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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ser budista é...

"Certa vez, eu estava num avião, na poltrona do meio da fileira de um vôo transatlântico, quando um homem simpático sentado ao meu lado fez uma tentativa de ser cordial. Vendo minha cabeça raspada e saia cor de vinho ele concluiu que eu era budista. Quando foi servida a refeição, o homem, atenciosamente, se ofereceu para pedir uma refeição vegetariana para mim. Tendo presumido corretamente que eu era budista, ele também presumiu que eu não comia carne. Esse foi o início da nossa conversa. O vôo era longo e, para afastar o tédio, passamos a falar de budismo.
Com o passar do tempo, tenho me dado conta de que as pessoas frequentemente associam o budismo e os budistas à paz, à meditação e à não-violência. De fato, parece que muitos pensam que vestes cor de vinho ou de açafrão e um sorriso sereno é tudo o que se precisa para ser budista. Sendo eu um budista fanático, devo me orgulhar dessa reputação, especialmente por seu aspecto de não-violência, tão raro nesta época de guerras e violência, sobretudo a violência religiosa. Ao longo da história da humanidade, a religião parece ter gerado brutalidade. Ainda hoje, atos de violência praticados por extremistas religiosos dominam os noticiários. No entanto, posso dizer com confiança que, até o presente, nós budistas não nos desonramos. A violência nunca teve um papel na propagação do budismo. No entanto, em razão da formação budista que recebi, também me sinto um pouco descontente quando vejo o budismo ser associado a nada além de vegetarianismo, paz e meditação. O príncipe Sidarta que sacrificou todo o luxo e conforto nos palácios, deveria estar em busca de algo mais do que mansidão e vida campestre quando se pôs a caminho para descobrir a iluminação.
Embora em essência seja bastantes simples, o budismo não se presta a uma explicação fácil. Ele é complexo, vasto e profundo, quase além da imaginação. Embora seja não-religioso e não-teísta, é difícil alguém apresentar o budismo sem um tom teórico e religioso. À medida que o budismo chegou a diferentes partes do mundo, as características culturais que foi acumulando o tornaram mais complicado de decifrar. Roupagens teístas, como incenso, sinos e chapéus multicoloridos conseguem atrair a atenção das pessoas, mas, ao mesmo tempo, podem ser obstáculos. Elas acabam pensando que isso é tudo o que constitui o budismo, afastando-se assim, da sua essência."

Dzongsar Norbu Khyentse Rinpoche - "O Que Faz Você Ser Budista?" - Editora Pensamento

terça-feira, 6 de julho de 2010

Generosidade



"A essência da generosidade é abrir mão, deixar acontecer. A dor é sempre um sinal de que estamos segurando alguma coisa - normalmente nós mesmos. Quando nos sentimos infelizes, inadequados, nos tornamos mesquinhos e rígidos. A generosidade afrouxa, abre e relaxa. Ao oferecermos qualquer coisa, um real, uma flor, uma palavra de encorajamento, estamos treinando em abrir, em deixar acontecer.”
Pema Chödrön