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Aristocrata Poderoso
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Sobre este e-book
Uma beleza sedutora que ele não pode ter, mas não consegue resistir…
O rei Konstantine Vorontsov fará de tudo para acabar com a revolta em seu reino, inclusive dar o perdão real a uma terrorista. Mas a chave para desmantelar o grupo secreto, a muito tentadora Annika, é uma mulher que ele pensou que poderia simplesmente usar e esquecer…
Um rei atormentado que ela deveria odiar, mas não pode negar…
Membro de um grupo secreto que pretendia libertar seu país da opressão de um rei implacável, Annika Tataryn percebe tarde demais que as coisas não são tão simples. A sua única chance de permanecer viva é entrar em conluio com o rei para encontrar e destruir seu antigo grupo. Mas um mês inteiro com Konstantine está prestes a testar seus valores – e seus limites.
Eles deveriam ser inimigos, jamais se desejarem tanto, mas nem mesmo um rei tem autoridade sobre o amor…
À medida que se aproximam de derrotar o inimigo do reino, a tentação aumenta. Mas além do perigo que espreita nas sombras, existe um obstáculo que eles não serão capazes de transpor: a noiva bilionária de Konstantine chega em breve para salvar o reino da moratória, celebrar o noivado deles e marcar o casamento.
Aristocrata Poderoso, o terceiro romance da série Os Aristocratas da autora bestselling do USA TODAY Cristiane Serruya, é uma história de amor, cheia de suspense que o fará virar as páginas e pedir mais.
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Aristocrata Poderoso - Cristiane Serruya
Capítulo 1
Europa
Em um pequeno reino chamado Zahara
Sankt Zara, Dilkiso Palats
Sexta-feira, 25 de setembro de 2015
06:30
Osol do outono estendia seus raios timidamente sobre Sankt Zara quando o rei Konstantine Vorontsov saudou os guardas que abriram os portões de sua saída privada do palácio: — Bom dia.
— Bom dia, Vossa Majestade. Tenha uma boa cavalgada — era a resposta repetida diariamente.
Ele cruzou a ponte sobre o fosso e desviou para a direita em direção ao parque que margeava um lado do Palácio Dilkiso, uma enorme fortaleza quadrangular feita de gigantescas pedras calcárias, com uma torre arredondada em cada canto, exceto no que continha o Harém, um pequeno palácio onde antigamente ficavam as mulheres. Espalhada pelos vários dos quilômetros quadrados que eram razoavelmente planos em Sankt Zara, a fortaleza refletia o esplendor alcançado pelo império de Genghis Khan e estava em sua família desde o final do século XIII, quando um de seus ancestrais a capturou de volta dos invasores mongóis.
— Zeus — chamou e soltou um assobio baixo e agudo, informando ao seu dogue alemão preto que Apolo, seu garanhão branco andaluz, iria começar um galope.
Era a mesma rotina todos os dias e Konstantine gostava dos seus rituais diários.
Com a aurora, a cada novo dia, todas as coisas pareciam possíveis.
Além do chilrear dos insetos e do canto dos pássaros, tudo estava quieto.
Sua família e a maioria dos funcionários ainda dormiam ou começavam a se levantar e ele aproveitava para fazer o seu exercício físico ao ar livre, organizar seus pensamentos para o dia e desfrutar da companhia de seu cavalo e seu cão, sem ser perturbado.
Não era algo muito viável ficar um pouco sozinho em um palácio onde ele não apenas trabalhava, mas também vivia com sua família – uma família muito grande e barulhenta, composta de três irmãos mais novos, três meias-irmãs do segundo casamento de seu pai, a madrasta, um sobrinho, um futuro cunhado e até algumas semanas atrás uma cunhada. Sem falar que, provavelmente bem em breve, a sua noiva, Scarlet se juntaria ao caos.
Mesmo não conhecendo pessoalmente Scarlet, já que o contrato de casamento fora firmado pelo pai dela, o único sheik árabe cristão, sem falar petrobilionário, Mohamed bin Awad Al-Adaman, sabia o que receberia: uma moça arrogante e mimada e, se as fotos que apareciam nas revistas de fofoca do mundo todo não fossem retocadas, que parecia uma boneca de tão perfeita.
Scarlet, que não dava entrevistas, nem posava para fotos voluntariamente, era perseguida por paparazzi ávidos por um escândalo. O secretário de Konstantine era responsável por fazer um clipping mensal da noiva, que nas fotos aparecia no braço de um amigo diferente, sempre com um drinque na mão. Em festinhas privadas extravagantes. Em ilhas paradisíacas e em estações de esqui. Em jatinhos e iates luxuosos. Vestida com a mais alta costura francesa e debruada com as joias mais raras.
Parecia uma mulher experiente, apesar da idade; chique, apesar das extravagâncias. Lindíssima, apesar de bonequinhas de luxo não serem o estilo de Konstantine, que preferia as morenas sensuais.
O mais importante para Konstantine – e para Zahara – era que o dote do casamento resolveria todos os problemas emergenciais do reino.
Konstantine suspirou. Não aguentava mais ficar tampando buracos. Precisava encontrar dentro de seu próprio país alguma coisa que desse uma renda vitalícia para os cofres do governo, que não fosse mais aumento de impostos. Seu povo não aguentava mais.
Ele passou pela frente de uma residência construída no século anterior para a mãe de um dos reis que não queria habitar o prédio principal juntamente com a nora.
Freando Apolo, ele saltou e rodeou o pequeno e gracioso palácio, decidindo que mandaria limpar o local e ver o que seria necessário para revitalizá-lo. Talvez se mudasse para o local depois de casado. Talvez não, já que significaria mais uma despesa.
Puxando Apolo e com Zeus ao lado, Konstantine andou pelo parque observando que a grama sempre tão bem-aparada estava virando mato e que alguns galhos das árvores tinham se partido com a última tempestade e impediam a passagem em alguns lugares. Um dos primeiros cortes que ele tinha feito quando assumiu o trono foi a equipe gigante de jardineiros que faziam a manutenção dos parques privados da família. Quando chegou ao rio que cruzava o parque, tirou a roupa e mergulhou.
Depois de nadar, por uma hora, vigorosamente, ele se secou ao sol, vestiu-se e voltou para o palácio.
Assim que chegou perto da fortaleza, ouviu os primeiros sinais dos manifestantes do lado de fora das muralhas maciças do Palácio Dilkiso.
Para Konstantine, o Dilkiso não era apenas uma coleção opulenta de salões, salas, quartos; retratos, pinturas e tapetes; cadeiras, poltronas e sofás… e sim um local que deveria formar um lar… mas nunca tinha sido realmente. E deste lar ele queria estar o mais longe possível naquele dia.
Essa ojeriza era só em parte por causa dos manifestantes. Havia também os ruídos noturnos naquela multidão de ambientes que formavam o palácio principal.
Às vezes, durante a noite, acordava com grunhidos, gemidos e gritos ocasionais que não deveriam existir, mas eram muito reais. Se algum palácio merecia ser assombrado, era o Palácio Dilkiso, mas esses fantasmas não eram de seus ancestrais.
Eram fantasmas nascidos da falta de manutenção devido ao orçamento apertado do reino.
Os aposentos do rei ocupavam todo terceiro andar, mas Konstantine usava só os três – enormes, diga-se de passagem – que ficavam mais perto da escada: um para seu escritório privativo, outro para dormir e ocasionalmente um para suas amantes. Não porque tivesse medo dos ruídos noturnos – até porque muitas vezes ele preferia lidar com fantasmas que com pessoas – mas por necessidade financeira.
Dmitri, dois anos mais novo que Konstantine, que tinha sido casado até uns meses atrás, ocupava a ala central do segundo andar. Os gêmeos Maxim e Nikolai ficavam na ala esquerda; e a Rainha Mykhaila, sua madrasta, e as gêmeas Darinka e Svetlana, que raramente estava em Zahara, ficavam na ala direita. Sua outra meia-irmã e cogovernante de Zahara, a princesa Verushka, tinha se mudado, em maio, para o Harém, uma pequena residência dentro da fortaleza.
Havia os silêncios também. Muito mais gritantes do que os barulhos… O que ensurdecia naquele vazio era a falta dos habitantes não providenciados por ele: uma esposa e herdeiros para o trono de Zahara.
Porém como tudo naquela manhã, o barulho provocado por pessoas reais ficava mais alto e mais claro conforme o sol subia mais alto no céu. De seu lugar em um terreno mais alto, ele podia ver que havia mais manifestantes do que o normal, o que o fazia querer virar o cavalo e galopar para longe.
Galopar para bem longe do palácio.
Para bem longe de Sankt Zara. Até mesmo para longe de Zahara.
E continuar galopando.
Infelizmente, ele era o rei e, aos trinta e oito anos já tinha maturidade e responsabilidade suficientes para saber que não podia fugir de seus deveres.
Por isso, respirou fundo, deixando o ar da manhã entrar em seus pulmões, antes de cruzar a ponte sobre o fosso. De volta para sua prisão real dourada.
Nos estábulos reais, desmontou e entregou seu garanhão a um cavalariço, depois de dar-lhe uma cenoura e sussurrar um agradecimento carinhoso no ouvido de Apolo.
Com um estalo de dedos para Zeus, caminhou até o edifício principal do palácio, revendo mentalmente a programação real do dia.
Sua agenda não estava muito cheia.
Tudo o que tinha para fazer era visitar Dmitri, um dos irmãos, que estava internado no hospital, quase curado depois de ter o corpo queimado, a espinha fraturada e só Deus sabe quantas outras mais fraturas e machucados e, depois, Piort, o filho de Dmitri, de dez meses, que tinha perdido a mãe no mesmo atentado a bomba; visitar Ivan, o futuro cunhado que tinha levado uma facada de um terrorista em um outro atentado; e o outro provável futuro cunhado, Vasily, que se recuperava de um coma por causa de uma explosão causada por um outro terrorista.
Depois, ele só teria que decidir se as duas mulheres – ambas terroristas – presas no Calabouço do Palácio Dilkiso receberiam o perdão real.
Ou seriam enforcadas.
Já tinha sido mais fácil ser rei em Zahara.
Capítulo 2
Calabouço
08:45
Annika Tataryn não queria morrer. Nem hoje, nem amanhã. Nem tão cedo.
Também não queria testemunhar a morte de ninguém. Muito menos, um enforcamento.
O problema era que as coisas não estavam parecendo muito promissoras para ela nessa brilhante manhã de outono, com o chilrear dos pássaros nas proximidades e pessoas furiosas gritando ao longe.
Isso era tudo o que ela podia ouvir pela única abertura estreita e cheia de grades da sua cela de prisão. Projetadas para permitir alguma ventilação e um pouco de luz natural e ao mesmo tempo manter quem estava dentro completamente fora do contato com o exterior.
No Calabouço do Dilkiso Palats, onde pesadas camadas de história pressionavam a rocha de maneira inclemente, todas as salas eram úmidas e escuras e as celas eram inundadas quando a maré subia muito.
Annika fechou os olhos e se recostou nas antigas paredes de pedra. Por um instante, ela pôde sentir o peso dos séculos. Era uma sensação vaga, tênue, indescritível que ela costumava ter na presença de algo muito antigo, fossem pessoas ou coisas. Talvez fosse sua reverência ao que a estrutura tão antiga vira e suportara, as mudanças dos tempos, dos hábitos da sociedade e do eterno desrespeito pela vida humana.
Talvez sua mente fosse excessivamente criativa e sonhadora, mas ela podia sentir os vapores subindo em volutas e ondulando ao redor daquelas pedras.
Os gritos de dor e angústia pareciam impregnar as paredes da mesma maneira que as marcas das unhas dos prisioneiros que ali morreram afogados – ou talvez fosse um eco perdido dos gritos da noite anterior quando a maré tinha subido e os guardas tinham sumido de propósito por mais de duas horas, só reaparecendo quando os prisioneiros das celas debaixo estavam quase se afogando – e também havia culpa e melancolia. Também havia uma noção de futuro. O palácio conheceu tempos de felicidade no passado e os conheceria novamente.
Quando Annika abriu os olhos, percebeu que a impressão mais forte que o Dilkiso lhe deixou foi uma sensação de solidão.
Não havia nada naquelas rochas à quilômetros abaixo do palácio ou em sua própria cela que lhe desse pesadelos ou a mantivesse acordada esta noite.
Mas na cela ao lado dela?
Ah, a prisioneira e o torturador na cela mais abaixo da sua… ambos deixavam o diabo parecendo um anjo.
— Diga-me quem é o mentor do esquema e onde posso encontrá-lo.
Annika já tinha perdido a conta das vezes que a chefe da contraespionagem e do serviço secreto, Sekretar Ilda Borodin, fazia e refazia a mesma pergunta – além de algumas outras similares – para a ex-segurança pessoal da Princesa Verushka Vorontsov e sua ex-parceira no grupo terrorista conhecido como DragonSlayers, Nastuyne Arkhangelsky.
Ali há mais de três meses, Nastuyne tinha sido deixada na cela que enchia regularmente com a maré e quase se afogara. Tinha ficado sem comida nem água por dias a fio. Passado um mês na cela com uma luz fortíssima ligada dia e noite. Também tinha ficado um mês na total escuridão.
Ainda assim, sua única resposta era o silêncio.
Annika podia imaginar a faísca de desafio brilhando nos olhos de sua ex-parceira, mas não compreendia muito bem porque a pergunta era repetida, se ela já tinha delatado Sasha Abramov e todos os participantes do DragonSlayers.
O grupo secreto tinha sido supostamente formado por membros ativos do partido Movimento pela Democracia por Zahara, o DEZA, para expulsar a realeza do país e assumir o controle do governo. Segundo Sasha, trabalhar estritamente como uma organização não governamental que cumpria a lei poderia levar décadas para atingir seus objetivos. Era necessária pressão adicional sobre a monarquia zaharense e o povo sentia a necessidade de uma reforma urgente. Assim, os DragonSlayers nasceram para impulsionar as coisas e acelerar o processo pelo qual o DEZA poderia adquirir mais poder político em Zahara e, finalmente, ter eleições democráticas. Só que não foi bem isso que aconteceu.
— Ela não vai falar, Sekretar. — Desta vez foi a voz de James Alcoa, segundo no comando do serviço secreto e chefe da segurança do rei e da família real, já que Zahara trabalhava com falta de gente. — A filha da puta é um iceberg psicopata.
— Merda! — exclamou a Chefe Borodin, que queria apenas uma coisa: o paradeiro de Sasha, a líder dos DragonSlayers. — Já são nove horas. Era a última chance dela.
— Estaremos muito melhor sem ela.
Ela podia ouvir a raiva na voz do homem sobre a traição de Nastuyne à princesa Verushka, a meia-irmã do rei e cogovernante de Zahara.
— Talvez devêssemos tentar a outra.
Annika sabia que enquanto James não queria nada mais do que tirá-la da cela e espancá-la até que confessasse tudo – o que ele não podia fazer pois centenas de pessoas do lado de fora do Dilkiso exigiam sua liberdade e a de Nastuyne.
Além de sempre ser um crime, a tortura nem sempre era eficaz.
Mais que isso, a tortura era uma quimera, pois tinha que se ter certeza de que o terrorista saberia não só as respostas para as perguntas como as responderia, caso torturado.
A maior prova disso era que eles poderiam torturar Nastuyne o quanto quisessem, cortar a mulher viva em pedacinhos que ela não revelaria onde estava Sasha. Além de amar a líder dos DragonSlayers obcecadamente, na opinião da Nastuyne – e até poucos dias atrás, também na de Annika – Sasha só queria o melhor para Zahara.
Além de participar de atentados terroristas, seguindo as ordens de Sasha, Nastuyne ajudara o ex-noivo da princesa a plantar aparelhos de gravação de vídeo e áudio nos aposentos privados da princesa Verushka. Como Nastuyne era encarregada de proteger pessoalmente a princesa, a punição por traição era a morte por enforcamento. A única maneira de sair disso era confessar seus crimes e pedir o perdão real, o que, pelo jeito, ela não faria de maneira nenhuma.
— Preciso informar ao rei — disse a Chefe Borodin com voz cansada, levantando o monofone e discando um número.
A participação de Annika e do ex-noivo da princesa no grupo secreto nunca deveria ter sido descoberta, mas o coração muito doce de Annika não permitiu que ela ficasse quieta enquanto Bodashka Fadeyuska se preparava para explodir quase toda a família real, com exceção de sua ex-noiva, em um único golpe, sem se importar quantos inocentes seriam mortos e feridos no processo.
Ela fizera uma ligação informando a polícia, a qual foi rastreada. Então ali estava ela, sentada por três longos meses – ou assim achava, porque as luzes estavam acesas o tempo todo – às vezes luzes muito fortes. Graças a Deus tinha sido durante o verão, senão ela teria congelado ali embaixo.
Apesar de estar com fome e sede, cansada e exausta, em pânico pelo enforcamento de Nastuyne, Annika não estava tão apavorada quanto à sua morte iminente.
Por incrível que pudesse parecer, ainda achava que o rei lhe daria o perdão real. Afinal, só graças ao seu telefonema, ele e toda a família real estavam lá em cima acordando entre lençóis egípcios e travesseiros de plumas e tomando café da manhã em porcelanas finas, servidos de bules de pratas.
Tudo o que precisava era manobrar bem a Sekretar para trazer o rei ou alguém com força suficiente para levar o seu pedido a ele.
A Chefe Borodin encerrou a ligação e foi falar com James e os outros policiais.
Um deles, um homem baixo e careca com uma grande boca vermelha – a quem Annika chamava de Palhaço, não apenas por suas feições, mas também por seu jeito engraçado de andar – era um interrogador astuto e cruel.
Sem muita comida ou água e apenas o chão para dormir – quando eles permitiam que ela dormisse, claro – Annika só queria ir para casa e já tinha falado tudo o que sabia.
— Sekretar?
A Chefe Borodin girou em seus calcanhares. — Pronta para confessar?
— Eu… — Ela lambeu os lábios secos antes de continuar: — O rei vai me dar o perdão real?
— Ele daria. Se você não tivesse mentido sobre onde Sasha estava se escondendo — respondeu James pela chefe encolhendo os ombros. — Agora, você precisa trabalhar um pouco mais para isso. Ou talvez você prefira ir para a forca, como sua amiga aqui.
Um súbito tremor deslizou pela espinha de Annika. Ela estava em apuros, mas se recusava a permitir que James e a Chefe Borodin visse o quanto as palavras a deixavam apavorada. — Você não pode me enforcar por tentá-los avisar sobre uma ameaça!
O que não era totalmente correto e todos ali sabiam disso. Ela não estava na mesma categoria criminal que Nastuyne, mas perto o suficiente.
— Contei tudo o que sabia! Nunca quis ver ninguém machucado. — Ela suspirou. Era difícil convencê-los, mas essa era toda a verdade. Tudo o que ela queria era derrubar o rei e colocar um governo democrático em Zahara, mas ela se envolveu nos planos de Sasha e eles eram muito mais sangrentos do que um golpe de Estado. — Isso é tudo que eu sei.
— Sei exatamente como sacudir a memória dela, chefe. — Palhaço se aproximou da Chefe Borodin, esfregando as mãos.
— Talvez eu possa sacudir a memória dela mais efetivamente.
O Palhaço e a Chefe Borodin se viraram prontamente quando a sombra que havia caído sobre a pequena antessala falou.
As palavras zombeteiras vieram de uma voz surpreendentemente melodiosa e profunda que fez o coração de Annika disparar e ela se esqueceu do que Palhaço havia dito.
Alta e grande, a presença enchia a masmorra mal iluminada.
De repente, ela sentiu dificuldade em respirar, como se o poder que exalava do homem que entrou no Calabouço tivesse sugado o ar do ambiente.
A luz das lâmpadas fora de sua cela não o alcançava, e os outros homens atrás dele na escada, colocavam-no ainda mais na penumbra. Isso não diminuía a sua força e ela notou pela deferência dos cumprimentos e murmúrios dos outros no Calabouços que ele era alguém que inspirava respeito.
— Senhor?
Annika viu o recém-chegado trocar um olhar com James e a Chefe Borodin antes de se aproximar da cela da Nastuyne.
Ele acenou com a mão para a Chefe Borodin e, finalmente falando, ordenou: — Luzes nas celas.
Essa ordem curta deveria ter soado aos ouvidos de Annika apenas como uma ameaça, em vez disso, o tom de barítono de sua voz também ecoou baixo em sua barriga. Ela seguiu seus movimentos até que as luzes muito fortes nas celas foram acesas, cegando-a.
Depois de um momento, ela pode vê-lo novamente, sentado na mesa de madeira, falando em voz baixa, no local que servia como escritório, com a Sekretar e James.
O homem terminou de assinar um conjunto de papéis e os entregou a um dos homens postados perto da escada. — Leve isso ao conselho real. Ela será enforcada pela manhã.
Aquelas palavras, sim, soaram como uma ameaça.
— Assassinos! — Annika se lançou para frente, agarrando as barras, mas a corrente que a prendia pelo tornozelo a parou com um solavanco, impedindo-a de chegar mais perto. A única razão pela qual ela se impediu de murchar em uma confusão de lágrimas e desespero foi porque ela já tinha tido um colapso antes, quando Nastuyne se encontrou com Anton Villagrassa, o membro mais velho dos DragonSlayers, que disfarçado de padre, fingiu dar-lhe os últimos ritos.
O homem se virou na cadeira para olhar para ela.
— Ah. Aquela se considera muito importante — disse a Chefe Borodin, apontando com o queixo para a cela de Annika. — É ela quem exige o perdão real, da boca do rei, já que foi ela quem nos informou das bombas e impediu o atentado.
Annika começou a ficar bastante ansiosa. Sim, ela exigia a presença do rei, mas apenas porque não acreditava mais na palavra da Chefe Borodin.
No entanto, ao ouvir sua exigência naquele momento e consciente da deferência nos olhos dos policiais e da expectativa nos modos da Sekretar, ela desejou não ter falado assim. Talvez o verbo requisitar tivesse sido mais delicado de usar, uma abordagem melhor.
Com todas as luzes brilhantes sobre ela, Annika mal conseguia distinguir o rosto do homem quando ele pegou alguns papéis dos dedos da Chefe Borodin, o olhar ainda fixo em seu rosto, antes que ele baixasse os olhos e examinasse o que parecia ser seu arquivo por um longo e silencioso momento.
Certamente, o recém-chegado era uma pessoa de poder, talvez um dos Lordes Conselheiros do reino, porque apenas algumas pessoas tinham estado aqui na masmorra milenar e sabiam do assunto da alta traição do reino em que Annika estava envolvida. E ele a encarava de uma forma que enviava arrepios por sua espinha.
Medo, angústia por sua vida, a fez ter uma súbita falta de ar.
Mais uma vez sua maldita vida parecia determinada a impingir nela outra porrada, mas ela nunca iria deixar alguém ver os hematomas.
Depois de mais uma varredura predatória, o homem a encarou.
— Quem é você? — perguntou Annika, esperando que ele não escutasse o tremor em sua voz. E com clareza disse: — Você pode tentar qualquer tortura que tiver em mente, mas só vou falar com o rei.
Ele não respondeu. Em vez disso, caminhou devagar em direção à sua cela, as sombras ainda ocultando seu rosto e torso.
Um brilho de luz refletiu em sua mão e ela viu que ele tinha um grande anel em seu dedo mínimo. Um cavalheiro importante em Zahara. Sim, talvez um Lorde Conselheiro próximo ao rei. Sob o casaco largo, o sapato de couro brilhava e as calças compridas cinza-escura tinha vincos perfeitos, provavelmente parte de um elegante terno – italiano, provavelmente. O cinto tinha uma fivela larga, mas discreta de alguma marca que ela não conhecia – cara, sem dúvida – e sobre a camisa branca caia a ponta de uma gravata estampada discreta.
— Você vai falar comigo… — ele olhou rapidamente para os papéis em suas mãos —, Annika Tataryn. Vinte e um anos. Dançarina de flamenco. Praticante de parcour. Fazendeira. Filósofa formada online pela Faculdade de Sankt Darinka. Membro do Movimento pela Democracia para Zahara e uma DragonSlayer. Em outras palavras, você é uma terrorista. — A cada palavra, ele dava um passo comedido para mais perto dela. — Você é uma zé-ninguém e você pede… não, exige a presença do rei?
O zaharês dele era perfeito. Ela não ouvia o dialeto desde que seu avô morrera, há dois anos e o desdém dele por ela aparecia claro em sua voz.
Perigo! Ela quase sentiu que deveria gritar por ajuda, mas isso seria ridículo. Apesar de estar atrás das grades, Annika deu um passo brusco para trás e estendeu a mão com a palma para a frente, canalizando todos os seus medos em raiva. — Pare!
Para sua surpresa, ele o fez. Seu pânico diminuiu, mas, mesmo assim, ela estava completamente perdida.
Ela o examinou. — Você pode ser um ninguém.
Ele riu, mas sem humor para aquecer o som. — Sou claramente um alguém.
— Você sabe o que eu quero dizer. — Ela revirou os olhos para ele. — A Chefe Borodin ali me prometeu uma barganha e o perdão real várias vezes, mas o bastardo não se dignou a descer ou me pedir para subir. Nem mesmo uma nota manuscrita. Falarei diretamente com o rei apenas. Você pode trazê-lo aqui?
— Hmmm… — Ele riu sinistramente. — Da, acho que consigo.
— Perfeito. Então, o que você está esperando? Vá chamá-lo.
Ele então pisou sob a luz.
Annika engoliu um grito de raiva ao reconhecer as feições másculas e belas que ela já tinha visto tantas vezes na televisão e estampadas em fotos de jornais e revistas. — Você… você…
— Da, sou o bastardo. Mais conhecido como Rei Konstantine Feodor Maximus Nikita Agustinus Miloslavski von Zahara Vorontsov. A seu serviço. — Ele inclinou a cabeça e um sorriso lento curvou sua boca. — Dependendo inteiramente, é claro, do serviço que você deseja.
De uma forma sutil, ele se demorou na palavra deseja. O olhar negro penetrante, um poço sem fundo, como a noite sem estrelas, como um abismo, passou de seu cabelo despenteado, por seu rosto sujo, e desceu lentamente, até o a bainha do vestido boho que ela usava, naquele momento imundo. A avaliação foi totalmente masculina – e talvez um pouco lasciva – e entediada, passou através da fina camada de tecido.
O homem tinha os olhos de uma pantera que ela vira uma vez no zoológico: observando em silêncio, esperando a chance perfeita para atacar. Annika esperava não se parecer muito com uma gazela fofa e terna.
Em vez de repeli-la, aqueceu sua pele inteira. Ao vivo, o homem era muito mais magnético e charmoso. Ela deveria estar com medo e não pensando na beleza dele. O que a deixou com raiva. Muita, muita raiva.
— Tudo que eu preciso é que você me dê seu perdão.
— Eu disse que dependia.
No entanto, apesar do brilho totalmente selvagem cintilando naquelas profundezas, Annika não conseguia ler nada no fogo contido de seu olhar. — De quê?
— Do que você está pronta para sacrificar por seu rei e por seu reino.
Sacrificar? A raiva se transformou numa fúria que tomou conta dela. Ela havia perdido seus pais, sua irmã, seus avós, sua fazenda. Tudo por causa do rei e do reino. — O senhor é um mentiroso e um ladrão. O senhor, sua comitiva de imprestáveis e seus ancestrais tão importantes roubaram tudo do povo zaharense. O senhor usa nosso dinheiro para viajar ao redor do mundo com luxo e comprar roupas caras e joias e coroas desnecessárias. Deixa as riquezas do país se esvaírem pelos seus dedos cheios de anéis de ouro. — Ela avançou para as barras, segurando-as nas mãos. — Não farei mais sacrifícios por sua ralé, nem pelo senhor. Cansei de dar um pedaço de mim para uma gangue de criminosos que deveria estar dentro dessas celas ou trabalhando pela expiação nos campos. Exijo falar com a Human Rights Watch e com um representante da ONU. Eu quero um advogado. E eu quero um agora!
Uma curva sutil de seus lábios e uma breve luz nos olhos negros dele foram todas as reações que ela teve. E então ele simplesmente desviou o olhar, dispensando-a.
Para sua surpresa, ele se virou para a Chefe Borodin e ordenou: — Tire-a desta cela e leve-a ao meu escritório.
— Tem certeza, senhor?
— Depois de um longo banho, com roupas decentes e limpas, dentes escovados e perfume, é claro. Fale com a Princesa Verushka.
Capítulo 3
Na fronteira com a Estônia
O Celeiro
09:00
Segundo as mais recentes informações russas e zaharenses, Sasha Abramov não estava mais satisfeita em operar algumas das rotas ilícitas mais lucrativas nas montanhas do Mar Negro.
Esse foi o primeiro erro de muitos da inteligência.
Sasha estava de olho no trono de Zahara? Sim. Era uma traficante russa e chefe da quadrilha de tráfico de pessoas que usava as montanhas para levar mulheres e crianças aos países árabes? Sim. Operava as rotas ilícitas nas montanhas do Mar Negro? Sim.
Mas ninguém tinha certeza disso.
Ainda.
Ainda de acordo com a Inteligência, estar na rua quando o sol se punha não era uma boa ideia em qualquer
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