Enfrentando crises e fechando Gestalten
5/5
()
Sobre este e-book
•O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia
•Ressignificando processos com pacientes queimados
•Processos autodestrutivos: do luto do "antigo self" à reinvenção criativa do self
•Experiências em Gestalt-terapia diante do sofrimento LGBTQI+
•Ética e sofrimento humano
•Cuidado às pessoas em sofrimento e possibilidades de ressignificação
•Relação ambiente-corpo como unidade sagrada: Gestalt-terapia como morada da espiritualidade
Textos de: Maria Alice Queiroz de Brito (Lika Queiroz); Josélia Quintas; Karina Okajima Fukumitsu; Paulo Barros; Lilian Meyer Frazão; Beatriz Helena Paranhos Cardella; Jorge Ponciano Ribeiro.
Leia mais títulos de Lilian Meyer Frazão
Questões do humano na contemporaneidade: Olhares gestálticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Enfrentando crises e fechando Gestalten
Títulos nesta série (6)
Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gestalt-terapia: conceitos fundamentais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt-terapia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Situações clínicas em Gestalt-Terapia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Enfrentando crises e fechando Gestalten Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Ebooks relacionados
A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt-terapia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSituações clínicas em Gestalt-Terapia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gestalt-terapia: conceitos fundamentais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Recursos criativos em Gestalt-terapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGestalt-terapia: refazendo um caminho Nota: 5 de 5 estrelas5/5Angústias contemporâneas e gestalt-terapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGestalt-terapia – Por outros caminhos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuadros clínicos disfuncionais e Gestalt-terapia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dialogar com a ansiedade: Uma vereda para o cuidado Nota: 4 de 5 estrelas4/5Gestalt-terapia e experiência de campo: dos fundamentos à prática clínica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA estrutura da transformação: Teoria, vivência e atitude em Gestalt-terapia à luz da sabedoria organísmica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInfância na Gestalt-Terapia: Caminhos terapêuticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA clínica gestáltica com crianças: Caminhos de crescimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiversidade, violência, sofrimento e inclusão em Gestalt-terapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeorias e técnicas de atendimento em consultório de psicologia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLuto — Travessia possível Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPsicoterapia breve: Abordagem sistematizada de situações de crise Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pluridimensionalidade em Psicologia Fenomenológica:: O Contexto Amazônico em Pesquisa e Clínica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVida, morte e luto: Atualidades brasileiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Psicodrama com casais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sobreviventes enlutados por suicídio: Cuidados e intervenções Nota: 5 de 5 estrelas5/5As múltiplas faces do self Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Função do Vínculo no Trabalho com Trauma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTerapia de casal e de família na clínica junguiana: Teoria e prática Nota: 4 de 5 estrelas4/5A atuação sistêmica do psicólogo junto às Varas de Famílias Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Psicologia para você
35 Técnicas e Curiosidades Mentais: Porque a mente também deve evoluir Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minuto da gratidão: O desafio dos 90 dias que mudará a sua vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5A gente mira no amor e acerta na solidão Nota: 5 de 5 estrelas5/510 Maneiras de ser bom em conversar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Autoestima como hábito Nota: 5 de 5 estrelas5/5Terapia Cognitiva Comportamental Nota: 5 de 5 estrelas5/5A interpretação dos sonhos Nota: 4 de 5 estrelas4/5O amor não dói: Não podemos nos acostumar com nada que machuca Nota: 4 de 5 estrelas4/5Não pise no meu vazio: Ou o livro do vazio - Semifinalista do Prêmio Jabuti 2024 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Como Convencer Alguém Em 90 Segundos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Contos que curam: Oficinas de educação emocional por meio de contos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vencendo a Procrastinação: Aprendendo a fazer do dia de hoje o mais importante da sua vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5Psiquiatria e Jesus: transforme suas emoções em 30 dias Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise Nota: 4 de 5 estrelas4/5Águia Voa Com Águia : Um Voo Para A Grandeza Nota: 5 de 5 estrelas5/5Filhas de Mães Narcisistas: Conhecimento Cura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Temperamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Poder das Cores: Um guia prático de cromoterapia para mudar a sua vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tipos de personalidade: O modelo tipológico de Carl G. Jung Nota: 4 de 5 estrelas4/5Como Manipular Pessoas Nota: 5 de 5 estrelas5/5O poder dos mantras: Descubra como ativar o poder infinito que existe em você Nota: 5 de 5 estrelas5/5Avaliação psicológica e desenvolvimento humano: Casos clínicos Nota: 5 de 5 estrelas5/510 Induções hipnóticas para profissionais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Vou Te Ajudar A Fazer As Pessoas Clicar No Seu Link Nota: 5 de 5 estrelas5/5Equilíbrio Emocional: Personalidade Transformada Pelo Fruto do Espírito Nota: 4 de 5 estrelas4/5O mal-estar na cultura Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Enfrentando crises e fechando Gestalten
1 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Enfrentando crises e fechando Gestalten - Lilian Meyer Frazão
Barros
Apresentação
LILIAN MEYER FRAZÃO
KARINA OKAJIMA FUKUMITSU
Dedicamos este livro a Maria Cecilia Peres do Souto, amiga querida, parceira e professora ímpar, por toda sua longa dedicação e contribuição à Gestalt-terapia no Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.
O volume 7 da Coleção Gestalt-terapia: fundamentos e práticas teve origem em 26 de julho de 2019, num dia nublado em que Karina amanheceu em Roraima e escreveu para Lilian: Acordei inspirada para levar a cabo o volume 7. Segue anexa proposta para sua avaliação
. Assim este livro começou. Para compô-lo, escolhemos autores que trabalham com determinados tipos de sofrimento – como traumas, queimaduras, homo e transfobia, processos autodestrutivos, transtornos de ansiedade e pânico –, investindo esforços para auxiliar no resgate do bem-estar daqueles que acompanham por meio de cuidado, ética e espiritualidade.
Crises todos vivemos. Forças para enfrentá-las nem todos temos. Se um dos objetivos principais da Gestalt-terapia é a ampliação da awareness, sobretudo daquilo que impede o fluxo contínuo e dificulta a fluidez do viver, nosso convite para este volume é o de refletirmos sobre as possibilidades de ressignificação de nossas Gestalten.
Em japonês, a palavra crise é composta por dois ideogramas diferentes: um deles significa risco e o outro, oportunidade, de forma que crise implica ambos. Porém, sabemos que nem todas as situações – sobretudo aquelas nas quais enfrentamos obstáculos que nos provocam sofrimento – são possíveis de ser fechadas. Nem toda Gestalt se fecha. Apesar disso, cremos ser possível, segundo a visão gestáltica, utilizar a criatividade e a espontaneidade por meio daquilo que Perls, Hefferline e Goodman (1997) definiram como desprendimento criativo, o qual se torna imprescindível para lidar com conflitos e situações de crise.
O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia
é o primeiro capítulo deste volume. Maria Alice Queiroz de Brito inicia o texto mostrando que é preciso experiência, conhecimento e sensibilidade para adentrar situações de sofrimento inimagináveis. Lika parte da compreensão gestáltica de saúde e considera que a falta de recursos necessários para lidar com as adversidades pode ser vista como um trauma que se torna gatilho de uma situação ameaçadora e promove disfuncionalidade no sistema de contatos self. Ela ressalta que a primeira preocupação do Gestalt-terapeuta é a construção de um vínculo suportivo com o cliente
.
Tomando por base sua extensa experiência no maior hospital de grandes traumas do estado de Pernambuco, Josélia Quintas compartilha seu profícuo trabalho realizado com pacientes que sofreram queimaduras e nos fala da necessidade de lhes oferecer heterossuporte. Diz a autora que, pelas rupturas sofridas e perdas reais causadas pelo acidente, diante de tantas solicitações da equipe para o tratamento necessário e das múltiplas adaptações a esse novo campo de experiência, convocamos o paciente a entrar em contato com o que está acontecendo agora
.
No Capítulo 3, tomando por base sua experiência com prevenção e posvenção do suicídio, Karina Okajima Fukumitsu constata que o indivíduo em processo de morrência e em intenso sofrimento existencial se vê como mais um num mundo sem sentido
. São pessoas que dizem não acreditar na possibilidade de desfrutar do existir em sua máxima plenitude. Aquele que tenta o suicídio ou morre dessa maneira executa um ato de comunicação único e exclusivo. Com base nessas constatações, Karina conclui que o sofrimento existencial pode ser compreendido como um estado de tensão no qual quem sofre não consegue entender por que sofre
. Além disso, fala da importância do acolhimento e do cuidado para o equilíbrio do sofrimento existencial.
No quarto capítulo, Experiências em Gestalt-terapia diante do sofrimento LGBTQI+
, Paulo Barros discorre sobre algumas das comunalidades de parte dos sofrimentos vivenciados por essas pessoas, tomando por base tanto sua experiência pessoal como a que vivencia no atendimento de seus clientes. Diz ele que vivemos em uma sociedade em que grupos políticos e religiosos, compostos em sua maioria por homens, instituíram a heterossexualidade como a orientação sexual adequada, limpa, pura e natural
, o que implica dizer que as demais expressões e identidades sexuais passam a ser consideradas desviantes e anormais.
Já Lilian Meyer Frazão aborda a questão da ética de dimensões que vão além do fazer profissional. Tece considerações relativas a violência, agressividade, subemprego, competição e outras situações do mundo contemporâneo que considera adversas para o acontecer humano, postulando a importância de uma atitude ética – a qual deve ser pensada como postura no mundo e diante dele.
No Capítulo 6, Cuidado às pessoas em sofrimento e possibilidades de ressignificação
, Beatriz Cardella estabelece um rico diálogo com a poesia, a mística e a religião, campos esses que assinalam o paradoxo que constitui o ser humano. Segundo ela, os poetas, os místicos e os religiosos muito ensinam sobre sofrimento e cuidado, à medida que revelam dimensões do humano que a razão não é capaz de abarcar. Beatriz aborda essas dimensões do sofrimento que precisam ser acolhidas e reconhecidas pelo clínico a fim de que ele possa ofertar aos seus pacientes um lugar, de fato, humano, onde possam vir a acontecer.
Sentimos, pensamos e, em movimento, existimos em processo de mudança. "Meu corpo é o que eu sou. Minha alma é como eu sou" – é assim que Jorge Ponciano Ribeiro inicia seu capítulo. O autor percorre os caminhos de espiritualidade pelo profano e pelo sagrado, afirmando que a relação psicoterapêutica se torna sagrada, fator de cura, no momento em que psicoterapeuta e cliente se constituem, na sua singularidade, seres essencialmente complementares e adquirem o temor fascinante pela beleza um do outro
.
Sofrimento demanda respeito com os nossos sentimentos, inovação, criatividade, espontaneidade e zelo. Por esse motivo, esperamos que este volume seja para o leitor um acalanto para as amarguras que afligem nosso coração.
REFERÊNCIA
Perls
, F. S.;
Hefferline
, R.;
Goodman
, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.
1. O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia
MARIA ALICE QUEIROZ DE BRITO (LIKA QUEIROZ)
Não escondemos o que é sombrio de propósito, tampouco basta a vontade para nos conscientizarmos de quem somos ou do que sentimos. É preciso que os outros nos apresentem o estranho, o desconhecido que habita em nós.
(Cardella, 2009, p. 109-10)
Escrevo este capítulo da varanda de casa, olhando o mar azul; o dia está lindo! Vem-me à mente o sorriso da Karina e percebo-me sorrindo também. Dá um calorzinho no coração. Sou assim, vou gestando o que quero escrever e, de repente, sinto que as contrações do parto se iniciam, pego todos os livros que andei olhando já devidamente marcados, escrevo em uma folha de rascunho o fio condutor do capítulo, acho a citação ou poema que dará o tom e puxará o fio da meada do meu pensar... Aí varo dia e noite, parando, de vez em quando, para olhar o mar, sentir o vento, escutar o gorjeio dos pássaros.
Trabalhar ajudando o cliente a desvelar situações traumáticas, atravessá-las, restaurar e integrar aqueles fragmentos de si que, em um processo de autorregulação organísmica, ficaram alienados é algo extremamente delicado, como afinar um instrumento em meio à apresentação de uma sinfonia; qualquer movimento inadequado pode quebrar a harmonia do momento. É adentrar situações de sofrimento inimagináveis que, às vezes, me fazem questionar a dimensão humana que habita em alguns seres viventes. A fim de pensar sobre isso, preciso do acolhimento que a minha varanda me traz...
Para entendermos a dinâmica do trauma, faz-se necessário nos remetermos ao conceito de saúde para a Gestalt-terapia. Segundo Latner (1974), saúde é ter habilidades para lidar eficazmente com qualquer situação que se apresente aqui-agora, alcançando uma resolução satisfatória de acordo com a dialética de formação e destruição de Gestalten. Saúde não garante que obstáculos não nos derrubem quando os defrontamos – apenas significa que nós nos aplicamos à tarefa em mãos com tudo o que temos
(Latner, 1974, p. 51).
E quando não se tem os recursos necessários para lidar com o que se está defrontando? Essa pode ser uma situação traumática. Esta pode ser definida como
eventos para os quais o indivíduo ou o grupo não tem suporte interno necessário para integrar, gerando situações inacabadas, interrupções de contato, trazendo um impacto fisiológico, emocional, cognitivo, interferindo com as relações de campo organismo-meio. (Brito, 2019a, p. 132)
Para Ross (2008), os traumas podem ser classificados como: 1) de choque – quando acontece um fato inesperado, súbito e tão assustador que o sistema nervoso e o psiquismo não têm condições de assimilá-lo e integrá-lo; 2) de desenvolvimento – ruptura prematura do vínculo da criança com a mãe ou cuidadora, exposição da criança a situações de violência verbal e/ou psicológica, negligência, desamparo, abuso físico e/ou emocional; 3) de desenvolvimento de choque – um trauma de choque que acontece em algum estágio do desenvolvimento infantil, prejudicando-o.
Taylor (2014) fala sobre o trauma interpessoal: no caso de pessoas que vivem em famílias abusivas ou violentas, o trauma não se origina num fato, mas no relacionamento. Segundo o autor, esse tipo de trauma é autoperpetuador e mais resistente à cura.
O trauma advém de uma situação significada como extrema por quem a está experienciando, ameaçadora à existência, podendo ou não ser uma situação concreta de risco. Há um bloqueio da capacidade de reação, o que interfere na capacidade de sobrevivência, causa alterações bioquímicas e uma superativação do sistema nervoso (Levine e Frederick, 1999; Ross, 2014; Taylor, 2014). Essas reações nascem, como aponta Taylor (2014), do que é inicialmente uma reação organísmica saudável.
Em um contexto saudável
, se o indivíduo tem vínculos seguros, suportivos, as cargas emocionais geradas nas relações de campo organismo-meio significadas como novas, embora provoquem alterações bioquímicas e no sistema nervoso, estão compreendidas no que Perls, Hefferline e Goodman (1997) chamaram de emergência segura e que Ogden, Minton e Pain (2006) dizem estar dentro da janela de tolerância afetiva (veja a Figura 1). São situações naturalmente digeridas pelos mecanismos de autorregulação inerentes