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Enfrentando crises e fechando Gestalten
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Enfrentando crises e fechando Gestalten
E-book161 páginas3 horas

Enfrentando crises e fechando Gestalten

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Sobre este e-book

Crises todos vivemos. Forças para enfrentá-las nem todos temos. Se um dos objetivos principais da Gestalt-terapia é a ampliação da awareness, sobretudo daquilo que impede o fluxo contínuo e dificulta a fluidez do viver, é fundamental refletir sobre as situações inacabadas que nos impedem de avançar. Neste volume, diversos autores mostram que, por meio da espontaneidade, da criatividade e da espiritualidade, é possível abordar sofrimentos diversos, como os políticos, os oriundos de acidentes e de questões de gênero. Calcados na ética e no acolhimento terapêutico, os capítulos aqui presentes dão uma importante contribuição à abordagem. Temas abordados:
•O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia
•Ressignificando processos com pacientes queimados
•Processos autodestrutivos: do luto do "antigo self" à reinvenção criativa do self
•Experiências em Gestalt-terapia diante do sofrimento LGBTQI+
•Ética e sofrimento humano
•Cuidado às pessoas em sofrimento e possibilidades de ressignificação
•Relação ambiente-corpo como unidade sagrada: Gestalt-terapia como morada da espiritualidade

Textos de: Maria Alice Queiroz de Brito (Lika Queiroz); Josélia Quintas; Karina Okajima Fukumitsu; Paulo Barros; Lilian Meyer Frazão; Beatriz Helena Paranhos Cardella; Jorge Ponciano Ribeiro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de out. de 2020
ISBN9788532311535
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    Pré-visualização do livro

    Enfrentando crises e fechando Gestalten - Lilian Meyer Frazão

    Barros

    Apresentação

    LILIAN MEYER FRAZÃO

    KARINA OKAJIMA FUKUMITSU

    Dedicamos este livro a Maria Cecilia Peres do Souto, amiga querida, parceira e professora ímpar, por toda sua longa dedicação e contribuição à Gestalt-terapia no Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

    O volume 7 da Coleção Gestalt-terapia: fundamentos e práticas teve origem em 26 de julho de 2019, num dia nublado em que Karina amanheceu em Roraima e escreveu para Lilian: Acordei inspirada para levar a cabo o volume 7. Segue anexa proposta para sua avaliação. Assim este livro começou. Para compô-lo, escolhemos autores que trabalham com determinados tipos de sofrimento – como traumas, queimaduras, homo e transfobia, processos autodestrutivos, transtornos de ansiedade e pânico –, investindo esforços para auxiliar no resgate do bem-estar daqueles que acompanham por meio de cuidado, ética e espiritualidade.

    Crises todos vivemos. Forças para enfrentá-las nem todos temos. Se um dos objetivos principais da Gestalt-terapia é a ampliação da awareness, sobretudo daquilo que impede o fluxo contínuo e dificulta a fluidez do viver, nosso convite para este volume é o de refletirmos sobre as possibilidades de ressignificação de nossas Gestalten.

    Em japonês, a palavra crise é composta por dois ideogramas diferentes: um deles significa risco e o outro, oportunidade, de forma que crise implica ambos. Porém, sabemos que nem todas as situações – sobretudo aquelas nas quais enfrentamos obstáculos que nos provocam sofrimento – são possíveis de ser fechadas. Nem toda Gestalt se fecha. Apesar disso, cremos ser possível, segundo a visão gestáltica, utilizar a criatividade e a espontaneidade por meio daquilo que Perls, Hefferline e Goodman (1997) definiram como desprendimento criativo, o qual se torna imprescindível para lidar com conflitos e situações de crise.

    O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia é o primeiro capítulo deste volume. Maria Alice Queiroz de Brito inicia o texto mostrando que é preciso experiência, conhecimento e sensibilidade para adentrar situações de sofrimento inimagináveis. Lika parte da compreensão gestáltica de saúde e considera que a falta de recursos necessários para lidar com as adversidades pode ser vista como um trauma que se torna gatilho de uma situação ameaçadora e promove disfuncionalidade no sistema de contatos self. Ela ressalta que a primeira preocupação do Gestalt-terapeuta é a construção de um vínculo suportivo com o cliente.

    Tomando por base sua extensa experiência no maior hospital de grandes traumas do estado de Pernambuco, Josélia Quintas compartilha seu profícuo trabalho realizado com pacientes que sofreram queimaduras e nos fala da necessidade de lhes oferecer heterossuporte. Diz a autora que, pelas rupturas sofridas e perdas reais causadas pelo acidente, diante de tantas solicitações da equipe para o tratamento necessário e das múltiplas adaptações a esse novo campo de experiência, convocamos o paciente a entrar em contato com o que está acontecendo agora.

    No Capítulo 3, tomando por base sua experiência com prevenção e posvenção do suicídio, Karina Okajima Fukumitsu constata que o indivíduo em processo de morrência e em intenso sofrimento existencial se vê como mais um num mundo sem sentido. São pessoas que dizem não acreditar na possibilidade de desfrutar do existir em sua máxima plenitude. Aquele que tenta o suicídio ou morre dessa maneira executa um ato de comunicação único e exclusivo. Com base nessas constatações, Karina conclui que o sofrimento existencial pode ser compreendido como um estado de tensão no qual quem sofre não consegue entender por que sofre. Além disso, fala da importância do acolhimento e do cuidado para o equilíbrio do sofrimento existencial.

    No quarto capítulo, Experiências em Gestalt-terapia diante do sofrimento LGBTQI+, Paulo Barros discorre sobre algumas das comunalidades de parte dos sofrimentos vivenciados por essas pessoas, tomando por base tanto sua experiência pessoal como a que vivencia no atendimento de seus clientes. Diz ele que vivemos em uma sociedade em que grupos políticos e religiosos, compostos em sua maioria por homens, instituíram a heterossexualidade como a orientação sexual adequada, limpa, pura e natural, o que implica dizer que as demais expressões e identidades sexuais passam a ser consideradas desviantes e anormais.

    Já Lilian Meyer Frazão aborda a questão da ética de dimensões que vão além do fazer profissional. Tece considerações relativas a violência, agressividade, subemprego, competição e outras situações do mundo contemporâneo que considera adversas para o acontecer humano, postulando a importância de uma atitude ética – a qual deve ser pensada como postura no mundo e diante dele.

    No Capítulo 6, Cuidado às pessoas em sofrimento e possibilidades de ressignificação, Beatriz Cardella estabelece um rico diálogo com a poesia, a mística e a religião, campos esses que assinalam o paradoxo que constitui o ser humano. Segundo ela, os poetas, os místicos e os religiosos muito ensinam sobre sofrimento e cuidado, à medida que revelam dimensões do humano que a razão não é capaz de abarcar. Beatriz aborda essas dimensões do sofrimento que precisam ser acolhidas e reconhecidas pelo clínico a fim de que ele possa ofertar aos seus pacientes um lugar, de fato, humano, onde possam vir a acontecer.

    Sentimos, pensamos e, em movimento, existimos em processo de mudança. "Meu corpo é o que eu sou. Minha alma é como eu sou" – é assim que Jorge Ponciano Ribeiro inicia seu capítulo. O autor percorre os caminhos de espiritualidade pelo profano e pelo sagrado, afirmando que a relação psicoterapêutica se torna sagrada, fator de cura, no momento em que psicoterapeuta e cliente se constituem, na sua singularidade, seres essencialmente complementares e adquirem o temor fascinante pela beleza um do outro.

    Sofrimento demanda respeito com os nossos sentimentos, inovação, criatividade, espontaneidade e zelo. Por esse motivo, esperamos que este volume seja para o leitor um acalanto para as amarguras que afligem nosso coração.

    REFERÊNCIA

    Perls

    , F. S.;

    Hefferline

    , R.;

    Goodman

    , P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

    1. O trauma segundo o enfoque da Gestalt-terapia

    MARIA ALICE QUEIROZ DE BRITO (LIKA QUEIROZ)

    Não escondemos o que é sombrio de propósito, tampouco basta a vontade para nos conscientizarmos de quem somos ou do que sentimos. É preciso que os outros nos apresentem o estranho, o desconhecido que habita em nós.

    (Cardella, 2009, p. 109-10)

    Escrevo este capítulo da varanda de casa, olhando o mar azul; o dia está lindo! Vem-me à mente o sorriso da Karina e percebo-me sorrindo também. Dá um calorzinho no coração. Sou assim, vou gestando o que quero escrever e, de repente, sinto que as contrações do parto se iniciam, pego todos os livros que andei olhando já devidamente marcados, escrevo em uma folha de rascunho o fio condutor do capítulo, acho a citação ou poema que dará o tom e puxará o fio da meada do meu pensar... Aí varo dia e noite, parando, de vez em quando, para olhar o mar, sentir o vento, escutar o gorjeio dos pássaros.

    Trabalhar ajudando o cliente a desvelar situações traumáticas, atravessá-las, restaurar e integrar aqueles fragmentos de si que, em um processo de autorregulação organísmica, ficaram alienados é algo extremamente delicado, como afinar um instrumento em meio à apresentação de uma sinfonia; qualquer movimento inadequado pode quebrar a harmonia do momento. É adentrar situações de sofrimento inimagináveis que, às vezes, me fazem questionar a dimensão humana que habita em alguns seres viventes. A fim de pensar sobre isso, preciso do acolhimento que a minha varanda me traz...

    Para entendermos a dinâmica do trauma, faz-se necessário nos remetermos ao conceito de saúde para a Gestalt-terapia. Segundo Latner (1974), saúde é ter habilidades para lidar eficazmente com qualquer situação que se apresente aqui-agora, alcançando uma resolução satisfatória de acordo com a dialética de formação e destruição de Gestalten. Saúde não garante que obstáculos não nos derrubem quando os defrontamos – apenas significa que nós nos aplicamos à tarefa em mãos com tudo o que temos (Latner, 1974, p. 51).

    E quando não se tem os recursos necessários para lidar com o que se está defrontando? Essa pode ser uma situação traumática. Esta pode ser definida como

    eventos para os quais o indivíduo ou o grupo não tem suporte interno necessário para integrar, gerando situações inacabadas, interrupções de contato, trazendo um impacto fisiológico, emocional, cognitivo, interferindo com as relações de campo organismo-meio. (Brito, 2019a, p. 132)

    Para Ross (2008), os traumas podem ser classificados como: 1) de choque – quando acontece um fato inesperado, súbito e tão assustador que o sistema nervoso e o psiquismo não têm condições de assimilá-lo e integrá-lo; 2) de desenvolvimento – ruptura prematura do vínculo da criança com a mãe ou cuidadora, exposição da criança a situações de violência verbal e/ou psicológica, negligência, desamparo, abuso físico e/ou emocional; 3) de desenvolvimento de choque – um trauma de choque que acontece em algum estágio do desenvolvimento infantil, prejudicando-o.

    Taylor (2014) fala sobre o trauma interpessoal: no caso de pessoas que vivem em famílias abusivas ou violentas, o trauma não se origina num fato, mas no relacionamento. Segundo o autor, esse tipo de trauma é autoperpetuador e mais resistente à cura.

    O trauma advém de uma situação significada como extrema por quem a está experienciando, ameaçadora à existência, podendo ou não ser uma situação concreta de risco. Há um bloqueio da capacidade de reação, o que interfere na capacidade de sobrevivência, causa alterações bioquímicas e uma superativação do sistema nervoso (Levine e Frederick, 1999; Ross, 2014; Taylor, 2014). Essas reações nascem, como aponta Taylor (2014), do que é inicialmente uma reação organísmica saudável.

    Em um contexto saudável, se o indivíduo tem vínculos seguros, suportivos, as cargas emocionais geradas nas relações de campo organismo-meio significadas como novas, embora provoquem alterações bioquímicas e no sistema nervoso, estão compreendidas no que Perls, Hefferline e Goodman (1997) chamaram de emergência segura e que Ogden, Minton e Pain (2006) dizem estar dentro da janela de tolerância afetiva (veja a Figura 1). São situações naturalmente digeridas pelos mecanismos de autorregulação inerentes

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