O ano de 1961: Trecho do livro Desobedecer
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Sobre este e-book
Negar-se a obedecer às ordens de um superior incompetente ou a leis injustas, resistir ao professor, ao padre, ao policial quando abusam de seu poder. O que torna a desobediência tão difícil? Frédéric Gros faz neste ensaio uma reflexão sobre um tipo de desobediência que exige esforço, que provoca o questionamento das hierarquias, mas também dos hábitos, do conforto, da resignação, para defender o que ele chama de democracia crítica.
Retomando uma trajetória que parte do pensamento antigo e do clássico Discurso da servidão voluntária, de La Boétie, passando por Thoreau e sua Desobediência civil e o caso Eichmann comentado por Hannah Arendt, entre outros, o autor nos faz descobrir que a verdadeira reflexão sobre a desobediência política depende da resposta à pergunta primordial: Por que obedecemos? A obediência busca estabelecer, sem limites, o domínio político, mas cria principalmente a cegueira e a aceitação do mundo, o medo da desordem sem julgamento. A desobediência só pode ser construída com a resistência ética e a democracia crítica.
"Há muitas formas de desobedecer – e também de obedecer, cada uma com seu próprio teor ético e politico. O filósofo francês Frédéric Gros destrincha essas formas a partir de uma 'estilística da obediência', buscando a raiz da 'ética política' que dá sentido e razão aos atos de desobediência […]. Esse é o mote de Desobedecer."
- Diego Viana, Quatro cinco um
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O ano de 1961 - Frédéric Gros
O ANO DE 1961
Excerto de
DESOBEDECER
FRÉDÉRIC GROS
Tradução CÉLIA EUVALDO
O ANO DE 1961
Para podermos sentir até que ponto desobedecer pode ser visto como difícil e arriscado, é preciso lembrar o quanto, ao contrário, a obediência desresponsabiliza e faz conhecer o conforto de não ter de prestar conta a ninguém. A irresponsabilidade é outra coisa: ser incapaz de tomar uma decisão, mesmo quando há urgência; levar a vida dia a dia sem antecipar o amanhã; ser inconstante e volátil; ser com todos, e principalmente consigo mesmo, negligente. A desresponsabilidade é, mais exatamente, agir, executar, realizar, na certeza de que, em tudo o que faço, o si não intervém, que não sou o autor de nada do que o corpo realiza, do que o espírito calcula.
Adolf Eichmann é capturado na Argentina pelos serviços secretos israelenses em maio de 1960 e logo extraditado. Será julgado em Jerusalém entre os meses de abril e dezembro de 1961. É o planejador logístico da Solução Final, seu mestre de obras. Não certamente aquele que tomaria a iniciativa, que a decidiria, mas aquele que a organiza e, finalmente, sim, torna-a possível, efetiva, realizável. É aquele por quem os trens da angústia e da morte, os comboios da desonra da humanidade, os vagões para Auschwitz ou Treblinka partem na hora certa e chegam ao destino.
Seu processo, conduzido em Jerusalém, desencadeou na época um sismo midiático, político, mas também certamente ético.
Organizado como um evento, por razões internas à história de Israel que procedia com pedagogia visando aos judeus orientais não forçosamente conscientes da extensão do Holocausto, o julgamento reunia todo um povo em torno de um traumatismo histórico, de um confronto com um passado terrível. O processo repercutirá formidavelmente pela imprensa e pela televisão de todas as nações.¹ Esse processo Eichmann foi transformado, abalado pelo relato, pela análise