A cidade inexistente
4/5
()
Sobre este e-book
Relacionado a A cidade inexistente
Ebooks relacionados
Bichos contra a vontade Nota: 5 de 5 estrelas5/5As palavras trocadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCidades mortas e outros contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCravos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #207: WALY Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO acontecimento da literatura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRessuscitar mamutes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeoria da Literatura: Reflexões e novas proposições Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #186: A poesia é um gás Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO desenho do tempo: Memórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #194: Sylvia Plath, 90 anos, e os ecos de uma poeta do futuro. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnônimos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAjudar a cair Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO frágil toque dos mutilados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCuidado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAsas quebradas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnquanto Deus não está olhando Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeixe-elétrico #05: Silviano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Ateneu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO som dos anéis de Saturno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO lugar de fala e as narrativas midiáticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Confissão de Lúcio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmar é crime Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAquele que tudo devora Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFronteiras: Territórios da literatura e da geopolítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO templo dos meus familiares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscritas e leituras contemporâneas I: histórias da literatura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstado e Igreja: Educação escolar no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasObras essenciais de Júlia Lopes de Almeida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO presidente e o sapo Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Ficção Geral para você
Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Segundo Cu Nota: 3 de 5 estrelas3/5Gramática Escolar Da Língua Portuguesa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Arte da Guerra Nota: 4 de 5 estrelas4/5100 dias depois do fim: A história de um recomeço Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Nota: 4 de 5 estrelas4/5A História de Pedro Coelho Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos Sexuais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPra você que ainda é romântico Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Nota: 3 de 5 estrelas3/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5A revolução dos bichos Nota: 4 de 5 estrelas4/5eu mesmo sofro, eu mesmo me dou colo Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Paciente Silenciosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para todas as pessoas apaixonantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Ano em que te conheci Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Simpatias De Poder Nota: 5 de 5 estrelas5/5O amor não é óbvio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Declínio de um homem Nota: 4 de 5 estrelas4/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5Acredite na sua capacidade de superar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para todas as pessoas resilientes Nota: 5 de 5 estrelas5/5Canção para ninar menino grande Nota: 3 de 5 estrelas3/5Noites Brancas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Simpatias Para Beleza 01 Nota: 2 de 5 estrelas2/5
Categorias relacionadas
Avaliações de A cidade inexistente
1 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A cidade inexistente - José Rezende Jr.
Sumário
Prólogo
O fim do mundo
O último trem
A guerra do cu do mundo
Tinham razão as cabras
Lugar nenhum
O cachorro, o menino e o velho
Os infinitos ermos
O matador de cidades
Greve de fome
Seu francisco
O fogo diz adeus
O padre voador
A metamorfose
Destino de cão
A moça
Ludimila primeira e única
E quando vierem as águas?
O passarinho inexistente
Carta de despedida
O coração, cadê?
O cachorro mais solitário do mundo
A plateia inexistente
A falta que faz um doido
Os ventos
Todos órfãos
Bodas de sangue
Cabra cabriola
A noiva fantasma
A extinção das cabras
O advogado fantasma
A peleja do santo com a bestaferadodemo
Striptease [1]
Striptease [2]
Antes continuassem lobos
O casamento do velho e da moça
Para morrer basta um cachorro
A soma de todos os medos
Gran circo
Caboclos-d’água
Travessia
O mundo acaba em água
Um avesso revirado êxodo
Recomeçados
Epílogo
Texto de orelha
Sobre o autor
Nada em rigor tem começo e coisa alguma tem fim,
já que tudo se passa em ponto numa bola;
e o espaço é o avesso de um silêncio
onde o mundo dá suas voltas.
joão guimarães rosa
Eu me lembro das coisas, antes delas acontecerem...
j. g. r
para: déia
e lula.
prólogo
Os homens do governo botando no caminhão as tralhas da família, a família fritando no sol do meio-dia, o caminhão tossindo cuspindo fumaça, e o velho na derradeira hora dizendo eu daqui não arredo o pé
, e então o cachorro em ato de desobediência civil escapando do colo do menino e saltando da carroceria feito filhote fosse, sendo que igualmente velho era o que de fato era, e entrando de volta na casa e se espichando aos pés do velho, a língua de fora e o olhar canino anunciando: eu daqui não arredo as patas
.
Aí os homens do governo coçam as respectivas cabeças em movimentos involuntários e quase sincronizados, e olham em volta com inveja dos outros homens do mesmo governo que lograram embarcar em outros caminhões diferentes outras famílias, os embarques pacíficos e ordeiros. Os demais caminhões já ganhando a estrada, longo comboio de paus de arara carregados de retirantes famílias, os homens, as mulheres, as crianças e os bichos feito fossem da seca fugitivos sendo que fogem do justo contrário, o aguaceiro que está por vir. Não demora o governador, com a bunda sentada lá na capital, aperta o controle remoto e abre as comportas da hidrelétrica e inunda esse cu de mundo onde autoridade nenhuma do estado jamais sujou a sola do sapato – e que os cidadãos cudemundenses não enchessem por demais o saco, mandou avisar o governador, visto que o governo pagou indenização, a contragosto mas pagou, e ainda por cima fez construir léguas adiante uma cidade nova idêntica, cópia fiel da cidade velha.
Órfão de cachorro e avô, o menino desembarca do caminhão seguido pela mãe, cada qual carregando no peito o engolido choro. Mudo, quieto, calado, amuado e ofendido, por último desembarca o pai e sem dizer palavra entra de novo na casa que lhe viu nascer o avô, o pai e os filhos. É uma casa já quase sem vida, despida de gente e mobília, a não ser uma cadeira velha, um velho sentado na cadeira velha e um cachorro velho deitado aos pés do velho dono. Um minuto nem demora o pai e já volta do colóquio com o velho balançando a cabeça e anunciando o que era do conhecimento até da longínqua nuvem de poeira levantada pelo último caminhão-retirante que a esta hora rumava com destino à cidade nova: o velho não vai
.
Aos homens do governo, que mesmo em do governo sendo despossuem autoridade para arrancar de dentro de casa um vivente, ou dois, contando o cachorro, e enfiar à força na carroceria dum caminhão, não resta alternativa a não ser solicitar reforços, que chegam num piscar de olhos. Uma dezena de PMs armados até os dentes, despachados dias antes da capital com ordens expressas de debelar todo e qualquer foco subversivo.
A disparidade de forças salta aos olhos, visto que o foco subversivo em questão não passa de um homem velho e um velho cachorro. Mas ordens são ordens e subversão é subversão, tendo por grave agravante o fato que o cachorro rosna e exibe os dentes, ainda que poucos os restantes dentes, a quem da porta da casa pense em para dentro entrar.
Se não sai por bem sai por mal
, decide o governo, ali representado por um sargento e seus nove praças, a coesa tropa já de prontidão para executar a ordem de desintegração de posse. Abrigo de quatro gerações da família que vai embora, a casinha simples acabara de ser promovida a Área de Relevante Interesse Nacional, e os bravos militares ali justo estavam para defender os interesses da pátria até o último homem, nem que para isso fosse preciso defender a pátria do último velho e do último cachorro.
Mas eis que à beira da inglória batalha, o advogado dos direitos humanos surge do nada e