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Estudos do imaginário: Reflexões contemporâneas
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Estudos do imaginário: Reflexões contemporâneas
E-book114 páginas1 hora

Estudos do imaginário: Reflexões contemporâneas

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Sobre este e-book

Esta obra sobre o Imaginário buscou trabalhos que atualizem o conceito que atualiza-se e reformula-se à medida que revemos conceitos, paradigmas e agregamos significações às coisas do mundo. Parte-se da premissa de que nenhum ser humano escapa do imaginário. Quer num ditado popular, num hábito, numa canção, numa qualquer manifestação artística ou não, lá está ele a referenciar posicionamentos, gestos. Na verdade, palavras representam vãs tentativas de definição deste conceito fugidio pela própria natureza do que representa, a distinta biblioteca imaterial. Desta forma, os estudos reunidos neste volume simbolizam a busca por caminhos que deixem trilhas para outros escritos. Daí, a relevância da proposta e o convite à leitura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2021
ISBN9786587782812
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    Estudos do imaginário - Edna Alencar da Silva Rivera

    Organizadora

    1.

    IMAGINÁRIO: ZELOSO GUARDIÃO DOS PERTENCES HUMANOS IMATERIAIS

    Edna Alencar Rivera

    (...) as pessoas são capazes de entender apenas aquilo que inventam para si mesmas e é com isso que se alimentam. (Tokarczuk, 2019, p. 213)

    Refletir o conceito de imaginário abrange contornos de uma discussão conceitual e filosófica, frente aos múltiplos sentidos que a palavra pode assumir em cada cultura, em cada momento histórico. Porém, desafios existem se não parem serem vencidos, para aprimorar e recriar perspectivas. Tudo sempre a depender das trilhas do pesquisador. Isto posto, quando pensamos no imaginário, enquanto metáfora o guarda-chuva torna-se um aliado argumentativo e, como imagem remete a um abrigo de lembranças, para os pertences imateriais.

    Um convite às avessas, pois o mergulho é em sentido transverso, análogo a um caleidoscópio, vemos imagens em flashes, fragmentos de experiências; e, por extensão, sentimos odores, sabores, auscultamos melodias, gritos, sussurros, delírios. Imersos, tateamos um líquido viscoso: um mergulho nas profundezas das produções humanas – quase batismal. Só o silêncio se escuta. O guarda-chuva eleva-se à figura de um guardião a zelar pelas preciosidades do arcabouço atemporal de referências da humanidade.

    Cornélius Castoriadis (1982) vê o imaginário como sendo não somente uma imagem, mas sobretudo uma criação que envolve aspectos sociais, históricos e psíquicos. Como depreendemos, a criação citada envolve racionalidade, embora não seja delimitada por ela uma vez que estabelece uma relação indissociável com a imaginação.

    Em outro momento histórico, Castor Bartolomé Ruiz comenta ser impossível pensar o imaginário apartado da racionalidade:

    Só nas patologias se manifesta uma sensibilidade absolutamente fora da razão. Também não é possível pensar uma razão que consegue sufocar o imaginário ou esgotar suas possibilidades criadoras. Ambas as dimensões, razão e imaginação. Estão indissociavelmente implicadas. Uma não pode existir sem a outra. (Ruiz, 2003, p. 50)

    Quanto à capacidade de recriar e atribuir sentidos, Gilbert Durand entende que imaginário assume uma função essencial para e na humanidade:

    Entre a assimilação pura do reflexo e a adaptação limite da consciência à objetividade, verificamos que o imaginário constituía a essência do espírito, quer dizer, o esforço do ser para erguer uma esperança viúva diante e contra o mundo objetivo da morte. (Durand, 2001, p. 432)

    A essa essência do espírito, Michel Maffesoli acrescenta ainda um aspecto social e histórico. Diz o sociólogo francês:

    Quanto ao imaginário, ele poderia ser esse céu das ideias que, de forma um pouco misteriosa, garante a coesão do conjunto social. É uma característica cada vez mais solicitada. A política, o marketing, a administração vão fazer referência a isso com frequência, chamando a atenção, com isso, para o fato de que só se pode captar o real a partir do que é, aparentemente, seu contrário: o irreal. (Maffesoli, 2012, p. 2)

    Ruiz (2003), acredita que vivemos em um universo formado por sentidos culturais, organizado em teias significativas que compõem as visões de mundo:

    O sentido é sempre social. Ele se organiza em teias e estruturas de significados, a fim de estabelecer suturas simbólicas que deem coerência à ação humana. Por este motivo, a realidade se manifesta para o ser humano de modo contraditório: como algo sólido e efêmero, paradoxalmente específico e fugaz, tensionalmente presente e futuro. Ele não pode apreender a realidade num só aspecto, sempre deve compreendê-la como abertura a ser construída. Não pode definir analiticamente o real, pois sempre se implica vitalmente no mundo que analisa. (Ruiz, 2003, p. 67)

    A realidade construída, engendrada por esse céu de ideias de que fala Maffesoli, integra nosso mundo de sentidos e o ultrapassa. A captação explícita amplia-se e alia-se às necessidades do mercado cultural. Para o filósofo Gilles Lipovetsky e o estudioso do cinema Jean Serroy:

    O imaginário cultural não é mais um céu acima do mundo real, o mercado integra cada vez mais em sua oferta as dimensões estéticas e criativas. Sem dúvida, o econômico jamais foi totalmente externo à dimensão do imaginário social, sendo o mundo da utilidade material ao mesmo tempo produtor de símbolos e de valores culturais. Simplesmente agora essa combinação é explicitada, gerida, instituída em um sistema-mundo globalizado. (Lipovetsky; Serroy, 2011, p. 11)

    Inseridas no contexto social, de certa forma, as narrativas orais acabam reproduzindo os valores estéticos ditados pelo mercado. No entanto, ao potencializar a experiência da narração, acessam um antropológico conteúdo simbólico. Conteúdo reconstruído e perpetuado a cada contar que se enovela no imaginário projetando uma sombra da imagem de quem verdadeiramente somos. Sombra inseparável que projeta a imagem inapreensível do que somos. Está presente e é inatingível (Ruiz, 2003, p. 81). Sombra, de caráter volátil e imprevisível, de tal forma que:

    Ao aproximarmos do imaginário, a metáfora da sombra nos alerta de que devemos desistir de cercá-lo conceitualmente de um modo definitivo. Nossa compreensão sempre desencadeia novas incompreensões. Eis por que temos de nos aproximar de modo descritivo, sem pretender descobrir essências definitivas que o determinam. O imaginário emerge como força criativa do sem-fundo humano, e o atalho que nos aproxima dele de forma intensa é a psique humana. (Ruiz, 2003, p. 81-82)

    Como lembra o autor, não habitamos um mundo natural, mas vivemos em uma selva de símbolos. Não somos um animal meramente racional, mas criaturas hermenêuticas que dotam de significado tudo o que tocam, (Ruiz, 2003, p. 54). Ou seja, a partir da compreensão, se abrem outras portas de incompreensão. De certo modo, os elementos discursivos presentes e projetados nas linguagens humanas buscam revelar o que almejamos alcançar no céu das ideias do referencial social, histórico e psíquico. Transmitidas através do tempo, as narrações revelam aspectos culturais de cada povo reproduzindo seus costumes e suas tradições:

    Cada significação social adquire seu sentido no contexto de outras significações, todas e cada uma delas se conectam numa trama maior, constituindo, desse modo, a identidade de uma determinada sociedade ou pessoa. (Ruiz, 2003, p. 51)

    Composição que, tecida por muitas vozes, é representada pelas manifestações culturais engendradas nas matrizes de linguagens humanas. Em seus estudos, Maria Zilda da Cunha, esboça Na Tessitura dos Signos Contemporâneos uma divisão em paradigmas. Para a autora, existem três categorias: na primeira encontram-se as linguagens verbal, visual e sonora em sua forma artesanal, numa relação muito próxima entre o produtor e o receptor. No segundo paradigma, estão incluídos os processos de produção de linguagens mediados pela tecnologia:

    Processos capazes da propagação e difusão da voz no espaço e no tempo; técnicas óticas de formação das imagens, processos híbridos de propagação de imagem e som; meios reprodutores da linguagem verbal e escrita, como a prensa mecânica

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