar.
Quão grande é a capacidade humana, que mesmo no vazio, cria escudos de proteção valorizando a sua existência.
Acredita sempre minha filha, nunca desistas da vida tal como ela é. Nunca baixes os braços porque não obtiveste a resposta que estavas à espera, nunca te abandones perante o infortúnio e mesmo quando as respostas não forem claras, segue em frente e procura a solução da encruzilhada.
Nem tudo foi feito ou se tornou acontecimento, para nós entendermos.
Mas tem como certeza, que tudo acontece por alguma razão.
Maria José Silvestre
Agradecimentos
Agradeço a todos os que fizeram parte deste projeto e que tornaram possível a sua publicação.
À minha querida filha que deu o título a este livro.
À minha primeira leitora Carla Sofia e a todos os que leram as minhas páginas e me ajudaram a reescrever algumas delas.
À minha prima Otília Lapa e também à Joana Espírito Santo que com dedicação e carinho fizeram a tradução para Inglês, deixo o meu apreço e a minha gratidão.
À Janette Cross que amavelmente fez a revisão da versão inglesa.
Agradeço também à minha amiga Manuela O’Leary que gentilmente escreveu o prefácio.
A todos os meus futuros leitores, deixo também o meu agradecimento.
PREFÁCIO
Após ter lido esta incrível e verídica história de amor e luta, senti que foi para mim um grande incentivo e encorajamento para encarar as mais duras penas da vida.
Podemos constatar ao ler este livro, que o ser humano tem forças que desconhece e que de facto o amor é um suporte fundamental para a sobrevivência.
É uma realidade que tocou o meu coração com toda a força.
Deixa-me dizer-te querida amiga Maria José, Parabéns!
Da amiga e admiradora,
Manuela O’Leary
Acaso, é uma história verídica, em que num final de verão o momento se encarrega de alterar a vida de duas pessoas.
Um começar de novo, em que o amor forte e único, vence todos os obstáculos.
Os nomes verdadeiros foram alterados, por uma questão de privacidade.
A Autora
SETEMBRO DE 2006
Naquela tarde de 16 de setembro de 2006, Carol (Carolina) estava mais uma vez desesperada, a solidão que invadira sua vida teimava em não sair. Resultado de uma vida vivida, um passado cada vez mais distante, mas nem por isso esquecido. Há vivências que só a morte apaga. Tornou-se numa Mulher orgulhosamente só, feliz por ter atingido um patamar que lhe concedeu conforto, qualidade de vida e felicidade por existir e ser como é, mas ao mesmo tempo terrivelmente só.
Carol, uma mulher divorciada, viveu só com sua filha (Catarina) durante 14 anos. Agora, havia 1 ano que sua filha tinha partido para Inglaterra na companhia de seu namorado (João), para estudar. Sentia-se uma mulher de sucesso, era professora do Ensino Secundário, Orientadora de Estágio e Autora de manuais escolares. A vida tinha-se encarregado de em paralelo do sucesso lhe dar muito sofrimento e desilusão. A dor, a mágoa e a tristeza no olhar eram sua companhia. Apesar de tudo, conseguia arranjar forças para remar contra a maré e continuar lutando pela vida, tendo como único objetivo não faltar com nada a sua filha. Seus pais (Beatriz e Pedro) viviam perto e sempre estavam do seu lado, mas Carol precisava de mais. Precisava de alguém que a amasse e que com ela partilhasse as tristezas e as alegrias da vida, alguém que a ouvisse, alguém que a ajudasse a remar no mar de profunda solidão em que se encontrava. Procurava sair de vez em quando com suas amigas e amigos. Quando o fazia, sentia-se bem, conversava, ria e desfrutava do momento. Mas quando regressava a casa e tinha apenas por companhia o seu coelho, sentia-se pior do que quando tinha saído.
Frequentemente dizia: pior do que me deitar sozinha, é acordar sozinha
, era desta forma que ela conseguia em poucas palavras falar da sua solidão.
A sua solidão era a ausência da sua vida, sentia-se como uma fera fora do seu habitat. Depois de sua filha ter partido, as coisas deixaram de fazer sentido. Trabalhava porque precisava, mas como gostava da sua profissão, enquanto o fazia, sentia-se bem.
Era uma solidão que lhe magoava a alma. O vazio deixado por sua filha e seu futuro genro era tão grande como o Oceano. Era uma solidão não escolhida, por isso em nada comparável aos momentos de solitude que tinha tido, os que eram conscientemente escolhidos, e por isso eram sagrados momentos para ela estar consigo própria.
Mas esta era uma solidão diferente, era estar só mesmo que no meio de uma multidão, era o sentir-se desamparada e deambulando entre a noite e o dia.
Contudo, todos os dias agradecia a Deus o facto de estar viva. Sabia que tinha ainda muito que caminhar para poder dar, ao ser humano que mais amava nesta vida (sua filha), tudo o que era necessário. Quando se sentia mais tranquila conseguia decifrar toda a sua vida e até chegava à conclusão de que era uma pessoa de sorte. Tinha já vivido muito nesta vida. Entre amores e desamores, alegrias e desilusões, de facto tinha já vivido mais do que a maioria das pessoas que conhecia. E isso por si só, já era mais do que motivo suficiente para estar feliz, pois sentia que a sua passagem pela vida não era em vão.
Mas e apesar de tudo isso a saudade que tinha de sua filha, consumia-a por dentro, dia após dia. Tudo perdia valor quando comparado com a ausência de sua menina. Saudade e nostalgia eram sentimentos que se confundiam na sua alma. A saudade ela até conseguia controlar, mas a nostalgia magoava-a mais do que qualquer dor física, quando recordava as simples idas ao supermercado, as conversas tidas numa noite juntas, coisas que não voltariam a acontecer da mesma forma ou com o mesmo significado, porque os tempos eram outros, porque a vida tinha mudado e nada jamais seria igual. Poderia vir a ser até melhor, mas com incapacidade de apagar a nostalgia de excelentes momentos vividos que não se repetem. O tempo é implacável, entre o passado e o presente, tece a teia da vida. Teia que nos impede de voltar atrás, mesmo que isso nos destrua.
Apesar de ter decidido não querer mais ninguém na sua vida, porque já tinha sofrido demais, Carol tinha estes momentos de desespero.
Eram 13 horas do dia 16 de setembro de 2006, envolta no seu desespero e lavando a cara com as lágrimas que teimavam em cair, sobressaltou-se com o toque do telefone. No outro lado da linha estava sua mãe, a pedir que fosse ter com um casal amigo dos EUA que estava a chegar com sua família. No momento só Carol estava disponível, pois era sábado e ao sábado ela não trabalhava. Seu pai e sua mãe estavam a trabalhar e por isso sua mãe lhe estava a pedir para fazer o que eles não podiam na altura. Carol mesmo gostando muito de seus pais e do casal que estava a chegar, foi rude com sua mãe, pois se havia dias em que estava mal e não lhe apetecia estar com ninguém, aquele sábado era um deles.
"Deixem-me chorar a ausência da minha filha querida,
Deixem-me chorar o vazio que se instala no meu coração sempre que minha filha se despede de mim,
Deixem-me chorar a saudade que sinto dela,
Deixem-me gritar ao mundo, que a minha filha é a minha vida.
Que culpa tenho eu?
De amá-la como amo?
De respirar porque ela respira?
De viver porque ela existe?
Vocês não sabem,
Não sabem nada,
Eu renasci quando a concebi,
Desde então vivo para ela,
Minha doce filha,
Ninguém nunca conseguirá ocupar o seu sagrado lugar no meu coração.
Quem sou eu?
Alguém para quem a vida não tem sido nada fácil,
Mas sou uma mãe feliz, porque tenho a filha que qualquer mãe gostaria de ter".
Apesar da tristeza que lhe apertava o peito e quase a sufocava, conseguiu encontrar uma solução para encaminhar os amigos até sua casa. Enquanto esperava que eles chegassem à entrada de sua cidade (Vila Nova de Gaia) para lhes indicar o caminho até sua casa, Carol foi para o chuveiro e chorou ainda mais, chorou de dor e de raiva, pois achou que ninguém respeitava a sua solidão, a sua dor e a sua necessidade de silêncio naqueles momentos em que ela se sentia assim. Apesar de adorar os seus pais, a falta que sentia da sua filha era superior a tudo e a todos. Carol mantivera sempre uma relação excelente com sua filha e também com seu genro, aliás eles viviam com ela e eram o seu esteio. Em todos os momentos de tristeza e de alegria eles estavam presentes e dando-lhe sempre o apoio que ela necessitava. A casa estava por isso cheia de amor e de vida, quando eles lá estavam. Carol até se esquecia que não tinha companheiro, pois tinha naqueles dois seres humanos a alegria de viver e de continuar. Com a partida deles para Inglaterra, a casa ficou vazia e sua vida também. Sem eles estava mais só do que nunca, a felicidade estampava-lhe o rosto sempre que ia a Inglaterra visitá-los ou eles iam a Portugal. Mesmo longe, os contactos que mantinham diariamente pelo Skype alimentavam-lhe a alma.
Saíra do chuveiro, com o cabelo desalinhado, os olhos inchados de chorar, quando o telemóvel toca, os amigos tinham chegado às portas da cidade. Ufa, que correria, tinha agora 15 minutos para se arranjar.
Abriu as portas do guarda-fatos, nada lhe servia para vestir naquele dia. Quando Carol estava assim, nunca sabia o que vestir.
Mas tinha que ser, tinha que se vestir e descer para acompanhar os seus amigos e família ao hotel que era no centro da cidade vizinha (Porto).
Tirou umas calças de ganga e uma camisola de manga curta, calçou uns sapatos confortáveis, colocou um pouco de maquilhagem e com um casaco de malha pelas costas, estava pronta para os receber. O telemóvel volta a tocar, Carol dirige-se para a janela do seu quarto eram 14 horas e 30 minutos. Quando abriu a janela sentiu como que uma lufada de ar fresco, como que uma luz ao fundo do túnel, inexplicavelmente sentia-se de um momento para o outro fresca e com a porta aberta para a vida. Um sentimento de alegria e esperança invadiu a sua alma e o seu corpo.
Olhou para baixo do seu 4º andar e disse com sorriso aberto:
- Olá, estou aqui, eu já desço.
Desceu com uma alegria que não sentia fazia já muitos anos. Já na rua, deu um forte abraço aos seus amigos (Cátia e José), e conheceu a família que os acompanhava, dois irmãos de José (Jim e George) a esposa de George (Christina) e a mãe (Catarina) de Jim e George, estes eram irmãos de José só da parte do pai. Jim era o irmão que se apresentava só, com um olhar doce e uma disposição contagiante.
Eram dois carros, num vinha George com sua mãe e sua esposa, noutro os seus amigos com Jim. Carol juntou-se ao último e seguiram em direção ao hotel. Durante a viagem de aproximadamente 10 minutos, Carol sentia calafrios sempre que de soslaio olhava Jim.
Um sentimento estranho invadia seu profundo ser. Jim por outro lado espelhava algum nervosismo e ansiedade.
Quando chegaram ao Hotel, Carol viu que seu pai já lá estava. Nesse momento teve um acesso de revolta.
Se já lá estava porque não pôde ele ir buscar os amigos, em vez de ela que estava tão em baixo? Trocou algumas palavras com o seu pai e mostrou que não estava nos seus melhores dias. Nuns curtos minutos em que se pôde afastar dos presentes, respirou fundo, acalmou-se e procurou explicações para o que havia sentido quando abriu a janela do seu quarto. Por muito que se questionasse, não encontrava respostas. Bom está feito, está feito, agora estou aqui e vou levar esta caminhada até ao fim. Mostrar um pouco da cidade do Porto, rir em vez de chorar e conviver, sobretudo proporcionar um bom fim de semana aos amigos e família.
Estava Carol neste diálogo consigo própria, quando alguém com um português escangalhado lhe coloca a mão no ombro:
- Me mostras a tua cidade? Eu não falo muito bem