15 Minutos com o Seu Filho
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15 Minutos com o Seu Filho - Joaquim Quintino Aires
Ficha Técnica
Título original: 15 Minutos com o Seu Filho
Autor: Joaquim Quintino Aires
ISBN: 9789892311821
LUA DE PAPEL
[Uma chancela do grupo Leya]
Rua Cidade de Córdova, n.º 2
2610-038 Alfragide – Portugal
Tel. (+351) 21 427 22 00
Fax. (+351) 21 427 22 01
© 2010, Joaquim Quintino Aires
Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor
http://twitter.com/Luadepapel
www.leya.pt
Dedico este livro a todos os pais e a todas as mães. Àqueles que planearam o nascimento de um filho quando a relação de casamento entre os dois estava já bastante estável e o nascimento de um filho (biológico ou adoptado) era um desejo partilhado pelos dois, àqueles para quem o nascimento de um filho resultou do acaso, mas que hoje querem que ele ou ela seja uma Pessoa realizada e feliz, e também àqueles cuja irresponsabilidade da adolescência levou à gestação antes do tempo.
Criar um filho é uma tarefa muito exigente. Muito mais exigente do que produzir o mais belo dos objectos de arte ou a mais complexa das construções de engenharia. Mas não tem de ser difícil, é apenas preciso aprender. E não implica que o pai ou a mãe deixem de viver a própria vida.
Criar um filho não exige estar sempre com ele. O truque é saber construir com ele uma ligação psicológica que promova o desenvolvimento cerebral e da personalidade, de modo a que ele ou ela se torne um homem ou uma mulher capaz de tomar a própria vida nas mãos. E para isso cada mãe e cada pai necessitam de pouco tempo, quinze minutos diários quando ele ainda é bebé, ou quinze minutos semanais quando ele já é mais crescido.
Prefácio
É para mim um prazer e uma honra aceder ao convite do meu amigo Joaquim Quintino Aires para prefaciar o seu mais recente livro 15 Minutos Com o Seu Filho, que podia ser um complexo tratado sobre o tempo e a memória deste Professor Emérito da Universidade de Moscovo, e Doutorado pelo Departamento de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.
Pelo contrário, trata-se de um conjunto de conversas, de falas descomplicadas
, em que o autor manifesta o seu dom de colocar em termos simples assuntos bem complicados: o que é ESTAR PRESENTE a um filho, quando não há tempo, e se percebe nele a incomensurável carência de encontrar aquele Pai, aquela Mãe DISPONÍVEIS… para aqueles insubstituíveis quinze minutos.
O Professor Quintino realiza, ainda, o descomunal feito de explicar ao leigo o que é aquele acto suplementar da acção de outros educadores, oferecido por um psicoterapeuta de orientação dinâmica: que se coloca PRESENTE (a alguém que nesse momento carece), vivendo-se no modelo de um Pai/Mãe cuidadores que se fazem ENCONTRADOS por QUINZE MINUTOS vitais.
Apesar de ser difícil prefaciar um livro tão surpreendente, quer no conteúdo como na forma, a verdade é que ele desperta em mim a vontade de continuar sempre esse diálogo fundamental que o Professor Joaquim Quintino Aires aponta – e que diz respeito a esperar e responder –, acreditando no diálogo do qual emerge a PRESENÇA com que se constrói esse novo ser, que conta com o outro
para poder erguer-se.
Por isso, quero aproveitar o espaço que me é oferecido nesta preciosa publicação para agradecer ao meu amigo Joaquim por ter escrito uma obra clara e simples, que acaba explicando os paralelos entre o que acontece na vida de família, entre pais e filhos, e connosco, quando estamos presentes, como psicoterapeutas dinâmicos, nos nossos quinze a trinta minutos semanais, a um cliente
(que é o mesmo que dizer desconhecido
), pequeno ou grande, que, para nós, está ali, à espera de se encontrar ao ser encontrado, e pretendendo entrar em contacto com essa lesão funda no sentir dele de não ser Eu
, origem dos próprios actos, senhor das próprias intenções.
Neste livro, é demonstrado que os pais também possuem os instrumentos para se descobrirem num mundo sem norte e sem ideal, abrindo caminho aos filhos para rejeitarem as confusões do dia-a-dia demasiado corrido e sofrido, e seguirem um rumo por eles próprios traçado, assim se construindo como Eu
, sempre de novo, em cada idade.
Com os melhores augúrios por esta feliz edição,
Maria Rita Mendes Leal
Professora Catedrática Jubilada da Universidade de Lisboa
Deus não conseguia realizar tudo e, por isso, criou as mães.
Antigo provérbio judeu
1.
A arte de educar
não está no tempo
de que dispõe
A dificuldade de ser mãe ou pai
Educar um filho é certamente a mais difícil das artes! Aquelas figuras maravilhosas que sorriem e brincam, que nos abraçam e nos beijam com carinho, que na praia fazem bolinhos de areia que depois, com alegria, nos oferecem para provar, que calçam os sapatos da mãe e colocam a carteira desta ao ombro, ou gritam pelo Sporting (ou pelo Benfica, ou pelo Porto, ou etc.) como faz o pai, existem também noutra versão. A versão dos gritos no supermercado, das birras na loja de brinquedos, dos atrasos durante o pequeno-almoço, do ser contra tudo e contra todos na adolescência, da teimosia em namorar com aquele rapaz toxicodependente que deixa a família enlouquecida, dos amigos com mau aspecto com quem se relaciona como se estes fossem as pessoas mais importantes do mundo.
Se a mãe é católica, lá se escuta a frase Que mal fiz eu a Deus? Se o pai é conservador, lá diz outra vez à mãe, com aquele horrível ar de desprezo, Olha a educação que lhe deste! E se a televisão estiver ligada, lá estarão os professores a dizer que hoje os pais se demitem da educação dos filhos ou um qualquer psicólogo a dizer que a culpa é dos pais, que não têm tempo para os filhos. TEMPO PARA OS FILHOS! Frase bonita, politicamente correcta, que fica sempre muito bem em qualquer debate ou programa de televisão. Mas se o problema se resolvesse apenas com tempo, provavelmente não existia o antigo provérbio judeu: Deus não conseguia realizar tudo e, por isso, criou as mães.
E que tempo é este de que tanto se fala? Quando de manhã os pais demoram duas horas para chegar ao trabalho, à tarde mais duas horas para voltar do trabalho, sofrem dois fortes empurrões para entrar no metro, duas pisadelas no autocarro e todo o desconforto possível em transportes públicos demasiado cheios de gente. Depois ainda compram pão para o jantar e recolhem
as crianças no ATL, e, ao chegarem a casa, quando colocam a chave na porta, já não sabem se preferem que o tempo passe rápido e o dia acabe para poderem dormir, ou se querem que ainda dure, de modo a terem tempo para fazer o jantar, verificar os trabalhos de casa dos filhos, que os professores teimam em ordenar, dar banho às crianças, servir-lhes o jantar (sim, SERVIR-LHES o jantar!), deitar cada um e, quando se preparam para dizer já está tudo pronto, toca novamente o despertador, dando o sinal de que um novo dia, outra vez com as mesmas rotinas, já começou.
São estes os pais de quem os professores reclamam mais atenção para os filhos? É destes pais que os psicólogos estão a falar quando dizem que é necessário mais tempo para os filhos? É claro que se um dos filhos bate no outro no exacto momento em que o arroz dentro da panela começou a queimar, toda a atenção que aquelas crianças recebem é um grito, pois a boca não faz o trabalho das mãos que deitam água fria para dentro da panela. Sentados à mesa, se um filho come com as mãos, os pais já nem reparam, porque naquele momento parece que a alma lhes saiu do corpo, e apesar dos sentidos continuarem em actividade, o cérebro já não vê nem ouve. E se durante o tempo de limpar a cozinha os filhos se fecham no quarto ligados à Internet, a mãe até agradece, e convence-se de que aquele sossego é a resposta de Deus ou de algum Santo às suas orações.
É fácil para os professores dizerem que os pais não dão educação aos filhos. Mas a verdade é que os filhos de professores, porque os professores quase sempre também são pais, têm os mesmos problemas.
É fácil para os psicólogos dizerem que os pais devem passar mais tempo com os filhos. Mas a verdade é que aquele tempo em que os psicólogos se ocupam de crianças é o tempo do seu trabalho, e durante esse tempo nada mais acontece, já que é o tempo de uma consulta. Durante todo esse tempo apenas estão com aquela criança, ou com um pequeno grupo de crianças, quando se trata de terapia de grupo, e foram treinados durante vários anos para fazerem esse trabalho. Difícil, na arte e no tempo, é ter o ónus da educação, sem formação e sem tempo específico, como acontece com os pais.
Novos tempos, outra educação
E pode acontecer ser domingo e que a avó esteja por perto. Então tudo fica ainda mais pesado e complicado. O discurso vai alternando entre o têm de ter mais paciência, são apenas crianças! e a famosa e irritante teoria de que antigamente as crianças não eram assim! Mas é claro que as crianças eram assim. Simplesmente havia mais gente envolvida na educação dos pequenotes e também sobrava mais tempo a cada adulto para se ocupar deles. Noutros tempos, nos velhos tempos, cada adulto considerava-se responsável pelo comportamento de qualquer criança. Se um adulto via um comportamento errado ser realizado por qualquer criança, primeiro repreendia-a e só depois perguntava de quem era filha, para informar os pais. Agora, pode ser que pergunte de quem é filha, mas apenas para comentar com uma vizinha como aqueles pais não dão educação aos filhos.
Até há poucas décadas, a educação das crianças estava entregue à sociedade. Claro que os pais eram reconhecidos como pais, mas todos os adultos se consideravam responsáveis pela educação de cada criança. Ninguém estranhava que um adulto repreendesse uma criança. O raro era que ninguém dissesse nada quando uma criança agia mal. Hoje a sociedade está organizada em unidades bem mais pequenas. A família está mais individualizada, menos misturada com os vizinhos da rua, menos socializada com os professores e funcionários da escola, menos socializada com a proprietária do quiosque onde todos os dias as crianças compram alguma coisa. E até com os tios e com os padrinhos a socialização está agora bastante reduzida. É como se cada família fosse um reino à parte, com fronteiras bem delimitadas, e ninguém se confunde na distinção entre os que são de dentro da família e os que são de fora, sendo que estes nada têm que ver com a educação das crianças daquela família.
Antigamente os pais tinham mais tempo livre, é verdade. Mas também é verdade que, ainda assim, não passavam mais tempo com os filhos. Nem sequer havia a ideia de brincar com as crianças. Os pais tinham as suas tarefas, e quer nas horas de trabalho quer nas horas de livre gestão do próprio tempo, rodeavam-se de adultos, enquanto as crianças e os adolescentes se ocupavam uns com os outros. Os homens não levavam os filhos para as tabernas, nem as mulheres levavam as crianças para o lavadouro, e se o faziam, era apenas para que estas brincassem umas com as outras, enquanto as mães lavavam e conversavam também umas com as outras.
A diferença, a grande diferença nestes novos tempos, é que a educação e o desenvolvimento das crianças e dos jovens estão entregues apenas a uma mãe e a um pai. Agora a educação está entregue apenas a dois adultos, enquanto no passado estava entregue a todos os adultos da comunidade.
É lógico que se a mesma exigência, a mesma responsabilidade, está dividida por menos pessoas, o trabalho destes dois adultos é muito maior e muito mais difícil.
A natureza das crianças
Muitas vezes ouvimos dizer que as crianças hoje são muito diferentes. Esta ideia corresponde apenas a uma ilusão. As crianças de hoje têm a mesma natureza das crianças dos tempos passados. Ao longo de todos estes anos, não ocorreu nenhuma alteração genética significativa, e por isso a biologia não se alterou. Os programas biológicos de comportamento que cada criança tem à nascença são exactamente os mesmos que os de qualquer outra criança nascida há 400.000 anos, altura em que se estima ter surgido a nossa espécie. E ao contrário do que o pedagogo suíço do século XVIII afirmou, as crianças não nascem