O Mundo Fantástico de Pedro
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O Mundo Fantástico de Pedro - Carlos Augusto Nicolai
A verdade sobre como nascemos
Era uma noite muito fria de sexta-feira, quando o termômetro marcava dois graus negativos. O tempo estava nublado, com nuvens carregadas. O inverno chegou com força à Serra Gaúcha.
Eu estava hospedado em um hotel de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.
A hora já era avançada, e após o banho, desliguei a luz do abajur e desmoronei-me
na cama. O corpo parecia quebrado de tanto cansaço… Apaguei
.
Logo em seguida, senti uma leveza imensurável e vi que não estava mais dentro de meu corpo físico, e sim ao lado dele. No primeiro momento, fiquei impressionado, eu vendo meu próprio corpo ali do lado. Depois, logo percebi que estava usando o corpo astral.
O quarto, antes escuro, estava agora todo iluminado. Olhei em direção à janela e, de início, meus olhos se ofuscaram ao ver um grande foco de luz brilhando em um tom levemente azulado.
Aos poucos, me acostumei com aquela luz. A imagem foi se definindo melhor e depois notei que havia uma pessoa ali. Logo percebi que era Gisele.
Gisele é uma moça alta, morena de cabelos longos, lisos, olhos castanhos, que sempre quando a vejo aparenta ter uns 25 anos de idade.
Estava usando uma espécie de macacão branco prateado com detalhes verdes nos ombros. Ao centro do peito, um símbolo em forma de círculo na mesma cor verde. Dentro dele, estava escrito Complexo Hospitalar de Eitel
.
Ela é médica e mora em uma cidade astral chamada Eitel, junto com Charles e Luiza.
Gisele e Charles foram meus filhos, e Luiza tinha sido minha esposa em uma época muito distante, quando ainda existia um continente chamado Atlântida. Éramos uma família muito feliz naqueles tempos.
Nota: detalhes sobre a vida dessa família na Atlântida estão descritos no capítulo Atlântida e os arquivos akashicos
, do livro: Nosso corpo é um robô de outros corpos?!
Sei que Gisele é médica no astral, mas não conheço muito os detalhes de sua profissão.
Charles é um tipo de engenheiro mecatrônico e projeta sistema de software para aplicação em robôs que constroem as naves, ou discos voadores. Quando pode, Charles também pilota naves espaciais.
Luiza é especialista em desenvolvimento de capacetes de comando de naves espaciais dos mais variados portes e também pilota as naves, a fim de testar os capacetes.
Tanto Charles quanto Luiza fazem muitas viagens interplanetárias, e até intergalácticas se for preciso…
Ao mesmo tempo que a imagem de Gisele se definiu completamente, ouvi sua voz mansa e suave soando dentro de minha cabeça, dizendo:
— Olá, Pedro, como vai você?
— Bem melhor agora, Gisele, já que estou fora do corpo físico.
— Não reclame de seu corpo, Pedro. Afinal, você pode andar e se movimentar com ele. Muita gente gostaria de fazer o que você faz, mas não pode.
— Eu sei, desculpe-me, Gisele, foi apenas um desabafo. Estava quase rastejando devido às tarefas exaustivas de hoje, realizadas em uma montadora de veículos desta cidade e que também é cliente da empresa onde eu trabalho.
— Não precisa se desculpar. Eu tive que vir para esta dimensão e propositadamente cheguei adiantada para acompanhá-lo um pouco no seu trabalho.
Brinquei com Gisele indagando:
— Então você veio aqui para me espionar e levar minhas ideias lá para o astral, não é?
— Bem, Pedro, se fosse algum tempo atrás, talvez pudesse ser verdade, mas não usamos veículos desse tipo em minha cidade há pelo menos 500 anos… — rimos juntos.
Depois, Gisele continuou dizendo:
— Pedro, você sabe muito bem, mas vale a pena lembrar que as ideias fluem do plano causal para o mental, e deste para o astral. E só depois é que essas ideias vêm para o plano físico, e não o contrário! As invenções
realizadas no plano físico, na realidade, não são daqui! Todas elas, sem exceção, já existiram no plano causal, mental e astral há muito tempo. No plano astral, mais especificamente na cidade onde eu moro, Eitel, você já não teve oportunidade de ver aqueles veículos voadores de vários tipos circulando pelo espaço aéreo?
— Sim, Gisele. Vi muitos deles, e nenhum se compara com os daqui.
— Então, Pedro, tudo aquilo que você viu lá um dia será trazido para cá no plano físico por meio de algumas pessoas, quando estiverem encarnadas. E se essas pessoas não tiverem consciências bem desenvolvidas, irão se vangloriar de ter inventado
essas máquinas, que na verdade já estavam inventadas lá nos planos superiores, há muito tempo. Aqui neste plano, nada se inventa. Tudo é copiado do plano ascendente imediato, que é o astral.
— Sim, Gisele, eu já sei disso, mas foi bom você me lembrar, pois quero fazer essa observação em meus apontamentos.
— OK, mas voltando à nossa história, quando eu estava acompanhando você no seu trabalho, houve um instante na sala de reunião com seu cliente em que não consegui me segurar e comecei a rir.
— Verdade, Gisele?! E que hora foi essa?
— Foi no momento de expor sua ideia para corrigir um problema técnico que estava em foco. Embora você estivesse coberto de razão, aquele não era o momento para discutir o assunto. As pessoas ali presentes não estavam preparadas para ouvir seus argumentos. Fiquei até um pouco apreensiva, caso você expusesse sua ideia, mas naquele instante aconteceu algo muito engraçado… Antes que você começasse a falar, eu vi que um de seus colegas derrubou um copo de café bem no pé do diretor da fábrica. Nessa hora, vi as caras de espanto e de preocupação de vocês todos. Aquilo foi muito engraçado para mim; não aguentei e tive que rir. Mas depois o diretor fez um comentário jocoso e aquilo gerou umas brincadeiras que ajudaram a descontrair as pessoas ali da sala. E assim, aquele ambiente que estava sob forte tensão psíquica se transformou em um ambiente agradável e alegre. Depois disso, você desistiu de expor sua ideia, lembra?
— Sim, lembro-me muito bem daquela cena engraçada… Mas você não acha que eu deveria colocar aquele meu projeto em pauta?
— Poucas horas antes, você já havia feito um comentário a respeito desse projeto, e todos, sem exceção, tinham discordado. E se você repetisse tudo novamente naquela reunião, iria desencadear um mal-estar terrível entre sua empresa e seu cliente, podendo até colocar seu emprego em risco. Como eu sabia que seu tempo ainda não estava esgotado neste seu emprego, resolvi observar como as coisas iriam se desenrolar. E então aconteceu tudo aquilo, que foi muito engraçado.
— Agora que você está comentando a respeito… pensando bem, acho que você tem razão, Gisele. Aquele realmente não era o momento certo para insistir com o projeto, mas como você disse, tudo acabou por ficar muito agradável no final… Mesmo assim, eu ainda lamento por não poder resolver aquele assunto…
— Pedro, você deve entender que às vezes é melhor deixar o tempo resolver certas coisas. Se alguém não quiser ouvir as suas ideias ou argumentos, não insista! Cada um merece aquilo que lhe convém… Quando não aprendemos por amor, aprendemos pela dor, mas aprendemos!
— Mais uma vez, você tem toda a razão. Preciso parar com esse meu péssimo costume de ficar batendo na mesma tecla para tentar convencer as pessoas de seguir por esse ou por aquele caminho, a fim de evitar que elas sofram. Se ninguém quiser me ouvir, paciência. E também, eu tenho que aprender que não sou nenhum dono da verdade.
— Muito bem, Sr. Pedro. Estou gostando de ouvir isso. Assim é que se fala!
— OK, mas espere um pouco aí, Dona Gisele! Você não veio daquela linda cidade do astral até aqui neste mundo esquisito somente para me acompanhar nesse evento… Ou veio?
— Não, Pedro, eu vim até aqui para te fazer um convite de te levar ao plano astral a fim de acompanhar um processo que eu tenho certeza de que você vai gostar muito de saber a respeito.
Tentei rastrear os pensamentos de Gisele, mas ela foi logo me dizendo:
— Nem tente me espionar, porque não vou te adiantar nada. Você vai matar sua curiosidade somente quando chegar lá… Vai aceitar ou não o convite?
— Sim, é claro que vou! Eu sei que você tem somente boas intenções. E seja lá o que for, tenho certeza de que será para meu próprio benefício.
— Então podemos ir?
— Sim, vamos lá!
— Pedro, você sabe que, para mim, não teria problema algum de você ir assim.
— Assim como? … Oh! Puxa, que vergonha! — olhei para mim mesmo e vi que continuava de pijama. O corpo astral tende a reproduzir a mesma roupa que usamos no corpo físico. Nessa hora Gisele me disse:
— Sugiro que você mentalize um macacão branco prateado do mesmo tipo que eu estou usando, exceto pelo distintivo e os detalhes em verde, pois é um uniforme que somente os médicos podem usar.
Então mentalizei minha nova roupa e em um instante o pijama se transformou em um macacão branco prateado.
— Que tal eu estou agora, Gisele?
— Muito bom, Pedro. Isso facilita as coisas e não vai mais despertar a atenção do público, em ver alguém de pijama listrado desfilando pelas ruas de uma cidade astral…
Rimos muito, e depois que os ânimos se aquietaram, saímos ali do lugar onde eu estava hospedado e fomos subindo, volitando pelo ar. Voávamos em pé, como se tivéssemos um propulsor a jato.
A cidade começou a ficar cada vez menor, até que se tornou um aglomerado de luz. Olhei em volta e vi outro aglomerado de luz bem maior… Era a cidade de Porto Alegre. Apesar do frio intenso, nem Gisele e nem eu estávamos usando casacos, porque o corpo astral não sente o frio da dimensão física…
Atravessamos as nuvens carregadas sem nos molhar, e as estrelas começaram a ficar cada vez mais nítidas. Seguimos em direção a um foco de luz um pouco mais destacado no meio daquele mar de estrelas, e à medida que nos aproximávamos, aquele foco foi aumentando, até que vimos o túnel de luz interdimensional. Esse túnel é uma espécie de ligação entre a dimensão física e a astral; quando se passa daqui para lá ou de lá para cá, o tempo corre
diferente.
Ao atravessarmos por ele, vimos lá embaixo um novo aglomerado de luz, e conforme íamos descendo, a cidade de Eitel começou a ficar cada vez mais nítida.
Fazia algum tempo que eu não ia para lá, e já estava com saudades de ver aquele lugar magnífico novamente. Então perguntei a Gisele:
— Afinal de contas, vamos até sua casa ou para algum outro lugar?
— Espere e logo verá. Tenha um pouco mais de paciência!
— OK, Gisele, sem problemas… E como estão Charles e Luiza?
— Estão muito bem! Hoje Charles foi para a fábrica de naves espaciais na cidade vizinha de Aripati. Está testando um novo projeto para aperfeiçoamento do programa dos robôs nas linhas de montagem das naves espaciais. Ele saiu de casa muito feliz antes de ir para lá. Deve ter desenvolvido algum projeto que, pelo jeito, já deu certo. E Luiza está viajando para a constelação de Orion. Ela foi levar algumas pessoas a um planeta muito bonito chamado Nibon, para estagiarem durante algum tempo, na área de botânica. Depois ela deverá voltar sem ninguém de lá, pois nossa nave é muito pequena para acomodar os nibonianos. Contudo, eles deverão vir para Eitel logo em seguida, com suas próprias naves, a fim de nos auxiliar em um projeto inovador nessa mesma área de botânica. É uma espécie de intercâmbio que fazemos com alguns planetas. Acredito que Luiza não vai demorar muito por lá, deverá voltar dentro das próximas quatro horas. Ela não tem pressa, porque não há ninguém encarnado junto com ela.
— Que bom saber que Luiza e Charles estão bem e trabalhando no que gostam. Eu fico feliz por isso e porque estou te vendo feliz também. Aliás, o mundo em que você vive é naturalmente feliz, não é assim, Gisele?
— Sim, Pedro, salvo por alguns contratempos pelos quais às vezes passamos quando temos que fazer visitas em outras dimensões menos felizes. Mas isso faz parte do meu trabalho de médica. Por isso, não posso e nem tenho o direito de reclamar… Estamos chegando ao local. Veja lá, Pedro!
— Sim, o lugar é muito bonito! Mas não parece ser sua casa.
— E não é mesmo. Vamos chegar mais perto para você se situar melhor.
À medida que descíamos volitando e nos aproximávamos do local, fui observando que havia um pavilhão redondo enorme, com sete portas altas distribuídas igualmente ao seu redor. A cobertura era similar à do capitólio de Washington. A diferença era que, em cima da abóboda e no centro dela, projetava-se uma grande haste, parecendo um tipo de antena. Em volta de todo esse pavilhão, havia muitas janelas em forma de elipse, instaladas no sentido vertical e adornadas com vários vitrais coloridos.
Ao redor do pavilhão, havia muitos pequenos jardins, como se fossem miniaturas de ilhas em forma de círculos e com flores que emitiam luzes nos mais variados matizes de cores. Conforme nos aproximávamos do solo, percebi que as flores eram translúcidas e dos mais variados tipos.
Chamou-me atenção um canteiro somente com alfazemas, que emitia uma luz levemente lilás, com seu perfume peculiar, porém de uma intensidade inebriante e calmante ao mesmo tempo. Havia também árvores de várias espécies, mas as que predominavam no local eram parecidas com os nossos chorões. Todas elas também brilhavam à noite, formando uma paisagem singular que iluminava toda a região ao redor.
Em torno do grande pavilhão e separados pelas ilhas de jardins, havia sete edifícios em forma de cubo, todos da mesma altura e com sete andares. Olhando de cima, esses edifícios formavam um círculo ao redor do pavilhão principal.
Em cima e no teto de cada um dos edifícios, dava para ver espaçonaves iluminadas pousando sobre os vários navepontos existentes e distribuídos igualmente, parecendo um tabuleiro de xadrez. No centro de cada quadrado de naveponto, tinha um círculo que emitia uma luz verde, indicando o ponto exato para o pouso de cada nave. Alguns quadrados estavam ocupados, e outros, vazios. Mas percebi que o fluxo de pouso e decolagem era muito intenso.
O movimento de pessoas volitando para aqueles edifícios também era muito grande. Dava para ver perfeitamente elas pousarem nas calçadas e depois caminharem por entre os jardins floridos. Em seguida, elas adentravam os respectivos edifícios. Então perguntei a Gisele:
— O que é todo esse complexo de construções?
— Digamos que é um complexo de hospitais. Eitel é um tipo de centro nervoso especializado em tratamento, recuperação psíquica e treinamento de pessoas antes de reencarnar ou ressurgir no mundo físico. Existem muitas outras cidades no astral com esse tipo de complexo e todas trabalham da mesma forma. É uma espécie de procedimento padrão.
— Verdade, Gisele?
— Sim, Pedro, eu quis te trazer aqui para que você possa acompanhar todo esse processo.
— Puxa! Como você sabia que eu queria muito saber disso tudo?
— Digamos que andei te espionando um pouquinho. Mas foi por uma causa justa. Não sei te explicar direito, mas por algum motivo, quando você pensava nesse assunto, também se lembrava de mim. Talvez porque eu era sua filha e médica na antiga Atlântida. Então eu recebia suas ondas de pensamento com muita clareza; dava até para te ver parado com a mão no queixo e imaginando como poderia ser o processo de nascimento das pessoas.
— Tudo bem, Gisele. Não precisa explicar mais nada. Quando quiser, pode me espionar à vontade, sem problemas — rimos muito. Gisele passou a mão sobre minha cabeça, espatifando meus parcos cabelos, como quem diz: Você e seu senso de humor!
.
Continuei com as perguntas:
— Quem são essas pessoas que estão pousando
e caminhando até os edifícios?
— A maioria delas são funcionários indo aos respectivos locais de trabalho ou parentes dos pacientes que estão indo fazer uma visita para eles. Os pacientes normalmente são transportados pelas naves que você está vendo aterrissando ou decolando do teto de cada edifício.
— E por que isso acontece?
— Bem, porque a maioria não consegue volitar devido ao estado de desequilíbrio mental ou psíquico e mesmo corporal do corpo astral. Além disso, essa maioria também não fez curso de volitação. Devido a isso, temos de transportá-los naquelas naves…
Continuei observando os edifícios cúbicos do complexo e percebi que todos eles não tinham paredes com janelas. Cada lado do cubo era montado com placas de um material similar ao nosso vidro, pois refletia as luzes emitidas pelas flores e árvores que estavam próximas dali. Somente o lado da parte da frente do prédio, que ficava voltado ao grande pavilhão central, tinha uma abertura embaixo, no térreo, que servia para entrada ou saída das pessoas.
Perguntei então a Gisele:
— De que tipo de material são aquelas grandes placas que revestem os edifícios? Seriam de vidro temperado e espelhado, do mesmo tipo que temos lá no plano físico?
— Não, Pedro, aquelas placas são feitas de