Bartleby, o escrivão - uma história de Wall Street
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Sobre este e-book
–Acho melhor não."
Repetida mais de 20 vezes, a frase "Acho melhor não" é uma espécie de leitmotiv, ou fio condutor, da obra-prima de Melville. A história é contada pelo sócio de um escritório de advocacia de Nova York, que se esforça para desvendar a misteriosa e impenetrável personalidade de Bartleby, um escrivão que se recusa resolutamente a realizar qualquer tarefa, sem apresentar nenhuma justificativa para tal. O fascínio pela postura do funcionário impede o advogado de tomar medidas enérgicas e, quando finalmente decide fazê-lo, é confrontado com a mesma negativa inabalável.
Por que Bartleby age como age? Por que sua austera recusa tem tamanha força? Somos, nós, incapazes de lidar com aquilo que não oferece explicações? A cada resposta evasiva de Bartleby abre-se a fresta para a entrada do insólito no cotidiano do escritório de advocacia e até da vizinhança de Wall Street.
Repleto de humor e jogos de linguagem e com estilo que não dá ao leitor possibilidade alguma de abandonar o livro, o clássico de Melville oferece uma reflexão profunda sobre a natureza humana e o modo como nos relacionamos com o mundo. Escrita há mais de um século, a obra nos remete a outros escritores incontornáveis da literatura ocidental, como Kafka e Camus, que marcaram o século XX com suas narrativas sobre o absurdo que pode tomar conta da existência.
A edição traz posfácio do crítico Modesto Carone e projeto gráfico que obriga o leitor a descosturar a capa e cortar, uma a uma, as páginas não refiladas do livro para desvendar a novela de Melville. Como afirma a designer Elaine Ramos, a cada página o livro dirá "Acho melhor não", da mesma forma que o escrivão se recusa a atender aos pedidos de seu patrão.
Herman Melville
Herman Melville (1819-1891) was an American novelist, short story writer, essayist, and poet who received wide acclaim for his earliest novels, such as Typee and Redburn, but fell into relative obscurity by the end of his life. Today, Melville is hailed as one of the definitive masters of world literature for novels including Moby Dick and Billy Budd, as well as for enduringly popular short stories such as Bartleby, the Scrivener and The Bell-Tower.
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Avaliações de Bartleby, o escrivão - uma história de Wall Street
4 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Primeiro texto que leio de Meville. Me deixou empolgada para ler Moby Dick, sua obra imortal. A tradução e a edição de texto estão impecáveis. Parabéns à Editora!
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Bartleby, o escrivão - uma história de Wall Street - Herman Melville
Notas
S ou um homem de certa idade. A natureza de minha ocupação nos últimos trinta anos fez com que eu tivesse um contato pouco comum com certo grupo de homens aparentemente interessantes e um tanto diferentes, a respeito dos quais nada, que eu saiba, jamais foi escrito… Refiro-me aos copistas ou escrivães. Conheci vários deles, nos negócios e em particular, e se quisesse poderia contar muitas histórias que fariam sorrir os homens de boa índole e chorar as pessoas sentimentais. Mas abri mão das biografias de todos os outros escrivães para contar algumas passagens da vida de Bartleby, que foi o mais estranho de todos os escrivães que jamais encontrei ou ouvi falar. Talvez eu pudesse escrever a vida completa de outros copistas, mas não é possível fazer isso com Bartleby. Creio que não existe material suficiente para uma biografia integral e satisfatória desse homem. É uma perda irreparável para a literatura. Mas Bartleby era uma dessas criaturas a respeito das quais nada se pode averiguar, exceto nas fontes diretas, e estas, no seu caso, eram muito poucas. Aquilo que vi, espantado, com os meus próprios olhos, é tudo o que sei a respeito de Bartleby, cujo relato farei a seguir.
Antes de apresentar o escrivão tal como ele me apareceu, seria bom fazer referências a mim, aos meus employés, à minha ocupação, às minhas audiências e adjacências; isto porque tal exposição é indispensável para uma compreensão adequada do personagem principal prestes a ser apresentado.
Imprimis: sou um homem que desde a juventude sempre teve a mais firme convicção de que a forma de vida mais fácil é a melhor. Por isso, embora a minha profissão seja tradicionalmente agitada e nervosa, ou até mesmo tumultuada, nunca deixei que os problemas perturbassem a minha paz. Sou um daqueles advogados pouco ambiciosos, que nunca se dirigem a um júri e nunca conseguem arrancar aplausos do público; mas que, na tranquilidade de um retiro confortável, fazem negócios tranquilos com ações, hipotecas e as propriedades dos homens ricos. Todos os que me conhecem me consideram um homem extremamente meticuloso. O finado John Jacob Astor,¹ um personagem pouco afeiçoado ao entusiasmo poético, não hesitou em dizer que a minha primeira virtude era a prudência, e que a segunda era o método. Não falo por vaidade, mas apenas registro o fato de os meus serviços profissionais nunca terem sido dispensados pelo finado John Jacob Astor, um nome que me agrada repetir, pois tem um som esférico e orbicular, que ressoa como barras de ouro. Digo com franqueza que a opinião do falecido John Jacob Astor era importante para mim.
Pouco antes de quando começou essa historieta, os meus afazeres haviam aumentado bastante. Tinha-me sido conferido o antigo cargo, hoje extinto no estado de Nova York, de Oficial do Registro Público. Não era um trabalho muito difícil, mas era muito bem remunerado. Raras vezes perco a paciência, e mais raramente ainda entrego-me a uma raiva perigosa por afrontas ou ofensas. Mas que me seja permitido ser imprudente e afirmar que considero um ato prematuro a supressão abrupta e violenta do cargo de Oficial do Registro Público pela nova constituição; ainda mais que eu contava com os ganhos vitalícios, recebidos apenas durante uns poucos anos. Mas não importa.
O meu escritório ficava no andar de cima da Wall Street,² no. ***. De um lado via-se a parede branca do interior de um enorme saguão, coberto por uma claraboia, estendendo-se de alto a baixo no prédio. Este cenário teria sido considerado insípido, pois lhe faltava o que os pintores chamam de vida
. A vista do outro lado do meu escritório oferecia pelo menos um contraste, embora também fosse só isso. Naquela direção, minhas janelas comandavam uma visão desobstruída de uma parede alta de tijolos escurecida pelos anos e pela sombra permanente. A beleza oculta da parede não precisava de lentes de aumento para ser vista, pois, para o benefício das pessoas míopes, ficava a uns três metros da janela. Porque os prédios vizinhos eram tão altos, e o meu escritório ficava no segundo andar, o espaço entre esta parede e a minha lembrava uma enorme cisterna quadrada.
Na época que antecedeu a chegada de Bartleby, eu tinha no meu trabalho duas pessoas como copistas e um jovem promissor como contínuo. O primeiro Turkey, o segundo Nippers e o terceiro Ginger Nut.³ Estes podem parecer nomes próprios, mas não são encontrados nas listas telefônicas. Na verdade, eram apelidos concedidos uns aos outros pelos meus três funcionários, que expressavam respectivamente os seus tipos ou personalidades. Turkey era um inglês baixinho e obeso, mais ou menos da minha idade, ou seja, perto dos sessenta anos. Pode-se dizer que, pela manhã, seu rosto tinha um matiz florido, mas, depois das doze, da manhã – sua hora do almoço –, ardia como uma grelha cheia de brasas no Natal; e continuava a arder, diminuindo aos poucos, até as seis horas mais ou menos, quando eu