Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea
()
Sobre este e-book
Várzeas são terrenos junto aos rios. Tudo indica que a expressão "futebol de várzea" surgiu em São Paulo, em campos que ficavam às margens do Rio Tietê. Para efeito deste livro, a várzea é qualquer terreno – do campinho de terra ao estádio famoso – onde o futebol inventa, margeando modestos ribeirões, a vida.
Leia mais títulos de Luiz Antonio Simas
Filosofias africanas: Uma introdução Nota: 3 de 5 estrelas3/5Fogo no mato: A ciência encantada das macumbas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedrinhas miudinhas: Ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros Nota: 4 de 5 estrelas4/5O corpo encantado das ruas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Encantamento: sobre política de vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5Arruaças: uma filosofia popular brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Flecha no tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Santos de casa: fé, crenças e festas de cada dia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSamba de enredo: História e arte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoisas nossas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPra tudo começar na quinta-feira: O enredo dos enredos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBestiário brasileiro: Monstros, visagens e assombrações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Maracanã: quando a cidade era terreiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Maldito invento dum baronete: uma breve história do jogo do bicho Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sonetos de birosca e poemas de terreiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Princípio do infinito Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO cavaleiro da lua Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea
Ebooks relacionados
Maracanã: quando a cidade era terreiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coisas nossas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha bola, minha vida: Biografia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sonetos de birosca e poemas de terreiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Oitentáculos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrincípio do infinito Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDicionário da Antiguidade africana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBezerra da Silva: Música, malandragem e resistência nos morros e subúrbios cariocas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Exu Submerso uma Arqueologia da Religião e da Diáspora no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBatuque De Umbigada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPra tudo começar na quinta-feira: O enredo dos enredos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs três irmãs: Como um trio de penetras "arrombou a festa" Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNas águas desta baía há muito tempo: Contos da Guanabara Nota: 5 de 5 estrelas5/5Samba de enredo: História e arte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra Nota: 5 de 5 estrelas5/5África e Diásporas: Divergências, Diálogos e Convergências Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRaízes Sincréticas Da Umbanda E Do Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasValongo: O Mercado de Almas da Praça Carioca Nota: 0 de 5 estrelas0 notasToques do griô: Memórias sobre contadores de histórias africanas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArruaças: uma filosofia popular brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Martinho conta...: Cartola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDicionário escolar afro-brasileiro Nota: 3 de 5 estrelas3/5Flecha no tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5A escravidão na poesia brasileira: Do século XVII ao XXI Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBatuque de Mulheres: aprontando tamboreiras de nação nas terreiras de Pelotas e Rio Grande, RS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO livro negro dos sentidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMaldito invento dum baronete: uma breve história do jogo do bicho Nota: 4 de 5 estrelas4/5Rio Negro, 50 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs carnavais cariocas e sua trajetória de internacionalização (1946-1963) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMacumba Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Contos para você
Quando você for sua: talvez não queira ser de mais ninguém Nota: 4 de 5 estrelas4/5Felicidade em copo d'Água: Como encontrar alegria até nas piores tempestades Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos pervertidos: Box 5 em 1 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Procurando por sexo? romance erótico: Histórias de sexo sem censura português erotismo Nota: 3 de 5 estrelas3/5A bela perdida e a fera devassa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Acredite na sua capacidade de superar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO cupcake da discórdia Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Psicólogo Suicida: E Outros Contos Curtos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Rua sem Saída Nota: 4 de 5 estrelas4/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5O DIABO e Outras Histórias - Tolstoi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmar e perder Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Só você pode curar seu coração quebrado Nota: 4 de 5 estrelas4/5Prometo falhar Nota: 4 de 5 estrelas4/5Meu misterioso amante Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dono do tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5SADE: Contos Libertinos Nota: 5 de 5 estrelas5/5A dama de vermelho e o vagabundo de olhos azuis Nota: 5 de 5 estrelas5/5O espelho e outros contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO meu melhor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pergunta idiota, tolerância zero Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos de Isaac Asimov Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTCHEKHOV: Melhores Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos de Franz Kafka Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea - Luiz Antonio Simas
Ode a Mauro Shampoo
e outras histórias da várzea
Luiz Antonio Simas
FOTO [CAPA]
Bruno Morais
FOTO [AUTOR]
Erick Dau
REVISÃO
Suzana Barbosa
DESIGN E DESENVOLVIMENTO
Mórula Editorial
© 2017 MV Serviços e Editora
Todos os direitos reservados.
R. Teotonio Regadas, 26 — 904 — Lapa — Rio de Janeiro
www.morula.com.br • [email protected]
Indícios de canibais,
sinais de céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.
[ JORGE DE LIMA
CANTO I. INVENÇÃO DE ORFEU ]
NOTA INTRODUTÓRIA
NUNCA ENCAREI O FUTEBOL COMO MERO ESPETÁCULO, brincadeira, jogo ou guerra — ele pode ser tudo isso e muito mais. Futebol no Brasil é cultura, faz parte de um campo de elaboração de símbolos, projeções de vida, construção de laços de coesão social, afirmação identitária e tensão criadora. Nossas maneiras de jogar bola e assistir aos jogos dizem muito sobre as contradições, violências, alegrias, tragédias, festas e dores que nos constituíram. A mesmíssima coisa vale para a cultura dos botequins e das escolas de samba.
O problema é que a maré não está para peixe. O processo de falência do futebol e do botequim como cultura reduz o jogo e a ida ao bar aos patamares de meros eventos — para delírio das caravanas que parecem percorrer os bares com a curiosidade dos antigos imperialistas em incursões civilizadoras e dos espectadores que ficam fazendo selfies em estádios de futebol enquanto a bola rola. Me espanta, ainda, como isso se reflete no vocabulário, que perde as características peculiares do torcedor e do bebum (o correto agora é chamar de butequeiro
) e se adequa ao padrão aparentemente neutro do jargão empresarial.
O craque se transforma em jogador diferenciado
, o reserva é a peça de reposição
, o passe vira assistência
, o campo é a arena multiuso
e o torcedor é o espectador
. Ir ao bar virou butecar
e lá agora temos lascas
, reduções
, camas de rúcula
, "confit,
toques cítricos" e outros salamaleques semânticos, que os velhos frequentadores de biroscas jamais saberão do que se trata.
Sedimentei a alma nas miudezas, alumbrada pelos contornos da cidade e regada pelas ampolas geladas feito cu de foca. Sinto-me hoje tão distante das mesuras elegantes dos sofisticados quanto um pinguim pode se sentir distante do verão de Teresina. Estou longe das arenas em que celebridades desfilam sob o pretexto de jogar bola.
Os textos deste livro passam ao largo da análise sociológica ou do rigor histórico. Eles foram escritos com a duvidosa categoria de um peladeiro convicto que mais tomou frangos do que fez golaços. A irrelevância do futebol das várzeas, a comovente ruindade dos perebas, a epopeia silenciosa dos derrotados, dos fracassados, dos frangueiros, dos frequentadores das arquibancadas precárias de madeira e cimento, traçam certo painel afetuoso sobre um Brasil que me interessa.
Várzeas são terrenos junto aos rios. Tudo indica que a expressão futebol de várzea
surgiu em São Paulo, em campos que ficavam às margens do Rio Tietê. Para efeito deste livro, a várzea é qualquer terreno – do campinho de terra ao estádio famoso – onde o futebol inventa, margeando modestos ribeirões, a vida.
A minha pátria é um gole de cerveja para comemorar um gol sem importância, coisa capaz de aconchegar um homem na sua aldeia quando tudo mais lhe parece vertigem de um mundo desencantado.
ODE A MAURO SHAMPOO
MAURO SHAMPOO FOI UM MENINO POBRE que cresceu trabalhando como engraxate na praia de Boa Viagem, no Recife, onde nos fins de tarde jogava peladas na areia. Ainda moleque, aprendeu o ofício de cabeleireiro, que até hoje lhe garante um sustento digno. A grande paixão de Mauro Shampoo sempre foi, porém, o futebol.
Correndo atrás da verdadeira vocação, Shampoo viveu a grande aventura: jogou durante dez anos no time de seu coração, o Íbis Sport Club, reconhecido pelo Guinness como a pior equipe do mundo em todos os tempos. A epopeia de derrotas do Íbis começou no dia 15 de novembro de 1938, quando foi criado como equipe de futebol da fábrica Tecelagem de Seda e Algodão, de Pernambuco. Graças ao abnegado gerente da empresa, Onildo Ramos, o time da fábrica se transformou num clube profissional, adotou a ave sagrada do Egito — Íbis — como símbolo, foi o time pelo qual torceu Miguel Arraes e teve em Mauro Shampoo o maior ídolo de sua história.
As estatísticas sobre o Íbis são imprecisas. Um levantamento feito em 2005 apontava 1.064 jogos, com 137 vitórias, 145 empates e 782 derrotas. O saldo negativo era, então, de 2.221 gols. Entre 1980 e 1984, com Shampoo no ataque, o time não conquistou nenhuma vitória. No Campeonato Pernambucano de 1983 foram inéditos 23 jogos e 23 derrotas.
Durante os dez anos em que foi o centroavante titular do Íbis, nosso herói marcou um único gol, em um jogo em que seu time saiu na frente do Ferroviário do Recife, sofreu a virada e perdeu por implacáveis 8 a 1.
Pra mim, esse gol isolado de Mauro Shampoo tem, para a história do futebol, uma dimensão lendária comparável ao milésimo gol de Pelé. Dez anos de carreira jogando no ataque e marcando um mísero tento, cristalino, legítimo, épico, que concentrou em um instante isolado toda a paixão que a bola pode despertar. Logo após marcar o gol, Shampoo declarou ter realizado a obra de sua vida e concretizado seu maior sonho. Ele é, por isso, um sujeito que atingiu a plenitude.
Dizem os que testemunharam o feito histórico que nunca na história do futebol