Prazeres da Mesa

50 ANOS DO MOCOTÓ

Com jeito simples e fala mansa, mas com uma paixão incrível pela culinária brasileira, Rodrigo Oliveira conseguiu em duas décadas subir ao pódio dos melhores chefs da América Latina, e se prepara para celebrar os 50 anos do Mocotó. Entre outros feitos, ele conseguiu fazer algo até antes impensável na cidade de São Paulo: atrair para o bairro da Vila Medeiros, Zona Norte paulista, uma clientela gourmet acostumada a circular pelas regiões paulistanas mais nobres e que dificilmente se deslocaria até a periferia.

Rodrigo tem percepção ímpar no trato dos ingredientes brasileiros e no preparo de receitas simples, mas que conquistam. Nas duas últimas décadas, todos os grandes chefs estrangeiros que passaram pelo Brasil foram até o Mocotó apreciar pratos da culinária-raiz brasileira, feitos com ingredientes de muita qualidade, de pequenos produtores, e preparados por ele com maestria. “Seguramente, é um dos melhores restaurantes de culinária tradicional do mundo”, afirmou o espanhol Albert Adrià, depois de almoçar no Mocotó, com direito a repetir, antes da sobremesa, um reconfortante e saboroso caldo de mocotó.

Hoje, a agenda de Rodrigo é lotada. Além do Mocotó tradicional, ele comanda uma unidade no Shopping D, o Balaio, no Instituto Moreira Sales, na Avenida Paulista; e o novo Mocotó, na Vila Leopoldina. Ele também é jurado no MasterChef e, ao lado de Adriana Salay, sua mulher, criou o Projeto Quebrada Alimentada, no qual servem refeições diárias e distribuem cestas básicas. Em uma rara brecha na agenda, ele nos concedeu a seguinte entrevista.

Prazeres da Mesa – Quase posso afirmar que vi você nascer para a gastronomia, uma vez que nessas últimas duas décadas já lhe entrevistei algumas vezes.

Rodrigo Oliveira – Sim, quase isso. Comecei aqui no Mocotó lavando muita louça. Até mereço o título de PiaHD (risos), isso com 13 anos de idade. E não parei mais. E vocês acompanharam toda a nossa história.

E lavando a louça você já decidiu que era o que queria fazer na vida?

O Mocotó era muito diferente. Era uma casa do Norte e meu pai estava aprendendo a empreender. Trabalhávamos com poucos recursos, o que não inspirava uma carreira. Meu pai não estimulava nada aqui, achava sofrido demais e queria que os filhos estudassem. Sempre estive por aqui para ajudar meu pai. Fiquei na louça por um bom tempo. Gostava muito de estudar, era muito bom aluno, aplicado, e comecei a me interessar por trabalhar com ambientalismo. Fui cursar engenharia ambiental. Fiquei um ano e mudei para gestão ambiental, que mantinha um foco mais humano e tinha muito mais a ver comigo. E aí, por um caminho tortuoso, conheci a gastronomia. Uma colega de turma, a Carol – irmã do chef Luiz Emanuel, que na época estudava na primeira turma do curso de gastronomia da AnhembiMorumbi – me levou a conhecer e fiquei encantado. Aprendi o que era um restaurante, até então eu não sabia que aquele mundo existia. Comecei a ler, a estudar e fui conhecer o primeiro restaurante, o Tordesilhas. Foi uma experiência transformadora. Vi ali o que era comida feita com

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